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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL
I SEMESTRE 2014
1º PROVA

1. Um indivíduo possui a função de utilidade ( ) ( ) , onde , ,


e são valores positivos. Encontre a demanda pelo bem .(2,0 pontos). Calcule a
elasticidade renda da demanda do bem . (1 ponto).

( ) ( )
=
( ) ( )

Dada a condição de maximização condicionada da utilidade (que pode ser obtida via lagrangiano):

= , e após alguns cancelamentos:

( )
+ =
( )

Após outros “cortes” na primeira parte da soma:


( + )+ =
Denominando = :

( )+ =

= + +

( )
=

Substituindo isso na restrição orçamentária e isolando para o :

= ( ) ( ( )]

Partindo da definição matemática de elasticidade-renda:

= ( ) ( ( )]
.

( ) ( ( )]
= ( ) ( ( )]
.m. =1
2. Considere uma Curva de Engel dada pela expressão ( ). Como (e porque) você
classificaria esse bem? (1 ponto)

x=

= e =-

Logo, como a quantidade demandada cresce com o aumento da renda (mas, a taxas
decrescentes), trata-se de um bem normal.

3. Algumas pesquisas mostram que após a proibição da venda de cerveja em estádios de


futebol houve uma elevação do consumo de drogas ilícitas nos estádios e uma queda na
frequência dos torcedores, que preferem assistir os jogos pela televisão. Usando seus
conhecimentos de teoria microeconômica como você poderia explicar esses fenômenos?
(1 ponto).
As preferências dos consumidores são tais que os bens disponíveis podem se relacionar
tanto de modo substitutivo quanto de modo complementar. Para alguns torcedores, as bebidas
alcoólicas são complementares aos jogos de futebol. Nesse caso, a partir da proibição, o consumidor
pode preferir ver o jogo pela TV tomando cerveja. Assim, o seu consumo total de cerveja não é
afetado, mas ele troca o estádio pela transmissão pela TV (que são formas substitutas de ver o jogo).
Para outros torcedores, quando as bebidas alcoólicas são proibidas nos estádios, a cerveja é
substituída por outras drogas.

4. Escreva o problema de maximização de utilidade intertemporal de dois períodos (t = 0,


1) em que toda a renda é ganha no presente (isso é, b 0 > 0 e b1 = 0 ). É possível, nesse
modelo, obter-se um equilíbrio onde o consumo presente seja superior à renda presente
(C0 > b0)? Use a restrição orçamentária para justificar matematicamente a sua resposta.
(1 ponto)

max u(c0, c1)

s.a. c0 + = b0 +

Se b1 = 0, então a restrição orçamentária se torna: c0 + = b0

Como c1, r > 0,

C0 = b0 – b0 necessariamente, valendo o sinal de igualdade se c1 = 0 e o sinal se c1 0.


Logo, não é possível obter um equilíbrio onde o consumo presente seja superior à renda presente.
Intuitivamente, o consumidor não conseguiria tomar crédito para financiar o seu consumo no
primeiro período, pois não teria renda para pagar o empréstimo no segundo período.
5. Discuta (concordando ou discordando) as afirmações abaixo.
i. Para qualquer curva de demanda a soma das elasticidades preço, preço cruzada e
renda tem sempre que somar zero. (1 ponto)
A homogeneidade de grau zero das funções demanda pode ser expressa em termos de
elasticidade. Qualquer aumento proporcional em todos os preços e renda deixa a quantidade
demandada pelo bem inalterada. Assim, a soma de todas as elasticidades preço, preço cruzado com
a elasticidade renda deve ser zero. Aplicando o Teorema de Euler para uma função demanda x(px,
py,b) tem-se:

, dividindo ambos os lados por x:


, logo,
, pois a função demanda é homogênea de grau 0.

ii. A introdução do programa Bolsa Família tem sempre efeito negativo sobre a economia,
pois contribui para reduzir a oferta de trabalho dos indivíduos. (1 ponto)

Falso. É provável que a oferta de trabalho caia em função do ganho de uma renda
assistencial, gerando um impacto negativo sobre a geração de produto (PIB) para a economia, pois
o lazer deve ser um bem normal. Mas, ainda que a demanda por lazer aumente, é possível alcançar
uma curva de indiferença mais alta, o que significa ganhos de bem-estar para aqueles que recembem
a renda assistencial– como mostra a figura. Além disso, em tremos teóricos é possível assumir que o
lazer é um bem inferior. Nesse caso, o ganho de renda decorrente do benefício social, resultaria em
redução da demanda de lazer. Logo, aumento da oferta de trabalho. Em suma, não necessariamente
o efeito total sobre a economia é negativo.

iii. A função ( ) não pode ser considerada uma função de utilidade, pois
para quaisquer valores positivos das quantidades x1 e x2 a função tem um resultado
negativo. (1 ponto)
Falso, pois as funções utilidade para o problema de maximização do consumidor são
ordinais, de modo que o sinal de u(x) é irrelevante. Importa somente a ordenação. É perfeitamente
possível ordenar cestas com números negativos. Note que a ordenação máxima, quando as
quantidades são infinitas, é zero.
iv. Considere o problema de maximização de utilidade do consumidor com n bens, a partir
do qual são geradas n funções de demanda. É impossível que todos os n bens envolvidos
neste problema de escolha ótima do consumidor sejam bens inferiores? Justifique o por
que de forma intuitiva e matemática. (1,0 ponto)

Verdadeiro. Matematicamente: Um bem é inferior se a derivada da quantidade em relação à


renda é negativa, ou seja:
. Logo:

Como os todos os bens são inferiores, as derivadas dessa equação são negativas. Dado que
os preços são positivos, cada multiplicação é negativa, sendo a soma de números negativos um
número negativo, e não igual a 1, como indica a equação. Assim sendo,
, o que contradiz a derivada. Logo, é impossível que todos os bens
envolvidos neste problema de escolha ótima do consumidos sejam bens inferiores.

Intuitivamente: considerando que p1x1 + ... + pnxn = m, ou seja, que toda a renda é gasta em
consumo, um aumento em m que resultasse em uma diminuição em todos os xi implicaria p1x1’ + ...
+ pnxn’ < m’. Assim, conforme alguns xi diminuem, outros teriam de aumentar, de modo a p1x1’ +...
+ pnxn’ = m’. [com m’ > m], o que não ocorre no caso de todos serem inferiores.

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