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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL
I SEMESTRE 2015
1º PROVA

1. Seja um consumidor com função de utilidade igual a 𝑈(𝑥, 𝑦) = 𝑥 + ln⁡(𝑦). Suponha que este indivíduo
disponha de uma renda de 100 reais, que o preço do bem x seja igual a 5 reais, e ainda que o preço do
bem y seja igual a 1 real.
(i) Encontre as funções de demanda pelos bens x e y e, com os preços e renda listados acima, as
quantidades demandas de cada bem. (1,5 ponto)
(ii) Calcule o valor da elasticidade renda da demanda pelo bem x no ponto obtido no item anterior.
Suponha que a renda do consumidor aumente de 100 para 110 reais. Qual o efeito desse aumento de
renda sobre a quantidade demandada de x. Comente o resultado. (1,0 ponto)

(i)
Igualando as taxas marginais de substituição à relação de preços temos:
𝑈𝑥 𝑝 1 𝑝 𝑝
𝑈𝑦
= ⁡ 𝑝𝑥 1⁄ = ⁡ 𝑝𝑥 𝑦 = ⁡ 𝑝𝑥
𝑦 𝑦 𝑦 𝑦

Da restrição orçamentária:
pxx + pyy = b pxx + pypx/py = b pxx + px = b x = b/px - 1

Numericamente:
y=5 x = 19

(ii)
Elasticidade-renda é calculada diretamente, no ponto em que b=100:

𝜕𝑥 𝑏 𝜕𝑥 1 1 𝑏 1 100 100
𝜀𝑥,𝑏 = ⁡ 𝜕𝑏 𝑥 =⁡𝑝 𝜀𝑥,𝑏 = ⁡ 𝑝 =⁡5 = = 1,052
𝜕𝑏 𝑥 𝑥 𝑥 19 95

Como x = b/px – 1 , um aumento na renda para b=110 irá alterar a quantidade demandada para x = 110/5
– 1 = 21, o que corresponde a um aumento percentual de 10,526%. Pode-se notar que o aumento
percentual na demanda é maior do que o aumento percentual na renda, pois a elasticidade-renda é maior
do que 1.

2. Suponha que um indivíduo apresente função de utilidade 𝑈(𝑤) = ⁡ √𝑤⁡, 𝑤 ≥ 0, sendo w sua riqueza.
Todo seu patrimônio foi investido uma casa cujo valor de mercado é de aproximadamente 400.000 reais.
Este indivíduo teme que sua casa pegue fogo e considera contratar um seguro contra este tipo de acidente.
Digamos que a probabilidade do evento incêndio é de 1%, dentro do período de 1 ano, e que lhe seja
oferecido um seguro total contra incêndio ao custo de 2.000 reais/ano.
(i) Classifique este indivíduo quanto a sua propensão ao risco e determine se ele irá contratar ou não o
seguro a este preço. (1,0 ponto)
(ii) Para que valor de seguro o indivíduo ficaria indiferente à contratação ou não do seguro? (1,0 ponto)

(i)
Como sua função de utilidade é côncava, o indivíduo é claramente avesso ao risco.
A decisão de contratação deve avaliar a utilidade esperada para cada cenário:
a) contrata seguro – patrimônio é preservado, mas paga 2 mil
𝐸[𝑈𝑐(𝑤)] = ⁡𝑈(400.000 − 2.000) = ⁡ √(400.000 − 2.000) = ⁡ √398.000 = 630,87⁡

b) não-contrata seguro – corre riscos de perder tudo a probabilidade 1%


𝐸[𝑈𝑛𝑐(𝑤)] = 0,99 ∗ 𝑈(400.000) ⁡ + 0,01 ∗ 𝑈(0) = ⁡0,99 ∗ √400.000
= ⁡0,99 ∗ 632,46 = 626,13
O valor da utilidade esperada para decisão (a) contrata seguro é maior do que para a decisão (b), portanto
o indivíduo contratará o seguro.

(ii) para que o indivíduo fique indiferente, o valor da utilidade esperada nos dois casos deve se igualar:
𝐸[𝑈𝑛𝑐(𝑤)] = 0,99 ∗ √400.000 = ⁡𝐸[𝑈𝑐(𝑤)] = ⁡ √(400.000 − 𝑝)

(0,99)2 ∗ 400.000 = 400.000 − 𝑝


0,9801 * 400.000 - 400.000 = - p
p = 400.000 - 392.040 = 7.960

O indivíduo somente ficaria indiferente se o valor do seguro fosse de R$ 7.960 / ano, ou seja, um valor
relativamente alto, o que demonstra que sua aversão ao risco é mesmo alta.

3. (FGV/EPGE/MFEE) Oferta de trabalho com comparação social. Considere um indivíduo com


preferências sobre consumo e trabalho. A característica particular deste problema é que a utilidade do
bem de consumo c depende de um nível de referência S que pode ser interpretado como o consumo
médio da sociedade. A função utilidade é dada por:

u(c, l, S) = (c - S)l

onde S > 0, l é a quantidade de lazer e o preço do bem de consumo é p.

Considere o problema da escolha ótima da oferta de trabalho h por um período total de T horas. O
indivíduo possui salário hora w como fonte de renda, além de uma dotação orçamentária externa fixa b.
(i) Resolva o problema de maximização da utilidade do trabalhador com relação as variáveis de escolha
c e l. Encontre a função de oferta de trabalho. (1,5 ponto)
(ii) Como a oferta de trabalho responde a um aumento no nível de referência S? Comente os resultados.
(1,0 ponto)

(i)
A renda total do trabalhador é wh + b
Seja h = T – l, então a restrição orçamentária fica dada como pc = wh + b = w (T-l) + b
pc + wl = wT + b (r.o.)
O problema de maximização da utilidade pode ser escrito como:
Maxc,l U(c, l, S) = (c-S)l
Sujeito a: pc + wl = wT + b (r.o.)
Lagrangeano:
L = (c-S)l + λ(wT + b - pc – wl)

Condições de primeira ordem:


Lc = l – pλ = 0 λ=l/p (1)
Ll = (c-S) – λw = 0 λ = (c-S) / w (2)

Igualando (1) e (2)


l / p = (c-S) / w
c = (lw)/p + S (3)

Substituindo (3) na r.o.


𝑙𝑤
𝑝 [ 𝑝 + 𝑆] + 𝑤𝑙 = 𝑤𝑇 + 𝑏
lw + pS + wl = wT + b
2wl = wT + b – pS

Demanda por lazer l:


𝑤𝑇 + 𝑏 − 𝑝𝑆 𝑇 𝑏 − 𝑝𝑆
𝑙(𝑝, 𝑤, 𝑏, 𝑇, 𝑆) = =⁡ +⁡
2𝑤 2 2𝑤

Função de oferta de trabalho h = T – l(.), então:

𝑇 𝑏 − 𝑝𝑆 𝑇 −𝑏 + 𝑝𝑆
ℎ(𝑝, 𝑤, 𝑏, 𝑇, 𝑆) = 𝑇 − [ + ⁡ ] =⁡ +⁡
2 2𝑤 2 2𝑤

Demanda por consumo c, pode ser obtida voltando a (3), substituindo l e solucionando para c:

𝑤𝑙 𝑤 𝑇 𝑏 − 𝑝𝑆 𝑤𝑇 𝑏 − 𝑝𝑆
𝑐= + 𝑆 = [ +⁡ ]+𝑆 = + +𝑆
𝑝 𝑝 2 2𝑤 2𝑝 2𝑝

𝑤𝑇 𝑏 𝑆
𝑐(𝑝, 𝑤, 𝑏, 𝑇, 𝑆) = + +
2𝑝 2𝑝 2

(ii) Conforme visto na função de oferta de trabalho h(.), ela responde positivamente a um aumento do
nível de referência S, o que significa que o indivíduo está disposto a trabalhar mais diante de um aumento
do consumo de seu grupo social, de forma a aumentar sua renda e também equiparar o seu nível de
consumo.
Veja ainda que:
𝜕ℎ 𝑝
=⁡ > 0, 𝑝𝑜𝑖𝑠⁡𝑝 > 0⁡𝑒⁡𝑤 > 0
𝜕𝑆 2𝑤

4. Discuta (concordando ou discordando) as afirmações abaixo.

(i) (ANPEC 2011) Com relação ao comportamento dos gastos do consumidor, pode-se afirmar que
um consumidor com uma função utilidade 𝑈(𝑥, 𝑦) = 𝑥 4 𝑦 gastará $20 de cada renda $100 na
aquisição do bem y. (1,0 ponto)

VERDADEIRO.
Observe que a função de utilidade apresentada é do tipo Cobb-Douglas, isto é, tem a forma
𝑈(𝑥, 𝑦) = 𝑥 𝑎 𝑦 𝑏 , sendo a = 4 e b = 1.
Condições de ótimo:
𝜕𝑈
𝑝𝑥
𝜕𝑈 = ⁡
𝜕𝑥
⁄𝑝𝑦 (taxas marginais de substituição)
𝜕𝑦
𝑝𝑥 𝑥 + 𝑝𝑦 𝑦 = 𝑏⁡(restrição orçamentária)

Resolvendo a primeira condição para y:


4𝑥 3 𝑦⁄ 𝑝𝑥
𝑥 4 = ⁡ ⁄𝑝𝑦
𝑝
𝑦 = ⁡ 4𝑝𝑥 𝑥 (eq.1)
𝑦

Isolando x na restrição orçamentária:

𝑏−𝑝𝑦 𝑦
𝑥 =⁡ (eq. 2)
𝑝𝑥

Substituindo (2) em (1):


𝑝 𝑏−𝑝𝑦 𝑦
𝑦 = ⁡ 4𝑝𝑥 ( )
𝑦 𝑝𝑥
𝑏
𝑦(𝑝, 𝑏) = ⁡ 5𝑝
𝑦

𝑏
A despesa do consumidor com o bem y será 𝑦(𝑝, 𝑏)𝑝𝑦 = ⁡ 5 , ou seja, um quinto de sua renda.
(ii) (ANPEC 2011) Considerando uma função utilidade 𝑈(𝑥, 𝑦) = min⁡(𝑥, 𝑦), a Curva de Engel do
bem 1 (x) é linear e crescente, com inclinação dada pelo preço correspondente (px). (1,0 ponto)

FALSO.
A função de utilidade determina que x e y são bens complementares perfeitos, em que a escolha
ótima situa-se na reta da restrição orçamentária (R.O.). Deste modo, a função de demanda pelo bem x
pode ser escrita isolando-se x na equação da R.O.
𝑏
𝑥(𝑝, 𝑏) = ⁡
𝑝𝑥 + 𝑝𝑦
A Curva de Engel para o bem x pode ser obtida simplesmente rearranjando a função de demanda
x(p,b).

𝑏(𝑥) = ⁡ (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 )𝑥
Onde observa-se que a inclinação é dada por px + py.

(iii) (ANPEC 2011) Um consumidor tem suas preferências pelos bens x e y representadas pela
seguinte função utilidade:
𝑈: ℝ2 ⁡ → ⁡ℝ

𝑈(𝑥, 𝑦) = ⁡ −⁡[(𝑥 − 3)2 + (𝑦 − 3)2 ]

Essas preferências exibem ponto de saciedade global na cesta (0,0). (1,0 ponto)

FALSO. A função de utilidade assume valor negativo para quaisquer valores de x e y para os quais x
, 3 e/ ou y , 3 e valor nulo quando (x, y) = (3, 3). Portanto, há um ponto de saciedade na cesta (3, 3) e
não na cesta (0, 0).

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