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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL e GIOVANI BAGGIO
1º SEMESTRE 2017
1º PROVA
1⁄
1. Dada a função de utilidade 𝑈(𝑥, 𝑦) = (4𝑥 + 𝑙𝑛𝑦) 3

a) Calcule as demandas pelos bens x e y. (1,0 ponto)


Realizando uma transformação monotônica na função utilidade, chegamos à expressão 𝑈(𝑥, 𝑦) =
4𝑥 + 𝑙𝑛𝑦, a qual pode ser mais facilmente tratada no Lagrangeano:
𝐿(𝑥, 𝑦, 𝜆) = 4𝑥 + 𝑙𝑛𝑦 + 𝜆(𝑏 − 𝑝𝑥 𝑥 − 𝑝𝑦 𝑦)

As condições de primeira ordem são:


𝜕𝐿
= 4 − 𝜆𝑝𝑥 = 0
𝜕𝑥
𝜕𝐿 1
= − 𝜆𝑝𝑦 = 0
𝜕𝑦 𝑦
𝜕𝐿
= 𝑏 − 𝑝𝑥 𝑥 − 𝑝𝑦 𝑦 = 0
𝜕𝜆

Com as duas primeiras equações, conseguimos descobrir a demanda pelo bem y:


4 1
=
𝑝𝑥 𝑦𝑝𝑦
𝑝𝑥
= 4𝑦
𝑝𝑦
𝑝𝑥
𝑦=
4𝑝𝑦

Substituindo y na restrição orçamentária, obtemos a demanda pelo bem x:

𝑏 = 𝑝𝑥 𝑥 + 𝑝𝑦 𝑦
𝑝𝑥
𝑏 = 𝑝𝑥 𝑥 + 𝑝𝑦
4𝑝𝑦
𝑝𝑥
𝑏 = 𝑝𝑥 𝑥 +
4
1
𝑏 = 𝑝𝑥 (𝑥 + )
4
1 𝑏
𝑥+ =
4 𝑝𝑥
𝑏 1
𝑥= −
𝑝𝑥 4

b) Calcule a elasticidade preço de cada bem. (1,0 ponto)


As elasticidades-preço dos bens são dadas por:
𝑑𝑥 𝑝𝑥 𝑑𝑦 𝑝𝑦
𝜀𝑥,𝑝𝑥 = 𝑑𝑝 e 𝜀𝑦,𝑝𝑦 = 𝑑𝑝
𝑥 𝑥 𝑦 𝑦

𝑝𝑥 𝑏
𝜀𝑥,𝑝𝑥 = −𝑏𝑝𝑥 −2 = −
𝑥 𝑝𝑥 𝑥
𝑝𝑥 −2 𝑝𝑦 𝑝𝑥
𝜀𝑦,𝑝𝑦 = − 𝑝𝑦 =−
4 𝑦 4𝑦𝑝𝑦

c) Comente o que acontece com a demanda pelo bem y caso o indivíduo tenha um aumento em
sua renda. Ilustre graficamente. (0,5 ponto)

Sendo o bem x o numerário desta função quase-linear, a demanda do bem y não depende da renda.
Logo, a elasticidade-renda do bem y é 0, o que significa que, assumindo preços constantes, a renda
pode variar indefinidamente e o indivíduo continuará consumindo a mesma quantidade do bem y.

Como podemos ver, quando os preços são mantidos constantes (Px = 4, Py = 1) e a renda varia (b =
2, 3, 4), a TMS iguala a razão de preços sempre com a mesma inclinação, fazendo o ponto de
tangência se dar sempre em um Y tal que Y* = 1, ou seja, constante.

2. Considere um consumidor com utilidade de utilidade esperada (Von Neumann-Morgenstern) dada


por U(x) = √𝑥. Considere a lista de prêmios C = (4, 27, 36) e um vetor de probabilidades P = (1/2,
1/3, 1/6).

a) Se o consumidor tiver a escolha de participar na loteria ou ganhar um prêmio de 9 com


certeza, isto é, D = (9) com vetor de probabilidade P = (1), o que ele escolheria? Justifique. (1,0
ponto)
1 1 1 2 3 6
Ele participaria da loteria. Temos que U(C) = 2
√4 + 3 √27 + 6
√36 = 2 + 3
√3 + 6
= 2 + √3 ≅
3,7. Já para U(D) = 1√9 = 3. Logo, o indivíduo escolheria a loteria.

b) Calcule o equivalente certo, isto é, o valor que torna o indivíduo indiferente entre participar
da loteria e ganhar este valor com probabilidade 1. (1,0 ponto)

Vamos chamar de Ec o equivalente certo. Como já calculamos acima o valor da utilidade esperada
para a loteria, para que o indivíduo seja indiferente entre ganhar o equivalente certo e jogar a loteria
devemos fazer √𝐸𝑐 = 2 + √3. Elevando os dois lados ao quadrado, temos 𝐸𝑐 = (2 + √3)2 = 4 +
3 + 4√3 = 7 + 4√3.

c) Conceitue o significado de um indivíduo ser avesso ao risco, neutro ao risco e propenso do


risco. Faça uma análise gráfica. (1,0 ponto)

Dizemos que um indivíduo é avesso ao risco quando prefere o valor esperado da loteria com certeza
a participar da loteria, isto é, u(E(x)) > E(u(x)); que é neutro ao risco quando u(E(x)) = E(u(x)) e
propenso ao risco quando u(E(x)) < E(u(x)). Além disso, temos as relações com as funções:

aversão ao risco ⇔ u é côncava;


propensão ao risco ⇔ u é convexa;
neutralidade ao risco ⇔ u é função afim.

Seguindo este exemplo de uma função côncava (indivíduo avesso ao risco), podemos ver que o
consumidor sai com uma utilidade maior quando ganha o valor esperado com certeza do que quando
participa da loteria.

3. Considere a opção entre duas políticas públicas distintas de combate à pobreza. A primeira
consiste na distribuição de cestas básicas à população carente. A segunda política pública distribui
diretamente dinheiro (no mesmo valor da cesta básica) a essa mesma população. Usando seus
conhecimentos de teoria microeconômica avalie analiticamente (usando ilustrações gráficas se
necessário) essas duas políticas públicas. (1,5 ponto)

As duas alternativas de política têm o efeito de expandir a restrição orçamentária da população


carente, isto é, deslocar a restrição para a direita, permitindo um nível de consumo e um nível de
bem-estar maiores do que o da situação inicial. Em teoria, é possível que as duas políticas sejam
igualmente eficientes, supondo que a cesta básica corresponda exatamente à cesta que maximiza a
utilidade da população. Ou seja, o formulador da política pública teria de fornecer cestas básicas
individuais de acordo com as preferências de cada família. Isso, contudo, é muito pouco provável,
até porque cada pessoa pode ter preferências diferentes. Assim, uma cesta fixa de bens
provavelmente será distinta daquela que um dos beneficiários do programa escolheria se pudesse
determinar livremente quais bens consumir, correspondendo, portanto, a um nível de bem-estar que
não é máximo para a nova restrição orçamentária. Por outro lado, se o beneficiário receber
diretamente dinheiro, ele é capaz de escolher de que forma distribuir seu consumo entre os bens e
serviços de forma a maximizar sua utilidade.

O gráfico abaixo ilustra esse raciocínio. O ponto A representa a situação inicial. A reta laranja
representa a nova restrição orçamentária expandida com a política. Tanto o ponto B quanto o ponto
C estão sobre ela. Contudo, apenas no ponto C a utilidade é máxima. O ponto B representa a situação
em que o indivíduo recebe uma cesta fixa de bens que não estão nas proporções que permitiriam o
maior nível de bem-estar para aquele nível de renda.
x2

x1

4. Julgue se as seguintes afirmativas são verdadeiras ou falsas. Justifique detalhadamente sua


resposta.

𝛼𝑋 δ 𝛽𝑌 δ
a) A função CES de utilidade U(X, Y) = + possui TMS constante se δ = 1. (1,0 ponto)
δ δ

𝑑𝑈 δ𝛼𝑋 δ−1
VERDADEIRO. Como TMS = UMx/UMy, derivando a função em relação a X temos =
𝑑𝑋 δ
𝑑𝑈 δ𝛽𝑌 δ−1 𝑑𝑈 𝑑𝑈
=> 𝛼𝑋 δ−1 . Derivando em relação a Y, temos = => 𝛽𝑌 δ−1 . Logo, se δ = 1, / 𝑑𝑌 =
𝑑𝑌 δ 𝑑𝑋
0 0 𝛼
𝛼𝑋 /𝛽𝑌 => 𝛽, que é constante.
b) Para que um bem seja de Giffen, ele necessariamente deve ser um bem inferior. (1,0 ponto)

VERDADEIRO. Grosseiramente falando, pela equação de Slutsky temos que


dx
= 𝑒𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑠𝑢𝑏𝑠𝑡𝑖𝑡𝑢𝑖çã𝑜 − 𝑒𝑓𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎. O efeito substituição sempre será negativo. Portanto,
dPx
dx
se um bem for normal, o efeito renda será positivo e não há a possibilidade de dPx > 0. No entanto,
caso o bem seja inferior, o efeito renda será negativo e o segundo termo do lado direito da equação
ficará positivo. Assim, caso a magnitude do efeito renda seja maior que a magnitude do efeito
dx
substituição, dPx > 0.

c) Em um modelo de escolha intertemporal, as decisões quanto à alocação de consumo no


tempo são tomadas pelos consumidores comparando a taxa de juros com a taxa de preferência no
tempo. Assim, quanto maior for a taxa de juros e menor a taxa de preferência no tempo, maior será o
volume de consumo presente em relação ao consumo futuro. (1,0 ponto)

FALSO. A primeira parte da afirmação até está correta. Ou seja, a alocação do consumo no tempo é
feita igualando a taxa marginal de substituição no consumo entre o presente e o futuro com a razão
dada pela taxa de juros e pela taxa de preferência no tempo. Contudo, a segunda parte da afirmação
está errada. Quanto maior for a taxa de juros e menor a taxa de preferência no tempo maior será o
volume de consumo futuro em relação ao consumo presente, e não o contrário. Isso porque i) uma
taxa de juros alta representa uma recompensa maior por adiar o consumo, e ii) uma taxa de
preferência no tempo baixa significa que há uma perda de bem-estar pequena por adiar o consumo.
Assim, esses dois fatores favorecem o consumo futuro em detrimento do consumo presente.

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