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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TEORIA MICROECONÔMICA I
PROF. MARCELO S. PORTUGAL
II SEMESTRE 2015
1º PROVA

1. Considere a função de utilidade dada por U(x, y) = min (x/2, y)


(a) Defina bens complementares e substitutos e classifique os bens x e y nesse contexto (0,5 ponto).

Bens complementares guardam uma relação de preferência tal que são consumidos em
conjunto, de forma que um aumento no preço de um é acompanhado por uma redução no consumo
𝑑𝑥
do outro, de tal forma que 𝑑𝑝𝑖 < 0 Bens substitutos são aqueles que podem ser intercambiados no
𝑗
consumo sem que isto afete consideravelmente a utilidade do consumidor, assim, um aumento no
𝑑𝑥
preço de um deles aumenta o consumo do outro, logo, 𝑑𝑝𝑖 > 0.
𝑗
A função utilidade de Leontieff representa uma relação de complementaridade perfeita entre
os bens x e y, os quais são consumidos sempre juntos, e em uma dada proporção fixa, neste caso,
para cada unidade de y se consome duas unidades de x.

(b) Desenhe as curvas de indiferença para a função de utilidade acima (0,5 ponto).

(c) Obtenha as funções de demanda para os bens x e y (1 ponto).


O consumo ótimo segue a proporção x/2 = y ⇒ x = 2y.

Substituindo esta expressão para x na restrição orçamentária:


𝑏
b = px2y + pyy ⇒ y = 2𝑝𝑥+𝑝𝑦.
E, então, usando esta expressão em x:
2𝑏
x = 2𝑝𝑥+𝑝𝑦.

2. Considere a curva de indiferença dada por 𝑦 = [𝑈 3 − √𝑥]2 em que x e y são dois bens e U o
nível de utilidade.
(a) Obtenha a função de utilidade U(x,y) referente a essa curva de indiferença (1 ponto).

Precisamos obter U em função de x e y. Tirando a raiz quadrada dos dois lados:


√𝑦 = 𝑢3 − √𝑥
Passando √𝑥 para o outro lado
√𝑦 + √𝑥 = 𝑢3
Tirando a raiz cúbica dos dois lados:
𝑈 = (√𝑦 + √𝑥)1/3

(b) Denote por py o preço do bem y, px o preço do bem x e b a renda do consumidor. Ache as
demandas marshalianas de cada bem (1 ponto).

Montando o lagrangeano, obtemos:

𝐿 = (√𝑦 + √𝑥)1/3 + ƛ(𝑏 − 𝑝 𝑥 𝑥 − 𝑝𝑦 𝑦)

C.P.O.:
𝑑𝐿 1 1
= (√𝑦 + √𝑥)−2/3 2 − ƛ𝑝𝑥 = 0
𝑑𝑥 3 √𝑥

𝑑𝐿 1 1
= (√𝑦 + √𝑥)−2/3 − ƛ𝑝𝑦 = 0
𝑑𝑥 3 2√𝑦

Isolando o ƛ𝑝 nas duas equações e dividindo uma pela outra obtemos:


1 −2/3 1
( √𝑦 + √ 𝑥)
𝑝𝑥 3 2√𝑥
=
𝑝𝑦 1 −2/3 1
3 (√𝑦 + √𝑥) 2√𝑦
𝑝𝑥 √𝑦
=
𝑝𝑦 √𝑥
𝑝𝑦 2
𝑥=( ) 𝑦
𝑝𝑥

Substituindo na restrição orçamentária:


𝑝𝑦
𝑝𝑦 𝑦 + 𝑝𝑥 ( )2 𝑦 = 𝑏
𝑝𝑥

Isolando para o bem y, obtemos a demanda para esse bem:


𝑏𝑝𝑥
𝑦=𝑝
𝑦 (𝑝𝑥 +𝑝𝑦 )

Por simetria, obtemos a demanda pelo bem x:


𝑏𝑝𝑦
𝑥=
𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 )

(c) Supondo os preços do bem x e y constantes, encontre a curva de Engel de cada bem, indicando
qual formato dela. O bem x é inferior, normal ou superior? E o bem y? (0,5 ponto).

𝑏𝑝𝑦 𝑏𝑝𝑥
𝑥=𝑝 𝑦=𝑝
𝑥 (𝑝𝑥 +𝑝𝑦 ) 𝑦 (𝑝𝑥 +𝑝𝑦 )

Como px e py são constantes, podemos reescrever a função demanda da seguinte forma:


𝑥 = 𝑘𝑥 𝑏
𝑦 = 𝑘𝑦 𝑏

Logo, a curva de Engel desses bens é representada por uma reta com inclinação k, sendo
𝑝𝑦 𝑝𝑥
𝑘𝑥 = 𝑒 𝑘𝑦 =
𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 ) 𝑝𝑦 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 )

Kx Ky

O bem x é normal. Por simetria, o bem y também é.


(d) Calcule a elasticidade renda da demanda pelo bem y. Comente esse resultado (0,5 ponto).
𝑑𝑥 𝑏
𝜀𝑥,𝑏 =
𝑑𝑏 𝑥
𝑝𝑦 𝑏 𝑝𝑦 𝑏 𝑝𝑦 𝑏𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 )
𝜀𝑥,𝑏 = = = =1
𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 ) 𝑥 𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 ) 𝑏𝑝𝑦 𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 ) 𝑏𝑝𝑦
𝑝𝑥 (𝑝𝑥 + 𝑝𝑦 )

A elasticidade renda por esse bem é unitária. Isso significa que um aumento na renda gera um
aumento na mesma proporção na demanda por esse bem, ceteris paribus.

3. Um indivíduo pode escolher entre infringir a lei (C) ou respeitar as leis (L). Se ele respeita as leis
sua renda é w. A atividade ilegal gera uma renda adicional y, ou seja, sua renda como infrator é w +
y. No entanto, existe uma probabilidade do indivíduo ser preso caso seja um criminoso. Toda vez
em que o indivíduo é preso é aplicada a ele uma punição monetária (multa) p, isto é, sua renda passa
a ser w + y - p. Caso respeite as leis, o indivíduo nunca é punido.
(a) Se a utilidade do indivíduo é definida por u(x), onde x é a renda total do indivíduo, escreva a sua
utilidade esperada no caso em que ele opta pelo crime e na situação em que ele escolhe respeitar as
leis. Quando o indivíduo opta por descumprir a lei? (1,0 ponto).

Utilidade esperada quando o indivíduo respeita as leis: não há risco.


EL[u(x)] =  u(w)+(1- u(w) = u(w)

Utilidade esperada quando o indivíduo opta pelo crime:


EC[u(x)] = π[u(w + y – p)] + (1 – π)[u(w + y)]
O individuo descumpre a lei quando EC[u(x)] > EL[u(x)].

(b) Suponha que u(x) x(0 ). Para que valores de o indivíduo é avesso ao risco, ou amante
do risco, e neutro em relação ao risco? (1,0 ponto)
Avesso ao risco quando a função de utilidade esperada é côncava, isto é, a utilidade do valor
esperado é maior que a utilidade esperada.
u[E(x)] > E[u(x)]
u[π(w+y – p)+(1 – π)(w + y)] > π[u(w + y – p)] + (1 – π)[u(w + y)]

Função côncava: u’’(x) < 0


u(x) = xα
u’(x) = αxα-1
u’’(x) = α(α-1)xα-2< 0 ⇔ α(α-1)<0 ⇔ (α-1)<0 e α>0
Logo, 0 < α < 1

Amante do risco quando a função de utilidade esperada é convexa, isto é, a utilidade do valor
esperado é menor que a utilidade esperada.
u[E(x)] < E[u(x)]

Função côncava: u’’(x) > 0


u’’(x) = α(α-1)xα-2>0 ⇒ α>1

Neutro em relação ao risco quando a função de utilidade esperada é uma reta, e a utilidade do valor
esperado é igual à utilidade esperada.
u[E(x)] = E[u(x)]

u’’(x) = 0
α-2
u’’(x) = α(α-1)x
.
=0
(α-1)= 0 ⇒ α = 1

(c) Suponha u(x) xtal como no item anterior. Discuta, intuitiva e analiticamente, quais as
combinações de e p que induzem o indivíduo a optar por respeitar as leis? (0,5 ponto).

O indivíduo opta por respeitar as leis quando


EL[u(x)] > EC[u(x)]
u(w) > π[u(w + y – p)] + (1 – π)[u(w + y)]
wα > π(w + y – p)α + (1 – π)(w + y)α
wα > π(w + y – p)α + (w + y)α – π(w + y)α
wα > π[(w + y – p)α – (w + y)α] + (w + y)α
wα – (w + y)α > π[(w + y – p)α – (w + y)α]
Trocando de lado:
π[(w + y – p)α – (w + y)α] < wα – (w + y)α
A equação pode ser reescrita como
– π[–(w + y – p)α + (w + y)α] < wα – (w + y)α
𝑤 𝛼 – (𝑤 + 𝑦)𝛼
– π < [– (𝑤 + 𝑦 – 𝑝)𝛼+ (𝑤 + 𝑦)𝛼 ]
– 𝑤 𝛼 + (𝑤 + 𝑦)𝛼
π > [– (𝑤 + 𝑦 – 𝑝)𝛼+ (𝑤 + 𝑦)𝛼 ]

Logo, há uma relação inversa entre e p, ou, dito de outra forma, o indivíduo pode ser incentivado a
cumprir a lei quando  aumentae p diminui, ou  diminui e p aumenta.
Note que o formato dessa relação vai depender de que é o parâmetro que determina a aversão ao
risco do indivíduo.
4. Julgue se as seguintes afirmativas são verdadeiras ou falsas. Justifique sua resposta.
(a) Sendo uma curva de demanda uma reta negativamente inclinada, a elasticidade-preço é constante
para qualquer consumo, isso é, em qualquer ponto da função de demanda. (1,0 ponto)

Falso. Seja a seguinte função demanda: Q = a – bP, com a, b > 0. Pela definição de
elasticidade-preço da demanda:
𝑃 −𝑏𝑃
|𝜀 p, q| = |−𝑏. | ⇒ 𝜀 p, q = | |.
𝑎−𝑏𝑃 𝑎−𝑏𝑃

Assim, quando P = a/2b e Q = a/2, |𝜀 p, q| = 1.


Quando P > a/2b e Q < a/2, |𝜀 p, q| > 1.
E quando P < a/2b e Q > a/2, então |𝜀 p, q| < 1.
Portanto, mesmo que a curva de demanda seja uma função linear, a sua elasticidade-preço dependerá
do par preço-quantidade considerado.

(b) Suponha que existam apenas dois bens, cujas demandas são denotadas por x e y. Se x apresenta
elasticidade-renda unitária e o consumidor gasta uma fração positiva de sua renda em cada bem,
então y também apresenta elasticidade-renda unitária (0,5 ponto).

𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑏
Verdadeiro. Derivando a restrição orçamentária em termos da renda: px + py = =1.
𝜕𝑏 𝜕𝑏 𝜕𝑏
Manipulando o lado esquerdo da equação, através de uma multiplicação e divisão simultânea:
𝑝𝑥 𝑥 𝜕𝑥 𝑏 𝑝𝑦 𝑦 𝜕𝑦 𝑏
+ =1
𝑏 𝜕𝑏 𝑥 𝑏 𝜕𝑏 𝑦
𝑝 𝑥 𝑝𝑦 𝑦
Como sx = 𝑏𝑥 e sy = 𝑏 , sendo si a participação dos gastos com o bem i na renda total, e pela
definição de elasticidade:

𝑠𝑥 𝜀𝑥,𝑏 + 𝑠𝑦 𝜀𝑦,𝑏 = 1
Supondo 𝜀𝑥,𝐼 = 1, e como 0 < si < 1:
𝑠𝑥 + 𝑠𝑦 𝜀𝑦,𝑏𝐼 = 1  𝛾𝜀𝑦,𝑏 = 𝛾
Onde 𝛾 = 1 – 𝑠𝑥 = 𝑠𝑦 , de modo que:

𝜀𝑦,𝑏 = 1.

(c) Ao longo de uma curva de demanda marshalliana individual, o nível de utilidade do consumidor
permanece constante (1,0 ponto).

Falso. A construção da função demanda marshalliana maximiza a utilidade do consumidor


para preços e renda dados. Variando um destes parâmetros, o que representa graficamente mudanças
na reta de restrição orçamentária, alcança-se um ponto ótimo diferente, associado a uma curva de
indiferença distinta, e, portanto, implicando em uma variação do nível de utilidade.

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