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1 Introdução
O trabalho introduz uma forma de alcançar equilı́brio
sem esquema Ponzi. Até a publicação deste trabalho
na literatura se encontravam as principais formas de
lidar com o endividamento ilimitado seriam a restrição
de endividamento e condições de transversalidade. A
utilização desses mecanismos é que retiram do espaço de
escolhas do agente a possibilidade do Ponzi, enquanto
que neste trabalho verificaremos que o colateral garante
o equilı́brio sem Ponzi sem adicionar essa imposição.
Através de um modelo de mercados incompletos com
ativos protegidos por colaterais, de modo que na ausência
do pagamento da dı́vida, o devedor tem o colateral con- Figura 1: Árvore binária de incerteza com perı́odos
fiscado. Num primeiro momento vamos verificar o a contáveis
existência de equilı́brio no horizonte finito, para esten-
der em seguida no horizonte infinito com perı́odos contá-
veis. Neste cenário, os estados da natureza são represen- Seja τ ∈ N ∪ {∞} o tamanho do horizonte de tempo
tados como o caminho de uma árvore, a qual de cada nó e T = {t ∈ N : t < τ } o conjunto dos perı́odos. Seja S
parte uma quantidade finita de arestas, mas que pode o um conjunto dos estados da natureza, i.e. na Figura
ter profundidade infinita. 1 τ = 2 e S = {s1 s1 , s1 s2 , s2 s1 , s2 s2 }.
Para atingir tal objetivo os autores se inspiram no O nó ξ = (t, σ) é caracterizado pelo caminho σ e
trabalho Geanakoplos, et al (1995), que apresenta a pelo perı́odo que levou para ser alcançado t. Usaremos
solução em dois perı́odos. A partir de jogos generali- t̃(ξ) := t para se referir ao perı́odo do respectivo nó e
zados é garantida a existência de equilı́brio no caso fi- ξ − é o nó pai ξ, bem como ξ + é o conjunto de nós filhos.
nito. Já para o caso infinito, a sequência de equilı́brios Finalmente, seja Dτ a árvore de eventos com horizonte
truncados é analisada de forma a incrementar o perı́odo de tamanho τ
terminal. Nesta análise se conclui que a sequência de
utilidade marginal de cada agente em cada nó é uni- Agentes e Commodities Considere L o conjunto
formemente limitada. Com isto em seguida os autores de commodities a serem negociadas em cada perı́odo.
conseguem estabelecer um limite superior para os short- O conjunto de bens desta economia é dado por Dτ × L.
sales para cada nó individual. Para garantir que este Neste modelo as commodities sofrem de depreciações
limite seguirá válido pela árvore inteira se utiliza o fato parciais no decorrer dos perı́odos. A depreciação é re-
de que é contável para usar um argumento diagona- presentada na evolução da famı́lia de matrizes L × L de
lizável e criar uma subsequência com propriedades de entradas positivas {Yξc , Yξs }ξ∈Dτ . A entrada (Yξc )l, l′ é
interesse. a quantidade de bens l a serem obtidos no nó ξ se uma
unidade do bem l′ ser consumida no perı́odo anterior.
Já (Yξs )l, l′ é a quantidade análoga, porém para cada
2 Modelo unidade do bem l′ armazenada.
Em cada nó existe um mercado à vista de commodi-
Incerteza A incerteza é representada por um cami- ties. Seja p := (pξ, l )ξ∈Dτ ×L o processo de preço à vista
nho aleatório numa árvore s-ária, isto é, cada nó pai e o vetor pξ = (pξ, l )l∈L o vetor de preços à vista do
tem s filhos respectivo nó.
1
Agora vamos caracterizar os agentes i ∈ I. Cada 2.1 Definição de Equilı́brio
agente tem dotação wi := {wi (ξ, l)}(ξ,l)∈Dτ ×L com τ
Um equilı́brio para a economia Eex é o vetor
wi (ξ, l) ∈ R+ e wi (ξ) := {wi (ξ, l)l∈L } ∈ RL + são as τ I
[(x̄, ȳ, θ̄, ϕ̄); (p̄, q̄)] ∈ (E ) × P τ , com (x̄, ȳ, θ̄, ϕ̄) =
dotações do agente i no nó ξ.
τ (x̄i , ȳ i , θ̄i , ϕ̄i )i∈I tal que para cada i se resolve o pro-
Denotamos X i := RD ×L , o plano de consumo livre
blema
de colaterais do agente i é dado por xi := (xi (ξ, l)(ξ,l)∈Dτ ×L )
em X i . Já o plano de armazenamento livre de colate- max V i (xi , y i , θi , ϕi )
rais do agente i, y i é um elemento de X̃ i := {y ∈ X i : (xi ,y i ,θ i ,ϕi )
y(ξ) = 0 onde ξ é folha de Dτ } pξ0 xi (ξ0 ) + y i (ξ0 ) + pξ0 C ξ0 ϕi (ξ0 ) + qξ0 Z i (ξ0 )
s. a.
A preferência é do agente i é representada pela função
≤ pξ0 wi (ξ0 )
utilidade U i : X i → R+ .
τ
. Teorema 1: Para uma economia Eex (Dτ , U, W, A, Y)
Para facilitar a notação, sejam tal que
τ
1. para todo agente i ∈ I, wi ∈ RD ×L
− −
Yξ C ξ− = YξC C B, ξ + C L, ξ ++
2
Lema 1: Sobre as hipóteses 1 e 3 do Teorema 1, a indexada em T µT,i
ξ é uniformemente limitada
alocação (x, y, θ, ϕ) em (Eτ )I que satisfaz a condição de T ≥t̃(ξ)
para todo i e ξ.
viabilidade é limitada em horizonte finito.
Utilizando as hipóteses de que cada componente de
{(xT (ξ), y T (ξ), θT (ξ), ϕT (ξ), pTξ , qξT , µTξ )}T >t̃(ξ) é unifor-
A demonstração do lema é dada pela soma das coor-
memente limitada para todo ξ, é criada uma subsequência
denadas das condições de viabilidade na coordenada dos
convergente na moda diagonalizante. Primeiro os nós
bens. Como se tratam de quantidades finitas, existe o
são ordenados. Para o nó ξ1 é criada uma subsequência
valor máximo dentre as dotações, dentre a coordenada
convergente e de forma recorrente a partir da subsequência
da matriz de depreciação, bem como o valor mı́nimo
do nó ξk é criada uma subsequência convergente para
dentre os colaterais. Isso é suficiente para limitar
ξk+1 . Para concluir o argumento criasse a subsequência
(x, y, θ, ϕ).
Tk que converge para todo ξs tal que s ≤ k e por tanto,
Em seguida a estratégia de demonstração do Te-
o limite dos parâmetros de equilı́brio existem quando
orema 1 é definir o problema como um jogo genera-
Tk → ∞. Defina
lizado e concluir a demonstração verificando se existe
equilı́brio para jogo generalizado existe equilı́brio para
x̄(ξ), ȳ(ξ), θ̄(ξ), ϕ̄(ξ), p̄ξ , q̄ξ , µ̄ξ :=
a economia como descrita e que as hipóteses do Teo-
rema 1 são suficientes para garantir a existência do lim {(xTk (ξ), y Tk (ξ), θTk (ξ), ϕTk (ξ), pTξ k , qξTk , µTξ k )}
k→∞
equilı́brio no jogo generalizado.
Lema 2: A alocação (x̄(ξ), ȳ(ξ), θ̄(ξ), ϕ̄(ξ)), (p̄ξ , q̄ξ )
∞
4 Horizonte Infinito é equilı́brio para Eex
O objetivo desta seção é estender o resultado do hori- O factibilidade do candidato é consequência do li-
zonte finito para o horizonte infinito, antes de enunciar mite. Cada alocação parcial satisfaz as condições, o
o teorema principal, Será definida a versão de perı́odo limite de cada parâmetro também satisfaz
truncado da economia Eex ∞
(D∞ , U, W, A, Y). Para garantir a otimalidade, o argumento é baseado
Seja a economia truncada Eex T
, uma economia de ho- na redução ao absurdo. Primeiro se supõe não seja pa-
rizonte finito com T+1 perı́odos tal que reto ótimo então para algum agente i existe alocação
(x, y, θ, ϕ) que satisfaça a restrição orçamentária e que
DT = {ξ ∈ D∞ : t̃(ξ) ≤ T }
V i (x, y, θ, ϕ) − V i (x̄i , ȳ i , θ̄i , ϕ̄i ) ≥ δ > 0
U T,i (x(ξ))ξ∈DT = U i (x(ξ))ξ∈DT ; 0
wT,i wi (ξ) : ξ ∈ DT AT = A|DT −1 Y T = Y |DT Daı́ é estimada uma cota superior para a diferença
entre as utilidades em cada nó. Somando essas desi-
∞
Teorema 2: Se a economia Eex satisfaz gualdades para nós até certa P profundidade N é possı́vel
limitar a cota pela soma ξ,t̃(ξ)≥N +1 ui (ξ, β), no qual
1. ∀i ∈ I, wi ∈ X+i
e ∃w̄ ∈ R++ tal que β é a superior do consumo que só é possı́vel de ser cons-
∥w (ξ)∥1 ≤ w̄ ∀ξ ∈ D∞
i
truı́da graças às condições 1 e 4 do Teorema 2.
Como V i é a soma da série de termos positivos e
2. podemos expressar U i (x) = ξ∈D∞ ui (ξ, x(ξ)) e é
P
temos que a diferença entre as séries é de δ, existe N ∗
finito ∀x com ui (ξ, ·) : RL
+ → R+ contı́nua, estrita- tal que
mente crescente, côncava e ui (ξ, 0) = 0 ∀ξ ∈ D∞ X
ui (ξ, x(ξ)+C B,ξ ϕ(ξ)+C L,ξ θ(ξ))−V i (x̄i , ȳ i , θ̄i , ϕ̄i ) ≥ δ/2
3. Cjξ ̸= 0 ∀(ξ, j) ∈ D∞ (J )
{ξ,t̃(ξ)≤N }
h i
4. YξC , YξS = [diag(al (ξ)), diag(bl (ξ))] com Daı́, concluı́mos que
supξ∈D∞ [maxl∈L {al (ξ), bl (ξ)}] < ∞
δ X
0< ≤ lim ui (ξ, β) = 0
então existe equilı́brio. 2 N →∞
{ξ,t̃(ξ)≥N +1}
Para demonstrar a existência, os autores primeira-
mente exibem um candidato. O primeiro passo é garan-
Que é absurdo. Concluindo que (x̄(ξ), ȳ(ξ), θ̄(ξ), ϕ̄(ξ)), (p̄ξ , q̄ξ )
tir a existência do multiplicador de Lagrange µT,i
ξ T
é maximal dentro da restrição orçamentária.
ξ∈D
na resolução da problema de maximização do agente na
árvore truncada. Em seguida, verificam que a sequência