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Aula 4

Microeconomia 1 – UnB (graduação)

Tipos de Preferências e Utilidades

2023/2
Consumidor no mercado
Consideramos agora o caso de cestas de dois bens
perfeitamente divisíveis.

1 X = R2+ .
2 Preferências sobre X representadas por uma função de
utilidade u : R2+ → R:

x ≽ y ⇔ u(x) ≥ u(y ).

3 Escolhas são feitas de conjuntos orçamentário B(p, w ), onde


p = (p1 , p2 ) e w ∈ R, de modo a resolver o problema:

max u(x)
x∈R2+

s.a. x ∈ B(p, w ).
Exemplo importante de preferências

Preferências bem comportadas


Preferências que são monotônicas e convexas.
1 Monotonicidade: mais é melhor, ou seja, x1 ≥ y1 e x2 ≥ y2
com x ̸= y implicam que u(x) > u(y ).
2 Convexidade: cestas intermediárias são preferidas aos
extremos, ou seja, para todo x ∈ R2+ o conjunto de contorno
superior {y ∈ R2+ : u(y ) ≥ u(x)} é convexo.

Observação
Para o item 1, a utilidade u terá que ser “crescente” em certo
sentido. Para o item 2, a função de utilidade u seria quase-côncava.
uantidade média do bem 2 presentes em ambas as cestas
Exemplo importante de preferências (cont.)
que liga a cesta x à cesta y.

Preferências monotônicas. Mais de ambos os bens é


Figura: Varian (livro)
deExemplo
azeitonas e 60 gramas
importante de sorvete.
de preferências Porém, qualquer de
(cont.)
que consumir 155 gramas de ambos! São esses os tipos
gura 3.10C.

0 Vários tipos de preferências. O painel A descreve a


Figura: Varian (livro)

painel B, as preferências não convexas; e o painel C, a


Taxa marginal de substituição

Ideia
Seja x = (x1 , x2 ) uma cesta. Considere a nova cesta x + ∆x
= (x1 + ∆x1 , x2 + ∆x2 ). Supondo que u é diferenciável, quando as
duas cestas são indiferentes temos
u(x+∆x)
z }| {
∂u(x) ∂u(x)
u(x) = u(x) + ∆x1 + ∆x2 + r (∆x),
∂x1 ∂x2 | {z }
resto

de onde
∂u(x)
∆x2 ∂x1
≈ − ∂u(x) .
∆x1
∂x2
Taxa marginal de substituição (cont.)
Definição (TMS)
A taxa marginal de substituição do bem 2 pelo bem 1 é taxa à
qual o consumidor substitui o bem 2 pelo bem 1 de modo a
continuar indiferente à cesta original. Isto é formalizado para fins
práticos pela inclinação da curva de indiferença, que mede tal
substituição:

∂u(x) ∂u(x) −1
 
TMS1,2 = − .
∂x1 ∂x2

Observação (Utilidade marginal)

∂u(x)
= utilidade marginal do bem 1
∂x1
∂u(x)
= utilidade marginal do bem 2.
∂x2
Taxa marginal de substituição (cont.)

Interpretação
Se ∆x1 é uma variação do consumo do bem 1, para o consumidor
ficar indiferente entre a nova cesta e a cesta original x o consumo
do bem 2 deve ter variado ∆x2 = TMS · ∆x1 . Ou seja, a TMS é
taxa subjetiva de troca do bem 2 pelo bem 1, pois se

(x1 , x2 ) → (x1 + ∆x1 , x2 + ∆x2 )

então teremos indiferença caso (em termos infinitesimais)


∂u
∆x2 ∂x1 (x)
= − ∂u .
∆x1 ∂x (x)
2
precisam ter inclinação negativa. Como a TMS é a medida
e uma
Taxacurva de indiferença,
marginal ela (cont.)
de substituição naturalmente será um número n

Figura: Varian (livro)


Taxa marginal de substituição (cont.)

A TMS é invariante a transformações estritamente crescentes


Se v (x) = ϕ(u(x)) com ϕ estritamente crescente e diferenciável
(com derivada positiva), então a nova TMS será
−1
∂u(x) −1
   
∂v (x) ∂v (x) ′ ∂u(x) ′
− = − ϕ (x) ϕ (x) ,
∂x1 ∂x2 ∂x1 ∂x2

que iguala a TMS calculada com u.

Observação (TMS em preferências convexas)


Quando o consumo do bem 1 cresce, a inclinação da curva
indiferença ficar menor (em valor absoluto), e por isso a TMS
diminui em valor absoluto.
Preferências homotéticas

Definição (Função homotética)


A função f : RN
+ → R é homotética quando existir uma função de
uma variável estritamente crescente ϕ e uma função g : RN
+
homogênea de grau 1 tal que

f (x) = ϕ(g (x)).

Ou seja, uma função homotética é uma transformação monotônica


de uma função homogênea de grau 1.

Preferência homotética
Quando as preferências do consumidor admitem uma representação
de utilidade u : RN
+ → R com u sendo uma função homotética,
dizemos que as preferências são homotéticas.
Preferências homotéticas (cont.)

Observação
Uma condição mais básica sobre as preferências que somada a
outras condições fornecem uma utilidade homotética é a hipótese
de que, para todo t > 0,

x ∼ y ⇒ tx ∼ ty .

Ou seja, os raio passando por dois pontos x e y em uma


determinada curva de indiferença determina por proporcionalidade
os demais pares de cestas em cada raio que estão nas demais
curvas de indiferença. Faça o gráfico.
Preferências homotéticas (cont.)

TMS com preferências homotéticas


Note que uma preferência homotética pode ser representada por
uma utilidade v que é homogênea de grau 1. Por isso, com
diferenciabilidade, sabemos que as derivadas parciais ∂v∂x(x)
i
são
funções homogêneas de grau 0:

∂v (tx) ∂(txi ) ∂v (x)


v (tx) = tv (x) ⇒ =t ,
∂xi ∂xi ∂xi

de onde ∂v∂x(tx)
i
= ∂v∂x(x)
i
. No caso de N = 2, isso implica que a TMS
ao longo de um raio passando pela cesta x:
∂v (tx) ∂v (x)
∂x1 ∂x1
∂v (tx)
= ∂v (x)
.
∂x2 ∂x2
Preferências homotéticas (cont.)

Exemplo (Cobb-Douglas I)
A função u(x1 , x2 ) = x1a x21−a representa uma preferência
homotética.

Exemplo (Cobb-Douglas II)


Em geral, a função u(x1 , x2 ) = x1a x2b com a, b ≥ 0 representa uma
preferência homotética. No caso relevante em que a + b > 0, note
a/(a+b) b/(a+b)
que u(x) = ϕ(x1 x2 ) e ϕ(t) = t a+b é estritamente
crescente em t ≥ 0.

Exemplo (Utilidade Leontief)


A função u(x) = min{ax1 , bx2 } é homogênea de grau 1, e portanto
uma função homética. Logo as preferências que ela representa são
homotéticas.
Exemplos
Exemplo (Preferências lineares: substitutos perfeitos)
Suponha que u(x) = ax1 + bx2 , com a, b > 0. Fixado um nível ū
de utilidade,
ū a −a
x2 = − x1 ⇒ TMS = .
b b b
46 Chapter 4. Consu

↑ ↑
x2 x2

0 x1 → 0
(a) Some indifference sets for the prefer- (b) Some indifference sets f
Figura: Osborne e Rubinstein p.46
ence relation in Example 4.1 for v 1 /v 2 = 43 . ence relation in Example 4.2
Exemplos (cont.)
Exemplo (Bem neutro)
Suponha que u(x) = x2 . Curva de indiferença: x2 = ū. O
consumidor não se importa com o bem 1 (neutro).
Chapter 4. Consumer preferences


x2

x1 → 0 x1 →
ference sets for the prefer- (b) Some indifference sets for the prefer-
n Example 4.1 for v 1 /v 2 = 43 .
Figura: Osborne e Rubinstein p.46
ence relation in Example 4.2.

Figure 4.1
Exemplos (cont.)
Exemplo (Cobb-Douglas)
Suponha que u(x) = x1a x2b , com a, b > 0. Curva de indiferença
 1/b
calculada a partir de x2 = xūa .
1

x2

0 x1
Exemplos (cont.)

Cobb-Douglas com a + b = 1
Para a função de utilidade Cobb-Douglas, podemos sempre achar
uma utilidade que representa as mesmas preferências mas com
a + b = 1. Isto segue do fato de que, se a + b > 1, podemos
sempre considerar a transformação estritamente crescente
1
ϕ(t) = t a+b

aplicada a u(x) = x1a x2b .

Observação (TMS na Cobb-Douglas)

ax a x b
 
x2 ax2
TMS = − 1 2 =− .
x1 bx1a x2b bx1
Exemplos (cont.)
Exemplo (Função Leontief: complementares perfeitos)
Considere u(x) = min{ax1 , bx2 }, com a, b > 0.

x2

0 x1
Exemplos (cont.)

Observação (Interpretação de a e b)
No caso de substituição perfeita, u = ax1 + bx2 e −a
b reflete a taxa
à qual substitui-se o bem 2 pelo bem 1 para se ficar indiferente. No
caso de complementares perfeitos a interpretação é outra.
 
b
ax1 > bx2 ⇒ ∆x1 = − x1 − x2
a

mantém o consumidor indiferentes: u(x) = u(x + ∆x) com


∆x2 = 0. A ideia é que o consumo em “excesso” do bem 1 de
x1 − ba x2 não foi acompanhado pela consumo de x2 para valer a
pena quando os dois bens são melhor consumidos juntos (por
exemplo, pão e manteiga). A única situação em que o “ajuste” não
pode ser feito é quando o consumo se dá na proporção xx12 = ba .
Exemplos (cont.)
Exemplo (Utilidade quase-linear)
Considere u(x1 , x2 ) = v (x1 ) + x2 . As curvas de indiferença tem o
formato x2 = ū − v (x1 ), e por isso com inclinação −v ′ (x1 ).

x2

0 x1
Saciedade
ÀsExemplos
vezes desejamos(cont.)examinar uma situação que envolva saciedade, na qual há uma
cesta melhor que todas as outras para o consumidor; e, quanto mais perto ele estiver
Exemplo (Saciedade)
dela, melhor ele estará, de acordo com suas preferências. Suponhamos que o
consumidor tenha uma
Utilidades comcesta de bensde(xmáximo
um ponto absoluto em R2+ erepresentam
1, x2) de maior preferência que, quanto mais se
afastar preferências
dela, pior se quesentirá.
sãoNesse
saciadas caso,em diremos que (x1, cesta
determinada x2) é odeponto de saciedade ou
bens.
satisfação. As curvas
Exemplos de indiferença
incluem u(x) = −(xdo1 − 2)2 − (x2 se
consumidor 2 , u(x) =
− xparecem
3 ) com as retratadas na
Figura −|x
3.7.1O−melhor ponto
x̄1 | − |x 2 − x̄é2(x
|, 1e, xo2)gráfico
e os pontos mais afastados do ponto de satisfação
abaixo.
situam-se nas curvas de indiferença “inferiores”.

Figura: Varian (livro)


minhas preferências por sorvete e azeitonas. Gosto de
o Exemplos
juntos! Ao(cont.)
pensar sobre meu consumo na próxima hora,
onsumir 250 gramas de côncavas)
Exemplo (Preferências sorvete e 60 gramas de azeitonas
60 gramas
Quando
2
de2sorvete.
a utilidade
1/2
é Porém,por
convexa, qualquer dessas
exemplo com u(x) duas
= cestas
(ax1 + bx2 ) , as preferências serão côncavas e o consumidor
155 gramas deextremos.
preferirá os ambos! São esses os tipos de preferências

Figura: Varian (livro)


Referências

H. Varian
Microeconomia – uma abordagem moderna
Atlas, 9a ed, 2015.
Capítulos 3, 4.
M. J. Osborne, A. Rubinstein
Models in Microeconomic Theory
Open Book Publishers, 2nd ed, 2023.
Capítulos 1, 4.
H. Varian
Microeconomic Analysis
W.W. Norton, 3rd ed, 1992.
Capítulo 7.

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