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SEGUNDA AULA - Microeconomia

Departamento de Economia, UnB


Prof. José Guilherme de Lara Resende

1 Preferências
1.1 Definição
1.1.1 Relação Binária
• X (em Rn+ ): conjunto das cestas de bens disponı́veis para o consumidor.

• x ∈ X, x = (x1 , ..., xn ), onde xi é a quantidade do bem i na cesta x.

Definição: A relação binária (comparação de uma cesta com outra) representada por x  y
significa dizer que x é (fracamente) preferı́vel a y.

Um sistema de preferências  é uma relação binária definida no conjunto de consumo X, que


satisfaz dois axiomas.

1.2 Axiomas
1.2.1 O que são os Axiomas?
Cada axioma tem um significado preciso e supõe algo sobre o comportamento do consumidor.

Exemplo: Axioma de monotonicidade: prefere mais do que menos.

Axiomas sobre preferências são portanto hipóteses sobre o comportamento dos consumidores.
Essas hipóteses podem ser testadas.

1.2.2 Axiomas - Relação de Preferências


Vamos supor que a relação binária  satisfaz os seguintes axiomas:

Axioma 1: Completeza. Para quaisquer cestas x e y em X, ou x  y ou y  x (ou ambos).


Axioma 2: Transitividade. Para quaisquer cestas x, y e z em X, se x  y e y  z então
x  z.

Definição: A relação binária  definida no conjunto X é uma relação de preferência se satisfaz


os axiomas acima.

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1.3 Preferência Estrita e Indiferença
1.3.1 Preferência Estrita e Indiferença
Podemos também definir as seguintes relações:

Definição: A relação de preferência estrita , derivada de , definida no conjunto X, é dada


por
x  y se e somente se x  y e y  x

Definição: A relação de indiferença ∼, derivada de , definida no conjunto X, é dada por


x ∼ y se e somente se x  y e y  x

1.3.2 Conjuntos de Preferências


Seja x uma cesta qualquer no conjunto de consumo X. Podemos definir os seguintes conjuntos:

1.  (x) ≡ {y ∈ X; y  x};
2.  (x) ≡ {y ∈ X; x  y};
3. ≺ (x) ≡ {y ∈ X; x  y};
4.  (x) ≡ {y ∈ X; y  x};
5. ∼ (x) ≡ {y ∈ X; y ∼ x};

1.3.3 Conjuntos de Preferências


Os conjuntos  (x), ≺ (x) e ∼ (x) particionam o conjunto de consumo X, para qualquer x ∈ X.

Vamos analisar outros axiomas sobre preferências. O axioma a seguir não tem grande conteúdo
econômico.

Axioma 3: Continuidade. Os conjuntos  (x) ≡ {y ∈ X; x  y} e  (x) ≡ {y ∈ X; y  x}


são fechados para todo y ∈ X.

1.3.4 Outros Axiomas


Axioma 4’: Não-Saciação local. Para todo x ∈ X, e para todo  > 0, existe um y ∈ B (x) ∩ X
tal que y  x.

Axioma 4: Monotonicidade estrita. Para todos x, y ∈ X, se x ≥ y, então x  y,


enquanto se x >> y, então x  y.

Axioma 5’: Convexidade. Se x e y são duas cestas de bens tais que x ∼ y, então λx + (1 −
λ)y  x, para todo λ ∈ [0, 1].

Axioma 5: Convexidade estrita. Se x e y são duas cestas de bens distintas tais que x ∼ y,
então λx + (1 − λ)y  x, para todo λ ∈ (0, 1).

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2 Função de Utilidade
2.1 Função de Utilidade
2.1.1 Função de Utilidade
Do ponto de vista prático, preferências nem sempre são fáceis de se manusear e de se obter
inferências econômicas.
Definição: Uma função de utilidade assinala para cada cesta x ∈ X um valor u(x) ∈ R.
Uma função de utilidade nada mais é do que uma representação numérica das cestas disponı́veis
para o consumidor.
Se para as cestas x e y temos que u(x) > u(y), então dizemos que a cesta x provê mais
utilidade (ou satisfação, ou bem-estar) para o consumidor.

2.1.2 Exemplos de Funções de Utilidade com Dois Bens


1. Utilidade Cobb-Douglas: u(x1 , x2 ) = xα1 x21−α , α ∈ (0, 1).
2. Utilidade Linear: u(x1 , x2 ) = x1 + x2 .
3. Utilidade Quase-Linear: u(x1 , x2 ) = g(x1 ) + x2 .
4. Utilidade de Leontieff: u(x1 , x2 ) = min{x1 , x2 }.
1
5. Utilidade CES: u(x1 , x2 ) = (xρ1 + xρ2 ) ρ .

2.1.3 Teorema da Representação


Definição: A função de utilidade u representa o sistema de preferências  se para todo x, y vale
x  y ⇐⇒ u(x) ≥ u(y).
Teorema de Representação Geral. Se X é um espaço cont’avel de segunda ordem e o sistema
de preferências satisfaz os axiomas de completeza, transitividade e continuidade, então existe uma
função de utilidade u contı́nua que representa esse sistema. Mais ainda, qualquer transformação
monotônica positiva dessa função de utilidade também representa o mesmo sistema de preferências.

2.1.4 Consequências do Teorema da Representação


O importante em uma função utilidade é o modo em que ela ordena as cestas de bens, e não o
número especı́fico associado a cada cesta.
Suponha que u representa , ou seja,
x  y ⇐⇒ u(x) ≥ u(y)
Se f é uma função crescente em todo o seu domı́nio (ou seja, uma transformação monotônica
positiva), então temos que:
x  y ⇐⇒ u(x) ≥ u(y) ⇐⇒ f (u(x)) ≥ f (u(y))
Logo, v(.) = f (u(.)) também representa o mesmo sistema de preferências que u representa.

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2.1.5 Teorema da Representação - Versão Mais Simples
Teorema 1.1. Se o sistema de preferências satisfaz os axiomas de completeza, transitividade,
continuidade e monotonicidade estrita, então existe uma função de utilidade contı́nua u que rep-
resenta esse sistema. Mais ainda, qualquer transformação monotônica positiva dessa função de
utilidade também representa o mesmo sistema de preferências.

2.1.6 Outros Teoremas


Teorema 1.2. Seja o sistema de preferências  definido em Rn+ e seja u uma função de utilidade
que representa esse sistema. Então v também representa  se, e somente se, v(x) = f (u(x) para
todo x ∈ X, onde f : R → R é estritamente crescente em u(X).

Teorema 1.3. Seja  representado por u : Rn+ → R. Então:

1. u(x) é estritamente crescente se, e somente se,  é estritamente monótona.

2. u(x) é quasicôncava se, e somente se,  é convexa.

3. u(x) é estritamente quasicôncava se, e somente se,  é estritamente convexa.

2.2 Curvas de Indiferença


2.2.1 Curvas de Indiferença
Uma curva de indiferença representa um conjunto de cestas indiferentes entre si. Então, uma
curva de indiferença contém todas as combinações de cestas que dão o mesmo nı́vel de satisfação
ao consumidor.

• ∼ (x) = {y ∈ X : y ∼ x} (em termos de preferências),

• I(k) = {x ∈ X : u(x) = k} (em termos de utilidade).

Exemplo: Preferências ”bem-comportadas”. No caso de dois bens, uma curva de in-


diferença muito comum é convexa em relação à origem.
Nota: Duas curvas de indiferença distintas não podem se cruzar nunca.

2.2.2 Representação Gráfica


x2
6
Curva de indiferença
(bem comportada)

-
x1
4
2.3 Taxa Marginal de Substituição
2.3.1 Taxa Marginal de Substituição
Taxa Marginal de Substituição (TMS): inclinação da curva de indiferença.

A TMS entre dois bens mede a taxa pela qual o consumidor está disposto a trocar um bem
por outro: a TMS do bem 1 pelo bem 2 é o valor que o consumidor atribui ao bem 1 em termos
do bem 2.

A TMS é um número negativo: se o consumidor abre mão de um pouco de um bem, ele precisa
receber um pouco do outro bem para manter-se na mesma curva de indiferença.

2.3.2 Fórmula
A utilidade marginal do bem xi mede o acréscimo na utilidade devido a um aumento no consumo
do bem i:
∂u
U M gxi =
∂xi
Podemos derivar a TMS usando a utilidade marginal de um bem. A fórmula da TMS entre
dois bens (1 e 2) :
∂u(x1 ,x2 )
dx2 ∂x1
T M S1,2 = = − ∂u(x 1 ,x2 )
dx1 du=0

∂x2

2.3.3 Observações
1) A TMS não depende da função de utilidade que usamos para representar as preferências.

2) A TMS pode ser medida na prática, se certas condições forem satisfeitas. (preferências bem
comportadas).

3) Se as preferências são convexas, o valor absoluto da TMS do bem com relação ao bem 2
diminui quanto maior a quantidade do bem 1 que o consumidor possui (supondo que ele continua
na mesma curva de indiferença).

2.3.4 Exemplo
∂u ∂u
Exemplo: Suponha que ∂x 1
= 12 e ∂x 2
= 4. Então na margem (para pequenas mudanças ou
trocas entre os bens), uma unidade do bem 1 vale três vezes mais para o consumidor do que uma
unidade do bem 2. Ou seja, se aumentarmos o consumo do bem 1 por uma unidade e diminuimos
o consumo do bem 2 por 3 unidades, então o consumidor continua com o mesmo nı́vel de satisfação
(na mesma curva de indiferença).

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