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Mestrado em Finanças

TRABALHO FINAL DE MESTRADO

TRANSIÇÃO DE BASILEIA II PARA O BASILEIA III


“Qual o enfoque que é dado aos Riscos nos Acordos de Basileia?”

ADRIANA SOFIA RIBEIRO MENDES


ORIENTAÇÃO: PROFESSOR DR. FERNANDO FÉLIX CARDOSO

SETEMBRO 2013
Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

Agradecimentos

Em primeiro lugar queria agradecer ao meu orientador, o Dr. Fernando Félix Cardoso,
que mostrou disponibilidade imediata para me conduzir e orientar neste projeto, muito
obrigada pela sua paciência, sábia orientação, partilha de conhecimento e interesse
académico. Sem o seu apoio esta tese não teria sido realizada.

Seguidamente quero agradecer aos meus pais por tudo o que me proporcionaram e
me ensinaram ao longo da vida, e pela forma que me incutiram a força de vontade de viver e
de nunca desistir de um sonho. Obrigada, são os meus ídolos!

Não poderia deixar de agradecer ao Ricardo pela paciência ao longo deste percurso e
por ter estado sempre ao meu lado, às minhas colegas de trabalho (Ana Lourenço e Vanda
Tolentino) e as minhas amigas que sempre que eu estava desanimada tentavam motivar-me e
ajudar-me no que eu precisasse. Ao meu diretor (Joaquim Carreira) que pacientemente leu e
releu a minha tese, sempre com críticas e sugestões.

Um obrigado à minha restante família, à minha irmã, aqueles que já não estão cá, aos
meus amigos e a todos os meus professores que fizeram que eu fosse uma pessoa mais
madura, culta e sábia.

Obrigada!

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Índice

Resumo 4

Abstract 5

Capítulo I – Introdução 6

Capítulo II – Acordo de Basileia I 8

2.1. Risco de Crédito 8

2.2. Risco de Mercado 10

2.3. Limitações de Basileia I 12

Capítulo III – Acordo de Basileia II 13

3.1. Risco de Crédito 13

3.2. Risco de Mercado 16

3.3. Risco Operacional 16

Capitulo IV – Acordo de Basileia III 20

4.1. Alterações das medidas já existentes 20

4.2. Novas medidas de Basileia III 22

4.2.1 Capital Conservation Buffer 23

4.2.2 Counter-Cyclical Capital Buffer 23

4.2.3 Indice de Alavacangem 23

4.2.4. Risco de Liquidez 23

4.2.5. Risco de Mercado 25

Capítulo V – Qual o enfoque que é dado aos Riscos nos Acordos de Basileia? Qual a sua
contribuição para a regulação bancária e estabilização do sistema financeiro? 27

Capítulo VI – Conclusões e contributos 31

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Resumo

Este trabalho procura analisar o tratamento dado aos riscos ao longo dos “Acordos de Basileia”
emitidos pelo Comité de Basileia (BSBC – Basel Committee on Banking Supervision),
nomeadamente da evolução de Basileia II para Basileia III.

Aborda a forma como tem sido abordado a problemática do risco de crédito, do risco de
mercado, do risco operacional e finalmente do risco de liquidez.

Para cada um deles é feita uma abordagem que permite explicar e justificar a sua evolução das
abordagens de que foram alvo em Basileia I, Basileia II e Basileia III. Defende-se que a evolução
que se tem verificado no tratamento dos riscos, está mais ligada a soluções para situações de
crise do sistema financeiro, do que para se transformar num sistema de prevenção de
situações de risco.

Defende-se igualmente que qualquer sistema que possa contribuir para situações de
prevenção de risco, devia passar pela separação da banca comercial, da banca de
investimentos, com abordagens diferentes em termos de adequação de capital.

Palavras-chave: Acordos de Basileia, Risco de Crédito, Risco de Mercado, Risco Operacional,


Risco de Liquidez.

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Abstract

This paper seeks to analyze the treatment given to the risks over the "Basel Accords" issued by
the Basel Committee (BSBC – Basel Committee on Banking Supervision), in particular the
development of Basel II to Basel III.

Discusses how the issue of credit risk, market risk, operational risk and finally the liquidity risk
has been addressed. For each one of them, we make an approach that allows explaining and
justifying their evolving approaches in Basel I, Basel II and Basel III.

Argues that the evolution that has occurred in the treatment of risks, is more linked to
solutions to situations of crisis in the financial system, than to become a system of prevention
of situations of risk. It also advocates that any system that can contribute to situations of risk
prevention should pass through the separation of commercial banking, investment banking,
with different approaches in terms of the capital adequacy.

Keywords: Basel Agreements, credit risk, market risk, operational risk, liquidity risk.

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Capítulo I – Introdução

A presente dissertação foi realizada no âmbito do Mestrado em Finanças e o seu tema recai
sobre os riscos considerados ao longo dos três acordos de Basileia, e as principais alterações
dos mesmos ao longo do tempo.

Para entendermos a importância de Basileia no seio das instituições financeiras, é necessário


remontar aos anos 30 com a criação de uma organização financeira internacional, o BIS - Bank
for International Settlements – que tinha como objetivo facilitar a entreajuda financeira e
monetária internacional, acabando por ser uma plataforma de tomadas de decisões e de
discussões entre os bancos centrais.

No final do ano de 1974 foi criado, no seio do BIS, o Comité de Basileia de Supervisão Bancária
(BCBS – Basel Committee on Banking Supervision), como um fórum de trabalho que cria
padrões de supervisão bancária, gestão de risco e boas práticas nos bancos ao nível
internacional, sem qualquer autoridade formal de supervisão supranacional. O principal
enfoque deste comité estava no “fortalecimento da robustez e estabilidade do sistema
bancário internacional e garantir que a plataforma fosse justa e consistente ao nível da sua
aplicação aos bancos em diferentes países, procurando diminuir as desigualdades nas
condições de concorrência entre os bancos a nível internacional” (Comité de Basileia de
Supervisão Bancária, 1988). Foi daqui que surgiram todos os Acordos de Basileia.

Este trabalho não tem uma componente prática uma vez que durante a aplicação do primeiro
acordo de Basileia os bancos portugueses ainda se regiam pelo Plano de Contas do Sistema
Bancário (PCSB) e, em 2005, aquando do início do período de transição para o acordo de
Basileia II, as contas dos bancos passaram a reger-se pelas IAS (International Accounting
Standard). A descontinuidade da informação económica apenas permite fazer análises
estatísticas à aplicação anual desses normativos. No que diz respeito a Basileia III também não
é possível fazer uma avaliação da aplicação do normativo visto que o mesmo se fará ao longo
de um largo período de tempo (2013-2019).

Este trabalho divide-se em seis capítulos e depois de fazer a introdução do trabalho no


primeiro capítulo, no segundo fazemos uma descrição do Acordo de Basileia I, os riscos nele
contemplados e a sua forma de cálculo. Não sendo o objetivo central do trabalho,
consideramos que será importante indicar o ponto de partida da problemática que
pretendemos estudar. No terceiro capítulo apresenta-se o Acordo de Basileia II, com especial
destaque aos vários métodos criados para apurar cada tipo de risco. No quarto capítulo, um

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pouco mais extenso, apresenta-se o Acordo de Basileia III enunciando os indicadores mais
importantes, quais as alterações nas medidas mais exigentes e quais as novidades nele
introduzidas, dando sempre o principal enfoque aos riscos por ele contemplados e medidos e
como são vistos os novos riscos que os acordos anteriores não enunciavam. No quinto capítulo
respondo à principal questão desta dissertação “Qual a mudança nos principais riscos na
regulação bancária através do Acordo de Basileia III?” onde faço uma análise do que estudei,
quais as melhores práticas a seguir e quais as principais ameaças na regulação dos sistemas
bancários e, consequentemente, do sistema financeiro. Por último, no sexto capítulo, retiro as
conclusões deste trabalho, apresento as suas limitações e propostas para trabalhos futuros.

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Capítulo II - Acordo de Basileia I

Em Julho de 1988, na cidade Suíça de Basileia, o Comité de Basileia publicou o denominado


Acordo de Basileia I, ao publicar o “International Convergence of Capital Measurement and
Capital Standards”. Este acordo só seria implementado na totalidade em 1992.

O principal objetivo da criação do Acordo de Basileia I foi o de garantir a estabilidade no setor


financeiro através do estabelecimento de níveis mínimos de capital para os bancos e garantir
que as condições de competitividade internacional das instituições financeiras fossem
uniformes e não alteradas pelas diferentes regulações de cada país. Este é de resto um ponto
importantíssimo. Não se poderá falar em Basileia sem que os requisitos mínimos de capital
estejam implícitos, uma vez que é um dos seus pilares e estão presentes em todos os acordos
redigidos até hoje.

Os requisitos mínimos de capital correspondem ao capital necessário para que a instituição


financeira seja vista pelos seus credores e contrapartes como viável numa perspetiva de
continuidade e de funcionamento saudável, minimizando a possibilidade de falência no
sistema bancário. (“International Convergence of Capital Measurement and Capital standards
– a revised Framework”, Basel Committee on Banking Supervision 2006)

Fundamental para compreender este conceito, está a noção de capital que na banca,
ultrapassa o conceito de capital próprio comum às empresas não financeiras. O acordo definiu
capital dividindo-o em duas partes:

i. Capital Principal (Core capital ou Tier I) constituído pelo capital social, reservas, lucros
acumulados, resultados líquidos do exercício e deduzidos os valores das ações
próprias, do capital ainda não consolidado, os prejuízos acumulados, as despesas pré-
operacionais e as imobilizações incorpóreas;

ii. Capital Suplementar (Supplementary capital ou Tier II) constituído pelas reservas de
reavaliação, provisão gerais e para o risco de crédito e instrumentos de capital de
natureza hibrida (compostos pelas ações preferenciais perpetuas e a divida
subordinada).

2.1. Risco de Crédito

Para medir o risco de crédito que não era possível diversificar pela gestão de carteiras próprias
das instituições de crédito, este acordo definiu ponderadores para os ativos dos bancos

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baseados no risco do não cumprimento das obrigações, ponderando-os por coeficientes, com
vista a refletir níveis diferenciados de risco potencial. Surgem assim os ativos ponderados de
acordo com cinco categorias de ponderadores aplicados às diferentes naturezas de ativos no
balanço.

i. Ponderadores de 0% para meios imediatamente líquidos e garantias reais subjacentes


e para os que neles podem ser transformados (caixa e outros meios equivalentes e
ativos sobre administrações centrais e bancos centrais);

ii. Ponderadores de 20% para elementos do ativo de entidades do setor público ou do


setor de crédito da OCDE.

iii. Ponderadores de 50% para os empréstimos atribuídos por hipotecas sobre imóveis
destinados a habitação ou mutuário e contratos de locação financeira imobiliária;

iv. Ponderador de 100% para os créditos concedidos ao setor privado, créditos e direitos
sobre governos centrais dos países que não pertencem à OCDE, propriedades e outros
investimentos, créditos concedidos a empresas comerciais pertencentes ao sector
público, instalações, equipamentos e outros ativos fixos, e instrumentos de capitais
emitidos por outros bancos.

Com estas duas grandes classes (capital e ativos ponderados pelo risco), o acordo estabelecia a
necessidade de a sua relação nunca ser inferior a 8%. Estabeleceu então o denominado “Rácio
de Solvabilidade” ou “Rácio de Cooke”, rácio calculado de acordo com a seguinte expressão:

em que:
Capital =Tier I + Tier II
RWA (Risk Weigthing Assets)- Ativos ponderados pelo Risco

O rácio de Cooke ao ser 8%, significava que para se conceder um crédito, a instituição
financeira teria pelo menos 8% desse montante como capital principal mais capital
suplementar. No entanto o seu capital principal (Tier I) deveria ser no mínimo 4%, implicando
que o valor do capital suplementar (Tier II) poderia ser no máximo igual ao seu capital
principal. Este rácio veio limitar a criação de moeda de crédito por parte dos bancos.

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2.2. Risco de Mercado

O risco de mercado segundo o banco Standard Chartered “pode ser definido como a perda
potencial decorrida de oscilações dos preços de mercado do ativo objeto ou mesmo de fatores
exógenos que influenciam os preços de mercado. São exemplos de fatores de risco: o risco
relacionado à variação cambial, taxa de juros, preços de ações, de mercadorias (commodities),
entre outras.”, ou seja, é a probabilidade de ocorrerem acontecimentos com impacto
negativos no capital ou nos resultados dos bancos, originados por situações desfavoráveis nos
preços dos instrumentos que compõem a carteira de cada um.

Inicialmente, no Acordo original, este risco não estava contemplado no primeiro Acordo de
Basileia I. Somente depois da falência do Banco Barings, em 1995, é que surgiu a necessidade
de alocar capital para cobrir este risco, através da “Amendment to the Capital Accord to
Incorporate Market Risks”.

Aqui são estabelecidas duas possíveis abordagens para o cálculo dos requisitos de fundos
próprios:

i. Abordagem standard que consiste na aplicação de ponderadores de risco às


exposições em aberto da carteira de negociação. Apuram requisitos para os seguintes
riscos: risco de posição (decomposto em risco específico que é o risco de variação do
preço dos instrumentos provenientes de fatores associados aos seus emitentes e risco
geral que é o risco de variação de preço dos instrumentos provenientes das variações
das taxas de juro), risco de contraparte, liquidação, mercadorias e cambiais.

ii. Método avançado que adota modelos internos nomeadamente o VAR (Value-at-Risk)
que é o valor em risco historicamente observado para um determinado período de
tempo com nível de significância de 99%, ou seja, é possível quantificar em unidades
monetárias o risco de mercado de uma certa posição, comparar diferentes posições
nos mercados financeiros. Considera o efeito de diversificação e possibilita a
estimativa da perda máxima para uma carteira de investimentos.

O risco do mercado é bastante superior nas transações efetuadas a curto prazo e menor nos
investimentos de longo prazo. Os bancos são detentores de dois tipos de portfolios de
investimentos: os banking book e os trading book.

O portfólio do banking book contem ativos e passivos que são relativamente ilíquidos e tem
uma duração de tempo mais longa, nomeadamente, os empréstimos, capital e depósitos.

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O portfólio do trading book contem obrigações, ativos e contratos derivados que podem ser
comercializados num mercado financeiro organizado.

Uma das grandes preocupações dentro deste risco é o risco de posição da carteira de
negociação e as suas necessidades de capital compostas pelo risco específico e o risco geral,
como já anteriormente abordado. A essas necessidades de capital são chamadas as Market
Risk Charge (MRC), que podem ser obtidas pela seguinte expressão:

O valor que o MRC pode tomar é o máximo entre o VaR do último dia de negócio e a média
dos VaR dos últimos sessenta dias multiplicada por um fator fixado pelos reguladores. O
mínimo desse fator é 3.

Também aqui a instituição financeira terá de obter aprovação pela entidade reguladora e terá
de cumprir critérios qualitativos e quantitativos rigorosos.

2.3. Limitações de Basileia I

O Acordo de Basileia I obrigava a que os bancos tivessem sempre um capital mínimo que
servisse sempre de caução e respondesse pelas perdas não esperadas. Desde a sua redação
foram identificadas algumas fragilidades, nomeadamente:

i. Apenas tomava em conta o risco de crédito na ponderação do valor dos ativos para o
requisito mínimo de capital, quando existem outros riscos bastante importantes a ter
em conta, tais como o risco do mercado (introduzido mais tarde em 1995),
operacional, de taxa de juro, cambial, liquidez.

ii. Na classificação dos ativos não considerava a estrutura temporal destes, acabando por
classificar na mesma classe, ou seja, com a mesma ponderação de risco, empréstimos
de curto e longo prazo;

iii. As técnicas de mitigação de risco não eram tidas em conta;

iv. A classificação das operações não era feita através do nível de risco da contraparte,
beneficiando o financiamento a alguns tipo de agentes;

v. Não considerava as inovações nos mercados financeiros, nem os fatores de correlação;

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vi. Não havia risco soberano para todos os países da OCDE, e para os demais o risco
também não existia se o financiamento fosse na moeda local do mutuário.

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Capítulo III – Acordo de Basileia II

Com as limitações do primeiro acordo de Basileia, o aumento da volatilidade dos mercados, o


colapso de grandes empresas que tiveram impacto nas instituições financeiras e as crises
monetárias na Ásia e na Rússia, entre outros fatores, levaram que o BSBC (Basel Committee on
Banking Supervision) publicasse em 26 de Junho de 2004 o acordo de Basileia II (International
Convergence of Capital Measurement and Capital Standard: a Revised Framework), que só foi
implementado na sua plenitude em 31 de Dezembro de 2007.

Os objetivos deste novo acordo foram essencialmente ajustar os requisitos de capital dos
bancos aos riscos a que estão expostos, acabando por melhorar as práticas de mitigação de
risco e gestão do mesmo nas instituições, com o fim de preservar a solidez e solvabilidade d o
sistema financeiro. Outro objetivo foi responder à inovação dos mercados e à expansão dos
requisitos de divulgação com o intuito de promover a disciplina do mercado.

Neste acordo, os requisitos de capital eram calculados da seguinte forma:

As alterações introduzidas no rácio de Cooke ao nível do denominador incidiram no


apuramento do risco de crédito, onde ocorreu a maior alteração, uma vez que o método de
cálculo deste mudou significativamente, como veremos adiante, o risco de mercado manteve-
se devido à adenda que houve ao Acordo de Basileia I em 1995 e o risco operacional que até
aqui ainda não tinha sido contemplado.

3.1.Risco de Crédito

É o risco que existe sobre a capacidade do devedor cumprir com as suas obrigações financeiras
perante a instituição financeira. Para quantificar podia se optar por uma de três abordagens ou
metodologias: metodologia standard ou padrão, metodologia IRB Foundation (ou método
interno simples) e pela IRB Advanced (ou métodos internos avançados).

Na metodologia standard os ponderadores de risco variam consoante o rating dado pelas


agências de notações certificadas pelas autoridades de supervisão. Estas notações variam com
o grau de cumprimento do devedor e pela sua natureza, ou seja, se é uma organização
internacional, instituição, soberanos, empresas ou bens imóveis. Vejamos o quadro abaixo
para uma melhor compreensão do mesmo:

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Tabela 1- M éto do Standard

Sem rating
AAA AA+ AA- A+ A- BBB+ BBB BBB- BB+ BB BB- B+ B B- <B- atribuído

Soberano
0% 20% 50% 100% 150% 100%

20% 50% 100% 150%


Empresas Financeiras 100%
Empresas Não 20% 50% 100% 150%
Financeiras 100%
Carteira de retalho
(exposição máxima de 75%
1M€)

Crédito hipotecário 35%


residencial

Crédito hipotecário 100%


comercial
Exposições em Entre 100% a
incumprimento 150%
Fo nte: Elabo ração pró pria, baseado "No vo A co rdo de B asileia" do IP A M EI de Outubro de 2006

Para melhor compreensão da simbologia utilizada pela Agências de Rating, apresentamos em


seguida uma tabela com a correspondência dos ratings atribuídos ao crédito de emissão de
longo prazo e curto prazo das três maiores agências de rating:

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Para que seja percetível o significado das notações de rating de longo prazo e de curto prazo
encontram-se no anexo 1 e 2 a explicação de cada uma delas.

Na metodologia dos ratings internos, como o nome indica, o banco utiliza estimativas internas
das componentes do risco de crédito para definir o capital inerente a esse risco. No entanto a
entidade reguladora terá sempre de aprovar estas abordagens, sendo que é necessário
cumprir um conjunto de requisitos. Os parâmetros utilizados para o cálculo de risco são:

i. Probability of Default ou probabilidade de incumprimento (PD) é a estimativa da


probabilidade do devedor entrar em ora, conforme o nível de rating, no espaço de um
ano;

ii. Exposure at Default ou exposição no incumprimento (EAD) é a exposição do devedor a


uma operação de crédito;

iii. Loss Given Default ou perda em caso de incumprimento (LGD) é a perda máxima
estimada do valor irrecuperável de um contrato aquando entrar em mora;

iv. Expected Loss ou perda esperada (EL) é a percentagem da perda estimada de um dado
contrato, e é calculada pelo produto da PD com a LGD, se multiplicarmos este valor
pelo EAD obtemos a perda esperada em valor absoluto, sendo que é o valor de
provisões que se deveriam efetuar;

v. Maturity ou Maturidade (M) é o tempo de vencimento do contrato, terá de ser sempre


ajustada, uma vez que o crédito pode ser liquidado antes do seu vencimento.

Na abordagem IRB, para calcularmos os requisitos mínimos de Fundos Próprios, é necessário


obtermos o valor da exposição ponderada, que se obtém da seguinte forma:

As exposições na IRB Foundation dividem-se em cinco categorias: soberano, bancos, empresas,


retalho (incluem PME que são exclusivamente de retalho e com o valor inferior a 1 milhão de
euros) e equity.

A principal diferença entre a aplicação deste método e o método do IRB Advanced reside na
aplicação destes parâmetros. Assim enquanto que no método IRB Foundation a instituição
apenas pode, pelos modelos internos, determinar o PD (sendo os restantes parâmetros
fornecidos pela entidade reguladora), no IRB Advanced a instituição pode obter todos os

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parâmetros a partir dos modelos internos previamente aprovados pela entidade reguladora.
Nesta última abordagem não se pode aplicar a exposições de retalho e o reconhecimento das
estimativas internas de perda e exposição por incumprimento é associado a requisitos
mínimos mais rigorosos.

Os requisitos de capital são menores quanto maior for o grau de exigência das abordagens. No
entanto os custos destas são mais elevados consoante o grau de exigência e da sofisticação.

3.2. Risco de Mercado

Este risco era calculado da mesma forma como enunciei no capítulo anterior, no entanto o
rácio de Cooke sofreu uma alteração a nível do numerador intimamente ligada a este.

Foi incluído outro Tier, o Tier III, que está intimamente ligado com o risco de mercado uma vez
que este capital só pode ser utilizado para cobrir este risco. O Tier III está sujeito a aprovação
das autoridades reguladoras nacionais e a sua composição é de dívida subordinada a curto-
prazo que satisfaça as seguintes condições:

i. Estabeleceu-se um limite máximo de 250% do capital que constitui o Tier I do banco,


sendo que esta percentagem do Tier I seja o capital suficiente e necessário para
suportar os riscos de mercado;

ii. Nenhum juro nem capital pode ser pago se o banco, depois desse pagamento, fique
abaixo dos requisitos mínimos de capital, mesmo que este juro ou capital já tenha
atingido a sua maturidade;

iii. O capital que compõe o Tier II pode ser substituído pelo Tier III até 250%. No entanto o
Tier II não pode ultrapassar o Tier I e a divida de longo prazo não pode ultrapassar 50%
do capital do Tier I.

iv. A soma do capital do Tier II com o capital do Tier III terá de ser sempre maior do que o
core capital;

v. O core capital deve ser no mínimo 50% do total da base de capital.

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3.3. Risco Operacional

É a probabilidade de ocorrerem falhas ao nível de processos internos, pessoas, sistema ou


eventos externos, nomeadamente as fraudes.

Para o cálculo deste risco há três formas de o fazer: abordagem do indicador básico,
abordagem standard e abordagem avançada.

3.3.1. Abordagem do indicador básico (BIA – Basil Indicator Approach)

É aplicado um valor fixo de 15% sobre a média das receitas brutas da exploração dos últimos
três anos, para obter os requisitos de capital. Esta percentagem é definida pelo Comité de
Basileia.

em que:
IR é o indicador relevante anual relevante dos 3 últimos anos, se positivo.
N é o número de anos, dos últimos três, em que o indicador é positivo.

A receita bruta é calculada sobre a soma das receitas líquidas financeiras (com juros) e não-
financeiras (não relacionadas com juros), onde não são considerados os lucros ou prejuízos dos
títulos do banking book, despesas de provisão, receitas ou despesas extraordinárias e que não
sejam recorrentes e, por fim, despesas operacionais associadas.

É o método mais simples pois só considera um único indicador e não tem presentes critérios
de elegibilidade específicos, ficando os bancos responsáveis por cumprirem as recomendações
relativas ao risco operacional.

3.3.2. Método Standard

Neste método, os requisitos de capital são calculados multiplicando um indicador de risco


operacional por cada segmento da atividade, que varia entre 12% a 18%. A percentagem do

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capital necessário para cobrir o risco operacional será calculada através da soma dos
indicadores básicos de cada segmento.

Para compreender este modelo é necessário conhecer quais são os oito segmentos utilizados
para caraterizar o negócio e a ponderação de cada um.

Tabela 3 - P o nderado res pelo s segmento s da atividade

Segmentos da Atividade Factores de Risco

Finanças Corporativas 18%


Negociação e Vendas 18%
Pagamento e Liquidação 18%
Banca Comercial 15%
Serviços de Agência 15%
Gestão de Ativos 12%
Banca de Retalho 12%
Corretoras 12%
Fo nte: Elabo ração pró pria

O capital a alocar é calculado através da média dos últimos três anos da soma dos indicadores
relevantes ponderados pelos fatores de risco, calculados em cada ano, relativos aos segmentos
da atividade acima mostrados.

em que:
IR é o indicador das receitas brutas da linha de negócio j.
N é o número de anos.

3.3.3. Método Standard Avançado (ASA - Alternative Standardized Approach)

Como o próprio nome indica é uma abordagem baseada no método anterior. No entanto tem
algumas características que lhe conferem o nome de abordagem mais avançada. Existe um
tratamento diferente para a banca comercial e para a banca de retalho e, nestes segmentos é
utilizado um indicador de volume (loans and advances) e não o indicador relevante como era
feito nas duas abordagens anteriores, que é multiplicado por um fator fixo de 3,5%. O
resultado obtido é multiplicado pelos parâmetros dos dois segmentos de atividade, sendo que
o parâmetro da banca de retalho é de 12% e da banca comercial é de 15%. Os bancos que
verificam não ter capacidade para distribuir o indicador relevante pelos restantes segmentos
de atividade podem utilizar o montante agregado com a utilização de um parâmetro de 18%.

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A fórmula deste modelo é a seguinte:

Em que:
é o indicador das receitas brutas da linha de negócio j (excluindo a Banca de Retalho e a Banca

Comercial).
é a percentagem do ponderador que relaciona o nível de requisitos de capital com o GIj para cada

linha de negócio (excluindo a Banca de Retalho e a Banca Comercial).

é a percentagem do ponderador que relaciona o nível de requisitos de capital com a banca de


retalho.

é a percentagem do ponderador que relaciona o nível de requisitos de capital com a banca


comercial.
LABR/BC é o loans and advances, ou seja, a média dos últimos três anos do indicador de volume do
segmento Banca de Retalho e Banca Comercial.

A liberdade dada pela entidade reguladora para que os bancos usem os seus sistemas de
medição do risco para o cálculo dos requisitos de capital neste risco, fica sempre sujeita ao
cumprimento de requisitos quantitativos e qualitativos rigorosos.

3.3.4. Método de Medição Avançada (AMA)

Na abordagem AMA o cálculo é feito através do sistema de medição interno dos riscos
operacionais desde que estes sejam abrangentes, sistemáticos e tenham sido aprovados pela
entidade reguladora. Depois da escolha de uma abordagem mais avançada não é possível que
voltem para uma abordagem mais simples.

Esta é a abordagem mais avançada e que apresenta maior exatidão. Devido ao seu nível de
sofisticação leva a que tenha um nível de capital bem mais reduzido. Aqui deve ser
demonstrado que as perdas esperadas estão provisionadas de acordo com as necessidades
previstas, situação em que os requisitos de capital regulamentar correspondem apenas ao
capital necessário para a cobertura das perdas não esperadas.

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Capítulo IV– Acordo de Basileia III

Em consequência da crise de 2008 e 2009 o Comité publicou em 12 de Setembro de 2010 o


Acordo de Basileia III, onde estabeleceu novas regras de capital mínimo em relação à sua
qualidade, liquidez e absorção de prejuízos, com o objetivo de reforçar a estabilidade e o
crescimento do sistema financeiro a nível mundial. Este acordo é formado essencialmente por
dois documentos “Basel III: A global regulatory Framework for more resilient banques and
banking systems” e “Basel III: International Framework for liquidity risk measurement,
standards and monitoring”, do BIS (Junho 2011 e Dezembro 2010, respetivamente).

Esta crise iniciou-se com causa próximas na crise do subprime e crashs bolsistas que foi
influenciada pelas taxas dos EUA, pela inovação financeira, escassa supervisão dos bancos
centrais, falhas na avaliação do risco e pelo desenvolvimento em grande escala dos derivados e
mercados over-the-counter (OTC). As grandes falências da banca de investimento, seguradoras
e instituições financeiras que se iniciaram em 2008 tiveram, também, um contributo
substancial para o avolumar desta crise.

Este acordo vem aumentar as exigências de capital nos bancos com o objetivo de melhorar a
sua qualidade e de alargar a capacidade dos mesmos para absorverem perdas e resistirem aos
momentos com alguma escassez de liquidez. Exigiu também a introdução de novos requisitos
regulamentares sobre a liquidez bancária e alavancagem. Passo a explicar nos subpontos
abaixo todas as medidas introduzidas bem como as alterações às medidas existentes.

4.1. Alterações das medidas já existentes

É notório que há três grandes grupos de alterações de medidas em Basileia III que estão
relacionadas com o capital regulatório, com o Tier I e com o risco de crédito.

A primeira alteração prende-se com a qualidade de capital regulatório. Ao longo desta crise a
atividade bancária começou a gerar prejuízos devido, nomeadamente, à imparidade dos ativos
tóxicos, o que levou a um desgaste da sua base de capital e consequentemente à
descapitalização de alguns bancos. Por este motivo o novo acordo vê a necessidade de
reforçar a qualidade e montante do seu capital, acabando por ter uma maior capacidade para
absorver as suas perdas.

Nesse sentido o Tier I passa a ser constituído pelo capital principal (ou commom equity Tier I
que é a soma do capital social do banco excluídos o mecanismos de dividendos e lucros
retidos) e pelo capital adicional (additional Tier I que são instrumentos híbridos de capital e

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

dívida). Por sua vez, o Tier II passa a ser constituído por dívidas subordinadas desde que estas
sejam no máximo 50% do valor do capital do Tier I.

Segundo o Banco de Portugal o common equity Tier I “constitui o capital de melhor qualidade
da instituição, em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos. Salvo no
caso de uma eventual capitalização com recurso a investimento público, concretizada através
da aquisição de ações pelo Estado com direitos especiais em termos de remuneração, o
conceito de Common Equity Tier I corresponde, no início da aplicação das novas regras de
Basileia III, ao numerador do rácio Core Tier I definido pelo Banco de Portugal.” O rácio do Core
Tier 1 é uma medida que permite analisar a solvabilidade das instituições bancárias, segundo o
Banco de Portugal “estabelece um nível mínimo de capital que as instituições devem ter em
função dos requisitos de fundos próprios decorrentes dos riscos associados à sua atividade. (…)
O conjunto de fundos próprios “core” compreende o capital de melhor qualidade da
instituição em termos de permanência e capacidade de absorção de prejuízos, deduzido de
eventuais prejuízos e de certos elementos sem valor de realização autónomo (vide lista
detalhada de elementos elegíveis em anexo), numa perspetiva de continuidade da atividade
de uma instituição.”

Estas medidas vão fazer com que os bancos tenham uma maior capacidade para absorver as
suas perdas e contribuem para o normal funcionamento da instituição bancária bem como
para a sua solidez.

O segundo grupo das alterações estão relacionadas com os limites mínimos do capital
regulatório. Os bancos devem manter 4,5% do seu ativo ponderado pelo risco (RWA) do capital
principal, 6% do ativo ponderado pelo risco do Tier I e 8% do ativo ponderado pelo risco do
total do seu capital regulatório.

Esta orientação leva-nos ao terceiro grupo de alterações, estão relacionados com o risco de
crédito conferindo maior rigor ao apuramento do ativo ponderado pelos riscos (RWA) e aos
requisitos de capital sobre o risco de contraparte.

Nesta abordagem, para além de serem incluídas ponderações mais elevadas para a exposição
do risco de contraparte, adicionaram-se medidas que aumentam os requisitos de capital para

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

operações de trading book e re-securitizadas, identificando instrumentos fora do balanço.


Estas medidas são alteradas com o objetivo de incluir novos pesos, neste caso mais elevados,
para a exposição ao risco de crédito.

A maior alteração no rácio de Cooke é, no entanto, no numerador. No acordo anterior estavam


presentes os três tipos de Tier. Agora, em Basileia III, passou a ser apenas considerado o Core
Tier I que corresponde ao capital social com as reservas acumuladas. Estas reservas
correspondem à soma dos lucros não distribuídos.

Estas alterações são as principais mudanças em relação ao Acordo de Basileia II. O aumento
dos requisitos e da qualidade do capital regulatório tem o intuito de fazer com que as
provisões exigidas pelos bancos passem a ser mais adequadas e aumentem a capacidade de
absorção de perdas.

Para além destas medidas foram tomadas outras adicionais que não se encontravam previstas
em nenhum dos acordos anteriores.

4.2. Novas medidas de Basileia III

As novas medidas definidas em Basileia III passam essencialmente por dois grupos:

i. a criação de buffers: o novo acordo exige um capital de conservação com o principal


objetivo de garantir a absorção de perdas em períodos de contração. Este capital deve
ser constituído por um adicional de 2,5% sobre o ativo ponderado pelo risco, e

ii. observância de índices de liquidez e índices de alavancagem necessários para


assegurar a estabilidade dos bancos.

Uns e outros passam a ser explicados em seguida.

4.2.1. Capital Conservation Buffer

O capital conservation buffer funciona como um requisito de capital adicional para que os
bancos não tenham de se valer da ajuda do Estado em períodos difíceis. O CCB (Capital
Conservation Buffer) deverá ser de 2,5% em 2019, o que elevará o requisito mínimo de core
Tier I para 7% também nesse ano. Para ajustar as políticas internas às exigências necessárias à
constituição deste buffer, o comité estabeleceu limites para a distribuição de lucros, variando
de acordo com a percentagem do capital principal observado. A aplicação desta regra, fará
com que o capital total mínimo em 2019, passará de 8% para 10,5%. Os bancos podem utilizar

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este capital contido no buffer apenas em circunstâncias determinadas. No entanto, quanto


menor for o commom equity maiores serão as limitações para distribuição de lucros e
pagamentos de prémios.

4.2.2. Counter-Cyclical Capital Buffer

O counter-cyclical capital buffer é outra das novidades do novo acordo. Passa por ser um
buffer anti-cíclico que tem como objetivo amortecer a ciclicidade excessiva, promover um
provisionamento prospetivo e conservar capital quando o banco está em crescimento para
poder ser usada se for necessário em períodos de stress reduzindo os efeitos dos riscos
excessivos tomados por parte das instituições bancárias. Foca-se, também, na relação entre o
volume de crédito concedido e o produto interno bruto de cada país.

O comité propôs o uso de uma probabilidade de incumprimento em recessão, que é bastante


similar ao loss given default (LGD) falado anteriormente na metodologia IRB, para o cálculo dos
requisitos de capital derivado do risco de crédito. Para complementar o mecanismo de buffers
aplicado ao nível individual dos Bancos é proposta também uma abordagem macro prudencial
que ajustaria o intervalo dos buffers de capital para neutralizar o crescimento excessivo do
crédito.

Este buffer é constituído maioritariamente por commom equity. Deverá ser constituído por
uma percentagem adicional que varia entre o 0% e 2,5% do risco ponderado em termos do
capital principal. Acaba por ser um capital adicional ao capital de conservação e, com isto, o
capital regulamentar estaria entre os 10,5% e os 13% do ativo ponderado pelos riscos.

4.2.3 Índices de alavancagem

Este índice é calculado a partir do capital principal e tem de ser 3% deste. O principal objetivo
da criação deste índice é criar restrições à alavancagem deste setor, prevenindo a
destabilização do sistema financeiro. Esta medida reforça a tendência de elevar o
comprometimento de capital próprio presente neste acordo. O capital próprio é o património
líquido da empresa, ou seja é a diferença entre os ativos e os passivos.

4.2.4. Risco de Liquidez

No documento “International framework for liquidity risk measurement, standards and


monitoring” (2010) o Comité de Basileia adiciona o controlo da liquidez das instituições, um
instrumento bastante importante para o controlo da sua solvabilidade. Introduz igualmente

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

standards quantitativos para o financiamento da liquidez. Para colocar em prática tais


instrumentos foram criados dois rácios e várias ferramentas de monitorização para ajudar os
supervisores na análise da tendência do risco de liquidez de cada banco e do sistema
financeiro, a saber:

i. Liquidity Coverage Ratio (LCR)

O LCR ou rácio de liquidez a 30 dias procura garantir que os bancos mantenham na


composição da sua carteira, ativos com alta qualidade de liquidez que possam ser convertidos
em moeda em prazos curtos e cubram o total de saídas líquidas de caixa. É calculado com base
um cenário de stress de liquidez, num horizonte de 30 dias, formulado pelo regulador:

Relativamente ao numerador é constituído por dinheiro, empréstimos do Estado (dívida


soberana sem risco ou com um risco bastante reduzido), títulos de divida privada com
desconto e em que os riscos de crédito e de mercado sejam baixos, fáceis de avaliar, tenham
pouca correlação com ativos de riscos, estejam presentes num mercado organizado, regulado
e que sejam transacionados com alguma frequência.

No denominador é considerada a diferença entre os fluxos de caixa esperados de saída e de


entrada de fundos, num cenário de stress, para os próximos 30 dias.

ii. Net Stable Funding Ratio (NSFR)

O NSFR ou rácio de liquidez a longo prazo, é uma medida complementar do rácio anterior e
pretende que os bancos sejam mais resilientes por um período mais longo, ou seja, pretende
monitorizar o prazo dos ativos para garantir que os ativos com longa maturidade
(considerando o seu perfil de risco e liquidez), tenham alguma fonte estável de funding que
garanta a liquidez dos bancos. O objetivo é o de promover o uso de fontes de financiamento
estáveis. Este rácio permite igualmente promover mudanças estruturais nos perfis de risco de
liquidez nos bancos.

É obtido através da seguinte expressão:

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Quanto ao numerador está incluído o somatório de capital, ações preferenciais com


maturidade superior a um ano, proporção de depósitos esperados que se manterão em caso
de stress test e passivos com uma maturidade superior a um ano.

iii. Monitorização

O Acordo de Basileia III estabeleceu determinadas ferramentas de monitorização que têm em


vista dar aos supervisores os meios necessários ao correto apuramento do estado financeiro
dos bancos em termos de liquidez e, caso se verifique alguma situação de dificuldade, que esta
seja corrigida rapidamente. As ferramentas de monitorização são as seguintes:

i. Mapa de incompatibilidade de fluxos contratuais por maturidades

ii. Concentração de financiamento;

iii. Mapa de ativos disponíveis isentos de encargos;

iv. Rácio de cobertura de liquidez expresso em moeda relevante; e,

v. Ferramentas de monitorização relacionadas com o mercado.

4.2.5. Risco de Mercado

i. Risco Sistémico

O risco sistémico é o risco geral do mercado, ou seja, é o risco que se incorre caso ocorra um
colapso no sistema financeiro ou um colapso de uma parte importante deste e que tenha
implicações negativas de grande impacto na economia do país. Este risco pode ser originado
por questões sociais, politicas, económica e questões externas ao próprio país. Tem um efeito
dominó uma vez que quando uma instituição financeira declara falência pode desencadear
uma reação em cadeia de falências de outras instituições financeiras e, consequentemente,
este efeito dominó afeta o sistema financeiro global.

O efeito dominó é gerado porque os bancos estão interligados por relações de investimento,
contraparte e de crédito. Faz parte do risco de mercado mas é um risco que não é
diversificável, enquanto que os outros riscos podem ser reduzidos pela diversificação das
carteiras.

O Acordo de Basileia III veio introduzir novas medidas de maneira a que este risco não pusesse
em causa o normal funcionamento das instituições financeiras, tais como:

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

(i) Buffer de capital anti-cíclico, já falado anteriormente;

(ii) Rácio de endividamento, uma vez que uma das causas desta crise financeira foi
a alavancagem dos produtos, também já falado anteriormente;

(iii) Desenvolvimento de um método que avalie o risco sistémico de cada banco


com base nos indicadores quantitativos e qualitativos.

Neste âmbito foi criado o Conselho Europeu de Risco Sistémico (CERS) com o principal objetivo
de avaliar a estabilidade do sistema financeiro na União Europeia tendo em conta a evolução
macroeconómica e as tendências ocorridas nos mercados financeiros. O aumento da
resiliência individual das instituições financeiras diminui o risco sistémico associado a choques
adversos. Estas novas medidas deverão reduzir e prevenir o risco de falência nas instituições
financeiras.

4.3. Síntese

Os novos rácios de capital e buffers só revelam que a gestão dos bancos terá de ser
efetuado com uma maior prudência e as medidas previstas preveem que os requisitos de
capital contemplem e melhorem os riscos presentes nesta atividade. Com estas novas
exigências o pretendido para os reguladores é desincentivar a criação de bancos enormes too
big to fail para que se possa estabilizar este setor, no entanto estas imposições limitam a
cedência de crédito por parte das instituições.

O quadro abaixo ilustra o resumo de quando e quais as medidas a serem


implementadas em Basileia III, de uma forma sintética:
Tabela 4 - Quadro de A plicação do s No vo s requisito de Capital.

2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Rácio Minimo Capital Tier 1 4,5% 5,5% 6% 6% 6% 6% 6%

Capital Mínimo Total 8% 8% 8% 8% 8% 8% 8%

Rácio Common Equity Tier I 3,5% 4% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5% 4,5%

Capital Conservation Buffer 0,625% 1,25% 1875% 2,50%

Deduções ao Capital Próprio incluídas no


20% 40% 60% 80% 100% 100%
Tier 1
Minimo commom equity mais o buffer
3.5% 4.0% 4.5% 5.125% 5.75% 6.375% 7.0%
de conservação de capital

Tier II ou Capital Total 8.0% 8.0% 8.0% 8.625% 9.250% 9.875% 10.5%

Instrumentos de Capital Deixam de ser considerados

Rácio de Cobertura de liquidez a curto Introdu


Período de Observação
prazo ção
Introdu
Rácio de liquidez a longo prazo Período de Observação
ção
Fo nte - B IS 2010

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Capítulo V - Quais são as mudanças dos principais riscos ao longo dos acordos de Basileia?
Contribuem para a regulação bancária e estabilização do sistema financeiro?

A análise que é pretendida nesta tese é se de facto ao longo dos três acordos de Basileia foram
alterados os métodos de cálculo dentro dos riscos ou se os mesmos manterão inalterados.
Para responder a esta questão elaborei um quadro com os riscos presentes e as suas
alterações:

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Analisando comparativamente os Acordos de Basileia II e III, constatamos que, em relação ao


rácio de Cooke, há uma alteração significativa no numerador da equação. É basicamente uma
definição do que se deve incluir ou não no numerador.

Em relação ao risco de crédito em Basileia I eram usados ponderadores com base no risco de
não cumprimento dos ativos. Em Basileia II foram introduzidas três novas metodologias para
se calcular este risco. Verificou-se que os bancos que adotassem métodos mais básicos
poderiam começar a perder crédito de qualidade para crédito dúbios. Já na última abordagem
do acordo introduziram ponderações mais elevadas para os bancos que adotaram as
metodologias avançadas e novos requisitos de capital para operações de trading e de re-
securitização e foram tomadas em conta alguns instrumentos fora do balanço que não se dava
uma importância relativa.

Em relação ao risco de mercado, não foi previsto no acordo inicial. No entanto ao verificarem
que seria uma das causas para falências de instituições que tinham impacto nas economias
nacionais fez-se uma emenda ao acordo onde foi contemplado, introduziram-se duas técnicas
para o mitigarem, uma mais standards e outra avançada. No entanto foi criado ao mesmo
tempo um novo Tier, o Tier III, que contribuiu para anular o seu impacto no aumento dos
fundos próprios. Em Basileia II manteve-se inalterável e verificou-se que ambos os modelos de
cálculos teriam limitações nomeadamente não considerarem o passado do ativo. Em Basileia
III para além de continuarem com as técnicas do acordo anterior, introduzem-se buffers contra
cíclicos e de conservação de capital para que os bancos tivessem poder de resposta para
situações imprevisíveis. Foi aqui que se introduziu o risco sistémico.

Em relação ao risco operacional não era considerado em Basileia I. Em Basileia II surgiram


quatro novos métodos para o cálculo do mesmo e em Basileia III mantiveram-se os mesmos.
No entanto de 2005 para 2010, com certeza, ocorreram alterações a nível operacional.

Por fim, o risco de liquidez só passa a ser considerado no último acordo com a introdução de
dois novos rácios, para que numa situação de stress, se conheça o valor possível a transformar
em moeda, acabando por conseguirem manter o normal funcionamento e estabilidade quando
existem situações adversas.

Dá ideia que os acordos de Basileia aparecem sempre por “reação” e não por “antecipação”. A
crise surge e em consequência procura-se emendar aquilo que lhe deu origem. Não seria
muito difícil antever que qualquer crise financeira a ocorrer, iria “apanhar” os bancos com
capitais próprios mínimos (fruto da alavancagem enorme que têm nos seus balanços). Em

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grande parte essa foi a grande premissa de Basileia II: desenvolver o negócio diminuindo os
requisitos de fundos próprios e fomentando a criação de grandes bancos que só assim
poderiam resistir a eventuais crises. Esse princípio não resultou bem e só a intervenção dos
Estados impediu que a crise fosse devastadora.

No estudo efetuado a esta matéria verificou-se que o maior problema do sistema financeiro é
o risco sistémico, uma vez que se não for bem controlado pode chegar a haver um colapso de
todo o sistema financeiro visto que este risco tem um efeito dominó. Basileia III não vai
colmatar todos os problemas do sistema bancário, o que implica que o sistema financeiro pode
não estabilizar. Uma das soluções para a mitigação do risco sistémico bem como para a
estabilização do sistema financeiro seria a separação da banca comercial da banca de
investimentos e terminar com a ideia “muito grandes para falhar”.

Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas de crédito que têm
como fim proporcionar recursos para financiar a indústria, o comércio, pessoas físicas e
empresas prestadoras de serviços. As instituições captam fundos através de operações
passivas (captação de depósitos, empréstimos, emissão de títulos, entre outos) para depois
conseguir proporcionar o financiamento. A captação de depósitos facilmente movimentados é
a principal atividade da banca comercial.

Já os bancos de investimento são instituições privadas que ajudam pessoas físicas ou jurídicas
a alocar o seu capital em vários tipos de investimento. A área onde atuam estes bancos é
menor que a dos bancos comercias e têm bastantes clientes com muitos recursos emprestados
ou produtos alavancados. O risco fica bastante concentrado e em tempos de crise esta
situação pode ser fatal. O banco de investimento coloca em causa os depósitos de clientes e
acaba por os esmagar, sendo que para este ser competitivo tem de dar tanta liberdade aos
seus traders que não os conseguem fiscalizar.

Foi nos Estados Unidos da América que se falou pela primeira vez nesta separação, nos anos
30 através da Lei de Glass-Steagall. O aparecimento desta lei faz com que se previna os
produtos alavancados, o conflito de interesses aquando a concessão de crédito, na aplicação e
no investimento desse recurso efetuado pela instituição e limitar a especulação, contribuindo
assim para a estabilização do sistema financeiro.

Com a revogação desta lei, que aconteceu em 1999, ocorreram várias consequências,
nomeadamente aparecimento de derivados financeiros, aparecimento de produtos derivados

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(petróleo, arroz, café, etc.), ocorrência de especulação, sucessivos resgates das autoridades
monetárias, entre outras.

Outro país que pretende esta separação é a Alemanha que entre 2014 e Julho de 2015, têm
que separar este tipo de bancos nas entidades bancárias que tenham ativos de risco que sejam
superior em 20% a 100 mil milhões de euros e preveem uma pena judicial para quem aprove
investimentos de risco que não sejam bem-sucedidos.

Seria interessante verificar em que medida a revogação da lei Glass-Steagall contribuiu ou não
para a crise financeira nos EUA. No caso de uma resposta positiva a esta pergunta seria
recomendável a separação destes dois tipos de banca. Alguns factos contribuem para esta
tese: resposta obtém-se ao verificarmos os grandes fatores da crise financeira de 2008
identificámos a falência do Lehman Brothers e do Reserve Primary Fund. O primeiro era um
banco de investimento e o segundo era um fundo de investimento no mercado monetário.

Os factos parecem apontar que são necessários bancos mais funcionais, que consigam
alimentar a economia, que não sejam grandes demais para falharem, que deixem de ter
atividades e produtos complexos em demasia para serem reguladas devidamente, mesmo
quando se mantém dentro dos seus negócios tradicionais e que não tenham produtos que os
possam levar a falência e levar com eles os países. Ou seja se a falência ocorresse seria
originada pelo normal funcionamento do mercado e não arrastariam as economias.

É claro que são também necessários bancos de investimentos. Mas para esses os requisitos de
capital poderiam ser então definidos e aplicados de forma mais exigente.

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Capítulo VI – Conclusões e Contributos

A contemplação dos riscos neste trabalho e a análise do comportamento dos mesmos ao longo
dos acordos surge da ideia de que a gestão dos mesmos é crucial para o desempenho do setor
bancário. A gestão do risco é um processo desenvolvido pelas instituições bancárias baseado
na estratégia da organização e tem como principal objetivo identificar possíveis situações que
a possam afetar. Desta forma, torna-se imperativa a gestão destes riscos de modo que as suas
consequências não coloquem em causa o normal funcionamento da instituição e que os
objetivos desta sejam atingidos. Na situação em que Portugal se encontra nos dias de hoje é
fundamental que sejam implementadas medidas adequadas, por forma a gerir e mitigar os
riscos de forma eficiente, uma vez que sabemos de antemão que o sistema bancário é um
setor onde há bastante competitividade e desregulamentação.

Em relação ao capital próprio, o estabelecimento destas regras mais rígidas para a


alocação do mesmo, faz com que diminua substancialmente a oferta do crédito, o que
pode desacelerar a recuperação e crescimento económico dos bancos. É do conhecimento
generalizado que o sistema financeiro, nomeadamente os bancos, têm uma importância
elevada no desenvolvimento da mesma. As instituições de crédito têm um papel determinante
para o financiamento das atividades produtivas, nomeadamente as PME. No entanto esta
intermediação terá de ser feita num ambiente de estabilidade financeira, uma vez que estas
últimas também podem ser “delapidadas”, devido aos pricings de atribuição do crédito ou da
sua não atribuição.

Este trabalho foi realizado aquando da entrada em vigor das normas do Acordo de Basileia
III, em 2013 e será expectável de atrás deste acordo outro, ou outros, virão. O principal
objetivo do Comité em torno deste último acordo é aumentar os níveis de capitais
próprios dos bancos em relação aos ativos ponderados pelo risco. É em torno deste
problema que todos os acordos se geram.

No caso específico de Basileia III, reforça-se a preocupação em torno dos riscos,


nomeadamente a introdução do risco de liquidez que procura que exista um mínimo de
adequação de prazo entre os passivos e ativos, que instituiu limites para a alavancagem
total dos bancos e a criação de instrumentos que obriguem a conversão de dívidas em
moeda no caso de cenários de stress.

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Tem-se vindo a assistir, ao longo dos últimos anos, que os Acordos de Basileia de modo
algum evitam que as crises financeiras ocorram; o principal objetivos destes centra-se na
redução do risco e em minimizar as consequências decorrentes das mesmas.
Adicionalmente, preocupam-se em demasia com a alocação do capital próprio enquanto
que a resolução do mesmo seria como cobrir os riscos, ou seja enquanto que no rácio de
Cooke o enfoque vai para o numerador, teriam de se concentrar mais no denominador,
pois é dele que advêm maioritariamente os problemas financeiros que geram as crises. Ao
identificarem estes últimos passariam a desenvolver formas mais eficientes de os gerir e a
criar medidas para, em última análise, os conseguir mitigar.

Nos dias de hoje convivemos com bancos ainda maiores do que em 2007 (antes da crise
do subprime) e continuamos com o setor financeiro não bancário completamente
desregulado e ainda continuam a ser transacionados produtos que foram um dos
principais fatores responsáveis para o colmatar da crise.

Concluo que a estabilização do sistema financeiro passaria pela separação dos dois tipos de
banca (banca de retalho e banco de investimento), pelo redimensionamento das instituições
bancárias através da instituição de limites de tamanhos dos bancos, pela extinção de produtos
de risco altamente elevado, e não pela melhor alocação de capital. Alocar o capital próprio da
forma mais eficiente não é de todo menos importante, porém não é o único problema e não
será, sem dúvida, a chave para a resolução dos problemas que afetam o sistema bancário.

Relativamente a trabalhos futuros há a possibilidade no fim da implementação do Acordo de


Basileia III analisar os balanços dos maiores bancos portugueses e efetuar uma comparação
aos balanços dos anos onde o Acordo de Basileia II vigorava.

Se ocorrer a separação dos dois tipos de banca também se poderá realizar um trabalho sobre o
impacto desta medida para os bancos e para a economia e se realmente é a medida necessária
para estabilizar o sistema financeiro.

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Moody’s, notações de rating disponível em https://www.moodys.com/

Ono, Fabio Heideki (2002), Monografia “O Acordo de Basiléia, a Adequação de Capital e a


Implementação no Sistema Bancário Brasileiro”, Universidade Estadual de Campinas - Instituto
de Economia, disponível em http://www.conjuntura.com.br/fhono/arquivos/basileia.pdf

Standard & Poor’s, notações de rating disponível em


http://www.standardandpoors.com/ratings/en/us/

Standard Chartered, “Política de Gerenciamento de Risco de Mercado”, disponível em


http://www.standardchartered.com.br/risk-management-policies/pt/_pdf/politica-de-risco-
de-mercado.pdf

Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, extraído de Boletim on-line de “O bancário” (2004) “O
Novo Acordo de Capital - Basileia II”, disponível em
https://www.cgd.pt/Empresas/Informacao-Empresa/Documents/SBSI.pdf

Wall Street, “Bank Regulatory Capital – Quick Reference”, disponível em https://samples-


breakingintowallstreet-com.s3.amazonaws.com/60-BIWS-Bank-Regulatory-Capital.pdf

Ins
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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

Sites Consultados:

Banco de Portugal (http://www.bportugal.pt/pt-PT/Paginas/inicio.aspx)

Comité Basileia (http://www.bis.org/)

Investopédia (http://www.investopedia.com/)

Banco Central Europeu (http://www.ecb.europa.eu/ecb/html/index.pt.html)

Instituto de Formação Bancária (http://www.ifb.pt/)

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

Anexo 1

Tabela 6 - Definição das no taçõ es do Rating a LP

Ratings de Crédito de Emissão de Longo Prazo*


Categoria Definição
O rating 'AAA' reflete a menor expetativa de risco de incumprimento. É atribuído apenas
em casos de capacidade excepcionalmente elevada de pagamento dos compromissos
AAA
financeiros. Essa capacidade é altamente improvável de ser adversamente afetada por
eventos previsíveis.

O rating 'AA' denota uma expectativa muito baixa de risco de incumprimento. Indica uma
AA capacidade muito elevada de pagamento de compromissos financeiros. Essa capacidade
não é significativamente vulnerável a eventos previsíveis.

O rating 'A' denota uma baixa expectativa de risco de incumprimento. A capacidade de


pagamento de compromissos financeiros é considerada forte. Essa capacidade, todavia,
A
pode ser mais vulnerável a alterações nos negócios ou nas condições econômicas, do que
no caso de categorias de ratings melhores

O rating 'BBB' indica que, no momento, existe uma baixa expectativa de risco de
incumprimento. A capacidade de pagamento de compromissos financeiros é considerada
BBB
adequada. Todavia, mudanças adversas nos negócios e nas condições econômicas têm mais
possibilidade de limitar essa capacidade.

O rating 'BB' indica um risco de incumprimento mais elevado, particularmente como


resultado de mudanças adversas nos negócios e nas condições econômicas ao longo do
BB
tempo. Entretanto, existem alternativas financeiras ou de negócios que fazem com que os
compromissos financeiros sejam honrados.

O rating 'B' indica que um significativo risco de incumprimento está presente, porém uma
limitada margem de segurança ainda existe. Os compromissos financeiros estão sendo
B
honrados. Entretanto, a capacidade de continuar efetuando pagamentos está vulnerável à
deterioração nos ambientes de negócios e econômico.

CCC A incumprimento é uma possibilidade real

CC Algum tipo de incumprimento é provável.


A incumprimento é iminente ou inevitável, ou o emissor está sem alternativas. As
condições que levam o rating de um emissor para a categoria 'C' incluem: a.o emissor
entrou em período de carência ou de cura após o não pagamento de uma importante
obrigação financeira,
C b.o emissor entrou em um período de negociação de “perdão” temporário ou acordo de
imobilização após a incumprimento de um pagamento de uma importante obrigação
financeira; e
c.a Fitch acredita que um 'RD' ou 'D' seja iminente ou inevitável, incluindo o anúncio formal
de uma troca de dívida coercitiva.
Ratings 'D' indicam, na opinião da Fitch, que um emissor entrou com pedido de recuperação
D judicial, intervenção administrativa, liquidação ou processo de encerramento formal ou
que encerrou suas atividades.

Indica que nenhum rating foi solicitado, ou que existe informação insuficiente para se
NR
basear num rating.

*Os ratings de ‘AA’ a ‘CCC’ podem ser modificados pela adição de um sinal de mais (+) ou de menos (-)
para mostrar a posição relativa dentro das principais categorias de rating.
Fo nte: Elabo ração P ró pria co m co nsulta no site da Fitch

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Abordagem aos Acordos de Basileia pelos seus riscos Setembro 2013

Anexo 2

Tabela 6 - Definição das no taçõ es do Rating a CP

Ratings de Crédito de Emissão de Curto Prazo


Categoria Definição
Melhor qualidade de crédito. Indica a mais forte
capacidade de pagamento de compromissos
financeiros no prazo esperado. Poderá ser
F1
acompanhado por um "+", denotando uma
característica do seu perfil de crédito extremamente
forte.
Boa qualidade de crédito. A capacidade de pagamento
de compromissos financeiros, no prazo esperado, é
F2
satisfatória, mas a margem de segurança não é tão
ampla quanto no caso dos ratings F1.
Razoável qualidade de crédito. A capacidade de
pagamento dos compromissos financeiros, no prazo
esperado, é adequada. Entretanto, mudanças
F3
adversas, no curto prazo, podem resultar no
rebaixamento do rating para uma categoria de não
investimento.
Especulativo. Mínima capacidade de pagamento no
prazo esperado de compromissos financeiros, além de
B
apresentar vulnerabilidade a mudanças adversas, no
curto prazo, nas condições econômicas ou financeiras.
Alto risco de inadimplência. A possibilidade de
inadimplência é real. A capacidade de cumprir
C compromissos financeiros só se mantém em um
ambiente de negócios e econômico favorável e
sustentado.
Indica um emissor ou país que deixou de cumprir com
D
todas as suas obrigações financeiras.
Fo nte: Fitch Rating

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