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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

GABINETE DO CONSELHEIRO EDGARD CAMARGO RODRIGUES

CONSELHEIRO EDGARD CAMARGO RODRIGUES

TRIBUNAL PLENO DE 17/04/19 ITEM Nº03

EXAME PRÉVIO DE EDITAL


MUNICIPAL

Processos: TC-008634.989.19-8
TC-008656.989.19-1

Representantes: Peteca Comércio de Pinturas e Confecções Ltda.-


ME.
Carioca Estamparia Ltda. – ME.
Representada: Prefeitura de Fernandópolis.
Responsável: André Giovanni Pessuto Cândido, Prefeito de
Fernandópolis.
Objeto: Impugnações ao edital de pregão presencial nº
006/2019, que objetiva o “registro de preços
para aquisição de uniformes escolares
(camisetas) para toda rede municipal de ensino
infantil e fundamental, a serem entregues
gratuitamente aos alunos, com previsão de
consumo parceladamente em até 12 (doze)
meses”.
Advogado: Márcio Cardoso Gomes (Procurador do Município,
OAB/SP 332.678)
Data das
Impugnações: 26 de março de 2019 (TC-008634.989.19-8)
27 de março de 2019 (TC-008656.989.19-1)
Sessão Pública: 28 de março de 2019

EMENTA: EXAME PRÉVIO DE EDITAL. PREGÃO PRESENCIAL.


REGISTRO DE PREÇOS PARA AQUISIÇÃO DE UNIFORME

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ESCOLAR. EXIGÊNCIA DE ENSAIOS TÉCNICOS DO FABRICANTE.


COMPROMISSO DE TERCEIROS ALHEIOS À DISPUTA. AMOSTRAS
PERSONALIZADAS. PRAZO À APRESENTAÇÃO DE LAUDOS.
INOBSERVÂNCIA DO REGRAMENTO LOCAL DA MATÉRIA.
PROCEDÊNCIA.
1. Dispendioso requisito de laudos específicos para objeto customizado
deve dirigir-se ao vencedor provisório do torneio, mediante prazo
razoável, sem importar ônus aos fabricantes dos produtos, que restam
alheios à contenda.
2. Constatada a existência de disciplina própria da matéria no âmbito
municipal, compete à Prefeitura zelar pelo amoldamento do ato
convocatório às respectivas regras locais.

MÉRITO

RELATÓRIO

São representações formuladas por PETECA


COMÉRCIO DE PINTURAS E CONFECÇÕES LTDA.-ME (TC-
008634.989.19-8) e CARIOCA ESTAMPARIA LTDA. – ME (TC-
008656.989.19-1), face edital de pregão presencial nº 006/2019, da
PREFEITURA DE FERNANDÓPOLIS, do tipo menor preço por item, que
objetiva o “registro de preços para aquisição de uniformes escolares
(camisetas) para toda rede municipal de ensino infantil e fundamental,
a serem entregues gratuitamente aos alunos, com previsão de consumo
parceladamente em até 12 (doze) meses”, cuja sessão pública
encontrava-se agendada para 28 de março de 2019.

Queixam-se as autoras da exigência de “laudos (da


fábrica) de ensaios realizados por laboratórios acreditados pelo
INMETRO” como pressuposto à aceitabilidade das amostras da licitante
vencedora, na conformidade do Anexo XI do edital.

Ademais, conjecturam que as especificações à gola


das camisetas destoam dos requisitos dispostos na legislação local,

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razão de requererem a suspensão liminar do torneio e sucessiva


retificação do ato convocatório.

Averiguação preliminar das impugnações, ao


reconhecer presunção de afronta ao artigo 3°, § 1°, I, da Lei n°
8.666/93, e à Súmula nº 15 desta E. Corte, sobretudo por conta da
premissa de customização do objeto, assentou medida acautelatória de
suspensão do certame (DOE, 28/03/19), referendada pelo E. Plenário
em sessão de 03/04/19 (TC-008634.989.19-8, eventos 10, 19 e 30).

Coube à Prefeitura de Fernandópolis (evento


22.1) coligir justificativas externadas pela Secretaria Municipal de
Educação, nos termos das quais refuta suposta inobservância à Lei
Municipal nº 4.087/2013(1), pois, atribuindo caráter meramente
exemplificativo às descrições anexas ao diploma legal, afiança que, na
hipótese, o objeto alude às ressalvas a “uniformes diferenciados, desde
que sejam mantidas as cores do brasão do Município e os padrões
regulamentados” (evento 22.2).

Conforme sustenta, a realização de ensaios técnicos


por laboratórios acreditados pelo INMETRO constitui procedimento
acessível às malharias, com ampla oferta de orientações junto à rede
mundial de computadores.

Dando conta da ausência de respaldo documental às


críticas, sequer suscitadas no particular âmbito daquela Administração,
pugna pelo prosseguimento do torneio.

(1) Lei nº 4087, de 05 de julho de 2013, do Município de Fernandópolis, dispõe sobre


a padronização do uniforme escolar na rede municipal de ensino e dá outras
providências.
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Diante da perspectiva de participação de


interessados que não confeccionam os produtos, Ministério Público
pondera que a exigência de apresentação de laudos analíticos em nome
dos fabricantes alberga potencial transgressão à Súmula nº 15 deste E.
Tribunal e demanda retificação. (evento 42.1)

Nessa esteira, alvitra pertinente franquear-se prazo


razoável à apresentação dos diagnósticos, os quais, à vista de
protótipos customizados, concernem, tão somente, à licitante vencedora
da disputa, em simetria à Orientação Interpretativa OI-MPC/SP nº
01.23(2).

A despeito de reputar “bastante questionáveis a


utilidade e a conveniência de a legislação ordinária municipal disciplinar
minuciosamente o modelo dos uniformes”, divisa contraste entre os
atributos do edital e o regime jurídico da matéria, notadamente, aos
artigos 2º e 3º da Lei Municipal nº 4.087/13(3) e respectivo anexo I,

(2) OI-MPC/SP n.º 01.23: Somente é possível exigir a apresentação de amostras do


licitante provisoriamente classificado em primeiro lugar, mediante a garantia de prazo
razoável para tanto.

(3) Art. 2º. A padronização dos uniformes escolares da rede municipal de ensino
deverá considerar:

I – a necessidade da imediata identificação dos alunos integrantes de cada uma das


escolas da rede municipal de ensino;

II – a possibilidade de reaproveitamento dos uniformes em anos consecutivos;

III – a consequente redução de custos;

IV – o estímulo a um ambiente escolar estável e harmonioso;

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que discrimina modelo de gola distinto, assinalando, por oportuno,


negligência do ato convocatório ao ônus de identificação do
estabelecimento de ensino no uniforme escolar.

Sem deixar de realçar contrassenso na adesão ao


sistema de registro de preços em face da previsibilidade do quantitativo
de estudantes e da ocasião de entrega das vestimentas, acena pela
procedência das representações.

Este o relatório.

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V – a segurança dos alunos dentro e fora do ambiente escolar.

Art. 3º. A administração pública deverá fixar o padrão a ser adotado para o uniforme
escolar, observando as seguintes características, entre outras:

a) cores;
b) modelo;
c) descrição e desenho detalhado de todas as peças que compõem o uniforme
(masculino e feminino);
d) tamanhos adequados às faixas etárias e tipos físicos;
e) conforto;
f) durabilidade;
g) adaptação às condições climáticas;
h) número mínimo de peças que compõem o uniforme escolar;
i) normas e procedimentos para tecidos, modelagem e costura;
j) seguir os modelos constantes dos Anexos I e II.

Parágrafo único. Poderão ser adotados uniformes diferenciados para os diversos


níveis de escolaridade: infantil, médio ou fundamental, devendo, entretanto, ser
preservadas as cores e padrões regulamentados.
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TC-008656.989.19-1

VOTO

Ponho-me de acordo com o parecer do Ministério


Público quanto à procedência das representações.

Conquanto exibição de ensaios técnicos por


laboratórios acreditados pelo INMETRO, animada pelo fito de evidenciar
a qualidade dos produtos e o atendimento às especificações do edital,
não constitua, de per si, cláusula restritiva ao acesso à competição,
calha salientar a exorbitância do dispositivo correlato na hipótese em
exame.

Assenta-se no repositório jurisprudencial desta E.


Corte remansa reprovação do condicionamento do certame ao
compromisso de terceiros alheios à disputa, entendimento alçado à letra
da Súmula nº 15, em direção ao qual se precipita o ato convocatório, ao
estabelecer encargos às malharias fabricantes dos produtos,
indiferentes à contenda.

Tampouco se afigura cabível o endereçamento do


quesito a todos os proponentes, eis que a personalização das amostras
e sucessiva promoção de análises laboratoriais imprimem dispêndios
incompatíveis à claudicante expectativa de triunfo, muito embora a
condição afeiçoe-se ao vencedor interino do torneio, mediante a oferta
de interregno idôneo às diligências.

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Perplexidade derivada do minudente esboço do


fardamento do corpo estudantil em diploma legal não afasta obrigatória
subsunção do edital à disciplina jurídica, que, de forma cristalina,
retrata com rigor as propriedades dos uniformes - entre as quais,
enfatize-se, gola redonda para camisetas -, paradigma a ser
resguardado mesmo no permissivo à diferenciação por nível de
escolaridade, consoante redação do parágrafo único do artigo 3º da
diretiva(4).

Refoge à competência desta via sumária de


apreciação debruçar-se sobre o mérito da adesão do Município à
sistemática de registro de preços no presente caso, questionamento
que, sequer suscitado pelas representantes, se encontra à revelia da
Prefeitura e ao abrigo das prerrogativas administrativas, seguramente
encimadas em nos critérios técnicos pertinentes.

Ante o exposto, adstrito às questões agitadas nas


iniciais, voto pela procedência das representações formuladas por
Peteca Comércio de Pinturas e Confecções Ltda.-ME e Carioca
Estamparia Ltda. - ME, com determinação à PREFEITURA DE
FERNANDÓPOLIS para, querendo dar continuidade à licitação, atentar-
se às diretrizes locais ao fardamento dos estudantes, suprimir gravames
às fabricantes e, ainda, orientar à licitante vencedora a exigência de
testes laboratoriais para amostras personalizadas, facultando interstício
temporal hábil à apresentação dos laudos.

(4) Parágrafo único. Poderão ser adotados uniformes diferenciados para os diversos
níveis de escolaridade: infantil, médio ou fundamental, devendo, entretanto, ser
preservadas as cores e padrões regulamentados.
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As retificações que se fazem necessárias demandam,


à luz do §4º do artigo 21 da Lei n 8.666/93, a republicação do aviso
de licitação, assegurando-se aos interessados a devolução de prazo de
que trata inciso V do artigo 4º da Lei n° 10.520/02, para formulação
das propostas.

GCECR
IDR

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