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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”


FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
CAMPUS ARARAQUARA

A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS


FALADO

Maria Alice de Mello Fernandes

ORIENTADORA: Profª. Drª. Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza Campos

ARARAQUARA – SP
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
CAMPUS ARARAQUARA

A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS


FALADO

Maria Alice de Mello Fernandes

Tese apresentada à Faculdade de


Ciências e Letras da Universidade
Estadual Paulista, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
Doutor em Letras (Lingüística e Língua
Portuguesa)

ORIENTADORA: Profª. Drª. Odette Gertrudes Luiza Altmann de Souza Campos

ARARAQUARA – SP
2006
A INSERÇÃO E OS TEMPOS VERBAIS NO PORTUGUÊS
FALADO

Comissão Examinadora da Tese de Doutorado para obtenção do Título de


Doutor em Letras (Lingüística e LínguaPortuguesa)

____________________________________________________________________
PROFª. DRª. ODETTE GERTRUDES LUIZA ALTMANN DE SOUZA CAMPOS
Orientador/Presidente

_________________________________________________
PROFª. DRª. ROSANE DE ANDRADE BERLINCK
Membro Titular

__________________________________________________
PROFª. DRª. BEATRIZ NUNES DE OLIVEIRA LONGO
Membro Titular

__________________________________________________
PROFª. DRª. INGEDORE GRUNFELD VILLAÇA KOCH
Membro Titular

__________________________________________________
PROFª. DRª. GLADIS MARIA BARCELOS DE ALMEIDA
Membro Titular

ARARAQUARA, 04 DE ABRIL DE 2006.


DEDICATÓRIA

Um sonho pensado,

Um sonho conquistado,

Um sonho realizado.

Aos meus pais, Benedito e Irene,

Ao sempre companheiro Luiz;

Aos meus filhos Marcel e Rosiane,

Milena e Estevão,

Aos meus netos Marcel Júnior e

Maria Clara,

Com amor.
AGRADECIMENTOS

A DEUS, pela presença em minha vida.

À Profª. Drª. Odette G. L. A. S. Campos, minha orientadora, por


mostrar, nessa trajetória, que amor, dedicação e alegria são o “sumo da
vida”.

À Profa Dra. Ingedore G.V. Koch, pelo carinho e conhecimento.

Ao grupo responsável pelo Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul,


representado pela Profª. Aparecida Negri Isquerdo, pela cedência do
corpus.

À Profª. Dra.Ângela Rodrigues, pela disponibilidade de inquéritos do


Projeto Filologia Bandeirante (SP) e Português Popular do Brasil (SP).

Aos professores da Pós-Graduação de Lingüística e Língua Portuguesa


da UNESP, pelos ensinamentos e, aos funcionários, pela prontidão no
decorrer desses anos.

À UNIGRAN — Centro Universitário da Grande Dourados (MS) — ,


por acreditar em mim.

À direção, aos colegas professores e aos funcionários da UNIGRAN e do


ANGLO, pela amizade e compreensão de minhas ausências.

Aos meus irmãos e cunhados, Sandra e Cyro, Milton e Renata,


Fernando e Valquíria e aos meus sobrinhos Fábio, Andressa, Camila e
Murilo pelo estímulo e unidade de nossa família.

Á Tia Audenir e família, pelo carinho durante minhas passagens em


Campinas.

À Nara, colega de trajetória, pela força de uma nova e grande amizade.

À Delaine, à Cynara e à Solange pela amizade e incentivo à criação do


trabalho; à Maria do Carmo pelo apoio na finalização desse trabalho.

Aos meus alunos, pela modificação do meu texto.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 11

CAPÍTULO I – REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS


VERBAIS................................................................................................................... 15
1.1.As categorias Tempo e Aspecto..................................................................... 15
1.1.1 Definições................................................................................................. 16
1.2. Emprego dos tempos verbais......................................................................... 20
1.3. A visão semântica dos tempos verbais.......................................................... 28

CAPÍTULO II – REFLETINDO SOBRE A COESÃO DOS TEMPOS


VERBAIS................................................................................................................... 33
2.1 Retomando a Lingüística Textual.................................................................. 33
2.2 A coerência e a coesão como fatores de textualidade.................................... 35
2.3.O tempo verbal e a função coesiva................................................................ 39

CAPÍTULO III - LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA: OPOSIÇÕES?....... 45


3.1 Como se constrói o texto falado?.................................................................. 52
3.2 Inserções: uma reflexão 58

CAPTÍTULO IV – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 73

CAPÍTULO V – UM OLHAR SOBRE AS INSERÇÕES E OS TEMPOS


VERBAIS................................................................................................................... 85

CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 127

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 133

ANEXOS.................................................................................................................... 138
Anexo 1 – Excertos de entrevistas do Projeto NURC de São Paulo
Anexo 2 – Excertos de entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do
Sul
Anexo 3 – Excertos de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante (SP) e do
Português Popular do Brasil
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Frases Parentéticas................................................................... 62

Gráfico 2 – Resquícios de Tópico Desenvolvido Anteriormente............... 63

Gráfico 3 – Indícios de Tópico Desenvolvido Posteriormente................... 63

Gráfico 4 - Tópico Paralelo......................................................................... 64

Gráfico 5 - Quadro Tópico.......................................................................... 65

Gráfico 6 - Alternância............................................................................... 65

Gráfico 7 – Funções das Inserções.............................................................. 86

Gráfico 8 – Distinção entre Mundos Comentado e Narrado....................... 91

Gráfico 9 – Tempos Verbais....................................................................... 95

Gráfico10 – Tempos Verbais no Mundo Narrado...................................... 101

Gráfico 11 – Análise dos Segmentos dos Corpora..................................... 109


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Representações para os tempos do modo indicativo segundo


Corôa ......................................................................................................... 30
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mundo Comentado................................................................... 40

Figura 2 – Mundo Narrado........................................................................ 40

Figura 3 – Relevo do Mundo Narrado....................................................... 41

Figura 4 – Mapa do Estado de São Paulo.................................................. 73

Figura 5 – Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul.................................. 75


RESUMO

Esta tese aborda o estudo da inserção - uma das estratégias do português falado - e o uso
dos tempos verbais com base nos princípios teóricos da Lingüística na visão da
Lingüística Textual e da Semântica. Para a investigação analisaram-se excertos do
corpus, constituído por inquéritos do Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana
Culta de São Paulo, do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e do Projeto Filologia
Bandeirante e Português Popular do Brasil, ambos de São Paulo, com informantes de
sexo diferente, além de faixa etária e escolaridade variadas. Foram analisados, nesses
excertos, a natureza e as funções do fenômeno da inserção, o uso dos tempos verbais
nos diferentes tipos de inserções, a relação entre o uso dos tempos verbais nas inserções
e nos segmentos anteriores e posteriores a elas, além da relação entre o uso dos tempos
verbais e a atitude comunicativa e a perspectiva comunicativa, além do relevo, quando
pertencentes ao mundo narrado. A partir dos dados obtidos, em análise qualitativa,
verificou-se que existem variações quanto às transições verbais nos diferentes estados e
entre informantes e que a inserção não interrompe a seqüência textual; pelo contrário,
contribui para a coerência, o que justifica a maior freqüência das funções explicativas e
de comentário. Observou-se, ainda, que o uso dos tempos verbais, tanto no caso das
transições homogêneas como nas heterogêneas está sempre subordinado ao discurso e o
discurso aos temas desenvolvidos, e ambos às características sociais de seus falantes.
ABSTRACT

This dissertation studies insertion- one of the strategies of spoken Portuguese- and the
use of verbal tenses, based on the theoretical principles of Linguistics from the
perspective of Textual Linguistics and Semantics. For this research, some excerpts of
the “corpora” were analyzed which were established by exploration of the Cult Urban
Linguistic Pattern of São Paulo, of Mato Grosso do Sul Linguistics Atlas and the
Bandeirante Project of Philology and Popular Portuguese of Brazil, from São Paulo
State, with the informants belonging to different genders, diverse age groups and
education level. In order to proceed with this researched, the nature and functions of
insertion phenomenon, the use of verbal tenses in the different types of insertion, the
relationship between the use of verbal tenses in those insertions as well as in preceding
and following insertions, in addition to the relationship between the use of the verbal
tenses and the communicative attitude and communicative perspective beyond the
relevance, when part of the narrated world. From the obtained data, in qualitative
analysis, it was possible to verify that there are variations as to the verbal transitions in
those mentioned States (Mato Grosso do Sul and São Paulo) and also among informants
and that insertion does not interrupt the textual sequence, yet, quite on the contrary, it
contributes for the coherence, which justifies the major frequency of explainable
functions and comments. It was also observed that the use of verbal tenses, both in the
case of homogeneous and heterogeneous transitions, have always been subordinated to
discourse, which is also subordinated to the developed themes and both to the social
characteristics of the speakers.
INTRODUÇÃO

O projeto inicial de doutorado tinha como proposta trabalhar com o

processo de organização da produção textual, uma vez que esse tema já tinha sido

motivo de estudo no mestrado. Cursadas as primeiras disciplinas e em contato com a

orientadora, professora Odette Gertrudes L. Altmann de S. Campos, a pesquisadora foi

instigada a refletir sobre o português falado, assunto ainda carente de pesquisa, apesar

de já haver a publicação de oito (8) volumes de Gramática do Português Falado e uma

série de outros trabalhos em periódicos. À medida que as leituras sobre o assunto foram

avançando, percebeu-se que seria de muita valia um estudo sobre as estratégias de

construção desse tipo de texto, pois ainda são muitos os questionamentos.

As novas leituras proporcionaram interesse pela investigação das inserções

que, segundo Koch (2003a, p. 110) “são segmentos discursivos de extensão variável que

provocam uma espécie de suspensão temporária do tópico em curso, desempenhando

funções interativas relevantes” e iniciou-se uma reflexão que gerou as seguintes

questões de pesquisa: 1) se as inserções apresentam características discursivas próprias,

também apresentam características modo-temporais próprias?, 2) se as inserções têm

ligações com os tempos anteriores e posteriores da fala, deixam-se “contaminar” pelos

tempos verbais que as precedem ou as seguem? e, ainda: 3) se o texto falado é

considerado menos planejado de antemão que o texto escrito, em função de sua natureza

interativa, sendo “localmente planejado ou replanejado”, contribuiriam os tempos


12

verbais das inserções e de seus segmentos anteriores e posteriores para a seqüência

textual ou haveria uma ruptura desses tempos?

O estudo baseou-se nos pressupostos teóricos de Weinrich (1974), que

apresenta os tempos verbais como fatores de responsabilidade pela coesão textual. Para

tanto, apresenta uma classificação desses tempos como de mundo comentado e mundo

narrado. Também apoiou-se em Koch (2003a, 2003b) para efetuar um estudo sobre as

inserções que serviu de subsídio para a classificação das inserções encontradas nos

corpora analisados. Os referidos corpora foram extraídos do Banco de Dados do

Projeto NURC – Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta – de São Paulo

– elocuções formais e entrevistas (diálogos entre dois informantes e entre informante e

documentador), do Banco de Dados do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e do

Projeto Filologia Bandeirante, além de inquéritos do Português Popular do Brasil,

ambos de São Paulo. Os entrevistados são pessoas de diferentes faixas etárias, sexo,

profissão e escolaridade. Merece destaque, no entanto, a diferença de escolaridade entre

o primeiro grupo e os demais grupos, já que os primeiros são indivíduos com nível

superior, enquanto os outros são analfabetos ou têm, no máximo, oito anos de

escolaridade.

Optou-se, então, por realizar um estudo sobre o português falado com os

seguintes objetivos:

1 - pesquisar a inserção, estratégia característica do português falado;

2 - verificar as funções das inserções encontradas e quais as mais usadas nos

excertos dos corpora de falantes de diferentes níveis sociais, faixas etárias e localização

geográfica;
13

3 - analisar como ocorre o emprego dos tempos verbais nos diferentes tipos

de inserções;

4 - relacionar o uso dos tempos verbais nas inserções com o dos segmentos

anteriores e posteriores;

5 - identificar se existem tempos verbais característicos das inserções; e

6 - observar de que modo o emprego dos tempos verbais nas inserções pode

relacionar-se às suas características discursivas.

Trata-se de um estudo descritivo explicativo. O delineamento previu,

inicialmente, um caráter abrangente, visando a uma caracterização geral do fenômeno.

Em seguida, buscou-se aprofundar a compreensão do fenômeno mediante

procedimentos qualitativos que favoreçam a sua apreensão de forma processual e

multideterminada, decorrente de dados quantitativos.

Este trabalho está organizado em cinco seções. Na Seção I, efetuou-se uma

reflexão sobre tempo e aspecto em estudos gramaticais e lingüísticos desde 1881, o

emprego dos tempos verbais e a visão semântica desses tempos verbais de acordo com

Corôa (1985). Na Seção II, retomou-se a Lingüística Textual, dando ênfase à coerência

e à coesão, tendo como aporte teórico Weinrich (1974), Halliday e Hasan (1976),

Fávero (1995), Koch e Travaglia (1998), Marcuschi (2001) e, finalmente, Koch (2003a)

para tratar do tempo verbal e a função coesiva. Na Seção III foram abordadas a língua

falada e a língua escrita na visão de Koch (2003a, 2003b) e Marcuschi (2001), como

forma de esclarecer ao leitor que o texto falado não é desestruturado, mas construído

mediante estratégias caracterizadoras desse tipo de texto e o objeto do estudo, a inserção


14

— uma dessas estratégias de construção do texto falado —, segundo Jubran (2002) e

Koch (2003a, 2003b). Prosseguindo, na Seção IV, tratou-se da caracterização dos

corpora e da metodologia e na Seção V fez-se uma análise das inserções e dos

segmentos anteriores e posteriores a elas. Para encerrar, foram apontadas as

considerações finais obtidas mediante o estudo e sugestões para futuras pesquisas.

Analisaram-se excertos das entrevistas compostos por inserções e

segmentos anteriores e posteriores a elas, acrescidos das análises iniciais, ou seja, um

levantamento das inserções, suas funções e a classificação dos tempos verbais quanto à

atitude e à perspectiva comunicativa e, ainda, ao relevo, quando esses tempos pertencem

ao mundo narrado. Importante, ainda, esclarecer as siglas usadas para referência dos

excertos:

- NURC/SP: Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta;

- ALMS: Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul;

- BAND/SP: Projeto Filologia Bandeirante de São Paulo e

- SOCIOL/SP: Português Popular do Brasil de São Paulo.


1. REFLETINDO SOBRE OS TEMPOS VERBAIS

1.1 As categorias Tempo e Aspecto

No Brasil, a partir de 1881, época em que se discutia sobre a brasilidade da nossa

linguagem, diversas gramáticas foram publicadas com o principal objetivo de atender

ao novo programa de português para os exames preparatórios para o ensino

secundário.

Dentre essas gramáticas, algumas se destacaram como a de Júlio Ribeiro

(1881), marco inicial do período gramatical, uma vez que rompe com os modelos de

organização portuguesa; a de João Ribeiro (1884); a de Eduardo Carlos Pereira (1907) e

a de Souza da Silveira (1923).

A partir daí, outros gramáticos e lingüistas destacaram-se até a atualidade.

Inúmeros trabalhos surgiram e, na medida do possível, tentar-se-á retratar a evolução

desses estudos sobre o verbo, enfatizando a questão dos tempos verbais e do aspecto em

Ribeiro (1881), Pereira (1907) e outros gramáticos, além de lingüistas em destaque até a

atualidade.
16

1.1.1 Definições

Várias definições sobre tempo são encontradas na literatura e, para iniciar o

trabalho sobre as inserções e o uso dos tempos verbais no português falado, julga-se

relevante mostrar alguns estudos existentes sobre a categoria do tempo, lembrando que

se torna impossível desvinculá-la da categoria aspecto, visto que ambas têm o tempo

físico como base referencial. Inicialmente, apontar-se-ão gramáticos para, a seguir,

elencar os lingüistas.

Entre os gramáticos, destacam-se:

Ribeiro (1881): “Tempo do verbo é a forma que ele assume para

determinar a época do seu enunciado.”

Não faz referência à categoria aspecto.

Pereira (1907): os tempos do verbo são definidos como “as épocas de

duração em que se realiza a ação ou o fato enunciado por ele”.

Não faz referência à categoria aspecto.

Ali (1964): Ausência de uma definição para tempo; aborda somente o

emprego dos tempos verbais.

Não faz menção ao aspecto.

Cunha (1970): “Tempo é a variação que indica o momento em que se dá

o fato expresso pelo verbo.”

Não há referência à categoria aspecto.


17

Rocha Lima (1972): “o tempo informa de maneira geral se o que

expressa o verbo ocorre no momento em que se fala, numa época anterior, ou

numa ocasião que ainda esteja por vir”.

Nenhuma referência sobre o aspecto.

Cegalla (1985): “o tempo situa o fato ou a ação verbal dentro de

determinado momento”.

Não há menção sobre aspecto.

Cunha & Cintra (1985) apresentam a mesma definição de tempo de

Cunha (1970); aspecto: “uma categoria gramatical que manifesta o ponto de vista

do qual o locutor considera a ação expressa pelo verbo”.

Faraco & Moura (1990): “tempo é a propriedade que tem o verbo de

localizar o fato no tempo, em relação ao momento em que se fala”.

Não faz menção ao aspecto.

Bechara (1999): Não há definições dele sobre tempo e a categoria

aspecto; apenas um estudo sobre tempo e aspecto, segundo Coseriu nas p. 213 a

221.

Coseriu apud Bechara (1999): o “tempo alude à posição da ação verbal

no percurso; o aspecto alude à maneira de considerar a ação verbal no tempo”.

Com os estudos lingüísticos, vários nomes destacaram-se. Entre eles,

vale a pena citar a visão sobre tempo e aspecto de:


18

Comrie (1976):

tempo situa o momento de ocorrência da situação a que nos


referimos em relação ao momento da fala como anterior,
simultâneo ou posterior a esse momento; aspectos são
diferentes modos de observar a constituição temporal interna
de uma situação.

Lyons (1979): “tempo tem como característica essencial o

relacionamento entre o tempo da ação, do acontecimento ou do estado referido na

frase ao momento do enunciado (agora); aspecto diz respeito ao tempo,

especialmente ao contorno ou distribuição temporal de um acontecimento ou

estado de coisas e não à sua localização no tempo”.

Corôa (1985): “O tempo é uma relação entre três momentos: momento

do evento, momento da fala e momento da enunciação”; apresenta o “aspecto como

o que há de não dêitico na categoria de tempo, sendo uma propriedade apenas da

sentença, pois não se refere ao momento da enunciação”.

Mateus et alii (1989): “tempo é uma categoria que exprime, no modo de

enunciação experencial, a ordenação do intervalo de tempo que contém o estado de

coisas descrito por uma predicação relativa ao intervalo em que ocorre a

enunciação da mesma; aspecto, categoria que exprime modo de ser (interno) de um

estado de coisas descrito através de expressões de uma língua natural, (i) por

relação de um predicador pertencente a uma dada classe: (ii) por quantificação do


19

intervalo de tempo em que o estado de coisas descrito está localizado, e/ou (iii) por

referência à fronteira inicial ou final desse intervalo, ou a intervalos adjacentes.”

Câmara Júnior (1998): “Tempo é o nome que se dá, tradicionalmente

em gramática, aos grupos flexionais em que se divide a conjugação de um verbo,

cada qual compreendendo seis formas correspondentes às três pessoas gramaticais

do singular e do plural. A denominação resulta da circunstância de que esses

grupos de formas verbais situam, em princípio, o processo na sua ocorrência em

relação ao momento em que se fala. (...)”. “Aspecto – propriedade que tem uma

forma verbal de designar a duração do processo (momentâneo ou durativo) ou o

aspecto propriamente dito sob que ele é considerado pelo falante.”

Azeredo (2000): “O tempo como categoria da linguagem verbal é parte

da atividade discursiva que tem no momento da enunciação (ME) seu ponto de

referência principal; a categoria do aspecto refere-se à duração do processo verbal,

independentemente da época em que esse processo ocorre”.

Vilela & Koch (2001): “O tempo ou temporalidade marca a posição que

os fatos enunciados ocupam no tempo, em que se toma, como base, o ponto dêitico

da enunciação”. Os referidos autores “distinguem o ‘aspecto’ ligado ao significado

do lexema verbal – o ‘modo de ação’ ( = Aktionsart) – do ‘aspecto’ dependente de

formas gramaticais ( = Aspeckt). O primeiro ( = Aktionsart) é uma categoria

‘objetiva’: representa o modo como apreendemos a realidade extra-lingüística. O

verbo consubstancia lexicalmente o modo de apreensão da realidade. O segundo (

= Aspeckt) está ligado aos tempos verbais”.


20

1.2 Emprego dos tempos verbais

Reportando-se a algumas das gramáticas destacadas, constatou-se em

Ribeiro (1881) serem três as épocas do enunciado: presente, passado e futuro. No geral,

o referido autor explica que o presente indica a atualidade daquilo que o verbo enuncia;

o imperfeito representa a atualidade em relação à época passada do enunciado; o

perfeito mostra a reiteração preferida do enunciado do verbo; o aoristo1 revela, em

absoluto, a preteritividade do enunciado do verbo; o mais que perfeito indica a

preteritividade do enunciado do verbo com referência de anterioridade a uma época

passada; o futuro representa simples futuridade do enunciado do verbo e o futuro

anterior evidencia a futuridade do enunciado do verbo com anterioridade a uma

circunstância qualquer.

Ribeiro (1881, p. 280) faz, ainda, um breve estudo sobre “Substituição dos

tempos dos verbos uns pelos outros”, onde se pôde constatar que, já em fins do século

XIX, ele mostra, inclusive por meio de exemplos, que um tempo pode ser empregado

por um outro. Em explicação inicial, mostra que os tempos dos verbos servem para

“determinar a atualidade ou os diferentes graus de anterioridade ou posterioridade do

enunciado da sentença”. A seguir, explicita que o tempo presente do indicativo é

empregado, com freqüência, em narrativas, em lugar do aoristo do indicativo, do futuro

do indicativo, do imperfeito do subjuntivo e do futuro do subjuntivo, conforme nossos

respectivos exemplos: 1 - Ao anoitecer de 20 de abril, os anfitriões abrem as portas da

casa, acendem as luzes e aguardam ansiosos os convidados para o jantar. (= abriram,

acenderam e aguardaram); 2 - Todos assistem ao filme amanhã. (= assistirão); 3 - Se o

1
Segundo Ribeiro, o “aoristo” enuncia indeterminantemente uma cousa passada; o perfeito declara que
essa cousa foi repetida. Ex. Estive em Roma... Tenho estado em Roma.
21

conheço, não lhe tinha dado atenção. (= se o conhecesse) e 4 - Se corres, tropeças e cais.

(= Se correres).

O estudo destaca que o futuro do indicativo pode ser empregado em lugar

do imperativo presente2 como em Amarás (= ame) a todos seus irmãos!; o perfeito do

indicativo em lugar do aoristo quando se deseja confirmar uma ordem ou intimar:

tenho concluído; o aoristo do indicativo em vez de futuro, por arrojo de linguagem:

Vou dizer-lhe e já calou (= calará); o pretérito mais-que-perfeito do indicativo pelo

imperfeito do subjuntivo e do condicional3: Se tu houveras (= houvesses) estado aqui,

não brigara (= brigarias) com teu irmão. O autor mostra, também, que o futuro do

indicativo é empregado no lugar do presente: Quantos ficarão (ficam) hoje sem

comida! – e o futuro anterior do indicativo em vez do perfeito (indicativo): Quantos

não teriam (tiveram) já realizado o seu sonho?

É interessante salientar que Ribeiro (1981) acrescenta um parágrafo sobre a

“Correspondência dos verbos entre si”. A correlação entre os tempos verbais,

incomum nas gramáticas atuais, é mostrada da seguinte maneira: ao presente do

indicativo relacionam-se todos os tempos do modo indicativo conforme se pode

observar em:

Penso que falas bem. (presente)


que falavas bem. (pretérito imperfeito)
que tens falado bem. (pretérito perfeito composto)
que falaste bem. (pretérito perfeito)
que tenhas falado bem. (pretérito mais que perfeito composto)

2
O imperativo presente corresponde ao imperativo.
3
A Novíssima Gramática Brasileira preferiu a denominação “futuro do pretérito” em vez de
“condicional”.
22

que falarás bem. (futuro do presente)


que terás falado bem. (futuro do presente composto)
Quanto ao aspecto não há referência.

Pereira (1907) indica que “são três as épocas, indicadas por flexões

próprias: o presente, o passado e o futuro”. Afirma que o presente é único e indivisível

e indica o momento em que se fala; o passado é o momento anterior ao momento da

fala e subdivide-se em: pretérito perfeito quando o fato que se enuncia é acabado ou

passado; pretérito imperfeito (tempo de dupla relação) quando o fato verbal não se

enuncia completamente acabado, sendo passado em relação ao ato da palavra, e presente

em relação a uma outra época indicada; pretérito mais que perfeito (duplo passado),

quando é passado em relação ao ato da palavra e, também, em relação a uma época

indicada; o futuro é o tempo posterior ao ato da fala, sendo divisível em futuro

imperfeito ou absoluto, quando o fato verbal ainda não foi realizado e futuro perfeito

ou anterior, quando o fato é futuro em relação ao ato da palavra e passado em

referência a uma época posterior.

Vale observar que tanto Ribeiro (1881) como Pereira (1907) explicam os

tempos do modo indicativo de maneira semelhante. A diferença manifesta-se em relação

à denominação de alguns desses tempos verbais.

Ressalta-se que, na Gramática Expositiva, Pereira (1907) também esclarece

que o imperfeito do indicativo pode ser empregado para determinar um acontecimento

habitual ou continuado – Todos queriam a sua presença; Afirmavam que a

globalização seria impossível. – referindo-se a noções de aspecto, apesar de não usar tal

nomenclatura. Quando trata das Particularidades Sintáticas (sobre as categorias

gramaticais), o autor também faz referência aos tempos verbais, explicitando o emprego
23

de todos eles da mesma forma que Ribeiro (1881), sem nenhuma alteração. Como

exemplo disso pode-se citar o caso do presente, em que se confirma que pode

representar/significar “o ‘pretérito perfeito simples’ no estilo narrativo – João chega à

casa de Maria, trava uma luta com Pedro e vence. – o ‘futuro imperfeito’, quando se

anuncia um acontecimento próximo – Logo chego a Dourados (MS). – e o ‘futuro

imperfeito do subjuntivo’, quando se quer dar mais energia à expressão” – Se os olhos

vêem com amor, o corvo é branco (A.V.)4 –. Merece, também, atenção o caso do verbo

“ser” no imperfeito (sentido existencial): Era uma vez um menino....

Continuando esses estudos, constatou-se a seguinte referência aos tempos verbais em

Said Ali (1964, p. 68):

o ‘presente’ é empregado para a ação que se passa no momento


em que falamos, o ‘pretérito’, subdividido em ‘imperfeito’,
‘perfeito’ e ‘mais que perfeito, para os sucessos passados
anteriormente ao momento em que falamos e o ‘futuro’, para a
ação ainda não cumprida; distinguindo-se o ‘futuro do presente’,
que é em relação ao tempo presente, do futuro do pretérito, que é a
ação a cumprir em relação ao passado.

O autor aborda, ainda, o emprego dos tempos verbais, mostrando que cada um deles

pode ser empregado com significações diferenciadas.

Prosseguindo essa trajetória, registra-se que Said Ali (1964), apesar de não

fazer referência à categoria aspecto, mostra que o presente pode ser durativo (perdura

por espaço longo ou indefinido) e freqüentativo (exprime um costume ou uma ação

intermitente), além de ter valor de presente-futuro ou presente-histórico, ou exprimir

4
Exemplo retirado de Pereira (1907). Os demais exemplos são da pesquisadora.
24

um pedido, um conselho ou uma ordem, quando empregado em lugar do futuro ou do

modo imperativo.

Com relação ao pretérito, destaca o autor que o imperfeito denota ação

durativa e/ou ação freqüentativa, de costume, observando que o referido tempo não fixa

o momento em que inicia ou que termina a ação duradoura ou repetida. Exemplo: A

jovem sabia todos os exercícios. (ação durativa) –; Dizia a mesma coisa em todas as

aulas. (ação freqüentativa). Diferentemente, o pretérito perfeito denota, às vezes, a

ação ocorrida em certo momento ou durante um período determinado. Exemplo:

Durante a festa não falaste com José. Ao descer a escada, tropecei e caí. – Completa a

explicação, mostrando ser possível substituir o pretérito imperfeito pelas formas

perifrásticas, quando algum dos atos é duradouro ou repetido freqüentemente. Também

acontece para evitar equívocos. Exemplo: Lavou a roupa e ali começou a passá-la (e ali

a passava). Fomos ao parque onde estavam caminhando (= caminhavam).

Em relação ao futuro, como em Ribeiro (1881), Said Ali (1964) esclarece

que o referido tempo pode ser usado com o valor de imperativo e completa que esse

imperativo pode ser categórico ou sugestivo como em: O sétimo dia será para descanso

(categórico). Você entenderá a minha atitude (sugestivo) –. O autor sugere, também, o

futuro problemático em frases interrogativas. Isso acontece quando, por meio de

linguagem polida, não se exige uma resposta do interlocutor, diferente de quando se

empregam verbos no presente ou no pretérito: Que lugar será este? Que lugar é este? –

Finalmente, mostra que na linguagem familiar, o imperfeito ou o mais que perfeito tem

preferência ao futuro nas orações condicionais: Se relampejasse, eu entrava em sua

casa. Se mais mundo houvera, lá chegara. (Camões).


25

O que surpreende, após ter realizado essa retrospectiva gramatical por

intermédio dos referidos autores, é que, durante grande parte da trajetória da

pesquisadora no Ensino Fundamental e Médio, observou-se que a maioria dos

professores de Língua Portuguesa deixam passar desapercebido o emprego dos tempos,

atendo-se somente nas explicações das definições de presente, passado e futuro e nas

desinências referentes a cada um deles. Trata-se de um ensino meramente reprodutivo.

Aos alunos não se dá a oportunidade de aprender e entender o emprego dos tempos

verbais; esses são, simplesmente, levados à memorização.

Analisando Cunha (1970), quanto ao emprego dos tempos do indicativo,

observamos que em explicações sobre o presente, acrescenta o presente momentâneo,

cujo fato atual ocorre no momento em que se fala: O céu está negro; há nuvens escuras

acima de nossa cidade e o fato futuro (próximo), que para evitar ambigüidade,

geralmente é acompanhado de um adjunto adverbial: Vou aos Estados Unidos; depois

sigo para o Canadá.

Referindo-se ao pretérito imperfeito, Cunha (1970) acrescenta que esse

tempo serve especialmente para descrições e narrações de acontecimentos passados. Ao

já dito pelos outros estudiosos acrescenta que esse tempo presta-se para: 1) destacar,

entre ações concomitantes, a que se estava processando, ao surgir a outra: Quando se

aproximava a jovem para me ajudar, deram-me uns socos.; 2) substituir o futuro do

pretérito, indicando um fato conseqüente de outro que não ocorreu: O patrão é porque

não tem força. Tivesse ele os meios e isto virava um fazendão. (Monteiro Lobato); 3)

representar o presente – forma polida para suavizar uma afirmação ou um pedido;


26

também denominado imperfeito de cortesia: Comenta: – Joana, eu saía exclusivamente

para desviar sua atenção.

O referido autor registra que o “pretérito imperfeito exprime o fato

passado habitual; o pretérito perfeito, o não-habitual” – Quando o avistei, sorri-lhe.

Tal explicação não havia sido oferecida pelos autores pesquisados anteriormente, pois

se refere ao aspecto, que será destacado como um tópico na Nova Gramática do

Português Contemporâneo, de sua autoria e de Cintra, em 1985.

Quanto ao pretérito mais que perfeito, além de seu valor normal de indicar

uma ação que ocorreu antes de outra ação já passada, ele pode denotar: 1) um fato

vagamente localizado no passado: Até que enfim recebera o meu livro para ler. 2) um

fato passado em relação ao presente para suavizar um pedido ou uma afirmação: Tinha

vindo para abençoar-lhe. 3) na linguagem literária o futuro do pretérito e o pretérito

imperfeito do subjuntivo: Um pouco mais de sol – e fora (= teria sido) brasa./ Chegou

como se nada tivera ( = tivesse) acontecido. 4) na linguagem corrente frases

exclamativas como: Quem me dera! ( = Quem me desse!) / Prouvera a Deus ( =

Prouvesse a Deus).

Vale observar que Cunha (1970) é, dentre os autores já citados, o que, mais

detalhadamente, explica o emprego dos tempos verbais, apresentando noções modais,

apesar de não empregar o referido termo. Quanto ao futuro, ele acrescenta que o futuro

do presente ainda pode denotar: 1) incerteza sobre fatos atuais: “Meu Anjo!” – dizem de

mim./ Serei, talvez, porque enfim (A.C.O.); 2) fatos de realização provável: Se não

chegares depressa, encontrarás tua irmã morta! – Quanto ao futuro do pretérito, o autor

também destaca outras novas situações em que indica: 1) forma polida de presente,
27

geralmente indicadora de desejo: – Gostaríamos de ouvi-lo sobre o episódio; 2)

surpresa ou indignação (algumas frases exclamativas e interrogativas): Seria possível

que vencessem as calúnias sobre o pobre jovem; 3) ação posterior ao momento em que

se fala: Percebi que dali em diante haveria uma luta corporal; 4) fato que não se

realizou e nem se realizará: Caso eu tivesse condições, viajaria agora.

Dando continuidade ao trabalho constatou-se que em Rocha Lima (1972)

não há um estudo sobre o emprego dos tempos verbais, o que causou surpresa, visto que

estudiosos de modo geral sempre avaliaram a Gramática Normativa da Língua

Portuguesa (retocada e enriquecida) como uma das mais completas. Já em Bechara

(1999) e Cegalla (1985), constatou-se um longo e profundo estudo sobre tal assunto,

mas nada que não tivesse sido citado pelos autores já mencionados.

Em Cunha e Cintra (1985), verificou-se o estudo sobre o emprego dos

tempos verbais, já analisado em Cunha (1970), mas percebeu-se o acréscimo de um

tópico sobre “aspecto” ao qual far-se-á referência. Como já se mencionou o conceito

desses autores sobre aspecto no início do trabalho, vale apontar, agora, as oposições

aspectuais citadas por eles: 1) aspecto pontual/aspecto durativo; 2) aspecto

contínuo/aspecto descontínuo; 3) aspecto incoativo/aspecto conclusivo. Dizem, ainda,

serem de natureza aspectual as oposições entre: 1) forma simples/perífrase durativa; 2)

ser/estar.

Vale ressaltar também que na Moderna Gramática Portuguesa – edição

revista e ampliada de Bechara (1999) – registra-se que, além das explicações já

encontradas em edições anteriores sobre o emprego dos tempos verbais, há um estudo

complementar sobre tempo e aspecto, segundo Eugenio Coseriu (p. 213 a 221), já citado
28

anteriormente. Entretanto, não se detalhará esse estudo, neste momento, pois não se faz

relevante para o trabalho.

Em Vilela & Koch (2001), gramática da língua portuguesa com

pressupostos de teorias lingüísticas, deparou-se com um valioso estudo sobre tempo e

temporalidade, onde se destaca que os:

tempos verbais têm três significados – aliás significados complexos


– essenciais: a) significado temporal absoluto e relativo; b)
significado de modalidade e c) significado de aspectualidade.

Os autores esclarecem que na configuração dos significados do tempo absoluto

participam diversos tempos e fazem, a seguir, uma minuciosa explicação a respeito

de cada tempo do modo indicativo, abordagem já citada pelos outros estudiosos

consultados, com o acréscimo de esclarecimentos relacionados ao aspecto. Depois,

fazem referências ao tempo relativo, tratando dos meios expressos pelo tempo

verbal: simultaneidade, anterioridade e posterioridade, tópicos esses que serão

comentados mais adiante, quando será abordada a semântica dos tempos verbais.

1.3 A semântica dos tempos verbais

Estudos lingüísticos apontam um conceito tripartido de tempo, ou seja,

tempo cronológico, tempo psicológico e tempo gramatical. Entre as diversas

definições encontradas, Corôa (1985) sugere serem as de Santos (1974) as que melhor

ordenam explicações e expressões geradoras de controvérsias. O autor denomina tempo

cronológico aquele que se caracteriza por um ponto em permanente deslocamento para

o futuro, tendo duração constante, uniforme e irreversível. Quanto ao tempo


29

psicológico, afirma ser o que não apresenta duração constante e uniforme; existe de

acordo com o interior do indivíduo e pode parar, acelerar-se e retroceder. Finalmente,

esclarece ser o tempo gramatical o que é caracterizado em português por morfemas

típicos acrescentados a um radical.

Ao explicar o que é tempo, Corôa (1985, p. 27) afirma que três tipos de

teorias, baseadas em três visões diferentes do mundo, dão resposta a tal pergunta: a)

teorias do tempo absoluto, apoiadas em Newton e Galileu, que afirmam que o tempo

existe fora dos eventos. Nela há dois tipos de entidades temporais irredutíveis que são

os “momentos” e os “eventos”, mas a existência dos “momentos” não depende da

existência de “eventos”, b) as teorias de tempo relacional que têm os “eventos” como

único tipo de objeto irredutível e apóiam-se na clássica definição de Aristóteles “tempo

é número de movimento com respeito a ‘antes’ e ‘depois’” e c) as teorias de tempo

relativo que solucionam as controvérsias geradas pelas anteriores e explicam que existe

uma relatividade na percepção dos “eventos”, sendo essas relações diferentes das

relações entre os “eventos”. Mostram também que existem “eventos” com possibilidade

de considerar a sucessão temporal na direção oposta, deixando, portanto, o tempo de ser

um processo irreversível.

Quanto ao aspecto, a autora esclarece-o como o que há de não dêitico na

categoria de tempo, sendo uma propriedade apenas da sentença, pois não se refere ao

momento da enunciação.

O tempo deve, então, ser conceituado em relação a um observador,

extinguindo qualquer tensão que possa existir entre tempo psicológico e tempo

cronológico. Na análise lingüística, o observador é representado por um sistema fixo de


30

referência, não se definindo tempo como relação entre apenas dois momentos, o da fala

e o do evento, mas sim entre três, somando-se o da referência.

Corôa (1985) conclui, com base em qualquer das teorias, que os verbos

dinâmicos ou não, estarão sempre relacionados à noção temporal e são eles os

elementos lingüísticos que mais rapidamente focalizam a ação, o estado, o evento ou o

processo em seu relacionamento com a enunciação e o falante/ouvinte.

Segundo a autora, Reichenbach (1980), ao tratar dos “tempora verbais”

(tempos verbais), sugere relações de simultaneidade e anterioridade / posterioridade.

Apoiada no referido autor, Corôa (1985) apresenta um quadro definitório dos tempos

verbais, utilizando três momentos: o momento do evento ou ME (momento da

realização do predicado); o momento da fala ou MF (momento da enunciação) e o

momento de referência ou MR (a perspectiva de tempo que o falante transmite ao

ouvinte).

Quadro 1 - Representações para os tempos do modo indicativo segundo Corôa


(1985, p. 46-59)

Presente ME, MF, MR

Pretérito Perfeito ME – MR, MF

Pretérito Imperfeito ME, MR – MF

Pretérito mais que Perfeito ME – MR – MF

Futuro do Presente MF, MR – ME

Futuro do Pretérito MR – MF – ME

As vírgulas representam simultaneidade e, os traços, anterioridade.


31

Ao dar a cada tempo uma representação diferente, Corôa (1985) evita a

ambigüidade na definição dos tempos verbais, até mesmo quando há interferência

na interpretação das sentenças, como ocorre com o aspecto.

Segundo a pesquisadora, o presente é o tempus em que o momento do

evento (ME), o momento da fala (MF) e o momento da referência (MR) são

simultâneos, mas não necessariamente em seus limites temporais: esclarece também que

o importante é que haja, ao menos, um “ponto” em que cada um desses momentos seja

simultâneo. Estudando e analisando os tempos do indicativo, Corôa mostra-nos que:

• o presente pode ser usado com valor de futuro, de presente dramático,

para expressar verdades gerais e atemporais, para manifestar o que ocorre habitualmente

e o que ocorre no momento em que se fala;

• ao utilizar o pretérito imperfeito, o evento é sempre visto de um

referencial passado; não interessam os seus limites e nem o resultado, o que leva à

seguinte conclusão: o momento do evento (ME) é simultâneo ao momento de referência

(MR) e os dois são anteriores ao momento da fala (MF). Segundo Longo (1990),

acrescentando o traço [-perfectivo], faz-se possível explicar a maioria dos usos desse

tempo para narrar ou descrever situações passadas, mas observadas como contínuas,

duradouras, ou de localização vaga no tempo; indicar ações passadas habituais e mostrar

entre ações concomitantes no passado a que acontece enquanto a outra se realizava, não

tendo seus limites definidos. A autora menciona, ainda, os usos modais do imperfeito

que são hipotéticos e de polidez e, finalmente, que são comuns na linguagem das

crianças. Tais situações serão exemplificadas com excertos dos corpora quando da

seção dedicada à análise no presente trabalho;


32

• o pretérito perfeito constitui um passado visto a partir do momento

atual. Tal definição explica o emprego deste tempo nas gramáticas e nos manuais

quando é usado para descrição do passado, quando é visto por um observador situado no

presente;

• o pretérito mais que perfeito é expresso como “anterioridade do evento

em relação a um ponto de referência também anterior ao momento da fala”, ou seja,

[ME – MR – MF]. É um tempo bastante presente em contos e romances quando o

narrador remete o leitor a uma época anterior àquela em que se registra a ação e em

orações principais ligadas a orações adverbiais temporais;

• em relação ao futuro, vale destacar, primeiramente, o futuro do presente

usado quando se tem um evento, visto como futuro, a partir de uma perspectiva atual:

[MF, MR – ME]. Seu emprego ocorre para indicar prováveis fatos que são posteriores

ao momento da fala e para mostrar uma situação posterior a outra no passado. O

futuro do pretérito não se manifesta vinculado, ligado ao momento da fala (MF), sendo

a definição: [MR – MF – ME] para todos os empregos do futuro do pretérito. É um

tempo prospectivo na narrativa.

Revisados os estudos sobre tempo e aspecto, faz-se-á, a seguir, uma reflexão sobre a

lingüística textual, com destaque para a coesão dos tempos verbais, estudo relevante

para a presente pesquisa.


2. REFLETINDO SOBRE A COESÃO DOS TEMPOS VERBAIS

2.1 Retomando a Lingüística Textual

Sabe-se que até o início da década de 60, os estudos lingüísticos fixavam-se

em torno das gramáticas de frase, que apresentam falhas por não darem conta da

explicação de alguns fenômenos como referências, definitivizações, ordenação das

palavras, concordância de tempos verbais, relações entre sentenças sem conjunções, que

só podem ser justificados por meio de textos ou de contextos referenciais.

A partir dessa década, os estudos sobre a lingüística textual se

multiplicaram, destacando-se, a partir de 1970, o enfoque da análise transfrástica que,

apesar de já ter a preocupação em explicar os fenômenos sintático-semânticos, ainda

não diferencia quais fenômenos estão relacionados à coesão e quais à coerência. Surgem

também as denominadas gramáticas textuais, já que as gramáticas de frase não

conseguem explicar diversos fenômenos lingüísticos. Finalmente, na década de 80 é que

tomam grande impulso as “teorias de texto”, ou a lingüística de texto que tem como

objeto não a palavra ou frase, mas o texto que, de acordo com autores como Halliday &

Hasan (1976), Beaugrande & Dressler (1981), “é a unidade básica de manifestação da

linguagem”.

O texto não se constitui pela somatória de diversas frases, como afirmam

Fávero (1995, p. 07):


34

Consiste em qualquer passagem falada ou escrita que forma um


todo significativo independente de sua extensão. Trata-se pois, de
um contínuo comunicativo contextual caracterizado pelos fatores
de textualidade: contextualização, coesão, coerência,
intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade
e intertextualidade.

e Koch & Travaglia (1998, p. 10)

é uma unidade lingüística concreta (perceptível pela visão ou


audição), que é tomada pelos usuários da língua (falante,
escritor/ouvinte, leitor), em uma situação de interação
comunicativa reconhecível e reconhecida, independentemente da
sua extensão.

Koch (2003b, p.26) afirma que, desde o início dos estudos sobre Lingüística Textual

até a atualidade, o texto foi concebido de diversas maneiras e, hoje, precisa ser

compreendido não como produto, mas como processo de “planejamento,

verbalização e construção”. A partir dessa visão assim define texto:

[...] resultado parcial de nossa atividade comunicativa, que


compreende processos, operações e estratégias que têm lugar na
mente humana, e que são postos em ação em situações concretas de
interação social..

Em obra posterior, Koch (2004, p.32) esclarece que na concepção

interacional da língua em que se percebe os sujeitos como atores sociais, o texto deve

ser visto como um “espaço” no qual os sujeitos constroem-se e são construídos

dialogicamente.

2.2 A coerência e a coesão como fatores de textualidade


35

Retomando os fatores de textualidade, vale lembrar que é muito comum

ouvir dizer que um texto é incoerente porque as idéias não estão bem articuladas e não

resultam num sentido, o que nos causa a impressão de que a coerência de um texto faz-

se simplesmente pela combinação entre os elementos lingüísticos do texto. Isso não é

verdadeiro, uma vez que ela também se faz com base em conhecimentos prévios que o

leitor tem sobre o mundo, do contexto em que se insere, assim como do tipo de texto

que se tem.

Coerência é o significado ou o sentido global que se dá a um texto e é

construída não só pelo produtor, mas também pelo interlocutor, que necessita possuir os

conhecimentos prévios para efetivar a interpretação. De acordo com Koch & Travaglia

(1995, p. 21), deve ser entendida como “um princípio de interpretabilidade, ligada à

inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor

tem para calcular o sentido deste texto”. Tal possibilidade está relacionada a vários

fatores como o conhecimento que o usuário possui sobre o assunto, o conhecimento dos

recursos lingüísticos empregados e o grau de integração entre o produtor e o receptor.

É importante ressaltar, também, que um mesmo texto poderá ter variados

sentidos se a interlocução efetivar-se com diferentes receptores, o que fortalece a

concepção de que a coerência é uma questão de interação.

Fávero (1995, p.60) mostra que Beaugrande & Dressler (1981) e Marcuschi

(1983) adotaram a “semântica procedimental” de Winograd (1976) e Müller & Johnson-

Laird (1976) como a proposta mais adequada para o estudo da coerência; tal proposta

aponta a razão e a experiência como maneira de se adquirir conhecimento, daí a

classificação em conhecimento declarativo, retido na memória semântica e


36

conhecimento procedimental, retido na memória episódica por meio de modelos

globais. Quando se dá a interação verbal, a memória ativa (onde se organizam os dois

conhecimentos) é acionada, a partir dos elementos encontrados no texto. São os

conhecimentos determinantes do sentido do texto, ou seja, da coerência, que ficam

arquivados na memória em estruturas cognitivas, destacando-se os conceitos, os

modelos cognitivos globais – “frames”, esquemas, planos, “scripts” e cenários – e as

superestruturas.

Embora haja autores que não distingam coesão e coerência, ou destaquem

apenas um deles ou, ainda, refiram-se apenas aos seus determinantes, sem mencioná-

los, achou-se por bem, mais uma vez, enfatizar os estudos feitos por Fávero (1995) e

Koch & Travaglia (1998) que explicam existirem textos coerentes e sem coesão5 e

outros coesivos, mas sem coerência. São, portanto, fatores independentes, embora

relacionados um ao outro.

A coesão de um texto determina-se pelos elementos responsáveis pela

articulação entre as passagens do texto. Segundo Halliday & Hasan (1976, p. 04):

a coesão ocorre quando a interpretação de algum elemento no


discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro, no
sentido de que não se pode ser efetivamente decodificado a não ser
por recurso ao outro.

Diversas são as propostas de classificação dos elementos de coesão, sendo

que Halliday & Hasan (1976) apontam cinco mecanismos de coesão, que são: a)

5
São situações especiais em que a coerência é garantida não pelos recursos coesivos, mas sim pela
textualidade mais abrangente.
37

referência (pessoal, demonstrativa, comparativa); b) substituição (nominal, verbal,

frasal); c) elipse (nominal, verbal, frasal); d) conjunção (aditiva, adversativa, causal,

temporal) e e) coesão lexical (repetição, sinonímia, hiperonímia, uso de nomes

genéricos, colocação).

Beaugrande & Dressler (1981) explicam a coesão como a maneira como os

componentes — palavras e frases — da superfície do texto estão ligados entre si, numa

linearidade, por meio de operadores gramaticais. Para Marcuschi (2001), há textos em

que, apesar de não existirem elementos coesivos, a continuidade faz-se presente pelo

sentido; esclarece, também, que existem textos que apresentam uma seqüência de

elementos coesivos de acontecimentos isolados, que permanecem dessa maneira, não

tendo como formar uma textura.

Fávero (1995, p. 13) analisa e questiona as propostas de classificação de

vários autores, propondo a seguinte reclassificação dos tipos de coesão: a) referencial;

b) recorrencial e c) seqüencial “stricto sensu”. Esclarece, também, que a coesão

referencial obtém-se por substituição e por reiteração; a coesão recorrencial dá-se por

recorrência de termos; por paralelismo, que se faz por recorrência de estruturas; por

paráfrase, que é a recorrência semântica e por recursos fonológicos segmentais e supra-

segmentais. A coesão seqüencial stricto sensu pode ocorrer por seqüenciação temporal

e por conexão.

Koch (1994, p.27), observando a função dos mecanismos de coesão no

texto, apresenta somente duas grandes classificações de coesão, ou seja, a referencial

(referenciação e remissão) e a seqüencial (seqüenciação).


38

A autora esclarece que a coesão referencial acontece quando um

componente da superfície do texto realiza remissão a outro elemento do texto,

denominando ao primeiro de forma referencial ou remissiva; ao segundo, de elemento

de referência ou referente textual. A coesão seqüencial ou seqüenciação faz-se por

intermédio de interrelações entre segmentos do texto: enunciados, partes de enunciados,

parágrafos e seqüências textuais, de relações semânticas e/ou pragmáticas, responsáveis

pela progressão textual. Apoiada em Castilho (1988, p. 49) que apresenta a rematização

frástica – de phrázō, “informar, emitir sinais verbais, fazer compreender” – e a

rematização parafrástica – de paraphrázo, “parafrasear, alterar o sentido, comentar” –

é que faz a classificação da coesão seqüencial em seqüenciação frástica (não tem

procedimentos de recorrência estrita) e seqüenciação parafrástica (tem procedimento

de recorrência).

Verifica-se, assim, que os conceitos de coesão e coerência sofrem mudanças

expressivas à medida que os estudos da Lingüística Textual avançam. Já se sabe que a

coesão não é fator preponderante e nem suficiente para a existência da coerência e,

também, que a distinção entre um fator e outro não pode ser feita de modo radical, pois

como explica Koch (2004, p. 46):

os dois grandes movimentos responsáveis pela estruturação do


texto — o de restropecção e o de prospecção —, realizados em
grande parte por meio de recursos coesivos, são determinantes para
a produção de sentidos e, portanto, para construção da coerência.

Para complementar tais observações, faz-se importante esclarecer que hoje,

numa visão “sociocognitiva e interacionista”, considera-se que a coerência é construída

a partir da interação entre os interlocutores.


39

2.3 O tempo verbal e a função coesiva

Dentre os recursos de seqüenciação parafrástica, destacam-se os tempos

verbais estudados por Weinrich (1974), em sua obra Estructura y función de los tiempos

en el lenguaje. O autor declara que nas línguas estudadas (o francês, o espanhol e o

alemão) há, ligadas à situação comunicativa, três dimensões: a) atitude comunicativa

do falante – distinção entre o mundo comentado e o mundo narrado; b) perspectiva

comunicativa – tempos de grau zero (sem perspectiva) e tempos com perspectiva

(prospecção e retrospecção) e c) relevo – 1º e 2º planos, detectados apenas no mundo

narrado.

O autor esclarece que os tempos do mundo comentado indicam

comprometimento, pois conduzem o ouvinte a uma atitude receptiva, tensa, atenta e que

pertencem ao mundo comentado todas as situações comunicativas que não sejam

relatos, como a lírica, o drama, o ensaio, o diálogo, o comentário etc, sendo seus tempos

característicos o presente do indicativo, o pretérito perfeito (composto) e o futuro do

presente. Quanto ao mundo narrado, explica ser um convite ao ouvinte para relaxar,

sem sua manifestação, sem sua voz. Todos os tipos de relato, seja literário ou não, são

do mundo narrado, pois trata-se de relato de fatos (eventos) já ocorridos. São tempos

desse mundo o pretérito perfeito simples, o pretérito imperfeito, o pretérito mais que

perfeito e o futuro do pretérito do indicativo.

Weinrich (1974) explica, também, que analisando a perspectiva

comunicativa, o presente é o tempo-zero do mundo comentado, o pretérito perfeito

(simples) é o retrospectivo e o futuro do presente, o prospectivo. No mundo narrado


40

aponta serem dois tempos-zero, ou seja, o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito,

enquanto é retrospectivo o pretérito–mais–que–perfeito e, prospectivo, o futuro do

pretérito com relação aos tempos zero, conforme se observa nas figuras 1 e 2:

Tempo-zero
Presente

Pret. Perfeito simples e Futuro da Presente

composto

Prospecção
Retrospecção

Mundo Comentado

Figura 1 – Mundo Comentado

Tempos-zero
Pret. Perf. Simples
Pret. Imperfeito

Pret. Mais-que-Perfeito Futuro do Pretérito

Retrospecção Prospecção

Mundo Narrado

Figura 2 – Mundo Narrado

O relevo, comenta o autor, só é indicado por meio do tempo verbal no

mundo narrado, manifestando o 1º plano pelo perfeito que denota a ação propriamente

dita e o 2º plano (pano de fundo ou background) pelo imperfeito.

Pret. Perf. Simples = (1º Plano)


Pret. Imperfeito = (2º Plano / Pano de fundo)
41

Pret. mais-que-perfeito Futuro do pretérito

Retrospecção Prospecção

Mundo narrado

Figura 3 – Relevo do Mundo Narrado

Merece ainda destaque o conceito de Weinrich (1974) sobre as transições temporais,

isto é, as passagens de um tempo para outro na seqüência linear do texto. São

classificadas em homogêneas, quando há repetição do mesmo tempo, e heterogêneas,

que se subdividem em: de primeiro grau, quando muda o grupo temporal ou a

perspectiva; de segundo grau, quando mudam o grupo temporal e a perspectiva,

conforme exemplos a seguir:

1. Transição temporal homogênea:

MC + MC + MC

Presente + Presente + Presente

2. Transição temporal heterogênea:

• Primeiro grau

a) mudança de grupo temporal:

MC + MN + MC

Presente + Pret. Perfeito + Presente

b) mudança de perspectiva:

Presente/MC + Pret. Perfeito/MC + Presente/MC

Sem perspectiva + Retrospecção + Sem perspectiva

• Segundo grau
42

c) mudança de grupo temporal e de perspectiva:

Pret. Imperfeito/MN + Pret. Perfeito/MC + Pret. Imperfeito/ MN

Sem perspectiva + Retrospecção + Sem perspectiva

No mundo narrado, ainda se pode verificar transições temporais em relação

ao relevo, denominando-se homogêneas quando há repetição do mesmo plano e

heterogêneas quando há mudança de um plano para outro.

1. Transição temporal homogênea

a) permanência do mesmo plano:

Pret. Perfeito/MN + Pret. Perfeito/MN + Pret. Perfeito/ MN

1º plano + 1º plano + 1º plano

b) mudança de um plano para outro:

Pret. Perfeito/MN + Pret. Imperfeito/MN + Pret. Perfeito/ MN

1º plano + 2º plano + 1º plano

O referido autor cita, ainda, o que se denomina de metáfora temporal, que se

efetua quando um tempo de um mundo é usado em outro mundo. Quando se emprega

um tempo do mundo narrado em um mundo comentado, indica-se um compromisso

menor, distanciamento, ou irrealidade, cortesia, etc; já, no caso de um tempo do mundo


43

comentado em um mundo narrado, denota maior atenção, ou comprometimento com

aquilo que se diz.

Não é possível, no entanto, deixar de esclarecer que Weinrich (1974), como afirma

Koch (2003a, p. 56), ao fazer esse estudo da classificação dos tempos verbais no

português, teve como ponto de partida o francês, o que causa algumas dúvidas em

relação ao português. Exemplo disso é o caso do pretérito perfeito simples que em

nossa língua pode ser empregado tanto no mundo narrado quanto no mundo

comentado, sendo que a diferença em cada emprego é o valor, pois no mundo

narrado constitui-se tempo zero, sem perspectiva e no mundo comentado valor

retrospectivo em relação ao tempo zero:

Excerto 23a (ALMS)6


Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim aí 23a
a) MN + MN + MN
na cozinha... tinha dois filho... dois filho [fiquei b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
dois ano em Corumbá sem poder ver meu c) Tempo zero MN + Tempo zero MN
filho...]7 aí depois ela brigou com milha filha aí + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
por um caso bem.... bem diferente que Deus foi perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
pai... _____
(Inquérito t – ALMS)

Excerto 20b
(?): como que é essa bola... de fogo... a bola de 20b
a) MC + MC + MC
fogo passa e como...
b) Presente + Pret. Perfeito + Presente
Lídia: é, tem uma bola de fogo aí onde que vai essa c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo zero MC
bola de fogo diz que aparece pra lá, lá pra o lado do
d) Sem perspectiva + Retrospectiva

6
A numeração dos excertos refere-se a ordem das análises feitas em cada corpus (Anexos I, II e III).
7
O grifo nos excertos destaca a inserção, objeto de estudo da presente pesquisa.
44

MC + Sem perspectiva
campo, [a senhora viu o campinho pra lá...] aí diz
que tem...lá tem uma serpente assim e...essa
serpente não deixa passar porque diz que tem
ouro,...
(Inquérito p – ALMS)

Koch (1994) encerra os comentários sobre coesão, afirmando:

Assim, a recorrência de tempo verbal tem função coesiva,


indicando ao leitor/ouvinte que se trata de uma seqüência de
comentário ou de relato de perspectiva retrospectiva, prospectiva
ou zero, ou ainda, de primeiro ou segundo plano, no relato.

Os elementos de coesão, quando usados com propriedade, garantem, então, a

articulação entre as partes do texto; caso contrário, provocam a fragmentação desse

texto. Enquanto a coerência diz respeito às correlações existentes entre as diversas

partes do texto, atribuindo-lhe um significado global, percebe-se que a coesão

responsabiliza-se pelas ligações, pelas costuras, pelas relações que se estabelecem

entre as passagens do texto em sua superfície.


3. LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA: OPOSIÇÕES?

As investigações realizadas por inúmeros pesquisadores mostram fazer parte da

história de todos os povos uma tradição oral, contrapondo-se à tradição escrita que se

evidencia como realidade de poucos. Daí afirmar-se que a oralidade sobrepõe-se

cronologicamente à escrita, apesar desta impor-se com maior força numa sociedade,

manifestando um valor social que supera o da oralidade.

Sem dúvida alguma, a escrita é mais conservadora que a fala, que está

constantemente inovando. Essas inovações, quando incorporadas à escrita, ocorrem de

maneira lenta, levando a imaginar que existe uma língua para a fala e outra para a

escrita.

As mais significativas diferenças entre essas modalidades são decorrentes

das especificidades de cada uma delas. Sempre se considerou que a língua escrita

representa o veículo de divulgação da tradição cultural passada, enquanto a falada, por

ser momentânea, não apresenta esse compromisso, porém não é possível negar a

tradição oral de uma cultura.

Ao estudar as duas modalidades, percebe-se que os lingüistas sempre

procuraram mostrar as diferenças e, segundo Marcuschi (2001) e outros autores, dois

grupos constituíram-se: o primeiro composto por Bernstein (1971), Labov (1972),

Halliday (1985 – primeira fase) e Ochs (1979), que discutem as divergências entre as

duas modalidades, numa visão bastante restrita; e o segundo, constituído por Chafe
46

(1982, 1984, 1985), Biber (1986, 1995), Blanche – Benveniste (1990), Halliday e Hasan

(1989) e Marcushi (2001), que explicam não serem de oposição as relações entre fala e

escrita; aliás, Biber e Marcushi esclarecem que essas relações manifestam-se em um

“continuum” tipológico das práticas sociais.

Tais estudos têm evoluído, mas ainda são limitados e independentes. No

entanto, é possível fazer considerações como a de que a fala e a escrita pertencem a um

mesmo sistema lingüístico, mas diferenciam-se pelo processo e pelas condições ou

maneira como os textos escritos e os textos falados são produzidos. O tempo de

produção também se contrapõe: o processo da escrita efetua-se de forma lenta e há

possibilidade de revisão e correção; já a língua falada é rápida e concretiza-se em menor

espaço de tempo.

A fala e a escrita não podem ser consideradas modalidades opostas como se

pensou em época anterior. Não é possível, também, afirmar que a escrita é “transcrição”

da fala, porque a oralidade, mesmo sendo característica fundamental da fala, pode

manifestar-se na escrita, enquanto a escrita pode manifestar-se na fala. Como exemplo

disso pode-se citar a Rádio e a TV, que se manifestam por meio da oralidade, mas seus

discursos são, muitas vezes, escritos para serem lidos.

A escrita é um processo solitário em que o escritor planeja e elabora; não

existe interação face a face, apesar do uso da língua ser sempre dialógico; já a fala

destaca-se pela presença dos interlocutores, responsáveis pela instalação da

dialogicidade. Há, então, na escrita, uma tendência para o planejamento e o não

envolvimento, enquanto, na fala, há tendência para o planejamento local e o

envolvimento. O texto falado estrutura-se de acordo com as circunstâncias sócio-


47

cognitivas que norteiam sua produção e é por essa visão que deve ser observado e

analisado.

A fala não é, na verdade, planejada com antecedência; daí serem a

formulação e a reformulação características da interação comunicativa; o texto falado é

o seu próprio rascunho. Trata-se da interação face a face, em que os interlocutores

partilham do mesmo contexto, sendo uma atividade que se constrói passo a passo ou,

como afirma Koch (2003b, p. 79), “em sua própria gênese”.

Vale destacar, ainda, que o discurso falado diferencia-se do escrito por

apresentar constantes descontinuidades, todas justificáveis por elementos de ordem

cognitivo/interativa, ou seja, pragmática e, também, por ter uma sintaxe própria que, no

entanto, apóia-se na sintaxe geral da língua.

Quando se afirmava que a fala representava o “caos”, o “erro”, pois o

falante não se preocupava em organizar o seu texto, manifestando-se aos “jatos”, aos

“borbotões”, havia um equívoco, pois a informalidade pode existir tanto na modalidade

da fala quanto na modalidade escrita, sendo essa apenas uma das possibilidades de

manifestação. Biber apud Koch (1998, p.18) aponta que as divergências destacam-se

num “continuum” tipológico, que passam desde o nível mais informal ao mais formal,

ou seja, passam por graus intermediários.

Outras características indicadas, numa visão já ultrapassada, são de que a

fala tem predominância de frases curtas, simples ou coordenadas e faz pouco uso das

passivas; a escrita tem frases complexas, com subordinação abundante e emprego

freqüente das passivas.


48

A fala, assim como a escrita, obedece a princípios, apesar de empregar enunciados

incompletos, ou fazer uso de “hesitações”, “repetições” e “marcadores não-

lexicalizados”. Ao falar, o indivíduo pode se utilizar de inúmeros recursos

expressivos como gestos, sons não identificados, expressão facial, riso, que são

fundamentais para que a comunicação se concretize. Ao escrever, ele serve-se da cor,

tamanho, tipos de letras e dos símbolos, além de elementos “logográficos”,

“icônicos” e “pictóricos”.

Finalmente, faz-se necessário lembrar que a fala aproxima-se, muitas vezes,

da escrita para apropriar-se da relação de “poder” que lhe é facultada ao usar a norma

padrão, convencionalizada como “correta”.

Analisando as situações referendadas, constata-se, então, como afirma

Marcuschi (2001, p. 45) que “primeiro, fala e escrita são atividades comunicativas e

práticas sociais situadas; segundo, em ambos os casos temos um uso real da língua” e

que as características apontadas como diferenças de uma modalidade e de outra são, na

realidade, propriedades da língua.

As investigações sobre o texto falado, que muito cresceram nas últimas

décadas, ainda podem ser ampliadas. Constata-se também ser uma questão complexa e

diversificada, mas o autor afirma serem maiores as analogias do que as diversidades

tanto no campo lingüístico como no da sociocomunicação.

Muito há que se investigar, ainda, sobre as diferenças entre a língua falada e a

língua escrita. No entanto, já são suficientes as informações constatadas para negar

a afirmação de que o texto falado é inferior, rudimentar e construído sem apoio de

uma gramática. O que se considerava oposição, hoje, é visto como um “continuum”


49

de uma a outra modalidade. Os questionamentos existentes ainda são muitos e

constituem um campo interessante e promissor para pesquisas.

Sabe-se, também, que entre as décadas de 60 e 70 do século XX, iniciaram-

se os estudos sobre a análise da conversação cujo objetivo principal era descrever as

estruturas e a organização das conversações. Baseados nas alterações de tais princípios

básicos, constata-se que, hoje, outras características destacam-se: “os conhecimentos

lingüísticos, paralingüísticos e socioculturais”, fundamentais para que ocorra a

interação, mudando o foco da organização para a interpretação, como afirma Marcuschi

(2001, p. 6).

Segundo Levinson apud Castilho (1988, p. 03), a “conversação é entendida

como um intercurso verbal em que duas ou mais pessoas se alternam, discorrendo sobre

questões propiciadas pela vida diária” e realiza-se por meio de turnos de fala. Entenda-

se por turno(s) todas as “intervenções” dos interlocutores – falante e ouvinte – sejam

elas referenciais ou assinalativas e de qualquer extensão.

Faz-se importante lembrar que as funções de falante e ouvinte alternam-se durante o

processo interacional e que duas são as modalidades básicas da conversação: simetria

e assimetria. A primeira delas efetua-se quando ambos os “interactantes” colaboram

para o desenvolvimento do tópico conversacional, havendo o interesse comum em

atingir o objetivo da fala; a segunda modalidade ocorre quando um dos interlocutores

responsabiliza-se pelo desenvolvimento do tópico enquanto o outro participante da

interação realiza intervenções que apenas “assinalam” ou “acompanham” o que seu

interlocutor diz, conforme se observa a seguir.


50

Exemplos de simetria

Inf.: e a parte acidentada é uma parte vamos Excerto 8a (NURC/SP)


dizer de morraria... e justamente servia pro
gado... enquanto que a parte plana servia
pra:: pra culturas em geral
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas
[eu estou afastado do::... do habitat...
((riu))]8 mas:: cultivava milho... cana-de-
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não
eram constantes culturas anuais... que se
renovavam... pro exemplo algodão... e::...
depois plantava-se também às vezes
eucaliptos... aí aí mais tempo já não é cultura
anual né?... ma ta/mas também corta e
renova transforma em pasto...
Doc.: e de manutenção com o pessoal da
fazenda não tem nada?
Inf.: bom e havia...[aliás quando::... quando
eu ia ainda bem pequeno... aí tinha café...
bastante café... então a parte dos
empregados da fazenda... quer dizer o
número de empregados... era muito grande...
porque a cultura do café exigia muitos
braços... até no decorrer do tempo a fazenda
foi... diminuindo essa parte do café... e em Excerto 8b (NURC/SP)
conseqüência também diminuiu o número
de pessoas... que trabalhava na fazenda]
Doc.: essas pessoas que trabalham... em
fazenda têm um nome especial?

(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)


Observa-se, nos excertos 8a/8b (NURC/SP), que tanto informante

quanto documentador contribuem para o desenvolvimento do tópico sobre o

cultivo na fazenda.

Exemplos de assimetria

Doc.: não Excerto 12a (NURC/SP)


Inf.: mas eu acho que o teatro hoje em dia está
indo pra um caminho eh tão TANto palavrão
tanta... ((risos)).. [ é um negócio né? fala a

8
Os trechos negritados, constituem-se inserções.
51

verdade ] ((risos)) eu tenho assistido umas


Peças eu assisti u::uma com a:: aquela artista
magrinha de televisão aquela moreninha que é
bailarina também... eh
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 088)

Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas os Excerto 13a (NURC/SP)


cenários... depois vários artistas de televisão
estavam trabalhando nessa peça...
Doc.: uhn uhn
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora eu
tenho u/ a as minhas amigas vão vão sempre
a teatro quase... quase sempre elas vão quase
todo domingo eu] :: sou um pouco preguiçosa
não vou prefiro ficar assi/ a a aqui assistindo
televisão ou dormindo ou lendo o jornal... mas
elas:: e comentam comigo a I. diz que tem
assistido várias peças mas eu não tenho eu
Parei um pouco de ir agora... sei lá ando muito
cansada não tenho ido mais a teatro

(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)

Constata-se que o informante introduz uma inserção, ou seja, introduz um

novo tópico, que ele mesmo encerra, e o documentador apenas “assinala” ou acompanha

o dito pelo interlocutor, o que corresponde à assimetria.

3.1 Como se constrói o texto falado?

Estudos como o de Koch & Souza e Silva (1992, 1993) mostraram uma

descrição das principais atividades de construção do texto falado, que foram,

recentemente, retomadas por Koch (2003b, p.83) como estratégias de processamento do

texto falado, entre elas a inserção e a reformulação, seja retórica ou saneadora, a

repetição, a adjunção e a hesitação. A inserção, por ser objeto desse estudo, será

abordada posteriormente.
52

A reformulação retórica, cuja função é interacional, faz-se por meio de

repetições e parafraseamentos; seu objetivo principal é fortalecer a argumentação. Koch

(2003b) denomina-a, informalmente, de “técnica da água mole em pedra dura”, uma

vez que contribui para o entendimento do(s) interlocutor(es) mediante a “desaceleração

do ritmo da fala”.

Exemplo:9
L1 - que nós nós que nós temos visto aí é que (Excerto do NURC/SP)10
principalmente dentro da área de
investimentos... eu tenho medo acompanhado
aqui...o engenheiro está muito bem situado...
ele está exercendo perfeitamente a...a função
dele...e exercendo::a contento
inclusive...então...eles estão...

Quando há necessidade de efetuarem-se reparos com a intenção de resolver

as dificuldades encontradas pelo locutor ou pelos parceiros em um segmento, recorre-se

à reformulação saneadora, que pode concretizar-se mediante correções, repetições,

paráfrases ou adjunções.

Exemplo:
(?): mas e uma coisa que marcou você ou um susto (Excerto do ALMS)
grande que você levou ou
Iran: Não, eu nunca... sei lá... teve..., não... não
teve quase susto assim não, nunca teve quase
nada... eu nunca teve quase nada...É sério,
nunca tive

A correção existe no texto falado por não se poder “apagar” como na escrita.

Realiza-se, às vezes, ao repetir o dito, sendo o uso do “não”comum antes do reparo. A

correção pode ser sugerida pelo interlocutor e, nesse caso, já não é autocondicionada,

isto é, a realizada pelo falante, mas heterocondicionada.

9
O exemplo é parte do inquérito 62, bobina 20 do Projeto NURC de SP, também encontrado em Hilgert
(2001, p. 03).
53

1. Exemplo de correção autocondicionada:

Cada fase...o indivíduo dá de SI... aquilo que a (Excerto do NURC/SP)


fase está tendo como prepondeRANte... não existe
isso... não existe... não não existe por exemplo
esse marco... que por exemplo se o indivíduo está
numa fase... em que::... éh:::... o organismo... em
termos de :: sistema nervo/ sistema:: glandular... é
mais inTENso... a inteligência dele vai ser mais
glandular (vamos dizer) vai ter muito mais um
desempenho... mais ligado ao organismo... então
ele vai (receber)...
2. Exemplo de correção heterocondicionada:

Doc. É dona Célia? (Excerto do ALMS)


Célia: descia e subia fogo, esse aí também era
seguido - seguido ... era uma invernada ...é ... e
as pessoa falava que essa mulher ia lá ... e de
certo que ... como eu falei que ... o general dele
ou marechal não sei o que ele mandava mata ...
Doc. Marechal Rondom ... não é?
Célia: não ... não é ... o Marechal Lopes ... do
Paraguai.
Doc. Como que é o nome dona Célia?
Célia: é Marechal ... Marechal Lopes.

A repetição, que já foi desaconselhada no texto escrito e reconhecida, hoje, como

estratégia da retórica, é freqüente no texto falado. Sua função é resolver problemas

10
Os excertos que não estão enumerados não fazem parte dos selecionados para a análise geral do
trabalho e que constam dos anexos I, II e III.
54

percebidos em segmentos, ou seja, esclarecer o que o interlocutor não entendeu,

evitando-se confusões ou mal-entendimentos de interpretações. Importante destacar,

ainda, que a “repetição” pode ser igual ao trecho do segmento em que foi detectado o

problema ou com variações que podem ser em graus menores ou maiores, chegando,

inclusive, à paráfrase. Há auto-repetição e repetição heterocondicionada, como se

pode observar respectivamente em:

1) Inf. (...) então nós vamos começar pela Pré- (Excerto do NURC/SP)
História... hoje exatamente pelo período... do
paleolítico... a arte... no período paleolítico... o
paleolítico é período período... da pedra
lascada... como vocês todos sabem... não é?...
e... tem uma duração de aproximadamente de
seiscentos mil anos...
2) Doc. Seu filhos estão com que idade H? (Excerto do NURC/SP)
L2. com três e cinco anos.
Doc. Eles têm noção de ho::ras... noção de::
horário?
[
L2 .
olha nós ( ) ...
( ) têm noção de horário ... porque eh eles ...
lá lá em casa é tudo em função de horário ...
Doc. ahn ahn

Johnston apud Koch (2003b, p. 126) explica a repetição como recurso para

criar novos itens de forma a “assimilar o que é novo ao que já é conhecido. Classifica a

repetição - estratégia de construção do texto falado – em quatro grupos: repetição como

recurso essencial da coesão; repetição como mecanismo de retórica; repetição cujo alvo
55

são os efeitos semânticos; repetição como estratégia para “aquisição da linguagem, da

socialização lingüística e para o ensino das línguas”.

A repetição que, muitas vezes, é menosprezada no texto escrito, no texto

falado apresenta diversas funções; como mecanismo coesivo, recurso retórico, etc e

classifica-se em diversos tipos como significativas e marginais, além de outras. De

acordo com Koch (2003b, p.126):

A repetição é particularmente constitutiva do discurso


conversacional, no qual os parceiros, conjuntamente e passo a
passo, constroem o texto, elaboram as idéias, criam, preservam e
negociam as identidades, de tal forma que o texto, de maneira
icônica, vai refletir essa atividade de co-produção.

As adjunções ocorrem quando, na reconstrução do texto falado, o locutor

esqueceu-se de algum dado importante sobre o assunto tratado e é necessário completar

a idéia ou relembrar ao interlocutor alguma coisa que já foi dita antes, contribuindo para

melhor compreensão. Trata-se de um acréscimo ou “adendo”.

L2. mas nós n/ nós não gostávamos::... tinha (Excerto do NURC/SP)


uma uma::... umas primas que vovó criou:: desde
pequenininhas ficou sem mãe... (são duas)
((barulho de trânsito)) aí
vovó comprava para elas ... nós já íamos na rua
Direi::ta... na ru::a Santa Ifigê::nia... que
Comprávamos lá...
[
L1 ( )
56

L2. lá nós escolhíamos as roupas... porque


tinha uma
PARte... que vovó criou desde pequenina...
duas.. e tinha outras que vieram de Jundiaí com
mamãe que veio para cá também...
Doc. Uhn uhn

É importante ressaltar, ainda, que as hesitações são, também, estratégias de

processamento do texto falado. Pode existir trecho de fala sem inserções ou

reformulações, mas raramente sem hesitações. Uma de suas características é que não

pode ser controlada ou, eventualmente, pode, mas de forma parcial. As hesitações

aparecem quando há dificuldades por parte do locutor para conduzir o processo, mas

não se pode esquecer que essas dificuldades podem ser “criadas” com a intenção de

mostrar ao ouvinte que o falante é uma pessoa cuidadosa, atenta e reflexiva.

L2. aprende-se mais... então ela acha que o:: (Excerto do NURC/SP)
que o bacana seria isso mesmo entende?
L1.. . . é são os... são as... reformas que estão
existindo aí no no no ensino né? ... inclusive eu
acho acho... uma forma de pensar... acho que
discutindo a coisa e não só ficando em termos
de... da coisa... puramente:: expositiva...
L2.. . . certo...

Para finalizar, é importante acrescentar que entre as estratégias interacionais

destacam-se as de Preservação das faces (“facework”) e/ou de representação positiva do

“self”, usadas para evitar dissabores, complicações e falta de compreensão durante o

intercâmbio lingüístico. O falante faz uso de eufemismos, rodeios, marcadores de


57

atenuação, ou seja, faz uso de recursos de polidez para preservar a sua face e a de seu

interlocutor, como se pode observar no exemplo seguinte:

Excerto 18a:

Mário de Andrade...e eu acredito que é


mais importante para nós pararmos um
pouco na meditação do sistema de Arte
que ele estabeleceu...do que em pequenas
manifestações esporRÁ::dicas... que não
terão...tanta importância posterior... de
modo que eu vou tentar na primeira parte
da minha palestra me referir...a algumas
manifestações... e depois me fixar...na:: na
no pensamento estético de Mário...mesmo
aqui eu fiz uma pê/ uma::uma::[ah o meu
enfoque é muito pessoal] porque éh::
tendo que escolher alguns pensadores eu
preferi escolher aqueles que estão ligados
à Faculdade de Filosofia...
(Inquérito nº 156 – Bobina nº 54)
Função de ressalva/atenuação.

Como se constata, diversas são as estratégias de construção do texto falado.

Entre elas, destacam-se as inserções que, como já dito antes, constituem o objeto de

nossa pesquisa e, a seguir, serão abordadas.

3.2 Inserções: uma reflexão


Sabe-se que o fluxo de informações no discurso pode se desenvolver de

maneira contínua quando a seqüência temática flui naturalmente, sem obstáculos até a

introdução do próximo tópico, e de modo descontínuo quando há a ruptura, fenômeno

responsável pela “quebra momentânea” do tópico. Tal ruptura da unidade temática


58

efetua-se pelo próprio falante ou se realiza por iniciativa do interlocutor. A primeira

situação acontece quando o falante julga necessária uma pausa que pode ter diferentes

funções, o que caracteriza o planejamento local do texto falado e a preocupação com a

compreensão do interlocutor; a segunda denota a manifestação de envolvimento

interacional do interlocutor.

As inserções, estratégias responsáveis por essa ruptura ou suspensão,

definem-se, segundo Koch (2003a, p.110) como

segmentos discursivos de extensão variável que provocam uma


espécie de suspensão temporária do tópico em curso,
desempenhando funções interativas: explicar, ilustrar, atenuar,
fazer ressalvas, introduzir avaliações ou atitudes do locutor, etc.

Jubran (2002, p.127) afirma que entre os fenômenos de descontinuidade, a

inserção de informações que progridem na mesma direção (paralelas) e que se

subdividem em outras áreas no tema da unidade do discurso (subsidiárias) nomeiam-se

como autocondicionadas, quando a intercalação no tema efetiva-se pelo próprio falante

e heterocondicionadas, quando o falante, em função de um pedido ou sinalização do

interlocutor, é conduzido a efetuar a intercalação ou encaixe.

Numa visão pragmática interativa, as inserções autocondicionadas revelam-

se, no discurso, por intermédio das denominadas frases hóspedes, ou seja, frases

independentes – parênteses – e as heterocondicionadas manifestam-se por meio de

“seqüências laterais” (Jefferson, 1972 apud Jubran, 2002).


59

Segundo Brown & Yule (1983, p. 73) tópico discursivo é “aquilo acerca do

que se está falando”. Trata-se, então, da unidade discursiva que se constrói mediante a

interação dos participantes no processo dialógico e explica-se pela centração e

organicidade.

Entende-se por centração o assunto tratado durante a interação, sendo que

um tópico pode ser constituído por vários subtópicos que, por sua vez, poderão ser

constituídos de segmentos tópicos. Koch (2003a, p.82) afirma que, “diversos subtópicos

constituirão um quadro tópico; havendo ainda um tópico superior que englobe vários

tópicos, ter-se-á um supertópico”. Quanto à organicidade, nota-se que ela se faz pela

conexão estabelecida em dois planos, ou seja, hierárquico e seqüencial que

correspondem à progressão tanto no sentido vertical como no horizontal. Tal processo

organizacional manifestar-se-á em maior ou menor grau em função do interesse dos

participantes pelo tema da conversação e a necessidade do “detalhamento” para maior

compreensão.

Existem duas modalidades de inserção: uma, de menor extensão textual, que

não gera outro tópico ou mudança de centração, permanecendo, em curso, o mesmo

tópico, não afetando a coerência, e, outra, que apresenta maior extensão textual assim

como “estatuto tópico”, uma vez que há mudança de centração, provocando a divisão do

tópico em destaque em segmentos, conforme mostram, respectivamente, os excertos dos

corpora estudados:
60

Inf.: bom... o:: era colhido tudo Excerto 10b (NURC/SP)11


manualmente... mas nessa época então::
de:: colheita... até as mulheres passavam
a:: ajudar... [porque a colheita teria que
ser feita dentro de uma certa época...
então é preciso mais gente pra colher...]
e::... é... costumava-se colocar embaixo do
pé de café uma espécie de:: lona... uma
esteira... e a::... e depois vai-se pa/...
passando a mão no galho... e caindo os
grãos... depois colhe-se tudo

(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)

Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra Excerto 1a: (ALMS)
eles... e as pessoa não tacava mesmo aí fora de
hora assim porque...
(?):tinha medo.
Célia: ... tinha medo, então... ficou por muitos
ano, [aquele tempo era terra de chão, não
tinha asfalto era muito buraco, os carro...
patinava no barro então as pessoa não
abusava...]
(?): tinham medo.
Célia: É, não abusava muito por causa
disso porque tinham medo, agora não... faz
tempo eu não ouvi falar, depois que teve o
asfalto mas tinha essas coisa.

(Inquérito a12 – ALMS)

11
O critério para delimitar o excerto foi selecionar fragmentos anteriores e posteriores à inserção em que
houvesse verbo(s) ou locução(ões) verbal(is).
61

Na primeira modalidade, observam-se duas situações: a primeira delas

quando a inserção – tipo frase parentética13 – provoca uma interrupção tão breve que

não ocasiona cortes perceptíveis do tópico e a unidade discursiva permanece coesa.

Jubran (2002, p. 64) destaca, em função disso, que as frases parentéticas provocam

dificuldade para se estabelecer qual o limite para determinar se são referentes ou não ao

tópico discursivo a fim de serem classificadas como inserções.

Para melhor compreensão, faz-se uso, a seguir, de gráfico de exemplificação

da referida autora de um modelo de organização tópica de um D2 – diálogo entre dois

informantes – com três níveis hierarquizados:

a) primeiro plano: grandes tópicos da conversação (A e B);

b) segundo plano: detalhamento do assunto (A1, A2, A3; B1, B2);

c) terceiro plano: subdetalhamento do assunto (a e b).

12
Codificação provisória, uma vez que o Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul encontra-se em
construção.
13
Frase que se apresenta como um parêntese.
62

Gráfico 1 – Frases parentéticas.


Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 65.

A segunda situação efetiva-se quando causa, na linearidade do discurso,

fracionamento do tópico alvo em segmentos não conectados, representando, muitas

vezes, tentativas frustradas de alteração do assunto que, em momentos posteriores,

realizam-se de forma satisfatória. Essas inserções podem ser “resquícios” de tópicos

conversacionais que já foram mencionados anteriormente ou “indícios” de tópicos que

se destacarão em momento subseqüente e podem estar relacionadas tanto à unidade

tópica na qual ocorrem como a outras mais amplas, como se observa nos gráficos

seguintes:
63

Gráfico 2 – Resquícios de tópico desenvolvido anteriormente.


Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 66.

Gráfico 3 – Indícios de tópico desenvolvido posteriormente.


Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 66.
64

No que se refere à segunda modalidade, também se apresentam duas

situações: 1. a de “tópicos paralelos”, isto é, centrados num assunto em destaque, mas

que não se relacionam nem ao grande tópico nem a qualquer outro tópico do discurso;

2. a responsável pelo surgimento de um QT – quadro tópico completo – no interior de

outro tópico, provocando divisão em subtópicos que tenham o mesmo grau de relação

com o supertópico. Constata-se, então, que a inserção pode ocorrer tanto no plano

horizontal como no plano vertical.

Conforme Jubran (2002, p. 67, 68) as representações gráficas dessas

situações são, respectivamente:

Gráfico 4 – Tópico paralelo


Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 67.
65

Gráfico 5 – Quadro tópico


Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 68.

Finalmente, é importante destacar que Jubran (2002, p. 68) acrescenta às

diversas manifestações de inserções já elencadas, uma variante da inserção que se

denomina “alternância”, uma vez que provoca descontinuidade por interferir num

segmento tópico com elementos não-relacionados ao tópico em desenvolvimento, mas

também representa a peculiar característica de alternância de dois tópicos, o que não

determina a inserção, como se vê no gráfico abaixo:

Gráfico 6 – Alternância.
Fonte: Jubran in: Castilho, 2002, p. 69.
66

Koch (2003a, 2003b) afirma que a inserção, estratégia do texto falado,

apesar de parecer conteúdo supérfluo ou de menor importância, na maioria dos casos,

não pode ser eliminada sem que haja prejuízo de sentido. Dois são, segundo ela, os

grandes blocos de funções: o de função cognitiva que objetiva facilitar a captação de

sentido(s) por parte do(s) interlocutor(es) e o de função interacional que busca chamar a

atenção do(s) interlocutor(es) para uma atitude de co-responsabilidade, de co-autoria.

Na visão da autora, quando se efetua a suspensão temporária do tópico em

andamento para inserir “algum tipo de material lingüístico”, esse processamento pode

ocorrer, por vários motivos:

Introdução de explicações ou justificativa, – explica ou justifica o

assunto em pauta. Exemplo:

Excerto 19b - (NURC/SP)


... e sobretudo à grande exposição de
pintura francesa... que em mil novecentos
e quarenta... fecha o decênio de maneira
espectacular... pra muitos de nós... foi o
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa::
chegada dos quatro franceses... [porque
nós que éramos alunos da Faculdade
nessa ocasião... íamos à à à à con/ à à::
exposição de quadros muitas vezes com o
professor (Moguet) para que ele nos Função explicativa
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi o primeiro contato em
profundidade com a pintura... e...
(Inquérito nº 156 - Bobina nº54)

referência a um conhecimento prévio – funciona como uma

estratégia para compreensão do assunto a ser abordado. Exemplo:


67

Excerto 1b (NURC/SP)14

Maior produção... maior rendimento... né?... o


indivíduo certo para a tarefa certa...– [não sei
se alguém aqui já ouviu falar no Taylor...
• Função de alusão a um
né?] – então em ( ) em termos de traBAlho
conhecimento prévio.
nós temos os testes de Taylor... né? que
ele::.... se propôs::... a... ahn...
(Inquérito nº 377 - Bobina nº 123)

Apresentação de ilustrações ou exemplificações – cita exemplos e

faz elucidações sobre o assunto. Exemplo:

Excerto 17a (NURC/SP):


L2 que existiria entre os estudantes...
L1 isso vai evidentemente acarretar uma
uma uma uma visão não só daquilo que ele
ele passa...como de de outras de outras
profissões existentes...e:: acho que ter
oportunidade assim de conversar com com
médicos engenheiros advogados [você veja
por exemplo o caso dos advogados como
que está o mercado de trabalho deles]... Função de exemplificação
é:: a bendita da lei da da oferta e procura
né? Que regula evidentemente... todas as
profissões em termos de mercado de
trabalho... então realmente no momento
está existindo assim uma demanda muito
grande...
Introdução de comentário metaformulativo – acrescenta o

esclarecimento da palavra ou expressão citado anteriormente.

Excerto do (NURC/SP)15

14
O exemplo é parte do Inquérito nº 377, Bobina nº123 do Projeto NURC de SP, também encontrado em
Koch (2003b, p.85).
15
O exemplo é parte do Inquérito nº 377, Bobina nº 123 do Projeto NURC de SP, também encontrado em
Koch (2003b, p.87).
68

Aqui nós só vamos... fazer uma leitura em nível

pré-iconográfico nós vamos reconhecer as

formas... então que tipo de formas nós vamos

reconhecer?... nós vamos reconhecer bisontes...

((vozes))...[bisonte é o bisavô do touro... tem


Função de comentário
o touro o búfalo:: e o bisonte] MAIS lá em
metaformulativo
cima ainda... nós vamos reconhecer ahn::

cavalos... nós vamos reconhecer veados...—

sem qualquer (nível) conotativo aí — ...e

algumas vezes MUIto poucas... alguma figura

humana...

Excerto do (NURC/SP)

A autora esclarece, ainda, que as inserções podem ter outras funções

essencialmente interacionais, uma vez que pretendem chamar a atenção do parceiro e/ou

gerar um “clima” de intimidade ou de cumplicidade como:

formulação de questões retóricas — encontradas em discursos

didáticos e de persuasão — questionamento(s) do falante ou do

ouvinte durante a conversação. Exemplos:

Excerto 22b (BAND/SP)


Inf. ...cachoe/ é bem pra frenti... bem pra frente
69

[cêis foi até o acampamento nu foru? Nu


foru até nu acampamento?] Função retórica
Doc. 2 ( ) a gente não conhece direito (pra lá)
Doc. 1 a gente se perdeu... nós fomos lá pra
cima ( )
Inf. ...ah (posu fio) é pra cá... esse é pra
cá...(posu fio) a senhora pa chegá lá a senhora
tem que descê...
(Inquérito 02 – BAND/SP)

introdução de comentários jocosos – encaixa brincadeiras, falas

que provocam riso.

Excerto do (NURC/SP)

Aqui nós só vamos... fazer uma leitura em nível


pré-iconográfico nós vamos reconhecer as
formas... então que tipo de formas nós vamos
reconhecer?... nós vamos reconhecer bisontes...
((vozes))... bisonte é o bisavô do touro... tem o

touro o búfalo:: e o bisonte MAIS lá em cima


Função de comentário jocoso
ainda... nós vamos reconhecer ahn:: cavalos...

nós vamos reconhecer veados... [— sem

qualquer (nível) conotativo aí —]... e algumas

vezes MUIto poucas... alguma figura humana...

Excerto do (NURC/SP)
70

Koch (2003b, p.87) cita, ainda, outras funções interacionais que classifica

como de importância. São elas:

apresentação de suporte para a argumentação em curso –

introduz força/reforço para o argumento explorado. Exemplo:

Excertos 16a (NURC/SP)

L1 ...quer saber de gravata não quer


nada aqui em São Paulo se você não pôr
uma gravata você não é bem recebido...
não o clima acho que é:: (tem uma)
[
L2 entende? ... ( ) essencial para o::
para o desenvolvimento de:: de certos
afazeres [inclusive eu acho você vê esse
problema de gravata... é até anti-
higiênico] você vê às vezes não
enfrentamos calores de trinta graus você
que sai de casa de manhã... não podendo Função argumentativa
voltar... hora do almoço...
(Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)

Expressão da atitude do locutor perante o dito, introduzindo

atenuações, avaliações e ressalvas – evidencia(m) a postura do

locutor diante da fala. Exemplo:

Excerto 7c (ALMS)

(?): seu Moisés, tem alguma simpatia que o


senhor conhece, simpatias que o senhor
conhece...
Moisés: não, que eu saiba não. Eu vejo falar em
71

simpatia... Função ressalva/atenuação


(?): quem o senhor já escutou assim, que
alguém falou pra o senhor.
Moisés: no causo uma simpatia... não, existe.
Existe... fala assim, que eu saiba não, mas tem
simpatia que... inclusiva... [não sei se todo
mundo acredita nisso, mas eu mesmo...
geralmente, antigamente... eu acreditei
numas....] me ensinaram uma simpatia, eu fiz e
sarei... com aquela simpatia, serviu pra mim.

(Inquérito c – ALMS)

Essas funções atribuídas por Koch (2003a, 2003b) às inserções serviram de

apoio para a análise dos corpora do português falado em excertos de entrevistas do

Projeto NURC de São Paulo, de entrevistas para a confecção do Atlas Lingüístico de

Mato Grosso do Sul e de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante (SP) e do

Português Popular do Brasil (SP), por dar conta do material lingüístico a ser analisado.

Finalmente, vale ressaltar que as inserções, apesar de provocarem uma

espécie de ruptura, ou seja, uma “suspensão” por um determinado período de tempo do

tópico discursivo, diferente do que já se pensou antes, não provocam falta de coerência

no texto falado; pelo contrário, contribuem e são responsáveis, em grande parte dos

textos, pela sua construção. Quanto à coesão, observa-se que mesmo quando há

mudança de mundo narrado para mundo comentado ou vice-versa, a “quebra” é tão

suave que não interfere na seqüência textual.


4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo constitui uma pesquisa qualitativa do tipo descritivo-

explicativa, que aborda dados quantitativos, necessários para a avaliação dos resultados.

Foram utilizados corpora de entrevistas e elocuções formais efetuadas em dois estados:

Mato Grosso do Sul e São Paulo e, para tanto, faz-se necessário fornecer algumas

informações sobre os referidos estados, a saber:

1. São Paulo é um Estado localizado na Região Sudeste com população de

40.442.795 habitantes16. Limita-se ao norte e nordeste com Minas Gerais, ao nordeste

com Rio de Janeiro, à leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o Paraná e à oeste com

Mato Grosso do Sul. Tem 645 municípios, ocupando uma área de 248.808,8 km2 e São

Paulo é sua capital.

Figura 4 – Mapa do Estado de São Paulo

16
Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2005.
46

Fonte: www.v-brazil.com

De todos os Estados brasileiros, São Paulo é o que possui a maior e mais

diversificada população do país, ou seja, 40 milhões de habitantes. No final do século

XIX e início do século XX, período de forte migração, recebeu pessoas de todo o

mundo.

A população de São Paulo é formada por descendentes de imigrantes

europeus: italianos, espanhóis, portugueses, alemães em maior número, além de

holandeses, poloneses, armênios e suíços. Destacam-se, ainda, mestiços de

colonizadores portugueses com ameríndios e africanos; libaneses, sírios e turcos e

japoneses, coreanos e chineses.

Na busca de trabalho e melhores condições de vida, São Paulo recebe,

também, pessoas de outros Estados brasileiros, sobressaindo-se as do Nordeste. Isso

acontece em função de ser o Estado mais rico do Brasil, afirmando-se que sua história

econômica teve início com o ciclo do café, sendo, hoje destaque em diversos setores da

economia do país, entre eles, o financeiros, o da indústria automobilística, o da aviação

e o da produção sucroalcooeira.

2. Mato Grosso do Sul é um Estado localizado na região Centro-Oeste com

população de 2.078.001 habitantes17, sendo 83,22% da zona urbana e 16,78% da zona

rural. Limita-se ao norte com os Estados de Mato Grosso e Goiás, ao sul com a

República do Paraguai e o Estado do Paraná; a leste com os Estados de Minas Gerais,

de São Paulo e do Paraná, e a oeste com as Repúblicas do Paraguai e da Bolívia. Possui

77 municípios, que se subdividem em 11 regiões.

17
Dados fornecidos pelo IBGE pelo último censo, 2005.
47

Figura 5 – Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul

Fonte: www.v-brazil.com.

Os indígenas foram os primeiros habitantes de Mato Grosso do Sul,

destacando-se os que aqui habitavam por ocasião do “descobrimento” do Brasil:

Guarani, Guató, Ofayé, Kaiapó Meridional, Payaguá e outros não identificados. Já os

colonizadores europeus chegaram ao Estado no início do século XVI e contribuíram

significativamente para o desaparecimento da população indígena. Hoje, o Estado

possui mais de cinqüenta mil índios e tem à sua frente, segundo Martins (2002, p. 12),

somente o Estado da Amazônia.

Contribuíram, também, para a sua ocupação paulistas, gaúchos, mineiros,

paranaenses e nordestinos, além de estrangeiros como bolivianos, paraguaios,

japoneses, espanhóis e portugueses. O término da Guerra do Paraguai e da Primeira

Guerra Mundial também foram responsáveis pelo povoamento do Estado com a


48

chegada de vários ex-combatentes e de europeus. Aliás, vale mencionar que o Estado de

Mato Grosso do Sul ainda está em estágio de ocupação, sendo Campo Grande – capital

– e Dourados – segunda maior cidade do Estado – os municípios responsáveis pela

maior migração.

A mistura de todos esses povos trouxe para o Estado uma diversidade

cultural e étnica e, como conseqüência, uma pluralidade lingüística, resultante das

contribuições culturais indígena, paraguaia, boliviana, platina, andina, européia e

brasileira. Mato Grosso do Sul é um Estado novo que foi criado em 1977, mas já se

destaca na área do agronegócio na economia.

Ao estudar as inserções que são estratégias que contribuem para a

construção do português falado e definidas por Jubran (2002) como “interpolações de

segmentos conversacionais” que não têm extensão e natureza definidas e que se

responsabilizam pela interrupção temporária do tópico em uso, causando alteração ou

não da centração desse tópico, surgiram algumas questões de pesquisa, já explicitadas

no início do trabalho e que se faz relevante retomá-las:

1) se as inserções apresentam características discursivas próprias, também

apresentam características modo-temporais próprias?;

2) se as inserções têm ligações com os tempos anteriores e posteriores da

fala, deixam-se “contaminar” pelos tempos verbais que as precedem ou

as seguem?;

3) se o texto falado é considerado menos planejado de antemão do que o

texto escrito, em função de sua natureza interativa, sendo localmente


49

planejado ou replanejado, contribuiriam os tempos verbais das inserções

e de seus segmentos anteriores e posteriores para a seqüência textual ou

haveria uma ruptura desses tempos?

Em função disso, iniciou-se a busca por um corpus que respondesse a tais

questões, uma vez que não se conhecia trabalhos que fornecessem tais respostas. Os

objetivos elencados para a pesquisa e, já apontados na introdução, foram os seguintes:

1. pesquisar a inserção, estratégia característica do português falado;

2. verificar as funções das inserções encontradas e quais as mais usadas

nos excertos dos corpora de falantes de diferentes níveis sociais, faixas

etárias e localizações geográficas;

3. analisar como ocorre o emprego dos tempos verbais nos diferentes tipos

de inserções;

4. relacionar o uso dos tempos verbais nas inserções com o dos segmentos

anteriores e posteriores;

5. identificar se existem tempos verbais característicos das inserções e

observar de que modo o emprego dos tempos verbais nas inserções pode

relacionar-se às suas características discursivas.

Inicialmente, optou-se por inquéritos do Projeto NURC – Projeto de Estudo

da Norma Lingüística Urbana Culta – de São Paulo (Projeto NURC/SP), constituídos:

diálogos entre dois informantes (1987), entre informante e documentador (1988) e

elocuções formais (1986), pois as mesmas já estavam transcritas. Isso facilitaria o nosso
50

trabalho, além de haver uma curiosidade de conhecer esse material sobre o texto falado

do referido Estado por ter a pesquisadora nascido em uma cidade de seu interior: Tupã,

município que se localiza a oeste do estado.

Segundo Castilho (1986, p. 2), o “Projeto de Estudo da Norma Lingüística

Urbana Culta do Brasil” surgiu da necessidade que pesquisadores brasileiros tiveram de

documentar e descrever a norma objetiva do português culto falado no Brasil.

A princípio, pensou-se em efetuá-lo somente no Rio de Janeiro; no entanto,

no IV Simpósio do PILEI, o professor Nelson Rossi, da Universidade Federal da Bahia,

esclareceu, em relatório, que dessa forma não se teria “uma imagem completa do

português do Brasil”, expondo seu pensamento a respeito do policentrismo cultural do

país e recomendando que se realizasse o projeto em cinco cidades brasileiras. Foram

exigências que elas tivessem pelo menos um milhão de habitantes e “suficiente

estratificação social para atender às exigências do projeto inicial”. As cidades

selecionadas por ele foram Recife, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

Sendo aprovado o relatório em 1968, o próprio professor foi designado para

que indicasse, em cada cidade, os coordenadores do trabalho. Em São Paulo foram

escolhidos os professores Isaac Nicolau Salum, da Universidade de São Paulo, depois

substituído por Dino Preti, também dessa Universidade, e Ataliba T. de Castilho, da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília.

Selecionadas e organizadas as equipes de trabalho de cada coordenador,

diversos e freqüentes encontros foram realizados. Em São Paulo, cidade da qual se

utilizou o corpus da pesquisa, foram efetuadas 381 entrevistas, com 474 informantes de

alta escolaridade de diferente sexo, faixa etária diversificada e profissões variadas.


51

Ainda em período de decisão, pensou-se na possibilidade de se fazer um

paralelo com outro corpus e optou-se, então, por analisar entrevistas do Estado em que

se reside atualmente: Mato Grosso do Sul. Tendo conhecimento da pesquisa em

andamento para construção do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, surgiu a idéia

de verificar-se a possibilidade de fazer uso das entrevistas realizadas para esse fim.

Trata-se, como tantas outras pesquisas realizadas pelo Brasil, de um estudo

com o objetivo de buscar informações sobre o falar regional que resultará em diversos

Atlas Lingüísticos, cuja reunião consolidar-se-á no Atlas Lingüístico do Brasil. No

Mato Grosso do Sul, é um projeto elaborado pela Universidade Federal de Mato Grosso

do Sul (UFMS) e que, apesar de ainda encontrar-se em andamento, foi prontamente

cedido pelo grupo responsável, representado pela Profa. Dra. Aparecida Negri Isquerdo

em concordância com o Prof. Dr. Dercir Pedro de Oliveira e os demais componentes do

grupo.

De posse desse corpus, composto por entrevistas, ora com momentos mais

espontâneos, ora mais tensos, de pessoas de diferente idade, sexo e nível de

escolarização – analfabetos e baixa escolaridade – de diversas regiões do Estado, as

entrevistas que se encontravam gravadas, foram transcritas por duas alunas da UFMS do

campus de Dourados, que participam do grupo de entrevistadores cuja meta é a

construção do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul e por dois alunos do grupo de

transcritores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Foram

selecionadas as narrativas de experiência pessoal dos informantes, que retratam

situações do dia-a-dia, como momentos de alegria, de tristeza, de medo, de lazer,

geralmente com a família ou grupo de amigos.


52

Tendo acesso, então, aos corpora da pesquisa iniciou-se o trabalho de

análise que é descrita, de forma detalhada, mais à frente. O resultado alcançado fez com

que se observasse a necessidade de se buscar um outro corpus, o que se confirmou

quando do exame de qualificação. A banca sugeriu que a análise dos corpora trouxeram

um resultado satisfatório, mas não suficiente para a pesquisa, visto que o corpus do

NURC de São Paulo abrangia uma população considerada falante da norma culta, pois

todos entrevistados eram alunos do curso superior ou já haviam concluído o curso,

diferentemente do corpus do Atlas Lingüístico do Mato Grosso do Sul, cujos sujeitos

envolvidos eram pessoas de menor escolaridade, ou seja, indivíduos analfabetos ou que

tenham cursado, no máximo, o ensino fundamental.

Diante desse diagnóstico, buscou-se um outro corpus, que por sugestão da

orientadora do trabalho, professora Dra. Odette G. L. A. S. Campos, foi solicitado, à

professora Dra. Ângela Rodrigues, Profa. da Universidade de São Paulo – USP – ,

membro do Projeto de Filologia Bandeirante que, prontamente, cedeu parte do corpus já

transcrito pelo grupo pesquisador.

O Projeto Filologia Bandeirante teve início em 1998, sob a coordenação do

Prof. Dr. Heitor Megale e ocorre em núcleos rurais de quatro Estados brasileiros que

fizeram parte da rota dos bandeirantes nos séculos XVII e XVIII. Tal trabalho realiza-se

por pesquisadores das Universidades Federais de Minas Gerais, de Mato Grosso, de

Goiás e da Universidade de São Paulo, cujo objetivo é reunir uma amostra de língua

falada de idosos que de alguma forma tenham alguma ligação com os bandeirantes e

que adquiriram a língua há 60 anos ou mais. A expectativa do projeto é conhecer as

marcas da língua portuguesa antiga que tenham permanecido nestes três últimos
53

séculos; os informantes são pessoas do Estado de São Paulo de diferente sexo,

analfabetos ou com pouca escolaridade, da zona rural e, na maioria, aposentados.

Não sendo suficiente, ainda, o número de entrevistas do referido projeto, por

serem os informantes indivíduos com idade superior a 60 (sessenta) anos, obteve-se,

novamente, por meio da referida professora, outros inquéritos pertencentes ao Português

Popular do Brasil, pesquisa realizada pela disciplina de Sociolingüística da área de

Filologia em Língua Portuguesa da USP – Faculdade de Filosofia, Ciências, Letras e

Ciências Humanas. As entrevistas foram coletadas pelos acadêmicos do curso, em 2002,

e os informantes são moradores de favelas de São Paulo, de diferentes profissões, sexo,

idade e de baixa escolaridade ou analfabetos.

Para melhor compreensão, faz-se, a seguir, uma breve descrição dos

informantes dos corpora da pesquisa, subdividido em três partes, ou seja:

1. Corpus composto por inquéritos do Projeto de Estudo da Norma

Lingüística Urbana Culta de São Paulo (NURC/SP);

2. Corpus composto por entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso

do Sul (AL/MS);

3. Corpus composto por entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante de São

Paulo (BAND/SP) e entrevistas do Português Popular do Brasil

(SOCIOL/SP).

O primeiro corpus – Projeto de Estudo da Norma Lingüística Urbana Culta

de São Paulo é constituído por informantes cultos numa situação de comunicação

marcadamente didática – aulas e conferência –, denominadas elocuções formais (EF);


54

em diálogos entre dois informantes cultos (D2) e em diálogos entre informante e

documentador (DID). Trata-se de inquéritos efetuados na cidade de São Paulo, na

década de 70. Tais informantes têm formação universitária, são nascidos na cidade que

tem a fala estudada e foram divididos em três faixas etárias: de 25 a 30 anos; de 36 a 55

anos e de mais de 56 anos.

Os assuntos versados constataram de um Guia-questionário cujas questões

abordaram os seguintes temas: corpo humano, vestuário, alimentação, casa, família,

vida social, cidade, transportes e viagens, meios de comunicação e difusão, cinema,

televisão, rádio, teatro, comércio exterior, profissões, dinheiro, animais, todos centros

de interesse do ser humano.

O segundo corpus – entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul

- é constituído por uma amostra de informantes de diversos municípios que compõem o

Estado de Mato Grosso do Sul, o que retrata a fala de indivíduos que representam uma

diversidade cultural e étnica e, com certeza, uma pluralidade lingüística.

Escolhidos aleatoriamente, uma vez que se tratam de entrevistas cedidas

para o presente trabalho, faz-se importante mencionar que os informantes são pessoas

de ambos os gêneros, com faixa etária de 18 a mais de 50 anos, pertencentes à zona

rural e à zona urbana. São analfabetos, com ensino fundamental incompleto ou ensino

fundamental completo.

Importante lembrar mais uma vez que as entrevistas para o Atlas Lingüístico

de Mato Grosso do Sul fazem uso de dois tipos de questionários: lexical e fonético,

sendo este último o utilizado para a pesquisa, já que a ele se junta uma narrativa. Os
55

temas são acontecimentos do seu dia-a-dia como a escola, a vida em família, com seus

momentos de alegria, tristeza e medo.

O terceiro corpus é constituído pelos informantes do Projeto Filologia Bandeirante e

do Português Popular do Brasil. Os primeiros são idosos, com idade acima de 60

anos, de ambos os sexos, analfabetos, ou com baixa escolaridade, nascidos e criados

na zona rural de São Paulo, residindo quase todos no Vale do Paraíba. São pessoas,

na maioria, já aposentadas e que desenvolveram atividades no campo, relacionada à

agricultura e à pecuária. As entrevistas têm com tema as denominadas “conversas

fiadas”, o que facilita o diálogo entre documentador e informante.

Quanto ao segundo grupo, os falantes são pessoas de diferentes gêneros, de três

faixas etárias: 20 a 35 anos, 36 a 50 anos e mais de 50 anos, todos residentes em

favelas da zona norte da cidade de São Paulo. As profissões são diversas e os temas

abordados são do cotidiano, trabalho e vida em família.

Tendo acesso aos três grupos de entrevistas, 1) NURC/SP; 2) ALMS; 3)

BAND/SP e SOCIOL/SP, realizaram-se cuidadosas leituras a fim de se destacar as

inserções. Selecionaram-se, aleatoriamente, 135 inserções – 45 de cada corpus – das

mais de 180 encontradas previamente, para que se pudesse ter quantidades iguais. Em

seguida foram extraídos dos corpora excertos constituídos por inserções e segmentos

anteriores e posteriores a elas. Para melhor compreensão do estudo, elaborou-se ao lado

dos excertos, uma análise com descrições de interesse para o estudo, ou seja, verificou-

se na letra:

(a) a atitude comunicativa em relação à inserção e a cada segmento;


56

(b) os tempos verbais dessas inserções e dos segmentos que as antecedem e

as seguem;

(c) a classificação dos tempos em relação ao mundo a que pertencem;

(d) a denominação quanto à perspectiva comunicativa;

(e) a função da inserção;

(f) um comentário geral do excerto. Para efetuar essa análise, tomou-se

como aporte teórico as seções anteriores.

Esclarecidos, então, os procedimentos metodológicos da presente pesquisa,

iniciou-se a análise de dados que pudessem responder às questões suscitadas

inicialmente, como se observa a seguir.


5. UM OLHAR SOBRE AS INSERÇÕES E OS TEMPOS VERBAIS

A pesquisa mostra nos corpora observados que a inserção é empregada a

todo momento de nossa fala e diversas são as funções elencadas por Koch (2003a,

2003b) que foram detectadas: função explicativa, função retórica, função de atenuação

ou ressalva, função de exemplificação, função de suporte argumentativo e função de

alusão a um conhecimento prévio. Além da classificação dessas funções apontadas pela

autora, acrescentaram-se mais dois tipos que se constataram nos corpora analisados, a

de comentário e a de esclarecimento. Vale lembrar que Koch (2003b) já menciona a

função de comentário, mas o comentário metaformulativo e o comentário jocoso; no

entanto, nas entrevistas analisadas são os comentários gerais que se sobressaem sobre os

demais.

O gráfico 7 ilustra os percentuais obtidos na análise dos corpora, onde se

observa que dos 135 casos de inserções estudados, 38% correspondem às funções

explicativas; 26%, às de comentário; 13%, às retóricas; 12%, às de esclarecimento; 8%,

às de atenuação ou ressalva e os 3% restantes correspondem às demais funções.


86

De 135 casos de inserções

Funçao explicativa
8% 3%
Função de comentário
12% 38%
Função de retórica

Função de esclarecimento

13%
Função de atenuação ou
ressalva
26% Outras funções

Gráfico 7 – Funções das inserções.

As inserções de funções explicativas que correspondem a 38%, têm o

objetivo de adicionar justificativas para o que está sendo dito, o que comprova que,

diferentemente do que já se pensou e foi mencionado, a inserção não interrompe a

seqüência discursiva, mas contribui para a coerência textual como se verifica a seguir:

Excerto 5b (BAND/SP)

Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi


braçu...intendeu?...[i dozi braçu é dozi braçu
Função explicativa
memu di di dozi parmu uma vara di dozi
parmu na mãu assim pu sinhor bem bem
isticadu memu...] ...intãu era dozi braçu
daquela...intendeu?

(Inquérito 09 – BAND/SP)
87

Excerto 11a (ALMS)


(?): isso.
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá
nessa viagem, de levada do almoço, [que a
Função explicativa
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
mãe fazia a comida e mandava... o mais
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
ele comeu toda a carne da comida, a mistura
da comida do pai, chegou e levou.

(Inquérito f – ALMS)

As inserções com função de comentário18 destacam-se por acrescentarem

algum parecer ou emitir opinião a respeito do que está sendo dito, indicativo de que esse

tipo também é usado no texto falado, visando a uma maior compreensão por parte do

ouvinte. Um percentual de 26% de todos os casos analisados têm essa função e, dentre

eles, apontam-se:

Excerto 13a: (NURC/SP)

Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas os


cenários... depois vários artistas de
televisão estavam trabalhando nessa peça...
Doc.: uhn uhn
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora eu
tenho u/ a as minhas amigas vão vão
sempre a teatro quase... quase sempre elas Função de comentário

18
Usou-se a função de comentário para os “comentários de abordagens gerais”.
88

vão quase todo domingo] eu :: sou um


pouco preguiçosa não vou prefiro ficar
assi/ a a aqui assistindo televisão ou
dormindo ou lendo o jornal... mas elas:: e
comentam comigo a I. diz que tem assistido
várias peças mas eu não tenho eu Parei um
pouco de ir agora... sei lá ando muito
cansada não tenho ido mais a teatro
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)

Excerto 14b (ALMS)


(?) você lembra de mais alguma_____ gente
que vem visitar____
Jacinto: aqui também tem um senhor, acho que
__ perdeu aí pra baixo, foi té lá e...acho que
veio... se perdeu da turma e soltou a cara pra o
outro mundo, acharam ele já... saindo pra o
eixo lá embaixo, perto do [você vê que como
tem sorte,] aí... o tanto de onça que tem aí... e Função de comentário

tem onça... não sei como que nós não vimo ali
naquele cantão lá embaixo.

(Inquérito i – ALMS)

O estudo feito aponta, ainda, que há um percentual significativo de

inserções com função retórica (13%) e com função de esclarecimento (12%). A

primeira, como já abordada, faz um chamamento ao interlocutor com a intenção de

convocá-lo a pensar junto, o que pode ser constatado nos excertos selecionados:

Excerto 5b: (ALMS)


89

(?): apanhou.

Célia: ai, chegue em casa e já sabendo... meu

coração subindo pela boca, e aí tive que

contar, não podia mentir... [e o que quê minha


Função retórica
avó fez?]pegou um pedaço daquele Porungo,

ela esquentou um arame e furou e pendurou no

meu pescoço, mandou eu ir na vizinha buscar

água e falou pra mim assim: se pergunta você

conta porque... é, minha avó fazia isso. Aí eu

coloquei aquilo lá que.

(Inquérito a - ALMS)

Excerto 19a (BAND/SP)


Doc.1 mas a senhora vende leite?
Inf. vendia leite na cooperativa... cooperativa
(do casaguá) [a senhora sabe onde é né?...] Função retórica
19
então é lá qui nóis batia leite... Taubaté ( )
rapaizinho de Taubaté ( )

(Inquérito 02- BAND/SP)

Explicitar, tornar fácil o entendimento é a meta da função de esclarecimento

que geralmente adiciona uma informação, o que auxilia para a coerência do texto e,

provavelmente, por esse motivo, destaca-se, também, como um dos tipos mais

encontrados, como se pode notar em:

19
Valor semântico de pretérito imperfeito.
90

Excerto 17a: (ALMS)


(?): tem, não sei de... mas não conheço
pessoalmente.
Antônio: é né?! Então eu tava desmatando lá...
cem alqueire de terra pra toca lavoura, uma terra
Função de esclarecimento
muito boa que na fazenda Sapé [é... cem
quilometro de Brasilândia lá.] Aí todo... todo
tratorista que ia... saia correndo, dizendo que via
um bicho, uma luz, e a luz quando mais Lee dizia
pra perto a luz ia crescendo... quando foi um dia
um falou: eu quero ver se eu descubro essa luz, se
eu vou corre dela. Aí ele foi e a luz se...

(Inquérito m – ALMS)

Excerto 3a (BAND/SP)
Doc. ( )
Inf. fazia um percursu pur trai du: ::
quarteu...du exerstu ( ) dipoi vortava pegava u a
vinida di frenti ca igreja...i fazia a
entrada...[mai era mais u menu uma umas
duas hora mais o menu di percursu na rua] Função de esclarecimento
Doc. ( e tinha santo) ( )
Inf. ah tinha...tinha sãu biniditu ( ) principal
qui saía né? sãu biniditu i nossa sinhora

(Inquérito 9 - BAND/SP)
91

Observando os corpora estudados e analisando as inserções e, também, os

segmentos anteriores e posteriores a elas, constatou-se que a maioria delas são

pertencentes ao mundo comentado, conduzindo os interlocutores a uma atitude

receptiva, tensa e atenta conforme explica Weinrich (1974). Seus estudos mostram

pertencer ao mundo comentado situações comunicativas como o drama, o ensaio, a

lírica, assim como o diálogo e o comentário, verificados nos textos selecionados para o

presente trabalho.

Enfatiza o autor, como já se comentou, serem três as dimensões

relacionadas à situação comunicativa nas línguas estudadas por ele (alemão, espanhol e

francês): atitude comunicativa do falante, responsável pela distinção entre o mundo

comentado e o mundo narrado; perspectiva comunicativa que destaca os tempos-zero

ou tempos-base, identificados como tempos sem perspectivas e os tempos retrospectivos

e prospectivos, denominados de tempos com perspectiva e, por último, o relevo o qual

diferencia o primeiro do segundo plano, característicos apenas do mundo narrado, como

se mostrará adiante.

Das 135 inserções – 45 de cada corpus – encontradas nos corpora, 71%

são do mundo comentado e 28% do mundo narrado, como pode ser observado no

gráfico 8. Tal resultado indica que as inserções têm características discursivas próprias.
92

De 135 casos de inserções

1%
28%

mundo comentado
mundo narrado
mistos

71%

Gráfico 8 – Distinção entre mundos comentado e narrado.

Excerto 11a20: (NURC/SP)

Inf.: vai pro pano... vai pro pano e depois vai


pra um saco e naturalmente ainda o grão
está muito misturado com::... pedrinhas
terra... e depois precisa:: então limpar aquilo
Doc.: e como é que se limpa?
Inf.: aí limpa a::... [bom inclusive o grão do
café também precisa ser secado...] então
precisa colocar no terreiro... e:: deixar secar
no sol... hoje tem secador também:: ( )
mecânico... mas o:: o normal e até hoje:: que
se faz bastante é::... é jogar o café no a) MC + MC + MC
terreiro... e deixar alguns dias lá... no sol b) Presente + Presente +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) zero MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem
perspectiva

20
A numeração dos exemplos citados obedecem à codificação usada no corpus.
93

Excerto 13a (ALMS)

Antônia: ... Eu fui lá e bati na minha irmã... a) MN + MC + MN

puxei o cabelo da minha irmã, minha... meu pai b) P. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
veio de lá pra cá me jogou um... tijolo... aí eu
c) Tempo zero MN + Tempo zero
escondi no meio... assim a barranca do rio é MC + Tempo zero MN
assim, então eu escondi no meio daquele... no d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
meio do buraco que faz aquele... [acho que plano)
não sei que faz... diz que é jaú que faz aquele
buraco ali, na beira da barranca,] aí eu entrei
no meio daquilo ali, meu pai foi atrás de mim,
daí ele não me conseguiu bater em mim, aí
ele... e veio quase que ele morreu sabe. Aí
sabe, guria do céu... aí a minha mãe...daí minha
me bateu, mas me bateu, até hoje eu tenho sinal
disso... sabe, então até... ichê... não vou conta
nem outros mais... porque aí é pior... (risos)
(Inquérito h – ALMS)

Verifica-se no primeiro exemplo - 11a (NURC/SP) - que tanto na inserção

como no segmento anterior e posterior, os tempos verbais pertencem ao mundo

comentado. Já no segundo exemplo - 13a – ALMS -, os tempos verbais do segmento

anterior à inserção passam do mundo narrado para o mundo comentado na inserção e os

tempos verbais do segmento posterior à inserção passam do mundo comentado para o

mundo narrado. Observa-se, no entanto, que não há “quebra” da seqüência textual e

nem da coerência do texto. Tanto no primeiro como no segundo caso, a inserção

acrescentou uma explicação, comprovando o seu próprio caráter discursivo de incluir na

fala comentários/observações com diferentes funções.


94

Contrapõem-se a esse resultado as inserções pertencentes ao mundo narrado

que se apresentaram em número menor – 28% – quando, segundo o autor, o locutor

afasta-se do seu discurso, numa atitude mais branda, mais moderada, sem a sua voz;

apenas “relata fatos” como afirma Weirinch (1974). O “eu” não se impõe e nem chama

o outro a assumir o comando da fala, o que se pode notar nos seguintes exemplos:

Excerto 11a (ALMS)

(?): isso.
Alda: diz21 que uma senhora... mandou o filho
a) MN + MN + MN
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito
nessa viagem, de levada do almoço, [que a
+ Pret. Perfeito
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
c) Tempo zero MN + Tempo zero
mãe fazia a comida e mandava... o mais MN + Tempo zero MN
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que d) Sem perspectiva (1º plano) +
ele comeu toda a carne da comida, a mistura Sem perspectiva (2º plano) +
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que Sem perspectiva (1º plano)
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina...

(Inquérito f – ALMS)
95

Observa-se, nesse excerto (11a ALMS), o uso do discurso indireto, o que

denota a ausência de compromisso por parte do informante. Ele apenas relata os fatos.

Conforme seção teórica da presente pesquisa, Weinrich (1974), em estudo

dos tempos verbais do francês, afirma serem tempos do mundo comentado o presente, o

pretérito perfeito composto, o futuro do presente e as locuções verbais constituídas por

esses tempos. Quanto ao mundo narrado, mostra serem o pretérito perfeito simples, o

pretérito imperfeito, o pretérito-mais-que-perfeito e o futuro do pretérito do modo

indicativo os tempos verbais característicos.

Tal teoria se comprova na medida em que a maioria das inserções cujos

tempos verbais são do mundo comentado, como pode ser observado no gráfico 9, que

tem como tempo de maior freqüência o presente, ou seja, 78% das 95 inserções, que,

analisado na ótica da perspectiva de locução, é considerado o tempo base ou o tempo

zero desse mundo, ou seja, tempo sem perspectiva como se vê nos excertos extraídos

dos corpora estudados.

De 95 inserções de mundo comentado

8%
7%
7%
Tempo Presente
Pretérito Perfeito
Presente/Pretérito Perfeito
Outros tempos verbais

78%

21
O verbo “dizer” funciona como introdução do discurso.
96

Gráfico 9 – Tempos verbais.

Excertos 24a, 24b: (NURC/SP)

Inf. ...profissões?... por exemplo.. lixeiro... (ou) a) MC + MC + MC


atualmente... varredor de rua... servente de b) Presente + Presente + Presente

escola que é o com:: que eu tenho maior c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
contato... (isso eles as/) a escolaridade deles é
d) Sem perspectiva + Sem
Mínima... mal ele (não) [inclusive (no)... até perspectiva + Sem perspectiva

nos livros de pontos eles NÃO conseguem


assinar o no/ o próprio nome...] não se

Comunicam de forma nenhuma... as a) MC + MC + MC


empregadas domésticas também... então é b) Presente + Presente + Presente

só::... essas profissões assim mais::... [por c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
exemplo balconista... ou pessoas (o) que (eles) d) Sem perspectiva + Sem
servem em restauran::te entende?...] são perspectiva + Sem perspectiva

essas profissões... mais::... sem escolaridade e)

que leva a isso né? que não eXIge da pessoa...


porque é uma coisa mais mecânica...

(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)

Excerto 5a: (ALMS)

Célia: nós puxava água com Porunga do rio a) MN + MC + MN


assim, [não é do rio, é da mina]... longe... b) P. Imperfeito + Presente + P.
Imperfeito
(?): e trazia aqui...
c) Tempo zero MN + Tempo zero
Célia: e trazia, e nós colocava na... na boca do MC + Tempo Zero MN
Porunga... as folha de samambaia pra não... vir d) Sem perspectiva (2º Plano) + Sem
perspectiva MC + Sem
golfando a água... então pra não pular... nó perspectiva (2º plano)
97

colocava essas folha de samambaia bem


lavadinha pra poder a água para. E uma vez era
muito grande o Porunga e eu era pequeninha...
o Purunga molhado e... corri, derrubei e
quebrei...
(Inquérito a - ALMS)

Faz-se importante lembrar, ainda, que de acordo com Corôa (1985), já

mencionada anteriormente, o presente é o tempo em que o momento do evento (ME), o

momento da fala (MF) e o momento da referência (MR) são simultâneos e, para isso, é

necessário que exista pelo menos um “ponto” em que cada um dos pontos seja

simultâneo. Reportando-se à teoria da autora, vale lembrar, também, que o presente

pode ser usado com diversificados valores como futuro, presente dramático, expressar

verdades gerais e atemporais, além de poder manifestar o que ocorre habitualmente e o

que ocorre no momento em que se fala. Algumas dessas situações – visão semântica –

podem ser constatadas nos casos em que o falante, na inserção, foge da narração,

fazendo um comentário, uma justificativa, uma observação de modo geral como se

observa a seguir:

1º caso: presente que expressa verdades gerais e atemporais

Excerto 16b: (NURC/SP)

... eu imagino um indivíduo que trabalha


na rua... andando... se locomovendo
que::... soa muito mais do que a gente que
fica dentro de um escritório às vezes
tendo ar condicionado às vezes não... a
a) MC + MC + MC
dificuldade que deve ser entende?... então
tem éh::... [o paulistano é mais fechado b) Presente + Presente +
mesmo] eu acho que:: uma das
Presente
influências seria a natureza e o nosso
próprio clima entende?
98

Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)

2º caso: presente para manifestar o que ocorre habitualmente.

Excerto 18a (BAND/SP)

... i eu nu gostava di distalá fumu i gostava


muitu di iscola... aí eu comecei a chorá... e: ::
os otru nu fizeru conta qui us otru nu gostava di
iscola né? então nu fizeru conta... e eu comecei
a chorá... ele já tinha as vara di marmelu assim
assentadu ca paredi di ferrrão assentadu assim
na euzinha assim as vara di marmelu... naqueli a) MN + MC + MN

tempu [hoji... as criança di hoji nu toma nem b) Pret. Imperfeito + Presente +


um biliscãozinho assim nu toma] naqueli Pret. Imperfeito
tempu Nossa senhora a genti apaNHAva ( )
principalmente meu pai meu pai Dava ( )... daí
dipois eli disse assim...

(Inquérito 10 - BAND/SP))

3º caso: presente para manifestar o que ocorre no momento em que se fala:

Excerto 8a: (NURC/SP)

Inf.: e a parte acidentada é uma parte


vamos dizer de morraria... e justamente
servia pro gado... enquanto que a parte
plana servia pra:: pra culturas em geral
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
.Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas
[eu estou afastado do::... do habitat... a) MC + MC + MN
((riu))] mas:: cultivava milho... cana-de-
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não b) Presente + Presente + Pret.
eram constantes culturas anuais... que se Imperfeito
renovavam... pro exemplo algodão... e::...
99

depois plantava-se também às vezes


eucaliptos... aí aí mais tempo já não é
cultura anual né?... ma ta/mas também
corta e renova transforma em pasto...

(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)

Não foram encontrados no corpus analisado as seguintes situações: presente

com valor de futuro e presente com valor de presente dramático. Esse fato pode se

justificar pelo tipo de corpora estudado.

Analisando os tempos verbais das inserções de mundo comentado, poucos

foram os casos – apenas 7% – de uso do pretérito perfeito, que têm valor retrospectivo

com relação ao presente, denominado tempo zero ou tempo base do mundo comentado,

o que de certa forma contraria ou destoa do afirmado por teóricos como Koch (2003:56)

que esclarece: “a classificação dos tempos verbais de Weinrich, que, (...), tomou por

base o francês, apresenta alguns problemas, pelo menos no tocante ao português”,

referindo-se principalmente ao pretérito perfeito simples como um tempo verbal

“extremamente freqüente, tanto em textos do mundo comentado, como do mundo

narrado.” Não foi o que ocorreu nos textos do corpus estudado, uma vez que sua

presença não é significativa, apesar de haver o emprego do tempo nos dois mundos

como se pode visualizar em:

Excerto 7d (ALMS)

(?): é, qual que foi? a) MC + MC + MN


Moisés: no caso eu tinha muito berruga assim na
b) Presente + Pret. Perfeito +
mão, no caso... assim então inclusive tem um
Pret. Imperfeito
índio [que... (já faz muitos anos) que morreu],
c) Tempo zero MC + Tempo
naquela época tinha... época 12 anos atrás...então
retrospectivo MC + Tempo
100

tinha muita berruta na mão, não sarava de jeito retrospectivo MC + Tempo


nenhum... não cabava... aí um índio falou: eu sei zero MN
uma simpatia que vai sumi isso aí, sem você d) d) Sem perspectiva +
sangra a mão, sem faze nada, você não vai sofre Retrospecção + Sem
nadam só que você tem que faze. perspectiva (2º plano)
(Inquérito c - ALMS)

Excerto 23a (ALMS)

Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim a) MN + MN + MN


aí na cozinha... tinha dois filho... dois filho b) Pret. Imperfeito + Pret.
Perfeito + Pret. Perfeito
[fiquei dois ano em Corumbá sem poder ver
c) Tempo zero MN + Tempo zero
meu filho...] aí depois ela brigou com milha MN + Tempo zero MN
filha aí por um caso bem.... bem diferente que d) Sem perspectiva (2º plano) +
Deus foi pai... _____ Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (1º plano).

(Inquérito t – ALMS)

Esse fato poderia se comprovar pela especificidade do corpus que está

sendo analisado; formado por inserções que por si só são essencialmente comentários de

vários tipos, devido ao seu próprio caráter discursivo, - o de tecer comentários,

justificativas e observações acerca do que está sendo apresentado - há o predomínio do

presente. O uso dos outros tempos, embora ocorra, é esporádico, comprovando-se, nesse

corpus, que os tempos verbais cumprem sua função discursiva.

De acordo com o gráfico 10, onde são apresentados os percentuais dos

tempos verbais no mundo narrado, 28% das inserções do total dos corpora analisados

que pertencem ao mundo narrado, apenas 22% delas - porcentagem pouco significativa

- têm o pretérito perfeito como tempo verbal. Esses casos fazem parte do corpus
101

pertencente ao Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul, ao Projeto Filologia

Bandeirante e Português Popular do Brasil, ambos de São Paulo, cujos entrevistados

têm menor escolaridade. O pretérito perfeito, de acordo com Corôa (1985), como se

pode constatar nos textos analisados, é usado para descrever o passado sob a visão de

um observador que se localiza no presente.

De 37 inserções M N

8% Pretérito Imperfeito
11%

Pretérito Perfeito

Pretérito Imperfeito +
22% 59% Pretérito Perfeito
Outros tempos verbais

Gráfico 10 – Tempos verbais no mundo narrado.

Interessante comentar, também, que o pretérito imperfeito, já mencionado

pela referida autora como sendo momento do evento (ME) simultâneo ao momento de

referência (MR) e os dois anteriores ao momento da fala (MF), sobressai sobre o

pretérito perfeito, perfazendo um total de 59%, o que corresponde a quase o triplo de

casos.

Excerto 14a (NURC/SP)


102

Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá


casquinha que fica ainda... ahn se vendia
assim ou:: já se entregava de uma... numa a) MC + MN + MC
outra condição
Inf.: não me lembro bem viu? como era b) Presente + Pret. Imperfeito
viu?... [porque ne/ nessa época... + Presente
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?] c) Tempo zero MC + Tempo
Doc.: uhn uhn
Inf.: então não me lembro bem como era zero MN + Tempo zero MC
vendido o arroz...
d) Sem perspectiva MC + Sem
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva MC

Longo (1990), já mencionada na seção anterior, afirma que mediante o traço

[- perfectivo], pode-se esclarecer que as situações de uso desse tempo, como se constata,

servem para:

a) narrar ou descrever ações passadas consideradas “contínuas, permanentes,

ou de localização vaga no tempo” como se observa nos excertos 11a (ALMS), 11b

(ALMS) e 18a (ALMS), respectivamente.

Excertos 11a/11b (ALMS)

(?): isso. a) MN + MN + MN
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho b) Pret. Perfeito + Pret.
22
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que Imperfeito + Pret. Perfeito
lá nessa viagem, de levada do almoço, [que a
c) Tempo zero MN + Tempo zero
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
MN + Tempo zero MN
mãe fazia a comida e mandava... o mais

22
O verbo dizer funciona como introdução do discurso.
103

velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que d) Sem perspectiva (2º plano) +
ele comeu toda a carne da comida, a mistura Sem perspectiva (2º plano) +
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que Sem perspectiva (1º plano)
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina... a) MN + MN + MN
(?): aí ele...
b) Pret. Imperfeito MN + Pret.
Alda: ...aí que começou, diz que aparecer
Imperfeito MN + Pret. Perfeito
vaca. Meu esposo conta que via...[e era forte
MN
essa lenda,] começou a vaca indo...(pausa)
pessoas morrer sem língua... e aí esses menino c) Tempo zero MN + Tempo zero

ficou no mundo... o come língua, o come MN + Tempo zero MN

língua, agora sumiu o nome, acho que ele d) Sem perspectiva (1º plano) +
parou... de certo a missão dele foi cumprida, Sem perspectiva (2º plano) +
nunca mais comeu língua de ninguém Sem perspectiva (1º plano)

(Inquérito f – ALMS)

Excerto 18a (ALMS)

(?): feiticeira? a) MN + MN + MN
Camila: é, aparecia as feiticeira... feiticeira que b) Pret. Imperfeito + Pret.
22
diz que ia raspa... as criança pagã, não Imperfeito + Pret. Imperfeito
batizava, [antigamente tinha isso] diz que
c) Tempos zero MN + Tempo zero
raspava as criança assim pela casa. Minha mãe
MN + Tempo zero MN
22
O verbo dizer funciona como introdução do discurso.
104

sempre contava isso, que antigamente tinha MN + Tempo zero MN


essas coisas... essas lenda... lobisome, tem d) Sem perspectiva (2º plano) +
mula sem cabeça... essas coisa assim.... Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
(Inquérito n – ALMS)

b) mostrar ações passadas freqüentes, como em 1a (ALMS)

Excerto 1a: (ALMS)


Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra a) MN + MN + MN
eles ... e as pessoa não tacava mesmo aí fora
b) Pret. Imperfeito/Pret. Perfeito
de hora assim porque....
+ Pret. Imperfeito + Pret.
(?):tinha medo Imperfeito
Célia: ... tinha medo, então... ficou por
c) Tempos zero MN + Tempo
muitos ano, [aquele tempo era terra de
zero MN + Tempo zero MN
chão, não tinha asfalto era muito buraco,
os carro... patinava no barro então as d) Sem perspectiva (2º plano/1º
pessoa não abusava...] plano) + Sem perspectiva (2º
(?): tinha medo. plano) + Sem perspectiva (2º
Célia: É, não abusava muito por causa plano)
disso porque tinham medo, agora não...

(Inquérito a – ALMS)

c) destacar ações concomitantes em tempo anterior, conforme:


105

Excerto 9a (BAND/SP)

Inf. só que a: :: u terrenu era tinha um a) MN + MN + MN


casarãu grandi nu meiu...i im roda du casarãu b) Pretérito imperfeito +
grandi deli era u: :: us bacateru tudu...sabi? Pretérito imperfeito/Pret.
intãu fazia vizinha: :: beranu até ca dutra Perfeito + Pretérito
aqui...i u caquiseru era a mesma coisa...tinha imperfeito
uma parti di caqui...i ota parti di: :: c) Tempo zero MN + Tempos
bacati...[até eu lembru (di um dia) eu ia inu zero MN + Tempo zero MN
pa pa roça...na casa da minha ermã...entrô d) Sem perspectiva (2º plano) +
uma turma lá pa robá abacate deli eli Sem perspectiva (2º
correu ((ri))] plano/1º plano) + Sem
Doc. () perspectiva (2º plano)
Inf. é sempri fazia issu

(Inquérito 9 - BAND/SP)

A autora esclarece, também, que os usos do tempo pretérito imperfeito os

poderiam ser rotulados como modais, sendo de justificativas mais difíceis, servem para:

d) elaborações hipotéticas, que não foram encontradas nos corpora e, para

facilitar a compreensão do leitor, optou-se por extrair um exemplo de Longo (1990, p.

169): “Se eu ganhasse na loteria, comprava aquela fazenda”.

e) indicar polidez por parte do falante, caso que não se localizou nas

inserções que compuseram os corpora, mas se detectou muitas vezes nas falas dos

documentadores ao solicitar que os informantes contassem algum fato ou esclarecessem


106

alguma dúvida como se percebe nos inquéritos que constituem o Atlas Lingüístico de

Mato Grosso do Sul.

Exemplo:

Janete: (...) eu acho que isso aí é uma lenda (Excerto do ALMS)


mesmo.
Doc.: É? E a senhora já achou algum caso
interessante ou engraçado que a senhora podia
contar?

Nota-se na fala do documentador que ao invés de dizer “Conte algum caso que a

senhora achou interessante ou engraçado”, ele faz uso da polidez, para preservação

da face a fim de conseguir aquilo que deseja.

Finalmente, a referida autora esclarece que o pretérito imperfeito ainda pode

ser usado na linguagem infantil em situações como: “Agora eu era herói”.

As observações sobre maior emprego do pretérito imperfeito que do

pretérito perfeito nas inserções que compõem o estudo, levam-nos à seguinte reflexão:

por não existirem elocuções formais nas segunda e terceira partes do corpora,

respectivamente, Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul e Projeto Filologia

Bandeirante-SP e Português Popular do Brasil -SP e nas entrevistas os documentadores

direcionarem mais para a contação de narrativas, é que o pretérito imperfeito sobressai-

se como tempo verbal das inserções de mundo narrado.

É importante relembrar, no entanto, que nessa parte do corpora estudado, o

número de inserções do mundo comentado é predominante, correspondendo a 62%.

Algumas inserções dos corpora estudados, as de textos do Atlas Lingüísticos de MS,


107

chamaram a atenção por compartilharem tempos verbais do mundo comentado e do

mundo narrado, mostrando que mesmo em tais situações a transição de um mundo para

o outro é realizada de forma branda; o que representa uma contribuição para

manutenção da coerência, pois essas transições estão sempre ligadas a objetivos

discursivos.

Excerto 20c (ALMS)

(?): como que é o neguinho d’água, a lenda do a) MC/MN + MC + MC/MN


neguinho d’água... diz que eu não conheço.
b) Presente/Pret. Imperfeito +
Lídia: é um... é um... pretinho, ele sai... aí ele Presente + P. Perfeito
uma vez diz que ele ia carrega um guri [e tem...
c) Tempo zero MC/Tempo zero
e aqui também diz que tem aquela escola,
MN + Tempo zero MC +
não tem a escola {que eu mostrei pra a
Tempo zero MN
senhora}23, antiga de...] diz que lá é...lá já
morou...tem bastante professor, que morreu d) Sem perspectiva/ Sem

dois professores, uma professora e um perspectiva (2º plano) + Sem

professor, ... perspectiva + Sem


perspectiva (1º plano)

(Inquérito p – ALMS) e) Função explicativa

f) Mundo comentado; passa para


o mundo narrado; muda para
o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado.
108

Excerto 25a (ALMS)

(?): nossa! a) MN + MN/MC + MN


Homem: certo. Em vez de eu voltar pra fazenda
b) Pret. Perfeito + Pret.
voltei... mas ele me chamou claramente. Quer
Perfeito/Presente + Pret.
dizer, de coisa que eu... tenho visto... esse foi Perfeito
um e... [nesse município quando eu vim
c) Tempo zero MN + Tempo
de_____ pra esse município eu fiz uns dois
zero MN Tempo zero MC +
mil metro quadrado de casas pré-montadas
Tempo zero MN
[que eu sou especialista nisso,]]24 na minha
casa chamou também... certo, chamou... na d) Sem perspectiva (1º plano) +
porta... é o pássaro... ___ Sem perspectiva MN (1º
plano)/ Sem perspectiva MC
(Inquérito x - ALMS) + Sem perspectiva (1ºplano).

e) Função de comentário

f) Mundo narrado (1º plano); na


inserção permanece no
mundo narrado (1º plano) e
continua no mundo
comentado e finaliza no
mundo narrado (1º plano).

Excerto 9a (ALMS)
(?): pegou na sua perna? a) MN + MN/MC/MN + MN
Socorro: aqueles... na minha perna, meu pai b) Pret. Imperfeito + Pret.
Imperfeito/Presente/Pret.
vinha com a carroça cheia de rama, pra dar pra Imperfeito + Pret. Perfeito
os porco, [ele criava porco, e a gente quando c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN/Tempo zero MC/Tempo
é criança você sabe, vinha na beirada na zero MN + Tempo zero MN
carroça...]aí menina, uma cobra enrolou na d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem

23
Oração adjetiva; não pertence à inserção.
24
Há a presença de duas inserções: a segunda está intercalada na primeira.
109

carroça...]aí menina, uma cobra enrolou na perspectiva (2º plano)/ Sem


perspectiva /Sem perspectiva (2º
mina perna e eu gritei... mas eu fiquei com plano) + Sem perspectiva (1º
medo então eu fiz assim... isso me marcou plano)
e) Função explicativa
também...
f) Mundo narrado; na inserção
permanece no mundo narrado
(2º plano), passa para o mundo
comentado e retorna ao mundo
(Inquérito d – AL/MS) narrado para permanecer no
mundo narrado.

Como Bastos (2001, p. 88), em estudos de coesão e coerência em narrativas

escolares escritas, constatou-se casos de alternância comentário/narração que ocorrem

como “uma intervenção do narrador” que emite uma avaliação ou como nos exemplos,

explicação ou comentário sobre o dito. A autora afirma que a teoria de Weinrich (1974)

mostra essa possibilidade, mas não menciona ser tão evidente como nos textos

analisados por ela – narrativas escolares escritas. Em relação aos segmentos anteriores e

posteriores às inserções, verificou-se que tal alternância também é freqüente e exame

mais detalhado será efetuado no momento em que se analisar o conjunto dos três

segmentos.

O estudo dos excertos que compõem o corpus mostra que as inserções e os

segmentos anteriores e posteriores a elas constituem um quadro em que se visualiza que

dos 135 excertos analisados – 45 de cada corpus –, 40% apresentam os três segmentos

com tempos verbais pertencentes ao mundo comentado e 20% têm os tempos verbais do

mundo narrado. Os outros 40% intercalam mundo comentado com mundo narrado,

como pode ser verificado no gráfico 11.


110

De 135 excertos

40% 40%
Três seguimentos C/T.V. MC
Três seguimentos C/T.V. M N
Seguimentos C/TV Mistos

20%

Gráfico 11 – Análise dos segmentos dos corpora.

Tais situações podem ser verificadas nas análises abaixo:

Excerto 38a (SOCIOL/SP)25

Doc. e como é que é a relação com os vizinho a) MC+ MC + MC


aqui? Conhece muita gente... b) Presente + Presente + Presente
Inf. é a gente conhece bastante gente tem gente c) Tempo zero MC + Tempo zero
que a gente conhece nem sei do nome sabe... MC + Tempo zero MC
mas meus vizinho meus vizinho aqui [sabe de d) Sem perspectiva + Sem
uma coisa?] A maioria dos meu vizinho são perspectiva + Sem perspectiva
piauiense é pernambucano... é sim
Doc. tudo de lá...

(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 21a (Atlas/MS)

(?): é, capado. a) MN + MN + MN
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava b) Pret. Imperfeito + Pret.
d ói t
25
A sigla (SOCIOL/SP) representa a parte do “corpus” do Português Popular do Brasil de São Paulo.
111

o porco pra anda um pouco e nóis montava, e Imperfeito + Pret. Imperfeito


ela ia pra roça e nóis ficava brincando c) Tempo zero MN + Tempo zero
montando nos porco, aí os porco varava por MN + Tempo zero MN
baixo do arame e nóis caia porque nóis batia
d) d) Sem perspectiva (2º plano) +
no arame ou na cerca... e também nóis fazia
Sem perspectiva (2º plano) +
carroça de... da nossa bonea, [que Sem perspectiva (2º plano).
antigamente a gente não tinha nada,] era
boneca de sabugo, aí a gente fazia a carreta do
queico da vaca, assim da cabeça da vaca nóis
virava de cabeça pra baixo assim...

(Inquérito q – ALMS)
Excerto 15a: (NURC/SP)

Inf.: ... Barretos nem se costumava tirar a) MN + MC + MN


leite das das vacas... que haviam dado
cria... então:: o próprio leite que ela... b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
vamos dizer produzia... era consumido pelo Imperfeito
bezerro... e... pro ninguém mais... [inclu/
inclusive então é pouco leite...] depois... os c) Tempo zero MN + Tempo zero MC
próprios bezerros nem sempre ficavam no
+ Tempo zero MN
estábulo... a:: às vezes... ficava assim uma
duas semanas depois já ia pro pasto com a d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
mãe.... e::... que seria separado quando
estivesse um pouco maior perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)

Parece ser marcante a tese apresentada por estudiosos da Lingüística

Textual de que mesmo no texto falado, considerado por muito tempo, caótico,

desorganizado, a coerência textual está presente e, o que é importante, observa-se que

de modo geral conservam-se os tempos verbais do mesmo mundo do segmento anterior

na inserção e no segmento posterior. A parte referente ao corpus do Projeto NURC/São


112

Paulo sobressai-se em relação aos demais grupos de inquéritos por apresentar o maior

número de casos – quase três vezes maior – em que os três segmentos têm seus tempos

verbais no mundo comentado. Apesar de mais de um gênero textual – elocuções verbais

e diálogos entre dois informantes e entrevistas com um informante – verifica-se que em

todos eles há incidência do mundo comentado, surgindo a hipótese de que maior

escolaridade e temas mais expositivos conduzem a uma maior tendência para o emprego

do mundo comentado.

Contrapondo-se a esse resultado, verifica-se em Mato Grosso do Sul maior

tendência para o emprego do mundo narrado nos três segmentos, o que poderia estar

ligado à baixa escolaridade e a temas mais narrativos. Por outro lado, os informantes de

São Paulo do Projeto Filologia Bandeirante e do Português Popular do Brasil, também

de baixa escolaridade, evidenciam o uso de tempos verbais do mundo narrado, só que se

alternando com os tempos verbais do mundo comentado. O predomínio deu-se na

seqüência de tempos verbais do mundo narrado, tempos verbais do mundo comentado

na inserção e, para finalizar, tempos verbais do mundo narrado, conforme se observa

em:

Excerto 30b (NURC/SP)

Doc. (muito) bonita ((risos)) a) MC + MC + MC


Inf. Belo Horizonte:: é uma cidade atrativa
uma cidade:: limpa uma cidade... [inclusive b) Presente + Presente +
naquele centro de Belo Horizonte onde a Presente
gente costuma estar MAIS quando vai a
Belo Horizonte dá uma sensação assim de c) Tempo zero MC + Tempo
largueza muito grande...] que São Paulo não
apresenta muito porque São Paulo cresceu zero MC + Tempo zero MC
desordenadamente mesmo no Rio de Janeiro
que tem uma feição arquitetural arquitetural d) Sem perspectiva + Sem
completamente diferente São Paulo... perspectiva + Sem
i
113

perspectiva
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47)
e) Função explicativa

f) Mundo comentado;
permanece no mundo
comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado

Excerto 12 a (ALMS)

Adônia: ...eu emborcaba a canoa no meio do a) MN + MN +MN

rio e ela ficava lá e vortava pra trás nadando... b) Pret. Imperfeito + Pret.
(risos)... aí, meu Deus. Daí quando era de noite Imperfeito + Pret. Imperfetio
e daí pra dormir, [que... aquele tempo...
c) Tempo zero MN + Tempo zero
urrava mesmo... até goela é onça.... e pegava
MN + Tempo zero MN
um pegava tudo, nóis era dez... panhava
tudo, não tinha... não queria nem saber...] d) Sem perspectiva (2º plano) +

Ah! vinha jantar e tal jantá...aí eles queriam Sem perspectiva (2º plano) +
bater ni mim... aí já vi... que o meu irmão Sem perspectiva (2º plano)
tava... aquele tempo que papai plantava milho, e) Função explicativa
aquele paior de milho lá em cima e ele criava
f) Mundo narrado (2º plano);
porco e os porco ficava...
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e,
finaliza no mundo narrado (2º
(Inquérito g – ALMS)
plano)

Excerto 14a (NURC/SP)


114

Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá a) MC + MN + MC


casquinha que fica ainda... ahn se vendia
assim ou:: já se entregava de uma... numa b) Presente + Pret. Imperfeito +
outra condição Presente
Inf.: não me lembro bem viu? como era
viu?... [porque ne/ nessa época... c) Tempo zero MC + Tempo zero
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?] MN + Tempo zero MC
Doc.: uhn uhn
Inf.: então não me lembro bem como era d) Sem perspectiva MC + Sem
vendido o arroz... perspectiva (2º plano) + Sem
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) perspectiva MC

e) Função explicativa

f) Mundo comentado e narrado; na


inserção passa para o mundo
narrado (2º plano) e, retorna ao
mundo comentado para finalizar.

Essa constatação reflete mais uma vez a comprovação de que as inserções

não representam propriamente uma divisão da unidade discursiva. Quando há mudança

de tempo verbal percebe-se que ocorre em função da intenção do falante de

proporcionar ao seu interlocutor um comentário sobre o que está sendo dito. A alteração

de atitude comunicativa - passagem de um mundo para outro - realiza-se de forma

suave, branda, sem que se possa avaliar como quebra ou ruptura perceptível e da

seqüência e da coerência expressas pelos tempos verbais.

Se as inserções são constituídas de tempos verbais do mundo comentado e

se o tempo predominante é o presente, é possível constatar ainda que o tempo verbal

utilizado está ligado às funções dessas inserções. A pesquisa evidenciou que grande

parte delas manifesta-se com funções explicativas e de comentário, seguidas pelas de


115

retórica e esclarecimento, confirmando que as inserções são estratégias utilizadas pelos

falantes com a finalidade de ajudar o interlocutor a compreender o texto. Isso justifica a

presença do mundo comentado e do tempo presente, contribuindo para que o

interlocutor possa dar maior coerência ao texto falado, visto que o seu planejamento é

momentâneo, pois a interação realiza-se face a face. Estudos como o de Marcuschi

(2001) e Koch (2003a) mostram que a coerência está muito mais centrada no receptor

do texto que no próprio texto.

É possível relacionar as inserções de função explicativa que ocorrem no

mundo comentado com o tempo presente e as do mundo narrado com o pretérito

imperfeito, conforme exemplos abaixo:

Excerto 12a (BNAD/SP)

Doc. daí quando o senhor trazia...levava a a) MN + MC + MN


caça pra casa...como é que era? fazia festa ( )? b) Pretérito imperfeito +
Inf. é quandu cunticia di pegá pur exempru Presente + Pretérito
uma: :: um viadu [( ) purque u viadu é imperfeito
grandi né? ((ruídos)) pega eli até: ::(si c) Tempo zero MN + Tempo
abusá) quarenta cinquenta quilu]...um zero MC + Tempo zero MN
viadu...aí lidava bem repartia ca família...qui d) Sem perspectiva (2º plano) +
tinha: :: parenti ( ) da genti pertu né? pa num Sem perspectiva + Sem
ficá cum tudu im casa divi/dividia...dividia perspectiva (2º plano)
essi tipu di coisa assim e) Função explicativa

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 19b (NURC/SP)


116

... e sobretudo à grande exposição de a) MC + MN + MC


pintura francesa... que em mil novecentos
e quarenta... fecha o decênio de maneira b) Presente + Pret. Imperfeito
espectacular... pra muitos de nós... foi o + Pret. Perfeito
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa:: c) Tempo zero MC + Tempo
chegada dos quatro franceses... [porque
nós que éramos alunos da Faculdade zero MN (2º plano) +
nessa ocasião... íamos à à à à con/ à à:: Tempo retrospectivo MC
exposição de quadros muitas vezes com o
professor (Moguet) para que ele nos d) Sem perspectiva + Sem
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi o primeiro contato em perspectiva (2º plano) +
profundidade com a pintura... e... Retrospecção
(Inquérito nº 156 - Bobina nº 54 - a) Função explicativa
NURC/SP)

Ao observar as funções de comentário, de esclarecimento e retórica,

percebe-se a presença do mundo comentado que se manifesta por intermédio do

presente, o que é compreensível, visto que se trata do tempo zero ou tempo base do

referido mundo. Já nas de mundo narrado, é marcante o uso do pretérito imperfeito. Há

casos de metáfora temporal em que o futuro do pretérito faz as vezes do presente como

em 2a (NURC/SP).

Excerto 2a - (NURC/SP)

... então os testes deles possuem assim... éh a) MC + MC + MC


GRAUS de dificuldades... crescentes... éh... b) Presente + Futuro do Pretérito =
26
ehn:::.., bom... o [... que seria então... éh:: Presente (metáfora temporal) +
uma nota bruta... num teste?] Seria aquela presente
nota total... de erros... e acertos então cada
c) Tempo zero MC + Tempo zero
indivíduo... realiza o seu teste e:: obtém uma
MC + Tempo zero MC

26
O tempo seria equivale, no texto, ao tempo presente.
117

nota... que é o total de erros... e acertos... MC + Tempo zero MC


MAS... essa nota simplesmente... não diz d) Sem perspectiva + Sem
muita coisa... então... ...nós precisamos ter...
perspectiva + Sem perspectiva

(Inquérito nº 377 - Bobina nº 123)

Ao empregar um tempo verbal do mundo narrado no segmento de inserção

do mundo comentado como no excerto seguinte, 11b do Projeto NURC/São Paulo,

verifica-se menor responsabilidade por parte do locutor, uma vez que o tempo futuro do

pretérito, considerado tempo prospectivo do mundo narrado, aparece no interior do

mundo comentado. Trata-se, segundo Weinrich (1974) da metáfora temporal.

Excerto 11b - (NURC/SP)


Doc.: como é o terreiro? a) MC + MC + MC
Inf.: o terreiro é uma:: uma porção vamos
dizer de... de tera... ah... calçada... com::... b) Presente + Fut. Pretérito = Presente
lajota... bom ou às vezes é cimentada mas (metáfora temporal) + Presente
em geral é com lajota... e fica ali:: é:: um::
( ). ... [como poderia27chamar?] - um c) Tempo zero MC + Tempo zero MC +
chão... ou às vezes até:: chão:: batido
mas... normalmente tem lajota no terreiro Tempo zero MC
Doc.: e o... grão é é::
d) Sem perspectiva + Sem perspectiva +
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) Sem perspectiva

e) Função retórica

f) Mundo comentado; na inserção


permanece no mundo comentado e
finaliza no mundo comentado.

27
O tempo poderia equivale, no texto, ao tempo presente.
118

Neste caso, o futuro do pretérito tem valor de presente e, nessa situação,

manifesta, também, a preservação da face. Segundo Bange apud Koch (2003a, p.75) o

ato da linguagem faz-se por intermédio de textos e trata-se de um “ato social”, de

interação com o outro, o que exige em muitos momentos polidez por parte do falante

para que não se exponha como autoridade constituída. Tal atitude pode minimizar

sentimentos de arrogância e facilitar a conversação. É o que se observa no excerto 11b

(NURC/SP), sendo importante ressaltar que o uso da metáfora temporal, que não é

muito freqüente, ocorre apenas na parte do corpus referente ao Projeto NURC/São

Paulo, cujos informantes são pessoas que fazem uso da norma culta, já que têm maior

escolaridade, o que suscita uma nova questão de pesquisa: por ser mais complexo, o

emprego da metáfora temporal – uso do tempo verbal de um mundo no interior de outro

mundo – estaria relacionado a um público de maior nível de escolaridade ou que faça

uso da norma padrão? Provavelmente sim, mas estudos com outros corpus e realizados

com esse objetivo poderão esclarecer esta questão.

Retomando a questão da interação face a face, constatou-se que as inserções

com função de atenuação ou ressalva têm, também, o propósito de facilitar a relação

entre os interlocutores, como já afirmado por Koch (2003b, p. 37). Trata-se da

“estratégia da preservação das faces” que se manifesta mediante os recursos de polidez

usados pelo locutor e que se determina, principalmente, pela função social dos

participantes. É o cuidado para evitar situações constrangedoras que possam ocasionar

complicações, ou melhor conflitos, daí a justificativa para se atenuar ou ressalvar. Em

casos desse tipo, constatou-se o predomínio do presente, como se pode observar nos

exemplos abaixo:
119

Excerto 4a: (NURC/SP)

...então todo artista deve sabe::r... ah:: o


conteúdo da peça o que vai acontê/ e
conhecer bem a peça... e... com seu talento...
[não estou quere::ndo com:: isso dizer que
Função de atenuação/ressalva
sou um grande artista porque quando eu
fui artista longe disso... fui o pior
possível...] mas acho que o camarada deve::
eh:: valorizar... o espetáculo que está do
qual ele está participando... então acho que o
ponto CHAve::o::
(Id. Ibid. 351-357)

Excerto 20a (ALMS)

(?): fazer como que é a simpatia... tem que


contá como que é a simpatia...
Lídia: não, é uma oração, eles pegam um...
um santinho... e coloca o nome da pessoa...
então coloca o nome da pessoa no mel, uma
coisa assim, [eu não sei, não sei nada... Função de ressalva/atenuação
porque eu não sou de fazer...] é... que
coloca dentro do... copinho assim do... mel,
escreve o nome da pessoa e faz uma oração,
uma coisa assim e eu não... pessoal que fala.
(...)

(Inquérito p – ALMS)

Weinrich (1974), como já se esclareceu, discute as transições temporais, ou

seja, as passagens de um tempo para outro na seqüência linear do texto, classificando-as


120

em homogêneas e heterogêneas. Quando há repetição do mesmo tempo verbal,

concretiza-se a primeira situação; já a segunda, denomina-se de primeiro grau quando

muda o grupo temporal ou a perspectiva, e de segundo grau ao alterarem-se os dois,

grupo temporal e perspectiva, como exemplificam os excertos a seguir:

1. Transição Temporal Homogênea: repetição do mesmo tempo verbal.

Excertos 24a, 24b (NURC/SP)

Inf. ...profissões?... por exemplo.. a) MC + MC + MC


lixeiro... (ou) atualmente... varredor de
rua... servente de escola que é o com:: b) Presente + Presente + Presente
que eu tenho maior contato... (isso eles
as/) a escolaridade deles é Mínima... mal c) Tempo zero MC + Tempo zero
ele (não) [inclusive (no)... até nos livros MC + Tempo zero MC
de pontos eles NÃO conseguem assinar
o no/ o próprio nome...] não se d) Sem perspectiva + Sem
comunicam de forma nenhuma... as
empregadas domésticas também... então é perspectiva + Sem perspectiva
só::... essas profissões assim mais::...
[por exemplo balconista... ou pessoas (o)
que (eles) servem em restauran::te
entende?...] são essas profissões...
mais::... sem escolaridade que leva a isso
né? que não eXIge da pessoa... porque é a) MC + MC + MC
uma coisa mais mecânica...
b) Presente + Presente + Presente
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC

d) Sem perspectiva + Sem


perspectiva + Sem perspectiva

Excerto 21a (ALMS)


121

(?): é, capado. a) MN + MN + MN
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava o b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
porco pra anda um pouco e nóis montava, e ela + Pret. Imperfeito
ia pra roça e nóis ficava brincando montando
c) Tempo zero MN + Tempo zero
nos porco, aí os porco varava por baixo do
MN + Tempo zero MN
arame e nóis caia porque nóis batia no arame
ou na cerca... e também nóis fazia carroça de... d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
da nossa bonea, [que antigamente a gente não perspectiva (2º plano) + Sem
tinha nada,] era boneca de sabugo, aí a gente perspectiva (2º plano).
fazia a carreta do queico da vaca, assim da e) Função de esclarecimento
cabeça da vaca nóis virava de cabeça pra baixo
f) Mundo narrado (2º plano);
assim...
permanece no mundo narrado (2º
plano) na inserção e finaliza no
mundo narrado (2º plano).

(Inquérito q – ALMS)

2. Transição temporal heterogênea

a) Primeiro grau: mudança somente do grupo temporal

Excerto 8a (BAND/SP)
Doc. sei...sei a) MN + MC + MN
Inf. i anti deli era um bacateru tamém...que b) Pretérito imperfeito + Presente
até u donu u donu du bacateru chamava manué + Pretérito imperfeito
du santu... [essi eu conheçu ainda lembru du
c) Tempo zero MN + Tempo zero
nomi deli...] chamava manué du santu...aí
MC + Tempo zero MN
distruíru u bacateru discui/...distruíru tamém u:
:: caquiseru...pa fazê essa: :: construçãu d) Sem perspectiva (2º plano) +
i
122

Sem perspectiva + Sem


(Inquérito 9 - BAND/SP) perspectiva (2º plano)

b) Primeiro grau: mudança somente da perspectiva

Excerto 20b (ALMS)

(?): como que é essa bola... de fogo... a bola a) MC + MC + MC


de fogo passa e como...
b) Presente + Pret. Perfeito +
Lídia: é, tem uma bola de fogo aí onde que vai
Presente
essa bola de fogo diz que aparece pra lá, lá pra
c) Tempo zero MC + Tempo
o lado do campo, [a senhora viu o campinho
retrospectivo MC + Tempo zero
pra lá...] aí diz que tem...lá tem uma serpente
MC
assim e...essa serpente não deixa passar porque
diz que tem ouro, e também tem, diz que tem d) Sem perspectiva + Retrospectiva
lobisome aqui, o pessoal fala que sempre MC + Sem perspectiva
apareceu, um senhor morreu diz que é, e tem e) Função de comentário
outra também que fala mas...
f) Mundo comentado; na inserção,
permanece no mundo comentado,
mas retrospectivo e, continua no
mundo comentado.
(Inquérito p – ALMS)
123

c) Segundo grau: mudança de grupo temporal e de perspectiva

Excerto 7e (NURC/SP)
você vai faze assim, assim e assim. Nós vamos a) MN + MC + MC
montar a berruga, fazia assim pra o relâmpago b) Pret. Perfeito + Presente/Pret.
assim, assim. Eu fiz as três vez, sumiu, não tem Perfeito + Pret. Perfeito/ Presente
nada, só...
c) Tempo zero MN + Tempo zero
(?): sumiu tudo?
MC/ Tempo retrospectivo MC
Moisés: acabou. [O cara não existe mais, já
+ Retrospectivo MC / Tempo
morreu,] então... foi um tipo de simpatia que
zero MC
eu confio, porque eu fiz e valeu, agora não sei
se foi a simpatia dele ou se foi a minha fé que d) Sem perspectiva (1º plano) +
eu tava com aquela vontade de sarar que valeu. Sem perspectiva / Retrospecção
Então eu fique... isso aí tem um segredo que... a MC + Retrospecção MC/Sem
gente sabe perspectiva

(Inquérito c - ALMS)

Observa-se que 35% dos excertos estudados apresentam tempos comuns nos

três segmentos, 15% entre a inserção e o segmento posterior e apenas 6,5% entre o

segmento anterior e a inserção. Tal resultado contrapõe-se às transições em que os

tempos verbais mostram-se diferentes, ou seja, 15% têm os tempos distintos nos três

segmentos - inserção e segmentos anteriores e posteriores, 40% em relação ao segmento

anterior e a inserção e 35% no que se refere à inserção e o segmento posterior. Esse

fenômeno mostra o seguinte resultado: no corpus analisado as transições heterogêneas

predominam sobre as homogêneas.

Nos excertos em que há segmentos do mundo narrado, ainda é possível

constatar transições homogêneas relativas ao relevo, como se observou na teoria. São


124

consideradas homogêneas as que apontam as seguintes transições: a) primeiro plano -

primeiro plano; b) segundo plano (pano de fundo) - segundo plano (pano de fundo) e

heterogêneas: a) primeiro plano - segundo plano (pano de fundo); b) segundo plano

(pano de fundo) - primeiro plano como se nota a seguir:

a. Transições homogêneas

Excerto 20a (BAND/SP)


Inf. Ai eu nu: :: eu nu sei poque eu se eu contá pa
senhora pode perguntá pra essa gente eu nu saio
daqui pra nada... eu nu saio daqui quando vô na Sem perspectiva (2º plano) +
cidade vô correndo cedo e já vorto atrais eu nu: Sem perspectiva (2º plano) +
:: nu mexo... nu saio pu parte ninhum Sem perspectiva
Doc. 1 ( ) (2º plano)
Inf. Ah coitado ( ) lavrador só usava um
prantinha [nói era muito pobrizinho nu tinha
nada... é... tinha nada só usava uma
prantinha]
Doc. 1 ( )
Inf. não nói nu morava aqui...

Inquérito 02 - BAND/SP)

26a28 (BAND/SP)
Célia: Deus o livre. Eu (fiquei) com dó da minha Sem perspectiva (1º plano) +

28
O exemplo faz parte de inquéritos para construção do Atlas Lingüístico de MS, mas não compôs o
“corpus” analisado.
125

irmã ... [já faleceu minha irmã, coitadinha], eu Sem perspectiva (1º plano) +
cheguei e pedi, aí ele falou assim, nós era Sem perspectiva (1º plano)
pequena ... nove ano acho que era ...

b) Transições heterogêneas

Excerto 26a (ALMS)


(?): Ah! é?
Homem: assim... teve um cara uma vez que... eu Sem perspectiva (2º plano) +
vim de carro, era onze hora da manhã, tinha uma Sem perspectiva (2º plano)+
mulher dando com a mão... _______ correr e ele Sem perspectiva (1º plano)
__ [que ele sabia que era assombrado,] aí a
hora que ele passou na Croa ela pareceu do lado
dele sentado assim e a boca dela cheia de ouro, aí
foi sumindo, sumindo, o último que sumiu foi o
ouro da boca...
(Inquérito x - ALMS)

Excerto 36a (SOCIOL/SP)

Inf. ... me desse um meio de um filho aí num Sem perspectiva (1º plano) +
126

(queria sabê) como evitá só que depois eu num Sem perspectiva (2º plano)/Sem
cumpri ((ri)) e sabe por que? porque depois de perspectiva (1ºplano) + Sem
deiz filho o médico “ói...[porque era muito perspectiva
duente como eu já te falei] quando chegô na
fase do premero... segundo... ó do segundo o
médico começô “você num pode tê filho vai te
que operá”

(Entrevista nº 03 - SOCIOL/SP)

Analisando os corpora, observou-se que embora predominem, no conjunto,

as transições heterogêneas, devido ao valor discursivo de comentário das inserções,

muitas vezes, inseridas no interior de uma narração, há, de um modo geral, uma

coerência interna entre o discurso anterior e posterior à inserção, revelada pela

manutenção dos tempos verbais utilizados nesses segmentos, o que ocasiona coesão

desses tempos verbais.

Excerto 33a (SOCIOL/SP)

Doc. trabalhá... mas foi muito difícil no a) MN+ MC + MN


começo? b) Pret. Perfeito + Presente +
Inf. não foi pra mim não foi difícil por causo Pret. Perfeito
que quando no dia que eu cheguei...[parece
c) Tempo zero MN + Tempo zero
mentira mais é verdade] no dia que eu
MC + Tempo zero MN
cheguei eu arrumei serviço então qué dizê eu
cheguei hoje com a... d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva MC + Sem
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP) perspectiva (1º plano)

e) Função de comentário
127

Para finalizar essa pesquisa, far-se-á, a seguir, as considerações finais,

quando se procurará mostrar as conclusões do estudo sobre as inserções e o uso dos

tempos verbais no português falado.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer do estudo, a pesquisadora constatou que as inserções

apresentam inúmeras funções e, tendo escolhido a classificação apresentada por Koch

(2003a, 2003b), concluiu-se que os tipos de inserções de maior freqüência são as

explicativas, seguidas pelas de comentário, retóricas e de esclarecimento. Desse grupo,

as de comentário e as de esclarecimento são funções não elencadas pela referida autora,

que menciona em suas obras a existência de comentários metaformulativos e jocosos.

Nesse corpus ocorreram apenas comentários com abordagens gerais.

Faz-se importante mencionar que, ao classificar as inserções, foi comum

existirem dúvidas em relação às funções explicativas e de esclarecimento, mas percebe-

se que as de esclarecimento adicionam alguma informação, enquanto as explicativas

justificam o já dito. Foi possível, também, relacionar o uso do tempo presente com essas

funções de inserções que desempenham o papel de explicar, comentar, esclarecer e

questionar.

Ainda foi possível perceber que a presença de inserções com as funções

mais citadas, principalmente as de comentário, na última parte dos corpora – entrevistas

do Projeto Filologia Bandeirante e do Português Popular do Brasil – justifica-se por um

percentual significativo dos entrevistados ser de pessoas com menor grau de

escolaridade e, na maioria, idosas.


128

Pensa-se que os referidos sujeitos sentem necessidade de comentar por se

sentirem inseguros diante do documentador que tem maior escolaridade - geralmente

universitários - e precisarem se fazer entender ou, ainda, porque vivem mais isolados,

mesmo tendo família, e sentirem necessidade de comentar, explicar e até mesmo

esclarecer para que o diálogo prossiga. Essas observações são hipóteses que poderão ser

investigadas em outros trabalhos e com grupos de informantes previamente

determinados quanto à faixa etária e à escolaridade.

Para responder também ao objetivo de número 4 (quatro), exposto na

introdução e na seção 4 desse trabalho, estudou-se o uso dos tempos verbais em

excertos compostos por inserções e os segmentos anteriores ou posteriores. Pôde-se

caracterizar as seguintes situações: 1) mesmo tempo verbal no segmento anterior à

inserção; 2) tempo verbal diferente no segmento anterior à inserção; 3) mesmo tempo

verbal na inserção e no segmento posterior à inserção; 4) tempo verbal diferente na

inserção e no segmento posterior à inserção; 5) mesmo tempo verbal na inserção e no

segmento anterior e posterior a ela; 6) tempo verbal diferente na inserção e no

segmento anterior e posterior a ela; 7) mesmo tempo verbal no segmento anterior e no

segmento posterior à inserção.

Tais evidências indicam que as inserções têm características discursivas

próprias e, nos corpora analisados, a maioria delas pertence ao mundo comentado. Em

decorrência disso, o tempo mais empregado é o presente que simboliza, segundo

Weinrich (1974), o tempo zero, sem perspectiva, indicativo de compromisso por parte

do locutor, e, por isso, quando o segmento que as precede pertence ao mundo narrado,

há uma ruptura no que diz respeito à narração, ruptura esta manifestada pelo uso de um

diferente tempo verbal, mas que não ocasiona a ausência de coerência; pelo contrário, as
129

inserções fazem parte de um grupo de estratégias de construção do texto falado que

contribui para a seqüência textual e o sentido do texto, como se observou nos excertos

analisados nesse estudo.

Há casos, porém, em que, na inserção, há manutenção do uso do mesmo

tempo verbal ou grupo temporal (MC + MC+ MC) / (MN + MN + MN) ou do mesmo

plano, quando se trata de mundo narrado, pois, no segundo caso, os tempos podem se

alternar entre pretérito perfeito e pretérito imperfeito – tempos zero, sem perspectiva,

mas, respectivamente, de primeiro plano e de segundo plano. Também aí a inserção não

representa o fracionamento da unidade discursiva.

A quantidade de tempos verbais iguais entre a inserção e o segmento

antecedente ou entre a inserção e o segmento posterior desperta a atenção.

Diferentemente do que pensou Weinrich (1974), quando afirmou ser o pretérito perfeito

o tempo mais usado nas narrativas, o tempo que se sobressai nos corpora observados

não é o pretérito perfeito e sim o pretérito imperfeito, tempo zero ou tempo base, sem

perspectiva e de segundo plano.

Se o texto falado foi considerado, em décadas anteriores, um texto inferior

ao texto escrito, por ser visto como sem um planejamento prévio e sem estruturação,

verificou-se que, apesar de os entrevistados serem pessoas de diferentes idades, sexo e

escolarização, fazem uso coerente dos tempos verbais, mesmo quando o tópico da

conversação é suspenso ou rompido temporariamente. Não obstante a aparente ruptura,

o que prevalece é a coerência, já que o texto exige explicações, esclarecimentos,

comentários, etc.
130

Os tempos verbais estão subordinados ao discurso. Eles não são empregados

aleatoriamente, ao gosto do falante, uma vez que são sempre razões discursivas que

levam a transições heterogêneas ou à mudança do tempo verbal na inserção em relação

ao tempo verbal que o precede ou o segue. Isto mostra que a língua falada não é

produzida ao acaso; tem uma coerência interna, suscetível de ser analisada. Parece que o

falante mostra-se mais preocupado em ser entendido do que aquele que escreve, pois o

escritor sabe que seu texto pode ser relido para melhor compreensão do leitor.

Relacionando os vários inquéritos analisados, observou-se diferença entre a

parte referente ao corpus do NURC de São Paulo, cujos tempos verbais pertencem, em

maior número, ao mundo comentado, tanto que a situação MC + MC + MC prevalece

em 71% dos casos. Nas entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul,

predomina o esquema MN + MN + MN com 42% e, em menor escala, aparece MC +

MC + MC (24,5%). Já na terceira parte do corpus – Projeto de Filologia Bandeirante e

Inquérito do Português Popular do Brasil, há o predomínio da estrutura MN + MC +

MN.

A superioridade de tempos verbais pertencentes ao mundo comentado nos

inquéritos do Projeto NURC de São Paulo parece se explicar pela diferença de

escolaridade entre esses informantes e os demais, assim como a diferença de temas

tratados, haja vista que os inquéritos do NURC/SP são de temas mais expositivos do

que narrativos. Além disso, esses inquéritos desenvolvem em grande parte assuntos

culturais em função dos corpora serem constituídos parcialmente de elocuções formais,

enquanto os outros apresentam entrevistas de caráter mais informal.


131

Pôde-se perceber, de um modo geral, que as mudanças de tempos verbais,

denominadas transições heterogêneas têm freqüência maior que as homogêneas nesse

corpus estudado, contrapondo-se ao dito por Weinrich (1974) de que o contrário é mais

comum. Observou, a pesquisadora, entretanto, que, nos inquéritos pertencentes ao

Projeto NURC/ São Paulo, provavelmente devido à natureza do texto e ao tipo de

informantes, as transições homogêneas – repetição do mesmo tempo verbal – ocorrem

duas vezes mais que as heterogêneas, tanto no que diz respeito à mudança de

perspectiva ou do grupo temporal, ou, ainda, de ambos. Esse fato não acontece com a

mesma freqüência nas partes referentes ao corpus do Atlas de MS e ao corpus do

Projeto Filologia Bandeirante e Português Popular do Brasil.

Ainda nas situações em que o grupo temporal modifica-se em algum dos

segmentos ou em mais de um deles, não há como justificar que ao “suspender” ou

“romper” o tópico para introdução de uma inserção, haja a quebra da seqüência dos

tempos verbais. Ao pesquisar o fenômeno, percebe-se que ao aprender a língua, o

indivíduo sistematiza o seu uso e, independentemente de escolaridade e idade, consegue

fazer uso adequado da linguagem para uma comunicação eficiente.

As metáforas temporais, explicitadas também por Weinrich (1974) como o

uso de um tempo verbal de um mundo em outro mundo, são evidentes em alguns dos

excertos estudados. Importante destacar, porém, que praticamente todos os casos

verificados constituem parte das falas do Projeto NURC/SP. Tal fato permite refletir

sobre a possibilidade desse uso estar relacionado também às pessoas mais escolarizadas,

falantes da norma culta ou, ainda, porque esses usos, que se pode chamar de atenuação,

devam-se a uma preocupação por parte desses falantes, que não eram ou não queriam se
132

mostrar especialistas no assunto, possibilidades que poderiam ser confirmadas com

novas pesquisas.

Apesar de algumas contribuições que esse estudo apresenta, tem-se

consciência de que a análise sobre a natureza das inserções e a sua relação com o uso

dos tempos verbais no português falado não é um trabalho esgotado. Pelo contrário,

sabe-se que se trata de uma abordagem preliminar sobre o assunto e que muitas questões

suscitadas poderão ser objeto de pesquisas futuras com outro corpora.


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ANEXOS
Anexo 1. Excertos de entrevistas do Projeto NURC/São Paulo em
que há inserções

Excerto 1a

... então nós tínhamos por um lado naquela 1a


época muitas crianças com problemas... e b) MN + MC + MC
havia uma necessidade... de se pegar essas c) P. imperfeito + Presente +
presente
crianças... e adaptá-las à escola comum né?
d) Tempo zero MN + Tempo zero
[Porque... quanto mais uma criança possa MC + Tempo zero MC

(se) adaptar a uma escola comum... e) Sem perspectiva (2º plano) +


Sem perspectiva + Sem
melhor... não há necessidade de perspectiva

formação... especial::: para educador:: e f) Função explicativa


g) Mundo narrado; passa para o
nada disso né?]... e por outro lado uma mundo comentado na
necessidade de desenvolvimento da inserção; permanece no mundo
comentado
indústria... e a indústria o que precisa?

(Inquérito nº 377-Bobina nº 123)

Excerto 1b
1b
. . . e a indústria o que precisa? b) MC+ MC+ MC
c) Presente + Presente / Pret.
Maior produção... maior rendimento... né?... o
Perfeito+Presente
indivíduo certo para a tarefa certa...– [não sei d) Tempo zero MC + Tempo
zero MC / Tempo
se alguém aqui já ouviu falar no Taylor... retrospectivo MC+Tempo zero
né?] – então em ( ) em termos de traBAlho MC
e) Sem perspectiva + Sem
nós temos os testes de Taylor... né? que perspectiva + Sem perspectiva
ele::.... se propôs::... a... f) Função de alusão a um
conhecimento prévio para a
melhor compreensão do
assunto.
g) Mundo comentado; permanece
(Inquérito nº 377-Bobina nº123) no mundo comentado na
inserção, mas com uma
retrospectiva e, após, permanece
no mundo comentado

Excertos 2a/2b/2c:
... então os testes deles possuem assim... éh 2a
GRAUS de dificuldades... crescentes... éh... e) MC + MC + MC
f) Presente + Futuro do Pretérito
ehn:::.., bom... o [... que seria29 então... éh:: = Presente (Metáfora
uma nota bruta... num teste?] Seria aquela temporal) + presente
g) Tempo zero MC + Tempo zero
nota total... de erros... e acertos então cada MC + Tempo zero MC
indivíduo... realiza o seu teste e:: obtém uma h) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
nota... que é o total de erros... e acertos...
i) Função retórica
MAS... essa nota simplesmente... não diz
j) Mundo comentado; permanece
muita coisa... então... ...nós precisamos ter... no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
éh um Nível de significância...[é significativo 2b
esse número de acerto (esse número) de a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + presente
erros? ...] é significativo em termos
c) Tempo zero MC + Tempo zero
estatísticos... em termos quantitativos... né? MC + Tempo zero MC
[então::... o que nós fazemos?] Nós d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
comparamos::... esses resultados... com
e) Função retórica
padrões determinados
29
O tempo seria equivale, no texto, ao tempo presente: valor metafórico.
padrões... determinados... f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.

2c
b) MC + MC + MC
c) Presente + Presente + Presente
d) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
e) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
f) Função retórica
(Inquérito nº377 - Bobina nº123) g) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.

Excertos 3a/3b:
Aqui nós só vamos30... fazer uma leitura em 3a
a) MC + MC + MC
nível pré-iconográfico nós vamos reconhecer b) Futuro Presente + Futuro do
Presente + Futuro do Presente
as formas...[então que tipo de formas nós c) Tempo prospectivo MC +
Tempo prospectivo MC +
vamos reconhecer?]... nós vamos Tempo prospectivo MC
d) Prospecção + Prospecção +
Prospecção
reconhecer bisontes... ((vozes))... [bisonte é
e) Função retórica
o bisâvo do touro... tem o touro o búfalo:: f) Mundo comentado prospectivo;
permanece no mundo
comentado prospectivo na
e o bisonte MAIS lá em cima ainda...] nós inserção e continua no mundo
comentado prospectivo.
vamos reconhecer ahn:: cavalos...nós vamos
3b
reconhecer veados... - sem qualquer (nível) a) MC + MC + MC
b) Futuro do Presente + Presente
conotativo aí - e algumas vezes MUIto + Futuro do Presente
c) Tempo prospectivo MC +
poucas... alguma figura humana... Tempo zero MC + Tempo
prospectivo MC
d) Prospecção + Sem Perspectiva

30
As locuções verbais vamos fazer, vamos reconhecer equivalem, no texto, ao futuro do presente.
+ Prospecção
e) Função explicativa/justificativa
f) Mundo comentado prospectivo;
na inserção passa para o
tempo base, sem perspectiva
(Inquérito nº 405 - Bobina nº 141) do MC e retorna ao mundo
comentado prospectivo.

Excerto 4a:
...então todo artista deve sabe::r... ah:: o 4a
a) MC + MC + MC
conteúdo da peça o que vai acontê/ e conhecer
b) Fut. Presente + Presente /
bem a peça... e... com seu talento... [não estou Pretérito Perfeito + Presente
c) Tempo Prospectivo MC +
quere::ndo com:: isso dizer que sou um Tempo zero MC / Tempo
grande artista porque quando eu fui artista retrospectivo MC + Tempo
zero MC
longe disso... fui o pior possível...] mas d) Prospecção + Sem perspectiva
/ Retrospecção + Sem
acho que o camarada deve:: perspectiva
eh:: valorizar... o espetáculo que está do qual e) Função de atenuação/ressalva.
f) Mundo comentado em
ele está participando... então acho que o ponto prospecção; permanece no
mundo comentado na inserção
CHAve::o:: fundamental na numa em tempo zero e, a seguir, em
apresentação de teatro é o artista retrospectiva; após, permanece
no mundo comentado
(Inquérito nº 161 - Bobina nº56)

Excerto 5a:

LI então a minha de onze anos... ela 5a


supervisiona o trabalho dos cinco... então a) MC + MC + MC
ela b) Presente + Presente + Presente
vê se as gavetas estão em orde/...em c) Tempo zero MC + Tempo zero
ordem se o:: material escolar já foi MC + Tempo zero MC
re/arrumado para o dia seguinte... se d) Sem perspectiva + Sem
nenhum::: [ perspectiva + Sem perspectiva
L2 É e) Função explicativa
L1 fez::: arte demais no banheiro... [porque f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
às vezes estão tomando banho e ficam inserção e permanece no
mundo comentado.
jogando água pela janela] quer dizer
essa... é supervisora nata é assim...
ah... toma conta... precocemente não? das:::
atividades dos irmãos

Inquérito nº360 - Bobina nº 137)


Excertos 6a/6b:
L2 ...tem que levantar tem que vestir os 6a
dois... a) MC + MC + MC
L1 São pequeninos né? b) Presente + Presente + Presente
L2 e tenho que me vestir... porque ambos c) Tempo zero MC + Tempo zero
são pequenos... então eles não aceitam MC + Tempo zero MC
muito a pajem né para eh : : :... [aliás d) Sem perspectiva + Sem
não é pajem pajem é pajem e perspectiva + Sem perspectiva
arrumadeira mas] e) Função de ressalva/atenuação.
L1 ( ) f) Mundo comentado; permanece
L2 [quer dizer não é só é só não vive no mundo comentado na
em função deles,] mas de manhã... a inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.
única
função dela é me ajudar com eles... mas
eles não aceitam o menino porque... quer 6b
fazer tudo sozinho... no que eu procuro a) MC + MC + MC
deixar... e a menina porque quer que seja b) Presente + Presente + Presente
a mamãe que faça né? então sou eu c) Tempo zero MC + Tempo zero
que. : : : tenho que ir fazer et cetera et MC + Tempo zero MC
cetera. d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(Inquérito nº360 - Bobina nº 137) e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e, continua, a seguir,
no mundo comentado.

Excerto 7a:

Doc.: e a iluminação era feita como? 7a


Inf.: então a:: a iluminação era feita com:: a) MN + MN + MN
lampião... lampião daqueles tipo Aladim...
b) Pret.Imperfeito+ Presente/Pret.
com camisinha... de::... [até não sei de que
que era feita a camisinha...] mas era Imperfeito + Pret. Imperfeito
assim c) Tempo zero MN + Tempo zero
Doc.: e o tipo de terreno onde situava a MC / Tempo zero MN + Tempo
fazenda era um terreno plano ou um zero MN
terreno mais acidentado? d) Sem perspectiva (2º plano) +
Inf: o terreno era... aqui em Campinas... Sem perspectiva / Sem
tem uma parte acidentada... perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)

(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) e) Função explicativa


f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção muda para o mundo
comentado e depois volta ao
mundo narrado (2º plano)e,
continua, a seguir no mundo
narrado
Excertos 8a/8b:
Inf.: e a parte acidentada é uma parte 8a
vamos dizer de morraria... e justamente a) MC + MC + MN
servia pro gado... enquanto que a parte
b) Presente + Presente + Pret.
plana servia pra:: pra culturas em geral Imperfeito
Doc.: e o que se cultivava na fazenda?
Inf.: bom...ahn:: até hoje se cultiva apenas c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
[eu estou afastado do::... do habitat...
((riu))] mas:: cultivava milho... cana-de- d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
açúcar...e:: culturas que:: quer dizer não (2º plano)
eram constantes culturas anuais... que se
renovavam... pro exemplo algodão... e::... e) Função de esclarecimento
depois plantava-se também às vezes f) Mundo comentado; permanece
eucaliptos... aí aí mais tempo já não é no mundo comentado na
inserção e passa para o mundo
cultura anual né?... ma ta/mas também
narrado (2º plano) no final
corta e renova transforma em pasto...

(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)

Excerto 9a:

Inf.: e... costuma-se bom no caso... como 9a


nas culturas como o milho não precisa a) MC + MC + MC
disso... porque:: eu acho que a planta
b) Presente + Presente + Presente
milho... já é muito forte... então ela de uma
certa maneira ela abafa até...ah:: capim et c) Tempo zero MC + Tempo zero
cetera... e:: de qualquer forma o capim MC + Tempo zero MC
não atrapalha muito... agora... em outras d) Sem perspectiva + Sem
culturas como a do café... [que eu acho perspectiva + Sem perspectiva
que é uma planta mais delicada...] então e) Função explicativa
precisa carpir o café... e::.. então éh:: essa f) Mundo comentado; na inserção
carpa do café como se falava... e se faz permanece no mundo
de... pelo menos umas duas vezes por ano comentado e finaliza igual.
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)

Excertos 10a
Inf.: hoje parece que está:: também:: 10a
in::convenien/ achá/ chegaram à a) MN + MN + MC
conclusão que é inconveniente... o café
b) Pret. Imperfeito + Pret.
coberto Imperfeito + Fut. do Pretérito
Doc.: e como é que se colhe... o café por
exemplo o senhor se lembra? c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo prospectivo MN
Inf.: bom... o:: era colhido tudo
manualmente... [mas nessa época então:: d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
de:: colheita... até as mulheres passavam Retrospecção
a:: ajudar...] porque a colheita teria que
ser feita dentro de uma certa época... e) Função de esclarecimento
então é preciso mais gente pra colher... f) Mundo narrado (2º plano); na
e::... é... inserção permanece no mundo
narrado (2º plano), depois em
tempo retrospectivo e, finaliza,
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
em mundo comentado e em
tempo retrospectivo.

Excerto 10b
Inf.: bom... o:: era colhido tudo 10b
manualmente... mas nessa época então:: a) MN + MN + MC
de:: colheita... até as mulheres passavam
b) Pret. Imperfeito + Fut. do Pret.
a:: ajudar... [porque a colheita teria que + Presente
ser feita dentro de uma certa época...
então é preciso mais gente pra colher...] c) Tempo zero MN + Tempo
prospectivo MN + Tempo zero
e::... é... costumava-se colocar embaixo do MC
pé de café uma espécie de:: lona... uma
d) Sem perspectiva (2º plano) +
esteira... e a::... e depois vai-se pa/... Prospecção + Sem perspectiva
passando a mão no galho... e caindo os
grãos... depois colhe-se tudo. e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano); na
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) inserção passa para
prospecção em MN e, no final,
muda para o mundo comentado.

Excertos 11a/11b:
Inf.: vai pro pano... vai pro pano e depois 11a
vai pra um saco e naturalmente ainda o grão e) MC + MC + MC
está muito misturado com::... pedrinhas
terra... e depois precisa:: então limpar f) Presente + Presente + Presente
aquilo g) Tempo zero MC + Tempo zero
Doc.: e como é que se limpa? MC + Tempo zero MC
Inf.: aí limpa a::... [bom inclusive o grão do h) Sem perspectiva + Sem
café também precisa ser secado...] então perspectiva + Sem perspectiva
precisa colocar no terreiro... e:: deixar i) Função explicativa
secar no sol... hoje tem secador também:: ( )
mecânico... mas o:: o normal e até hoje:: j) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
que se faz bastante é::... é jogar o café no
comentado e finaliza no mundo
terreiro... e deixar alguns dias lá... no sol comentado
Doc.: como é o terreiro?
Inf.: o terreiro é uma:: uma porção vamos
dizer de... de tera... ah... calçada... com::...
lajota... bom ou às vezes é cimentada mas
em geral é com lajota... e fica ali:: é:: um:: (
). ... [como poderia chamar?] - um chão...
ou às vezes até:: chão:: batido mas... 11b
normalmente tem lajota no terreiro a) MC + MC + MC
Doc.: e o... grão é é::
b) Presente + Fut. Pretérito =
Presente (metáfora temporal)
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07)
+ Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
comentado e finaliza no mundo
comentado

Excerto 12a:

Doc.: não 12a


a) MC + MC + MC
Inf.: mas eu acho que o teatro hoje em dia b) Presente + Presente + Pret. Perf.
está indo pra um caminho eh tão TANto composto
c) Tempo zero MC + Tempo zero
palavrão tanta... ((risos)).. [ é um negócio MC + Tempo retrospectivo MC
d) Sem perspectiva + Sem
né? fala a verdade ] ((risos)) eu tenho perspectiva + Retrospecção
assistido umas Peças eu assisti u::uma com e) Função de comentário
f) Mundo comentado; na inserção,
a:: aquela artista magrinha de televisão permanece no mundo
aquela moreninha que é bailarina também... comentado e, finaliza, também,
no mundo comentado em
eh retrospecção
(Inquérito nº 234 – Bobina nº 088)
Excerto 13a:

Inf.: as roupas... as roupas Maravilhosas 13a


os cenários... depois vários artistas de a) MC + MC + MC

televisão estavam trabalhando nessa b) Pret. Perfeito + Presente +


Presente
peça...
c) Tempo retrospectivo MC +
Doc.: uhn uhn Tempo zero MC + Tempo zero
MC
Inf.: foi a última que eu assisti... [ agora
d) Retrospectivo MC + Sem
eu tenho u/ a as minhas amigas vão vão perspectiva + Sem perspectiva
sempre a teatro quase... quase sempre e) Função de comentário
elas vão quase todo domingo] eu :: sou f) Mundo comentado; na
inserção, permanece no
um pouco preguiçosa não vou prefiro ficar
mundo comentado e finaliza
assi/ a a aqui assistindo televisão ou no mundo comentado.
dormindo ou lendo o jornal... mas elas:: e
comentam comigo a I. diz que tem
assistido várias peças mas eu não tenho eu
Parei um pouco de ir agora... sei lá ando
muito cansada não tenho ido mais a teatro

(Inquérito nº 234 – Bobina nº 88)

Excerto 14a:

Doc.: e a casca dele... ahn:: sei lá 14a


casquinha que fica ainda... ahn se vendia e) MC + MN + MC
assim ou:: já se entregava de uma... numa
f) Presente + Pret. Imperfeito +
outra condição Presente
Inf.: não me lembro bem viu? como era
viu?... [porque ne/ nessa época... g) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
quando... vamos dizer eu era criança não
tinha muito interesse em:: negócio né?] h) Sem perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
Doc.: uhn uhn perspectiva MC
Inf.: então não me lembro bem como era
vendido o arroz... i) Função explicativa
j) Mundo comentado; na inserção
passa para o mundo narrado (2º
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) plano) e, retorna ao mundo
comentado para finalizar.

Excerto 15a:

Inf.: ... Barretos nem se costumava tirar 15a


leite das das vacas... que haviam dado a) MN + MC + MN
cria... então:: o próprio leite que ela...
b) Pret. Imperfeito + Presente +
vamos dizer produzia... era consumido Pret. Imperfeito
pelo bezerro... e... pro ninguém mais...
[inclu/ inclusive então é pouco leite...] c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
depois... os próprios bezerros nem sempre
ficavam no estábulo... a:: às vezes... ficava d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
assim uma duas semanas depois já ia pro perspectiva (2º plano)
pasto com a mãe.... e::... que seria
pasto com a mãe.... e::... que seria e) Função explicativa
separado quando estivesse um pouco f) Mundo narrado (2º plano); na
maior. inserção, passa para o mundo
comentado e termina no mundo
(Inquérito nº 18 – Bobina nº 07) narrado (2º plano)

Excertos 16a/16b: 16a

L1 ...quer saber de gravata não quer a) MC + MC + MC


nada aqui em São Paulo se você não pôr b) Presente + Presente + Presente
uma gravata você não é bem recebido... c) Tempo zero MC + Tempo zero
não o clima acho que é:: (tem uma) MC + Tempo zero MC
[
d) Sem perspectiva + Sem
L2 entende? ... ( ) essencial para o:: perspectiva + Sem perspectiva
para o desenvolvimento de:: de certos
e) Função argumentativa.
afazeres [inclusive eu acho você vê esse
problema de gravata... é até anti- f) Mundo comentado; permanece
higiênico] você vê às vezes não no mundo comentado na
inserção e continua no mundo
enfrentamos calores de trinta graus você comentado
que sai de casa de manhã... não podendo
voltar... hora do almoço... então você fica
o tempo todo até vir a noite para uma 16b
escola qualquer curso ou qualquer coisa...
c) MC + MC + MC
com aquela mesma roupa aquela gravata
suANDO entende?... eu imagino um d) Presente + Presente + Presente
indivíduo que trabalha na rua... e) Tempo zero MC + Tempo zero
andando... se locomovendo que::... soa
MC + Tempo zero MC
muito mais do que a gente que fica dentro
de um escritório às vezes tendo ar f) Sem perspectiva + Sem
condicionado às vezes não... a dificuldade perspectiva + Sem perspectiva
que deve ser entende?... então tem éh::... g) Função de comentário.
[o paulistano é mais fechado mesmo] eu
acho que:: uma das influências seria a h) Mundo comentado; na
inserção, permanece no
natureza e o nosso próprio clima entende? mundo comentado e continua
no mundo comentado
(Inquérito nº 62 – Bobina nº 20)

Excerto 17a:
L2 que existiria entre os estudantes... 17a
L1 isso vai evidentemente acarretar uma a) MC + MC + MC
uma uma uma visão não só daquilo que ele
b) Presente + Presente + Presente
ele passa...como de de outras de outras
profissões existentes...e:: acho que ter c) Tempo zero MC + Tempo zero
oportunidade assim de conversar com com MC + Tempo zero MC
médicos engenheiros advogados [você veja d) Sem perspectiva + Sem
por exemplo o caso dos advogados como perspectiva + Sem perspectiva
que está o mercado de trabalho deles]... e) Função de exemplificação.
é:: a bendita da lei da da oferta e procura f) Mundo comentado; na
né? Que regula evidentemente... todas as inserção, permanece no
profissões em termos de mercado de mundo comentado e continua
trabalho... então realmente no momento no mundo comentado
está existindo assim uma demanda muito
grande...
(Inquérito nº 62-Bobina nº 20)

Excerto 18a:
Mário de Andrade...e eu acredito que é 18a
mais importante para nós pararmos um a) MC + MC + MC
pouco na meditação do sistema de Arte
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
que ele estabeleceu...do que em pequenas Perfeito
manifestações esporRÁ::dicas... que não
terão...tanta importância posterior... de c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo zero MC + Tempo
modo que eu vou tentar na primeira parte retrospectivo MC
da minha palestra me referir...a algumas
d) Retrospecção+Sem perspectiva
manifestações... e depois me fixar...na:: na + Retrospecção
no pensamento estético de Mário...mesmo
aqui eu fiz uma pê/ uma::uma::[ah o meu e) Função de ressalva/atenuação.
enfoque é muito pessoal] porque éh:: f) Mundo comentado em tempo
tendo que escolher alguns pensadores eu retrospectivo; na inserção,
preferi escolher aqueles que estão ligados permanece no mundo
comentado e continua no
à Faculdade de Filosofia... mundo comentado em tempo
retrospectivo
(Inquérito nº 156 – Bobina nº 54)

Excertos 19a/19b:
Mário de Andrade querendo defender as 19a
idéias... que eram idéias um pouco de Lê a) MN + MC + MN
Corbusier e muito de (Gropius)...
b) Pret. Imperfeito +
difundidas no Brasil... por Presente/Pret. Imperfeito +
(Warchavchik)... [o que nos interessa Pret. Imperfeito
hoje... é ... a estética que fazia... de uma
c) Tempo zero MN + Tempo zero
maneira talvez mais aprofundada nos MC + Tempo zero MN
cursos da Faculdade de Filosofia...] nessa
d) Sem perspectiva (2º plano) +
ocasião os cursos eram dados pro
Sem perspectiva/Sem
professores estrangeiros... por professores perspectiva (2º plano) + Sem
franceses ((pigarreou))... e... a atuação perspectiva (2º plano)
desses professores foi para muitos de nós... e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
passa para o mundo comentado
na inserção e retorna ao mundo
narrado (2º plano) e finaliza no
mudo narrado (2º plano).

... e sobretudo à grande exposição de 19b


pintura francesa... que em mil novecentos b) MC + MN + MC
e quarenta... fecha o decênio de maneira
c) Presente + Pret. Imperfeito +
espectacular... pra muitos de nós... foi o Pret. Perfeito
primeiro contato com a arte francesa... é
importante essa essa essa co/ essa:: d) Tempo zero MC + Tempo zero
MN (2º plano) + Tempo
chegada dos quatro franceses... [porque retrospectivo MC
nós que éramos alunos da Faculdade
e) Sem perspectiva + Sem
nessa ocasião... íamos à à à à con/ à à:: perspectiva (2º plano) +
exposição de quadros muitas vezes com o Retrospecção
professor (Moguet) para que ele nos
f) Função explicativa
explicasse os quadros...] para muitos de
nós foi o primeiro contato em g) Mundo comentado; passa para
profundidade com a pintura... e... o mundo narrado (2º plano)
na inserção e permanece no
mundo comentado em tempo
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54) retrospectivo

Excerto 20a:

...Lévi-Strauss... chegou ao Brasil com 20a


vinte e sete anos... era professor de a) MN + MC + MC
Etnografia... mas... ele era filho de
b) Pret. Imperfeito + Presente +
pintor... filho de pintor:: e... amando a Presente
pintura... como em geral... todo pro/ todo
francês de de de formação... intelectual... e c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
amando a música --- [como nós vemos
pelos livros que ele continua escrvendo e d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva + Sem
que muitos deles têm uma... uma:: (tem) perspectiva
títulos ou em subtítulos tirados da:: da::
da nomenclatura musical... como e) Função explicativa
acontece com Cru e Cozido- - ] ... f) Mundo narrado (2º plano);
((tosse)) a preocupação de Lévi-Strauss passa para o mundo
pela pintura é uma pro/ preocupação... comentado na inserção e
permanece, depois, no mundo
que percorre a sua vida... ela se manifesta comentado
sobretudo num livrinho precioso... que é...
Entrevistas...

(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)


Excerto 21a:

O Cubismo e a Vida Cotidiana... que foi 21a


publicado na Revista do Arquivo... em a) MN + MC + MC
novembro ou dezembro de mil novecentos
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
e trinta e cinco... e um artigo sobre pintura Presente
moderna que surgiu no segundo número
da Revista Contemporânea... – [que este c) Tempo zero MN (1º plano) +
Tempo retrospectivo MC +
eu não consegui localizar... --] o artigo da Tempo zero MC
da Revista do Arquivo... é todo e/
d) Sem perspectiva (1º plano) +
((pigarreou)) todo ele marcado.. éh que é Retrospecção + Sem
sobre a... pintura contemporânea... se fixa perspectiva
no cubismo foi um movimento paradoxal...
e) Função explicativa
na medida em que... deu nascimento e...
que na éh que tendo nascido e se f) Mundo narrado (1º plano);
desenvolvido sob o signo de do diVÓRcio passa para o mundo
comentado em retrospecção
entre a arte e o público... (1º plano) na inserção e
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54) permanece no mundo
comentado.

Excerto 22a:
um nome ligado a uma série de setores do 22a
pensamento... Jean (Moguet) é... – [a não a) MC + MC + MC
ser para nós que tivemos a a sorte a
b) Presente + Pret. Perfeito +
eNORme realmente ventura de ser seus Presente
alunos--] ele é um desconhecido... no
entanto... foi o professor talvez mais c) Tempo zero MC + Tempo
retrospectivo MC + Tempo
brilhante que jamais passou... pelos cursos zero MC
de Filosofia nessa faculdade... – ele não
d) Sem perspectiva +
fez carreira universitária Retrospecção MC + Sem
perspectiva
(Inquérito nº 156 -Bobina nº54)
e) Função de ressalva/atenuação.
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção em tempo
retrospectivo e finaliza no
mundo comentado

Excerto 23a:
... Todos os estatutos todas as coisas estão 23a
mudando do governo... todas as faixas a) MC + MC + MC
maiores... de ordena::do e tudo de b) Presente+ Pret. Perfeito/Presente
promoção é tudo na base de nível = Futuro do Presente (metáfora
universitário... [por exemplo::... um:: uma temporal) + Presente
coisa que eu ouvi falar... há p]oucos c) Tempo zero MC + Tempo
dias... é que só vão prestar concursos retrospectivo MC/Tempo
públicos pra professora professoras que prospectivo MC + Tempo zero
MC
tiverem Pedagogia...] quer dizer que
(quem) tem curso NORMAL que já é uma... d) Sem perspectiva +
uma escolaridade alta... (ele) já não pode Retrospecção/Prospeção + Sem
perspectiva
mais prestar concurso público pra ser
professora... e) Função de exemplificação.
f) Mundo comentado; permanece
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.

Excertos 24a, 24b:


Inf. ...profissões?... por exemplo.. lixeiro... 24a
(ou) atualmente... varredor de rua... b) MC + MC + MC
servente de escola que é o com:: que eu
c) Presente + Presente + Presente
tenho maior contato... (isso eles as/) a
escolaridade deles é Mínima... mal ele d) Tempo zero MC + Tempo zero
(não) [inclusive (no)... até nos livros de MC + Tempo zero MC
pontos eles NÃO conseguem assinar o e) Sem perspectiva + Sem
no/ o próprio nome...] não se comunicam perspectiva + Sem perspectiva
de forma nenhuma... as empregadas f) Função explicativa
domésticas também... então é só::... essas g) Mundo comentado; permanece
profissões assim mais::... [por exemplo no mundo comentado na
balconista... ou pessoas (o) que (eles) inserção e finaliza no mundo
servem em restauran::te entende?...] são comentado.
essas profissões... mais::... sem
escolaridade que leva a isso né? que não
eXIge da pessoa... porque é uma coisa
mais mecânica... 24b
a) MC + MC + MC
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de exemplificação
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.

Excerto 25a:
Inf. são::... o:: os operários... de fi/ de 25a
fábricas... operários que a gente chama de a) MC + MC + MC
operários especializados... então eles b) Presente + Presente/Pret.
fazem... cursos... mas os cursos Deles Perfeito + Presente
[inclusive eu tenho um pouco de c) Tempo zero MC + Tempo zero
experiência nisso (porque) eu estagiEI...] MC/Tempo retrospectivo MC +
são cursos... ahn::... totalmente... ah::... Tempo zero MC
ato de mecânicos não não entra a parte d) Sem perspectiva / Sem
teórica que eles tenham que aprender eles perspectiva/retrospecção +Sem
aprendem só o me-canismo da coisa... perspectiva
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado

Excerto 26a
....da... da advocacia que eles... é uma 26a
parte que cuida de::... que é um:: tipo de a) MC + MC + MC
advogado que cuida de assuntos navais...
b) Presente + Presente + Presente
que é meio
raro aqui no Brasil [inclusive parece que c) Tempo zero MC + Tempo zero
só existem dois ou três especializados...] MC + Tempo zero MC
acho que (sou) mais ou menos assim mais d) Sem perspectiva + Sem
familiarizada com essas coisa que eu disse perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excerto 27a
... pra:: a especialização... acho que uma 27a
que está agora sendo muito procurada e a) MN/MC + MC+ MC
que não era ... e não se fazia há pouco há
b) Pret. Imperfeito/Presente + Pret.
tempos atrás é a plástica... [porque a Imperfeito + Presente
plástica era um tabu...] e ao passo que
aGOra:: é um negócio assim... bastante c) Tempo zero MN/Tempo zero MC
+ Tempo zero MC + Tempo zero
normal né?... MC
d) Sem perspectiva (2º plano)/ Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano) + Sem perspectiva
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90)
e) Função explicativa
f) Mundo narrado/mundo
comentado; na inserção passa
para o mundo comentado (2º
plano) e permanece no mundo
comentado.

Excertos 28a, 28b


Inf. numa escola?... vamos ser assim bem 28a
sinceras bem organizada... ((pigarreou)) a) MC + MC + MC
nós temos que ter... o diretor... orientador
b) Presente + Presente + Presente
educacional... a psicóloga [porque um
orientador educacional não é um c) Tempo zero MC + Tempo zero
psicólogo... ele nem pode fazer o papel de MC + Tempo zero MC
psicólogo...] tem que ter::... o corpo d) Sem perspectiva + Sem
docente... evidentemente... ((risos)) o perspectiva + Sem perspectiva
corpo discente... e::... o corpo e) Função explicativa
administrativo... que seriam as f) Mundo comentado; permanece
secretárias... [porque uma escola sem no mundo comentado na
secretária é uma lástima porque:: no fim inserção e finaliza no mundo
quem faz o serviço de secretária são as comentado.
professores...] ((pigarreou)) os:: os... 28b
vigias... que é aqueles que tomam conta
a) MC + MC + MC
das::... dos corredores... de sala de aula
que isso aí é MUIto importante numa b) Futuro do Pretérito = Presente
(metáfora temporal) + Presente +
escola...
Presente

(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) c) Tempo prospectivo MC + Tempo


zero MC + Tempo zero MC
d) Prospecção + Sem perspectiva +
Sem perspectiva
e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza, também, no
mundo comentado
Excerto 29a
Inf. os biologistas... (tem) os biologistas os 29a
den::/ bom dentistas... o que mais::? (tem) a) MC + MC + MC
... os fosno / fonodió/ audiólogos—[aliás
b) Presente + Presente + Presente
essa palavra eu tenho uma dificuldade
louca pra falar ((risos))... já é um termo c) Tempo zero MC + Tempo zero
pra:: pesquisa] – ((risos)) e::... bom mas MC + Tempo zero MC
tem tantos né? d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(Inquérito nº 251 – Bobina nº 90) e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.

Excertos 30a, 30b


.... pelo que se percebe pelo que se ouve 30a
falar... e:: Belo Horizonte então hoje:: se a) MC + MC + MC
espraiou e:: cresceu de tal maneira que
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
eles não tiveram condição mais de seguir Presente
aquela planificação original...[vocês já
tiveram oportunidade de estar em Belo c) Tempo retrospectivo MC +
Tempo retrospectivo MC +
Horizonte não?... já?] Tempo zero MC
Doc. já
d) Retrospecção + Retrospecção +
Inf. você deu um risinho aí que pelo
Sem perspectiva
(visto) pelo visto você gosta muito de Belo
Horizonte e) Função retórica
Doc. eu gosto f) Mundo comentado; permanece
Inf. é no mundo comentado na
Doc. (muito) bonita ((risos)) inserção e finaliza no mundo
comentado.
Inf. Belo Horizonte:: é uma cidade
atrativa uma cidade:: limpa uma cidade...
[inclusive naquele centro de Belo
Horizonte onde a gente costuma estar 30b
MAIS quando vai a Belo Horizonte dá a) MC + MC + MC
uma sensação assim de largueza muito
b) Presente + Presente + Presente
grande...] que São Paulo não apresenta
muito porque São Paulo cresceu c) Tempo zero MC + Tempo zero
desordenadamente mesmo no Rio de MC + Tempo zero MC
Janeiro que tem uma feição arquitetural d) Sem perspectiva + Sem
arquitetural completamente diferente São perspectiva + Sem perspectiva
Paulo... e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47) no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado
Excertos 30c, 30d
:: aproximam se afeiçoam muito... àquele 30c
aspecto do Rio de Janeiro... que são a) MC + MC + MC
aquelas aqueles prédios com:: com
b) Presente + Presente + Presente
platibandos com:: com espécie de:: de::
[(vamos dizer:: eu não sei bem o termo...] c) Tempo zero MC + Tempo zero
uma:::... uma cobertura assim sobre as MC + Tempo zero MC
calçadas que a gente vê muito em:: d) Sem perspectiva + Sem
principalmente naquela zona que é perspectiva + Sem perspectiva
conhecida como a zona da Mata... e que se e) Função explicativa
inicia... em::... [como é que chama aquela f) Mundo comentado; permanece
cidade...] ahn:: perto de Volta Redonda no mundo comentado na
quando se vai a Belo Horizonte passa-se inserção e finaliza no mundo
por Volta Redonda... comentado.

30d
a) MC + MC + MC
(Inquérito nº 137 – Bobina nº 47)
b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
f) Mundo comentado; permanece
no mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
comentado.
Excerto 31a
::os negócios... indo tudo pro buraco... 31a
falências (tudo mais) meu pai também teve a) MN + MN + MN
um prejuízo muito grande então nós fomos
b) Pret. Imperfeito + Pret.
obrigados a mudar duma casa grande que Imperfeito/Pret. Perfeito +
nós morávamos pruma casinha pequena... Pret. Perfeito
com:: [meu pai tinha naquela ocasião já
c) Tempo zero MN + Tempo zero
tinha automóvel tinha geladeira elétrica... MN + Tempo zero MN
e vendeu tudo...] e passamos a:: uma vida
d) Sem perspectiva (2º plano) +
mais ou menos apertada... basta dizer que Sem perspectiva (2º plano/1º
minha mãe Mesmo grávida de Nove meses plano) + Sem perspectiva (2º
era ela que... plano)
e) Função de comentário
(Inquérito nº 208 – Bobina nº 79)
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano/1ºplano) na inserção
e finaliza no mundo narrado (1º
plano).
Anexo 2. Excertos de entrevistas do Atlas Lingüístico de Mato
Grosso do Sul em que há inserções

Excerto 1a:
Célia: (...) vulto acompanhava, fazia medo pra 1a
eles... e as pessoa não tacava mesmo aí fora de a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito/Pret. Perfeito +
hora assim porque...
Pret. Imperfeito + Pret.
(?):tinha medo
Imperfeito
Célia: ... tinha medo, então... ficou por muitos c) Tempo zero MN + Tempo zero
ano, [aquele tempo era terra de chão, não MN + Tempo zero MN
tinha asfalto era muito buraco, os carro... d) Sem perspectiva (2º plano/1º
plano) + Sem perspectiva (2º
patinava no barro então as pessoa não
plano) + Sem perspectiva (2º
abusava...]
plano)
(?): tinham medo. e) Função explicativa
Célia: É, não abusava muito por causa f) Mundo narrado (2º plano/
disso porque tinham medo, agora não... faz 1ºplano); na inserção,
tempo eu não ouvi falar, depois que teve o
apresenta-se no 2º plano do
asfalto mas tinha essas coisa.
mundo narrado e, após a
31
(Inquérito a – ALMS ) inserção ainda permanece no 2º
plano.

Excerto 2a:
(?): e a senhora... e a senhora sabe de alguma 2a
que... alguma pessoa que viu mesmo, que a) MN + MN + MN
b) Pretérito Imperfeito + Pretérito
conta alguma aparição, um causo assim que Imperfeito + Pretérito
viu... fora daqui... Ah! Eu tava ali e apareceu Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo
tal coisa. A senhora já ouviu alguém contar pra zero MN + Tempo zero MN
a senhora que viu alguma coisa? d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
Célia: nós já moramo numa fazenda aí que... sem perspectiva (2º plano)
nessa fazenda... todo dia dez hora da manhã... e) Função explicativa

na janela da cozinha assim que... onde era... f) Mundo narrado (2º plano); na

31
Codificação provisória, uma vez que o Atlas Lingüístico de Mato Grosso do Sul encontra-se em
construção.
na janela da cozinha assim que... onde era... inserção permanece no mundo
narrado (2º plano) e continua,
(?): a senhora que morava. após a referida inserção, no
mundo narrado (2º plano).
Célia:é, eu que morava. [Era até inclusive na
casa do meu pai...] e aí depois... tinha uma
janela e não era pia, era bacia que a gente
usava pra lava louça e bem na janela assim,
com umas dez horas da manhã sem falta,
passava uma mulher de cabeça amarrada com
lenço branco, você saia ia olha e não tinha
ninguém. Mas era sagrado dez hora da manhã,
eu marcava.

(Inquérito a - ALMS)

Excerto 3a
(?): (...) conte pra nós por favor, nós 3a
estamos acabando... algum fato da sua infância a) MN + MN + MN
b) Pretérito Perfeito + Pretérito
assim que a senhora nunca esqueceu, até hoje... Imperfeito + Pretérito
uma arte, uma coisa boa...qualquer coisa Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
assim, um susto que a senhora levou, alguma MN + Tempo zero MN
coisa assim que a gente quer que a senhora d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
conte pra nós. Sem perspectiva (2º plano)
Célia: o susto eu também é... que quando eu... e) Função de ressalva/atenuação.

que eu não me criei com meus pai... vim parar f) Mundo narrado (1º plano); na
inserção, passa para o 2º
com a minha tia... [e ela também não tinha plano do mundo narrado e
permanece, no final, no 2º
muito, não era bem financeira...] aí ela nos plano.
fazia pastel pra a gente vender, e eu ia com a
minha irmã... salgada, e ela falava: vocês não
vai lá na parte que não pode. Pois é lá que nós
fomos... aí...
(Inquérito a - ALMS)
Excertos 4a/4b/4c:
(?): apanhou até... 4a
Célia: De novo eu! [Ah! Também minha avó a) MN + MN + MN
b) Pretérito Perfeito + Pretérito
chamava nóis de madrugada pra levanta e Imperfeito + Pretérito
soca milho pra faze canjica, pra soca arroz e Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
coloca feijão no fogo], e antes de tudo dia de MN + Tempo zero MN
varrer o quintal era grandão, eu tinha que sair d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
com a lamparina e as outras guria, as minha Sem perspectiva (2º plano)
irmã, minhas prima que minha avó criava... de e) Função explicativa

madrugada... f) Mundo narrado (1º plano); na


inserção, passa para 2º plano
(?): por que de madrugada? do mundo narrado e
permanece no 2º plano.
Célia: Não sei, e eu com a lamparina, e eu
com sono eu colocava na minha cabeça e 4b
a) MN + MN + MN
sentava. Aí minhas irmã falava! Ah! tá morta
b) Pret. Perfeito + Pretérito
de bosta de vaca... aí eu mudava de lugar um
Imperfeito + Pretérito
pouquinho...e eu com sono, eu era pequena... aí
Imperfeito
eu sentava mais pra lá de novo... com a
c) Tempo zero MN + Tempo zero
lamparina na cabeça de novo, e assim MN + Tempo zero MN
continuava. E uma vez não foi que era pra d) Sem perspectiva (1ºplano) +
varrer e a minha avó me chamou pra mim fazer Sem perspectiva (2º plano) +

fogo, colocar também feijão... [a cozinha era Sem perspectiva (2º plano)

longe da casa... porque o pessoal de antes e) Função explicativa

não fazia cozinha junto da casa. f) Mundo narrado (1º plano) passa
para o 2º plano na inserção e,
(?): Por que?
finaliza da mesma maneira.
Célia: porque era fogão a lenha pra não
fumacear a casa], aí...o pilão era alto, tinha
um...
(?): Por que?
Célia: porque era fogão a lenha pra não 4c
a) MN + MN+ MN
fumacear a casa, aí... o pilão era alto, tinha um
b) Pretérito Imperfeito + Pretérito
pezinho em volta e eu não alcançava, tinha que Perfeito + Pretérito Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
subi num barquinho pra soca, [e o que quê eu MN + Tempo zero MN
fiz], peguei a mão no pilão, coloquei no chão, d) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano) +
d i i b i h d i
deitei no banquinho, vou dormi um pouco...e Sem perspectiva (1º plano)
e) Função retórica.
caí
f) Mundo narrado (2º plano); na
inserção, passa para 1º plano
do mundo narrado e
(Inquérito a - ALMS) permanece, após a inserção, no
1º plano do mundo narrado.

Excertos 5a/5b/5c:
Célia: nós puxava água com Porunga do rio 5a
assim, [não é do rio, é da mina]... longe... e) MN + MC + MN

(?): e trazia aqui... f) P. Imperfeito + Presente +


Pret.. Imperfeito
Célia: e trazia, e nós colocava na... na boca do g) Tempo zero MN + Tempo zero
Porunga... as folha de samambaia pra não... vir MC + Tempo Zero MN
h) Sem perspectiva (2º Plano) +
golfando a água... então pra não pular... nó
Sem perspectiva MC + Sem
colocava essas folha de samambaia bem perspectiva (2º plano)

lavadinha pra poder a água para. E uma vez era i) Função explicativa
j) Mundo narrado (2º plano);
muito grande o Porunga e eu era pequeninha... o passa para o mundo
Purunga molhado e... corri, derrubei e quebrei... comentado na inserção e, após,
retorna ao mundo narrado (2º
(?): apanhou. plano).

Célia: ai, chegue em casa e já sabendo... meu


coração subindo pela boca, e aí tive que contar, 5b
a) MN + MN + MN
não podia mentir... [e o que quê minha avó fez,]
b) Pret. Perfeito / Pret. Imperfeito
pegou um pedaço daquele Porungo, ela + Pret. Perfeito + Pret. Perfeito
esquentou um arame e furou e pendurou no c) Tempo zero MN + Tempo
zero MN + Tempo zero MN
meu pescoço, mandou eu ir na vizinha buscar
água... e falou pra mim assim: se pergunta você d) Sem perspectiva (1º plano/2º
plano) + Sem perspectiva (1º
conta porque... é, minha avó fazia isso. Aí eu plano) + Sem perspectiva (1º
plano)
coloquei aquilo lá que... um ____;
e) Função retórica
(?) bom, pelo menos você tinha uma corrente
f) Mundo narrado (1º plano/2º
Célia: ai, passava numa porteira quando nós plano); na inserção,
permanece no mundo
atravessava pra outra rua pra ir na comadre, ___ narrado (1º plano) e finaliza
pra mim buscar água. E eu ia rezando, pedindo a no mundo narrado (1º plano).

Deus que ninguém me visse com


aquele negócio. Cheguei lá quietinha, abri... um
colchete, entrei... peguei e puxei a água, coloquei 5c
na vasilha e pé por pé voltei e ela ficou na... na a) MC + MC + MC

porteira de casa me olhando pra ver se eu ir tirar b) Presente + Presente + Presente


c) Tempo zero MC + Tempo zero
ou não. Aí voltei com aquele negócio, fiquei três MC + Tempo zero MC
dia com aquele negócio no pescoço... não...não d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
deixou eu tira.
e) Função explicativa
(?) Meu Deus, ela era malvadinha...
f) Mundo comentado; na inserção
Célia: é... e assim por diante.. [Mas eu graças a permanece no mundo
comentado, encerra também
Deus eu tenho idéia assim de bom...] de nunca com mundo comentado.
esqueço que eu sempre tive saúde.
(?): graças a Deus...
Célia: é, graças a Deus, sempre tive essa saúde.

(Inquérito a - ALMS)

Excerto 6a
(?): correndo... 6a
Ana: correndo com o joelho e com esse. Aí diz a) MN + MC + MN

que ele foi... correndo e foi... virou um lobisome. b) Pret. Perfeito/Pret. Imperfeito +
Presente + Pret. Imperfeito/Pret.
(?): Você conhece outras histórias assim, outras Perfeito
coisas... tipo assim: pra esse homem virou um c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
lobisomem, já ouviu alguém contando de outras
d) Sem perspectiva (1º plano / 2º
coisas? plano) + Sem perspectiva + Sem
Ana: já. Essa minha prima que tá aqui agora perspectiva (2º plano / 1º plano)
comigo, ela disse que o namorado dela disse que e) Função explicativa
uma vez ia passando, [porque lá onde eu f) Mundo narrado (1º plano/2º
plano); na inserção passa para o
moro tem muitas árvore...] e o namorado mundo comentado e, retorna,
dela ia passando ali, aí diz que escutou um finalmente, ao mundo narrado (2º
plano/1º plano).
barulhão, barulhão do meio do mato e começou
a sair um clarão assim... e saiu uma mulher
debaixo da terra gritando com uma vassoura.
(?): nossa!
Ana: diz que era bruxa.
(Inquérito b – ALMS)
Excertos 7a/7b/7c/7d/7e/7f
(?): e teve alguma coisa que o senhor acha que dá 7a
azar, que o senhor não usa ou que tem em casa a) MC + MC + MC

que o senhor acha que dá azar? b) Presente + Presente + Presente


c) Tempo zero MC + Tempo zero
Moisés: eu acho que tem. Tem, existe sim. MC + Tempo zero MC
(?): o que por exemplo? d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
Moisés: vamos supor uma arma. [Uma arma
e) Função de comentário
mesmo é um azar], porque noutra você tá com
f) Mundo comentado; permanece
uma arma... se você está desarmado e o cara dá no mundo comentado na
inserção e, finaliza no mundo
um empurrão em você, você talvez apanhe ali e comentado.
vai embora, mas se você tá com uma arma você 7b
não vai contenta de levar aquela surra e vortá a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
quietinho, então quer dizer que tudo é um tipo c) Tempo zero MC + Tempo zero
que dá azar... é que nem um... vamos supor uma MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
faca, [no caso a faca ela tem uma utilidade na perspectiva + Sem perspectiva
cozinha], mas é um azar porque... chega uma e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece
mulher, vamos supor... se for... chegou outra no mundo comentado na
mulher que tem raiva da minha mulher e chega inserção e, finaliza no mundo
comentado
aqui pra... (pausa).
(?): seu Moisés, tem alguma simpatia que o
senhor conhece, simpatias que o senhor conhece... 7c
a) MC + MC + MC
Moisés: não, que eu saiba não. Eu vejo falar em
b) Presente + Presente/Pret.
simpatia... Perfeito + Pret Perfeito
(?): quem o senhor já escutou assim, que alguém c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo retrospectivo MC
falou pra o senhor. + Tempo retrospectiva MC
Moisés: no causo uma simpatia... não, existe. d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva / Retrospectiva +
Existe... fala assim, que eu saiba não, mas tem Retrospectiva
simpatia que... inclusiva... [não sei se todo e) Função de ressalva/atenuação
mundo acredita nisso, mas eu mesmo... f) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
geralmente, antigamente... eu acreditei comentado muda para o tempo
retrospectivo e, finaliza no
numas....] me ensinaram uma simpatia, eu fiz e mundo comentado retrospectivo.
sarei... com aquela simpatia, serviu pra mim.
(?): é, qual que foi?
Moisés: no caso eu tinha muito berruga assim na 7d
mão, no caso... assim então inclusive tem um a) MC + MC + MN

índio [que... (já faz muitos anos) que morreu], b) Presente + Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito
naquela época tinha... época 12 anos atrás...então c) Tempo zero MC + Tempo
tinha muita berruta na mão, não sarava de jeito retrospectivo MC + Tempo zero
MN
nenhum... não cabava... aí um índio falou: eu sei
d) Sem perspectiva +
uma simpatia que vai sumi isso aí, sem você Retrospecção + Sem perspectiva
(2º plano)
sangra a mão, sem faze nada, você não vai sofre
e) Função de esclarecerimento
nadam só que você tem que faze. É, três vez que f) Mundo comentado; na inserção
chove você tem que faze, só que o dia também permanece no mundo
comentado em tempo
certo... aí eu... confiei, eu retrospectivo e, finaliza no
mundo narrado (2º plano).

falei... confiei, porque se eu não confiar acho que


eu ia sarar também, não se se foi a simpatia ou foi
a minha fé que valeu. Ele falou: pois você faz...
se você faze certinho e confia no que... você vai 7e
sara... eu falei: vou tenta. Ele falou; três sexta- a) MN + MC + MC

feira, quando chove... quando...não só quando b) Pret. Perfeito + Presente/Pret.


Perfeito + Pret. Perfeito/
chove, mas quando chove quando relampea você Presente
vai faze... falou: c) Tempo zero MN + Tempo zero
/ Tempo retrospectivo MC +
você vai faze assim, assim e assim. Nós vamos Retrospectivo / Tempo zero MC
montar a berruga, fazia assim pra o relâmpago d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva / Retrospecção
assim, assim. Eu fiz as três vez, sumiu, não tem MC + Retrospecção MC/Sem
nada, só... perspectiva

(?): sumiu tudo? e) Introduz explicação


f) Mundo narrado (1º plano); na
Moisés: acabou. [O cara não existe mais, já
inserção passa para o mundo
morreu,] então... foi um tipo de simpatia que eu comentado no final com tempo
retrospectivo e permanece no
confio, porque eu fiz e valeu, agora não sei se foi mundo comentado, inicialmente
com tempo retrospectivo.
a simpatia dele ou se foi a minha fé que eu tava
com aquela vontade de sarar que valeu. Então eu
fique... isso aí tem um segredo que... a gente sabe,
quer dizer que eu confiei porque... graças a Deus
sumiu mesmo, sumiu, não tem nada, nem sinal e
tinha... era grandão assim, uma berrugona assim...
ele falou: vai sumi e vai sumindo com o tempo,
não vai acaba de uma vez mas vai chega um tempo 7f
a) MN + MC + MN
que você não vai ver nada, normal. E, inclusive b) Pret. Imperfeito/ Pret. Perfeito +
tá...tá normal, sumiu, desapareceu. E tinha na Presente / Pret. Perfeito + Pret.
Imperfeito
mão assim, no braço... inclusive ficou o sinal, c) Tempos zero MN + Tempo zero
MC / Retrospectivo MC +
sem cicatriz nenhuma, desapareceu. [Essa pessoa
Tempos zero MN
também não existe mais, ele morreu,] foi... meu d) Sem perspectiva (2º plano/1º
plano) + Sem perspectiva /
tio ele era casado com uma índia que era irmã Retrospecção + Sem perspectiva
desse... chamava Cecílio, então ele...diz que esses (2º plano)
e) Função explicativa
índio sabe muita simpatia... f) Mundo narrado (2º plano / 1º
plano); na inserção, passa para
o mundo comentado, no final
com tempo retrospectivo e
retorna para o mundo narrado (2º
(Inquérito c - ALMS) plano).

Excerto 8a
(?): Por exemplo, tem... tem alguma... aparição que 8a
o senhor já viu, que falaram pra o senhor que a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito + Pretérito
apareceu alguma coisa... ou algum caso por
Imperfeito + Pret. Perfeito
exemplo aqui da região, que alguém contou pra o c) Tempo zero MN + Tempo zero
senhor que o senhor já viu. MN + Tempo zero MN

Moisés: é, tem vários e, inclusive comigo mesmo d) Sem perspectiva (1º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
também já aconteceu quando eu era mais jovem, já Sem perspectiva (1º plano)
aconteceu só que inclusive não era... assim uma e) Função de comentário

assombração, era uma coisa que foi feito... colega f) Mundo narrado (1º plano), na
inserção continua no mundo
era pra o outro... narrado (2º plano) e permanece
no mundo narrado a seguir (1º
(?): o que quê era? plano).
Moisés: já me aconteceu. Uma vez eu morava num
sítio também, e daí nós vinha... eu tinha... eu
morava em Pirapora... num sítio e, tinha um parque
que chegou na Vila e nós vem uns oito mais ou
menos, daí quando viemos do parque... [e era bem
tarde] viemos embora pra casa, já tava vortando aí
nós vinha e tinha fogo no meio da estrada, tinha
uma tocha de fogo assim, incrusive ninguém
passou... nós tava nuns oito mas ficaram com medo,
ninguém passou...
(Inquérito c – ALMS)
Excerto 9a
(?): pegou na sua perna? 9a
Socorro: aqueles... na minha perna, meu pai g) MN + MN/MC/MN + MN
h) Pret. Imperfeito + Pret.
vinha com a carroça cheia de rama, pra dar pra Imperfeito/Presente/Pret.
os porco, [ele criava porco, e a gente quando Imperfeito + Pret. Perfeito
i) Tempos zero MN/MC/MN +
é criança você sabe, vinha na beirada na Tempo zero.
carroça...]aí menina, uma cobra enrolou na j) Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano) +
mina perna e eu gritei... mas eu fiquei com Sem perspectiva (1º plano).
medo então eu fiz assim... isso me marcou k) Função explicativa

também... l) Mundo narrado; na inserção


permanece no mundo narrado
(2º plano), passa para o mundo
comentado e retorna ao
mundo narrado para
permanecer no mundo narrado.
(Inquérito d – ALMS)

Excertos 10a/10b
Jair: o jacaré... pegou assim nessa batata da 10a
a) MN + MC + MN
perna dele assim... levou 17 ponto assim, teve
b) Pret. Perfeito + Pret. Perfeito +
que tirar a carne da polpa da bunda dele... pra Pret. Perfeito
fazer enxerto. E pra nós levar esse moleque c) Tempo zero MN + Tempo
pra... aí... fosse peixinho______ uns 15 retrospectivo MC + Tempo
zero MN
quilômetro... os peixinho foi embora claro... d) Sem perspectiva (1º plano) +
largamos pra lá vara, linhada... que nós tinha Retrospecção mundo comentado
+ Sem perspectiva (1º plano)
lá... esquecemos tudo... pra levar o guri...[Aí
e) Função retórica
fizemo o quê], fizemo o tipo de um... cortamo
f) Mundo narrado (1º plano); na
lá um... quebramo uns bambu... não levamo inserção passa para mundo
comentado retrospectivo e
faca nem nada, cortamo uns bambu assim mais finaliza no mundo narrado (1º
ou menos, quebrou os mais seco... quebramos plano).

aquele lá uns quatro mais ou menos... aí... fomo


no mato... cortamos... tiramos um... um cipó...
fizemo tipo de uma grade ali, colocamo o
moleque em cima... e levamos até na fazenda...
aquele sangue... amarro aquele... um
torniquete, [agora eu aprendi esse torniquete
f d t i d t i t ] lá fi
fazendo carteira de motorista] lá, fizemo o 10b
a) MC + MC + MC
esquema deles aqui... ____ botamo aquele b) Presente + Pret. Perfeito + Pret.
Perfeito
couro dele pra trás... rasgamo a camisa e c) Tempo zero MC + Tempo
colocamo assim... colocamo o amargoso___que retrospectivo MC + Tempo
zero MC
é um capim amargo...pra evitar sair mais d) Sem perspectiva +
Retrospecção MC + Sem
sangue até chega na fazenda, aí chegamo lá o perspectiva
moleque tava quase desmaiando... ainda bem e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; na
que a fazenda tinha carro, tinha tudo e não era inserção, permanece no
mundo comentado e termina
tão longe da cidade. Aí teve que... chegar em com o mundo comentado.
Bodoquena e de Bodoquena foi pra Campo
Grande... e

(Inquérito e – ALMS)

Excertos 11a/11b
(?): isso. 11a
Alda: diz que uma senhora... mandou o filho e) MN + MN + MN
f) Pret. Perfeito + Pret.
levar o almoço pra o pai na roça... aí diz que lá Imperfeito + Pret. Perfeito
nessa viagem, de levada do almoço, [que a g) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
gente era assim, o marido ia pra a roça, a
h) Sem perspectiva (1º plano) +
mãe fazia a comida e mandava... o mais Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (1º plano)
velhinho levar.] Diz que lá nessa ida diz que
i) Função explicativa Mundo
ele comeu toda a carne da comida, a mistura narrado (1º plano); na inserção
permanece no mundo narrado
da comida do pai, chegou e levou. Aí diz que (2º plano) e retorna ao mundo
narrado (1º plano)
ele olhou e falou assim: você comeu minha
mistura, daqui pra frente você vai só comer
língua, você vai viver andando atrás de língua
pra você comer. Ah! mas você tinha medo
disso... menina...
(?): aí ele...
Alda: ...aí que começou, diz que aparecer vaca.
Meu esposo conta que via...[e era forte essa 11b
a) MN + MN + MN
lenda,] começou a vaca indo...(pausa) pessoas
b) Pret. Imperfeito MN + Pret.
morrer sem língua... e aí esses menino ficou no Imperfeito MN + Pret. Perfeito
MN
mundo... o come língua, o come língua, agora
c) Tempo zero MN + Tempo zero
sumiu o nome, acho que ele parou... de certo a MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +
missão dele foi cumprida, nunca mais comeu Sem perspectiva (2º plano) +
língua de ninguém Sem perspectiva (1º plano)
e) Função de suporte
argumentativo
(Inquérito f – ALMS) f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).

Excerto 12a
Adônia: ...eu emborcaba a canoa no meio do 12a
rio e ela ficava lá e vortava pra trás nadando... a) MN + MN +MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
(risos)... aí, meu Deus. Daí quando era de noite Imperfeito + Pret. Imperfetio
e daí pra dormir, [que... aquele tempo... c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
urrava mesmo... até goela é onça.... e pegava
d) Sem perspectiva (2º plano) +
um pegava tudo, nóis era dez... panhava Sem perspectiva (2º plano) +
Sem perspectiva (2º plano)
tudo, não tinha... não queria nem saber...]
e) Função explicativa
Ah! vinha jantar e tal jantá...aí eles queriam
f) Mundo narrado (2º plano);
bater ni mim... aí já vi... que o meu irmão permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e,
tava... aquele tempo que papai plantava milho, finaliza no mundo narrado (2º
plano)
aquele paior de milho lá em cima e ele criava
porco e os porco ficava...

(Inquérito g – ALMS)

Excerto 13a
Antônia: ... Eu fui lá e bati na minha irmã... 13a
puxei o cabelo da minha irmã, minha... meu pai e) MN + MC + MN
f) Pretérito Perfeito + Presente +
veio de lá pra cá me jogou um... tijolo... aí eu Pret. Perfeito
di i i b d i é
escondi no meio... assim a barranca do rio é g) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
assim, então eu escondi no meio daquele... no
h) Sem perspectiva (1º plano) +
meio do buraco que faz aquele... [acho que Sem perspectiva + Sem
perspectiva (1º plano)
não sei que faz... diz que é jaú que faz aquele i) Função explicativa
buraco ali, na beira da barranca,] aí eu entrei j) Mundo comentado; na inserção
permanece no mundo
no meio daquilo ali, meu pai foi atrás de mim, comentado e, depois, retorna ao
daí ele não me conseguiu bater em mim, aí mundo narrado (1º plano).

ele... e veio quase que ele morreu sabe. Aí


sabe, guria do céu... aí a minha mãe...daí minha
me bateu, mas me bateu, até hoje eu tenho sinal
disso... sabe, então até... ichê... não vou conta
nem outros mais... porque aí é pior... (risos)

(Inquérito h – ALMS)

Excertos 14a/14b
(?): como vocês voltaram. 14a
a) MC + MC + MC
Jacinto: só de... teve... sei... nós levava as coisa
b) Presente + Presente + Presente
de... que nós saia assim pra... pegando isca, nós
c) Tempo zero MC + Tempo zero
sempre levava isso daí, só que você guenta, MC + Tempo zero MC
[sabia que o homem guenta cinco, seis dia d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
sem comer, só não guenta a sede...]
e) Função explicativa
(?): como que vocês descobriram pra voltar?
f) Mundo comentado; permanece,
Jacinto: é, dormimo... passemo o noite... falei: na inserção, no mundo
ó, amanhã vocês vão por mim... que eu sou... aí comentado e finaliza no mundo
comentado em tempo
quando o sol se...tava clareando o dia que... eu retrospectivo.
marquei um... eu falei: daqui nós vamo sai em
tal lugar, e saimo bem no trilheiro onde nós
tinha desviado... eu sou difícil de perder no...
(?): ____
Jacinto: mas só que... você fica nervoso á
porque os cara acha que você ta perdido
também e aí... vai na idéia dos outro e se 14b
d ê i d
a) MN + MC + MC
perde... você viu outro rapaz que se perdeu,
b) Pret. Perfeito + Presente +
ficou sete dia lá perdido.__aqui nesse _ achemo Presente
ele e ele queria come...não, não pode dá comida c) Tempo zero MN + Tempo zero
demais assim a vontade.... aí fizemo uma canja MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (1º plano) +
pra ele... ____ tava só couro e osso. Sem perspectiva + Sem
(?): faz tempo que aconteceu isso? perspectiva

Jacinto: faz, uns oito ano. e) Função de comentário


f) Mundo narrado (1º plano); na
(?) você lembra de mais alguma_____ gente
inserção passa para o mundo
que vem visitar____ comentado e, no final,
permanece no mundo comentado
Jacinto: aqui também tem um senhor, acho que
__ perdeu aí pra baixo, foi té lá e...acho que
veio... se perdeu da turma e soltou a cara pra o
outro mundo, acharam ele já... saindo pra o
eixo lá embaixo, perto do [você vê que como
tem sorte,] aí... o tanto de onça que tem aí... e
tem onça... não sei como que nós não vimo ali
naquele cantão lá embaixo.

(Inquérito i – ALMS)

Excerto 15a
Izaura: Capinava assim na roça o dia inteiro... 15a
ia embora pra casa, chegava lá e ainda tinha o a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito/ Pret. Perfeito +
serviço da casa, tinha que fazer tudo correndo Presente + Pret. Perfeit / Pret.
que amanhã cedo tinha que vortá pra a roça, e Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo zero
assim que nóis foi criado, desse jeito, nóis era MC + Tempos zero MN
doze irmão, criou tudo na roça, desse jeito, d) Sem perspectiva (2º plano / 1º
plano) + Sem perspectiva + Sem
minhas irmã... [essa aqui... essa aqui é irmã, perspectiva (1º plano/ 2º plano)
essa aqui é cunhada e aquela ali é minha e) Função explicativa

nora,] então foi criado desse jeito na roça, aí f) Mundo narrado (2º plano/1º
plano); na inserção passa para o
que depois eu casei, mudei pra a fazenda, no mundo comentado e, no final,
retorna ao mundo narrado (1º
lugar que só havia uns porco que tinha nesse plano/ 2º plano)
lugar e mais nada,
(Inquérito j – ALMS)

Excerto 16a
(?): pode... com certeza. 16a
Izabel: então assim, aconteceu quando meu pai a) MN + MN + MN
b) Pret. Perfeito/Pret. Imperfeito +
faleceu... a gente morava assim numa fazenda... Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito
perto assim da fazendeira, aí todo dia a gente / Pret. Imperfeito
c) Tempos zero MN + Tempo
jantava e ia lá pra a casa da fazendeira, aí zero MN + Tempo zero MN
depois chegou... eles falava portador, [era a d) Sem perspectiva (1º plano/2º
plano) + Sem perspectiva (2º
pessoa que vinha pra avisar que a pessoa plano) + Sem perspectiva (1º
plano/2º plano)
tinha falecido, se por exemplo se falecesse
e) Função explicativa
noutra fazenda,] então pai saiu cedo de casa
f) Mundo narrado (1º plano/2º
mas meu tio foi num bolicho... antigamente não plano); na inserção permanece
no mundo narrado (2º plano),
tinha mercado era bolicho, buscar as coisa, e, depois, continua no mundo
narrado (1º plano/2º plano).
compra as coisa pra casa, ...

(Inquérito l – ALMS)

Excerto 17a
(?): tem, não sei de... mas não conheço 17a
pessoalmente. a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
Antônio: é né?! Então eu tava desmatando lá... Pret. Imperfeito
cem alqueire de terra pra toca lavoura, uma c) Tempos zero MN + Tempo
zero MC + Tempo zero MN
terra muito boa que na fazenda Sapé [é... cem
d) Sem perspectiva (2º plano) +
quilometro de Brasilândia lá.] Aí todo... todo Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano)
tratorista que ia... saia correndo, dizendo que
e) Função de esclarecimento
via um bicho, uma luz, e a luz quando mais Lee
f) Mundo narrado (2º plano); na
dizia pra perto a luz ia crescendo... quando foi inserção passa para o mundo
comentado e retorna ao mundo
um dia um falou: eu quero ver se eu descubro narrado após a inserção (2º
plano).
essa luz, se eu vou corre dela. Aí ele foi e a luz
se... quando escureceu a luz... mais tarde
apareceu, aí ele meteu a máquina pra cima...
quando chegou perto, desceu e chegou lá... tava
uma teiona de aranha assim... cheia daqueles
vaga-lume e o povo dizia que era
assombração... (risos)...

(Inquérito m – ALMS)

Excerto 18a
(?): feiticeira? 18a
Camila: é, aparecia as feiticeira... feiticeira que a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
diz que ia raspa... as criança pagã, não batizava, Imperfeito + Pret. Imperfeito
[antigamente tinha isso] diz que raspava as c) Tempos zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
criança assim pela casa. Minha mãe sempre
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
contava isso, que antigamente tinha essas perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
coisas... essas lenda... lobisome, tem mula sem
e) Função explicativa
cabeça... essas coisa assim....
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece, na inserção, no
(Inquérito n – ALMS) mundo narrado (2º plano) e,
continua no mundo narrado (2º
plano).

Excerto 19a
(?): e ele aparece sempre, como é que é o 19a
negócio? a) MC + MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
Luíza: ele aparece, mas ninguém sabe, o
c) Tempo zero MC + + Tempo zero
pessoal que fala assim, eles só fala assim... mas MC + Tempo zero MC
não sabe se é verdade não, acho que não, só d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
fala... e do Negrinho da... daqui... que
e) Função explicativa
aparecia... aparecia como assim lá naquele ___ f) Mundo comentado; permanece no
lá na ali perto da mineração essas coisa mundo comentado na inserção e,
lá na... ali perto da mineração, essas coisa... permanece no mundo comentado.

tem mais história assim mas... esse pessoal


conta, [os senhores mais antigo que eles gosta
de conta] e a gente vai só pra ouvi a história
deles... eles conta que tem história... esse
senhor mesmo que morreu... ele contava
bastante história pra a gente... até cego mesmo,
mas história dele, da época dele e a gente era
bem... ____

(Inquérito o – ALMS)

Excertos 20a/20b/20c
(?): fazer como que é a simpatia... tem que contá 20a
a) MC + MC + MC
como que é a simpatia...
b) Presente + Presente + Presente
Lídia: não, é uma oração, eles pegam um... um c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
santinho... e coloca o nome da pessoa... então
d) Sem perspectiva + Sem
coloca o nome da pessoa no mel, uma coisa assim, perspectiva + Sem perspectiva
[eu não sei, não sei nada... porque eu não sou de e) Função de ressalva/atenuação
f) Mundo comentado; permanece,
fazer...] é... que coloca dentro do... copinho assim na inserção, no mundo
do... mel, escreve o nome da pessoa e faz uma comentado e, continua no mundo
comentado.
oração, uma coisa assim e eu não... pessoal que
fala.
(...)
(?): como que é essa bola... de fogo... a bola de 20b
e) MC + MC + MC
fogo passa e como...
f) Presente + Pret. Perfeito +
Lídia: é, tem uma bola de fogo aí onde que vai essa Presente
g) Tempo zero MC + Tempo
bola de fogo diz que aparece pra lá, lá pra o lado do
retrospectivo MC + Tempo zero
campo, [a senhora viu o campinho pra lá...] aí diz MC
h) Sem perspectiva + Retrospecção
que tem...lá tem uma serpente assim e...essa
+ Sem perspectiva
serpente não deixa passar porque diz que tem ouro, i) Função de comentário
e também tem, diz que tem lobisome aqui, o j) Mundo comentado; na inserção,
permanece no mundo
pessoal fala que sempre apareceu, um senhor comentado, mas retrospectivo e
continua no mundo comentado.
morreu diz que é, e tem outra também que fala
mas... 20c
(?): como que é o neguinho d’água, a lenda do
g) MC/MN + MC + MC/MN
neguinho d’água... diz que eu não conheço. h) Presente/Pret. Imperfeito +
Presente +Presente
Lídia: é um... é um... pretinho, ele sai... aí ele uma
i) Tempo zero MC/Tempo zero
vez diz que ele ia carrega um guri [e tem... e aqui MN + Tempo zero MC +
Tempo zero MN
também diz que tem aquela escola, não tem a
j) Sem perspectiva/ Sem
escola {que eu mostrei pra a senhora,} antiga perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem
de...] diz que lá é...lá já morou...tem bastante perspectiva/Sem perspectiva
professor, que morreu dois professores, uma (1º plano)
k) Função explicativa
professora e um professor, diz que eles aparecem lá
l) Mundo comentado e mundo
de vez em quando e que fala...tem a mulher de narrado; na inserção passa
para o mundo comentado; no
branco também... final permanece no mundo
(Inquérito p – ALMS) narrado.

Excerto 21a
(?): é, capado.
Lina: aí engordava e aí... a gente... ela sortava o 21a
porco pra anda um pouco e nóis montava, e ela ia a) MN + MN + MN
b) Pret. Imperfeito + Pret.
pra roça e nóis ficava brincando montando nos Imperfeito + Pret. Imperfeito
porco, aí os porco varava por baixo do arame e c) Tempo zero MN + Tempo zero
MN + Tempo zero MN
nóis caia porque nóis batia no arame ou na
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
cerca... e também nóis fazia carroça de... da nossa perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano).
bonea, [que antigamente a gente não tinha
e) Função de esclarecimento
nada,] era boneca de sabugo, aí a gente fazia a f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
carreta do queico da vaca, assim da cabeça da
(2º plano) na inserção e finaliza
vaca nóis virava de cabeça pra baixo assim... no mundo narrado (2º plano).

(Inquérito q – ALMS)

Excerto 22a
Maria Adeneise: ... nós era dez... panhavam tudo, 22a
a) MN + MN + MN
não tinha... não queria nem saber... Ah! vinha b) Pret. Imperfeito + Pret.
jantar, já jantado... aí eles queriam bater em mim, Imperfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
aí isso aí... ____ meu irmão estava... [aquele MN + Tempo zero MN
tempo papai plantava milho... aquele paior de d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
milho lá em cima e ele criava porco, os porco perspectiva (1º plano).
ficava...] e meu irmão subiu lá e (...) e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(Inquérito r – ALMS) (2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano)
Excerto 23a
Evilásia: ... aí o que essa mulher fazia pra mim aí 23a
e) MN + MN + MN
na cozinha... tinha dois filho... dois filho [fiquei f) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Pret. Perfeito
dois ano em Corumbá sem poder ver meu g) Tempo zero MN + Tempo zero
filho...] aí depois ela brigou com milha filha aí MN + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
por um caso bem.... bem diferente que Deus foi perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (1º plano).
pai... _____ i) Função de comentário
j) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).
(Inquérito t – ALMS)

Excerto 24a
(?): tudo honesto.
24a
Filó: ...tudo honesto graças a Deus, é o que eu a) MC + MC + MC
sempre tenho pelejado com eles, [ser pobre não é b) Pret. Perf. Composto + Presente
+ Presente
defeito, mas tem que ser honesto, gosto de leva c) Tempo retrospectivo MC +
minhas coisa direitinho] e... dado com Deus e o Tempo zero MC + Tempo zero
MC
povo graças a Deus é o que eu mais... é o que mais d) Retrospecção + Sem perspectiva
me emociona é vê as pessoas ter satisfação comigo + Sem perspectiva
e) Função explicativa
graças a Deus... (pausa).
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
(Inquérito v – ALMS) finaliza com o mundo comentado.

Excerto 25a
(?): nossa! 25a
g) MN + MN/MC + MN
Homem: certo. Em vez de eu voltar pra fazenda h) Pret. Perfeito + Pret.
voltei... mas ele me chapou claramente. Quer Perfeito/Presente + Pret. Perfeito
i) Tempo zero MN + Tempo zero
dizer, de coisa que eu... tenho visto... esse foi MN Tempo zero MC + Tempo
um e... [nesse município quando eu vim zero MN
j) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
um e... [nesse município quando eu vim perspectiva MN (1º plano)/ Sem
de_____ pra esse município eu fiz uns dois perspectiva MC + Sem
perspectiva (1ºplano).
mil metro quadrado de casas pré-montadas k) Função de comentário
[que eu sou especialista nisso,]] na minha casa l) Mundo narrado (1º plano); na
inserção permanece no mundo
chamou também... certo, chamou... na porta... é narrado (1º plano) e continua no
o pássaro... ___ mundo comentado e finaliza no
mundo narrado (1º plano).
(Inquérito x - ALMS)
Excerto 26a
(?): Ah! é? 26a
a) MN + MN + MN
Homem: assim... teve um cara uma vez que... eu
b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito
vim de carro, era onze hora da manhã, tinha uma + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
mulher dando com a mão... _______ correr e ele MN + Tempo zero MN
__ [que ele sabia que era assombrado,] aí a d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)+ Sem
hora que ele passou na Croa ela pareceu do lado perspectiva (1º plano)
dele sentado assim e a boca dela cheia de ouro, aí e) Função explicativa
f) Mundo narrado (2º plano);
foi sumindo, sumindo, o último que sumiu foi o permanece no mundo narrado
ouro da boca... (2º plano) na inserção e finaliza
com o mundo narrado (2º plano).

(Inquérito x - ALMS)

Excertos 27a /28a


Maria Adeneise: E corre, corre, esse tempo na 27a
a) MN+ MN + MN
fazenda não tinha socorro, e sacudia daqui e b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
sacudia dali, [nem jantado eu tinha,] era meu + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
irmão que tava lá em cima: foi o senhor que MN + Tempo zero MN
mandou debulhá milho... agora o senhor vem d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
me fazer isso... então aí custou pra vortá, aí eu perspectiva (2º plano)
e) Função de comentário
vortei. [Até hoje eu não esqueço...]
f) Mundo narrado; permanece na
inserção no mundo narrado e
(?): escapou da finaliza no mundo narrado.
Maria Adeneise:________
(?): escapou da surra da mãe, mas levou... 28a
a) a) MN + MC+ MN
Maria Adeneise: meu pai... mas quase eu fui
b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
mesmo (...) Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
(Inquérito r - ALMS) (1ºplano).
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; passa na
inserção para o mundo
comentado e retorna ao mundo
narrado

Excerto 29a
(?) quebrar o que? 29a
a) MN + MN + MN
Daniel: assim, quebrá arvore... quebrá mato, b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
pisa forte... pagá vela... pagava e nóis acendia Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
até... [a lenda verdadeira na minha vida que MN + Tempo zero MN
aconteceu ____ foi isso,] que nóis teve que sair d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano) + Sem
correndo porque a coisa tava pegando feio... perspectiva (1º plano).
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(Inquérito z - ALMS) (2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano).

Excerto 30a
(?): aqui pra... pra finalizar... você conhece... 30a
a) MC + MC + MC
tem alguma coisa que...[por exemplo, nós b) Presente + Presente + Presente
temos a lenda do saci Pererê que é uma coisa c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
que acontece em alguma... em todo o Brasil,] d) Sem perspectiva + Sem
e aqui da região tem alguma lenda, algum perspectiva + Sem perspectiva
e) Função exemplificativa
causo que falam que é uma coisa que acontece
f) Mundo comentado; permanece,
só aqui no pantanal ou só numa floresta, na inserção, no mundo
comentado e, continua no mundo
comentado.
(Inquérito a1 - ALMS)

Excerto 31a
Mulher: Meu pai lá na beira... lá na beira do 31a
a) MC + MC + MN
Rio Paraguai... Nós morava lá, eu tinha mais ou b) Presente Imperfeito + Presente +
menos uns sete ano, eu era muito briguenta. Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
Meu pai, [até hoje eu não esqueço ele,] meu MC + Tempo zero MN
pai falou assim pra mim assim: eu vou dormi, d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
vocês não dixem... vocês não acorde eu com plano)
choro de criança... e) Função de comentário
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
(Inquérito b1 - ALMS) retorna ao mundo narrado para
finalizar.
Anexo 3. Excertos de entrevistas do Projeto Filologia Bandeirante
(SP) e do Português Popular do Brasil (SP)em que há inserções

Excerto 1a
Doc. ( ) 1a
a) MN + MC + MN
Inf. ói na cidadi tinha festa eu fa/... única b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
festa qui tinha dentu da cidadi... [é festa c) Tempo zero MN + Tempo zero
di sãu biniditu...né? qui prucissãu di MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
sãu biniditu qui é u dia di paxão di perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
cristu né?] i: :: i na realidadi dipoi u u e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado; passa para o
carnaval qui tinha né? u carnaval ( ) mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
pinda tuda vida foi bom também
Doc. e essa festa de são benedito (como era?)

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 2a
Inf. era (dera) bem pugrissiva qui purque 2a
a) MN + MC +MN
formava prucissãu né? tinha dua/du/ duas festa b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
tinha festa da semana santa qui saía lá da: ::... c) Tempo zero MN + Tempo zero
nossa sinhora da... [agora eu num recordu u MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva(2º plano) + Sem
nomi da santa...] sei qui era igreja da matriz perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
sabi? purqui é a nossa sinhora da e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano); passa
cunceição...issu memu...intãu saía essa para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
prucissãu...i saiu somenti...na narrado (2º plano).

(Inquérito 9 - BAND/SP)
Excerto 3a
Doc. ( ) 3a
a) MN + MC + MN
Inf. fazia um percursu pur trai du: :: b) Pretérito imperfeito + Pretérito
imperfeito + Pretérito imperfeito
quarteu...du exerstu ( ) dipoi vortava c) Tempo zero MN + Tempo zero
pegava u a vinida di frenti ca igreja...i MN + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
fazia a entrada...[mai era mais u menu perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
uma umas duas hora mais o menu di e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado; permanece no
percursu na rua] mundo narrado na inserção e
continua no mundo narrado.
Doc. ( e tinha santo) ( )
Inf. ah tinha...tinha sãu biniditu ( ) principal
qui saía né? sãu biniditu i nossa sinhora

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 4a
Doc. (e nu carnaval como era? ) 4a
a) MC + MC + MC
Inf. é nu carnaval eu cumu: :: [vô falá b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
francamenti pru sinhor eu num sô muitu MC + Tempo zero MC
chegadu im carnaval...sabi?] num sãu tudu d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
qui sãu iguau (u sinhor intendi bem cumé qui é) e) Função de ressalva/atenuação
f) Mundo comentado; permanece no
intãu eu num: :: freqüentava muitu tipu di coisa mundo comentado na inserção e
continua no mundo comentado.
mai tudu mundu dizia qui era bunitu era ( ) né?
mai eu memo num: :: nu freqüentava...num
freqüentava e nu

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 4b
Doc. (e nu carnaval como era? ) 4b
a) MC + MC + MN
Inf. é nu carnaval eu cumu: :: vô falá b) Presente + Presente + Pretérito
imperfeito
francamenti pru sinhor eu num sô muitu imperfeito
c) Tempo zero MC + Tempo zero
chegadu im carnaval...sabi? num sãu tudu qui MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva + Sem
sãu iguau [u sinhor intendi bem cumé qui é] perspectiva + Sem perspectiva
(2.º plano)
intãu eu num: :: freqüentava muitu tipu di coisa e) Função de comentário
mai tudu mundu dizia qui era bunitu era ( ) né? f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção
mai eu memo num: :: nu freqüentava...num depois passa para o mundo
narrado.
freqüentava e nu

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 5a
Inf. nãu...quandu eu era: :: garotu...eu trabaiava 5a
a) MN + MC + MN
muitu na inxada...queu fui arrastadu muitu cedu b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
che/ che/ chefi di casa ( ) [pur: :: eu tinha c) Tempo zero MN + Tempo zero +
incrusivi uma ermã...qui era muitu Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) +Sem
trabaiadera...quandu ela ponhava a inxadinha perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
dela nas costa pa di tirá (quadra) sa quadra di: e) Função retórica
:: d’impreita...] [sinhor sabi qui qui é f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
impreita né?] retorna ao mundo narrado.

Doc. sei
Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi
braçu...intendeu?...i dozi braçu é dozi braçu

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 5b
Inf. tãu...a quadra era midida pur dozi 5b
a) MN + MC + MN
braçu...intendeu?...[i dozi braçu é dozi braçu b) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
memu di di dozi parmu uma vara di dozi c) Tempo zero MN + Tempo zero
parmu na mãu assim pu sinhor bem bem MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
isticadu memu...] ...intãu era dozi braçu perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
daquela...intendeu? e) Função explicativa
daquela...intendeu? f) Mundo narrado; retorna ao
mundo comentado e termina no
mundo comentado.

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 6a
Doc. e...o senhor veio pra cá quando? saiu de 6a
a) MN + MC + MC
pinda pra vim pra cá pra taubaté? b) Pretérito perfeito + Presente +
Presente
Inf. ai dei di que eu vim pra cá [eu num c) Tempo zero MN + Tempo zero
recordu a data] ( ) sei qui fai uns uns vinti MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
cincu anu já qui eu tô pra uns vinti cincu a perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
trinta anu por aí qui eu tô moranu aqui...qui f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
dipoi queu: :: queu mi casei...queu trabaiei uns permanece no mundo comentado.
dizoitu anu cu japonei lá...aí eli

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 7a
Inf. nessi piríudu ( ) pudia tê dei a dozi 7a
a) MN + MC + MN
anu...aquela parti du istadãu aqui imbaxu b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Imperfeito
aqui...[u sinhor sabi um istadãu né?] c) Tempo zero MN + Tempo zero
Doc. sei MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
Inf. aquela porta du istadãu ali tudu era perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
daqueli: ::...era um matu turma tratava di e) Função retórica
f) Mundo narrado; passa para o
marmeleru né? mar/marmelu...u ispéci mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
duma vara di fugueti...subia pra cima

(Inquérito 9)

Excerto 8a
Doc. sei...sei 8a
e) MN + MC + MN
Inf. i anti deli era um bacateru tamém...que f) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
até u donu u donu du bacateru chamava manué Pretérito imperfeito
g) Tempo zero MN + Tempo zero
du santu... [essi eu conheçu ainda lembru du MC + Tempo zero MN
h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
nomi deli...] chamava manué du santu...aí perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
distruíru u bacateru discui/...distruíru tamém u: i) Função de comentário
:: caquiseru...pa fazê essa: :: construçãu j) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna no mundo narrado.
(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 9a
Inf. só que a: :: u terrenu era tinha um 9a
e) MN + MN + MN
casarãu grandi nu meiu...i im roda du casarãu f) Pretérito imperfeito + Pretérito
imperfeito/Pret. Perfeito +
grandi deli era u: :: us bacateru tudu...sabi? Pretérito imperfeito
intãu fazia vizinha: :: beranu até ca dutra g) Tempo zero MN + Tempos zero
MN + Tempo zero MN
aqui...i u caquiseru era a mesma coisa...tinha h) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano/1º plano) +
uma parti di caqui...i ota parti di: :: bacati...[até Sem perspectiva (2º plano)
i) Função de comentário
eu lembru (di um dia) eu ia inu pa pa j) Mundo narrado; permanece no
mundo narrado na inserção e
roça...na casa da minha ermã...entrô uma finaliza no mundo narrado.
turma lá pa robá abacate deli eli correu
((ri))]
Doc. ()
Inf. é sempri fazia issu

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 10a
Inf. tãu...pombinha tem essi/ tamanhu duma 10ª
juruti...sinhor matava quatu cincu (daqueli) num
a) MN + MC + MN
tiro...sabi comu (o povo) fazia u sevêru? eu b) Pretérito imperfeito + Presente
+Pretérito imperfeito
ponha um: :: quatu ganchu...doi ganchu c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
ansim...fincadu nu chãu...i: :: imbaxu du: :: d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
daqueli...sevêru qui eu fazia...eu ponhava uma perspectiva MC + Sem
perspectiva (2º plano)
teia...sabi? uma teia im cima daqueli ganchu i ali e) Função explicativa
f) Mundo narrado; passa para o
eu po/ enchia di milhu [porque ali o (jurutí) mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
gosta muito de milho né?...]milhu quirera....
inchia di milhu i embaxu eu ponhava um potinhu
di água intãu eis bebia água mai dipoi eu si
conformei qui eu memu achei qui tava fazenu
erradu...di tratá du bichu pa dipoi eu memu matá
né? ( ) vô larga mãu dissu tamém ((ri))

(Inquérito 9 - BAND/SP)

Excerto 11a
Inf. u pinta-sirva tuda vida foi 11a
piquinininhu...[sinhor cunheci pinta- a) MN + MC + MN
sirva né?] intãu pinta-sirva (sempri) foi b) Pretérito perfeito + Presente +
Pretérito perfeito
piquinininhu c) Tempo zero MN + Tempo zero
Doc. e pra pescar comé que o senhor ( )? MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
(Inquérito 9 - BAND/SP) plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado; passa para o
mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.

Excerto 12a
Doc. daí quando o senhor trazia...levava a 12a
f) MN + MC + MN
caça pra casa...como é que era? fazia festa ( )? g) Pretérito imperfeito + Presente +
Pretérito imperfeito
Inf. é quandu cunticia di pegá pur exempru h) Tempo zero MN + Tempo zero
uma: :: um viadu ( ) purque u viadu é grandi MC + Tempo zero MN
i) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
né? ((ruídos)) pega eli até: ::(si abusá) perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
quarenta cinquenta quilu...um viadu...aí j) Função explicativa
k) Mundo narrado; passa para o
lidava bem repartia ca família...qui tinha: :: mundo comentado na inserção e
retorna ao mundo narrado.
parenti ( ) da genti pertu né? pa num ficá cum
tudu im casa divi/dividia...dividia essi tipu di
coisa assim

(Inquérito 9)
Excertos 13a, 13b, 13c
Inf. nossa eu lembru du assim du du tempu qui 13a
a) MN + MN + MN
eu era criança que eu co/ com esse meu irmão b) Pret. Imperfeito + Pret.
(que é pai dessa uma qui mora aqui pegadu...) Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
[qui era qui era pai dela...] então nóis armava MN + Tempo zero MN
urupuca... (o cêis) [todo mundu sabe u qui é d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + sem perspectiva
urupuca né?] intão... intão nóis ia naqueles e) Função de esclarecimento
fundão lá qui agora é do: :: [fico pu: :: pa f) Mundo narrado (2º plano) +
Mundo narrado (2º plano) +
subrinhada né?... qui meu irmão faleceu fico Mundo narrado (2º plano)
lá pa subinhada...] agora tão fazenu casa lá... i 13b
nóis ia mais i tudu era: :: cafezar e canarviar i a) MN + MC + MN
b) Pret. Imperfeito + Presente +
bananera qui tinha... Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função retórica
(Inquérito 10 - BAND/SP) f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna para o mundo
narrado (2º plano).

13c
a) MN + MN + MC
b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Introduz esclarecimento
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado na inserção e
muda, depois, para o mundo
comentado.

Excerto 14a
Inf...queru recorda du tempu qui que nói dois que 14a
a) MN + MC + MC
andava junto” qui qui nói a diferença era di pocu né b) Pret. Imperfeito + Presente +
[purqui eli é di deis di eu sô di seti di fevereru i Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
eli é di deiz di fevereru quase um: :: anu/ quase MC + Tempo zero MC
um anu certinhu né só treis dia di diferença só di d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
um anu certinhu né só treis dia di diferença só di
e) Função explicativa
pa (sê) um anu... i:] :: nóis crescemo juntu i: f) Mundo narrado (2º plano); passa
::andava juntu... pulandu pa trepandu im arve para o mundo comentado na
inserção e retorna para o mundo
pulandu pegava o bambu assim a/afirmava o bambu comentado
nu chão i assim pegava o bambu caía Lá longe
dipoi tornava subí outra vei pa nói torná pulá di
novu otra veiz... i: :: ( ) [tá MUItu diferenti lá
agora tá muito nu é mais nu tem mai cafezar nu 14b
a) MN + MC + MN
tem mais cana nu tem nu tem mai bananera nu b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
tem mais nada agora é só Matu... tá muitu Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
diferenti demai...] e o meu irmão prantô ( ) um MC + Tempo zero MN
leitu di di caliptu... i: :: tiro mais a aparência ainda d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
du lugar ainda né (fica) bem no fundão... plano)
e) Introduz comentário
f) Mundo narrado (2º plano); passa
(Inquérito 10 - BAND/SP)
para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
narrado (1º plano).

Excerto 15a
Inf.... antigamenti... pa tomá banhu era um 15a
a) MN + MN + MC
sacrificiu purque o tinha qui tomá di bacia o b) Pret. Imperfeito + Pret.
sinão di caneca... agora di ca/ di caneca era Imperfeito + Presente
c) Tempo zero MN + Tempo zero
difícil purqui nu tinha banheru... ninguém tinha MN + Tempo zero MC
banheru... o o intãu tomava di bacia ((ri)) i d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
depoi pa tirá aquela água da bacia da da du du perspectiva
quartu tinha qui tirá nu nu nu bardi pó nu bardi e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
pa tirá [ nossa ( ) era mai fácil a genti fica permanece no mundo narrado
sem tomá banhu do que tomá banhu di (2º plano) na inserção e finaliza
no mundo comentado
tantu dificil qui era...] i e: :: agora não agora
tem chuveru tudu quasi maioria tem chuveru
dentru tem: :: a água dentru tem: :: Tudu... tuda
regalia agora

(Inquérito 10 - BAND/SP)
Excerto 16a
... a a professora ( ) (veiu)de são luis... uma 16a
a) MN + MN + MN
professora MUIto boa demai nossa pa ensiná... b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito +
[a professora hoji di di di di ( ) di: :: di Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
faculdadi nu ensinava o que ela ensinava no MN + Tempo zero MN
primero anu...] nossa era uma beleza memu ( ) d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
pra ensiná... eu gostava dimai di di iscola eu perspectiva (2º plano)
queria istudá eu queria ( ) e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano);
permanece no mundo narrado
(2º plano) na inserção e finaliza
(Inquérito 10 - BAND/SP) no mundo narrado (2º plano)

Excerto 17a
Inf. ( ) ia lá pegava a chave ia lá limpava... i: :: 17a
a) MC + MC + MC
gostava dimais... i o meu pai fazia lavora di b) Presente + Presente + Presente
fumu... lavora di fumu é a coisa que é mais c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
hoRRÍvil qui tem [nu sei purque qui ( ) genti d) Sem perspectiva + Sem
ainda fuma qui nu larga mão du cigarru... perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
eu tenhu uma filha qui só farta cume cigarru
f) Mundo comentado; permanece no
( ) (u filhu) tamém... é a: :: mais uma uma mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
la/ um um:] :: uma lavora horrívil ( ) di coisa
purque tem qui distalá sentá nu chão assim pa
distalá u fumu... i a ( ) o: ::

(Inquérito 10 )

Excerto 18a
Inf. ... i eu nu gostava di distalá fumu i gostava 18a
c) MN + MC + MN
muitu di iscola... aí eu comecei a chorá... e: ::
d) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
os otru nu fizeru conta qui us otru nu gostava di Imperfeito
iscola né? então nu fizeru conta... e eu comecei e) Tempo zero MN + Tempo zero
MC + Tempo zero MN
a chorá... ele já tinha as vara di marmelu assim f) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
assentadu ca paredi di ferrrão assentadu assim perspectiva + Sem perspectiva (2º
l )
plano)
na euzinha assim as vara di marmelu... naqueli
g) Função de comentário
tempu [hoji... as criança di hoji nu toma nem
h) Mundo narrado (2º plano); passa
um biliscãozinho assim nu toma] naqueli para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
tempu Nossa senhora a genti apaNHAva ( ) narrado (2º plano).
principalmente meu pai meu pai Dava ( )... daí
dipois eli disse assim...

(Inquérito 10 - BAND/SP)
Excerto 19a
Doc.1 mas a senhora vende leite? 19a
a) MN + MC + MN
Inf. vendia leite na cooperativa... cooperativa b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
(do casaguá) [a senhora sabe onde é né?...] Imperfeito + Presente = (Metáfora
temporal)
então lá qui nóis batia leite... Taubaté ( ) c) Tempo zero MN + Tempo zero
rapaizinho de Taubaté ( ) MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (2º
plano)
e) Função retórica
f) Mundo narrado (2º plano); passa
(Inquérito 02 - BAND/SP) para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (2º plano)

Excertos 20a / 20b


Inf. ai eu nu: :: eu nu sei poque eu se eu contá 20a
a) MN + MN + MN
pa senhora pode perguntá pra essa gente eu nu b) Pret. Imperfeito + Pret.
saio daqui pra nada... eu nu saio daqui quando Imperfeito + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
vô na cidade vô correndo cedo e já vorto atrais MN + Tempo zero MN
eu nu: :: nu mexo... nu saio pu parte ninhum d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
Doc. 1 ( ) perspectiva (2º plano)
Inf. ah coitado ( ) lavrador só usava um e) Função de esclarecimento
f) Mundo narrado (2º plano);
prantinha [nói era muito pobrizinho nu tinha permanece no mundo narrado
nada... é... tinha nada só usava uma (2º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (2º plano)
prantinha]
Doc. 1 ( ) 20b
a) MC + MN + MC
Inf. não nói nu morava aqui... é lá na cachoera
b) Presente + Pret. Imperfeito +
[era bem longinho daqui...] esse aqui é qui Presente
nói compramo adiante do zingual é esse que o c) Tempo zero MC + Tempo zero
MN + Tempo zero MC
i i h tá f l d ( )
d) Sem perspectiva + Sem
rapaizinho tá falando ( ) perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado (2º plano) na
inserção e retorna ao mundo
(Inquérito 02 - BAND/SP) comentado

Excerto 21a
Doc.1 ( ) 21a
a) MC + MN + MC
Inf. é... esse ali nu é (filhu) esse ali qui mora ali b) Presente + Pret. Imperfeito/Pret.
é um camarada [o pai dele era camarada Perfeito + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
nosso aí coitado morreu fico ele morando na MN + Tempo zero MC
casa] ma nu é camarada ( ) ...(trabalha na ) d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva (2º plano/1ºplano) +
compania... agora ali é o filho qui mora ali lá Sem perspectiva
em cima é o neto... e nói aqui e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; passa para o
mundo narrado (2º plano/1º
(Inquérito 02 - BAND/SP) plano) na inserção e retorna ao
mundo comentado

Excerto 22a
Doc.2 ( ) 22a
a) MN + MC + MN
Inf. ai eu conheci quando era sortera... eu b) Pret. Perfeito + Presente + Pret
morava lá na cachoera... morava lá na cachoera Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
(quando conheci ele)... [cachoe/ é bem pra MC + Tempo zero MC
frenti... bem pra frente] cêis foi até o d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
acampamento nu foru? Nu foru até nu plano)
acampamento? e) Função de comentário
f) Mundo narrado (1º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e retorna ao mundo
narrado (1º plano)
(Inquérito 02 - BAND/SP)

Excerto 22b
Inf. ...cachoe/ é bem pra frenti... bem pra frente 22b
a) MC + MN + MC
[cêis foi até o acampamento nu foru? Nu b) Presente + Pret. Perfeito +
foru até nu acampamento?] Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
Doc. 2 ( ) a gente não conhece direito (pra lá) MN + Tempo zero MC
MN + Tempo zero MC
Doc. 1 a gente se perdeu... nós fomos lá pra
d) Sem perspectiva + Sem
cima ( ) perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva
Inf. ...ah (posu fio) é pra cá... esse é pra
e) Função retórica
cá...(posu fio) a senhora pa chegá lá a senhora f) Mundo comentado; passa para o
tem que descê... mundo narrado (1º plano) na
inserção e retorna ao mundo
comentado
(Inquérito 02 - BAND/SP)
Excerto 23a
Doc.1 duas? Tem duas? 23a
a) MC + MC + MC
Inf. tem uma quatro fazenda lá tem... tem a: [:: b) Presente + Presente + Presente
quero lembra o nome do rapaiz qui tem uma c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
fazenda ( ) lá grandão... nu lembro mai o d) Sem perspectiva + Sem
nome dele... ( ) é pra cá da da: :: da perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
estrada lá di cima... do lado de lá nu sei eu
f) Mundo comentado; permanece no
nu alembro o nome do rapaiz] (tem um mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado
fazendão lá)
Doc. 1 ( )
Inf. é di frenti da escola... de frente da escola
tem um a igreja... é... a escola é pertinho da
igreja.

(Inquérito 02 - BAND/SP)

Excerto 24a
Inf. ... então ela eu sempre: :: eu tenho medo tipo 24a
a) MC + MC + MC
assim: :: [poque: ::... aqui a minha casa é m/é b) Presente + Presente + Presente
simples é di madera] es tamém deve re/nu pode c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
repará né? isso... então é... semp/depoi do natal eles
d) Sem perspectiva + Sem
vêm vê ela... aí eu sempre eu fico com medo ai meu perspectiva + Sem perspectiva
e) Função explicativa
deus tenho de ele vim aqui na minha casa e querê
carregá minha filha...
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP)
Excerto 25a
Inf. Porque ele já é: :: du du outro qui mora aqui 25a
a) MN + MN + MN
comigo... então ele: ::morava comigo [minha b) Pret. Imperfeito + Pret. Perfeito +
mãe nunca quis ele comigo...] minha mãe feiz Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
mãe nunca quis ele comigo...] minha mãe feiz MN + Tempo zero MN
di tudo pele saí di lá da: :: do outro lado pa d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (1º plano)+ Sem
podê: :: perspectiva (1º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado (2º plano);
permanece no mundo narrado
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP) (1º plano) na inserção e finaliza
no mundo narrado (1º plano)

Excerto 26a
Inf. meus irmão sempre tão aqui... pergunta se 26a
a) MC + MC + MC
meus fiio tão bem... [um mora em
b) Presente + Presente + Presente
Interlagos...] sempre ele tá qui perguntando se c) Tempo zero MC + Tempo zero
meus ir/meus fiio tão bem se eu to: :: MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de esclarecimento
f) Mundo comentado; permanece no
(Entrevista nº 01 – SOCIOL/SP) mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado

Excerto 27a
Inf. não... eu... eu... porque esse trabalho aí a 27a
a) MC + MC + MC
gente/eu... eu num posso pegá assim como um b) Presente + Presente + Presente
trabalho mesmo... [quem pega como trabalho c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
tem sucesso né?...] mais eu num pego como d) Sem perspectiva + Sem
um trabalho mesmo... porque eu gostaria de perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
trabalhá assim num esquema registrado né...
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)

Excerto 28a
Inf. têm... que tá tendo... é nesse Projeto 28a
a) MC + MC + MC
Avizinhar memo né (Dico)? ((fala com o
b) Presente + Pret. Perfeito/Presente
filho)) que eles tem acesso assim de ficá lá + Fut. Pretérito

mexendo com computadô... tem uma sala lá c) Tempo zero MC + Tempo


retrospectivo MC/Tempo zero
que eles fica... [fizeru curso também tem MC + Tempo prospectivo MC
que eles fica... [fizeru curso também tem d) Sem perspectiva +
Retrospecção/Sem perspectiva +
diproma] aí tal... mais.. .eu gostaria assim Prospecção

que... que através desses diproma... e) Função de esclarecimento


f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção,
inicialmente com retrospecção e
finaliza no mundo comentado com
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP) tempo prospectivo.

Excerto 29a
Inf. ... eles além de tá fazendo aquele curso... 29a
a) MN + MN + MN
eles dava assim calçado pros menino corrê...[... b) Pret. Imperfeito + Pret. Imperfeito
num precisava a gente gastá né...] eles + Pret. Imperfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
dava/ajudava em cesta básica também... ajuda MN + Tempo zero MN
ainda as outra criança que... d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)
e) Função de comentário
f) Mundo narrado; permanece no
mundo narrado (2º plano) na
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP) inserção e finaliza no mundo
narrado (2º plano)

Excerto 30a
Doc. ah... tá. 30a
a) MN + MC + MN
Inf. Quando eu podia estudá mesmo... [que b) Pret. Imperfeito + Presente + Pret.
Perfeito
agora tem esse negócio de criança pequena] c) Tempo zero MN + Tempo zero
é... fui trabalhá fora... tem que né cumpri os MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (2º plano) + Sem
horário certo ((cumprimenta alguém)) tem que perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
cumpri os horário certo né de trabalho e: :: casa e) Função explicativa
e tudo e cumprica né? f) Mundo narrado (2º plano); passa
para o mundo comentado na
inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP)

Excerto 31a
Doc. é trabalhá acaba vindo em primeiro lugar. 31a
a) MC + MC + MC
Inf. então... [inclusive agora a gente tá b) Presente + Presente + Presente
passando um poco de aperto aí né...] p’que c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC T MC
MC + Tempo zero MC
né... num tem... eu tô sem trabalhá... os menino
d) Sem perspectiva + Sem
também... tem um que tem vinte anos aí perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
mundo comentado na inserção e
(Entrevista nº 02 – SOCIOL/SP) finaliza no mundo comentado

Excerto 32a
Doc. foi bom né? E o que que a senhora mais 32a
a) MN+ MC + MN
gosta de fazê? b) Pret. Perfeito + Presente +
Inf. ô meu deus (ri) pra te falá a verdade só sei Pretérito Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
fazê sabe... é é serviço pesado porque óia eu fui MC + Tempo zero MN
criada trabainado na enxada ... machado... d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva + Sem perspectiva (1º
[sabe o que é machado? Trabalho de plano)
machado? fazê roça?] e) Função retórica
f) Mundo narrado (1º plano); muda
Doc. uh-hum. para o mundo comentado na
Inf. foi disso que eu aprendi (ri) é (acho) que inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
já falei.

(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 33a
Doc. trabalhá... mas foi muito difícil no 33a
a) MN+ MC + MN
começo? b) Pret. Perfeito + Presente + Pret.
Perfeito
Inf. não foi pra mim não foi difícil por causo c) Tempo zero MN + Tempo zero
que quando no dia que eu cheguei...[parece MC + Tempo zero MN
d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
mentira mais é verdade] no dia que eu perspectiva + Sem perspectiva (1º
plano)
cheguei eu arrumei serviço então qué dizê eu e) Função de comentário
cheguei hoje com a... f) Mundo narrado (1º plano); muda
para o mundo narrado na
inserção e finaliza no mundo
narrado.
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 34a
Doc. fala um pouco dos seus filhos... conta 34a
a) MC+ MC + MC
como é a relação com eles.
b) Presente + Presente + Presente
Inf. olha... meus filho graças a deus... é... [sabe c) Tempo zero MC + Tempo zero
criança dá trabalho né (não) conheço MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
criança acho que num dê trabalho mais... ] perspectiva + Sem perspectiva
Doc. é sinal que tá vivo né. e) Função explicativa
f) Mundo comentado; permanece no
Inf. é graças a Deus meus filho são mundo comentado na inserção e
sadio...eles... finaliza no mundo comentado.

(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 35a
Doc. só pra visitá. 35a
a) MC+ MC + MC
Inf. só pra visitá... assim pa morá num sei... [é b) Presente + Presente + Presente
c) Tempo zero MC + Tempo zero
que nem diz o ditado “a gente num sabe a MC + Tempo zero MC
volta que o mundo dá” só deus é quem d) Sem perspectiva + Sem
perspectiva + Sem perspectiva
sabe...] mais pa te falá bem a verdade pra mim e) Função de comentário
f) Mundo comentado; permanece no
volta pa morá lá num tenho vontade não... mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.

(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 36a
Inf. ... me desse um meio de um filho aí num 36a
a) MN+ MN + MN
(queria sabê) como evitá só que depois eu num b) Pret. Perfeito + Pret. Imperfeito/
cumpri ((ri)) e sabe por que? porque depois de Pret. Perfeito + Pret. Perfeito
c) Tempo zero MN + Tempo zero
deiz filho o médico “ói...[porque era muito MN + Tempo zero MN
duente como eu já te falei] quando chegô na d) Sem perspectiva (1º plano) + Sem
perspectiva (2º plano)/Sem
fase do premero... segundo... ó do segundo o perspectiva (1ºplano) + Sem
perspectiva
médico começô “você num pode tê filho vai te e) Função explicativa
que operá” f) Mundo narrado (1º plano); mundo
narrado (2º plano/1ºplano) na
inserção e finaliza no mundo
narrado (1º plano).
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 37a
Doc. com certeza. 37a
a) MC+ MC + MC
Inf. meu esposo fala assim “ó quando casá tivé b) Presente + Presente + Presente
seus filho olha eu num vô cuidá de fio de c) Tempo zero MC + Tempo zero
MC + Tempo zero MC
ninguém cada quem que se cuide” ele fala d) Sem perspectiva + Sem
assim “eu num sô daqueles avô que... que vai perspectiva + Sem perspectiva
e) Função de comentário
cuida do neto... não eu não [num sei não do
f) Mundo comentado; permanece no
jeito que ele gosta de criança] mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Doc. fala isso agora né depois é que vai vê.
Inf. então... depois é que vai vê... gosta de
criança demais viu?

(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

Excerto 38a
Doc. e como é que é a relação com os vizinho 38a
aqui? Conhece muita gente... a) MC+ MC + MC
b) Presente + Presente + Presente
Inf. é a gente conhece bastante gente tem gente c) Tempo zero MC + Tempo zero
que a gente conhece nem sei do nome sabe... MC + Tempo zero MC
d) Sem perspectiva + Sem
mas meus vizinho meus vizinho aqui [sabe de perspectiva + Sem perspectiva
e) Função retórica
uma coisa?] A maioria dos meu vizinho são f) Mundo comentado; permanece no
piauiense é pernambucano... é sim mundo comentado na inserção e
finaliza no mundo comentado.
Doc. tudo de lá...
(Entrevista nº 03 – SOCIOL/SP)

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