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Caso Prático 2023 – Agrotóxicos no Brasil

No panorama agrícola brasileiro, a última


década foi marcada por um aumento
impressionante nas áreas cultivadas. Em
2010, tínhamos 59.059.599 hectares
destinados a lavouras temporárias e
6.314.992 hectares para lavouras
permanentes. Em 2020, essas cifras subiram
para 77.965.057 e 5.430.947 hectares,
respectivamente, conforme os dados do
IBGE1,2. Somando tudo, em 2010, eram
65.374.591 hectares de cultivo, atingindo
notáveis 83.396.004 hectares em 2020
refletindo um aumento substancial de
27,6%.3

Entretanto, em contrapartida a essa


expansão exponencial nas áreas de cultivo,
observa-se um aumento considerável no
uso de agrotóxicos. Conforme relatórios do
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(IBAMA), entre 2010 e 2020, a quantidade
de agrotóxicos comercializados no Brasil aumentou expressivamente em 78,3%, passando de
384.501,28 toneladas de ingredientes ativos em 2010 para 685.745,68 toneladas em 2020. Em
outras palavras, a quantidade de agrotóxicos vendidos no Brasil quase 3 vezes mais do que a
expansão das áreas cultivadas nesse período.3

No que diz respeito à composição desses produtos, dos 504 ingredientes ativos de agrotóxicos
autorizados para uso no país até agosto de 2022, 107 (21,2%) foram derivados de fontes
biológicas, enquanto os outros 397 eram produtos químicos produzidos industrialmente (REF).
Desse total, 146 (36,8%) não possuem permissão de uso na União Europeia (2022). Além disso,
a China também cancelou os registros de alguns ingredientes ativos de agrotóxicos com uso
autorizado no Brasil, incluindo cadusafós, etoprofós, fipronil, metidationa, metomil,
metsulfurom-metílico, paraquat, terbufós e tiazofós 3–5.

Para aprofundar a análise, dentre os 31 ingredientes ativos de agrotóxicos que foram destaque
em 2020, com mais de 3.000 toneladas comercializadas3, 14 (45,2%) não são autorizados na
União Europeia. Essa complexidade na relação entre expansão agrícola e uso de agrotóxicos no
Brasil demanda uma abordagem criteriosa, considerando as implicações tanto em termos de
quantidade quanto de natureza dos produtos comercializados.

De acordo, com o mapa têm sido realizadas diferentes pesquisas que tentam verificar se o uso
de agrotóxicos poderia indicar um aumento do número de casos de câncer nas regiões mais
afetadas. Deste modo, os próximos dois trabalhos apontam no sentido de existir essa
correlação.
O primeiro estudo foi conduzido por
Stoppelli e Crestana em 20056. Este trabalho
aborda fatores de risco correlacionados à
mão-de-obra rural e sua à exposição a
pesticidas em uma área geográfica restrita
(município de Bariri), com o objetivo de
avaliar a saúde dos trabalhadores rurais
neste município agrícola. A investigação foi
realizada com base no banco de dados com
registros do Hospital Amaral Carvalho. O
estudo foi centrado no conjunto de casos de
câncer registrados entre 2000 e 2002. Os
autores concluíram que os cânceres de pele
e sistema digestivo foram preponderantes
em Bariri. Além disso, o estudo indicou uma
probabilidade de quase duas vezes superior
de desenvolvimento de câncer entre os
trabalhadores rurais face ao grupo de
controle.

O segundo estudo foi


conduzido por Silva et
al em 2019 e consistiu
na avaliação do impacto
de agrotóxicos na
incidência de câncer de
mama em uma região
caracterizada por uma
intensa atividade agroindustrial no estado de Mato Grosso7. Este trabalho consistiu em um
estudo de caso envolvendo mulheres residentes na cidade de, situada no sul do estado de
Mato Grosso. A partir deste estudo observou-se que o risco de câncer de mama em mulheres
que residiam junto de áreas agrícolas era superior ao da população de controle, demonstrando
assim importância da exposição a agrotóxicos como um fator de risco ambiental no
desenvolvimento de câncer de mama em mulheres.

Com base no foi descrito neste texto, nas aulas e no seu conhecimento adquirido sobre
agrotóxicos responda às seguintes perguntas:

a) Quais agrotóxicos são utilizados nessas regiões e podem estar associados à maior incidência
de câncer nas populações que residem nas proximidades dos campos de cultivo ou que
trabalham no setor agrícola? Explique detalhadamente, apresentando argumentos embasados
em estudos científicos. Pode utilizar pesquisas adicionais sobre esta região ou utilizar exemplos
verificados em outras partes do planeta.
b) Para validar qualquer estudo que demonstre uma tendência na incidência de câncer
relacionada à exposição ocupacional, a média de casos na população exposta a agrotóxicos
deve ser superior à média de casos em uma população de controle, isto é, não exposta
ocupacionalmente a esses agrotóxicos. Reflita sobre esses estudos e procure verificar a
validade dos dois casos apresentados. Pode utilizar casos de regiões estudadas por períodos
mais extensos para fundamentar a sua resposta. Construa um texto argumentativo que valide a
sua reflexão.

c) O município de Bariri está relativamente próximo ao rio Tietê. Pesquise se a atividade


agrícola nesse município pode estar afetando a biodiversidade desse corpo de água. Além
disso, verifique se é possível constatar a presença de agrotóxicos e seus derivados nas águas de
consumo desse município. Em caso afirmativo, investigue se há correlação entre as
concentrações encontradas e uma maior incidência de determinadas patologias (por exemplo,
câncer ou atrasos no desenvolvimento cognitivo, entre outras). Pode utilizar estudos realizados
em outras regiões do planeta como referência para embasar a sua resposta.

d) O agronegócio é crucial para a economia do Brasil, representando mais de 24% do PIB


nacional. Sugira alternativas que possam reduzir ou minimizar o impacto dos agrotóxicos no
meio ambiente e na saúde pública. Utilize os princípios da química verde e proponha
alternativas que, em sua perspectiva, possam aprimorar a rentabilidade do agronegócio, ao
mesmo tempo minimizando o seu impacto no ambiente e na saúde pública.

e) Suponha que você ocupe o atual cargo de Ministro do Meio Ambiente, enfrentando
pressões de diferentes lobbies ambientalistas e agroindustriais, os primeiros exigindo mais
restrições e os segundos defendendo uma menor regulamentação na atividade agroindustrial.
Como poderia estabelecer uma política ambiental para o Brasil que equilibre o meio ambiente
com a atividade econômica? Não se esqueça de que você lidera um setor do Estado e possui
consideráveis recursos econômicos para orientar uma política pública dessa magnitude, use
isso em seu favor.

Algumas referências que podem ser interessantes para a realização deste trabalho 7–20

Referências

(1) Tabela 1613: Área destinada à colheita, área colhida, quantidade produzida, rendimento
médio e valor da produção das lavouras permanentes.
https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1613 (accessed 2023-11-29).

(2) Tabela 1612: Área plantada, área colhida, quantidade produzida, rendimento médio e
valor da produção das lavouras temporárias. https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1612
(accessed 2023-11-29).

(3) Hess, S. C.; Nodari, R. O. Agrotóxicos No Brasil. AMBIENTES EM MOVIMENTO 2022, 2


(2).
(4) Panis, C.; Candiotto, L. Z. P.; Gaboardi, S. C.; Gurzenda, S.; Cruz, J.; Castro, M.; Lemos, B.
Widespread Pesticide Contamination of Drinking Water and Impact on Cancer Risk in
Brazil. Environ Int 2022, 165, 107321. https://doi.org/10.1016/J.ENVINT.2022.107321.

(5) PROGRESS IN PESTICIDE RISK ASSESSMENT AND PHASING-OUT OF HIGHLY HAZARDOUS


PESTICIDES IN ASIA.

(6) De Brito Sá Stoppelli, I. M.; Crestana, S. Pesticide Exposure and Cancer among Rural
Workers from Bariri, São Paulo State, Brazil. Environ Int 2005, 31 (5), 731–738.
https://doi.org/10.1016/J.ENVINT.2005.02.002.

(7) Rodgers, K. M.; Udesky, J. O.; Rudel, R. A.; Brody, J. G. Environmental Chemicals and
Breast Cancer: An Updated Review of Epidemiological Literature Informed by Biological
Mechanisms. Environ Res 2018, 160, 152–182.
https://doi.org/10.1016/J.ENVRES.2017.08.045.

(8) Oliveira, N. P.; Moi, G. P.; Atanaka-Santos, M.; Silva, A. M. C.; Pignati, W. A. Congenital
Defects in the Cities with High Use of Pesticides in the State of Mato Grosso, Brazil,
Malformações Congênitas Em Municípios de Grande Utilização de Agrotóxicos Em Mato
Grosso, Brasil. Ciencia e Saude Coletiva 2014, 19 (10), 4123–4130.
https://doi.org/10.1590/1413-812320141910.08512014.

(9) Gangemi, S.; Miozzi, E.; Teodoro, M.; Briguglio, G.; De Luca, A.; Alibrando, C.; Polito, I.;
Libra, M. Occupational Exposure to Pesticides as a Possible Risk Factor for the
Development of Chronic Diseases in Humans (Review). Mol Med Rep 2016, 14 (5),
4475–4488. https://doi.org/10.3892/MMR.2016.5817.

(10) Santos, M. de O. Estimativa 2018: Incidência de Câncer No Brasil. Revista Brasileira de


Cancerologia 2018, 64 (1), 119–120. https://doi.org/10.32635/2176-
9745.RBC.2018V64N1.115.

(11) Fenga, C. Occupational Exposure and Risk of Breast Cancer (Review). Biomed Rep 2016,
4 (3), 282–292. https://doi.org/10.3892/BR.2016.575.

(12) Guerra, M. R.; Bustamante-Teixeira, M. T.; Corrêa, C. S. L.; De Abreu, D. M. X.; Curado,
M. P.; Mooney, M.; Naghavi, M.; Teixeira, R.; França, E. B.; Malta, D. C. Magnitude and
Variation of the Burden of Cancer Mortality in Brazil and Federation Units, 1990 and
2015. Revista Brasileira de Epidemiologia 2017, 20, 102–115.
https://doi.org/10.1590/1980-5497201700050009.

(13) Silva, A. M. C.; Campos, P. H. N.; Mattos, I. E.; Hajat, S.; Lacerda, E. M.; Ferreira, M. J. M.
Environmental Exposure to Pesticides and Breast Cancer in a Region of Intensive
Agribusiness Activity in Brazil: A Case-Control Study. International Journal of
Environmental Research and Public Health 2019, Vol. 16, Page 3951 2019, 16 (20), 3951.
https://doi.org/10.3390/IJERPH16203951.

(14) Paiva, J. C. G.; Cabral, I. O.; Soares, B. M.; Sombra, C. M. L.; Ferreira, J. R. O.; Moraes, M.
O.; Cavalcanti, B. C.; Pessoa, C. Biomonitoring of Rural Workers Exposed to a Complex
Mixture of Pesticides in the Municipalities of Tianguá and Ubajara (Ceará State, Brazil):
Genotoxic and Cytogenetic Studies. Environ Mol Mutagen 2011, 52 (6), 492–501.
https://doi.org/10.1002/EM.20647.
(15) Meyer, A.; Sarcinelli, P. N.; Moreira, J. C. Are Some Brazilian Population Groups Subject
to Endocrine Disrupters? Cadernos de saúde pública / Ministério da Saúde, Fundação
Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública 1999, 15 (4), 845–850.
https://doi.org/10.1590/S0102-311X1999000400018.

(16) Acquavella, J.; Olsen, G.; Cole, P.; Ireland, B.; Kaneene, J.; Schuman, S.; Holden, L. Cancer
among Farmers: A Meta-Analysis. Ann Epidemiol 1998, 8 (1), 64–74.
https://doi.org/10.1016/S1047-2797(97)00120-8.

(17) Boccolini de, P. M. M.; Boccolini, C. S.; Chrisman, J. de R.; Markowitz, S. B.; Koifman, S.;
Koifman, R. J.; Meyer, A. Pesticide Use and Non-Hodgkin’s Lymphoma Mortality in Brazil.
Int J Hyg Environ Health 2013, 216 (4), 461–466.
https://doi.org/10.1016/j.ijheh.2013.03.007.

(18) Meyer, A.; Chrisman, J.; Moreira, J. C.; Koifman, S. Cancer Mortality among Agricultural
Workers from Serrana Region, State of Rio de Janeiro, Brazil. Environ Res 2003, 93 (3),
264–271. https://doi.org/10.1016/S0013-9351(03)00065-3.

(19) Chrisman, J. de R.; Koifman, S.; de Novaes Sarcinelli, P.; Moreira, J. C.; Koifman, R. J.;
Meyer, A. Pesticide Sales and Adult Male Cancer Mortality in Brazil. Int J Hyg Environ
Health 2009, 212 (3), 310–321. https://doi.org/10.1016/J.IJHEH.2008.07.006.

(20) Silva Ferreira, E. M.; Moreira da Silva, J. F.; Lima do Nascimento, G. N.; Pimenta, R. S. Re:
New Brazilian Law May Put Food Production Safety in Check. Public Health 2019, 167,
159–160. https://doi.org/10.1016/j.puhe.2018.11.008.

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