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Alimentos orgânicos

O Brasil é considerado o campeão mundial no consumo de agrotóxicos.


Os agrotóxicos são produtos químicos que tem a função de matar pragas e
doenças que prejudicam as lavouras. Seu uso popularizou-se na década de
1960, com a Revolução Verde, um movimento de modernização na agricultura
com novas tecnologias visando o aumento da produtividade.

Agrotóxicos x Defensivos agrícolas


Como o nome já diz, agrotóxico é uma palavra que assusta os
consumidores e seu uso exagerado tem causado muita polêmica e discussão.
De um lado estão parte dos consumidores e pequenos produtores que
condenam o uso dos agrotóxicos pelos males à saúde e natureza e, de outro,
estão os representantes do agronegócio que defendem seu uso para manter a
produtividade das colheitas e os chamam de defensivos agrícolas.
Um exemplo do movimento contrário aos agrotóxicos é o documentário
“O veneno está sobre nossa mesa” que questiona o uso abusivo de
agrotóxicos na agricultura brasileira, o porquê a situação é preocupante e
reflete sobre possíveis soluções.
Já o jornalista Nicholas Vital, autor do livro “Agradeça aos agrotóxicos
por estar vivo”, critica a intitulação agrotóxico, termo legal e definido pela
legislação brasileira. Em seu livro, ele esclarece que os agroquímicos ou
praguicidas são como remédios usados por humanos, mas voltados para as
doenças das plantas e defende a importância do seu uso.

PL do veneno
O projeto de lei nº 6.299/2002, conhecido como o PL do veneno, reacendeu
as discussões. O projeto altera as regras para o uso de agrotóxicos no Brasil.
Os contrários aos agrotóxicos criticam que o projeto flexibiliza demais as
regras e fiscalização. Já os favoráveis defendem que o projeto pode
desburocratizar os processos. Atualmente, o projeto de lei está parado, mas
pronto para ser votado em plenário.

Saiba argumentar
Com o assunto em alta, agrotóxicos são um possível tema de redação no
Enem e outros vestibulares. Na maioria dos vestibulares, é exigido um texto
dissertativo-argumentativo, no qual você deve defender suas ideias por meio
de argumentos baseados em dados.

Alto consumo de agrotóxicos no Brasil

Contra: Desde 2008, o Brasil lidera o mercado mundial de agrotóxicos e é


campeão no consumo desses produtos no mundo. De acordo com a
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o brasileiro consome
cerca de 7,6 litros de agrotóxico por ano em números brutos, incluindo
plantações que não dão origens a alimentos.

Pró: O uso de defensivos agrícolas no Brasil é alto porque o país é um


grande produtor, considerado pela Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura como o terceiro maior exportador agrícola do
mundo, responsável por 5,7% da produção agrícola mundial. Por conta do
clima tropical, o país pode produzir mais safras por ano. Além disso, ao dividir
o total de defensivos agrícolas consumidos pela quantidade de hectares de
área plantada, o Brasil fica em 7º lugar. Enquanto o Brasil gasta US$ 137 em
defensivos agrícolas por hectare, o Japão, em 1º no ranking, consome mais
de US$ 1.100 por área cultivada.

Aumento no uso de agrotóxicos

Contra: Dados do Ministério da Agricultura e Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) mostram que, entre
2000 e 2014, o uso de agrotóxicos aumentou 135% no Brasil. De acordo com
o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a
Agrotóxicos do Ministério da Saúde, entre 2007 e 2013, a venda de
agrotóxicos aumentou 90,5%. Entretanto, nesse mesmo período, a área
plantada cresceu apenas 19,5%. O crescimento desproporcional sugere que a
população brasileira esteja mais exposta à contaminação dos agrotóxicos.

Pró: Um dos principais fatores de crescimento da agricultura é o crescimento


populacional. A população mundial deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas em
2050, diz a ONU. Já no Brasil, a população chegará a mais de 130 milhões de
pessoas até 2047, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE). A agricultura brasileira cresceu mais de 6 vezes de 1975 até 2017 e
deve crescer mais, já que muitos dos seus produtos alimentam não só o
Brasil, sendo exportados para o mundo. Quanto maior o setor agrícola, maior
será o uso de defensivos agrícolas.

Riscos à saúde

Contra: A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da Organização


das Nações Unidas (ONU) divulgou em 2018 que os agrotóxicos e outras
substâncias químicas matam 193 mil pessoas no mundo por ano. A ONU
também afirma que os agrotóxicos estão relacionados com doenças como
arritmias cardíacas, lesões renais, câncer, alergias respiratórias, doença de
Parkinson, fibrose pulmonar, entre outras. No Brasil, estudos na Chapada do
Apodi, Ceará, e na Universidade Federal do Mato Grosso já mostraram
consequências negativas dos agrotóxicos para a saúde humana.
Pró: Antes de serem comercializados, os defensivos agrícolas passam por
testes em laboratório e os que apresentarem riscos à saúde, como
possibilidade de causar câncer, má-formação de fetos, alterações no DNA ou
hormonais, são proibidos pela legislação atual. Segundo dados do Programa
de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) da Anvisa, de
2013 a 2015, 98,89% das amostras não foram identificadas situações de
potencial risco agudo e 80,3% das amostras foram satisfatórias, sem resíduos
irregulares.

Riscos de intoxicação

Contra: De acordo com o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de


Populações Expostas a Agrotóxicos, publicado em 2018, foram notificados
mais de 84 mil casos de intoxicação por agrotóxico entre 2007 e 2015 em
unidades de saúde das redes pública e privada. Além disso, nesse período,
essas intoxicações cresceram 139%, por conta do aumento da
comercialização de agrotóxicos e melhoria na atuação da vigilância e
assistência à saúde.

Pró: Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-


Farmacológicas (Sinitox), do Ministério da Saúde, do total de 42.127 casos de
intoxicação humana em 2013, somente 4,23% eram por defensivos agrícolas.
Além disso, metade desses casos foram tentativas de suicídio, ou seja, não
aconteceram no campo. Já no caso das intoxicações no campo, a maioria
acontece por falta do uso ou manuseio incorreto dos equipamentos de
proteção e utilização indevida dos defensivos.

Proibições em outros países

Contra: A atual lei que regulamenta os agrotóxicos no Brasil é mais


permissiva que as leis de outros países. Segundo o atlas “Geografia do Uso
de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, da geógrafa
Larissa Lombardi, dos 504 tipos de agrotóxico permitidos no Brasil, 30% são
proibidos na Europa pelos riscos comprovados à saúde.

Pró: Todos os defensivos agrícolas brasileiros passam por anos de estudos e


testes em laboratórios antes de serem comercializados e precisam ser
aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Ministério
da Agricultura e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), num processo demorado e burocrático. Para circular no
mercado interno ou externo, assim como os medicamentos, cada produto
agrícola precisa de uma receita, chamada receituário agronômico, que é feita
por um engenheiro agrônomo.
Riscos à natureza

Contra: Além da contaminação dos alimentos, do solo e das águas, o uso de


agrotóxicos altera um processo natural e pode empobrecer o solo, fazendo
com que se expanda as áreas cultivadas e se desmate mais. Além disso, boa
parte das sementes disponíveis no mercado são modificadas e já
dependentes dos agrotóxicos, fazendo com que os agricultores dependam
desses químicos em suas plantações.

Pró: Os produtores agrícolas precisam usar defensivos agrícolas para garantir


o crescimento das plantações e a produtividade das colheitas. De acordo com
o livro "Defesa Vegetal - Fundamentos, Ferramentas, Políticas e
Perspectivas”, as perdas por doenças e pragas podem chegar a R$ 55 bilhões
por ano. Ao garantir a produtividade, os defensivos permitem que se produza
mais com espaço e tempo menores, evitando mais desmatamento.

Alimentos orgânicos x Produtividade

Contra: O ideal seria o consumo de alimentos orgânicos, que não utilizam


agrotóxicos e incentivam e fortalecem a produção local e familiar de pequenos
agricultores. Os alimentos orgânicos são mais sustentáveis, saborosos e
saudáveis. Os alimentos são mais caros pois demoram mais para produzir e
não têm incentivos governamentais.

Pró: Os alimentos orgânicos são muito caros e representam menos de 1% do


mercado de alimentos no Brasil. O uso dos defensivos agrícolas garante a
produtividade das lavouras e o menor custo. Além de evitar perda de
alimentos, os defensivos mantém a qualidade dos produtos. Segundo o
jornalista Nicholas Vital, no seu livro “Agradeça aos agrotóxicos por estar
vivo”, os alimentos orgânicos não têm vantagens em relação aos
convencionais, mas viraram moda graças às campanhas contra os
agrotóxicos.

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