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DO

R I O D .A PRATA
Tiraram-se ri' esta obra
200 exemplares em papel I:lollanda azul, sendo 2 exemplares zmzcos,
encadernação pergaminho, e o resto numerado de I a I98.

~ 150

Dr. Araripe Junior.


HISTORIA TOPOGRAPHICA E BELLICA
DA

Nova Colonia do Sacramento


DO

RIO DA PRATA

Editada pela primeira vez pelo Lycêo Litterario Portuguez, do Rio de Janeiro,
e copiada do original de Simão Pereira de Sá

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fuo D-E f ANEIRO


Typo g; r n p h i a LEU ZIN GER,

1900


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AO BRASIL

cM CO/'-~McMORAÇÃO

DO

Ojjerece

O LYCÊO LITTERAR/0 PORTUGUEZ


Do Rio de Janeiro
- XLV -

Nota, O

Roteiro por onde se deve governar quem sahir por terra da colonia do Sacramento
pàra o Rio de Janeiro ou villa de Santos

Saliindo ela povoaç tto ela colonia se buscará o ca minh o do No rL e, tine por vinte e tres
dias se ,eguirá, e an<larii.o dois a dois com as esp ingardas sempre na mào e promp tas por
causa elas onças, pas;iando a noite em quartos e cuidadosa vigia com fogo ao pé.
Nesta forma se continuará a viagem por espaço de vinte e tres dias, no fim dos quaes
se chega á se rra de M aldonado, gas tando na sua 1iassagem oito dias sem receio de suas
cavid ades, não largando o rumo ; e si nos ditos dias se não avistar a costa ou iagoa d e
Castilhos, se seguirá o caminho de Leste a buscar a dita cos ta; tanto que se der com a lagoa
ele Castilhos se andará á roda della, até se tomar a tomar e buscar e meter na praia que
nunca rmüs se largará até dar em povoado.
Em todo este caminho é conveniente não penetrar o mato mais do que para apanhar
caça , e [)ela praia se pesca na roda da maré, metendo pela agua até ao joelho, ou botando
linh a com isca d e marisco, que se tem na meia praia levantando-se a arêa até profundar um
palmo, e com o que d ' abi tira cae muito peixe. Aqui em Castilhos faça cacl_a um cinco ou
seis braças de pasca para amarrar as mochilas e jangadas, faze ndo provimento de carne de
vaca, po r que dah i para .diante não a ha.
De Castilhos até o rio Grande se gastam quinze dias, e tanto que se tiverem andado
tres ou q11alro de Castilhos, se avista um lago que vae costeando a costa e vae fa zer barra no
rio Grande. Chegamlo ã dila barra rio acima, obra de meia leg ua por. baixo da dita lagoa,
faz a barra onde se vê uma cruz que tem a era elo tempo em que nós passamos e abaixo
tem o porto onde nós ílzemos ag uada que é acima da barra do rio Grande meia legua.
Neste porto é necessari o passar em jangada, q ue se ha de fa zer em occasiào d e reponta
da maré. E a jangada se fará ele espinho branco pela forma seguinte : Buscar-se-ba por aquelle
mato madeira ele espinho secca para as estivas que se juntarão, e os tres pa us para a estiva
pouco impoTta que sejam verdes. Hão de estes ter qu inze até dezoito palmos de comprimento,
far-lhe -h ão duas faces, uma para baixo outra para cima. Por cima desta es tiva se fará outra
ele madeira com travessas lançadas e amarradas um as ás outras ; por cima de ambas as es tivas
se lançarào dois pa'us, um por cada lado, que servem de talabardães para se armarem os
remos, cujos paus se rào g rossos e seccos, os remos sercw de boga e de esp inho branco verde
que é mais forte e não falta: por-lhe-ão quatro remos, dois pe,r banda, e a jangada tem quinze
ou clezaseis palmos de comprimento, e d'ahi para cima conforme a quantidade ele gente que
h ouver de pl:\ssar, por que esta medida é pura seis passageiros.
l'assado o rio Grande se seguirá jornada sempre pela prnia até chegar ao no a que
chamam Tarnmandabum, o qual se passa a vau com agua pela cinta em maré vasia, e pelo
mesmo se vae continuando o caminho até chegar ao rio lboipitiuhi, que com maré vasia se
passa tambem a vau com agua pela cinta; e segue-se a jornada até chegar ao terceiro que é
o Araraga qn e se passára em j angada por cima da barra, onde se acha lenha secca para se
fazer, que o mesmo Tio expu lsa. Segue- se o qu arto que é o Arangagá, que se passa em
j angada jun to da barra e é o ultimo.
Passado este e andando meia legua se entrará pelo certão, e n a cabeceira duma lagoa
pequena, onde se não pode bem revolver o peixe, e se pode apanhar c1uanto quizerem.
XLVI

Passada esta se acha logo rasto de gado, e povoado, que dista do ultimo rio tres dias de
j()l'trnda andando pouco; na primeira ponta <le pedra que se avistar junto da praia, a que
chamam os morros de Santa Martha se entrará para dentro, e pelo rasto do gado se vae dar
ao povoado e logo se acharào cavallos e ovelhas do capitão D om ingos de Brito, que é o
povoador desta terra.
Nes ta viagem gastei da Colonia até Castilhos ·vinte e quatro dias ; destes ao rio Grande .
_dezeseis; deste ao povoado trinta, que p or tod os sfto setenta, todos ele jornada, e os que faltam
para os qu atro mezes que me demorei estivemos parados em ranchos pelas muitas chuvas · nos
impedirem o seguir jornada.
Advirto que o rio Grande á vista do que se di z dell e é um a droga; por que nos assim
que a elle chegamos, estavamas vendo os lobos sahir delle para a praia c tornarem a ·meter-se
no rio. Este é muito estreito e o passei em meia hora.
De Cas tilh os para diante não faltam porcos, cervos e veados pel as carnpanlias . .'\os ce rvos
se de\'e atirar com bala; aos porcos e veados basta munição grossa. Tarnhem niio faltam
passaros pela praia. Advirto mais que passados tres ou quatro dias ele' viagem dre Cas tilhos
se encontram nos barrancos altos el e ba rro vermelho, onde ha muitos veados e será co nveniente
matar alguns para fazer provimento de carne para alguns di as ; por que daqui para diante os
carne, nem se soul.Je qu e que apparecem espe ram pouco o tiro.
Pelas · margens rlo ri o Grande h a muita caça de porcos e outros animaes e passatos
que se podem m atar e fazer provimento. Com esta prevençfto nunca na minha jornada faltou
cousa foi fome, que outros experimentam por sua culpa.
Quem quizer emprchcnd er está viagem ha de preven ir-se com o que eu aqui pondero,
si a quiier fazer se m trab alho ; por que eu como experimentado posso aconselh ar, e o mais
pelo que observei, sào neccssaríos para a jornada dois ou tres càcs bons, tres espingardas
bem experimentadas, e mnniciaclas, suas catanas ou facas de mato, e a matalotagem que cáda
um puder.
· (Foi feit o este raleiro por Domingos da F ílgueirn cm I 703).

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