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 SÉRIE: PARÁBOLAS DE JESUS

‘Parábola’ é uma pequena narrativa que transmite lições de moral ou ensinamentos para a vida
através de alegorias. Esse tipo de narrativa literária construída com figuras é muito comum nas sociedades
orientais, e cada elemento da parábola é associado a um significado especifico.
Na sua grande maioria, os ensinamentos de Jesus foram transmitidos através de parábolas,
entretanto, as narrativas de Jesus não tinham por objetivo transmitir lições de ordem moral ou
comportamental, e nem estabelecer uma filosofia de vida.
Jesus fez uso de parábolas ao ensinar o povo de Israel devido as profecias do Antigo Testamento,
que profetizaram que o Cristo ensinaria utilizando especificamente esse recurso.
 “Abrirei a minha boca numa parábola; falarei enigmas da antiguidade. ” (Salmos 78.2);
 “Para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a minha boca;
publicarei coisas ocultas desde a fundação do mundo. ” (Mateus 13.35).
Uma das maneiras que os filhos de Israel dispunham para identificar quem era o Cristo enviado de
Deus, era observar qualquer dentre os seus irmãos que anunciasse as palavras de Deus por intermédio de
parábolas, e comparar com o que foi predito pelos profetas.
Através das questões apresentadas acima, fica evidente que havia um motivo específico para Jesus
fazer uso de parábolas, e não era somente uma questão de predileção de Jesus ou do povo de Israel por
parábolas, enigmas e símiles.
 “Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento
sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. ” (João 12.49).

 O PÚBLICO ALVO DAS PARÁBOLAS

Após analisar o objetivo das parábolas, e sabendo que, primeiramente, Jesus veio para os seus
concidadãos, ou seja, os judeus, mais elementos devem ser considerados ao analisar as parábolas: “Veio
para o que era seu, e os seus não o receberam. ” (João 1.11).
Quando Jesus comissionou os seus discípulos a evangelizar, foi dada uma ordem para não irem aos
gentios, antes aos judeus: “Mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel; ” (Mateus 10.6).
‘Ovelhas perdidas’ era uma das figuras utilizadas pelos profetas para fazer referência aos judeus
dispersos entre os gentios: “Ovelhas perdidas têm sido o meu povo, os seus pastores as fizeram errar, para
os montes as desviaram; de monte para outeiro andaram, esqueceram-se do lugar do seu repouso.
” (Jeremias 50.6).
A linguagem utilizada por Jeremias possui algumas figuras, sendo que ‘ovelhas perdidas’ se refere
aos filhos de Israel, e outeiros e monte refere-se às nações estrangeiras, ou seja, por causa dos líderes de
Israel (pastores), o povo de Israel passou a andar de nação para nação por ser levado cativo.
A palavra de Deus anunciada pelos profetas era a bússola que indicava quem era o Cristo, mas o
povo queria identificar o Cristo através de sinais e maravilhas. Os falsos cristos que apareceram ao longo
da história, sempre se apresentaram abertamente dizendo ser o Cristo. Jesus, por sua vez, não falou
abertamente ao povo que era o Cristo, pois para serem salvos tinham que crer nas Escrituras, o testemunho
vivo que Deus deu acerca do seu Filho. “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida
eterna, e são elas que de mim testificam; ” (João 5.39);
As parábolas, além de ser um dos parâmetros para se identificar o Cristo, era o modo que o povo
poderia compreender acerca das coisas celestiais, pois nem mesmo as terrenas compreendiam: “E com
muitas parábolas tais lhes dirigia a palavra, segundo o que podiam compreender. ” (Marcos 4.33);
Ao conversar com Nicodemos, Jesus disse: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e
não sabes isto? ” (João 3:10), o que demonstra que até os mestres do povo desconheciam as coisas de
Deus.

 VÓS SOIS O SAL DA TERRA E A LUZ DO MUNDO

Jesus disse: “Vós sois o sal da terra” e “Vós sois a luz do mundo” (Mateus 5:13,14). O ensino
bíblico de que os seguidores de Cristo são sal da terra e luz do mundo significa que os cristãos são agentes
que promovem a verdade do reino de Deus neste mundo.
O sal tem a função de preservar e dar sabor ao alimento. A luz, por sua vez, tem a função de iluminar
as trevas. É interessante notar que Jesus não coloca o cristão como sendo o sal da terra e a luz do mundo de
forma condicional. Ele não diz: “vocês serão sal da terra e luz do mundo”; ou “vocês devem ser sal da
terra e luz do mundo”; mas Ele diz “vós sois sal da terra e luz do mundo”.
Isso significa que todo aquele que verdadeiramente é nascido de Deus, necessariamente é sal da
terra e luz do mundo. Se alguém se diz cristão, mas sua vida não revela que ele é sal da terra e luz do mundo,
então há algo de muito errado nisso. Vejamos melhor neste estudo bíblico as implicações de ser sal da terra
e luz do mundo.

 VÓS SOIS SAL DA TERRA


Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta
senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. (Mateus 5:13)
Sabemos que o sal possui muitas características. Mas certamente ao dizer “vós sois o sal da
terra” Jesus explora suas duas principais características. São elas: sabor e antisséptico.
Uma das funções mais importantes do sal nos dias de Jesus era justamente o poder de preservar os
alimentos. O sal era a melhor solução para impedir a deterioração dos alimentos. Além disso, ele também
servia como tempero.
Mas qual é realmente o objetivo de Jesus ao dizer que seus seguidores são o sal da terra? Assim
como o sal que possui a função de preservação, os cristãos verdadeiros devem estar constantemente
combatendo a corrupção moral e espiritual da sociedade. De certa maneira o sal age secretamente, no
sentido de que não podemos ver como sua ação preservativa age especificamente. Na maioria das vezes
também não podemos distinguir pelo olhar um alimento que foi temperado com sal. Mas facilmente
podemos senti-lo.
Assim também acontece com a presença da Igreja neste mundo. Muitas vezes parece que a ação dos
cidadãos do Reino de Deus no mundo é nula ou quase invisível. Porém, somente Deus é quem sabe o quão
mais perverso e depravado seria este mundo ímpio sem a presença, o exemplo e as orações dos santos que
são sal da terra.

 O SAL DA TERRA NÃO PODE SER INSÍPIDO


Mas Jesus também deixa claro que se o sal se tornar insípido, ou seja, sem sabor, para nada servirá.
Não temos muita familiaridade com essa observação, pois estamos acostumados a comprar o sal já
selecionado. Mas nos dias de Jesus isso acontecia muito. O sal era retirado principalmente da região do Mar
Morto. Porém havia alguns pântanos e lagoas naquela região que, pelo contato com o cálcio e outras
substâncias, o sal retirado desses locais adquiria um sabor alcalino, tornando-o inútil. Sim, o sal insípido
jamais poderia ser restaurado.
Naquela época havia muitos fariseus que se orgulhavam de sua religiosidade e legalismo. Mas nada
disso tinha qualquer coisa a ver com a verdadeira essência das Escrituras anunciadas pelos antigos profetas.
Esses religiosos tinham se misturado, perdido o sabor e não serviam para mais nada, a não ser para serem
lançados fora (Mateus 8:12).
Este é um alerta importante e ao mesmo tempo aterrorizante. Que Deus possa nos guardar do
farisaísmo e da religiosidade adultera que têm tomado conta de muitos que se dizem cristãos. Eles pensam
que são sal da terra, mas não passam de uma mistura monótona e sem sabor. Nas palavras de Jesus, só há
duas possibilidades: ou você é sal da terra ou é sal insípido.

 VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO


Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. (Mateus
5:14). A luz na Bíblia Sagrada aparece em diversas aplicações. De forma geral ela indica o genuíno
conhecimento de Deus, a verdadeira felicidade, a justiça, a bondade, as bênçãos da salvação, o deleite etc.
(cf. Salmos 27:1; 36:9; 97:11; Isaías 9:1-7; 60:19; Mateus 6:22,23; Lucas 1:77-79; Efésios 5:8,9).
A Bíblia declara que Deus é luz (1 João 1:5). Cristo é a manifestação plena dessa luz (João 1:4,5;
8:12; 9:5; Atos 26:13). Por isso o próprio Jesus se apresenta dizendo: “Eu sou a luz do mundo” (João 8:12).
Contudo, a luz de Deus manifestada em Cristo é também refletida nos redimidos, tanto coletivamente como
Igreja quanto individualmente. Daí vem a declaração de Mateus 5:14: “Vós sois a luz do mundo”.
Isso significa que os cristãos não são luz em si mesmos. Na verdade, eles são luz no Senhor (Efésios
5:8). Eles não são a fonte da luz, mas são transmissores da luz. Quando Cristo declarou ser a luz do mundo,
Ele mesmo explicou: “Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12).
Perceba que Ele diz que seus seguidores recebem a luz.
Então se Jesus Cristo é a verdadeira luz do mundo, os cristãos são também a luz do mundo por causa
de sua conexão com Ele. Enquanto Cristo é a luz do mundo original, os crentes são a luz do mundo num
sentido derivado. Um exemplo disso é a relação entre o sol e a lua. O sol é quem possui a luz, mas a lua
brilha porque reflete a luz do sol. Os cristãos são luz porque refletem a verdadeira Luz do mundo.
Então ao dizer aos seus seguidores “vós sois a luz do mundo”, Jesus ensina que os cristãos são o
instrumento que Deus usa para propagar a luz da salvação em Cristo diante do mundo que está em trevas.

 A LUZ NÃO PODE SER ESCONDIDA


Jesus não apenas diz aos crentes “vós sois a luz do mundo”. Ele também diz que a luz que eles
receberam deve brilhar diante dos homens. Isso é inevitável na vida do verdadeiro cristão, da mesma forma
com que é inevitável que uma cidade construída sobre uma colina seja visível a todos. Além disso, Jesus
também diz que não faz sentido alguém ascender uma lâmpada e deixá-la escondida (Mateus 5:14,15).
Portanto, assim como a função de uma lâmpada acessa numa casa é a de iluminar todo o ambiente,
a função do cristão como luz do mundo é brilhar essa luz diante dos homens para que eles vejam suas boas
obras. Mas neste ponto há uma verdade fundamental que deve ser compreendida. As boas obras daqueles
que são luz do mundo e que devem ser vistas pelos homens, jamais podem significar honra e glória para si
mesmos.
Como já foi dito, o verdadeiro Cristão entende que sem Cristo ele não pode brilhar. Então ele não
tem dificuldade em compreender que a finalidade dessas boas obras é trazer glória a Deus. Por isso Jesus
diz: “Brilhe a luz de vocês diante dos homens, para vejam as suas boas obras e glorifiquem a seu Pai que
está no céu” (Mateus 5:16).
Aqui fica o exemplo do profeta João Batista. O próprio Jesus testificou dele dizendo que João foi o
maior homem nascido de mulher. Mas João Batista sabia que ele não era a luz, mas que havia sido chamado
para testificar da verdadeira luz (João 1:8,9). Por isso ele não tinha dificuldade em dizer: “É necessário que
Ele cresça e que eu diminua” (João 3:30).

 SAL E LUZ
Quando Jesus diz que seus seguidores são o sal da terra e a luz do mundo, Ele indica qual deve ser a
posição dos cristãos diante do mundo. Em primeiro lugar, Ele diz que os cristãos, como sal da terra e luz
do mundo, são completamente diferentes desse mundo. Eles são o sal que tem sabor, e não o sal insípido.
Eles são o sal da terra que jamais se conforma com o padrão deste mundo. Eles são a luz que se distingue
das trevas.
Em segundo lugar, ao dizer “vós sois o sal da terra” e “vós sois a luz do mundo”, Jesus também indica
o quão relacionado com o mundo seus seguidores estão. Eles são o sal da terra que combate a deterioração
deste mundo pelo poder do Espírito Santo. Como luz do mundo, eles promovem a bondade, a paz e a
verdade do Evangelho.
Comentado sobre o que significa ser sal da terra e luz do mundo, W. Hendriksen percebe algo muito
interessante. Ele diz que o mundanismo é condenado por Jesus ao dizer que os crentes são o sal da terra e
a luz do mundo. No entanto, a indiferença e o isolacionismo são igualmente condenados pelo Senhor. O sal
deve ser colocado no alimento, e a luz deve brilhar na escuridão ao invés de ficar encoberta.
Ele também conclui dizendo que existem muitas pessoas que nunca abriram a Bíblia para ler, mas estão
constantemente lendo as nossas vidas. Se nossos exemplos não refletirem um ser regenerado, então para
nada servirá as nossas palavras.
Apropriadamente D. L. Moddy também diz que alguém pode pregar com a eloquência do anjo Gabriel,
mas se essa pessoa vive como um demônio, sua pregação não servirá para nada. Lembre-se: somos o sal da
terra e a luz do mundo! Esta não é só mais uma frase de efeito, mas é uma exortação à responsabilidade da
vida cristã.

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