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Tribunal Regional Eleitoral do Pará

PJe - Processo Judicial Eletrônico

29/10/2022

Número: 0602493-33.2022.6.14.0000
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Regional Eleitoral do Pará
Órgão julgador: Desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior
Última distribuição : 29/10/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Impedimento ou Embaraço ao Exercício do Sufrágio, Abuso - De Poder
Político/Autoridade
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
PARTIDO LIBERAL - PARÁ - PA - ESTADUAL JARLES MAGNO CARDOSO COSTA (ADVOGADO)
(IMPETRANTE) ANDERSON MOURA CUNHA (ADVOGADO)
CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO PARA
(IMPETRADO)
POLICIA MILITAR DO ESTADO DO PARA (IMPETRADO)
PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ
(FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
21229 29/10/2022 21:10 Intimação Intimação
453
PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ

MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120) nº: 0602493-33.2022.6.14.0000.


RELATOR(A): Desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior.
IMPETRANTE: PARTIDO LIBERAL - PARÁ - PA - ESTADUAL
ADVOGADO: JARLES MAGNO CARDOSO COSTA - OAB/PA32573
ADVOGADO: ANDERSON MOURA CUNHA - OAB/PA23019
IMPETRADO: CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO PARA
IMPETRADO: POLICIA MILITAR DO ESTADO DO PARA
FISCAL DA LEI: PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ.

DECISÃO

Trata-se de mandado de segurança, com pedido de liminar, impetrado pelo


PARTIDO LIBERAL, contra ato praticado pelo CORONEL JOSÉ DILSON MELO DE
SOUZA JÚNIOR, COMANDANTE GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO PARÁ,
e o CORONEL HEYMAN APOLO GOMES DE SOUZA, COMANDANTE GERAL DO
CORPO DE BOMBEIROS MILITARES DO ESTADO DO PARÁ, os quais supostamente
impediram o exercício de voto de diversos militares, posto que não foi cumprida a regra
estabelecida no art. 233-A, §§2º e 3º, do Código Eleitoral, art. 34, III, da Resolução TSE
nº 23.554/2017, e art. 52 e 54, §1º, da Resolução TSE nº 23.669/2021, o que violaria o
direito subjetivo líquido e certo.

O impetrante alega (ID 21229528), em suma, que “foi publicado BOLETIM


GERAL N° 199, de 27 OUT 2022, da Policia Militar do Estado do Pará (em anexo), que
contraria o dispositivo constitucional, ferindo o direito garantido constitucionalmente de
votar, pois consta no boletim supra citado o que chamamos de ‘aquartelamento dos
militares’” (sic);

Sustenta que “apesar dos esforços empenhados pelo Tribunal Superior


Eleitoral, em procurar efetivar direitos de nossos cidadãos, até o presente momento o
Comando Geral da Polícia Militar e dos Bombeiros Militares, permanecem omissos,
recusando a cumprir a o disposto no art. 233-A, do Código Eleitoral, que é expresso
quanto a obrigatoriedade dos Comandos e encaminharem à Justiça Eleitoral, em até
quarenta e cinco dias da data das eleições, a listagem dos que estarão em serviço no dia
da eleição com indicação das seções eleitorais de origem e destino” (sic);

Assevera que “o boletim Geral do corpo de bombeiros seguiu a


recomendação conjunta nº 003/2022/MP/2ª PJM e Coordenadoria do Núcleo Eleitoral

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do MPPA, publicada no DOE nº 35.160, de 24/10/2022”;

Sustenta que “a exigência publicada pelas entidades coatoras, nada mais


é que o ‘aquartelamento velado”, para os servidores públicos militares, pois, em
situação fática, o militar reside no município de Belém, mais está escalado para
trabalhar no dia 30 de outubro de 2022,no município de Castanhal, e se sua escala
de plantão for as15:00, ele é obrigado a estar no quartel às 7:00 da manhã, com isso
impedindo o direito constitucional do servidor militar de votar”(sic);

Aduz o impetrante que o fundamento relevante “ficou perfeitamente


demonstrado, o direto dos Impetrantes é caracterizado pela garantia ao direito ao voto”
(sic)

Em relação ao risco ao resultado útil do processo), o impetrante alega que


“Encontra respaldo na omissão por parte das autoridades coatora que poderá impedir o
exercício ao sufrágio nas eleições de 2022, e no risco de serem impedidos de votar nesta
eleição, tendo em vista o não encaminhamento até o presente momento da listagem dos
miliares que estarão de serviços nas eleições e o exíguo término do prazo para
procederem o respectivo envio, ou seja, tal circunstância confere grave risco de
perecimento do resultado útil do processo, considerando que o pleito eleitoral se avizinha
em data próxima, qual seja 30/10/2022” (sic).

Como prova pré-constituída, o impetrante juntou aos autos o Boletim geral de


nº 199, datado de 27 de outubro de 2022.

Ao final, o impetrante requer:

1) “a concessão da medida liminar para ANULAR a ORDEM DE SERVIÇO Nº


087/2022 – PREV/DGO – ‘OPERAÇÃO ‘PRONTIDÃO DAS ELEIÇÕES – 2º TURNO’,
disposto no Boletim Geral nº 199 de 27 de outubro de 2022 do Comando Geral da Polícia
Militar do Estado do Pará, bem como determinar às Autoridades coatoras que
encaminhem no prazo determinado pelo Egrégio Tribunal Superior Eleitoral, a listagem
das eleitoras e eleitores que estarão em serviço no dia da eleição, acompanhada dos
respectivos formulários e de cópia dos documentos de identificação com foto”;

2) “Que esta anulação seja estendia ao CORPO DE BOMBEIROS” (sic);

3) Sejam oficiadas as autoridades coatoras, em tempo hábil, para prestar as


informações que considerar pertinentes, referentes ao direito ora invocado;

4) “que inste o representante do Ministério Público Eleitoral para intervir no


feito”;

5) “seja concedida a segurança preventiva, para determinar e garantir aos


Impetrantes o direito do sufrágio na eleição de 2022, devendo as autoridades coatoras
cumprir o prazo estabelecido na Resolução n. 23.669 de 14 de dez. de 2021, republicada
em 01 de agosto de 2022, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”;

6) “finalmente, seja os autos remetidos ao Ministério Público Eleitoral/Federal,


a fim de apurar eventual abuso praticado pelas autoridades coatoras”.

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É o suficiente relatório. Decido.

Antes da análise dos requisitos propriamente ditos, cumpre destacar que as


tutelas de urgência baseiam-se num âmbito de cognição sumária e, portanto, não
exauriente.

Nesta fase de cognição sumária, o julgador examina e sopesa apenas e tão-


somente se os fatos narrados na exordial amparam, com rigor e precisão, os
pressupostos que autorizam os provimentos de ordem liminar: relevância do fundamento
e a probabilidade de ineficácia da providência.

A respeito do voto em trânsito e da transferência temporária, o art. 233-A,


§§2º e 3º, do Código Eleitoral; o art. 34, III, da Resolução TSE nº 23.554/2017 e os artigos
37, §3º, 52 e 54, §1º, da Resolução TSE nº 23.669/2021, estabelecem, respectivamente:

Art. 233-A. Aos eleitores em trânsito no território nacional é assegurado o direito de votar
para presidente da República, governador, senador, deputado federal, deputado estadual e
deputado distrital em urnas especialmente instaladas nas capitais e nos municípios com
mais de cem mil eleitores.

(...)

§ 2º Os membros das Forças Armadas, os integrantes dos órgãos de segurança


pública a que se refere o art. 144 da Constituição Federal, bem como os integrantes
das guardas municipais mencionados no § 8º do mesmo art. 144, poderão votar em
trânsito se estiverem em serviço por ocasião das eleições.

§ 3º As chefias ou comandos dos órgãos a que estiverem subordinados os eleitores


mencionados no § 2º enviarão obrigatoriamente à Justiça Eleitoral, em até quarenta e
cinco dias da data das eleições, a listagem dos que estarão em serviço no dia da
eleição com indicação das seções eleitorais de origem e destino.

Art. 34. Nas eleições gerais, é facultada aos eleitores a transferência temporária de seção
eleitoral para votação no primeiro turno, no segundo turno ou em ambos, nas seguintes
situações:

(...)

III - membros das Forças Armadas, polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia
ferroviária federal, polícias civis, polícias militares, corpos de bombeiros militares e
guardas municipais, que estiverem em serviço por ocasião das eleições; ou

Art. 37. Caberá aos TREs, até 15 de julho de 2022, designar os locais de votação entre os
já existentes ou criá-los especificamente para receber eleitoras ou eleitores que desejam
votar em trânsito.

(...)

§ 3º Até 18 de agosto de 2022, os TREs poderão atualizar os locais disponíveis para o


voto em trânsito em função da demanda, observando a permanente disponibilidade
de vagas, atualizando de imediato a relação referida no § 2º deste artigo.

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Art. 52. Integrantes das Forças Armadas, da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,
Polícia Ferroviária Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Penal Federal, Estadual e
Distrital, dos Corpos de Bombeiros Militares, das Guardas Municipais e os(as) agentes de
trânsito, que estiverem em serviço por ocasião das eleições, poderão solicitar a
transferência temporária para votar em local de votação que viabilize seu exercício do
voto.

Art. 54. A transferência temporária da eleitora ou do eleitor de que trata o art. 52 desta
Resolução deverá ser efetuada mediante formulário, a ser fornecido pela Justiça Eleitoral,
contendo o número da inscrição, o nome, o local de votação de destino, sua manifestação
de vontade e sua assinatura, assim como em quais turnos votará.

§ 1º As chefias ou comandos dos órgãos a que estiverem subordinados os eleitores


mencionados no caput deste artigo deverão encaminhar à Justiça Eleitoral, na forma
que for previamente estabelecida, até 18 de agosto de 2022, listagem das eleitoras e
dos eleitores que estarão em serviço no dia da eleição, acompanhada dos respectivos
formulários e de cópia dos documentos de identificação com foto.

Nota-se que, de fato, é dever das chefias e comandantes dos integrantes dos
órgãos de segurança pública encaminhar “a Justiça Eleitoral, em até quarenta e cinco
dias da data das eleições, a listagem dos que estarão em serviço no dia da eleição com
indicação das seções eleitorais de origem e destino” (sic).

A mencionada norma possui a finalidade de permitir que tais profissionais


exerçam o direito ao voto, quando deslocados para trabalhar em localidade diversa do
seu domicílio eleitoral.

Verifica-se, entretanto, que o eleitor deve formular o mencionado pedido


perante a Justiça Eleitoral até o dia 18 de agosto do ano da eleição, para permitir que
sejam realizados os procedimentos necessários para que o nome conste na sessão
eleitoral desejada.

Desse modo, ao considerar que a eleição ocorrerá amanhã, data venia, não
há mais tempo hábil para tal procedimento nessa eleição.

Quanto ao pedido “para ANULAR a ORDEM DE SERVIÇO Nº 087/2022 –


PREV/DGO – ‘OPERAÇÃO ‘PRONTIDÃO DAS ELEIÇÕES – 2º TURNO’, disposto no
Boletim Geral nº 199 de 27 de outubro de 2022 do Comando Geral da Polícia Militar do
Estado do Pará”, considero desarrazoado, pois inviabilizaria a logística definida para
garantia da segurança pública no Estado do Pará.

Por outro lado, quanto aos policiais militares e bombeiros militares que foram
designados para trabalhar no seu domicílio eleitoral, é ilegal qualquer tentativa no sentido
de embaraçar o livre exercício do direito ao voto, devendo as autoridades coatoras
providenciarem escalas para possibilitar que eles possam votar livremente.

Ora, “Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio”, constitui, inclusive, crime


eleitoral, nos termos do art. 297, do Código Eleitoral.

Com essas considerações, DEFIRO PARCIALMENTE A MEDIDA pleiteada

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para DETERMINAR que os policiais militares e os bombeiros militares designados para
trabalhar no seu domicílio eleitoral não sejam impedidos, de forma alguma, de votar.

Imponho multa, na pessoa física das autoridades coatoras, de R$-100.000,00


(cem mil reais) para cada descumprimento da ordem, ou seja, por cada policial militar ou
bombeiro militar que for impedido de votar, sob qualquer pretexto.

Notifique-se as autoridades apontadas como coatoras para, no prazo de 10


(dez) dias, apresentar informações, de acordo com o art. 7º, I, da Lei nº 12.016/2009,
cientificando-as do o inteiro teor desta decisão.

Cientifique-se nos termos do art. 7º, II, da Lei n.º 12.016/2009, para
querendo, ingressar no feito.

Em seguida, abra-se vista ao Exmo. Senhor Procurador Regional Eleitoral


para apresentar parecer, dentro do prazo improrrogável de 10 (dez) dias, com
fundamento no art. 12, da Lei n.º 12.016/2009.

Após, cumpridas as diligências com a estrita observância das cautelas legais,


retornem conclusos os autos.

Publique-se. Intimem-se.

Belém, 29/10/2022.

Desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior


Relator

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