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[Poema 33]

De que me servem as palavras,

Se o amor embebedou-me o coração?

Se envolvi o diamante com meu manto,

Por que desfaria o embrulho?

Quando sua carga era leve,

O prato da balança se erguia.

Agora, que o prato está cheio,

Qual a necessidade de pesar?

O cisne que pousou no lago

Buscaria outra vez a poça d’água?

Se o Senhor está dentro de ti,

Para que abrir os olhos?

Kabir diz: Escutai, ó irmãos!

Aquele que roubou meu olhar agora vive comigo.

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[Poema 12]

Conta-me, ó Cisne, tua velha história.

De onde viestes? Para onde vais?


Em que margem pousarás para descansar?

A qual meta entregastes o coração?

Esta é a manhã da consciência!

Voemos juntos! Desperta! Segue-me!

Há um lugar livre da dúvida e da tristeza,

Onde o terror da morte não impera.

Lá, florescem bosques em eterna primavera,

E sua fragrância faz avançarmos mais e mais.

Imerso nela, o coração, qual abelha, se inebria.

Imenso nela, já não quer outra alegria.

Nota ao Poema 12

Dos poemas vertidos por Tagore, este foi, talvez, o que mais repercutiu no Ocidente,
impressionando profundamente Yeats e outros intelectuais que o leram. De fato, o símbolo do
cisne é recorrente na cultura mundial. A história do Patinho Feio, que, ridicularizado por sua
aparência e inadaptado ao seu meio durante a infância, cresce e amadurece como um esplêndido
cisne, é uma clássica metáfora daquele que trilha o caminho espiritual. Seu autor, o
dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 – 1875), a considerava autobiográfica. E o escritor
Idries Shah afirma que Andersen se inspirou em uma passagem do Masnavi, a obra-mestra de
Rumi. No hinduísmo, o cisne é a montaria (vahana) da deusa Saraswati, protetora do
conhecimento, da música e da literatura. E o título Paramahansa (Supremo Cisne) foi atribuído
a muitos mestres que teriam alcançado a iluminação, aludindo à capacidade do cisne de
transitar entre os diferentes planos de realidade (a terra, a água, o ar) sem se apegar a nenhum
deles. Ramakrishna e Yogananda foram os mais famosos iogues dos tempos modernos que
receberam esse título.

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[Poema 78]

Ó Sadhu!
Ouve minhas palavras imortais.

Para teu próprio benefício, considera-as bem.

Tu te afastaste do Senhor, da árvore na qual floresceste.

Afastando-te, perdeste o senso. Perdendo o senso, compraste a morte.

Todos os saberes, todos os ensinamentos provém dele. De quem mais?

Se tens isto por certo, o que há para temer? Então, nada teme.

Qualquer nome que invoques nomeia o Sem Nome.

Entende isto e livra-te do ardil das palavras.

Ele habita o coração de todas as coisas.

Por que, então, se refugiar no deserto desolador?

Se pões o Senhor longe de ti, o que reverencias é a distância.

Se o Senhor não está perto, quem é, então, que sustenta este mundo?

Kabir diz: Por que sofres com a dor da separação, se Ele te preenche?

Conhece-te a ti mesmo, ó Sadhu, e o conhecerás integralmente.

Pois, dos pés à cabeça, não há nada em ti que não seja Ele.

Canta com alegria e o sentirás em teu coração.

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O poeta se faz vidente por um longo, imenso e pensado desregramento de todos os
sentidos. todas as formas de amor, de sofrimento, de loucura; ele busca a si mesmo,
ele exaure em si mesmo todos os venenos, para então guardar apenas as
quintessências. inefável tortura na qual necessita de toda a fé, toda a força sobre-
humana, onde ele se torna entre todos o grande doente, o grande criminoso, o grande
maldito, – e o supremo sábio! – pois ele chega ao desconhecido! uma vez que ele
cultivou sua alma, já rico, mais que todos! ele chega ao desconhecido, e quando,
enlouquecido, ele acabaria por perder a inteligência de suas visões, ele as viu! que ele
estoure em seu sobressalto pelas coisas inaudíveis e inomináveis: virão outros
horríveis trabalhadores; eles começarão pelos horizontes onde o outro se abateu!
Arthur Rimbaud

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