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Livro - Daniela Biondi

Book · November 2023

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Daniela Biondi Everaldo Marques de Lima Neto


Universidade Federal do Paraná Universidade Federal Rural de Pernambuco
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Daniela Biondi
Everaldo Marques de Lima Neto

Pesquisas em Arborização de
Ruas

Editado por Daniela Biondi

Curitiba-PR
2011
Direitos Exclusivos desta edição:
© 2011 by Daniela Biondi

Capa: Angélica Rodrigues e Daniela Biondi

Fotos dos textos: Os autores

Diagramação: Everaldo Marques de Lima Neto

Impressão: Gráfica Capital

Ficha catalográfica elaborada por Deize C. Kryczyk Gonçalves CRB 1269/PR

Biondi, Daniela
Pesquisas em arborização de ruas / Daniela Biondi, Everaldo
Marques de Lima Neto. – Curitiba : O Autor, 2011.
150p. : il.

ISBN 978-85-905141-3-8

1. Arborização das cidades. 2. Planejamento urbano. 3.


Árvores – Cultivo. 4. Inventário florestal. I. Lima Neto,
Everaldo Marques de. II. Título.

CDD – 715.2
CDU – 712.4

Editado por Daniela Biondi


Av. Lothário Meissner, 900
80210-170 Curitiba – PR
Fones: (41) 3360-4232 / 3360-4310
dbiondi@ufpr.br
SUMÁRIO

1 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas.................................. 09


Daniela Biondi

2 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas..................................................29


Angeline Martini

3 Produção de Mudas para Arborização de Ruas.................................... 49


Daniela Biondi

4 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas............... 69


Luciana Leal

5 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas...... 91


Rogério Bobrowski

6 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas...............111


Everaldo Marques de Lima Neto

7 Acessibilidade: Um Novo Desafio para Arborização de Ruas............. 131


Everaldo Marques de Lima Neto e Daniela Biondi
APRESENTAÇÃO

As pessoas que trabalham com pesquisa no tema


Arborização Urbana, têm percebido nas últimas décadas, o aumento de
eventos e publicações nesta área. Isto reflete o crescente interesse da
sociedade, especificamente da comunidade acadêmica em promover a
arborização nas cidades e investigar problemas existentes no
ecossistema urbano.

Espera-se que a evolução deste tema não ocorra apenas por


causa do aumento de áreas urbanizadas no mundo e no Brasil, e sim
pela conscientização do público em geral com relação aos valores e
importância da arborização urbana.

Considerando que mais de 80% da população vive em áreas


urbanas no Brasil, não é difícil imaginar o número de obstáculos que a
arborização de ruas precisa superar para o seu bom desenvolvimento.
Normalmente as árvores no meio urbano estão em condições adversas
do local de sua procedência – a floresta. A grande complexidade entre
os fatores ecológicos e sociais existentes no meio urbano vem
comprometendo o desempenho das árvores e a qualidade de vida
urbana. Uma das maneiras de melhorar estas condições é através da
pesquisa.

Para corroborar com as ciências que são relacionadas com a


arborização de ruas é que surgiu a proposta deste livro, que tem como
objetivo principal reunir vários trabalhos realizados durante os últimos
cinco anos por pesquisadores do Laboratório de Paisagismo da
Universidade Federal do Paraná.

Profª Drª Daniela Biondi


Contato dos autores

Angeline Martini - martini.angeline@gmail.com


Daniela Biondi – dbiondi@ufpr.br
Everaldo Marques de Lima Neto – everaldo.limaneto@gmail.com
Luciana Leal - luciana_paisagem@yahoo.com.br
Rogério Bobrowski - bobrowski_roger@yahoo.com.br
8 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Introdução de Espécies na Arborização de Ruas

Daniela Biondi
Engenheira Florestal, Dra., Professora Associada do Departamento de
Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná.

Qualquer processo de introdução de espécies, nativas ou


exóticas, na arborização de ruas requer monitoramento de indivíduos
em diferentes fases de crescimento no local ou a avaliação da condição
de sua permanência no ambiente.
Atualmente a indicação de espécies para a arborização urbana
é feita ainda de maneira muito empírica, utilizando apenas as
informações estéticas (Biondi, 1996) e bibliográficas. Selecionar uma
espécie só pela sua aparência não é o suficiente para o sucesso de sua
adaptação no meio urbano e não garante a permanência dos mesmos
atributos estéticos pretendidos para o local.
Dependendo das condições urbanas locais, uma raiz pivotante
que é característica de uma espécie, por exemplo, pode ser suprimida e
substituída por raízes superficiais, se as condições do solo ou da
profundidade do lençol freático não forem semelhantes ao da área de
ocorrência natural da espécie. As condições microclimáticas
relacionadas à insolação, temperatura e precipitação também podem
alterar as características fenológicas, tais como: época e intensidade de
floração e, consequentemente a produção de frutos. Segundo Biondi e
Althaus (2005), muitas vezes a espécie introduzida assume um
comportamento que foge dos padrões esperados, observados no meio
natural, como a forma da copa, o tipo de raiz e a susceptibilidade a
pragas, doenças e poluição.
A única maneira de conhecer o comportamento de espécies
arbóreas no meio urbano é plantando árvores em calçadas. Pela
complexidade da interação de fatores existentes, infelizmente, não é
possível obter informações reais utilizando simulações de ambientes
urbanos. É por isso que ao se introduzir espécies novas nas vias
públicas é necessário um monitoramento para uma futura avaliação do
seu desempenho (Biondi e Leal, 2009a).
Para a seleção de árvores de rua é necessário considerar:
desenvolvimento, porte, copa (forma, densidade e hábito), floração,
frutificação, resistência a pragas, doenças e poluição, ausência de
princípios tóxicos e de preferência que sejam nativas (Biondi, 2004;
Cobalchini, 2004). Phillips (1993) complementa dizendo que além
destas características, as árvores precisam ter boa estrutura, ser fortes,
não devem ter galhos quebradiços e raízes superficiais, devem ser
tolerantes às características do solo urbano, devem precisar de pouca
manutenção e, acima de tudo, serem bonitas o ano todo. Segundo
Gerhold e Salksteder (1982), a incorreta escolha de espécies pode
resultar em sérias perdas financeiras e estéticas. Muitas árvores
morrem prematuramente ou sofrem injúrias, resultando em excessivos
custos de remoção e substituição (Biondi e Leal, 2009b).
Biondi e Leal (2009b) consideram importante analisar também
nas árvores plantadas em calçadas, qualquer pré-disposição da espécie
em desenvolver brotação no tronco ou na raiz, porque pode gerar
conflitos com os pedestres pela maior ocupação da área do passeio e,
consequentemente, podem exigir maior manutenção, aumentando
assim os custos. Além disso, a eliminação frequente destas brotações
pode ser uma porta de entrada a pragas e doenças pelos cortes
deixados.
10 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Quanto à procedência das espécies, geralmente se dá


preferência às espécies nativas da região. No paisagismo, o uso de
plantas nativas, ao mesmo tempo em que colabora para a preservação
da flora local, é capaz de reforçar identidades regionais (Heiden et al.,
2006).
No planejamento da arborização de ruas é imprescindível o
conhecimento da estrutura urbana para não haver conflito entre árvore
e ambiente. CEMIG (1996) recomenda uma análise do local, levando-
se em conta suas necessidades, limitações, tipo predominante de
ocupação, características do tráfego, largura das ruas, tipo de solo e
características ambientais. Além disso, também deve ser consideradas
as características da via (expressa, secundária, principal), as
instalações, equipamentos e mobiliários urbanos subterrâneos e aéreos,
de água, de esgoto, de eletricidade, cabos, fibras óticas, telefones
públicos e placas de sinalização viária/trânsito entre outros, além do
recuo das edificações (São Paulo, 2005).
Pode-se perceber que o ambiente urbano oferece para as
árvores condições geralmente contrárias a um ambiente natural. Por
isso, a introdução de uma espécie no ambiente urbano é um processo
muito complexo e demorado, que requer, além das informações sobre
as espécies, informações sobre o ambiente e sobre a relação
árvore/ambiente (Biondi, 1996).
O objetivo deste trabalho é demonstrar que a introdução de
espécies na arborização de ruas sem os conhecimentos gerados pela
pesquisa ou experimentação faz desta atividade uma eterna incerteza.

Pesquisas Bibliográficas na Introdução de Espécies


A pesquisa bibliográfica sustentada por uma base teórica ou
documental, sem a prática experimental é de extrema importância em
todas as etapas da pesquisa experimental, seja na detecção e descrição
. Pesquisas em Arborização de Ruas 11

do problema, na formulação e desenvolvimento dos objetivos,


hipóteses e justificativas, enfim, em todo embasamento científico da
discussão dos resultados obtidos de uma pesquisa.

Seleção de Espécies
A seleção de espécies para a arborização de ruas deve ser
baseada nas características intrínsecas da espécie que permitam
conviver sem conflitos em ambientes urbanos com grande restrição
espacial e ecológica. No entanto, há algumas características em
espécies que podem ser contornadas com práticas silviculturais, como:
rustificação em viveiros e podas de formação. Não se pode descartar
também a possibilidade de haver possibilidades de intervir na
remodelação de características indesejáveis de espécies com o
melhoramento genético. No Brasil, mais especificamente na área de
arborização urbana, estes recursos ainda são incipientes, dada a pouca
importância que se dá a arborização urbana.
De acordo com Biondi (2004) e Cobalchini (2004), para a
seleção de árvores de rua é necessário considerar as seguintes
características: desenvolvimento da espécie - rápido, médio e lento;
porte - pequeno, médio e grande; copa - forma, densidade e hábito;
floração e frutificação - tamanho e intensidade; resistência a pragas,
doenças e poluição, ausência de princípios tóxicos e de preferência que
sejam espécies nativas.
As características das espécies que irão compor a cobertura
vegetal pública de uma cidade devem ser criteriosamente analisadas,
antes mesmo de serem produzidas em viveiros (Biondi e Leal, 2008).
A indicação de espécies nativas para a arborização, com base
em observações dos aspectos estéticos podem ser encontradas em
bibliografias de Lorenzi (1992), Lorenzi (1998), Lorenzi e Souza
(2001), Lorenzi e Mattos (2002) e Lorenzi et al. (2003).
12 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Devido a intensa introdução de espécies exóticas na


arborização de ruas no Brasil, tem-se pregado o uso de espécies
nativas, geralmente quando é possível encontrar em viveiros
comerciais ou quando os viveiros municipais conseguem propagá-las
em grande escala. É comum se encontrar, na maioria das cidades
brasileiras, por meio de censo ou inventário amostral, altos percentuais
de espécies exóticas, geralmente acima de 70%. Isto provavelmente é
fruto da influência do período colonial; das poucas informações que
existem sobre as espécies nativas das diversas regiões do Brasil e das
condições adversas do meio urbano que dificultam a sua propagação e
plantio em áreas urbanas.
É preciso considerar o meio urbano como um ecossistema com
restrições, que devem ser avaliadas, para relacionar com as exigências
vitais das espécies. Jacobi (s/d) diz que os centros urbanos se
desenvolvem de forma diferente dos ecossistemas naturais,
principalmente porque alguns processos e relações ecológicas são
alterados e mais intensos nas cidades, tais como a invasão de espécies,
a competição, mutualismos e a sucessão ecológica. Naturalmente, a
abundância de muitas espécies está correlacionada negativamente com
o grau de urbanização. As plantas, por exemplo, precisam de solos
especiais ou certas espécies de polinizadores para produzir sementes.
Em outros casos, a espécie pode se desenvolver somente em estágios
avançados de sucessão ecológica, que em geral não ocorrem nas áreas
urbanas.
No ecossistema urbano, quanto maior a diversidade de
espécies vegetais, maior a possibilidade de instalação definitiva de
uma fauna mais diversificada. De acordo com Biondi e Kischlat
(2006), quanto maior o número de espécies presentes no ecossistema,
maior é a sua capacidade de resistir às variações e de absorver
impactos negativos, como a poluição, e as adversidades climáticas, e
menores são as possibilidades do surgimento de pragas e doenças que
afetam a fauna e a flora.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 13

Atualmente, em cidades como Curitiba, a municipalidade


demonstra uma grande preocupação tanto com a introdução de
espécies nativas dos ecossistemas locais como na erradicação das
espécies exóticas invasoras existentes na arborização de ruas e nas
áreas verdes públicas.
Biondi e Pedrosa-Macedo (2008) afirmam que o planejamento
para a seleção de espécies não deve ser feito usando-se espécies que
possam suprimir ou comprometer o estabelecimento das demais
espécies. No caso de espécies exóticas invasoras, o uso deve ser
coibido tanto no plantio como na produção de mudas, e o cuidado deve
ser ainda maior, porque se espera que os técnicos municipais estejam
sempre atualizados para manejar adequadamente as espécies invasoras
existentes e planejar as futuras áreas com responsabilidade. O manejo
dessas espécies nas áreas verdes é extremamente importante,
principalmente para não ameaçar as espécies nativas remanescentes
nos fragmentos florestais.
Devido à grande diversidade de funções que esta vegetação
desempenha nos ambientes urbanos, são necessários critérios rígidos
na seleção de espécies, tanto com relação ao ecossistema local, como
em relação ao público que convive nestes espaços (Biondi e Leal,
2008).

Pesquisas Aplicadas na Introdução de Espécies


A pesquisa experimental é aquela que pratica suas hipóteses
em ambientes como laboratório e campo. Exige uma fundamentação
técnico-científica tanto para a sua base e período de observação como
na interpretação dos dados obtidos.
14 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Processo Participativo na Seleção de Espécies


A inclusão do processo participativo para a seleção de espécies
nos órgãos responsáveis pela arborização de ruas, geralmente as
prefeituras, deveria ser mais comum, mas não é. A participação dos
munícipes neste processo poderia diminuir o grau de vandalismo nas
ruas, tornando-os co-atores e responsáveis pela escolha das árvores.
Biondi et al. (1996) afirmam que ninguém melhor que o público local,
que tem contato direto com a arborização de sua rua, para avaliar e
opinar sobre as melhores espécies.
Queiroz (2001), pesquisando as preferências da população
para servir de subsídios ao planejamento participativo da arborização
de ruas de Curitiba-PR, afirma que a população possui opiniões
formadas sobre diversos temas ligados a arborização e muitas delas
podem conflitar com os preceitos técnicos, mas mesmo assim elas
demonstram a necessidade de conhecer as justificativas que as
sustentam.
Numa pesquisa com o mesmo objetivo Biondi et al. (1996)
constataram em Recife-PE, que mesmo sem a formação técnica, os
residentes são capazes de detectar as falhas e os problemas graves da
arborização de ruas através de suas experiências positivas e negativas
in loco.
As duas pesquisas citadas acima conseguiram delinear um
perfil da árvore mais adequada para as condições de suas ruas. Isto
demonstra que a opinião da população reflete as necessidades das
condições locais e sociais da cidade.
Atualmente, um dos problemas mais comuns no
desenvolvimento de pesquisas como estas é a determinação do número
de amostras suficientes para a sua representatividade, principalmente
para uma população infinita, como por exemplo: pedestres numa rua e
visitantes ou turistas abordados no local. Quando não é possível
aplicar as fórmulas estatísticas para uma amostragem em população
. Pesquisas em Arborização de Ruas 15

finita e infinita, devido às dificuldades de estabelecer ou quantificar as


variáveis da pesquisa, pode-se fazer uma quantificação nas respostas
(número absoluto ou percentagem) numa amostragem piloto ou
preliminar. Quando houver predominância de uma mesma resposta
(mais de 70%) em todas as questões diretamente ligadas ao objetivo da
pesquisa, o número de amostras pode estar se mostrando suficiente ou
está próximo. O ideal é sempre coletar mais amostras, mesmo depois
deste indicativo, para comprovar se as respostas que já são ou têm
tendência a predominância. O bom senso na pesquisa é tudo. Para
fortalecer esta amostragem, deve-se procurar vincular ou estratificar a
coleta por setores, regiões, estações do ano, período de tempo ou
horários que indiquem influência no número de entrevistados. Não se
podem esquecer as justificativas para o estabelecimento deste
procedimento para a sua replicação em outras pesquisas.

Seleção de Árvores Porta-Semente


A seleção de árvores porta-sementes para a arborização de
ruas tem como produto os melhores indivíduos de uma determinada
espécie que obrigatoriamente apresentam as melhores condições
estéticas e fitossanitárias para a reprodução de indivíduos semelhantes
(Biondi, 1996).
No meio florestal, a seleção de árvores porta-sementes faz
parte de um processo habitual nas empresas que necessitam que a
produção de mudas garanta a qualidade da matéria-prima desejada. Já
nos órgãos que são responsáveis pela produção de mudas para a
arborização urbana não se observa esta preocupação. Este fato pode
ser justificado por três hipóteses.
A primeira delas são as condições físicas precárias da maioria
dos viveiros municipais que são refletidas pela não aplicação dos
16 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

parâmetros técnico-científicos nas atividades rotineiras dos


profissionais, embora na sua maioria apresentem boa capacitação.
A segunda hipótese está relacionada com o volume trabalho
existente e a quantidade insuficiente de funcionários que não permite
uma especificidade de tarefas. Isto obriga que os mais graduados
realizem atividades mecânicas e não se concentrem no planejamento e
nos fundamentos científicos da produção de mudas com qualidade.
A terceira hipótese está relacionada com a crença científica da
perpetuação das características estéticas e fisiológicas. Ter a convicção
de que faz toda diferença “de quem” e “de onde” são coletadas as
sementes para a produção de mudas com as características desejáveis
para arborização de ruas.
Nesta atividade não foram encontradas pesquisas aplicadas,
embora existam pesquisas relacionadas com o acompanhamento
fenológico de espécies, que é o primeiro passo para a seleção de
árvores porta-sementes – referentes ao conhecimento da época e
duração da floração e frutificação das espécies.
Com algumas tentativas frustradas de finalizar pesquisas deste
âmbito, são colocadas aqui algumas considerações relativas ao
objetivo, metodologia e dificuldades. O objetivo da realização de
pesquisas na seleção de árvores porta-sementes é, entre outras,
investigar os fatores eco-fisiológicos que interferem nas características
desejáveis das árvores. É importante também conhecer e buscar
relações entre as características estéticas e ambientais com a produção
de sementes.
Quanto aos procedimentos metodológicos, assim como em
outras áreas, busca-se geralmente adaptar metodologias aplicadas na
ciência florestal para as áreas urbanas. De acordo com Biondi (1996),
os testes podem ser feitos tanto em condições controladas - casa de
vegetação ou laboratório, como em condições de campo – ruas,
avenidas, praças e outros locais urbanos. Para analisar as árvores em
. Pesquisas em Arborização de Ruas 17

tais condições é necessário, porém, definir o delineamento do


experimento para evitar futuros problemas na avaliação. A escolha
correta do delineamento vai depender do que se quer testar e do
material disponível.
É muito importante que a pesquisa sobre a seleção de árvores
porta-sementes seja no próprio ambiente urbano para que os
descendentes desta matriz apresentem a adaptação ao meio e as
características desejadas. Vale lembrar que a herança destas
características vai depender das formas de propagação. Quando for
utilizada a propagação através de sementes, tem-se 50% de certeza que
os descendentes desta matriz apresentarão as características desejáveis.
Utilizando-se a propagação vegetativa tem-se 100% de indivíduos com
as mesmas características da árvore porta-sementes.
As dificuldades para delinear uma pesquisa para a seleção de
árvores porta-sementes são, na maioria, relacionadas com as
características do meio urbano e as práticas de manejo da arborização
de ruas. Para se ter resultados reais e seguros, o experimento precisa
ser feito com as próprias árvores plantadas nas calçadas. Sendo assim,
os indivíduos arbóreos selecionados devem apresentar o mínimo de
interferência com a estrutura urbana, tais como: ausência de fiação
aérea, calçadas com recuo predial, áreas permeáveis ao redor das
árvores (canteiros) e locais com pouco fluxo de pedestres. Além disso,
as árvores não devem ser submetidas a práticas de manejo que
interferem no seu processo fisiológico, como as podas. Com o controle
destas condições, a pesquisa é praticamente direcionada para a seleção
do melhor indivíduo, seguida pela análise e avaliação da sua
produtividade e qualidade das sementes produzidas.
Estas dificuldades descritas acima são experiências de
pesquisas inacabadas por causa de transtornos que inviabilizaram a
continuação do processo de investigação com árvores porta-sementes,
18 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

como: podas drásticas e remoção das árvores selecionadas sem


nenhuma justificativa visível.

Domestificação ou Rustificação de Espécies


A domestificação ou rustificação é uma prática realizada com
espécies nativas, provenientes de ambientes naturais, que são levadas
definitivamente para ambientes com condições adversas.
Vale salientar que, para o uso de espécies nativas em
povoamentos florestais esta prática é dispensável, embora as espécies
também sofram mudanças ambientais. Porém, estas mudanças não são
tão drásticas porque elas continuam habitando áreas rurais, com menos
efeitos antrópicos do que as áreas urbanas. No entanto, elas deixam de
conviver num microclima com espécies de diversas formas de vida
para um ambiente composto por uma única espécie em plantios
homogêneos.
Já em ambientes urbanos, a rustificação é extremamente
necessária porque a mudança ambiental é mais radical. As árvores,
além de serem plantadas isoladamente em áreas impermeáveis
(calçadas) estão em ambientes com fortes alterações microclimáticas e
edáficas. Para as espécies da arborização de ruas, esta prática deve ser
realizada durante a sua fase juvenil, geralmente no viveiro de espera.

Monitoramento de Espécies em Plantios Experimentais


Biondi et al. (1990) consideram o monitoramento das mudas
plantadas, a 3ª fase do plano de arborização de ruas, a qual poderá ser
executada tanto pela empresa de obras como pela equipe que elaborou
o plano. Os autores dividem o monitoramento das mudas em duas
etapas: (1) avaliação da adaptação das mudas no local e (2) avaliação
da ação conscientizadora. A 1ª etapa deve ser realizada depois de 30
. Pesquisas em Arborização de Ruas 19

dias do plantio para avaliação do índice de pegamento das mudas


plantadas e investigação das possíveis causas de danos. E nos
primeiros seis meses serão investigadas as causas, que podem ser de
origens abióticas e bióticas. A 2ª etapa, que pode ser realizada paralela
a 1ª, é a avaliação do índice de vandalismo. Caso o índice de replantio
por causa do vandalismo seja alto, acima de 15%, é recomendado o
fortalecimento das ações educativas realizadas antes do plantio.
O período de monitoramento de espécies introduzidas deve
estar associado ao seu crescimento ou a velocidade de
desenvolvimento. O período mais crítico é o estágio inicial da árvore
devido à fase de adaptação ao meio urbano. Depois, o monitoramento
pode ser estabelecido em períodos maiores. Os dados coletados devem
ser sobre as características das árvores (altura, diâmetro do tronco,
densidade da copa, área foliar, incidência de pragas e doenças) e sobre
as características do local (graus de poluição, fluxo de veículos e
pedestres, solo, umidade, vento, radiação e outros). Quando a espécie é
totalmente desconhecida em áreas urbanas, o monitoramento deve ser
contínuo com as avaliações periódicas estabelecidas de 5 em 5 anos ou
de 10 em 10 anos (Biondi e Althaus, 2005).
Biondi e Leal (2010) avaliando o crescimento e os danos
causados por vandalismo em mudas de Allophylus edulis (vacum)
plantadas experimentalmente na arborização de ruas na cidade de
Curitiba – PR constataram que as mudas apresentaram lento
crescimento, com um incremento médio de 0,34 cm em altura total e
0,70 cm em diâmetro (Figura 1). Além disso, o número de brotações
podadas no segundo ano foi sete vezes menor que no primeiro ano,
indicando uma característica positiva para a arborização de ruas.
Embora os moradores tenham sido consultados sobre o
plantio, houve perda de 20% das árvores plantadas, causada por
vandalismo. Também 45% delas sofreram danos no tronco, 45%
tiveram o tutor retirado, 25% tiveram seu tronco quebrado e 10%
20 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

apresentaram entulhos na base do tronco. É necessário, portanto, um


reforço para o aumento da sensibilização e comprometimento dos
residentes com a arborização da rua.

Figura 1 – Allophylus edulis (vacum) plantadas experimentalmente na


arborização de rua na cidade de Curitiba – PR

Com o monitoramento das mudas chegou-se as seguintes


conclusões: o crescimento das mudas de Allophylus edulis após dois
anos de plantio é lento, podendo ser uma resposta das condições
ambientais (climáticas e/ou edáficas) do meio urbano e as práticas
silviculturais (poda) realizadas após o plantio (Figura 2).
Pelo alto índice de vandalismo às mudas, é necessário, um
reforço visando aumentar a sensibilização dos transeuntes e
comprometimento dos residentes com a arborização da rua. Os
resultados obtidos pelo monitoramento realizado podem ajudar a
mudar as práticas de manejo realizadas nas árvores plantadas e
reverter ou minimizar o processo de vandalismo local.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 21

Figura 2 – Monitoramento de Allophylus edulis (vacum) na


arborização de rua na cidade de Curitiba – PR

Outro plantio experimental na arborização de ruas de Curitiba-


PR foi feito com Maytenus evonymoides Reissek (Celastraceae),
conhecida popularmente por periquiteira (Figura 3). É uma espécie
nativa de Curitiba, de porte pequeno, com altura que varia de 3,0 a
6,50 m, frutífera muito apreciada pela fauna. Em agosto de 2008, 17
mudas com altura média de 1,72 m e 0,75 cm de diâmetro foram
plantadas em ruas selecionadas. No período de 15 meses, as mudas
foram avaliadas a cada três meses através das seguintes varáveis:
altura total (m), diâmetro (cm) e número de ramos ou gemas podadas.
22 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Durante o período de monitoramento, as mudas cresceram


apenas 0,12 cm de altura e 0,18 cm de diâmetro. Foi observado
brotações na base do tronco, demonstrando característica arbustiva,
aspecto negativo para atender os requisitos da arborização de ruas.
Considerando-se as condições urbanas adversas e a adaptação da
espécie ao local, o monitoramento deve ser continuado por um período
maior (Biondi et al., 2009).

Figura 3 – Maytenus evonymoides Reissek (piriquiteira) plantada


experimentalmente na arborização de rua na cidade de Curitiba – PR

Quando o monitoramento das espécies plantadas


experimentalmente nas ruas não é feito periodicamente para o registro
. Pesquisas em Arborização de Ruas 23

do comportamento das espécies no local, uma avaliação das


características do local e das espécies pode fornecer informações
importantes para a sua indicação na calçada ou em outros locais.
Nas décadas de 1980 e 1990, a Prefeitura Municipal de
Curitiba-PR plantou experimentalmente na arborização de ruas as
seguintes espécies: Aleurites fordii Helmsl (tungue), Aspidosperma
olivaceum Muell. Arg. (peroba), Citharexylum myrianthum Cham
(jacataúva), Clethra scabra Pers. (carne-de-vaca), Holocalyx balansae
Miq (alecrim), Jacaranda puberula Cham. (caroba), Michelia
champaca Linn. (magnólia-amarela) e Vochysia bifalcata Warm.
(guaricica). Por motivos desconhecidos, estas espécies não foram mais
plantadas sem nunca terem sido avaliadas tecnicamente (Figura 4).
Na busca de fornecer informações sobre as espécies e a forma
como foram conduzidas nas ruas, Biondi e Leal (2009a) analisaram
parâmetros arbóreos quantitativos e qualitativos quanto às
especificações técnicas de plantio e manutenção.
Constataram que os parâmetros quantitativos que melhor
avaliaram o comportamento das espécies nas calçadas foram: altura da
árvore ou porte, altura de bifurcação, CAP (circunferência à altura do
peito) e diâmetro de copa, porque podem ser facilmente
correlacionados com os componentes do ambiente urbano. Os
parâmetros qualitativos que melhor avaliaram o comportamento das
espécies nas calçadas foram: forma da copa, condição da raiz, brotação
no tronco ou na raiz e alinhamento do tronco, porque refletem tanto as
condições ambientais como o manejo das árvores. As especificações
de plantio relativas à largura de calçada, distância de meio-fio e
espaçamento foram condizentes com as características das espécies. O
maior problema do planejamento foi a desconsideração do porte das
árvores com a fiação aérea.
24 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Figura 4 - Espécies experimentalmente plantadas nas ruas de Curitiba-


PR nos anos de 1980 e 1990

Michelia champaca Clethra scabra


(magnólia-amarela) (carne-de-vaca)

Vochysia bifalcata Aspidosperma olivaceum (peroba)


(guaricica)
. Pesquisas em Arborização de Ruas 25

Considerações Finais
Percebe-se claramente que os resultados das pesquisas
realizadas na arborização de ruas estão sempre sujeitos a mais
comprovações pela dificuldade de isolar os fatores ecológicos e sociais
presentes no ambiente urbano.
É fundamental a realização de pesquisas em todas as etapas da
introdução de espécies na arborização de ruas para formar um banco
de dados científicos padronizados sobre as espécies nativas locais.
Com isto, as dificuldades podem ser minimizadas e aumentando as
possibilidades de seu plantio nas cidades brasileiras.
É importante a valorização da pesquisa pelos órgãos
municipais, responsáveis pela arborização de ruas, para que haja
facilidade tanto na implantação como na coleta de dados. Afinal de
contas, o ônus e a responsabilidade da pesquisa ficam a cargo dos
pesquisadores e instituições de fomento à pesquisa e o resultado tem
livre acesso para usufruto das prefeituras municipais.

Agradecimentos
Agradeço ao apoio financeiro do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq para a realização
das pesquisas.
Agradeço à Prefeitura Municipal de Curitiba-PR por permitir
que fosse feito os plantios experimentais com espécies nativas nas ruas
de Curitiba para a realização de pesquisas.
26 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Referências
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28 Introdução de Espécies na Arborização de Ruas .

Estudo Fenológico em Árvores de Ruas

Angeline Martini
Engenheira Florestal, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná

O crescente aumento da população urbana conjugado com a


expansão acelerada das cidades, e sem o devido planejamento, muda o
espaço urbano e gera diversos problemas nos aspectos
socioambientais. Logo, uma das ferramentas que podem ser
empregadas para atenuar essa questão é o uso da vegetação, que
através dos seus benefícios estéticos, sociais e ecológicos
proporcionam melhores condições de vida para o ser humano dentro
destes núcleos urbanos.
Nas cidades é cada vez mais difícil a existência de espaços
para a criação de áreas verdes devido à competição com os
equipamentos urbanos. Assim, as árvores plantadas ao longo das ruas,
que formam a arborização viária, se mostram como grande alternativa
na busca pelo bem estar da população. Sem dúvida é uma opção
promissora para trazer aos núcleos urbanos um pouco do ambiente
natural.
Deste modo, para auxiliar o planejamento e manutenção da
arborização de ruas, bem como empregar o uso correto dessa
vegetação, é fundamental gerar informações adequadas sobre o
comportamento das espécies no meio em que se encontram.
São vários os fatores que devem ser levados em conta na hora
de se planejar e implantar as árvores nas vias públicas. Um deles que
muitas vezes é esquecido, ou não se tem fundamentos apropriados, é
justamente o que permite avaliar a forma como o vegetal responde as
condições do meio, a fenologia das espécies arbóreas.
A fenologia pode ser entendida como o estudo dos processos
biológicos que ocorrem repetidamente em um ser vivo ao longo de sua
vida e a relação que estes possuem com as condições do ambiente, em
especial climáticas. Permite indicar o uso ornamental e as
necessidades das espécies no meio onde está inserida. Através da
fenologia é possível ainda, determinar o início e a duração das
fenofases das plantas referentes à floração, frutificação e foliação.
Estudos referentes ao desenvolvimento das plantas em seu
ambiente são comuns no meio natural, como em florestas ou
remanescentes florestais. É com base nestas informações que muitos
planejadores da arborização urbana se baseiam. Entretanto, o
conhecimento sobre o seu desenvolvimento natural não é suficiente
para garantir a eficiência da utilização de uma espécie no meio urbano,
onde as condições são muito distintas.

Fenologia: Definição e Uso


Fenologia é uma palavra derivada do grego, phaino, que
significa “à mostra” ou aparecimento. Refere-se ao estudo dos eventos
periódicos de uma planta ou animal influenciado pelo ambiente,
principalmente por mudanças meteorológicas e climáticas (Schuwartz,
2003). Larcher (2006) define como uma abordagem baseada no início
e na duração de alterações visíveis no ciclo de vida das plantas
correlacionadas com fatores climáticos.
A organização das datas fenológicas proporciona informações
ecológicas importantes sobre a duração média das diferentes fenofases
das espécies em uma área, sobre o local e sobre as diferenças
determinadas pelo clima nas datas de início dessas fases (Larcher,
2006). Biondi et al. (2007) afirmam que o conhecimento das fases pela
qual a planta passa pode servir tanto como base para a coleta de
material fértil, como para pesquisas de reprodução de espécies visando
à conservação de biomas e recuperação de áreas degradadas.
30 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

Segundo Silva e Santos (2007), a fenologia serve como


referência nos estudos botânicos e ecológicos, através do apoio a
trabalhos que envolvam desde fisiologia de sementes até revisões
taxonômicas, o que serve de base na construção de um plano de
manejo e na elaboração de um projeto que vise à manutenção de
espécies ameaçadas de extinção. Ou ainda, pode fornecer parâmetros
para a conservação e exploração racional, conciliando sustentabilidade
com economicidade (Mellinger e Richers, 2005).
O comportamento das espécies está marcado pela ocorrência
das fases fenológicas resultantes dos estímulos do clima,
principalmente temperatura e precipitação (Prause e Angeloni, 2000).
Costa (2002) afirma que estes estudos procuram examinar as relações
entre os ciclos das plantas e as flutuações registradas em certos
parâmetros ambientais, em especial na disponibilidade de água no solo
(precipitação pluvial) ou na temperatura do ar. Explica também, que os
fatores indutores de um determinado evento fenológico não são
necessariamente as causas que selecionaram sua evolução. Mudanças
fenológicas podem ser, por exemplo, uma resposta evolutiva às
pressões exercidas por certos animais.
Para espécies comerciais ou consideradas criticamente
ameaçadas, obter o conhecimento da fenologia é um passo importante
para estabelecer as práticas adequadas de manejo (Bedê e Martins,
2005). Do mesmo modo, estas informações podem auxiliar também no
planejamento e manutenção eficaz da arborização urbana.

Aplicações na Gestão Urbana e Arborização


Os aspectos fenológicos são requisitos fundamentais que
precisam ser levados em conta pelos planejadores na escolha das
espécies que irão compor a arborização viária. Marchiori (2004)
afirma que a delimitação do período de floração, frutificação ou
caducidade foliar, constituem a base para o planejamento da
arborização, uma vez que são necessários para efetuar a modelagem
plástica da vegetação. Para tal, é necessário adquirir um conhecimento
detalhado dos ritmos biológicos das espécies vegetais, de forma a
estabelecer boas composições estéticas.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 31

Sabe-se, por exemplo, que o valor ornamental da floração é


incontestável, por mais discreta que seja a sua apresentação, é o
fenômeno mais aguardado (Biondi,1990). Assim, a espécie torna-se
mais apreciada, quanto maior for o tempo de permanência da flor, o
que só é possível de se descobrir com um acompanhamento
fenológico. Desta forma, um bom planejamento deve mesclar o uso de
espécies de maneira a possibilitar a ocorrência desse evento ao longo
de todo o ano e não concentrado em uma única época.
A queda de flores, frutos e principalmente folhas, são vistas
como sujeira provocada pelas árvores, o que não agrada muito os
cidadãos urbanos. Essa visão, de que as árvores sujam muito a calçada
ou entopem bueiros é um dos fatores levantados pelos moradores para
a não utilização de uma espécie (IPEF, 2010). Essa questão poderia ser
amenizada, com o conhecimento do período e duração desta fase nas
plantas. As prefeituras poderiam aumentar o número de agentes de
limpeza pública nestas épocas ou redirecionar os existentes para que
atuassem nas áreas de maior expressividade desta fenofase. Atenção
maior quanto a este fator poderia ser dada nas épocas de chuva, o que
evitaria entupimento de bueiros e perigo a acessibilidade das pessoas.
A manutenção da arborização nas cidades depende do manejo
adequado das espécies. É preciso, por exemplo, fazer com que árvores
velhas ou em riscos aos habitantes sejam substituídas por novas
plantas. Logo, é necessário a produção de novas mudas, e o
conhecimento fenológico pode ser aplicado para facilitar e aperfeiçoar
a coleta de material fértil para reprodução de espécies. Embora
Sebbenn et al. (1998) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(2011) não recomendem o uso das árvores plantadas isoladas como
porta-sementes, por questões de perda da variabilidade genética e
biodiversidade, é importante lembrar que estas, na arborização de ruas,
podem estar adaptadas as condições do meio urbano e assim
apresentarem características mais interessantes para sua utilização.
Contudo, se a coleta do material for realizada com o devido rigor,
ainda sim pode ser preservada a variabilidade genética.
A observação fenológica pode ser aplicada ainda, como uma
ferramenta simples para análise de diferenças microclimáticas dentro
de uma cidade. Não é difícil perceber no meio urbano, por exemplo,
32 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

uma mesma espécie apresenta-se florida em uma rua, e em outro ponto


mais distante, tardar mais para esse evento ocorrer. Ou ainda, a
intensidade da floração pode ser mais exuberante em um local do que
em outro. Isto ocorre devido às diferenças climáticas e essas
informações pontuais referentes ao clima dentro das cidades podem ser
utilizadas atualmente como argumentos para direcionar investimentos
e ou ações do governo, principalmente para movimentar o mercado
mobiliário.
Brun et al. (2007), afirma que o conhecimento fenológico das
espécies componentes da arborização urbana, que vivem sob algum
nível de estresse fisiológico, pode indicar, de acordo com o seu ritmo
de fenofases em situação natural, a presença ou ausência de
regularidade no mesmo. Sendo assim, o conhecimento fenológico
serve também como base para o planejamento de ações silviculturais
que permitam uma melhor adaptação das espécies ao ambiente urbano.

Fatores que afetam o Comportamento Fenológico nas Cidades


As exigências de uma espécie, variáveis relacionadas com as
condições climáticas e edáficas, apresentam-se em níveis de limites
mínimos e máximos, dentro dos quais se estabelecem faixas de valores
ou características para um ótimo desenvolvimento biológico de cada
organismo (Schubert, 1979).
As espécies podem apresentar um período mais longo de
floração no meio urbano, o que a torna mais interessante para a
população, porém a intensidade da florada pode ser menos expressiva.
O que acarretará mudanças também na frutificação. Os frutos podem
demorar mais tempo para se formar e se disseminarem por um período
menor de tempo. Ou ainda, a perda de folhas pode acontecer em um
período curto e a árvore desfolhada permanece por mais tempo nas
ruas.
Como qualquer ser vivo, cada espécie vegetal é dependente de
condições ambientais favoráveis à sua sobrevivência e, além disso, ao
seu adequado desenvolvimento (Schubert, 1979). Muitas vezes no
meio urbano a espécie introduzida assume um comportamento que
foge dos padrões esperados, observado no meio natural, como a forma
. Pesquisas em Arborização de Ruas 33

da copa, o tipo de raiz, susceptibilidade a pragas, doenças e poluição


(Biondi e Althaus, 2005), além dos aspectos fenológicos. Estas
mudanças são resultado da ação de diversos fatores, como a própria
estrutura urbana, as condições de plantio a que as árvores são expostas
e as variáveis meteorológicas.

Estrutura urbana
A distinção entre o ambiente natural e o urbano se da pela
quantidade maior de fatores abióticos que interferem no
desenvolvimento das árvores de rua, tais como: impermeabilização;
sombreamento; compactação do solo; pavimentação inadequada;
alteração climática; poluição; vandalismo; iluminação noturna; falta de
espaço suficiente para seu crescimento; injúrias mecânicas feitas pelo
homem; conflito entre raízes e redes de gás, água e outras tubulações;
conflito entre a copa e a rede elétrica; entre outros. Também os fatores
bióticos existentes se comportam de maneira diferenciada e não
favorecem o desenvolvimento das espécies.
O solo, por exemplo, apresenta composições e estruturas
muito distintas, que não se assemelham em nada a formas existentes
em meio natural. Segundo Biondi e Althaus (2005), a
impermeabilização e os restos de construções são responsáveis pela
compactação, hidro-repelência, pH alterado, aeração deficiente,
drenagem restrita, interrupção do ciclo de nutrientes, e modificação
das atividades dos micro-organismos, assim, o solo no meio urbano é
um produto do processo de urbanização que proporciona grandes
alterações nas propriedades físicas e químicas. Biondi e Reissmann
(1995) constataram que os solos urbanos utilizados por Acer negundo
e Tabebuia chrysotricha, na cidade de Curitiba, são caracterizados
como potencialmente férteis, com relativo enriquecimento em bases
trocáveis e elevados teores de fósforo, o que se opõe a baixa fertilidade
natural dos solos.
A concorrência com a fiação elétrica ou demais elementos
urbanos provoca a necessidade de práticas de podas, estas alteram
muitas vezes o formato da árvore e podem influenciar na floração
destas espécies. Em trabalho realizado para avaliar o efeito da poda em
34 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

algumas espécies da arborização de Santa Maria-RS, Brun et al.


(2007), concluíram que para Tabebuia chrysotricha e Tipuana tipu a
poda é um fator de indução para a ocorrência da floração. Ao contrário
do que ocorreu em Lagerstroemia indica, onde a ação de podas
induziu os tecidos ao estado de juvenilidade, o que consiste em um
período que previne a floração. Cobalchini (1999) afirma, porém, que
a floração de Lagerstroemia indica também é estimulada pela poda.
Nas ruas das cidades as árvores são indivíduos isolados que
ficam expostos aos mais variados fatores externos, ao contrário do que
ocorre em uma floresta, onde há interação biológica constante entre os
indivíduos. Devido à reflectância dos materiais que compõe o
ambiente urbano, as árvores de rua recebem uma quantidade de
radiação muito superior à do ambiente natural, além de estarem mais
expostas à ação do vento, poluição e intempéries meteorológicas.
Martini et al. (2010a, 2010b) avaliaram a fenologia de Ocotea
puberula e Campomanesia xanthocarpa localizadas em Floresta
Ombrófila Mista com Araucária e em áreas urbanas, constataram
diferenças fenológicas significativas das espécies entre os ambientes.
Naturalmente, a planta precisa ser exposta a um período
determinado de luz e outro de escuridão para desempenhar suas
funções básicas, sendo o fotoperíodo específico para cada espécie. O
que faz da iluminação pública, atualmente indispensável nas grandes
cidades, ser um fator de grande interferência no comportamento das
espécies, sobretudo no aspecto fenológico. Com a iluminação noturna,
as árvores ficam expostas continuamente a luz e essa sobrecarga de
energia disponível pode principalmente acelerar certos processos
fisiológicos ou inibir outros. Por esse motivo, espera-se que as
fenofases das árvores plantadas em vias públicas ocorram mais cedo e
sejam mais rápidas do que as encontradas em meio natural.
A poluição é um dos fatores que exerce grande influência na
fenologia das espécies. As árvores propiciam ao ambiente o benefício
de capturar as partículas lançadas na atmosfera, o que acaba por
purificar o ar. Reissmann e Biondi (1993) constataram através de
análise química foliar de Lafoensia pacari, que o ferro, por exemplo, é
um bom elemento indicador de poluição urbana por particulados,
sendo que a posição da base da copa é a mais sujeita ao acumulo
. Pesquisas em Arborização de Ruas 35

destes. As partículas, porém, ao permanecerem fixas nos vegetais pode


prejudicar suas atividades biológicas fundamentais, tais como
fotossíntese e transpiração. Além deste prejuízo, existe ainda, a
interação negativa que determinados elementos químicos, quando em
excesso, podem gerar na estrutura química e biológica do vegetal. De
maneira a fragilizar a planta e torná-la suscetível ao ataque de pragas e
doenças. Em virtude destes problemas as árvores ao tentarem
simplesmente sobreviver podem não ter energia necessária para ser
empregada nos processos fenológicos habituais ou acabam por
deslocar uma sobrecarga de energia para alguma fenofase específica.

Condição de plantio
Nas cidades é possível constatar que o espaço destinado ao
crescimento das árvores de rua, denominado área de canteiro, é muitas
vezes pequeno as necessidades da espécie. Entretanto, em muitas
situações, nem essa pequena área é disponibilizada a planta, pois
muitas são totalmente circundadas por pavimentação, que torna o
espaço em volta impermeável. O que impede a infiltração de água e o
arejamento necessário do solo e das raízes. Em estudos realizados por
Bobrowski et al. (2009), foi verificado que os canteiros da cidade de
Curitiba, apresentam três formas de composição: somente calçada,
calçada mais grama e calçada mais grama com espécies arbustivas e
herbáceas. Contudo, a Lei 11.596/05 da cidade, no Art.3º, § 1º, prevê a
implantação, sempre que possível, de calçada com faixas permeáveis,
compostas com paisagismo, garantindo e melhorando a
permeabilidade do solo (Curitiba, 2005).
Santos e Teixeira (2001) e Biondi e Althaus (2005)
recomendam o plantio de mudas em uma área livre de pelo menos
1m². No entanto, o porte adulto que a espécie irá alcançar é fator
determinante para esta escolha. Por questões estéticas e sociais a
utilização de grama nesta área é uma prática muito comum. Biondi e
Althaus (2005) citaram que o uso de cobertura vegetal na área do
canteiro é polêmico, pois podem ocorrer prejuízos às árvores conforme
a espécie de forração utilizada, pela ocorrência de competição por
36 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

nutrientes e água. De qualquer maneira o uso da grama evita o pisoteio


dos transeuntes e embeleza mais as ruas (Figura 1).

Figura 1 – Distinção fenológica de ipê-amarelo plantado em calçada


pavimentada e em canteiro com gramado

Um ambiente com gramado sofre constantes modificações,


com a incorporação de adubos orgânicos ou inorgânicos, revolvimento
do solo, danos ao tronco com maquina de cortar grama e competição
em umidade e nutrientes (Biondi, 1995). Entretanto Gonçalvez e Paiva
(2006), afirmam que para se ter um arejamento e uma infiltração de
água mais adequados, o que propicia melhor desenvolvimento das
árvores, a adoção de uma área de canteiro contínua pode ser uma
prática ao mesmo tempo eficiente e bonita.
Martini et al. (2011a), analisaram a floração de Tabebuia
chrysotricha em diferentes condições de plantio nas ruas de Curitiba, e
constataram que o período de floração se inicia mais tarde nos
indivíduos plantados na calçada pavimentada do que nos indivíduos
plantados no canteiro central, porém a floração das árvores plantadas
em canteiro central foi mais longa do que as demais. Quanto aos
. Pesquisas em Arborização de Ruas 37

aspectos vegetativos, verificou-se que os indivíduos da calçada


pavimentada apresentaram início da queda foliar mais tarde do que os
demais (Martini et al., 2010c). Desta forma, constatou-se que as
diferentes condições de plantio influenciam na fenologia das espécies,
podendo variar a época de ocorrência, duração e intensidade das
fenofases.

Variáveis meteorológicas
As variáveis meteorológicas estabelecem condições para o
desenvolvimento das plantas e impõe limites para sua existência. Elas
podem controlar a época de surgimento de uma fenofase e ainda
influenciar na duração e intensidade desta. Larcher (2006) cita, por
exemplo, que uma quantidade de calor suficiente, mas não excessiva, é
um pré-requisito básico para a vida. E assim, cada processo vital é
ajustado dentro de uma faixa de temperatura.
Exemplo dessa realidade foi visto já no inicio do século XX,
quando J. Gustav Gassner observou a necessidade de existirem
temperaturas abaixo de um determinado valor para a formação de
flores em certas espécies (Kerbauy, 2004). Kozlowski (1985), afirma
que de modo geral a época de formação de flores das árvores em
qualquer espécie parece, sobretudo ser controlada pela temperatura.
Esta é responsável também pela regulação da produção de sementes e
frutos, iniciação floral, dormência dos botões, abertura das flores e
abertura e crescimento dos frutos.
Segundo Larcher (2006), frutos e semente requerem mais calor
para amadurecer que o necessário para o crescimento das partes
vegetativas da planta. E o sinal para a senescência é frequentemente
originado por fatores externos, como dias curtos e ocorrência de certos
limites de temperatura. Atenta ainda para o fato de que nas regiões dos
sub-trópicos, onde existem estações secas e chuvosas, as fenofases
estão relacionadas às alterações periódicas de disponibilidade de água.
Estudos em Ocotea puberula (canela-guaicá) no ambiente
antrópico apontaram interação das variáveis meteorológicas com as
características vegetativas desta espécie, principalmente a queda foliar,
38 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

que ocorreu logo após o período de menores temperaturas e


fotoperíodo mais curto, bem como na época de menor umidade e
precipitação (Martini et al., 2010a). Já Campomanesia xanthocarpa
(guabirova), em ambiente urbano, apresentou flores abertas e frutos
maduros em épocas onde a temperatura e fotoperíodo apresentaram
valores maiores (Martini et al., 2010b). Porém, a interação mais
significativa das variáveis meteorológicas neste trabalho foi com a
queda foliar. O início e a maior intensidade desta fenofase ocorreram
logo após o período de menor temperatura e fotoperíodo,
acompanhados também de baixa umidade relativa e precipitação.
Palioto et al. (2007) acompanharam a fenologia de espécies
plantadas no Campus da Universidade Estadual de Maringá e
verificaram que Cordia trichotoma (louro-pardo) encerra sua
frutificação em período de clima seco e ensolarado e a queda de suas
folhas inicia-se no período de baixas temperaturas. Delonix regia
(flamboyant) apresentou floração no período de maiores temperatura
média e do fotoperíodo. Os indivíduos de Michelia champaca
(magnólia-amarela) floresceram no período quente e no início das
chuvas e a abscisão foliar ocorreu no início da estação mais seca.
Sapindus saponaria (saboeiro) floresceu no início da estação fria e o
amadurecimento dos frutos encerrou no período com temperatura e
precipitação mais elevadas.
Em pesquisa realizada na cidade de Curitiba, com Tabebuia
chrysotricha na arborização de ruas, Martini et al. (2011b) constataram
a influência de fatores meteorológicos principalmente na produção de
botões florais. Estes surgiram, após o período de baixas temperaturas e
aumento do fotoperíodo, principalmente quando, a precipitação e
umidade relativa estavam baixos. No ano seguinte, o período que
antecede a floração foi marcado por temperaturas mais elevadas, o que
pode ter gerado a antecipação da floração. No entanto, a ocorrência de
um período com baixas temperaturas e maior precipitação, logo após o
início desta fenofase, fez com que a produção de botões se estagnasse
e retornasse após o aumento das temperaturas e diminuição da
precipitação.
Neste mesmo estudo, constatou-se ainda que a formação dos
frutos ocorrem nos picos de alta precipitação e umidade relativa. Já a
. Pesquisas em Arborização de Ruas 39

dispersão de sementes necessita de altas temperaturas e fotoperíodo


superior a 13 horas. No primeiro ano de observação houve um atraso
na produção de novas folhas. O que pode ser justificado pelos altos
valores de precipitação no período.
De maneira geral um acompanhamento fenológico é simples
de se realizar e fornece como resultados inúmeras informações
relevantes. Porém determinar os fatores climáticos que afetam o
comportamento fenológico é uma tarefa difícil, já que estes não podem
ser isolados e controlados. O que possibilita sempre a interação de
outros fatores sejam eles externos ou internos a planta.

Como realizar um Estudo Fenológico nas Árvores de Rua


Um acompanhamento fenológico simples consiste em
observações periódicas dos indivíduos amostrados. A realização deste
tipo de pesquisa no meio urbano é possível a partir de uma adaptação
da metodologia proposta por Ramalho (1976) em ambiente natural de
floresta. O autor indica que uma observação mensal é suficiente para a
maioria das espécies, mas em alguns casos, como na floração, por
exemplo, que pode ocorrer em um período muito curto, há a
necessidade de observações mais próximas. Como no meio urbano
também não há grandes dificuldades de acesso, recomenda-se o
monitoramento quinzenal dos indivíduos. Este deve ser realizado em
pelo menos três exemplares, número suficiente para os propósitos
fenológicos.
Atenção deve ser dada para a escolha dos indivíduos a serem
amostrados, que irá depender do objetivo da pesquisa. As condições
locais fornecidas para as espécies dentro da cidade são diversas, assim
a escolha de exemplares muito distantes um dos outros, são uteis para
se constatar possíveis fatores abióticos que afetam na fenologia, mas
não são aplicáveis para serem tomados como repetições.
As características que devem ser observadas nos indivíduos e
cuidadosamente transcritas para a ficha de campo são: Floração
(botões florais, flores abertas, floração terminando); Frutificação
40 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

(frutos verdes, frutos maduros, dispersão de sementes); Foliação


(folhas novas, maioria de folhas adultas, queda foliar) (Figura 2).

Figura 2 – Variáveis fenológicas de ipê-amarelo


. Pesquisas em Arborização de Ruas 41

Ao fim do período de estudo desejado essas informações


podem ser divulgadas através de calendários fenológicos ou quadros
fenológicos, para melhor visualização dos resultados (Figura 3).

Figura 3 – Calendário fenológico de Campomanesia xanthocarpa em


ambiente antropizado na cidade de Curitiba-PR

Fonte: Martini et al. (2010b)

As fenofases observadas devem ser relacionadas com algumas


variáveis meteorológicas, para servir como indicador das preferências
da espécie ou até mesmo da ocorrência de mudanças climáticas,
quando o estudo é realizado por mais de um ano.
As variáveis comumente encontradas nos trabalhos
fenológicos são: valores médios diários de temperatura (ºC) e umidade
relativa do ar (%) e valores totais diários de precipitação (mm) e
fotoperíodo (h). Além de valores diários de temperaturas máximas e
mínimas.
Um problema que muitas vezes é levantado sobre o uso de
variáveis meteorológicas no acompanhamento fenológico se refere ao
local de coleta desses dados. Para se determinar os fatores
meteorológicos que afetam o comportamento das espécies seria é
recomendável o uso de coletores pontuais nos locais onde as espécies
são amostradas. Porém, o custo na aquisição destes equipamentos é
alto e a utilização diária ao longo de pelo menos um ano destes no
meio urbano é impraticável, tanto pela curiosidade da população
quanto por questões de segurança e vandalismo.
42 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

A obtenção de dados meteorológicos provenientes dos órgãos


oficiais do governo é uma alternativa útil quando se busca estabelecer
a influência destes com a fenologia das espécies, principalmente
quando o objetivo é comparar a atuação ao longo de vários anos. Por
mais que as condições do local de coleta dos dados meteorológicos
sejam específicas e distintas de todo o ambiente urbano, são estas as
informações que regem todo o planejamento e estudos climáticos de
uma cidade.
O processamento das variáveis meteorológicas exige atenção,
devido à enorme quantidade de dados fornecidos. Comumente a
obtenção destes é realizada a cada hora do dia, e assim a primeira
etapa consiste em transformá-los em médias ou somatórias diárias.
Após essa transformação utiliza-se o intervalo de tempo desejado para
o tratamento final destes dados – quinzena, mês, estação do ano, etc
(Figura 4).

Figura 4 – Temperaturas média por estação do ano e precipitação total


por mês para a cidade de Curitiba-PR no ano de 2008

Fonte: IPPUC (2011)

Quando se constata alguma relação significativa entre


fenofases da planta e variáveis meteorológicas ou quando se tem
interesse maior por uma das fenofase, sugere-se o aprofundamento do
estudo. Além do uso do calendário ou quadro fenológico é possível
elaborar gráficos, para melhor apuração dos resultados (Figura 5).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 43

Figura 5 – Intensidade de algumas fenofases de Ocotea puberula em


meio antrópico na cidade de Curitiba-PR

Fonte: Martini et al. (2010a)

Considerações Finais
Os estudos fenológicos são uma ferramenta de grande
importância para o planejamento e manutenção da arborização urbana.
Saber a época e duração das fenofases das plantas no meio onde estão
inseridas, bem como os fatores que afetam seu comportamento,
permite a readequação do seu uso e diminui a existência de erros na
implantação deste patrimônio público. O que proporciona menores
custos e melhor aplicação do recurso humano especializado, de
maneira a melhorar e aperfeiçoar a gestão.
Torna-se necessário que os responsáveis pela arborização de
ruas adquiram conhecimentos sobre esses aspectos na escolha da
espécie a se implantar, para empregar seu uso correto. Porém são
encontradas poucas pesquisas nesta área e sem o devido rigor
metedológico, o que dificulta a sua aplicação pela falta de
confiabilidade.
É preciso investir e aumentar o número de pesquisas
fenológicas no ambiente urbano, ambiente tão alterado pela ação
44 Estudo Fenológico em Árvores de Ruas .

antrópica. Onde as espécies são obrigadas a se estabelecer e ali


desempenhar suas funções, em meio à influência de diversos fatores
abióticos que prejudicam seu desenvolvimento.
A parceria entre os institutos de pesquisa e as prefeituras ou
órgão responsáveis pela arborização urbana, é uma opção vantajosa
para se criar e manter um banco de dados atualizado sobre as espécies
que compõem a arborização de ruas em uma cidade, incluindo as
informações fenológicas, o que pode contribuir para a valorização e
monitoramento da arborização viária.

Agradecimentos
Meus agradecimentos ao apoio financeiro do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
durante o período de Iniciação Científica (2007/2010).

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2007
.
48 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

Produção de Mudas para Arborização de Ruas

Daniela Biondi
Engenheira Florestal, Dra., Professora Associada do Departamento de
Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná.

De todas as atividades relacionadas com a arborização de


ruas, a produção de mudas é a menos priorizada, principalmente no
âmbito da pesquisa. Considerando-se o tempo que existe a arborização
de ruas no Brasil, segundo Mesquita (1996) desde o século XVII
durante a colonização holandesa, já era para se ter uma especialização
na área de produção de mudas. E muito mais ainda, já devia existir até
um selo de qualidade para as mudas para garantir o uso de bons
critérios.
Muitos dos problemas que ocorrem em árvores adultas nas
ruas são decorrentes da má formação das mudas, tais como:
a) vandalismo – devido principalmente a altura total e de
bifurcação inadequadas das mudas nas ruas;
b) queda de árvores – por causa da existência de enovelamento
de raízes nas mudas;
c) baixa taxa de pegamento das mudas – pela falta de
conhecimento e cuidado com o sistema radicial das espécies,
susceptibilidades à forma de plantio e falta de desenvolvimento da
rusticidade das mudas.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 49

Segundo Santiago (1980), as mudas de tamanho pequeno (abaixo


de 1,00 m) não são adequadas, porque pode ocorrer excessiva
brotação lateral, necessitando de podas de condução, e dificilmente a
copa irá se formar na altura conveniente, enquanto que as mudas
grandes (acima de 1,00 m) apresentam a vantagem de serem mais
resistentes à predação, com maior capacidade de brotação e copa
formada na altura conveniente.
A formação de mudas inadequadas para as calçadas irá resultar em
problemas futuros, não só com a estrutura urbana, mas com as próprias
árvores urbanas (Biondi e Leal, 2009). O custo das mudas para
arborização de ruas é alto, principalmente devido à sua permanência
no viveiro por um longo período (acima de 2 anos). Porém, todo esse
ônus pode ser compensado com o planejamento do local adequado e a
produção de mudas com qualidade (Biondi e Althaus, 2005).
Segundo Biondi et al. (2007), a qualidade das mudas na
arborização de ruas irá refletir no melhor desenvolvimento das
espécies e em menores intervenções nas futuras árvores em relação ao
meio, principalmente, quanto ao uso indiscriminado de podas. Sendo
assim, é necessário que os esforços municipais não sejam
concentrados somente no plantio e na manutenção, mas
principalmente na produção de mudas para que a arborização de ruas
cumpra com seus benefícios estéticos e funcionais no meio urbano.
Uma das ferramentas mais seguras e científicas para a
identificação ou diagnose, assim como, solução de problemas relativos
à arborização urbana é a pesquisa. Sabe-se que os órgãos municipais
têm dificuldades na disponibilização de recursos humanos e
financeiros para atuar efetivamente na pesquisa. E é por isso que
muitos erros continuam a se repetir pela falta de opções eficientes
comprovadas cientificamente.
Embora a pesquisa sobre a produção de mudas para a arborização
de ruas requeira, além de conhecimento científico, um extenso espaço
50 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

físico para acondicionar mudas arbóreas por um longo período de


tempo para a coleta de informações importantes, ela é extremamente
necessária, principalmente para o conhecimento do comportamento de
espécies nativas em viveiro. A sistematização destas informações
poderá ser muito útil tanto para o planejamento da produção de mudas
quanto na seleção de espécies a serem plantadas nas ruas.
O objetivo deste trabalho foi relacionar a pesquisa científica com
as fases de produção de mudas arbóreas para a arborização de ruas
com intuito de mostrar sua importância para os órgãos responsáveis
pela arborização urbana.

Pesquisas nas Fases de Produção de Mudas


A pesquisa pode ser aplicada em todas as fases de produção de
mudas desde que se estabeleçam os objetivos e os critérios de
avaliação.

Fase de Coleta de Sementes


A pesquisa pode fornecer informações importantes para os
viveiristas a partir da fase de coleta de sementes. Esta fase depende,
em grande parte, da fenologia reprodutiva das espécies, isto é, a
duração e época de floração e frutificação das espécies que se quer
propagar. Com isto é possível conhecer, além da época, o grau de
amadurecimento do fruto e das sementes para uma coleta segura.
Na fase de coleta, pode-se realizar análise para quantificar o
número de sementes por fruto, tamanho e peso de sementes. Na prática
estas informações são importantes para planejar o volume de coleta de
frutos e o tipo de recipiente adequado para a semeadura das sementes.
É importante considerar que o ambiente urbano, devido suas
características urbanísticas e climáticas, pode alterar a fenologia das
. Pesquisas em Arborização de Ruas 51

espécies, diferenciando-se daquelas que estão em ambientes naturais


ou mais afastadas de áreas mais antropizadas.
Martini et al (2010a) analisaram a influência destes fatores,
avaliando a fenologia de cinco exemplares de Ocotea puberula (Rich.)
Nees – Lauraceae (canela-guaicá) localizadas em Floresta Ombrófila
Mista com Araucária e cinco exemplares localizados em áreas
urbanas, durante 12 meses. Constataram que o período de floração e
frutificação da espécie ocorreu em épocas bem distintas nestes dois
ambientes.
O mesmo aconteceu com Campomanesia xanthocarpa O. Berg
– Myrtaceae (guabirova) que apresentou período de floração e
frutificação mais longo em meio antrópico, bem como menor período
de queda foliar (Martini et al., 2010b).
Devido a heterogeneidade da paisagem urbana e aos diferentes
ambientes em que as árvores são plantadas, o comportamento
fenológico pode também ser alterado quanto às formas de plantio, tais
como: áreas impermeáveis - calçadas e áreas permeáveis - canteiro
central.
Martini et al. (2011) analisaram a fenologia de cinco
exemplares de Tabebuia chrysotricha plantados em calçadas
pavimentadas e cinco em canteiro central com gramado, sujeitos às
mesmas condições climáticas. Constaram que a floração das árvores
plantadas em canteiro central foi mais longa e os indivíduos que
estavam plantados em calçada pavimentada apresentaram floração
mais intensa e vistosa em menor intervalo de tempo.
A duração e a intensidade dos fenômenos fenológicos,
provavelmente irão influenciar na produção de frutos e sementes.
A informação gerada por estas pesquisas irá aperfeiçoar o
processo de coleta de sementes através da seleção de “árvores plus”,
52 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

indivíduos que apresentam as melhores condições estéticas e


fitossanitárias para servirem de porta-sementes.

Fase de Semeadura, Germinação e Crescimento


A fase de semeadura e germinação com espécies arbóreas é a
que apresenta o maior número de pesquisas realizadas. Geralmente
para a semeadura são analisados: tipos de recipientes, substratos e
locais (a céu aberto ou em estufas). E em relação a germinação são
realizadas análises relacionadas com o tempo e a velocidade de
germinação através de métodos de quebra de dormência das sementes.
Na produção de mudas para arborização de ruas, esta fase
demanda de maiores custos devido aos cuidados e as mudanças de
locais e recipientes.
Para a produção de mudas de Senna macranthera, por
exemplo, as seguintes informações foram obtidas de pesquisas: os
frutos (vagens) devem ser deixados em pleno sol para facilitar a
liberação das sementes (Cobalchini, 1999). Produz grande quantidade
de sementes (Cobalchini1 citado por Biondi e Althaus, 2005). Deve-se
também escarificar (lixar) mecanicamente as sementes antes da
semeadura para aumentar a germinação, semear em seguida em
canteiros semi-sombreados contendo substrato organo-arenoso,
cobrindo-as com uma leve camada de substrato peneirado. A
emergência ocorre entre 10 e 30 dias (Lorenzi, 2000). Com a
escarificação mecânica a porcentagem de germinação chega a 80%
(Lemos Filho et al., 2003). Para quebrar a dormência das sementes,
pode ainda ser utilizada a imersão das sementes em água quente
(70°C) até esfriar (Cobalchini, 1999).

1
COBALCHINI, J. L. Entrevista concedida a Daniela Biondi e Michelle M. Althaus, Curitiba,
março, 2004. (Jaime Luis Cobalchini, Engenheiro Florestal, funcionário da Prefeitura Municipal de
Curitiba).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 53

As pesquisas realizadas nesta fase auxiliarão no planejamento


de produção de determinada espécie, principalmente no que diz
respeito a velocidade de crescimento e susceptibilidade às pragas e
doenças. Com estas informações já é possível direcionar o seu uso no
ambiente urbano através de suas limitações.

Fase de Condução e Rustificação de Mudas em Viveiro de Espera


Nesta fase as mudas se encontram em local sem a proteção de
estufas, conhecido como viveiro de espera. Geralmente as mudas
ficam neste local, plantadas em recipientes ou no solo, até o plantio
definitivo (Figura 1).
No viveiro, as mudas devem receber os tratos silviculturais
relacionados com a técnica de produção na qual se procura formar
muda com padrões ideais para arborização de ruas (Biondi, 1987).
Depois que as mudas esgotam o crescimento nos recipientes menores,
aproximadamente um ano após a semeadura, elas devem ser
transplantadas para recipientes maiores ou para o viveiro de espera.
Nessa fase, as mudas deverão ser conduzidas corretamente, aplicando-
se tratos culturais específicos, como o tutoramento e as podas de
condução e formação (Paiva e Gonçalves, 2001).

Figura 1 – Mudas em viveiro de espera


54 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

As pesquisas nesta fase são quase inexistentes, principalmente


pelo desconhecimento da ecofisiologia de espécies nativas arbóreas
(reações fisiológicas das espécies às condições adversas do meio) e
pelo longo período de coleta de informações, cerca de 4 a 5 anos.
Nestas condições de viveiro, as mudas geralmente apresentam
reações ou são tolerantes ao ambiente adverso ao de sua ocorrência
natural, tais como: exposição direta a luz, a geada e ao vento; tamanho
de recipientes; espaçamento entre as mudas; condições química e
física do solo ou do substrato; susceptibilidade a pragas e doenças;
pouca ou irrigação irregular e aplicação de tratos culturais.
A consideração destes fatores em pesquisa deve ser orientada por
um delineamento estatístico, utilizando as repetições e os tratamentos
condizentes com os objetivos da análise.
Segundo Biondi e Leal (2009), no viveiro de espera as mudas
são submetidas a vários fatores diferentes daqueles que as plantas têm
numa floresta, podendo demonstrar aspecto bom ou ruim para seu uso
nas ruas de uma cidade. Um deles é a formação de gemas no tronco
abaixo da altura de bifurcação, depois de ter sido podado, que gera
conflito da árvore com a estrutura urbana e o pedestre. Outro fator
importante é a exposição direta à luz.
Quando se analisa a muda em relação a estes fatores se obtém
resultados interessantes que podem indicar ou limitar o uso das
espécies em determinados ambientes urbanos, tais como: áreas verdes
e arborização de ruas.

Tratamentos Silviculturais
A poda, como tratamento na condução da muda no viveiro de
espera, consiste na remoção de partes da planta, que geralmente são
brotações e galhos, mas também podem ser raízes e até mesmo flores
e frutos. Em mudas, as podas fazem parte dos tratamentos aplicados
. Pesquisas em Arborização de Ruas 55

para assegurar plantas estruturalmente fortes e com menor necessidade


de podas corretivas quando adultas (Harris, 1992).
Na produção de mudas, a poda de condução livra o tronco das
ramificações indesejadas ou brotações laterais, proporcionando à
muda um aspecto de árvore (Biondi e Althaus, 2005). Essa poda
permite que o crescimento ocorra apenas pela gema terminal, com a
moldagem da muda para que ela atinja a altura mínima desejada para
início da formação da copa (Figura 2).

Figura 2 – Poda de ramos no caule em mudas

Enquanto a poda de formação tem por objetivo adequar e definir a


forma e até mesmo o porte definitivo da árvore ao espaço disponível
para o seu crescimento (CEMIG, 2000). Essa poda é aplicada para
direcionar o desenvolvimento da copa contra a tendência natural do
modelo arquitetônico da espécie, compatibilizando assim a árvore
com os espaços e equipamentos urbanos (Seitz, 2003).
As podas de condução e formação são uma das formas mais
eficientes de adequar as mudas para o plantio nas ruas, onde o espaço
é bastante restrito. Esse requisito é imprescindível, pois evita danos à
árvore e aos pedestres que transitam pelas ruas (Biondi e Meunier,
56 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

1987). A correta execução da poda de formação pode determinar


facilidades futuras em podas preventivas e diminuição dos conflitos
entre árvores e redes aéreas (CEMIG, 2000). A maioria das espécies
só consegue ter um fuste único e reto, na altura desejada, em função
desses tratamentos e com a ajuda do tutoramento (Domingues, 1987;
Paiva e Gonçalves, 2001). Algumas espécies têm tendência ao
crescimento arbustivo, ou seja, com formação de mais de um ramo
desde a base. Nesse caso, o ramo mais bem formado deve ser
escolhido como principal e os demais devem ser eliminados
(Domingues, 1987).

Eliminação de Brotações e/ou Gemas


Para as árvores plantadas em calçadas, qualquer pré-disposição da
espécie em desenvolver brotação no tronco ou na raiz gera conflitos
com os pedestres (pela maior ocupação da área do passeio) e,
consequentemente, exige maior manutenção, aumentando assim os
custos. Além disso, a eliminação frequente destas brotações pode ser
uma porta de entrada para pragas e doenças, pelos cortes deixados
(Biondi e Leal, 2009). Biondi e Althaus (2005) constataram em
Lagerstroemia indica L. (extremosa), a existência de brotação
adventícia muito intensa exigindo manutenção contínua tanto nas
mudas em viveiro como nas árvores das ruas de Curitiba.
Vale ressaltar que, quando uma espécie apresenta brotações de
gemas adventícias no caule, isto necessariamente não a exclui da
arborização urbana, desde que a espécie apresente outras
características de importância estética e ecológica para o local. Na
arborização urbana há tipologias de espaços que não tem muitas
restrições, tais como, áreas verdes e canteiros centrais de avenidas em
que as espécies podem se desenvolver sem prejudicar a estrutura do
meio (Biondi e Leal, 2009).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 57

Kramer e Kozlowski (1960) distinguem as brotações


fisiologicamente, segundo suas origens, como: a) brotações
provenientes de gemas dormentes – geralmente fazem touceiras,
podem surgir do colo da raiz e /ou da parte inferior do tronco,
desenvolvem-se a partir de gemas dormentes inicialmente constituídas
e que crescem para o exterior com o câmbio; brotações de gemas
adventícias – desenvolvem-se a partir de gemas adventícias que
aparecem entre a casca e o lenho, geralmente têm vida curta – e
brotações de ramos radiciais, surgem de gemas adventícias das raízes e
a sua produção é desenvolvida por ação de traumatismos (Figura 3).

Figura 3 – Brotação de gemas adventícias em muda

Ainda não se sabe em que época e nem a frequência que deve


ser aplicado o tratamento de eliminação das brotações adventícias que
surgem no caule das mudas durante seu crescimento no viveiro de
espera. A maioria dos viveiristas elimina as brotações do caule das
58 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

mudas em uma só vez, pouco tempo antes, de serem levadas para o


plantio no local definitivo (calçadas). Com isto não é possível observar
a reação da espécie com a eliminação do ramo ou gema. Se já no local
definitivo, a espécie apresentar pré-disposição ao desenvolvimento de
muitas brotações adventícias no caule, nada poderá ser feito a não ser a
aplicação de podas sucessivas, gerando maiores custos aos órgãos
responsáveis pela arborização de ruas (Figura 4). A frequência e a
época da eliminação das brotações e ramos devem ser específicas da
espécie.
O ideal seria analisar o comportamento da espécie com
eliminação das brotações surgidas no caule antes de serem levadas
para o local definitivo, durante a sua permanência no viveiro de
espera. Observa-se na Figura 5, mudas de imbuia (Ocotea porosa) sem
a aplicação podas e com aplicação de podas em viveiro de espera.

Figura 4– Brotações adventícias em muda plantada na rua


. Pesquisas em Arborização de Ruas 59

Biondi et al (2007) pesquisando em viveiro de espera, avaliaram


a produção de mudas de Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. & A.
Juss.) Radlk. com a aplicação de tratamentos silviculturais, visando
obter mudas com características adequadas para a arborização de rua.
Foram aplicados os seguintes tratamentos nas mudas: T0 =
testemunha, sem aplicação de poda; T1 = poda no primeiro mês
(instalação do experimento); T2 = poda depois de três meses da
instalação do experimento; T3 = poda depois de seis meses; e T4 =
poda depois de nove meses. As variáveis analisadas foram: incremento
em altura total e diâmetro de colo, altura de bifurcação e número de
rebrotas. A aplicação de podas proporcionou maior incremento em
altura, mas não alterou o incremento em diâmetro. Observou-se menor
crescimento nas avaliações correspondentes ao período
outono/inverno. Após as podas, observou-se a formação de brotações
laterais. Não houve diferença entre a realização de podas sucessivas e
de uma única poda. Recomenda-se, para fins práticos, podas
sucessivas a cada 9 meses em mudas de Allophylus edulis.

Figura 5 – Muda sem a aplicação de poda e com poda


60 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

Para conhecer o comportamento de Casearia sylvestris,


Maytenus evonymoides e Solanum pseudoquina em viveiro de espera,
Biondi e Leal (2009) analisaram a altura total, diâmetro, número de
gemas e altura de bifurcação destas três espécies após a realização de
tratos silviculturais (podas de condução), para a formação de mudas
com padrão de qualidade para o plantio em calçadas. O delineamento
experimental utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema
fatorial em parcelas subdivididas, sendo o fator A as três espécies
testadas e o fator B a poda de condução em cinco níveis (poda de
condução em diferentes períodos – testemunha, 0, 3, 6 e 9 meses),
totalizando 15 tratamentos e oito repetições. Solanum pseudoquina e
Maytenus evonymoides apresentaram os melhores incrementos
periódicos em altura e diâmetro. Casearia sylvestris não apresentou
resultados satisfatórios quando foi submetida a tratos silviculturais.
Das três espécies estudadas, com base no comportamento em viveiro
de espera, M. evonymoides foi a que apresentou melhores
características para o uso na arborização de ruas.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 61

Rustificação das Mudas


A rustificação das mudas, também conhecida por
domesticação de espécies, é desenvolvida no viveiro de espera onde as
condições são as mais próximas às do plantio definitivo, isto é, quando
plantadas nas calçadas (Figura 6).

Durante a rustificação procura-se eliminar qualquer tipo de


proteção, com exceção dos cuidados com vigor das mudas,
principalmente quando são produzidas em recipientes, por causa da
limitação ou restrição de espaço para as raízes. A própria limitação do
desenvolvimento das raízes no recipiente pode ser considerada uma
prática de rustificação. Biondi e Leal (2007) adubaram anualmente
mudas de Allophylus edulis com 30 g de adubação NK 10-10 em cada
vaso (volume 8 l) em experimentos com viveiro de espera. Esta
adubação reforça o crescimento das mudas através do nitrogênio (N) e
dá resistência através do potássio (K). Neste período devem-se evitar
adubos enriquecidos com fósforo (P) para não promover a floração e
frutificação das mudas. Com isto, a energia das mudas é mais
canalizada para o seu crescimento.

Figura 6 – Rustificação de mudas em viveiro de espera


62 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

As práticas mais conhecidas de rustificação de mudas são a


retirada do sombreamento e a diminuição de rega. A condição a pleno
sol das mudas deve ser favorecida pelo espaçamento entre as mudas.
Isto evita que haja estiolamento das mudas, ou seja, crescimento
desordenado a procura de luz. Mudas que não passam por este
processo, não apresentam um aspecto de uma árvore e dependem por
muito tempo do tutoramento porque a estrutura do caule é frágil.
O mais interessante para a pesquisa nesta prática ou fase em
viveiro de espera são as reações das espécies a estas condições que dão
indícios de adaptação ou não. É o caso do comportamento da Casearia
sylvestris em viveiro de espera, que não apresentou resultados
satisfatórios, com baixo incremento em altura total e diâmetro, quando
foi submetida a tratos silviculturais e às condições de viveiro a pleno
sol. Estes fatores restringem a produção de mudas desta espécie para
plantio na arborização de ruas (Biondi e Leal, 2009).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 63

Variáveis Aplicadas em Pesquisa no Viveiro de Espera


A seleção das variáveis analisadas em produção de mudas vai
depender do objetivo da pesquisa. Em cada fase de produção pode-se
eleger inúmeras variáveis em resposta ao ambiente ou ao tratamento
aplicado.
Muitas das variáveis utilizadas em pesquisa são fáceis de ser
obtidas e não dependem da forma como foram medidas anteriormente,
por exemplo: número de sementes germinadas, peso e número de
sementes por fruto, altura das mudas, altura de bifurcação, número
galhos podados e número de gemas.
O diâmetro do colo da muda, durante o período de
observações, exige que se estabeleça a mesma posição da medição
anterior (Figura 7). Caso contrário, as medidas vão apresentar valores
inferiores ao anterior. Estas medidas podem também não concordar
com a anterior quando se altera o nível do substrato do recipiente onde
se encontra a muda. O acréscimo de substrato é uma prática bem
comum neste tipo de experimento por causa do longo período de
tempo.
Embora a altura da muda seja considerada uma variável fácil
de ser obtida, algumas vezes, pode apresentar valores inferiores ao
valor anterior. A variável altura é uma das melhores variáveis para
analisar o desenvolvimento de espécies, principalmente na fase adulta.
Já na fase juvenil, a altura é uma variável que se torna instável devido
ao estabelecimento do modelo arquitetônico da copa (que se refere ao
tipo de crescimento da copa com base nos padrões genéticos da
espécie).
Quando a muda é uma espécie que apresenta crescimento
plagiotrópico, isto é, cresce mais na posição horizontal ou oblíqua, a
altura pode assumir valores negativos (valor inferior ao valor medido
anteriormente) pela perda da gema apical (morte) e substituição por
64 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

ramos laterais. Na figura 8 observam-se exemplos de espécies com


crescimento ortotrópico: (A) pinheiro-bravo (Podocarpus lambertti) e
(C) imbuia (Ocotea porosa) e espécies com crescimento plagiotrópico:
(B) saboeiro (Sapindus saponaria) e (D) espinheira-santa (Maytenus
ilicifolia).

Figura 7 – Estabelecimento da posição padrão para medição do colo da


muda

Baseado nestes modelos pode-se afirmar que, quando a muda


é uma espécie que tem crescimento ortotrópico, isto é, quando o eixo
principal (gema apical) tem um crescimento vertical, dificilmente se
tem problemas com a variável altura durante o seu monitoramento.
Isto acontece porque a espécie possui uma dominância apical num
único eixo de medição. Então os valores de altura nunca vão assumir
valores negativos, no máximo os valores vão permanecer como estão
indicando o não crescimento do indivíduo.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 65

A medição de alturas com valores inferiores a medição


anterior tem maior frequência de ocorrência quando o período de
medição é mais curto, isto é, o período foi insuficiente para que o ramo
lateral que assumiu a dominância tenha crescido mais do que a altura
do ramo que era dominante anteriormente.

Figura 8 – Mudas com crescimento ortotrópico e plagiotrópico

A B C D
B

Para evitar estes valores negativos (indicando que a planta


cresceu menos) deve-se aumentar o período das medições ou o
intervalo entre as medições, respeitando obviamente a taxa de
crescimento da espécie.

Considerações Finais
66 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

Foi observado neste capítulo que as pesquisas se concentram


ou são mais conhecidas em determinadas fases da produção de mudas
devido a rapidez dos resultados e consequentemente, menores custos.
Com os resultados obtidos da pesquisa aplicada na fase com
mudas em viveiro de espera pode-se perceber, antecipadamente, quais
as espécies serão mais promissoras para o plantio nas ruas com a
indicação dos fatores positivos e negativos para a sua produção.
O processo de produção de mudas só será reconhecido como
uma atividade relevante para o sucesso da arborização de ruas quando
a quantidade de pesquisas científicas nesta área deixar de ser
incipiente e imediatista.
A única maneira dos órgãos municipais reconhecerem a
importância da pesquisa na melhoria de suas práticas na arborização
de ruas é quando conseguirem estabelecer parcerias sérias e
compromissadas com a ciência.
Só com investimentos na pesquisa a produção de mudas para a
arborização de ruas irá obter reflexos positivos na qualidade dos
serviços municipais.

Agradecimentos
Meus sinceros agradecimentos ao Horto Municipal da
Barreirinha da Prefeitura Municipal de Curitiba-PR, na pessoa do
Engenheiro Florestal Jaime L. Cobalchini pela transmissão de
conhecimentos sobre as espécies nativas, sugestões de espécies para o
experimento e a concessão das mudas.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 67

Agradeço muito a dedicação do funcionário bolsista sênior Sr.


João Lopes de Jesus pelo cuidado, responsabilidade e compromisso
com a pesquisa no viveiro.

Referências
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NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 2., 1987, Maringá. Anais...
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DOMINGUES, Z. H. Produção de mudas para arborização de ruas. In: Encontro


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68 Produção de Mudas para Arborização de Ruas .

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LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas


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SEITZ, R. A. A poda de árvores urbanas. Curitiba: FUPEF, 2003. 40 p. (Série


Técnica, n. 19).

Custo de Implantação e Manutenção da


Arborização de Ruas
Luciana Leal
Engenheira Florestal, M.Sc., Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.

As árvores urbanas proporcionam vários benefícios ao


ambiente urbano e a população, porém há uma série de custos para se
ter uma árvore nas ruas de uma cidade.
Os custos das árvores de rua são relativos às atividades de
implantação e manutenção do programa de arborização para um
determinado período de tempo, corrigidos monetária e
financeiramente.
A determinação do custo de uma árvore urbana tem aplicações
em aspectos legais, no gerenciamento da arborização urbana e na
quantificação do patrimônio relativo às árvores públicas. As
informações sobre os custos relativos a uma árvore urbana devem ser
de utilidade pública, porque a população precisa conhecer quanto
custa, aos órgãos municipais, para se ter uma árvore plantada em
determinado local.
Curitiba, capital do Estado do Paraná, conhecida por sua
tradição na arborização urbana, com cerca de 300 mil árvores
plantadas nas vias públicas, é uma das cidades brasileiras que carece
de informações sobre os custos de suas árvores. Devido à necessidade
de se estabelecer um método para compor esses custos, neste capítulo
serão apresentados os principais resultados da pesquisa “Custos das
árvores de rua – Estudo de caso: cidade de Curitiba – PR”, apresentada
no ano de 2007, cujo objetivo foi estabelecer as variáveis necessárias
para compor os custos das árvores de rua em suas diferentes fases de
desenvolvimento.
70 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

Quais são os Custos de Implantação e Manutenção das Árvores


Urbanas?
No caso das árvores componentes da arborização urbana, os
custos referem-se a quantia monetária efetivamente gasta com as
atividades de implantação e manutenção (Grey e Deneke, 1986;
Detzel, 1993). Para compor estes custos podem ser consideradas as
operações de plantio, nutrição, irrigação, tratamentos fitossanitários,
podas de formação e limpeza, reparos às calçadas e meio-fio, queda de
galhos sobre prédios, carros e até mesmo pedestres, folhas a serem
varridas, dentre outros (Sherwood e Betters, 1981; Miller e Sylvester,
1981; Bryant, 1983; Nosse, 1983; Hamilton, 1984; Grey e Deneke,
1986; Dreistadt e Dahlsten, 1986; Abbot e Miller, 1987; Lohmann,
1988 e; Phillips, 1993).
Também podem ser computados componentes indiretos à
manutenção da arborização, tais como perdas por desligamento de
energia durante atividades de poda, perda temporária do valor estético
da árvore imediatamente após alguns tipos de operações de
manutenção, além da produtividade e efetividade de equipes em
serviços de manutenção (Nosse, 1983; Bryant, 1983; Dreistadt e
Dahlsten, 1986).
A determinação do valor de uma árvore pelo método de
composição de custos permite a obtenção de resultados iguais para
avaliações de um mesmo indivíduo, ou quando utilizado por mais de
uma pessoa, ou seja, não sofre influências de caráter subjetivo ou
pessoal do avaliador (Detzel, 1993). .
Para a aplicação do método de composição de custos é
necessário conhecer a idade da árvore em avaliação, dado nem sempre
disponível nos arquivos de administrações municipais, mas que muitas
vezes pode ser obtido por informações de terceiros, fotografias antigas
datadas ou, ainda, para as espécies mais estudadas, por equações ou
. Pesquisas em Arborização de Ruas 71

curvas de crescimento pré-estabelecidas. Torna-se importante o


cadastramento da arborização urbana com registro de dados relativos à
espécie, ano e local de plantio e, se possível, com registros
computadorizados em banco de dados.

Por que Conhecer os Custos de Implantação e Manutenção das


Árvores Urbanas?
A determinação do valor econômico de uma árvore urbana
oferece uma solução cifrada e um apoio objetivo e técnico as decisões
relativas à vegetação ornamental, tanto pública quanto particular
(Método..., 1999). É um instrumento que terá aplicações em aspectos
legais, no gerenciamento da arborização urbana e na quantificação do
patrimônio relativo às árvores públicas.
Para Moore (2006), a maior necessidade em colocar valor às
árvores é quando elas são reconhecidas como um bem público em
decisões de processos. Grey e Deneke (1986) citam que as tentativas
de tradução dos benefícios da arborização em valores numéricos têm
se realizado desde o século passado, devido principalmente à
necessidade do estabelecimento de valores de indenização por danos
causados a árvores públicas.
A Associação Espanhola de Parques e Jardins Públicos cita
que a valoração econômica de árvores ornamentais pode auxiliar em
temas como: desapropriação, ostentação de árvores por terceiros em
atividades de planejamento e administração; estimativas de
repercussão de catástrofes, incêndios e inundações; danos ao
patrimônio público por obras, vandalismo e acidentes diversos,
incluindo os de tráfego. Cita ainda atividades de inventário,
catalogação e cadastro; taxas, seguros e medidas fiscais; transplantes;
regulações normativas (ordenação, licenças, depósitos de fianças,
72 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

sanções por infrações) e avaliações de impacto ambiental (Método...,


1999).
Grey e Deneke (1986) relatam também a necessidade de
determinação dos valores legais das árvores em: danos por acidentes e
veículos, por iluminação e devido ao fogo; queda por ventos fortes;
levantamento prévio para instalação de tubulações de gás, redes
elétricas subterrâneas, construção de encanamentos de esgoto e água, e
alargamento de estradas; infrações durante construções; roubo de
madeira; levantamento de propriedades; em práticas de podas
inadequadas e injúrias químicas.
Em aplicações legais destaca-se a importância do
estabelecimento de legislações que visem a proteção da arborização
quanto a danos acidentais ou não, e que sejam estabelecidas multas aos
infratores ou agentes causadores de danos (Grey e Deneke, 1986; Jim,
1987).
A aplicação de multas, indenizações e isenções deve ser
estabelecida segundo critérios bem definidos e cujos valores resultem
de métodos de valoração de comprovada eficácia e veracidade (Jim,
1987; Detzel, 1993). Nestes casos, quanto mais próximo da realidade
for o valor estabelecido, maior honestidade e justiça haverá em cada
processo e menor será o risco de um questionamento jurídico por parte
do infrator (Detzel, 1992).
Segundo Milano (1994), os procedimentos de fiscalização só
fazem sentido quando devidamente amparados em sistemática clara e
objetiva de multas de valor real. Multas de valor simbólico não trazem
resultados pelo simples fato de não implicar penalização real. Por sua
vez multas de valor real que carecem de clareza na interpretação de
sua aplicação, ou não apresentam sustentação legal e objetiva, são
questionadas judicialmente com sucesso e levam à desmoralização do
procedimento.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 73

Detzel (1992) também cita como aplicação do valor


econômico no âmbito legal o incentivo à proteção de árvores urbanas
pela isenção de impostos. Para Santos (1996), a isenção de taxas pela
preservação de árvores é um mecanismo bastante interessante de ser
aplicado. Neste caso, o valor mais exato também é requerido, uma vez
que é toda a sociedade quem financia essa isenção e, portanto, os
valores não devem ser superestimados. Por outro lado, para que o
incentivo seja compensador ao preservador, não deve também
subvalorizar a árvore.
As gerências municipais têm conduzido inventários para
quantificar a contribuição das árvores para a qualidade de vida em uma
comunidade, utilizando seus valores econômicos para estabelecer e
justificar orçamentos requeridos para manutenção, remoção e novos
plantios (Ingram, 1997; Garton e Tankersley, 2006).
A quantificação de tais valores possui aplicação direta no
planejamento das atividades relativas à implantação e manutenção da
arborização, na otimização dos recursos a ela destinados (Detzel,
1993) e na sua revisão ou análise financeira e orçamentária (Método...,
1999).
As árvores representam um considerável investimento que
justifica os fundos de continuidade do programa de gerenciamento
(Grey e Deneke, 1986). Para McPherson (1992), se o capital investido
na arborização urbana sinaliza com um retorno atrativo, os detentores
do orçamento podem prover os fundos necessários para mantê-la
saudável e maximizar os benefícios ambientais.
Um conhecimento completo dos benefícios e dos custos de
cada elemento do programa de manejo de árvores é um passo
importante na competição pelo orçamento. As pessoas querem saber
quanto vale e quanto custa alguma coisa, por isso para ganhar parte do
escasso dinheiro da administração, um manejador da arborização tem
que conhecer o valor monetário do recurso árvore (Tate, 1993).
74 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

Também ao se tomar uma decisão entre manter ou retirar uma


árvore, uma análise econômica dos benefícios e custos é requerida
(Scott e Betters, 2000).
Considerando ainda que a arborização pública é implantada e
mantida com o dinheiro proveniente de impostos, o que a torna de
propriedade coletiva, sua avaliação extrapola a simples determinação
do valor monetário como instrumento de administração e assume um
enfoque de compromisso social por parte dos políticos e técnicos, em
bem gerir o dinheiro público (Detzel, 1990).
O valor compensatório total de árvores nas cidades, com base
nos dados da cobertura florestal urbana, pode ser usado para estimar
uma compensação por perdas, justificando o gerenciamento de
recursos e o estabelecimento de políticas relacionadas ao seu
gerenciamento (Nowak et al., 2002).
Outra aplicação da determinação do valor das árvores seria a
quantificação do patrimônio físico-financeiro que a cidade possui
relativo à arborização urbana (Detzel, 1990; Detzel, 1992). A
arborização de ruas, além de um serviço público, é um patrimônio que
deve ser conhecido e conservado para as futuras gerações (Biondi;
Althaus, 2005).
Grey e Deneke (1986) destacam que ao considerar a árvore
como qualquer elemento pertencente à infraestrutura urbana, pode-se
valorizá-la em importância e em valor monetário, de forma
equivalente aos mesmos, já que elas têm valor equivalente a
investimentos em outros serviços públicos.

Os Custos das Árvores Urbanas da Cidade de Curitiba - PR


O valor econômico das árvores de rua da cidade de Curitiba
foi obtido pelo “Método de Composição de Custos”. Segundo Santos
(1996), este é o método mais favorável atualmente para ser aplicado
. Pesquisas em Arborização de Ruas 75

no Brasil para valoração econômica de árvores urbanas (Figura 1), em


razão da carência de outras informações básicas sobre as espécies hoje
utilizadas na arborização urbana, pois é o que exige, relativamente, o
menor esforço na busca dos dados mínimos para a sua aplicação.

Figura 1 – Arborização com Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke


na Rua Padre Anchieta, Curitiba

Variáveis analisadas para compor os custos das árvores urbanas


No estudo de caso para compor os custos de implantação e
manutenção da arborização viária da cidade de Curitiba foram
consideradas as 22 espécies mais encontradas nas ruas da cidade,
conforme Biondi e Althaus (2005).
Os dados para compor os custos de implantação e manutenção
das árvores de rua em suas diferentes fases de desenvolvimento foram
obtidos na Gerência de Arborização Pública do Departamento de
Produção Vegetal da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da
Prefeitura Municipal de Curitiba, referentes a informações coletadas
76 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

nos anos de 2005 e 2006. Para isso foram considerados cinco centros
de custos, sendo estes:
a) produção de mudas – a propagação e a condução de mudas com
tamanho padrão e características adequadas para arborização de ruas,
segundo Gonçalves et al. (2004). A produção das mudas é feita nos
seguintes viveiros: Horto Municipal da Barreirinha - área total de
80000 m², área construída de 904 m² e produção de 15 mil mudas/ano
em viveiro de semeadura e de 76700 mudas em viveiro de espera
(Figura 2); Viveiro Municipal Zoológico - área total de 16000 m² e
área construída de 20 m²; Viveiro Parque Náutico – área total de
10000 m² e área construída de 55 m² e Horto da Cidade Industrial de
Curitiba - área total de 31152 m² e área construída de 28 m², que são
utilizados como viveiros de espera, respectivamente para 7251, 7851 e
5782 mudas. Na produção de mudas estão envolvidos diretamente 18
funcionários, sendo 14 deles no Horto da Barreirinha e quatro nos
outros viveiros. Para todas as espécies, considerou-se o período de um
ano como o tempo de permanência na fase de viveiro de semeadura.
Para a definição do tempo de permanência das mudas em viveiro de
espera considerou-se o critério adotado por Cobalchini (1999), sendo:
crescimento rápido - espécies com permanência em viveiro de espera
de até três anos após repicagem; crescimento moderado - de três a
quatro anos; e crescimento lento – de cinco anos ou mais;
b) plantio e replantio nas vias públicas – considerando as operações
das equipes de plantio, formada por um motorista e três ajudantes, com
rendimento médio diário de 15 mudas, insumos (substrato, adubo,
tutor de bambu e fitilho) e a prática de irrigação (cinco irrigações com
caminhão tanque até o pegamento das mudas). Para o replantio
considerou-se um índice médio de perdas de 65% devido a atos de
vandalismo, conforme estimativas da Gerência de Arborização
Pública;
. Pesquisas em Arborização de Ruas 77

Figura 2 – Viveiro de semeadura (lado esquerdo) e viveiro de espera


(lado direito) do Horto Municipal da Barreirinha

c) poda de árvores (Figura 3) – considerou-se as podas de manutenção,


segurança, profilática e rebaixamento, de responsabilidade da Gerência
de Arborização Pública, e a poda de árvores com interferência nas
redes de distribuição de energia realizadas pela Companhia Paranaense
de Energia – Copel. Também as operações para remoção de resíduos e
de acompanhamento de equipe da Diretoria de Trânsito da Prefeitura
de Curitiba – Diretran para a execução dos serviços, quando é
necessária a interdição de uma rua devido a risco de queda de galhos
sobre pedestres e veículos. Para as operações de poda da Gerência e de
coleta de resíduos foram somente considerados os dados das equipes
terceirizadas. A equipe de poda é composta por um motorista (líder) e
três ajudantes (coletores), enquanto a equipe de coleta de resíduos é
formada por um motorista e um ajudante. As equipes de poda tinham
rendimento médio mensal de 170 árvores de pequeno porte (feito com
veículo utilitário tipo Van), 270 árvores de médio porte (com
caminhão médio ou semipesado, equipado com carroceria e cesto
aéreo, com giro de 360º ou infinito e alcance mínimo de 10 m de
altura) e de 680 árvores de grande porte (caminhão semipesado,
equipado com carroceria e cesto aéreo, com giro de 360º ou infinito e
alcance mínimo de 20 m de altura). O número total estimado de
78 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

árvores podadas pela Copel é de 65 mil árvores/ano. Cada equipe de


poda é acompanhada por 0,77 equipes de coleta de resíduos e cada três
equipes de poda são acompanhadas por uma equipe da Diretran
(formada por dois agentes);

Figura 3 – Podas realizadas em árvores de pequeno e grande porte

d) remoção de árvores – neste item considerou-se a prática de remoção


da parte aérea e tocos, incluindo também as operações de remoção de
resíduos e de acompanhamento de equipe da Diretran. Para as
operações de remoção da parte aérea foram considerados os mesmos
rendimentos e custos por equipes das operações de poda, devido a não
existência de dados de rendimento estratificados entre tais operações.
A remoção de tocos foi baseada no custo médio de aluguel de um
destocador, devido a não existência de dados estratificados quanto ao
porte das árvores;
e) planejamento e controle da arborização de ruas – relacionado às
operações do setor administrativo da Gerência de Arborização Pública,
. Pesquisas em Arborização de Ruas 79

em atendimento as 300 mil árvores estimadas nas ruas da cidade. Está


localizada em área no Horto Municipal do Guabirotuba, no bairro
Guabirotuba. As construções (escritório, depósitos, sala de reuniões e
almoxarifado) ocupam uma área de 1100 m².
Para cada operação dos respectivos centros de custos foram
levantados os custos fixos, incluindo os juros sobre o capital investido
em equipamentos, veículos e benfeitorias (considerando uma taxa de
juros de 6% a.a.), a depreciação e manutenção de equipamentos e
benfeitorias e os salários fixos; e os custos variáveis, tais como:
aquisição de insumos (substratos, fertilizantes, adubos, defensivos e
embalagens), materiais de consumo (escritório e campo) e despesas
correntes com água, luz e telefone.
Para compor o capital investido em benfeitorias foi utilizado o
custo unitário básico de construção (CUB), do mês de outubro de
2006, equivalente a R$ 885,92/m² (SINDUSCON-PR, 2006). E para
os terrenos, o custo de uso da terra foi baseado nos valores obtidos por
Leal (2007), que estimou este custo para os bairros de Curitiba, por
análise de regressão, como uma variável inversa à distância ao centro
da cidade.
A manutenção ou conservação para equipamentos foi baseada
nas informações de fornecedores/fabricantes e experiência de técnicos
e, para as benfeitorias, considerou-se que o custo para conservação ou
reparo seria equivalente a 2% do seu valor inicial.
A depreciação foi calculada pelo método linear ou das cotas
fixas, que a considera simplesmente como a desvalorização do bem,
reduzindo gradualmente seu valor nos inventários sucessivos durante o
período de utilização, conforme Silva et al. (2005). Para as construções
em alvenaria considerou-se uma vida útil de 20 anos, para
equipamentos e veículos de 10 anos (DERAL-PR, 2006) e para
ferramentas e utensílios de baixo custo de aquisição, de três anos
(Matsushita e Sepulcri, 1999).
80 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

Os custos de poda de árvores de pequeno, médio e grande


porte executadas pela Copel tiveram como base os valores corrigidos
quantificados por Seitz (1999). Já os custos de acompanhamento de
equipe da Diretran foram fundamentados nos valores fornecidos por
este departamento.
Os custos de produção de mudas foram estratificados de
acordo com a taxa de crescimento em viveiro de espera (rápido,
moderado ou lento) e consequente variação no tempo de permanência
em viveiro. Já os custos de poda e remoção foram estratificados
quanto ao porte das espécies (pequeno, médio e grande) devido aos
diferentes equipamentos utilizados. Adotou-se que na realização destas
podas, as árvores já teriam o tamanho adulto e seriam usados os
equipamentos correspondentes ao seu porte. O período de ciclos de
podas teve como base o número médio de árvores atendidas pelas
equipes no período de um ano.
Com base nesta estratificação, os custos totais de uma árvore
foram apresentados para nove grupos de espécies, denominados de A -
I, pela combinação da taxa de crescimento em viveiro de espera
(rápido, moderado ou lento) e o porte (pequeno, médio e grande).
Os custos de uma árvore, apresentados para idades teóricas
entre 1 e 100 anos (contabilizadas após plantio) foram capitalizados a
juros compostos de 6% a.a..

Resultados dos Custos de Implantação e Manutenção das Árvores


Urbanas
Os custos das operações de planejamento e controle da
arborização de ruas, em atendimento as 300 mil árvores estimadas nas
vias públicas da cidade de Curitiba, totalizaram R$ 1,92/árvore/ano.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 81

Na produção de mudas, o custo de uma muda de crescimento


rápido em viveiro de espera, como a Koelreuteria paniculata totalizou
R$ 55,69, enquanto uma muda de lento crescimento, com maior
período de tempo em viveiro de espera, como a Tabebuia heptaphylla,
foi de R$ 88,43 (Tabela 1).
O maior tempo de permanência em viveiro de espera resulta
que o custo de uma muda de lento crescimento seja 1,59 vezes maior
(ou 58,79% superior) a de uma muda de rápido crescimento. De
acordo com Biondi e Althaus (2005), o custo das mudas para
arborização de ruas é alto, principalmente pelo longo período de
permanência em viveiro.
Os custos de produção de mudas observados nesta pesquisa
são altos e praticamente não se pode comparar com os viveiros
comerciais. Numa instituição pública municipal, os viveiros têm
objetivos diferentes de um particular, principalmente por ter como
finalidade o lucro. Variáveis como o número de mudas produzidas,
área total ocupada, número de funcionários e tempo de permanência
das mudas no local fazem com que o custo de mudas dos viveiros
municipais seja maior do que a de um viveiro comercial.
O custo da operação de plantio de uma muda foi de R$ 43,23,
acrescido do custo de produção de uma muda (Tabela 2). Porém,
devido à perda de mudas implantadas decorrentes de atos de
vandalismo, o custo de implantação de uma espécie de rápido
crescimento, como Acer negundo, que inicialmente seria de R$ 98,92
passou a ser de R$ 163,22 (Tabela 3). O vandalismo não é um
problema restrito a arborização da cidade de Curitiba. De acordo com
Biondi (2000), está presente em quase todas as cidades do mundo,
embora varie em proporções.
82 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

Tabela 1 – Custos de produção de mudas para a arborização de ruas da


cidade de Curitiba

Grupo Espécies Custos/Muda


Rápido Acer negundo L.
crescimento em Jacaranda mimosifolia D. Don
R$ 55,69
viveiro Koelreuteria paniculata Laxm.
(1 + 3 anos) Melia azedarach L.
Tibouchina sellowiana Cogn.
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan
Bauhinia variegata L.
Erythrina falcata Benth.
Lagerstroemia indica L.
Moderado
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan
crescimento em
Prunus serrulata Lindl. R$ 71,58
viveiro
Senna macranthera H. S. Irwin &
(1 + 4 anos)
Barneby
Senna multijuga (Rich.) H. S. Irwin &
Barneby
Tipuana tipu (Benth.) Kuntze
Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke
Cassia leptophylla Vogel
Lafoensia pacari A. St.-Hil.
Lento
Ligustrum lucidum Aiton
crescimento em
Magnolia grandiflora L. R$ 88,43
viveiro
Tabebuia alba (Cham.) Sandwith
(1 + 5 anos)
Tabebuia chrysotricha (Mart. ex. A. DC.)
Standl.
Tabebuia heptaphylla (Vell.) Toledo

O custo total da operação de poda realizada pela Gerência de


Arborização Pública foi de R$ 34,31/árvore de pequeno porte e de
R$ 183,50/árvore de grande porte (ciclo de podas em intervalos de 12
em 12 anos), enquanto as operações de poda da Copel totalizaram R$
29,73/árvore de pequeno porte e R$ 108,32/árvore de grande porte
(cinco em cinco anos) (Tabela 4). Verifica-se que, no primeiro caso, o
. Pesquisas em Arborização de Ruas 83

custo de poda de uma árvore de grande porte é 5,35 vezes maior ou


434,83% superior ao de árvores de pequeno porte.

Tabela 2 – Custos das operações de plantio na arborização de ruas da


cidade de Curitiba

Operações Custos/Muda
Plantio R$ 38,94
Irrigação R$ 4,29
TOTAL R$ 43,23

Tabela 3 – Custos de implantação da arborização de ruas da cidade de


Curitiba
Custos/Árvore
Espécies
Plantio Replantio Total
Rápido crescimento em viveiro R$ 98,92 R$ 64,30 R$ 163,22
Moderado crescimento em viveiro R$ 112,23 R$ 72,95 R$ 185,18
Lento crescimento em viveiro R$ 131,66 R$ 85,59 R$ 217,24

O ciclo das podas realizadas pela Gerência de Arborização


Pública (12 em 12 anos) não representa um intervalo ideal para a
obtenção de uma árvore com qualidade estética e fitossanitária, que,
segundo Tattar (1978), seria a cada três anos. Já para redução de
custos, Miller e Sylvester (1981) recomendam um intervalo ideal de
ciclo de podas entre quatro e cinco anos, para a arborização da cidade
de Milwaukee (EUA). Segundo os últimos autores, o período do ciclo
de poda tem um significante efeito sobre o custo total de uma árvore,
sendo que longos ciclos de poda resultam em sua redução.
Na remoção da parte aérea os custos variaram de R$
15,04/árvore de pequeno porte a R$ 119,06/árvore de grande porte,
84 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

enquanto para a remoção de tocos foi considerado o custo médio de


remoção de R$ 60,00. O custo total de remoção (parte aérea e tocos)
variou de R$ 94,31 para árvores de pequeno porte a R$ 243,50 para
árvores de grande porte (Tabela 5).

Tabela 4 – Custos das operações de poda de árvores de rua na cidade


de Curitiba
Custos/Árvore
Espécies Coleta de
Poda Aérea Diretran Total
Resíduos
GERÊNCIA DE ARBORIZAÇÃO
Pequeno porte R$ 15,04 R$ 15,06 R$ 4,21 R$ 34,31
Médio porte R$ 62,22 R$ 37,92 R$ 4,21 R$ 104,35
Grande porte R$ 119,06 R$ 62,23 R$ 4,21 R$ 183,50
COPEL
Pequeno porte R$ 10,46 R$ 15, 06 R$ 4,21 R$ 29,73
Médio porte R$ 20,94 R$ 37,92 R$ 4,21 R$ 63,07
Grande porte R$ 41,88 R$ 62,23 R$ 4,21 R$ 108,32

Tabela 5 – Custos das operações de remoção de árvores de rua na


cidade de Curitiba
Custos/Árvore
Porte Tocos Diretran Coleta de Total
Parte Aérea
Resíduos
Pequeno R$ 15,04 R$ 60,00 R$ 4,21 R$ 15,06 R$ 94,31
Médio R$ 62,22 R$ 60,00 R$ 4,21 R$ 37,92 R$ 164,35
Grande R$ 119,06 R$ 60,00 R$ 4,21 R$ 62,23 R$ 243,50

Os custos totais de uma árvore aos 30 anos variaram de R$


9.003,18 (espécies de pequeno porte e crescimento rápido em viveiro)
a R$ 18.913,96 (espécies de grande porte e crescimento lento em
viveiro) (Tabela 6.). Para todos os grupos (A - I), quanto maior a idade
. Pesquisas em Arborização de Ruas 85

da árvore, maior o seu custo acumulado, pois pelo método de custos, o


valor das árvores aumenta do plantio até a sua maturidade.
Tabela 6 – Custos de implantação e manutenção da arborização de
ruas da cidade de Curitiba em 2006

LEGENDA: PP = pequeno porte; MP = médio porte; GP = grande porte; CR


=crescimento rápido em viveiro; CM = crescimento moderado em viveiro; CL =
crescimento lento em viveiro.

Dentre as espécies mais plantadas na arborização de ruas de


Curitiba, Lagerstroemia indica (extremosa) possui menor custo de
implantação e manutenção pelo seu rápido crescimento na fase de
86 Custo de Implantação e Manutenção da Arborização de Ruas .
.

viveiro de espera e pequeno porte, enquanto Tabebuia heptaphylla


possui alto custo de implantação e manutenção devido ao seu lento
crescimento na fase de viveiro de espera e grande porte (Figura 4).

Figura 4 – Tibouchina sellowiana e Tabebuia heptaphylla na


arborização de ruas de Curitiba

Ressalta-se que os custos da arborização de ruas de Curitiba


poderiam ser ainda maiores, se as árvores recebessem todas as práticas
de manutenção necessárias para manter o seu vigor, tais como:
adubação, irrigação, tratamento de danos físicos e controle de pragas e
doenças, recomendados por Tattar (1978) e Grey e Deneke (1986). E
também se fossem contabilizados outros custos, como reparos a
calçadas e meio-fio, queda de galhos sobre prédios, carros ou
pedestres e folhas a serem varridas, citados por Phillips (1993) como
pontos negativos da arborização. Porém, as operações de poda e
remoção correspondem às categorias de maior custo, conforme
. Pesquisas em Arborização de Ruas 87

verificado em trabalhos de McPherson e Simpson (2002) e McPherson


(2003), sendo representativos dos custos totais de uma árvore.
Sabendo-se que os benefícios da arborização urbana excedem
os seus custos, como mostrado em trabalhos de McPherson et al.
(1999), McPherson e Simpson (2002) e Nowak et al. (2002), verifica-
se o grande valor das 300 mil árvores plantadas nas vias públicas de
Curitiba.

Considerações Finais
A obtenção de dados sobre os custos de implantação e
manutenção da arborização de ruas mostrou-se aplicável aos órgãos
municipais, podendo o método proposto ser facilmente adaptado para
outras cidades brasileiras. No entanto, para que esse método possa ser
amplamente aplicado, principalmente em aspectos legais, é necessária
a existência de um banco de dados com informações sobre as árvores a
serem avaliadas e que os órgãos municipais possuam um programa de
gerenciamento de custos para cada atividade na gestão da arborização
de ruas.
Conhecer estes custos de implantação e manutenção é muito
importante como subsídio o para o planejamento anual de manutenção,
remoção e implantação da arborização urbana, e para a própria
conscientização pública sobre o patrimônio físico-financeiro que as
árvores urbanas representam.

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Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da


Arborização de Ruas
Rogério Bobrowski
Engenheiro Florestal, M.Sc., Departamento de Pesquisa e Monitoramento –
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Curitiba-Paraná.

As cidades como organismos complexos sofrem mudanças


estruturais constantes. Estas interferências afetam principalmente os
recursos ambientais internos, mas também os periféricos, seja
diretamente pela supressão de remanescentes florestais e pelas
diferentes formas de poluição ou indiretamente pela alteração do
regime hídrico e do microclima.
Dentre os recursos ambientais de uma cidade, a arborização
urbana está relacionada à presença de árvores nos centros urbanos, seja
na arborização de ruas, seja nas diferentes formas de áreas verdes
(parques, praças, remanescentes florestais).
No presente trabalho adota-se o conceito de arborização
urbana o qual trata de todo tipo de vegetação arbórea existente dentro
do perímetro urbano, em áreas públicas ou particulares, naturais ou
introduzidas pelo homem.
A arborização urbana pode ser subdividida essencialmente em
duas partes: áreas verdes e arborização de ruas. Nesta última categoria
inserem-se as árvores componentes da arborização de vias públicas
(ruas e canteiros centrais) e da arborização de vias particulares (ruas
internas de condomínios residenciais, áreas de estacionamento
comerciais, de universidades e de grandes empresas). Com relação às
áreas verdes as árvores estão presentes nos remanescentes florestais de
parques e áreas particulares, nos jardins particulares, nas praças e nos
92 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

jardinetes, que congregam um grande conjunto de árvores em uma


área delimitada.
Para verificar a qualidade, compreender o comportamento e a
funcionalidade dos benefícios e detectar problemas e prejuízos
decorrentes da arborização implantada em uma cidade, as prefeituras
municipais e os centros de pesquisa tem executado inventários
florestais sob diferentes formas e intensidades amostrais.
Porém, ainda se verifica unicamente a medição de parcelas
temporárias, correspondentes a uma única ocasião de obtenção de
dados, sem preocupação com a viabilização de coletas contínuas que
possam trazer informações mais completas, principalmente sobre a
dinâmica do componente arbóreo presente nas ruas da cidade.
Neste sentido, este capítulo visa a introdução dos conceitos e
técnicas relativas ao inventário florestal contínuo e aos estudos da
dinâmica da arborização de ruas.

Dinâmica da Arborização de Ruas


Os estudos da dinâmica de florestas naturais pautam-se em
inventários florestais mediante estabelecimento de parcelas
permanentes para coleta contínua de dados (Pizatto, 1999; Schaaf,
2001; Rode, 2008 e Stepka, 2008). Na arborização de ruas não seria
diferente a estratégia para acompanhamento das mudanças ocorridas.
Desta forma, antes das considerações sobre a dinâmica da
arborização de ruas necessária se faz a compreensão sobre as
estratégias de inventário florestal que podem ser utilizadas.

O Inventário da Arborização de Ruas


Partindo-se da premissa de que em uma cidade a paisagem é
formada por retalhos de fragmentos de florestas, parques urbanos,
. Pesquisas em Arborização de Ruas 93

jardins e extensões lineares de copas de árvores correspondentes aos


eixos estruturadores onde está implantada a arborização de ruas, o
inventário florestal urbano pode ser efetuado sob três enfoques
distintos: inventário parcial, inventário por enumeração completa e
inventário por amostragem.
O inventário parcial é aquele onde se considera apenas um
componente específico tal como um parque, uma dada espécie, a
ocorrência de uma praga específica, a arborização das ruas de um
bairro, etc, podendo ser efetuado por censo arbóreo ou amostragem.
O inventário por enumeração completa é o censo arbóreo,
podendo ser dos parques da cidade, da arborização de ruas ou de áreas
verdes como praças e jardins, ou ainda de todos os componenentes
arbóreos de uma cidade. Esse tipo de inventário justifica-se para
avaliações quantitativas com objetivo de cadastramento da arborização
ou eventualmente para avaliações qualitativas em cidades pequenas.
No inventário por amostragem adota-se um método e um
processo de amostragem visando conhecer as características da
população amostral. No caso da arborização de uma cidade é utilizado
para avaliar as características estruturais (composição de espécies,
condição das árvores, área dos canteiros, etc), os problemas
específicos (árvores de risco, doenças e/ou pragas), a qualidade dos
plantios ou a cobertura de copas (quantificação, distribuição espacial e
dinâmica - extensão e mudanças), tanto relativa à arborização de ruas
quanto às áreas verdes de parques urbanos e remanescentes florestais
particulares.
O processo de amostragem refere-se à forma como se aborda o
conjunto de unidades amostrais e o método de amostragem refere-se à
abordagem de uma única unidade amostral. Os processos de execução
de um inventário florestal podem ser: aleatório irrestrito, aleatório
restrito (amostragem estratificada, amostragem em dois estágios e
amostragem em múltiplos estágios), sistemático (em único estágio e
94 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

em múltiplos estágios) e misto (amostragem em grupos ou


conglomerados e amostragem com múltiplos inícios aleatórios). Já os
métodos podem ser: método de área fixa, método de Bitterlich, método
de Strand, método 3P de Grosenbaugh, método em linhas e o método
de Prodan (Péllico Neto e Brena, 1997).
O processo de amostragem aleatória irrestrita é um meio
relativamente fácil para se conhecer a estrutura de florestas urbanas e
para estimar os valores dos serviços ambientais, diminuindo gastos
com coleta de dados. Por isso tem sido o mais utilizado para avaliação
da arborização de ruas. Entretanto, a utilização do mesmo é
influenciada pelas características da cidade, da arborização analisada e
pelos objetivos propostos na avaliação conduzida.
A precisão e o custo da estimativa obtidos por meio deste
processo são dependentes do tamanho da população amostral, da
variabilidade da principal variável de interesse e do número total de
unidades amostrais necessárias para se atender um limite de erro
previamente definido e a significância estatística da amostragem, de
forma que as estimativas elaboradas representem a população
analisada. Em geral, a variável densidade de árvores/km de rua tem
sido utilizada com o objetivo de verificar a eficácia e a confiabilidade
do inventário, permitindo calcular a intensidade amostral requerida
para um nível de significância e limite de erro definidos.
Para cidades como Curitiba e São Paulo a estratificação do
inventário atendendo a divisão do município em Regionais
Administrativas ou Sub-Prefeituras pode ser uma alternativa mediante
uso do processo aleatório restrito visando conhecer as diferenças
regionais das características estruturais da arborização de ruas da
cidade. Entretanto, Rachid e Couto (1999) e Meneghetti (2003), em
trabalhos realizados sobre métodos de amostragem para a arborização
de ruas, nas cidades de São Carlos e Santos (Estado de São Paulo),
concluíram que o processo de amostragem aleatória restrita pouco
. Pesquisas em Arborização de Ruas 95

agregou em melhoria de precisão das estimativas do inventário quali-


quantitativo, em relação ao processo aleatório irrestrito.
Quanto ao tamanho das unidades amostrais, na avaliação da
arborização de ruas a utilização de parcelas menores com maiores
perímetros relativos e maior número de repetições tendem a apresentar
menores valores de desvio padrão da média, sendo, portanto, mais
eficientes (Milano, 1987; Milano e Soares, 1990). Esta observação
corrobora com as afirmações de Husch et al. (1972), os quais
afirmaram que em florestas suficientemente homogêneas a precisão
tende a ser maior para unidades amostrais pequenas em relação às
maiores devido ao grande número de unidades amostrais
independentes.
Entretanto, o tamanho da unidade amostral mais adequado
para a avaliação da arborização de ruas de uma cidade vai depender da
diversidade de espécies e da amplitude de idade, ou seja, depende de
sua heterogeneidade ou variabilidade. Neste sentido, Husch et al.
(1972), afirmaram que é desejável o uso de unidades amostrais
menores quando a floresta sob análise é mais homogênea, pois mais
baixos tendem a ser os coeficientes de variação.
Silva (2003) em estudo sobre métodos de amostragem,
tamanho e forma de parcela para a arborização de ruas da cidade de
Belo Horizonte, Minas Gerais, concluiu que as melhores unidades
amostrais são parcelas quadradas com tamanho de 300x300 metros,
pois apresentaram o menor erro padrão da média, menor erro de
amostragem, menor coeficiente de variação e menor desvio da média
para um dado intervalo de confiança.
Como forma de tornar a execução do inventário da arborização
mais ágil e com redução de tempo e custos, Jutras et al. (2009) fizeram
uso de redes neurais para estimar parâmetros morfológicos de árvores
da arborização de ruas. Por outro lado, Silva (2003) concluiu que a
estimação de parte dos dados, por profissional técnico previamente
96 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

treinado, pode reduzir os custos e ao mesmo tempo manter a precisão


dentro de limites aceitáveis.

Inventário Contínuo da Arborização de Ruas


O inventário florestal contínuo é aquele realizado mediante
repetição de amostragens de uma população amostral, em intervalos de
tempo definidos. Sheil e May (1996) afirmaram que as remedições de
parcelas para estudos de dinâmica (taxa do ingresso, incremento e
mortalidade) em grandes áreas de estudo geram estimativas mais
apropriadas se o intervalo de medição é maior. De acordo com Smiley
e Baker (1988) o inventário florestal contínuo da arborização de ruas
pode ser efetuado a cada 5-10 anos se não há coleta de informações
rotineiramente para alimentar um banco de dados. Apesar desta
recomendação, ainda não se tem informações sobre qual o melhor
intervalo de tempo entre medições, tendo em vista o grande
dinamismo das modificações na malha urbana e as interferências sobre
as árvores, bem como as alterações microclimáticas e ambientais
decorrentes da expansão das cidades.
No Brasil não é usual a remedição de parcelas de inventários
da arborização de ruas para análise da dinâmica do componente
arbóreo. Por outro lado, Bobrowski (2011) efetuou a remedição de
parcelas de um inventário da arborização de ruas da cidade de
Curitiba, Paraná, realizado por Milano em 1984, e estudou a dinâmica
desse componente arbóreo. Esse tipo de estudo é essencial para o
entendimento dos padrões comportamentais das espécies, uma vez que
mudanças nas taxas apresentadas podem afetar a composição florística
e a estrutura futura da floresta, pois fornecem dados essenciais
relativos a taxas e fatores de mudança para o total da população,
incluindo a remoção de árvores, o plantio de árvores, bem como a
condição das árvores e a mudança na composição de espécies (Paiva et
al., 2007; Nowak et al., 2008).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 97

De acordo com Dwyer et al. (2002) há necessidade de se


instalar parcelas permanentes para coleta contínua de dados e
monitoramento a longo prazo das mudanças ocorridas na floresta
urbana. Esse tipo de informação é necessária para identificação e
monitoramento de fatores que afetam a extensão, a utilização e o
gerenciamento dos recursos florestais urbanos, para possibilitar o
desenvolvimento de modelos matemáticos para predição do
crescimento e desenvolvimento da floresta, principalmente em
cenários futuros e para visar a manutenção da qualidade estrutural e
fitossanitária das árvores, sendo a prevenção de problemas melhor que
a remediação.
Além do uso de parcelas permanentes para estudo da
dinâmica, também poder-se-ia utilizar técnicas de análise de tronco, tal
qual para o estudo da dinâmica de florestas de produção, se o objetivo
de estudo é a inferência sobre o crescimento diamétrico das árvores no
ambiente urbano. Entretanto, a utilização da análise de tronco é
limitada pelas características das espécies que podem ou não
apresentar anéis de crescimento visíveis. Salienta-se que o diâmetro é
a variável que melhor expressa relação com outras variáveis
como altura, área de copa, estoque de carbono, dentre outras, podendo,
desta forma, servir como variável independente no ajuste de equações
para estimativa das outras variáveis de mais difícil obtenção a campo.
Ferramentas de geoprocessamento podem ser utilizadas como
apoio para estudos da dinâmica da arborização de ruas. Estas
ferramentas podem incluir o uso de técnicas de sensoriamento remoto,
de aerofotogrametria, de fotografias terrestres e de Sistemas de
Informação Geográfica.
Costa (2011) estudou a floresta urbana na cidade de São Paulo
por meio de técnicas de sensoriamento remoto, englobando todos os
componentes da arborização urbana (árvores de via pública, praças,
jardins particulares, etc). Para isso, utilizou imagens de alta resolução
98 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

dos satélites Ikonos e Quickbird e procedeu à classificação


supervisionada de imagens de regiões predeterminadas da cidade,
obtendo índices de floresta urbana e a definição de áreas prioritárias
para a implantação de corredores verdes. Lima Neto (2011) utilizou
Sistema de Informações Geográficas para obtenção de variáveis
dendrométricas (área de copa e distância entre copas) e análise
comparativa em relação ao inventário florestal convencional, mas
também, para obtenção de diferentes tipos de índices espaciais da
arborização urbana. Vieira (2006) analisou a dinâmica da cobertura
vegetal da cidade de Curitiba, Paraná, entre 1980 e 2004, utilizando
imagens de satélite Landsat e CBERS e técnicas de classificação
supervisionada.

A Dinâmica da Arborização de Ruas


Na arborização de ruas ocorre constantemente o plantio, a
morte, a substituição e a remoção de árvores, além do crescimento das
árvores remanescentes. Esta sequência de fatos, simultâneos e
constantes, representa a dinâmica da comunidade arbórea. O
reconhecimento disso é essencial para o monitoramento e para a
predição dos processos de transformação da arborização de ruas.
Porém, os estudos da dinâmica da vegetação arbórea são mais
corriqueiramente realizados em áreas de florestas nativas, mediante o
uso de parcelas permanentes e estratégias de inventário florestal para
estudos da composição florística, das características fitossociológicas
da floresta e dos padrões de desenvolvimento e mudança.
Ainda faltam estudos, análises e estabelecimento de critérios
técnicos sobre a dinâmica e o comportamento dos diversos fatores
estruturais da arborização de ruas, pois somente por meio deles é
possível se efetivar o melhor manejo e a intensificação dos benefícios
requeridos, diminuindo as perdas decorrentes da inobservância de
padrões técnicos adequados.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 99

Para avaliar as mudanças estruturais da arborização de ruas ao


longo do tempo alguns estudos já foram conduzidos na America do
Norte tais como os de Richards (1979), Dawson e Khawaja (1985),
Nowak et al. (1990) e Fischer et al. (2007). O trabalho de Nowak et al.
(2004) talvez seja um dos únicos a proceder à avaliação das mudanças
da arborização urbana em parcelas permanentes implantadas na cidade
de Baltimore, EUA, em diferentes setores do zoneamento urbano,
contemplando áreas verdes e arborização de ruas.
Brack (2006) afirmou que para as cidades costuma-se obter
informações quantitativas da arborização em uma única etapa e que as
medições contínuas para estudos do crescimento e das alterações são
custosas, porém o ajuste de equações para o estudo do crescimento e
das alterações são ferramentas que flexibilizam a obtenção de dados e
a análise de cenários.
Os estudos sobre a dinâmica da arborização de ruas deveriam
seguir o roteiro metodológico descrito a seguir para obtenção, análise e
interpretação dos dados:
- Análise da composição florística e da estrutura da
arborização, por meio de inventários florestais contínuos previamente
planejados;
- Análise das taxas de plantio, de incremento, de remoção e de
mortalidade de árvores, para o total, por unidade amostral e por
espécie;
- Análise do incremento periódico, do incremento periódico
anual e do incremento líquido;
- Análise da mudança da distribuição diamétrica, da área basal,
da altura, da área de copa, do estoque de carbono, dentre outros.
a) Dinâmica do quantitativo arbóreo
100 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

A dinâmica da quantidade de árvores presentes na arborização


de ruas de uma cidade é dependente de vários fatores, sejam
ambientais, silviculturais, urbanísticos ou sócio-culturais.
Dentre os fatores ambientais que afetam a implantação e
manutenção das árvores nas calçadas pode-se citar: as condições
microclimáticas, a poluição atmosférica e do solo, o regime de
disponibilidade hídrica e a textura e compactação do solo.
Os fatores silviculturais que podem afetar a quantidade de
árvores nas ruas são: longevidade, porte e arquitetura das espécies
escolhidas, resistência da espécie às adversidades ambientais urbanas,
qualidade das mudas plantadas, práticas corretas e adequadas de poda
e o controle de pragas e doenças.
Os fatores urbanísticos que podem afetar a quantidade de
árvores nas calçadas são: zoneamento urbano (zona residencial, setor
estrutural, zona industrial, etc), incentivos construtivos, estrutura
mínima adequada quando do plantio efetivado (calçada, meio-fio,
passeio e canteiro) e ocorrência de danos por obras de infraestrutura
urbana (alargamento de ruas, passagem de tubulações, manutenção de
redes de transmissão de energia e de telecomunicações, implantação
de passeios, etc).
O fator sócio-cultural que mais afeta a existência e a qualidade
da arborização de ruas é a incidência e intensidade da ação de
vandalismo.
Em áreas centrais da cidade maior é a pressão sobre a
arborização de ruas, com consequentes danos, remoções e
substituições devido à influência mais marcante, seja de ordem
urbanística, seja por atos de vandalismo ou de estresse ambiental.
Dawson e Khawaja (1985) em análise da arborização de ruas
da cidade de Urbana, Illinois, constataram que para um intervalo de 50
anos entre avaliações (1932-1982) houve remoção de 41% das árvores.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 101

Por outro lado, Bobrowski (2011) em análise da arborização de ruas da


cidade de Curitiba, Paraná, constatou a remoção de 55,06% da
quantidade de árvores para um intervalo de 26 anos entre avaliações
(1984-2010). No caso da arborização de ruas de Curitiba, os maiores
índices de remoção foram observados para parcelas próximas ao
núcleo central da cidade.
b) Dinâmica do DAP
A análise da dinâmica do DAP está pautada na observação de
mudanças na distribuição dos dados em classes diamétricas definidas.
Com isso pode-se efetuar comparações entre os dados de diferentes
épocas de avaliação.
Para a arborização relativamente jovem, a tendência da
distribuição diamétrica é apresentar a curva em forma de “J invertido”,
típica de florestas heterogêneas e multiâneas, como na distribuição dos
dados para o ano de 1984 no estudo realizado por Bobrowski (2011)
(Figura 1).
No caso da arborização de ruas esse fato é pertinente, pois
ocorre anualmente o plantio de árvores que favorece a formação de um
povoamento de diferentes idades, tanto na composição de padrões de
rua pela prefeitura municipal quanto de plantios voluntários efetivados
pela população. A distribuição decrescente na arborização de ruas
pode ser devido a dois tipos de fenômenos: plantios efetuados em
ciclos, seguido por surtos de doenças ou pragas e declínio, ou plantios
coincidentes com implantação de loteamentos ou revitalizações,
caracterizando povoamentos multiâneos relativamente jovens.
Esse tipo de distribuição decrescente do DAP também foi
constatada em trabalhos realizados com a arborização de ruas de
cidades da America do Norte por Rowntree e Nowak (1991), O’Brien,
et al. (1992), Mcpherson (1998), Hartel e Miller (2002), Wachtel Tree
Science & Service (2007) e Portland Parks & Recreation (2011).
102 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

Figura 1 – Dinâmica da Distribuição Diamétrica

Por outro lado, para a arborização de ruas em condição de


amadurecimento, com indivíduos adultos de grande porte,
remanescentes, associados a indivíduos com menores dimensões,
conforme a distribuição observada para o ano de 2010 no estudo de
Bobrowski (2011), a distribuição diamétrica tende a apresentar a curva
em forma “unimodal”, indicando moderadas taxas de plantio ou
reposições, porém com aumento na concentração de árvores em
estágio de maturidade provendo benefícios máximos.
Meneghetti (2003) na cidade de Santos, São Paulo, e Fischer
et al. (2007), na cidade de Bloomington, Indiana, também constataram
a distribuição do DAP em curva típica unimodal quando analisados os
dados para a população total amostrada.
c) Dinâmica da altura
Da mesma forma que para o DAP, para uma população
amostrada relativamente jovem, a distribuição das árvores nas classes
. Pesquisas em Arborização de Ruas 103

de altura também tende a ser decrescente, em forma de “J invertido”,


evidenciando o caráter multiâneo da arborização (Figura 2).
Entretanto, quando a população amostrada é mais velha, com indiívuos
de maior porte remanescentes associados a indivíduos mais jovens
plantados, a curva de distribuição tende a ser do tipo unimodal, dando
indício do amadurecimento da arborização com moderadas taxas de
plantio.

Figura 2 – Dinâmica da Distribuição em Classes de Altura

A dinâmica da distribuição em classes de altura, conforme


contatado por Bobrowski (2011) é influenciada pelo tipo de poda
realizada, principalmente das podas drásticas e de rebaixamente que
alteram as características naturais de expressão da arquitetura típica
das espécies, altura a forma da copa das árvores. Também, deve-se
levar em consideração as características das espécies que expressam
diferentemente maior ou menor incremento anual em altura.
104 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

A análise da dinâmica da altura pode indicar o aumento ou


diminuição da concentração de árvores em classe de altura que se
encontra no limite entre as alturas correpondentes à fiação de baixa e
alta tensão das linhas de transmissão de energia elétrica. O maior
número de árvores nesta faixa pode ser um resultado indesejável, pois
maiores são as necessidades de poda de manutenção e condução para
diminuir conflitos gerados entre a expansão da copa e as faixas de
segurança de cada rede. Também pode ser um contracenso, pois impõe
trabalho e custo extra, perdas estéticas e redução da vida útil das
árvores se as mesmas atingem altura máxima nessa região.
Desta forma, a constatação de maior concentração de árvores
na classe de altura acima de 15m pode ser desejável por diminuir
conflitos com a fiação de transmissão de energia, por ultrapassá-la e
formar um manto de área verde agregando benefícios ambientais
diversos, ao contrário da constatação de maior concentração de árvores
em classe de altura abaixo dos 5m (limite da fiação de baixa tensão e
daquelas de transmissão de dados de telecomunicação), com pequena
projeção de copa. Isto exige maior quantidade de árvores para produzir
efeito se sombreamento equivalente ou aproximado àquelas de maior
porte.
d) Dinâmica da área de copa
No estudo conduzido por Bobrowski (2011), ao contrário das
distribuições do DAP e da altura, a análise da distribuição dos dados
em classes de copa demonstrou que entre os anos de 1984 e 2010 foi
mantida a tendência da curva decrescente da área de copa (Figura 3).

Figura 3 – Dinâmica da Distribuição em Classes de Área de Copa


. Pesquisas em Arborização de Ruas 105

Esta característica reflete a grande amplitude de diferentes


formas e área de copa, variável de acordo com cada espécie presente
na arborização de ruas analisada. Entretanto, constatou-se que a maior
proporção de árvores se encontra na classe 1 da curva de distribuição
das áreas de copa do referido estudo, correspondente ao intervalo de
0–50 m².
Entretanto, se analisado os dados por espécie percebe-se que a
curva de distribuição, para as classes de área de copa definida, pode
apresentar forma típica unimodal, principalmente se a espécie
considerada apresenta características de grande área de copa, tal como
Tipuana tipu (tipuana) e Parapiptadenia rigida (angico) (Figura 4).
Neste caso, a amplitude dos dados é maior, ao contrário do que pode
ser observado para outras espécies onde a análise da distribuição dos
dados poderia ser feito para classes de copa com menor amplitude,
tendo em vista a menor área de abrangência das copas.
106 Inventário Florestal Contínuo e Dinâmica da Arborização de Ruas .

Figura 4 –Distribuição em classes de área de copa por espécie

Parapiptadenia rigida Tipuana tipu

Além das características distintas de cada espécie, a dinâmica


da área de copa também é fortemente influenciada pelo tipo e
intensidade das podas realizadas que alteram a arquitetura típica, a
forma e a área da copa. A intensidade de intervenções por poda é
variável conforme a espécie, mas também são muito afetadas pelas
características da estrutura urbana que pode limitar o desenvolvimento
de espécies de maior porte ou com maior projeção de área de copa.

Considerações Finais
Ainda são incipientes as experiências em estudo da dinâmica e
na condução de inventários contínuos da arborização de ruas.
Porém, os estudos e trabalhos relatados dão indícios do
comportamento deste componente arbóreo que é muito influenciado
pelas condições da alteração da estrutura urbana, das práticas de
manejo adotadas e das características ambientais do ambiente urbano,
que potencializam maior ou menor estresse.
As técnicas de inventário florestal contínuo, para estudo da
dinâmica da arborização de ruas, podem ser adotadas como parte do
planejamento da arborização urbana brasileira, pois boa parte das
. Pesquisas em Arborização de Ruas 107

cidades do país possui seu plano diretor da arborização. Esta


ferramenta de análise é essencial para a compreensão mais apurada do
comportamento das árvores frente às adversidades do ambiente urbano
e da dinâmica da arborização urbana.

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Fotografias Aéreas para o Inventário da


Arborização de Ruas
Everaldo Marques de Lima Neto
Engenheiro Florestal, M.Sc., Doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.

O conhecimento das árvores urbanas é de extrema


importância para fornecer informações sobre prioridades de
intervenções, seja com tratamentos fitossanitários, remoção de árvores
de risco e/ou locais para plantios e replantios, bem como as
necessidades de poda.
O inventário é fundamental para avaliar o patrimônio arbóreo
de uma cidade e também o meio mais seguro para obter as
informações detalhadas sobre as árvores. Esse inventário dá suporte às
práticas de manejo e silviculturais em uma determinada área. Os
métodos tradicionais de realização de inventários com coletas de dados
em campo, geralmente contêm muita informação e essas informações
devem ser base para que tornem exequíveis as pesquisas e práticas de
manutenção da arborização.
Com a ampliação das pesquisas em arborização urbana, a
gestão das árvores de rua necessita de informações dinâmicas e
abrangentes sobre a qualidade dessas árvores. Por este motivo, o uso
das geotecnologias gera as informações com eficácia, facilitando o
gerenciamento da arborização urbana. São consideradas
geotecnologias o conjunto de tecnologias de informação geográfica
referenciada, onde encontramos como ferramentas a fotogrametria,
a cartografia, os levantamentos aéreos ou orbitais, o Sistema de
Informação Geográfica (SIG), o Sistema de Posicionamento Global
(GPS), entre outros. A fim de propiciar a implantação, manutenção e
monitoramento da arborização a informatização dos dados possibilita a
análise, a atualização e o armazenamento de um grande volume de
112 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

informações geradas por um inventário. De acordo com Silva et al.


(2007) a informatização dos dados oferece redução de custos,
fornecendo ao planejador instrumento indispensável ao manejo das
árvores urbanas.
Atualmente, não se admite outra forma de armazenar dados de
inventário se não por meio de um sistema computadorizado (Silva et
al., 2007). A atualização e manipulação de arquivos não digitais sobre
a arborização é difícil e demorada, justificando a implantação dos
sistemas de geoinformação (Adam et al., 2001).
No Brasil, as pesquisas de arborização de ruas com a
utilização de geotecnologias ainda é escasso. Quando pensamos em
arborização urbana temos a intenção de executar pesquisas que possam
promover os inúmeros benefícios (estéticos, ecológicos e sociais),
melhorando a qualidade de vida da população e a qualidade ambiental
nas cidades.
Com intuito de adequar as pesquisas de árvores urbanas, pode-
se supor que as árvores precisam ser conhecidas, seja tanto em relação
a sua adaptabilidade no meio urbano quanto aos eventuais problemas e
riscos que oferecem à população. A idéia principal é ter subsídios para
que sejam empregadas técnicas que tornem possíveis o planejamento e
monitoramento da arborização.
Diferente do ambiente florestal que apresentam maior número
de árvores concentradas por área e dinâmicas não tão influenciadas
pela ação antrópica, as árvores de rua, precisam de avaliação
individual, pois apresentam necessidades específicas de manejo.
Na tentativa de fazer uma ligação entre a avaliação e o uso das
geotecnologias aponta-se a necessidade de obter recursos
cartográficos. Entre esses recursos destacam-se as imagens de satélite
e fotografias aéreas. Em função dos custos de aquisição dos recursos
cartográficos, as fotografias aéreas são as mais priorizadas para a
realização de pesquisas. As fotografias aéreas são obtidas por câmeras
. Pesquisas em Arborização de Ruas 113

fotográficas instaladas em aeronaves e podem produzir fotos em


branco e preto, coloridas, infravermelho e ultravioleta.
O uso de fotografias aéreas para coletar e registrar
informações são uma das mais importantes contribuições para o
planejamento de uso de terra (Carver, 1985). Em reflorestamento e
florestas nativas algumas variáveis já têm sido mensuradas com uso de
fotografias aéreas de escalas grandes. O uso dessas fotografias tem o
objetivo de minimizar os custos e tornar mais rápida a mensuração.
Nesse sentido, o objetivo desta pesquisa é estabelecer um
método para a mensuração de variáveis do inventário da arborização
de ruas, diminuindo o tempo gasto em trabalhos de campo.

Histórico sobre a Aplicação de Fotografias Aéreas


Existem referências da utilização de fotografias aéreas para o
estudo de áreas urbanas desde 1923. No entanto, as aplicações
sistemáticas ocorreram após a Segunda Grande Guerra Mundial.
Depois dos anos 50, alguns trabalhos introduziram a fotointerpretação
no estudo de condições socioeconômicas de áreas residenciais urbanas
(Green, 1957; Green e Monier, 1959).
Nos últimos anos foram desenvolvidos vários estudos,
principalmente norte- americanos, utilizando sensoriamento remoto e
SIG para o inventário e manejo de áreas verdes. A grande vantagem
dessas tecnologias é obter dados visuais e poder relacionar os mais
variados dados espaciais, de diferentes gêneros, com dados
alfanuméricos, obtendo respostas integradas para problemas urbanos e
rurais, de maneira rápida e econômica, proporcionando uma
experiência de conhecimento holístico sobre as áreas avaliadas (Silva
Filho, 2003).
Souza e Costa (1998) afirmam que as fotografias aéreas são
fontes importantes de informação sobre o espaço urbano e podem
fornecer subsídios à análise deste processo. A sua interpretação
114 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

permite a visualização e identificação dos diferentes elementos que


constituem o espaço urbano.
De acordo com Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais -
IPEF (1993), as fotografias aéreas estão entre as principais fontes de
dados que alimentam um SIG na área florestal. Disperati et al. (2007b)
afirma que no setor florestal a obtenção de informações detalhadas da
floresta por meio de fotografias aéreas e imagens servem para dar
suporte às práticas de manejo florestal e outras atividades, referentes a
variáveis das árvores e dos povoamentos (composição de espécies,
contagem, diâmetro médio e densidade das copas). A alta resolução,
com acentuada definição espacial, permite observar a parte superior da
árvore em detalhes, incluindo suas copas, galhos, partes sombreadas
entre os galhos, dentre outros (Gougeon, 2000).
Ampliando o uso de geotecnologias em áreas urbanas, pode-se
obter sólidas ferramentas para o planejamento, inventário e
monitoramento da arborização urbana (Kurihara e Encinas, 2003).
Nesta perspectiva, as ortotofotos ou ortoimagens podem ser usadas em
diversas análises espaciais.
Jensen (2009) afirma que ao longo das últimas décadas houve
um aumento no uso de ortofotos. Planejadores e profissionais usuários
de SIG usam ortoimagens como fundo sobre o qual se sobrepõe
informações temáticas. Como exemplo cita as linhas divisórias de
propriedades imobiliárias, redes de drenagem, de serviços e
infraestrutura, entre outros.
As ortofotos são produtos cartográficos que reúnem as
vantagens da fotografia aérea com as da cartografia vetorial. Tem uma
escala constante e nelas podem ser medidos diretamente ângulos,
distâncias e áreas (com as limitações inerentes à projeção cartográfica
utilizada). Por estas características, as ortofotos são uma excelente
base para os Sistemas de Informações Geográficas, sendo também
utilizados em diversos tipos de planejamento em que seja necessário
rigor espacial, como por exemplo, estudos de planejamento urbano, de
gestão de recursos agrícolas, entre outros (Silva Antonio, 2004).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 115

O Uso do SIG na Arborização de Ruas


Os sistemas de informações geográficas (SIG) são aplicativos
que permitem as operações de entrada e verificação de dados,
armazenamento e gerenciamento de banco de dados, apresentação e
saída de dados, transformação de dados e interação com o usuário
(Borrough, 1998).
A representação de dados espaciais em um SIG pode ser feita
através de dois tipos: o vetorial e matricial. De acordo com Schuch
(2006), no tipo vetorial, os limites das feições são definidos por uma
série de pontos que se agrupam formando linhas ou polígonos. Os
pontos são codificados com um par de números representando as
coordenadas X e Y em sistemas como latitude /longitude ou em grade
de coordenadas UTM. No tipo matricial, a área de estudo é dividida
em uma malha de células ou pixels nas quais é registrada a condição
ou o atributo da superfície terrestre naquele ponto. A cada célula é
dado um valor numérico que pode representar tanto o identificador da
feição quanto atributos qualitativos e quantitativos.
Eastman (1999) e Batty et al. (1999) ressaltam que as
estruturas vetoriais são úteis em aplicações municipais onde
predominam questões de produção de mapas para engenharia e
gerenciamento de banco de dados. A união das duas formas de
representação, tanto vetor quanto matricial, permite a melhor
interpretação e análise de variáveis para o gerenciamento do espaço
estudado.
A considerar a arborização um serviço público de
responsabilidade da gestão municipal, necessita de informações
relacionadas ao espaço físico e sua compatibilidade com o meio
urbano. Dessa forma, o SIG é importante recurso para analisar e
gerenciar a arborização. Além disso, o uso do SIG aliado com imagens
pode gerar a representação espacial da arborização.
116 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

Lima Neto et al. (2010), concluíram que na arborização viária,


a aplicação do SIG, integra a quantidade de árvores com grande
capacidade de armazenamento e representação espacial de dados em
vários níveis de detalhamento. Para isso, é importante ter disponíveis
imagens de satélites e/ou fotografias aéreas de alta qualidade e
resolução espacial para apoiar a obtenção de variáveis nos inventários
da arborização de ruas.
Sendo assim, o SIG é uma ferramenta complementar que
melhora os procedimentos de mapeamento e monitoramento,
subsidiando com conhecimentos espaciais as tarefas de manejo dos
recursos florestais (Franklin, 2001).
Silva Filho (2003) afirma que cada vez mais atividades
relacionadas ao planejamento ambiental passaram a ser facilmente
exercidas em um ambiente SIG, para simular a realidade do espaço
geográfico, integrar as informações espaciais ou gerar mapas.
A partir da análise espacial dos dados torna-se possível gerar
informações espaciais que venham gerenciar as ruas arborizadas,
disponibilizando informações à comunidade e órgãos/instituições de
fomento a esse serviço, com intuito de tonificar o conhecimento
técnico-científico ao que discerne a arborização urbana.
A utilização conjunta de dados mensurados nos inventários
convencionais com as informações provenientes do processamento das
imagens em ambiente SIG, quando aplicados, diminui os custos
obtidos nos inventários convencionais, pois a aferição através de
imagens pode ser feita de maneira rápida (Lima Neto, 2011).
Pelas vantagens apresentadas, as gestões públicas e/ou órgãos
responsáveis pela arborização deveriam incorporar a aplicação do SIG
para a conservação e manejo da arborização urbana (Lima Neto et al.,
2010).
Para realizar a mensuração das variáveis, como veremos ao
decorrer deste capítulo, são adotados métodos de processamento das
imagens.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 117

Método para Delinear as Árvores de Rua em Fotografias Aéreas


As árvores podem ser cadastradas com o uso de GPS (Sistema
de Posicionamento Global). A partir daí, pode-se montar um banco de
dados com a realização de um inventário que contemple a avaliação da
arborização. Outra proposta a ser adotada é reduzir o número de
variáveis que precisam ser coletadas em campo. A mensuração das
variáveis é um fator imprescindível para avaliar a arborização.
A mensuração de variáveis é uma tarefa que demanda altos
custos para realização de inventários. Considerando que é necessário o
deslocamento nas ruas, um número mínimo de pessoas para executar a
coleta de dados, além do tempo gasto para mensuração das variáveis.
Como método para mensurar as variáveis de um inventário da
arborização de ruas aponta-se o uso de fotografias aéreas em ambiente
SIG. O primeiro passo é definir as ruas que serão inventariadas,
delimitando a área por meio de polígonos das ruas, criadas em
ambiente SIG no formato vetorial.
Para delinear as árvores de uma unidade amostral em Curitiba,
Lima Neto (2011), determinou a plotagem dos dados fornecidos pelo
GPS efetuando através do software de Geoprocessamento ArcView
9.2, adotando o Sistema de Projeção Geográfica UTM (Universal
Transversal de Mercator) e Datum SAD 69 (South American Datum),
22S.
O autor utilizou o mapa de arruamento de Curitiba, contendo
ruas, quadras e bairros em formato vetorial cedido pelo Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), o qual
possibilitou a delimitação das áreas que seriam analisadas. Essas áreas
foram armazenadas na forma de polígonos (shapefile). O shapefile é
um formato de arquivo do ArcView, que pode armazenar ponto, linha
ou polígono. Dessa forma, foi iniciada a importação dos dados
vetoriais das ruas, bairros e quadras com a finalidade de demarcar as
áreas a serem inventariadas (unidades amostrais).
118 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

Com as áreas definidas se iniciou a demarcação manual das


árvores nas ruas como base de apoio Lima Neto (2011) utilizou
ortofotos das unidades amostrais. Nesse sentido, as ortofotos
permitiram a vista do maciço arbóreo que existia em cada unidade
amostral. A demarcação das árvores foi efetuada por vetores do tipo
polígono para representar os geo-objetos em cada rua. Para Oliveira
Filho et al. (2006), um geo-objeto é uma entidade geográfica singular e
indivisível, caracterizada por sua identidade, suas fronteiras e seus
atributos. Dependendo da entidade considerada, esse objeto pode ser,
por exemplo, a copa individual de árvore, um talhão florestal, uma
quadra agrícola, ou mesmo uma unidade de conservação. A detecção
da árvore é executada pelo fotointérprete que delimita os contornos de
copa originando um polígono representativo para cada árvore.
Cada polígono permitiu a localização espacial e quantificação
de árvores que compõem a cobertura arbórea da unidade amostral. A
mensuração da área dos polígonos que representavam as copas das
árvores foi obtida por meio de um aplicativo do programa de SIG que
possui ferramentas para cálculos espaciais das representações
vetoriais, isto é, fornece o cálculo da área, perímetro dos polígonos e
distâncias entre os mesmos, entre outras operações matemáticas
(álgebra de mapas).
Através do SIG, a coleta de dados nas imagens é gerada uma
tabela de atributos com colunas que representam os dados referentes às
árvores. Essa tabela de atributos gera o Banco de Dados com as
variáveis analisadas, sendo: ID (número de Identificação do polígono),
Coordenadas (latitude, longitude), Área do polígono, Perímetro do
polígono.
Na Figura 1 estão representadas as árvores de rua em uma
unidade amostral. Isto torna possível a análise das variáveis e a
visualização espacial na área analisada (u.a.).

Figura 1 – Configuração espacial das árvores de rua


. Pesquisas em Arborização de Ruas 119

Comparação entre o Inventário Convencional e o Delineamento em


Fotografias Aéreas
O método convencional ou tradicional do inventário da
arborização é definido por medições que são realizadas na rua com uso
120 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

de trena, fita métrica, hipsômetro, entre outros equipamentos. Com as


mensurações feitas em campo e em ambiente SIG da contagem das
árvores e área de copa, faz-se necessário comparar estatisticamente se
as medidas mensuradas em ambiente SIG são iguais ou diferentes às
do inventário convencional.
Nesse sentido, Lima Neto (2011) aplicou o SIG, utilizando
fotografias aéreas em unidades amostrais (u.a.) na cidade de Curitiba e
constatou que o número de árvores encontradas nas ruas da u.a. Água
Verde no método convencional foram 483. O percentual de
concordância do número de árvores coletadas em ambiente SIG em
relação ao método convencional foi de 75,85%. Spurr (1960) constata
que na fotointerpretação florestal a contagem de copas de árvores em
fotografias aéreas resulta, geralmente, em um número inferior ao do
campo.
Este valor representa um baixo percentual de acerto
considerando que Disperati et al. (2007a), na contagem de copas em
parte de um povoamento de Pinus elliottii, fazendo uso de uma
fotografia aérea, afirmou que a interpretação visual da fotografia aérea
permitiu o reconhecimento de 704 pontos correspondentes aos topos
de árvores, valor este 3% inferior ao total de árvores estimadas na fase
de verificação em campo.
De forma diferente, Oliveira Filho et al. (2006) detectou
menor percentual de árvores com a fotointerpretação, em pesquisa
conduzida em uma área experimental de floresta nativa. Constatou que
as árvores delineadas representavam apenas 15% das árvores
mapeadas no terreno, sendo que a maioria dos indivíduos detectados
estavam situados nos estratos dominantes e co-dominantes da floresta.
Em pesquisa de delineamento e contagem de copas de araucária
utilizando fotografias aéreas coloridas em floresta natural na área
urbana de Curitiba obteve-se resultado de 62,3 % das árvores
delineadas (Disperati et al., 2002). Ainda segundo os autores, esses
valores poderiam ter sido mais altos se fossem excluídas as copas dos
estratos co-dominantes e intermediários.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 121

As áreas de florestas apresentam vários níveis de regeneração


com árvores em dosséis diferentes. As árvores de ruas em sua maioria
não estão adensadas como as áreas florestais. A presença de
equipamentos urbanos e restrito espaço físico disponível restringem a
densidade de árvores na rua. Isto pode ser um fator favorável na
utilização de imagens para mensurar e quantificar a arborização.
No entanto, Lima Neto (2011) afirma que para a unidade
amostral analisada que o processo de delineamento de copas foi
dificultado pela altura das construções, que geraram sombreamento na
imagem. Isto ocasionou o reduzido potencial de delineamento de
copas porque ocorreu a predominância de edificações verticais. O
autor observou que o delineamento da copa das árvores é melhor
executado quando as árvores são vistas de topo, ou seja, no primeiro
plano da imagem, sem influência de sombras e deslocamentos da
geometria da imagem.
Kurihara e Encinas (2003) encontraram dificuldades
semelhantes na detecção de árvores para elaboração de um cadastro
georreferenciado dos indivíduos arbóreos existentes no Campus da
UnB. O SIG mostrou ser peça útil pela sua praticidade, porém, em
áreas densas onde há muitas árvores agrupadas e sem pontos de
referência próximos, a determinação do posicionamento das árvores
tornou-se bastante difícil, apresentando baixa acurácia.
As diferenças obtidas na quantidade de árvores, através da
análise de variância, atestaram que entre o método convencional,
MCA e a coleta em ambiente SIG, o valor de p foi 0,48, ou seja, não
houve diferenças estatisticamente significativas, indicando que o
método SIG pode serusado para detectar o número de árvores na rua.
De acordo com a Tabela 1, a comparação de médias com a
aplicação do Teste SNK indicou que os tratamentos não são
estatisticamente diferentes a 5% de significância. Contudo, apesar das
diferenças não serem estatisticamente significativas, observa-se que
122 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

entre o método de inventário convencional e a coleta em ambiente SIG


as diferenças foram intermediárias. Esta diferença indica que existem
mais árvores jovens nesta amostra e que embora existam restrições
quanto ao porte das árvores, a coleta em ambiente SIG ainda consegue
detectá-las.
A outra comparação foi a diferença da área de copa aferida nos
dois métodos (SIG e Convencional). Lima Neto (2011) encontrou que
a área de copa das árvores coletadas em ambiente SIG representou
81,29% do inventário convencional. O resultado da comparação de
médias entre os métodos comprovou que não há diferença
estatisticamente significativa entre as médias dos dois métodos a 95%
de confiança (p>0,05). Como o valor de p é superior a 0,05, se aceita a
hipótese que o método de coleta em ambiente SIG não difere
estatisticamente do Método Convencional.
As diferenças que mesmo insignificantes estatisticamente
podem ter sido orginadas de árvores que apresentam portes ou idades
diferentes. Além disso, a imagem pode ainda estar demonstrando a
remoção de copas por práticas de podas drásticas. Dessa forma, esses
resultados podem ser considerados restrições ou limitações que as
imagens e o fotointérprete possuem no delineamento das árvores.

Limitações do Uso de Fotografias Aéreas


As limitações na detecção de árvores podem ter diversas
origens, sendo que nesta pesquisa foram observadas cinco. A primeira
se refere as sombras dos edifícios sobre as ruas que geram perda de
informações dos geo-objetos de análise. Essas sombras dificultam e/ou
impossibilitam a visualização das árvores (Figura 2 A).
A hora do dia adequada para obter fotografias aéreas
influencia na qualidade da imagem e interpretação visual. O ângulo
solar menor que 30º pode não fornecer suficiente iluminação ou
. Pesquisas em Arborização de Ruas 123

reflectância adequada da cena. Além disso, fotos aéreas tiradas com


ângulo solar muito baixo em estudos urbanos são normalmente
inaceitáveis em estudos urbanos, devido às grandes sombras projetadas
por árvores e edificações que podem obscurecer informações
importantes da cena (Jensen, 2009).
Jensen (2009) ressalta que em fotografias, o sombreamento é
provocado pelo tamanho dos objetos em relação à topografia ao seu
redor, como montanhas e construções altas. As sombras podem
escurecer outros objetos dificultando a sua detecção e identificação.
Ainda que as áreas sombreadas apareçam em tons relativamente
escuros, elas podem conter alguma luz espalhada das áreas da
vizinhança, suficiente para iluminar o terreno, em diferentes graus,
permitindo que se obtenha alguma informação a respeito da área
sombreada (Figura 2 B).

Figura 2 – Efeitos da sombra na detecção das árvores na rua

LEGENDA:
(A) – Sombra do edifício.
(B) – Polígono detectado a partir da luz espalhada que possibilita a visualização
parcial da árvore.

Como citado anteriormente, em áreas de floresta, a dificuldade


na detecção de copa está no adensamento do povoamento florestal,
presença de sombras periféricas e aos diferentes estratos arbóreos
124 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

(componentes da estrutura da floresta). Para arborização de ruas


devem ser consideradas as limitações no delineamento das copas como
sombras, pois nas ortofotos existe um efeito de deslocamento devido à
altura da edificação. Este problema é agravado em áreas urbanas
densas pela existência de sombras projetadas pelos edifícios, que
encobrem os geo-objetos (árvores) existentes.
As sombras indicam áreas na superfície do solo não
iluminadas e exibem uma tonalidade muito escura na imagem
impedindo o perfeito delineamento das árvores, consequentemente
altera a área de copa (Lima Neto et al., 2010). Além disso, o
entrelaçamento de copas na arborização dificulta a definição dos
limites de contorno das árvores durante o processamento da imagem.
A segunda limitação ocorre devido à idade das árvores. Uma
arborização recém plantada não apresenta copa expressiva e não pode
ser enxergada pelo fotointérprete. Essa dificuldade de delineamento
pode ser eliminada quando o cadastro da arborização através do
inventário convencional é feita concomitante ao tratamento das
imagens. Sendo assim, a localização de novos plantios e demais
informações obtidas em campo podem ser incorporadas ao SIG
integrando dados da arborização em análise.
A terceira limitação é a estação do ano na qual ocorreu a
aquisição da imagem. Algumas espécies são caducifólias apresentando
dificuldades no processo de formação de poligonais que representam a
arborização de ruas (Figura 3 A). Esta dificuldade pode ser contornada
com o conhecimento dos hábitos das espécies (perene ou caduca) e o
estágio fenológico em que se encontra a época do ano que a imagem
foi capturada.
De acordo com Disperati et al. (2007b), na análise da
vegetação é importante conhecer as alterações fenológicas que
ocorrem nas árvores. Esse conhecimento facilita a tomada de decisão
sobre qual a melhor época do ano para o aerocobrimento tendo em
vista o mapeamento de determinada espécie ou diversas espécies.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 125

Na Figura 3 B foi possível detectar a árvore (polígono) e fazer


a projeção de sua copa dando zoom na imagem em ambiente SIG. Este
tratamento não pôde ser realizado em todas as espécies com
característica caducifólia devido à inexistência de sombras na imagem
que permitissem o delineamento da copa. Nesses casos, a árvore foi
somente detectada através do método convencional.

Figura 3 – Efeitos da fenologia na detecção da árvore

LEGENDA:
(A) – Árvore detectada pela sombra dos galhos.
(B) – Polígono da árvore detectado a partir das sombras.

Um quarto ponto a ser observado como limitante na detecção


são os erros de medição e observação que existem na realização dos
inventários. Nos métodos SIG e método convencional podem incorrer
erros que não configuram uma satisfatória medição e os valores podem
se tornar imprecisos. Soares et al. (2006) afirmam que existem sempre
erros associados ao ato de medir um objeto. Com a realização de um
inventário florestal são realizadas diversas medições das árvores e
estas medições podem estar em maior ou menor grau, afetadas por
erros.
126 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

Os objetos medidos em um inventário florestal não têm forma


geométrica regular definida, o que dificulta a medição exata. Outros
erros são provenientes dos aparelhos de medição, que se não forem
calibrados adequadamente e podem apresentar alta amplitude de erros
(Soares et al., 2006).
Da mesma forma, Silva (2003) afirma que em projetos
desenvolvidos com SIG, é muito importante medir a
representatividade dos dados. Entre os dados espaciais, sempre existe
incerteza e o erro. Para garantir a qualidade dos dados em um SIG é
indispensável que sejam realizados testes para garantir a acurácia dos
dados, uma vez que é praticamente impossível o SIG trabalhar com
dados exatos.
Mesmo com os erros existentes, a aplicação de técnicas de
Geoprocessamento para delineamento de geo-objetos em imagens
apresenta melhor desempenho que as áreas medidas em campo
(Oliveira, 1980; Lobão, 1996; Disperati e Oliveira Filho, 2002;
Disperati et al., 2007a; Disperati et al., 2007b). Isto pode estar
relacionado à possibilidade de serem medidas áreas irregulares.
No delineamento visual de copas de árvores e sua integração
em um SIG, Oliveira Filho e Picheth (2004) afirmam que resultados
satisfatórios podem ser obtidos e vai depender das características
estruturais das florestas. O mapeamento de copas individuais pode ser
vetorizado em um Sistema de Informações Geográficas junto com os
dados alfanuméricos e atributos espaciais, proporcionando consultas e
visualização dos resultados com maior acurácia.
A quinta característica restritiva no delineamento de copas e
detecção de árvores de rua é o limite das construções. Quando não se
tem informações a respeito dos limites da rua e das construções é
impossível distinguir quais árvores pertencem às residências ou à
arborização de rua (Figura 4).
Figura 4 – Copa de árvore de residências dificultando a detecção da
arborização de ruas
. Pesquisas em Arborização de Ruas 127

É importante conferir os dados do inventário convencional


com aqueles obtidos com uso de SIG a fim de constatar se o geo-
objeto está sendo relacionado à sua real localização em campo. Para
tanto, são exigidas técnicas de fotointerpretação e imagens adquiridas
com qualidade.

Considerações Finais
A obtenção das variáveis dendrométricas em ambiente SIG,
pela disponibilidade de bases cartográficas municipais, mostra ser um
método aplicável atualmente, para as características da arborização de
ruas. A mensuração de variáveis é apenas uma das inúmeras
contribuições de um sistema de informações geográficas à gestão da
arborização urbana.
A quantidade de árvores detectadas a partir da ortoimagem foi
estatisticamente representativa, possibilitando afirmar que junto ao
inventário convencional essas informações podem ser aplicadas e
alocadas em um banco de dados georreferenciado.
No estudo de comparação entre método convencional e a
coleta em ambiente SIG as diferenças não foram estatisticamente
significativas. Desse modo, constatou-se a eficácia da coleta em
ambiente SIG na aferição das variáveis, considerando uma forma de
128 Fotografias Aéreas para o Inventário da Arborização de Ruas .
.

coleta que auxilia o inventário convencional. Vale ressaltar que um


método não substitui o outro, apenas apóia a execução e elimina
variáveis mensuradas em campo que apresentam alto custo de
aferição.
São necessários outros estudos que utilize a metodologia
aplicada nesta pesquisa. Além disso, recomenda-se que os inventários
da arborização urbana tenham o apoio das geotecnologias para
mensurar variáveis e cadastrar espacialmente a arborização viária, com
intuito de minimizar os custos e obter maior praticidade na execução
de inventários contínuos.
Um recurso a ser empregado é aestereoscopia, que pode
auxiliar na contagem de árvores em fotos aéreas. As áreas de copa
delineadas nas ortoimagens permitiram visualizar a distribuição
espacial da arborização de ruas de Curitiba, fornecendo informações
necessárias ao planejamento da arborização na cidade. Recomenda-se
a produção e uso de bases cartográficas de qualidade para aplicação
em estudos de arborização urbana.

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Acessibilidade: um Novo Desafio para a


Arborização de Ruas
Everaldo Marques de Lima Neto
Engenheiro Florestal, M.Sc., Doutorando do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.

Daniela Biondi
Engenheira Florestal, Dra., Professora Associada do Departamento de
Ciências Florestais, Universidade Federal do Paraná.

O termo acessibilidade tem sido difundido, frequentemente


nas últimas décadas, principalmente nas áreas de engenharia e
arquitetura. Designa-se por acessível (do latim accessibile) aquilo que
se pode atingir, alcançar ou obter facilmente, o que é compreensível. A
definição de acessibilidade passa pelo exercício de cidadania, em que
todos os indivíduos têm direitos assegurados por lei que devem ser
respeitados.
A incorporação dessas leis e políticas de inclusão social
garante o direito fundamental de cada ser humano, o direito de ir e vir,
estabelecido na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU
e acrescido no art. 5º, XV da Constituição Federal Brasileira de 1988.
De acordo com Guia dos Direitos das Pessoas com Deficiência
(2007), toda pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, tem
os seus direitos assegurados pela “Declaração Universal dos Direitos
Humanos”, Carta de 1988, Organização das Nações Unidas (ONU),
Organização Mundial da Saúde (OMS) e demais legislações federais,
estaduais e municipais. Leis estas, que objetivam a concretização
efetiva de uma cidade humanizada e com acessibilidade a todos os
direitos que lhe são garantidos, como também o acesso dessas pessoas
a locais públicos e privados, garantindo-lhes sua inclusão social.
132 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

A lei 10.098/2000 define a acessibilidade como “possibilidade


e condições de alcance para utilização, com segurança e autonomia,
dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos
transportes e dos sistemas e meios de comunicação por pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida” (Brasil, 2000).
A criação dessas leis surge para atender as necessidades de
uma população já conhecida por todos. A população que necessita de
acessibilidade é composta de deficientes físicos, visuais, os surdos,
além das pessoas com mobilidade reduzida, os idosos, as gestantes,
obesos, entre outros.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
cerca de 610 milhões de pessoas no mundo apresentam deficiência
(Instituto Ethos, 2002). Em 1995, nos Estados Unidos, cerca de 20%
da população apresentavam algum tipo de deficiência (US CENSUS
BUREAU, 2005). Acredita-se que no Brasil o percentual da população
deficiente não deve ser menor que este, considerando o histórico de
pobreza, desnutrição, falta de prevenção.
No entanto, de acordo com o censo de 2000 realizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 24,5
milhões de brasileiros possui algum tipo de deficiência, o que equivale
a 14,5% da população nacional. O IBGE (2000) fazendo um panorama
deste tema nos estados brasileiros, constatou que as maiores taxas de
deficiência foram encontradas nos seguintes estados: Paraíba
(18,76%), Rio Grande do Norte (17,64%), Piauí (17,63%),
Pernambuco (17,4%) e Ceará (17,34%). E os menores percentuais
foram em São Paulo (11,35%), Roraima (12,5%), Amapá (13,28%),
Distrito Federal (13,44%) e Paraná (13,57%).
Historicamente as pessoas com qualquer tipo de deficiência
eram segregadas ou isoladas do meio social. A exclusão foi por
séculos um ponto negativo para pessoas com deficiência e vinha de
uma idéia de que essas pessoas eram consideradas inválidas e inúteis.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 133

Este preconceito perdurou por muitos anos e até hoje é um obstáculo a


ser superado. A pessoa com deficiência ainda é vista com
discriminação, sendo constantemente alvo de comentários pejorativos
sobre suas capacidades de locomoção, intelectual, de desenvolvimento
e de atividades em geral.
Com a adoção de medidas para a promoção da acessibilidade
essa população mesmo apresentando algum tipo de deficiência, se
detentoras de formação profissional, têm plena capacidade de executar
qualquer atividade. Quando isto não é aplicado, estas pessoas tem seus
direitos tolhidos pelo descaso e falta de consciência da sociedade.
Com os avanços democráticos e inclusivos, os direitos desses
cidadãos podem ser ampliados em todos os setores da sociedade. A
inserção das pessoas. com deficiência não deve apenas restringir-se às
atividades profissionais, deve também contemplar principalmente os
setores culturais.
O primeiro passo para a inclusão desses cidadãos em todos os
setores de uma cidade é a promoção de uma acessibilidade irrestrita.
Esta medida favorece a sua mobilidade em todos os compartimentos
de uma cidade com autonomia e independência.
Braga e Carvalho (2004) conceituam a cidade como um lugar
onde o homem pode desenvolver melhor as suas faculdades
intelectuais, dada a coexistência plural de grupos sociais; sendo assim,
um lugar onde se pode exercitar de forma ampliada a escolha de um
modo de vida mais diverso e, consequentemente, a liberdade. Baseado
neste conceito, este trabalho tem como objetivo discutir os obstáculos
presentes na rua, que é o principal meio de acessibilidade numa
cidade.

O Planejamento das Cidades


134 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

Muitos problemas são enfrentados por pessoas com algum tipo


de restrição à mobilidade, sejam idosos, gestantes, portadores de
necessidades especiais e obesos. Isto ocasiona um impedimento na
prática da acessibilidade, impossibilitando a locomoção dessas pessoas
de um lugar para outro.
Dentro do modelo europeu de urbanização e
consequentemente a notável expansão econômica da década de 1970,
iniciou-se um crescimento das cidades em que foram reduzidas as
áreas de convívio e fluxo de pessoas, a arborização, calçadas e ruas
para dar lugar a outros equipamentos urbanos.
Nas cidades, as calçadas são os espaços onde as pessoas não
devem ter restrição ao trânsito nas ruas. Não há outra forma de
qualquer pessoa chegar ou sair da sua casa sem passar pelas calçadas.
Sendo assim, o primeiro ambiente externo que as pessoas com
deficiência e mobilidade reduzida enfrentam é a calçada.
As calçadas devem seguir um padrão de construção que sejam
compatíveis com os programas que garantem a acessibilidade, em
relação ao tipo de pavimentação e aos elementos urbanos que
contemplarão esses espaços.
Para a promoção da acessibilidade é necessária a supressão de
barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos. Isto não é tão
objetivo e prático como parece, pois a urbanização traz consigo a
incorporação dos mais diversos equipamentos, chamados mobiliários
urbanos, tais como: postes, árvores, canteiros, lixeiras, letreiros, placas
de sinalização, etc. Esses equipamentos necessitam de compatibilidade
com os passeios da calçada, para que não sejam mais um fator de
impedimento à acessibilidade.
Nesse sentido, são criadas leis que estabelecem normas e
critérios para a acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou
com mobilidade reduzida, por exemplo: a lei nº 11.263, de 12 de
novembro de 2002, do estado de São Paulo. Além disso, algumas
. Pesquisas em Arborização de Ruas 135

cartilhas são desenvolvidas com intuito de estabelecer instruções


específicas para construção e adaptação dos espaços públicos.
Além dos mobiliários urbanos encontrados na superfície das
calçadas, há também outros equipamentos subterrâneos que fazem
parte da estrutura urbana como as redes de esgotos, galerias de
canalização e escoamento de água, fiação subterrânea e as raízes de
árvores.
A falta de planejamento nas cidades ocasiona vários
infortúnios à arborização urbana, uma vez que ocorre a supressão da
vegetação para dar lugar aos equipamentos urbanos. Backes e Irgang
(2004) afirmam que o principal uso das árvores no meio urbano é
junto à rede viária. A arborização de ruas é um dos elementos
vegetados dos ecossistemas urbanos capazes de integrar espaços livres,
áreas verdes e remanescentes florestais, conectando todos esses
ambientes de forma a colaborar com a diversidade da flora e da fauna
(Paiva e Gonçalves, 2002; Bortoleto, 2004, Biondi e Kischlat, 2006).
É notório que a vegetação urbana, especialmente as árvores de
ruas nem sempre estão compatíveis com os locais em que estão
plantadas. Entre os grandes problemas enfrentados para a promoção da
acessibilidade, a arborização de ruas quando não planejada, é uma
barreira contínua nas calçadas, tanto para o piso da calçada quanto
para o espaço físico aéreo disponível.

Comportamento e Desenvolvimento de Árvores de Rua


Os fatores que influenciam o comportamento e
desenvolvimento das árvores nas cidades são as barreiras
arquitetônicas urbanísticas. Essas barreiras também são limitantes à
acessibilidade e são definidas como qualquer entrave ou obstáculo que
limita e impede o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com
segurança dos pedestres.
136 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

Segundo Biondi e Althaus (2005), planejar a arborização de


ruas é escolher a árvore certa para o lugar certo. Fazer o uso de
critérios técnico-científicos para o estabelecimento da arborização,
sem desprezar as funções ou o papel que as árvores desempenham no
meio urbano.
Para projetar a arborização de ruas é necessário dividir o
planejamento em fases, sendo elas: seleção de espécies, implantação,
manutenção e monitoramento.
Com relação à seleção de espécies deve haver uma perfeita
compatibilidade da árvore com a calçada. A inadequação das espécies
utilizadas na arborização é um problema que tem trazido como
consequência custos crescentes na manutenção e reparos dos
equipamentos urbanos, tais como: fiações elétricas, infra-estrutura
subterrânea, calçamentos, muros, entre outros. Estes problemas são
vistos com frequência e causam, na maioria das vezes, um manejo
inadequado e prejudicial às árvores.
Portanto, o conhecimento das características de cada espécie
deve ser a base para a escolha de espécies que farão parte da
arborização de um determinado lugar. Isto facilitará a manutenção das
árvores além de compatibilizar o desenvolvimento da mesma no meio
urbano.
Para que as árvores tenham um bom desenvolvimento existem
vários fatores que devem ser considerados: climáticos - temperatura,
precipitação, vento e insolação; espaço físico; características edáficas -
físicas, químicas e biológicas; topográficas - inclinação, altitude e
exposição; e competitividade - influência de outras espécies, tamanho
e constituição genética da árvore, bem como de sua história de
desenvolvimento (Poorter e Bongers, 1993). Cada um desses fatores
pode afetar de forma isolada ou em conjunto o crescimento das árvores
(Cunha, 2009).
. Pesquisas em Arborização de Ruas 137

Vale salientar que o desenvolvimento de uma árvore plantada


isoladamente, no caso das ruas, é muito diferente de um indivíduo
arbóreo que cresce numa floresta. Nas ruas, as árvores encontram um
solo alterado em sua estrutura física e química. No aspecto físico do
solo, a compactação ocorre principalmente devido ao pisoteio,
sobreposição de materiais urbanos e impermeabilização. A alteração
química é proveniente da composição dos resíduos sólidos que são
usados nas construções e que permanecem nos solos urbanos por
muitos anos.
Além disso, as estruturas urbanas como placas de sinalização e
fiação aérea, limitam o crescimento natural das árvores, fazendo com
que medidas de controle do crescimento sejam necessárias. A poda é a
principal prática de manutenção que controla o conflito entre a árvore
e o espaço físico aéreo. Essa prática requer critérios específicos para
serem realizadas para evitar que seja um facilitador do declínio das
árvores, pois provoca lesões nos tecidos das mesmas possibilitando a
entrada de fitopatógenos que prejudicarão a saúde e vitalidade das
árvores urbanas.

O Sistema Radicular e as Áreas de Canteiro das Árvores de Rua


Segundo Biondi e Althaus (2005), para as calçadas o ideal é o
uso de espécie com raiz pivotante para evitar rachaduras nas calçadas e
construções. Com a heterogeneidade do solo urbano, mesmo as
espécies de raiz pivotante podem apresentar o desenvolvimento de
raízes laterais e/ou superficiais estimuladas pelo ambiente adverso.
Quando as raízes superficiais das árvores ocupam apenas o espaço do
canteiro na calçada (Figura 1A), a acessibilidade das pessoas não é
afetada. Esta combinação de situação (raiz da árvore/calçada)
geralmente é alcançada com uma boa manutenção das arvores e
calçadas. Quando as árvores apresentam raiz pivotante, a falta de
acessibilidade pode ocorrer pela má disposição dos equipamentos
138 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

urbanos (poste, orelhão e informação turística), como mostra a Figura


1B.

Figura 1 – Raiz superficial dentro do canteiro e raiz subterrânea

A B

Pela falta de critérios na seleção de espécies, aliado com a


manutenção das árvores e calçadas, as raízes das árvores podem
chegar a ocupar grande parte das calçadas, dificultando o tráfego dos
pedestres (Figura 2).
Em uma pesquisa relacionando arborização de ruas e
acessibilidade no centro de Curitiba-PR, Lima Neto et al. (2010)
constatou que 100% dos indivíduos de Jacaranda mimosifolia
(jacarandá) não apresentavam raízes subterrâneas, afetando a
acessibilidade dos pedestres. As espécies Prunus serrulata (cerejeira-
do-Japão) e Tabebuia alba (ipê-amarelo), apresentaram cerca de 90%
de seus indivíduos sem problemas com raízes.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 139

Figura 2 – Desenvolvimento de raízes superficiais nas calçadas

Os problemas advindos do afloramento das raízes das árvores


nas calçadas podem ser devido ao solo urbano, produto das ações
antrópicas, que quando compactado restringe o crescimento adequado
das raízes. O comportamento das espécies no meio urbano pode ser
afetado também quando se altera a profundidade do lençol freático e a
profundidade do solo, condições geralmente contrárias as de um
ambiente natural.
Não se deve generalizar a respeito do uso de determinadas
espécies, pois algumas podem apresentar um comportamento
inadequado com afloramento de raízes e não configuram problemas
para acessibilidade, pois a área do canteiro permite o desenvolvimento
radicular (Figura 3-A). Enquanto outras espécies com uma área de
canteiro restrita apresentam raízes subterrâneas (Figura 3-B).
Figura 3 – Áreas de canteiro e o desenvolvimento de raízes
140 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

A B

Para Biondi e Althaus (2005), as áreas de canteiro são


geralmente pequenas para o desenvolvimento das árvores de rua, e são
alteradas constantemente pelo alargamento das ruas ou reparos de
linhas subterrâneas.
As áreas de canteiro também contribuem para o afloramento
de raízes. Se muito pequenas, as áreas de canteiro não permitem a
suficiente infiltração da água e com o solo, muitas vezes compactado,
encharcam constantemente. Isto estimula as raízes a procurarem por
água, que as levam a emergirem das calçadas.
Portanto, o desenvolvimento de determinadas espécies e as
características do solo urbano, variam muito dentro da malha urbana.
Em estudos contínuos da arborização de ruas, é importante observar
quais espécies destacam-se pelo afloramento de raízes, a fim de evitá-
las em futuros plantios ou recomendar para serem plantadas em
canteiros maiores.
Quanto maior a área de canteiro e melhor as propriedades
físico-químicas do solo, melhor o desenvolvimento da espécie e
compatibilidade com a calçada.
. Pesquisas em Arborização de Ruas 141

As raízes são responsáveis primordialmente pela fixação da


planta no solo. A questão das raízes superficiais também pode surgir a
partir de uma tendência natural da árvore em manter o equilíbrio, pois
certas práticas de poda provocam um desequilíbrio estrutural na
árvore. Então, a compensação fisiológica que as árvores encontram
para se manterem fixas ao solo e resistir à dinâmica dos ventos é
através da emissão de raízes superficiais.
Na verdade, esses conflitos só existem quando a arborização
não é adequadamente planejada. Assim, é preciso conhecer
previamente uma árvore e seu desenvolvimento no meio urbano, para
definir com maior precisão as espécies para arborizar uma cidade.

A Tortuosidade e Altura de Bifurcação e a Relação com a


Acessibilidade
Para a acessibilidade numa rua arborizada, a tortuosidade das
árvores é um dos fatores de impedimento do fluxo de pedestres nas
calçadas, pois o ideal é que as árvores de rua tenham fuste reto para
melhor facilitar o tráfego de pedestres.
A maior parte da vegetação que compõe a arborização urbana
de uma cidade é produzida em viveiros municipais (Biondi e Leal,
2008). A produção de mudas para uso próprio em grandes cidades é
plenamente justificável, pois em virtude da grande quantidade de
mudas requeridas, a aquisição de terceiros pode ser bastante onerosa
(Gonçalves et al., 2004).
Desse modo, o problema de tortuosidade da arborização pode
ser solucionado ainda nos viveiros de espera ou com o adequado
tutoramento das mudas quando estiverem nas ruas. Gonçalves et al.
(2004) afirma que mudas ideais para a arborização urbana deverão
apresentar entre outras características, tronco retilíneo.
142 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

Figura 4 – Tortuosidade em hibisco (Hibiscus rosa-sinensis)

No Centro de Curitiba, Lima Neto et al. (2010) encontrou que


apenas 5,14% das árvores apresentaram tortuosidade. Para a espécie
Hibiscus rosa-sinensis 37,5% dos seus indivíduos apresentaram
tortuosidade, seguido do J. mimosifolia, S. macranthera e E. uniflora
(Figura 5). A tortuosidade pode ser proveniente da falta de manejo,
problemas na condução e tutoramento da planta em estágio de muda,
ou ainda, a proximidade das construções às árvores.
A tortuosidade tanto pode afetar o acesso aos pedestres como também
para os veículos, como pode ser observado na figura 02. O caso da
acentuada tortuosidade do hibisco também está associado à estrutura
do caule que possui bastante flexibilidade. Além disso, a referida
espécie é inapropriada para as ruas porque não é uma espécie arbórea e
sim arbustiva.
Figura 5 – Tortuosidade das espécies no Centro de Curitiba-PR
. Pesquisas em Arborização de Ruas 143

Por outro lado, algumas espécies como C. peltophoroides, P.


dubium, S. romanzoffiana, T. alba e L. pacari não apresentaram
tortuosidade em nenhum de seus indivíduos. Outro fator a ser
observado para que haja compatibilidade entre as árvores nas calçadas
é a altura de bifurcação. A altura de bifurcação representa um
problema com relação à acessibilidade ao trânsito livre dos pedestres,
principalmente as pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.
De acordo com Biondi e Althaus (2005), para que a árvore
tenha maior adequação nas calçadas, sem transtornos para os
pedestres, é necessário que tenha o tronco livre de ramificações até a
altura de 1,80 m. No centro da capital paranaense, entre as árvores
avaliadas, 18,8% apresentaram uma altura de bifurcação abaixo de
1,80 metros.
Para se considerar bem planejada a arborização nas ruas, o
plantio deve ser realizado com mudas que apresentem altura de
bifurcação acima de 1,80 m., a fim de evitar futuros transtornos aos
transeuntes com as árvores adultas ou constantes práticas de condução
das mudas, como podas de elevação da copa (Figura 6).
Figura 6 – Baixa altura de bifurcação das árvores
144 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

Função e Estrutura das Calçadas


Nas ruas, as calçadas são as áreas de domínio público que
permitem a locomoção propiciando a acessibilidade a diversos locais
nas cidades. Sob a égide da conservação da natureza em áreas urbanas
e também como forma de ampliar a construção de espaços menos
hostis nas cidades, há necessidade de estudar as árvores de ruas e sua
compatibilidade com as calçadas para possibilitar maior qualidade de
vida e estender as oportunidades de acesso a todos os cidadãos (Lima
Neto et al., 2010).
Segundo Pereira (2006), as calçadas das vias públicas não
foram dimensionadas para comportar arborização, uma vez que o
traçado urbano sempre priorizou o incremento de áreas para veículos,
em detrimento dos pedestres.
Por outro lado, o Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia (CREA) do Paraná, elaborou um roteiro de
acessibilidade que foi desenvolvido dentro de parâmetros técnicos
. Pesquisas em Arborização de Ruas 145

levando em consideração a construção, instalação e adaptação das


edificações, mobiliários e equipamentos urbanos para dar suporte a
qualquer pessoa para a utilização de maneira autônoma e segura do
ambiente (CREA-PR, 2008).
Existem também programas com o objetivo de melhorar a
paisagem urbana e dar condições para o desenvolvimento da
acessibilidade. São eles: Projeto Calçada Cidadã (Vitória/ES), Calçada
Cidadã: Normas para Construção, Reforma e Conservação de Calçadas
(Guarapari/ES), Calçada para Todos (Londrina/PR) e Programa
Passeio Livre (São Paulo/SP), entre outros (Vitória, 2002; Guarapari,
2009; Londrina, 2004; São Paulo, 2005). De acordo com a maioria
desses manuais e programas de acessibilidade a calçada deve possuir
áreas de faixa livre, faixa de serviço e de acesso.
A área de faixa livre é destinada exclusivamente à circulação
de pedestres. Portanto, deve estar livre de quaisquer desníveis,
obstáculos físicos, temporários ou permanentes ou vegetação. E devem
possuir largura mínima de 1,20 m (um metro e vinte centímetros).
As faixas de serviço devem ser destinadas à colocação de
árvores, rampas de acesso para veículos ou portadores de deficiência,
poste de iluminação, sinalização de trânsito e mobiliário urbano como
bancos, floreiras, telefones, caixa de correio e lixeiras.
As faixas de acesso são as áreas em frente ao imóvel ou
terreno, onde pode estar a vegetação, rampas, toldos, propaganda e
mobiliário móvel como mesas de bar e floreiras, desde que não
impeçam o acesso aos imóveis. É, portanto uma faixa de apoio à
propriedade.
O esquema abaixo representa um modelo de calçada que
poderia ser o padrão para as calçadas das cidades (Figura 7).

Figura 7 – Estrutura padrão de uma calçada


146 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

O fato das construções de calçadas ficarem por determinação


legal, a cargo do morador, muitas vezes sem um processo de
fiscalização por parte do poder público, agrava ainda mais a situação,
fazendo com que não sejam respeitadas, por exemplo, as normas de
dimensões corretas de acessibilidade ao pedestre, de abertura de
canteiros para ajardinamento e de escolha de espécies (Pereira, 2006).
Os planos diretores e legislação das cidades determinam
calçadas de diferentes estruturas, ou seja, a construção das calçadas no
país não segue um padrão, porque depende da política, da história e da
economia local. Isto caracteriza a inviabilidade de se adotar um padrão
específico para as calçadas, mesmo sabendo que a acessibilidade seria
priorizada com esta prática.
Para o planejamento da arborização de ruas, geralmente são
medidas a largura do canteiro, do passeio e a faixa de serviço. Na
pesquisa sobre acessibilidade realizada no Centro de Curitiba
constatou-se que 95,25% das larguras dos passeios atendem o exigido
para acessibilidade, ou seja, maiores que 1,20 metros. Porém, cerca de
20% das áreas de faixa livre apresentaram interferência de raiz
superficial e tortuosidade.
Quanto a largura do meio-fio ao canteiro, 75,08% não atendem
a largura de 1,20m, sendo considerada faixa de serviço de acordo com
. Pesquisas em Arborização de Ruas 147

o CREA-PR (2008), que é destinada à colocação de árvores (quando


não apresentam uma área específica de canteiro), rampas de acesso
para veículos ou portadores de deficiências, poste de iluminação,
sinalização de trânsito e mobiliário urbano como bancos, floreiras,
telefones, caixa de correio e lixeiras.
Para uma boa acessibilidade no meio urbano deve-se
preocupar, além do espaço físico livre para o fluxo de pedestres nas
ruas, o tipo de pavimentação das calçadas. Segundo CREA-PR (2008),
o piso da calçada deve possuir superfície regular, firme, contínua e
antiderrapante sob qualquer condição, além de ser contínua, sem
qualquer emenda, reparo ou fissura.
No centro de Curitiba, num levantamento em 2010, verificou-
se a predominância dos tipos de calçada paralelepípedo (70,33%) e o
Petit Pavet (24,8%), apresentando estrutura pavimentada diferente do
recomendado pelos programas de acessibilidade.
As estruturas estabelecidas pelo CREA-PR (2008) para
construção de calçadas determinam que o piso seja antiderrapante e
disposto com o mínimo de espaçamento entre as estruturas de
revestimento. O Decreto nº 1066 da Prefeitura Municipal de Curitiba
que regulamenta a Lei nº 11596/05 e estabelece critérios para a
construção ou reconstrução de passeios, determina os seguintes
padrões: bloco de concreto pré-moldado intertravado, concreto
Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) com fiada de paralelepípedo,
CBUQ sem acabamento e placa de concreto pré-moldado com
dimensões de 40 cm x 40 cm ou 45 cm x 45 cm com rejunte nivelado
na superfície do piso. Na análise da estrutura das calçadas do centro de
Curitiba em 2010, constatou-se que menos de 1% das calçadas atende
as especificações acima.
Nas cidades brasileiras, os centros urbanos são fruto da
história com passagens de revoluções e manifestações que marcaram
várias épocas. Por causas destas características históricas muitas
148 Acessibilidade: um Novo Desafio para a Arborização de Ruas .

cidades não tem condições de promover a acessibilidade nas calçadas,


mas quando isto é possível, o processo é muito lento de ser
implantado.
Um exemplo típico é o calçadão de Copacabana no Rio de
Janeiro, composto por uma pavimentação inadequada à acessibilidade,
“o petit pavet” ou, as chamadas “pedras portuguesas”, imitando a
forma de ondas do mar. Isto remete ao fator estético do local e se
algum dia pensar em ser retirado pode descaracterizar e perder o
atrativo estético.
Portanto, mesmo sendo uma estrutura que tenha o valor
estético e cultural deve ser preservada e ao mesmo tempo o objetivo de
favorecer a acessibilidade, implantando outros tipos de vias
alternativas no local. Para o centro da capital paranaense também se
deve pensar da mesma forma, uma vez que é um fator histórico que na
maioria das ruas a pavimentação é de paralelepípedo e como
alternativa sugere-se a implantação de uma faixa livre adaptada à
pessoas com deficiência.

Considerações Finais
A relação entre as árvores de rua e acessibilidade nas calçadas
é conflituosa principalmente pelo sistema radicial das árvores.
Espécies arbóreas apresentam conflito do sistema radicular com o
trânsito de pedestres nas calçadas. E também fatores relativos à
produção de mudas e manutenção da arborização de ruas, como: altura
de bifurcação abaixo de 1,80 metros e tortuosidade do fuste das
árvores são problemas encontrados que precisam ser criteriosamente
observados para promoção da acessibilidade.
A largura das calçadas, largura de passeio e de canteiro, para o
caso da cidade de Curitiba não interfere na acessibilidade na região
central da cidade. No entanto, para algumas cidades brasileiras essa
. Pesquisas em Arborização de Ruas 149

realidade pode ser diferente, pois muitas delas não apresentam um


tamanho das calçadas que comportem árvores ou muitas vezes nenhum
dos mobiliários urbanos.
O revestimento dos passeios é atualmente o fator que mais
interfere na acessibilidade. Isto é observado por não haver uma
padronização de calçadas com superfície regular, firme, contínua e
antiderrapante. Sendo o revestimento do piso uma barreira
arquitetônica urbana, também é necessária, em muitos casos, a
substituição do tipo de pavimentação existente.

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