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Tirar sal da água do mar vira 'presente e futuro' contra escassez; veja prós e

contras
24/03/2024 04h00

Embora 70% da superfície da Terra seja coberta por água, apenas cerca de 1%, ou seja, 1.260
milhões de trilhões de litros, é potável. Desde os marinheiros da Grécia Antiga que ferviam a
água do mar até os romanos que usavam tubos de barro para filtrar o sal, tornar a água
salgada potável por meio da dessalinização tem uma longa história. As formas modernas
dessa técnica milenar, no entanto, são agora o "presente e o futuro do enfrentamento da
escassez de água", segundo Manzoor Qadir, vice-diretor do Universitário das Nações Unidas
para Água, Meio Ambiente e Saúde.

Embora 70% da superfície da Terra seja coberta por água, apenas cerca de 1% dos 326
milhões de trilhões de galões - ou seja, 1.260 milhões de trilhões de litros - da água do planeta
é potável. Um recurso limitado e cada vez mais escasso. Populações em crescimento, água
doce distribuída de forma desigual e secas cada vez frequentes, associadas às mudanças
climáticas, estão levando estiagem e sede a muitas partes do mundo. Um quarto da população
mundial vive em países que enfrentam "estresse hídrico extremo", que pode ser definido como
um local que usa pelo menos 80% de todo o seu abastecimento de água durante um ano. E
isso pode levar esses lugares ao risco de ficarem sem água, inclusive forçando governos a
restringir severamente o fornecimento.

Mesmo em cenários climáticos otimistas para limitar o aquecimento global, projeta-se que 1
bilhão de pessoas estejam nessa situação até 2050. Por esse motivo, muitos países já
complementam seus suprimentos de água importando líquidos, reciclando águas residuais ou
por meio de dessalinização.

Apesar das críticas em relação aos custos, ao alto consumo de energia e ao impacto
ambiental, especialistas dizem que a dessalinização "é uma indústria em crescimento" que tem
progressivamente se expandido nas últimas duas décadas. "E o motivo é que a escassez de
água está instigando isso. Há cada vez mais usinas de dessalinização surgindo e sendo
solicitadas", afirma Qadir.

As usinas de dessalinização removem o sal da água usando destilação térmica, que envolve o
aquecimento do líquido e a coleta do vapor, ou por meio de osmose reversa, em que a água é
filtrada à medida que é empurrada por uma membrana semipermeável. Atualmente, 56 bilhões
de litros de água dessalinizada podem ser produzidos todos os dias, o que equivale a cerca de
7 litros por pessoa no planeta. Das cerca de 16 mil usinas em operação em todo o mundo, 39%
delas estão no Oriente Médio, que, juntamente com o norte da África, é a região com maior
escassez de água do mundo.

Em termos globais, apenas cerca de 0,5% de toda a água utilizada vem da dessalinização.
Mas em países como Qatar e Bahrein, o número é bem maior: 76% e 56%, respectivamente.
Segundo Qadir, ainda que formas alternativas de obtenção de água potável possam
desempenhar um papel importante, como a indução de chuvas artificiais ou o transporte de
icebergs para regiões áridas, elas ainda não conseguem atender totalmente à demanda
mundial.

A dessalinização precisa de muita energia, e a maior parte dela vem de usinas elétricas
movidas a combustíveis fósseis que emitem gases de efeito estufa. Um estudo realizado em
2021 concluiu que as quatro usinas de dessalinização do Chipre, o país mais quente e seco da
União Europeia (UE), foram responsáveis por 5% do consumo total de eletricidade e 2% das
emissões de gases de efeito estufa. As usinas abastecem a pequena nação insular com cerca
de 80% de sua água potável.
O aumento da eficiência energética, no entanto, é um dos fatores que impulsionam o
crescimento do setor, de acordo com Hugo Birch, editor de dessalinização e reaproveitamento
de água da Global Water Intelligence, uma plataforma de informações dessa área. A maioria
das novas usinas de dessalinização usa osmose reversa em vez de processos térmicos, o que
é muito mais eficiente em termos de energia, segundo Birch. Uma mudança que pode,
potencialmente, reduzir pela metade os custos de eletricidade. Estimativas apontam que a
energia necessária para a dessalinização por osmose reversa caiu quase 90% entre 1970 e
2020. Previsões indicam que nos próximos 20 anos os avanços tecnológicos podem reduzir os
custos da água dessalinizada em 60%.
Embora os custos de produção de água dessalinizada tenham diminuído significativamente
(para cerca de US$ 0,50 por metro cúbico atualmente), esse "ainda é um negócio de países
ricos", conforme Qadir. "O principal problema é que ainda não é acessível para países de baixa
renda
Mais de 90% da dessalinização é realizada em países de renda média-alta e alta. E a previsão
é de que regiões de países pobres, como a África Subsaariana, devem se tornar "pontos
críticos" de escassez de água até 2050.

Embora pequenas usinas de dessalinização movidas a energia solar ou eólica estejam sendo
desenvolvidas nessas áreas, Qadir não acredita que a água esteja chegando às comunidades
marginalizadas, que são justamente as que mais precisam. Poluição ameaça ecossistemas
marinho. Uma das principais preocupações ambientais com a dessalinização é a descarga da
salmoura no meio ambiente, o que pode causar "poluição marinha, poluição da água do
subsolo e salinização do solo", aponta Argyris Panagopoulos, engenheiro químico da
Universidade Técnica Nacional de Atenas. Estima-se que 70% da produção global de salmoura
seja proveniente do Oriente Médio, a mesma região que também produz uma grande
quantidade de água dessalinizada.

Birch afirma que isso pode ser explicado, em grande parte, pelo fato de as usinas de
dessalinização do Oriente Médio usarem principalmente água do mar, que é mais salina do que
a água salobra usada com frequência, por exemplo, nos Estados Unidos. Ele acrescenta que
essas usinas geralmente têm um mecanismo de difusão integrado para garantir que a
salmoura não seja despejada em uma única área. Novas tecnologias de tratamento de
salmoura estão surgindo, o que poderia ajudar a reduzir o volume de poluição, além de
recuperar materiais valiosos, como minerais, sais e metais, observa Panagopoulos.

Em relação ao tratamento da salmoura e à consequente mudança para fontes de energia


verde, ainda há espaço para melhorias, de acordo com Panagopoulos: "A dessalinização deu
passos significativos nos últimos anos, mas ainda há desafios a serem superados antes que
ela possa ser considerada totalmente sustentável do ponto de vista ambiental." Ainda assim,
Qadir acredita que a dessalinização irá desempenhar um papel fundamental no enfrentamento
da futura escassez d e água pelo fato de não ser afetada pelas mudanças climáticas:
"Independentemente do fato de haver chuvas ou secas... Há a água do mar... Então, essa é, na
verdade, a melhor parte da dessalinização."
https://www.uol.com.br/ecoa/noticias/deutsche-welle/2024/03/24/dessalinizar-agua-do-mar-vira-
presente-e-futuro-contra-escassez-veja-pros-e-contras.htm?cmpid=copiaecola

01 - Que fatores estão fazendo com que a água própria para o consumo esteja se tornando um
recurso cada vez mais escasso?

02 - Quais os dois métodos utilizados para dessalinizar a água do mar? Qual dos dois é mais
vantajoso e, por qual motivo?

03 – Qual o problema ambiental que a dessalinização pode causar e, o que se propõe para a
sua solução?
04 – O que dificulta o uso da dessalinização da água em países pobres? Por qual motivo a
dessalinização é muito importante para países do Oriente Médio e, para o Chipre?

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