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HIDROLOGIA E RECURSOS

HÍDRICOS
CIV01343
Prof. D.Sc. Afonso Azevedo (LECIV/CCT)

Aula 02: Ciclo Hidrológico e Bacia Hidrográfica


Introdução ao Ciclo Hidrológico
• Na natureza, a água encontra-se em permanente movimento,
em um ciclo interior às três unidades principais que compõem
o nosso planeta:

A atmosfera (camada gasosa que A hidrosfera (constituída pelas


circunda a Terra). águas oceânicas e continentais).

A litosfera ou crosta terrestre (camada


sólida mais externa constituída por
rochas e solos).

• A dinâmica das transformações e a circulação nas referidas


unidades formam um grande, complexo e intrínseco ciclo
chamado ciclo hidrológico.
Introdução ao Ciclo Hidrológico
• Embora tenham sido estimados os
volumes em cada um dos
“reservatórios” na Terra, é importante
lembrar que a água está em
constante movimento, constituindo o
que se denomina de ciclo
hidrológico. Esse ciclo tem o Sol
como principal fonte de energia,
através de sua radiação, e o campo
gravitacional terrestre como a principal
força atuante.
• A Figura abaixo apresenta um esquema do ciclo hidrológico,

identificando as diversas etapas que o compõem.

Ciclo hidrológico (fonte:


adaptado de EPA, 1998).
Etapas do Ciclo Hidrológico
Ocorre evaporação
da água dos
oceanos e O Brasil considera
formação do vapor
de água.
majoritariamente
A água que alcança os rios, seja Sob determinadas a “chuva”!!!
por escoamento superficial, sub- condições, o vapor
superficial ou subterrâneo, ou precipita na forma de
mesmo precipitação direta, chuva, neve, granizo.
segue para lagos e oceanos,
governada pela gravidade.

A vegetação, que retém água das


depressões do solo e infiltrações, Parte da precipitação não
elimina vapor d’água para a atmosfera chega nem a atingir a
(transpiração), através do processo de superfície terrestre, sendo
fotossíntese. evaporada.

Ainda quanto à parte da precipitação que


atinge o solo, esta vai escoar
superficialmente (escoamento superficial),
sendo retida em depressões do solo, Boa parte da precipitação
sofrendo infiltração, evaporação ou sendo atinge diretamente a
absorvida pela vegetação. O “restante” do superfície de lagos e
escoamento superficial segue para rios, oceanos, daí evaporando
lagos e oceanos, governada pela parcela.
gravidade.

Uma parte infiltrada Da precipitação que atinge


percola atingindo os a superfície terrestre, uma
aqüíferos (percolação), parte é interceptada pela
que escoam lentamente cobertura vegetal
até rios e lagos (interceptação), de onde
(escoamento Da precipitação que chega ao solo, parte evapora e parte acaba
subterrâneo). parcela infiltra sub-superficialmente escorrendo até o solo.
(infiltração), e desta uma parte
escoa até corpos d’água próximos,
como rios e lagos (escoamento
sub-superficial).
• Cabe ressaltar que o ciclo hidrológico não apresenta um

“começo” nem um “fim”, já que a água está em movimento


contínuo, sendo o início da descrição do ciclo realizado a partir
da evaporação dos oceanos apenas por questões didáticas.

• Outro fato a ser ressaltado é que a evaporação está presente

em quase todas as etapas do ciclo.

EVAPOTRANSPIRAÇÃO

EVAPORAÇÃO TRANSPIRAÇÃO
• Importa, ainda, destacar que o ciclo hidrológico só pode ser visto

como fechado em nível global, o que significa que o total


evapotranspirado em uma região, isto é, a soma da evaporação e
transpiração, não corresponderá necessariamente ao total
precipitado em um dado intervalo de tempo.

Representação esquemática do caminho das águas de chuva até a alimentação de um curso d’água natural (adaptada de
VIESSMAN; LEWIS, 1995, p. 7
• Apesar de haver algumas divergências quantos aos valores

estimados de autor para autor, convém comentar que cerca de


383.000 km3 de água evaporam por ano dos oceanos (Wundt,
1953, apud Esteves, 1988). Isso equivaleria à retirada de uma
camada de 106 cm de espessura dos oceanos por ano. Desse
total evaporado, estima-se que 75% retornem diretamente aos
oceanos sob a forma de precipitação, enquanto os 25%
restantes precipitam sobre os continentes.
• O ciclo hidrológico, como já colocado anteriormente, promove

a movimentação de enormes quantidades de água ao redor do


planeta. Entretanto, algumas das fases do ciclo são
consideradas rápidas e outras muito lentas, se comparadas
entre si. A Tabela a seguir ilustra esse comentário, ao
apresentar alguns períodos médios de renovação da água nos
diferentes “reservatórios”. Tais valores dizem respeito ao
tempo necessário para que toda a água contida em cada um
dos reservatórios seja renovada – dentro de uma visão
bastante simplificada, é claro, da “entrada”, “circulação” e
“saída” de água neles.
Grande diferença do período médio
de renovação!
• A princípio, as etapas de precipitação e evaporação são

consideradas as mais importantes dentro do ciclo


hidrológico, pensando em termos de volume de água
movimentado. Entretanto, à medida que se diminui a escala de
análise, as demais fases do ciclo se tornam muito importantes.

• Por exemplo, analisando uma determinada área de dezenas

de hectares, a interceptação, infiltração, percolação e


escoamento superficial são bastante relevantes para
entendimento dos processos hidrológicos.
Impactos sobre o ciclo hidrológico
• Observando a descrição do ciclo hidrológico, é fácil perceber o
quanto ele é condicionado pelas características locais, como
clima, relevo, tipo de solo, uso e ocupação do solo, geologia, tipo
de cobertura vegetal, rede hidrográfica (rios), etc.
• Por exemplo, a interceptação que ocorre em uma área com mata
nativa é muito superior à de áreas agrícolas, como o cultivo de
fumo e arroz. Em áreas com solo tipo argiloso, pouco permeável,
a infiltração se dá em menor quantidade do que em áreas com
solo arenoso, mais permeável, enquanto que em áreas
pavimentadas essa fase já não ocorre praticamente.
• Como o escoamento se processa movido pela ação da gravidade,

em terrenos mais íngremes a tendência é ocorrer menor retenção


da água em depressões do solo, com escoamentos mais rápidos
do que em terrenos mais planos, onde há maior propensão ao
acúmulo de água, facilitando a infiltração.

• O homem vem modificando o meio em que vive, de modo à

“adequá-lo” às suas necessidades, o que repercute em sensíveis


alterações do ciclo hidrológico. Por exemplo, pode-se citar o
barramento de rios, que modifica o regime de escoamento,
aumenta a evaporação e eleva o nível das águas subterrâneas
(lençol freático), além de outras consequências sobre a biota
aquática.
• Outro exemplo é a impermeabilização do solo devido à

urbanização, o que diminui a parcela infiltrada e aumenta o


escoamento superficial, causando alagamentos. O
desmatamento é outro exemplo, na medida em que diminui a
interceptação, deixando os solos expostos à ação das gotas de
chuva e do escoamento superficial, que erodem o solo e
carreiam nutrientes e sedimentos para rios e lagos.
• Além de alterar as fases do ciclo hidrológico, as atividades

antrópicas têm uma série de repercussões sobre o meio


ambiente, tais como:

Contaminação de corpos d’água, devido ao lançamento de


efluentes de origem industrial, agrícola ou doméstico (esgoto das
cidades).

Introdução de espécies exóticas (espécies que não eram


encontradas na região na região e foram introduzidas pelo homem).

Ocupação de planícies de inundação.

Desmatamento, contaminação do ar, ocasionando chuvas ácidas.

Mudanças globais no clima.


AVALIAÇÃO QUANTITATIVA DOS
COMPONENTES DO CICLO HIDROLÓGICO: A
EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO

• Os projetos em recursos hídricos são, essencialmente,


exercícios que envolvem a quantificação das fases ou dos
componentes do ciclo hidrológico visando, principalmente, a
conhecer a relação demanda-disponibilidade de água. Nesses
projetos, consideram-se como fontes de suprimento,
fundamentalmente, as águas superficiais e subterrâneas.
• Em termos quantitativos, o ciclo hidrológico pode ser representado

por uma equação de balanço hídrico, que expressa o princípio da


conservação da massa (equação da continuidade).

• A equação do balanço hídrico, dependendo dos propósitos para os

quais é escrita, pode admitir a subdivisão, a consolidação, ou a


eliminação de um ou outro termo. Em geral, a equação do balanço
hídrico é empregada para:
Um determinado intervalo de tempo, que pode ser alguns minutos, horas ou dias,
ou um período mais longo, como um mês ou um ano.

Uma pequena área de drenagem natural ou artificialmente limitada, ou uma bacia


hidrográfica ou um corpo d’água, como um lago ou reservatório, ou, ainda, um
lençol subterrâneo.

Uma região da atmosfera (fase vapor, acima da superfície terrestre).


• São mais comuns três tipos aplicações da equação do
balanço hídrico:

Equação do balanço hídrico para bacias hidrográficas


(grandes áreas de drenagem);

Equação do balanço hídrico para corpos d’água, como rios,


lagos e reservatórios;

Equação do balanço hídrico para o escoamento superficial


direto (runoff).
• Nos primeiros dois casos, são consideradas as quantidades

acima e abaixo da superfície da terra. Em sua forma geral, a


equação é escrita para um volume de controle
adequadamente escolhido e para dado intervalo de tempo,
como:

• [Quantidade que entra no vol. de controle] − [Quantidade que sai

do vol. de controle] = [Variação da quantidade acumulada no


interior do vol. de controle]
EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA
GRANDES BACIAS HIDROGRÁFICAS EM
INTERVALOS DE LONGA DURAÇÃO
• Em uma bacia de grande área de drenagem, a equação do
balanço é usada na avaliação quantitativa das demandas e/ou
disponibilidades hídricas, visando à concretização de grandes
projetos que envolvem variados tipos de usos, ou para fins de
gestão do controle e preservação dos recursos hídricos.
• Nos casos em que o balanço hídrico é realizado para um longo
intervalo de tempo, que contém vários ciclos anuais, os valores
dos componentes envolvidos geralmente se referem a um ano
médio. Assim, para uma bacia de grandes dimensões e para um
longo intervalo de tempo de análise, em termos médios, as
variações anuais do armazenamento, que podem ser positivas e
negativas, tendem a equilibrar-se, o que permite que o termo
médio ΔS da Equação seja desprezado.
• Ainda no caso de grandes bacias, as trocas de água subterrânea

com as bacias vizinhas, chamadas de fugas, ocorrem em um sentido


e outro, o que permite que o termo de variação média também seja
anulado, isto é, Gin ≅ Gout. Além disso, desde que não haja
transposição de água de uma bacia para outra, o único input na bacia
em estudo é a precipitação, pois não pode haver escoamento
superficial através da linha de contorno (divisor) da bacia: portanto,
Rin= 0. Assim, com todas essas considerações, para uma bacia de
grandes dimensões e para um longo tempo de análise (média de
vários anos). “ET” representa a evapotranspiração, isto é, soma dos processos de
evaporação das superfícies líquidas e da umidade do solo e de
transpiração dos vegetais. “Rout”, que representa a quantidade
escoada pela seção de saída da bacia (seção exutória), é
normalmente conhecida na forma de vazão (Q) ou vazão específica
(vazão por unidade de área da bacia, q = Q/A), mas pode ser escrita
em termos do volume de saída da bacia (Vols) ou da altura de
lâmina d’água escoada (hs).
2 A vazão média de longo período (ou de longo termo) corresponde à
média das vazões médias anuais, tomada de vários anos de
observação.
EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA
CORPOS D’ÁGUA EM CURTOS INTERVALOS
DE TEMPO
• No caso de reservatórios, lagos e rios, a equação do balanço

hídrico pode ser usada, por exemplo, em análises que envolvem


as operações diárias de uma estrutura, para se preverem as
consequências das condições hidrológicas sobre ela. O curto
intervalo de tempo empregado nas análises exige, nesse caso,
que o termo de variação do armazenamento (ΔS) seja
necessariamente considerado. Contudo, o termo de evaporação
geralmente é muito pequeno e pode ser desprezado. Assim, se
não ocorrer uma chuva no período de análise, a equação do
balanço hídrico poderá ser escrita como.
EQUAÇÃO DO BALANÇO HÍDRICO PARA O
ESCOAMENTO SUPERFICIAL DIRETO EM UMA
BACIA DURANTE UMA CHUVA INTENSA
• Para determinar o escoamento superficial direto (runoff) devido
a uma chuva intensa em uma bacia, deve-se considerar a
equação do balanço hídrico escrita para o volume de controle
adequadamente representado junto à superfície do solo da
bacia. A equação, escrita para um curto intervalo de tempo, em
termos de alturas médias, é da forma.
• Durante a chuva, as perdas por evaporação e transpiração

poderão ser desprezadas. E, para uma chuva intensa, a


interceptação e o armazenamento nas depressões do terreno
também poderão ser ignorados, caso não se exija uma
quantificação exata, o que permite reescrever a Equação
abaixo:
Escassez da água
• Há algum tempo atrás, predominava a ideia da abundância da
água na natureza, o que não gerava preocupação quanto à
quantidade de água consumida ou desperdiçada por
determinado uso. Entretanto, atualmente tem-se tentado tornar
cada vez mais consensual a noção de escassez de água, pelo
menos em termos relativos, em virtude da crescente demanda
por esse valioso recurso.
• São diferenciados dois tipos de escassez:

(a) escassez quantitativa;

(b) escassez qualitativa.


• A escassez quantitativa decorre da falta de água em
quantidade suficiente para atender àqueles usos pretendidos,
sendo comum a ocorrência no Nordeste brasileiro (região
semi-árida, principalmente). Cabe salientar aqui a irregular
distribuição temporal (precipitações concentradas em poucos
meses do ano) e espacial (abundância de água na Amazônia e
escassez no semi-árido nordestino).
• A escassez qualitativa é resultante da falta de qualidade

suficiente da água para atender os usos pretendidos,


ocasionada principalmente pelo lançamento de esgotos das
várias origens.

• Assim, por ser um recurso escasso, a água é considerada

dotada de valor econômico, como dispõe a Lei 9.433 de


19972, a chamada Lei das Águas. Por isso, além da gestão da
oferta de água (busca de novos mananciais de abastecimento
ou aumento da exploração dos existentes), praticada há mais
tempo, tem-se ressaltado a necessidade da gestão da
demanda pela água.
Conceito de bacia hidrográfica
• A expressão bacia hidrográfica é usada para denotar a área de

captação natural da água de precipitação que faz


convergir os escoamentos para um único ponto de saída,
que é chamado de exutório. A bacia é constituída por um
conjunto de superfícies vertentes – terreno sobre o qual
escoa a água precipitada – e de uma rede de drenagem
formada por cursos d’água que confluem até resultar um leito
único no exutório.
• A bacia hidrográfica pode ser considerada como um sistema
físico, cuja entrada é o volume de água precipitado e cuja saída é
o volume de água escoado pelo exutório. Entretanto, esse é um
sistema aberto, já que nem toda a precipitação (entrada de água)
se torna escoamento no exutório (saída) ou fica armazenada na
própria bacia.
• Há perdas intermediárias, relativas aos volumes evaporados,
transpirados (pela vegetação) ou infiltrados profundamente. Tais
volumes de água representam parcela da entrada no sistema que
é “perdida” para a atmosfera ou para camadas profundas do
subsolo.
• Mesmo com esse aspecto de sistema aberto, o estudo
hidrológico se dá a nível de bacia hidrográfica, cujo papel
hidrológico é entendido como sendo o de transformar uma
entrada de volume de água concentrada no tempo (que é a
precipitação) em uma saída de água de forma mais distribuída
no tempo (escoamento pelo exutório).
• Nesse meio termo, ou seja, entre a ocorrência da precipitação
e a vazão de saída da bacia, decorrem outros processos,
compondo o Ciclo Hidrológico. Há interceptação pela
vegetação, erosão do solo, evaporação, transpiração,
armazenamento da água em depressões do solo, infiltração
sub-superficial e profunda, etc.
• Ocorrem também os diversos usos da água pela população

residente na bacia, como captação de água para


abastecimento doméstico, uso para lazer, banho, lançamento
de esgotos e efluentes industriais, entre outros. Entretanto,
como acontece cada processo do ciclo ou cada uso da água e
em que intensidade vai variar conforme as características da
bacia, como relevo, topografia, cobertura vegetal, tipo de solo,
geologia, presença de áreas urbanas, atividades
agropecuárias ou industriais, etc.
• Na Figura a seguir são apresentados

dois gráficos, denominados de


hietograma e hidrograma. O
primeiro se refere à representação
da precipitação ocorrida ao longo do
tempo, enquanto o hidrograma
retrata o comportamento da vazão
ao longo do tempo. Tais gráficos
permitem visualizar o papel
hidrológico da bacia, transformando
a entrada de água concentrada no
tempo em uma saída mais
distribuída.
Processo de transformação da
precipitação em vazão
A precipitação que cai sobre as vertentes (superfícies
que contribuem para os cursos d’água da rede de
drenagem) infiltra-se totalmente no solo até saturá-lo.

Nesse instante, decresce a taxa de infiltração, que


passa a ser inferior à precipitação e aumenta o
escoamento superficial, que segue até a rede de
drenagem e daí até o exutório da bacia.

Esse processo de formação do escoamento


superficial é geralmente caracterizado como uma
“produção de água” pelas vertentes.

À medida que se processa o escoamento superficial nas vertentes,


ocorre também o transporte de partículas do solo (sedimentos),
devido à força erosiva das gotas da chuva e à própria ação do
escoamento. Isso é referido como “produção de sedimentos” pelas
vertentes, de forma análoga à produção de água
• Importante ressaltar que as superfícies vertentes e a rede de

drenagem são indissociáveis, visto que estão em constante


interação. Durante a precipitação, as vertentes contribuem
para os arroios e rios com água e sedimentos carreados.
Entretanto, quando ocorre cheia no rio, este extravasa da sua
calha principal, alcançando a planície de inundação, ocorrendo
fluxo inverso de água e sedimentos (agora no sentido calha do
rio para planície de inundação).
Delimitação da bacia hidrográfica
• Como já mencionado, a bacia hidrográfica é vista como o

conjunto de áreas que contribuem para um determinado ponto.


Entretanto, como definir tal área de contribuição, também
conhecida como área de drenagem? Normalmente, os
limites da bacia são estabelecidos analisando a topografia do
terreno (relevo), através das curvas de nível (linhas indicativas
da altitude do terreno – cotas – em relação a um referencial,
como o nível do mar).
• Como o escoamento se dá pela ação da gravidade, e a bacia é

definida como o conjunto de áreas que contribuem para um


ponto, é fácil perceber que as regiões de terreno mais elevado
estabelecem uma divisão entre a parte do terreno cujo
escoamento segue até o rio em questão e a parte cujo
escoamento segue para outro rio de outra bacia.

• Também é importante ter em mente o conceito de “bacias

dentro de bacias”, o qual é ilustrado pela figura a seguir.


• Tendo o ponto A como base, a área contribuinte, ou seja, sua

bacia hidrográfica é a indicada em tal figura. Entretanto, essa


bacia está inserida na bacia do ponto B que, por sua vez, está
contida na bacia do ponto C. Assim, conforme a escala em que
se trabalhe e, principalmente, o interesse do estudo a ser
realizado, serão tomadas as bacias “maiores” ou as sub-bacias e
micro-bacias.
• A rigor existem três tipos de divisores de bacias:

Divisor topográfico Baseado no relevo

Em função das
Divisor geológico
características geológicas

Posição do lençol freático (nível das


Divisor freático
águas subterrâneas no subsolo)

Devido à falta de
informações e à não
praticidade no
estabelecimento dos
divisores geológicos e
freáticos, geralmente são
empregados apenas os
divisores topográficas!
Bacia hidrográfica x gestão dos recursos
hídricos
• Com base nas definições de bacia hidrográfica, percebe-se

porque se adota a bacia hidrográfica como unidade para a


gestão dos recursos hídricos. Como a bacia define todas as
áreas contribuintes para um ponto, isso significa que os
impactos, ações, intervenções, projetos em um ponto da bacia
poderão repercutir em toda a área a jusante da área afetada
inicialmente.
• Por exemplo, o lançamento de efluentes de uma indústria em

um determinado ponto de um arroio irá influir na qualidade da


água em todo o restante do arroio a jusante, bem como nos
demais cursos d’água para o qual tal arroio conflui. Outro
exemplo diz respeito ao desmatamento de uma parte da área
da bacia, cujo efeito (maior geração de escoamento
superficial) será sentido nos trechos a jusante da bacia.
• Assim, os problemas relativos à água são comumente tratados

pensando na bacia hidrográfica onde estão inseridos, cuja


delimitação prevalece sobre os limites municipais e estaduais,
por exemplo. Por isso, a Lei 9.433 (1997) estabelece como um
dos princípios a definição da bacia hidrográfica como unidade
territorial para implementação da Política Nacional de
Recursos Hídricos.
• O território brasileiro
foi dividido
inicialmente em 8
regiões hidrográficas
(R. H.), mas
atualmente, segundo
a Resolução 32 do
Conselho Nacional de
Recursos Hídricos
(CNRH) de 15 de
outubro de 2003, são
estabelecidas 12
regiões hidrográficas.
• Vale ressaltar aqui que o conceito de região hidrográfica

difere um pouco de bacia hidrográfica. As regiões


hidrográficas foram traçadas com base nas bacias
hidrográficas mas respeitando alguns limites geopolíticos.

• Por exemplo, tem-se a Região Hidrográfica Amazônica. Parte

da bacia contribuinte ao rio Amazonas está além da fronteira


do Brasil, de modo que o traçado da região correspondente
seguiu a delimitação do país na parte norte.
• No caso do Rio Grande do Sul, a Região Hidrográfica do

Uruguai constitui o conjunto de áreas que drenam para o Rio


Uruguai, embora haja uma parcela de área contribuinte a esse
corpo d’água situada na Argentina e no Uruguai. A Região
Hidrográfica do Guaíba contempla todas as áreas cuja
contribuição segue para o Lago Guaíba. Já a Região
Hidrográfica do Litoral é composta pelas áreas que drenam
diretamente para o oceano ou para o sistema de lagoas Mirim,
Mangueira e Lagoa dos Patos.
• O Estado do Rio Grande

do Sul, portanto, está


inserido nas Regiões
Hidrográficas do Uruguai e
do Atlântico Sul. Por outro
lado, o próprio Estado foi
dividido em três regiões
hidrográficas menores,
que são: a Região
Hidrográfica do Uruguai, a
Região Hidrográfica do
Guaíba e a Região
Hidrográfica do Litoral.
Fisiografia da bacia hidrográfica
• A caracterização física da bacia hidrográfica, em termos de

relevo, rede de drenagem, forma e área de drenagem, constitui


o que se denomina de fisiografia. Para essa caracterização
são utilizados mapas, fotografias aéreas, imagens de satélite
(sensoriamento remoto) e levantamentos topográficos. Hoje
em dia são empregados programas computacionais
específicos, facilitando e agilizando enormemente essa tarefa.
Área da bacia
• A área da bacia (A) corresponde a sua área de drenagem, cujo

valor corresponde à área plana entre os divisores topográficos


projetada verticalmente. O conhecimento da área da bacia
permite estimar qual o volume precipitado de água, para uma
certa lâmina de precipitação, pela expressão:

Volume precipitado = lâmina precipitada x área


da bacia
Sub-divisão
da bacia!
Forma da bacia
• A forma da bacia, obviamente, é função da delimitação da área

da bacia e tem influência no tempo transcorrido entre a


ocorrência da precipitação e o escoamento no exutório. Em
bacias de formato mais arredondado esse tempo tende a ser
menor do que em bacias mais compridas, como ilustra a figura
para três bacias hipotéticas.
• Dois coeficientes são comumente empregados como
indicativos da forma da bacia: fator de forma e coeficiente de
compacidade.

Fator de forma (Kf)

Esse coeficiente é definido Esse coeficiente dá


pela relação entre a largura uma ideia da
média da bacia e o tendência da bacia a
comprimento axial do curso cheias e, a princípio,
d’água principal (Lc). A largura comparando-se duas
média é calculada pela bacias, aquela de
expressão: maior fator de forma
estaria mais propensa
a cheias do que a
outra.
Coeficiente de
compacidade

Esse coeficiente é definido como a relação


entre o perímetro da bacia e a circunferência de Pela sua definição, se
um círculo de mesma área da bacia. Assim, Kc = 1 a forma da
considerando uma bacia de área A e um círculo bacia é um círculo,
também de área A, tem-se que: sendo mais
“irregular” quanto
maior o valor desse
coeficiente, o que
implica em uma menor
tendência a cheias.
Rede de drenagem
• A rede de drenagem é constituída
pelo rio principal e seus afluentes.
O rio principal é identificado a
partir do exutório da bacia,
“subindo o rio”, ou seja,
percorrendo o sentido inverso do
fluxo da água, até percorrer a
maior distância (em outras
palavras, o rio principal é aquele
maior curso d’água do exutório até
ENXUTÓRIO
a cabeceira da bacia).
• Quatro indicadores são utilizados, geralmente, para descrever

a rede de drenagem de uma bacia:

• Ordem dos cursos d’água;

• Densidade de drenagem;

• Extensão média do escoamento superficial;

• Sinuosidade do curso d’água principal.


Ordem dos cursos d’água

• Esse parâmetro dá uma ideia do grau


de ramificação da rede de drenagem,
sendo a regra mais usual de classificar
cada curso d’água a que considera
que todos os cursos d’água que não
recebem afluência de outros são de
ordem 1; dois de ordem n formam um
curso d’água de ordem n+1; dois de
ordens diferentes formam um de
ordem igual àquele formador de maior
ordem.
Densidade de drenagem

• Esse índice é definido pela relação entre o comprimento total

dos cursos d’água da bacia (Σlc) e sua área:

Os valores mais usuais da densidade de drenagem são: 0,5 


Dd  3,5 km/km2
Extensão média do
escoamento superficial

• Representa a distância média que água teria que percorrer, em

linha reta, do ponto onde atingiu o solo até a rede de


drenagem. Para sua determinação, considera-se um retângulo
de área igual à da bacia e com o maior lado igual à soma do
comprimento total dos cursos d’água.
• Interpretando o retângulo anterior como sendo a bacia, é fácil

perceber que a distância média que a água precipitada


percorre até alcançar a rede de drenagem é um quarto do seu
lado menor. No caso do retângulo, a rede de drenagem se
limita ao curso d’água central, cujo comprimento é equivalente
ao comprimento total dos cursos d’água da bacia original.

• Como o retângulo da figura anterior tem área igual à da bacia,

tem-se que:
Sinuosidade do curso
d’água principal

• Representa a relação entre o comprimento do rio principal (Lc)

e a distância entre a nascente (cabeceira) e a foz (dc), medida


em linha reta. Esse termo dá uma ideia da “quantidade” de
curvatura do rio, sendo determinado pela expressão:
Declividade da bacia

• Diferença de altitude

entre o inicio e o fim


da drenagem dividida
pelo comprimento da
drenagem.

• Apresenta relação
com a velocidade
com a qual ocorre o
escoamento.
Relevo da Bacia
• As características do relevo da bacia têm influência direta

sobre o escoamento superficial, principalmente na velocidade


do escoamento e na maior ou menor tendência ao
armazenamento da água na superfície ou depressões do solo.
Entretanto, o relevo também influencia a evaporação, a
precipitação e a temperatura, por serem função da altitude,
dentre outras variáveis.
Declividade da bacia

• Bacia com maior declividade tende a ter maior velocidade do

escoamento e ser mais susceptível à erosão do solo, caso


este esteja descoberto; a declividade da bacia é geralmente
estimada pelo método das quadrículas, analisando as curvas
de nível do terreno. O referido método foge ao escopo desta
disciplina e não é descrito neste texto.
Declividade do curso
d’água principal

• Para dois pontos quaisquer do curso d’água, a declividade é

determinada pela relação entre a diferença total de elevação do


leito (cotas) e a distância horizontal entre eles:
Curva hipsométrica

• Representação gráfica do relevo médio da bacia, indicando

para cada cota do terreno a porcentagem da área da bacia


situada acima ou abaixo dessa cota. A Figura a seguir mostra
um exemplo típico de uma curva hipsométrica, na qual 38% da
área da bacia está situada acima da cota 50 m.
Tempo de escoamento

• Tempo necessário para

que a água precipitada


no ponto mais distante
da bacia escoe até o
ponto de controle do
exutório ou local de
medição.
• O tempo de concentração tem relação com:

• Comprimento da bacia (área);

• Forma da bacia;

• Declividade da bacia Alterações antrópicas;

• Vazão (acaba-se desconsiderando para efeito de


verificação).
Referências Bibliográficas
• YAMAWAKI, Y., SALVI, L. T. Introdução à gestão do meio urbano. Curitiba: InterSaberes,
2013.

• SPERLING, M. V. Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos. Vol. 1.


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. 240p. 2005.

• BRAGA, B. Introdução a Engenharia Ambiental. São Paulo. Prentice Hall, 2005. (Biblioteca
Virtual).

• LIMA, J.D. Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil. ABES, 2001.

• PHILLIPI Jr., Arlindo; GALVÂO, Alceu de Castro. Gestão do Saneamento Básico:


Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário. São Paulo: Manole, 2012.

• CASTRO, A. A. Manual de Saneamento e Proteção Ambiental para Municípios Vol. 2.


Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG. 221p. 1996.

• POLETO, C. (org.) Bacias hidrográficas e recursos hídricos. 1a Ed. Rio de Janeiro:


Interciência, 2014. (Biblioteca Virtual).

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