Você está na página 1de 49

Escoamento Superficial

Laydson Amorim
Escoamento superficial
Principais tópicos:
• Definir escoamento superficial
• (re) Apresentar os mecanismos de geração de
escoamento
• Identificar os caminhos de fluxo – determinam o
transporte de água e solutos através do solo
KIRKBY, M.J. (Ed.), 1978. Hillslope Hydrology

É importante entender de que maneira a chuva é subdividida nos diversos compartimentos


da fase terrestre do ciclo hidrológico: água no solo (umidade do solo), escoamento
superficial, escoamento subsuperficial e água subterrânea

Ênfase maior é dada aos mecanismos de escoamento da água de chuva e às trajetórias de


fluxo, que determinarão a velocidade de escoamento da água na vertente e o potencial
de lixiviação/carreamento de partículas sólidas (erosão) e substâncias químicas
(empobrecimento ou contaminação do solo)

É na escala de vertente que são analisados processos tais como erosões, escorregamentos
de encosta e contaminação do solo e da água superficial e subterrânea
Processos envolvidos
Entrada
a infiltração ocorre na interface
solo/ atmosfera

Transmissão
percolação que ocorre através de
toda a profundidade da camada

Armazenamento
ocorre ao longo de todo o perfil de
solo e se manifesta sob a forma
de aumento da umidade do solo
e elevação do nível do lençol
freático

Menor infiltração  Maior escoamento superficial


Termos e conceitos
Infiltração
entrada de água no solo

Percolação
fluxo vertical descendente da
água

Escoamento superficial
(surface runoff)
fluxo que ocorre sobre o solo
runoff

Escoamento subsuperficial
(interflow)
fluxo lateral que ocorre no
interior do solo

Fluxo de base (baseflow)


fluxo lateral que ocorre na zona
saturada
Runoff

escoamento superficial (surface runoff):


porção de água de chuva, derretimento de
neve e/ou água de irrigação que, ao invés de
se infiltrar no solo, corre sobre a superfície do
terreno em direção ao corpo hídrico mais
próximo – fluxo rápido

escoamento subsuperficial (interflow):


parcela de água de chuva que, assim como o
fluxo de superfície, chega relativamente
rápido ao corpo hídrico

escoamento superficial + subsuperficial:


formam, juntos, o volume de água que os
hidrólogos costumam chamar de runoff
Escoamento de base

Responsável pelo suprimento de longo prazo


da água, que mantém o nível de base dos
rios durante longos períodos de seca.

É proveniente da água que percola para as


camadas mais profundas
Camada impermeável

De modo geral, quanto mais profundo for o


solo, menor o escoamento superficial

Solos pouco profundos saturam-se


rapidamente, contribuindo para o escoamento
superficial
Rocha de pouca
A profundidade da camada impermeável permeabilidade

(bedrock) pode variar amplamente em


pequenas áreas: nos vales, a camada pode
estar a vários metros de profundidade, ao
posso que nas regiões mais declivosas pode
estar a poucos centímetros de profundidade
Água preexistente

Parte da água que flui por subsuperfície e que


atinge o corpo hídrico não é necessariamente
proveniente da chuva mais recente

Existe uma considerável quantidade de água


existente dentro do solo (pre event water) que
é deslocada quando uma certa quantidade de
água nova se infiltra

Em regiões de climas úmidos, estudos têm


mostrado que a água preexistente
frequentemente corresponde a uma parcela
significativa na ascensão do nível dos rios
Ascensão do lençol freático

Em terrenos inclinados, a água infiltrada atinge


o lençol freático nas regiões mais baixas mais
rapidamente do que nas regiões mais
elevadas

Isso cria um fluxo de subsuperfície que


eventualmente aflora nas regiões próximas
ao curso d´água, transformando-se em fluxo
de superfície (mecanismo de Dunne)
Tipos de escoamento

Fluxo por excesso de infiltração

Mecanismo de Horton

Fluxo por excesso de saturação

Mecanismo de Dunne
Fluxo por excesso de infiltração
Mecanismo de Horton

Ocorre quando a taxa de precipitação excede a


capacidade de infiltração, podendo ocorrer mesmo
com o solo seco

Associado a eventos intensos de precipitação de


curta duração

Frequente em áreas pouco permeáveis: solos com


elevado teor de argila (poros muito pequenos),
solos compactados (ou pisoteados), áreas urbanas,
solos sob ocorrência de fogo, e cobertura vegetal
rala

Está intimamente associado ao fenômeno de erosão


e transporte de sedimentos

Raramente ocorre em áreas de floresta natural


Fluxo por excesso de saturação
Mecanismo de Dunne

• Ocorre quando o solo está saturado – importância da


umidade do solo antecedente
• Associado a chuvas moderadas e de longa duração
ou após sucessivos eventos de chuva
• Frequente em clima úmido, áreas planas e terrenos
pouco inclinados (áreas de várzea), próximos a cursos
d´água (onde o lençol freático está próximo à
superfície e é rapidamente saturado), depressões de
vertentes (onde o fluxo subsuperficial ou subterrâneo
convergem e retornam à superfície - fluxo de retorno),
solos rasos ou com queda acentuada da
condutividade hidráulica no subsolo, e pés das
vertentes (áreas de fluxos convergentes)
• É o principal mecanismo de escoamento em bacias de
florestas tropicais
Área de contribuição variável
Introduzido por Hewlett e Ribbert (1967)

Em bacias com boa estrutura florestal, o


escoamento direto não é produzido ao
longo de toda a superfície da bacia

O escoamento direto é proveniente de áreas


de origem dinâmica, que sofrem contrações
e expansões, e que normalmente
representam uma pequena fração da área
total da bacia

Provém principalmente de terrenos que


margeiam a rede de drenagem, sendo que,
nas porções mais altas da encosta, a água
tende a infiltrar-se e escoar até o canal mais
próximo devido ao fluxo subsuperficial
Área de contribuição variável

FONTE: ANDERSON, M.G. & T.P. BURT, 1978. Towards


more detailed field monitoring of variable source area.
Water Resource Research, 14 (6): 1123-1131.
Os hidrogramas indicam como o escoamento aumenta na medida que as áreas
saturadas se estendem sobre a várzea, nas áreas com solos rasos e nos
córregos efêmeros. Este processo se reverte à medida que o escoamento
diminui
Interdisciplinaridade

Escoamento superficial x

▪ Estabilidade de encostas – Geotecnia

▪ Processos erosivos – Geomorfologia/Geografia

▪ Perda de produtividade (lixiviação) do solo – Agronomia

▪ Recarga de aqüíferos – Hidrogeologia

▪ Fluxo de contaminantes – Geotecnia ambiental

▪ Previsão de enchentes – Eng. Civil/Hidrologia/Desastres


Naturais

▪ Produção hídrica – Hidrologia de superfície


Escorregamento de encostas

Fonte: Kobiyama, 2005


Fluxo de escombros (debris flow)

Fonte: Kobiyama, 2005


Deslizamento translacional (shallow)

Fonte: Kobiyama, 2005


Deslizamento rotacional

Fonte: Kobiyama, 2005


Escoamento Superficial x Enchentes
O escoamento superficial (direto) é
um dos principais componentes da
predição de cheias

As condições da bacia determinam


a proporção de água de chuva
que se transformará em
escoamento superficial direto
Fatores que influenciam o escoamento superficial
Fatores climáticos
Intensidade da chuva
Duração da chuva
Umidade do solo antecedente

Fatores fisiográficos
Área da bacia
Forma da bacia
Topografia (declividade da bacia)
Permeabilidade do solo

Uso da terra
Superfícies vegetadas
Superfícies impermeáveis – solo compactado, estradas,
estacionamentos, etc
Hidrogramas
Após o início da chuva, há um tempo de retardo até que a
descarga (vazão) comece a se elevar. Isso ocorre devido às
perdas iniciais (interceptação, depressões no solo e
deslocamento de água pela bacia)
No período de estiagem, o aquífero regional domina o
hidrograma através do fluxo de base
Precipitação
Vazão de pico Ascenção: relacionada diretamente
com a intensidade da precipitação
Recessão
Descarga

Pico: ponto de inflexão como resultado


Escoamento
da redução das chuvas e/ou
Ascenção direto amortecimento da bacia
Fluxo base
Recessão: o escoamento superficial
Tempo (horas, dias, semanas, meses diminui e o escoamento subterrâneo
contribui para a vazão do rio
Área de Bacia Hidrográfica

O tamanho da bacia hidrográfica


Um evento intenso de
exerce influência direta no
precipitação geralmente
escoamento superficial (volume de
só ocorre em uma parte
água que drena de uma bacia)
da bacia
Grandes bacias terão maior descarga,
maior pico e maior tempo de retardo
Forma da Bacia Hidrográfica

Está relacionada com a velocidade de deslocamento da água na bacia

Considerando uma chuva espacialmente uniforme, a água proveniente de vários


pontos de uma bacia mais circular têm maior chance de atingir o exutório ao
mesmo tempo, diminuindo o tempo de ascensão da hidrograma nesse ponto,
ou seja, o pico de vazão é atingido mais rapidamente
Declividade da Bacia Hidrográfica

O aumento da declividade diminui a infiltração, aumenta o runoff


e diminui o tempo de resposta da bacia

A maior declividade também contribui para o aumento da erosão


e da importância da cobertura vegetal como proteção do solo
Forma dos Cursos D’água

Os meandros de um rio aumentam a distância que a água tem que


percorrer até chegar ao exutório, atrasando o tempo de resposta da bacia

A maior sinuosidade dos cursos d’água tendem a diminuir a vazão, na


medida em que aumentam o tempo de permanência da água na bacia,
promovendo uma maior infiltração/evaporação
Densidade de Drenagem

Densidade de drenagem: comprimento de


todos os canais dentro da bacia dividido
pela área da bacia

Uma das características mais importantes


para avaliação do potencial de runoff

Baixa densidade de canais em geral


indica solos profundos e bem
desenvolvidos, o que favorece a
infiltração da água no solo, diminuindo o
runoff

Grande densidade de canais sugere uma


drenagem mais eficiente após um
evento de chuva – picos de descarga
ocorrem mais rápido e são mais intensos
Rugosidade do canal

A rugosidade atua como um desacelerador da água no canal

A rugosidade do canal aumenta com a presença de pedras, vegetação e


detritos

Canais artificiais aumentam muito a velocidade da água, fazendo com que a


água de chuva deixe a bacia muito rapidamente: diminuição do fluxo de
base e aumento do runoff
Urbanização
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

1) Vazão (Q)

A vazão, ou volume escoado por unidade de tempo, é a


principal grandeza que caracteriza um escoamento.
Normalmente é expressa em metros cúbicos por segundo
(m3.s-1) ou em litros por segundo (L.s-1).

a) vazão média diária


b) vazão específica
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

2) Coeficiente de escoamento superficial (C)

Coeficiente de escoamento superficial, ou coeficiente runoff, ou


coeficiente de deflúvio é definido como a razão entre o volume
de água escoado superficialmente e o volume de água
precipitado. Este coeficiente pode ser relativo a uma chuva
isolada ou relativo a um intervalo de tempo onde várias chuvas
ocorreram.

𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑒𝑠𝑐𝑜𝑎𝑑𝑜


𝐶=
𝑣𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑝𝑖𝑡𝑎𝑑𝑜
Solo Solo Solo
Declividade (%)
arenoso Franco Argiloso
Florestas
0a5 0,1 0,3 0,4
5 a 10 0,25 0,35 0,5
10 a 30 0,3 0,5 0,6
Pastagens
0a5 0,1 0,3 0,4
5 a 10 0,15 0,35 0,55
10 a 30 0,2 0,4 0,6
Terras cultivadas
0a5 0,3 0,5 0,6
5 a 10 0,4 0,6 0,7
10 a 30 0,5 0,7 0,8
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

É o tempo gasto para que toda a bacia contribua para o


escoamento superficial na seção considerada.

Método gráfico;
Equação de Kirpich;
Equação de Ventura;
Equação de Pasini;
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

Método gráfico

Consiste em traçar trajetórias perpendiculares as curvas de nível


de diferentes pontos dos divisores até a seção controle.

𝑡𝑐 = ෍ 𝑡𝑝𝑚𝑎𝑥
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

Método gráfico

𝐿 V=𝑓∗ 𝐼
𝑡𝑐 = ෍ 𝑡𝑝𝑚𝑎𝑥 𝑡𝑝 =
𝑣

Tc = tempo de L = comprimento da F = fator de


concentração, em s trajetória do escoamento em
Tp = tempo de escoamento, em m; função do tipo de
percurso, em s V = velocidade de superfici
escoamento, em m.s-1
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

Equação de Kirpich

A equação mais utilizada para a determinação do tempo de


concentração é a equação de Kirpich.

Tc = tempo de concentração, em h
𝐿3 L = comprimento do talvegue principal, em
𝑡𝑐 = (0,87 ∗ )0,385
𝐻 km
H = desnível entre a parte mais elevada e
a seção controle, em m.
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

Equação de Pasini
A = área da bacia, em km²;
3
𝐴∗𝐿 L = comprimento do talvegue principal
tc = 0,107 ∗ I = declividade média do curso d’água,
𝐼
em m/m
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

3) Tempo de concentração

Equação de Ventura
A = área da bacia, em km²;
𝐴 I = declividade média do curso d’água,
tc = 0,127 ∗ em m/m.
𝐼
Grandezas que Caracterizam o Escoamento Superficial

4) Tempo de recorrência

É o período médio em que um determinado evento é igualado


ou superado pelo menos uma vez.
Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

Os métodos de estimativa do escoamento superficial podem ser


divididos em quatro grupos conforme a seguir:
a) Medição do Nível de Água
b) Modelo Chuva-Vazão Calibrados
c) Modelo Chuva-Vazão Não Calibrado
d) Fórmulas Empíricas
a) Medição do Nível de Água
Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

b) Modelos Chuvas-vazão calibrados

1. Método do hidrograma
2. Método do hidrograma unitário
Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

b) Modelos Chuvas-vazão calibrados

1. Método do hidrograma
Precipitação
Vazão de pico

Recessão
Descarga

Escoamento
Ascenção direto

Fluxo base

Tempo (horas, dias, semanas, meses


Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

c) Modelos Chuvas-vazão não calibrados

1. Método Racional
2. Método Racional Modificado
3. Método I-Pai-Wu
Métodos de Estimativa do Escoamento Superficial

c) Modelos Chuvas-vazão não calibrados

1. Método Racional
A equação racional estima a vazão máxima de escoamento de uma
determinada área sujeita a uma intensidade máxima de precipitação,
com um determinado tempo de concentração, a qual é assim
representada:
𝐶𝐼𝐴 em que:
𝑄= Q = vazão máxima de escoamento, em m3.s-1;
360 C = coeficiente de runoff;
I = intensidade média máxima de precipitação, em mm.h-1.
A = área de contribuição da bacia, em ha.
c) Modelos Chuvas-vazão não calibrados

1. Método Racional

Obs.: Limitações e premissas da fórmula racional.


1) Não considera o tempo para as perdas iniciais.
2) Não considera a distribuição espacial da chuva.
3) Não considera a distribuição temporal da chuva.
4) Não considera o efeito da intensidade da chuva no coeficiente C.
5) Não considera o efeito da variação do armazenamento da chuva.
6) Não considera a umidade antecedente no solo.
7) Não considera que as chuvas mais curtas eventualmente podem
dar maior pico.
8) A fórmula racional só pode ser aplicada para áreas até 80 ha.
c) Modelos Chuvas-vazão não calibrados

1. Método Racional

Método recomendado para áreas maiores de 80 há até 200 ha

𝐶𝐼𝐴
𝑄= ∗𝐷
360

𝐿 em que:
𝐷 = 1 − 0,009 ∗ L = comprimento axial da bacia, km.
2
c) Modelos Chuvas-vazão não calibrados

1. Método de I-Pai-Wu

Método recomendado para áreas maiores de 80 há até 200 ha

𝐶𝐼𝐴
𝑄= ∗𝐷
360

𝐿 em que:
𝐷 = 1 − 0,009 ∗ L = comprimento axial da bacia, km.
2

Você também pode gostar