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Dora van Gelder Kunz

A AURA PESSOAL

Tradução Terezinha Batista dos Santos

EDITORA PENSAMENTO
São Paulo

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Título do original:
The Personal Aura

Copyright by Dora van Gelder Kunz.


Publicado mediante acordo com a THE THEOSOPHICAL PUBLISHING HOUSE. USA.

Para Emily Sellon, em reconhecimento à nossa amizade


duradoura e ao seu árduo trabalho na edição deste livro.

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Sumário

Prefácio - Renée Weber, 24


Capítulo 1 - A criação do livro, 31

Seção I - Estrutura e dinâmica dos campos de energia humanos,


Capítulo 2 - Dimensões da consciência, 35
Capítulo 3 - O campo emocional, 43
Capítulo 4 - A anatomia da aura, 50

Seção II - O ciclo da vida,


Capítulo 5 - O desenvolvimento do indivíduo, 66
1. A mãe e o feto em gestação, 71
2. Um bebê de sete meses, 76
3. Uma menina de quatro anos, 79
4. Um menino de sete anos, 83
5. Uma adolescente, 86
6. Uma artista na casa dos 30, 89
7. Um homem na casa dos 40, 92
8.Velhice: Uma mulher na casa dos 90, 96
Capítulo 6 - Uma vida de dedicação, 99
9. Um pianista/compositor, 100
10. Um pianista concertista, 104
11. Um ativista social/ecológico, 107
12. Uma pintora, 111
13. Um arquiteto/desenhista, 115
14. Um jovem idealista, 118
14a. Cinquenta e seis anos depois,
Capítulo 7 - Os efeitos da doença, 124
15. Consequências da poliomielite, 125
16. Uma criança nascida com a síndrome de Down, 129
17. Um estado de ansiedade aguda, 132
18. Os efeitos da meditação em paciente com problema cardíaco crônico, 135

Seção III - Possibilidades de mudança e crescimento,


Capítulo 8 - A cura e a prática da visualização, 139
Capítulo 9 - Novos padrões emocionais, 145
Capítulo 10 - Meditação e desenvolvimento da intuição, 155

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Prefácio

Renée Weber, Ph.D.


Professor de Filosofia, Universidade Rutgers

Este livro é uma obra estranhamente etérea e, ao mesmo tempo, completamente


prática e realista, cujas implicações filosóficas são as mais amplas possíveis. As ideias aqui
apresentadas podem modificar nossa visão de nós mesmos, ampliar a compreensão da
nossa constituição, poderes, influências e, consequentemente, responsabilidades. Dora
Kunz mostra que estamos interligados, sob formas antes ignoradas, ao universo e,
sobretudo, a outros seres humanos, com os quais partilhamos influências das quais não
suspeitávamos, mas cujo potencial é fascinante.
O livro de Dora Kunz descreve seres humanos imersos em campos energéticos
semelhantes aos descritos pela Física, conquanto diferentes em muitos aspectos: mais
sutis, com uma carga qualitativa e reconhecíveis em termos de características específicas o
bastante para serem descritas - embora não sejam mensuráveis pelos métodos científicos
utilizados atualmente. Para o filósofo, o ponto de vista deste livro é do maior interesse,
pois aponta para muitas das questões a respeito das quais especulamos desde o tempo de
Pitágoras e Platão, na Grécia antiga, e que, basicamente, ainda estão pendentes. Este
trabalho me interessa muito, pois se coaduna, notavelmente, com uma série de afirmações
da filosofia hindu, minha área de especialização. Muitas das ideias apresentadas por Dora
Kunz - de forma moderna e, amiúde, clínica - podem ser diretamente relacionadas com as
narrações hindus e budistas a respeito de metafísica, fisiologia, psicologia e ética.
O livro de Dora levanta inúmeras e provocantes questões, sendo a mais crucial o
problema de como nós - que não podemos confirmar nem recusar diretamente seu
material - devemos considerar seu trabalho. Conquanto esta seja uma questão difícil,
certas observações básicas se impõem na avaliação de suas afirmações.
Em primeiro lugar, qualquer pessoa familiarizada com a filosofia oriental reconhecerá
que os campos descritos por Dora são coerentes com os ensinamentos dos pensamentos
hindu e budista. O que chamamos de teoria de campo é fundamental à cosmologia,
metafísica, ética e psicologia hindus - sobretudo, à ioga e à meditação. Não obstante, a
filosofia hindu não documenta adequadamente o importante papel dos campos em suas
teorias, segundo os critérios ocidentais. A existência desses campos é assegurada e
admitida, conquanto sem argumentos que a comprovem. Por conseguinte, do ponto de
vista filosófico é importante encontrar alguém que aborda este tema de modo empírico, e
não teórico.
Pensadores hindus para os quais esses campos sutis se mostravam manifestos os
descobriram através das práticas da meditação e ioga. Patanjali, por exemplo, os descreveu
em termos médicos, psicológicos e, ao mesmo tempo, espirituais. Contudo, sua atual
aplicação clínica, descrita por Dora, descortina novas perspectivas sobre o seu valor prático
para a vida humana em nosso tempo. Isso é verdade, ainda que esses campos sejam
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tratados como hipóteses frutíferas cujos efeitos podem ser verificados em nossas vidas.
Neste breve prefácio, posso citar apenas alguns conceitos do pensamento hindu com
os quais este livro guarda analogia: os chacras; o prana, sistemas de energia/matéria sutil;
a consciência como transformadora de matéria; a unidade de todos os seres; a ideia de um
campo universal no qual estamos mergulhados (o Dharmakaya, no Budismo; Brahman, no
Hinduísmo); um universo espiritual sem necessidade de um deus pessoal; a validade da
ação a distância; o poder da meditação; o papel do espaço (ou do espaço
multidimensional, akasha) no "registro" de tudo o que acontece em todas as dimensões,
sutil ou densa-material; uma causa psicossomática do funcionamento humano, tanto na
saúde como na doença; a existência da clarividência e dos estados de consciência
intuitivos; o karma (lei da causalidade universal); a vida depois da morte e a reencarnação.
Alguns desses conceitos são apresentados especificamente nas descrições de Dora
para os campos de energia (ou auras) e, na forma ilustrada, nas pinturas. Das inúmeras
questões levantadas, provavelmente a mais espinhosa seja a questão do livre-
arbítrio/determinismo, que há milênios atormenta filósofos e teólogos. Seriam as
potencialidades e os "indicadores kármicos", percebidos por Dora no bebê e na criança,
evidência de determinismo, conquanto vagamente explicados? Como nossa liberdade para
elaborar essas "tendências" (liberdade que Dora insiste em ressaltar) se conforma a tais
"indicadores"? Sua presença vincula nossa vinda ao mundo a determinado caráter (ou
essência), sem dúvida diferente da ideia de Locke, Skinner e dos behavioristas
contemporâneos, de que somos "blocos em branco". Essas e outras questões têm
importância crucial, daí o interesse especial nos relatos dos casos de Dora, nos quais está
registrado o acompanhamento do desenvolvimento individual ao longo do tempo.
Em segundo lugar, os campos de energia com os quais Dora trabalha têm uma
coerência igualmente notável com aqueles descritos pela ciência moderna. As observações
de Dora correspondem à teoria de uma Ordem Implicada, do físico David Bohm, a qual
afirma estender-se a matéria desde o estado denso, visível e físico - através de vários
estados de densidade decrescente (na Ordem Implicada) - até estados de tamanha sutileza
que não podem mais ser considerados realmente "matéria", mas, sim, mente ou
consciência. À semelhança de Dora, Bohm afirma que a substância sutil influencia
fortemente a matéria densa, e - conquanto exista sempre uma certa reciprocidade - que o
sutil é mais potente, por sua maior inteireza, do que o denso. Neste sentido, é uma relação
assimétrica, na qual a consciência ou pensamento é fundamental para nossa saúde e bem-
estar. Bohm e Dora acreditam, ambos, em uma energia universal na qual tudo está
inserido. E eles a descrevem independentemente, mas em termos similares: para Bohm, as
qualidades desta energia são a inteligência e a compaixão; para Dora, a ordem e a
compaixão.
O trabalho de Dora e muitas de suas afirmativas neste livro relacionam-se também
com a teoria da não-localização do físico John Stewart Bell. Esse trabalho é profundamente
técnico, mas a sua essência é esta: a mecânica do quantum revela que, de alguma maneira,
toda partícula de matéria no universo está em contato com as demais partículas e as
influencia, ainda que estejam separadas por grandes distâncias. David Bohm vai mais além,
porquanto declara que, assim como cada partícula é um arquivo de tudo o que acontece
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no universo, nós também, em algum nível de nosso ser, possuímos essa informação. Deixo
ao leitor a tarefa de perceber até que ponto este quadro combina com a descrição de Dora
em seu livro.
Em terceiro lugar, embora conheçamos os campos físicos da ciência apenas através de
seus efeitos, nós, enquanto leigos, aceitamos a sua existência porque confiamos nos
especialistas, a saber, os físicos. Enfatizo este ponto porque não conheço outro método -
excetuando-se a analogia - para estabelecer a realidade ou mesmo a plausibilidade desses
campos de energia desmedidamente sutis, dos quais se diz que influenciam
profundamente nossas vidas.
A meu ver, a ideia do campo de energia humano deve subsistir como uma hipótese,
não obstante sólida. Para Dora, é uma realidade. Portanto, ela mesma se torna, em grande
medida, o fator decisivo na avaliação que fizermos de suas ideias. Quem se interessar por
seu trabalho precisa - ao menos provisoriamente - confiar nela e na sua alegação de que
esses campos de energia existem e ela consegue vê-los e interpretá-los corretamente.
Diversas analogias vêm à mente: radiologistas competentes podem ler e interpretar
corretamente aquilo que veem, e assim explicar o que está acontecendo no interior do
corpo; o físico e o astrofísico nuclear trabalham, ambos, por deduções, com dados que
também exigem interpretação. Naturalmente existem diferenças, pois a Radiologia e a
Física são de domínio público, e os iguais podem avaliar as interpretações uns dos outros.
A observação generalizada das auras é mais difícil. O número de pessoas que diz
perceber os campos de energia humana é insignificante; e o daquelas que conseguem
interpretá-los, clínica e psicologicamente, provavelmente é minúsculo. Portanto, nesse
domínio a atenção recai, inevitavelmente, sobre a habilidade e confiabilidade do
observador e intérprete. Quem é esta Dora Kunz, que começou a cartografar o território da
psique humana de maneira nova? Visto depender muito de sua habilidade, clareza e
integridade, é essencial se dizer algo sobre ela. Conheço Dora há muitas décadas, mas, a
despeito de nossa amizade duradoura e próxima, sob muitos aspectos ela continua a ser
um mistério. Posso dar uma ideia remota de Dora, mas será tão-somente uma perspectiva,
filtrada por minha própria experiência.
Igualmente à vontade com cientistas, médicos e leigos, Dora é uma insólita
combinação de traços. Sua reputação de clarividente comumente faz com que as pessoas
evoquem um ser de outro mundo que pratica sua arte arcana em atmosfera purificada,
mas Dora não se ajusta a esses clichês. Em primeiro lugar, ela tem uma vida familiar. Seu
casamento de 45 anos com Fritz Kunz - intelectual brilhante, dedicado à matemática,
ciência e filosofia - foi excepcionalmente feliz e estendeu-se até a morte dele, em 1972. O
filho, graduado por Harvard, é analista de sistemas; o neto, matemático formado por
Harvard; a neta, formada recentemente pela Faculdade Whitman. Dora e o marido eram
dedicados e solidários ao trabalho (muito diferente) um do outro, e apoiavam,
incondicionalmente, seus objetivos e atividades específicos. Cada um a sua maneira, eram
personalidades marcantes.
Além da vida normal (oposta às suas atividades paranormais), Dora tem um amplo
círculo de amigos de todas as profissões. Ela não é nenhuma prima dona, e não hesita em
realizar tarefas comuns e práticas, tais como cozinhar para um grupo de pessoas, organizar
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conferências e programas, fazer compras, cuidar do jardim e assim por diante. Para ela,
estas tarefas não são indignas da sua pessoa.
Costuma-se supor que pessoas dotadas de poderes paranormais carecem dos normais.
Evidentemente, isso não é verdade. Dora é inteligente, rápida e incisiva em seu julgamento,
prática e instruída. Todos os que a conhecem comentam sua energia aparentemente
ilimitada. Seus interesses vão desde a medicina e a psicologia até as questões mundiais e a
política nacional, e ela tem facilidade de comunicar-se com uma ampla variedade de
pessoas. Já vi estranhos que se tornaram íntimos dela em poucos minutos. Essa empatia,
sem dúvida, deve-se a sua habilidade de "sintonizar" com as pessoas e entrar em contato
com elas num nível de consciência diferente daquele em que habitualmente funcionam.
Esta deve ser a razão pela qual uma "entrevista" com Dora deixa a pessoa com a sensação
de que aspectos profundos seus foram compreendidos, tanto por ela quanto pelo próprio
indivíduo. Um conhecido meu - psiquiatra bem-sucedido e experiente, que já se submetera
à análise - certa vez consultou Dora, em um momento decisivo de sua vida. "Em toda a
minha vida nunca me senti tão profundamente compreendido por alguém", ele me disse
depois. "Senti como se ela pudesse ver diretamente a minha essência. As nuanças da sua
percepção não têm igual na minha experiência." Homem complexo, cético e crítico, revelou
ele que, embora não acreditasse em clarividência, achava que Dora era realmente
clarividente.
Uma outra qualidade de Dora, ainda mais importante, é a sua integridade inabalável, o
que faz as pessoas confiarem nela e se exporem intimamente. Sua vida tem sido marcada
pela compaixão pelo sofrimento alheio, e ela colocou seus dons de "visão" e
aconselhamento livremente à disposição de todos os que a procuram, sem aceitar
recompensas. Em suma, ela é uma pessoa altruísta.
Para compreendê-la realmente, e, dessa forma, apreender o conteúdo deste livro, é
preciso ter em mente que desde a infância Dora parece considerar suas habilidades como
uma responsabilidade. Naturalmente, estas palavras são minhas, e não dela, porquanto
Dora tem uma atitude prosaica e nada sentimental em relação a seu dom. Contudo,
impressiona o fato de que ela nunca utiliza sua clarividência na busca do que é trivial,
frívolo e sensacional, em benefício da curiosidade e de ganhos pessoais, visando ao poder,
ao controle ou por algum motivo contrário à ética. Insisto nisso porque o trabalho de Dora
impõe tamanha responsabilidade que a questão de sua motivação e integridade é
fundamental.
Indispensável à descrição da personalidade de Dora é mencionar sua independência de
pensamento, determinação e autoconfiança, bem como sua franqueza, impaciência com
detalhes (exceto em seu trabalho) e agudo senso de humor. Provavelmente, seu pai
incentivou e aguçou essas qualidades: na infância de Dora, parece tê-la educado segundo o
método socrático - o melhor campo de provas que conheço para desenvolver uma atitude
firme em relação a ideias.
Por exemplo, Dora não faz proselitismo nem é missionária de suas ideias. De certa
forma, ela se retrai. Sua atitude neutra e despreocupada no que se refere à visão que as
pessoas têm da sua clarividência comumente resulta num silêncio irritante - senão
enlouquecedor - para aqueles genuinamente interessados no tipo de particularidades do
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qual ela é capaz. Tenho visto inúmeros desses encontros com pessoas que são frustrados
pela decisão de Dora (inexplicável para mim) de abster-se. Embora ela se tenha tornado
mais extrovertida nas duas últimas décadas, ainda parece menos à vontade descrevendo o
seu trabalho para leigos do que para enfermeiras, médicos e para outros profissionais de
saúde, isto é, para as pessoas capazes de testar ou de aplicar suas descobertas em seu
trabalho. Essa reticência pode explicar o longo intervalo decorrido entre suas pesquisas e a
publicação deste livro. Sua decisão de publicá-lo, portanto, é ainda mais oportuna. Como
os dados do livro foram reunidos por meio das "entrevistas" de Dora com as pessoas,
talvez seja pertinente dizer que essas sessões terapêuticas são uma de suas maiores
contribuições altruísticas.
Sei, por experiência própria e pelos relatos de outros, que as pessoas saem dessas
entrevistas convencidas de que podem mudar. A expectativa de colocar em prática as
diversas sugestões de Dora, não obstante contrárias ao comportamento passado da
pessoa, enche o indivíduo de otimismo, da sensação de que "Eu posso fazer isto, eu posso
mudar".
A expectativa de renovação pessoal reflete a crença profundamente arraigada de Dora
de que a mudança é a lei da vida, e de que aquilo que fomos ano passado é menos
importante do que o que fazemos de nós hoje. Esse otimismo talvez seja um de seus
maiores dons no trabalho com as pessoas. Durante essas entrevistas, percebe-se, de
maneira convincente, a verdade daquilo que ela diz com seu jeito direto e informal, e a
pessoa se sente mobilizada para agir.
Este livro deixa claro que existe dentro de todas as pessoas discernimento, força e
vontade de mudar em potencial. Dora dedica tempo e energia consideráveis a convencer
outras pessoas de que agarrar-se ao passado é prejudicial e a ajudá-las a encontrar uma
forma de abandoná-lo. Essa atitude é coerente com as grandes tradições espirituais, as
quais ensinam que viver o presente é a chave para a vida espiritual e até mesmo -
especialmente exaltado no Budismo - para uma vida equilibrada e plenamente desperta.
Finalmente, o leitor é desafiado a verificar a realidade desses campos de energia na
prática. A teoria do campo tem aplicação direta em nossa vida pessoal e social. O simples
esforço de colocá-la à prova na vida diária torna o indivíduo mais sensível às realidades
sutis, convencendo-o de que realmente somos profundamente afetados pelas emoções e
estados de ânimo das outras pessoas. Essa compreensão pode trazer maior clareza e
"introvisão" para a nossa vida emotiva.
Estamos adentrando o século XXI e vivendo com dois modelos distintos do homem e da
natureza, ambos relevantes para este livro. Um deles é o modelo materialista e
reducionista, que procura fazer uma analogia entre nós e a natureza e uma máquina.
Segundo essa visão, os seres humanos assemelham-se a supercomputadores sofisticados
interagindo com outros supercomputadores. Esse conceito continua a dominar -
particularmente na filosofia, mas também na psicologia. Paralelamente a essa concepção -
e ganhando crescente adesão -, está o modelo holístico e unificador. Esta é uma revolução
filosófica, uma mudança de paradigma que forja um novo quadro de nós mesmos e do
nosso universo no que se refere à matéria, energia, vida, consciência e ao espírito humano.
Essa visão defende a interligação de todos os seres e postula a existência de forças
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poderosas e ainda desconhecidas na natureza e na humanidade, às quais precisamos
aprender a recorrer a fim de modificar nossa vida. Os inúmeros elementos do modelo
holístico são unificados por uma suposição comum, que lhes fornece uma estrutura
filosófica coerente e plausível.
Segundo a visão holística, o universo é uma esfera viva, dinâmica e ordenada,
permeada pela consciência. Essa concepção postula os estados sutis da matéria já citados,
que pertencem mais propriamente ao domínio da psicologia e da consciência. Estas áreas
lidam com estados internos, existentes em dimensões inacessíveis à mente ordinária. Esses
estados - análogos ao espaço multidimensional dos matemáticos e dos cosmólogos - com-
partilham uma característica comum: todos afirmam que certos aspectos da realidade não
podem ser compreendidos segundo nossas velhas suposições e estruturas clássicas.
Como as dimensões mais sutis da consciência são inacessíveis aos sentidos, elas não
podem ser comprovadas por meios físicos. Contudo, a realidade do espaço multi
dimensional é um postulado subjacente à maioria dos conceitos aqui apresentados,
incluindo-se a meditação, a cura e o efeito muito real de nossos pensamentos e
sentimentos sobre as outras pessoas. Mesmo uma avaliação conservadora terá de concluir
que essa nova visão da realidade se estende de um princípio de trabalho produtivo até uma
nota promissória para o futuro. Na verdade, este é um paradigma já em curso, que
encoraja a pesquisa séria. (Um exemplo disso é a situação do toque terapêutico, produto
dessa visão de mundo e amplamente utilizado na enfermagem.)
A característica mais singular dessa hipótese é o poder que ela atribui às intenções
humanas. Nada de tão diáfano ("escorregadio!", proclamariam seus críticos) existe na
ciência contemporânea, exceto as ambiguidades e paradoxos desconcertantes da mecânica
do quantum. Entretanto, se a nova Física coloca o observador humano no centro da
situação experimental, tal subjetividade ganha respeitabilidade e, certamente, pode ser
tolerada na "nova psicologia". E, se o observador pode afetar o observado, por extensão a
consciência humana pode afetar a matéria.
Estamos vivendo em meio a uma revolução científica cujo significado filosófico e
espiritual ainda não está evidente. O que está claro é o desenvolvimento de mudanças
radicais em nossas vidas. Até mesmo nesse estágio inicial, duas inferências parecem certas:
1) a ciência do século XX e os contornos pouco perceptíveis da sua evolução futura (em
Bohm e Penrose, por exemplo) são bem mais compatíveis com estas ideias do que a ciência
de séculos anteriores; e 2) assim como a gravidade, o eletromagnetismo e as forças
nucleares fortes e fracas são os alicerces da Física, a intenção humana e o poder da mente
são os tijolos do trabalho aqui apresentado. A suposição de que nossos pensamentos e
sentimentos afetam outras pessoas é a hipótese fundamental do livro de Dora.
Esse tipo de suposição não encontra lugar dentro da visão de mundo cartesiana e
mecanicista, na qual fomos criados e que raramente questionamos. A visão holística
fornece o importantíssimo elemento que falta - o fator humano. Aplicadas, por exemplo, à
cura, a solicitude, a empatia e a compaixão são subjetivas, porquanto se originar do
profissional, mas são objetivas de duas maneiras: 1) trazem consequências para as pessoas
envolvidas no processo (o curador e o paciente); e 2) sua energia está além do profissional -
ela se origina dos processos ordenados de um universo infinito.
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As ideias gerais por mim apresentadas sugerem uma dimensão espiritual (embora não
necessariamente religiosa) da realidade. Somos tentados a conjeturar se os campos
percebidos por Dora não constituiriam a ponte impalpável e há muito procurada entre a
Física e a consciência, presente nas especulações de pensadores como Planck, Wheeler,
Wigner, Wald, Bohm, Penrose, Bell e outros que buscam compreender o significado
filosófico e humano de seu próprio trabalho.
Se utilizarmos as conotações de "cura" e "curador" no seu contexto mais amplo (e não
no sentido médico restrito), todos somos curadores em potencial. Este livro mostra que só
é possível enviar energias de paz para outras pessoas se nós mesmos já estivermos em paz.
Crescemos espiritualmente mesmo quando tentamos ajudar outras pessoas. Depreende-se
daí que uma atitude negativa interfere na nossa capacidade de irradiar energias
harmoniosas. Emoções como ansiedade, medo, inveja, ciúme, ressentimento, raiva, ódio,
autocomiseração, além da "síndrome de vítima”: a que Dora se refere - em resumo, uma
visão derrotista de nós mesmos, das outras pessoas e do universo - impedem a interação
positiva de nossas habilidades com as pessoas que nos cercam. Infelizmente, o negativismo
é generalizado na nossa cultura contemporânea fragmentada. O negativismo faz com que
nos sintamos impotentes para influenciar os acontecimentos em maior ou menor escala. O
livro de Dora se contrapõe a essa impotência, pois sua opinião é a de que as coisas não
precisam ser, necessariamente, desse jeito.
Ela mostra o caminho para nos tornarmos centros de atenção, empatia, compaixão e
harmonia, mesmo em meio ao caos e ao sofrimento de nossos tempos. Dora incentiva-nos
a confiar em nossa capacidade de efetuar uma mudança positiva, que nos beneficie e
àqueles que estão a nossa volta. Usar a meditação e projetar a compaixão para o bem de
outras pessoas não constitui narcisismo nem escapismo, críticas que são às vezes lançadas
contra as práticas espirituais. O famoso repúdio de Marx à religião como "ópio do povo"
não se ajusta ao modelo do curador, isto é, aquele que usa energias com a intenção de
ajudar a minorar a dor e o sofrimento do mundo. O esforço para aumentar a autonomia e
autoconfiança das outras pessoas não se restringe ao modelo médico da cura, mas
constitui tarefa construtiva que todos podemos realizar.
Podemos ser uma força contrária à indiferença, ao isolamento e ao desamparo de
outras pessoas, situação demasiado comum tanto nas sociedades industrializadas quanto
nas subdesenvolvidas. A meu ver, irradiar o poder da compaixão num mundo dilacerado
pelo conflito e por ódios antigos constitui um ideal inatacável. Assim, nunca é demais
insistir nas implicações éticas deste livro extraordinário.

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1. A Criação do Livro

A série de imagens da aura, característica central deste livro, tomou forma de maneira
espontânea e não premeditada, resultado de circunstâncias e não de qualquer intenção
ou plano da minha parte.
Há algum tempo, eu trabalhava com minha amiga, a dra. Otelia Bengtsson, médica
particular na cidade de Nova York, especialista em alergia e imunologia. Como problemas
dessa espécie comumente possuem aspectos psicossomáticos, acreditava ela que minha
clarividência poderia ajudar em alguns dos casos difíceis de diagnosticar ou resistentes ao
tratamento. Ela é uma das médicas mais altruístas e corajosas que já conheci, e não tinha
escrúpulos em me enviar os pacientes, conquanto naquela época (começo da década de
30) tal comportamento não-ortodoxo era muito mais raro entre os médicos do que nos
dias atuais.
Via de regra, eu nada sabia a respeito dos casos, embora, evidentemente, tivesse
conhecimento da especialidade da dra. Bengtsson e sempre atendesse os pacientes na
sua presença. Eu lhe dizia quais eram, a meu ver, os problemas físicos, mas também
explicava o papel que as emoções dos pacientes representavam no processo da
enfermidade, indicando como eles poderiam auto-ajudar-se.
Já na adolescência, pediam-me para ajudar pessoas que estavam sofrendo ou se
encontravam perturbadas, e desta forma aprendi a observar padrões emocionais e a
interpretar o que via. Contudo, meu trabalho com a dra. Bengtsson ensinou-me a ser uma
observadora cuidadosa, e deu-me a oportunidade de estudar profundamente as relações
entre os padrões emocionais e a doença física - atividade que continuei a praticar com o
correr dos anos. Sua confiança em mim foi tremendamente útil, porquanto, sem a sua
cooperação, eu não teria a oportunidade de estudar a longo prazo o processo da
enfermidade e seus correlatos psicológicos. Desde a época da criação das imagens deste
livro, já atendi a centenas, talvez mesmo a milhares de pessoas que me procuram em
busca de ajuda, e para mim esses contatos são uma contínua experiência de aprendizado.
As pinturas surgiram porque, muitos anos atrás, iniciei amizade com uma talentosa
artista, Juanita Donahoo, que se interessou muito por minhas descrições de auras e quis
tentar ilustrá-las. Ela começou experimentando o vaporizador de tinta, e concluiu que esse
método poderia ser usado na tentativa de transmitir alguma ideia dos matizes enevoados,
misturados e em constante mudança da aura. Juanita estava interessada e ansiosa, além de
muito disposta a experimentar diversos métodos a fim de adaptar seu meio de expressão
ao que eu via.
Devo dizer que o processo foi bastante tedioso. Juanita possuía uma elaborada tabela
de cores e, à medida que eu descrevia a pessoa sentada à nossa frente, ela fazia um esboço
da aura, acrescentando traços especiais, demarcando as áreas de cor e aproximando-as ao
máximo do que eu dizia ver. Sinto dizer que nem sempre era fácil satisfazer-me, pois as
cores do pigmento, por mais sutis que fossem, são infinitamente mais grosseiras e
sombrias do que as cores do mundo astral. Ela mostrou-se a personificação da paciência.
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Ainda assim, tenho de dizer que esses quadros são apenas uma leve aproximação da
realidade, conquanto dificilmente se poderia suplantar os esforços de Juanita, muito
sensível e receptiva às impressões que eu tentava transmitir.
Essas pinturas da aura representam uma série de retratos de pessoas com quem
mantive algum contato, ou que me foram trazidas por outras, e mostram-nas como eram
naquele momento (ou como eu percebia que eram). Eu gostaria de enfatizar este fato. São
retratos de pessoas - algumas famosas, outras desconhecidas; algumas mais velhas, outras
mais jovens -, naturalmente não de seus rostos nem de seus físicos, mas de sua
personalidade e caráter naquele momento de suas vidas. É um registro de seus interesses,
trabalho, sentimentos, aspirações, talentos e potenciais, bem como de seus problemas,
dificuldades e hábitos emocionais.
Cada pessoa já chegava pronta a posar para nós durante duas ou três horas, e algumas
achavam o processo bastante tedioso. Lembro-me, especialmente, de um músico
conhecido que, antes mesmo de chegarmos à metade da sessão, já estava muito inquieto.
Felizmente, sua filha havia levado uma partitura musical e, depois que a entregou ao pai,
este se absorveu de tal maneira que deixou de aperceber-se da passagem do tempo.
Outros sujeitos ficavam curiosos com o desenho de suas auras e queriam saber o
significado da diferença de cores. Um homem reagiu caracteristicamente a essa
informação. Quando lhe informei que a pena laranja em sua aura significava orgulho e
autoconfiança, ele disse: "Não gosto disso e estou decidido a mudá-lo." Quanto às crianças.
elas corriam e brincavam, ou até mesmo tiravam pequenos cochilos. Essas atividades não
nos incomodavam nem um pouco, pois eram um comportamento normal e mostravam que
elas estavam relaxadas.
Assim, as pinturas são retratos de pessoas e não generalizações ou imagens compostas,
como aquelas que ilustram outros livros sobre a aura, por exemplo O Homem Visível e
Invisível, de C. W. Leadbeater. Trata-se, aqui, de pessoas reais, com grandes diferenças de
personalidade. Falarei a respeito da natureza da aura em capítulos subsequentes, mas
quero enfatizar desde logo que esses retratos se assemelham a um fotograma da cena de
um filme - um simples vislumbre em meio ao processo contínuo da vida. Todos mudamos
de humor, e isso está refletido na aura, sobrepondo-se aos traços mais permanentes.
Portanto, os retratos de aura captam a essência dessas pessoas em termos de seus
sentimentos naquele momento.

Sujeitos do estudo

Gostaria de enfatizar uma outra coisa. Essas imagens não representam um perfil da
sociedade - talvez nem mesmo um grupo razoavelmente típico de indivíduos, embora
tenhamos pessoas de várias idades. Existe um equilíbrio entre homens e mulheres, mas por
puro acaso e não propositalmente. Não temos assassinos, criminosos nem psicóticos. A
maior parte dessas pessoas pertence à classe média; nenhuma pode ser considerada
exemplo de ganância, luxúria, raiva, crueldade, violência ou outro comportamento
compulsivo. Alguns são indivíduos bastante comuns, mas outros são extraordinariamente

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talentosos, e uma proporção considerável possui interesses filosóficos, humanitários e
espirituais. Assim, falta-nos o contraste que teria sido propiciado pela inclusão de algumas
personalidades anti-sociais.
A razão dessa não-diversidade está em jamais termos pensado nesta iniciativa como
uma pesquisa psicológica e clínica. Fizemos pura e simplesmente um estudo da aura. Na
ocasião, um sem-número de pessoas havia demonstrado interesse por minhas observações
clarividentes, que se afiguravam mais detalhadas do que outras existentes. As pessoas
queriam ver como era a aparência de uma aura, e como se manifestavam as diferenças de
personalidade. Assim, começamos e terminamos com as pessoas imediatamente acessíveis
e dispostas a posar para nós. Não tentamos obter uma mistura de pessoas com diferentes
formações étnicas, culturais, religiosas ou educacionais.
Se fosse realizar um projeto como este hoje, eu o faria muito diferente. Esses estudos
foram realizados há cerca de 55 anos, quando eu ainda era muito jovem e, embora minha
clarividência não se tenha modificado, desde então aprendi muito mais sobre as interações
humanas. Neste livro, as imagens e descrições da aura são o produto de minhas primeiras
observações, mas tentei dar-lhes substância adicional nos outros capítulos, mais
representativos daquilo que tenho aprendido nos anos intermediários.
Alguns leitores poderão conjeturar também por que esperamos tanto tempo para
publicar essa pesquisa. Um dos motivos está contido no que acabei de dizer: eu não me
sentia pronta para realizar um estudo geral da aura pessoal baseando-me nesses poucos
exemplos. O segundo motivo, mais importante, está no clima intelectual daqueles dias, que
não teria facilitado nenhuma consideração séria acerca dos conceitos fundamentais ao
tema.
Apenas nas últimas décadas, os avanços na ciência, na medicina e na psicologia
ocasionaram uma mudança de percepção do papel da consciência na vida humana. Hoje, é
muito maior a aceitação do relacionamento mente-corpo e das origens psicossomáticas da
doença, bem como o reconhecimento da importância das atitudes nas interações
humanas. Como resultado, existe, atualmente, um contexto dentro do qual aquilo que
tenho a dizer não parece tão estranho.
Recentemente, trabalhando nas pinturas, começamos a perceber que elas recaem em
determinados padrões ou grupos, e que estes revelam características que pouca relação
têm com a fama ou a obscuridade da pessoa analisada. A maioria das pessoas possui certas
características emocionais básicas em comum: amor e compreensão, capacidade
intelectual - habilidade de aprender, de expressar-se e de realizar algum trabalho
significativo. Espero que os leitores achem interessante investigar essas aptidões humanas
segundo os tipos bastante diversos de pessoas representadas nas imagens, e talvez se
reconheçam aí, em algum nível.
Finalmente, talvez interesse ao leitor saber algo do meu passado, o que me possibilita
perceber a aura ou (como gosto de chamá-la) o campo emocional de uma pessoa.

História pessoal

33
Nasci numa família holandesa que morava numa grande colônia em Java, onde meu pai
era administrador de uma fábrica de açúcar. Tanto minha mãe como minha avó tinham
dons mediúnicos, que de forma alguma poderiam ser considerados herdados. Se existem
fatores genéticos herdados, provavelmente se relacionam com uma sensibilidade inata,
bem como com a habilidade de reagir intuitivamente a situações e eventos imprevisíveis.
Nasci completamente envolvida pelo âmnio (a membrana fetal) - o que significa,
presumivelmente, intuição -, e disseram-me que rompi a membrana com o punho,
libertando-me assim.
Minha mãe acreditava totalmente em meditação, e sempre reservou um quarto para
isso, que jamais foi utilizado para qualquer outro fim. Iniciou-me na prática quando eu
estava com cinco anos de idade. A princípio, ela me sugeriu temas muito simples, mas
depois passou a pedir-me para meditar sobre questões abstratas; ela e meu pai esperavam
que eu lhes fizesse um relato das ideias que me haviam ocorrido em consequência.
Quanto à minha clarividência, creio que comecei a tomar consciência dela e a
desenvolvê-la por volta dos seis ou sete anos. Nessa época, C. W. Leadbeater (famoso
clarividente e escritor de teosofia) veio visitar-nos, interessando-se muito por mim e por
minhas visões. Posteriormente, quando eu chegava aos doze, fomos morar na Austrália e
passei a manter contato diário com ele durante vários anos. Não posso afirmar ter ele me
exercitado na utilização da clarividência, mas Leadbeater atribuiu-me tarefas específicas -
algumas delas muito difíceis para uma adolescente tímida - e, na tentativa de realizar essas
tarefas, aprendi a ter mais confiança em mim.
Contudo, talvez o treinamento inicial que me foi mais útil tenha sido a insistência do
meu pai em que eu pensasse por mim mesma e aprendesse a sustentar minhas ideias a
despeito de toda oposição. Meu pai adorava debates e me fazia defender as posições que
eu tomava, para que eu aprendesse que não podia ter nada como certo.
Assim, desde tenra idade aprendi a não esperar que as pessoas, necessariamente,
concordassem comigo. Isto me foi muito útil no meu trabalho com a medicina, pois, se
acaso estabeleço associações com médicos céticos em relação à minha clarividência, essa
atitude não me parece desarrazoada e nunca interfere na minha disposição de colaborar
com eles. Em outras palavras, não me aborreço com a possibilidade de as pessoas
considerarem a clarividência uma tolice, porquanto acredito que cada pessoa tem o direito
de aceitar as afirmações de outrem apenas se essas afirmações fazem sentido para ela.
Ofereço as descrições e discussões subsequentes acerca do campo emocional tomando
por base esse ponto de vista. Para mim, os padrões emocionais resultam de inúmeros
fatores e experiências de vida diferentes - algumas boas, outras dolorosas; algumas
negativas, outras construtivas. Se não temos consciência desses padrões, eles podem
inibir-nos de muitas maneiras, levando-nos, até mesmo, ao início de uma enfermidade.
Todavia, as emoções são não apenas transitórias, mas também plenas de energia; por
conseguinte, podem se modificar e, efetivamente, o fazem. E mais: a direção que toma
essa mudança está sujeita à nossa própria intenção, quando esta se toma clara para nós.
Minha esperança, ao escrever este livro, é que ele possa ajudar os leitores a perceber
mais claramente seus próprios padrões emocionais, e dessa forma compreender as
possibilidades de mudança e crescimento existentes dentro de todos nós.
34
I – Estrutura e Dinâmica dos Campos de Energia Humanos
2. Dimensões da Consciência

Até mesmo a vida da pessoa mais comum, que pode parecer monótona, é, na
realidade, cheia de experiências em muitos níveis. Enquanto nos concentramos no ofício
diário que é viver, estamos ao mesmo tempo envolvidos em uma série complexa de
interações entre processos físicos, sentimentos e pensamentos. Embora não prestemos
muita atenção a essas interações, elas influenciam constantemente nosso comportamento,
bem como a nossa sensação de bem-estar.
Neste livro, tentarei compartilhar com vocês um pouco da minha percepção e
avaliação das dimensões ocultas da consciência em nosso íntimo e, dessa forma, torná-los
mais conscientes desses aspectos em suas vidas e de sua capacidade de efetuar mudanças
conscientes em si mesmos.
Enfocarei, basicamente, nossos sentimentos, pois a aura - a nuvem colorida e
luminosa que circunda cada um de nós - é o campo emocional pessoal. Contudo, nossos
sentimentos são parte de uma totalidade maior, que chamamos de ser humano; por
conseguinte, são inseparáveis de tudo o mais que acontece dentro de nós. As interações
entre a mente, as emoções e as energias físicas são tão rápidas e constantes que chegam a
toldar essas diferenciações; assim, em geral, só as percebemos quando se rompem.
Portanto, para compreender a natureza das emoções e o papel que representam, temos
de considerá-las segundo a perspectiva da pessoa total - e isso inclui não apenas o corpo,
a mente e os sentimentos, mas também dimensões ainda mais elevadas da consciência.

Dimensões superiores da consciência

As literaturas hindu, teosófica e outras identificaram a natureza desses estados


superiores, dando-lhes diversos nomes. Embora eu sempre aconselhe as pessoas a
estudarem essas literaturas por si sós e fazerem seus próprios julgamentos, para objetivos
vigentes oferecerei simplesmente minhas descrições e utilizarei meus próprios termos, e
espero fazê-lo o mais simples e claramente possível.
Por inúmeras razões, prefiro pensar nos diferentes estados de consciência não como
"planos", como têm sido chamados em antigas descrições, mas como dimensões ou
campos. Estas duas palavras sugerem a possibilidade de movimento dentro de um espaço
aberto e dinâmico, e também de uma expansão quase infinita para esferas superiores da
consciência. Ambas implicam a existência de uma totalidade maior, da qual as variadas
dimensões ou campos constituem aspectos e em cujo âmago elas interagem
constantemente. Quando falo sobre campos de energia humanos, sempre procuro
enfatizar que tudo - incluindo nós mesmos - existe em termos dessa totalidade maior, que
é o próprio universo. Todas as dimensões da consciência estão presentes em toda parte,
35
em tudo, ainda que apenas em estado rudimentar.

Consciência

A consciência assume muitas formas, e seus limites vão bem além daquilo que
comumente consideramos como mente consciente. Os vários estados estendem-se da
percepção do corpo primitivo, em um extremo, até as esferas mais elevadas de "introvisão"
espiritual, no outro. Assim, eles formam um sistema hierárquico, no qual as energias
associadas aos diversos estados de consciência tornam-se cada vez mais refinadas, à
proporção que adentram as dimensões superiores. Mas isso não significa que qualquer um
desses estados seja insignificante ou menos importante do que os demais. Se tentarmos
ver todas as dimensões em termos da totalidade de que são parte, perceberemos que cada
uma tem um papel único a representar dentro do espectro global da consciência.
Lama Govinda explicou isso muito bem: "A consciência de uma dimensão superior
consiste de uma percepção coordenada e simultânea dos diversos sistemas de
relacionamento ou direções de movimento em uma unidade maior e mais abrangente, sem
destruir as características individuais das dimensões inferiores integradas. A realidade de
uma dimensão inferior, portanto, não é aniquilada por uma superior, mas apenas... situada
em outra perspectiva de valores."(1) '
Da mesma maneira, quando falo de "dimensões superiores" ou de "níveis superiores"
não estou tentando fazer juízos de valor, mas tão-somente pretendo descrever os
"sistemas de relacionamento" mencionados pelo Lama. Na verdade, juízos de valor são
inadequados quando tentamos compreender a natureza das diferentes dimensões da
consciência. Mais vale estudar suas funções e características, tomando consciência de suas
contribuições especiais - bem como de suas limitações - segundo aquela realidade bem
maior que constitui a totalidade da natureza humana.
Vistos assim, os estados de consciência são condições reais que diferem entre si, mas
não estão separadas - seja entre si ou do próprio corpo. Os campos sutis coexistem dentro
do mesmo espaço e influenciam um ao outro. Sua diferença reside no fato de que cada
qual possui seu tipo único de energia e velocidade vibratória. Isso torna possível aos vários
campos exercer seus efeitos especiais e, ao mesmo tempo, interpenetrar e interagir com os
demais campos sem interferência.
É difícil encontrar uma analogia exata para esse fenômeno em termos da experiência
ordinária. Talvez o efeito global seja alcançado mais ou menos como o som único de um
acorde musical é criado pela combinação de diferentes sons, cada um deles discernível por
um ouvido treinado. A experiência de ouvir música é a melhor analogia que me ocorre,
porquanto as diferenças entre os campos sutis são essencialmente de natureza harmônica.
Cada dimensão da consciência tem sua amplitude de frequências e representa um papel
específico na orquestração total de um ser humano.

Energias radiantes
36
Como não sou cientista, posso apenas sugerir como seria possível perceber os campos
sutis. Sabemos que o som e a luz são formas de energia radiante cujos comprimentos de
onda são diferentes, e que muitos fenômenos além da percepção de nossos sentidos, tais
como a luz ultravioleta, tornam-se acessíveis apenas quando dispomos de instrumentos
para detectá-los. Para mim, as dimensões superiores constituem formas de energia
radiante relacionadas com a luz. Assim como a luz do sol pode ser fragmentada no
espectro que vemos como o arco-íris, da mesma maneira essas energias superiores se
revelam através de suas cores características. São essas cores que percebo. Portanto, a
clarividência pode ser um instrumento que permite a comprimentos de onda e frequências
de outro modo invisíveis adentrar a esfera da percepção.
Quando surgem questionamentos a respeito da clarividência, um dos maiores
obstáculos para a maioria das pessoas reside no fato de que a habilidade de ver
dimensões mais sutis parece limitar-se a um número reduzido de pessoas. Conquanto não
conheça a razão desse fato, quero ressaltar que até recentemente era impossível
visualizar um vírus, distinguir ondas ultra-sônicas ou examinar material genético. Todas
essas coisas existiam antes de serem criados instrumentos que possibilitassem sua
observação, e pode ser que futuramente o mecanismo da clarividência seja investigado e
compreendido. No momento, posso dizer apenas que minha clarividência acontece por
uma mudança de foco visual. Está sob meu controle e só a utilizo quando quero. Uso a
palavra "visual" para descrever o processo porque é uma espécie de visão, mas os olhos
reais não estão envolvidos. É antes uma convergência de atenção. Uso a clarividência
primordialmente no meu trabalho, e minha visão ordinária é exatamente igual à das
outras pessoas.
Para mim, vitalidade, sentimento e pensamento são formas de energia. Embora a
maioria dos cientistas não as considere dessa forma, inúmeros pesquisadores que
consultei afirmam ser legítimo o uso da palavra "energia" em relação a emoções, pois
energia significa "a capacidade de agir ou produzir um efeito". Aceitamos campos físicos
como a gravitação como sendo "reais", porquanto experimentamos seus efeitos
diretamente, embora nunca os tenhamos visto. No momento, devido a nossa falta de
maiores informações, a natureza dos campos sutis pode ser apenas aceita, a partir das
formas como nos afetam. Sempre procuro ressaltar que sentimentos não são apenas
estados psicológicos subjetivos; eles trazem consequências físicas reais e influenciam
nossa saúde de muitas maneiras. Falo por experiência própria, pois tenho feito
observações e trabalhos nessa área ao longo de toda a minha vida.

O espectro da consciência

Considerados como energias, os sentimentos e os pensamentos interagem de maneira


análoga ao relacionamento entre o som e a luz. Em uma extremidade do espectro da
consciência está o campo mais intimamente ligado ao corpo físico. É conhecido como o
etérico, e sua forma característica de energia é chamada de prana no pensamento hindu -
37
isto é, energia vital ou vitalidade. Todas as coisas vivas são nutridas e sustentadas por essa
energia. Para o diagnóstico de enfermidade, a cor e radiância do fluxo prânico de um
indivíduo são indicadores importantes, a meu ver, do estado de saúde. As emoções
exercem impacto tão poderoso sobre nossa saúde porque o campo etérico está
intimamente relacionado com o emocional; existe constante interação entre esses dois
tipos de energia.
Aliás, esse é o campo mais difícil de estudar clarividentemente, por ser o mais
complexo. O etérico é realmente o protótipo do corpo físico, uma réplica das
complexidades de nossos processos corporais. Portanto, quando se busca traços de
enfermidade, deve-se observar as variações de cor, textura, grau, tipo de movimento e
muitos outros fatores dentro do etérico. Na prática de técnicas de cura, tais como o Toque
Terapêutico, nosso trabalho consiste, fundamentalmente, em descobrir e remover
impedimentos no fluxo de energia etérica, ao mesmo tempo pensando sempre na pessoa
como um todo. Não cabe aqui uma discussão sobre o etérico e suas funções, mas os
leitores interessados em uma descrição mais ampla poderão apreciar um livro que escrevi
com o dr. Shafica Karagulla, chamado The Chakras and the Human Energy Fields. (2)
O próximo campo em ordem de sutileza material e velocidade de movimento é o astral
ou emocional, cuja forma de energia característica é o sentimento, seguido pelo mental,
cuja energia é o pensamento ou a reflexão. Mais além encontra-se o campo intuitivo e os
níveis ainda mais sutis. Essas dimensões são sempre de textura mais sutil, de movimento
mais leve e veloz, e suas velocidades vibratórias são mais elevadas. São mais poderosas,
porquanto são capazes de transformar energias grosseiras em mais sutis. São mais
receptivas a influências espirituais e, também, mais resistentes, pois são menos afetadas
pelas perturbações e tensões da vida física.
Como já disse, tendemos a considerar coisas "superiores" como sendo "melhores", mas
não precisa ser assim, necessariamente, na relação entre mente e sentimento. No nível da
atividade diária, essas duas faculdades costumam trabalhar juntas. Tão logo sentimos algo,
racionalizamos esse sentimento e o situamos no contexto de nossa experiência, de modo
que nossas emoções e pensamentos estão em constante interação.

A mente

A mente pode influenciar de forma profunda as emoções, pois é esse nosso lado que
pode distanciar-se dos sentimentos e observar seus efeitos: "Estou feliz; estou furioso."
Desse modo, a mente pode conferir maior objetividade às emoções, indicando em que
direção nos estão conduzindo e, assim fazendo, produzir ordem e coerência em nossas
vidas. Mas a mente também pode deformar-se e exercer um efeito egotista, negativo e
prejudicial sobre nossa vida emocional. Ela pode justificar nossos preconceitos e deturpar
a verdade, tornando-se dessa forma, nas palavras de H. P. Blavatsky, "a assassina do real".
Todavia, a influência da mente é fundamental à integração e ao equilíbrio pessoais, e
serve também como orientação. É a mente que estabelece objetivos, planeja estratégias,
formula problemas e os soluciona passo a passo.
A razão oferece orientação, dá forma e coerência aos nossos pensamentos
38
desgarrados, possibilita a autocrítica. Todas essas são utilizações positivas da mente na vida
diária.
Existe também um nível da mente envolvido com o pensamento abstrato, como, por
exemplo, com a matemática, a filosofia ou a ciência, e este não afeta as emoções
diretamente, na mesma medida. Contudo, matemáticos e cientistas não escolheriam suas
profissões se estas não suscitassem seu interesse, o que é necessário para envolver-se em
impulsos emocionais, concentrar atenção e acender o entusiasmo por um
empreendimento abstrato. Algumas pessoas têm verdadeira paixão pelas ideias e podem
absorver-se totalmente nas mesmas; este interesse está longe de ser apenas, e
simplesmente, acadêmico. Neste caso, as energias emocionais e mentais estão trabalhando
plenamente juntas, um dos sinais de integração pessoal.
Entretanto, via de regra existe uma lacuna, uma falta de sincronismo entre a razão que
procura entender uma situação e os sentimentos que nos fazem agir. Em geral, as pessoas
não levam em consideração a informação assim oferecida, mas agem diretamente segundo
os ditames de seus sentimentos do momento. Então nossos impulsos emocionais podem
levar-nos a ter um comportamento discordante da nossa intenção, ou mesmo da nossa
experiência. Neste caso, digamos que a pessoa é impulsiva - talvez chegando, até mesmo, a
ponto de descontrolar-se. Tais cisões na psique são visíveis na aura pessoal de um
indivíduo. O campo mental pode estar receptivo à intuição, além de mostrar-se claro e bem
centrado, mas a pessoa talvez não esteja muito equilibrada no nível emocional. Quando
isso acontece, pode haver uma fertilidade de ideias sem a necessária capacidade de segui-
las até o fim e colocá-las em prática.
Existem muitas disfunções como essa entre os campos. Contudo, exceto nas pessoas
gravemente enfermas ou inválidas, os campos emocional e mental sempre trabalham
juntos, pois o pensamento normalmente é acompanhado por algum grau de sentimento.
Pode haver interesse ou tédio, prazer, desprazer ou indiferença, mas, ainda que reprimido,
existe sempre um componente emocional em nossos pensamentos.

A intuição

Nossos sentimentos pela natureza, pela beleza ou pela paz mundial também são
emoções, embora de tipo diferente. Vão além do puramente pessoal e relacionam-se
àquele nosso aspecto que chamamos de intuição. Esse é um nível de consciência que está
adiante da mente, ou se encontra bem no fundo de nós mesmos, e nos proporciona
introvisões que vão além de nosso conhecimento. Muitas pessoas tiveram uma experiência
repentina de unidade com a natureza - ou com o componente espiritual do mundo - tão
intensa que por um momento ela dissolveu todas as barreiras que nos separam uns dos
outros. Essa experiência de unidade transcende tanto a mente como a emoção, inundando-
as de energias superiores, tão poderosas que o resultado pode ser uma perspectiva
inteiramente nova da vida.
Em outra situação, a "introvisão" - a capacidade de ver a totalidade de um
relacionamento ou a verdade de uma ideia - é também um aspecto do campo intuitivo, por
39
ser ao mesmo tempo mais repentino e direto do que nosso pensamento usual de causa-e-
efeito. É isso que nos permite enxergar novas verdades em velhas situações, encontrar
soluções criativas para problemas intratáveis e dar saltos bruscos e importantes de
compreensão.

A experiência do tempo

Existe um outro ponto a observar nos campos sutis, o qual parece indicar serem eles
realmente dimensões do espaço. A experiência do tempo é diferente nessas dimensões
superiores. Não entendo como ou por que deve ser assim, exceto por nossa compreensão
de que o tempo tem uma correspondência com o movimento. Como a dinâmica dos
campos mais sutis é diferente daquela do mundo físico, valores de tempo nesses níveis são
muito mais flexíveis. O passado e o presente como os conhecemos perdem muito de sua
separatividade e tornam-se parte de um continuum de tempo. Ambos são representados,
até certo ponto, no aqui e agora dos campos emocional e mental. Por esse motivo é
possível descobrir traços do passado distante na aura de uma pessoa e predizer tendências
que podem vir a desenvolver-se no futuro. A forma como este fator tempo torna-se parte
da psique humana individual será abordada na descrição de auras de bebês e crianças.
Ainda que não tenhamos consciência dos diferentes estados de consciência e energia
dentro de nós, fazemos uso deles com a mesma facilidade com que respiramos, pois são
parte do mundo natural. Contudo, o que torna possível recorrer a todas essas energias sem
ter consciência delas? Qual é o princípio de integração que coordena e unifica todas as
dimensões físicas, vitais, emocionais e mentais dentro de nós?

O ser intemporal

Creio que esse fator de integração é aquilo que chamamos de "ser intemporal" -
princípio de ser que promove a continuidade durante a vida e persiste após a morte. Esse
conceito está presente, sobretudo, no Hinduísmo (relacionado com a reencarnação),
embora seja semelhante à alma descrita no Cristianismo. Qualquer que seja sua definição,
na minha opinião esse ser é um reflexo do aspecto último do ser, cujas raízes mergulham
em uma realidade espiritual intemporal que transcende e abrange todas as dimensões da
consciência.
Como mostram as imagens da aura, especialmente as de crianças, todos nascem com
um elo com essa realidade espiritual, seja ou não esse elo conscientemente percebido ao
longo da vida. O ser (que não deve ser confundido com o ego ou egotismo) é o fio que não
apenas nos interliga com a realidade, mas também confere a forma, significado e valor
definitivos a nossa experiência. É o poder do ser intemporal dentro de nós que torna
possível aos homens superarem os maiores obstáculos. Até mesmo pessoas gravemente
incapacitadas podem recorrer a essa força interior. Assim fazendo, elas podem desenvolver
sua própria criatividade e percebem ser possível dar uma contribuição - talvez não
40
fisicamente, mas no nível das relações humanas.
Tenho uma amiga muito querida cujo caso ilustra muito bem essa questão. Quando
criança, ela contraiu poliomielite e tornou-se inválida como sequela. Ela está presa a uma
cadeira de rodas, perdeu o uso do braço esquerdo e é neurologicamente debilitada sob
diversos aspectos. Não obstante tudo isso, ela nunca perdeu a confiança de que poderia
atuar no mundo.
Embora sua saúde sempre tenha sido precária, sua coragem e potencial criativo
permitiram-lhe superar muitos dos obstáculos a uma vida plena. Ela conseguiu estudar
pintura e desenvolver seus dons artísticos, a ponto de ganhar a vida assim, ao menos
parcialmente. A despeito das dores constantes, ela nunca se queixa e está sempre
interessada nas vidas de outras pessoas. Como consequência, tem dezenas de amigos. A
percepção de sua capacidade de dar uma contribuição às outras pessoas, não obstante
todas as dificuldades, tem sustentado seu espírito ao longo da existência.
Esta história ilustra um ponto que deverei enfatizar de diferentes maneiras ao longo
deste livro. Com determinação e a autoconfiança que esta inspira, podemos congregar o
potencial praticamente ilimitado das energias superiores que habitam em nosso interior,
conferindo-nos a habilidade de atingir objetivos que poderiam afigurar-se muito além da
nossa capacidade.

Os efeitos do karma

Por último, existe a questão da idiossincrasia pessoal. Todos nascemos com um padrão
emocional básico, ou com a possibilidade de desenvolver determinadas qualidades
emocionais, como tentarei mostrar na discussão de auras infantis. Nesse sentido, é
impossível ignorar a questão do karma (efeitos de ações passadas), o qual estabelece as
condições limítrofes da vida humana. Essas condições não são modeladas concretamente,
porquanto o karma pode realizar-se de inúmeras formas e em níveis muito diferentes. No
entanto, ele estabelece certas predisposições, com as quais a pessoa terá de lidar durante a
vida, e essas predisposições são claramente representadas no nível das emoções.
Hoje, já nos habituamos à ideia de que nascemos com determinados padrões genéticos
que determinam nossa estrutura física e também governam nossos processos mentais e
respostas emocionais. Isto é verídico até certo ponto, mas nosso conhecimento dos genes
ainda não inclui as formas pelas quais as características mentais e emocionais são
formadas, ou como irão desenvolver-se. A medicina vem encontrando formas de modificar
padrões genéticos e, talvez, eliminar deficiências hereditárias, mas será que tais mudanças
tornam as pessoas mais humanas, bondosas, compassivas? Nós, em grande maioria,
aceitamos o fato de que a doença afeta nossos estados mentais e emocionais, mas não que
o inverso seja também verdadeiro.
Os seres humanos têm dentro de si profundidades maiores do que se poderia supor.
Como já observei no começo deste capítulo, as dimensões sutis da consciência, sob muitos
aspectos, são mais poderosas do que nossos atributos físicos.
Todos temos acesso a esses recursos internos. Eles não estão reservados a uns poucos
41
privilegiados ou especialmente dotados, pois são parte de nossa herança humana. Mesmo
quando permanecem uma fonte intocada, esses recursos estão presentes, sempre
disponíveis, se tivermos força de vontade e motivação para utilizá-los.

(1). Lama Anagarika Govinda, Foundations of Tibetan Mysticism, E. P. Dutton, N. Y.,


1960, p. 218. [Fundamentos do Misticismo Tibetano, Editora Pensamento, São Paulo,
1990]
(2). Shafica Karagulla e Dora Kunz, Theosophical Publishing House, The Chakras and the
Human Energy Fields, Wheaton, III., 1989. [Os Chakras e os Campos de Energia Humanos,
Editora Pensamento, São Paulo, 1991.]

42
3. O Campo Emocional

Nenhum ser humano é desprovido de sentimentos. Desde o primeiro choro do bebê


até o último olhar de um moribundo para os seus amigos e a sua família, nossa reação
primordial ao mundo que nos cerca é colorida pela emoção. Nossa imagem do mundo
como amigável ou ameaçador, belo ou feio, agradável ou desagradável afeta nossa reação
com os demais - na verdade, influencia tudo o que fazemos. Não acredito que tais
sentimentos surjam apenas devido a condições ambientais, ou a fatores genéticos, não
obstante a importância que estes possam ter. Membros da mesma família, colocados
diante do mesmo tipo de situação, reagem de maneiras muito diferentes. Nossas emoções
são uma resposta consciente a nossa experiência, mas são autogeradas e revelam algo
importante do nosso caráter.
Para mim as emoções são "reais", pois posso percebê-las objetivamente como uma
atmosfera luminosa que circunda cada ser vivo. Devido a sua luminosidade, este material
tem sido, tradicionalmente, denominado "astral" - isto é, "brilhante" - na literatura
teosófica.
Todas as vezes que sentimos uma emoção, ocorre uma descarga de energia no campo
emocional, seja ela suave ou forte, o que produz uma vibração e coloração características -
a "pegada" desta emoção em particular.
Com a experiência, aprendi a identificar as tonalidades principais produzidas pelas
emoções, conquanto as variações sutis sejam praticamente infinitas. Como estamos
continuamente experimentando uma sucessão de emoções diferentes na vida diária, estas
cores às vezes são transitórias, atravessando a aura - nosso campo ou atmosfera pessoal -
como nuvens coloridas ou tingindo-a com um fluxo repentino de cor forte. Outras emoções
são muito mais duradouras e tornam-se um traço mais ou menos permanente da aura.
No capítulo anterior, falei a respeito da dificuldade constante de as pessoas aceitarem
sentimentos como uma forma de energia que pode ser observada e até mesmo medida.
Confirmando essa declaração, se as emoções exercem de fato efeitos definidos em nossa
saúde física e psicológica, elas têm de possuir algum tipo de força, ou energia. E, como em
nosso universo a energia é sempre associada à matéria, as emoções de algum modo devem
ser materiais ou relacionadas com fenômenos materiais. Ainda que a matéria do campo
emocional seja mais sutil e tênue do que qualquer outra até agora estudada pela ciência,
isto não significa que ela seja "sobrenatural" (palavra que não me agrada nem um pouco).
O campo emocional - à semelhança do mundo físico, com todas as suas sutilezas - é parte
da estrutura do próprio universo, tanto visível como invisível, e, creio eu, está sujeito às
mesmas leis naturais.
Assim, embora o campo emocional ainda não seja acessível à observação física, de
certo modo ele é "material". Lama Govinda falava das "características individuais" das
dimensões inferiores da consciência. Falarei a respeito das características especiais do
campo emocional, porquanto jamais podemos esquecer, na consideração da aura pessoal,
que ela é parte do campo maior que constitui a aura da própria Terra. Nunca estamos
separados desse todo maior.
43
O campo emocional parece consistir em um meio semitransparente e translúcido. Ele é
único, pois a luz que o atravessa fragmenta-se em mil matizes diferentes, mas a origem
dessa luz não vem do exterior; ela é gerada pelo próprio meio. O campo emocional tem luz
própria.
A estrutura do campo emocional também é permeável, pois os campos físico e sutil a
interpenetram totalmente. Contudo, como já disse, em razão de suas diferentes
velocidades vibratórias, os campos não se misturam nem se fundem, mas mantêm sua
integridade. Existe um "corpo" etérico circundando cada pessoa, o qual interpenetra o
corpo físico e prolonga-se de três a cinco polegadas para o exterior. A aura, ou campo
emocional, interpenetra o etérico, mas estende-se muito mais espaço afora. Os campos
mental e intuitivo, da mesma maneira, interpenetram-se e estendem-se além do
emocional. Assim: os campos pessoais assumem a aparência de esferas concêntricas.
Contudo, cada um desses campos pessoais é, ao mesmo tempo, parte de um campo
universal que tudo contém e está associado à própria Terra.
Portanto, as emoções e as imagens mentais podem ser consideradas estados refinados
da matéria, com seus tipos de energia correspondentes. Eu consigo percebê-las. Mas, nos
níveis não-físicos, não é apenas uma questão de conseguir ver as cores e padrões; a
percepção relaciona-se intimamente com outra faculdade, que poderia ser chamada de
empatia. Esta permite aos observadores compreender aquilo que estão vendo. A
observação envolve simultaneamente o ato de ver e a conexão com o que é visto. Sem essa
faculdade de empatia, as formas e as cores teriam pouco significado. Na verdade, a
capacidade de perceber as cores astrais não é incomum, mas, infelizmente, a habilidade de
interpretar seus significados não foi amplamente desenvolvida.
As emoções estão intimamente ligadas ao corpo físico durante a vida, mas o campo
astral não se restringe aos vivos. Este livro não pretende abordar o tema dos estágios post-
mortem, mas, para compreender a natureza das emoções e do campo astral em geral, é
necessário considerá-los um estado particular da consciência - não apenas um atributo da
vida física ou da função cerebral. As emoções são uma expressão essencial do ser. No
capítulo anterior mencionei que, para mim, o ser é o ponto ou princípio de integração
dentro de um ser humano. Em torno desse ponto concentram-se as configurações mental e
emocional, tornando-se desse modo significativas e úteis para nossa experiência.

O self como princípio de integração

Considerando-se o self dessa maneira, é possível pensar que este transcende o corpo
físico e é mais permanente do que nossos estados emocional e mental, os quais, como
todos sabemos, alteram-se de tempos em tempos. Este conceito do self, ou
individualidade, como princípio integrador, tem sido utilizado por alguns cientistas para
identificar o ponto de partida em todo processo de aprendizado - isto é, onde e não
quando tem início a aprendizagem. Erich Jantsch sugere, inclusive, que a auto-organização
é uma propriedade do próprio universo, e que a "Evolução, ao menos na esfera dos vivos, é
essencialmente um processo de aprendizado".(3) Poderíamos indagar quem ou o que
44
aprende - no sentido de absorver e então aplicar os frutos da experiência? Certamente não
posso aceitar que se trata apenas de uma função mecânica do cérebro, pois, a meu ver,
todas as montanhas, rios, árvores, plantas e animais possuem um grau de consciência e de
personalidade, ou "individualidade". Por esse motivo sentimos afinidade com
determinados locais - estes possuem um caráter único, que nos atrai para eles.
Nosso sentido de tempo usual e linear, tão importante na vida diária, não domina esse
processo de aprendizagem. Por um lado, a assimilação da experiência é contínua - jamais
estaciona - e, por outro, o aprendizado é uma experiência profunda, relacionada com a
natureza do self. Memórias, associações, "introvisões", ideais, aspirações, ideias criativas,
amor altruísta - tudo isso persiste muito depois do fato, destilando gradualmente sua
essência nas profundezas de nossa consciência. Assim; tornam-se um elemento
inerradicável de nossa natureza, contribuindo para nosso crescimento e evolução pessoais.

O mundo astral

À semelhança da atmosfera terrestre, o campo emocional está sempre presente e tem


um papel fundamental durante a vida. Pode ser legitimamente chamado de "mundo"
astral, porquanto é uma réplica, à sua maneira, das características do mundo físico. Até
onde sei, existe um correlato emocional de tudo o que existe no mundo físico (pessoas,
animais, plantas, pedras, até mesmo moléculas). Existe, por assim dizer, uma paisagem
astral. Como os sentimentos não são tão estáveis quanto as coisas físicas, essa paisagem
possui algumas características de um mundo de sonhos. Mas existem graus de estabilidade
no mundo físico, não é mesmo? Em outras palavras, a estabilidade é relativa e amiúde
depende da nossa perspectiva. Para aquele cujo foco de atenção está no plano astral, as
características desse mundo parecem tão ordinárias e comuns quanto a natureza física para
nós.
Sei que a natureza, em geral, divide-se em vivos e não-vivos, mas não percebo essas
distinções. Como o sentimento é uma característica da vida, tudo o que pode ser percebido
no campo emocional tem de possuir um grau de vida - ou uma associação com os vivos.
Todos os organismos interagem com seu meio ambiente através de uma troca de prima, ou
energia vital, no campo etérico, mas interagem também por meio do sentimento em nível
intenso. Sem dúvida essa é a principal forma de interagirmos com os animais. Em formas de
vida mais simples, o sentimento pode assumir o caráter de desejo, atração, medo e assim
por diante; contudo, ainda assim existe a presença de uma vaga sensação de preferência,
que nos animais superiores floresce como preocupação e afeição. Estou tentando mostrar
que, como todas as criaturas vivas possuem um nível de consciência, elas participam, até
certo ponto, do campo emocional.

Dinamismo

Como já disse, os campos devem ser considerados estados de consciência e energia


45
correlacionados, com suas próprias características distintivas. No caso do campo
emocional, a palavra que melhor descreve seu caráter é dinamismo. As emoções são muito
poderosas e, ao mesmo tempo, muito voláteis. Vêm e vão como nuvens que cruzam o céu;
no entanto, assim como as nuvens, são um traço permanente do nosso mundo. Na
realidade, constituem padrões, ou configurações, dinâmicos dentro dos quais a mudança
ocorre continuamente.
Se o dinamismo essencial do campo emocional não for compreendido, as imagens da
aura subsequentes poderão ser ilusórias.
Para muitas pessoas, é difícil aceitar a incerteza fundamental da vida e perceber que a
mudança é, ao mesmo tempo, constante e inevitável. Nada é estático; tudo está em
processo de tornar-se algo diferente. Toda a natureza é permeada por essa mudança
contínua, a qual reconhecemos como processo evolutivo em atuação em todos os níveis.
Isto não significa que a vida seja, necessariamente, perigosa e insegura, ou que vivemos
em estado de caos incontrolável. Muito pelo contrário. Quando percebemos que o
princípio de mudança ordenada é a lei do próprio universo, podemos aceitar e trabalhar
com ele, conforme sugerem os taoístas.
Dentro do processo contínuo da natureza, percebemos as grandes diferenças entre o
ritmo lento da mudança geológica, através dos ciclos biológicos em contínua aceleração,
até a velocidade da luz. Os gases são mais voláteis do que a água, e esta é mais do que as
pedras. Assim, não deve constituir surpresa o fato de as dimensões superiores serem muito
mais voláteis do que qualquer estado físico. No campo das emoções, os sentimentos
frequente e espontaneamente nos inundam, banhando todo o resto com uma onda célere
de alegria ou tristeza, raiva ou amor. Os traços mais dominantes da interação emocional
são a mutabilidade e a fluidez. Todavia, em meio a tudo isso, persiste o fio da nossa
autoconsciência. Em outras palavras, você é você mesmo, seja como criança, adolescente
ou adulto, esteja enfermo ou saudável, feliz ou triste. A auto-identidade é a única
constante em um mundo de mudanças.

Como participar do campo emocional

A aura, que será descrita no próximo capítulo, é um campo emocional e particular de


uma pessoa. Contudo, é importante perceber que nossas emoções, tão intensamente
pessoais para nós, são compartilhadas por todos os seres vivos. São um componente ou
qualidade natural da vida. Nunca estamos isolados, a não ser que o façamos
deliberadamente; sempre podemos alcançar outra pessoa através dos nossos sentimentos,
mesmo quando as palavras são inúteis para a comunicação. Esse tipo de partilhar é
possível porque nosso campo pessoal acolhe com simpatia os de outras pessoas. Tudo e
todos participam do campo emocional universal.
De que forma nossos próprios sentimentos, para nós tão profundamente pessoais,
interagem com esse campo maior das emoções? Nossos sentimentos são de tal forma
parte de nossa natureza que temos dificuldade em perceber que não apenas afetam as
vidas daqueles que nos cercam, como também modificam, imperceptivelmente, o campo
46
emocional como um todo. Entretanto, se refletirmos a respeito de nossas próprias relações
interpessoais - não somente na família, mas também na vida social e profissional -,
perceberemos como essa influência pode crescer. Nossa reação às pessoas das quais
gostamos instintivamente, bem como às que não gostamos, costuma resultar de nossa
interação no nível emocional. A aura de cada pessoa é um composto de características
emocionais, às quais nossos próprios sentimentos reagem. Naturalmente, via de regra nos
equivocamos em tais julgamentos rápidos, porquanto as reações emocionais se baseiam
antes na compatibilidade do que no caráter, mas a força da interação é real.
Como o campo emocional é um sistema aberto, pode dar-se, em graus variáveis, a
interação com os campos daqueles que nos cercam. Digo em graus variáveis porque alguns
de nós somos mais sensíveis do que outros. Essas pessoas sensitivas assimilam parte da
energia emocional que o outro indivíduo está sentindo, de forma a existir uma troca
emocional sem que seja dita uma só palavra. Algumas pessoas sentem a emoção de outra
sem conseguir interpretá-la claramente; por conseguinte, podem entender mal sua causa.
Por exemplo, podemos estar em contato com uma pessoa transtornada por alguma razão
sem nenhuma relação conosco, e, no entanto, sentimos os efeitos da perturbação.
Frequentemente, as pessoas são prejudicadas ou encolerizadas por esse tipo de equívoco.
Se essa situação persistir, poderá resultar em medo de interagir com outras pessoas.

Relações interpessoais.

Esta observação aplica-se igualmente à família e a outras relações íntimas e, na


verdade, a todas as interações humanas. Sob muitos aspectos, as relações humanas podem
ser as experiências mais dolorosas de nossa vida, ou as mais valiosas e gratificantes.
Contudo, em geral não temos consciência do nível em que nossas reações pessoais afetam
aqueles que nos cercam. Todas as relações interpessoais são vulneráveis a violentos
intercâmbios emocionais, fato que aparentemente as pessoas só começam a perceber
quando o dano já foi causado. Nenhum de nós pode escapar por completo dos efeitos do
nosso ambiente mental e emocional, embora não reconheçamos, conscientemente, o que
está acontecendo. Podemos ser estimulados ou entristecidos, pacificados ou agitados pelos
locais e situações em que nos encontramos. Isto é particularmente verdadeiro no caso de
crianças, em geral mais sensíveis do que os adultos à atmosfera emocional.
Hoje, um mundo caracterizado por tantos lares desfeitos, as crianças em geral se
sentem sozinhas, excetuando-se sua relação com outras crianças, porquanto não existe
base para a confiança emocional entre os pais. Quando são deixadas livres para seguir seu
próprio caminho, elas podem facilmente entregar-se às drogas. As crianças precisam de
relações consistentes e de uma atmosfera de segurança e, se não as encontrarem em casa,
irão buscá-las entre as outras crianças nas ruas.
O estado de nosso ambiente emocional pode não ter relação alguma com o grau de
bem-estar e beleza - ou a falta dos mesmos - em nossas circunstâncias físicas. Além desse,
existe o ambiente mais amplo criado pelas atitudes e sentimentos de nossa cultura, tanto
nacional como internacional. É relativamente fácil para as pessoas imaginarem a aura
47
pessoal, e as imagens que ilustram este livro poderão ajudar nesse sentido. Contudo, é
mais difícil pensar no espaço em si como estando pleno de energias emocionais. No
entanto, esta ideia é importante, pois nos ajuda a compreender como as energias do
campo total nos atingem constantemente. E este processo não é apenas de mão única. O
campo nos afeta e nós o afetamos, ainda que em graus diferentes. Todos contribuímos
com nossos pensamentos e sentimentos para aquilo que pode ser chamado de
componente emocional do mundo, e essa contribuição não é pequena. Na realidade, é
uma força de mudança evolutiva em termos de crescimento e desenvolvimento humanos.

Ressonância

Já disse que as interações entre os campos se baseiam em um princípio de ressonância,


o qual não compreendo, embora observe seus resultados. No caso das emoções, qualquer
pessoa com tendência para determinado tipo de energia emocional reagirá à presença
desta. Por exemplo, quando uma pessoa é estimulada a sentir intensa emoção, tal como a
raiva, esta energia é descarregada no campo emocional, onde ela amplifica a raiva aí já
existente. Como resultado, qualquer um que se deixe enraivecer com facilidade poderia ter
esta tendência agravada - o sentimento seria amplificado como uma onda.
As guerras, os desastres naturais e situações de gravidade semelhante, tais como a
quebra da Bolsa de Valores, produzem ansiedade generalizada, que se espalha
rapidamente pelo mundo todo, contaminando mais e mais pessoas, as quais, por sua vez,
ampliam o contágio. Quando os indivíduos são tomados de medo ou raiva repentinos, eles
se tornam mais vulneráveis a tais intensificações do campo emocional, e assim as
tempestades emotivas podem causar pânico ou ondas de violência. Todos já assistimos a
filmes que mostram multidões enlouquecidas sob a influência dessa emoção de massa.
Mas não precisamos deixar-nos levar pelo contágio de emoções negativas. É possível
permanecermos calmos, mesmo quando cercados pela violência, e essa tranquilidade pode
atenuar a raiva, não precisamos deixá-la ressoar dentro de nós. O antídoto reside em
sentimentos positivos, tais como paz, compaixão e simpatia, pois estes são mais poderosos
do que as emoções negativas e dão-nos forças para rejeitá-las.

Energias de cura da natureza

Por esse motivo as pessoas se sentem revigoradas quando saem da cidade - por mais
estimulante que esta possa ser - em busca da paz do campo. A natureza exerce vigorosa
influência sobre nós por ser plena de energias capazes de afetar-nos diretamente. Neste
período da História, quando as pressões da vida a cada dia são mais exacerbadas, e as
pessoas se sentem amontoadas sobre as outras e comprimidas, maior é a necessidade de
conseguir alguma tranquilidade íntima. A natureza proporciona uma sensação de harmonia
e paz, porquanto, embora possa estar sujeita à turbulência de ventos e tempestades, é
48
totalmente desprovida de conflitos emocionais.
Na natureza, os elementos espirituais que sustentam a vida estão sempre presentes.
Assim, o contato com a terra, as montanhas ou o mar pode aumentar nossa capacidade de
enfrentar as tempestades pessoais - e até mesmo a hostilidade e violência das outras
pessoas - com força e equilíbrio. Quando conseguimos fazer isso, recusamo-nos a sucumbir
aos sentimentos negativos, mesmo quando estes são projetados sobre nós. E mais:
estamos, assim, dando uma contribuição para a paz mundial, pois influenciamos e
modificamos o campo emocional como um todo, em vez de simplesmente reagir a ele.
Nos dias atuais, mais e mais pessoas estão se tomando ativistas ecológicos, na tentativa
de ajudar a curar as feridas que a ignorância e a cobiça humanas têm infligido à nossa
Terra. Essas atitudes podem ter um efeito fundamental na reversão da exploração sofrida
pela natureza em nossas mãos. Como próximo passo no processo de reabilitação, os seres
humanos precisam perceber que suas atitudes, pensamentos e sentimentos podem
harmonizar o nível de tensão e violência do mundo. Podemos influenciar a atmosfera
emocional que compartilhamos de forma positiva, contribuindo, assim, para o bem-estar
de todos.

(3). The Self-Organizing Universe, Erich Jantsch, Pergamon Press, 1980, p. 7.

49
4. A Anatomia da Aura

Muito tem sido escrito a respeito da aura e do mundo astral em geral. Embora possa
ser útil para o leitor entrar em contato com essa literatura, quero ressaltar que as
descrições e informações oferecidas neste livro resultam da minha própria experiência e
pesquisa, e não foram retiradas de outras fontes. Portanto, poderão discordar, sob certos
aspectos, de outros relatos. Não é que os outros escritos estejam, necessariamente,
incorretos (nem tampouco os meus), mas, em toda observação, muito do que se vê
depende do interesse e da habilidade do observador.
Não existe instrumento de observação perfeito - nem mesmo em termos físicos - e,
quando se trata de analisar algo tão fluido e indefinível como as emoções, é óbvio que
determinadas características se sobressaiam, de acordo com o grau de atenção que lhes é
dado. Eu mesma sempre me interessei pelo relacionamento entre os estados emocional e
mental, bem como pelo bem-estar do indivíduo; por conseguinte, relaciono aquilo que vejo
com esta questão geral.
A aura emocional costuma ser chamada de "corpo astral". Não gosto particularmente
dessa expressão, conquanto exista uma certa justificativa para usá-la. Em primeiro lugar, a
aura tem um nível de materialidade e localiza-se em torno de uma pessoa. Portanto, é uma
espécie de "corpo". É "nossa", pois, durante a existência, nunca estamos sem aura.
Contudo, sua estrutura, cores e conteúdo podem mudar muito rapidamente, de tal forma
que, de um ano para o outro, nossas auras podem estar completamente diferentes. E,
finalmente, ela é brilhante, ou estrelada - portanto, "astral".

Dimensões

A aura é ovoide, com muitas luzes coloridas interpenetrando-se, e circunda o corpo


físico, estendendo-se além deste até uma distância de, aproximadamente, 12 a 18
polegadas. O material que a compõe é bastante elástico; assim, a aura pode expandir-se
além de seus limites habituais consideravelmente, dependendo da descarga de energia
emocional. De ordinário, a aura estende-se cerca de metade da distância de um braço,
embora varie muito entre as pessoas. Isso porque algumas são mais voltadas para o seu
interior, enquanto outras são expansivas e sociáveis.
O esforço para sair de si e comunicar-se com as outras pessoas sempre provoca a
expansão da aura. Por exemplo, no caso de enfermeiras e médicos, a atenção e os esforços
são direcionados para o tratamento de pacientes; professores procuram atingir seus alunos
não apenas intelectualmente, mas com uma espécie de energia que possa atrair atenção e
interesse; pais tratam seus filhos com apreço e consideração.
No caso de músicos, atores, palestrantes, políticos etc., suas auras expandem-se
durante uma apresentação, mas em todas as ocasiões são maiores do que a média,
porquanto suas profissões levam-nos a relacionar-se com pessoas em grandes grupos.
50
Suponho que, inconscientemente, os artistas procuram estabelecer uma conexão com
todos os membros de suas plateias, até mesmo aqueles que estão sentados nos fundos do
auditório. Este esforço promove uma expansão da aura. Em menor grau, todos fazemos a
mesma coisa sempre que tentamos comunicar-nos com outra pessoa, seja para dar uma
opinião, contar uma piada ou, simplesmente, expressar amizade e afeição. Assim, a
elasticidade é uma característica básica da aura.
De modo geral, contudo, existem grandes diferenças entre as pessoas no que diz
respeito ao tamanho de suas auras, e não se pode definir uma norma. Deve-se ter em
mente tal fato por ocasião da análise das imagens de auras, porquanto, embora tenham
sido pintadas uniformemente do mesmo tamanho, isso foi feito por uma questão de
conveniência, e na vida real as auras não são assim.
A aura é delgada nas bordas, fundindo-se gradualmente com o campo geral, de modo
que as emoções fluem livremente para o exterior. Contudo, quando as pessoas estão
doentes, a dor e a ansiedade tendem a fechá-las em si mesmas; esta condição pode ser
vista nos sujeitos retratados nas ilustrações 15 e 17. As lâminas podem dar a impressão de
que nesses casos as bordas da aura estão inibindo a ação externa, mas, na realidade, foi
criado um limite artificial, porquanto parte do fluxo de energia emocional se volta para
dentro, em vez de ser liberado para o exterior, da forma normal. Isto é ocasionado pelo
fato de a enfermidade drenar-lhes de tal forma as energias que essas pessoas não podem
mais relacionar-se com os demais fácil e espontaneamente. Costumam fazer-me uma
pergunta de difícil resposta: o que mantém a coesão da aura humana, impedindo-a de
dissipar-se no campo astral geral? Só posso dizer que, creio eu, a aura é conservada da
mesma maneira que o corpo físico durante a vida: pela presença do self, o princípio ou
centro de integração tanto dos sistemas físicos do corpo quanto das dimensões superiores
da consciência.
Sem dúvida, quando a consciência se afasta, por ocasião da morte, o corpo físico
desintegra-se rapidamente - e a aura desaparece. Ainda que não admitamos a presença ou
ausência do self, mesmo assim teremos de reconhecer que algum fator integrador
desaparece, sem o qual o corpo perde a sua coesão e sucumbe. Conquanto a escala de
tempo seja muito diferente, a situação com respeito ao corpo astral ou aura é similar, pois
esta persiste após a morte, desintegrando-se gradualmente apenas quando o self (ou alma)
se retira para estados superiores de consciência.
Costumam perguntar-me também se a aura está sujeita à força de gravidade ou ao
campo magnético da Terra. Estas são perguntas difíceis, e posso apenas dizer que, se tais
efeitos existem, é porque, creio eu, a aura está ligada ao corpo físico, suscetível a essas
forças. Sem dúvida, a aura tem uma direcionalidade: ela tem a parte superior e a inferior, e
existe uma diferença entre os lados interno e externo, bem como entre a porção dianteira
e traseira - mas, novamente, neste caso, o corpo físico é o fator determinante. Além do
mais, creio que o princípio de ressonância já mencionado é importante na composição e
coesão da aura, bem como em sua relação com os níveis mental e intuitivo. E a ressonância
resulta do fato de que a frequência vibratória do campo emocional reage harmonicamente,
ou empaticamente, aos estados de energia de todos os outros campos.
Na tentativa de descrever a aparência do campo emocional pessoal, a única analogia
51
que me ocorre é a da luz densa. Em geral, estas duas palavras não se combinam, mas,
juntas, talvez possam servir como uma metáfora para a aura. Como já disse no Capítulo 3, o
campo emocional é um meio translúcido e transparente, pois a luz brilha através do
mesmo. Contudo, sua transparência é diferente de qualquer outra, porquanto a luz provém
do interior, e não do exterior - ela tem luz própria. Mas por que chamá-la de "densa"? Uso
esta palavra na tentativa de transmitir a ideia de que ela é palpável.
Talvez essa ideia perca um pouco da sua estranheza se pensarmos em um raio de sol:
grãos de pó reunidos transformam a luz em um raio; ou quando, depois de uma chuvarada,
as cores evanescentes de um arco-íris modificam tudo o que tocam. Assim, possivelmente
uma analogia melhor seja a de que a aura se assemelha ao vapor d'água luminoso - uma
névoa luminosa com as cores do arco-íris.
Outro dia, fui acordada ao amanhecer e vi todo o céu pujante de cores. Pensei como se
parecia com uma aura, a qual, à semelhança do céu ao amanhecer ou ao entardecer, é
plena de matizes diferentes. Ela parece densa por ser opaca o bastante para que a
vejamos; contudo, também podemos, vez por outra, ver através dela. Esta é a melhor
descrição da aura que consigo fazer.

Textura e padrões

Todavia, certas emoções sem dúvida são mais "densas" do que outras. Com isso quero
dizer que suas cores parecem mais grosseiras e obscurecidas. As energias astrais
intimamente relacionadas com o corpo físico - isto é, as emoções ligadas à experiência do
sentido, tais como anseios e apetites de vários tipos - são "mais pesadas": apresentam
granulação maior em sua textura e velocidade vibratória mais lenta. Seja por este motivo
ou não, são encontradas nas partes mais inferiores da aura. Essas energias são instáveis e
sujeitas a rápida mudança; afetam estados físicos, tais como a pressão sanguínea, que pode
variar em curtos espaços de tempo. Emoções negativas - como o ressentimento, o egoísmo
e a cobiça - tendem igualmente a buscar o fundo da aura, conquanto possam ser refletidas
mais acima.
Já disse que uma das características mais extraordinárias da aura é o seu dinamismo, o
que a faz passar por rápidas mudanças, de acordo com os estados de ânimo da pessoa. No
entanto, a aura possui uma estrutura durável. Assim como todos os seres humanos têm
certos atributos físicos em comum, por maior que sejam suas diferenças, da mesma
maneira nossas auras possuem grandes variações entre si, e determinados elementos
podem ser obscurecidos devido à má condição física.
A pessoa realmente equilibrada é uma raridade, e a maioria de nós passa por períodos
de raiva, ansiedade, frustração, tristeza ou depressão de tempos em tempos. Contudo,
exceto se a condição for patológica, esses estados emocionais, via de regra, são
temporários e deixam a aura. Num determinado momento, são muito mais reais para nós,
mas não modificam nosso caráter fundamental, a não ser que tornem a ocorrer repetidas
vezes.
Nossos padrões estáveis são mais importantes, porquanto, estejamos conscientes ou
52
não, alguns sentimentos nos são habituais, repetindo-se muitas vezes quase que
diariamente. A repetição regular dessas emoções faz com que deslizemos fácil e
inconscientemente para eles; assim, tornam-se padrões de hábito perceptíveis na aura
como alicerces dos sentimentos mais efêmeros, que mudam constantemente ao longo do
dia. São esses padrões que dão uma ideia dos traços de personalidade básicos que uma
pessoa desenvolve no decorrer da vida.

Cores da aura

Tenho observado que todos chegam ao mundo com algumas cores básicas. Ao longo
dos anos, aprendi que essas cores indicam as características fundamentais da
personalidade, incipientes naquele indivíduo por ocasião do nascimento, conquanto
possam ou não desenvolver-se no decorrer da vida. Como nenhuma existência é
predeterminada, os acontecimentos irão alterar esse desenvolvimento - as circunstâncias
podem ser tão difíceis que a pessoa tem dificuldade em realizar alguns de seus potenciais.
Trata-se do karma. Mas as cores básicas da aura me dizem como as pessoas tendem a lidar
com o seu ambiente emocional, e o modo como este irá afetá-las.
As cores são parte da anatomia da aura, bem como indicação de temperamento e
caráter. O campo é mais brilhante e luminoso para onde nossa atenção e interesse estão
direcionados; as outras partes são menos vívidas. Quando as cores se estendem até as
extremidades da aura, isso indica que essas emoções estão sendo usadas livremente.
Quando permanecem junto ao corpo, cercadas por outras cores (como na ilustração 17), as
emoções que representam estão inibidas e são ineficazes na vida diária. Isto pode resultar
de uma condição neurótica, mas pode indicar, também, que a atividade representada por
esta cor se restringe em grande parte ao passado, e essa energia não está sendo muito
usada no momento presente. As cores das auras das crianças tampouco alcançam as
bordas, mas, neste caso, as emoções ainda não estão sendo plenamente utilizadas,
conquanto seja possível ver que estão surgindo.
Em outras palavras, quando as emoções são saudáveis, vigorosas e ativas nas relações
interpessoais, elas se estendem até os próprios limites da aura e liberam sua energia
livremente.
Em razão do princípio de ressonância do qual falei, as cores da aura não apenas
representam estados emocionais, mas também refletem características das dimensões
superiores da consciência. Por exemplo, uma aura com muito amarelo indica não apenas
uma boa capacidade de pensar; mas pode agir, também, como um funil que canaliza as
energias do nível mental para o emocional.
Portanto, algumas das cores da aura personificam as qualidades dos estados superiores
de consciência, e, quando estes manifestam-se livremente, podem fortalecer as aptidões
básicas de uma pessoa. Isso indica um estado de equilíbrio ou integração entre as emoções
e os níveis superiores de consciência - não apenas com a mente, mas também com os
níveis intuitivo e espiritual.
A aura estrutura-se, aproximadamente, em dois hemisférios, um superior e outro
53
inferior. A parte superior personifica aquilo que citei como as qualidades inatas ou caráter
de uma pessoa: seus potenciais, que podem ou não ser plenamente realizados durante a
vida. De certa forma, estas cores representam aquilo que uma pessoa é em essência, ou
que pode vir a ser. Em contrapartida, a parte inferior da aura personifica o campo de
experiência e ação, o qual é afetado pelas emoções habitualmente expressas ao longo da
existência diária.

Cores das emoções

No campo emocional, o espectro de cores aproxima-se daquele do mundo físico, mas


com uma amplitude de matizes, brilho e combinação sutil muito além daquilo que
experimentamos no plano físico. Assim como nossas emoções são "coloridas" com todos os
tipos de respostas, atitudes e idiossincrasias pessoais, também as cores de nossas emoções
refletem essas misturas. Desse modo, o rosa da afeição pode ser modificado quase
infinitamente -por um toque de possessividade ou ciúme, de um lado, ou por afinidade.
bondade e generosidade, de outro. As cores abaixo, portanto, indicam as emoções básicas
e estão sujeitas a infinitas variações:

Escarlate, brilhante e forte Raiva, irritação


Rosa, claro ou médio Amor, afeição
Azul muito escuro força de vontade
Azul misturado com cinza tensão
Azul, azul-celeste claro devoção religiosa ou semelhante
Azul real usado na cura para diminuir a dor
Azul-esverdeado apreciação estética, expressão artística
Verde trabalho, ação
Verde-amarelado mente em ação
Amarelo-dourado mente, compreensão
Roxo-escuro meditação com propósito, prece
Alfazema aspiração e intuição espiritual
Laranja orgulho, amor-próprio
Marrom egoísmo, egocentrismo
Cinza depressão, falta de energia

A faixa verde

As duas partes da aura são interligadas por uma faixa verde, que se estende em torno
do centro do corpo físico. Descobri que essa faixa é um traço comum a todos os adultos
normais, (Ela começa a aparecer nas crianças em épocas diferentes, dependendo do nível
de envolvimento com a vida e a capacidade de fazerem coisas sozinhas - como pode ser
54
visto nas ilustrações de crianças.) A meu ver, esta é uma condição estrutural, embora deva
admitir que jamais encontrei alguma menção a isso em outras descrições da aura.
Essa faixa verde, às vezes, é estreita e, outras vezes, larga, variando em cor e
intensidade. Indica a habilidade de colocarmos nossas ideias, sentimentos e interesses em
ação, ou, em outras palavras, de realizarmos nossas potencialidades. Sua extensão e cor
denotam a capacidade, num determinado momento, de nos expressarmos no mundo, seja
através de atividades intelectuais, artísticas ou físicas.
Todos realizam algum tipo de trabalho ou, pelo menos, estão envolvidos em alguma
atividade. O tamanho, a tonalidade e a intensidade da cor na faixa refletem tanto o nível de
habilidade como o de interesse e envolvimento da pessoa em seu trabalho. A extensão e o
brilho da faixa indicam a capacidade efetiva de realização de uma pessoa, enquanto o tom
da cor relaciona-se com o tipo de trabalho em que está envolvida: amarelo-esverdeado,
para atividade intelectual; azul-esverdeado, para criação artística; verde-escuro, para
trabalhos físicos, e assim por diante.
Por exemplo, um bombeiro e um músico trabalham com as mãos; por conseguinte,
ambos deveriam ter uma ampla faixa verde. Mas a diferença no tipo de trabalho que fazem
se refletiria na diversidade de tons de verde das duas faixas. Para um pianista, a música não
é apenas uma experiência estética ou uma realização intelectual; ela também representa
muito treinamento, disciplina e trabalho árduo. Tudo isso aparecerá no tom e na largura da
faixa verde.
Em muitas imagens você verá diversos símbolos e formas geométricas nas faixas
verdes, e até mesmo rostos. Conquanto esta área da aura represente o próprio trabalho no
mundo, ou a esfera de atividade, esses símbolos não refletem, necessariamente, o que
uma pessoa está pensando no dia-a-dia. Ao que parece, significam algo mais fundamental e
duradouro em nossas vidas e atos - as atitudes básicas e os interesses de longo prazo. Às
vezes, significam um evento ou episódio extremamente importante ou de grande
influência. Outras vezes personificam, de forma simbólica, aquele conteúdo de nossas
mentes inconscientes que permanecem no fundo do pensamento e influenciam nossos
atos. Em geral, aí permanecem durante longo tempo, modificando-se gradualmente e
evoluindo apenas quando alteramos nossos interesses e atitudes fundamentais.

Hemisférios superior e inferior da aura

O "equador" na aura, como poderia ser chamada a faixa verde, parece ao mesmo
tempo unir e diferenciar as qualidades da parte mais arraigada e duradoura da aura (o
cume) da parte envolvida nos processos contínuos da vida e a passagem do tempo (a
base). De maneira geral, o hemisfério superior é muito menos volátil do que o inferior, mas
ele pode realizar e de fato realiza a mudança durante uma existência. Quando são
desenvolvidos os potenciais, as cores tornam-se mais intensas e brilhantes; quando não
realizados, elas enfraquecem e tornam-se sombrias. Se alguém modifica por completo a
própria orientação e renuncia à sua religião, por exemplo, as cores relacionadas com a
devoção religiosa desaparecem, e outras cores começam a substituí-las.
55
Já disse que o hemisfério inferior reflete aquelas qualidades e emoções ativas em nós
num determinado momento. Mas ele também retém os resultados de nossas primeiras
experiências, isto é, de acontecimentos passados de nossa vida na medida em que estes
continuam a influenciar-nos, consciente ou inconscientemente. As cores presentes na
porção média desta área (isto é, da cintura até os joelhos) representam os sentimentos
que normalmente usamos, mas na profundidade da aura, estendendo-se bem abaixo dos
pés, encontram-se os resíduos de nossa experiência passada.
Recordações de fatos traumáticos e experiências dolorosas, de medos duradouros, de
ansiedades e tristezas - tudo isso, às vezes, permanece na base da aura, durante muitos
anos, e influencia o nosso comportamento de formas sutis. Se deixamos de pensar nele, o
passado em si está acabado - só que os sentimentos ligados a nossas lembranças persistem
até o presente. Quando as circunstâncias, interesses e atividades mudam, o passado perde
a sua influência sobre nós, e, então, os traços dessas lembranças começam a desaparecer
de nossas auras.

Padrões emocionais

Ondas repentinas de emoções intensas, tais como o medo ou a raiva, podem


impregnar temporariamente a aura do topo até a base, mas tais sentimentos, em geral,
desaparecem sem modificar a configuração total das emoções. Contudo, quando as
pessoas se deixam dominar por desgosto ou depressão prolongados, isso pode obscurecer
suas emoções habituais durante um período de tempo considerável, consumindo e
exaurindo suas energias emocionais.
Segundo a minha experiência, descobri que a maioria de nós não tem consciência do
quanto somos afetados por aquilo que habitualmente pensamos e sentimos. Em geral,
acreditamos que apenas nossas ações físicas trazem consequências. Embora, de certo
modo, isso seja verdade, sob outro ponto de vista os pensamentos e sentimentos são
ações que também têm suas consequências - desta vez, em termos de nossas próprias
personalidades. Quando analiso a aura de uma pessoa, vejo muito claramente os
resultados de tais respostas internas. Isso implica que, de um momento para o outro,
somos aquilo que vivenciamos e a forma como reagimos a tal experiência. Essa maneira de
ver a nós mesmos difere bastante da atitude determinista que assevera ser a
personalidade o resultado de uma combinação de fatores genéticos e condicionamento.
Isso significa que podemos mudar e realmente mudamos à medida que alteramos as
respostas habituais às situações de nossa vida.
Nós mesmos somos influenciados e modificados por aquilo que pensamos e sentimos,
e nossos pensamentos e sentimentos, por sua vez, são sensíveis a nossa experiência. Existe
alguma verdade na máxima "penso, logo existo", enquanto não no sentido originalmente
pretendido. Não é que nossa existência dependa do nosso pensamento, mas, sim, que os
pensamentos que nos são habituais gradualmente conformam e modelam o nosso caráter.
Mas isso não é tudo, pois podemos ter o controle do processo, se quisermos. "Sou, logo
penso e sinto, e o que penso e sinto revela aquilo que sou", talvez se aproximasse mais do
56
padrão, pois o movimento é recíproco.

Violência

Nos dias de hoje são cada vez mais evidentes os efeitos nocivos de assistir a cenas de
violência em filmes e na televisão. Ainda assim, não avaliamos por completo a extensão
dessa influência funesta. As crianças são particularmente suscetíveis. Quando
testemunhamos frequentemente essas cenas, cria-se em nós uma aceitação tácita e uma
tolerância à violência. Isto, por sua vez, nos torna mais propensos a ceder a tendências
violentas que podem existir latentes em nós (e poucos estão totalmente livres de tais
tendências). Então, quando somos expostos a situações caóticas, não temos tanta
capacidade de resistir e nos deixamos dominar por elas.
Por esse motivo, a prática da visualização e meditação traz benefícios duradouros.
Quando estabelecemos um processo em nós que gera regularmente sentimentos de paz,
amor e harmonia, tais sentimentos se nos tornam habituais, e acabam por comandar
nossas reações ao mundo e às pessoas que nos cercam. Discutirei este processo com
detalhes em capítulos subsequentes.
Repetindo, a parte inferior da aura expressa o campo de nossa experiência - nossa vida
emocional como é vivida no dia-a-dia; por conseguinte, retrata nossos sentimentos nesse
período de tempo. Este fato deve ser lembrado nas análises de retratos da aura, pois, em
alguns casos, o que se vê é, em parte, resultado de condições temporárias.

Órgãos de permuta de energia astral

As emoções exercem poderoso efeito sobre nós, mesmo quando não temos
consciência disso. As pessoas costumam pensar que estão completamente calmas,
enquanto, na realidade, encontram-se em estado de perturbação contida. Sabemos que
vivemos em um mundo físico que, a cada momento, exerce sobre nós seu impacto,
bombardeando-nos com visões, cheiros e sons, sem falar nas inúmeras forças invisíveis na
atmosfera. Da mesma maneira, no nível astral estamos em constante interação não só com
o campo emocional como um todo, mas também com os campos pessoais dos indivíduos
com os quais mantemos contato.
Essa interação pode drenar nossa energia de muitas maneiras, perturbando-nos e
deixando-nos nervosos e exaustos, ou mesmo desequilibrando-nos, se não estivermos
estáveis. Contudo, assim como possuímos um sistema imunológico físico que ajuda o corpo
a resistir à invasão, também dispomos de um mecanismo de rejeição no nível emocional, o
qual se desfaz de todos os sentimentos indesejáveis ou negativos. Este mecanismo de
rejeição é um traço comum a todos nós; por conseguinte, pode ser considerado uma parte
orgânica da anatomia da aura.
Você poderá ver nas ilustrações inúmeros vórtices pequenos de forma cônica situados,
simetricamente, nas bordas das auras. Que eu saiba, esses vórtices nunca foram descritos
57
antes, mas percebo seu funcionamento na troca de energia entre o indivíduo e o campo
emocional como um todo. Ao longo dos anos, tenho citado amiúde esses órgãos, sem
encontrar um nome realmente satisfatório para os mesmos. O melhor que posso fazer é
identificá-los como válvulas que recolhem energia astral do campo geral para a aura e, em
seguida, expele-a. Em outras palavras, assemelham-se a órgãos da respiração que
"inspiram" e "expiram", ritmicamente, a energia emocional, controlando o processo de
absorção e rejeição.
No indivíduo saudável, essa troca constitui um processo automático que mantém a
energia emocional em circulação e reabastece-a quando ocorre uma baixa temporária,
devido à fadiga. Todavia, existe outra especialização no processo. O oceano da energia
emocional que nos envolve em todos os momentos contém inúmeros elementos
desarmoniosos, negativos e, até mesmo, violentos. Já falei anteriormente do princípio de
ressonância que governa em grande medida a interação entre os campos. No caso da aura.
ou campo emocional individual, estamos abertos àqueles aspectos do campo geral
concordes com nossa própria natureza emocional. Assim, uma pessoa naturalmente feliz e
alegre automaticamente rejeitará emoções negativas tais como depressão e ansiedade.
Esse princípio de rejeição é uma função das válvulas de energia astral, e impede que
sejamos inconscientemente dominados pelas emoções de outras pessoas, mesmo quando
estamos enfermos ou fatigados. As válvulas, na realidade, são um mecanismo de proteção
que funciona automaticamente na manutenção do nosso equilíbrio emocional. Contudo,
quando estamos enfraquecidos por alguma doença, as válvulas abrem-se mais do que o
normal, a fim de receber mais energia (como nas ilustrações 15 e 16), o que as faz perder
um nível de controle. Quando isso acontece, o processo de rejeição, de certa forma, fica
prejudicado e, como resultado, tornamo-nos mais vulneráveis aos sentimentos de outras
pessoas, e menos capazes de rejeitar as emoções negativas. Assim, a doença pode deixar-
nos emocionalmente sensíveis ou facilmente transtornáveis, além de menos resistentes à
invasão de sentimentos negativos, como a depressão e a ansiedade. Essas emoções, por
sua vez, alteram nossa capacidade de assimilar prana (vitalidade) e funcionar bem no nível
etérico. Esta é uma das razões pelas quais pessoas enfermas e hospitalizadas não devem
ser submetidas a pressões de muitas visitas.
Devo dizer que nas ilustrações o tamanho dessas válvulas foi exagerado para torná-las
mais visíveis, e na vida real elas são consideravelmente menores em comparação com a
aura.

Cicatrizes emocionais

A maioria de nós passa por inúmeras experiências difíceis ao longo da vida, mas, em
geral, refazemo-nos decorrido algum tempo, restando apenas uma diminuta lembrança do
ocorrido. Contudo, quando a experiência foi realmente traumática, ela pode deixar uma
impressão bastante prejudicial, a qual pode voltar a aflorar facilmente quando uma
situação similar a deflagra. Em tais casos, parece que nunca conseguimos escapar aos
efeitos da experiência, porquanto tudo conspira para fazer-nos lembrá-la. Assim, recaímos
58
progressivamente em um padrão de repetição emocional.
É essa repetição que cria o que chamamos cicatrizes emocionais, vórtices de energia
mais densa presentes na aura - registro esse que perdura até mesmo quando não estamos
conscientemente pensando no conflito que os causou. A posição desses vórtices na aura
indica a influência da experiência no presente: quanto mais próximos da faixa verde
parecem estar, mais ativos são. Por exemplo, se tomamos uma decisão difícil, à qual se
opõem pessoas que estão tentando frustrar-nos, isto pode criar um conflito que não
desaparece, porquanto não houve resolução fundamental do problema. Portanto, ele irá
criar uma cicatriz na região logo abaixo da faixa verde.
Até mesmo experiências do passado recuado podem continuar a exercer considerável
influência, pois seus resultados estão presentes em nós muito mais do que possamos
perceber. Na medida em que nossas lembranças podem dar-nos dor ou prazer, elas ainda
estão ativas em nós. Ademais, raramente avaliamos como determinados sentimentos e
reações costumam aflorar repetidas vezes. Se estamos insatisfeitos com alguma coisa,
tendemos a repisar isso, o que perpetua nosso envolvimento com a experiência.
Fortalecidas pela emoção recorrente, essas lembranças costumam consolidar-se na forma
de símbolos ou cicatrizes que, via de regra, assemelham-se a espirais ou conchas, pois
tendem a fechar-se em si mesmas. Esses símbolos, em geral, parecem ser bastante firmes e
sólidos, pois são "alimentados" pela energia emocional gerada quando ficamos remoendo
uma experiência.
Configurações desse tipo são um registro, ao mesmo tempo, daquilo que sentimos no
passado e do que ainda estamos vivenciando no presente, e, em geral, representam uma
experiência que provocou as emoções mais fortes. Contudo, quando finalmente
resolvemos um dilema ou nos recuperamos de um choque emocional, não somos mais
compelidos a ruminar a questão. Libertamo-nos da lembrança.
Quando isso acontece, a cicatriz que representava o conflito começa a dissolver-se
lentamente, e a energia que ela continha aos poucos abandona a aura. Todavia, se
repetimos uma emoção como a ansiedade ou o medo, dia após dia, esse ato irá
manifestar-se não na forma de uma cicatriz, mas, sim, de um padrão inibitório na aura
pessoal. Esse problema é tão comum que será discutido mais amplamente no Capítulo 9.
É igualmente possível que se tenha tido uma experiência maravilhosa, muito tempo
atrás, cuja lembrança não é mais tão nítida; contudo, ela permanece como uma fragrância
prolongada. Conquanto essa recordação possa ser uma fonte de alegria e felicidade, ela
também seria representada como uma "cicatriz" simbólica, desta vez na parte superior da
aura. Em tal caso, ela pode ser valiosa e estimulante, sobretudo se o seu significado for
compreendido. (Um bom exemplo de tal símbolo pode ser visto no caso 12.)
Cicatrizes emocionais não necessariamente acarretam efeitos negativos duradouros.
Se, após tomar consciência do problema que durante tanto tempo nos afligiu, realmente
sentimos que agora compreendemos suas causas e finalmente o superamos, esta
experiência pode ser muito benéfica. Por esse motivo, todas as religiões valorizam o
perdão. Esse conselho, na realidade, constitui excelente terapia. Se podemos dizer: "Eu
aprendi uma coisa e, embora não possa amar aqueles que me magoaram, sou capaz de
perdoá-los e desejar-lhes o bem", então este é o primeiro passo para nos libertarmos do
59
cativeiro de uma lembrança dolorosa.

Os chakras

Uma característica muito importante da anatomia da aura foi inteiramente omitida


das imagens, devido à dificuldade de reprodução: o sistema emocional dos chakras. Estes,
naturalmente, existem nos níveis emocional e mental, bem como no etérico, mas seria
demasiado confuso tentar sobrepô-los aos outros aspectos da aura. A transparência da
matéria astral torna possível ver, simultaneamente, a parte anterior e a posterior da aura,
bem como todos os traços intermédios, mas seria impossível tentar reproduzir os chakras
sem distorção. Entretanto, eles são uma parte essencial da anatomia da aura; por isso,
incluímos um diagrama indicando a sua localização em relação ao corpo físico.

60
Uma discussão detalhada desses centros energéticos pode ser encontrada no meu livro
Os Chakras e os Campos de Energia Humanos, já citado anteriormente. Contudo, para
aqueles que não estão familiarizados com a função desses órgãos, darei uma visão geral,
iniciando com uma citação do livro supracitado:
"Os chakras são centros ou órgãos superfísicos através dos quais as energias dos
diferentes campos são sincronizadas e distribuídas ao corpo físico. Eles são mais ou menos
ativos no nível astral, no mental e (até certo ponto) nos níveis ainda mais elevados...
sendo, contudo, de fundamental importância no nível etérico, onde funcionam como
instrumentos para a concentração da energia no corpo" (pág. 35).
A principal fonte de informações a respeito desses centros energéticos encontra-se no
Tantrismo hinduísta e tibetano, no qual os fundamentos psicológicos da doutrina dos
chakras foram minuciosamente desenvolvidos. Infelizmente, os sistemas simbólicos nos
quais se baseiam essas explicações exigem considerável conhecimento de suas bases
filosóficas e religiosas; por conseguinte, a maioria dos ocidentais recorre a comentários ou
ao testemunho da observação clarividente. Existem muitos livros deste último tipo, sendo
o primeiro e mais conhecido Os Chakras, de C. W. Leadbeater.
Definidos da maneira mais simples possível, os chakras (ou "rodas") são órgãos de
consciência e energia dentro da aura pessoal. Os centros principais, como frequentemente
os chamamos, em geral são descritos como sendo em número de sete - localizados na
coroa da cabeça, entre as sobrancelhas, na garganta, no coração, no plexo solar, no baço
(ou região genital) e na base da coluna. Servem como mecanismos de ligação entre os
campos pessoais (etérico, emocional, mental etc.) - distribuindo a energia necessária para
diferentes funções - e, também, entre a aura pessoal e o campo emocional geral. Existe,
assim, uma relação multidimensional entre os chakras.
Não seria correto afirmar que toda emoção se reflete nos chakras, pois eles não são
facilmente influenciados. Se uma pessoa é bombardeada continuamente por sentimentos
intensos e desorganizadores, os chakras podem ser afetados até certo ponto; contudo, o
maior impacto recai sobre a própria aura. A força cumulativa das emoções e o tom
dominante da vida emocional de uma pessoa é que estão representados nos chakras.
No nível emocional, cada um desses centros tem suas próprias funções especiais,
conquanto seja, ao mesmo tempo, parte integral de todo o sistema de chakras naquele
nível. O mesmo acontece com os centros etéricos. Mas, como os dois sistemas são
integrados, as mudanças no campo emocional atingem o etérico, e dessa forma podem
influenciar a saúde física. As dimensões superiores da consciência são, ao mesmo tempo,
mais energéticas e estáveis do que as dos campos mais densos, tais como o etérico - o que
pode parecer uma contradição relativa mas, ainda assim, verdadeira. Portanto, embora se
possa afirmar que o fluxo de energia emocional alcança o corpo físico através das conexões
entre os sistemas de chakras etérico e emocional, é igualmente verdade que tanto o
comando quanto a fonte dessas energias residem em níveis mais profundos e estáveis.
As interações entre os vários chakras são, portanto, bastante complexas. Conquanto
cada chakra tenha suas próprias funções, relativas ao sistema como um todo, dentro desse
sistema determinados centros possuem conexões intrínsecas e especiais. Uma união como
essa envolve os chakras do solar, do coração e das sobrancelhas; outra interliga os chakras
61
do coração, das sobrancelhas e da coroa. Quero dizer, além disso, que existem pequenos
centros subsidiários nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Embora não façam parte do
sistema de chakras maior, são importantes para a saúde e a cura.
Quando somos tomados por emoções muito fortes, os chakras do coração e das
sobrancelhas reagem, mas os primeiros efeitos, em geral, são sentidos no plexo solar,
bastante sensível aos sentimentos de outras pessoas. É aí que a energia emocional
tumultuada pode atingir diretamente o corpo, sobretudo na região do trato digestivo. A
raiva e o ciúme, por exemplo, são explosivos e consomem muito mais energia do que
outras emoções; consequentemente, podem drenar rapidamente a energia do plexo solar,
deixando a pessoa fraca e exausta. Contudo, essas emoções, em geral, deixam a aura
muito rapidamente. A ansiedade e a depressão são mais lentas e insidiosas, mas podem
ser ainda mais debilitantes, porquanto minam a energia de todo o sistema dos chakras por
um período de tempo considerável. A tensão resultante atua nas glândulas supra-renais, e
com o tempo pode, inclusive, afetar o sistema imunológico do corpo.

Os chakras superiores

O chakra da coroa, o mais eminente do sistema, é um órgão envolvido com todas as


esferas da consciência, desde as menores variações no funcionamento do cérebro até a
mais elevada experiência espiritual. Portanto, é o centro dominante, de tamanha
importância que em algumas tradições nem sequer está incluído no sistema de chakras
regular, mas é considerado separadamente e acima de todos os outros. A meu ver, o
chakra do coração é igualmente importante, pois o trabalho conjunto de ambos governa o
que há de mais primordial em um ser humano - a vida e a consciência. Por este motivo,
esses chakras são resistentes a danos. Evidentemente, se uma pessoa apresenta um
problema cardíaco, este aparecerá na luminosidade flutuante deste chakra; mas, se a
pessoa é pacífica e bem integrada, o centro será normal. Novamente, é a soma total das
emoções de uma pessoa que afeta os chakras.
O chakra do coração é expansivo, abrindo-se e irradiando energia sempre que sentimos
amor e afinidade. Este centro relaciona-se com todos os aspectos elevados e mais altruístas
de amor, mas é também bastante sensível a outras emoções, tais como mágoa,
preocupação com pessoas que nos cercam, orgulho ou depressão. Isto porque, devido à
íntima inter-relação entre os centros energéticos, a energia alterada que se aloja no plexo
solar pode ascender até o chakra cardíaco. Esse centro é extremamente importante para a
saúde, pois, como já disse, ele é a sede da vida. Está ligado à glândula timo e, através dela,
ao sistema imunológico, afetando assim todo o corpo. Em nível superior, o coração é um
centro de energia espiritual (intimamente associado ao chakra da coroa) e de integração
pessoal - etérica, emocional, mental e espiritual.
Três dos chakras superiores - o da coroa, o das sobrancelhas e o cardíaco - relacionam-
se com toda a atividade criativa, bem como com a auto-expressão, enquanto o da garganta
e o do plexo solar representam importantes papéis na projeção emocional. O chakra da
garganta está especialmente envolvido nas interações humanas e com o esforço para
62
alcançar e comunicar-se com as outras pessoas. Portanto, ele é proeminente em
professores, músicos, atores e em todos os tipos de artistas.
A criatividade com a qual se relaciona o chakra das sobrancelhas não está
necessariamente limitada a artes e ciências. É antes um tipo de criatividade que se
expressa nas novas formas de pensar, nas utilizações práticas da imaginação, na
ingenuidade capaz de romper estereótipos e inventar maneiras melhores de agir. Essa
criatividade pode manifestar-se em praticamente todas as áreas - nos negócios, na
indústria, na política e educação, bem como nas artes, ciências e tecnologia. A habilidade
de relacionar-se convincentemente com as outras pessoas, oriunda da capacidade que tem
a aura de expandir-se com rapidez, acentua-se quando existe um bom sincronismo entre os
chakras das sobrancelhas e o do plexo solar, o que confere o poder da projeção pessoal.
Em todas essas interações existe uma espécie de reciprocidade. A atividade dos
chakras torna a auto-expressão criativa mais fácil e natural, e o exercício desta habilidade,
por sua vez, estimula esses centros energéticos. Por exemplo, como o chakra da coroa está
basicamente envolvido com a consciência, ele se expande através da meditação e torna-se
mais luminoso. O chakra entre as sobrancelhas também é afetado, particularmente pelo
tipo de meditação que utiliza muita visualização ou por outras disciplinas que valorizam a
atenção concentrada. Assim, a meditação estimula os três centros superiores, e, por sua
vez, a intensificação da atividade dos chakras energiza e harmoniza todos os campos,
incluindo o próprio corpo.
A experiência estética, isto é, a reação à beleza, seja na natureza ou na arte, também
expande a nossa consciência e aproxima-nos intensamente daquilo que estamos
vivenciando. Aqui, os chakras das sobrancelhas e do coração estão ativos: o primeiro, por
estar associado à percepção; e o segundo porque a sua natureza expansiva nos unifica com
outros aspectos do mundo.
Muitas pessoas querem saber se os chakras individuais podem ser diretamente
influenciados pela cura e outras práticas. Tenho dito que a meditação proporciona esse
efeito, isto porque a prática é congruente com as funções dos próprios chakras. É
importante lembrar não apenas que os chakras têm suas funções específicas, mas também
que possuem sua própria ordem interna. Assim, como tudo o mais no campo emocional,
esses centros podem ser modificados pela doença, bem como por aquilo que pensamos e
sentimos ao longo de um período de tempo. Mas, se queremos influir sobre os chakras
diretamente, temos de fazê-lo dentro dos parâmetros de sua própria ordem, tarefa esta
nada fácil de realizar. Infelizmente, certas pessoas parecem considerar possível estimular
os chakras muito rapidamente e através de procedimentos bastante simples, enquanto, na
realidade, esta tarefa é difícil e exige esforços constantes e prolongados.

Kundalini

Muitos livros têm sido escritos acerca da possibilidade de "despertar" a kundalini,


energia relacionada com as mais elevadas esferas da consciência. Descrições dessa força,
encontradas sobretudo no Tantrismo tibetano e hindu, afirmam que a kundalini se
63
encontra latente no chakra raiz, na base da coluna. Na maioria das pessoas, essa energia
está adormecida, e autoridades no assunto concordam em que esta deve permanecer
assim até que o indivíduo, por meio de práticas disciplinares, consiga libertar-se de desejos
egoístas. A kundalini costuma ser chamada de Fogo da Serpente, pois a Deusa "mais sutil
do que a fibra do lótus, luminosa como o relâmpago, encontra-se enroscada e adormecida
como uma serpente... e próxima de seu corpo está a porta de Brahman (isto é, o chakra
superior ou da coroa, que é a porta para a consciência superior)".(4) Quando esse fogo é
estimulado, ele ascende como um raio pela medula espinhal, atravessando todos os
centros, incitando-os desta forma a atingir novos níveis de atividade. Mas, se a kundalini é
despertada prematuramente em uma pessoa sob outros aspectos despreparada, os efeitos
podem ser bastante dolorosos.
Novamente, a tarefa de influir sobre o centro associado (felizmente) nada tem de fácil
e, para haver sucesso, todo o sistema de chakras precisa estar envolvido. Tive a boa sorte
de travar conhecimento com um alto lama tibetano que praticava a meditação desde a
mais tenra infância. Ele é muito interessante, para mim, porque é uma das poucas pessoas
que pude observar em quem todo o sistema de chakras, incluindo a kundalini, trabalhava
como uma totalidade harmoniosa e integrada.
Estou certa de que isso não se deve apenas a seus talentos naturais, mas também ao
fato de que, na tradição tibetana, ele precisou submeter-se durante anos ao mais rigoroso
treinamento e disciplina. Como resultado, ele é dotado de genuína introvisão e sabedoria
e, ao mesmo tempo, consegue projetar suas ideias para outras pessoas, assumindo assim o
papel de liderança. No entanto, ele é extraordinariamente simples e despretensioso, e
jamais dá a impressão de considerar-se um ser superior.
Neste caso, todos os chakras estão plenamente ativos e trabalham juntos numa
totalidade harmoniosa. Por esse motivo, ele é um ser totalmente integrado.

Integração pessoal

Tentei, de maneiras diversas, transmitir as inter-relações íntimas existentes entre as


diferentes dimensões da consciência. Embora descreva a aura emocional como uma
entidade separada, deve-se ter sempre em mente que é impossível separar o sentimento
de suas associações mentais, ou o pensamento de seu conteúdo emocional. Esta íntima
interação entre mente e emoção, que se baseia no princípio da ressonância, é, ao mesmo
tempo, natural e normal.
Contudo, em muitas pessoas a mente e as emoções não trabalham bem juntas, e,
então, a falta de sincronismo causa uma disfunção ou anomalia. Algumas pessoas, dotadas
de intensa vida mental, têm medo das emoções e acham que só estão livres das exigências
dos demais quando engajadas em atividades intelectuais. Tais pessoas, em geral, são
emocionalmente incapazes.
A aura expande-se e contrai-se de acordo com nossos estados de ânimo,
interpenetrando e interagindo com as auras de outras pessoas; no entanto, permanece
sempre uma unidade. Esta unidade não é alcançada através apenas da energia emocional,
64
mas, sim, por meio de suas interconexões com o físico e o etérico, bem como com os
campos superiores. O etérico estabelece um padrão físico; poder-se-ia dizer que a história
genética está resumida dentro dele. Contudo, as emoções exercem poderoso efeito sobre
o corpo físico também, porquanto podem ser deprimentes ou estimulantes. Em resumo,
são as inter-relações entre todas essas dimensões que fazem de nós indivíduos únicos,
diferentes uns dos outros.
Além disso, somos todos condicionados pelos eventos físicos que exercem
constantemente influência sobre nós, e aos quais reagimos de formas variadas. Portanto,
não basta possuir grande capacidade de concentração, imaginação ou criatividade; para
que floresçam, estes talentos devem ser utilizados. Dessa forma, nossas experiências no
mundo físico nos modificam radicalmente e nos tornam amorosos ou coléricos, criativos ou
frustrados. Nosso karma nos traz ao mundo com determinados dons e nos coloca em
situações específicas. Mas nossa liberdade está naquilo que fazemos disso.
Numa pessoa bem equilibrada, existe uma simetria entre as partes superior e inferior
da aura, e as cores presentes acima da faixa verde se refletem abaixo. Isso indica que a
pessoa está usando plenamente seus recursos emocionais. A exatidão desse reflexo
depende da habilidade de a pessoa expressar essas qualidades na vida - isto é, vivenciá-las.
Nesse caso, todas as cores alcançam as bordas da aura, pois as emoções estão sendo
livremente expressas. E, o que é mais importante, as cores se concentram no coração, o
qual, como já disse, é o centro da consciência - não como foco do pensamento, mas como
ponto de auto-integração. É aí que todas as energias se reúnem e o indivíduo se harmoniza
com a ordem natural. Todas as pessoas altamente evoluídas e espiritualizadas, por mim
observadas, concentram-se no coração. Eu não chamaria a isso consciência cósmica -
expressão grandiosa demais -, mas, sim, uma percepção contínua do aspecto unitivo ou
espiritual do mundo.
Estudiosos do Budismo tibetano, tais como Lama Govinda, afirmam que nossa intenção
ou aspiração primordial, nosso objetivo fundamental de vida, jamais se perde; constitui um
fio condutor presente em todas as mudanças. Conquanto os budistas aceitem a
reencarnação, rejeitam a existência de um self permanente - ou mesmo de uma
individualidade. Não pretendo afirmar que o self é eterno, mas certamente ele persiste ao
longo de toda a existência e além.
Para mim, o princípio de integração que unifica as muitas dimensões da consciência e
da energia dentro de nós é este self intemporal. Imutável em si mesmo, ele é a causa
fundamental e a origem de tudo o que somos e podemos ser.

(4). Tanira of the Great Liberation, de Arthur Avalon, Dover Publications, N. Y., 1972, p.
1viii.

65
II – O Ciclo da Vida

5. O Desenvolvimento do Indivíduo

A aura é, ao mesmo tempo, uma representação do nosso caráter inato, uma indicação
dos nossos potenciais e um registro das nossas experiências. No caso de uma criança, os
dois primeiros aspectos estão presentes, mas as experiências residem todas no futuro; por
conseguinte, existem grandes diferenças entre a aura de um adulto e a de um bebê ou a de
uma criança pequena. Procurei deixar claro o fato de que, no nível das emoções, o caráter
básico de um indivíduo é continuamente submetido aos efeitos da experiência, e que a
dinâmica da vida diária a longo prazo produz potencialidades ou as suprime.
Como adultos, passamos por muitos tipos de experiências diferentes, algumas das
quais nos trazem sentimentos mistos de sucesso ou fracasso, felicidade ou sofrimento.
Como resultado, em geral somos ambivalentes em relação ao ocorrido, e essa ambivalência
cria incertezas e dissonâncias na aura. Poucas destas aparecem em crianças muito
pequenas, cujas auras, via de regra, são claras e descomplicadas. À medida que o bebê
cresce e se transforma em uma criança, os potenciais começam a se manifestar, as
experiências do mundo externo começam a exercer influência e a aura passa por vários
estágios de transformação. Como se poderia esperar, as auras de crianças pequenas
mudam muito rapidamente, no ritmo de seu desenvolvimento físico e mental.
Como você verá nas imagens apresentadas, o bebê chega ao mundo com determinadas
características inatas, que, em certo sentido, se encontram no interior da aura como brotos
bem fechados. Essas habilidades incipientes começam a se manifestar logo no começo da
vida, à proporção que a criança interage com outras e começa a explorar o mundo. O
talento musical, por exemplo, floresce muito cedo e, em escala menor, a rapidez de
aprendizado de uma criança bem como o seu afeto e a capacidade de relacionar-se com os
demais manifestam-se em tenra idade.
Essas predisposições e talentos básicos são potenciais disponíveis na criança, mas seu
desenvolvimento pleno no futuro depende de muitos fatores. Relacionamentos pessoais,
motivação e interesse, bem como condições kármicas, tais como oportunidade - tudo
representa seu papel.

Os skandhas

Atualmente, é comum relacionar habilidades inatas e fatores genéticos. Não coloco em


dúvida a importância desses fatores, mas ao longo de toda a minha vida aceitei o fato de
reencarnação, e, segundo minhas observações de bebês e crianças, estou certa de que as
experiências de uma existência passada também têm seu papel nesta vida. Todas as

66
pessoas vêm ao mundo com determinados atributos, ou skandhas, como os chamam os
budistas: "condições da existência" que todos trazemos conosco por ocasião do
nascimento. Embora eles tenham uma conexão evidente com fatores genéticos, existe
também uma individualidade básica e única, por vezes estranhamente diferente do padrão
familiar, com inexplicáveis idiossincrasias. Sabemos que, durante a vida, o presente é criado
para um indivíduo por vivências passadas; a reencarnação simplesmente estende este
passado, incluindo uma herança maior de experiências assimiladas.
Conforme veremos na discussão sobre auras de crianças, os conceitos de reencarnação
e karma estão sempre ligados ao problema do determinismo. Existem, por exemplo,
crianças que nascem com uma constituição muito receptiva e sensível, o que as torna
vulneráveis às emoções das outras pessoas. Esta situação é difícil para a criança, e será um
teste para o seu caráter ao longo da vida. Os resultados não são determinados e não
podem ser previstos.
O conceito de skandhas, creio eu, é o que melhor consegue identificar a relação causal
entre o nosso passado como um todo e aquilo que somos agora. Poder-se-ia dizer que
todos nós somos "causados" por nossa herança - fisicamente, é claro, mas também mental
e emocionalmente. Contudo, segundo a reencarnação, essa herança não se limita a esta
vida breve, mas estende-se muito aquém, aos primórdios de nossa consciência. E alcança
igualmente o futuro mais distante, pois aquilo que somos hoje - incluindo as mudanças que
promovemos em nós mesmos - torna-se a semente daquilo que seremos. Esta é a essência
da evolução da consciência.

Indicadores kármicos

As auras de bebês e crianças atestam essa conexão causal com o passado; essa relação
é representada pelas formações peculiares e misteriosas, característica comum aos jovens,
mas que desaparece na vida adulta. (Ver ilustrações 1, 2, 3.) Esses traços têm relação com o
futuro do indivíduo, por isso os chamei de "indicadores kármicos", na falta de melhor
expressão. É muito difícil vê-los e descrevê-los, pois estão envolvidos com diferentes
aspectos da dimensão de tempo. Nossa experiência do tempo, sem dúvida, é
extremamente complexa. Visto ser o karma uma relação causal, ele está ligado ao fator
tempo: recua muito no passado e, especialmente no caso de crianças, em geral é liberado
posteriormente.
Em razão de tudo isso, os indicadores kármicos representam a essência daquilo que um
indivíduo irá vivenciar nesta encarnação, e mostram as sementes de problemas que serão
defrontados no futuro. Mas não revelam, necessariamente, as situações que irão deflagrar
esse problemas. Como já disse, sob muitos aspectos são os traços da aura humana mais
difíceis de examinar e interpretar, pois parecem ser multi dimensionais. Dizem respeito a
condições gerais da vida futura - problemas e dificuldades que poderiam assumir formas
diferentes e ser solucionados de modo diversos. Em outras palavras, não constituem
prescrições específicas para eventos posteriores. Assim, aquilo que se vê no interior desses
indicadores não é um conjunto de eventos predeterminados que uma pessoa terá
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inevitavelmente de enfrentar (como um acidente aos 20 anos, por exemplo), mas, sim,
tipos de situações a serem encontradas durante a vida. Isto confirma minha afirmativa de
que o karma não é determinista.
Tais situações, via de regra, são involuntárias, mas têm de ser confrontadas; por
conseguinte, relacionam-se com o rumo a ser tomado por nosso futuro. A liberdade reside
na forma de enfrentar essas situações - sejam elas um desafio a nossa criatividade ou um
obstáculo intransponível ao nosso desenvolvimento. Não se pode prever como reagiremos
a tentativa de interpretar os indicadores nas auras de crianças, portanto vez por outra errei
nas questões específicas, mas não nas generalidades.

"Depósito da consciência"

Existe outro ensinamento budista relacionado com a natureza misteriosa desses


indicadores kármicos, presentes nas auras das crianças. É o conceito de "depósito da
consciência", (5) a ideia de que a totalidade de experiências passadas de uma pessoa (tanto
os atos como seus frutos) de alguma maneira nunca se perde, mas permanece armazenada
em um nível profundo da consciência, o qual, conquanto inobservado, está sempre
presente em nós. (Análogo, talvez, ao modo como toda a história de nossa Terra está
preservada em sua presente estrutura.) Embora eu não saiba até que ponto esse conceito
tem sido desenvolvido no Budismo, segundo minha própria observação ele é uma pista
para as formas como o karma é aceito pelo indivíduo no nascimento como parte das
condições desta vida particular - o padrão prestes a desenvolver-se.
Assim, quando vejo essas formações na aura de uma criança, percebo-as como reflexos
das sementes de individualidade provenientes do nível mais profundo do self Elas vão
muito além da herança das características físicas. Admite-se hoje, que os genes portam
algumas predisposições emocionais - tendências para determinados tipos de resposta
emocional ou mental. Às vezes, vemos traços dos pais refletidos na criança, e isso não
resulta, necessariamente, de influência parental, Não se pode dizer que são herdados, mas.
Sim, que os fatores genéticos acolhem o desenvolvimento de tais características: a
predisposição está presente, como em famílias musicais, onde o ambiente a encoraja. Tudo
isso está representado nos indicadores kárrnicos, pois, naturalmente, é uma questão de
karma a família na qual se nasce.
Nas descrições subsequentes de crianças, tudo aquilo que prognostiquei na ocasião a
respeito de seu futuro (correta ou incorretamente, pois. como já disse, às vezes errei)
baseou-se na observação que fiz desses indicadores kármicos. Por outro lado, coisas como
temperamento, potencialidades e qualidades emocionais ou características pessoais das
crianças aparecem nas cores da própria aura.

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Os skandhas

No Budismo, define-se a personalidade ou individualidade humana como composta de


cinco "pilhas" ou "feixes de atributos", em geral categorizados como os sentidos, os
sentimentos, as percepções, a volição e a pura consciência ou percepção.
Lama Govinda ressalta que os skandhas não podem ser vistos como partes separadas
que compõem uma pessoa, mas apenas como diferentes aspectos de um processo
indivisível, pois, segundo Pali Canon: "Aquilo que se sente é o que se percebe, e aquilo que
se percebe é do que se tem consciência." (6)
Diz-se que o sel é pessoal é impermanente, pois este, à semelhança de todos os
fenômenos, depende do processo de mudança legítima, ou princípio de causalidade. A
teoria do karma, proveniente deste princípio, harmoniza as circunstâncias atuais e os
resultados de ações passadas, e sustenta que nossa existência atual se deve a impressões
do karma da vida passada, e por sua vez dará forma ao nosso futuro. Como descreve Lama
Govinda:
"Assim como um oleiro cria as formas dos potes, também nós formamos nosso caráter
e nosso destino ou, mais corretamente, nosso karma, resultado de nossas ações por atos,
palavras e pensamentos... Os skandhas, grupo de formações mentais... como resultado
desses atos de volição, tornam-se a causa de nova atividade e constituem o princípio
ativamente regulador ou caráter de uma nova consciência."
"Depreende-se daí a natureza dinâmica da consciência e da existência, a qual pode ser
comparada com um rio que, não obstante seus elementos em contínua mudança, mantém
a direção do seu movimento e preserva a sua identidade relativa... Este é o curso da
existência ou, mais corretamente, do vir-a-ser - no qual todas as experiências ou conteúdos
da consciência têm sido armazenados desde tempos imemoriais, afim de reaparecer na
consciência ativa e de vigília, sempre que as condições e associações mentais os chamam.”

Potencialidades

Contemplando, portanto, a aura de uma criança pequena, tenho uma ideia geral de
quais serão suas potencialidades - sejam elas artísticas ou intelectuais, por exemplo -, mas
não posso dizer como irão desenvolver-se. Poderia equivocar-me quanto às formas de
essas potencialidades se manifestarem, pois elas se desenvolvem gradualmente e, às vezes,
nunca chegam a realizar-se plenamente nas atividades e experiências diárias da vida de
uma pessoa. Aqui o karma tem a sua importância, porquanto as circunstâncias em que nos
encontramos talvez não possibilitem o florescer de um talento ou de uma predisposição
com a qual nascemos.
A interação entre mente e emoção, a respeito da qual já falei, constitui uma troca de
energia sempre condicionada, de alguma maneira, por um padrão básico do indivíduo,
inerente desde o nascimento. Contudo, essa interação é influenciada pelo ambiente da
69
pessoa, como, por exemplo, uma infância na qual as emoções foram reprimidas. Existe
sempre em nós uma mistura das características com as quais nascemos e do
condicionamento que as reveste como resultado da nossa experiência. Praticamente nem é
preciso mencionar essa observação, pois ela é amplamente reconhecida como a interação
natureza-criação no desenvolvimento da personalidade.
Algumas pessoas são fortes o bastante para superar as deficiências com que nascem, e,
assim, talvez não sejam afetadas nem mesmo por um ambiente muito negativo. Por outro
lado, pessoas nascidas com intelecto brilhante podem ter muito medo das suas emoções,
condição resultante, provavelmente, de sua criação. Assim, quando se vê a presença vaga
do adulto na criança, não se pode dizer com exatidão como essa presença eventualmente
emergirá, ou quais serão suas características e comportamento exatos.

Vulnerabilidade emocional

Alguns bebês e crianças pequenas são vulneráveis às emoções de outras pessoas, pois
não podem ainda compreender suas causas. Se, por exemplo, as crianças são submetidas à
crítica constante por parte de seus pais, poderão facilmente interpretar isso como
desaprovação ou rejeição, quando na verdade tal atitude pode resultar do interesse e
desejo dos pais de que elas sejam bem-sucedidas. O efeito sobre o campo emocional de
uma criança, contudo, será o de contínuo estado de ansiedade, e, se este estado persistir
por muito tempo, poderá constituir um fator de muita inibição.
Descobri que muitos pais não percebem os efeitos de suas próprias emoções sobre os
filhos. Se um pai tem uma súbita explosão de raiva com um filho (a qual pode ser
inteiramente justificada), tal atitude deflagra uma forte interação momentânea, mas, em
geral, a raiva se dissipa rapidamente. Contudo, se o pai desaprova constantemente o filho,
isto poderá causar não apenas ressentimentos, mas, também, o que é mais importante,
poderá minar a autoconfiança da criança a ponto de afetá-la pelo resto da vida.
Por outro lado, uma relação amorosa entre pais e filhos é, ao mesmo tempo,
estabilizadora e energizadora, desenvolvendo lentamente a sensibilidade e a comunicação
mútuas, cujos benefícios duram por toda a vida, porquanto cria uma atmosfera de
confiança básica.
Gostaria de fazer mais uma observação geral a respeito das auras. Quando, nos
quadros subsequentes, vemos no topo da aura as faixas de luz relacionadas com inspiração
e percepção espiritual, elas são um reflexo do potencial do indivíduo, mas representam
também a ligação entre essa pessoa e o selfintemporal, ou com a dimensão espiritual da
consciência humana. Qualquer que seja o nome dado por nós, este aspecto do ser humano
é a ponte para uma realidade superior, da qual todos nos originamos - ponte esta que
existe sempre, não importa se a utilizamos ou não.

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1. A mãe e o feto em gestação

Nosso primeiro quadro representa a aura de uma mulher de aproximadamente 22 anos


de idade, grávida de sete meses. Como você pode ver, a aura do bebê é bastante diferente
da aura da mãe, embora estejam interligadas de várias maneiras.
Vejamos primeiro a mãe. A gravidez efetuou mudanças em seus padrões de energia,
como seria de se esperar. As válvulas de energia nas bordas da aura estão um tanto
dilatadas, e não apresentam mais a forma cônica; ampliaram-se na base e estreitaram-se
no topo. Essas mudanças ocorreram a fim de permitir-lhe receber mais energia, e também
protegê-la dos distúrbios emocionais de outras pessoas, para que seu próprio ritmo não
fosse afetado. Desta forma, o seu mecanismo de rejeição atua mais seletivamente.
71
A primeira impressão geral desta aura são a sua clareza e simplicidade notáveis. Isto se
deve, em parte, à juventude da mulher, mas basicamente à sua própria natureza. Como
você pode ver, é uma aura com muito rosa, pois ela era uma moça muito amorosa,
generosa e meiga, naquele período plena de sentimentos de amor pelo marido e a família,
além de extremamente feliz com a gravidez. Acima da faixa verde, o tom de rosa é mais
suave; representa a capacidade inata da moça para o amor. A grande área de um tom rosa
mais escuro abaixo da faixa verde reflete o amor pela família que dominava suas emoções
naquele momento; a alegria com a gravidez tornava-a amigável com o mundo. Essa
característica talvez não fosse tão marcante no futuro.
A grande área verde-claro na parte superior da aura, oposta ao rosa, indica que uma de
suas qualidades inatas era a simpatia ou empatia, característica que, juntamente com o
rosa do afeto, traduz-se em bondade amorosa e desejo de ser útil aos demais. Como você
pode perceber, a cor funde-se com o amarelo que surge bem acima da cabeça, de ambos
os lados. O amarelo é sempre a cor da mente; no caso desta moça, ele não se apresenta
como potência intelectual mas, sim, como a habilidade de relacionar-se com as pessoas
através de compreensão solidária. Esta grande área verde no alto da aura personifica
também as qualidades de receptividade, bem como a atitude de aceitação e a tentativa de
tirar sempre o melhor das coisas. Devemos lembrar, contudo, que as cores na parte
superior da aura da moça são seus potenciais (afinal de contas, ela ainda era muito jovem),
bem como aquilo que ela estava expressando na ocasião.
A garota era católica praticante e ia diariamente à igreja durante a gravidez. Esta
devoção religiosa está indicada no azul estendendo-se acima da cabeça, e também nas
linhas de azul mais escuro que penetram a aura do bebê, causadas pelas preces oferecidas
diariamente pelo bem-estar do bebê. É interessante notar que um bebê, em geral, é
bastante protegido de influências emocionais externas, mas, neste caso, as linhas de
sentimento religioso penetram diretamente seu escudo protetor.
A faixa verde mostra que ela era bastante prática e capaz, mas a cor clara indica que
ela não estava usando muito esta aptidão naquele momento. As linhas cobrindo a faixa e
descendo para a região inferior da aura indicam que seus atos e interesses estavam todos
voltados para o interior, para o bebê, e que a maior parte de sua energia tomava essa
direção. Tudo isto mudaria por ocasião do nascimento do bebê.
Na base da aura, junto e abaixo dos pés, sempre são vistas as cores escuras que
revelam traços de egoísmo, pois muito poucos de nós estamos completamente livres do
interesse pessoal. No caso dessa moça, esses traços estavam muito menos presentes do
que o normal, representados na listra marrom bem abaixo à esquerda, resultante do
sentimento ocasional de que a família é um fardo do qual ela gostaria de libertar-se; este
traço marrom mistura-se com o azul-escuro de tensão causada pelo fato de que ela estava
se forçando a continuar trabalhando, quando não era isso o que queria. No caso dela, a
separação de listras cinzas, azuis, marrons e verdes não oferece uma imagem exata, pois,
na realidade, essas cores estavam misturadas em uma formação enevoada. A dificuldade
de tentar retratar tais características da aura reside na impossibilidade de combinar
pigmentos diferentes sem perder seu caráter individual, enquanto na aura as cores sempre
permanecem distintas, mesmo quando estão misturadas.
72
O fragmento de cor cinza indica que o começo de sua juventude foi prejudicado por
uma época de aborrecimentos e depressão, agravados pela preocupação com pessoas que
amava. Os remoinhos róseos à esquerda de seus pés mostram que ela ainda não estava
inteiramente livre dessa preocupação. Um desses remoinhos está um pouco mais alto na
aura, dentro de uma área azul, indicando a sua determinação em iniciar um curso de ação
capaz de criar algum conflito com aquelas pessoas que ama.
Do lado oposto da aura, a grande área amarelo-esverdeada mostra que ela precisou
trabalhar quando ainda muito jovem. O tom acinzentado, particularmente na direção da
base, indica que o trabalho era tedioso e monótono, e também que ela se associou com
algumas pessoas desatenciosas, as quais exerceram nela um efeito de depressão. A pluma
cinzenta, provavelmente, foi causada por alguma enfermidade no passado não muito
distante, a qual lhe sugou as energias e trouxe-lhe o medo de que, talvez, não fosse forte o
suficiente para fazer tudo o que se esperava dela. Mas considerei este estado apenas
temporário, o qual deixaria sua aura dentro em breve, sob a influência da gravidez.
Embora nunca tivesse visto essa moça antes dela posar para nós, pude dizer
imediatamente ser ela uma pessoa basicamente forte, saudável, estável e equilibrada,
exibindo alguns sinais de tensão. É o que mostra o fato de as cores claras da aura inferior
fluírem diretamente para as bordas. Isto é notável, pois vim a saber depois que ela havia
nascido nos bairros miseráveis da cidade de Nova York, destituída de vantagens materiais
de qualquer tipo, de modo que desde a adolescência ela precisou trabalhar duro,
submetida a condições difíceis. Já na infância, cabia-lhe a responsabilidade de prover a
subsistência de outros membros de sua família, mas raramente ela se queixava disso, e não
guardava nenhum tipo de ressentimento.
Ela estudara pouco, portanto tivera muito poucas oportunidades de desenvolver o seu
intelecto - o que deduzi pela tonalidade clara do amarelo e sua posição no alto da aura.
Ainda assim, ela era uma moça sensível. A despeito da vida que muitos teriam considerado
difícil, ela não guardava amargura nem autocomiseração dentro de si, mas na realidade era
uma pessoa delicada, simples, alegre e amorosa. Poucas vezes conheci alguém com uma
natureza tão desprendida. Esta era a sua qualidade inigualável.
Isto não quer dizer que vez por outra ela não ficasse deprimida, ou que não passasse
por dificuldades. Ela enfrentara muitos problemas e a vida não tinha sido fácil para ela.
Ocasionalmente, ela se preocupava com o futuro do bebê, preocupação representada pelo
tom cinza misturado ao rosa-pink na região inferior da aura. Os vórtices avermelhados na
parte inferior esquerda representam pequenas irritações, tais como falta de dinheiro, mas
o fato de estarem presentes na superfície e não profundamente fincadas na aura indica
serem apenas temporárias, e desapareceriam dentro de um ou dois dias. De modo geral, os
problemas sofridos por essa moça no passado tinham um efeito extraordinariamente
pequeno sobre ela.
Uma das coisas mais interessantes desta aura é a presença de duas configurações
simetricamente situadas em cada lado acima da faixa verde. Já falei dos indicadores
kármicos presentes nas auras de crianças, os quais prenunciam o seu futuro de alguma
maneira misteriosa, este caso, visto ser o karma do bebê ainda inteiramente dependente
da mãe, esses indicadores aparecem na aura da mãe, conquanto estejam ligados ao bebê
73
através de linhas de energia. Pensando bem, não é de se estranhar, pois representam o
padrão do seu futuro karma e ainda não estão afetando muito o bebê. E como existe
sempre uma ligação kármica entre mãe e filho, esses indicadores também agem
indiretamente sobre ela. No momento do nascimento da criança, eles desaparecerão da
aura da mãe e reaparecerão na do bebê, como se pode ver na imagem do pequeno que se
segue à da progenitora.
Nesse estágio, o futuro do bebê é prenunciado, por assim dizer, pelas linhas de luz que
interligam os indicadores kármicos com a aura dele. Como já disse, essas configurações
representam as tendências com as quais o bebê terá de lidar no futuro, e contêm imagens
relacionadas a pessoas e eventos do futuro. Em um feto tão próximo do nascimento,
determinados padrões estão apenas começando a ser introduzidos na psique, ou campo
emocional da criança, impregnando-a até mesmo antes de vir ao mundo, pois esses
padrões são praticamente inevitáveis. (Refiro-me ao bebê como "ele" porque, neste caso,
tive certeza de que seria um menino.)
Na minha opinião, o karma - e de fato todos os nossos atos - representa liberações de
energia, mas esta não é necessariamente física. Ela pode ser gerada em diferentes níveis de
consciência. No nascimento, a alma ou self aceita aquilo que irá realizar - o que irá assumir -
no que diz respeito à energia tanto construtiva como destrutiva. Assim, o padrão kármico
começa a desdobrar-se. Cometemos um erro ao pensar que padrões destrutivos ou difíceis
são "maus". Nascer com alguma deficiência, por exemplo, segundo o ponto de vista
imediato, significa um mau karma, mas a longo prazo pode representar uma oportunidade
de crescimento interior.
A aura real do bebê é representada pelas faixas de cores fortes, escuras, concêntricas
no centro do quadro. Em torno destas, existe uma nuvem opalescente de cores delicadas.
Este é um mecanismo protetor por mim mencionado anteriormente, o qual protege o
bebê de choques emocionais e pode ser considerado o equivalente astral da barreira
placentária. Embora seja permeável, sobretudo às energias superiores, ele protege o bebê
dos piores efeitos se a mãe for sujeita a trauma ou a violentos abalos emocionais. Em
outras palavras, se existem forças destrutivas dentro da mãe, o que infelizmente às vezes
acontece, esta barreira impede que destruam o feto astral, conquanto alguns efeitos
negativos ainda possam ser sentidos.
A cor amarela na área fetal, neste caso, não significa intelecto; é antes o reflexo da
tremenda quantidade de prana (energia vital) que está sendo despejada sobre o bebê. As
linhas verdes de força que cruzam a aura são uma indicação de troca de energia entre mãe
e filho no nível emocional, mas pode-se ver que - ao contrário dos efeitos radiantes das
preces daquela - elas não penetram a nuvem opalescente que protege o bebê. Na verdade,
a devoção religiosa da mãe alcança o bebê apenas porque constitui energia de nível muito
superior.
Visto ser esta imagem uma representação bidimensional de uma forma tridimensional,
a aura do bebê assemelha-se a um disco plano, mas, na realidade, é um globo redondo,
formado de esferas coloridas e concêntricas. Em seu núcleo, existe uma esfera central
roxa/azul, que representa o seu foco de energia. Esse centro está ligado ao self ou alma
superior do bebê, que nesse estágio de desenvolvimento ainda se mantém separado do
74
bebê.
Em torno desse centro, estendem-se três esferas coloridas: a mais interna é verde; a
seguinte, rosa; e a mais externa, azul. E toda a aura está em contínuo movimento de
pulsação. No feto, a aura parece ter sempre uma estrutura circular e estar em lenta
rotação, pois as emoções ainda se encontram envolvidas e completas em si mesmas, e não
se ampliam para o exterior, para o mundo da experiência.
As cores aqui são muito acentuadas, indício de que o bebê teria uma personalidade
forte e bem definida. O tom verde-escuro indica uma natureza prática; previ que ele
poderia realizar muito, porque a sua concentração seria no mundo físico. O rosa-escuro
indica uma natureza profundamente afetuosa, enquanto o azul-escuro pressagia uma força
de vontade igualmente forte e uma personalidade marcante, que eventualmente poderia
tornar-se dominadora. A aura como um todo é muito definida, e sugere uma criança que
se tornará um homem forte, estável, poderoso, mas bondoso e afetuoso.
No caso deste bebê, previ que ele seria um político protegido ou ocuparia alguma
posição na qual influenciaria um número considerável de pessoas. Errei neste ponto, pois
soube, muito tempo depois, que se havia tornado um cientista, mas acertei em outro
aspecto, pois ele de fato trabalha com os materiais do mundo físico, onde afirmei que
repousaria sua concentração. Embora nunca mais tenha visto mãe e filho, contaram-me
que ele fizera uma carreira de sucesso e se tornara o esteio de uma grande família, que
contava com sua orientação e apoio.

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2. Um bebê de sete meses

A ilustração 2 mostra a aura de um menino de sete meses de idade, uma criança


saudável e vivaz.
Após o nascimento, a aura passa por certas mudanças radicais. No feto, toda a aura
estava envolvida dentro das faixas de cor que representam seus traços de caráter
fundamentais, porquanto até então ele não tivera contato com o mundo da experiência. A
partir do nascimento, esta situação se modifica, pois, com o primeiro suspiro, o bebê
começa a interagir com o ambiente e a sentir essa interação. As emoções básicas
reorganizam-se e iniciam o processo de expansão.
Aos sete meses, esse bebê estava começando a buscar as pessoas e a reagir a esta
experiência. A forma da aura está no primeiro estágio de transição, a partir da esfera do
feto, mas sua forma ainda é muito mais arredondada do que a de um adulto. A distribuição
de cor também é muito diferente, pois no bebê os tons são difíceis de discernir. Tendem a
misturar-se e fundir-se entre si, porquanto as emoções dos bebês são muito instáveis; eles
podem chorar em um momento e rir no outro. A aura como um todo possui uma qualidade
translúcida de difícil reprodução; de certa forma, ela cria o efeito de uma opala de brilho
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suave, na qual clarões coloridos vêm e vão.
Em torno da parte superior do corpo e da cabeça existe uma extensa área de amarelo,
o que indica estar o bebê começando a usar sua mente para explorar o ambiente.
Conquanto sua capacidade de pensar ainda seja limitada, a cor mostra que ele iria ter uma
boa inteligência. A área maior de rosa representa afeto; este bebê conhecia apenas o amor
dedicado, e o rosa representa sua resposta livre. Era um bebê forte, esperto e, de maneira
geral, muito bem-humorado.
As outras cores circundando o topo da aura, o azul/verde-claro e a cor de alfazema, são
vagas e não-desenvolvidas. Representam a ligação do bebê com o seu passado espiritual -
presença semiconsciente que permeia todas as crianças muito novas durante um período
de tempo.
A faixa verde, característica de toda aura adulta, ainda não se formou, pois o bebê não
aprendeu a expressar-se no mundo físico ou a exercitar qualquer controle sobre o seu
ambiente. Na verdade, as cores da aura nesta idade são encapsuladas ou voltadas para
dentro, e não descarregam sua energia no campo geral. De certa forma, isto é uma
proteção para o bebê contra choques emocionais; sob outro aspecto, é o resultado do
egoísmo ou egocentrismo básico (mostrado na faixa marrom na base da aura),
característica esta quase necessária em todas as crianças pequenas, que precisam
desenvolver seu sentido de ego para que possam aprender. Crianças muito pequenas
pensam quase inteiramente em termos de suas próprias vontades; à medida que crescem
e buscam as outras pessoas e o mundo que as cerca, suas auras vão-se abrindo.
As faixas concêntricas de cor forte, que no feto representavam suas características
básicas, sofrem uma transformação no nascimento. No bebê, elas são substituídas por
uma série de pequenas pétalas ou formações semelhantes a asas, as quais emergem do
próprio centro da aura. Essas pétalas, que não são realmente tão rígidas ou definidas
como parecem no quadro, constituem uma característica das auras de todas as crianças
muito jovens; representam as sementes da futura vida emocional e indicam o
temperamento e as capacidades potenciais. O número varia de pessoa para pessoa; em
geral, são quatro ou cinco.
Mesmo em tão tenra idade, tais aptidões começavam a expandir-se. Na ocasião, ainda
estavam muito próximas do corpo e suas energias, contudo, mês após mês, iriam se
ampliando até começarem a preencher toda a aura superior. Em alguns bebês, uma ou
duas pétalas se desenvolvem mais rapidamente do que as outras, mas, neste caso, todas
estavam se expandindo ao mesmo tempo.
O par de pétalas mais inferior é verde-escuro - a faixa verde embrionária neste bebê,
por assim dizer. A tonalidade indica que ele seria prático e teria os pés no chão, e também
que seria bem coordenado, com a possibilidade de desenvolver determinadas aptidões
físicas. Logo acima do verde, aparecem duas asas em tom rosa. Aqui, a cor indica que ele
seria uma pessoa afetuosa, mas de certa forma com uma tendência a perder a paciência
ou ser emocionalmente instável. As linhas tênues de tensão no rosa indicam que ele
poderia ser emocionalmente tenso num período posterior da vida.
O azul-escuro imediatamente acima do rosa é uma cor forte e mostra uma quantidade
considerável de energia potencial. Indica uma vontade forte, que ele poderá usar a fim de
77
controlar suas emoções e direcionar seus atos, mas também poderia indicar teimosia. Os
tons fortes mostram que ele sempre seria dado a emoções intensas, mas o
posicionamento dos mesmos sugere que, de modo geral, teria um bom controle sobre os
sentimentos. Acima do azul, as pétalas violeta indicam uma tendência ritualística, embora.
Provavelmente, este traço encontrasse expressão antes no gosto pela ordem e
propriedade na sua vida e, talvez, no interesse pela arte e a estética, conquanto ele
mesmo não fosse um artista.
Na parte inferior da aura podem ser vistos três dos indicadores kármicos de que falei.
Num deles existe uma indicação de que ele teria algum problema emocional, no qual sua
maior batalha seria consigo mesmo, e não com os outros. No outro, podem ser vistos
inúmeros rostos, mostrando que seu trabalho ou profissão vai exigir a interação com
muitas pessoas, e que ele terá de aprender a lidar com alguma oposição. A terceira
formação mostra algum tipo de luta espiritual.
Atualmente (50 anos depois), este bebê se transformou num homem de negócios
muito bem-sucedido, no auge da vida. Tem uma vontade forte e um bom autocontrole nas
relações com as outras pessoas, mesmo em circunstâncias difíceis (o potencial para isto foi
mostrado pelo azul). Seu temperamento é cordial e sociável, ele é amoroso e afetuoso nas
relações familiares. O bebê saudável e vivaz tornou-se um homem forte, fisicamente bem
coordenado, conforme estava previsto. Na escola e na faculdade, ele participou de muitos
esportes coletivos, e ainda é um excelente golfista e tenista. Precisou também enfrentar a
tensão e a oposição em algumas associações profissionais, conforme prognosticado em um
dos indicadores kármicos.
Um de seus potenciais menos realizados está representado pelo roxo na aura do bebê.
Quando jovem, interessou-se por literatura e ideias filosóficas, mas as circunstâncias de
vida levaram-no em outra direção e as suas energias foram dedicadas ao empresariado.
Contudo, o interesse pela arte e a música permanece, e ele é uma espécie de colecionador
de cerâmica chinesa. Desde o começo, o azul em sua aura indicava uma vontade forte e a
determinação de vencer, que não diminuíram com a idade. Ele direcionou sua grande
inteligência para obter sucesso em seus muitos empreendimentos, e sua energia e
iniciativa trouxeram-lhe confiança em inúmeras direções diferentes.

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3. Uma menina de quatro anos

A aura de uma criança de quatro anos é menos arredondada do que a de um bebê, mas
ainda não atingiu a forma oval da de um adulto. As configurações em forma de folha do
bebê desapareceram, e suas cores dissiparam-se na aura, formando faixas bastante
definidas de verde, rosa, azul e amarelo. Estas são as principais características desta
menina, as quais teriam sido representadas em círculos concêntricos no feto, e como folhas
coloridas no bebê.
Mesmo em tão tenra idade, as cores da sua aura eram brilhantes, indicação de que
seus sentimentos eram e sempre seriam intensos, e que suas reações emocionais, de um
momento para o outro, exercerão grande impacto nas decisões tomadas por ela. A menina
sempre terá necessidade de expressar seus sentimentos, e as relações pessoais serão
79
muito importantes para ela. Os dois indicadores kármicos na sua aura (bem abaixo dos
joelhos) confirmam que os seus problemas sempre serão relativos a pessoas com quem
tenha fortes ligações emocionais.
O rosa é a cor dominante na sua aura, mostrando ser ela uma criança amorosa, e que
sua natureza seria sempre carinhosa e afetuosa. O azul mais escuro acima do rosa indica a
força da vontade, no momento apenas um potencial; ainda não se poderia saber ao certo
se ela viria a usá-la com sabedoria ou não. Se usada erradamente, ela poderia tornar-se
teimosa e possessiva, pois a proximidade do azul e do rosa indica que seria generosa, mas,
ao mesmo tempo, apegada a seus afetos. Esta característica poderia perdurar ao longo de
sua vida.
A cor marrom na base da aura é causada pelo egoísmo normal em crianças, que nesta
idade se dedicam à autodescoberta e à auto-expressão. Logo acima, a faixa azul/verde
incipiente estende-se até pouco abaixo dos joelhos; à proporção que ela vai ficando mais
velha, a faixa ascenderá até a metade da aura. Sua tonalidade indica forte potencial
artístico, e o tom mais forte na base indica imaginação fértil, que caminhará junto com a
sua habilidade artística. A extensão do verde indica a capacidade de colocar seus
pensamentos e sentimentos em ação, traço este que aos quatro anos mal começava a
desenvolver-se.
O amarelo atravessando a parte superior da aura e circundando a cabeça indica a
possibilidade de uma lucidez que ela começava a utilizar. Talvez surpreendentemente, o
amarelo é mais proeminente numa criança desta idade do que pouco tempo depois, pois a
curiosidade começa a estimular o pensamento. Mas o amarelo é amorfo, difuso e sem
nitidez nem clareza, o que não se poderia esperar em uma criança tão jovem. As cores
opalescentes do arco-íris no topo da aura são típicas de todas as crianças jovens. Como já
mencionei a respeito da aura do bebê, o aparecimento de tais cores é causado por uma
ressonância com o passado espiritual da criança, ainda não obscurecido ou alterado pela
experiência de vida.
Esta garotinha era pequena demais para ter desenvolvido seus potenciais em grandes
proporções, e sua aura estava começando a assumir um tipo de padrão. As cores indicando
os potenciais por mim descritos ainda não estavam estruturadas na sua aura, mas
permeavam-na vagamente.
Um ano antes da aura desta criança ser pintada, seu pai morrera em um acidente.
Embora ela fosse muito pequena para entender plenamente o que havia acontecido, o
trauma está indicado pela inclinação das bordas de sua aura, incluindo a faixa verde, bem
como pelo fato de que as cores estão encapsuladas dentro de uma concha mortiça. Até o
momento, as suas emoções não dão sinais de ruptura desta barreira e de uma sociabilidade
normal. Esta condição não é rara na sua idade, mas provavelmente foi agravada pela perda
do pai.
As manchas azuis de ambos os lados da faixa rosa foram causadas por uma tensão
emocional definida. Não há sinais de inibição em seus afetos, mas as manchas azuis
indicam ter ela sofrido tensão nas relações familiares mesmo antes da perda do pai.
Normalmente, estas marcas deixariam a aura à medida que a tensão fosse diminuindo, mas
neste caso, ao que parece, elas estão desaparecendo mais lentamente. Tamanha tensão
80
em tão tenra idade indica que ela tinha pouco senso de segurança, conquanto seus afetos
fossem livremente expressos.
Tive a oportunidade de rever esta criança já como uma mulher adulta, com quatro
filhos e vários netos, e discutir com ela os problemas e acontecimentos de sua vida.
Na maturidade, esta mulher ainda possui o sentido da beleza - uma apreciação estética
-, embora não tenha realizado sua promessa artística como poderia ter feito. O sentido
inato para cores, proporção e forma, contudo, continua a influenciar suas respostas ao
meio ambiente. A fealdade causa-lhe aversão, e ela tem talento para criar um ambiente
agradável e harmonioso onde quer que viva, mesmo com recursos escassos.
Senti originalmente que ela teria uma profunda necessidade emocional de expressar
seus sentimentos e agora, 50 anos depois, essa característica deixou de ser latente e
expressa-se plenamente. Amar e ser amada é fundamental para ela. Por isso, e porque as
pessoas de sua intimidade nem sempre satisfizeram a sua necessidade, frequentemente
ela tem sido bloqueada em seus sentimentos. Isto acontece até mesmo nas suas relações
com os filhos. Sua natureza busca a expressão livre e espontânea de seus sentimentos, mas
muitos têm sido os obstáculos a esta expressão.
Por conseguinte, ela sofreu altos e baixos emocionais, mas, em meio a tudo isso, nunca
perdeu o ardor de seus sentimentos, nem o desejo intenso de interagir com outras
pessoas; esta é uma necessidade básica de sua natureza. Nem todos sentem isto - algumas
pessoas chegam a ter medo de relacionamentos íntimos -, mas para ela eles são
fundamentais. Em razão disso, ela costuma ser impulsiva nas suas decisões, permitindo
que seus sentimentos dominem seus atos, o que lhe trouxe algumas situações difíceis e
desditosas.
Neste momento de sua vida, finalmente ela começa a encontrar algum trabalho que a
interesse, e parte da energia sempre consumida em seus sentimentos pelas pessoas agora
está encontrando um escoadouro, fazendo algo de que gosta. Assim, ela não é tão
completamente dependente de seus relacionamentos pessoais. Contudo, jamais será feliz
em qualquer trabalho que não lhe dê a oportunidade de interagir com as pessoas,
porquanto, ainda que não sejam pessoais, tais contatos de certa forma satisfazem a sua
necessidade de envolver-se em nível humano.
Ademais, os filhos não são mais dependentes dela, e, por conseguinte, essa relação
tornou-se menos intensa. Ela ainda exibe os resultados de uma frustração básica,
vivenciada ao longo de anos, mas as suas emoções estão se tornando menos sujeitas a
oscilações de alto a baixo. Agora, defronta-se ela com uma difícil situação pessoal; mas,
como isso está sendo solucionado, parte da tensão emocional está recebendo alívio.
No momento, o amarelo na sua aura aumentou em amplitude e está com uma cor mais
intensa, porquanto, pela primeira vez na sua vida, ela está tentando pensar sobre as
questões até resolvê-las, em vez de agir impulsivamente. Percebo que ela começou a
considerar quais poderiam ser os resultados de seus atos, e tenta solucionar os problemas
passo a passo, em vez de seguir os ditames de seus sentimentos. Como resultado, sua
mente está se abrindo para novas ideias. A religião e a busca de suas raízes espirituais
sempre tiveram um papel na sua vida, mas são as pessoas, e não ideias abstratas, a sua
necessidade. Como vive mais intensamente em seus relacionamentos emocionais, ela iria
81
sentir-se privada sem alguém de quem fosse íntima; ela não é o tipo de mulher capaz de ter
prazer vivendo sozinha. Vive também muito no presente e não se apega ao passado. Isso
traz um efeito positivo, pois ela não é possessiva, embora ame muito seus filhos e netos.
Neste ponto de sua existência, ela começou verdadeiramente a modificar sua vida. A
depressão sofrida como resultado de relações malogradas não a abandonou por completo,
mas ela está aprendendo com estas experiências. As cores mais brilhantes começam a
iluminar a depressão, e suas sensibilidades superiores principiam a atuar na sua vida. Ela
está amadurecendo.
Como se depreende deste breve relato de sua vivência, a natureza emocional desta
mulher se estabeleceu desde cedo, e as tendências reveladas em sua aura quando criança
influenciaram-lhe profundamente a vida adulta.

82
4. Um menino de sete anos

Na aura deste menino de sete anos, a mente começava a desenvolver-se ativamente,


juntamente com suas outras aptidões em expansão. Ele tinha muita curiosidade por todo
tipo de coisa e não parava de fazer perguntas, porém ainda demonstrava pouco interesse
em colocar as ideias em prática.
Nesta idade, a aura está começando a tomar a forma oval e a assumir as características
estruturais de um adulto. A faixa verde, elemento tão importante na maturidade, principia
a tomar forma, o que indica estar a criança começando a aventurar-se no mundo e a fazer
coisas sozinha. Contudo, a faixa verde deste menino não se estende até as bordas da aura,
pois sua capacidade de colocar as ideias em prática ainda era apenas incipiente. Ele não

83
tinha muito interesse nem habilidade para realizar coisas com as mãos, conquanto alguns
sinais indicassem que mais tarde, quando adulto, ele poderia desenvolver diversas aptidões
práticas.
Já se evidencia na aura a sua capacidade intelectual, antes como reflexo de um nível
mental mais profundo do que como habilidade realmente em uso. Essa capacidade em
potencial é mostrada não apenas pela quantidade de amarelo, mas, também, pela
tonalidade amarelada da faixa verde. A área amarelo-esverdeada do lado direito, abaixo da
faixa, reflete seu interesse pelas coisas, a utilização de sua mente nos trabalhos escolares, a
sensibilidade para o significado das palavras e, de maneira geral, a vontade de aprender e
conhecer por si mesmo.
Na base da aura, acima da habitual tonalidade verde-marrom do egoísmo, existe uma
espécie de reflexo dessa característica numa grande faixa amarelo-esverdeado que se
estende por toda a aura. Isto indica uma luta autoconsciente para dominar o mundo físico,
a qual se manifesta como auto-afirmação, forma de egotismo relativamente comum em
crianças.
O rosa, que se estende por toda a aura acima da faixa verde, mostra que ele tinha
muito afeto, mas ainda não era senhor de seus sentimentos, inconstantes e ainda em
expansão. Os pingos dentro do rosa indicam uma luta emocional e, às vezes, irritação, mas
desaparecerão rapidamente, pois, como na maioria das crianças, são apenas
momentâneos. Ele era sensível e poderia magoar-se com facilidade. As cores opalescentes
acima representam uma espécie de atitude idealista em relação às pessoas, o que, às
vezes, pode torná-lo insensato nas suas expectativas quanto à reação destas.
A justaposição de verde, azul-esverdeado e amarelo na aura deste menino mostra que
ele desenvolverá a apreciação estética, mas não segundo as linhas habituais, pois sua
mente inquiridora dominará seus sentimentos. Isto já se manifesta numa espécie de
meticulosidade pessoal. As sementes dessas aptidões intelectuais estão claramente
indicadas pela tonalidade e quantidade de amarelo na aura deste menino, bem como pelo
fato de a faixa verde possuir um tom amarelado. Mas, até o momento, as cores acima da
faixa ainda não estão sendo usadas; apenas prenunciam aquilo que ele poderá
desenvolver.
Como de hábito, o azul indica força de vontade ou autodeterminação; as faixas
semelhantes a asas, em azul, na parte superior da aura desta criança, indicam que este
poder estava começando a desenvolver-se, o que reflete a larga faixa azul na extremidade
inferior esquerda, resultante de seus esforços para começar a exercer algum controle sobre
o seu ambiente. E indica também uma tendência a exigir de si acima da sua capacidade, o
que poderia sugar sua energia e refletir-se na sua saúde.
Quanto a suas habilidades superiores, o roxo representa uma espiritualidade
dominadora, a qual, considerando-se as outras qualidades do menino, poderá transformar-
se em genuíno interesse pelo estudo e a prática de ideais espirituais. O tom de verde que
pode ser visto na parte superior da aura indica compaixão, juntamente com o tipo de
idealismo que vemos refletido no rosa. Neste caso, isso poderia transformar-se em
preocupação com problemas sociais, vivo interesse pelo bem-estar do ser humano e pela
reforma ambiental.
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Os indicadores kármicos revelam que alguns problemas de sua vida serão provenientes
de suas interações com pessoas com as quais terá de lidar. Compreendo que uma
afirmação como esta pode parecer muito generalizada e quase banal, porquanto os
problemas da maioria dos seres humanos envolvem os relacionamentos pessoais. Como a
leitura desses indicadores é muito difícil, posso apenas repetir que eles apontam as áreas
primordiais nas quais o temperamento e características de um indivíduo - ou karma
pessoal- podem causar problemas. Neste caso, existe uma sensibilidade inata que pode
torná-lo vulnerável a mágoas. Existem também indicações de que seu idealismo é tanto
que pode tornar difícil para ele colocar suas ideias em prática da maneira mais satisfatória
para si. Seu profundo interesse por inúmeros assuntos diferentes será fonte de grande
alegria, mas poderá também distraí-lo vez por outra, impedindo-o de concentrar-se no
trabalho imediato a sua frente.
Cinquenta anos depois desta pintura ter sido feita, o sujeito é um homem que ainda
aprecia muito a linguagem, e desenvolveu grande habilidade na comunicação. Palavras
irrefletidas ou descuidadas o irritam, pois ele é muito sensível às nuanças de significado.
Nunca teve dificuldades no relacionamento com as pessoas. Quando criança, falava com
facilidade e não era tímido, e posteriormente sempre foi capaz de expressar suas ideias
com fluência e clareza.
Estende-se para trás uma série de anos de sucesso no ensino, e ele também trabalha
amplamente com computadores e programação de sistemas. Sua mente ativa e inquisitiva
continua a orientar seus interesses em muitos campos diferentes. Seu compromisso com
princípios espirituais, cujas indicações estavam presentes desde a infância, cresceu em
força e profundidade, de modo que ele procura viver conscientemente sua vida de forma
que sinta ser concorde com essas verdades.

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5. Uma adolescente

Na adolescência, o formato da aura aproxima-se da forma oval da adulta, mas ainda


continua arredondada no topo e na base. Este é o quadro de uma garota normal e saudável
de aproximadamente 15 anos, a qual está vivenciando todas as dúvidas e incertezas
comuns a este estágio da vida.
Você verá que a faixa verde, que representa a habilidade de colocar ideias e
sentimentos em prática, agora se desenvolve plenamente e estende-se até as bordas da
aura. No caso da menina, a faixa é bastante ampla e de cor um tanto escura, de uma
tonalidade que indica que ela poderia ter alguma sensibilidade artística. O efeito enevoado
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nas bordas, bem como as linhas onduladas em rosa se devem ao fato de ser ela ainda
incapaz de estabelecer a diferença entre as coisas que fez e as que sentiu. Neste período
da vida, sonhos e anseios são vigorosos, mas ainda nebulosos.
Na base da aura, o tom azul-escuro com cinza indica sua forma de egoísmo ou
egocentrismo, o que mostra seu desagrado com a interferência e o desejo de fazer as
coisas à sua própria maneira - novamente uma característica comum em adolescentes. Na
verdade, é uma manifestação de vontade em desenvolvimento, a propensão a afirmar-se.
No caso desta menina, a emoção mistura-se com tensão, pois que sentia não estar
conseguindo ser ela mesma, o que a incomodava. Ela não queria ser egoísta, mas a tensão
com frequência a levava a isto. O marrom e o verde logo acima dessa faixa azul-escura
representam o tipo mais ordinário de egoísmo que deseja coisas, prazeres e assim por
diante. As linhas de azul estendendo-se até o rosa, pouco acima, mostram que os
sentimentos de tensão e de conforto sentidos por ela afetavam até mesmo as coisas que
gostava de fazer.
O símbolo da cabeça de um cavalo cobrindo-lhe o pés é muito interessante. Reflete o
seu enorme amor pelos cavalos, mas a cor violeta mostra que esse sentimento era muito
mais profundo do que a habitual predileção de uma jovem pela equitação, por ser a
expressão inferior da cor mais elevada da sua aura. Todos os anseios superiores e até
mesmo espirituais da menina, de certa forma, concentraram-se em seus sentimentos por
cavalos, o que simbolizava a sua paixão pela liberdade e pela libertação das dificuldades e
incertezas de sua vida - dificuldades essas, entenda-se bem, que na maior parte estavam
apenas em sua mente. Contudo, na ocasião em que foi feito o quadro, ela estava passando
por atritos em casa, especialmente com o pai, que costumava ser muito dominador e
autoritário. As espirais à esquerda, perto dos joelhos, indicam uma irritação razoavelmente
duradoura com os pais.
A pequena cena presente em sua faixa verde confirma isto, porquanto poderia ser
descrita como um sonho de ação e liberdade. Sempre que estava aborrecida ou
insatisfeita, ela visualizava a si mesma montada em um cavalo, livre, sem seus grilhões e
galopando através de um campo agreste e aberto, sem nada nem ninguém para impedi-la,
símbolo de revolta contra sua situação atual - símbolo este complementado por uma
espécie de vórtice azul, também na faixa verde, causado por seu desejo de fazer coisas e
sua frustração porque não sabia como ou por onde começar.
Ela era uma menina realmente carinhosa, como indica a grande área rosa na sua aura;
contudo, embora buscasse outras pessoas, ela era capaz de conter-se. Naquele momento,
suas emoções estavam misturadas com as coisas sobre as quais estava pensando, e que
tendia a confundi-la. Ela não estava inteiramente desperta para a realidade, pois ainda
vivia parcialmente num mundo de sonhos. Sua aura apresenta bastante amarelo/verde, o
que indica sua considerável aptidão tanto para realizações artísticas como intelectuais, se
pudesse levar suas habilidades a um equilíbrio, o que certamente não estava ocorrendo na
ocasião. Naquele momento, a sua mente, essencialmente excelente, de certa forma estava
bloqueada por emoções caóticas.
O amarelo acima da faixa verde indica tudo isto. O azul/verde do lado oposto, cuja cor
se reflete na faixa verde, mostra sua sensibilidade para a beleza, e novamente sugere a
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possibilidade de alguma habilidade artística potencial. O rosa/alfazema-claro acima é uma
mistura de afeto e aspiração por liberdade e auto-identidade. A combinação, na menina,
provavelmente assumiria a forma de profundo amor pela natureza e pelas coisas vivas
quando ela se tornasse adulta, bem como o desejo generoso de ajudar as pessoas até onde
pudesse.
Perceba que os indicadores kármicos são menores do que os das crianças, e
transferiram-se para as bordas da aura. Além disso, a forma mudou; os vórtices são menos
compactos, mais abertos, e seus núcleos são abertos e quase triangulares. Isto porque
grande parte da energia deles já foi absorvida pela aura. Contudo, ainda pude perceber
que, embora seus afetos sempre fossem fortes, sua reserva inata dificultaria a expressão
dos mesmos. Existem também indicações de que ela poderia ser impedida, de alguma
maneira, de realizar plenamente suas capacidades inatas.
Nessa idade, os adolescentes, via de regra, constituem uma mistura de incerteza e
assertividade, na revolta contra os pais, buscando o próprio caminho e sem saber ao certo
qual seria ele. Essa aura, portanto, é interessante por ser bastante típica, com seu fluxo
emocional e mental que caracteriza a adolescência.
Perdi o contato com essa menina há muitos anos, mas soube por seus amigos que, por
ocasião de seu casamento, ela rompeu com os pais, mas reconciliaram-se posteriormente e
ela veio a cuidar da mãe na velhice. Contudo, ela e os pais nunca foram realmente
próximos, e ela recusou-se a aceitar e adotar as ideias ou ideais deles. Tampouco chegou a
realizar seu sonho de uma vida na qual os cavalos representavam papel importante. No
entanto, sua existência foi bem sucedida, pois ela realizou seu desejo de independência.
Como resultado, tornou-se uma pessoa ajustada e muito mais feliz, com um bom
casamento e uma vida familiar agradável.

Maturidade

A fim de ilustrar as mudanças sofridas pela aura quando uma pessoa atinge a
maturidade, escolhi dois exemplos, um homem e uma mulher, ambos indivíduos
equilibrados, ativos e no apogeu da vida, na ocasião. Você perceberá imediatamente que
as auras de adultos, de maneira geral, são bastante complexas, porquanto, na idade adulta,
uma variedade de experiências passadas já deixou sua marca, influenciando a substância
da vida.
Ambos possuíam determinados talentos e interesses, e dedicavam-se às carreiras,
como é normal neste período da vida. Suas experiências eram muito diferentes; contudo,
tinham em comum uma característica que, provavelmente, os excluía daquilo que
poderíamos chamar de homem ou mulher comuns. Embora nenhum deles fosse religioso
no sentido estrito da palavra, de maneira diferentes eram ambos idealistas que aspiravam
a exercer princípios éticos nas suas vidas. Contudo, os resultados desses interesses se
manifestavam diferentemente na aura de cada um, pois suas vidas, personalidades e
karma eram completamente diferentes.

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6. Uma artista na casa dos 30

Observamos, em primeiro lugar, ser esta aura plenamente desenvolvida, na qual estão
visíveis todas as características descritas no Capítulo 4. Como esta pessoa está ativamente
engajada no desenvolvimento de sua carreira, as potencialidades representadas na parte
superior da aura estão refletidas na inferior, a qual expressa o que ela estava fazendo e
sentindo na ocasião. Essa simetria indica uma pessoa equilibrada usando livremente as
suas habilidades.
Esta é uma aura de artista que exerce seu ofício e há alguns anos vive do exercício de
seu talento. Se eu não tivesse conhecimento de e fato tê-lo-ia percebido de imediato pela
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amplitude, tonalidade e luminosidade de sua faixa verde - características estas que indicam
ser ela uma artista talentosa com um bom nível de coordenação entre olho e mão, ou
percepção e execução. Na verdade, essa artista ganhava a vida no campo das artes
aplicada, já há alguns anos, trabalhando com sucesso em diversos meios de comunicação:
ela pintava, mas também criava vitrais e era, inclusive, boa carpinteira. Assim, ela era, ao
mesmo tempo, prática e versátil. Tudo isso aparece na faixa verde e, na verdade, estende-
se mais para baixo na aura do que costuma acontecer.
A base da aura apresenta o tom marrom do egoísmo, ou egocentrismo, quase
instintivo em seres humanos, porquanto parece estar presente em todos, de uma forma ou
de outra. O egoísmo, quando aparece bem no fundo da aura, como neste caso, é antes
uma espécie de desejo inato ou latente de ser você mesmo, ou de ter as coisas que
possibilitem ser você mesmo, e não o desejo egoísta de ser o centro do seu mundo.
A parte inferior da aura contém o remanescente de nossa experiência de vida inicial; os
resíduos abaixo dos pés, na maioria das vezes, deixaram nossa consciência, mas podem
afetar-nos de forma inconsciente. Quando criança, esta mulher experimentou diferentes
maneiras de agir, como indica a grande área verde em torno dos pés. Quando o verde se
mistura ao marrom, como aqui, configura-se a confusão nascida do desejo de expressar-se
de algum modo, mas sem saber como fazê-lo. (Vimos algo semelhante na adolescente.) Os
vórtices na base resultam dos anseios infantis, pois ela tinha propensão a ruminar coisas
dentro de si. A cruz azul é causada por seus sonhos infantis, em geral assustadores, e
também por suas vagas aspirações de realizar e expressar a parte mais elevada de sua
natureza.
Os outros vórtices amarelos e verdes, um pouco mais elevados na sua aura, são
reflexos de experiências durante a adolescência e o começo da juventude. As cores indicam
ter ela sofrido alguma frustração e preocupação, ligadas àquilo que queria fazer de sua
vida. A forma espiralada vermelha deve ter sido causada por um episódio envolvendo seus
sentimentos, algo doloroso para ela e que a fez sentir-se aprisionada. A formação em gota
à esquerda resulta de uma aventura amorosa mais idealizada, antes agradável do que
dolorosa, um envolvimento talvez nem mesmo consciente. Quando configurações desse
tipo aparecem um pouco acima na aura, elas são mais recentes, pois, como já disse, a parte
inferior reflete o passado, bem como o crescimento e a atividade atual.
Na época em que o quadro foi pintado, essa jovem se dedicava a sua arte e a ganhar a
vida por meio desta. Mas, também, interessava-se por ideias metafísicas e pela relação
entre a arte e as formas ideais, tais como aquelas descritas por Platão. Assim, ela possuía
muita sensibilidade para a ordem e, também, estava desenvolvendo o que poderia ser
chamada uma mentalidade simbólica, a qual procurava expressar. O amarelo presente em
dois pontos no topo da aura indica essa busca intelectual, bem como a aspiração de
compreender algo acerca das leis da natureza.
As figuras no interior da faixa verde refletem seu interesse pela simetria dinâmica,
relativamente em voga naquele período. Ela tentava compreender os princípios
geométricos essenciais à forma e à estrutura, tanto na natureza como na arte. Essa
característica não seria permanente em sua aura, porquanto sua atenção e interesse
transferiram-se para outras coisas, fazendo desaparecer, gradualmente, a curiosidade
90
inicial. No momento, ela se dedicava inteiramente a relacionar a prática artística com o
trabalho, bem como a realizar em sua arte final os princípios da forma que considerava tão
interessantes.
O pingo de cor roxa logo abaixo da faixa verde dificilmente é encontrado nessa parte
da aura. Indica seus esforços para expressar sua faculdade intuitiva na vida física. O trecho
correspondente de amarelo no lado oposto representa esforço semelhante para direcionar
sua mente para a experiência física, mas a cor não é tão nítida quanto o roxo, mostrando
não ter sido ela tão bem-sucedida nesse esforço.
Outra configuração interessante nessa aura é o rosa chamejante dentro do amarelo, o
que denota sua aptidão mental. Ele é causado pelo respeito e admiração por alguém que
estimulou seus interesses intelectuais, particularmente no estudo das formas arquetípicas.
Isto, mais a justaposição de rosa e amarelo com o azul-violeta no lado oposto, mostra que
ela gostava de pensar, bem como o intenso desejo de utilizar sua mente intuitiva. O tom
claro, contudo, indica que, não obstante possuir uma capacidade inata, ela não a estava
exercitando muito na ocasião. As listras azul-esverdeadas, de um lado, e azuis, do outro,
relacionam-se com a sua percepção da beleza como elevado ideal, no sentido platônico, e
com os seus sentimentos de devoção a este ideal.
A despeito da presença constante de rosa na parte superior da aura, o que indica ter
ela uma natureza afetuosa, isto não se reflete muito abaixo da faixa verde. Ao que parece,
naquela época ela não tinha relações pessoais e próximas, excetuando-se o irmão e a mãe.
Resumindo minhas impressões, senti que esta pessoa sempre gozaria de boa saúde,
pois sua aura estava muito equilibrada e sua expressão no plano físico era bastante livre.
Posteriormente, esta jovem mulher mudou-se para a Costa Oeste, onde continuou a
ganhar a vida com diversas atividades artísticas. Mais tarde, ela precisou abandonar a
pintura, pois sua mãe adoeceu e tornou-se inteiramente dependente da filha. Assim, seu
karma pessoal a impediu de realizar todas as suas expectativas com relação à arte. Ela
aceitou essa situação com muita coragem, aproximando-se cada vez mais da mãe, de modo
que seu potencial para relacionamentos amorosos e ternos desenvolveu-se mais. Ela nunca
se casou, mas levou uma vida sossegada até os 80 anos, gozando de boa saúde e mantendo
seu equilíbrio e disposição tranquila.

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7. Um homem na casa dos 40

Este é o retrato de um homem vigoroso no apogeu de sua existência, com cerca de 45


anos. Seus potenciais estavam bem desenvolvidos e a sua vida era das mais ativas, com
todas as dificuldades e problemas decorrentes, o que indica a forte coloração da aura,
sobretudo na região inferior. As cores escuras significam também ser ele uma pessoa auto-
suficiente e reservada, que não compartilhava facilmente seus sentimentos com os demais.
Era um homem de personalidade marcante, de emoções fortes, que, vez por outra, o
puxavam para direções diferentes, pois ele estava determinado a viver segundo elevados
ideais, os quais lhe criavam conflitos.
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No topo de sua aura, as amplas áreas em azul indicam o potencial de uma natureza
profundamente religiosa e devota. Dentro dessa região, os diferentes tons de azul,
particularmente aquele de matiz roxo, indicam que ele sempre buscaria uma abordagem
sistemática ou ritualística da espiritualidade; seu ideal seria o tipo de ordem moral capaz de
criar um mundo de justiça perfeita, refletindo princípios e valores espirituais.
A tonalidade amarela acima da faixa verde mostra ser ele uma pessoa ponderada e
inteligente, mas não um intelectual. No seu caso, o amarelo se funde ao amarelo-
esverdeado logo abaixo, que, por sua vez, invade a faixa verde. Todas estas justaposições
indicam sua tentativa consciente de desenvolver relações mais abertas e compassivas com
as pessoas. Os vórtices rosa nesta cor amarelo-esverdeada resultam dos seus esforços para
compreender como ele poderia aplicar o que estava estudando em sua própria vida, com
propósitos altruístas. Tais esforços, em geral, tinham um quê de aborrecimento.
Representam a mistura de sentimentos que tantos de nós vivenciamos, pois é bastante
possível sentir duas emoções diametralmente opostas ao mesmo tempo. No deste homem,
havia uma combinação de irritação e desejo genuíno de fazer o melhor possível e de ser útil
às outras pessoas.
Sua faixa verde não é particularmente ampla, e o matiz amarelado indica que o
trabalho físico não era sua especialidade. Na verdade, ele não era muito hábil com as mãos,
conquanto quisesse sê-lo. Ocasionalmente, ele tentava realizar alguma tarefa que exigia
habilidade física, como, por exemplo, um pouco de carpintaria, mas sem muito sucesso. Os
padrões de amarelo e rosa que se estendem ao longo da faixa verde são outro reflexo da
sua orientação fundamental para a ordem. Representam o seu trabalho, metódico e
regular, no qual utilizava sua tendência natural de pensar de forma ordenada e de
estabelecer ordem e sistematização em tudo que fizesse. O fato de metade desses padrões
ser rosa e não amarelo mostra sua tentativa de expressar afeto e amizade pelas pessoas.
Ele estava sempre ansioso por ajudar as causas que defendia, sobretudo no que tange aos
aspectos organizacionais, onde residiam seus talentos.
Analisando os reflexos do passado na região inferior da sua aura, é evidente que esse
homem deve ter tido uma infância muito difícil, cercado por pessoas de emoções fortes,
até mesmo violentas. O sedimento marrom-avermelhado no fundo da aura, com um
revestimento cinza, mostra as repercussões dos sentimentos fortes em ebulição à sua volta
e, inclusive, dentro de si quando criança, não obstante sua tentativa de resistir a eles. Os
pequenos vórtices condensados dentro dessa cor constituem vestígios de suas precoces
experiências dolorosas, pois as cenas por ele presenciadas foram um choque para o seu
sistema nervoso e afetaram-no profundamente. A cor marrom-avermelhada indica
também que na juventude ele amava o prazer e o luxo, e valorizava muito as coisas boas da
vida - atitude praticamente superada.
A forma de serpente abaixo dos pés é não apenas um símbolo de pesadelos
recorrentes, como também uma indicação de que algumas pessoas próximas, na sua
infância, estavam cheias de hostilidade e discutiam amargamente na presença dele. A cruz
indica, também, medo e conflito, mas, nesse caso, tais sentimentos estavam ligados à sua
educação religiosa. Estas formas simbólicas encontram-se na parte inferior da aura, abaixo
dos pés, o que significa que se relacionavam com o começo de sua vida, mas, ainda assim,
93
são marcas presentes na fase adulta.
As faixas vermelho-esverdeadas e arroxeadas no lado inferior direito do quadro
resultam de atividades que provocaram sentimentos muito fortes. Na juventude, ele foi
bastante rebelde, e aliou-se ao movimento revolucionário na Rússia, naqueles primeiros
tempos cheios de idealistas empenhados na melhora humana. As faixas vermelhas
mostram que ele deve ter participado de atos violentos, mas a alternância destas com as
verdes indica que sua motivação era a solidariedade ao sofrimento humano, e ele
acreditava estar ajudando as pessoas. Como essas faixas chegam ao lado de sua aura, as
emoções relacionadas com elas não haviam desaparecido inteiramente; ele ainda podia
sentir raiva diante do que percebia ser uma injustiça social.
O tom azul-escuro junto a essas faixas indica um sentimento religioso, que o azul no
alto da aura reflete em parte, mostrando que na juventude ele procurava algum tipo de
movimento espiritual que pudesse considerar autêntico, mas que sua busca era fria e
desprovida de real convicção. Somente muito mais tarde ele viria a descobrir o que estava
buscando.
Encontramos azul também no lado oposto da aura, mas de tonalidade inteiramente
diferente. O fato de encontrar-se externamente ao rosa da afeição, na extremidade da
aura, mostra como ele era inibido quando se tratava de expressar seus sentimentos. Era
um homem realmente afetuoso, e queria ser bom e generoso com as pessoas que amava,
mas tinha muita dificuldade em ser espontâneo e expressar seus sentimentos
abertamente.
A grande pluma laranja parece crescer a partir dessa cor. Você verá tais formações em
outras auras, as quais se relacionam sempre com orgulho, autoconfiança e amor-próprio.
Esta pluma em particular é um tanto indefinida e fofa, indicando que ele não se fixava na
convicção de estar com a razão, mas que confiava nas ideias que adotara e estava decidido
a segui-las. A posição da pluma, próxima do azul e do rosa, indica sua perseverança, não
obstante a oposição de alguém que lhe era muito caro - neste caso, sua esposa. A
tonalidade laranja presente no rosa mostra que, embora gostasse muito de sua esposa, a
crítica desta, em geral, minava seu amor-próprio.
Ele tivera uma vida turbulenta e pontilhada de experiências traumáticas, e atualmente
a sua vida não era fácil. As manchas dentro do fragmento verde, logo abaixo da faixa verde,
mostram seus problemas e dificuldades nos negócios, e o fato de as manchas serem rosa
relaciona tais problemas com a esposa. Infelizmente, conquanto ela o apoiasse de muitas
maneiras, sobretudo financeiramente, jamais concordara com as coisas mais importantes
para ele.
A busca espiritual frustrada na juventude recentemente o havia posto em contato com
uma organização fundada no ideal de fraternidade da humanidade. Para ele, esse grupo
parecia personificar todos os elevados ideais que haviam incentivado as atividades
revolucionária de sua juventude, e a ele se juntou entusiasmado. Foi um membro dedicado
dessa organização pelo resto da vida, e tentou modelar e pautar sua existência pelos
princípios éticos da organização. Novamente a esposa não compartilhava os interesses
nem simpatizava com as aspirações do marido, conquanto não interferisse diretamente
nas atividades dele. Em razão da forte lealdade que dedicava à esposa, ele precisava
94
acreditar ainda mais intensamente naquilo que estava fazendo. Ele impôs seu código de
conduta a si mesmo rigorosamente, chegando a ser rígido e obstinado em seus modos,
embora jamais fosse intolerante com os demais. Tudo isso está refletido na pluma laranja
de sua aura, mas a sua indefinição e textura vaga indicam, a meu ver, que mais tarde,
quando ele já estivesse mais à vontade com seus ideais recém-descobertos, ela tenderia a
dissipar-se e desaparecer.
Esse homem era fundamentalmente uma pessoa solícita, talvez não tão afetuoso
quanto solidário. Gostava das pessoas, além de ser muito bondoso e afável; por
conseguinte, tinha muitos amigos que o apreciavam bastante. Amava as crianças e adorava
estar na companhia delas e partilhar seus interesses, pois infelizmente jamais tivera filhos.
Talvez por isso gostasse muito de animais, e tinha um cão ao qual era muito dedicado.
Este quadro é especialmente interessante por mostrar uma aura em transição e refletir
a luta do indivíduo pelo autodomínio. Existem muitos conflitos, pois esse homem tentava
conciliar seus impulsos naturais e solucionar seus dilemas pessoais de conformidade com
os ideais espirituais com os quais se comprometera. Quando lhe foi recomendada a prática
da meditação, ele abraçou-a entusiasticamente e, graças ao seu temperamento metódico,
seguiu-a regular e diariamente. Como resultado, a meditação começou a criar maior
equilíbrio e ordem em sua aura; você pode ver reflexos de sua natureza superior nas cores
que representam a sua vida diária, não obstante a turbulência temporária. Isto indica não
apenas estar ele recorrendo a seus potenciais inatos, como também que suas qualidades
mais elevadas estavam sendo reforçadas e fortalecidas por seus atos e comportamento.
Tal era a dedicação desse homem que, por ocasião de sua morte, cerca de 20 anos
mais tarde, estou certa de que seus conflitos interiores estavam amplamente resolvidos.
Baseio esta suposição no grau de luminosidade que emergia tanto na porção superior
como inferior de sua aura.

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8. Velhice: Uma mulher na casa dos 90

Esta é a aura de uma mulher de 92 anos na ocasião em que a vi, e as evidências de


idade avançada são perfeitamente visíveis.
Em primeiro lugar, toda a aura está recoberta por um fino véu cinzento, especialmente
denso na parte inferior e resultante do obscurecimento de suas faculdades, porquanto ela
perdera a lucidez e não lembrava muito bem das coisas. Sua atividade no mundo fora
muito reduzida e limitava-se, sobretudo, ao passado. Ao mesmo tempo, seu nível de
energia (impossível de mostrar na fotografia) diminuíra consideravelmente. Assim, é antes
o passado do que o presente que está revelado na sua aura.
96
Estabelecendo marcante contraste com as crianças, cujas auras eram dominadas por
suas potencialidades, as auras de idosos, em geral, são basicamente um registro de suas
experiências e realizações passadas.
Por esse motivo, poder-se-ia pensar que as cores da parte superior da aura seriam
ainda mais indistintas do que as da região inferior, mas não é o que acontece. As
recordações do passado, de certa forma, desapareceram da sua mente, e as suas emoções
não eram mais sentidas com tanta intensidade quanto antes, mas seus elevados princípios
ainda estavam muito ativos. Por conseguinte, as cores no topo da aura permanecem
brilhantes e vivas. Contudo, o amarelo não chega às bordas da aura, pois, na ocasião, ela
não utilizava muito a sua capacidade mental.
Outra condição causada pela idade pode ser vista na extremidade da aura. O limite não
é definido, pois não existe uma nítida distinção entre os seus sentimentos e o campo
emocional geral, o que provavelmente resulta da sua falta de reação e troca com seu
ambiente emocional na ocasião.
Analisando sua aura, tive a impressão de que uma vontade forte sempre fora a
característica principal da personalidade dessa mulher. O cinza-esverdeado presente na
base da aura indica a forma que o seu egoísmo deve ter assumido - a determinação de
prosseguir e agir à sua maneira, fosse como fosse. Provavelmente, ela impunha
consideravelmente sua vontade sobre as outras pessoas. No começo da vida, ela deve ter
sofrido de muita tensão e depressão, pois existe muito cinza na parte inferior da aura.
Possivelmente isso tenha ocorrido devido à educação rigorosa vigente na época vitoriana,
muito repressora para uma jovem com o seu temperamento.
As cores logo acima também apresentam uma tonalidade cinzenta, indicando que um
pouco mais tarde ela passou por um período difícil na vida, quando teve de contar com os
próprios recursos. Ela nasceu em 1847, quando as mulheres estavam longe de ser
emancipadas e tinham de lutar com todas as forças para realizar alguma coisa por si
mesmas. Os vórtices cinzentos são o resíduo das preocupações que muito a afetaram
naquela época, mas perderam a cor e diminuíram de tamanho, pois tudo acontecera há
muito tempo.
O tom rosa na parte superior da aura é muito claro e revela genuínos sentimentos de
bondade e afeição, bem como altruísmo. Esse rosa reflete-se abaixo, mas tornou-se fosco
com a idade. Ela fora casada com o capitão de um transatlântico que fazia o tráfego
marítimo com a China, e tivera três filhas e um filho. O marido morreu cedo, e talvez por
isso ela tenha concentrado as suas afeições mais profundas no filho. Ela o adorava e ele era
muito bom com a mãe, mas também morreu jovem, quando os filhos ainda eram
pequenos. Sua morte foi um golpe do qual ela nunca chegou a recuperar-se inteiramente, o
que indica o azul-púrpura com um vórtice cinzento no interior, presente no lado esquerdo
da aura, vestígio de um período de muita tristeza na sua meia-idade. Existem outros sinais
de tragédias passadas - tais como os tons verdes na parte inferior da aura -, agora meio
esquecidas, embora ela ainda não estivesse completamente livre delas.
Uma imagem interessante está presente na parte inferior, do lado direito da aura,
retrato composto do seu filho quando bebê e já quando adulto. A razão desta imagem
dupla está em que, para ela, a lembrança do filho tornou-se símbolo da infância,
97
personificando as necessidades e direitos das crianças em toda parte. O profundo amor ao
filho despertou-lhe, em primeiro lugar, o interesse pelo bem-estar infantil - interesse que
veio a transformar-se em preocupação de toda uma vida e a levou a lutar pelo sufrágio
feminino.
Toda a sua vida foi dedicada à causa das mulheres e crianças, e ela trabalhou
continuamente pela reforma das leis de trabalho infantil e pela abolição das condições de
pobreza. Para ela, não se tratava de um interesse acadêmico - envolvia-se passional e
pessoalmente nas causas que defendia. Seu trabalho sempre esteve voltado para as
pessoas reais, não para questões abstratas, mas, como ele fora interrompido mais de 20
anos atrás e as pessoas envolvidas há muito haviam falecido, tudo que lhe fora mais real se
tornara obscuro.
Permanece a impressão de um caráter forte, ainda mais robustecido com as
experiências de vida. Ela era uma idealista que dedicou a sua existência a transformar em
ação social os seus princípios. Ela tinha de lutar por seus valores no mundo dos homens e
obter sua independência numa época em que poucas mulheres conseguiam lutar por si
mesmas. Foi uma espécie de pioneira no campo do bem-estar social e participante ativa de
muitos movimentos dedicados à elevação dos padrões de vida de mulheres pobres, que na
época tinham poucos direitos legais.
Nascida de família rica e de boa posição social, em vez de torná-la complacente, esta
situação fê-la sentir a obrigação de fazer algo para ajudar os menos afortunados. Como já
disse, seu envolvimento sempre foi com as pessoas, em cujo interesse ela se dispunha a
enfrentar qualquer oposição. Assim, os rostos presentes na faixa verde são, ao mesmo
tempo, reminiscências dos indivíduos pelos quais ela lutou e, também, símbolo do
interesse pessoal que colocava em seu trabalho.
Durante sua longa vida, ela foi muito ativa e realizou muitas coisas. Quando a vi, ela já
era uma senhora bastante idosa - apenas uma sombra do que fora outrora. Mas todos os
seus feitos passados, bem como as motivações e sentimentos que os estimularam, estavam
simbolizados em sua aura. Portanto, a aura era um registro da sua vida.

(4). Favor observar a citação final de Lama Govinda na descrição da página de


cobertura dos skandhas,
(5). Foundations of Tibetan Buddhism, p. 71s. [Fundamentos do Misticismo Tibetano, São
Paulo, Editora Pensamento, 1983.]

98
6. Uma Vida de Dedicação

O próximo conjunto de retratos (quatro homens e duas mulheres) compõe-se de


pessoas muito diferentes, cujas vidas e temperamentos eram tão diversos que poderia
parecer terem pouco em comum. São dois músicos, um pintor, um arquiteto, um
reformista social e uma jovem mãe. Mas essas pessoas compartilham uma característica
muito importante: todas se dedicavam a uma arte, um ideal, uma causa que,
fundamentalmente, era a coisa mais relevante de suas vidas. Por conseguinte, sua
orientação se voltava para algo que transcendia o mero interesse pessoal, não importa em
que nível suas vidas pudessem estar envolvidas nessa busca.
Isto não significa que tais pessoas não tivessem o mesmo tipos de problemas com que
a maioria de nós nos defrontamos- aquele envolvendo relações humanas, frustrações,
perdas e decepções . Elas tinham o mesmos problemas, pois, frequentemente, o seu
objetivo entrava em conflito com as suas vidas pessoais. Quase sempre isso produzia sinais
de estresse, o que veremos em algumas dessas auras. Mas o profundo compromisso com o
caminho que haviam escolhido dava a suas vidas um direcionamento com sua própria
autenticidade. Elas sempre podiam encontrar conforto em sua arte, ou em suas ideias, em
situações difíceis ou quando alguns indivíduos se tornavam demasiado intrometidos. Esse
interesse permanente lhes oferecia uma perspectiva para um mundo mais amplo, uma
esfera ideal que sempre mantinha sua integridade a despeito de problemas pessoais, e
cujas energias superiores conseguiam retemperar e renovar seus propósitos.
Esse tipo de conexão interior com aquilo que é percebido como o propósito de nossa
vida está presente, em alguma medida, em muitos de nós. Podemos considerá-lo associado
às artes, mas cientistas, professores, padres, assistentes sociais, funcionários públicos,
juízes, ecologistas e muitos, muitos outros são igualmente motivados. Em todas essas
pessoas, o amor ao trabalho, ou à causa que promovem, transcende os ganhos mundanos,
a necessidade de segurança ou o desejo de poder e sucesso pessoais.
Talvez esse tipo de dedicação seja hoje mais raro do que quando as pessoas possuíam
fortes sentimentos de obrigação para com a família e o país. Seja qual for a razão, a falta de
propósito pode ser uma influência perturbadora, como tentarei mostrar em capítulos
subsequentes. Essas seis pessoas possuíam todas um direcionamento claro em suas vidas,
pois estavam comprometidas com um ideal. Eram também personalidades fortes, cada
qual a seu modo. Se essa força interior ocasionava ou era ocasionada por esse
compromisso, não sei dizer.

99
9. Um pianista/compositor

Nosso primeiro sujeito é um homem idoso, outrora pianista e compositor


mundialmente conhecido, conquanto suas composições jamais tenham sido muito tocadas.
Na época em que este retrato foi feito, ele estava se recuperando lentamente de um
ataque que havia paralisado mãos e braços, além de reduzir muito a sua habilidade ao
piano. Não obstante tudo isso, não inclui esse homem no grupo daqueles acometidos de
enfermidades porque sua mente e discurso não haviam sido danificados, e ele estava
fazendo extraordinários esforços para superar a sua deficiência. Ele sempre fora um
homem fundamentalmente forte e saudável, bem-sucedido em tudo o que tentara realizar,
100
e estava decidido a não se entregar à doença.
Contudo, ele estava sendo submetido a grande tensão, o que é muito evidente em sua
aura, onde as áreas azul e cinza indicam claramente sinais de tensão e dolorosos esforços.
Na ocasião em que o vi, ele trabalhava diariamente com o terapeuta e, então, forçava-se a
tocar piano com a mão esquerda, pois a direita estava totalmente incapacitada. Envidava
todos os esforços quando eu estava com ele, pensando que assim me daria prazer, mas na
verdade era uma tortura assistir a isso.
A nuvem cinzenta no meio da aura, acima do plexo solar, é causada pela redução do
nível de energia, enquanto as riscas laranja no interior resultam de injeções que lhe eram
aplicadas regularmente. Naturalmente um ataque afeta o cérebro, mas no caso deste
homem a mente estava lúcida; por conseguinte, os efeitos da doença não estavam
presentes na região superior da aura, ao menos em parte porque ele não se considerava
doente, ou apenas temporariamente incapacitado.
Entretanto, para mim era evidente que o seu estado de extrema tensão já perdurava
há um bom tempo. Na base da aura, em torno dos pés, existe uma ampla área de tons
mesclados de marrom e verde, indicando que, desde tenra infância, ele aprendera a
trabalhar arduamente. Fora uma criança-prodígio, e desde os primeiros anos de vida fora
submetido a grande pressão da família, no sentido de tocar bem. Na verdade, seu sistema
nervoso jamais ficara livre de tensão.
Um pouco acima, no lado esquerdo, em torno dos pés, vê-se um tom mais suave de
verde mesclado de amarelo, o que não apenas indica sua extraordinária quantidade de
trabalho árduo, como também seus esforços para assimilar e compreender aquilo em que
trabalhava. Em toda a aura você pode ver combinações de amarelo e verde, indicando que
ele sempre aplicou a mente no aperfeiçoamento de sua arte. Mas as cores e formas abaixo
dos pés mostram que, ainda muito jovem, ele passou por experiências que, ao mesmo
tempo, o preocuparam e o assustaram. Ele devia estar cercado de pessoas que exigiam
demais dele, por interesses egoístas, e o vórtice azul e a pluma cinzenta são o resultado de
sua noção um tanto opressora de obrigação, e da aflição ante a possibilidade de não ser
capaz de agradá-las e satisfazê-las.
No lado direito, a mistura de marrom-verde se estende até o rosa no alto, cor refletida
na região esquerda, acima da área em azul, que se transforma gradativamente em
verde/amarelo. Tudo isso indica que a sua natureza afetuosa sempre foi prejudicada por
relações familiares que lhe traziam ansiedade e inquietação.
A contínua tensão a que era submetido produziu estresse desde o começo da vida, e
nunca veio a diminuir. Pode-se ver as linhas azuis nas extremidades da aura, que se
estendem até abaixo dos pés e adentram a faixa verde. Essas linhas sugerem uma situação
impossível de ser reproduzida com exatidão, pois, na verdade, toda a região inferior da
aura está coberta por uma fina camada de azul. Tal condição (que se repetirá em outras
auras) sempre indica tensão contínua, a qual começa a afetar o livre fluxo das energias
dessas emoções, tão refreadas.
No caso desse homem, a tensão era tamanha que danificou parcialmente o
funcionamento das válvulas energéticas nas extremidades de sua aura. As quatro válvulas
inferiores estavam vazando e mostravam lentidão, seu movimento diretamente afetado
101
pelo azul da tensão, que, como se poderá constatar, penetra seus centros. Tudo isso o
tornava extremamente nervoso e reduzia-lhe a energia abaixo do normal, problema
evidentemente agravado pela doença. Como já disse, esta situação já se instalara há muito
tempo. Creio que a família deve ter-lhe causado problemas intermináveis.
Em contraste com a preocupação e a tensão reveladas na região inferior da aura, a
parte superior mostra-se clara, luminosa e livre. A parte inferior da aura caracteriza-se pela
cor rosa, o que indica ser ele um homem bom e afetuoso nas relações com a família e os
amigos. Mas não hã rosa na parte superior da aura, fato indicativo de que o amor não era
uma de suas características principais e mais importantes.
Em seu lugar, encontra-se uma área de verde à esquerda, que representa a qualidade
de empatia ou afinidade. Deste aspecto de sua natureza fluía sua nobreza e bondade
fundamentais. Ele não se sentia apaixonadamente apegado às pessoas. Era altruísta, mas
não a ponto de ser levado a sacrificar-se pelos outros. Ao contrário, ele irradiava um
sentimento geral de benevolência e boa vontade. Queria ser útil às pessoas sempre que se
fazia possível. Interessante notar que, em alguém tão exposto ao olhar público, não havia
sinais cor de laranja, característicos do orgulho e amor-próprio. Para um homem tão
famoso, ele tinha muito pouco ego, e nunca se considerava importante demais para ser útil
aos demais.
No topo da aura, acima da cabeça, vê-se uma ampla área azul-esverdeada em tom vivo,
o que mostra residir na percepção estética seu maior potencial - sentimento intuitivo que
lhe permitiu interligar os seus ideais elevados (representados pelo roxo-alfazema acima)
com a expressão estética. O roxo tem um tom de amarelo-limão, que na realidade era tão
claro que mais parecia luz brilhando através do azul-esverdeado. Este preenche todo o
espaço acima da cabeça e estende-se para baixo até a faixa verde na metade de sua aura -
embora esteja temporariamente obscurecido pela nuvem cinzenta causada pela
enfermidade. Assim, do alto de suas aptidões, sua música era diretamente influenciada
pelas introvisões mais profundas e puras.
A extensão da faixa verde, que sai logo abaixo do coração e vai até abaixo dos joelhos,
também atesta a habilidade em trazer suas ideias e sensibilidade musicais para a realidade
física através da música. A cor verde-azulada clara indica seu gosto e discernimento, mas
também apresenta tons de amarelo, porque ele concentrava fortemente a mente no
trabalho. Os padrões de amarelo e as configurações na faixa verde são todos simbólicos,
representando não apenas suas ideias musicais, como também o significado e a expressão
que conferia a elas. A cor desta faixa é muito viva e brilhante de ambos os lados, mas opaca
e sem vida no meio - resultado da doença que, naquela época, estava inibindo quase
completamente a sua capacidade de trabalho.
A aura apresenta muito amarelo, e de fato ele era um homem muito inteligente que
aplicava a mente em tudo o que fazia. O verde notado em diversas partes da aura - via de
regra mesclado com amarelo - provém dessa propensão e indica que sua mente e
sensibilidade eram livremente expressas na vida diária. Ele tinha uma total compreensão da
teoria musical e, também, de todos os aspectos técnicos do piano, e disseram-me que as
composições por ele escritas eram muito complexas e difíceis de executar. A mente
investigadora o tornava interessado e curioso em relação a muitas coisas além de sua
102
própria profissão, o que, de certa forma, é raro, pois os músicos costumam absorver-se
muito com sua arte.
Esta aura é muito interessante, por ser tão cheia de contradições. Ele era dotado de
profunda percepção artística, bem como de uma habilidade para direcionar sua mente e
concentrar-se na solução de problemas difíceis; contudo, suas emoções eram fortes e as
relações pessoais há muito conflitantes com seus ideais. Por ser muito inteligente, ele tinha
plena consciência desse conflito, o que lhe trazia grande inquietação. Preocupava-se com o
trabalho, a família e as responsabilidades financeiras há tanto tempo que isso acabou por
tornar-se um hábito emocional - o qual prejudicava sua alegria natural com sua música, e,
sem dúvida, contribuiu não apenas para o ataque, mas também para alguns recentes
sintomas de doença cardíaca.
Embora seu temperamento fosse naturalmente jovial e sociável, o atrito no âmbito
familiar inevitavelmente exerceu seu efeito sobre ele. Creio que alguns membros da família
lhe trouxeram problemas intermináveis, em razão do próprio egoísmo. Esperavam que ele
lhe proporcionasse sustento financeiro e faziam-lhe exigências que se traduziam em um
desejo de escapar das reclamações e desentendimentos constante Além disso, ele era
homem acostumado com uma vida plena e ativa e com uma carreira vitoriosa; desse modo,
as restrições que lhe foram impostas pela enfermidade oprimiram-no e tornaram-no muito
impaciente, o que agravou a tensão Contudo, não obstante todos esses problemas, ele
manteve seu encanto natural e a simpatia.
A vida desse homem, apesar de nada fácil, foi plena de realizações. Sua aura é um
registro de suas lutas passadas e presentes, mas, acima de tudo, revela um homem capaz
de cumprir sua promessa inicial e realizar seus maiores talentos e habilidades
admiravelmente.

103
10. Um pianista concertista

Este homem, estabelecendo marcante contraste com o anterior, embora também


pianista, tinha um temperamento completamente diferente. Em ambos os casos, a música
era uma paixão envolvente, mas, enquanto o 9 possuía uma mente curiosa e investigativa e
interessava-se por muitas coisas diferentes, este homem vivia e respirava apenas a sua
música. Ademais, o 9 tivera uma vida pessoal tumultuada, enquanto este homem tinha um
ambiente familiar de proteção e apoio. Embora na ocasião e tivesse na casa do 70, e o
consumo de energia houvesse diminuído um pouco ele era bastante saudável. Por tudo
isso, sua aura mostra-se extraordinariamente nítida e livre de tensão.

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A característica mais importante desta aura é a enorme quantidade de verde em tons
variados. A faixa verde é de novo extremamente ampla e alta, de um lindo tom verde-mar -
o mais suave e luminoso de todos os nossos casos. Dentro dela, encontram-se várias linhas
onduladas e inúmeros pontos amarelos, todos dispostos simetricamente. Essas formas
relacionam-se com a música, predominante na sua vida; o amarelo mostra a concentração
e o azul indica a força de vontade em seu desempenho.
Na base da aura, o tom cinza-azulado matizado não se estende muito para o alto,
mostrando que essas emoções remontavam ao passado distante e não o afetavam mais. O
cinza indica que, quando criança, seu ambiente de certa forma o intimidava e,
frequentemente, ele se sentia inquieto e receoso. O azul resulta do sentimento, naquela
época, de que ele tinha de concentrar suas energias e dedicar-se aos estudos. Tudo isso se
relaciona com um período de sua vida, por volta dos nove anos de idade, em que ele foi
afastado de casa a fim de estudar música.
Logo acima, à direita, existe uma área azul-esverdeada escura com quatro pequenas
plumas no interior, bem como inúmeros vórtices vermelhos e pequenos. As plumas
resultam do fato de que, ainda muito jovem, estava satisfeito consigo mesmo e sentia
estar-se saindo bem, enquanto os vórtices constituem vestígios de quase indignação
justificada que ele sentia mais ou menos na mesma época, e não havia esquecido por
completo.
Logo abaixo da faixa verde, pode-se ver à esquerda uma névoa de rosa-púrpura,
compensada à direita pelo verde, com algumas formas róseas no interior. Tudo isso se
relaciona com a música. O verde mostra a quantidade de trabalho que ele ainda dedicava à
música, enquanto o rosa e o púrpura refletem seus sentimentos sobre ela, de profundo
amor e, até mesmo, veneração. Este último sentimento se relacionava com a admiração
que ele sentia por seu professor quando jovem. Ele estudou com Liszt, personalidade
irresistível e artista consumado, o qual dominava profundamente a técnica, e a experiência
desta associação sempre permaneceu muito viva na sua memória.
Mais abaixo, no lado esquerdo, encontram-se três faixas azuis, dois vórtices cinzentos
de tamanho médio e inúmeros riscos avermelhados. Todos se relacionam com uma fase de
sua vida em que ele foi submetido a profunda tensão, período em que esteve bastante
deprimido e, ao mesmo tempo, muito zangado. Ele nasceu na Rússia e construiu toda a sua
carreira no próprio país, onde era muito conhecido; contudo, viu-se forçado a partir
durante a Revolução. Foi separado de alguns membros da família e angustiou-se com a
falta de notícias dos seus. Todos se reuniram em segurança nos Estados Unidos, mas essas
lembranças deixaram cicatrizes, e ele sempre ficava indignado quando lembrado das
mudanças realizadas na União Soviética.
Acima da faixa verde, no lado direito, oposto ao rosa do afeto, é a posição onde em
geral se vê o amarelo relacionado com a mente. Neste caso, contudo, essa cor está
substituída por um verde-claro com tons de amarelo - uma tonalidade clara, mas tornando-
se enevoada. Essa cor expressa os sentimentos de simpatia e empatia, sua resposta natural
a outras pessoas. Acima, o topo amarelo da aura está repleto de tons azul-esverdeados,
significando que suas maiores aptidões e sensibilidades se relacionavam com a arte e a
expressão desta.
105
Os traços mais interessantes dessa aura são as duas estrelas douradas e brilhantes
situadas no alto dessa região azul-esverdeada. A ausência de uma grande quantidade de
amarelo indica que ele nutria pouco interesse por ideias abstratas, e também que o
trabalho não lhe exigia o uso de sua mente concreta de maneira prática. Tudo isso foi
substituído nele por uma espécie de compreensão intuitiva (representada pelas estrelas
douradas), a qual lhe concedeu a capacidade de compreender ideias musicais e solucionar
problemas envolvendo a música quase sem pensar. Ele possuía a habilidade única de
traduzir suas percepções artísticas diretamente para a música; a intuição e as mãos
trabalhavam juntas e em harmonia, sem nenhuma necessidade da mediação da mente.
Este fenômeno foi único em minha experiência.
Esse homem é exemplo de uma existência de dedicação por excelência; para ele, a
música era sua vida, seu amor, o interesse permanente. Como indica a limpidez de sua
aura, a personalidade dele era simples e inocente, e ele tão direcionado que as cores são
poucas e bem integradas. Ele recebeu uma educação musical intensiva e muito rígida em
São Petersburgo, antes da Revolução, onde travou amizade com muitos dos famosos
compositores em atuação na Rússia daquele tempo. Ele mesmo teve uma carreira de
sucesso, tanto como pianista quanto como maestro, mas tudo acabou com a Revolução.
Depois de ir para os Estados Unidos; ele ainda deu alguns concertos, mas se dedicou,
sobretudo, às aulas e à edição de partituras para piano.
Curiosamente, a redução de suas apresentações públicas não o tornou amargo. Ele
ainda desfrutava sua música, não tinha necessidades financeiras e dispunha de todo o
apoio da família, na qual todos os adoravam. Suas filhas eram quase carinhosas demais,
chegando a competir por suas atenções e discutir por pequenas indulgências. Isto,
contudo, o afetava muito pouco, pois a família como um todo estava unida no esforço de
proporcionar-lhe a paz e o silêncio que a música exigia. Em contraste com o 9, seu
ambiente familiar era completamente protetor.
Esse homem era muito talentoso. Trabalhou a vida inteira a serviço da arte, e, como
resultado, sua personalidade aprimorou-se a ponto de tornar-se um instrumento adequado
para a expressão da sua percepção artística Como sua vida pessoal nunca interferiu na sua
dedicação à música, os fato espinhosos e as dificuldades do passado não conseguiram
destruir sua serenidade fundamental. Poder-se-ia dizer ser esta uma pessoa cujo karma lhe
permitiu realizar suas maiores aspirações.

106
11. Um ativista social/ecológico

Aqui, novamente, temos a aura de uma pessoa dedicada a um ideal abstrato, neste
caso o de justiça social. Devido ao temperamento desse homem, o ideal se traduziu em
uma causa, com a qual se comprometeu totalmente, a ponto de dispor-se a sacrificar toda
a sua carreira e, até mesmo, a segurança pessoal.
Em primeiro lugar, podemos ver, em razão da limpidez e profundidade das cores da
aura, que esse homem - então na casa dos 50 - tinha um caráter muito forte. De maneira
geral, esta é uma aura bem equilibrada. A maioria das cores ao alto estão mais brilhantes e
acentuadas por seu reflexo na região inferior, porquanto o uso ativo das próprias
107
habilidades aumentava a força e as energias deste homem. A faixa larga de dourado-
amarelo à direita mostra, por sua largura e brilho, não apenas a inteligência apurada, como
também a constante dedicação ao trabalho e à realização dos ideais.
Esta última característica é indicada pela proximidade da ampla listra verde, logo acima
do amarelo; a empatia e compassiva preocupação com os demais, representadas pelo
verde, toca e influencia o seu pensamento. O tom da grande faixa rosa do lado oposto, que
sempre indica afeto, reflete genuíno altruísmo - forte preocupação com as pessoas, com a
humanidade em geral. O reflexo desta cor na parte inferior da aura indica que, na vida
diária, ele era um homem generoso e um bom amigo. Mas, ao mesmo tempo, não era
muito expansivo nas afeições; as listras azuis que atravessam o rosa indicam que ele as
guardava para si e era, até mesmo, propenso a reprimi-las.
A cor roxa ou alfazema acima da cabeça sempre significa espiritualidade ou aspiração
espiritual - o que não se confunde com devoção religiosa -, representada por um tom de
azul diferente. No caso desse homem, ele não era religioso e tinha pouco ou nenhum
interesse por conceitos teológicos ou ontológicos. Ouvindo-o falar, poder-se-ia considerá-lo
um materialista convicto, pois ele se dedicava apaixonadamente a mudar o mundo por
meio da reforma social. Mas, na realidade, ele era um idealista cuja espiritualidade
intrínseca assumia a forma de compromisso com o bem da humanidade.
A faixa verde é ampla e indica o seu caráter prático. Ele não era apenas um teórico,
mas empregava as energias na descoberta de formas de colocar suas ideias em prática. Era
um excelente organizador, além de orador e escritor conciso e fluente. Tampouco temia
usar as mãos, e adorava construir casas, cortar madeira e trabalhar no jardim. Os símbolos
na faixa indicam grande preocupação com a economia global e a justiça social, mas
também interesse perene pelas questões ecológicas. Tais ideias eram fundamentais não
apenas no seu trabalho, mas também na sua visão ampla do mundo. Como já disse, as
formas no interior da faixa verde refletem as inquietações fundamentais de uma pessoa; as
desse homem se relacionavam com conceitos, daí a cor amarela. Tais formas simbólicas,
em geral, são bastante duradouras.
O agrupamento de árvores verde-escuras é um padrão bem mais raro na faixa verde.
Quando as vi, perguntei se as árvores simbolizavam paz e harmonia para ele. Então, ele me
disse que, durante muitos anos, antes de ir dormir à noite, visualizava determinado grupo
de árvores em um local que conhecia e amava, e isto parecia situar seu trabalho diário
numa perspectiva mais ampla, proporcionando-lhe uma sensação de paz na natureza -
sentimento que permanece, não obstante turbulências e conflitos. Mais tarde, quando
voltou suas energias em direção aos problemas ecológicos, estou certa de que esse
símbolo se tornou fonte de inspiração ainda maior para ele.
Uma das características nítidas desta aura é a grande presença de azul acima e abaixo
da faixa verde. Isto indica uma vontade altamente desenvolvida, a qual ele exercitava
livremente na sua vida diária, sobretudo em si mesmo; costumava ser muito duro consigo.
As plumas salpicadas de vermelho, presentes no azul logo abaixo da faixa, indicam que seu
ardor reformista era, em grande medida, abastecido pela raiva; ele assumia uma atitude
belicosa, pois esperava que as pessoas lhe fizessem oposição. Ele não se limitava apenas a
falar de mudança social, mas entrava na arena e lutava por ela.
108
Ele possuía grande dose de autocontrole, mas as pressões a que era submetido
produziam considerável tensão, o que indicam as faixas azuis envolvendo a parte inferior
da aura. Vale lembrar que tais faixas não se encontram apenas nas extremidades da aura,
mas a encerram, cobrindo-a, porém sem obscurecer as outras cores. (A aura número 9
apresenta uma concha similar.) Estas faixas sempre indicam tensão nervosa e emocional, e,
quando se elevam mais na aura, podem indicar grave distúrbio e levar, até mesmo, a
deficiências físicas, como no 17, pois bloqueiam o livre fluxo de energia emocional. Nesse
caso, contudo, senti que o problema era passageiro, pois esse homem era extremamente
forte e robusto, possuidor de grande resistência física.
Essa tensão se relaciona com a base da aura, onde as cores escuras indicam que, na
infância, provavelmente ele viveu em ambiente um tanto repressor, e, também, era uma
pessoa obstinada e rebelde. Aqui, como de hábito, encontra-se um resíduo do passado, de
emoções grandemente superadas, mas, ainda, algo presentes na mente inconsciente. No
caso desse homem, isso indica que, na infância, ele era afetuoso, mas tímido e retraído,
além de bastante reservado em si mesmo. A cor marrom com tons verdes mostra o
habitual egoísmo e, também, a determinação de construir o próprio caminho. A cor verde
se relaciona com a grande quantidade de trabalho manual na infância. Os vórtices rosa e
azul, à esquerda, são um sinal de suas muitas dificuldades de relacionamento com a família.
Como tais vórtices se elevam bastante na aura, essas dificuldades devem ter perdurado até
o começo da vida adulta; do lado oposto, os pontos azuis também representam arroubos
de impetuosidade. Todas essas formações eram temporárias e acabariam por desaparecer.
A pluma laranja do lado esquerdo constitui outro traço interessante desta aura,
próximo do corpo e abaixo dos joelhos. O número 7 apresenta formação semelhante, e
também o 13. Esta posição, mais próxima do corpo ou mais externa na aura, indica o nível
de atividade. Como já mencionei no caso anterior, em geral tais formações são criadas pela
forte convicção de que se está certo e pela determinação de defender essa posição, não
importando quais sejam as consequências. Portanto, de certa forma, essa pluma
representa orgulho intelectual. Nesse homem, o orgulho era tão forte que, às vezes, ele
desdenhava aqueles que discordavam de suas opiniões. Existe sempre o perigo de pessoas
com fortes convicções desenvolverem uma forma de farisaísmo e intolerância com aqueles
que se opõem a elas. Entretanto, como já mencionei no Capítulo 1, quando esse homem
viu o desenho da pluma, percebeu seu significado e decidiu-se a mudá-lo. Tamanha era sua
força de vontade que, provavelmente, conseguiu seu intento.
Frequentemente, perguntam-me se tal orgulho intelectual se origina do egotismo. A
convicção de que se está certo exige autoconfiança, e amiúde existe um certo grau de
egotismo envolvido. Mas é possível ter um ego forte e, no entanto, ser altruísta. Esse
homem estava convencido de que sabia como alcançar a meta da justiça social (a respeito
da qual, provavelmente, nutria um otimismo excessivo), mas não era interesseiro. Não
trabalhava para sua própria glória. Muito ao contrário, fazia inúmeros sacrifícios na busca
de seus objetivos.
Desde cedo ele se preocupava com os males sociais que percebia nos Estados Unidos
pouco depois da Primeira Guerra Mundial, pois, naquela época, não havia leis trabalhistas
para as crianças e as condições de trabalho eram deploráveis. Ele tomou a decisão de
109
firmar uma posição pública a respeito dessas questões e passou a dedicar grande parte do
tempo à defesa de uma legislação que corrigisse tais males. Era um professor universitário
bastante conhecido, mas sua crítica veemente à política encontrou muita oposição por
parte de colegas e do estabelecimento onde trabalhava, e, como resultado, perdeu seu
cargo em meio a grande publicidade. Seu radicalismo lhe trouxe todo tipo de acusação de
deslealdade, e suas opiniões foram consideradas subversivas por muitos conservadores.
Ele sofreu pessoalmente com tudo isso, mas nunca parou de defender publicamente o que
considerava a verdade, sempre e onde quer que encontrasse fórum.
Mais tarde, em sua vida (pois ele viveu quase cem anos), voltou sua atenção das
questões políticas para as ecológicas. Sempre nutrira profundo amor pela natureza e, à
medida que foi envelhecendo e o quadro mundial se modificando tão significativamente,
começou a voltar sua atenção para as maneiras práticas de conviver com simplicidade e
harmonia com o meio ambiente. Desenvolveu muitas teorias sobre o cultivo e preparo
orgânico de alimentos, e escreveu diversos livros, em parceria com a esposa, sobre como
viver inofensivamente, utilizando os recursos da Terra sem exploração. Tornou-se famoso
pela defesa desta causa, assim como ganhara má reputação por seu radicalismo inicial, e
muitas pessoas fizeram peregrinações para sentar a seus pés e assimilar a sabedoria e
bondade simples por ele exibidas na sua vida pessoal.
Esse homem era um idealista, e ideais fortes resistem à prova do tempo. Já disse antes
que algumas cores na aura personificam as qualidades de estados elevados de consciência,
os quais podem energizar e acentuar a capacidade pessoal de ser eficiente no mundo.
Reflexos desses níveis podem ser vistos nesse homem; no seu caso, são coloridos pela
solidariedade e profunda preocupação com o sofrimento humano.
Cinquenta anos depois de este quadro ter sido pintado, posso dizer que esse homem
conseguiu realizar sua promessa interior. Embora não o tenha visto nos anos anteriores à
sua morte, estou certa de que a maior parte das complexidades desta aura desapareceram,
pois as irritações e frustrações do começo de sua vida já há muito haviam sido
solucionadas. Além disso, certamente não havia mais tensão, e, sim, uma atitude muito
mais relaxada diante da vida. Assim, nos anos subsequentes sua aura se teria tornado mais
límpida e menos complicada.
Quando a pluma laranja desapareceu da aura, as fortes convicções que representava
foram substituídas pelo florescer de seu amor inato à natureza. Os esforços deste homem
para encontrar maneiras práticas de cultivar a terra, durante os anos tardios de sua vida,
constituíram, assim, a realização de tendências vislumbradas anteriormente.

110
12. Uma pintora

Quando contemplei esta aura pela primeira vez, mesmo que nada soubesse sobre a
história da pessoa, a largura da faixa verde me teria surpreendido, além da preponderância
de verde em toda a extensão. Verde e rosa eram as cores dominantes. Evidentemente, esta
era uma pessoa de sentimentos calorosos e ternos, cujas mãos e mente trabalhavam muito
bem juntas.
Tanto a cor incomum quanto a largura da faixa verde indicam que o trabalho dessa
mulher era, ao mesmo tempo, criativo, habilidoso e expressava de maneira singular suas
ideias artísticas. De fato, ela era uma pintora muito conhecida, mas, também, possuía
111
incrível habilidade manual, pois era uma boa carpinteira e aprendera sozinha inúmeras
aptidões práticas.
A aura dessa mulher é muito interessante sob diversos outros aspectos, especialmente
por revelar sua vida passada e a forma como as experiências continuaram a influenciá-la.
A mistura de azul-escuro e verde na base da aura mostra que, na infância e
adolescência, ela foi muito reprimida pelos pais. Longe de aceitar tal fato, ela foi de uma
rebeldia feroz, e estava sempre em desavença com a família. O fato de essas cores escuras
se elevarem até os tornozelos indica que, no começo dos 20 anos, ela tentou romper com
esse ambiente, sem muito sucesso. Como resultado, sentiu-se oprimida por um sentimento
de desesperança e inutilidade. Seu espírito de revolta diante de contínua oposição
puseram-na em estado de irritação crônica, o que indicam os pontos vermelhos na parte
inferior do lado esquerdo. Ela exibiu talento artístico desde a infância e fazia contínuos
esforços para expressar-se através da pintura; contudo, a situação familiar era tal que o
futuro lhe parecia sombrio, o que a levava à frequente depressão.
As linhas radiantes de azul em torno dos pés são indicações de sua revolta juvenil e do
desejo apaixonado de ser ela mesma. Refletem-se em padrão similar em torno dos joelhos,
relativo a um período posterior em sua vida. Ela sempre foi ferozmente independente, e,
quando se sentia limitada pelas outras pessoas, reagia violentamente. A lacuna entre esses
dois padrões se deve a um período na juventude no qual ela aceitou melhor o mundo em
que vivia; por conseguinte, foi então menos rebelde e tensa.
Ela cresceu na Inglaterra, na época da Primeira Guerra Mundial, quando os limites
sociais eram firmemente estabelecidos e não se saía facilmente da própria classe. Sua
família aristocrática era extremamente conservadora e tinha ideias rígidas sobre o que uma
jovem devia e não devia fazer. Desde tenra idade, ela exibiu talento artístico, e, como a
pintura era, ao mesmo tempo, tradicional e socialmente aceitável para moças de boa
família, ela recebeu cuidadoso aprendizado. Mas não queria apenas dedicar-se
superficialmente à arte; ainda muito jovem, decidira que seria pintora e a arte, o trabalho
de sua vida. Esta ideia não era compatível com a sociedade convencional de uma época em
que as jovens deviam ser, ao mesmo tempo, decorativas e decorosas. Assim, ela estava
sempre em guerra com a família, que tudo fazia para reprimir o que considerava impulsos
boêmios da filha. Como consequência, sua rebelião e frustração cresciam dia a dia.
Ela sofria de sério problema físico, o que aumentava ainda mais a sua infelicidade.
Havia nascido com a audição deficiente, e ainda muito jovem se tornou quase inteiramente
surda. Por conseguinte, a comunicação com as pessoas exigia constante esforço, e criava
muita tensão, o que pode ser visto na base da aura. Essa deficiência afetou toda a sua vida,
pois sempre lhe foi muito difícil ter uma conversa normal. Quando posou para este retrato,
ela portava uma enorme corneta acústica, a qual ela lançava na minha direção para que eu
gritasse. Devo dizer que a comunicação se tornava um pouco difícil assim.
O cinza enevoado na parte inferior da aura resultou de seus esforços, ao final da
adolescência, de romper com a influência repressora do ambiente familiar. Ela ansiava por
uma vida criativa, mas era muito insegura quanto à própria habilidade e, via de regra, era
bastante pessimista em relação ao futuro. A dúvida em relação a si mesma a tornava
insegura e deprimida. De modo geral, foi um período muito sofrido de sua vida.
112
Mas, logo acima das cores escuras na base da aura, estabelecendo nítido contraste,
pode-se ver uma faixa de rosa-pink à esquerda, harmonizado por um violeta-róseo do
outro lado. Ambos se elevam até a faixa verde, e, conquanto as linhas de tensão nas bordas
da aura persistam, as regiões superiores dessas duas cores estão livres de qualquer
constrangimento. A razão de mudança tão acentuada reside no fato de, muito tempo atrás,
ela ter tido a boa fortuna de tornar-se amiga de uma pessoa dotada de grande talento
criativo, além de personalidade marcante e vivaz. Esse homem se interessou por ela e
encorajou-a a lutar por si mesma, tanto artística quanto pessoalmente. Tornou-se seu guia
e mentor, e sua influência transformou literalmente a vida dessa moça, pois ele a
incentivou a romper a ligação com a família, sair de casa e mudar para o extremo oeste dos
Estados Unidos. Ela sentiu que ele a tirava de uma prisão para uma vida nova de liberdade,
e a gratidão que devotou a esse homem não conhecia limites.
Ela o idealizava a tal ponto que ele continuava a influenciá-la até à época em que este
quadro foi pintado, embora já estivesse morto há vários anos. Pode-se ver dois símbolos na
sua aura que são espelhos um do outro: um na região superior da aura, na junção de verde
e amarelo; o outro abaixo, no rosa. Essas formas simbólicas revelam o sentimento
profundo que ela nutria por aquele homem, cuja memória ainda continuava a inspirá-la. O
símbolo superior exercia poderosa influência espiritual sobre o seu trabalho artístico,
enquanto o inferior energizava as interações com as outras pesoas. Mostram que a
lembrança dele ainda produzia nela uma admiração quase religiosa, pois que ela o
idealizava. O relacionamento entre ambos era inteiramente platônico, pois ele desfrutava
um casamento feliz; mas, talvez devido à força do sentimento que nutria por ele, ela nunca
se casou nem teve um caso amoroso.
Embora tivesse muitos amigos carinhosos e fosse uma pessoa muito simpática, sempre
havia alguma tensão na expressão dos seus sentimentos, provavelmente devido à surdez. A
faixa azul na extremidade do verde da simpatia, na parte superior, indica isto. Mas existe
muito rosa-pink, sinal de que seus afetos eram, a um tempo, calorosos e desinteressados.
O azul é sua vontade, enquanto o azul/verde indica o mais elevado alcance da sensibilidade
artística - sua resposta intuitiva ao componente estético da natureza e do mundo. O fato
desta cor tocar sua faixa verde mostra que ela procurava expressar esse ideal na pintura.
Os símbolos na faixa verde são muito mais amplos e bem definidos do que o normal,
talvez porque, sendo uma artista, ela visualizava claramente. O formato de chama no
interior do círculo é interessante porque simbolizava para ela a influência espiritual na arte.
Quando lhe descrevi o símbolo, ela disse que ele retratava com exatidão uma visão que
tivera no deserto - a qual continuava a ser uma fonte de inspiração. Embora essa
experiência tivesse sido totalmente subjetiva, ela havia feito um quadro que mais tarde me
mostrou, e, de fato, era o símbolo que eu havia percebido, embora muito mais belo e
elaborado. Assim, ele permanecia muito nítido na sua aura.
O outro símbolo maior está relacionado com um quadro em que ela estava
trabalhando na ocasião. Ela assistira a uma série de concertos e fizera esboços das mãos do
maestro em movimento; este símbolo representava seu presente interesse por esse
estudo, e, provavelmente, deve ter desaparecido tão logo sua atenção tenha-se voltado
para outros temas. Igualmente interessante é que a forma que esse estudo tomou
113
lembrava vagamente os desenhos usados por nativos americanos em suas artes. Ela
mesma se sentia mais próxima dos povos indígenas, e estava tentando entender o espírito
da cultura indígena, a fim de poder representá-los de maneira compassiva e autêntica. Esse
interesse influenciava, inconscientemente, seu trabalho daquele momento.
Esta aura é fascinante em razão do grande contraste entre passado e presente. É difícil
imaginar uma vida na qual pudessem ter ocorrido mudanças mais radicais, porquanto ela
trocou um ambiente estreito e convencional por outro de liberdade irrestrita, e uma
existência de riqueza e luxo por outra extremamente simples, até mesmo espartana. Mais
tarde em sua vida, ela nunca pensava em convenções e era indiferente a sua aparência
pessoal, conquanto sempre se mostrasse meticulosa em seus hábitos. Vivia com muita
simplicidade e poucos bens, e conseguiu mergulhar completamente numa cultura
totalmente diferente da sua formação.
Ela nutria profundo amor pelas montanhas e os pueblos indígenas, bem como pelas
cores das rochas nuas e a visão de cavalos galopando nas planícies abertas. Neste
ambiente, finalmente, ela se tornou ela mesma; foi como se houvesse renascido. Quando
conseguiu a liberdade para viver o tipo de existência de que necessitava tão
profundamente, ela se tornou mais una, menos complicada e sua própria integridade
interior começou a brilhar através do seu trabalho. Isso transformou a sua arte, pois,
quando ela se tornou livre para representar seu próprio ser e percepções artísticas, a
pintura alcançou sua verdadeira posição.

114
13. Um arquiteto/desenhista

Esta é a aura de um homem em meados da casa dos 60, que havia estudado
arquitetura, mas se dedicara a maior parte da vida à cenografia para teatro. Ele amava o
teatro e o palco, aos quais muitos dos seus amigos e colegas estavam ligados. Na ocasião
em que foi feito o quadro, contudo, ele se aposentara há pouco tempo do trabalho ativo, e
suas maiores realizações haviam ficado para trás. Embora ainda dedicasse grande parte do
tempo a escrever, os maiores trabalhos haviam sido publicados anteriormente. Em outras
palavras, seu auge de realização ficara no passado, e ele se encontrava no que poderia ser
chamado período reflexivo ou contemplativo da vida.
Esta aura é extraordinariamente clara e desprovida de cicatrizes ou tensão, ao
115
contrário das de números 7 e 11, cujos sinais de conflitos iniciais ainda estão visíveis.
Quando ele era mais jovem e ativo, essa característica talvez não tivesse sido tão evidente,
mas sua natureza levava a acreditar em sua habitual capacidade de permanecer calmo e
tranquilo, pois esse homem tinha um grau notável de integração entre a mente e as
emoções. Desde a juventude, soubera o que queria ser e fazer; aceitara certas ideias
filosóficas, matemáticas e espirituais como princípios condutores de sua vida e trabalho, e
jamais encontrara motivo para modificá-las. Esse interesse influenciou-lhe o pensamento e
deu forma à sua vida profissional. Como ele havia adotado uma profissão que se prestava à
expressão dessas ideias, nunca se sentiu frustrado ou inibido, o que sempre favorece a
saúde emocional. Na verdade, o início de sua vida contrasta totalmente com a de número
12.
O cinza-azulado enevoado na base da aura indica sua forma de egoísmo, que era mais
um desejo de auto-expressão e de uma oportunidade de seguir o seu próprio caminho, e
não um apego aos bens. O verde-escuro logo acima mostra a sua intensa atividade quando
jovem, bem como ambição. A cor torna-se mais clara do lado esquerdo, e funde-se com a
formação em anel azul-escura. O formato deste anel indica sua relação com uma
lembrança que remonta ao passado, mas ainda o influencia, enquanto sua proximidade
com uma área de azul mais claro e brilhante caracteriza uma linda experiência, dolorosa
apenas porque chegou ao fim. Na verdade, essa lembrança foi inspirada por um casamento
maravilhoso com uma mulher que exerceria uma influência permanente sobre ele -
experiência que ele mesmo sentia ter uma importância espiritual. Conquanto ela houvesse
falecido muitos anos antes, sua memória ainda se fazia presente na vida desse homem,
que nunca se sentiu inclinado a novo casamento.
Desse fragmento azul, reflexo de sua vontade superior e consciência do ser, surge uma
pluma laranja, muito semelhante àquelas vistas nas duas auras supracitadas. Como
sempre, esta formação mostra o sentido de orgulho e amor-próprio; neste caso, ele era um
tanto complacente em relação ao fato de saber tão bem o que queria. Tinha confiança na
exatidão de suas ideias, bem como na capacidade de lhes dar forma no seu trabalho e
expô-las através da palavra.
O azul/verde no lado inferior direito é um sinal de que a sensibilidade artística deste
homem era bastante ativa na vida diária, parte intrínseca de tudo o que fazia. Do lado
oposto, existe uma área rosa, que sempre expressa afeição. Como você pode ver, ela
alcança o azul relacionado com o seu casamento precoce, pois o sentimento pela esposa
não havia desaparecido. Ele era carinhoso com os filhos e um ou dois amigos íntimos, mas
tinha poucas ligações pessoais. De maneira geral, a aura desse homem não apresenta
muito rosa. Na verdade, ele era uma pessoa um tanto arredia e muito auto-suficiente,
bondosa, mas não íntima de muita gente.
Considerando-se a parte superior da aura, percebe-se a presença de uma inteligência
aguçada. O brilho do amarelo mostra que sua mente era muito ativa, e o fato de a cor
refletir-se abaixo da faixa verde indica que ele usava a mente para controlar seus atos. O
azul/verde do lado oposto se relaciona com a sua percepção de beleza, e as plumas verde-
claras no interior resultam de sua afinidade com pessoas influenciadas de maneira
semelhante. As faixas de cor violeta acima da cabeça mostram seu sentimento profundo,
116
quase ritualístico, por aquilo que considerava como princípios espirituais subjacentes à
natureza.
No interior da ampla faixa verde, percebe-se um arranjo completo de intricadas formas
geométricas. Estas figuras são expressões de sua constante preocupação com os princípios
da forma, que a seu ver revelam a ordem arquetípica subjacente do universo. Tais símbolos
representavam papel ativo na sua imaginação e estavam presentes em tudo o que fazia.
Eram tão marcantes na sua mente que, não importa o que estivesse fazendo, sempre que
se deparava com um pedaço de papel ele começava a desenhar algumas dessas formas
complexas. Toda a sua vida ele estudou os princípios matemáticos ocultos que conferem
harmonia, simetria e proporção à profusão de formas naturais, e escreveu diversos livros
sobre o que, na época, era conhecido como simetria dinâmica, estudo da maneira como as
formas se originam umas das outras.
Na minha opinião, esse homem nascera com uma estrela da sorte. Sua vida fora
extraordinariamente desprovida de desavenças, e, se tivera preocupações, ele as deixara
para trás. Embora houvesse perdido a esposa, as lembranças eram fonte de felicidade e
consolo para ele. Tivera a sorte de desempenhar uma profissão de que gostava e na qual
era muito bem-sucedido. Ainda jovem, ele havia encontrado uma filosofia que lhe era
inteiramente satisfatória e infinitamente fascinante, a qual ele pudera colocar em prática
ao longo da vida. Seus livros eram bem recebidos, senão bastante populares. É bem
verdade que ele levava uma vida solitária, mas estava satisfeito com isso. Na verdade, ele
havia alcançado o estado de serenidade e desapego que, segundo o hinduísmo, deve
caracterizar o último período da vida.
A singularidade desta aura reside no fato de sua mente trabalhar em plena harmonia
com seus sentimentos. Aparentemente, nunca houve bloqueio entre eles. Suas aspirações
espirituais estavam ligadas ao amor à beleza e àquilo que ele considerava a ordem divina
dentro do universo; ambas eram, para ele, expressões de uma realidade espiritual
subjacente. Tais ideias eram tema de suas meditações, bem como, constantemente,
ocupavam seu pensamento, e colocaram seu nível intuitivo de consciência em harmonia
com a mente e as emoções. Assim, os três níveis trabalhavam sincronicamente nesse
homem, o que é uma raridade.

117
14. Uma jovem idealista

Concluo este grupo de retratos com uma pessoa bastante diferente dos conquistadores
supracitados. Em primeiro lugar, ela era jovem (apenas 21 anos), com uma vida inteira à
sua frente e sem registros de realizações para trás. Assim, a experiência passada não havia
moldado seu caráter significativamente. Tampouco ela exibia os talentos que levaram a
maioria destes retratados a dedicar suas vidas ao trabalho artístico. O que ela tinha em
comum com eles era a consciência ferrenha do propósito. No seu caso, tornou-se quase um
compromisso apaixonado com aquilo que ela considerava ser a meta da vida humana: a
realização das percepções e valores espirituais.

118
Todo este livro defende a ideia de que as pessoas podem tomar as vidas em suas mãos,
colocar as intenções em prática e fazer de suas aspirações uma força para a mudança
pessoal. Como tentarei mostrar no Capítulo 8, acredito que a motivação é o primeiro
requisito para a mudança, e que é preciso ter uma consciência clara da direção que se quer
tomar - do caminho que se deseja seguir, ainda que o fim desse caminho seja desconhecido
ou mesmo incognoscível. Essa menina encontrou a direção que queria tomar quando ainda
bastante jovem, e permaneceu fiel na determinação de segui-lo pelo resto de sua vida.
Esse compromisso está mais evidente nas faixas em forma de asa de azul forte que
surgem da região do coração, na parte superior da aura. Ela praticava meditação há cerca
de quatro ou cinco anos, e estas faixas azuis são o resultado disso; relacionam-se com a
expansão da vontade e com os esforços conscientes para regular a vida de acordo com seus
ideais espirituais e suprimir os impulsos egoístas. De todos os nossos casos, apenas esta
moça e o número 13 tinham este tipo de dedicação.
Curiosamente, ela não era uma pessoa que se pudesse considerar obstinada. Não tinha
o tipo de determinação que forja uma carreira, não obstante deficiências, ou que
desenvolve um talento através da pura persistência. Assim como muitos adolescentes, ela
havia hesitado em relação ao que queria fazer de sua vida, e até os 21 anos ainda se
mostrava um tanto indiferente quanto ao tipo de trabalho que realizava, e tendia a aceitar
o que lhe era oferecido. Assim, ela não era ambiciosa no sentido usual da palavra.
Tampouco desejava ter controle sobre a vida de outrem. Ela desejava controlar, apenas, a
si mesma.
Nessa época, ela tinha toda a intensidade da juventude, e, devido a um temperamento
altamente sensível, era muito tensa. Era bastante perfeccionista, além de muito impaciente
e crítica, sobretudo consigo mesma. Se não alcançava seus padrões, ela se sentia muito
mal. Pressionava-se demais sem o saber e, por isso, vivia com excesso de tensão.
Em razão de sua juventude, as cores da aura são claras, e existem poucos sinais de
trauma no passado. Na base da aura, o cinza-esverdeado opaco mostra que seu egoísmo
básico tomou a forma de um desejo de expressar-se, em vez de uma ânsia por coisas
materiais. O matiz cinza indica que, quando muito criança, ela vivia assustada. Nada havia
em sua vida familiar ou em sua experiência capaz de causar medo; ela não tinha medos
específicos, mas, sim, uma espécie de temor impalpável do escuro desconhecido que
muitas crianças parecem sentir. Instintivos e semiconscientes, tais temores, em geral, são
remanescentes de um passado esquecido. O símbolo azul-escuro semelhante a uma âncora
abaixo dos pés mostra que esses medos impalpáveis tornaram-se palpáveis na sua vida
onírica. Quando perguntei se tinha pesadelos recorrentes, ela os lembrou claramente,
embora houvesse deixado de tê-los. Ao longo dos anos, seus medos haviam-se cristalizado
neste símbolo, mas sua posição tão baixa indica que praticamente já a haviam deixado,
permanecendo apenas como uma sombra no seu inconsciente.
Nas extremidades da aura, pode-se ver as faixas azuis que sempre indicam tensão,
semelhantes às dos números 9 e 12. Como naqueles casos, a tensão parece ter raízes
antigas e, provavelmente, originava-se de antigos medos. Ela tendia a forçar-se além de
seus limites de tolerância nervosa e física, pois não tinha noção deles. A tensão agora havia
se tornado bastante arraigada, a ponto de os nervos causarem-lhe acessos periódicos de
119
fortes dores de cabeça, acompanhadas de náusea. No mais, sua saúde era muito boa.
Um pouco mais alto, à esquerda, a cor torna-se ligeiramente mais azul, o que indica ter
sido uma criança voluntariosa, que, provavelmente, conseguia fazer o que queria, pois seus
pais eram benevolentes e afetuosos, e costumavam mimá-la, embora ela não tivesse
consciência disso. Era filha única e passava grande parte do tempo com adultos; por
conseguinte, foi bastante precoce. De fato, excetuando-se a falta que ela sentia da
companhia de outras crianças, seu ambiente infantil era ideal.
Mais acima, o verde torna-se mais claro e apresenta matizes amarelos. Isto mostra
que, ainda muito jovem, ela pensava naquilo que a cercava e usava a mente na vida
cotidiana e nos estudos. A cor torna-se mais amarela, indicando um esforço consciente
para controlar o egoísmo, bem como para compreender aquilo em que estava trabalhando.
O trecho laranja é uma forma incipiente das plumas já apresentadas em 7, 11 e 13. Como já
disse, esta cor sempre indica convicções fortes e um certo grau de orgulho intelectual por
ter chegado àquilo que se considera ser a verdade. Desde o começo da adolescência, essa
menina estivera em busca de algum ensinamento que esclarecesse suas perguntas não
respondidas, e, quando tomou conhecimento do budismo, da teosofia e da filosofia
oriental, ela se convenceu de que havia encontrado essas respostas. O trecho laranja ainda
não havia tomado a forma de uma pluma; difícil saber se viria a tornar-se mais rígido com o
passar da vida, ou se, gradualmente, relaxaria e desapareceria.
Essa jovem mulher, recentemente, dera à luz um bebê, e naturalmente o
acontecimento ocupava grande parte de sua atenção. Pode-se ver o rosto da criança na
faixa verde da mãe, pois ela não apenas passava muito tempo cuidando fisicamente do
filho, como também pensava bastante em seu progresso. Ela estava decidida a ser uma boa
mãe - decisão que, de certa forma, a deixava excessivamente ansiosa. A faixa verde tem
uma tonalidade clara, o que indica compreensão, e é bastante ampla, mostrando sua
habilidade manual. Ela não tinha talento artístico especial, mas não sentia dificuldade em
aprender por si mesma a fazer diversas coisas, como, por exemplo, costurar, fazer
jardinagem, tocar um instrumento musical ou usar ferramentas de vários tipos. Também
no interior da faixa verde, pode-se ver diversas formas geométricas amarelas, todas
relacionadas com seus interesses intelectuais, enquanto os círculos e espirais azuis
refletem novamente o uso de sua vontade para controlar os pensamentos e sentimentos.
O rosa predomina na aura, tanto em cima como embaixo, mostrando sua grande
afeição não apenas pela família, mas também por todo tipo de pessoa. O rosa acima da
faixa verde, cuja cor é mais pura, relaciona-se com uma espécie de sentimento
generalizado que reflete os ideais em relação à sua vida emocional, enquanto o trecho
abaixo mostra o amor que ela expressava no dia-a-dia. Os pequenos cones e espirais nesta
cor novamente revelam sua aflição diante da possibilidade de não conseguir viver segundo
seus ideais, mas eram temporários e desapareceriam.
O amarelo está presente em dois locais da parte superior da aura, e denota sua
inteligência inata e a capacidade de efetiva reflexão, até mesmo com respeito a temas
difíceis e intricados. O amarelo logo acima do rosa representa o poder mental ao qual ela
recorria com regularidade, enquanto a listra amarela mais acima, à esquerda, constitui o
aspecto mais abstrato ou teórico, que não estava sendo muito utilizado. A área azul-
120
esverdeada do lado direito relaciona-se, como de hábito, com a estética; no caso desta
jovem, não representa tanto a habilidade artística, mas antes a sensibilidade - apreciação
da beleza e harmonia enquanto ideais universais. Como sempre, a cor de alfazema no topo
da aura indica a espiritualidade inata de uma pessoa. Em seu caso, está ligado ao amarelo-
dourado, à esquerda, e ao azul-esverdeado, à direita, mostrando que tanto a busca de
significado quanto a valorização da beleza se relacionavam com a busca espiritual. O
violeta mais escuro é uma emoção composta - uma abordagem intuitiva para a
compreensão da ordem interior, do significado e propósito por trás dos fenômenos da
natureza.

14a. Cinquenta e seis anos depois

121
Estes retratos de aura foram realizados há tanto tempo que praticamente todos os
adultos já estão mortos. Esta mulher, contudo, ainda está bem viva, e seria interessante
acompanhar seu desenvolvimento. Quando foi feito o quadro, ela ainda estava no limiar da
vida, e seus potenciais mal começavam a desabrochar. Agora que é uma mulher com mais
de 80 anos, ela ainda é enérgica e atenta, e pouco perdeu de sua energia. Embora
aposentada, ela permanece ativa; além de seus interesses intelectuais, faz parte do
conselho de inúmeras organizações de caridade. Tem um casamento feliz há quase 60
anos, e uma grande família com filhos e netos, com os quais se dá muito bem.
Sua noção de propósito não diminui, e ela continuou com a prática de meditação.
Abençoada com boa saúde e bom karma (pois sua vida tem sido regularmente livre de
problemas e dificuldades), ela tem realizado seus objetivos sem nenhum atrito nas relações
familiares. Ela não sente mais a necessidade de exercitar a vontade tão fortemente sobre si
mesma e, por esse motivo, está muito relaxada. A ansiedade causada pelos medos infantis
desapareceu, e ela superou grande parte de sua tensão e estresse. Por conseguinte, as
enxaquecas de origem nervosa desapareceram há muito tempo, e sua saúde é excelente.
As cores da aura tornaram-se mais suaves, claras e equilibradas. (A aura de número
14A foi pintada recentemente por outra artista, não por Juanita Donahoo). O trecho laranja
diminuiu de tamanho, pois ela deixou de sentir a necessidade de defender suas ideias tão
vigorosamente. O rosa abaixo está harmonizado por um rosa mais claro acima, mostrando
que sua afeição ainda é forte, só que mais desapegada. O amarelo na região superior da
aura é mais amplo e agora adjacente à faixa verde, indicando que suas aptidões e
interesses intelectuais se aprofundaram e se tornaram mais ativos. A cor de alfazema acima
da cabeça ampliou-se muito através do estudo e da meditação, mostrando o crescimento
de sua percepção espiritual. Como resultado de anos de meditação, as asas azul-escuras,
tão características de sua aura, ampliaram-se para formar um semicírculo roxo que interliga
as energias superiores com a mente e as emoções.
No todo, as cores tornaram-se muito mais difusas, e, como resultado, sua aura está
mais harmoniosa.
Refletindo a respeito da aura dessa mulher e comparando-a com a de outra senhora
(ilustração 8), considerei como o processo de envelhecimento afeta a saúde e o vigor
emocional. Se você voltar ao número 8, verá que a parte inferior da aura daquela senhora
tinha uma película cinzenta, devido à redução de suas energias e da vida tão intensa no
passado. Contudo, ela fora uma pessoa cheia de vitalidade e ativa durante toda a vida. Suas
energias debilitadas talvez se devam à perda de vitalidade física, mas creio que também,
em parte, se devam à perda de sua estimulação mental e emocional. Muita gente quando
se vê forçada a aposentar-se, se defronta com o problema dessa senhora - seu trabalho lhe
foi retirado. Seja por causa da idade, da saúde debilitada ou de outras circunstâncias, é um
acontecimento que pode, às vezes, trazer consequências traumáticas. Algumas pessoas
perdem o propósito e, com ele, a confiança de que ainda podem prestar alguma
contribuição - e esta confiança é fundamental ao amor-próprio. Falarei mais detidamente
sobre esta questão no Capítulo 9, mas o comentário relaciona-se com o processo de
envelhecimento.
Em contraste, o número 14 ainda leva uma vida plena e ativa, com muitos interesses
122
intelectuais. Assim, suas energias mentais e emocionais suplementam qualquer diminuição
que naturalmente possa ocorrer na sua força física e vitalidade, devido à idade. Os médicos
costumam incentivar seus pacientes idosos a se manterem ativos, tanto física como
mentalmente, e minhas observações sustentam plenamente este conselho. No Capítulo 2
ressaltei o fato de que as energias superiores podem modificar e transformar as inferiores.
Como a mente e as emoções trabalham intimamente com a energia etérica, a energia
mental pode vitalizar, e de fato vitaliza, o corpo físico.
Em nossa cultura, infelizmente, a velhice costuma ser muito temida. No Oriente, ao
contrário, a velhice é considerada como um período em que a diminuição das
responsabilidades deixa tempo livre para a contemplação e para usufruir a natureza. Livre
da necessidade de estar sempre realizando, a pessoa pode libertar-se e ser ela mesma.
Quando a velhice é aceita como um estágio da vida que traz seus próprios benefícios, os
dons da serenidade, quietude e desapego podem enriquecer o final de uma existência
ativa.

123
7. Os Efeitos da Doença

Os efeitos da doença são facilmente visíveis na aura, sobretudo quando se trata de um


problema crônico ou de longa duração. Toda doença tem seu próprio padrão, mas sempre
existe uma diminuição de energia, que tem como resultado um cinza geral ou o
obscurecimento do brilho das cores, além da tendência de a aura definhar. Existem
frequentes sinais de tensão, provenientes do esforço de continuar, não obstante a dor e a
debilidade.
Na pessoa saudável, existe um fluxo natural de energia emocional, que não só permite
a livre interação com os demais, como também impede bloqueios internos capazes de levar
à inibição emocional e à depressão. A doença, contudo, costuma voltar a pessoa para
dentro, pois a enfermidade sempre exige a atenção do indivíduo. É preciso um esforço
consciente para suportar a dor, e a falta de energia esgota a capacidade de funcionar
normalmente. O resultado é um estado de tensão.
No diagnóstico e tratamento de enfermidades, trabalho primordialmente no nível
etérico, o qual, como já disse, é, ao mesmo tempo, réplica do corpo físico e precursor da
doença. Contudo, os fatores emocionais são muito importantes na cura. Isto será discutido
com mais detalhes no Capítulo 9, mas os quadros subsequentes mostram claramente até
que ponto a doença é um estado emocional e físico. Sendo assim, uma atitude negativa
pode agravar a doença; eu não diria que uma atitude positiva pode curar, mas, certamente,
ajuda muito se o paciente coopera com o processo de cura, tornando o tratamento mais
eficaz.

124
15. Consequências da poliomielite

Nosso primeiro quadro é o de uma das pacientes da Dra. Bengtsson, e, como ela tinha
por hábito nunca falar sobre o estado dos pacientes antecipadamente, eu nada sabia da
história dessa moça. Quando entrei no quarto, ela já estava sentada e sua deficiência não
era evidente. Contudo, um único olhar bastou para mostrar-me como ela estava fraca e
enferma, e os esforços que precisava fazer para apenas continuar vivendo.
Essa pobre moça tivera um acesso de pólio aos dois anos de idade, que a deixou
fisicamente aleijada e neurologicamente prejudicada. Agora ela estava com 22 anos e era
125
bastante pesada e gorducha, de modo que, para ela, se tornava muito difícil andar. Ela
teria sido capaz de adaptar-se aos efeitos da poliomielite, mas seu estado sofreu
complicações devido a uma asma crônica, moléstia bastante grave.
Contemplando o quadro, percebe-se que as bordas da aura são onduladas e
irregulares, e perderam a definição, exceto nas extremidades superior e inferior. A aura
como um todo é envolta por uma tênue névoa cinzenta, que recobre as válvulas de
energia, e estas são abertas, rasas, flácidas e muito mais pálidas do que deveriam. Suas
pulsações rítmicas também eram irregulares, conquanto, naturalmente, isto não seja
visível no quadro. Todas essas aberrações indicavam que o mecanismo de controle de
entrada e saída de energia emocional não estava funcionando normalmente. Como as
válvulas estavam muito abertas, ela não estava adequadamente protegida das pressões
externas e não conseguia liberar as emoções com facilidade. Assim, tinha pouca resistência
e se cansava tão facilmente que estava em estado de exaustão crônica,
Na primeira vez em que a olhei, surpreendeu-me a nuvem cinzenta salpicada de
vermelho que recobre toda a parte superior do seu corpo, incluindo a região do plexo
solar. (pode-se ver algo semelhante nos casos 9 e 16.) Percebi que esse estado era
temporário e recente, assim lhe perguntei se havia tomado uma injeção há pouco tempo.
Ela replicou que estava se sentindo fraca e nervosa com a iminência do nosso encontro,
por esse motivo se autoministrara uma dose de adrenalina. Este fato me pareceu muito
interessante, pois a cor cinza na aura indica medo e depressão, enquanto o vermelho é
causado pela raiva, e a adrenalina é secretada pelo corpo sob tensão provocada pelo medo
e pela raiva. Assim, o efeito da injeção na sua aura foi o de simular essas emoções.
As qualidades que sempre estão presentes na parte superior da aura, no caso dessa
moça, são muito nebulosas. Como ela praticamente não tivera oportunidade de
desenvolver seus potenciais, estes eram débeis e ineficazes. Por outro lado, sem dúvida, a
cor dominante na aura é o azul forte da vontade, expressão de seu "eu superior". Esse azul
jorra do topo da aura, através da coluna e dos chakras, até a faixa verde. O tom desta cor
não está muito nítido no quadro, pois deveria ser mais claro e luminoso do que as cores
azuis que aparecem mais abaixo. O azul mais alto representa sua tremenda determinação
para viver da maneira mais normal possível- a vontade de superar as deficiências e realizar
alguma coisa no mundo físico.
Pode-se ver que a faixa verde é pálida e estreita, resultado natural de sua incapacidade
de realizar qualquer tipo de trabalho. Mas o azul da vontade está refletido na ampla faixa
de azul mais escuro logo abaixo da faixa verde, o que mostra a intensidade da luta que ela
travava continuamente para prosseguir. Quando se está tão fraco e desprovido de energia,
até mesmo o esforço para colocar um pé adiante do outro exige verdadeira perseverança.
Ela precisava de força de vontade para mover-se, andar, levantar objetos e até mesmo
para respirar; ademais, ela tinha de suportar a dor quase contínua. Essa ampla faixa azul
mostra sua força de vontade.
As três faixas azuis que circundam a parte inferior esquerda da aura também refletem
esse esforço, mas mostram os efeitos da tensão ainda mais claramente. Sua luta para
resistir aos efeitos da dor quase contínua e para seguir as ordens dos médicos havia
provocado um estado de tensão mais ou menos permanente. Ela estava tentando,
126
arduamente, usar a força de vontade para compensar, ao menos em parte, suas
deficiências físicas, mas, como ela falhava tão amiúde naquilo que estava tentando fazer,
essas faixas alternam-se com o cinza-escuro da depressão.
Existe uma grande área rosa atravessando a parte superior da aura, que se reflete na
tonalidade mais escura abaixo, indicando que, na verdade, ela era uma moça carinhosa.
Mas, aqui, novamente a cor está bloqueada nas extremidades da aura, pois ela não tinha
um escape para as emoções. Afora os membros de sua família mais próxima - bons e
afetuosos com ela -, essa moça tinha pouco contato com outras pessoas, além dos
médicos. Como sua energia estava tão baixa, ela só podia interagir com pessoas por curtos
períodos, e tinha dificuldade de expressar seus sentimentos em qualquer ocasião. Ela
tentava sair de si e interagir com as pessoas, mas logo ficava exausta e tinha de desistir.
Em razão de sua incapacidade de frequentar a escola, ela tinha apenas rudimentos de
educação e pouco estímulo para desenvolver sua mente. O fato de o amarelo acima da
cabeça não estender-se até às bordas da aura mostra sua pouca habilidade para concentrar
a mente em determinado assunto. Sua capacidade de atenção era pequena, e ela ficava
inquieta quando tentava concentrar-se por algum espaço de tempo. Como os recursos da
família eram limitados, ela tinha um ambiente estreito e pouca estimulação mental. Nutria
anseios vagos, mas não sabia como concentrá-los e, como era completamente
inexperiente, ela tinha pouca confiança na sua capacidade de realmente realizar algo um
dia.
Existe muito cinza na parte inferior da aura, misturado com verde - verde porque seu
passado foi pleno de coisas que ela havia tentado fazer, e cinza porque suas tentativas, em
geral, redundaram em fracasso. As marcas no cinza sob os pés relacionam-se com
lembranças dessas frustrações passadas; representam desânimo e depressão. A faixa
azul/verde no lado inferior direito da aura, próxima dos pés, resulta do período inicial de
sua vida no qual ela esteve um pouco melhor fisicamente e sentiu-se inspirada a tentar
fazer mais. O símbolo vermelho-róseo dentro dessa cor é a memória latente de uma
pessoa que a encorajou na ocasião e exerceu profunda impressão sobre ela. A pluma azul-
esverdeada no lado inferior esquerdo denota esse esforço inicial, que, infelizmente,
resultou em novo fracasso. Todo o triste registro de sua vida se constitui de tentativas e
fracassos renovados, sendo notável sua vontade de prosseguir.
A mistura de cores na parte inferior da aura indica seu desejo de ser alguém
(fragmento laranja), mas que também era frequentemente dominada por sentimentos de
inferioridade (cinza-esverdeado). Um pouco mais alto, à direita, o tom verde com cinza e
rosa mostra seus esforços para fazer-se agir ao máximo, mas as cores são vagas e
indeterminadas porque sua capacidade estava debilitada.
Essa moça era muito doente, e sua capacidade de atuar estava seriamente
comprometida pela asma crônica. Por isso, ela estava sempre entrando e saindo do
hospital, mas, quando entrava, seu baixo nível de resistência a tornava vulnerável a
infecções, e ela tendia a contrair outras enfermidades. Assim, seu estado era agravado por
todos os tipos de doenças secundárias.
No entanto, ela dispunha de grande determinação. Não creio que ela tenha nascido
com tanta força de vontade; desenvolveu-a como resultado de tremendos esforços para
127
superar as deficiências - ainda que tais esforços redundassem em pouco sucesso.
Recorrendo à força de sua vontade espiritual - sempre sensível aos esforços da pessoa -, ela
havia persistido na determinação de melhorar e usar suas faculdades tanto quanto
possível. Esta foi uma verdadeira conquista.
Na tentativa de ajudá-la e incentivá-la, sugeri que sua energia e resistência à doença
poderiam aumentar se ela estudasse mais. O esforço para usar a mente atrairia as energias
superiores, e poderia desenvolver seu amor-próprio e reduzir a depressão. Achei também
que seria útil visualizar algumas coisas que ela seria capaz de realizar, em vez de repisar nas
que não podia fazer. Desta forma, ela poderia recorrer a energias mentais de nível superior
a fim de aumentar a força física.
Sugeri também que ela deixasse Nova York em troca de clima mais seco, assim sua
respiração poderia melhorar, e, por sua vez, isto lhe facilitaria a concentração dos
pensamentos. Ela seguiu o meu conselho e mudou para o Arizona, onde, creio, a asma
melhorou um pouco, mas depois perdi contato com ela. Assim, não sei se ela conseguiu
seguir minhas sugestões para desenvolver as potencialidades de sua mente.

128
16. Uma criança nascida com a síndrome de Down

Esta é a aura de um menino de aproximadamente sete anos de idade, portador da


síndrome de Down - defeito genético causado por uma anormalidade nos cromossomos.
Caracteriza-se por deficiência mental e uma aparência oriental geralmente; por esse
motivo, é chamada de mongolismo. A rigor, essa criança é deficiente e não doente, mas
pertence a este grupo porque as anomalias presentes na aura correspondem intimamente
a suas aberrações físicas.
Em primeiro lugar, percebe-se que a forma da aura é bem mais arredondada do que a
de número 4, de um menino de sete anos normal; assemelha-se mais à da menina de três
anos. Isto indica que o seu amadurecimento não acontecia no ritmo normal. Toda a parte
média e inferior da aura está envolvida por uma nuvem cinzenta, algo semelhante à do
quadro anterior, embora o efeito não seja tão grave. Mas as válvulas de entrada de energia
estão afetadas - sua ação é lenta e inerte. Assim, tanto o nível de energia quanto a
129
resistência da criança estão prejudicados. Existe uma presença anormal de cinza na aura,
mas, neste caso, a razão é fraqueza, saúde débil e falta de energia, e não o medo ou a
depressão.
Comparando-se a aura desse menino com a de outras crianças, pode-se ver que as
faixas de cor em desenvolvimento, que representam seus potenciais, estão todas bastante
descaídas e circundadas de cinza. Este constitui outro sinal de sua incapacidade geral para
funcionar normalmente ou expressar-se. No topo da aura, as cores que deveriam revelar
suas faculdades superiores são tão vagas que quase chegam a ser imperceptíveis, e o cinza
que obscurece o amarelo indica um vazio mental quase completo no nascimento.
Curiosamente, a ausência do costumeiro tom marrom do egoísmo na base da aura
reflete esse vazio. Como já disse, todas as crianças normais procuram afirmar-se, pois,
desde muito cedo, começam a desenvolver um ego. Mas esse pobre menino não possuía a
capacidade mental de desenvolver a consciência da personalidade, e assim ser egoísta.
Nele, a base da aura está tomada pelo azul-escuro acinzentado da tensão, cujos efeitos se
estendem para cima, para a região ativa da aura.
As amplas áreas em amarelo, na parte superior, poderiam induzi-lo erroneamente a
atribuí-la à presença de capacidade mental, mas a cor é extremamente vaga e sua posição
muito baixa, quase abaixo da cabeça. Ele tinha uma deficiência mental bastante grave, mas
não era totalmente desprovido de inteligência, e demonstrava certas tentativas de buscar
o exterior e comunicar-se com aqueles que o cercavam. A nuvem em torno da cabeça é o
resultado de algumas injeções que lhe eram aplicadas diariamente, no esforço para
melhorar seus processos mentais, e as centelhas amarelas dentro da nuvem indicam que o
medicamento estava produzindo alguma estimulação mental, conquanto pudesse ser de
curta duração. As injeções eram parte de um programa experimental que estava sendo
testado naquela época, e não sei até que ponto obteve sucesso.
O rosa na aura desse menino é a cor mais normal. Como é típico em crianças
portadoras da síndrome de Down, ele possuía uma natureza afetuosa e era bastante
sensível àqueles que cuidavam dele. Sua faixa verde é muito clara e inclina-se
acentuadamente, pois não havia coordenação entre a mente e a mão.
No meio da faixa verde, centrado acima do chakra do plexo solar, existe um disco azul
circular. Este é um de seus indicadores kármicos. É um estado ativo ou manifesto, e não
latente como outros que vimos, pois sua deficiência física, resultado do karma, teve início
no nascimento e predominava em sua vida. A posição no topo da faixa verde mostra, por
um lado, que seu karma se relacionava com a incapacidade de funcionar no mundo; por
outro lado, mostra que o chakra do plexo solar, fundamental na distribuição de energia
emocional, estava muito desorganizado. Isso me sugeriu que o sistema endócrino dele
estava em mau estado. Os outros dois indicadores kármicos também se relacionavam com
suas deficiências, mas ainda não estavam ativos.
As faixas de azul que parecem emanar do plexo solar e descer para os pés indicam que
a sua tensão e falta de energia se relacionavam com esse centro. Parecem circundar uma
área de verde-claro separada, mas, na verdade, esta é uma continuação da faixa verde,
fragmentada por essas linhas de tensão. A nuvem laranja/marrom-claro em torno dos pés
está no interior dessas linhas azuis, indicando que o incipiente sentimento de
130
autoconfiança estava sendo prejudicado pela deficiência física.
Conquanto portador de grave deficiência, esse menino tivera a boa fortuna de ter sido
entregue aos cuidados de um pai adotivo que gostava sinceramente dele. Esta relação não
apenas lhe estimulou o afeto natural, mas também favoreceu, ao longo dos anos, um certo
nível de integração mental.
Minhas recomendações incluíam encorajar o menino a realizar tarefas físicas simples,
das quais gostasse - como, por exemplo, cuidar das plantas. Isto poderia ajudar a
desenvolver sua coordenação mental e física. Embora jamais se tornasse normal, ele
poderia ser treinado para fazer alguns trabalhos simples, como jardinagem, que não
exigiam muita reflexão.
Como nunca recebi relatórios sobre essa criança, não sei se ela melhorou ou se morreu
jovem, como costuma acontecer com os portadores da síndrome de Down. Seu karma
parecia relacionar-se com uma vida de frustração do ponto de vista da evolução interior.

131
17. Um estado de ansiedade aguda

Este é o retrato de um homem na casa dos 50 anos, em meio ao que costuma ser
chamado de esgotamento nervoso. Não era preciso ser vidente para perceber isso, pois,
quando veio ver-me, ele se encontrava em estado de intensa agitação nervosa. Era uma
personalidade marcante e realizara muito na vida, como indicam as cores fortes da aura.
Mas, na ocasião em que foi pintado o quadro, ele não estava conseguindo realizar o que
quer que fosse, pois estava tão envolvido com a própria ansiedade que chegava a duvidar
de sua capacidade de pensar.
Esse homem se interessava pelo pensamento oriental, há muitos anos, e aceitara seus

132
preceitos fundamentais, mas, no momento, estava cheio de dúvidas e incertezas, e essas
ideias tinham muito pouco significado para ele. Era um homem fundamentalmente bom
que havia perdido o rumo e, com isso, o sentido de identidade. Tivera um negócio muito
bem-sucedido, que no momento estava em decadência, e essa situação naturalmente
agravava sua ansiedade e acelerava a quebra da autoconfiança.
Todos esses medos e tensão podem ser vistos claramente na sua aura, mais
dramaticamente nas duas conchas azuis que a envolvem. A tensão nervosa a que estava
sendo submetido ocasionava a faixa externa nas bordas da aura, semelhante àquelas já
vistas, mas esta vai até muito mais alto nesta aura do que as demais. A segunda concha,
interna, é ainda mais grave, pois ele havia criado uma barreira que inibia o fluxo normal das
emoções para o exterior e voltava suas energias para si mesmo. Quando as pessoas sofrem
de tal problema, não conseguem expressar suas emoções; podem começar a sentir alguma
coisa, mas a incerteza as fará hesitar e recuar.
Neste caso, o bloqueio estava aumentando a tensão dia a dia. À semelhança de um
patinador rodopiando, ou de um esquilo numa gaiola, sua ansiedade aumentava cada vez
mais devido a essa ação circular, limitada e repetitiva. O fato de o bloqueio estender-se tão
alto na aura indica que suas faculdades superiores também estavam constrangidas.
Infelizmente, ele estava bloqueado em duas direções - na do mundo externo e na de seu
ser interior. Isto lhe afetava o equilíbrio mental, e a perda de perspectiva resultante o
levava a falsas interpretações dos acontecimentos diários, o que só fazia aumentar a sua
agitação emocional e mental. Na verdade, ele estava preso a uma armadilha construída a
partir de suas próprias pressões, perda de contato com a realidade e imaginação distorcida.
As áreas em rosa na aura indicam que esse homem tinha uma natureza afetuosa, mas o
tom claro mostra a incapacidade de compartilhar seus sentimentos. Pode-se ver como o
rosa está limitado, tanto acima como abaixo da faixa verde. Ele ainda amava a mulher e os
filhos, mas disse-me, com lágrimas nos olhos, que não conseguia expressar seus
sentimentos de forma alguma nem tampouco aproximar-se de seus familiares. Há tanto
estava preocupado com os negócios e trabalhando tão arduamente que se afastara da
família. Contudo, a causa fundamental do excesso de trabalho e da pressão a que se
submetia residia no seu desejo de cuidar da família e dar-lhes o melhor. Ele não tinha o
hábito de compartilhar seus problemas com a esposa, e agora não conseguia mais sentir
que existia uma relação entre ambos. Na verdade, a família apenas o irritava. Isto o
perturbava muito, pois se sentia culpado; preocupava-se com o futuro da família, e sentia-
se frustrado por sua incapacidade de cuidar deles. Todos os vórtices rosa e amarelo que
podem ser vistos em inúmeras áreas de sua aura relacionam-se com essas preocupações.
O sentimento de frustração não era novo para ele, pois na base da aura se encontram
sinais de que, ainda muito jovem, ele havia atravessado tais períodos. Não tivera uma vida
financeiramente fácil, e tivera de ganhar seu sustento realizando uma série de coisas
diferentes. As faixas vermelhas na parte inferior da aura mostram que muitas vezes ele se
enfureceu e aborreceu e, embora essas experiências pertencessem ao passado, ele não
havia esquecido toda a oposição com que tivera de defrontar-se. De certa forma, essas
marcas refletem as lutas e dificuldades iniciais que o limitaram no passado, assim como as
linhas azuis refletem a tensão pela qual estava passando no momento.
133
Sua faixa verde tem um boa largura, e a cor amarela dentro dela mostra que o seu
trabalho sempre fora intelectual, mas novamente os inúmeros vórtices amarelos indicam
preocupação. Todo o amarelo acima mostra que, no passado, ele havia sido inteligente e
inovador, capaz de concentrar-se e refletir cuidadosamente a respeito dos fatos. Dentro da
faixa verde existe uma forma semelhante a um gráfico, símbolo de ordem. É a impressão
duradoura do trabalho de sua vida, síntese de sua maior realização. Ele havia sido uma das
primeiras pessoas nos Estados Unidos a criar medidas e a desenvolver o método de fazer
pesquisas de opinião pública - empreendimento posteriormente assumido pelo Gallup e
outras organizações. De fato, ele escreveu diversos livros sobre o assunto. Como implica o
símbolo na faixa verde, ele tinha a tendência a categorizar tudo, pois não apenas ele
ganhava a vida dessa forma, mas assim também sua mente funcionava normalmente. Ele
se sentia mais feliz quando podia reduzir tudo que o cercava a um padrão sistemático.
Pode-se dizer o mesmo do número 13; contudo, existia uma grande diferença entre os dois
homens, pois o tipo de ordem deste era mecânica e estatística, enquanto a daquele outro
era arquetípica e universal.
Quando estive com esse homem, ele tivera de abandonar seus negócios recentemente,
e o fim das pressões o deixara completamente desolado. Ele havia perdido o sentido de
direção que o trabalho lhe proporcionava, e estava tomado por preocupação e incerteza.
Sua ansiedade vinha se desenvolvendo há vários anos, e quando o vi ele estava em tão mau
estado que se deixara esmagar por seus dilemas e sentia-se incapaz de tomar qualquer
decisão. Infelizmente, ele estava além de qualquer ajuda e veio a falecer em pouco tempo.
Foi um caso trágico.
Gostaria de poder dizer que o caso desse homem era raro, mas, infelizmente, não é
assim. Na verdade, este caso é mais típico no mundo de hoje do que na época em que foi
feita a pintura. Existem muitos homens e mulheres dedicados e bem-intencionados, mas
cujas pressões da carreira e o desejo de sucesso os forçaram a colocar suas famílias em
segundo plano. Isso sempre contribui para relações tensas e difíceis.
Em muitas pessoas, o hábito de viver e trabalhar sob extrema pressão cria padrões de
estresse que acabam por levar ao fim, o que pode ser um efeito muito prejudicial sobre
suas famílias e as relações pessoais. Por isso é tão importante aprender a observar os sinais
de estresse em si mesmo, e tomar as providências para modificar padrões emocionais
negativos antes que seja tarde demais.

134
18. Os efeitos da meditação em paciente com problema cardíaco crônico

Esta é a aura de uma extraordinária senhora russa na casa dos 40 anos, nascida com
um coração tão dilatado que os médicos que a examinavam de tempos em tempos se
surpreendiam por ainda encontrá-la viva. Contudo, ela havia sobrevivido a um período de
grande perigo e angústia; conquanto fosse inválida, desfrutava um casamento feliz e viveu
mais 30 anos depois da realização deste quadro. Ela era, de fato, um milagre da medicina.
À primeira vista, talvez essa aura não parecesse pertencer a uma pessoa enferma,
porquanto, embora opacas, as cores são notavelmente nítidas. Toda a aura exibe uma
simetria e equilíbrio gerais, pois as cores da região superior, em grande escala, se refletem
135
embaixo, sinal de integração pessoal. O cinza de medo e depressão, tão comuns em
doentes crônicos, é visível na aura inferior, mas a parte superior está límpida. Contudo,
essa aura pertence a uma mulher que convivia há anos com um grave problema cardíaco, o
qual lhe causava sofrimento contínuo.
A faixa verde torna-se bem menos intensa nas bordas, sinal claro de que suas energias
não estavam fluindo normalmente. Além disso, o azul da tensão não apenas obscurece a
parte inferior da aura, mas eleva-se através da própria faixa verde, afetando dessa forma
todas as suas atividades. Já disse antes que esta condição se faz presente quando a pessoa
se vê forçada além dos limites normais de resistência nervosa ou física. Essa mulher,
contudo, não possuía um temperamento nervoso, e seu estresse estava inteiramente
ligado à falta de energia provocada pela enfermidade. Toda a sua expressão emocional
estava colorida pela tensão. Como ela não dispunha de reservas para enfrentar exigências
repentinas, tinha de administrar suas energias com muito cuidado. Tudo o que fazia exigia
um esforço da vontade.
A ausência de muitos sinais de doença nesta aura deve-se, em parte, à prática da
meditação regular, ao longo de muitos anos. Todos os dias ela fazia um esforço consciente
para libertar-se das restrições emocionais tão frequentemente impostas pela enfermidade
e relacionar-se com as outras pessoas de forma amorosa e afetuosa. A cor preponderante
na sua aura é o rosa, mostrando que ela não apenas possuía uma natureza muito afetuosa,
mas também projetava esse afeto intencionalmente na sua meditação, procurando
expressá-lo em suas relações pessoais.
O azul e o violeta claros, no topo da aura, indicam sua dedicação aos ideais espirituais,
e a extensão dessas cores mostra que ela procurava praticar esses ideais na vida diária. A
ampla área verde que harmoniza o rosa na região superior da aura testemunha sua atitude
compassiva para com as outras pessoas, bem como sua receptividade ao que considerava a
beleza e harmonia inatas do mundo.
A posição do amarelo na aura superior, bem como sua tonalidade, evidencia nele o
gosto pela reflexão e a inteligência, mas indica também que sua mente estava mais
envolvida com as ideias abstratas do que com a solução de problemas práticos. Esta era a
sua inclinação natural, fortalecida pela doença, pois ela levava uma vida protegida, na qual
todas as suas necessidades usuais eram atendidas, não lhe causando, portanto, maiores
preocupações.
Como já disse, a faixa verde denota a sua falta de energia física e a incapacidade de
realizar qualquer trabalho ativo. A chama rosa na faixa resulta dos seus esforços para
manifestar afeto na vida diária e da percepção inconsciente de que seu verdadeiro
trabalho no mundo relacionava-se com as pessoas e com sua capacidade de ajudá-las
através da bondade e compaixão. As estrelas amarelas denotam seu interesse pelo
pensamento simbólico, o qual ocupava sua mente regularmente.
A região inferior da aura comprova que sua tranquilidade interior foi alcançada através
de esforços conscientes, e sem dúvida não resultava das circunstâncias físicas em que
nascera. O azul-acinzentado na base da aura, logo acima do costumeiro marrom do
egoísmo, mostra que a sua infância deve ter sido cheia de insegurança e medo. Existem
duas cicatrizes grandes e dolorosas dentro desse fundo azul-acinzentado, indicando que,
136
por volta de 25 ou 30 anos, ela deve ter atravessado um período de muita aflição, durante
o qual precisou suportar algum fardo pesado. Essas cicatrizes têm uma espécie de duplo
efeito. Elas mostram que, por um lado, ela tentava manter o equilíbrio, pois sentia que
tudo dependia dela e, ao mesmo tempo, estava desesperada porque não sabia o que devia
fazer.
O cinza que recobre o verde mostra que, apesar de ela agir, havia nessas ações a cor do
medo e da tensão. Tais experiências foram tão traumáticas que talvez tenham continuado
a influenciá-la pelo resto da vida. Curiosamente, embora ainda persistissem em sua mente
inconsciente, a prática da meditação lhe permitira deixá-las no passado, de modo que não
eram mais ativas nela.
A faixa laranja com um vórtice indica que os acontecimentos de sua vida, de certo
modo, lhe conferiram uma sensação de deficiência e inferioridade, o que ocasionalmente a
levava a reagir um tanto agressivamente, sobretudo em defesa daqueles que mais amava.
Contudo, uma reação desse tipo não era realmente compatível com seu temperamento, e
os efeitos prolongados da meditação provavelmente a dissiparam com o tempo. Ela era
uma pessoa que compreendia a vida mais através de uma espécie de percepção
compassiva do que por meio do pensamento consciente; assim, de certa forma ela não
solucionava os problemas, mas os dissolvia.
A aura dessa mulher é um registro extraordinário de seu trauma passado e de seu
presente estado de paz e harmonia. Criada na Rússia czarista, ela suportou os terrores da
Revolução, e sofreu, quando ainda uma jovem estudante, a perda de amigos e familiares.
Escapou com dificuldade para a Turquia, onde caiu prisioneira e suportou todo tipo de
aflição. Finalmente, conseguiu chegar aos Estados Unidos, mas seus problemas não haviam
terminado, pois ela não possuía recursos e precisou ganhar a vida e adaptar-se a um estilo
de existência muito diferente.
Todas essas dificuldades foram agravadas pela doença; no entanto, ela conseguiu não
apenas sobreviver, mas permanecer no controle da situação. Parte do segredo reside na
sua serenidade natural. Ela não se deixava dominar pelos problemas da vida, pois sempre
sentiu a força de uma presença espiritual que podia sustentá-la nas dificuldades. A
consciência dessa presença aumentou e aprofundou-se com a meditação.
Mais tarde, ela teve a grande fortuna de desposar um homem bondoso e competente,
por quem tinha adoração. Eles eram tudo um para o outro. Não apenas ele compartilhava
dos interesses da esposa, como era muito prático e confiante, e tinha prazer em aliviá-la
dos fardos da vida. Assim, embora ela suportasse constante sofrimento, quanto ao mais ela
vivia uma existência ideal. Conquanto passasse uma boa parte do dia sozinha, ela nunca
estava solitária, pois tinha muitos amigos na comunidade russa, os quais a visitavam
quando estava presa à cama. Eles lhe falavam de todos os seus problemas e buscavam seu
conselho, de modo que sua compaixão afetuosa encontrava constante escoadouro e forma
de expressão. Assim, ela tinha uma vida extraordinariamente plena, não obstante ser uma
inválida.
Ela tinha total consciência de suas limitações físicas, e aprendeu a administrar seus
recursos e gastos de energia extremamente bem. Quando se sentia enferma, recolhia-se ao
leito, às vezes durante semanas. Através da meditação, ela aprendeu a relaxar e manter a
137
calma quando estava sentindo dores. Da mesma maneira, abriu-se para as energias
superiores que a ajudavam a regular seu corpo, e estas a sustentaram até o fim da vida.
Ela estava convencida de que a meditação a mantivera viva e atuante muito além das
expectativas. Sempre considerei sua vida um exemplo das formas possíveis de trabalhar o
próprio karma e alcançar sua meta na vida, não obstante o que poderia afigurar-se como
dificuldades insuperáveis.

138
III- Possibilidades de Mudança e Crescimento
A Cura e a Prática da Visualização

Ao longo de grande parte da minha vida, interessei-me pelo fenômeno da cura,


atualmente meta principal do meu trabalho. Com o passar dos anos, felizmente, tenho
conseguido acompanhar o trabalho de inúmeros profissionais conhecidos, observando
assim diferentes aspectos do processo da cura no momento em que este ocorre. Como
resultado dessa experiência, há cerca de 18 anos, a dra. Dolores Krieger, professora de
Enfermagem da Universidade de Nova York, e eu desenvolvemos uma técnica denominada
Toque Terapêutico. Este método é hoje utilizado por milhares de enfermeiras e
profissionais de saúde em hospitais dos Estados Unidos e do Exterior, e muito se tem
escrito a respeito.(6)
As técnicas de cura não são o tema deste livro, mas, como a palavra "cura" significa
tomar inteiro, ela se aplica aos problemas de disfunções emocionais bem como às doenças
físicas. Todas afetam a aura de diferentes maneiras. Quando falamos de cura no sentido
geral como restabelecimento da totalidade, temos de incluir a possibilidade de autocura,
além da intervenção por procedimentos clínicos e não-clínicos.
Como tenho tentado mostrar, a mente e as emoções representam papel
determinante e constante na saúde e na doença. Portanto, parece oportuno tocar
brevemente na interação que ocorre quando um ser humano tenta ajudar outro que está
doente ou com problemas. Quando uma pessoa está enferma, a interação entre o corpo
físico e o sistema energético etérico é alterada. Ao mesmo tempo, existe o reflexo da dor
física nas emoções, pois a memória da dor e o medo de sua recorrência chegam a esse
nível. Aqueles que praticam métodos tais como o Toque Terapêutico por um longo
período podem sentir a impressão do local onde o paciente experimenta a dor, e isso
também indica qualquer possível distúrbio no nível emocional. Por conseguinte, para
entender um pouco do processo de cura é necessário avaliar a relação existente entre as
emoções e o campo de energia etérica.

Energia etérica

No Capítulo 2 mencionei que o etérico é o protótipo energético do corpo físico. Sendo


assim, existem réplicas etéricas de vários órgãos. A energia etérica flui normalmente
através desses órgãos num ritmo estável, e qualquer ruptura nesse fluxo é uma indicação
de enfermidade. Se uma pessoa goza de boa saúde, o fluxo entre todos os órgãos (e entre
os chakras etéricos) é ritmado; mas, quando se instala o processo da doença, existe uma
ruptura no padrão na área onde reside o problema.
Segundo minha experiência, outra indicação de doença é uma redução geral ou
estreitamento do fluxo de energia; pode-se fazer uma analogia com uma corrente na qual
139
entulhos estão obstruindo parcialmente o leito do rio e impedindo o fluxo normal da água.
Assim, pode-se perceber, frequentemente, onde a doença está se instalando, observando-
se a redução do fluxo de energia através dos diversos órgãos físicos. Mas, devido à
constante interação emocional/etérica, a resposta emocional também tem um efeito
similar.
Por exemplo, a ansiedade pode constituir uma emoção esmagadora que, durante
algum tempo, obscurece todos os demais sentimentos. Mesmo quando percebemos que a
ansiedade é desproporcional à sua causa, em geral não conseguimos libertar-nos do medo
irracional. A ansiedade é sempre um fator inibidor, pois a concentração de sentimentos e
pensamentos em um só tema cria um vórtice emocional, que, por sua vez, reduz o livre
fluxo da energia no interior da aura. (Tais vórtices podem ser vistos em diversos quadros da
aura.) Um padrão emocional desse tipo exerce um efeito de esgotamento das energias de
todo o corpo. Ademais, o estresse causado pela ansiedade afeta diretamente o chakra do
plexo solar e, através deste, atua sobre as glândulas supra-renais e o pâncreas. Assim, a
redução dos efeitos inibidores provocados pelo medo de um paciente constitui aspecto
importante da cura.

A atitude de cura

Em todas as interações visando à cura, o desenvolvimento da empatia, ou


sensibilidade, é o mais importante, pois o contato primordial com a pessoa que estamos
tentando ajudar ocorre no nível emocional. Portanto, o primeiro requisito para o curador é
o genuíno sentimento de compaixão e desejo de ajudar a pessoa doente ou em sofrimento,
pois, sem isto, seria muito difícil forjar um sentimento de empatia com o paciente. O que
eu disse alhures acerca de relações interpessoais se aplica sobremaneira aqui, pois, na
prática da cura, a relação entre curador e paciente constitui fator significativo.
Conforme prática comum nos dias atuais entre enfermeiras e outros profissionais de
saúde, a cura é uma arte que não é empreendida casualmente. Ela exige um momento ou
dois de autopreparação, a qual se baseia naquilo que chamo de centralização - esforço
consciente para libertar-se das próprias ansiedades e perturbações internas, bem como
para estar em paz consigo mesmo.
Sempre ensino essa prática da centralização como um preparo para a cura, assim como
na meditação, a respeito da qual voltarei a falar. Se estamos perturbados ou em estado de
confusão íntima e tentamos enviar sentimentos de compaixão para o paciente, esse
esforço poderá ser distorcido por uma corrente subjacente de emoções turbulentas.
Através da centralização, tomamos consciência de nossas próprias emoções transtornadas
e conscientemente nos desligamos das mesmas, concentrando todas as nossas energias no
centro cardíaco, sede da compaixão e da totalidade. Isto promove duas qualidades
importantes no processo de cura: enraizamento e desapego.
A centralização não apenas faz sentirmo-nos em paz, mas também nos alinha com a
ordem interna dentro de nós. A isso chamo enraizamento. Concentrando-nos na paz
interior, nós nos alinhamos com a ordem e compaixão fundamentais que constituem
140
expressões do componente espiritual do mundo. A cura é a recuperação da ordem dentro
dos sistemas físicos. Percebo sua realização devido à energia universal proveniente da
tendência para a ordem que se encontra no âmago de todos os processos de vida.
Portanto, se pessoas enfermas podem alcançar o equilíbrio emocional produzido pelos
sentimentos positivos, de forma que o fluxo de energia emocional não seja limitado, como
na ilustração 17, mas flua para o exterior, como na 18, isto, por si só, não efetuará a cura,
mas ajudará a produzir um estado que conduz à cura.
Quando tentamos ajudar alguém (e esta interação pode ocorrer tanto dentro da
família como entre um profissional de cura e um paciente), é sempre importante perceber
que os resultados não estão em nossas mãos. A cura envolve forças e meios que não
podemos compreender plenamente, e certamente não podemos comandar. Ao contrário,
buscamos ser instrumentos do poder da cura que existe em toda parte na natureza. Até
mesmo no sentido ortodoxo, procedimentos médicos não curam o paciente; simplesmente
removem os impedimentos à cura, que o próprio corpo deve realizar. Portanto, o curador
precisa evitar, escrupulosamente, qualquer traço de interesse próprio no resultado de seus
esforços em prol de outrem. O fim não pode ser previsto, e o sucesso não é o objetivo.
Sejam quais forem os resultados de nossos esforços, temos de aceitá-los sem nos
culparmos nem nos louvarmos. Essa percepção promove o desapego, isto é, a liberdade de
apegos aos resultados de nossos atos.
Como a energia de cura é um poder benéfico à disposição de todos os seres humanos,
a capacidade de utilizá-lo não depende de crença religiosa. Toda pessoa que pratica a cura
pode conceituá-la de modos diferentes. A maioria dos curadores mais conhecidos
acreditam seus poderes a Deus, e os associa a determinado credo. Isto é importante para o
indivíduo, porquanto torna a prática da cura parte do próprio sistema de crença e
formação cultural. Pessoalmente, sinto que, estando esse poder ou energia de cura
disponível para todos, ele é essencialmente o mesmo, não importa como possa ser
descrito. Portanto, deve haver uma unidade e cooperação básicas entre os praticantes de
todas as técnicas de cura - situação que se torna mais possível à medida que a validade da
arte é amplamente reconhecida entre os profissionais de saúde.

Qualificações do curador

Perguntam-me constantemente se qualificações especiais são necessárias para ser um


curador, ou se qualquer pessoa pode aprender esta arte. Em resposta, enfatizo sempre que
a cura é um processo de aprendizado. Sem dúvida um grande número de enfermeiras
aparentemente desprovidas de quaisquer qualificações especiais aprenderam a praticar
muito bem o Toque Terapêutico. Embora os grandes curadores possam ser dotados de um
nível extraordinário de sensitividade, a capacidade de curar pode ser adquirida até certo
ponto por toda pessoa que procura sincera e fervorosamente desenvolver essa faculdade.
Assim, aos requisitos de compaixão e sensitividade, já mencionados, eu acrescentaria
outro: o esforço constante.
Qualquer que seja a técnica utilizada, o curador, em geral, tenta enviar energia para
141
onde existe um padrão destrutivo. Isso ajuda a fortalecer essa área particular do corpo do
paciente, para que ela possa curar a si mesma. Contudo, mesmo enquanto trabalha com
uma área alterada no nível físico/ etérico, o curador deve ter sempre consciência, também,
das emoções, pois o paciente tem de ser considerado uma totalidade. Sempre se deve
lembrar que, embora a cura pretenda restabelecer uma relação harmoniosa entre corpo,
mente e emoções, esta realização provém de nosso acesso a um nível mais profundo do
que a mente ou as emoções - a dimensão espiritual de onde emana a energia de cura.

O papel dos chakras

Embora os efeitos da doença se manifestem claramente na aura, como mostram os


quadros, os chakras também são afetados; portanto, eles também representam
importante papel na cura. Como já mencionei no Capítulo 4, a tensão pode afetar todo o
sistema digestivo - incluindo baço, fígado e pâncreas - através do chakra do plexo solar.
Quando a energia de cura é enviada a este chakra, toda a região é energizada, e, ao mesmo
tempo, o medo e a ansiedade do paciente são reduzidos. Por conseguinte, o trabalho nessa
área costuma ser uma prática rotineira na cura.
A interação no nível emocional pode ser iniciada através do plexo solar, mas,
naturalmente, ela provém da aura e do campo etérico, pois é impossível separar as duas
funções. Na verdade, a energia emana das mãos do curador para o campo etérico, bem
como dos chakras do paciente, porquanto o campo e os chakras estão sempre ligados.
Praticamente todas as técnicas de cura usam as mãos em algum nível. Quer ocorra ou
não a visualização consciente do relacionamento entre o chakra cardíaco e os pequenos
centros das palmas das mãos, existe um nível de reciprocidade entre ambos. Assim, quando
os centros nas mãos são ativados na cura, tornando-se mais sensíveis e abertos, o chakra
cardíaco também é estimulado. Quanto aos outros chakras, eles podem estar envolvidos
em casos específicos. Mas, ao contrário de alguns curadores, não defendo o trabalho
diretamente nos chakras, exceto por sempre ser útil enviar energia ao plexo solar. E, como
o chakra cardíaco é o centro de energias superiores e da integração, ele também é um foco
para a cura .

A prática da visualização

Pessoas portadoras de doenças crônicas há muito tempo, em geral, formam uma


imagem mental clara e definida do seu estado, especialmente quando o diagnóstico as
torna apreensivas. Imaginam-se doentes e decadentes. Portanto, se após alguns
tratamentos os pacientes têm uma redução da ansiedade e também se sentem mais
energizados, o próximo passo seria ajudá-los a buscar um quadro mental ou imagem de si
próprios diferente.
Neste ponto costuma ser útil pedir aos pacientes para visualizarem a si mesmos
tornando-se mais fortes e plenos de energia a cada dia. Assim fazendo, suas mentes podem
142
desenvolver e fortalecer lentamente a ideia de que podem efetuar mudanças em si
mesmos. Esta nova auto-imagem naturalmente não pode ser criada da noite para o dia; ela
exige tempo e esforço constante, pois uma auto-imagem negativa é uma das atitudes mais
difíceis de mudar para um paciente.
No entanto, as técnicas de visualização têm sido utilizadas com bastante sucesso em
pacientes portadores de câncer, pois desta forma eles conseguem mobilizar suas próprias
energias para combater a doença. Quando uma enfermidade grave se instala, ela pode
trazer efeitos bastante danosos, pois, quando aparecem poucas melhoras, o paciente pode
começar a se desesperar e acreditar que nada pode ser feito. Isto cria um sentimento de
impotência e desesperança que esgota a autoconfiança normal.
A mesma reação pode resultar de acontecimento emocionalmente traumático, pois a
ansiedade e a depressão subsequentes também podem levar a uma perda da
autoconfiança. Esta situação é de difícil elaboração, porquanto, via de regra, a pessoa não
tem consciência do nível em que uma auto-imagem negativa se tornou arraigada. Para
ajudar em tal caso, é importante não apenas perceber a presença dessa auto-imagem
negativa, mas também ser capaz de comunicar esse conhecimento ao paciente. É preciso
tentar instilar renovada autoconfiança nos pacientes, pensando sempre neles como sendo
capazes de funcionar. Eles devem aprender a visualizar a si mesmos de forma inteiramente
oposta à auto-imagem negativa que desenvolveram ao longo de tantos anos. Se
consideram a si mesmos como fracos, precisam se ver fortes; se se consideram doentes,
devem se ver perfeitamente saudáveis.
Esse exercício, se praticado regularmente, ajuda muito no processo de cura. A
contribuição mais importante que os pacientes podem fazer para sua própria cura é pensar
em si mesmos - visualizar-se - como sendo capazes de realizar algo a cada dia. Mesmo
quando a pessoa se sente enferma e fraca, essa visualização positiva proporciona energia
mental e rompe com o padrão negativo que diz: "Estou muito doente; não posso fazer este
esforço." Uma auto-imagem positiva ajuda a superar o padrão que aceita a doença como
inevitável.
A visualização, na verdade, ocorre no nível mental, mas, como mente e emoções
sempre trabalham juntas, a prática estimula e energiza o chakra do terceiro olho, entre as
sobrancelhas. Isto, por sua vez, ajuda a coordenar o sistema de chakras, integrando os
diversos níveis do paciente, que podem ter sido fragmentados pelo processo da doença. A
pessoa entra em alinhamento, pois a mente concentra as emoções e não permite que se
descontrolem.
Mas, talvez, uma das consequências mais positivas da visualização seja o sentido de
esperança no progresso que ela proporciona aos pacientes, bem como o fortalecimento da
confiança de que estão novamente no controle das próprias vidas. Em meu trabalho,
descobri que as imagens mentais negativas constituem um bloqueio ainda maior para a
cura do que os padrões emocionais. Portanto, encorajando o uso do exercício de
visualização que imagina uma ação nova e diferente, os próprios recursos do paciente
podem ser mobilizados para auxiliar no processo de cura.

143
Efeitos da cura sobre a aura

Os efeitos da cura sobre a aura do paciente podem ser fabulosos. Em primeiro lugar, o
influxo de energia emocional provoca a expansão da aura. Quando isto acontece, inicia-se o
processo de eliminação de alguns distúrbios e bloqueios na aura, reduzindo assim a
ansiedade. Este é um dos efeitos mais poderosos da cura. A ansiedade produz imagens
mentais assustadoras. Mas, se a imaginação é utilizada juntamente com a cura, ocorre um
efeito simultâneo: o sistema imunológico será fortalecido através do influxo de energia
etérica, e, à medida que as imagens assustadoras se dissipam, a aura recobra lentamente
sua integração e saúde.
No trabalho que tenho realizado com enfermeiras-curadoras nos últimos anos, descobri
que a prática da cura pode afetar tanto o curador quanto o paciente. A prática da
centralização e de auto-abertura consciente para as energias superiores expande e purifica
a aura. Falarei mais a este respeito no capítulo sobre meditação e autotransformação, mas
não posso concluir o tema da cura sem comentar que as enfermeiras que se abriram para
essas energias, no esforço de ajudar aqueles que estão enfermos, descobriram que a
prática começou a modificá-las também, de formas sutis mas significativas.

(6). O relato do desenvolvimento deste método de cura pela dra. Krieger foi
publicado em seu livro Therapeutic Touch, seguido de muitos outros relatos. Uma
descrição simples e direta dos procedimentos pode ser encontrada em Therapeutic
Touch, A Practical Guide, de Janet Macrae (Alfred A. Knopf, Nova York, 1988). Outro
livro que poderá ser de interesse nesta área é Spiritual Aspects of the Healing Arts, por
mim organizado (Theosophical Publishing House, Wheaton, Ill., 1985).

144
9. Novos Padrões Emocionais

Um dos maiores mistérios dos seres humanos é sua capacidade de efetuar mudanças
em suas vidas, de tomar uma direção totalmente nova. Transformações dramáticas deste
tipo costumam ocorrer quando a vida invoca um maior esforço, e o êxito da pessoa
depende de uma real confiança na própria capacidade de sucesso. Nesses casos, a
motivação para a mudança, em geral, provém de uma condição - seja ela causada por
enfermidade ou por algum outro fator - que não pode mais ser ignorada nem aceita. É
quando tomamos consciência da necessidade de um novo direcionamento em nossa vida e
decidimos encontrá-lo para que a mudança se torne possível.
Para muitos de nós, o principal obstáculo à mudança reside no fato de que os hábitos
emocionais estão tão arraigados em nossa natureza que não temos consciência dos
mesmos. Podemos sentir seus efeitos funestos por muitos anos até percebermos que
podemos fazer algo para modificá-los.
Quando chegamos a reconhecer que temos problemas, o primeiro passo é estar
disposto a admitir que estes, pelo menos em parte, foram criados por nós e, se quisermos
saná-los, temos de estar dispostos a mudar. Muitas pessoas dizem: "Eu sou o que sou e não
posso mudar." Estas tornam-se tão encasteladas em determinado padrão emocional
habitual que parece haver pouca possibilidade de real alteração em suas vidas. Elas
preferem agarrar-se a suas doenças - que lhes proporcionam uma espécie de segurança -
do que abandoná-las.
Por outro lado, muitas pessoas não estão satisfeitas consigo mesmas e realmente
querem ser diferentes; contudo, sentem-se incapazes de ajudar a si mesmas. Quando
nossos padrões emocionais se tornam estabelecidos porque as circunstâncias nos
forçaram, podemos sentir que não temos controle sobre nossas reações emocionais,
embora estas nos façam muito infelizes. Os resultados de tal atitude negativa podem ser
vistos claramente no caso 17, exemplo do que pode acontecer quando os padrões
emocionais se tornam tão arraigados que passam a dominar-nos.
Mas não precisamos ser vítimas de nossos próprios sentimentos. Quando tomamos
mais consciência de nossos hábitos emocionais, passamos a compreender que estes, em
grande medida, são autocriados. As circunstâncias podem estar além de nosso controle,
mas nossa resposta a elas jamais precisa estar. Não temos de nos entregar a elas. Existe
uma força dentro de nós que ainda é mais poderosa, e podemos liberá-la interiormente
quando estamos decididos a modificar o nosso futuro.
A motivação é o primeiro requisito. Pessoas gravemente enfermas amiúde obtêm
vitória, pois aqueles que estão desesperados se dispõem a fazer qualquer coisa para ter
alívio. Assim, para certas pessoas a motivação surge da necessidade de superar a doença,
mas, para outras, o estímulo à ação pode surgir da preocupação amorosa com outrem, ou
da aspiração de ter mais paz e harmonia interiores. Em qualquer caso, o reconhecimento
da necessidade de romper com padrões emocionais negativos constitui o requisito básico.
No esforço para efetuar mudanças pessoais, grupos religiosos, tais como ordens
monásticas cristãs e o Zen, praticam a disciplina rigorosa com seus membros. Certa vez, um
145
jovem forte e saudável me procurou. Fora criado como católico em um lar americano
convencional e frequentara uma escola pública comum, onde se tornara um bom jogador
de futebol e atleta versátil. Não era muito religioso, e afigurava-se um garoto americano
típico. Conquanto não houvesse travado nenhum contato anterior com o Oriente, as
circunstâncias levaram-no à Índia, onde ele visitou Dharmasala, morada do Dalai Lama e
centro do Budismo tibetano. Ele ficou tremendamente impressionado tanto com o
ensinamento budista quanto com o modo de vida por ele produzido, e ali mesmo decidiu
que queria tornar-se monge.
Durante dois anos, esse jovem americano submeteu-se ao treinamento mais rigoroso,
completamente estranho ao seu passado cultural ou religioso. A prática monástica tibetana
visa à libertação do ego, inclui o canto de mantras, bem como o permanecer sentado
imóvel em meditação por longos períodos de tempo. Depois de dois anos dessa prática
severa, ele foi iniciado e tornou-se monge. Esta realização exigiu real determinação,
autocontrole e a capacidade de aceitar a disciplina. Desde então, ele já realizou uma série
de tarefas na Europa e no Ocidente; deixando o próprio ego de lado, ele se colocou a
serviço do Budismo tibetano, feito extraordinário para um jovem americano independente
e individualista.
Cito esse homem como exemplo de alguém que obviamente decidiu mudar a própria
vida e estava disposto a submeter-se à disciplina mais rigorosa, a fim de alcançar seu
objetivo. Ele também modificou sua natureza emocional, como resultado da prática para
renunciar ao ego. Este talvez seja um caso extremo, mas ilustra o que estou querendo
mostrar: para mudar, é preciso esforçar-se de todo coração e dispor-se a abandonar todos
os antigos hábitos de pensamento e comportamento. Embora para a maioria das pessoas
não seja preciso alterar o modo de vida tão drasticamente quanto aquele jovem, deve
haver a disposição para fazê-lo.
O esforço para romper padrões emocionais não pode ser hesitante nem esporádico;
deve ser constante. Quando você acredita na importância da mudança, esta necessidade
virá em primeiro lugar. Não é muito diferente do tipo de treinamento ao qual os atletas
estão dispostos e ansiosos por se submeter a fim de alcançar a excelência no esporte, ou
da autodisciplina exigida para libertar-se de um mau hábito, como, por exemplo, fumar. Se
você fraqueja por alguns dias, ou volta aos velhos hábitos, o esforço será em vão. A
determinação de mudar precisa sobrepujar outros interesses e desejos.
Por este motivo, os fatores primordiais no processo de mudança são a motivação, a
autoconfiança e a estabilidade. Quando todas essas são firmes, a prática do esforço
disciplinado pode ser não apenas aceitável, mas até mesmo agradável, porquanto se
integra à vida diária como um princípio ordenador ou estabilizador.

A necessidade de disciplina

A aceitação da disciplina ocorre naturalmente quando você decide ser ela fundamental
a seu propósito. Sob alguns aspectos, a disciplina imposta por uma prática reconhecida, tal
como o Zen, é a mais fácil de ser seguida, pois as regras já estão estabelecidas para você.
146
Mas esse tipo de treinamento não serve para todos, e muita gente o acha demasiado
restritivo. A disciplina auto-imposta tem a vantagem de poder ser moldada de acordo com
as suas necessidades, mas ela exige o mesmo nível de estrutura na vida diária; ademais,
você mesmo tem de criar tal estrutura, o que pode ser difícil. Mas, novamente, a disciplina
não é muito diferente daquela exigida por programas de preparo físico tão populares nos
dias atuais, pois eles também exigem constante atenção ao horário diário.
Talvez os atletas sejam tão admirados porque se dedicam totalmente a sua arte. Creio
que muitas dificuldades que os jovens enfrentam hoje se devem à ausência de propósitos
em suas vidas; eles vagueiam sem saber o que querem ser ou fazer. Para eles, a falta de
direção é desorientadora. Não precisam da liberdade total, apesar do que é proclamado
frequentemente, mas, sim, do movimento oposto rumo ao desenvolvimento de alguma
estrutura e propósito em torno dos quais possam organizar suas vidas.
Pessoas idosas, em geral, deploram a perda de valores e da ética na sociedade
moderna. Eu me junto a elas. Mas cada época tem seus próprios valores, e hoje o brado é
pela liberdade: de restrições, da moralidade convencional, de escolha, de ação e, acima de
tudo, liberdade para ser você mesmo. Valores antigos, como honestidade e autenticidade,
imiscuem-se todos com o impulso do momento, que se tornou critério para a liberdade.
Assim, esta atitude tem um elemento de idealismo, ainda que os resultados estejam longe
do ideal.
O sentimento de que se tem direito absoluto à liberdade e sua expressão, via de regra,
é tão intenso que parece que a vida não vale a pena ser vivida sem ele. Essa convicção está
por trás da debandada de jovens da Europa oriental para o Ocidente, e para tal se
dispuseram a colocar em risco a si mesmos e a suas famílias. Nós aplaudimos tal feito. Mas,
dentre um grande número de jovens, a paixão pela liberdade vincula-se à sexualidade, que,
por sua vez, se torna preocupação opressora, mais importante do que qualquer outra coisa.
Então, eles desenvolvem um padrão emocional de dependência de tal estímulo. Não
percebem que, na sua busca da liberdade, simplesmente trocaram uma forma de cativeiro
por outra. Se eu pudesse mostrar a aura de uma pessoa assim, você veria uma total
dissociação entre o topo, pleno de idealismo, e a base, desfigurada pelo comportamento
compulsivo.

A consciência do propósito

Todos precisam de liberdade para desenvolver seus potenciais, mas a consciência do


propósito é igualmente necessária, pois apenas ela proporciona o fundamento capaz de
estabelecer o sentimento de valor próprio. Todos os exemplos do Capítulo 6 tinham essa
consciência do propósito, mesmo se este os levasse em direções muito diferentes. Quando
falta a confiança de que se pode realizar algo de valor na vida, muitas pessoas recorrem ao
álcool ou às drogas, e, provavelmente, este hábito é o pior padrão em que podem incorrer.
É de conhecimento geral, hoje, a dificuldade de se curar o vício das drogas, pois o
próprio viciado precisa ter uma forte motivação para mudar. Mas, quando o desejo de
alcançar alguma meta na vida proporciona essa motivação, tudo é possível. Conheci, certa
147
vez, um homem que fora viciado em drogas por muito tempo, durante o qual ele chegara a
passar alguns anos na prisão. Não obstante todos os problemas físicos e psicológicos, ele
era um homem inteligente que conservara o interesse por novas ideias, e, por esse motivo,
foi assistir a uma palestra de meu marido sobre educação integrada. Ele ficou tão surpreso
com as possibilidades que pareceram abrir-se à sua frente que decidiu prontamente
oferecer-se para este trabalho.
Suponho que se poderia chamar esta repentina evolução de propósito de uma espécie
de conversão - sob certos aspectos semelhante à do jovem monge tibetano. De súbito,
aquele homem viciado percebeu existir todo um universo de ideias no qual queria entrar, e
jamais poderia fazê-lo se continuasse nas drogas. Não obstante sua mente excelente, esta
decisão era mais do que puramente racional. Ele fizera uma súbita descoberta interior de
uma esfera de experiência mais rica, e imediatamente a vida ganhara novo significado para
ele.
O desejo de trabalhar com meu marido no Centro de Educação Integrada era tão forte
neste homem que ele fez uma coisa considerada praticamente impossível pelos médicos:
recolheu-se por três dias e três noites e desintoxicou-se sem ajuda - o que é extremamente
difícil e doloroso. Saiu curado, pois nunca mais voltou a tomar drogas, mas, evidentemente,
seu sistema nervoso fora tão prejudicado que sua saúde nunca mais voltou ao normal. No
entanto, ele alcançou sua meta e trabalhou para o Centro durante vários anos. Eis um
exemplo do que um ser humano pode fazer quando a força de vontade é mobilizada pelo
compromisso com um objetivo.
O poder transformador de tal compromisso origina-se num nível dentro de nós que
está além do pensamento e do sentimento. Não se pode levar uma pessoa a necessitar da
mudança; a convicção tem de ser gerada por si mesma. Mas quando esta convicção interna
nasce dentro de nós, ela é fonte infinita de força. Isso significa que existe algo em todos
nós, algum centro de poder e propósito ao qual podemos recorrer em tempos de
necessidade. Chamei a esse centro "o ser eterno", pois ele está sempre à nossa disposição,
bastando apenas fazermos o esforço para alcançá-lo.

Autoconsciência

A fim de efetuar a mudança, a primeira necessidade consiste em olhar para nós


mesmos, principalmente no instante em que temos um sentimento forte por alguma coisa -
e essas ondas de emoção, com frequência, podem ser deflagradas por eventos
relativamente sem importância. Apenas através dessa vigilância podemos tomar
consciência da força de nossos sentimentos e reconhecer seu objeto, o qual, em geral, não
justifica reação tão intensa quanto a nossa. Esse reconhecimento nos possibilita perceber a
situação em perspectiva, rir de nós mesmos e dizer: "Agora vou esquecer, vou me dissociar
de meu sentimento e ver quais são suas consequências."
A primeira coisa a ser percebida é que só podemos ter consciência de uma emoção no
exato momento em que a sentimos. Isto porque os sentimentos, quando nos são habituais,
se tornam implantados em nós - ligados a tudo o que sentimos e fazemos; por conseguinte,
148
passam despercebidos. São parte de nós tanto quanto a mão ou o pé - a respeito dos quais
jamais pensamos. À semelhança da pluma laranja da ilustração 11, habituamo-nos de tal
forma aos padrões emocionais por nós construídos que não temos consciência de sua
presença até que alguma coisa atraia nossa atenção para os mesmos.
Contudo, quando tomamos consciência de um sentimento, como a raiva ou o
ressentimento, e reconhecemos sua presença em nós, podemos dar o próximo passo, que
é permanecer tranquilamente dentro de nós. Não nos devemos sentir culpados pela raiva,
nem nos censurarmos, pois julgamentos desse tipo só fazem deflagrar outra reação e levar-
nos a todo tipo de complicações negativas. O importante é apenas estar consciente do
sentimento e, então, permanecer um momento em silêncio. Dentro deste silêncio, a ação
automática de nossa resposta emocional padronizada cessa temporariamente. A quietude
é um estado livre de associações passadas; por conseguinte, oferece a possibilidade de algo
novo e diferente.
Atualmente, existem muitas pessoas que realmente anseiam pela capacidade de se
transformarem. Mesmo que não consigam definir a natureza de sua aspiração, na verdade
ela é um tipo de busca espiritual. As pessoas são estimuladas pelo autodescontentamento;
aspiram a ser melhores sem saber exatamente como iniciar a sua busca de valores
espirituais.
Para tais pessoas, sugiro que todos nós possuímos nossos próprios talentos, e, se
pudermos tomar consciência dos mesmos, devemos tentar implementá-los. Esses talentos
não são necessariamente dons criativos; podem circunscrever-se à área das relações
humanas. Muitas pessoas, hoje, se deixam esmagar pela magnitude dos problemas do
mundo, e sentem-se frustradas porque acreditam nada poderem fazer. Sentem-se isoladas
- trancadas em suas próprias vidas.
O caminho positivo para lidar com essa frustração é encontrar algo para fazer por
alguém. Não precisa ser nada de fantástico - basta uma simples oferta de amizade e boa
vontade. Nos dias de hoje, ela é muito rara. Mas, se mesmo isto parecer difícil demais,
então estenda sua atenção para um animal, um cão ou um gato. O importante é tornar-se
confiante de sua capacidade de sentir preocupação e afeto, e, então, expressar seu
sentimento através de alguma ação específica. Isto promove uma ruptura no padrão de
isolamento emocional.

Padrões de hábito

Em alguns retratos de aura, pode-se perceber evidências de que certas memórias, ou


ideias ou associações, têm um componente emocional tão forte que se tornam parte da
vida interior de uma pessoa, e aparecem na aura como símbolos semi-permanentes. Em
geral, chamo-as estruturas emocionais, para distingui-las de padrões mais temporários,
como os pequenos vórtices e remoinhos resultantes de irritação, preocupação, decepção e
assim por diante. Essas estruturas firmemente arraigadas podem resultar de uma
experiência dolorosa, mas também podem provir de uma associação tão inspirada que ela
permanece viva e nova por um longo tempo. As árvores na aura 11 simbolizavam paz e
149
profundos sentimentos de proteção à natureza, enquanto as formas simbólicas no caso 12
representam uma associação passada cuja lembrança continuava a sustentar e elevar a
vida daquela mulher. Em contraste, os rostos que aparecem no 8 e 14 simbolizam uma
preocupação permanente com as pessoas e seu bem-estar.
Costumam perguntar-me por que certas experiências se incorporam à aura de forma
simbólica e outras não. Nossa experiência, naturalmente, também está representada nas
cores da aura, que se alteram muito lentamente. Creio que os símbolos se relacionam com
o modo fundamental de pensar e ver o mundo daquela pessoa. Por exemplo, o caso 7 é um
homem que não se sentia à vontade em ambiente desorganizado, e sempre tentava
colocar ordem em seu meio. O caso 13 também se preocupava tremendamente com a
ordem, mas nele esta assumia um interesse muito mais abstrato e intelectual.
Padrões de hábito têm início logo no começo da vida. Segundo minha observação de
pessoas de diferentes idades, cheguei à conclusão de que suas dificuldades, em geral,
provêm de uma falta de autoconfiança. Essa tendência desenvolve-se cedo na infância.
Pode originar-se de constante crítica dos pais, ou do sentimento da criança de que, de
alguma forma, é diferente das outras. Seja qual for a sua origem, muito rapidamente ela
pode transformar-se em sentimento de insegurança. Uma ausência básica de
autoconfiança não deve ser confundida com timidez, comum em crianças porque ainda não
são capazes de estabelecer relações com pessoas externas à família. A falta de
autoconfiança, em contraste, torna-se evidente em relacionamentos no âmbito familiar e,
também, com estranhos.

As raízes da autoconfiança

Às vezes é difícil perceber a importância das primeiras relações infantis. A sensação de


insegurança, em geral, provém da incapacidade de a criança compreender as razões
subjacentes às atitudes dos pais. É naturalmente importante corrigir o comportamento das
crianças, mas, por outro lado, não se deve esperar a perfeição. Os pais jamais devem expor
a criança a críticas constantes, sem uma quantidade igual ou maior de incentivo.
Infelizmente, muitas crianças têm uma falta básica de autoconfiança porque seus pais
nunca as ajudaram a perceber que eram capazes de fazer algumas coisas muito bem.
Se as crianças são portadoras de deficiências físicas com as quais precisam aprender a
conviver, é particularmente relevante para elas perceber que as aptidões emocionais e
mentais são tão importantes quanto um corpo físico saudável. Elas precisam aprender a
confiar na força que possuem. O desenvolvimento da autoconfiança cria raízes desde cedo
e pode sustentar uma pessoa ao longo da vida. Ao contrário do egoísmo, que precisa ser
constantemente alimentado, a autoconfiança dá às pessoas a convicção de que possuem
força e capacidade para realizar certas coisas e concretizar os objetivos de suas vidas.
Creio que a falta de confiança em si mesmo é um problema humano fundamental,
causa maior da depressão crônica, que é muito prejudicial e difícil de conviver, além de
muito comum em nossa cultura contemporânea. Ela também pode desenvolver-se como
um padrão de ansiedade, pois, quando estamos inseguros em nossos relacionamentos com
150
os demais, tendemos a nos preocupar constantemente com a reação das pessoas com
relação a nós. Sem autoconfiança, nunca acreditamos que nossas realizações são
realmente boas, não importa o que as pessoas possam dizer. A ansiedade é uma emoção
bastante corrosiva, pois ela destrói nossa ambição e nos faz duvidar de nosso próprio
julgamento.

Como lidar com a raiva

Houve uma época em que alguns terapeutas defendiam a ideia de que os sentimentos
sempre deviam ser expressos livremente: se você sentia raiva, devia liberá-la. Eu trataria da
raiva de forma muito diferente. Quando você sente a raiva crescendo, concordo que você
deva dizer: "Estou furioso", pois é extremamente importante reconhecer o sentimento que
se está avolumando em seu íntimo, e não reprimi-lo. Via de regra, os indivíduos
racionalizam a raiva, ou a negam, ou lhe dão outro nome, ou afirmam que a culpa é de
outra pessoa ou coisa. Isso quer dizer que não assumem a responsabilidade pela própria
raiva. Se você diz: "Tenho o direito de ficar zangado porque você me magoou," então nada
pode deter o fluxo de energia da sua raiva. Você a está reforçando, dando-lhe sua
aprovação.
Então, se você está zangado, jamais deve negar este sentimento, mas é importante
dizer a si mesmo: "Admito que neste momento estou zangado." Existem ocasiões em que
não conseguimos evitar a raiva, e é importante ser honesto em relação a ela. Mas, se
acrescenta as palavras "neste momento", você também está dizendo que vai elaborá-la e
livrar-se dela. Em outras palavras: "Estou zangado, mas não vou entregar-me a este
sentimento nem deixá-lo dominar-me." Esta afirmação é uma espécie de sinal para nós
mesmos de que recusamos a raiva como condição permanente. E ajuda a evitar o
desenvolvimento de um ressentimento reprimido que pode persistir ao longo de semanas
e até mesmo meses e anos, transformando-se em aversão implacável. Se você admite para
si mesmo que se enfureceu e se irritou, não irá incorporar isto, inconscientemente, como
uma parte sua. Por outro lado, você não deve concentrar atenção demais neste
sentimento, remoê-lo ou sentir-se culpado, pois, então, só estará revivendo a raiva e
reforçando-a.
A raiva reprimida ao longo dos anos transforma-se em ressentimento, um dos estados
emocionais mais difíceis de superar. A raiva surge repentinamente, e, se ela não se torna
um hábito, é possível livrar-se dela bem rapidamente. O ressentimento, por outro lado, é
resultado da raiva reprimida, em geral porque a pessoa não estava em posição de liberá-la.
Portanto, combina-se frequentemente com um sentimento de impotência e frustração, e,
como resultado, pode permanecer latente durante anos, corroendo o amor-próprio e
envenenando as relações pessoais. Ele é muito mais sutil do que a raiva e bem mais difícil
de superar, pois pode manter-se oculto dentro de nós por muito tempo.
Hábitos de ansiedade e ressentimento podem ter início logo no começo da vida. Se nos
sentimos injustamente tratados, seja por nossos pais ou por algum amigo, é natural
sentirmos raiva e ressentimento naquele momento. Quando este ressentimento cresce ao
151
longo de meses e até mesmo anos, ele se torna extremamente prejudicial. Começamos a
perceber outras pessoas exibindo algumas das características com as quais nos
ressentimos, o que pode envenenar todas as nossas relações.

Como eliminar padrões negativos

Conheci, certa vez, uma mulher de negócios bem-sucedida que me procurou porque se
sentia tão infeliz em seu trabalho que estava pensando em se demitir. Embora seu cargo na
companhia fosse importante e de responsabilidade, ela detestava tanto o homem com
quem tinha de trabalhar que a satisfação com a sua carreira estava completamente
destruída. Ela considerava a indelicadeza e grosseria desse homem resultado de implacável
antipatia com relação a ela, destruindo, assim, sua autoconfiança.
Aconselhei-a a inverter os papéis com esse homem. Em vez de ver-se como vítima das
emoções negativas dele, ela devia fazer o esforço positivo para enviar-lhe pensamentos de
simpatia e compaixão - dos quais, sem dúvida, ele devia necessitar, sendo tão
desagradável. A mudança resultante em seus sentimentos a fez relacionar-se muito mais
facilmente com ele, e, como consequência, as barreiras entre ambos caíram e o homem
confiou a ela todos os problemas que o haviam tornado tão difícil. Como tais problemas
nada tinham a ver com ela pessoalmente, essa mulher passou a perceber o relacionamento
de ambos de forma bastante diferente, o que estabeleceu bases inteiramente novas para a
relação.
Incidentes deste tipo mostram o quanto o ressentimento pode obnubilar nossa
percepção das outras pessoas e impedir a capacidade de fazer julgamentos claros e
impessoais acerca de nossas relações. A fim de romper com esse padrão destrutivo, temos
de tomar consciência das bases do sentimento de ressentimento ou da falta de
autoconfiança. Quando percebemos que estamos sucumbindo ao mesmo tipo de reação
negativa por nós sentida repetidamente, devemos parar, respirar fundo e dizer com leveza
às outras pessoas: "Ei, já estou eu fazendo a mesma coisa de novo." Então, devemos
modificar deliberadamente o padrão de nosso pensamento, visualizando alguma cena ou
lembrança agradável. Isto modificará o foco de nossa atenção e romperá o ciclo de reação
automática.
A depressão é outro padrão emocional crônico. Semelhante à ansiedade, é difícil lidar
com ela porque não apenas suga a força física, mas, também, reduz a entrada de energia a
tal ponto que o esforço se torna quase impossível e a pessoa se torna muito letárgica. Por
isso, o movimento físico é parte tão importante da terapia. Caminhar é um bom exercício,
e pode energizar uma pessoa o suficiente para modificar seu estado de espírito. Costumo
recomendar a dança folclórica, pois o movimento ritmado por si só já é harmonizador, e a
companhia de outros dançarinos estimula a interação humana. Enquanto dança, a pessoa
está realizando um movimento ordenado em um grupo de indivíduos voltados todos para a
mesma coisa, e que, portanto, são amigáveis e compreensivos. A dança, em si, é
revigorante, e a capacidade de realizá-la traz uma sensação de vitória.

152
O local do idealismo

Se tivéssemos em nossa cultura algo que reforçasse a dimensão espiritual que defini
como fonte do verdadeiro ser em cada um, seríamos encorajados a tentar encontrar e
vivenciar este ser por nós mesmos. Poderíamos aceitar sua realidade como parte do
potencial humano - ideal passível de ser realizado em nossa vida. Infelizmente, o idealismo
foi desvalorizado por nossa cultura, alegando-se que ele não é realista, não possui base
racional, não é prático, varia segundo a experiência de vida, e assim por diante. Mas o
idealismo e a realidade estão longe de ser incompatíveis. Ao longo da História, as pessoas
que modificaram o mundo eram idealistas que tinham os pés no chão e souberam realizar
os seus objetivos.
Tenho dito que os seres humanos precisam de objetivos para criar a motivação, e os
objetivos, em geral, baseiam-se em um ideal de excelência. A motivação, por sua vez,
provém da confiança em si mesmo - do sentimento de valor próprio. Muitas pessoas
aparentemente não percebem a grande diferença que existe entre autoconfiança e
egotismo. A auto-estima gera a confiança de que você é capaz de superar as dificuldades e
limitações, o que faz com que suas energias fluam livremente para o exterior. Na verdade,
uma forte consciência do ser constitui elemento essencial em todo ato criativo.
Pessoas egocêntricas voltam suas energias para o próprio corpo. Isto bloqueia a
habilidade natural de mostrar-se sensível aos demais. Essas pessoas tornam-se
excessivamente interessadas em como se sentem, e isto se torna fator dominante em suas
vidas e pode levar à doença e à depressão.
Em contraste, pessoas reformistas, como no caso 11, têm uma forte consciência do
ser, mas, ao mesmo tempo, são idealistas. Estas são as que sacodem e modificam o
mundo. Os reformistas podem ser equivocados ou até mesmo fanáticos, mas sua
motivação é fundamentalmente o bem dos demais. Sentem muito fortemente que sabem
o que deve ser feito, e como fazer, e a força de sua convicção mobiliza muitas pessoas à
sua volta. Apenas quando a autoconfiança se dilata e se transforma em farisaísmo e seu
fervor transmuta-se em fanatismo eles se tornam perigosos, pois então não podem tolerar
a discordância. (Este é o estado que o caso 11 reconheceu estar incipiente em sua pluma
laranja, e decidiu livrar-se dele.)

Altruismo

Existe um ponto de vista de que tudo o que você faz se origina fundamentalmente do
interesse próprio, e que, se tenta ser útil a outrem, é apenas porque obtém satisfação com
o esforço. É claro que você fica satisfeito, mas não é este o motivo que o leva a agir assim.
Outros sugerem que você realiza boas obras na vida a fim de ser recompensado pelas
mesmas numa vida futura, em vez de realizá-las simplesmente porque eram necessárias.
Chogyam Trungpa, lama tibetano, tinha uma boa expressão para esta atitude. Ele a chamou
materialismo espiritual, que significa dar para receber alguma recompensa - espécie de
153
permuta espiritual. Mas todas as religiões ensinam que a simples oferta de auxílio porque
alguém dele necessita é a base da ação correta. Infelizmente, em nosso atual sistema
educacional, a aceitação do altruísmo como princípio regente da vida praticamente
desapareceu.
Muitas pessoas, todavia, preocupam-se realmente com os problemas de nosso mundo.
Desejariam de todo coração poder fazer algo positivo para ajudar, mas não confiam na
própria capacidade. Nestes tempos de pressão, podemos ajudar tentando não reagir à
tensão que nos cerca. Duas ou três vezes ao dia, centralize-se e seja um manancial de
tranquilidade, enviando pensamentos de paz. Esta atitude traz efeitos positivos definidos.
Ela sustenta nossa aspiração altruísta de servir a humanidade e, ao mesmo tempo,
desenvolve a relação com as esferas superiores de nossa consciência e com aquilo que
chamei "ser eterno".
Nunca sugiro que as pessoas não devem ter uma vida particular satisfatória. Os ganhos
pessoais, contudo, crescem em importância quando tomamos consciência de sua base
universal. Nossa própria experiência ganha significado e mostra seu valor de acordo com a
totalidade da vida humana. Quando os grilhões de interesse estreito são rompidos pela
força do altruísmo, nossa afeição e boa vontade são libertadas para lançar sua energia
livremente no mundo mais amplo das relações humanas, o que traz benefícios para todos.

154
10. Meditação e Desenvolvimento da Intuição

Em capítulos anteriores, indiquei algumas das atitudes e esforços básicos que se fazem
necessários para realizar mudanças nos padrões emocionais. Agora, gostaria de
aprofundar este tema e falar de auto transformação em sentido mais profundo.
O desejo de aprender, crescer, transcender nossas limitações é fundamental em todos
nós. Estudamos, formamo-nos, praticamos diferentes habilidades a fim de desenvolver
nossa mente; fazemos exercícios, controlamos nossa dieta, jogamos a fim de aprimorar a
saúde física. Tenho procurado mostrar que também podemos cultivar e aprimorar nossas
emoções quando descobrimos a importância desta atitude para nós. Além disso, muitos de
nós desejamos ser pessoas mais amorosas e altruístas - desejamos libertar-nos de atitudes
estreitas e de motivações egoístas. Convencidos da existência de uma realidade espiritual
mais profunda, duradoura, feliz, compassiva, unitiva do que qualquer outra experiência de
vida, queremos alinhar-nos com essa realidade. Para tal, sabemos instintivamente que
precisamos tentar escapar ao cativeiro do ego pessoal.
Estas são algumas das razões que levam as pessoas a buscar a prática do Zen, a ioga, a
dança sufi ou o estudo do Budismo tibetano. Todos esses métodos podem ajudar-nos a
alcançar a meta da auto transformação; todos incorporam algum forma de meditação ou
disciplina mental, a fim de abrir ao estudante as possibilidades de um tipo de consciência
diferente. A meditação costuma ser apresentada como técnica de relaxamento ou método
para reduzir o estresse, e pode ser muito útil sob estes aspectos. Mas ela possui
características muito mais profundas. Seu maior benefício potencial reside no fato de ela
oferecer a possibilidade de acesso às dimensões da consciência que estão além da
personalidade pessoal.
Pode-se dizer que a meditação possui um duplo propósito. É uma forma de relacionar-
se com os aspectos mais profundos da própria natureza, mas não é só isso. É também um
modo de relacionar-se com uma realidade muito maior, a respeito da qual podemos
pensar sob diferentes aspectos: como a natureza de união fundamental, ou como a
dimensão espiritual, como Deus ou o Meio Divino. Assim, a meditação está longe de ser
tão-somente a retirada para um estado passivo interior (como afirmam alguns). Ela é uma
experiência dinâmica da identidade do ser interior com a totalidade - cuja extensão é tão
ampla que na verdade é ilimitada.
Esta experiência pode trazer efeitos recíprocos. Nossa necessidade de direção nos leva
a meditar,·e a prática por sua vez ajuda a elucidar nosso propósito. Isto porque a quietude
interior dá a este propósito a chance de emergir - o que é impossível quando estamos
envolvidos no turbilhão e conflito tão comuns à vida diária.

Mudança de direcionamento

Já disse antes que a emergência do propósito surge daquele ponto da consciência


155
dentro de cada um de nós que é o ser espiritual ou verdadeiro - nossa fonte de paz e
totalidade. A identificação com este "ser eterno" nos dá a capacidade de controlar nossos
sentimentos e atos. É a fonte da intuição, da criatividade e da força para tomar a direção
da vida em nossas mãos. Quando este poder é liberado dentro de nós, ele pode orientar-
nos, por mais difíceis que sejam as circunstâncias.
Quando tomamos consciência deste aspecto mais profundo e atemporal de nós
mesmos, podemos mudar nosso direcionamento sempre que temos um problema, e assim
o vemos de uma perspectiva mais ampla. O sentido do "Eu" pode mudar com essas
alterações de direcionamento - afastando-se da identificação com as circunstâncias em que
nos sentimos aprisionados e aproximando-se da liberdade de uma ordem mais universal e
menos limitada pelo tempo. Uma perspectiva mais ampla sempre nos oferece a
possibilidade de movimento e mudança, pois ela transcende o elemento puramente
pessoal em nossos sentimentos - e é isto que frequentemente distorce nossas relações com
os outros.
Essa mudança de direcionamento também nos leva a perceber o que acontece em
nossa mente e com as emoções. Tomamos conhecimento do nível de consciência em que
estamos operando em determinado momento, e conseguimos restabelecer nosso enfoque
para onde desejamos que ele esteja. Nesse processo de desenvolvimento da
autoconsciência, a meditação é útil por constituir uma das formas através da qual podemos
encontrar o ponto em que o "Eu" está focalizado.
Na discussão de padrões emocionais, ressaltei o fato de que a ansiedade é destrutiva
porque nos faz sentir incapazes de suportar as situações que nos confrontam. O motivo são
os bloqueios temporários do influxo das energias superiores, cuja fonte se encontra no
interior da dimensão da totalidade. Quando nossa conexão interior com o ser é bloqueada,
começamos a duvidar de nosso valor, nossa confiança é arruinada e nos tornamos
vulneráveis à depressão. Mesmo quando se alcançou algum nível de paz interior, o
problema, para muitas pessoas, consiste em como estabelecer uma relação duradoura com
sua totalidade fundamental, de forma que esta persista no embate com as tensões da vida
diária. Creio que a meditação é um dos meios mais bem sucedidos para tal.

Medo da auto-ilusão

Infelizmente, muitas pessoas hesitam em praticar a meditação porque têm medo da


auto-ilusão. Tantos valores tradicionais têm sido rejeitados como irrelevantes para o
mundo contemporâneo que criamos o hábito de questionar toda afirmação. Mas existe
uma grande diferença entre ser cético no sentido defendido por Buda - não aceitar o que
dizem levianamente, pensar por si mesmo - e o câncer da dúvida em relação a si mesmo,
que solapa todos os valores, incluindo a medida de nossas próprias realizações.
Visto ser impossível provar que alguma coisa é absolutamente certa e verdadeira, o
medo de ser iludido destrói a capacidade de comprometer-se com algo que não possa ser
avaliado ou demonstrado. Mas todos sabemos que nada realmente importante pode ser
medido, ou o seu valor "provado", pois estas coisas têm relação com os imponderáveis.
156
Sem dúvida é possível iludir-se na meditação, assim como em qualquer outra coisa.
Mas este fato deve impedir-nos de meditar? Se tivéssemos medo de que todo o
conhecimento pudesse ser falso, teríamos dúvidas quanto à utilidade de estudar o que
quer que fosse. De qualquer maneira, não existe grande perigo de auto-ilusão na
meditação, pois ela não é um método de introspecção ou auto-observação, no qual se pode
substituir facilmente o desejo pela realidade. Meditamos sem expectativas de sucesso ou
fracasso, dedicando-nos a alcançar nosso próprio centro de paz sem tentar definir ou
descrever suas qualidades. Isto pode levar a uma experiência que é real.
Portanto, recomendo utilizarmos nossa possibilidade de acesso à realidade espiritual
como hipótese que pode ou não ser verdadeira, mas que vale a pena ser testada. Então,
podemos tentar e ver por nós mesmos se esta hipótese tem por base a experiência. Muita
gente começa a praticar sem realmente acreditar em meditação. Essas pessoas estão
dispostas a correr o risco, embora não saibam ao certo quais serão os resultados. Acho esta
atitude muito natural. Aceito também o fato de que a meditação não é para todos; faz-se
necessário um certo preparo, ao menos a aceitação de que chegou o momento para buscar
alguma paz e espaço interiores. Em tais circunstâncias, pode-se dizer àquele que duvida:
Experimente e veja por você mesmo.
Sempre espero que as pessoas busquem a meditação como algo que pode ser
realmente agradável, até mesmo divertido, e não como tarefa solene que assumimos como
uma espécie de dever para conosco. Ela pode retemperar-nos verdadeiramente - dar-nos
renovadas energias quando estamos cansados, tranquilizar-nos e equilibrar-nos quando
estamos preocupados, ajudar-nos a abandonar nossos problemas, restaurar nossa
perspectiva e sentido de proporção. Na vida diária, nossas auras estão sempre trocando
energias com as demais, e nossa atenção, em geral, está voltada para o que acontece à
nossa volta. Como resultado, o foco está fora de nós. Na meditação, voltamos
intencionalmente este foco para o interior do centro cardíaco, criando assim um fluxo
concêntrico de energia, exatamente oposto à tendência de dispersão ou disseminação tão
exigida por nossas atividades diárias.

Estimulando as energias superiores

Por esse motivo, a prática da meditação não somente nos proporciona o sentimento de
paz, mas também nos energiza. A experiência acelera a atividade do chakra cardíaco, que
lentamente começa a afetar a conexão com os demais centros superiores. Quando isso
acontece, ela nos abre para influências de uma dimensão superior e estabelece um padrão
emocional integrador, em contraste com os padrões conflitantes que nos puxam para
direções diferentes ao longo do dia. Assim, a meditação produz um estado de totalidade e
serenidade interior capaz de sustentar-nos em períodos de tensão.
Na aura existe, amiúde, inúmeras condições emocionais momentâneas que bloqueiam
a expansão da consciência. Quando a meditação inclui não apenas a retirada para o próprio
centro, mas também o esforço deliberado para enviar paz e amor ao mundo, a expansão
resultante da aura atua diretamente, dissolvendo as cicatrizes de eventos traumáticos. Os
157
resultados manifestam-se na aura na forma de cores mais claras, maior luminosidade e
uma sensação geral de harmonia, equilíbrio e integração. São diferenças sutis, mas talvez
possam ser percebidas nas auras 13, 14 e 18, todas de pessoas que meditavam há muito
tempo, e também na 7, na qual a prática da meditação era mais recente.
A meditação estimula as energias superiores, e a liberação destas dentro de nós
modifica radicalmente nossa perspectiva. A consciência que este processo cria, nos ajuda a
ver as pessoas sob nova luz, e começamos a nos perguntar como nós as influenciamos, e
não o contrário. Em geral, levantamos barreiras entre nós e as outras pessoas, mas,
quando tentamos regularmente sentir amor, baixamos nossas defesas e nos tornamos
muito mais abertos. Assim começamos a ganhar uma nova consciência do significado de
nossas relações interpessoais. À medida que nos tornamos mais sensíveis aos outros,
aumenta nossa capacidade de interagir com as pessoas de maneira positiva.

Técnicas de meditação

Quando nos comprometemos a encontrar paz dentro de nós e decidimos que a


meditação é um caminho para este fim, a técnica específica que utilizamos não é tão
importante. Alguns métodos sugerem a leitura de uma passagem das Escrituras ou a
entoação de mantras - todos, na verdade, aquietam a mente. O Zen e outras formas
budistas de meditação, tais como Satipatthana, valorizam o caminho concentrando-se na
respiração. A respiração ritmada sem dúvida é importante.
Seja qual for o método, existem alguns requisitos básicos. O primeiro é relaxar e tomar
consciência de uma sensação de quietude em seu interior. Portanto, é bom inspirar e
expirar profundamente várias vezes e relaxar os ombros, concentrando-se, então, na
região do chakra cardíaco. Recomendo sempre aos iniciantes praticar apenas por um curto
espaço de tempo - de três a cinco minutos. A extensão de tempo de meditação não é
importante, contanto que a experiência seja real. As pessoas costumam tentar meditar por
muito tempo no começo; por conseguinte, desanimam. Descobrindo-se incapazes de
aquietar a mente durante alguns poucos minutos por vez, elas prosseguem porque se
sentem obrigadas, e tornam-se muito entediadas e inquietas.
Nos primeiros três ou quatro meses de prática, o esforço principal deve concentrar-se
em encontrar um ponto de quietude dentro de si. Uma vez estabelecido este ponto,
lentamente você se acostumará com a meditação e aprenderá a apreciá-la. Quando digo
isso, também estou afirmando que existe um componente emocional na meditação. Isto é
verdade, mas o esforço para alcançar um estado de quietude transcende os sentimentos
ordinários de prazer e dor, ou gosto e aversão.
No começo, pode haver uma certa ambivalência; você pode achar que está tranquilo e,
ao mesmo tempo, consciente de um pano de fundo repleto de distrações. Assim, você se
dará conta de duas coisas ao mesmo tempo: sua paz interior e sua mente tagarela. Você
pode aceitar esta situação sem que ela o distraia da percepção de que, em algum nível,
você tem vivenciado uma sensação real de quietude. Persistindo, você alcançará um nível
mais profundo de quietude e, então, começará a sentir uma expansão, um sentimento de
158
unidade com o universo.
Pouco a pouco, com a continuidade da prática, a quietude aumentará e a tagarelice
mental silenciará. Embora seus pensamentos possam interferir e você possa perceber sua
distração, será capaz de permanecer focado na quietude. A melhor analogia de que
consigo me lembrar para esta experiência é o voo de um avião que atravessa as nuvens e
alcança o céu azul além.

Meditação no coração

Ressaltei a importância de concentração na região cardíaca, que chamo centralização,


pois o coração é a sede da vida espiritual e física. De ordinário, podemos pensar que a
concentração implica uma restrição da atenção ou da consciência, mas acontece
exatamente o contrário quando nos centralizamos. O chakra cardíaco é capaz de expansão
quase ilimitada; pode-se estabelecer uma analogia com o círculo cujo centro está em toda
parte e a circunferência não está em parte alguma. Assim focados, vivenciamos a unidade
com a natureza e com o universo como um todo. Isto amplia a aura e rompe padrões
restritivos, e o sentimento de unidade pode acentuar-se, proporcionando uma nova
dimensão para todos os nossos relacionamentos.
Quando as pessoas não têm certeza de sua capacidade de meditar, costumo dar-lhes
um exercício de visualização para ajudá-las a começar. Por exemplo, sugiro que em
primeiro lugar você recolha suas energias para o coração e o associe com um sentimento
de unidade com o ser eterno. Este ser interior deve ser visualizado como uma luz em seu
coração, para cujo interior você se retira conscientemente. Sinta a paz; e pense em si
mesmo como sendo um com a luz. Então, se tiver uma lembrança dolorosa que o perturba,
recorde-a e deliberadamente a visualize ligeiramente distanciada e situada à sua frente.
Você deve tentar vê-la fora de si mesmo. Então visualize raios de luz emanando do centro
de luz em seu coração, jorrando luz através desta lembrança dolorosa até que esta se
dissolva.
Para muitas pessoas, este exercício proporcionou uma maravilhosa sensação de
libertação de suas ansiedades. Além disso, se quiser ajudar uma pessoa doente ou aflita,
você pode visualizá-la com esta luz circundando seu coração, e, então, levar-lhe ajuda neste
nível.

Desapego

Tenho dito que, ao sentirmos paz dentro de nós, a perspectiva que temos do mundo e
dos relacionamentos começa a mudar. Uma das diferenças é o aumento do desapego.
Parece haver um grande mal-entendido acerca do significado dessa palavra, que as pessoas
confundem erroneamente com a impessoalidade fria que se mantém distante das dores e
problemas dos demais. Desapego não significa que deixamos de ter sentimentos pelas
outras pessoas ou de ser solidários com seu sofrimento. Significa que não nos envolvemos
159
pessoalmente com seus problemas em nível emocional- atitude que, na verdade, pode
impedir-nos de servi-las. As enfermeiras sabem, por experiência própria, que não podem
ajudar um paciente em sofrimento se não puderem manter sua força e serenidade.
Quando se centraliza na meditação, você está vivenciando conscientemente a
totalidade, sua unidade indivisa com tudo o que existe. Você vê a si mesmo, e às outras
pessoas com quem se relaciona, como parte desta imensa totalidade. É neste sentido que
interagimos com as pessoas de forma mais autêntica. No nível pessoal, estamos sempre
separados uns dos outros pelas barreiras do ego, mas estas não existem neste nível mais
profundo. Quando conseguimos desapegar-nos do interesse particular, podemos estar com
as pessoas de maneira muito mais duradoura.

A projeção do amor

A meditação auxilia este processo, pois atrai energia de uma dimensão mais universal.
Se queremos desenvolver este potencial e utilizá-lo plenamente, devemos tentar sentir
amor todos os dias, e projetá-lo para todos aqueles que sentimos necessitados. Isto é
importante, por muitas razões. Via de regra, achamos que o amor só é pleno se for
recíproco, e, quando não ocorre esta sincronicidade entre as pessoas, o resultado é muito
sofrimento. Se nosso amor é pessoal, ele pode ser inconscientemente exigente, o que
agrava os problemas emocionais .
Na meditação, contudo, sentimos uma forma de amor diferente, um fluxo ou doação
do ser que nada exige e nada pede em troca. Quando se é capaz de dar amor sem reservas,
sem dúvidas, sem medo de perda e sem pensar em si, esta energia alcança outras pessoas
em nível superior, onde elas podem utilizá-la a fim de mobilizar seus próprios poderes e
ajudá-las a solucionar seus problemas. É isto que quero dizer com desapego.
Quando se centraliza na meditação, você está vivenciando conscientemente a unidade
com este nível mais profundo. Você se sente, e percebe as pessoas com quem se relaciona,
como parte de um todo maior. Assim, começa a perceber, através da própria experiência,
que o mesmo potencial de totalidade e paz existe em todos e, enviando pensamentos de
amor para as pessoas, você está tentando alcançá-las nesse nível mais profundo. Assim
fazendo, você se abre para as energias muito maiores e mais poderosas de uma dimensão
superior. Portanto, se quiser desenvolver esse potencial e usá-lo em toda a sua plenitude,
você deve tentar projetar regularmente o máximo de amor de que for capaz. Como disse o
Dalai Lama, se todos sentíssemos paz e compaixão, a guerra e a violência chegariam ao fim.
Em tempos como estes, quando o mundo é sacudido pela dúvida e a ansiedade, podemos
ajudar a iluminar a atmosfera de toda a Terra enviando nossas energias de paz e amor.

Intuição

Em vários contextos, indiquei a existência de um aspecto da consciência dentro de nós


chamado intuição - compreensão imediata que vai além dos processos usuais da mente e
160
proporciona a "introvisão" direta. Este poder não se limita a alguns gênios, mas reside
como um potencial dentro de todos nós. Na verdade, muitos de nós experimentamos este
nível de consciência em algum momento de nossa vida. Às vezes, quando tudo parece estar
saindo errado, se nos aquietarmos por um instante, pode surgir da quietude a convicção do
rumo certo a tomar. No momento de crise, de súbito somos tomados de força; sabemos
que podemos manter a calma. É a intuição que nos diz sem palavras o que devemos fazer.
A sensação de unidade alcançada na meditação desenvolve em nós esta capacidade
intuitiva, que se relaciona com "o ser eterno". Intuição, ou "introvisão", significa ver o
âmago das coisas. Ela nos dá uma abertura momentânea para uma dimensão superior de
compreensão direta, ou visão clara, que supera as limitações de nossos usuais processos
mentais com um relâmpago de percepção unitiva.
Assim, se estamos realmente buscando o rumo certo a ser tomado - o segredo da ação
correta, como dizem os budistas - e conseguimos manter-nos silenciosos interiormente, a
intuição pode aflorar. Então, podemos ter a percepção íntima do rumo que devemos tomar
e do plano de ação - plano este que não depende inteiramente dos fatos com que temos de
trabalhar, porquanto estes podem ser inadequados ao nosso propósito.
A intuição provém de uma dimensão da consciência muito mais profunda do que o
pensamento comum. Ela pode iluminar nossa busca de compreensão, produzindo uma
nova síntese. Inúmeros cientistas atribuem esse flash de intuição - o qual, de súbito, reuniu
partículas de conhecimento em uma relação imprevista - a sua experiência. Assim, a
intuição sempre nos leva a um novo nível de significado, a uma visão ampliada da
realidade. Ela pode atuar em muitos níveis, mas, como é uma percepção íntima da unidade
subjacente aos fenômenos da vida, seus resultados persistem e aprofundam-se com o
tempo.
Existem diferentes níveis de intuição, nem todos necessariamente relacionados com
questões impessoais amplas. Intuições podem ocorrer a pessoas bastante simples, pois elas
não levantam barreiras, com a mente crítica, às "introvisões" individuais. A intuição sempre
confere uma certeza e autenticidade inabaláveis; não hesitamos em aceitá-la e proceder de
acordo com ela. Quando temos um relâmpago intuitivo, naquele momento ocorre uma
integração de diferentes dimensões da consciência dentro de nós, e o resultado é uma
convicção de que encontramos a verdade do problema com que nos defrontamos.
Tais intuições não ocorrem com mais frequência porque nossos pensamentos, em
geral, são desordenados. Quando nossas mentes se dispersam em muitas direções
diferentes, corremos o perigo que ameaça nossa época: tudo saber e nada compreender. A
intuição não funciona se a mente não oferece a ela uma avenida clara de acesso, pois a
mente é o instrumento para traduzir as "introvisões" em forma de ação.
Quando a mente é transparente à "introvisão" espiritual, o resultado é prajna, como a
chamam os budistas, ou sabedoria. A consequência é que todo ser humano tem um pouco
de contato com uma dimensão da consciência da qual a verdade é um aspecto. Portanto, o
que a meditação pode fazer é limpar a mente para que a intuição possa aflorar.
Muitas pessoas gostariam de desenvolver uma técnica para aprimorar a intuição, de
modo que a experiência pudesse ocorrer com mais frequência. Não creio que seja possível
planejar, antecipadamente, uma experiência intuitiva, mas, sem dúvida, pode-se preparar
161
o terreno, e para isto temos de aprender a aquietar a mente e não permitir que
pensamentos ruidosos se intrometam sem permissão.

A experiência de união

A transformação que ocorre através da conversão religiosa tem início no mesmo nível;
no entanto, é muito mais abrangente. Como no caso de São Francisco (e muitos outros, tais
como Madre Teresa em nossa época), ela pode ser repentina, mas toda a vida constituiu
uma preparação para esse momento, quando todas as energias - não só as do corpo e da
mente, mas também as do espírito - se fundem em um todo. Em um relâmpago, as nuvens
se dissolvem, as barreiras caem e ocorre o despertar para a realidade espiritual, que
penetra e transforma cada nível, chegando até o corpo físico.
Contudo, existem aberturas menores para a "introvisão", anteriores a essa conversão
total, que nos fornecem vislumbres da natureza da realidade espiritual. Quando vemos
uma linda paisagem e nos sentimos parte dela, temos a sensação de estar participando de
um todo muito maior do que aquele que conhecemos. Muitos de nós temos a mesma
sensação quando ouvimos música. A experiência da beleza toca o coração, expandindo os
limites do ser a tal ponto que essa vivência pode ser chamada experiência de união - pois
se perde o sentimento de aprisionamento dentro de si, ou de limitação na consciência do
"eu".
A meditação não é para todos, mas é uma das portas para essa experiência de união. O
interessante é que nosso sentimento de expansão, que parece incluir o mundo todo, é
alcançado quando nos retiramos para a quietude interior. Dentro e fora não são mais
opostos. Isto acontece porque aquietamos a turbulência de nossa vida emocional e mental,
que, em geral, nos impede de "ouvir" a quietude interior. Assim, recuperamos a sensação
de ser parte de um todo universal dentro do qual nada é esquecido, e ninguém é excluído.
Quando vivenciamos esse nível de totalidade, estamos recorrendo a um tipo de
energia diferente, e esta, lentamente, penetra os outros níveis da consciência. Se
meditamos habitualmente, a sensação de unidade com o mundo jamais é inteiramente
perdida; ela se torna a base da vida. Quando tomamos consciência desse nível, novas
energias nos preenchem, e isto pode exercer um efeito transformador. Temos essa
experiência de diferentes maneiras através da meditação: às vezes, na forma de uma onda
de amor e compreensão; em outras, como clareza mental; e ainda, na forma de imagens ou
símbolos visuais, como uma liberação de imaginação criativa ou a capacidade de
concretizar nossas crenças e convicções mais profundas.

Integração de todos os neveis

Portanto, a prática da meditação pode fortalecer os potenciais que nos são inatos. Ela
pode manter-nos calmos e estáveis em meio às dificuldades. Pode tornar-se parte tão
integrante de nossa vida que sua presença influencia tudo o que dizemos e fazemos.
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Quando alcançamos este estágio, a meditação deixa de ser tão-somente uma prática
formal para a qual nos sentamos. Ela se torna um elo que podemos restabelecer através da
atenção momentânea. Assim, as energias superiores que são despertadas podem tornar-se
um componente ativo da vida diária.
Desta forma, as energias de que não tínhamos consciência vão pouco a pouco sendo
liberadas e tornam-se mais ativas em nós. Quando a mente e as emoções aprendem a
tornar-se sensíveis às dimensões superiores, estas energias podem ser utilizadas sempre
que se fizer necessário. À medida que nos tornamos mais atentos, elas se tornam mais
reais para nós - recurso que possui inúmeras utilizações práticas. Alcançando a consciência
da unidade com "o ser interior e eterno", desenvolvemos a vontade e a motivação para
romper com antigos padrões restritivos e para reconstruir-nos - e somos nós mesmos que
produzimos essa transformação.
Se temos a firme intenção de viver em harmonia com a totalidade, tal atitude não
pode confinar-se aos poucos minutos por dia durante os quais meditamos. Ela tem de
permear cada dimensão de nossa consciência, incluindo o plano físico. Mesmo quando a
meditação é praticada com regularidade ao longo de um período de tempo considerável,
ela não nos modifica enquanto não começa a permear os nossos atos. Mas, quando isto
acontece, nossa intenção torna-se um instrumento que nos ajuda a lidar com as
dificuldades, uma arma que nos auxilia a derrotar nossos impulsos egoístas - sobretudo na
área das relações interpessoais. Quando a sensação de unidade vivenciada na meditação
persiste ao longo do dia, nossa vida começa a refletir aspirações espirituais. Então, nosso
enfoque não se restringe mais aos limites estreitos da personalidade - do ego -, pois
alcançou a dimensão universal do ser que não conhece limites.
Neste mundo, tudo está interligado com todo o resto. Quando, na meditação,
começamos a perceber que o mundo físico é essencialmente um com - e expressão da - a
realidade espiritual, adquirimos uma compreensão mais profunda do significado da vida
humana. Isto pode modificar-nos no sentido mais profundo, pois nossos pensamentos,
nossos atos, tudo o que sentimos e fazemos fluirá naturalmente dessa compreensão.
Não precisamos tornar-nos santos ou ascetas para iniciar esse processo de integração.
Ele exige apenas um propósito real, um compromisso verdadeiro. Então, não importa
quantos erros cometemos, o fluxo da vida diária será uma continuação da nossa meditação,
e os maiores ideais tornar-se-ão parte integral de nossos atos e da experiência.
Essa integração do "ser eterno" com o "ser pessoal" é a meta não apenas daquele que
medita, mas de todos os que buscam o verdadeiro sentido da vida humana.

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