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A Aura Pessoal
A Aura Pessoal
A AURA PESSOAL
EDITORA PENSAMENTO
São Paulo
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Título do original:
The Personal Aura
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Sumário
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Prefácio
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1. A Criação do Livro
A série de imagens da aura, característica central deste livro, tomou forma de maneira
espontânea e não premeditada, resultado de circunstâncias e não de qualquer intenção
ou plano da minha parte.
Há algum tempo, eu trabalhava com minha amiga, a dra. Otelia Bengtsson, médica
particular na cidade de Nova York, especialista em alergia e imunologia. Como problemas
dessa espécie comumente possuem aspectos psicossomáticos, acreditava ela que minha
clarividência poderia ajudar em alguns dos casos difíceis de diagnosticar ou resistentes ao
tratamento. Ela é uma das médicas mais altruístas e corajosas que já conheci, e não tinha
escrúpulos em me enviar os pacientes, conquanto naquela época (começo da década de
30) tal comportamento não-ortodoxo era muito mais raro entre os médicos do que nos
dias atuais.
Via de regra, eu nada sabia a respeito dos casos, embora, evidentemente, tivesse
conhecimento da especialidade da dra. Bengtsson e sempre atendesse os pacientes na
sua presença. Eu lhe dizia quais eram, a meu ver, os problemas físicos, mas também
explicava o papel que as emoções dos pacientes representavam no processo da
enfermidade, indicando como eles poderiam auto-ajudar-se.
Já na adolescência, pediam-me para ajudar pessoas que estavam sofrendo ou se
encontravam perturbadas, e desta forma aprendi a observar padrões emocionais e a
interpretar o que via. Contudo, meu trabalho com a dra. Bengtsson ensinou-me a ser uma
observadora cuidadosa, e deu-me a oportunidade de estudar profundamente as relações
entre os padrões emocionais e a doença física - atividade que continuei a praticar com o
correr dos anos. Sua confiança em mim foi tremendamente útil, porquanto, sem a sua
cooperação, eu não teria a oportunidade de estudar a longo prazo o processo da
enfermidade e seus correlatos psicológicos. Desde a época da criação das imagens deste
livro, já atendi a centenas, talvez mesmo a milhares de pessoas que me procuram em
busca de ajuda, e para mim esses contatos são uma contínua experiência de aprendizado.
As pinturas surgiram porque, muitos anos atrás, iniciei amizade com uma talentosa
artista, Juanita Donahoo, que se interessou muito por minhas descrições de auras e quis
tentar ilustrá-las. Ela começou experimentando o vaporizador de tinta, e concluiu que esse
método poderia ser usado na tentativa de transmitir alguma ideia dos matizes enevoados,
misturados e em constante mudança da aura. Juanita estava interessada e ansiosa, além de
muito disposta a experimentar diversos métodos a fim de adaptar seu meio de expressão
ao que eu via.
Devo dizer que o processo foi bastante tedioso. Juanita possuía uma elaborada tabela
de cores e, à medida que eu descrevia a pessoa sentada à nossa frente, ela fazia um esboço
da aura, acrescentando traços especiais, demarcando as áreas de cor e aproximando-as ao
máximo do que eu dizia ver. Sinto dizer que nem sempre era fácil satisfazer-me, pois as
cores do pigmento, por mais sutis que fossem, são infinitamente mais grosseiras e
sombrias do que as cores do mundo astral. Ela mostrou-se a personificação da paciência.
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Ainda assim, tenho de dizer que esses quadros são apenas uma leve aproximação da
realidade, conquanto dificilmente se poderia suplantar os esforços de Juanita, muito
sensível e receptiva às impressões que eu tentava transmitir.
Essas pinturas da aura representam uma série de retratos de pessoas com quem
mantive algum contato, ou que me foram trazidas por outras, e mostram-nas como eram
naquele momento (ou como eu percebia que eram). Eu gostaria de enfatizar este fato. São
retratos de pessoas - algumas famosas, outras desconhecidas; algumas mais velhas, outras
mais jovens -, naturalmente não de seus rostos nem de seus físicos, mas de sua
personalidade e caráter naquele momento de suas vidas. É um registro de seus interesses,
trabalho, sentimentos, aspirações, talentos e potenciais, bem como de seus problemas,
dificuldades e hábitos emocionais.
Cada pessoa já chegava pronta a posar para nós durante duas ou três horas, e algumas
achavam o processo bastante tedioso. Lembro-me, especialmente, de um músico
conhecido que, antes mesmo de chegarmos à metade da sessão, já estava muito inquieto.
Felizmente, sua filha havia levado uma partitura musical e, depois que a entregou ao pai,
este se absorveu de tal maneira que deixou de aperceber-se da passagem do tempo.
Outros sujeitos ficavam curiosos com o desenho de suas auras e queriam saber o
significado da diferença de cores. Um homem reagiu caracteristicamente a essa
informação. Quando lhe informei que a pena laranja em sua aura significava orgulho e
autoconfiança, ele disse: "Não gosto disso e estou decidido a mudá-lo." Quanto às crianças.
elas corriam e brincavam, ou até mesmo tiravam pequenos cochilos. Essas atividades não
nos incomodavam nem um pouco, pois eram um comportamento normal e mostravam que
elas estavam relaxadas.
Assim, as pinturas são retratos de pessoas e não generalizações ou imagens compostas,
como aquelas que ilustram outros livros sobre a aura, por exemplo O Homem Visível e
Invisível, de C. W. Leadbeater. Trata-se, aqui, de pessoas reais, com grandes diferenças de
personalidade. Falarei a respeito da natureza da aura em capítulos subsequentes, mas
quero enfatizar desde logo que esses retratos se assemelham a um fotograma da cena de
um filme - um simples vislumbre em meio ao processo contínuo da vida. Todos mudamos
de humor, e isso está refletido na aura, sobrepondo-se aos traços mais permanentes.
Portanto, os retratos de aura captam a essência dessas pessoas em termos de seus
sentimentos naquele momento.
Sujeitos do estudo
Gostaria de enfatizar uma outra coisa. Essas imagens não representam um perfil da
sociedade - talvez nem mesmo um grupo razoavelmente típico de indivíduos, embora
tenhamos pessoas de várias idades. Existe um equilíbrio entre homens e mulheres, mas por
puro acaso e não propositalmente. Não temos assassinos, criminosos nem psicóticos. A
maior parte dessas pessoas pertence à classe média; nenhuma pode ser considerada
exemplo de ganância, luxúria, raiva, crueldade, violência ou outro comportamento
compulsivo. Alguns são indivíduos bastante comuns, mas outros são extraordinariamente
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talentosos, e uma proporção considerável possui interesses filosóficos, humanitários e
espirituais. Assim, falta-nos o contraste que teria sido propiciado pela inclusão de algumas
personalidades anti-sociais.
A razão dessa não-diversidade está em jamais termos pensado nesta iniciativa como
uma pesquisa psicológica e clínica. Fizemos pura e simplesmente um estudo da aura. Na
ocasião, um sem-número de pessoas havia demonstrado interesse por minhas observações
clarividentes, que se afiguravam mais detalhadas do que outras existentes. As pessoas
queriam ver como era a aparência de uma aura, e como se manifestavam as diferenças de
personalidade. Assim, começamos e terminamos com as pessoas imediatamente acessíveis
e dispostas a posar para nós. Não tentamos obter uma mistura de pessoas com diferentes
formações étnicas, culturais, religiosas ou educacionais.
Se fosse realizar um projeto como este hoje, eu o faria muito diferente. Esses estudos
foram realizados há cerca de 55 anos, quando eu ainda era muito jovem e, embora minha
clarividência não se tenha modificado, desde então aprendi muito mais sobre as interações
humanas. Neste livro, as imagens e descrições da aura são o produto de minhas primeiras
observações, mas tentei dar-lhes substância adicional nos outros capítulos, mais
representativos daquilo que tenho aprendido nos anos intermediários.
Alguns leitores poderão conjeturar também por que esperamos tanto tempo para
publicar essa pesquisa. Um dos motivos está contido no que acabei de dizer: eu não me
sentia pronta para realizar um estudo geral da aura pessoal baseando-me nesses poucos
exemplos. O segundo motivo, mais importante, está no clima intelectual daqueles dias, que
não teria facilitado nenhuma consideração séria acerca dos conceitos fundamentais ao
tema.
Apenas nas últimas décadas, os avanços na ciência, na medicina e na psicologia
ocasionaram uma mudança de percepção do papel da consciência na vida humana. Hoje, é
muito maior a aceitação do relacionamento mente-corpo e das origens psicossomáticas da
doença, bem como o reconhecimento da importância das atitudes nas interações
humanas. Como resultado, existe, atualmente, um contexto dentro do qual aquilo que
tenho a dizer não parece tão estranho.
Recentemente, trabalhando nas pinturas, começamos a perceber que elas recaem em
determinados padrões ou grupos, e que estes revelam características que pouca relação
têm com a fama ou a obscuridade da pessoa analisada. A maioria das pessoas possui certas
características emocionais básicas em comum: amor e compreensão, capacidade
intelectual - habilidade de aprender, de expressar-se e de realizar algum trabalho
significativo. Espero que os leitores achem interessante investigar essas aptidões humanas
segundo os tipos bastante diversos de pessoas representadas nas imagens, e talvez se
reconheçam aí, em algum nível.
Finalmente, talvez interesse ao leitor saber algo do meu passado, o que me possibilita
perceber a aura ou (como gosto de chamá-la) o campo emocional de uma pessoa.
História pessoal
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Nasci numa família holandesa que morava numa grande colônia em Java, onde meu pai
era administrador de uma fábrica de açúcar. Tanto minha mãe como minha avó tinham
dons mediúnicos, que de forma alguma poderiam ser considerados herdados. Se existem
fatores genéticos herdados, provavelmente se relacionam com uma sensibilidade inata,
bem como com a habilidade de reagir intuitivamente a situações e eventos imprevisíveis.
Nasci completamente envolvida pelo âmnio (a membrana fetal) - o que significa,
presumivelmente, intuição -, e disseram-me que rompi a membrana com o punho,
libertando-me assim.
Minha mãe acreditava totalmente em meditação, e sempre reservou um quarto para
isso, que jamais foi utilizado para qualquer outro fim. Iniciou-me na prática quando eu
estava com cinco anos de idade. A princípio, ela me sugeriu temas muito simples, mas
depois passou a pedir-me para meditar sobre questões abstratas; ela e meu pai esperavam
que eu lhes fizesse um relato das ideias que me haviam ocorrido em consequência.
Quanto à minha clarividência, creio que comecei a tomar consciência dela e a
desenvolvê-la por volta dos seis ou sete anos. Nessa época, C. W. Leadbeater (famoso
clarividente e escritor de teosofia) veio visitar-nos, interessando-se muito por mim e por
minhas visões. Posteriormente, quando eu chegava aos doze, fomos morar na Austrália e
passei a manter contato diário com ele durante vários anos. Não posso afirmar ter ele me
exercitado na utilização da clarividência, mas Leadbeater atribuiu-me tarefas específicas -
algumas delas muito difíceis para uma adolescente tímida - e, na tentativa de realizar essas
tarefas, aprendi a ter mais confiança em mim.
Contudo, talvez o treinamento inicial que me foi mais útil tenha sido a insistência do
meu pai em que eu pensasse por mim mesma e aprendesse a sustentar minhas ideias a
despeito de toda oposição. Meu pai adorava debates e me fazia defender as posições que
eu tomava, para que eu aprendesse que não podia ter nada como certo.
Assim, desde tenra idade aprendi a não esperar que as pessoas, necessariamente,
concordassem comigo. Isto me foi muito útil no meu trabalho com a medicina, pois, se
acaso estabeleço associações com médicos céticos em relação à minha clarividência, essa
atitude não me parece desarrazoada e nunca interfere na minha disposição de colaborar
com eles. Em outras palavras, não me aborreço com a possibilidade de as pessoas
considerarem a clarividência uma tolice, porquanto acredito que cada pessoa tem o direito
de aceitar as afirmações de outrem apenas se essas afirmações fazem sentido para ela.
Ofereço as descrições e discussões subsequentes acerca do campo emocional tomando
por base esse ponto de vista. Para mim, os padrões emocionais resultam de inúmeros
fatores e experiências de vida diferentes - algumas boas, outras dolorosas; algumas
negativas, outras construtivas. Se não temos consciência desses padrões, eles podem
inibir-nos de muitas maneiras, levando-nos, até mesmo, ao início de uma enfermidade.
Todavia, as emoções são não apenas transitórias, mas também plenas de energia; por
conseguinte, podem se modificar e, efetivamente, o fazem. E mais: a direção que toma
essa mudança está sujeita à nossa própria intenção, quando esta se toma clara para nós.
Minha esperança, ao escrever este livro, é que ele possa ajudar os leitores a perceber
mais claramente seus próprios padrões emocionais, e dessa forma compreender as
possibilidades de mudança e crescimento existentes dentro de todos nós.
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I – Estrutura e Dinâmica dos Campos de Energia Humanos
2. Dimensões da Consciência
Até mesmo a vida da pessoa mais comum, que pode parecer monótona, é, na
realidade, cheia de experiências em muitos níveis. Enquanto nos concentramos no ofício
diário que é viver, estamos ao mesmo tempo envolvidos em uma série complexa de
interações entre processos físicos, sentimentos e pensamentos. Embora não prestemos
muita atenção a essas interações, elas influenciam constantemente nosso comportamento,
bem como a nossa sensação de bem-estar.
Neste livro, tentarei compartilhar com vocês um pouco da minha percepção e
avaliação das dimensões ocultas da consciência em nosso íntimo e, dessa forma, torná-los
mais conscientes desses aspectos em suas vidas e de sua capacidade de efetuar mudanças
conscientes em si mesmos.
Enfocarei, basicamente, nossos sentimentos, pois a aura - a nuvem colorida e
luminosa que circunda cada um de nós - é o campo emocional pessoal. Contudo, nossos
sentimentos são parte de uma totalidade maior, que chamamos de ser humano; por
conseguinte, são inseparáveis de tudo o mais que acontece dentro de nós. As interações
entre a mente, as emoções e as energias físicas são tão rápidas e constantes que chegam a
toldar essas diferenciações; assim, em geral, só as percebemos quando se rompem.
Portanto, para compreender a natureza das emoções e o papel que representam, temos
de considerá-las segundo a perspectiva da pessoa total - e isso inclui não apenas o corpo,
a mente e os sentimentos, mas também dimensões ainda mais elevadas da consciência.
Consciência
A consciência assume muitas formas, e seus limites vão bem além daquilo que
comumente consideramos como mente consciente. Os vários estados estendem-se da
percepção do corpo primitivo, em um extremo, até as esferas mais elevadas de "introvisão"
espiritual, no outro. Assim, eles formam um sistema hierárquico, no qual as energias
associadas aos diversos estados de consciência tornam-se cada vez mais refinadas, à
proporção que adentram as dimensões superiores. Mas isso não significa que qualquer um
desses estados seja insignificante ou menos importante do que os demais. Se tentarmos
ver todas as dimensões em termos da totalidade de que são parte, perceberemos que cada
uma tem um papel único a representar dentro do espectro global da consciência.
Lama Govinda explicou isso muito bem: "A consciência de uma dimensão superior
consiste de uma percepção coordenada e simultânea dos diversos sistemas de
relacionamento ou direções de movimento em uma unidade maior e mais abrangente, sem
destruir as características individuais das dimensões inferiores integradas. A realidade de
uma dimensão inferior, portanto, não é aniquilada por uma superior, mas apenas... situada
em outra perspectiva de valores."(1) '
Da mesma maneira, quando falo de "dimensões superiores" ou de "níveis superiores"
não estou tentando fazer juízos de valor, mas tão-somente pretendo descrever os
"sistemas de relacionamento" mencionados pelo Lama. Na verdade, juízos de valor são
inadequados quando tentamos compreender a natureza das diferentes dimensões da
consciência. Mais vale estudar suas funções e características, tomando consciência de suas
contribuições especiais - bem como de suas limitações - segundo aquela realidade bem
maior que constitui a totalidade da natureza humana.
Vistos assim, os estados de consciência são condições reais que diferem entre si, mas
não estão separadas - seja entre si ou do próprio corpo. Os campos sutis coexistem dentro
do mesmo espaço e influenciam um ao outro. Sua diferença reside no fato de que cada
qual possui seu tipo único de energia e velocidade vibratória. Isso torna possível aos vários
campos exercer seus efeitos especiais e, ao mesmo tempo, interpenetrar e interagir com os
demais campos sem interferência.
É difícil encontrar uma analogia exata para esse fenômeno em termos da experiência
ordinária. Talvez o efeito global seja alcançado mais ou menos como o som único de um
acorde musical é criado pela combinação de diferentes sons, cada um deles discernível por
um ouvido treinado. A experiência de ouvir música é a melhor analogia que me ocorre,
porquanto as diferenças entre os campos sutis são essencialmente de natureza harmônica.
Cada dimensão da consciência tem sua amplitude de frequências e representa um papel
específico na orquestração total de um ser humano.
Energias radiantes
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Como não sou cientista, posso apenas sugerir como seria possível perceber os campos
sutis. Sabemos que o som e a luz são formas de energia radiante cujos comprimentos de
onda são diferentes, e que muitos fenômenos além da percepção de nossos sentidos, tais
como a luz ultravioleta, tornam-se acessíveis apenas quando dispomos de instrumentos
para detectá-los. Para mim, as dimensões superiores constituem formas de energia
radiante relacionadas com a luz. Assim como a luz do sol pode ser fragmentada no
espectro que vemos como o arco-íris, da mesma maneira essas energias superiores se
revelam através de suas cores características. São essas cores que percebo. Portanto, a
clarividência pode ser um instrumento que permite a comprimentos de onda e frequências
de outro modo invisíveis adentrar a esfera da percepção.
Quando surgem questionamentos a respeito da clarividência, um dos maiores
obstáculos para a maioria das pessoas reside no fato de que a habilidade de ver
dimensões mais sutis parece limitar-se a um número reduzido de pessoas. Conquanto não
conheça a razão desse fato, quero ressaltar que até recentemente era impossível
visualizar um vírus, distinguir ondas ultra-sônicas ou examinar material genético. Todas
essas coisas existiam antes de serem criados instrumentos que possibilitassem sua
observação, e pode ser que futuramente o mecanismo da clarividência seja investigado e
compreendido. No momento, posso dizer apenas que minha clarividência acontece por
uma mudança de foco visual. Está sob meu controle e só a utilizo quando quero. Uso a
palavra "visual" para descrever o processo porque é uma espécie de visão, mas os olhos
reais não estão envolvidos. É antes uma convergência de atenção. Uso a clarividência
primordialmente no meu trabalho, e minha visão ordinária é exatamente igual à das
outras pessoas.
Para mim, vitalidade, sentimento e pensamento são formas de energia. Embora a
maioria dos cientistas não as considere dessa forma, inúmeros pesquisadores que
consultei afirmam ser legítimo o uso da palavra "energia" em relação a emoções, pois
energia significa "a capacidade de agir ou produzir um efeito". Aceitamos campos físicos
como a gravitação como sendo "reais", porquanto experimentamos seus efeitos
diretamente, embora nunca os tenhamos visto. No momento, devido a nossa falta de
maiores informações, a natureza dos campos sutis pode ser apenas aceita, a partir das
formas como nos afetam. Sempre procuro ressaltar que sentimentos não são apenas
estados psicológicos subjetivos; eles trazem consequências físicas reais e influenciam
nossa saúde de muitas maneiras. Falo por experiência própria, pois tenho feito
observações e trabalhos nessa área ao longo de toda a minha vida.
O espectro da consciência
A mente
A mente pode influenciar de forma profunda as emoções, pois é esse nosso lado que
pode distanciar-se dos sentimentos e observar seus efeitos: "Estou feliz; estou furioso."
Desse modo, a mente pode conferir maior objetividade às emoções, indicando em que
direção nos estão conduzindo e, assim fazendo, produzir ordem e coerência em nossas
vidas. Mas a mente também pode deformar-se e exercer um efeito egotista, negativo e
prejudicial sobre nossa vida emocional. Ela pode justificar nossos preconceitos e deturpar
a verdade, tornando-se dessa forma, nas palavras de H. P. Blavatsky, "a assassina do real".
Todavia, a influência da mente é fundamental à integração e ao equilíbrio pessoais, e
serve também como orientação. É a mente que estabelece objetivos, planeja estratégias,
formula problemas e os soluciona passo a passo.
A razão oferece orientação, dá forma e coerência aos nossos pensamentos
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desgarrados, possibilita a autocrítica. Todas essas são utilizações positivas da mente na vida
diária.
Existe também um nível da mente envolvido com o pensamento abstrato, como, por
exemplo, com a matemática, a filosofia ou a ciência, e este não afeta as emoções
diretamente, na mesma medida. Contudo, matemáticos e cientistas não escolheriam suas
profissões se estas não suscitassem seu interesse, o que é necessário para envolver-se em
impulsos emocionais, concentrar atenção e acender o entusiasmo por um
empreendimento abstrato. Algumas pessoas têm verdadeira paixão pelas ideias e podem
absorver-se totalmente nas mesmas; este interesse está longe de ser apenas, e
simplesmente, acadêmico. Neste caso, as energias emocionais e mentais estão trabalhando
plenamente juntas, um dos sinais de integração pessoal.
Entretanto, via de regra existe uma lacuna, uma falta de sincronismo entre a razão que
procura entender uma situação e os sentimentos que nos fazem agir. Em geral, as pessoas
não levam em consideração a informação assim oferecida, mas agem diretamente segundo
os ditames de seus sentimentos do momento. Então nossos impulsos emocionais podem
levar-nos a ter um comportamento discordante da nossa intenção, ou mesmo da nossa
experiência. Neste caso, digamos que a pessoa é impulsiva - talvez chegando, até mesmo, a
ponto de descontrolar-se. Tais cisões na psique são visíveis na aura pessoal de um
indivíduo. O campo mental pode estar receptivo à intuição, além de mostrar-se claro e bem
centrado, mas a pessoa talvez não esteja muito equilibrada no nível emocional. Quando
isso acontece, pode haver uma fertilidade de ideias sem a necessária capacidade de segui-
las até o fim e colocá-las em prática.
Existem muitas disfunções como essa entre os campos. Contudo, exceto nas pessoas
gravemente enfermas ou inválidas, os campos emocional e mental sempre trabalham
juntos, pois o pensamento normalmente é acompanhado por algum grau de sentimento.
Pode haver interesse ou tédio, prazer, desprazer ou indiferença, mas, ainda que reprimido,
existe sempre um componente emocional em nossos pensamentos.
A intuição
Nossos sentimentos pela natureza, pela beleza ou pela paz mundial também são
emoções, embora de tipo diferente. Vão além do puramente pessoal e relacionam-se
àquele nosso aspecto que chamamos de intuição. Esse é um nível de consciência que está
adiante da mente, ou se encontra bem no fundo de nós mesmos, e nos proporciona
introvisões que vão além de nosso conhecimento. Muitas pessoas tiveram uma experiência
repentina de unidade com a natureza - ou com o componente espiritual do mundo - tão
intensa que por um momento ela dissolveu todas as barreiras que nos separam uns dos
outros. Essa experiência de unidade transcende tanto a mente como a emoção, inundando-
as de energias superiores, tão poderosas que o resultado pode ser uma perspectiva
inteiramente nova da vida.
Em outra situação, a "introvisão" - a capacidade de ver a totalidade de um
relacionamento ou a verdade de uma ideia - é também um aspecto do campo intuitivo, por
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ser ao mesmo tempo mais repentino e direto do que nosso pensamento usual de causa-e-
efeito. É isso que nos permite enxergar novas verdades em velhas situações, encontrar
soluções criativas para problemas intratáveis e dar saltos bruscos e importantes de
compreensão.
A experiência do tempo
Existe um outro ponto a observar nos campos sutis, o qual parece indicar serem eles
realmente dimensões do espaço. A experiência do tempo é diferente nessas dimensões
superiores. Não entendo como ou por que deve ser assim, exceto por nossa compreensão
de que o tempo tem uma correspondência com o movimento. Como a dinâmica dos
campos mais sutis é diferente daquela do mundo físico, valores de tempo nesses níveis são
muito mais flexíveis. O passado e o presente como os conhecemos perdem muito de sua
separatividade e tornam-se parte de um continuum de tempo. Ambos são representados,
até certo ponto, no aqui e agora dos campos emocional e mental. Por esse motivo é
possível descobrir traços do passado distante na aura de uma pessoa e predizer tendências
que podem vir a desenvolver-se no futuro. A forma como este fator tempo torna-se parte
da psique humana individual será abordada na descrição de auras de bebês e crianças.
Ainda que não tenhamos consciência dos diferentes estados de consciência e energia
dentro de nós, fazemos uso deles com a mesma facilidade com que respiramos, pois são
parte do mundo natural. Contudo, o que torna possível recorrer a todas essas energias sem
ter consciência delas? Qual é o princípio de integração que coordena e unifica todas as
dimensões físicas, vitais, emocionais e mentais dentro de nós?
O ser intemporal
Creio que esse fator de integração é aquilo que chamamos de "ser intemporal" -
princípio de ser que promove a continuidade durante a vida e persiste após a morte. Esse
conceito está presente, sobretudo, no Hinduísmo (relacionado com a reencarnação),
embora seja semelhante à alma descrita no Cristianismo. Qualquer que seja sua definição,
na minha opinião esse ser é um reflexo do aspecto último do ser, cujas raízes mergulham
em uma realidade espiritual intemporal que transcende e abrange todas as dimensões da
consciência.
Como mostram as imagens da aura, especialmente as de crianças, todos nascem com
um elo com essa realidade espiritual, seja ou não esse elo conscientemente percebido ao
longo da vida. O ser (que não deve ser confundido com o ego ou egotismo) é o fio que não
apenas nos interliga com a realidade, mas também confere a forma, significado e valor
definitivos a nossa experiência. É o poder do ser intemporal dentro de nós que torna
possível aos homens superarem os maiores obstáculos. Até mesmo pessoas gravemente
incapacitadas podem recorrer a essa força interior. Assim fazendo, elas podem desenvolver
sua própria criatividade e percebem ser possível dar uma contribuição - talvez não
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fisicamente, mas no nível das relações humanas.
Tenho uma amiga muito querida cujo caso ilustra muito bem essa questão. Quando
criança, ela contraiu poliomielite e tornou-se inválida como sequela. Ela está presa a uma
cadeira de rodas, perdeu o uso do braço esquerdo e é neurologicamente debilitada sob
diversos aspectos. Não obstante tudo isso, ela nunca perdeu a confiança de que poderia
atuar no mundo.
Embora sua saúde sempre tenha sido precária, sua coragem e potencial criativo
permitiram-lhe superar muitos dos obstáculos a uma vida plena. Ela conseguiu estudar
pintura e desenvolver seus dons artísticos, a ponto de ganhar a vida assim, ao menos
parcialmente. A despeito das dores constantes, ela nunca se queixa e está sempre
interessada nas vidas de outras pessoas. Como consequência, tem dezenas de amigos. A
percepção de sua capacidade de dar uma contribuição às outras pessoas, não obstante
todas as dificuldades, tem sustentado seu espírito ao longo da existência.
Esta história ilustra um ponto que deverei enfatizar de diferentes maneiras ao longo
deste livro. Com determinação e a autoconfiança que esta inspira, podemos congregar o
potencial praticamente ilimitado das energias superiores que habitam em nosso interior,
conferindo-nos a habilidade de atingir objetivos que poderiam afigurar-se muito além da
nossa capacidade.
Os efeitos do karma
Por último, existe a questão da idiossincrasia pessoal. Todos nascemos com um padrão
emocional básico, ou com a possibilidade de desenvolver determinadas qualidades
emocionais, como tentarei mostrar na discussão de auras infantis. Nesse sentido, é
impossível ignorar a questão do karma (efeitos de ações passadas), o qual estabelece as
condições limítrofes da vida humana. Essas condições não são modeladas concretamente,
porquanto o karma pode realizar-se de inúmeras formas e em níveis muito diferentes. No
entanto, ele estabelece certas predisposições, com as quais a pessoa terá de lidar durante a
vida, e essas predisposições são claramente representadas no nível das emoções.
Hoje, já nos habituamos à ideia de que nascemos com determinados padrões genéticos
que determinam nossa estrutura física e também governam nossos processos mentais e
respostas emocionais. Isto é verídico até certo ponto, mas nosso conhecimento dos genes
ainda não inclui as formas pelas quais as características mentais e emocionais são
formadas, ou como irão desenvolver-se. A medicina vem encontrando formas de modificar
padrões genéticos e, talvez, eliminar deficiências hereditárias, mas será que tais mudanças
tornam as pessoas mais humanas, bondosas, compassivas? Nós, em grande maioria,
aceitamos o fato de que a doença afeta nossos estados mentais e emocionais, mas não que
o inverso seja também verdadeiro.
Os seres humanos têm dentro de si profundidades maiores do que se poderia supor.
Como já observei no começo deste capítulo, as dimensões sutis da consciência, sob muitos
aspectos, são mais poderosas do que nossos atributos físicos.
Todos temos acesso a esses recursos internos. Eles não estão reservados a uns poucos
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privilegiados ou especialmente dotados, pois são parte de nossa herança humana. Mesmo
quando permanecem uma fonte intocada, esses recursos estão presentes, sempre
disponíveis, se tivermos força de vontade e motivação para utilizá-los.
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3. O Campo Emocional
Considerando-se o self dessa maneira, é possível pensar que este transcende o corpo
físico e é mais permanente do que nossos estados emocional e mental, os quais, como
todos sabemos, alteram-se de tempos em tempos. Este conceito do self, ou
individualidade, como princípio integrador, tem sido utilizado por alguns cientistas para
identificar o ponto de partida em todo processo de aprendizado - isto é, onde e não
quando tem início a aprendizagem. Erich Jantsch sugere, inclusive, que a auto-organização
é uma propriedade do próprio universo, e que a "Evolução, ao menos na esfera dos vivos, é
essencialmente um processo de aprendizado".(3) Poderíamos indagar quem ou o que
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aprende - no sentido de absorver e então aplicar os frutos da experiência? Certamente não
posso aceitar que se trata apenas de uma função mecânica do cérebro, pois, a meu ver,
todas as montanhas, rios, árvores, plantas e animais possuem um grau de consciência e de
personalidade, ou "individualidade". Por esse motivo sentimos afinidade com
determinados locais - estes possuem um caráter único, que nos atrai para eles.
Nosso sentido de tempo usual e linear, tão importante na vida diária, não domina esse
processo de aprendizagem. Por um lado, a assimilação da experiência é contínua - jamais
estaciona - e, por outro, o aprendizado é uma experiência profunda, relacionada com a
natureza do self. Memórias, associações, "introvisões", ideais, aspirações, ideias criativas,
amor altruísta - tudo isso persiste muito depois do fato, destilando gradualmente sua
essência nas profundezas de nossa consciência. Assim; tornam-se um elemento
inerradicável de nossa natureza, contribuindo para nosso crescimento e evolução pessoais.
O mundo astral
Dinamismo
Relações interpessoais.
Ressonância
Por esse motivo as pessoas se sentem revigoradas quando saem da cidade - por mais
estimulante que esta possa ser - em busca da paz do campo. A natureza exerce vigorosa
influência sobre nós por ser plena de energias capazes de afetar-nos diretamente. Neste
período da História, quando as pressões da vida a cada dia são mais exacerbadas, e as
pessoas se sentem amontoadas sobre as outras e comprimidas, maior é a necessidade de
conseguir alguma tranquilidade íntima. A natureza proporciona uma sensação de harmonia
e paz, porquanto, embora possa estar sujeita à turbulência de ventos e tempestades, é
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totalmente desprovida de conflitos emocionais.
Na natureza, os elementos espirituais que sustentam a vida estão sempre presentes.
Assim, o contato com a terra, as montanhas ou o mar pode aumentar nossa capacidade de
enfrentar as tempestades pessoais - e até mesmo a hostilidade e violência das outras
pessoas - com força e equilíbrio. Quando conseguimos fazer isso, recusamo-nos a sucumbir
aos sentimentos negativos, mesmo quando estes são projetados sobre nós. E mais:
estamos, assim, dando uma contribuição para a paz mundial, pois influenciamos e
modificamos o campo emocional como um todo, em vez de simplesmente reagir a ele.
Nos dias atuais, mais e mais pessoas estão se tomando ativistas ecológicos, na tentativa
de ajudar a curar as feridas que a ignorância e a cobiça humanas têm infligido à nossa
Terra. Essas atitudes podem ter um efeito fundamental na reversão da exploração sofrida
pela natureza em nossas mãos. Como próximo passo no processo de reabilitação, os seres
humanos precisam perceber que suas atitudes, pensamentos e sentimentos podem
harmonizar o nível de tensão e violência do mundo. Podemos influenciar a atmosfera
emocional que compartilhamos de forma positiva, contribuindo, assim, para o bem-estar
de todos.
49
4. A Anatomia da Aura
Muito tem sido escrito a respeito da aura e do mundo astral em geral. Embora possa
ser útil para o leitor entrar em contato com essa literatura, quero ressaltar que as
descrições e informações oferecidas neste livro resultam da minha própria experiência e
pesquisa, e não foram retiradas de outras fontes. Portanto, poderão discordar, sob certos
aspectos, de outros relatos. Não é que os outros escritos estejam, necessariamente,
incorretos (nem tampouco os meus), mas, em toda observação, muito do que se vê
depende do interesse e da habilidade do observador.
Não existe instrumento de observação perfeito - nem mesmo em termos físicos - e,
quando se trata de analisar algo tão fluido e indefinível como as emoções, é óbvio que
determinadas características se sobressaiam, de acordo com o grau de atenção que lhes é
dado. Eu mesma sempre me interessei pelo relacionamento entre os estados emocional e
mental, bem como pelo bem-estar do indivíduo; por conseguinte, relaciono aquilo que vejo
com esta questão geral.
A aura emocional costuma ser chamada de "corpo astral". Não gosto particularmente
dessa expressão, conquanto exista uma certa justificativa para usá-la. Em primeiro lugar, a
aura tem um nível de materialidade e localiza-se em torno de uma pessoa. Portanto, é uma
espécie de "corpo". É "nossa", pois, durante a existência, nunca estamos sem aura.
Contudo, sua estrutura, cores e conteúdo podem mudar muito rapidamente, de tal forma
que, de um ano para o outro, nossas auras podem estar completamente diferentes. E,
finalmente, ela é brilhante, ou estrelada - portanto, "astral".
Dimensões
Textura e padrões
Todavia, certas emoções sem dúvida são mais "densas" do que outras. Com isso quero
dizer que suas cores parecem mais grosseiras e obscurecidas. As energias astrais
intimamente relacionadas com o corpo físico - isto é, as emoções ligadas à experiência do
sentido, tais como anseios e apetites de vários tipos - são "mais pesadas": apresentam
granulação maior em sua textura e velocidade vibratória mais lenta. Seja por este motivo
ou não, são encontradas nas partes mais inferiores da aura. Essas energias são instáveis e
sujeitas a rápida mudança; afetam estados físicos, tais como a pressão sanguínea, que pode
variar em curtos espaços de tempo. Emoções negativas - como o ressentimento, o egoísmo
e a cobiça - tendem igualmente a buscar o fundo da aura, conquanto possam ser refletidas
mais acima.
Já disse que uma das características mais extraordinárias da aura é o seu dinamismo, o
que a faz passar por rápidas mudanças, de acordo com os estados de ânimo da pessoa. No
entanto, a aura possui uma estrutura durável. Assim como todos os seres humanos têm
certos atributos físicos em comum, por maior que sejam suas diferenças, da mesma
maneira nossas auras possuem grandes variações entre si, e determinados elementos
podem ser obscurecidos devido à má condição física.
A pessoa realmente equilibrada é uma raridade, e a maioria de nós passa por períodos
de raiva, ansiedade, frustração, tristeza ou depressão de tempos em tempos. Contudo,
exceto se a condição for patológica, esses estados emocionais, via de regra, são
temporários e deixam a aura. Num determinado momento, são muito mais reais para nós,
mas não modificam nosso caráter fundamental, a não ser que tornem a ocorrer repetidas
vezes.
Nossos padrões estáveis são mais importantes, porquanto, estejamos conscientes ou
52
não, alguns sentimentos nos são habituais, repetindo-se muitas vezes quase que
diariamente. A repetição regular dessas emoções faz com que deslizemos fácil e
inconscientemente para eles; assim, tornam-se padrões de hábito perceptíveis na aura
como alicerces dos sentimentos mais efêmeros, que mudam constantemente ao longo do
dia. São esses padrões que dão uma ideia dos traços de personalidade básicos que uma
pessoa desenvolve no decorrer da vida.
Cores da aura
Tenho observado que todos chegam ao mundo com algumas cores básicas. Ao longo
dos anos, aprendi que essas cores indicam as características fundamentais da
personalidade, incipientes naquele indivíduo por ocasião do nascimento, conquanto
possam ou não desenvolver-se no decorrer da vida. Como nenhuma existência é
predeterminada, os acontecimentos irão alterar esse desenvolvimento - as circunstâncias
podem ser tão difíceis que a pessoa tem dificuldade em realizar alguns de seus potenciais.
Trata-se do karma. Mas as cores básicas da aura me dizem como as pessoas tendem a lidar
com o seu ambiente emocional, e o modo como este irá afetá-las.
As cores são parte da anatomia da aura, bem como indicação de temperamento e
caráter. O campo é mais brilhante e luminoso para onde nossa atenção e interesse estão
direcionados; as outras partes são menos vívidas. Quando as cores se estendem até as
extremidades da aura, isso indica que essas emoções estão sendo usadas livremente.
Quando permanecem junto ao corpo, cercadas por outras cores (como na ilustração 17), as
emoções que representam estão inibidas e são ineficazes na vida diária. Isto pode resultar
de uma condição neurótica, mas pode indicar, também, que a atividade representada por
esta cor se restringe em grande parte ao passado, e essa energia não está sendo muito
usada no momento presente. As cores das auras das crianças tampouco alcançam as
bordas, mas, neste caso, as emoções ainda não estão sendo plenamente utilizadas,
conquanto seja possível ver que estão surgindo.
Em outras palavras, quando as emoções são saudáveis, vigorosas e ativas nas relações
interpessoais, elas se estendem até os próprios limites da aura e liberam sua energia
livremente.
Em razão do princípio de ressonância do qual falei, as cores da aura não apenas
representam estados emocionais, mas também refletem características das dimensões
superiores da consciência. Por exemplo, uma aura com muito amarelo indica não apenas
uma boa capacidade de pensar; mas pode agir, também, como um funil que canaliza as
energias do nível mental para o emocional.
Portanto, algumas das cores da aura personificam as qualidades dos estados superiores
de consciência, e, quando estes manifestam-se livremente, podem fortalecer as aptidões
básicas de uma pessoa. Isso indica um estado de equilíbrio ou integração entre as emoções
e os níveis superiores de consciência - não apenas com a mente, mas também com os
níveis intuitivo e espiritual.
A aura estrutura-se, aproximadamente, em dois hemisférios, um superior e outro
53
inferior. A parte superior personifica aquilo que citei como as qualidades inatas ou caráter
de uma pessoa: seus potenciais, que podem ou não ser plenamente realizados durante a
vida. De certa forma, estas cores representam aquilo que uma pessoa é em essência, ou
que pode vir a ser. Em contrapartida, a parte inferior da aura personifica o campo de
experiência e ação, o qual é afetado pelas emoções habitualmente expressas ao longo da
existência diária.
A faixa verde
As duas partes da aura são interligadas por uma faixa verde, que se estende em torno
do centro do corpo físico. Descobri que essa faixa é um traço comum a todos os adultos
normais, (Ela começa a aparecer nas crianças em épocas diferentes, dependendo do nível
de envolvimento com a vida e a capacidade de fazerem coisas sozinhas - como pode ser
54
visto nas ilustrações de crianças.) A meu ver, esta é uma condição estrutural, embora deva
admitir que jamais encontrei alguma menção a isso em outras descrições da aura.
Essa faixa verde, às vezes, é estreita e, outras vezes, larga, variando em cor e
intensidade. Indica a habilidade de colocarmos nossas ideias, sentimentos e interesses em
ação, ou, em outras palavras, de realizarmos nossas potencialidades. Sua extensão e cor
denotam a capacidade, num determinado momento, de nos expressarmos no mundo, seja
através de atividades intelectuais, artísticas ou físicas.
Todos realizam algum tipo de trabalho ou, pelo menos, estão envolvidos em alguma
atividade. O tamanho, a tonalidade e a intensidade da cor na faixa refletem tanto o nível de
habilidade como o de interesse e envolvimento da pessoa em seu trabalho. A extensão e o
brilho da faixa indicam a capacidade efetiva de realização de uma pessoa, enquanto o tom
da cor relaciona-se com o tipo de trabalho em que está envolvida: amarelo-esverdeado,
para atividade intelectual; azul-esverdeado, para criação artística; verde-escuro, para
trabalhos físicos, e assim por diante.
Por exemplo, um bombeiro e um músico trabalham com as mãos; por conseguinte,
ambos deveriam ter uma ampla faixa verde. Mas a diferença no tipo de trabalho que fazem
se refletiria na diversidade de tons de verde das duas faixas. Para um pianista, a música não
é apenas uma experiência estética ou uma realização intelectual; ela também representa
muito treinamento, disciplina e trabalho árduo. Tudo isso aparecerá no tom e na largura da
faixa verde.
Em muitas imagens você verá diversos símbolos e formas geométricas nas faixas
verdes, e até mesmo rostos. Conquanto esta área da aura represente o próprio trabalho no
mundo, ou a esfera de atividade, esses símbolos não refletem, necessariamente, o que
uma pessoa está pensando no dia-a-dia. Ao que parece, significam algo mais fundamental e
duradouro em nossas vidas e atos - as atitudes básicas e os interesses de longo prazo. Às
vezes, significam um evento ou episódio extremamente importante ou de grande
influência. Outras vezes personificam, de forma simbólica, aquele conteúdo de nossas
mentes inconscientes que permanecem no fundo do pensamento e influenciam nossos
atos. Em geral, aí permanecem durante longo tempo, modificando-se gradualmente e
evoluindo apenas quando alteramos nossos interesses e atitudes fundamentais.
O "equador" na aura, como poderia ser chamada a faixa verde, parece ao mesmo
tempo unir e diferenciar as qualidades da parte mais arraigada e duradoura da aura (o
cume) da parte envolvida nos processos contínuos da vida e a passagem do tempo (a
base). De maneira geral, o hemisfério superior é muito menos volátil do que o inferior, mas
ele pode realizar e de fato realiza a mudança durante uma existência. Quando são
desenvolvidos os potenciais, as cores tornam-se mais intensas e brilhantes; quando não
realizados, elas enfraquecem e tornam-se sombrias. Se alguém modifica por completo a
própria orientação e renuncia à sua religião, por exemplo, as cores relacionadas com a
devoção religiosa desaparecem, e outras cores começam a substituí-las.
55
Já disse que o hemisfério inferior reflete aquelas qualidades e emoções ativas em nós
num determinado momento. Mas ele também retém os resultados de nossas primeiras
experiências, isto é, de acontecimentos passados de nossa vida na medida em que estes
continuam a influenciar-nos, consciente ou inconscientemente. As cores presentes na
porção média desta área (isto é, da cintura até os joelhos) representam os sentimentos
que normalmente usamos, mas na profundidade da aura, estendendo-se bem abaixo dos
pés, encontram-se os resíduos de nossa experiência passada.
Recordações de fatos traumáticos e experiências dolorosas, de medos duradouros, de
ansiedades e tristezas - tudo isso, às vezes, permanece na base da aura, durante muitos
anos, e influencia o nosso comportamento de formas sutis. Se deixamos de pensar nele, o
passado em si está acabado - só que os sentimentos ligados a nossas lembranças persistem
até o presente. Quando as circunstâncias, interesses e atividades mudam, o passado perde
a sua influência sobre nós, e, então, os traços dessas lembranças começam a desaparecer
de nossas auras.
Padrões emocionais
Violência
Nos dias de hoje são cada vez mais evidentes os efeitos nocivos de assistir a cenas de
violência em filmes e na televisão. Ainda assim, não avaliamos por completo a extensão
dessa influência funesta. As crianças são particularmente suscetíveis. Quando
testemunhamos frequentemente essas cenas, cria-se em nós uma aceitação tácita e uma
tolerância à violência. Isto, por sua vez, nos torna mais propensos a ceder a tendências
violentas que podem existir latentes em nós (e poucos estão totalmente livres de tais
tendências). Então, quando somos expostos a situações caóticas, não temos tanta
capacidade de resistir e nos deixamos dominar por elas.
Por esse motivo, a prática da visualização e meditação traz benefícios duradouros.
Quando estabelecemos um processo em nós que gera regularmente sentimentos de paz,
amor e harmonia, tais sentimentos se nos tornam habituais, e acabam por comandar
nossas reações ao mundo e às pessoas que nos cercam. Discutirei este processo com
detalhes em capítulos subsequentes.
Repetindo, a parte inferior da aura expressa o campo de nossa experiência - nossa vida
emocional como é vivida no dia-a-dia; por conseguinte, retrata nossos sentimentos nesse
período de tempo. Este fato deve ser lembrado nas análises de retratos da aura, pois, em
alguns casos, o que se vê é, em parte, resultado de condições temporárias.
As emoções exercem poderoso efeito sobre nós, mesmo quando não temos
consciência disso. As pessoas costumam pensar que estão completamente calmas,
enquanto, na realidade, encontram-se em estado de perturbação contida. Sabemos que
vivemos em um mundo físico que, a cada momento, exerce sobre nós seu impacto,
bombardeando-nos com visões, cheiros e sons, sem falar nas inúmeras forças invisíveis na
atmosfera. Da mesma maneira, no nível astral estamos em constante interação não só com
o campo emocional como um todo, mas também com os campos pessoais dos indivíduos
com os quais mantemos contato.
Essa interação pode drenar nossa energia de muitas maneiras, perturbando-nos e
deixando-nos nervosos e exaustos, ou mesmo desequilibrando-nos, se não estivermos
estáveis. Contudo, assim como possuímos um sistema imunológico físico que ajuda o corpo
a resistir à invasão, também dispomos de um mecanismo de rejeição no nível emocional, o
qual se desfaz de todos os sentimentos indesejáveis ou negativos. Este mecanismo de
rejeição é um traço comum a todos nós; por conseguinte, pode ser considerado uma parte
orgânica da anatomia da aura.
Você poderá ver nas ilustrações inúmeros vórtices pequenos de forma cônica situados,
simetricamente, nas bordas das auras. Que eu saiba, esses vórtices nunca foram descritos
57
antes, mas percebo seu funcionamento na troca de energia entre o indivíduo e o campo
emocional como um todo. Ao longo dos anos, tenho citado amiúde esses órgãos, sem
encontrar um nome realmente satisfatório para os mesmos. O melhor que posso fazer é
identificá-los como válvulas que recolhem energia astral do campo geral para a aura e, em
seguida, expele-a. Em outras palavras, assemelham-se a órgãos da respiração que
"inspiram" e "expiram", ritmicamente, a energia emocional, controlando o processo de
absorção e rejeição.
No indivíduo saudável, essa troca constitui um processo automático que mantém a
energia emocional em circulação e reabastece-a quando ocorre uma baixa temporária,
devido à fadiga. Todavia, existe outra especialização no processo. O oceano da energia
emocional que nos envolve em todos os momentos contém inúmeros elementos
desarmoniosos, negativos e, até mesmo, violentos. Já falei anteriormente do princípio de
ressonância que governa em grande medida a interação entre os campos. No caso da aura.
ou campo emocional individual, estamos abertos àqueles aspectos do campo geral
concordes com nossa própria natureza emocional. Assim, uma pessoa naturalmente feliz e
alegre automaticamente rejeitará emoções negativas tais como depressão e ansiedade.
Esse princípio de rejeição é uma função das válvulas de energia astral, e impede que
sejamos inconscientemente dominados pelas emoções de outras pessoas, mesmo quando
estamos enfermos ou fatigados. As válvulas, na realidade, são um mecanismo de proteção
que funciona automaticamente na manutenção do nosso equilíbrio emocional. Contudo,
quando estamos enfraquecidos por alguma doença, as válvulas abrem-se mais do que o
normal, a fim de receber mais energia (como nas ilustrações 15 e 16), o que as faz perder
um nível de controle. Quando isso acontece, o processo de rejeição, de certa forma, fica
prejudicado e, como resultado, tornamo-nos mais vulneráveis aos sentimentos de outras
pessoas, e menos capazes de rejeitar as emoções negativas. Assim, a doença pode deixar-
nos emocionalmente sensíveis ou facilmente transtornáveis, além de menos resistentes à
invasão de sentimentos negativos, como a depressão e a ansiedade. Essas emoções, por
sua vez, alteram nossa capacidade de assimilar prana (vitalidade) e funcionar bem no nível
etérico. Esta é uma das razões pelas quais pessoas enfermas e hospitalizadas não devem
ser submetidas a pressões de muitas visitas.
Devo dizer que nas ilustrações o tamanho dessas válvulas foi exagerado para torná-las
mais visíveis, e na vida real elas são consideravelmente menores em comparação com a
aura.
Cicatrizes emocionais
A maioria de nós passa por inúmeras experiências difíceis ao longo da vida, mas, em
geral, refazemo-nos decorrido algum tempo, restando apenas uma diminuta lembrança do
ocorrido. Contudo, quando a experiência foi realmente traumática, ela pode deixar uma
impressão bastante prejudicial, a qual pode voltar a aflorar facilmente quando uma
situação similar a deflagra. Em tais casos, parece que nunca conseguimos escapar aos
efeitos da experiência, porquanto tudo conspira para fazer-nos lembrá-la. Assim, recaímos
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progressivamente em um padrão de repetição emocional.
É essa repetição que cria o que chamamos cicatrizes emocionais, vórtices de energia
mais densa presentes na aura - registro esse que perdura até mesmo quando não estamos
conscientemente pensando no conflito que os causou. A posição desses vórtices na aura
indica a influência da experiência no presente: quanto mais próximos da faixa verde
parecem estar, mais ativos são. Por exemplo, se tomamos uma decisão difícil, à qual se
opõem pessoas que estão tentando frustrar-nos, isto pode criar um conflito que não
desaparece, porquanto não houve resolução fundamental do problema. Portanto, ele irá
criar uma cicatriz na região logo abaixo da faixa verde.
Até mesmo experiências do passado recuado podem continuar a exercer considerável
influência, pois seus resultados estão presentes em nós muito mais do que possamos
perceber. Na medida em que nossas lembranças podem dar-nos dor ou prazer, elas ainda
estão ativas em nós. Ademais, raramente avaliamos como determinados sentimentos e
reações costumam aflorar repetidas vezes. Se estamos insatisfeitos com alguma coisa,
tendemos a repisar isso, o que perpetua nosso envolvimento com a experiência.
Fortalecidas pela emoção recorrente, essas lembranças costumam consolidar-se na forma
de símbolos ou cicatrizes que, via de regra, assemelham-se a espirais ou conchas, pois
tendem a fechar-se em si mesmas. Esses símbolos, em geral, parecem ser bastante firmes e
sólidos, pois são "alimentados" pela energia emocional gerada quando ficamos remoendo
uma experiência.
Configurações desse tipo são um registro, ao mesmo tempo, daquilo que sentimos no
passado e do que ainda estamos vivenciando no presente, e, em geral, representam uma
experiência que provocou as emoções mais fortes. Contudo, quando finalmente
resolvemos um dilema ou nos recuperamos de um choque emocional, não somos mais
compelidos a ruminar a questão. Libertamo-nos da lembrança.
Quando isso acontece, a cicatriz que representava o conflito começa a dissolver-se
lentamente, e a energia que ela continha aos poucos abandona a aura. Todavia, se
repetimos uma emoção como a ansiedade ou o medo, dia após dia, esse ato irá
manifestar-se não na forma de uma cicatriz, mas, sim, de um padrão inibitório na aura
pessoal. Esse problema é tão comum que será discutido mais amplamente no Capítulo 9.
É igualmente possível que se tenha tido uma experiência maravilhosa, muito tempo
atrás, cuja lembrança não é mais tão nítida; contudo, ela permanece como uma fragrância
prolongada. Conquanto essa recordação possa ser uma fonte de alegria e felicidade, ela
também seria representada como uma "cicatriz" simbólica, desta vez na parte superior da
aura. Em tal caso, ela pode ser valiosa e estimulante, sobretudo se o seu significado for
compreendido. (Um bom exemplo de tal símbolo pode ser visto no caso 12.)
Cicatrizes emocionais não necessariamente acarretam efeitos negativos duradouros.
Se, após tomar consciência do problema que durante tanto tempo nos afligiu, realmente
sentimos que agora compreendemos suas causas e finalmente o superamos, esta
experiência pode ser muito benéfica. Por esse motivo, todas as religiões valorizam o
perdão. Esse conselho, na realidade, constitui excelente terapia. Se podemos dizer: "Eu
aprendi uma coisa e, embora não possa amar aqueles que me magoaram, sou capaz de
perdoá-los e desejar-lhes o bem", então este é o primeiro passo para nos libertarmos do
59
cativeiro de uma lembrança dolorosa.
Os chakras
60
Uma discussão detalhada desses centros energéticos pode ser encontrada no meu livro
Os Chakras e os Campos de Energia Humanos, já citado anteriormente. Contudo, para
aqueles que não estão familiarizados com a função desses órgãos, darei uma visão geral,
iniciando com uma citação do livro supracitado:
"Os chakras são centros ou órgãos superfísicos através dos quais as energias dos
diferentes campos são sincronizadas e distribuídas ao corpo físico. Eles são mais ou menos
ativos no nível astral, no mental e (até certo ponto) nos níveis ainda mais elevados...
sendo, contudo, de fundamental importância no nível etérico, onde funcionam como
instrumentos para a concentração da energia no corpo" (pág. 35).
A principal fonte de informações a respeito desses centros energéticos encontra-se no
Tantrismo hinduísta e tibetano, no qual os fundamentos psicológicos da doutrina dos
chakras foram minuciosamente desenvolvidos. Infelizmente, os sistemas simbólicos nos
quais se baseiam essas explicações exigem considerável conhecimento de suas bases
filosóficas e religiosas; por conseguinte, a maioria dos ocidentais recorre a comentários ou
ao testemunho da observação clarividente. Existem muitos livros deste último tipo, sendo
o primeiro e mais conhecido Os Chakras, de C. W. Leadbeater.
Definidos da maneira mais simples possível, os chakras (ou "rodas") são órgãos de
consciência e energia dentro da aura pessoal. Os centros principais, como frequentemente
os chamamos, em geral são descritos como sendo em número de sete - localizados na
coroa da cabeça, entre as sobrancelhas, na garganta, no coração, no plexo solar, no baço
(ou região genital) e na base da coluna. Servem como mecanismos de ligação entre os
campos pessoais (etérico, emocional, mental etc.) - distribuindo a energia necessária para
diferentes funções - e, também, entre a aura pessoal e o campo emocional geral. Existe,
assim, uma relação multidimensional entre os chakras.
Não seria correto afirmar que toda emoção se reflete nos chakras, pois eles não são
facilmente influenciados. Se uma pessoa é bombardeada continuamente por sentimentos
intensos e desorganizadores, os chakras podem ser afetados até certo ponto; contudo, o
maior impacto recai sobre a própria aura. A força cumulativa das emoções e o tom
dominante da vida emocional de uma pessoa é que estão representados nos chakras.
No nível emocional, cada um desses centros tem suas próprias funções especiais,
conquanto seja, ao mesmo tempo, parte integral de todo o sistema de chakras naquele
nível. O mesmo acontece com os centros etéricos. Mas, como os dois sistemas são
integrados, as mudanças no campo emocional atingem o etérico, e dessa forma podem
influenciar a saúde física. As dimensões superiores da consciência são, ao mesmo tempo,
mais energéticas e estáveis do que as dos campos mais densos, tais como o etérico - o que
pode parecer uma contradição relativa mas, ainda assim, verdadeira. Portanto, embora se
possa afirmar que o fluxo de energia emocional alcança o corpo físico através das conexões
entre os sistemas de chakras etérico e emocional, é igualmente verdade que tanto o
comando quanto a fonte dessas energias residem em níveis mais profundos e estáveis.
As interações entre os vários chakras são, portanto, bastante complexas. Conquanto
cada chakra tenha suas próprias funções, relativas ao sistema como um todo, dentro desse
sistema determinados centros possuem conexões intrínsecas e especiais. Uma união como
essa envolve os chakras do solar, do coração e das sobrancelhas; outra interliga os chakras
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do coração, das sobrancelhas e da coroa. Quero dizer, além disso, que existem pequenos
centros subsidiários nas palmas das mãos e nas solas dos pés. Embora não façam parte do
sistema de chakras maior, são importantes para a saúde e a cura.
Quando somos tomados por emoções muito fortes, os chakras do coração e das
sobrancelhas reagem, mas os primeiros efeitos, em geral, são sentidos no plexo solar,
bastante sensível aos sentimentos de outras pessoas. É aí que a energia emocional
tumultuada pode atingir diretamente o corpo, sobretudo na região do trato digestivo. A
raiva e o ciúme, por exemplo, são explosivos e consomem muito mais energia do que
outras emoções; consequentemente, podem drenar rapidamente a energia do plexo solar,
deixando a pessoa fraca e exausta. Contudo, essas emoções, em geral, deixam a aura
muito rapidamente. A ansiedade e a depressão são mais lentas e insidiosas, mas podem
ser ainda mais debilitantes, porquanto minam a energia de todo o sistema dos chakras por
um período de tempo considerável. A tensão resultante atua nas glândulas supra-renais, e
com o tempo pode, inclusive, afetar o sistema imunológico do corpo.
Os chakras superiores
Kundalini
Integração pessoal
(4). Tanira of the Great Liberation, de Arthur Avalon, Dover Publications, N. Y., 1972, p.
1viii.
65
II – O Ciclo da Vida
5. O Desenvolvimento do Indivíduo
A aura é, ao mesmo tempo, uma representação do nosso caráter inato, uma indicação
dos nossos potenciais e um registro das nossas experiências. No caso de uma criança, os
dois primeiros aspectos estão presentes, mas as experiências residem todas no futuro; por
conseguinte, existem grandes diferenças entre a aura de um adulto e a de um bebê ou a de
uma criança pequena. Procurei deixar claro o fato de que, no nível das emoções, o caráter
básico de um indivíduo é continuamente submetido aos efeitos da experiência, e que a
dinâmica da vida diária a longo prazo produz potencialidades ou as suprime.
Como adultos, passamos por muitos tipos de experiências diferentes, algumas das
quais nos trazem sentimentos mistos de sucesso ou fracasso, felicidade ou sofrimento.
Como resultado, em geral somos ambivalentes em relação ao ocorrido, e essa ambivalência
cria incertezas e dissonâncias na aura. Poucas destas aparecem em crianças muito
pequenas, cujas auras, via de regra, são claras e descomplicadas. À medida que o bebê
cresce e se transforma em uma criança, os potenciais começam a se manifestar, as
experiências do mundo externo começam a exercer influência e a aura passa por vários
estágios de transformação. Como se poderia esperar, as auras de crianças pequenas
mudam muito rapidamente, no ritmo de seu desenvolvimento físico e mental.
Como você verá nas imagens apresentadas, o bebê chega ao mundo com determinadas
características inatas, que, em certo sentido, se encontram no interior da aura como brotos
bem fechados. Essas habilidades incipientes começam a se manifestar logo no começo da
vida, à proporção que a criança interage com outras e começa a explorar o mundo. O
talento musical, por exemplo, floresce muito cedo e, em escala menor, a rapidez de
aprendizado de uma criança bem como o seu afeto e a capacidade de relacionar-se com os
demais manifestam-se em tenra idade.
Essas predisposições e talentos básicos são potenciais disponíveis na criança, mas seu
desenvolvimento pleno no futuro depende de muitos fatores. Relacionamentos pessoais,
motivação e interesse, bem como condições kármicas, tais como oportunidade - tudo
representa seu papel.
Os skandhas
66
pessoas vêm ao mundo com determinados atributos, ou skandhas, como os chamam os
budistas: "condições da existência" que todos trazemos conosco por ocasião do
nascimento. Embora eles tenham uma conexão evidente com fatores genéticos, existe
também uma individualidade básica e única, por vezes estranhamente diferente do padrão
familiar, com inexplicáveis idiossincrasias. Sabemos que, durante a vida, o presente é criado
para um indivíduo por vivências passadas; a reencarnação simplesmente estende este
passado, incluindo uma herança maior de experiências assimiladas.
Conforme veremos na discussão sobre auras de crianças, os conceitos de reencarnação
e karma estão sempre ligados ao problema do determinismo. Existem, por exemplo,
crianças que nascem com uma constituição muito receptiva e sensível, o que as torna
vulneráveis às emoções das outras pessoas. Esta situação é difícil para a criança, e será um
teste para o seu caráter ao longo da vida. Os resultados não são determinados e não
podem ser previstos.
O conceito de skandhas, creio eu, é o que melhor consegue identificar a relação causal
entre o nosso passado como um todo e aquilo que somos agora. Poder-se-ia dizer que
todos nós somos "causados" por nossa herança - fisicamente, é claro, mas também mental
e emocionalmente. Contudo, segundo a reencarnação, essa herança não se limita a esta
vida breve, mas estende-se muito aquém, aos primórdios de nossa consciência. E alcança
igualmente o futuro mais distante, pois aquilo que somos hoje - incluindo as mudanças que
promovemos em nós mesmos - torna-se a semente daquilo que seremos. Esta é a essência
da evolução da consciência.
Indicadores kármicos
As auras de bebês e crianças atestam essa conexão causal com o passado; essa relação
é representada pelas formações peculiares e misteriosas, característica comum aos jovens,
mas que desaparece na vida adulta. (Ver ilustrações 1, 2, 3.) Esses traços têm relação com o
futuro do indivíduo, por isso os chamei de "indicadores kármicos", na falta de melhor
expressão. É muito difícil vê-los e descrevê-los, pois estão envolvidos com diferentes
aspectos da dimensão de tempo. Nossa experiência do tempo, sem dúvida, é
extremamente complexa. Visto ser o karma uma relação causal, ele está ligado ao fator
tempo: recua muito no passado e, especialmente no caso de crianças, em geral é liberado
posteriormente.
Em razão de tudo isso, os indicadores kármicos representam a essência daquilo que um
indivíduo irá vivenciar nesta encarnação, e mostram as sementes de problemas que serão
defrontados no futuro. Mas não revelam, necessariamente, as situações que irão deflagrar
esse problemas. Como já disse, sob muitos aspectos são os traços da aura humana mais
difíceis de examinar e interpretar, pois parecem ser multi dimensionais. Dizem respeito a
condições gerais da vida futura - problemas e dificuldades que poderiam assumir formas
diferentes e ser solucionados de modo diversos. Em outras palavras, não constituem
prescrições específicas para eventos posteriores. Assim, aquilo que se vê no interior desses
indicadores não é um conjunto de eventos predeterminados que uma pessoa terá
67
inevitavelmente de enfrentar (como um acidente aos 20 anos, por exemplo), mas, sim,
tipos de situações a serem encontradas durante a vida. Isto confirma minha afirmativa de
que o karma não é determinista.
Tais situações, via de regra, são involuntárias, mas têm de ser confrontadas; por
conseguinte, relacionam-se com o rumo a ser tomado por nosso futuro. A liberdade reside
na forma de enfrentar essas situações - sejam elas um desafio a nossa criatividade ou um
obstáculo intransponível ao nosso desenvolvimento. Não se pode prever como reagiremos
a tentativa de interpretar os indicadores nas auras de crianças, portanto vez por outra errei
nas questões específicas, mas não nas generalidades.
"Depósito da consciência"
68
Os skandhas
Potencialidades
Contemplando, portanto, a aura de uma criança pequena, tenho uma ideia geral de
quais serão suas potencialidades - sejam elas artísticas ou intelectuais, por exemplo -, mas
não posso dizer como irão desenvolver-se. Poderia equivocar-me quanto às formas de
essas potencialidades se manifestarem, pois elas se desenvolvem gradualmente e, às vezes,
nunca chegam a realizar-se plenamente nas atividades e experiências diárias da vida de
uma pessoa. Aqui o karma tem a sua importância, porquanto as circunstâncias em que nos
encontramos talvez não possibilitem o florescer de um talento ou de uma predisposição
com a qual nascemos.
A interação entre mente e emoção, a respeito da qual já falei, constitui uma troca de
energia sempre condicionada, de alguma maneira, por um padrão básico do indivíduo,
inerente desde o nascimento. Contudo, essa interação é influenciada pelo ambiente da
69
pessoa, como, por exemplo, uma infância na qual as emoções foram reprimidas. Existe
sempre em nós uma mistura das características com as quais nascemos e do
condicionamento que as reveste como resultado da nossa experiência. Praticamente nem é
preciso mencionar essa observação, pois ela é amplamente reconhecida como a interação
natureza-criação no desenvolvimento da personalidade.
Algumas pessoas são fortes o bastante para superar as deficiências com que nascem, e,
assim, talvez não sejam afetadas nem mesmo por um ambiente muito negativo. Por outro
lado, pessoas nascidas com intelecto brilhante podem ter muito medo das suas emoções,
condição resultante, provavelmente, de sua criação. Assim, quando se vê a presença vaga
do adulto na criança, não se pode dizer com exatidão como essa presença eventualmente
emergirá, ou quais serão suas características e comportamento exatos.
Vulnerabilidade emocional
Alguns bebês e crianças pequenas são vulneráveis às emoções de outras pessoas, pois
não podem ainda compreender suas causas. Se, por exemplo, as crianças são submetidas à
crítica constante por parte de seus pais, poderão facilmente interpretar isso como
desaprovação ou rejeição, quando na verdade tal atitude pode resultar do interesse e
desejo dos pais de que elas sejam bem-sucedidas. O efeito sobre o campo emocional de
uma criança, contudo, será o de contínuo estado de ansiedade, e, se este estado persistir
por muito tempo, poderá constituir um fator de muita inibição.
Descobri que muitos pais não percebem os efeitos de suas próprias emoções sobre os
filhos. Se um pai tem uma súbita explosão de raiva com um filho (a qual pode ser
inteiramente justificada), tal atitude deflagra uma forte interação momentânea, mas, em
geral, a raiva se dissipa rapidamente. Contudo, se o pai desaprova constantemente o filho,
isto poderá causar não apenas ressentimentos, mas, também, o que é mais importante,
poderá minar a autoconfiança da criança a ponto de afetá-la pelo resto da vida.
Por outro lado, uma relação amorosa entre pais e filhos é, ao mesmo tempo,
estabilizadora e energizadora, desenvolvendo lentamente a sensibilidade e a comunicação
mútuas, cujos benefícios duram por toda a vida, porquanto cria uma atmosfera de
confiança básica.
Gostaria de fazer mais uma observação geral a respeito das auras. Quando, nos
quadros subsequentes, vemos no topo da aura as faixas de luz relacionadas com inspiração
e percepção espiritual, elas são um reflexo do potencial do indivíduo, mas representam
também a ligação entre essa pessoa e o selfintemporal, ou com a dimensão espiritual da
consciência humana. Qualquer que seja o nome dado por nós, este aspecto do ser humano
é a ponte para uma realidade superior, da qual todos nos originamos - ponte esta que
existe sempre, não importa se a utilizamos ou não.
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1. A mãe e o feto em gestação
75
2. Um bebê de sete meses
78
3. Uma menina de quatro anos
A aura de uma criança de quatro anos é menos arredondada do que a de um bebê, mas
ainda não atingiu a forma oval da de um adulto. As configurações em forma de folha do
bebê desapareceram, e suas cores dissiparam-se na aura, formando faixas bastante
definidas de verde, rosa, azul e amarelo. Estas são as principais características desta
menina, as quais teriam sido representadas em círculos concêntricos no feto, e como folhas
coloridas no bebê.
Mesmo em tão tenra idade, as cores da sua aura eram brilhantes, indicação de que
seus sentimentos eram e sempre seriam intensos, e que suas reações emocionais, de um
momento para o outro, exercerão grande impacto nas decisões tomadas por ela. A menina
sempre terá necessidade de expressar seus sentimentos, e as relações pessoais serão
79
muito importantes para ela. Os dois indicadores kármicos na sua aura (bem abaixo dos
joelhos) confirmam que os seus problemas sempre serão relativos a pessoas com quem
tenha fortes ligações emocionais.
O rosa é a cor dominante na sua aura, mostrando ser ela uma criança amorosa, e que
sua natureza seria sempre carinhosa e afetuosa. O azul mais escuro acima do rosa indica a
força da vontade, no momento apenas um potencial; ainda não se poderia saber ao certo
se ela viria a usá-la com sabedoria ou não. Se usada erradamente, ela poderia tornar-se
teimosa e possessiva, pois a proximidade do azul e do rosa indica que seria generosa, mas,
ao mesmo tempo, apegada a seus afetos. Esta característica poderia perdurar ao longo de
sua vida.
A cor marrom na base da aura é causada pelo egoísmo normal em crianças, que nesta
idade se dedicam à autodescoberta e à auto-expressão. Logo acima, a faixa azul/verde
incipiente estende-se até pouco abaixo dos joelhos; à proporção que ela vai ficando mais
velha, a faixa ascenderá até a metade da aura. Sua tonalidade indica forte potencial
artístico, e o tom mais forte na base indica imaginação fértil, que caminhará junto com a
sua habilidade artística. A extensão do verde indica a capacidade de colocar seus
pensamentos e sentimentos em ação, traço este que aos quatro anos mal começava a
desenvolver-se.
O amarelo atravessando a parte superior da aura e circundando a cabeça indica a
possibilidade de uma lucidez que ela começava a utilizar. Talvez surpreendentemente, o
amarelo é mais proeminente numa criança desta idade do que pouco tempo depois, pois a
curiosidade começa a estimular o pensamento. Mas o amarelo é amorfo, difuso e sem
nitidez nem clareza, o que não se poderia esperar em uma criança tão jovem. As cores
opalescentes do arco-íris no topo da aura são típicas de todas as crianças jovens. Como já
mencionei a respeito da aura do bebê, o aparecimento de tais cores é causado por uma
ressonância com o passado espiritual da criança, ainda não obscurecido ou alterado pela
experiência de vida.
Esta garotinha era pequena demais para ter desenvolvido seus potenciais em grandes
proporções, e sua aura estava começando a assumir um tipo de padrão. As cores indicando
os potenciais por mim descritos ainda não estavam estruturadas na sua aura, mas
permeavam-na vagamente.
Um ano antes da aura desta criança ser pintada, seu pai morrera em um acidente.
Embora ela fosse muito pequena para entender plenamente o que havia acontecido, o
trauma está indicado pela inclinação das bordas de sua aura, incluindo a faixa verde, bem
como pelo fato de que as cores estão encapsuladas dentro de uma concha mortiça. Até o
momento, as suas emoções não dão sinais de ruptura desta barreira e de uma sociabilidade
normal. Esta condição não é rara na sua idade, mas provavelmente foi agravada pela perda
do pai.
As manchas azuis de ambos os lados da faixa rosa foram causadas por uma tensão
emocional definida. Não há sinais de inibição em seus afetos, mas as manchas azuis
indicam ter ela sofrido tensão nas relações familiares mesmo antes da perda do pai.
Normalmente, estas marcas deixariam a aura à medida que a tensão fosse diminuindo, mas
neste caso, ao que parece, elas estão desaparecendo mais lentamente. Tamanha tensão
80
em tão tenra idade indica que ela tinha pouco senso de segurança, conquanto seus afetos
fossem livremente expressos.
Tive a oportunidade de rever esta criança já como uma mulher adulta, com quatro
filhos e vários netos, e discutir com ela os problemas e acontecimentos de sua vida.
Na maturidade, esta mulher ainda possui o sentido da beleza - uma apreciação estética
-, embora não tenha realizado sua promessa artística como poderia ter feito. O sentido
inato para cores, proporção e forma, contudo, continua a influenciar suas respostas ao
meio ambiente. A fealdade causa-lhe aversão, e ela tem talento para criar um ambiente
agradável e harmonioso onde quer que viva, mesmo com recursos escassos.
Senti originalmente que ela teria uma profunda necessidade emocional de expressar
seus sentimentos e agora, 50 anos depois, essa característica deixou de ser latente e
expressa-se plenamente. Amar e ser amada é fundamental para ela. Por isso, e porque as
pessoas de sua intimidade nem sempre satisfizeram a sua necessidade, frequentemente
ela tem sido bloqueada em seus sentimentos. Isto acontece até mesmo nas suas relações
com os filhos. Sua natureza busca a expressão livre e espontânea de seus sentimentos, mas
muitos têm sido os obstáculos a esta expressão.
Por conseguinte, ela sofreu altos e baixos emocionais, mas, em meio a tudo isso, nunca
perdeu o ardor de seus sentimentos, nem o desejo intenso de interagir com outras
pessoas; esta é uma necessidade básica de sua natureza. Nem todos sentem isto - algumas
pessoas chegam a ter medo de relacionamentos íntimos -, mas para ela eles são
fundamentais. Em razão disso, ela costuma ser impulsiva nas suas decisões, permitindo
que seus sentimentos dominem seus atos, o que lhe trouxe algumas situações difíceis e
desditosas.
Neste momento de sua vida, finalmente ela começa a encontrar algum trabalho que a
interesse, e parte da energia sempre consumida em seus sentimentos pelas pessoas agora
está encontrando um escoadouro, fazendo algo de que gosta. Assim, ela não é tão
completamente dependente de seus relacionamentos pessoais. Contudo, jamais será feliz
em qualquer trabalho que não lhe dê a oportunidade de interagir com as pessoas,
porquanto, ainda que não sejam pessoais, tais contatos de certa forma satisfazem a sua
necessidade de envolver-se em nível humano.
Ademais, os filhos não são mais dependentes dela, e, por conseguinte, essa relação
tornou-se menos intensa. Ela ainda exibe os resultados de uma frustração básica,
vivenciada ao longo de anos, mas as suas emoções estão se tornando menos sujeitas a
oscilações de alto a baixo. Agora, defronta-se ela com uma difícil situação pessoal; mas,
como isso está sendo solucionado, parte da tensão emocional está recebendo alívio.
No momento, o amarelo na sua aura aumentou em amplitude e está com uma cor mais
intensa, porquanto, pela primeira vez na sua vida, ela está tentando pensar sobre as
questões até resolvê-las, em vez de agir impulsivamente. Percebo que ela começou a
considerar quais poderiam ser os resultados de seus atos, e tenta solucionar os problemas
passo a passo, em vez de seguir os ditames de seus sentimentos. Como resultado, sua
mente está se abrindo para novas ideias. A religião e a busca de suas raízes espirituais
sempre tiveram um papel na sua vida, mas são as pessoas, e não ideias abstratas, a sua
necessidade. Como vive mais intensamente em seus relacionamentos emocionais, ela iria
81
sentir-se privada sem alguém de quem fosse íntima; ela não é o tipo de mulher capaz de ter
prazer vivendo sozinha. Vive também muito no presente e não se apega ao passado. Isso
traz um efeito positivo, pois ela não é possessiva, embora ame muito seus filhos e netos.
Neste ponto de sua existência, ela começou verdadeiramente a modificar sua vida. A
depressão sofrida como resultado de relações malogradas não a abandonou por completo,
mas ela está aprendendo com estas experiências. As cores mais brilhantes começam a
iluminar a depressão, e suas sensibilidades superiores principiam a atuar na sua vida. Ela
está amadurecendo.
Como se depreende deste breve relato de sua vivência, a natureza emocional desta
mulher se estabeleceu desde cedo, e as tendências reveladas em sua aura quando criança
influenciaram-lhe profundamente a vida adulta.
82
4. Um menino de sete anos
83
tinha muito interesse nem habilidade para realizar coisas com as mãos, conquanto alguns
sinais indicassem que mais tarde, quando adulto, ele poderia desenvolver diversas aptidões
práticas.
Já se evidencia na aura a sua capacidade intelectual, antes como reflexo de um nível
mental mais profundo do que como habilidade realmente em uso. Essa capacidade em
potencial é mostrada não apenas pela quantidade de amarelo, mas, também, pela
tonalidade amarelada da faixa verde. A área amarelo-esverdeada do lado direito, abaixo da
faixa, reflete seu interesse pelas coisas, a utilização de sua mente nos trabalhos escolares, a
sensibilidade para o significado das palavras e, de maneira geral, a vontade de aprender e
conhecer por si mesmo.
Na base da aura, acima da habitual tonalidade verde-marrom do egoísmo, existe uma
espécie de reflexo dessa característica numa grande faixa amarelo-esverdeado que se
estende por toda a aura. Isto indica uma luta autoconsciente para dominar o mundo físico,
a qual se manifesta como auto-afirmação, forma de egotismo relativamente comum em
crianças.
O rosa, que se estende por toda a aura acima da faixa verde, mostra que ele tinha
muito afeto, mas ainda não era senhor de seus sentimentos, inconstantes e ainda em
expansão. Os pingos dentro do rosa indicam uma luta emocional e, às vezes, irritação, mas
desaparecerão rapidamente, pois, como na maioria das crianças, são apenas
momentâneos. Ele era sensível e poderia magoar-se com facilidade. As cores opalescentes
acima representam uma espécie de atitude idealista em relação às pessoas, o que, às
vezes, pode torná-lo insensato nas suas expectativas quanto à reação destas.
A justaposição de verde, azul-esverdeado e amarelo na aura deste menino mostra que
ele desenvolverá a apreciação estética, mas não segundo as linhas habituais, pois sua
mente inquiridora dominará seus sentimentos. Isto já se manifesta numa espécie de
meticulosidade pessoal. As sementes dessas aptidões intelectuais estão claramente
indicadas pela tonalidade e quantidade de amarelo na aura deste menino, bem como pelo
fato de a faixa verde possuir um tom amarelado. Mas, até o momento, as cores acima da
faixa ainda não estão sendo usadas; apenas prenunciam aquilo que ele poderá
desenvolver.
Como de hábito, o azul indica força de vontade ou autodeterminação; as faixas
semelhantes a asas, em azul, na parte superior da aura desta criança, indicam que este
poder estava começando a desenvolver-se, o que reflete a larga faixa azul na extremidade
inferior esquerda, resultante de seus esforços para começar a exercer algum controle sobre
o seu ambiente. E indica também uma tendência a exigir de si acima da sua capacidade, o
que poderia sugar sua energia e refletir-se na sua saúde.
Quanto a suas habilidades superiores, o roxo representa uma espiritualidade
dominadora, a qual, considerando-se as outras qualidades do menino, poderá transformar-
se em genuíno interesse pelo estudo e a prática de ideais espirituais. O tom de verde que
pode ser visto na parte superior da aura indica compaixão, juntamente com o tipo de
idealismo que vemos refletido no rosa. Neste caso, isso poderia transformar-se em
preocupação com problemas sociais, vivo interesse pelo bem-estar do ser humano e pela
reforma ambiental.
84
Os indicadores kármicos revelam que alguns problemas de sua vida serão provenientes
de suas interações com pessoas com as quais terá de lidar. Compreendo que uma
afirmação como esta pode parecer muito generalizada e quase banal, porquanto os
problemas da maioria dos seres humanos envolvem os relacionamentos pessoais. Como a
leitura desses indicadores é muito difícil, posso apenas repetir que eles apontam as áreas
primordiais nas quais o temperamento e características de um indivíduo - ou karma
pessoal- podem causar problemas. Neste caso, existe uma sensibilidade inata que pode
torná-lo vulnerável a mágoas. Existem também indicações de que seu idealismo é tanto
que pode tornar difícil para ele colocar suas ideias em prática da maneira mais satisfatória
para si. Seu profundo interesse por inúmeros assuntos diferentes será fonte de grande
alegria, mas poderá também distraí-lo vez por outra, impedindo-o de concentrar-se no
trabalho imediato a sua frente.
Cinquenta anos depois desta pintura ter sido feita, o sujeito é um homem que ainda
aprecia muito a linguagem, e desenvolveu grande habilidade na comunicação. Palavras
irrefletidas ou descuidadas o irritam, pois ele é muito sensível às nuanças de significado.
Nunca teve dificuldades no relacionamento com as pessoas. Quando criança, falava com
facilidade e não era tímido, e posteriormente sempre foi capaz de expressar suas ideias
com fluência e clareza.
Estende-se para trás uma série de anos de sucesso no ensino, e ele também trabalha
amplamente com computadores e programação de sistemas. Sua mente ativa e inquisitiva
continua a orientar seus interesses em muitos campos diferentes. Seu compromisso com
princípios espirituais, cujas indicações estavam presentes desde a infância, cresceu em
força e profundidade, de modo que ele procura viver conscientemente sua vida de forma
que sinta ser concorde com essas verdades.
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5. Uma adolescente
Maturidade
A fim de ilustrar as mudanças sofridas pela aura quando uma pessoa atinge a
maturidade, escolhi dois exemplos, um homem e uma mulher, ambos indivíduos
equilibrados, ativos e no apogeu da vida, na ocasião. Você perceberá imediatamente que
as auras de adultos, de maneira geral, são bastante complexas, porquanto, na idade adulta,
uma variedade de experiências passadas já deixou sua marca, influenciando a substância
da vida.
Ambos possuíam determinados talentos e interesses, e dedicavam-se às carreiras,
como é normal neste período da vida. Suas experiências eram muito diferentes; contudo,
tinham em comum uma característica que, provavelmente, os excluía daquilo que
poderíamos chamar de homem ou mulher comuns. Embora nenhum deles fosse religioso
no sentido estrito da palavra, de maneira diferentes eram ambos idealistas que aspiravam
a exercer princípios éticos nas suas vidas. Contudo, os resultados desses interesses se
manifestavam diferentemente na aura de cada um, pois suas vidas, personalidades e
karma eram completamente diferentes.
88
6. Uma artista na casa dos 30
Observamos, em primeiro lugar, ser esta aura plenamente desenvolvida, na qual estão
visíveis todas as características descritas no Capítulo 4. Como esta pessoa está ativamente
engajada no desenvolvimento de sua carreira, as potencialidades representadas na parte
superior da aura estão refletidas na inferior, a qual expressa o que ela estava fazendo e
sentindo na ocasião. Essa simetria indica uma pessoa equilibrada usando livremente as
suas habilidades.
Esta é uma aura de artista que exerce seu ofício e há alguns anos vive do exercício de
seu talento. Se eu não tivesse conhecimento de e fato tê-lo-ia percebido de imediato pela
89
amplitude, tonalidade e luminosidade de sua faixa verde - características estas que indicam
ser ela uma artista talentosa com um bom nível de coordenação entre olho e mão, ou
percepção e execução. Na verdade, essa artista ganhava a vida no campo das artes
aplicada, já há alguns anos, trabalhando com sucesso em diversos meios de comunicação:
ela pintava, mas também criava vitrais e era, inclusive, boa carpinteira. Assim, ela era, ao
mesmo tempo, prática e versátil. Tudo isso aparece na faixa verde e, na verdade, estende-
se mais para baixo na aura do que costuma acontecer.
A base da aura apresenta o tom marrom do egoísmo, ou egocentrismo, quase
instintivo em seres humanos, porquanto parece estar presente em todos, de uma forma ou
de outra. O egoísmo, quando aparece bem no fundo da aura, como neste caso, é antes
uma espécie de desejo inato ou latente de ser você mesmo, ou de ter as coisas que
possibilitem ser você mesmo, e não o desejo egoísta de ser o centro do seu mundo.
A parte inferior da aura contém o remanescente de nossa experiência de vida inicial; os
resíduos abaixo dos pés, na maioria das vezes, deixaram nossa consciência, mas podem
afetar-nos de forma inconsciente. Quando criança, esta mulher experimentou diferentes
maneiras de agir, como indica a grande área verde em torno dos pés. Quando o verde se
mistura ao marrom, como aqui, configura-se a confusão nascida do desejo de expressar-se
de algum modo, mas sem saber como fazê-lo. (Vimos algo semelhante na adolescente.) Os
vórtices na base resultam dos anseios infantis, pois ela tinha propensão a ruminar coisas
dentro de si. A cruz azul é causada por seus sonhos infantis, em geral assustadores, e
também por suas vagas aspirações de realizar e expressar a parte mais elevada de sua
natureza.
Os outros vórtices amarelos e verdes, um pouco mais elevados na sua aura, são
reflexos de experiências durante a adolescência e o começo da juventude. As cores indicam
ter ela sofrido alguma frustração e preocupação, ligadas àquilo que queria fazer de sua
vida. A forma espiralada vermelha deve ter sido causada por um episódio envolvendo seus
sentimentos, algo doloroso para ela e que a fez sentir-se aprisionada. A formação em gota
à esquerda resulta de uma aventura amorosa mais idealizada, antes agradável do que
dolorosa, um envolvimento talvez nem mesmo consciente. Quando configurações desse
tipo aparecem um pouco acima na aura, elas são mais recentes, pois, como já disse, a parte
inferior reflete o passado, bem como o crescimento e a atividade atual.
Na época em que o quadro foi pintado, essa jovem se dedicava a sua arte e a ganhar a
vida por meio desta. Mas, também, interessava-se por ideias metafísicas e pela relação
entre a arte e as formas ideais, tais como aquelas descritas por Platão. Assim, ela possuía
muita sensibilidade para a ordem e, também, estava desenvolvendo o que poderia ser
chamada uma mentalidade simbólica, a qual procurava expressar. O amarelo presente em
dois pontos no topo da aura indica essa busca intelectual, bem como a aspiração de
compreender algo acerca das leis da natureza.
As figuras no interior da faixa verde refletem seu interesse pela simetria dinâmica,
relativamente em voga naquele período. Ela tentava compreender os princípios
geométricos essenciais à forma e à estrutura, tanto na natureza como na arte. Essa
característica não seria permanente em sua aura, porquanto sua atenção e interesse
transferiram-se para outras coisas, fazendo desaparecer, gradualmente, a curiosidade
90
inicial. No momento, ela se dedicava inteiramente a relacionar a prática artística com o
trabalho, bem como a realizar em sua arte final os princípios da forma que considerava tão
interessantes.
O pingo de cor roxa logo abaixo da faixa verde dificilmente é encontrado nessa parte
da aura. Indica seus esforços para expressar sua faculdade intuitiva na vida física. O trecho
correspondente de amarelo no lado oposto representa esforço semelhante para direcionar
sua mente para a experiência física, mas a cor não é tão nítida quanto o roxo, mostrando
não ter sido ela tão bem-sucedida nesse esforço.
Outra configuração interessante nessa aura é o rosa chamejante dentro do amarelo, o
que denota sua aptidão mental. Ele é causado pelo respeito e admiração por alguém que
estimulou seus interesses intelectuais, particularmente no estudo das formas arquetípicas.
Isto, mais a justaposição de rosa e amarelo com o azul-violeta no lado oposto, mostra que
ela gostava de pensar, bem como o intenso desejo de utilizar sua mente intuitiva. O tom
claro, contudo, indica que, não obstante possuir uma capacidade inata, ela não a estava
exercitando muito na ocasião. As listras azul-esverdeadas, de um lado, e azuis, do outro,
relacionam-se com a sua percepção da beleza como elevado ideal, no sentido platônico, e
com os seus sentimentos de devoção a este ideal.
A despeito da presença constante de rosa na parte superior da aura, o que indica ter
ela uma natureza afetuosa, isto não se reflete muito abaixo da faixa verde. Ao que parece,
naquela época ela não tinha relações pessoais e próximas, excetuando-se o irmão e a mãe.
Resumindo minhas impressões, senti que esta pessoa sempre gozaria de boa saúde,
pois sua aura estava muito equilibrada e sua expressão no plano físico era bastante livre.
Posteriormente, esta jovem mulher mudou-se para a Costa Oeste, onde continuou a
ganhar a vida com diversas atividades artísticas. Mais tarde, ela precisou abandonar a
pintura, pois sua mãe adoeceu e tornou-se inteiramente dependente da filha. Assim, seu
karma pessoal a impediu de realizar todas as suas expectativas com relação à arte. Ela
aceitou essa situação com muita coragem, aproximando-se cada vez mais da mãe, de modo
que seu potencial para relacionamentos amorosos e ternos desenvolveu-se mais. Ela nunca
se casou, mas levou uma vida sossegada até os 80 anos, gozando de boa saúde e mantendo
seu equilíbrio e disposição tranquila.
91
7. Um homem na casa dos 40
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8. Velhice: Uma mulher na casa dos 90
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6. Uma Vida de Dedicação
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9. Um pianista/compositor
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10. Um pianista concertista
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A característica mais importante desta aura é a enorme quantidade de verde em tons
variados. A faixa verde é de novo extremamente ampla e alta, de um lindo tom verde-mar -
o mais suave e luminoso de todos os nossos casos. Dentro dela, encontram-se várias linhas
onduladas e inúmeros pontos amarelos, todos dispostos simetricamente. Essas formas
relacionam-se com a música, predominante na sua vida; o amarelo mostra a concentração
e o azul indica a força de vontade em seu desempenho.
Na base da aura, o tom cinza-azulado matizado não se estende muito para o alto,
mostrando que essas emoções remontavam ao passado distante e não o afetavam mais. O
cinza indica que, quando criança, seu ambiente de certa forma o intimidava e,
frequentemente, ele se sentia inquieto e receoso. O azul resulta do sentimento, naquela
época, de que ele tinha de concentrar suas energias e dedicar-se aos estudos. Tudo isso se
relaciona com um período de sua vida, por volta dos nove anos de idade, em que ele foi
afastado de casa a fim de estudar música.
Logo acima, à direita, existe uma área azul-esverdeada escura com quatro pequenas
plumas no interior, bem como inúmeros vórtices vermelhos e pequenos. As plumas
resultam do fato de que, ainda muito jovem, estava satisfeito consigo mesmo e sentia
estar-se saindo bem, enquanto os vórtices constituem vestígios de quase indignação
justificada que ele sentia mais ou menos na mesma época, e não havia esquecido por
completo.
Logo abaixo da faixa verde, pode-se ver à esquerda uma névoa de rosa-púrpura,
compensada à direita pelo verde, com algumas formas róseas no interior. Tudo isso se
relaciona com a música. O verde mostra a quantidade de trabalho que ele ainda dedicava à
música, enquanto o rosa e o púrpura refletem seus sentimentos sobre ela, de profundo
amor e, até mesmo, veneração. Este último sentimento se relacionava com a admiração
que ele sentia por seu professor quando jovem. Ele estudou com Liszt, personalidade
irresistível e artista consumado, o qual dominava profundamente a técnica, e a experiência
desta associação sempre permaneceu muito viva na sua memória.
Mais abaixo, no lado esquerdo, encontram-se três faixas azuis, dois vórtices cinzentos
de tamanho médio e inúmeros riscos avermelhados. Todos se relacionam com uma fase de
sua vida em que ele foi submetido a profunda tensão, período em que esteve bastante
deprimido e, ao mesmo tempo, muito zangado. Ele nasceu na Rússia e construiu toda a sua
carreira no próprio país, onde era muito conhecido; contudo, viu-se forçado a partir
durante a Revolução. Foi separado de alguns membros da família e angustiou-se com a
falta de notícias dos seus. Todos se reuniram em segurança nos Estados Unidos, mas essas
lembranças deixaram cicatrizes, e ele sempre ficava indignado quando lembrado das
mudanças realizadas na União Soviética.
Acima da faixa verde, no lado direito, oposto ao rosa do afeto, é a posição onde em
geral se vê o amarelo relacionado com a mente. Neste caso, contudo, essa cor está
substituída por um verde-claro com tons de amarelo - uma tonalidade clara, mas tornando-
se enevoada. Essa cor expressa os sentimentos de simpatia e empatia, sua resposta natural
a outras pessoas. Acima, o topo amarelo da aura está repleto de tons azul-esverdeados,
significando que suas maiores aptidões e sensibilidades se relacionavam com a arte e a
expressão desta.
105
Os traços mais interessantes dessa aura são as duas estrelas douradas e brilhantes
situadas no alto dessa região azul-esverdeada. A ausência de uma grande quantidade de
amarelo indica que ele nutria pouco interesse por ideias abstratas, e também que o
trabalho não lhe exigia o uso de sua mente concreta de maneira prática. Tudo isso foi
substituído nele por uma espécie de compreensão intuitiva (representada pelas estrelas
douradas), a qual lhe concedeu a capacidade de compreender ideias musicais e solucionar
problemas envolvendo a música quase sem pensar. Ele possuía a habilidade única de
traduzir suas percepções artísticas diretamente para a música; a intuição e as mãos
trabalhavam juntas e em harmonia, sem nenhuma necessidade da mediação da mente.
Este fenômeno foi único em minha experiência.
Esse homem é exemplo de uma existência de dedicação por excelência; para ele, a
música era sua vida, seu amor, o interesse permanente. Como indica a limpidez de sua
aura, a personalidade dele era simples e inocente, e ele tão direcionado que as cores são
poucas e bem integradas. Ele recebeu uma educação musical intensiva e muito rígida em
São Petersburgo, antes da Revolução, onde travou amizade com muitos dos famosos
compositores em atuação na Rússia daquele tempo. Ele mesmo teve uma carreira de
sucesso, tanto como pianista quanto como maestro, mas tudo acabou com a Revolução.
Depois de ir para os Estados Unidos; ele ainda deu alguns concertos, mas se dedicou,
sobretudo, às aulas e à edição de partituras para piano.
Curiosamente, a redução de suas apresentações públicas não o tornou amargo. Ele
ainda desfrutava sua música, não tinha necessidades financeiras e dispunha de todo o
apoio da família, na qual todos os adoravam. Suas filhas eram quase carinhosas demais,
chegando a competir por suas atenções e discutir por pequenas indulgências. Isto,
contudo, o afetava muito pouco, pois a família como um todo estava unida no esforço de
proporcionar-lhe a paz e o silêncio que a música exigia. Em contraste com o 9, seu
ambiente familiar era completamente protetor.
Esse homem era muito talentoso. Trabalhou a vida inteira a serviço da arte, e, como
resultado, sua personalidade aprimorou-se a ponto de tornar-se um instrumento adequado
para a expressão da sua percepção artística Como sua vida pessoal nunca interferiu na sua
dedicação à música, os fato espinhosos e as dificuldades do passado não conseguiram
destruir sua serenidade fundamental. Poder-se-ia dizer ser esta uma pessoa cujo karma lhe
permitiu realizar suas maiores aspirações.
106
11. Um ativista social/ecológico
Aqui, novamente, temos a aura de uma pessoa dedicada a um ideal abstrato, neste
caso o de justiça social. Devido ao temperamento desse homem, o ideal se traduziu em
uma causa, com a qual se comprometeu totalmente, a ponto de dispor-se a sacrificar toda
a sua carreira e, até mesmo, a segurança pessoal.
Em primeiro lugar, podemos ver, em razão da limpidez e profundidade das cores da
aura, que esse homem - então na casa dos 50 - tinha um caráter muito forte. De maneira
geral, esta é uma aura bem equilibrada. A maioria das cores ao alto estão mais brilhantes e
acentuadas por seu reflexo na região inferior, porquanto o uso ativo das próprias
107
habilidades aumentava a força e as energias deste homem. A faixa larga de dourado-
amarelo à direita mostra, por sua largura e brilho, não apenas a inteligência apurada, como
também a constante dedicação ao trabalho e à realização dos ideais.
Esta última característica é indicada pela proximidade da ampla listra verde, logo acima
do amarelo; a empatia e compassiva preocupação com os demais, representadas pelo
verde, toca e influencia o seu pensamento. O tom da grande faixa rosa do lado oposto, que
sempre indica afeto, reflete genuíno altruísmo - forte preocupação com as pessoas, com a
humanidade em geral. O reflexo desta cor na parte inferior da aura indica que, na vida
diária, ele era um homem generoso e um bom amigo. Mas, ao mesmo tempo, não era
muito expansivo nas afeições; as listras azuis que atravessam o rosa indicam que ele as
guardava para si e era, até mesmo, propenso a reprimi-las.
A cor roxa ou alfazema acima da cabeça sempre significa espiritualidade ou aspiração
espiritual - o que não se confunde com devoção religiosa -, representada por um tom de
azul diferente. No caso desse homem, ele não era religioso e tinha pouco ou nenhum
interesse por conceitos teológicos ou ontológicos. Ouvindo-o falar, poder-se-ia considerá-lo
um materialista convicto, pois ele se dedicava apaixonadamente a mudar o mundo por
meio da reforma social. Mas, na realidade, ele era um idealista cuja espiritualidade
intrínseca assumia a forma de compromisso com o bem da humanidade.
A faixa verde é ampla e indica o seu caráter prático. Ele não era apenas um teórico,
mas empregava as energias na descoberta de formas de colocar suas ideias em prática. Era
um excelente organizador, além de orador e escritor conciso e fluente. Tampouco temia
usar as mãos, e adorava construir casas, cortar madeira e trabalhar no jardim. Os símbolos
na faixa indicam grande preocupação com a economia global e a justiça social, mas
também interesse perene pelas questões ecológicas. Tais ideias eram fundamentais não
apenas no seu trabalho, mas também na sua visão ampla do mundo. Como já disse, as
formas no interior da faixa verde refletem as inquietações fundamentais de uma pessoa; as
desse homem se relacionavam com conceitos, daí a cor amarela. Tais formas simbólicas,
em geral, são bastante duradouras.
O agrupamento de árvores verde-escuras é um padrão bem mais raro na faixa verde.
Quando as vi, perguntei se as árvores simbolizavam paz e harmonia para ele. Então, ele me
disse que, durante muitos anos, antes de ir dormir à noite, visualizava determinado grupo
de árvores em um local que conhecia e amava, e isto parecia situar seu trabalho diário
numa perspectiva mais ampla, proporcionando-lhe uma sensação de paz na natureza -
sentimento que permanece, não obstante turbulências e conflitos. Mais tarde, quando
voltou suas energias em direção aos problemas ecológicos, estou certa de que esse
símbolo se tornou fonte de inspiração ainda maior para ele.
Uma das características nítidas desta aura é a grande presença de azul acima e abaixo
da faixa verde. Isto indica uma vontade altamente desenvolvida, a qual ele exercitava
livremente na sua vida diária, sobretudo em si mesmo; costumava ser muito duro consigo.
As plumas salpicadas de vermelho, presentes no azul logo abaixo da faixa, indicam que seu
ardor reformista era, em grande medida, abastecido pela raiva; ele assumia uma atitude
belicosa, pois esperava que as pessoas lhe fizessem oposição. Ele não se limitava apenas a
falar de mudança social, mas entrava na arena e lutava por ela.
108
Ele possuía grande dose de autocontrole, mas as pressões a que era submetido
produziam considerável tensão, o que indicam as faixas azuis envolvendo a parte inferior
da aura. Vale lembrar que tais faixas não se encontram apenas nas extremidades da aura,
mas a encerram, cobrindo-a, porém sem obscurecer as outras cores. (A aura número 9
apresenta uma concha similar.) Estas faixas sempre indicam tensão nervosa e emocional, e,
quando se elevam mais na aura, podem indicar grave distúrbio e levar, até mesmo, a
deficiências físicas, como no 17, pois bloqueiam o livre fluxo de energia emocional. Nesse
caso, contudo, senti que o problema era passageiro, pois esse homem era extremamente
forte e robusto, possuidor de grande resistência física.
Essa tensão se relaciona com a base da aura, onde as cores escuras indicam que, na
infância, provavelmente ele viveu em ambiente um tanto repressor, e, também, era uma
pessoa obstinada e rebelde. Aqui, como de hábito, encontra-se um resíduo do passado, de
emoções grandemente superadas, mas, ainda, algo presentes na mente inconsciente. No
caso desse homem, isso indica que, na infância, ele era afetuoso, mas tímido e retraído,
além de bastante reservado em si mesmo. A cor marrom com tons verdes mostra o
habitual egoísmo e, também, a determinação de construir o próprio caminho. A cor verde
se relaciona com a grande quantidade de trabalho manual na infância. Os vórtices rosa e
azul, à esquerda, são um sinal de suas muitas dificuldades de relacionamento com a família.
Como tais vórtices se elevam bastante na aura, essas dificuldades devem ter perdurado até
o começo da vida adulta; do lado oposto, os pontos azuis também representam arroubos
de impetuosidade. Todas essas formações eram temporárias e acabariam por desaparecer.
A pluma laranja do lado esquerdo constitui outro traço interessante desta aura,
próximo do corpo e abaixo dos joelhos. O número 7 apresenta formação semelhante, e
também o 13. Esta posição, mais próxima do corpo ou mais externa na aura, indica o nível
de atividade. Como já mencionei no caso anterior, em geral tais formações são criadas pela
forte convicção de que se está certo e pela determinação de defender essa posição, não
importando quais sejam as consequências. Portanto, de certa forma, essa pluma
representa orgulho intelectual. Nesse homem, o orgulho era tão forte que, às vezes, ele
desdenhava aqueles que discordavam de suas opiniões. Existe sempre o perigo de pessoas
com fortes convicções desenvolverem uma forma de farisaísmo e intolerância com aqueles
que se opõem a elas. Entretanto, como já mencionei no Capítulo 1, quando esse homem
viu o desenho da pluma, percebeu seu significado e decidiu-se a mudá-lo. Tamanha era sua
força de vontade que, provavelmente, conseguiu seu intento.
Frequentemente, perguntam-me se tal orgulho intelectual se origina do egotismo. A
convicção de que se está certo exige autoconfiança, e amiúde existe um certo grau de
egotismo envolvido. Mas é possível ter um ego forte e, no entanto, ser altruísta. Esse
homem estava convencido de que sabia como alcançar a meta da justiça social (a respeito
da qual, provavelmente, nutria um otimismo excessivo), mas não era interesseiro. Não
trabalhava para sua própria glória. Muito ao contrário, fazia inúmeros sacrifícios na busca
de seus objetivos.
Desde cedo ele se preocupava com os males sociais que percebia nos Estados Unidos
pouco depois da Primeira Guerra Mundial, pois, naquela época, não havia leis trabalhistas
para as crianças e as condições de trabalho eram deploráveis. Ele tomou a decisão de
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firmar uma posição pública a respeito dessas questões e passou a dedicar grande parte do
tempo à defesa de uma legislação que corrigisse tais males. Era um professor universitário
bastante conhecido, mas sua crítica veemente à política encontrou muita oposição por
parte de colegas e do estabelecimento onde trabalhava, e, como resultado, perdeu seu
cargo em meio a grande publicidade. Seu radicalismo lhe trouxe todo tipo de acusação de
deslealdade, e suas opiniões foram consideradas subversivas por muitos conservadores.
Ele sofreu pessoalmente com tudo isso, mas nunca parou de defender publicamente o que
considerava a verdade, sempre e onde quer que encontrasse fórum.
Mais tarde, em sua vida (pois ele viveu quase cem anos), voltou sua atenção das
questões políticas para as ecológicas. Sempre nutrira profundo amor pela natureza e, à
medida que foi envelhecendo e o quadro mundial se modificando tão significativamente,
começou a voltar sua atenção para as maneiras práticas de conviver com simplicidade e
harmonia com o meio ambiente. Desenvolveu muitas teorias sobre o cultivo e preparo
orgânico de alimentos, e escreveu diversos livros, em parceria com a esposa, sobre como
viver inofensivamente, utilizando os recursos da Terra sem exploração. Tornou-se famoso
pela defesa desta causa, assim como ganhara má reputação por seu radicalismo inicial, e
muitas pessoas fizeram peregrinações para sentar a seus pés e assimilar a sabedoria e
bondade simples por ele exibidas na sua vida pessoal.
Esse homem era um idealista, e ideais fortes resistem à prova do tempo. Já disse antes
que algumas cores na aura personificam as qualidades de estados elevados de consciência,
os quais podem energizar e acentuar a capacidade pessoal de ser eficiente no mundo.
Reflexos desses níveis podem ser vistos nesse homem; no seu caso, são coloridos pela
solidariedade e profunda preocupação com o sofrimento humano.
Cinquenta anos depois de este quadro ter sido pintado, posso dizer que esse homem
conseguiu realizar sua promessa interior. Embora não o tenha visto nos anos anteriores à
sua morte, estou certa de que a maior parte das complexidades desta aura desapareceram,
pois as irritações e frustrações do começo de sua vida já há muito haviam sido
solucionadas. Além disso, certamente não havia mais tensão, e, sim, uma atitude muito
mais relaxada diante da vida. Assim, nos anos subsequentes sua aura se teria tornado mais
límpida e menos complicada.
Quando a pluma laranja desapareceu da aura, as fortes convicções que representava
foram substituídas pelo florescer de seu amor inato à natureza. Os esforços deste homem
para encontrar maneiras práticas de cultivar a terra, durante os anos tardios de sua vida,
constituíram, assim, a realização de tendências vislumbradas anteriormente.
110
12. Uma pintora
Quando contemplei esta aura pela primeira vez, mesmo que nada soubesse sobre a
história da pessoa, a largura da faixa verde me teria surpreendido, além da preponderância
de verde em toda a extensão. Verde e rosa eram as cores dominantes. Evidentemente, esta
era uma pessoa de sentimentos calorosos e ternos, cujas mãos e mente trabalhavam muito
bem juntas.
Tanto a cor incomum quanto a largura da faixa verde indicam que o trabalho dessa
mulher era, ao mesmo tempo, criativo, habilidoso e expressava de maneira singular suas
ideias artísticas. De fato, ela era uma pintora muito conhecida, mas, também, possuía
111
incrível habilidade manual, pois era uma boa carpinteira e aprendera sozinha inúmeras
aptidões práticas.
A aura dessa mulher é muito interessante sob diversos outros aspectos, especialmente
por revelar sua vida passada e a forma como as experiências continuaram a influenciá-la.
A mistura de azul-escuro e verde na base da aura mostra que, na infância e
adolescência, ela foi muito reprimida pelos pais. Longe de aceitar tal fato, ela foi de uma
rebeldia feroz, e estava sempre em desavença com a família. O fato de essas cores escuras
se elevarem até os tornozelos indica que, no começo dos 20 anos, ela tentou romper com
esse ambiente, sem muito sucesso. Como resultado, sentiu-se oprimida por um sentimento
de desesperança e inutilidade. Seu espírito de revolta diante de contínua oposição
puseram-na em estado de irritação crônica, o que indicam os pontos vermelhos na parte
inferior do lado esquerdo. Ela exibiu talento artístico desde a infância e fazia contínuos
esforços para expressar-se através da pintura; contudo, a situação familiar era tal que o
futuro lhe parecia sombrio, o que a levava à frequente depressão.
As linhas radiantes de azul em torno dos pés são indicações de sua revolta juvenil e do
desejo apaixonado de ser ela mesma. Refletem-se em padrão similar em torno dos joelhos,
relativo a um período posterior em sua vida. Ela sempre foi ferozmente independente, e,
quando se sentia limitada pelas outras pessoas, reagia violentamente. A lacuna entre esses
dois padrões se deve a um período na juventude no qual ela aceitou melhor o mundo em
que vivia; por conseguinte, foi então menos rebelde e tensa.
Ela cresceu na Inglaterra, na época da Primeira Guerra Mundial, quando os limites
sociais eram firmemente estabelecidos e não se saía facilmente da própria classe. Sua
família aristocrática era extremamente conservadora e tinha ideias rígidas sobre o que uma
jovem devia e não devia fazer. Desde tenra idade, ela exibiu talento artístico, e, como a
pintura era, ao mesmo tempo, tradicional e socialmente aceitável para moças de boa
família, ela recebeu cuidadoso aprendizado. Mas não queria apenas dedicar-se
superficialmente à arte; ainda muito jovem, decidira que seria pintora e a arte, o trabalho
de sua vida. Esta ideia não era compatível com a sociedade convencional de uma época em
que as jovens deviam ser, ao mesmo tempo, decorativas e decorosas. Assim, ela estava
sempre em guerra com a família, que tudo fazia para reprimir o que considerava impulsos
boêmios da filha. Como consequência, sua rebelião e frustração cresciam dia a dia.
Ela sofria de sério problema físico, o que aumentava ainda mais a sua infelicidade.
Havia nascido com a audição deficiente, e ainda muito jovem se tornou quase inteiramente
surda. Por conseguinte, a comunicação com as pessoas exigia constante esforço, e criava
muita tensão, o que pode ser visto na base da aura. Essa deficiência afetou toda a sua vida,
pois sempre lhe foi muito difícil ter uma conversa normal. Quando posou para este retrato,
ela portava uma enorme corneta acústica, a qual ela lançava na minha direção para que eu
gritasse. Devo dizer que a comunicação se tornava um pouco difícil assim.
O cinza enevoado na parte inferior da aura resultou de seus esforços, ao final da
adolescência, de romper com a influência repressora do ambiente familiar. Ela ansiava por
uma vida criativa, mas era muito insegura quanto à própria habilidade e, via de regra, era
bastante pessimista em relação ao futuro. A dúvida em relação a si mesma a tornava
insegura e deprimida. De modo geral, foi um período muito sofrido de sua vida.
112
Mas, logo acima das cores escuras na base da aura, estabelecendo nítido contraste,
pode-se ver uma faixa de rosa-pink à esquerda, harmonizado por um violeta-róseo do
outro lado. Ambos se elevam até a faixa verde, e, conquanto as linhas de tensão nas bordas
da aura persistam, as regiões superiores dessas duas cores estão livres de qualquer
constrangimento. A razão de mudança tão acentuada reside no fato de, muito tempo atrás,
ela ter tido a boa fortuna de tornar-se amiga de uma pessoa dotada de grande talento
criativo, além de personalidade marcante e vivaz. Esse homem se interessou por ela e
encorajou-a a lutar por si mesma, tanto artística quanto pessoalmente. Tornou-se seu guia
e mentor, e sua influência transformou literalmente a vida dessa moça, pois ele a
incentivou a romper a ligação com a família, sair de casa e mudar para o extremo oeste dos
Estados Unidos. Ela sentiu que ele a tirava de uma prisão para uma vida nova de liberdade,
e a gratidão que devotou a esse homem não conhecia limites.
Ela o idealizava a tal ponto que ele continuava a influenciá-la até à época em que este
quadro foi pintado, embora já estivesse morto há vários anos. Pode-se ver dois símbolos na
sua aura que são espelhos um do outro: um na região superior da aura, na junção de verde
e amarelo; o outro abaixo, no rosa. Essas formas simbólicas revelam o sentimento
profundo que ela nutria por aquele homem, cuja memória ainda continuava a inspirá-la. O
símbolo superior exercia poderosa influência espiritual sobre o seu trabalho artístico,
enquanto o inferior energizava as interações com as outras pesoas. Mostram que a
lembrança dele ainda produzia nela uma admiração quase religiosa, pois que ela o
idealizava. O relacionamento entre ambos era inteiramente platônico, pois ele desfrutava
um casamento feliz; mas, talvez devido à força do sentimento que nutria por ele, ela nunca
se casou nem teve um caso amoroso.
Embora tivesse muitos amigos carinhosos e fosse uma pessoa muito simpática, sempre
havia alguma tensão na expressão dos seus sentimentos, provavelmente devido à surdez. A
faixa azul na extremidade do verde da simpatia, na parte superior, indica isto. Mas existe
muito rosa-pink, sinal de que seus afetos eram, a um tempo, calorosos e desinteressados.
O azul é sua vontade, enquanto o azul/verde indica o mais elevado alcance da sensibilidade
artística - sua resposta intuitiva ao componente estético da natureza e do mundo. O fato
desta cor tocar sua faixa verde mostra que ela procurava expressar esse ideal na pintura.
Os símbolos na faixa verde são muito mais amplos e bem definidos do que o normal,
talvez porque, sendo uma artista, ela visualizava claramente. O formato de chama no
interior do círculo é interessante porque simbolizava para ela a influência espiritual na arte.
Quando lhe descrevi o símbolo, ela disse que ele retratava com exatidão uma visão que
tivera no deserto - a qual continuava a ser uma fonte de inspiração. Embora essa
experiência tivesse sido totalmente subjetiva, ela havia feito um quadro que mais tarde me
mostrou, e, de fato, era o símbolo que eu havia percebido, embora muito mais belo e
elaborado. Assim, ele permanecia muito nítido na sua aura.
O outro símbolo maior está relacionado com um quadro em que ela estava
trabalhando na ocasião. Ela assistira a uma série de concertos e fizera esboços das mãos do
maestro em movimento; este símbolo representava seu presente interesse por esse
estudo, e, provavelmente, deve ter desaparecido tão logo sua atenção tenha-se voltado
para outros temas. Igualmente interessante é que a forma que esse estudo tomou
113
lembrava vagamente os desenhos usados por nativos americanos em suas artes. Ela
mesma se sentia mais próxima dos povos indígenas, e estava tentando entender o espírito
da cultura indígena, a fim de poder representá-los de maneira compassiva e autêntica. Esse
interesse influenciava, inconscientemente, seu trabalho daquele momento.
Esta aura é fascinante em razão do grande contraste entre passado e presente. É difícil
imaginar uma vida na qual pudessem ter ocorrido mudanças mais radicais, porquanto ela
trocou um ambiente estreito e convencional por outro de liberdade irrestrita, e uma
existência de riqueza e luxo por outra extremamente simples, até mesmo espartana. Mais
tarde em sua vida, ela nunca pensava em convenções e era indiferente a sua aparência
pessoal, conquanto sempre se mostrasse meticulosa em seus hábitos. Vivia com muita
simplicidade e poucos bens, e conseguiu mergulhar completamente numa cultura
totalmente diferente da sua formação.
Ela nutria profundo amor pelas montanhas e os pueblos indígenas, bem como pelas
cores das rochas nuas e a visão de cavalos galopando nas planícies abertas. Neste
ambiente, finalmente, ela se tornou ela mesma; foi como se houvesse renascido. Quando
conseguiu a liberdade para viver o tipo de existência de que necessitava tão
profundamente, ela se tornou mais una, menos complicada e sua própria integridade
interior começou a brilhar através do seu trabalho. Isso transformou a sua arte, pois,
quando ela se tornou livre para representar seu próprio ser e percepções artísticas, a
pintura alcançou sua verdadeira posição.
114
13. Um arquiteto/desenhista
Esta é a aura de um homem em meados da casa dos 60, que havia estudado
arquitetura, mas se dedicara a maior parte da vida à cenografia para teatro. Ele amava o
teatro e o palco, aos quais muitos dos seus amigos e colegas estavam ligados. Na ocasião
em que foi feito o quadro, contudo, ele se aposentara há pouco tempo do trabalho ativo, e
suas maiores realizações haviam ficado para trás. Embora ainda dedicasse grande parte do
tempo a escrever, os maiores trabalhos haviam sido publicados anteriormente. Em outras
palavras, seu auge de realização ficara no passado, e ele se encontrava no que poderia ser
chamado período reflexivo ou contemplativo da vida.
Esta aura é extraordinariamente clara e desprovida de cicatrizes ou tensão, ao
115
contrário das de números 7 e 11, cujos sinais de conflitos iniciais ainda estão visíveis.
Quando ele era mais jovem e ativo, essa característica talvez não tivesse sido tão evidente,
mas sua natureza levava a acreditar em sua habitual capacidade de permanecer calmo e
tranquilo, pois esse homem tinha um grau notável de integração entre a mente e as
emoções. Desde a juventude, soubera o que queria ser e fazer; aceitara certas ideias
filosóficas, matemáticas e espirituais como princípios condutores de sua vida e trabalho, e
jamais encontrara motivo para modificá-las. Esse interesse influenciou-lhe o pensamento e
deu forma à sua vida profissional. Como ele havia adotado uma profissão que se prestava à
expressão dessas ideias, nunca se sentiu frustrado ou inibido, o que sempre favorece a
saúde emocional. Na verdade, o início de sua vida contrasta totalmente com a de número
12.
O cinza-azulado enevoado na base da aura indica sua forma de egoísmo, que era mais
um desejo de auto-expressão e de uma oportunidade de seguir o seu próprio caminho, e
não um apego aos bens. O verde-escuro logo acima mostra a sua intensa atividade quando
jovem, bem como ambição. A cor torna-se mais clara do lado esquerdo, e funde-se com a
formação em anel azul-escura. O formato deste anel indica sua relação com uma
lembrança que remonta ao passado, mas ainda o influencia, enquanto sua proximidade
com uma área de azul mais claro e brilhante caracteriza uma linda experiência, dolorosa
apenas porque chegou ao fim. Na verdade, essa lembrança foi inspirada por um casamento
maravilhoso com uma mulher que exerceria uma influência permanente sobre ele -
experiência que ele mesmo sentia ter uma importância espiritual. Conquanto ela houvesse
falecido muitos anos antes, sua memória ainda se fazia presente na vida desse homem,
que nunca se sentiu inclinado a novo casamento.
Desse fragmento azul, reflexo de sua vontade superior e consciência do ser, surge uma
pluma laranja, muito semelhante àquelas vistas nas duas auras supracitadas. Como
sempre, esta formação mostra o sentido de orgulho e amor-próprio; neste caso, ele era um
tanto complacente em relação ao fato de saber tão bem o que queria. Tinha confiança na
exatidão de suas ideias, bem como na capacidade de lhes dar forma no seu trabalho e
expô-las através da palavra.
O azul/verde no lado inferior direito é um sinal de que a sensibilidade artística deste
homem era bastante ativa na vida diária, parte intrínseca de tudo o que fazia. Do lado
oposto, existe uma área rosa, que sempre expressa afeição. Como você pode ver, ela
alcança o azul relacionado com o seu casamento precoce, pois o sentimento pela esposa
não havia desaparecido. Ele era carinhoso com os filhos e um ou dois amigos íntimos, mas
tinha poucas ligações pessoais. De maneira geral, a aura desse homem não apresenta
muito rosa. Na verdade, ele era uma pessoa um tanto arredia e muito auto-suficiente,
bondosa, mas não íntima de muita gente.
Considerando-se a parte superior da aura, percebe-se a presença de uma inteligência
aguçada. O brilho do amarelo mostra que sua mente era muito ativa, e o fato de a cor
refletir-se abaixo da faixa verde indica que ele usava a mente para controlar seus atos. O
azul/verde do lado oposto se relaciona com a sua percepção de beleza, e as plumas verde-
claras no interior resultam de sua afinidade com pessoas influenciadas de maneira
semelhante. As faixas de cor violeta acima da cabeça mostram seu sentimento profundo,
116
quase ritualístico, por aquilo que considerava como princípios espirituais subjacentes à
natureza.
No interior da ampla faixa verde, percebe-se um arranjo completo de intricadas formas
geométricas. Estas figuras são expressões de sua constante preocupação com os princípios
da forma, que a seu ver revelam a ordem arquetípica subjacente do universo. Tais símbolos
representavam papel ativo na sua imaginação e estavam presentes em tudo o que fazia.
Eram tão marcantes na sua mente que, não importa o que estivesse fazendo, sempre que
se deparava com um pedaço de papel ele começava a desenhar algumas dessas formas
complexas. Toda a sua vida ele estudou os princípios matemáticos ocultos que conferem
harmonia, simetria e proporção à profusão de formas naturais, e escreveu diversos livros
sobre o que, na época, era conhecido como simetria dinâmica, estudo da maneira como as
formas se originam umas das outras.
Na minha opinião, esse homem nascera com uma estrela da sorte. Sua vida fora
extraordinariamente desprovida de desavenças, e, se tivera preocupações, ele as deixara
para trás. Embora houvesse perdido a esposa, as lembranças eram fonte de felicidade e
consolo para ele. Tivera a sorte de desempenhar uma profissão de que gostava e na qual
era muito bem-sucedido. Ainda jovem, ele havia encontrado uma filosofia que lhe era
inteiramente satisfatória e infinitamente fascinante, a qual ele pudera colocar em prática
ao longo da vida. Seus livros eram bem recebidos, senão bastante populares. É bem
verdade que ele levava uma vida solitária, mas estava satisfeito com isso. Na verdade, ele
havia alcançado o estado de serenidade e desapego que, segundo o hinduísmo, deve
caracterizar o último período da vida.
A singularidade desta aura reside no fato de sua mente trabalhar em plena harmonia
com seus sentimentos. Aparentemente, nunca houve bloqueio entre eles. Suas aspirações
espirituais estavam ligadas ao amor à beleza e àquilo que ele considerava a ordem divina
dentro do universo; ambas eram, para ele, expressões de uma realidade espiritual
subjacente. Tais ideias eram tema de suas meditações, bem como, constantemente,
ocupavam seu pensamento, e colocaram seu nível intuitivo de consciência em harmonia
com a mente e as emoções. Assim, os três níveis trabalhavam sincronicamente nesse
homem, o que é uma raridade.
117
14. Uma jovem idealista
Concluo este grupo de retratos com uma pessoa bastante diferente dos conquistadores
supracitados. Em primeiro lugar, ela era jovem (apenas 21 anos), com uma vida inteira à
sua frente e sem registros de realizações para trás. Assim, a experiência passada não havia
moldado seu caráter significativamente. Tampouco ela exibia os talentos que levaram a
maioria destes retratados a dedicar suas vidas ao trabalho artístico. O que ela tinha em
comum com eles era a consciência ferrenha do propósito. No seu caso, tornou-se quase um
compromisso apaixonado com aquilo que ela considerava ser a meta da vida humana: a
realização das percepções e valores espirituais.
118
Todo este livro defende a ideia de que as pessoas podem tomar as vidas em suas mãos,
colocar as intenções em prática e fazer de suas aspirações uma força para a mudança
pessoal. Como tentarei mostrar no Capítulo 8, acredito que a motivação é o primeiro
requisito para a mudança, e que é preciso ter uma consciência clara da direção que se quer
tomar - do caminho que se deseja seguir, ainda que o fim desse caminho seja desconhecido
ou mesmo incognoscível. Essa menina encontrou a direção que queria tomar quando ainda
bastante jovem, e permaneceu fiel na determinação de segui-lo pelo resto de sua vida.
Esse compromisso está mais evidente nas faixas em forma de asa de azul forte que
surgem da região do coração, na parte superior da aura. Ela praticava meditação há cerca
de quatro ou cinco anos, e estas faixas azuis são o resultado disso; relacionam-se com a
expansão da vontade e com os esforços conscientes para regular a vida de acordo com seus
ideais espirituais e suprimir os impulsos egoístas. De todos os nossos casos, apenas esta
moça e o número 13 tinham este tipo de dedicação.
Curiosamente, ela não era uma pessoa que se pudesse considerar obstinada. Não tinha
o tipo de determinação que forja uma carreira, não obstante deficiências, ou que
desenvolve um talento através da pura persistência. Assim como muitos adolescentes, ela
havia hesitado em relação ao que queria fazer de sua vida, e até os 21 anos ainda se
mostrava um tanto indiferente quanto ao tipo de trabalho que realizava, e tendia a aceitar
o que lhe era oferecido. Assim, ela não era ambiciosa no sentido usual da palavra.
Tampouco desejava ter controle sobre a vida de outrem. Ela desejava controlar, apenas, a
si mesma.
Nessa época, ela tinha toda a intensidade da juventude, e, devido a um temperamento
altamente sensível, era muito tensa. Era bastante perfeccionista, além de muito impaciente
e crítica, sobretudo consigo mesma. Se não alcançava seus padrões, ela se sentia muito
mal. Pressionava-se demais sem o saber e, por isso, vivia com excesso de tensão.
Em razão de sua juventude, as cores da aura são claras, e existem poucos sinais de
trauma no passado. Na base da aura, o cinza-esverdeado opaco mostra que seu egoísmo
básico tomou a forma de um desejo de expressar-se, em vez de uma ânsia por coisas
materiais. O matiz cinza indica que, quando muito criança, ela vivia assustada. Nada havia
em sua vida familiar ou em sua experiência capaz de causar medo; ela não tinha medos
específicos, mas, sim, uma espécie de temor impalpável do escuro desconhecido que
muitas crianças parecem sentir. Instintivos e semiconscientes, tais temores, em geral, são
remanescentes de um passado esquecido. O símbolo azul-escuro semelhante a uma âncora
abaixo dos pés mostra que esses medos impalpáveis tornaram-se palpáveis na sua vida
onírica. Quando perguntei se tinha pesadelos recorrentes, ela os lembrou claramente,
embora houvesse deixado de tê-los. Ao longo dos anos, seus medos haviam-se cristalizado
neste símbolo, mas sua posição tão baixa indica que praticamente já a haviam deixado,
permanecendo apenas como uma sombra no seu inconsciente.
Nas extremidades da aura, pode-se ver as faixas azuis que sempre indicam tensão,
semelhantes às dos números 9 e 12. Como naqueles casos, a tensão parece ter raízes
antigas e, provavelmente, originava-se de antigos medos. Ela tendia a forçar-se além de
seus limites de tolerância nervosa e física, pois não tinha noção deles. A tensão agora havia
se tornado bastante arraigada, a ponto de os nervos causarem-lhe acessos periódicos de
119
fortes dores de cabeça, acompanhadas de náusea. No mais, sua saúde era muito boa.
Um pouco mais alto, à esquerda, a cor torna-se ligeiramente mais azul, o que indica ter
sido uma criança voluntariosa, que, provavelmente, conseguia fazer o que queria, pois seus
pais eram benevolentes e afetuosos, e costumavam mimá-la, embora ela não tivesse
consciência disso. Era filha única e passava grande parte do tempo com adultos; por
conseguinte, foi bastante precoce. De fato, excetuando-se a falta que ela sentia da
companhia de outras crianças, seu ambiente infantil era ideal.
Mais acima, o verde torna-se mais claro e apresenta matizes amarelos. Isto mostra
que, ainda muito jovem, ela pensava naquilo que a cercava e usava a mente na vida
cotidiana e nos estudos. A cor torna-se mais amarela, indicando um esforço consciente
para controlar o egoísmo, bem como para compreender aquilo em que estava trabalhando.
O trecho laranja é uma forma incipiente das plumas já apresentadas em 7, 11 e 13. Como já
disse, esta cor sempre indica convicções fortes e um certo grau de orgulho intelectual por
ter chegado àquilo que se considera ser a verdade. Desde o começo da adolescência, essa
menina estivera em busca de algum ensinamento que esclarecesse suas perguntas não
respondidas, e, quando tomou conhecimento do budismo, da teosofia e da filosofia
oriental, ela se convenceu de que havia encontrado essas respostas. O trecho laranja ainda
não havia tomado a forma de uma pluma; difícil saber se viria a tornar-se mais rígido com o
passar da vida, ou se, gradualmente, relaxaria e desapareceria.
Essa jovem mulher, recentemente, dera à luz um bebê, e naturalmente o
acontecimento ocupava grande parte de sua atenção. Pode-se ver o rosto da criança na
faixa verde da mãe, pois ela não apenas passava muito tempo cuidando fisicamente do
filho, como também pensava bastante em seu progresso. Ela estava decidida a ser uma boa
mãe - decisão que, de certa forma, a deixava excessivamente ansiosa. A faixa verde tem
uma tonalidade clara, o que indica compreensão, e é bastante ampla, mostrando sua
habilidade manual. Ela não tinha talento artístico especial, mas não sentia dificuldade em
aprender por si mesma a fazer diversas coisas, como, por exemplo, costurar, fazer
jardinagem, tocar um instrumento musical ou usar ferramentas de vários tipos. Também
no interior da faixa verde, pode-se ver diversas formas geométricas amarelas, todas
relacionadas com seus interesses intelectuais, enquanto os círculos e espirais azuis
refletem novamente o uso de sua vontade para controlar os pensamentos e sentimentos.
O rosa predomina na aura, tanto em cima como embaixo, mostrando sua grande
afeição não apenas pela família, mas também por todo tipo de pessoa. O rosa acima da
faixa verde, cuja cor é mais pura, relaciona-se com uma espécie de sentimento
generalizado que reflete os ideais em relação à sua vida emocional, enquanto o trecho
abaixo mostra o amor que ela expressava no dia-a-dia. Os pequenos cones e espirais nesta
cor novamente revelam sua aflição diante da possibilidade de não conseguir viver segundo
seus ideais, mas eram temporários e desapareceriam.
O amarelo está presente em dois locais da parte superior da aura, e denota sua
inteligência inata e a capacidade de efetiva reflexão, até mesmo com respeito a temas
difíceis e intricados. O amarelo logo acima do rosa representa o poder mental ao qual ela
recorria com regularidade, enquanto a listra amarela mais acima, à esquerda, constitui o
aspecto mais abstrato ou teórico, que não estava sendo muito utilizado. A área azul-
120
esverdeada do lado direito relaciona-se, como de hábito, com a estética; no caso desta
jovem, não representa tanto a habilidade artística, mas antes a sensibilidade - apreciação
da beleza e harmonia enquanto ideais universais. Como sempre, a cor de alfazema no topo
da aura indica a espiritualidade inata de uma pessoa. Em seu caso, está ligado ao amarelo-
dourado, à esquerda, e ao azul-esverdeado, à direita, mostrando que tanto a busca de
significado quanto a valorização da beleza se relacionavam com a busca espiritual. O
violeta mais escuro é uma emoção composta - uma abordagem intuitiva para a
compreensão da ordem interior, do significado e propósito por trás dos fenômenos da
natureza.
121
Estes retratos de aura foram realizados há tanto tempo que praticamente todos os
adultos já estão mortos. Esta mulher, contudo, ainda está bem viva, e seria interessante
acompanhar seu desenvolvimento. Quando foi feito o quadro, ela ainda estava no limiar da
vida, e seus potenciais mal começavam a desabrochar. Agora que é uma mulher com mais
de 80 anos, ela ainda é enérgica e atenta, e pouco perdeu de sua energia. Embora
aposentada, ela permanece ativa; além de seus interesses intelectuais, faz parte do
conselho de inúmeras organizações de caridade. Tem um casamento feliz há quase 60
anos, e uma grande família com filhos e netos, com os quais se dá muito bem.
Sua noção de propósito não diminui, e ela continuou com a prática de meditação.
Abençoada com boa saúde e bom karma (pois sua vida tem sido regularmente livre de
problemas e dificuldades), ela tem realizado seus objetivos sem nenhum atrito nas relações
familiares. Ela não sente mais a necessidade de exercitar a vontade tão fortemente sobre si
mesma e, por esse motivo, está muito relaxada. A ansiedade causada pelos medos infantis
desapareceu, e ela superou grande parte de sua tensão e estresse. Por conseguinte, as
enxaquecas de origem nervosa desapareceram há muito tempo, e sua saúde é excelente.
As cores da aura tornaram-se mais suaves, claras e equilibradas. (A aura de número
14A foi pintada recentemente por outra artista, não por Juanita Donahoo). O trecho laranja
diminuiu de tamanho, pois ela deixou de sentir a necessidade de defender suas ideias tão
vigorosamente. O rosa abaixo está harmonizado por um rosa mais claro acima, mostrando
que sua afeição ainda é forte, só que mais desapegada. O amarelo na região superior da
aura é mais amplo e agora adjacente à faixa verde, indicando que suas aptidões e
interesses intelectuais se aprofundaram e se tornaram mais ativos. A cor de alfazema acima
da cabeça ampliou-se muito através do estudo e da meditação, mostrando o crescimento
de sua percepção espiritual. Como resultado de anos de meditação, as asas azul-escuras,
tão características de sua aura, ampliaram-se para formar um semicírculo roxo que interliga
as energias superiores com a mente e as emoções.
No todo, as cores tornaram-se muito mais difusas, e, como resultado, sua aura está
mais harmoniosa.
Refletindo a respeito da aura dessa mulher e comparando-a com a de outra senhora
(ilustração 8), considerei como o processo de envelhecimento afeta a saúde e o vigor
emocional. Se você voltar ao número 8, verá que a parte inferior da aura daquela senhora
tinha uma película cinzenta, devido à redução de suas energias e da vida tão intensa no
passado. Contudo, ela fora uma pessoa cheia de vitalidade e ativa durante toda a vida. Suas
energias debilitadas talvez se devam à perda de vitalidade física, mas creio que também,
em parte, se devam à perda de sua estimulação mental e emocional. Muita gente quando
se vê forçada a aposentar-se, se defronta com o problema dessa senhora - seu trabalho lhe
foi retirado. Seja por causa da idade, da saúde debilitada ou de outras circunstâncias, é um
acontecimento que pode, às vezes, trazer consequências traumáticas. Algumas pessoas
perdem o propósito e, com ele, a confiança de que ainda podem prestar alguma
contribuição - e esta confiança é fundamental ao amor-próprio. Falarei mais detidamente
sobre esta questão no Capítulo 9, mas o comentário relaciona-se com o processo de
envelhecimento.
Em contraste, o número 14 ainda leva uma vida plena e ativa, com muitos interesses
122
intelectuais. Assim, suas energias mentais e emocionais suplementam qualquer diminuição
que naturalmente possa ocorrer na sua força física e vitalidade, devido à idade. Os médicos
costumam incentivar seus pacientes idosos a se manterem ativos, tanto física como
mentalmente, e minhas observações sustentam plenamente este conselho. No Capítulo 2
ressaltei o fato de que as energias superiores podem modificar e transformar as inferiores.
Como a mente e as emoções trabalham intimamente com a energia etérica, a energia
mental pode vitalizar, e de fato vitaliza, o corpo físico.
Em nossa cultura, infelizmente, a velhice costuma ser muito temida. No Oriente, ao
contrário, a velhice é considerada como um período em que a diminuição das
responsabilidades deixa tempo livre para a contemplação e para usufruir a natureza. Livre
da necessidade de estar sempre realizando, a pessoa pode libertar-se e ser ela mesma.
Quando a velhice é aceita como um estágio da vida que traz seus próprios benefícios, os
dons da serenidade, quietude e desapego podem enriquecer o final de uma existência
ativa.
123
7. Os Efeitos da Doença
124
15. Consequências da poliomielite
Nosso primeiro quadro é o de uma das pacientes da Dra. Bengtsson, e, como ela tinha
por hábito nunca falar sobre o estado dos pacientes antecipadamente, eu nada sabia da
história dessa moça. Quando entrei no quarto, ela já estava sentada e sua deficiência não
era evidente. Contudo, um único olhar bastou para mostrar-me como ela estava fraca e
enferma, e os esforços que precisava fazer para apenas continuar vivendo.
Essa pobre moça tivera um acesso de pólio aos dois anos de idade, que a deixou
fisicamente aleijada e neurologicamente prejudicada. Agora ela estava com 22 anos e era
125
bastante pesada e gorducha, de modo que, para ela, se tornava muito difícil andar. Ela
teria sido capaz de adaptar-se aos efeitos da poliomielite, mas seu estado sofreu
complicações devido a uma asma crônica, moléstia bastante grave.
Contemplando o quadro, percebe-se que as bordas da aura são onduladas e
irregulares, e perderam a definição, exceto nas extremidades superior e inferior. A aura
como um todo é envolta por uma tênue névoa cinzenta, que recobre as válvulas de
energia, e estas são abertas, rasas, flácidas e muito mais pálidas do que deveriam. Suas
pulsações rítmicas também eram irregulares, conquanto, naturalmente, isto não seja
visível no quadro. Todas essas aberrações indicavam que o mecanismo de controle de
entrada e saída de energia emocional não estava funcionando normalmente. Como as
válvulas estavam muito abertas, ela não estava adequadamente protegida das pressões
externas e não conseguia liberar as emoções com facilidade. Assim, tinha pouca resistência
e se cansava tão facilmente que estava em estado de exaustão crônica,
Na primeira vez em que a olhei, surpreendeu-me a nuvem cinzenta salpicada de
vermelho que recobre toda a parte superior do seu corpo, incluindo a região do plexo
solar. (pode-se ver algo semelhante nos casos 9 e 16.) Percebi que esse estado era
temporário e recente, assim lhe perguntei se havia tomado uma injeção há pouco tempo.
Ela replicou que estava se sentindo fraca e nervosa com a iminência do nosso encontro,
por esse motivo se autoministrara uma dose de adrenalina. Este fato me pareceu muito
interessante, pois a cor cinza na aura indica medo e depressão, enquanto o vermelho é
causado pela raiva, e a adrenalina é secretada pelo corpo sob tensão provocada pelo medo
e pela raiva. Assim, o efeito da injeção na sua aura foi o de simular essas emoções.
As qualidades que sempre estão presentes na parte superior da aura, no caso dessa
moça, são muito nebulosas. Como ela praticamente não tivera oportunidade de
desenvolver seus potenciais, estes eram débeis e ineficazes. Por outro lado, sem dúvida, a
cor dominante na aura é o azul forte da vontade, expressão de seu "eu superior". Esse azul
jorra do topo da aura, através da coluna e dos chakras, até a faixa verde. O tom desta cor
não está muito nítido no quadro, pois deveria ser mais claro e luminoso do que as cores
azuis que aparecem mais abaixo. O azul mais alto representa sua tremenda determinação
para viver da maneira mais normal possível- a vontade de superar as deficiências e realizar
alguma coisa no mundo físico.
Pode-se ver que a faixa verde é pálida e estreita, resultado natural de sua incapacidade
de realizar qualquer tipo de trabalho. Mas o azul da vontade está refletido na ampla faixa
de azul mais escuro logo abaixo da faixa verde, o que mostra a intensidade da luta que ela
travava continuamente para prosseguir. Quando se está tão fraco e desprovido de energia,
até mesmo o esforço para colocar um pé adiante do outro exige verdadeira perseverança.
Ela precisava de força de vontade para mover-se, andar, levantar objetos e até mesmo
para respirar; ademais, ela tinha de suportar a dor quase contínua. Essa ampla faixa azul
mostra sua força de vontade.
As três faixas azuis que circundam a parte inferior esquerda da aura também refletem
esse esforço, mas mostram os efeitos da tensão ainda mais claramente. Sua luta para
resistir aos efeitos da dor quase contínua e para seguir as ordens dos médicos havia
provocado um estado de tensão mais ou menos permanente. Ela estava tentando,
126
arduamente, usar a força de vontade para compensar, ao menos em parte, suas
deficiências físicas, mas, como ela falhava tão amiúde naquilo que estava tentando fazer,
essas faixas alternam-se com o cinza-escuro da depressão.
Existe uma grande área rosa atravessando a parte superior da aura, que se reflete na
tonalidade mais escura abaixo, indicando que, na verdade, ela era uma moça carinhosa.
Mas, aqui, novamente a cor está bloqueada nas extremidades da aura, pois ela não tinha
um escape para as emoções. Afora os membros de sua família mais próxima - bons e
afetuosos com ela -, essa moça tinha pouco contato com outras pessoas, além dos
médicos. Como sua energia estava tão baixa, ela só podia interagir com pessoas por curtos
períodos, e tinha dificuldade de expressar seus sentimentos em qualquer ocasião. Ela
tentava sair de si e interagir com as pessoas, mas logo ficava exausta e tinha de desistir.
Em razão de sua incapacidade de frequentar a escola, ela tinha apenas rudimentos de
educação e pouco estímulo para desenvolver sua mente. O fato de o amarelo acima da
cabeça não estender-se até às bordas da aura mostra sua pouca habilidade para concentrar
a mente em determinado assunto. Sua capacidade de atenção era pequena, e ela ficava
inquieta quando tentava concentrar-se por algum espaço de tempo. Como os recursos da
família eram limitados, ela tinha um ambiente estreito e pouca estimulação mental. Nutria
anseios vagos, mas não sabia como concentrá-los e, como era completamente
inexperiente, ela tinha pouca confiança na sua capacidade de realmente realizar algo um
dia.
Existe muito cinza na parte inferior da aura, misturado com verde - verde porque seu
passado foi pleno de coisas que ela havia tentado fazer, e cinza porque suas tentativas, em
geral, redundaram em fracasso. As marcas no cinza sob os pés relacionam-se com
lembranças dessas frustrações passadas; representam desânimo e depressão. A faixa
azul/verde no lado inferior direito da aura, próxima dos pés, resulta do período inicial de
sua vida no qual ela esteve um pouco melhor fisicamente e sentiu-se inspirada a tentar
fazer mais. O símbolo vermelho-róseo dentro dessa cor é a memória latente de uma
pessoa que a encorajou na ocasião e exerceu profunda impressão sobre ela. A pluma azul-
esverdeada no lado inferior esquerdo denota esse esforço inicial, que, infelizmente,
resultou em novo fracasso. Todo o triste registro de sua vida se constitui de tentativas e
fracassos renovados, sendo notável sua vontade de prosseguir.
A mistura de cores na parte inferior da aura indica seu desejo de ser alguém
(fragmento laranja), mas que também era frequentemente dominada por sentimentos de
inferioridade (cinza-esverdeado). Um pouco mais alto, à direita, o tom verde com cinza e
rosa mostra seus esforços para fazer-se agir ao máximo, mas as cores são vagas e
indeterminadas porque sua capacidade estava debilitada.
Essa moça era muito doente, e sua capacidade de atuar estava seriamente
comprometida pela asma crônica. Por isso, ela estava sempre entrando e saindo do
hospital, mas, quando entrava, seu baixo nível de resistência a tornava vulnerável a
infecções, e ela tendia a contrair outras enfermidades. Assim, seu estado era agravado por
todos os tipos de doenças secundárias.
No entanto, ela dispunha de grande determinação. Não creio que ela tenha nascido
com tanta força de vontade; desenvolveu-a como resultado de tremendos esforços para
127
superar as deficiências - ainda que tais esforços redundassem em pouco sucesso.
Recorrendo à força de sua vontade espiritual - sempre sensível aos esforços da pessoa -, ela
havia persistido na determinação de melhorar e usar suas faculdades tanto quanto
possível. Esta foi uma verdadeira conquista.
Na tentativa de ajudá-la e incentivá-la, sugeri que sua energia e resistência à doença
poderiam aumentar se ela estudasse mais. O esforço para usar a mente atrairia as energias
superiores, e poderia desenvolver seu amor-próprio e reduzir a depressão. Achei também
que seria útil visualizar algumas coisas que ela seria capaz de realizar, em vez de repisar nas
que não podia fazer. Desta forma, ela poderia recorrer a energias mentais de nível superior
a fim de aumentar a força física.
Sugeri também que ela deixasse Nova York em troca de clima mais seco, assim sua
respiração poderia melhorar, e, por sua vez, isto lhe facilitaria a concentração dos
pensamentos. Ela seguiu o meu conselho e mudou para o Arizona, onde, creio, a asma
melhorou um pouco, mas depois perdi contato com ela. Assim, não sei se ela conseguiu
seguir minhas sugestões para desenvolver as potencialidades de sua mente.
128
16. Uma criança nascida com a síndrome de Down
131
17. Um estado de ansiedade aguda
Este é o retrato de um homem na casa dos 50 anos, em meio ao que costuma ser
chamado de esgotamento nervoso. Não era preciso ser vidente para perceber isso, pois,
quando veio ver-me, ele se encontrava em estado de intensa agitação nervosa. Era uma
personalidade marcante e realizara muito na vida, como indicam as cores fortes da aura.
Mas, na ocasião em que foi pintado o quadro, ele não estava conseguindo realizar o que
quer que fosse, pois estava tão envolvido com a própria ansiedade que chegava a duvidar
de sua capacidade de pensar.
Esse homem se interessava pelo pensamento oriental, há muitos anos, e aceitara seus
132
preceitos fundamentais, mas, no momento, estava cheio de dúvidas e incertezas, e essas
ideias tinham muito pouco significado para ele. Era um homem fundamentalmente bom
que havia perdido o rumo e, com isso, o sentido de identidade. Tivera um negócio muito
bem-sucedido, que no momento estava em decadência, e essa situação naturalmente
agravava sua ansiedade e acelerava a quebra da autoconfiança.
Todos esses medos e tensão podem ser vistos claramente na sua aura, mais
dramaticamente nas duas conchas azuis que a envolvem. A tensão nervosa a que estava
sendo submetido ocasionava a faixa externa nas bordas da aura, semelhante àquelas já
vistas, mas esta vai até muito mais alto nesta aura do que as demais. A segunda concha,
interna, é ainda mais grave, pois ele havia criado uma barreira que inibia o fluxo normal das
emoções para o exterior e voltava suas energias para si mesmo. Quando as pessoas sofrem
de tal problema, não conseguem expressar suas emoções; podem começar a sentir alguma
coisa, mas a incerteza as fará hesitar e recuar.
Neste caso, o bloqueio estava aumentando a tensão dia a dia. À semelhança de um
patinador rodopiando, ou de um esquilo numa gaiola, sua ansiedade aumentava cada vez
mais devido a essa ação circular, limitada e repetitiva. O fato de o bloqueio estender-se tão
alto na aura indica que suas faculdades superiores também estavam constrangidas.
Infelizmente, ele estava bloqueado em duas direções - na do mundo externo e na de seu
ser interior. Isto lhe afetava o equilíbrio mental, e a perda de perspectiva resultante o
levava a falsas interpretações dos acontecimentos diários, o que só fazia aumentar a sua
agitação emocional e mental. Na verdade, ele estava preso a uma armadilha construída a
partir de suas próprias pressões, perda de contato com a realidade e imaginação distorcida.
As áreas em rosa na aura indicam que esse homem tinha uma natureza afetuosa, mas o
tom claro mostra a incapacidade de compartilhar seus sentimentos. Pode-se ver como o
rosa está limitado, tanto acima como abaixo da faixa verde. Ele ainda amava a mulher e os
filhos, mas disse-me, com lágrimas nos olhos, que não conseguia expressar seus
sentimentos de forma alguma nem tampouco aproximar-se de seus familiares. Há tanto
estava preocupado com os negócios e trabalhando tão arduamente que se afastara da
família. Contudo, a causa fundamental do excesso de trabalho e da pressão a que se
submetia residia no seu desejo de cuidar da família e dar-lhes o melhor. Ele não tinha o
hábito de compartilhar seus problemas com a esposa, e agora não conseguia mais sentir
que existia uma relação entre ambos. Na verdade, a família apenas o irritava. Isto o
perturbava muito, pois se sentia culpado; preocupava-se com o futuro da família, e sentia-
se frustrado por sua incapacidade de cuidar deles. Todos os vórtices rosa e amarelo que
podem ser vistos em inúmeras áreas de sua aura relacionam-se com essas preocupações.
O sentimento de frustração não era novo para ele, pois na base da aura se encontram
sinais de que, ainda muito jovem, ele havia atravessado tais períodos. Não tivera uma vida
financeiramente fácil, e tivera de ganhar seu sustento realizando uma série de coisas
diferentes. As faixas vermelhas na parte inferior da aura mostram que muitas vezes ele se
enfureceu e aborreceu e, embora essas experiências pertencessem ao passado, ele não
havia esquecido toda a oposição com que tivera de defrontar-se. De certa forma, essas
marcas refletem as lutas e dificuldades iniciais que o limitaram no passado, assim como as
linhas azuis refletem a tensão pela qual estava passando no momento.
133
Sua faixa verde tem um boa largura, e a cor amarela dentro dela mostra que o seu
trabalho sempre fora intelectual, mas novamente os inúmeros vórtices amarelos indicam
preocupação. Todo o amarelo acima mostra que, no passado, ele havia sido inteligente e
inovador, capaz de concentrar-se e refletir cuidadosamente a respeito dos fatos. Dentro da
faixa verde existe uma forma semelhante a um gráfico, símbolo de ordem. É a impressão
duradoura do trabalho de sua vida, síntese de sua maior realização. Ele havia sido uma das
primeiras pessoas nos Estados Unidos a criar medidas e a desenvolver o método de fazer
pesquisas de opinião pública - empreendimento posteriormente assumido pelo Gallup e
outras organizações. De fato, ele escreveu diversos livros sobre o assunto. Como implica o
símbolo na faixa verde, ele tinha a tendência a categorizar tudo, pois não apenas ele
ganhava a vida dessa forma, mas assim também sua mente funcionava normalmente. Ele
se sentia mais feliz quando podia reduzir tudo que o cercava a um padrão sistemático.
Pode-se dizer o mesmo do número 13; contudo, existia uma grande diferença entre os dois
homens, pois o tipo de ordem deste era mecânica e estatística, enquanto a daquele outro
era arquetípica e universal.
Quando estive com esse homem, ele tivera de abandonar seus negócios recentemente,
e o fim das pressões o deixara completamente desolado. Ele havia perdido o sentido de
direção que o trabalho lhe proporcionava, e estava tomado por preocupação e incerteza.
Sua ansiedade vinha se desenvolvendo há vários anos, e quando o vi ele estava em tão mau
estado que se deixara esmagar por seus dilemas e sentia-se incapaz de tomar qualquer
decisão. Infelizmente, ele estava além de qualquer ajuda e veio a falecer em pouco tempo.
Foi um caso trágico.
Gostaria de poder dizer que o caso desse homem era raro, mas, infelizmente, não é
assim. Na verdade, este caso é mais típico no mundo de hoje do que na época em que foi
feita a pintura. Existem muitos homens e mulheres dedicados e bem-intencionados, mas
cujas pressões da carreira e o desejo de sucesso os forçaram a colocar suas famílias em
segundo plano. Isso sempre contribui para relações tensas e difíceis.
Em muitas pessoas, o hábito de viver e trabalhar sob extrema pressão cria padrões de
estresse que acabam por levar ao fim, o que pode ser um efeito muito prejudicial sobre
suas famílias e as relações pessoais. Por isso é tão importante aprender a observar os sinais
de estresse em si mesmo, e tomar as providências para modificar padrões emocionais
negativos antes que seja tarde demais.
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18. Os efeitos da meditação em paciente com problema cardíaco crônico
Esta é a aura de uma extraordinária senhora russa na casa dos 40 anos, nascida com
um coração tão dilatado que os médicos que a examinavam de tempos em tempos se
surpreendiam por ainda encontrá-la viva. Contudo, ela havia sobrevivido a um período de
grande perigo e angústia; conquanto fosse inválida, desfrutava um casamento feliz e viveu
mais 30 anos depois da realização deste quadro. Ela era, de fato, um milagre da medicina.
À primeira vista, talvez essa aura não parecesse pertencer a uma pessoa enferma,
porquanto, embora opacas, as cores são notavelmente nítidas. Toda a aura exibe uma
simetria e equilíbrio gerais, pois as cores da região superior, em grande escala, se refletem
135
embaixo, sinal de integração pessoal. O cinza de medo e depressão, tão comuns em
doentes crônicos, é visível na aura inferior, mas a parte superior está límpida. Contudo,
essa aura pertence a uma mulher que convivia há anos com um grave problema cardíaco, o
qual lhe causava sofrimento contínuo.
A faixa verde torna-se bem menos intensa nas bordas, sinal claro de que suas energias
não estavam fluindo normalmente. Além disso, o azul da tensão não apenas obscurece a
parte inferior da aura, mas eleva-se através da própria faixa verde, afetando dessa forma
todas as suas atividades. Já disse antes que esta condição se faz presente quando a pessoa
se vê forçada além dos limites normais de resistência nervosa ou física. Essa mulher,
contudo, não possuía um temperamento nervoso, e seu estresse estava inteiramente
ligado à falta de energia provocada pela enfermidade. Toda a sua expressão emocional
estava colorida pela tensão. Como ela não dispunha de reservas para enfrentar exigências
repentinas, tinha de administrar suas energias com muito cuidado. Tudo o que fazia exigia
um esforço da vontade.
A ausência de muitos sinais de doença nesta aura deve-se, em parte, à prática da
meditação regular, ao longo de muitos anos. Todos os dias ela fazia um esforço consciente
para libertar-se das restrições emocionais tão frequentemente impostas pela enfermidade
e relacionar-se com as outras pessoas de forma amorosa e afetuosa. A cor preponderante
na sua aura é o rosa, mostrando que ela não apenas possuía uma natureza muito afetuosa,
mas também projetava esse afeto intencionalmente na sua meditação, procurando
expressá-lo em suas relações pessoais.
O azul e o violeta claros, no topo da aura, indicam sua dedicação aos ideais espirituais,
e a extensão dessas cores mostra que ela procurava praticar esses ideais na vida diária. A
ampla área verde que harmoniza o rosa na região superior da aura testemunha sua atitude
compassiva para com as outras pessoas, bem como sua receptividade ao que considerava a
beleza e harmonia inatas do mundo.
A posição do amarelo na aura superior, bem como sua tonalidade, evidencia nele o
gosto pela reflexão e a inteligência, mas indica também que sua mente estava mais
envolvida com as ideias abstratas do que com a solução de problemas práticos. Esta era a
sua inclinação natural, fortalecida pela doença, pois ela levava uma vida protegida, na qual
todas as suas necessidades usuais eram atendidas, não lhe causando, portanto, maiores
preocupações.
Como já disse, a faixa verde denota a sua falta de energia física e a incapacidade de
realizar qualquer trabalho ativo. A chama rosa na faixa resulta dos seus esforços para
manifestar afeto na vida diária e da percepção inconsciente de que seu verdadeiro
trabalho no mundo relacionava-se com as pessoas e com sua capacidade de ajudá-las
através da bondade e compaixão. As estrelas amarelas denotam seu interesse pelo
pensamento simbólico, o qual ocupava sua mente regularmente.
A região inferior da aura comprova que sua tranquilidade interior foi alcançada através
de esforços conscientes, e sem dúvida não resultava das circunstâncias físicas em que
nascera. O azul-acinzentado na base da aura, logo acima do costumeiro marrom do
egoísmo, mostra que a sua infância deve ter sido cheia de insegurança e medo. Existem
duas cicatrizes grandes e dolorosas dentro desse fundo azul-acinzentado, indicando que,
136
por volta de 25 ou 30 anos, ela deve ter atravessado um período de muita aflição, durante
o qual precisou suportar algum fardo pesado. Essas cicatrizes têm uma espécie de duplo
efeito. Elas mostram que, por um lado, ela tentava manter o equilíbrio, pois sentia que
tudo dependia dela e, ao mesmo tempo, estava desesperada porque não sabia o que devia
fazer.
O cinza que recobre o verde mostra que, apesar de ela agir, havia nessas ações a cor do
medo e da tensão. Tais experiências foram tão traumáticas que talvez tenham continuado
a influenciá-la pelo resto da vida. Curiosamente, embora ainda persistissem em sua mente
inconsciente, a prática da meditação lhe permitira deixá-las no passado, de modo que não
eram mais ativas nela.
A faixa laranja com um vórtice indica que os acontecimentos de sua vida, de certo
modo, lhe conferiram uma sensação de deficiência e inferioridade, o que ocasionalmente a
levava a reagir um tanto agressivamente, sobretudo em defesa daqueles que mais amava.
Contudo, uma reação desse tipo não era realmente compatível com seu temperamento, e
os efeitos prolongados da meditação provavelmente a dissiparam com o tempo. Ela era
uma pessoa que compreendia a vida mais através de uma espécie de percepção
compassiva do que por meio do pensamento consciente; assim, de certa forma ela não
solucionava os problemas, mas os dissolvia.
A aura dessa mulher é um registro extraordinário de seu trauma passado e de seu
presente estado de paz e harmonia. Criada na Rússia czarista, ela suportou os terrores da
Revolução, e sofreu, quando ainda uma jovem estudante, a perda de amigos e familiares.
Escapou com dificuldade para a Turquia, onde caiu prisioneira e suportou todo tipo de
aflição. Finalmente, conseguiu chegar aos Estados Unidos, mas seus problemas não haviam
terminado, pois ela não possuía recursos e precisou ganhar a vida e adaptar-se a um estilo
de existência muito diferente.
Todas essas dificuldades foram agravadas pela doença; no entanto, ela conseguiu não
apenas sobreviver, mas permanecer no controle da situação. Parte do segredo reside na
sua serenidade natural. Ela não se deixava dominar pelos problemas da vida, pois sempre
sentiu a força de uma presença espiritual que podia sustentá-la nas dificuldades. A
consciência dessa presença aumentou e aprofundou-se com a meditação.
Mais tarde, ela teve a grande fortuna de desposar um homem bondoso e competente,
por quem tinha adoração. Eles eram tudo um para o outro. Não apenas ele compartilhava
dos interesses da esposa, como era muito prático e confiante, e tinha prazer em aliviá-la
dos fardos da vida. Assim, embora ela suportasse constante sofrimento, quanto ao mais ela
vivia uma existência ideal. Conquanto passasse uma boa parte do dia sozinha, ela nunca
estava solitária, pois tinha muitos amigos na comunidade russa, os quais a visitavam
quando estava presa à cama. Eles lhe falavam de todos os seus problemas e buscavam seu
conselho, de modo que sua compaixão afetuosa encontrava constante escoadouro e forma
de expressão. Assim, ela tinha uma vida extraordinariamente plena, não obstante ser uma
inválida.
Ela tinha total consciência de suas limitações físicas, e aprendeu a administrar seus
recursos e gastos de energia extremamente bem. Quando se sentia enferma, recolhia-se ao
leito, às vezes durante semanas. Através da meditação, ela aprendeu a relaxar e manter a
137
calma quando estava sentindo dores. Da mesma maneira, abriu-se para as energias
superiores que a ajudavam a regular seu corpo, e estas a sustentaram até o fim da vida.
Ela estava convencida de que a meditação a mantivera viva e atuante muito além das
expectativas. Sempre considerei sua vida um exemplo das formas possíveis de trabalhar o
próprio karma e alcançar sua meta na vida, não obstante o que poderia afigurar-se como
dificuldades insuperáveis.
138
III- Possibilidades de Mudança e Crescimento
A Cura e a Prática da Visualização
Energia etérica
A atitude de cura
Qualificações do curador
A prática da visualização
143
Efeitos da cura sobre a aura
Os efeitos da cura sobre a aura do paciente podem ser fabulosos. Em primeiro lugar, o
influxo de energia emocional provoca a expansão da aura. Quando isto acontece, inicia-se o
processo de eliminação de alguns distúrbios e bloqueios na aura, reduzindo assim a
ansiedade. Este é um dos efeitos mais poderosos da cura. A ansiedade produz imagens
mentais assustadoras. Mas, se a imaginação é utilizada juntamente com a cura, ocorre um
efeito simultâneo: o sistema imunológico será fortalecido através do influxo de energia
etérica, e, à medida que as imagens assustadoras se dissipam, a aura recobra lentamente
sua integração e saúde.
No trabalho que tenho realizado com enfermeiras-curadoras nos últimos anos, descobri
que a prática da cura pode afetar tanto o curador quanto o paciente. A prática da
centralização e de auto-abertura consciente para as energias superiores expande e purifica
a aura. Falarei mais a este respeito no capítulo sobre meditação e autotransformação, mas
não posso concluir o tema da cura sem comentar que as enfermeiras que se abriram para
essas energias, no esforço de ajudar aqueles que estão enfermos, descobriram que a
prática começou a modificá-las também, de formas sutis mas significativas.
(6). O relato do desenvolvimento deste método de cura pela dra. Krieger foi
publicado em seu livro Therapeutic Touch, seguido de muitos outros relatos. Uma
descrição simples e direta dos procedimentos pode ser encontrada em Therapeutic
Touch, A Practical Guide, de Janet Macrae (Alfred A. Knopf, Nova York, 1988). Outro
livro que poderá ser de interesse nesta área é Spiritual Aspects of the Healing Arts, por
mim organizado (Theosophical Publishing House, Wheaton, Ill., 1985).
144
9. Novos Padrões Emocionais
Um dos maiores mistérios dos seres humanos é sua capacidade de efetuar mudanças
em suas vidas, de tomar uma direção totalmente nova. Transformações dramáticas deste
tipo costumam ocorrer quando a vida invoca um maior esforço, e o êxito da pessoa
depende de uma real confiança na própria capacidade de sucesso. Nesses casos, a
motivação para a mudança, em geral, provém de uma condição - seja ela causada por
enfermidade ou por algum outro fator - que não pode mais ser ignorada nem aceita. É
quando tomamos consciência da necessidade de um novo direcionamento em nossa vida e
decidimos encontrá-lo para que a mudança se torne possível.
Para muitos de nós, o principal obstáculo à mudança reside no fato de que os hábitos
emocionais estão tão arraigados em nossa natureza que não temos consciência dos
mesmos. Podemos sentir seus efeitos funestos por muitos anos até percebermos que
podemos fazer algo para modificá-los.
Quando chegamos a reconhecer que temos problemas, o primeiro passo é estar
disposto a admitir que estes, pelo menos em parte, foram criados por nós e, se quisermos
saná-los, temos de estar dispostos a mudar. Muitas pessoas dizem: "Eu sou o que sou e não
posso mudar." Estas tornam-se tão encasteladas em determinado padrão emocional
habitual que parece haver pouca possibilidade de real alteração em suas vidas. Elas
preferem agarrar-se a suas doenças - que lhes proporcionam uma espécie de segurança -
do que abandoná-las.
Por outro lado, muitas pessoas não estão satisfeitas consigo mesmas e realmente
querem ser diferentes; contudo, sentem-se incapazes de ajudar a si mesmas. Quando
nossos padrões emocionais se tornam estabelecidos porque as circunstâncias nos
forçaram, podemos sentir que não temos controle sobre nossas reações emocionais,
embora estas nos façam muito infelizes. Os resultados de tal atitude negativa podem ser
vistos claramente no caso 17, exemplo do que pode acontecer quando os padrões
emocionais se tornam tão arraigados que passam a dominar-nos.
Mas não precisamos ser vítimas de nossos próprios sentimentos. Quando tomamos
mais consciência de nossos hábitos emocionais, passamos a compreender que estes, em
grande medida, são autocriados. As circunstâncias podem estar além de nosso controle,
mas nossa resposta a elas jamais precisa estar. Não temos de nos entregar a elas. Existe
uma força dentro de nós que ainda é mais poderosa, e podemos liberá-la interiormente
quando estamos decididos a modificar o nosso futuro.
A motivação é o primeiro requisito. Pessoas gravemente enfermas amiúde obtêm
vitória, pois aqueles que estão desesperados se dispõem a fazer qualquer coisa para ter
alívio. Assim, para certas pessoas a motivação surge da necessidade de superar a doença,
mas, para outras, o estímulo à ação pode surgir da preocupação amorosa com outrem, ou
da aspiração de ter mais paz e harmonia interiores. Em qualquer caso, o reconhecimento
da necessidade de romper com padrões emocionais negativos constitui o requisito básico.
No esforço para efetuar mudanças pessoais, grupos religiosos, tais como ordens
monásticas cristãs e o Zen, praticam a disciplina rigorosa com seus membros. Certa vez, um
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jovem forte e saudável me procurou. Fora criado como católico em um lar americano
convencional e frequentara uma escola pública comum, onde se tornara um bom jogador
de futebol e atleta versátil. Não era muito religioso, e afigurava-se um garoto americano
típico. Conquanto não houvesse travado nenhum contato anterior com o Oriente, as
circunstâncias levaram-no à Índia, onde ele visitou Dharmasala, morada do Dalai Lama e
centro do Budismo tibetano. Ele ficou tremendamente impressionado tanto com o
ensinamento budista quanto com o modo de vida por ele produzido, e ali mesmo decidiu
que queria tornar-se monge.
Durante dois anos, esse jovem americano submeteu-se ao treinamento mais rigoroso,
completamente estranho ao seu passado cultural ou religioso. A prática monástica tibetana
visa à libertação do ego, inclui o canto de mantras, bem como o permanecer sentado
imóvel em meditação por longos períodos de tempo. Depois de dois anos dessa prática
severa, ele foi iniciado e tornou-se monge. Esta realização exigiu real determinação,
autocontrole e a capacidade de aceitar a disciplina. Desde então, ele já realizou uma série
de tarefas na Europa e no Ocidente; deixando o próprio ego de lado, ele se colocou a
serviço do Budismo tibetano, feito extraordinário para um jovem americano independente
e individualista.
Cito esse homem como exemplo de alguém que obviamente decidiu mudar a própria
vida e estava disposto a submeter-se à disciplina mais rigorosa, a fim de alcançar seu
objetivo. Ele também modificou sua natureza emocional, como resultado da prática para
renunciar ao ego. Este talvez seja um caso extremo, mas ilustra o que estou querendo
mostrar: para mudar, é preciso esforçar-se de todo coração e dispor-se a abandonar todos
os antigos hábitos de pensamento e comportamento. Embora para a maioria das pessoas
não seja preciso alterar o modo de vida tão drasticamente quanto aquele jovem, deve
haver a disposição para fazê-lo.
O esforço para romper padrões emocionais não pode ser hesitante nem esporádico;
deve ser constante. Quando você acredita na importância da mudança, esta necessidade
virá em primeiro lugar. Não é muito diferente do tipo de treinamento ao qual os atletas
estão dispostos e ansiosos por se submeter a fim de alcançar a excelência no esporte, ou
da autodisciplina exigida para libertar-se de um mau hábito, como, por exemplo, fumar. Se
você fraqueja por alguns dias, ou volta aos velhos hábitos, o esforço será em vão. A
determinação de mudar precisa sobrepujar outros interesses e desejos.
Por este motivo, os fatores primordiais no processo de mudança são a motivação, a
autoconfiança e a estabilidade. Quando todas essas são firmes, a prática do esforço
disciplinado pode ser não apenas aceitável, mas até mesmo agradável, porquanto se
integra à vida diária como um princípio ordenador ou estabilizador.
A necessidade de disciplina
A aceitação da disciplina ocorre naturalmente quando você decide ser ela fundamental
a seu propósito. Sob alguns aspectos, a disciplina imposta por uma prática reconhecida, tal
como o Zen, é a mais fácil de ser seguida, pois as regras já estão estabelecidas para você.
146
Mas esse tipo de treinamento não serve para todos, e muita gente o acha demasiado
restritivo. A disciplina auto-imposta tem a vantagem de poder ser moldada de acordo com
as suas necessidades, mas ela exige o mesmo nível de estrutura na vida diária; ademais,
você mesmo tem de criar tal estrutura, o que pode ser difícil. Mas, novamente, a disciplina
não é muito diferente daquela exigida por programas de preparo físico tão populares nos
dias atuais, pois eles também exigem constante atenção ao horário diário.
Talvez os atletas sejam tão admirados porque se dedicam totalmente a sua arte. Creio
que muitas dificuldades que os jovens enfrentam hoje se devem à ausência de propósitos
em suas vidas; eles vagueiam sem saber o que querem ser ou fazer. Para eles, a falta de
direção é desorientadora. Não precisam da liberdade total, apesar do que é proclamado
frequentemente, mas, sim, do movimento oposto rumo ao desenvolvimento de alguma
estrutura e propósito em torno dos quais possam organizar suas vidas.
Pessoas idosas, em geral, deploram a perda de valores e da ética na sociedade
moderna. Eu me junto a elas. Mas cada época tem seus próprios valores, e hoje o brado é
pela liberdade: de restrições, da moralidade convencional, de escolha, de ação e, acima de
tudo, liberdade para ser você mesmo. Valores antigos, como honestidade e autenticidade,
imiscuem-se todos com o impulso do momento, que se tornou critério para a liberdade.
Assim, esta atitude tem um elemento de idealismo, ainda que os resultados estejam longe
do ideal.
O sentimento de que se tem direito absoluto à liberdade e sua expressão, via de regra,
é tão intenso que parece que a vida não vale a pena ser vivida sem ele. Essa convicção está
por trás da debandada de jovens da Europa oriental para o Ocidente, e para tal se
dispuseram a colocar em risco a si mesmos e a suas famílias. Nós aplaudimos tal feito. Mas,
dentre um grande número de jovens, a paixão pela liberdade vincula-se à sexualidade, que,
por sua vez, se torna preocupação opressora, mais importante do que qualquer outra coisa.
Então, eles desenvolvem um padrão emocional de dependência de tal estímulo. Não
percebem que, na sua busca da liberdade, simplesmente trocaram uma forma de cativeiro
por outra. Se eu pudesse mostrar a aura de uma pessoa assim, você veria uma total
dissociação entre o topo, pleno de idealismo, e a base, desfigurada pelo comportamento
compulsivo.
A consciência do propósito
Autoconsciência
Padrões de hábito
As raízes da autoconfiança
Houve uma época em que alguns terapeutas defendiam a ideia de que os sentimentos
sempre deviam ser expressos livremente: se você sentia raiva, devia liberá-la. Eu trataria da
raiva de forma muito diferente. Quando você sente a raiva crescendo, concordo que você
deva dizer: "Estou furioso", pois é extremamente importante reconhecer o sentimento que
se está avolumando em seu íntimo, e não reprimi-lo. Via de regra, os indivíduos
racionalizam a raiva, ou a negam, ou lhe dão outro nome, ou afirmam que a culpa é de
outra pessoa ou coisa. Isso quer dizer que não assumem a responsabilidade pela própria
raiva. Se você diz: "Tenho o direito de ficar zangado porque você me magoou," então nada
pode deter o fluxo de energia da sua raiva. Você a está reforçando, dando-lhe sua
aprovação.
Então, se você está zangado, jamais deve negar este sentimento, mas é importante
dizer a si mesmo: "Admito que neste momento estou zangado." Existem ocasiões em que
não conseguimos evitar a raiva, e é importante ser honesto em relação a ela. Mas, se
acrescenta as palavras "neste momento", você também está dizendo que vai elaborá-la e
livrar-se dela. Em outras palavras: "Estou zangado, mas não vou entregar-me a este
sentimento nem deixá-lo dominar-me." Esta afirmação é uma espécie de sinal para nós
mesmos de que recusamos a raiva como condição permanente. E ajuda a evitar o
desenvolvimento de um ressentimento reprimido que pode persistir ao longo de semanas
e até mesmo meses e anos, transformando-se em aversão implacável. Se você admite para
si mesmo que se enfureceu e se irritou, não irá incorporar isto, inconscientemente, como
uma parte sua. Por outro lado, você não deve concentrar atenção demais neste
sentimento, remoê-lo ou sentir-se culpado, pois, então, só estará revivendo a raiva e
reforçando-a.
A raiva reprimida ao longo dos anos transforma-se em ressentimento, um dos estados
emocionais mais difíceis de superar. A raiva surge repentinamente, e, se ela não se torna
um hábito, é possível livrar-se dela bem rapidamente. O ressentimento, por outro lado, é
resultado da raiva reprimida, em geral porque a pessoa não estava em posição de liberá-la.
Portanto, combina-se frequentemente com um sentimento de impotência e frustração, e,
como resultado, pode permanecer latente durante anos, corroendo o amor-próprio e
envenenando as relações pessoais. Ele é muito mais sutil do que a raiva e bem mais difícil
de superar, pois pode manter-se oculto dentro de nós por muito tempo.
Hábitos de ansiedade e ressentimento podem ter início logo no começo da vida. Se nos
sentimos injustamente tratados, seja por nossos pais ou por algum amigo, é natural
sentirmos raiva e ressentimento naquele momento. Quando este ressentimento cresce ao
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longo de meses e até mesmo anos, ele se torna extremamente prejudicial. Começamos a
perceber outras pessoas exibindo algumas das características com as quais nos
ressentimos, o que pode envenenar todas as nossas relações.
Conheci, certa vez, uma mulher de negócios bem-sucedida que me procurou porque se
sentia tão infeliz em seu trabalho que estava pensando em se demitir. Embora seu cargo na
companhia fosse importante e de responsabilidade, ela detestava tanto o homem com
quem tinha de trabalhar que a satisfação com a sua carreira estava completamente
destruída. Ela considerava a indelicadeza e grosseria desse homem resultado de implacável
antipatia com relação a ela, destruindo, assim, sua autoconfiança.
Aconselhei-a a inverter os papéis com esse homem. Em vez de ver-se como vítima das
emoções negativas dele, ela devia fazer o esforço positivo para enviar-lhe pensamentos de
simpatia e compaixão - dos quais, sem dúvida, ele devia necessitar, sendo tão
desagradável. A mudança resultante em seus sentimentos a fez relacionar-se muito mais
facilmente com ele, e, como consequência, as barreiras entre ambos caíram e o homem
confiou a ela todos os problemas que o haviam tornado tão difícil. Como tais problemas
nada tinham a ver com ela pessoalmente, essa mulher passou a perceber o relacionamento
de ambos de forma bastante diferente, o que estabeleceu bases inteiramente novas para a
relação.
Incidentes deste tipo mostram o quanto o ressentimento pode obnubilar nossa
percepção das outras pessoas e impedir a capacidade de fazer julgamentos claros e
impessoais acerca de nossas relações. A fim de romper com esse padrão destrutivo, temos
de tomar consciência das bases do sentimento de ressentimento ou da falta de
autoconfiança. Quando percebemos que estamos sucumbindo ao mesmo tipo de reação
negativa por nós sentida repetidamente, devemos parar, respirar fundo e dizer com leveza
às outras pessoas: "Ei, já estou eu fazendo a mesma coisa de novo." Então, devemos
modificar deliberadamente o padrão de nosso pensamento, visualizando alguma cena ou
lembrança agradável. Isto modificará o foco de nossa atenção e romperá o ciclo de reação
automática.
A depressão é outro padrão emocional crônico. Semelhante à ansiedade, é difícil lidar
com ela porque não apenas suga a força física, mas, também, reduz a entrada de energia a
tal ponto que o esforço se torna quase impossível e a pessoa se torna muito letárgica. Por
isso, o movimento físico é parte tão importante da terapia. Caminhar é um bom exercício,
e pode energizar uma pessoa o suficiente para modificar seu estado de espírito. Costumo
recomendar a dança folclórica, pois o movimento ritmado por si só já é harmonizador, e a
companhia de outros dançarinos estimula a interação humana. Enquanto dança, a pessoa
está realizando um movimento ordenado em um grupo de indivíduos voltados todos para a
mesma coisa, e que, portanto, são amigáveis e compreensivos. A dança, em si, é
revigorante, e a capacidade de realizá-la traz uma sensação de vitória.
152
O local do idealismo
Se tivéssemos em nossa cultura algo que reforçasse a dimensão espiritual que defini
como fonte do verdadeiro ser em cada um, seríamos encorajados a tentar encontrar e
vivenciar este ser por nós mesmos. Poderíamos aceitar sua realidade como parte do
potencial humano - ideal passível de ser realizado em nossa vida. Infelizmente, o idealismo
foi desvalorizado por nossa cultura, alegando-se que ele não é realista, não possui base
racional, não é prático, varia segundo a experiência de vida, e assim por diante. Mas o
idealismo e a realidade estão longe de ser incompatíveis. Ao longo da História, as pessoas
que modificaram o mundo eram idealistas que tinham os pés no chão e souberam realizar
os seus objetivos.
Tenho dito que os seres humanos precisam de objetivos para criar a motivação, e os
objetivos, em geral, baseiam-se em um ideal de excelência. A motivação, por sua vez,
provém da confiança em si mesmo - do sentimento de valor próprio. Muitas pessoas
aparentemente não percebem a grande diferença que existe entre autoconfiança e
egotismo. A auto-estima gera a confiança de que você é capaz de superar as dificuldades e
limitações, o que faz com que suas energias fluam livremente para o exterior. Na verdade,
uma forte consciência do ser constitui elemento essencial em todo ato criativo.
Pessoas egocêntricas voltam suas energias para o próprio corpo. Isto bloqueia a
habilidade natural de mostrar-se sensível aos demais. Essas pessoas tornam-se
excessivamente interessadas em como se sentem, e isto se torna fator dominante em suas
vidas e pode levar à doença e à depressão.
Em contraste, pessoas reformistas, como no caso 11, têm uma forte consciência do
ser, mas, ao mesmo tempo, são idealistas. Estas são as que sacodem e modificam o
mundo. Os reformistas podem ser equivocados ou até mesmo fanáticos, mas sua
motivação é fundamentalmente o bem dos demais. Sentem muito fortemente que sabem
o que deve ser feito, e como fazer, e a força de sua convicção mobiliza muitas pessoas à
sua volta. Apenas quando a autoconfiança se dilata e se transforma em farisaísmo e seu
fervor transmuta-se em fanatismo eles se tornam perigosos, pois então não podem tolerar
a discordância. (Este é o estado que o caso 11 reconheceu estar incipiente em sua pluma
laranja, e decidiu livrar-se dele.)
Altruismo
Existe um ponto de vista de que tudo o que você faz se origina fundamentalmente do
interesse próprio, e que, se tenta ser útil a outrem, é apenas porque obtém satisfação com
o esforço. É claro que você fica satisfeito, mas não é este o motivo que o leva a agir assim.
Outros sugerem que você realiza boas obras na vida a fim de ser recompensado pelas
mesmas numa vida futura, em vez de realizá-las simplesmente porque eram necessárias.
Chogyam Trungpa, lama tibetano, tinha uma boa expressão para esta atitude. Ele a chamou
materialismo espiritual, que significa dar para receber alguma recompensa - espécie de
153
permuta espiritual. Mas todas as religiões ensinam que a simples oferta de auxílio porque
alguém dele necessita é a base da ação correta. Infelizmente, em nosso atual sistema
educacional, a aceitação do altruísmo como princípio regente da vida praticamente
desapareceu.
Muitas pessoas, todavia, preocupam-se realmente com os problemas de nosso mundo.
Desejariam de todo coração poder fazer algo positivo para ajudar, mas não confiam na
própria capacidade. Nestes tempos de pressão, podemos ajudar tentando não reagir à
tensão que nos cerca. Duas ou três vezes ao dia, centralize-se e seja um manancial de
tranquilidade, enviando pensamentos de paz. Esta atitude traz efeitos positivos definidos.
Ela sustenta nossa aspiração altruísta de servir a humanidade e, ao mesmo tempo,
desenvolve a relação com as esferas superiores de nossa consciência e com aquilo que
chamei "ser eterno".
Nunca sugiro que as pessoas não devem ter uma vida particular satisfatória. Os ganhos
pessoais, contudo, crescem em importância quando tomamos consciência de sua base
universal. Nossa própria experiência ganha significado e mostra seu valor de acordo com a
totalidade da vida humana. Quando os grilhões de interesse estreito são rompidos pela
força do altruísmo, nossa afeição e boa vontade são libertadas para lançar sua energia
livremente no mundo mais amplo das relações humanas, o que traz benefícios para todos.
154
10. Meditação e Desenvolvimento da Intuição
Em capítulos anteriores, indiquei algumas das atitudes e esforços básicos que se fazem
necessários para realizar mudanças nos padrões emocionais. Agora, gostaria de
aprofundar este tema e falar de auto transformação em sentido mais profundo.
O desejo de aprender, crescer, transcender nossas limitações é fundamental em todos
nós. Estudamos, formamo-nos, praticamos diferentes habilidades a fim de desenvolver
nossa mente; fazemos exercícios, controlamos nossa dieta, jogamos a fim de aprimorar a
saúde física. Tenho procurado mostrar que também podemos cultivar e aprimorar nossas
emoções quando descobrimos a importância desta atitude para nós. Além disso, muitos de
nós desejamos ser pessoas mais amorosas e altruístas - desejamos libertar-nos de atitudes
estreitas e de motivações egoístas. Convencidos da existência de uma realidade espiritual
mais profunda, duradoura, feliz, compassiva, unitiva do que qualquer outra experiência de
vida, queremos alinhar-nos com essa realidade. Para tal, sabemos instintivamente que
precisamos tentar escapar ao cativeiro do ego pessoal.
Estas são algumas das razões que levam as pessoas a buscar a prática do Zen, a ioga, a
dança sufi ou o estudo do Budismo tibetano. Todos esses métodos podem ajudar-nos a
alcançar a meta da auto transformação; todos incorporam algum forma de meditação ou
disciplina mental, a fim de abrir ao estudante as possibilidades de um tipo de consciência
diferente. A meditação costuma ser apresentada como técnica de relaxamento ou método
para reduzir o estresse, e pode ser muito útil sob estes aspectos. Mas ela possui
características muito mais profundas. Seu maior benefício potencial reside no fato de ela
oferecer a possibilidade de acesso às dimensões da consciência que estão além da
personalidade pessoal.
Pode-se dizer que a meditação possui um duplo propósito. É uma forma de relacionar-
se com os aspectos mais profundos da própria natureza, mas não é só isso. É também um
modo de relacionar-se com uma realidade muito maior, a respeito da qual podemos
pensar sob diferentes aspectos: como a natureza de união fundamental, ou como a
dimensão espiritual, como Deus ou o Meio Divino. Assim, a meditação está longe de ser
tão-somente a retirada para um estado passivo interior (como afirmam alguns). Ela é uma
experiência dinâmica da identidade do ser interior com a totalidade - cuja extensão é tão
ampla que na verdade é ilimitada.
Esta experiência pode trazer efeitos recíprocos. Nossa necessidade de direção nos leva
a meditar,·e a prática por sua vez ajuda a elucidar nosso propósito. Isto porque a quietude
interior dá a este propósito a chance de emergir - o que é impossível quando estamos
envolvidos no turbilhão e conflito tão comuns à vida diária.
Mudança de direcionamento
Medo da auto-ilusão
Por esse motivo, a prática da meditação não somente nos proporciona o sentimento de
paz, mas também nos energiza. A experiência acelera a atividade do chakra cardíaco, que
lentamente começa a afetar a conexão com os demais centros superiores. Quando isso
acontece, ela nos abre para influências de uma dimensão superior e estabelece um padrão
emocional integrador, em contraste com os padrões conflitantes que nos puxam para
direções diferentes ao longo do dia. Assim, a meditação produz um estado de totalidade e
serenidade interior capaz de sustentar-nos em períodos de tensão.
Na aura existe, amiúde, inúmeras condições emocionais momentâneas que bloqueiam
a expansão da consciência. Quando a meditação inclui não apenas a retirada para o próprio
centro, mas também o esforço deliberado para enviar paz e amor ao mundo, a expansão
resultante da aura atua diretamente, dissolvendo as cicatrizes de eventos traumáticos. Os
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resultados manifestam-se na aura na forma de cores mais claras, maior luminosidade e
uma sensação geral de harmonia, equilíbrio e integração. São diferenças sutis, mas talvez
possam ser percebidas nas auras 13, 14 e 18, todas de pessoas que meditavam há muito
tempo, e também na 7, na qual a prática da meditação era mais recente.
A meditação estimula as energias superiores, e a liberação destas dentro de nós
modifica radicalmente nossa perspectiva. A consciência que este processo cria, nos ajuda a
ver as pessoas sob nova luz, e começamos a nos perguntar como nós as influenciamos, e
não o contrário. Em geral, levantamos barreiras entre nós e as outras pessoas, mas,
quando tentamos regularmente sentir amor, baixamos nossas defesas e nos tornamos
muito mais abertos. Assim começamos a ganhar uma nova consciência do significado de
nossas relações interpessoais. À medida que nos tornamos mais sensíveis aos outros,
aumenta nossa capacidade de interagir com as pessoas de maneira positiva.
Técnicas de meditação
Meditação no coração
Desapego
Tenho dito que, ao sentirmos paz dentro de nós, a perspectiva que temos do mundo e
dos relacionamentos começa a mudar. Uma das diferenças é o aumento do desapego.
Parece haver um grande mal-entendido acerca do significado dessa palavra, que as pessoas
confundem erroneamente com a impessoalidade fria que se mantém distante das dores e
problemas dos demais. Desapego não significa que deixamos de ter sentimentos pelas
outras pessoas ou de ser solidários com seu sofrimento. Significa que não nos envolvemos
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pessoalmente com seus problemas em nível emocional- atitude que, na verdade, pode
impedir-nos de servi-las. As enfermeiras sabem, por experiência própria, que não podem
ajudar um paciente em sofrimento se não puderem manter sua força e serenidade.
Quando se centraliza na meditação, você está vivenciando conscientemente a
totalidade, sua unidade indivisa com tudo o que existe. Você vê a si mesmo, e às outras
pessoas com quem se relaciona, como parte desta imensa totalidade. É neste sentido que
interagimos com as pessoas de forma mais autêntica. No nível pessoal, estamos sempre
separados uns dos outros pelas barreiras do ego, mas estas não existem neste nível mais
profundo. Quando conseguimos desapegar-nos do interesse particular, podemos estar com
as pessoas de maneira muito mais duradoura.
A projeção do amor
A meditação auxilia este processo, pois atrai energia de uma dimensão mais universal.
Se queremos desenvolver este potencial e utilizá-lo plenamente, devemos tentar sentir
amor todos os dias, e projetá-lo para todos aqueles que sentimos necessitados. Isto é
importante, por muitas razões. Via de regra, achamos que o amor só é pleno se for
recíproco, e, quando não ocorre esta sincronicidade entre as pessoas, o resultado é muito
sofrimento. Se nosso amor é pessoal, ele pode ser inconscientemente exigente, o que
agrava os problemas emocionais .
Na meditação, contudo, sentimos uma forma de amor diferente, um fluxo ou doação
do ser que nada exige e nada pede em troca. Quando se é capaz de dar amor sem reservas,
sem dúvidas, sem medo de perda e sem pensar em si, esta energia alcança outras pessoas
em nível superior, onde elas podem utilizá-la a fim de mobilizar seus próprios poderes e
ajudá-las a solucionar seus problemas. É isto que quero dizer com desapego.
Quando se centraliza na meditação, você está vivenciando conscientemente a unidade
com este nível mais profundo. Você se sente, e percebe as pessoas com quem se relaciona,
como parte de um todo maior. Assim, começa a perceber, através da própria experiência,
que o mesmo potencial de totalidade e paz existe em todos e, enviando pensamentos de
amor para as pessoas, você está tentando alcançá-las nesse nível mais profundo. Assim
fazendo, você se abre para as energias muito maiores e mais poderosas de uma dimensão
superior. Portanto, se quiser desenvolver esse potencial e usá-lo em toda a sua plenitude,
você deve tentar projetar regularmente o máximo de amor de que for capaz. Como disse o
Dalai Lama, se todos sentíssemos paz e compaixão, a guerra e a violência chegariam ao fim.
Em tempos como estes, quando o mundo é sacudido pela dúvida e a ansiedade, podemos
ajudar a iluminar a atmosfera de toda a Terra enviando nossas energias de paz e amor.
Intuição
A experiência de união
A transformação que ocorre através da conversão religiosa tem início no mesmo nível;
no entanto, é muito mais abrangente. Como no caso de São Francisco (e muitos outros, tais
como Madre Teresa em nossa época), ela pode ser repentina, mas toda a vida constituiu
uma preparação para esse momento, quando todas as energias - não só as do corpo e da
mente, mas também as do espírito - se fundem em um todo. Em um relâmpago, as nuvens
se dissolvem, as barreiras caem e ocorre o despertar para a realidade espiritual, que
penetra e transforma cada nível, chegando até o corpo físico.
Contudo, existem aberturas menores para a "introvisão", anteriores a essa conversão
total, que nos fornecem vislumbres da natureza da realidade espiritual. Quando vemos
uma linda paisagem e nos sentimos parte dela, temos a sensação de estar participando de
um todo muito maior do que aquele que conhecemos. Muitos de nós temos a mesma
sensação quando ouvimos música. A experiência da beleza toca o coração, expandindo os
limites do ser a tal ponto que essa vivência pode ser chamada experiência de união - pois
se perde o sentimento de aprisionamento dentro de si, ou de limitação na consciência do
"eu".
A meditação não é para todos, mas é uma das portas para essa experiência de união. O
interessante é que nosso sentimento de expansão, que parece incluir o mundo todo, é
alcançado quando nos retiramos para a quietude interior. Dentro e fora não são mais
opostos. Isto acontece porque aquietamos a turbulência de nossa vida emocional e mental,
que, em geral, nos impede de "ouvir" a quietude interior. Assim, recuperamos a sensação
de ser parte de um todo universal dentro do qual nada é esquecido, e ninguém é excluído.
Quando vivenciamos esse nível de totalidade, estamos recorrendo a um tipo de
energia diferente, e esta, lentamente, penetra os outros níveis da consciência. Se
meditamos habitualmente, a sensação de unidade com o mundo jamais é inteiramente
perdida; ela se torna a base da vida. Quando tomamos consciência desse nível, novas
energias nos preenchem, e isto pode exercer um efeito transformador. Temos essa
experiência de diferentes maneiras através da meditação: às vezes, na forma de uma onda
de amor e compreensão; em outras, como clareza mental; e ainda, na forma de imagens ou
símbolos visuais, como uma liberação de imaginação criativa ou a capacidade de
concretizar nossas crenças e convicções mais profundas.
Portanto, a prática da meditação pode fortalecer os potenciais que nos são inatos. Ela
pode manter-nos calmos e estáveis em meio às dificuldades. Pode tornar-se parte tão
integrante de nossa vida que sua presença influencia tudo o que dizemos e fazemos.
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Quando alcançamos este estágio, a meditação deixa de ser tão-somente uma prática
formal para a qual nos sentamos. Ela se torna um elo que podemos restabelecer através da
atenção momentânea. Assim, as energias superiores que são despertadas podem tornar-se
um componente ativo da vida diária.
Desta forma, as energias de que não tínhamos consciência vão pouco a pouco sendo
liberadas e tornam-se mais ativas em nós. Quando a mente e as emoções aprendem a
tornar-se sensíveis às dimensões superiores, estas energias podem ser utilizadas sempre
que se fizer necessário. À medida que nos tornamos mais atentos, elas se tornam mais
reais para nós - recurso que possui inúmeras utilizações práticas. Alcançando a consciência
da unidade com "o ser interior e eterno", desenvolvemos a vontade e a motivação para
romper com antigos padrões restritivos e para reconstruir-nos - e somos nós mesmos que
produzimos essa transformação.
Se temos a firme intenção de viver em harmonia com a totalidade, tal atitude não
pode confinar-se aos poucos minutos por dia durante os quais meditamos. Ela tem de
permear cada dimensão de nossa consciência, incluindo o plano físico. Mesmo quando a
meditação é praticada com regularidade ao longo de um período de tempo considerável,
ela não nos modifica enquanto não começa a permear os nossos atos. Mas, quando isto
acontece, nossa intenção torna-se um instrumento que nos ajuda a lidar com as
dificuldades, uma arma que nos auxilia a derrotar nossos impulsos egoístas - sobretudo na
área das relações interpessoais. Quando a sensação de unidade vivenciada na meditação
persiste ao longo do dia, nossa vida começa a refletir aspirações espirituais. Então, nosso
enfoque não se restringe mais aos limites estreitos da personalidade - do ego -, pois
alcançou a dimensão universal do ser que não conhece limites.
Neste mundo, tudo está interligado com todo o resto. Quando, na meditação,
começamos a perceber que o mundo físico é essencialmente um com - e expressão da - a
realidade espiritual, adquirimos uma compreensão mais profunda do significado da vida
humana. Isto pode modificar-nos no sentido mais profundo, pois nossos pensamentos,
nossos atos, tudo o que sentimos e fazemos fluirá naturalmente dessa compreensão.
Não precisamos tornar-nos santos ou ascetas para iniciar esse processo de integração.
Ele exige apenas um propósito real, um compromisso verdadeiro. Então, não importa
quantos erros cometemos, o fluxo da vida diária será uma continuação da nossa meditação,
e os maiores ideais tornar-se-ão parte integral de nossos atos e da experiência.
Essa integração do "ser eterno" com o "ser pessoal" é a meta não apenas daquele que
medita, mas de todos os que buscam o verdadeiro sentido da vida humana.
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