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Silas Malafaia

ALERTA
À LIDERANÇA
GERÊNCIA EDITORIAL Copyright © 2014 por Editora Central Gospel
e de PRODUÇÃO
Gilmar Vieira Chaves
Dados Internacionais de Catalogação
Coordenação na Publicação (CIP)
Editorial
Michelle Candida Caetano

Alerta à liderança / Silas Malafaia


COORDENAÇÃO
Rio de Janeiro: 2014
DE COMUNICAÇÃO
64 páginas
E DESIGN
Regina Coeli
ISBN: 978-85-7689-439-1
1. Bíblia - Vida cristã I. Título II.
pesquisa,
Estruturação e
copidesque As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas
Marcus Braga da Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), salvo
indicação específica, e visam incentivar a leitura das
Revisão Sagradas Escrituras.
Paulo Pancote
Queila Memoria É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste
livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos,
CAPA xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações
André Faria breves, com indicação da fonte bibliográfica.

diagramação Este livro está de acordo com as mudanças propostas


Eduardo Souza pelo novo Acordo Ortográfico, que entrou em vigor a
partir de janeiro de 2009.
impressão e
acabamento

1ª edição: Dezembro/2014

Editora Central Gospel Ltda


Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara
Cep: 22.713-001
Rio de Janeiro – RJ
TEL: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com
Sumário

Introdução....................................................................5

Capítulo 1 – Falando sobre liderança......................... 11

Capítulo 2 – A importância e necessidade do descanso.17

Capítulo 3 – O abuso da autoridade


O equilíbrio na liderança..........................25

Capítulo 4 – O abuso da graça


O equilíbrio dentro dos limites de Deus....33

Capítulo 5 – Mantendo o foco


O desenvolvimento de estratégias.............43

Capítulo 6 – Jesus no centro do foco


Renúncia à autopromoção........................49

Conclusão..................................................................57
PREFáCIO

Vós, senhores, fazei o que for de justiça e


equidade a vossos servos, sabendo que também
tendes um Senhor nos céus.
Colossenses 4.1

Deus está chamando líderes. Não detentores


de poder. Nem artistas especializados em coman-
dar shows. Nem peritos em congratulações mútu-
as. Nem manipuladores de multidões. Deus está
chamando líderes!
Podemos citar o Dr. Myles Munroe, decla-
rando que “todos foram chamados à liderança”.
Qualquer pessoa pode seguir um caminho, mas só
um líder é capaz de iluminá-lo. Isso não costuma
ser fácil.
Se você é um líder, muita gente depende de
você: Família e amigos precisam de líderes que
lhes sirvam de modelo de vida motivada para um
propósito. Filhos precisam de líderes que os ajudem
a atingir seu pleno potencial. Igrejas precisam de
líderes que tracem o curso e equipem os santos.

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Alerta à Liderança

O mundo dos negócios precisa de líderes que


construam grandes locais de trabalho ao mesmo
tempo em que produzam lucro. As comunidades
precisam de líderes que criem um lugar melhor
para as pessoas viverem.
Enquanto outros dependem de você, de quem
você pode depender? A resposta é de Deus, o Líder
supremo!
O problema mais crítico que a igreja enfrenta
atualmente é o vácuo de liderança que cresceu ao
longo do último século. O especialista em igrejas e
estatístico norte-americano George Barna afirmou:

A liderança continua a ser uma necessi-


dade evidente da igreja. As pessoas, com fre-
quência, desejam seguir a visão de Deus, mas
também, com frequência, não possuem uma
exposição da visão ou da verdadeira liderança.

Há alguns anos, Barna escreveu conclusões


sóbrias a partir de suas pesquisas: “Após 15 anos
de estudo no mundo ao meu redor, cheguei a
várias conclusões a respeito do futuro da igreja
cristã na América. A conclusão principal é que a
igreja norte-americana está morrendo por falta de
uma liderança firme. Nessa época de oportunida-
des sem precedentes e abundância de recursos,
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Silas Malafaia

a igreja, na verdade, está perdendo influência. A


primeira razão é a falta de liderança. Nada é mais
importante do que a liderança”.
Tudo começa e termina na liderança. Com
isso, afirmamos que, mais do que qualquer coisa, a
liderança de um grupo ou organização determinará
seu sucesso ou fracasso. Você pode ver o impacto
da liderança com frequência na Bíblia. No Israel
antigo, quando o povo de Deus tinha um bom rei,
tudo ia bem com a nação. Quando o povo tinha
um rei perverso, as coisas iam mal para todos.
O chamado à liderança é um padrão constante
na Bíblia. Quando Deus decidiu erguer uma nação
para si, Ele não chamou as massas. Ele convocou
um líder: Abraão. Quando quis libertar Seu povo
do Egito, Ele não o guiou como um grupo, mas
levantou um líder para fazer isso: Moisés. Quan-
do chegou a hora de entrar na Terra Prometida, o
povo seguiu um homem: Josué. Sempre que Deus
desejou fazer algo grandioso, Ele chamou um líder
para tomar a frente. Ainda hoje, ele chama líderes
para conduzir a execução de cada grande obra.
Um seguidor de Deus deveria ser um líder do
povo. Isso é mais do que ser apenas “chefe” ou ter
uma posição de liderança. E isso, com certeza, não
significa impor-se ou estar no controle. Jesus ensinou
que isso significa servir os outros (Mateus 20.25-28).
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Alerta à Liderança

Enquanto houver um dom da liderança (Romanos


12.8), você precisa ter esse dom para exercer influ-
ência à semelhança de Cristo. Liderança é influência
– nada mais, nada menos. Se você estiver sendo sal
e luz, como Jesus ordenou, então você já começou
a obedecer ao chamado à liderança.
No entanto, a liderança traz em si outra
importante característica – responsabilidade. E,
infelizmente, somos testemunhas de uma grande
epidemia que afeta os líderes cristãos ao redor do
mundo, uma verdadeira crise de liderança que
tem como causa a ausência absurda de respon-
sabilidade que atua sobre os líderes. Tal falta de
responsabilidade possui várias causas, porém, a
principal é um “estado de ignorância”, que se tra-
duz em “estado de quem não tem conhecimento,
cultura, por falta de estudo, experiência ou prática”
(Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).
Neste livro, pastor Silas Malafaia tece impor-
tantes observações acerca da liderança, tal como
Deus a considera. Essas observações são ímpares,
e buscam orientar os líderes, ou seja, cada um de
nós, sobre erros, falhas e vícios que não devem ser
cometidos – e jamais repetidos – no exercício do
papel da liderança.
Neste alerta à liderança somos alimentados
pela certeza de que você, seja qual for o seu papel
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Silas Malafaia

como líder, seja ele eclesiástico, empresarial, corpo-


rativo ou familiar – venha a compreender e colocar
em prática os verdadeiros valores cristãos contidos
em cada ponto abordado, e que experimente a
certeza de que “a diferença entre pessoas comuns
e as bem-sucedidas é a percepção e resposta ao
fracasso”.
Uma boa leitura,
Pr. Jefferson Magno Costa.

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Capítulo 1

Falando sobre
liderança

Mas Jesus, chamando-os a si, disse-lhes:


Sabeis que os que julgam ser príncipes das gen-
tes delas se assenhoreiam, e os seus grandes
usam de autoridade sobre elas; mas entre vós
não será assim; antes, qualquer que, entre vós,
quiser ser grande será vosso serviçal. E qualquer
que, dentre vós, quiser ser o primeiro será servo
de todos. Porque o Filho do Homem também não
veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate de muitos.
Marcos 10.42-45

Por que ter tanto trabalho só para aprender


mais sobre a questão da liderança? A resposta é:
porque a boa liderança sempre faz muita diferença!
Para sermos sinceros, liderança não é uma coisa
fácil de ser aprendida. Mas por que vale tanto a
pena? Afinal, ainda que tornar-se um líder melhor
gere benefícios, também exige grande esforço. A
Alerta à Liderança

liderança requer muito das pessoas que desejam


desenvolvê-la. É exigente e complexa.
Antes de prosseguirmos em nosso trabalho,
é necessário definir o termo “liderança”. Aqueles
que se equivocam e cometem erros no exercício
de tal atividade, geralmente o fazem por não com-
preenderem bem o que seja liderança.
Então, podemos dizer que liderança é “o es-
forço de exercer conscientemente uma influência
especial dentro de um grupo no sentido de levá-lo
a atingir metas de permanente benefício que aten-
dam as necessidades reais do grupo”.
Cada palavra dessa definição é importante.
A palavra “esforço” foi escolhida para indicar que
uma pessoa não nasce líder, mas torna-se líder.
Existem algumas pessoas que, intuitivamente,
exercem algumas das características de um líder,
mas a verdadeira capacidade de liderança é obti-
da pelo seu exercício. “Conscientemente” indica
uma dedicação total da parte do líder à sua tarefa
de liderar. Para todos os líderes, e, principalmente
para o líder cristão, tal compromisso deveria ser de
natureza espiritual. O compromisso espiritual só
leva ao fortalecimento tanto dos líderes quanto de
seus liderados. A liderança espiritual leva o selo de
uma inigualável superioridade. Em momentos de
reveses dolorosos, ela fornece força e sabedoria.
12
Silas Malafaia

Nas horas de grandes vitórias, manifesta gratidão


e humildade.
Um verdadeiro líder exerce uma “influência
especial”. Essa influência não é forçada sobre os
outros. Muitos que se acreditam líderes, não pas-
sam de prepotentes a pressionar outros. As pessoas
os seguem por medo. A força do verdadeiro líder,
entretanto, deriva da profunda confiança que seus
seguidores depositam nele. Estão convencidos
de que, por ele e por meio dele, podem alcançar
objetivos pessoais, humanitários e enobrecedores
que glorificarão a Deus, os quais, de outra maneira,
parecem improváveis ou inatingíveis.
Aqueles que seguem um verdadeiro líder o
fazem por amor e respeito, porque ele revela amor,
humildade e autocontrole. Jesus, naturalmente,
constitui nosso maior exemplo a esse respeito. Ele
afirmou aos Seus discípulos: Se me amardes, guar-
dareis os meus mandamentos (João 14.15).
Pessoas que são, de algum modo, homogê-
neas, constituem um grupo. Possuem alguma ca-
racterística em comum. Talvez sejam membros de
uma mesma família, tendo os mesmos avós. Talvez
sejam membros da mesma igreja. Talvez sejam ex-
-alunos de uma escola e, portanto, todos receberam
a mesma formação educacional. Ou, quem sabe,
sejam cidadãos do mesmo país. É essencial que
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Alerta à Liderança

o líder compreenda a semelhança do grupo bem


como todas as suas implicações.
Mais importante do que ter a mesma origem,
educação ou nacionalidade, entretanto, é ter
unidade de propósito. As pessoas se sentem mais
como um grupo quando compartilham um mesmo
objetivo. Esse objetivo pode ser o de aumentar o
número de membros de uma igreja, ou impedir
que determinada lei seja aprovada.
O fator mais importante para formar um grupo
coeso é a unidade de propósito. A capacidade do
líder em encorajar tal unidade é um fator impor-
tante para seu sucesso à frente dele.
A palavra “metas” tem dois significados. De
um modo geral, ela se refere à visão do líder, a algo
que ele quer que o grupo seja ou faça. É a visão
que distingue uma pessoa e faz dela um líder. Sua
missão é empenhar-se para atuarem em função da
visão. Mas o termo “metas” aplica-se também a
uma série de realizações específicas mensuráveis
destinadas a levar a cabo a missão.
A ideia de “permanência” tem a ver com o fato
de que a visão de um líder deve focalizar mudanças
que permaneçam, durem e resistam – pelo tempo e
pela eternidade. Usamos a expressão “permanente
benefício” contrastando com “permanente malefício”.
Houve muitos que exibiram todas as características
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Silas Malafaia

ou princípios de um líder, mas que buscaram metas


prejudiciais ao grupo, em vez de benéficas.
Os princípios de liderança podem ser usados
para o bem ou para o mal. Benito Mussolini, Adolf
Hitler e Nero revelaram notáveis características de
liderança, mas sua influência corrompia, destruía e
arruinava. A liderança que exerceram resultou em
malefício permanente. Quando os pais impedem
que seus filhos tenham total acesso ao conhecimen-
to de Deus, estão criando um malefício permanente.
O alerta aos líderes de que tratamos neste livro
é dirigido àqueles que desejam praticar uma lide-
rança com a dimensão de permanente benefício.
O critério máximo é uma liderança semelhante
à de Cristo, a que mais honra a Deus e beneficia
toda a humanidade.
Um líder deve ter boa compreensão das
necessidades reais dos outros. Ele mantém uma
sensibilidade, uma percepção aguçada em relação
às pessoas que Deus lhe confiou e pelas quais é
responsável. Ele está sintonizado com seu ambien-
te, avalia meticulosamente a situação e se prepara
antes de entrar em ação. Mas sua sensibilidade
em relação aos outros é sempre focalizada pela
perspectiva da visão que Deus lhe deu.
O líder procura conduzir o grupo para as me-
tas que atenderão às necessidades das pessoas que
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Alerta à Liderança

ele lidera – tenha o grupo ou não consciência delas.


Para se exercer esse tipo de liderança é preciso
previsão, sabedoria, determinação e conhecimento
da vontade de Deus.
A história está cheia de exemplos de pessoas
que quiseram algo que não atendia à sua real ne-
cessidade. Samuel, por exemplo, obteve permissão
de Deus para deixar os israelitas escolherem um
rei, de modo que pudessem ser como seus vizinhos
pagãos – ainda que isso não estivesse atendendo
às suas reais necessidades.
Liderança, então, é o esforço de exercer cons-
cientemente uma especial influência dentro de um
grupo, a fim de levá-lo a atingir metas de perma-
nência benéfica que atendam às suas reais neces-
sidades. É a habilidade de motivar e influenciar os
liderados para que contribuam voluntariamente,
da melhor forma, com os objetivos do grupo ou
da organização.
Vejamos, agora, as observações que cons-
tituem um alerta à liderança, para que esta seja
exercida sem falhas nem desvios, e se desenvolva
plenamente dentro da vontade de Deus revelada
em Sua Palavra.

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Capítulo 2

A importância e
necessidade do
descanso

Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exérci-


to foram acabados. E, havendo Deus acabado no
dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou
no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha fei-
to. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou;
porque nele descansou de toda a sua obra, que
Deus criara e fizera.
Gênesis 2.1-3

O primeiro alerta que faremos à liderança diz


respeito a uma determinação do Senhor para todos
nós – a necessidade do descanso.
É curioso que tenhamos saído dos tempos de
escravidão e de longas jornadas de trabalho da
Revolução Industrial para voltarmos a elas volun-
tariamente. Rotinas extensas, objetivos difíceis de
serem alcançados e projetos desafiadores são na-
turais na rotina pessoal ou profissional da maioria
Alerta à Liderança

de nós que, ao final do expediente, ainda demora


a chegar em casa e mal encontra tempo ou disposi-
ção para realizar outras atividades de lazer. Porém
há quem não consiga desligar-se do trabalho nem
nos momentos de folga.
Quando, por exemplo, estamos envolvidos
em grandes projetos, de relevante importância, nos
mantemos em um nível de tensão que não é alivia-
do até que o relatório seja entregue ou o processo
concluído – ainda mais quando se está nas etapas
finais de elaboração. Em casos como esses, por
mais que a tensão seja grande, sugerimos que tal
profissional não tire férias, pois provavelmente não
descansará. Isso acontece devido ao alto nível de
preocupação e responsabilidade que temos em re-
lação a esses projetos. O ideal é que o profissional
termine o tal projeto para que tire férias ou então
gaste seu “banco de horas” sem nenhum “peso na
consciência”.
Entretanto, algumas pessoas, preocupadas
com o trabalho, buscando uma promoção, ou
mesmo os “viciados em trabalho”, não conseguem
desligar-se de sua atividade durante o descanso.
Isso não significa somente ligar o computador e
trabalhar, mas também pensar no trabalho, “apa-
gar incêndios” à distância, ou checar os e-mails
corporativos (agora facilmente acessados pelos
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Silas Malafaia

smartphones). Isso é prejudicial não somente à


saúde, mas também à vida profissional, pessoal e
espiritual.
Quando estamos estressados ou mergulhados
por meses ou anos no ambiente de trabalho, com
períodos de descanso mal aproveitados, o corpo
humano começa a apresentar sinais não só psico-
lógicos, mas também físicos de desgaste.
Podemos afirmar que o estresse proveniente da
falta de descanso manifesta-se de quatro maneiras
diferentes: na mente (preocupação, má avaliação,
indecisão, decisões apressadas, pesadelos, nega-
tividade); no comportamento (perda de apetite,
inquietude, insônia, propensão a acidentes); nas
emoções (perda de confiança, ansiedade extrema,
irritabilidade, depressão, apatia, medo).
Finalmente, temos várias manifestações no
corpo (dores de cabeça, problemas digestivos, in-
fecções, tensão ou distensão muscular, fadiga, falta
de ar, irritações na pele). Da mesma maneira, as
possibilidades de riscos à saúde se agravam, como
os problemas cardíacos, por exemplo.
Além disso, ninguém suporta trabalhar sem
momentos adequados de repouso. Quem não des-
cansa devidamente nas férias e feriados começa a
experimentar queda no desempenho, concentração
e produtividade, além dos outros problemas citados
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Alerta à Liderança

anteriormente. O organismo não resiste e, mais


cedo ou mais tarde, falha, adoece. É isso é ciência,
e não só um discurso de saúde e qualidade de vida.
É preferível não misturar muito as coisas:
trabalhar durante a folga e folgar no trabalho. O
recomendável para quem quer desenvolver uma
carreira com sucesso e saúde é trabalhar durante a
semana e descansar nos períodos destinados a isso.
Por último, descanso não significa somente
viajar. Se não é possível sair da cidade, aproveite
o tempo livre para ir ao cinema, ler um livro, almo-
çar com a família, sair com os amigos ou qualquer
coisa que proporcione bem-estar. Vale lembrar que
tempo livre não é uma opção ou luxo de alguns,
mas sim, uma necessidade humana.
Vejamos agora o que a Bíblia nos fala sobre
o conceito do descanso.
O descanso é um assunto central na Bíblia.
No decorrer dos séculos, tornou-se típico para a
experiência do povo de Deus. Pode-se dizer que
Jesus também “descansou” em um dia específico.
Ressuscitou no primeiro dia da semana, que para
nós tornou-se o domingo. Ao vencer o poder da
morte, Jesus venceu os poderes contrários ao des-
canso da criação de Deus. O trabalho incessante
tende à escravidão. Domingos e sábados são oca-
siões para se reativar a memória da liberdade.
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Silas Malafaia

Em nossa Bíblia, o quarto mandamento está


redigido assim – Guarda o dia de sábado, para o
santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus
(Deuteronômio 5.12). A palavra que foi traduzida
como “sábado”, é o termo hebraico shabat, que
quer dizer “descanso”. É correto, portanto, enten-
dermos o mandamento como: “Guarda o dia de
descanso, para o santificar”.
Esse “dia de descanso” era o sétimo dia no
Antigo Testamento, ou seja, o nosso “sábado”. No
Novo Testamento, logo na Igreja primitiva, vemos
o dia da ressurreição de Cristo marcando o dia de
adoração e descanso. Isto é, o domingo passa a ser
o nosso “dia de descanso”. Os apóstolos acataram
esse dia como apropriado à celebração da vitória
de Jesus sobre a morte (Atos 20.7; 1 Coríntios 16.2;
Apocalipse 1.10). A igreja tem entendido a questão
da mesma maneira, ou seja, não é a especificação
“do sétimo”, que está envolvida no mandamento,
mas o princípio do descanso, do repouso e da
santificação.
Não devemos procurar modificar e “melhorar”
aquilo que o próprio Deus especifica para o nosso
benefício e crescimento, como o repouso. Deus
coloca o descanso objetivamente – da mesma for-
ma que Ele nos indica a Sua pessoa como objeto
correto de adoração; que Ele nos leva a honrar os
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Alerta à Liderança

nossos pais; que Ele nos ensina sobre o erro de


roubar, matar, e adulterar – também nos ensina
que é Seu desejo que venhamos a separar para Ele
um dia específico para o descanso (Isaías 58.3).
É importante notar que o próprio Jesus, apesar
de Sua agenda apertada e da extraordinária missão
de promover o Reino de Deus, buscou descansar
em meio à Sua intensa rotina. Lemos em Marcos
7.24 que: E, levantando-se dali, foi para os territó-
rios de Tiro e de Sidom. E, entrando numa casa,
queria que ninguém o soubesse, mas não pôde
esconder-se. Após pregar e debater com certos
fariseus na Galileia, Jesus partiu para o Líbano,
recolhendo-se em uma casa, buscando descansar,
pois “queria que ninguém o soubesse”.
Em João 12.36, após Sua entrada triunfal em
Jerusalém, Jesus é aclamado pela multidão e é pro-
curado por alguns gregos, conduzidos por Filipe.
Ao recebê-los, declara: Enquanto tendes luz, crede
na luz, para que sejais filhos da luz. Essas coisas
disse Jesus; e, retirando-se, escondeu-se deles.
Em Mateus 14.13, lemos: E Jesus, ouvindo isso,
retirou-se dali num barco, para um lugar deserto,
apartado; e, sabendo-o o povo, seguiu-o a pé desde
as cidades. Após tomar conhecimento da morte de
João Batista, e movido pelo cansaço e tensão de
tal notícia, o texto bíblico nos informa que Jesus
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Silas Malafaia

retirou-se para um lugar tranquilo, apartado, para


descansar e renovar suas forças.
E em Marcos 4.38, verificamos o registro de
mais um momento de descanso de Jesus: E ele
estava na popa dormindo sobre uma almofada; e
despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te im-
porta que pereçamos?
Se Deus, após finalizar Sua obra de criação,
optou por descansar, e se o próprio Jesus não se
furtou a momentos de repouso, como desdenha-
mos esse momento necessário à restauração de
nosso corpo, mente e alma?
Estejamos alertas a isso – que a vida foi feita
para ser aproveitada, e não suportada. Dedique-
mos períodos específicos ao descanso e ao lazer,
da mesma forma que nos deu como exemplo o
Senhor!

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Capítulo 3

O abuso da autoridade
O equilíbrio na liderança

Vós, servos, obedecei a vosso senhor segun-


do a carne, com temor e tremor, na sinceridade
de vosso coração, como a Cristo, não servindo à
vista, como para agradar aos homens, mas como
servos de Cristo, fazendo de coração a vontade
de Deus; servindo de boa vontade como ao Se-
nhor e não como aos homens, sabendo que cada
um receberá do Senhor todo o bem que fizer, seja
servo, seja livre. E vós, senhores, fazei o mesmo
para com eles, deixando as ameaças, sabendo
também que o Senhor deles e vosso está no céu
e que para com ele não há acepção de pessoas.
Efésios 6.5-9

O segundo alerta à liderança reveste-se de


importância capital, diante dos inúmeros casos de
incoerência que verificamos no dia a dia – o abuso
da autoridade.
Alerta à Liderança

Autoridade é o legítimo poder de comando ou


de ação. O líder é pessoa que reúne as condições
necessárias para conduzir o grupo ao objetivo
comum. Do passado ele precisa trazer conheci-
mento, experiência e, como resultado, habilidade.
Em relação ao presente, precisa ter ampla e clara
percepção. Quanto ao futuro, o líder precisa ter
visão. Estamos falando de conceitos ideais. Na
prática, destaca-se a pessoa que consegue reunir
a melhor combinação possível desses elementos.
A origem da autoridade legítima está em Deus
(Romanos 13.1). Tal afirmação tem fundamento
bíblico, mas seu entendimento na prática nem
sempre é fácil. Quando vemos um bom líder, logo
reconhecemos que sua autoridade vem de Deus.
Quando vemos um líder mau, temos a tendência
de questionar sua autenticidade. Afinal, existem
líderes que governam com base em erros, e até em
nome do diabo, como é o caso dos líderes satanis-
tas. Nesses casos, não existe autoridade legítima.
Contudo, Deus permite que tais líderes subsistam,
por motivos que fogem ao nosso conhecimento.
Alguns deles são, como o próprio Satanás, instru-
mentos da ira e juízo divino.
Mesmo que uma autoridade seja legítima,
existem diferentes modos de exercê-la. O líder
pode ser duro, áspero, cruel, ou pode – e deve
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Silas Malafaia

ser – amável e respeitoso (Provérbios 29.21). Pelo


menos, entre os cristãos, é o que se espera do líder:
um coração amoroso.
O autoritarismo ocorre quando não há res-
peito aos subordinados nem aos limites da autori-
dade. O líder não deve usar sua autoridade como
pretexto para ser insensível, mau ou grosseiro. Ele
não está autorizado a humilhar gratuitamente seus
subordinados, embora a legítima disciplina possa
ser, inevitavelmente, humilhante. Contudo, até
nesse momento, o líder precisa ser equilibrado para
não submeter o subordinado infrator a um vexame
desnecessário. A dignidade humana deve sempre
ser levada em consideração.
A Bíblia diz: Humilhai-vos perante o Senhor,
e ele vos exaltará (Tiago 4.10). Cada um deve
humilhar-se na medida necessária, se for preciso.
A Bíblia nunca declara: “Humilhai-vos uns aos
outros”.

Limites da autoridade
O único que possui autoridade suprema é
Deus. No que diz respeito ao contexto humano, a
autoridade está dividida em áreas abstratas e con-
cretas: são as “jurisdições”. A tentativa de concen-
trar autoridade absoluta nas mãos de apenas um
homem pode produzir equívocos, arbitrariedades e
27
Alerta à Liderança

males abundantes. Para ter todo poder e toda auto-


ridade, o líder precisaria ter todo o conhecimento e
estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Como
sabemos, o único onisciente e onipresente é Deus.
Por isso, só Ele é onipotente. Os três conceitos são
tão específicos entre si que não podemos atribuir-
-lhes uma ordem rigorosa.
A desconsideração dos limites da autoridade
traz como resultado o autoritarismo. A verdadeira
autoridade deve estar sujeita a uma autoridade
superior. Isso só não acontece nos governos au-
tocráticos. Em nosso sistema, a constituição está
acima dos poderes da república.
O exemplo mencionado por Paulo é bastante
oportuno: O marido é o cabeça da mulher, mas ele
mesmo tem um cabeça que é Cristo, e Cristo tem
um cabeça, que é Deus (1 Coríntios 11.3). Se um
líder rejeita as autoridades superiores a ele, então sua
própria autoridade será questionada, pois quebrou
a hierarquia (Colossenses 2.18,19). Assim, se um
líder toma decisões contrárias ao que conhecemos
da vontade de Deus, então tais ordens deverão ser
desobedecidas. Afirmamos isso com fundamento
bíblico: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-
-vos antes a vós do que a Deus (Atos 4.19).
As parteiras egípcias desobedeceram ao Faraó,
quando este ordenou que os meninos hebreus fossem
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Silas Malafaia

assassinados (Êxodo 1.17). Raabe desobedeceu ao


rei de Jericó quando este lhe ordenou que entregasse
os espias israelitas (Josué 2.3,4). Os magos desobe-
deceram ao rei Herodes, quando este lhes pediu
que fosse informado sobre a localização do menino
Jesus (Mateus 2.8,12). Os apóstolos desobedeceram
às autoridades públicas, quando estas lhes proibiram
de pregar o evangelho (Atos 4.19). Contudo, este
argumento não pode ser usado como desculpa para
justificar a rebeldia, a preguiça e outros motivos
escusos que produzam a desobediência.
A verdadeira autoridade deve limitar suas
exigências. Vemos em Atos 15, que os apóstolos
decidiram exigir dos gentios apenas o que era
imprescindível. Portanto, o que era preciso para
os israelitas no deserto, e por isso foi exigido por
Deus, já não é necessário para nós hoje. Sabemos
que em vários setores, o nível de exigências pode
variar, pois a necessidade também varia.
O líder precisa estar atento aos limites de
seus liderados, procurando manter suas decisões
e ordens dentro das possibilidades de execução.
Os prazos de cumprimento e a organização geral
das tarefas serão bastante favoráveis para que as
exigências sejam cumpridas de modo suave e
agradável. Em uma guerra isso não é possível, mas
nem sempre estamos em guerra.
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Alerta à Liderança

Vejamos o que nos diz o apóstolo Paulo em


Colossenses 4.1: Vós, senhores, fazei o que for de
justiça e equidade a vossos servos, sabendo que
também tendes um Senhor nos céus. Dos senhores
é exigido que eles façam o bem a seus servos, tal
como esperam esse tipo de tratamento da parte
deles. Quando um líder age bem, evidenciará
tal coisa por ser justo, generoso e correto. Dessa
maneira, pois, Paulo quis ensinar aos senhores
que tratassem seus servos como mais que meros
liderados.
Sabemos sobre o tratamento completamente
brutal e desumano conferidos aos liderados. Temos
conhecimento de abusos vários, com maus tratos
que exigem tarefas sobre-humanas, até mesmo
com castigos físicos, apesar de toda uma legislação
existente. Mas Paulo diz que isso não pode ocorrer
dentro da igreja, entre aqueles que se dizem cris-
tãos. Paulo mostra que perante Deus, os servos são
iguais aos seus senhores, os líderes são iguais aos
seus liderados. Portanto, é exigido dos senhores
que sejam justos e moderados.
De alguma maneira, os princípios éticos têm
sido aprimorados com a passagem dos anos, e um
reflexo moral mais claro tem sido desenvolvido,
no tocante à liderança, após séculos de existência
do cristianismo.
30
Silas Malafaia

Justiça, no grego, significa “reto”, “correto”,


“justo”, uma atitude que não viola as exigências
divinas sobre a conduta humana, e isso significa
não impor sobre os liderados trabalho em dema-
sia, maus tratos, desrespeito moral, assédio ou
discriminação, mas demonstrar generosidade e
consideração para com eles.
Equidade significa demonstrar respeito à
igualdade de direito de cada um, fazendo com
que a acepção de pessoas não seja uma realidade
no relacionamento entre líder e liderados, lidando
com todos de maneira justa e correta. A recomen-
dação bíblica é que tratemos a todos como iguais
e irmãos; pode-se esperar, naturalmente, um trata-
mento justo. A legislação maior que deve governar
as relações entre líderes e liderados deve ser uma
só – a lei do amor em Cristo (João 15.12).
Na questão do exercício da autoridade, como
é que você se sai? Na vida familiar, por exemplo,
será que abusa da autoridade, controlando as coi-
sas para que seus caprichos ou preferências sejam
sempre realizados? Os membros da família apoiam
as suas decisões por medo ou por amor? Será que
o fato de você ter mais força é o elemento decisi-
vo? Essas são perguntas que os chefes de família
podem considerar, tendo por alvo manter a ordem
teocrática na família (1 Coríntios 11.3).
31
Alerta à Liderança

E como empregador? Será que trata seus fun-


cionários com justiça e igualdade, ou demonstra
intolerância e falta de espírito cristão no trato
profissional, abusando da autoridade que lhe foi
concedida pelo Senhor?
Lembremo-nos de Efésios 6.8: Cada um rece-
berá do Senhor todo o bem que fizer, seja servo,
seja livre. Tratemos uns aos outros como iguais,
pois estamos todos sob a autoridade maior, que é
o Senhor: Portanto, tudo o que vós quereis que os
homens vos façam, fazei-lho também vós, porque
esta é a lei e os profetas (Mateus 7.12).

32
Capítulo 4

O abuso da graça
O equilíbrio dentro dos
limites de Deus

Considera, pois, a bondade e a severidade


de Deus: para com os que caíram, severidade;
mas, para contigo, a benignidade de Deus, se
permaneceres na sua benignidade; de outra
maneira, também tu serás cortado.
Romanos 11.22

Neste outro importantíssimo alerta à liderança,


cabe fazer a pergunta: Você sabe utilizar a graça
de Deus ou vive abusando dela em nome de seus
próprios desejos?
Podemos orar por muito tempo, ajudar os ne-
cessitados, visitar os doentes e muitas outras coisas,
porém, com a motivação errada e com o coração
afastado de Deus. Há muitos cristãos hoje fazendo
a obra de Deus sem Ele. Pessoas muito ativas no
serviço ao Senhor que abrigam em seu coração
motivações questionáveis, geralmente baseadas em
Alerta à Liderança

traumas do passado, que geraram complexos de


inferioridade, rejeição e perfeccionismo.
Muitos creem que serão abençoados porque
fazem muito pela obra, mas esquecem que a graça
é um dom gratuito e não depende de obras, mas
de comunhão com Cristo. Aceitam Jesus e acham
que dali por diante são uma “máquina de realizar
boas obras”, e que isso garantirá o seu passaporte
para o céu. Isso é voltar para a lei, é ser religioso,
é ser um fariseu em tempos modernos – são raça
de víboras!
É verdade que muitas vezes alguém pode ter
uma doutrina bíblica correta e um estilo de vida
incorreto. Em outras palavras, é possível na dou-
trina estar com Deus, e, na prática, com o diabo.
Mas é interessante observar, também, que quan-
do alguém não leva a Bíblia a sério, a ética cristã
fica comprometida. Temos hoje uma necessidade
urgente de mais líderes que nos sirvam como mo-
delos de oração, piedade e integridade. É claro
que não são todos, mas há vários precisando muito
mais de receber ministração do que em condições
de ministrar.
Creio que uma das falhas de certas lideranças
cristãs no Brasil é enfatizar mais o carisma do que o
caráter. O importante é ter o poder de Deus, poder
para expulsar demônios, operar milagres, pregar e
34
Silas Malafaia

sacudir as massas. Tudo isso é muito bom, mas não


basta, pois carisma sem caráter leva à destruição.
Os puritanos do século 19 nos Estados Unidos ti-
nham um provérbio que resume bem este quadro:
“O que você é fala tão alto que eu não consigo
ouvir o que você diz”. Viver a ética cristã conforme
a Palavra de Deus é o caminho a ser percorrido
por nós se quisermos ser o sal da terra e a luz do
mundo (Mateus 5.13-16).
O desenvolvimento tecnológico das últimas
décadas abriu largas avenidas para a pregação do
evangelho por meio da mídia, principalmente pelo
rádio, televisão, e agora também pela internet,
dando assim acentuada visibilidade a um fenô-
meno muito antigo e nada recomendável: o culto
à personalidade.
Isso acontece porque o ser humano é um
adorador por natureza e cultuar é uma de suas
atividades essenciais. Entretanto, no afã de adorar,
ele tomou, ao longo da história, caminhos tortu-
osos, do ponto de vista espiritual e social. Desde
as selvas da África e os desertos da Arábia, até ao
frenesi das grandes metrópoles, adoradores podem
ser encontrados aos milhões, ora prostrando-se
diante de uma vaca sagrada, de algum amuleto,
ou altar, ora diante de algum líder religioso. O in-
teressante é que, quando o ser humano não adora
35
Alerta à Liderança

em espírito e em verdade (João 4.23,24), ele corre


o risco de procurar ser adorado.
Certamente que a atração, o domínio e, mui-
tas vezes, a manipulação do ídolo exercidos sobre
seu adorador têm muito a ver com um fator deno-
minado “carisma”. O Aurélio define carisma da
seguinte maneira: “Uma força divina conferida a
uma pessoa ou a atribuição a outrem de qualidades
especiais de liderança, derivadas de sanção divina,
mágica, diabólica, ou apenas de individualidade
excepcional”.
Geralmente, a pessoa dotada de um forte ca-
risma é conhecida por seu magnetismo irresistível,
sua aparência de vencedor e pelo entusiasmo com
que defende uma causa ou apresenta um produto.
Tal entusiasmo pode ser visto frequentemente em
cursos de autoajuda.
E isto não é de hoje. No Sermão da Montanha,
Jesus alertou várias vezes sobre aqueles que davam
esmolas, oravam e jejuavam tocando trombeta a
fim de serem vistos pelos homens. Ele chamou
tais pessoas de hipócritas (Mateus 6.1-18). Assim
eram os escribas e fariseus, que buscavam sempre
o louvor do próximo. Eles praticavam todas as suas
boas obras e se vestiam alargando seus filactérios e
alongando a franja de suas roupas com a finalidade
de serem vistos pelos homens. Amavam também
36
Silas Malafaia

o primeiro lugar nos banquetes, as primeiras ca-


deiras nas sinagogas, gostavam de ser saudados
e chamados de mestres pelos seus semelhantes
(Mateus 23.5-7).
Jesus não poupou adjetivos ao repreendê-los por
tal atitude, chamando-os de hipócritas, guias cegos,
insensatos, serpentes, raça de víboras e sepulcros
caiados, que por fora são belos, e por dentro estão
cheios de morte e imundícia (Mateus 23.13,16,27,33).
O Senhor alertou ainda que, ao fazer o bem, a mão
esquerda não venha a saber o que fez a direita (Ma-
teus 6.3), bastando apenas ao Pai ficar sabendo, pois
é Ele quem recompensará (Mateus 6.4).
Outro exemplo de culto à personalidade pode
ser observado nos eventos que precederam a mor-
te de Herodes. A Bíblia diz que ele foi aclamado
pelo povo e comido de vermes (Atos 12.21-24).
O historiador Flávio Josefo relata que Herodes
programou um festival na cidade de Cesareia em
homenagem a César. No segundo dia do festival,
Herodes apareceu de manhã no teatro vestido de
prata, refletindo um brilho intenso devido aos raios
do Sol. O povo começou então a clamar-lhe: “Seja
misericordioso para conosco; pois embora até hoje
tenhamos te reverenciado apenas como homem, te
consideraremos de agora em diante como superior
à natureza mortal”.
37
Alerta à Liderança

Diante disso, o rei não os repreendeu nem


rejeitou tal ímpia adulação. No mesmo instante,
ele sentiu uma dor muito forte no abdômen e foi
levado para o palácio, onde morreu cinco dias
depois.
Outro exemplo claro é o de Paulo e Barnabé
em Listra. Ali, um homem aleijado, paralítico des-
de o seu nascimento, foi curado depois de ouvir a
pregação de Paulo. Quando a multidão viu o que
aconteceu, começou a gritar: Fizeram-se os deuses
semelhantes aos homens e desceram até nós. A
Barnabé chamaram Júpiter, e a Paulo, Mercúrio,
deuses mitológicos.
O sacerdote de Júpiter, que tinha um templo
em frente da cidade, trouxe para junto das portas
da cidade touros e grinaldas para, junto com a
multidão, fazer um sacrifício em homenagem aos
dois apóstolos (Atos 14.6-13). Paulo e Barnabé
recusaram de imediato e com veemência a oferta
ou qualquer reconhecimento quanto ao milagre
que acabara de acontecer, pois eram homens de
Deus, desprovidos de qualquer ambição.
Infelizmente, muitos hoje não hesitariam em
receber as homenagens, e certamente, iriam até
mais longe. Aproveitariam o evento para manipular
e explorar ainda mais as massas.
Há muitos outros relatos bíblicos que mostram
38
Silas Malafaia

o relacionamento doentio entre uma personalidade


e aqueles que lhe prestam adoração, e o espaço
não nos permite ampliar mais este assunto. Entre-
tanto, vale lembrar aqui as palavras de Moisés,
usadas mais tarde por Jesus, quando foi tentado
por Satanás: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a
ele servirás (Mateus 4.10 e Deuteronômio 6.13).
Mas o culto à personalidade não é o único
mal que assola a liderança cristã hoje. Outro com-
portamento que caracteriza o abuso da graça é o
regime totalitário exercido pelos líderes sobre seus
liderados. Este comportamento, tão comum nos
dias de hoje, lembra-nos a advertência contida no
livro do profeta Jeremias 5.30,31: Coisa espantosa
e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas
profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam
pelas mãos deles, e o meu povo assim o deseja; e
que fareis no fim disso?
Ouve-se hoje acerca de pastores, cantores e
pregadores evangélicos que, apesar de cobertos
pela graça de Deus e abundantemente dotados de
dons específicos, lançaram mão de estratégias para
acumular benefícios pessoais à custa do povo de
Deus. E isso deu margem a comentários, tanto de
cristãos quanto de descrentes, tais como: “Fulano
vive fazendo coisas do arco da velha, e ficou rico
da noite para o dia”, ou “Conheço um evangélico
39
Alerta à Liderança

que é milionário, ‘enrolão’, e nunca deu o dízimo”,


ou “Sei de um pastor que faz tremer a terra com
suas mensagens, mas tem casos amorosos e vive
em adultério”.
Tais pessoas pensam que, por viverem sob a
graça, podem também viver no pecado, pois con-
sideram em seu coração: “Deus é misericordioso,
vai me perdoar, vai ‘quebrar o meu galho’”. O
problema de tais pessoas é que dimensionam a
misericórdia de Deus com a sua própria misericór-
dia, que é limitada e falha. Mas notem o seguinte:
A Bíblia declara que: As misericórdias do SE-
NHOR são a causa de não sermos consumidos;
porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são
cada manhã; grande é a tua fidelidade (Lamentações
3.22,23). A misericórdia de Deus se renova a cada
manhã, pois se assim não fosse, já teríamos todos
sido consumidos! É fácil entendermos o motivo.
Deus possui Seus próprios atributos. Dentre
eles, estão o amor, a bondade, a misericórdia e a
justiça, que são aqueles que nos interessam saber
agora. Quando pecamos, manifesta-se o amor de
Deus, e entra em ação a Sua misericórdia, e somos
então perdoados. Porém Deus não opera como nós,
e não é homem para agir como agimos. Sua miseri-
córdia se renova a cada manhã, e assim tornamos a
pecar, e de novo, e outra vez, durante um ano, dois,
40
Silas Malafaia

três, quatro, cinco, dez, vinte anos... E o amor e a


misericórdia agindo, perdoando-nos e advertindo-
-nos: “arrependa-se e não torne a pecar...”
Porém, chega um momento em que outro
atributo de Deus – a Sua justiça – também entra em
ação e declara ao amor: “Chega!”, e à misericór-
dia: “Basta!” Então, é neste momento que a ira de
Deus (outro atributo Seu) entra em ação e pune o
pecador de coração duro, que confortavelmente já
fizera do pecado um hábito. E, então, a “casa cai”.
Existem líderes que pensam serem donos do
povo de Deus. Há líderes que se convenceram de
ser donos da igreja. Existem empresários cristãos
que se consideram “proprietários” de seus empre-
gados, negando-lhes até o pagamento dos direitos
trabalhistas mais básicos. Ignoram a Palavra de
Deus e suas recomendações. Desprezam toda e
qualquer forma de ética cristã. Desconsideram até
Deus, Jesus e a ação do Espírito Santo. Mas chega
um momento em que o Senhor diz: “Basta! Agora
você terá que tratar diretamente comigo!”O após-
tolo Paulo explica muito bem o comportamento
de certos líderes perante a graça:

Não reine, portanto, o pecado em vosso


corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas
concupiscências; nem tampouco apresenteis os

41
Alerta à Liderança

vossos membros ao pecado por instrumentos de


iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vi-
vos dentre mortos, e os vossos membros a Deus,
como instrumentos de justiça. Porque o pecado
não terá domínio sobre vós, pois não estais de-
baixo da lei, mas debaixo da graça. Pois quê?
Pecaremos porque não estamos debaixo da lei,
mas debaixo da graça? De modo nenhum! Não
sabeis vós que a quem vos apresentardes por
servos para lhe obedecer, sois servos daquele a
quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou
da obediência para a justiça?
Romanos 6.12-16

Creem aqueles líderes que por estarem sob


a graça, podem viver pecando, contando sempre
com um “jeitinho” que Deus proporcionará. Mas
para tais, Paulo há muito já alertara: Pecaremos
porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo
da graça? De modo nenhum!
O Senhor não é um Deus injusto – não! Ele
é um Deus de amor, de misericórdia e de muita
bondade. Mas não nos enganemos, Ele é também
um Deus de justiça! Portanto, não abusemos da
Sua graça! Devemos nos manter sob os limites
impostos por Ele em Sua própria Palavra!

42
Capítulo 5

Mantendo o foco
O desenvolvimento
de estratégias

Pois qual de vós, querendo edificar uma


torre, não se assenta primeiro a fazer as contas
dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
Para que não aconteça que, depois de haver
posto os alicerces e não a podendo acabar, to-
dos os que a virem comecem a escarnecer dele,
dizendo: Este homem começou a edificar e não
pôde acabar. Ou qual é o rei que, indo à guerra a
pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro
a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair
ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
Lucas 14.28-31

Manter o foco é algo sobre o qual já considerei


inúmeras vezes. Possuir um foco é algo indispen-
sável para qualquer liderança, seja você pastor,
empresário, ou dona de casa. E se você é líder,
qual é o seu foco?
Alerta à Liderança

A mente humana possui três necessidades


evidentes: foco, diálogo e heróis. São necessidades
fundamentais da nossa mente.
Nossa mente precisa ter um foco: o que que-
remos da vida? Quais são os nossos objetivos?
Desejamos construir algo que permaneça?
Nossa mente necessita de diálogo: precisamos
manter uma conversação com nós mesmos acerca
de nossos focos, metas, possibilidades, crenças e
a nossa fé.
Nossa mente necessita de heróis: quais são os
modelos para a sua vida? Em quem você se espelha
para tentar atingir seus objetivos?
Agora, é necessário lembrar que quando temos
um foco, necessitamos de uma escala de valores – o
que é mais importante? O que é menos importante?
E sabe por quê? Porque se não possuirmos um foco,
também não teremos uma escala de valores. A sua
energia será dispersada, e quando a energia é dissi-
pada para nada se aproveita. Energia concentrada
no foco é poder reservado para realizações. E se
você tem um foco, é preciso, também, que tenha
capacidade de planejamento, que é organização,
preparação, capacidade de delegação de tarefas.
E o mais importante: se você tem um foco,
precisa de estratégia. Estratégia é a arte de aplicar
com eficácia os recursos de que se dispõe ou de
44
Silas Malafaia

explorar as condições favoráveis de que porventura


se desfrute, visando ao alcance de determinados
objetivos. E a estratégia, segundo o Dr. Myles
Munroe, “precisa estar envolvida pelas seguintes
qualidades: sabedoria, inteligência, percepção e
sensibilidade.”
Sabedoria é a capacidade de termos discerni-
mento. Inteligência é a capacidade de usufruirmos
do intelecto. Percepção é a capacidade de observar
e apreender acerca daquilo que está ocorrendo
ao nosso redor. E sensibilidade é a capacidade de
decidir qual a atitude que devemos tomar.
Liderança é modelo – pais são modelos para
os filhos, pastores são modelos para as ovelhas, e
empresários são modelos para seus funcionários.
Veja o que diz Hebreus 13.7: Lembrai-vos dos vos-
sos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a
fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira
de viver. Como poderemos desejar que as ovelhas
tenham um foco se nós mesmos não possuímos
um? Como podemos esperar que exista motivação
em nosso negócio se não oferecemos um foco para
os nossos funcionários?
Jesus trabalhou com um foco específico: Por-
que o Filho do Homem veio buscar e salvar o que
se havia perdido (Lucas 19.10). O apóstolo Paulo
também deixou registrado o seu foco: Irmãos,
45
Alerta à Liderança

quanto a mim, não julgo que o haja alcançado;


mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam e avançando para as que
estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo
prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus (Filipenses 3.13,14). E qual é o seu foco?
A incapacidade de mantermos um foco é o
principal responsável por impedir que experimen-
temos as mudanças benéficas que desejamos. É
somente por meio do movimento com foco em
direção às suas metas que você poderá atingir os
resultados desejados.
Uma coisa que devemos considerar, quando
se fala de foco, é que objetivos não são alcançados
simplesmente porque queremos. Pelo contrário, a
evidência de seu desejo é expressa pela intensidade
de sua busca.
Em outras palavras, você precisa manter o
foco!
Manter o foco também requer a eliminação de
algumas opções. Um antigo ditado diz: “Se você per-
segue dois coelhos, ambos escaparão”. Pode haver
muito boas escolhas, mas apenas uma é a melhor.
É por isso que as pessoas vivem confusas sem saber
exatamente qual a decisão que devem tomar.
Considere a história do rei Davi. Ele era um
homem que confiava muito em sua capacidade
46
Silas Malafaia

de governar, e com razão, pois teve uma trajetória


impecável. Como rei, Davi partiu para a guerra
na primavera, assim como todos os outros reis da
região fizeram.
Porém, em uma primavera específica, ele
optou por ficar em casa. Davi deixou de buscar
exatamente aquilo que ele deveria procurar. Seu
foco foi desviado, e ele se distraiu. Ao renunciar sua
espada e seu escudo, Davi provavelmente come-
çou a perguntar-se o que fazer com o tempo livre
que tinha em mãos. Ele encontrou a sua resposta
nos braços da esposa de outro homem. Foi um erro
que alterou, de modo significativo, o seu futuro.
Um conhecido provérbio declara: Não haven-
do profecia [visão], o povo se corrompe (Provérbios
29.18). Em outras palavras, quando você perde o
foco, abre a porta para a destruição. É por isso que
é tão importante remover da sua vida os obstáculos
que o fazem perder o foco. Na maioria dos casos, se
você quiser caminhar em um nível mais elevado de
excelência e alcançar uma liderança eficaz, este prin-
cípio é fundamental: o líder que serve como modelo
enxerga a vida através do olhar do foco contínuo.
Muitas vezes, as pessoas tiram o foco de seus
objetivos e metas. Talvez se entusiasmem com o
seu futuro por um tempo, mas, depois, as coisas
mudam, pois essas pessoas são pressionadas por
47
Alerta à Liderança

todos os lados – seja na igreja, na empresa ou no


lar – para assumirem maiores responsabilidades.
E assim continua, dia após dia. Ao final de
cada um, promete que no dia seguinte será dife-
rente: “Amanhã, buscarei o meu foco”. Então, no
dia seguinte, elas dizem: “Tenho muito que fazer
hoje, manterei o meu foco amanhã”.
Se é assim que acontece com você, a solução
é simples. Somente redefina o seu foco. Volte os
olhos para seus objetivos em longo prazo e para
suas metas. Decida dar atenção ao que é impor-
tante, e não ao que é urgente. Aproveite o tempo
para redefinir seu foco e sempre coloque a sua vi-
são diante de seus olhos. Anote-a! Imagine-a! Fale
dela! E viva-a! Deixe o poder do foco ressuscitar
as estratégias de sua vida!

48
Capítulo 6

Jesus no
centro do foco
Renúncia à autopromoção

Portanto, quer comais, quer bebais ou


façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a
glória de Deus.
1 Coríntios 10.31

No capítulo anterior, vimos que manter o foco


é um dos segredos do sucesso. Além dos motivos
que os especialistas em negócios ensinam, man-
ter o foco é importante porque demonstra o que
a pessoa sabe e para aonde está indo. Quem quer
alguma coisa, ou quer chegar a algum lugar, só
conseguirá se permanecer focado, pois como diz
o ditado: “Para quem não sabe para aonde vai
qualquer lugar serve!”
Além disso, manter o foco é um dos segredos
não só do mundo dos negócios, mas também da
vida cristã. Quando o discípulo desvia seu olhar do
Mestre a derrota é certa, como mostra o exemplo de
Alerta à Liderança

Pedro caminhando sobre as águas. O fato é que o


cristão sem foco torna-se um alvo fácil para o diabo.
O celebrado autor cristão C. S. Lewis, escreve
em seu livro Cartas de um diabo ao seu aprendiz,
uma alegoria sobre um demônio que dá conselhos
ao seu sobrinho, um demônio mais novo:

Sempre que eles [os cristãos] concentram


sua atenção no inimigo [Deus], nós somos der-
rotados, mas há meios de evitar que eles façam
isso. A maneira mais simples é fazer com que
ao invés de concentrarem nele sua atenção,
eles a concentrem em si mesmos. Faça com que
prestem atenção em seus próprios pensamentos
e tentem produzir sensações pela ação de sua
própria vontade.

Eu lhe pergunto: qual tem sido o seu foco?


Em quem você está colocando sua atenção? De
fato, o diabo tenta desviar nossa concentração em
Jesus, pois assim seremos iludidos, enganados,
alimentaremos nossa alma com as insatisfações
provocadas por nosso próprio orgulho, e busca-
remos satisfação em nossas atitudes. Devemos,
porém, manter nosso foco somente em Jesus, no
que Ele fez e em quem Ele é; assim seremos sem-
pre vencedores fiéis.
50
Silas Malafaia

Saia do centro do seu próprio foco, e aponte


para Jesus como a causa e o objetivo final de tudo
aquilo que você já realizou e ainda realizará. To-
memos como exemplo de tal atitude o ocorrido
com Pedro e João no livro de Atos dos apóstolos.
Em Atos 3.1-10, lemos acerca do discurso de Pedro
no templo e a cura do coxo que diariamente estava
na porta Formosa do templo a mendigar. Quando
Pedro e João iam entrando no templo, esse coxo
lhes pediu uma esmola, e recebeu dos dois após-
tolos a seguinte resposta:

E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro,


mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus
Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. E, tomando-
-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e
tornozelos se firmaram. E, saltando ele, pôs-se em
pé, e andou, e entrou com eles no templo, andan-
do, e saltando, e louvando a Deus. E todo o povo
o viu andar e louvar a Deus; e conheciam-no, pois
era ele o que se assentava a pedir esmola à Porta
Formosa do templo; e ficaram cheios de pasmo e
assombro pelo que lhe acontecera. E, apegando-se
ele a Pedro e João, todo o povo correu atônito para
junto deles no alpendre chamado de Salomão.
Atos 3.6-11

51
Alerta à Liderança

A primeira pergunta que devemos fazer, em uma


situação como a ilustrada por essa passagem de Atos é
– O que os outros pensam que somos? Quando Pedro
e João curaram o paralítico, todos correram atônitos
para eles, pasmos e maravilhados com o que ocor-
rera. Um espetáculo de qualquer natureza sempre
atrai uma multidão curiosa e ali estava o espetáculo
mais notável que aquela gente jamais contemplara.

E, quando Pedro viu isto, disse ao povo:


Varões israelitas, por que vos maravilhais disto?
Ou, por que olhais tanto para nós, como se por
nossa própria virtude ou santidade fizéssemos
andar este homem?
Atos 3.12

A segunda abordagem a ser feita é – Quem


eu sei que sou? Naturalmente, as multidões con-
templam, abismadas, as maravilhas, e os homens
sempre se prestam a ser adoradores de heróis.
Uma vez que não podem ver a Deus, e usualmen-
te também não se mostram capazes de discernir
claramente as obras de Suas mãos ou de apreciar
devidamente o desígnio e o poder divino por trás
dessas coisas, habitualmente prestam aos homens
a adoração e o respeito que pertencem exclusiva-
mente a Deus.
52
Silas Malafaia

O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó,


o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho
Jesus, a quem vós entregastes e perante a face
de Pilatos negastes, tendo ele determinado que
fosse solto. [...] E, pela fé no seu nome, fez o seu
nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a
fé que é por ele deu a este, na presença de todos
vós, esta perfeita saúde.
Atos 3.13,16

Em terceiro lugar, cabe a colocação – Quem eu


reconheço ser o responsável? O discurso de Pedro
realça que o único responsável pelo extraordinário
milagre que todos testemunharam era Jesus Cristo,
o Autor de toda e qualquer forma de vida, e que
continuava presente entre eles, através da presença
do Espírito Santo. Note bem, todo o crédito foi de
Cristo, e jamais Pedro e João reclamaram algo para si.
Existe hoje uma multidão de líderes ocupando
o foco que pertence somente a Jesus, desejando e
até mesmo exigindo a glória e a honra que só a Ele
pertencem. Pedro, ao ouvir que o povo ficara ma-
ravilhado com o milagre que operara, rapidamente
esclareceu que eles estavam com uma visão com-
pletamente errada a seu respeito. O foco é Jesus!
Então, se Jesus é o nosso foco, o tema da
mensagem que anunciarmos ao mundo, seja por
53
Alerta à Liderança

palavras, gestos, atitudes ou ações, deve ser sem-


pre, necessariamente, Jesus. É interessante notar-
mos que todo o discurso de Pedro, apresentado
no capítulo 13 de Atos dos Apóstolos, aponta para
Jesus. Toda a teologia desenvolvida e organizada
pelo apóstolo Paulo aponta para Jesus. Todo o
conteúdo dos escritos de Tiago, Pedro, João e Judas
aponta para Jesus. Toda a Carta aos Hebreus aponta
para Jesus. E como podemos nós, então, buscar os
holofotes e nos manter no centro do foco? Não! A
autopromoção, neste caso, é um grave erro, que
leva à heresia e à rebelião – o foco é Jesus!
Podemos abordar qualquer forma em nossos
discursos na divulgação e promoção da Palavra de
Deus. Podemos falar sobre autoajuda, liderança,
relacionamentos, mas cuidado! Não deixemos Je-
sus de fora, nunca! É Jesus que salva! É Jesus que
transforma! É Jesus que liberta! Ele é o tema central!
Agora, veja o que diz Atos 16.5: De sorte
que as igrejas eram confirmadas na fé e cada dia
cresciam em número. Fica aqui um alerta espe-
cífico para os líderes da igreja: queremos que a
igreja cresça para confirmar os crentes na fé, mas
a Palavra de Deus afirma o contrário. Precisamos
primeiro confirmar a fé do povo para que a igreja
possa crescer! Simples assim. Temos criado infini-
tos métodos, séries infindáveis de procedimentos,
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Silas Malafaia

um monte de superficialidades, técnicas que por


fim se mostram incapazes, pois buscam um cres-
cimento sem sustentação.
Desejamos crescimento sustentável para a
igreja? Edifiquemos o povo na fé! Coloquemos
Jesus no coração das pessoas! E o Senhor acres-
centará em número aqueles que hão de salvar-se!
Deixemos de lado o discurso vazio, o raciocínio
guiado apenas pela razão, a mensagem repleta
apenas de frases de efeito – o foco é Jesus!
Se desejarmos ser uma liderança forte, eficaz,
e dentro da vontade do Senhor – seja você um líder
da igreja, um empresário, um chefe de família ou
uma dona de casa – não nos esqueçamos dos aler-
tas aqui contidos, e vamos manter diante de nossa
vista a admoestação de Hebreus 12.1-3:
Portanto, nós também, pois, que estamos ro-
deados de uma tão grande nuvem de testemunhas,
deixemos todo embaraço e o pecado que tão de
perto nos rodeia e corramos, com paciência, a car-
reira que nos está proposta, olhando para Jesus,
autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe
estava proposto, suportou a cruz, desprezando a
afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.
Considerai, pois, aquele que suportou tais contra-
dições dos pecadores contra si mesmo, para que
não enfraqueçais, desfalecendo em vossos ânimos.

Aleluia!
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Conclusão

Termino fazendo a seguinte pergunta: Qual


é a nossa motivação?
Qual é a nossa motivação para liderar e
construir um objetivo? Qual é a nossa motivação
para conquistar posições mais elevadas nesta
terra e desejarmos um crescimento da igreja? O
que motiva você a aspirar que o seu pequeno
negócio se transforme em uma grande empresa?
A nossa motivação deve ser exatamente a
mesma exposta pelo apóstolo Paulo no texto de 1
Coríntios 10.31: Portanto, quer comais, quer bebais
ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a
glória de Deus. A glória de Deus! Esse é o motivo,
essa a razão que nos move – a glória de Deus!
Sabe por que Deus lhe proporcionará uma
liderança notável? Um objetivo sólido? Uma po-
sição elevada neste mundo? Um crescimento ex-
traordinário da igreja? A transformação daquele
seu pequeno negócio em uma grande empresa?
Não se engane – não será por sua causa, nem
para a sua alegria, ou sua exaltação – será única
e exclusivamente para a Sua honra e glória!
Alerta à Liderança

Essa é a nossa motivação – para que a honra,


a glória e o louvor sejam dados a Deus!
Aleluia!
Ore comigo:

Deus, capacita-me a compreender e aplicar,


de todo o coração, a Tua Palavra que estudei
neste livro. Que eu possa experimentar a Tua
ação na aplicação dos conceitos aqui contidos,
de forma que possa desenvolver uma liderança
que reflita o Teu amor, a Tua justiça e a Tua equi-
dade no trato com meus liderados. Que todos os
adversários que desejam a minha derrota e que
esperam a minha queda sejam envergonhados
e, por fim, reconheçam que o foco de minhas
atitudes e ações na liderança está em ti. Abre,
Senhor, as portas de uma verdadeira liderança,
para que eu possa produzir frutos na Tua casa.
Peço que me abençoes, me guardes, e me propor-
ciones uma vida renovada, cheia do Teu poder;
que eu experimente, então, um novo tempo. Que
eu seja testemunha do poder que existe somente
em ti. Em nome do Teu amado Filho, Jesus, meu
Senhor e Salvador. Amém!

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