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CENTRO DE EVANGÉLICO DE MISSÕES

ESCOLA DE MISSÕES TRANSCULTURAIS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MISSIOLOGIA

A PROVISÃO DE DEUS NO CAMPO


MISSIONÁRIO

Por
Rolf Joaquim Dietz

Viçosa
2003
i
CENTRO DE EVANGÉLICO DE MISSÕES
ESCOLA DE MISSÕES TRANSCULTURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MISSIOLOGIA

A Provisão de Deus no Campo Missionário

Por
Rolf Joaquim Dietz

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Missiologia da Escola de Missões Transculturais do Centro
Evangélico de Missões, como requisito parcial para obtenção do
Grau de Mestre em Missiologia.

Orientadora: Antonia Leonora


Van der Meer (Vida Missionária)

Viçosa
2003
ii

Conteúdo

Introdução .........................................................................................................................................1
1- Providência ...................................................................................................................................2
1.1- Teologia ...................................................................................................................................2
2- A obra humana.............................................................................................................................. 5
2.1- Ética Cristã............................................................................................................................... 5
2.2- Engajamento ............................................................................................................................ 6
2.3- A prática da justiça ................................................................................................................... 6
2.4- Trabalhar..................................................................................................................................7
2.5- Oração e estudo .......................................................................................................................7
2.6- Crer..........................................................................................................................................7
2.7- Simplicidade............................................................................................................................. 8
3- Testemunhos e exemplos .......................................................................................................... 11
3.1- João E. Clough....................................................................................................................... 11
3.2- Hudson Taylor........................................................................................................................ 11
3.3- José Satírio dos Santos.......................................................................................................... 12
3.4- Stanley Dale........................................................................................................................... 13
3.5- Danilo Fontoura ...................................................................................................................... 13
4- Vocação e envio.......................................................................................................................... 15
4.1- Oração ...................................................................................................................................16
4.2- Recursos para missões .......................................................................................................... 16
Conclusões .....................................................................................................................................19
Obras consultadas.......................................................................................................................... 20
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Introdução

Nesta monografia desenvolvemos o tema do sustento e das condições de


trabalho no campo missionário.
O impulso a esse tema nos veio de dúvidas acerca da ação dos missionários
em momentos difíceis. Como agir em dificuldades, a quem recorrer, como orientar os
pensamentos.
A expressão “Providência” é um termo historicamente utilizado para expressar
o governo de Deus no mundo, Seu cuidado pela criação. O primeiro capítulo analisa
a terminologia e aspectos teológicos das questão.
Depois de afirmarmos o cuidado de Deus pela criação, pela humanidade e
pelos cristãos, tendemos a cair num pensamento comodista. Por isso, no segundo
capítulo abordamos a responsabilidade humana diante da questão do sustento e
administração dos bens que Deus nos deu.
Não poderiam faltar exemplos históricos para referendar esta argumentação.
Por isso no terceiro capítulo registramos trechos da vida de alguns cristãos, que
exemplificam de forma notável o que expusemos nos capítulos iniciais.
Para finalizar, damos uma abordagem missiológica ao assunto, traçando
sugestões práticas para os missionários.
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1- PROVIDÊNCIA

Na linguagem popular, “providência” é sinônimo de sorte, como por exemplo na


frase “uma borracharia neste lugar ermo foi providencial”.
Para SILVEIRA BUENO (1969) providência é “a suprema sabedoria com que
Deus conduz todas as coisas; Deus; acontecimento feliz; medida para regularizar
certos serviços”. No sentido secular, então, a palavra providência significa “medida
para regularizar certos serviços”. Quando aplicado a pessoas, então, implica nos
cuidados que se têm para que certo serviço se mantenha funcionando, antecipando
situações problemáticas e surpresas desagradáveis, como a falta de algum material,
matéria-prima ou ferramenta para a execução de uma empreitada.
O significado do verbo providenciar amplia a compreensão do termo. “Tomar
providências acerca de; regular; dispor; despachar; nomear; [...] acorrer; acudir;
remediar” (SILVEIRA BUENO: 1969).
Notamos no português corrente mais um significado: providencial pode ser
entendido como “planejado”. Quando se diz que algum acontecimento foi
“providencial”, os se diz com isso “parece planejado!”.
1.1- Teologia
Estes significados têm paralelo com o significado teológico: Deus está
trabalhando para que Sua obra não pare, e por isso está antevendo necessidades
futuras e dando encaminhamento para que no momento em que venham a ocorrer,
haja uma solução de prontidão.
Para Tomás de Aquino (BARSA: Tomismo) as criaturas são constantemente
dependentes do criador porque este está a todo tempo criando o mundo. Mas esta
dependência não tira a capacidade do ser-humano de tomar suas decisões, seguir
sua natureza. A máxima realização do homem acontece quando este se mantém
próximo a Deus, pois a maior perfeição da criatura acontece quando está em contato
com a perfeição do Criador. A graça aperfeiçoa as habilidades naturais.
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Para o cristão, providência divina se refere ao cuidado de Deus pela vida do
crente e pelo mundo todo. Por exemplo: Deus sabe que um filho seu vai precisar de
alimento daqui a 6 meses. Por isso ele manda o agricultor plantar o grão hoje,
manda a chuva amanhã, e assim por diante. No caso da queda de Adão e Eva
vemos que Deus não foi tomado de surpresa, isto nunca acontece. Deus não quis
que eles pecassem, mas o seu pecado não o encontrou desprevenido, ele já tinha
um plano para essa possibilidade. Entendemos que nada é por acaso. Deus tem
planos, e nada o toma de surpresa.
A expressão “Providência Divina” não aparece na Bíblia. Mesmo assim a idéia
é encontrada fartamente. A base teológica da providência divina é a criação, que
nos aponta o fato de que o criador não fez o mundo e o esqueceu, mas continua
mantendo sua criação, dentro do seu plano eterno (Cl 1.17; Hb 1.3). Sem a
manutenção de Deus, tudo voltaria rapidamente a ser pó (Sl 104.29). (HAARBECK
1987:44)
Somos da opinião de que não existe o chamado “destino cego” e que não
existem forças naturais agindo desordenadamente, sem sentido. Espinhos e
abrolhos, enchentes e secas, granizo e raios devem servir para disciplina dos
homens e, assim, fazer a vontade de Deus e glorificá-lo (Sl 148.8). (HAARBECK
1987:45)
O cuidado de Deus é tão grande que o mais insignificante, o mais fraco, o
menor de todos não são esquecidos (Sl 145.9; 147.9). Tudo, os elementos, os
animais e os produtos da terra encontram-se à disposição de Deus, e ele se utiliza
deles para a executar os seus planos relacionados com seu reino e de seus
propósitos de salvação, tanto em termos gerais quanto nos mínimos detalhes (1 Rs
17.6; 22.38; 2 Rs 9.36; Êx 16.15; Nm 11.31; cf 1 Rs 13.24,25 Jn 1.4; 2.1; 4.6,7). Até
o pecador mais ímpio se depara a cada passo com o governo divino (Jr 10.23; 2 Rs
19.28). (HAARBECK 1987:44)
O filho de Deus tem a felicidade de saber que até os cabelos da cabeça estão
contados (Mt 10.30). Até nas coisas mínimas da vida dos que lhe pertencem tudo
acontece para a salvação deles e sua glória. Vários exemplos bíblicos ilustram isso:
as histórias bíblicas de José, Moisés, Rute, Davi quando fugia de Saul, na vida dos
profetas Elias e Eliseu, em Assuero e Ester, Hamã e Mordecai, na história do Natal.
O apóstolo Paulo também sentiu a providência divina em seus caminhos, a respeito
do que ele próprio diz: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem
daqueles que amam a Deus.” (Rm 8.28) (HAARBECK 1987:44)
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O texto áureo da provisão divina é Mateus 6.25-26:
“Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao
que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que
haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do
que as vestes? 26 Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem,
nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta.
Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?”
O versículo de Salmos 104:27, nos fala acerca da providência de Deus para
com toda a humanidade: “Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo”.
Em 2 Coríntios 9:10 lemos que Deus é quem dá semente ao que semeia, ou
seja, providencia o alimento para a humanidade: “Ora, aquele que dá semente ao
que semeia e pão para alimento também suprirá e aumentará a vossa sementeira e
multiplicará os frutos da vossa justiça”.
Também o versículo de Salmos 127:2 revela o tratamento que Deus dá aos
seus filhos: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que
penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem”.
1.1.1- Deus está ativo
Uma corrente filosófica chamada Deísmo afirma que Deus é o criador do
universo, pois uma análise racional conduz a esta conclusão, porém não crêem na
providência divina.
Considerar que a responsabilidade desse deus em relação ao
mundo é unicamente a de lhe haver dado leis: uma vez realizado o ato de
criação, não se ocupa do mundo - abandonado a suas próprias leis físicas
- nem pede nenhum culto por parte dos homens (BARSA: Deísmo).
A revelação bíblica, por outro lado, entende que Deus não é um mero
observador do mundo, que tudo assiste de braços cruzados. Na verdade Ele têm o
controle de tudo e tudo sustenta (Hb 1:3), providencia o que é necessário e está
constantemente agindo no mundo (Sl 121.3). Ele cuida de todos, inclusive dos maus
(Mt 5.45), da natureza (Gn 8:22, Jó 38.41), dos cristãos (Mt 10.29-30), até mesmo da
cada uma de suas necessidades (Fp 4:19, Rm 8:32).
Num texto interessante, Paulo explica a passagem de Deuteronômio 25.4, que
diz “Não atarás a boca ao boi quando debulha”. Em 1 Coríntios 9:9 ele pergunta:
Deus está preocupado com o boi? Em verdade este mandamento se refere à
recompensa aos trabalhadores, principalmente daqueles que “semeiam coisas
espirituais”, os obreiros do Senhor.
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2- A OBRA HUMANA

Não estaríamos estudando missiologia nem qualquer outra matéria teológica,


se não pudéssemos pressupor que há uma obra a realizar, seja pastoral ou
missionária. Ensinar que o descansar na providência de Deus é tudo, pode evocar o
comodismo, para não dizer inanição.
Nos propomos neste capítulo a refletir, como fé na providência e ação positiva
devem coexistir.
Estas perguntas são cruciais para o missionário, pois a sua sobrevivência está
em jogo, e a pergunta: em que sentido vai o confiar na providência divina? Está claro
que há um sinergismo entre o providenciar de Deus e o trabalhar humano, mas,
como trabalhar sem deixar de confiar?
O assunto providência levanta várias perguntas, por exemplo. Missionários que
passam dificuldades estariam em pecado? Ou, então, justamente aqueles que vivem
confortavelmente? Um destes deveria ficar com a consciência pesada? Muitos
cristãos passam necessidades e perseguição (Mt 5.11, Fp 4.12-13), como
entendemos isto?
Se todos tivessem o que comer, vestir e moradia, esta monografia seria
perfeitamente dispensável, porque a pergunta é justamente esta: o que o
missionário deve pensar e fazer em relação a seu sustento?
Poderíamos cair no comodismo pensando que nada nos resta a fazer, pois
Deus faz tudo. Mas existem atos e atitudes que são esperadas de nós.
Martim Lutero dizia “Ora et labora”, ore e trabalhe. “Ore como se toda a ação
fosse inútil e trabalhe como se toda oração fosse inútil”.
É acerca disto que se detém a Ética Cristã.
2.1- Ética Cristã
Utilizo uma citação que pontua claramente a questão da ética cristã como
aquela que a partir da salvação nos impulsiona a uma vida diferente.
A Ética Cristã, em resumo, é o conjunto de valores morais total e
unicamente baseado nas Escrituras Sagradas, pelo qual o homem deve
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regular sua conduta nesse mundo, diante de Deus, do próximo e de si
mesmo. Não é um conjunto de regras pelas quais o homem poderá
chegar a Deus – mas é a norma de conduta pela qual poderá agradar a
Deus que já o redimiu. Por ser baseada na revelação divina, acredita em
valores morais absolutos, que são a vontade de Deus para todos os
homens, de todas as culturas e em todas as épocas. (LOPES:1999)
2.2- Engajamento
Deus não espera de nós o comodismo, pelo contrário, as Escrituras nos
desafiam ao engajamento.
Vejamos por exemplo, entre muitas outras, algumas passagens:
Chamou dez servos seus, confiou-lhes dez minas e disse-lhes:
Negociai até que eu volte (Lc 19:13).
Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu,
nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15:5).
Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como
servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus (Ef 6:6);
Vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade,
operando em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem
seja a glória para todo o sempre. Amém! (Hb 13:21)
Entendemos que a pergunta do cristão não deve ser: “devo agir?”, mas sim, “o
que fazer?”.
A Ética Cristã expõe o crente a decisões. Por isso é importante que o
missionário esteja preparado para decisões difíceis, através de um profundo
conhecimento da Palavra de Deus, e esteja buscando a orientação do Espírito
Santo.
A vontade de Deus para a humanidade encontra-se na Bíblia. Ela
revela os padrões morais de Deus, como encontramos nos 10
mandamentos e no sermão do Monte. Mais que isso, ela nos revela o que
Deus fez para que o homem pudesse vir a obedecê-lo. (LOPES:1999)
O cristão, através da fé em Jesus Cristo, é uma criatura restaurada, renovada e
capacitada a viver uma vida de amor a Deus e ao próximo. (LOPES:1999)
2.3- A prática da justiça
Deus faz o sol nascer sobre justos e injustos, mas o pecado leva à má
distribuição dos bens. Somos convidados na comunidade de praticarmos a justiça,
de modo que “suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo
que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade,”
(2 Co 8:14), principalmente no seio da igreja. “Por isso, enquanto tivermos
oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl
6:10).
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A comunidade primitiva é um exemplo interessante, pois “Todos os que creram
estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2:44).
Dentro da comunidade cristã somos convidados a reavaliar o significado da
palavra abundância: “porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram
abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande
riqueza da sua generosidade.” (2 Co 8:2)
2.4- Trabalhar
Há a tentação de identificar a causa de Deus com a igreja e separá-la do
trabalho diário. “É mais fácil testemunhar numa reunião na igreja do que no e através
do trabalho.” Cada tarefa que Deus nos dá tem um significado dentro da criação, e
nossa fé é comprovada quando realizamos com alegria e gratidão. (KANTONEN:
s/d)
A Palavra nos orienta a trabalhar por salário.
Nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de
sandálias, nem de bordão; porque digno é o trabalhador do seu alimento.
(Mt 10:10)
Permanecei na mesma casa, comendo e bebendo do que eles
tiverem; porque digno é o trabalhador do seu salário. Não andeis a mudar
de casa em casa. (Lc 10:7)
Também é correto evitar o ser um peso para outros
Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a
nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama
que acaricia os próprios filhos; (1 Ts 2:7)
2.5- Oração e estudo
É importante que o crente se mantenha em comunhão com seu Senhor,
buscando-o em oração (Fp 4.6), buscando Sua Palavra (Mt 4.4), e priorizando Seu
Reino (Mt 6.27, 33), ofertando para Sua obra (Lc 21:4).
Além disso, devemos expressar nossas necessidades a Deus, pois mesmo que
Ele já as conheça (Mt 6.8), somos desafiados a pedir (Mt 7.7; Jo 16.24; Fp 4.6; Tg
1.5,6).
Uma promessa que está nestes versículos e que sempre é consoladora:
“todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mt 6.33)
2.6- Crer
O assunto providêcia leva a aplicações bem práticas da fé. Todos a Bíblia
aponta nesta direção, como por exemplo, Salmos 37:5, “Entrega o teu caminho ao
SENHOR, confia nele, e o mais ele fará”. E o profeta Isaías “Confiai no SENHOR
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perpetuamente, porque o SENHOR Deus é uma rocha eterna” (Is 26:4, também Is
26:3).
O que nos leva a uma leflexão acerca do que é a própria fé. É crer no invisível,
impossível (Mt 19.26), no futuro (Hb 11:1), é o caminho da vitória (1 Jo 5:4).
Jesus em Marcos 11:22-24 ensina a ter fé e a pedir. Ele promete que através
da oração poderemos alcançar o que precisamos, inclusive coisas aparentemente
impossíveis (Mt 21:21, Mc 9:23).
2.7- Simplicidade
SAMUEL ESCOBAR (in: TAYLOR, W.: 2001) aponta para a necessidade de
reavaliação do estilo de vida em comparação com o de Jesus. É verdade que Jesus
ensinou a respeito do estilo de vida dos seus discípulos. Por exemplo em (Marcos
6:8) Jesus ordena aos enviados que levem pouca bagagem ao campo missionário,
pois deveria agir desimpedidamente e viver da boa vontade dos seus ouvintes.
A vida simples combina com o evangelho, pois este nos leva a uma reavaliação
dos nossos valores em contraste com os valores seculares (ter x ser, material x
espiritual, passageiro x eterno, visível x invisível - Mt 6:19-21). Além disso somos
convidados a encarar nossos bens materiais como um canal de bênção para outras
pessoas (At 2.45).
Jesus também nos ensina a não viver sob a pressão da preocupação (Mt 10:9).
Quando o missionário se sente chamado, ele pode partir confiadamente, sabendo
que não é sempre determinante ter uma fonte de susntento regular garantida.
No pai-nosso Jesus ora: “o pão nosso de cada dia dá-nos hoje” em Mateus
6:11, onde entendemos a provisão diária (hoje!) do Pai.
Jesus se importa com nossa felicidade, pedindo que não vivamos ansiosos
(estressados), mas confiando, nos dá dois exemplos, dos passarihos e das flores (Mt
6.25-34). Também Marta vivia inquieta e preocupada com muitas coisas e Jesus lhe
diz que somente uma coisa é necessária, ouvi-lo (Lc 10.41).
Neste assunto a pregação de Cristo entra na escatologia. Jesus nos avisa que
as orgias e as preocupações podem nos colocar despreparados para “aquele dia”
(Lc 21.34).
O apóstolo Paulo ensina a Timóteo sobre a simplicidade em 1 Tm 6:8 “Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”.
No livreto “Viva a simplicidade”, somos desafiados a reavaliar nosso estilo de
vida. Como cristãos, e especialmente como missionários, devemos abandonar tudo
o que é supérfluo. 2 Tm 2.4 nos diz “Nenhum soldado em serviço se embaraça com
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negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”. A vida
cristã é comparada a uma guerra, enquanto muitos cristãos estão agindo como se a
mesma fosse um passeio ou uma diversão. Em segundo lugar, observa-se que o
soldado precisa deixar de lado os negócios que não são devidos àquele que o
alistou. É um alerta para nós acerca de nosso apego às coisas deste mundo. Deus
não provê para nosso luxo, e nosso esbanjar. (NICHOLS:1983)
2.7.1- Mordomia
Dentro da providência, abordamos o assunto mordomia cristã, pois
entendemos que a o receber está relacionado ao modo de de o servo administrar as
dádivas.
A mordomia não é aplicada somente na área financeira, veja a palavra de
Paulo "somos dispenseiros da multiforme graça de Deus", através do nosso
"sacrifício vivo, santo e agradável a Deus" (Rm 12.1). (KANTONEN: s/d)
A riqueza não é nem um bem nem um mal em si, mas "...a vida de um homem
não consiste na abundância dos bens que ele possui" (Mt 16.26).
Jesus não desprezou a necessidade de pão, por exemplo, ensinou a pedi-lo no
Pai nosso, mas colocou a ênfase correta: "Buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua
justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas" (Mt 6.33).
O crente é cidadão de dois mundos e isto gera uma tensão, o velho homem
precisa ser crucificado diariamente. O crente serve a seus semelhantes com alegria,
sem ser compulsionado pela lei.
Agora somos filhos e herdeiros, e não somente servos. A mordomia é uma
questão familiar: nossas posses são do Pai e nossas como filhos, e servem ao
propósito desta família. Nosso padrão de administração sege o padrão de
administração do Pai (“amou o mundo de tal maneira que deu...”). A doação não é
um ato ocasional ou uma cerimônia especial, mas uma constante e crescente da
vida em Deus. A doação cristã não parte de desejos subliminares como senso de
culpa reprimido ou uma forma de proteção, mas parte da natureza de Deus e nossa
relação com ele. A medida da nossa doação não é o que damos, mas o que retemos
para nós mesmos (p. ex. a viúva pobre). O único princípio é: “de graça recebestes,
de graça dai.”
Mordomia neste sentido é restaurar todas as áreas da vida a seu legítimo
Senhor, e testemunhar sua soberania em palavras e ações, e vigiar, porque a
qualquer momento voltará.
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Devemos preocupar-nos também, conforme o caso, pela alimentação do nosso
próximo e dos irmãos. Citamos alguns versículos.
Mas Jesus ordenou-lhes expressamente que ninguém o soubesse; e
mandou que dessem de comer à menina (Mc 5:43).
Disse o Senhor: Quem é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o
senhor confiará os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo?
(Lc 12:42)
Enquanto amanhecia, Paulo rogava a todos que se alimentassem,
dizendo: Hoje, é o décimo quarto dia em que, esperando, estais sem
comer, nada tendo provado (At 27:33).
Em Mateus 10.16 Jesus ensina aos seus discípulos que o envio missionário é
feito para um campo difícil, “como ovelhas para o meio de lobos”. O missionário tem
uma ética cristã, e as pessoas para as quais ele vai muitas vezes oferecem perigo.
Jesus avisa para ter prudência e ao mesmo tempo ser “símplices como as pombas”.
Seguir a Cristo, fazer sua obra, é desafiante. Temos um exemplo em Lucas
18:22, onde Jesus pede que o jovem rico venda todos os seus bens. Somos
tentados a pensar que não é necessário para o cristão vender todos os seus bens,
mas o desafio permanece, de refletirmos acerca da nossa mordomia, do nosso estilo
de vida.
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3- TESTEMUNHOS E EXEMPLOS

Providência está estreitamente ligada com sobrevivência diária, fé diária. Por


isso entendemos faça parte deste trabalho o relatar acerca de histórias reais de
cristãos e especialmente missionários, enfocando situações específicas que
exemplifiquem esta relação entre o prover de Deus e a fé. Nestes exemplos curtos
percebe-se a convicção do chamado que cada um têm, e como esta convicção “dá
liga” a toda existência missionária.
3.1- João E. Clough
Resumidamente podemos dizer que ele foi um britânico que se sentiu chamado
para evangelizar na Índia. Citamos o livro para preservar a intensidade da situação.
“Um dos membros da junta lhe perguntou como receberia a notícia
se fosse resolvido não o aceitarem. Clough, com toda a calma e modéstia
respondeu-lhe qe de qualquer modo encontraria o meio de ir, porque
Deus que o chamava, não o deixaria sem lhe abrir um caminho.”
(VARETTO:65)
“Durante a fome que assolou a Índia nos anos 1876-78, o dr.
Clough, que havia estudado engenharia, contratou com o governo a
escavação de uma parte do canal de Buckingham, o que lhe permitiu dar
trabalho a uns três mil operários”. (VARETTO:67)
3.2- Hudson Taylor
Percebemos nos relatos acerca deste homem de Deus, que a essência de todo
seu sucesso foi sua própria vivência espiritual. Foi uma vida cheia de crises,
dificuldades, fraquezas, provações, mas a convicção do seu chamado para a missão
lhe dava a certeza da vitoria. Vemos que ele costumava orar muito e também não
hesitava em pedir a oração da igreja em seu favor.
“Não importa, na verdade, a força da pressão, ele costumava dizer.
Só importa onde repousa a pressão. Cuide que nunca esteja entre você e
o Senhor – e então, quanto maior a pressão, mais ela o levará para perto
dEle.” (TAYLOR, H. 1976:124)
“Se o Senhor não fosse especialmente gracioso para comigo, e se a
mente não fosse amparada pela convicção de que a obra é dEele e que
Ele está comigo no que é realmente ‘o calor da batalha’, eu teria
desmaiado e caído. Mas do Senhor é a peleja e Ele vencerá. Podemos
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falhar – falharemos continuamente – mas Ele nunca falha. Entretanto,
preciso de suas orações mais do que nunca.” (TAYLOR, H. 1976:125),
escrevendo para sua mãe.
Nele temos um modelo de confiança em Deus, de liderança, e também um
modelo de vida que se guiava por princípios, um dos quais aparece nesta citação:
não contrair dívidas.
“Agora que o trabalho tem crescido, há necessidade demaior
número de auxiliares na sede, bem como no estrangeiro; mas os
princípios de ação permanecerão os mesmos. Procuraremos o auxílio
finceiro através da oração, como fizemos até agora. Deus age no coração
daqueles que acha por bem usar como instrumentos seus. Quando
houver dinheiro em mãos será enviado alguém para a China; quando não,
não será mandado; e nós não o tomaremos emprestado, para não
contrairmos dívidas. Se nossa fé for provada como já o foi antes, o
Senhor se mostrará fiel como sempre se tem mostrado. Mesmo que nos
falte a fé, Sua fidelidade não há de faltar, pois etá escrito: ‘se somos
infiéis, Ele permanece fiel.’” (TAYLOR, H. 1976:160-1)
“Quando o Sr. Hudson Taylor deixou a liderança da Missão em
1900, cinco anos antes de ser chamado para o Lar celeste, a Missão do
Interior da China tinha 750 missionários. Trinta anos depois (exatamente
em 1932) tem 1285 membros. A receita, quando o Sr. Taylor dirigia o
trabalho e osustentava com as suas orações, atingia a milhões de
dólares, não solicitados, a não ser de Deus. Não houve e não há dívidas.”
(TAYLOR, H. 1976:203)
3.3- José Satírio dos Santos
O P. José Satírio descreve em seu livro a caminhada de um missionário que
partiu sem apoio financeiro, cheio da convicção de seu chamamento. Mesmo assim
houveram dificuldades, momentos de dúvida, angústias, mas depois de toda a luta,
houve também a fartura principalmente os frutos espirituais no campo missionário.
“Regresé muy triste a nuestra pequenã habitación. No tenía el valor
de noper a mi familia, durante dieciocho días, en una de esas incômodas
embarcaciones para cruzar la selva amazónica a merced de nose sabe
qué peligros. Tenía la conviccíón de estar cumpliendo una misión para
Dios, pero a pesar de eso me asaltaban las dudas. Tal vez se trataba de
una locura lo que estaba haciendo. Yo no tenía ningún derecho de
exponer a mi familia de esa manera. Era posible que me hubiera lanzado
a esa tarea sólo por el placer de la aventura “ (SANTOS 48)
Aqui aparece a importância do reconhecimento e apoio por parte de várias
igrejas que encontrou no caminho e que confiaram na sua visão e o auxiliaram na
jornada.
“encontré en Cuiabá a un gran amigo, el pastor Sebastião Rodrigues
de Souza, quien nos hospedó com regocijo y agrado, escuchó mi testigo y
me abrió las puertas de su iglesia. Prediqué en la iglesia madre y en sus
congregaciones, y en cada uno de los cultos sin que yo lo pidiera, él
mandaba que se levantaran ofertas para nuestro viaje” (SANTOS 43-4)
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Ele começa o capítulo 3 de seu livro com o subtítulo “La providencia divina”,
onde narra como ficou numa encruzilhada por falta de transporte, no meio da
amazônia, depois de muitas deficuldades, e como Deus providenciou
milagrosamente um avião. Quando chegaram à Colômbia, também tudo estava
preparado para sua chegada, com alguns irmãos que foram ao seu encontro e o
ajudaram.
3.4- Stanley Dale
No livro “Senhores da Terra”, o missionário Stanley Dale (RICHARDSON:1981)
conta como enfrentou várias situações de provisão de Deus. A primeira delas foi na
sua infância, quando ele, uma criança franzina, vivendo num lar difícil, encontra um
poema escrito por um cristão (Rudyard Kipling), que mudou sua vida, dando-lhe
coragem para enfrentar todas as dificuldades. Outra situação foi quando, depois de
ter sido desligado duas vezes de campos missionários na Nova Guiné, por seu modo
rude de ser, ele não desistiu e se apresentou a outra agência missionária, e quase
foi rejeitado novamente, quando um dos integrantes da equipe de avaliação sugeriu
que para os perigos da Guiné Holandesa uma pessoa como ele talvez se
encaixasse bem, e resolveram lhe dar uma chance.
Outra ocasião foi quando ele demarcou a terra para a construção da pista de
pouso, sem saber que aquela área era uma das áreas sagradas dos índios. Por
pouco escapou com vida, isto porque um índio entendeu que Stanley era a
“reencarnação” de um velho feiticeiro e convenceu os outros da idéia.
3.5- Danilo Fontoura
O Sr. Danilo Fontoura, um irmão em Cristo que mora em Sinop, nos deu um
testemunho acerca da provisão de Deus em sua vida. Ele vivia no submundo das
drogas, na cidade de Juara (300 km no interior do Mato Grosso), quando se
converteu a Jesus através de uma bíblia que havia ganho de sua mãe. Na ocasião
ele estava com muitas dívidas e sua esposa o havia abandonado. Quando se
converteu pediu a Deus que conseguisse pagar suas dívidas e reconquistar sua
esposa. O primeiro pedido Deus respondeu milagrosamente, dando-lhe a idéia de
vender óleo e roupas no meio dos garimpeiros. Uma tarefa extremamente perigosa e
difícil, mas para a qual Deus o capacitou e abençoou, de modo que em poucos
meses ele conseguiu ajuntar ouro o suficiente para voltar e pagar suas dívidas.
Posteriormente Deus também convenceu sua esposa acerca de sua mudança de
vida (testemunho narrado pessoalmente a nós em 05/2003).
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Estes testemunhos nos aproximam da realidade por dois lados. Primeiramente
as dificuldades e provações de toda ordem que os missionários enfrentam, e por
outro lado, como os milagres da providência vão acontecendo, algumas vezes
disfarçados nos irmãos em Cristo, outras vezes através de incrédulos, outras vezes
através de um literal “milagre”, outras através de “uma boa idéia”. A providência de
Deus é tremenda!
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4- VOCAÇÃO E ENVIO

Entendemos que ficou esclarecido que para confiar na provisão de Deus, o


crente precisa estar em ordem com Deus, “no centro da vontade de Deus”. Estar
convicto do seu chamado, no caso de um missionário.
Muitas vezes na obra missionária se sofre pressões. A igreja, ou agência
missionária sutilmente pode sugerir: “lembre-se de quem paga o seu salário”. Em
momentos de crise surgem perguntas: “Porque estou aqui?”, “Quem enfim me
enviou?”, “Quem é o maior interessado nesta obra?”. E muitas outras.
“Quem paga...?” é uma pergunta decisiva, pois geralmente influencia as
decisões direta ou indiretamente, e isto tem uma lógica: precisamos sobreviver,
precisamos comer, vestir, ter moradia. Por conta disso muita obediência se têm
prestado a instituições, ao invés de se obedecer a Deus. A máxima “antes importa
obedecer a Deus do que aos homens” é linda, mas as vezes engavetada diante da
questão “bom, mas precisamos sobreviver”. Estas preocupações não são
meramente teóricas. A falta de clareza neste ponto, nos encontraremos realizando
bons e belos planos humanos, e relegando os caminhos e pensamentos de Deus,
que “são mais altos que os vossos” (Is 55.9) a um segundo plano.
O que significa “missões por fé”? Como relacionar o sustento dado pela
agência ou igreja que o envia, com a providência de Deus? Será que neste caso
Deus não provê? Será que é falta de fé ir ao campo com sustento definido? Por
outro lado: será que é prova de fé ir ao campo sem sustento definido? Nós não
duvidamos em nenhum momento de que Deus está no controle de tudo, afinal, ele é
onipotente, onipresente. Mas na prática, isso gera algumas perguntas. Vamos
basear esta pesquisa principalmente na Bíblia e em exemplos missionários.
O campo missionário pode ser um ótimo espaço para por à prova essa fé.
Possivelmente as convicções mais profundas sejam reveladas numa situação difícil,
de necessidade ou conflito, pois ali podemos verificar suas reações e sentimentos:
entra em pânico, cria uma “3 a Guerra Mundial”, espera em Deus, ou faz o que?
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O ponto de partida para qualquer missionário é uma fé ousada e a certeza do
chamamento divino. Deve saber que a providência divina se estende desde o
chamado à fé, chamado à missão, até no providenciar um campo para o missionário,
mesmo que Ele talvez se utilize de diversos meios como agências ou igrejas (Mt
10:5; 11.10; Mc 3.14; 6.7). A providência de Deus vai tão longe que até mesmo se
preocupa em transmitir Sua autoridade, coragem e poder para seus obreiros, como
vemos em Mt 10:40; Lc 24:49 (também Mt 17:20; Gn 22:8; Js 14:12; 1 Sm 14:6; 1
Sm 17:37; At 27:25; Hb 11:33; Jo 14:12; Rm 10:11; Cl 1:23; Jo 11:3).
Enfim, podemos esperar que mesmo havendo muitas lutas, há recompensas
prometidas (Jo 4:36; Jr 31:16; 2 Cr 15:7).
4.1- Colocando as necessidades em Oração
Uma pergunta que o missionário muitas vezes se faz: “o que realmente devo
esperar de Deus, qual o limite entre fé e ‘provar a Deus’?” (Mt 4.7).
Em Tg 4.3 diz que nossas orações muitas vezes não são respondidas por
serem pedidos errados. Então, como orar bem? Mateus 6.32 e 33 nos diz que Deus
sabe das nossas necessidades materiais, e nos incentiva a buscar o Reino de Deus
como prioridade em nossa vida, ou seja, dirigir nossos pedidos a Ele conforme Sua
vontade (1 Jo 5:14).
A base da saída do missionário para o campo é a confiança nas promessas de
Deus, sem elas é impossível realizar esta tremenda obra.
Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser mãe, não
obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel aquele que lhe havia
feito a promessa (Hb 11:11).
4.2- Recursos para missões
De onde virá o sustento? Levantar o sustento é um dos maiores desafios para
quem tem o chamado. Os pastores geralmente recebem salário. Muitos
missionários, principalmente aqueles enviados por países ricos, também recebem
salário. Porém muitos vão pela fé. Esta expressão não é adequada, porque deixa a
entender que o que recebe salário não vive pela fé. Todos devemos viver pela fé. É
uma expressão usada no meio evangélico para designar aqueles que não recebem
salário, recebendo seu sustento através de pessoas ou igrejas de forma esporádica.
“Missões pela fé” significa então obras que levantam seu próprio sustento.
(VERWER 2002:91)
De um lado temos Jeorge Miller que defendia a oração como única
possibilidade, enquanto que D.L.Moody defende a oração com informação e
solicitação, enquanto Hudson Taylor defendia a oração e a informação, mas era
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contrário a pedir contribuições. A Bíblia oferece vários modelos, precisamos
respeitar os métodos alheios, e ter gratidão para com aqueles que contribuem pela
sua riqueza ou sacrifício. Devemos acabar com a idéia de que conversar sobre
dinheiro é uma atitude carnal. Biblicamente é Deus quem na verdade supre todas as
nossas necessidades e merece nossa gratidão, independente do método que nós
usamos para levantar o sustento. (VERWER 2002:92)
Um dos textos mais importantes sobre isto é de 1 Co 9.7-14. O missionário
deve receber pelo seu trabalho, seja por um salário, seja por ofertas. Não devemos
nos sentir culpados por receber dinheiro, mesmo que seja pelo sacrifício de outros.
“Não podemos ser radicais, pensando que o nosso estilo de vida tem de ser,
obrigatoriamente, simples e despojado. Merecemos o nosso salário como qualquer
outro trabalhador (ver Lc 10.7)”. A simbologia do boi refere-se a nós (1 Co 9.9).
(VERWER 2002:93)
Surge um problema quando alguém se diz vocacionado e a igreja não
concorda. Isto pode acontecer quando a igreja não tem visão de missões. Neste
caso, deve haver comunicação por parte da pessoa que tem um chamado, desde
oprimeiro momento em que se sentiu chamada, para preparar a igreja para a futura
necessidade. Muitos se queixam de receber muito pouco. Neste caso, deve se haver
comunicação acerca das reais necessidades do missionário. Se um membro tem
visão para missões precisa conscientizar a igreja, pois ela é a maior responsável
pelo envio de missionários. Deve haver uma boa comunicação, pois o silêncio
somente prejudica. (VERWER 2002:95)
Precisamos conversar (possoalmente, telefone, carta) e sermos claros para
obter os resultados. Podemos usar algum impresso para falar de nosso projeto, ou
distribuir uma carta de apresentação, ou pedir a alguém uma carta de apresentação.
A maior parte de nosso sustento vem de amigos e membros de nossa igreja.
Cremos que muitos deles tem condições de contribuir e querem fazer isso, estão
somente aguardando uma oportunidade. Precisamos apresentar o nosso projeto
pessoal de pregar o evangelho, e o dinheiro é uma necessidade real. A realidade da
necessidade de salvação deve nos estimulara a batalhar para conseguir os recursos
que necessitamos e não devemos nos intimidar com os contratempos. (VERWER
2002:95)
Devemos fundir o orar, o agir, e o confiar em Deus. Vamos nos deparar com
situações estranhas e difíceis que porão à prova nossas verdadeiras intenções: será
que estamos realmente investindo os recursos na obra que glorifica a Deus? Deus
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pode reter recursos se não estivermos na visão certa. É errado pensarmos que
podemos controlar a Deus, veja o livro de Jó. Quando passamos por provações,
devemos estar firmes nos objetivos. Deus pode nos provar pela dificuldade
financeira, a preocupação nuncanos leva ao crescimento espiritual. Obediência e
resposta de oração andam de mãos dadas 1 Jo 3.21s. Isso não significa que a falta
de recursos seja sinônimo de pecado. (VERWER 2002:98)
Não podemos ter um falso sentimento de culpa, nem, por outro lado, esquecer
que o pecado pode ser um empecilho. A oração nunca será substituto para a
obediência. Muitos reagem de forma negativa diante da falta de recursos, mas a
dependência de Deus é uma das coisas mais prazerosa no campo missionário. O.
Hallesby diz que “orar é trabalhar”. Ao lado da oração vem a ação, e parte desta
ação é a comunicação. Também precisamos aprender a usar as contribuições d
melhor maneira possível, investir bem. Também os cristãos em geral são chamados
a mudarem seus hábitos de vida por causa das pessoas menos favorecidas e das
que estão levando o evangelho. Quando tivermos orado e agido, devemos esperr
em Deus. Sempre haverá um ponto onde não podemos fazer mais nada. Devemos
então permitir que o ES toque os corações das pessoas com quem conversamos e
outras. (VERWER 2002:99)
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Conclusões

Depois de analisarmos a terminologia relacionada com o tema, desenvolvemos


questionamento acerca do papel humano ao lado do operar providencial de Deus.
Narrando a vida de alguns cristãos pretendemos reforçar com fatos as trocas entre
Deus, providenciando, e Seus filhos, crendo. Por fim destacamos a importância do
processo vocacional para que o missionário possa ter clareza acerca de quem é,
enfim, seu provedor.
O assunto providência de Deus é empolgante. Quando o cristão entende o que
significa confiar na provisão de Deus sua fé é renovada e sua coragem aumentada.
É um refúgio para os conflitos angústias que encontramos nos campos missionários.
A fidelidade de Deus não é como se ter uma conta corrente com grande saldo, mas
é saber que apesar do pequeno saldo, sempre haverá “depósitos” nos momentos
certos. É experimentar a fidelidade de Deus em todos os momentos, mesmo pelos
vales, não precisamos temer (Sl 23.4). A luta contra a tentação nos deixarmos levar
pelas circunstâncias, boas ou ruins, é uma constante para a qual a fé é o remédio
(Mc 4.40).
Tu és fiel, Senhor, meu Pai celeste,
Pleno poder a Teus filhos darás.
Nunca mudaste, Tu nunca faltaste,
Tal como eras Tu sempre serás.
Tu és fiel, Senhor, Tu és fiel, Senhor,
Dia após dia, com bênçãos sem fim.
Tua mercê me sustenta e me guarda,
Tu és fiel, Senhor, fiel a mim.
Flores e frutos, montanhas e vales,
Sol, lua, estrela, no céu a brilhar,
Tudo criaste na terra e nos ares,
Todo o universo vem pois Te louvar.
Pleno poder Tu dás, paz, segurança,
Cada momento me guias, Senhor,
E no porvir, óh, que doce esperança,
Desfrutarei de Teu rico favor.
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Obras consultadas

Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida, versão


revista e atualizada 2ª edição. Barueri, Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

BRT - Bíblia de Referência Thompson. São Paulo: Vida, 2000.

GUIMARÃES, Sebastião Lúcio. Crônicas missionárias. Viçosa: Ultimato, 2001.

HAARBECK, Theodor. Está Escrito: Dogmática Bíblica. São Bento do Sul,


Distribuidora Literária União Cristã, 1987.

KANTONEN, T. A. A Teologia da Mordomia Cristã. Londrina: Luterana, s/d.

LOPES, Dr. Augustus Nicodemus. A Ética nossa de Cada Dia. revista


MACKENZIE, Ano I - Nº 3 – 1999.

MILNE, Bruce. Conheça a verdade: um manual de doutrina bíblica. São Paulo,


ABU, 1987.

NICHOLS, Alan. Viva a Simplicidade! Compromisso Evangélico com um Estilo


de Vida Simples. São Paulo / Belo Horizonte, ABU / Visão Mundial, 1983.

RICHARDSON, Don. Senhores da Terra. Belo Horizonte: Betânia, 1981.

SANTOS, José Satírio dos. Missión en Cúcuta: Osadia que se convertió en


milagro donde la misión parecía imposible. Rio de Janeiro, Patmos -
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SILVEIRA BUENO, Francisco da. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Rio


de Janeiro: FENAME, 1969.

TAYLOR, William D. (org). Missiologia Global para o século XXI: a consulta de


Foz do Iguaçú. Londrina, Descoberta, 2001.

TAYLOR, Hudson. O segredo espiritual de Hudson Taylor. São Paulo: Mundo


Cristão, 1976.

TOZER, A. W. O Melhor de A. W. Tozer. São Paulo, Vida Nova, 1984.

VARETTO, João C. Heróis e Mártires da Obra Missionária. Rio de Janeiro: Casa


Publicadora Batista, s/d.

VERWER, George. Missões: qual a sua parte?. Belo Horizonte: Betânia, 2002.

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