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O Século

12/08/1908
PERVERSIDADE ASSASSINA
... cada um deles seguiu para ponto determinado, nas vizinhanças do local do crime,
onde deveriam colher informações. O delegado examinou depois os únicos objetos
encontrados junto ao cadáver e enviados pela polícia do 22º. Eram: um bonet de lã, com
as cores verde e amarelo, e uma pequena faca semelhante às usadas pelos sapateiros.
Esta faca, constituída apenas por um pedaço de lâmina de aço, afiada em uma das
pontas, parece ter servido na prática do crime, achando-se tinta de sangue. O cadáver da
pobre vítima chegou ao necrotério por volta das 11 horas da manhã. O servente da
morgue, Vicente Vallim, depois de lavar o corpo da vítima, reconheceu nele a pessoa de
um pequeno engraxador de botinas, que perambulava, por vezes, pelas imediações do
hospital da Misericórdia. Não o conhecia de nome, mas sabia ser ele filho de uma
mulher italiana, residente à rua da Misericórdia, a quem mandou comunicar o caso,
tanto mais que essa mesma mulher aí estivera na véspera, à noite, a procura de seu filho.
A pobre senhora dirigiu-se ao necrotério e ao deparar com o corpo do infeliz,
proferiu a seguinte frase:
- Salvador! Meu filho! O que aconteceu com o meu querido filho! sim! É ele!...
Debruçada sobre o cadáver, deixava correr lágrimas dolorosas, acompanhadas de
frases que tocavam o coração dos assistentes. Estava em um desespero da dor
indescritível, desgrenhando e arrancando os cabelos. Momentos depois chegavam
outros parentes da infeliz criança, que vasculhavam o cadáver, derramando lágrimas
sobre ele.

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