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O século – 12/03/1908

CRIME HORROROSO

Lavra a febre do crime. Passou o período carnavalesco com suas loucuras inofensivas para
suceder-lhe a orgia do sangue., com os seus pavorosos horrores. Desde o dia em que cessaram
as festas ao deus Momo, em que desapareceram as vestimentas esquisitas, em que caíram as
mascaras em que os homens se iludem iludindo os seus semelhantes, começou, quase sem
interrupção, a manifestar-se por quase toda a parte a nevrose do crime, como uma espécie de
epidemia cuja causa está sempre viva no fundo tenebroso dos instintos humanos. Triste
condição a do homem!
A religião di-lo feito á semelhança de Deus, a filosofia proclama-lhe os altos destinos como
último estádio da sua perfectibilidade, e apesar da religião e da filosofia, ele não faz senão
manifestar sua miserabilidade, em atos que o colocam no mesmo nível da besta.
Não desapareceram ainda os sanguinolentos vestígios dos crimes perpetrados nesses últimos
dias, e um outro homicídio se anuncia, cercado de mistérios e de circunstancias horrorosas. O
crime e o roubo, cada um agindo no indivíduo, conforme o gênero de fraqueza a que o
subordinou o próprio instinto, ou conforme as circunstâncias de momento que lhe
determinaram a manifestação dum bem ou mal entendido amor próprio, foram o móvel dos
últimos crimes que empolgaram os espíritos nesses últimos dias, enchendo os noticiários dos
jornais.
Foi assim o crime da Villa Ruy Barbosa, foram assim os lamentáveis sucessos em que se
viram envolvidos dois infelizes, fazendo duas vítimas por questões de amor, e criando para sí
as mais tristes situações. Mas quanto ao bárbaro assassinato de que foi vitima agora o infeliz
italiano “Nicola” , na Parada do Amorim, da Estrada de Ferro do Rio d’Ouro, quem poderá dizer
de pronto qual foi a causa?
O manto de mistério está ainda estendido sobre o cadáver do infeliz engraxate
encontrado dentro dum pântano, crivado de facadas e embebido em sangue. Uns pensam que
o móvel desse crime fora o roubo. O roubo? Quase que não se pode acreditar que um menino
exercendo a humilde profissão de engraxate, possa ter atraído a ambição dum criminoso.
Outros acreditam que o crime fora cometido por indivíduo dado à prática de atos libidinosos.
Quem sabe, porém, o que se passou naquele recanto lamacento dos subúrbios? Talvez
a polícia, que às vezes também tem a sua estrela, consiga desvendar o mistério e apanhar o
celerado, para entrega-lo à ação implacável da justiça. Por enquanto nada mais podemos
adiantar senão o que se vai ler nas notas colhidas pela nossa reportagem.

O crime
Tanto quanto nos permita o adiantado da hora, demos ontem a notícia desse horroroso
assassinato do menino Salvador, ocorrido no canto escuro de um lúgubre mangue. Os jornais
da manhã trazem notas mais detalhadas sobre o caso, entre alas a do reconhecimento do
cadáver do infeliz menor vitimado, que agora sabe-se chamar Salvador Santoro, o “Nicola”,
que exercia a profissão de engraxate. O horroroso crime deu-se na ponte Grande, além do
Amorim. Poucas são as notas que temos de acrescentar sobre o fato.
Os depoimentos
No inquérito depôs Adolpho Pereira Bittencourt , cujas declarações passamos a descrever:
“disse ser residente à rua do Benfica n. 72, que à 10 do corrente de seis para sete
horas da noite, achando-se o declarante conversando com Guilherme de tal, dele se
aproximou um rondante da Estrada de Ferro Leopoldina de nome Francisco João, que lhe
declarou existir nas imediações da Ponte Grande do Amorim, um cadáver caído no mangue,
que por espírito de curiosidade, encaminhou-se com seu companheiro Guilherme,
encontrando no ponto indicado, o cadáver de um mocinho, o qual não conheceu e cujo
cadáver já havia sido retirado do mangue por um comissário e praças do 22° distrito; já se
achando portanto no leito da linha férrea Leopoldina; ai foi o declarante convidado a
comparecer à delegacia, juntamente com o seu companheiro.
As testemunhas de nomes Guilherme Thomé de Souza, Francisco João e Manoel
Raymundo de Sampaio Vianna, declaram também não conhecer o cadáver e bem assim terem
ido ao local, por espírito de curiosidade à exceção da última testemunha (a qual sendo praça
da força policial) e sabendo por um passageiro em Bonsucesso (onde o declarante achava-se
de ronda) do ocorrido, seguiu para o local mandando comunicar por um menino que passava
na ocasião, o fato à delegacia”
Depois dessa testemunha, prestou também depoimento a mãe de Nicola, Conceição
Chamarella, que disse que:
“ No dia 10, seu filho Salvador saiu de casa às 6 horas da manhã, voltando ao meio dia
para almoçar, saindo novamente e não mais voltando. Que ontem ás 8 horas da manhã soube
achar-se seu filho morto no Necrotério e que ali chegando o reconheceu. Que soube ter seu
filho saído em companhia de outros amigos. Que no Necrotério reconheceu no assassinado
seu filho, de nome Salvador Santoro, natural desta capital, com 14 anos, que exercia a
profissão de engraxate, sabia ler e escrever e residia à rua da Misericórdia n. 40. Que seu filho
costumava passear com alguns companheiros, entre os quais existe um mulato de nome
Pedro, que ainda ante ontem, a depoente viu Pedro em frente à Igreja de São José, local onde
seu filho trabalhava como engraxate. Que quando ante ontem viu este mulato eram 2 horas da
tarde. Que Pedro é residente no largo da Batalha e que este indivíduo é sem ocupação. E
quanto aos outros que são companheiros de su filho, ela depoente não sabe os nomes, sendo
este seu filho o único do primeiro matrimônio, pois é casada pela segunda vez.”

Suspeitas
As suspeitas quanto a autoria do crime continuam a recair sobre o mulato Pedro de tal, que
alguns dizem morador do largo da Batalha, mas que até agora não foi encontrado, não tendo
sido igualmente descoberta sua residência.
Hoje, desde as 6 horas da manhã, o guarda civil Figueira, em companhia do menor
Hermínio (que foi o denunciante), seguiram com destino ao largo da Batalha, afim de efetuar a
prisão de Pedro. O dr. Raul Rêgo, acompanhado do comissário Tibau e do oficial de justiça, tem
percorrido vários pontos da cidade à procura do criminoso...
Esclarecimentos
Ao meio dia, compareceram à sede do 18º distrito d. Maria Eugênia e dna. Fausa Maria da
Conceição, que declararam ter no dia 10 à tarde ido ao mangue, junto à Ponte Grande,
apanhar lenha, em companhia da menor Nicá, a qual declarou à Maria Eugênia, ter ouvido
fortes gritos no mangue, ficando assustada e retirando-se em seguida. Outrossim, notou dna.
Maria Eugênia que um indivíduo de cor parda, gordo e de cabeleira, levou toda a tarde
caçando e pescando por ali. Disse mais que logo depois da parada do Amorim, há um lugar
chamado “Caminho da Intendência”, o qual é ponto de todos os vagabundos. Falou depois
dna. Fausta, que declarou o mesmo, acrescentando mais ter visto na tarde do dia 10, pelas 4
horas, passar um mulato, com passos apressados, e assustado, pessoa que vendo reconhece.

À hora que escrevemos, Santos está sendo interrogado pelo dr. Chefe de polícia

13/03/1908

Está, afinal, terminado o mistério desse horroroso crime da Ponte Grande. Chama-se Santo
Diursomarzo o autor dessa nefanda cena de sangue e é, como a infeliz vítima, de nacionalidade
italiana.
Ontem, pela manhã, o chefe dos agentes determinou que fossem presos todos os engraxates
qua trabalhavam no largo do paço. Foram detidos 4 rapazolas: Santo Diursomarzo, Litori
Stambulo, Luiz Bacaro e Santo Grosso.
Santo confessou o seu delito, com uma frieza tal, que só encontra competidor no cinismo de
Eugênio Roca, o monstruoso assassino dos irmãos Fuoco. Ele a principio relutou, acusado pelo
seu companheiro Litori Stambulo, a quem antes de ser preso contara a sua feia ação.

Depoimento de Santo
“Cerca de uma hora do dia 10 do corrente mês o declarante, Littori Stambulo e Salvador
Santíni, geralmente conhecido por Nicola, partiram do largo do Paço com destino à Estrada de
Ferro Central, tendo deixado o declarante e Santini as suas caixas de engraxadores, ele na rua
da Assembléia, cujo número ignora, guardando Nicola a dele na rua da Saúde.
Na Estação da Estrada de Ferro da Central, tomaram o trem em direção à estação de s.
Francisco Xavier, onde saltaram e serviram-se de café em um quiosque que fica próximo à
mesma estação. Daí seguiram à pé pelo leito da Estrada Leopoldina, e, depois de terem
caminhado, cerca de um quarto de hora, entraram no mato (lugar que o declarante não sabe
precisar, por que ali fora pela primeira vez).
Ai, Littori se atirou sobre Nicola segurou-o pelos braços e o declarante empunhando
uma faca, que no ato lhe é apresentada e reconheceu ser a mesma, desfechou três ou quatro
golpes em Nicola. Em seguida, já estando Nicola por terra, Littori apanhou uma pedra , que o
declarante reconhece ser a mesma que neste ato lhe é apresentada, e arremeçou-a sobre a
cabeça de Nicola. Logo depois retiraram-se o declarante e Littori, pelo mesmo caminho, em
direção à Estação S. Francisco Xavier, deixando Nicola estendido no chão, mas ainda com vida.
Littori regressou à cidade no primeiro trem e o declarante no trem imediato, ai chegando de 4
para 5 horas da tarde, mais ou menos.
Depois de ter ido buscar a sua caixa, na rua da Assembleia, dirigiu-se para o quarto que
ocupa, com Littori, na rua do Resende, n. 147, onde Littori já se achava. Ao chegar em seu
quarto, o declarante dirigiu-se ao tanque e ai lavou a roupa com que vinha vestido, por se
achar muito elameada, roupa essa constante de uma calça de algodão escuro, riscado em
xadrez, um colete de algodão escuro listrado, uma camisa de algodão branco e uma ceroula
idem, reconhecendo serem as mesmas peças que agora lhe são mostradas.
O declarante e Nicola seguiram para fora da cidade a convite de Littori, sobre pretexto
de passeio e depois que chegaram ao local indicado onde se deu o fato criminoso, Littori
puxou a faca já descrita e entregou-a ao declarante para com ela assassinar Nicola. Há cerca de
três meses, o declarante teve uma pequena luta com Nicola no largo do Paço, mas, cerca de
quinze dias depois fizeram as pazes e há quatro dia como Nicola lhe tivesse rasgado o sue
chapéu sem outro motivo a não ser por brincadeira, o declarante tornou-se novamente
inimigo de Nicola. Por esse fato e pela circunstância de Nicola viver a xingá-lo, foi que o
declarante o matou.

O Dr. Raul Rêgo e os agentes Andrada e Guerra


O dr. Raul Rêgo, delegado do 18º distrito, merece elogios pela dedicação com que se portou
nesse inquérito. Os dois agentes que prenderam o assassino. A argucia desses dois excelentes
auxiliares deve-se não só a descoberta, como ainda a confissão do criminoso.

O mulato

Procedidas acertadas diligencias pelo capitão Andrada e dr. Raul Rêgo, chegou-se à conclusão
de que não há certeza sobre o papel do mulato Pedro, que pode figurar como resultado de
atrapalhação do menor Hermínio, quando se sentiu nas malhas da polícia. Preso Santo e
arrancada a sua confissão pelo chefe do corpo de agentes, ante esmagadoras provas, verificou-
se ser este o culpado da horrorosa cena passada na Parada do Amorim. Santo, cujo nome
ontem publicamos com acréscimo de um s, em detalhada notícia, vendo-se totalmente
perdido, quis dividir a autoria do bárbaro e cruel assassinato com o seu companheiro Littori,
cujas declarações muito favoreceram à ação das nossas autoridades.

Pairando dúvidas sobre a acusação que o feroz assassino levantara, os agentes


policiais procederam a várias diligencias, acreditando não ter Littori se associado ao crime.
Como o suposto mulato atrapalhasse um pouco as diligencias postas em prática em boa hora
pelo capitão Andrada, essa autoridade, de pesquisa em pesquisa, não conseguiu apurar a
responsabilidade do mulato. Interrogada as duas mulheres, moradoras da Parada do Ramos, o
chefe do corpo de agentes soube que eles tinham visto unicamente um homem a correr,
procurando ocultar as mãos tintas de sangue. O colete do criminoso, pois não era outro senão
Santo Ursomarzzo, tinha fundo preto. Lavado o colete encontrado embaixo da cama do
sanguinolento assassino, as duas mulheres reconheceram o que tinham visto dias antes no
corpo do indivíduo encontrado no local do crime. Não resta a menor dúvida que o trabalho do
capitão Andrada é digno de encômios pelos ótimos resultados que conseguiu obter. Torna-se
porém necessário aclarar-se o depoimento do engraxate Hermínio, o qual unicamente servia
para distrair a acção policial durante longo tempo. Bem pode ser que o menor engraxate fosse
industriado pelo assassino, o que deve ser apurado pela autoridade que preside o inquérito
sobre o hediondo crime.

Há ainda divergências sobre o laudo dos médicos legistas e as declarações de Santo,


divergências essas que devem ficar aclaradas, porquanto o laudo demonstra ter sido a
libidinagem a origem do assassinato, o que o criminoso nega insistentemente. Dai a acareação
entre Hermínio e Santo, as autoridades policiais muito terão a lucrar com o resultado que
obtiverem, pois, achamos crível que Santo não tivesse cometido o crime sozinho e sim com um
outro indivíduo qualquer. Que Littpri seja criminoso, não podemos asseverar ante as provas de
inocência apuradas pelo capitão Andrada. Acreditamos, porém, que o mistério que cercou a
morte do infeliz Nicola será desvendado por completo para que o criminoso ou criminosos
sejam entregues à justiça, com robustas e esmagadoras provas.

Litori presta declarações

Litori, o engraxate acusado por Santo Orsomazzi, prestou hoje declarações à autoridade
policial que preside o inquérito sobre o crime da parada de Amorim. Litori contesta a acusação
que se lhe faz e para prova do que afirma disse que esteve no dia do crime no largo do paço
até 1 hora da tarde com “Nicola”, Santo, Luizi Bacaro e Santo Grasso, quando com os dois
últimos foi banhar-se na praia de Santa Luzia. Voltando ao largo do Paço não mais encontrou
“Nicola” nem o seu companheiro Santo Orsomazzi. Minutos depois, acrescenta, dirigiram-se
para o quiosque do largo do Paço, canto da rua Sete de Setembro, onde tomaram café com
pão.

Finda a frugal refeição, dirigiu-se para seu comodo, à rua do Resende n. 147, passando
pelas ruas da Assembleia, Carioca, largo do Rocio, Visconde do Rio Branco e Inválidos,
enquanto Bacaro e Grosso se encaminhavam para a sua residência, à rua Paula Mattos n. 167.
Achando-se ainda em seu quarto, viu entre as 6 e meia e 7 horas da noite, entrar o criminoso
com as calças sujas de lama, e logo após lavar-se e esconder a roupa com que viera. Nessa
ocasião Orsomazzi declarou ao depoente que perdera a licença. Litori contesta
veementemente as acusações, afirmando que Santo lhe ameaçara o envolver no crime caso
desse com a língua nos dentes . Feita a acareação entre o assassino e Litori, este firmemente
contestou as acusações levantadas pelo seu companheiro de quarto, apontando-o como o
assassino do infeliz Nicola. Orsomazzi fria e cinicamente continua a afirmar que Litori é
cumplice no horroroso crime.

A polícia está crente na inocência de Litori, pois sabe que ele jantou na hora do
costume na casa de pasto na qual é freguês. Prestaram declarações Bacaro e Grosso que
confirmam o depoimento de Litori. Foi também ouvido o dono do quiosque que confirma
também o referido depoimento.
Buscas

Voltando hoje novamente ao local, os agentes de polícia encontraram no pântano uma ceroula
listrada, igualmente enodoada de sangue. Esse achado dá a entender que Santo Orsomazzi, no
seu hediondo crime, teve cúmplice. Assim, o dr. 1° delegado auxiliar ordenou várias diligencias,
que espera surtam os almejados resultados. O dr. Albuquerque de Mello, 1° delegado auxiliar,
que se acha encarregado do inquérito, ouvirá ainda hoje um tio do menor assassinado, que
exerce a profissão de engraxate em São Cristóvão bem como outras pessoas.

O agente Guerra

Esse detetive de nossa polícia secreta, e cujos trabalhos de investigação dão sempre os
melhores resultados, seguiu à última hora para Niterói. Pelo que conseguimos ouvir, o agente
Guerra vai no encalço do mulato Pedro, mulato este a que se referiu o menor engraxate
Hermínio. Preso Pedro, o seu depoimento muita luz deve trazer ao inquérito, que vai
esclarecendo o caso. Há desconfianças de que o mulato se acha foragido nas Neves.

Santo como Litori, Grasso, Bacaro e outros engraxates várias vezes visitaram o xadrez do 1°
distrito, processados como vagabundos.

Sinais do assassino

Natural da Calabria, o assassino é de estatura abaixo da mediana, claro, de rosto oval e cheio,
tendo o crâneo saliente, tem cabelo louro, orelhas pequenas e com brincos, nariz chato, olhos
esbugalhados e azuis, vendo-se junto à orelha direita dois sinais de cabelo. O seu olhar é pouco
penetrante, misto de lascívia e perversidade. Santo não fita ninguém; de contínuo seus olhos
deixam-se ficar imóveis sobre o assoalho do xadrez. Sua fisionomia é extremamente antipática.

JORNAL DO BRASIL – 12/03/1908


PERVERSIDADE ASSASSINA
A alma da população carioca vem sendo sacudida de emoção em emoção, desde o inicio do
ano, por uma série de crimes bárbaros, alguns deles misteriosos, hediondos. A madrugada do
dia primeiro do ano foi assinalada pela nota rubra do sangue, com dois assassinatos na zona
suburbana, seguindo-se-lhes muitos outros crimes em que agouraram, no primeiro plano, os
instintos ferozes e a perversidade de seus executantes.
Vieram depois, além de vários crimes passionais, o misterioso assassinato do “Alma
Grande” e a horrível chacina da Vila Ruy Barbosa, de que ainda se tem ocupado a imprensa.
As primeiras pessoas que o viram, de relance, foram passageiros do trem da
Leopoldina, na passagem pela parada do Amorim. O caso foi comentado diversamente, até
que chegou ao conhecimento de uma praça de polícia, de ronda em Bonsucesso. Em decúbito
dorsal, achava-se o corpo de um menor de cor branca apresentando inúmeros ferimentos no
rosto, no peito e nas mãos, todos naturalmente produzidos por faca. O lúgubre encontro
horrorizou os presentes, que não conheciam a pobre vítima, nunca vista naquelas redondezas.
Seriam 6 horas da tarde do dia 10, quando o aso foi levado ao conhecimento do comissário de
serviço do 22º distrito.
As primeiras providencias da polícia, que se achou diante de um impenetrável
mistério, foram então iniciadas. Essas providências não obedeceram, porém, a todos os
requisitos da lei. O cadáver foi retirado, sem ter havido o necessário exame do local, pelos
médicos legistas da polícia, sendo unicamente lavrado um ato de reconhecimento da vítima,
que nada adiantou.
A praça de nome Manuel Raymundo de Sampaio, n. 213, do 3º batalhão, da 3ª
companhia e do 1º regimento.
O Delegado do 22, que funcionou no inicio do caso, descobriu depois que não estava
em sua competência. Passou um telegrama ao Dr. 3º delegado auxiliar: Acabamos de
encontrar, Parada Amorim, corpo menino 14 anos, horrivelmente esfaqueado. Peço remoção
imediata cadáver Necrotério. Fato ocorrido zona 18º distrito
Em vista da demora do telegrama acima, só no dia 11, tardiamente foi o fato
comunicado ao delegado do 18º distrito, a quem competia providenciar. O delegado do 22º foi
pessoalmente entender-se com o seu colega o Dr. Raul Rêgo, às 2 horas da tarde. Essa
confusão de distritos serviu apenas para determinar um atraso de quase 24 horas nas
diligencias, felizmente imediatamente iniciadas pelo delegado do 18º.
Das pesquisas iniciais foram incumbidos o agente Jovino, o oficial de justiça Plácido e o
guarda civil n. 712, destacado na delegacia. Cada um deles seguiu para pondo determinado,
nas vizinhanças do local do crime. O delegado examinou os objetos encontrados junto ao
cadáver e enviados pelo delegado da 22.

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