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ABRIL DE

2021
EDIÇÃO
Nº 01

A REVISTA DO OPERADOR DE
SEGURANÇA PÚBLICA E PRIVADA

QUANTO VALE SEU


CONHECIMENTO?
PÁGINA 03 REVISTA OPE-S

BIZU
QUANTO VALE SEU
CONHECIMENTO?
Pensamento para Sendo o conhecimento
vida TÁCITO (o que aprendemos
de maneira informal durante
Não percebemos a a vida) ou o EXPLÍCITO
quantidade de (aquele que aprendemos de
conhecimentos diversos maneira procedimentada,
que adquirimos durante com regras,

C
nossa vida, justamente academicamente)
om muita por essa razão em Indiférem para a evolução e
felicidade inúmeras situações não para o valor que esse
estreamos a revista Ope-S, damos o valor conhecimento pode trazer
revista voltada para o indispensável a esse para sua vida.
público atuante, conhecimento. Contribuição
admiradores e curiosos da Com passar dos anos e o Destarte, com muito
Segurança Pública e crescimento da empenho e através dos
Privada. maturidade nossos articulistas, traremos
Com o intuito de despertamos para o máximo de conhecimento
disseminar informações, grande importância que para nossos leitores.
esclarecer dúvida e trazer tem o conhecimento. Com a maior qualidade e
curiosidades sobre essas Ficando explícito que técnica. Será nossa missão.
áreas tão admiráveis somos o produto do que
sabemos

Gustavo Carvalho Griffo.


Editor-chefe

@gustavocarvalhogriffo @griffos_treinamentos gustavogriffo


E D I T O R I A L
Com imensa satisfação a revista Ope-S faz sua
primeira publicação e contando com articulistas de
renome, gabaritados e experimentados em suas
áreas de atuação.
A equipe da revista Ope-S agradece e muito a
predisposição de cada escritor por ceder seu tempo
e conhecimento pra que consigamos levar cada vez
mais experiências, conhecimentos e doutrinas aos
leitores.
Fomentando assim uma cultura mais acadêmica em
uma área de grande maioria operacional. A cada
dia percebemos que ambos andam entrelaçados.
Nossa revista é interativa possibilitando o click nos
links da revista direcionando para a página
desejada.
A revista Ope-S salienta que os artigos são de
criação particular de cada articulista, e sua visão
representa opinião exclusiva do escritor.
Aproveitem a leitura e o aprendizado!

@revistaopes REVISTAOPES@GMAIL.COM
SUMÁRIO
06 09

15 19 25

06 - Pedaço de Borracha 40 - Preconceito Funcional na Segurança


09 - O empoderamento sobre duas rodas Privada (ou, "chama ali o guardinha...")
15 - A guerra travada dentro de você 43 - Você tem feito laboratório das
18 - O Batalhão de Polícia de Choque e a técnicas que treina?
inserção nas Operações Especiais 47 - Regulação Emocional em Operadores
21 - A importância da defesa pessoal de Segurança
feminina 52 - As 10 diferenças do APH na atividade
25 - BOPE, Suor poupa sangue, a receita do Policial Brasileira e de Militares em
sucesso
guerra:
31 - Treinar para operar
58 - O nascimento das tropas comandos

REVISTA OPE-S
P E D A Ç O D E B O R R A C H A
HONNEY CORDEIRO

E m minha trajetória como Policial Civil do


Distrito Federal, tive a oportunidade e a
honra de participar de vários cursos
Não há como ser diferente, pois essas
batalhas eram repletas de dificuldades, que
envolviam grandes períodos longe da
operacionais, sendo alguns realizados em família, altos investimentos de dinheiro em
minha própria cidade, enxoval, e, claro, inevitavelmente,as
Outros em cidades espalhadas pelo dificuldades oferecidas pelo curso em si,
Brasil e alguns fora do País. Em todos eles, com suas etapas de resistência (física e
cursei na condição de “estrangeiro”, que é psicológica) e de técnica.
o termo utilizado para referir-se a alunos Diante da quantidade de questões e
que não pertencem à unidade que realiza o fantasmas que assombram qualquer aluno –
curso. e aqui me incluo, a desistência por tantas
Em cada partida, eu levava na mochila vezes se traveste de oportunidade.
minhas esperanças e preocupações, meus Oportunidade de permanecer na zona de
sonhos e meus medos e, embora tivesse o conforto, usufruindo do que já foi
cuidado de me preparar mentalmente para conquistado, sem ter de provar nada a
que cada um desses sentimentos ocupasse ninguém e especialmente a si mesmo.
tão somente o espaço que lhe era devido Talvez por isso tantos desistam. E,
ou o máximo de espaço que lhe era certamente, é por isso que muitos nem
permitido. tentam.
Por vezes alguns deles assumiam o Das frases que mais ouvi ao longo dessa
protagonismo da minha mente. jornada, talvez as que tenham se tornado
Às vezes, era visitado pelo ânimo, às mais comuns, especialmente nos últimos
vezes pelo desânimo. Em algumas ocasiões anos, tenham sido as indagações.
era dominado pela vontade, em outras pelo
medo.

PÁGINA 06 REVISTA OPE-S


"POR QUE VOCÊ QUER
FAZER ESSE CURSO?
POR QUE VOCE QUER
SER FALCÃO? POR
QUE VOCÊ QUER SER
GRIFO? OU, POR
ÚLTIMO,
PORQUE VOCE QUER
SER CAVEIRA?"

P OR QUE VOCÊ QUER FAZER ESSE CURSO? POR QUE


VOCE QUER SER FALCÃO? POR QUE VOCÊ QUER SER
GRIFO? Ou, por último, PORQUE VOCE QUER SER
CAVEIRA? Muitas vezes, a pergunta nem fazia uso do “por
que?”, e sim do “para que?”
No início da minha trajetória, essas perguntas me
incomodavam, pois simplesmente eu não sabia o que falar.
Perdi algumas noites de sono procurando a melhor
resposta, aquela que suplantaria qualquer dúvida, ou a
possibilidade de novas perguntas. Mas não encontrava a
resposta, e continuava sem saber o que dizer.Minha
primeira estratégia era tentar conhecer o instrutor, a
unidade onde o curso seria realizado, e dar a resposta que
eu achava que estavam querendo ouvir. Mas, na grande
maioria das vezes, deu errado.
O curioso é que, quanto mais eu tinha convicção de que
queria fazer um curso, menos eu conseguia expressar aos
“interessados” e questionadores o porquê ou o para quê.
Não encontrava as palavras certas, aquelas que
convenceriam o meu interlocutor de que aqueles motivos
legitimavam o meu desejo.
Somente o tempo, sempre ele, o senhor de todos os
ensinamentos e amadurecimentos, foi me trazendo essa
resposta.
Ou melhor, foi fazendo com que emergisse a resposta
que sempre havia habitado no meu coração, na minha
mente, e que não conseguia verbalizar.

PÁGINA 07 REVISTA OPE-S


“NÃO SEI,
F oi então que, no último curso operacional
que fiz, lá estava novamente ela, a pergunta:
SENHOR”
“56 porque você quer ser Caveira?”
Minha resposta foi: “Não sei, Senhor”

E
Pronto, após 13 anos fazendo cursos
operacionais, eu acertei, pela primeira vez, a
ssas experiências mudam a
resposta.
impressão digital do seu caráter, do
Talvez você, que está a ler agora este
seu espírito. Essa é a
relato, pense, ou até mesmo diga em voz
SUBJETIVIDADE de um brevê.
alta, quase indignado: “desde quando ‘não
E é esta última que importa,
sei, senhor’ é resposta?”
que permanece. Ainda que você
Sem muitas delongas e demoras, eu explico:
perca o brevê físico, o que
Quando desejamos fazer um curso, a
realmente tem valor permanece:
imagem que nos vem à mente e as palavras
quem você se transformou no
pelas quais nos referimos ao curso remetem
processo.
ao “brevê”. Penso em me tornar um Falcão,
Dizer “não sei, senhor” é a
um Grifo, um Caveira - citando apenas alguns
melhor resposta para algo tão
de tantos existentes - e o “título”, o brevê, é
subjetivo e pessoal, tão particular e
o que possuo, naquele momento, para
individualmente íntimo, que não há
verbalizar o meu desejo. Por isso, pode
palavra que defina, não há
parecer que o brevê é, em si, o meu objetivo.
expressão que explique. Qualquer
Mas não é Por isso, nunca respondi que
tentativa de fazê-lo será fracassada
queria o brevê de um curso. Um brevê é um
e incompreendida.
símbolo, um adereço, um adorno, a ser
Portanto, embora eu não possa
incorporado – ou não – ao seu uniforme ou
verbalizar o porquê, ou o para quê
farda de trabalho, que tão somente vai
desejo fazer um curso, o certo é
mostrar àqueles que conhecem o curso, que
que, sem a verdadeira essência do
você possui formação naquela Unidade.
brevê, ele é tão somente UM
Isso, por si só, não é o motivo de você
PEDAÇO DE BORRACHA.
querer passar por tantas dificuldades.
Isso é a MATERIALIDADE de um brevê.
Mas na conquista de um brevê, é a forja
trazida pelo sofrimento, pela dor, pelas
lágrimas e pelos risos, pelas vitórias e pelas
derrotas, que vão tatuando na alma cada
HONNEY CORDEIRO
experiência ali vivida. A verdadeira AGENTE DE POLÍCIA DA
brevetação acontece no âmago do seu ser, POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO
FEDERAL
na ruptura com o antigo homem para o
nascimento do novo. @honney_oe
O
EMPODERAMENTO
SOBRE DUAS RODAS
UMA HISTÓRIA DAS MOTOCICLISTAS BATEDORAS DA PMERJ
TATIANA LIMA

O ingresso do efetivo feminino na Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro ocorreu


na década de 80, no final do Governo de Regime Militar (1964 – 1985), período em
que a abertura política possibilitou um entendimento de que era preciso humanizar e
modernizar a imagem da polícia no estado. Apesar de outros estados já terem
permitido o ingresso do corpo feminino na instituição, como o exemplo do estado de
São Paulo que, desde 1955, possuía mulheres em seu efetivo, o Rio de Janeiro
somente admitiu em 1982 a primeira turma de policiais femininas, composta por 150
soldados, no seu quadro de combatentes.

Tendo em vista que as policiais estavam sendo comandadas diretamente por
oficiais do sexo masculino, o comando da Corporação entendeu que havia
necessidade de incorporar policiais femininas no quadro de oficiais, para melhor
atender o público interno feminino. Sendo assim, no ano seguinte, ingressaram mais
14 policiais mulheres para a turma de formação de oficiais.

Apesar da formação das graduadas e das oficiais serem semelhantes às dos


homens, respectivamente no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças
(CFAP) e Escola de Formação de Oficiais (EsFO), atual Academia de Polícia Militar D.
João VI, observa-se que a diferença de gênero já era marcada desde o ingresso na
Corporação, uma vez que o corpo de oficiais femininas não poderia ascender ao mais
alto posto da Corporação, pois a Lei Estadual nº 476 de 11 de novembro de 1981, que
criou a Companhia de Polícia Militar Feminina, determinava em seu Artigo 3º, que as
mulheres somente poderiam ser promovidas até o posto de Capitão.
 

PÁGINA 09 REVISTA OPE-S


O emprego destas mulheres estava
basicamente voltado às ações que
A ntes mesmo da entrada das
mulheres na PMERJ, mais precisamente
envolviam pouco contato com momentos em 1972, quando ainda era Polícia
de violência, como policiamento de Militar do Estado da Guanabara, foi
trânsito, operações policiais militares no criado o primeiro curso Operacional da
trato com mulheres e menores em geral, Polícia Militar, o Curso de Formação de
e em terminais (marítimos, "EM 1972, QUANDO Motociclistas de
ferroviários, rodoviários e Escolta e Segurança
aeroviários).
AINDA ERA POLÍCIA (CFOMES), no qual sua
A experiência de inserir a MILITAR DO primeira edição se deu
presença das mulheres em ESTADO DA em 1973.
atividades de rua gerou um Esse curso foi criado
impacto real e simbólico na
GUANABARA, FOI para formar policiais
PMERJ, uma vez que existia CRIADO O militares a trabalharem
uma prática generalizada de PRIMEIRO CURSO com motocicletas no
extorsão e corrupção patrulhamento urbano e a
policial.
OPERACIONAL DA realizarem escoltas de
Em 1985, essa estrutura POLÍCIA MILITAR" dignitários e valores. O
tornou-se ainda mais rígida no estado. CFOMES, além da
O então Comandante Geral da PM formação dos motociclistas, dava aos
havia decidido que as mulheres fossem alunos, através de um convênio com o
todas alocadas no policiamento de DETRAN, a inclusão da categoria “A” na
trânsito a fim de dar maior visibilidade às Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
policiais militares femininas e
consequentemente melhorar a imagem
institucional da PMERJ.
A té a 19ª edição do curso (1985)
não haviam mulheres inscritas,
quando no primeiro semestre de
1986 foi criado um CFOMES
voltado só para as policiais
femininas, com intuito de corroborar
com o objetivo do governo de usar
a imagem da presença feminina nas
ruas estrategicamente. Sendo
assim, o 20º e o 21º CFOMES (1º e
2º semestre de 1986), formaram 38
policiais femininas, sendo praças e

D
oficiais.
Em 1993, um passo foi dado em
epois da junção dos quadros e com o passar
direção à diminuição da
do tempo, após o fim do Regime Militar, a
desigualdade de gênero. Este foi o
estratégia de usar policiais femininas no trânsito
ano em que os quadros masculinos
foi ficando para trás.
e femininos se unificaram após a
Apesar da imagem da mulher ainda estar
edição da Lei n° 2.108, de 19 de
atrelada à figura matriarcal e de imprimir uma
abril do mesmo ano. Esta lei
imagem mais delicada e cuidadora da sociedade –
“garante às mulheres os mesmos
resultado de uma construção social pré-existente
direitos dos homens, estabelecendo
– observa-se que a própria corporação está
igualdade nas promoções e acesso
caminhando, mesmo que lentamente, para uma
a todos os degraus da hierarquia”.
aceitação da mulher em posições e funções,
Um ano antes dessa mudança,
anteriormente, ditas como masculinas, não
tivemos mais uma policial feminina
obstante o enraizamento da existência de
formada no 24º CFOMES, que
preconceito institucional.
cursou a fim de somar com o time
de batedoras já existentes, primeira
mulher em um turno só de homens.

PÁGINA 11 REVISTA OPE-S


"Somente em 2006
e, agora
recentemente em
2021, tivemos mais
duas mulheres que
cursaram "

A inda que as turmas anteriores


tenham tido o propósito de formar
mulheres para desempenhar funções
estratégicas, os turnos subsequentes
foram abertos a livre escolha do
candidato, independente do gênero,
porém, com processo seletivo contendo
teste de habilidade específica. Percebeu-
se então, que não havia uma procura
significativa por parte do público
feminino, que pode ser explicada por
diversos motivos, desde o próprio
preconceito institucional como a
distribuição de papéis de gênero dentro
da sociedade.
Somente em 2006 e, agora
recentemente em 2021, tivemos mais
duas mulheres que cursaram sem a
obrigação de preencher ou desempenhar
uma função estratégica para o governo,
apenas sendo voluntárias, diferente das
demais.
Sendo assim, podemos afirmar que a
profissão policial militar é considerada
um espaço de alto risco e de perigo
extremo, sendo necessária a utilização
quase constante de força física e do
atributo da coragem, que são
historicamente, vinculados aos homens.
D entro da discussão sobre papéis
de gênero, percebe-se que, enquanto
O empoderamento feminino é também
um desafio às relações patriarcais, em
a mulher está relegada ao âmbito do relação ao poder dominante do homem e
privado e doméstico, o homem está a manutenção dos seus privilégios de
vinculado diretamente ao âmbito do gênero, é a mudança na dominação
público e do status. tradicional dos homens sobre as
Dessa forma, o homem é quem mulheres, garantindo-lhes a autonomia
detém a força e, portanto, pode ser no que se refere ao controle dos seus
classificado como governante, corpos, da sua sexualidade, do seu
policial, motociclista entre outros, ao direito à participação.
passo que a mulher é apenas Além disso, corroborou para a busca
classificada como mãe, esposa e da equidade de gênero, comprovando
filha. que as mulheres precisam acreditar que
Dentro dessa perspectiva, é é possível trabalhar em qualquer lugar e
possível afirmar que um motociclista reconhecer que elas são capazes, para,
policial militar é ainda mais perigoso a partir desse pensamento, começarem
por se tratar de um policiamento a fazer mudanças relevantes na
especial em cima de um veículo de sociedade.
duas rodas, o que o deixa ainda mais
vulnerável. TATIANA LIMA
Isso indica que, apesar de
mínima, a presença feminina CAPITÃ DA PMERJ
BATEDOR 862
voluntária nesse curso demonstrou
uma afirmação do empoderamento
feminino: @TATIANALIMA8040

A GUERR
A
DENTRO TRAVADA
DE VOCÊ
MESMO
SANDRO
MENESE
S

.
É de conhecimento geral que somos um país, digamos, religioso. Uma coisa que
tenho dito em minhas redes sociais é que "fé não combina com medo". Neste momento,
percebo que nessa imensa terra de religiosos, na verdade, há um deserto de fé.
Desde o começo de 2020 - com os decretos de aprisionamento do cidadão - o índice de
brigas familiares, depressão, síndrome do pânico e suicídio subiram como a fumaça
gerada por uma arma de fogo.
Nós estamos há muito tempo sendo dessensibilizados com a verdade, fomos afastados
dela. A Verdade nada mais representa do que sanidade, clareza e justiça.

Já se perguntou por que os nossos jovens e GRANDE parte dos adultos que
deveriam ser maduros estão frágeis? Nunca tiveram o contato com a Verdade (que é
representada por Deus), ou seja, são pessoas sem fé presas e omissas.
Sabe como fazem testes nos ratos em laboratório? O rato, como é natural de todo
animal, não tem consciência moral nem ética. Para experimento laboratorial, os
cientistas dopam o rato, o trancam e esperam para ver as atitudes que serão tomadas
pelo roedor. Na maioria dos casos, é apresentado uma fúria tremenda do roedor, pronto
para partir para o ataque.

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"1) IDENTIFICAR
O PROBLEMA, 2)
ISOLA-LO, 3)
ABORDAR."
Nossa sociedade em colapso é muito
parecida: fomos afastados da moralidade,
emburrecidos e trancados. Feitos como
bichos.
É importante pensarmos o que nos trouxe
até aqui. Há três regras para solucionar
de maneira efetiva problemas que podem
ser levados do âmbito profissional,
público, até nas questões mais íntimas Há um “ovelhamento” acompanhado de
que passamos; 1) identificar o problema, um sentimento de pertencimento, onde o
2) isola-lo, 3) abordar. indivíduo que, sem raciocinar, acompanha o
Se estiver atento verá que o primeiro rebanho para o caminho da morte é coroado
ponto já foi identificado, mas é possível com afagos que acoberta uma tirania.
tirar mais disso: não é só a falta de um Talvez, depois de 30 anos em meio a
senso crítico, porque antes de ser crítico segurança pública e privada, tendo
é necessário o cultivo da inteligência. sobrevivido como soldado da polícia militar,
Posso ser crítico sobre muitas coisas, passado por resgate de reféns, inteligência,
mas estar errado em todas elas. serviço de inteligência em sinistro de roubo
E você aceitando ou não, de cargas, os diversos cursos operacionais
culturalmente, houve um tremendo que ministrei no
processo histórico para que fosse tirado Brasil e fora e tendo me tornado empresário
de nós essa primeira característica posso dizer, neste 2° ponto – de isolar o
importantíssima que é a inteligência problema - muitas vezes é preciso uma
(lembre agora sobre aquele ponto de condição reativa, mas, de novo, nada vale
conexão com a Verdade), ponto este que uma condição reativa sem inteligência.
antecede o “ser crítico”.

PÁGINA 16 REVISTA OPE-S


E ISSO DEMORA TEMPO
PARA CONSTRUIR.
De forma que não sejamos reativos
perante o mal (quem aí não lembra do
CHUTANDO POR BAIXO HÁ, slogan "não reaja"?). Absurdos mentais,
NO MÍNIMO, 50 ANOS QUE A ignorância nata, bandidolatria, liberação
de drogas, destruir imagem das forças
CONDIÇÃO DE CAPACITAÇÃO
de segurança perante a sociedade de
E MORAL DO BRASILEIRO
bem. A quem interessa? Crianças com
TEM SIDO ATROFIADA.
síndrome do pânico, adultos suicidas e
jovens depressivos. A fé não é paga
com medo, mas até a fé nos tiraram...
Está aí onde devemos atacar, na verdade, seguimos perdidos e nulos sem valores
construir, O TEMPO. Algo que demorou 50 e se deixarmos até desarmados. A quem
anos para ser destruído não se reerguerá interessa?
do dia para a noite. Assim como demorou
para arrasá-lo demorará para construí-lo.
Por isso devemos valorar nossa velha
escola, guerreiros comprometidos com a
Verdade.
O cultivo da inteligência é fundamental
e necessário para sermos justos.
Sabedoria para o bem julgar e coragem
para o bem agir. Poderia enrolá-los por
algum tempo e dizer que “tudo bem” e
sorrir, mas não é assim que funciona, digo
mais, essa batalha será travada dentro de
você.“Bater ou correr? Confrontar ou
acomodar? ”, tendo consciência que
tudo que vale a pena nessa vida exige
esforço e sabendo também que, no fundo,
você acaba sendo seu próprio inimigo.
Diante do momento em que estamos sendo
postos à mercê de uma geração que será
conhecida por geração pandemia quando
por desleixo, ignorância, sede de poder e
arrogância está sendo desestabilizada de SANDRO MENESES
forma rápida e assustadora. Pois, há CHOQUEANO
DOUTOR EM CIÊNCIA DA
décadas, estão tirando de nós senso crítico SEGURANÇA, ESPECIALISTA EM
SEGURANÇA PUBLICA E PRIVADA
e nos preparando para sermos mais
imbecis e fracos!
@SANDROMENESES_
Fotos: @vinicius_godoi_12

O BATALHÃO DE POLÍCIA DE
CHOQUE (BPCHQ) E A INSERÇÃO
NAS OPERAÇÕES ESPECIAIS
WILLIAN COSENDEY (Op Esp) e tem sua necessidade de atuação
justificada no conceito desta última,

O presente artigo visa discutir como as


Unidades de Choque se inserem no
contexto de Operações Especiais (Op Esp),
consignado no Manual de Campanha EB70-
MC-10.212 do Exército Brasileiro (EB), in
verbis:
no seu tratamento do uso da força, com Operações Especiais
ações pautadas no Restabelecimento da Operações conduzidas por forças militares
Ordem, perante a grave perturbação de especialmente organizadas, treinadas e
ordem pública quando esgotado a equipadas, em ambientes hostis, negados ou
capacidade operativa de tropas politicamente sensíveis, visando a atingir
objetivos militares, políticos, psicossociais
convencionais, sendo basilar, na garantia do
e/ou econômicos, empregando capacitações
Estado Democrático de Direito.
militares específicas não encontradas nas
Desta forma, podemos iniciar dizendo que forças convencionais. Podem ser conduzidas
Operações de Choque (Op Chq) são ações de forma singular, conjunta ou combinada,
militares as quais estão inseridas em um normalmente em ambiente interagências, em
contexto de Operações Especiais qualquer parte do espectro dos conflitos.
COMANDO
DE
OPERAÇÕES
ESPECIAIS

-Controle de Distúrbios;
-Patrulhamento Tático Motorizado de
Alto Risco;
-Reintegração de Posse em Ambiente
Rural e Urbano;

A
-Intervenção em Estabelecimento
Prisional;
s Forças de Operações Especiais
-Segurança de Instalações Sensíveis;
(F Op Esp) no EB são designadas no
-Retomada de Instalações Invadidas;
citado manual (frações de Forças
-Resolução e Gestão de Incidentes
Especiais, Comandos e seus apoios).
Críticos em Grandes Eventos e
Continuando a definir o que são Forças
Praças Desportivas;
de Operações Especiais, o manual
-Intervenção em Áreas Conflagradas.
assevera:
As F Op Esp, em termos gerais,
podem ser caracterizadas por serem
tropas de altíssimo desempenho que
realizam missões especiais baseadas em
suas capacidades específicas.
Também são consideradas F Op Esp
as tropas especiais análogas das demais
Forças Singulares.

Tomando como base as conceituações


supramencionadas, com as devidas
adequações do conceito às atividades
policiais militares, as Op Chq compõem-
se nas atividades com as características
de Op Esp elencadas e com atribuição
definida em sua esfera de especialização,
qual seja, atualmente:
Fotos: @vinicius_godoi_12

PÁGINA 19 REVISTA OPE-S


FRESH LESSONS

SOME

Como determina o dispositivo legal, como o


Art. 36, § 2º do Decreto-Lei nº 92/75, os policiais
do Batalhão de Polícia de Choque são
Comando de Policiamento de
Choque, e, subordinado a este estão as
outras unidades especiais, incluindo

HEALTHY

especialmente instruídos e treinados para as uma unidade de Op Esp.


missões de contraguerrilha urbana e rural. Em A diferente gestão de Op Esp não
termos práticos, significa atuar em ambientes afronta os conceitos acima expostos, do
hostis, negados e/ou politicamente sensíveis, contrário, ratifica que na prática as
como por exemplo, a intervenção nas missões especiais baseadas em suas
comunidades do Rio de Janeiro dominadas por capacidades específicas são

CHANGE
quadrilhas de traficantes de drogas que possuem consideradas no contexto de Op Esp de
uma cultura beligerante e de domínio de Forças Singulares (polícias militares).
território, a fim de assegurar seus interesses Por fim, o ambiente operacional
criminosos. que está inserido o elemento de Op
Em razão das peculiaridades das missões de Chq é volátil, complexo e de alto risco.
Op Chq acima descritas, o BPChq do Rio de Nesse cenário, como ratifica o manual
Janeiro está subordinado ao Comando de supramencionado do EB, “muitas
Operações Especiais (COE), Comando situações de conflito são caracterizadas
Intermediário, do qual também fazem parte outras por sua longa duração, natureza
04 unidades especiais da PMERJ (BOPE, GAM, crônica, baixa intensidade e impacto
BAC e CIEsPP), cada uma com suas missões difuso
específicas no âmbito de suas especializações.
Outras polícias militares pelo Brasil também
adotam organização semelhante, com gestão de WILLIAN COSENDEY
CASTELO
Op Chq por intermédio de um comando de Op ESPECIALISTA EM INTELIGENCIA
Esp, cabendo citar a peculiaridade da Polícia APLICADA, OPERAÇÕES DE
CHOQUE E MOVIMENTOS SOCIAIS
Militar de São Paulo, que trabalha com uma
lógica peculiar de gestão das Op Esp em seu
@WILLIAMCOSENDEY
estado, onde o Comando Intermediário é o

PÁGINA 20 REVISTA OPE-S


A IMPORTÂNCIA
DA DEFESA
PESSOAL PARA
MULHERES
JULIA VITORIA

Q
"NÃO FOI UM
uero mostrar para
vocês um pouco Não foi um caminho
daOminha fácil, tive que provar
COM S A Mhistória
A N T Ae P E R E I R A P E R M A N E C E J O V E M A O S 4 0
minha competência

CAMINHO
Ade
N quando
OS uma
tentativa de estupro desde sempre pelo fato
mudou minha cabeça, de ser mulher e na
minha postura e me época uma das únicas

FÁCIL, TIVE QUE


refez como mulher. no horário de
Primeiro irei me competidores. Mas
apresentar, meu nome venci. A luta me trouxe

PROVAR MINHA
é Julia Vitória, 27 autoconfiança, preparo
anos, nascida em São psicológico, preparo
Paulo e criada em físico, força e

COMPETÊNCIA
Goiânia. Sou atiradora disciplina.
do clube de tiro TZB, Não nasci para ser
instrutora de Defesa uma pessoa comum e

DESDE
Pessoal, professora de gosto de me desafiar.
Muay Thai, boxe e Ser diferente me
lutadora. motiva. Ser forte me
Atualmente motiva. Ser mulher e

SEMPRE"
ministro o curso SPA ser inspiração para
(Soco, Porrada e tantos me mantém
Armas) para mulheres, motivada todos os dias
onde unimos defesa Desde sempre escuto as histórias também.
pessoal e tiro. da minha mãe de quando eu ficava E no mundo
Muitos me encantada assistindo filmes de luta armamentista não foi
perguntam o motivo com apenas 3 anos de idade. diferente. Uma outra
pelo qual escolhi o Foi então que comecei na Capoeira Julia Vitoria nasceu de
caminho das artes e migrei para o Muay Thai com 12 um episódio que vivi
marciais e a resposta anos, quando fiz minha primeira luta e alguns anos atrás e que
é que sinceramente... assim dei continuidade até me graduar comentei no começo do
A arte marcial me e começar a dar aulas. texto
escolheu.
"DESDE ENTÃO EU
PERCEBI QUE TEMOS
E ra de madrugada,
estava saindo de um
MUITO MEDO DO
DESCONHECIDO E QUE
evento de lutas, ESSE MEDO FAZ MUITAS
cansada, distraída e com
aquele pensamento de MULHERES TRAVAREM"
que coisas ruins não
poderiam acontecer Até aquele momento eu
comigo. Virei a esquina nunca tinha tido nenhum
da minha casa, abri o contato com armas de fogo,
portão sem me importar aquela pistola foi a
em observar a rua e primeira que chegou tão
entrei com o meu carro próxima de mim e foi
tranquilamente, quando horrível a sensação. Uma Foi a partir daí que
de repente vejo pelo mistura de medo, passei a estudar, conversar
retrovisor um homem impotência e tantos outros com outras mulheres,
entrando armado. sentimentos ruins naquele comecei a assistir alguns
Naquele momento me momento. Levei um murro vídeos de agressões para
passou milhões de no rosto e tive que manter entender um pouco mais e
coisas na cabeça, mas a calma e pensar na melhor ajudar de alguma forma.
não me desesperei. Ele forma de reagir. Graças a Sempre digo em meus cursos
me pediu para descer do arte marcial eu me mantive que é melhor a PREVENÇÃO
carro apontando a arma segura, consciente e corri do que a REAÇÃO.
sempre na direção da no momento CERTO, que No momento que entrei
minha cabeça, não quis foi quando ele guardou a na minha casa eu não
minha bolsa e quando pistola, achando que eu já observei que estava sendo
entreguei meu celular estava aceitando a seguida e não acreditei que
ele simplesmente o situação. Ele não veio algo assim poderia acontecer
quebrou e então naquela atrás. comigo e esse foi meu
hora percebi que se Desde então eu percebi primeiro erro:
tratava de um que temos muito medo do DESACREDITAR. Nós,
estuprador. DESCONHECIDO e que mulheres, temos que estar
esse medo faz muitas atentas em tudo, até mesmo
mulheres travarem e não em algo ou em uma situação
pensarem na melhor forma que você considera sem
possível para tentar se risco algum.
livrar de uma agressão,
estupro ou qualquer outra
tentativa contra elas.

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N ADA é 100% garantido quando o
assunto é sobre nossa segurança, então
lembre-se: 90% prevenção, 5% reação e
5% sorte.
O agressor não quer ser exposto e
sempre faz uma seleção das vítimas, ou
seja, ele irá escolher a pessoa mais fácil,
a mais distraída. Temos que estar
atentas e agir preventivamente, evitando
que ocorra o contato.
A grande pergunta que recebo em
meus cursos é: REAGIR OU NÃO? No
meu caso, o agressor estava armado e
eu esperei o momento certo para correr.
Depois do acontecido fui ler sobre isso e
conclui que se você foi abordada para
que lhe tomem dinheiro ou objetos, não
reaja. Se o bandido já te roubou e quer
leva-la, como foi o meu caso, você terá
que ter consciência de que suas chances
de sobreviver são muito pequenas. Com
base nisso, reagir ou não terá que ser
uma decisão rápida, pessoal e consciente
dos riscos.
Então o melhor a se fazer já que
estamos sujeitas e expostas todos os
dias é nos prepararmos para o pior. Se
sentir confiante não é fácil. Controlar sua
mente estando em perigo não é fácil. Mas
precisamos nos tornar fortes, decididas e
treinadas. Precisamos entender a
importância da defesa pessoal e do curso
de tiro para mulheres.
Eu poderia ser apenas mais uma na
porcentagem de mulheres que sofreram
algum tipo de agressão, mas escolhi esse
caminho para ajudar e inspirar da melhor
forma possível, através da minha
JULIA VITORIA
LUTADORA
experiência e do meu treinamento. Quero PROFESSORA DE ARTES
mostrar a força e o poder feminino, MARCIAIS
INSTRUTORA DE DEFESA
provar que somos todas capazes quando PESSOAL
temos uma mente forte e sabemos a

importância de um treinamento eficiente. @JULIAVITORIA_

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BOPE, SUOR
POUPA
SANGUE, A
RECEITA DO
SUCESSO
Leonardo Novo

O batalhão de operações
policiais especiais da PMERJ
(polícia militar do estado do Rio
de Janeiro) se tornou referência
em matéria de polícia no mundo,
principalmente quando tratamos
de patrulhamento em área de alto
risco e enfrentamento a
criminosos de alta periculosidade.
Sem dúvidas as qualidades desta
unidade especial de polícia, vão
muito além de qualquer filme,
como por exemplo o mundialmente
conhecido, “tropa de elite”.

FOTO: @GUTO_AMBAR
A eficácia dos profissionais que
integram a tropa do BOPE esta
De regra a atuação da unidade
é caracterizada pelo esgotamento
alicerçada em fatores consolidados operacional das demais ações
ao longo da breve e intensa história policiais, caracterizado como
dessa unidade policial. último ratio ou o derradeiro
Voluntariedade, seleção rigorosa, recurso estatal no enfrentamento a
treinamento intenso e constante, criminalidade violenta. De regra, a
controle correcional, disciplina unidade é acionada para decidir,
consciente, respeito aos ritos, operando com as crises graves já
tradições e cultura institucional instaladas. Seus operadores
somados a logística adequada, devem ser preparados físico,
permitiram que mesmo com técnico e psicologicamente, nos
adversidades incomparáveis em cursos de formação,
termo de polícia no mundo, homens
preparados vençam a morte,
comprovando o significado da faca
CAT (CURSOS DE
na caveira, diariamente nos morros AÇÕES TÁTICAS) E
e favelas cariocas
“Ninguém foi te buscar em casa”, PRINCIPALMENTE
frase insistentemente bradada pela
equipe de instrução, durante os O COESP (CURSO
cursos de formação da unidade,
reflete que o BOPE é lugar de DE OPERAÇÕES
voluntários, ninguém é obrigado a
servir ali, não quer, “pede para ESPECIAIS)
sair”. Remetendo aos precursores
da unidade, que praticamente na
marra, contra tudo e contra todos, Focam principalmente no
instalaram-se em barracas militares fortalecimento mental dos alunos,
doadas, permanecendo durante um sem esta, de nada adianta as
bom tempo, quase que de favor, outras. Na hora que a bala come,
ocupando o terreno de outra qualquer triatleta ou o melhor dos
unidade policial. A resiliência teóricos, entrariam para as duras
inerente aos homens de operações estáticas de policiais mortos e
especiais, comprovou a feridos em um piscar de olhos, no
necessidade da existência de uma Rio de Janeiro, a diferença entre a
tropa altamente especializada em vida e a morte estão no detalhe e
âmbito de polícia, quem olha as a merda acontece na fração de
belas e confortáveis instalações segundos.
atuais do BOPE hoje, nem imagina
o quão duro foi o nosso passado.
DIVULGAÇÃO/GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/MARINO AZEVEDO/

Reconheço, não é para qualquer um, Sempre preparados para dar qualquer
a média dos formados não chega a 15%, tipo de instrução e debater no campo
mesmo esses, sendo selecionados entre das ideias, com pseudo especialistas,
os melhores policiais da corporação. Não muitas vezes oportunistas do caos. A
pode ser diferente, “os fracos que se denominada guerra psicológica, é
quebrem”, o BOPE não pode errar, se muitas vezes mais complexa que os já
falharmos quem irá nos socorrer, como conhecidos enfrentamentos bélico,
diz a frase eternizada na parede da nesta, o inimigo se revela mais
unidade, “nada é impossível para um facilmente.
soldado do BOPE”. Os denominados Dentre todos os mandamentos do
“caveiras”, são treinados a exaustão, BOPE, a honestidade é sem dúvidas o
preparados nos mais variados tipos de mais importante, sem este, os demais
conhecimentos, variando de armamento e não servem de nada. Confiança é a
tiro, para mergulho e paraquedismo ou base de qualquer relação humana
de técnicas de combate em áreas salutar, em um país pautado pela
conflagradas aos aspectos jurídicos das desconfiança nos serviços públicos, a
atividades policiais, para ostentar esse unidade se destaca também no quesito
título, é necessário estar pronto para confiabilidade. Duas características
cumprir qualquer missão. Enganasse institucionais impactam diretamente
quem acha, que estes profissionais são nos baixos níveis de irregularidade em
feitos apenas de corpo e psicológico sentido amplo, fator de impacto direto
inabaláveis, os conhecimentos técnicos e na confiança, são eles: supervisão
teóricos são uma característica horizontal e disciplina consciente.
fundamental dos “operações especiais”.

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Por mais que esteja A estrutura hierárquica Jamais podemos
dentro da estrutura militar piramidal, não tem esquecer da nossa
hierarquizada, característica capacidade de fiscalização história, é o suor, a
principal das forças armadas, plena, temos apenas um lágrima e principalmente o
em tropas especiais, observa comandante, um pouco mais sangue dos nossos
se maior flexibilização da de uma dezena de oficiais, policiais, que garante que
hierarquia, sem perder a para controlar, fiscalizar e esse Estado, não entre em
disciplina. Esse fator é dar apoio a mais de 400 colapso. Para os mais
possível pela especialização homens. É utópico, que a antigos, toda a reverência,
comum, e a dura realizada chefia controle tudo, a os “velhos caveira”,
enfrentada por todos, do decisão é individual no quando chegam no BOPE,
soldado da guarda ao teatro de operação, a são tratados com respeito
comandante, criando uma atividade policial apresenta e dignidade, condição
espécie de irmandade, duas características óbvia, mas difícil de ser
fortalecendo os laços, indissociável, reconhecida em outras
resumidamente em bom imprevisibilidade e unidades policiais. Quem
“bopeanos”, “a merda une”, discricionariedade, aqui o foram os fundadores?
permitindo a fiscalização soldado também decide, ou Quem prendeu aquele
entre pares e a busca do cultivamos a disciplina criminoso famoso? Quem
bem comum. consciente ou estava naquela ocorrência
Força necessita de continuaremos cometendo que ficou para a história?
controle rígido, sem este vira os mesmos erros. São perguntas facilmente
barbárie, na unidade não é Ritos e tradições é o que respondidas por todo
diferente, desde a formação, sustentam uma instituição, o “bopeano”. Na minha casa,
é atribuído ao futuro caveira, que seria do BOPE se não meus heróis não morreram
responsabilidades, fosse aqueles abnegados de overdose, infelizmente
independente do grau policiais, que largaram todo alguns em combate, então
hierárquico ocupado, é o conforto de suas unidades sempre respeite um velho
massificado que cada policial para ocuparam barracas que passou a vida inteira
representa o BOPE, e seu emprestadas a mais de 40 realizando uma atividade
erro ou desvio gerará duras anos. onde morremos jovens.
críticas a coletividade.

FOTO: @BOPE.OFICIAL
FOTO: @BOPE.OFICIAL

Nada disso seria possível Sempre um passo atrás Afirmo com toda a certeza, a
sem o emprego mínimo de da criminalidade, seja pratica de “tiro, porrada e
logística, os americanos pela burocracia estatal ou bomba”, nem sempre é a mais
mestres no assunto, pela facilidade de complexa. A criação de uma
trabalham na relação 5 aquisição por parte seção de projetos e aquisições,
para 1, onde para cada destes de armas no vinculada diretamente a extinta
homem no front de mercado negro, era secretaria de segurança, deu a
batalha, existe no mínimo necessário um rápido autonomia necessária para a
um suporte de 5 homens avanço e no nosso caso, aquisição de equipamentos de
nas atividades de apoio. o fator motivador é o mais última geração e referência em
Estamos bem longe dessa importante de todos, a matéria de polícia, podendo ser
realidade, mesmo assim diminuição da vitimização citado a pistola Glock, fuzil AR
conseguimos avançar na policial. Trabalhando 10 e os blindados importados.
área logística. A dentro do conceito de A diminuição entre o operador e
percepção de que instituição total, o BOPE o gestor, foi o fator fundamental
tínhamos a melhor tropa precisava dominar todos para tamanha eficiência, os
era clara, mas em os ramos da logística, homens que realizavam toda a
contrapartida, atuavam atuando em todas as burocracia estatal de aquisição,
em condições aquém do fases, que resumidamente eram operadores, conheciam a
ideal, sendo esse o ponto vão da pesquisa, realidade da tropa, fazendo um
de inflexão para a aquisição e entrega ao revezamento produtivo entre o
evolução da área logística operador final. frio do ar condicionado e o
da unidade. calor dos morros cariocas.

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"O BOPE RJ deve
ser motivo de
orgulho para
todos, essa
unidade se tornou
referência
mundial"
O BOPE RJ deve ser motivo de
orgulho para todos, essa unidade se
tornou referência mundial em matéria
de policiamento em áreas de alto risco.
Espanha, Portugal, França, Noruega,
Suécia são um dos muitos países que
visitam a unidade em busca de
conhecimento, apesar de todas as
adversidades, a unidade continua
evoluindo, sempre aberta a novos
conhecimentos e parcerias alicerçados
em princípios, valores, conceitos e
práticas rasamente discutidos nesse
texto.
A segurança pública tem jeito, é
fato, entretanto é bom frisar que a
solução não depende somente da
polícia, mas o que depender do BOPE
estamos preparados, o caminho é
longo, mas ninguém nunca disse que
seria fácil, desistir nunca foi uma
opção, vitória sobre a morte é a nossa
glória prometida,
CAVEIRA!!!!!!!

LEONARDO NOVO
CAVEIRA 152
MESTRE EM CRIMINOLOGIA
CMDT DO CORPO DE ALUNOS
DA ACADEMIA DE POLICIA DA
PMERJ
@LEONARDONOVO.ARAUJO

FOTO: @BOPE.OFICIAL
EDUARDO MAIA BETTINI

TREIN
AR PARA
OPERAR. FOTO: @GRIFO_CAOP

Era fevereiro de 2011. O segundo era quem
que pareciam ter sido
Na época estava iniciando havia me convidado. O
torcidas. Ignorando o calor
um trabalho de Delegado da Polícia Federal,
quase insuportável,
reconstrução do conceito de Carlos Afonso Gomes
seguíamos progredindo até
emprego, das capacidades Coelho, que eu admirava
um determinado ponto, o
operacionais e da vocação justamente por sua
local onde realizaríamos um
tática da equipe de compreensão sobre a
assalto tático terrestre
operadores aerotáticos da verdadeira natureza das
sincronizado com a
CAOP, a Coordenação de operações especiais, ou
abordagem feita pelo
Aviação Operacional da seja, a simplicidade, o
helicóptero.
Polícia Federal. Eu havia propósito e o foco no
aceitado o desafio de resultado. Em um dia normal
remodelar aquela unidade de trabalho na CAOP, nossa
por dois motivos. O primeiro diminuta unidade, à época, "EQUIPE DE
era a dimensão do desafio e estava progredindo em um OPERADORES
o impacto positivo no terreno encoberto pela AEROTÁTICOS DA CAOP,
conceito de operações vegetação nativa do A COORDENAÇÃO DE
especiais policiais no Brasil cerrado, composto por
AVIAÇÃO OPERACIONAL
que provocaríamos, caso gramíneas e outras plantas
tivéssemos êxito na nossa rasteiras, além de arbustos e
DA POLÍCIA FEDERAL."
empreitada. pequenas árvores

PÁGINA 31 REVISTA OPE-S


"SOLICITAMOS O APOIO DO
'CAÇADOR 03' E, AO OUVIR
O INCONFUNDÍVEL
BARULHO PRODUZIDO PELO
FOTO: @GRIFO_CAOP
SAPÃO"

O “Caçador 03”, um Bell De acordo com o roteiro do Despejamos nossa


412, que chamávamos exercício, haveria forte munição sobre nossos
carinhosamente de resistência armada dos alvos, que consistiam em
“Sapão” ou “Dozão”. traficantes e nós caixas de papelão que
Fizemos um auto-guardado assumiríamos um montávamos de forma a
na última posição de dispositivo em linha, parecerem o tronco de
coberta e abrigo aplicando os ensinamentos uma pessoa. A fumaça
(U.P.C.A.), pouco antes de estratégicos de B. H. proveniente da combustão
atingirmos nosso objetivo. Liddell Hart de sempre da pólvora se misturava à
Ali, sem perder tempo, atacar a partir de uma poeira e impregnava o ar
realizei a última inspeção frente disposta de modo com aquele cheiro
dos homens da patrulha e amplo e direcionando de extasiante.
um checklist final de maneira concentrada. A A visão caótica da
equipamentos. Na sincronização dos fogos foi patrulha manobrando em
sequência, solicitamos o precisa e a aeronave um incessante alternar de
apoio do “Caçador 03” e, surgiu, após deslizar e fogos e movimentos
ao ouvir o inconfundível praticamente parar alguns sincronizados contrastava
barulho produzido pelo metros acima de nossas com a rigidez dos
Sapão, iniciamos o assalto cabeças, em uma espécie procedimentos assépticos,
tático, o qual consistiria de voo que se repetidos de modo idêntico
em uma interdição assemelhava ao pelos operadores.
simulada de uma pista de movimento de um pêndulo.
pouso. Aquela manobra oferecia
ao operador da porta
direita um alvo perfeito.

PÁGINA 32 REVISTA OPE-S


Nas caixas que serviam como (U.S. Marine Corps) e assistente do
alvos, amarrávamos balões aos Coronel Poast. Nossos convidados
galhos das retorcidas árvores que estrangeiros observavam, atentos, o
compunham a paisagem das áreas exercício. Após repetirmos toda a
próximas ao estande de tiro da operação simulada por quatro ou cinco
DPOE/GPOE (Diretoria Penitenciária vezes, acrescentamos à situação uma
de Operações Especiais), no T.A.I – Técnica de Ação Imediata, de
complexo do presídio da Papuda, na resgate de ferido. Finalmente, encerramos
Capital Federal. Quando os disparos a bateria de treinamentos com um
acertavam os balões, as caixas debriefing. Nos reunimos com aqueles
caíam, indicando que o alvo havia soldados ali mesmo e ouvimos deles as
sido abatido. Não nos preocupávamos “oportunidades de melhoria”, um
com o estabelecimento de setores de eufemismo para as necessárias críticas
tiro nem com regras mais elaboradas pós-ação:
de segurança. Acreditávamos que o - O exercício de vocês foi muito bom,
mais importante era cumprirmos a estão no caminho certo. Se deslocaram
missão, sem perdermos tempo com muito bem e sincronizaram muito bem com
detalhes que só serviriam para nos a aeronave também.
atrasar. Acredito, contudo, que nós possamos
Além dos dois Grifos, como ajudar vocês em alguns pontos, tais como
havíamos batizado os operadores as técnicas de APH Tático e de
aerotáticos da CAOP, seguiam evacuação aeromédica empregada, além
embarcados no Sapão o Afonso, o do planejamento e gerenciamento de risco
Coronel Poast, da U.S. Air Force, da operação. Também ficamos um pouco
oficial de ligação do SOCOM na preocupado com a setorização dos
embaixada dos Estados Unidos no disparos e determinação de áreas de tiro
Brasil e o Major Clark, um Mariner e definição das áreas de
responsabilidade.

FOTO: @GRIFO_CAOP
Observamos que alguns deles, que foram realizados da
aeronave, atingiram o solo a poucos metros da patrulha, o
que é muito perigoso, pois o ponto de impacto de um projétil
disparado a partir de uma plataforma instável como o
helicóptero pode variar algumas dezenas de metros devido a
pequenas variações no comportamento da aeronave. Isso
acontece por conta da lógica angular. Acredito,
particularmente, que seja possível, e desejável,
contribuirmos para tornar o treinamento e a operação de
vocês um pouco mais segura.

FOTOS: @GRIFO_CAOP
"A PARTIR DAQUELE DIA OS
MILITARES NORTE-AMERICANOS
INICIARAM UMA SÉRIE DE


TREINAMENTOS CONOSCO PORQUE
ACREDITARAM QUE IRÍAMOS ACABAR
MORRENDO"
Foi mais ou menos o que o Cel Poast nos falou naquele
dia. Ainda hoje, quando converso com o Afonso a
respeito, ele afirma, em tom de brincadeira, que a partir
daquele dia os militares norte-americanos iniciaram uma
série de treinamentos conosco porque acreditaram que
iríamos acabar morrendo, caso continuássemos a fazer
as coisas como fazíamos, com muita atitude e boa
vontade, mas carentes de procedimentos técnicos e
protocolos mais sofisticados de segurança. Basicamente
nós sabíamos que precisávamos melhorar e, em linhas
gerais, o que precisávamos fazer e aonde deveríamos
chegar.
Nossas técnicas, de modo geral,
Contudo, não sabíamos logístico de transporte de eram razoáveis. O problema é
como fazer, como seria a tropas. A partir daquele que não haviam procedimentos
metodologia ou o dia, como consequência de segurança que garantissem a
caminho que deveríamos daquele treinamento, os sua execução sem expor os
seguir para continuar militares norteamericanos alunos e instruendos a um
realizando instruções e iniciaram uma sequência elevado e inaceitável nível de
simulações baseadas na de treinamentos e risco. Outros pontos que
realidade e poder, intercâmbios conosco, modificamos após o aprendizado
assim, cumprir as que modificariam para com os militares americanos
missões que a CAOP sempre a nossa maneira foram a nossa metodologia de
deveria cumprir e não as de observar as operações planejamento e a escolha e
que vinha cumprindo até e o modo como nos adoção de técnicas menos
então, que poderiam se preparávamos para elas. rebuscadas, mais objetivas e
resumir ao apoio com foco no resultado.

PÁGINA 34 REVISTA OPE-S


A prendemos com eles e nos
tornamos mais assertivos. A nossa
O Major Clark, sem imaginar que nós
não conhecíamos exatamente o risco que
conduta de patrulha, por exemplo, corríamos naquele tipo de exercício e
assim como as técnicas que certamente sem saber que não
utilizávamos para a progressão no possuíamos um procedimento
terreno, eram treinadas à exaustão e padronizado para tanto, solicitou
repetidas por nós com eficiência. A participar do exercício. Saltaríamos ao
questão é que não adianta apenas mesmo tempo, eu e ele pela porta
possuir uma boa técnica e utilizá-la em esquerda enquanto outros dois policiais
uma conduta adequada. É necessário saltariam pela porta direita. Os dois
estabelecer procedimentos e operadores aerotáticos sincronizariam a
protocolos que sejam racionais e nossa saída. Quando comandassem com
seguros, transmitidos de forma o gesto de “um”, aqueles que estivessem
metodológica, visando propiciar um utilizando fones, livrariam a fonia e todos
processo educativo e não apenas uma sairiam da barca da aeronave, ocupando
repetição de técnicas de maneira os respectivos lugares nos esquis do
acrítica e mecânica. E o mais “Dozão”. O comando com o gesto de
importante de tudo, é necessário que o “dois”, feito pelos operadores, seria a
treinamento seja focado na obtenção senha para nós saltarmos na água.
da proficiência da equipe necessária Os operadores aerotáticos, em geral,
para o cumprimento efetivo de missões obedecem a uma regra que diz mais ou
especiais. Até então o que víamos era menos o seguinte:
o treinamento pelo treinamento, era a - Quando você achar que um
realização de curso pelo curso e muito helicóptero está baixo, ele está alto e
pouco era feito com o objetivo quando você achar que um helicóptero
verdadeiro de se alcançar a excelência está alto, ele está muito alto!
em operar e não somente em treinar - Está boa esta altura? – Perguntou o
ou em dar treinamento. piloto aos operadores.
Para piorar ainda mais a nossa - Está boa. – Respondeu o operador
imagem perante aqueles profissionais mais antigo.
e finalizar com qualquer chance Olhei para ele e sinalizei que aquela
daqueles caras terminarem o dia com altura não estava adequada porque, pela
uma boa impressão sobre nossa minha experiência, parecia alta. Eu
equipe, partimos para o Lago Paranoá, observava, como referência, a ponte
para um segundo exercício, de Costa e Silva, que fica ao lado do
helocasting, que consiste em uma Pontão, e ela estava significativamente
técnica de inserção de tropa no mais baixa do que a aeronave.
terreno. Nosso helicóptero pairou - Não está bom, está muito alto! – gritei
acima do lago, em um local próximo ao para ele, tentando me fazer escutar por
“Pontão”, onde estaria posicionado conta do barulho excessivo da aeronave.
nosso apoio de solo. Os quatro - Livre abertura de portas? – disse o
operadores deveriam saltar ao mesmo operador da outra porta.
tempo. - Livre. – respondeu o piloto.
S em um fone para me comunicar com o
piloto, tentei gesticular ao operador
Quanto mais demorava, mais eu sabia
que ele seria doloroso e mais eu me
concentrava em tentar atingir a água o
responsável pela minha porta, enquanto o
outro operador seguia com o procedimento. mais verticalmente que eu pudesse.
- Está livre acesso ao esqui? – continuou Finalmente o impacto aconteceu e, neste
o operador da direita. instante, senti minha coluna, de cima
- Livre! – consentiu o piloto. abaixo, estralando-se. Afundei durante
Os dois operadores nos olharam e algum tempo, até que meu corpo se
sinalizaram com o “um” que significava que estabilizou e comecei a nadar de volta em
deveríamos nos deslocar para fora da direção à superfície.
aeronave, ocupando nossas posições nos Nesse momento, a minha única
esquis. Tomei minha posição, já para fora da preocupação era encontrar meu parceiro, o
aeronave, sobre o esqui. Olhei para baixo e Major Clark, pois ele poderia haver se
tive a certeza de que estávamos a uma machucado com aquele impacto brutal.
altura muito maior do que a que Finalmente o avistei, a alguns metros, à
costumávamos saltar. minha retaguarda. Nadei até ele e foi uma
- Está muito alto! – tentei me comunicar das poucas vezes que eu vi o Clark sério.
mais uma vez com meu colega operador. Nadamos, em silêncio, até a margem. O
Ele me olhou confuso e olhou para o “Dozão” já estava pousado no pátio do
operador da outra porta, que sinalizou com o Pontão e fizemos nosso segundo
“dois”. Eu sinalizei com a cabeça que não, debriefing do dia.
mas já era tarde e o Major Clark deu o - Por quê vocês saltam de tão alto? –
“passo do gigante”, de acordo com a técnica perguntou o Major Clark.
de helocasting, e saltou. Não pensei duas Nós não sabíamos a resposta. Saltar do
vezes e saltei junto. Os operadores que helicóptero naquela época, para nós, era
estavam pendurados sobre o esqui direito, apenas uma prova de coragem, onde o
entenderam a gravidade da situação e mais “macho” saltava de mais alto. Nós
abortaram o salto. Eu, acostumado a saltar não treinávamos uma técnica de inserção
da plataforma fixa de 10 metros na piscina de tropa ou mesmo de resgate na água,
do DEFER em Brasília, sabia que estava nós apenas tentávamos provar quem era o
demorando demais para o impacto na água. mais corajoso, ou melhor, quem era o mais
estúpido. E o Major Clark continuou:

FOTOS: @GRIFO_CAOP
- Senhores, existem três tipos de treinamentos
que não te deixam errar duas vezes: as instruções
de tiro, as atividades em altura e as atividades na
água. As três devem ser consideradas como
atividades de alto risco e, assim como os acidentes
envolvendo explosivos, nelas só se erra uma vez.
Mesmo depois de cometer vários erros e correr
muitos riscos desnecessários, acredito que o Cel.
Poast e o Maj Clark tenham identificado na nossa
unidade, alguns requisitos que nos tornaram
parceiros desejáveis para a realização de vários
intercâmbios: a atitude, a firmeza de propósito, a
convicção na nossa missão e a vontade e
disposição para fazer o que é certo.
Restaram, contudo, deste nosso primeiro
encontro, vários ensinamentos. Entre eles a
importância do estabelecimento de procedimentos,
de protocolos, de uma metodologia e, sobretudo, a
importância de se realizar o gerenciamento de
riscos de todas atividades, principalmente das
capacitações e treinamentos. Nessa época,
confesso que ainda não havia me atentado para a
irracionalidade de expor instruendos e alunos de
cursos a riscos desnecessários. Acabávamos
fazendo aquilo de duas maneiras: com as provas de
coragem - como o salto do helicóptero - e com a
negligência consciente de rituais de segurança
durante os treinamentos baseados em realidade.
Neste sentido, são precisas as palavras de
Kenneth Murray:
Os alunos iniciam um treinamento acreditando
sinceramente que serão preparados para o
momento de maior risco em suas vidas. Eles
vêm para o treinamento e entregam uma pistola
para a equipe de instrução e dizem, “Aponte
esta arma para mim e puxe o gatilho”. Por quê?
Porque eles confiam na equipe de instrução.
Como um paciente confia no médico, o aluno
confia da mesma maneira que uma criança
confia. Ele confia que a equipe de instrução não
vai machucá-lo.

FOTOS: @GRIFO_CAOP
CAOP/PF

FOTOS: @GRIFO_CAOP

Portanto, a autoridade da equipe de onde toda a firula performática de


instrução, a qual, em boa parte, é técnicas cinematográficas perde o
estabelecida com base na confiança do sentido e dá lugar à sobriedade e
aluno, deve ser acompanhada por austeridade na escolha, no
rituais e procedimentos de segurança, treinamento e no emprego de técnicas,
sistematizados em uma metodologia táticas e procedimentos com um único
capaz de unir a necessária produção objetivo: a excelência nas operações e
de estresse, sejam eles baseados em a prestação de um serviço público
realidade (RBT – Reality Based efetivo e de qualidade.
Training) ou baseados em simulações
e outros métodos
situacionais/atitudinais, ao necessário
gerenciamento de risco, o qual deve
servir de balizamento no processo
educativo. Não é simplesmente a
prática que leva à perfeição, é a
prática perfeita que leva a perfeição.
E a segurança na execução é
condição essencial para que uma
prática de ensino seja considerada
perfeita. Por fim, nenhum treinamento EDUARDO BETTINI
se justifica sem a firmeza de propósito CAVEIRA
em utilizá-lo em proveito da sociedade. AGENTE DA PF
AUTOR DO LIVRO
E quando isso acontece, ou seja, "A RETOMADA DO COMPLEXO
quando as necessidades operacionais DO ALEMÃO
ditam o que deve ser treinado, um @E._BETTINI
processo natural de depuração ocorre,

PÁGINA 38 REVISTA OPE-S


"Preconceito Funcional
na Segurança Privada
(ou, 'chama ali o
guardinha...')"
Eduardo Bruno

I
Quando falamos da
magine esta cena: após estudar por anos para ser classe dos profissionais
advogado, médico ou engenheiro, você chega no seu local de segurança isso é
de trabalho e alguém se dirige a você dizendo “ei muito comum. Hoje são
advogadozinho”, “ô carinha de branco com estetoscópio” ou cerca de um milhão de
“cadê o amigo da papelada??”... profissionais capacitados
Pois bem, você se sentiria certamente diminuído em sua pelos cursos de formação
função, em seu esforço de ter se preparado tanto para e regularizados na Polícia
aquela função, para aquele trabalho. Federal que estão aptos
Pois isso acontece muito mais do que você imagina e a trabalhar, estando
talvez até você próprio já o tenha feito, mesmo de maneira ativos algo em torno de
inconsciente, mas certamente não com funções 550 mil em todo o país.
historicamente respeitadas como as que descrevi acima, e Os profissionais da
sim, com funções mais simples e que são diminuídas por área de segurança
conta de uma espécie de “preconceito funcional” que temos necessitam passar por
no Brasil e às vezes nem sentimos. um treinamento longo
Será que em algum momento você já não disse “chame (ainda que não o
ali aquele guardinha” ou “vou ali falar com o vigia”, uma bastante!!) para que
expressão simples e nada maldosa, mas que de fato possam atestar sua
rebaixa toda uma formação, preparação e direcionamento capacidade técnica na
técnico destes profissionais. função de vigilante.

PÁGINA 40 REVISTA OPE-S


E em falando em bens e principalmente
tempo de formação e vidas, uma atuação de
conteúdo técnico, de certa altíssima relevância
forma, a legislação atual por conta daquilo que
vigente acaba realiza e protege.
corroborando para um Atualmente há um
apequenamento da função movimento de
de segurança privada, humanização nos
visto que entre outros pré- processos do trabalho
requisitos, há a demanda em todo o mundo,
de formação mínima com chegando ainda
apenas a antiga quarta timidamente no Brasil,
série, o que que visa maior
provavelmente irá mudar equalização e maior
com o novo projeto de lei respeito a toda e
(há previsão de no mínimo qualquer função, seja não tem nem mesmo a
o ensino médio) do mais alto executivo, formação básica completa.
Esse “apequenamento” com suas formações Entretanto essa humanização
da lei faz com que a internacionais e precisa vir inicialmente de cada
função do segurança seja grandes experiências, um de nós! É necessário que você
discriminada em alguns seja do simples no seu dia a dia, entenda todas
casos, diminuindo sua profissional de serviços as pessoas, todos os
importância enquanto básicos como limpeza, profissionais como vitais aos
atuação que trata segurança e outros, processos da sua rotina diária.
diretamente da proteção que muitas vezes
de patrimônio,

"Atualmente há um
movimento de
humanização nos
processos do
trabalho"
Quantas vezes na por fazer com que cada Uma vez, em uma
chegada do seu condomínio, uma das outras pessoas premiação, um renomado
ou prédio, ou no banco, ao ver seja bem tratada, jornalista disse “quanto
um profissional de segurança, respeitada e valorizada, orgulho tenho de ser o que
limpeza e etc, fazendo o seu independente de qual sua sou, de fazer o que faço.
trabalho, você já não se função. Portanto, pense Muitas vezes quando chego
referiu a ele ou o tratou de bem na próxima vez que em eventos, palestras,
maneira desdenhosa (ainda encontrar um homem ou apresentações, uma das
que não desrespeitosa, por mulher de segurança, trate coisas as quais tenho imenso
assim dizer...)? aquele profissional pelo prazer em fazer é apresentar
Espero realmente que sua nome preferencialmente, e minha profissão. Quando me
resposta tenha sido “nunca”! se não for possível, perguntam, eu adoro encher o
Obviamente que esse “mau chame-o de “vigilante” pois peito e dizer “eu sou JOR NA
tratamento” por parte de esse é o nome correto a LIS TA” assim, com letras
algumas pessoas a algumas ser dado a esse tipo de garrafais, quase que
classes profissionais não profissional, que nada soletrando e com muita
advém somente de tratar-se ficam a dever a um altivez”
de profissões “menos advogado engenheiro Pergunte à um vigilante e
importantes” e sim, de uma médico ou qualquer outra você terá a mesma resposta.
ampla cultura de preconceito função.
que nos assola como
sociedade e que necessita
EDUARDO BRUNO
hoje e sempre ser combatida.
É importante que esse GESTOR DE SEGURANÇA PRIVADA
movimento venha de cada um MBA EM GESTÃO PORTUÁRIA
CERTIFICADO DE SEGURANÇA
de nós, cada pessoa é PORTUARIA (ISPS - CODE)
responsável @EDUARDOBRUNONETWORKING

PÁGINA 42 REVISTA OPE-S


VOCÊ TEM FEITO
LABORATÓRIO
DAS TÉCNICAS
QUE TREINA?
Waldevir Júnior

A ntes de entrar na
questão, sobre treinamento
duro, eu gostaria de mostrar
alguns dados recentes de
estatísticas sobre ataques
com facas.
Todos os anos nos Estados
Unidos, mais pessoas
morrem em ataques com
armas brancas do que com
rifles.
Após o massacre na
escola da Flórida que ceifou
a vida de 17 inocentes, a
pressão da grande mídia e
dos movimentos sociais em
busca do desarmamento da
população norte-americana
aumentou
consideravelmente,
principalmente no que diz
respeito à compra de rifles.

PÁGINA 43 REVISTA OPE-S


No entanto, estatísticas recentes de 2016
mostram que facas mataram 5 vezes mais que rifles
no país. De acordo com dados do FBI, 1.604 pessoas
foram mortas por “facas e instrumentos de corte” e
374 foram mortas por “rifles” em 2016.

Os números são semelhantes as dos anos


anteriores. Em 2013, as facas foram usadas para e não tiver como fugir, nós iremos
matar 1.490 pessoas, enquanto os rifles foram usados ter que enfrentar o cara mal. É ai
para matar 285. que entra a questão do
Como era de se esperar, as armas de pequeno treinamento sério, duro e prático,
porte, “armas de impacto”, estão no topo da lista, as sem inventar técnicas
facas em assassinatos registrados nos Estados mirabolantes e absurdas. O
Unidos. simples salva a vida.
Então estamos vendo que a faca, objeto cortante ou Eu gostaria de provocar você
perfurador, como vocês queiram denominar, é que esta lendo esse artigo agora
altamente perigoso e destruidor. e te fazer uma pergunta. Você
Eu tenho me preocupado muito com a questão de coloca pressão no seu
videos e técnicas absurdas nas redes sociais, aonde treinamento contra faca? Você
os "especialistas" publicam ou comentam, sem ter ao deixa o seu sparring brincar com
menos provado, ou colocado pressão na técnica, para a sua mão e facilita para ele te
ver o que é funcional para poder sobreviver, numa desarmar, te levar ao chão com
situação real contra faca. facilidade?
Eu sempre digo o seguinte nos meus seminários: Se
você tiver condições de escapar e não ser pego no
efeito surpresa, corra, mas se for encurralado
Temos que sair da
E vice-versa. Técnicas Nós iremos reagir, da
ensaiadas e forma que treinamos. mentalidade do
telegrafadas, são muito Você irá saber se a dojo. Na rua a
simples de se aplicar. técnica que está adrenalina é brutal.
Sabe por que? São aprendendo é eficiente,
pensadas, existem o quando não for nada
Temos que ser
que chamamos de ensaiado. Efeito agressivos no
passo a passo. O surpresa. Quando seu treinamento com
sparring me ataca, ele sparring vier duro. Com nossos sparrings,
deixa eu mexer no a mão pesada contra
braço dele, para lá e você. Não estou
porque isso será
para cá, e fica tudo dizendo para você automático, caso
muito bonito, igual nos desrespeitar o seu você precise
filmes de ação. Eu sei, sparring, muito pelo
sobreviver na rua. Se
porque também contrário, a ideia é nós
trabalhei durante anos sermos duros e com você treinou uma
com cenas de ação respeito. Na rua o cara técnica ensaiada,
para cinema. Treinei mal não irá ser teste a técnica, sem
diversos atores e tem "bonzinho" conosco. Na
que ser tudo ensaiado. academia existem
o passo a passo, fale
Mas voltando ao nosso ótimos equipamentos para o seu sparring,
foco principal, vamos de proteção. Use, deixe não facilitar para
lá. Quanto de pressão o suor escorrer. É você, peça a ele,
você tem colocado no melhor suar no
seu treinamento com treinamento, do que
para ser maldoso e
seu sparring? sangrar no combate. sujo.
PÁGINA 45 REVISTA OPE-S
Da mesma forma que você será com
ele, claro tudo isso, com muito respeito.
Cabeçada, chute, mordida. Na rua não
existe regras. Você treinar duro, não
significa que você está desrespeitando
ele. Numa situação contra facas, não
existe aquela coisa de dizer que você
irá sair ileso. A faca não falha, ela
sempre irá estar pronta para ser usada.
Ela não precisa ser municiada
novamente. Para sobreviver ou para o
mal. Existem muitas técnicas, simples e
eficientes, que ao longo dos anos, foram
testadas em laboratórios, para ver a
eficiência.
A pressão sempre tem que existir. Não
adianta você tentar desarmar o
oponente, tentando ir direto na faca.
Busque membros maiores. O braço do
oponente, irá te dar segurança.
Leve o braço dele, e faça o possível
para zerar a pressão. Porque se ele chegar com muita pressão,
irá ficar quase que impossível, tentar anular a
potência do golpe. Isso que estou falando, foi
testado e muito testado. Porque eu digo isso:
O cara mal não irá parar de tentar te furar.
Você acha que ele irá fazer apenas um
ataque? Jamais. Não seja o cordeiro na boca
do lobo. Por isso digo, que o sparing tem que
te dar diversas opções para você pensar na
hora da adrenalina. Nada será igual como no
dojo.
Espero que vocês tenham gostado do artigo e
que possamos nos ver em breve.
"As marcas do nosso corpo mostram a nossa
resistência, as dores mostram nossa
determinação"

WALDEVIR JÚNIOR

MESTRE EM LÂMINAS
FOUNDER FIGHT OR DIE
PEKITI TIRSIA KALI CLASS

@WALDEVIRJUNIOR
REGULAÇÃO EMOCIONAL
EM OPERADORES DE
SEGURANÇA
Leonardo Afonso

E ste artigo tem como objetivo investigar de que forma a regulação


emocional (RE) poderá afetar o desempenho do operador de
segurança, e para isso iremos conhecer a definição de RE,
compreender a realidade do operador de segurança e entender de
que maneira essas temáticas se encontram. Para que possamos
fomentar o debate sobre manutenção da qualidade de vida, será
exposto ao longo dessa leitura a teoria da Regulação Emocional
como proposta de soluções alternativas no enfrentamento da dura
realidade cotidiana do operador de segurança.
Ao observarmos as forças de segurança através do prisma de
estresse ocupacional, podemos obter dados interessantes, tais como
o fato de estar lidando diariamente com uma área de tensão
específica à sua atividade: o risco de vida, para o próprio e para os
outros. Somado a isso, existe a exposição à situações
potencialmente traumáticas e emocionalmente exigentes, Autores
como Malach-Pines e Keinan ressaltam a importância de adicionar à
essa fórmula os fatores organizacionais como estrutura
organizacional militar, hierárquica e altamente burocrática, além da
falta de apoio e poucas oportunidades de progressão na carreira
Outro indicador uma discussão sobre
influenciador para o que alternativas esse
estresse do agente de operador tem como praticar
segurança está atrelado às que façam a manutenção
"O cotidiano do atribuições funcionais, que dessa qualidade de vida e
operador pode têm como fatores de risco gerenciamento do estresse
a qualidade de saúde laboral.
ter componentes mental dos profissionais, O cotidiano do operador
Exposição a situações pode ter componentes
adoecedores e potencialmente traumáticas adoecedores e que o
que o coloquem e emocionalmente coloquem diariamente
exigentes como, casos de tendo que lidar com
diariamente violência e confronto físico, diversas experiências
testemunha de acidentes e emocionais no seu
tendo que lidar contatos diários com os trabalho, os indivíduos que
com diversas cidadãos, bem como às lidam com experiências
demais anomias existentes estressantes vivenciam as
experiências na sociedade moderna. emoções em intensidade
Levando em conta as mais crescente, o que, por si só,
emocionais" diversas situações a que o pode ser mais uma causa
operador de segurança de estresse e intensificação
está exposto em seu das emoções
cotidiano de trabalho, faz
se necessário

PÁGINA 49 REVISTA OPE-S


E quanto mais ele passa por
essas experiências, mais é
S abendo que as mais diversas
situações podem ser geradoras de
estresse e emoções intensas, a
colocada à prova diariamente sua
regulação emocional pode incluir
capacidade de regular essas
qualquer estratégia de enfrentamento
emoções, aqueles indivíduos que
(seja ela problemática ou adaptativa)
não conseguem lidar com essas
que o indivíduo usa ao confrontar a
emoções de maneira eficaz podem
intensidade emocional indesejada
encontrar problemas de natureza
podemos entender a regulação
psicológica, de acordo com
emocional como um termômetro que
Robert L. Leahy, à medida que
busca sempre a temperatura ideal irá
essas emoções se intensificam,
manter em um nível controlado
ele pode vir a abusar de drogas ou
aceitável delas e possibilitará a
álcool, comer compulsivamente,
oportunidade de conseguirmos lidar
ter insônia, ou criticar-se
com as emoções de maneira mais
excessivamente.
aceitável.
Levando em conta esse
Um termo que deve começar a fazer
panorama não muito animador da
parte de nosso vocabulário é a palavra
realidade diária do operador de
“Adaptação”. A partir dos escritos de
segurança, aqueles que lidam com
Robert Leahy podemos entender que
essas emoções de maneira
adaptação é uma maneira de
problemática acabam
implementar estratégias de
potencializando os fatores do
enfrentamento que estimulam um
ambiente, e logo passam a nutrir
funcionamento mais produtivo, definido
comportamentos que geram novas
por metas e propósitos valorizados pelo
situações danosas a sua própria
indivíduo.
saúde mental. Em contrapartida,
Devemos compreender estratégias
aqueles que conseguem lidar
de funcionamento não adaptativas
melhor com essas situações tem a
então, como àquelas que podem até
possibilidade de conseguir
reduzir temporariamente a intensidade
produzir comportamentos mais
das emoções, porém não, condizem
adaptados, que tem como
com as metas e os propósitos que o
consequências a redução do
indivíduo aprovaria, e podem gerar
estresse e a manutenção de sua
prejuízos de maneira global em sua
qualidade de vida.
vida, como já citado anteriormente
O que é regulação emocional
como o uso de drogas, álcool entre
então?
outras condutas lesivas ao próprio
indivíduo.
Associar emoções a
operadores de segurança já foi
um tabu em nossa sociedade,
devido a mística envolvida por
uma cultura que descredencia os
aspectos positivos das emoções e
apenas se concentra na repressão
delas ao invés de se concentrar
no melhor enfrentamento delas.
Sabemos que as consequências
de se negligenciar aspectos da
emoção e suas formas de
enfrentamento problemáticos, só
tendem a gerar indivíduos que a
longo prazo apresentam
decréscimo em suas relações
interpessoais, intrapessoais e em
sua saúde.
Este breve artigo teve como
finalidade introduzir o conceito de
regulação emocional e seus

P or isso devemos nos manter atentos


a qualidade do enfrentamento as
desdobramentos na vida do
operador de segurança, nos
próximos capítulos da revista
emoções que temos realizado em nosso Opes-S iremos abordar oito
cotidiano, pense por um instante se suas estratégias de lidar com as
atitudes estão conectadas com seus emoções para lapidar ainda mais
propósitos e metas a longo prazo, ou se a sua capacidade de resolução de
essas atitudes são sustentáveis e lhe problemas.
proporcionam qualidade de vida.
Convido o leitor a fazer uma tarefa
extremamente complexa, porém
necessária, para nesse momento
avaliarmos nossas atitudes frente ao
estresse laboral a que somos expostos,
nossa vida muitas vezes dependerá
dessa avaliação, a qualidade do trabalho
que prestamos, a qualidade de nossas
relações depende disso. LEONARDO AFONSO
PSICÓLOGO CREDENCIADO EM
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
PARA PORTE DE ARMA
DOCENTE UNIVERSITÁRIO
@LLEOAFONSOO
Issue 27 | 234
AS 10
DIFERENÇAS DO
APH NA
ATIVIDADE
POLICIAL
BRASILEIRA E DE
MILITARES EM
GUERRA:

Neste artigo elenquei 10 diferenças Por causa desses conceitos


importantes nestas duas atividades de importantíssimos, entender a diferença
combate similares, mas diferentes em entre as duas atividades e o que pode
sua essência e ações, no âmbito do ser modificado ou entendido
atendimento pré-hospitalar. diferentemente para melhorar o nosso
atendimento global do ferido.
Esse atendimento é tudo que Não pretendo de maneira nenhuma
acontece desde o momento do trauma esgotar o tópico ou ter uma palavra
até a entrega do ferido para um final, apenas apresentar a minha visão
hospital. Temos que entender que sobre o assunto que amadureci após
essencialmente duas coisas irão ajudar ter passado pelas Forças Armadas, 10
a salvar o ferido: um primeiro anos de investigador de policia civil e
atendimento de qualidade e um tempo operador de um grupo de operações
curto de evacuação até o hospital. táticas especiais do Brasil e de ter feito
alguns intercâmbios com unidades
internacionais e nacionais.
VAMOS AS
DIFERENÇAS ENTRE AS
ATIVIDADES
MILITARES E POLICIAIS
DENTRO DO APH:
1-Prioridade da missão versus o
resgate do ferido.
Em alguns casos, o objetivo da missão
militar suplanta a importância do resgate do
ferido. Tanto que é aceitável uma
porcentagem de baixas militares em um
determinado tipo de missão em guerra.
Obviamente existem equipes
predeterminadas para o resgate, mas no
caso de não existir e o objetivo ser
extremamente importante, pode-se aceitar
uma quantidade de baixas.
Dentro da atividade policial, não
aceitamos baixas da nossa equipe. Caso
estivermos em uma situação entre a missão
de prender alguém ou a vida do colega,
sempre priorizamos a vida. Até porque, o
alvo nós podemos prender outro dia, a vida
do colega não volta mais.

2-Tipo de trauma
Apesar de o Brasil ter uma quantidade de
policiais mortos por ano maior que em muitos
conflitos de guerra, as lesões por quais eles
morrem não são exatamente as mesmas.
A maioria absoluta dos traumas em guerras
modernas vem de lesões por explosivos,
cerca de 80%. Apenas cerca de 20%
acontece por armas de fogo, principalmente
fuzis.
Na atividade policial brasileira, a maioria
absoluta dos traumas de combate são por
armas de fogo, e grande parte acontece por
armas de baixa velocidade como pistolas e
revólveres. Mesmo no Rio de Janeiro com
sua característica própria, existe uma grande
quantidade das duas armas.
3-Múltiplas vítimas 5-Tempo de retenção de informação vs.
Os explosivos causam um trauma quantidade de informação repassada
complexo de acordo com a distância, Inúmeros trabalhos científicos mostram uma
potência da carga e tipo, mas, de forma perda muito grande de informações com o
geral, ela é feita para atingir uma grande tempo, quando se faz esses cursos de imersão
quantidade de pessoas ao mesmo tempo. de poucos dias, como geralmente é possível no
Nestes casos, a triagem de pacientes é dia-a-dia policial.
uma habilidade que todos os atendentes Pouco é retido pelo aluno por um longo
tem que ter, pois a escolha de quem é a período de tempo, por isso é preferível no nível
prioridade para ser evacuado salva muitas básico, ter menos informação com um número
vidas. maior de repetições daquilo que realmente o
No caso da polícia, a maioria absoluta aluno irá lembrar.
dos casos são de apenas um policial ferido, Outro assunto importante é fazer a
poucos são de dois e raramente acontece 3 reciclagem e o reforço do conhecimento de
ou mais em uma missão de um grupo forma regular, pois essa habilidade é perecível.
específico. Então a escolha da prioridade
de evacuação não tem tanto peso assim 6-Atendimento e Evacuação especializados
como na atividade militar. No ambiente militar existem níveis de
especialização e funções definidas em cada
4-Tempo de treinamento etapa do atendimento e da evacuação.
O tempo de treinamento militar é bem Do primeiro contato com ferido pelos próprios
grande, mesmo para combatentes, existem colegas, onde todos tem o básico e alguns são
programas de treinamento específicos e de especializados no APH, até a evacuação por
tempo integral de paramédicos de combate aeronaves de asa rotativa com grande espaço
de 18 meses ou mais. para atendimento e com UTI de última geração
Na atividade policial, retirar os policiais a bordo.
das atividades diárias deles por um tempo Infelizmente ainda não estamos neste nível
prolongado é muito difícil. Até para e vamos demorar para chegar lá. Mas existem
treinamentos curtos de 2 ou 3 dias é muito unidades dentro das polícias no Brasil que são
difícil eles conseguirem a liberação da focadas no atendimento pré-hospitalar e estão
escala de trabalho e quase impossível na vanguarda dessa mudança.
conseguir ir em um curso externo pela Mas, no dia-a-dia a maioria das evacuações
instituição. Isso tudo pensando que é um são feitas em veículos não apropriados para
aprendizado básico que todos deveriam isso e sem pessoal especializado, como com as
saber. próprias viaturas dos policiais.
7-Padronização
8-Tempo de evacuação
Infelizmente dentro das
O tempo de evacuação do
polícias, poucas são as
ferido militar geralmente é
unidades com uma
alto, apesar de eficiente,
padronização de
mesmo com toda a rede de
equipamentos adequada,
hospitais de campanha,
diferentemente das forças
helicópteros de resgate e
armadas.
transporte.

Quando temos algo


A atividade policial não
padronizado, certas atitudes
especializada geralmente é
tem bastante lógica, por
dentro de centros urbanos,
exemplo, quando você utiliza
onde os tempos de
o kit de primeiros socorros do
evacuação são curtos
ferido nele mesmo. Isso é
mesmo para um hospital de
facilmente entendido pelos
referência da cidade.
militares pois se ele mesmo
Obviamente que o trânsito
for ferido em outra
nas grandes cidades, nas
oportunidade na mesma
pequenas cidades sem
missão, ele poderá usar o
apoio de hospitais de
seu kit nele mesmo (um dos
emergência e em diferentes
princípios do
biomas, isso pode se
autoatendimento).
alterar.

Não possuímos isso aqui,


portanto perder tempo
procurando o kit do colega
para usar nele, muitas vezes
é infrutífero e atrasa os
procedimentos de resgate. O
kit pode não estar no mesmo
lugar que o seu, os
equipamentos podem não ser
da marca que você conhece e
você ter dificuldade de
aplicação, podem não estar
na validade... Isso quando
você acha o equipamento,
pois no Brasil a minoria
compra equipamentos com
dinheiro próprio e muito
poucas unidades compram
para seus policiais.

PÁGINA 56 REVISTA OPE-S


9-Legislação vigente
Apesar de avanços grandes como o
A legislação que rege o atendimento ao ferido
Portaria n.16 do Ministério da
no Brasil é focada em tempos de paz e a
Defesa, que regulamenta o APH
necessidade vigente.
tático no âmbito das Forças
Em tempos de guerra, existe um aceite maior
Armadas, ainda não existe uma
das atividades e permissões necessárias para
portaria específica para as polícias
atuar utilizando procedimentos invasivos,
brasileiras, mesmo para a Polícia
porque há a necessidade de salvar a vida nesse
Militar estadual, pois ela não tem
momento crítico.
mais relação com as Forças
Mesmo para os americanos, quem é treinado na
Armadas desde a constituição de
parte militar não atua da mesma maneira ou tem
1988.
liberação automática quando sai das forças
armadas para atuar na parte civil.
Aqui, funciona da mesma maneira, existem
limites legais de atuação que nunca foi pensado
quando o TCCC foi feito. Por exemplo, no
segundo nível de treinamento, que é realizado
para todos os militares combatentes, existem
procedimentos invasivos que no Brasil só podem
ser realizados por médicos.

10-Escolha do material do kit de


primeiros socorros
Como assunto final, é a escolha de materiais
mais adequados para o quadro das polícias.
Temos que pensar na idade média dos
integrantes, doenças e tratamentos que afligem
uma parte e que podem influenciar na eficácia
do produto utilizado no tratamento. Existem
medicações que podem alterar a coagulação do
paciente, como certos tipos de anti-
inflamatórios e anticoagulantes. O Combat
Gauze é um produto de escolha inicial para os
militares americanos, mas existem certas
dúvidas da sua atuação plena em pacientes
acima, pois esse produto atua na cascata de
coagulação que pode estar alterada pelos
medicamentos. Já o Celox, que é a segunda
opção válida desses produtos, não tem esse
DOC MANIGLIA
INVESTIGADOR DE POLÍCIA E
problema, apesar de possuir outras MÉDICO DO GRUPO ESPECIAL
preocupações como procedimentos diferentes e T.I.G.R.E.
possíveis alergias. COORDENADOR DA PÓS-
GRADUAÇÃO EM APH POLICIAL
Espero, com esse texto, ter ajudado no
entendimento das diferenças do APH nessas @DOCMANIGLIA
duas atividades essenciais e indispensáveis ao
Brasil.
O
NASCIMENTO
DAS TROPAS
COMANDOS

No início do século XIV, a Inglaterra


iniciou a sua expansão na conquista de
territórios “além-mar”. Durante os séculos
seguintes (séculos XV, XVI e XVII), com a
conquista de diversos territórios, a
Inglaterra fortaleceu e expandiu as suas
rotas comerciais. No século XVIII, com a
Revolução Industrial, a Grã-Bretanha
sente a necessidade de ampliar ainda
mais suas rotas, tanto para a importação
de insumos, quanto para a exportação dos
seus produtos.
Como resultado de sua trajetória
expansionista, no inicio do século XIX a
Inglaterra se consolida como maior
potência naval do mundo, após a vitória
sobre o Império Francês de Napoleão na
Batalha de Trafalgar. Nada obstante, o
duro impacto que sofreu com a perda das
Treze Colônias na América do Norte, em
1783, somado à crescente necessidade de
insumos, mão de obra e mercado
consumidor, e ainda, ao fato de ter
conquistado a sua hegemonia nos mares,
fez com que a Grã-Bretanha voltasse a
sua atenção para conquistas de territórios
africanos ainda não cedidos.
"OS BÔERES
(FAZENDEIROS) ERAM
DESCENDENTES DOS
COLONOS"

Em 1806, a Inglaterra ocupa a


Colônia do Cabo, que até então era
controlada pela “Dutch East India
Company” - Companhia Holandesa
das Índias Orientais, com um
projeto de ligar o Cairo ao sul da
África após a divisão, aumentando
significativamente a população
britânica no local, antes dominado
pelos chamados bôeres. Os bôeres
(fazendeiros) eram descendentes
dos colonos holandeses, alemães,
dinamarqueses e franceses, que se
estabeleceram no sul da África nos
séculos XII e XVIII e colonizaram a
região.
A ocupação fez com que os bôeres
procurassem terras cada vez mais
interiores em um movimento
denominado “Great Trek” – A Grande
Viagem, fundando duas grandes
repúblicas bôeres (República Sul-
Africana, também chamada de Transvaal
e o Estado Livre de Orange), evitando
assim se submeterem ao controle
britânico.
A busca expansionista inglesa pela
conquista das áreas interiores já
ocupadas pelos bôeres, como, a
anexação da República Sul-Africana,
culminou na Primeira Guerra Bôer, em
dezembro de por exemplo 1880.
A guerra foi vencida pelo Bôeres, Desta forma, se tornaram uma
que utilizaram diversas técnicas de presa fácil para as pequenas unidades
guerrilhas executadas pelos de bôeres. Tal fato fez com que a
denominados “Comandos Bôeres”. Os Inglaterra perdesse esta primeira
Commandos Bôeres eram pequenas batalha de forma vexatória, e fez com
unidades autônomas de autoproteção que a República Sul-Africana se
local, inicialmente criadas para tornasse novamente independente em
proteção contra os ataques das tribos março de 1981.
africanas, e posteriormente realizadas Porém, em 1887, houve a
contra as tropas britânicas. As unidades descoberta do que foi considerado a
bôeres eram compostas pelos próprios maior jazida de ouro do mundo em
fazendeiros, que - além de possuírem território bôer, fazendo com que fosse
armas de fogo modernas, terem total reacendido o interesse britânico na
conhecimento da utilização dessas região.
armas com precisão (pois eram exímios Os Bôeres adotaram uma política
caçadores) e se deslocarem com protecionista em relação ao ouro
bastante mobilidade ao utilizarem seus arrecadado, taxando
cavalos - não eram dependentes de desproporcionalmente a indústria do
nenhum sistema logístico de combate ouro. A Inglaterra tentou interferir,
convencional. fazendo com que os ânimos se
Do outro lado, estavam as tropas acirrassem e, consequentemente, em
britânicas, pesadas, convencionais, que outubro de 1899, estourasse a Segunda
não conheciam o terreno tão bem, e que Guerra Bôer.
vestidas em seus uniformes coloridos,
se tronaram alvos fáceis para os
habilidosos Comandos Bôeres.

PÁGINA 60 REVISTA OPE-S


Mesmo com inúmeras vitórias bôeres, a
Inglaterra se aperfeiçoou, mudando a estratégia
de combate, adotando os uniformes cáqui ao
invés dos uniformes coloridos e indo além da
guerra convencional, adotando uma guerra
psicológica, levada adiante através da queima
das casas e cidades bôeres e também do
aprisionamento e assassinato de mulheres e
crianças nos recém-criados campos de
concentração. Tal fato fez com que os Bôeres
se rendessem.
Apesar da Guerra ao final ter sido vencida
pela Inglaterra, a mesma indenizou os Bôeres e
diversos acordos foram firmados, com o objetivo
de minimizar as perdas destes.
A Guerra dos Bôeres ensinou muito ao Brasil
e ao mundo. Doutrinariamente, foi verificada a
importância da adaptação aos novos modelos de
armamento, com maior precisão e alcance e a
utilização da camuflagem dos uniformes em
relação ao terreno, fazendo com que os
uniformes coloridos não fossem mais usados em
campos de batalha.
Pode-se verificar também, a importância do
combate de guerrilha por pequenas tropas
autônomas, bem selecionadas, adestradas,
treinadas e com mobilidade. Com base nas
ações empreendidas pelo “Comandos Bôeres”,
Churchill criou na Segunda Guerra Mundial os
“Commados Britânicos”, e com base na
aplicação desta doutrina, foram criadas diversas
tropas de comandos no mundo. No Brasil, foram
criados em 1942 os Comandos da Força Pública
de Minas Gerais, e posteriormente, nas décadas
que se seguiram, foram sendo criadas as tropas
de Comandos e Forças Especiais do Exército
Brasileiro, os Comandos Anfíbios e
Mergulhadores de Combate da Marinha do VICTOR BOMFIM
Brasil, os Paracomandos da Força Aérea MAJOR DA POLICIA MILITAR
Brasileira e os Operações Especiais das CAVEIRA 12
Policias Militares Estaduais, todos com sua OPERAÇÕES ESPECIAIS
OPERAÇÕES DE CHOQUE
gênese no modelo adotado no final do século PATAMO
XIX pelos bôeres.
@CAVEIRA_12

PÁGINA 61 REVISTA OPE-S


PUBLICAÇÕES DOS ARTICULISTAS

Nunca toque o sino


Honney Cordeiro

COT - Charlie Oscar Tango


Eduardo Bettini

Mamba Negra - combate ao


novo cangaço
Eduardo Bettini

A retomada do Complexo
do Alemão
Eduardo Bettini

Lanterna Tática
Eduardo Bettini

PÁGINA 62 REVISTA OPE-S


PUBLICAÇÕES DOS ARTICULISTAS

UDF - Uso Diferenciado da Força


Eduardo Bettini

Relatos de Mais um
Combate
Leonardo Novo

Direito Operacional
Leonardo Novo

Atividade policial
Rogerio Greco

Terrorismo
Rogerio Greco

PÁGINA 63 REVISTA OPE-S


PUBLICAÇÕES DOS ARTICULISTAS

Tortura
Rogério Greco

Organização Criminosa
Rogério Greco

Direito Penal
Rogério Greco

Crimes Hediondos
Rogério Greco

Sistema Prisional
Rogério Greco

PÁGINA 64 REVISTA OPE-S


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Cursos, Produtos
Palestras e Agendas

PÁGINA 66 REVISTA OPE-S


Cursos, Produtos,
Palestras e Agendas

PÁGINA 67 REVISTA OPE-S

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