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Guerra de

Guerrilha
Urbana
Como difere da guerra de guerrilha
tradicional ou “clássica” interna?

Anthony James Joes Página 1 de 100

(University Press of Kentucky)


2007
O autor da tradução não reconhece o Acordo Ortográfico.

Este trabalho pode ser usado para fins de reflexão, ensino, pesquisa e de estudos de
Defesa Nacional e serve os propósitos para o estudo da guerra irregular e adstrito ao
grupo ODETE.

Declaração de conflito de interesses


O autor declara não haver conflito de interesses quanto à autoria e/ou publicação deste
trabalho.

O tradutor não recebeu apoio financeiro para a versão portuguesa.


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Traduzido por
SAJ/INF Paraq Fernando Igreja [D’Eça Leal]
Oeiras-Estoril
(2022)

© Univ. Press of Kentucky 2007


663 South Limestone Street
Lexigton, Kentucky 40508-4008
USA

ISBN 0-8131-2437-9 (encadernado)

Anthony James Joes


University Press of Kentucky
Toronto Buffalo

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Introdução

CAPÍTULOS
I. Varsóvia 1944
II. Budapeste 1959
III. Argélia 1956
IV. São Paulo 1965-1971 e Montevidéu 1963-1973
V. Saigão 1968
VI. Irlanda do Norte 1970-1998
VII. Grozny 1994-1996
VIII. Conclusão: Contemplar Ontem e Hoje
IX. Notas e Bibliografia

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Introdução

Há mais de 2 milénios atrás, Tucídides narrou a guerrilha urbana, envolvendo tropas tebanas que
ocupavam a cidade de Platea (ou Pláteia, antiga cidade da Beócia separado de Tebas pelo rio Asopo):
Os tebanos logo cerraram fileiras para repelir todos os ataques contra si. Repeliram os agressores duas
ou três vezes. Mas os homens plateanos gritavam e atacavam-nos, as mulheres e escravos soltavam
troadas e berravam das casas atirando-lhes pedras e telhas; além disso, tinha chovido imenso a noite
toda, por fim a coragem cedeu e deram meia-volta e retiram-se pela cidade. A maioria dos tebanos
fugitivos ignorava a saída exacta e isso, com lama, noite e o facto de os acossadores saberem o
caminho e poderem facilmente impedir a fuga, provou-se fatal para muitos1.
O combate helénico clássico repercutirá notavelmente através dos conflitos urbanos a serem
examinados neste volume.

O Mundo de Cidades
Em todo o mundo a raça humana aglomera-se nas cidades. De facto, “a convulsão demográfica de
proporções sísmicas está a alterar hoje quase todo o mundo em expansão da sociedade
preponderantemente rural para a urbana”2. Após declínio de Roma, foram precisos 1 500 anos para a
cidade afectar a população de 1 milhão: isso era Londres (sem querer arriscar, sem contar com
povoamento limítrofe e disperso à volta de Olisipo, crê-se que a população [com área inferior da actual
Lisboa] rondava mais de 20 mil almas). Em 1900, talvez 5% da população mundial vivia em cidades
com mais de 100 mil habitantes; em 2000, atingiu pelo menos 45 %. A maior parte da explosão de
aglomerados urbanos ainda ocorre em áreas menos desenvolvidas do globo: superior a 1 milhão e mais
de 60% está no Terceiro Mundo3. Entre as grandes cidades actuais estão Manila e Jacarta com cerca de
10 milhões de habitantes cada. Karachi e Calcutá com 11 milhões, S. Paulo, 14 milhões, Bombaim, 18
milhões e Cidade do México, 20 milhões.
É claro o crescimento das populações urbanas acompanham a expansão da área física coberta por
estas, grande parte na forma de bairros de lata/favelas espraiadas, sem ruas ou moradas. Muitos
governos não conseguem fornecer nem mesmo serviços essenciais aos habitantes desses lugares. No
Brasil, ouve-se falar de milhões de crianças e adolescentes abandonados nas ruas. As armas abundam
nas cidades do mundo subdesenvolvido. Em S. Paulo, o homicídio é responsável por circa 90% das
mortes de adolescentes do sexo masculino; em condições tão terríveis, as quadrilhas tornam-se
famílias e escolas para inúmeros jovens e campos de recrutamento para organizações criminosas e/ou
subversivas4. Fornecer segurança estrutural ou até mesmo manter aparente ordem em muitos desses
aglomerados urbanos torna-se cada vez desafiador.
Enquanto em cidades em países menos desenvolvido crescem e e se tornam mais ingovernáveis, a
tecnologia militar dos EUA tornou mais vulneráveis os subversivos tradicionais rurais ou assentados
nas montanhas a avistamentos e ataques do que antes5. Ao mesmo tempo, grupos subversivos reais ou
potenciais, principalmente a liderança, tende a ser composta predominantemente por figuras citadinas,
categoria cujos membros no passado nem sempre se saíram bem a lutar ou a se esconder no meio rural.
Todas essas condições estão a planear mudar o locus da subversão das áreas rurais para urbanas, de
modo que “no mundo cada vez mais urbano, é provável os militares se encontrem a combater nas
cidades”6, pelo menos a médio prazo, o futuro pertence à guerrilha urbana.

Elementos da Guerra de Guerrilha Tradicional


O que essa mudança pressagia? Há algo que a guerrilha urbana tem de único ou especial? Como é que
difere da guerra de guerrilha tradicional ou “clássica” no interior de um país? Sobre o último tipo, “no
ideal, guerrilheiros são aqueles que lutam contra forças ostensivamente mais poderosas através de
ataques inesperados contra alvos vulneráveis e sustentados pelo apoio popular, moral alto, boa
inteligência, bases seguras e assistência externa” 7. A guerra de guerrilha não é fenómeno peculiar a
nenhuma ideologia, século ou cultura em particular. É a guerra dos fracos, daqueles por causa da
quantidade, armas e treino inadequados, não podem confrontar abertamente as forças regulares do
oponente. Os guerrilheiros, portanto, atacam pequenas unidades inimigas ou postos avançados
isolados. Atacam sob a calada da noite, ou na chuva, ou quando as tropas inimigas estão a comer ou

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vindas de uma marcha ou de outro esforço. Procuram interromper linhas de comunicação inimiga ao
minar ou danificar estradas, explodir linhas férreas, pontes e comboios. De facto, a emboscada é
táctica favorita: para Mao Zedong, “a única táctica habitual da unidade de guerrilha é a emboscada” 8.
Além disso, podem prolongar indefinidamente a subversão, evitam confrontos directos com o inimigo,
excepto em horários e locais à sua escolha.
Mao insistia que os guerrilheiros nunca deveriam lutar a menos que tenham a certeza absoluta da
vitória, i.e., quando gozam de grande supremacia numérica no ponto de contacto. É elemento surpresa
que lhes permite bem liderados superem em número o inimigo em determinado combate.
A surpresa é a arma principal e decisiva dos guerrilheiros compensando a falta de pessoal e armas. Sun
Tzu escreveu: “o inimigo não deve saber onde pretendo combater; pois se não souber onde se pretende
lutar, deve preparar-se para muitos lugares. Enquanto se prepara em muitos lugares, aqueles que tenho
de lutar em qualquer sítio serão poucos”9. Para Mao, “a qualidade peculiar das operações da unidade
de guerrilha apanhará o inimigo de surpresa”10 (mas claro a surpresa sempre foi a “chave mestra de
todos os grandes capitães da história”) 11.
A surpresa é possível por causa da mobilidade e da inteligência 12. “A grande superioridade de a
pequena unidade guerrilheira” segundo Mao “está na mobilidade”. John Mosby o líder guerrilheiro
confederado disse: “tivéssemos de compensar com rapidez a falta de unidades”13. Assim os
guerrilheiros surgem de repente e depressa se dispersam. Mas a mobilidade é inútil e até perigosa sem
inteligência – informações actualizadas sobre onde está o inimigo, qual o número e em que condições.
Os guerrilheiros dependem muito da inteligência dos habitantes civis nas áreas onde actuam. Portanto,
quanto regra, os guerrilheiros rurais devem actuar nos seus distritos de origem.
Os guerrilheiros provaram ser especialmente eficazes quando actuam numa relação simbiótica com
forças regulares aliadas, como Francis Marion, a Raposa do Pântano, com as tropas do GEN Greene,
ou os vietcongues com o Exército Norte-vietnamita. Embora existam alguns casos famosos de
guerrilheiros a alcançar resultados impressionantes sem esse tipo de relação simbiótica – vem à mente
os seguidores de Fidel Castro e os mujaídines do Afeganistão soviético – são casos raros.
A assistência externa tem sido inestimável para as subversões de guerrilha, desde a Guerra da
Independência estadunidense e a Espanha napoleónica até a Jugoslávia de Tito, o Vietname do Sul e o
Afeganistão soviético14. Em muitos casos aonde chegou ajuda externa aos guerrilheiros, como na
Guerra Bur, Malásia britânica, Argélia francesa e Filipinas (duas vezes: após a Guerra Hispano-
estadunidense e na IIª GM), acabaram mal.
Este objecto de ajuda externa sugere a questão de onde as operações de guerrilha devem ocorrer. Há
quase dois séculos, o grande Clausewitz identificou o que acreditava ser “as únicas condições sob as
quais uma revolta geral pode ser eficaz”15. As condições mais importantes são: (a) os guerrilheiros
devem operar numa área ampla, para os movimentos não se tornem estereotipados e não possam ser
facilmente cercados; (b) devem ficar longe do litoral, para o governo não poder agir com movimentos
anfíbios contra a guerrilha; (c) devem escolher como centro da acção a área de terreno acidentado,
impedindo assim movimentos de tropas hostis fortemente armadas e bem equipadas, enquanto
recompensa os guerrilheiros armados ligeiramente com relativa mobilidade (palavra romana para a
bagagem que um Exército regular carregava com este era impedimenta). E claro, para a revolta seja
“geral”, por definição tem de ter apoio da maioria da população da região afectada, condição
decididamente falta nalguns dos casos que examinaremos neste livro.

Perspectiva Maoista
Mais de 100 anos depois de Clausewitz ter escrito o seu parecer aos guerrilheiros, Maozedong emergiu
como líder da provavelmente maior e certamente a mais famosa subversão da história moderna.
Acreditava que o próprio móbil dos guerrilheiros era estabelecer o controlo do campo e, assim, cercar
as cidades, forçando-as à submissão. A guerra de guerrilha deve ser prolongada para os guerrilheiros
tenham tempo de desenvolver forças e aptidões (o prolongamento do conflito decorre da convicção
dos guerrilheiros de a sua vontade de vencer é superior). Mao sustentava que o cumprimento desses
objectivos exigia-lhes possuírem pelo menos uma base geográfica segura. Isso indica algum lugar,
área dentro dos limites do estado, que as forças contra-subversivas não poderiam realmente alcançar
ou não arriscariam, por qualquer motivo, ocupá-lo.

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Tal base seria inestimável para os guerrilheiros: dentro poderiam treinar e doutrinar recrutas; cuidar de
doentes e feridos; armazenar munições, alimentos e remédios. Assim, para Mao, a subversão
prolongada não seria possível num país pequeno e, a fortiori, não seria possível dentro da área restrita
de uma cidade16.
Aeronaves modernas e vigilância por satélite tornaram quase impossível a existência de bases seguras
internas, excepto nas áreas onde o Estado tem estado habitualmente ausente, v.g., em partes do Perú e
Colômbia. Além disso, subversões em pequenos territórios como Palestina, Chipre, Irlanda do Norte,
Sri Lanka e Chechénia parecem contradizer a crença de Mao de o esforço de guerrilha não pode ser
viável sem terreno operacional vasto. No entanto, não há dúvida de a vasta área da China e a primitiva
rede de transporte, bem como o número aí bastante inadequado de tropas japonesas, salvou os
guerrilheiros de Mao dos Exércitos do Japão Imperial e Chiang Chieh-shih (o número de tropas que o
Japão empenhou na conquista da China comparativamente igual à tentativa do Presidente Lincoln de
subjugar a Confederação com o Exército de 19 mil). E quando o estabelecimento da base-segura não
for possível, os guerrilheiros às vezes encontram substituto para configurar o santuário através de
fronteira internacional, como os subversivos gregos após IIªGM, os mujaídines no Afeganistão
soviético e os comunistas no Vietname, entre outros.

Guerra de Guerrilha em Cidades


Certamente muito poucos desejariam transformar os ensinamentos de Clausewitz e Maozedong ou
mesmo lições claras aprendidas de conflitos de guerrilha passados, na fórmula rígida e infalível para a
vitória insurgente. Mas se estes violarem sistematicamente quase todos esses preceitos – algo que os
guerrilheiros urbanos certamente fazem? Em quase todos os exemplos estudados aqui, os guerrilheiros
urbanos abandonaram a possibilidade de possuir uma base-segura ou santuário transfronteiriço. A
ajuda externa não chega (no caso de Varsóvia, por razões muito particulares). Não existia nenhuma
relação simbiótica com forças convencionais amigas (com excepção instrutiva de Saigão). Para os
guerrilheiros urbanos, operar em bairros onde eram conhecidos pode em muitos casos, ser fatal. E
talvez a consequência de tudo, os guerrilheiros urbanos expuseram-se aos esforços das forças contra-
subversivas para os cercar e isolá-los.
Mas por mais não clausewitziana e não maoista, a guerra de guerrilha urbana não reflecte pelo menos
a clássica fórmula bolchevique: tomar a capital e depois conquistar o campo (o inverso da rubrica
maoista)? Não, não usa; a tomada bolchevique de Petrogrado pela Revolução Vermelha em 25Out17
[07Nov] ocorreu em alguns dias, na verdade em questão de horas. O regime de Kerensky que os
bolcheviques derrubaram foi abandonado por todos, principalmente pelo Exército. Longe de ser
exemplo de combate de guerrilha prolongada, os acontecimentos em Petrogrado foram golpe de
estado. Além disso, como veremos em Argel, Montevidéu, São Paulo, Saigão e Belfast, tornou-se
muito difícil distinguir a guerrilha urbana do terrorismo simples, i.e., a violência dirigida aos civis para
estarrecê-los, desorientá-los ou puni-los17. As obras volumosas de Lenine contêm várias censuras ao
terrorismo18. Os terroristas separam-se das massas por meio do sigilo e anonimato; comutam o
activismo pela análise, o indivíduo pela massa; através de bombas em locais públicos e ataques à
infraestrutura urbana, acossam, horrorizam ou matam membros do proletariado e assim por diante. Em
parte por essas razões, os subversivos urbanos no Uruguai e Brasil receberam pouco apoio público e
muitas vezes depararam hostilidade dos partidos comunistas oficiais desses países.
Resumidamente: anos atrás, qualquer um que levasse a sério os ensinamentos de Clausewitz e/ou Mao,
ou estudasse modelos de subversões de guerrilha bem-sucedidas no passado, poderia ser tentado a
concluir que a frase “guerrilha urbana” estava perto de ser oxímoro. De qualquer forma, não
surpreenderá nenhum leitor que todas as subversões de base urbana examinadas sofreram derrota
local. No entanto, devido às condições e processos identificados antes nesta introdução, os estudiosos
da guerra irregular estão convencidos, nos próximos anos, conflitos desse tipo tornar-se-ão cada vez
mais comuns. Tal perspectiva – especialmente à luz de eventos da Chechénia ao Iraque – decerto torna
inevitável o estudo da contra-subversão em ambientes urbanos.

Os Casos Examinados
Os conflitos de guerrilha urbana aqui examinados incluem Varsóvia 1944, Budapeste 1956, Argel
1957, Montevidéu e São Paulo na década de 60, Saigão 1968 (Ofensiva de Tet), Irlanda do Norte

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(principalmente Belfast) 1970-1998 e Grozny 1994-1996. Por terem ocorrido no séc. XX, com
aspectos verificáveis ou mesmo familiares. São bastante distintos cronológica e geograficamente para
garantir quaisquer semelhanças marcantes entre si não sejam limitadas ao tempo ou à cultura, mas não
tão numerosas que impeçam a reflexão de detalhes e matizes que geralmente faltam em grandes
estudos quantitativos. Esses casos apresentam também a oportunidade de comparar métodos da ampla
panóplia contra-insurgente urbana, da Alemanha nacional-socialista e da URSS à França, Grã-
Bretanha, Rússia e EUA, além do Uruguai e do Brasil.
Além disso, essas subversões urbanas diferem amplamente não só quanto a quando e onde surgiram,
mas quanto às circunstâncias da origem, natureza e número de participantes e simpatizantes, nível de
intensidade, duração, consequências do apoio, pressão e o significado que actualmente podem ter.
V.g., em Varsóvia, Budapeste, Argel, Belfast e Grozny, os subversivos combateram soldados que
ficaram ou eram vistos como estrangeiros: este não foi o caso nem em Montevidéu ou em São Paulo e
apenas parcialmente no caso de Saigão. Outra distinção patente entre esses conflitos urbanos deriva da
natureza da relação entre guerrilheiros e a população geral da cidade onde ocorreram os combates.
Certas subversões – Varsóvia, Budapeste, Grozny – eram movimentos puramente populares. Algumas
– Argel, Montevidéu, S. Paulo, Belfast – francamente minoritários e/ou elitistas. Só – Saigão – foi
conduzida sobretudo por forasteiros longe da cidade e até alheios a esta. Em metade dos casos – Argel,
S. Paulo, Saigão, Belfast – a maioria da população era nitidamente hostil aos subversivos. Pelo menos
três – Argel, Montevidéu, Belfast – opuseram regimes oficialmente democráticos. Somenteó duas
subversões urbanas – Varsóvia e Saigão – ocorreram no meio de uma guerra geral e, notadamente, só
– Saigão – foi travada em prol da criação do regime comunista ortodoxo.
Evidentemente então, apesar de aspectos militares desses conflitos previsivelmente atraiam muito
interesse e recebam a devida atenção neste livro, qualquer esforço sério para entender a guerra de
guerrilha urbana requer muita atenção aos elementos políticos próprios.

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I. Varsóvia 1944

A Polónia foi palco do maior movimento de resistência da Europa durante a IIªGM. O principal
acto desse movimento foi a Revolta de Varsóvia em 1944, designado pelo seu historiador mais
recente de “modelo arquetípico da guerrilha urbana”. Embora eventualmente derrotada, esta
revolta teve consequências mais graves para o mundo emergente do pós-Guerra: “a insurreição
não causou a Guerra-fria por si só. Mas foi o passo grande nessa direcção1. No entanto, esses
eventos de Varsóvia com a complexidade, nobreza e tragédia, desapareceram quase
completamente da consciência ocidental.

Polónia Pára a Onda Vermelha


José Estaline desempenhou papel mal-intencionado e basilar no resultado da Revolta de
Varsóvia. A chave para a sua atitude em relação a essa luta pode ser encontrada no conflito
russo-polaco pós-IªGM.
A invasão bolchevique da Polónia em 1920 – a primeira incursão soviética da Europa – é das
menos conhecidas das guerras modernas, mas o resultado pode ter sido quase tão decisivo para
o destino da Europa quanto a vitória de Carlos Martel em Tours2.
O Reino da Polónia, outrora dos maiores da Europa, tinha desaparecido no final do séc. XVIII,
dividido pela Prússia, Áustria e Rússia. Em 1918, a derrota ou colapso desses impérios
fraccionados, ressurgiu o estado polaco. O Exército do novo estado composto em grande parte
por unidades polacas dos antigos Exércitos czaristas e Habsburgos. A figura central foi o GEN
Jozef Piludski (1867-1931). Juntou-se ao PS quando jovem e preso várias vezes ou exilado por
agitação, e organizou a Legião Polaca sob auspícios Habsburgos durante a IªGM. Assume o
Comando das forças polacas em Varsóvia em 1918, declarando a Polónia independente.
Pilduski desenvolveu a estratégia geopolítica deveras grandiosa. Queria as novas fronteiras da
Polónia se estendessem mais a Leste possível. Essa extensa Polónia seria o fulcro da aliança de
novos estados na Europa de Leste e Central – Ucrânia, Finlândia e as repúblicas bálticas e do
Cáucaso – que afastariam a Rússia das margens dos mares Báltico e Negro, desfazendo o
trabalho de Pedro e Catarina e destinando-a ao estatuto de segundo escalão. A fronteira russo-
polaca não foi estabelecida em Versalhes. Depois de as negociações com o regime de Lenine
terem falhado, em 25Abr1920, Piludski lançou uma ofensiva. A ocupação polaca de Kiev em
06Mai despertou o fervor nacionalista russo e, em reacção, muitos ex-Oficiais czaristas
juntaram-se ao Exército Vermelho (EV) quando este tinha urgência premente de Oficiais. A
captura de Kiev estendeu perigosamente as linhas polacas. Com falta de munições e de fábricas
para as produzir, o novel Exército polaco evacuou a cidade em 12Jun. Enquanto isso, o Parido
Trabalhista britânico proibiu os trabalhadores de carregar munições em navios com destino à
Polónia. Os socialistas franceses tomaram a mesma posição. O comandante do Exército
Vermelho para o ataque era Mikhail Turkhachevsky, 27 anos, como Napoleão na campanha
italiana. Lenine informou ao mundo: “Vamos quebrar a crosta da resistência burguesa polaca
com as baionetas do Exército Vermelho”3. Seguindo atrás das tropas russas estavam milhares de
carroças puxadas a cavalo destinadas a saquear cada centímetro da Polónia conquistada.
No final de Julho, o EV constituiu o “governo da Polónia comunista” na cidade de Bialstok,
como Estaline faria anos depois em Lublin. Mas à medida que o EV avançava, poucos
camponeses polacos se juntaram ou ajudaram. E ao se aproximarem das portas de Varsóvia, os
bolcheviques ficaram profundamente consternados ao saber que os operários da fábrica da
cidade voluntariaram-se para o Exército polaco.
O GEN Wladyslaw Sikorski, que chefiaria o governo polaco no exílio (GPE) na IIªGM,
comandou as forças polacas na frente de Varsóvia. Dentro da cidade, quase todo o corpo
diplomático tinha fugido para Oeste, excepto o enviado do Vaticano, o Arcebispo Achille Ratti
(mais tarde Pio XI). Em Agosto, quando as coisas pareciam muito sombrias, a ofensiva dos
russos brancos na Crimeia sob Comando do Barão Wrangel aliviou parte da pressão sobre
Varsóvia. Mais importante, o avanço de Tukhachevsky agrava as linhas de abastecimentos.

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Os longos flancos estavam agora expostos ao contra-ataque. De facto, a cópia dos planos de
Pilsudski para o golpe desse tipo caiu nas mãos de Tukhachevsky, mas este descartou-o como
engano4. Pilsudski lançou o contra-ataque em 16Ago; foi o ponto de viragem da guerra.
Um mito persistente do francês, GEN Maxime Weygand, Chefe de Gabinete do famoso GEN
Foch, salvou Varsóvia. Esse mito de Weyland serviu os propósitos dos bolcheviques, críticos
polacos de Pilsudski e do P-M Mitterrand. Mas as honras da vitória cabem sobretudo a
Pilsudski, que apareceu por toda a parte na linha da frente, a animar as suas tropas, algumas das
quais estavam descalças e quase sem munições. O próprio Weygand admitiu elogiosamente que
“a vitória, o plano e o Exército eram polacos”5 (outro Oficial francês em Varsóvia, o jovem
CAP Charles De Gaulle, recusou educadamente a oferta de a comissão permanente no Exército
polaco). No final de Setembro, Pilsudski atacou Tukhachevsky novamente, na Batalha do rio
Nieman, e completou a derrota bolchevique. Entrou em vigor o armistício em 18Out1920: o
Tratado de Riga, assinado em Mar1921, fixou a fronteira oriental da Polónia até 1939. As baixas
polacas na guerra totalizaram mais de 250 000 incluindo 48 000 mortos. As perdas do Exército
Vermelho em baixas e prisioneiros também ultrapassaram ¼ de milhão, além de dezenas de
armas pesadas6.
Sobre esta batalha de Varsóvia, o distinto historiador militar britânico JFC Fuller “a influência
desta batalha decisiva… pouco compreendida pela Europa Ocidental e permaneceu pouco
notada”7. No entanto, o próprio Tukhachevsky declarou: “não há menor dúvida de que, se
tivéssemos sido vitoriosos no [rio] Vístula [que atravessa Varsóvia aproximadamente de Sul a
Norte], a revolução teria lançado luz em todo o continente europeu” 8. O embaixador britânico
em Berlim, Lorde D’Abernon, acreditava se Varsóvia tivesse caído, “o bolchevismo ter-se-ia
espalhado por toda a Europa Central e poderia muito bem ter penetrado por todo o continente” 9.
Portanto, D’Abernon continuou, “deveria ser tarefa dos escritores políticos explicar à opinião
europeia que a Polónia salvou a Europa em 1920 e que é necessário manter a Polónia
poderosa”10. O historiador britânico EH Carr concorda: “não foi o EV, mas a causa da
Revolução Mundial, sofreu a derrota diante de Varsóvia em Ago1920”11. Assim, a Polónia
libertou-se do Império russo, rejeitou o bolchevismo e humilhou o Exército Vermelho. Mas os
polacos acabariam por pagar cara por essa vitória. A derrota da Rússia, sem ajuda, convenceu os
líderes polacos de não precisavam temer nem a Alemanha nem a URSS. O jovem José Estaline
envolvido perifericamente, mas não sem importância nesses eventos de Varsóvia, concebeu o
ódio pessoal por aquela cidade e a toda classe dirigente polaca, incluindo o GEN Sikorski, que
manifesta brutalmente menos de 20 anos depois.

IIª Guerra Mundial


Pilsudski tinha restaurado grande parte do território histórico da Polónia. O sucesso ilustra a
ilusão de que o império significa força e segurança. A nova Polónia continha muitas minorias
étnico-religiosas: ucranianos, russos brancos, alemães, judeus não assimilados e outros. Essas
minorias eram de dois tipos: as concentradas territorialmente, como os ucranianos e russos
brancos e os dispersos como alemães e judeus. A reforçar essas clivagens, a maioria dos grupos
étnicos na Polónia eram religiosamente compactos: os polacos eram católicos, os russos brancos
ortodoxos, os alemães protestantes e assim por diante. No censo de 1921, só 69 % dos habitantes
do estado declararam nacionalidade polaca e o número é quase de certeza mais alto.
Os alemães na Polónia somavam pelo menos 1milhão. “A característica central da história da
minoria alemã [na Polónia] entre 1935 e 1939 foi a conversão ao nacional-socialismo”12. A
invasão em 1939 revelou muito deles como espiões e sabotadores e quase todos colaborariam
com a ocupação nazi.
Os ucranianos na Polónia eram 7 milhões, quase todos camponeses, viviam entre cidades com
maioria polaca e judia. Os russos brancos, 1 milhão ajustavam a maioria da população em duas
províncias orientais; também eram quase todos camponeses habitando à volta das cidades
povoadas por polacos e judeus.
O censo de 1931 contou com 3,1 milhões de judeus, dos quais 80 % identificados com o iídiche
como língua materna. Mais de 40% deles viviam em cidades com mais de 20 mil. A maioria de
todos os advogados na Polónia e quase metade de todos os médicos eram judeus. No entanto,

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em 1939, grande proporção de judeus polacos dependia de ajuda, em grande parte privada,
financiada por organizações judaicas dos EUA. Os governos polacos apoiaram a emigração
judaica para a Palestina, mas as autoridades britânicas limitaram gravemente o número de
recém-chegados13.
A Polónia era país agrícola e relativamente pobre: em 1938, tinha um automóvel por mil
habitantes, comparado a sete na Checoslováquia e 10 na Itália. Incrivelmente, os políticos de
Versalhes classificaram a Polónia como parte das potências centrais derrotadas; portanto, não
lhe permitiram nenhum pedido de reparação no final da Guerra.
Em Ago39, Hitler e Estaline assinaram o pacto infame, prelúdio essencial para o conflito
mundial reavivado. Os alemães invadiriam sem declaração de guerra em 01Set, atacando de três
lados através da fronteira de 2 816 km. Em retrospectiva, é claro que no início da guerra, as
forças polacas deveriam ter sido agrupadas à volta de Varsóvia e atrás do rio Vístula, mas as
áreas polacas economicamente mais valiosas estavam perto das fronteiras alemãs e, portanto, o
Exército polaco foi especialmente estabelecido aí. Os polacos esperavam ajuda de o ataque
francês à Alemanha, que nunca aconteceu, embora a maioria das forças alemãs tivesse sido
enviada para a Polónia, ficando apenas as forças de triagem na fronteira francesa. “O ataque
francês contra a fraca frente defensiva alemã na linha Siegfried… teria, tanto quanto é
humanamente possível julgar, levaria à derrota militar muito rápida da Alemanha e, portanto, ao
fim da Guerra”14. Mas o ataque francês não se materializou.
O Exército polaco predominantemente de Infantaria não conseguiu recuar para Leste com a
rapidez suficiente para evitar o cerco pelas Divisões blindadas alemãs em movimento rápido. A
Luftwaffe, suprema no ar, explodiu pontes, estradas e ferrovias para impedir movimentos, além
de atacar as tropas em marcha. Os quinto-colunistas, principalmente membros da minoria
germânica da Polónia, ajudaram nessas acções. O golpe final caiu em 17Set, quando o Exército
soviético invadiu pelo Leste. No dia seguinte, o governo e Alto Comando do Exército polaco
cruzaram para a Roménia (a Polónia tinha a fronteira comum em 1939).
A Varsóvia sitiada resistiu ao terrível embate até 28Set. As últimas unidades polacas
importantes renderam-se a 05Out. Neste conflito breve morreram 70 000 soldados polacos com
outros 130 000 feridos. Seis mil foram mortos e 16 000 feridos na defesa de Varsóvia. As baixas
alemãs foram entre 45 000 e 60 000, das quais 10 500 foram mortes. A destruição do Exército
foi o ensaio geral para a derrota do Exército francês, “o melhor do mundo”, oito meses depois.
A Polónia prostrada foi dividida em três áreas: províncias anexadas a Leste por Estaline,
províncias anexadas a Oeste por Hitler e as áreas restantes, Centro, designadas de Governo-
geral sob ocupação nacional-socialista15.

As Origens da Resistência
Como, após a ocupação pelos dois vizinhos extremamente poderosos e severamente selvagem,
os polacos foram capazes de organizar a resistência ampla sustentada? Daí a razão a guerra ser
breve, poucas perdas de vidas e propriedades em comparação com o que estava por vir.
Por outro lado, a sociedade polaca estava imbuída de “tradição de resistência activa e
insurreição e a convicção de que a entidade e a soberania nacionais podem ser preservadas e
restauradas através do sacrifício”16. Além disso, havia perspectivas encorajasoras de assistência
externa: do governo polaco no exílio (daqui para a frente chamado GPE) em Paris e de
poderosos aliados, primeiro os britânicos depois os estadunidenses, em quem muitos polacos
tinham confiança verdadeiramente patética. O governo dos EUA realmente abonou milhões de
USD ao longo de vários anos para a clandestinidade, apoiou sabotagem, espionagem e
comunicações internacionais. Mas talvez o factor mais crucial para o surgimento de a resistência
bem-sucedida tinha sido o comportamento dos ocupantes nazis: “em nenhum lugar em todo o
império nacional-socialista foi dada à ‘Raça Superior’ o controlo completo sobre a nação
conquistada abrangentemente escravizada” 17. De facto, “as condições da ocupação alemã eram
piores para os polacos do que para qualquer outra nação, excepto os judeus” 18. A política alemã
era de exploração total; as suas exigências sobre o povo polaco eram limitadas e impossíveis; o
objectivo era a destruição dos polacos como povo. Todos eram tratados publicamente como
membros de raça inferior de Varsóvia, sem habilitações literárias, riqueza ou estatuto.

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Expulsaram 1 milhão e meio de polacos das províncias anexadas à Alemanha. Milhares de
crianças polacas foram sequestradas, para serem criadas como alemãs. Os nazis impuseram o
trabalho compulsório, reduziram os subsídios de alimentação abaixo dos níveis de sobrevivência
e executaram reféns publicamente. As epidemias de tuberculose tornaram-se normais, enquanto
os danos psicológicos, principalmente para jovens, são incalculáveis. Nas palavras de o famoso
líder da resistência: “Nós, na Polónia nunca encontramos os chamados ‘bons alemães’”19. A peça
central da política de ocupação alemã era o extermínio da intelectualidade. “A ‘intelligentsia polaca’
abrange principalmente polacos padres, professores (incluindo universitários), médicos, dentistas,
veterinários, funcionários, executivos, empresários, proprietários de terras, escritores, jornalistas,
além de todos os que receberam uma ou mais educação secundária”20. As SS assassinavam padres
com ferocidade especial21.
Assim, a ocupação alemã era totalmente ilegítima e destrutiva, sem nenhum esforço sério para
atrair e organizar colaboradores entre qualquer elemento significativo da população polaca. Tão
indiscriminada e implacavelmente dura foi o regime alemão que, quase exclusivamente na
Europa ocupada, “a Polónia não produziu Quisling” 22.
O início oficial em Set39, quando o Comandante das tropas defensoras de Varsóvia comissionou a
organização militar clandestina, baptizada pelo P-M exilado Sikorski em 1942 de Exército
Nacional.
Os principais objectivos do AK [Armia Krajowa] eram, primeiro, apoiar os aliados expedindo
inteligência e criar distracções e, segundo preparar o levantamento nacional quando a hora de
colapso alemão chegar. Os soldados do AK eram de três classes: os que levavam vida dupla
como cidadãos particulares e membros do AK; conspiradores em tempo inteiro; e,
combatentes nas florestas, geralmente usavam uniformes polacos. As unidades de guerrilha do
AK estavam activas onde o terreno e a população local fossem bons. O “Nacionalismo
polaco” escreve Richard Lukas, “era sinónimo de catolicismo. A igreja sempre foi a base do
nacionalismo polaco, em especial durante os períodos opressivos” 24. As raízes religiosas do
nacionalismo eram evidentes no juramento do Exército Nacional: “Diante de Deus Todo-
poderoso, diante da Santa Virgem Maria, Rainha da coroa da Polónia, ponho a mão nesta
Santa Cruz, símbolo do martírio e da salvação, e juro defender com todas as minhas forças a
honra da Polónia, lutarei de armas na mão para libertar da escravidão, apesar do sacrifício da
minha vida, serei plenamente obediente aos meus superiores, manterei o segredo custe o que
custar”25. No início de 1943, o AK tinha 200 mil membros. Em Jul44 cresceu para talvez 380
mil. A contagem exacta sempre foi problemática devido à natureza secreta da organização 26.
Ao lado do AK, a resistência foi organizada por partidos políticos – democratas nacionais,
camponeses e socialistas – com raízes genuínas na população, liderança constituída e experiência
de organização (às vezes em semiclandestinidade) e nenhum envolvimento com a actual política
externa malvista do regime pré-Guerra, Como a derrota e a ocupação foram atribuídas no regime
anterior, só a clandestinidade organizada pelos partidos antigos da oposição seria capaz de obter
amplo apoio popular. Crucialmente, o PS abraçou o nacionalismo polaco e a hostilidade à Rússia.
Todos aceitaram a autoridade de Wladyslaw Sikorski, herói na defesa de Varsóvia em 1920,
tornou-se P-M e Comandante das Forças Armadas polacas em França em Set3927. Assim, a
resistência foi a colaboração do governo no exílio, o Exército Nacional e os principais partidos,
alguns dos quais com milícias próprias antes da Guerra. Mas os comunistas e os grupos de
extrema-direita permaneceram distantes dessa união.
As represálias massivas alemãs pelo menor acto de resistência tinham a intenção de forçar o AK
a concluir que a luta não valia o esforço e ainda criar a barreira entre a população civil e o AK.
Mas os tiros aleatórios nazis, tomada de reféns e o sequestro de homens e mulheres jovens das
ruas da cidade provaram que a passividade não oferecia refúgio. Todos os polacos passaram a
sentir-se sujeitos ao terror e pertencer ao Exército Nacional dava protecção de uma organização
de inteligência activa. Muitos jovens fugiram para as florestas e ali agrupavam-se ao AK28.

Fornecendo Inteligência
Sem dúvida, o serviço mais valioso do AK aos Aliados foi fornecer inteligência. Mesmo antes da
guerra – logo em 1932 – os agentes de inteligência polacos obtiveram uma das aclamadas máquinas

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alemãs de codificação Enigma. O conhecimento polaco e as amostras da Enigma foram levados para a
França em 1939, e após a queda da França em 1940 para a Inglaterra. A capacidade dos Aliados de ler
o tráfego da Enigma afectou todo o curso da IIªGM29.
“Os polacos em Londres” escreveu William Casey, mais tarde director da CIA, “administraram dos mais
eficientes e ambiciosos serviços de inteligência no exílio”30. Durante a ocupação, depósitos de
abastecimentos alemães, campos de prisioneiros, estações ferroviárias, depósitos e aeródromos na
Polónia e Alemanha Oriental estavam sob constante observação da inteligência do AK, e forneceu, entre
outras coisas, avisos precisos da invasão nazi da URSS. O AK descobriu actividades secretas em
Peenemunde, permitindo à Força Aérea Real (RAF) atacar fábricas em 15Ago43, diminuindo a produção
de mísseis V1 alemães durante meses31. Em Mai44, o AK recolheu intacto o míssil V2 inteiro enviando a
descrição detalhada e partes para Londres32. Funcionários dos correios polacos abriam e fotografavam
aleatoriamente cartas enviadas para casa por soldados alemães, fonte inestimável de informações sobre o
moral e movimentos do Exército alemão. O AK administrava toda a série de estações sem fio, vencendo
com engenho perigos de terem os rádios descobertos33 (a BBC avisava o AK através de selecções
musicais pré-arranjadas). A resistência ainda acolheu prisioneiros de guerra aliados fugitivos34.
A sabotagem foi outra laboração importante do AK. Entre 01Jan41 e 30Jun44, a resistência danificou 6
900 locomotivas e 19 mil vagões; abateu 28 aeronaves, 4 300 veículos motorizados principalmente
militares, 38 pontes férreas e 4 700 toneladas de combustível; e matou 5 733 alemães35. A sabotagem do
AK de quotas polacas de abastecimentos alimentares e materiais para a Alemanha ajudou várias divisões
à causa aliada36.

Início das Execuções do Exército


O AK desenvolveu o mecanismo judicial para restringir a brutalidade nazi, pelo menos até certo
ponto, como silenciar traidores e espiões polacos. Normalmente, o júri de três juristas polacos ouvia a
acusação em segredo. Poderia então emitir um dos três veredictos: culpado, inocente ou caso adiado
devido à natureza insatisfatória de provas (sendo este o mais comum). O veredicto de culpado poderia
levar à pena de morte, mas o Comandante da resistência local poderia ordenar a execução sem
julgamento nalguns casos de emergência grave (v.g., se o espião ou traidor estivesse prestes a revelar
o nome de alguém à Gestapo). Naturalmente, muitos juristas estavam bastante relutantes em participar
desses jurados por causa da impossibilidade usual de o arguido aduzir a própria defesa. Mas o AK
configurou o sistema por causa da urgência tanto de coibir assassinatos não autorizados quanto de
aplicar sanção legal de represálias contra funcionários que excediam mesmo até os padrões nazis
usuais de selvageria. Para evitar o desenvolvimento de corpo de assassinos profissionais, nenhum
membro do AK poderia participar de mais de três execuções37.
A represália mais famosa do AK envolveu o GEN Franz Kutschera, que iniciou a prática de execuções
de rua aleatórias em Varsóvia. Tendo sido advertido duas vezes por persistir nessas acções e originou
na morte, o AK matou-o a tiros na rua a 01Fev44. O sucessor evidentemente levou esse exemplo a
sério, porque os alemães pararam de praticar execuções públicas na capital 38.
O AK publicava o próprio periódico que enviava regularmente à Gestapo. Este detalhava actos de
sabotagem e execução feitos em retaliação por cada acção de fereza nazi. Os líderes AK acreditavam
que muitos agentes da Gestapo se tornaram mais cautelosos nas acções por medo de represálias.
A resistência publicou vários outros jornais, alguns dos partidos, outros dos representantes locais do
GPE. Esses periódicos ajudaram a neutralizar os sentimentos de isolamento impostos pelos alemães,
contrariaram a propaganda alemã, publicavam instruções ao público do GPE e do AK e administraram
um fórum para discutirem problemas da vida diária e futuros alternativos pós-Guerra.
A resistência também publicou livros – clássicos polacos, livros infantis, livros de orações – proibidos
pelos nazis. Conseguiam obter sempre bastante papel de Oficiais nazis corruptos39. Como o AK era tão
grande (eventualmente 4 mil homens e mulheres), não foi difícil à Gestapo capturar membros e pela
tortura aprender muito. Assim, a maioria dos membros do AK viviam em constante expectativa de
prisão pela Gestapo40. De facto, antes da Revolta de Varsóvia, os alemães mataram ou capturaram 62
mil membros do AK41. O Comandante-em-chefe do AK, GEN Rowecki, foi entregue à Gestapo três
dias antes da morte do P-M Sikorski na queda de avião. O GEN Bor sucedeu ao preso Rowecki, a
quem o Chefe das SS, Heinrich Himmler, o mataria em retaliação à Revolta de Varsóvia. Cracóvia,

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capital do Governo-geral (coração da Polónia não anexada nem pela Alemanha nem pela URSS), era o
QG da Gestapo e o lugar particularmente perigoso, onde quatro comandantes do AK foram presos.

Combatentes Polacos no Exterior


As acções de resistência não foram a única contribuição da Polónia para a causa aliada. Dezenas de
milhares de polacos lutaram como tropas regulares nas frentes ocidental e oriental. Na época da
conquista nazi em 1939, muitos soldados polacos escaparam pela Hungria e Roménia para a França ou
o Médio Oriente. Tinham Cavalaria e três divisões de Infantaria sob o Exército francês, e milhares
deles foram feitos prisioneiros na queda da França em Jun4042. Não obstante, a evacuação de
Dunquerque levou 24 mil soldados polacos para a Inglaterra; os pilotos constituíam quatro dos 56
esquadrões do famoso Comando de Caças da RAF durante a Batalha da Grã-Bretanha, responsável por
15% das aeronaves alemãs destruídas. Milhares de soldados polacos ficaram para trás na França
ocupada e muitos participaram activamente em organizações de resistência francesas.
Em Ago41, o acordo entre o GPE e Estaline previa a formação de Exército polaco, em solo soviético,
composto por prisioneiros de guerra polacos que os soviéticos ainda não os tinham ceifado de fome ou
brutalizado. O governo nomeou o GEN Wladyslaw Anders, então recluso na infame prisão de Lubianka,
Moscovo, como Comandante da nova força. Mas os soviéticos lançaram todos os obstáculos na
organização desse Exército, então em Ago42, Anders liderou as tropas no Irão44.
Estes soldados, depois conhecidos como o IIº Corpo Polaco, desempenharam papel fundamental na
sangrenta campanha italiana. O IIº Corpo polaco “passaria a ser reconhecido como espírito imputado das
grandes formações de combate da guerra”, Harold Macmillan recordaria, “com folgado desdém pelo
perigo não tinha encontrado em nenhum outro”45. A Iª Divisão Blindada, formada na Grã-Bretanha por
polacos, desempenhou papel importante nos ferozes combates da Normandia 46. Na época da rendição da
Alemanha, 250 mil soldados serviam no Teatro ocidental, e alguns tinham lutado na Líbia, Noruega,
Bélgica e Países Baixos, bem como na Normandia47. Os soviéticos acabaram por organizar outros 170
mil soldados, originalmente sob Comando do desertor do Exército polaco, GEN Zygmunt Berling.

O Massacre de Katyn
Em 1940, o GPE em Londres e as unidades militares polacas na Europa gradualmente perceberam que
15 mil sodados na maioria Oficiais – 45% do Corpo de Oficiais – estavam desaparecidos. Em Fev43, o
Exército alemão anunciou descoberta de valas comuns na floresta de Katyn, a 16 km Oeste de
Smolensk. As covas continham corpos de milhares de Oficiais, cada um deles baleado na nuca. Estes
mortos incluíam muitas centenas de antigos professores, médicos, académicos, escritores – i.e. a nata
da intelectualidade polaca. Pelo menos um dos Oficiais executados era mulher.
Quatro comissões separadas de diferentes países examinaram as sepulturas de Katyn, incluindo a
soviética. Pela hora estimada das mortes (na qual todos concordaram, excepto os soviéticos), ficou
claro que os Oficiais tinham sido mortos enquanto a área de Katyn ainda estava sob controlo soviético.
Quando o GPE pediu investigação à CVI, Estaline rompeu as relações com a Polónia.
Em Londres e em especial Washington, a ênfase estava em manter a aliança de guerra unida a todo o
custo. Os aliados temiam, com razão, a possibilidade de paz separada entre a Alemanha e a Rússia:
lembrar que Estaline foi parceiro ansioso de Hitler até este terminar abruptamente a aliança. Assim os
soviéticos tinham de ser apaziguados a qualquer preço, o que significava engolir Katyn e qualquer
outra coisa que os soviéticos pudessem fazer em relação à Polónia 48. O embaixador britânico na URSS
disse ao Ministro dos Negócios Estrangeiros polaco que “o caminho mais fácil para essa dificuldade
[Katyn] seria aceitar as conclusões da Comissão Soviética que investigou o crime” 49.
O regime estalinista insistiu sempre que os massacres de Katyn foram atrocidade alemã. No entanto,
nenhum nazi foi acusado pelo occídio nos Julgamentos de Crimes de Guerra de Nuremberga e não houve
queixa contra a lacuna estupefacta do regime comunista pós-Guerra em Varsóvia. “Foi decidido pelos
governos vitoriosos inquietos que a questão deveria ser evitada e o crime não foi inquirido em detalhe50.
Em Abr90, 50 anos após o acto, Mikahail Gorbachev admitiu a responsabilidade soviética pelo occídio
de Katyn51. Por décadas após rendição da Alemanha, a punição durou a ser aplicada aos criminosos de
guerra nazis. Ninguém foi punido pelos incontáveis milhares de mortes resultantes das deportações civis
por Estaline em 1939-41. Ninguém foi punido pela occisão de milhares de Oficiais polacos em Katyn52.

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A Revolta da Judiaria de Varsóvia, 19Abr a 16Mai43
Na Primavera de 1943, a Judiaria (ou Gueto) de Varsóvia explodiu em revolta, a primeira rebelião
judaica em quase 2 mil anos. “A revolta foi literalmente a revolução na história judaica” 53 porque
“assinalou o início da militância férrea enraizada na vontade de sobreviver, militância que deveria dar
forma e direcção pela criação do Estado de Israel” 54.
Varsóvia tinha sido o maior centro judaico na Europa de Leste. Em 1939, a população judaica na
cidade era de 375 mil de 1,3 milhão: muitos judeus eram proeminentes na educação, direito, medicina,
finanças, comércio e indústria. Mas na Polónia pré-Guerra, grande número de judeus resistiu
resolutamente à assimilação exigindo reconhecimento legal como povo separado. “Os judeus na
Polónia viam-se como parte do povo judeu disperso pelo mundo e menos parte integrante da sociedade
polaca”55. Isso era verdade não só para os 22 ortodoxos, mas para sionistas e bundistas (socialistas).
No entanto, a derrota e ocupação do estado polaco seriam desastre sem precedentes para os judeus
polacos. Ao contrário de outros regimes na Europa Central e Oriental antes da Guerra, o governo
Pilsudski nunca usou os judeus como bodes expiatórios. E antes de 1939, não havia a Judiaria de
Varsóvia: foram os nazis a iniciar a construção em Abr41 concluindo-a em Novembro.
Nesse ano a maioria dos líderes da comunidade judaica de Varsóvia fugiu para Leste (entre os que
partiram estava o jovem Menachem Begin). Em consequência, a futura Judiaria não tinha direcção
interna e a população era desproporcionalmente composta por mulheres, crianças e velhos56. No auge
chegava a 460 mil. A superlotação insuportável e a desnutrição engendrada produziram doenças, bem
como consumo conspícuo e tensões de classe 57. Organizou-se um Judenrat (Conselho judaico) para
administrar a Judiaria (cujo Chefe suicidou-se em Jul42). Altas entidades da Judenrat e Polícia
Judaica foram alvos de assassinatos por grupos da resistência judaica. Assim como Estaline entregou a
Hitler os comunistas alemães fugidos para a Rússia depois de este ter chegado ao poder, agora
entregou-os aos nazis jovens judeus que conseguiram escapar para o território russo 58. No meio de
toda essa miséria, o Exército alemão passou a contar com roupas, escovas e outros artigos produzidos
dentro da Judiaria.
Muitos judeus pensavam que a tão alardeada Solução Final significasse a expulsão de todos os judeus
da Europa ocupada pelos alemães. Ainda em Jul40, Hans Frank, governador do Governo-geral
acreditava que a resolução para o “problema judaico” seria o transporte para Madagáscar59. A revolta
armada só ocorreria quando os judeus percebessem o que de facto significava a Solução Final. A partir
de Jan42, a política anunciada do IIIº Reich foi a aniquilação total do povo judeu. Entre Jul-Set desse
ano, as deportações reduziram a população da Judiaria para cerca de 60 mil. Em poucas semanas, 300
mil judeus foram expulsos ou assassinados, sem resistência. Tudo ocorreu porque a infraestrutura de
aniquilação – campos de extermínio, transporte ferroviário, câmaras de gás – estava pronta. Os
bundistas começaram a transmitir, através do AK, notícias para o mundo exterior da chacina em massa
de judeus.
A revolta, quando veio, não ocorreu na Judiaria de quase meio milhão de judeus, mas entre os seus
remanescentes. Dada a área restrita da Judiaria, a população muito reduzida, escassez de armas e a
total falta de inibições nazis, os organizadores da revolta sabiam que era suicídio. O AK não estava
preparado para participar, nem havia ensejo de o movimento coordenado com outras Judiarias de
outras cidades, isolados uns dos outros e da população à volta e de todo o mundo. Os judeus do gueto
de Varsóvia estavam isolados – sozinhos com os nazis.
Porém “a aceitação muda o destino e a sensação de desesperança acompanhou as expulsões em massa no
Verão de 1942 deram lugar a atitudes mais rebeldes”60. Uma participante da revolta registou ao marido:
“era óbvio para nós que os alemães nos iriam liquidar. Dissemos a nós mesmos que nesta situação
devemos pelo menos matar tantos alemães quanto possível e ficar vivo o maior tempo possível”61.
Mesmo dentro deste pequeno mundo condenado, a unidade provou ser ilusória face às profundas e
amargas diferenças anteriores à Guerra, entre o religioso e o secular, entre sionistas e antissionistas62.
“Mesmo a ameaça nazi de destruição total não unificaria os judeus” – não que a unificação tivesse feito
alguma diferença no final63. A Unidade Militar Judaica (ZZW, Zydowski Ziazek Wojskowy) surgiu em
Jul42, vários grupos dissidentes formaram unidades próprias separadas sendo a mais proeminente a
Organização Militante Judaica (ZOB, Zydowska Organizacja Bojowa). Esses grupos distintos obteriam
armas do AK; compraram no mercado negro do lado ariano do muro e criaram as próprias armas dentro
da Judiaria. Alguns líderes receberam treino em tácticas de combate de rua com Instrutores do AK.

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A 18Jan43 os primeiros confrontos entre nazis e judeus armados ocorreram no Gueto. Como o
relâmpago iluminou a senda para a revolta, iniciada a 19Abr entre judeus e alemães, a primeira noite
da Páscoa. A ZOB deu os primeiros golpes nos membros da Judenrat e na Polícia judaica. Igualmente
destruíram materiais e bens essenciais ao Exército alemão.
A revolta surpreendeu os nazis de Varsóvia até Berlim. Himmler enviou o GEN SS Jürgen Stroop para
suprimir os problemas na Judiaria. Os alemães usaram mais de 2 mil soldados e polícia num dia
normal, juntamente com carros blindados, CC e claro, Artilharia. Diante deles estavam cerca de 750
ZOB/ZZW armados principalmente com revólveres; granadas-de-mão caseiras; coquetéis molotoves;
e, algumas metralhadoras compradas, roubadas ou capturadas dos alemães64. A ZOB frequentemente
libertava soldados alemães capturados, mas não os das SS.
Muitos dentro da Judiaria reagiram desfavoravelmente aos anúncios da revolta 65. Às vezes
informadores judeus guiavam os nazis aos redutos ocultos66. Os nazis direccionavam gases venenosos
para abrigos subterrâneos ocupados pela resistência. Com medo de emboscadas, de descer às caves
começaram a queimar a Judiaria. “Durante o dia o céu estava cheio de fumo e à noite uma enorme
bola de fogo”67. Alguns membros do ZZB escaparam para a floresta à volta de Varsóvia, mas foram
cercados pelas tropas alemãs. Muitos na ZOB suicidaram-se para não serem capturados.
Como símbolo da vitória os nazis explodiram a grande sinagoga situada de facto fora da Judiaria.
Stroop descreveu a luta do gueto nos termos mais dramáticos e por sua destreza contra essas poucas
centenas de civis, foi condecorado com a Cruz de Ferro.
Na época da revolta na Judiaria, o GPE estava preocupada com revelações sobre os massacres de
Katyn. No entanto, P-M Sikorski declarou em 05Mai43 que dentro da Judiaria de Varsóvia “foi
cometido o maior crime da história da humanidade” 68 disse o activista do Bund em Londres que os
aliados não podiam enviar ajuda aos combatentes da Judiaria. Quem recebeu esta notícia, Szmuel
Zygielbjom, imolou-se até morrer frente ao edifício do Parlamento.
A questão da ajuda externa directa ao gueto foi complicada. O AK viu os habitantes em silêncio do
gueto submeterem-se às remoções massivas da população em 1942. Os líderes do AK não acreditavam
que quaisquer armas que fornecessem ao gueto, a partir dos seus escassos suprimentos, fossem usadas
de forma eficaz, dada a pequena área e agora população esparsa. Além disso, o principal objectivo do
AK era preparar no momento decisivo a revolta geral de toda a Polónia, não gastar munições e homens
na hora e locais escolhidos pelos nazis69. Em 1943, o AK não era nem equipado nem organizado para
empreender a revolta armada eficaz70.
A suspeita e aversão aos judeus certamente comuns na sociedade polaca, mas esta não é qualquer
história da vida sob a bota nazi. A Polónia foi o único país ocupado onde os alemães impuseram a
pena de morte por ajudar judeus71. Muitos polacos adoptaram crianças judias para as salvar; O GEN
Bor relata o incidente devastador de a mãe cujos dois filhos foram baleados em casa à sua frente pela
Gestapo, que então lhe disse: “Agora você pode trazer seu pirralho judeu”72. Depois de o gueto ser
destruído, centenas de Judeus sobreviventes, incluindo membros do ZOB, participaram na Revolta de
Varsóvia liderada pelo AK em 194473. “O GEN Bor, em relatórios ao GPE em Londres, deu menção
honrosa a muitos actos de heroísmo judaico”74.

Por que o AK Cresceu?


Nos primeiros anos, o AK não tinha planeado lutar em Varsóvia, com medo de represálias alemãs
contra a população civil. Em vez disso, as unidades do AK deveriam ir para Oeste para atacar as
colunas alemãs em retirada. O GEN Anders, Chefe do famoso IIº Corpo Polaco, e outros líderes
opuseram-se à Revolta de Varsóvia75. Aparentemente, o P-M Sikorski não queria nenhuma rebelião
geral sem acordo prévio sobre exactamente que ajuda os aliados dariam ao AK. Essa também era a
posição do Comandante-chefe no exílio das forças polacas, GEN Sosnkowski. Da sua parte, os
britânicos não insistiram na insurreição; estavam satisfeitos que os polacos continuassem com as
actividades de inteligência e sabotagem76. O historiador Jan Ciechanowski escreveu que a Revolta de
Varsóvia foi um erro grave, porque destruiu o AK e desacreditou o GPE77. Claramente, os nazis
confrotados com a revolta do AK, poderiam responder com a mesma selvageria que demonstraram em
relação à insurreição da Judiaria.
Então, por que ocorreu a Revolta de Varsóvia?

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Em primeiro lugar, as pressões sentidas por aqueles que viviam no mundo insano infernal nazi
aumentavam a cada dia. O AK estava a desenvolver “impaciência esmagadora para lutar”78. Mas havia
argumentos plausíveis a favor da revolta. O GEN Bor acreditava se o AK não atacasse no Verão de
1944, os nazis teriam tempo de reforçar fortemente o domínio sobre Varsóvia79. Além disso, sabia-se
que os alemães estavam a planear tirar 100 mil jovens da cidade para cavar fortificações, e com isso o
AK perderia muitos membros. O AK desejava evitar ainda a destruição da população e de edifícios
varsovianos pela retirada dos alemães. Não menos importante, o EV avançava rapidamente pela
Rússia Branca em direcção à fronteira polaca, e o AK temia se nada fizesse, os soviéticos os
rotulariam como colaboradores nazis. Se os nazis realmente abandonassem Varsóvia sem lutar, o AK
devia estar no controlo da cidade antes da chegada dos russos. E em 29Jul, a rádio soviética declarou
ao povo polaco que tinha chegado “a hora da acção”80.
As suspeitas polacas sobre Estaline eram bem fundamentadas. Para começar, os nazis entraram em
Varsóvia em conluio com Estaline. Durante a invasão soviética em 1939, o EV disseminou panfletos a
pedir aos soldados polacos para assassinarem os seus Oficiais81. Entre 1939 e 1941, os soviéticos
deportaram à força centenas de milhares de polacos para o Leste (número total circa de 1,5 milhão).
Claro, os assassinatos de Katyn tornaram-se bem conhecidos dentro do AK. De forma expressiva,
durante dois anos, Estaline insistiu na “revisão” do Tratado de Riga, que reconhecia a independência
polaca no final da Guerra Russo-Polaca em 1921.
Além de tudo isso, guerrilheiros vermelhos atacaram unidades de guerrilha do AK, e o EV estava a
prender e a executar membros do AK nas províncias ocupadas pelos soviéticos a Leste do Vístula. Em
Wilno, em 17Jul44, os soviéticos convidaram os Comandantes e o Estado-maior do AK regional para
conferenciar e depois foram presos82. Em Lwow, em 31Jul, o Alto Comando soviético convocou uma
reunião com a liderança do AK, após o que o NKVD, a polícia política de Estaline, cercou-os,
inclusive representantes civis do GPE em Londres83. Além disso, informadores soviéticos infiltraram-
se no AK em vários níveis (os russos foram muito mais bem-sucedidos nisso do que os nazis)84. O
GPE perguntou a Churchill enviar observadores britânicos para testemunhar os ataques soviéticos ao
AK, mas recusou fazê-lo85. Nem a Grã-Bretanha nem os EUA enviariam observadores, embora o
tivessem feito na Jugoslávia e na Grécia.
Os polacos temiam, com razão, que a ocupação soviética fosse permanente, enquanto, em contraste, os
nazis estavam visivelmente a caminho da destruição. A revolta era essencial para frustrar os esforços do
PC polaco para tomar o poder. O GEN Bor acreditava se o AK não agisse, os comunistas proclamariam
para si a revolta e ganhariam muito apoio do AK, facilitando muito a tomada soviética da Polónia.
Nestas circunstâncias, grafa Stefan Korbonski, “parecia impensável que o Exército Nacional, que
contava em Varsóvia com 40 mil Oficiais, Sargentos e Praças, ficasse passivamente de lado e não
atacasse os Exércitos alemães em retirada e desmoralizados. A dignidade e orgulho nacionais exigiam
que a capital fosse libertada pelos próprios polacos, e isso sem qualquer discussão foi aceite. Além
disso, tivemos de pensar o que o mundo ocidental diria se os russos tomassem Varsóvia sem ajuda”86.
À luz das acções do EV que avançava, o AK pensava no melhor momento para a revolta gradualmente
passou do ponto do colapso alemão para o do EV a entrar na Polónia. A decisão da revolta de Varsóvia
foi tomada entre 21-25Jul87. Não havia tempo para aumentar armazenamento de armas expressivo e
lamentavelmente inadequado do AK, mas esperava-se que a revolta fosse bem-sucedida dentro de duas
semanas. A necessidade de sigilo proibia alertar a população de Varsóvia: “Assim, eclodiu a Insurreição
na cidade totalmente despreparada psicológica e materialmente para o tipo de luta que ocorreu” 88.

Ascensão do Exército Nacional


Em 1944, Varsóvia tinha 134 km2 de área, com 1,5 milhão de habitantes. Nenhuma capital europeia,
excepto Berlim, sofreria tantos danos quanto Varsóvia, em parte como resultado da Revolta de 1944.
Começou a 01Ago, e durou incríveis 66 dias. “Os soldados [do AK] sacaram das armas e colocaram
braçadeiras brancas e vermelhas, o primeiro sinal aberto do Exército polaco no próprio solo desde a
ocupação”89. Naquele primeiro dia, o AK de Varsóvia tinha pelo menos 30 mil membros, dos quais só
um em cada 10 possuía arma. Enfrentaram mais de 15 mil soldados alemães e tropas satélites bem
armados, logo aumentados para 40 mil90. Talvez em nenhum outro lugar da IIªGM os adversários
fossem tão incompatíveis.

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No princípio a maioria dos civis respondeu com o coração. Bandeiras polacas surgiram em todo o
sítio. “Os varsovianos afiguraram-se de forma espontânea, deliberada e voluntariamente para ajudar;
não esperaram que lhes perguntassem. Estavam ocupados a apagar incêndios, consertar barricadas,
executar tarefas de observação em telhados e nas estradas, transporte de feridos e alimentos… as
crianças também se juntaram à luta, levavam comida, armas e dispositivos incendiários molotov para o
Exército”91. O AK obteve armas de várias proveniências: esconderijos enterrados pelo Exército polaco
em 1939, suprimentos deixados pelas forças soviéticas em retirada em 1941, fabrico secreto (em
especial granadas e incendiários molotov), compra aos alemães antes da revolta e apreensões durante a
mesma e, casualmente, alguns lançamentos aéreos do Serviço de Operações Especiais (SOE)
britânico, que tinha a secção polaca 92. Mas o AK nunca tinha armas ou explosivos o suficiente e a falta
de munições afectaria muito o resultado final.
O AK lutou principalmente em Companhias de 50 a 100; cada uma dessas unidades é claro, teve de
agir com grande autonomia. Nos primeiros dias de combate, o AK atacou muitas e tomou poucas. Os
alemães ainda controlavam as principais artérias, aeroporto e a estação ferroviária. As forças do AK
isolaram vários pontos fortes alemães. Mas sem Artilharia, nem armas ligeiras suficientes, não
conseguiram superar as defesas alemãs fixas. Nem foi o AK capaz de criar quaisquer cabeças de ponte
ao longo do Vístula para o Exército soviético que chegava para aterrar. Morte, destruição, fogo e fumo
da Batalha eram omnipresentes. Após duas semanas de combates, testemunhas oculares acreditavam
que todos em Varsóvia tinham sido mortos.
Mulheres e jovens desempenharam papel importante na luta desigual. Antes da Revolta, 8 mil
mulheres varsovianas fizeram juramento do Exército Nacional93. Algumas eram combatentes; outras
cuidavam de feridos, preparavam refeições e carregavam munições, correspondência e despachos.
Uma mulher rastejou por cima de o muro contra o fogo alemão para apanhar um ramo de flores para
um soldado ferido do AK. Quatro mil escuteiras cumpriram papéis briosamente. Uma garota de 14
anos incendiou dois CC alemães.
Em 04Ago, a Luftwaffe atacou Varsóvia pela primeira vez desde 1939. Bombardeamentos e fogo de
Artilharia massivos destruíram totalmente o distrito conhecido como Cidade Velha, a extensão mais
oriental da arquitectura barroca da Europa e o centro de resistência do AK. Os alemães lançaram mais
bombas da Cidade Velha do que em qualquer outro lugar na IIªGM e a taxa de baixas do AK
aproximou-se dos 80%. Limpar a capital, distrito por distrito, as unidades alemãs acabaram por cercar a
Cidade Velha. Após repetidos esforços de fuga fracassados, o AK decidiu abandonar o distrito e
reagrupar-se no centro da cidade.
Mil e quinhentos defensores conseguiram escapar pelos esgotos que o AK usava nas comunicações
entre partes da cidade ainda mantidos. Os alemães ao descobrirem acabaram essa actividade subtérrea
e lançaram granadas-de-mão e bombas de gás nos esgotos, que muitas vezes tornaram-se arenas de
lutas corpo-a-corpo desesperadas em condições de sujeira indescritíveis. Os feridos que não podiam
ser arrastados pelas condutas e tinham de ficar para trás; os alemães encharcaram de gasolina e
queimaram-nos vivos94.
Noutras partes da cidade, os prédios destruídos eram locais perfeitos para franco-atiradores e
lançadores de granadas foguetes. Os CC provaram não terem valor para reprimir a Revolta, eram
completamente vulneráveis a ataques desesperados de jovens homens e mulheres armados com
bombas incendiárias. Destruíram cerca de 270 CC alemães.
Em 14Ago, o GEN Bor convocou todas as unidades armadas na área geral de Varsóvia para ajudar a
cidade, mas as tropas soviéticas impediram muitas delas de responder.

Atrocidades Alemãs
O Chefe das SS, Heinrich Himmler, deu ordens para que todos em Varsóvia fossem mortos, incluindo
mulheres e crianças, deixou essa missão para a SS e a Polícia Especial. Muitas das tropas SS
envolvidas não eram alemãs nem falavam alemão96. Como se verá, as atrocidades foram tão flagrantes
que em vez de encurtar a Revolta prolongaram-na. Durante a Batalha, o AK aprisionou soldados
alemães como prisioneiros de guerra, mas executava os SS capturados no local97. Por sua vez, ao
atacar posições do AK, os nazis usaram mulheres e crianças como escudos para os CC98.
Deliberadamente destruíram bibliotecas, obras de arte inestimáveis, vidro, porcelanas e afins;
saquearam e queimaram hospitais com doentes e funcionários enclausurados. “Somente a 05Ago cerca

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de 35 mil homens, mulheres e crianças foram baleados pela SS a sangue-frio… de facto, a obsessão da
SS em matar inocentes dificultou seriamente o esforço militar alemão” 99.
As atrocidades em Varsóvia são chocantes mas não inexplicáveis: os nazis ficaram profundamente
assustados com a insurreição, assim como a Revolta na Judiaria no ano anterior. Além disso, durante
anos o regime de Hitler procurou erradicar a compaixão humana normal e inculcar crueldade sem
precedentes e, é claro, para qualquer bom nacional-socialista, os polacos eslavos eram raça
particularmente inferior.
A selvageria nazi estava a criar massas de refugiados de parte da cidade para outras. O AK tinha de
alguma forma organizar, abrigar e alimentar essas pessoas, para que não ficassem afligidas com a
Revolta. De facto, à medida que a Batalha prosseguia sem electricidade, água ou comida e com
perspectiva cada vez menor de ajuda externa, inevitavelmente alguns sectores do público de Varsóvia
começaram a tornar-se hostis não apenas aos soviéticos que se aproximavam, mas também aos aliados
e ao GPE, Londres e o próprio AK100. As represálias alemãs foram tão severas que o AK temeu que a
população civil o culpasse pelo seu crescente sofrimento, com consequente fortalecimento dos
colaboracionistas pró-alemães. As tácticas dos subversivos comunistas polacos – v.g., lançar granadas
num hospital de campanha alemão – pretendiam provocar violenta violência alemã contra a população
civil, pela qual o AK foi responsabilizado101. No calor de Agosto, tornou-se difícil obter água e comida
escassa e de pior qualidade.
Casos de tifo apareceram em vários distritos (apesar da falta de água no Verão, a disciplina de
saneamento era tal que não ocorreram epidemias).
Nessas circunstâncias, os nazis se tivessem comportado com o mínimo de decência, ou mesmo bom
senso, dezenas de milhares de civis – talvez a maioria – teriam deixado a cidade. Tal êxodo massivo
teria efeito devastador sobre o moral do AK102. Mas a brutalidade impediu qualquer fuga, mas também
aproximou os civis do AK. Depois de os alemães retirarem o AK de determinada área da cidade, todos
os civis, incluindo “feridos dos hospitais, juntamente com médicos e enfermeiros, foram sumariamente
fuzilados”103. Todos sabiam que a SS mataria qualquer polaco. Todos os assassinatos, saques,
violações e incêndios jogaram contra os nazis. “Os polacos estavam unidos no ódio e desejo de
vingança contra os ocupantes alemães e isso seria decisivo na formação da atitude da população civil
em relação à Revolta de Varsóvia” 104. Talvez ainda mais incrível, os alemães apesar de pressionados a
Leste e Oeste pelos Exércitos convergentes da Grande Aliança, achou valer a pena gastar mão-de-obra
preciosa, material e tempo para arrasar completamente o que restava da cidade, dinamitada
meticulosamente as fundações de enormes edifícios do séc. XVIII.
À medida que a luta avançava, tudo se acercava ao estado desesperante: sem comida, água, anestésicos
nos hospitais improvisados. Estudantes de medicina e estagiários de enfermagem tiveram de efectuar
amputações. Desmaiar de fome e exaustão tornara-se comum no AK105. Quase sem leite e ainda menos
cuidados médicos disponíveis, a taxa de mortalidade infantil aproximava-se de níveis impressionantes.
Em Agosto, o jornal do AK publicou este apelo: “Salvem as crianças! Reconstruiremos edifícios,
igrejas, mas a geração perdida não a podemos reconstruir!” 106.
Ao longo de todo esse horror, os escoteiros passavam a correspondência pelos esgotos, 2 mil a seis mil
cartas por dia. Jornais continuaram a aparecer, incluindo alguns para crianças, junto com programas de
rádio e concertos, grandes e curtos, para manter o moral. Clínicas adaptadas de alguma forma
cuidavam das crianças, refeitórios alimentavam os mais aflitos. O corpo de bombeiros, sem água e
alvejados frequentemente pelas SS, continuou a efectuar resgates e evacuações. A devoção religiosa
tornou-se cada vez mais intensa e aberta durante a ocupação, e os cultos eram realizados
constantemente em casas particulares. Conventos e mosteiros abrigavam sem-abrigos e órfãos e
montavam refeitórios e lavadarias públicas107. E os tribunais da resistência ainda funcionavam.
Em 02Out44, como acto de reconhecimento ao condenado AK de Varsóvia, o Presidente do GPE em
Londres nomeou o GEN Bor Comandante-em-chefe honorário das forças armadas polacas. Nesse
mesmo dia, os alemães concordaram em tratar os combatentes do AK em Varsóvia como prisioneiros
de guerra de acordo com os princípios da Convenção de Genebra. Três dias depois, com as forças
exaustas controlaram só algumas partes do centro da cidade, Bor ordenou que homens e mulheres se
rendessem. Quinze mil e quatrocentos membros do AK, incluindo mulheres, marcharam de Varsóvia
como prisioneiros alemães. O AK perdeu ao todo 22 mil mortos, feridos e desaparecidos. As mortes
de civis acercaram os 250 mil. O Comandante alemão em Varsóvia, GEN SS Bach-Zelewski, avaliou

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as baixas alemãs em 20 mil108. O GEN Bor escreveu mais tarde que as perdas alemãs em Varsóvia
abarcavam 10 mil mortos, 9 mil feridos e 7 mil desaparecidos109.
Assim terminou “das batalhas da guerra mais hediondas”110.
Em 31Jul, o dia antes da Revolta, unidades blindadas russas estavam a menos de 19 km de
Varsóvia111. Nos primeiros dias de Agosto, no lado Leste do Vístula, o Marechal de Campo soviético
Rokossovskii e grupo de Oficiais “olharam sobre Varsóvia coberta de nuvens de fumo; as casas em
chamas eram claramente visíveis; a cidade estava salpicada de explosões de bombas e evidentemente
sob fogo de Artilharia”112. Nas últimas semanas de combate, os habitantes de Varsóvia puderam ver o
imóvel Exército soviético do outro lado do Vístula. De acordo com os termos da capitulação, todos os
civis varsovianos tiveram de deixar a cidade: “Os nova-iorquinos poderiam entender a enormidade da
cena se dissessem que Manhattan estava a ser esvaziada pelos nazis toda a população enquanto o
Exército soviético observava do outro lado da ponte Brooklyn abandonada”113.
Os líderes do AK há muito temiam que o Exército soviético pudesse parar a Leste de Varsóvia114. O
EV estava na ofensiva no Báltico (Norte da Polónia) e Roménia (Sul). Porquê que o Exército soviético
não veio em auxílio de Varsóvia para combater, queimar e acabar?

Estaline e a Revolta de Varsóvia


Desde as primeiras semanas da Guerra, a atitude do regime de Estaline em relação à resistência polaca
estava cheia de ameaças. Nas áreas ocupadas pelos soviéticos, a polícia secreta prendeu líderes da
sociedade polaca, incluindo académicos, juristas e padres. Deportaram para trabalho escravo na
Sibéria e no interior da Ásia grande número da classe média polaca e campesinato da zona de
ocupação depois de 1939; muitos dos que partiram morreram115. “As repressões nazis na zona alemã
não foram tão extensas em 1939-1941 quanto as perpetradas na zona soviética”116. O novo PC Polaco
(Estaline executou a maior parte dos antigos) instou os polacos a cumprirem as cotas de alimentos que
os nazis lhes impuseram, enquanto milhões de polacos estavam lentamente a morrer de fome. E então
vieram os massacres de milhares de Oficiais polacos na floresta de Katyn.
É preciso lembrar que Estaline tinha feito o pacto com Hitler para dividir a Polónia, que seria aliado
dos nazis enquanto tomavam a Dinamarca e a Noruega, derrotavam e ocupavam a França,
bombardeavam Londres. Estaline meticulosamente enviou grandes cargas de comida e material para
Hitler para que este pudesse evitar as consequências do bloqueio britânico (muitos dos quais o AK
sabotou). Por ordem de Estaline, o PC Francês opôs-se ao esforço de guerra no seu país. Estaline não
se juntou ao lado aliado, foi afastado grosseiramente pela traição de Hitler contra o qual Estaline fora
advertido, em vão, pelas próprias agências de inteligência.
Os apologistas de Estaline muitas vezes sustentam que salvou a Rússia, e de facto toda a Europa, com
o pacto com Hitler, deu há Rússia tempo para se preparar para a guerra. É verdade que conseguiu ano
e meio extra de paz, mas durante esse tempo ajudava a alimentar a máquina de guerra nazi. Quando,
em 22Jun41, a invasão alemã atingiu a fronteira soviética, foi o choque completo para Estaline,
embora tenha sido repetidamente avisado sobre o ataque iminente dos britânicos, estadunidenses e dos
próprios espiões e agentes – apesar do facto de os 3,5 milhões de soldados alemães e satélites, com
cerca de 4 mil CC e 600 mil cavalos, que cruzaram as fronteiras russas constituíam a maior força
militar individual que o mundo já viu. Como escreveu Churchill, “os ímpios nem sempre são
inteligentes, nem os ditadores estão sempre certos” 117. A “segunda frente” pela qual Estaline clamava
incessantemente em 1942-1944 já existia em 1939. Quando Estaline por fim, previsivelmente,
inevitavelmente teve de enfrentar Hitler em 1941, a França caiu e as tropas britânicas foram expulsas
do continente. O que salvou a URSS não foi a astúcia de Estaline, mas os erros de Hitler: a invasão da
Rússia começou nesse ano muito tarde, e as forças alemãs foram autorizadas a brutalizar as
populações civis que a princípio as acolheram. E há o facto interessante, depois de quase ¼ de século
de comunismo, dificilmente havia uma estrada decente para todos os climas em toda a Rússia
ocidental. “Se o regime soviético tivesse dado à Rússia o sistema rodoviário comparável ao dos países
ocidentais, teria sido invadida quase tão rapidamente quanto a França” 118.
Em todo caso, “a resistência polaca liderada por Londres era a maior e a mais poderosa da Europa; o
[AK] representava assim obstáculo especial para Estaline, diferente de tudo que encontrou até então na
Guerra”119. As negociações de Estaline com essa oposição deixaram os planos para a Polónia do pós-
Guerra perfeitamente claros. Em Mai43, Moscovo anunciou a formação do Exército comunista polaco,

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com Zygmunt Berling como Comandante; também foi nomeado GEN do Exército Vermelho. As
tropas de Berling foram obrigadas a jurar fidelidade não à Polónia, mas à URSS120. Na época do
surgimento dessa força, 90 mil soldados sovietes polacos equipados estavam a Leste de Varsóvia.
Estaline ainda criou o rival comunista clandestino do AK. Em 22Jul44, montou o núcleo de o regime
comunista fantoche para a Polónia, eventualmente conhecido no Ocidente como o “governo de
Lublin”, em antítese ao GPE em Londres. Esse bando absolutamente ilegítimo e totalmente servil de
fracassados e traidores em Lublin concordaram com as anexações soviéticas de territórios polacos do
pré-Guerra e recebeu o reconhecimento dos EUA e da Grã-Bretanha121.
Durante a primeira semana da Revolta, enquanto literalmente milhares morriam em Varsóvia, o PC
polaco em Moscovo negou haver combates na capital polaca122. E a agência de notícias soviética
TASS negou a realidade da Revolta por mais tempo123.
Em 08Ago, a transmissão comunista polaca de Moscovo acusou o AK de ser colaborador nazi; isso
não poderia ter acontecido sem a aprovação de Estaline124. No mesmo dia, o Comité Central Executivo
do PC Polaco decretou publicamente que todos os oficiais do AK deveriam ser presos, e qualquer
pessoa que usasse a braçadeira branca e vermelha do AK em vez da vermelha comunista seria fuzilado
pelos comunistas ou pelo EV quando chegasse a Varsóvia125 (durante todo este tempo, o AK poderia
ter preso e/ou morto as poucas centenas de comunistas em Varsóvia, mas em vez disso deixaram-nos
em paz)126. No final de Agosto, Estaline referiu-se à liderança do AK na Revolta como “punhado de
criminosos em busca de poder”127 (quem poderia ser mais qualificado para julgar?)
As aeronaves aliadas não tinham alcance para voar da Itália para Varsóvia e vice-versa. Assim, se
fossem enviar mantimentos para Varsóvia, precisariam descer na Rússia para reabastecer. Mesmo que
se aceite caridosamente o pedido de desculpas de que o EV foi “parado” a Leste de Varsóvia, qual é a
desculpa para a recusa de Estaline em permitir aviões britânicos ou estadunidenses pousassem na
Rússia? Estaline recusou pedido após pedido urgente. Os russos disseram ao embaixador dos EUA em
Moscovo Averell Harriman que mesmo aeronaves danificadas não teriam permissão para pousar em
solo soviético128. No início de Setembro, Churchill escreveu a Estaline: “O nosso povo não consegue
entender por que não foi enviada nenhuma ajuda material de fora para os polacos em Varsóvia. O
facto de tal ajuda não pode ser enviada por causa da recusa do seu governo em permitir que aeronaves
dos EUA pousassem em aeródromos em mãos russas está a tornar-se amplamente conhecida” 129.
Estaline estava ciente da sua aversão em relação a Varsóvia começava a abrir uma verdadeira contenda
com os britânicos e até com os estadunidenses. Além disso, Varsóvia agora nitidamente estava
condenada e o AK praticamente destruído. Assim, em 13Set, seis semanas após o início da Revolta,
Estaline permitiu os primeiros lançamentos aéreos em Varsóvia por aviões soviéticos. Estes
despejaram mantimentos enlatados, sem pára-quedas, que se despedaçaram no chão. Essa farsa durou
vários dias130. Churchill escreve: “[Os soviéticos] desejavam destruir completamente os polacos não
comunistas, mas também manter viva a ideia de que estavam a ir em seu auxílio”131. O GEN Berling, o
Comandante fantoche das tropas polacas sob controlo do Kremlin, tentou dar ajuda a Varsóvia, “pelo
que foi punido posteriormente”132.
Muito poucos voos aliados vieram para ajudar Varsóvia; os que o fizeram muitas vezes tinham
tripulações polacas. As perdas de aviões foram altas; os pilotos britânicos estavam especialmente
relutantes em sobrevoar Varsóvia porque relataram que a antiaérea russa disparava contra eles133.
Sempre houve os que insistem que não se pode ter certeza de por que o EV parou antes de Varsóvia
durante a Revolta. Os observadores da época, no entanto, tinham a certeza. O MAR do Ar Sir John
Slessor, Comandante da RAF para o Mediterrâneo e Médio Oriente, chamou o caso de “a traição mais
cruel e sangue-frio por parte russa”. Para Stefan Korbonski “a conduta soviética durante a Revolta
deveria ser classificada como o maior crime daquela Guerra, crime pior do que Katyn, pois 200 mil
homens, mulheres e crianças pagaram por isso com as próprias vidas”135. E em meados de Ago44,
enquanto Varsóvia ainda lutava, os EUA, o embaixador Harriman grafou “a recusa do governo
soviético em ajudar Varsóvia não se baseia em dificuldades operacionais nem na negação do conflito,
mas em cálculos políticos implacáveis” 136. A inacção de Estaline diante da Revolta de Varsóvia foi
talvez, o primeiro grande acto explícito da Guerra-fria.
Estaline poderia ter conquistado muita gratidão e prestígio para o minúsculo PC polaco se tivesse
salvo – ou mesmo ajudado – Varsóvia. Mas, em vez disso, preferiu deixar o AK (e civis de Varsóvia,
incluindo a classe trabalhadora) perecer e, depois da Guerra, expulsar 4,5 milhões de polacos dos seus

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territórios anexados. E, como a ocupação soviética sucedeu à dos nazis, a polícia secreta prendeu todos
os membros do AK que puderam encontrar; muitos nunca mais foram vistos. E os polacos foram
proibidos até mesmo de falar do 1º de Ago44.

Polónia e os seus Aliados


A “libertação” no final da Guerra teve significado peculiarmente amargo, quase insultuoso na Europa
Oriental e Central: a substituição dos nazis pelos estalinistas. Durante a IIªGM, 6 milhões de cidadãos
polacos morreram, metade deles judeus. Essa foi a perda mais pesada de qualquer país: a Polónia
perdeu 220/mil habitantes, em comparação com 108 na Jugoslávia, 15 na França e 3 na Noruega137. As
universidades, escolas, museus, catedrais, bibliotecas, hospitais, bancos, fábricas e ferrovias estavam
em ruínas. Em troca da terrível devastação, no fim o que é que os polacos receberam?
Na Conferência de Ialta, em Fev45, os aliados da Polónia cederam províncias orientais a Estaline –
como Hitler fez em 1939 – e implicitamente retiraram o reconhecimento do GPE a favor do novo
regime “representativo” a ser formado pelos comunistas de Lublin além de alguns outros aceitáveis
para Estaline. Para a Polónia, indicou desmembramento e estalinização. Ialta foi “o golpe mais
doloroso”, escreveu o GEN Bor138. “A Polónia não lutou contra os alemães por 5 anos, nas condições
mais difíceis, sofreu as maiores perdas, somente para se capitular aos russos”139.
“Era muito difícil para os polacos acreditar que aqueles que sofreram tanto e não produziram nenhum
Quisling, cujas forças combateram em todas as frentes ao lado dos aliados, deveriam ser cessados” 140.
O GEN Anders, nomeado Comandante-em-chefe de todas as forças armadas polacas em Fev44,
sempre teve a certeza de os aliados nunca sacrificariam a Polónia, a primeira vítima de Hitler,
permanecera leal à Grã-Bretanha e fizera contribuições notáveis para a vitória aliada no Oeste. Ao
ouvir os resultados de Ialta, Anders disse a Churchill em 21Fev que retiraria o IIª Corpo polaco da
campanha amarga italiana. Churchill objecta não precisar mais das tropas polacas. Mas os camaradas
do Exército britânico de Anders imploraram para não abandonasse a Guerra, e concordou141.
Washington não ofereceu assistência, nem mesmo simpatia. Em Mai45, o enviado pessoal de
Roosevelt, Harry Hopkins, disse a Estaline: “Não queríamos apoiar de forma alguma o governo polaco
em Londres”. De facto, o governo “não tinha interesse em ver ninguém ligado ao governo actual
polaco em Londres envolvido no novo Governo Provisório da Polónia”142. Na opinião de George F.
Kennan, Roosevelt e Hopkins acreditavam que a Polónia e todos os países fronteiros da URSS tiveram
más relações com Estaline por culpa própria. Kennan ainda era de opinião “se houvesse um regime
conservador na Polónia e regime católico conservador em especial, significava, sob os olhos liberais,
“que os polacos eram praticamente como os nazis”144. “A fé na Polónia em Churchill e Roosevelt
provou ser inútil”145.
A Polónia foi o primeiro país a desafiar Hitler, mas o GPE não recebeu convite para a conferência das
Nações Unidas em São Francisco em Mar45. E em 08Jun46, quando a grande Parada da Vitória foi
realizada em Londres, o Exército polaco não foi convidado a participar146. Os alemães foram
responsáveis pela morte de ¼ de milhão de civis varsovianos, por execução em massa e fome
deliberada, mas ninguém foi acusado por esses crimes (nem por Katyn) em Nuremberga.
Perto de 100 mil soldados polacos no Oeste se recusaram a retornar à Polónia de Estaline. Stefan
Korbonski, o último chefe político da resistência, perguntou-se, à luz do destino da Polónia após a
IIªGM, se a luta do povo contra os nazis valera todo o sangue e destruição147. Os polacos pagaram o
preço incalculável por uma liberdade não obtida.

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II. Budapeste 1956

Em 1956, a Hungria comunista parecia o próprio modelo da ditadura leninista moderna. Tinha polícia
política feroz; exército cautelosamente recrutado e fortemente doutrinado; partido grande e
disciplinado (10% da população total); e, agregação completa da economia, meios de comunicação,
escolas e sindicatos.
Mas em apenas alguns dias em Out56, esse regime aparentemente todo-poderoso entrou rapidamente
em colapso total. Esse cataclismo húngaro pode ter alertado o mundo para o facto de o império
soviético talvez não fosse monolítico omnipotente e fatal como aparentava – na política o que parece
não é, nada é certo e tudo é possível.

Alguns Antecedentes
Os primeiros húngaros (ou magiares, na sua língua) estabeleceram a maior parte da actual Hungria no
final do séc. IX e aceitaram o cristianismo no séc. XI. Os turcos conquistaram-na em 1526.
As forças da coroa Habsburgo finalmente conseguiram libertar Budapeste em 1686. Após décadas de
inquietação, o nacionalismo húngaro explodiu em revolução contra os Habsburgos austríacos em
1848, ano de convulsão em toda a Europa. As tropas russas e a hostilidade das minorias eslavas e
romenas da Hungria esmagaram a tentativa de fundar a república húngara independente. No entanto,
após derrota esmagadora pela Prússia de Bismarque na Guerra das Seis Semanas de 1866, os
Habsburgos sofreram tremenda pressão para fazer grandes concessões ao sentimento nacional
húngaro.
Assim o império austríaco transforma-se em monarquia dual da Áustria-Hungria. Os dois estados
teriam parlamentos e governos próprios, mas continuariam a união tendo a mesma pessoa como
monarca, imperador da Áustria em Viena e rei da Hungria em Budapeste. O imperador Francisco José
foi portanto, coroado rei da Hungria em 1867.
Em 1910, a monarquia dual tinha a população de 50 milhões, em comparação a França de 39 milhões,
a Alemanha 65 milhões e a Rússia 110 milhões. Só o Reino da Hungria tinha 21 milhões de habitantes
dos quais 11 milhões eram húngaros1. Estes com os alemães da Áustria eram componentes étnicos
mais numerosos e dominantes do império, continha milhões de polacos, eslovacos, checos, romenos e
croatas. A Áustria-Húngria foi o principal exemplo na épocs contemporânea de estado multinacional.
A primordial fraqueza, no entanto, não estava na composição multinacional em si, mas no tratamento
desigual e às vezes bastante severo das minorias étnicas, especialmente pelos húngaros 2.
No final da IªGM, a Monarquia Dual, uma das Potências Centrais derrotadas, fragmentou-se em
elementos étnicos. A Hungria agora independente, alcançou a distinção nada invejável de se tornar o
único estado europeu fora da Rússia a experimentar o regime comunista. O PC húngaro era minúsculo
mas os partidos políticos regulares esquivavam-se da responsabilidade de governar à luz do que viam
como incompreensível vingança dos aliados em relação à Hungria. Assim os comunistas chegaram ao
poder em Mar19, não por revolta, mas por omissão; não realizam golpe de estado estilo Petrogrado,
mas foram agrupados quase da noite para o dia da prisão para o palácio. Muitos anos antes, no livro
Guerra Camponesa na Alemanha, Friedrich Engels advertia: “A pior coisa que pode acontecer ao líder
de partido extremista é ser compelido a assumir governo numa época cujo momento ainda não é
propício para o domínio da classe que representa e para realizar medidas que esse domínio implica”3.
No entanto, seria difícil encontrar melhor evidência para a verdade nas palavras de Engels do que a
tragicomédia do regime comunista de Bela Kun pós-1918.
A Hungria era a sociedade camponesa e católica amante do prazer, um dos grandes países produtores
de vinho da Europa. Nessa sociedade, Kun impôs a perseguição à religião, colectivização da
agricultura e – claro, o que mais – a repressão. Kun esperava que as tropas bolcheviques chegassem a
qualquer momento, mas a nova ofensiva Branca no Sul da Rússia contra a ditadura de Lenine
condenou essa perspectiva. Num esforço tanto para ganhar o favor dos nacionalistas húngaros quanto
acelerar a revolução comunista na Roménia (objectivos tipicamente contraditórios), Kun enviou o
Exército húngaro para a Roménia em 21Jul19; a invasão transformou-se em derrota. Kun informou o
governo que a revolução húngara fracassara porque o proletariado era brando. Então embarcou num
comboio pré-estabelecido e fugiu para Viena, deixando os partidários infelizes para trás a enfrentarem
a cadência contrarrevolucionária e romena 4. O que restava da arena absurda, Kun foi expulso de

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Budapeste pelo Exército romeno em Agosto (seria executado na cela da prisão estalinista em 1939).
Por mais breve que tenha sido, o episódio Kun tornou o comunismo em fedor duradouro nas narinas
das classes, alta, média e camponesas húngaras5. O Comandante da antiga Armada de Habsburgo,
Miklos Horthy (agora APM sem frota), assumiu a liderança do país sob o título de Regente da Hungria
(agora monarquia sem monarca).
Das consequências mais lamentáveis da IªGM foi a dissolução do império austro-húngaro. A
destruição desse venerável estado multinacional tinha sido um dos 14 Pontos alardeados de Woodrow
Wilson. A posição histórica no equilíbrio de poder europeu foi preenchida (ou melhor, não
preenchida) por tagarelas de estados fracos e suspeitos (Áustria, Hungria, Checoslováquia, Jugoslávia,
Roménia) precariamente situados entre a Alemanha e a Rússia. Nisso estava a raiz principal da
renovação da Guerra Mundial em 19396.
O tratado de Trianon (Versalhes) tirou grandes pedaços de território e população do Reino da Hungria.
O estado remanescente ficou sem litoral; pior, dos 11 milhões de húngaros, 3 viram-se do lado errado
da fronteira jugoslava, checoslovaca ou romena. Todos os três estados eram aliados dos franceses.
Determinado a recuperar antigas terras e cidadãos da Hungria, o ALM Horthy desviou a órbita para
Mussolini e, depois de 1936, para a Alemanha Nacional-socialista7. As tropas húngaras lutaram na
Rússia durante a IIªGM; consequentemente, os Exércitos soviéticos ocuparam o país em 19448.
As eleições parlamentares multipartidárias relativamente livres em 1945 produziram vitória
esmagadora (59%) do Partido dos Pequenos Agricultores9. Esta vitória “foi quase certamente devido à
intervenção aberta da Igreja em seu nome”. Apesar da presença do EV, apenas a mão-cheia de
comunistas foi eleito. Constituído governo de coligação iniciou a tão necessária reforma agrária. Mas
em 1947 os soviéticos exigiram novas eleições. Em ambiente de intimidação de quadrilhas de rufias e
o encerramento de jornais não comunistas, a missiva comunista conseguiu angariar somente 22% dos
votos. Mas o partido apoiado pelo EV assumiu o poder completo em 1948 11. Nas eleições do ano
seguinte, apenas os nomes dos candidatos comunistas apareciam na lista. Assim, a Hungria começou a
segunda experiência de ditadura comunista que duraria muito mais do que a de Bela Kun.
Em 1956 a sociedade húngara estava a atingir o estado crítico. Muitos burocratas comunistas
desfrutavam abertamente o estilo de vida muito superior ao dos cidadãos comuns. A maioria ressentiu-
se profundamente da presença militar russa supervisível e autoritária. Rivalidades amargas, até
mortais, dentro do PC irromperam abertamente. A discrepância deveras flagrante entre a propaganda
do partido e as condições reais de vida era cada vez mais ofensiva. O chamado Discurso Secreto de
Khrushchev ao XXº Congresso dos PCUS, “revelou” e acusou crimes do regime Estaline, disseminou-
se. É na Polónia governada pelos comunistas, manifestações em massa estavam a abalar as fundações
da camarilha governante igualmente imposta e também detestada.

A Faísca
Das organizações mais reprováveis e lupinas de todo o império comunista era o Serviço de Segurança
do estado húngaro, conhecido como AVH (Államvédelmi Hatóság). Os membros dessa força notável
pairavam acima do Partido e do Estado. De acordo com o Chefe da Polícia regular de Budapeste
(organização totalmente separada do AVH), até os ministros tinham medo 12. O AVH tinha as próprias
prisões, pelo menos uma das quais tinha banho de ácido onde os corpos dos prisioneiros, mortos ou às
vezes vivos, eram descartados; tinham também os próprios crematórios13. Recebiam salários mais
altos, usavam uniformes mais elegantes e carregavam armas mais mortíferas do que outras unidades
policiais. O regime cuidadosamente segregou-os da sociedade. Muitos foram recrutados do notório
movimento Cruz Flechada, partido/milícia pró-nazi florescente na década 40. A este AVH pertence a
distinção de ser o grupo que realmente desencadeou a Revolta de 1956. Em 23Out56, grande e
pacífica manifestação de estudantes reuniu-se em frente ao magnífico edifício do Parlamento de
Budapeste para mostrar apoio ao movimento reformista na Polónia. Número notável de operários e
soldados fora de serviço juntou-se aos estudantes, e toda a manifestação mudou-se para o Edifício da
Rádio Estatal (ambos no lado Leste do Danúbio – i.e. Peste). Aqui o AVH provocou a Revolta. O
relatório das Nações Unidas mais tarde disse que a primeira vítima do Revolta foi a maior do Exército
húngaro que queria expor a lista de queixas estudantis ao Chefe da Rádio Estatal14. Às 21h, nos
andares superiores do prédio da rádio a AVH começou a disparar contra os manifestantes desarmados
e ainda pacíficos15. Possivelmente foram mortos até 600 homens e mulheres neste massacre.

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Reforços na forma de unidades do Exército regular foram levados às pressas para o Edifício da Rádio
Estatal. Mas quando essas tropas chegaram ao local da carnificina, soldados e oficiais no meio da
multidão gritaram para não dipararem. Os relatos do que adveio em seguida variam, mas em vez de
abrir fogo contra os manifestantes, os militares iniciaram a entregar-lhes as armas. A recusa das
unidades do Exército em proteger a Polícia de Segurança da ira do povo exprimia, para todos os
efeitos práticos, o regime comunista estava acabado. Durante toda aquela noite e dias imediatos, os
manifestantes e os milhares que agora se lhes juntaram receberam mais armas, de soldados, depósitos
do Exército e centros de milícias operárias. A Polícia regular da cidade de Budapeste (também temia e
odiava o AVH) forneceu armas e munições adicionais aos manifestantes16. Muitos alunos sabiam
manejar armas por causa do treino militar obrigatório nas universidades.
Em contraste com quase todas as outras convulsões análogas, “a característica quase única da
Revolução Húngara de 1956 pode ser considerada a completa falta de corpo revolucionário” para
organizá-la e dirigi-la17. Mas talvez o aspecto da Revolta, do ponto de vista comunista, foi a atitude
dos cadetes militares húngaros. Esses jovens cuidadosamente seleccionados pelo regime de acordo
com antecedentes da classe, fortemente doutrinados com o ensino marxista-leninista e completamente
infiltrados pelo AVH. No entanto, grande número desses cadetes – crianças escolhidas e futura
protecção do regime – aliaram-se manifestamente à revolução.
Durante esses mesmos dias, as unidades AVH continuaram a disparar contra multidões civis pacíficas.
Mataram mais de 100 civis na Praça do Parlamento e outros 80 na cidade de Magyarovar18. A
responsabilidade da polícia especial de segurança pelo grande derramamento de sangue que em breve
ocorreria na Hungria é inegável e assombrosa. “Podemos ver agora”, escreveu George Mikes, “quanto
do derramamento de sangue nesta revolução foi devido ao AVO [AVH] ao abrir fogo contra
manifestantes pacíficos”19. O repórter Peter Fryer do Daily Worker comunista britânico, escreveu a
26Out: “Depois de 11 anos de 'democracia popular', chegou-se a isso, a Polícia de Segurança estava
tão distante do povo, estranha, cruel e tão brutal que virou as armas contra a multidão indefesa e
assassinou pessoas que deveriam ser os senhores do próprio país”20.
Os anos de ódio e medo silenciosos, inflamados pelos massacres sem sentido de civis inocentes, agora
tinham consequência digna. Tornou-se comum em Budapeste e noutras cidades e vilas vermos corpos
de homens AVH pendurados em postes de luz e outros instrumentos de justiça popular seleccionados
às pressas21. O AVH sem medo quando a prisão e tortura de o único suspeito ou mesmo de toda a
família tendia a ser muito mais discreto quando confrontados por multidões de civis armados. Os
membros desapareceram logo nos seus vários buracos e esperaram.
Os acontecimentos evoluíram muito rapidamente. Multidões de Budapeste derrubaram a estátua
gigantesca de Estaline. A palavra-de-ordem Ruszkik Haza! (Russos fora!) aparecia em todos os
lugares. Aconteceu o mesmo com a bandeira húngara, com a estrela vermelha comunista recortada.
Em 24Out, o regime anunciou pela rádio: “Elementos fascistas e reaccionários lançaram ataque
armado contra prédios públicos e forças da lei e da ordem” 22. Ao manchar a Revolta como fascista, o
partido dizia que qualquer uso de força contra esta seria justificado. No entanto, naquele mesmo dia
Imre Nagy, defensor do comunismo “reformador”, foi empossado como P-M, e Janos Kadar, Chefe do
PC húngaro, declarou a dissolução da organização.
Na esteira da IIªGM, regimes comunistas foram impostos a vários países católicos além da Hungria,
incluindo Polónia, Checoslováquia, Croácia e Eslovénia. Em todos, os líderes da Igreja foram presos
após julgamentos caricatos. No Ocidente, o mais conhecido desses clérigos foi o Cardeal da Hungria
Joseph Mindszenty. Preso durante a guerra pelo regime pró-alemão, Mindszenty sofreu tratamento
idêntico pelos comunistas. Os combatentes da liberdade soltaram-no e o governo de Nagy declarou as
acusações contra “injustificadas”.

A Primeira Intervenção Soviética


Como escreveu um notável historiador desses eventos: “Se o Exército Soviético não tivesse sido
chamado para ajudar, todo o regime comunista teria desmoronado em 24 horas”. O P-M Hegedus, por
ordem do embaixador soviético (nada menos) Yuri Andropov25. Em 24Out, duas divisões soviéticas
mecanizadas cruzaram a Hungria da Roménia (o Chefe da Polícia de Budapeste escreveu mais tarde
que os CC soviéticos já estavam a movimentar-se em 23Out)26. Essa primeira intervenção soviética

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inflamou a opinião pública, especialmente em Budapeste: “Foi a convocação dos russos que... rápida e
inequivocamente deu ao movimento o verdadeiro carácter – o de revolta nacional”27.
Os combatentes da liberdade obtiveram quantidade substancial de armas de várias fontes, incluindo o
Exército e a Polícia da cidade, mas o número de pessoas que se queriam juntar à luta excedeu em
muito o número de armas disponíveis. Logo se intitularam Guarda Nacional, estes combatentes da
liberdade eram estudantes, trabalhadores e soldados; muitos tinham, é claro, sido membros do PC:
“Esta foi a aliança dos trabalhadores e intelectuais que Lenine disse ser indispensável para a
revolução”28. O conhecimento adquirido com os cursos sobre guerrilheiros e partisanos russos seria
agora usado contra os seus opressores29.
Embora unidades organizadas do Exército húngaro tenham lutado contra o AVH desde o início, o
Exército como tal não resistiu aos invasores soviéticos no início30. Por um lado, as tropas húngaras não
possuíam equipamento para resistir aos russos31. No entanto, muitos soldados lutaram individualmente
ao lado dos combatentes da liberdade. Ainda mais importantes, as tropas húngaras recusaram-se a
proteger os CC soviéticos em Budapeste; era situação muito séria, porque os CC T-34 usados na
primeira invasão tinham tampões de gasolina claramente marcados de um lado, portanto, eram muito
vulneráveis a coquetéis molotoves. A Infantaria poderia ter-lhes oferecido boa protecção, mas poucos
infantes acompanhavam as colunas blindadas soviéticas invasoras, e os poucos relutavam em
permanecer nas ruas à noite32. Outra consequência do envio de CC sem apoio da Infantaria foi: desde
as tropas nos CC terem visibilidade muito ruim, os subversivos podiam parar uma coluna de CC ao
colocarem nas ruas pratos de sopa virados, que para os homens dentro dos veículos pareciam minas.
Um estudioso da revolução especula que o Kremlin enviou CC para Budapeste desacompanhados de
Infantaria para os soldados russos não ficassem cientes do padrão de vida húngaro, tal como era,
superava claramente o da URSS, e também para os impedir de saber lutavam para suprimir o
verdadeiro movimento nacional 33 (40 anos depois, os soviéticos enviariam CC desacompanhados para
Grozny, com resultados idênticos). Os CC soviéticos em Budapeste à noite disparariam em todo
prédio que tivesse luzes acesas, até a esquadra principal da Polícia da cidade34.
Todos os tipos de sinais indicavam, ao se aperceberem que estavam a combater contra trabalhadores e
estudantes, o moral de muitas tropas soviéticas abatia imenso. Houve relatos de soldados russos
venderam as armas individuais – e até mesmo CC – por comida35.
Durante esses dias dramáticos, não houve saques em Budapeste por húngaros, só por soldados russos.
Estes invadiam lojas e forçaram os húngaros a transportar mercadorias enquanto estavam a ser
fotografados. Essas fotos falsas apareceram no jornal do partido soviético Pravda para provar que os
revolucionários não passavam de bandos de vândalos e fascistas36. Unidades subversivos reunidas à
pressa guardavam joalharias cujas montras foram quebradas37. “Testemunhas de todas as
nacionalidades declararam que não houve nenhum saque em Budapeste durante esses 10 dias, apesar
da tentação pelas vitrinas partidas” 38. Os agricultores estavam distribuindo patos, galinhas, ovos e
batatas nas ruas de Budapeste nos dias que antecederam a segunda invasão soviética, para mostrar
gratidão aos combatentes da liberdade por acabar com a colectivização forçada da agricultura39.
Todos os lados concordaram com o armistício em 28Out. No dia a seguir, quando as forças soviéticas
pararam de lutar, 200 CC foram destruídos ou danificados40.

A Segunda Intervenção
A criação de uma Hungria livre e social-democrata sobre os destroços da ditadura comunista teria
consequências mais profundas para a política mundial 41. Assim, a tentação do Kremlin esmagar os
húngaros pela força deve ter sido realmente poderosa; ainda assim, não se pode descartar totalmente a
priori a possibilidade de oferta de compromisso soviético. Mas o ataque anglo-franco-israelita ao Suez
distraiu e dividiu o Ocidente e encorajou os soviéticos a aproveitar a oportunidade de reverter os
acontecimentos na Hungria pela pura força. Se Londres e Paris tivessem despachado o ultimato ao
Egipto um mês depois do que realmente fizeram (30Out), certamente é razoável imaginar que os
eventos na Hungria poderiam ter tomado rumo dramaticamente diferente42.
De qualquer forma, os combates em Budapeste e noutros lugares deixaram perfeitamente claro que
repor o controlo da Hungria exigiria muito mais do que duas divisões blindadas que compunham a
intervenção original soviética. Assim, na noite de 29Out, novas unidades do Exército soviético,
incluindo 3 mil CC, começaram a entrar na Hungria43. Muitos CC dessa segunda invasão eram T-54,

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menos vulneráveis a bombas de gasolina. Agora com 11 divisões, as forças soviéticas na Hungria
fecharam a fronteira ocidental, cercaram Budapeste, ocuparam todos os pontos estratégicos fora da
cidade e cercaram todos os aeroportos. Os do AVH, farejando a oportunidade, guiaram os CC
soviéticos para Budapeste44. “O AVH estava uniformizado novamente, escoltava soldados russos e
escolhia antigos subversivos para serem presos”45. Muitos dos soldados russos acreditavam realmente
estarem na Alemanha para combater os nazis46. Aeronaves bombardearam a cidade, enquanto no solo
os soviéticos bombardearam e incendiaram muitos hospitais de Budapeste, matando ou ferindo
médicos, enfermeiras e pacientes47. Como em Varsóvia e Grozny, os subversivos usaram esgotos para
comunicações. E nessa segunda invasão soviética, unidades do Exército húngaro ofereceram
resistência aos poderosos russos48. O regime fantoche pediu aos soldados húngaros para aceitarem
amnistia em áreas designadas; alguns aceitaram a oferta, apenas para serem abatidos pelas tropas
russas49.
Enquanto a luta se intensificava, representantes do gabinete de Nagy, incluindo Pal Maleter, COR do
Exército húngaro a servir como Ministro da Defesa, negociavam com os comandantes das forças
soviéticas na Hungria sob a bandeira de trégua. Contra todas as leis internacionais e contra todos os
conceitos de honra e dignidade militares, os soviéticos prenderam os negociadores húngaros e
lançaram-nos para a prisão, quase decapitaram as forças revolucionárias com este golpe vergonhoso.

Retirada do Pacto de Varsóvia


O mito persistente, encorajado pelos soviéticos, sustentava que os líderes do Kremlin enviaram os CC
de volta à Hungria em Novembro porque o governo Nagy iria tirar a Hungria do Pacto de Varsóvia e
declarar neutralidade. Tal movimento teria efeitos deveras desestabilizadores no equilíbrio de poder
europeu, com consequências imprevisíveis, a repressão soviética da Revolta húngara era, portanto,
nesta versão, realmente no interesse da paz mundial.
O P-M Nagy, comunista vitalício, de facto declarou a retirada da Hungria do Pacto de Varsóvia no
final de 01Nov. Mas o Chefe da Polícia de Budapeste, Kopacsi, entre outros, testemunhou que novas
forças de intervenção soviéticas começaram a chegar ao país em 29Out. Nagy disse ao embaixador
soviético Yuri Andropov que a Hungria deixaria o Pacto de Varsóvia a menos que a invasão cesse e
todas as tropas fossem retiradas do solo húngaro50. Andropov respondeu-lhe que as tropas soviéticas
que atravessassem as fronteiras de Budapeste tomavam o controlo de todos os aeroportos para facilitar
a retirada total das suas forças51. George Mikes mostra o caso contundente de que não foi a declaração
de neutralidade de Nagy que provocou a segunda intervenção soviética, que havia, de facto, começado
antes dessa declaração52. Muitas outras fontes autorizadas confirmam esse posicionamento53.
Em resumo, como escreveu o historiador Charles Gati: “[A] intervenção soviética estava apenas
marginalmente relacionada ao que Nagy tinha feito ou deixado de fazer. Não foi causado pela
declaração “provocante” sobre a neutralidade e o Pacto de Varsóvia. De facto, o oposto é verdadeiro:
foi a (segunda) intervenção soviética na noite de 31Out [sic] que levou [Nagy]... a abandonar o seu
passado moscovita e emitir a declaração histórica”54.
O P-M Nagy encontrou refúgio na embaixada jugoslava em 04Nov. O novo P-M húngaro apoiado
pelos soviéticos, Janos Kadar (cuja formação do governo tinha sido anunciada de Uzhgorod, na
URSS), ofereceu a Nagy salvo-conduto para a sua casa, que aceitou. Imediatamente após saída da
embaixada, Nagy foi detido pelo KGB e, em 1958, Kadar anunciou a sua execução.

Baixas
A resistência armada em Budapeste terminou a 14Nov, embora os combates continuassem nas partes
montanhosas da Hungria por várias semanas. Budapeste estava em pior situação no final da segunda
intervenção soviética do que em 1945 (capital de estado inimigo no tempo de Guerra). No país como
todo, pelo menos 22 mil húngaros foram mortos (equivalente proporcional a 750 mil estadunidenses) e
milhares de outros ficaram feridos. Vários milhares de tropas soviéticas foram mortos ou feridos.
Cerca de 26 mil húngaros foram presos, dos quais 600 posteriormente executados. Foram expulsos do
Exército 8 mil Oficiais55. Mais de 200 mil húngaros fugiram para a Áustria ou Checoslováquia antes
de 14Nov56. Depois disso, “começaram as deportações, tão indiscriminadas quanto em 1945, trens
cheios de pessoas despachadas aleatoriamente para a Rússia” 57.

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Considerações
A Revolta húngara de 1956 não é misteriosa na sua origem, sucesso inicial ou na derrota final58.
As origens da insurreição residem primeiro na forma como o regime comunista chegou ao poder,
tendo sido imposto ao país contra a vontade clara e reiterada do eleitorado, através da presença na
Hungria de tropas estrangeiras. Esse estigma por si só pode ter sido suficiente, mas havia muito mais:
as memórias das atrocidades russas durante a IIªGM; a presença russa provocadora flagrante; a
identificação do comunismo per se com os detestados russos mesmo aos olhos dos grupos sociais mais
favorecidos pelo regime; a privação económica generalizada; camarilha governante notável pela alta
vida, incompetência política e falta de atractividade pessoal; e, falsidade oficial implacavelmente
estridente, tão grosseira a ponto de ser simultaneamente risível e ofensiva59. A leviandade homicida da
Polícia de Segurança era emblemática de todas as patologias do regime.
A Revolta foi tão bem-sucedida e rápida porque, depois de os massacres do AVH ignificar a situação
antes inflamável, as forças armadas não só se recusaram a reprimir as manifestações populares, mas
ficaram deveras ao seu lado. Essa foi a chave-mestra, factor primário e decisivo, no colapso do regime.
Lenine ensinou, correctamente, que nenhuma revolução de massas pode triunfar sem a ajuda de parte
das forças armadas que sustentavam o regime anterior. Essa visão, de que a revolução pode começar,
mas não pode ter sucesso enquanto o governo possuir a lealdade das forças armadas, arroga
concordância generalizada. Chalmers Johnson escreveu “a análise da posição política das forças
armadas está sempre no centro de qualquer estudo concreto da revolução”60. Katherine Chorley
concluiu “o papel desempenhado pelo Exército é decisivo em qualquer revolução”61. Os chefes
comunistas na Hungria assumiram que o Exército era totalmente confiável, por causa das origens
sociais e doutrina política. Podem ter reflectido, mas não o fizeram, pois, regimes muito mais
legítimos, históricos e impressionantes do que os fantoches estalinistas em Budapeste foram varridos
quando as tropas se recusaram a atirar sobre os contramanifestantes civis compatriotas. Exemplos
incluem monarquias fundadas há muito tempo de Luís XVI e Nicolau II (cenários semelhantes
derrubariam Reza Shah Pahlavi do Irão, e Ferdinando Marcos das Filipinas)62. É erro crasso para o
governo contar com confiança na doutrina política para neutralizar a desafeição dos civis
desagradados com os soldados. O erro ainda é mais grave para o governo – qualquer que seja –
ordenar soldados dispararem sobre civis com quem no dia anterior estavam a conversar, comer, beber,
dançar ou orar. O súbito colapso do Exército húngaro em Out56 é ilustra esses princípios evidentes.
A derrota da Revolta, é claro, resultou do facto de a tempestade varrer o regime corrupto não pode
prevalecer contra a invasão de grande número de tropas estrangeiras bem equipadas com poucas
reservas em matar civis cujos motivos e linguagem não iriam conseguir entender.
Como em Varsóvia em 1944, em Budapeste em 1956, os combatentes da liberdade acreditavam que o
mundo exterior, movido pela justiça e heroísmo da sua causa, os ajudaria. Enquanto o punho soviético
se fechava ao redor da Hungria, a Rádio Budapeste enviava este apelo inquietante: “Povo civilizado do
mundo! Imploramos-lhes em nome da justiça, liberdade e princípio moral obrigatório da solidariedade
activa que nos ajude. Nosso navio está a afundar-se... Ouçam o nosso grito!”63.
Por que o mundo não ouviu esse clamor? Por que os EUA não intervieram directa ou indirectamente
para garantir o sucesso da Revolta de Budapeste, ou pelo menos sustentá-la?
Parte da resposta a essa pergunta perturbadora está no facto de, como cupracitado, em Nov56 grande
parte do mundo estava agitado pela indignação com o caso de Suez. Mas talvez a resposta mais
convincente se encontrasse nas palavras de Dwight D. Eisenhower, então Presidente dos EUA. Alguns
anos após o esmagamento de Budapeste, escreveu:
Ainda me pergunto qual teria sido a minha recomendação ao Congresso e ao povo
estadunidense se a Hungria fosse acessível por mar ou pelo território de aliados que poderiam
ter concordado em reagir positivamente ao trágico destino do povo húngaro. No entanto, porém,
a Grã-Bretanha e França não poderiam ter-se mudado connosco para a Hungria. Uma campanha
conjunta de forças alemãs e italianas connosco, e atravessar a neutra Áustria, a Jugoslávia titista
ou a Checoslováquia comunista, estava fora de questão. O facto era que a Hungria não podia ser
alcançada... O envio de tropas dos EUA sozinhos para a Hungria através de território hostil ou
neutro envolver-nos-ia numa guerra geral [mundial]... Embora a Assembleia Geral [ONU] tenha

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aprovado a resolução ao convocar os soviéticos para retirarem as tropas, era óbvio que nenhum
mandato para acção militar poderia ou seria emitido 64.
E assim a mão-de-ferro soviético fechou-se e a Hungria caiu em silêncio.

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III. Argélia 1957

Estudos sobre o conflito de 1954-1962 na Argélia há muito mostraram o carácter “maniqueísta” – a


retratar a luta entre o bem e o mal – e talvez nunca mais do que em tempos recentes1. É claro, toda a
guerra suscita controvérsia e a “Guerra da Argélia seria a última, provavelmente e certamente a maior
e mais dramática das guerras coloniais” 2. Mas o conflito era muito mais do que isso, porque “a Argélia
era a Irlanda da França, quase intimamente ligada à pátria como foi a Irlanda à Grã-Bretanha até 1922,
e com os mesmos problemas de população minoritária implantada pela colonização”3. Em termos
militares, o Exército francês obteve vitória incontestável sobre os subversivos. Mas isso levaria à
quase invasão da França por aquele Exército vitorioso, à destruição das carreiras de muitos dos
oficiais, à entrega da Argélia aos subversivos derrotados e à imolação de dezenas de milhares de
aliados muçulmanos da França. O conflito argelino é, portanto, exemplo instrutivo da primazia do
político e da ambiguidade da vitória na guerra.

O Cenário
Os franceses começaram a ocupação da Argélia na década 1830. Na época, a Argélia não era nação,
ou mesmo estado real, mas QG dos infames piratas berberes. Durante o reinado sobre a Argélia, os
franceses construíram portos modernos; construíram estradas, ferrovias e sistemas de irrigação; e
transformou grandes partes do país em regiões agrícolas produtivas. Em 1954, da população da
Argélia de cerca de 10 milhões, mais de um milhão eram descendentes de europeus, geralmente
conhecidos como colonos. Os colonos tratavam os árabes argelinos como cidadãos de terceira classe,
na melhor das hipóteses. Durante a IªGM e novamente durante a IIªGM, dezenas de milhares de árabes
argelinos serviram nas forças armadas francesas, e o território argelino exerceu papel proeminente na
libertação da França. Consequentemente, quando a IIªGM estava a chegar ao fim, surgiram demandas
entre os árabes educados na França para que esses serviços fossem recompensados com reformas
políticas e económicas. O GEN de Gaulle e outros líderes franceses fizeram muitas promessas, mas
deram poucos resultados. Os colonos e aliados na França metropolitana opuseram-se resolutamente a
qualquer concessão à deprimida maioria árabe.
Assim, a revolta armada contra os franceses começou a 31Out54, quando várias centenas de
subversivos árabes argelinos atacaram vários postos dispersos do Exército. A subversão foi organizada
por grupo que acabou por se tornar a Frente de Libertação Nacional (FLN)4. Em 1958, no Cairo, a
FLN proclamou-se o governo provisório da Argélia (o ressaibo contra a ajuda de Nasser aos rebeldes
argelinos foi factor importante por trás da invasão de Suez em 1956)5. A FLN não era dominada pelos
comunistas, mas, como todas as guerras coloniais, a luta argelina ficou enredada no esquema global da
Guerra-fria. A China Vermelha reconheceu o governo provisório da FLN três dias após anúncio, e as
armas chegavam à Argélia da Europa Oriental e Cuba de Castro.
Talvez o facto mais importante a ter em mente sobre a guerra na Argélia é que começou quase
imediatamente após a derrota do Exército francês em Dien Bien Phu, no Vietname, em Mai54. A
decisão do governo francês de se retirar do Vietname, após quase 8 anos de combater o viet minh,
liderado pelos comunistas, significava que o Exército não poderia cumprir as repisadas promessas de
nunca ceder às muitas centenas de milhares de vietnamitas leais6. Com o colapso de 1940 e a ocupação
nazi, muitos Oficiais franceses juraram que o conflito argelino era aquele “mesmo contra a vontade de
Deus ou do homem, não deveria ser perdido”7. Assim ergueu-se a bandeira desafiadora com a intenção
de a levar até ao fim.

O Exército Derrota os Guerrilheiros Rurais


Descrever a Argélia como “grande” seria eufemismo de proporções saarianas. A Argélia tem cinco
vezes o tamanho da França, quatro vezes o Afeganistão, seis vezes o Iraque, seis vezes o Japão, sete
vezes o Vietname e 23 vezes a Virgínia; de facto, dentro das amplas fronteiras da Argélia, pode-se
agrupar confortavelmente Noruega, Suécia, Finlândia, França, Alemanha, Portugal e Reino Unido. No
início da luta em 1954, porém, havia neste vasto território somente 50 mil soldados franceses, i.e. 1
soldado para cada 49 km2. Mas em 1957 com o maior Exército francês a ir para o exterior o número
cresceu para 450 mil. Colocou grande número de reservistas, tornando extremamente difícil à FLN de
operar nas áreas rurais (na verdade, menos de 10 % das tropas francesas viram muitos combates, a

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maioria aplicada na defesa estática de instalações e colonatos)8. Aliás, o poder aéreo francês realmente
reuniu informações nos enormes espaços vazios da Argélia9. Aqui estão as origens da Batalha de
Argel, capital da Argélia: o fragor da subversão clássica levaria à tentativa de guerrilha urbana.
O grande número de tropas francesas mobilizadas na Argélia permitiu-lhes envolver-se em dois
programas decisivos que marginalizaram os guerrilheiros rurais: fechar as fronteiras e reagrupar a
população civil.
No início da luta na Indochina, os franceses abandonaram a fronteira Vietname do Norte. Por isso,
tropas e abastecimentos para os subversivos viet minh fluíram para o país da vizinha China maoista.
Na Argélia, a FLN recebia armas da Checoslováquia comunista e Alemanha Oriental, através dos
vizinhos independentes Marrocos e Tunísia. Determinados a eliminar esse fluxo, os franceses
construíram barreiras enormes ao longo de ambas as fronteiras, variações das efectivas linhas de
fortificação usadas pelos britânicos contra os guerrilheiros bóeres na África do Sul e por Chiang
Chieh-shih contra os comunistas chineses na década 3010. A Linha Morice verdadeiramente
impressionante (mencionado pelo Ministro da Defesa no gabinete do P-M Guy Mollet) percorreu mais
de 320 km ao longo da fronteira com a Tunísia. O coração era a cerca de arame electrificado de 2,5 de
altura. Campos minados tinham 50 m de fundo de cada lado. Do lado argelino, arame farpado protegia
a estrada constantemente patrulhada, com torres de vigia em intervalos regulares. As estações de
controlo poderiam identificar a localização de qualquer tentativa de avanço e desencadear resposta
rápida por aeronaves, artilharia e unidades terrestres móveis. Oitenta mil soldados defendiam a linha,
concluída em Set57. A FLN sofreu tantas baixas ao tentar atravessar essa barreira assombrosa que
logo abandonou esse esforço de arriscar fazê-lo em grande escala. Mas as unidades da FLN ainda
podiam assediar o Exército francês com ataques de Artilharia e morteiros de santuários dentro da
Tunísia e de Marrocos.
Tendo isolado quase completamente os subversivos da ajuda externa, os franceses ainda isolaram
grande parte da população civil. Entre 1955 e 1961, transferiram quase dois milhões de muçulmanos,
de uma população quiçá de 10 milhões, das zonas de actividade guerrilheira para campos protegidos.
O objectivo inicial desse reagrupamento era a vigilância, mas o Exército logo se viu a prestar serviços
sociais em grande escala a esses árabes. Muitos Oficiais franceses envolveram-se profundamente no
prestar saneamento público, assistência médica, polícia, educação e até emprego para habitantes dos
campos de reagrupamento. Toda essa actividade serviu para solidificar o compromisso do Exército
com o conceito de Argélia Francesa11.
E, claro, não poderia haver Dien Bien Phu no Norte da África porque, em contraste decisivo com o
Vietname, a FLN nunca mobilizou forças convencionais dentro da Argélia, nem havia uma China
Vermelha do outro lado da fronteira para fornecer tais forças.

Terrorismo da FLN
Alguns expressaram a crença de que as origens do terror da FLN estavam na raiva contra a execução
francesa do pessoal da FLN capturado12. Há sérias dificuldades nessa explicação. O terror na Argélia
dirigido predominantemente a civis, incluindo civis muçulmanos; “tanto na cidade quanto no campo, a
FLN dependia do terror como principal arma contra colonos e argelinos” 13. Além disso, a FLN logo
levaria o terrorismo para a própria França, principalmente em busca de muçulmanos que considerava
inimigos. A explicação muito mais provável para o terror da FLN é esta: embora a FLN se envolvesse
já em 1954, a enorme dependência de tácticas de terrorismo urbano seguiu-se à derrota da guerrilha da
FLN no interior14. A FLN tinha pouca escolha: “Quando o núcleo comprometido de líderes concordou
que a violência era a única solução para o impasse em que se encontravam, a inépcia de empurrar a
massa do povo argelino para a oposição aberta ou de montar a guerrilha em larga escala encorajou-os
a adoptar a estratégia terrorista”15. No início da campanha de terror, a FLN concentrou-se
especialmente em matar árabes de opinião moderada.
Argel foi o epicentro da campanha terrorista. Na época, a população era de cerca de ¾ de milhão, a
maioria de origem europeia16. Dentro da cidade, a FLN tinha talvez 5 mil membros. Destes, cerca de 1
500 estavam envolvidos em terrorismo 17. A proporção notável da FLN de Argel consistia em
criminosos autênticos: “bandidos, prostitutas, traficantes de drogas e bandidos”18. Para ser admitido na
FLN algeriana, era preciso matar um polícia19. Os activistas terroristas radicais do núcleo duro eram
talvez 150, mas esse número era mais do que suficiente para criar pânico na cidade20.

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Em Jan56 houve quatro incidentes terroristas; em Dezembro, o número disparou para 4/dia21. Em
Jan57, 200 pessoas de todos os tipos foram vítimas do terror. Em Junho57, sujeitos armados da FLN
dispararam aleatoriamente só sobre 49 civis nas ruas de Argel22. O número de muçulmanos mortos
pelos terroristas, propositada ou acidentalmente, incomparavelmente maior ao número de vítimas
europeias. Mas “o terrorismo contra europeus geralmente tomava a forma de violência espectacular,
com muitas baixas, porque todos os europeus eram agrupados como o ‘inimigo’, e assim todos se
tornaram vítimas elegíveis”23. O terrível prenúncio dessa política apareceu na cidade de Philippeville
em Ago55, quando a FLN massacrou civis franceses, incluindo mulheres e crianças.
Os atentados bombistas indiscriminados da FLN criaram baixas horríveis entre civis inocentes de
todas as idades, raças e sexo. As bombas eram deixadas em caixas de correio ao lado de pontos das
carrinhas escolares. Talvez o atentado mais horrível da FLN tenha ocorrido na Leitaria Algiers,
restaurante popular entre as mães europeias e filhos em idade escolar. Entre os intuitos dos bombistas
ao cometerem tais ferezas era semear a desconfiança entre europeus e árabes e provocar os franceses
em violência indiscriminada contra os muçulmanos em geral. Assim, desde o início do conflito, os
guerrilheiros rurais executavam ataque ou assassinavam perto de uma aldeia para fazer com que as
autoridades impusessem represália geral aos habitantes locais.

O Exército Derrota os Terroristas


O coração da organização terrorista FLN em Argel estava localizado na famosa Casbah [“fortaleza”],
com cerca de 1km2 de área de aproximadamente 80 mil habitantes, “uma das favelas mais densamente
povoadas do mundo”24. A luta para erradicar o terror vinda desta Casbah, tornar-se-ia conhecida como
a Batalha de Argel, “indiscutivelmente o evento central na Guerra Argelina”25. Mais certo, é o caso
clássico do que acontece quando a guerrilha viola sistematicamente o conselho e a lição de Clausewitz
e Mao Zedong sobre como travar a guerra de guerrilha.
Chegou a Argel em 27Jan57, o GEN Jacques Massu e a 10ª Divisão Pára-quedista de 10 mil militares.
Formado pela Academia Militar em St. Cyr, França, Massu juntou-se aos gaulistas na IIªGM e entrou
em Paris durante a Libertação com a 2ª Divisão do GEN Leclerc. Recebeu o posto de GEN na idade de
47 anos. A missão era restaurar a ordem na capital argelina: “Entre Fev-Out57, a 10ª Divisão Pára-
quedista comandada pelo GEN Massu destruiu efectivamente a organização terrorista em Argel”26.
Imediatamente após chegada a Argel, Massu foi confrontado com a Greve geral declarada pela FLN,
que a rompeu com o expediente simples de forçar todos os lojistas muçulmanos a manterem as lojas
abertas. O ataque, destinado a demonstrar o controlo da FLN e a impotência francesa na cidade,
acabou por ser “o erro táctico mais grave da FLN em toda a guerra”27.
A arma mais eficaz e indispensável para desarraigar ou mesmo restringir qualquer organização
clandestina é a inteligência. Massu exigiu todos os arquivos da polícia sobre suspeitos de terrorismo
lhe fossem entregues. A partir daqui, tinha listas de pessoas a serem detidas. Massu então isolou toda a
Casbah do resto da cidade, estabeleceu postos de controlo em todas as saídas. Os portadores de
bombas eram geralmente mulheres muçulmanas jovens de classe média, que muitas vezes conseguiam
passar por europeias28. Por fim, todas as mulheres que tentavam deixar a Casbah eram revistadas.
Depois disso, buscas francesas percorreram a Casbah dia e noite, vasculhavam regularmente a área,
casa por casa, procuravam pessoas com nomes que figuravam nas listas de Massu. Construiu a rede de
agentes e informadores de ex-membros da FLN e ex-militares muçulmanos. Não foi difícil encontrá-
los dispostos a agir contra a FLN: “Na Casbah de Argel, [os pobres urbanos] estavam tão apavorados
em dar apoio à organização revolucionária da forma como eram convertidos para o seu lado” 29.
Massu também criou unidades de comandos de ex-membros da FLN e deu-lhes liberdade para caçar
os seus antigos associados na Casbah30. Estes levaram cerca de 1/3 da população masculina da Casbah
sob custódia durante a campanha. Suspeitos sérios podiam deparar-se com muçulmano dissimulado,
presumivelmente informador31. Os franceses perguntavam a todos os detidos: “Quem no bairro colecta
fundos para os terroristas?” Então prendiam essas pessoas e perguntavam: “A quem entregam o
dinheiro colectado?” Assim, os franceses obtinham identidades de que precisavam e aproximavam-se
metodicamente da liderança da organização terrorista Casbah32.
Os franceses usaram agentes duplos com muita eficácia para semear desconfiança dentro da FLN:
“Enquanto a inquietação de cortes de gargantas e eviscerações irrompeu entre os confusos e suspeitos
quadros da FLN, nacionalistas massacraram nacionalistas de Abr-Set57 e fizeram o trabalho da

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França”33 (a maneira de desintegrar a organização insurgente é prender o membro conhecido e logo
depois libertá-lo, quer forneça alguma informação ou não).
A táctica de Massu funcionou. Em Fev57, os franceses descobriram a principal fábrica de bombas da
FLN em Argel. Em 24Set57, o Chefe terrorista da Casbah, Yacef Saadi, rende-se. Em meados de
Outubro, “o terror foi efectivamente interrompido”34. Os terroristas só eram aptos a fazer cerca de uma
acção por mês35. Assim, “o longo pesadelo do terror urbano chegou ao fim em Argel”36.
A Batalha de Argel foi vitória francesa inegável. Os efeitos, no entanto, não foram a paz ou o
compromisso, mas a guerra aberta e irreconciliável. As suas tácticas alienaram a opinião muçulmana
moderada e provocaram muitas críticas na França e noutros lugares, que serão analisadas infra.

A Opinião Pública e a Guerra


Em 1958, elementos influentes na França proclamavam o desencanto com o conflito argelino. Sectores
expressivos da população não recuperaram totalmente do esgotamento psicológico e espiritual após a
derrota de 1940, a ocupação nazi e da invasão aliada. Logo após a libertação veio a luta desastrosa na
Indochina. Em 1954, homens e mulheres franceses estiveram envolvidos nalgum tipo de guerra quase
sempre por 15 anos. Agora, com a nova guerra na Argélia, a oposição ao alistamento estava a
aumentar. A aversão pelo racismo inflexível dos colonos era generalizada; decerto o Exército não via a
missão na Argélia como salvaguarda de privilégios da casta dos colonos, muitos nem eram franceses.
O terror da FLN aumentava entre os 400 mil muçulmanos residentes em França; 1 700 deles foram
mortos em 1957-1958. A propaganda de esquerda exibia a subversão como movimento em distorção
grotesca de toda a população muçulmana. Havia a questão da tortura, cada vez mais importante.

Tortura
O falecido Raymond Aron observou “a pacificação não pode ser imaginada sem tortura, assim como
[uma] guerra de libertação não pode ser imaginada sem terror”. A tortura foi das armas usadas pelos
franceses durante o bem-sucedido esforço para conter o terrorismo argelino.
Qual foi a extensão dessa tortura? O estudioso do assunto argumentou que os franceses tiveram
problemas porque usaram-na não só contra aqueles claramente culpados, que muitos teriam tolerado
ou pelo menos ignorado, mas contra quase qualquer suspeito, i.e., quase qualquer argelino37. Esta
visão polémica, o GEN Massu escreveu o seu uso de coerção física era discriminatória e relativamente
raro38. De acordo com o COR Roger Trinquier, colaborador próximo de Massu na 10ª Divisão Pára-
quedista, a tortura geralmente não era necessária; a mera ameaça disso faria a maioria dos suspeitos
falar39. Mas o testemunho mais impressionante contra a acusação de tortura generalizada pelo Exército
francês vem do GEN Paul Aussaresses, Oficial de inteligência de carreira que se juntou à França Livre
na IIªGM. Em 1956, Massu encarregou-o de destruir o aparato terrorista em Argel. Muitos anos
depois, Aussaresses publicou a defesa surpreendentemente franca e sem remorso do contraterrorismo
francês na Argélia. Descreveu sem rodeios o seu papel de director nessas questões, disse que a tortura
era necessária e produtiva – mas não comum: “Alguns prisioneiros falavam com muita facilidade.
Outros só precisavam de alguma esfrega. Foi somente quando um prisioneiro se recusou a falar ou
negou o óbvio que a tortura foi usada” 40. Acreditando que a tortura tinha efeitos psicológicos
destrutivos sobre os praticantes, Massu deu ordens que ninguém devia ser empregue neste trabalho por
muito tempo41. Somente pequena fracção do Exército francês esteve envolvida. “Fizemos tudo o que
podemos”, escreve Aussaresses, “para evitar que os soldados mais jovens ensanguentassem as mãos e
muitos não teriam conseguido de qualquer jeito”42. Além disso, “a maioria dos Oficiais do Exército
regular nunca torturou ninguém, porque simplesmente não foram colocados nesse tipo de contexto.
Quanto aos recrutas dar-lhes esse tipo de tarefa estava fora de questão” 43. Tanto Edgar O'Ballance
quanto George Kelly, entre outros, concordaram com essas opiniões44.
As justificações para usar a tortura eram previsíveis. O terror era real e generalizado; muitas mulheres
e crianças, muitas vezes muçulmanas, foram vítimas. O COR Trinquier culpou os terroristas pela
tortura: nada de terror, nada de tortura; essa era “a realidade que a rebelião deveria ter em conta”45.
Certamente, o terror da FLN revoltou e assustou o Exército. Como escreveu o COR Aussaresses,
quando os pais de crianças assassinadas ou mutiladas vêm até si e perguntam por que não fez tudo ao
alcance para as salvar, o que respondia?46 Um Oficial francês anónimo escreveu “entre dois males é
necessário escolher o menor. Para as pessoas inocentes não sejam mortas ou mutiladas, os criminosos

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deviam ser punidos e realmente colocados fora do perigo”47 (muitos usaram o argumento semelhante
para defender os atentados de cidades alemãs e japonesas pelos britânicos e estadunidenses durante a
IIªGM). Para Massu, “os inocentes [i.e., as próximas vítimas de atentados terroristas] merecem mais
protecção do que os culpados”48. E levantou este ponto difícil: “A tortura deve ser condenada, mas
gostaríamos de ter a definição precisa aonde começa a tortura”49.
O COR Yves Godard sustentou que a tortura não era necessária. Disse, se estivesse no Comando,
qualquer terrorista preso em flagrante teria sido baleado em 48 horas – a menos se revelasse o que
sabia sobre outros terroristas50.
Em Mar57, com os incidentes de terror reduzidos a quase zero, Massu e os pára-quedistas da décima
deixaram as ruas esquálidas da Casbah campo aberto para a contra-subversão.
Que importância foi a tortura na derrota dos terroristas? Muitos anos atrás, Edward Behr escreveu que
a Batalha de Argel não poderia ter sido vencida sem tortura51. Esse julgamento é difícil de aceitar: os
franceses trouxeram a força esmagadora numa área cingida, contra a FLN que de forma alguma
desfrutava do sólido apoio ou simpatia da população nativa, muitos estavam dispostos a trabalhar
contra esta. É difícil conceber como os franceses não poderiam ter vencido a Batalha de Argel, com ou
sem tortura. Além disso, existe há muitos anos amplo consenso de que a tortura deveras deu aos
contraterroristas franceses pouca informação útil além do que a obtida pelos meios mais usuais e
incomparavelmente mais aceitáveis de informadores, vigilância, suborno e cooperação pública52.

O Que Sabiam os Políticos?


Nos anos finais do séc. XX, a questão da tortura ficou ligada a praticamente todo o sistema político da
IVª República, em especial aos líderes do Partido Socialista 53. Qualquer que seja a natureza e o
significado da tortura na Argélia, não foi de forma fenómeno restrito somente aos círculos militares.
A IIª República declarou a Argélia não como colónia ou protectorado, mas parte integrante da própria
França. Os principais políticos da IVª República (1946-1958) abraçaram e proclamaram a completa
unidade da Argélia com a França. René Coty, PR, comparou o conflito na Argélia à luta desesperada
da França pela sobrevivência na Batalha de Verdun durante a IªGM. François Mitterrand serviria como
PR da Vª República de 1981 a 1995, declarou no parlamento francês, “a Argélia é a França, e quem de
entre vocês hesitaria em usar todos os meios para preservar a França?”54 Pierre Mendès-France, o P-M
que desistiu do Vietname em 1954, proclamou: “os departamentos argelinos [i.e., divisões
territoriais]... são irrevogavelmente franceses. Nunca a França – qualquer governo ou parlamento,
quaisquer sejam as tendências peculiares – cederá a esse princípio fundamental”55.
Em 1956, enfrentando o crescendo terrorista sangrento na Argélia, o P-M socialista Guy Mollet exigiu
ao parlamento a aprovação da Lei de Poderes Especiais, que conferia “poderes virtualmente
ilimitados” ao executivo56. O Parlamento aprovou a Lei por 455 votos contra 76; a maioria incluía
membros comunistas57. “Foi o governo civil que enviou a 10ª Divisão Pára-quedista a Argel com
ordens para acabar com o terrorismo por qualquer meio necessário” 58.
Impor ao Exército a tarefa de acabar com o terrorismo na Argélia árabe fez com que pelo menos
alguns recorressem à tortura quase inevitável (nesse ano, o gabinete de Mollet juntou-se aos britânicos
e israelitas para invadir o Egipto de Nasser na operação de Suez em 1956. De facto, conseguindo
permanecer no cargo por 16 meses, o gabinete de Mollet foi o mais longevo da IVª República).
Nas memórias, Aussaresses relata suavemente que altos mandos em Paris, incluindo o Ministro da
Justiça François Mitterrand, estavam cientes e, portanto, pelo menos tacitamente aprovavam os
métodos. Aparentemente, a polícia metropolitana também empregou tortura contra suspeitos argelinos
na França59. Durante a década 60, a Vª República de De Gaulle proclamou várias amnistias para
acusados de crimes de guerra cometidos durante o conflito argelino. E em 1965 de Gaulle nomeou o
GEN Massu Comandante das forças francesas na Alemanha60.
As questões levantadas no conflito argelino repercutirão de forma retumbante à medida que o
terrorismo do séc. XXI ameaça populações metropolitanas do mundo com armas e objectivos
impensáveis há uma geração61. Não se pode prever como este fenómeno terrível afectará o tratamento
de terroristas conhecidos. Mas o ilustre estudioso de política internacional Walter Laqueur previu
“quando o terrorismo se tornar um perigo real, aqueles que o praticam não poderão mais fugir e se
esconder, mas serão tratados pelos atacados como bem entenderem, como hostis, o inimigo da
humanidade e, portanto, foras-da-lei”62.

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1958: Os Rebeldes do Exército
No final de 1957, o Exército estava claramente a derrotar os subversivos. Quase eliminou o terrorismo
nas grandes cidades e estrangulou a assistência externa aos guerrilheiros. O reagrupamento de 2
milhões de árabes rurais rompeu os laços da FLN com o campesinato e estava privado de comida,
recrutas e inteligência. Havia talvez 25 mil subversivos fora da Argélia, mas dentro só 15 mil (um
muçulmano em cada 600 pessoas). Rivalidades internas sangrentas dentro da FLN tornaram-se
públicas. No entanto, em parte por causa da agitação doméstica sobre a questão da tortura, os políticos
em Paris começaram a se acomodar com a FLN. Apesar do clamor quase histérico na imprensa e na
academia, há razões para acreditar que a opinião pública apoiou o Exército na Primavera de 195863.
Certamente, o eleitorado francês tinha pouca confiança ou lealdade à IVª República64. De qualquer
forma, profundamente amargurado com o que viu como traição por parte dos políticos do Vietname e
do Suez, incrédulo com a ideia de que o mais recente gabinete de portas giratórias em Paris jogaria
fora a vitória sobre a FLN, o Exército em Argel recusou-se a obedecer às ordens das autoridades civis
constitucionais (tal como de Gaulle em 1940)65. Em 09Mai, comandantes do Exército em Argel
telegrafaram ao Ministro da Guerra em Paris advertência velada de que o Exército não poderia deixar
o compromisso com os numerosos e vulneráveis muçulmanos pró-franceses. Em 13Mai,
manifestações maciças de colonos em Argel ocuparam os prédios do governo. A crise chegou ao
clímax em 24Mai58: unidades do Exército da Argélia desembarcaram sem oposição na Córsega,
demonstrando claramente o que poderiam fazer se fossem provocadas mais uma vez. Os políticos
capitularam: em 01Jun, o parlamento empossou Charles De Gaulle como o 25º (e último) P-M da IVª
República, armado com poderes de emergência que tinha exigido. De Gaulle então nomeou o GEN
Massu como Presidente de Câmara de Argel. Em 28Set58, de Gaulle submeteu a referendo a sua
proposta de constituição para a Vª República. O voto “sim” foi esmagador, inclusive na Argélia, onde,
apesar das ameaças da FLN, os eleitores muçulmanos compareceram em grande número, dando prova
clara de que o Exército estava lá no controlo e não a FLN.
Enquanto isso, sob o Comando do GEN Maurice Challe, a campanha militar acelerou contra os
guerrilheiros remanescentes. Este aumentou o número de unidades guerrilheiras, apoiadas por
unidades de soldados “batedores” leais argelinos (os “Harkis”: vid. infra) e adiu o número de
muçulmanos em uniforme francês, tornando-os a promessa pessoal de que a França nunca os
abandonaria. Movendo-se de Oeste para Leste, Challe perseguiu metodicamente os guerrilheiros
furtivos, levando-os cada vez mais perto da Linha Morice. Em Out59, a FLN faltava-lhes armas,
perdeu até 500 homens/dia (incluindo deserções) é reduzida às fases mais primitivas da guerrilha66.
No entanto, a Argélia francesa estava condenada. Como Napoleão, De Gaulle via-se herdeiro de
Carlos Magno, não de Luís XIV: na sua visão, a vocação e o destino da França estavam do outro lado
do Reno, não o Mediterrâneo. Decidido a criar a França militarmente poderosa, considerava a situação
argelina muito cara financeira e politicamente, De Gaulle avançou para a independência da Argélia67.
Alguns elementos do Exército na Argélia tentaram detê-lo pela força, mas, isolados da sociedade
francesa e até dentro do próprio Exército, falharam68. Centenas de Oficiais franceses deixaram o
serviço, foram demitidos ou foram para a prisão. A Argélia recebeu a independência em 04Jul62.
Num epílogo desagradável, alguns Oficiais e ex-Oficiais formaram a Organização do Exército Secreto
(OEA). Esse grupo, procurou a divisão da Argélia em áreas europeias e muçulmanas, tentou incitar a
guerra racial e a anarquia através da campanha de terror que rivalizou brevemente com a da FLN em
brutalidade, se mesmo em extensão. A OEA tentou várias vezes assassinar De Gaulle e num
paroxismo final de raiva e desespero voltou a sua violência contra o próprio Exército. Com a captura
dos últimos líderes em 1967, o facto, triste malformado findou69.

Os Harkis
Como em quase todas as guerras de descolonização, surge a questão: quem estava a lutar contra quem e
para quê? A triste história do argelino harkis ilumina as complexidades que assinalaram esses conflitos.
Como outras potências coloniais, a França há muito considerava desejável e possível recrutar
elementos indígenas para as forças armadas70. Durante a IªGM, 170 mil argelinos serviram no Exército
francês; muitos deles futuros líderes da FLN71. Na IIªGM, dezenas de milhares de argelinos
muçulmanos lutaram sob as cores francesas, do Norte da África à Alemanha.

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Estritamente falando, harki refere-se a unidades operacionais especiais organizadas pelo Exército; mas
tornou-se prática comum usar o termo para se referir a todos os argelinos muçulmanos que serviram sob
a bandeira francesa. As primeiras unidades harki no conflito argelino foram formadas em Nov54. Os
colonos estavam sempre preocupados em armar e treiná-los, mas em geral mostraram-se bastante
confiáveis. Sem dúvida, os muçulmanos se juntaram às forças francesas por várias razões; alguns eram
sem dúvida infiltrados da FLN. Mas “talvez a motivação significativa para recrutar o harki tenha sido a
vingança contra a violência da FLN”72. Uma autoridade notável afirma que 150 mil muçulmanos lutaram
no Exército”73. Outro estudo sobre o assunto grafa “de facto em 1961 havia mais argelinos a combater no
Exército do que na FLN”74. Qualquer seja a cifra exacta, “a presença de dezenas de milhares de
muçulmanos armados sob a tricolor deu credibilidade à reivindicação francesa de lutar pela Argélia e não
contra”75. A FLN conseguiu mobilizar menos um homem argelino em cada 200: “Vinte mil guerrilheiros
na população de 9 milhões [muçulmanos] dificilmente equivalem a nação em armas”76.
O destino desses harkis e famílias foi factor chave na revolta do Exército contra De Gaulle em 1961,
muitos soldados franceses relutavam em abandoná-los, pois tinham sido forçados a abandonar os aliados
no Vietname 7 anos antes. A propaganda da FLN para os harkis constantemente profetizava tal destino77.
Assim que De Gaulle reconheceu os subversivos como o grupo dominante na Argélia, a FLN e
adeptos recentes começaram a vingar-se daqueles que lutaram com os franceses. Esposas e filhos dos
harkis foram espancados, torturados e/ou estuprados nas ruas. As execuções, tanto oficiais quanto
improvisadas, ocorreram em todos os lugares. As estimativas do número de harkis mortos no rescaldo
da guerra variam de 30 mil a 150 mil78. As tropas francesas na Argélia que aguardavam o transporte
para casa receberam ordens explícitas de não interferir nesses massacres terríveis79.
Na época do acordo de paz, De Gaulle proibiu os harkis buscar refúgio na França. Porém, através dos
esforços de simpáticos Oficiais do Exército francês, 60 e 80 mil harkis e familiares conseguiram
chegar àquele país. De Gaulle ordenou que fossem reunidos e devolvidos à Argélia. Até mesmo aludir
o destino dos harkis era proibido nos círculos gaulistas. Ao longo dos anos, os harkis e as famílias
sobreviventes continuaram a chegar ilegalmente à França; a maioria confinada por anos a instalações
pouco melhores do que campos de concentração. Hoje, talvez 400 mil dessas pessoas e descendentes
têm vida muito precária, com taxas de desemprego surpreendentemente altas.
Até agora, vários regimes da Argélia independente mantiveram silêncio sobre o destino dos harkis
“pois tal brutalidade [sob os harkis] turva a imagem do maqui heróico da FLN [guerrilheiro]. A
questão harki foi ignorada pois as verdadeiras dimensões revelariam que a luta de 1954-1962 na
realidade foi guerra civil”80. De qualquer forma, ao longo dos últimos quarenta e tal anos, a República
argelina tem sido palco de combates internos em grande escala, incluindo disparos contra multidões de
civis pelo Exército argelino e o uso rotineiro de tortura contra suspeitos. Muitos harkis apontaram a
repressão política e o fracasso económico da Argélia como prova de apoio à França décadas antes.

Vítimas
Em entrevista colectiva de Out58, o PR De Gaulle afirmou que os combates na Argélia tiraram a vida
a 7 mil soldados franceses, 77 mil subversivos e 1 500 civis europeus e 10 mil muçulmanos81. Em
1962, a morte de militares franceses incluía auxiliares muçulmanos, atingindo circa 17.500 (6 mil não
combatentes), com outros 65 mil feridos. O Exército alegou ter abatido 141 mil subversivos, com mais
12 mil mortos em combates internos. As baixas civis europeias somaram pelo menos 10 mil. As
estimativas de civis muçulmanos (não harkis) mortos pela FLN chegaram a 16 mil, além de outros 50
mil “desaparecidos” resultado de sequestros da FLN82.

Reflexão
A Argélia não se tornou independente com a vitória dos subversivos. Pelo contrário, o fracasso militar
foi patente, e em mais lugar nenhum do que na Batalha de Argel. A independência foi resultado de
cálculos e manobras políticas e diplomáticas à escala global, na França, ONU, EUA e mundo árabe.
Dois factores políticos exerceram papéis primários e talvez decisivos. Primeiro a crescente oposição
na França metropolitana aos custos – financeiros, militares, morais e diplomáticos – de manter a
Argélia contra a vontade de o segmento medrante da população local que desejava livrar-se do sistema
colonial cujo tempo claramente tinha passado, ou aterrorizados para apoiar a FLN. Segundo as
aspirações de De Gaulle de dominar a emergente comunidade da Europa Ocidental, incompatível com

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o tradicional colonialismo africano da França. E como durante a IIªGM este acabou por estabelecer a
liderança sobre os grupos de resistência dentro da França ocupada, os políticos da FLN fora da Argélia
impuseram a primazia sobre os subversivos infelizes dentro dela83.

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IV. São Paulo 1965-1971 e Montevidéu 1963-1973

Durante a década 60, surtos de subversão rural varreram a América latina, inspirados pelo sucesso da
revolta cubana de Fidel Castro – ou melhor, pela compreensão grotesca falhada desse sucesso. O
fiasco retumbante desses esforços no campo, culminou na execução de Ernesto Guevara na Bolívia em
1967, virando os pretensos revolucionários para a guerrilha urbana 1.

O que Realmente Aconteceu em Cuba


Na década 50, Cuba estava nas garras do ditador Fulgêncio Batista. Essa figura decididamente pouco
carismática conseguiu antagonizar simultaneamente a Igreja católica e a comunidade empresarial e,
eventualmente, também o Departamento de Estado dos EUA. O regime era impopular, corrupto,
isolado foi apenas apoiado pelos mercenários, que se mostraram completamente inadequados.
Em 1956, Fidel Castro, advogado e filho de fazendeiro, desembarcou em Cuba à frente daforça
revolucionária de cerca de 80 membros. Ao encontrar unidades do Exército, Castro escapou para a
Sierra Maestra com algumas dezenas de sobreviventes. Empreende a guerrilha em pequena escala e a
guerra de propaganda em grande escala contra Batista, Castro prometeu, se vencesse, restauraria a
constituição democrática de 1940 e realizaria eleições livres.
Por mais impopular e pouco atraente o regime de Batista, o Exército de 15 mil deveria ter sido
bastante adequado para lidar com o bando castrista, mas, era na verdade, menos que um Exército mas
bando de extorsão uniformizado com pouco treino em contra-subversão, a liderança “desmoralizado
bando de Oficiais corruptos, cruéis e preguiçosos sem experiência de combate”2. Em dois anos de
combates inconstantes, o Exército sofreu a média de 3 mortes por semana, circa o mesmo número que
se poderia esperar que se perdesse a vida em acidentes de rua ou brigas de bar. Unidades inteiras
render-se-iam sem um tiro disparado. Então, em Mai58, o governo Eisenhower impôs embargo de
armas a Cuba. Essa recusa em vender armas ao que era então governo reconhecido internacionalmente
sinalizou a todos que Washington queria, ou pelo menos esperava que Batista caísse. Em 10Dez, o
Departamento de Estado dos EUA retirou o reconhecimento ao seu governo. Na véspera do Ano
Novo, Batista fugiu, embora grande parte do Exército ainda não tivesse empenhado na batalha. Assim,
o que aconteceu em Cuba foi muito menos vitória de Castro mas o colapso de Batista 3.
Então evidentemente, teria sido lógico e prudente esperar que as tentativas de derrubar outros regimes
latino-americanos que fossem mais populares, legítimos, competentes e/ou enérgicos pudessem ter
resultado muito diferente do caso cubano. Mas muito além dessa consideração vitalmente importante,
os aspirantes a imitadores de Castro prometeram não a democracia, mas o estado leninista, execuções
em massa e confronto disruptivo com os EUA; i.e., prometeram não o que Castro tinha prometido,
mas o que realmente cumpriu uma vez no poder, O regime de Castro tinha fuzilado grande número de
Oficiais do Exército cubano; apavorados e assustados com o espectáculo, corpos de Oficiais de toda a
América latina galvanizaram-se para enfrentar a ameaça castrista. Os Presidentes Kennedy e Johnson
ajudaram vigorosamente nesses preparativos com dinheiro, abastecimentos, inteligência e formação.
Previsivelmente, os esforços de exportar a revolução castrista foram frustrados em todo o espectro de
estados latino-americanos, de ditaduras a democracias4. Dos primeiros esforços teve lugar na
Venezuela entre 1960 e 1963. País liderado por Rómulo Betancourt, alcançou a presidência em 1958
através de eleição livre. O PC venezuelano lançou a subversão urbana para derrubar Betancourt,
apesar de representar menos de metade de 1 % da população e apesar da advertência de Guevara de
“quando o governo chega ao poder através de alguma forma de voto popular, fraudulento ou não, e
mantém pelo menos a aparência legalmente constitucional, a eclosão da guerrilha não pode ser
promovida, pois as possibilidades de luta pacífica ainda não se esgotaram” 5. Os subversivos,
principalmente universitários e até estudantes do ensino secundário, realizaram assaltos, atentados
terroristas e ataques de atiradores em muitas cidades venezuelanas. O tiro aleatório de polícias
vulgares, a maioria dos quais de famílias da classe trabalhadora, talvez fosse a maior falha dos
subversivos. À medida que as eleições presidenciais de Dez63 se aproximavam, os guerrilheiros
ameaçavam abater qualquer pessoa, mesmo mulheres e crianças, encontradas ao ar livre no dia da
eleição. A afluência às urnas, no entanto, atingiu os 91 %. Após esta humilhante rejeição, os

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subversivos voltaram-se para a guerrilha no campo. Para os ajudar Castro desembarcou alguns na
costa, mas a campanha mostrou-se inútil e em 1969, o mais tardar, todo o país estava livre de
actividade guerrilheira perceptível.
No extremo oposto do espectro político da Venezuela estava El Salvador. A partir de 1979, o governo
desse pequeno país enfrentou subversão guerrilheira liderada pela Frente Farabundo Martí de
Libertação Nacional (FMLN), cujo nascimento foi anunciado em Havana. O regime salvadorenho era
inegavelmente opressivo, mas a determinada solidariedade anticomunista unia fortemente as classes
alta e média e o Exército contra a FMLN.
Os Presidentes Carter e Reagan prestaram assistência ao Exército salvadorenho, enquanto sob pressão
de Washington, o regime avançava lenta mas visivelmente em direcção a reformas democráticas. Em
1992, com a supervisão das Nações Unidas, a maioria dos elementos da FMLN concordou em desistir
da violência revolucionária pela participação política. Os candidatos saíram-se mal nas eleições
observadas internacionalmente de 1944.
O único lugar em toda a América Latina onde os autoproclamados acólitos de Castro chegaram ao
poder foi a Nicarágua, quando em 1979, após anos de luta, os sandinistas pró-Castro substituíram a
cleptocracia isolada muito parecida com a de Batista. Houve, no entanto, pelo menos duas diferenças
muito notáveis entre os dois casos: o cubano e o nicaraguense. Primeiro, o Exército nicaraguense, bem
equipado e bem treinado, provavelmente o melhor da América Central. Os Oficiais estavam bem
cientes do destino do Exército de Batista. A luta, portanto, quase certamente teria continuado
indefinidamente, mas em Jul79 o governo Carter ajudou a negociar o cessar-fogo que incluía garantias
contra execuções em massa dos soldados do regime anterior. Segundo, adiferença notável entre os dois
casos foi esta: em 1990, os líderes superconfiantes do regime sandinista, intoxicados pela sua
propaganda, admitiram a realização de a eleição presidencial observada internacionalmente. O
candidato sandinista sofreu derrota tão retumbante quanto inopinada e experimentou outra rejeição
decisiva nas eleições de 1996.
Assim, os supostos revolucionários procuraram desenvolver a guerrilha urbana na América Latina
principalmente porque a subversão guerrilheira clássica no campo tinha falhado quase em todos os
lugares, ou mesmo não poderia ser tentada por causa das circunstâncias desfavoráveis. Houve, é claro,
factores contributos adicionais: os aparentes sucessos das guerrilhas urbanas em Chipre e na Argélia
influenciaram os revolucionários latino-americanos; todos começaram a perceber que a maioria dos
latino-americanos vivia dentro ou nos subúrbios das cidades (a América Latina tem talvez a maior
proporção de habitantes urbanos do mundo – mais de 75%)6; e, por último, mas importante, a maioria
dos pretendentes a guerrilheiros eram estudantes ou outros tipos citadinos, que não conseguiam
adaptar-se facilmente à vida no campo, nem de comunicarem efectivamente com os camponeses7.
Mas seja rural ou urbano, a ideia fundamental das subversões latino-americanas desde Castro é que a
massa de seguidores não é pré-requisito ou mesmo concomitante, da eclosão da violência
revolucionária. Em vez disso, o apoio em massa inevitavelmente se manifestaria como resultado da
acção armada do grupo guerrilheiro e dos esforços do governo para suprimir essa acção armada. Essa
abordagem da revolução ficou conhecida como foquismo 8. A guerrilha urbana replica os conceitos
fundamentais (e fraquezas) do foquismo: o núcleo armado substitui o partido organizado e actos
violentos criam condições revolucionárias9. Vale a pena repetir essas noções e acções fluíram delas
contradiziam radicalmente a análise e os conselhos de Clausewitz, Lenine e Mao (vid. Introdução).

Brasil
A guerrilha urbana eclodiu no Brasil após a tomada do poder pelas forças armadas em 1964.
Na América Latina, ao longo dos séculos XIX e XX, “frequentemente foi a própria constituição que
[deu] aos militares o direito, até mesmo a obrigação, de intervir no processo político sob certas
circunstâncias”10. Estudos sobre o papel das forças armadas brasileiras em assuntos políticos
desenvolveram o que chamam de “modelo moderador”. Nesse modelo, “os militares, em certo sentido,
assumem funções constitucionais análogas às da Supremo Tribunal dos EUA: [os militares] têm a
responsabilidade de preservar a ordem política e, portanto, são atraídos para a política em momentos
de crise ou controvérsia para vetar acções dos ramos 'políticos' do governo que se desviem do
essencial desse sistema”11 (até ao final do séc. XIX, esse papel do Tribunal Supremo ou Moderador era
prerrogativa do Imperador do Brasil).

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Entre os componentes-chave deste modelo de moderador:
1. A intervenção militar per se não é vista como aberração ou abuso, mas como fenómeno natural e
desejável em determinadas circunstâncias.
2. Tanto as elites civis como militares reconhecem a legitimidade da intervenção militar, mas não ao
regime militar prorrogado.
3. Todos os principais grupos civis procuram usar as forças armadas para os seus propósitos.
4. O principal aspecto do papel de moderador dos militares é verificar excessos do Chefe do
executivo ou simplesmente destituí-lo do cargo12.
As demandas de políticos civis e de outras elites para que o Exército desempenhe o papel de
moderador precederam sempre da sua intervenção nos assuntos políticos. Assim, “o golpe seria visto
como movimento do Exército com civis e não contra eles”13.

O Golpe de 1964
Em 1930 Getúlio Vargas, Governador do estado do Rio Grande do Sul, certamente foi quase vitorioso
na eleição presidencial, mas a máquina política entrincheirada que governou o Brasil nos 40 anos antes
decretou que este tinha sido derrotado. Com o apoio do Exército, Vargas derrubou a máquina e
assumiu a presidência. Estabeleceu a ditadura de falinhas mansas com notáveis semelhanças com o
regime de Mussolini, mantendo-se no poder 15 anos sequentes. Mas ao final da IIªGM, tornou-se um
constrangimento internacional para muitos brasileiros. O Exército sugeriu incisivamente a Vargas que
renunciasse, o que fez. Na eleição presidencial de 1950, no entanto, Vargas venceu com a maioria dos
votos, para profundo desânimo do Exército e classe média. Esse novo governo Vargas tornou-se cada
vez mais demagógico e anti-estadunidense. Após a tentativa de assassinato do proeminente político
anti-Vargas (jornalista Carlos Lacerda) nas ruas do Rio de Janeiro em 05Ago54, o Exército pela
segunda vez exigiu a renúncia de Vargas, após o que o Presidente se suicidou com tiro de pistola.
Em 1961, o Presidente eleito renunciou após passar alguns meses no cargo, e o Vice-presidente
“Jango” Goulart sucedeu-lhe. Este era a própria encarnação de tudo o que a classe média brasileira não
gostava e temia em Vargas, que tinha protegido e tenente. Pior ainda, a inépcia política de Goulart foi
de proporções deveras amazónicas. Abraçou publicamente o PC brasileiro e fez discursos inflamados
em comícios trabalhistas, enquanto presidia a inflação astronómica e declínio real no PIB do Brasil.
Incrivelmente tentou intrometer-se nas sacrossantas políticas de promoção do Exército e até encorajou
a indisciplina entre os Sargentos. A liderança do Exército agora temia que Goulart estivesse planear
tornar-se num Juan Perón brasileiro14. O fim veio logo depois quando ameaçou fechar o Congresso e
rever a Constituição, o mesmo documento sob cuja sombra poderia ter reivindicado protecção.
Políticos poderosos e grandes jornais clamavam agora abertamente para o Exército afastasse Goulart;
os governadores dos principais estados – São Paulo e Rio de Janeiro mobilizaram grandes milícias
próprias e bem equipadas contra o Presidente. Nos primeiros dias de Abr64, o Exército afastou
Goulart, e autorizado a atravessar a fronteira com o Uruguai são e salvo15.
Os apologistas das guerrilhas urbanas do Brasil culparam o golpe militar e do colete-de-força da
política normal pela eclosão da violência após 1964 16. Não havia alternativa, i.e., à revolta armada.
Pelo menos três problemas sérios surgem com essa explicação. Primeiro, o Golpe de 1964 estava na
tradição venerável da política brasileira (o “modelo moderador”) e nenhuma intervenção militar
anterior foi seguida por qualquer surto notável de subversão. Segundo, muitos dos organizadores ou
participantes da subversão urbana após o Golpe de 1964 foram membros do PC brasileiro ou
estudantes de técnicas de guerrilha comunista (ou ambos) por anos antes de 1964 17. Foi o caso da
figura mais conhecida da subversão, Carlos Marighella. Além disso, o regime militar continuou no
poder por muitos anos depois de a subversão urbana ter sido esmagada. Terceiro, o problema com a
teoria da rebelião provocada pela repressão decorre de dados eleitorais. Após o Golpe, os líderes dos
militares escolheram essencialmente o PR entre si. Mas, ao mesmo tempo excluíram da política alguns
políticos consideravam-nos particularmente responsáveis pelos problemas do Brasil, mesmo assim
permitiam eleições competitivas para outros cargos ocorressem com regularidade, eleições nas quais a
grande maioria dos eleitores brasileiros participou e geralmente vencidas por candidatos, partidos e
coligações favoráveis (no mínimo não hostis) ao regime militar. Nas eleições de Nov66 para o
Congresso, a coligação pró-governo obteve vitória substancial sobre a coligação de oposição18. O

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GEN Emilio Medici, Presidente de 1969 a 1974, manteve sempre altos níveis de popularidade pessoal,
pelo menos em parte porque o PIB do país crescia 11% ao ano19. Nas eleições de 1970 para a Câmara
Baixa do Congresso, os candidatos pró-governo acumularam 48% dos votos, enquanto a principal
coligação da oposição recebeu 21% e os votos em branco (presumivelmente votos de protesto)
totalizaram 21%20. Em 1989, na primeira eleição presidencial pós-restabelecimento do regime civil
pelos militares, o candidato conservador Collor de Mello derrotou o esquerdista Lula da Silva (que
chegou à presidência 13 anos depois). Assim, os guerrilheiros urbanos, ao tentarem causar a revolução
contra o regime eleitoralista, violaram uma das prescrições fundamentais de Guevara para subversivos.
Mas como os defensores e praticantes da guerra de guerrilha urbana já rejeitaram Clausewitz, Lenine e
Mao Zedong, ignorar Guevara deve ter parecido pecado menor.
De qualquer forma, não é descabido concluir que a tomada do poder pelos militares foi mais pretexto
do que a causa da subsequente subversão urbana ou terrorismo.

Marighella
Carlos Marighella é o mais conhecido dos guerrilheiros urbanos do Brasil. Nascido na Bahia em 1911,
descendente de escravos africanos da parte da mãe. Desistiu dos planos de se formar em Engenharia na
Universidade Politécnica de Salvador para ser activista comunista em tempo inteiro em S. Paulo.
Durante a década 30, imitando os expurgos de Estaline, perseguiu impiedosamente trotskistas
brasileiros. Fez campanha com sucesso para o assento no Congresso em 1946 e tornou-se membro do
Comité Central do PC em 1952. Visitou a China, onde estudou métodos de guerrilha maoistas. Na
esteira do golpe militar de 1964, os líderes do PCB assumiram a posição de que os esforços de
revolução violenta seriam prematuros21. Rejeita essa postura, Marighella deixa o partido em 1965 e
fundou o movimento de orientação de guerrilha urbana, a ALN (Acção de Libertação Nacional).
Na concepção de Marighella, as funções da guerrilha urbana eram bloquear as forças da ordem, atacar
o moral dessas forças através de assassinatos e fugas, mostrar à população que o regime era vulnerável
e até impotente e cometer ultrajes calculados que iria provocar o regime levando-o à repressão feroz,
que por sua vez alienaria a população. Mas de facto a repressão destruiu a organização de Marighella,
como se verá. A principal escrita de Marighella é o Minimanual do Guerrilha Urbano, que passou por
várias traduções, títulos e editoras. Nele, Marighella aceita o nome de terrorista para a organização e
estratégia. No esquema, a guerrilha urbana era preparatória para os surtos de guerrilha no campo, que
acabaria por se tornar o teatro decisivo (apesar de os guerrilheiros urbanos desviassem as forças de
repressão de se concentrarem contra a subversão rural). Os guerrilheiros urbanos também devem matar
todos os “agentes do imperialismo estadunidense”. Para Marighella, as vantagens dos guerrilheiros
urbanos eram o conhecimento do terreno, inteligência, mobilidade e surpresa. Deviam evitar a batalha
com as forças do governo (e, portanto, não seriam verdadeiros guerrilheiros, mas meros terroristas). A
sua visão era apocalíptica e totalmente despreocupada com o sofrimento que a campanha tentaria criar:
“O guerrilheiro urbano não tem medo de desmantelar e destruir o actual sistema económico, político e
social brasileiro, pois o fim é ajudar o guerrilheiro rural e colaborar na criação de estrutura social e
política totalmente nova e revolucionária com o povo armado no poder”.
Os seguidores, nunca numerosos, eram principalmente jovens de classe alta. “Conheciam Regis
Debray [“teórico” foquista] melhor do que a geografia brasileira”22. Roubavam bancos; atentavam
com bombas teatros, supermercados e prédios governamentais; e assassinaram Oficial do Exército dos
EUA, o CAP Charles Chandler.
No ambiente urbano, certas técnicas clássicas de contra-subversão, como a dispersão de grupos de
caçadores-assassinos de longo alcance em áreas conhecidas de guerrilha, são inadequadas. Mas o valor
da colecta de informações não pode ser subestimado. Infiltrados, desertores, informadores e confissões
de prisioneiros foram o fundamento da campanha contra-subversiva e contraterrorista brasileira. No
Brasil, como noutros lugares, os desertores às vezes eram motivados por divergências ideológicas e/ou
desespero pela falta de progresso da subversão, mas conflitos de personalidade e ciúmes também eram
copiosos e produziam informações muito valiosas para os contra-subversivos. A vigilância foi outro
pilar da campanha: as forças de segurança colocaram telefones sob escuta e abriram correio e vigiaram
parentes, amigos e contactos de guerrilheiros suspeitos. Prisões, interrogatórios e mais prisões
tornaram-se o impulso da contra-subversão no cenário urbano do Brasil. Então, em Jun69, a polícia e

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os militares paulistas introduziram a técnica de buscas massivas, detendo e interrogando literalmente
milhares de suspeitos ou possíveis informadores. A prática foi seguida logo noutras cidades.
O sequestro era, obviamente, importante arma insurgente, principalmente porque era relativamente
fácil. Mas os guerrilheiros fatalmente exageraram quando capturaram o embaixador dos EUA Burke
Elbrick em 04Set69. Exigiram ao governo libertasse os guerrilheiros presos. O governo atendeu às
exigências e Elbrick, por sua vez, foi libertado ileso. Mas as forças de segurança efectuaram uma
repressão verdadeiramente massiva: a grande rede de buscas resultou em 32 mil prisões. Informações
extraídas de guerrilheiros capturados nesta operação revelam o paradeiro do próprio Marighella, morto
a tiros nas ruas de São Paulo em 04Nov6923.
Durante e após a repressão da subversão, as alegações de que a polícia (geralmente) e os militares (às
vezes) torturaram terroristas conhecidos ou suspeitos generalizou-se. Sem dúvida, muitas dessas
alegações eram bem fundamentadas24. Um distinto estudioso dos assuntos brasileiros escreve que a
tortura física em interrogatórios era comum no Brasil durante todo o séc. XIX e durante o regime
Vargas (1930-1945), de facto o uso de tortura policial ou judicial lamentavelmente, tem sido particular
da maioria dos governos ao longo da história e bastante comum no séc. XX, principalmente no mundo
comunista25. Durante a década de 20, as forças do Estado Livre da Irlanda usaram literalmente s
persuasão física do IRA e este usou métodos semelhantes na Irlanda do Norte. Aqueles cientes de tais
práticas na Argélia francesa parecem ter sido bastante numerosos e incluíam pessoas em posições
muito altas (vid. supra a discussão sobre tortura na Argélia).
De qualquer forma, a morte de Marighella por si só não interrompeu completamente o terrorismo, em
parte devido à grande fragmentação dos grupos guerrilheiros urbanos no Brasil. Um dos maiores
desses grupos dissidentes foi o VPR (Vanguarda Popular Revolucionaria). Alguns membros da VPR
receberam treino em Cuba; pelo menos uma dessas pessoas tornou-se em informador valioso da
polícia26. Em 1967, o VPR atacou à bomba o escritório do Peace Corps no Rio de Janeiro. Em Mar70
sequestraram o Cônsul-geral japonês em S. Paulo, em Junho o embaixador alemão no Rio de Janeiro,
e em Dezembro, também no Rio, o embaixador suíço (matando-lhe o guarda-costas). Esses sequestros
desplotaram ruspas policiais em massa. No final de 1970, o VPR estava reduzido a 30 militantes.
Ao mesmo tempo (Out70), a polícia capturou e matou Joaquim Câmara Ferreira, com cerca de 80
anos, mas ainda assim designado sucessor de Marighella. O último dos principais líderes guerrilheiros,
CAP Carlos Lamarca da VPR (depois MR-8), foi morto na Bahia em Set71. A sua morte, para todos
os efeitos práticos, marcou o fim da guerrilha urbana no Brasil 27. Assim, “no início de 1972, os
guerrilheiros urbanos foram derrotados; a maioria morta; o resto na prisão ou exílio” 28.
O que conseguiram então, os guerrilheiros urbanos brasileiros? O pequeno e de curta duração Exército
de Libertação Simbiótico nos EUA do início dos anos 70 adoptou as tácticas criadas no Minimanual
de Marighella. O mesmo aconteceu com grupos terroristas na Alemanha Ocidental e na Itália29. Todos
tiveram fim funesto, com quase todos os pequenos membros fuzilados ou presos – não exactamente a
justificação retumbante para as ideias de Marighella. “No final, o principal efeito da guerrilha
[brasileira] foi fortalecer a mão daqueles que defendem maior repressão”30. Outros indicadores
reveladores da eficácia do episódio brasileiro: E. Bradford Burns, na magistral História do Brasil, obra
de 450 páginas, dedica exactamente dois parágrafos aos guerrilheiros urbanos e o estudo de 424
páginas de Timothy Wickham-Crowley sobre os guerrilheiros latino-americanos dedicam menos de
três linhas a Marighella31.

Uruguai
“Os Tupamaros [do Uruguai] foram os mais bem-sucedidos de todos os grupos guerrilheiros urbanos
latino-americanos”32. A definição de sucesso pode ser maravilhosamente elástica.
Os movimentos revolucionários parecem provocar resposta automaticamente simpática de muitos
quadrantes. “Em termos grosseiros, tendemos a trabalhar com a suposição de não existirem povos
maus, só governos ruins, e a própria ocorrência de violência revolucionária estabelece um julgamento
prima facie nas mentes a favor dos rebeldes e contra as autoridades” 33. A crença de o conflito interno
“irrompe naturalmente de condições social e economicamente intoleráveis – e só destas pode surgir – é
a arma de propaganda muito importante nas mãos dos proponentes da guerra revolucionária” 34. De
qualquer forma, os eventos no Uruguai da década 60 ilustram que o regime repressivo não é de forma
alguma condição essencial para o surgimento e desenvolvimento de uma subversão.

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A configuração
Durante a primeira metade do séc. XX, o Uruguai era sociedade estável e próspera, caracterizada por
eleições competitivas, sindicatos livres e sistema de bem-estar social generoso35. O povo tinha a maior
taxa de alfabetização da América Latina, com ensino gratuito em todos os níveis educacionais.
Durante décadas, a economia de exportação apoiada no gado proporcionou dos mais altos padrões de
vida da América Latina. Muitos imigrantes da Espanha e da Itália trouxeram aptidões valiosas,
ampliando a classe média. A Igreja, Exército e a aristocracia rural não exerceram a influência
praticada na maioria dos outros países latino-americanos. Dois partidos, os Blancos e os Colorados,
dominavam a política eleitoral, e a lealdade era cultural e interclassista, como na Colômbia. Em 1960,
quase metade da população vivia na capital de Montevidéu ou perto dela, onde a classe média
compreendia quase 2/3 dos habitantes36. Antes de 1973, o Exército, sem tradição de repressão, somava
só 9 mil numa população de 3 milhões. O período muito longo de paz social deixou as forças de
segurança uruguaias despreparadas para enfrentar o terrorismo organizado37.
O sistema de bem-estar do país incluía reforma antecipada na previdência social, com pensões muito
generosas para membros da burocracia estatal intumescida. Mas com o fim da IIªGM veio o declínio
acentuado no valor das exportações de animais do Uruguai. Na década 60, os aumentos dos preços e o
desemprego reforçavam-se mutuamente38. Em 1961, antes do aparecimento dos Tupamaros, Philip B.
Taylor, descreve o método uruguaio de administração como “ineficiência compulsiva”, escreveu que
“os amplos compromissos sociais do Estado, juntamente com as obsoletas restrições legais à iniciativa
privada, fizeram do país dos produtores de maior custo da América Latina. Portanto, não pode
competir por mercados estrangeiros para suas manufaturas... O país não é atraente para novos
investimentos estrangeiros ou domésticos importantes, e não é muito atractivo para o jovem
especialista ou profissional formado na universidade a precisar de emprego”39.
Mais da metade da força de trabalho era composta por funcionários do sector público; apenas 28%
trabalhavam na indústria e 19 % na agricultura40. Na década após 1963, o custo de vida aumentou 60
vezes. Em 1967, quando o PR Pacheco Areco toma posse, o Uruguai tinha a menor taxa de
crescimento e a maior taxa de inflação da América do Sul. Cortes nos benefícios e atrasos nos
pagamentos dos funcionários públicos produziram muita amargura, e empregados bancários alienados
ajudariam os tupamaros a praticar alguns roubos espectaculares41. De Jul-Set69, greves de bancários
fecharam quase todo o sistema bancário nacional (apesar da maioria dos sindicatos serem controlados
pelos comunistas que rejeitavam a violência tupamaro). Revelações espectaculares dos Tupamaros de
peculato sistemático em bancos e ministérios do governo, com os planos do PR Pacheco de tentar o
segundo mandato inconstitucional, agravaram a confusão política e os problemas económicos.

A Cosmovisão Tupamaro
Os tupamaros organizaram-se no final de 1962 início de 1963 sob a liderança de veteranos das greves
da beterraba no Norte do Uruguai. Adoptaram o nome de Tupac Amaru II, índio do séc. XVIII líder da
revolta anti-espanhola no distante Peru (a profunda desconexão entre esse nome simbólico e a
esmagadora população espanhola e italiana do Uruguai é muito reveladora.) O símbolo era a estrela
vermelha de cinco pontas do império soviético. Em 1965, escolheram o nome de Movimento de
Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T).
Apesar das origens estivessem na euforia após a vitória de Fidel Castro, os tupamaros geralmente
entendiam que o Uruguai não era local promissor para a estratégia do tipo maoista. Daí o abraço
ardente ao foquismo. Para estes, a revolução castrista triunfara como foco, e o sucesso cubano poderia
ser reproduzido em quase todos os países latino-americanos. Os tupamaros criticaram duramente os
PC latino-americanos pela sua inacção. É claro que os comunistas (geralmente) evitavam a subversão
porque acreditavam que na maior parte da América Latina não existiam situações revolucionárias
verdadeiras. Afinal, Lenine declarou:
A lei fundamental da revolução, atestada por todas as revoluções em especial pelas três revoluções
russas do séc. XX, é a seguinte: para a revolução ocorrer, não basta aos explorados e massas
oprimidas perceberem a obstáculo de viver à moda antiga e exigir mudanças; para esta ocorrer, é
essencial os exploradores não possam viver e governar dessa forma antiga. É somente quando as

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classes mais baixas não queiram viver desse jeito e as classes altas não podem continuar na antiga
ordem que a revolução pode triunfar. Esta verdade pode ser expressa por outras palavras: a
revolução é impossível sem a crise nacional afectar tanto os exploradores quanto os explorados42.
Ou seja, o golpe de estado bolchevique de Out17 só foi possível porque o Exército russo se
desintegrou após três anos de guerra convencional e o governo russo ficou isolado da ajuda aliada.
Nenhuma dessas condições essenciais prevaleceu no Uruguai (nem no Brasil) – muito pelo contrário.
Assim, todos os comunistas bem instruídos rejeitaram o foquismo como fórmula anti-leninista
desastrosa. Os acontecimentos mostrariam que análise comunista (ou pelo menos a posição) estava
correcta, mas os tupamaros rejeitaram-na de imediato. “[Os comunistas uruguaios] não entendem que
situações revolucionárias são criadas por acções revolucionárias”43. Os actos revolucionários incitam a
represálias do governo, expondo “a ilusão da democracia burguesa” e assim conquistariam a massa de
seguidores para os tupamaros.
Os tupamaros atribuíram a maior parte dos problemas do Uruguai aos estrangeiros, especialmente
britânicos e estadunidenses; eram exploradores por definição, porque lucravam com o comércio e o
investimento no Uruguai44. A solução para todos os males seria o marxismo-leninismo no modelo
soviético. Viam na URSS, China, Coreia do Norte, Vietname do Norte e Cuba como aliados prontos.
E esperavam a invasão do Uruguai pelo Brasil ou pela Argentina (ou ambos) para que pudessem
assumir o papel de defensores da nação46. Essa percepção incrivelmente inadequada das realidades e
possibilidades da sua situação sublinha dramaticamente o quão profundamente isolados estavam da
sociedade – de qualquer sociedade – onde os tupamaros realmente estavam.

Amostra de Análise Tupamaro


O principal guia ideológico e inspiração Tupamaro foi Abraham Guillén. Nascido em 1913 em
Guadalajara, Espanha, lutou nas fileiras anarquistas durante a Guerra Civil Espanhola e acabou por se
estabelecer na Argentina. Trechos de várias obras foram publicados como Filosofia do Guerrilha
Urbana, do qual derivam as citações seguintes47: “Nesta época planetária” explica Guillén, “o
proletariado estadunidense não se libertará da Wall Street até ser assistido na luta revolucionária pelo
proletariado latino-americano”48. “Durante a segunda metade do séc. XX, a guerra entre as duas
Américas [Norte e Sul] provavelmente emergirá da situação histórica e socioeconómica”49. Ou seja,
Guillén prevê a América do Sul unida em guerra contra os EUA, que também terá que enfrentar uma
revolução proletária interna. “A estadunidização da Europa com a ajuda dos eurodólares é exemplo
mais vergonhoso de colonização financeira que o mundo capitalista conheceu” 50. A IIªGM é claro, foi
só “uma guerra imperialista”, parte do “jogo político de poder de o fascismo-nazi e imperialismo
anglo-saxão”51. Redige sobre os tumultos na Europa no Mai68, Guillén diz que “os estudantes da
França, Alemanha, Itália, Bélgica, Espanha e EUA estão em estado de rebelião permanente [e,
portanto, aparentemente imortais?]”52. De facto, “a Segunda Revolução Francesa [os motins de 1968]
foi o evento sublime: o combate urbano de 11Mai, digno das grandes batalhas clássicas com falanges e
legiões. Ao todo, 75 carros foram incendiados… 72 polícias ficaram feridos”53.

Quem eram os Tupamaros?


Muitos estudos identificaram as origens de classe média e alta de líderes revolucionários em toda a
América Latina, os Tupamaros não foram excepção a esse fenómeno54. Apesar da filiação do
movimento contivesse alguns elementos criminosos e nativos argentinos, “no caso dos tupamaros os
quadros dirigentes e a maior parte das bases vieram das universidades, profissões liberais e da
juventude rebelde pequeno-burguesa... Há poucos trabalhadores ou camponeses nas colunas dos
tupamaros” 55. O fundador e líder supremo dos tupamaros, Raul Sendic, nasceu em 1925, filho de
latifundiário. Frequentou a Universidade de Montevidéu em Direito. O prisioneiro tupamaro médio na
década 60 tinha entre 25 e 28 anos56. Os “terroristas em sociedades democráticas” escreve Walter
Laqueur, “tendem a ser elitistas; sabem melhor do que as massas o que é bom para estas”57.
Entrevistas com seus líderes mostraram que geralmente são imaturos, narcisistas e sem sofisticação,
experiência mundana e capacidade analítica. A maioria dos tupamaros activos ou auto-identificados
eram fracassos reais na sociedade de várias maneiras, incluindo relacionamentos com o sexo oposto, e
assumiam postura de rejeitar a sociedade em vez de esta, os rejeitar58.

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Actividades dos Tupamaros
As fraquezas da força policial permitiram aos tupamaros tivessem tempo para se organizar e, em
seguida, realizavam algumas incursões ousadas com impunidade. Organizaram-se em “grupos de tiro”
de quatro ou cinco indivíduos, dos quais apenas os líderes conheciam membros de qualquer outro
esquadrão. O primeiro acto público tupamaro ocorreu em 1963; atacaram o Swiss Rifle Club de
Montevidéu, fugindo com muitas boas armas. Nos anos seguintes, ocasionalmente sequestraram um
camião de entrega de alimentos e distribuíram a comida em bairros pobres. Assaltaram bancos,
obtendo meios para subornar polícias, carcereiros e provas de corrupção em certos sectores bancários e
empresariais. Também sequestraram diplomatas estrangeiros, explosões à embaixada brasileira e os
escritórios do Partido Colorado, casas de funcionários do governo e Oficiais do Exército e mataram
polícias comuns que iam no autocarro para o trabalho ou nos giros. A reacção das forças de segurança
a esses actos foi muito branda em comparação com o que aconteceu sob desafios idênticos no Brasil e
nalguns outros lugares.
Em 29Mai70, com ajuda interna, um bando tupamaro tomou o quartel de treino naval em Montevidéu
por várias horas e levou muitas armas e explosivos. Então, em 09Ago, ocorreu o sequestro do
conselheiro de Polícia dos EUA, Dan Mitrione. O governo recusou-se a atender às exigências dos
subversivos em troca da libertação de Mitrione, enquanto milhares de polícias e tropas revistavam
Montevidéu sector por sector. Os tupamaros então assassinaram Mitrione, no país que há muito abolira
a pena capital. Por este acto, e subsequente assassinato de outros reféns, os tupamaros perderam
imagem vaga de Robin dos Bosques tornando-se em grupo temido e impopular. O assassinato de
Mitrione levou a buscas verdadeiramente cerradas; as “prisões” de tupamaros clandestinas, onde as
vítimas de rapto eram mantidas, resultaram na prisão de muitos subversivos, incluindo líderes-chave (a
tomada de reféns políticos deviam exigir a publicação de manifesto na imprensa ou reprodução de
discurso pelo rádio; matar um refém é quase sempre um erro caro). No entanto, estes ainda tinham os
meios para realizar alguns golpes espectaculares. Em Jan71, sequestraram o embaixador britânico,
Geoffrey Jackson, e prenderam-no durante oito meses. Ainda prenderam o Procurador-geral uruguaio
em Março. Mas naquele mesmo mês, depois de tomar conta de fábrica, um grupo tupamaro passou
horas a dar sermão aos trabalhadores reunidos, dando à polícia tempo suficiente para cercar o local e
capturar todos os envolvidos.
Então, em Setembro, a fuga em massa da prisão libertou muitos tupamaros e fez a polícia parecer
irremediavelmente incompetente. As condições prisionais no Uruguai, mesmo durante a subversão,
eram incrivelmente brandas; v.g., por meio de visitas de parentes e amigos, os presos tupamaros
mantinham contacto com a organização do lado de fora59.
As prisões são escolas nas quais os revolucionários se convertem e aprendem muito com os
criminosos profissionais sobre sigilo, roubo e sequestro. Assim, prender grupos de revolucionários
pode fortalecer a causa insurgente60. No Uruguai, porém, poucas coisas pareciam funcionar
previsivelmente, e a fuga da prisão acabou por prejudicar os subversivos. A organização tupamaro
enfatizava a independência das células activistas individuais e o consequente anonimato dos
tupamaros entre si. Mas na prisão muitos subversivos tinham-se conhecido; portanto, após a fuga, a
prisão de um tupamaro levaria à prisão de muitos outros. Além disso, a reintegração de líderes
anteriormente presos na organização provocou ciúmes e até traições.

O Desfecho
Os Tupamaros parecem ter recebido relativamente pouca ajuda externa, embora tenham feito
propostas a organizações sinilares na América Latina e noutros lugares61. Pelo menos um estudioso no
entanto afiança que obtiveram alguns fundos da China e Cuba e podem ter recebido a visita de Che
Guevara em 196762 (se tal visita tivesse realmente ocorrido, seria interessante saber o que Guevara
lhes disse, uma vez que violavam o seu aviso básico de tentarem fazer a revolução contra um regime
democrático).
O esforço tupamaro de expandir as actividades no campo em 1971 falhara. Enquanto isso, o governo
aumentava a pressão sobre os subversivos. Em Set71, diante dos esforços decepcionantes da Polícia, o
PR Pacheco colocou o Exército no Comando da campanha anti-tupamaro (o Exército não estava a ser
usado totalmente contra os tupamaros até 1972). Também impôs apagão de notícias sobre os

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tupamaros, duro golpe, porque a publicidade é “a força vital da guerrilha urbana” 63. O PR Bordaberry
solicitou ao Congresso para declarar o estado de guerra interna, ampliando a autoridade do Exército.
O Exército uruguaio era e permaneceu como força voluntária. Na década 60, era pequeno, mal
treinado e equipado. Em 1963, 1 % do orçamento nacional foi para o Exército (contra 26% em 1973)64.
Não possuía nenhuma força antiterrorista de elite, ainda que em 1968 a unidade especial, a Guarda
Metropolitana, tenha sido criada com a ajuda de conselheiros brasileiros e estadunidenses.
Às vésperas da massiva campanha militar de 1972, o ex-Chefe de Polícia estimou haver apenas 3 mil
tupamaros activos. Mas tanto a Polícia quanto o Exército careciam de informações boas sobre a
organização tupamaro. Assim como a Polícia, o Exército contava com buscas massivas e intrusiva
casa em casa, assustando e antagonizando muitos civis inocentes65 (lição clara do Uruguai e da Irlanda
do Norte é que as forças de segurança deviam observar a mais estrita rectidão ao revistar casas de
civis; apenas unidades especialmente treinadas e supervisionadas deveriam fazer esse tipo de acção).
Em contraste, os tupamaros penetraram facilmente no serviço civil, Polícia e até no Exército e,
portanto, os membros frequentemente conseguiam evitar serem apanhados em grandes ataques66. Os
capturados, a maioria dos quais não sabiam quase nada sobre a organização e conheciam poucos
outros membros, forneciam poucas informações. Ninguém parecia fazer nenhum esforço sério para
atrair desertores para o lado do governo. No entanto, tempos a tempos, tais pessoas apareciam. A
deserção de o grande líder no início de 1972 produziu novas informações valiosas, e na Primavera de
1972 deu-se grande limpeza em Montevidéu ao prender centenas de suspeitos, expôs esconderijos e
equipamentos, em geral, é desferido golpe duro na organização subversiva. Então, em Set72, o
Exército capturou o líder supremo dos revolucionários, Raul Sendic; com o golpe “os tupamaros
foram efectivamente liquidados”67. Em meados de 1973, a subversão deixou de ser visível, quase ao
mesmo tempo em que o esforço de guerrilha urbana brasileira se esvaía.

Reflexão
As experiências dos guerrilheiros urbanos no Uruguai e no Brasil expõem certos impedimentos
estruturais ao tipo de actividade revolucionária, especialmente, mas não exclusivamente, na América
Latina. Em primeiro, por causa do ambiente social desorganizado e medo fundado de estranhos, os
moradores de favelas não são alvos fáceis para a organização subversiva68. Em segundo, na maioria
dos casos, a esquerda legal ou tradicional já organizou a maioria dos organizáveis. Em terceiro,
embora o estado frequentemente esteja ausente nas áreas rurais, estará fortemente presente nas cidades
em especial na capital; portanto, os guerrilheiros são vulneráveis a prisões em massa, informações
dadas às autoridades por membros capturados ou desertores e trabalho policial eficaz em geral. E a
visibilidade e o equipamento do Exército regular, normalmente impediam nas áreas rurais,
transformam-se em vantagens nas cidades, onde dão às forças governamentais a aparência de poder
incontestável. Em quarto, ao estabelecer casas seguras, “prisões populares” e outras infraestruturas, os
guerrilheiros urbanos podem perder mobilidade e tornam-se vulneráveis a cordões de vizinhança e
buscas de casa em casa. Os verdadeiros guerrilheiros não defendem pedaços de relva. Quinto, a
localização geográfica de cidades como São Paulo e Montevidéu anula qualquer conjectura de erigir
santuários transfronteiriços ou receber assistência externa. Em sexto, por causa dessas desvantagens
urbanas, os subversivos devem colocar ênfase enorme na segurança e no sigilo. Devem ser invisíveis,
o que serve para isolá-los da sociedade e uns dos outros. A organização militar aberta separa os
subversivos do suposto eleitorado e reduz a capacidade de propagar questões políticas dirigidas a
animar o movimento revolucionário. O recrutamento de novos membros torna-se arriscado. A
comunicação torna-se difícil entre diferentes unidades e muitas vezes unidireccional.
Compartimentação – a organização e a existência pequenas células – tornam as operações em grande
escala perigosas ou impossíveis, não só por causa da comunicação deficiente, mas porque os
participantes não se conhecem mesmo de outros grupos na organização, ou quem está no Comando.
Por definição, os guerrilheiros urbanos devem operar em sigilo, mas “regra geral, quanto maior o
sigilo, maior a ineficiência da organização ou operação” 69.
Mas, além dos impedimentos estruturais ou esforços das forças da ordem, o fracasso das subversões
rurais e urbanas na América Latina derivou da inadequação de estratégias e tácticas. Os tupamaros
podiam roubar bancos e sequestrar civis em parte porque tanto a Polícia quanto o Exército eram
pequenos, inexperientes e ineficientes. Mas os subversivos nunca tiveram a capacidade de implantar

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grandes formações e atacar alvos difíceis. A análise levou-os a esperar que a própria violência causaria
revolta popular em massa, mas o elitismo e pequeno número separaram os tupamaros das populações
urbanas e rurais70. Desse isolamento surgiu a extraordinária proclamação tupamaro em 1970 de que
“acreditamos ter conquistado o apoio massivo do povo” 71. É claro, se tivessem tal apoio, então no
Uruguai democrático poderiam ter-se tornado em partido político poderoso e até vitorioso. Mas, na
verdade, estes “ainda não tinham conseguido dotar-se de uma base de massa”72. De facto, mesmo toda
a esquerda constitucional ou não-violenta obteve votos totais inexpressivos; assim, “não havia
nenhuma hipótese possível de a esquerda ganhar poder através de eleições”73. A única grande ligação
passageira dos tupamaros com a política eleitoral não teve sucesso. Na eleição presidencial de Nov71,
endossaram a Frente Amplio de esquerda. Essa coligação altamente diversificada, na qual os
comunistas eram o maior componente individual, recebeu apenas 18,3% dos votos74. Mais de 80% dos
votos naquela eleição foram para partidos tradicionais Colorado e Blanco.
Em essência, razão mais importante pela qual os tupamaros sofreram a derrota final foram
completamente incapazes de formular o plano realista para obter apoio popular. Sabiam no início da
década 60 que não podiam buscar o poder pelas urnas porque não tinham apoio popular; mas, nesse
caso, a opção para a violência urbana designou o seu destino certo.
Com a derrota dos Tupamaros, os líderes dos militares pressionaram cada vez mais o governo a
implementar reformas consideradas necessárias para resgatar o país de problemas. O fim convencional
do sistema democrático tradicional no Uruguai data do encerramento do Congresso pelo PR
Bordaberry em Jun73. Assim, assustou o Exército e a sociedade em geral e divulgou a corrupção entre
elementos da elite política, os tupamaros conseguiram a distinção de derrubar a democracia de décadas
do Uruguai. Assim, alguns observadores alertaram que os tupamaros mostravam a vulnerabilidade da
sociedade democrática à violência sistemática 75. No entanto, é preciso cautela ao comparar o Uruguai
com outras democracias; durante as décadas 70 e 80, os terroristas fracassaram retumbantemente nos
EUA, Itália e na Alemanha Ocidental. Se o terrorismo pudesse derrubar governos democráticos, Israel
teria caído meio séc. atrás. E de qualquer forma, o Uruguai voltou logo à vida política normal; na
eleição presidencial de 1984, a coligação de esquerda (cujos elementos não eram todos pró-tupamaro)
obteve apenas 21% dos votos.
Como distinto estudioso de guerrilheiros urbanos resumiu o conflito uruguaio: “Assim, o fracasso dos
tupamaros (julgados pelos próprios objectivos) reforça a visão da maioria dos comentadores – tanto
radicais quanto conservadores – de que governo determinado pode esmagar movimento de guerrilha
urbana, particularmente se o mesmo tiver o cuidado de dar pelo menos aparência de advertência às
queixas populares e legitimar a posição através de dispositivos tradicionais como as eleições” 76. E,
como o fracasso daqueles que procuraram exportar a versão da revolução castrista sugeriu o caminho
da guerrilha urbana, então o fracasso da guerrilha urbana ajudou a produzir a estratégia do Movimento
Sendero Luminoso do Peru, na verdade o retorno à formulação clássica de Mao de “cercar as cidades
pelo campo” – também fracassou.

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V. Saigão 1968

Baptizada com o nome do mês lunar de Tet, a Grande Ofensiva de Jan68, a maior operação lançada
pelas forças comunistas no Vietname do Sul com patrocínio norte-vietnamita. Foi o evento mais
aparatoso da guerra vietnamita. E foi a maior derrota sofrida pelos comunistas em todo aquele conflito.

A Génese e a Razão da Ofensiva de Tet


Em 1965, os EUA envolveram-se fortemente no que muitos estadunidenses a descreveram como
“guerra limitada”. Mas certamente não havia nada de limitado no lado comunista; o estado do
Vietname do Norte estava a operar em esforço total. Na Primavera de 1967, as perdas comunistas
atingiram níveis horripilantes. Hanói exigia que o povo sofresse taxas de baixas duas vezes maiores
que as dos japoneses na IIªGM. Em 1969, o GEN Vo Nguyen Giap, Comandante do Exército Norte-
vietnamita (NVA), disse em entrevista, entre 1965 e 1968, as perdas comunistas chegaram a 600 mil
numa população total vietnamita de talvez 33 milhões1. O moral entre os vietcongues (VC) liderados
pelos comunistas estava a ficar perigosamente baixo.
Em combate, de 1960 ao Verão de 1967, 13 mil estadunidenses foram mortos em acção no Vietname,
sensivelmente o mesmo número de estadunidenses caídos naquele período na queda de telhados de
casas, ou 1/5 de mortos anualmente nos EUA em acidentes rodoviários. A IIªGM reivindicou 48% do
PIB estadunidense; o conflito coreano levou 12 %. Mas em 1967, só 9% do PIB era para as forças
armadas, dos quais 1/3 para a guerra no Vietname2. No auge em 1968, o número de militares no
Vietname do Sul equivalia cerca de 1/3 de 1% da população total dos EUA. Em resumo, não é exagero
dizer “no final de 1967 os Aliados estavam a ganhar a guerra e os comunistas estavam a perder”3.
Diante de enormes perdas de pessoal e moral causadas pelo tremendo poder de fogo das tropas dos
EUA, o regime de Hanói concluiu que tinha de fazer algo radicalmente diferente para reverter o curso
da guerra: decidiu lançar vasta ofensiva surpresa, que causaria o colapso do Exército Sul-vietnamita
(ARVN) e simultaneamente desencadearia a revolta popular massiva contra o regime de Saigão e
aliados dos EUA. Em Jan68, o plenário do Comité Central do PC em Hanói declarou o objectivo da
grande ofensiva planeada para os feriados de Tet para “aniquilar e causar a desintegração total do
grosso do Exército fantoche, derrubar o regime títere a todos os níveis administrativos e colocar todo o
poder do governo nas mãos do povo”4.
Não há muitas evidências sérias para apoiar a crença generalizada posterior de que a Ofensiva de Tet
foi conscientemente direccionada à opinião pública nos EUA. “O objectivo principal da Ofensiva de
Tet era vencer a guerra instigando a revolta geral”; este conceito de revolta geral “representa a maior
contribuição vietnamita para a teoria [maoista] da guerra popular”5.
Em essência, a decisão de partir para a Ofensiva de Tet foi nada menos do que o reconhecimento de
Hanói de que a campanha de guerrilha contra o Sul tinha fracassado.

As Forças Opostas na Véspera (do Ano Novo vietnamita [Ano do Macaco]) de Tet
À medida que o ano de 1967 chegava ao fim, havia cerca de 400 mil guerrilheiros comunistas de
várias classificações dentro do Vietname do Sul. Os Batalhões da “força principal” mobilizaram mais
100 mil soldados, dos quais cerca de metade eram regulares do NVA6.
A opor-se-lhes estavam 409 mil soldados e fuzileiros navais dos EUA7. Quase todas essas tropas
serviram no Vietname por apenas um ano. Consequentemente, assim os militares dos EUA quando
começavam a adquirir conhecimento precioso do país e dos inimigos, eram enviados para casa.
Muitos, portanto, disseram, em vez de lutar na guerra dez anos, os estadunidenses lutaram na guerra de
um ano dez vezes. Esta fraqueza muito séria contra o inimigo indígena que vinha a travar guerra no
país há mais de duas décadas.
Além dos estadunidenses, havia dezenas de milhares de soldados de países terceiros, principalmente
sul-coreanos, mas igualmente tailandeses, australianos e outros. As forças dos EUA e de países
terceiros estavam no Vietname do Sul para ajudar o ARVN e as outras forças armadas do governo de
Saigão. ARVN era vinda dos mais de 300 mil vietnamitas que lutaram contra os comunistas de 1946 a
1954, seja em uniforme francês ou no Exército do imperador Bao Dai. Em 1954, no final da primeira
guerra do Vietname, essas forças igualavam-se numericamente às tropas sob o Comando do GEN
Giap8. À medida que a Ofensiva de Tet se aproximava, o governo de Saigão contava com 343 mil

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soldados regulares no Exército, Marinha, Fuzileiros navais e Força Aérea. Além destes, havia 70 mil
na Polícia Nacional e cerca de 300 mil em várias formações de milícias mal equipadas e treinadas9.
A ARVN tinha dos corpos de Oficiais com mais diplomas do mundo. Cinco por cento dos Generais e
14% de Oficiais de campanha possuíam doutoramento. Para se tornar Tenente no ARVN exigia pelo
menos um diploma do ensino secundário, obstáculo íngreme e caro na sociedade essencialmente
camponesa do Vietname do Sul. Como consequência, o Corpo de Oficiais da ARVN era fortemente
urbano e desproporcionalmente de origem setentrional (25 % em 1967) e católico (19 %). Os budistas
eram 59% da população do Vietname do Sul e 62% no Corpo de Oficiais10. Liderados por indivíduos
relativamente pouco familiarizados com a sociedade maioritariamente rural que defendiam, o ARVN
exigia que soldados recrutados servissem em postos distantes do lar, fardo grave para jovens
camponeses e chave para o súbito desmoronamento do ARVN em 1975. O ARVN era grande demais
para ser treinado adequadamente e drenou a mão-de-obra da Polícia e Governo civil. Após derrube do
PR Diem em 1963, o ARVN era a única organização nacional coesa no país. Assim, teve que assumir
cada vez mais o ónus de governar que tal responsabilidade acarreta e de lutar, com todos os problemas,
inclusive corrupção.
Na década 50, os instrutores do Exército dos EUA construíram o ARVN à luz das lições percebidas da
Guerra da Coreia. Portanto, o ARVN era a força convencional, limitada à estrada, lenta e dependente
da Artilharia. Fortemente dependente dos EUA para armas e munições (como o NVA estava para a
China e URSS). Como não recebeu a M-16 em quantidade até 1967 (e mesmo assim o fornecimento
era inadequado), o ARVN geralmente era superado pelo NVA e pelo VC. Essa dependência induzida
pelos estadunidenses de abastecimentos militares dos EUA um dia significaria a ruína do ARVN.
Apesar de todos e outros problemas, alguns observadores sustentam que a Divisão de Fuzileiros
Navais e a Divisão Aerotransportada do Vietname do Sul não tinham igual no NVA11. Na década 70,
Sir Robert Thompson com grande experiência classificou o ARVN perdia só para os exércitos
estadunidense e israelita entre as forças terrestres do mundo livre12. De 1960 a 1974, o número de sul-
vietnamitas em todos os ramos militares mortos em acção foi de 254 mil; 48 800 ocorreram entre 1963
e 1967. Durante o Tet, as baixas ARVN excederam as baixas estadunidenses, como acontecia todos os
anos desde 1961, e continuariam até ao final de 197513.
As taxas de deserção no ARVN foram altas, como entre o VC. Mas as taxas brutas de deserção
escondem o facto de muitos desertores do ARVN eventualmente retornaram à unidade original ou se
juntaram à milícia perto de casa (entre estes as taxas de baixas eram altas, mas as de deserção eram
baixas). Enquanto muitos desertaram do ARVN, muito poucos passaram para o inimigo, i.e., para o
lado comunista. Em contraste, entre 1963 e 1972, mais de 200 mil soldados inimigos desertaram para
o Vietname do Sul, principalmente vietcongues, mas também alguns NVA 14.
As deserções do ARVN precisam de ser contextualizadas. Recorde-se a batalha de Gettysburg, a maior
travada no continente da América do Norte. Às vésperas desse combate, o GEN Meade chegou para
assumir o Comando do Exército de Potomac, principal força de defesa da União. Esperava comandar o
Exército de 160 mil, mas encontrou apenas 75 mil disponíveis, porque 85 mil tinham desertado. Em
Dez63, a força autorizada de todos os Exércitos confederados era de 465 mil, mas 187 mil soldados
foram oficialmente listados como ausentes sem licença 15.

Por que Tet foi Surpresa


As forças aliadas (estadunidenses, sul-vietnamitas e países terceiros) certamente não estavam
preparadas para o tamanho e o alcance da Ofensiva de Tet. Mas foi possível manter em segredo os
preparativos para empreendimento tão grande? Na verdade, o registo histórico mostra que a surpresa
estratégica não é incomum. Consideremos a eclosão da Guerra Nipo-russa em 1904, a Ofensiva das
Ardenas em 1940, a Operação Barbarossa (1941), Pearl Harbor (1941), incursão Doolittle (1942), a
invasão da Sicília em 1943 (o maior desembarque aliado na IIªGM, próximo à Normandia), a própria
invasão da Normandia, a segunda Ofensiva das Ardenas (a “Batalha do Bulge”) (1944), o ataque
norte-coreano de 1950, o desembarque de MacArthur em Inchon (1950), a Guerra do Yom Kippur em
1972 e a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990. Todos esses empreendimentos envolveram
decepções bem-sucedidos em grande escala. Como se verá, a Ofensiva de Tet traria grandes surpresas
não só para aliados, mas também para Hanói.

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Os principais problemas enfrentados pelos comunistas no Vietname do Sul foram a mobilidade e o
poder de fogo estadunidense. Sempre desarmados, os comunistas, via de regra, encontravam as forças
estadunidenses apenas quando desejavam. Mas a grande ofensiva exigiria às forças comunistas
abandonassem as tácticas de guerrilha e adoptassem as convencionais; viriam à superfície, expondo-
se, em massa e em posições fixas, ao poder de fogo esmagador dos EUA e aliados. Além disso, os sul-
vietnamitas e os estadunidenses sabiam não haver nenhuma agitação civil massiva no horizonte;
acreditavam (em grande parte certa) que toda a conversa comunista de a revolta geral era só
propaganda e/ou pensamento positivo. E sem a ajuda de tal revolta em massa, qualquer ataque
convencional VC nas cidades seria quase suicida. Essa é exactamente a razão capital pela qual Tet
apanhou o GEN Westmoreland e tantos outros de surpresa: naturalmente não conseguiam aceitar que o
inimigo estava prestes a cometer erro tão catastrófico e irremediável 16. Nas palavras de Oficial de
inteligência do Exército dos EUA, “mesmo se tivéssemos obtido todo o plano, não seria plausível. Não
era credível para nós”17. E estudioso atento do caso concluiu: “Para os aliados preverem a Ofensiva de
Tet teriam de superar provavelmente o problema mais difícil que os analistas de inteligência podiam
enfrentar: reconhecer que o plano para a Ofensiva de Tet assentava num erro comunista”18.
Esse tipo de problema de inteligência não era novo. Tucídides escreveu que “na prática, sempre
baseamos os preparativos contra o inimigo na suposição de os seus planos serem bons. De facto, é
correcto não depositar esperanças na crença nos seus erros”19. Maquiavel advertiu que “o comandante
de Exército deve sempre desconfiar de qualquer erro manifesto que veja o inimigo cometer, pois
invariavelmente esconde algum estratagema” 20. Clausewitz observou “como regra, a maioria prefere
acreditar em más notícias do que nas boas notícias”21. Além disso, o cerco do NVA à Base da Marinha
em Khe Sanh (com a alarmante pseudoanalogia com Dien Bien Phu e a apreensão do USS Pueblo em
23Jan, distraiu severamente os estadunidenses de se prepararem para combater a ofensiva na qual não
acreditavam de qualquer maneira.
Porém, todos os tipos de inteligência, de prisioneiros de guerra, correios interceptados, aumento do
tráfego rádio e relatórios de agentes, indicavam que algo grande estava para acontecer. Em 18Dez67, o
GEN Earle Wheeler, CEM Conjunto, fez discurso no Detroit Economic Club no qual falou de possível
“Batalha do Bulge” vietnamita, mas a comunicação social ignorou o aviso22. Ainda assim, o GEN
Westmoreland considerou cancelar a tradicional trégua do feriado de Tet, mas funcionários do
governo Johnson dissuadiram-no. Em retrospectiva “o fracasso em cancelar o cessar-fogo foi de longe
a pior acção tomada pelos estadunidenses na véspera da ofensiva”23.
Ainda assim, o GEN Fred Weyand, Comandante das forças estadunidenses na IIIª Região Militar, que
compreendia Saigão, persuadiu Westmoreland a mover 13 Batalhões de tropas dos EUA para mais
perto de ou para Saigão na semana anterior ao início da Ofensiva. Consequentemente havia 27
Batalhões dos EUA na grande Saigão pouco antes do ataque. Esse reforço quase certamente salvou a
Base Aérea de Ton Son Nhut, entre outros lugares, da captura pelos comunistas24. Nas primeiras horas
do ataque, dois Batalhões Aerotransportados do ARVN também estavam em Saigão. No quinto dia da
ofensiva, o ARVN tinha dez Batalhões em Saigão, sem contar com milhares de polícias25.
A maior falha de inteligência da Ofensiva de Tet, no entanto, foi por parte de Hanói. O Politburo no
Vietname do Norte deu o sinal para a Ofensiva com base proclamada que o ARVN desmoronaria e a
massa da população civil revoltar-se-ia contra o regime de Saigão. Assumiu essa posição diante das
informações de inúmeras e confiáveis fontes dentro do Vietname do Sul de que nada disso aconteceria.
Além desse enorme e fundamental erro de cálculo, Hanói mudou a data para a abertura da Ofensiva de
30 para 31Jan. Muito previsivelmente, muitas unidades comunistas no Vietname do Sul não receberam
as notícias sobre a mudança e, assim, atacaram na data original definida. Essas acções prematuras em
grande escala alertaram os comandantes aliados de o inimigo realmente iria lançar a principal força.

A Luta em Saigão
Em 1954, Saigão tinha cerca de 550 mil habitantes. Em 1967, o número aumentou para 2,2 milhões,
com outro milhão nos subúrbios. Na véspera de Tet, a grande Saigão continha cerca de 1/6 da
população do Vietname do Sul. A cidade estava a menos de 64 km da fronteira cambojana, mas não
tinha sido palco de combates sérios desde o início da luta Franco-Vietmin em 1946.
Esta secção vai centrar-se nos combates em Saigão, mas durante a Ofensiva, as forças comunistas
atacaram simultaneamente 39 das 44 capitais de província, 72 das 242 capitais de distrito, o QG de todas

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as quatro Regiões Militares da ARVN onde o Vietname do Sul estava dividido e a antiga capital de Hue,
onde se tornaria o cenário de feroz combate convencional 26. Desde sempre o Vietname não era estado
policial, as forças aliadas não conseguiriam impedir a entrada em Saigão de unidades de choque VC e
sapadores (equipas de explosivos) disfarçados de turistas. No início, 25 Batalhões comunistas – talvez 14
mil indivíduos – reunidos na grande Saigão, com talvez outros 4 mil sapadores dentro da cidade
propriamente dita. Os principais alvos eram previsíveis: o Palácio presidencial, o QG da ARVN na Base
Aérea de Tan Son Nhut e do aeródromo, também a Base Aérea de Bien Hoa 26 km a Norte de Saigão, o
QG naval, a Estação de Rádio de Saigão, a principal prisão de Saigão, a embaixada filipina e a
embaixada dos EUA (quase todas as outras instalações dos EUA foram deixadas em paz). Unidades
especiais foram designadas para assassinar o PR Thieu, o director da Agência Central de Inteligência do
Vietname do Sul, o Chefe da Polícia Nacional, o Chefe da Polícia de Saigão e o embaixador dos EUA
Ellsworth Bunker. Muitas unidades VC activas em Saigão estavam disfarçadas de Polícia de Choque ou
outras forças de segurança; o VC que atacou o Palácio presidencial usava uniformes ARVN.
Praticamente nada funcionou de acordo com o planeado. Todas as unidades de assassínio falharam em
cumprir as missões. A força de ataque enviada para a prisão principal de Saigão nunca a alcançou. A
unidade de VC realmente entrou na Estação de Rádio, preparada para tocar gravações a anunciar a
revolta geral e a libertação iminente de Saigão; mas de acordo com o plano de emergência pré-
estabelecido, a energia eléctrica da Estação foi cortada e, portanto, não houve transmissão. Três
Batalhões VC atacaram a Base Aérea de Ton Son Nhut, mas retiraram com pesadas baixas27. Um
esquadrão suicida penetrou nos terrenos da embaixada dos EUA, mas foi logo aniquilado (do ponto de
vista da defesa de Saigão, a embaixada era o menos importante dos alvos VC, mas era de longe a
maior atenção, grande parte dela extremamente imprecisa dos OCS estadunidense).
Poucos dos guerrilheiros em Saigão tinha qualquer familiaridade com aquela cidade, ou com qualquer
cidade. Ao contrário dos subversivos de Varsóvia, Budapeste, Argel, Montevidéu, Belfast ou Grozny,
estavam a tentar lutar em território que não era só estrategicamente muito desvantajoso, mas era-lhes
completamente estranho. Consequentemente, muitas unidades compostas por jovens rurais perderam-
se facilmente nas ruas e avenidas de Saigão e, portanto, não conseguiram manter o ponto de reunião,
encontrar alvos designados e localizar ou identificar simpatizantes em potencial (muitos nortistas
feitos prisioneiros tinham 14 ou mesmo 12 anos, das primeiras grandes aparições do fenómeno
criança-soldado que se tornaria tão infame mais tarde em África; esses jovens facilmente entregavam
informações valiosas aos interrogadores). Ao mesmo tempo, unidades da reserva comunista fora de
Saigão estavam prontas a entrar na cidade, mas nunca chegaram porque no segundo dia da Ofensiva, o
GEN Westmoreland bloqueou as estradas e rodovias que levavam a Saigão28.
Repelidos ou expulsos dos objectivos, grupos guerrilheiros espalharam-se, muitas vezes a abrigar-se
aleatoriamente em prédios da cidade, onde foram isolados e depois eliminados. Vários VC procuraram
refúgio no hipódromo de Phu To e acabaram aí por serem abatidos. A tenacidade de alguns grupos,
tentaram manter as áreas capturadas sugere a crença na iminência da muitas vezes proclamada revolta
popular, que nunca ocorreu.
Estudiosos da Ofensiva de Tet situam o número de VC e NVA empenhados nos combates em todo o
Vietname do Sul em 84 mil. As mortes estimadas entre estes variam acima de 30 mil; uma autoridade
coloca parte de mortos ou capturados em 45 mil29. Milhares de outros ficaram feridos. As mortes em
combate estadunidenses somaram 4 mil, as dos sul-vietnamitas entre 4 mil e 8 mil. Mas, por mais
impressionante seja a assimetria estatística, é menos da metade da história. As perdas VC não foram só
excepcionalmente pesadas, mas “foram concentradas nos quadros de liderança política surgidos
durante o ataque. Na verdade, a Ofensiva de Tet para todos os propósitos práticos destruiu os VC”30.
Numa palavra, “os VC perderam o melhor de uma geração de combatentes da resistência” 31.

Por que os Vietcongues Falharam Saigão


Vários factores-chave se combinaram para produzir a derrota retumbante da Ofensiva de Tet. Entre os
mais importantes – na área de Saigão, a qualquer custo – estava a redistribuição de vários batalhões de
tropas dos EUA dentro e nos arrabaldes da cidade só alguns dias antes da revolta (como supracitado).
Não menos vital foi impedir as unidades comunistas fora da cidade, entrassem para reforçar o ataque.
Mas não menos decisivo foi o completo insucesso da insurreição civil prevista e a exibição

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inesperadamente robusta do ARVN. A contar absolutamente com a revolta popular e o colapso do
ARVN, os VC atacaram em vários lugares e, portanto, não era suficientemente forte em nenhum lugar.
“O objectivo primário da Ofensiva de Tet era vencer a guerra instigando à revolta geral”32. Mas esse
móbil estava muito além da possibilidade, seja em Saigão ou em todo o país, porque em 1968 grande
parte da população estava imune ou mesmo hostil aos apelos comunistas: católicos; refugiados do
Norte; a minoria chinesa; membros de poderosas seitas religiosas indígenas; classes empresariais e
profissionais urbanas; centenas de milhares de Oficiais, soldados, milicianos e polícias com os
numerosos parentes; funcionários dos governos sul-vietnamita e estadunidense; e os politicamente
descomprometidos. Muitos desses grupos eram especialmente numerosos dentro e à volta de Saigão
(em contraste, de acordo com fonte muito amiga do lado comunista, ainda em 1974 toda Saigão tinha
apenas 500 activistas comunistas)33.
A ausência de levantamento popular surpreendeu Hanói34. De facto, a falta de revoltas populares
massivas caracterizou não só Tet, mas também a Ofensiva da Páscoa de 1972 e até a invasão
convencional final em 1975, quando ficou claro para quem quisesse ver que tudo estava perdido 35.
Sobre o ARVN, o GEN Westmoreland disse mais tarde: “em geral, a Ofensiva de Tet foi a luta
vietnamita. Ao ARVN, outros membros das forças armadas sul-vietnamitas, milícia, Polícia Nacional
– pertencia-lhes a maior parte do crédito por reverter a Ofensiva. Alguns falharam – o comandante
ocasional provou ser incapaz; mas no geral, quando posto à prova decisiva, nenhuma unidade ARVN
quebrou ou desertou. Os sul-vietnamitas prescreveram totalmente a minha confiança”36.
Os apologistas da Ofensiva às vezes tentam explicar a ausência de revolta popular apontando o regime
de Saigão ser protegido pelo ARVN. A ser verdade, por que ninguém em Hanói pensou nisso antes?
(Ou quiçá o fizeram?) Além disso, o ARVN deveria colapsar ao primeiro sinal de perigo. Na hora
derradeira de crise, os Exércitos de Luís XVI, Nicolau II e do Xá do Irão fragmentaram; o mesmo
aconteceu com as forças treinadas pelos comunistas em Budapeste em 1956 e na Alemanha Oriental,
Checoslováquia e Roménia em 1989. ARVN não quebrou. Pelo contrário, “o profissionalismo e
firmeza do ARVN durante a Ofensiva de Tet surpreenderam não só o inimigo, mas os estadunidenses
e mesmo a si”37. De facto, O ARVN atingiu a maioridade durante os combates de 1968” 38. O
desempenho das unidades ARVN variou muito sob o ataque, “mas, em geral, a forte resistência foi
factor essencial no fiasco militar de Hanói”39. Depois de Tet, os EUA, começaram a dar ao ARVN
melhores armas M-16, a correspondente para a AK-47 comunista e muito superior às armas
automáticas antigas que o ARVN tinha recebido antes.
A incapacidade das unidades de reserva comunistas de entrar em Saigão para ajudar os subversivos
dentro da cidade não foi de forma alguma elemento menos importante no fracasso da Ofensiva. A
partir daqui surge a importante lição para a contra-subversão urbana:
As cidades que caírem rapidamente no caos devem ser isoladas da zona rural circundante. Qualquer
seja a principal fonte de tumulto urbano – insurreição, ataques terroristas ou simples anarquia –
reforços externos, abastecimentos ou simpatizantes devem ser impedidos de atingir os centros de
distúrbios urbanos. Se os reforços puderem ser mantidos nos centros urbanos, as unidades [inimigas]
ficarão sem munições, provisões e pessoal, pois as forças de segurança sistematicamente isolam e
neutralizam as bolsas de resistência40.

A Posteriori
Para os vietcongues, as consequências da Ofensiva de Tet foram profundas e permanentes. Don
Oberdorfer escreveu que “entre o povo vietnamita, as batalhas criaram dúvidas sobre o poder militar
comunista. O Exército de Libertação atacou no meio da trégua de Tet, quando o Exército do Vietname
do Sul estava de licença e, mesmo assim, conseguiu apenas incursões temporárias. Se os comunistas
fossem incapazes de tomar as cidades com ataque surpresa em tais circunstâncias, provavelmente não
conseguiriam fazer melhor noutra ocasião qualquer”41. Samuel Popkin nota que “aumentava a
percepção da loucura que os comunistas estavam a fazer e a ideia de que eram vencedores foi tão
esvaziada que as pessoas mudaram muito a forma como se sentiam”42. Ou, em resumo sucinto de
Douglas Blaufarb, depois de Tet “a população abandonou a causa VC” 43. Em reconhecimento dessa
mudança, seguindo Tet, o PR Thieu distribuiu centenas de milhares de armas para a milícia bastante
expandida. As deserções do VC, e também do NVA, atingiram o pico durante o ano após Tet 44.

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Mas mais do que a Ofensiva falhar; o mesmo com toda a estratégia de guerra. De acordo com fonte
muito simpática aos VC, “nunca mais se repetiu a estratégia de Tet de 1968”, porque “a Guerra
Popular, como bandeira acarretou o Partido através de uma geração de provações, acabou”45. A
Ofensiva de Tet de 1968 “foi o fim da Guerra Popular e, essencialmente, de qualquer estratégia
construída sobre a guerra de guerrilha e a subversão politicamente inspirada”46. Logicamente, a guerra
tornou-se cada vez mais um conflito convencional apoiado pelo Exército regular do Vietname do
Norte. E, à luz do fracasso inegável em reunir apoio popular durante Tet, tanto o VC quanto o NVA
ficaram notavelmente despreocupados em causar baixas civis entre os sul-vietnamitas.
O embaixador dos EUA Bunker telegrafa ao Presidente Johnson: “O inimigo sofreu maior derrota
militar”47. De facto, à luz das perdas dos subversivos e efeitos desastrosos que teve Tet na percepção
pública das habilidades e perspectivas, a Ofensiva de Tet foi a derrota mais desastrosa que [o lado
comunista] sofreu na longa guerra”48. Iriam passar 4 anos antes que os comunistas sentissem
recuperados o suficiente para lançar outra Ofensiva (na Páscoa de 1972, ataque massivo e
convencional do NVA, fracassou). Foi tão trágico, de facto, o efeito de Tet sobre os VC suscitou nas
fileiras acusações generalizadas de Hanói realmente organizou o VC para ser massacrado, para não ter
nenhum concorrente pelo poder quando um dia Saigão finalmente cair49.
No entanto, mal a explosão de Tet acabou quando elementos do Congresso dos EUA começaram a
expressar a opinião sobre a Ofensiva que de facto tinha sido desastre para o lado aliado e que os EUA
deveriam sair da guerra. Como foi possível que divergência tão colossal surgisse entre a realidade no
Vietname do Sul e a percepção nos EUA?

Interpretar Mal a História


Em 1994, o líder da maioria no Senado George Mitchell (D-Maine) afirmou que a indústria de notícias
dos EUA era “mais destruidora do que edificadora do que nunca”. O representante Barney Frank (D-
Mass.) disse a grande grupo de repórteres: “Celebram o fracasso e ignoram o sucesso. Nada sobre o
governo é feito de forma tão incompetente quanto à própria divulgação”50.
Supondo que estas afirmações de dois políticos estadunidenses experientes não sejam totalmente
descabidas, o que queriam dizer? Não querem dizer que, nas mentes de Mitchell e Frank (e talvez de
muitos outros), os jornalistas estadunidenses na capital dos EUA, onde conhecem a língua, cultura e as
regras do jogo, não informam correctamente o eleitorado dos EUA sobre os eventos da política
nacional? E, se tais declarações devem ser levadas a sério, é inadmissível suspeitar que jornalistas
estadunidenses no Vietname do Sul, não familiarizados com a história e culturas do Sudeste Asiático,
não versados na estratégia leninista, não familiarizados com tácticas de guerrilha, incapazes de falar
vietnamita ou mesmo francês e, portanto, dependentes de informadores de língua inglesa, incluindo
agentes norte-vietnamitas51 – é inadmissível suspeitar das denúncias feitas por essas pessoas nem
sempre tenham sido de grande qualidade, incluindo denúncias sobre a Ofensiva de Tet? De facto, o
desempenho mediático noticioso dos EUA durante este episódio, e de facto durante grande parte da
Guerra do Vietname, recebeu críticas severas de jornalistas profissionais nos anos seguintes. Entre eles
estava Peter Braestrup, Editor-chefe de Saigão do Washington Post de 1968 a 1973; Don Oberdorfer
do Washington Post; o apresentador do noticiário da ABC, Howard K. Smith; e Robert Elegant, antigo
Editor da Newsweek e vencedor de três prémios Overseas Press Club.
As dificuldades de os jornalistas estadunidenses tiveram em reportar eventos no Vietname remontam
pelo menos ao governo do PR Ngo Dinh Diem. Muitos repórteres estadunidenses em Saigão não
gostavam abertamente de Diem, culpavam-no de falhas pessoais percebidas por todos os problemas
que afligiam o Vietname do Sul. O GEN Maxwell Taylor, CEM Conjunto sob o Presidente Kennedy e
embaixador no Vietname do Sul sob o Presidente Johnson, grafou sobre a “vingança em grande
escala” dos jornalistas estadunidenses contra Diem: “Para mim, foi espectáculo sóbrio do poder de
relativamente poucos jornalistas jovens e inexperientes [David Halberstam do New York Times, tinha
29 anos durante a crise de Diem] que, abertamente comprometidos em 'apanhar' Diem... não ficaram
satisfeitos em relatar eventos da política externa, mas empenharam-se em adaptá-la”52. O Secretário de
Estado Adjunto Manning queixou-se ao Presidente Kennedy sobre a “hostilidade dos correspondentes
ao governo Diem”53. Quando monges budistas começaram a imolar-se à frente do Palácio presidencial,
muitos jornalistas dos EUA insistiram que Diem tinha de ser removido do poder. Os leitores de jornais
estadunidenses nunca suspeitariam que os budistas suicidas criassem muito mais agitação em

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Washington do que no Vietname do Sul e tais casos ocorreram também sob o domínio francês54. De
facto, as imolações monásticas aumentaram em frequência após o assassinato de Diem em Nov63,
mas o governo e os OCS dos EUA acabaram por ignorá-los. Em síntese de todo este episódio
vergonhoso, o embaixador no Vietname do Sul, Frederick Nolting, informou ao Presidente Kennedy:
“Não tenho dúvidas de os meios de comunicação estadunidense desempenharam papel importante em
minar a confiança dos EUA no governo Diem” 55.
O Vietname do Sul foi o país devastado tanto pela guerrilha insurgente quanto pela invasão
convencional (através da Rota de Ho Chi Minh)56. Além disso, o auge numérico, as forças armadas
estadunidenses no Vietname do Sul seria o equivalente a mais 9 milhões de tropas estrangeiras nos
EUA em 2007. E estas eram muito jovens e, para a maioria dos vietnamitas, fabulosamente ricos.
Toda a corrupção resultante, bem como cobardia e incompetência, no Vietname do Sul eram visíveis
aos jornalistas estadunidenses; o Vietname do Norte não estava disponível para escrutínio idêntico,
mas ninguém parecia compreender as consequências dessa assombrosa assimetria.

A Ofensiva de Tet nos Meios de Comunicação


Muitas vezes ouvimos a observação de o Vietname foi “a primeira guerra televisionada”. O televisor
“aumentou o poder e a velocidade dos fragmentos da experiência, sem aumentar o poder e a
velocidade da crítica racional”57. Consequentemente, de acordo com Henry Kissinger, “abriu-se a
lacuna entre a informação e conhecimento e, além disso, entre conhecimento e sabedoria”58. O repórter
veterano do Washington Post, “a televisão registou os pontos altos do drama e da tensão, realizou-os
em histórias de dois ou três minutos onde retinham ápices mais emocionantes, transmitindo-os à volta
do mundo e contou para o público estadunidense em todo o país. É provável o espectador regular dos
programas de Cronkite ou Huntley-Brinkley tenha visto mais acção de Infantaria durante o período
mais longo de dias do que a maioria das tropas estadunidenses estacionadas no Vietname durante a
Ofensiva de Tet59. As análises académicas essenciais sérias do conflito do Vietname concluíram que o
“retrato taciturno da violência e sangue, e de soldados estadunidenses aparentemente à beira do
desastre contribuiu claramente para a desilusão com a guerra”60.
Embora o fracasso do Exército sul-vietnamita em se separar tenha sido fundamental para a derrota dos
objectivos de Hanói em Tet, nem a Newsweek nem a Time publicaram um único artigo sobre o ARVN.
Howard K. Smith, apresentador do noticiário da ABC, disse mais tarde: “As baixas VC foram cem
vezes mais que as nossas. Mas nunca dissemos isso ao público”61. O único Prémio Pulitzer em toda a
guerra foi para a fotografia do Chefe de Polícia de Saigão a executar um VC capturado na rua.
Estampada em todas as primeiras páginas dos jornais dos EUA, esta ilustração gráfica das condições
em Saigão naturalmente perturbou os milhões de estadunidenses. Ninguém se preocupou em explicar
que durante toda a Ofensiva, em especial Saigão, terroristas VC atacaram deliberadamente as mulheres
e filhos de Oficiais da ARVN e pouco antes de a foto ser tirada o Chefe de Polícia viu os corpos de a
família de seis crianças massacrados pelo VC prisioneiro em quem dispararia a sangue frio62.
Peter Braestrup, Editor-chefe de Saigão para o Washington Post durante e após-Ofensiva, disse que “a
Newsweek [tomou] a decisão interna de tomar a posição formal contra a guerra. A revista não separou,
mas uniu de perto, facto e opinião”63. Dada a “propensão dos jornalistas estadunidenses para a
autoprojecção e análise instantânea”, naturalmente “presumiam as reacções médias sul-vietnamitas [ao
Tet] eram as dos comentadores estadunidenses”64. Previsivelmente, os “escritores da Newsweek em
Nova Iorque, como jornalistas noutros lugares, buscavam e davam explicação e dimensão instantânea
de desastre – elucidavam o leitor mais do que os próprios escritores sabiam, ou poderiam saber” 65.
Durante Tet, tanto a Associated Press quanto os serviços da UPI informaram que elementos VC
ocuparam cinco andares da embaixada dos EUA. Quando o GEN Westmoreland e o Presidente
Johnson negaram esses relatos perceptivelmente falsos, grande parte dos meios reagiu com desprezo e
cepticismo66. Robert Elegant, editor da Newsweek, escreveu mais tarde, “a imprensa consistentemente
aumentou as deficiências dos aliados e mostrou tolerância quase santa para com os crimes de Hanói
que não poderia desconsiderar nem negar”67. O The Economist acusou os repórteres dos EUA de
aceitar todas as alegações feitas pelos VC ou Hanói68. De Hanói, o jornalista veterano, Harrison
Salisbury enviou ao New York Times histórias terríveis de supostas atrocidades de bombardeamentos
dos EUA – histórias entregues directamente pelo governo do Vietname do Norte69. E, peça final, o

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principal provedor de notícias e análises sobre a guerra para a revista Time provou ser Oficial do
Exército Norte-vietnamita70.
“Raramente” escreveu Peter Braestrup, “a crise do jornalismo actual acabou, em retrospectiva, ter-se
desviado muitíssimo da realidade. Essencialmente, os temas dominantes nas palavras e no filme do
Vietname (retransmitidos em comentários, editoriais e muita retórica política doméstica) somavam o
retrato de derrota para os aliados. Pelo contrário, os historiadores, concluíram que a Ofensiva de Tet
resultou em grave revés político-militar para Hanói no Sul. Retratar tal revés para um lado como
derrota para o outro – numa grande crise externa – não pode ser considerado triunfo para o jornalismo
estadunidense”71.
Diante de toda a confusão, faltava ao Presidente Johnson a aptidão – ou vontade – para explicar Tet, e
todo o propósito dos EUA e o próprio povo. Johnson não era Winston Churchill, nem FDR, nem
Ronald Reagan, e não conseguiu agregar o povo estadunidense. Assim, “a maior vítima da má
divulgação do Tet pelos OCS foi o próprio Presidente”72.
E se as atitudes e práticas dos OCS dos EUA no Vietname estiveram em vigor durante a IIªGM? Será
que a surpresa completa da furiosa segunda Ofensiva das Ardenas de Hitler, chamada Batalha do
Bulge, teria sido citada como prova de que as garantias do Presidente Roosevelt sobre a derrota
iminente da Alemanha nazi eram mentiras? A carnificina infligida aos navios e marinheiros dos EUA
pelos primeiros ataques kamikazes em massa em Okinawa teria sido usada para mostrar que a guerra
contra o Japão era invencível? Durante e após a custosa batalha em Guadalcanal, o povo estadunidense
estaria disposto a lutar até a vitória final diante do tipo de cobertura jornalística que apresentou o
desastre comunista de Tet como desastre para os estadunidenses e sul-vietnamitas?73
E Tet não foi a única grande história que os colossais meios erraram naquele ano. Em Mar68, nas
primárias democratas de New Hampshire, o Senador Eugene McCarthy, Minnesota, fez campanha
oponente ao Presidente Lyndon Johnson e do envolvimento dos EUA no conflito do Vietname.
Quando os votos foram contados, o Presidente Johnson tinha 49,6% e McCarthy 41,9%. Imediatamente
os comentadores declararam McCarthy tinha conquistado uma vitória “moral”, porque o número de
votos foi “maior do que o esperado”. Logo a palavra “moral” foi abandonada e os meios de
comunicação falaram e escreveram simplesmente sobre a “vitória” de McCarthy em New Hampshire:
derrotara um Presidente em exercício do próprio partido concorrendo como candidato antiguerra.
Esta interpretação convenceu Bobby Kennedy que politicamente era-lhe segura para entrar na corrida
presidencial na plataforma anti-Vietname. Contribuiu também a decisão do Presidente Johnson de não
se recandidatar. Assim, a “vitória” de McCarthy em New Hampshire mudou a história.
Muito poucos tentaram apontar somente o nome do Senador McCarthy tinha aparecido na votação
primária de New Hampshire; i.e., o Presidente Johnson tinha vencido as primárias por votação escrita
[designado por write-in vote, significa que o candidato pode ser eleito depois de o nome ser colocado
no boletim de voto pelos eleitores], evento extremamente incomum nas eleições dos EUA. Além
disso, estudos subsequentes do eleitorado revelaram muitos eleitores que se autodenominavam “contra
a guerra” indicavam aparentemente opor-se à maneira ineficaz como o Presidente Johnson estava a
travar a guerra no Vietname. Estas pessoas superavam os verdadeiros eleitores da “paz” em cerca de
três para dois. E a variedade daqueles que votaram em McCarthy nas primárias democratas de Março
votaram no governador do Alabama, George Wallace, nas eleições de Novembro74. Essa foi a grande
vitória antiguerra de McCarthy.

Reflexão
De qualquer forma, embora muitos estadunidenses aceitassem a visão de Tet ter sido grande catástrofe
para o lado aliado, os sul-vietnamitas lutaram por mais de 7 anos – mais do que todo o período da
IIªGM – e sozinhos nos últimos 2 anos e meio. “Em 1972, as Divisões Primeira de Infantaria,
Fuzileiros navais e Aerotransportados [do Vietname do Sul] eram três das melhores do mundo”75.
Nesse ano, o Vietname do Sul derrotou outra Ofensiva comunista desta vez travada não por
guerrilheiros, mas pelo Exército regular do Vietname do Norte, equipado com armamento sino-
soviético. Para finalmente capturar Saigão a 30Abr75, o Exército Norte-vietnamita lançaria a maior
invasão convencional vista no continente asiático desde a intervenção chinesa na Guerra da Coreia,
contra o Vietname do Sul que tinha sido abandonado pelos aliados estadunidenses.

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VI. Irlanda do Norte 1970-1988

O Exército Republicano Irlandês é “a organização revolucionária mais antiga, continuamente em


operação e malsucedida do mundo”1. O esforço mais recente do IRA (não confundir, é claro, com o
Exército da República da Irlanda) envolveu o sequestro parcialmente bem-sucedido de o movimento
legítimo de direitos civis pelos autoproclamados revolucionários do dissidente Exército Republicano
Irlandês Provisório – os “Provos”. O principal teatro da actividade dos Provos foram os centros
urbanos da Irlanda do Norte, especialmente Belfast, mas a violência espalhou-se pela fronteira para a
República da Irlanda, para a própria Inglaterra, para o continente e até para os EUA.
Nota sobre a terminologia: era prática comum nos OCS dos EUA descrever os partidos rivais na
Irlanda do Norte como “protestantes” e “católicos”. Esses termos nem sempre foram incorrectos e
serão usados aqui quando apropriado. Mas o recente conflito prolongado naquela província infeliz foi
mais ou menos um conflito intenso e copioso do que estritamente confessional2.

Terra Atormentada
Muito dos problemas contemporâneos da Irlanda do Norte tem raízes na recusa da grande maioria do
povo irlandês em aceitar a Reforma inglesa. A essa origem fatídica pode-se traçar o latifúndio inglês
ausente, plantio de colonos calvinistas escoceses nos condados do Norte da Irlanda e o período de
fome em massa e emigração da década de 1840, às vezes chamada de Grande Fome. Para aliviar esse
fardo opressivo de miséria, a campanha pela Autonomia da Irlanda (ou Irish Home Rule [não pela
independência]) ganhou impulso no séc. XIX, apenas para fracassar sob o PM Gladstone na década de
1880 e novamente nas vésperas da IªGM3.
No início dessa guerra, surgiu na Irlanda a organização comprometida com a independência nacional
através de revolução armada – o Exército Republicano Irlandês. A Rebelião da Páscoa de 1916 é o
grande ícone do IRA. Na realidade, essa revolta ocorreu principalmente nas ruas de Dublin, com
relativamente pouco apoio em toda a Irlanda, ou mesmo na capital. Mas a forma dura de repressão e
subsequentes penas de morte produziram simpatia pelos rebeldes e recrutas do IRA. Eamon De
Valera, um dos líderes capturados da Rebelião, escapou por pouco da execução por causa de ter
nascido nos EUA4.
Em 1900, o jornalista Arthur Griffith, tornar-se-ia um dia o primeiro PR do Estado Livre Irlandês,
fundou a organização nacionalista Sinn Féin (“Nós Mesmos”). Nas eleições de Dez18 para a nova
Câmara dos Comuns britânica, havia 105 distritos eleitorais irlandeses, dos quais o Sinn Féin ganhou
73, com 46,9% do total de votos irlandeses. Recusando-se a ocupar os assentos em Westminster, os
parlamentares eleitos do Sinn Féin reuniram-se em Dublin e declararam o parlamento da república
irlandesa independente, como PR De Valera. Este corpo revolucionário supervisionou nominalmente a
luta armada que se seguiu, durou até o final de 1921 (durante o conflito, a notória organização
paramilitar britânica conhecida como Black and Tans ou Dúchrónaigh [Preto e Castanho-
claro/Bronze] fez lamentável e ainda inesquecível registo).
Em Dez21, o tratado de paz anglo-irlandês divide a Irlanda: 26 dos 32 condados da Irlanda
constituiriam “estado livre” dentro da Comunidade Britânica, enquanto 6 dos 9 condados da província
de Ulster continuariam unidos à Grã-Bretanha5. O novo Parlamento irlandês, eleito em 1921, aprovou
o tratado após debate apaixonado com a votação de 64 contra 57. Em Junho seguinte, as eleições
parlamentares irlandesas retornaram 58 membros pró-tratado do Sinn Féin, 36 anti-tratado Sinn Féin e
34 outros, todos estes últimos pró-tratado. Dos 620 mil votos expressos naquela eleição, os candidatos
do Sinn Féin anti-Tratado, ganharam apenas 134 mil6. Mas a eleição foi o prelúdio da guerra civil.

Guerra Civil 1922-1923


Os seguidores de De Valera no IRA e no Sinn Féin rejeitaram o Tratado que Michael Collins tinha
negociado e assinado, e dois parlamentos irlandeses eleitos ratificaram-no7. Aos seus olhos, a minoria
protestante, compreendia 20 % da população da Irlanda, não tinha direito a veto sobre os desejos dos
80% restantes por uma república unida e independente. A sua posição possuía méritos. Além disso, e
igualmente importante, os seguidores de De Valera não juraram fidelidade ao Rei da Grã-Bretanha
exigido de todos os membros do parlamento do Estado Livre. Em vez de aceitar a necessidade

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temporária do Estado Livre como trampolim para acordo mais aceitável (posição de Collins), os
intransigentes republicanos mergulharam o país em guerra civil que durou de Jun22 a Abr23.
Embora breve, o conflito foi sangrento e cruel. As forças armadas do Estado Livre e os rebeldes do
IRA tratavam com crueza impressionante, não só matando uns aos outros, mas infligindo
deliberadamente feridas incapacitantes e muitas vezes castraram prisioneiros. As forças do Estado
Livre mataram mais homens do IRA em 1922-1923 do que os britânicos durante o conflito de 1919-
1921 e fuzilaram mais prisioneiros do IRA (cerca de 73) do que os britânicos8. Ao todo circa 4 mil
pessoas morreram no conflito de 1922-1923, mais do que em todo o período desde a Rebelião da
Páscoa até o tratado de 1921. Entre as vítimas estava Michael Collins, principal organizador da
resistência antibritânica em 1916 e então Comandante do Exército do Estado Livre, assassinado por
atiradores do IRA em Ago22. Além disso, muitas obras de arte inestimáveis foram destruídas. “A
campanha dos irregulares [IRA] tornou-se em guerra de guerrilha, gerando actos de destruição e
crueldade de ambos os lados dos quais a nação não se recuperou por 50 anos”9.
Durante a guerra civil, os bispos católicos da Irlanda colectiva e publicamente condenavam os
membros do IRA que lutavam contra o Estado Livre e proibiu os padres de lhes darem os sacramentos.
Em 1931, o episcopado irlandês acusou colectivamente o IRA de querer impor o sistema soviético à
Irlanda. Outras denúncias colectivas dos bispos ocorreram em 1934 e 1935, e bispos individualmente
lembraram às congregações que a participação simultânea no IRA e na Igreja católica era
inadmissível, postura que persistiu nos 50 anos seguintes10.
A eleição para o novo parlamento seguiu-se perto o fim da guerra civil. Dos 153 assentos, os
partidários intransigentes de De Valera venceram apenas 44 (os dois principais partidos da Irlanda
contemporânea – Fianna Fail, fundado por De Valera, e Fine Gael – descendentes directos dos lados
opostos durante a guerra civil).

Irlanda do Norte
A menos de 30 km do Canal do Norte da ilha principal da Grã-Bretanha, a Irlanda do Norte é
consideravelmente menor do que o condado de Aroostook, Maine, e a população dificilmente se iguala
à do condado de Suffolk, em Nova Iorque. No entanto, essa pequena e próxima província tornou-se
cenário do conflito de contra-subversão mais longo e doloroso da Grã-Bretanha.
Previsivelmente, a divisão da Irlanda relegou a enorme minoria católica na Irlanda do Norte ao
estatuto de proletariado permanente. Durante a década 20, o novo estado do Norte venceu a minoria
católica levando-a à submissão, mas não à lealdade11.No final da década 60 a Irlanda do Norte era “a
pequena favela pós-industrial decadente com campos verdes nas margens da ilha onde o regime
governava com “medidas autoritárias e propósitos sectários” 12. As eleições não eram disputadas, mas
invarialvelmente, reproduziam a maioria e minoria perpétuas13. A Irlanda do Norte era “tirania sectária
com rosto democrático”14. Os políticos de Londres exibiam profunda indiferença a este caldeirão a
fervilhar; assim como os políticos em Dublin.
No início de 1969, poderosa corrente estava a surgir dentro da comunidade católica do Norte, relutante
em se submeter mais à discriminação flagrante nos empregos e escolas ou à manipulação e
intimidação nas eleições. A emergente classe média católica de Belfast, exemplo das mudanças que
varreram os EUA e a Europa Ocidental, o governo trabalhista nada antipático em Londres – todos (e
sem dúvida outros factores menos óbvios) combinados para produzir o movimento florescente pelos
direitos civis, comprometidos em obter reparação de queixas por meios pacíficos15. É importante notar
que os programas de direitos civis de 1969 não fizeram menção à reunificação com o resto da Irlanda,
algo que elementos dentro da maioria protestante convenceu-se temer acima de tudo. O movimento
pedia só o fim das formas mais rudes e provocatórias de discriminação política, económica e social16.
Este movimento de protesto originalmente pacífico foi confrontado pela violência Orange (i.e.,
protestante militante). Em Jan69, o desfile de cerca de 100 manifestantes pelos direitos civis em Derry
(oficialmente, Londonderry) foi atacado pela multidão protestante armada com canos de ferro e
bastões com pregos cravados, enquanto a Polícia da Irlanda do Norte – a Royal Ulster Constabulary
(RUC) – ficou parada a ver17. Os membros da RUC então pararam aleatoriamente e espancaram
católicos nas ruas de Derry – um autêntico motim policial 18. Assim, a comunidade católica viu com
clareza inconfundível que teria de se incumbir da própria protecção. Com estupidez verdadeiramente
heróica, a administração norte-irlandesa em Stormont permitiu que as marchas anuais deliberadamente

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provocadoras de militantes e fanáticos Orange pelos bairros católicos avançassem, prometendo
represálias ferozes contra qualquer um que tentasse impedi-las. Na carnificina resultante, 10 pessoas
morreram, 900 ficaram feridas e centenas de casas e fábricas foram queimadas. Desse tumulto evitável
e vergonhoso emergiria o IRA-Provisório, os Provos19. E, incrivelmente, Stormont permitiu que os
desfiles Orange prosseguissem também no ano a seguir. “O fracasso em proibir os desfiles Orange de
1970... foi a última oportunidade de evitar a catástrofe que desde então tomou conta do Ulster”20. A
violência comunitária – espancamentos, incêndios, tiroteios – atingiu nível nunca visto numa geração.
Em 15Ago69, James Callaghan, Secretário da Administração Interna do governo trabalhista de Harold
Wilson, respondeu ao pedido do governo da Irlanda do Norte para enviar o Exército britânico para
restaurar a ordem. É importante notar que as tropas britânicas foram enviadas a Belfast não para
proteger os católicos da violência, mas porque a RUC, principal organização policial, estava
sobrecarregada e esgotada pela violência comunitária sancionada pelo governo 21.

Entrada do Exército Britânico


A teoria clássica da contra-subversão britânica é sofisticada. Os britânicos desenvolveram conceitos e
técnicas de contra-subversão principalmente durante as seis décadas anteriores à IIªGM: “Essas
técnicas reflectiam três características do Império Britânico: primeiro, a vasta extensão incluía povos
de muitas raças e religiões diferentes, elementos dos quais – periodicamente, por diversas razões e em
inúmeras circunstâncias – levantou-se em rebelião armada contra o controlo britânico; segundo, o
poder imperial não mantinha grande força militar permanente; e terceiro, a Grã-Bretanha estava
naquelas décadas a transformar-se numa política democrática”22. A essência da teoria da contra-
subversão britânica era combinar ênfase em iniciativas políticas com restrição ao uso de força bruta,
descentralização do Comando ao nível táctico e forte dependência sobre as forças policiais locais23.
Evidentemente, estratégia viável nessa tradição para restabelecer a ordem na Irlanda do Norte
consistiria em esforços para: (1) se concentrar em dividir e isolar o IRA, em vez de disparar ou prender
suspeitos membros ou simpatizantes; (2) fazer da colecta e análise de boa inteligência o cerne do
esforço contra-subversivo; (3) corrigir pelo menos algumas das queixas políticas e económicas mais
gritantes da população católica; (4) tranquilizar os membros da comunidade unionista (protestante) de
que não haveria mudança na relação da província com o Reino Unido contra sua vontade; e (5) manter
o perfil do Exército o mais baixo possível, especialmente em matéria de prisões e buscas domiciliárias.
Sir Robert Thompson, célebre autoridade em contra-subversão, insistiu que o colapso da infraestrutura
insurgente – os civis que apoiam activamente os guerrilheiros – fará com que a subversão definhe. Na
sua opinião, a melhor ferramenta para romper a infraestrutura da rebelião é o estabelecimento regular
da Polícia, porque tem raízes na comunidade, ao contrário das tropas, que geralmente são recém-
chegadas rodavam dentro e fora de uma área; a Polícia estará lá por muito tempo depois de as tropas
partirem. A Polícia será, ou deveria, ser o repositório mais rico de inteligência. Thompson escreveu
que, como regra geral, o lado contra-subversivo precisava de 2,5 polícias por cada soldado24.
Evidentemente, então, a pré-condição básica para a estratégia esboçada acima era existir força policial
amplamente aceite como neutra em relação às comunidades religiosamente designadas. Mas tal força
policial não existia, nem nunca existiu na Irlanda do Norte; a maior parte da comunidade católica via
na polícia, com muita razão, inimiga. Até a construção da força policial adequada, portanto, o Exército
britânico teria de manter a lei e a ordem na província.

O Exército Britânico Vacila


Mas, por várias razões, o desempenho das tropas britânicas que entraram na Irlanda do Norte em 1970
foi muito decepcionante. Sempre houve – é claro – discrepância significativa entre teoria e prática na
contra-subversão britânica. Adquiriu experiência em guerras coloniais, nas quais foram usados
métodos que não poderiam ser replicados numa província britânica como a Irlanda do Norte, pelo
menos não totalmente. “Toque de recolher, proibições, confinamentos, punições e represálias
colectivas, bilhetes de identidade, reassentamento compulsório, interrogatórios exaustivos, atitude
relaxada em relação ao tiro de suspeitos subversivos e pena capital não foram usados [na Irlanda do
Norte] ou, quando rapidamente provou ser contraproducente”25. Durante a supressão da Emergência
Malaia (1946-1954), 34 mil civis foram detidos sem julgamento, outros milhares expulsos do país e
meio milhão reassentados em novas aldeias, mais ou menos à força. “Se South Armagh [condado da

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Irlanda do Norte] fosse província malaia, muitos dos habitantes católicos teriam as casas incendiadas e
teriam sido realojados à força em 'novas aldeias' fortemente policiadas ou deportados para fora da
fronteira”26. Durante a Guerra das Malvinas de 1982, o Exército britânico provou ser a força mais
poderosa, facilmente poderia ter subjugado os terroristas do Provo se tivessem carta-branca, mas tal
concessão era absolutamente impossível. O que era permitido, ou pelo menos possível, na Malásia ou
no Quénia não era permitido nas Ilhas Britânicas27. Em consequência, pareceu a alguns observadores
que “o Exército na Irlanda do Norte continuará a combater o terrorismo, mas é improvável, no
contexto de democracia liberal, para ser capaz de o derrotar inteiramente”28.
Além disso, enquanto o registo da contra-subversão britânica pós-IIªGM certamente teve triunfos
exemplares – em especial a Malásia – outros episódios terminaram com satisfação muito menor. Em
1948, os britânicos retiraram-se desordenadamente do mandato violento na Palestina, deixando grande
parte do Médio Oriente em ruínas político-militares. No Chipre, durante a subversão na década 50, os
britânicos tinham muitas tropas, contavam com o apoio da grande minoria turca e sofreram perdas
proporcionalmente ligeiras. No entanto, não conseguiram controlar o terrorismo e os assassinatos
naquela ilha, bastante menor do que a Irlanda do Norte. Em 1967, alguns combates notáveis com
rebeldes em Aden levaram à retirada britânica pouco inspiradora daquele posto avançado antigo do
império. O facto de essas subversões ocorrerem em áreas predominantemente urbanas não era
auspicioso para o sucesso do Exército britânico na Irlanda do Norte.
Finalmente, a maioria dos soldados britânicos desembarcados na Irlanda do Norte em 1969 e 1970
tiveram pouca preparação para a tarefa que enfrentaram. Muitos foram inicialmente enviados para a
Irlanda em viagens de quatro meses, obstáculo insuperável tanto para melhorar as aptidões
operacionais quanto para colectar boas informações. Agora, a inteligência é a arma chave, alguns
diriam a arma suprema, em qualquer contra-subversão eficaz. De facto, o testemunho britânico sobre
este ponto é impressionante. No estudo clássico sobre subversão, C. E. Callwell escreveu: “Em
nenhuma classe de guerra o departamento de inteligência bem organizado e bem servido é mais
essencial do que aquele contra as guerrilhas”29. O MAR Sir Gerald Templer, “o tigre da Malásia”,
declarou: “O [conflito na Malásia] será vencido pelo nosso sistema de inteligência” 30. E o experiente
teórico-praticante britânico de contra-subversão, o GEN Frank Kitson acreditava: “Se for aceito que o
inimigo consiste em grande parte em encontrá-lo, é fácil reconhecer a importância primordial da boa
informação”31. Mas viagens curtas para soldados britânicos eram hostis à aquisição de familiaridade
com pessoas e lugares, pedra angular da colecta de inteligência. Ainda outro obstáculo à aquisição de
informações úteis era a opinião de muitos elementos do Exército de que não poderiam desempenhar a
função básica na Irlanda do Norte sem apoio de pelo menos grande parte da população. Essa foi das
razões pelas quais o Exército demonstrou menos hostilidade aos militantes armados da Orange do que
ao IRA; outro era a identificação religiosa e étnica com a comunidade protestante entre as unidades
escocesas. Em muitas ocasiões, o IRA assumiu o papel de defensor dos bairros católicos contra as
turbas enfurecidas Orange porque o Exército não estava lá. A desastrosa situação de inteligência foi
agravada, se isso fosse possível, pelas más relações entre o Exército e a Polícia do Norte32.
Certamente, todas essas deficiências eram corrigíveis, ou pelo menos redutíveis – mas não em curto
período de tempo, e especialmente na ausência de liderança determinada e equipada com ideias claras.
Assim, previsivelmente, o Exército britânico na Irlanda do Norte acabou por ofender grande parte da
população, sem ser capaz de estabelecer a paz real ou mesmo aparência de ordem.

Pesquisas
O exemplo instrutivo de como a preparação inadequada para a tarefa em mãos combinada com a falta
de boa inteligência para produzir efeitos muito nocivos surgiu na prática das buscas do Exército. O
Exército procurou reunir informações através das patrulhas apeadas e “contacto”, o que significava
parar e inspecionar incontáveis automóveis (em 1972, por vezes faziam 5 mil operações stop por dia),
bem como vasculhar dezenas de milhares de casas – 36 mil em 1972, 75 mil em 1973-197433. A
maioria dos lares católicos foi vasculhada pelo menos uma vez, até dez vezes. Espancamentos, roubos
e destruição de imagens religiosas acompanhavam com frequência essas intrusões. Em Jul70, buscas
domiciliares em Lower Falls (Belfast) deixaram cinco civis católicos mortos e muitas casas saqueadas
e destruídas. “Até à Primavera de 1970, a maioria dos católicos considerava as tropas como
protectores. A Operação de Lower Falls mudou tudo”34. Vários soldados foram condenados por

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homicídio entre 1969 e 1984, “todos por actos criminosos não relacionados com os deveres oficiais”35.
Aqueles que não podem obter informações de uma forma, acabarão por recorrer a outra; a tortura, em
graus variados, de suspeitos do IRA pelo Exército produziu pouca inteligência de valor, mas
prejudicou a imagem do Exército e o moral (como na Argélia)36.
Pior – se possível – os soldados britânicos estavam a ser enviados para casas particulares “nesta parte
do Reino Unido em missão de má qualidade e à vista de OCS antipáticas”37. Neste conflito, os
jornalistas “ansiosos pelo último ultraje fotogénico” activamente sensacionalista em solo britânico 38. A
comunicação social fez com que a má conduta do Exército fosse a questão, em vez de analisar sobre o
que era a luta.
Assim, o mau comportamento de alguns elementos do Exército em relação à minoria católica, em
especial da componente da classe trabalhadora, criou simpatia pelo IRA, prejudicou o recrutamento
para o próprio Exército e reduziu ainda mais as capacidades de colecta de informações já bastante
inadequadas, porque os católicos desconfiavam dos soldados e os protestantes não sabiam quase nada
útil sobre o IRA39.

Confinamento
Em Ago71, como resposta às ameaças do IRA contra júris e testemunhas, o governo da Irlanda do
Norte inseriu o confinamento – detenção preventiva sem julgamento – de suspeitos do IRA. Esta
prática era incomum em nenhum dos lados da fronteira. No entanto, o confinamento provou ser
“provavelmente a medida mais desastrosa introduzida durante os recentes problemas” 40. Isso porque
“o confinamento era comprovadamente sectário”, imposto com violência e acompanhado de tortura
destinado a intimidar os católicos e tranquilizar os protestantes41.
O confinamento atirou pessoas não violentas na cadeia juntamente com Provos comprometidos; assim,
as prisões tornaram-se escolas de violência e campos de recrutamento para o IRA. “O confinamento
foi desastre político, nem particularmente eficaz em termos militares”42. Em troca desse desastre
político, o confinamento rendeu muito poucos membros do IRA autênticos, pois a inteligência policial
sobre os Provos era muito pobre. Além disso, quando a prática terminou em Dez75, o confinamento
encarcerara menos de 2 mil homens e mulheres, pequena percentagem da população católica de bem
mais de meio milhão. Mas, além de o confinamento, a simetria elevada da população masculina
católica foi presa entre 1972 e 1977, a maioria sem envolvimento com os Provos.
Se o objectivo do confinamento era reduzir a violência, foi fracasso colossal. Nos dois anos anteriores
à sua introdução, 66 pessoas, incluindo 11 soldados britânicos, foram mortos; nos 17 meses após o
confinamento, 610 pessoas foram mortas, incluindo 146 soldados britânicos43.
Ao contrário da expectativa e do mito, o primeiro ataque sério ao Exército britânico partiu de
elementos da comunidade protestante. No Outono de 1969 viu “revoltas protestantes selvagens
durante as quais as tropas [britânicas] foram atacadas” 44. Em Out69, atiradores Orange bêbados em
Belfast feriram 13 soldados britânicos e mataram e feriram vários civis45. Mas o primeiro soldado
britânico na Irlanda em 50 anos foi morto pelo IRA a Fev71. A violência aumentou: bombas de
gasolina do IRA incendiaram carros blindados nas ruas de Belfast; pequenos grupos de soldados
atacados com bombas de ácido, granadas de pregos e gasolina em chamas46.
Então veio o Domingo Sangrento, 30Jan72. Em Derry, mulheres católicas serviam chá e bolos aos
soldados britânicos que chegavam, cogitando que as tropas tinham vindo para os proteger47. Mas
naquele domingo, os pára-quedistas britânicos dispararam sob a marcha pelos direitos civis de vários
milhares de pessoas, matando 13. Duas semanas depois, a embaixada britânica em Dublin incendiou-
se, enquanto a polícia observava (não está claro como as pessoas envolvidas nesse evento imaginaram
que intimidariam o governo britânico ao queimar o belo edifício antigo em Dublin). Em Mar72, o
governo britânico suspendeu a governação provincial de Stormont e assumiu a administração directa
da Irlanda do Norte. Foi a decisão muito tardia: em Dez70, os activos Provos reuniam talvez 800
atiradores; antes do final de 1972, aumentariam para 1 50048.
Em todo o caso, 1972 seria o pior ano de todo o conflito. O número de tropas britânicas na província
atingiu o pico de 30 mil, aproximadamente 1 soldado para cada 50 habitantes. No entanto, a morte
violenta ceifou 474 pessoas: o IRA matou 255, terroristas protestantes 103, as forças de segurança,
outras 74, com o restante não classificado, provavelmente a maioria pelo IRA. O número total inclui
103 soldados regulares britânicos e pelo menos 95 Provos49 (no ano a seguir, as mortes do Exército

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caíram para 58). Em resumo, “os britânicos comportaram-se como Exército de ocupação no que
deveria ser uma província britânica, e conseguiu a completa alienação da população católica”50. Aqui
estava a fonte de a base da massa para o IRA grandemente desenvolvido: não só pela intimidação, mas
capitalização dos erros das autoridades. Talvez John Newsinger não se exagera muito quando
escreveu: “Pode haver pouca dúvida de que, se os católicos fossem a comunidade maioritária, os
britânicos seriam forçados a se retirar numa repetição do desastre de Aden”51.

Os Provos
Embora o IRA sempre afirmasse não serem sectários, “os protestantes interpretaram o assassinato do
RUC e do UDR [Regimento de Defesa do Ulster] como actos deliberados de genocídio sectário”52. De
qualquer forma, o IRA nunca teve apoio significativo fora da comunidade católica. Assim, a base do
IRA, e mais tarde a sua facção provisória, foi limitada à população minoritária na Irlanda do Norte.
Mas aspecto mais significativo deste conflito pós-1969 é que, apesar de toda a discriminação, assédio
e humilhação a que os católicos daquela província foram submetidos por gerações todos os dias, os
Provos nunca conseguiram reunir simpatia activa de algo que aproximasse a maioria dessa
comunidade.
O IRA tinha-se dividido em facções oficiais e provisórias durante Dez69 e Jan70. A principal questão
formal entre estes era: o IRA deveria “reconhecer” os governos de Londres, Stormont e Dublin? Os
Provos adoptaram a negativa. Em termos práticos (se for essa a palavra), a questão era se os
candidatos do IRA ocasionalmente eleitos para as respectivas legislaturas desses governos deveriam
realmente ocupar os assentos. Mas subjacente à disputa estava a diferença real nas estratégias gerais
entre as duas facções: os dirigentes queriam planear e trabalhar pela revolução de estilo bolchevique
na Irlanda do Norte, unir toda a classe trabalhadora, tanto protestante quanto católica; os Provos
queriam usar a guerrilha insurgente clássica (como entendiam o termo) para expulsar os britânicos da
ilha e estabelecer regime “progressista” 53.
O Provo típico era jovem católico desempregado que poderia ter-se tornado em simples criminoso se
não fosse o IRA. O factor mais influente para ingressar na organização era a conexão familiar54. “O
IRA-Provisório foi movimento da classe trabalhadora... quase todos os jovens... o Exército sem
capacidades especiais, muitas vezes sem nenhuma aptidão, recém-saídos da escola ou habitualmente
desempregados do Norte católico e pares do Sul”55. A liderança não era muito impressionante. No
Primeiro Conselho Provisório, em Dez69, os dirigentes mostraram “bem além da mocidade,
desordeiros, deselegantes, pouco sofisticados, mal letrados, sem fundos ou mentes treinadas, mas
desconhecidos para a polícia”56.
O tempo demonstraria claramente que as fileiras dos Provos continham proporção bastante liberal de
ralé e sociopatas. Mas sempre houve poucos empregos preciosos para católicos na Irlanda do Norte, e
nada como campos de jogos de bairro para ocupar desempregados ou jovens. A continuidade da
existência do IRA deveu-se muito ao fracasso deliberado da Stormont em perseguir os próprios
interesses, agindo para melhorar a pobreza e o descontentamento entre aqueles que alegava governar.
De qualquer forma, durante 50 anos o regime de Stormont tratou a população minoritária com
repressão e negligência alternadamente. Tudo isso, reforçou a escandalosa hostilidade da RUC contra
a minoria católica, e depois inflamado por erros e até crimes cometidos por elementos do inicialmente
bem-vindo Exército britânico, tornou o derramamento de sangue previsível, até inevitável. De facto, o
fracasso do Exército em proteger bairros católicos das turbas Orange e o comportamento vergonhoso
nos mesmos por muitos soldados deram o primeiro estímulo real para os Provos medrarem. Claro o
Domingo Sangrento foi favor incalculável. Além disso, os Provos tornaram-se polícia de facto nas
áreas católicas, porque a uniformizada era vista correctamente, na maioria dos casos, como agentes
dispostos ao regime sectário e malévolo de Stormont. Assim, os Provos transformaram o movimento
dos direitos civis de 1969 em subversão nacionalista por causa de décadas de maus-tratos
imperdoáveis à população minoritária com indiferença ou permissão do governo em Londres.

Dinheiro Provo
Os terroristas precisam de dinheiro. Os roubos do Provo em ambos os lados da fronteira (pelo menos
587 só na Irlanda do Norte) proveram rendimento bastante estável57. Além disso, o IRA obteve fundos

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por extorsão na comunidade católica no Norte58. Naturalmente, “para o observador externo, os
subversivos parecia mais família criminosa estadunidense do que movimento de libertação nacional” 59.
A ajuda veio do exterior. A Real Polícia Montada do Canadá desmantelou florescente rede de remessa
de armas em 1975. Cinco cidadãos dos EUA foram presos em Filadélfia em Dez77 por enviar
ilegalmente espingardas para a Irlanda. Outros roubaram armas do arsenal da Guarda Nacional perto
de Boston em 1976 e de bases militares dos EUA60. O IRA estava por trás do famoso roubo de carro
blindado Brinks em 1993 na cidade de Nova Iorque. Contribuições feitas a várias sociedades de “ajuda
do Norte” nos EUA compravam armas para os Provos, apesar dos reiterados apelos da embaixada da
República da Irlanda em Washington e de proeminentes políticos hibérnio-estadunidenses para os
estadunidenses não dessem dinheiro à Noraid e organizações similares que colectavam dinheiro para
“ajudar os católicos” na Irlanda do Norte. Os Provos também estabeleceram relações com a OLP,
FARC colombianas, o regime de Kadaffi na Líbia e o terrorista basco ETA 61.
Curiosamente, os Provos receberam desapego da diáspora irlandesa na Inglaterra. Mas para compensar
isso foi a reviravolta irónica que indivíduos do IRA desempregados a viver na Inglaterra recebiam
subsídio de desemprego; assim, o estado social britânico contribuiu para o terrorismo.

Métodos Provo
A grande controvérsia pública que se seguiu e agravou a divisão do IRA em Provos e Dirigentes foi o
papel da violência. Desde o início, muitos no IRA tiveram como objectivo principal não a vitória
militar – certamente não em vida – mas sim a fidelidade ao ideal republicano, tradição de revoltas
violentas, que se estende desde às dos Irlandeses Unidos em 1798 e da Jovem Irlanda em 1848 através
dos Fenianos de 1867 e da sagrada Rebelião Pascal de 1916. A fidelidade a essa tradição, a pureza do
compromisso, exigia não a vitória, mas o combate. O IRA era e é sobre violência: daí a guerra civil de
1922, divisões dentro do IRA levaram a assassinatos antes da IIªGM, o surgimento dos próprios
Provos e as repetidas fragmentações na década 90 e depois. Assim, na mente de Provo, mesmo que a
clara maioria de irlandeses não apoiasse a violência do IRA, mesmo que clara maioria se opusesse,
devia continuar. A violência abriria os olhos e fortaleceria os corações da maioria passiva ou cobarde.
A violência ligava o presente precário ao passado glorioso62.
Espancamentos e roubos eram práticas usuais. Incêndio tornou-se especialidade do IRA; os Provos
incendiariam um prédio e disparariam sobre os bombeiros que vinham. Um dos triunfos particulares
foi o incêndio da Ópera de Belfast. Atiraram bombas em bares e restaurantes e bombas incendiárias
em lojas, primeiro na Irlanda do Norte, depois em Inglaterra. Forçaram motoristas para entregarem
camiões-bomba ameaçando as famílias63 (número impressionante de fabricantes de bombas Provo
explodiam-se ou os companheiros por incompetência). Emboscaram grupos pequenos de soldados e
dispararam morteiros contra postos da Polícia de fronteira. Assassinaram magistrados, incluindo juízes
católicos, bem como empresários. Visaram por morte ou ferimento famílias de soldados britânicos na
Irlanda do Norte. E já em 1971, os Provos estavam a matar membros do IRA-Oficial nas ruas, muitas
vezes torturando-os primeiro (os Dirigentes também mataram, mas por incompetência e contra o
próprio interesse, pessoas inocentes, como mulheres de limpeza e padres)64. Os Provos muitas vezes
assassinavam vítimas na presença das famílias e pelo menos um caso, nos degraus da Catedral de São
Patrício em Armagh. Em 1992, os Provos estavam a abater mais os próprios membros (acusados de
serem informadores) do que soldados britânicos65.

Actividades do Provo Além do Norte


Em 1974, os Provos começaram a atacar alvos fora da Irlanda do Norte. As cartas-bomba, já usadas na
Irlanda do Norte, agora iam para a Inglaterra (v.g., para a Bolsa de Valores de Londres e para
funcionários públicos) e para Washington, DC. Muitas secretárias foram feridas terrivelmente por
esses dispositivos. O bombismo do Provo tornou-se ocorrência regular na Inglaterra, muitas vezes
matando ou mutilando crianças muito pequenas; o atentado à bomba de Birmingham em Nov74 matou
pelo menos 21 pessoas (a FLN na Argélia nunca fez atentado dessa escala.) Os Provos atacou a loja
Harrod em 1983 (entre as vítimas estavam turistas estadunidenses) e executaram ataques com
morteiros contra o Aeroporto de Heathrow em Mar94.
A maioria das operações matou transeuntes inocentes, mas às vezes visavam deliberadamente
indivíduos seleccionados. Tentaram matar Isabel II, perderam por pouco a PM Margaret Thatcher em

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1984, lançaram bomba na casa particular do ex-PM Edward Heath e tentaram explodir o PM John
Major dentro do 10 Downing Street 66. Em Jul76, tentaram assassinar o embaixador britânico na
Irlanda, em Dublin. Também mataram o embaixador britânico na Holanda em 1979. O atentado contra
a vida do embaixador britânico na OTAN falhou, em vez disso aniquilaram civis belgas67.
Assassinaram o herói da IIªGM de 80 anos Lord Mountbatten, não por algo que tivesse feito, mas por
ser tio do Príncipe Filipe; juntos estavam o neto e outro miúdo local, ambos de 14 anos. Militares
britânicos na Inglaterra e na Europa tornam-se alvos: em 1988 mataram 3 soldados da RAF nos Países
Baixos e na Alemanha em 1989, o Cabo da RAF e a filha de 6 meses. Assassinaram irlandeses a servir
no Exército britânico. Mas com tudo isso, na Irlanda, Inglaterra e Europa, os Provos conseguiram
matar 96 soldados britânicos durante toda a década 80, em 1972 em contraste foram 103.

Terror Orange
É claro que o terrorismo criminal não era monopólio do IRA. Se é verdade que as pessoas odeiam e
temem aqueles que ferem, então o medo e o ódio que os Orange sentiam pela população minoritária
da Irlanda do Norte não é mistério. À opressão, discriminação e crueldade simples, alguns deles agora
acrescentavam o terrorismo organizado. Os grupos terroristas Orange incluíam a Força Voluntária do
Ulster, os Combatentes da Liberdade do Ulster e a Associação de Defesa do Ulster. Durante a década
70, os terroristas Orange mataram civis em ambos os lados da fronteira68. A Polícia foi efectivamente
ineficaz contra a violência orangista: “a incapacidade de responder eficazmente à ameaça colocada
pelos paramilitares protestantes tem sido dos mais graves fracassos das forças de segurança na Irlanda
Norte”69. Os lealistas cometeram 20% dos assassinatos comunitários durante a década 80; o número
subiu para 52% em 199270. A maioria das vítimas da violência Orange parece ter sido escolhida
aleatoriamente, homens católicos azarados71.

O Preço da Violência Provo


Alguns nos EUA, tanto críticos quanto partidários do IRA viam o grupo como manifestação por
excelência da população católica da Irlanda. Essa visão está longe de ser correcta. A principal, entre a
liderança do Provo havia leninistas convictos, e todos, inclusive bispos da Igreja Católica, sabiam
disso. Mas foi a crença do IRA de que a violência exemplar mobilizaria a opinião católica que se
mostrou infundada e dispendiosa72. Aprender a evitar alvos difíceis, os Provos direccionavam o terror
para lugares insignificantes, como bares e desfiles, abatendo inevitavelmente civis. Em 1972, a
manifesta falta de preocupação dos Provos com as baixas civis gerou crescente repulsa entre os
católicos do Norte, especialmente as mulheres, que começaram a organizar marchas contra a violência
(i.e., contra os Provos)73. Naquele ano, até a Ala do Comando do IRA condenou a violência de Provo
contra civis74. “Os movimentos constantes conflitos envergonham a nação”75. Consequentemente, no
início de 1978, o número de combatentes Provo activos pode ter caído para o mínimo de 250. Em
Set79, em Drogheda, a 48 km da fronteira Sul, João Paulo II declarou à audiência de 250 mil pessoas:
“De joelhos, imploro que se afastem dos caminhos da violência”.
Enquanto a violência continuava a baixar, os políticos estavam ocupados. Em 15Nov85 veio o Acordo
Anglo-Irlandês (no castelo Hillsborough), assinado pelos P-M Thatcher e Fitzgerald, no qual o
governo da República da Irlanda concordou que o estatuto da Irlanda do Norte só poderia ser alterado
pelo voto da maioria dos habitantes. Além disso, o governo irlandês impediu transmissões públicas ou
entrevistas de “grupos revolucionários” (restrições a tal actividade já existiam na Grã-Bretanha). Essa
proibição teve o efeito de limitar a maioria das mensagens e propaganda do IRA aos próprios
membros. Em 1987, na cidade de Enniskillen, não muito longe da fronteira, os Provos atacaram à
bomba o serviço memorial para o Armistício de 1918, matando 11 e ferindo 55, muitos dos quais eram
crianças. Em reacção a essa repulsa, a República da Irlanda assinou o tratado de extradição com o
Reino Unido. Dublin já havia aumentado a pena para a mera participação em qualquer “organização
ilegal” (i.e., o IRA) para 7 anos e ordenou à Polícia e Exército alargassem a segurança ao longo da
fronteira de 200 km.
O IRA continuou a perder o apoio público. No início da década 80, pesquisas informavam que só 46%
dos católicos do Norte concordavam que “o IRA é basicamente patriota” 76. O Sinn Féin, rosto público
do IRA, nunca trocou o SDLP (Partido Social Democrata Trabalhista) como principal partido católico
do Norte. Nas eleições para a Câmara dos Comuns, o Sinn Féin obteve 13,4% do total de votos do

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Norte em 1983, 11,4% em 1987 e meros 10% em 1992, em comparação com os 23,5 % do SDLP. Nessa
eleição, Gerry Adams, principal porta-voz do perdeu o assento em Belfast Ocidental na Câmara dos
Comuns77.
Na República da Irlanda do Norte, o voto no Sinn Féin aumentou de 1,9% em 1987 para 2,6% em 1997
– depois do Sinn Féin publicamente renunciar à violência (em Jun97, o único candidato bem-sucedido
do Sinn Féin ao Parlamento irlandês realmente tomou assento, pela primeira vez o Sinn Féin
reconheceu oficialmente a legitimidade daquela República).
À medida que o apoio público aos Provos diminui em ambos os lados da fronteira, a inteligência do
Exército melhorou. O Exército declarava publicamente frequentemente a prisão de determinado
indivíduo era resultado de traição dentro do IRA. Isso inflaccionaria a quantia de dinheiro declarada
levado em assaltos. Acções deste tipo desencadearam pelejas mortais dentro das fileiras do Provo, o
que não é coisa muito difícil de fazer em qualquer caso78.
A Polícia, por sua vez, estava a melhorar a vigilância, interrogatório, agentes e informadores. V.g., o
suspeito vulnerável receberia clemência e algum dinheiro para ajudá-lo a se mudar, em troca de
testemunho79. A observação atenta, juntamente com incursões a locais conhecidos de encontros do
Provo e prisões de membros conhecidos, geraram crescentes dados de informações. A informatização
da inteligência do Exército e da Polícia ajudou muito na correlação de dados anteriormente separados.
Estavam a sentir-se outras mudanças. A “ulsterização” visava reduzir o número e a visibilidade das
tropas britânicas na província, aumentar a dependência da Polícia e tribunais civis e oferecer
concessões básicas à comunidade minoritária. Deu-se mais atenção ao aumento das unidades e
profissionalismo da RUC. Apesar predominantemente a composição ser protestante (evidente só 11%
dos membros eram católicos), em parte porque os Provos esforçaram-se por matar membros católicos
da RUC80.
Em Abr98, as negociações de paz multipartidárias produziram acordo sobre desarmamento das forças
paramilitares, promessa renovada da República irlandesa de que a reunificação só poderia seguir uma
maioria de votos a favor, mudanças estruturais na governanção da Irlanda do Norte para exigir acordo
intercomunitário sobre a legislação e rápida redução do número de tropas britânicas na província.

Vítimas
As estimativas de mortos na longa subversão da Irlanda do Norte variam, mas não muito. Entre 1968 e
1998, possivelmente 3 600 pessoas morreram em resultado da violência na Irlanda do Norte. Isso dá-
nos a média de 120/ano, ou 2,3/semana – menos que os de mortos no trânsito (149) na Irlanda do
Norte em 199281. Segundo a PM Thatcher, até final de 1979, 1 152 civis e 543 agentes de segurança
foram mortos por terroristas82. Uma autoridade estima 330 subversivos foi morta entre 1969 e 198883.
Cerca de 500 soldados morreram na Irlanda do Norte entre 1969 e 1994. O pior ano foi 1972, quando
foram mortos 103 soldados; no ano a seguir caiu para 58, em 1974 para 28 e em 1975 para 14 84.
Mesmo incluindo 1972, a média é de 20 militares mortos/ano, menos de 2/mês (durante 2006, houve
circa 400 homicídios na Filadélfia, Pensilvânia, cuja população é menor que a da Irlanda do Norte)85.

Reflexão
A violência e o ódio comunitário na Irlanda do Norte têm história longa e desedificante.
Evidentemente, a responsabilidade pelo ocorrido a partir de 1969 não é distribuída igualmente entre
todas as partes, mas certamente todas têm quota-parte de culpa.
A causa fundamental dos combates na Irlanda do Norte não foi a presença de tropas britânicas. Antes a
relutância da comunidade maioritária naquela província em se reunificar com o resto da Irlanda ou em
conceder à comunidade minoritária direitos políticos e sociais considerados a norma na Europa
Ocidental por gerações. Em tais circunstâncias, nenhum governo de Londres jamais esteve disposto ou
inteligentemente quanto baste para fornecer garantias aceitáveis à maioria inquieta e alívio adequado à
minoria exasperada.
Eventualmente, a estratégia britânica na Irlanda do Norte evoluiu para a vitória militar sobre o IRA
para alcançar a contenção86. Esta estratégia funcionou bem. Consequentemente, não é exagero afirmar
que a Irlanda do Norte finalmente testemunhou “a estratégia de contra-subversão bem-sucedida que
moveu o IRA-Provisório de a tradição de usar terror e força militar à vontade de adoptar solução
puramente política para a percepção problemas”87.

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O sucesso da estratégia britânica conseguiu alcançar deveu-se menos ao brilhantismo ou oportunidade
do que às fraquezas fundamentais na posição do IRA-Provisório. “A história do IRA tem sido marcada
[por] tradição de má análise estratégica muitas vezes fez com que o movimento superestimasse a
capacidade dos seus meios para superar adversários muito mais poderosos” 88. A estratégia dos Provos
não era a reforma para a Irlanda do Norte, mas travar a guerra prolongada contra a autoridade
britânica. Esperavam que tal conflito unisse a população católica por trás deles e os exaurisse a
abandonar a província, pois deixaram o cenário de outros conflitos pós-imperiais. Então, em vez de
enfrentar a guerrilha do IRA sozinha, a maioria protestante concordaria com a união federal com a
República.
Esta estratégia Provo sofreu de múltiplos e profundos erros de cálculo. Antes de tudo, é quase certo
que retirada total britânica da Irlanda do Norte entre 1969 e 1972 teria produzido o estado do Norte
unilateralmente independente, disposto e capaz de expulsar grande número de seus habitantes católicos
para a República da Irlanda. O IRA, tendo assim sido expulso do Norte, teria quase certamente voltado
em fúria contra o regime de Dublin.
Mas esses eventos calamitosos não ocorreram, porque claramente tal retirada nunca foi politicamente
possível. Os britânicos podiam cansar-se de lutar contra conflitos antiterroristas na Palestina, Quénia,
Áden e Chipre porque estavam longe de casa e entre pessoas que não eram e nunca seriam britânicas.
“Nem os britânicos nem os estadunidenses parecem dispostos a arriscar a vida de voluntários em
conflitos que não afectam claramente os interesses nacionais próprios”89. Mas abandonar a Irlanda do
Norte, parte integrante do Reino, a apenas alguns quilómetros da ilha principal e habitada por maioria
vociferantemente leal, nunca foi opção política real. E não menos importante, o governo britânico
parecia ceder ao terror do IRA na Inglaterra sem dúvida teria encorajado outros grupos, nacionais e
estrangeiros, a pressionar qualquer futura governação britânica com tácticas semelhantes90.
Esse facto por si só – nenhuma retirada britânica sob fogo, não importa quanto tempo durasse o
desagradável conflito – foi primário e decisivo, condenar a estratégia dos Provos. Mas estes
carregavam fardos adicionais e bastante sérios. O mais importante era a base inadequada de apoio
popular. Claramente, o Exército britânico poderia antagonizar a população minoritária, mas não a
subjugaria – o pior de dois mundos. Quando o Exército perdeu a confiança dos católicos, apareceu
espaço para os Provos encontrarem algo como massa de seguidores (se tal termo for apropriado no
contexto da população limitada e território restrito da Irlanda do Norte, que ainda foram factores que
operam contra os Provos). Mas a base de apoio do IRA, a comunidade católica da Irlanda do Norte,
era por definição de todos, a minoria da população. Ainda mais importante, o IRA falou apenas pela
minoria dessa minoria, como os resultados das eleições e pesquisas de opinião mostraram
repetidamente. De facto, os Provos não abrangiam nem mesmo todo o IRA. Começaram com a IIªGM
e continuaram na década 80, cada vez menos pessoas de ambos os lados da fronteira estavam
dispostos a apoiar activamente a luta armada para unificar a Irlanda 91. De facto, a violência do Provo
causou crescente consternação entre a comunidade católica, ao mesmo tempo que fortaleceu a
militância entre os lealistas protestantes. Por anos, os Provos ignoraram tanto o governo de Dublin
quanto a hierarquia da Igreja católica. Ignoraram o ditado de Guevara – e toda a evidência empírica
que o apoiam – sobre tentar a revolução contra o estado democrático, ou mesmo pseudodemocrático.
“Ignoraram os escrúpulos do próprio povo do Norte, ignoraram os padrões civilizados, ignoraram
todas as restrições. Pretendiam impor a própria vontade em toda a ilha e em Ulster primeiro” 92. Mas
nunca tiveram a força, nem os meios para a obter para atingir esses fins. A própria violência que os
Provos acreditavam ser a prova do seu poder era, na verdade, o testemunho de impotência. Os dados
demográficos da Irlanda do Norte não estão do lado da comunidade maioritária. Se as tendências de as
últimas três décadas continuarem nas próximas duas, o cenário não improvável, produzirão a maioria
“católica” na Irlanda do Norte, e isso, por sua vez, poderá produzir enorme emigração – o retorno, em
certo sentido – da população protestante da Irlanda Norte para a Escócia e Inglaterra.

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VII. Grozny 1994-1996

O “Categórico Fracasso”
Apenas 6 anos pós-experiência desastrosa no Afeganistão, os russos viram-se a lutar contra outro povo
islâmico tradicional e guerreiro das montanhas, os chechenos Com a área de 16 mil km2, a Chechénia
tem o quadragésimo do tamanho do Afeganistão e claramente menor que El Salvador (21 mil km2),
País de Gales (21 mil km2) ou Nova Jersey (22 600 km2) [equivalente a dois distritos Beja e Bragança].
A população chechena residente em 1992 era de apenas 3/4 de milhão, cerca de metade da Irlanda do
Norte, ou Clark County, Nevada [ou a Faro].
O envolvimento aparentemente interminável da Rússia no conflito da Chechénia teve o primeiro e
mais dramático acto o ataque à capital, Grozny (em russo significa “ameaçador”). Antes do ataque
russo, Grozny tinha a área de 260 km2 e população de 400 mil habitantes [+/- Coimbra], menos do que
Edimburgo ou Sacramento de hoje. O ataque russo a Grozny foi das maiores operações urbanas desde
a IIªGM. Acabou por ser humilhação catastrófica para os russos, pior do que no Afeganistão na década
80, pior que na Finlândia em 1940.
Indiscutivelmente, o Exército russo tinha mais experiência em combate urbano do que qualquer outra
força moderna. As tropas soviéticas conquistaram uma centena de cidades durante a IIªGM. Depois
disso, executaram operações bem-sucedidas em Berlim Oriental (1953), Budapeste (1956), Praga
(1968) e Cabul (1979). Mas toda essa experiência não os ajudou na Chechénia: “Em Set96, o exército
russo estava atolado numa das situações mais desastrosas que já tinha experimentado” e acabou por
sofrer “derrota sem paralelo”1. A campanha mal iniciara, ficou aflitivamente claro que “o Exército
russo simplesmente não estava em condições de travar a guerra” 2.
Como explicar “o vergonhoso fracasso do Exército russo dos anos 90 na Chechénia?”3 Esta questão é
mais do que mero proveito académico, porque por um lado, “os inimigos que as forças dos EUA
enfrentarão são muito mais parecidos com os rebeldes chechenos do que com o Exército russo, e o
campo de batalha muito provavelmente será mais parecido a Grozny do que com a Europa Central”.

Quem são os Chechenos?


Os chechenos são muçulmanos, mas a conversão do país não foi concluída até o séc. XIX. Situada na
região Norte do Cáucaso, a Chechénia é terra acidentada, com longa história de resistência à intrusão
estrangeira. A partir do final do séc. XVIII, invasões russas sucessivas destruíram muitas das florestas
onde abrigavam tradicionalmente guerrilheiros chechenos5. A conquista da área do Cáucaso do Norte,
incluindo Chechénia, conduziu os russos a maior parte da primeira metade do séc. XIX.
Os métodos russos czaristas para derrotar os guerrilheiros incluíam o envio de grande número de
tropas para o território afectado, isolando-o do exterior, primeiro criou o controlo nas principais
cidades e alargando o domínio para fora delas, construindo linhas de fortes para confinar os
movimentos do inimigo ao território cada vez mais distante para área cada vez menor, secando as
fontes da resistência destruindo povoações, gado, plantações e pomares6. A esses métodos, os
soviéticos acrescentaram assassinatos de líderes da resistência, massacres exemplares de civis locais,
tomada de reféns de chefes de família e deportações em massa. A agressão e a repressão czarista
foram os instrumentos principais na formação da auto-identificação nacional e religiosa chechena. De
facto, a Chechénia foi palco das mais longas subversões guerrilheiras do séc. XIX, da qual surgiu
Shamil Basayev, “um dos grandes comandantes guerrilheiros da época”7. As experiências chechenas
nos últimos 200 anos “tornaram-nos de facto um dos grandes povos marciais da história moderna”8.
Espera-se de todo o adolescente, v.g., saiba empunhar armas.
Após o golpe bolchevique de 1917 em Petrogrado, os chechenos declararam independência. Traídos
pela duplicidade bolchevique, travaram a guerrilha contra enormes probabilidades até à década 30.
Mas o pior estava por vir: durante e após a IIªGM, os estalinistas deportaram chechenos e outros
grupos de terras tradicionais. Perto de 600 mil chechenos – homens, mulheres, idosos, crianças –
amontoados em vagões superlotados, sem aquecimento, água ou saneamento. Muitos contraíram tifo.
Nos pontos de paragem, a população local foi proibida de dar água aos chechenos. Metade dos presos
nalguns vagões morreu. Os sobreviventes dessas jornadas foram largados em áreas desoladas, sem
abrigo ou comida. Cerca de 1/3 dos deportados morreram9. Junto com as deportações, os estalinistas

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estavam ocupados a queimar livros chechenos, destruir mesquitas e a mudar nomes de lugares para o
russo. Estaline disse que o motivo das deportações era que os chechenos colaboraram com a ocupação
alemã, mas isso era principalmente propaganda10. Estaline e o Chefe da Polícia secreta, Lavrenty
Beria, ambos do Cáucaso. Conheciam e temiam o potencial rebelde. Estaline teve grandes despesas e
dificuldades para os deportar, desviou muitos recursos para essa tarefa mesmo quando a luta contra os
nazis estava no auge11. Os esforços russos e comunistas para os “desnacionalizar” tiveram só efeitos
opostos. Como os arménios e judeus, os chechenos têm a recordação comum do esforço de genocídio:
“A memória da deportação tornou-se evento definidor central na história chechena moderna”12.
Por fim, os chechenos sobreviventes começaram a retornar à terra natal. Descobriram que muitos
russos se tinham mudado para os distritos despovoados. No final da década 80, o desemprego na
Chechénia era generalizado, os níveis de assistência médica e educação estavam entre os mais baixos
da URSS, a mortalidade por doenças infecciosas e parasitas era muito alta e a maioria dos serviços
importantes eram ocupados por russos. Em vista das experiências que sofreram nas mãos dos russos
durante 200 anos – guerras, massacres, confiscos, colectivização, expurgos, deportações, tentativas de
genocídio – não foi surpresa, com a dissolução da URSS, viram a ocasião de reaver o controlo do seu
país. A agitação crescente resultou na declaração de independência total do parlamento checheno em
Nov91. O Presidente russo Boris Yeltsin rejeitou-a e despachou 600 tropas do Ministério da
Administração Interna para a Chechénia. Nos aeroportos, multidões de civis cercaram e
circunscreveram as tropas. Em consequência, todas as forças russas retiraram-se em Jun92.
No entanto, várias influências ajudaram a moldar a decisão séria russa de montar invasão da
Chechénia. A causa ou desculpa imediata foi o sequestro de o autocarro russo por bandidos chechenos.
As rivalidades políticas entre os políticos em Moscovo, a falta de informações sobre a situação real
dentro da Chechénia e os temores russos da crescente influência turca na região do Cáucaso foram
outros factores13. A retórica ofensiva e inflamatória do PR checheno Dzhokhar Dudayev tornou-o
particularmente odiado em Moscovo (Dudayev nasceu no exílio em 1944, sobreviveu ao genocídio
antichecheno de Estaline). Mas a causa “mais importante” da invasão foi a recusa de Dudayev em
assinar qualquer tratado de união com a Rússia: “No final, só a questão tão crítica quanto a integridade
territorial russa poderia ter provocado a invasão real da Chechénia”14. Os oponentes de Dudayev,
apoiados por Moscovo, atacaram Grozny em meados de Out94 e novamente no final desse mês.
Ambos os esforços foram facilmente repelidos. O envolvimento russo nesses episódios tornou-se
conhecido publicamente, permitiu a Dudayev assumir o manto de defensor de a Chechénia livre15.
Assim, a sorte estava lançada.
A prova em grande escala de armas entre a Chechénia e a Rússia, todas as vantagens pareciam estar
com a última. De acordo com o censo de 1989, a República Autónoma da Chechénia-Inguche tinha a
população de 1,29 milhão, dos quais 735 mil eram chechenos e 304 mil russos. Houve ainda a
diáspora chechena de cerca de 300 mil na antiga URSS. A área da Chechénia propriamente dita era
bem pequena, só alguns milhares de km2. Excepto na segunda Batalha de Grozny em Ago96 (vid.
infra), os combatentes chechenos activos talvez nunca excedeu os 3 mil de cada vez, enquanto as
estimativas de tropas russas de vários tipos na Chechénia variavam (declaradamente: ninguém sabe
realmente) de 30 mil para 55 mil16. Os russos gozavam de incontestável superioridade aérea. A
Chechénia era facilmente acessível por terra. E os chechenos lutariam sozinhos. Durante 1992 e 1993,
o PR Dudayev visitou muitos países do Médio Oriente, bem como a Grã-Bretanha, França e EUA,
mas nenhum reconheceu a independência da Chechénia. Nenhum estado vizinho deu abrigo ou rotas
de fácil acesso para abastecimentos, nem os estadunidenses enviariam mísseis Stinger, como fizeram
no Afeganistão. Os outros estados caucasianos temiam represálias russas se envolvessem problemas
económicos e étnicos internos; além disso, séculos de invasões de escravos e gado pelos chechenos
não os tornaram queridos na região. Com o tempo, a Turquia protestaria contra a invasão russa, e a
Arábia Saudita apelaria a outros estados muçulmanos para reclamar com os russos, mas havia pouco a
fazer. No entanto, de facto, poder relativo das forças adversas era radicalmente diferente do que essas
circunstâncias poderiam sugerir.

Condição Geral do Exército Russo


“O exército, em conjunto com o Partido, era a União Soviética”. Naturalmente, “à excepção do PC,
nenhuma instituição sofreu mais com a dissolução da URSS do que as forças armadas soviéticas” 17.

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Na década 90, a exaustão, mal-estar e a ruptura geral da sociedade russa estavam a atingir proporções
alarmantes. A população estava a decair; de facto, a Rússia ingressa nas fases iniciais de verdadeira
crise demográfica. Em 1999, o orçamento nacional russo era menor do que o de Illinois 18.
Os russos foram para a Chechénia apenas em meia-dúzia de anos após o desastre no Afeganistão. As
fraquezas militares soviéticas manifestadas naquele país infeliz não foram seriamente abordadas, na
verdade foram deixadas piores. Mesmo depois do Afeganistão, Exército russo fez pouca preparação
para a contra-subversão, especialmente nas cidades. Com excepção das unidades de elite Spetnaz, “na
década de 80, o combate urbano não era mais o foco de exercícios aprofundados e os livros didácticos
militares ignoraram a questão quase inteiramente”19. A maioria dos soldados russos recebeu menos de
6 horas de treino para a guerra urbana 20. A última unidade do Exército russo, especializada em
combate urbano tinha sido entregue ao MAI em Fev94 quando a maioria dos Oficiais renunciou21. O
Exército anteriormente tinha fechado as Escolas de Franco-atiradores.
Tal como o Exército soviético antes deste, o Exército russo continuou a treinar (visto que fez algum
treino) para a Grande Guerra contra a OTAN, não para luta urbana. E então, no início dos anos 90, a
retirada russa da Europa Oriental e da URSS ocidental seguida por cortes orçamentais volumosos e
mal planeados. Até o pagamento salarial básico do Exército parecia além dos interesses ou
capacidades dos políticos: em 1996, a maioria dos Oficiais russos tinha empregos temporários. Em
várias ocasiões, as mulheres dos Oficiais do Exército bloquearam pistas de aterragem para dramatizar
a urgência aflita de pagamentos atrasados dos maridos22.
O combate urbano exige muita iniciativa de Oficiais subalternos, qualidade notavelmente ausente nos
exércitos antes e após soviético. À luz da experiência russa de combate em cidades de Sebastopol e
Estalingrado a Berlim e Budapeste, essa ausência de iniciativa sublinha mais o preço que os russos
pagaram por 70 anos de rigidez comunista.
A brutalidade russa estava que prestes a demonstrar na Chechénia reflectia a dureza dentro do Exército
soviético e russo. Espancamentos, violações e assassinatos de jovens recrutas eram comuns. Cerca de
2 mil recrutas morriam por ano, de colapso nervoso e físico ou suicídio. Em 1997, 487 soldados russos
foram oficialmente registados como tendo tirado as próprias vidas. Em 1996, cerca de 1 100 soldados
foram assassinados, principalmente por camaradas. Sem dúvida, os números são muito baixos23. Como
poderia o tão importante espírito de corpo existir num mundo de crueldade selvagem praticada não só
contra jovens soldados, mas também contra sargentos?24.
Além disso, cerca de 85 % dos jovens foram isentos ou adiaram o serviço militar. Aliás, em 1992-1994,
a evasão do serviço militar nalgumas cidades chegou a 75 %25. Os efectivos recrutados muitas vezes
não apareciam ao alistamento, ou foram considerados incapazes para o serviço devido a problemas
médicos ou falta de escolaridade. Assim, o Exército teve de admitir magalas deficientes físicos e
mentais e criminosos; este último grupo compreendia cerca de 1/3 dos efectivos empossados, facto que
explica em muito a conduta desse Exército em relação aos civis na guerra na Chechénia27. Em 1996,
para preencher as fileiras de Oficiais subalternos, as academias militares começaram a formar cadetes
antes de concluir a preparação28. De acordo com uma autoridade, as unidades do Exército estavam tão
fracas que os 70 mil soldados que deveriam ser destacados para a Chechénia em 1994 provavelmente
não passava de 15 mil29. Além disso, de acordo com o estudo da Marinha dos EUA sobre o conflito,
“alguns soldados [russos] realmente entraram em combate sem armas ou munições”30.
Os resultados de anos de cortes no treino foram devastadores. A maioria dos batalhões dedicava-se ao
treino de campo só uma vez por ano31. “Alguns militares [russos] não sabiam cavar uma trincheira,
colocar minas, preparar posições com sacos de areia ou disparar uma metralhadora, muito menos
conduzir operações urbanas”32. A maioria dos batalhões não estava completamente afeito com
combates nocturnos, a hora favorita dos subversivos em Grozny. Muitas vezes as condições, mesmo
em unidades de elite, não eram melhores. “Que força de elite séria em qualquer lugar do mundo”,
pergunta o estudioso da guerra, “faz do recruta com 18 anos em 6 meses de serviço sargento?”33. Os
russos feitos prisioneiros na Chechénia muitas vezes não sabiam onde estavam ou quem era o
inimigo34. É claro a logística russa era medonha. A escassez de alimentos era indigna: em Grozny
matavam e comiam cães de rua35. Pior ainda, “as unidades logísticas amiúde não adquiriam água
potável, cujas tropas consumiam água contaminada, dando problemas de saúde [adicionais]”36.
Ninguém parecia saber como cuidar dos “recrutas adolescentes subnutridos e destreinados que
morreram na Chechénia”37. A sua condição provocou pena até às mulheres chechenas das montanhas:

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“tem-se quase de sentir pena desses recrutas russos, estão tão famintos e miseráveis”38. De acordo com
o GEN Valery Vostrotin, em toda a Chechénia grande número de Oficiais e soldados estavam o tempo
todo ébrios39. Os sóbrios muitas vezes aceitavam subornos para deixar os chechenos passarem pelas
suas linhas. E suponha-se que os russos realmente tivessem cortado todos os corredores de
abastecimento na Chechénia? Não importa; muitos soldados russos voluntariamente vendiam armas
aos subversivos chechenos: “Enquanto Ivan estiver aqui, sempre haverá armas para nós atirarmos
nele”40. Compreensivelmente sem confianças nas aptidões das suas tropas de conscritos, os Oficiais
russos contavam com os bombardeamentos aéreos e Artilharia para expulsar os rebeldes das
posições41. Essa prática teve vários efeitos seriamente negativos. Uma cidade bombardeada pode
fornecer boas posições para os defensores; os guerrilheiros simplesmente cavaram em prédios em
ruínas e esperaram, muitas vezes faziam uso de túneis e abrigos subterrâneos. As ruínas de Grozny
tornaram-se tipo de floresta para guerrilheiros.
Pior ainda, a dependência excessiva da Artilharia e poder aéreo produziu muitas baixas por fogo
amigo. “O fratricídio foi problema sério e contínuo durante toda a campanha. Unidades mal treinadas,
a operar em ambiente de batalha confuso e incerto, muitas vezes incapazes de distinguir amigo do
inimigo, sem liderança de qualidade e coordenação entre unidades, eram muitas vezes tão perigosas
para si quanto para os chechenos”42. As aeronaves russas foram responsáveis de quase 60% das mortes
das tropas na primeira batalha de Grozny, embora os aviões não tenham começado a apoiar as forças
terrestres na cidade até 03Jan43. Os pilotos voavam muito alto porque temiam o fogo antiaéreo. Além
disso, eram obviamente mal treinados: os pilotos de combate tinham 25 horas/ano de voo, comparado
com 250-300 horas dos da OTAN. As inúmeras baixas infligidas às tropas terrestres russas pelas
próprias aeronaves simplesmente devastaram o moral 44. Aliás, os soldados acreditavam que as perdas
eram várias vezes maiores das referidas nos relatórios oficiais. A propaganda soviética sempre contou
mentiras (em especial no Afeganistão), e todo mundo sempre soube disso; portanto, ninguém
acreditava nos boletins do exército russo 45. Além do mais, esta foi a primeira guerra televisiva da
Rússia, e esse facto ainda minou a crença nos relatórios oficiais de baixas46. Assim, “o Exército estava
atolado numa das situações mais desastrosas que experimentou”47.

Inteligência Russa
Enquanto se preparavam para a invasão da Chechénia em 1994, “os militares russos – e evidentemente
próprio o governo – ajustaram o caso de amnésia histórica, e esta por sua vez, constituiu falha de
inteligência de proporções imensas”48. Além de não se lembrarem do passado ou nunca souberam dos
chechenos, os serviços de inteligência russos subestimaram completamente a realidade do seu
nacionalismo, vendo-os apenas como grupo de clãs49. Mas o autor da grande obra sobre as guerras da
Chechénia descobriu que o nacionalismo (e certamente não o fundamentalismo islâmico) era a sua
ideologia motivadora50. Os russos queriam acreditar que a operação na Chechénia seria como as de
Budapeste e Checoslováquia: fechar fronteiras, varreriam o território, tomavam a capital, cercavam a
liderança rebelde, constituíam regime fantoche, retiravam o Exército e entregavam a responsabilidade
às forças do MAI. “A vitória seria alcançada através da admiração”51. Por causa das falhas de
inteligência e reconhecimento incrivelmente pobres, os planeadores militares russos não perceberam
que os chechenos estavam-se a preparar há meses para defender Grozny, de facto tinham CC, lança-
foguetes e unidades antiaéreas e estavam prontos para lutar furiosamente. Essa espantosa falha de
inteligência resultou em parte do facto de a maioria das informações russas sobre a Chechénia vir de
elementos pró-russos de lá e em Moscovo. Além disso, os russos não estavam ansiosos para enfrentar
grande batalha em terreno urbano52. Assim, ignoraram qualquer evidência de Grozny estar bem
defendida e subestimaram nesciamente a força e determinação dos defensores. Evidentemente, “a
invasão militar russa da Chechénia em Dez94 foi o resultado de falha volumosa de inteligência”53.
Para piorar as coisas, se possível, as Cartas russas da área eram inadequadas e de escala errada. E
quando iniciaram as operações, as tropas não conseguiram completar o cerco da cidade por semanas,
permitiram que reforços e suprimentos subversivos entrassem quase à vontade55.

A invasão
O pequeno número de aviões russos começou a bombardear Grozny no início de Dez94. A 11Dez,
forças terrestres russas, possivelmente cerca de 40 mil, entraram na Chechénia. Logo multidões civis

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protestaram e cercaram a maioria das colunas, e os soldados não sabiam o que fazer. Os civis também
pararam outra unidade que acercava-se da Chechénia através do adjacente Daguestão. Na Inguchétia,
soldados de outro destacamento bloqueado começaram a disparar. O confronto resultou na morte de
vários civis e alguns camiões do exército incendiados56. Os combatentes chechenos nas colinas
vizinhas eram imunes aos ataques aéreos diários, minavam ou disparavam em veículos russos a
caminho de Grozny. A operação foi cancelada.
O verdadeiro assalto a Grozny ocorreu em 31Dez94. Seis mil soldados russos atacaram a capital. Os
russos mais tarde afirmaram pelo menos 15 mil combatentes chechenos estavam em Grozny, número
possivelmente três vezes o número real 57. Em CC, a vantagem russa era de 1,6/1, na Artilharia 1,8/158.
Mas a doutrina russa da IIªGM nas operações urbanas, o atacante precisava da proporção de 6/1 para
compensar as vantagens naturais da defesa59. A liderança das forças russas era desorganizada e até
disfuncional. “Na organização inicial da operação, as unidades de assalto eram divididas em eixos
separados, o que complicava a unidade de Comando. O QG não tinha relacionamento contínuo do
planeamento de pessoal com essas unidades separadas. O Comando e Controlo da operação foram
distribuídos entre vários ministros diferentes [em Moscovo]. A cadeia de Comando directa não existia.
A Estrutura de Comando do Distrito Militar do Cáucaso Norte (distrito que incluía a Chechénia) foi
contornada e as decisões para a operação foram tomadas pelo Ministro da Defesa russo, GEN
Grachev”60. Assim a acção foi preparada: “o que aconteceu no dia de Ano Novo na pequeno República
da Chechénia foi o maior desastre militar da Rússia desde a IIªGM”61.
Como regra geral, o melhor procedimento para assumir o controlo de uma cidade defendida é fechá-la
completamente, ocupar grandes edifícios como repartições do governo e fábricas nos arredores e, em
seguida, ir para o centro, estabelecendo metodicamente o controlo, distrito por distrito. Mas o ataque
russo a Grozny veio só de dois lados, principalmente por causa da falta de tropas suficientes. De facto,
os russos não conseguiram cercar Grozny todo o mês de Janeiro, permitindo a Dudayev reforçar as
defesas62. Em meados de Fevereiro, Dudayev usaria o lado Sul ainda aberto para efectuar retirada
ordenada para as montanhas. Tendo falhado em bloquear rotas importantes de entrada e saída da
cidade, os russos cometeram outro erro grave ao irem directo para o centro de Grozny, movendo-se
por avenidas paralelas ladeadas por edifícios substanciais, de modo que as colunas de CC – sem apoio
da Infantaria – não poderiam ajudar-se um ao outro. Os resultados foram previsivelmente desastrosos.

Como Combateram os Chechenos


Para os russos vencerem, tinham de dispersar as forças chechenas ou trazê-las para a batalha e derrotá-
las. Para os chechenos vencerem, tinham apenas de minar a vontade russa de lutar. O objectivo
checheno era infligir baixas suficientes às forças russas para virar a opinião dentro da Rússia contra o
conflito. A Batalha de Grozny foi laboratório útil para essa estratégia. Nas cidades, “o defensor tem
todas as vantagens”, em parte porque lutar em áreas urbanas reduz a importância da tecnologia
(geralmente a vantagem mais importante do atacante) mas acarreta baixas pesadas, tanto militares
quanto civis63.
Os defensores de Grozny eram inferiores em que muitos consideram essencial da guerra moderna:
Artilharia pesada, Cavalaria, poder aéreo e inteligência electrónica. Mas certamente não estavam
desarmados. Toda a área estava inundada de armas após a desintegração da URSS. Quando as tropas
russas se retiraram em 1992, venderam muitas armas pesadas aos chechenos ou simplesmente
deixaram-nas para trás64. Durante o cerco de Grozny, os chechenos contrabandearam armas pelo
Daguestão e compraram ainda mais aos russos (ao abrir na Chechénia empreendimentos comerciais
ilegais, Dudayev obteve muito dinheiro para comprar armas)65. A diáspora chechena, de Moscovo aos
Emirados Árabes Unidos, foi outra fonte de ajuda. E para o equipamento moderno em falta, os
chechenos substituíram a solidariedade, crença completa na justiça da causa e a convicção da
superioridade sobre o inimigo66. Nas palavras de o Comandante militar checheno: “Isso não é um
Exército. É todo o povo checheno que está a lutar”67.
O primeiro período da batalha por Grozny não foi o verdadeiro exemplo de guerrilha urbana, porque a
maioria dos defensores chechenos da cidade foi assente principalmente em tácticas convencionais.
Quando veio o ataque a Grozny, os chechenos, que se prepararam durante meses para defender a
cidade, foram instalados em fortalezas e fortificações, erguidas por indivíduos que serviram no
Exército russo regular68. Os combatentes na capital possuíam dezenas de peças de Artilharia, 150

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antiaéreas, 30 unidades de Artilharia de mísseis e até 35 CC e 40 veículos blindados de Infantaria 69 (os
russos mais tarde alegariam ter destruído 26 CC chechenos e 150 aeronaves)70.
Muitos dos subversivos falavam russo. Isso foi de importância crucial porque, especialmente nos
combates de Janeiro, grande parte do tráfego rádio russo foi transmitido sem códigos. Os soldados
russos queriam evitar o envio de mensagens codificadas (muitas vezes levavam muito mais tempo a
serem transmitidas do que o diálogo simples) pois, quando os controladores aéreos avançados russos
transmitiam as coordenadas para as aeronaves, a AAA chechena teria tempo de alvejá-los e atingi-
los71. Os subversivos deram também aos russos informações falsas sobre canais rádio russos; por outro
lado, as comunicações chechenas eram relativamente seguras porque poucos russos falavam checheno.
O número substancial de chechenos a defender Grozny tinham profundo conhecimento das tácticas
russas pois tinham passado por treino militar russo. O próprio PR Dudayev tinha sido GEN da Força
Aérea soviética; outro destacado líder checheno, Aslan Maskhadov, era ex-COR de Artilharia russa72.
Muitos subversivos tinham recebido treino nos dias em que o governo russo tentava pressionar a
vizinha Geórgia73. O núcleo duro da defesa de Grozny era a guarda nacional chechena de 500
membros, composta principalmente de sujeitos na casa dos 20 anos e veteranos dos exércitos soviético
e/ou russo. Os chechenos montaram três círculos defensivos à volta do palácio presidencial.
Seguraram-no até os russos o bombardearam e explosões, processo que levou um mês inteiro e matou
inúmeros civis. O hasteamento da bandeira russa sobre as ruínas do palácio a 20Jan é geralmente visto
como o fim da Batalha, ou pelo menos dessa fase.
Durante e após o cerco ao Palácio presidencial, os chechenos aplicaram cada vez mais tácticas
clássicas de guerrilha. À medida que a Batalha avançava, contavam com equipagem ligeira, incluindo
armas AC portáteis; usavam automóveis como plataformas de morteiros para emboscadas 75. Os civis
muitas vezes guiavam soldados russos pelas ruas de Grozny para essas ciladas, nas quais os chechenos
se destacavam. Atingiram posições inimigas pequenas ou expostas e logo dispersavam, desapareciam
entre a população civil, ou emboscavam colunas russas vindas para o resgate. Unidades chechenas
cercadas escapavam dispersando-se em grupos pequenos durante a noite. Mas a sua mobilidade
permitiu a concentração rápida de vários grupos de combate para ataques desmedidos, mesmo os de
tamanho Regimento. Os subversivos geralmente procuravam o inimigo, mesmo quando em menor
número. Em contraste, as unidades russas tentaram evitar a batalha 76. Os combatentes chechenos
“abraçavam” as forças russas, ficando perto delas para neutralizar a Artilharia e o poder aéreo.
Enviavam grupos de caçadores velozes para atacar CC e assentavam minas anti-CC em todos os
lugares. As más comunicações russas facilitaram todas essas tácticas. Estas queriam parar de lutar
depois de escurecer e abrigar-se nas posições, mas os chechenos gostavam de lutar à noite77. O gosto
pelo combate nocturno e a letalidade dos franco-atiradores enchiam os soldados russos de pavor
constante.
Os subversivos estavam em casa; conheciam Grozny. Melhoraram as rotas de mobilidade e vias de
comunicação abrindo paredes de caves em quarteirões inteiros da cidade. Usaram redes de passagens
subterrâneas para evacuar feridos e trazer reforços e suprimentos. Como o Exército polaco em
Varsóvia fizeram bom uso do sistema de esgotos. O poder aéreo russo dominava os céus de Grozny,
mas os sistemas de comunicação subterrâneos chechenos limitavam-lhe a eficácia. Além disso, “os
russos descobriram que os helicópteros eram muito vulneráveis a franco-atiradores e emboscadas em
ambiente urbano”78. Todos estes perigos giravam à volta das tropas russas, que procuravam, sem
sucesso, segurança dentro dos veículos79.

Subversivos contra Carros de Combate


Enquanto a primeira Batalha de Grozny, as perdas de CC russos foram maiores que o inevitável, como
ocorreu em Budapeste.
Os comandantes das unidades russas não estavam totalmente familiarizados com Grozny e não tinham
Cartas boas, então perderam-se na cidade com o dobro da área de 151,11 km2 (i.e., a área total das
sub-regiões como Grande Lisboa, Baixo Mondego, Baixo Vouga, Grande Porto e Dão-Lafões). As
unidades blindadas russas tiveram de se dividir em colunas estreitas para aproximação do centro da
cidade, por ruas longas alinhadas com edifícios de vários andares e, portanto, eram alvos fáceis para
emboscadas. De acordo com os fuzileiros navais dos EUA, “veículos blindados não podem operar em
cidades sem amplo apoio de Infantaria apeada”80. Mas os CC russos em Grozny não a tinham. Assim,

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facilmente poderiam ser atacados do segundo ou terceiro andar de prédio ou de caves, lugares para os
quais as peças dos CC não podiam apontar. A tendência russa era ficar dentro dos veículos durante as
emboscadas, dando aos subversivos a oportunidade de lançar granadas-de-mão das varandas. Assim,
em Grozny “a maioria dos golpes letais [em CC] veio de cima, facilmente penetravam torres e convés
de motores, e por trás”81 (vid. passagem de Tucídedes supracitada na introdução).
Os chechenos distinguiram-se na clássica emboscada aos CC: deixavam a coluna de CC avançar em
profundidade pelas avenidas da cidade, depois desactivavam o primeiro e o último CC e lançavam
explosivos e gasolina dos andares superiores ou telhados nos CC do meio. É fascinante e desanimador
descobrir “como ocorreu 50 anos antes em Berlim, colunas inteiras foram efectivamente paralisadas ao
imobilizarem veículos da frente e retaguarda”82. As tripulações dos CC desactivados tornavam-se
alvos fáceis quando saíam dos veículos. O lançador de foguetes granadas (RPG), muito eficaz contra
CC, era a arma preferida dos subversivos. Relativamente barata exigia somente um operador. As
baixas das tripulações foram muito altas. Como na Revolta de Varsóvia, meio século antes, os
melhores algozes de CC eram quase sempre adolescentes83.
Assim, os subversivos negaram seriamente a vantagem russa em equipagem pesada. A vulnerabilidade
dos CC nas ruas das cidades acabou por relutantemente forçá-los a usar Infantaria em número
substancial. Os russos aprenderam a montar protecção em tela de arame a vários centímetros do corpo
do CC; colocavam também veículos indefesos à frente da coluna em movimento para provocar a
emboscada. Mesmo com essas tácticas aprimoradas, os russos perderam mais da metade dos veículos
blindados enviados para Grozny. “Se tivermos em conta a relação entre as forças de ataque e defesa,
deve-se concluir, em termos percentuais, as perdas de equipamentos blindados [russos] nas batalhas de
rua de Grozny foram ainda mais graves do que em Berlim [em 1945]”84. Mas, sem dúvida, aqueles que
pagaram o preço mais alto de todos pela batalha de Grozny foram os habitantes civis.

O Exército Russo Contra Civis


As forças russas que atacaram Grozny em Jan95 “só não foram capazes de conduzir operações
militares complexas, em especial uma que exigia o uso discriminado do fogo e evitar ferimentos e
danos colaterais”85. Mais do que danos colaterais: a invasão da Chechénia tornou-se “a guerra contra
todos os chechenos, tanto os que queriam ficar na Rússia quanto aqueles que não queriam”86. Muitas
aldeias desejavam ficar fora da guerra e fizeram acordos com as forças russas, mas foram impedidas
de o fazer pela brutalidade indiscriminada dos invasores87. Aos olhos dos soldados russos, os
chechenos não eram e não podiam ser russos, mas eram povo estranho, perigoso e abominável. O
relatório da organização Médecins sans Frontières (Médicos sem Fronteiras) afirmava que as tropas
russas colocavam mulheres e crianças em CC para servirem de escudos humanos e usavam-nos como
cobertura para entrar nas casas e saqueá-las88.
Os russos lançaram toneladas de explosivos em Grozny para eliminar franco-atiradores. Essa prática é
claro, afastou civis chechenos e russos e acabaram recrutas para a subversão89. Após reveses iniciais,
os russos começaram a usar Artilharia substituindo as manobras em terra; a intensidade do fogo de
Artilharia atingiu o nível das batalhas da IIªGM. As preocupações com as baixas civis resultantes
desapareceram, indicador seguro da deterioração do moral e da disciplina 90. “Os russos capturaram
Grozny principalmente através do uso de poder de fogo excessivo e esmagador, e com grande custo
mesmo para estes e população chechena local”91. De facto, “as ações militares russas mostraram
indiferença quase completa em relação às baixas. Os restos de soldados russos, rebeldes chechenos e
civis inocentes foram deixados a apodrecer nas ruas por semanas” 92. Os russos acreditavam que foi
positivo a destruição de Grozny e outros centros, porque eliminaria posições potenciais e tornaria
impossível aos subversivos se esconderem entre os civis, que teriam fugido ou morrido93.
O exército russo não sabia ou não se importava com o facto de a maioria dos habitantes de Grozny não
serem chechenos, mas russos. A maioria destes vivia em grandes blocos de apartamentos reservados
aos russos no centro da cidade, onde ocorreu a maior parte dos combates. Aqueles que puderam fugir
da área de Batalha fizeram-no, deixando para trás principalmente pessoas idosas sem lugar para irem.
Assim, as baixas civis russas foram muito altas; na verdade, parece que a maioria dos civis mortos por
bombardeamentos e fogo russos de Artilharia em Grozny eram russos94.
Os abastecimentos russos para levarem água potável para a cidade devastada eram inadequadas, de
modo os civis sobreviventes a todas as explosões ainda sofreram terrivelmente, e a hepatite e a cólera

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espalhara-se entre civis e soldados95. Mas não foram só os efeitos da guerra normal. Por mais feroz
que fosse, afligia civis de Grozny. Nesta guerra “contra toda a população da Chechénia”96. Os
soldados cometeram atrocidades aleatórias contra pessoas, propriedades e animais; saques,
espancamentos, violações, incêndios criminosos e até assassinatos – contra chechenos e russos –
aconteceram abertamente97 (durante a IIªGM, o EV comportou-se da mesma forma na Alemanha
Oriental “libertada” e Estaline explicou ao PR Benes da Checoslováquia que o EV “não era composto
de anjos”98. Certamente ninguém duvidou.

Vítimas
É muito difícil saber com certeza quantos combatentes chechenos morreram nesta Batalha por Grozny.
Na verdade, não se pode ter certeza de quantos chechenos combatentes havia ao todo. Algumas fontes
russas afirmam que 15 mil subversivos chechenos foram mortos; fonte americana coloca o número
entre mil e 4 mil99. Mais de 1 200 soldados russos foram mortos em acção100. Durante a guerra até o
final de 1997, fontes russas indicam cerca de 3 mil soldados russos mortos, 13 mil feridos; 800 presos
ou desaparecidos101. As estimativas de óbitos civis nos combates de Grozny vão de 4 mil a 27 mil;
quanto menor o número, maior a proporção dessas mortes composta por russos étnicos102. Para
comparação, durante a guerra de 10 anos no Afeganistão, pereceram entre 13 mil e 15 mil soldados
russos. O primeiro conflito checheno custou aos russos 2 trilhões de rublos em equipamentos de
combate, dinheiro suficiente para sustentar todo o Exército russo por meio ano103.

A Segunda Batalha por Grozny


Na Primavera de 1996, as forças chechenas lançaram grande esforço para expulsar os russos de
Grozny. Esta Segunda Batalha por Grozny seria a maior operação ofensiva chechena da guerra de
1994-1996. Pretendiam infligir custos e baixas suficientes para mostrar-lhes que a guerra estava num
impasse, para que se cansassem de todo o conflito. Os objectivos foram bem-sucedidos: o efeito da
recaptura de Grozny na opinião pública na Rússia seria quase comparável ao efeito da Ofensiva do Tet
de 1968 na opinião pública nos EUA104. Muitos dos soldados russos participantes da Primeira Batalha
por Grozny foram transferidos de volta para a Rússia; assim, a cidade agora ocupada em grande parte
por tropas inexperientes, facto facilitador de muitos objectivos chechenos.
O primeiro ataque checheno a Grozny ocupada pelos russos essencialmente foi ataque, realizado entre
06 e 19Mar96. Várias centenas de combatentes chechenos chegaram à estação ferroviária de Grozny
de comboio, surpreendendo completamente a guarnição russa. Causaram tremendo pânico e danos até
se retirarem, levando consigo muitos reféns.
Pouco tempo depois, os russos obtiveram o único sucesso real em toda a guerra: o ataque com mísseis
matou o PR Dudayev a 22Abr. Os russos talvez odiassem-no mais do que qualquer outro checheno
vivo ou morto e, logicamente, a morte tornaria mais fácil para se concluir o acordo de paz mais tarde.
Os chechenos montaram o ataque principal em Grozny e nalgumas outras cidades importantes em
06Ago. Mostraram no ataque de Março com que facilidade poderia entrar em Grozny, mas, mesmo
assim, os russos não melhoraram as defesas da cidade. Os chechenos fizeram circular panfletos a pedir
aos soldados russos que desertassem e aos civis deixassem a cidade. No entanto, o ataque foi outro
grande pasmo para os russos. Em 06Ago96, cerca de 1 500 combatentes chechenos, muitos dos quais
já tinham entrado em Grozny a pé, atacaram a guarnição russa de 12 mil soldados e 200 veículos
blindados106. O plano geral era capturar a maioria dos edifícios governamentais mais importantes da
cidade, atacar colunas de resgate que entravam em Grozny e prender as tropas russas noutras áreas da
Chechénia para as impedir de irem para a cidade107.
Os chechenos fecharam as principais avenidas de acesso à cidade e penetraram o centro, causando
inúmeras baixas aos confusos russos. Logo a maioria das unidades russas ficaram bloqueadas no meio
da cidade. Em 16Ago, os combates cessaram. Em 18Ago, o ex-candidato presidencial russo Alexander
Lebed, agora encarregado da segurança, concordou com o cessar-fogo. Sob os seus termos, a cidade
ficaria temporariamente sob controlo duplo, até as tropas russas a evacuassem; a questão das relações
exactas da Chechénia com a Rússia seria adiada por cinco anos, até 2001. Os russos começaram a
retirar-se da cidade no final de Agosto. A 04Jan97, as últimas unidades militares russas retiraram-se da
Chechénia. Foi o fim (pelo menos por algum tempo) da presença militar russa com séculos de idade. O
total de baixas russas na Segunda Batalha de Grozny acercou 500 mortos e 1 400 feridos e

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desaparecidos. Foram destruídos 18 CC russos e 69 outros veículos blindados108. A queda de Grozny
em Ago96 foi a “pior derrota militar da Rússia desde os desastres da [invasão nazi] em 1941” 109.

As Raízes do Desastre Russo


De acordo com muitos profissionais observadores e analistas, “a intervenção [na Chechénia, Dez94]
violou quase todas as regras da guerra moderna”110. De facto, “o ataque a Grozny elevou o nível de
erros [do Exército russo] a novos patamares de estupidez. O ataque violou todas as doutrinas
convencionais básicas e o bom senso”111.
Os analistas russos tendem a ver o custo da campanha de 1995 como resultado de três factores
principais: falha em isolar a cidade de Grozny; ausência de apoio público à guerra; e má coordenação
de forças, em especial entre o Exército e o Ministério da Administração Interna 112. Este último factor –
coordenação – também atraiu a atenção de analistas ocidentais. V.g., “a causa única e primordial por
trás da derrota russa na Chechénia foi a dissensão entre os vários níveis e ramos de Comando”113.
Há muito mérito nessa visão: decerto, as tropas russas careciam de a cadeia de Comando clara.
Diferentes comandantes de alto escalão reiteradamente davam ordens contraditórias aos mesmos
subordinados. A identidade de quem detinha os mais altos cargos de Comando na Chechénia mudava
com notável frequência. Além disso, todos notavam que a força que invadiu a Chechénia em 1994 foi
reunida a partir de elementos díspares, “colecção desorganizada de várias unidades”, sem tempo para
aprender a operar em conjunto114. A falta de coesão indiscutivelmente era a grande fraqueza russa.
No entanto, para alguns outros, “ficou claro que os problemas da Rússia eram antes basilares do que a
coordenação de forças. Em vez disso, estavam enraizados na baixa qualidade geral de treino e
competência das tropas”115. Ainda outros comentadores identificaram o desastroso nível de moral de
muitos soldados russos na Chechénia como “maior razão para a derrota russa”116. O baixo moral dos
russos tinha, é claro, múltiplas causas. Provavelmente poucos russos, tanto nas forças armadas quanto
no público em geral, realmente desejavam perder o território da Chechénia. Menos ainda, porém,
consideravam os chechenos verdadeiros russos; a maioria desprezava-os como povo estrangeiro,
islâmico, traiçoeiro e criminoso, “o grupo nacional mais odiado da Rússia” 117. Houve muita oposição
aberta e vigorosa de Oficiais russos de alto escalão contra a intervenção118. Quinhentos e quarenta
Generais, outros Oficiais e sargentos demitiram-se do Exército em vez de ir para a Chechénia 119. O
sentimento entre os soldados de que a Chechénia não era realmente parte da pátria russa “era da maior
importância determinar o nível do espírito de luta”120. Na frente interna, o governo não conseguiu
mobilizar a opinião pública para objectivos claros.
Talvez de igual importância, a Rússia não tinha nada – nunca teve nada – para oferecer aos povos da
Ásia excepto força: nenhuma ideologia atraente, qualquer sucesso invejável, ou ordem viável,
prosperidade, ou justiça121. Assim, ao lidar com povos coloniais e/ou subordinados, os soldados e
administradores russos nunca sentiram que poderiam tomar como certa a superioridade da sua
civilização, como fizeram os franceses, britânicos e estadunidenses.
As campanhas na Chechénia expuseram a “desmoralização, corrupção e ineficiência desenfreada dos
militares russos”122. Antes da guerra, as elites políticas russas, empenhadas no auto-enriquecimento a
qualquer custo, presidiam à humilhação do Corpo de Oficiais russos, a falta de substituição ou
manutenção de equipamentos antigos e cortes no treino de exército sem espírito de corpo ou mesmo
simples orgulho como resultado da brutalidade chocante contra jovens recrutas e sargentos. Em suma,
“o exército russo simplesmente não tinha em condições de lutar alguma guerra”123.
Mas isso é apenas parte da história do fracasso russo. Dois ilustres estudiosos da URSS escreveram:
“É difícil acreditar que o exército russo tenha achado tão difícil dominar e derrotar os rebeldes
chechenos”124. Mas por que era tão difícil de acreditar? O Exército russo sofria de múltiplas
patologias, muitas das quais surgiram anos antes no Afeganistão. Mas estes tornaram-se tão
proeminentes, como fatalmente visíveis na Chechénia, em grande parte porque os russos estavam a
lutar contra inimigo admirável. É erro da maior magnitude e do mais profundo perigo presumir
automaticamente que as forças armadas de qualquer sociedade “moderna” ou “grande potência” irão
simplesmente brincar com a resistência de qualquer povo “tradicional” ou “primevo”. Os chechenos
viam-se como raça guerreira briosa que tinha sido selvática e sistematicamente maltratada. Estavam a
lutar na própria terra, pela independência do odiado opressor histórico. A certeza de pertencer à
religião autêntica presumivelmente reduzia o medo da morte, pelo menos para alguns. Tinham muitas

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armas e usavam tácticas aprendidas com gerações de batalhas de toca-e-foge. Estavam a lutar contra
inimigos, a maioria dos quais teria ficado feliz em abandonar o país, assim como partiram do
Afeganistão só alguns anos antes. Para vencer, os chechenos tinham somente não perder.
E assim aconteceu “a vitória das forças separatistas chechenas sobre a Rússia foi dos maiores épicos
de resistência colonial do século passado”125.

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VIII. Conclusão: Contemplar Ontem e Hoje

Devemos rever agora os aspectos igualmente essenciais das oito subversões urbanas examinadas neste
volume, para ver quais as características relevantes comuns exibiram e o que as lições sugerem.

Varsóvia
Cinco anos de selvageria nazi tornaram inevitável a Revolta em Varsóvia. Mas, além disso, os líderes
tinham grandes expectativas de ajuda externa. Os exércitos soviéticos estavam a acercar-se depressa do
Leste, e a resistência esperava que o poder aéreo aliado ajudasse a superar a lamentável escassez de
armas e munições. A Revolta poderia muito bem ter sido bem-sucedida se qualquer dessas expectativas
tivesse sido cumprida. Mas Estaline parou as forças à vista de Varsóvia em chamas, e os aviões aliados
viram muito perigo que voar para a cidade sem permissão de reabastecer ou pelo menos pousar em
território ocupado pelos soviéticos. Além disso, aos olhos das potências ocidentais, Varsóvia estava
distante do campo de batalha decisivo da Normandia. No entanto, os combates continuaram na cidade
isolada por meses, durante os quais centenas de CC alemães foram destruídos. Mas no final, traída pelos
soviéticos e submetida aos nazis, Varsóvia – capital do primeiro estado a resistir a Hitler – pereceu em
sangue e fogo.

Budapeste
Em 1956, provocadas por década de repressão, incompetência e falsidade, manifestações massivas de
protesto, mas ordenadas de estudantes e trabalhadores confrontaram o partido-estado estalinista
húngaro na capital. Os disparos indiscriminados pela odiada polícia política contra multidões levaram
o regime à crise; o lado do exército com os manifestantes levou-o à ruína, como Petrogrado em 1917.
Mas, após alguma hesitação, os líderes do Kremlin decidiram que o golpe, apesar de sem derramar
sangue; de a satrapia comunista dependente do outro lado da fronteira soviética, na parte do mundo
tacitamente declarada como esfera de influência, era inaceitável. Moscovo enviou a força esmagadora,
isolar Budapeste do resto do país e a própria Hungria do resto da Europa. A maioria dos invasores não
entendia nem a língua nem a cultura húngara e não era inibida por observadores externos. Como em
Varsóvia, 12 anos antes, as perdas de CC pelo invasor foram tão impressionantes quanto inopinadas.
Mais uma vez, como em Varsóvia, o mundo exterior não respondeu aos gritos de socorro cada vez
mais desesperados. Inevitavelmente, portanto, a força bruta sufocou a revolta de Budapeste.

Argel
A origem da subversão na cidade de Argel está no fracasso da subversão nas áreas rurais. Como quase
todas as guerras de descolonização da década 50 e posteriores, a rebelião argelina contra o domínio
francês foi a guerra civil, na qual elementos substanciais da população muçulmana ficaram do lado dos
franceses. Assim, os gálicos foram capazes de construir a rede operacional e de inteligência eficaz
entre ex-militares muçulmanos e inimigos locais da FLN. O isolamento sistemático e quase hermético
da Casbah, seguido de buscas minuciosas, meticulosas e repetidas, permitiu logo aos franceses
capturarem a maioria dos líderes e sublíderes da organização FLN em Argel.
Na Argélia, como no Vietname na década seguinte, os subversivos, incluindo (especialmente) os
guerrilheiros urbanos, foram derrotados, mas os mestres políticos conseguiram, no entanto, obter o
controlo das suas sociedades. Os métodos de contra-subversão francesa na Argélia foram bem-
sucedidos, mas a FLN foi vitoriosa na França e no cenário mundial. “Aqui residia o contraste básico: a
França era forte militarmente na Argélia, mas em casa era fraca politicamente; a FLN era débil
militarmente em casa, mas forte politicamente no exterior” 1.
A chave exacta para a ruína da Argélia francesa foi a visão gaulista do próprio papel da França na
Europa. Mas, as polémicas giravam à volta da tortura por elementos militares divide o Exército da maior
parte da opinião pública e dentro, e toda a questão ressurgiu de forma contenciosa nos últimos anos.

América Latina
Durante a década 60, os governos do Uruguai e Brasil viram-se confrontados com supostos
movimentos de guerrilha urbana cujas actividades eram geralmente difíceis de distinguir daqueles de

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meros bandos terroristas. O governo uruguaio não era estrangeiro nem repressivo. O regime militar do
vizinho Brasil, por outro lado, embora não estrangeiro, era de facto repressivo; mas contou com o
apoio ou aquiescência também de grandes camadas da população civil. Assim, os brasileiros
participaram de eleições regulares para cargos estaduais e parlamentares. Assim, tanto o Uruguai como
o Brasil os subversivos agiram contra o aviso de Ernesto Guevara sobre a impossibilidade de fazer
revolução contra Estado democrático ou mesmo quase democrático. Mas, além desse julgamento
talvez controverso de Guevara (que o mesmo violou na tentativa fatal de iniciar a subversão rural na
Bolívia), os esforços subversivos brasileiros e uruguaios sofriam das mais severas fraquezas
estruturais. Primeiro, em ambos os países, o sigilo e o elitismo dos rebeldes interferiam na propaganda,
recrutamento e até nas operações básicas. Segundo, nalguns estados latino-americanos, Peru e Colômbia,
v.g., o governo historicamente esteve ausente de áreas enormes do campo, deixando abertura para a
organização de grupos subversivos. Mas todos os governos concentram recursos nas principais cidades,
especialmente na capital. Só por isso, a escolha dos subversivos de São Paulo e Montevidéu como
lugares do conflito foram erros estratégicos do tipo crassos. Terceiro, os guerrilheiros urbanos, como os
homólogos rurais mais tradicionais, precisam de algum tipo de base popular para sustentá-los. À
primeira vista, a base natural de tais grupos pareceria consistir em partidos políticos de esquerda e
sindicatos. Mas nem Uruguai nem Brasil a esquerda organizada era muito forte e – mais importante –
em ambos os países a esquerda a maioria opunha-se à guerrilha urbana e especialmente ao terrorismo.
Por último, e talvez o mais importante, nem os terroristas brasileiros nem os tupamaros chegaram
perto de desenvolver alguma estratégia realista para tomar o poder, porque, como o Exército
Republicano Irlandês, mostraram-se totalmente incapazes de qualquer análise séria da situação
política nos seus países. Os extremismos ideológicos dos terroristas latino-americanos urbanos
tentaram disfarçar-se de guerrilheiros, em especial na noção de que destruindo a infraestrutura da vida
urbana ganhariam apoio popular, reflectiam e reforçavam o isolamento da sociedade normal. De facto,
os tupamaros — da classe média, inexperientes, imaturos — combinavam arrogância, incompetência e
ingenuidade a tal ponto que quase se tentaria a ter pena deles.

Saigão
A luta de guerrilhas que explodiu em Saigão e noutras cidades do Vietname do Sul durante a Ofensiva
do Tet de 1968 decorreu de expectativas, ou pelo menos esperanças, de o súbito aparecimento de
numerosos guerrilheiros bem armados nas cidades faria com que o Exército sul-vietnamita
desmoronasse e desencadeasse a revolta forte antirregime entre a população civil presumivelmente
fervilhante. Nenhuma dessas expectativas se mostrou realista; pelo contrário, a ARVN, na maior parte,
lutou bem, e a tão elogiada revolta popular acabou por ser o sonho impossível. Esses dois factores
sozinhos condenaram a subversão guerrilheira de Saigão de 1968. De facto, a confiança na revolta em
massa nas cidades, especialmente em Saigão, foi o maior erro comunista de todo o conflito.
Mas, além disso, a luta em Saigão não foi a verdadeira subversão urbana, certamente não foram no
sentido de Varsóvia, Budapeste ou Grozny – ou mesmo Argel ou Belfast. Em geral, os guerrilheiros
vietcongues na capital eram forasteiros, estranhos, força armada que se deslocava do campo para a
cidade, não familiarizada com a população de Saigão nem na disposição geográfica (o facto de o VC
teve de vir em Saigão é muito revelador do que eram). Portanto, o fracasso da revolta em massa foi
verdadeiramente desastroso para os guerrilheiros. E no segundo dia da revolta, o GEN Westmoreland
bloqueou todo o acesso a Saigão, impedindo o reforço dos subversivos e, assim, dando-lhes o golpe de
misericórdia. A luta dentro de Saigão culminou em desastre para os VC. Depois de Tet, o Vietname do
Sul lutou por mais 7 anos – período mais longo do que a IIªGM – numa luta cada vez mais
convencional, e no final não caiu nas guerrilhas, mas no exército regular do Vietname do Norte.

Irlanda do Norte
O mau tratamento dos elementos minoritários na Irlanda do Norte ao longo de várias gerações
finalmente produziu o movimento de protesto pelos direitos civis que sofreu logo ataques violentos.
Como a polícia não conseguiu subjugar e não quis proteger a comunidade católica, unidades do
exército britânico foram enviadas para restaurar a ordem. A população católica a princípio acolheu-as.
Mas despreparado para o tipo de operação, e com alguns dos membros simpatizantes dos extremistas
Orange, o exército pareceu logo ser apenas nova parte do aparato de repressão. Assim, o caminho para

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o amplo apoio público dentro da comunidade minoritária abriu-se para a Ala do IRA-Provisório,
apesar do facto de a organização estar histórica e ideologicamente afastada da Igreja católica.
Apesar do grave ressentimento da injustiça entre a população católica que capitalizou, o IRA sofria de
fraquezas políticas fundamentais e irremediáveis. A essência de estratégia própria – atacar os
britânicos para fora da Irlanda do Norte – foi totalmente mal concebida: nenhum governo britânico
poderia abandonar a província britânica de Ulster, em especial como resposta à violência criminosa.
Mas outros factores também condenaram os subversivos à futilidade. A pequena área e população da
Irlanda do Norte e capital, Belfast, e o número limitado de elementos pró-IRA nesses lugares foram
vantagens-chave para o lado contra-subversivo. Dentro desse espaço restrito, as tropas britânicas
operavam perto de bases (em comparação, Washington DC, está mais perto do Pólo Sul do que de
Saigão), entre a população de língua inglesa, a maioria da qual simpatizavam e apoiavam-nos, e em
apoio ao sistema político e legal que exibisse pelo menos o ensejo real de reforma. A violência
indistinta ou incompetente do IRA repeliu logo muitos católicos, com o resultado de que a subversão
representou consideravelmente menos da metade a comunidade que era em si minoria da população. O
apoio eleitoral ao Sinn Féin, o braço político do IRA, permaneceu muito abaixo do que a comunidade
católica unida poderia oferecer. Assim, a violência do IRA era sinal não de força, mas de fraqueza.
As subversões em Varsóvia e Budapeste agregaram vasto apoio popular e ainda assim foram vencidas.
Na Irlanda do Norte, a campanha de guerrilha do Exército Republicano Irlandês, apoiada só no
segmento de a diminuta população, não teve conjuntura alguma. Estrategicamente, o conflito aqui
tinha algumas analogias notáveis com o da Malásia após a IIªGM: a localização e o tamanho da
Malásia facilitou o isolamento, e a maioria da população civil eram hostis aos subversivos. Mas
mesmo com essas e outras vantagens, as forças contra-subersivas levaram décadas a concluir a
campanha da Irlanda do Norte.

Grozny
A Batalha de 1994 contra os subversivos em Grozny é chamada frequentemente de o maior desastre
militar da Rússia desde a IIªGM, e não sem razão. O estado e o exército russos (que meia década antes
eram o alardeado Estado e Exército soviéticos) estavam em péssimas condições. O sistema logístico
do Exército, pelo menos na Chechénia, era tão grotescamente inadequado que muitos soldados ficaram
doentes por beber água suja de poças nas ruas. Além disso, os 50 mil soldados enviados para a Batalha
revelaram-se escassos para isolar a cidade (e não era das grandes metrópoles do mundo). Logicamente,
reforços para os subversivos entraram sempre em Grozny e, depois de decidirem abandonar a Batalha,
os subversivos escaparam e persistiram na guerra nas montanhas adjacentes.
Do lado da guerrilha do livro-razão, a maioria dos chechenos nutria a longa história de ódio pelos
russos em geral. Vários dos comandantes da guerrilha em Grozny ocuparam altos cargos no Exército
ou na Força Aérea soviética; portanto, não só sabiam como fazer a guerra, como podiam prever como
os invasores agiriam. Muitos chechenos falavam e entendiam russo, mas muito poucos soldados russos
percebiam o checheno. Os chechenos tinham muitas armas boas, com a vantagem russa em CC e
Artilharia chegando a meros 2/1. Os guerrilheiros podiam neutralizar o poder aéreo russo e o
reconhecimento aéreo através de redes de comunicações subterrâneas e tácticas de “abraçar” – lutar
muito perto do inimigo, como os VC tinham feito. Além disso, “os russos descobriram que os
helicópteros eram muito vulneráveis a franco-atiradores e emboscadas no ambiente urbano” 2. Os
blindados russos também foram vítimas de emboscadas clássicas como na IIªGM. De facto,
proporcionalmente, perderam mais CC em Grozny em 1994 do que em Berlim em 1945. Em Grozny, “a
maioria dos golpes letais [em CC] veio de cima, facilmente penetravam nas torres e cobertura dos
motores e pela retaguarda”. Os combates em Grozny, como Varsóvia e Budapeste, sugerem fortemente
que os “veículos blindados não podem operar nas cidades sem vasto apoio de Infantaria apeada”3.
No entanto, com todas as deficiências, os russos finalmente subjugaram Grozny – mesmo, por sua
própria culpa, não conseguissem segurá-la.

Algumas Lições Aprendidas


Em nenhum lugar do séc. XX a guerrilha urbana alcançou sucesso inequívoco. Ao contrário, de
revoltas verdadeiramente populares e até heróicas em Varsóvia, Budapeste e Grozny a surtos elitistas
em Argel, Montevidéu, São Paulo e Belfast, o registo da guerrilha urbana é de derrota completa e às

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vezes trágica4. De facto, no Brasil e Uruguai os subversivos desapareceram quase sem deixar
vestígios. É verdade que os problemas na Irlanda do Norte duraram muito tempo, mas o sistema
constitucional britânico não entrou em colapso, a Grã-Bretanha não abandonou o Ulster e o Sinn Féin
não chegou ao poder, nem no Norte nem no Sul. Tão pouco promissor, de facto, é o registo da guerra
de guerrilha urbana, em especial nas últimas décadas, os líderes da notória subversão do Sendero
Luminoso no Peru, surgido na década 80, aparentemente nunca sequer contemplaram outra estratégia
senão a do maoismo clássico, pelo menos como a conceberam5.
As fraquezas dos guerrilheiros urbanos persistem no séc. XXI, ilustradas pela Batalha de Faluja em
Nov04. O ataque àquela cidade dominada pelos subversivos a 64 km a Oeste de Bagdade envolveu 6
mil soldados estadunidenses, dos Fuzileiros navais, Exército, Forças Especiais e outras unidades – “o
melhor desde a IIªGM” – apoiados por 2 mil aliados iraquianos6. Opondo-se-lhes estava a força
inimiga bem entrincheirada, estimada em 3 mil de vários tipos7. A maior parte – talvez a maioria – dos
300 mil moradores de Faluja deixou a cidade antes do combate. O assalto começou em 08Nov e
terminou a 20Nov, com a fuga dos insurgentes sobreviventes, à custa de 51 estadunidenses e 1 200
guerrilheiros mortos. No resumo de um jornalista, “A batalha de Faluja ficará na história como
exemplo clássico de guerra urbana. Os militares dos EUA usaram a tecnologia mais avançada e as
melhores tácticas de combate de rua para caçar os insurgentes entrincheirados, mantendo as baixas
civis no mínimo”8. Talvez; em todo caso, os insurgentes perderam a cidade.
Esse histórico infeliz contínuo de guerrilheiros urbanos não pode ser surpresa se reflectirmos que os
subversivos urbanos se desviam quase completamente dos princípios fundamentais da guerra de
guerrilhas erigidos por Clausewitz, Mao Zedong e outros. De acordo com os preceitos, os guerrilheiros
precisam operar em regiões montanhosas, selva ou de outra forma inacessíveis que neguem o poder
das forças convencionais e, de preferência, perto de uma fronteira internacional que possa tornar-se em
santuário ou em fonte de assistência externa. Mas, em contraste dramático, os guerrilheiros urbanos
travam a luta no espaço limitado das cidades com redes de transporte, às vezes muito desenvolvidas,
que facilitam o movimento rápido das forças que qualquer regime despejará na cidade ameaçada,
especialmente uma capital. Além disso, todos os esforços de guerrilha urbana são vulneráveis ao cerco
e à aniquilação final10. Ninguém desenvolveu estratégia para superar os impedimentos estruturais à
guerrilha urbana, nem é fácil prever mutações que reduzam seriamente a sua gravidade decisiva.
Tudo isto é verdade mesmo para revoltas amplamente populares, como Varsóvia, Budapeste e Grozny.
Mas aquelas subversões que receberam apoio de apenas da minoria dos habitantes urbanos – às vezes
minoria bastante exígua – como em Montevidéu, S. Paulo e Belfast, são agravadas com desvantagens
ainda mais graves, incluindo a necessidade de sigilo e anonimato absolutos. Mas além disso, os
tupamaros, seguidores de Carlos Marighella e o Exército Republicano Irlandês comprovadamente
sofriam de sérias e óbvias debilidades analíticas, peculiaridades psicológicas e tendências fratricidas.
As sequelas dessas fraquezas foram expostas em termos tão convincentes pelo distinto estudioso da
subversão J. Bowyer Bell merece citar com alguma extensão. As guerrilhas urbanas “encontram
poucos encantos, mas castigos enormes na clandestinidade, a infinidade de obstáculos à acção e óbices
sempre crescentes. A vida é consumida pelo custo de meramente manter, muito menos a escalada, da
luta armada”. Além disso, a clandestinidade “é sempre inerentemente ineficiente, falhada, geralmente
frustrada fatalmente, criada em desespero por aqueles que fizeram dela o último refúgio antes do
desespero”. Consequentemente, “o [guerrilheiro] não prevê realmente a vitória, mas sim que o regime
vai perder. Assim, o objectivo primordial não é a luta armada, não é a eficiência, mas a persistência”.
Mas, na verdade, “a maioria dos guerrilheiros armados acaba na vala ou na prisão”11. Uma autoridade
calculou que a vida média de o guerrilheiro urbano no Brasil era de um ano12.

Os Estados Unidos e as Operações Militares Urbanas


No entanto, embora o registo sugira fortemente que os conflitos de guerrilha urbana devem
invariavelmente terminar na derrota total dos subversivos, os EUA precisam contemplar o
compromisso de tropas nessas batalhas com extrema relutância, por várias e boas razões. Por um lado,
embora as forças contra-subersivas tenham saído vitoriosas em todos os casos estudados, a vitória teve
custos. "Os planeadores [precisam] de reconhecer a força de subversão residente, goza de vantagens
expressivas sobre até mesmo o agressor estrangeiro tecnicamente superior”, pelo menos no curto
prazo13. As cidades contêm inúmeros alvos fáceis, incluindo centrais eléctricas, sistemas de água e

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telecomunicações, pontes, bancos, e os gabinetes e residências de líderes do governo e empresariais, e
assim por diante. Mesmo a cidade pré-moderna pode revelar-se muito complexa; favelas grandes, às
vezes crescem rapidamente da noite para o dia, impedem o fácil controlo ou mesmo o acesso das
forças de segurança e permitem aos subversivos estabelecer domínio sobre áreas e populações
significativas. De facto, a cidade de Karachi sozinha é grande o suficiente para engolir todo o Exército
dos EUA14.
Outros aspectos do ambiente urbano favorecem também o defensor. Entre os aspectos: a maioria dos
combates ocorre de perto; sistemas de esgoto e túneis subterrâneos para trânsito em massa oferecem
aos guerrilheiros passagem relativamente seguro de um bairro para outro e adicionam a terceira
dimensão muito complicada à batalha; e os prédios da cidade podem restringir as comunicações sem
fio de um Exército15. Além disso, o combate urbano quase sempre requer abundante Infantaria, objecto
com a qual o Exército dos EUA contemporâneo não é excessivamente colmatado16.
Consequentemente, mesmo mal-armado, o oponente determinado ou fanatizado poderia infligir baixas
graves às tropas dos EUA mais bem equipadas e treinadas. E é certo no porvir os guerrilheiros urbanos
vão adquirir armas mais poderosas e tácticas mais eficazes. Mesmo que isso não acontecesse, as altas
taxas de baixas – termo constantemente definido reduzido no discurso público estadunidense – e a
propensão dos meios de comunicação para imagens sensacionalistas quase decerto vão corroer o apoio
público mais cedo ou mais tarde. Essa erosão é mais provável quando a luta ocorre em lugar que
muitos estadunidenses não considerem vital para os interesses nacionais dos EUA ou do qual poucos
deles já ouviram falar, como Mogadíscio ou Faluja 17. Essa aversão por lutar em locais remotos
aumentará drasticamente quando algumas, e talvez mais do que isso, baixas estadunidenses resultam
de fratricídio – fogo amigo – fenómeno que profunda e compreensivelmente consterna grandes
camadas do público dos EUA. Na maioria das vezes, “dadas as perspectivas de cobertura de notícias
genéricas, as operações urbanas terão ramificações políticas generalizadas e imediatas” 18. A mídia
contemporânea tende a exibir qualquer número de baixas estadunidenses e/ou civis como horrendas, e
como catastrófica qualquer batalha. Os inimigos dos EUA estão bem cientes dessas fraquezas e
continuarão a manipulá-las.
Finalmente, muitos observadores enumeraram “características que a história mostrou ser mais eficazes
na contra-subversão [que incluem] perseverança, uso restrito da força e ênfase na inteligência,
aplicação da lei e acção política”19. Decididamente, essas não são características comummente
associadas ao método estadunidense de fazer a guerra. Pelo contrário, “o exercício da violência
máxima para resultados rápidos tem sido a sua propensão”20. De facto, “na cultura estratégica
estadunidense, duas características dominantes se destacam: a preferência por reunir vasto exército de
homens e máquinas e a predilecção por assalto directo e violento”21. Como consequência, “quanto
maior e mais violento for o esforço, mais eficaz será o desempenho dos EUA”22.
Essas tendências de combate não são alicerces promissores para a contrainsurgência urbana, pelo
menos não para a travada pela democracia dominada pelos mídia. A opção pelo poder de fogo denso
pode muito bem salvar vidas estadunidenses, e deixar de o usar pode custar muito caro. Mas o poder
de fogo maciço em áreas urbanas causa muita dor a civis inocentes. Muito poucos estadunidenses
gostariam de ver as casas ou bairros “libertados” da maneira como as forças dos EUA usaram no
Vietname ou na Coreia. Isso cria sério problema ético e moral em si, mas este será ampliado porque as
batalhas urbanas serão assistidas em tempo real pelos mídia estadunidense e estrangeira. Mesmo
quando as forças praticam a contenção em força heróica, não será suficiente silenciar os críticos,
mesmo (ou em especial) na situação comum onde os próprios subversivos analisam deliberadamente
criar o maior número de baixas civis. Se for verdade “ganhar e perder em tal guerra são em grande
parte questão de percepção”, as forças dos EUA estarão em grande desvantagem nesses combates23.
A melhor solução – ou pelo menos a melhor resposta – para essas e outras questões preocupantes pode
ser que os EUA adoptem a política estabelecida contra o entendimento de forças estadunidenses em
operações de contrainsurgência nas cidades. Não faltam comentadores, coevos e historiadores, a dar
conselhos nesse sentido. A autoridade recentemente instou as “operações militares americanas em
áreas urbanas deveriam ser evitadas dentro do possível” 24. Nos primeiros meses da IIªGM, preparando-
se para a blitzkrieg na Europa Ocidental, Adolfo Hitler alertou os Generais que as divisões de CC “não
devem ser perdidas no labirinto de casas sem fim nas cidades belgas25. E mais de dois milénios antes,

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Sun Tzu escreveu: “a pior política é atacar cidades. Atacar cidades só quando não houver
alternativa”26. E há sempre alternativas.
Para os EUA, o cenário mais terrível, a ser evitado a qualquer custo, seria empenhar militares contra
uma subversão urbana que conta claramente com o apoio da maioria da população local. Se, no
entanto, o futuro governo dos EUA determinar não ter escolha real a não ser usar forças contra os
subversivos urbanos, precisa ser claro sobre qual é o resultado desejado, que preço está disposto a
pagar pelo resultado e quais aliados regionais ou outros estarão disponíveis. Também precisará pensar
claramente sobre o papel adequado das notícias dos OCS na área de combate; uma Ofensiva do Tet
num século é suficiente (recordemos a invasão do Panamá no governo do primeiro Presidente Bush, os
jornalistas não tiveram acesso a soldados de Infantaria ou feridos até as operações findarem; mas isso
pode não ser a acção de algum governo dos EUA futuro se sinta confiante o suficiente para escolher).
Uma vez que as tropas estejam comprometidas com a missão de contra-subversão urbana, as chaves
para o sucesso será o isolamento, inteligência e preempção política.
Isolamento. Impedir reforços e materiais cheguem aos guerrilheiros é a necessidade suprema militar:
“Nenhum factor isolado é mais importante para o sucesso do atacante do que o isolamento da área
urbana”27. Os soviéticos isolaram Budapeste do mundo, mas os russos falharam em fazer o mesmo
com grande custo em Grozny. Os franceses não só isolaram a Casbah de Argel, como fecharam toda a
Argélia à assistência aos guerrilheiros vindos de Marrocos e Tunísia; a famosa Linha Morice,
elaborada barreira estendida por centenas de quilómetros ao longo da fronteira com a Tunísia, não só
interditou abastecimentos aos guerrilheiros, mas demonstrou determinação e poder franceses28.
Inteligência. Lembremo-nos da observação de Callwell de que “em nenhuma classe de guerra há um
departamento de inteligência bem organizado e bem servido, essencialmente mais do que aquele
contra os guerrilheiros”. Precisam de conhecimento real dos oponentes: quem são, quantos são, que
armas têm. Mas igualmente importante é o conhecimento do estado de espírito dos oponentes: por que
estes estão preparados para lutar contra os estadunidenses e qual será o resultado de tal confronto. Os
russos não sabiam quase nada do inimigo quando atacaram Grozny em 1994 e, portanto, incorreram
nos castigos previsíveis. Nem sequer está claro se os EUA podem, ou se realmente desejam,
desenvolver aptidões efectivas de inteligência humana em países subdesenvolvidos, local da maioria,
se não de todas, as futuras subversões urbanas. Mas os resultados de inúmeras entrevistas com ex-VC
registadas, e os militares podem enriquecer a compreensão sobre quem participa da subversão, por que
e como, realizam entrevistas não coercitivas extensas e detalhadas com ex-subversivos da Bósnia,
Chechénia, Colômbia, Caxemira e uma dúzia de outras sociedades30.
Preempção Política. O programa político eficaz projectado para ajudar as forças dos EUA prestes a
iniciar a contra-subversão urbana é indispensável. Os elementos essenciais de tal programa incluem
cooptar determinados artigos insurgente que têm ampla popularidade, oferecendo amnistia a todos os
subversivos que se renderem prontamente e prometam sinceramente criar ou restaurar o método
pacífico de buscar mudanças. Este último projecto provavelmente não seria eficaz com a maioria dos
líderes da subversão, mas quase certamente iria exercer influência positiva sobre os apoiantes mais
marginais, civis descomprometidos e – mais relevante – a opinião pública nos EUA. A urna foi
justamente o caixão da subversão. O recrutamento militar ajuda, por mais simbólica que seja, de países
da região do esforço de contra-subversão pode também ser muito benéfico, a menos que a composição
étnica/religiosa das suas tropas incite em vez de desencorajar os subversivos.
Mas, de longe, o componente mais importante de qualquer estratégia política dos EUA é a rectidão,
i.e., a conduta legal por parte das tropas estadunidenses em relação a prisioneiros, desertores,
requerentes de amnistia e civis. Às vezes, ouve-se a crítica de as forças dos EUA não são implacáveis
o suficiente ou não podem ser implacáveis o suficiente, em especial quando enfrentam inimigo cruel e
cobarde. Tal visão é facilmente compreensível, mas extremamente perigosa. Pode ser verdade, em
sentido táctico limitado, “a vantagem distinta se acumule para o lado com menos preocupação com a
segurança da população civil”31. No entanto, a insensibilidade – ou pior – por parte das forças
contrainsurgentes em relação aos prisioneiros e civis muitas vezes mais cedo ou mais tarde cobrará o
preço. A selvajaria nazi prolongou a Revolta de Varsóvia. A indiferença por parte das tropas russas até
mesmo em relação às mortes de civis russos em Grozny não lhes trouxe benefício nenhum duradouro;
pelo contrário, o mau comportamento das tropas fortaleceu a determinação e aumentou o número de

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inimigos e, portanto, as próprias baixas. O tratamento severo dos prisioneiros no conflito argelino
minou a causa francesa e, eventualmente, a solidariedade do próprio Exército francês (a regra vale
para os subversivos: v.g., os excessos dos VC contra civis em Saigão especialmente em Hue durante a
Ofensiva do Tet repeliram grande número de sul-vietnamitas). Na verdade, os rebeldes em Varsóvia,
Grozny, Budapeste e Argel foram derrotados, mas a principal razão da derrota em cada um desses
casos não estava na crueldade dos contra-subversivos, mas na esmagadora superioridade militar.
A conduta correcta das forças contra-subversivas dos EUA – conduta de acordo com as melhores
tradições, ensinamentos, normas legais e instintos das forças armadas – tem recompensas directas,
principalmente na quantidade de inteligência que os contra-subversivos recebem e no número do
inimigo que se rendeu ou desertou. Sobretudo mais, a rectidão por parte das forças de combate
estadunidenses é essencial tanto para a própria disciplina e moral quanto para a maneira como desejam
e precisam ser percebidas pela sociedade. Parafraseando Frederick Douglass: A conduta correcta é o
navio; o resto é o mar.
Quanto mais deploráveis as circunstâncias em que as tropas se encontram, mais importante se tornam
a adesão a altos padrões. Para exemplo específico: nos próximos anos, militares dos EUA envolvidos
em contra-subversão irão capturar terroristas conhecidos ou suspeitos, muitas vezes do tipo mais
horrível – o “inimigo da humanidade, fora-da-lei” de Walter Laqueur – e, assim, vão enfrentar a
tentação quase irresistível de usar qualquer meio necessário para fazer esses prisioneiros desistirem de
informações que poderiam salvar muitas vidas inocentes32. Colocar soldados directamente no caminho
de tais tentações e depois puni-los por lhes sucumbirem é injusto, além de autodestrutivo. O governo
dos EUA, portanto, deve fazer todos os esforços para garantir, o mais rápido possível, sejam
substituídos os métodos tradicionais de interrogatório ou pelo menos acrescentados por instrumentos
de detecção de mentiras mais sofisticados e medicamente legítimos, “drogas da verdade” e técnicas de
análise cerebral33.
No final, a má conduta cria mais subversivos; a conduta correcta salva vidas de contra-subversivos.
Especialmente na guerrilha urbana, a rectidão vale muitos batalhões.

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IX. NOTAS E BIBLIOGRAFIA

Introdução
1. The Landmark Thucydides, ed. Robert B. Strassler (NY: Free Press, 1996), p. 90.
2. Jennifer Morrison e Bruce Hoffman, “The Urbanisation of Insurgency: Potential Challenges to U.S. Army Operations”, Small Wars and
Insurgencies, vol. 6 (Spring 1995), p. 68.
3. Sharon Camp, Cities: Life in the World’s Largest Metropolitan Areas (Washington, DC: Population Crisis Committee, 1990).
4. Vid. dois ensaios notáveis de Ralph Peters: “The New Warrior Class”, Parameters, vol. 24 (Summer 1994); e “Our Soldiers, Their Cities”,
Parameters, vol. 26 (Spring 1996). E vid. Max G. Manwaring, Street Gangs: The New Urban Insurgency (Carlisle, PA: Strategic Studies
Institute, 2005).
5. Steven Metz e Raymond Millen, Insurgency and Counterinsurgency in the Twenty-first Century: Reconceptualizing Threat and Response
(Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 2004), p, 12.
6. Olga Oliker, Russia’s Chechen Wars, 1994-2000: Lessons for Urban Combat (Santa Monica, CA: RAND, 2001), p. xv. Claro que as
tropas contrasubversivas enfrentam a mesma dificuldade nas guerras de guerrila.
7. Anthony James Joes, Resisting Rebellion: The History and Politics of Counterinsurgency (Lexington: Univ. Press of Kentucky, 2004), p. 10.
8. Mao Tse-tung, Basic Tactics, trad. Stuart Schram (NY: Praeger, 1966), p. 102.
9. Sun Tzu, The Art of War, trad. Samuel B. Griffith (London: Oxford Univ. Press, 1963), p. 98.
10. Mao, Basic Tactics, p. 86.
11. Basil Liddell Hart, The Real War 1914-1918 (Boston: Little, Brown, 1930), p. 324.
12. Mao, Basic Tactics, p. 73.
13. John S. Mosby, Memoirs of Colonel John S. Mosby (NY: Kraus Reprint Company, 1969), p. 285. Mosby também aconselhou “se for
lutar, seja atacante”. Jeffrey D. Wert, Mosby’s Rangers (NY: Simon & Schuster, 1990), p. 83.
14. Maquiavel disse, “quando o povo pegar em armas contra si, nunca faltarão estrangeiros para os ajudar”. The Prince, ed. W. K. Marriott
(NY: Everyman’s Library, 1992 [orig. 1515]), p. 100.
15. Carl von Clausewitz, On War, ed. e trad. Michael Howard e Peter Paret (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1976), p. 480.
16. Mao Tse-tung, Selected Military Writings (Beijing: Foreign Languages Press, 1963), p. 171.
17. Um distinto estudioso definiu o terrorismo como “a ameaça ou uso de coerção física, principalmente contra não-combatentes, especialmente civis,
para criar medo a fim de alcançar vários objectivos políticos”. Bard E. O’Neill, Insurgency and Terrorism: From Revolution to Apocalypse, 2d
ed. (Washington, DC: Potomac Books, 2005), p. 33. Vid. tb. Jane’s World Insurgency and Terrorism (Mai-Ago02).
18. Vid., v.g., V. I. Lenin, Collected Works, vol. 6 (Moscow: Progress Publishers, 1960).

I. Warsóvia 1944
1. Norman Davies, Rising ’44: The Battle for Warsaw (NY: Viking, 2003), p. 618.
2. Em Tours, em 732 EC, Charles Martel (Carlos, o Martelo), avô de Carlos Magno, deteve a invasão da Europa pelos muçulmanos.
3. William Henry Chamberlin, The Russian Revolution, 1917-1921 (NY: Macmillan, 1935), vol. 2, p. 306.
4. Norman Davies, White Eagle, Red Star: The Polish-Soviet War 1919-1920 (NY: St. Martin’s, 1972), p. 197. Vid. Thomas Fiddick,
Russia’s Retreat from Poland, 1920 (NY: St. Martin’s, 1990); Waclaw Jedrzejewicz, Pilsudski: A Life for Poland, introdução de Zbigniew
Brzezinski (NY: Hippocrene, 1982); Alexandra Pilsudska, Pilsudski: A Biography by His Wife (NY: Dodd, Mead, 1941); Jozef Pilsudski,
Memories of a Polish Revolutionary and Soldier (London: Faber & Faber, 1931); Jozef Pilsudski, Year 1920 and Its Climax: Battle of
Warsaw during the Polish-Soviet War (NY: Pilsudski Institute of America, 1972).
5. Maxime Weygand, Memoirs (Paris: Flammarion, 1950-57), vol. 2, p. 166.
6. J. F. C. Fuller, A Military History of the Western World (NY: Da Capo, 1987 [orig. 1954-57]), vol. 3, p. 360.
7. Fuller, Military History, vol. 3, p. 360.
8. Fuller, Military History, vol. 3, p. 361.
9. Edgar Vincent, Viscount D’Abernon, The Eighteenth Decisive Battle of World History: Warsaw 1920 (London: Hodder & Stoughton, 1931), p. 172.
10. Fuller, Military History, vol. 3, p. 361; my emphasis.
11. E. H. Carr, The Bolshevik Revolution, 1917-1923 (NY: Macmillan, 1961), vol. 3, p. 218.
12. Antony Polonsky, Politics in Independent Poland 1921-1939: The Crisis of Constitutional Government (Oxford, England: Clarendon
Press, 1972), p. 463.
13. Polonsky, Politics in Independent Poland, pp. 35-45, 470.
14. Vid. Ernest R. May, Strange Victory: Hitler’s Conquest of France (NY: Hill & Wang, 200), p. 277.
15. Vid. Robert M. Kennedy, The German Campaign in Poland 1939 (Washington, DC: Zenger, 1980). Aparecem relatos curtos em Basil
Liddell Hart, History of the Second World War (NY: Da Capo, 1999 [orig. 1970]); Len Deighton, Blitzkrieg: From the Rise of Hitler to
the Fall of Dunkirk (Edison, NJ: Castle Books, 1979); e Hanson Baldwin, Battles Lost and Won: Great Campaigns of World War II
(NY: Harper & Row, 1966).
16. Jan T. Gross, Polish Society under German Occupation (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1979), p. 304.
17. Davies, Rising ’44, p. 95.
18. Timothy Garton Ash, The Uses of Adversity: Essays on the Fate of Central Europe (NY: Vintage, 1990), p. 134.
19. Tadeusz Komorowski [Bor], The Secret Army (NY: Macmillan, 1951), p. 39. “General Bor” era o nome de guerra, e doravante será
referido por esse nome nestas notas.
20. Nuremberg Document 2325, in Joanna K. M. Hanson, The Civilian Population and the Warsaw Uprising of 1944 (Cambridge, England:
Cambridge Univ. Press, 1982), p. 13.
21. J. K. Zawodny, Nothing but Honor (Stanford, CA: Hoover Institution, 1978), p. 167.
22. Stefan Korbonski, Fighting Warsaw: The Story of the Polish Underground State (London: Allen & Unwin, 1956), p. 31. Vidkun Quisling
era o Chefe do regime fantoche na Noruega ocupado pelos nazis. O nome tornou-se sinónimo de “traidor”.
23. Bor, Secret Army, p. 30.
24. Richard Lukas, Forgotten Holocaust: The Poles under German Occupation, 1939-1945 (Lexington: Univ. Press of Kentucky, 1986), p. 13.
25. Bor, Secret Army, p. 28.
26. Josef Garlinski, “The Polish Underground State, 1939-1945”, Journal of Contemporary History, vol. 10 (1975), p. 227; Bor, Secret Army, p. 142.
27. Stanislaw Mikolajczyk, The Rape of Poland (NY: McGraw-Hill, 1948), p. 7.
28. Bor, Secret Army, p. 39.

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29. F. H. Hinsley et al., British Intelligence in the Second World War, 5 vols. (London: Her Majesty’s Stationery Office, 1979-90), vol. 1: Its
Influence on Strategy and Operations, pp. 487-95; Davies, Rising ’44, p. 38.
30. William Casey, The Secret War against Hitler (Washington, DC: Regnery Gateway, 1988), p. 43.
31. Bor, Secret Army, p. 151.
32. Garlinski, “Polish Underground State”, p. 229; Davies, Rising ’44, p. 201, 216-18; Hinsley et al., British Intelligence, vol. 3: Its Influence
on Strategy and Operations, pt. 1, pp. 437ff.
33. Korbonski, Fighting Warsaw.
34. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 237 e passim.
35. Bor, Secret Army, pp. 152-53.
36. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 219. A resistência levava dois porcos da fazenda, mas dava ao fazendeiro o recibo por seis. Assim, este
poderia matar quatro porcos para consumo, e os alemães não poderiam objectar (p. 216).
37. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 127.
38. Bor, Secret Army, p. 156; Lukas, Forgotten Holocaust, pp. 91-92.
39. Jan Karski [Jan Kozielewski], Story of a Secret State (Boston: Houghton Mifflin, 1944), pp. 272-73. Este belo e comovente livro escrito
durante a Guerra por um jovem membro da resistência polaca.
40. Bor, Secret Army, p. 144.
41. Lukas, Forgotten Holocaust, p. 93.
42. John Keegan, Six Armies in Normandy: From D-Day to the Liberation of Paris (NY: Viking, 1982), p. 262.
43. Vid. Lynne Olson e Stanley Cloud, A Question of Honor: The Kosciuszko Squadron; Forgotten Heroes of World War II (NY: Knopf,
2003); Adam Zamoyski, The Forgotten Few: The Polish Air Force in World War II (Barnsley, England: Pen & Sword, 2004).
44. Wladyslaw Anders, An Army in Exile (London: Macmillan, 1949), cap. 10.
45. Keegan, Six Armies, p. 262.
46. Keegan, Six Armies, cap. 7.
47. Zawodny, Nothing but Honor, p. 118.
48. Vid. Allen Paul, Katyn: The Untold Story of Stalin’s Polish Massacre (NY: Scribner’s, 1991).
49. Vid. doc. 5, Anexo D in Zawodny, Nothing but Honor, p. 233.
50. Winston Churchill, The Second World War, vol. 4, The Hinge of Fate (Boston: Houghton Mifflin, 1952), p. 761. George Kennan disse
uma das razões pelas quais Estaline queria o regime comunista na Polónia era impedir qualquer revelação sobre Katyn, deportações de
soldados e civis polacos, etc. (Zawodny, Nothing but Honor, p. 220).
51. New York Times, April 13ee 14, 1990. Vid. Paul, Katyn.
52. Ver carta de Zbigniew Brzezinski em Comentary, Dez90, p. 2.
53. Israel Gutman, Resistance: The Warsaw Ghetto Uprising (NY: Houghton Mifflin, 1994), p. xx.
54. Dan Kurzman, The Bravest Battle: The Twenty-eight Days of the Warsaw Ghetto Uprising (NY: Da Capo, 1993 [orig. 1978]), p. 17.
55. Gutman, Resistance, pp. 14ff., 24.
56. Gutman, Resistance, p. 67.
57. Gutman, Resistance, p. 87 e passim.
58. Gutman, Resistance, p. 62.
59. Gutman, Resistance, p. 74.
60. Gutman, Resistance, p. 183. Vid. tb. Israel Gutman, The Jews of Warsaw: Ghetto, Underground, Revolt (Bloomington: Indiana Univ. Press,
1982).
61. Shmuel Krakowski, The War of the Doomed: Jewish Armed Resistance in Poland 1942-1944 (NY: Holmes & Meier, 1984), p. 165.
62. Krakowski, War of the Doomed, cap. 10.
63. Gutman, Resistance, p. xvii.
64. Gutman, Resistance, p. 204.
65. Gutman, Resistance, p. 153.
66. Leonard Tushnet, Civilian Population: The Uprising of the Jews in the Warsaw Ghetto (NY: Citadel, 1965), pp. 98, 103.
67. Gutman, Resistance, p. 220. Vid. tb. Gutman, The Jews of Warsaw.
68. Gutman, Resistance, p. 231.
69. Gutman, Resistance, pp. 175ff.
70. Krakowski, War of the Doomed, p. 302.
71. Lukas, Forgotten Holocaust, p. 127.
72. Bor, Secret Army, p. 103. Nechama Tec, When Light Pierced the Darkness: Righteous Christians and the Polish Jews (NY: Oxford Univ. Press,
1988) reproduz cartaz alemão a anunciar a execução num dia de Dez43 de oito polacos pelo crime de “abrigo de judeus”.
73. Krakowski, War of the Doomed, cap. 13; Tushnet, Civilian Population, p. 121.
74. Tushnet, Civilian Population, p. 121.
75. Anders, Army in Exile, p. 201; Jan M. Ciechanowski, The Warsaw Rising of 1944 (Cambridge, England: Cambridge Univ. Press, 1974), p. 262.
76. Zawodny, Nothing but Honor, pp. 102ff. 77. Vid. Ciechanowski, Warsaw Rising, pp. 260, 314, e passim. 78. Ciechanowski, Warsaw
Rising, pp. 261, 256. 79. Ciechanowski, Warsaw Rising, p. 258. 80. John Erickson, The Road to Berlin: Stalin’s War with Germany
(New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1999), p. 281.
81. Anders, Army in Exile, p. 16.
82. Bor, Secret Army, p. 195.
83. Bor, Secret Army, p. 196.
84. Bor, Secret Army, p. 48.
85. Lukas, Forgotten Holocaust, p. 183.
86. Korbonski, Fighting Warsaw.
87. Garlinski, “The Polish Underground State”, p. 247.
88. Hanson, Civilian Population, p. 87.
89. Bor, Secret Army, p. 216.
90. Garlinski diz que havia 50.000 AK, mas os números são excepcionalmente altos (“The Polish Underground State”, p. 248).
91. Hanson, Civilian Population, p. 77.
92. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 183; Garlinski, “The Polish Underground State”, pp. 227, 244.
93. Zawodny, Nothing but Honor, p. 45.
94. Erickson, Road to Berlin, p. 286.
95. Hanson, Civilian Population, p. 84.

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96. Hanson, Civilian Population, p. 85.
97. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 374.
98. Hanson, Civilian Population, p. 91; Bor, Secret Army, p. 232.
99. Davies, Rising ’44, p. 279. 100. Hanson, Civilian Population. 101. Bor, Secret Army, p. 171.
102. Hanson, Civilian Population, pp. 96-97, 111.
103. Erickson, Road to Berlin, p. 274.
104. Hanson, Civilian Population, p. 46.
105. Bor, Secret Army, pp. 357-58.
106. Zawodny, Nothing but Honor, p. 137.
107. Zawodny, Nothing but Honor, pp. 166-68.
108. Lukas, Forgotten Holocaust, p. 219.
109. Bor, Secret Army, p. 378.
110. Erickson, Road to Berlin, p. 273.
111. Erickson, Road to Berlin, p. 246.
112. Erickson, Road to Berlin, p. 273.
113. Davies, Rising ’44, p. 433.
114. Davies, Rising ’44, em especial Anexo 31.
115. Bor, Secret Army, p. 46.
116. Davies, Rising ’44, p. 96; Hanson, Civilian Population, p. 54.
117. Winston Churchill, The Second World War: vol. 3, The Grand Alliance (Boston: Houghton Mifflin, 1950), p. 368.
118. Hart, History of the Second World War, p. 171.
119. Erikson, Road to Berlin, p. 259.
120. Zawodny, Nothing but Honor, p. 181.
121. Krystyna Kersten, The Establishment of Communist Rule in Poland, 1943-1948 (Berkeley: Univ. of California Press, 1991); Edward J.
Rozek, Allied Wartime Diplomacy: A Pattern in Poland (NY: Wiley, 1958). Vid. tb. Jan Karski [Jan Kozielewski], The Great Powers
and Poland: From Versailles to Yalta (Lanham, MD: Univ. Press of America, 1985); e John Lewis Gaddis, The United States and the
Origins of the Cold War, 1841-1947 (NY: Columbia Univ. Press, 1972).
122. Mikolajczyk, Rape of Poland, p. 76. Mikolajczyk foi P-M do PGE de Jul43 a Nov44.
123. Zawodny, Nothing but Honor, p. 74.
124. Bor, Secret Army, pp. 257-58; Zawodny, Nothing but Honor, p. 191.
125. Davies, Rising ’44, pp. 318-19.
126. Korbonski, Fighting Warsaw, pp. 274-75.
127. Erickson, Road to Berlin, p. 285.
128. Erickson, Road to Berlin, p. 236.
129. Winston Churchill, The Second World War, vol. 6, Triumph and Tragedy (Boston: Houghton Mifflin, 1953), p. 142. O MAR Zhukov,
conquistador de Berlim, escreveu: “Churchill quer que a URSS negocie com a Polónia burguesa, estranha para nós, embora não
possamos permitir que isso aconteça”. Giorgi Zhukov, Memoirs of Marshal Zhukov (NY: Delacorte, 1971), p. 583.
130. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 388.
131. Churchill, Triumph and Tragedy, p. 144.
132. Erickson, Road to Berlin, p. 289.
133. Zawodny, Nothing but Honor, p. 115; Davies, Rising ’44, p. 328.
134. Sir John Slessor, The Central Blue (London: Cassell, 1956), p. 612.
135. Korbonski, Fighting Warsaw, p. 388.
136. Davies, Rising ’44, p. 321.
137. Hanson, Civilian Population, p. 263.
138. Bor, Secret Army, p. 385.
139. Hanson, Civilian Population, p. 152.
140. Hanson, Civilian Population, p. 53.
141. Anders, Army in Exile, pp. 250-52, 256. Esta conversa não aparece na History of World War II de Churchill.
142. Robert E. Sherwood, Roosevelt and Hopkins: An Intimate History (NY: Harper & Brothers, 1948), pp. 910, 907.
143. Zawodny, Nothing but Honor, p. 226.
144. Zawodny, Nothing but Honor, p. 227.
145. Davies, Rising ’44, p. 458.
146. Anders, Army in Exile, p. 299.
147. Korbonski, Fighting Warsaw.

II. Budapeste 1956


1. Robert A. Kahn, A History of the Habsburg Empire, 1526-1918 (Berkeley: Univ. of California Press, 1974), p. 605; A. J. P. Taylor, The
Struggle for Mastery in Europe, 1848-1918 (Oxford, England: Clarendon Press, 1965), p. xxv.
2. A. J. P. Taylor, The Habsburg Monarchy, 1809-1918 (Chicago: Univ. of Chicago Press, 1976); Kahn, History of the Habsburg Empire.
3. Friedrich Engels, The German Revolutions: The Peasant War in Germany, ed. Leonard Krieger (Chicago: Univ. of Chicago Press, 1967), pp. 103-4.
4. Rudolph Tokes, Bela Kun and the Hungarian Soviet Republic (NY: Praeger, 1967), pp. 199-203.
5. Frank Eckelt, “The Internal Policies of the Hungarian Soviet Republic”, in Hungary in Revolution, 1918-1919, ed. Ivan Volgyes (Lincoln:
Univ. of Nebraska Press, 1971); Gabor Vermes, “The October Revolution in Hungary: From Karolyi to Kun”, in Hungary in Revolution,
ed. Volgyes.
6. Stephen Borsody, The Triumph of Tyranny: The Nazi and Soviet Conquest of Central Europe (London: Cape, 1960).
7. Vid. Miklos [Nicholas] Horthy, Memoirs (London: Hutchinson, 1956).
8. C. A. Macartney, A History of Hungary, 1929-1945, 2 vols. (NY: Praeger, 1957).
9. Ferenc A. Vali, Rift and Revolution in Hungary (Cambridge, MA: Harvard Univ. Press, 1961), p. 29.
10. Jorg K. Hoensch, A History of Modern Hungary, 1876-1986 (London: Longman, 1988), p. 195.
11. Hugh Seton-Watson, The East European Revolution (Boulder, CO: Westview, 1985).
12. Sandor Kopacsi, In the Name of the Working Class (London: Fontana/ Collins, 1989).
13. George [Gyorgy] Mikes, The Hungarian Revolution (London: A. Deutsch, 1957), p. 115. Vid. o seu A Study in Infamy: The Operations of the
Hungarian Secret Police (London: A. Deutsch, 1959).

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14. David Pryce-Jones, The Hungarian Revolution (NY: Horizon, 1970), p. 67. Vid. United Nations, Report of the Special Commission on the
Problem of Hungary. UN General Assembly Eleventh Session, Supplement no. 18 (NY: United Nations, 1957).
15. Vali, Rift and Revolution, p. 269.
16. Vali, Rift and Revolution, p. 270; Kopacsi, In the Name of the Working Class, p. 124.
17. Vali, Rift and Revolution, pp. 264, 271.
18. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 77; Vali, Rift and Revolution, p. 271.
19. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 111.
20. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 83. Vid. Peter Fryer’s The Hungarian Tragedy (London: D. Donson, 1957).
21. Mikes, The Hungarian Revolution, pp. 110ff.
22. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 71.
23. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 94.
24. Vali, Rift and Revolution, p. 275.
25. Andropov (1914-1984) tornar-se-ia Chefe do KGB em 1967 e P-M da URSS em 1982.
26. Kopacsi, In the Name of the Working Class, p. 120.
27. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 89; Vid. tb. Kopacsi, In the Name of the Working Class.
28. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 64.
29. Tibor Meray, Thirteen Days That Shook the Kremlin (London: Thames & Hudson, 1958), p. 101. O autor escreve do ponto de vista
marxista, mas anti-estalinista.
30. Vali, Rift and Revolution, pp. 314-15.
31. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 107.
32. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 155.
33. Mikes, The Hungarian Revolution.
34. Kopacsi, In the Name of the Working Class, p. 121.
35. Michael Orr, “Hungary in Revolt”, in War in Peace: Conventional and Guerrilla Warfare since 1945, ed. Sir Robert Thompson (NY:
Harmony, 1982), p. 140.
36. Mikes, The Hungarian Revolution, pp. 126, 154. Em russo, Pravda significa “verdade”.
37. Kopacsi, In the Name of the Working Class, pp. 144-45.
38. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 99.
39. Meray, Thirteen Days, p. 167; Kopacsi, In the Name of the Working Class, p. 169.
40. Vali, Rift and Revolution, p. 279.
41. Ver comentários do dissidente comunista jugoslavo Milovan Djilas no New Leader, 19Nov56. 42. Mikes, The Hungarian Revolution, p.
141.
43. Bela Kiraly diz que começaram a entrar na Hungria no dia 28; “Hungary’s Army: Its Part in the Revolt”, East Europe, vol. 7 (June 1958).
44. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 153.
45. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 110.
46. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 109.
47. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 154; Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 107.
48. Mikes, The Hungarian Revolution, p. 149.
49. Mikes, The Hungarian Revolution, pp. 156 e passim.
50. Kopacsi, In the Name of the Working Class, pp. 171-72.
51. Vali, Rift and Revolution, p. 365.
52. Mikes, The Hungarian Revolution, pp. 139-49.
53. Vid. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 95; George G. Heltai, “International Aspects”, in The Hungarian Revolution of 1956 in
Retrospect, ed. Bela Kiraly e Paul Jonas (Boulder, CO: East European Quarterly, 1978); Hoensch, History of Modern Hungary; Gyorgy
Litvan, The Hungarian Revolution of 1956: Reform, Revolt, e Repression, 1953-1963 (London: Longman, 1996).
54. Charles Gati, Hungary and the Soviet Bloc (Durham, NC: Duke Univ. Press, 1986), p. 154. 55. Mark Kramer, “The Soviet Union and the
1956 Crises in Poland and Hungary: Reassessments and New Findings”, Journal of Contemporary History, vol. 3 (1998). Os números
variam entre autores, e acredito que os de Kramer para as mortes húngaras são muito baixos.
56. Vid. o relato comovente desse exôdo in James Michener, The Bridge at Andau (NY: Random House, 1957).
57. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 110.
58. Para mais alusões: Francois Fejto, Behind the Rape of Hungary (NY: McKay 1957); Reg Gadney, Cry Hungary! Uprising 1956 (NY:
Atheneum, 1986); Eva Haraszti-Taylor, The Hungarian Revolution of 1956: A Collection of Documents from the British Foreign Office
(Nottingham, England: Astra, 1995); Andor Heller, No More Comrades (Chicago: Regnery, 1957); David J. C. Irving, Uprising
(London: Hodder & Stoughton, 1981); Imre Kovacs, Facts about Hungary (NY: The Hungarian Committee, 1959); Melvin J. Lasky,
The Hungarian Revolution: A White Book (NY: Praeger, 1957); Miklos Molnar, Budapest 1956: A History of The Hungarian Revolution
(London: Allen & Unwin, 1971); G. R. Urban, The Nineteen Days (London: Heinemann, 1957).
59. Mikes, The Hungarian Revolution, pp. 129-31; pára o retrato da liderança comunista húngara, vid. Paul E. Zinner, Revolution in Hungary
(Freeport, NY: Books for Libraries Press, 1962); outro estudo, breve mas inestimável, é Paul Kecskemeti, The Unexpected Revolution:
Social Forces in the Hungarian Uprising (Stanford, CA: Stanford Univ. Press, 1961).
60. Chalmers Johnson, Revolutionary Change (Boston: Little, Brown, 1966), p. 99. 61. Katherine Chorley, Armies and the Art of Revolution
(Boston: Beacon, 1973), p. 23. Vid. tb. Hannah Arendt, On Revolution (NY: Viking, 1963); e Anthony James Joes, From the Barrel of a
Gun: Armies and Revolution (Washington, DC: Pergamon-Brassey’s, 1986). 62. Vid. Joes, From the Barrel of a Gun.
63. Pryce-Jones, The Hungarian Revolution, p. 109.
64. Dwight D. Eisenhower, The White House Years, vol. 2: Waging Peace (Garden City, NY: Doubleday, 1965), pp. 88-89. 3.

III. Argélia 1957


1. Martin S. Alexander, Martin Evans e J. F. V. Keiger, “ ‘The War without a Name’, the French Army, and the Algerians: Recovering
Experiences, Images, and Testimonies”, in The Algerian War and the French Army, 1954-1962: Experiences, Images, Testimonies, ed.
Martin S. Alexander, Martin Evans, e J. F. V. Keiger (NY: Palgrave Macmillan, 2002), p. 2.
2. Paul-Marie de la Gorce, The French Army: A Military-Political History (NY: George Braziller, 1963), p. 447.
3. Michael Carver, War since 1945 (NY: Putnam’s, 1981), p. 120.
4. Mohammed Harbi, Aux origines du FLN (Paris: C. Bourgeois, 1975), e 1954: La guerre commence en Algérie (Brussels: Éditions Complexe,
1954). O braço militar da FLN era o Exército de Libertação Nacional (ALN), mas este cap. Ambos os grupos são referidos como FLN.

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5. Vid. Hugh Thomas, The Suez Affair (London: Weidenfeld & Nicholson, 1967); Anthony Nutting, No End of a Lesson: The Story of Suez (London:
Constable, 1967); A. J. Barker, Suez: The Seven Day War (NY: Praeger, 1965); André Beaufre, The Suez Expedition 1956 (NY: Praeger, 1969);
Suez 1956: The Crisis and Its Consequences, ed. William Roger Louis & Roger Owen (Oxford, England: Clarendon Press, 1989).
6. “Foi por causa dessas promessas que milhares de vietnamitas [e outros] se juntaram à luta contra o Viet Minh”. Alexander J. Zervoudakis,
“From Indochina to Algeria: Counterinsurgency Lessons”, in The Algerian War and the French Army, ed. Martin S. Alexander, Martin
Evans, e J. F. V. Keiger, p. 55. Mais de 300 mil vietnamitas serviam sob as bandeiras francesas ou no Exército francês equipado do
imperador Bao Dai, número pelo menos igual às forças do Viet Minh.
7. George Kelly, Lost Soldiers, The French Army and Empire in Crisis (Cambridge, MA: MIT Press, 1965), p. 145. Vid. Alistair Horne, The French
Army and Politics, 1870-1970 (London: Macmillan, 1984).
8. Alexander, Evans, e Keiger, “ ‘War without a Name’ ”, p. 23.
9. Os franceses aprenderam muito com as amargas experiências no Vietname; Vid. Marie-Catherine Villatoux e Paul Villatoux, “Aerial Intelligence
during the Algerian War”, in France and the Algerian War, 1954-1962: Strategy, Operations and Diplomacy, ed. Martin S. Alexander & J. F. V.
Keiger (Portland, OR: Frank Cass, 2002).
10. Vid. Anthony James Joes, Resisting Rebellion: The History and Politics of Counterinsurgency (Lexington: Univ. Press of Kentucky,
2004), pp. 94-104.
11. Vid. John Pimlott, “The French Army: From Indochina to Chad, 1946-1984”, in Armed Forces and Modern Counter-Insurgency, ed. Ian
F. W. Beckett & John Pimlott (NY: St. Martin’s, 1985); Claude Curré, “Aspects opérationnels du conflit Algérien, 1954-1960”, Revue
Historique des Armées (March 1987); Jean-Jacques Servan-Schreiber, Lieutenant en Algérie (London: Faber, 1958); Jean Lartéguy, Les
Centurions (Paris: Presses de la Cité, 1959).
12. Por exemplo, vid. Carver in War since 1945.
13. John Talbott, The War without a Name: France in Algeria 1954-1962 (NY: Knopf, 1980), p. 84; Edgar O’Ballance, The Algerian
Insurrection (Hamden, CT: Archon, 1967), p. 9 e passim; Alistair Horne, A Savage War of Peace: Algeria, 1954-1962, ed. rev. (NY:
Penguin, 1987), pp.134-35.
14. Martha Crenshaw Hutchinson, Revolutionary Terrorism: The FLN in Algeria 1954-1962 (Stanford, CA: Hoover Institution, 1978), p.
143.
15. Hutchinson, Revolutionary Terrorism, p. 135; Vid. tb. Abder-Rahmane Derradji, The Algerian Guerrilla Campaign: Strategy and Tactics
(Lewiston, NY: Edwin Mellen, 1997).
16. Serge Bromberger diz que só 300 mil dos 700 mil habitantes de Argel eram europeus. Les Rebelles Algériens (Paris: Plon, 1958), p. 157.
17. Kelly, Lost Soldiers, p. 192; Bromberger, Les Rebelles Algériens, p. 157.
18. Horne, Savage War of Peace, p. 187.
19. Talbott, War without a Name, p. 80. Naturalmente, os numerous relatives à filiação à FLN, à rede terrorista e aos verdadeiros activistas variam.
20. Horne, Savage War of Peace, p. 187.
21. Talbott, War without a Name, p. 82.
22. Horne, Savage War of Peace, pp. 183-84.
23. Hutchinson, Revolutionary Terrorism, p. 140.
24. Talbott, War without a Name, p. 79.
25. Alexander, Evans, e Keiger, “ ‘War without a Name’ ”, p. 25.
26. Eric Wolf, Peasant Wars of the Twentieth Century (NY: Harper & Row, 1969), p. 239.
27. Horne, Savage War of Peace, p. 191.
28. Vid. Horne, Savage War of Peace; e Hutchinson, Revolutionary Terrorism, p. 118.
29. Talbott, War without a Name, p. 44. Sobre o terrorismo muçulmano contra muçulmano, Vid. Michael K. Clark, Algeria in Turmoil: A
History of the Rebellion (NY: Praeger, 1959), David C. Gordon, The Passing of French Algeria (NY: Oxford Univ. Press, 1966), cap. 3;
e O’Ballance, Algerian Insurrection. Durante o conflito anti-francês, a FLN travou simultaneamente luta sangrenta com o rival
Movimento Nacional Argelino (MNA).
30. O’Ballance, Algerian Insurrection, pp. 80ff.
31. Horne, Savage War of Peace, p. 199.
32. Talbott, War without a Name, p. 85; Jacques Massu, La vraie bataille d’Alger (Paris: Plon, 1971), pp. 126-28. Massu escreveu cinco
volumes de memórias. Vid. tb. o trabalho do COR Yves Godard, CEM do 10º Pára-quedista e arquitecto da campanha antiterror, Les
Paras dans la Ville (Paris: Fayard, 1972).
33. Alexander S. Martin e J. F. V. Keiger, “France and the Algerian War: Strategy, Operations, and Diplomacy”, Journal of Strategic
Studies, vol. 25 (2002), p. 7.
34. Kelly, Lost Soldiers, p. 194.
35. Talbott, War without a Name, p. 87.
36. Clark, Algeria in Turmoil, p. 328.
37. Hutchinson, Revolutionary Terrorism.
38. Massu, La Vraie Battaille, p. 170.
39. Trinquier, outro veterano do Vietname, escreveu vários livros notáveis, dos quais talvez o mais conhecido seja Modern Warfare: A
French View of Counterinsurgency, trad. Daniel Lee, com inrodução de Bernard Fall (London: Pall Mall Press, 1964 [orig. 1961]). Vid.
tb. André Beaufre, La Guerre Révolutionnaire: Les formes nouvelles de la guerre (Paris: Fayard, 1972); e Claude Delmas, La Guerre
Révolutionnaire, 3d ed. (Paris: PUF, 1972 [orig. 1959]).
40. Paul Aussaresses, Battle of the Casbah: Terrorism and Counterterrorism in Algiers, 1955-1957 (NY: Enigma, 2002), p. 128. Escreveu
tb.: “The executions of prisoners [under my control] were often listed as aborted escape attempts” (p. 122).
41. Massu, La Vraie Battaille, pp. 165ff.
42. Aussaresses, Battle of the Casbah, p. 128.
43. Aussaresses, Battle of the Casbah, p. 18.
44. Kelly, Lost Soldiers, p. 204; O’Ballance, Algerian Insurrection.
45. Hutchinson, Revolutionary Terrorism, p. 122. In The Wretched of the Earth (1961), livro que se tornou a bíblia para intelectuais do
terceiro mundo, Franz Fanon escreveu: “A violência é a força purificadora”.
46. Aussaresses, Battle of the Casbah.
47. Kelly, Lost Soldiers, p. 202. 48. Kelly, Lost Soldiers, p. 201.
49. Kelly, Lost Soldiers, pp. 200-201.
50. Godard, Les Paras dans la Ville.
51. Edward Behr, The Algerian Problem (London: Hodder & Stoughton, 1961). Vid. tb. Ted Morgan, My Battle of Algiers (NY: Collins, 2006).
52. Nos últimos anos, o GEN Massu expôs essa mesma opinião. Vid. discussão em Horne, Savage War of Peace, pp. 198-207.

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53. A discussão do tema na França contemporânea também está ligada à prática de tortura praticada por décadas pelo regime e inimigos na
actual República da Argélia. Neil MacMaster, “The Torture Controversy 1998-2002: Toward a ‘New History’ of the Algerian War?”
Modern and Contemporary France, vol. 10 (2002).
54. Carver, War since 1945, p. 128; sublinhado do autor.
55. Horne, Savage War of Peace, p. 98.
56. Talbott, War without a Name, p. 61.
57. Danièlle Joly, The French Communist Party and the Algerian War (Basingstoke, England: Macmillan, 1991).
58. Talbott, War without a Name, p. 89; sublinhado do autor. Os poderes especiais “deviam fazer do GEN Massu o senhor de Argel”. Philip
M. Williams, Crisis and Compromise: Politics in the Fourth Republic (London: Longman, 1964), p. 75.
59. Pierre Vidal-Naquet, Torture: Cancer of democracy (Harmondsworth, England: Penguin, 1963). 60. Na Primavera de 1968, tumultos
antigovernamentais consumiu a França. O Presidente De Gaulle foi à Alemanha para assegurar o apoio do GEN Massu caso as
desordens internas aumentassem. Alistair Horne acredita que o preço do apoio de Massu de que De Gaulle entregou foi amnistia para os
Oficiais envolvidos no golpe fracassado de 1961. Vid. Horne, Savage War of Peace, p. 551.
61. Vid, v.g., Bruce Hoffman, “A Nasty Business”, Atlantic Monthly, January 2002.
62. Walter Laqueur, The New Terrorism: Fanaticism and the Arms of Mass Destruction (NY: Oxford Univ. Press, 1999), p. 281. Sublinhado do autor.
63. Kelly, Lost Soldiers, p. 238.
64. John Talbott, “French Public Opinion and the Algerian War”, French Historical Studies, vol. 9 (1975); Williams, Crisis and Compromise, cap. 4.
65. Entre Jan46 e Jun58, haveria nada menos que 24 gabinetes em funções diferentes no poder.
67. Alfred Grosser, French Foreign Policy under de Gaulle (Boston: Little, Brown, 1967). Continuar a manter a Argélia “seria manter a
França política, militar e financeiramente atolada em pântano sem fundo quando, de facto, precisava de mãos livres para reali zar a
transformação doméstica exigida pelo séc. XX e exercer influência externa sem restrições. Ao mesmo tempo condenaria as nossas forças
a fútil e interminável tarefa de repressão colonial, quando o futuro do país impunha Exército adaptado às exigências do poder moderno”.
Charles De Gaulle, Memoirs of Hope: Renewal and Endeavor (NY: Simon & Schuster, 1971), p. 45. Sublinhado do autor.
68. Pierre Boyer de Latour, De l’Indochine á l’Algérie: Le martyre de l’Armée française (Paris: Presses du mail, 1962).
69. Vid. Geoffrey Bocca, The Secret Army (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1968); Rémi Kauffer, Histoire de la Guerre Franco-
française (Paris: Seuil, 2002); Paul Henissart, Wolves in the City: The Death of French Algeria (NY: Simon & Schuster, 1970).
70. Dois milhões e meio de homens serviram no Exército britânico na Índia, a maior força voluntária da história. Mais de 1/3 das tropas
portuguesas travaram contra-subversões em África durante a década 60 eram indígenas. Na Indonésia, os amboneses serviram no
Exército Real neerlandês até ao amargo final; muitos escolheram viver nos Países Baixos depois de a Indonésia se tornar independente.
Vid. Joes, Resisting Rebellion, pp. 125-34.
71. Martin Evans, “The Harkis: The Experience and Memory of France’s Muslim Auxiliaries”, in The Algerian War and the French Army,
ed. Alexander, Evans & Keiger, p. 120.
72. Evans, “The Harkis”, p. 124.
73. Peter Paret, French Revolutionary Warfare from Indochina to Algeria: An Analysis of a Political and Military Doctrine (NY: Praeger, 1964), p. 41.
74. Evans, “The Harkis”, p. 123. Vid. tb. Horne, Savage War of Peace, p. 255.
75. Paret, French Revolutionary Warfare, p. 41. Vid. tb. Alf Andrew Heggoy, Insurgency and Counterinsurgency in Algeria (Bloomington:
Indiana Univ. Press, 1972).
76. Talbott, “ ‘War without a Name’ ”, p. 49.
77. Vid. François-Marie Gougeon, “The Challe Plan: Vain Yet Indispensable Victory”, Small Wars and Insurgencies, vol. 16 (December
2005); Carver, War since 1945, p. 145.
78. Evans, “The Harkis”, p. 127; Carver, War since 1945, p. 147; Horne, Savage War of Peace, p. 538. 79. Evans, “The Harkis”, p. 127;
Alexander, Evans, e Keiger, “ ‘War without a Name’ ”, pp. 24-25, dá o número como 100 mil.
80. Evans, “The Harkis”, p. 125. Vid., entre outros, Bachaga Boualam, Les Harkis au Service de la France (Paris: France Empire, 1964); e
Michel Roux, Les Harkis ou les Oubliés de l’Histoire 1954-1991 (Paris: La Découverte, 1991).
81. O’Ballance, Algerian Insurrection, p. 129n.
82. Carver, War since 1945, p. 149; Horne, Savage War of Peace, p. 538.
83. Alexander, Evans, e Keiger, “ ‘War without a Name’ ”, p. 20.

IV. São Paulo 1965-1971 e Montevideo 1963-1973


1. “O terrível fiasco de Guevara e o reconhecimento de nem todos os governos eram tão frágeis quanto o de Batista em Cuba, levou
os intelectuais subversivos na América Latina a reavaliar as abordagens estratégicas, conduziu ao surgimento de nova estratégia de
guerra urbana onde o terrorismo [era] proeminente” Bard E. O’Neill, Insurgency and Terrorism: Inside Modern Revolutionary
Warfare (McLean, VA: Brassey’s, 1990), p. 45.
2. Hugh Thomas, Cuba: The Pursuit of Freedom (NY: Harper & Row, 1977 [orig. 1971]), p. 215.
3. Vid. Theodore Draper, Castroism: Theory and Practice (NY: Praeger, 1965); D. Chapelle, “How Castro Won”, in Modern Guerrilla
Warfare, ed. Franklin Mark Osanka (NY: Free Press, 1962); Louis A. Perez Jr., Army Politics in Cuba, 1898-1958 (Pittsburgh, PA: Univ.
of Pittsburgh Press, 1976); Fulgencio Batista, Cuba Betrayed (NY: Vantage, 1962).
4. “Como as circunstâncias especiais de Cuba não existiam automaticamente noutros lugares, aquelas [insurgências castristas
autoproclamadas] tentadas na década 60 na Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, República Dominicana, Equador, Guatemala, Peru,
Paraguai e Venezuela falharam”. Ian F. W. Beckett, Modern Insurgencies and Counterinsurgencies: Guerrillas and Their Opponents since
1750 (London: Routledge, 2001), p. 171. E claro, o interesse e enolvimento dos EUA nesses factos foi enorme.
5. Ernesto Guevara, Guerrilla Warfare (NY: Vintage, 1969), p. 2.
6. Do início dos anos 60 ao final de 90, a população de Lima cresceu de menos de 1,2 milhões para quase 6 milhões de habitantes; S. Paulo passou de
menos de 4 milhões para talvez 13 milhões.
7. Vid. Charles A. Russell, James A. Miller, e Robert E. Hildner, “The Urban Guerrilla in Latin America: A Select Bibliography”, Latin American
Research Review, vol. 9 (1974).
8. As apresentações mais conhecidas desta abordagem são de Regis Debray, Revolution in the Revolution? (NY: Monthly Review, 1967); e Guevara,
Guerrilla Warfare.
9. Vid. James A. Miller “Urban Terrorism in Uruguay: The Tupamaros”, in Insurgency in the Modern World, ed. Bard E. O’Neill, W. R. Heaton, e D.
J. Alberts (Boulder, CO: Westview, 1980).
10. Howard J. Wiarda e Harvey F. Kline, Latin American Politics and Development (Boston: Houghton Mifflin, 1979), p. 62.
11. Samuel P. Huntington, Political Order in Changing Societies (New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1968), p. 226.
12. Alfred Stepan, The Military in Politics: Changing Patterns in Brazil (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1971).
13. Anthony James Joes, From the Barrel of a Gun: Armies and Revolutions (Washington, DC: Pergamon-Brassey’s, 1986), p. 172.

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14. Ronald M. Schneider, The Political System of Brazil: Emergence of a Modernizing Authoritarian Regime, 1964-1970 (NY: Columbia Univ. Press,
1971), p. 80; Vid. Thomas E. Skidmore, The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-1985 (NY: Oxford Univ. Press, 1988), cap. 1, “The Origins
of the 1964 Revolution” (na visão de alguns especialistas, o golpe acabou por se transformar em revolução).
15. “Do ponto de vista técnico, o golpe foi quase obra-prima”. Schneider, Political System of Brazil, p. 103. Vid. Stepan, The Military in
Politics; Thomas E. Skidmore, Politics in Brazil, 1930-1964 (NY: Oxford Univ. Press, 1988); Alfred Stepan, “Political Leadership and
Regime Breakdown: Brazil”, in The Breakdown of Democratic Regimes: Latin America, ed. Juan Linz e Alfred Stepan (Baltimore, MD:
Johns Hopkins Univ. Press, 1978).
16. A. J. Languth, Hidden Terrors (NY: Pantheon, 1978).
17. Languth, Hidden Terrors, pp. 183ff.
18. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, pp. 53-54. 19. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, pp. 177ff, 156.
20. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, p. 115.
21. Ver o trabalho altamente respeitado de Ronald H. Chilcote, The Brazilian Communist Party: Conflict and Integration, 1922-1972 (NY:
Oxford Univ. Press, 1974).
22. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, p. 125; Vid. tb. Alzira Alves De Abreu, “Brazil’s Guerrilla Trap”, History Today, vol. 47 (1997).
23. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, p. 103.
24. “Em estados menos democráticos, a guerrilha urbana não se mostrou tão potente e facilmente reprimida, pois sem a mesma contenção
auto-imposta por parte das forças de segurança”. Beckett, Modern Insurgencies, p. 152.
25. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, pp. 117, 125-28.
26. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, p. 121.
27. James Kohl e John Litt, Urban Guerrilla Warfare in Latin America (Cambridge, MA: MIT Press, 1974), p. 51.
28. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, p. 122.
29. Langguth, Hidden Terrors, p. 186. Esta fonte é tendencialmente amiga dos guerrilheiros/terroristas latino-americanos.
30. Skidmore, Politics of Military Rule in Brazil, pp. 125, 100.
31. E. Bradford Burns, A History of Brazil (NY: Columbia Univ. Press, 1970) (os dois parágrafos na p. 379); Timothy P. Wickham-Crowley,
Guerrillas and Revolution in Latin America: A Comparative Study of Insurgents and Regimes since 1956 (Princeton, NJ: Princeton
Univ. Press, 1992), p. 313.
32. Russell, Miller, e Hildner, “The Urban Guerrilla in Latin America”, p. 70.
33. Chalmers Johnson, Autopsy on People’s War (Berkeley: Univ. of California Press, 1973), p. 5.
34. Geoffrey Fairbairn, Revolutionary Guerrilla Warfare (Harmondsworth, England: Penguin, 1974), p. 71. Vid. tb. Joes, Resisting Rebellion, cap. 2.
35. Vid. R. H. Fitzgibbon, Uruguay: Portrait of a Democracy (New Brunswick, NJ: Rutgers Univ. Press, 1954) e S. G. Hanson, Utopia in
Uruguay (NY: Oxford Univ. Press, 1938).
36. Alain Labrousse, The Tupamaros: Urban Insurgency in Uruguay (Harmondsworth, England: Penguin, 1970), p. 23. Este trabalho é
ingenuamente pró-comunistas e anti-estadunidense.
37. Robert Moss, Uruguay: Terrorism vs. Democracy (London: Institute for the Study of Conflict, 1971), p. 211.
38. M. H. J. Finch, “Three Perspectives on the Crisis in Uruguay”, Journal of Latin American Studies, vol. 3 (Nov71), pp. 173-90.
39. Philip B. Taylor, Government and Politics of Uruguay (Westport, CT: Greenwood, 1981 [orig. 1961]), pp. 103, 156.
40. Robert Moss, Uruguay.
41. Robert Moss, “Urban Guerrillas in Uruguay”, Problems of Communism, vol. 20 (1971), p. 213.
42. V. I. Lenin, “Left-Wing Communism”, in Selected Works (Moscow: Progress Publishers, 1977), vol. 3, p. 343.
43. “Thirty Questions to a Tupamaro”, in Labrousse, The Tupamaros; pela insistência tupamaro de que “a acção revolucionária precipita
situações revolucionárias” Vid. Kohl e Litt, Urban Guerrilla Warfare, pp. 227 e passim, e Gordon H. McCormick, From the Sierra to the
Cities: The Urban Campaign of the Shining Path (Santa Monica, CA: RAND, 1992).
44. Labrousse, The Tupamaros. 45. Kohl e Litt, Urban Guerrilla Warfare, p. 190.
46. Arturo Porzecanski, Uruguay’s Tupamaros (NY: Praeger, 1973), p. 23.
47. Abraham Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, ed. Donald C. Hodges (NY: Morrow, 1973).
48. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. vi.
49. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 293.
50. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 113.
51. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 133.
52. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 245.
53. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 249.
54. Vid. Wickham-Crowley, Guerrillas and Revolutions.
55. Guillen, Philosophy of the Urban Guerrilla, p. 289. “Os Tupamaros essencialmente [eram] movimento de classe média recrutado nas fileiras de
estudantes insatisfeitos, funcionários públicos menores e profissionais”. Moss, Uruguai, p. 4. Segundo Labrousse, “A maioria dos tupamaros vem
da burguesia”; The Tupamaros, p. 115. Sobre elementos criminais, Vid. Alphonse Max, The Tupamaros: A Pattern for Urban Guerrilla Warfare
in Latin America (The Hague: International Information and Documentation Centre, 1970).
56. Porzecanski, Uruguay’s Tupamaros, pp. 29ff.
57. Walter Laqueur, The New Terrorism, p. 91.
58. Vid. Max, The Tupamaros; muitos tupamaros tinham certas semelhanças claramente com pessoas descritas por Ralph Peters em “The New
Warrior Class”.
59. Moss, Uruguay.
60. Geoffrey Demarest, “Geopolitics and Urban Armed Conflict in Latin America”, Small Wars and Insurgencies, vol. 6 (Spring 1995), p. 49.
61. Porzecanski, Uruguay’s Tupamaros.
62. Max, The Tupamaros, p. 13.
63. Anthony Burton, Urban Terrorism (London: L. Cooper, 1975), p. 100.
64. F. A. Godfrey, “The Latin American Experience: The Tupamaros Campaign in Uruguay, 1963-1973”, in Armed Forces and Modern Counter-
Insurgency, ed. Ian F. W. Beckett & John Pimlott (London: Croom Helm, 1985), p. 132.
65. Godfrey, “The Latin American Experience”.
66. Moss, Uruguay.
67. Edy Kaufman, Uruguay in Transition (New Brunswick, NJ: Transaction, 1979), p. 35.
68. Huntington, Political Order in Changing Societies, cap. 5.
69. J. Bowyer Bell, “Revolutionary Dynamics: The Inherent inefficiency of the underground”, Terrorism and Political Violence, vol. 2 (1990), p. 203.
70. De facto, o seu elitismo minoritário e violência, os tupamaros tinham muito em comum com os movimentos fascistas europeus; vid. A.
James Gregor, The Fascist Persuasion in Radical Politics (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1974).

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71. Kohl e Litt, Urban Guerrilla Warfare, p. 277.
72. Richard Gott, “Events since 1971”, in Labrousse, The Tupamaros, p. 129.
73. Labrousse, The Tupamaros, p. 30.
74. Kaufman, Uruguay in Transition, pp. 32, 109.
75. Moss, Uruguay.
76. Burton, Urban Terrorism, p. 102.

V. Saigão 1968
1. Washington Post, 06Abr69.
2. Don Oberdorfer, Tet! The Turning Point in the Vietnam War (NY: Da Capo, 1984 [orig. 1971]), p. 81.
3. Phillip B. Davidson, Vietnam at War: The History, 1946-1975 (Novato, CA: Presidio, 1988), p. 483. O TCOR Davidson foi o principal conselheiro
de inteligência do GEN Westmoreland e do GEN Abrams.
4. Military History Institute of Vietnam, Victory in Vietnam: The Official History of the People's Army of Vietnam, 1954-1975, trad. Merle Pribbenow
(Lawrence: Univ. Press of Kansas, 2002), p. 214.
5. James J. Wirtz, The Tet Offensive: Intelligence Failure in War (Ithaca, NY: Cornell Univ. Press, 1991), pp. 60, 23.
6. James R. Arnold, The Tet Offensive: Turning Point in Vietnam (Londres: Osprey, 1990), pp. 27-28.
7. Arnold, Tet Offensive, p. 21.
8. Ronald Spector, Advice and Support: The Early Years 1941-1960 (Washington, DC: US Army Center of Military History, 1983), p. 131; Ellen J.
Hammer, The Struggle for Indochina, 1940-1955 (Stanford, CA: Stanford Univ. Press, 1956), p. 287; Henri Navarre, Agonie de l'Indochine (Paris:
Plon, 1956), p. 46; Douglas Pike, PAVN: People’s Army of Vietnam (Novato, CA: Presidio, 1986), p. 5.
9. Arnold, Tet Offensive, p. 15.
10. Allan E. Goodman, An Institutional profile of the South Vietnamese Officer Corps (Santa Monica, CA: RAND, 1970), p. 9.
11. Olivier Todd, Cruel April: The Fall of Saigon (NY: Norton, 1990), p. 438.
12. Sir Robert Thompson, Peace Is Not at Hand (NY: David McKay, 1974), p. 169.
13. Jeffrey J. Clarke, Advice and Support: The Final Years, 1965-1973 (Washington, DC: US Army Center for Military History, 1988), p. 275.
14. Thomas C. Thayer, War without Fronts: The american experience in Vietnam (Boulder, CO: Westview, 1986), 202; Pike, PAVN, p. 244;
Guenter Lewy, America in Vietnam (NY: Oxford Univ. Press, 1978), p. 172; William E. Le Gro, Vietnam from Cease-Fire to
Capitulation (Washington, DC: US Army Center of Military History, 1981), p. 34; William Westmoreland, A Soldier Reports (Garden
City, NY: Doubleday, 1976), p. 252.
15. Bruce Catton, The Army of the Potomac: vol. 2, Glory Road, pp. 102, 255; Allan Nevins, The War for the Union, vol. 3, The Organized War,
1863-1864 (NY: Scribner’s, 1971), p. 131.
16. Davidson, Vietnam at War, p. 479. 17. Oberdorfer, Tet! p. 121. 18. Wirtz, The Tet Offensive, p. 84; but Vid. tb. Ronnie E. Ford, Tet 1968:
Understanding the Surprise (Portland, OR: Frank Cass, 1995).
19. Thucydides, The Peloponnesian War, in The Landmark Thucydides, ed. Robert B. Strassler (NY: Free Press, 1996), book 1, 84.
20. Maquiavel, The Discourses, cap. 48.
21. Clausewitz, On War, book 1, cap. 6.
22. Davidson, Vietnam at War, p. 483.
23. Wirtz, The Tet Offensive, p. 196.
24. Oberdorfer, Tet! p. 138.
25. Vid. Pham Van Son, Tet 1968 (Salisbury, NC: Documentary Publications, 1980 [orig. 1968]).
26. Grandes areas de Hue foram ocupadas por regulares do NVA e a luta terminou ali com o cerco bem-sucedido da antiga cidadela pelos
fuzileiros navais dos EUA. Para a luta em Hue, vid. Eric Hammel, Fire in the Streets: The Battle for Hue, Tet 1968 (Chicago:
Contemporary Books, 1991); Keith William Nolan, Battle for Hue: Tet 1968 (Novato, CA: Presidio, 1983); George Smith, The Siege at
Hue (Boulder, CO: Lynne Rienner, 1999); Nicholas Warr, Phase Line Green (Annapolis, MD: Naval Institute Press, 1997); e vid. the
cap. “Death in Hue” in Oberdorfer, Tet!
27. Westmoreland, A Soldier Reports, p. 326.
28. Para a descrição oficial de Hanói das acções VC à volta de Saigão, vid. Military History Institute of Vietnam, Victory in Vietnam, pp. 219-23.
29. Davidson, Vietnam at War, p. 475; O embaixador Bunker telegrafou ao Presidente Johnson a dizer que acreditava que 33 mil foram
mortos e 5600 “detidos” Ellsworth Bunker, The Bunker Papers: Reports to the President from Vietnam, 1967-1973, ed. Douglas Pike, 3
vols. (Berkeley: Univ. of California Press, 1990), vol. 2, p. 334.
30. Davidson, Vietnam at War, p. 475.
31. Oberdorfer, Tet! p. 329. Vid. tb. Tran Van Tra, Concluding the Thirty-Years War (Roslyn, VA: Foreign Broadcast Information Service,
1983), p. 35; William J. Duiker, The Communist Road to Power in Vietnam (Boulder, CO: Westview, 1981), p. 269; Lewy, America in
Vietnam, p. 76; Thayer, War without Fronts, p. 92; Robert Shaplen, Bitter Victory (NY: Harper & Row, 1986), pp. 188-89; Douglas
Blaufarb, The Counterinsurgency Era: United States Doctrine and Performance 1950 to the Present (NY: Free Press, 1977), pp. 261-62.
32. Wirtz, The Tet Offensive, p. 60.
33. Gabriel Kolko, Anatomy of a War: Vietnam, the United States, e the Modern Historical Experience (NY: Pantheon, 1985), p. 482.
34. Dave Richard Palmer, Summons of the Trumpet (San Rafael, CA: Presidio, 1978), p. 246; Wirtz, The Tet Offensive, p. 224; Hoang Ngoc
Lung, The General Offensives of 1968-1969 (Washington, DC: US Army Center of Military History, 1981), pp. 22-23. “Perhaps one of
the most significant failures of the enemy’s Tet offensive was the absence of popular support for the enemy forces which pene trated the
cities, support which he had evidently anticipated and counted on”(Bunker, Bunker Papers, vol. 2, p. 549).
35. Timothy Lomperis enfantiza este ponto in The War Everyone Lost – and Won: American Intervention in Vietnam’s Twin Struggles
(Baton Rouge: Louisiana State Univ. Press, 1984), em especial p. 169. Como diz a história official do Exército do Vietname do Norte:
“quando a batalha não progrediu favoravelmente para o nosso lado e quando sofremos baixas, pensamentos direitistas, pessimismo e
hesitação saltaram entre as nossas forças”. Military History Institute of Vietnam, Victory in Vietnam, p. 224. Vid. tb. Victoria Pohle, The
Viet Cong in Saigon: Tactics and Objectives during the Tet Offensive (Santa Monica, CA: RAND, 1969).
36. Westmoreland, A Soldier Reports, p. 332.
37. Davidson, Vietnam at War, p. 546.
38. Palmer, Summons of the Trumpet, p. 210.
39. Peter Braestrup, Story: How the American Press and Television Reported and Interpreted the Crisis of Tet 1968 in Vietnam and Washington
(Boulder, CO: Westview, 1977), vol. 1, pp. 448-49. William Colby, Chefe de Divisão da CIA em Saigão e Chefe da CIA do Extremo Orientena
altura de Tet, concorda; vid. o Lost Victory (Chicago: Contemporary Books, 1989), cap. 14.

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40. James J. Wirtz, “The Battles of Saigon and Hue: Tet 1968”, in Soldiers in Cities: Military Operations on Urban Terrain, ed. Michael C.
Desch (Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 2001), p. 83. Em Hue, os comunistas tiveram vários dias a trazer reforços e fortalecer
posições. As unidade regulares NVA começaram a entrar em Hue a 31Jan e não foram derrotados completamente até 23Fev.
41. Oberdorfer, Tet! p. 155.
42. Samuel Popkin, “The Village War”, in Vietnam as History: Ten Years after the Paris Peace Accords, ed. Peter Braestrup (Washington,
DC: Univ. Press of America, 1984), p. 102.
43. Blaufarb, Counterinsurgency Era, p. 271. Vid. tb. Bunker, Bunker Papers, vol. 2, pp. 344, 346.
44. Kolko, Anatomy of a War, pp. 371, 334; Thayer, War Without Fronts, p. 92.
45. Kolko, Anatomy of a War, p. 334.
46. Timothy J. Lomperis, From People’s War to People’s Rule: Insurgency, Intervention, e the Lessons of Vietnam (Chapel Hill: Univ. of North
Carolina Press, 1996), p. 341.
47. Bunker, Bunker Papers, vol. 2, p. 328.
48. Palmer, Summons of the Trumpet, p. 201.
49. Vid. Truong Nhu Tang, A Viet Cong Memoir (NY: Harcourt, Brace, Jovanovich, 1985); tb. F. Charles Parker, Vietnam: Strategy for a
Stalemate (NY: Paragon, 1989).
50. New York Times, 01Out94.
51. É a isso que o repórter Peter Braestrup do New York Times e do Washington Post se refere como “a falta de familiaridade geral da
imprensa estadunidense com o Vietname e vietnamitas”. Big Story, vol. 1, p. 445.
52. Maxwell D. Taylor, Swords and Plowshares (NY: Norton, 1972), p. 235.
53. Foreign Relations of the United States, 1961-1963 (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, 1988-91), vol. 3, p. 531 (doravante
FRUS).
54. Vid., v.g., a mensagem do Embaixador Henry Cabot Lodge pára o Presidente Kennedy, 30Ago, 1963, in FRUS, 1961-63, vol. 4, p. 58.
55. Frederick Nolting, From Trust to Tragedy: The Political Memoirs of Frederick Nolting, Kennedy’s Ambassador to Diem’s Vietnam (NY: Praeger,
1988), p. 116. Vid. tb. Anne Blair, Lodge in Vietnam (New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1995); Philip E. Catton, Diem’s Final Failure: Prelude
to America’s War in Vietnam (Lawrence: Univ. Press of Kansas, 2002); Dennis J. Duncanson, Government and Revolution in Vietnam (NY:
Oxford Univ. Press, 1968), pp. 327-41; Ellen J. Hammer, A Death in November: America in Vietnam, 1963 (NY: Dutton, 1987); Marguerite
Higgins, Our Vietnam Nightmare (NY: Harper & Row, 1965); Mieczyslaw Maneli, War of the Vanquished (NY: Harper & Row 1971); William
Prochau, Once upon a Distant War: Young War Correspondents and the Early Vietnam Battles (NY: Times Books, 1995); Francis X. Winters,
The Year of the Hare: America in Vietnam, January 25, 1963-February 15, 1964 (Athens: Univ. of Georgia Press, 1997).
56. Pelo papel decisive da Rota Ho Chi Minh na queda do Viethame do Sul, vid. Norman B. Hannah, The Key to Failure: Laos and the
Vietnam War (Lanham, MD: Madison Books, 1987); Harry Summers, On Strategy: A Critical Analysis of the Vietnam War (Novato,
CA: Presidio, 1982); Sir Robert Thompson, “Regular Armies and Insurgency”, in Regular Armies and Insurgency, ed. Ronald Haycock
(London: Croom Helm, 1979).
57. Oberdorfer, Tet! p. 332.
58. Henry Kissinger, Does America Need a Foreign Policy? (NY: Simon & Schuster, 2001), p. 284. 59. Oberdorfer, Tet! p. 242.
60. Lewy, America in Vietnam, p. 434.
61. Davidson, Vietnam at War, p. 486.
62. Anthony James Joes, America and Guerrilla Warfare (Lexington: Univ. Press of Kentucky, 2000), p. 232.
63. Peter Braestrup, Big Story: How the American Press and Television Reported and Interpreted the Crisis of Tet 1968 in Vietnam and
Washington, 2 vols. (Boulder, CO: Westview, 1977), p. 492.
64. Braestrup, Big Story, vol. 1, pp. 162, 184, 531.
65. Braestrup, Big Story, vol. 1, p. 403.
66. Oberdorfer, Tet! pp. 30-31.
67. Elegant é citado in Marc Leepson, “Vietnam War Reconsidered”, Editorial Research Reports (Mar83), p. 195. Vid. tb. Artigo devastador de
Elegant’s “How to Lose a War: The Press and Vietnam”, número de Ago81 o Encounter.
68. The Economist, 13Mai72, p. 34. Vid. declarações similares por Douglas Pike in Denis Warner, Certain Victory: How Hanoi Won the War
(Kansas City, KS: Sheed, Andrews & McMeel, 1978), p. 183.
69. Vid. o relato verdadeiramente desmoralizador in Lewy, America in Vietnam, pp. 400-401.
70. Todd, Cruel April; pp. 95, 253, 398; “The Reporter Was a Spy”, New York Times, 28Abr97.
71. Braestrup, Big Story, vol. 1, p. 705.
72. Davidson, Vietnam at War, p. 492.
73. “como podia o atrito ter funcionado quando, no placar final, o Norte aceitou mais de 1 milhão de mortos e os EUA não admitiu 47 mil?”
Sir Robert Thompson, “Vietnam”, in War in Peace: Conventional and Guerrilla Warfare since 1945, ed. Sir Robert Thompson (NY:
Harmony, 1982), p. 197.
74. Congressional Quarterly’s Guide to U.S. Elections (Washington, DC: Congressional Quarterly, 1975), p. 343; Philip E. Converse, Warren E.
Miller, Jerrold G. Rusk, e Arthur C. Wolfe, “Continuity and Change in American Politics: Parties and Issues in the 1968 Election”, American
Political Science Review, v. 53 (1960), pp. 1083-1105; Braestrup, Big Story, pp. 665-73. 75. Thompson, “Vietnam”, p. 193.

VI. Irlanda do Norte 1970-1998


1. J. Bowyer Bell, “Aspects of the Dragon World”, International Journal of Intelligence and Counterintelligence, vol. 3 (Spring 1979), p. 20.
2. Vid. v.g.,Walker Connor, Ethnonationalism: The Quest for Understanding (Princeton, NJ: Princeton Univ. Press, 1994).
3. Vid. o tratamento interessante do governo autónomo, uma vez que envenenou a polícia britannica por duas gerações in Roy Jenkins, Gladstone
(London: Macmillan, 1995).
4. Tim Pat Coogan, Eamon De Valera: The Man Who Was Ireland (NY: HarperCollins, 1993). Vid. tb. Earl of Longford e Thomas P. O’Neill, Eamon
De Valera: A Biography (Boston: Houghton Mifflin, 1971).
5. Frank Pakenham, Peace by Ordeal: An Account, from First-hand Sources of the Negotiation and Signature of the Anglo-Irish Treaty, 1921
(London: Sidgwick & Jackson, 1972 [orig. 1935]).
6. Michael Hopkinson, Green against Green: The Irish Civil War (Dublin: Gill & Macmillan, 1988), pp. 110-11.
7. Sobre Michael Collins, vid. Tim Pat Coogan, The Man Who Made Ireland: The Life and Death of Michael Collins (Niwot, CO: Roberts Rinehart,
1992).
8. M. L. R. Smith, Fighting for Ireland? The Military Strategy of the Irish Republican Movement (London: Routledge, 1995), pp. 51ff.
9. Coogan, Man Who Made Ireland, p. 389; vid. Eoin Neeson, The Civil War, 1922-1923 (Dublin, Ireland: Poolbeg Press, 1989); e Calton Younger,
Ireland’s Civil War (Glasgow: Fontana, 1970).
10. Dermot Keogh, The Vatican, the Bishops, e Irish Politics 1919-1939 (Cambridge, England: Cambridge Univ. Press, 1986).

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11. Sobre o fracasso repetido da partição pára resolver ou reduzir o conflito étnico-religioso, vid. Donald L. Horowitz, Ethnic Groups in Conflict
(Berkeley: Univ. of California Press, 2000).
12. J. Bowyer Bell, The Irish Troubles: A Generation of Violence, 1967-1992 (NY: St. Martin’s, 1993), pp. 40-41.
13. Vid. Horowitz, Ethnic Groups in Conflict, cap. 7.
14. Bell, Irish Troubles, p. 39.
15. John Newsinger, British Counterinsurgency: From Palestine to Northern Ireland (NY: Palgrave, 2002), pp. 54-56.
16. Thomas Mockaitis, British Counterinsurgency in the Post-Imperial Era (Manchester, England: Manchester Univ. Press, 1995), p. 97.
17. Newsinger, British Counterinsurgency, p. 155; Bell, Irish Troubles, p. 78.
18. Bell, Irish Troubles, pp. 79-80.
19. Newsinger, British Counterinsurgency, pp. 157-58.
20. Michael Dewar, Brush Fire Wars: Minor Campaigns of the British Army since 1945 (NY: St. Martin’s, 1984), p. 39.
21. Paul Dixon, “Counter-Insurgency in Northern Ireland and the Crisis of the British State”, in The Counter-Insurgent State: Guerrilla Warfare and
State Building in the Twentieth Century, ed. Paul B. Rich & Richard Stubbs (NY: St. Martin’s, 1997), p. 188.
22. Anthony James Joes, Guerrilla Warfare: A Historical, Biographical, e Bibliographical Sourcebook (Westport, CT: Greenwood, 1996), p. 183.
23. Vid. Joes, Resisting Rebellion, pp. 221-22 e passim.
24. Sir Robert Thompson, Defeating Communist Insurgency: The Lessons of Malaya and Vietnam (NY: Praeger, 1966), p. 110.
25. John Newsinger, “From Counterinsurgency to Internal Security: Northern Ireland 1969-1972”, Small Wars and Insurgencies, vol. 6
(Spring 1995), p. 93.
26. Newsinger, British Counterinsurgency, p. 164.
27. As acções britânicas pára subjugar a revolta Mau Maau no Quénia permanecem altamente controversas; vid., v.g., David Anderson,
Histories of the Hanged: The Dirty War in Kenya and the End of Empire (NY: Norton, 2005); e Caroline Elkins, Imperial Reckoning:
The Untold Story of Britain’s Gulag in Kenya (NY: Henry Holt, 2005).
28. Dewar, Brush Fire Wars, p. 228.
29. C. E. Callwell, Small Wars: Their Principles and Practice (London: Greenhill, 1990 [orig. 1896]), p. 143.
30. John Cloake, Templer: Tiger of Malaya (London: Harrap, 1985), p. 227.
31. Frank Kitson, Low Intensity Operations: Subversion, Insurgency, Peacekeeping (London: Faber, 1971), p. 95.
32. Vid. Desmond Hamill, Pig in the Middle: The Army in Northern Ireland, 1969-1984 (London: Methuen, 1985).
33. Newsinger, “From Counterinsurgency to Internal Security”, p. 96.
34. Dewar, Brush Fire Wars, pp. 39-40.
35. Hamill, Pig in the Middle, p. 283.
36. Bell, Irish Troubles, p. 218.
37. Bell, Irish Troubles, p. 220.
38. Bell, Irish Troubles, p. xi.
39. Gerry Adams, Before the Dawn: An Autobiography (NY: Morrow, 1997), p. 126; Dixon, “Counter-Insurgency in Northern Ireland”, p. 194.
40. Dixon, “Counter-Insurgency in Northern Ireland”, p. 191. 41. Bell, Irish Troubles, pp. 216, 219. 42. Dewar, Brush Fire Wars, p. 54.
43. Dixon, “Counter-Insurgency in Northern Ireland”, p. 192.
44. Anthony M. Burton, Urban Terrorism: Theory, Practice, e Response (London: L. Cooper, 1975), p. 179.
45. Newsinger, “From Counterinsurgency to Internal Security”, p. 91; Bell, Irish Troubles, p. 126.
46. Bell, Irish Troubles, p. 187.
47. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 99.
48. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 100; Hamill, Pig in the Middle, p. 113. 49. Patrick Brogan, World Conflicts (Lanham, MD:
Scarecrow, 1998), p. 419; Dewar, Brush Fire Wars, p. 232. 50. Brogan, World Conflicts, p. 418.
51. Newsinger, “From Counterinsurgency to Internal Security”, p. 93.
52. Smith, Fighting for Ireland? p. 222. 53. Michael O’Riordan, Chefe do PC irlandês, escreveu: “sempre existiram relações mais ou menos
boas entre o IRA e os comunistas irlandeses. Não apenas conduzimos a série de actividades públicas e anti-imperialistas juntos, mas por
mais de uma no o mecanismo secreto pára consultas entre a liderança do IRA e o Conselho Conjunto do Partido dos Trabalhadores
irlandeses e do PC da Irlanda do Norte existiu e está a operar. Aceitam infalivelmente o nosso conselho em relação aos métodos tácticos
usados na luta conjunta oelos direitos civis e independência nacional da Irlanda”. Christopher Andrew, The Sword and the Shield: The
Mitrokhin Archive and the Secret History of the KGB (NY: Basic Books, 1999), p. 377; sublinhado do autor.
“Em Dez69, pouco antes da divisão que levou ao surgimento dos Provisórios, uma reunião secreta da liderança do IRA aprovou a
proposta [Cathal] Goulding [que se tornou Chefe da Ala Oficial] para estabelecer a frente de libertação nacional incluindo o Sinn Féin, o
PC irlandês e outros grupos de esquerda”. Andrew, The Sword and the Shield, p. 639n. Vid. Tim Pat Coogan, The Troubles: Ireland’s
Ordeal 1966-1996 and the Search for Peace (Boulder, CO: Roberts Rinehart, 1996), pp. 94-97.
54. Hamill, Pig in the Middle, p. 123.
55. Bell, Irish Troubles, p. 171. 56. Bell, Irish Troubles, p. 153.
57. Bell, Irish Troubles, pp. 642ff.
58. Tim Pat Coogan, The IRA: A History (Niwot, CO: Roberts Rinehart, 1993).
59. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 111.
60. Coogan, The IRA, p. 330.
61. Para informações sobre carregamentos de armas líbias pára os Provos (pelo menos um deles interceptado pela Marinha irlandesa. Vid. Bell, Irish
Troubles, e Burton, Urban Terrorism, pp. 188-89. Sobre a ETA, vid. Sean MacStiofain, Memoirs of a Revolutionary (London: Gordon
Cremonesi, 1978).
62. Richard English, Armed Struggle: The History of the IRA (NY: Oxford Univ. Press, 2003). 63. Bell, Irish Troubles, p. 782.
64. Coogan, The IRA.
65. Jack Holland, Hope against History: The Course of Conflict in Northern Ireland (NY: Holt, 1999), p. 328.
66. Vid. o relato sobre esse ataque de morteiro do P-M John Major, The Autobiography (NY: HarperCollins, 1999), pp. 237-38.
67. Bell, Irish Troubles, p. 559.
68. Bell, Irish Troubles, p. 415.
69. Newsinger, “From Counterinsurgency to Internal Security”, p. 104. No entanto, em Mar86, o RUC confrontou vigorosamente os
paramilitares Orange durante a greve geral lagalista que fracassou.
70. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 116.
71. Bell, Irish Troubles, pp. 743, 806.
72. Smith, Fighting for Ireland?
73. Newsinger, British Counterinsurgency, pp. 171ff.

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74. Bell, Irish Troubles, p. 320.
75. Bell, Irish Troubles, p. 675.
76. Edward Moxon-Browne, “The Water and the Fish: Public Opinion and the Provisional IRA in Northern Ireland”, in British Perspectives
on Terrorism, ed. Paul Wilkinson (London: Allen & Unwin, 1981).
77. Retrato nada abonatório de Adams, Vid. Ed Moloney, A Secret History of the IRA (NY: Norton, 2002).
78. Hamill, Pig in the Middle.
79. Bell, Irish Troubles, p. 660.
80. Paul Arthur e Keith Jeffery, Northern Ireland since 1968 (London: Basil Blackwell, 1988), p. 70.
81. Houve 160 mortes no tráfico na Irlanda do Norte em 1998, ano de paz relativa.
82. Margaret Thatcher, The Downing Street Years (NY: HarperCollins, 1993), p. 58.
83. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 119.
84. Dewar, Brush Fire Wars, p. 232.
85. U.S. Census Bureau, Statistical Abstract of the United States: 2003 (Washington, DC, 2003), p. 201.
86. Newsinger, British Counterinsurgency, p. 189.
87. David Pearson, “Low Intensity Operations in Northern Ireland”, in Soldiers in Cities: Military Operations on Urban Terrain, ed. Michael
C. Desch (Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 2001), p. 103.
88. Smith, Fighting for Ireland, p. 220.
89. Mockaitis, British Counterinsurgency, p. 145.
90. Burton, Urban Terrorism, p. 188.
91. Em 1962, o diretório do Exército Republicano Irlandês acusou declaradamente a “atitude do público em geral, que se desviou da questão
suprema enfrentada pelo povo irlandês – a unidade e a liberdade da Irlanda”. Bell, Irish Troubles, p. 129.
92. Bell, Irish Troubles, p. 189.

VII. Grozny 1994-1996


1. Anatol Lieven, Chechnya: Tombstone of Russian Power (New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1998), pp. 269-70.
2. Olga Oliker, Russia’s Chechen Wars, 1994-2000: Lessons for Urban Combat (Santa Monica, CA: RAND, 2001), p. 14.
3. Lieven, Chechnya, p. 270.
4. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 2.
5. John F. Baddeley, The Russian Conquest of the Caucasus (New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1969 [orig 1908]): p. xxxv.
6. Vid. W. E. D. Allen e Paul Muratoff, Caucasian Battlefields: A History of the Wars on the Turko-Caucasian Frontier (1828-1921) (Cambridge,
England: Cambridge Univ. Press, 1953); Baddeley, The Russian Conquest of the Caucasus; Marie Broxup, ed., The North Caucasus Barrier: The
Russian Advance towards the Muslim World (NY: St. Martin’s, 1992); Moshe Gammer, Muslim Resistance to the Tsar: Shamil and the Conquest of
Chechnya and Daghestan (London: Frank Cass, 1994).
7. Lieven, Chechnya, p. 38; Vid. Lesley Blanch, The Sabres of Paradise (London: John Murray, 1960).
8. Lieven, Chechnya, p. 324.
9. John B. Dunlop, Russia Confronts Chechnya: Roots of a Separatist Conflict (Oxford, England: Clarendon Press, 1998), pp. 58-69.
10. Dunlop, Russia Confronts Chechnya, pp. 58-61.
11. O “Discurso Secreto” público de Khrushchev em 1956 apresentou muitos detalhes reveladores desse episódio vergonhoso.
12. Lieven, Chechnya, 321; Vid. tb. Carlotta Gall e Thomas de Waal, Chechnya: Calamity in the Caucasus (NY: New York Univ. Press, 1998).
13. Gall e de Waal, Chechnya, p. 165; Lieven, Chechnya, p. 85.
14. Lieven, Chechnya, p. 84.
15. Pavel Baev, The Russian Army in a Time of Troubles (London: Sage, 1996), p. 142.
16. Lieven diz que a força invasora origila era de 45 mil, chegou a 55 mil na Primavera de 1995 (Chechnya, pp. 4, 122); Oliker diz que em Fev95
havia 30 mil soldados russos na Chechénia, incluindo a elite Spetnaz e unidades aerotransportadas (Russia’s Chechen Wars, p. 23). Stasys
Knezys e Romanas Sedlickas estimam 50 mil (The War in Chechnya [College Station: Texas A & M Univ. Press, 1999], p. 129).
17. Robert Seely, Russo-Chechen Conflict, 1800-2000: A Deadly Embrace (Portland, OR: Frank Cass, 2001), p. 219.
18. Rajan Menon e Graham E. Fuller, “Russia’s Ruinous Chechen War”, Foreign Affairs, vol. 79 (Mar-Abr00), p. 39.
19. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 8.
20. US Marine Corps Intelligence Activity, Urban Warfare Case Study: City Case Studies Compilation (Quantico, VA: US Marine Corps, 1999), p.
9.
21. Seely, Russo-Chechen Conflict, p. 243.
22. Lieven, Chechnya, pp. 284-85.
23. Lieven, Chechnya, p. 290.
24. Essas condições terríveis, com as consequências devastadoras pára o moral das tropas, não foram abordadas com eficácia: vid, o artigo
esclarecedor de Mark Kramer, “The Perils of Counterinsurgency: Russia’s War in Chechnya”, International Security, vol. 29 (Winter 2004-5).
25. Lieven, Chechnya, p. 280.
26. Lester W. Grau, Changing Russian Urban Tactics: The Aftermath of the Battle for Grozny (Fort Leavenworth, KS: U.S. Army Foreign
Military Studies Office, 1995), p. 1; Steven J. Blank e Earl H. Tilford, Russia’s Invasion of Chechnya: A Preliminary Assessment
(Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 1995).
27. Gall e de Waal, Chechnya, p. 241.
28. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 37.
29. Lieven, Chechnya, p. 280.
30. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain: Marine Corps Warfighting Publication 3-35.3 (Washington, DC: US
Marine Corps, 1998), p. J-7.
31. Grau, Changing Russian Urban Tactics, p. 1.
32. Sean Edwards, Mars Unmasked: The Changing Face of Urban Operations (Santa Monica, CA: RAND, 2000), p. 33.
33. Lieven, Chechnya, p. 293.
34. Gregory J. Celestan, Wounded Bear: The Ongoing Russian Military Operation in Chechnya (Fort Leavenworth, KS: Foreign Military
Studies Office, 1996), p. 7.
35. Gall e de Waal, Chechnya, p. 209.
36. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-8.
37. Gall e de Waal, Chechnya, p. xiv.
38. Lieven, Chechnya, p. 286.
39. Seely, Russo-Chechen Conflict, p. 232.

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40. Lieven, Chechnya, p. 285; vid. Graham H. Turbiville Jr., Mafia in Uniform: The Criminalization of the Russian Armed Forces (Fort
Leavenworth, KS: Foreign Military Studies Office, 1995).
41. Robert Seely, The Russo-Chechen Conflict, p. 230.
42. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-8.
43. Oliker, Russia’s Chechen Wars, pp. 15-16.
44. Lieven, Chechnya, p. 279; Vid. o relatório condenatório, provavelmente emitido pelo GEN Edvard Vorobjov, in Knezys e Sedlickas, War
in Chechnya, pp. 81-85.
45. Lieven, Chechnya, pp. 120-21.
46. Blank e Tilford, Russia’s Invasion of Chechnya.
47. Lieven, Chechnya, p. 269.
48. Dunlop, Russia Confronts Chechnya, pp. 210, 221.
49. Lieven, Chechnya, p. 338.
50. Lieven, Chechnya, p. 337.
51. Seely, Russo-Chechen Conflict, p. 221.
52. Oliker, Russia’s Chechen Wars, pp. 9ff.
53. Dunlop, Russia Confronts Chechnya, p. 222.
54. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 11. 55.
55. Edwards, Mars Unmasked (Santa Monica, CA: RAND, 2000), p. 26.
56. Gall e de Waal, Chechnya, p. 174.
57. Lieven, Chechnya, p. 109.
58. John R. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets: Russia’s Doctrinal Flaws in the 1995 Fight for Grozny”, Journal of Slavic Military
Studies, vol. 13 (June 2000), p. 63n47.
59. Timothy Thomas, “The Battle for Grozny: Deadly Classroom for Urban Combat”, Parameters, vol. 29 (Summer 1999), p. 89.
60. Celestan, Wounded Bear, p. 2.
61. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets”, p. 39.
62. Edwards, Mars Unmasked, p. 26; Lieven, Chechnya, p. 109.
63. Thomas, Battle for Grozny, p. 101.
64. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 17.
65. Baev, The Russian Army in a Time of Troubles, p. 142.
66. Lieven, Chechnya, p. 325.
67. Lieven, Chechnya, p. 119.
68. Knezys e Sedlickas, War in Chechnya, pp. 94-96.
69. Edwards, Mars Unmasked, p. 23.
70. Knezys e Sedlickas, War in Chechnya, p. 109.
71. Celestan, Wounded Bear, p. 7.
72. Aslan Maskhadov, eleito Presidente da Chechénia em 1997, foi morto pelas tropas russasem 08Mar05.
73. Raymond C. Finch, Why the Russian Military Failed in Chechnya (Fort Leavenworth, KS: Foreign Military Studies Office, 1998), p. 10n.
74. Gall e de Waal, Chechnya, p. 205.
75. Celestan, Wounded Bear, p. 11.
76. Lieven, Chechnya, p. 130. Vid. tb. David P. Dilegge, ”View from the Wolves’ Den: The Chechens and Urban Operations”, Small Wars
Journal (2005), http://www.Smallwarsjournal.com.
77. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 62.
78. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-6.
79. Gall e de Waal, Chechnya, p. 206.
80. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-5.
81. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-5.
82. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 13; my emphasis.
83. Edwards, Mars Unmasked, p. 29n.
84. Knezys e Sedlickas, War in Chechnya, p. 123. Na Segunda Guerra da Chechénia (1999-2000), os russos perderam novamente muitos
tanques nas ruas da cidade e de novo falharam em cercar Grozny completamente. Soldados russos facilmente se tornaram reféns por
causa da fraca segurança de base (Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 68).
85. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets”, p. 57.
86. Gall e de Waal, Chechnya, p. xi.
87. O mesmo processo triste ocorreu dois séculos antes, quando o regime revolucionário francês despovoou a Vendéia e a Bretanha, e na
década 30, durante a invasão japonesa na China.
88. Lieven, Chechnya, p. 133.
89. Finch, Why the Russian Military Failed, p. 5.
90. Celestan, Wounded Bear, p. 4. No Vietname do Sul, o VC comunista e o exército norte-vietnamita aumentaram muito o uso de Artilharia
contra lugares habitados, uma vez que perceberam que a maioria da população do Sul lhes era indiferente ou hostil.
91. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-1.
92. Finch, Why the Russian Military Failed, p. 7.
93. Celestan, Wounded Bear, p. 6.
94. Lieven, Chechnya, p. 46.
95. Lester W. Grau e Timothy L. Thomas, “Soft Log” and Concrete Canyons: Russian Urban Combat Logistics in Grozny (Fort
Leavenworth , KS: Foreign Military Studies Office, 2000).
96. Gall e de Waal, Chechnya, p. 247.
97. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets”, p. 54.
98. John Erickson, The Road to Berlin: Stalin’s War with Germany (New Haven, CT: Yale Univ. Press, 1999 [orig. 1983]), p. 629.
99. Seely, Russo-Chechen Conflict, p. 262.
100. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets”, p. 59n3.
101. Lieven diz que até Jan77, foram mortos 4400 soldados russos, 700 desaparecidos, 700 desertaram; vid. o Chechnya, p. 108.
102. Gall e de Waal, Chechnya, p. 227; Seely, Russo-Chechen Conflict, pp. 261-62.
103. Knezys e Sedlickas, War in Chechnya, p. 303.
104. Edwards, Mars Unmasked, p. 31.

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105. Edwards, Mars Unmasked, p. 31.
106. Gall e de Waal, Chechnya, p. 335; Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 30.
107. Knezys e Sedlickas, War in Chechnya, p. 287.
108. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 31; Lieven, Chechnya, 141-42.
109. Brogan, World Conflicts, p. 397.
110. Baev, The Russian Army in a Time of Troubles, p. 146.111. Pilloni, “Burning Corpses in the Streets”, p. 48.
112. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 33.
113. Finch, Why the Russian Military Failed, p. 6.
114. Grau, Changing Russian Urban Tactics, p. 1.
115. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 35.
116. Anatol Lieven, “Lessons of the War in Chechnya, 1994-1996”, in Soldiers in Cities: Military Operations on Urban Terrain, ed. Michael
C. Desch (Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 2001), p. 60; Lieven, Chechnya, p. 113.
117. Lieven, Chechnya, p. 270.
118. Lieven, Chechnya, p. 106; Gall e de Waal, Chechnya, pp. 177ff.
119. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 35.
120. Lieven, Chechnya, p. 250.
121. Blank e Tilford, Russia’s Invasion of Chechnya.
122. Dunlop, Russia Confronts Chechnya, p. 213.
123. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. 14.
124. Blank e Tilford, Russia's Invasion of Chechnya, p. 4.
125. Lieven, Chechnya, p. 3. Os combates na Chechénia continuaram por anos, com milhares de baixas russas, embora as tropas russas
tivessem proporção numérica maior de 40/1 sobre os insurgentes locais. Ver Kramer, “Perils of Counterinsurgency”.

Conclusão
1. Horne, A Savage War of Peace, p. 239.
2. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-6.
3. US Marine Corps, Military Operations on Urbanized Terrain, p. J-5. Os CC Abrams dos EUA são consideravelmente menos vulneráveis ao fogo
terrestre do que os CC russos em Grozny; Kendall D. Gott, Breaking the Mold: Tanks in Cities (Fort Leavenworth, KS: Combat Studies Institute
Press, 2006), p. 105.
4. Pode-se argumentar que o levante bolchevique de Out17 em Petrogrado é excepção. Isso, no entanto, ocorreu numa noite, contra o governo
totalmente indefeso, e é comummente referido por escritores não comunistas como golpe de Estado.
5. Vid. Gordon McCormick, From the Sierra to the Cities: The Urban Campaign of The Shining Path (Santa Monica, CA: RAND, 1992).
6. Daniel Henninger, “Troops in Fallujah Are the Best since World War II”, Wall Street Journal, 18Nov04.
7. Jonathan F. Keiler, “Who Won the Battle of Fallujah?” Proceedings of the U.S. Naval Institute, vol. 131 (January 2005).
8. “The Message from Fallujah”, Christian Science Monitor, 15Nov04. Vid. tb. “Victory in Fallujah”, Wall Street Journal, 17Nov2004; F. J. West,
“The Fall of Fallujah”, Marine Corps Gazette, vol. 89 (Jul05), e F. J. West, No True Glory: A Frontline Account of the Battle for Fallujah (NY:
Bantam, 2005). Gott dá o número 38 de mortes EUA; Breaking the Mold, p. 103.
9. Assim, “a cidade tornou-se, como previra Castro, um cemitério de revolucionários”. Beckett, Modern Insurgencies, p. 176.
10. Claro, os líderes da Revolta de Varsóvia tinham esperanças razoáveis de que o cerco nazi seria rompido pelos exércitos soviéticos que se
aproximavam ou neutralizado por lançamentos aéreos aliados, ou ambos.
11. Bell, “Revolutionary Dynamics”, pp. 194, 195, 197, 209.
12. De Abreu, “Brazil’s Guerrilla Trap”.
13. Oliker, Russia’s Chechen Wars, p. xv.
14. Lieven, “Lessons of the War in Chechnya”, p. 61. Jennifer M. Taw e Bruce Hoffman, The Urbanization of Insurgency: A Potential
Challenge to U.S. Army Operations (Santa Monica, CA: RAND, 1994). A destruição dessas favelas e a transferência de os habitantes
para outras áreas ajudaria muito as forças de segurança, mas com custo político talvez inaceitavelmente alto.
15. “Urban combat is vertical in nature, whereas conventional combat is horizontal”. US Marine Corps, Urban Warfare Study: City Case
Studies Compilation (Quantico, VA: US Marine Corps, 1999).
16. “Urban combat is extremely manpower-intensive and produces significant attrition among men and matériel”. US Marine Corps, Urban
Warfare Study, p. 2. “Urban combat is the domain of old-fashioned infantry”; Barry R. Posen, “Urban Operations: Tactical Realities and
Strategic Ambiguities”, in Desch, Soldiers in Cities, p. 153.
17. “[O inimigo] pode ganhar vantagem contra forças superiores [EUA e aliados] pela capitalização sobre a fraqueza percebida de muitas
nações: a incapacidade de suportar perdas contínuas ou baixas por outros que não sejam os interesses nacionais vitais ou perdas para as
quais estão psicologicamente despreparados”. Field Manual 3-06, Urban Operations (Washington, DC; Headquarters, Department of
the Army, 2003), cap. 3, section 13.
18. Wirtz, “The Battles of Saigon and Hue” p. 85.
19. Metz e Millen, Insurgency and Counterinsurgency in the Twenty-first Century, p. 16.
20. Colin S. Gray, “Strategy in the Nuclear Age”, in The Making of Strategy: Rulers, States and War, ed. Williamson Murray, MacGregor
Knox, & Alvin Bernstein (Cambridge, England: Cambridge Univ. Press, 1994), p. 603.
21. Eliot A. Cohen, “The Strategy of Innocence”, in Murray, Knox e Bernstein, The Making of Strategy, p. 464.
22. Gray, “Strategy in the Nuclear Age”, p. 613; e vid. o seu Irregular Enemies and the Essence of Strategy: Can the American Way of War
Adapt? (Carlisle, PA: Strategic Studies Institute, 2006).
23. Bell, The Irish Troubles, p. 662.
24. Posen, “Urban Operations”, p. 162.
25. William L. Shirer, The Rise and Fall of the Third Reich (NY: Simon & Schuster, 1960), p. 645.
26. Sun Tzu, The Art of War, trad. Samuel B. Griffith (NY: Oxford Univ. Press, 1963), p. 78.
27. US Marine Corps, Urban Warfare Study, pp. 1-17. “As cidades mergulhadas rapidamente no caos devem ser isoladas do campo
circundante”; Wirtz, “The Battles of Saigon and Hue”, p. 83.
28. On the Morice Line, vid. Thompson, War in Peace, pp. 128-29. 29. Callwell, Small Wars, p. 143. 30. Lieven, “Lessons of the War in
Chechnya”, p. 58. Ao obter informações úteis sobre o inimigo do inimigo, vid. Richard L. Clutterbuck, The Long, Long War:
Counterinsurgency in Malaya and Vietnam (NY: Praeger, 1966), p. 106.
31. US Marine Corps, Urban Warfare Study, p. 2. Este estudo do Corpo de Fuzileiros Navais, é claro, não defendia tal falta de preocupação.
32. Laqueur, The New Terrorism, p. 281.
33. Vid. Harvey Rishikof e Michael Schrage, “Technology vs. Torture”, Slate (18Ago04), http: //slate.msn.com/id2105332/.

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