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EDIÇÃO 1589 A - ANO 31 - N 17 - 26/04/2024

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AYRTON SENNA:
30 ANOS DE SAUDADE

“VENCER
SEM CORRER
OS RISCOS É
TRIUNFAR
SEM AS
GLÓRIAS!”
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V V V E L O C I D A
V V E L O C I D A D
V E L O C I D A D E

* Ronaldo Azeredo (1937-2006) foi um poeta brasileiro


e um dos pioneiros da poesia concreta.

TV CARAS Entrevistas, tutoriais, making of e eventos totalmente exclusivos


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N
a infância, a brincadeira favo-
rita de Ayrton Senna da Silva
(1960–1994) já entregava que
seu destino estaria ligado às pistas.
Nascido na capital paulista, ele era
uma criança apaixonada por carri-
nhos e por tudo que estivesse rela-
cionado ao universo das quatro
rodas. “Sentava no colo do meu pai,
no carro, e mandava a ver! Comecei
a guiar o kart com quatro anos de
idade”, contou ele, em uma entre-
vista. O primeiro kart foi feito pelo
pai, Milton Guirado Theodoro
Da Silva (1927–2021), que produ-
ziu o brinquedo com um motor de
máquina de cortar grama. Milton,
aliás, foi um dos maiores incenti-

“Foi meu pai quem


me colocou ali e eu
acabei gostando da
brincadeira.” (Senna)

vadores e apoiadores do ídolo. “Foi


meu pai quem me colocou ali e acabei
gostando da brincadeira, ele me ensi-
nou tudo e me apoiava. Eu fui em
frente! Na minha família não tinha
ninguém que pilotava, fui o único
louco”, brincou ele, em papo com
Jô Soares (1938–2022), em 1989.
Em casa, o futuro piloto dividia
as brincadeiras e traquinagens
com os irmãos, Viviane (66) e
Leonardo (58). “Ele não parava,
tudo ele fazia com pressa. Era irri-
quieto, mas era educado ao mesmo
tempo. Quando eu saia com ele, pre-
cisava segurar as duas mãos, senão
ele derrubava tudo”, lembrou a

A VELOCIDADE ERA
NA INFÂNCIA, O FUTURO PILOTO
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Na infância, o brinquedo
preferido de Senna era o
kart. Com a velocidade
correndo nas veias, ele
era acelerado até para
fazer as lições na escola,
em SP, onde nasceu.

SINÔNIMO DE BRINCADEIRA PARA SENNA


SE DIVERTIA NO VOLANTE DOS CARRINHOS E MOSTRAVA HABILIDADE
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Na zona norte da capital
paulista, onde cresceu,
Ayrton não largava os
seus carrinhos. Antes
dos carros, o triciclo era
seu fiel companheiro de
aventuras e estripulias.

mãe, dona Neyde Joanna Senna vez eu fiquei nervoso, porque o ge-
Da Silva (84). Na escola, era apli- rente da fazenda me disse que o
cado, mas também gostava de cor- Ayrton estava andando em um jipe e
rer contra o tempo. “Ele era um não pisava nem uma vez na fricção. É
bom aluno, mas fazia a lição 10 mi- tudo no tempo”, comentou Milton,
nutos antes de ir para aula. A freira que costumava encher um cami-
do colégio chegou a pedir para eu nhão com karts e levar o filho e os
colocar Ayrton em um clube durante amigos para brincar aos finais de
as férias, porque ele tinha muita semana. O local preferido para as
energia. Não tinha jeito, com ele era ‘corridas’ era na parte alta do bair-
tudo muito rápi- ro Palmas do
do”, emendou a Tremembé, na
mãe. Para conse- “Ele era bom aluno, zona norte pau-
guir se divertir mas fazia a lição 10 listana, onde ele
com os amigos,
ele fazia tudo que
minutos antes de ir da cresceu. Com o
tempo, Senna
fosse possível, escola.” (Neyde) foi ganhando
até pular a janela autonomia e,
e portão de casa. aos sete anos, já
Seu desenho preferido era o levava seu kart à oficina de um
Speed Racer, uma produção japo- amigo do pai para engraxar as ro-
nesa cujo protagonista era, claro, das. Já na fazenda, Senna e diver-
um piloto. Inspirado no persona- tia com a irmã, Viviane, em cima
gem, aos nove anos, ele já sabia dos carros de boi: a aventura da
dirigir! Ele ainda era fã do herói dupla era garantida.
do momento, o Nacional Kid, Foi ainda na infância que surgiu
também japonês. Cauteloso, o pai o seu primeiro apelido, Beco.
deixava Senna pegar alguns carros Inicialmente o chamavam de
na fazenda da família. Ele se senta- Caneco, mas a prima Lilian, ainda
va na ponta do banco e esticava os muito pequena, não conseguia
pés para alcançar os pedais. “Uma pronunciar a palavra e o chamava
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Ao lado de Viviane, Senna
usa uma bacia com água
para batizar a boneca da
irmã. O pequeno encarou
o papel de padre durante
a brincadeira, em SP.
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“Na verdade, eu Dona Neyde entre os relação do ídolo com a


filhos Senna e Viviane. sua família sempre foi
nunca fui um Abaixo, na fazenda da estreita, não só durante
fanático por família, os irmãos se
aventuravam em cima
a infância, mas também
na fase adulta. O apoio
futebol.” (Senna) dos carros de boi. A entre eles era notável.

de Beco. O nome pegou e o acom-


panhou até a vida adulta, quando
ganhou uma variação, Becão.
Tímido e discreto, ele era torce-
dor do Corinthians e, apesar de
gostar de futebol, nunca levou
muito jeito com a bola. “Na verda-
de, nunca fui fanático por futebol”,
chegou a confessar ele. Segundo a
família, o ritmo para lá de acelera-
do de Senna o fazia protagonizar
inúmeros tombos e tropeços. A
mãe chegou até a levá-lo ao neu-

“Minha mãe ficava no


pé para tirar o kart
quando eu ia mal na
escola.” (Senna)

rologista e o diagnóstico foi tran-


quilizante: o menino só era acele-
rado! O jovem também era ca-
nhoto, fato que rendeu uma
proposta inusitada de sua professo-
ra. Ela queria ensiná-lo a usar a
mão direita. Dona Neyde não deu
ouvidos à educadora. “Minha mãe
ficava no pé do meu pai para tirar o
kart de mim quando eu ia mal na es-
cola”, confessou o ídolo.
Estripulias também integravam
a infância do gênio das pistas. Aos
três anos, ele andava para baixo e
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O futuro ídolo das pistas
ficava hipnotizado ao ver
um carro. Com a irmã,
sua grande amiga. Em
gesto solidário, Senna
presenteou um garoto
com sua bicicleta.

para cima com um estilingue pen-


durado no pescoço. Por sorte, não
mirava o objeto em ninguém. Em
casa, seu fiel companheiro era o
cão Ford, nome que entregava sua
paixão pela velocidade.
Com os negócios da família
prosperando – Milton montou
uma metalúrgica e passou a ser for-
necedor de indústrias automobilís-
ticas, além de empreender na área
da construção civil e como criador
de gados –, Senna teve uma infân-

“Tudo que alcancei


até hoje devo à minha
família e aos meus
pais.” (Senna)

cia tranquila, estudou em escolas


particulares, costumava viajar nas
férias, mas nunca perdeu a humil-
dade, traço que seus pais sempre
fizeram questão de ensinar. “Tudo
que alcancei até hoje devo à minha
família e aos meus pais”, dizia o pi-
loto, já na vida adulta.
Em uma das viagens para a casa
de praia da família, em Itanhaém,
no litoral de São Paulo, Senna,
com apenas oito anos, voltou para
a casa acompanhado de um dele-
gado. O motivo? Ele foi flagrado
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Para o jovem, estar ao


volante era o mesmo que
viver no paraiso! Ele se
sentava no colo do pai e
brincava de dirigir! Com
o tempo, a brincadeira
virou coisa séria!
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Inquieto, Senna também
gostava de brincar com
seu estilingue, mas não
acertava ninguém! Ele
era canhoto e vivia com
os joelhos ralados.
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“Não tinha jeito, Na vida adulta, Senna de Viviane. Bruno seguiu


mantinha uma relação os passos do tio e se
com ele era tudo forte com as crianças, tornou piloto. Já Bianca
sempre muito em especial, com seus
sobrinhos, Lalalli, Bianca
está à frente da Senna
Brands e Lalalli assina a
rápido.” (Neyde) e Bruno, os herdeiros escultura Nosso Senna.

dirigindo sozinho a caminhote do


pai. O delegado, inclusive, chegou
a achar que o carro estava se des-
locando sozinho, já que Senna era
muito pequeno e não era visto pe-
la janela. O episódio, que inicial-
mente foi um enorme susto, com o
tempo, virou sinônimo de risadas
entre a família e os amigos.
Aos sete anos, Senna começou

“Quando saia com ele,


segurava as duas mãos
para não derrubar
tudo.” (Neyde)
FOTOS: NOKIO KOIKE@ASE2024 E FOTO FAMÍLIA@ASE2024

a dirigir um kart profissional e sua


habilidade chamava a atenção dos
amigos, que ficavam de boca aberta
com sua maestria ao volante. As
competições, no entanto, ainda
não faziam parte de sua jornada, já
que a idade não permitia. O jeito
era competir com os amigos!
Para além da paixão pelos car-
ros, Senna tinha uma paixão pela
vida e, desde pequeno, era
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Aos finais de semana, o
pai de Senna costumava
encher o caminhão com
karts e levar os meninos
para pilotar. O início do
campeão na trajetória
das pistas foi meteórico.

acostumado a expressar gestos de


carinho. “Certa vez, acho que aos
12 anos de idade, ele comprou uma
rosa e foi levar à casa de dona Nídia,
uma das professoras pela qual ele ti-
nha um carinho especial. Quando
nos encontramos, a professora me
agradeceu, certa de que a iniciativa
tinha sido minha e não do Beco.
Surpresa, eu perguntei a ele porque

“Com 12 anos, ele


comprou uma rosa e
foi levar para a
professora.” (Neyde)

quis dar uma flor para a sua profes-


sora. Ele me abraçou e simplesmente
retrucou: foi saudade, mãe. Tive
saudade da professora e comprei uma
flor para ela”, falou dona Neyde. O
espírito solidário também era sua
marca. Certa vez, prometeu dar de
presente uma bicicleta a um jo-
vem menino e cumpriu! O garoto
bateu à porta da casa, ganhou o
presente e foi embora todo feliz! O
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KART DÁ AO FUTURO ASTRO AS


UNANIMIDADE NA CATEGORIA, O JOVEM COMEÇOU A
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LIÇÕES PARA BRILHAR NA PISTA


ESCREVER SUA HISTÓRIA COM SEQUÊNCIA DE VITÓRIAS

Em 1978, ele conquistou


o título do Campeonato
Brasileiro de Kart. Com
macacão laranja e ainda
sem o seu emblemático
capacete verde a amarelo,
provou que tinha talento.
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“A vida dele era a Para driblar o desafio demorou para virar um


da pista molhada, ele fenômeno da categoria.
corrida. Ele andava passou a treinar em Em 1981, Ayrton fez
a semana inteira de dias de chuva. Com
apoio do pai, o futuro
pausa para ajudar nos
negócios familiares e
kart.” (Travaglini) gênio das pistas não regressou em 1982.

A
brincadeira de infância virou
coisa de gente grande quando
Ayrton Senna (1960-1994),
aos 13 anos, começou a competir
oficialmente no kart. O primeiro
título foi o Campeonato Brasileiro,
em 1978, dando início à uma tra-
jetória recheada de conquistas. “A
vida dele era corrida. Ele andava a
semana inteira de kart sem parar”,
falou Walter Travaglini, que che-
gou a dar aulas de pilotagem para
Senna. Já em 1979, conquistou o
vice-campeonato mundial, feito

“A diferença básica
do kart para a F1 é a
velocidade, de resto é
igual.” (Senna)

que se repetiria em 1980. “O kart


foi a melhor escola que eu poderia ter
tido. Ali aprendi todas as manhas,
das mais simples, às mais complica-
FOTOS: @ASE2024 E GETTY IMAGES

das”, falou o ídolo. “A diferença


básica do kart para a Fórmula 1 é a
velocidade, de resto, a retomada, a
freada, a ultrapassagem, andar na
chuva, é tudo mais ou menos igual”,
completou Senna.
Uma das maiores qualidades do
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Na sua passagem pelo
kart, ele conquistou dois
títulos paulistas, três
campeonatos brasileiros
e dois vice-campeonatos
mundiais. A categoria foi
uma escola para o piloto.

piloto, a facilidade de andar na


chuva, foi adquirida nos tempos
do kart. “Minha primeira corrida na
chuva foi um desastre, não sabia
nem para que lado eu virava. A par-
tir daí, resolvi aprender e sempre que
chovia, eu ia para a pista treinar”,
disse ele, que ganhou a alcunha de
Rei da Chuva. “Mal sabem eles que
correr na chuva é um Deus nos acu-
da!”, brincou. Após a temporada
no kart, em 1981, ele migrou para
a Fórmula Ford 1600, na Europa,
mas a falta de patrocínio e de

“O kart foi a melhor


escola que poderia ter
tido. Ali aprendi todas
as manhas.” (Senna)

apoio da família – que temia os


perigos das pistas –, o fizeram
abandonar o sonho da velocidade.
De volta a SP, passou a adminis-
trar uma loja de materiais de cons-
trução montada pelo pai, Milton
Guirado Theodoro Da Silva
(1927–2021). A paixão, no en-
tanto, falou mais alto e, no ano
seguinte, regressou às pistas, agora
na Fórmula Ford 2000. O
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A IRRETOCÁVEL E METEÓRICA
TRICAMPEÃO DA FÓRMULA 1, PILOTO COLECIONOU
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Em 1993, Senna agita
a bandeira brasileira ao
vencer o Grande Prêmio
de Donington Park, na
Inglaterra. Passagem
pela F1 foi marcada por
quebra de recordes.

JORNADA DO HERÓI NACIONAL


FEITOS IMPENSÁVEIS DENTRO DO AUTOMOBILISMO
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“O brasileiro só Em 1985, quando corria a fama de rei das pole


pela Lotus, Senna fala positions. Abaixo, em
aceita título se for com o engenheiro da 1983, na disputa pela
campeão. E eu sou equipe. Naquele ano,
apesar de não vencer
Fórmula 3, na qual saiu
campeão e ganhou
brasileiro.” (Senna) o campeonato, ganhou visibilidade mundial.

O
s números impressionam.
Foram 41 vitórias, 80 pódios,
65 pole position e três títulos
de Fórmula 1, em 1988, 1990 e
1991. Sem contar todas as con-
quistas e recordes em outras cate-
gorias, como a Fórmula 3 e as
Fórmulas Ford 1600 e 2000.
Definitivamente, Ayrton Senna
(1960-1994) entrava na pista para
ganhar, desafiando a lógica, o tem-
po e a velocidade. “Vencer é o que
importa. O resto é consequência”,
falava ele, que se tornou um herói
nacional ao colocar o nome e a
bandeira do País em destaque no
automobilismo. “O brasileiro só
aceita título se for campeão. E eu sou
brasileiro”, disse ele, cujas conquis-
tas eram sempre embaladas pela
canção Tema da Vitória, uma espé-
cie de hino de sua força. “Quando
você decide por uma direção, uma
meta, tem que dar o seu melhor e
lutar para alcançar aquele objetivo”,
afirmou ele, durante entrevista pa-
ra CARAS, em 1994.
Superação e foco eram os lemas
do piloto, que contornava com
perícia qualquer obstáculo. Na lis-
ta dos feitos improváveis do pau-
listano, destaque para o dia que
venceu a corrida praticamente
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Ainda na Fórmula 3, ele
protagonizou série de
feitos: venceu 13 das 21
corridas, sendo nove
delas consecutivas. Em
1985, no GP da Bélgica,
no qual saiu vitorioso.

sem freios; em outra ocasião, che- piloto, o brasileiro também gosta-


gou em primeiro lugar com apenas va de acompanhar de perto o tra-
uma marcha; expert, ele também balho dos engenheiros, com os
fez a melhor volta de uma prova quais passava horas elaborando as
passando por dentro do box! “Não melhores soluções. “Não existe mé-
conheço outra maneira de guiar se- rito de uma pessoa na Fórmula 1.
não de maneira arrojada. Quando é Mérito existe de uma equipe. São os
hora de ultrapassar, eu ultrapasso. mecânicos, os projetistas, os patroci-
Cada piloto tem seu limite, o meu nadores que financiam o equipamen-
está um pouco além dos outros”, ex- to. Os fornecedores de motores, de
plicava ele. “Tive o privilégio de fa- pneus, enfim, é um conjunto de pes-
zer do meu hobby soas”, dizia.
minha profissão! A cada corri-
Hoje, me divirto e “Fiz do hobby minha da, Senna se fir-
ainda sou pago
para isso!”, brin-
profissão. Hoje, me mava como uma
cava ele, que divirto e sou pago lenda do auto-
mobilismo e, pa-
não gostava de para isso.” (Senna) ra conseguir dar
ostentar. “Não conta da rotina
ganho muito não, intensa, ele ti-
mas já deu para colocar a gasolina no nha uma rigorosa agenda de cui-
meu aviãozinho”, respondeu, ao ser dados. “O fuso horário é um grande
questionado sobre faturamento. inimigo, ainda mais porque o piloto
Na Fórmula 1, categoria na qual precisa estar com a cabeça em or-
começou a correr em 1984, Senna dem. Por isso, é fundamental ter um
passou pelas equipes da Toleman, bom condicionamento físico, não só
Lotus, McLaren – com a qual se pela segurança, mas também pelo
consagrou tricampeão mundial –, desempenho na corrida. Procuro trei-
e a Williams. Seu estilo de direção nar cinco dias por semana, de duas a
era definido como agressivo, afi- três horas, com corrida e muscula-
nal, ele freava pouco nas curvas e ção. É preciso muita vontade e ener-
era expert nas corridas com chuva. gia!”, frisou ele, cujo maior desafio
Para além de seu papel como era buscar o equilíbrio. “É preciso
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Senna confere de perto
todos os preparativos
de sua Lotus, em 1986.
Em 1985, ainda piloto
da equipe, ele conversa
com mecânico para os
ajustes finais do carro.

manter a cabeça no lugar. Às vezes,


o físiso está bem, mas a cabeça não
está legal”, emendou.
Dono de personalidade forte,
Senna também protagonizou mo-
mentos únicos no automobilismo.
Em 1992, por exemplo, parou seu
carro no meio da pista para ajudar

“O Senna era tão


generoso que, para
ele, foi normal ter me
salvado.” (Érik)

o piloto Érik Comas (60), que ha-


via se acidentado. Com a batida, o
carro estava vazando combustível
e havia risco de explosão. Senna
pensou rápido: desligou o motor
do francês e evitou o pior. “O
Senna era tão generoso que, para
ele, foi um ato normal ter me
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Em 1986, os feras das pistas: Senna,


Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson
Piquet. Em 1985, pela Lotus. Piloto
conferia todos detalhes do carro.

“Ouvir o hino nacional


em cima do pódio mexe
comigo.” (Senna)

salvado. Para mim, ele é um herói”,


comentou Érik que, por ironia do
destino, foi o primeiro piloto a se
aproximar do carro de Senna após
o acidente fatal em Ímola, em
1994. “Eu tinha que deixar o carro e
ir lá para ajudar de alguma maneira.
Mas os médicos não deixaram. Eu

“Às vezes, o físico


está bem, mas a
cabeça não está
legal.” (Senna)

entendi que ele estava morrendo ou


estava morto”, comentou o francês,
sentindo até hoje a frustração por
não poder ter retribuido a ajuda.
Outra marca registrada era a
bandeira brasileira que Senna car-
regava no carro e fazia questão de
levantar sempre que ganhava uma
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Em 1991, após ganhar o
GP do Brasil, Senna joga
champagne na cabeça.
Em 1987, ele venceu o GP
de Mônaco e, ao festejar,
despejou bebida na
família real do principado!

corrida. A ideia surgiu após o


Brasil ser derrotado pela França
nas quartas de final da Copa do
Mundo de 1986. “Eu imaginei a
frustração de todos os brasileiros. No
dia seguinte tinha prova e eu ganhei.
Ao vencer, vi um brasileiro com uma
bandeira e foi natural: ‘vou pegar
essa bandeira para ajudar a levantar

“Carregar a
bandeira, para mim,
tem um forte valor
simbólico.” (Senna)

a moral do Brasil’. Eu fiquei emocio-


nado, fiquei feliz”, relembrou o pi-
loto. O gesto se tornou tradição
em suas vitórias. “Carregar a ban-
deira, para mim, tem um valor sim-
bólico forte. Olha que já estou acos-
tumado com essa história de ouvir o
hino nacional em cima do pódio, mas
na hora isso sempre mexe comigo”,
falava ele, cujo coração chegava a
marcar mais de 180 batidas por
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Em Monza, em 1992, ao
lado do futuro gênio das
pistas, o alemão Michael
Schumacher. Simpático,
ele fazia questão de dar
atenção aos fãs e não se
importava com fotos.

minutos durante as corridas.


Atencioso, Senna tinha uma
relação de carinho com os fãs e,
apesar de discreto, não se intimi-
dava na hora de fazer fotos com os
admiradores, em especial, as crian-
ças. “Minha responsabilidade é prin-
cipalmente com a meninada. A gente
sente nas crianças uma admiração e

“A responsabilidade
é principalmente com
a meninada, isso me
motiva.” (Senna)

um carinho grande e isso motiva mais


ainda você a procurar transmitir al-
guma coisa especial para eles. Enfim, é
para quem estou realmente aberto”.
Com seu infalível capacete ver-
de e amarelo – criado por Sid
Mosca –, Senna era unanimidade
nas pistas e tinha licença poética
para fazer o improvável e quebrar
regras. Em 1991, por exemplo,
protagonizou uma das cenas mais
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Ayrton Senna divide o
pódio com Damon Hill e
Michael Schumacher, no
GP do Brasil. Nem só de
sorrisos viveu o ídolo:
em 1991, na Espanha,
ele abandonou a prova.
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Em 1991, o brasileiro
quebra protocolos e dá
carona para Jean Alesi,
da Ferrari, no México.
Em 1992, batida durante
treinos livres precisou
até de ajuda médica.
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“No que eu entro no A francesa Jeanne isolante não eram um


Damerot, na época obstáculo para Senna.
carro de corrida, eu com 82 anos, ganha O plano de corrida era
rezo. Tira aquela carinho de seu ídolo,
em 1994. As luvas
anotado no papel. Em
1989, após desistir de
tensão.” (Senna) rasgadas e com fita prova, ele se troca.

inusitadas da Fórmula 1: no GP de
Silverstone, após ficar sem gasoli-
na na reta final, o brasileiro pegou
uma carona no carro do vencedor
da prova, Nigel Mansell (70), du-
rante a volta da vitória do inglês.
A cena foi tão emblemática que
ganhou até miniatura de colecio-
nador. No mesmo ano, Senna deu
carona para Jean Alesi (59), da
Ferrari. “O Ayron Senna era o
Michelangelo da Fórmula 1!”, co-
mentou o piloto francês. Por falar
em Ferrari, a escuderia italiana era
fã do piloto e chegou a manifestar
a vontade de tê-lo na equipe. Com
Senna, não era diferente, e o bra-
sileiro já tinha dito que gostaria de
encerrar a carreira na Ferrari. O
acordo, porém, não aconteceu.
Se as vitórias do ídolo eram
sempre cercadas de emoção, quan-
do a conquista era em solo verde e
amarelo, a festa era ainda maior.
Em 1993, em seu último pódio no
Brasil, a celebração tomou propor-
ções nunca antes vistas. O público
FOTOS: GETTY IMAGES

invadiu a pista e cercou o carro de


Senna para comemorar. O piloto
desceu de sua McLaren sem nem
tirar o capacete e festejou junto
com a multidão. O probelma é
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Poucos dias antes de
sua morte, Senna fala
com jornalistas durante
partida do Brasil contra
o PSG-Bordeaux, em
Paris. Em 1993, choro ao
vencer GP de Mônaco.

que, com tantas pessoas em volta, competitivo, tinha valores, foi um


ele não conseguiria pilotar o carro bom ser humano”, definiu Ron.
até o pódio. Então, pegou carona Outra aposta da dupla foi no
com o safety car e fez a volta da México, quando Senna prometeu
vitória sentado na janela, acenan- 10000 dólares se Ron comesse um
do para os fãs. “Toda vitória é im- jarro de pimentas. “Antes que ele
portante, mas essa do Brasil é espe- pudesse desistir dessa aposta, eu esta-
cial. Por ser o Brasil e por ser em va devorando tudo. Essa é uma lem-
uma fase da minha carreira e da brança muito carinhosa, porque co-
própria McLaren de dificuldades”, locar um sorriso na face do Senna
falou ele, após a conquista. não era fácil, mas fazê-lo colocar di-
nheiro era ainda mais difícil”, brin-
cou o chefe da equipe.
“Colocar um sorriso Além de toda técnica e concen-
na face do Senna não tração antes de entrar na pista,
Senna não abria mão de ter o seu
era fácil. Foi um bom momento de fé. “No que eu entro
ser humano.” (Ron) no carro de corrida, toda vez, eu re-
zo. E é uma forma que eu encontro
de ficar normal, natural, tirar aquela
Confiante e seguro, o piloto não tensão, aquele nervosismo, aquele
temia as apostas. A mais famosa ímpeto e aquilo faz com que eu fique
delas foi feita em 1991 com Ron bem tranquilo. Na hora que o carro
Dennis (76), chefe da McLaren. sai se torna natural”, falou ele. Já
Se Ayrton vencesse o GP de Ímola, em 1988, ao vencer o GP do Japão
na Itália, ao final da temporada, e consagrar-se campeão da tempo-
poderia levar para casa a McLaren rada, Senna admitiu ter sentido a
de número 6, de modelo MP4/5B. presença de Deus. “Tive o privilégio
Senna venceu e ficou com o carro de ter essa experiência, na última
que, hoje, ocupa lugar de destaque volta da corrida. Comecei a agrade-
na sede do Instituto Ayrton cer, nem eu acreditava, e senti a pre-
Senna, em São Paulo. “Ele era sença Dele”, revelou o piloto. O
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COM ALAIN PROST, BRASILEIRO


PILOTO FRANCÊS FOI SEU MAIOR ADVERSÁRIO NA F1,
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TEVE UM DUELO DE GIGANTES


MAS O QUE PREVALECEU FOI O ESPÍRITO ESPORTIVO

N
as pistas, o francês Alain Prost
(69) sempre foi o adverário
declarado de Ayrton Senna
(1960–1994). Ícones da Fórmula
1, eles protagonizaram uma das
rivalidades mais grandiosas do au-
tomobilismo. Os caminhos se cru-
zaram em 1988, quando Senna foi
contratado pela McLaren, escude-
ria pela qual Prost já corria. “Até
hoje, quando se fala de Senna, fala
de Prost, e vice-versa. Ele é parte da
minha vida e carreira. Quando você
tem esse tipo de rival, você se coloca
em outro nível”, já disse Prost.
A grande desavença começaria
em 1989. No GP de San Marino
havia um acordo: um não poderia
ultrapassar o outro durante a pri-
meira volta. No entanto, Senna o
ultrapassou. “Eu não posso ficar
atrás de um cara que é muito lento”,
se justificou o brasileiro. Já no GP

“Quando se tem esse


tipo de rival, você se
coloca em outro
nível.” (Prost)

de Suzuka, Prost bateu proposital-


mente no carro de Senna, assim o
colega não pontuaria e ficaria de
fora da disputa pelo título. No ano
seguinte, veio o troco! Agora na
Ferrari, Prost viu o arquirrival ba-
ter em seu carro e, por conta da
manobra, levar o bicampeonato.
O final da história, porém, é
amistoso. Em 1993, em sua última
vitória na F1, no GP da Austrália,
Senna puxou o frânces – que ha-
via conquistado o segundo lugar e
Os pilotos dominavam as
estava se aposentando –, para o al- pistas da F1. Em 1993, na
to do pódio, em um gesto de paz última vitória da carreira,
nas pistas. “Depois que me aposen- Senna chama Prost para
tei, seis meses antes do acidente dele, dividir o lugar mais alto do
ficamos muito próximos”, relem- pódio com ele. Os ídolos
brou o francês, citado por Senna correram juntos na McLaren.
no último final de semana de sua
vida, em Ímola. “Para começar,
gostaria de mandar um bom dia em
particular para meu amigo Alain. “Eu não posso
Sentimos sua falta, Alain”, falou o ficar atrás de um
FOTOS: GETTY IMAGES

brasileiro, durante volta no circui-


to com uma câmera on board. “Sua
cara que é muito
morte foi o final da minha história lento.” (Senna)
com a F1”, sentenciou Prost. O
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ROTINA LEVE E AFETIVA DITAVA


LONGE DOS HOLOFOTES, AYRTON ELEGIA A PRAIA E
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OS SEUS MOMENTOS DE FOLGA


O CAMPO PARA RELAXAR E EXERCER NOVAS FACETAS

Em fevereiro de 1994,
ele curte o término das
férias em sua fazenda
em Tatuí, no interior de
SP. A velocidade nas
pistas fazia pausa para
ele conseguir pescar!
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A
velocidade era a grande pai-
xão de Ayrton Senna (1960-
1994), mas fora das pistas o
ídolo dividia esse amor com outros
interesses. Nas férias, por exemplo,
a casa de Angra dos Reis, no litoral
fluminense, era um de seus desti-
nos favoritos. Por lá, ele conseguia
colocar em prática hobbies como
andar de jet ski. “Ele era competitivo
até nas brincadeiras e não gostava de
perder de mim, que levava vantagem
por ser mais leve. Por isso, sempre
arrumava um jeito de fazer um motor
mais forte no jet ski dele”, comentou
o sobrinho, Bruno Senna (40).
Precursor da prepração física no
automobilismo, Senna costumava
se sair bem em quase todos os es-
portes, exceto no futebol! Era fã
de ciclismo, tênis e corridas. O
aeromodelismo também tinha lu-
gar de destaque. “Claro que nem
sempre tudo saía perfeito. Uma certa
vez, ele chegou todo contente com
um helicóptero de controle remoto
novo e foi para o jardim pilotar. A
brincadeira durou pouco: tudo o que
ele conseguiu foi decolar o helicóptero

“Ele era competitivo


até nas brincadeiras,
não gostava de perder
de mim.” (Bruno)

acima do telhado da casa e vê-lo se


espatifar no chão!”, recordou a
mãe, dona Neyde (84).
Já em sua fazenda em Tatuí, no
interior de SP, ele mandou cons-
truir uma casa separada da resi-
dência principal. A ideia era guar-
dar ali todos seus brinquedos de
‘gente grande’: motos, bugues,
Aeromodelismo era quadriciclos e um barco. Tinha
um hobby e ele tinha até ainda uma prateleira com carros,
um hidroavião. Andar de
um hovercraft, além de um heli-
helicóptero e se divertir
com a família e amigos cóptero, sete aviões e duas lan-
na piscina era sinônimo chas, seus brinquedos de controle
de felicidade para o ídolo. remoto. Para completar uma cole-
ção de miniaturas: de carros, é cla-
ro. Ele ainda se aventurava na
pesca e chegou a passar um dia
inteiro aprendendo lições sobre
pesca esportiva. “O que eu mais
gosto é ficar em casa”, dizia ele.
Amante da boa mesa, seu prato
favorito era o macarrão ao sugo. E,
como bom brasileito, também não
dispensava o clássico arroz, feijão,
bife e batata frita. A curiosidade é
FOTOS: GETTY IMAGES

que, diferentemente da rotina nas


pistas, o piloto comia devagar, fa-
zendo suas garfadas em ‘primeria
marcha’! Para adoçar o paladar,
não dispensava um profilerole. O
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Em 1987, em sua casa
na capital paulista: ali,
ele gostava de saborear
a comida preparada pela
mãe. Ayrton não gostava
de história de pescador:
mostrava o peixe!
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Ainda na fazenda, Senna
acompanhava de perto a
criação de porcos. Já em
São Paulo, ele mostra
cuidado ao lavar moto e
comprova outra grande
paixão, as duas rodas.
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No Rio de Janeiro,
em 1987, com Philippe
Jeantot, em prova de
aeromodelismo. Senna
se refresca após mais
um passeio de jet ski
com os amigos.
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GÊNIO DAS PISTAS


PERSONALIDADES DA MÚSICA,

Em 1993, no Japão, Zico


e Senna se encontram e
trocam presentes: piloto
lhe deu um capacete e o
atleta retribuiu com uma
camiseta. Tina Turner faz
elogios ao ídolo no palco.

E
ra impossível não se render à
genialidade de Ayrton Senna
(1960–1994) e anônimos e fa-
mosos ficavam encantados com os
feitos do piloto tanto dentro,
quanto fora das pistas. “No que diz
respeito ao empenho, ao compromis-
so, ao esforço, à dedicação, não exis-
te meio termo. Ou você faz uma
coisa bem feita ou não faz”, dizia ele,
cuja lista de ilustres admiradores é
extensa. Vez ou outra, havia até
espaço para a tietagem! Um desses

“Sou uma grande fã.


Sabem quem é esse:
Senna, é claro. O
melhor.” (Tina)

episódios aconteceu na Austrália.


Após vencer o GP no país, ele
conferiu um show da diva Tina
Turner (1939–2023). Ao vê-lo na
plateia, a eterna rainha do rock o
chamou para subir ao palco. “Sou
uma grande fã. Sabem quem é esse?
Senna, é claro. O vencedor do
Grande Prêmio da Austrália. O me-
lhor”, exaltou ela, entoando na
sequência o hit The Best. Na épo-
ca, o piloto estava acompanhado
da namorada, Adriane Galisteu
(50). “Eu aprendi a ouvir e admirar
a Tina porque o Ayrton a amava. O
poder e a força dela é inexplicável.
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PROTAGONIZOU ENCONTROS MEMORÁVEIS


DA TV, DO ESPORTE E DA POLÍTICA SE DECLARARAM FÃS DO BRASILEIRO
INÊS249
Neste dia, na Austrália, eu tive a
chance de abraçar a mulher mais
cheirosa que já conheci”, relembrou
a apresentadora, anos depois.
O ídolo das pistas também se
encontrou com alguns ídolos dos
gramados, entre eles, Zico (71) e
Pelé (1940 –1922). “O Brasil tem
uma tradição muito grande no fute-
bol e nas corridas. No futebol, aliás,
é até difícil a gente falar nomes, por-
que tem uma tradição muito grande.
O Zico sempre perseverou e manteve
um alto nível, ele conquistou o cari-
nho e a admiração dos fãs que, para
nós, esportistas, é importante. E não
é algo que todos conseguem, por isso,
tenho grande admiração por ele”,
exaltou Senna, durante conversa
com o ex-jogador, no Japão. “Dá
orgulho ir a diferentes lugares do
mundo e saber que o Brasil é conhe-
cido através de um esportista como o
Senna. E os fatores que levam a isso

“Dá orgulho Em 1993, após vencer Planalto, em Brasília, o


o GP do Brasil, Senna piloto recebeu honraria “O Zico perseverou,
saber que o Brasil orquestrou festa para do então presidente ele conquistou o
é conhecido através celebrar a vitória e fez
questão de convidar
Fernando Collor de
carinho e a admiração
Mello durante um raro
do Senna.” (Zico) Pelé. No Palácio do momento de folga. dos fãs.” (Senna)

é a determinação, a gana de vencer,


não há tempo ruim com ele”, elo-
giou Zico. Já com Pelé, o encontro
foi breve: em uma boate paulista-
na chamada Limelight, em 1993.
Na ocasião, Senna celebrava sua
conquista no GP do Brasil daquele
ano e fez questão de convidar o
Rei do Futebol para a festa! “Não
há dúvida de que o Senna foi um
grande atleta, um piloto maravilhoso,
que expôs o Brasil em todo o mun-
do”, chegou a dizer Pelé. “O amor
ao que se faz aliado à vontade de
vencer lhe dará a real motivação. É
necessário arrancar o máximo de si
próprio, numa autocobrança cons-
tante. É vital implantar dedicação
extrema ao preparo físico e psicológi-
co”, refletiu o piloto.
Por falar em rei, o rei das pistas
também teve seu momento com o
rei da música, Roberto Carlos
(82), ao participar do tradicional
especial de fim de ano do cantor
na TV Globo, em 1988. “Senna no
pódio, uma cena indescritível.
Obrigado meu irmão, o Brasil inteiro
te agradece. É um prazer ter você
aqui”, disse Roberto, enquanto pi-
lotava seu Escort XR3 conversível
branco e dava uma carona para o
FOTOS: REPRODUÇÃO

piloto! “Eu me lembro dos seus fil-


mes, de suas corridas, de suas caran-
gas... você realmente gosta de corri-
da, de velocidade?”, questionou o
INÊS249
ídolo. “Gosto! Nos filmes, eu acele-
ro quase tanto quanto você! Aliás,
quem deveria estar dirigindo é você,
não eu!”, respondeu o cantor. “Na
estrada eu prefiro ficar à direita e
com motorista!”, rebateu Senna.
O universo da Fórmula 1 rendeu
bons e fiéis amigos a Senna, em
especial, aqueles que o acompa-
nharam e transmitiram suas con-
quistas: jornalistas, comentaristas
e locutores. Responsável por nar-
rar inúmeras vitórias do piloto,
Galvão Bueno (73) se tornou
uma das pessoas mais próximas do
tricampeão mundial. “Ele era o
brasileiro que dava certo no País em
que tudo dava errado!”, definiu o
narrador, cheio de histórias com o
piloto. “Eu e o Ayrton fazíamos sa-
canagem um contra o outro. Uma
vez, íamos embarcar em Miami e ele
colocou um cadeado no passador da
minha calça. Como eu ia passar no

Em 1988, encontro de pistas entre amigos que “Quando o conheci


“Ele era o brasileiro reis! Senna participa de fez nos bastidores do
que dava certo no País especial de fim de ano automobilismo: Silvio tive a sensação de
em que tudo dava
de Roberto Carlos, na
Globo, e ganha carona
Mota, Reginaldo Leme que estava diante do
e Galvão Bueno, um de
errado.” (Galvão) do cantor. O ídolo das seus maiores amigos. campeão.” (Leme)

detector de metais? Os caras me le-


varam para uma sala, eu tive que ti-
rar a calça e eles tiveram que quebrar
os cadeados para que eu pudesse em-
barcar”, relembrou ele, que acom-
panhou de perto todo drama e
comoção diante morte do ídolo,
em Ímola, na Itália, em 1994.
Assim como Galvão, o comenta-
rista Reginaldo Leme (76) era fi-
gura constante na vida profissio-
nal de Senna. “Quando conheci o
Ayrton, realmente tive a sensação de
que estava de frente com um futuro
campeão. Isso até me arrepia. E ele
mesmo jamais teve dúvida de que se-
ria um dos maiores nomes da
Fórmula 1”, recordou Reginaldo.
Os bastidores da política tam-
bém tiveram a honra de receber
Senna, que recentemente foi
declarado Patrono do Esporte
Brasileiro pela lei 14.559/2023.
“Recebi Ayrton Senna, o nosso
inesquecível tricampeão mundial
de Fórmula 1, em duas oportuni-
dades, ambas no Palácio do
Planalto. A primeira, em 1990,
quando conversamos no gabinete e
participamos de uma solenidade
pré-natalina; a segunda, em feve-
reiro de 1992, quando o condeco-
rei por tudo o que já representava
para o nosso País”, elencou o ex-
-presidente do Brasil Fernando
Collor de Mello (74). O
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CORAÇÃO ACELERADO E CHEIO


AS NAMORADAS, O CASAMENTO E A PAIXÃO SECRETA
R
eservado na vida pessoal, Ayrton Senna
(1960–1994) teve poucos, porém inten-
sos, relacionamentos. Em 1981, aos 21
anos, ele se casou com Lilian Vasconcelos
Sousa, de mesma idade. Amigos de infância,
eles namoraram por cinco anos e, com a par-
tida do piloto para a Inglaterra, onde disputa-
va a Fórmula 3, decidiram se casar da noite
para o dia. Em uma cerimônia discreta, com
poucos convidados e um juiz de paz, foi selada
a união. Filha única, Lilian sentiu a distância
dos pais, e Senna, sempre focado na carreira,
não pode se dedicar à relação como gostaria.
Resultado? Oito meses após a troca de alian-
ças, eles se divorciaram. “Foi um casamento
prematuro. Era impossível, ao mesmo tempo,
manter uma união sólida e continuar correndo
para vencer”, chegou a dizer Senna, cuja dis-
crição foi tamanha que toda história da união
só se tornou pública após sua morte. “Foi um
casamento curto e feliz, mas é assunto encerra-
do”, falou ela, na época que o casamento e seu
fim vieram à tona. Na sequência, o namoro
de quase quatro anos com Adriane Yamin

“Era impossível manter uma


relação sólida e continuar
correndo para vencer. (Senna)

(54), que na época tinha apenas 15 anos. “Se


Senna não tivesse morrido, acho que a gente teria
voltado”, chegou a dizer ela, em entrevista
durante lançamento do livro Minha Garota,
no qual narra a relação dos dois.
Foi em 1988, no entanto, que Senna prota-
gonizou o mais midiático de seus amores. Ao
lado de Xuxa Meneghel (61) ele viveu aquilo
que, para muitos, era o conto de fadas da vida
real. “Quando a gente ficou junto, a gente não
se largou. Ele gostava das mesmas coisas que eu.
Parecia que a gente se completava”, contou
Xuxa. Ela ainda admitiu que Marlene Mattos
(73), sua empresária na época, interferiu de
todas as formas para a relação não dar certo.
“Dizia que não era para ficar com ele, que era
para escolher entre meu trabalho e ele... Ela in-
fernizava”, confessou a eterna Rainha dos
Baixinhos. Para a família do piloto, Xuxa sem-
pre foi vista como o seu grande amor. “Sabe
aqueles amores que acontecem uma vez na vida?
Que eu chamo de paixão fulminante. Eu diria
que a Xuxa foi o grande amor do Ayrton. Eu
não acho, tenho certeza porque acompanhei”,
frisou Viviane Senna (66). Antes do namoro
se tornar público, Senna chegou a participar
do Xou da Xuxa, na Globo. Questionado por
ela o que gostaria de ganhar de Natal, o pilo-
to respondeu: “não posso falar aqui, é censura-
do”. Na sequência, ele contou o seu desejo ao
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DE AMOR DO ETERNO CAMPEÃO


DE AYRTON REVELAM O HOMEM POR TRÁS DA LENDA

Em Mônaco, em 1989,
Xuxa e Senna formavam
um dos casais de maior
interesse midiático.
Oficialmente, a relação
acabou após dois anos
de romance intenso.
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Senna teve uma relação
secreta com a modelo
Carol Alt por quase
quatro anos. Em 1993,
ele se rende à leveza e
aos encantos da jovem
Adriane Galisteu.

pé do ouvido da apresentadora, que o encheu


de beijinhos! O namoro oficial durou cerca
de dois anos e, mesmo após o rompimento,
eles se falavam.
Discreto, Senna procurava manter namo-
ros, affaires e encontros longe dos holofotes.
Somado a isso, seu foco total na carreira fez
Nelson Piquet (71) levantar dúvidas a res-
peito de sua sexualidade. O piloto não deixou
barato e, durante uma polêmica entrevista à
Playboy, desabafou. “Não me anularam na pis-
ta, quiseram me derrotar pelo lado pessoal.

“Não me anularam na pista,


quiseram me derrotar pelo
lado pessoal.” (Senna)

Falharam mais uma vez”, disparou ele, que


chegou a insinuar ter tido um caso com a mu-
lher de Piquet na época, Catherine Valentin.
“Não namorei. Mas… eu a conheci. Eu a co-
nheci como mulher. É curto e grosso. Eu a co-
nheci como mulher”, disse o tricampeão da F1.
Os romances secretos de Senna também
tinham vez! Com a modelo norte-americana
Carol Alt (63), por exemplo, ele viveu um
amor fulminante e proibido durante quase
quatro anos. “Mesmo vivendo na clandestinida-
de, para mim, a nossa história foi importante.
INÊS249

Com a namorada Adriana Yamin,


em 1988. O casamento com Lilian, em
1981. A relação com Xuxa foi intensa.
Com Carol Alt, em 1991, na Itália.

“A mulher brasileira dá
de 10 a zero em qualquer
outra.” (Ayrton Senna)

Eu era casada, mas meu casamento estava em


crise. E ele tinha uma namorada oficial. Por
quatro anos, nos perseguimos pelo mundo, in-
cluindo aeroportos, pistas de corrida e lugares
calmos para ficar juntos, longe de repórteres e da
culpa”, revelou Carol. A americana, aliás, foi
uma exceção, pois Senna tinha preferência
por brasileiras. “A mulher brasileira dá de 10 a
zero em qualquer outra. Não existe mulher mais
bonita”, falou ele, em entrevista ao Roda Viva,
da TV Cultura, em 1986. Na ocasião, o pilo-
to ainda revelou sua musa: Luiza Brunet

“Mesmo vivendo na
clandestinidade, nossa história
foi importante.” (Carol)

(61). “Admiro ela! Sou fã!”, afirmou ele.


Em 1993, ao vencer o GP do Brasil de F1 e
já consagrado como um ídolo nacional,
Senna conheceu o seu último amor: Adriane
Galisteu (50). O piloto celebrou a vitória em
uma casa noturna de São Paulo e, quando viu
a loira, ficou hipnotizado por sua beleza e a
convidou para passar um final de semana em
FOTOS: GETTY IMAGES

sua casa de veraneio, em Angra dos Reis, no


litoral fluminense. Desde então, não se des-
grudaram mais e quem conta essa história é a
própria Adriane, nas páginas a seguir...
INÊS249

COM ADRIANE GALISTEU, ÍDOLO


RESPONSÁVEL POR DAR LEVEZA À ROTINA DO PILOTO,
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VIVENCIA SEU ÚLTIMO ROMANCE


ELA RELEMBRA OS MOMENTOS DE ALEGRIA E DE DOR
Em fevereiro de 1994, na fazenda
em Tatuí, Senna e Galisteu andam
a cavalo. Casal estampava a capa
de CARAS na semana da morte.

F
oi com Adriane Galisteu (50) que Ayrton
Senna (1960–1994) viveu seu último amor.
Um amor leve e descontraído, no qual o
piloto mergulhou em sua essência e quebrou
seus próprios paradigmas. Ao longo de 13 meses
de relação, eles criaram uma conexão única e
que reverbera na vida da apresentadora até os
dias de hoje. “Minha história está guardada com
o maior amor, respeito e carinho dentro da minha
alma, do meu coração. Carrego nossa história co-
mo um escudo, não como um fardo”, diz a apre-
sentadora, em entrevista exclusiva à CARAS.
– Qual a melhor lembrança que tem dele?
– É difícil escolher uma, porque tive grandes
momentos com ele! A gente se divertia muito.
O melhor era tirar ele daquele universo do tri-
campeão mundial e trazer para a vida real e
divertida, acho que tive um pouco esse papel.
Imagina uma menina de 19 anos, apaixonada,
vivendo um conto de fadas; ele tinha esse lado
moleque que as pessoas não conheciam, esse
lado menino, mais divertido, que ficava para os

“O melhor era tirar ele daquele


universo do tricampeão e
trazer para a vida real.”

íntimos. Tinha um humor muito característico,


era ariano como eu e, às vezes, parecia que a
gente tinha 10 anos de idade. Era isso, ele era
um meninão quando estava fora do circuito e
das câmeras. Ele tinha uma simplicidade que
nem combinava com o tamanho dele, era um
homem de hábitos simples e isso me chamava
atenção, não era deslumbrado.
– Amigos próximos disseram em entrevis-
tas que você trouxe leveza para ele...
– Eu percebia isso! Eu falava: ‘deixa seu ca-
belo crescer, não precisa fazer a barba toda ho-
ra’. Você vê pelas fotos essa diferença de visual.
Eu me metia muito nessa coisa da roupa, apesar
de ser uma garota simples, sempre gostei de
moda e queria deixá-lo mais leve. A vida de
piloto é pesada, sofrida, de dedicção, quase zero
férias. Ele tinha uma dedicação além da conta
e isso tirava dele o tempo de descanso, de di-
versão. Eu comecei a entrar nesse lugar.
– E ele te ouvia?
– Às vezes ganhava, às vezes perdia! Como
disse, ele era ariano e, assim como eu, tem dias
que estava diferente. Ele era muito sério, dedi-
cado, tinha dias que a gente nem conversava.
Cheguei a passar três dias sem ouvir a voz dele,
INÊS249
porque estava compenetrado. Ainda assim, a
gente se dava muito bem.
– Qual a memória mais forte que você tem
do dia da tragedia?
– São dois momentos. O primeiro quando eu
desligo o telefone com ele e, 10 minutos de-
pois, começa a corrida. Acho que eu fui a últi-
ma pessoa com quem Ayrton falou ao telefone.
Ele pediu para eu buscá-lo no aeroporto, por-
que não estava mais aguentando a corrida e
porque aquele fim de semana estava muito ca-
ótico. Eu me lembro de ter falado na ligação:
‘não corre! Você não pode ter uma indisposi-
ção?’. Ele ficou bravo, disse que precisava pon-
tuar no campeonato. Se pudesse voltar no tem-
po, eu insistiria! Sentei para ver a corrida e,
para mim, esse momento é inesquecivel.
Começou e ele bateu. Nisso, desligo a TV e
vou tomar banho, já estava costumada com
aquilo e fui me adiantar, achando que ele che-
garia antes. Para mim, era só mais uma batida,
só mais um acidente. Lembro que estava no
avião, em Portugal, e recebi uma ligação na
torre, achei que era ele, mas tive a notícia da
morte. Naquele momento, tinha um silêncio
no aeroporto que nunca esquecerei, estava to-
do mundo de luto. O mundo não achava que
ele morreria fazendo o que mais sabia fazer.
Outra coisa foi aqui, no funeral, o Brasil parado
e em silêncio, foi uma coisa inacreditável.
– Tinha noção da grandiosidade dele?

“Ele nunca deveria ter morrido


e será importante na minha
vida enquanto eu viver.”

– Nem eu, nem ele! Ele já era tricampeão


mundial, um ídolo, mas não ligava, não era isso
que importava. Ele só queria fazer bem aquilo
que gostava. Eu tinha total noção do tamanho
que eu era e do tamanho que ele representava
para o mundo. Dentro do meu mundo, ele era
tudo, então, quando o perco, perco tudo. Tive
ajuda de anjos de guarda, como a família
Almeida Braga. Foi uma situação difícil, por-
que eu era muito jovem, muito pobre, e isso
conta. Eu tinha uma vida que continuava, as
contas chegavam, meu irmão estava doente...
– Saiu mais forte?
– Não percebia isso. No meio do furacão, a
gente não tem noção do que acontece, mas não
tenho dúvida de que aprendemos com a dor.
– Ele era um homem romântico?
– Era muito tímido. Ele deixava vários bilhe-
tes, escrevia mais do que falava. Quando sen-
távamos só nós dois em um jantar ou para jogar
baralho, que era comum, ele conseguia conver-
sar mais e se soltar, mas era fechado. Mostrava
o carinho dele de outra maneira.
– O que ficou dessa história?
– Tenho orgulho de falar dela. Meu marido,
Ale, era fã dele, assim como meu filho, Vittorio,
FOTOS: GETTY IMAGES

é de tanto eu falar. Ele é um homem que nunca


poderia ter morrido e será importante na mi-
nha vida enquanto eu viver. Sou privilegiada,
porque parte do que sou tem tudo a ver com a
mulher que estava ao lado dele. O
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Foram 13 meses de um
amor puro, que fez o
piloto se reconectar às
suas raízes. Adriane se
lembra com carinho das
pessoas que a ajudaram
após a tragédia.
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A CORRIDA FATAL QUE


ACIDENTE NA CURVA TAMBURELLO,
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INTERROMPEU UMA TRAJETÓRIA HEROICA


EM ÍMOLA, TIROU A VIDA DE SENNA E FEZ O MUNDO ENTRAR EM LUTO

Curva Tamburello, onde


Ayrton Senna perdeu a
vida, foi transformada em
chicane. Na época, carros
chegavam aos 320km/h
ao cruzar o local. A área
de escape era pequena.
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“Como piloto ele foi Pouco antes da corrida, homenageá-lo: colocou


ele estava preocupado, a bandeira da Áustria
gênio. Como humano pois o austríaco Roland no carro para erguê-la
ele foi superior ao Ratzenberger morreu
durante treinos. Senna
ao cruzar a chegada. O
choque no muro não o
piloto.” (Rubens) queria vencer a prova e deixou seguir o plano.

D
omingo, 1º de maio de 1994.
O dia em que a tragédia colo-
cou um ponto final na traje-
tória de um dos maiores ídolos do
Brasil. Como de costume, milhares
de brasileiros acordaram cedo para
acompanhar pela TV mais uma
corrida de Ayrton Senna (1960–
1994), no GP de San Marino, em

“Consegui o melhor
tempo, mas não
significa que as coisas
vão bem.” (Senna)

Ímola, na Itália. O clima da prova


estava tenso, afinal, no dia anterior,
um acidente havia tirado a vida do
austríaco Roland Ratzenberger
(1960-1994) e, na sexta, Rubens
Barrichello (51) também sofreu
um grave acidente. “Consegui o
melhor tempo, mas isso não significa
que as coisas vão bem. Esta pista é
um desastre”, chegou a dizer Senna,
INÊS249
Senna se posiciona na
largada, em sua última
corrida. Abaixo, o carro
do ídolo é retirado da
pista. Após acidente foi
dada bandeira vermelha
e pilotos voltaram ao pit.

que ficou abalado após os aciden-


tes e, segundo amigos próximos,
cogitou não correr no dia seguinte.
Preocupado com a segurança dos
pilotos, Senna profetizou aquelas
que seriam suas últimas palavras .
“A Fórmula 1 não voltará a ser a
mesma depois deste fim de semana”,
falou ele, diante de grupo de jorna-

“A Fórmula 1 não
voltará a ser a mesma
depois desse fim de
semana.” (Senna)

listas, já no domingo de manhã.


Nos boxes, antes do início da
prova, o piloto da Williams estava
em profundo estado de concentra-
ção. Aquele era o terceiro circuito
da temporada e, após não pontuar
nos dois anteriores, Senna queria
e precisava ganhar! Colocou até
uma bandeira da Áustria no carro,
para quando cruzasse a linha de
INÊS249
A telemetria mostrou
que, antes do impacto,
ele conseguiu reduzir a
velocidade de 300 para
200mk/h. Tragédia teve
como causa a quebra da
coluna de direção.

chegada pudesse homenagear o


amigo Ratzenberg. Os planos, no
entanto, perduraram por apenas
sete voltas. Ao passar pela curva
mais temida do automobilismo, a
Tamburello, o herói brasileiro per-
deu o controle do carro e bateu no
muro de concreto. Após a batida,
Senna chegou a mexer a cabeça,
fazendo o mundo acreditar que ele
estava bem, no entanto, no im-
pacto, a suspensão dianteira direi-

“Embora eu seja
totalmente agnóstico,
senti sua alma partir
nesse momento.” (Eric)

ta se partiu e atingiu a cabeça do


piloto, causando danos irreversí-
veis. “Ele estava sereno. Eu levantei
suas pálpebras e estava claro, por
suas pupilas, que ele teve um feri-
mento maciço no cérebro. Nós o ti-
ramos do cockpit e o pusemos no
FOTOS: GETTY IMAGES

chão. Embora eu seja totalmente


agnóstico, eu senti sua alma partir
nesse momento”, chegou a dizer o
médico neurocirurgião Eric Sidney
Watkins (1928–2012), que o
INÊS249

Em 1995, um ano após direita se partisse e “Levantei as suas


a fatalidade, os pilotos penetrasse a viseira
fazem tributo ao ídolo do capacete, causando pálpebras, havia
das pistas. O impacto
fez com que um pedaço
danos irreversíveis no
lobo frontal de Senna,
um ferimento maciço
da suspensão dianteira que se tornou lenda. no cérebro.” (Eric)

atendeu ainda na pista.


O brasileiro chegou a ser leva-
do de helicóptero para um hospi-
tal em Bologna, onde algumas
horas depois foi declarado morto.
“Morreu Ayrton Senna da Silva...
Uma notícia que a gente nunca gos-
taria de dar”, anunciou Roberto
Cabrini (63), fazendo o Brasil – e
o mundo – entrarem em luto.
Naquele domingo, a FIA não
cancelou a corrida e viu Michael

“Depois do pódio, me
disseram que ele
estava em coma.”
(Schumacher)

Schumacher (55) vencer a etapa.


“Depois do pódio, me disseram que
ele estava em coma. Sabia que há
vários tipos de coma, mas havia
muitas informações contraditórias.
Não sabia o que pensar. Não podia
imaginar que ele pudesse chegar a
morrer”, confessou o ídolo ale-
mão. Após aquela fatídica ma-
nhã, as normas de segurança da
Fórmula 1 foram repensadas e
tornaram-se mais rígidas. O
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NO ADEUS AO MITO, O BRASIL SE


EM FUNERAL COMOVENTE E COM HONRAS DE CHEFE
INÊS249

ENCHE DE LÁGRIMAS E SAUDADE


DE ESTADO, SENNA É IMORTALIZADO NOS CORAÇÕES

Em SP, na Assembleia
Legislativa, o corpo do
ídolo é velado com uma
bandeira do Brasil e seu
capacete sobre o caixão.
Milhares de pessoas se
reuniram na despedida.
INÊS249
O caixão com o corpo
de Ayrton Senna chega
ao aeroporto rumo ao
Brasil. Ainda pelas ruas
da Itália, milhares de fãs
dão seu adeus ao gênio
do automobilismo.

U
ma onda de tristeza invadiu o
Brasil após o anúncio da mor-
te de Ayrton Senna (1960–
1994), no fatídico domingo, 1º de
maio, e o sentimento de incredu-
lidade diante da tragédia perdurou
ao longo dos dias que se seguiram.
O corpo do ídolo chegou a SP no
dia 4 de maio após sair da Itália e

“Foi como se todos


brasileiros tivessem
perdido alguém da
família.” (Viviane)

fazer escala em Paris, na França.


Coberto com a bandeira do Brasil,
seguiu em cortejo no caminhão de
bombeiros por 31km, do aeroporto
de Guarulhos até a Assembleia
Legislativa de SP, onde foi velado
por 24 horas. Ao longo do trajeto,
uma multidão de pessoas parou sua
rotina para dar adeus ao piloto. Por
INÊS249

Leonardo Senna, irmão do


piloto, consola a mãe, dona
Neyde. Frank Williams, chefe
da equipe Williams, marca
presença. Fittipaldi, Prost
e pilotos carregam o caixão.

“Rezei muito e vou


continuar rezando
por ele.” (Hebe)

cada rua e avenida pela qual o cor-


tejo passava, a comoção se mate-
rializava em lágrimas, flores, fotos
e bandeiras. O som das sirenes dos
batedores da polícia se misturava
com aplausos e um inquieto coro
feito por motociclistas: “olê, olê,
olê, olê, Senna, Senna!”. Ao chegar
na Assembleia, cadetes da

“A dor ainda é muito


forte, mas sei que,
com o tempo ficará
suportável.” (Neyde)

Aeronáutica conduziram o caixão


do piloto para o local do velório.
“Quando a gente perdeu o Ayrton foi
como se todos nós, brasileiros, tivés-
sems perdido uma pessoa da família.
O sentimento de sudade não é só
meu”, ressaltou a irmã do ídolo,
Viviane Senna (66). “A dor ainda
é muito forte, mas sei que, com o
INÊS249
Com honras de Chefe de
Estado, caixão chega ao
cemitério do Morumbi.
Homenagens tomam as
ruas da cidade. A lápide
do piloto ainda é visitada
por milhares de fãs.

tempo, ela ficará mais suportável”,


falou a mãe do piloto, dona Neyde
(84), meses após a tragédia.
Ao todo, estima-se que cerca de
um milhão de pessoas tenha passa-
do pelas grades da Assembleia
Legislativa de SP para se despedir
de Senna, entre elas, personalida-
des e autoridades. “Foi a viagem
mais difícil da minha vida, de Miami
para o velório. A gente acha que os
amigos não vão morrer nunca”, la-
mentou Emerson Fittipaldi (77).
“Depois de comer, pouco antes da
largada, fui aos boxes da Williams e
conversamos por uns dois minutos
antes de ele entrar no carro. Esta foi
a última vez. Ele não teve culpa no
acidente”, relembrou seu antigo
rival nas pistas, o francês Alain
Prost (69). “Quando sofri o aciden-
te no treino em Ímola, pensei que
INÊS249
Ao longo de quase
24h, Ayrton foi velado na
Assembleia Legislativa
de SP, com a bandeira
do Brasil e seu capacete
sobre o caixão. Tristeza
da ex-namorada Xuxa.

tinha vivido o pior dia da temporada Hebe Camargo (1929–2012),


da F1, mas veio a morte do Ayrton. marcaram presença. “Sofro com
Fiquei arrasado, nem sei mais o que toda a Nação a morte de um jovem
falar”, disse Rubens Barrichello corajoso e honrado, que demonstrou
(51). Os pilotos presentes, aliás, ao mundo a capacidade de uma gen-
também foram responsáveis por te”, exaltou Itamar. “Mandei fazer
carregar o caixão de Senna no ce- este terço especialmente para o
Ayrton, com as cores do Brasil, da
Bandeira que ele soube defender com
“Foi a viagem mais tanta garra e talento. Rezei muito e
difícil da minha vida, vou continuar pedindo por ele, senti-
rei saudades deste moço valente”,
de Miami para o comentou Hebe, que deixou um
velório.” (Emerson) terço sobre o caixão do ídolo.
As presenças mais comentadas,
no entanto, foram as de Adriane
mitério, no Morumbi. Galisteu (50), então namorada de
Além dos colegas das pistas, no- Ayrton, e da ex, Xuxa Meneghel
mes como o presidente do País na (61). Enquanto a eterna Rainha
época, Itamar Franco (1930– dos Baixinhos permaneceu ao la-
2011), Fabio Jr. (70), Francisco do da família, Adriane ficou isola-
Cuoco (90), além da apresentadora da. Na época, a cena levantou
INÊS249
No cortejo pela cidade,
ruas, pontes e viadutos
pararam: no lugar dos
carros, uma multidão de
fãs com homenagens ao
ídolo. O País decretou
luto oficial de três dias.

polêmicas sobre o fato do clã que Tony Stark, papel do ator


Senna supostamente preferir a Robert Downey Jr. (59), está
Rainha dos Baixinhos. “Vivi uma morto após o falso Mandarim ata-
vida de viúva, sem ser viúva”, che- car a luxuosa mansão do Homem
gou a dizer Xuxa. “Não estava ali de Ferro. Potts, então, organiza o
para disputar o papel de viúva. Eu funeral dele e, assim como fez
estava ali porque a única coisa que Viviane, beija o capacete do herói.
realmente me interessava eu perdera. “Uma pequena homenagem, mas
Não senti um milímetro de estranhe- significativa, espero. Senna foi incrí-
za ao reencontrar ali uma ex-namo-
rada de Ayrton Senna. Estranhei,
isso sim, quando a minha chegada “Por mais que você
provocou nela o imediato ‘efeito gan- programe sua vida,
gorra’. Foi eu sentar, ela se levantou.
Buscou lugar no outro lado”, confes- a qualquer momento
sou Galisteu em seu livro, tudo muda.” (Senna)
Caminho das Borboletas.
Em um dos momentos mais co-
moventes do velório, Viviane pe- vel. Dignamente um herói nacional”,
gou o capacete do irmão, que ficou falou o roteirista do longa, Drew
o tempo todo em cima do caixão, Pearce (48), em 2013.
e chorou copiosamente. A cena Em luto oficial de três dias, o
foi tão impactante que rendeu País concedeu ao ídolo honras de
FOTOS: GETTY IMAGES

uma homanegem no filme Homem Chefe de Estado. Quando o caixão


de Ferro 3, da Marvel. No longa, deixou a Assembleia, recebeu sal-
Pepper Potts, personagem de va de 21 tiros de canhão. De lá até
Gwyneth Paltrow (51), acredita o cemitério, Senna fez seu último
INÊS249

No GP da Bélgica, em agosto do
mesmo ano, a pista é palco de
tributo a Senna: “Ayrton, como
posso te esquecer?”. Desespero
de Adriane Galisteu diante da
tragédia. Cortejo em São Paulo.

“Senna foi incrível.


Dignamente um herói
nacional.” (Drew)

e mais demorado trajeto: foram


17km em ritmo desalerado, sob
chuva de aplausos. “Ele era ilumi-
nado, é uma saudade absurda”, de-
sabafou dona Neyde, anos depois.
Na despedida, apenas a família e
os amigos. Senna foi enterrado no
jazigo 11, quadra 15, setor 7, do
Cemitério do Morumbi, com uma
placa com os dizeres: “nada pode
me separar do amor de Deus”. Entre
fãs que foram até à Assembleia ou
que acenaram pelas ruas, cerca de
dois milhões de pessoas se mobili-
zaram no adeus. “É difícil a gente
lidar com a falta de uma pessoa tão
próxima e tão querida. Ele foi nosso,
mas também foi de todas as famílias
brasileiras. As pessoas sempre me
falam isso”, resumiu Viviane. Sem
filhos, Senna não deixou herdeiros,
mas deixou órfãos milhares de fãs
pelo Brasil e o mundo. “Somos in-
significantes. Por mais que você pro-
grame sua vida, a qualquer momento
tudo pode mudar”, dizia Senna,
deixando sua lição. O
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O PILOTO DEIXA LEGADO SOCIAL E AJUDA


SONHO DO TRICAMPEÃO, O INSTITUTO AYRTON SENNA COMPLETA 30
A
história de Ayrton Senna
(1960–1994) nunca teve um
ponto final. Ao contrário,
seus feitos e seu nome seguem eco-
ando após três décadas de sua par-
tida. A grande prova disso é o
Instituto Ayrton Senna, presidido
por sua irmã, Viviane Senna (66).
O piloto nunca escondeu o desejo
de ajudar o Brasil a reduzir as desi-
gualdades sociais e a criar oportu-
nidades para as futuras gerações
por meio da educação. Seu objeti-
vo era que todos pudessem ser
campeões em suas jornadas. Meses
após a morte, a família concretizou
o sonho de Senna e, hoje, passados
30 anos da criação, os resultados e
conquistas são tão relevantes
quanto os feitos nas pistas: mais de
36 milhões de crianças e jovens
impactados positivamente pelo
Instituto. Tudo isso, somado à uma
legião de admiradores que ajudam
a eternizar a memória do herói na-
cional. “Em um momento com tan-

“Ele estaria dedicando


tempo a esse sonho de
ajudar a construir um
País melhor.”

tos desafios como os anos recentes, a


mensagem de esperança e persistência
deixadas pelo Ayrton são mais rele-
vantes do que nunca, e seguem inspi-
rando as novas gerações a superarem
obstáculos e a sonharem com um
futuro promissor”, diz Viviane, em
entrevista exclusiva para CARAS.
– Qual maior legado de Senna?
– Muito além das conquistas nas
pistas, o Ayrton deixou um legado
que toca a história dos brasileiros.
Ele deixou um conjunto de valo-
res que são relevantes até hoje,
com sua garra, determinação, fo-
co, persistência, disciplina e pro-
fundo orgulho de ser brasileiro.
Todos esses valores e atitudes se
concretizaram no Instituto Ayrton
Senna, que em 2024 completa 30
anos de existência. Por meio do
trabalho do Instituto com a educa-
ção pública, crianças que antes
não teriam oportunidades, pude-
ram superar desafios como o anal-
fabetismo e a miséria e criar novas
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A TRANSFORMAR A REALIDADE DO BRASIL


ANOS DE APOIO ÀS CRIANÇAS E AOS JOVENS POR MEIO DA EDUCAÇÃO

No início de 1994, ídolo


lança o personagem
Senninha, um garoto
de oito anos que adora
o mundo das corridas.
A ideia é passar valores
do campeão aos jovens.
INÊS249
histórias de sucesso. Muitas delas
são profissionais realizados, orgu-
lhando as suas famílias e contri-
buindo para a construção de um
Brasil melhor, que era um grande
sonho do Ayrton.
– O Instituto é referência na
área da educação. Que balanço
faz dos trabalhos desenvolvidos?
– Em 30 anos de história, o
Instituto atuou em todos os esta-
dos do Brasil e alcançou mais de
3 000 municípios. Entretanto, a
maior conquista vai além dos nú-
meros. O Instituto introduziu pa-
radigmas que trouxeram inova-
ções para o setor social na época.
Também nos comprometemos
com a eficiência, já amplamente
utilizada no setor empresarial, mas
até então pouco explorada na es-
fera pública e no terceiro setor.
Outra inovação: fundamentar
nossas ações em evidências cientí-
ficas. Estamos falando de uma mu-
dança que não se limita a números
ou estatísticas, mas que reflete na
realidade diária de milhões de es-
tudantes, educadores e famílias,

“Ele tinha a imagem e


expressão de um
guerreiro, típica da
figura de herói.”

evidenciando um legado que,


acredito, seja a verdadeira essência
de nosso trabalho. Um dos nossos
marcos foi a contribuição para o
desenvolvimento do Índice de
Desenvolvimento da Educação
Básica, índice fundamental para a
avaliação da educação no País.
Recentemente, ainda tivemos pa-
pel ativo na formulação da Base
Nacional Comum Curricular, in-
fluindo, por meio de pesquisas,
para que competências como foco,
determinação, inovação, resiliên-
cia, colaboração e capacidade de
trabalho em equipe fizessem parte
do currículo nacional. Além des-
ses marcos, nossa atuação se esten-
deu ao terreno prático, apoiando
municípios e estados como Sobral,
no Ceará; Teresina, no Piauí; e o
próprio estado do Ceará, que hoje
se destaca pelos seus resultados
Em SP, Lewis Hamilton exemplares em educação
ganha retrato de Senna, – Em relação ao Brasil, quais
seu ídolo. A irmã, Viviane os maiores desafios educacionais
FOTOS: GETTY IMAGES

exibe uma aeronave com a serem vencidos?


tributo ao piloto. Com o – A educação no Brasil ainda é
então presidente FHC, em bastante complexa: precisamos
inauguração de fábrica. resolver problemas estruturais do
passado, que ainda não foram
INÊS249
superados, ao mesmo tempo em
que não podemos perder de vista o
que nos aguarda no futuro. Temos
desafios ainda do século 19, como
garantir que todos os estudantes
aprendam a ler, escrever e calcu-
lar, ao mesmo tempo em que pre-
cisamos preparar os jovens para
enfrentar desafios totalmente no-
vos. No século 21, será preciso
desenvolver capacidades que vão
além do necessário até agora, mais
habilidades como criatividade, re-
siliência, empatia, pensamento
crítico... Portanto, é preciso com-
bater desafios históricos, como a
alfabetização e combate à evasão
escolar, ao mesmo tempo em que
é preciso preparar as próximas ge-
rações com habilidades necessárias
para que possam navegar pelo sé-
culo 21 com sucesso.
– Senna é um herói brasileiro e
ídolo de gerações que nem chega-
ram a vê-lo nas pistas. A que cre- O inglês Lewis Hamilton, Viviane mostra relógio “Quando cheguei em
dita a atemporalidade dele? mais uma vez, exalta a feito em parceria com
– O Ayrton era um homem de admiração por Senna e grife e que teve parte São Paulo, eu senti a
valores, e deixou valores como a fica hipnotizado diante
do capacate do ídolo,
das vendas revertidas
para o Instituto, cuja
presença de Senna.”
garra, determinação, coragem e
em 2017. Em 1997, sede fica em SP. (Lewis Hamilton)
“Ayrton estava sempre
em movimento e
acelerado. Ele não
parava nunca.”

empatia como uma grande marca,


que perdura até hoje na memória
de todos. Na minha visão, o
Ayrton tinha a imagem e expres-
são de um guerreiro, típico da figu-
ra do herói, que luta de todas as
formas, com todas as forças, vence
diversos desafios e ainda compar-
tilha sua vitória com todos. Por
isso, acredito que ele foi e conti-
nua sendo um exemplo inspirador
para todos aqueles que, no Brasil e
no mundo, lutam todos os dias
contra enormes adversidades mas
acreditam que podem chegar lá.
– Qual a maior lembrança de
infância que tem ao lado dele?
– São muitas, mas uma marca
constante era sua energia infinita.
Ele estava sempre correndo para lá
e para cá, com carrinhos ou sem
eles, com amigos ou sem eles. O
Ayrton estava sempre em movi-
mento e acelerado, o que ocasio-
nava inúmeros “incidentes”, como
galos na cabeça, canelas roxas,
coisas derrubadas pelo caminho, e
assim por diante. Ele não parava
nunca. Se fosse hoje, teriam rotu-
lado o Ayrton como hiperativo e
certamente ele seria medicado, o
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que seria um erro e ainda é hoje, já
Fãs conferem escultura que uma grande maioria das crian-
em bronze do ídolo, em ças é apenas cheia de energia co-
Ímola, na Itália. Busto mo ele era. Sem nada de anormal,
feito pela sobrinha Lalalli são medicadas erroneamente. Foi
Senna, em Interlagos. No essa energia toda que ele canalizou
25º aniversário de morte, no kart e, depois, nos carros, e essa
escultura em Barcelona. foi parte da razão dele se tornar o
que se tornou. Ou seja, não era
uma coisa a ser abafada com remé-
dios, mas algo a ser reconhecido
como parte das suas capacidades, e
como tal, respeitada e canalizada.
Foi exatamente isso que meus pais
fizeram e Ayrton pôde se tornar o
que se tornou.
– E qual a maior lição que
aprendeu com ele?
– A não desistir diante dos obs-
táculos. Isso nós dois aprendemos
de nossos pais.
– Hoje, ele estaria com 64
anos. Consegue imaginar como
seria o ‘senhor’ Senna?
– Certamente estaria em movi-
mento de alguma forma. Quando
ele vinha para o Brasil no final do
ano, após o término do campeona-
to, ‘descansava’ andando de jet
sky o dia todo, correndo, esquian-

“Valeu Ayrton! Como


diz o ditado: palavras
inspiram, exemplos
arrastam.”

do no mar ou em qualquer outra


atividade. Ele também estaria de-
dicando mais tempo ao Brasil, pois
expressou essa conexão o tempo
todo durante sua carreira por meio
de suas falas e ações, como com as
cores de seu capacete ou ao levan-
tar nossa bandeira, compartilhan-
do a vitória com todos os brasilei-
ros, ou ainda através do desejo que
chegou a expressar antes do aci-
dente de fazer algo para ajudar o
Brasil, sobretudo as crianças.
Desse sonho de sua profunda co-
nexão com o Brasil nasceu o
Instituto Ayrton Senna, que nós,
da família, criamos após sua mor-
te. Ele certamente estaria dedican-
do tempo a esse sonho de ajudar a
construir um País melhor.
– Ao falar sobre ele, qual sen-
timento vem ao coração?
– Amor, saudade e gratidão pelo
exemplo de vida, legado de valores e
realizações, dentro e fora das pistas.
– Hoje, se pudesse encontrá-
-lo, o que diria?
– Valeu Ayrton! Porque como
diz o ditado, palavras inspiram,
exemplos arrastam. O
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Em 2014, durante tour


pelo Brasil, o príncipe
Harry assina réplica do
capacete de Senna ao
visitar o Instituto, em
SP, com Viviane Senna.
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Em 1989, Senna passa


pelo circuito de Mônaco.
Foi no principado, aliás,
que Ayrton deixou sua
marca ao vencer 6 dos
10 GPs que disputou!
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AS PÁGINAS DE CARAS REVELAM


DO TRIUNFO À TRAGÉDIA, DA FILANTROPIA AO AMOR,
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ÊXITOS, INTIMIDADE E SAUDADE


PASSOS DO BRASILEIRO SÃO ETERNIZADOS EM CAPAS
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Redação e Correspondência viagens e/ou qualquer tipo de promoção. Recomenda-


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