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Copyright © 2023, todos os direitos reservados.

Publisher e Edição Gráfica: Kaique Rodrigues Treffe


Capa: Nuni Telo / Pexels
Contato: kaique_treffe@hotmail.com
ISBN: 978-65-00-70742-7
1ª edição. São Paulo/SP, Brasil. 2023.

Esta obra é de autoria pessoal e, portanto, não possui vínculo de publicação com a Igreja Católica
Apostólica Romana ou com alguma instituição dela representante.

*As referências bíblicas deste e-book utilizam-se da tradução em português da editora Ave Maria
disponível através do website <https://www.bibliacatolica.com.br/>.
SOBRE O AUTOR

Kaique Rodrigues Treffe

Nasceu em São Paulo em 1994, formado na área de tecnologia da


informação para fins profissionais onde atua a cerca de 10 anos. Católico
leigo e catequista na Diocese de São Miguel Paulista (São Paulo),
apaixonado pela história da Igreja e entusiasta no estudo particular de temas
como a teologia, tradição e doutrina católica em geral.

Diante do contínuo e progressivo processo de descristianização dos


povos, trabalha em busca da formação de fiéis para que (re)descubram a
tradição e os valores cristãos na sociedade a partir do papel da Igreja dentro
e fora dos ambientes eclesiais a fim de que a fé apostólica e o evangelho
norteiem a vivência de si e dos demais no cotidiano, livre de ideologias e
obstáculos que venham a prejudicar um autêntico cristianismo.

◆◆◆

Agradeço e dedico esta obra a Deus que me capacitou com sabedoria,


força e ânimo para a elaboração desse material, a quem ofereço por
intercessão de Nossa Senhora da Conceição que de modo especial
colaborou ativamente não apenas neste trabalho, mas sobretudo no auxílio
espiritual da Igreja para que a defesa integral da vida permanecesse na
doutrina e no coração dos seus filhos fiéis.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
1.1 Por que o Magistério da Igreja e as Sagradas Escrituras têm autoridade religiosa sobre o aborto
em sua doutrina?
1.2 As Sagradas Escrituras e o dom da vida
2 O QUE DIZ A INTERPRETAÇÃO E A POSIÇÃO DO MAGISTÉRIO DA IGREJA?
2.1 Humanae Vitae, uma resposta à cultura da morte no mundo moderno
2.2 A perene defesa integral da vida e da mulher na Doutrina Católica
2.3 O Catecismo da Igreja Católica a termo do aborto
2.4 O Código de Direito Canônico a termo do aborto
2.5 Do método válido e natural de regulação da fertilidade
2.6 A bioética e o direito à vida
2.7 Dos casos complexos e da responsabilidade da Justiça Civil
2.8 O papel do dogma da Imaculada Conceição na vida dos nascituros
3 O QUE DIZEM OS SANTOS E OS PAPAS SOBRE O DIREITO À VIDA?
4 O OCULTISMO E A PRÁXIS DO ABORTO
5 ATUALIDADES
5.1 Um panorama sobre a legislação do aborto no mundo atual
5.2 Regulação do aborto no Brasil
5.3 O lobby pró-aborto
5.3 A incoerência estatística de abortos no Brasil
5.4 Clínicas de aborto e a indústria da morte
5.5 Grupos pró-vida e a resistência social e científica em favor dos nascituros
6 CONCLUSÃO
APÊNDICE A – Tabela de levantamento por amostragem de associações, blogs e fundações
nacionais e internacionais que realizam redes de apoio para procedimentos abortivos
APÊNDICE B – Tabela de levantamento por amostragem de associações, blogs e fundações
nacionais e internacionais que apoiam ativamente as causas pró-vida na sociedade e no
acompanhamento de gestantes
O aborto é mais do que um problema, o aborto é um homicídio, o aborto sem meias palavras...
quem realiza um aborto, mata! [...] É justo eliminar uma vida humana para resolver um
problema? Cientificamente é uma vida humana! Segunda pergunta, é justo contratar um
assassino para resolver um problema? [...] É por isso que a Igreja está firme nisto, porque
aceitá-lo, seria como aceitar o homicídio cotidiano. (FRANCISCO, 2021. Tradução livre)[1]

APRESENTAÇÃO

Este artigo não pretende nem é dotado de qualquer autoridade em propor


novas interpretações ou hermenêuticas pessoais do autor visando a
abordagem do tema de maneira extraordinária às definições da Igreja
Católica em seus documentos oficiais aqui citados ou não até a presente
data de publicação.
Tendo em vista os recorrentes debates em torno do aborto na sociedade
moderna e particularmente no círculo de comunicação entre pais,
responsáveis e catequistas, é oportuno expormos, uma vez mais, a posição
perene e inegociável da Igreja em favor da vida desde a sua concepção,
sobretudo dos indefesos e daqueles que não podem por variadas causas
defender o seu próprio direito de sobrevivência.
A catequese visando formar novos cristãos na Doutrina Católica não
pode se opor ou omitir-se das verdades reveladas, levando sempre em
consideração a maturidade dos ouvintes e a casualidade em que temas como
o direito à vida podem ser tratados, bem como o lucro espiritual de tal
abordagem em seu respectivo contexto.
Sob a âncora da fé no “Deus Vivo”, a Igreja sempre se deparou diante
do assunto a respeito da morte aliada a dois aspectos fundamentais: a vida
eterna e a vida temporal neste mundo como dom divino; portanto, foge à
autoridade da Igreja estabelecer regras ou contornos que contrariem a
vontade do Criador às criaturas. “Eu vim para que as ovelhas tenham vida e
para que a tenham em abundância." (Jo 10, 10).
CAPÍTULO 1 | INTRODUÇÃO

1.1 – Por que o Magistério da Igreja e as Sagradas Escrituras têm


autoridade religiosa sobre o aborto em sua doutrina?

O Novo Testamento propriamente dito está intrinsicamente ligado à


tradição da Igreja Católica. Os evangelhos, as cartas paulinas e apostólicas
que formam parte do corpo literário das Sagradas Escrituras nasceram da
necessidade dos Apóstolos em perpetuar a Verdade revelada por Cristo ao
mundo e que permanecerá até a Sua segunda vinda (“O céu e a terra
passarão, mas as minhas palavras não passarão.” Mt 24, 35).
Para entrarmos no assunto proposto nessa obra, é de grande proveito
voltarmos introdutoriamente à Igreja na era primitiva e notarmos que a
Missa em sua inicial formação litúrgica já contava com a proclamação e a
reflexão da Palavra de Deus. A origem dessa atividade sem dúvida
descende do rito sinagogal, ao qual hoje conhecemos no catolicismo como
“Liturgia da Palavra”, isto é, a primeira parte da Santa Missa[2].
A autoridade sobre a reflexão e a interpretação da Palavra de Deus
sempre esteve a cargo de pessoas capacitadas para tal, não obstante, desde o
Antigo Testamento o Senhor chamou patriarcas e profetas para serem porta-
vozes da Sua Vontade a medida em que o povo eleito se deparava com os
problemas religiosos e sociais da sua época.
Desde a Antiga Aliança o dom sacerdotal e, portanto, magisterial do
que foi estabelecido por Deus na Lei Mosaica contou com homens que
eram responsáveis pela custódia e anúncio das coisas sagradas, porém
nunca sob o aspecto de “ditadores magisteriais e plenamente irrevogáveis”,
Deus sempre reconheceu a fraqueza humana em seus escolhidos. Vide o
clássico exemplo de Moisés, privado de entrar na Terra Prometida pela sua
imprudência em Meriba (cf. Nm 20, 12), mesmo após toda a trama de
grande confiança do profeta na liderança libertadora do povo que precede
essa passagem.
Tal correlação culmina-se então na Encarnação do Verbo, Aquele que é
rei, profeta e sacerdote por natureza divino-humana e, portanto, reúne em Si
mesmo todos os elementos de autoridade do Antigo Testamento. A Palavra
de Deus ganha um aspecto inédito e inesperado, o próprio Deus visita a Sua
criação para proclamar a Sua Palavra que em última instância é o Seu
próprio Ser (“O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Jo 1, 14a); já não
como outrora no deserto que permeava o rumo a Israel, no qual Se
manifestava pela nuvem ou pelo fogo no Tabernáculo, mas agora
verdadeiramente como um de nós, porém de maneira perfeita e
irrepreensível.
Tal encargo redentor e salvífico de Jesus Cristo, ganharia mais
andiante um novo desdobramento, a superior medida do que antes foi feito
com o povo hebreu. O Senhor escolhe doze dos seus discípulos para formar
o sacerdócio da Nova e Eterna Aliança, cumulando-os com poderes
exclusivamente inerentes à Graça Divina, como constatamos na primazia de
Pedro:

“E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha


Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as
chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus,
e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” (Mt 16, 18-19)

Vale uma rápida nota sobre o contexto geográfico da frase acima, ela é
dita em Cesaréia de Filipe, uma cidade do extremo norte de Israel, onde
séculos antes foi culturalmente dominada pelo paganismo grego e na qual
havia uma estátua de bronze ao deus Pã que na mitologia helênica era o
protetor dos bosques, ou seja, “um pastor”; nesse ciente contexto, Jesus
escolhe Pedro como o primeiro Papa para ser o pastor e vigário de Cristo na
Sua Igreja[3]; além disso o mundo grego – e as demais civilizações pagãs –
eram bastante abertas à prática do aborto, logo uma clara indicação que tais
costumes não faziam parte do pastoreio judaico-cristão.
Ou ainda, denotam-se os sacerdotes como instrumentos da
misericórdia divina – dom este que antes fora contestado pelos fariseus ao
próprio Jesus (cf. Mt 9, 1-8) – aplicados após a Ressurreição em função do
Sacramento da Reconciliação/Confissão:

“Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: ‘Recebei o


Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes serão
perdoados; àqueles a quem os retiverdes, lhes serão retidos’” (Jo 20, 22-
23).
Encontramos diversas outras passagens que deixam claro a autoridade
concedida por Deus ao Magistério da Igreja, de modo singular nas palavras
de São Paulo a Timóteo:

"Todavia, se eu tardar, quero que saibas como deves portar-te na casa


de Deus, que é a Igreja de Deus Vivo, coluna e sustentáculo da verdade." (I
Tm 15, 3)

Assim também reafirma a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a


Revelação Divina[4] assinada por Paulo VI: “[...] o encargo de interpretar
autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi
confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em
nome de Jesus Cristo [...]” (SANTA SÉ. Concílio Vaticano II, 1965. Dei
Verbum, n. 10).
Entretanto, não sendo esse o único propósito do capítulo, gostaria de
destacar somente mais uma reflexão que contribui para a interligação da
Antiga e da Nova Aliança.
Momentos após o Sermão da Montanha, onde Jesus se apresenta como
a Nova Lei e o Novo Moisés – em que o profeta, mais de mil anos antes
num mesmo discurso havia prenunciado a excelência profética de João
Batista em vista do Messias e condenado as então atuais práticas pagãs de
Canaã, a Terra Prometida (cf. Dt 18, 15) – é o cenário onde ocorre a cura de
um leproso, pelo qual Jesus não apenas realiza o milagre, mas impõe como
consequência a apresentação do homem curado ao sacerdote, ou seja, para
efeito de cumprimento da Lei Mosaica, mas também para deixar claro que o
papel magisterial não foi abolido ou suprimido:

"Eis que um leproso aproximou-se e prostrou-se diante dele, dizendo:


‘Senhor, se queres, podes curar-me’. Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse:
‘Eu quero, sê curado’. No mesmo instante, a lepra desapareceu. Jesus
então lhe disse: ‘Vê que não o digas a ninguém. Vai, porém, mostrar-te ao
sacerdote e oferece o dom prescrito por Moisés em testemunho de tua
cura’” (Mt 8, 4).

O cenário dessa passagem com o tema da fragilidade da saúde de uma


pessoa vem de encontro com o objeto dessa obra, sobretudo os leprosos,
dados por desprivilegiados e excluídos socialmente no mundo antigo,
figuram-se também os bebês indefesos no ventre de suas mães, muitas
vezes relegados ao pior destino pelo diagnóstico de uma doença congênita
ou gravidez indesejada.
1.2 – As Sagradas Escrituras e o dom da vida

“Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos
vivem para ele.” (Lc 20, 38)

Parece ser bastante oportuno iniciar esse tópico a partir deste


versículo, ele se situa no contexto em que Jesus discute com os saduceus a
respeito da ressurreição, dogma de fé que não fazia parte da crença entre os
saduceus, um grupo político-religioso de forte influência na comunidade
judaica daquele tempo.
Jesus está discorrendo sobre a evidência da ressurreição dos mortos, e
deixa claro na passagem que se alonga por todo o capítulo 20 do Evangelho
segundo São Lucas que a morte não é um fim último em si mesma, termo
que não podemos evitar de acrescentar aqui, muito utilizado pelos céticos e
descrentes modernos, de modo a influenciar as pessoas viverem distantes
dos propósitos divinos num padrão de vida estritamente materialista.
A vida eterna enquanto pós-morte na crença judaica daquele tempo
ainda era alvo de grandes discussões entre os grupos, havia a concepção de
céu, inferno (“hades”) ou de um lugar de pena temporária (“sheol” ou
“mansão dos mortos”), porém que difere do purgatório como nós católicos
conhecemos segundo a Doutrina[5].
Compreender o dom da vida a partir do mistério da morte sempre foi
uma tônica do cristianismo, ao contrário de boa parte das crenças pagãs que
creem em “reencarnação”, nós cremos dogmaticamente que só se vive uma
única vez, bem como reafirma o autor da carta aos Hebreus: “Está
determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o
juízo” (Hb 9, 27). É em torno desse dogma que toda a Paixão, Morte e
Ressurreição de Cristo gravita, pois este tríplice acontecimento nos serve de
maneira redentora justamente para alcançarmos a vida eterna a partir do
dom único e irrepetível de viver que nos foi dado por Deus.
Em outra passagem, São Paulo é mais enfático na questão:

“Ora, se se prega que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como


dizem alguns de vós que não há ressurreição de mortos? Se não há
ressurreição de mortos, nem Cristo ressuscitou. Se Cristo não ressuscitou,
é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (I Cor 15, 12-14).

Notar como implicitamente ou involuntariamente tais crenças


permeiam e forjam o censo comum para relativizar a questão do direito à
vida a partir da pena de morte, sobretudo em casos complexos, é missão do
cristão atual. O termo “Ser cristão na era neopagã” como assim intitula o
Cardeal Ratzinger (Bento XVI) em sua trilogia sobre o tema, é
afortunadamente pertinente para os dias atuais. Não é incomum
percebermos que por vezes somos levados inconscientemente à práticas
religiosas que não fazem parte da fé cristã-católica em decorrência de
hábitos tão enraizados na cultura e na rotina.

“Sou Eu quem tiro a vida, sou Eu quem faz viver” (Dt 32, 39) – ou
“Eu extermino e chamo à vida” em outra tradução.

Este versículo extraído do Cântico de Moisés retrata desde cedo na


religiosidade judaico-cristã que Deus é o único autor e detentor do direito à
vida. Promover a vida e sustentá-la está no íntimo do ser humano, assim
podemos ir ainda mais profundamente ao mandamento que Deus deu a
Adão e Eva no Paraíso:

"Sede, pois, fecundos e multiplicai-vos, e espalhai-vos sobre a terra


abundantemente.” (Gn 9, 7)

É curioso notarmos que este versículo acima procede imediatamente


de outra recomendação, justamente em torno do assassinato e, portanto,
vemos como Deus também explica o valor da vida a partir da pena da
morte:

"Todo aquele que derramar o sangue humano terá seu próprio


sangue derramado pelo homem, porque Deus fez o homem à sua
imagem.” (Gn 9, 6)

Neste momento o Senhor por meio do autor do livro de Gênesis –


creditado a Moisés – faz questão de reiterar o que já fora dito no primeiro
capítulo: “Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus,
criou o homem e a mulher" (Gn 1, 27). A natureza humana, dentre tudo o
que há de mais complexo no universo, é a única obra da criação que ganha
tal adjetivo “à sua imagem”, aqui percebemos a inviolabilidade da vida
humana enquanto estrita união entre o Criador e o mundo das criaturas.
Voltemos ao Evangelho, Jesus por vezes toma crianças ao círculo dos
discípulos para explicá-los o Reino dos Céus. A figura da inocência na
infância é símbolo do abandono na fé que todo cristão deve ter no Pai, não
por “inocência de consciência”, mas de ter em Deus todo o seu refúgio
como uma criança tem em seus pais toda a proteção.
É justamente por essa lógica que o aborto causa tamanha incoerência
com as leis divinas. O abandono de uma criança ainda incapaz de qualquer
expressão por quem a nutre com proteção e alimentação não condiz com a
missão humana confiada por Deus. Esse sentido está tão ligado à criação
que até mesmo no reino animal não se encontram espécies que veem em
seus filhotes uma causa de pura destruição ou abandono, pelo contrário,
exemplifiquemos a figura do pelicano – animal que por tal comportamento
ilustra na arte sacra o próprio mistério pascal de Cristo – que retira sua
própria carne para alimentar seus filhotes.

"Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos


digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que
está nos céus.” (Mt 18, 10)

Na dinâmica deste ensinamento de Cristo vemos que o mal cometido


contra um indefeso independe de sua idade ou condição, uma vez que a
vida espiritual e física está presente desde a concepção e não somente após
certo desenvolvimento ou no nascimento como já se discutiu no passado, a
ser abordado nesse trabalho. A morte provocada por outro semelhante
clama aos céus como o sangue de Abel (cf. Gn 4, 10) e sobretudo como a
violação ao quarto mandamento: “Não matarás” (Ex 20, 13) que ganha no
Evangelho de Cristo condenações ainda mais amplas e claras (cf. Mt 5, 21-
22).
A respeito do preceito de não matar seu próprio irmão, São Paulo
escreve à comunidade cristã da Roma pagã e vai ao cerne do debate
colocando a violação como antes de tudo a falta de amor: "Pois os
preceitos: Não cometerás adultério, não matarás [...] eles se resumem
nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Rm 13, 9).
"Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que
esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais
morrerá. Crês nisso?" (Jo 11, 25-26).

Podemos sublinhar ainda que a vida é um dom tão íntimo do próprio


Deus que Jesus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, declarou ser Ele
mesmo a “vida”, neste versículo originalmente do termo grego “zoé”,
equivalente para a “vida eterna” e não para a nossa vida temporal (“bios”);
porém cabe a nós essa compreensão, como alcançaremos a vida eterna
desprezando e regulando a próprio gosto o valor da vida temporal pela qual
o próprio Filho de Deus se despojou e experimentou (cf. Fl 2, 6-7)?
Por fim, o gênero humano como vimos é a grande obra-prima do
Senhor, que acompanha suas criaturas desde a concepção da vida, pois
assim atesta o livro do profeta Jeremias: “Antes que no seio fosses formado,
eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te
havia designado profeta das nações” (Jr 1, 5).
Muitos outros versículos apontam para o valor imensurável do dom da
vida, porém estes poucos aqui apresentados assinalam que o direito a ela é
uma graça da qual nós não temos nenhum mérito de legislar a medida das
vontades e costumes de cada geração.
CAPÍTULO 2 | O QUE DIZ A INTERPRETAÇÃO E A
POSIÇÃO DO MAGISTÉRIO DA IGREJA?

"Tomo hoje por testemunhas o céu e a terra contra vós: ponho diante
de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para
que vivas com a tua posteridade.” (Dt 30, 19)

2.1 – Humanae Vitae, uma resposta à cultura da morte no mundo


moderno

Inevitavelmente desde o início a Igreja colocou a vida como pauta da


sua identidade de exclusiva guardiã da fé confiada por Cristo nos
Evangelhos. Podemos iniciar a análise desse tópico a partir da
transformação social e mental da humanidade no último século que
influenciou e forçou diretamente um posicionamento da Igreja de modo
particular a partir do Concílio Vaticano II, no qual o Papa São Paulo VI
corajosamente e surpreendentemente aos olhos do mundo publicou a
Encíclica Humanae Vitae[6] (“Vida humana”, tradução livre) em julho de
1968.
É de grande valor nos determos a princípio no título desse documento,
geralmente os documentos papais levam títulos de citações bíblicas ou
termos eclesiásticos, porém Paulo VI resumiu em uma expressão popular a
qualquer um, “vida humana”, deixando claro que o direito à vida antes de
ser um assunto do Magistério é um dever de toda humanidade em promovê-
la e protegê-la desde a sua concepção.

[...] devemos, uma vez mais, declarar que é absolutamente de excluir, como via legítima para a
regulação dos nascimentos, a interrupção direta do processo generativo já iniciado, e,
sobretudo, o aborto querido diretamente e procurado, mesmo por razões terapêuticas. (PAULO
VI, 1968. Humanae Vitae, n. 14)

Com mais de 40 citações, a Encíclica Humanae Vitae aborda


enfaticamente a defesa da vida condenando as variadas práticas de aborto,
eutanásia, uso de contraceptivos, esterilização, controle de natalidade,
intervenção artificial e mudança genética que promovam a eugenia ou o
domínio científico de geração da vida e clonagem.

É de excluir de igual modo, como o Magistério da Igreja repetidamente declarou, a


esterilização direta, quer perpétua quer temporária, tanto do homem como da mulher.
É, ainda, de excluir toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua
realização, ou também durante o desenvolvimento das suas consequências naturais, se
proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação. (PAULO VI, 1968.
Humanae Vitae, n. 14)

É de suma importância contextualizarmos o cenário em que esse


documento foi publicado, pois o mundo já padecia da prática de ideologias
materialistas como o marxismo que exclui Deus da sociedade e
consequentemente a Igreja, bem como o capitalismo liberal que coloca o
lucro financeiro acima da ética humana.
O choque desses vieses de pensamentos já alastrava graves danos
morais à sociedade que poucas décadas antes vivera duas guerras mundiais,
onde marxistas e capitalistas polarizaram o domínio da cultura mundial
deixando sobretudo os cristãos à mercê de leis e costumes que contrariam o
Evangelho direta e indiretamente.
A exclusão contínua da Igreja como instituição partícipe da educação
no Ocidente, a propaganda de um “novo mundo” que deixaria para trás as
tristezas dos séculos precedentes e a explosão tecnológica do século XX
foram fatores de fácil aceitação popular, ainda que não fossem
essencialmente anticristãos, serviram na maioria das vezes como artifício
para a descristianização dos povos.

Tudo aquilo que nos modernos meios de comunicação social leva à excitação dos sentidos, ao
desregramento dos costumes, bem como todas as formas de pornografia ou de espetáculos
licenciosos, devem suscitar a reação franca e unanime de todas as pessoas solícitas pelo
progresso da civilização e pela defesa dos bens do espírito humano. Em vão se procurará
justificar estas depravações, com pretensas exigências artísticas ou científicas, ou tirar partido,
para argumentar, da liberdade deixada neste campo por parte das autoridades públicas.
(PAULO VI, 1968. Humanae Vitae, n. 22)

Se há séculos a Igreja já pelejava pela valorização da dignidade da


mulher na família, os novos tempos foram o golpe final; e se por um lado as
conquistas sociais como o direito ao voto e a integração no mercado de
trabalho de fato soavam como utópicas, ao mesmo tempo, em troca,
seduziam o papel da mulher como objeto de desejo, aproveitada pela
indústria de cosméticos, vestuário e, em último grau, no degenerado
erotismo que atualmente movimenta bilhões de dólares por ano.

"Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se


entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo
com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e
irrepreensível." (Ef 5, 25-27)

A exortação de São Paulo à comunidade de Éfeso coloca em evidência


o papel do matrimônio e a dignidade da mulher. É válido e importante
ressaltarmos que esse versículo na verdade se trata de uma autêntica
revolução feminina – e não o contrário, como é comumente mal recortado
pelos exegetas modernos – dado que no mundo antigo as mulheres eram
tidas como propriedade de seus esposos, muitas vezes inseridas em
comunidades poligâmicas onde dividiam a atenção de seus maridos com
outras mulheres (cf. Mt 5, 26.31); nesse cenário, como não lembrarmos da
relação conturbada entre Raquel e Lia por Jacó? (cf. Gn 30, 1-24)
A quebra do valor sacramental das relações esponsais, a ruptura dos
valores cristãos na vida amorosa dos casais, a ridicularização da castidade e
a popularização de métodos contraceptivos – que muitas vezes terminam
em gestações indesejadas que resultam em abortos clandestinos – foram e
continuam sendo os desafios deparados pela Igreja Católica sobretudo a
partir do século passado. Constatamos ainda tal reprovação da contracepção
desde o Antigo Testamento, quando Onã opta pelo coito interrompido para
não aumentar a sua posteridade e por isso é castigado por Deus (cf. Gn 38,
8-10).

Assiste-se também a uma mudança, tanto na maneira de considerar a pessoa da mulher e o seu
lugar na sociedade, quanto no considerar o valor a atribuir ao amor conjugal no matrimônio,
como ainda no apreço a dar ao significado dos atos conjugais, em relação com este amor.
(PAULO VI, 1968. Humanae Vitae, n. 2)
2.2 – A perene defesa integral da vida e da mulher na Doutrina
Católica

“Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele


receberá aquilo que preferir.” (Eclo 15, 18)

Se Paulo VI tratou de dar uma resposta à dignidade da vida em meio


ao concílio, seu indireto sucessor na Cátedra de São Pedro, São João Paulo
II, não apenas ratificou como expandiu o tema do papel da mulher na
história da salvação e na transmissão irrevogável da vida pela Carta
Apostólica Mulieris Dignitatem[7] (“Dignidade da mulher”, tradução livre)
por ocasião do ano mariano e a trato da vocação feminina na Igreja em
1988.

[...] cada mulher é aquela “única criatura na terra que Deus quis por si mesma”. Cada mulher
herda do “princípio” a dignidade de pessoa precisamente como mulher. Jesus de Nazaré
confirma esta dignidade, recorda-a, renova-a e faz dela um conteúdo do Evangelho e da
redenção, para a qual é enviado ao mundo. É preciso, pois, introduzir na dimensão do mistério
pascal toda palavra e todo gesto de Cristo que se referem à mulher [...] (JOÃO PAULO II,
1988. Mulieris Dignitatem, n. 13)

A Doutrina da Igreja a respeito da vida matrimonial como premissa da


geração da vida e, portanto, a dignidade da vida humana a partir de uma
base familiar não é discurso inaugural de seu último Concílio, em 1930 o
Papa Pio XI escreveu a Encíclica Castii Connubii[8] (“Casamento casto”,
tradução livre) destacando a correlação de Deus e dos homens na geração
da vida:

Em suma, não devemos nos calar sobre o fato de que, sendo ambas as funções de tão grande
dignidade e importância aos pais para o bem de seus filhos, todo uso honesto da faculdade
dada por Deus para procriar uma nova vida é direito e privilégio apenas do estado casado, pela
lei de Deus e da natureza, e deve ser confinado absolutamente dentro dos limites sagrados
desse estado. (PIO XI, 1930. Castii Connubii, n. 18. Tradução livre)

Em particular rejeição à ideologia marxista, o Papa Pio XI sublinha


ainda na Encíclica Divinis Redemptoris[9] o descompromisso e a
incredulidade dessa filosofia a respeito da vida e da família:

Além disto, como esta doutrina rejeita e repudia todo o caráter sagrado da vida humana
[grifo nosso], segue-se por natural consequência que para ela o matrimônio e a família é
apenas uma instituição civil e artificial, fruto de um determinado sistema econômico: por
conseguinte, assim como repudia os contratos matrimoniais formados por vínculos de natureza
jurídico-moral, que não dependam da vontade dos indivíduos ou da coletividade, assim rejeita
a sua indissolúvel perpetuidade. (PIO XI, 1937. Divinis Redemptoris, n. 11)

No mesmo sentido discorreu Pio XII em 1951 sobre a inviolabilidade


da vida humana e indefesa[10]:

Além disso, todo ser humano, mesmo o bebê no ventre da mãe, tem o direito à vida
imediatamente de Deus, não dos pais, nem de qualquer sociedade ou autoridade humana.
Portanto, não há nenhum homem, nenhuma autoridade humana, nenhuma ciência, nenhuma
“indicação” médica, eugênica, social, econômica, moral que possa exibir ou dar um valido
título legal para uma disposição deliberada direta sobre uma vida de um ser humano inocente,
isto é, uma disposição que visa a sua destruição, seja como um fim ou como um meio para
outro fim, em si mesmo talvez de forma alguma ilegal. Então, por exemplo, salvar a vida da
mãe é um fim muito nobre; mas o assassinato direto da criança como meio de para este fim,
não é lícito. A destruição direta da chamada “vida sem valor”, nascido ou ainda não nascido,
praticado há alguns anos em grande número, não pode ser justificado de forma alguma.
Portanto, quando esta prática começou, a Igreja declarou formalmente sua oposição ao direito
positivo natural e divino, e portanto ilícito, matar também se por ordem de autoridade pública,
aqueles que, embora inocentes, porém por defeitos físicos ou psíquicos não são úteis à nação,
mas sim logo eles se tornam um fardo. A vida de um inocente é intangível, e qualquer
tentativa ou ataque direto contra ele é uma violação de uma das leis fundamentais, sem a qual
não é possível a convivência humana segura [...] (SANTA SÉ, 1951. Acta Apostolicae Sedis
43, pp. 838 a 839. Tradução livre)

Também o Papa São João XXIII destacou em 1961 na sua Encíclica


Mater et Magistra[11] (“Mãe e Mestra”, tradução livre), que reitera a Igreja
Católica como mestra da Verdade aos povos (cf. I Tm 15, 3), a termo da
sacralidade da vida humana enquanto criação divina desde a sua concepção:

A vida humana é sagrada: mesmo a partir da sua origem, ela exige a intervenção direta da ação
criadora de Deus. Quem viola as leis da vida, ofende a Divina Majestade, degrada-se a si e ao
gênero humano, e enfraquece a comunidade de que é membro. (JOÃO XXIII, 1961. Mater et
Magistra, n. 193)

Em outra colocação do Papa São Paulo VI, o aborto é criminalizado


radicalmente através da Constituição Pastoral Gaudium et Spes[12] de 1965:
Com efeito, Deus, Senhor da vida, confiou aos homens, para que estes desempenhassem dum
modo digno dos mesmos homens, o nobre encargo de conservar a vida. Esta deve, pois, ser
salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o
infanticídio são crimes abomináveis. (PAULO VI, 1965. Gaudium et Spes, n. 51)

No ano de 1972, Paulo VI ainda afirma no Discurso aos participantes


do “XXIII Congresso Nacional da União dos Juristas Católicos
Italianos”[13] sobre a imutabilidade da Doutrina Católica a respeito do
aborto:

Estamos ainda mais dispostos a atender ao vosso desejo, pois o tema do aborto que vocês
escolheram este ano como tema da sua Convenção Nacional tem um caráter muito interessante
e atual. Hoje é assunto de muita discussão, mas muitas vezes mal definido e tratado; portanto,
vocês deram corretamente a abordagem certa para defender o direito ao nascimento.
Vocês bem sabem como a Igreja sempre condenou o aborto, de modo que os ensinamentos de
nosso predecessor de Ven. memória Pio XII (Discurso de 29 de outubro de 1951) e o Concílio
Vaticano II (Gaudium et spes , 27 e 51) nada fizeram senão confirmar sua doutrina moral
imutável e inalterada. (PAULO VI, 1972. Discurso ao Congresso Nacional da União dos
Juristas Católicos Italianos, parágrafos 3 e 4. Tradução livre).

Na Encíclica Evangelium Vitae[14] (“Evangelho da Vida”, tradução


livre), São João Paulo II discorre especificamente em torno do aborto e do
inegociável dom da vida (podemos dizer que este documento pontifício
amplifica no mais excelso grau o objetivo desse artigo). O Santo Padre
ainda acrescenta sobre a questão canônica em torno da prática do aborto
que está presente desde antes do Concílio Vaticano II:

A disciplina canônica da Igreja, desde os primeiros séculos, puniu com sanções penais
aqueles que se manchavam com a culpa do aborto, e tal praxe, com penas mais ou menos
graves, foi confirmada nos sucessivos períodos históricos. O Código de Direito Canónico de
1917, para o aborto, prescrevia a pena de excomunhão. Também a legislação canônica, há
pouco renovada, continua nesta linha quando determina que “quem procurar o aborto,
seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententia”, isto é, automática. A
excomunhão recai sobre todos aqueles que cometem este crime com conhecimento da pena,
incluindo também cúmplices sem cujo contributo o aborto não se teria realizado: com uma
sanção assim reiterada, a Igreja aponta este crime como um dos mais graves e perigosos,
incitando, deste modo, quem o comete a ingressar diligentemente pela estrada da conversão.
Na Igreja, de fato, a finalidade da pena de excomunhão é tornar plenamente consciente da
gravidade de um determinado pecado e, consequentemente, favorecer a adequada conversão e
penitência. (JOÃO PAULO II, 1995. Evangelium Vitae, n. 62)
Entre tantos outros aspectos expostos pelo Pontífice sobre o assunto,
João Paulo II apresenta nesta mesma Encíclica a termo de como o pré-
diagnóstico pode vir a ser uma porta de entrada para a cultura da eugenia
(seleção e descarte natural):

Os diagnósticos pré-natais, que não apresentam dificuldades morais quando feitos para
individuar a eventualidade de curas necessárias à criança ainda no seio materno, tornam-se,
com muita frequência, ocasião para propor e solicitar o aborto. É o aborto eugénico, cuja
legitimação, na opinião pública, nasce de uma mentalidade — julgada, erradamente, coerente
com as exigências “terapêuticas” — que acolhe a vida apenas sob certas condições, e que
recusa a limitação, a deficiência, a enfermidade.
Seguindo a mesma lógica, chegou-se a negar os cuidados ordinários mais elementares, mesmo
até a alimentação, a crianças nascidas com graves deficiências ou enfermidades. E o cenário
contemporâneo apresenta-se ainda mais desconcertante com as propostas — avançadas aqui e
além — para, na mesma linha do direito ao aborto, se legitimar até o infanticídio, retornando
assim a um estado de barbárie que se esperava superado para sempre. (JOÃO PAULO II,
1995. Evangelium Vitae, n. 14)

Ainda a título da tão valiosa Encíclica Evangelium Vitae, por fim,


gostaria de destacar mais um dos pontos nela expostos como a respeito da
corresponsabilidade e da pressão psicológica feita por terceiros à mulher,
sobretudo em situações em que a gravidez é ocasionada de maneira
complexa, exemplificando assim uma das maneiras nas quais a Igreja
manifesta publicamente a gravidade da questão sob a ótica racional:

A decidirem a morte da criança ainda não nascida, a par da mãe, aparecem, com frequência,
outras pessoas. Antes de mais, culpado pode ser o pai da criança, não apenas quando
claramente constringe a mulher ao aborto, mas também quando favorece indirectamente tal
decisão ao deixá-la sozinha com os problemas de uma gravidez: desse modo, a família fica
mortalmente ferida e profanada na sua natureza de comunidade de amor e na sua vocação para
ser “santuário da vida”. Nem se podem calar as solicitações que, às vezes, provêm do âmbito
familiar mais alargado e dos amigos. A mulher, não raro, é sujeita a pressões tão fortes que se
sente psicologicamente constrangida a ceder ao aborto: não há dúvida que, neste caso, a
responsabilidade moral pesa particularmente sobre aqueles que directa ou indirectamente a
forçaram a abortar. Responsáveis são também os médicos e restantes profissionais da saúde,
sempre que põem ao serviço da morte a competência adquirida para promover a vida.
Mas a responsabilidade cai ainda sobre os legisladores que promoveram e aprovaram leis
abortistas, e sobre os administradores das estruturas clínicas onde se praticam os abortos, na
medida em que a sua execução deles dependa. Uma responsabilidade geral, mas não menos
grave, cabe a todos aqueles que favoreceram a difusão de uma mentalidade de permissivismo
sexual e de menosprezo pela maternidade, como também àqueles que deveriam ter assegurado
— e não o fizeram — válidas políticas familiares e sociais de apoio às famílias, especialmente
às mais numerosas ou com particulares dificuldades econômicas e educativas. (JOÃO PAULO
II, 1995. Evangelium Vitae, n. 59)

Se voltarmos alguns séculos no tempo, precisamente no ano de 1588,


encontramos a bula papal Effraenatum de Sisto V[15], na qual condena sem
restrições a prática do aborto provocado, dado que no século XVI a
concepção científica da vida era diferente da atual, embora desde o início a
Igreja reconheça por parte dos teólogos a existência da vida já na sua
concepção – nisto descendemos também de uma percepção similar no
judaísmo – e dotada de alma, em séculos passados acreditava-se na tese
aristotélica da “vida inanimada” e “vida animada” a medida do
desenvolvimento do nascituro, a começar por uma “alma vegetativa”
(vegetal) que evoluía para a “alma sensitiva” (animal) e, por fim, como
“alma intelectual” (humana)[16], o que gerou inúmeras controvérsias a
respeito do momento de cada fase de “animação” até meados do século
XVIII, claramente sob o potencial debate científico-racional daquele tempo;
porém o conceito de princípio da vida propriamente dita, seja ela impassiva
(vegetal) ou inteligente (humana) estava clara desde a sua concepção
genética, nessa avaliação não faltaram correções por parte da Igreja, como
foi o caso do Papa Inocêncio XI no século XVII ou a exemplo do Papa Pio
IX na ata Apostolicae Sedis de outubro de 1869: “Declaramos estar sujeitos
a excomunhão latae sententiae (anexadiretamente ao crime) os que praticam
aborto com a eliminação do concepto [embrião]”[17].
Antes disso, no século XIII, Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja
e tido por um dos maiores teólogos da história ao lado de Santo Agostinho
de Hipona por sua imensa contribuição literária, afirma em um trecho de
sua Suma Teológica[18] que o ventre é digno de todo cuidado e classifica a
violência ao nascituro como homicídio:

[O que ou quem] fere a mulher grávida faz algo ilícito, e, por esta razão, se disso resulta a
morte da mulher ou do feto animado, não se desculpa do crime de homicídio, sobretudo,
quando a morte segue certamente a esta ação violenta. (TOMÁS DE AQUINO, Suma
Teológica, II-II, q. 64, a.8, ad2)

Note que Santo Tomás se utiliza do termo “feto animado”, conforme


comentado anteriormente, uma vez que Tomás de Aquino defendia a tese da
hominização tardia, isto é, o conceito de que a união completa do corpo e
das faculdades da alma se dava após um determinado período orgânico da
gestação. O “doutor angélico” assim chamado, acrescenta ainda que a
prática abortiva voluntária incorre em pecado grave[19]:

E deve-se saber que alguns matam apenas o corpo, do qual foi dito; outros, tirando a vida da
graça, levando-a ao pecado mortal. João 8, 44: “ele foi homicida desde o princípio”, visto que
atraiu o pecado. Mas outros fazem as duas coisas, e isso de duas maneiras. Primeiro, na
destruição das que estão grávidas: pois as crianças são mortas no corpo e na alma. Em segundo
lugar, matando-se. (TOMÁS DE AQUINO, Collationes in decem praecetis, a.7)

No século IX, o Papa Estevão V definiu no Decreto de Graciano


(conjunto de leis canônicas da Igreja do primeiro milênio) a práxis do
aborto nos seguintes termos: “É homicida aquele que fizer perecer,
mediante o aborto, o que tinha sido concebido.”[20]
Nesta mesma época, o Concílio de Mogúncia realizado em 847
endurece a penitência no mesmo sentido: “[Às mulheres] que matarem as
suas crianças ou que provocarem a eliminação do fruto concebido no
próprio seio.”[21], assim como o Concílio de Ancara em 314 reduziu a
pena[22], porém fazendo memória de seu contexto histórico:

As mulheres que fornicam e depois matam os seus filhos ou que procedem de tal modo que
eliminem o fruto de seu útero, segundo uma lei antiga são afastadas da Igreja até o fim da sua
vida. Todavia num trato mais humano determinamos que lhes sejam impostos dez anos de
penitência segundo as etapas habituais. (HARDOUIN, 1715. Acta Conciliorum t. I, col. 279)

Na era Patrística, Santo Agostinho de Hipona, o grande teólogo que


fundamentou as principais questões da fé católica, sublinhou a
criminalidade do aborto provocado nas seguintes condenações em sua obra
De nuptiis et concupiscentia[23]:

Por vezes esta crueldade libidinosa, ou esta libidinagem cruel vão até ao ponto de arranjarem
venenos que tornam as pessoas estéreis. E se o resultado desejado não é alcançado desse
modo, a mãe extingue a vida e expele o feto que estava nas suas entranhas; de tal maneira que
o filho morre antes de ter vivido; de sorte que, se o filho já vivia no seio materno, ele é morto
antes de nascer. (AGOSTINHO DE HIPONA. De nuptiis et concupiscentia, livro 1, capítulo
15, parágrafo 17)
Note que Agostinho compara as situações do “filho antes de ter
vivido”, isto é, segundo a teoria de Aristóteles, antes de alcançar uma alma
sensitiva, e do “filho que já vivia”, ou seja, após o despertar biológico da
alma sensível; este embate sobre o momento da efusão da alma foi
amplamente debatido ao longo dos séculos como vimos sumariamente a
pouco.
Ainda no século II, o importante teólogo Tertuliano expõe em sua obra
Apologeticum[24] uma das primeiras interpretações a respeito do tema do
aborto para a Igreja Católica latina: “É um homicídio premeditado impedir
de nascer; pouco importa que se suprima a alma já nascida ou que se faça
desaparecer durante o tempo até ao nascer. É já um homem aquele que o
será” (TERTULIANO. Apologeticum, IX, 8).
As palavras de Tertuliano são pertinentes para a interpretação da
hominização tardia apresentada anteriormente, pois independentemente do
momento da efusão da alma posta em debate, o fruto do ventre de uma
mulher só pode resultar num ser humano, desse modo o aborto é tido por
homicídio desde a fase da concepção.
Recordemos ainda as palavras de Atenágoras, um apologista cristão
também do século II que pontua que naquele tempo os cristãos já
condenavam o uso de medicinais abortivos, dado que para o cristianismo as
crianças no ventre de suas mães: “são já objeto dos cuidados da Providência
Divina.”[25]
Já na Didaché[26] (um livro catequético do primeiro século, certamente
de influência apostólica), se encontra a seguinte exortação: “Tu não
matarás, mediante o aborto, o fruto do seio; e não farás perecer a criança já
nascida” (DIDACHÈ, V, 2).
Por fim, embora esta obra não tenha a pretensão nem a capacidade de
listar todas as variadas referências da Igreja ao longo dos séculos sobre o
tema, coloca-se em evidência o precioso documento da Sagrada
Congregação para a Doutrina da Fé de 1974 intitulado como “Declaração
sobre o aborto provocado”[27], e assim como a Encíclica Evangelium Vitae
supracitada, também vale a pena ser conferida na íntegra, porém aqui
destacamos o seguinte parágrafo:

Uma discriminação fundada sobre os diversos períodos da vida não será pois mais justificável
do que outra qualquer. O direito à vida permanece na sua inteireza num velhinho, mesmo que
este se ache muito debilitado; permanece num doente incurável, este não o perdeu. Não é
menos legítimo numa criança que acaba de nascer do que num homem feito. Na realidade, o
respeito pela vida humana impõe-se desde o momento em que começou o processo da geração.
Desde quando o óvulo foi fecundado, encontra-se inaugurada uma vida, que não é nem a do
pai, nem a da mãe, mas a de um novo ser humano, que se desenvolve por si mesmo. Ele não
virá jamais a tornar-se humano, se o não for desde logo. (SANTA SÉ. Sagrada Congregação
para a Doutrina da Fé, 1974. Declaração sobre o aborto provocado, n. 12)
2.3 – O Catecismo da Igreja Católica a termo do aborto

“E ao homem pedirei contas da vida do homem, seu irmão. Quem


derramar sangue humano, por mãos de homem terá seu sangue
derramado, porque o homem foi feito à imagem de Deus.” (Gn 9, 5b-6)

O Catecismo da Igreja Católica[28] promulgado em 1992 por João


Paulo II sob a direção do Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina
da Fé, o então Cardeal Ratzinger (Bento XVI), situa-se como o documento
central da vida cotidiana dos fiéis católicos no mundo inteiro a respeito da
autêntica fé cristã.
Particularmente a respeito do aborto, o Catecismo traz 6 parágrafos
(§§2271-2275 e §2322) que oferecem uma breve síntese de toda
fundamentação teológica e social da Igreja sobre o direito inegociável da
vida dos nascituros.
De modo a acrescentar valiosamente o presente escrito, colocamos a
seguir na íntegra o conteúdo de tais parágrafos apresentados no Catecismo
(as referências apresentadas entre parênteses na citação se encontram nas
notas explicativas de rodapé do próprio documento):

2271. A Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta
doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto directo, isto é, querido como fim ou como
meio, é gravemente contrário à lei moral:
“Não matarás o embrião por meio do aborto, nem farás que morra o recém-nascido” (47).
“Deus [...], Senhor da vida, confiou aos homens, para que estes desempenhassem dum modo
digno dos mesmos homens, o nobre encargo de conservar a vida. Esta deve, pois, ser
salvaguardada, com extrema solicitude, desde o primeiro momento da concepção; o aborto e o
infanticídio são crimes abomináveis” (48).
2272. A colaboração formal num aborto constitui falta grave. A Igreja pune com a pena
canónica da excomunhão este delito contra a vida humana. “Quem procurar o aborto,
seguindo-se o efeito (“effectu secuto”) incorre em excomunhão latae sententiae (49), isto é,
“pelo facto mesmo de se cometer o delito” (50) e nas condições previstas pelo Direito (50). A
Igreja não pretende, deste modo, restringir o campo da misericórdia. Simplesmente, manifesta
a gravidade do crime cometido, o prejuízo irreparável causado ao inocente que foi morto, aos
seus pais e a toda a sociedade.
2273. O inalienável direito à vida, por parte de todo o indivíduo humano inocente, é
um elemento constitutivo da sociedade civil e da sua legislação:
“Os direitos inalienáveis da pessoa deverão ser reconhecidos e respeitados pela sociedade civil
e pela autoridade política. Os direitos do homem não dependem nem dos indivíduos, nem dos
pais, nem mesmo representam uma concessão da sociedade e do Estado. Pertencem à natureza
humana e são inerentes à pessoa, em razão do acto criador que lhe deu origem. Entre estes
direitos fundamentais deve aplicar-se o direito à vida e à integridade física de todo ser
humano, desde a concepção até à morte” (52).
“Desde o momento em que uma lei positiva priva determinada categoria de seres humanos da
protecção que a legislação civil deve conceder-lhes, o Estado acaba por negar a igualdade de
todos perante a lei. Quando o Estado não põe a sua força ao serviço dos direitos de todos os
cidadãos, em particular dos mais fracos, encontram-se ameaçados os próprios fundamentos
dum “Estado de direito” [...]. Como consequência do respeito e da protecção que devem ser
garantidos ao nascituro, desde o momento da sua concepção, a lei deve prever sanções penais
apropriadas para toda a violação deliberada dos seus direitos” (53).
2274. Uma vez que deve ser tratado como pessoa desde a concepção, o embrião terá de ser
defendido na sua integridade, tratado e curado, na medida do possível, como qualquer outro
ser humano.
O diagnóstico pré-natal é moralmente lícito, desde que “respeite a vida e a integridade do
embrião ou do feto humano, e seja orientado para a sua defesa ou cura individual [...]. Mas
está gravemente em oposição com a lei moral, se previr, em função dos resultados, a
eventualidade de provocar um aborto. Um diagnóstico [...] não pode ser equivalente a uma
sentença de morte” (54).
2275. “Devem considerar-se lícitas as intervenções no embrião humano, sempre que respeitem
a vida e a integridade do mesmo e não envolvam para ele riscos desproporcionados, antes
tenham em vista a sua cura, as melhorias das suas condições de saúde ou a sua sobrevivência
individual” (55).
“É imoral produzir embriões humanos destinados a serem explorados como material biológico
disponível” (56).
“Certas tentativas de intervenção no património cromossomático ou genético não são
terapêuticas, mas têm em cesta a produção de seres humanos seleccionados segundo o sexo ou
outras qualidades pré-estabelecidas. Tais manipulações são contrárias à dignidade pessoal do
ser humano, à sua integridade e à sua identidade única, irrepetível” (57).
2322. Desde que foi concebida, a criança tem direito à vida. O aborto directo, isto é, querido
como fim ou como meio, é uma “prática infame” (80), gravemente contrária à lei moral. A
Igreja pune com a pena canónica da excomunhão este delito contra a vida humana.
Sobre o “direito à vida”, o Catecismo ainda reserva os seguintes parágrafos:
2264. O amor para consigo mesmo permanece um princípio fundamental de moralidade. E,
portanto, legítimo fazer respeitar o seu próprio direito à vida. Quem defende a sua vida não é
réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe
mortal:
“Se, para nos defendermos, usarmos duma violência maior do que a necessária, isso será
ilícito. Mas se repelirmos a violência com moderação, isso será lícito [...]. E não é necessário à
salvação que se deixe de praticar tal acto de defesa moderada para evitar a morte do outro:
porque se está mais obrigado a velar pela própria vida do que pela alheia” (41).
2273. O inalienável direito à vida, por parte de todo o indivíduo humano inocente, é
um elemento constitutivo da sociedade civil e da sua legislação:
“Os direitos inalienáveis da pessoa deverão ser reconhecidos e respeitados pela sociedade civil
e pela autoridade política. Os direitos do homem não dependem nem dos indivíduos, nem dos
pais, nem mesmo representam uma concessão da sociedade e do Estado. Pertencem à natureza
humana e são inerentes à pessoa, em razão do acto criador que lhe deu origem. Entre estes
direitos fundamentais deve aplicar-se o direito à vida e à integridade física de todo ser
humano, desde a concepção até à morte” (52).
“Desde o momento em que uma lei positiva priva determinada categoria de seres humanos da
protecção que a legislação civil deve conceder-lhes, o Estado acaba por negar a igualdade de
todos perante a lei. Quando o Estado não põe a sua força ao serviço dos direitos de todos os
cidadãos, em particular dos mais fracos, encontram-se ameaçados os próprios fundamentos
dum “Estado de direito” [...]. Como consequência do respeito e da protecção que devem ser
garantidos ao nascituro, desde o momento da sua concepção, a lei deve prever sanções penais
apropriadas para toda a violação deliberada dos seus direitos (53). (CATECISMO DA IGREJA
CATÓLICA, 1992, n. 2271 a 2273)

Outras formas de morte provocada que são fomentadas pela cultura


homicida também são criminalizadas no Catecismo, por exemplo a
eutanásia (§§2276 a 2279), o assassinato e a eugenia (§2260 e §§2268 a
2269).
Para efeito de plena compreensão histórica, vemos no Catecismo
Romano[29] promulgado em 1566 pelo Papa São Pio V em vista do Concílio
de Trento a seguinte reflexão punitiva sobre o aborto:

No homicídio acidental, pode haver pecado, por dois motivos. Primeiro, quando uma pessoa
mata outra, ao praticar alguma ação injusta. Por exemplo, alguém dá um soco ou pontapé
numa mulher grávida, sobrevindo por isso o aborto. Tal acontece, é verdade, contra a intenção
do agressor, mas este não deixa de ter sua culpa, porque de modo algum lhe seria lícito agredir
uma mulher grávida. Segundo, quando alguém mata outro, por descuido e negligência, por não
ter tomado todas as preocupações necessárias. (CATECISMO ROMANO, 2020, p. 505. III VI
7)

No Catecismo Romano acrescenta-se também o seguinte júri:


“Portanto, crime é gravíssimo, quando pessoas casadas impedem a
concepção ou provocam o aborto, por meio de medicamentos. Tal proceder
equivale a uma ímpia conspiração de homicidas” (CATECISMO
ROMANO, 2020, p. 415. II VIII 13).
2.4 – O Código de Direito Canônico a termo do aborto

"Ouve-se em Ramá uma voz, lamentos e amargos soluços. É Raquel


que chora os filhos, recusando ser consolada, porque já não existem.” (Jr
31, 15b)

As leis da Igreja contidas em seu cânon deixam explícito que quem


pratica o aborto provocado incorre em excomunhão latae sententiae
(“decisão automática”), isto é, não é necessário que um sacerdote pronuncie
a excomunhão, a própria pessoa se excomunga no ato, como apresenta o
Cânon 1398: “Quem procurar o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em
excomunhão latae sententiae”[30].
O Código de Direito Canônico ainda complementa no Apêndice a
dúbia a respeito da aplicação da excomunhão nos casos do homicídio pós-
parto, dado em que há episódios que o assassinato da criança ocorre após o
nascimento prematuro, seja por violação legislativa da defesa ao nascituro
ou por facilitação do processo, sobretudo quando o procedimento padrão de
esquartejamento fetal é inviável de maneira intrauterina:

D. — Se o aborto, referido no cân. 1398, se deve entender só da expulsão do feto imaturo, ou


também da morte do mesmo feto provocada de qualquer modo e em qualquer tempo após o
momento da concepção.
R. — Negativamente à primeira parte; afirmativamente à segunda. AAS 80 (1988) 1818.
(CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 1983. p. 317)

A respeito da excomunhão latae sententiae citada no parágrafo 2272


do Catecismo e no Cânon 1398, o Papa Francisco concedeu por meio da
Carta Apostólica Misericordia et Misera[31] a faculdade de reintegração à
Igreja por via do presbiterado, dado que antes era de competência exclusiva
aos Bispos a respeito das excomunhões em decorrência do aborto
provocado. Entretanto, o Santo Padre acrescenta:

Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a
uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado
que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração
arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. (FRANCISCO, 2016. Misericordia et
Misera, n. 12)

A versão anterior do Código de Direito Canônico publicada em 1917


já trazia a mesma condenação[32], como nota-se no parágrafo primeiro do
Cânon 2350: “§1. Provocando o aborto, não excetuando a mãe, incorre,
após o efeito, a execução espontânea reservada pelo Ordinário; e se forem
clérigos, sejam também depostos” (CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO
DE 1917, Can. 2350 §1. Tradução livre).
Por último, ainda cabe esta obrigação apontada no atual Cânon 871:
“Os fetos abortivos, se estiverem vivos, quanto possível, sejam batizados”
(CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO, 1983); recordando que o batismo
em caso de perigo de morte pode ser feito até mesmo por um leigo (cf.
Cânon 861 §2) desde que se cumpra as devidas preposições, sobretudo em
Nome das Três Pessoas da Santíssima Trindade.
2.5 – Do método válido e natural de regulação da fertilidade

“Não tema que a vida chegue ao fim, mas que nunca tenha um início.”
Cardeal John Henry Newman[33]

A Igreja Católica reconhece que os casais tenham a liberdade de optar


pelo melhor momento de procriação desde que este crivo não se utilize de
métodos contraceptivos ou que de alguma maneira minem o horizonte de
geração da vida e da família. Neste contexto, aliada as crescentes pesquisas
científicas das últimas décadas, a Igreja defende a regulação natural da
fertilidade, como é dada por exemplo no Método de Ovulação Billings
(MOB), no qual se mapeia o ciclo de fertilidade da mulher através da
análise extraída do muco cervical. Além disso, a harmonia e a cooperação
matrimonial são partes inerentes para a “paternidade responsável”, a qual o
Papa Paulo VI chama a atenção na Encíclica Humanae Vitae (n. 10)
previamente apresentada nesta obra.
Sobre o tópico de regulação natural da fertilidade, na Audiência Geral
de 30 de abril de 1980, o Papa João Paulo II saudou os participantes do
“Curso de Atualização sobre o Método de Ovulação Billings”[34] nos
seguintes termos:

Dirijo também uma saudação aos participantes no Curso de Actualização sobre o Método da
Ovulação Billings, organizado no Auditorium da Universidade Católica do Sagrado Coração.
Caríssimos, regozijo-me convosco pelo empenho generoso que pondes em promover uma
regulação dos nascimentos que respeite a lei de Deus, e por conseguinte também a autêntica
dignidade do homem. Oxalá não vos desencoragem as dificuldades que possais encontrar no
vosso caminho. Vós servis o homem: causa nobilíssima pela qual é muito justo que se
trabalhe, pagando, se necessário, também em pessoa. Abençoo-vos todos com particular
efusão de coração. (JOÃO PAULO II, saudação final da Audiência Geral de 30 de abril de
1980)

Já em janeiro de 2004, João Paulo II em mensagem de apoio ao


congresso científico sobre a “Regulação natural da fertilidade e cultura da
vida”[35] destacou as realidades mais atuais sobre o tema da fertilidade
natural e a função de todos os organismos da Igreja em promovê-la sob a
ótica da ciência biomédica:
Assistimos hoje à consolidação de uma mentalidade que, por um lado, se mostra quase
amedrontada perante as responsabilidades da procriação e, por outro, gostaria de dominar e
manipular a vida. Por conseguinte, é urgente insistir numa acção cultural que ajude a superar,
neste âmbito, lugares comuns e mistificações, muitas vezes amplificadas por uma certa
propaganda. Ao mesmo tempo, deve ser desenvolvida uma obra radical educativa e formativa
em relação aos casais, aos noivos, aos jovens em geral, assim como aos agentes sociais e
pastorais para ilustrar adequadamente todos os aspectos da regulação natural da fertilidade nos
seus fundamentos e nas suas motivações, assim como nos seus aspectos práticos. (JOÃO
PAULO II, 2004, n. 2)
2.6 – A bioética e o direito à vida

"Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que
habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não
vos pertenceis?" (I Cor 6, 19)

Com os avanços mais recentes da ciência no campo biológico, a


Igreja persiste em posicionar-se perante o direito à vida desde a sua
concepção a medida em que novas metodologias artificiais de inseminação
e contracepção são desenvolvidas, sempre sob a pauta da ética baseada nas
leis morais ditadas pelas Sagradas Escrituras, bem como nos campos
científicos que trabalham para apontar saídas naturais que não conflitem
com intervenções contrárias ao dom divino da vida humana.
Em 2008, por meio da Congregação para a Doutrina da Fé, o Papa
Bento XVI autenticou a instrução Dignitas Personae[36] (“A dignidade da
pessoa”, tradução livre) que repercute a respeito das novas descobertas e
intervenções científicas a respeito da origem da vida no século XXI num
documento bastante amplo, ao qual destacamos o seguinte posicionamento:

O corpo de um ser humano, desde as primeiras fases da sua existência, nunca pode ser
reduzido ao conjunto das suas células. O corpo embrionário desenvolve-se progressivamente
segundo um “programa” bem definido, e com um fim intrínseco próprio, que se manifesta no
nascimento de cada criança. (SANTA SÉ. Congregação para a Doutrina da Fé, 2008. Dignitas
Personae, n. 4)

Em 2005, São João Paulo II em discurso ao Corpo Diplomático


creditado junto a Santa Sé no encontro de intercâmbio dos votos de ano
novo[37], ratificou a equidade do direito do nascituro ao do ser humano já
nascido sob a responsabilidade científica, a qual chamou de “desafio da
vida”:

O desafio da vida vai-se tornando nestes últimos anos cada vez mais amplo e crucial. Ele foi-
se concentrando sobretudo no início da vida humana, quando o homem é mais frágil e deve ser
mais protegido. Concepções opostas confrontam-se sobre os temas do aborto, da procriação
medicamente assistida, do uso de células estaminais embrionárias humanas para finalidades
científicas, da clonagem. A posição da Igreja, favorecida pela razão e pela ciência, é clara: o
embrião humano é sujeito idêntico ao homem nascituro e ao homem nascido que dele se
desenvolve. Por conseguinte, tudo o que viola a sua integridade e dignidade é eticamente
inadmissível. E também uma pesquisa científica que degrade o embrião a instrumento de
laboratório não é digna do homem. A pesquisa científica em campo genético deve ser
encorajada e promovida, mas, como qualquer outra actividade humana, jamais pode estar livre
dos imperativos morais; de resto, ela pode desenvolver-se com prometedoras perspectivas de
sucesso no campo das células estaminais adultas. (JOÃO PAULO II, 2005. Discurso ao Corpo
Diplomático acreditado junto da Santa Sé no encontro de intercâmbio dos votos de ano novo,
n. 5)

A respeito da bioética, a Igreja ao contrário de acusações inverídicas,


incentiva o seu progresso de pesquisa, desde que os estudos se concentrem
numa qualidade de vida que colabore para um autêntico bem-estar da
humanidade, e essa em particular, desde a sua concepção, como assinalou o
Papa Bento XVI em seu discurso durante o encontro com os participantes
do “Congresso promovido pela Pontifícia Academia para a Vida”[38] em
setembro de 2006 sobre as células estaminais – capazes de gerar novos
tecidos e células específicas do nosso corpo:

[...] a pesquisa sobre as células estaminais somáticas merece aprovação e encorajamento


quando conjuga felizmente o saber científico, a tecnologia mais avançada em âmbito biológico
e a ética que defende o respeito do ser humano em qualquer fase da sua existência. As
perspectivas abertas por este novo capítulo da pesquisa são em si fascinantes, porque deixam
entrever a possibilidade de curar doenças que levam à degeneração dos tecidos, com os
consequentes riscos de invalidez e de morte para quem é atingido.
Como se pode não sentir o dever de louvar quantos se dedicam a esta investigação e todos os
que apoiam a sua organização e as despesas? Em particular, desejo exortar as estruturas
científicas que imitam por inspiração e organização a Igreja Católica, a fim de incrementar este
tipo de pesquisa e de estabelecer contatos mais estreitos entre si e com quantos perseguem nos
devidos modos o alívio do sofrimento humano. Seja-me lícito reivindicar também, diante de
frequentes e injustas acusações de insensibilidade dirigidas à Igreja, o apoio constante por ela
dado durante a sua bimilenária história à pesquisa destinada à cura das doenças e ao bem da
humanidade. Se houve resistência e ainda há ela era e é em relação àquelas formas de pesquisa
que prevêem a programada eliminação de seres humanos já existentes, mesmo se ainda não
nasceram. Em tais casos a pesquisa, independentemente dos resultados de utilidade
terapêutica, não se coloca deveras ao serviço da humanidade. De facto, passa através da
eliminação de vidas humanas que têm igual dignidade em relação a outros indivíduos humanos
e aos próprios pesquisadores. A própria história condenou no passado e condenará no futuro
uma tal ciência, não só porque é privada da luz de Deus, mas também de humanidade.
Gostaria de voltar a repetir o que já escrevi há algum tempo: “Há aqui um nó que não podemos
desfazer: ninguém pode dispor da vida humana. Deve ser estabelecido um limite insuperável
das nossas possibilidades de fazer e de experimentar. O homem não é um objecto do qual
podemos dispor, mas cada indivíduo representa a presença de Deus no mundo" (J.
Ratzinger, Dio e il mondo, pág. 119).
Perante a eliminação directa do ser humano não pode haver sujeições nem subterfúgios; não se
pode pensar que uma sociedade possa combater eficazmente o crime, quando ela própria
legaliza o delito no âmbito da vida nascente. (BENTO XVI, 2006. Discurso durante o encontro
com os participantes no Congresso promovido pela Pontifícia Academia para a Vida)

Ainda a termo da bioética, em 1987 o então Prefeito para a mesma


Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Ratzinger (Bento
XVI), sob a aprovação de João Paulo II, publicou um precioso documento a
tal respeito nomeado Donum Vitae[39] (“Dom da Vida”, tradução livre) onde
destaca os limites científicos sobre a geração e a investigação do processo
preternatural humano:

A biologia e a medicina, em suas aplicações, concorrem para o bem integral da vida humana
quando vêm em auxílio da pessoa atingido pela doença e enfermidade, no respeito à sua
dignidade de criatura do Deus. Nenhum biólogo ou médico pode razoavelmente pretender, por
força da sua competência científica, decidir sobre a origem e o destino dos homens. Esta
doutrina deve ser aplicada, de modo particular, no âmbito da sexualidade e da procriação, no
qual o homem e a mulher atuam os valores fundamentais do amor e da vida. (SAGRADA
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, 1987. Instrução Donum Vitae, capítulo 3)
2.7 – Dos casos complexos e da responsabilidade da Justiça Civil

Ao passo que claramente toda a doutrina cristã a termo da


inviolabilidade do direito à vida sobretudo desde a sua concepção tenha
sido declarada desde a fundação do mundo, as gerações persistem em
levantar questões e aspectos sobre como encarar a defesa do nascituro em
situações oriundas de violência sexual ou em casos de ausência de recursos
para levar adiante uma gravidez, por vezes com anomalias congênitas, ou
ainda quando ocasionada na (pré-)adolescência; nesse cenário a Igreja
Católica nunca deixou de reconhecer a tamanha gravidade e a virtuosa
coragem cristã de equilibrar esses pontos desfavoráveis e desafiadores para
o desenvolvimento da vida.

"Destruímos então a Lei pela fé? De modo algum. Pelo contrário,


damos-lhe toda a sua força." (Rm 3, 31)

O versículo da exortação do Apóstolo aos romanos citado acima


coloca a comunidade em reflexão, a “Lei” da qual nos fala São Paulo não é
a da justiça civil ou da Pax Romana daquele tempo, mas sim a Lei Mosaica
transmitida a partir do Coração de Deus ao seu povo eleito e, portanto,
sujeita à fé, e que por ela ganha seu último e fortificado sentido nos
Evangelhos de Jesus Cristo.
Numa breve recapitulação histórica, desde o século V ou
aproximadamente após o Édito de Milão (313 d.C.) que garantiu a liberdade
religiosa aos cristãos, o tema sobre a correlação entre a fé e a política
ganhou espaço nos debates, foi então que o Papa Gelásio I elaborou a teoria
que ficou conhecida como “Duas Espadas”[40], onde o homem estaria
submetido ao poder espiritual (Igreja) e ao poder temporal (governo), sendo
que o espiritual forma a base da sociedade e impede a intromissão política
na vida religiosa ao mesmo tempo que garante a liberdade política que deve
proteger a base espiritual da sociedade em sua legislação e exemplo. Em
outras palavras, isto tentaria colocar em prática a proposta literária De
Civitate Dei (“A Cidade de Deus”) de Santo Agostinho, onde parte dos
homens viveriam em comunhão com Deus e entre si, sobretudo num tempo
real em que diversas populações pagãs (bárbaras) alastravam ondas de
assassinatos e crimes dos mais variados tipos contra as comunidades,
inclusive cristãs, na Europa.
Esse tema se apresenta de maneira muito nebulosa nos tempos atuais,
dado que os Estados Confessionais (que professam uma determinada
religião na essência das leis, mas garantem a liberdade religiosa)
praticamente não existem mais no Ocidente. Os vieses liberais e laicos que
tomaram conta da mentalidade governamental a partir dos séculos XVIII e
XIX romperam definitivamente com a teoria gelasiana nos países de
maioria cristã-católica (após séculos de episódios de “inversão das
espadas”, isto é, onde os Estados ligados à Igreja forjavam por vezes as
estruturas clericais), culminando assim na realidade em que vivemos, a qual
os cristãos notam que mesmo ainda sendo a maioria da população, não
vivem a legislação cristã pela lógica democrática – que por denifição não
impede os direitos dos grupos menores –, ainda que os códices cristãos
defendam direitos extra religiosos básicos da sociedade como a vida, a
liberdade e a justiça (cf. Catecismo da Igreja Católica §§1747, 1782, 1923,
2255, entre outros); e embora os direitos civis constitucionais tenham
historicamente sua origem nos tribunais inquisitoriais – que ao contrário do
infundado censo popular, mostraram em seu respectivo contexto uma
positiva revolução jurídica na sociedade ocidental do passado milênio
(AQUINO, 2019, pp. 228 a 292)[41] – cada vez mais torna-se nítida que a
perda da religiosidade cristã se reflete diretamente nas leis seculares.
De volta a abordagem central do tópico, vimos que para o cristianismo
a Lei de Deus se confunde até certo ponto com as leis dos homens e que o
homem não pode promover a verdadeira bondade sem Deus, assim como
nos ensina Nosso Senhor no encontro com o jovem rico: “Por que me
chamas bom? Só Deus é bom.” (Mc 10, 18); sendo assim não há dificuldade
em compreendermos que até mesmo em casos em que a gestação é fruto de
um ato repudiável e violento, a vida continua sob a pauta do seu Criador
primário (cf. Dt 32, 39).
Como dito no início da presente obra, o aborto não é uma questão
religiosa na sua primeira instância, mas sim uma questão humana, portanto
este tópico não pretende esquadrinhar a problemática sob o ângulo eclesial,
mas colocá-la de modo que se compreenda os limites da liberdade
naturalmente humana que se pautam nas leis de Estado. Em entrevista ao
jornalista Jordi Évole do canal televisivo “La sexta” em 2019, o Papa
Francisco reafirmou que ainda nos casos de estupro a questão central é o
direito à vida, questionando se é justo admitir um assassino para eliminar
um problema, o Pontífice acrescenta: “Depois disso, vem o restante, mas
essa é a pergunta básica” (ACI DIGITAL, 2019)[42]. Afirmando ainda que
cada governo possa ter seu direito de legislação, Francisco coloca a questão
no juízo racional de cada cidadão, onde decidir por matar ou salvar uma
vida que não tem culpa do modo como foi gerada não precisaria em termos
de uma regra, seja ela civil ou eclesiástica, mas está implicitamente na
virtude natural da prudência (cf. Sb 8, 7 e Catecismo da Igreja Católica
§§1805, 1806).
Na Encíclica Evangelium Gaudium[43], Francisco exprime ainda a
seguinte explicação ao inegociável direito à vida mesmo diante de casos
decorrentes de violência:

Entre estes seres frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predileção, estão também os
nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a dignidade
humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e promovendo legislações
para que ninguém o possa impedir. Muitas vezes, para ridiculizar jocosamente a defesa que a
Igreja faz da vida dos nascituros, procura-se apresentar a sua posição como ideológica,
obscurantista e conservadora; e no entanto esta defesa da vida nascente está intimamente
ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é
sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É
fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção,
não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos, que
ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de turno. Por si só a
razão é suficiente para se reconhecer o valor inviolável de qualquer vida humana, mas, se a
olhamos também a partir da fé, “toda a violação da dignidade pessoal do ser humano clama
por vingança junto de Deus e torna-se ofensa ao Criador do homem”.
E precisamente porque é uma questão que mexe com a coerência interna da nossa mensagem
sobre o valor da pessoa humana, não se deve esperar que a Igreja altere a sua posição sobre
esta questão. A propósito, quero ser completamente honesto. Este não é um assunto sujeito a
supostas reformas ou “modernizações”. Não é opção progressista pretender resolver os
problemas, eliminando uma vida humana. Mas é verdade também que temos feito pouco para
acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras, nas quais o
aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias,
particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como resultado duma violência ou num
contexto de extrema pobreza. Quem pode deixar de compreender estas situações de tamanho
sofrimento? (FRANCISCO, 2013. Evangelium Gaudium, n. 213 e 214)

A preocupação do Papa Francisco quanto a cultura da morte é


evidente, tanto que em 2018 o Pontífice editou o parágrafo 2267 do
Catecismo da Igreja Católica que ponderava a pena de morte por execução
em dadas interpretações, considerando a partir de então que pagar um crime
com a própria vida é atentar contra toda a dignidade humana[44].
Particularmente nas situações de estupro, se pontua também a
expressão do Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias
Duarte[45]:

Diante dessa situação, cabe ao Estado, à sociedade e à família brasileira uma reação mais
afirmativa e defensiva dessas mulheres e, quando elas engravidam por esse ato inadmissível,
receberem todo o respeito e ajuda para que possam acolher com amor e criar com dignidade
uma criança que não teve nenhuma culpa de ser concebida dessa maneira brutal [grifo
nosso]. Mãe e filho não podem continuar sofrendo nenhum tipo de violência depois de terem
passado por um momento tão agressivo! [e acrescenta] O sofrimento físico e psicológico das
vítimas de estupro é acrescido dos riscos de contágio de graves doenças sexualmente
transmissíveis e de possíveis mudanças da afetividade e da própria vida sexual dessas
mulheres violentadas”. (DUARTE, Antônio apud CANÇÃO NOVA NOTÍCIAS, 2014)

É importante destacarmos também o papel da justiça no cenário da


violência sexual, pois embora o cerne da questão seja o direito à vida, o
debate não se limita quando tratamos simultaneamente de um crime, e,
portanto, a Igreja reitera que na mesma medida em que defende a vida, se
exige a justiça para com o criminoso (cf. Pr 18, 5). Crendo em Deus que
governa seu povo com reta Justiça (cf. Sl 9, 8), a Igreja não se abstém de
denunciar os males deste mundo e a incentivar os organismos públicos a
cumprirem seu papel de maneira limpa e imparcial; assim assinala o
Compêndio da Doutrina Social da Igreja[46] nos parágrafos §§201-203:

201 A justiça é um valor, que acompanha o exercício da correspondente virtude moral


cardeal. Segundo a sua formulação mais clássica, “ela consiste na constante e firme vontade
de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido”. Do ponto de vista subjetivo a justiça se
traduz na atitude determinada pela vontade de reconhecer o outro como pessoa, ao passo que,
do ponto de vista objetivo, essa constitui o critério determinante da moralidade no âmbito
inter-subjetivo e social.
O Magistério social evoca a respeito das formas clássicas da
justiça: a comutativa, a distributiva, a legal. Um relevo cada vez maior no Magistério tem
adquirido a justiça social, que representa um verdadeiro e próprio desenvolvimento da justiça
geral, reguladora dos relações sociais com base no critério da observância da lei. A justiça
social, exigência conexa com a questão social, que hoje se manifesta em uma dimensão
mundial, diz respeito aos aspectos sociais, políticos e econômicos e, sobretudo, à dimensão
estrutural dos problemas e das respectivas soluções.
202 A justiça mostra-se particularmente importante no contexto atual, em que o valor da
pessoa, da sua dignidade e dos seus direitos, a despeito das proclamações de intentos, é
seriamente ameaçado pela generalizada tendência a recorrer exclusivamente aos critérios da
utilidade e do ter. Também a justiça, com base nestes critérios, é considerada de modo
redutivo, ao passo que adquire um significado mais pleno e autêntico na antropologia cristã. A
justiça, com efeito, não é uma simples convenção humana, porque o que é “justo” não é
originariamente determinado pela lei, mas pela identidade profunda do ser humano.
203 A plena verdade sobre o homem permite superar a visão contratualista da justiça, que é
visão limitada, e abrir também para a justiça o horizonte da solidariedade e do amor: “A
justiça sozinha não basta; e pode mesmo chegar a negar-se a si própria, se não se abrir àquela
força mais profunda que é o amor”. Ao valor da justiça a doutrina social da Igreja acosta o da
solidariedade, enquanto via privilegiada da paz. Se a paz é fruto da justiça, “hoje poder-se-ia
dizer, com a mesma justeza e com a mesma força de inspiração bíblica (cf. Is 32, 17; Tg 3,
18), Opus solidarietatis pax: a paz é o fruto da solidariedade”. A meta da paz, com efeito,
“será certamente alcançada com a realização da justiça social e internacional; mas contar-se-á
também com a prática das virtudes que favorecem a convivência e nos ensinam a viver unidos,
a fim de, unidos, construirmos dando e recebendo, uma sociedade nova e um mundo melhor”.
(SANTA SÉ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 2004, parágrafo 201 a 204)

Conclui-se ainda que a Igreja como promotora da Paz e da vida, exorta


aos seus membros e ao mundo secular que a justiça humana não seja
instrumento de tirania, como solicita o Catecismo da Igreja Católica §§
1883 e 1884:

1883. [...] Uma intervenção exagerada do Estado pode constituir uma ameaça à liberdade e às
iniciativas pessoais. A doutrina da Igreja elaborou o princípio dito
da subsidiariedade. Segundo ele, uma sociedade de ordem superior não deve interferir na vida
interna duma sociedade de ordem inferior, privando-a das suas competências, mas deve antes
apoiá-la, em caso de necessidade, e ajudá-la a coordenar a sua acção com a dos demais
componentes sociais, com vista ao bem comum.
1884. Deus não quis reservar só para Si o exercício de todos os poderes. Confia a cada criatura
as funções que ela é capaz de exercer, segundo as capacidades da sua própria natureza. Este
modo de governo deve ser imitado na vida social. O procedimento de Deus no governo do
mundo, que testemunha tão grande respeito para com a liberdade humana, deveria inspirar a
sabedoria daqueles que governam as comunidades humanas. Eles devem actuar como
ministros da providência divina. (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1992)

Por último, acrescenta-se ainda uma pontuação da Igreja Católica


numa declaração do Papa Pio XII em 1951 a respeito da proteção da vida
materna num cenário de tratamento gestacional que incorre
involuntariamente na morte do nascituro[47]:

Se, por exemplo, a salvação da vida da futura mãe, independentemente de seu estado de
gravidez, requerer urgentemente uma intervenção cirúrgica, ou outro tratamento terapêutico,
que teria como consequência acessória, de nenhum modo querida nem pretendida, mas
inevitável, a morte do feto, um ato assim já não se poderia considerar um atentado direto
contra a vida inocente. Nestas condições, a operação poderia ser considerada lícita, igualmente
a outras intervenções médicas similares, sempre que se trate de um bem de elevado valor –
como é a vida– e que não seja possível postergá-la após o nascimento do filho, nem recorrer a
outro remédio eficaz. (PIO XII, 1951 apud SANTA SÉ, 2009)
2.8 – O papel do dogma da Imaculada Conceição na vida dos
nascituros

“Fostes vós que plasmastes as entranhas de meu corpo, vós me


tecestes no seio de minha mãe. Sede bendito por me haverdes feito de
modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis
até o fundo a minha alma. Nada de minha substância vos é oculto,
quando fui formado ocultamente, quando fui tecido nas entranhas
subterrâneas.” (Sl 138, 13-15)

Em 1854 o Papa Pio IX proclamou o dogma da Imaculada Conceição,


em termos breves, a Igreja definiu como questão infalível de fé (dogma)
que Maria foi preservada do pecado original desde o momento da sua
concepção (ou “conceição”) no ventre de Sant’Ana, a avó materna de Jesus.
Na Sagradas Escrituras temos vários versículos que apresentam a
preservação absoluta da natureza humana de Jesus ao pecado (por exemplo,
cf. I Pd 2, 22), e assim também o foi com Nossa Senhora, segundo narra
principalmente o Anúncio do Anjo Gabriel à Maria (cf. Lc 1, 26-38), a
Sagrada Tradição e Magistério da Igreja e o sensus fidei (consenso
universal da fé e dos costumes transmitidos, cf. Catecismo da Igreja
Católica §92) que ao longo dos séculos culminaram no dogma da Imaculada
Conceição, isto é, a sua proclamação não anuncia uma verdade absoluta da
fé a partir daquele momento, mas antes confirma que desde o início do
cristianismo sempre se acreditou a respeito da Imaculada Conceição e
doravante aquele momento (1854) precisava ser firmado em matéria
definitiva, seja por instrução divina ou seja por precaução de impedir um
avanço herético a respeito do assunto que ameace a perda dessa tradição
apostólica na cristandade.
Na carta apostólica Ineffabilis Deus, a qual Pio IX definiu o dogma[48],
se destaca o ponto de efusão da Graça singular de preservação do pecado
recebida por Maria:

[...] para exaltação da fé católica e aumento da religião cristã, com a autoridade de Nosso
Senhor Jesus Cristo, com a dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa: declaramos,
afirmamos e definimos que tenha sido revelada por Deus e, de conseguinte, que deve ser crida
firme e constantemente por todos os fiéis, a doutrina que sustenta que a santíssima Virgem
Maria foi preservada imune de toda mancha de culpa original no primeiro instante de
sua Concepção [grifo nosso], por singular graça e privilégio de Deus onipotente, na atenção
aos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano [...] (PIO IX, 1853. Ineffabilis Deus,
n. 18)

A observação dogmática destacada na carta apostólica foi um ponto


crucial na definição da perspectiva da Igreja com relação a efusão da alma,
pois como visto anteriormente a exemplo de Tertuliano, Agostinho e Tomás
de Aquino, até então havia duas correntes de pensamento a termo de qual
momento da gestação o nascituro seria dotado de alma, sobretudo
intelectual e, portanto, com todas as faculdades pertinentes nela infusas. A
partir do dogma da Imaculada Conceição, a Igreja tendo em vista que Nossa
Senhora recebeu a Graça já no primeiro instante de sua concepção
(fertilização ou fecundação do óvulo) havendo assim obrigatoriamente a
união das realidades físicas e espirituais já existentes no ato, dado que a
Graça Divina age na alma, a teoria de que a alma está presente no primeiro
instante de vida ganhou força na interpretação teológica.
A natureza de Maria, sendo criatura de Deus como os demais seres
humanos, porém preservada do pecado desde a concepção até a morte (ou
“dormição”) e elevada acima dos anjos (cf. Catecismo da Igreja Católica
§§411, 490 a 493) foi a chave para a compreensão de que toda a
humanidade criada também tenha a alma infusa desde o primeiro instante
de sua concepção, embora esta sujeita aos danos da concupiscência.
O dogma da Imaculada Conceição descende de uma formulação ainda
mais antiga que a de Pio IX, no século XVII o Papa Alexandre VII publicou
uma doutrina universal acerca dessa revelação teológica, reservando
memória para a mesma posição de seu predecessor mais longínquo Sixto IV
(1471-1484) a respeito da preservação imaculada de Maria (ALEXANDRE
VII, 1661). Sendo assim, a teoria aristotélica de que a alma era passível de
progressões ao longo da gestação não se descarta absolutamente, porém
segundo a interpretação atual da Igreja, uma vez que a alma está
terminantemente presente desde a concepção (cf. Catecismo da Igreja
Católica §§ 362 a 366), ali já se encontra um ser humano vivo à imagem e
semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26) e com direitos invioláveis, anulando
assim o conceito de “hominização tardia”, uma vez que as suas faculdades
espirituais evoluirão a medida em que as funções biológicas necessárias
para as plenas operações delas sejam acrescentadas no decorrer da gestação
e posteriormente potencializadas ao longo do seu desenvolvimento
espiritual, a partir da sua maturidade pessoal e consequentemente pela
adesão aos Sacramentos e progresso na fé (cf. Catecismo da Igreja Católica
§§ 1999 a 2001). De modo similar se exprime o Apóstolo São Paulo:
“Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Quando eu era
criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como
criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.” (I Cor
13, 10-11)
Maria, a κεχαριτωμενη (kecharitomene) de Lucas 1, 28 que do original
grego significa em uma tradução imprecisa na lingua latina como a
“portadora da graça plena” ou “plenificada de graça”[49], nos auxilia a
compreender também a graça distribuída por Deus em nós – obviamente de
modo infinitamente inferior ao de Maria – em face da vida de cada pessoa,
que nas palavras do Papa Francisco[50], prefigura-se o próprio Cristo:

Mas há também muitos cristos abandonados, invisíveis, escondidos, que são descartados de
forma “elegante”: crianças impedidas de nascer [grifo nosso], idosos deixados sozinhos –
podem porventura ser o teu pai, a tua mãe, o avô, a avó, abandonados nos lares de terceira
idade –, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem
dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor. E não
encontram outra estrada senão o suicídio. Os abandonados de hoje. Os cristos de hoje.
(FRANCISCO, 2023. Homilia da Celebração do Domingo de Ramos e Paixão do Senhor)
C A P Í T U L O 3 | O QUE DIZEM OS SANTOS E OS
PAPAS SOBRE O DIREITO À VIDA?

“Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar
será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se
encoleriza com seu irmão será réu em juízo.” (Mt 5, 21)

Ao longo de dois milênios de cristianismo, muitos santos e papas se


posicionaram contra o aborto, cientes de que o dom da vida é a maior Graça
que Deus concedeu às suas criaturas, a ponto de criá-las a sua imagem e
semelhança (cf. Gn 1, 26-27).
Vejamos então algumas frases selecionadas a termo deste assunto,
onde a palavra daqueles que fundamentaram tantos caminhos de santidade
na Igreja nos servem como luz para trilhar a Vontade de Deus para suas
criaturas:

Santa Madre Teresa de Calcutá[51]

Eu sinto que o grande destruidor da paz é o aborto, porque ele é uma guerra contra a criança,
uma matança direta de crianças inocentes, assassinadas pela própria mãe. E se nós aceitamos
que uma mãe pode matar até mesmo seu próprio filho, como é que nós podemos dizer às
outras pessoas para não se matarem? [...] Por meio do aborto, a mãe não aprende a amar, mas
mata seu próprio filho para resolver seus problemas. Por meio do aborto, ela diz ao pai que ele
não tem que ter nenhuma responsabilidade pela criança que ele trouxe ao mundo [...] Qualquer
país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar de qualquer
violência para conseguir o que se quer. É por isso que o maior destruidor do amor e da paz é o
aborto. (TERESA DE CALCUTÁ, 1994 apud CANÇÃO NOVA et al.)

São Padre Pio de Pietrelcina

“Se soubésseis quão terrível é este pecado, que chamam de aborto… Se pudésseis sentir a dor
das chagas de Cristo, que derramaram o Sangue precioso para a salvação do homem. Quando
vós virdes uma alma que anuncia o aborto como feito benigno, sabereis que nela reina o
príncipe das trevas, e sua eternidade está por hora no livro da morte”.
“O dia em que as pessoas perderem o horror ao aborto, este será um dia terrível para a
humanidade. O aborto não é somente um homicídio, mas também um suicídio. E, para aqueles
que estão à beira de cometer com um só golpe um e o outro delito, temos que ter a coragem de
mostrar a nossa Fé!” (PIO DE PIETRECINA, 1967 apud GAUDIUM PRESS)[52]

Certa vez a uma confessora de aborto provocado, São Padre Pio disse-
lhe a seguinte revelação divina:

Vejo uma praça enorme com muita gente. Entre as pessoas, vejo uma procissão que se move
solenemente. Vejo no tribunal muitos Padres, Bispos e Cardeais: todos precedem um Papa que
está assumindo no trono. Sim, vejo precisamente um Papa no trono e uma grande multidão que
aclama esse Papa… Mas o que tudo isso significa? [questionou a mulher] O santo sacerdote
então lhe explicou: A criança que você matou no seu ventre com o aborto, nos desígnios de
Deus, deveria se tornar esse Papa. (BONINSEGNA, 2019 apud ibidem)[53]

Santo Ireneu de Lyon[54]


“A glória de Deus é o homem vivo; e a vida do homem é a visão de
Deus.” (IRENEU, 1995).

Santo Tomás de Aquino


“De nenhum modo é lícito matar ao inocente.” (AQUINO, Tomás)[55]
“A lei humana tem valor de lei enquanto está de acordo com a reta
razão: derivando, portanto, da lei eterna [divina]. Se, porém, contradiz a
razão, chama-se lei iníqua e, como tal, não tem valor, mas é um ato de
violência.” (AQUINO, Tomás)[56]
Entre outras previamente citadas neste e-book, vide referências 16, 18
e 19.

Santo Agostinho de Hipona[57]

[Os pais] manifestam abertamente sua malicia quando chegam ao extremo de abandonar aos
filhos que nascem contra sua vontade. Não querem alimentar ou ter consigo aos filhos que
temeram gerar. De maneira que, ao mostrar-se sem piedade com os filhos gerados contra seus
desejos ocultos e nefandos, manifestam sua iniquidade e, com esta evidente crueldade
descobrem suas ocultas desonestidades. (AGOSTINHO DE HIPONA, 1966 apud
NOTANDUM, 2010).

São Basílio Magno[58]


A mulher que conscientemente mata o feto, submete-se à mesma pena que o assassinato. Não
pertence a nós verificar se o feto já era formado ou ainda era amorfo; nesse caso, exige justiça
não somente o ser que devia nascer, mas também aquela que lhe causou este mal, pois, como
frequentemente acontece, as mulheres morrem em consequência desse procedimento. Somado
ao assassinato do feto, este é um segundo assassinato, pelo menos por parte daqueles que
ousarem cometer essa ação. (BASÍLIO MAGNO)

Santa Gianna Beretta Molla[59] – conhecida como a “santa


antiaborto” ou da causa dos nascituros, dado que seu testemunho
miraculoso se dá pela salvação da vida do seu filho durante a gestação após
sofrer um fibroma no útero.

E qual é a melhor maneira de praticar o sacrifício? A melhor maneira consiste no adorar a


vontade de Deus todos os dias, em todas as pequenas coisas que nos fazem sofrer, é dizer para
tudo aquilo que acontece: “Fiat : A sua vontade Senhor”. E repetir cem vezes ao dia.
(MOLLA, Gianna apud COMUNIDADE SHALOM)

Santo Inácio de Antioquia[60] – o contexto da frase destacada da sua


Carta aos Romanos (aproximadamente 107 d.C) coloca metaforicamente o
seu apostolado em sinal de pleno rebaixamento, isto é, na percepção de
Inácio de Antioquia como um “aborto”:
"Sou o último de todos, sou um aborto; mas ser-me-á concedido
tornar-me algo, se alcançar Deus.” (INÁCIO DE ANTIOQUIA, 107 apud
BENTO XVI, 2008)

São João Paulo II(14)

O Evangelho da vida não é exclusivamente para os crentes: destina-se a todos. A questão da


vida e da sua defesa e promoção não é prerrogativa unicamente dos cristãos. Mesmo se recebe
uma luz e força extraordinária da fé, aquela pertence a cada consciência humana que aspira
pela verdade e vive atenta e apreensiva pela sorte da humanidade. Na vida, existe seguramente
um valor sagrado e religioso, mas de modo algum este interpela apenas os crentes: trata-se,
com efeito, de um valor que todo o ser humano pode enxergar, mesmo com a luz da razão, e,
por isso, diz necessariamente respeito a todos. (JOÃO PAULO II, 1995. Evangelium Vitae, n.
101)

São Paulo VI(6)


Pense-se ainda seriamente na arma perigosa que se viria a pôr nas mãos de autoridades
públicas, pouco preocupadas com exigências morais. Quem poderia reprovar a um governo o
fato de ele aplicar à solução dos problemas da coletividade aquilo que viesse a ser reconhecido
como lícito aos cônjuges para a solução de um problema familiar? Quem impediria os
governantes de favorecerem e até mesmo de imporem às suas populações, se o julgassem
necessário, o método de contracepção que eles reputassem mais eficaz? Deste modo, os
homens, querendo evitar dificuldades individuais, familiares, ou sociais, que se verificam na
observância da lei divina, acabariam por deixar à mercê da intervenção das autoridades
públicas o setor mais pessoal e mais reservado da intimidade conjugal. (PAULO VI, 1968.
Humanae Vitae, n. 17)

São João XXIII[61]

Ora, a pessoa humana, composta de corpo e alma imortal, não pode saciar plenamente as suas
aspirações nem alcançar a perfeita felicidade no âmbito desta vida mortal. Por isso, cumpre
atuar o bem comum em moldes tais que não só não criem obstáculo, mas antes sirvam à
salvação eterna da pessoa. (JOÃO XXIII, 1963. Encíclica Pacem in terris, n. 59)

Papa Francisco

Conheci um casal com dez anos de matrimônio. Sem filhos. É muito delicado falar sobre isso,
porque muitas vezes desejam filhos mas não conseguem tê-los, não é? Não sabia como gerir
este argumento. Depois soube que eles não queriam filhos. Mas estas pessoas em casa tinham
três cães, dois gatos... É bom ter um cão, um gato, é bonito... Ou quando ouves que te dizem:
“sim, sim, mas filhos ainda não porque temos que comprar uma casa no campo, depois
viajar...”. Os filhos são o maior dom. Os filhos devem ser recebidos como vêm, como Deus os
manda, como Deus permite — até quando são doentes. Ouvi dizer que está na moda — ou
pelo menos é habitual — nos primeiros meses de gravidez fazer certos exames para verificar
se a criança está bem ou se nascerá com algum problema... A primeira proposta neste caso é:
“O que fazemos? Interrompemos?”. O homicídio dos bebês. E para ter uma vida tranquila,
mata-se um inocente.
Quando eu era jovem, a professora ensinava-nos história e dizia-nos o que os espartanos
faziam quando um bebê nascia com deficiência: levavam-nos ao cimo da montanha e
lançavam-nos de lá para baixo, a fim de garantir “a pureza da raça”. E nós permanecíamos
chocados: “Mas como se pode fazer isto, pobres bebês!”. Era uma atrocidade. Hoje fazemos o
mesmo. Porventura, questionais-vos por que já não se veem anões pelas ruas? Porque o
protocolo de muitos médicos — tantos, mas não todos — é perguntar: “Nasce com defeito?”.
Digo-o com sofrimento. No século passado o mundo inteiro escandalizou-se pelo que os
nazistas fizeram para obter a pureza da raça. Hoje fazemos o mesmo, mas com luvas brancas.
(FRANCISCO, 2018. Discurso improvisado à Delegação do Fórum das Associações
Familiares)[62]

As ideologias com a sua pretensão de absoluto, as riquezas — e isto é um grande ídolo — o


poder e o sucesso, a vaidade, com a sua ilusão de eternidade e de onipotência, valores como a
beleza física e a saúde, quando se tornam ídolos aos quais sacrificar tudo, são realidades que
confundem a mente e o coração, e em vez de favorecer a vida conduzem à morte. É mau e faz
mal à alma ouvir aquilo que uma vez, há anos, escutei, na diocese de Buenos Aires: uma
mulher bondosa, muito bonita, gabava-se da beleza, comentava, como se fosse natural: “Ah,
sim, tive que abortar porque a minha figura é muito importante”. São estes os ídolos, e levam-
te pelo caminho errado e não te dão a felicidade. (FRANCISCO, 2017. Audiência Geral)[63]

O aborto não é um “mal menor”. É um crime. É eliminar uma pessoa para salvar outra. É
aquilo que faz a máfia. É um crime, é um mal absoluto [...] É preciso não confundir o mal de
apenas evitar a gravidez com o mal do aborto. O aborto não é um problema teológico: é um
problema humano, é um problema médico. Mata-se uma pessoa para salvar outra (na melhor
das hipóteses!) ou para nossa comodidade. É contra o Juramento de Hipócrates, que os
médicos devem fazer. É mal em si mesmo, não um mal religioso – na raiz, não; é um mal
humano. E, obviamente, uma vez que é um mal humano – como cada assassinato – é
condenável. (FRANCISCO, 2016. Conferência de imprensa no vôo de regresso a Roma –
Viagem Apóstolica ao México)[64]

Diria que como emergência educativa, nesta transmissão da fé e também da cultura, é o


problema da cultura do descartável. Nos dias de hoje, para a economia que se implantou no
mundo, onde no centro se encontra o deus dinheiro e não a pessoa humana, o resto é ordenado,
e o que não faz parte desta ordem é descartado. Descartam-se os filhos que são a mais, que
incomodam ou que não é oportuno que nasçam... Os Bispos espanhóis falaram-me,
recentemente, sobre o número de abortos, e eu fiquei petrificado. (FRANCISCO, 2014.
Discurso à plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina)[65]

Outras citações a termo do aborto pelo Papa Francisco podem ser


encontradas nas referências do portal O SÃO PAULO[66], responsável pelo
jornal oficial da Arquidiocese de São Paulo.

Papa Bento XVI

Não só a situação de pobreza provoca ainda altas taxas de mortalidade infantil em muitas
regiões, mas perduram também, em várias partes do mundo, práticas de controle demográfico
por parte dos governos, que muitas vezes difundem a contracepção e chegam mesmo a impor o
aborto. Nos países economicamente mais desenvolvidos, são muito difusas as legislações
contrárias à vida, condicionando já o costume e a práxis e contribuindo para divulgar uma
mentalidade antinatalista que muitas vezes se procura transmitir a outros Estados como se
fosse um progresso cultural.
Também algumas organizações não governamentais trabalham activamente pela difusão do
aborto, promovendo nos países pobres a adopção da prática da esterilização, mesmo sem as
mulheres o saberem. Além disso, há a fundada suspeita de que às vezes as próprias ajudas ao
desenvolvimento sejam associadas com determinadas políticas de saúde que realmente
implicam a imposição de um forte controle dos nascimentos. Igualmente preocupantes são as
legislações que prevêem a eutanásia e as pressões de grupos nacionais e internacionais que
reivindicam o seu reconhecimento jurídico.
A abertura à vida está no centro do verdadeiro desenvolvimento. Quando uma sociedade
começa a negar e a suprimir a vida, acaba por deixar de encontrar as motivações e energias
necessárias para trabalhar ao serviço do verdadeiro bem do homem. Se se perde a
sensibilidade pessoal e social ao acolhimento duma nova vida, definham também outras
formas de acolhimento úteis à vida social. O acolhimento da vida revigora as energias morais e
torna-nos capazes de ajuda recíproca [...] Contudo não se podem minimizar os cenários
inquietantes para o futuro do homem e os novos e poderosos instrumentos que a “cultura da
morte” tem à sua disposição. À difusa e trágica chaga do aborto poder-se-ia juntar no futuro —
embora sub-repticiamente já esteja presente in nuce — uma sistemática planificação
eugenética dos nascimentos. (BENTO XVI, 2009. Encíclica Caritas in Veritate, n. 28 e 75)[67]

Há uma grande luta da Igreja pela vida. Vós sabeis que o Papa João Paulo II fez dela um ponto
fundamental de todo o seu pontificado. Escreveu uma grande encíclica sobre o Evangelho da
vida. Naturalmente, prosseguimos com esta mensagem de que a vida é um dom de Deus e não
uma ameaça. Parece-me que na base destas legislações [ao ser questionado sobre a legalização
do aborto no Brasil] haja por um lado um certo egoísmo e por outro uma dúvida sobre o
futuro. E a Igreja responde sobretudo a estas dúvidas: a vida é bela, não é algo duvidoso, mas é
um dom e também em condições difíceis a vida permanece sempre um dom. Portanto voltar a
criar esta consciência da beleza do dom da vida. E depois, outra coisa, a dúvida do futuro:
naturalmente há tantas ameaças no mundo, mas a fé dá-nos a certeza de que Deus é sempre
mais forte e permanece presente na história e, portanto, podemos, com confiança, também dar
a vida a novos seres humanos. Com a consciência de que a fé nos dá sobre a beleza da vida e
sobre a presença providente de Deus no nosso futuro podemos resistir a estes medos que estão
na base destas legislações. (BENTO XVI, 2007. Entrevista concedida aos jornalistas durante o
vôo para o Brasil por ocasião da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do
Caribe)[68]

Não obstante esta compreensão da vida familiar cristã encontre uma profunda ressonância na
África, é uma problemática de grande preocupação o facto de que a cultura secular globalizada
continue a exercer uma influência crescente nas comunidades locais, como resultado de
campanhas fomentadas por agências promotoras do aborto. Esta destruição directa da vida
humana inocente jamais pode ser justificada, por mais difíceis que sejam as circunstâncias,
que podem levar determinadas pessoas a dar um passo tão grave como este. Quando pregardes
o Evangelho da Vida, recordai ao vosso povo que o direito à vida de cada ser humano
inocente, nascido ou nascituro, é absoluto e deve ser aplicado com igualdade a todos os
indivíduos, sem qualquer tipo de excepção. Esta igualdade "é a base de todo o relacionamento
social autêntico que, para o ser verdadeiramente, não pode deixar de se fundar sobre a verdade
e a justiça" (Evangelium vitae, 57). A comunidade católica deve oferecer assistência às
mulheres que podem julgar difícil a aceitação de um filho, de maneira especial quando vivem
isoladas das suas famílias e dos seus amigos. De igual forma, a comunidade deveria receber de
volta abertamente todas as mulheres que se arrependerem de ter participado no grave crime do
aborto, orientando-as com a caridade pastoral, a fim de que consigam aceitar a graça do
perdão, a necessidade da penitência e a alegria de voltar a entrar na nova vida de Cristo.
(BENTO XVI, 2007. Discurso aos membros da Conferência Espiscopal do Quênia por ocasião
da visita “ad limina apostolorum”)[69]

Quanto ao direito à vida, cabe denunciar o destroço de que é objeto na nossa sociedade: junto
às vítimas dos conflitos armados, do terrorismo e das mais diversas formas de violência, temos
as mortes silenciosas provocadas pela fome, pelo aborto, pelas pesquisas sobre os embriões e
pela eutanásia. Como não ver nisto tudo um atentado à paz? O aborto e as pesquisas sobre os
embriões constituem a negação direta da atitude de acolhimento do outro que é indispensável
para se estabelecerem relações de paz estáveis [...] (BENTO XVI, 2006. Mensagem para a
Celebração do XL Dia Mundial da Paz)[70].
CAPÍTULO 4 | O OCULTISMO E A PRÁXIS DO ABORTO

"Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho,


com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. Varria com sua
cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse
Dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de
que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho." (Ap 12, 3-4)

A passagem bíblica que abre este tópico claramente se trata sobre a


perseguição de uma criança já nascida, no caso a narrativa do embate entre
o Diabo (“Dragão vermelho”), Maria (“Mulher”) e Jesus (“filho”) escrita no
livro do Apocalipse; no entanto, veremos neste capítulo a correlação do
aborto e do infanticídio no geral enquanto oferta sacrifical de crianças
nascidas ou nascituras dentro da prática de crenças ocultistas.
No Antigo Testamento encontramos algumas passagens que envolvem
essa temática, como é o caso da prescrição divina ao povo de Israel que
estava a caminho para entrar na Terra Prometida, então habitada por nações
pagãs, dizendo-lhes: “Guarda-te de seguir os seus deuses, dizendo: ‘Como
adoravam essas nações os seus deuses, para que também eu faça o
mesmo?’ Não farás assim com o Senhor, teu Deus, porque tudo o que o
Senhor odeia, tudo o que ele detesta, elas fizeram-no pelos seus deuses,
chegando mesmo a queimar em sua honra os seus filhos e filhas.” (Dt 12,
30b-31).
A Lei Mosaica é edificada justamente para que o povo pudesse
discernir entre a voz de Deus e a voz dos ídolos, uma vez que os hebreus
permeavam as nações pagãs e estavam quase que constantemente sujeitos a
todo tipo de prática ocultista. Nisto, vemos tal recomendação na seguinte
escrita de Moisés: “Maldito o que se oculta [da aparência] para matar o
próximo! – E todo o povo dirá: ‘Amém!’. Maldito o que aceita gratificação
para levar à morte o inocente! – E todo o povo dirá: ‘Amém!’.” (Dt 27, 24-
25).
Mais adiante, na época do profeta Eliseu, quando houve uma grande
seca na região da Samaria dominada pelo rei sírio Ben-Adad, deparamo-nos
com o seguinte relato que coloca em evidência não apenas o canibalismo
infantil, mas a desvalorização da criança na cultura das nações que não
serviam completamente ao Deus de Israel, mesclando a Lei Mosaica com
práticas pagãs, como era o caso dos samaritanos: “Um dia em que o rei
circulava pela muralha, uma mulher gritou-lhe: ‘Socorre-me, ó rei, meu
senhor!’. O rei respondeu-lhe: ‘Se o Senhor não te salva, com que te
poderei eu socorrer? Porventura, com a eira ou com o lagar?’. E ajuntou:
‘Que te aconteceu?’. Ela respondeu: “Esta mulher, que aqui vês, disse-me:
‘Dá-me o teu filho para o comermos hoje; amanhã comeremos o meu’.
Cozemos então o meu filho e o comemos. No dia seguinte, quando eu lhe
disse: ‘Dá-me o teu filho para que o comamos’, ela o escondeu”. Ouvindo
o que lhe dizia a mulher, o rei rasgou as vestes, e como ia passando pela
muralha, o povo viu que ele trazia um cilício sobre o corpo" (II Reis 6, 26-
30).
Embora a citação acima não se trate necessariamente de uma oferta
sacrifical, outras passagens similares como no período da invasão
babilônica em Judá no século VI a.C apontam como as crianças serviram de
alimento na extrema miséria causada pela descrença israelita daquele
tempo: “Mãos de mulheres, cheias de ternura, cozinharam os filhos, a fim
de servirem de alimento, quando da ruína da filha de meu povo.” (Lm 4,
10) ou ainda no mandamento do faraó no exílio egípcio, quando mandou
assassinar todo primogênito hebreu para reduzir a população no país (cf. Ex
1), semelhante ao que vemos hoje de outro modo na teoria neomalthusiana
de controle populacional.
Ainda a termo do reinado assírio de Ben-Adad, se encontra outra citação a
respeito, quando seu encarregado Hazael ouve do profeta Eliseu a seguinte
lamentação sobre a destruição em Israel: “Porque sei os males que farás
aos israelitas: incendiarás as suas cidades fortes, passarás a fio de espada
os seus jovens, esmagarás as suas crianças e rasgarás pelo meio o ventre
de suas mulheres grávidas” (II Reis 8, 12b).
O tema deste tópico não pretende abranger outras práxis pagãs que não
tenham a ver com o aborto ou propriamente o infanticídio, portanto embora
sejam inúmeras as condenações das diversas atividades pagãs na Bíblia,
concentremos agora o enfoque nas culturas ocultistas mais recentes e que
permanecem no mundo contemporâneo com novos aspectos. A partir do
século XV, quando a bruxaria e o ocultismo ganharam muita força na
Europa, não nos faltam registros históricos que atestem as atividades
diabólicas que envolviam tais cultos, incluindo o aborto como um dos
exercícios centrais desses ramos ocultistas; como nos apresenta o Simpósio
Internacional sobre a Inquisição promovido pelo Papa João Paulo II em
1998, no qual foi aberto o Acervo Histórico do Vaticano para a investigação
de 30 historiadores independentes de crença e peritos no assunto medieval,
resultando na obra “L’Inquisizione” como um verdadeiro compêndio de
dados históricos e desmistificações eclesiásticas do período; onde
particularmente encontra-se o seguinte relato[71]:

[As bruxas] matam as crianças no ventre das mães [grifo nosso], assim como os fetos do
gado, tiram a fertilidade dos campos, destroem as vinhas de uvas, enfeitiçam os homens,
mulheres e animais... fazem fracassar as plantações e pomares, pastos, trigais e outras plantas;
além de molestar e torturar homens e mulheres com espantosos e terríveis sofrimentos e
dolorosas enfermidades internas e externas [...] (L’INQUISIZIONE, 1998, Anexo II apud
AQUINO, 2019, p.116)

Na mesma época, Heinrich Kramer e Johann Sprenger, dois


inquisidores do leste europeu, redigiram um manual chamado Malleus
Maleficarum (“Martelo das bruxas”) e independente do seu conteúdo ser de
caráter plenamente comprobatório ou não, o mesmo tratava entre outros
assuntos a respeito das manifestações wicca (bruxaria) contendo
assassinatos de crianças para efeito de serem cozidas e servirem de comida
nas “Sabás”, as festas ocultas das bruxas (AQUINO, 2019, p.117); o que
nos indica ao menos a percepção ou existência de algum modo de tal prática
naquele tempo.
Vale sublinhar aqui um paralelo de que a prática da “caça às bruxas”
creditada à Igreja foi proibida pela própria instituição até o século XV
através dos concílios de Elvira (306); Ancira (314); Lombardo (653) e
Frankfurt (794); nos decretos de Trullo (692) e Paderborn (785); no sínodo
irlandês (800) e no sermão de Agobard de Lyon (810)[72], além da carta do
Papa São Gregório VII em 1080 ao rei Hoakon da Dinamarca repudiando a
decisão do monarca em mandar à fogueira mulheres acusadas de bruxaria;
ao mesmo tempo um beneditino de Weihenstephan (Alemanha) se colocou
ao lado das “bruxas” acusando o Estado de loucura popular, pois tais
mulheres eram submetidas a júris ilógicos como a ordália (caminhar sobre
as chamas) pelo próprio povo e por seus governantes, a desmando da Igreja
(AQUINO, 2019, pp. 113 a 114) que assumiu o júri da causa justamente
para evitar tais opressões passionais e leigas. O historiador Gustav
Henningsen, membro do simpósio no Vaticano, aponta a partir dos registros
que dentre os milhares de júris que resultaram em execução de pessoas
acusadas de feitiçaria pelos Estados, menos de cem foram diretamente
condenadas na europa ocidental pelos tribunais da inquisição (ibiden, pp.
120 a 121), ao contrário do número estipulado pelo famoso escritor Dan
Brown de 5 milhões em 300 anos (BROWN, Dan, 2004. O Código da
Vinci, p. 135 apud AQUINO, 2019, p. 122).
A eclosão de sectarismos ocultistas na Europa se deu principalmente
por volta do século XI, quando um movimento dito cristão e amplamente
herético chamado catarismo (do grego "katharos" que significa "puros")
surgiu de dentro da própria Igreja no sul da França, essa ramificação que
atuou de forma parasita no seio eclesial defendia a tese de que toda a
matéria teria sido criada por um “deus mau” (demiurgo) que duelaria com o
“deus bom”, o criador do mundo espiritual; portanto segundo os cátaros, o
corpo seria a prisão pecaminosa do espírito puro – consequentemente
negando a encarnação divina de Cristo, a transubstanciação eucarística e
diversas outras verdades da fé cristã –, bebendo assim de fontes heréticas
ainda mais antigas como o dualismo e maniqueísmo dos primeiros séculos,
logo tudo o que é físico deveria ser aniquilado, a ponto de estabelecerem
um costume analogicamente sacramental denominado “consolamentum”
como uma benção geralmente pré-mortuária de purificação e que além
deste rito poderia ser sucedida pela “endura”, cuja era concebida pela
prática do jejum até a morte do indivíduo para se livrar do “corpo mau” e
“purificar a alma” antecipadamente; nisto propagava-se também entre os
cátaros o ideal de não procriarem, pois, na prática a gestação “aprisionaria”
ainda mais “almas puras” na realidade “carnal e impura” (AQUINO, 2019,
pp. 69 e 70); inversamente similar e proporcionalmente danosa quanto às
filosofias sociais modernas que desencorajam a reprodução e a expansão
das famílias através da ótica do materialismo como fim último da realização
digna do bem viver.
Em Uganda, no leste da África, um ato ecumênico realizado em 2009
dedicou as penitências quaresmais pelo fim do sacrifício humano de
crianças em rituais macabros, como ressaltou o arcebispo anglicano Henri
Orombi ao jornal Monitor: “Há um grito em nossa terra. Este grito é tão
forte, que as Igrejas declararam conjuntamente uma campanha nacional
contra o mal da bruxaria e dos sacrifícios humanos” (ZENIT.ORG, 2009
apud AQUINO, 2019, p. 123).
Sacrifícios humanos sempre estiveram presentes em civilizações
pagãs, a exemplo dos povos da América pré-colombiana onde temos
diversos registros históricos e cemitérios arqueológicos que nos apresentam
vítimas fatais da oferta de crianças em rituais religiosos, geralmente
creditadas à alguma entidade sobrenatural que em troca aplacaria
catástrofes climáticas ou pragas, uma vez que a cultura e a vida dessas
populações giravam exclusivamente em torno do progresso agrícola.
No Peru atualmente se encontra o maior cemitério de sacrifícios
humanos, identificado a partir de 2011 por pesquisadores, o local próximo
ao Oceano Pacífico, denominado Huanchaco, contém as ossadas de mais de
140 crianças que foram mortas em rituais pagãos num templo da
comunidade Chimú, os cientistas apontam que tenham sido sacrificadas por
volta do século XV como súplica ante aos efeitos devastadores do
conhecido fenômeno natural El Niño. Em matéria ao portal National
Geographic, o historiador peruano Gabriel Prieto que liderou a pesquisa
relata sobre o procedimento cruel das vítimas na costa peruana:

Os restos esqueléticos de crianças e animais mostram evidências de cortes no esterno, bem


como deslocamentos de costelas, o que sugere que o peito das vítimas foi aberto e separado,
talvez para facilitar a remoção do coração. Os restos mortais de três adultos - um homem e
duas mulheres - foram encontrados próximos às crianças e animais. Sinais de trauma
contundente na cabeça e falta de bens graves com os corpos adultos levam os pesquisadores a
suspeitar que eles podem ter desempenhado um papel no evento de sacrifício e foram
despachados logo em seguida. As 140 crianças sacrificadas tinham idades entre 5 e 14 anos,
com a maioria entre 8 e 12 anos; a maior parte foi enterrada voltada para o oeste, para o mar
[...] (PRIETO et al., 2018. Matéria ao National Geographic. Tradução livre)[73]

Outro fato similar está na conversão do povo germânico a partir de São


Bonifácio, mais precisamente no ano de 723, o santo chegou num povoado
pagão de Geismar onde se cultuava a figura do deus Thor (trovão), ao qual
sob os pés de um carvalho estavam prestes a sacrificar uma criança como
oferenda para não serem afligidos por tempestades e trovoadas – novamente
o caráter climático e sobrenatural como centro da práxis –, assim narra a
tradição que Bonifácio tomou um machado e destruiu a tal árvore e símbolo
do paganismo local, fato este que depois culminaria na cultura da árvore de
natal no cristianismo como resposta evangélica do costume pagão, dado o
acontecimento na noite natalina daquele ano[74], considerando ainda a
analogia da promoção da vida na figura do Menino Jesus, perseguido
historicamente por Herodes (cf. Mt 2, 13).
O reconhecido padre exorcista Duarte Lara, membro da Associação
Internacional de Exorcistas outorgada pela Santa Sé desde 2014, em
pregação pública na Comunidade Canção Nova em outubro de 2018,
discursando a respeito da relação entre o aborto e a celebração do
Halloween a partir da origem ocultista, expôs que na abertura do ano
litúrgico satânico que ocorre sempre em 31 de outubro, mulheres
pertencentes a essas seitas realizam abortos provocados como oferta
sacrifical a Satanás às 3h da madrugada (antítese do horário da
Misericórdia), onde tal procedimento é consumado no rito das “missas
negras”, isto é, a missa católica rezada de trás para frente e imbuída de
invocações diabólicas[75].

Além da práxis abortista e infanticida, as missas negras ocultam em


seus rituais os termos “Ressurreição” e “Vida” nos textos litúrgicos, dada a
centralidade da celebração da morte; ainda em sua liturgia, ocorrem
principalmente profanações eucarísticas; às vésperas da noite de Halloween,
muitas paróquias são assaltadas e as espécies eucarísticas nos sacrários
furtadas, sobretudo nos Estados Unidos, onde este sectarismo satânico é
muito forte e a lei permissiva ao aborto é regulada em muitos estados.

O desaparecimento de pessoas, principalmente de crianças, é um


assunto que os norte-americanos conhecem bem a termo da correlação ao
satanismo, no país existem muitas vertentes dessa crença e a ligação com o
sequestro de vítimas para os rituais de sacrifícios humanos nas missas
negras chama a atenção; segundo levantamento do Federal Bureau
Investigation (FBI) com dados publicados anualmente de 2015 a 2022, a
maior média de pessoas desaparecidas ocorre nos meses de setembro e
outubro[76], embora existam muitos outros fatores que fomentem esse
indicador e a organização não aponte suas causas eventuais, a prática
ocultista com seu epicentro ritualístico na entrada do último trimestre de
cada ano e a sua crescente popularidade são sinais de graves
desdobramentos para a segurança da sociedade.

Frente a legalização do aborto prevista nas leis estatais norte-


americanas, o país contém uma presença muito significativa de clínicas de
aborto – a qual trataremos um pouco mais a fundo no capítulo a seguir –
frequentemente combatidas por grupos cristãos pró-vida que em tantos
episódios terminam em casos policiais, ainda que por muitas vezes as
“manifestações” sejam realizadas por orações isoladas ou em grupos diante
dos prédios das clínicas ou pelo aconselhamento externo das pacientes.

Um caso que ganhou repercussão foi a da jovem Abigail Seidman


convertida ao catolicismo, uma norte-americana que relatou em 2010 os
detalhes sobre o funcionamento interno de uma clínica de aborto, da qual
sua mãe trabalhou ativamente por anos e publicada em uma entrevista ao
portal LiteSiteNews.com que vale a pena ser conferida na íntegra a partir das
referências[77].

A descrição de Abigail apresenta em minúcias o clima e a extrema


correlação com o mundo ocultista dentro da rotina da clínica:

A clínica onde minha mãe trabalhava estava repleta de imagens e práticas ocultas. Havia artes
e estátuas de divindades femininas pagãs no escritório, na sala de espera, na de
aconselhamento e na de recuperação, além de uma música “nova era” (ocasionalmente
incluindo canções de deusas) sendo tocada em toda parte. As conselheiras eram primeiramente
escolhidas por suas qualificações “espirituais”, e algumas sequer possuíam diploma em
alguma área relevante (como psicologia, aconselhamento ou serviço social). Uma delas era
cozinheira profissional e se tinha transformado em prostituta (ou “prostituta sagrada”, como
elas preferiam pensar).

Depois que a clínica fechava à noite, a equipe toda se juntava para fumar maconha e às vezes
tomar alucinógenos, se houvesse disponíveis. Isso era visto como uma atividade espiritual, e
não como uma prática recreacional. Na verdade, elas zombavam de quem usava drogas
simplesmente para curtir, ao invés de usá-las para “abrir as suas mentes” a “realidades
espirituais e planos superiores de existência”.

Também havia cerimônias especiais envolvidas, em que membros da equipe clínica


engravidavam intencionalmente para fazer abortos, os quais eram conduzidos depois de horas
com um grupo maior [...] Lembro-me que o clima era negro e aterrorizante — não
manifestamente assustador, mas de um tipo de dar frio no estômago. Sempre tive uma
“sensação” de haver algo “errado” ou “perigoso” lá — quase a sensação de uma presença, a
qual agora eu reconheço como sendo exatamente o oposto da Presença que eu sinto dentro de
uma igreja [...] A principal figura adorada era A Deusa. Figuras de divindades femininas de
várias tradições (hindu, grega, romana, babilônica, egípcia, etc.) eram vistas como
“arquétipos” ou “rostos” dessa única deusa verdadeira, que estaria em oposição com (e, no
fim, triunfaria sobre) o Deus judaico-cristão. Elas ensinavam que a deusa era mais antiga, que
tinha criado o mundo e as pessoas para viverem pacificamente em uma “idade de ouro” pré-
histórica de governo matriarcal, antes da ascensão do patriarcado e da civilização. Deus era
pintado como uma figura diabólica, que invejava o poder da Deusa e que tinha inventado a
ideia do estupro e ensinado os homens a praticá-lo, dando fim à convivência humana em um
estado natural e livre de violência.

As mulheres eram encorajadas a escolherem figuras de deusas em particular como suas


modelos ou padroeiras pessoais (quase como os católicos escolhem um santo de devoção). A
cultura era lésbica e sexista (e, nesse sentido, diferente dos outros indivíduos ou grupos pagãos
sobre os quais eu pesquisei e com que entrei em contato), onde só deusas eram adoradas —
nunca deuses, e homens não eram chamados para participar das cerimônias e raramente eram
admitidos como companheiros sexuais ou românticos das mulheres [...] Curiosamente, a tal
Deusa também era conhecida como o Grande Dragão (que elas diziam ser a sua “forma real”)
—, o qual eu me surpreendi em descobrir que existia na Bíblia também, ainda que
definitivamente não como uma pessoa a ser adorada! Falo sério, eu não tinha ideia. Minha
exposição à Bíblia e à teologia cristã era mínima, para dizer muito, até cerca de um ano atrás.
Tanto que eu cheguei a cair de costas quando li o livro do Apocalipse.

[...] Acredito que os ocultistas constituam o “núcleo” do movimento pró-aborto, assim como
os cristãos renascidos formam o “núcleo” do movimento pró-vida, e eu não vejo problema
algum em chegarmos ao coração da coisa e em informar as pessoas “pró-escolha”
(particularmente os cristãos bem intencionados, mas desorientados) com quem e com o quê
elas estão verdadeiramente se associando.

[...] Acho que a coisa com que os pró-vidas mais se surpreendem, em minhas discussões com
eles até agora, é que o paganismo, a wicca e o culto a divindades femininas são levados a sério
por muitos liberais, defensores do aborto, feministas etc. Não se trata meramente de “bicho-
papão”. Se uma pessoa acredita ou não que essas crenças e práticas espíritas têm algum poder,
o fato é que há uma porção significante de pessoas que acredita, e o faz tão intensamente
quanto nós acreditamos no Cristianismo ou em outros credos [...] Eu preferiria ver mil ateístas
pró-vida no mundo do que um só cristão que defende o aborto. (LIFESITENEWS, 2010 apud
e traduzido por PADREPAULORICARDO.ORG, 2016)

Em 2015 um outro caso chamou a atenção da mídia, um templo


satânico de Nova York levantou fundos para arcar com os custos de um
procedimento abortivo de uma mulher do estado de Missouri, também nos
Estados Unidos, o fato curioso é que se utilizaram da “liberdade religiosa”
como argumento para antecipar o abortamento, uma vez que o processo em
curso normal ultrapassaria a quantidade de semanas previstas na lei para tal
procedimento. O caso chegou a ser criticado como ilógico pelos próprios
grupos feministas que apoiam a causa pró-aborto, temendo que uma vez
que a “liberdade religiosa” seja usada como artifício para conseguir um
aborto, seria posteriormente também para impedi-lo[78] (MARCOTTE,
2015 apud DUFAUR, 2018; FRENCH, 2015).
"É por inveja do demônio que a morte entrou no mundo, e os que
pertencem ao demônio a provarão." (Sb 2, 24)

No website da seita “The Satanic Temple”


(https://thesatanictemple.com/) especializada em promover, viabilizar e
divulgar procedimentos abortivos como o supracitado; encontramos
diversas publicações detalhadas de como participar desses sacrifícios
satânicos, além disso o grupo ainda oferece muitos outros serviços
ocultistas, alguns inclusive de alto custo, como casamentos, amarrações,
libações, entre outros na ordem de 2.500 dólares em média.
CAPÍTULO 5 | ATUALIDADES

"Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter


ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu
não te esqueceria nunca." (Is 49, 15)

Ao longo dos capítulos anteriores testemunhamos a relação histórica


da aversão divina ao aborto e como a Igreja interveio nesse processo diante
das civilizações que colocavam em marcha este cruel modelo de
infanticídio e que permanece cada vez mais forte nos tempos hodiernos.
Nos últimos anos temos visto a flexibilização ao aborto em diversos
países, sobretudo latino-americanos que se emanciparam do embasamento
moral religioso em suas constituições laicas, embora como já apresentamos
neste trabalho, sejam constituídos majoritariamente de povos religiosos e
particularmente cristãos.
Com o advento das redes sociais, a desinformação e a calúnia de
grupos pró-vida, movimentos radicais que atuam como lobistas em favor do
aborto tem surgido e ganho cada vez mais espaço nos amplos meios de
debate, pavimentando assim o caminho das nações rumo a uma falsa ideia
de plena liberdade dos corpos e, consequentemente, do direito sobre os
corpos dos pequenos indefesos nos ventres de suas mães.
5.1 – Um panorama sobre a legislação do aborto no mundo atual

“Porei em vós o meu espírito, para que vivais e vos colocarei em


vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço — oráculo do
Senhor.” (Ez 37, 14)

Os dados a respeito do tema não são nada animadores no mundo


moderno, segundo artigo publicado pelo Ministério da Saúde em 2018 com
base em centros de pesquisa, mais do que a metade dos países permitem de
algum modo o acesso legal ao procedimento abortivo ao redor do globo
terrestre[79]:

Em cerca de 60% dos países, a legislação também consente esta prática [do aborto] para
preservar sua saúde física ou mental. Quase 40% não pune o abortamento quando a gravidez
resulta de violência sexual ou quando cursa com anomalia fetal grave. Motivos sociais ou
econômicos conduzem à autorização para o abortamento em 30% das legislações. O
abortamento voluntário, por exclusiva solicitação da mulher, é garantido por cerca de 30% dos
países, entre eles a Rússia, Holanda, Bélgica, França e Portugal, sendo em sua grande maioria
desenvolvidos. (BRASIL, 2018. A legislação sobre o Aborto nos Países da América Latina:
uma Revisão Narrativa).

Quando restringimos o assunto ao nosso continente, a situação se


apresenta de modo bastante alarmante – o Brasil será abordado
particularmente no próximo tópico –, o mesmo levantamento aponta que na
América Latina somente em El Salvador, Haiti, Jamaica, Honduras,
Nicarágua, República Dominicana e Suriname o aborto é considerado ilegal
(até a presente data), assim como também assinalam em pesquisas mais
recentes do Center for Reproductive Rights e Global Abortion Policies
Database[80], dois centros promotores da liberação do aborto legal como
tema de saúde pública.
Dos vinte países que compõem o bloco latino-americano, estes –
apenas – sete que permanecem irredutíveis ao aborto encontram-se em
convulsão com as forças que promovem a causa, por exemplo, em El
Salvador ocorreu em março de 2023 a primeira audiência para discussão do
aborto após um recente caso de repercussão nacional, o fato inédito foi
promovido com ímpeto pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH)[81].
Já em Honduras, foi autorizado o uso do anticoncepcional “pílula do
dia seguinte” em março do corrente ano após forte pressão de grupos
feministas[82], embora não haja previsão de novas flexibilizações, o
histórico dos demais países que legalizaram condicionalmente o aborto
apresentam o início de sua trajetória nesse sentido através da liberação de
contraceptivos, ou seja, tais brechas legais funcionam na prática como a
“porta de entrada” para causas mais radicais que violam o direito à vida.
Nos Estados Unidos a lei Roe vs Wade que perdurava desde a década
de 70 possibilitando a decisão do júri de cada Estado ligado à norma
nacional em definir a permissão e regular a prática do aborto foi abolida em
2022[83], ainda que a vitória dos indefesos nascituros tenha sido
amplamente comemorada e aplicada em muitos estados a contragosto de
diversos júris internacionais, há muito o que se fazer ainda. Em janeiro de
2023 o estado da Carolina do Sul aprovou uma lei de acesso ao aborto,
contrariando a revogação da Suprema Corte norte-americana[84], outros
estados do país ainda seguem com seus regulamentos próprios. Outro ponto
que agora segue em discussão no país é a proibição da pílula abortiva
“mifepristone”, revogada por tribunais inferiores no início de 2023, o
medicamento abortivo teve reviravoltas na Suprema Corte após apelos do
governo e do órgão farmacêutico fiscalizador, além da fabricante da
pílula[85].
Na Europa o cenário não é diferente, em julho de 2022 o Parlamento
da União Europeia (UE) aprovou o apoio ao direito ao aborto para que seja
incluído no programa de Direitos Humanos, em vista da revogação da lei
norte-americana Roe Vs Wade, o documento fomenta radicalmente a
atividade abortista e inclui, entre outras exortações inflamadas, os seguintes
trechos[86]:

Insta a UE e os seus Estados-Membros a reconhecerem legalmente o aborto e a defenderem o


respeito do direito ao aborto seguro e legal e de outros direitos sexuais e reprodutivos; insta
ainda a UE a agir em favor desta causa e a fazer do reconhecimento deste direito uma
prioridade fundamental em negociações no âmbito das instituições internacionais e noutros
fóruns multilaterais, como o Conselho da Europa, bem como a Condena o facto de muitas
mulheres na UE ainda não terem acesso a serviços de aborto devido às restrições legais,
financeiras, sociais e práticas que subsistem em alguns Estados-Membros. (UNIÃO
EUROPEIA, 2022, n.10 e 11)
Na mesma resolução o Parlamento Europeu ainda critica os países que
se recusam a flexibilizar o aborto no continente (onde é amplamente
aceito), como é o caso da Polônia que permite “apenas” em casos de
estupro ou de comprovado risco de vida à gestante; já em Malta está o caso
mais conservador, a ilha é o único país europeu que revoga absolutamente o
direito ao aborto e, portanto, é alvo de fortes críticas e pressões de grupos
europeus – como o citado acima – e internacionais em vista da sua
descriminalização[87].
De acordo com informações do portal CBS, a problemática do aborto
no continente europeu é ainda mais profunda, a eugenia de crianças com
Síndrome de Down se apresenta como um ponto de extrema criticidade em
nações mais prósperas[88], singularmente na Europa, onde segundo os dados
apresentados, 100% dos nascituros islandeses diagnosticados com
Síndrome de Down são abortados, sendo que no país nórdico cerca de 85%
das gestantes optam pelo exame de avaliação de doenças congênitas. No
hospital universitário de Landspitalio, onde ocorrem mais da metade dos
nascimentos no país, Helga Sol Olafsdottir, uma funcionária responsável
pelo aconselhamento das mães em tais cenários, comenta a situação da
seguinte maneira:

Esta é a sua vida [da mãe] – você tem o direito de escolher como quer que ela seja. Não vemos
o aborto como assassinato [...] Nós damos fim a uma possível vida que poderia ter tido uma
complicação enorme… Prevenimos o sofrimento para essa criança e para a família. (CBS apud
ALETEIA, 2017)

Ainda no mesmo quadro europeu, a CBS aponta que o número de


crianças abortadas no pós-diagnóstico recua para 98% na Dinamarca,
enquanto no Reino Unido a margem é de 90%, diante da França com 77%.
Já na Hungria o aborto é legalizado parcialmente desde 1956, porém
em 2022 houve um enrijecimento no regulamento, quando o governo
húngaro passou a obrigar que as gestantes ouvissem os batimentos
cardíacos dos nascituros antes de optarem por prosseguir com a decisão;
uma vez que a constituição húngara defende abertamente a vida já na sua
concepção desde 2012, quando também proibiu o uso de contraceptivos[89].
A ligação entre Polônia, Hungria e Malta estão nas suas raízes
católicas; a Polônia apesar de se declarar como um estado laico, reconhece
o papel importante da Igreja no seu país e na fé do seu povo, bem como
entronizou Jesus Cristo honorificamente como Rei da Polônia[90] em 2016,
além disso, ressalta-se aqui a forte influência do pontificado do polaco Papa
Wojtyla (João Paulo II) na história do país, sendo ele corresponsável pela
derrubada da União Soviética em sua terra natal no final do século XX.
A Hungria, fundada como estado por Santo Estevão I da Hungria (969
– 1038) é um país com profundas raízes católicas, embora também se
reconheça atualmente como estado laico, mais de 60% dos cidadãos são
batizados, há ensino religioso opcional, mas registra um aumento nos casos
de aborto e divórcio; tudo isso após um traumático período onde o país foi
dominado pelo regime comunista que perdurou por décadas, no qual
surgiram muitos mártires para a Igreja, além de seminários e conventos
fechados, bens confiscados e muito sofrimento para a população
húngara[91]. Providencialmente no mesmo país, o Papa Francisco discursou
em visita em abril de 2023 sobre a legalização do aborto[92] como
instrumento ideológico: “[as colonizações ideológicas] antepõem à
realidade da vida conceitos redutores de liberdade, quando por exemplo se
alardeia como conquista um insensato ‘direito ao aborto’, que é sempre uma
trágica derrota” (DÍAZ, 2023).
Por fim, a pequena ilha de Malta é um dos raros países confessionais
católicos no mundo e onde por consequência o aborto é ilegal. O país que
tem uma rica história no cristianismo, sendo reconhecido pelo local do
naufrágio de São Paulo (cf. Atos 28, 1-10), possui ¾ da população católica,
ainda que recentemente tenha aprovado pautas que contrariam a moral
cristã como o divórcio legal (2011), a fertilização in vitro (2012), o
casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (2016) e a revogação da
proteção antidifamatória contra a Igreja Católica no país (2017)[93].
Lembremos ainda que a Europa passa por um rigoroso inverno
demográfico, alvo de recentes críticas do Papa Francisco, a exemplo do seu
discurso ao Fórum das Associações Familiares, particularmente direcionado
aos italianos[94]:

Já disse, mas quero repetir: estamos vivendo um grave inverno demográfico e devemos reagir
com isso, com todas as nossas forças, com o nosso trabalho, com as nossas ideias para
convencer. O meu secretário me disse que outro dia ele estava passando pela Praça São Pedro
e viu uma senhora com um carrinho de criança... olhava para as crianças, mas tinha um
cachorrinho dentro... É um símbolo, é por isso que eu falo. São necessários filhos. Precisamos
de filhos. (COLLET, 2022. Discurso de Francisco ao Fórum das Associações Familiares)
Na África os casos são similares, somente países como Congo, Egito,
Gâmbia, Madagascar, Mauritânia, Senegal e Serra Leoa ainda são
restritivos ao aborto, de acordo com o índice do Center for Reproductive
Rights (novamente destacada como uma organização que viabiliza a
legalização). A maioria dos países do continente africano permitem o
procedimento se houver risco à saúde, enquanto alguns são ainda mais
liberais, como é o caso da África do Sul, Benin, Guiné-Bissau,
Moçambique e Tunísia que no geral permitem o aborto até a 12ª semana de
gestação em casos de estupro, incesto, problemas socioeconômicos ou
doenças congênitas[95].
No Oriente Médio, onde prevalece a crença islâmica, o acesso ao
aborto é mais restritivo, segundo o consenso muçulmano a vida existe desde
a sua concepção genética, portanto é inadmissível a permissão ao aborto
provocado de modo autoritário[96], entretanto a maioria dos países árabes
permitem o procedimento em casos onde a gravidez oferece um risco para a
vida da mãe, com exceção do Iraque onde a prática é totalmente proibida;
em contraposição, o país mais flexível no assunto é a Arábia Saudita, que
permite o abortamento também em casos onde se julga como “risco à saúde
física e mental”[97].
Já na Ásia, o panorama é muito semelhante ao Europeu, a maioria das
nações possibilitam o acesso ao aborto por “solicitação da mulher” em
média até a 12ª semana de gravidez, sendo um critério bastante liberal. Na
China, o governo pretende restringir o pleno acesso ao aborto que vigora
como legal para qualquer família com até três filhos, já que uma notável
redução populacional tem chamado a atenção de políticos e especialistas,
temendo assim que tal fenômeno venha a impactar no desenvolvimento do
país a longo prazo[98]. Na Coreia do Norte, um grupo denunciou no início
de 2023 que o sistema penitenciário local força os abortamentos das
gestantes reclusas, além de cometer diversas outras torturas[99],
comparando-as aos antigos Gulags, os centros de extermínio comunistas.
Um quadro legislativo ainda pior está na Índia, o segundo país mais
populoso do mundo permite o aborto com até 24 semanas de gestação, além
disso, se acrescentam aos critérios legais as mulheres solteiras, vítimas de
violência sexual dentro e fora do matrimônio e mulheres que tiveram seu
status conjugal modificado durante a gravidez[100].
As únicas exceções asiáticas estão nas Filipinas e Laos que não
permitem o aborto sob nenhuma circunstância em suas legislações (ALVES
et al. , 2020, infográfico). Vale sublinhar que as Filipinas têm tido um
grande número de conversões ao catolicismo nos últimos anos, alcançando
a margem de 79,5% de fiéis na sua população segundo o último censo em
2015, o equivalente a quase 86 milhões de católicos no território[101].
Enquanto na Oceania a perspectiva não é positiva igualmente, na
Austrália, o país mais populoso do continente é também o que contém o
maior agravante, em 2019 os australianos aprovaram uma lei que revoga a
criminalização mais ampla do aborto, permitindo que o mesmo seja
executado a partir de então por “solicitação da mulher” até a 22ª semana de
gestação[102].
5.2 – Regulação do aborto no Brasil

“Todo aquele que ferir mortalmente um homem será morto.” (Lv 24,
17)

No Brasil o aborto é considerado crime desde o Código Penal do


Império[103] estabelecido em 1830, quando detalha os crimes a respeito do
infanticídio (o texto extraído a seguir está redigido segundo a norma da
língua portuguesa vigente na época):

Art. 197. Matar algum recemnascido.


Penas - de prisão por tres a doze annos, e de multa correspondente á metade do tempo.
Art. 198. Se a propria mãi matar o filho recem-nascido para occultar a sua deshonra.
Penas - de prisão com trabalho por um a tres annos.
Art. 199. Occasionar aborto por qualquer meio empregado interior, ou exteriormente com
consentimento da mulher pejada.
Penas - de prisão com trabalho por um a cinco annos. Se este crime fôr commettido sem
consentimento da mulher pejada. Penas - dobradas.
Art. 200. Fornecer com conhecimento de causa drogas, ou quaesquer meios para produzir o
aborto, ainda que este se não verifique.
Penas - de prisão com trabalho por dous a seis annos.
Se este crime fôr commettido por medico, boticario, cirurgião, ou praticante de taes artes.
Penas - dobradas. (BRASIL. Código Penal do Império do Brazil, art. 197 a 200)

Mais adiante, no início da era republicana, o Código Penal de 1890


trazia também no Capítulo IV do Título X as prescrições a termo do
“aborto”[104], sendo elas (transcritas aqui novamente segundo a norma
linguística da época):

Art. 300. Provocar abôrto, haja ou não a expulsão do fructo da concepção:

No primeiro caso: - pena de prisão cellular por dous a seis annos.

No segundo caso: - pena de prisão cellular por seis mezes a um anno.

§ 1º Si em consequencia do abôrto, ou dos meios empregados para provocal-o, seguir-se a


morte da mulher:
Pena - de prisão cellular de seis a vinte e quatro annos.

§ 2º Si o abôrto for provocado por medico, ou parteira legalmente habilitada para o exercicio
da medicina:

Pena - a mesma precedentemente estabelecida, e a de privação do exercicio da profissão por


tempo igual ao da condemnação.

Art. 301. Provocar abôrto com annuencia e accordo da gestante:

Pena - de prissão cellular por um a cinco annos.

Paragrapho unico. Em igual pena incorrerá a gestante que conseguir abortar voluntariamente,
empregado para esse fim os meios; e com reducção da terça parte, si o crime for commettido
para occultar a deshonra propria.

Art. 302. Si o medico, ou parteira, praticando o abôrto legal, ou abôrto necessario, para salvar
a gestante de morte inevitavel, occasionar-lhe a morte por impericia ou negligencia:

Pena - de prisão cellular por dous mezes a dous annos, e privação do exercicio da profisão por
igual tempo ao da condemnação. (BRASIL. Código Penal da República, 1890, art. 300 a 302)

Atualmente consta como crime desde o Código Penal de 1940, conforme


descreve os parágrafos 123 a 128, mais uma vez sob o capítulo a trato do
“Infanticídio”[105]:

Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo
após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: (Vide ADPF
54)
Pena - detenção, de um a três anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: (Vide ADPF 54)
Pena - reclusão, de um a quatro anos.
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze
anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave
ameaça ou violência
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou,
quando incapaz, de seu representante legal. (BRASIL. Código Penal da República do Brasil,
1940, art. 123 a 128)

Portanto, vemos no artigo 128 que no Brasil existem 3 exceções para


prática legal do aborto: para salvar em última instância a vida da gestante;
resultante de estupro (caso a mulher decida pelo procedimento e esteja
capaz de fazê-lo); e nos casos de diagnóstico de anencefalia (nascituros que
não desenvolvem massa cerebral) de acordo com a “Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental 54 (ADPF 54)”[106], definida
pelo Supremo Tribunal Federal em 2012.
Ao contrário da maioria dos países, no Brasil não existe uma cláusula
que defina o prazo máximo que uma gestante possa optar pelo abortamento,
esta incógnita é argumentada tanto pela defesa da amplificação do direito ao
aborto quanto pelos que defendem o direito radical à vida, particularmente
os cristãos.
Em 2011 o Ministério da Saúde publicou uma Norma Técnica
intitulada “Atenção humanizada ao abortamento”[107] na qual o órgão
governamental não expõe limites gestacionais para a execução do
procedimento, somente estabelece modos técnicos de se realizar o “aborto
seguro” levando em consideração a quantidade de semanas e o peso do
nascituro no ato cirúrgico. No âmbito legislativo, o documento relembra
que nos casos previstos em lei e ocorridos com adolescentes ou menores de
12 anos, é necessário o consentimento da mulher como fator primordial e
em segundo grau dos pais ou responsáveis (2011, p. 19).
5.3 – O lobby pró-aborto

"E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e


bendito é o fruto do teu ventre’." (Lc 1, 42)

Ainda a respeito da Norma Técnica de 2011 apresentada no parágrafo


anterior, embora o documento seja regido pelo Ministério da Saúde,
encontramos ao longo da redação algumas referências nitidamente parciais
ao assunto que embasam e endossam a execução abortiva. Particularmente a
pesquisa neste e-book trata do ponto de vista do catolicismo acerca do
aborto, portanto restringimos aqui ao que é sobretudo tocante ao social-
religioso deste tópico.
Uma das referências bibliográficas citadas na Norma Técnica é a obra
“ABORTO LEGAL: implicações éticas e religiosas. São Paulo: Católicas
pelo Direito de Decidir. 2002”, a autoria de tal grupo (“Católicas pelo
Direito de Decidir”) é reconhecida a nível nacional pelo empenho particular
na flexibilização do aborto, presente em muitos debates do assunto,
inclusive a nível político, como se nota no site oficial da própria
comunidade https://catolicas.org.br/.
Em setembro de 2022, a Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) rejeitou a petição aberta pela instituição de fiéis “Centro Dom
Bosco” para que o grupo “Católicas pelo Direito de Decidir” não
permanecesse com o uso do termo “Católicas” enquanto defendam pautas
anticristãs como o aborto, uma vez que a Igreja rejeita radicalmente a práxis
abortista – conforme exposto minuciosamente em todo esse material. A
alegação do júri foi de que ambos os grupos não estão ligados juridicamente
à Igreja Católica que é de direito particular, portanto nem as “Católicas pelo
Direito de Decidir” ou o “Centro Dom Bosco” poderiam reivindicar
quaisquer manifestações em nome da instituição religiosa, uma vez que a
única competente para definir o que pertence ou não ao seu regimento
interno seria a própria Igreja Católica[108], embora seu posicionamento seja
claramente manifesto em documentos públicos.
O ativismo pró-aborto tem estado presente em diversos meios de
debate, físicos e virtuais; em março de 2023, Karla Teles, uma curadora e
defensora pública com quase 20 anos de carreira no Núcleo de Proteção à
Criança e ao Adolescente (NUCRIA), relatou sofrer assédio de grupos
feministas que promovem a legalização do aborto no Brasil. Karla Teles que
atuou como curadora de um nascituro num caso de justiça afirmou em
entrevista a Gazeta do Povo que a defesa está dentro da legalidade
jurídica[109]:

Minha atuação foi realizada em conformidade com o dever constitucional e legal, ético,
humanitário e humano de levar em conta todas as situações sob um olhar imparcial, técnico e
visando sempre o bem-estar de todos os envolvidos, inclusive o assistido nascituro. (BONAT,
2023)

Outro membro da defensoria pública, Danilo Martins, questionou o


Ministério Público Federal para que a Declaração de Óbito não fosse
removida dos casos abortivos previstos em lei, a matéria explica que o
Conselho Federal de Medicina (CFM) exige essa certidão apenas nos casos
onde o feto tenha “a partir de 20 semanas de gravidez; peso corporal do feto
igual ou superior a 500 gramas; ou quando a estatura do bebê abortado for
igual ou superior a 25 cm” (ibidem, 2023), além da sua obrigatoriedade para
realizar sepultamentos.
Danilo teme que as restrições estabelecidas para se emitir uma
Certidão de Óbito de fetos abortados sirvam de artifício para a
clandestinidade:

Eu ingressei nessa ação para que seus corpos não fossem descartados no lixo hospitalar [...]
Defender o nascituro que é o mais vulnerável dos vulneráveis se tornou um tabu na defensoria
[...] Esses grupos de defensores públicos que foram contra a atuação dela [Karla Teles] como
curadora do nascituro estão simplesmente negando o princípio da ampla defesa, algo que é da
essência de nossa função. É como se médicos processassem um colega porque ele tentou
salvar a vida de alguém. É um absurdo sem igual [...] [grupos pró-aborto] Não sabem dialogar
com quem pensa de forma diferente e, por isso, preferem excluí-las de suas vidas. O pior é que
não medem as consequências para alcançar esse objetivo. (ibidem, 2023. Matéria publicada
pela Gazeta do Povo)

No âmbito político certamente não faltam investidas de grupos que


pretendem expandir os artigos do Código Penal que ainda regulam até certa
medida o aborto no Brasil, a começar pelos Projetos de Lei (PL)
1.135/1991[110] e 1.174/1991[111] de autoria dos deputados federais Eduardo
Jorge (PT) e Sandra Starling (PT), o primeiro visava a permissão do aborto
sem restrições penais, enquanto o segundo fomentava a ideia de que
médicos pudessem realizar o procedimento abortivo sem imputação de pena
criminal em determinados casos de patologias congênitas diagnosticadas
nos nascituros.
Em 1995 o PL 176/1995[112] de autoria do deputado federal José
Genuíno (PT) buscava a legalização do aborto com até 90 dias de gestação
sob a condição de reivindicação da gestante (art. 1º e 2º). Já em 2004, o
Governo Federal lançou o “Plano Nacional de Política para as
Mulheres”[113] onde o item 3.6 do terceiro capítulo do documento pretendia
“revisar a legislação punitiva que trata da interrupção voluntária da
gravidez [aborto provocado]” (2004, p. 63). No ano seguinte, o Governo
instaurou uma comissão tripartite a cargo do Ministério da Saúde e da
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, e ainda em 2005, o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entregou à Organização das
Nações Unidas (ONU) o “Segundo Relatório do Brasil sobre o Tratado dos
Direitos Civis e Políticos”[114] contendo a seguinte agenda política:

42. Outro assunto que merece consideração envolve os direitos reprodutivos. O atual governo
brasileiro se comprometeu a fazer uma revisão da legislação repressiva que regulamenta o
aborto para que o princípio da livre escolha no exercício da sexualidade individual seja
plenamente respeitado […]
44. O Código Penal brasileiro data de 1940. Apesar das reformas introduzidas no Código,
persistem algumas cláusulas discriminatórias […]. Essa mesma legislação, por sua vez, impõe
duras penas para o aborto, exceto nos casos de risco iminente para a mãe e gravidez induzida
por estupro.
45. A legislação brasileira ainda não foi ajustada para atender à recomendação do Plano de
Ação da Conferência Mundial sobre a Mulher de 1995, realizada em Pequim, em que o aborto
foi definido como questão de saúde pública. O governo brasileiro espera que o Congresso
Nacional analise um dos projetos de lei que tramitam no Congresso para corrigir a forma
repressiva com que o aborto é hoje abordado. (UNITED NATIONS, 2005, p. 14. Tradução
livre)

Em setembro do mesmo ano o Governo Federal demandou ao


Congresso a proposta decorrente da comissão tripartite representada pela
pessoa da Ministra-Chefe da Secretaria de Políticas para as Mulheres,
Niceia Freire (PT), buscando a aprovação do aborto até a 12ª semana de
gestação, podendo chegar até a 20ª semana nos casos de estupro[115]. A
apresentação do projeto (reprovado) no Congresso foi lamentada pelo então
Secretário Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
Dom Odilo Pedro Scherer, hoje Cardeal Arcebispo Metropolitano de São
Paulo, nas seguintes palavras: “Esperávamos que isso não fosse acontecer.
Esperávamos que o Executivo fosse refletir e não apresentasse a proposta
[...] E que não se legisle contra a vida de nenhum ser humano, sobretudo
dos seres inocentes, que ainda não nasceram” (FORMENTI, 2005).
Em 2010 a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República publicou o seu Programa Nacional[116] ao qual propôs:

179. Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao estupro, atentado
violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude e o
alargamento dos permissivos para a prática do aborto legal [grifo nosso], em
conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma
de Ação de Pequim. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2010, pp. 212 e 213)

Até a presente data desse trabalho se encontra para apreciação no


Senado o Projeto de Lei 1444/2020[117] substituindo o Projeto de Lei
7371/2014[118] conhecido como “abortoduto” e que havia sido retirado de
tramitação, dada que a proposta original do projeto previa a captação de
recursos financeiros do exterior para custear um “Fundo Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres”, todavia o receio dos grupos
pró-vida é de que a aprovação do revigorado projeto sirva como porta de
investimento por parte de fundações internacionais de legalização do aborto
no país.
No Brasil e no exterior existem múltiplas redes de incentivo ao aborto,
algumas delas se empregam em financiar os custos do procedimento,
viagem e até hospedagem das mulheres, além de fornecer medicamentos
abortivos (uma lista por amostragem dessas redes de apoio pode ser
conferida no APÊNDICE A desta obra). Entre essas fundações existe um
problema ainda maior, grupos espalhados pelas redes sociais acolhem
clandestinamente mulheres que optam pelo aborto provocado,
comercializando tais medicamentos abortivos ou encaminhando para
clínicas clandestinas, sem quaisquer fiscalizações de órgãos competentes no
assunto, o que facilmente se desdobram em problemas de saúde da mulher
como hemorragias ou outros sintomas decorrentes da rejeição do organismo
frente ao procedimento adotado que ao final das contas tendem a inflacionar
ainda mais o atendimento hospitalar por métodos caseiros e ilegais.
Com a revogação da lei Roe vs Wade nos Estados Unidos em 2022, gigantes
corporativas como Amazon, Yelp e Citigroup se ofereceram para custear os
abortamentos de suas funcionárias incluindo um pacote de viagens para
driblar os entraves regionais que passaram a bloquear o procedimento[119].
Paradoxalmente no início de 2023 a Amazon anunciou o corte de 18 mil
postos de trabalho[120].
Em janeiro de 2023 o Governo Federal retirou a participação do Brasil
na Convenção de Genebra, um acordo internacional em defesa da vida
desde a concepção, e revogou a portaria 2.561/2020 que determinava a
comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais[121], esta
decisão causou alarde nas comunidades pró-vida no país, pois estaria em
tese abrindo uma certa possibilidade do procedimento ser realizado em
unidades de saúde nos casos onde a mulher opte pelo aborto provocado
oriundo de uma gravidez indesejada sob a alegação de violência sexual sem
a devida perícia. A revogação dessas medidas foi criticada pela CNBB em
nota oficial como porta-voz da Igreja no Brasil dias após o episódio[122].
As manifestações pró-aborto têm tomado proporções desmedidas nos
últimos tempos, na Argentina, por exemplo, antes da legalização do aborto
em 2020, houve diversos atos de revolta contra os edifícios da Igreja, em
um deles ocorrido em 2018 na cidade de Trelew localizada na região da
Patagônia, um grupo proclamado feminista ateou fogo na sede da prefeitura
e realizou um ato de nudez frente à Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora
pedindo o “aborto livre”. No mês anterior, jovens da cidade de San Justo
retiraram imagens sacras com truculência do centro acadêmico debaixo de
insultos contra a Igreja Católica[123].
No mesmo mês de setembro de 2018 em Buenos Aires na Argentina, a
fachada do Instituto San Isidoro Labrador e da Igreja ao lado amanheceram
pichadas com frases “MUERTE A FRANCISCO” (“Morte [ao Papa]
Francisco”, tradução livre) e “FUEGO A LA IGLESIA” (“Fogo na Igreja”,
tradução livre)[124].
Em 2021, a cidade de Zócalo no México também testemunhou um ato
de vandalismo de grupos feministas que invadiram uma área da Catedral e a
incendiaram sob gritos de ordem em favor do aborto e contra a Igreja a
quem enxergam como “adversária”, além da depredação de prédios e
comércios ao redor do templo católico. Em Xalapa, também no México, um
movimento feminista pichou a Catedral da cidade com a frase “aborto
legal” e com símbolos de mãos e punhos verdes (a cor que representa a
liberdade feminista quanto ao aborto), tudo isso aconteceu após a legislação
local aprovar o aborto no estado de Veracruz, ao qual pertence o
município[125].
Em outubro de 2021, nas províncias de Cidade do México e em
Medellín na Colômbia, houve atos violentos de novos grupos feministas
que clamavam por “ação global e por um aborto legal e seguro”, segundo
informações do padre Guillermo Zalluaga, pároco mexicano da Igreja de
Santo Inácio de Loyola, aproximadamente cem manifestantes atearam fogo
nas portas da paróquia, causando pânico nos fiéis que estavam dentro do
templo, além de insultos, depredações públicas, diversas pichações com
símbolos radicais da causa feminista como o próprio aborto, incluindo
agressões físicas aos policiais que tentavam controlar a situação, enquanto
outro foco de barbárie ocorria na Catedral da mesma Cidade do México.
Segundo o sacerdote, o prejuízo alcançou a ordem de R$ 25 mil,
considerando a construção da Igreja alvejada com estilo colonial que data
de 1803[126].
Em 2020, duas Igrejas históricas foram incendiadas por vândalos no
Chile, a revolta que marcava um ano das manifestações sociais no país
também buscava de modo cruel chamar a atenção dos políticos chilenos
para uma nova Constituição que segue em trâmite (até a presente data),
acrescida da inédita legalização do aborto no país que ocorreria dois anos
depois (2022). As Igrejas de Nossa Senhora da Assunção e a capela dos
Carabineiros San Francisco de Borja foram vítimas das chamas e saques
que destruíram a morada divina no centro da capital chilena, Santiago.
Pichações com frases “MORTE AL NAZARENO” (“Morte ao Nazareno
[Jesus]”, tradução livre) e palavras de ordem anticristãs tomaram os
edifícios, repletos de manifestantes que derrubavam imagens, quebravam
vitrais e aplaudiam a queda da torre central da Igreja pelo fogo[127].
Segundo levantamento do portal Catholic Vote, somente nos Estados
Unidos houve 85 ataques dos mais diversos tipos e graus contra Centros de
Pesquisa de Gestação que dão apoio às mulheres grávidas entre maio de
2022 e abril de 2023[128], além disso outra pesquisa do portal registra 311
ataques contra edifícios da Igreja Católica no país entre maio de 2020 e
abril de 2023[129], incluindo saques; incêndios; pichações; tiroteios;
profanações; sacrilégios; interrupções de missas para cunho de protesto;
depredação de imagens sacras, altares e estruturas dos templos; cultos
satânicos; etc.
Como é possível observar, estes e outros tantos atos repudiáveis da
mesma natureza que tem acontecido contra a Igreja Católica apresentam a
temática do aborto como reivindicação social, depositando assim a sua
rebeldia de maneira inclemente e odiosa contra os cristãos e seus templos.
Outros crimes da mesma classe ocorrem nos demais continentes e fogem ao
propósito deste trabalho apresentar seus inúmeros e diversos nuances e
registros, contudo são de fácil busca nos meios digitais. Conclui-se aqui
com uma frase do Papa Francisco a termo do radicalismo feminista que
pauta injustamente contra a vida dos nascituros[130], onde “todo feminismo
pode correr o risco de se transformar em um machismo de saia” (EXAME,
2019) ou ainda nas palavras do Papa Bento XVI em sua emeritude[131]:

A ameaça real à Igreja está na ditadura mundial de ideologias aparentemente humanistas,


contradizendo o que fica excluído do consenso social básico [...] o casamento gay e o aborto
[grifo nosso] mostram o poder sobrenatural do Anticristo [...] O medo desse poder espiritual
do Anticristo é, portanto, fora do natural, e realmente precisamos da ajuda das orações da
Igreja universal para resistir [...] A verdadeira ameaça para a Igreja e, portanto, para o
ministério petrino não está nessas coisas, mas na ditadura mundial de ideologias
aparentemente humanistas, contradizendo o que é excluído do consenso social básico [...] O
supremo engano religioso é o do Anticristo, um pseudo-messianismo pelo qual o homem
glorifica a si mesmo em vez de Deus e seu Messias. (SEEWALD, Peter, 2021 apud DÍAZ,
2020)
5.4 – A incoerência estatística de abortos no Brasil

“Voltando-se para elas, Jesus disse: ‘Filhas de Jerusalém, não


choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos.
Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não
geraram e os peitos que não amamentaram!’” (Lc 23, 28-29)

Segundo dados publicados pela mídia “O Estado de São Paulo” em


2016, houve somente no Brasil 123.312 internações de mulheres por conta
de abortos provocados e naturais naquele ano[132], sendo assim algumas
instituições internacionais que promovem a descriminalização do aborto
como o Instituto Guttmacher (IPPF) e o IPAS (vide APÊNDICE A),
noticiaram que em nosso país haveria uma média de 1 milhão de abortos
anuais, repercutindo assim em diversos meios de comunicação.
Evidentemente esse volume está aquém de quaisquer hipóteses estatísticas,
uma vez que gira em torno de cinco a seis vezes sobre o total de internações
publicadas pelo SUS, tendo em vista que a inflação provocada desse
indicador sensibilize a população brasileira a incentivar a ampliação da
legalização do aborto no país.
Em apresentação a termo da SUG 15/2014 (sobre “Regular a
interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de
gestação, pelo sistema único de saúde”) ao Senado em 2015[133], a
especialista em saúde coletiva Isabela Mantovani da Comissão de Direitos
Humanos desmistificou tal cálculo dessas instituições com base nos dados
do DataSUS e em pesquisas a respeito do assunto no Brasil, a exemplo do
artigo estatístico publicado por Débora Diniz et al., antropóloga e membro
do ANIS (Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero) em 2010 e do
fundamento estatístico para ações na saúde pública da Doutora Elisabeth
Kidman Cerqueira, médica ginecologista, obstetra e coordenadora nacional
de bioética do “Movimento da Cidadania pela Vida - Brasil sem Aborto”,
entre outras fontes consultadas[134].
A avaliação da especialista Isabela Mantovani é fundamentada sobre
os valores de 2013, ainda maiores que os de 2016, totalizando 206.270
internações hospitalares em decorrência de aborto no Brasil, seja ele
provocado ou espontâneo, segundo o DataSUS. Com base na pesquisa
estatística da Débora Diniz, uma a cada duas mulheres que provocam
aborto precisam de internação no Brasil[135]. Em análise estatística da
Doutora Elisabeth Kidman, de 20% a 25% dos casos de internação
hospitalar por aborto no Brasil são em razão de aborto provocado[136],
levando novamente em conta os números do DataSUS.
Sendo assim, Isabela multiplicou 206.270 (internações por abortos
provocados e espontâneos) x 0,25 (percentual de abortos provocados com
internação), totalizando 51.567 casos, ao multiplicar agora por 2 (somatória
dos casos com e sem internação, dado que a cada dois abortos provocados
há uma internação), se obtém o número final de 103.134 abortamentos
provocados no Brasil em 2013.
Portanto se nota a enorme disparidade entre a avaliação de cálculo com
bases numéricas do próprio DataSUS e o valor apresentado pelos institutos
internacionais de um milhão de abortos em média, sendo que, segundo a
avaliação, a outra parcela de aproximadamente 50% (206.270 deduzido de
103.134) do total das entradas hospitalares corresponderam a abortos
espontâneos registrados em 2013, o que evidencia muitas vezes a falta de
acompanhamento de pré-natal ou de acesso a ele no país, logo não se trata
da legalização do aborto como solução geral do problema.
Isabela Mantovani ainda aborda outro tópico interessante, ela
demonstra também como se dá a falácia de que a descriminalização do
aborto reduz a curva de casos usando como base outros países onde o
procedimento é permitido por lei como Espanha, Estados Unidos, Suécia e
Uruguai.
A exemplo dos Estados Unidos onde a lei Roe vs. Wade foi instaurada
em 1970 – e revogada em 2022, como já abordado neste capítulo –, a
especialista apresenta como os números de aborto publicados pelo Instituto
Guttmacher simplesmente dispararam após a aprovação da lei considerando
em paralelo que o crescimento populacional norte-americano não progrediu
na mesma escala para tal alegação.
Segundo a mesma fonte, em 1970 o número de abortos nos Estados
Unidos foi de 193.491 casos numa população de 205.052.000 habitantes,
sendo que apenas 10 anos após a aprovação da lei, a quantidade de abortos
anuais executados saltou para 1.553.890, um aumento na casa de 626%
numa população que datava 227.225.000 cidadãos em 1980, isto é, um
aumento demográfico de cerca de apenas 10% em relação a década anterior,
considerando homens e mulheres entre adultos e crianças.
Em material divulgado pelo próprio Instituto Guttmacher[137], a
justificativa seria de que as mulheres estariam engravidando mais vezes e
outros fatores como o acesso aos serviços legais de abortamento e a
ineficácia dos contraceptivos – a própria instituição reconhece a
insegurança do método – seriam a causa do aumento dos números (SINGH
et al., 2006, p. 5), o que certamente não explica uma diferença de 1.360.399
abortos anuais, considerando o valor de 1980 subtraído da quantidade
registrada em 1970 numa população que não cresceu exponencialmente
para tal progressão.
Em outro destaque em matéria dessa comparação, Isabela pontua ao
Senado que a densidade demográfica da população brasileira da última
década era equivalente à população norte-americana das décadas de 70 e 80
e como a publicação desses indicadores se alinharam coincidentemente na
casa de um milhão de abortos para cerca de 200 milhões de habitantes,
ainda que a cultura e os fatores entre os países sejam divergentes; o que ao
menos nos apresenta uma tendência na estatística do grupo Guttmacher que
apoia ativamente a legalização do aborto ao redor do mundo.
A especialista ainda apresenta outros dados de suma importância, de
acordo com a pesquisa IBOPE de 2003, 90% da população brasileira era
contra a ampliação das leis ao aborto no país[138], enquanto em 2005 o
IBOPE[139] apontou que a aprovação em favor do aborto caiu de 10% para
3%, já em 2007 segundo a Folha de São Paulo[140], o percentual de rejeição
ao aborto na classe mais baixa da sociedade ultrapassou os 70%, deixando
claro que a população brasileira pende para a reprovação do aborto com o
passar do tempo.
Por fim, Isabela Mantovani ainda demonstra que a mortalidade
materna por aborto não se reduz por via de regra com a sua legalização, a
exemplo do Chile (aprovou a legalidade do aborto em 2022) que diminuiu
de 276 mortes maternas por 100.000 partos em 1960 para em torno de 19 no
mesmo índice em 2000.
Em consideração ao relatório da Organização Mundial da Saúde
(WHO, traduzido de “World Health Organization”) de 2022, reconhecido
por publicar diretrizes especificamente ao tema do aborto no mundo,
constata-se que as associações globais em prol da descriminalização do
aborto como o IPAS, IPPF, Planned Parenthood (vide APÊNDICE A) entre
outras são responsáveis por fundamentar e revisar a publicação da
Organização Mundial a Saúde[141], como se destaca no guia (WHO, 2022,
pp. 7 e 8 e 121 a 125).
Entretanto, um dado importante desse relatório nos chama a atenção,
segundo a WHO, 97% dos “abortos inseguros” (sem auxílio médico ou
clandestinos) ocorrem em países em desenvolvimento ou em grupos de
vulnerabilidade e marginalização (WHO, 2022, p. 20), onde se inclui o
Brasil. Este fator nos leva a outro indicador, segundo matéria do portal G1
em parceria com a agência de imprensa EFE, nos Estados Unidos o perfil
das mulheres onde a gestação incorre em aborto são em sua maioria negras
e hispânicas[142], o que induz automaticamente ao perfil dos nascituros
abortados sendo negros e pobres como uma característica que extrapola o
território norte-americano, uma vez que a própria Organização Mundial da
Saúde aponta tal aspecto generalizado. Por último, esta percepção nos
retoma ainda para o alerta ao risco da eugenia social e racial provocada
também pelo controle artificial e genético dito sobretudo pelos papas Paulo
VI (Humanae Vitae) e João Paulo II (Evangelium Vitae).
5.5 – Clínicas de aborto e a indústria da morte

Nos países onde a legalização do aborto tem maior espaço jurídico e


menor rigor penal, a presença de clínicas de aborto privadas que atuam com
serviço legal é massiva, nos Estados Unidos, por exemplo, ao qual a lei Roe
Vs Wade vigorou por 50 anos, se registravam 79 clínicas de aborto
espalhadas pelo território até 2022. Após a restrição ocorrida em 2020, foi
avaliado que o serviço cairia de 79 para 13 clínicas ativas, no entanto, 40
delas que haviam suspendido o procedimento abortivo permanecem
funcionando com outros serviços, enquanto outras 26 fecharam as
portas[143].
Ainda que o encerramento das operações das clínicas sejam um
enorme avanço, o problema está bem longe de ser resolvido pelos norte-
americanos. A quantidade de abortos clandestinos ainda é uma real
alternativa para quem opta por este infeliz destino dos pequenos seres
indefesos. O número de casos feitos na clandestinidade é impossível de ser
estimado, assim como para o cálculo real dos processos legais também é
necessário ser reavaliado com maior lucidez, como apresentamos
previamente neste trabalho em função do cenário brasileiro, devido a
manipulação midiática a cargo de fundações interessadas em lucrar com o
processo.
Em reportagem do veículo de imprensa BBC em 2018, uma clínica
legal de aborto chamada “Hope Medical Group” possuía filas de espera
para a realização da “interrupção da gravidez”[144]. Ao se deparar com a
quantidade de mães aguardando para entrar na “sala de relaxamento”, a
qual as mulheres estão prestes a abortar de modo provocado, a
administradora da clínica, Kathaleen Pittman, comenta com a repórter:
“Achou lotado? Espere para ver como são os sábados" (PERASSO, 2018).
A responsável pela clínica diz não ter nenhum peso na consciência pela sua
atuação, segundo ela, somente no estado da Lousiana onde o
estabelecimento está presente, mais de 10 mil mulheres procuram o serviço
abortivo, o que não pode ser necessariamente comprovado de fato.
Uma paciente da clínica identificada por Lucy relata o custo do
serviço, US$550 (cerca de R$ 2.800). O valor da vida humana cotado pela
clínica poderia ser reduzido a zero caso fosse oriundo de estupro, incesto ou
risco de vida da mãe segundo a lei em Lousiana. Pela metodologia
obrigatória, Lucy (grávida de oito semanas) passa por exames de
ultrassonografia e assina os termos legais aos 21 anos, após uma sessão de
“aconselhamento” prevista em lei. Por fim, ocorre a agenda... “’Terça?
Tudo bem’ – ela diz – ‘Quarta-feira é meu dia de folga, então poderei
descansar’” (PERASSO, 2018).
Entre os anos de 2013 e 2015, segundo levantamento do governo
americano, a fundação Planned Parenthood – a maior rede de abortos no
mundo com sede nos Estados Unidos e com diversos braços internacionais
– recebeu US$ 1,5 bilhões (aproximadamente R$ 7,6 bilhões) de repasses
em impostos federais e estaduais como fundos para a saúde[145]. Um
enorme escândalo sobre a Planned Parenthood ocorreu em 2015, a partir de
uma câmera oculta gravada por um ator e divulgado pelo “Center for
Medical Progress” (CMP), a diretora principal de serviços médicos da
Planned Parenthood, doutora Deborah Nucatola, revela em uma conversa
privada num restaurante que a clínica comercializa os tecidos fetais dos
abortos realizados e que o valor gira em torno de US$ 30 a US$ 100
dependendo da unidade do órgão extraído, o que é proibido em lei[146]. Os
valores dessas taxações, segundo Deborah, são para manutenção, transporte
e envio do material fetal. A médica ainda afirma ao ator (ao qual se passa
como pessoa interessada na compra desses órgãos) que a clínica vende
tecidos de fetos pós-parto e cadáveres, incluindo os fígados fetais e suas
células-tronco.
Deborah diz não saber a finalidade pela qual os órgãos são comprados,
ainda assim, no formulário de compra – também vazado – o comprador
pode selecionar diversas opções como origem do material, sendo possível
optar entre “feto” ou “cadáver”; bem como o órgão desejado, onde na
exemplificação é exibida a escolha do coração: veias e artérias incluídas,
assim detalha o formulário; além da quantidade, o período gestado
(quantidade de semanas do feto) e a forma com prazo de entrega.
Durante a conversa, Deborah Nucatola detalha o procedimento prático
adotado pela clínica, relatando que no ato cirúrgico do aborto existem dois
métodos, um para quando a cabeça está voltada para o canal vaginal e outro
para quando estão os pés do nascituro. Ela complementa que a parte mais
difícil se encontra na retirada do crânio (“calvarium”), regularmente
destroçado no processo, porém a médica comenta ainda que as demais
partes além da cabeça são suficientemente preservadas no método de
remoção por conta da média de dilatação do útero das mulheres e que,
portanto, não são repartidas para facilitar o comércio; este modo é
conhecido como “partial-birth”, no qual o bebê é retirado do útero com
exceção da cabeça para não corromper os demais órgãos e em seguida é
degolado. Em um trecho do diálogo, Deborah diz:

[...] nós temos sido muito bons em coletar coração, pulmão, fígado, porque nós conhecemos
isso, eu não vou cortar aquela parte, eu vou basicamente cortar em baixo, eu vou cortar em
cima e vou ver se consigo pegá-lo intacto [...] (THE CENTER FOR MEDICAL PROGRESS,
2015. Tradução livre)

No vídeo a doutora ainda cita uma outra empresa chamada


StemExpress, um laboratório da Califórnia, como a maior fornecedora de
sangue materno e fetal do mundo. No Estados Unidos a investigação de
material fetal é permitida por universidades que atuam diretamente em
parceria com as clínicas de aborto, segundo reportagem do portal O Globo,
o Instituto Nacional de Saúde norte-americano gastou US$ 76 milhões em
2014 em pesquisas com material extraído de abortos (O GLOBO, 2015)
[147]. Vale acrescentar que no Catecismo da Igreja Católica é fixado que a
pesquisa científica de corpos humanos é limitada aos critérios fundamentais
da moralidade (cf. §2294), sem ferir a dignidade das pessoas (cf. §2295) e
para fins de investigação da morte (cf. §2301), o que obviamente não se
assemelha a nenhum dos critérios no caso do aborto e da comercialização
de tecidos fetais.
Ao final da gravação o ator aparece em breve conversa com a
Presidente da Planned Parenthood, Cecile Richards (uma ativista renomada
no movimento feminista)[148], também com câmera escondida, onde ele se
identifica como coletor de tecido fetal e a agradece – ironicamente – pela
doutora Deborah Nucatola e pela existência da clínica, sendo respondido
por “ela [Deborah] é ótima!” (THE CENTER FOR MEDICAL
PROGRESS, 2015. Tradução livre) acrescido de múltiplos agradecimentos.
5.6 – Grupos pró-vida e a resistência social e científica em favor dos
nascituros

“Livra os que foram entregues à morte, salva os que cambaleiam


indo para o massacre. Se disseres: ‘Mas, não o sabia!’. Aquele que pesa
os corações não o verá? Aquele que vigia tua alma não o saberá? E não
retribuirá a cada qual segundo seu procedimento?” (Pr 24, 11-12)

Diversas associações eclesiásticas e de fiéis leigos da Igreja Católica


entre outros grupos em defesa da vida atuam na contramão das múltiplas e
incontáveis correntes que dia após dia conseguem minar o direito dos
nascituros através da cultura e por fim pela legislação dos países como visto
ao longo deste trabalho.
A própria Igreja possui uma organização internacional para a defesa da
vida e da família que atua diretamente no combate frente ao aborto ao redor
do planeta, a “Human Life International” (HLI)[149]. A fundação surgida em
1981 através de um padre beneditino (OSB) chamado Paul Marx atua nos
mais variados meios de comunicação e práticos da sociedade para propagar
os ideais pró-vida e denunciar as consequências morais do uso de
contraceptivos e principalmente do aborto no seio de uma população.
Em 1997 um braço da HLI foi fundado nos Estados Unidos, o “Center
for Family and Human Rights” (C-Fam)[150] é uma organização sem fins
lucrativos dedicada em atuar com meios políticos e de ativismo quanto aos
direitos fundamentais dos nascituros e de outras pautas essencialmente
cristãs no âmbito social tanto no território norte-americano como em outras
comunidades internacionais.
Paul Marx, fundador da HLI também é criador da associação
“Population Research Institute” (PRI)[151], erigida em 1989 e hoje presente
em mais de 80 países contra as pautas que promovem o aborto e atacam o
papel da família. O padre da ordem de São Bento iniciou seu trabalho a
partir do “Human Life Center” (“Centro da vida humana”, tradução livre)
em 1972 na Universidade St. John’s na cidade de Collegeville, Minnessota.
Falecido em 2010, e autor de diversos livros sobre a causa, Paul Marx foi
chamado de “O apóstolo da vida” por São João Paulo II, além de ter sido
declarado como principal inimigo da “International Planned Parenthood
Federation” (IPPF)[152] – o organismo internacional do maior centro
abortivo no mundo, previamente detalhado nesta obra a exemplo do
perplexo caso de venda de tecidos fetais.
Bernard Nathanson, o (ex-)médico abortista mais famoso dos Estados
Unidos e um dos mais reconhecidos no mundo é autor de uma incrível
história de conversão, o doutor que atuou em clínicas legais e clandestinas
de aborto no seu país natal, saiu de uma profundíssima realidade em prol do
aborto para o ativismo pró-vida, onde segundo ele, encontrou o Evangelho
vivo. Nathanson relata ter realizado cerca de 75 mil abortos a partir do final
da década de 1960 até a década de 1980 (sendo reconhecido como o “rei do
aborto”), contando a eliminação nascitura de filhos de desconhecidos, de
amigos próximos e até do seu próprio filho.
O doutor Nathanson, fundador da “Liga de Ação Nacional pelo Direito
ao Aborto” em 1969 nos Estados Unidos, a qual tinha em vista culpabilizar
a Igreja Católica pelos abortos clandestinos no país, abandonou o
assassinato de nascituros quase vinte anos depois e condenou seu bisturi da
morte pela primeira vez em nome da fé em dezembro de 1996, quando no
dia da Solenidade da Imaculada Conceição (o dogma que clarificou os
rumos da concepção da vida na teologia católica) recebeu o Batismo das
mãos do Cardeal O’Connor na Catedral de São Patrício em Nova York e se
apaixonou por Cristo e pelo direito à vida após anos de uma preparada
conversão[153].
Autor do notório documentário “The silent scream”[154] (“O grito
silencioso” em português), no qual o médico detalha via imagens de
ultrassonografia o crudelíssimo procedimento abortivo, muito similar a
descrição de Deborah Nucatola da Planned Parenthood citada
anteriormente, Bernard Nathanson relata também em sua obra “Aborting
America” (“América que aborta”, tradução livre) que as estatísticas sobre o
aborto eram propositalmente inflacionadas para manter a legalidade:

Eu confesso que sabia que os números eram totalmente falsos e suponho que os outros, se
parassem para pensar sobre isso, também sabiam. Mas, na moralidade da nossa revolução,
eram números úteis, amplamente aceitos, então por que não usá-los da nossa forma, por que
corrigi-los com estatísticas honestas? A principal preocupação era eliminar as leis [contra o
aborto] e qualquer coisa que pudesse ser feita para isso era permitida. (NATHANSON,
Bernard, 1979. Aborting America, p. 193 apud COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS,
2015, p. 7)(130)
No Brasil há muitos grupos que atuam diretamente na causa pró-vida,
por exemplo, o “Movimento Nacional pela Cidadania da Vida – Brasil sem
aborto”[155] reconhecido no meio católico através da “Marcha pela vida”.
Uma lista de associações em favor da vida e particularmente contra o aborto
pode ser conferida no APÊNDICE B deste e-book.
Um ponto unânime que é debate entre as comunidades “pró-vida”
(defendem a vida do nascituro desde a sua concepção), “pró-escolha”
(variam entre o início da concepção da vida, mas colocam a decisão de
abortar como opção da gestante) e “pró-aborto” (defendem que a vida tem
início determinadamente tardio na gestação e promovem o aborto para
quaisquer casos de gravidez indesejada) é a termo do exato início da vida na
gestação.
Como apresentado nesta obra, a Igreja defende integralmente o início
da vida no ato da fecundação do óvulo ao contrário de diversas
comunidades pró-escolha e pró-aborto. A definição da Igreja não é
embasada somente em conclusões teológicas, mas também científicas. O
biólogo Steven Jacobs da Universidade de Chigago nos Estados Unidos
apresentou em 2018 um artigo de pesquisa ao qual ele entrevistou 5.502
biólogos de 1.058 instituições acadêmicas diferentes[156], sendo que 63%
não eram religiosos, 85% eram pró-escolha e 95% tinham ao menos um
doutorado em sua escolaridade.
Jacobs questionou os biólogos entrevistados com três afirmações e
pediu para que cada um apontasse se concordava ou discordava das
seguintes frases:

1. Afirmação implícita A: O produto final da fertilização dos mamíferos é um óvulo


fertilizado (“zigoto”), um novo organismo mamífero no primeiro estágio do ciclo de
vida de sua espécie com o genoma de sua espécie.
2. Afirmação implícita B: O desenvolvimento de um mamífero começa com a fertilização,
um processo pelo qual o espermatozoide do macho e o ovócito da fêmea se unem para
dar origem a um novo organismo, o zigoto.
3. Declaração explícita: Na biologia do desenvolvimento, a fertilização marca o início da
vida de um ser humano, pois esse processo produz um organismo com um genoma
humano que começou a se desenvolver no primeiro estágio do ciclo de vida humano.
(JACOBS, Steven, 2018 apud SNYDER, Monica, 2020)
O resultado apresentado pela pesquisa é surpreendentemente pró-vida,
sendo que 91% dos biólogos disseram que a “Afirmação A” está correta e
88% confirmaram que a “Afirmação B” também é verdadeira. Na
declaração explícita (3), 71% dos pesquisados concordaram com a frase.
Steven Jacobs fez ainda um outro levantamento sobre a posição
política a termo do exato início da vida a partir das seguintes classificações:
fertilização (fecundação do óvulo), pré-viabilidade (quando o zigoto se
implanta no útero), viabilidade (início das funções cardíacas, cerebrais,
etc.), e apenas no nascimento. Nesse contexto o pesquisador identificou um
ponto bastante positivo e interessante, de 60% a 70% dos biólogos que se
consideram “pró-escolha” ou totalmente “pró-escolha” reconheceram que a
vida começa na fecundação do óvulo, isto é, desde a concepção.
A disparidade popular a trato do início da vida para a comunidade
“pró-escolha” não se refletiu na pesquisa científica de Jacobs, embora
muitos dos membros desse grupo ao redor do mundo se intitulem como
“cristãos” (católicos ou protestantes), esta opção flexível ao aborto não
coaduna com a moralidade cristã, assim assinala o Papa Francisco na
exortação apostólica Gaudete et Exultate[157]:

A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste
caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a
pessoa, independentemente do seu desenvolvimento [...] Alguns católicos afirmam que é um
tema secundário relativamente aos temas “sérios” da bioética. Que fale assim um político
preocupado com os seus sucessos, talvez se possa chegar a compreender; mas não um cristão,
cuja única atitude condigna é colocar-se na pele do irmão que arrisca a vida para dar um futuro
aos seus filhos. (FRANCISCO, 2018. Gaudete et Exultate, n. 101 e 102)

A origem da vida desde a concepção é um tema que aparece também


na obra “Practical Ethics” de Peter Singer[158], um filósofo australiano
reconhecido mundialmente por seu notório posicionamento a favor do
aborto, como vemos nos seguintes termos:

A questão de saber se um ser pertence a determinada espécie pode ser cientificamente


determinada por meio de um estudo da natureza dos cromossomos das células dos organismos
vivos. Neste sentido, não há dúvida de que, desde os primeiros momentos da sua existência,
um embrião concebido a partir de esperma e óvulo humanos é um ser humano; e o mesmo é
verdade do ser humano com a mais profunda e irreparável deficiência mental – até mesmo de
um bebê anencefálico (literalmente sem cérebro) (SINGER, Peter, 1993, pp. 85 e 86. Tradução
livre).
CAPÍTULO 6 | CONCLUSÃO

O direito à vida é, sem dúvida, o fruto da vontade divina para o


mundo das criaturas. Só a vida é capaz de contemplar a Deus e as
maravilhas da obra da criação, a atitude de privá-la de modo político – no
sentido organizacional da sociedade – vai nitidamente contra a lei natural
que age propriamente nos ciclos vitais do mundo.
A seleção e o descarte natural de nascituros avançam ao redor do
planeta sob novos nuances e injustiças que forjam a cultura popular de
modo que as pessoas não tomem consciência dos inúmeros desdobramentos
que o aborto e práxis semelhantes venham a causar social e espiritualmente
no seio da humanidade, principalmente nos dias atuais, onde o homem se
rende sem grandes esforços a ideologias laicas que têm por último interesse
“expulsar a Deus” e declarar-se autossuficiente.
A Igreja, ao lado da razão, alerta o mundo sobre o direito inviolável da
vida desde a sua concepção, a separação biológica, civil, psicológica e
espiritual de dois corpos na gestação não pode ser diminuta à definição
religiosa, mas antes, promovida ao direito universal de todo ser humano,
que recebeu exclusivamente o dom de ser imagem e semelhança de Deus
(cf. Gn 1, 26) independente de cor, sexo, condição social ou crença.
A medicina, prestigiada de incalculável memória, não pode se deixar
enveredar pela cultura da morte, pois assim assinala o livro do Eclesiástico
sobre tamanha incumbência: “Honra o médico por causa da necessidade,
pois foi o Altíssimo quem o criou. Toda a medicina provém de Deus, e ele
recebe presentes do rei: a ciência do médico o eleva em honra; ele é
admirado na presença dos grandes. O Senhor fez a terra produzir os
medicamentos: o homem sensato não os despreza. O Altíssimo deu-lhes a
ciência da medicina para ser honrado em suas maravilhas; e dela se serve
para acalmar as dores e curá-las; o farmacêutico faz misturas agradáveis,
compõe unguentos úteis à saúde, e seu trabalho não terminará, até que a
paz divina se estenda sobre a face da terra. Meu filho, se estiveres doente
não te descuides de ti, mas ora ao Senhor, que te curará” (Eclo 38, 1-4.6-
7).
Enquanto a humanidade parece acorrer apressadamente para velhos
hábitos obscuros de civilizações passadas sob a incoerente batuta do
progressismo, o valor da vida é posto de lado, não apenas dos nascituros,
mas também dos deficientes, idosos e doentes que não servem às novas
normas universais de constante e radical eficiência, sujeitas a plenitude da
saúde e da juventude – ou do vigor físico-mental – como marcos
aparentemente únicos do valor da vida.
Cristo nos chama e bate à nossa porta (cf. Ap 3, 20), a adesão incondicional
ao Deus Vivo do qual somos também filhos adotivos a partir do Unigênito e
predestinados a resplandecer a sua graça (cf. Ef 1, 5-6) é a resposta para o
mundo sedento de eternidade, mas que pela cegueira do poder da morte e
das adversidades cotidianas, busca-a de modo sangrento e impiedoso a
partir das falsas aparências causadas pela sua própria egolatria[159],
esquecendo-se de que a única realeza e poder sobre a vida encontra-se no
próprio Deus (cf. Mc 14, 62) que habita nos corações dos homens que
fazem a Sua Vontade (cf. Lc 2, 14) e que por meio dela nenhum deles seja
perdido (cf. Jo 6, 39).
Atentos à voz do Senhor como o profeta Samuel e dispostos a também dizer
repetidamente: “Eis-me aqui!” (cf. I Sm 3, 1-10), devemos propagar o dom
inegociável e insubstituível da vida por todas as razões expostas neste
sumário trabalho e, por muitas outras, sermos o “sal da terra” – na
humanidade que perdeu o sabor da vida – e a “luz do mundo” (cf. Mt 5, 13-
14) – no vale tenebroso da cultura da morte – diante dos avançados
atentados contra a dignidade e o direito à vida; dos desvios estatísticos que
visam programar a adulteração da realidade; dos projetos e alianças
políticas que minam o valor e o caráter espiritual da vida; do
obscurantismo; da perda do inefável dom maternal – a exemplo de tantas
mulheres biologicamente impedidas de engravidar, como biblicamente
vemos em Isabel, Ana, Raquel e Sara –; e da filiação e patrocínio de
organizações que promovam a relativização completa ou parcial da vida, e
esta, desde a sua concepção.
Unidos ao perene ensinamento da Santa Igreja, sigamos irredutíveis
em favor da vida sob a exortação do Apóstolo: “Quem nos separará do
amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A
nudez? O perigo? A espada?” (Rm 8, 35).
APÊNDICE A – Tabela de levantamento por amostragem de associações, blogs
e fundações nacionais e internacionais que realizam redes de apoio para
procedimentos abortivos

Zona de
Nome Website
atuação
Aborcyjny
Polônia https://aborcyjnydreamteam.pl/
Dream Team
Abortion Care Estados
https://abortioncarenetwork.org/
Network Unidos
Abortion Funds Internacional https://abortionfunds.org/
Abortion
Network Holanda https://abortionnetwork.amsterdam/
Amsterdam
Abortion
Support Reino Unido https://www.asn.org.uk/
Network
Abortion
Without Internacional https://abortion.eu/
Borders
Agrupación
El Salvador https://agrupacionciudadana.org/
Ciudadana
AMB -
Articulação de https://ambfeminista.org.br/lutas/legalizacao-do-
Brasil
Mulheres aborto/
Brasileiras
ASAP - Asia
Safe Abortion Ásia https://asap-asia.org/
Partnership
BPAS Reino Unido https://www.bpas.org/
Bureau of Japão https://kyokuhp.ncgm.go.jp/eng/about/index.html
International
Health
Cooperation
Japan
Catholics for Estados
https://www.catholicsforchoice.org/
Choice Unidos
Católicas pelo
Direito de Brasil https://catolicas.org.br/
Decidir
Center for
Reproductive Internacional https://reproductiverights.org/
Rights
América
CLACAI https://clacai.org/
Latina
Cochrane
Fertility Internacional https://fertility-regulation.cochrane.org/
Regulation
Coletivo
Feminista
Brasil https://www.mulheres.org.br/
Sexualidade e
Saúde
EngenderHealth África https://www.engenderhealth.org/
Europe
Abortion Europa https://europeabortionaccessproject.org/
Access Project
FEDERA Polônia https://federa.org.pl/
Fondo Maria México https://www.fondomaria.org/
GIWYN -
Generation
Initiative for Nigéria https://giwyn.org/
Women and
Youth Network
Guttmacher
Internacional https://www.guttmacher.org/
Institute
Gynuity Internacional https://gynuity.org/
HERA - Health Macedônia https://hera.org.mk/shto-rabotime/reproduktivna-
Education and sloboda/?lang=en
Research
Association
INROADS –
International
Network for the
Reduction of Internacional https://www.makeinroads.org/
Abort
Discrimination
and Stigma
International
Campaign for
Women’s Right Internacional https://www.safeabortionwomensright.org/
to Safe
Abortion
IPAS Internacional https://www.ipas.org/
IPPF -
International
Planned Internacional https://www.ippf.org/
Parenthood
Federation
Kobiety w Sieci Polônia https://www.maszwybor.net/
La Mesa Colômbia https://despenalizaciondelaborto.org.co/
Liberate Estados
https://www.liberateabortion.org/
Abortion Unidos
MSF –
Médecins Sans Internacional https://www.msf.org/safe-abortion-care-depth
Frontières
Milhas pela
vida das Brasil https://www.milhaspelavidadasmulheres.com.br
mulheres
MSI Choices Reino Unido https://www.msichoices.org.uk/
MYSU – Mujer
Y Salud en Uruguai https://www.mysu.org.uy/web/
Uruguay
NARAL – Pro- Estados
https://www.prochoiceamerica.org/
choice America Unidos
National Estados https://prochoice.org/
Abortion Unidos
Federation
Nem presa nem
Brasil https://nempresanemmorta.bonde.org/
morta
Estados
NIFLA https://nifla.org/
Unidos
OHSU –
Oregon Health Estados
https://www.ohsu.edu/
& Science Unidos
University
Pinsan –
Philipine Safe
Abortion Filipinas https://pinsan.ph/
Advocacy
Network
Planned
Internacional https://www.plannedparenthood.org/
Parenthood
Population
Internacional https://popcouncil.org/
Council
América
Red Compañera https://redcompafeminista.org
Latina
Red necesito
México https://www.necesitoabortar.mx/
abortar
Red por
derecho a Chile https://redporderechoadecidir.cl/
decidir
Red Salud
Argentina http://redsaluddecidir.org/
Decidir
REEDAS – Red
de acceso al Argentina https://www.redaas.org.ar/
aborto seguro
Rede Feminista
Brasil https://www.redesaude.org.br/
de Saúde
Rede Médica Brasil https://globaldoctorsforchoice.org/brazil/
pelo Direito de
Decidir
Safe2Choose Internacional https://safe2choose.org/pt/safe-abortion/
Sea Change Internacional http://www.seachangeprogram.org/
September 28 Internacional http://www.september28.org/
She Decides Internacional https://www.shedecides.com/about-us/
Socorristas en
Red (feministas
y Argentina https://socorristasenred.org/
transfeministas
que abortamos)
SRJC – Sexual
Reprodutive África do
https://srjc.org.za/
Justice Sul
Coalition
United Nations
University’s
International Internacional https://iigh.unu.edu/
Institute for
Global Health
Estados
URGE https://urge.org/
Unidos
Vipasyin Índia https://vipasyin. io/
Youth Coalition Internacional https://www.youthcoalition.org/
Women Help
Internacional https://womenhelp.org/pt/
Women
APÊNDICE B – Tabela de levantamento por amostragem de associações, blogs
e fundações nacionais e internacionais que apoiam ativamente as causas pró-
vida na sociedade e no acompanhamento de gestantes

Zona de
Nome Website
atuação
ABC
Brasil https://www.prodein.org.br/
PRODEIN
ADEVIDA Espanha https://adevida.com/
ALL –
Estados
American https://www.all.org/
Unidos
Life League
Anglicans for Estados
https://anglicansforlife.org/
Life Unidos
Associación
Cántabria Espanha https://providacantabria.es/
Provida
Associação
Brasil https://associacaoguadalupe.org.br/
Guadalupe
Associação
Nacional Pró-
Brasil https://www.providafamilia.org.br/
Vida e Pró-
Família
Associação
Santa Gianna Brasil http://www.associacaosantagianna.org.br/
Beretta
Associação
Santos Brasil https://santosinocentes.org.br/
Inocentes
Ayuvi Espanha https://www.ayuvi.net/
Brasil sem
Brasil https://www.brasilsemaborto.org/
aborto
Brazil4Life Brasil https://brazil4life.org/pb/
Campaign
Canadá https://www.campaignlifecoalition.com/
Life Coalition
Casa da
gestante pró- Brasil https://www.casadagestanteprovida.com/
vida
Casa Luz Brasil https://casaluz.org.br/
Casa pró-vida
Mãe Brasil https://casaprovidami.com.br/
Imaculada
Center for
Family and
Internacional https://c-fam.org/
Human
Rights
Center for
Estados
Medical https://www.centerformedicalprogress.org/
Unidos
Progress
Centro di
Itália https://www.centrodiaiutoallavita.it/
aiuto alla vita
CERVI Brasil https://cervi.org.br/
Chile es Vida Chile https://www.chileesvida.cl/
Estados
Choice42 https://www.choice42.com/
Unidos
CIDEVIDA Internacional https://cidevida.org/index.html
Civil Rights África e
for the Estados https://www.civilrightsfortheunborn.org/index.aspx
Unborn Unidos
Comité
Nacional México https://provida.org.mx/
Provida
Deacons for Estados
https://www.deaconsforlife.org/
Life Unidos
Droit de
França https://droitdenaitre.org/
Naître
End the
Canadá https://www.endthekilling.ca/
killing
Enfoque a la Internacional https://www.enfoquealafamilia.com/pro-vida/
Familia
Federación
Española de
Espanha https://provida.es/feapv/
Associaciones
Provida
Focus on the Estados
https://www.focusonthefamily.com/pro-life/
Family Unidos
Gospel of
Internacional https://gospeloflife.com/index.aspx
Life
Gravida Argentina https://gravida.org.ar/
Human Life
Internacional https://www.hli.org/
International
La Luz de la
Espanha https://laluzdelavida.com/
Vida
Estados
Laura Klassen https://www.facebook.com/SaveTinyHumans/
Unidos
London
against Canadá https://londonagainstabortion.wordpress.com/
abortion
Loves will
Virtual https://lovewillendabortion.com/
end abortion
March for
Internacional https://marchforlife.org/
Life
María Ayuda Espanha http://www.mariaayuda.es/
Missão Fiat Brasil http://missaofiat.com.br/
MOVIDA Brasil http://www.movida.org.br/
Movimento
em Defesa da Brasil http://www.defesadavida.com/home.php
Vida
Movimento
Itália https://www.mpv.org/
Per La Vita
Movimiento
Pro Familia Internacional http://www.movimientoprofamilia.com/
Pro Vida
National Estados https://www.nrlc.org/
Right to Life Unidos
Niagara Right
Canadá https://niagararegionrighttolife.ca/
to Life
Operation Estados
https://www.operationsaveamerica.org/
Save America Unidos
Estados
Personhood https://personhood.org/
Unidos
PNCI Internacional http://www.pncius.org/index.aspx
Population
Research Internacional https://www.pop.org/
Institute
Priests for
Internacional https://www.priestsforlife.org/
Life
Pro-life
Estados
Action https://prolifeaction.org/
Unidos
League
Pro-Life Flag Internacional https://www.prolifeflag.com/
Provida
Espanha https://www.providagipuzkoa.com/
Gipuzkoa
Provida Lugo Espanha http://www.providavlugo.org/
Provida –
Espanha http://www.provida-sevilla.com/
Sevilla
Provive Venezuela https://provive.today/
Provida
Espanha https://provida.es/valencia/
Valencia
Pró-vida de
Brasil https://providaanapolis.org.br/
Anápolis
Pró-vida -
Integração Internacional https://www.provida.net/pt/home-pt/
Cósmica
Proyecto
Espanha https://proyectomater.com/
Mater
Rachel’s
Internacional https://www.rachelsvineyard.org/
Vineyard
Red Madre Espanha https://www.redmadre.es/
Rede Pró-
Brasil https://redeprovida.com/
Vida
Revista Vida América
http://revistafamiliayvida.blogspot.com/
y Familia Latina
Save8th Irlanda https://www.save8.ie/
Secular Pro- Estados
https://secularprolife.org/
Life Unidos
Servizio
Accoglienza Itália https://www.sav100.it/
Alla Vita
Si a la vida Espanha https://sialavida.es/
Silent No
More Internacional https://www.silentnomoreawareness.org/
Awareness
Students for
Internacional https://studentsforlife.org/
Life
Estados
SBA Pro-Life https://sbaprolife.org/
Unidos
Thomas More Estados
https://thomasmoresociety.org/
Society Unidos
Toda la Vida Porto Rico https://www.todalavidapr.com/
Toronto
Against Canadá https://www.torontoagainstabortion.org/
Abortion
Torrent Si ala
Espanha http://www.torrentsialavida.com/
Vida
Universitari
Itália https://universitariperlavita.org/
per la vita
Vida en
Colômbia https://www.vidaenmisericordia.org/
Misericordia
40 days for
Internacional https://www.40daysforlife.com/en/
life
40 dias por la
Internacional https://40diasporlavida.online/
vida
[1] FRANCISCO. Euronews (en español). Papa Francisco: "El aborto es un homicidio" y quien lo
practica "mata". YouTube: set. 2021. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=YEuVLDimp7I>. Acesso 23 jan. 2023.
[2]² BENTO XVI. Introdução ao Espírito da Liturgia, p. 56 ss. Editora Loyola – 4. ed. São Paulo/SP:
2015.
[3] BENTO XVI. Jesus de Nazaré: do batismo no Jordão à transfiguração / Joseph Ratzinger; tradução
José Jacinto Ferreira de Farias. p. 246 ss. Planeta – 2. ed. São Paulo/SP: 2016.
[4] SANTA SÉ. Concílio Vaticano II. Constituição Apostólica Dei Verbum sobre a Revelação Divina,
n.10. Roma: 18 nov. 1965. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-
verbum_po.html>. Acesso 04 abr. 2023.
[5] AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. O que é a Mansão dos mortos na Bíblia? Será o Purgatório?
16 nov. 2022. Disponível em: <https://cleofas.com.br/o-que-e-a-mansao-dos-mortos-na-biblia-sera-o-
purgatorio/>. Acesso 23 jan. 2023.
[6] PAULO VI. Encíclica Humanae Vitae. Roma: 25 jul. 1968. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/paul-vi/pt/encyclicals/documents/hf_p-vi_enc_25071968_humanae-
vitae.html>. Acesso 12 fev. 2023.
[7] JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Mulieris Dignitatem, n. 13. Roma: 15 ago. 1988. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/john-paul ii/pt/apost_letters/1988/documents/hf_jp-
ii_apl_19880815_mulieris dignitatem.html>. Acesso 12 fev. 2023.
[8] PIO XI. Encíclica Casti Connubii, n. 18. Roma: 31 dez. 1930. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/pius-xi/en/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19301231_casti-
connubii.html>. Acesso 12 fev. 2023.

[9] _______. Encíclica Divinis Redemptoris, n. 11. Roma: 19 mar. 1937. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/pius-xi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_19370319_divini-
redemptoris.html>. Acesso 12 fev. 2023.
[10] SANTA SÉ. Acta Apostolicae Sedis. AAS 43 [1951], pp. 838 a 839. Typis Polyglottis Vaticanis –
Série II – Vol. XVIII: 1951. Disponível em: <https://www.vatican.va/archive/aas/documents/AAS-43-1951-
ocr.pdf>. Acesso 04 abr. 2023.
[11] JOÃO XXIII. Encíclica Mater et Magistra, n. 193. Roma: 15 mai. 1961. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-
xxiii_enc_15051961_mater.html>. Acesso 14 fev. 2023.

[12] PAULO VI. Constituição Pastoral Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo atual, n. 51. Roma:
07 dez. 1965. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-
ii_const_19651207_gaudium-et-spes_po.html>. Acesso 14 fev. 2023.

[13] ______. Discurso de Paulo VI aos participantes do XXIII Congresso Nacional da União dos
Juristas Católicos Italianos. Roma: 09 dez. 1972. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/paul-
vi/it/speeches/1972/december/documents/hf_p-vi_spe_19721209_giuristi-cattolici.html>. Acesso 14 fev.
2023.
[14] JOÃO PAULO II. Encíclica Evangelium Vitae. Roma: 25 mar. 1995. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jp-
ii_enc_25031995_evangelium-vitae.html#_ftnref65>. Acesso 15 fev. 2023.
[15] SISTO V. Constitutio Effraenatum, de 1588 (Bullarium Romanum, V, 1, pp. 25-27; Fontes Iuris
Canonici, I, n. 165, pp. 308-311).
[16] AQUINO, Tomás. Suma Teológica, I, q. 78, a. 1 apud ANTROPOLOGIA Tomista.
padrepauloricardo.org. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/aulas/a-antropologia-de-santo-tomas-
de-aquino>. Acesso 16 fev. 2023.

[17] DENZ-SCHÖN., 1184. Cfr. também a Constituição Apostolicae Sedis de PIO IX (Acta Pii IX, V, pp.
55-72; em A.S.S. 5 [1869], pp. 287-312; e em Fontes Iuris Canonici, III, n. 552, pp. 24-31).

[18] AQUINO, Tomás. Suma Teológica, II-II, q. 64, a.8, ad2.


[19] AQUINO, Tomás. Collationes in decem praecetis, a.7.

[20] Concordantia discordantium canonum, C, 2, q. 5, c. 20.


[21] Cânon 21 (MANSI, 14, p. 909). Cfr. o Concílio de Elvira, cânon 63 (MANSI, 2, p. 16). Cfr. o
Concílio de Ancira, cânon 21 (ibid., p. 519). Cfr. Decreto de Gregório III, respeitante à penitência de
impor àqueles que porventura se tornaram culpados deste crime (MANSI, 12, 292, c. 17).

[22] HARDOUIN. Acta Conciliorum; Paris 1715,t. I, col. 279.

[23] AGOSTINHO DE HIPONA. De nuptiis et concupiscentia, livro 1, capítulo 15, parágrafo 17. P.L. 44,
423-424: CSEL 42, 230. Cfr. o Decreto de Graciano, o. c., C. 32, q. 2, c. 7.

[24] TERTULIANO. Apologeticum, IX, 8; CSEL 69, 24.

[25] ATENÁGORAS. Libellus pro christianis, 35: PG 6, 969.

[26] DIDACHÈ APOSTOLORUM, V, 2; ed. FUNK, Patres Apostolici, 1, 17; A Epístola de Barnabé,
XIX, 5, utiliza as mesmas expressões (ed. FUNK, I. c., I, 91-93).

[27] SANTA SÉ. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Declaração sobre o aborto provocado.
Roma, Santa Sé: 18 nov. 1974. Disponível em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19741118_declar
ation-abortion_po.html>. Acesso 15 fev. 2023.
[28] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Santa Sé: 1992. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>. Acesso 17 fev.
2023.
[29] CATECISMO ROMANO; tradução de Frei Leopoldo Pires Martins, O.F.M. 1. Ed. – São Paulo, SP:
Castela Editorial, 2020.
[30] CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO. Santa Sé: 1983, p. 243. Disponível em:
<https://www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf>. Acesso 18
fev. 2023.
[31] FRANCISCO. Carta Apostólica Misericordia et Misera. n.12. Roma: 20 nov. 2016. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/papa-francesco-lettera-
ap_20161120_misericordia-et-misera.html>. Acesso 17 fev. 2023.
[32] CÓDIGO DE DIREITO CANÔNICO DE 1917. JGray.org. Cânon 2350, parágrafo 1. Disponível
em: <https://www.jgray.org/codes/1917CIC.txt>. Acesso 18 fev. 2023.

[33] O dia em que ganhei um debate sobre o aborto. padrepauloricardo.org, 10 jan. 2022. Disponível
em: <https://padrepauloricardo.org/blog/o-dia-que-ganhei-um-debate-sobre-o-aborto>. Acesso 14 fev.
2023.
[34] JOÃO PAULO II. Santa Sé. Audiência Geral de 30 de Abril de 1980. Roma: 30 abr. 1980.
Disponível em: <https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/audiences/1980/documents/hf_jp-
ii_aud_19800430.html>. Acesso 13 fev. 2023.

[35] ______. Mensagem do Papa João Paulo II ao congresso sobre "Regulação natural da fertilidade
e cultura da vida", n.2. Roma: 30 jan. 2004. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/john-paul-
ii/pt/speeches/2004/january/documents/hf_jp-ii_spe_20040130_conv-fertility.html>. Acesso 13 fev. 2023.
[36] SANTA SÉ. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Instrução Dignitas Personae sobre
algumas questões de bioética, n. 4. Roma: 08 dez. 2008. Disponível em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_20081208_dignit
as-personae_po.html>. Acesso 02 mar. 2023.
[37] JOÃO PAULO II. Santa Sé. Discurso do Papa João Paulo II ao Corpo Diplomático acreditado
junto da Santa Sé no encontro de intercâmbio dos votos de ano novo, n.5. Roma: 10 jan. 2005.
Disponível em: <https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/speeches/2005/january/documents/hf_jp-
ii_spe_20050110_diplomatic-corps.html>. Acesso 02 mar. 2023.
[38] BENTO XVI. Santa Sé. Discurso durante o encontro com os participantes no Congresso
promovido pela Pontifícia Academia para a Vida. Roma: 16 set. 2006. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2006/september/documents/hf_ben-
xvi_spe_20060916_pav.html>. Acesso 02 mar. 2023.
[39] SANTA SÉ. Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Instrução Donum Vitae sobre o respeito
da vida humana nascente e a dignidade da procriação. Roma: 22 fev. 1987. Disponível em:
<https://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respe
ct-for-human-life_po.html>. Acesso 02 mar. 2023.
[40] J. H. ROBINSON. Readings in European History, pp. 72-73. Boston: 1905 apud HALSALL, Paul.
Internet Medieval Source Book. Gelasius I on Spiritual and Temporal Power, 494. Jan. 1996. Disponível
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[41] AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Para entender a Inquisição. 11ª Edição. Lorena: Cléofas,
2019.
[42] PAPA sobre aborto por estupro: É justo pagar matador de aluguel para resolver problemas?
ACI DIGITAL, 01 abr. 2019. Disponível em: <https://www.acidigital.com/noticias/papa-sobre-aborto-por-
estupro-e-justo-pagar-matador-de-aluguel-para-resolver-problemas-45529>. Acesso 19 fev. 2023.
[43] FRANCISCO. Encíclica Evangelium Gaudium, n. 213 e 214. Roma: 24 nov. 2013. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-
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[44]. PAPA altera parágrafo do Catecismo sobre pena de morte. CANÇÃO NOVA NOTÍCIAS, 2 ago.
2018. Disponível em: <https://noticias.cancaonova.com/especiais/pontificado/francisco/papa-altera-
paragrafo-do-catecismo-sobre-pena-de-morte/>. Acesso 08 mar. 2023.

[45] DUARTE, Antônio Augusto Dias. ENTENDA porque a Igreja não muda sua posição sobre o
aborto. CANÇÃO NOVA NOTÍCIAS, 7 out. 2016. Disponível em:
<https://noticias.cancaonova.com/brasil/entenda-porque-a-igreja-nao-muda-sua-posicao-sobre-o-aborto/>.
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[46] SANTA SÉ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. Roma: 2004. Disponível em:
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[47] PIO XII, Discurso “Frente à Família” e à Associação de Famílias Numerosas, 27 nov. 1951 apud
SANTA SÉ. Congregação para a Doutrina da Fé. Esclarecimento sobre o aborto provocado, Roma: 11
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[48] PIO IX. Carta Apostólica Ineffabilis Deus, 8 dez. 1854. ALEXANDRE VII. Constituição
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[49] MARIA cheia de graça ou justa? Apologistas da Fé Católica, 05 fev. 2018. Disponível em:
<https://apologistasdafecatolica.wordpress.com/2018/02/05/maria-cheia-de-graca-ou-justa/>. Acesso 04
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[50] FRANCISCO. Santa Sé. Homilia do Papa Francisco – Celebração do Domingo de Ramos e Paixão
do Senhor, Roma: 02 abr. 2023. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/homilies/2023/documents/20230402-omelia-
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[51] TERESA DE CALCUTÁ, 1994 apud ABORTO: Carta de Madre Teresa. Canção Nova;
Frente Católica de Combate ao Aborto. Disponível em: <https://formacao.cancaonova.com/bioetica/defesa-
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[52] Padre Pio de Pietrelcina, em maio de 1967, no Convento de San Giovanni apud São Pio de Pietrelcina
e o gravíssimo pecado do aborto. Gaudium Press. Disponível em: <https://gaudiumpress.org/content/sao-
pio-de-pietrelcina-e-o-gravissimo-pecado-do-aborto/>. Acesso 05 mar. 2023.

[53] Retirado com adaptações de: E. BONINSEGNA, “Ero ‘curato’, ora sono da ‘curare'”, p. 139,
Verona, Manuscrito profissional: 2019 apud ibidem.
[54] IRENEU. Contra as Heresias. Coleção Patrística. v. IV. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1995.
[55] AQUINO, Tomás. Suma Teológica, II-II, q. 64, a.6, e.

[56] AQUINO, Tomás. Suma Teológica, I-II, q. 93, a. 3, ad 2um.


[57] AGOSTINHO DE HIPONA. De nuptiis et concupiscentia, p. 269: Editorial Católica, Madrid: 1966,
v. 35 apud NOTANDUM, Ano XIII-N. 24, pp. 48 e 49: São Paulo/Porto: 2010. Disponível em:
<http://www.hottopos.com/notand24/Notandum24.pdf>. Acesso 05 mar. 2023.
[58] BASÍLIO MAGNO: Carta 188, cânon II.

[59] SANTA Gianna. Comunidade Shalom. Disponível em: <https://comshalom.org/santa-gianna/>.


Acesso 05 mar. 2023.
[60] EPÍSTOLA de Santo Inácio de Antioquia aos Romanos (9,2) apud BENTO XVI. Santa Sé.
Audiência Geral. Roma: 10 set. 2008. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/benedict-
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[61] JOÃO XXIII. Encíclica Pacem in terris, n. 59. Roma: 11 abr. 1963. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/john-xxiii/pt/encyclicals/documents/hf_j-
xxiii_enc_11041963_pacem.html>. Acesso 08 mar. 2023.
[62] FRANCISCO. Santa Sé. Discurso do Papa Francisco à Delegação do Fórum das Associações
Familiares. Roma: 16 jun. 2018. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2018/june/documents/papa-
francesco_20180616_forum-associazioni-familiari.html>. Acesso 09 mar. 2023.

[63] ______. Audiência Geral. Roma, 11 jan. 2017. Disponível em:


<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2017/documents/papa-
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[64] ______. Conferência de imprensa no vôo de regresso a Roma, 17 fev. 2016. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2016/february/documents/papa-
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[65] ______. Discurso do Papa Francisco à plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina,
28 fev. 2014. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2014/february/documents/papa-
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[66] O que diz o Papa Francisco sobre o aborto? O SÃO PAULO. Disponível em:
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[67] BENTO XVI. Encíclica Caritas in Veritate, n. 28 e 75. Roma: 29 jun. 2009. Disponível em:
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[68] ________. Santa Sé. Entrevista concedida pelo Santo Padre aos jornalistas durante o vôo para o
Brasil. 9 mai. 2007. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/benedict-
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2023.
[69] _______. Santa Sé. Discurso do Papa Bento XVI aos membros da Conferência Espiscopal do
Quênia por ocasião da visita “ad limina apostolorum”. Roma: 19 nov. 2007. Disponível em:
<https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/november/documents/hf_ben-
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[70] _______. Santa Sé. Mensagem de Sua Santidade Bento XVI para a celebração do Dia Mundial da
Paz. Roma: 8 dez. 2006. <https://www.vatican.va/content/benedict-
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[71] Atti del Simposio Internazionale. Anexo II. Cidade do Vaticano: Biblioteca Apostólica Vaticana:
1998. apud AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Para entender a Inquisição. 11ª Edição. Lorena:
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[72] A Igreja cometeu crimes na inquisição contra bruxas, protestantes e cientistas? Não!
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[73] PRIETO, Gabriel. ROMEY, Kristin. Exclusive: Ancient Mass Child Sacrifice May Be World's
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[74] OU o pinheiro de Natal, ou o Thor. padrepauloricardo.org, 23 dez. 2022. Disponível em:
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[76] ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Federal Bureau Investigation (FBI). NCIC Missing Person and
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n+your+search+to+other+FBI+sites%2C+select+a+subdomain+listed+under+%E2%80%9CSource.%E2%
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[77] COMPLETE interview with Abigail Seidman – abortion and the occult, LifeSiteNews, 13 dez.
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[78] MARCOTTE, Amanda. Slate. Satanists Claim Abortion Waiting Periods Violate Their Religious
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[79] BRASIL. Ministério da Saúde. Bilbioteca Virtual em Saúde. A legislação sobre o Aborto nos Países
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[80] CARDOSO, Jessica. GUIMARÃES, Luisa. O Poder 360. Aborto é legal ou descriminalizado em 6
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[81] CORTE IDH conclui histórica audiência sobre aborto contra El Salvador. UOL Notícias, 23 mar.
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[82] HONDURAS aprova uso de pílula do dia seguinte. idem, 09 mar. 2023. Disponível em:
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[83] WELLS, Christopher. US Bishops welcome Supreme Court decision overturning Roe v Wade.
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[84] ESTADO dos EUA garante direito ao aborto após fim de Roe v. Wade. Exame, 6 jan. 2023.
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[85] SNEED, Tierney; VOGUE, Adriene de. Suprema Corte dos EUA mantém acesso a pílula abortiva
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[86] UNIÃO EUROPEIA. Parlamento Europeu. Resolução do Parlamento Europeu, de 7 de


julho de 2022, sobre a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos de revogar o direito ao
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[87] DIEHN, Sonya Angelica. Direito ao aborto tem avançado na Europa, mas há exceções. DW, 25
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[88] CBS apud ISLÂNDIA aborta 100% dos bebês diagnosticados com síndrome Down. Aleteia, 19
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[89] FILHO, José Ferreira. Na Hungria, governo cria norma para demover grávidas de abortar. O
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[90] JESUS Cristo é entronizado como Rei da Polônia, padrepauloricardo.org, 24 nov. 2016. Disponível
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[91] A Igreja na Hungria. Vatican News, 11 set. 2021. Disponível em:
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[92] DÍAZ, Ary Valdir Ramos. Papa Francisco condena ideologia de gênero e “insensato direito ao
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[93] A Igreja Católica em Malta. idem, 2 abr. 2022. Disponível em:
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[94] COLLET, Andressa. Papa pede reação diante do inverno demográfico na Itália: precisamos de
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[95] CASCAIS, António. A África está se tornando mais liberal em relação ao aborto?. DW, 17 jul.
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[96] O que diz o Islam sobre o aborto?. Iqara Islam, 9 jun. 022. Disponível em:
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[97] CENTER FOR REPRODUCTIVE RIGHTS apud ALVES, Rafael [infográfico] et al. ,Conheça as leis
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[98] GAN, Nectar. YEUNG, Jessie. China diz que está restringindo abortos para promover igualdade
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[99] BAE, Gawon et al. Tortura e abortos forçados: ONG conta como é vida nas prisões da Coreia do
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<https://www.dw.com/pt-br/%C3%ADndia-estende-direito-ao-aborto-a-mulheres-solteiras/a-63290419>.
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[101] FILHO, José Ferreira. Nas Filipinas, número de católicos cresce para mais de 85 milhões. O SÃO
PAULO, 4 mar. 2023. Disponível em: <https://osaopaulo.org.br/mundo/numero-de-catolicos-cresce-para-
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[102]
ABORTO passa a ser legal em todos os estados da Austrália. Exame, 26 set. 2019. Disponível em:
<https://exame.com/mundo/aborto-passa-a-ser-legal-em-todos-os-estados-da-australia/>. Acesso 28 mar.
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[103] BRASIL. [Código Penal (1830)]. Código Penal do Império do Brazil. Rio de Janeiro, RJ [1830].
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim-16-12-1830.htm>. Acesso 27 mar. 2023
[104] ______. [Código Penal (1890)]. Código Penal da República do Brasil [1890]. Disponível em:
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[105] ______. [Código Penal (1940)]. Código Penal da República do Brasil. Rio de Janeiro, RJ [1940].
Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>. Acesso 28
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[106] _______. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54.
12 abr. 2012. Disponível em: <https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?
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[107] _______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas
Estratégicas. Norma Técnica Atenção Humanizada ao abortamento. 2 ed. Brasília: DF, 2011.
Disponível em:
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[108] ______. Superior Tribunal de Justiça. Associação Católicas pelo Direito de Decidir pode
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[109] BONAT, Gabriele. Defensores públicos são perseguidos por atuar a favor do nascituro. Gazeta do
Povo, 27 mar. 2023. Disponível em: <https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/defensores-
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[110] CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei 1.135/1991.
[111] ______. Projeto de Lei 1.174/1991.

[112] ______. Projeto de Lei 176/1995.

[113] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Plano


Nacional de Políticas para as Mulheres. Brasília: SPM, 2004. Disponível em:
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[114] UNITED NATIONS. International covenant on civil and political rights. Consideration of
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[115] FORMENTI, Lígia, Projeto do aborto chega à Câmara. O Estado de São Paulo, 28 set. 2005, p. 16.
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[116] PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.


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[117] CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei 1444/2020.

[118] ______. Projeto de Lei 7371/2014.


[119] AMAZON pagará viagens de funcionárias dos EUA para fazer abortos e outros tratamentos.
BBC, 2 mai. 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61302228>. Acesso 31
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[120] AMAZON confirma demissão de mais de 18 mil funcionários. ISTO É DINHEIRO, 5 jan. 2023.
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[121] DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, Brasília, DF, n. 184. Seção I, p.89. BRASIL. Portaria Nº 2.561, de
24 de setembro de 2020.

[122] CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Nota Oficial. A vida em primeiro
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[123] FEMINISTAS atacam igreja e município na Argentina [FOTOS e VÍDEO]. ACI DIGITAL, 16
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[124] VARGAS, Gisele. Escola e igreja na Argentina pichadas com frases contra o Papa Francisco.
ACI Digital, 11 set. 2018. Disponível em: <https://www.acidigital.com/noticias/escola-e-igreja-na-
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[125] VÊNETO, Francisco. Vândalas feministas tentam atear fogo à catedral do México. Aleteia, 30
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[126] ______. Criminosas feministas incendeiam igreja com fiéis dentro em plena Missa. Aleteia, 4
out. 2018. Disponível em: <https://pt.aleteia.org/2021/10/04/criminosas-feministas-incendeiam-igreja-com-
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[127] FIGUEROA, Felipe Vargas. Duas igrejas são incendiadas durante protestos no Chile. Aleteia, 19
out. 2020. Disponível em: <https://pt.aleteia.org/2020/10/19/duas-igrejas-sao-incendiadas-durante-
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[128] CATHOLIC VOTE. Pregnancy Resource Center Attack Tracker, 2022-2023. Disponível em:
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[129] ______. Attacks on Catholic Churches Since May 2020, 2020-2023. Disponível em:
<https://docs.google.com/spreadsheets/d/1F4Nb9bs96onlFv6WPKs4_V1gfJ1u94LFzEt4_P96ZLw/edit#gid
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[130] PAPA diz ter se equivocado ao chamar feminismo de "machismo de saia". EXAME, 1 abr. 2019.
Disponível em: <https://exame.com/mundo/papa-diz-ter-se-equivocado-ao-chamar-feminismo-de-
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[131] SEEWALD, Peter. Bento XVI, a vida, 2021 apud DÍAZ, Ari Waldir Ramos. Bento XVI: aborto,
casamento gay e o poder do Anticristo. Aleteia, 05 mai. 2020. Disponível em:
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[132] FORMENTI, Lígia. Diariamente, 4 mulheres morrem nos hospitais por complicações do aborto,
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[133] MANTOVANI, Isabela. Especialista Isabela Mantovani apresenta números estatísticos a respeito
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[134] COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS. Estatísticas sobre o aborto. AUDIÊNCIA PÚBLICA
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[135] DINIZ, Debora. MEDEIROS, Marcelo. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de
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[136] CERQUEIRA, Elisabeth Kipman. Números e estatísticas. Fundamento para ações públicas em
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[137] SINGH, Susheela et. al. Repeat Abortion in the United States. Guttmacher Institute, occasional
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[138] IBOPE. Pesquisa de Opinião Pública sobre o Aborto, p.38, junho de 2003. Disponível em:
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[139] ______. apud A quem interessa a legalização do aborto?. Canção Nova Notícias, 22 jun. 2007.
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Acesso 30 mar. 2023.

[140] 68% dos brasileiros são contra mudança na lei que regulamenta o aborto. Folha de São Paulo, 7
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[141] WHO. Abortion care guideline, pp. 7-8 e Annex 1 - 121-125, 2022. Disponível em:
<https://abortion-policies.srhr.org/documents/reference/WHO-Abortion-Care-Guideline-2022.pdf>. Acesso
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[142] Agência EFE apud TAXA de aborto ainda é maior entre negras e hispânicas nos EUA, G1, 23
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[143] STUCALUC, Camila. Após decisão da Suprema Corte, 66 clínicas pararam de fazer abortos nos
EUA. SBT News, 6 out. 2022. Disponível em: <https://www.sbtnews.com.br/noticia/mundo/226135-apos-
decisao-da-suprema-corte-66-clinicas-pararam-de-fazer-abortos-nos-eua>. Acesso 31 mar. 2023.

[144] PERASSO, Veronica. Por dentro de uma clínica de aborto nos EUA, BBC, 12 ago. 2018.
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[145] BURKE, Monica. Novo relatório mostra que a Planned Parenthood recebeu US$ 1,5 bilhão em
repasses em 3 anos, Gazeta do Povo, 16 mar. 2018. Disponível em:
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[146] THE CENTER FOR MEDICAL PROGRESS. Planned Parenthood Uses Partial-Birth Abortions
to Sell Baby Parts. Youtube, 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=jjxwVuozMnU>.
Acesso 31 mar. 2023.
[147] ONG pró-aborto vende órgãos fetais nos EUA. O Globo, 16 jul. 2015. Disponível em:
<https://oglobo.globo.com/saude/ong-pro-aborto-vende-orgaos-fetais-nos-eua-16781264>. Acesso 31 mar.
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[148] ABOUT the author. Cecile Richards Book. Disponível em:
<http://www.cecilerichardsbook.com/#author>. Acesso 31 mar. 2023.

[149] ABOUT us. Human Life International. Disponível em: <https://www.hli.org/about-us/>. Acesso 02
abr. 2023.

[150] ABOUT C-Fam. Center For Family and Human Rights. Disponível em: <https://c-fam.org/about-
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[151] WHO We Are. Population Research Institute. Disponível em: <https://www.pop.org/about-home/>.


Acesso 02 abr. 2023.

[152] CELEBRAM 60 anos de sacerdote Apóstolo da Vida e da Família. ACI Digital, 19 jun. 2007.
Disponível em: <https://www.acidigital.com/noticias/celebram-60-anos-de-sacerdote-apostolo-da-vida-e-
da-familia-73535>. Acesso 02 abr. 2023.

[153] BERNARD Nathanson: Quando a "Mão de Deus" alcançou o "Rei do aborto". ACI Digital.
Disponível em: <https://www.acidigital.com/vida/aborto/nathanson.htm>. Acesso 02 abr. 2023.

[154] NATHANSON, Bernard. The Silent Scream, American Portrait Films: 1984. YouTube, 2016.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=zfdg4KrU9rs>. Acesso 02 abr. 2023.
[155] QUEM somos? Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto. Disponível em:
<https://www.brasilsemaborto.org/quem-somos/>. Acesso 02 abr. 2023.

[156] JACOBS, Steven; JACOBS, STEVEN, BIOLOGISTS' CONSENSUS. When Life Begins, 25 jul.
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[157] FRANCISCO. Exortação Apostólica Gaudete et Exultate, n 101 e 102. Roma: 19 mar. 2018.
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[158] SINGER, Peter. Practical Ethics, pp. 85 e 86. 2. Ed. – Nova Iorque, Estados Unidos: Cambridge
University Press: 1993.
[159] Adoração de si próprio [a ponto de considerar-se uma divindade pessoal]; amor excessivo que alguém
tem por si próprio; exaltação exagerada das próprias qualidades; egotismo. Cf. Dicio. Disponível em:
<https://www.dicio.com.br/egolatria/>. Acesso 20 abr. 2023.

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