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Duquesa do Meu Coração

The Vault Collection 01

Maya Banks
Sinopse
O casamento de Jillian foi um pesadelo, a notícia da morte
do marido um desejo realizado. Ela se recusa a se curvar para
a sociedade e fingir lamentar. E seu melhor amigo, Case, estará
ao seu lado enquanto desafia as regras da sociedade e tem seu
primeiro gosto de liberdade.
Justin, oitavo duque de Whittington, está determinado a
salvar o nome de sua família do escândalo que seu irmão Case
está criando, mas a adorável Jillian não é a inimiga que ele
esperava. Tanto vulnerável quanto irritante, ele nunca
conheceu outra mulher como ela. Mas quando faíscas voam
entre eles, Justin percebe que ele deve ajudar a salvar Jillian
de seu passado antes que eles possam ter um futuro.
Prólogo
Penroth, norte de Londres
Maio de 1818

As contusões tinham desaparecido, mas quantas mais


viriam? A dor havia diminuído, mas ainda estava fresca em sua
memória. Fechando os olhos contra as imagens vívidas que se
repetiam em sua mente, Jillian St. James, condessa de
Penroth, afastou-se da janela de seu quarto. Sua prisão.
O clarão brilhou, iluminando o interior escurecido, e ela
ficou tensa enquanto esperava o estrondo do trovão que com
certeza viria. Uma vela solitária piscou, lançando sombras
sinistras na parede, depois diminuiu quando a chama se
apagou.
O conde partira para a França um mês antes e ela ainda
trazia as marcas de seu presente de despedida. Ela esfregou
distraidamente o pulso, ainda dolorido pela torção violenta que
recebera. Ele poderia voltar a qualquer momento. Já estava um
dia atrasado, mas adorava chegar quando ela menos esperava,
alegre em sua capacidade de intimidá-la, de aterrorizá-la.
O medo atou sua garganta, e o pavor caiu sobre ela como
um cobertor sufocante. Sua respiração ficou rápida e ela lutou
para manter o pânico à distância. Ele traria os outros com ele?
A náusea inchou em seu estômago e ela sufocou a bile.
Ela se virou, olhando para a porta aterrorizada enquanto
ouvia passos ecoando pelo longo corredor que levava ao seu
quarto. Um grito se alojou em sua garganta, mas ela o engoliu.
Ela aprendeu cedo que gritar não ajudava.
Como uma estátua de mármore, ela estava no centro de
seu quarto, esperando, e morrendo um pouco mais a cada
respiração. O alívio do mês não fora um alívio absolutamente,
pois ela passara cada dia com medo do retorno dele. Os servos,
todos leais a ele, observavam e esperavam algo para se reportar
ao seu mestre. A recompensa deles seria ótima por dar-lhe algo
para puni-la. Como se ele precisasse de um motivo.
Os passos se aproximaram e pararam do lado de fora da
porta. Ela rangeu quando lentamente se abriu, e ela se
levantou, determinada a não se encolher. Uma forma sombria
entrou no quarto e parou, olhando em volta, para ela, sem
dúvida.
— Jilly?
O alívio inundou-a, drenando-a da força restante que ela
tinha. Ela caiu no chão, suas pernas flácidas. Então um medo
mais forte a atingiu. — Você não deveria estar aqui.
Ele correu a frente para ajudá-la. — Você está bem?
— Sim —, disse ela, embora ainda estivesse tremendo de
medo. — Case, ele estará de volta a qualquer momento. Ele não
deve encontrar você aqui. Ele nunca acreditaria que somos
apenas amigos.
— Jilly, há algo que devo lhe contar. Venha se sentar, isso
vai ser um choque. — Ele a levou até uma poltrona perto da
janela. Um raio iluminou o céu distante enquanto a tempestade
se afastava.
Ela se sentou e seu olhar voou para a porta. Seu marido
não teria que testemunhar a presença de Case em primeira
mão. Os servos estariam dispostos a relatar.
Case... seu amigo e a única pessoa em quem ela confiava
no mundo. Ele parecia desconfortável, como se não tivesse
certeza de como dizer o que o atormentava. — O que é? — Ela
perguntou.
Ele hesitou por um momento e pegou a mão dela na sua.
— O navio de Penroth afundou no mar. Não houve
sobreviventes. — Ele a observou atentamente, esperando a
reação dela.
Seus olhos se estreitaram e a raiva a tomou. Ela não teria
pensado que Case seria cruel. Ele tinha sido uma fonte
inabalável de apoio nos últimos meses. — Que tipo de
brincadeira doentia é essa? —, ela perguntou bruscamente.
Ele apertou a mão dela e consolou. — É verdade, Jilly. Ele
está morto.
Sua mente lutou para entender o que Case estava dizendo
a ela. Sua oração foi atendida? Teria a ladainha que cantara
nos últimos seis meses chegado aos ouvidos de Deus, e ele se
apiedara dela? Não, não era possível que ela pudesse estar livre
do inferno a qual tinha descido no dia de seu casamento.
— Eu não estou achando graça —, ela disse engasgada.
— Eu sei que é difícil de acreditar —, ele disse
suavemente. — Mas eu não te provocaria assim. Eu não iria
segurar na sua frente algo tão maravilhoso se não fosse
verdade.
— Então eu estou livre? — Ela perguntou maravilhada.
Atreveria-se a esperar que seu pesadelo terminou? O diabo foi
jogado de volta ao inferno?
Case assentiu e lágrimas encheram os olhos dela
enquanto meses de medo e horror saíam dela. Seu alívio era
esmagador. Apenas momentos antes, ela se preparava para o
pior, e agora estava eternamente absolvida desse terror.
— Eu não vou chorá-lo —, disse ela ferozmente. — Eu me
recuso a guardar um único dia de luto por aquele bastardo. Ele
não merece nada do meu respeito.
— Você não precisa fazer nada que não queira —,
murmurou Case.
Ela se levantou e andou agitada de um lado para o outro.
— Eu não vou morar aqui. — Ela nunca viveria nesta
propriedade infernal. Poderia apodrecer no chão por tudo que
ela se importava. Embora ela não tivesse tido tempo de
presentear seu marido com um herdeiro, ela tinha certeza de
que os advogados dele encontrariam um primo distante para
preencher o papel.
Ela caminhou até o guarda-roupa e começou a jogar
alguns vestidos na cama.
— O que você está fazendo? — Case perguntou enquanto
andava atrás dela.
— Saindo daqui —, ela disse concisamente. — Eu não vou
ficar mais uma noite... nunca.
Quando ela estava coletando os escassos pertences que
queria levar, ela se virou e olhou desafiadora para seu amigo.
— Vou morrer antes de mostrar um pouco de remorso por sua
morte.
Capítulo Um
Londres
Novembro de 1818

Justin Devlin, oitavo duque de Whittington, atirou o artigo


com desgosto. Geralmente não era dado a ler jornalecos de
fofoca, mas um deles estava estrategicamente colocado em sua
mesa. Edward era provavelmente o culpado. Apertou a ponte
do nariz entre o polegar e o indicador, enquanto a outra mão
segurava a parte de trás do pescoço, massageando os músculos
tensos. Ele tinha ancorado no porto no dia anterior e meses de
fadiga se escondiam sob a aparência.
Recuando de sua mesa, ele se levantou e caminhou até o
armário de bebidas, onde serviu um conhaque. Ele engoliu o
conteúdo de um só gole e pousou o copo com um baque surdo.
Case passou dos limites. Atolado em escândalo.
Escândalo... era uma palavra nunca antes associada ao nome
de sua família, mas agora seu irmão mais novo conseguira
mudar tudo em poucos meses.
A condessa de Penroth. Seu marido morrera tragicamente
há menos de um ano, quando seu navio afundou no mar e, em
vez de lamentá-lo, apareceu noite após noite em bailes da
sociedade no braço de seu irmão. Sua recusa em guardar...
não, respeitar os rituais de luto, era sem precedentes na
sociedade londrina. Tal comportamento era além de deplorável.
Ele e Case eram próximos. Com apenas dois anos de
diferença, eles cresceram como companheiros inseparáveis. Ele
conhecia Case melhor do que qualquer outra pessoa, ou pelo
menos pensava. Certamente havia uma explicação
perfeitamente razoável para a participação de seu irmão em
todo este desastre.
— Sua graça, sua carruagem está pronta.
Justin se virou para ver Edward, o mordomo de sua
família por três gerações, parado solenemente na porta. Sua
idade era um segredo altamente guardado, mas Justin jurava
que ele tinha que ter mais de cem anos. A maioria dos
mordomos era mencionada pelo sobrenome, mas Justin nem
sabia qual era. Ele tinha sido simplesmente Edward desde que
o avô de Justin o contratou mais de cinquenta anos atrás.
— Obrigado, edward. Vou ao clube almoçar e depois
cavalgar.
— Muito bem, sua graça. O jantar será servido no horário
habitual, a menos que você tenha outros desejos.
Justin assentiu e saiu para onde a carruagem o esperava.
Londres havia mudado pouco em sua ausência, ele
observou quando sua carruagem desceu pela Piccadilly. A
mesma agitação abundava diariamente nas ruas lotadas. Ele
engoliu sua irritação quando a carruagem parou, impedida pela
multidão do tráfego. Apesar do frio do ar de meados de
novembro, ele desejou ter tomado sua montaria. Certamente
teria sido mais rápido, e ele não teria que voltar para seus
estábulos antes de cavalgar. Ele afundou de volta nas
almofadas luxuosas, esperando que a viagem fosse retomada.
Por que Case não poderia ter ficado em Whittington onde
ele esteve quando Justin partiu para a Índia? Então Justin
poderia ter abandonado completamente Londres e fugido de
volta para Yorkshire. A ideia de se imergir na sociedade mesmo
por pouco tempo não era uma perspectiva atraente. Ele sabia
que eventualmente teria que vir a Londres para encontrar uma
esposa, mas isso estava a alguns anos de distância, e a ideia de
um casamento sem amor por causa dos herdeiros o deprimia.
Por enquanto ele estava contente em se retirar para sua
propriedade e levar uma vida tranquila.
Meia hora depois, a carruagem finalmente parou na frente
do White’s, e Justin entrou na porta do clube de cavalheiros.
Ele foi saudado entusiasticamente e acolhido com grande
desenvoltura. Seu prato favorito, lombo de boi em molho de
xerez, apareceu em sua mesa poucos minutos depois de estar
sentado. Era bom estar em casa, ele decidiu, mesmo que a casa
fosse temporariamente Londres, enquanto chegava ao fundo de
todo esse negócio em torno da condessa.
— Whittington! Por Deus, é você.
Ele olhou para cima e viu lorde Darvington parado do
outro lado da mesa. Justin convidou-o a sentar e ele
prontamente concordou. Lord Darvington tinha sido um amigo
íntimo do pai de Justin antes de sua morte quinze anos antes.
— Como você tem ido, rapaz? — O homem mais velho
perguntou enquanto descansava as duas mãos em cima da
alça esculpida de sua bengala.
Justin reprimiu uma careta. Poucas pessoas tomariam a
liberdade de chamá-lo de algo que não fosse sua graça ou
Whittington, mas lorde Darvington o chamara de rapaz por
tanto tempo quanto conseguia se lembrar, e de alguma forma
ele não imaginava essa mudança.
— Ouvi que você navegou da Índia —, o conde continuou,
invadindo os pensamentos de Justin.
— Sim, cheguei ontem.
— Então eu suponho que você ainda não tenha ouvido
falar sobre o escândalo que seu irmão está causando —, ele
disse casualmente, um olhar penetrante em seus olhos.
Justin encontrou seu olhar sem piscar. — Eu preferia
pensar que a condessa fosse a causa do escândalo.
— Então você ouviu —, lorde Darvington disse com uma
risada divertida.
Justin se recostou em seu assento. — Qual é exatamente
a história, Darvington? Li as páginas da sociedade, mas ainda
não falei com Case sobre isso.
O conde pareceu satisfeito com a oportunidade de
transmitir seu conhecimento. E quem disse que fofoca era o
vício de uma mulher, Justin pensou secamente.
— É bem óbvio que ela fez de Penroth um corno muito
antes de sua morte, e com seu irmão, por acaso. Apenas alguns
dias depois de seu funeral, onde lady Penroth não compareceu,
imagine, ela está vagabundeando por Londres nas roupas mais
escandalosas, e Lorde Case é seu companheiro constante. A
pivete não guardou um único dia de luto nos seis meses desde
a morte do conde. É vergonhoso que uma mulher de
nascimento nobre ája com tal desrespeito pelo decoro.
— Nobre? — Justin perguntou, levantando uma
sobrancelha. — Ela é bem nascida então?
— A filha do conde de Lindelle. Tristeza ele nunca ter tido
um filho. Nenhum herdeiro também. Seu título e suas
propriedades voltaram à coroa. O pior pesadelo de um homem.
— Darvington sacudiu a cabeça com pesar. — E agora parece
que o título de Penroth sofrerá o mesmo destino.
— Família muito notável. — Justin franziu a testa. — Eu
me lembro do papai falando do conde. Ele não morreu há
alguns anos?
Lorde Darvington inclinou a cabeça. — Onze para ser
exato.
— Não há outro membro dessa família para mantê-la na
linha?
— Não, mais é uma pena. Há uma tia que a patrocinou,
mas ela sofre de problemas de saúde e se retirou ao campo logo
após o casamento.
— Ela e Penroth não se davam bem juntos?
— Não há como saber —, disse o homem mais velho,
pegando a bebida que um lacaio próximo servia para ele. —
Eles raramente apareciam em público juntos além de alguns
compromissos sociais.
Lorde Darvington recostou-se e prendeu Justin com o
olhar. — Agora que você está em casa, o que pretende fazer
sobre isso?
Justin olhou para ele surpreso. — Fazer? Meu irmão é um
homem adulto.
— Ainda assim, você é o chefe da sua família, e seu pai,
que sua alma descanse, está provavelmente se revirando em
seu túmulo.
Justin não podia contestar isso. Seu pai havia colocado
uma importância infinita em honra e decoro. Case também
sabia disso. Era algo que o pai lhes ensinara desde muito cedo.
E agora Case estava desconsiderando tudo, e por uma mulher.
Ele balançou sua cabeça. Ele estava pronto para uma longa
conversa com seu irmão mais novo.
Ele deixou o White’s, ansioso para voltar e cavalgar no
Hyde Park. Depois de semanas em um navio, ele ansiava por
uma tarde de exercícios. Ele sofreu por outra interminável
jornada no retorno, antes de finalmente voltar para sua
mansão.
Quando seu cavalo estava selado nos estábulos entrou na
casa principal e pegou um pedaço de pão das cozinhas. Um de
seus lugares favoritos no parque era um pequeno lago perto do
caminho principal, geralmente cheio de cisnes famintos.
Poucos minutos depois partiu a cavalo e esqueceu as
preocupações sobre Case e sua amante. Eles esperariam. Por
enquanto iria aproveitar sua primeira tarde de volta em terra
firme.

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Jillian fez uma pausa e respirou profundamente o ar


fresco do outono. Era um dia lindo para passear e, pela
primeira vez, parecia que não voltaria para casa ensopada pela
chuva da tarde.
Hoje não era um dia comum. Isso marcou uma mudança
bastante significativa em sua vida. Ela fez uma careta e enfiou
as mãos mais fundo no regalo de pele que mantinha na sua
frente. Este deveria ter sido um momento maravilhoso, um dia
para celebração, um dia para marcar a passagem de uma meta.
Em vez disso, ela caminhou ao longo de um caminho solitário
dando graças que a experiência acabou.
Geralmente não era dada à autopiedade, mas hoje, talvez
merecesse ceder um pouco ao pensamento melancólico. Afinal,
não era todo dia que uma mulher comemorava seu primeiro
aniversário de casamento sozinha.
Seis meses após a morte de Lucas, ela ainda tinha
pesadelos. Ainda acordava de um sono agitado, convencida de
que ouvira os passos dele do lado de fora da porta. Aterrorizada
de que a qualquer momento ele abrisse a porta, riria
loucamente e diria a ela que era tudo brincadeira, que não
estava morto.
Em outros momentos, sonhava que ele gritava para ela do
túmulo, jurando que ela nunca seria livre. Nunca. E houve
momentos em que acreditou nisso. Ela engoliu o nó na
garganta e piscou de volta as lágrimas que afligiam suas
pálpebras. Jamais se livraria das lembranças ou estaria
condenada a revivê-las repetidas vezes?
Ela parou em um pequeno banco de pedra que estava sob
uma árvore sem folhas e sentou-se. Um par de cisnes deslizou
pela lagoa diretamente na frente de Jillian, colocando em
movimento a dispersão de folhas que haviam caído sobre a
superfície da água.
Inclinando-se para frente, ela retirou as mãos do calor do
regalo e apoiou o braço sobre o joelho, apoiando o queixo na
palma da mão. Fios de cabelo escuro escaparam de seu
penteado apressadamente arranjado, enquanto uma suave
brisa passava por ela. Soprou uma mecha que atravessou os
olhos e balançou a cabeça quando ela fez cócegas no nariz.
Talvez se fosse uma dama apropriada e usasse um gorro, não
teria que lidar com fios rebeldes. Ela suspirou. Mas não era.
Nenhum ponto em contestar o óbvio. Uma risada suave
escapou de seus lábios. Se ela fosse uma dama apropriada, não
estaria aqui sozinha, sem uma acompanhante.
— Eu não esperava encontrar alguém aqui tão longe do
caminho principal —, disse uma profunda voz masculina atrás
dela.
Ela se virou alarmada, sem ter ouvido a aproximação dele
e irritada com a intrusão.
— Minhas desculpas por assustar você —, disse ele.
Sua respiração saiu em um sopro quando viu
completamente o intruso. Ele ficou parado casualmente,
observando-a, um chicote de montaria descansando contra sua
perna. Ele estava bem vestido, suas roupas impecáveis, suas
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Hessians polidas e brilhando ao sol do meio-dia. Ela olhou em
seus cálidos olhos castanhos, rapidamente olhando por cima
do rosto e depois de volta para as mechas escuras de cabelo
ondulado tão perto da cor dela. Seu olhar caiu para o chicote
de equitação em sua mão.
— Planejando me tocar do seu lugar?
Ele pareceu surpreso por um momento e olhou para a
mão que segurava o chicote. — Na verdade não —, disse ele
com uma risada. — Certamente a lagoa é grande o suficiente
para dois. — Ele olhou para ela por um momento. — Mas
então, sinto que me intrometi.
Jillian suspirou. — De maneira alguma, você me salvou de
uma verdadeira onda de autocomiseração.
— Não é uma tarefa agradável para uma tarde tão bonita.
Sua voz estava mais próxima desta vez. Ela olhou para vê-
lo tomando o assento ao lado dela. Um formigamento peculiar
correu pelo braço dela quando roçou contra o casaco dele. Seu
íntimo perfume masculino encheu suas narinas, e ela respirou
profundamente, inalando-o até que a envolvesse
completamente. O frescor do dia foi rapidamente esquecido
quando seu calor pareceu invadir o espaço entre eles.
Ela observou, hipnotizada por ele, quando ele tirou algo do
bolso, e uma mecha de cabelo caiu sobre a testa. Ela se virou,
irritada com sua preocupação com o estranho. Incapaz de
resistir, no entanto, ela arriscou outra espiada pelo canto do
olho.
Ele segurava um pedaço de pão na mão, quebrando vários
pedaços e jogando-os na água. Os cisnes se aproximaram,
devorando rapidamente a oferenda. Ele moveu a mão na frente
de Jillian, segurando o pão para ela.
— Você gostaria de tentar?
Ela sorriu e começou a jogar alguns pedaços para os
pássaros ansiosos. O pão caiu mais perto do que os que ele
havia jogado, e os cisnes se aproximaram.
Eles alimentaram os cisnes com o restante do pão em
silêncio. Vários outros se juntaram ao grupo, ansiosos para
comer um pouco, e logo havia um monte, todos competindo
pelos últimos pedaços. Quando se tornou evidente que não
havia mais pão, os cisnes gingaram subindo a margem
corajosamente em direção ao banco onde estavam sentados.
— Receio que estejamos sob ataque —, disse o homem,
divertido.
Um deles bicou as saias de Jillian e ela enxotou-o com as
mãos. Pensando que ela tinha mais pão para oferecer, eles a
enxamearam. O homem a colocou de pé e a empurrou
rapidamente para longe. Eles riram incontrolavelmente
enquanto os cisnes se aglomeravam atrás deles. Aumentando
seu ritmo, eles correram em direção ao caminho principal,
buscando a segurança das sebes que se alinhavam na
passarela.
Uma vez do outro lado, pararam para recuperar o fôlego,
rindo de sua experiência.
— Eu devo agradecer-lhe —, disse ela, humor ainda
entrelaçando sua voz. — Você me salvou de uma situação
muito embaraçosa.
Ele sorriu de volta para ela, seus olhos brilhando de
alegria. — Eu não poderia me chamar de cavalheiro se
permitisse que uma mulher tão bonita sofresse.
Ela olhou para ele surpresa, suas pernas ficando
suspeitosamente amolecidas sob seu olhar ardente. Seu rosto
estava a centímetros do dela e o coração dela deu uma
cambalhota no peito. Ele ia beijá-la? Seu coração ribombou em
seu peito e sentiu uma pontada de medo misturada com outra
coisa... era antecipação?
Ela podia sentir sua mão acariciando gentilmente sua
bochecha, embora não tivesse ideia de como chegara lá.
Nervosamente, ela lambeu os lábios quando ele fechou o
pequeno espaço entre eles. Sua boca estava quase sobre a dela
quando ele se afastou abruptamente, passando a mão pelo
cabelo, agitado.
— Aceite minhas desculpas por tomar tais liberdades.
Mortificação varreu através de Jillian. Teria ela quase
deixado um completo estranho beijá-la no meio do Hyde Park?
Ela levou uma mão trêmula aos lábios, lábios que quase
tocaram os dele. — Obrigada pela sua ajuda —, disse
hesitante. E se virou saindo correndo.
— Espere! — Ele chamou atrás dela. — Eu não tenho o
seu nome...
Justin amaldiçoou em voz baixa enquanto voltava para
seu cavalo. Agir com tanta falta de decoro era ruim o suficiente,
mas em um lugar público? Montou seu corcel e galopou pelo
caminho do parque, mas ainda assim, os pensamentos da
mulher que ele encontrou no lago pesavam sobre ele. Ele não
esperava ver ninguém lá. Era um lugar que ele frequentava
quando estava em Londres, gostando da reclusão que oferecia.
Ele foi instantaneamente atraído para a mulher sentada
no banco, olhando para a água. Havia algo de melancólico em
sua pose, com o queixo na mão, parecendo que ela estava em
qualquer outro lugar menos onde realmente estava. Nem
mesmo o artista mais talentoso poderia ter capturado sua
beleza. Seus cabelos negros, seus olhos verde-esmeralda e seus
lábios cheios e sensuais. Quem era ela?
Ela estava sem os cachos, fitas e babados de uma menina
em sua primeira temporada. Vestida elegantemente, à moda,
seu comportamento marcava sua nobreza tão certamente
quanto o tom suave de sua voz. Seus olhos refletiam uma
maturidade que ia além de seus anos. Provavelmente era
casada.
Esse pensamento deixou um gosto amargo em sua boca.
Em sua preocupação, não havia notado se ela usava um anel.
Seja casada ou não, o que ela estava fazendo sem a devida
acompanhante? Ela teve a sorte de não ter sido abordada. Um
pensamento repentino o atingiu. Ela estava sozinha e ele a
deixou. Bem, ela o deixou, mas ainda assim, ele deveria tê-la
visto a salvo em casa. E se algo acontecesse com ela?
Virando o cavalo, ele o apressou de volta para o local onde
ela havia se afastado. Ele procurou na área, mas não
encontrou sinal dela. Relutantemente, ele regressou depois de
dar uma volta pela última vez. Se ela tivesse se machucado não
seria capaz de se perdoar.
Ele voltou para seus estábulos e desmontou, lançando as
rédeas para o cavalariço que esperava. Uma rápida checagem
de seu relógio lhe disse que já estava atrasado para o encontro
da tarde com o alfaiate que convocara.
Entrou na casa principal e seguiu pelo corredor até a sala
de estar. Alguns instantes depois, ele ficou impaciente,
enquanto o alfaiate cutucava e espetava, media e dobrava. Seu
tempo longe da Inglaterra resultara em uma perda de peso,
particularmente em torno de sua barriga, e instruiu o alfaiate a
ajustar suas calças e coletes. Se fosse assistir ao baile daquela
noite, ele teria necessidade de roupas de noite adequadas.
O cavalheiro idoso ficou solenemente estudando a linha do
colete de Justin, seus lábios franzidos. — Só precisa de
pequenas alterações, sua graça. Vou começar a trabalhar
imediatamente e entregá-lo em poucas horas.
Justin assentiu e ficou parado, com os braços estendidos,
enquanto o alfaiate começava a árdua tarefa de soltar o casaco.
Ele fechou os olhos e conjurou a imagem da jovem no parque.
Com as narinas queimando, ele se lembrou de seu perfume
inebriante e seus olhos verdes risonhos.
Algo sobre ela atingiu um acorde profundo dentro dele.
Sentiu o insano desejo de atraí-la em seus braços e protegê-la
de qualquer coisa que causasse tanta tristeza nela. Nunca
antes uma mulher provocara uma resposta tão evocativa nele.
Se ao menos não tivesse agido tão precipitadamente. Ele
poderia ter descoberto mais sobre a mulher. Seu nome teria
sido um bom começo.
Mais uma vez, ele mergulhou na memória da tarde. O som
de sua risada trouxe um sorriso ao rosto dele e inspirou
saudades profundas em seu peito.
— Ora, você parece bem.
Seus olhos se abriram e seu momento fantasioso terminou
abruptamente. Ele olhou e viu Case inclinado casualmente
contra o batente da porta. — Você pode limpar o sorriso do seu
rosto —, ele rosnou. Mas não conseguiu conter um largo
sorriso ao ver seu irmão pela primeira vez em um ano.
— Mas não é todo dia que eu tenho o privilégio de ver meu
irmão se enfeitando na frente de um espelho, como uma
debutante nervosa. — Ele rapidamente se esquivou da camisa
que Justin jogou em sua cabeça.
— Pronto —, o alfaiate anunciou quando recuou, casaco
na mão. — Vou mandá-lo no momento em que terminá-lo.
— Obrigado —, disse Justin. Ele despediu-o com um
aceno e caminhou em direção a Case. — Que maneira de
passar a tarde. — Seu rosto doía da carranca que tinha usado
o tempo todo que o alfaiate o havia cutucado e espetado.
Case riu. — Você sempre poderia ter pego emprestado algo
meu.
— Agora que você me diz.
Eles saíram da sala e Justin jogou um braço ao redor de
Case. — É bom ver você, irmãozinho.
Case respondeu batendo nas costas dele. — Quando você
voltou, afinal? Eu não o esperava até o próximo verão, mas
depois vi Lorde Darvington no White's, e ele disse que você
tinha acabado de sair.
Eles entraram no escritório de Justin, onde ele serviu
bebidas e sentaram-se perto do fogo. — Eu cheguei ontem.
— E quando você estava planejando me informar do seu
retorno?
— Eu pensei em ver você no White's.
— Não importa, é muito bom ter você em casa —, disse
Case calorosamente.
— Então, o que você tem feito? — Justin perguntou.
Estava na ponta da sua língua perguntar sobre a condessa,
mas resistiu. Ele não queria obscurecer os primeiros momentos
de sua reunião com o que poderia ser apenas um assunto
desagradável.
— Oh, você me conhece —, disse Case preguiçosamente.
— Apenas vivendo e descansando sob os louros de meu irmão,
o duque.
Justin riu. — Em outras palavras, seus investimentos
foram lucrativos como de costume. Você é, sem dúvida, mais
rico do que eu. Quando você vai compartilhar o seu segredo?
— Bem, eu tenho que fazer algo para me tornar mais
digno de casamento —, disse ele, com a língua na bochecha. —
Afinal eu não sou um duque.
Justin revirou os olhos. — Com sua boa aparência e
fortuna considerável, há dezenas de mulheres dispostas a
renunciar ao casamento com um título.
— Não me apresse para o altar ainda, meu velho. Tenho
bastante tempo antes de sucumbir à calmaria associada ao
casamento.
Justin riu do olhar cômico no rosto de Case.
— Você está participando da festa dos Trent à noite? —
Perguntou Case.
Ele assentiu. — Eu estou. — Ele esperava ver em primeira
mão sobre o que era toda a fofoca. Case estava planejando
comparecer com a condessa? — Você vai esta noite?
— Sim, eu estarei lá, deverá ser uma grande atração.
Justin levantou a sobrancelha. — Eu não fazia ideia de
que você gostava tanto da vida na cidade.
Case riu. — Eu não posso viver rusticamente no campo
para sempre. Ao contrário de você, eu gosto de sair de vez em
quando.
Justin recostou-se, estudando seu irmão. Ele não podia
ficar de braços cruzados e morder sua língua por outro
segundo. — Case, qual é o seu relacionamento com a condessa
de Penroth?
Case recostou-se na cadeira e arqueou uma sobrancelha,
surpreso. — De improviso, eu diria que não é da sua conta.
— Então é assim —, Justin disse sombriamente.
— Assim como? — Case perguntou, casualmente
inspecionando suas unhas. — Justin, por que diabos você está
me perguntando sobre Jillian? Eu pensei que nós estávamos
além do estágio em que você monitorava minhas ações.
— Não te incomoda que ela esteja criando tal escândalo e
esteja diretamente envolvendo você?
— Se isso acontecesse, não seria provável que eu estivesse
'envolvido' com ela, como você disse.
— Droga, Case, você está sendo deliberadamente obtuso.
Eu tenho que soletrar para você?
— Eu acho que talvez você faça. Por que isso parece o
incomodar tanto?
— Eu não vou ter nenhuma desonra caindo sobre nossa
família.
Case deu-lhe um olhar sem graça. — Você não terá? Quem
disse alguma coisa sobre o que você terá? Tenho quase certeza
de que é da minha vida pessoal que estamos falando.
— Eu sou o chefe dessa família. É minha responsabilidade
garantir que nada enegreça nossa reputação. Você é minha
responsabilidade.
Case bufou. — Caso você não tenha notado, eu não tenho
mais doze anos de idade. O que faço é meu negócio e só da
minha conta.
— Ela não pode valer sua reputação, Case. Se você quiser
levantar as saias dela, faça-o, mas mantenha isso longe dos
olhos do público!
— Meu relacionamento com Jillian não é assunto seu.
Lembre-se disso. Se eu estivesse de mau humor, acharia
insultante pensar que você me acha capaz de trazer desonra à
nossa família. Em vez disso, vou atribuir ao seu hábito
arrogante de bancar a babá. Acho que seria melhor se eu te
deixasse para ultrapassar seu mal humor. Talvez você esteja
mais animado esta noite.
Os lábios de Justin enrijeceram, mas ele permaneceu em
silêncio.
— Eu virei hoje para que possamos chegar à festa dos
Trent juntos. Pretendo esquecer que tivemos essa conversa e
espero que você faça o mesmo —, disse Case, levantando-se e
saindo da sala.
Justin gemeu. Não havia antecipado o fato de Case evitar
sua pergunta. Ele esperava que risse de qualquer idéia de um
relacionamento sério, talvez regalá-lo com os atributos da
dama. O Case que ele conhecia teria fingido um sorriso
preguiçoso e negado que levasse qualquer mulher a sério. Mas
não fizera nenhuma dessas coisas.
Não refutou um relacionamento. Na verdade, ele fez tudo
menos confirmar, afirmando que não era da conta de Justin.
A imagem de macios cabelos negros e penetrantes olhos
verdes flutuou deliciosamente em seus pensamentos, tentando-
o a recuar para a memória, mas rapidamente baniu a mulher
intrigante do parque de sua mente. Não podia se dar ao luxo de
ser desviado do problema em questão.
O baile desta noite seria uma experiência reveladora. Não
queria indispor-se com Case, mas tinha que fazer algo sobre a
condessa. Se Case não quisesse ouvir a razão, talvez ela o
fizesse.
Capítulo Dois
Jillian se sentou em sua penteadeira examinando sua
aparência no espelho. Seu cabelo preto estava recolhido em um
coque elegante, com mechas flutuando suavemente de cima de
sua cabeça, emoldurando seu rosto. Ela ajustou um colar em
volta do pescoço, um único pingente de diamante que
descansava no vão de sua garganta. Pertenceu à sua mãe e era
a única peça de joalheria que possuía. O resto foi vendido para
pagar as dívidas crescentes de Lucas.
Ela se levantou e cuidadosamente vestiu o vestido de
cetim vermelho que tinha projetado especialmente para esta
noite. Elsie, sua criada, abotoou as costas e se afastou,
permitindo que Jillian acessasse o espelho.
Jillian se olhou no espelho de corpo inteiro com um olhar
crítico. O vestido era adorável, embora fosse improvável que
recebesse elogios. O decote profundo mal cobria seus seios, e
ela tinha certeza de que qualquer movimento súbito o faria
cair. O vestido desafiava a moda atual, ajustando-se
firmemente à cintura e alargando-se gentilmente nos quadris.
Cetim escarlate derramado de sua cintura para o chão,
cercando seus pés com camadas do material brilhante.
Ela dispensou Elsie, querendo alguns momentos para si
mesma antes de sair para o baile. Não assistira a muitos desde
a morte do marido, preferindo uma existência fora dos limites
da sociedade educada. Mas os poucos aos quais havia ido
deixaram um fluxo de sussurros escandalizados e firme
desaprovação.
Não importava realmente. Este não era seu mundo, não
importava que tivesse nascido nele. Ela se recusava a permitir
que alguém pensasse que realmente lamentava o monstro com
quem se casara. Nem se retiraria para uma propriedade rural
em algum lugar e se adornaria de preto quando, na verdade,
estava celebrando.
Ela gostava de Londres e não tinha planos de partir. Sua
casa havia sido comprada logo após a herança que recebera em
seu vigésimo primeiro aniversário, e ela se deleitara em exercer
sua independência. Livre das restrições de um marido ou de
uma sociedade que ditou o curso de sua vida por muito tempo.
Até mesmo sua amizade com Case provocou a ira da
sociedade. Não que ela estivesse surpresa, mas ele era o único
amigo que tinha, e não iria descartá-lo por causa do decoro.
Um sorriso curvou sua boca enquanto pensava no
relacionamento deles. Ela gostaria de pensar que ele era o
irmão que nunca teve. Como filha única, crescera solitária e a
morte da mãe aumentara isso ainda mais.
Olhou mais uma vez para o espelho e respirou fundo.
Olhos tristes olhavam dolorosamente para ela, e tentou forçar
uma centelha de felicidade neles.
Neste momento, há um ano, ela estava cheia de sonhos de
um futuro maravilhoso cheio de amor e filhos. Agora, um ano...
não, uma vida depois, esses sonhos foram tão destruídos
quanto suas ilusões.
Pensamentos espontâneos de seu encontro no parque
surgiram repentinamente em sua mente. Ela fechou os olhos,
autocondenação inundando-a. Não aprendera a lição quando
se tratava de homens bonitos e charmosos? Evidentemente
não, pois ficou ali como um filhote apaixonado quando ele fez
que ia beijá-la. Cerrou os punhos e baniu o bonito estranho de
seus pensamentos.
Ela tinha um último ato para concluir, e então poderia
escapar silenciosamente da notoriedade pública. Uma última
homenagem a seu falecido marido, na noite do aniversário
deles, e ela penduraria as roupas, as lembranças e a amargura.
Venceu, afinal, porque ninguém imaginara que, por baixo da
extravagante e irreverente moça espevitada, escondia-se uma
mulher vulnerável e insegura que detestava confrontos.

###

Case e Justin ficaram observando a multidão de pessoas


lotando o pequeno salão de baile. Velas pendiam de todos os
castiçais, dando alegria ao espaço. Havia também grandes
candelabros em cada canto para iluminar a área reservada
para dançar. Uma mesa enorme, cheia de comida, ponche e
champanhe se alinhava de um lado da parede. Casais
resplandecentes em seus trajes de noite deslizavam
alegremente. Senhoras com muitas jóias ficavam de lado,
tagarelando por trás de seus leques e repetindo o mais recente
rumor. Cavalheiros se reuniram em grupos discutindo uma
variedade de assuntos, desde a mais recente caçada à política.
Justin fez uma careta. Sua cabeça estava girando de toda a
atividade. Ele havia esquecido como Londres era festiva mesmo
fora da temporada.
Sua aparição causou uma grande agitação entre os
presentes ao baile. As matronas da sociedade começaram
imediatamente a questioná-lo sobre suas intenções, agora que
havia retornado. Tradução, ele planejava se estabelecer e
escolher uma esposa?
— Os abutres estão circulando —, Case murmurou. — Se
você não for cuidadoso, eles vão te casar em uma semana.
Justin deu-lhe um olhar divertido. Ele teria respondido,
mas sua atenção foi atraída para a entrada do salão de baile.
Sua réplica morreu em sua garganta. Era ela. A mulher do
parque estava aqui. Seu cabelo recolhido alto sobre a cabeça
estava em uma pilha de cachos, deixando o pescoço esguio nu.
A extensão cremosa da pele se estendia até o corpete de seu
vestido, onde as ondulações de seus seios se espalhavam sobre
o decote de uma maneira sugestiva. Então seus olhos se
fixaram no resto do vestido. Uma emoção inesperada passou
por ele, mesmo quando percebeu seu traje chocante. Ele a
julgara mal? Ela era uma cortesã? E se sim, o que estava
fazendo aqui?
Ele cutucou Case. — Quem é essa que está chegando?
Case seguiu a direção do olhar de Justin. — Ela é linda,
não é? — Ele perguntou casualmente.
— Ela é magnífica.
Case sorriu. — Essa é Jillian.
O sorriso de Justin congelou e fechou os olhos em
desânimo. O sabor da decepção era espesso em sua boca. Não
importava o quão insensíveis suas ações tivessem sido durante
o primeiro encontro, sua conduta indecorosa superou em
muito a dele. Engoliu o nó de lamento e mostrou calma em
suas feições.
Agora podia entender a paixão entusiasmada de Case. Ela
era de fato um espetáculo a ser visto. Sua própria atração tinha
sido ávida, mas não importava o quão bonita ela fosse, não
havia desculpa para seu descarado desrespeito pela decência.
Ele tinha dificuldade em conciliar a imagem da jovem
melancólica sentada no banco do parque com a descarada
reputação que ela conquistou, mas o vestido de cetim vermelho
vulgar que ela usava gritava muitíssimo sobre seu caráter.
Franzindo a testa, ele viu o rosto dela se iluminar quando
Case lhe pegou a mão. Oh sim, ela era linda. Talvez a mulher
mais linda que já tenha encontrado. Pensamentos incertos de
seu sorriso encantador vieram à mente... e os lábios
convidativos que ele quase beijara. Xingando baixinho, ele se
afastou do casal que se aproximava. Que tipo de mulher ela era
que quase o beijou quando tinha um acordo com seu irmão? E
que tipo de homem ele era para ter agido com tal abandono?
O ânimo de Jillian se elevou ao ver o rosto alegre de Case.
Quando ele se aproximou dela através da multidão de pessoas,
seus olhos verdes brilharam com malícia, um contraste direto
com a imagem de inocência dourada que seu cabelo loiro lhe
dava.
Ela procurou por algum sinal de sua reação ao seu traje,
mas seu sorriso nunca vacilou. Estendeu a mão quando ele
parou na frente dela, e ele enfiou-a debaixo do braço. O salão
ficara quieto e todos os olhos estavam em cima de Jillian, mas
ela ergueu o queixo, as costas rígidas de orgulho.
— Eu tenho alguém que quero que você conheça —, disse
Case quando eles começaram a abrir caminho através da
multidão.
Ao passarem, as mulheres se afastaram de Jillian e os
homens ficaram olhando para o vestido escandaloso. Ela olhou
curiosa para Case. — Quem é?
— Justin voltou da Índia. Ele está aqui esta noite.
Ela parou imediatamente, afastando Case. — Por que você
não me contou? — Ela sussurrou. — Case, eu nunca teria
vestido... — Parou, olhando para o vestido em desespero. — Eu
nunca teria feito nada para te envergonhar na frente do duque.
— Ela tinha estado tão absorta em derrotar seu passado que
não tinha pensado em como sua aparência poderia refletir
sobre Case.
— Você não é uma vergonha para mim, Jilly —, disse Case
com firmeza, seu olhar penetrante segurando o dela. — Agora
vem, ele está esperando.
Ao chegarem ao final do salão, Jillian olhou curiosa para o
homem de quem se aproximavam. Por trás, ela não sabia
muito, embora ele fosse mais alto que Case. Seu cabelo era
escuro, onde Case era loiro, e seus ombros pareciam um pouco
mais largos. Então ele se virou, e o coração dela parou e sua
boca ficou seca. O homem que ela conhecera no parque era o
irmão de Case, o duque?
Quando seu olhar encontrou o dela, ela pôde ver a
desaprovação refletida em seus olhos, olhos que em seu
encontro anterior estavam cheios de calor. Não era mais do que
ela esperava, sabendo que ele ficaria ciente do envolvimento de
Case com ela, mas o que ela não esperava era que o duque
fosse o homem que ela conhecera e quase beijara no parque!
Decepção a agarrou, deixando-a ligeiramente trêmula.
Humilhação por ele ter testemunhado sua vulnerabilidade feriu
seu orgulho. Ela se obrigou a não mostrar a onda de
insegurança e incerteza que sentia quando pararam diante do
homem carrancudo.
— Jillian, esse é meu irmão, Justin, o duque de
Whittington. Justin, eu apresento Jillian.
— Sua graça —, ela murmurou, graciosamente
executando uma reverência.
— Milady, eu ouvi muito sobre você —, disse ele,
levantando a mão enluvada para os lábios.
— Tenho certeza de que nada disso foi elogioso —, disse
ela brandamente.
Ele levantou uma sobrancelha ante sua franqueza. —
Meus pêsames por sua recente perda.
Ela suprimiu a vontade de vociferar uma réplica. Em vez
disso murmurou seu agradecimento. A orquestra tocou uma
valsa e ele se curvou diante dela.
— Posso ter a honra desta dança?
Ela relutantemente colocou a mão em seu ombro e
permitiu que ele a conduzisse nos passos. Ela poderia muito
bem acabar logo com isso. A reprimenda estava prestes a
chegar.
Eles dançaram alguns momentos, Jillian sentindo o peso
de seu olhar. Ela olhou para ele, desafiadoramente
encontrando seus olhos. Cada nervo em seu corpo estava no
limite, e ela podia sentir o calor do seu toque através das
camadas de suas luvas e seu vestido. Enquanto se lembrava de
como os lábios dele tinham chegado aos dela poucas horas
antes, um rubor subiu por seu pescoço e suas bochechas, e de
repente o salão ficou quente.
— Nos encontramos de novo —, disse ele, quebrando o
silêncio constrangedor.
— Seu desânimo pela minha identidade deve ser sufocante
—, disse Jillian em uma voz firme.
Ele a examinou com os olhos entrecerrados. — Vamos ao
ponto. Não vejo necessidade de sutilezas.
— Eu não poderia concordar mais, sua graça.
— O que será necessário para você desaparecer da vida de
Case?
Ela olhou para ele com desconfiança. — Não pretendo
desaparecer de nenhum lugar. O que você tem contra mim?
Não sabe nada sobre mim. — Oh, ele provavelmente sabia um
pouco, ela se corrigiu. Ele não parecia o tipo de homem que
seria ignorante de muita coisa. Uma sensação doentia apertou
seu estômago ao pensar em ter que encontrar esse homem
regularmente. Não, ela não deveria ter que vê-lo muito, mesmo
se ele fosse irmão de Case. Segundo Case, seu irmão preferia a
vida em Yorkshire.
E por que estava tão desapontada com a desaprovação
dele? Quando ela se importara com uma opinião exceto a de
Case?
— Eu sei o suficiente —, ele disse baixinho, seus olhos
passando sobre o vestido dela.
— Sabe mesmo? — Ela perguntou, sua voz
enganosamente suave. — Francamente, sua graça, eu não dou
a mínima para o que você sabe, ou pensa que sabe sobre mim.
Quão egoísta de você presumir que eu iria.
Seu braço apertou ao redor de sua cintura.
— Cuidado, sua graça —, disse ela ironicamente. — Você
não gostaria de dar a todos a impressão errada. — Ela estava
pressionada firmemente contra o peito dele, o braço dele
segurando-a com força, e seu rosto a poucos centímetros do
dele. Por um momento ela foi transportada de volta para o
parque. Podia sentir o aroma nítido de seu casaco de equitação
e sentir seu hálito quente em seus lábios enquanto ele se
curvava tão perto dela. E então, como havia feito no parque, ele
recuou apressadamente, soltando-a tão rapidamente que ela
quase tropeçou.
— Deixe que me esclareça claramente, lady Penroth. Eu
não dou a mínima para o que você faz ou com quem você faz,
contanto que não seja com Case. Não vou permitir que o faça
de ridículo, nem ao nome da minha família.
A raiva rapidamente removeu os remanescentes de seus
pensamentos fantasiosos. — Que muito nobre de você —, disse
ela com sarcasmo duro. — Agora deixe-me ser perfeitamente
clara. Farei o que quiser, e nada do que você disser ou fizer
fará a menor diferença. Eu conheço sua espécie —, ela disse
com desagrado. — Você prospera controlando os outros. Bem,
ouça isso. Eu não serei controlado por nenhum homem.
— Eu não vim aqui esta noite para discutir com você —,
ele disse secamente. — Mas se persistir em seu curso de ação e
em seu relacionamento com Case, eu farei tudo o que estiver ao
meu alcance para ter certeza de que você não será capaz de
mostrar seu rosto na sociedade novamente.
Ela riu abrasivamente. — Essa ameaça pode realmente
funcionar em alguém que se importa. Olhe ao seu redor, sua
graça. Eu não sou exatamente a queridinha da sociedade. Não
me intimida —, ela disse friamente. — Meu relacionamento
com Case não é da sua conta. Já lhe ocorreu que ele é
perfeitamente capaz de tomar suas próprias decisões e que elas
não dizem respeito a você?
— Tudo a ver com a minha família é minha preocupação
—, disse ele friamente. — Eu não vou ficar de braços cruzados
e deixar que alguma rameira faça de bobo ao meu irmão. Como
se atreve a aparecer em público como faz, exibindo seu
desrespeito pelo decoro. Você desonra seu falecido marido e o
nome Penroth.
Um breve momento de dor tomou conta dela antes que
sua raiva crescente assumisse o controle. — Seu bastardo
arrogante! Não sabe nada sobre mim ou meu marido. Você
pode ir direto para o inferno. Case e eu decidimos os termos da
nossa amizade, ninguém mais.
Enquanto a música acabava, Jillian ficou surpresa ao
descobrir que estavam completamente do outro lado do salão
longe de Case. O duque segurou seu cotovelo e rapidamente a
conduziu para a varanda. O ar fresco era bem-vindo para suas
bochechas coradas, mas elas se aqueceram de novo
consideravelmente quando sua indignação explodiu.
— Tire a mão do meu braço imediatamente —, disse ela,
imperiosa. — Eu gostaria de voltar ao salão de baile.
— Você voltará em tempo —, disse o duque, parando a
vários metros da entrada mais próxima.
Jillian puxou o braço da mão dele e se distanciou o
máximo possível. Seus olhos correram rapidamente ao redor,
procurando por um possível caminho de fuga.
Ele fechou a distância entre eles e olhou para ela com
olhos ardentes. — Vamos lá, Lady Penroth. Certamente há
algum acordo mutuamente benéfico a que podemos chegar. Um
que não envolva sua associação com meu irmão.
— Você está se oferecendo para tomar seu lugar, sua
graça? — Ela forçou leveza em sua voz e engoliu quando ele se
aproximou ainda mais dela.
— Esse é o seu jogo, milady? Usar Case para chegar ao
meu título? Ou é o meu dinheiro que você quer? Deixe-me dizer
agora. Não estou interessado em mulheres gananciosas e
calculistas, por mais lindas que sejam.
Apesar de sua fúria, ela sorriu. — Então você me acha
linda, sua graça? — Olhou ironicamente para ele. — Que
surpresa para você que eu não o ache atraente. O que você
poderia me oferecer que o Case não possui? De fato, Case é um
verdadeiro cavalheiro, um que eu gosto muito. Eu não quero
nada de você, meu querido duque. Nada além de você rastejar
de volta para o buraco de onde tirou sua cabeça feia. — Deus a
perdoe por essa mentira, pois ela o achou muito atraente sem
dúvidas, mas o inferno brotaria pingentes de gelo antes dela
admitir isso.
Justin olhou para ela incrédulo. A garota estava
propositalmente a provocá-lo. Ele teve a estranha vontade de
jogar a cabeça para trás e rir. Sua mandíbula trabalhava de um
lado para o outro enquanto ele vacilava entre diversão e raiva.
Finalmente a raiva venceu. — De alguma forma eu não
esperaria que uma mulher de sua posição agisse com decoro.
Não posso tolerar o que meu irmão está pensando além de seu
desejo de se deitar com você. Diga-me, Lady Penroth, quanto
tempo você esperou antes de fazer de seu marido um corno?
Seus olhos verdes brilhavam quando ela se ergueu
indignada. Seu peito arfava e ele estava hipnotizado pelos
montes suaves de seus seios que se esticavam e ameaçavam se
libertar do vestido ousado. — Isso não é da sua conta —, ela
disse friamente. — Eu não serei intimidada por você, sua
graça. Você está perdendo seu tempo e o meu. Agora, eu exijo
ser devolvida ao salão de baile.
Ele quase riu quando ela olhou para ele com toda a força
de sua fúria. Seus carnudos lábios rosados estavam em uma
linha fina, e ele queria tanto prová-los que quase abaixou a
cabeça para fazer exatamente isso. Foi apenas a sua sorte de
ser atraído por uma mulher tão desprezível. De todas as
mulheres em Londres que ele podia escolher, ele tinha que
querer aquela que provavelmente pularia na frente de uma
carruagem que se aproximava, em vez de dar a ele mais do que
um olhar passageiro.
Com pesar, ele deu um passo para o lado e fez um gesto
com o braço para a casa. — Com certeza, Lady Penroth. Não
me deixe te manter longe de suas conquistas. Mas lembre-se de
algo. Se machucar meu irmão, você terá que responder a mim.
Ela passou por ele como se não conseguisse sair de sua
presença com rapidez suficiente. Ele observou enquanto ela
juntava as dobras do vestido nas mãos e voltava para o salão
de baile. Ele a perdeu de vista quando ela foi engolida pela
multidão. Mais uma vez, a decepção cortou seu ânimo. Ele se
afastou das janelas e olhou para a noite.
Jillian olhou para o outro lado da sala quando voltou a
entrar no salão de baile e viu Case olhando em sua direção.
Seu rosto estava aceso com perguntas não formuladas e ela
não desejava aguentar uma inquisição sobre seu
desaparecimento com o duque. Fugiu para a mesa de refrescos
e rapidamente tomou um copo de vinho.
Ela tragou várias respirações firmes e endireitou os
ombros. Sua graça poderia apodrecer. Não ia deixá-lo intimidá-
la.
Mais um copo de vinho na mão, ela se virou. Viera ali esta
noite com um propósito, e ela não ia ser desviada de sua
missão de banir os demônios do ano passado.
Capítulo Três
Os primeiros dedos da luz do sol estavam começando a
atravessar o horizonte quando Jillian saiu da biblioteca para
seu jardim. Uma leve geada havia beijado a terra, e a grama
rangia sob seus chinelos, enquanto se encaminhava para a
rede balançando preguiçosamente entre as duas únicas árvores
no pequeno espaço, cercado por uma parede de pedra coberta
de hera.
Sua respiração saiu em um grande sopro, indicando a
frieza do ar da manhã. Nas manhãs mais quentes, muitas
vezes tomava o café da manhã ali, e ela ansiava pela primavera
quando pudesse voltar a fazê-lo. Ainda assim, havia algo que a
atraía para o rigor do inverno. Talvez tenha sido o modo como a
terra nunca morria verdadeiramente. Só ficava dormente sob
as camadas de neve e gelo esperando até chegar a hora de
romper a casca protetora e desabrochar novamente. Era a
sobrevivência no seu melhor.
Respirou fundo o ar, que cheirava levemente à fumaça das
chaminés próximas, e fechou os olhos de prazer, arqueando o
rosto ao sol nascente que banhava o jardim em seu calor.
Uma garrafa de vinho vazia ao lado da rede chamou sua
atenção enquanto se aproximava, e se inclinou para recuperá-
la. Ela olhou com tristeza, não lembrando muito da noite
anterior além de seu encontro com o duque. Ela havia se
retirado para o santuário de seu jardim pouco depois do
confronto. Franzindo a testa, deixou a garrafa de lado, sua
cabeça dolorida repentinamente batendo um pouco mais
ferozmente ao pensar no irmão de Case.
Ela se acomodou na rede e observou a luz suave tocar os
cantos escuros de seu jardim enquanto o sol se elevava no
horizonte distante. Pelo menos, Case não estava zangado com o
desastre da noite anterior, e ela pretendia manter isso assim.
Contar a ele o que aconteceu entre ela e o duque não teria
nenhum propósito. Além disso, ela era perfeitamente capaz de
lidar com ele sem a ajuda de Case.
Se ao menos não tivessem se encontrado no parque.
Talvez então seu embaraço não fosse tão intensamente sentido.
Ela massageou sua têmpora, apertando os dedos
profundamente no entalhe em um esforço para aliviar a dor
surda. Talvez uma xícara de chá estivesse em vista.
Ela se levantou e voltou para a cozinha. Hilda levantou os
olhos de sua tarefa quando Jillian entrou.
— Bom dia, milady.
Jillian assentiu, não querendo gastar o esforço necessário
para falar.
— Vá para a sala de estar, — Hilda disse, seu rosto
suavizando em simpatia. — Harry acendeu um bom fogo, e eu
vou lhe levar um pouco de chá.
Jillian ofereceu um sorriso agradecido e saiu da cozinha.
Ela entrou na sala de estar e caminhou até a lareira, se
enrolando na poltrona que ficava diretamente em frente à
lareira. Ela se espreguiçou languidamente, sentindo o calor das
chamas invadindo seus membros. Era um bom dia para ficar
em casa e não fazer nada.
Hilda entrou logo depois e serviu-lhe uma xícara de chá.
Jillian murmurou seu agradecimento e então recostou-se mais
uma vez, apreciando o calor crepitante do fogo enquanto bebia
o líquido calmante. Seus olhos ficaram pesados enquanto
olhava para a chama hipnótica do fogo. Deixando de lado sua
xícara agora vazia, ela se enfiou na poltrona e fechou os olhos.

###

Seus olhos se abriram, a sala lentamente entrando em


foco. O fogo havia diminuído e apenas algumas brasas
restantes brilhavam. Ela se esticou na cadeira e, para seu
alívio, a dor em sua cabeça diminuiu muito.
— Ahhh, ela acorda.
Jillian se virou para ver Case estendido no sofá em frente
à cadeira em que ela estava sentada. — Há quanto tempo você
está aqui? —, ela perguntou sonolenta.
— Uma hora, talvez.
— Por que não me acordou?
— Parecia tão confortável. Eu não consegui perturbar
você.
— O que você está fazendo aqui, afinal? — Ela perguntou
enquanto lutava para se sentar em sua cadeira. — Eu esperava
que passasse o dia com seu irmão.
— Você não está feliz em me ver? — Ele perguntou,
dando-lhe um olhar ferido.
Ela jogou um dos travesseiros na cadeira nele. — Claro
que estou feliz em ver você. Não estou sempre?
— Então, como está se sentindo esta manhã? — Ele
perguntou em uma voz inocente.
— Minha cabeça parecia um repolho recheado quando
acordei —, ela admitiu.
— Eu quero saber por quê.
Ela olhou com raiva para ele. — Não há necessidade de
declarar o óbvio.
Ele riu. — Eu entendo que você está se sentindo um pouco
melhor então?
— Sim, de fato. Eu realmente preciso parar de beber tanto
—, ela disse com um suspiro.
Case permaneceu em silêncio.
— O quê? Nenhum comentário do meu amigo sarcástico?
— Ela perguntou, incrédula.
— Acho que seria uma boa ideia —, ele disse suavemente.
— Eu me preocupo com você, Jilly. Eu acho que o ato, a
bebida, tudo esconde algo que você não quer que ninguém veja,
mas em algum momento tem que deixar sair.
— Você sabe melhor do que ninguém o que é essa coisa
—, ela respondeu.
— Sim, mas acho que ainda há mais. Você não me contou
tudo. Eu só posso imaginar as coisas que trancou nessa sua
cabeça.
Ela sorriu para ele. — Você é tão querido por se preocupar
comigo. Eu sei que tenho tentado e vou me esforçar para
melhorar.
— Você me entendeu mal, Jilly. Eu não quero que mude
quem você é. Eu só quero que seja fiel a quem você é. Não
importa o que os outros possam pensar, essa mulher dos
últimos seis meses não é você.
Ela se mexeu desconfortavelmente na cadeira. Sabia que
ele estava certo. Ele sabia que estava certo, mas ela não queria
insistir na precisão de suas palavras. Um quase audível
suspiro de alívio escapou quando Hilda entrou na sala.
— Milady, isso acabou de chegar para você.
Ela estendeu um envelope, e Jillian pegou, olhando com
interesse para o lacre de cera. Abriu e rapidamente olhou o
conteúdo. Colocando o papel no colo, ela olhou para Case em
choque. — É um convite para o chá da tarde com a condessa
viúva de Winthrop.
— Mais como uma convocação real, então —, disse Case
com diversão.
— O que ela poderia querer?
Aos sessenta e dois anos, Beatrice Dunberry, a condessa
viúva de Winthrop, ou Lady Bea, como era carinhosamente
chamada pela sociedade, era uma das rainhas reinantes da
sociedade. Ela tinha sido um antigo membro do comitê do
Almack antes de sair na temporada anterior. Ela exercia uma
grande quantidade de poder em círculos educados, e muito
respeito era oferecido a ela.
Jillian foi tentada a recusar o convite, mas a curiosidade
venceu no final. Já ficara muito tempo em casa. Ela se
levantou e caminhou até a pequena mesa no lado oposto da
sala e tirou o papel de carta da gaveta. Ela rapidamente
escreveu uma resposta e convocou Hilda para entregá-la à
condessa.
— O que você fará entre agora e a hora em que se
encontrará com Lady Bea? —, Case perguntou quando Jillian
acomodou-se em sua poltrona diante do fogo.
— Estou indo para a costureira com Elsie. Eu estou
encomendando todo um novo guarda-roupa.
— Um novo guarda-roupa e está levando Elsie com você?
Eu só posso tirar tanta respeitabilidade de você em um dia.
— Estou apenas tomando Elsie porque ela precisa de
novos vestidos. Sinceramente, duvido que ela apreciasse os
refugos do meu luto, — ela disse com uma risada. — E eu
estou comprando roupas novas porque meu guarda-roupa
anterior é aceitável em meio luto.
Case riu. — Eu tinha esquecido que o branco era
apropriado para meio luto. Costume idiota, esse. Ou você está
de luto ou não está.
— Provavelmente não —, disse Jillian secamente.
— Devo me preparar para esta última mudança no
guarda-roupa? —, ele perguntou, fingindo preocupação.
Ela deu a ele um olhar sombrio. — Você não precisa se
preocupar. Eu estou optando por roupas mais adequadas desta
vez.
Ele arqueou uma sobrancelha em surpresa. — Oh, diga, o
que motivou isso?
Ela teve um súbito interesse no fogo, evitando o olhar dele.
— Oh nada —, disse ela levemente.
Case a observou por um momento tentando decifrar sua
resposta vaga. Essa mudança inesperada era intrigante, assim
como sua relutância em contar a razão por trás disso. Não
importa, ele estava secretamente feliz por ela estar optando por
uma abordagem mais conservadora. Incomodava vê-la
ridicularizada e desprezada pela sociedade.
Consultou seu relógio de bolso e, para seu pesar, era hora
de ele ir. Ele era esperado na casa do Justin em breve. O
mistério em torno de sua mudança de atitude teria que
esperar.
— Bem, estou indo. — Case levantou-se. — Eu estou indo
para a casa de Justin, mas virei hoje à noite para ver como foi
o seu encontro com a condessa.

###

Justin sentou-se atrás de sua mesa, com a pena na mão,


enquanto examinava as muitas cartas que tinham juntado
poeira durante seu tempo longe. Mastigou distraidamente a
ponta enquanto tentava se concentrar nas palavras à sua
frente. Com uma maldição, ele largou a caneta e amassou o
papel, jogando-o pela sala. Não conseguia parar de pensar no
dia anterior.
Por que a mulher no parque tinha que ser a notória
condessa de Case? Ele tinha estado acordado na noite passada
lembrando como ela tinha parecido, seu riso, a aura de
vulnerabilidade que emanava dela. Ele bufou. Vulnerável, rá!
Ela era uma sereia descarada.
Seu desapontamento com quem ela se revelou era agora
superado pela raiva que sentia por suas ações e seu
envolvimento com Case. Ela era obviamente uma atriz
talentosa. Não era como se Case fosse influenciado por um belo
exterior. Ele geralmente era bastante perito em ver as pessoas
exatamente como elas eram.
Fazendo Case ver a realidade não era uma tarefa que ele
gostava. Seu irmão devia sentir alguma afeição por ela, tinha
sido óbvio na maneira como a atendia na noite anterior. Ele
cerrou o punho de raiva. Não deixaria essa mulher fazer seu
irmão de tolo.
Num repentino impulso, ele se levantou e vestiu o
sobretudo. — Edward! — Ele gritou.
Edward se materializou na porta. — Sim, sua graça?
— Eu estou saindo. Informe meu irmão quando ele chegar
que fui chamado inesperadamente e retornarei em breve.
Edward assentiu. — Devo convocar sua carruagem, sua
graça?
Justin pensou por um momento. — Não, eu vou levar
minha montaria.
— Muito bem, sua graça. — Ele se virou para sair.
— Edward?
O mordomo voltou-se e olhou-o interrogativamente. —
Existe algo mais, sua graça?
— Por acaso você sabe o endereço de Lady Penroth?
Capítulo Quatro
Justin desacelerou o cavalo para uma caminhada quando
virou para Mount Street. Ao se aproximar do número sete, ele
viu uma carruagem estacionada na rua em frente da casa dela.
Um momento depois, Lady Penroth veio correndo da casa. O
condutor baixou o degrau, abriu a porta e ela entrou
rapidamente.
O elegante e caro coche se afastou. Na porta da carruagem
não havia o brasão de Penroth nem o brasão da família. Não,
um J intrinsecamente esculpido estava estampado em prata. A
ousadia da mulher não conhecia limites.
Ele ficou por um momento em cima do cavalo,
ligeiramente desapontado por não ter encontrado com ela. Na
noite anterior, ele estava muito entusiasmado com a beleza
dela para pensar com lucidez. Esta manhã, no entanto, não
sofreu tal doença e tinha intenção de dizer-lhe o que tinha em
mente.
Suspirando em frustração, virou o cavalo e voltou para
sua casa. Sem dúvida haveria outro dia para enfrentar a
diabinha.

###

Às quatro horas, Jillian bateu na porta da residência de


Lady Winthrop e apresentou seu cartão de visitas. Um
mordomo de rosto solene conduziu-a para a sala de estar e,
momentos depois, a condessa viúva entrou. Ela era uma
mulher alta e imponente. Seus cabelos prateados estavam
recolhidos em um penteado elegante, e um chapéu de penas de
avestruz em plumas cobria a pilha de cabelos. Jillian nunca
entendera o fascínio da sociedade pelas penas. Elas
pontilhavam todos os chapéus nesta temporada, quanto
maiores e mais grandiosas, mais exigidas se tornaram.
Embora a condessa não estivesse muito cravejada de
joias, como muitas das matronas da sociedade, seu vestido era
muito chamativo. Simplificando, a cor era horrível. Não muito
pastel, mas sem a ousadia de um tom mais claro, o vestido
amarelo tinha um tom esverdeado, parecendo o conteúdo de
um penico depois que alguém vomitara.
Jillian se levantou e fez uma profunda reverência. —
Estou honrada pelo seu convite, milady.
— Estou tão feliz que você aceitou —, disse a condessa em
sua voz estrondosa. — Foi com pouca antecedência, então eu
espero que você me perdoe. Sente-se, minha querida, vou
chamar pelo chá.
Enquanto esperavam a bandeja, a viúva olhou para
Jillian. — Não creio que tenha tido a chance de estender
pessoalmente minhas condolências pela perda de seu marido,
Lady Penroth.
Jillian ofereceu um sorriso tenso. — Você é gentil em
pensar em mim, milady.
— Chame-me Bea —, ela disse graciosamente. — Posso te
chamar de Jillian? Não posso achar que você goste de ser
tratada como Lady Penroth.
Jillian acenou com a cabeça, maravilhada com a intuição
da condessa.
Eles foram interrompidos pela entrada de uma empregada
carregando uma bandeja de chá e bolos. Ela colocou as bebidas
na mesa ao lado de onde a condessa viúva estava sentada. A
condessa serviu duas xícaras, entregando uma delas a Jillian.
O silêncio assentou sobre as duas mulheres enquanto
tomavam o chá. Lady Bea olhou Jillian por cima da xícara. —
Você não se importou muito com o seu marido, eu entendo.
Jillian quase engasgou com o chá.
— Perdoe a minha franqueza, minha querida, na minha
idade, acho tedioso fugir do assunto. Então, vou direto ao
ponto.
— Eu não sei o que dizer —, Jillian respondeu, sem ideia
de como responder à declaração da viúva.
— Vamos lá, Jillian. — Seu tom era gentil. — Você não é a
única mulher que já sofreu um casamento ruim, e eu não
estou relutante em dizer que você não será a última.
— Você não sabe nada sobre o meu casamento.
— Não sei? — Ela perguntou levantando uma
sobrancelha. — Ele bateu em você? Forçou-se a você? Ele era
desleal?
Jillian sentiu o sangue escorrer do rosto e engoliu em
seco, passando pelo nó na garganta.
A viúva olhou para ela amavelmente. — Você não é a
única mulher abusada por seu marido. Eu ouso dizer que você
sobreviveu melhor que a maioria. Pelo menos não foi confinada
a uma vida de miséria como a maioria das mulheres em sua
posição. Vejo que a deixei sem palavras —, disse ela,
observando a expressão aturdida de Jillian. Parou por um
momento antes de continuar. — Minha querida, é um triste
testemunho de nossos tempos, mas, na realidade, não é
incomum que uma mulher sofra nas mãos de seu marido. Eu
odeio ver você alienar toda Londres com suas ações. Eu posso
entender bem o que motivou sua rebelião, mas logo seus
colegas deixarão de se divertir com você, e eles lhe darão um
corte direto.
Jillian bufou ironicamente.
— Você parece nos insultar assim —, disse a viúva em voz
baixa. — Nós não fizemos nenhum mal a você. Não pode julgar
a todos nós pelas ações de seu marido. Eu admito, quando
você apareceu pela primeira vez após a morte do conde, eu
aplaudi alegremente. Foi reconfortante ver uma mulher gritar
para a sociedade o que ela realmente achava de seu marido. —
Lady Bea levantou-se e sentou-se ao lado de Jillian,
acariciando sua mão. — Há muitas de nós que seriam suas
amigas se você nos deixasse.
Jillian considerou a mulher mais velha em silêncio
atordoado.
— Eu gosto de você, Jillian. Gosto da sua coragem, mas
não quero ver a sua queda. Certamente é hora de seguir em
frente e continuar adiante com sua vida. Afinal, você
sobreviveu e ele não. No final, não é a mais doce vingança?
Jillian finalmente conseguiu encontrar sua voz. — Por que
está fazendo isso?
— É simples, menina, é hora de você parar de desprezar a
sociedade e tomar o seu lugar entre nós. Você está em uma
posição invejável, minha querida. Você é jovem, vibrante e livre
para conduzir seus negócios sem a dominação de um marido.
— Sim, suponho que sim —, disse Jillian com uma voz
confusa. — Eu nunca quis estar nesta posição.
— Não, eu não acho que você quisesse —, disse ela com
simpatia. — Sem dúvida você queria o que todas as garotas
querem. Um marido, um lar, filhos... mas não há motivo para
não poder tê-lo. Conheço muitos cavalheiros que saltariam
ante a oportinidade de se casar com você.
— Eu não vou casar de novo —, disse Jillian com firmeza.
— Pelo menos tem a escolha —, disse a viúva. — O que há
entre você e Lorde Case Devlin?
Jillian reagiu surpresa. Elas certamente haviam
ultrapassado os limites da decência com essa conversa. Ela
sorriu para si mesma. A maioria das mulheres da sociedade
sucumbiria a ataques de desmaios se sequer ouvissem essas
questões da viúva.
— Case e eu somos amigos. Ele é meu amigo mais querido
—, corrigiu ela.
A viúva olhou especulativamente para ela.
— Não, não esse tipo de amigo. — Jillian sentiu suas
bochechas ficarem quentes sob o escrutínio da mulher mais
velha.
— Bem, suponho que não seja totalmente fora do campo
de possibilidade que você e Devlin sejam amigos. Ele parece ser
um jovem honrado, vem de boa família. O duque fez um ótimo
trabalho com ele.
Jillian franziu a testa ante a menção do duque.
— Não a aprova, não é? — A viúva riu.
Jillian sacudiu a cabeça ante a estranha habilidade da
mulher mais velha para identificar a verdade. — Nada escapa a
você, milady... Lady Bea —, ela corrigiu.
A viúva sorriu ante o uso do nome íntimo por Jillian. —
Bem, então, teremos que mudar a opinião dele sobre você.
Jillian franziu o cenho. — Não tenho vontade de mudar
sua opinião sobre mim. Ele pode ir direto ao diabo!
Lady Bea riu. — Gostaria de ter testemunhado seu
primeiro encontro. Eu imagino que foi muito divertido.
Um rubor involuntário subiu pelo pescoço ao pensar em
seu primeiro encontro. Ela não podia dizer a Lady Bea sobre
isso. Finalmente, optou por um relato do local de encontro
mais óbvio. — Ele me chamou de rameira, e eu disse a ele para
ir para o inferno, não foi muito divertido. — As duas mulheres
se entreolharam e começaram a rir. — Tudo bem, suponho que
foi engraçado —, admitiu Jillian.
Seu riso sumiu e ela olhou agradecida para a condessa. —
Não posso te dizer o quanto eu apreciei esta tarde.
— Você vê, nós não somos todos ruins —, Lady Bea disse
gentilmente. — Goste ou não, você é uma de nós. Você não
pode mudar as circunstâncias do seu nascimento. Nós não
somos sem falhas, mas se nos der uma chance, podemos ser
uma fonte inestimável de apoio. Sim, somos bobas, frívolas.
Algumas de nossas tradições parecem antiquadas, mas isso é
apenas o jeito das coisas. Você tem que aceitar o mal com o
bem.
Por impulso, Jillian abraçou a senhora mais velha. Lady
Bea pareceu surpresa com o gesto, mas acariciou o cabelo de
Jillian afetuosamente. — Deve ter sido difícil para você, perder
seus pais em uma idade tão jovem. Esteve longe da sociedade
por tanto tempo. Não tinha ninguém para lhe dar qualquer
direção depois que voltasse.
Jillian se afastou, sorrindo grata para ela. — Obrigada
pelo seu conselho, Lady Bea. Isso significa muito para mim.
— Você não tem de agradecer, minha querida, foi um
prazer tê-la para o chá. Temos que fazer isso de novo em breve.
— Ela acompanhou Jillian até à carruagem que a esperava. —
Eu confio em ver você no meu baile no domingo à noite.
Jillian sorriu. — Eu certamente estarei ansiosa por isso.

###

Naquela noite, Case se juntou a Jillian em seu jardim. Era


uma noite linda. O sol acabara de se pôr e o crepúsculo estava
sobre eles. Jillian entregou a Case uma taça de vinho quando
ele se acomodou na rede ao lado dela. Ela serviu vinho para os
dois e tomou um gole do copo.
— Acho que a sua visita correu bem —, observou Case.
— Foi completamente surpreendente —, ponderou Jillian.
— Ela não era nada do que eu esperava.
— Ela é uma mulher de bom coração. Ela e minha avó
eram boas amigas.
— Eu supus que ela me repreenderia por meu
comportamento escandaloso. Em vez disso, ela me deu seu
apoio. Você sabe, falar com ela hoje dissipou muitas das
minhas crenças.
— O que você quer dizer?
— Bem, eu sempre achei que meu casamento era uma
aberração, uma reviravolta terrível do destino que só eu
consegui me envolver. Em vez disso, aprendi que era normal
pelos padrões da sociedade. É deprimente com certeza. — Ela
murmurou. — Se alguma vez pensei em me casar novamente,
certamente mudei de idéia agora.
— Nem todos os homens são bastardos —, lembrou Case.
— Nem todos os homens desejam exercer sua vontade sobre a
esposa. De fato, alguns buscam um casamento baseado no
respeito e compreensão mútuos. Um dia, acho que vou me
casar e ter filhos. Eu certamente nunca maltrataria minha
esposa. Espero que gostemos muito um do outro, mas, mesmo
assim, nunca abusaria dela.
— Mas e o amor? — Perguntou Jillian suavemente. —
Você falou de respeito e gostar, mas não de amor.
Case olhou para ela indulgentemente. — Pessoas em
nossa posição não se casam por amor, Jilly. Casamos com
alguém adequado para nossa posição e, se tivermos sorte,
encontraremos confiança e respeito com elas.
— Acho isso mais deprimente do que o meu casamento ser
normal —, ela murmurou.
— Jilly, Lady Bea não sabia dos detalhes do seu
casamento. Eu dificilmente chamaria seu casamento com
aquele bastardo de normal. Não conheço nenhum homem que
se respeite que trate sua esposa como Penroth tratou você. É
verdade que há homens que têm pouca consideração por suas
esposas, mas a maioria não chega ao extremo que ele chegou.
Jillian tomou um longo gole de seu copo enquanto
lembranças dolorosas a atacavam.
— Vamos falar sobre outra coisa —, disse Case
alegremente.
— Bem, no final, acredito que fiz uma amiga —, disse
Jillian, aceitando com gratidão a mudança de assunto.
— Lady Bea é uma amiga fiel e uma excelente defensora.
— Ela é uma senhora notável —, ela concordou.
Jillian deitou na rede olhando para o céu agora escuro. —
Você está planejando permanecer em Londres após o final do
mês?
— Eu imagino que sim —, ele respondeu. — Justin
provavelmente passará a maior parte do inverno em
Whittington, então vou dividir meu tempo entre lá e Londres.
Jillian sorriu, sabendo que Case havia optado por
permanecer em Londres para manter sua companhia. Ela havia
fechado Penroth e liberado todos os servos fiéis de seu marido,
tornando Londres seu lar permanente. A mansão aguardava
um novo senhor, se alguém pudesse ser encontrado, mas ela
esperava que apodrecesse no chão nesse meio tempo.
Outrora a família de Lucas teve numerosas propriedades,
mas eles venderam tudo, exceto Penroth, com o declínio de
suas fortunas. Quando Lucas herdou o título, ele jogou o resto
fora, deixando-o com algumas centenas de libras e um
punhado de notas promissórias enquanto sua dívida
aumentava.
O casamento com Jillian mais uma vez enchera seus
cofres e manteve seus credores à distância. Ele havia comprado
uma grande e ostensiva casa em Londres, em Park Lane,
ansioso por mais uma vez se abrigar no estilo de vida luxuoso
que desperdiçara. Estava bem a caminho de jogar fora grande
parte do dote de Jillian quando embarcou naquele fatídico
navio com destino à França. Se não fosse pela herança que
recebera em seu vigésimo primeiro aniversário de sua avó
materna, ela agora estaria necessitada.
Pegou a garrafa de vinho, com a intenção de servir outro
copo, mas Case gentilmente retirou-a da mão. Ele pegou seu
copo e colocou-o ao lado. Ela sorriu com tristeza, mas não
protestou.
— Então você vai me dizer o que aconteceu entre você e
Justin? — Case perguntou.
— Não.
Ele levantou uma sobrancelha e olhou para ela,
obviamente esperando que dissesse algo mais, mas ela se
afastou dele e olhou pensativa para a noite. Não era como se
não fosse honesta com ele, mas ela não estava preparada para
discutir seu irmão. Havia muitos fatores envolvidos.
Depois de um longo momento de silêncio, voltou-se para
ele, finalmente reunindo coragem para fazer a pergunta mais
importante em sua mente. — Case, você tem uma amante?
Case engasgou com o vinho que estava bebendo. Ele olhou
para ela incrédulo. — Que diabos faz você fazer uma pergunta
como essa?
Estava feliz por ele não poder ver seu rosto claramente na
atmosfera escura. Tinha certeza de que suas bochechas
estavam em chamas. — Bem, eu pensei em fazer uma pergunta
sobre elas, se você tiver uma —, ela acrescentou rapidamente.
— Mal posso esperar para ouvir isso.
— Você não precisa rir de mim —, disse ela acidamente. —
Estou envergonhada o suficiente sem você tornar as coisas
mais difíceis.
— O que você quer saber? — Case tentou usar um tom
mais sério.
— Bem, eu só queria saber se elas gostam... bem, isso é se
você é bom em... bem, elas gostam de uma coisa dessas?
Ele explodiu numa gargalhada incontrolável. — Você está
questionando minhas proezas sexuais? — Ele engasgou,
enxugando as lágrimas de seus olhos.
— Não! Quero dizer sim... ou algo assim —, ela gaguejou.
— Eu quero saber se você... — Ela interrompeu-se novamente
em extrema mortificação.
Case pareceu ter pena dela e parou de rir. — O que é que
você quer saber, Jilly? — Ele estava lutando para manter uma
cara séria.
Ela torceu as mãos nervosamente enquanto reunia
coragem para continuar. — Eu apenas queria saber, se em sua
experiência, as mulheres, em geral, gostaram disso.
Case quase riu de novo. — Sim, Jillian, eu diria que na
verdade elas gostaram muito.
Ela inclinou a cabeça. — Você diria que elas gostaram por
causa da maneira como você fez, ou você acha que elas teriam
gostado disso com outro alguém?
— Jillian! — Ele disse em uma voz estrangulada. — Como
diabos nós entramos neste assunto? — Ela olhou para ele com
expectativa, esperando por sua resposta. Ele limpou a
garganta. — Só estou respondendo isso porque não quero que
você pergunte a outro pobre homem desavisado sobre sua
destreza na cama. Eu diria que as mulheres com quem tenho
tido intimidade iriam gostar disso com muitos homens
diferentes. Droga, mas meu ego está levando uma surra —, ele
murmurou. — Mas gosto de pensar que sou um parceiro
generoso quando se trata de dar prazer.
— Você já dormiu com muitas mulheres?
— Jillian, chega! — Ele protestou. — Eu não estou dizendo
a você com quantas mulheres estive envolvido.
— Houve tantas? — Ela perguntou surpresa.
— Jillian —, ele rosnou.
— Bem, com que outra maneira eu deveria descobrir o que
quero saber? — Ela resmungou.
— Talvez se você me dissesse precisamente o que quer
saber, e nós dispensemos o interrogatório de minhas façanhas
sexuais, então eu poderia ajudá-la.
— Eu só quero saber se é suposto ser agradável —, disse
ela, exasperada.
— Se feito corretamente, é muito agradável.
— Defina corretamente.
Case suspirou. — Como eu sabia que você ia perguntar
isso? Jillian, sua experiência com Penroth não foi indicativo da
maioria das experiências. A maioria das pessoas gosta de fazer
amor porque é prazeroso. Certo, alguns vêem isso como um
dever, uma tarefa a ser realizada com o propósito de
procriação, mas mesmo assim nem tudo é ruim, apenas não é
maravilhoso.
— Como você vê isso?
— Esta é uma conversa condenável —, ele murmurou. —
Muito além dos limites.
— Nossa amizade é muito além dos limites —, ressaltou.
— Você vai responder a minha pergunta, ou eu tenho que
perguntar a outro pobre homem desavisado sobre suas proezas
na cama?
— Eu vejo isso como um ato prazeroso. Mais tarde posso
ver isso como uma tarefa se o leito conjugal não for do meu
agrado, — ele disse ironicamente. — O que deixou você tão
curiosa de repente?
— Eu só queria saber —, ela respondeu. — E não é como
se eu tivesse mais alguém para perguntar.
— Eu não sei se me sinto honrado ou apenas desgraçado.
— Eu não achei que você fosse tão puritano —, brincou
ela.
— E eu não achei que você fosse tão devassa!
— Se eu não estivesse tão embriagada, não teria ousado
perguntar —, ela admitiu.
— Precisamente por que você não vai mais beber em
público —, disse ele com uma risada. — Droga, já passou da
meia-noite —, ele exclamou, após um exame atento de seu
relógio de bolso.
— Você está indo tão cedo?
Ele deixou cair um beijo no topo de sua cabeça enquanto
se levantava. — Infelizmente, devo ir. Tenho uma reunião
antecipada de manhã com meu advogado, para repassar
alguns dos meus investimentos.
— Acho que posso visitar a livraria de manhã, gostaria de
me encontrar para almoçar no Pascale?
— Eu gostaria disso, vamos nos encontrar ao meio-dia.
Capítulo Cinco
Jillian examinou as prateleiras da pequena livraria,
retirando volumes e olhando as páginas com cuidado. Este era
seu estabelecimento favorito e um dos poucos lugares na Bond
Street que ela frequentava. Os romances góticos de Radcliffe,
assim como os relatos históricos, eram alguns de seus achados
favoritos, por isso ela ficou encantada ao encontrar um relato
recém-publicado da Revolta Colonial.
Ela recolheu a braçada de livros que tinha escolhido e
levou-os para a frente, onde um cavalheiro idoso os tirou dela e
totalizou suas compras.
— Oh, Lady Penroth, antes que eu esqueça. Reservei um
livro que recebi na semana passada e achei que você poderia
gostar. Ele puxou um volume pesado da prateleira atrás do
balcão e o colocou na frente dela. Era ricamente decorada com
uma crista encrustada de joias que se parecia muito com uma
espécie de insígnia real. Suas mãos acariciaram a suavidade da
capa de couro quando ela abriu o livro na primeira página.

A queda do Império Romano

— Oh, é perfeito! — Ela exclamou. — Obrigada por pensar


em mim. Onde você conseguiu isso?
— Acredita-se que seja da biblioteca pessoal de uma
família nobre na Rússia. Não posso verificar isso, mas é muito
antigo.
— Certamente é adorável. Tudo bem, Sr. Littleton, quanto
essa beleza me custará? — Ela perguntou, sorrindo para ele.
Sabia que um período de negociação animada estava prestes a
começar.
Ele fingiu pensar um pouco e depois ofereceu-lhe pela
módica quantia de cinquenta libras.
— Cinquenta libras! —, exclamou ela. — Eu não vou dar
um xelim mais de dez.
— Esta é uma antiguidade! — Ele protestou. — De uma
das melhores famílias nobres da Rússia. Eu não poderia vendê-
lo por menos de quarenta libras. Por que me custou tanto para
adquiri-lo!
Ela olhou divertida para ele. — É um ótimo livro, com
certeza. Suponho que ficaria satisfeito com vinte libras.
— Feito!
— Eu sabia que deveria ter oferecido quinze —, ela
resmungou.
Ele sorriu para ela. — Devo entregá-los esta tarde?
Ela ponderou por um momento. — Não —, decidiu, — eu
vou levá-los comigo.
— Você tem certeza? Eles são muito pesados, — ele disse
duvidosamente.
— Minha carruagem está na mesma rua. Eu posso levá-
los nessa distância. — Empilhou os livros em seus braços e
partiu para a entrada. O Sr. Littleton abriu a porta para ela e
despediu-se.
Mal conseguindo ver pelo monte de livros em seus braços,
ela esticou o pescoço à procura de sua carruagem. Uma vez
que a viu, deslocou a carga pesada e começou a ir na direção
da rua. Ela supôs que estava na metade do caminho quando de
repente foi derrubada no chão, livros voando em todas as
direções. Ouviu uma maldição abafada.
— Oh, me perdoe —, ela se desculpou, ainda incapaz de
ver em quem tinha esbarrado. Lutou para se levantar,
estorvada pelos muitos livros que a cercavam. De repente, ela
foi impulsionada quando mãos fortes a ajudaram a ficar de pé.
— Você realmente deve olhar onde está indo, Lady
Penroth.
O reconhecimento raiou e ela deu uma boa olhada em seu
salvador. — Oh, é você —, ela murmurou, observando a
expressão irritada do duque.
Ele se abaixou para recuperar seus livros. — Isso é
alguma maneira de mostrar sua apreciação?
— Eu não estou completamente convencida de que não me
derrubou de propósito.
Ele riu. — Meu meio de me livrar de você não inclui te
atropelar na rua.
— Livrar-se de mim? Quão macabro. Parece algo saído de
um romance gótico. Se você me der licença, eu tenho um
compromisso onde preciso ir.
— Pelo menos você está vestida adequadamente.
Os olhos de Jillian se voltaram para seu vestido de passeio
marrom e desejou ter usado uma de suas mais ousadas
criações brancas. Se ela soubesse que encontraria o duque,
certamente o teria feito. — É uma pena, sua graça. Poderíamos
ter tido um encontro agradável se não fosse por essa
observação. — Com isso, ela largou o livro pesado que havia
negociado com o dono da loja diretamente em cima de seu pé.
Seu chiado de dor foi instantâneo. — Oh Deus, fui desajeitada
—, ela disse inocentemente.
— Sua maldita megera, você fez isso de propósito! —, ele
exclamou em uma voz logo abaixo de um grito.
— Tsk tsk, isso é maneira de um homem de sua posição se
comportar em público?
— Eu vou te pegar por isso —, jurou, seus olhos
prometendo vingança.
— Eu vou esperar ansiosa —, ela disse docemente,
enquanto subia em sua carruagem.
— Assanhada insolente —, ele murmurou enquanto ela se
afastava. Droga, mas se ela não estava bonita! Ele quase fez
um completo bobo de si mesmo olhando para ela. Como uma
mulher tão linda poderia ser tão repreensível? Ele balançou a
cabeça e continuou até o joalheiro para reparar seu relógio.
Quando saiu da joalheria, viu Case um quarteirão à
frente, entrando no Pascale, e apressou-se em alcançá-lo,
abrindo caminho entre a multidão de compradores ocupados.
Entrou no vestíbulo iluminado do prédio que já foi a casa da
princesa da Áustria. Comprado por um rico investidor, foi
transformado em um empreendimento lucrativo. A sociedade
reunia-se aqui diariamente para ser vista e para comer os
pratos, agora famosos, preparados por um chef que foi
supostamente contratado da cozinha do Rei George III.
Nenhuma despesa foi poupada na decoração luxuosa das
salas. Pinturas de valor inestimável adornavam as paredes e
candelabros, supostamente feitos de ouro puro, ficavam em
cada canto. Enormes candelabros de cristal importados da
França estavam suspensos no teto. As mesas eram um rico
mogno, as cadeiras esculpidas por um mestre artesão. Os
tapetes que decoravam o chão eram trazidos da Pérsia e as
plantas e a vegetação que adornavam as salas eram cultivadas
em uma enorme estufa nos arredores de Londres, construída
especificamente para fornecer decoração para o Pascale.
O proprietário cumprimentou Justin entusiasticamente e
ofereceu-se para acomodá-lo imediatamente.
— Eu estava procurando pelo meu irmão. Eu acredito que
ele acabou de chegar há alguns minutos atrás.
— Ah, sim, Lorde Case está em uma de nossas mesas
junto à janela, posso lhe mostrar o caminho?
Justin recusou, optando por ir desacompanhado. Ele viu
Case sentado em uma mesa elegante com vista para a Praça
Hanover. Case olhou para cima quando ele se aproximou e
sorriu de bom grado. — Olá, Justin, eu não estava esperando
ver você aqui.
— Eu não esperava estar aqui mas o vi entrar, então
decidi entrar para ver você.
— Sente-se —, convidou Case. — Gostaria de comer?
— Você está comendo sozinho? —, ele perguntou quando
se sentou.
— Na verdade, ele não está. — Uma voz agora familiar veio
de trás dele.
Os dois homens se levantaram quando Jillian se dirigiu a
um assento entre eles. Os olhos de Justin reviraram para o
céu.
— Bem, sua graça, você e eu parecemos ter desenvolvido o
péssimo hábito de esbarrar um no outro ultimamente —,
Jillian disse lentamente.
— Não me diga, você é com quem Case está se
encontrando para o almoço —, disse ele com os dentes
cerrados.
— Tenho certeza de que há uma história adorável por trás
de toda essa animosidade —, cortou Case, — e eu adoraria
ouvir tudo sobre isso, mas podemos comer, por favor?
— Oh, eu tenho certeza que sua graça tem outros planos
—, disse Jillian, um pouco esperançosa.
— Eu adoraria me juntar a vocês —, Justin interveio
suavemente, sabendo muito bem que ela queria que ele
recusasse.
Ela olhou para ele quando se sentaram.
Case avaliou os dois com crescente diversão e interesse. O
almoço pode ser divertido.
Eles comeram em silêncio, Justin parecendo convencido e
Jillian parecendo ter engolido um limão. Case mal conseguiu
reprimir uma risada. A tensão pairava sobre a mesa como uma
nuvem escura. — Então, o que você comprou na livraria,
Jillian? —, ele perguntou brilhantemente, em uma tentativa de
diminuir a atmosfera tensa.
Seu rosto ficou animado. — Eu encontrei o mais lindo
livro chamado A Queda do Império Romano. Era da biblioteca
de uma família nobre na corte russa. — Os olhos dela
brilharam animadamente.
— Este seria o mesmo livro que você deixou cair no meu
pé? — Justin perguntou secamente.
— Seria o único —, ela respondeu docemente.
— Do que vocês dois estão falando? — Case exigiu.
— Oh nada —, disse Jillian levemente. — Ele me atropelou
na frente da livraria e eu deixei meu livro cair no dedão do pé
dele. Felizmente, meu livro não ficou mal.
— Pelo menos o meu choque em você foi um acidente —,
disse ele sombriamente. — Se você estivesse olhando onde
estava indo, isso não teria acontecido.
Ela largou o garfo e olhou para ele espantada. — Você não
pôde ver uma mulher carregando uma pilha de livros? Pelo
menos eu tenho uma desculpa. Minha visão estava impedida. A
sua, por outro lado, sua graça, estava completamente
desobstruída.
Os dois se encararam por cima dos pratos.
— Por que tenho a impressão de que sou invisível? —,
Resmungou Case. — Quando vocês dois tiverem terminado,
talvez pudéssemos dar um passeio pela praça.
— Eu devo voltar para casa —, disse Justin levantando-se,
deixando cair o guardanapo sobre a mesa. — Eu tenho um
compromisso de tarde.
O sorriso alegre de Jillian foi instantâneo.
— Você não precisa parecer tão aliviada. — Ele olhou para
ela.
— Pelo contrário, estou bastante desapontada —, disse
ela, sem demonstrar uma expressão sombria.
— Não há fim para o seu sarcasmo?
— Não há fim para sua pompa?
— Aham. — Case limpou a garganta.
Justin encarou Jillian, virou-se e se afastou da mesa.
— Você quer me dizer do que se tratou tudo aquilo? —
Case exigiu quando Justin foi embora.
Ela encolheu os ombros. — Eu acho que ele não gosta
muito de mim, mas você já sabia disso —, ressaltou. — Não
pareça tão sombrio. Eu descaradamente o provoquei bastante.
Ele riu. — Isso você fez.

###

Justin sentou-se no gabinete de Case, preguiçosamente


batendo os dedos no copo de conhaque que havia se servido.
Ele checou seu relógio pela terceira vez em tantos minutos e se
moveu impaciente. Com certeza, Case não passaria a tarde
toda com ela.
Ele cerrou o queixo aborrecido. Não tinha certeza do
motivo de Lady Penroth ter inspirado tal irritação. Esperava
que ela ficasse arrependida e com remorsos pelo seu
comportamento escandaloso, mas ela o desafiou abertamente e
o desobedeceu. E ele gostou disso. E foi isso que mais o irritou.
Ele deixou sua bebida de lado quando ouviu passos se
aproximando. Case logo entrou, a surpresa ao ver Justin
evidente em suas feições. — Eu pensei que você tivesse um
compromisso à tarde.
— Eu tenho... com você —, disse ele depois de uma pausa.
— Case, precisamos conversar. Este assunto com Jillian ficou
fora de controle.
Case levantou uma sobrancelha.
— Case, não combina com você estar exibindo sua amante
em lugares visitados pela sociedade. Esse tipo de coisa não se
faz. Você não fez segredo de seu óbvio carinho por ela, mas,
porra, mantenha isso discreto!
Case começou a rir. — Justin, ela não é minha amante,
nunca foi.
— Isso certamente não é o que a sociedade pensa —, disse
Justin intencionalmente.
— Quando você se importou sobre o que a sociedade
pensa?
— Quando isso envolve você ou a honra de nossa família,
eu me importo —, Justin respondeu. — Não daria crédito para
a última fofoca se não tivesse testemunhado a evidência com
meus próprios olhos.
— O que é que te incomoda tanto sobre Jillian?
Certamente não que você pense que ela é minha amante. Eu
tive amantes no passado. Você teve sua parte de mulheres
também.
— Eu sempre fui discreto em meus casos —, justificou
Justin. — E não me envolvo com alguém que está tão inclinada
a causar escândalo.
— Então, não sou eu tendo uma amante a que você se
opõe, mas à própria Jillian.
— Sim, exatamente.
— Ela não é minha amante —, ele disse calmamente. —
Somos amigos e desfrutamos da companhia um do outro.
Justin olhou para ele incrédulo. — Amigos? Case, as
mulheres não são amigas de homens elegíveis. Não são. A
sugestão é ridícula.
— No entanto, somos amigos. Eu valorizo muito a amizade
dela, e não quero que você deprecie o nome dela. Ela é uma
jovem virtuosa.
Justin bufou. — Ela não precisa da minha ajuda. Ela faz o
suficiente para desacreditar seu nome sozinha.
— Sente-se, Justin. Você e eu obviamente precisamos
conversar sobre algumas coisas.
Justin hesitou por um momento e depois se sentou no
sofá.
— Eu posso entender que ela não se encaixa na sua ideia
de decoro, mas na verdade, você não sabe nada sobre ela. Eu
não espero que goste dela, mas pediria que você se abstenha de
ser indelicado em público.
Justin levantou-se agitado e começou a andar indo e
voltando em frente ao Case. — Você quer que eu seja agradável
com ela? Você perdeu a cabeça?
— Eu nunca disse que você tinha que fazer um esforço
especial para ser agradável com ela, mas eu pediria que você
não a insultasse.
Ele grunhiu em resposta. — Droga, Case, ela tem você
pelas bolas.
Case olhou incisivamente para ele.
— Maldito inferno —, ele xingou. — Muito bem, eu
prometo não insultá-la.
Case sorriu. — Você sabe, você podia muito bem gostar
dela se lhe desse uma chance.
Justin deu-lhe um olhar azedo. — Eu prefiro minhas
mulheres mais obedientes.
— Sim, sem dúvida você vai se casar com a perfeita e
adequada senhorita inglesa e criar filhos perfeitamente
adequados.
— Por que você está rindo de mim? — Justin exigiu,
olhando para a expressão divertida de Case.
— Um dia, Justin, você vai conhecer uma mulher que não
pode controlar, e ela vai te encantar. Quem sabe, talvez você já
a tenha conhecido.

###

Jillian desembrulhou cuidadosamente o vestido que havia


sido entregue naquela manhã. Depois de sua tarde na
costureira voltou satisfeita com os tecidos que escolhera para o
novo guarda-roupa. Descartando todas as cores geralmente
usadas pelas viúvas em meio luto, optou por cores ricas e
ousadas. Pastéis eram a moda deste ano, mas não conseguia se
imaginar em rosas e amarelos.
Ela vestiu o vestido apressadamente, e Elsie fechou as
costas, prendendo firmemente a faixa na cintura. Engasgou de
prazer quando viu seu reflexo no espelho.
O vestido fora projetado de acordo com a moda atual, com
uma cintura alta. O corpete era de veludo azul royal. Logo
abaixo de seus seios, seda azul clara fluía do corpete, caindo
com volume a seus pés. Uma ampla faixa de cetim se ajustava
firmemente ao redor dela, logo abaixo dos seios, marcando uma
distinta separação entre o corpete e as saias. O aperto da faixa
acentuava a plenitude de seus seios, apenas visíveis sobre o
decote quadrado. As mangas saíam de seus ombros na mesma
seda de suas saias. Apenas as pontas dos dedos estavam
visíveis sob o material esvoaçante. Havia até um leque
combinado com uma fita que envolvia seu pulso.
Com a ajuda de Elsie, Jillian modelou o cabelo sobre a
cabeça, deixando um fio grosso pendurado no ombro, caindo
até à cintura. O efeito foi impressionante. Com toda a modéstia
à parte, Jillian sabia que ela parecia linda hoje.
E ela queria parecer linda para o baile de lady Bea. A
viúva tinha sido gentil com ela, e Jillian estava determinada a
não decepcioná-la nem embaraçá-la aquela noite. Ela ofereceu
silenciosamente graças a Fiona, sua costureira, por não ser
muito ousada no design do vestido.

###

Quando Jillian chegou à casa da condessa, as festividades


estavam em pleno andamento. Todos os cômodos da casa
estavam iluminados com centenas de velas. As janelas
brilhavam intensamente, chamando as pessoas para o calor
que as esperava. Havia lacaios na porta para recolher
agasalhos e capas dos convidados, e criadas para consertar
qualquer dano ao penteado de uma dama. As pessoas se
encaminhavam para o salão de baile, onde a orquestra podia
ser ouvida tocando uma coletânea alegre. A festa, sem dúvida,
iria até que os primeiros raios da aurora marcassem o céu.
Jillian seguiu pelo longo corredor até o salão de baile
situado nos fundos da casa. Pela primeira vez não temeu sua
entrada. Mesmo o olho mais crítico não poderia encontrar
nenhuma falha em sua aparência esta noite.
Entrou na porta do salão de baile e ficou impressionada
com o tamanho do salão. A altura das paredes cobria os três
níveis inteiros da casa de Lady Bea. A largura era tão grande
quanto o resto da casa. Jillian olhou para cima para ver a
orquestra posicionada na sacada com vista para o piso de
mármore polido. Os belos acordes da música ressoaram por
toda a sala, e o efeito era inspirador.
A voz estridente de Lady Clarice Tupham quebrou o
instante de fantasia. Jillian sentiu como se alguém tivesse
deixado cair um prato no chão ao lado dela, quando o
incessante tagarelar alcançou seus ouvidos.
— Lady Penroth, esta é a sua péssima tentativa de
respeitabilidade? Acha que nos esquecemos de suas
travessuras anteriores?
Jillian apertou os dentes até que sua mandíbula doeu.
Lady Clarice tinha feito o seu objetivo na vida irritá-la a cada
oportunidade. Enquanto o resto da sociedade se contentava em
sussurrar atrás de suas mãos, Lady Clarice não fazia segredo
de sua forte antipatia. — Lady Clarice, tenho tanta sorte que
você se assuma a responsabilidade de me aconselhar em
questões de moda.
Oh, a ironia dessa afirmação. Ela considerou o traje de
Lady Clarice com crescente diversão. Parecia que ela tentara
forçar um vestido que era pelo menos três tamanhos pequenos
demais. O efeito era assustadoramente parecido com as
salsichas recheadas que Jillian tinha para o jantar. E então
havia o chapéu dela. Um pobre pássaro parecia ter sofrido um
destino muito infeliz na cabeça de Lady Clarice. Jillian não
pôde mais conter sua diversão, e uma risada escapou de seus
lábios.
Os olhos de lady Clarice se estreitaram em fúria. — Uma
outra coisa, lady Penroth. Deixe Whittington sozinho. Não
basta você levar o irmão para a cama? O duque é decente e não
será vítima de suas maquinações.
Ela engasgou com a ousadia da mulher e várias cabeças
viraram na direção delas. A voz estrondosa de Lady Bea ecoou
pela entrada.
— Lady Clarice, estou chocada com sua vulgaridade. Eu
certamente me arrependo de ter te enviado um convite. Você
pode estar certa de que não cometerei esse erro novamente.
Lady Clarice olhou para lady Bea com horror. Com
aquelas simples palavras, todas as portas de Londres se
fecharam diretamente em seu rosto. Ela já estava sendo
mentalmente riscada das listas de possíveis anfitriãs na
próxima temporada. Um desprezo de Lady Bea era efetivamente
um desprezo de toda a sociedade.
— Jillian, minha querida, peço desculpas por você ter sido
tão abusada em minha casa. Venha. — Ela disse enfiando o
braço no de Jillian. — Há algumas pessoas que eu gostaria de
apresentar a você.
— Oh, meu Deus —, disse Jillian, enquanto se afastavam
para longe de uma perturbada Lady Clarice. — Você não acha
que foi excessivamente severa com ela?
Lady Bea sorriu para Jillian. — Você tem um coração
mole, menina, mesmo depois do jeito que ela te tratou. Não se
preocupe com Clarice, é hora de alguém colocá-la em seu
lugar. Vou deixá-la sofrer por alguns dias e depois vou perdoá-
la. Talvez ela pense duas vezes no futuro antes de abrir a boca.
— Essa é uma perspectiva muito atraente.
As duas mulheres riram e continuaram pelo salão.

###

Do outro lado da sala, Justin franziu o cenho ao ver Lady


Bea passear de braço dado com Jillian. O mundo inteiro ficou
louco? Todos estavam sob o feitiço da pequena pivete? Dane-se
Case e a promessa que havia exigido dele. Não havia mais nada
que ela merecesse do que uma boa censura. Não encontrou
nenhuma falha na maneira como ela estava vestida, embora a
cor ainda não fosse adequada para meio luto.
Ele estava mesmo ali debatendo a adequação da cor do
vestido dela? Estava perdendo a cabeça. Por que deveria se
importar com o que diabo ela fazia?
Porque ele não gostava que o nome de Case estivesse
ligado ao dela. E porque você a quer. De onde diabos isso veio?
— Eu não a quero —, ele murmurou. Mas a rigidez em
suas calças dizia o contrário.
Se Case estava realmente dizendo a verdade, e ela não era
amante dele, então talvez... talvez você pudesse se deitar com
ela e tirá-la da sua mente, e da vida de Case. A ideia não era
completamente sem mérito, ele pensou. Como diabos poderia
desejar uma mulher que detestava? É apenas luxúria; não é
como se você estivesse propondo a ela. Provavelmente não podia
contar com ela para ser discreta se eles se entregassem a um
caso. Caso? Quem disse alguma coisa sobre um caso? Uma
noite deveria ser suficiente. Justin sacudiu a cabeça. Realmente
estava perdendo a cabeça. Estava discutindo consigo mesmo
sobre essa mulher.

###

Jillian sorriu graciosamente quando foi apresentada a


vários conhecidos íntimos de Lady Bea. Ela não perdeu os
olhares curiosos que eles lhe deram quando a viram se
aproximando ao braço de Lady Bea. Não eram abertamente
hostis, provavelmente porque não queriam arriscar a censura
de lady Bea. Porém algumas das senhoras eram genuinamente
amigáveis, e Jillian estava animada com as boas-vindas.
Nunca considerou que procuraria a aprovação de seus
pares, mas pela primeira vez foi bom ser aceita. Ela até havia
sido convidada para um chá com um grupo de mulheres na
semana seguinte. Sentindo-se agradecida, ela aceitou, embora
a ideia a tivesse intimidado. Não conseguia imaginar nada em
comum com elas.
Ela teve que admitir que estava se divertindo
imensamente. Envolveu-se em várias conversas com os
presentes e até encontrou alguns que compartilhavam seu
amor pela história. Lorde Shelton debateu com ela durante
trinta minutos se os colonos arrivistas tinham sido justificados
em sua rebelião. Cavalheiros disputavam sua atenção, e seu
cartão de dança estava cheio a transbordar. Depois de sua
quarta dança, ela ficou corada pelo esforço e escapou para a
mesa de refrescos pelo vinho e um descanso.
— Aí está você —, disse Case se aproximando dela. — Eu
desisti de ter a chance de conversar com você. Parece ser um
sucesso essa noite.
Ela riu. — Tenho certeza de que me toleram graças a Lady
Bea.
— Você faz um desserviço a si mesma —, ele repreendeu.
— Eles estão te vendo pela linda e vibrante mulher que eu
sempre soube que existia.
Ela sorriu para ele. — Você é bom demais para mim. —
Ela fez um show de verificar seu cartão de dança. — Eu pareço
ter a próxima dança livre, você se importaria de dançar
comigo?
Ele a guiou para a pista com os outros casais dançando.
— Está se divertindo?
— Imensamente! Lady Bea sabe como dar uma boa
festança.
— Eu ouvi falar de seu desentendimento com Lady
Clarice.
Jillian fez uma careta. — Eu não tenho ideia de por quê
essa mulher me despreza tanto. Ela agora tem em mente que
eu estou tentando colocar o duque na minha cama.
— Lembre-me de agradecer a Lady Bea —, Case
comentou. — Já era hora de alguém pôr um fim à língua
maldosa de Lady Clarice. Falando de Justin, você o viu hoje?
Jillian deu-lhe um olhar reprovador. — O duque e eu
temos um acordo mudo para evitar um ao outro sempre que
possível, você sabe disso.
Case balançou a cabeça, rindo da expressão de Jillian. —
Não acredito que tenha testemunhado tal animosidade entre
duas pessoas antes. Talvez você apenas achasse adequado
ignorá-lo a partir de agora?
— Por você, vou tentar —, disse ela carinhosamente.
Quando a dança acabou, Jillian se desculpou e foi para as
janelas francesas que davam para os jardins. A onda de ar frio
que a encontrou quando saiu para o terraço foi maravilhosa.
Tinha sido difícil respirar em meio às centenas de pessoas
comprimidas nos confins do salão de baile.
Ela começou a percorrer um caminho que levava mais
afundo nos jardins, curiosa a respeito de onde levava e ansiosa
para colocar mais distância entre ela e os foliões. Tochas foram
colocadas ao longo dos caminhos no jardim para iluminar as
passarelas. Logo chegou a uma área circular com caminhos
que irradiavam dela em seis lugares. Uma fonte ornamentada
era a peça central e uma árvore solitária fora plantada ao lado
da pequena colina gramada rodeada de pedras. Havia bancos
de madeira em cada lado da fonte, de frente para ela. Deslizou
em um deles, inclinando-se para respirar o ar fresco da noite.

###

Justin observou em silêncio quando Jillian entrou no


centro do jardim. Ele se perguntou se ela estava lá para um
encontro clandestino. Não seria a primeira mulher a encontrar
seu amante no jardim durante um baile. Ele viu quando ela se
sentou no banco e arqueou o pescoço, respirando
profundamente o ar da noite. Amaldiçoou em voz baixa
enquanto seus olhos se inflamaram no inchaço de seus seios,
empurrados para frente por seu movimento. Ele ficou parado,
observando-a, seu rosto banhado pelo luar. Se ela estivesse
aqui para encontrar seu amante, obviamente ficaria ansiosa
porque ninguém estava vindo. Ele deu um passo à frente, suas
botas clicando no caminho de pedra.
Jillian se virou ao som de passos se aproximando. Ela
tinha sido uma tola por vir aqui sozinha. — Quem está aí? —,
perguntou nervosa.
— Boa noite, lady Penroth. Estou começando a pensar que
você está correta quando diz que temos um hábito irritante de
nos encontrar ao acaso.
Ela ficou aliviada e irritada ao mesmo tempo. — Você
precisa se esgueirar até mim assim? — Perguntou, a voz ainda
trêmula de medo.
— Minhas desculpas por assustar você. Eu acabara de
chegar aqui quando vi você se aproximar.
— Cansado da multidão? — Perguntou ela, tentando
conversar educadamente. Prendeu o fôlego quando o teve
completamente à vista no brilho das tochas. Ele se aproximou
dela, e seu perfume a envolveu, fazendo-a esquecer
completamente a noite fria. Parou na frente dela e ficou
olhando casualmente para ela. Um arrepio percorreu sua
espinha, mas se sentiu quente por toda parte.
— Eu não gosto muito desses eventos sociais —, ele
admitiu. — O que a traz aqui fora?
— Eu também não gosto muito desses eventos sociais.
— Eu certamente não teria adivinhado —, disse ele
secamente.
— Oh, vamos fazer uma trégua por esta noite —, ela disse
cansada. — Certamente podemos concordar em nos odiar
amanhã.
— Eu dei minha palavra ao Case de que seria agradável
com você em público. Suponho que poderíamos chamar isso de
público.
— Que sacrifício seu! — Disse ela sarcasticamente. —
Tenho sorte por não ter feito tal promessa ao Case. Embora
tenha concordado em ignorá-lo.
Ele riu e enfiou as mãos nos bolsos do casaco. — Guarde
suas garras, Lady Penroth. Prometo me comportar bem, pelo
menos por esta noite.
— Então, que assunto educado podemos discutir?
— Eu imagino que você veio para os jardins pela mesma
razão que eu, por um pouco de silêncio. Suponha que não
falamos e aproveitamos a noite. Você pode fingir que sou outra
pessoa, — disse ele em tom de brincadeira.
— Cuidado, sua graça, eu posso decidir que gosto de você,
se continuar assim.
— Não é provável. Nós aparentemente juramos não gostar
um do outro, ironia do destino, suponho.
— Eu não acredito muito no destino —, ela meditou. —
Prefiro pensar que estamos no controle de nosso próprio
destino.
— Que coisa estranha para uma mulher dizer —, disse ele,
olhando para ela com curiosidade. — Eu achava que todas as
mulheres gostavam da sorte e do destino.
Jillian bufou. — Então você é um especialista em
mulheres, sua graça?
— Conheci algumas na minha vida.
Ela corou. — Não há necessidade de ser vulgar. Então
você acredita em destino?
— Hmmm, não. Suponho que estou de acordo com você,
acho que controlamos nosso próprio destino. Pagamos por
erros estúpidos que cometemos e colhemos as recompensas por
fazer as escolhas corretas.
— É uma pena que juramos não gostar um do outro. Em
outras circunstâncias, acho que poderíamos ter sido bons
amigos. — Ela se levantou pesarosa. — Agradeço sua
generosidade, sua graça, e por tornar nosso encontro
agradável, mas devo retornar. Não quero ser a causa da
especulação ociosa, já que você também está ausente do baile.
Ele olhou para ela, surpresa estampada na cara.
— Não diga isso —, ela avisou. — Eu sei bem o que você
está pensando. Vamos apenas dizer que você não sabe tanto
sobre mim quanto gosta de pensar. — Ela se virou e voltou a
subir o caminho para o salão de baile.
Capítulo Seis
Na manhã seguinte, Jillian foi sitiada por visitas de
cavalheiros. Chegaram trazendo buquês de flores recém-
arranjados, chocolates caros e alguns poemas escritos para a
ocasião. Depois da quinta visita fugiu para o jardim. Se tivesse
que ouvir mais um homem prometendo fervorosamente sua
devoção eterna, ela poderia correr sozinha para o campo.
Essa reviravolta inesperada dos acontecimentos foi
completamente desconcertante. Na semana anterior não teria
sido considerada um material adequado para o casamento,
mas recebeu três propostas naquela manhã. Jillian suspirou e
se perguntou se deveria enviar um aviso ao Times declarando
sua intenção de nunca se casar. Sorriu divertida com o
pensamento. Infelizmente, se fizesse algo tão drástico,
certamente iria contra ela. Sem dúvida seria imediatamente
colocada no famigerado livro de apostas do White's e os
esforços de seus admiradores seriam redobrados enquanto eles
competiam para ver quem poderia ser o escolhido para
capturar a perversa viúva.
O apoio de lady Bea subitamente conquistou sua
respeitabilidade. Quem sabia que poderia ser tão irritante? Em
qualquer caso, ela só teria que tolerar isso por mais uma
semana. O baile anual dos Chattingtons sinalizava que a
sociedade se retirasse ao campo para o Natal. Todo ano, no
último dia de novembro, eles davam uma festa de gala em sua
casa em Londres. Era de longe o maior e mais luxuoso evento
fora da temporada regular na primavera, geralmente durando
um final de semana inteiro.
Este ano era para ser um baile de máscaras, e os
preparativos já estavam em andamento para o grande evento.
Jillian não pensara muito no que vestiria. Mencionara o baile
para Fiona, mas não tinha certeza se teria um traje apropriado.
Se não, ela se contentaria com uma máscara. O resto de seu
novo guarda-roupa seria entregue amanhã, então resolveria a
questão de sua fantasia.
— É seguro para você entrar agora —, Hilda chamou da
porta. — Eu disse a eles que não está recebendo mais visitas
hoje.
— Bem, isso é um alívio —, murmurou Jillian, enquanto
se levantava de seu assento. — Eu estava começando a me
perguntar se deveria considerar mudar meu endereço.
— Isso veio há um tempo, — disse Hilda, entregando-lhe
um pedaço de papel dobrado. Ela voltou para dentro, deixando
Jillian a seguir.
Jillian entrou na biblioteca, parando junto ao fogo para se
aquecer. Ela olhou para o pedaço de papel que segurava se
perguntando se era de outro admirador apaixonado. Foi
dobrado em três com cera preta selando-o fechado. Não havia
selo para identificar o remetente. Que estranho. Não conhecia
ninguém que usasse cera negra. Ela abriu e leu o conteúdo:

Cadela infiel
Ela quase deixou cair o pedaço de papel por surpresa. Sua
sobrancelha franziu enquanto examinava as palavras
novamente, procurando por outra mensagem ou alguma pista
sobre a identidade do remetente. Franzindo a testa, ela virou o
papel. Não havia nada para indicar quem era o remetente. No
que se refere a brincadeiras, isso não era divertido, e
certamente era tudo o que era: uma brincadeira inofensiva. Ela
caminhou até à mesa, colocou-a na gaveta de cima e a fechou.
Talvez Case pudesse oferecer algum conhecimento; perguntaria
a ele sobre isso quando o visse. Afastando a sensação de
desconforto saiu da biblioteca em busca de Hilda.
Ela encontrou Hilda e Elsie sentadas no último degrau da
escada. Os olhos de Elsie estavam vermelhos de tanto chorar e
Hilda tinha um braço reconfortante ao redor dela. Jillian
levantou uma sobrancelha quando se aproximou delas. — O
que na terra pode ser o problema?
Elsie olhou para ela, novas lágrimas caindo de seus olhos.
— Recebi uma carta do meu Johnny esta manhã e ele perdeu o
emprego —, lamentou. Jillian olhou para ela com expectativa,
esperando que continuasse.
— Eles deveriam se casar —, explicou Hilda. — Ele estava
trabalhando em Kensington Village em uma fábrica lá. Quando
tivesse poupado salários suficientes, ele compraria uma cabana
e mandaria buscar Elsie.
— Agora nunca vamos ficar juntos —, soluçou Elsie.
— Não pode ser tão ruim —, Jillian disse suavemente. —
Pare de prosseguir com isso, elsie, você vai ficar doente. — Ela
pensou por um momento. — Elsie, você acha que Johnny
poderia fazer as tarefas de um lacaio?
— Oh sim, milady, ele é sempre tão inteligente —, disse
ela, esperança iluminando seu rosto.
— Muito bem então, nós teremos Harry te levando para
Kensington para pegar Johnny. Hilda, você deveria ir junto.
Nós não podemos ter Elsie correndo com Johnny sem
acompanhante, — ela disse com um sorriso irônico.
Elsie olhou para ela em choque, e então se levantou e
jogou os braços ao redor de Jillian. — Oh, obrigada, milady!
— Bem, então, suba e arrume suas coisas. Você tem uma
longa jornada pela frente —, disse ela, sorrindo para a
exuberância de Elsie.
— Você fez uma coisa maravilhosa, milady —, disse Hilda
baixinho enquanto ela e Jillian observavam Elsie subir as
escadas para arrumar as malas.
— É melhor você ter suas próprias malas prontas. Vou
deixar Harry saber, para que ele possa preparar a carruagem.
Ela voltou para a biblioteca e trouxe uma bolsa de
moedas, entregando-a a Hilda. — Você precisará disso para
pagar suas refeições e hospedagem. Certifique-se de que
Johnny tenha um guarda-roupa adequado também.
— Você é muito boa para todos nós. — Os olhos de Hilda
estavam suspeitosamente úmidos.
— Vão agora —, disse Jillian, enxotando-a pelas escadas.
Acenou para eles uma hora depois, quando saíram em sua
jornada. Kensington Village estava a um dia e meio de viagem
de carruagem, então Jillian não os esperava de volta por quatro
ou cinco dias.
###

Tão independente quanto Jillian gostava de pensar que


havia se tornado, ela teve que admitir que dependia de Hilda e
Elsie mais do que imaginava. Depois de queimar suas duas
primeiras tentativas de jantar, ela desistiu e mordiscou um
pedaço de queijo e um pouco de pão restante. Nem sequer
tentou acender as numerosas velas que pontilhavam a casa.
Em vez disso, levava uma lamparina a óleo de um cômodo para
o outro. Velas eram preferíveis às lâmpadas a óleo sujas, mas
neste caso, era muito mais fácil manter uma luz em vez de se
preocupar com muitas.
Ela tinha vergonha de nunca ter pensado em contratar
mais ajuda para Hilda e Elsie, mas nunca lhe deram
autoridade para administrar Penroth e passou toda a sua
infância na escola, por isso não tinha uma ideia clara de
quanto trabalho havia na manutenção de uma casa. Devia
fazê-la parecer incrivelmente mimada, mas na verdade era
apenas mais uma prova de quão forte era o controle de Lucas
sobre ela.
Nunca havia aberto os aposentos dos criados, situados
logo atrás da cozinha, optando, em vez disso, por abrigar os
empregados nos cômodos vagos acima das escadas. Era
composto de uns três quartos e seria perfeito para Elsie e
Johnny quando se casassem. Um quarto no andar de cima
seria então liberado para a nova empregada que ela agora
pensava contratar.

###
Jillian ficou extremamente grata quando Case chegou
naquela noite. Ela o encontrou na porta e literalmente o
arrastou para dentro.
— Pelo amor de Deus, mulher, está congelando aqui!
— Você é tão observador —, ela disse amargamente. —
Entre e feche a porta, está deixando entrar mais ar frio.
— Onde está todo mundo? — Case perguntou olhando em
volta pela casa escura.
Jillian relatou os eventos do dia. — Você pode trazer um
pouco de madeira para o fogo? —, perguntou
esperançosamente.
Case obedeceu com bom humor, acendendo um fogo no
quarto e na biblioteca. Ele empilhou madeira ao lado de cada
lareira para que ela pudesse manter as chamas acesas.
— Eu iria oferecer-lhe refresco, mas queimei o jantar —,
disse ela tristemente.
Case riu. — Faminta, não é?
Seu estômago roncou em resposta.
— Ponha sua capa e vamos atacar minha cozinha. A sra.
Applegate assou um ganso para o jantar. Se você quiser, posso
tê-la vindo amanhã e preparando algumas refeições para você.
— Isso seria uma dádiva de Deus —, disse ela aliviada. —
Você não acha que ela vai se importar, não é?
— Ela adora você. A única vez que como seu pudim de
ameixa é quando ela sabe que você está vindo para o jantar.
Os dois subiram na carruagem de Case e percorreram a
curta distância até sua casa. A Sra. Applegate estava mais do
que disposta a preparar pratos frios para eles. Ela empilhou
ganso assado junto com pão ainda quente, e tortas de cereja
restantes.
— Jillian, pensei um pouco e não há motivo para a sra.
Applegate não poder ficar com você por alguns dias. Eu tinha
esquecido de mencionar que vou partir de manhã para a costa.
Estarei fora por dois dias, então certamente não precisaria dela
aqui. Isso é, se você não tem objeções, Sra. Applegate, — ele
disse voltando-se para a mulher idosa que estava colocando
seus pratos na mesa.
— Na verdade, meu senhor, ficaria feliz em servir a lady
Penroth.
— Obrigada, Sra. Applegate —, Jillian disse com gratidão.
— Você será bem-vinda com certeza.
— Eu vou fazer o meu pudim de ameixa para você, milady
—, disse ela, seus olhos brilhando.
— Por que é que eu nunca mereço pudim de ameixa? —
Resmungou Case.

###

Justin andou pelo corredor que levava à sala de jantar de


Case. Ao aproximar-se, ouviu vozes vindas de dentro.
Engraçado, Stevens não mencionou que Case tinha visita. Ele
parou na porta, olhando para ver quem Case estava
entretendo.
Sentada em frente a Case, parecendo muito à vontade,
estava Jillian. Ela estava sorrindo para algo que Case estava
dizendo e a atmosfera parecia decididamente íntima. A irritação
tomou conta dele quando ela riu em voz alta, e Case lançou-lhe
um sorriso juvenil.
Ele entrou na sala. — Stevens disse que iria encontrá-lo
aqui —, disse em saudação. — Ele não disse, no entanto, que
você estava entretendo uma convidada. — Ele olhou
intencionalmente para Jillian.
— Você pode deixar de me encarar, sua graça. Posso
garantir que não vou desaparecer, não importa o quanto você
deseje —, disse Jillian, continuando a comer sua comida.
— Pena —, ele murmurou.
Case suspirou resignado. — Justin, para que você queria
me ver?
Justin olhou para Case em consternação. Ele havia
momentaneamente esquecido seu propósito quando viu Jillian
sentada ali tão casualmente. — Eu queria pedir-lhe para obter
informações sobre quando o Windsong chegará da Índia.
Espero-o dentro de um mês, salvo qualquer atraso.
— Eu vou perguntar —, Case prometeu. — Você não vai
tomar uma bebida conosco? — Ele convidou, levantando-se da
mesa. — Vamos passar para a sala de estar.
Justin começou a declinar, mas uma rápida olhada na
expressão esperançosa de Jillian reprimiu sua recusa. — Eu
ficaria encantado.
— Oh, pelo amor de Deus —, ela disse exasperada. — Pare
de me olhar tão triunfalmente.
Entraram juntos na sala de estar e Stevens entrou logo
atrás, carregando uma bandeja de bebidas.
— Seu vinho favorito, milady —, disse ele, entregando-lhe
um copo.
— Obrigada, Stevens —, disse ela, sorrindo com carinho
para ele.
Ele se virou e ofereceu a Justin um conhaque.
Justin franziu o cenho para a estima que os criados de
Case tinham por Jillian. Ela era obviamente uma visitante
regular na casa de Case. Como eles não poderiam ficar
chocados com ela aparecendo na casa de um homem solteiro
com tanta frequência e sem acompanhante adequado era
inimaginável.
— Eu suponho que vocês dois não considerariam declarar
uma trégua pela noite? — Case perguntou esperançosamente.
Jillian sorriu inocentemente pela borda do copo. — Se o
duque não estivesse tão empenhado em agir como um
cafajeste, eu certamente não teria problemas.
— Sua impertinente, atrevida... — Justin começou.
— Oh, olhe a hora! — Ela exclamou. — Eu realmente devo
voltar para casa. Certamente não pretendia ficar tanto tempo.
— Ela lançou um olhar presunçoso para Justin por ter
efetivamente cortado sua réplica.
— Eu vou te acompanhar até sua casa —, Case ofereceu.
— Oh não, eu ficarei bem sozinha. Você tem um convidado
para entreter.
— Deixe-me pelo menos chamar minha carruagem. Vou
pedir ao cocheiro para te levar.
Justin observou quando os dois saíram da sala,
carrancudo para as suas costas.

###
Na manhã seguinte, a Sra. Applegate chegou cedo e
imediatamente começou a preparar as refeições do dia. Jillian
ficou grata pelos sons reconfortantes que emanavam da
cozinha. Logo o aroma de comida preparada encheu a casa,
atormentando Jillian com a promessa de uma deliciosa refeição
por vir.
Uma batida soou, convocando-a para a porta. Rezou para
que não fosse outra rodada de visitas. Quando abriu a porta,
no entanto, não havia ninguém lá. Ela saiu e olhou em volta.
Não vendo ninguém, ela se virou para voltar quando avistou o
pedaço de papel em sua soleira da frente. Agitação apertou seu
peito quando se inclinou para recuperar a missiva com a já
familiar cera negra. Olhou ao redor apressadamente, tentando
identificar quem havia deixado a nota, mas não viu nada além
do tráfego habitual para esta adiantada hora.
Entrou e fechou a porta com firmeza atrás dela. Só então
percebeu que havia esquecido de mencionar a primeira nota
para Case. Hesitante, ela quebrou o lacre de cera e abriu o
papel dobrado.

Você vai pagar pela sua perfídia

Deveria ser algum esforço torcido por parte do duque para


intimidá-la. Ela ficaria aliviada quando ele superasse sua
fascinação por alfinetá-la em todas as oportunidades e se
retirasse para sua propriedade rural no inverno. Isso não era
algo que ela teria atribuído a ele. Parecia tão covarde, e o que
quer que pensasse sobre o duque, nunca o tomara por um
covarde. Não podia, no entanto, pensar em alguém que
quisesse aborrecê-la tanto. Tinha que ser ele. Se ao menos não
fosse tão bonito.
Agora, de onde veio isso? Ela se repreendeu por permitir
que tal pensamento cruzasse sua mente. Lucas era charmoso e
bonito e olha onde isso a tinha levado. Andou agitada até uma
cadeira próxima, enojada consigo mesma e seus pensamentos
rebeldes.
Supôs que não podia culpá-lo inteiramente pela
animosidade mútua deles. Simplesmente não conseguia se
conter quando estava perto dele. Ele despertava o pior dela e as
coisas mais provocantes saíam de sua boca. Admita, Jillian,
você gosta de antagonizá-lo.
Deu um suspiro e baniu o duque de seus pensamentos.
Havia outras coisas mais importantes para se pensar. Hoje era
o chá de Lady Bea com várias outras senhoras da sociedade. Se
Jillian fosse assistir teria que começar sua toilette agora. Sem
Elsie para preparar um banho, ela foi deixada para fazer isso
sozinha.
Duas horas depois, ela desceu as escadas correndo.
Estava bastante satisfeita com seus atos de autosuficiência.
Não só conseguira tomar banho, como também conseguira
abotoar a longa fileira de botões minúsculos nas costas. Não
importava que tivesse demorado quase uma hora e que tivesse
esgotado o seu dicionário de palavrões.
Entrou na cozinha para contar à sra. Applegate sobre seus
planos.
— Mas como você vai chegar lá, milady? — Perguntou a
sra. Applegate, intrigada.
Jillian olhou para ela pasma. Era completamente além da
compreensão dela que estivesse presa, sem meios de
transporte. A Sra. Applegate teve pena de sua óbvia confusão e
se ofereceu para sair e contratar um carro de aluguel.
— Não, não —, disse Jillian, sacudindo a cabeça. — Eu
farei isso. Certamente não pode ser tão difícil, e se tudo mais
falhar, eu andarei. São apenas algumas quadras.
— Você tem certeza, milady? — A sra. Applegate olhou
para ela em dúvida.
— Com certeza —, disse Jillian em uma voz determinada.
No final, ela andou as seis quadras até à casa de Lady
Bea. Quem sabia que contratar uma carruagem de aluguel era
tão difícil? No passado só enviava uma mensagem e um
cocheiro a pegava em sua porta. Ela se sentiu mais do que um
pouco ridícula acenando com o lenço a uma carruagem de
passagem.
Passou pelo portão e subiu a passarela até à porta de Lady
Bea. Levantando a aldrava projetada com enfeites, ela bateu
duas vezes. A porta se abriu e entregou o cartão de visitas na
mão enluvada do mordomo e o seguiu até à sala de visitas.
Cinco senhoras sentavam-se em torno de uma pequena
mesa. Três sentavam-se amontoadas no sofá enquanto lady
Bea e a outra moça sentavam-se à mesa em duas poltronas.
— Lady Penroth —, anunciou o mordomo para a sala.
Cinco pares de olhos se voltaram para encarar Jillian e, de
repente, ela se arrependeu de ter vindo. Lady Bea levantou-se e
correu para cumprimentá-la.
— Estou tão feliz que você veio. Deixe-me apresentar-lhe
as senhoras.
Ela conduziu Jillian até o círculo de mulheres.
— Senhoras, vocês se lembram de Lady Penroth.
Ante seus acenos, Jillian ofereceu um sorriso hesitante.
— Jillian, conheça Eloise Huntington. Ela não estava
presente no baile. E é claro que você se lembra de Lady Cecilia,
Lady Burlington e Adela Farnsworth.
Jillian assentiu para cada uma das damas por sua vez.
— Sente-se, Jillian —, insistiu Lady Bea.
Jillian se acomodou em uma cadeira ao lado de Lady Bea
e aceitou a xícara de chá que a condessa serviu para ela.
Sorveu nervosa, insegura do que dizer para as senhoras, todas
modelos da sociedade.
— Como eu estava dizendo —, começou lady Cecilia,
cortando o silêncio constrangedor. — Algo deve ser feito sobre o
Conde de Montrose.
— Você quer dizer Lorde Dick —, interrompeu Adela,
rindo.
As senhoras riram.
— Alguém tem alguma dúvida de que ele se deu aquele
apelido horrível? — Perguntou Lady Burlington com um
estremecimento delicado.
— Talvez Jillian possa nos dizer —, disse Eloise
inocentemente. — Parece que me lembro de ver o nome dela
ligado ao seu há alguns dias.
As senhoras olharam inquiridoramente para Jillian e ela
se contorceu em seu assento. O conde demasiado amoroso lhe
pedira para dançar em um baile algumas noites antes e, como
na maior parte de suas ações, os folhetins de fofoca
imediatamente começaram a especular sobre um caso.
— Os atributos do conde, ou a falta deles, não são de
interesse para mim —, disse Jillian, encontrando o olhar delas
de cabeça erguida.
Risadas dissimuladas varreram o círculo.
— Oh, você é positivamente perversa! — Lady Cecilia
interveio. — Que sagacidade você tem.
Jillian olhou para ela confusa. — Eu falo muito a sério,
Lady Cecilia.
O riso de lady Cecilia voltou a tilintar. — Oh, eu sei que
sim. Você não deve se preocupar, Jillian. Nenhuma das
presente dá crédito às fofocas.
— Mas isso não significa que não gostamos de lê-las —,
interrompeu lady Bea.
— Ah, de fato, sim —, Adela exclamou. — Elas contribuem
com diversão para a gostosa hora do chá.
— Então eu devo ser uma presença regular em seu chá —,
disse Jillian com tristeza.
As senhoras riram novamente.
— Ela vai ser, Bea —, Lady Burlington anunciou.
As outras assentiram com aprovação.
Jillian relaxou em seu assento. Eventualmente, a conversa
se voltou para Lady Clarice Tupham e Jillian soltou um gemido
silencioso.
— Coisa maravilhosa que você fez, Bea —, elogiou Adela.
— Aquela harpia há muito ultrapassou seus limites. Talvez
alguns dias como uma pária faça maravilhas por sua
disposição.
— Não é muito provável, — Jillian murmurou baixinho.
Suas bochechas ficaram quentes quando percebeu que foi
ouvida. As senhoras riram, apreciando o comentário de Jillian
e seu deslize em linguagem correta.
— Você é uma mudança refrescante da maioria das
meninas —, elogiou Eloise. — Não tenha medo de falar o que
pensa. É uma pena que a sociedade castigue uma qualidade
tão admirável nas mulheres.
— É isso aí, Eloise! — as senhoras disseram em uníssono.
— Se fôssemos homens, poderíamos dizer o que
quiséssemos e ninguém nos daria importância — Adela disse
com um aceno de cabeça fervoroso.
— Nós poderíamos xingar e ter um amante e todos nos
aplaudiriam —, disse Lady Burlington sabiamente.
As outras olharam para ela em estado de choque e depois
se dissolveram em uma gargalhada.
— O quê? O que eu disse? — Lady Burlington corou
furiosamente. — Não seria bom ter a nossa escolha dos jovens
sem censura pública?
— Certamente seria preferível a abrir as portas aos nossos
maridos —, murmurou lady Cecilia, com uma expressão
distante nos olhos.
Lady Bea golpeou Lady Cecilia no braço. — Pare de
sonhar, Cece. Eu juro que você vai começar a babar lá.
Elas caíram na gargalhada mais uma vez, Lady Cecilia
parecendo envergonhada.
Jillian não poderia ficar mais surpresa com as damas. Ela
teve que forçar sua boca fechada quando seu queixo caiu sobre
a conversa ultrajante delas. Pudica ela não era, mas
surpreendeu-a que essas modelos exemplares da sociedade se
reunissem em torno de uma mesa de chá, discutindo a
possibilidade de ter um amante.
— Acho que chocamos Jillian —, disse lady Bea, divertida.
— Como eu lhe disse antes, minha querida, não somos todas
abomináveis. Você só tem que nos dar uma chance.
O chá acabou uma hora depois e as senhoras se
despediram. Elas ficaram horrorizadas com o fato de Jillian ter
caminhado a distância de sua casa, e Lady Burlington insistiu
em dar-lhe uma carona para casa.
Jillian refletiu sobre o dia interessante enquanto se
preparava para dormir naquela noite. Ficou surpresa ao
admitir que gostou muito da tarde. As damas mais velhas eram
uma surpresa agradável e tinham um senso de humor
perverso. Jillian sentiu-se muito à vontade na companhia
delas. Foi dormir sorrindo ante a imagem da boa Lady
Burlington levando um amante para seu quarto de dormir.
Capítulo Sete
Jillian mal tinha lenvantado na manhã seguinte quando
uma batida soou. Correndo para a porta, ela a abriu. Não havia
sinal de ninguém. Na verdade, estava estranhamente quieto.
Olhou para baixo para ver o pedaço de papel com a cera negra
reveladora. Ela hesitou antes de abri-la, imaginando se não
seria mais beneficiada jogando-a no fogo. A curiosidade venceu
e lentamente rasgou o selo. Quando leu o conteúdo, largou o
papel como se estivesse queimando seus dedos.

Morra

Sua raiva transbordou. Isso estava indo longe demais.


Insultos simples eram uma coisa, mas ameaças eram outra.
Estendendo a mão, ela pegou o papel do chão. Pegou os outros
bilhetes de sua mesa e saiu da casa. Ela andou os quatro
quarteirões até à casa de Justin, ignorando o ar frio da manhã.
Jillian atravessou o portão de ferro forjado e observou o
lacaio uniformizado parado logo abaixo da insígnia do duque.
Imaginou o absurdo de ter uma pessoa cujo único trabalho era
manejar o portão, fechando-o quando o duque saísse de sua
residência e o abrir quando retornasse. Ela bateu bruscamente
na porta. Em instantes esta abriu-se e um homem distinto e de
rosto solene, que ela presumiu ser o mordomo, olhou-a
interrogativamente.
— Estou aqui para ver o duque —, disse ela com firmeza.
— Sua graça não está aceitando visitantes a esta hora.
— Mesmo? —, perguntou ela, erguendo as sobrancelhas.
— Vamos ver isso. — Empurrando o mordomo assustado,
ela entrou na casa. Parou no corredor e seguiu na direção do
barulho distante. Irrompeu sem a menor cerimônia na sala de
jantar onde o duque estava sentado. O mordomo correu atrás
dela.
— Sua graça, eu disse a essa mulher que você não estava
recebendo e ela abriu caminho pela casa. — O choque era
evidente em sua voz.
— Está tudo bem, Edward —, disse o duque em uma voz
perigosamente baixa. — A dama e eu estamos familiarizados.
Você pode nos deixar.
Jillian já estava caminhando para onde ele estava sentado.
— Seu bastardo —, ela cuspiu. — Sua covardia é inimaginável!
Ele se levantou, seus olhos brilhando. — Eu suponho que
você tem boas razões para irromper em minha casa sem avisar
e me insultar com xingamentos vis?
Ela jogou os bilhetes para ele, os papéis espalhando-se
sobre a mesa na frente dele. — Se, no futuro, você tiver uma
mensagem para mim, tenha a coragem de pelo menos assinar
seu nome. Suas ações são indignas da sua posição. — Ela se
virou e saiu da sala, passando por um Edward ainda de boca
aberta. O som da porta batendo ressoou por toda a casa.
Justin olhou boquiaberto para ela partindo. Teria ela
acabado de invadir a sala de jantar dele e lhe dado sermão
sobre suas ações? De toda absoluta audácia. Se ele não
estivesse tão furioso, teria rido na cara dela.
Ele olhou para os pedaços de papéis que ela havia jogado
para ele e os pegou. Franzindo a testa, passou por cada um
deles. Sua cabeça levantou quando ouviu alguém entrar na
sala. Case caminhou com determinação, com uma carranca no
rosto.
— Que diabos está acontecendo? — Case exigiu. — Eu
estava a caminho para avisar que havia retornado, e lhe dar
um relatório, e Jillian quase me atropelou do lado de fora. Ela
parecia bastante chateada.
Justin entregou-lhe os bilhetes. — Alguém está fazendo
travessuras. Ela parece assumir que sou eu.
Case leu os papéis, seu rosto ficando tempestuoso. — Ela
acha que você enviou isso?
— Aparentemente sim. Pelo menos é isso que eu juntei de
sua reclamação.
— Quem teria feito algo assim? —, perguntou Case com
raiva.
— Eu não tenho ideia —, respondeu Justin. — Embora
possa entender pelo menos parte do sentimento por trás das
anotações, é reprovável que alguém se envolva em tais
atividades.
— Eu estou indo para lá —, Case anunciou. — Quero
perguntar a ela sobre isso imediatamente.
Justin fez uma careta. — Eu vou com você. Não quero que
ela pense que me entreguei a uma ação tão ultrajante.
Em poucos minutos estavam na casa de Jillian, e a Sra.
Applegate abriu a porta para eles.
— Lady Penroth está em seu jardim —, disse. — Ela
parece chateada. — A preocupação era evidente no rosto da
mulher mais velha.
Case abriu caminho pela casa, para o jardim nos fundos.
Justin olhou com interesse para o seu entorno. A casa não era
ostensivamente decorada ou mobiliada, assim como muitas das
residências londrinas da cidade. Seus gostos pareciam refletir
uma elegância tranquila e um amor pela simplicidade. De
alguma forma, Justin esperava a mesma exuberância que ela
exibia em seu traje.
Quando entraram no jardim, Jillian não percebeu
imediatamente os dois homens. Aconchegada em sua rede,
estava olhando na direção oposta, aparentemente perdida em
pensamentos. Ela se virou quando os ouviu se aproximarem, e
Justin ficou impressionado com a profundidade da emoção que
se desenrolou em seu rosto. Aqui, mais uma vez, estava a
mulher que conhecera no parque. Parecia vulnerável e ele leu
medo nos olhos dela. Não gostou da sensação que esse
conhecimento lhe deu.
Seu rosto turvou-se quando viu Justin e a raiva substituiu
o medo. Case falou primeiro.
— Jillian, quando você recebeu estes? — Ele perguntou
suavemente.
— A primeira foi na segunda de manhã. Recebi uma
ontem de manhã e hoje novamente.
— Eu posso ver porque você está tão chateada —, admitiu
Justin.
— Você pode? — Ela perguntou, seu tom descrente.
— Não pode acreditar que eu enviei aquilo —, comentou
Justin. — Certamente não ameaço mulheres, e não tenho
necessidade de me esconder atrás de notas anônimas.
Ela arqueou a sobrancelha para ele. — Isso é interessante,
eu poderia jurar que você fez exatamente isso na primeira noite
que nos conhecemos. — Olhou para ele por um longo
momento. — Mas, não —, ela disse, resignada, —realmente não
acho que isso é algo a que você recorreria, mas não consigo
pensar em ninguém mais que não goste de mim tanto quanto
você.
— Eu não desgosto de você tanto quanto não a aprovo —,
disse ele suavemente.
Ela bufou indelicadamente.
— Podemos continuar com isso? —, perguntou Case. —
Você discutiu com alguém recentemente?
— Não, você saberia se eu tivesse.
— Quem entrega as mensagens para você? — Justin
perguntou. — Isso parece o lugar lógico para começar.
— Eu não sei —, ela admitiu. — Elas são sempre deixadas
na porta.
— Parece que a coisa a fazer é aprontar uma armadilha
para a pessoa que entrega —, disse Justin com naturalidade.
— Grande ideia! —, interveio Case. — Justin, você e eu
podemos estar aqui antes do amanhecer para ver quem entrega
a próxima mensagem, assumindo que haja outra entregue
amanhã.
Justin olhou para Case surpreso. — Não me lembro de
concordar com nada desse tipo.
— Se você não fez isso, aqui está sua chance de prová-lo.
— Jillian parecia estar gostando muito de seu óbvio
desconforto.
— Sabe muito bem que eu não fiz isso —, ele rosnou.
— Vamos lá, Justin, eu posso precisar de ajuda para
prender o culpado —, disse Case persuasivamente.
Justin olhou alternadamente entre os dois, sabendo que
ele estava completamente pego. — Maldito inferno, como diabos
eu me meti nessas coisas?

###

Na manhã seguinte, Case e Justin se esconderam atrás de


uma fileira de arbustos que margeavam a passagem de Jillian
até à porta. — Eu não posso acreditar que deixei você me
convencer sobre isso —, Justin resmungou. — Além do fato de
que está muito frio, eu me sinto completamente ridículo metido
nos arbustos. Você pode imaginar o que aconteceria se alguém
do White’s soubesse disso? Nunca seria capaz de mostrar meu
rosto lá novamente. O proeminente duque encontrado escondido
nos arbustos do exterior da casa de Lady Penroth —, ele imitou.
Case sufocou sua risada. — Pare de reclamar. Com
alguma sorte, nosso mistério será resolvido hoje. Aqui está o
nosso culpado agora —, ele sussurrou.
Um menino, com não mais de dez anos, subiu
sorrateiramente pela entrada da porta de Jillian. Ele colocou a
nota no degrau de pedra do lado de fora da porta e se levantou
para bater quando Justin e Case se lançaram sobre ele.
Ele reagiu como um animal enjaulado. Uma série de
obscenidades explodiu quando ele chutou e arranhou. Justin
soltou um xingamento próprio. — Ele me mordeu! —, exclamou
ele, segurando a mão ferida. Rapidamente subjugaram o garoto
que se contorcia. — Basta! — Justin gritou, assustando o
menino com a força de sua voz.
Ele parou contra Case, olhando com medo para os dois
homens. Justin pegou o papel que o garoto colocou no degrau e
abriu-o.

Você vai morrer

Entregou-o a Case, que leu as palavras com o rosto


sombrio.
— Para quem você está entregando essas mensagens? —
Perguntou Case.
— Eu não sei, senhor —, ele gaguejou.
Justin estreitou seu olhar. — Pense de novo —, disse em
um tom perigoso.
— Eu juro, não tenho ideia, as mensagens são deixadas
para mim debaixo de uma pedra junto com um xelim todas as
manhãs. Esse cara grande e malvado apareceu para mim e
disse que pagaria se eu entregasse um pedaço de papel para
esse endereço.
— Onde é essa pedra da qual você está falando? —
Perguntou ele.
— Está nas docas. Bem à porta da Taverna Fishhead. Há
uma pedra solta nos degraus. Se você tirá-la, há um lugar onde
pode colocar um pedaço de papel dentro.
— Como é esse cara? Aquele que contratou você, — Justin
perguntou.
— Ele é grande e parece malvado. Tão alto quanto você —,
ele disse estudando Justin. — E tem uma cicatriz no rosto, sob
o olho direito.
Justin enfiou a mão no bolso e tirou algumas notas de
libra. Ele as entregou ao menino. — Isso deve ser o suficiente
para substituir qualquer renda perdida por não entregar mais
mensagens. — O aviso foi claro na voz de Justin.
Os olhos do garoto se iluminaram. Ele provavelmente
nunca tocou tanto dinheiro em sua vida. Saiu correndo,
desaparecendo pela rua.
— Eu espero que você não esteja pensando o que acho que
você está —, disse Justin, observando o olhar pensativo no
rosto de Case.
— Você sabe que temos que descobrir quem é esse homem
—, disse Case. — Por que alguém iria querer assustar Jillian?
Isso não faz sentido algum.
— Eu estava com medo que você fosse dizer isso. — Justin
suspirou. — Eu certamente não vou deixar você lidar com isso
sozinho. Este homem não parece ser do tipo com quem se tem
uma conversa educada. Levarei minha pistola.
— Boa ideia. Vamos vigiar a taverna esta noite. Os servos
de Jillian voltam hoje para que ela não fique mais sozinha na
casa.
Como se na sugestão, a porta se abriu e Jillian olhou para
fora. — Eu pensei ter ouvido vocês dois conversando. Chegou?
— Nós pegamos o menino que estava entregando as
mensagens —, Justin respondeu.
— Menino? — Ela perguntou surpresa. — Você não o
machucou, não é?
— Dificilmente —, Justin murmurou.
— Onde está o bilhete?
Case relutantemente entregou o papel. Ela empalideceu
quando leu as palavras. — Nós sabemos quem está fazendo
isso?
— Temos uma pista —, assegurou Case. — Nós
planejamos investigar essa noite.
Ela ergueu as sobrancelhas quando ele disse nós.
— Eu não posso deixá-lo ir por conta própria —, disse
Justin, em resposta à sua pergunta não formulada.
— É perigoso, então?
— Nós vamos ficar bem —, disse Case. — Só precisamos
questionar alguém.
Ela não parecia convencida, mas deixou o assunto morrer.
— A Sra. Applegate preparou o café da manhã para todos. Por
favor, entrem e comam.
Depois do café da manhã, os dois homens partiram. Pouco
antes do meio-dia, Hilda, Harry e Elsie voltaram com Johnny.
Jillian os cumprimentou com entusiasmo na porta.
Quando Harry trouxe as malas, Johnny se aproximou de
Jillian, tirando o chapéu e segurando-o na mão. — Não posso
agradecer o suficiente pelo que você está fazendo, milady. Elsie
contou-me tudo o que você fez por ela e agradeço sua gentileza.
Eu vou trabalhar duro para você, nós dois vamos. Não vou
esquecer o que você fez.
Jillian ficou encantada com a sinceridade do jovem de fala
mansa. Ele parecia adorar Elsie, e ela estava mais animada do
que Jillian jamais a vira.
Mais tarde, ela discutiu sua idéia com Hilda para oferecer
os aposentos dos empregados a Johnny e Elsie, assim como
seu plano de contratar uma empregada adicional.
Hilda pareceu surpresa. — Você está insatisfeita com o
nosso trabalho, milady?
— Oh, meu Deus, não, estou mais do que satisfeita. Estar
aqui sozinha abriu meus olhos para o quanto você e Elsie
fazem. Eu acho que se você tivesse um par extra de mãos, isso
tornaria as coisas mais fáceis para vocês duas.
— Trabalhar para você é uma alegria, milady. Eu e os
outros não nos importamos com o trabalho extra.
— No entanto, vou contratar alguém para ajudar você e
Elsie. Ela pode ficar no quarto de Elsie quando ela e Johnny se
mudarem para o alojamento dos empregados.
Depois do jantar daquela tarde, Jillian alegou cansaço e
foi até o quarto. Ela sabia que os outros estariam ocupados
abrindo os quartos dos criados que serviriam como a nova casa
de Elsie e Johnny. A preocupação deles serviria bem esta noite
se ela empreendesse seu plano de seguir Case e Justin até à
Taverna Fishhead.
Ela esteve ouvindo a conversa deles, antes de anunciar
sua presença, e não tinha intenção de ficar ociosa enquanto
procuravam por aquele homem misterioso que estava enviando
mensagens ameaçadoras.
Capitulo Oito
Jillian se sentiu ridícula. Vestiu calções apertados, botas
de cano alto e uma camisa de algodão escura. Um olhar no
espelho a fez entrar em seu guarda-roupa em busca de algo
para amarrar seus seios. Seu cabelo estava enrolado no alto da
cabeça, e ela colocou um dos chapéus de Harry sobre ele. O
chapéu rapidamente deslizou sobre os olhos dela. Empurrou de
volta e inclinou em um ângulo para que permanecesse no
lugar. Satisfeita com sua aparência, desceu as escadas
aliviada, rezando para que Hilda e os outros ainda estivessem
limpando os quartos dos criados e não a vissem escapando.
Não gostaria de explicar por que estava vestindo roupas
masculinas.
Deslizou pelo jardim e saiu pelo portão dos fundos até o
beco atrás de sua casa. Andou vários quarteirões e, para seu
alívio, conseguiu chamar uma carruagem de aluguel. Em sua
voz mais grosseira, ela direcionou o motorista para levá-la à
Taverna Fishhead.
A uma curta distância da taverna, instruiu o cocheiro a
parar. Saiu e mergulhou em um beco escuro para poder se
familiarizar com o ambiente. Os cheiros que emanavam das
docas eram avassaladores. No topo do cheiro úmido do rio
Tâmisa, o cheiro de peixe podre e dejetos humanos dos penicos
sendo esvaziados nas ruas laterais a fez vomitar.
Ela se aproximou nervosamente da taverna, procurando o
melhor ponto de observação para vigiar a entrada. Quando
estava perto o suficiente para ter uma visão clara das pessoas
indo e vindo da taverna movimentada, ela se fundiu de volta
nas sombras.
Não pela primeira vez, ponderou a sabedoria de suas
ações. O medo tomou seu estômago. E se fosse descoberta?
Nem sequer os homens enfrentavam as docas de Londres após
o anoitecer. Nem sequer tinha um plano além de ver se Case e
o duque prendiam o homem responsável pelas notas
ameaçadoras.
Ela se pressionou mais firmemente contra a parede de
pedra úmida do prédio, esperando fervorosamente ter tivesse se
tornado invisível para qualquer um que passasse na rua. Seu
coração batia com força no peito, e rezou para que ninguém
pudesse ouvir sua respiração agitada.

###

Justin examinou o interior lotado da taverna procurando


alguém que correspondesse à descrição dada pelo menino. O ar
estava cheio de fumaça e cheirava a corpos sujos e a bebidas
velhas. A taverna era o lar de uma variedade mista da
população mais sórdida de Londres. As prostitutas faziam um
bom negócio aqui e podiam ser vistas oferecendo-se a um
grupo de marinheiros estridentes. Provavelmente havia um
grande número de criminosos procurados se misturando na
atmosfera mal iluminada. Não era um lugar onde alguém
queria ser pego de surpresa.
Ele chamou a atenção de Case e acenou com a cabeça
através da sala para um grupo de homens sentados e bebendo
cerveja. Um deles tinha uma grande cicatriz na bochecha
direita, visível mesmo na atmosfera escura. Quando o homem
se levantou para sair, Justin e Case seguiram-no. No momento
em que se acotovelaram pela multidão e saíram pela porta,
viram o homem em questão se erguer do chão nos degraus e
correr para a noite. Case e Justin imediatamente o seguiram.
Eles o alcançaram a uma quadra da taverna.
— Espere aí —, Justin ordenou, puxando sua pistola.
O homem parou e se virou lentamente para encarar os
dois irmãos. — O que vocês querem? — Exigiu. Não pareceu
muito intimidado pela arma que Justin apontou para ele.
— Quem contratou você para enviar essas notas para a
condessa de Penroth? — Justin exigiu.
— Que notas?
— Não se faça de bobo —, retrucou Case. — Nós vimos
você colocar a nota nos degraus da taverna.
— Eu não tenho ideia de que está falando —, ele zombou.
— Vamos deixar o magistrado lidar com o assunto, então
—, Justin respondeu.
O homem se lançou em Justin, pegando-o de surpresa,
derrubando a arma de sua mão. Ele ouviu o barulho quando a
arma disparou pela rua de paralelepípedos, e Case desapareceu
de sua vista quando foi empurrado para o chão pela força do
ataque do homem. Grunhiu quando seu atacante deu um soco
no meio do corpo. Os dois homens rolaram sobre as pedras
ásperas da rua, enquanto Justin procurava obter vantagem.
Aplicou uma série de golpes que derrubaram o homem, mas
depois cambaleou quando o homem acertou um soco no
queixo.
Quando ele caiu, Justin pegou um borrão de movimento
com o canto do olho quando uma figura de roupa escura se
lançou no homem. O recém-chegado foi enviado esparramado
enquanto o homem o golpeava com tanta eficiência quanto se
estivesse enxotando uma mosca. Um grito de dor rasgou o ar,
um grito decididamente feminino de dor.
Justin xingou. A maldita mulher tola ia ser morta. —
Case, venha até aqui! — Ele gritou, quando se levantou e
cautelosamente circulou o homem.
Como se sentindo que suas chances estavam mudando
rapidamente, o homem renovou seus esforços quando se
lançou mais uma vez em Justin. Um lampejo de prata brilhou
em sua mão. Justin quase não viu a tempo. Ele pulou para
trás, mas não antes que a lâmina cortasse seu braço. Soltou
um silvo de dor. O homem largou a faca e fugiu para a noite.
Jillian alcançou Justin primeiro. — Você está bem? — Ela
perguntou, preocupação evidente em sua voz.
Case não ficou muito atrás. — Jillian, que diabos você
está fazendo aqui? — Ele exigiu com raiva. — Você poderia ter
se matado!
— Agora não, Case —, disse ela com urgência. — Seu
irmão foi esfaqueado.
Case olhou preocupado para Justin, que estava segurando
o braço em uma tentativa de estancar o fluxo de sangue.
— É apenas um corte —, respondeu Justin. — Pegue a
carruagem para que possamos sair daqui. — Ele nivelou um
olhar para Jillian. — O que você estava pensando?
Ela pelo menos parecia envergonhada. — Eu ouvi você e
Case conversando esta manhã. Pensei que poderia te ajudar.
Justin sacudiu a cabeça, a dor em seu braço era grande
demais para discutir com ela ainda mais. — Você está bem? Eu
ouvi você gritar.
— Não é nada. Estou mais preocupada com você no
momento.
Case subiu na carruagem de Justin, e Justin e Jillian
entraram. — Deixe-me olhar o seu braço, — Jillian ordenou,
sentando no banco ao lado de Justin.
— Está tudo bem —, ele disse secamente.
— Não seja um tolo e deixe-me ver.
Ele suspirou e afastou a mão do corte. Ela franziu a testa
enquanto inspecionava o ferimento ainda sangrento. Tirou a
camisa da cintura de suas calças onde tinha sido enfiada.
Justin olhou para ela com interesse. — Vire o rosto —,
comandou. — Você também —, disse a Case, que também
estava olhando para ela com curiosidade.
Eles obedeceram, mas Justin ainda podia vê-la pelo canto
do olho. Ela apalpou sob a camisa, levantando-a em seus
esforços, mostrando a pele cremosa por baixo. Justin respirou
fundo quando ela começou a desenrolar uma longa tira de
pano de seus seios. Ele só podia ver o volume por baixo
enquanto a faixa se soltava.
— Pode olhar agora —, ela anunciou. Começou a enrolar a
tira em volta do braço dele, efetivamente enfaixando o corte.
Teria que ser cego para não notar seus seios, agora livres de
restrição, lutando contra o material de sua camisa. Ela era
delicada em suas ministrações, e isso estava deixando-o louco.
Sua principal fonte de desconforto não vinha de seu braço, mas
de seus calções.
— Você vai precisar de pontos —, disse ela, franzindo a
testa para o corte que estava enfaixando. — Eu posso fazer isso
por você. Parece um pouco bobo chamar o médico tão tarde da
noite.
— Eu não acho que seja uma boa ideia —, Justin
murmurou. — Além disso, não seria adequado.
— Bem, como você gosta tanto de apontar, dificilmente
sou adequada. Além disso, sinto-me responsável pela sua
lesão.
Ele viu que era inútil discutir. Ela provavelmente não
havia perdido uma discussão em toda a sua vida.
Quando chegaram à residência de Justin, ele entregou a
capa a Jillian. — Coloque isso e cubra a cabeça. Não seria
vantajoso a você ser vista entrando em minha casa a essa hora.
Ela lançou-lhe um olhar desagradado.
— Estou pensando em você —, ele rosnou. — Qualquer
reputação que tenha ficará em ruínas sendo de conhecimento
comum que você esteve aqui sozinha comigo. Case dificilmente
é um acompanhante adequado.
— Ele está certo, Jilly, coloque a capa.
Uma vez lá dentro, Jillian imediatamente começou a dar
instruções. Ela enviou Case para pegar água e um curativo
adequado para a ferida e, em seguida, conduziu Justin para
seu quarto. Edward os encontrou ao pé da escada parecendo
tão sereno quanto antes.
— Posso ser de alguma ajuda, sua graça?
— Você pode me ajudar a levá-lo pelas escadas e para sua
cama —, Jillian interrompeu, antes que Justin pudesse
responder.
— Eu não preciso de ajuda —, ele disse entredentes. —
Não há nada de errado com minhas pernas.
— Pare de ser tão idiota, e deixe-nos ajudá-lo —, ela
repreendeu, ignorando suas objeções.
— De fato, sua graça, você parece precisar de ajuda, —
Edward disse, chegando ao seu outro lado.
Os olhos de Justin se estreitaram. Tinha certeza que lera
diversão nos olhos de Edward. Impossível, já que ele era
certamente o mordomo de cara mais dura de toda a Inglaterra.
— O que você está achando tão divertido? — Ele rosnou.
— Certamente não tenho ideia do que está falando, sua
graça —, ele disse calmamente. Mas ainda assim Justin podia
ver o riso refletido.
— Inferno! — Ele resmungou. — Todos vocês são
insuportáveis.
— Precisamos levá-lo para a cama para que eu possa
limpar a ferida —, disse Jillian, impaciente. — Não quero que
ele fique com febre.
— Eu não tenho febre —, ele bufou.
— Pelo contrário, sua graça, lembro-me de uma vez que
ficou completamente sem sentidos por dois dias inteiros com
febre.
— Isso é o suficiente, Edward, — Justin disse entredentes.
— Vamos continuar com isso e dispensar reviver memórias
antigas.
Novamente Edward pareceu reprimir um sorriso, e eles
continuaram subindo as escadas para o quarto de Justin.
— Estou tão feliz que você está se divertindo —, Justin
sibilou, prendendo Edward com o olhar.
Jillian ficou impressionada com a simplicidade do seu
quarto. Uma grande cama de mogno, muito masculina, estava
no centro do quarto. As paredes estavam nuas, assim como a
mobília que esparsamente pontilhava o cômodo. Uma pequena
mesa estava ao lado da cama com uma vela fumegante
pousada em um suporte. Edward correu para acender a vela e
atravessou o quarto para acender uma lamparina a óleo que
estava pendurada sobre a penteadeira. Logo o cômodo foi
banhado por um brilho quente.
Jillian o empurrou para baixo na cama. — Você precisa
tirar sua camisa. Temo que esteja arruinada de qualquer
maneira. — Ele desabotoou a camisa desajeitadamente,
estremecendo ao pegar os botões mais altos. — Que
desconsideração minha —, ela se repreendeu. — Deixe-me
ajudá-lo.
— Isso não é necessário —, disse ele rapidamente. —
Edward pode fazer isso. — Mas Edward havia desaparecido do
quarto.
— Como eu estava dizendo, vou ajudá-lo. — Ela
gentilmente desabotoou os botões restantes e abriu a camisa.
Respirou fundo, sentindo-se curiosamente tonta enquanto
expunha seu peito bem musculoso. Era o peito mais magnífico
que já vira, não importava que fosse apenas o segundo que já
havia visto. Certamente a maioria dos peitos não eram tão
bonitos assim. Como seria tocá-lo? Ela saiu do seu torpor, o
rosto quente pela direção que seus pensamentos haviam
tomado.
Justin estava lentamente ficando louco. Era tortura ver os
seios dela sob a camisa justa. Quando seus dedos fizeram
contato com suas costas enquanto ela deslizava a camisa de
seus ombros, ele saltou como se tivesse sido queimado.
— Eu te machuquei? — Ela perguntou preocupada.
— Eu estou bem —, ele disse. Ficou grato quando Case
retornou com a água e bandagens.
— Deite-se —, ela instruiu, pegando a água de Case.
Gentilmente lavou a ferida. — Tem certeza de que não quer que
eu dê pontos?
— Tenho certeza. Apenas enfaixe... ficará bem.
Ela olhou para ele duvidosamente, no entanto começou a
enfaixar. Minutos depois, deu um tapinha suave no braço dele.
— Tudo terminado.
Justin deu um obrigado silencioso. Não tinha certeza se
poderia suportar seu toque por muito mais tempo sem se
embaraçar. Sentou-se, vestindo uma camiseta que Case havia
pegado de seu guarda-roupa. Aceitou com gratidão o copo de
uísque que Case oferecia também. — Parece que estamos em
um beco sem saída —, disse ele depois de beber o líquido
ardente. — Espero que tenhamos assustado nosso homem
misterioso o suficiente para que ele renuncie a qualquer
entrega futura. Mas isso não resolve o mistério de por quê ele
estava fazendo isso de início —, acrescentou.
— Eu sou grata por sua ajuda, sua graça —, disse ela com
sinceridade. — Sei que você não queria, mas agradeço seus
esforços do mesmo jeito. Só sinto muito que tenha sido ferido
por minha causa.
Maldição, mas ele queria beijá-la. Sua lesão obviamente o
fazia delirar. — Eu não teria ajudado se não quisesse. E me
chame de Justin. Parece que estamos destinados a conviver,
apesar dos nossos melhores esforços.
— E eu pensei que você não acreditasse no destino —,
disse ela com um sorriso travesso.
Ele deu a ela um olhar que sugeria que não estava se
divertindo.
— Venha, Jillian, eu preciso levá-la para casa —, disse
Case. — Vai amanhecer em breve.
Jillian ficou momentaneamente assustada. Ela havia
esquecido completamente a presença de Case no quarto. —
Sim, sim, é claro —, disse, afastando-se de Justin.
Ela e Case voltaram para casa em silêncio. Sua mente era
um turbilhão de pensamentos conflitantes. Algo aconteceu esta
noite. Sua resposta a Justin foi estranhamente diferente de
antes. Ela sentiu a língua amarrada e desajeitada, quando
antes, nunca tinha perdido as palavras. Ficou boquiaberta em
seu peito nu como uma completa idiota.
A carruagem parou, invadindo seus pensamentos. Ela
piscou e levantou-se para descer. Eles já estavam em sua casa.
Case se aproximou e apertou a mão dela.
— Descanse um pouco —, ele disse suavemente. — Eu
vou te ver hoje à noite no baile de máscaras.
Ela entrou e caminhou cansada até seu quarto. Queria
desesperadamente um banho. A luz do dia já estava raiando e
sabia que Hilda e Elsie estariam acordadas, mas não tinha
nenhum desejo de que elas a vissem em suas roupas atuais,
então rapidamente trocou para um roupão. Então tocou o sino
para Elsie, que apareceu dentro de alguns instantes e começou
a preparar um banho.
Jillian suspirou de prazer quando afundou na banheira de
água quente. Fechou os olhos e relaxou contra as costas,
deslizando um pouco mais para baixo, até que apenas sua
cabeça permaneceu acima da água. Imagens incertas do peito
de Justin voltaram flutuando para sua mente. Como teria sido
tocá-lo? Ele a atraia de uma maneira assustadora. Ela não se
sentia no controle quando estava perto dele, e desde seu
casamento desastroso valorizava o controle acima de tudo.
Sua reação a ele a preocupou mais do que gostaria de
admitir anteriormente. Nunca sentira uma maré de desejo
perto de Lucas. Mesmo no começo, quando estava
desesperadamente apaixonada, seu toque não provocara uma
resposta tão poderosa.
Como Justin realmente poderia ser sob a projeção externa
de nobreza e honra? Seu casamento com Lucas lhe ensinara
uma coisa sobre homens: um exterior encantador geralmente
disfarçava o monstro dentro dele.
Permaneceu na banheira até que a água ficou morna,
depois saiu, secou-se e entrou pela porta do quarto. Um fogo
crepitou na lareira e ela se acomodou na cadeira em frente a
ele, puxando um cobertor sobre as pernas. Bocejou, já sendo
embalada para dormir pelo calor invadindo seus membros.

###

Naquela tarde, depois de acordar de algumas horas de


sono, ela começou a se preparar para o baile de máscaras.
Seria uma sereia para a ocasião, e Elsie penteara o cabelo de
modo que caísse em cascata pelas costas, em uma massa de
cachos, terminando na parte baixa de suas costas. Seu vestido
era uma confecção ousada, e se agarrava a ela a cada curva
como uma segunda pele. O material era azul-marinho com fios
de prata costurados no vestido, dando o efeito de escamas
brilhantes. Completamente sem alças e sem costas, o vestido
acentuava seus seios fartos e a cintura fina. O material se
agarrava firmemente a seus quadris e seguia a forma de suas
pernas até os tornozelos. Se não fosse por uma ousada fenda
na parte de trás de seu vestido, ela não teria sido capaz de
andar.
Isso não se encaixava exatamente com a ideia de uma
abordagem nova e mais conservadora, mas algum demônio
dentro dela obrigou-a a vestir a fantasia de qualquer maneira.
Este era o último grande baile do ano. Haveria tempo de sobra
para adotar uma nova imagem para a próxima temporada.
Ela não precisava se preocupar, no entanto. Por trás do
pseudo anonimato que suas máscaras ofereciam, o resto da
sociedade abandonava suas inibições e noções de decoro e
vestia criações que iam desde o simples levantar de
sobrancelhas até o absoluto deixar de queixo caído.
Ela viu o conjunto colorido de trajes de seu local isolado
nas imediações do salão de baile. Lady Clarice tinha lhe
proporcionado o maior divertimento até agora, ostentando uma
tentativa sombria que Jillian só poderia supor que era um
pavão. O resultado, no entanto, se assemelha mais a uma
galinha que alguém atirou no traseiro.
Lady Bea tinha vindo como pirata e gostava muito da
atenção que estava ganhando. Jillian reprimiu uma risada ao
ver a dama mais velha de calça e tapa-olho. Ela se deleitava em
atormentar aqueles que chegavam perto demais de seu florete,
embora não tivesse muita habilidade em empunhá-lo. As
pessoas rapidamente decidiram dar-lhe uma boa distância
enquanto ela marchava pelo salão.
Havia numerosos Napoleões na multidão e tantas
imitações de Wellington. Logo, uma batalha simulada irrompeu
e aplausos surgiram quando Wellington despachou uma figura
barriguda vestida como Napoleão.
Seus olhos examinaram o salão novamente. Ele estava
aqui?
— Você parece ter se superado esta noite, milady.
Ela pulou, em seguida, virou-se para ver o objeto de sua
busca diante dela. — Justin! O que você está fazendo aqui?
Você não deveria estar fora da cama. Como está seu braço?
— Está bem —, respondeu ele, aparentemente divertido
por seu ataque verbal. — Só um pouco dolorido.
— Onde está a sua fantasia?
— Eu não pareço estar usando uma. Nem você, se isso
importa —, ele disse, erguendo uma sobrancelha para o vestido
de sereia dela.
— Eu vejo que sua lesão não se estende à sua língua.
Pena.
— Você nunca fica sem sarcasmo.
— Quem disse que eu estava sendo sarcástica?
Na verdade, Justin ficou hipnotizado por Jillian. Ele ficou
atrás dela por vários longos momentos olhando para a extensão
nua de suas costas com que foi presenteado toda vez que ela
virava a cabeça. Os longos e negros fios de seu cabelo
repousavam provocativamente na cintura do traje que se
curvava sob as costas dela. Suas mãos coçavam ao seu lado e
ele enrolou os dedos em um punho para resistir ao desejo de
enterrá-los na exuberante juba de seu cabelo.
Os muitos olhares apreciativos que Jillian recebeu dos
convidados do sexo masculino irritaram Justin. O
conhecimento de que isso o irritava não se encaixava bem com
ele. A mulher estava deixando-o louco.
— Você vai sair para o campo em breve? — Ela perguntou,
sua voz filtrando através de seus pensamentos e trazendo sua
atenção de volta para o presente.
— Eu não pensei muito nisso —, ele respondeu. — Eu não
tenho pressa para sair de Londres.
— Oh —, ela disse, parecendo perplexa.
— Isso te desaponta?
Ela fez uma careta para ele. — É de pouca importância
para mim o que você faz.
— Então, tenho certeza de que não vai incomodá-la eu
ficar em Londres por enquanto.
— Nem um pouco —, ela disse alegremente. — Tenho
certeza que você vai encontrar muita coisa com que se divertir.
— De fato, eu achei Londres muito divertida —, ele disse
intencionalmente.
— Sabe, toda vez que acho que realmente poderia começar
a gostar de você, sou tão rapidamente desenganada dessa
noção. — Ela virou as costas para ele e foi embora, a cabeça
erguida.
O olhar de Justin estava fixo nas pernas bem torneadas,
visíveis através da fenda dos tornozelos até o meio da
panturrilha. Seu cabelo saltou eroticamente, mostrando a parte
baixa de suas costas que literalmente clamava por carícias de
um homem, sua carícia. Dane-se se soubesse por que ele
sequer compareceu ao baile de máscaras. O braço doía e não
dormira nada naquele dia, mas sentiu-se obrigado a vir.
Em algum lugar entre o tempo que retornou da Índia e
esta noite, ele perdera a maior parte de sua animosidade por
ela. Ah, claro, ela ainda o enfurecia, mas de alguma forma ele
não conseguia reunir a mesma indignação que sentira no
começo. Escandalosa, volúvel e completamente inadequada;
não tinha respeito pelos ditames da sociedade, mas ele estava
atraído por ela. Era a antítese completa de tudo a que ele dava
importância. Então, por que estava tão atraído por ela?

###

Por que estava tão atraída por ele? Na verdade, ela ficou
encantada em vê-lo no baile de máscaras e se viu procurando
por ele, apesar de achar que ele provavelmente não
compareceria. Seu pulso começou a acelerar assim que ele
falou com ela. Mesmo agora, ela se sentia corada e tonta. Ainda
podia sentir o cheiro dele, um cheiro limpo e masculino. Teve o
impulso mais forte de enterrar o rosto no peito dele. E aquela
mecha de cabelo que caia tão descuidadamente na testa, como
os dedos dela coçavam para empurrá-lo para trás.
Ela inspecionou o salão de baile, inconscientemente,
procurando-o entre os foliões luxuosamente vestidos. Quando
seus olhos o encontaram, seu pulso acelerou em resposta.
Parecia tão solitário, mesmo em meio à multidão de pessoas.
Ele sorriu e teve uma conversa educada com aqueles ao seu
redor. As pessoas pareciam gravitar para sua poderosa
presença, e elas valorizavam cada palavra sua. Os homens o
procuravam pedindo conselhos e opiniões sobre tudo, desde o
último debate político até o tipo de cavalo que deveriam
comprar. As mulheres eram atraídas para ele como um ímã.
Elas riam e flertavam, batendo as pestanas de modo coquete,
cada uma secretamente abrigando a esperança de que ele
mostrasse interesse por ela.
Como se sentisse o olhar dela, ele olhou para cima e
capturou seu olhar. Ele deu a ela um olhar divertido e
assentiu. Ela baixou os olhos culpada, furiosa consigo mesma
por ser pega olhando para ele.
Afastando-se rapidamente, ela tomou um copo de vinho da
bandeja de um lacaio que passava. Com crescente tédio,
continuou a assistir as atividades do baile. Ela se sentia
solitária. Ela se livrou do breve momento de melancolia,
determinada a não ceder à tristeza subjacente que parecia
segui-la aonde quer que fosse.
O ano anterior fora um caso de mudança de vida para
Jillian. Muito havia mudado para ela. Os seis meses desde a
morte de Lucas foram gastos tentando mostrar o pouco
respeito que ela tinha por ele. Então, por que não se sentia
vingada? Ela apenas sentiu tristeza pela direção que a vida
tinha tomado.
Olhou inquieta ao redor do salão de baile esperando Case
fazer sua aparição. Não tinha paciência para a melancolia,
irritada por ela ter se esgueirado naquela noite reservada para
diversão e alegria. Case iria animá-la como sempre fazia. E
talvez ele pudesse tirar sua mente de seu irritante e bonito
irmão.
Capítulo Nove
— Alguém realmente se casa por amor? — Jillian
perguntou, enquanto colocava sua xícara de chá no pires.
Lady Bea e Lady Cecilia trocaram olhares astutos e Lady
Bea se inclinou para a frente em sua cadeira. — O que a instiga
a perguntar, minha querida?
Jillian amaldiçoou sua natureza impulsiva enquanto
olhava as duas mulheres, que a olhavam com uma curiosidade
aberta. Elas se reuniram em casa de Lady Bea, menos Lady
Burlington, Adela Farnsworth e Eloise Huntington, que haviam
se retirado para suas propriedades rurais com seus maridos.
Suspirou e se inclinou para frente para colocar o pires na mesa
diante dela. — Eu só queria saber se alguém já se apaixonou
—, ela disse levemente.
— Oh, meu Deus, você está apaixonada? —, perguntou
Lady Cecilia com prazer.
— Eu não tenho certeza se sequer acredito no amor.
Uma expressão esquisita iluminou o rosto de lady Bea e
um olhar distante apareceu em seus olhos. — Com certeza, as
pessoas se apaixonam.
— Você estava apaixonada pelo conde? —, perguntou
Jillian.
Lady Bea continuou como se não a tivesse ouvido. —
Casei com o conde de Winthrop na minha segunda temporada.
Um arranjo foi alcançado entre nossos pais, e eu não o vi senão
uma vez antes do dia do nosso casamento.
Ela se mexeu na cadeira e olhou para baixo. — Havia esse
jovem... de uma boa família, embora eles tivessem caído em
tempos difíceis. Ele não era intitulado. Era o terceiro filho de
um barão e tinha pouca esperança de herdar.
— Eu o conheci no início da temporada, pouco antes de
meu casamento com o conde ser arranjado. Algo mágico
aconteceu entre nós. Nós nos víamos tanto quanto o decoro
permitia, e até conseguimos um encontro no jardim da
propriedade dos meus pais uma noite. Ele foi o primeiro
homem que eu beijei.
Um sorriso gentil curvou as rugas suaves ao redor de sua
boca quando ela parou, evidentemente perdida em suas
memórias.
— O que aconteceu com ele? — Jillian perguntou.
Lady Bea olhou para ela, e ela ficou surpresa com o brilho
das lágrimas nos olhos da mulher mais velha.
— Ele veio me ver na noite anterior ao casamento com o
conde e implorou que eu fugisse com ele para Gretna Green.
Eu me arrependo até hoje que não tive coragem de seguir meu
coração. Eu o afastei e nunca vou esquecer o
desapontamento... a dor em seu olhar pouco antes de ele ir.
Ela olhou de volta para as mãos, torcendo os dedos
enquanto falava. — Nunca mais o vi.
Respirou fundo e olhou de volta para Jillian, tentando
valentemente segurar as lágrimas. — Ouvi dizer que ele se
juntou aos militares e depois foi enviado para as colônias, onde
morreu em batalha.
Lady Cecilia deu um tapinha no braço de Lady Bea,
reconfortavelmente. — Você não poderia saber, Bea.
Provavelmente você teria sido viúva ainda jovem.
Ela sorriu calorosamente para lady Cecilia e depois olhou
para Jillian. — Então você vê, minha querida, o amor é muito
real, nós nem sempre o tratamos corretamente.
— Mas como você sabe? —, perguntou Jillian. — Como
você sabe que não está confundindo alguma paixão passageira
por amor?
O olhar de lady Bea se suavizou. — Todos nós passamos
momentos de fantasia, como imagino que você tivesse por
Lorde Penroth.
— Breve como foi —, murmurou Jillian.
— Mas quando você não pode imaginar estar longe de
alguém —, continuou Lady Bea. — Quando o pensamento de
estar sem ele lhe traz uma angústia incomensurável... então,
minha querida, você está apaixonada.

###

Justin percorreu Park Lane, recém saído de uma excursão


revigorante no Hyde Park. Ele havia dado rédea solta ao cavalo,
permitindo que disparasse pelos caminhos sinuosos, agora
praticamente desprovidos de outros cavaleiros, neste primeiro
dia de dezembro.
Antes que percebesse, viu-se virando na Mount Street e,
ainda mais misteriosamente, viu-se parando em frente à casa
de Jillian. Não era muito grande, mas a elegante casa de
alvenaria combinava com ela.
Deslizou de seu cavalo e prendeu as rédeas no pequeno
portão que guardava o caminho de pedra que levava à porta da
frente. Mais tarde, ele se perguntaria como e por que subiu os
degraus e ergueu a elegante aldrava de latão para bater duas
vezes.

###

Jillian estava andando pelo foyer até a sala de estar


quando ouviu a batida. Sabendo que os servos estavam na
cozinha, ela apressou-se a atender.
Abriu a porta e olhou para fora, chocada ao ver Justin
parado ali. — Sua graça —, ela conseguiu gaguejar, incapaz de
evitar a surpresa de sua voz.
— Eu pensei que nós concordamos que você iria me
chamar de Justin —, disse ele, sorrindo para ela confuso. —
Você vai me convidar para entrar?
Ela olhou para a porta que estava segurando firmemente e
apressadamente recuou, abrindo-a. — Eu peço desculpas. Não
esperava ver você aqui —, ela disse, afobada pelo jeito que ele
parecia encher a porta quando entrou.
Ela gesticulou para ele segui-la enquanto o levava para a
sala de estar. — Sente-se —, disse, virando-se como se
estivesse procurando alguma coisa. Olhou para ele perplexa
quando ele permaneceu em pé.
Ele olhou diretamente para ela.
— Oh, me perdoe! —, Disse ela, sentando-se na cadeira
mais próxima.
Ele aliviou sua grande estrutura na cadeira em frente a
ela.
— Você gostaria de um pouco de refresco? —, ela
perguntou, levantando-se do seu lugar mais uma vez.
Ele levantou-se e parou educadamente.
— Droga! Sente-se — Ela insistiu. — Você tem maneiras
impecáveis, com certeza, mas tudo isso de sentar e levantar
está me deixando tonta.
Ele riu suavemente quando se sentou mais uma vez na
poltrona.
Ela pediu uma bandeja de refrescos e esperou em silêncio
constrangedor que Hilda voltasse. Assim que abriu a boca para
falar e romper a tensão, Hilda entrou trazendo chá e tortas.
Jillian fechou a boca, cerrando os dentes em consternação.
Ela serviu a Justin e a si mesma, e então olhou
atentamente para ele de cima da borda de sua xícara. — Por
que você está aqui? — Finalmente soltou.
— É possível que eu tenha conseguido enervar a
imperturbável Lady Penroth?
Ela se mexeu impaciente em seu assento. Certamente ele
era o homem mais enfurecedor!
Ele recostou-se na cadeira e olhou pensativamente para
ela. — Eu não consigo entender você, Jillian.
— Não venha dizer que veio aqui só para me dizer isso!
Ele continuou, ignorando sua explosão. — Eu tenho a
nítida impressão de que você está escondendo alguma coisa.
Ela ficou boquiaberta ante ele em choque. — O que diabos
eu estaria escondendo? Eu certamente me esforcei muito para
não esconder nada!
— É isso mesmo —, ele meditou. — Eu acho que você fez
um grande esforço para esconder alguma coisa. — Ele olhou
diretamente para ela, mas ela se recusou a desviar o olhar. —
Eu não posso apontar o que é, mas há mais em toda essa
charada do que aparenta. Disso tenho certeza.
— Por que deveria importar para você se houvesse? — Ela
perguntou calmamente.
Ele não respondeu. Então, em uma mudança abrupta de
assunto, ele perguntou: — Você recebeu mais cartas
ameaçadoras?
Ela quase gritou de frustração. — Não. Agora talvez
possamos voltar ao que você acha que estou escondendo?
— Receio que devo me despedir. Eu realmente não tinha
planejado passar por aqui.
— Então por que você veio?
Ele se levantou e caminhou até onde ela estava sentada,
pegou a mão dela e fez uma reverência, passando os lábios
suavemente pelas costas de seus dedos. — Bom dia para você,
Lady Penroth. Retiro-me agora.
Quando ele saiu da sala, Jillian se levantou, pisando duro
e soltou um grunhido exasperado. Por que ele veio? Nunca em
mil anos ela esperava encontrá-lo à sua porta. E o que ele quis
dizer com ela escondendo algo?

###

Ela ainda estava contemplando a estranheza da visita do


duque na tarde seguinte, enquanto caminhava pela Bond
Street. O Sr. Littleton mandara dizer que recebera um livro no
qual achava que ela estaria interessada, e estava ansiosa para
buscá-lo.
Algo para esconder, de fato! O tolo arrogante e
insuportável.
— Lady Penroth, que bom ver você.
Ela congelou e levantou a cabeça para ver Lord Wisecoff
olhando abertamente para ela. A bile subiu em sua garganta e
seu estômago revirou. O suor irrompeu na testa e as mãos
ficaram úmidas. Seus joelhos ameaçaram se dobrar sob ela.
Ele pareceu se divertir com a reação dela, e ficou
observando-a com um sorriso insinuante no rosto. Ela atacou
com a mão e fez contato com sua bochecha, estalando a cabeça
para trás com a força de seu golpe. Seu olhar de choque foi
rapidamente substituído por uma faísca de raiva, e ele agarrou
a mão dela. Ela soltou um grito de dor quando ele apertou.
— Wisecoff, o que acontece aqui? —, perguntou uma voz
dura.
Uma inundação de alívio correu sobre ela quando Justin
se colocou entre eles e soltou sua mão do aperto de Lorde
Wisecoff.
— A cadela me deu um tapa! E tudo que fiz foi
cumprimentá-la.
Seu rosto estava torcido em uma careta feia, seus olhos
brilhando ameaçadoramente. Jillian se virou e correu de volta
pela rua até a carruagem, incapaz de controlar a onda de
pânico em sua garganta por mais tempo.
— Nunca mais me deixe ver você perto de Lady Penroth, —
Justin rosnou, prendendo Wisecoff com um olhar fixo.
— Defendendo a rameira do seu irmão? — Ele perguntou
com uma voz insultante. — Ou ela é sua agora?
Ele se esparramou quando Justin lhe deu um soco no
queixo.
Justin ficou parado sobre o homem prostrado, observando
enquanto Wisecoff esfregava sua mandíbula ferida. — Volte a
me insultar, ou a Lady Penroth novamente, e você vai escolher
seus padrinhos.
Ele se afastou deixando Wisecoff se levantar da rua.
Xingou em voz baixa. Tal cena era impensável, mas não estava
nele permitir que uma dama, mesmo que duvidosa como
Jillian, fosse a receptora desse comportamento insensível.
O que diabo havia passado entre eles? Jillian estava tão
pálida quanto um lençol e todos os seus movimentos gritavam
seu medo. E os olhos dela... o olhar em seus olhos deixou-o
angustiado. Ela tinha fugido como se os cães do inferno
estivessem em seus calcanhares.
Isso estava ficando cada vez mais desconcertante.
Quaisquer que fossem os segredos de Jillian, eles estavam se
tornando mais misteriosos a cada minuto. Se ele fosse esperto,
ele deixaria Londres e se retiraria a Whittington para o inverno,
mas não conseguia ir. Ainda não.
Capítulo Dez
Londres ficou desprovida de grande parte da pequena
nobreza quando, em suas carruagens, desapareciam para suas
propriedades rurais. As ruas de Mayfair estavam muito mais
silenciosas e menos cheias de carruagens. O cheiro certamente
melhorou também, já que as ruas não estavam cheias de
cavalos aliviando-se nos paralelepípedos.
Pena que a pilha de esterco permaneceu. Lorde Wisecoff. O
próprio nome invocava imagens do diabo. Agora que Jillian
empregara um lacaio, não saía mais desacompanhada após seu
encontro com lorde Wisecoff. A presença de Johnny era
reconfortante, embora limitasse suas excursões a curtas
caminhadas no parque.
Mesmo lá, ela estava nervosa com a possibilidade de
encontrar Justin. Ele ficara curioso sobre seu encontro com
lorde Wisecoff, e ela poderia imaginá-lo sendo atrevido o
suficiente para exigir uma explicação. Essa era parte da razão
pela qual fugira tão apressadamente quando Justin havia
entrado em ação para resgatá-la.
Era melhor evitá-lo. Ele evocava muitas emoções
intrigantes dentro dela. Sua presença era inquietante, como foi
evidenciado pela reação dela no dia em que ele foi a casa dela.
Havia o suficiente para mantê-la ocupada em casa, em todo
caso.
A agência doméstica enviara uma nova empregada a seu
pedido, e os últimos dias haviam sido gastos instalando-a e
detalhando suas responsabilidades. Seus agregados agora
somavam seis, sete, se você contasse a presença constante de
Case.
Conforme os dias ficavam mais frios, os habitantes da
casa de Jillian se reuniam na sala de estar à noite, onde se
sentavam em frente ao fogo e desfrutavam de xícaras de
chocolate quente. Ela e Case muitas vezes jogavam xadrez
enquanto Elsie cuidava de seus remendos, Johnny e Harry
tomavam um drinque noturno e Hilda e Catriona, a nova
criada, se interessavam pelo piano.
Ela não tinha coragem de perguntar a Case se Justin
havia se retirado para Yorkshire, e ele não havia oferecido a
informação. Por alguma razão, a ideia de não vê-lo novamente
pesou muito sobre ela. Dada a sua preferência pela vida no
campo, ele podia muito bem não voltar para a temporada da
primavera.
No início da segunda semana de dezembro, Jillian decidiu
se aventurar na livraria de Littleton por algum material de
leitura. Recusou a oferta de Johnny para acompanhá-la,
sabendo que ele e Elsie haviam planejado um dia de compras
por conta própria. Em vez disso, fez Harry ir buscar a
carruagem e foi sozinha. Não adiantava esconder-se para
sempre. Não permitiria mais que seu medo a impedisse de fazer
as coisas de que mais gostava.
A carruagem moveu-se mais rápido à medida que
avançavam, livre de muito tráfego. Viraram para Grosvenor
Street a um ritmo acelerado a caminho de Bond Street, quando
um dos cavalos de repente empinou e avançou. Jillian gritou de
terror quando o mundo virou de cabeça para baixo e ela foi
jogada contra o lado da carruagem. Desesperadamente, tentou
se endireitar entre as almofadas caindo e lascas de madeira.
Um disparo de agonia atravessou sua têmpora enquanto um
único pensamento repetia-se várias vezes. Ela não queria
morrer.

###

Justin estava voltando de um compromisso com seu


advogado quando viu uma carruagem fora de controle, em
duas rodas, ao redor da esquina. Ele olhou horrorizado quando
esta caiu, rolando várias vezes antes de finalmente parar de
lado. Do fundo de sua mente veio um lampejo de
reconhecimento. Era a carruagem de Jillian. O intrincado J nas
portas brilhava intensamente ao sol da manhã.
— Oh meu Deus, Jillian! — Ele gritou com voz rouca,
estimulando seu cavalo a galopar.
Escorregou da sela e correu pelos destroços de rodas e
lascas de madeira. Abriu a porta e subiu, olhando para dentro.
— Jillian! Jillian, você pode me ouvir? — Gritou. Finalmente a
localizou entre as almofadas espalhadas. Ela não estava se
movendo.
A essa altura, os destroços haviam atraído uma multidão
de espectadores e alguns correram para ajudá-lo. Ele entrou,
ainda chamando o nome de Jillian. Ela estava deitada,
inconsciente, contra o lado da carruagem que descansava
contra a rua. Gentilmente examinou seus membros, sem
detectar ossos quebrados. — Vamos, Jillian, acorde —, ele
sussurrou. Gentilmente pegou-a e levantou-a para um
espectador. Saiu da carruagem e rapidamente a recuperou. —
E o condutor dela? —, ele gritou para as pessoas em pé ao
redor dos destroços.
— Eu estou aqui —, Harry grunhiu, caminhando
cautelosamente em direção a ele. Seu braço pendia ao seu lado,
obviamente quebrado. — Sua senhoria? —, ele perguntou com
medo.
— Ela está viva —, disse Justin severamente, incapaz de
oferecer mais.
Fez sinal para Harry na direção de uma carruagem de
aluguel e depois subiu, ainda segurando Jillian com firmeza
junto a ele, e mandou o cocheiro levá-los para sua casa.
Uma vez lá, abriu caminho no vestíbulo gritando por
Edward. — Chame o médico —, ordenou. — E o cocheiro, ele
também precisa de atenção médica.
Ele a deitou no sofá da sala, e ela gemeu baixinho. —
Jillian, você pode me ouvir? — Ele suavemente alisou o cabelo
do rosto, descobrindo uma contusão já arruinando a pele
pálida de sua têmpora. Seus olhos se abriram. Ela piscou
rapidamente, como se tentasse focar seu entorno. Sua testa
franziu em confusão quando viu Justin e ela estremeceu de
dor.
— O que você está fazendo aqui? — Ela perguntou.
Ele sorriu. — Eu moro aqui.
— Nesse caso, como cheguei aqui? — Ela lutou para se
sentar.
Ele empurrou-a firmemente de volta para a almofada. —
Não tente levantar-se, chamei o médico. Onde você se
machucou?
— Só minha cabeça —, ela murmurou.
— Sofreu uma contusão desagradável. Você é muito
sortuda por não ter morrido.
Ela levantou-se de repente. — Harry, onde está o Harry?
— Ele está na sala ao lado com Edward —, Justin disse
suavemente. — Ele tem um braço quebrado, mas acho que vai
ficar bem.
Ela caiu contra o sofá. — Alguém mais foi ferido no
acidente?
— Não, a sua era a única carruagem na rua na hora.
— Graças a Deus por isso.
Justin olhou para ela espantado. Qualquer outra mulher
em sua posição estaria histérica e a última coisa em sua mente
seria a segurança dos outros, muito menos de seus criados.
Só então Edward conduziu o médico que se pôs a
trabalhar examinando Jillian. Nunca ocorreu a Justin se
retirar da sala. Em vez disso, permaneceu ao lado de Jillian
segurando a mão dela reconfortantemente.
— Você é uma jovem muito afortunada —, anunciou o
médico, quando completou sua inspeção. — Eu recomendo
muito descanso e sem atividades extenuantes por, pelo menos,
uma semana. — Ele deu a Justin uma garrafa de láudano. —
Dê a ela um pouco disso para ajudá-la a descansar e aliviar
sua dor. Acredito que ela terá muita dor de cabeça.
Ele saiu para ir cuidar de Harry, deixando os dois
sozinhos.
Ela levantou os olhos para Justin. — Obrigada, obrigada
por me ajudar e a Harry.
— Estou feliz por você estar ilesa. — Os dois olhavam
silenciosamente um para o outro como se percebessem que
estavam entrando em território desconhecido. Case entrou na
sala, pálido de medo. Alívio fluiu sobre seu rosto quando viu
Jillian sentada no sofá. Ele correu para ela. — Meu Deus,
Jillian, vi sua carruagem e pensei...
— Eu estou bem. — Ela sorriu. — Graças a Justin.
Ele segurou sua bochecha em sua mão. — Você tem
certeza de que está bem?
— Sim, o médico esteve aqui, — assegurou ela. — Eu
deveria estar indo para casa agora. Hilda e os outros vão se
preocupar. Também tenho que levar Harry para casa. — Ela
franziu a testa.
— Você não deve se preocupar com Harry —, Justin disse
suavemente. — Ele pode ficar aqui até o médico dizer que está
apto a viajar. Vou chamar minha carruagem e te levar para
casa. Você precisa ir direto para a cama.
— Case, você vai ver Harry? — Jillian perguntou
suplicante.
— Claro, Jilly. — Ele a abraçou com força e beijou o topo
de sua cabeça. — Graças a Deus você está segura.
Um lacaio apareceu na porta para dizer a Justin que a
carruagem estava pronta. Jillian se levantou e seus joelhos se
dobraram imediatamente. Justin a pegou e a levantou em seus
braços. Ele a carregou para fora e gentilmente a posicionou no
assento bem almofadado antes de subir para se sentar à sua
frente.
— Sinto muito por ser um incômodo —, ela se desculpou
trêmula.
— Silêncio —, ele repreendeu. — Você não é
absolutamente um incômodo.
— Posso citar você sobre isso? — Ela perguntou, um
sorriso puxando seus lábios.
Ele riu. — Você deve estar bem, certamente recuperou sua
inteligência.
Eles pararam na casa de Jillian e o lacaio abriu a porta.
— Eu posso andar —, ela protestou, quando ele foi pegá-
la. Ele a ignorou e a ergueu sem esforço em seus braços e ela
descansou a cabeça no peito dele.
Quando entrou na casa de Jillian carregando-a, o caos se
seguiu. Hilda gritou, o que trouxe Elsie, Johnny e Catriona
correndo. Todos começaram a falar ao mesmo tempo.
— Esperem! — Justin ordenou, e eles se acalmaram
imediatamente. — Lady Penroth ficará bem, mas precisa
descansar e ficar quieta —, acrescentou ele, embora seu tom
implicasse que ela tinha poucas chances de conseguir o último
nesta casa.
— E Harry? — Hilda perguntou preocupada.
— Harry está sendo cuidado em minha casa. Ele tem um
braço quebrado, mas fora isso não está ferido. Agora, se não se
importa, levo Lady Penroth até o quarto dela. — Ele se virou
para as mulheres mais jovens. — Qual de vocês é a dama de
companhia?
Elsie fez uma rápida reverência. — Sou eu, sua graça.
— Então pegue o láudano da carruagem e prepare um chá
para a sua ama.
Justin subiu as escadas levando Jillian com ele. — Qual
deles é o seu quarto? — Ele perguntou quando chegou ao topo
da escada.
Ela o dirigiu para o final do corredor. Mais uma vez, ele
ficou surpreso com a elegância tranquila que combinava com o
resto da casa. O quarto tinha um apelo decididamente feminino
e seu perfume permanecia tentador no ar. O espaço era
decorado em branco e amarelo, dando brilho ao quarto. A
grande janela à direita da cama oferecia uma vista pitoresca
dos telhados vizinhos. Pensava agora, mais do que nunca, que
a versão de si mesma que Jillian apresentava em público não
era indicativa da pessoa real por baixo. A questão era, por que
a fachada?
Ele a acomodou na cama, exatamente quando Hilda
entrou atrás deles. Ela estava em um estado óbvio de angústia,
torcendo as mãos e andando de um lado para o outro na frente
da cama de Jillian.
— Por que você não acende o fogo? — Sugeriu Justin.
— Sim, sim, é claro —, disse ela em uma voz nervosa. Ela
correu para pegar a madeira.
Elsie entrou com uma xícara de chá quando Hilda saiu. —
Eu adicionei o láudano ao seu chá, sua graça.
Justin pegou o chá de Elsie e entregou a Jillian. — Beba
tudo, vai ajudar você a descansar.
— Justin, obrigada —, ela disse, seus grandes olhos
verdes olhando seriamente para ele.
— De nada —, ele disse suavemente.
— Você vai ficar até eu dormir?
— Claro —, respondeu ele, sentando-se ao lado de sua
cama. — Você não ficaria mais confortável em suas roupas de
noite? — Ele perguntou, olhando para o vestido de dia
enrugado.
— Sim, eu acho que sim —, ela respondeu. Então corou
das raízes do cabelo até os dedos dos pés.
— Eu vou virar as costas —, ele ofereceu. — Apenas me
diga se precisar de alguma ajuda. — Ele levantou-a
cuidadosamente e ajudou-a até seu roupeiro. Supôs que teria
sido mais sensato, e certamente mais apropriado, se ele apenas
convocasse sua criada para ajudá-la, mas queria ser o único a
ajudá-la, e estranhamente, pela primeira vez em sua vida, não
estava preocupado com o decoro.
Quando ela terminou, ele se virou e rapidamente prendeu
a respiração. Por mais modesto que fosse seu traje noturno, e
de fato era modesto, podia ver cada curva através do fino
material. Ela corou mais uma vez sob seu escrutínio. Como
uma mulher tão mundana e extravagante poderia parecer tão
inocente?
Ele aplicou uma rédea apertada em suas emoções e
ajudou-a ir para a cama, colocando-a sob as cobertas. O efeito
do láudano já era evidente. Seus olhos estavam pesados e ela
lutava para permanecer acordada.
— Não lute contra isso —, ele disse suavemente, sua voz
quase uma carícia.
Suas pálpebras tremeram mais uma vez e ela se rendeu ao
cansaço. Ele a estudou enquanto ela dormia, seus cílios
escuros descansando suavemente em suas bochechas. Ela
agarrou a mão dele com tanta confiança. Sua mão era pequena
na sua muito maior, a pele pálida e macia. Relutantemente, ele
tirou a mão dela e saiu silenciosamente do quarto. Depois de
instruir seus servos para não perturbá-la, ele partiu.
Começou a chover quando parou na frente de sua casa.
Fugindo das gotas caindo, ele correu para dentro para ver
como Harry estava se saindo. Encontrou Case na sala de estar,
conversando com o médico, que acabara de ajustar o braço de
Harry.
— Como ele está? — Justin perguntou quando se
aproximou dos dois homens.
— Eu fixei o braço dele. Ele pode ir para casa assim que
estiver preparado —, respondeu o médico.
— Como está Jillian? —, perguntou Case.
— Ela está descansando. Com o láudano provavelmente
dormirá até a manhã.
Case pareceu aliviado. — Vou levar Harry para casa e dar
uma olhada nela por um momento.
Depois que os dois homens saíram, Justin retornou ao seu
escritório. Ele ficou na janela tomando um conhaque e
observando a chuva. O céu nublado e as chuvas suaves eram
típicas de Londres no final do outono. O inverno estava quase
chegando, as folhas há muito desaparecidas das árvores, um
frio intenso que já impregnava o ar.
Nos anos passados, ele já estaria abrigado em
Whittington, um fogo crepitando na lareira, seus cães de caça a
seus pés. Então, por que escolheu ficar em Londres? Há uma
semana teria dito que queria ficar de olho em Jillian e fazer
todo o possível para acabar com a associação dela com Case.
Agora, se fosse honesto, admitiria que sua decisão de ficar
tinha tudo a ver com querer vê-la novamente, estar perto dela.
Ele gostava de suas brincadeiras, suas reações mal-humoradas
à sua alfinetada. Gostava que ela não se intimidasse por ele.
As outras mulheres da sociedade fingiam e hesitavam em
sua presença e, se lhes pedisse que saltassem para o Tâmisa,
elas provavelmente obedeceriam.
Mudar sua opinião sobre ela e admitir a possibilidade de
que ele estava errado era difícil de engolir, mas era cada vez
mais aparente que estava errado sobre ela.
Capítulo Onze
Os olhos de Jillian se abriram e ela os fechou com a
mesma rapidez quando a dor passou por sua cabeça. Lutou
para lembrar os eventos que haviam acontecido, e abriu os
olhos mais uma vez, percebendo que estava em sua cama.
O quarto estava escuro, iluminado apenas pelo fogo que
queimava na lareira. As chamas lançavam sombras dançantes
nas paredes e no teto do cômodo. Os efeitos do láudano ainda
eram sentidos quando o quarto começou a girar em torno dela.
Tentou se sentar, lutando para acalmar o movimento ao redor
dela.
Sua respiração ficou presa na garganta quando olhou para
o pé da cama. Seu coração saltou em seu peito e sua boca se
abriu em um grito silencioso. Deus, por que não podia gritar?
Por que não podia se mexer?
Ela sentou em silêncio aterrorizado enquanto ele olhava
para ela. Ele permaneceu imóvel, olhando para ela com seus
olhos malignos, olhos que pareciam brilhar na escuridão. E
então ele se foi.
Ela piscou rapidamente, tentando desesperadamente
descobrir se tinha sido um sonho terrível. Não, ele esteve lá.
Ela tinha certeza disso.
Seu estômago revirou e ela saiu das cobertas, tentando
valentemente chegar ao lavatório na mesa ao lado de sua cama.
Vomitou violentamente, seu estômago revirou dolorosamente. A
dor perfurou sua cabeça, quase fazendo com que perdesse a
consciência. Agarrou a mesa e fechou os olhos enquanto
tentava controlar as ondas de náusea. Ela tinha que sair
daquela casa. Agora.

###

Case e Justin sentaram-se na sala de jantar de Justin


discutindo os eventos do dia durante a refeição.
— Pedi ao magistrado para investigar o acidente —, disse
Justin enquanto comiam. Case olhou para ele com curiosidade.
— Não custa determinar a causa do acidente. — Ele não
conseguia parar o incômodo em sua cabeça. Algo o incomodava
com o acidente, e suas dúvidas não seriam silenciadas até que
ele ouvisse as descobertas do magistrado.
— Sim, claro, você está certo —, Case concordou. — Eles
já te deram um relatório?
— Não, eu o espero mais cedo esta tarde. Não o porquê do
atraso.
Justin largou o garfo e se afastou da mesa. Não sentia
vontade de comer de qualquer maneira. — Vamos nos retirar
para o meu escritório e tomar uma bebida. Tem sido um dia
condenável e não podemos fazer mais nada a não ser esperar.
Enquanto os dois homens sentavam-se diante do fogo,
tomando brandy, Case olhou para Justin. — Você nunca me
contou sobre sua viagem para a Índia. Foi tudo o que se diz?
Ele aceitou o tópico neutro, não querendo insistir em seus
pensamentos sombrios. E por que o incomodava tanto que
Jillian quase fora morta. — Foi extraordinário. Noites como
essa me fazem ansiar pelo clima mais quente de lá. À noite
pode ver mil estrelas. Você tem sorte de ver o céu aqui em
Londres. Andei em uma caravana de elefantes pela selva até
um antigo templo e vi criaturas que você só veria em um livro
aqui.
Case se inclinou para frente com interesse. — Parece
incrível!
— Foi. A influência britânica é forte lá, mas se você
mergulhar fundo o suficiente, experimentará uma cultura que
existe há milhares de anos. É muito inspirador.
— Você nunca vai voltar?
— Um dia eu gostaria. Há muitas coisas que gostaria de
ver e experimentar lá. Mas antes de voltar para a Índia, acho
que gostaria de ver a África.
— Me chame de garoto chato, mas não tenho vontade de
deixar nossa boa Inglaterra. — Case riu. — Você sempre teve o
espírito inquieto. Eu acho que puxou a mãe a esse respeito.
Papai sempre dizia que não conseguia prender seus pés no
chão por tempo suficiente para beijá-la.
Justin sorriu, lembrando muito bem como sua mãe amava
viajar. — Ele adorava levá-la a novos lugares. Costumava dizer
que não havia nada como ver o rosto dela se iluminar quando
viam a Itália ou a França. Tinha planejado levá-la para a
América antes... — Ele parou de falar sem querer expressar as
palavras. — Eu sinto falta deles.
— Eu também sinto falta deles —, disse Case calmamente.
— Eles eram pessoas incríveis.
— Sua graça —, Edward interrompeu da porta. — Eu acho
que você deveria vir.
Justin franziu a testa com a urgência na voz de Edward.
— Qual é o problema?
— É Lady Penroth. Ela está aqui.
Ambos, Justin e Case, saltaram de seus assentos e
correram atrás de Edward. Ele os levou até a sala de estar onde
Jillian estava sentada tremendo na frente do fogo. Justin ficou
chocado com sua aparência. Ela ainda estava de camisola com
apenas um manto cobrindo-a e estava descalça. Estava
encharcada, com o cabelo pendurado na cabeça. Ela andou até
aqui na chuva? Ela olhou para cima, o rosto pálido, os olhos
arregalados de medo. — Sinto muito, eu não sabia para onde
ir.
Justin não sabia se a voz dela tremia de frio ou medo.
— Meu Deus, Jillian, — Case exclamou, correndo para o
lado dela.
— Edward, nos pegue um pouco de chá quente, e pegue
algumas roupas secas para ela vestir —, Justin ordenou.
— Jillian, o que você está fazendo aqui? — Case
perguntou, pegando suas mãos nas dele. Ele esfregou-as, como
se tentasse aquecê-la.
— Eu o vi —, ela sussurrou.
— Viu quem? — Justin exigiu.
— Ele estava lá no meu quarto —, ela gaguejou,
obviamente em estado de choque.
— Quem estava no seu quarto? — Case pressionou.
— Lucas —, ela disse sufocada.
Justin olhou para ela surpreso. — Lucas? Você quer dizer
seu marido?
Case a puxou gentilmente para ele, sem prestar atenção
em suas roupas molhadas. — Jilly, ele está morto —, ele disse
suavemente.
Ela se afastou. — Eu o vi, Case. Ele estava lá. Acordei e ele
estava ao pé da minha cama, olhando para mim.
Os dois homens trocaram olhares. Case abraçou-a mais
uma vez, acariciando os cabelos dela suavemente. — Jillian, foi
apenas um sonho, provavelmente um efeito do láudano.
Justin observou Case segurando Jillian e foi tomado pelo
aborrecimento. Bom Deus, ele estava com ciúmes. A percepção
foi tão clara como se alguém tivesse dito as palavras em voz
alta. Queria ser o único abraçando-a e confortando-a. Não
havia realmente nada mais no relacionamento de Case e Jillian
do que amizade? Parecia inconcebível. Case teria que ser dez
vezes mais tolo para não notar a beleza sedutora de Jillian.
Case podia ser um monte de coisas, mas Justin nunca o
considerou um tolo, particularmente quando se tratava de
mulheres bonitas. Ele os observara atentamente nas últimas
semanas, e parecia que eles tinham genuína afeição um pelo
outro. Ele não tinha visto nada para indicar que eram mais do
que amigos, além de sua própria suposição de que eram
amantes. Talvez ele tivesse que acrescentar mais uma coisa à
lista crescente de coisas sobre as quais estava errado.
Edward correu com um cobertor e um bule de chá. Justin
gentilmente enrolou o cobertor em volta dos ombros e Case se
ocupou servindo-lhe uma xícara de chá quente. Ela agarrou a
xícara, como se buscasse desesperadamente seu calor.
— Sua graça —, Edward sussurrou com urgência. — Não
há nada adequado para ela usar.
— Pegue uma das minhas camisas e um roupão. Terá que
servir.
Edward correu para encontrar os itens solicitados.
— Você não deveria estar fora da cama, Jillian, você sofreu
um golpe bastante desagradável na cabeça —, disse Case em
um tom preocupado.
— Eu não vou voltar lá —, disse ela, pousando a xícara.
Ela balançou a cabeça em determinação insensata. — Eu não
vou —, ela sussurrou. — Ele estava lá, eu o vi! — Ela parecia
perigosamente perto das lágrimas.
— Tudo bem, Jillian —, disse Case calmamente. — Você
pode ficar comigo, é claro. Nós vamos resolver isso de alguma
forma.
— Eu tenho uma ideia melhor —, Justin falou. — Case,
por que você não vai dar uma olhada no quarto de Jillian. Se
alguém realmente estivesse no quarto dela, eles deixariam
alguma evidência de sua presença, especialmente em uma
noite como essa.
— Boa ideia —, Case concordou. — Talvez faça Jillian se
sentir melhor se eu investigasse.
— Jillian pode ficar aqui e vestir algumas roupas secas.
Você pode trazer algo mais apropriado para ela quando voltar.
Quando Case estava saindo, Edward retornou com uma
das camisas de Justin e um roupão. Ele entregou os itens para
Justin e discretamente saiu da sala.
— Jillian, você precisa sair dessas roupas molhadas. —
Ele entregou-lhe a camisa e o roupão. — Você precisa de
ajuda?
Ela corou. — Não, eu consigo.
— Tudo bem, eu estarei no corredor, grite se precisar de
mim. Depois de trocar-se, vamos ao meu escritório. O fogo está
aceso há mais tempo e é muito mais quente do que aqui.
Alguns minutos depois, Justin enfiou a cabeça de volta
através da porta. — Você já terminou?
— Sim, pode entrar.
Ela estava envolvida com segurança em seu robe e estava
ao lado do fogo tentando se aquecer. O robe estava pendurado
frouxamente e tinha sido enrolado duas vezes ao redor dela.
Caia em um amontoado a seus pés e ela parecia engolida
inteira. Ele caminhou até ela e pegou-a em seus braços.
— Justin, eu posso andar —, ela protestou. Ele a ignorou
e foi para o escritório. Ele a depositou no sofá diretamente em
frente ao fogo crepitante. Então ele se aproximou e serviu um
uísque.
— Aqui, beba isso —, disse ele, entregando-lhe o copo.
Ela tomou um gole, sufocando enquanto queimava sua
garganta.
— Cuidado —, ele advertiu. — Você não deve beber muito
rápido. — Ele sentou-se ao lado dela.
— Você acha que eu estou louca, não é —, disse ela em
voz baixa.
— Eu acho que você teve um dia muito difícil e tem o
direito de ficar um pouco perturbada.
Ela deu uma risada frágil. — Em outras palavras, você
acha que eu sou louca.
— Não, Jillian, acho que você viu alguém ou algo. Se
estava ou não realmente lá, é outro assunto.
— Então você acha que poderia ser uma invenção da
minha imaginação... alguma alucinação? — A esperança em
sua voz era evidente.
Ele a puxou para si, ignorando a vontade que tinha de
esmagar seus lábios nos dela. Em vez disso, ele segurou-a
reconfortantemente, acariciando seu cabelo molhado. Se
sobrevivesse a esta situação sem manda-la ao seu quarto para
fazer amor louco e apaixonado com ela, ele merecia ser
indicado à santidade.
Ela aconchegou-se tão confiante em seus braços, a cabeça
aninhada contra a ampla extensão do peito dele. Ela atraiu
aqueles instintos masculinos básicos, enterrados tão
profundamente, aqueles que o incitavam a protegê-la, mantê-la
segura. Ele olhou para baixo para ver que ela tinha ficado
completamente imóvel contra ele, sua respiração profunda
sinalizando seu sono. Foi a segunda vez naquele dia que ela
adormeceu em sua presença.
Ele a observou em silêncio, gostando da sensação dela
contra ele. Não conseguia explicar seus sentimentos por ela.
Ele a queria, como jamais quis outra mulher, mas estava
atraído por ela em um nível emocional também. Foi assim que
seu pai se sentiu sobre sua mãe?
— Sua graça —, Edward disse em voz baixa. — O
magistrado está aqui para o ver. Eu o fiz aguardar na sala de
estar.
Justin olhou, sem tê-lo ouvido entrar. Relutantemente
liberou-se de debaixo de Jillian, tomando cuidado para não
perturbá-la. — Você pode ficar aqui com Lady Penroth?
— Claro, sua graça.
Justin entrou na sala para cumprimentar o magistrado. —
O que você tem para mim? — Ele perguntou sem preâmbulo.
O magistrado respondeu na mesma moeda, não poupando
as palavras. — Isso não foi acidente, sua graça.
Justin olhou surpreso. — Você tem certeza?
— Com certeza. A correia principal do freio estava quase
cortada em duas. Era um corte limpo, não um rasgo. Foi
cortada. O eixo traseiro da carruagem também foi serrado em
dois.
Justin xingou cruelmente.
— Alguém planejou seu dano, sua graça. Você tem alguma
ideia de quem?
— Não, mas eu pretendo descobrir —, prometeu.

###

Justin ainda estava remoendo o relatório do magistrado


quando Case chegou de volta da casa de Jillian. Justin fez
sinal para além de sua mesa para que eles não a acordassem.
O rosto de Case estava severo. — Alguém esteve em seu quarto.
Havia pegadas molhadas, grandes, como a bota de um homem.
E eu encontrei isso —, disse ele, entregando a Justin um
pedaço de papel.
Você não será tão sortuda da próxima vez

— Alguém está tentando assustá-la —, disse Case com


raiva.
— Não, alguém está tentando matá-la — Justin corrigiu.
Ele narrou o relatório do magistrado.
— Eu não entendo isso. Jillian nunca fez nada para
prejudicar ninguém. Não consigo imaginar alguém querendo
matá-la. — Case passou a mão pelo cabelo e depois xingou.
— Mas alguém está, no entanto, — Justin disse
severamente.
— Eu acordei seus servos. Seu lacaio está em guarda.
Acho que agora, porém, medidas mais drásticas devem ser
tomadas. Alguém está, obviamente, acompanhando de perto as
idas e vindas de Jillian. — Case ponderou por um momento. —
Eu posso ter um plano, desde que você esteja disposto.
Justin olhou para ele com expectativa. — Continue.
— Se alguém está mantendo um controle tão rígido de
Jillian, então o primeiro lugar que esperaria encontrá-la é
comigo, então isso não é uma opção. E se espalharmos a
história de que Jillian estava indo visitar um amigo, digamos
em Devonshire? Não há tantos membros da sociedade
permanecendo em Londres, mas eu poderia soltar a notícia
para que ela viajasse pelos círculos de fofoca. Enquanto isso,
ela poderia sair de Londres em um coche alugado com você.
Justin ficou alarmado com a sugestão dele e olhou para o
irmão surpreso.
— Ouça-me —, disse Case. — Sua carruagem ducal
permaneceria aqui, como se você ainda estivesse em casa. Você
levaria Jillian para Whittington, onde ela estaria segura. Pouco
antes do Natal, eu levaria sua carruagem para Whittington
como se você e eu estivéssemos viajando para casa nos
feriados.
— Não vai funcionar —, disse Justin resolutamente. — O
que você está sugerindo, alguém poderia descobrir, e como isso
pareceria? Não só a reputação de Jillian estaria em farrapos
como a minha também.
— Ninguém saberia —, apontou Case.
— Eu saberia.
— Você tem um plano melhor, então?
— Não —, ele finalmente admitiu. — Não tenho.
— Então você vai fazer isso?
— Se Jillian concordar com isso —, Justin respondeu.
— Ela precisa —, disse Case severamente. — Ela não pode
arriscar permanecer em Londres.
Capitulo Doze
— Absolutamente não! Vocês estão loucos? — Jillian
encarou os dois irmãos com a boca aberta.
— Jilly, você não está segura aqui —, disse Case. — Você
esqueceu que alguém esteve em sua casa na noite passada?
Que alguém tentou te matar mexendo na sua carruagem?
O sangue foi drenado de seu rosto. — O quê? — Sua voz
falhou.
Justin deu um olhar penetrante a Case, e Case bateu a
palma da mão na testa.
Ela olhou entre os dois. — O que vocês não estão me
dizendo? — Ela exigiu. — Alguém fez alguma coisa na minha
carruagem?
Case assentiu, parecendo infeliz por ter deixado isso
escapar.
Ela caiu em sua cadeira, completamente atordoada por
sua admissão. Suas mãos cobriram seu rosto, embalando sua
cabeça latejante. Ela não estava totalmente recuperada de sua
provação do dia anterior, e agora isso.
Ela passara a noite na casa de Justin, e ele e Case se
aproximaram dela assim que acordou, com o plano deles de
deixar Londres com Justin. Ela pensou que não poderia estar
mais chocada, para depois descobrir que alguém havia causado
seu acidente na carruagem de propósito. Não suportava pensar
nisso.
— Jillian... — A voz rouca de Justin soou perto de seu
ouvido.
Ela olhou para cima para vê-lo perto... perto demais. —
Você não pode querer isso —, disse ela antes que ele pudesse
continuar.
— O que eu quero não é tão importante quanto a sua
segurança.
Ela levantou as mãos e deixou-as cair de volta no colo. —
Bem, pelo menos você não tentou me oferecer banalidades e
dizer que era uma parte disposta a essa loucura.
— Eu acho que é seguro dizer que nenhum de nós
particularmente quer estar nesta situação, mas eu não posso
pensar em uma ideia melhor. Você pode? — Sua voz era gentil
e nem um pouco ressentida como ela achava que poderia ter
sido.
Houve uma longa pausa. — Não, eu acho que você sabe
que não posso.
— Então está resolvido. Você viajará para Whittington
comigo e faremos o melhor possível em nossas circunstâncias.
Ela olhou para ele e suspirou em derrota. — Eu suponho
que realmente não tenho outra alternativa.
— Você não precisa soar tão entusiasmada —, disse ele,
levantando uma sobrancelha de maneira brincalhona.
Ela riu então, quebrando a tensão estranha entre eles.
— Vou mandar uma carruagem para você ao meio-dia.
Enquanto isso, Case vai te levar em casa para você arrumar
suas coisas.
— Tão cedo?
— Você prefere esperar para ver se o seu intruso faz outra
visita hoje à noite?
Ela engoliu em seco. — Muito bem então, eu estarei
pronta ao meio-dia.

###

Case levou-a para sua casa e permaneceu enquanto ela


informava seus servos de seus planos. Elsie e Catriona, então,
ocuparam-se com as roupas de Jillian, enquanto Hilda
preparava uma refeição para a viagem.
Quando a carruagem chegou, Johnny carregou as malas e
Case caminhou com ela até o portão.
— Vou sentir sua falta —, ela disse tristemente.
— Vão ser apenas algumas semanas, Jilly —, disse ele
enxugando uma lágrima do canto do olho dela. Colocou o dedo
sob o queixo dela, forçando-a a olhar para ele. — Cuide-se.
Ela jogou os braços ao redor dele.
Ele a puxou para perto e retornou seu abraço. — Dê a
Justin uma chance, Jilly. Ele vai te manter segura. Ele é o
homem mais honrado que conheço.
— Se você confia nele, eu também confio.
Ele ajudou-a a subir na carruagem, e ela levou os dedos
enluvados aos lábios e estendeu a mão na direção de Case
enquanto se afastava.
Ela recostou-se em seu assento quando a carruagem saiu
de vista de sua mansão. Em um momento ela se encontraria
com Justin e eles iriam juntos para sua propriedade em
Yorkshire.
Sentiu uma boa dose de ansiedade por sua iminente
permanência com Justin. Ele tinha sido gentil e compreensivo
depois do acidente, mas ela não sabia se poderia contar que a
boa vontade dele se estenderia ao exílio auto-imposto. E então
havia a reação física dela a ele. Estaria próxima a Justin por
várias semanas, e ela não confiava em si mesma para não trair
sua crescente atração por ele.
Uma hora depois, a carruagem desacelerou e parou.
Justin entrou rapidamente e eles partiram imediatamente. Ela
olhou para ele, não totalmente certa do que dizer. Ele encerrou
o momento estranho, inclinando-se para frente.
— Como você está se sentindo?
— Cansada —, ela admitiu. — Tanta coisa aconteceu nas
últimas vinte e quatro horas.
— Você aceitou bem —, ele elogiou. — A maioria das
mulheres estaria prostrada agora.
— Eu não sou como a maioria das mulheres.
— Não, você não é.
Ela inclinou a cabeça, olhando para ele com curiosidade.
— Conte-me sobre Whittington. Case disse que é onde vocês
dois cresceram.
— Sim, nós dois nascemos em Whittington. Passamos
nossa infância lá, correndo pela propriedade e nos metendo em
problemas junto com nosso primo Hawk.
— Parece que vocês dois eram incontroláveis.
— Nós éramos —, Justin disse com um sorriso. — Minha
mãe se desesperou por nós dois.
— Você sente falta dos seus pais? — Ela perguntou
suavemente.
— Sim, sinto —, ele admitiu. Um olhar distante assumiu
seus olhos. — Minha mãe era a criatura mais gentil que eu já
conheci. Meu pai não podia recusar-lhe nada. Todos a
amavam. Meu pai nos ensinou a ser honrosos em todas as
coisas. Ele acreditava que um homem honrado era mais
importante que qualquer título ou coroa. Quando eles
morreram, toda a aldeia chorou.
— Case disse que você cuidou dele depois que seus pais
morreram.
Justin pareceu surpreso. — Eu fiz o que tinha que ser
feito.
— De acordo com Case, você desistiu de muito para dar a
ele uma infância normal. As pressões que você enfrentou
devem ter sido insuportáveis —, disse ela com simpatia. —
Poucos homens se tornam duques aos quinze anos.
— Case te disse muito sobre mim —, Justin meditou.
— Você se importa?
— Não, eu só não sabia que você sabia muito sobre mim.
Eu sei tão pouco sobre você.
Jillian não perdeu a ironia dessa afirmação. Foi uma
admissão impressionante vinda dele. Ele havia assumido muito
sobre ela e agora estava admitindo que, de fato, não sabia
nada.
— Quantos anos você tinha quando perdeu seus pais? —
Ele perguntou, deslocando a atenção para ela.
— Minha mãe morreu quando eu tinha dois anos. Não me
lembro dela —, disse ela com pesar. — Meu pai foi morto em
um acidente de caça quando eu tinha oito anos. Não me lembro
muito dele também. A maior parte do meu tempo foi gasto com
minha preceptora depois que minha mãe morreu. Meu pai
estava muito desapontado por não ter tido um herdeiro para se
incomodar comigo —, ela disse com um traço de amargura. —
Quando ele morreu, fui mandado para a escola e permaneci lá
até que eu saí.
— Isso deve ter sido difícil —, disse ele com simpatia. —
Eu, pelo menos, tinha Case. Você não tinha ninguém.
— Não —, ela murmurou. — Eu não tinha. Vamos parar
pela noite? — Ela perguntou, mudando de assunto.
— Não, nós trocaremos de condutor e viajaremos
diretamente. Eu não acho que seria sensato arriscar ficar em
uma pousada e sermos vistos. Espero que você não se importe
de dormir na carruagem.
— Não, de modo algum, certamente parece bastante
confortável —, disse ela, examinando os assentos macios e as
numerosas almofadas. — Hilda embalou muita comida para
que pudéssemos desfrutar de uma refeição agradável quando
pararmos. Teremos tempo para comer?
— Sim, teremos alguns minutos. Eu tenho outra parelha
de cavalos esperando no meio do caminho com o novo cocheiro,
então levará algum tempo para trocá-los.
Ele olhou atentamente para ela. — Você parece cansada
—, disse suavemente. — Sua cabeça está doendo?
— Um pouco —, ela admitiu.
— Por que você não se deita e descansa? Temos um longo
caminho a percorrer ainda. — Ele lhe entregou uma almofada
para a cabeça e ela aninhou-se no assento confortável.
— Fale-me mais sobre Whittington. É muito bonito?
— Tem sido a sede de nossa família por gerações. A terra é
nossa desde a época de Guilherme, o Conquistador. — O
orgulho era evidente em sua voz. — O castelo original queimou
quando meu avô era menino. Meu bisavô reconstruiu
Whittington nas ruínas do antigo castelo e transformou-o no
que é hoje.
— Éramos originalmente fazendeiros, mas tivemos uma
queda na fortuna quando sofremos uma seca. Meu pai
começou a mexer no comércio e eu continuei depois que ele
morreu. Eu me saí bem, então entreguei a terra para o povo de
nossa aldeia cultivar.
Ela fechou os olhos, o timbre reconfortante da voz dele
embalando-a num sono indolor.
Justin sorriu quando ela adormeceu e depois se recostou
olhando pela janela, observando as encostas ondeadas
enquanto percorriam a estrada sinuosa. Ele sentiu um fio de
antecipação apertar seu peito. Não importava quantas vezes
tinha viajado por esse caminho, ele sempre sentiu o mesmo
entusiasmo. Estava indo para casa.
Quantas vezes ele se retirou para lá quando se sentiu
sobrecarregado, ou insatisfeito com sua vida? Whittington
nunca deixou de ser um bálsamo calmante para as curvas
imprevisíveis da vida. Suas lembranças mais felizes giravam em
torno desse santuário. Cada marco de sua vida culminou ali.
Ele se perguntou o que seu pai teria pensado sobre ele
trazer Jillian para Whittington. Ele se lembrou de uma vez que
seu pai o levou para cavalgar apenas algumas semanas antes
de receber a notícia de que seus pais estavam mortos. Eles
tinham andado sobre o terreno irregular da propriedade,
parando ao lado de um riacho borbulhante para deixar os
cavalos beberem. Os campos verdes e exuberantes e o riacho
serpenteavam contra uma floresta densa, marcando um
contraste gritante na paisagem.
— Olhe ao seu redor, meu filho, um dia tudo isso será seu.
— Ele deu um tapinha no ombro de Justin. — Venha caminhar
comigo, filho.
Os dois subiram a colina íngreme que acabavam de
descer. Uma vez no topo, eles olharam para Whittington Hall. O
topo da colina era o ponto mais alto por milhas e proporcionava
uma visão aérea das propriedades ducais e da aldeia periférica.
— Meu pai me trouxe aqui quando eu tinha a sua idade.
Foi a primeira vez que entendi claramente meus deveres como
futuro Duque de Whittington.
— Trouxe você aqui para este mesmo lugar? — Justin, de
quinze anos de idade, perguntou.
— Este mesmo lugar. — O duque sorriu. — Justin, ser um
duque é muito mais do que ter prestígio e riqueza. Você tem
vastas responsabilidades. Muitos vão depender de você. Os
aldeões contam com você por orientação e proteção. Deve
sempre agir com honra e integridade.
— Eu não vou decepcioná-lo, pai —, Justin disse
solenemente.
— Eu sei que você não vai. Você e Case são os melhores
filhos que um homem poderia esperar. — O orgulho em sua voz
era inconfundível. — Quando chegar a hora, Justin, você trará
para casa uma noiva como todos os homens Whittington
fizeram. Se Deus quiser, sua mãe e eu estaremos aqui para
recebê-los. Se não, confio que você terá a sorte que tive ao
escolher a próxima duquesa. Sua duquesa deve ser um crédito
para você e ao título, honrada e acima de qualquer reprovação.
A linhagem Whittington é rica em sua história de mulheres
orgulhosas e nobres, muito dignas de terem o próximo herdeiro
do título. Quem você escolhe como sua duquesa tem tudo a ver
com a continuação e preservação de nossa linhagem. Se
alguma vez duvidar, olhe para o exemplo de sua mãe. Você não
poderia esperar uma esposa ou duquesa melhor que ela.
A garganta de Justin se apertou quando a memória o
atacou. Seus pais haviam morrido apenas duas semanas
depois, quando a casa de caça de seu pai queimou. Ele
rapidamente engoliu o nó em sua garganta quando viu Jillian
se mexer. Ela abriu os olhos, as pálpebras pesadas e lânguidas
do sono.
— Sente-se melhor? — Ele perguntou quando ela se
endireitou em seu assento.
Ela bocejou indelicadamente. — Minha cabeça parece ter
parado de doer —, disse depois de um momento.
Ele sorriu. — Isso é bom. Vamos parar em breve para
trocar os cavalos e podemos comer.
— Bom, estou faminta.
Alguns momentos depois, a carruagem desacelerou e saiu
da estrada. Um lacaio correu para abrir a porta e abaixar o
degrau. Justin saiu primeiro e depois ajudou Jillian a descer.
Então voltou para a carruagem para pegar um cobertor e a
cesta de piquenique que Hilda havia empacotado. — Você está
pronta para um jantar ao luar? —, ele perguntou, estendendo o
braço em um movimento formal na frente dela.
Ele a levou até uma colina gramada a uma curta distância
da carruagem e espalhou o cobertor no chão, convidando-a a
sentar-se. Ela afundou graciosamente no chão, enfiando as
pernas debaixo dela, o vestido ondulando ao redor. Ela se
envolveu com seu manto, tentando afastar o frio.
Eles apreciaram sanduíches frios de frango e uma
refrescante garrafa de vinho. Depois de comer, Jillian se
recostou com o vinho, respirando profundamente o ar fresco. O
leve cheiro de madeira queimada, sem dúvida de uma chaminé
de fazenda, deslizou delicadamente através de suas narinas.
— Eu acho que nunca vi nada tão bonito —, ela
sussurrou, olhando para a dispersão de estrelas brilhando
intensamente contra o céu. — Certamente as estrelas são mais
bonitas que as jóias reais.
Justin olhou para o céu, tão claro e desprovido de nuvens.
Cada estrela, cada aspersão de poeira celestial era visível. A lua
estava nascendo no horizonte e lançava um brilho luminoso
sobre a suave encosta em que estavam descansando. — É lindo
—, ele concordou. — Eu estava dizendo para Case na outra
noite que eu sinto falta de ver as estrelas quando estou em
Londres. Tudo parece muito maior e mais visível no campo. É
uma das coisas que mais amo quando volto para casa.
Jillian olhou curiosamente para ele, notando a saudade
em sua voz. Antes que ela pudesse comentar, Justin olhou
para a carruagem e depois se levantou. — Parece que eles
terminaram de trocar os cavalos. Nós devemos ir. — Ele disse o
último com um toque de pesar.
Ela se levantou e pegou a cesta de piquenique. Justin
pegou o cobertor e seguiu-a até à carruagem. O lacaio
reacendeu a lamparina e entregou-a a Justin antes de levantar
o degrau e fechar a porta. Os dois se acomodaram quando a
carruagem recomeçou a avançar.
Enquanto viajavam em silêncio, Jillian o estudou por
baixo dos cílios. Ele estava olhando para a escuridão da noite,
sua expressão pensativa. Era bonito, ela decidiu. Onde Lucas
tinha sido cuidadoso em sua aparência, muitas vezes se
enfeitando diante de um espelho antes de sair, Justin parecia
não pensar muito em tais assuntos. Seu cabelo, mais longo e
mais indisciplinado do que seus colegas aristocratas, parecia
ter vontade própria. Os cachos negros caíam para frente,
muitas vezes deslizando descuidadamente sobre a testa. Sua
pele estava bronzeada de forma deselegante, aumentando sua
aparência áspera, e seus olhos castanhos escuros eram gentis
e reconfortantes.
Como se estivesse ciente de seu escrutínio, ele se virou
para olhá-la.
— Por que você não é casado? — Ela perguntou curiosa.
Ele pareceu surpreso com a pergunta. — Eu não pensei
muito nisso.
— Eu pensei que é isso que os duques fazem. Casar com a
mulher perfeita e produzir um herdeiro e um sobressalente.
— Você é cínica para alguém tão jovem —, disse ele em
uma voz divertida.
— Eu nunca me considerei cínica, mais provavelmente
uma idiota ingênua —, disse ela com uma nota de auto-
censura. — Foi Case quem me disse que as pessoas em nossa
posição não se casam por amor.
— Case disse isso? — Justin perguntou surpreso.
— Você não concorda?
— Estou surpreso, é tudo. Nossos pais eram muito felizes
no casamento e muito apaixonados.
— Você planeja se casar por amor, então? — Ela
perguntou em choque.
— Eu não sou, segundo suas palavras, ingênuo o
suficiente para pensar que teria tanta sorte em me casar com
uma mulher pela qual esteja apaixonado, mas tenho muito
tempo ainda, e não tenho pressa de me apressar em um
casamento com alguém que não amo.
Ele não poderia tê-la chocado mais se tivesse tirado a
roupa e corrido nu atrás da carruagem.
— Feche a boca —, disse ele em diversão. — Se houver
uma mosca, você não vai querer engoli-la.
Ela continuou a olhar incrédula para ele. — Você é um
romântico.
Ele parecia um pouco envergonhado. — Você me olha
como se eu fosse um idiota. Eu só quero o que meus pais
desfrutaram.
Sua garganta não parecia estar funcionando corretamente.
Ela fechou e depois abriu a boca, mas nada saiu. Droga! O
homem estava repleto de contradições. Ele estava discutindo
sua esperança de amor sobre sua futura esposa tão
calmamente como se estivesse discutindo o tempo. Bom Deus,
não é de admirar que ele estivesse tão empenhado em arrancar
Case para longe dela. Ela era a personificação completa de tudo
o que ele detinha em desprezo. Ele a via como uma mulher
indiferente e maliciosa, empenhada em criar um escândalo e,
pior, se divertindo com as afeições de seu irmão.
Não era a primeira vez que sentia vergonha por suas
ações. Mesmo em meio a seu comportamento vergonhoso,
Justin ainda agia com honra quando ela estava em
necessidade. Como seria conquistar o amor de um homem
assim? Sua duquesa seria a mais afortunada das mulheres.
Jillian só esperava que quem quer que fosse percebesse o
quanto era abençoada.
Justin observou a miríade de emoções desenrolar-se no
rosto de Jillian e se perguntou o que causou sua angústia. — E
você? —, ele perguntou. Ele nunca tinha perguntado a ela
sobre o seu casamento, embora a pergunta estivesse
queimando seus lábios desde o momento em que a conheceu.
— O que Penroth fez para aumentar sua ira? Você deve
admitir, você não fez exatamente o papel da viúva em luto.
Uma expressão fechada deslizou no rosto de Jillian e ele
se lembrou das grades da prisão de Newgate se fechando. A luz
tinha morrido completamente em seus olhos, substituída por
uma frieza que o fez estremecer. Por um momento fugaz, viu
uma dor genuína em seus olhos. Ele se perguntou a causa
dessa dor.
— Prefiro não discutir sobre meu... Lucas —, concluiu ela,
como se não conseguisse chamá-lo de marido.
— Como você e Case se conheceram? —, ele perguntou
rapidamente, tentando encontrar um assunto neutro.
Seu rosto imediatamente se iluminou e, mais uma vez,
Justin sentiu uma pontada desagradável de ciúme.
— Ele me deu uma carona para casa depois que meu
coche me deixou encalhada. Somos amigos desde então.
Ele levantou uma sobrancelha especulativa.
— Eu não espero que você entenda nossa amizade. A
sociedade não entende. É muito mais fácil para eles
acreditarem que somos amantes.
— Vocês são?
— O que você acha? — Ela perguntou, seus olhos verdes
olhando diretamente para os dele.
Ele não respondeu; em vez disso, enfiou a mão embaixo do
banco e tirou dois cobertores, entregando um para ela. —
Deveríamos dormir um pouco. É tarde e estaremos chegando a
Whittington por volta do amanhecer.
Capítulo Treze
O primeiro vislumbre de Jillian de Whittington quase lhe
tirou o fôlego. Ela acabara de acordar quando percebeu que a
carruagem estava parando. Levantou a cabeça, examinando o
interior mal iluminado da carruagem. Justin estava longe de
ser visto. Onde eles estavam e por que pararam?
Ela saiu para a manhã fria, procurando por Justin. Uma
luz fraca se filtrou através da névoa levemente nebulosa,
enquanto a aurora ameaçava romper o horizonte. Mal
conseguia distinguir o esboço de Justin à frente. Ele estava de
costas para ela e ficou olhando para o vale. Quando ela se
aproximou dele, olhou para baixo e avistou a propriedade dele.
Enquanto observavam, o sol invadiu o topo da colina e
banhou o vale com a suave luz da manhã. Ela sentiu como se
tivesse sido transportada de volta no tempo. Um orgulhoso
castelo de pedra estava aninhado contra o pano de fundo de
uma colina. Estava envolto em um véu de névoa, dando-lhe um
ar medieval de mistério.
Uma longa estrada sinuosa serpenteava pelo vale e subia
até o grande portão que marcava a entrada de um pátio aberto.
Duas torres foram montadas em cada extremidade da face
frontal da mansão, cada uma ostentando uma bandeira com o
brasão Whittington. Corajosamente estampada em ferro
forjado, logo acima da entrada em arco, estava o brasão da
família.
Como se sentisse sua presença, Justin se virou. — Minhas
desculpas, não pretendi te acordar. Eu sempre paro no meu
caminho para casa. A vista daqui é magnífica.
— Eu posso ver porque você ama tanto isso —, ela disse
com admiração.
— Vamos continuar então? — Ele perguntou, voltando
para a carruagem.
Entraram no pátio e pararam em frente aos grandes
degraus de pedra que levavam à entrada principal. As enormes
portas de carvalho se abriram enquanto subiam os degraus, e
Edward estava lá para cumprimentá-los. Justin não pareceu
surpreso ao vê-lo, embora ela se perguntasse como Edward
havia chegado à frente deles.
Ao entrarem no vestíbulo, o olhar de Jillian foi
imediatamente atraído para as escadas idênticas de ambos os
lados da enorme sala. Curvavam-se da base, depois abraçavam
os lados da parede a caminho da região do andar de cima. O
piso era um lindo mármore italiano e o salão estendia-se ao
longo da casa. Na parte de trás do vestíbulo (se podianos
chamar uma entrada tão grande de vestíbulo) havia grandes
janelas francesas de vidro que davam para o terraço. Uma
pequena mesa de café da manhã estava posicionada do lado de
fora das portas do terraço, com duas cadeiras afastadas,
voltadas para os jardins.
— Era o lugar favorito dos meus pais para comer —, disse
Justin, seguindo seu olhar. Ele apontou para as escadas. — Eu
vou te mostrar seus aposentos.
Eles subiram as escadas lindamente polidas e entraram
no corredor que marcava o lado esquerdo da casa. Havia uma
passagem pelo vestíbulo, ligando os dois lados da casa. Além
do caminho de ambos os lados havia dois longos corredores.
Justin a conduziu até o fim do corredor, onde ele abriu
uma porta pesada e eles entraram em uma pequena sala de
estar. Havia um sofá e poltrona em frente à lareira. Um grande
tapete cobria o chão de mármore, adicionando calidez ao
cômodo. À esquerda da sala havia uma porta que levava ao
lavatório. À direita, eles atravessaram outra porta para o
quarto.
— Era o quarto da sua mãe? — Perguntou Jillian,
examinando o aspecto feminino do grande quarto. As paredes
eram lavanda clara, lembrando-a de lilases na primavera. Os
pisos estavam vazios, exceto por um grosso tapete de pele de
carneiro, que ficava na frente de outra lareira. Uma grande
pintura de um prado na primavera estava pendurada acima da
cama. Parecia muito com as terras de Whittington do que ela
vira. As cobertas de cama eram um arranjo rendado de
material branco, dando à cama a aparência de uma nuvem
fofa. A consagração do quarto, no entanto, era uma enorme
janela do outro da cama.
Ela se aproximou e olhou para fora. De seu ponto de vista
podia ver os jardins e mais além a floresta exuberante que
encimava a colina atrás da casa.
— Era —, Justin disse, confirmando sua suspeita. — Por
todo o tempo que ela passou nele.
Seus lábios formaram um silencioso ‘O’ quando ela reuniu
seu significado.
— Milady, eu vou ser sua criada enquanto você estiver
aqui.
Jillian se virou para ver uma jovem de pé na porta. A
criada fez uma reverência na direção de Justin.
— Perdoe-me, sua graça. Não queria interromper.
— Você pensou em tudo —, disse Jillian, olhando para
Justin.
— Eu não posso levar crédito. Edward deve ser o
responsável. Não é algo que me ocorreria —, admitiu ele.
— Qual é o seu nome? — Jillian perguntou, caminhando
até a garota.
— Greta, milady.
— Bem, então, Greta, eu certamente aprecio sua
disposição em me ajudar durante a minha estadia. Tenho
certeza de que nos daremos bem.
Greta lançou-lhe um sorriso tímido. — Obrigada, milady.
Estou ansiosa para servir você.
Justin foi até à porta. — Vou deixar você se instalar.
— Obrigada, Justin, você tem sido muito gentil.
Ele deu-lhe um sorriso caloroso e saiu do quarto.
Jillian imediatamente começou a tirar as roupas, ansiosa
para se livrar do vestido em que estivera por vinte e quatro
horas agora. — Greta, você acha que eu poderia tomar um
banho?
— Claro, milady. Cuidarei disso imediatamente.

###
Depois do banho, Jillian se sentiu completamente
revigorada. Vestiu um vestido simples e foi em busca de Justin.
Ela havia acabado de descer as escadas quando quase foi
derrubada por dois cães turbulentos. Sentou-se no último
degrau, oprimida pelo vigor deles.
— Bem, quem nós temos aqui? — Ela riu, tentando
acariciar as massas de pele se contorcendo.
— Minhas desculpas, milady. — Edward correu para
puxar os cachorros dela.
— Oh, não precisa, eles estavam apenas me
cumprimentando. Quais são seus nomes? — Ela se inclinou
para acariciar suas cabeças e foi recompensada com uma
lambida no nariz. Ela riu e recuou.
— Tobias e Lady Madeline, mas nós os chamamos de Toby
e Maddie. Eles são os labradores de caça de sua graça. Eles
vieram da Terra Nova como filhotes.
— Eles são lindos —, ela elogiou, acariciando seu pelo liso.
— Qual deles é Toby e qual é Maddie?
— O preto é Toby e a amarela é Maddie.
— Você pode me direcionar para o duque?
— Sua graça está na sala de estar —, Edward informou a
ela. — Venha, vou acompanhá-la até lá.
Os dois cães caminharam atrás de Jillian, com o rabo
abanando em interesse.
Justin se levantou da cadeira em frente ao fogo quando ela
entrou na sala. — Meus cães estão incomodando?
— Não, eles foram muito acolhedores.
— Disso é o que eu tenho medo —, disse Justin
secamente. — Eles tendem a ser muito acolhedores.
Jillian riu. — Eles me receberam um tanto
entusiasticamente. — Ela coçou suas orelhas, sorrindo para
suas expressões ansiosas.
— Você está com fome? — Justin perguntou. — Cook está
preparando o almoço enquanto falamos.
Os dois atravessaram a grande sala de jantar formal,
Jillian olhando espantada para a longa mesa. Parecia ser capaz
de acomodar pelo menos cinquenta pessoas. Eles continuaram
passando e entraram em uma área de jantar menor e menos
formal. Parecia muito mais íntima, esta mesa com seis lugares
no máximo. Estava situada bem ao lado da cozinha e a
cozinheira estava ocupada entrando e saindo, carregando uma
bandeja de sanduíches e duas tigelas de guisado de coelho com
cheiro maravilhoso.
— Aqui é onde eu como quando não estou entretendo um
grande número de convidados —, ele disse, gesticulando para
ela se sentar.
Quando terminaram de comer, Justin convidou Jillian a
uma excursão pelos jardins.
Ela correu para vestir sua capa e depois o encontrou no
terraço. Eles caminharam pelo atalho bem cuidado dos jardins,
Justin parando para apontar várias plantas e flores.
— Eu gostaria que você pudesse vê-las em flor —, disse
ele, enquanto caminhavam entre as sebes que separavam o
jardim de rosas das plantas perenes. — Case me disse o
quanto você ama o seu jardim.
Jillian parou e se virou, olhando para ele surpresa. —
Vocês falaram de mim muitas vezes?
— Não, não mesmo. Case é surpreendentemente reservado
quando se trata de você.
— Por que isso é surpreendente?
— Nós geralmente discutimos tudo. Não temos segredos,
ou pelo menos não costumávamos ter.
— Talvez seja porque não há nada para discutir —, disse
ela incisivamente. — Case e eu nunca fomos menos que
honestos sobre nossa amizade. Presume-se muito, mas isso
não faz disso verdade.
Ele suspirou. — Acho que é melhor que isso venha à tona
agora para que possamos tirá-lo do caminho. — Ele parou por
um momento e passou a mão pelo cabelo. — Eu gostaria muito
de esclarecer tudo entre nós.
— Case é muito honrado. Eu não consigo pensar em
nenhum homem mais nobre. Ele sabe quanto valor você coloca
na decência. Eu não posso imaginá-lo fazendo algo que acharia
que te desapontaria. Se você acha que ele iria, você não pode
conhecê-lo como eu, — ela disse apaixonadamente.
— Eu vejo que ele tem uma forte defensora.
— Não, muito pelo contrário —, ela disse suavemente. —
Ele é meu maior defensor, meu único apoiante e amigo.
— Eu acho que gostaria de mudar isso —, disse ele,
olhando atentamente.
Ela olhou para ele intrigada. — Você está sugerindo que
nos tornemos amigos?
— Sim, acho que estou. Eu admito, acho que a julguei
mal, embora você tenha me dado todos os motivos.
Jillian se perguntou o que a admissão lhe custara. — Eu
gostaria disso —, disse ela em voz baixa.
— Vamos começar de novo então? Lady Penroth, permita-
me apresentar-me. Meu nome é Justin Devlin, o duque de
Whittington. — Ele levou sua mão aos lábios. Ela sentiu um
arrepio subir pelo seu braço. Toda a atenção dela estava focada
na sensação dos lábios dele contra a pele dela. Sua boca ficou
seca quando imaginou aqueles lábios nos dela.
Ele abaixou a mão dela, ainda segurando-a na sua. Ela
recuperou seus sentidos e deu-lhe um sorriso deslumbrante. —
Tão feliz em conhecer você, sua graça.
— Por favor, me chame de Justin.
— E você deve me chamar de Jillian —, disse ela,
cooperando.
— Começamos com o pé direito agora? — Ele perguntou,
um sorriso curvando seu rosto bonito.
— Sim, eu acredito que começamos. — Ela retornou seu
sorriso.
— Bom. Agora gostaria de ver os estábulos? — Ele
ofereceu o braço a ela.
— Adoraria ver seus cavalos —, disse ela com um pouco
de emoção. — Eu tinha toda a intenção de aprender a cavalgar
quando a temporada acabasse. Suponho que isso não aconteça
agora.
Ele pareceu surpreso. — Você não sabe montar?
Ela balançou a cabeça.
— Nós teremos que corrigir isso, rapidamente. Não há
motivo para você não aprender a montar enquanto está aqui.
— Você quer dizer que iria me instruir?
Ele sorriu. — Eu acho que pode ser arranjado.
Quando entraram nos estábulos, Jillian avidamente
examinou as fileiras de baias que abrigavam os cavalos.
Aromas frescos de feno misturavam-se com o odor úmido dos
cavalos e o cheiro persistente de esterco. O cavalariço se
esticou para fora de uma baia onde estava esfregando um
cavalo.
— Boa tarde, sua graça. É bom ter você em casa.
— Como estão os cavalos, Ben? — Justin perguntou
acenando para o cavalariço.
— Acabei de exercitar Ciclope, ele está bem genioso esta
manhã.
— Por que você o chama Ciclope? —, Perguntou Jillian.
— Porque ele é grande e feio —, Justin respondeu
divertido —, e ele tem um grande nó na testa que se parece
muito com um olho de Ciclope, mas ele é rápido e um cavalo
muito bom.
— Ele é seu então?
— Sim, ele é meu. Você gostaria de vê-lo? Eu só espero
que ele se lembre de mim. Ele está aqui desde que parti para a
Índia.
Eles caminharam para o final das fileiras de baias e
pararam em frente do último. Um grande cavalo relinchou e
enfiou a cabeça por cima da porta. Jillian recuou com cautela.
— Não deixe que ele te assuste —, Justin afirmou. — Vá
em frente, você pode tocá-lo.
Ela hesitantemente estendeu a mão para tocar o nariz do
cavalo, que imediatamente começou a acariciar sua mão e ela
recuou alarmada.
Justin riu. — Ele está apenas procurando por uma
cenoura ou um pouco de açúcar.
— Ele é grande —, ela disse com admiração. — Mas não
tão feio.
O cavalo sacudiu a cabeça, empinando no seu lugar no
estábulo.
— Você se lembra de mim, não é, garoto? — Justin disse,
esfregando o pescoço de Ciclope carinhosamente.
O cavalo relinchou, empurrando o ombro de Justin com o
nariz.
— Eu vou te levar para uma boa corrida amanhã —,
Justin prometeu.
Justin se virou mais uma vez para o cavalariço. — Ben,
Lady Penroth tem o desejo de aprender a cavalgar. Temos uma
sela adequada?
— Sim, sua graça. A da sua mãe está na selaria tão boa
quanto no dia em que foi comprada. Queenie seria a escolha
perfeita para o primeiro passeio de sua senhoria.
— Sim, de fato — concordou Justin. Ele se virou para
Jillian. — Queenie é uma égua mais velha, muito dócil e tão
motivada para a velocidade quanto uma tartaruga. Você não
tem nada a temer com ela. O que você diz de sua aula começar
logo de manhã?
Ela franziu a testa quando de repente se lembrou de um
fato importante. — Eu não tenho nada adequado para vestir.
Recuso-me a tentar tal esforço em uma roupa como esta, — ela
disse, gesticulando impaciente para as saias longas e cheias de
seu vestido. — E eu não tenho um traje de montaria.
— Poderia deixar que sua senhoria tomasse emprestado
algumas calças masculinas —, sugeriu Ben, tentando avaliar a
reação deles a uma sugestão tão escandalosa.
A expressão de Jillian se iluminou e Justin sentiu sua
própria se turvando.
Ele se lembrava bem de sua última escapada em calças e
sabia que, se ela aparecesse em sua aula vestida naquelas
calças apertadas, ele seria reduzido a um idiota tagarela.
Imaginou a visão deliciosa de seu traseiro bem formado, a
curva suave de seus quadris perfeitos para a mão de um
homem. O chamado impaciente de seu nome por Jillian
interrompeu rudemente seus pensamentos. E ele nem sequer
chegara aos seios dela ainda. Suspirou pesadamente e olhou
para Jillian e Ben, que o olhavam com curiosidade.
— Justin? Ouviu-me?
— Desculpe, o que é que você disse?
Ela deu a ele um olhar de exasperação. — Eu disse que,
como ninguém sabe que estou aqui, não vejo nenhum
problema em usar calças.
Droga, mas ela parecia animada com a perspectiva. Ele
gemeu interiormente. — Se você se sentir mais confortável —,
ele disse amigavelmente.
— O quê? Nenhuma objeção do modelo da decência? —
Ela perguntou em falso horror. Ela se dissolveu em uma
risadinha quando ele revirou os olhos para o céu.
— Acho que eu merecia isso —, disse ele com relutância.
Naquele momento, Jillian percebeu que ela realmente
gostava dele. Sua disposição em admitir quando ele estava
errado foi cativante. Poucos homens aceitariam isso tão
graciosamente. Ela olhou para ele atentamente, vendo-o sob
uma nova luz. Seus olhos eram sinceros, sem uma sugestão de
decepção. O que foi que Case disse? Justin é o homem mais
honrado que conheço. Jillian não poderia culpar seu senso de
decência quase irritante. Era mais do que uma fachada com
Justin. Era algo a que ele dava grande importância. Sua
consciência exigia isso. Consciência. Não era uma
característica que ela estava acostumada a encontrar em um
homem.
O fogo queimava vivamente na sala de estar quando os
dois voltaram para a casa. Jillian gostou imensamente do
cômodo. Era grande, mas tinha um apelo aconchegante. No
centro da parede oposta havia uma gigantesca lareira de pedra.
Poderia ter facilmente envolvido um pedaço inteiro de carne
para assar em um espeto. Troncos, não pedaços de madeira
queimavam na lareira.
Acima da lareira havia uma cornija grossa de carvalho.
Acima disso, um retrato da antiga duquesa estava pendurado
na parede. Ela era uma mulher adorável, elegante e imponente.
Jillian pensou que Case parecia muito com ela.
Contra a parede à esquerda da lareira, havia uma grande
estante de livros, volumes enchendo as prateleiras. Suas mãos
pareciam ansiosas para folhear as páginas. Um piano estava à
direita da lareira, bem na frente de uma grande janela que dava
para a frente da casa. Tapetes de pele de carneiro suntuosos
adornavam o chão em vários lugares, um na frente da lareira,
outros em frente ao grande sofá e das cadeiras situadas perto
do fogo.
O cômodo não tinha a formalidade da maioria das salas de
estar, e Jillian não podia deixar de pensar que aquela era uma
sala da família onde todos se encontravam para desfrutar da
companhia um do outro. Ela sentiu uma pontada de anseio,
uma que lhe era familiar. Como teria sido crescer em uma
família unida com pais e irmãos amorosos para interagir? Ela
se acomodou em uma poltrona felpuda perto do fogo, perdida
em seus pensamentos.
Justin observou a demonstração de emoções em seu rosto,
curioso quanto à causa de sua melancolia. Ela tinha a
aparência de uma criança perdida, os olhos arregalados e
transparentes. Ela o intrigava como nenhuma mulher jamais
fizera. Ela era imprevisível, mas ela tinha uma profundidade
que ele achou surpreendente. Tantas mulheres, conhecidas
suas, eram criaturas rudes e insidiosas.
Ele não se incomodou em corrigir Jillian quando ela o
chamou de romântico. É verdade que ele não queria se
contentar com nada menos que o casamento com uma mulher
que amava, mas tinha pouca segurança de que encontraria
uma mulher que correspondesse às suas expectativas. O
pensamento de um casamento sem amor e sem vida o
deprimia.
Ele invejava Case por sua liberdade. Ninguém dava a
mínima com quem ele se casasse, ou sequer fosse se casar. Ele
não tinha uma sucessão familiar para considerar, nenhuma
pressão para fornecer um herdeiro e nenhuma expectativa a
cumprir.
Ele também invejava a proximidade de Case com Jillian.
Nunca desejou a amizade de uma mulher. Os homens em sua
posição certamente não eram amigos de membros do sexo
oposto, mas de alguma forma ele sabia que iria gostar de tal
relacionamento com Jillian, mas não queria que terminasse ali.
Ele queria mais.

###

Depois do jantar, Jillian retirou-se para o quarto. A fadiga


se instalou quando os eventos dos últimos dias a alcançaram.
Ela havia deixado de lado os pensamentos das cartas sinistras
e seu acidente de carruagem. Acidente. Mais como tentativa de
assassinato. Ela estremeceu com o pensamento. Seis meses
atrás, ela estaria pronta para morrer. Ela queria morrer, mas
agora queria viver. A resolução lavou-a com fervor. Ela havia
sobrevivido, e nunca mais se disporia para o tipo de mágoa que
experimentara nas mãos de Lucas. Ela ia viver, droga! Ninguém
ia tirar sua liberdade recém-descoberta.
Capitulo Quatorze
Por que ela sequer pensou que queria aprender a
cavalgar? Certamente os cavalos eram os animais mais
miseráveis que existiam. A manhã começou calma o suficiente.
Jillian tinha vestido as calças e a camisa folgada que Ben lhe
emprestara, mas se sentira ridícula usando uma camisola
rendada sob o traje dos homens, então resolveu prender os
seios novamente. Ela não foi tão cuidadosa em amarrá-los
desta vez, uma vez que ela não estava tentando disfarçar o fato
de que ela era uma mulher. Isso e a capacidade de respirar
eram importantes para ela.
Ela encontrou Justin nos estábulos, ansiosa para começar
sua aula. Ele já tinha selado a égua para ela, e ele começou a
instruí-la sobre a maneira correta de montar e sentar-se na
sela lateral. Parecia bastante simples.
Confiante em sua capacidade de dominar um feito tão
fácil, relaxou e se acomodou com um som indelicado. Ela deu a
Justin um sorriso triunfante no momento em que caiu para
trás do cavalo. Ela bateu no chão com um baque retumbante
que lhe tirou o fôlego. O cavalo olhou para Jillian com uma
expressão entediada e sacudiu a cabeça.
Jillian reclamou antes que Justin a alcançasse, cuspindo
indignada. — Aquele... aquele cavalo está rindo de mim!
Os lábios de Justin se contraíram suspeitosamente. —
Tente de novo —, disse ele em tom moderado. Ele parecia estar
tentando valentemente manter sua diversão à distância, mas o
brilho em seus olhos o traiu.
Ela deu-lhe um olhar gelado enquanto contornava o cavalo
e pisava no estribo novamente. É verdade que a maioria das
senhoras subia em um degrau, mas Jillian estava determinada
a aprender a maneira correta de fazer as coisas. Pelo menos ela
não tinha uma massa de saias irritantes para enfrentar.
Rangendo os dentes, Jillian ergueu-se mais uma vez. Ela
cautelosamente empoleirou-se na borda da sela, desta vez com
cuidado para não colocar seu peso do outro lado. Um lento
sorriso se espalhou pelo rosto dela, e ela relaxou sua postura.
Ela pegou as rédeas do pomo e prontamente as deixou cair.
Amaldiçoando baixinho, ela se inclinou para frente, o peito
contra a crina do cavalo. Esticou os dedos o máximo que pôde,
estendendo a mão para as rédeas penduradas, mas elas
permaneceram apenas um dedo fora de alcance. Desta vez,
seus palavrões não foram murmurados em voz baixa.
Justin perdeu a batalha e riu alto. Jillian suspirou e
deslizou da sela. Ela deu um passo à frente e se inclinou para
recolher as rédeas que estavam se arrastando no pó. Enrolou
os dedos ao redor deles quando o cavalo a beliscou na parte de
trás, mandando-a espalhada no chão. Justin perdeu todo o
controle e uivou de rir.
— Aquela besta malvada me mordeu! — Jillian exclamou.
Ela rolou de costas e se arrastou para longe do cavalo que a
olhava mal-humorada. — Justin, ela mordeu minhas nádegas!
Justin sentou-se em um banquinho próximo, parecendo
que estava tentando desesperadamente se recompor. Ele
ofegou para respirar, seus olhos lacrimejando profusamente.
Jillian ficou na frente dele, com as mãos nos quadris, olhando
feio para ele.
— Eu pensei que você disse que ela era dócil. Você disse
que ela era velha e calma, o cavalo perfeito para o meu primeiro
passeio.
Justin começou a rir novamente.
Jillian se virou e voltou para o cavalo em desgosto. Ela
pegou as rédeas e juntou-as na mão. — Agora você me escuta,
seu brutamontes mal-humorado e mal-educado. Vou subir em
você e vou montar em você, e se você me der um segundo de
dificuldade, entregarei você ao açougueiro da aldeia.
Ela olhou feio para o cavalo e depois se enfiou com força
na sela. — Agora que montar está fora do caminho, como faço
para ela andar?
— Acho melhor que eu a leve até que você esteja
acostumada a estar na sela —, disse Justin, pegando as
rédeas.
— Bobagem, estou na sela, apenas me diga o que fazer.
— Muito bem. Nós faremos do seu jeito. Clique com seu
calcanhar esquerdo contra o lado dela quando estiver pronta
para começar. Mas não até...
Jillian enfiou os calcanhares no cavalo e Queenie se
adiantou. — Justin, Justin! Como eu faço ela parar? — Ela
gritou freneticamente.
— Não, não, Jillian! — Ele gritou, correndo atrás dela. —
Não finque os calcanhares...
Suas pernas penduradas desceram mais uma vez e
Queenie começou a trotar. Cavalo e amazona desceram em
direção ao riacho, Jillian se agitando na sela enquanto tentava
desesperadamente manter-se empoleirada nas costas do
cavalo.
Justin saltou para Ciclope e seguiu atrás dela. Ele chegou
à elevação acima do riacho bem a tempo de ver Jillian ser
lançada sobre a cabeça de Queenie e aterrissar com um
esguicho na água. Ele correu a frente para buscá-la. Ela estava
até a cintura no riacho, sacudindo a água de suas mãos.
Justin entrou para ajudá-la a ficar de pé.
— Você está bem? —, ele perguntou preocupado.
— Cccla-ro que estou bem —, ela disse, seus dentes
batendo de frio. Ela saiu da água e soltou uma série de
palavrões que fizeram Justin contrair-se.
— Jillian, onde é que você aprendeu a falar assim?
— Eu ouvi Case usá-los —, disse ela petulantemente.
— E ele explicou a você que nenhuma dama deveria
sequer saber que tais palavras existem, muito menos permitir
que elas cruzem seus lábios?
— Mas, 'Oh, céus' ou 'francamente' simplesmente não tem
o mesmo efeito —, ela resmungou.
Os lábios dele se contorceram em diversão. — Venha,
precisamos levá-la de volta para casa e tirar as roupas
molhadas antes que acabe morrendo.
Ele fez que ia ajudá-la a subir nas costas de Ciclope, mas
ela recusou firmemente.
— Eu andarei. Recuso-me a voltar para um desses
brutamontes miseráveis.
Justin bateu na garupa do cavalo e disse: — Para casa! —
Ciclope galopou na direção dos estábulos.
— Ben pode pegar Queenie mais tarde —, disse Justin,
olhando para o cavalo, que estava calmamente mastigando um
arbusto.
— Eu digo para deixá-la aqui para congelar —, ela
murmurou com desdém.
Ele riu. — Eu não tenho certeza se você estava destinada a
se dar bem com cavalos, Jillian.
— Não há fim para os seus poderes de observação?
Ele balançou sua cabeça. — Você tem a língua de uma
víbora.
Os dois caminharam a curta distância de volta para a
casa. Justin manteve os olhos para frente. A cada passo que
Jillian dava, o material úmido se agarrava com mais força ao
corpo dela. Ela ia deixá-lo louco e ela só estava aqui por um
dia.

###

Perto do final da semana, Jillian virara a casa de Justin de


cabeça para baixo, e ele duvidava que ela tivesse percebido. Era
frequentemente vista correndo, Maddie e Toby perto em seus
calcanhares. Ela visitava as cozinhas com frequência,
envolvendo Cook em uma conversa animada. Até mesmo
Edward havia perdido um pouco de sua sobriedade na esteira
do sorriso travesso e da sagacidade de Jillian. Greta era tratada
como uma amiga de infância em vez de criada, e não escapou a
Justin perceber que Jillian fazia poucas exigências de Greta.
Ficou cada vez mais claro para ele que Jillian não era uma
mulher comum. Ela não fazia nada pela metade. Abraçava a
vida com uma exuberância que era incomum para a maioria
das pessoas. Ela o exauriu e o fez sorrir ao mesmo tempo.
Alguns dias antes do Natal, Justin acordou e viu um
manto de neve cobrindo o chão. Olhou pela janela enquanto se
vestia, sorrindo enquanto imaginava Case, seu primo Hawk e
ele descendo a colina atrás da casa. Os três passaram muitos
dias divertidos jogando neve uns nos outros, construindo
fortalezas de neve e fazendo anjos de neve para sua mãe.
Então, relutantemente, entravam na casa quando a chamada
para o jantar era feita, sacudindo a neve das botas e aquecendo
as mãos junto ao fogo.
Franziu a testa de repente. Não ouvira falar de Hawk
desde muito antes de partir para a Índia, e Case também não
mencionara nenhum contato com ele. Todos tinham sido
próximos quando crianças, mas à medida que cresciam, Hawk
ficou mais distante, passando mais tempo longe de Londres e
Whittington. Ele teria que lembrar-se de escrever uma carta ao
primo para descobrir como estava se saindo.
Assim que terminou de se vestir, desceu as escadas e saiu
para o terraço, ansioso para dar um passeio matinal na neve.
Estava andando pelo caminho dos jardins e em direção aos
estábulos, quando algo frio e úmido o atingiu diretamente na
parte de trás do pescoço. O choque do frio glacial, já neve
líquida, escorrendo pelas costas o fez estremecer. Ele virou-se
para ver Jillian de pé a uma curta distância, um brilho
perverso nos olhos dela.
— Você está sempre acordada tão cedo? — Ele perguntou
exasperado.
Ela sorriu. — Sempre.
Antes que ele pudesse se esquivar, ela deixou voar outra
bola de neve, esta atingindo-o bem nos olhos. Ele piscou
rapidamente, a neve escorreu de seu rosto. Ela tinha uma
pontaria impressionante.
— Você vai pagar caro por isso —, ele rosnou. Pegou um
punhado de neve e correu atrás dela. Ela gritou de surpresa e
saiu correndo pelo chão coberto de neve o mais rápido que
suas saias permitiam.
Ele alcançou-a e a derrubou no chão com uma mão bem
colocada nas costas. Enfiou o punhado de neve nas costas do
vestido dela. Ela gritou quando o gelo fez contato com sua pele
e rolou por baixo dele, seu peito arfando em esforço. Ela olhou
para ele com desconfiança, como se esperasse outro ataque.
Seus olhos se encontraram e o sorriso deslizou de seus lábios.
Ele deitou-se sobre ela, apoiando seu peso em um braço. Seus
rostos estavam a poucos centímetros de distância. Parecia a
coisa mais natural do mundo para ele...
Baixou os lábios para os dela, hesitante no início,
avaliando a reação dela, depois mais profundamente ao não
encontrar resistência. Sua mão livre tirou o cabelo de sua
bochecha e deslizou por trás de seu pescoço para segurar sua
cabeça.
Jillian se arqueou instintivamente contra ele, desejando
seu toque, desejando mais. Ela não esperava querer isso,
precisar disso, como ela queria. De início, devolveu o beijo
timidamente, sem saber ao certo o que estava fazendo, mas
depois, rapidamente ganhando confiança, ela respondeu com
mais paixão, abrindo os lábios sob a pressão gentil que ele
estava exercendo. Ele aceitou o convite inconsciente e
mergulhou a língua entre os lábios dela.
De repente, ela endureceu embaixo dele, lembranças da
língua grossa e forte de Lucas dominando-a. A umidade fria da
neve penetrou em sua consciência, onde momentos antes, ela
não percebera o frio.
Sentindo seu retraimento, Justin se afastou. Ele olhou
atentamente para ela. — Sinto muito, Jillian —, ele começou.
Ela colocou um dedo sobre os lábios dele, seus olhos
expressando todo o desânimo que ela devia ter sentido. Ela
rastejou e levantou-se, limpando a neve de sua capa. Justin
observou-a se afastar, a confusão nublando seus pensamentos.
Num momento ela respondeu a ele, quente e faminta. A
seguir, era como se alguém tivesse derramado um balde de
água fria sobre eles. Ou neve, ele pensou, olhando para baixo e
golpeando a neve, espalhando o pó em todas as direções. Não
era de admirar que ela se retirasse. Ele a rolou para o chão
como uma moça comum. Ele caiu no chão balançando a
cabeça. O que tem nela que o fez pensar e agir de forma tão
imprudente?
Jillian passou apressadamente pela casa, deixando de
lado os limites quentes e indo em direção aos estábulos. Ela
realmente não tinha ideia de onde estava indo, nem se
importava. Parou quando chegou ao interior e encostou-se à
parede, levando os dedos trêmulos aos lábios. Seu toque ainda
queimava sua pele, e isso a excitava e assustava. Ela apertou
os dedos que ainda descansavam em seus lábios em um
punho. O que ele pensaria dela?
Seu corpo o queria, disso não havia dúvida. Mas nos
recessos profundos de sua mente, além da percepção de seus
desejos e anseios, uma parte dela estava com medo. A parte
que ela enterrou para se proteger veio à frente em um momento
desprotegido. Ela se sentiu traída por sua própria mente. Por
que o afastou quando tudo o que realmente queria era se
dissolver em seus braços?
— Jillian...
Oh Deus, ele a seguiu. Ela se virou lentamente para
encará-lo, certa de que sua mortificação se refletia em todos os
seus movimentos.
— Jillian, eu vim pedir desculpas —, disse ele, passando a
mão pelo cabelo. — Não foi boa atitude minha.
— Oh, mas foi —, ela deixou escapar antes de perceber o
que estava dizendo. Suas bochechas arderam. — O que eu quis
dizer é, não pense mais nisso.
— Não vai jogar neve na minha cabeça, então?
Ela sorriu aliviada, relaxando enquanto a provocação deles
continuava.
— Devemos ir para dentro —, sugeriu Justin. — Eu não
quero que você pegue um resfriado. — Ele se virou para
caminhar de volta para a casa.
— Justin?
Ele se virou de novo. — Sim, Jillian?
Ela hesitou por um momento, reunindo coragem para o
que estava prestes a perguntar. — Você gostou de me beijar?
Seu tom era sério e ele respondeu à altura. — Sim, Jillian,
eu gostei.

###

Ele gostara de beijá-la! Jillian apagou a vela que estava ao


lado de sua cama e se arrastou por baixo das cobertas quentes,
onde estava deitada olhando para o teto. Os dedos dos pés se
curvaram quando se lembrou da pressão dos lábios dele contra
os dela. A sensação não era familiar para ela. Case não lhe
dissera que tais coisas eram normalmente agradáveis? Ela não
acreditou nele. Até agora.
Lucas havia roubado alguns beijos antes de se casarem,
mas ela não se sentia como agora. Mais tarde, ele apenas a
beijara para ser doloroso, para puni-la. Os lábios de Justin,
seu toque, tinham sido dolorosamente gentis. Então, por que
ela o parou?
Porque não estava pronta para desistir desse tipo de
controle sobre suas emoções. Nunca mais.
Capítulo Quinze
A manhã da véspera de Natal trouxe uma nova camada de
neve, para grande deleite de Jillian. Ela se arrastou no pó
macio, levando os cachorros com ela. Eles brincaram e se
divertiram até que o frio a obrigou a voltar para dentro para se
aquecer junto ao fogo.
A casa estava animada com as festividades de Natal e a
decoração. Um tronco de Natal tinha sido levado para a lareira
na sala de estar, e ramos de azevinho foram colocados em cada
quarto. Velas estavam acesas em todos os lugares imagináveis,
e Justin comentou brincando que, se não conseguissem
incendiar a casa, seria um milagre.
Jillian vagou de sala em sala apreciando o ambiente
festivo. Nunca tendo celebrado o Natal dessa maneira, ela
estava excitada e intrigada. Justin havia informado que era
tudo realização de sua mãe. Ela não deixara passar o Natal
sem ser notado.
Seu anseio se intensificou a cada dia que passava em
Whittington. Ela realmente nunca havia percebido o quanto
ansiava pelo conforto de uma família. Ela já temia o dia em que
deixaria a propriedade de Justin... e ele.

###

Pouco antes do meio-dia, Case entrou pela porta da frente


e deixou cair sua bolsa de viagem na porta para que Edward a
guardasse. Droga, mas era bom estar em casa. Ele mal podia
esperar para ver como Justin e Jillian haviam se saído durante
o tempo juntos.
— Olá! —, ele gritou.
Um momento depois, Justin entrou no saguão e eles se
abraçaram calorosamente. — Eu tenho algo para lhe dizer mais
tarde —, ele murmurou para Justin.
Antes que Justin pudesse responder, Jillian entrou e se
jogou nos braços de Case. — Case! Estou tão feliz em ver você!
Ele a abraçou com força e depois a afastou para olhá-la. —
Você está cuidando bem dela, Justin —, ele disse com
aprovação. Ela certamente parecia mais feliz do que ele a viu
há muito tempo.
— Você está cansado? Precisa descansar? Está com fome?
— Sim, não e sim —, ele respondeu, rindo de sua rápida
confusão de perguntas.
— Nós estávamos prestes a sentar para almoçar —, disse
Justin. — Venha comer conosco.
Jillian enfiou o braço no dele e eles seguiram Justin para
a sala de jantar.
Depois de uma refeição animada, Jillian sugeriu uma
caminhada pelos jardins. Case concordou ansiosamente,
aproveitando a chance de esticar as pernas cansadas da
viagem.
— Você não vem? — Jillian perguntou a Justin.
— Vocês dois vão na frente —, disse Justin, um olhar
enigmático em seu rosto. — Tenho certeza que vocês têm muito
o que conversar.
Case estudou-o por um momento, imaginando sua
reticência.
— Vamos, então —, Jillian disse, puxando o braço de
Case.
Case riu. — Ainda mais impaciente do que nunca vi. —
Ele deu a Justin um último olhar indagador e depois permitiu
que Jillian o levasse para o terraço.
— Como você esteve, Jilly? —, ele perguntou enquanto
caminhavam lentamente pelo atalho sinuoso do jardim. — Você
está maravilhosa e vibrante.
Ela sorriu. — Eu tive momentos encantadores. É
maravilhoso aqui. Eu posso ver porque você e Justin amam
tanto isso.
— Justin tem te tratado bem ou vocês dois ainda estão
chiando um para o outro?
Ela abaixou a cabeça, evitando os olhos dele.
Case a olhou especulativamente. — Jillian?
Ela olhou para os dedos, torcendo-os nervosamente.
— Há algo que eu deveria saber? — Ele perguntou.
— Ele me beijou —, ela deixou escapar.
Case parou de andar e se virou para encará-la. — Ahh,
entendi. E você gostou desse beijo?
— Muito.
— Então, qual é o problema ?
— Oh, Case —, disse ela, caindo em um banco fora do
caminho.
Ele sentou-se ao lado dela. — Existe algo que você não
está me dizendo?
— Eu estraguei as coisas. — Ela suspirou. — Nós
estávamos brincando na neve...
— Espere um minuto. Justin estava brincando na neve?
— Sim, eu joguei uma bola de neve nele e ele me
perseguiu para se vingar.
— As maravilhas nunca terminam? — Case balançou a
cabeça, incrédulo.
— Mas de qualquer maneira, nós estávamos no chão...
— Vocês estavam no chão?
— Case! — Ela disse exasperada. — Eu nunca vou
terminar isso se você continuar me interrompendo!
— Desculpe, continue.
— Nós estávamos no chão e ele me beijou.
— Isso foi tão ruim?
— Não, sim, não, eu não sei —, ela admitiu. — Eu gostei
até...
— Até o quê?
— Até que ele colocou a língua na minha boca.
— Ahhh, um beijo desse tipo —, disse Case, lutando
contra um sorriso.
— Isso me lembrou de Lucas. — Ela olhou para as mãos.
— Eu o afastei e agora tenho certeza de que ele acha que eu
odiei.
— Por que isso te lembra do Lucas? — Case perguntou
gentilmente.
— Eu não sei! — Jillian lamentou. — Justin não é nada
como Lucas. Eu sei disso, acho, mas uma parte de mim, por
dentro, parece não saber disso.
— Como você se sente sobre Justin?
Ela olhou para ele com perplexidade. — Eu não sei. Eu me
sinto engraçada quando ele está por perto.
Case conteve uma risada. — Então como você se sente
sobre ele beijando-a? Você quis que ele a beijasse?
— Sim, sim, eu quis —, ela disse honestamente. — Case,
Lucas está destinado a arruinar o meu futuro, assim como o
meu passado?
Case sorriu carinhosamente para ela. — Se eu conheço
meu irmão, ele encontrará uma maneira de contornar Lucas. A
questão é: é isso que você quer?
Jillian deu-lhe um olhar preocupado. — Eu não sei o que
eu quero, esse é o problema.
— Parece-me que não há pressa. Talvez você devesse
começar a ouvir aqui —, disse ele batendo no peito, — em vez
de aqui. — Ele tocou um dedo na testa dela.

###

Justin olhou pensativo para fora da janela de seu


escritório para as duas figuras abaixo. Ele agarrou o copo de
conhaque na mão com força, os nós dos dedos ficando brancos.
O ciúme, quente e sufocante, serpenteava pelo peito e desceu
até o abdômen, torcendo as entranhas dolorosamente,
enquanto observava as cabeças inclinadas, conversando de
perto. Fizera um grande esforço para manter um ar de
indiferença quando Jillian se jogou nos braços de Case em
saudação. Ele queria que ela se iluminasse daquele jeito por
ele, só ele.
Ele se afastou da janela e andou de um lado para o outro.
Tão feliz como ele estava ao ver seu irmão, amaldiçoou o
momento. Sentiu como se tivesse feito progressos com Jillian,
mas agora ela estava focada apenas em Case.
O que ela tinha de especial que ele estava tão atraído de
qualquer maneira? Ela zombara de tudo a que ele dava
importância, mas quando olhava para ela, não via uma
selvagem escandalosa. Via uma mulher jovem e bonita,
vibrante e refrescante. Sua coragem era algo que ele admirava,
mesmo quando desaprovava isso.
Quaisquer que fossem suas razões, queria mais do que
uma existência casual com ela. Ele a queria em sua cama.
Talvez então pudesse parar de ficar obcecado por ela.

###

Naquela noite, os três se reuniram na sala de estar. O


clima estava relaxado quando se sentaram em frente ao fogo.
Justin e Case se revezaram relatando histórias de sua infância
para Jillian. Case observou Justin a maior parte da noite,
absorvendo sua preocupação com Jillian. Ele sorriu para si
mesmo quando percebeu que estava testemunhando um
fenômeno notável. Seu irmão estava com ciúmes. Ele notou um
escurecimento no semblante de Justin toda vez que Jillian
privilegiava Case com um sorriso.
Ele brincou com a ideia de instigá-lo, mas não tinha
certeza se Justin não iria socá-lo. Podia sentir uma
interessante conversa vindoura entre ele e seu irmão mais
velho.
Eles conversaram até tarde da noite, até que o fogo
apagou e tudo o que restou foram as brilhantes brasas
brilhantes. O relógio soou a meia-noite, alertando os três para
o adiantado da hora.
— Feliz Natal —, Jillian disse quando o último som
melódico parou.
— Feliz Natal —, Case e Justin responderam
simultaneamente.
Jillian bocejou largamente. — Se vocês cavalheiros me
desculparem, eu vou me retirar para a noite.
— Boa noite, Jillian —, disse Justin, levantando-se do seu
lugar. — E feliz Natal —, acrescentou suavemente.
— Noite, Jilly —, disse Case beijando sua bochecha. —
Feliz Natal.
Os dois homens observaram quando ela saiu da sala e se
sentaram novamente. Case não perdeu tempo quando teve
certeza de que Jillian estava fora do alcance da voz.
— Eu descobri algumas informações interessantes sobre o
nosso amigo do Fishhead.
Justin se inclinou para frente com interesse. — O que você
achou?
— Eu contratei um investigador de Bow Street para ver o
que ele poderia descobrir sobre o homem, e os resultados foram
surpreendentes.
— Diga —, Justin disse impaciente.
— Ele é conhecido pelo nome de Granger. Trabalhou como
cozinheiro em vários navios quando podia ser contratado. Seu
último trabalho foi a bordo do mesmo navio em que Penroth
partiu há sete meses.
— Você quer dizer o marido de Jillian?
Case assentiu. — Testemunhas afirmam que Granger
assinou como cozinheiro para essa viagem.
— Eu pensei que não havia sobreviventes.
— Isso é o que torna isso tão surpreendente. Não havia.
— Como você está certo de que ele estava realmente
naquele navio?
— Eu verifiquei o inventário do navio que foi arquivado no
dia em que navegou. Ele foi listado como o cozinheiro. Falei
com duas testemunhas oculares que o colocam no navio no
momento em que saiu do porto.
— Acho que agora, mais do que nunca, precisamos ter
uma conversa detalhada com esse sujeito.
— Meus pensamentos, exatamente —, Case concordou. —
Não mencionei isso a Jillian, mas pretendo partir amanhã à
tarde. Eu tenho uma reunião com o investigador depois de
amanhã em Londres. Se tivermos sorte, ele terá encontrado
Granger.
— Jillian vai sentir sua falta —, disse Justin, sua voz
casual.
— E eu vou sentir falta dela. — Case olhou de soslaio para
Justin, estudando sua expressão. — Quer me dizer o que há
entre você e Jillian?
— Não, não quero.
Case riu. — Ela está mexendo com você, não é?
Justin permaneceu em silêncio, recusando-se a reagir ao
incitamento de Case, em vez disso, direcionando sua atenção
para a lareira, onde as últimas brasas desapareceram
lentamente.
— Só não brinque com ela —, disse Case calmamente, sua
voz carregando uma sugestão de aviso.
— Por que você é tão protetor com ela? — Justin se virou
para encarar seu irmão.
— Ela foi machucada o suficiente.
— Por quem? Case, o que aconteceu com seu marido? Por
que ela paralisa toda vez que seu nome é mencionado?
— Essa é uma pergunta que você precisa fazer a ela. Não é
algo que tenho a liberdade de divulgar. Mas antes de perguntar
isso, você deve se perguntar por que se importa.

###

Ele se importava bem mais do que queria admitir. Justin


passeava inquieto em seu quarto. O sono lhe escapou, os
pensamentos sobre Jillian se amontoaram em sua consciência.
Subitamente, tornou-se uma necessidade premente para ele
descobrir tudo sobre ela. Cada nuance de sua vida ele queria
saber. Ele queria saber o que a fazia rir, a fazia sorrir e o que a
fazia chorar. E o que a fazia sofrer. Ela estava sofrendo, disso
ele estava certo.
Algo indescritível e intangível dentro dele apertou e
comprimiu seu peito dolorosamente. Ele queria tirar a dor dela,
mas não sabia como, ainda. Talvez Case estivesse certo. Talvez
fosse hora de perguntar a ela sobre seu casamento.
###

Jillian acordou na manhã seguinte antes do amanhecer e


se apressou a sair da cama e se vestir. Ela teve o cuidado de
ser o mais quieta possível, não querendo alertar Greta para o
fato de que estava acordada. Logo que prendeu os botões do
vestido, passou uma escova através das longas mechas de seu
cabelo, não tendo tempo para arrumá-lo. Ela tinha que se
apressar antes de perder a coragem.
Coletando um pequeno pacote embrulhado debaixo de sua
cama, ela saiu pela porta de seus aposentos. Não tinha sido
fácil obter um presente para Justin sem que ele soubesse, mas
conseguiu que Greta fizesse a compra necessária na aldeia.
Rastejou silenciosamente pelo corredor. Na passagem
sobre o saguão, parou para se certificar de que ninguém estava
por perto, mas correu para o outro lado e para o corredor
oposto que levava ao quarto de Justin. Justin era um
madrugador, como ela, e ela esperava que naquele dia ele
permanecesse fiel à forma.
Ela parou do lado de fora da porta dele, limpando
nervosamente a palma da mão na saia. Levantou a mão para
bater, mas a puxou para longe com a mesma rapidez.
Respirando fundo e reunindo coragem bateu suavemente na
porta. Alívio caiu sobre ela quando ouviu a resposta imediata
dele.
Abrindo a porta, ela entrou calmamente. Justin estava de
pé na janela, de costas para a porta. Felizmente, estava
totalmente vestido. Ele se virou quando ouviu a porta se fechar
e deu uma segunda olhada quando viu Jillian parada ali.
— Jillian! O que você está fazendo aqui? Alguma coisa
está errada?
Ela ficou nervosa com as perguntas repentinas. — Eu
queria te dar isso —, disse ela, empurrando o pacote adiante.
Ele pareceu surpreso com o gesto. Caminhando até ela,
ele pegou a pequena caixa de sua mão estendida. — Para que
isso?
— É um presente de Natal.
Ele sentou-se na beira da cama e começou a
desembrulhar o presente. Uma mecha de cabelo caiu sobre a
testa dele enquanto olhava para baixo, e a mão de Jillian doía
para alisá-lo de volta. Ela olhou para as mãos como se tivesse
medo de que elas agissem por vontade própria. Se alguma vez
ele a beijasse novamente, ela faria questão de passar os dedos
pelo cabelo dele. Suas bochechas aqueceram, e ela deu graças
silenciosa que Justin não estava a par de seus pensamentos
internos.
Justin arrancou o último papel e levantou um tinteiro
prateado da caixa. Ele virou-o na mão, encontrando uma
inscrição de seu nome na frente. Olhou para ela, uma estranha
expressão iluminando seu rosto.
— Não sei o que dizer, Jillian. É o presente mais atencioso
que alguém já me deu. Você não precisava ter me comprado
nada.
— Oh, mas eu queria —, disse ela, sentindo um estranho
tremular em seu estômago ante seu olhar atento.
— Obrigado —, ele disse suavemente. — Eu tenho algo
para você também. Eu tinha planejado dar a você mais tarde,
mas agora parece um momento mais apropriado.
Jillian olhou para ele em choque quando ele lhe entregou
um pequeno presente cuidadosamente embrulhado. Ela olhou
para o pacote em sua mão como se não tivesse certeza de que
não iria desaparecer.
— Você vai abri-lo? — Ele perguntou sorrindo para seu
estado confuso.
Ela cautelosamente puxou a fita que amarrava o papel no
lugar. O embrulho se abriu revelando uma pequena caixa
quadrada. Com as mãos trêmulas, ela levantou a tampa,
ofegando ao ver o que havia dentro. Aninhado entre um pedaço
de veludo branco havia um broche de esmeralda.
— É lindo —, ela sussurrou.
Ela tocou a esmeralda, deixando a ponta do dedo
percorrer o comprimento da armação de ouro. Reverentemente,
ela pegou, embalando-o na palma da mão. Lágrimas não
derramadas brotaram em seus olhos. Ela piscou rapidamente
para mantê-las afastadas. — Obrigada —, disse ela olhando
para ele com um largo sorriso.
Ela baixou o olhar novamente para a jóia que descansava
em sua mão. — Ninguém nunca me deu jóias antes —, disse
ela com admiração.
— Ninguém? — Justin perguntou espantado. — Nem
mesmo seu marido?
— Ninguém nunca me deu um presente que eu possa
lembrar —, ela disse suavemente.
— Então, estou ainda mais feliz por ter lhe dado este aqui.
Ela olhou para cima mais uma vez, surpresa ao encontrá-
lo apenas a um passo de distância. Ele segurou seu queixo em
sua mão quente e gentil, esfregando o polegar em sua
bochecha. Ela fechou os olhos, inclinando-se em sua carícia,
esfregando a bochecha contra a mão dele.
Seus lábios cobriram os dela então. O calor se espalhou
por seus membros e ela gemeu contra sua boca. O cabelo dele!
Ela não devia esquecer o cabelo dele. Timidamente levantou a
mão para aquela mecha de cabelo que sempre caía sobre os
olhos dele. Parecia seda, macia e fina. Passando os dedos pelo
cabelo dele, agora ela mergulhou fundo, massageando o couro
cabeludo com as pontas.
Ele gemeu de prazer quando sua mão acariciou a parte de
trás do seu pescoço. Ele a esmagou contra ele, segurando-a
firmemente contra seu peito. Arrancando os lábios dos dela, ele
afastou a cabeça, olhando atentamente para seu rosto. Seus
lábios estavam inchados, os olhos vidrados de paixão.
Mais uma vez, ele abaixou a cabeça, mas desta vez ele
passou os lábios dela, pressionando a boca na carne logo
acima do decote do vestido. Ela ofegou em voz alta, mas jogou a
cabeça para trás convidativamente, dando-lhe acesso fácil.
Seus lábios queimaram um caminho até o pescoço e à pele
sensível atrás da orelha.
— Doce —, ele murmurou. — Tão doce.
Sua língua lançou-se, lavando o delicado lóbulo de sua
orelha. As mãos dele agarraram a cintura dela, depois subiram
por baixo dos seios, os polegares roçando a ondulação inferior.
Ela saltou em reação quando a mão dele subiu para emoldurar
seu seio através do tecido do vestido, e sua respiração veio em
rajadas rápidas.
A cabeça de Justin se levantou quando uma batida soou
na porta. O momento foi quebrado. Jillian recuou rapidamente,
os olhos arregalados, uma infinidade de emoções refletidas em
suas poças. Ela chupou o lábio inferior inchado e olhou
nervosamente para a porta.
Justin xingou baixinho. De todos os momentos miseráveis.
Ele tocou a bochecha de Jillian e sorriu suavemente para ela,
depois virou-se irritado para a porta.
— O quê! — Ele gritou.
— Vou cavalgar —, disse Case pela porta. — Queria ver se
você se juntaria a mim.
— Encontro-te nos estábulos. — Voltou-se para Jillian. —
Espere aqui —, ele disse baixinho. — Depois que eu for
embora, você pode sair sem ser detectada.
Ela assentiu em silêncio para ele, não confiando em si
mesma para falar.
A porta se fechou atrás dele quando ele saiu do quarto.
Jillian caiu contra a cama, suas pernas incapazes de sustentá-
la mais. Seu efeito sobre ela era de despedaçar a mente. Alguns
momentos em sua presença e foi reduzida a uma massa fraca
de nervos sensíveis.
Ela queria que o beijo continuasse para sempre. Mesmo
agora, se fechasse os olhos, poderia sentir seus lábios quentes
em seu pescoço. Seus olhos se abriram em súbita percepção.
Nem uma vez durante todo o beijo os pensamentos sobre Lucas
entraram em sua mente. Ela sorriu. A única imagem que se
desenrolou em sua memória foi aquela mecha sedosa de cabelo
que descansava tão descuidadamente na testa de Justin.
Capítulo Dezesseis
Enquanto Jillian permanecia à porta observando a
carruagem de Case subir pela longa e tortuosa estrada até aos
portões de Whittington, sentiu uma pontada de culpa. Não
estava terrivelmente triste por ele partir tão cedo, embora
sentisse falta dele. Ela queria tempo sozinha com Justin, para
descobrir o que estava por trás de suas recentes investidas... e
sua própria reação surpreendente a elas.
Calmamente fechou a porta e voltou para dentro da casa,
imobilizando-se quando viu Justin parado na porta da sala de
estar. Ele estava olhando para ela, uma expressão indecifrável
no rosto.
— Eu tenho uma surpresa para você —, ele falou.
— Uma surpresa? Oh, agora estou intrigada. O que é?
Justin sorriu para ela. — Pegue sua capa e me encontre
nos estábulos.
— Isso não envolve eu cavalgando, não é?
Ele riu. — Não, posso assegurar-lhe que não será
necessário montar um cavalo. Agora corra, estarei esperando.
Jillian subiu as escadas e rapidamente vestiu sua capa.
Momentos depois, ela correu pela neve até os estábulos. Justin
estava na frente, ao lado de dois cavalos atrelados a um trenó.
— Você gostaria de dar uma volta?
— Oh, que maravilha!
Ele ajudou-a a entrar e depois deslizou ao lado dela. Pôs
um cobertor sobre as pernas e colocou-o firmemente em torno
de sua cintura. Um tremor de excitação girou no estômago dela
enquanto observava Ben subir no banco do condutor e pegar
as rédeas.
— Tudo pronto, sua graça?
Justin assentiu e o trenó avançou. Ela sorriu de prazer e
se inclinou para frente ansiosamente enquanto dirigiam pelas
terras de Whittington.
— Esta é uma surpresa maravilhosa —, disse ela,
oferecendo a Justin um sorriso.
— Estou feliz que você esteja gostando.
Ela estremeceu quando o vívido ar gelado enviou um
arrepio pelo pescoço. Justin envolveu seu braço ao redor dela,
puxando-a contra ele. Não demorou a ponderar sobre o caráter
adequado de sua ação, pareceu natural e, secretamente, vibrou
ao toque dele. O calor de seu corpo penetrou confortavelmente
nela, e ela se aproximou ainda mais a ele, relaxando contra o
seu lado.
Uma leve neve começou a cair, e ela estendeu a língua
para pegar os grandes flocos quando eles desceram. Riu
quando uma aterrissou e rapidamente derreteu em seu nariz.
Justin a observou, fascinado por seu sorriso encantador.
Ela parecia uma princesa da neve com a cabeça jogada para
trás, bochechas rosadas pelo frio. Seus lábios se separaram em
um sorriso quando a neve dançou em seu rosto. A respiração
dele acelerou quando a ponta de sua língua rosada saiu para
pegar outra gota gelada. Os dentes brancos perolados e
perfeitamente retos relampejavam enquanto sensuais lábios
cheios arqueavam-se, e abriam largamente convidando os
flocos a cair para dentro.
Balançando a cabeça, ele terminou abruptamente seu
estupor. Não conseguia se lembrar de estar tão satisfeito na
companhia de outra pessoa. Amava sua risada, seu sorriso e
sua inteligência rápida. Ele a amava. Meu Deus, estava
apaixonado por ela! Era possível? Algo indescritível agarrou
Justin. Um sentimento quente e maravilhoso surgiu das
profundezas de sua alma. Ele a amava!
Em estado de choque, olhou para a frente enquanto o
trenó cortava suavemente o chão coberto de neve. Bom Deus,
estava apaixonado. O que ele deveria fazer sobre isso?
Certamente não podia permitir que Jillian escapasse dele
agora. Uma feroz onda de possessividade passou por ele. Ela
era dele, ou pelo menos seria se ele tivesse algo a dizer sobre
isso.
Um sentimento de mau presságio o incomodava. Primeiro
tinha que mergulhar nos detalhes do casamento de Jillian. Ela
ainda estava apaixonada por Penroth? Sua reação não
convencional à sua morte fora apenas um escudo para
esconder a verdadeira profundidade de seu luto? Ou pior, havia
algum segredo sombrio escondido sob a projeção de confiança?
Ela confiaria nele com essa parte de si mesma? De alguma
forma ele tinha que conquistá-la, sua confiança e seu amor.
— Pare! Oh, pare, — Jillian disse animadamente.
Justin foi empurrado de seus pensamentos quando o
trenó diminuiu e parou. Jillian riu de prazer e saltou de seu
assento. Ela agarrou a mão dele, puxando-o para fora também.
— Vamos lá —, ela pediu.
Ele permitiu que ela o puxasse, ainda se maravilhando
com sua recém-descoberta emoção. Ela olhou de volta para ele,
seus olhos brilhando e seu rosto corou de alegria. Ele sentia
como se estivessem se movendo em câmera lenta e o mundo
tivesse parado ao redor deles. Eram os únicos por quilômetros,
as únicas duas pessoas no universo.
De repente, ela parou e lançou-lhe outro sorriso travesso
antes de se jogar de costas no chão coberto de neve. Ela
balançou os braços para cima e para baixo loucamente e, em
seguida, levantou-se cuidadosamente para examinar sua obra.
— É a sua vez —, disse ela apontando para o local ao lado
de seu anjo da neve.
Ele sorriu para o entusiasmo dela. Preferiria tomá-la em
seus braços a fazer marcas angelicais, mas, com bom humor,
abriu os braços e caiu para trás no banco de neve. Quando
levantou-se, eles se afastaram para ver os resultados. Lá na
neve havia duas impressões tão próximas que pareciam estar
de mãos dadas. Ele tinha o desejo louco de escrever na neve
abaixo — Justin ama Jilly.
Estendeu a mão e ela deslizou a mão na dele,
entrelaçando os dedos. Incapaz de resistir por mais tempo, ele
a puxou e segurou seu rosto com a mão livre. Seus lábios se
moveram sobre os dela, o frio inicial desapareceu enquanto ela
respondia ardentemente a seus avanços.
Seus braços foram ao redor dela e levantou-a para que
seus olhos estivessem equilibrados com os dele. Timidamente,
ela baixou os lábios para os dele e colocou os braços ao redor
do seu pescoço. Ele estava perdido, afundando em um mar de
emoção que estava rapidamente se tornando demais para ele
lidar. — Vamos voltar —,disse asperamente. Ele a colocou de
volta para baixo e segurou a mão dela com força enquanto
voltavam para o trenó.

###

Voltaram aos estábulos e Justin saiu do trenó, pegando a


mão de Jillian para ajudá-la a descer. Não a largou, mesmo
depois de seus pés estarem em terra firme. Enfiando seu braço
sob o dele e colocando sua mão sobre a dela, ele os virou para
a casa. Enquanto subiam o caminho para a casa, Jillian olhou
para Justin, seus olhos brilhando de prazer.
— Essa foi a surpresa mais maravilhosa.
— Estou feliz que você tenha gostado —, disse ele,
sorrindo para ela.
Ela segurou seu olhar por um momento e depois inclinou
a cabeça. — Por que você está olhando para mim tão
intensamente?
Ele hesitou por um momento, imaginando se era a hora
certa. Decidindo que tinha que ser agora, ele encontrou seus
olhos. — Precisamos conversar, Jillian.
Chegaram às portas do terraço e entraram no saguão
aquecido. Ela olhou para ele alarmada.
— Algo está errado?
— Vamos para a sala de estar e nos aquecermos junto ao
fogo —, sugeriu, empurrando seu cotovelo adiante.
Eles se aproximaram da lareira e estenderam as mãos em
direção às chamas bruxuleantes, a frieza derretendo
rapidamente de seus dedos. Ele se virou para ela. Sua voz era
suave, até um pouco hesitante. — Jillian, há algumas coisas
que preciso saber, coisas importantes. — Ele pegou suas mãos
agora quentes, esfregando os polegares nas palmas das mãos
dela. — Jillian, eu... — Ele parou, sem vontade de deixar
escapar a extensão de seus sentimentos ainda. — Eu me
preocupo com você, Jillian, e eu preciso saber... eu quero saber
sobre o seu casamento com Penroth.
Um olhar de pânico entrou em seus olhos e ela olhou para
baixo, evitando o olhar dele. Ele segurou seu queixo em sua
mão e gentilmente levantou-o. Ele ficou surpreso com as
lágrimas não derramadas visíveis em seus olhos.
— Jillian, o que foi? Conte-me.
— Eu não posso —, disse ela em uma voz ferida. Ela
tentou se afastar dele, mas ele juntou suas mãos firmemente
nas dele.
— O que você não pode me dizer?
A voz dela ficou presa num soluço e ela desviou o olhar. —
Há coisas, se você souber, você me odiaria.
Justin a abraçou, segurando-a firmemente contra ele. Ele
odiava sua falta de controle nessa situação. Se sentia
impotente contra os demônios que ela estava combatendo.
Lentamente, a afastou dele, olhando fixamente nos olhos dela,
desejando que ela não desviasse o olhar novamente.
— Jillian, você confia em mim?
Justin observou a luta tão evidente em seu rosto. Ele
estava tão perto de preencher a lacuna entre eles, podia senti-
la, quase tocá-la. Sentiu a necessidade de gritar de frustração.
Que verdade terrível ela estava escondendo? Seu estômago se
contraiu desconfortavelmente enquanto esperava que ela
recuperasse o controle de suas emoções.
Ela mordeu o lábio, lutando contra a vontade de soltar
seus longos medos reprimidos. Confiava em Justin, mas o que
ele faria se soubesse a verdade? Seu desprezo seria mais do
que ela poderia suportar. — Eu confio em você, Justin.
Ele pareceu aliviado pela resposta dela. Ela encontrou seu
olhar e engoliu nervosamente.
— Eu o odiava —, ela disse, pouco mais que um sussurro.
— Não fiquei triste quando ele morreu, fiquei aliviada. Não era
nada mais do que desejara mil vezes. — Ela se afastou de
Justin e andou impaciente enquanto as palavras jorravam. Ele
ficou em silêncio, ouvindo enquanto ela descarregava seu
fardo.
— Quando ele morreu, eu não podia, não iria, passar
pelos trejeitos, a hipocrisia, de lamentar um homem que eu
desprezava. Parecia tão importante, então, agir como eu fiz. —
Sua voz ficou presa, e ela parou por um momento. — Tudo o
que fiz foi me fazer parecer uma descontente superficial e
egoísta.
— O que Penroth fez para fazer você odiá-lo assim? —
Justin perguntou.
Ela parou de andar e olhou para ele. Estava valentemente
tentando manter a compostura. Ele fechou a distância entre
eles, parando na frente dela.
— Jillian, não há nada que possa me dizer que me faria
pensar menos de você. Você deve perceber isso.
Oh, como ela queria acreditar nisso. Ela agarrou-se às
palavras dele, precisando do apoio que lhe emprestavam. —
Você pode decidir de forma diferente, uma vez que eu lhe diga a
verdade —, disse ela em uma voz vacilante.
— Me teste.
Ela respirou fundo e expulsou-o. — Eu conheci o Lucas na
primeira semana da temporada. Foi a minha primeira vez em
Londres e fiquei impressionada com a magnitude de tudo. Ele
alegou ter se apaixonado no momento em que pôs os olhos em
mim.
Ela riu asperamente. — Eu sei o quão ridículo isso soa em
retrospecto, no entanto acreditei.
— Descobri o quão errada eu estava na minha noite de
núpcias. Ele veio ao meu quarto, confundido, e se forçou em
mim repetidamente. — Ela estremeceu e desviou o olhar de
Justin. Caminhou em direção ao fogo, acomodando-se em uma
poltrona e se empoleirando na borda. Quando ela olhou para
as chamas, seu coração bateu em antecipação dolorosa. Não
teve coragem de avaliar a reação de Justin a tudo que relatou
até agora, e o pior ainda estava por vir.
Ela sentiu uma mão em seu ombro, e sua voz deslizou
sobre ela como o melhor vestido de seda. — Há mais que você
tem a dizer? — Ele perguntou baixinho.
— Há —, ela sussurrou.
Ele apertou o ombro dela de uma maneira tranquilizadora.
— Ele veio para a minha cama todas as noites. Tornou-se
cada vez mais violento. Às vezes, tudo o que eu podia fazer era
sair da cama na manhã seguinte.
A mão no ombro dela se apertou.
— Dois meses depois da nossa noite de núpcias, ele
chegou tarde, bêbado de novo. Havia dois outros homens com
ele. Lucas observou enquanto eles, enquanto eles... — Ela
parou, incapaz de completar a frase.
— Na manhã seguinte, tentei me matar. Eu tinha toda a
intenção de beber uma garrafa inteira de láudano, mas Lucas
entrou no meu quarto e pegou a garrafa. Ele me bateu tão
severamente que fiquei de cama por uma semana inteira.
Quando me recuperei, ele trouxe os dois amigos de volta para
me punir por minha tentativa de suicídio.
Ela se levantou e se virou hesitante para Justin, temendo
sua reação, não querendo ver o desgosto, a repulsa em seus
olhos. Quando ela encontrou sua expressão, todo o sangue foi
drenado de seu rosto. — Oh Deus —, ela disse sufocadamente.
— Eu sabia que você me desprezaria.
Ela saiu correndo da sala, o som de seus soluços se
filtrando de volta para Justin.
Justin ficou em descrença atordoado. Então sua
descrença se transformou em fúria ofuscante. Sua mandíbula
se tensionou e afrouxou enquanto ele procurava absorver tudo
o que ela havia relatado. Raiva quente tomou conta dele.
Tudo fez sentido agora. Seu comportamento estranho, sua
desconfiança da sociedade, seu desejo de se separar de alguma
forma da sociedade, sua reação ao beijo dele. Oh Deus, ele se
sentiu doente. A bile subiu atrás de sua garganta. As coisas
que ela sofreu nas mãos de Penroth eram inimagináveis. Ele
queria chorar por ela. Que ela tivesse sobrevivido com sua
sanidade intacta era nada menos que um milagre.
Ele tinha que ir até ela. Não podia deixar que ela sofresse
sob o equívoco de que ele a desprezava. Como um tolo
insensato, ele ficou ali parado, incapaz de formular uma
resposta coerente. Agora ela achava que seu choque e
indignação eram desdém.
Saiu correndo da sala e subiu a ela s escadas. Um rápido
exame do quarto dela lhe disse que não havia fugido para lá.
Ele procurou na área de baixo sem sucesso. Então notou as
portas do terraço abertas apenas uma fresta.
Saiu para o frio, procurando em volta por ela, em seguida
caminhou em direção ao estábulo. Pisando no chão coberto de
feno, olhou ao redor, seus olhos se ajustando rapidamente à
escuridão. Ouviu soluços silenciosos emanando dos fundos e
rapidamente andou na direção do barulho.
Ela estava encolhida em um monte de feno, com o rosto
enterrado em seus braços. Seus ombros tremiam com o esforço
de chorar. Ele se ajoelhou ao lado dela e a apertou com força
em seus braços.
— Não chore, Jillian, não suporto ouvir você chorar.
Ela se contraiu em seu abraço. — Não —, disse ela em voz
trêmula.
Ele ignorou seus protestos, segurando-a mais perto. —
Jillian, eu não te odeio, nada poderia estar mais longe da
verdade. — Ele alisou o cabelo da bochecha manchada de
lágrimas. — Meu desânimo foi do modo deplorável que você foi
tratada. Meu desgosto não era com você, nunca com você.
Ela levantou os olhos trêmulos para ele. — Como você
pode ficar me tocando depois do que eles fizeram?
Justin lutou contra o nó em sua garganta. A pura emoção,
a dor refletida em seus olhos foi quase sua ruína. — Jillian, o
que ele fez com você, de modo algum foi culpa sua. Penroth era
um bastardo sádico que não merecia respirar. Ele não merecia
você. Eu gostaria de poder apagar toda a dor que ele lhe
causou, faria qualquer coisa para tirar sua dor. Querida, olhe
para mim. Não penso menos de você. Tenho apenas a maior
admiração por sua força. Só queria que Penroth estivesse vivo
para que eu pudesse ter o prazer de matá-lo muito lentamente.
Ele a puxou de volta, segurando-a com mais força e
suavemente acariciando seus cabelos. A lembrança de seu
encontro com Wisecoff veio à mente, e um pensamento terrível
lhe ocorreu. — Jillian, os dois homens... um deles era Wisecoff?
Ela ficou completamente imóvel contra ele. A fúria tomou
conta e ele começou a tremer. Cerrou os dentes até temer que
sua mandíbula se quebrasse. Como desejou ter matado o
bastardo naquele dia em Londres. Era tudo o que podia fazer
para não sair e caçá-lo.
Ela se afastou dele ligeiramente. — Você não vai contar a
Case, não é?
Justin olhou para ela, surpreso com essa admissão
inesperada. — Eu pensei que Case soubesse.
— Ele não sabe de tudo —, disse Jillian em voz baixa. —
Ele adivinhou a maior parte do que sabe, mas nunca contei a
ele sobre os outros homens. Eu estava com muito medo de que
ele fizesse algo precipitado. E agora, se souber, ele se sentiria
culpado por não fazer nada. Por favor, você não deve dizer a
ele. Ele já suportou muito por mim.
— Claro que não direi nada, mas preciso saber, por que
você me contou tudo se não contou ao Case?
— Eu não sei —, ela admitiu. — Você merecia a verdade, e
eu... confio em você.
— Estou feliz que você confiou essa parte de si mesma
para mim —, ele disse suavemente.
Embalou suas bochechas em suas mãos e inclinou a
cabeça para a dela, tocando levemente seus lábios nos dela. —
Eu quero você, Jillian. Eu quero sua mente, corpo e alma, mas
posso esperar. Não vou te pressionar. Quando estiver pronta,
estarei esperando.
Capítulo Dezessete
Jillian sentou-se no assento da janela do seu quarto, as
pernas levantadas, os braços cruzados sobre os joelhos. Seu
queixo descansava em seus braços enquanto ela olhava para a
paisagem. O sol estava acabando de chegar ao horizonte,
dissipando a luz da neblina e brilhando na neve que derretia
rapidamente.
Ela havia dormido pouco, sua noite gasta repassando os
eventos do dia em sua cabeça. Ela não o enfrentou desde que
ele a encontrou nos estábulos. Um sentimento de
vulnerabilidade a incomodava. Ela revelara seus segredos mais
sombrios para ele, contara-lhe coisas que ela jamais dissera em
voz alta. Nunca antes ela se sentiu tão completamente exposta.
As palavras de Justin a assombravam. Eu quero você,
Jillian. A ideia tanto a assustou quanto acelerou sua pulsação.
Sua única experiência com acoplamento foi brutal e
humilhante. Como seria entre duas pessoas normais, ela não
podia arriscar um palpite.
Ele disse que esperaria até que ela estivesse pronta. Como
desejava ter coragem de ir até ele, pedir-lhe o que queria. Ela
não podia imaginar uma coisa dessas com ninguém além de
Justin. Só por essa razão, ela tentaria.
No fundo de sua mente, sua coragem aumentou. Ela iria
para Justin, esta noite, antes que ela perdesse a coragem. Ela
mordeu os lábios nervosamente enquanto imaginava o
encontro. Não importa o que acontecesse depois, ela queria
uma noite com ele.

###

Jillian comeu sua refeição da noite em silêncio. A comida


estava sem gosto e pesava muito em seu estômago. Ela não
conseguiu encontrar o olhar inquisitivo de Justin, e deu um
suspiro de alívio quando ele se levantou e pediu que ela se
juntasse a ele na sala de estar. Então o pânico se instalou
quando ela percebeu que o momento havia chegado.
Quando entraram na sala de estar, ele parou para servir
uma bebida de uma garrafa que estava perto do piano. Ele
entregou-lhe um copo. — Você parece como se precisasse
disso.
Ela aceitou com gratidão, se por nenhuma outra razão,
serviu para dar-lhe algo para focar sua atenção.
— Jillian...
Ela pulou quando ele falou seu nome.
— Há algo incomodando você? — Ele perguntou.
— Não... sim... nada me incomodando —, disse ela, o calor
subindo pelo pescoço.
Ela pousou o copo e estendeu a mão como se para tocá-lo.
Ela recuou, mas ele pegou os dedos dela em sua mão.
— O que é, Jillian?
Ela podia sentir suas bochechas ficando mais quentes.
Sua língua parecia grossa enquanto ela lutava para tentar
colocar em palavras o que ela queria.
— Estou pronta —, disse ela simplesmente.
Surpresa acendeu os olhos, em seguida, eles escureceram.
— Você sabe o que está dizendo? — Ele perguntou com voz
rouca.
— Sim... é o que eu quero.
Ele virou a mão dela na dele e levou-a aos lábios,
pressionando um beijo em sua palma virada para cima. — Você
tem certeza?
Ela assentiu, sem tirar os olhos da mão, ainda tão perto
de seus lábios.
Ele entrelaçou os dedos nos dela e trouxe a mão dela para
seu lado, puxando-a para perto. Ele a levou para as escadas,
segurando a mão dela com força. Enquanto subiam os degraus
e viravam o corredor até seus aposentos, ela deu uma olhada
para ele e viu o caloroso desejo refletido em seus olhos. Ela
estremeceu e ele apertou a mão tranquilizadoramente.
Ele abriu a porta e ela entrou na frente dele em seu
quarto, olhando nervosamente para a cama grande. Ela
sentou-se na beira da cama enquanto ele fechava a porta atrás
deles e esperava por ele. Enquanto ele lentamente caminhava
até onde ela estava sentada, ela o olhou com crescente receio.
Ele parou a uma curta distância da cama e ficou olhando para
ela.
— Eu tenho medo —, ela admitiu. Sua voz vacilou e ela
terminou sua confissão quase em um sussurro.
— Venha aqui —, ele disse baixinho.
Ela deu um passo à frente, hesitante, parando na frente
dele. Ela olhou para baixo, tendo um interesse súbito em seus
pés. Ele segurou seu queixo, forçando seu olhar para cima.
— Eu nunca machucaria você. — Sua voz era suave e
gentil. Ele guiou as mãos dela para o peito dele. — Desabotoe
minha camisa.
Ela olhou para ele, assustada com o seu pedido. Então se
deu conta e compreendeu. Ele estava dando a ela o que ela
mais valorizava... controle. Com as mãos trêmulas, ela
começou a desabotoar a camisa. Quando ela soltou o último
botão, ela olhou para ele, nervosamente mordendo o lábio.
— Tire-a —, ele dirigiu, sua voz suave e tranquila.
Ela afastou o material dos ombros e das costas dele. Seus
olhos estavam colados ao seu peito. A suavidade de sua pele,
as curvas e recuos musculosos, um leve toque de cabelo
repousava no centro de seu peito. Uma linha de cabelos finos e
escuros arrastava-se para baixo até o umbigo, onde parava um
pouco antes seguir abaixo e desaparecer em seus calções.
Ele se afastou dela o tempo suficiente para tirar as botas e
afrouxar as calças. Desta vez ela não precisava de nenhuma
instrução. Com dedos trêmulos, ela puxou as calças para
baixo. Seus olhos se arregalaram quando sua masculinidade
crescente se libertou. Ela olhou descaradamente para o seu
comprimento ereto.
Lentamente, ela estendeu a mão e tocou-o. Ele se sacudiu
em reação e seus olhos se arregalaram ainda mais.
Desajeitadamente, ela envolveu a mão ao redor da ponta e ele
estremeceu.
— Eu não sei o que fazer —, disse ela, embaraçada.
Ele trouxe a mão dela de volta para baixo. — Assim, — ele
murmurou. Sua mão agarrou a dela e ele guiou a sua mão em
um lento movimento para cima e para baixo. Ele exalou com
força quando ela apertou firme.
Seus lábios franziram e ela franziu a testa em
concentração abstrata. — É como ordenhar uma vaca —, ela
devaneou.
O peito dele roncou de tanto rir. — Não é exatamente uma
analogia que é muito lisonjeira.
Calor queimou suas bochechas. — Oh, isso foi uma coisa
ridícula de se dizer. Eu costumo apenas deixar escapar a
primeira coisa que me vem à mente quando estou nervosa.
Ele deu um passo à frente, guiando-a de costas para a
cama. Eles pararam quando ela esbarrou na borda. — Minha
vez —, disse ele em voz rouca. O olhar que ele lhe deu a fez
estremecer.
Arrepios percorreram seus braços enquanto ele
desabotoava o vestido. Ele trabalhou devagar, deliberadamente.
Ambos os braços dele estavam ao redor dela, trabalhando para
soltar os últimos botões.
Ela estava pressionada contra o peito nu dele e seus olhos
nunca deixaram os dela quando ele começou a puxar o vestido
de seus ombros. Ele recuou o suficiente para deixar o vestido
cair no chão, e seus olhos escureceram de desejo quando sua
fina e transparente camisa ficou exposta.
Ele passou os polegares pelas pontas dos seios dela
apenas visíveis sob o material macio, e eles endureceram sob
seu toque. Ele puxou a alça da camisa para baixo sobre um
dos seios, livrando-a da restrição. Curvando a cabeça, ele
capturou o mamilo em sua boca, puxando ao máximo. Um
abalo a sacudiu até suas profundezas, e ela arfou ante as
sensações intensas que emanavam de seus seios. Suas mãos
agarraram a cabeça dele, prendendo-o contra ela, seus dedos
se enredando em seus frescos cachos negros.
Ele se moveu para o outro seio, impacientemente
afastando a outra alça. Seus dentes roçaram a ponta sensível e
ela arqueou para ele em resposta. Ela agarrou a cabeça dele
com mais força enquanto ele a abaixava para a cama. A camisa
deslizou até a cintura e ele habilmente removeu o restante de
sua roupa, deixando-a cair no chão ao lado da cama.
Ele se moveu de volta sobre ela, cobrindo seu corpo com o
dele. Ela arfou quando sua pele morna fez contato com a dela,
deleitando-se com a sensação das deliciosas impressões. Seus
antebraços, colocados de cada lado da cabeça, sustentavam
seu peso. Seu rosto estava a apenas alguns centímetros acima
do dela e Jillian tremia sob ele.
Devagar, gentilmente, ele baixou os lábios aos dela. Ela
retornou seu gesto e separou seus lábios contra a pressão da
dele. As línguas se encontraram e duelaram, deixando os dois
sem fôlego. Justin rolou para o lado dela e olhou para sua
nudez. Ela viu quando os dedos dele brincaram com os
mamilos tensos, sentindo-os endurecerem ainda mais com a
carícia dele.
Sua mão moveu-se para baixo, desceu até o abdômen
dela, e baixou ainda mais. As pernas dela se separaram em um
convite inconsciente enquanto sua mão percorria sua coxa.
Seus dedos acariciaram os cachos escuros e roçaram levemente
a pele sensível que guardava as profundezas de sua
feminilidade.
Um desejo surgiu de dentro dela. Ela ansiava por seu
toque. Partes dela que ela não sabia que existiam formigavam e
cresciam em antecipação. Então, um único dedo mergulhou
entre as dobras suaves e tocou a parte dela que mais latejava.
Ela se sacudiu e se arqueou contra ele quando o dedo dele
começou uma rotação lenta e tortuosa.
— Oh, Deus, Justin...
Ele olhou atentamente para ela, seus olhos cravados no
seu rosto como se tentasse capturar cada reação. Um leve
brilho de suor pontilhava sua testa quando algo dentro dela se
tensionou e se contraiu. Então seu dedo mergulhou mais
abaixo. Seu polegar separou as dobras lisas, e ele deslizou um
dedo para dentro.
Suas costas arqueavam espasmodicamente e seus olhos
se abriram quando ele entrou. Lentamente, ele mergulhou e
recuou. Ele encontrou seu cerne sensível mais uma vez e
aumentou seu empenho. Sua boca retornou ao mamilo, agora
duro como pedra. Ela gritou quando ele sugou-o.
Sua mão começou a se mover mais rápido e seu corpo
tensionou insuportavelmente enquanto sua boca sugava seu
mamilo no ritmo dos movimentos de sua mão. Somente quando
ela pensou que iria certamente morrer da insuportável e
deliciosa tensão, ela quebrou em um milhão de peças
diferentes. Onda após onda de prazer tomou conta dela.
Lentamente, a tensão diminuiu e se tornou uma pulsação
surda entre as pernas. Cada terminação nervosa em seu corpo
formigava, dolorosamente consciente do menor toque.
Justin a puxou para ele, enterrando a mão no cabelo dela
e beijando-a com força, apaixonadamente. — Este é só o
começo —, ele murmurou entre longos beijos. Ele mordiscou
sua mandíbula e então desceu pelo pescoço e pelo ombro dela.
— Oh, meu... — Era tudo que ela podia arranjar.
Justin riu quando ele foi até seus seios mais uma vez,
beliscando e lambendo. Ele moveu seu corpo sobre o dela, e
choveu beijos leves do local entre os seios até o umbigo. Sua
língua mergulhou e circulou o recuo superficial, e os músculos
dela se contraíram em resposta. Sua língua quente e úmida
pressionou firmemente contra a pele dela, e abriu uma trilha
úmida de seu umbigo, entre os seios e até o queixo. Ela
estremeceu incontrolavelmente. Seus mamilos se franziram em
resposta e choques arrepiantes pontuaram seu torso.
Ele moveu seu corpo para baixo novamente, desta vez sua
cabeça estava logo acima da pélvis dela. Ele pôs um beijo leve
em cima do ninho de cachos, e a cabeça dela levantou.
— Oh, Justin, você não deve!
— Oh, mas eu devo —, disse ele em voz rouca.
Ele separou as pernas dela, em seguida, colocou os lábios
no interior de sua coxa logo acima do joelho. Mordiscando e
beliscando a pele macia, ele se aproximou mais e mais perto do
ponto que já havia começado a pulsar mais uma vez. Dedos
gentis a abriram e sua língua girou para baixo e ao redor da
carne delicada.
Ela gritou em êxtase irracional, contorcendo-se
incontrolavelmente sob ele. Os dedos dela se espalharam e
agarraram a roupa de cama, depois as amassaram contra as
palmas das mãos. Sua boca ficou seca, sua respiração
espasmódica. Ela nunca sentiu uma explosão tão forte de
prazer em sua vida. Essa sensação de enrijecimento
insuportável estava de volta.
Justin jogou a língua para fora e puxou o nó em sua boca,
chupando e lavando-o. Sua mão escorregou entre suas pernas
e dois dedos provocaram sua entrada enquanto ele continuava
movendo sua língua implacavelmente. Ele mergulhou-os para
dentro, recuando, depois os empurrando para dentro
novamente. A cabeça dela movia-se de um lado a outro, o
cabelo espalhado sobre o travesseiro. A doce agonia que ela
sofria estava deixando-a frenética.
Ele movia os dedos cada vez mais rápidos, enquanto
chupava avidamente o centro pulsante. Então sua boca se foi e
ela gemeu em protesto. Mas então voltou e sua língua entrou
nela, substituindo seus dedos. Era demais para ela suportar.
Com um longo gemido agudo, sua liberação veio novamente.
Ela tremeu descontroladamente embaixo dele quando o prazer
a dominou.
Quando ela se acalmou sob ele, ele se moveu de volta para
cima no corpo dela. Ela podia sentir seu eixo rígido contra suas
pernas. Ele a olhou, seus olhos penetrantes. Puxando suas
mãos acima da cabeça, ele entrelaçou seus dedos com força.
— Eu não vou te machucar, Jillian, nunca vou te
machucar.
Ela olhou para aqueles olhos, tão intensos e gentis. A
emoção embargou sua garganta. — Eu sei —, ela sussurrou. —
Eu confio em você.
Ele fechou os olhos brevemente, deixando as palavras dela
passarem por ele. Ela havia dito isso antes, mas de alguma
forma significava muito mais agora. Ele afastou as coxas dela e
gentilmente, com reverência, entrou em seu refúgio quente e
úmido. Seus dentes cerraram e ele lutou para manter o
controle sobre seus sentidos furiosos.
Lentamente, muito lentamente, ele avançou até que ele
estava totalmente dentro dela. Ele a beijou suavemente, com
ternura, seus movimentos lentos e deliberados, substituindo
sua urgência anterior.
Uma lágrima deslizou por sua bochecha e seu peito se
tensionou em resposta. Sua língua disparou para pegar a gota
salgada.
— Não chore —, ele sussurrou, movendo-se dentro dela.
As mãos dela escorregaram das dele e subiram pelos seus
braços e ombros. Suas palmas estavam planas contra a pele
dele e subiram para a parte de trás de seu pescoço. Ela o
beijou avidamente, suas lágrimas em ambas as línguas.
Ele pressionou os braços na cama, empurrando seu peso
para fora dela enquanto seus quadris começaram a se mover
com mais determinação. Ela segurou-o, desesperadamente,
enquanto jogava a cabeça para trás, a paixão enchendo seu
rosto. Seus quadris se elevaram para encontrar seus impulsos,
as pernas envolvendo firmemente em torno de sua cintura.
— Você é tão bonita. — Ele capturou seus lábios
novamente. — Eu nunca conheci uma mulher mais bonita —,
disse ele contra sua boca.
Suas mãos agarraram a cintura dela, e ele empurrou mais
fundo nela, esforçando-se para inserir-se completamente em
sua alma. Seu lugar era aqui, em seus braços, ele era parte
dela, ela uma parte dele. Ele mergulhou cada vez mais fundo, e
as pernas dela se moveram mais acima de sua cintura
enquanto ela se abria mais completamente para ele. Ela era
dele. O pensamento assolou sua mente, a possessividade
assumindo seu raciocínio. Ninguém jamais a machucaria
novamente. Ele seria seu único amante. Ele passaria a vida
fazendo amor com ela, valorizando-a, amando-a.
Ele estava se aproximando de sua liberação. Ele podia
sentir. Ele lutou para controlar sua paixão, determinado a levá-
la à conclusão uma última vez. Ela estava segurando sua
cintura com as pernas, seus quadris ondulando
descontroladamente sob os dele. Um suspiro escapou de seus
lábios cada vez que ele impulsionava nela. Então ela
convulsionou descontroladamente e gritou seu nome. Suas
mãos seguraram suas costas e seu corpo se tensionou em um
arqueamento prolongado.
Ele entrou nela uma última vez e soltou seu controle.
Enterrando o rosto em seu pescoço, ele avançou. Ele passou os
braços ao redor dela, segurando-a com força enquanto seu
calor inundava-a.
Ela estava deitada embaixo dele, sem força para se mover.
Lágrimas se acumularam em seus olhos enquanto ele
murmurava o nome dela e gentilmente acariciava sua
bochecha. Seu polegar gentilmente enxugou as lágrimas.
— Por que você está chorando? — Ele perguntou
suavemente. Seus olhos olhavam para ela carinhosamente,
amorosamente, como ela uma vez sonhara que o marido faria.
Ela tentou falar, mas não conseguiu encontrar as palavras
para retratar com precisão seus sentimentos.
Como se entendendo sua condição, ele a pegou em seus
braços e enfiou a cabeça dela sob o queixo. Ele puxou as
cobertas sobre eles e segurou-a enquanto ela mergulhava em
um sono lânguido.
Ele olhou para os cílios que descansavam em suas
bochechas. Seu peito doía de emoção reprimida. Ele segurou
sua bochecha e beijou o topo de sua cabeça. — Eu te amo —,
ele sussurrou.
Capítulo Dezoito
Jillian acordou, lentamente obtendo a consciência de seu
entorno. Ela estava na cama de Justin... nua. Seu braço estava
jogado pela sua cintura, segurando suas costas intimamente ao
peito, e sua mão pousada possessivamente em seu peito.
Calor inundou suas bochechas quando ela se lembrou de
suas respostas devassas ao amor dele. A realidade superou
suas expectativas mais loucas. Enquanto ela esperava que
fosse uma experiência agradável, não esperava ter um prazer
tão hedonista nos braços de Justin. O que ele deve pensar
dela?
Ela teve poucas oportunidades de falar com outras
mulheres sobre assuntos tão delicados como o leito conjugal,
mas ouvira as conversas de algumas das meninas com quem
frequentava o ensino médio, e elas haviam comunicado com
bastante conhecimento que as únicas mulheres que realmente
desfrutavam do ato eram prostitutas. Uma lady certamente não
se deliciava com as atividades do quarto.
Sua mente era um caos de pensamentos confusos. Se ao
menos ele acordasse para que ela pudesse avaliar sua reação.
Ali... estava ele se mexendo. Ansiosa antecipação tensionou seu
peito. O que ele pensaria?
— Bom dia —, ele murmurou em seu ouvido.
Uma deliciosa cócega marcou levemente a área que seus
lábios tocaram. Ela se moveu e virou a cabeça para encontrar
os olhos dele. Ela teve o cuidado de puxar as cobertas para
cima agora, muito consciente de sua nudez. Não dizendo nada,
procurou em seu rosto por algum sinal do que ele estava
pensando.
Justin olhou curiosamente para ela, observando seu
intenso escrutínio. Inclinou a cabeça, beijou-a levemente no
nariz e sorriu quando ela piscou os olhos em surpresa.
— Você está bem? — Ele perguntou suavemente.
Ela corou furiosamente e afundou ainda mais nas
cobertas.
— Não. — Sua mão parou sua retirada. — Você não
precisa ser tímida comigo agora.
Ele a beijou com ternura, alisando o cabelo de sua face
preocupada. Seu corpo acelerou com desejo. Acordar com ela
em seus braços foi a experiência mais satisfatória em seus
trinta anos. Ele poderia muito bem imaginar acordar assim
pelo resto de sua vida.
O pensamento o surpreendeu, pois o que ele desejava
implicava em casamento. Casamento com Jillian. Certamente
não seria encarado com estranheza. Afinal era filha de um
conde, e ele duvidava que seu comportamento escandaloso
fosse lembrado assim que ela fosse sua duquesa.
A imagem de seu pai percorreu sua consciência. Ele não
queria insistir nas palavras de seu pai agora. Adequada ou não,
ele amava Jillian e ele não podia imaginar estar sem ela.
Deixando de lado os pensamentos de seu pai, Justin se
concentrou no presente. Ele não tinha ideia do que os
sentimentos de Jillian por ele eram. Ela confiava nele, no
entanto, e isso era um começo. Tudo o que restava era que ela
concordasse em se casar com ele.
Ela se aconchegou contra ele e bocejou amplamente.
— Devemos descer para o café da manhã, ou tê-lo aqui na
cama? — Ele perguntou.
Sua reação foi rápida. — Eu... não podemos tomar café da
manhã aqui. Os servos saberiam sobre... o que fizemos.
Ele riu. — Eles já sabem, querida. Edward sabe tudo o
que acontece em Whittington. Além disso, sua criada teria
notado sua ausência no seu quarto de dormir.
Seu rosto ficou com um tom delicioso de vermelho.
— Não se preocupe, eles são muito discretos. Eles nunca
fariam algo tão impróprio quanto tornar óbvio o conhecimento
deles.
— Mas eu sei que eles sabem —, ela guinchou.
Ele sorriu e a beijou novamente. — Venha então, vamos
descer para o café da manhã. Então talvez possamos passar o
dia juntos.

###

Naquela noite, jantaram na sala de estar e sentaram-se


diante do fogo. Jillian contou a Justin sobre sua infância
solitária e depois sua partida para terminar a escola. Ela não
tinha ido para casa nos feriados como as outras garotas
tinham feito. Não havia família amorosa para ela ir para casa.
Com um discurso hesitante, ela explicou sua raiva e
ressentimento para com a sociedade depois de seu tratamento
na mão de Lucas. E de seu embaraço atual sobre seu
comportamento, e sua surpresa com a aceitação e apoio que
ela ganhou de Lady Bea e seus amigos.
Justin ouviu em silêncio, querendo absorver todo o
conhecimento que pudesse sobre ela. Ele entristecia-se pela
dor e mágoa que ela tinha sofrido. A desilusão veio em uma
idade jovem para ela, uma idade em que a maioria das
mulheres ainda eram românticas e cheias de otimismo. Ela era
forte, porém, e os eventos que teriam quebrado o espírito da
maioria das mulheres só fortaleceram sua determinação de
sobreviver.
Eles conversaram até as primeiras horas da manhã até
Justin poder vê-la lutando contra o cansaço. Ele se levantou,
pegando a mão dela. — É hora de estarmos na cama.
Ela deu-lhe um olhar de surpresa. — Eu pensei...
certamente presumi que estaria indo para a minha própria
cama.
— É isso que você quer?
— Não...
— Bom, não é o que eu quero também. Eu quero você
perto de mim.
O olhar em seus olhos a queimou com sua intensidade.
Imediatamente, seu corpo reagiu, cada nervo vindo à vida. Em
um movimento, ele a levantou nos braços e caminhou em
direção às escadas.
Depois em seu quarto, ele chutou a porta e a depositou na
cama.
— Não precisamos fazer nada que você não queira —,
disse ele, olhando-a. — Mas eu quero muito você ao meu lado.
Encorajada pelo desejo tão evidente em seus olhos, ela se
sentou na cama e se levantou para ficar diante dele.
— Você gosta quando eu te toco aqui? — Ela perguntou,
estendendo a mão e roçando os dedos sobre a protuberância
em suas calças. Ela ouviu sua ingestão rápida de ar.
— Eu gosto muito —, ele conseguiu dizer.
Ela olhou curiosamente para ele enquanto seus dedos
ficavam mais ousados. Seus olhos ardiam, sua respiração
vindo em rajadas rápidas. As mãos dela afrouxaram as calças e
depois seus dedos mergulharam dentro. Ele se encolheu
quando a mão dela fez contato com sua dureza.
Lentamente e com grande deliberação, a roupa dele
desceu até o chão enquanto suas mãos gentilmente
acariciavam, exercendo uma pressão firme. Ela se ajoelhou na
frente dele e seus lábios o encontraram. Ele gemeu e ela sentiu
os estremecimentos em seu corpo.
Ela se levantou e ficou em sua frente, e lentamente
começou a se despir. Seus olhos brilharam quando ela mostrou
sua pele centímetro por centímetro. Quando ela ficou
completamente nua, ele a acomodou na cama. Seu corpo
esfregou eroticamente contra o dela quando ele a beijou
rudemente, com crescente paixão. Rolando embaixo dela, ele a
levantou para ela sentar montada nele. Ela abriu os olhos
surpresa com a mudança de posição, então compreendeu e
deu-lhe um sorriso malicioso.
Ela se tornou uma sedutora, passando a língua pelo
abdômen, subindo, e depois pelos mamilos lisos. Ela levantou a
cabeça e recostou-se a observá-lo. Era uma sensação
inebriante poder ver como ela o afetava.
Sua ereção descansava contra a pele macia de sua barriga
e ela agarrou-a em suas mãos, levantando-se lentamente acima
dele e, em seguida, abaixando-se sobre ele, levando-o para
dentro dela em uma deliciosa agonia.
Ela viu a luminosidade da transpiração brilhar em sua
testa, a tensão em seu rosto enquanto ele cerrava os dentes.
Ele gemeu baixo e depois fechou os olhos e jogou a cabeça para
trás enquanto ela lentamente começou a se mover, girando
sensualmente contra ele.
Seu próprio desejo estava se tornando esmagador, e ela
apertou o peito dele com as mãos enquanto se movia mais
rápido, combinando os impulsos para cima dele com o
movimento descendente de seus quadris.
— Jillian! — Ele gritou enquanto convulsionava embaixo
dela. Ele agarrou seus braços, segurando-a firmemente contra
ele quando ela jogou a cabeça para trás quando seu próprio
alívio veio.
Ela desabou sobre o peito dele, os corpos úmidos de suor.
Ele passou os braços ao redor dela, abraçando-a apertado.
Beijou o cabelo dela enquanto o afastava do seu rosto.
— Case comigo —, ele murmurou contra o cabelo dela.
Jillian sentou-se, deslizando apressadamente do seu peito
e puxando um lençol ao seu redor. Ela olhou para ele em
estado de choque. — Você não pode estar falando sério!
Justin levantou a cabeça, apoiando o corpo no cotovelo. —
Eu falo sério. Eu dificilmente brincaria em propor a você.
Ela olhou para ele, boquiaberta. — Eu não sei o que dizer.
— Diga sim.
Ela se levantou da cama, puxando o lençol com ela,
enrolando-o em volta do corpo. — Não é tão simples como dizer
sim.
— Por que não? — Ele desafiou, observando-a da cama.
— Justin, a menos de seis semanas atrás, mal podíamos
tolerar um ao outro e, embora eu garanta que não tenho mais
tais pensamentos ruins sobre você, não é a base para um
casamento. Eu não posso casar com você —, ela disse
suavemente.
Justin sentou-se, apressando-se para a beira da cama. Ele
a puxou para seus braços. — Foram só seis semanas? Eu sinto
como se te conhecesse, esperei por você minha vida inteira.
Jillian olhou de volta para ele. Ah, mas seria tão fácil
ceder a ele, dizer sim. Mas ela prometera nunca mais se casar.
A ideia de se entregar novamente a um homem daquela
maneira a assustava imensamente.
— Eu não posso —, ela sussurrou.
Ele colocou um dedo sobre os lábios dela. — Não responda
ainda. Pelo menos considere isso.
Ela vacilou sob sua persistência. — Eu vou considerar
isso.
Um sorriso iluminou seu rosto. — Agora devo convencê-la
de que fomos feitos um para o outro.
Ela deu-lhe um olhar duvidoso, mas não o contradisse.

###
Justin foi até os estábulos, esperando que uma cavalgada
vigorosa dissipasse sua inquietação. Como convencer Jillian a
se casar com ele? Havia uma possibilidade agora que ela
pudesse estar grávida de seu filho. O pensamento estava longe
de ser desagradável, mas ele queria que ela se casasse com ele
porque queria, não porque não tivesse outra escolha.
Ele não ousaria pressioná-la, no entanto. Depois do
tratamento de Penroth, ela tinha motivos para desconfiar do
casamento. Pelo menos ele esperava que isso explicasse sua
relutância. A única outra explicação era que ela não queria se
casar com ele, e ele não queria insistir nessa possibilidade.
Ele passou pela correnteza em direção a um carvalho que
se estendia pouco antes da floresta. Duas lápides de pedra
estavam aninhadas contra a base da velha árvore. Justin
desmontou e se ajoelhou na frente dos marcos.
Ele tirou um pouco da neve restante das inscrições.
Recostando-se nos calcanhares, ele olhou para os nomes de
seus pais.
— Encontrei minha duquesa, Pai —, disse ele em voz
baixa. — Eu acho que você e minha mãe aprovariam. — Ele se
sentou em silêncio por um longo tempo, pensando em seus
pais e como as coisas seriam se estivessem vivos hoje. Sua mãe
teria gostado de Jillian e a teria posto sob suas asas, tratando-
a como a filha que nunca teve. Seu pai... bem, ele não estava
inteiramente certo de qual seria a reação de seu pai à escolha
da noiva de Justin.
Uma brisa suave arrastou seu cabelo e ele fechou os olhos
enquanto imaginava que era a mão de sua mãe alisando suas
madeixas errantes. Uma sensação de paz tomou conta dele e
ele pôde ver o rosto sorridente de sua mãe, aquecendo-o com
carinho.
Levantando-se do chão, ele se preparou para montar seu
cavalo, mas voltou-se para as sepulturas mais uma vez. —
Sinto saudades de vocês dois. Queria que estivessem aqui para
conhecer Jillian. — Profunda tristeza agarrava seu coração
enquanto ele se colocava na sela. Com um último olhar para
onde seus pais descansaram, ele galopou.

###

Para crédito de Justin, ele não a pressionou sobre sua


decisão. Três dias se passaram desde sua proposta, e o
assunto permaneceu intocado. Passavam os dias em
companheirismo confortável, e as noites atrás da porta fechada
do quarto de Justin.
Na primeira semana de janeiro, o tempo mudou,
tornando-se excepcionalmente quente. Jillian aproveitou o
aumento inesperado da temperatura e foi dar uma volta pelo
terreno. Ela queria ficar sozinha com seus pensamentos. Sua
mente ainda estava em um turbilhão, tentando entender os
últimos dias.
Por que ele queria se casar com ela? Ele a queria. Isso ela
sabia, mas sua oferta de casamento a surpreendeu. Ela era
tudo que ele não queria em uma duquesa; ele havia deixado
isso bem claro em ocasiões anteriores. Ele se sentiu obrigado
por causa do que soubera sobre o casamento dela? Não fazia
sentido. Nenhuma das razões parecia provável o suficiente para
explicar sua proposta de casamento.
Um sentimento de anseio surgiu através dela, tão forte em
intensidade que ameaçava dominá-la. Mas ela estava
familiarizada com o anseio. Foi assim que ela chegou ao seu
casamento com Lucas, e a realidade quase a matou. Ela não
podia suportar outra decepção, não podia arriscar que o
interesse de Justin fosse fingido. Como o de Lucas.
Suspirando cansada, ela caminhou ao longo da beira do
riacho, olhando distraidamente para a água gorgolejante. Ela
realmente não comparava Justin a Lucas. Em seu coração, ela
sabia que Justin era diferente, mas ainda assim, ela não podia
deixar de ter medo de que uma vez que ela dissesse sim,
quando que eles se casassem, ele iria se arrepender de sua
decisão precipitada. Ela não seria capaz de suportar quando ele
se arrependesse de se casar com ela, assim que percebesse que
ela não era a mulher adequada para ser sua duquesa.
E no fundo de sua mente, um pensamento incômodo a
assaltou, uma que ela não conseguia se livrar, não importava o
quanto ela se assegurasse de que estava se preocupando por
nada. E se tudo isso fosse uma fachada? E se depois de se
casarem, ele se virasse contra ela como Lucas tinha feito?
Não. Novamente, ela estava sendo excessivamente
dramática. Lucas precisava do dinheiro dela. Justin certamente
não precisava de sua herança irrisória. Então por que ele pediu
para ela se casar com ele?
Ela estava se aproximando da borda da floresta, e flertou
com a ideia de se aventurar além das imponentes árvores que
guardavam a entrada da floresta, quando um som distante fez
com que ela olhasse para cima e então sentiu uma dor ardente
em seu braço. Ela agarrou o braço na tentativa de aliviar a dor.
Quando ela afastou a mão, ficou chocada ao ver a palma da
mão coberta de sangue.
Ela piscou e então balançou a cabeça para libertar-se das
teias de aranha que pareciam estar obscurecendo seus
pensamentos. Com as pernas trêmulas, ela começou a voltar
para a casa, ganhando velocidade enquanto seu ritmo ficava
mais estável.
Quando ela se aproximou da casa, viu Justin emergir dos
estábulos. Ele parou quando a viu se aproximando e sorriu de
forma acolhedora. Sua expressão vacilou quando ela se
aproximou.
— Jillian, o que há de errado? —, ele perguntou
preocupado.
— Justin... eu acho... eu acho que fui baleada!
Capítulo Dezenove
Justin parecia atordoado por seu rompante, e correu para
ela. — Onde você está ferida? — Ele exigiu.
Ela tirou a mão do braço, estremecendo com a dor
latejante. Seu braço parecia estar em chamas.
Justin empalideceu quando ele percebeu a quantidade de
sangue que cobria a mão e o braço dela. Pegando-a em seus
braços, ele correu para a casa gritando por Edward.
— Justin, acalme-se —, ela protestou. — Estou
perfeitamente bem. Acho que a bala só deve ter me esfolado.
O olhar de preocupação em seus olhos não diminuiu, nem
diminuiu seu ritmo. Ele a colocou no sofá da sala e berrou por
Greta.
Edward apareceu primeiro e Justin o despachou para a
aldeia em busca do médico. Greta estava perto dos calcanhares
de Edward e Justin mandou-a pegar água e trapos limpos.
— Querida, eu preciso ver o quanto você foi atingida. Me
diga se te machucar.
Ela assentiu e estremeceu quando Justin começou a
arrancar a manga do braço dela.
Ele murmurou um xingamento ao avistar o corte
sangrento em seu braço. — Acho que você está certa, a bala
apenas roçou seu braço, graças a Deus. O que aconteceu? —
Ele perguntou enquanto limpava gentilmente o sangue.
— Eu não sei. Estava andando perto da borda da floresta e
ouvi um barulho... um tiro. Então senti uma dor terrível no
meu braço.
— Eu preciso que você pense, Jillian. De que direção veio
o tiro?
Ela franziu os lábios e ponderou por um momento. — Eu
estava de frente para a floresta e o tiro veio de trás de mim. —
Seus olhos se arregalaram de repente. — Tem que ter vindo da
casa!
Os lábios de Justin se apertaram em uma linha sombria.
Jillian olhou para cima quando Edward entrou apressado
com o médico que a examinou cuidadosamente e então
começou a enfaixar o braço dela.
Justin chamou Edward de lado enquanto Jillian estava
sendo atendida. — Leve Ben e faça uma busca minuciosa na
área. Quem atirou nela não pode ter ido longe. Eu quero que os
aldeões sejam questionados também.
Edward assentiu e saiu da sala.
O médico terminou o exame e levantou-se, recolhendo a
bolsa. — Ela estará saudável como sempre em alguns dias.
Cuide que ela descanse bastante nesse meio tempo. A ferida
não era muito profunda e não requer pontos, apenas mantenha
enfaixada e limpa para prevenir a infecção.
Justin agradeceu e o levou até a porta, em seguida, voltou
para Jillian, que estava recuperando um pouco da cor em suas
bochechas. — Você gostaria que eu te levasse para a cama, ou
você está mais confortável aqui?
— Aqui, por favor —, disse ela, dando-lhe um sorriso
cansado.
— Não se mova, então —, disse ele, beijando-a no topo da
cabeça.
Ele retornou alguns momentos depois com vários
travesseiros e um cobertor e começou a fazê-la o mais
confortável possível. Cook trouxe chá e Justin acrescentou
láudano à xícara de Jillian antes de entregá-la a ela. Então ele
se acomodou no sofá ao lado dela e a pegou em seus braços,
tomando cuidado para não mover o braço machucado.
— Justin?
— Sim, querida?
Ela virou a cabeça para cima e focou os olhos nublados de
medo nele. — Quem está fazendo isso? Por que alguém me
quer... morta? — Ela estremeceu em seus braços e ele
aumentou seu aperto ao redor dela.
— Eu não sei, mas vamos descobrir. — Ele acariciou o
cabelo dela suavemente. — Descanse um pouco. Eu estarei
bem aqui. Nós vamos falar sobre isso quando você acordar.
Ela se aconchegou mais em seu abraço e descansou sua
cabeça confiantemente em seu peito. Alguns momentos depois,
ela adormeceu.
Justin olhou para os olhos fechados e se repreendeu por
permitir que isso acontecesse com ela. Ele tinha sido um tolo
por ser tão negligente nos cuidados. Havia baixado a guarda
quando saíram de Londres, pensando que Whittington era
imune ao perigo. Seu erro quase custara a vida de Jillian.
Era hora de adotar uma postura mais ativa em descobrir
quem era o responsável pelos múltiplos atentados à vida de
Jillian. Ele tinha que bolar um plano e convencer Jillian a se
casar com ele.
A ideia veio a ele, em parte nascida da necessidade e em
parte do desejo de atar Jillian a ele permanentemente. Eles
viajariam de volta para Londres. Agora que seu perseguidor
sabia do paradeiro dela, ele estava inquieto permanecendo em
um lugar tão isolado. A cidade estava cheia de pessoas,
testemunhas. Quem quisesse Jillian morta teria que ser mais
cauteloso em um local tão populoso.
E então ele também devia convencer Jillian a concordar
com um compromisso. Talvez Granger e quem o tivesse
contratado relutassem mais em continuar seus ataques contra
a futura duquesa de Whittington.
Ele esperaria até que ela despertasse de seu sono induzido
por drogas, e depois abordaria cuidadosamente o assunto.

###

Ela acordou devagar, sua bochecha aninhada contra o


peito largo dele. Ela suspirou satisfeita, sentindo os braços dele
ao seu redor, uma barreira entre ela e o mundo exterior
intrusivo.
— Sentindo-se melhor? — Ele perguntou enquanto tirava
o cabelo do rosto dela.
— Mmmmm.
Ele riu. — Vou tomar isso como um sim. — Ele a beijou
gentilmente. — Precisamos decidir sobre um curso de ação.
Você não está mais segura aqui.
Ela piscou surpresa. O pensamento de ter que sair de
Whittington não lhe ocorrera. Ela não estava pronta para sair
do casulo protegido dos braços de Justin... ainda não.
Afastando-se um pouco dele, ela olhou em seus olhos.
— O que eu faço então?
— O que nós faremos é voltar para Londres, onde vamos
anunciar o nosso compromisso.
Ela olhou para ele em estado de choque. — Justin...
Ele colocou um dedo sobre os lábios dela, cortando seu
protesto. — Me ouça. Você não pode voltar para Londres
sozinha. Está fora de questão. Você e eu vamos voltar juntos.
Ao anunciarmos nosso noivado, isso nos dará desculpa para
estarmos juntos em público. E estou esperando que o nome
Whittington seja um impedimento para quem está tentando...
ferir você.
— Londres é uma cidade grande. Eu não posso imaginar
essa pessoa sendo capaz de se mover sem que alguém o veja.
Também temos mais recursos à nossa disposição lá, e mais
recursos humanos, se precisarmos. Não pretendo sair do seu
lado até descobrirmos quem está por trás do plano para feri-la.
— E o que acontece quando descobrirmos?
— A essa altura, terei convencido você a tornar o nosso
compromisso uma realidade e, se não, vou desaparecer se você
quiser. Eu vou provar para você, no entanto, que você pode
confiar em mim.
— Mas eu...
— Você confia em mim até certo ponto —, ele disse
suavemente. — Mas você não está disposta a se colocar em
uma posição que exige que você dependa totalmente dessa
confiança.
Ela abriu a boca e fechou-a com a mesma rapidez.
— Nos dê uma chance, Jillian.
— Muito bem —, ela disse baixinho. — Quando vamos
partir?

###

Ela aceitou muito prontamente. Ele deveria estar


exultante, mas algo em sua resposta manteve seu triunfo à
distância. Estavam a meio caminho de Londres e, de alguma
forma, ele imaginara a viagem de maneira diferente. Em vez do
confortável companheirismo em que haviam se refugiado em
Whittington, sentaram-se em frente um ao outro, num silêncio
constrangedor enquanto a carruagem colocava mais distância
entre eles e o lugar em que haviam se tornado amantes.
Ele resistiu à vontade de suspirar e virou-se para olhar
pela janela. Regularmente, ele olhava de relance para Jillian,
que estava concentrando sua atenção na janela oposta. Como
diabos ele faria para convencê-la a se casar com ele? Ele não
podia aceitar que ela não o amasse. Ela tinha que sentir
alguma coisa. Ela não era o tipo de mulher que se entregaria
livremente a ele se não o amasse.
Talvez Case pudesse oferecer alguma opinião. Case. Ele
não teve tempo de enviar uma explicação a Case dos seus
planos. Ele e Jillian saíram com pressa na manhã seguinte em
que ela foi baleada. Ele se perguntou a reação de seu irmão
ante suas iminentes núpcias, ou pelo menos a história de seu
iminente casamento. Ele fez uma careta, não querendo
contemplar a possibilidade de que Jillian se recusasse a casar
com ele.

###

Eles entraram em Londres na calada da noite. As ruas


estavam desertas e o som dos cascos dos cavalos ecoou
agudamente pelos becos. Envoltos na escuridão, eles entraram
na casa de Justin. Era apenas algumas horas antes do
amanhecer, e Justin enviou um lacaio para entregar uma
mensagem para Case. Ele chegou apenas uma hora depois e
Justin encontrou-o na porta.
Case entrou escapando do frio, tremendo enquanto tirava
o sobretudo. Ele levantou os olhos inquiridores para Justin.
— Obrigado por vir tão rapidamente —, disse Justin.
— Eu dificilmente poderia ignorar uma convocação tão
intrigante. Suponho que Jillian está com você?
Justin assentiu e fez um sinal para Case na sala de estar.
— Jillian está no escritório. Vamos nos juntar a ela em breve.
Eu queria falar em particular com você primeiro.
Case olhou curiosamente para ele, mas o seguiu até a sala
de estar.
— Jillian não está mais segura em Whittington —, disse
ele enquanto servia uma bebida para Case.
Case aceitou o copo e bebeu lentamente enquanto
esperava Justin continuar.
— Alguém deu um tiro nela.
A cabeça de Case imediatamente levantou. — Ela ficou
ferida?
— Felizmente, a bala só roçou o braço dela.
Case pousou sua bebida na pequena mesa que abrigava a
garrafa. — Como diabos seu paradeiro foi descoberto?
— Boa pergunta —, Justin disse severamente. — Viemos a
Londres na esperança de revelar o culpado. Eu a convenci a
passar pelo fingimento de um noivado para que eu possa ficar
por perto o tempo todo.
Case arqueou uma sobrancelha para aquela revelação. —
E é falso?
Justin parou por um momento, tocando a borda do copo.
— Não é falso, no que me diz respeito, mas até agora, não
consegui convencer Jillian a torná-lo real.
— Você a ama —, disse Case com naturalidade.
— Amo.
— Mas ela não concordou em se casar com você?
— Exato.
— Certamente você não está desistindo.
Justin deu-lhe um olhar que sugeria que ele era louco por
sugerir tal coisa.
Case sorriu e pegou o copo mais uma vez. — Vamos nos
juntar a Jillian no escritório. Temos planos para fazer.
Capítulo Vinte
Lady Bea estava regiamente em sua poltrona ouvindo com
grande interesse o plano proposto por Justin. Depois de muita
discussão inicial entre Justin, Jillian e Case, foi decidido que
eles se aproximariam de Lady Bea e confidenciariam as
circunstâncias de seu retorno a Londres. Ao alistar sua ajuda
como uma anfitriã em potencial para o seu baile de noivado,
eles seriam assegurados de maior comparecimento. Se alguém
poderia conseguir que os membros da sociedade retornassem a
Londres no auge do inverno, era Lady Bea.
— Então você quer que eu dê uma festa para anunciar seu
noivado na esperança de desentocar a pessoa que está
tentando ferir Jillian? — Lady Bea olhou para Justin
especulativamente por um momento.
— Bem, mais do que isso, eu quero espalhar a notícia de
que ela será a futura duquesa de Whittington, e esperar que
isso detenha seu perseguidor —, acrescentou Justin. — Ao dar
uma festa de noivado, toda Londres verá Jillian ao meu lado e
saberá que ela está sob minha proteção.
Lady Bea assentiu com aprovação. — O sujeito teria que
ser um idiota para continuar suas tentativas criminosas.
Jillian se inclinou para frente com preocupação. — Eu não
quero colocar você em perigo.
— Bobagem, minha querida. Eu poderia ter um pouco de
emoção de vez em quando. Tudo o que eu preciso fazer é dar
alguns comentários de improviso sobre um grande anúncio e
as pessoas vão chegar em massa, fora de temporada ou não.
Você, é claro, precisaria reter seu anúncio no Times até a
manhã seguinte.
— É claro —, Justin murmurou.
— E Jillian, eu insisto que você fique comigo nesse
ínterim.
Jillian levantou o olhar surpresa, não querendo protestar
contra a gentileza de Lady Bea, mas queria ir para sua própria
casa e ficar perto da única família que conhecia. Sentia falta de
Hilda, elsie e dos outros.
— Essa é uma excelente sugestão —, ouviu Justin dizer.
— Eu vou fornecer segurança extra para que vocês duas
estejam seguras.
— Está resolvido então —, disse Lady Bea com satisfação.
Ela se levantou da cadeira e atravessou a sala. — Vou chamar
meu lacaio para acompanhá-los até a casa de Jillian, para que
ele possa ajudá-los a transportar as coisas dela para cá.
Jillian abriu a boca para protestar, mas Justin estava
enfiando seu braço sob o dele e levando-a para fora da porta.
Enquanto subiam os degraus da carruagem, ela se voltou para
Justin.
— Eu preferiria ficar na minha própria casa, Justin. Não
quero ser um fardo para lady Bea. — Ela se acomodou ao lado
dele.
— Devemos pensar em sua segurança, querida. Eu não
gosto da ideia de você estar sozinha em sua mansão,
especialmente porque você já teve um intruso.
Jillian estremeceu quando a lembrança daquela noite a
assaltou, mesmo quando ela estava aquecida pelo carinho de
Justin.
Justin esfregou a mão suavemente. — Você não deve
pensar nisso agora. Você estará a salvo na casa de Lady Bea, e
desconfio que ela esteja bastante entusiasmada com a
perspectiva da sua companhia.
— O que eu devo fazer sobre Hilda, elsie, Johnny e Harry,
e Catriona é claro... — Ela parou, mordendo o lábio com
consternação.
— Você pode pagar uma quantia boa para que eles
possam se sustentar até encontrar outro emprego.
Ela olhou para ele surpresa. — Outro emprego? Eu não
tenho nenhum desejo que eles vão para outro lugar. Vou
precisar deles quando... depois disso acabar.
— Não se eu tiver algo a dizer sobre isso —, Justin disse
suavemente.
Um arrepio percorreu sua espinha enquanto ela observava
seu olhar atento. Suas bochechas ficaram quentes e suas
entranhas se agitaram. A mão dele segurou o lado do rosto
dela, e os lábios dele baixaram para os dela.
— Eu poderia me acostumar com isso —, disse ela, sem
fôlego, enquanto se afastava.
— É minha esperança que você faça exatamente isso —,
disse ele com voz rouca, com os olhos escurecendo de desejo.
— Justin, pare com isso! — Ela soltou firmemente as
mãos dele de debaixo de suas saias. — Estamos quase lá —,
ela sussurrou freneticamente.
— Tempo de sobra —, ele murmurou, mordiscando o
lóbulo de sua orelha.
Ela gemeu baixinho enquanto seus lábios se moviam pelo
pescoço dela. — Talvez você esteja certo.

###

Jillian informou seus servos de seus planos, deixando de


fora que seu noivado era um ardil. Todos eles a parabenizaram
de todo coração, mas depois veio a inevitável questão do que
aconteceria com suas posições. Justin assegurou-lhes que ele
faria arranjos generosos para eles.
Jillian partiu com o coração pesado. Farsa ou não, ela não
estava ansiosa para estar longe de sua casa e das pessoas que
ela mais se sentia íntima. Ela voltou para a casa de Lady Bea
em silêncio, sua mente filtrada através da miríade de
mudanças que afetaram sua vida nas últimas semanas. Ela
não gostava da teia de decepção que ela e Justin estavam
criando. Isso só poderia levar à decepção... dela.

###

Fiel à sua palavra, Lady Bea começou a compilar uma


impressionante lista de convidados e empregou Lady Cecilia e
Lady Burlington para espalhar fofocas sobre o grande anúncio.
Recepcionar o baile de noivado do duque de Whittington
era uma conquista como anfitriã para lady Bea, seja para ser
um verdadeiro compromisso ou não. Seu status como a anfitriã
de estréia londrina certamente permanecerá intacta pelas
próximas temporadas.
Os primeiros dias de Jillian na casa de Lady Bea foram
um turbilhão de atividades. Não foi até o terceiro dia que ela
percebeu que não tinha visto Justin desde que ele a transferiu
de sua mansão para a de Lady Bea. Quando ela mencionou
essa singularidade para Lady Bea, a resposta da velha senhora
foi rápida.
— Oh não, minha querida, você não estará vendo o duque
antes do baile, pelo menos não sem a acompanhante
adequada. Mesmo assim, seu contato deve ser limitado. Não
seria necessário que houvesse uma nuvem de escândalo em
torno de uma ocasião tão feliz.
Jillian recostou-se no sofá damasco dourado. — Não, eu
não acho que seria —, ela murmurou. As palavras de Lady Bea
serviram para lembrá-la do quão inadequados ela e Justin
eram.
A expressão de lady Bea se suavizou. — Agora, minha
querida, seus pensamentos soturnos estão refletidos em seus
olhos. O duque deve se importar muito com você. Ele fez muito
para garantir sua segurança.
Jillian estava desconfortável com a direção que a conversa
havia tomado. Os motivos de Justin eram precisamente o que
ela estava lutando para decifrar. Sua angústia deve ter sido
aparente para Lady Bea porque ela olhou para baixo para
consultar a lista em sua mão enrugada e guiou a conversa para
um tópico mais neutro.
— Temos uma reunião à tarde com a modista que está
criando seu vestido. Então devemos terminar os convites para
que eles saiam no correio de amanhã. Estaremos quase sem
tempo com o baile a uma quinzena de distância, mas não tenho
dúvidas de que, assim que os convites forem recebidos, a
jornada para Londres começará.
Um brilho iluminou seus olhos gentis. — Este baile será o
tema por muitos meses. No entanto, outro solteiro elegível terá
que ser eliminado das listas das matronas ambiciosas, o que só
aumentará a competição para os poucos que restam.
Jillian sentiu uma pontada de culpa. Embora tivessem
confiado os detalhes dos atentados à vida de Jillian, não
chegaram a divulgar que o noivado era uma farsa. Ela se sentiu
uma grande fraude.
— Minha querida?
Jillian levantou o olhar culpada, rezando para que seus
pensamentos não se refletissem em seu rosto. — Minhas
desculpas, Lady Bea, isso tem sido muito em tão pouco tempo.
— Sou eu quem deveria pedir desculpas —, disse lady
Bea, com remorso. — Eu mal lhe dei a oportunidade de se
estabelecer, antes de começar a fazer exigências. Você teve
momentos difíceis ultimamente, e nem sequer teve a chance de
se recuperar totalmente de sua última provação.
Jillian pegou a mão da mulher mais velha na dela. — Não
se desculpe, milady, você tem sido tão maravilhosa para mim.
Justin e eu somos muito gratos por tudo o que você está
fazendo.
Lady Bea sorriu carinhosamente para ela, colocando a
outra mão sobre a de Jillian. — Estou tão feliz por você. Você
merece alguém como o duque depois de tudo que passou. —
Ela deu um tapinha na mão de Jillian gentilmente. — Eu sei
que ele vai ser bom para você, minha querida. Ele é um bom
homem.
— Sim, ele é —, Jillian disse suavemente. — Ele merece
mais do que eu posso dar a ele.
Lady Bea pareceu surpresa com sua declaração. — Por
que você não o deixa ser o juiz disso?

###

Flocos de neve caíam, cobrindo as ruas intocadas de


Londres com uma fina camada de branco. Jillian estremeceu
levemente de sua posição na pequena sacada do lado de fora
do quarto do terceiro andar. Os jardins abaixo dela brilhavam
sob a lua cheia acima, a grama já coberta por um manto de
gelo.
Ela colocou as mãos no metal frio da grade enquanto
olhava pensativa para a noite. Grande parte das últimas
semanas ela se conduziu em uma névoa, em negação da dura
realidade de suas circunstâncias. Já era hora de ela ter algum
controle sobre seu próprio destino.
Ela havia concordado passivamente com toda essa farsa
porque, secretamente, a ideia de ser prometida a Justin,
mesmo que temporariamente, lhe dava uma emoção
inexplicável. Mas quando tudo acabasse, ela e Justin se
separariam, e ela retomaria sua existência solitária, apenas nas
margens da sociedade.
Justin pode pensar que ele queria se casar com ela agora,
mas não havia garantia de que ele iria sentir o mesmo tendo
passado alguns meses. Talvez ele pensasse em moldá-la no tipo
de duquesa que ele achava adequada, mas ela sabia que esse
tipo de vida não era o que ela queria. Agora que teve um gosto
da independência, ela não podia voltar a uma vida subjugada
às regras da sociedade. Nem mesmo por Justin ela poderia
fazer tal sacrifício.
Ela realmente não o temia. Ele não a machucaria como
Lucas havia feito, mas havia muitos tipos de dor. Observar
Justin se arrepender de sua escolha de esposa seria mais
angustiante do que qualquer surra que ela já tivesse sofrido.
Recuando para dentro de casa, Jillian calmamente fechou
a porta atrás dela. Um fogo ardia na lareira, aquecendo a
corrente de ar frio que entrara com ela. Ela se despiu e virou as
cobertas em sua cama.
O que ela faria quando seu noivado com Justin fosse
dissolvido? A maior parte de sua vida fora gasta sob os ditames
dos outros. Primeiro o pai dela, depois a tia dela e depois a
escola para a qual ela fora mandada embora. Assim que chegou
a Londres, rapidamente trocou sua liberdade por Lucas e,
depois de sua morte, ela permaneceu nos círculos sociais que
ela desprezava, e por quê?
Era hora de tomar algumas decisões em relação ao futuro
dela. Pela primeira vez, ela considerou seriamente vender sua
casa em Londres e se mudar para fora dos limites da sociedade
elegante. Talvez ela pudesse até viajar. Visitar todos os lugares
historicamente ricos sobre o quais ela adorava ler seria uma
perspectiva atraente.
Um lampejo de excitação se acendeu dentro dela. Quantas
outras mulheres tiveram a sorte de traçar seu próprio curso na
vida? E aqui estava ela esbanjando tal luxo. Ela riu em voz alta
de prazer.
Uma imagem de Justin brilhou em sua mente e ela ficou
séria. Mais uma vez, sua independência teria um preço. Ela se
perguntou se seria realmente feliz sabendo que Justin se casou
com outra. Sem dúvida, ele poderia encontrar uma duquesa
mais adequada entre os muitos modelos exemplares de
mulheres jovens das melhores famílias da Inglaterra. Ela iria
libertá-lo de qualquer obrigação que ele sentisse em relação a
ela. Era o mínimo que ela podia fazer por tudo o que ele fizera
por ela.
Um peso comprimiu seu peito ao pensar nele com outra
mulher. Ela fechou os olhos brevemente e balançou a cabeça
em uma tentativa de dissipar a sensação desagradável. Era o
melhor... tinha que ser.
Capítulo Vinte e Um
As casas de Mayfair abriram as portas e deram as boas-
vindas aos seus donos de volta mais cedo. Os fogos foram
acesos e, no meio da neve e do gelo do final de janeiro, as ruas
ganharam vida à medida que mais membros da sociedade
retornavam. As fileiras de casas antes obscurecidas que
ostentavam alguns dos endereços mais prestigiados de Londres
brilhavam intensamente.
Havia algo a ser dito sobre Londres no auge do inverno,
pensou Jillian enquanto a carruagem atravessava a Brook
Street, a caminho da casa de Lady Bea, na Grosvenor Square.
As calçadas cobertas de gelo e os pingentes de gelo pendurados
nas lâmpadas da rua brilhavam alegremente contra as casas
bem iluminadas. Havia quase um ar festivo, muito parecido
com o período do Natal em Whittington. Ela respirou fundo e
olhou para as mãos.
— Nervosa, menina? — Perguntou lady Bea gentilmente do
outro lado do assento.
— Um pouco —, admitiu Jillian.
Os duas estavam voltando da modista pelos ajustes finais
de Jillian. Em uma hora, a peça seria entregue e Jillian estaria
pronta para o seu baile de noivado.
— Eu me sentiria melhor se tivesse podido ver Justin
antes de hoje à noite. As poucas vezes que nos encontramos
para o chá dificilmente constituem uma visita real.
Lady Bea inclinou-se e deu um tapinha na mão de Jillian.
— Não se preocupe, minha querida. Imagino que ele tenha
estado terrivelmente ocupado tentando descobrir quem tentou
feri-la. Você o verá em apenas algumas horas.
Jillian recostou-se no assento e reprimiu um suspiro
pesado. Ela ainda não tinha certeza de como o baile de hoje
deveria ajudar a descobrir seu perseguidor. O homem das
docas dificilmente seria alguém que seria bem-vindo nos salões
da sociedade londrina. Justin tinha lembrado a ela que as
fofocas tinham um jeito de se infiltrar nos níveis mais baixos,
então eles começariam no topo. Ela só queria continuar com a
vida tranquila que planejara... a vida sem Justin.
Ela fechou os olhos e baniu a dor indesejada. Ela tinha
uma noite de maravilhas pela frente e esqueceria o futuro por
enquanto.
Logo que voltara a casa de Lady Bea, Jillian foi levada
para o banho e duas criadas começaram a prepará-la para a
noite vindoura. Ela foi lavada e perfumada, seu cabelo longo
seco e escovado até que brilhou. Depois foi encaracolado e
enrolado no topo da cabeça em um elegante coque. Os cachos
frouxos escaparam e flutuaram suavemente pelos lados do
rosto dela. Seu vestido foi cuidadosamente trazido para ela e
ela vestiu cautelosamente, não querendo enrugar o tecido
macio.
Ela ficou pacientemente em frente ao espelho enquanto as
criadas completavam a tarefa de abotoar e prender o vestido. A
suave ondulação de seus seios elevava-se até o topo do vestido,
emoldurado por um manto de pele branca que cobria seus
ombros. Sob o manto, suas saias prateadas desciam em ondas
brilhantes que caíam em dobras suaves no chão. Luvas
brancas formais envolveram seus braços esguios e
continuaram subindo pelos cotovelos, desaparecendo
graciosamente sob a pele.
Ela engoliu seu nervosismo quando uma criada entregou a
mensagem de que Justin havia chegado. Ele a acharia bonita?
Respirando fundo, ela pegou o leque que completava seu
conjunto e saiu do quarto de vestir.
Justin a esperava no patamar do segundo andar e ela
prendeu a respiração quando se aproximou dele. Ele estava
vestido quase completamente de preto, exceto pela camisa
branca de babados e a gravata elegantemente amarrada. Seu
cabelo fora de moda tinha sido cortado, mas ainda se enrolava
rebeldemente em seu colarinho.
Quando ela parou na frente dele, uma mecha de cabelo
caiu sobre sua testa provocando um sorriso nela. Incapaz de
resistir, ela afastou-a gentilmente de seus olhos. Seus dedos
permaneceram por mais um momento, e então ele capturou
sua mão enluvada e levou-a aos lábios.
— Você está linda —, ele disse com voz rouca. Ele a levou
até uma sala próxima e fechou a porta atrás deles. — Eu
queria um momento a sós com você antes de entrarmos no
salão de baile —, disse ele enquanto se acomodavam em um
dos sofás.
Ele segurou seu queixo e a beijou suavemente, em
expectativa. Ele gemeu profundamente. — Eu sinto sua falta.
— E eu a sua —, disse ela sem fôlego. Oh, como ela sentia
falta dele. Ela não tinha percebido o quanto até agora. Ela
queria se inclinar para ele e se enrolar em seus braços e
permanecer lá.
Ele enfiou a mão no bolso e tirou um deslumbrante anel
de diamante e safira. A mão dela tremia quando ele deslizou-o
em seu dedo. — Isso pertenceu à minha mãe. Foi o anel que
meu pai lhe deu quando ele pediu que ela fosse sua duquesa.
— Eu dou a você agora, não como parte de nossa farsa,
mas para torná-la real. Diga que vai se casar comigo, Jillian...,
ele disse suavemente. — Diga que você passará o resto da sua
vida comigo, seja a mãe dos meus filhos e minha companheira
constante.
Justin assistiu a incerteza cintilar em seu rosto, o medo.
— O que posso fazer para convencê-la a confiar em mim?
Ela se levantou com agitação. — Eu confio em você,
Justin. Sou eu, não sou a mulher com quem você deveria se
casar.
— É mais do que isso —, disse ele, levantando-se para
ficar na frente dela. — Do que você tem medo? —
Vulnerabilidade refletiu em seus olhos, e ele amaldiçoou sua
incapacidade de acalmar seus medos.
— Você sabe que quando uma mulher se casa, ela desiste
de tudo? Bem, claro que você sabe —, disse ela
apressadamente. — Mas você entende como é ser entregue à
autoridade de outra pessoa? Mesmo o corpo de uma mulher
não é mais dela. Existe para o capricho e prazer de seu marido.
— Infelizmente, esse é o caso —, ele concordou. — E
muitos homens usam isso para o máximo proveito. Eu posso
muito bem entender sua relutância em entrar nesse tipo de
escravidão novamente.
— Isso não é tudo —, ela interrompeu. — Eu não sou a
mulher certa para você, Justin. Você não vê? Eu nunca poderia
ser o tipo de duquesa que você quer.
— No entanto —, ele continuou, como se ela não tivesse
falado. — É aqui que você deve confiar em mim. Eu nunca
dissolveria quem você é. — Sua voz estava logo acima de um
sussurro agora. Seus olhos estavam focados e ele falou sério.
— Eu não quero um bem, uma figura representativa, uma
reprodutora para soltar um herdeiro e alguns extras por
precaução. Eu quero uma parceira, uma amiga e uma amante,
alguém que se delicie comigo tanto quanto eu me delicio com
ela. Eu quero você.
Jillian olhou para ele, uma mistura de perplexidade e
esperança iluminando seus olhos. — Justin, eu...
— Aqui estão vocês dois —, Lady Bea ressoou quando ela
entrou na sala. — Os convidados estão chegando e é hora de
fazer sua aparição.
Jillian parecia frustrada, mas Justin a beijou suavemente
e sussurrou contra seus lábios. — Apenas pense sobre isso. Eu
terei minha resposta depois do baile.

###

Jillian foi anunciada primeiro e, alguns instantes depois,


Justin apareceu na entrada. Enquanto Jillian se entregava à
conversa com Lady Cecilia e Lady Burlington, Case apareceu ao
seu lado. — Milady, posso ter a honra desta dança?
— Case! Oh, Case! Ela exclamou, quase jogando os braços
ao redor dele em excitação.
— Vou tomar isso como um sim —, disse ele sorrindo para
ela. Ele a levou para o salão e ela sorriu brilhantemente para
ele. — É bom ver você de novo, Jilly.
— Senti sua falta, Case. Enquanto Justin foi incapaz de
passar muito tempo comigo esta última quinzena, você não tem
tal desculpa, — ela admoestou. — Londres está bastante
acostumada a nos ver quebrar todas as regras.
— Sinto muito —, ele disse contritamente. — Eu não
estive em Londres na maior parte.
Ela inclinou a cabeça, inquisitiva, enquanto se afastavam
de outro casal. — Você foi capaz de descobrir quem está
tentando me matar?
Ele suspirou. — Não, ainda não, mas nós vamos, Jilly, eu
prometo.
Ela sorriu. — Eu sei que você vai.
Quando a música acabou, ele a acompanhou até o
perímetro do salão de baile. — Você se importaria de dar uma
volta na galeria de arte?
Jillian olhou para ele com curiosidade, mas permitiu que
ele a acompanhasse do salão de baile e pelo corredor até a sala
de arte. Algo estava em sua mente, ela tinha certeza disso.
Case afastou-se das outras pessoas que estavam se
perguntando sobre a impressionante coleção de arte que Lady
Bea orgulhosamente exibia, e fingiu se interessar pela pintura
mais próxima dele. — Tudo bem, fale logo —, disse ele em voz
baixa. — O que está incomodando você?
Ela olhou para ele surpresa.
— Jilly, vi você entrar e você está usando a expressão de
alguém em profundos pensamentos desde que chegou.
— É Justin. — Ela suspirou. Contou para Case sua
preocupação e exigiu uma explicação. — Ele me pediu para
casar com ele.
Case arqueou uma sobrancelha. — E isso é ruim, por quê?
— Porque estou tentada a ceder e não acho que seria uma
esposa adequada para ele.
— Você não acha que deveria ser decisão dele?
— Isso é o que Lady Bea disse —, ela murmurou.
— Conselho bom, eu diria.
— Oh, Case, não é tão simples assim. Até esta noite
pensei, bem, presumi que ele só me pediu para casar com ele
por pena ou algum senso de obrigação de me proteger.
— E agora?
— Ele pediu novamente antes do baile, e as coisas que
disse me levaram a acreditar que talvez eu estivesse errada. Eu
quero muito acreditar nele.
— Então você não acredita nele? — Case a olhou
atentamente.
— Não é que não acredite nele. Tenho medo de acreditar
nele.
— O que seu coração lhe diz, Jilly? Você pode tornar tudo
isso real se você apenas disser sim. Justin se importa com você
ou ele não teria pedido para você se casar com ele. — Ele parou
por um momento. — Você o ama?
Ela levantou a cabeça para olhar para ele, sua mente
girando. As palavras de Lady Bea vieram a ela de uma conversa
distante. Quando o pensamento de estar sem ele lhe traz uma
angústia incomensurável... então minha querida, você está
apaixonada.
— Sim —, disse ela em voz trêmula. — Sim, eu amo.
— Então você deve estar disposta a dar uma chance. —
Ele segurou sua bochecha suavemente em sua mão. — Ele não
vai te machucar.
— Eu sei. — Ela sorriu então. — Parece que você será meu
irmão agora.
— Então, quando você vai tirá-lo da sua miséria e contar a
ele? —, Perguntou Case.
— Esta noite, eu vou dizer a ele hoje à noite. — Ela girou
alegremente. — Eu amo-o!
— Você merece ser feliz, Jilly —, ele disse suavemente,
pegando a mão dela enquanto ela girava novamente. — E agora
eu deveria te devolver ao salão de baile antes que Justin decida
me desafiar.
Ele se virou para ir, mas Jillian colocou a mão em seu
braço. Ele se virou para ela, olhando interrogativamente para
ela. — Eu só queria agradecer-lhe —, ela disse baixinho, com
os olhos brilhantes com lágrimas não derramadas. — Eu não
poderia ter suportado o ano passado sem o seu apoio.
Para sua surpresa, ela se lançou em seus braços,
abraçando-o com força. Ele a abraçou, segurando-a com força
enquanto ela o abraçava. — As pessoas estão olhando —, disse
ele, olhando por cima da cabeça para ver os outros ocupantes
da sala olhando de soslaio para eles.
— Dane-se o decoro —, disse ela, com a voz abafada pelo
sobretudo. — Sua amizade é mais importante do que o que eles
pensam.
Ele sorriu carinhosamente para ela enquanto ela se
afastava. — Venha agora. Vamos devolvê-la ao seu futuro
marido.
— Devlin! — Lady Bea chamou quando Case e Jillian
voltaram para o salão de baile. — Venha ajudar uma senhora
com o anúncio. — Ela estendeu a mão para ele enquanto se
aproximava deles.
— Eu ficaria honrado, milady —, disse Case com uma
reverência. Ele pegou a mão dela e enfiou debaixo do braço.
— Venha Jillian, este é o grande momento —, disse ela.
Jillian os seguiu até o centro do salão de baile, onde
Justin já estava de pé. Lady Bea fez sinal para a orquestra
parar. — Você faz as honras —, ela sussurrou para Case.
Case levantou as mãos. — Milordes, senhoras e senhores,
posso ter sua atenção. — A conversa parou por todos os lados,
quando todos se viraram para olhar para Case. — Tenho a
distinta honra de anunciar o noivado e o iminente casamento
de meu irmão, sua graça, o duque de Whittington, com Jillian
St. James, a anterior condessa de Penroth.
Um suspiro coletivo ecoou pelo salão de baile, seguido pelo
zumbido de conversas animadas. Lady Bea apontou para a
orquestra e os primeiros acordes da valsa encheram a sala.
Justin puxou Jillian em seus braços, e a multidão de pessoas
recuou para dar espaço para o casal dançar.
Case sorriu quando os dois deslizaram pelo salão. Eles
eram um casal marcante. As mulheres observaram com inveja
enquanto Justin olhava adoravelmente para Jillian, e os
homens olhavam apreciativamente para Jillian.
Um lacaio apareceu ao lado de Case e entregou-lhe um
pedaço de papel dobrado. — Meu senhor, isso chegou para
você um momento atrás.
Case abriu a missiva e leu o conteúdo. Ele dobrou o
bilhete, colocou-o no bolso do casaco e atravessou a multidão
mais uma vez.

###

— Justin, eu devo falar com você esta noite —, disse


Jillian enquanto os dois giravam em torno do salão.
— Estou ansioso por isso —, ele murmurou, um brilho
malicioso em seus olhos.
— Você vai me ver no meu quarto depois do baile, sua
graça? —, ela perguntou maliciosamente.
— De fato, milady, sou sempre seu fiel servo.
— Oh, eu vou lembrar disso, sua graça.
— A dança termina, milady. É hora de encarar a alta
sociedade.
Eles foram imediatamente cercados por cumprimentos e
uma enxurrada de parabéns. Quando finalmente conseguiram
chegar à mesa de refrescos, Lady Bea estava esperando por
eles, um olhar preocupado em seu rosto.
— Lady Bea, algo errado? — Jillian perguntou.
Lady Bea olhou para Justin. — Sua graça, Lorde Case veio
até mim há pouco para dizer que estava indo embora. Disse
que havia algo que ele deveria atender, mas quando ele se virou
para sair, isso caiu do colete. — Ela estendeu um pedaço de
papel dobrado para Justin ler.

Eu encontrei Granger. Encontre-me na doca da East Street


à meia-noite.
Creio que tenho outras informações que você achará
valiosos.
John Carston

— É do investigador da Bow Street que contratamos —,


disse Justin, com um olhar sombrio no rosto.
— Por que ele iria sozinho? — Jillian perguntou, com
medo apertando seu estômago. Lady Bea estendeu a mão e
segurou a dela em conforto.
— Acho que ele não queria interferir em nossa noite. Eu
não gosto disso, — ele disse franzindo a testa. — Querida, eu
vou atrás dele. Vou mandar um lacaio levá-la ao seu quarto
assim que o baile acabar e ficar de guarda do lado de fora da
sua porta.
— Não se preocupe comigo —, disse ela rapidamente. —
Você deve se apressar se quiser alcançá-lo.
Ele beijou a mão dela e rapidamente se dirigiu para a
porta, deixando Jillian ao lado de Lady Bea.
— Venha, minha querida, tente não se preocupar. — Ela
pegou o braço de Jillian e levou-a até onde estavam Lady
Cecilia, Lady Burlington e Adela Farnsworth. Elas ofereceram
seus parabéns para Jillian e imediatamente começaram um
comentário sobre os participantes do baile.
Jillian tentou prestar atenção ao que as senhoras estavam
dizendo, mas seus pensamentos estavam centrados em Justin
e Case. Quando Lorde Munsford se aproximou dela para uma
dança, ela tentou se desculpar, mas Lady Bea a empurrou para
frente. — Vá, minha querida. Isso tirará sua mente de outros
assuntos.
Relutantemente, permitiu que Lorde Munsford a
conduzisse ao salão. Ela sorriu brilhantemente e respondeu
apropriadamente à sua conversa. Ele era espirituoso e
encantador, e no final da dança, ela conseguiu relaxar.
Quando a última nota parou, uma voz familiar soou atrás
dela. — Eu acredito que a próxima dança é minha, Lady
Penroth.
Ela congelou, arrepios de apreensão escorrendo por sua
espinha. Ela se sentiu quente, depois fria, e a bile subiu em
sua garganta. Suas palmas ficaram suadas. Querido Deus, não
poderia ser! Ela se virou lentamente, seu pavor crescendo a
cada fôlego. Finalmente, ela parou e então olhou nos olhos do
próprio Satanás. O salão inteiro ficou em silêncio, e então um
zumbido horrível começou a soar em seus ouvidos.
— Felizmente para mim, voltei quando consegui, querida.
Não faria bem a você se casar com outro homem.
— Você está morto —, ela sussurrou quando a escuridão a
superou.
Capítulo Vinte e Dois
Lucas a pegou quando ela caiu. Cadela idiota, sem querer,
tornara as coisas muito mais fáceis para ele. Ele teve o cuidado
de manter suas emoções sob controle quando se virou para a
multidão de pessoas que se aglomeravam ao redor. — Milady
foi dominada por sua alegria ante o meu retorno —, disse ele
sorrindo amplamente aos seus pares.
Ele a pegou e começou a empurrar as pessoas
surpreendidas. — Abram caminho! Ela precisa de ar.
A multidão se separou, uma mistura de choque e interesse
em seus rostos. Ele caminhou rapidamente em direção à porta,
ansioso para escapar de seus olhares inquisitivos. Assim que a
porta estava ao alcance, Lady Bea e mais três mulheres
correram para impedir sua saída.
Lady Bea elevou-se em sua imponente estatura e ficou
parada com as outras mulheres. — Lorde Penroth, como ela
tem residido comigo nestas últimas semanas, você pode levá-la
à sala de estar e eu chamarei o médico.
— Não precisa —, ele disse. — Minha esposa e eu
precisamos de privacidade para a nossa reunião.
— Lorde Penroth, insisto! Ela deve permanecer aqui. Estas
são circunstâncias altamente incomuns.
— Retire-se, sua velha bruxa —, disse ele em uma voz
perigosamente baixa. — Se não o fizer, eu mesmo vou tirar
você.
As senhoras empalideceram. — Olhe só! — Lady Cecilia
gaguejou.
Aproveitando-se de sua incerteza, ele acotovelou-se por
elas. Uma vez fora, ele gritou uma ordem ao lacaio para
arranjar sua carruagem. Ele ficou furioso porque um homem
de sua posição tinha sido forçado a chegar em uma carruagem
de aluguel. Pior, ele teve que passar pelo mordomo, já que não
tinha convite.
Ele olhou com desprezo para Jillian. Era tudo culpa dela,
mas ela pagaria pelo sofrimento dele.

###

Justin correu pela orla na direção da East Street. O vento


estava muito frio esta noite, e a única iluminação era de fracas
lâmpadas de rua. À frente, ele viu o contorno de dois homens e
esperava que fossem Case e o investigador. Ele tocou a pistola
em sua jaqueta, por via das dúvidas.
Quando se aproximou, os dois homens ergueram os olhos
com cautela, e viu aliviado, que era de fato Case.
— Justin! O que você está fazendo aqui?
— Eu queria ter certeza de que você estava seguro —,
disse ele severamente. — Isso foi uma coisa imprudente de se
fazer, vir aqui sozinho. Você deveria ter me contado sobre seus
planos.
— Granger está morto —, disse Case categoricamente. —
Nós o encontramos com a garganta cortada.
— Há mais que você deve saber —, disse Carston com
urgência. — O que eu vou dizer pode soar inacreditável se eu
não tivesse visto com meus próprios olhos. Granger estava no
navio que afundou, e ele não foi o único sobrevivente.
Um nó começou a se formar no estômago de Justin.
— Lorde Penroth não pereceu como foi assumido. Ele e
Granger sobreviveram e conseguiram voltar para a Inglaterra
há alguns meses. Granger, agindo sob as ordens do conde,
começou a perseguir Lady Penroth, e suponho que ele também
estivesse por trás dos atentados a sua vida.
— Oh, meu Deus —, Justin sussurrou quando ele e Case
trocaram olhares de horror. — Preciso voltar para Jillian. Eu a
deixei no baile com Lady Bea.
Ele e Case correram pelo beco até a carruagem de Justin.
A volta para a mansão de lady Bea parecia interminável. Case
não parecia menos preocupado. — Cristo! O que vamos fazer,
Justin? Isso certamente muda tudo.
— Isso não muda nada —, Justin disse categoricamente.
— Eu não vou deixar esse bastardo perto de Jillian. Eu mato
ele primeiro.
A carruagem não havia parado antes que Justin saltasse e
subisse correndo os degraus da casa de Lady Bea. Estava
assustadoramente silencioso e estranhamente desprovido de
convidados. Ele só tinha ido há duas horas. As festividades
ainda deveriam estar em pleno andamento.
Então Lady Bea apareceu diante dele, seu rosto manchado
de lágrimas fazendo seu coração parar de desânimo.
— Eu tentei pará-lo —, disse ela chorosamente. — Mas ele
a levou embora. Ele está vivo. O marido dela está vivo.
— Onde ele a levou? — Justin exigiu, pânico ameaçando
dominá-lo.
— Eu não sei, sua graça —, disse ela trêmula. — Ele a
carregou para uma carruagem.
— Carregou?
— Ela desmaiou quando o viu, e ele a levou para fora.
Justin xingou e se virou para Case. — Onde ele iria? Onde
ficava sua casa em Londres?
— Implorando seu perdão, sua graça —, um lacaio
próximo interrompeu. — Ele estava em uma carruagem
alugada.
— Vamos lá, Case, temos que encontrar o cocheiro dessa
carruagem —, Justin disse com urgência. — Se ele a ferir... —
Ele parou, sufocando-se nas palavras.
— Nós vamos encontrá-la —, disse Case com firmeza.

###

Jillian abriu os olhos lentamente. Teria sido um sonho? A


consciência de seu entorno começou a despontar. Ela estava
deitada no assento de uma carruagem, o balanço e a oscilação
dizendo que eles estavam em movimento.
Ela fechou os olhos novamente, não querendo alertá-lo
para o fato de que ela estava consciente. Lágrimas quentes
picaram suas pálpebras e uma sensação de desespero ameaçou
dominá-la enquanto ela digeria os eventos da última hora. Com
que rapidez as coisas mudaram.
Há poucos momentos, ela tomou a decisão de se casar
com Justin e dizer que o amava. Agora não importava. Em um
instante, toda a sua vida foi suspensa. Foram-se os sonhos de
uma vida com Justin. Ela poderia nunca mais vê-lo novamente
e nunca disse a ele que o amava. Uma única lágrima deslizou
por sua bochecha.
— Chorando por seu amante?
Ela se encolheu. A voz que ela rezara para nunca mais
ouvir novamente agrediu seus sentidos. Dor lancinante agarrou
seu couro cabeludo quando a mão dele envolveu seu cabelo e a
puxou para cima em uma posição sentada.
Ele parecia mais malvado do que nunca. Sua provação no
mar alterou suas feições e endureceu seu rosto. O rosto que a
encantou tão facilmente há muito tempo.
— O que você tem a dizer em sua defesa? — Ele exigiu,
seus olhos brilhando de raiva.
Ela permaneceu em silêncio, olhando para ele, recusando-
se a ser intimidada.
Ele levantou a mão e deu-lhe um tapa cruel no rosto com
as costas das mãos. — Responda-me, puta!
Sua cabeça foi para trás e ela soltou um grito de dor. Ela
segurou a bochecha machucada na mão e olhou para ele com
todo o ódio que ela nunca permitira que ele visse antes.
— Quebrar você será muito mais gratificante desta vez —,
disse ele, com um brilho satisfeito nos olhos.
— Por que você está aqui? — Ela perguntou, afastando a
mão do rosto. — O que você quer?
— Dinheiro, é claro —, ele disse levianamente. —
Infelizmente, você não teve a decência de morrer no acidente de
carruagem, e Granger tinha uma mira terrível. Desde que você
demonstrou uma notável capacidade de evitar a morte, não tive
escolha senão retomar nosso casamento. Pelo menos até
recuperar todos os fundos e me desfazer de você
adequadamente.
Suas palavras enviaram um calafrio pelas costas dela. Ele
admitiu casualmente tentar matá-la e a sua intenção de se
livrar dela. Ela sufocou um soluço. Ela não permitiria que ele
visse o quão assustada ela estava, nunca mais.
— Você não tem dinheiro, Lucas, ou se esqueceu?
Ele bateu nela novamente, partindo seu lábio desta vez. —
Trate-me corretamente ou você esqueceu minhas exigências?
— Não, milorde —, ela sussurrou pelo seu lábio latejante.
— Está melhor. Você me diverte, Jillian. Você não tem
dinheiro. Tudo se tornou meu quando você se casou comigo.
Você entregará os fundos que roubou da minha propriedade
imediatamente.
Ela riu sem alegria. — Você gastou tudo, milorde. Pergunte
aos seus advogados. Após sua morte, recebi dinheiro suficiente
para pagar pequenas quantias aos seus empregados e comprar
minha casa.
Seus olhos se estreitaram com fúria. — Você mente, puta.
Eu sei sobre a herança que você recebeu. Eu vi seu estilo de
vida, a carruagem que você comprou e as roupas que você
veste. Eu não sei onde você escondeu o dinheiro, mas você vai
entregá-lo para mim.
— Pergunte aos seus advogados se você não acredita em
mim —, ela disse cansada.
— Eu não me importo com o que os malditos imbecis
dizem —, ele sibilou. — Você pode tê-los enganado, mas eu não
sou idiota. Eu sei que você escondeu isso de alguma forma.
— Onde você está me levando? — Ela perguntou. Eles
estavam viajando há algum tempo e estava escuro demais para
distinguir a paisagem que passava.
— Para algum lugar privado, meu amor. Eu não quero que
ninguém interrompa nosso reencontro.
O medo tomou conta dela e ela fechou os olhos contra a
tentação de gritar. Justin viria buscá-la? A carruagem parou e
ela olhou para Lucas. Ela odiava o quão patética ela soaria,
mas ela tinha que tentar qualquer coisa para levá-lo a deixá-la
ir. — Milorde, se você recebesse esse dinheiro... você me
libertaria? Você teria o que mais deseja.
Seus olhos brilhavam em triunfo. — Então, há dinheiro. —
Ele agarrou seu braço e arrastou-a da carruagem.
Ela estremeceu ao ver a imponente casa cinzenta diante
dela. Penroth. O próprio nome evocava imagens do inferno.
— Não haverá barganhas. Você me fez motivo de chacota
de Londres com suas palhaçadas. Você permanecerá minha
esposa até o momento em que eu me cansar de você. — Ele a
arrastou para a porta e para o corredor escuro e úmido.
Penroth estava fechado há quase um ano. O ar estava
mofado, os pisos empoeirados e os móveis cobertos com
grandes lençóis. Teias de aranha pendiam dos candelabros e
pontilhavam os cantos da grande sala. Algumas velas já
estavam acesas, um testemunho de sua presença anterior na
casa. Ela estremeceu involuntariamente. A casa oferecia pouca
proteção contra o frio do lado de fora.
Ele a empurrou escada acima e entrou no quarto
principal, fechando a porta firmemente atrás deles. Uma
lamparina a óleo estava na mesinha perto da janela, a luz fraca
fazia pouco para iluminar o grande cômodo.
A vela que Lucas segurava lançou uma luz maligna sobre
seu rosto, fazendo-o parecer ainda mais sinistro. Ele colocou-a
ao lado da cama e se virou para encará-la. — Agora, Jillian, me
diga o que eu quero saber.
— Não há dinheiro, Lucas, como seus advogados sem
dúvidas já lhe disseram, senão você não estaria agindo com
tanto desespero.
Os músculos de sua bochecha se contorciam
espasmodicamente. Ele levantou a mão e a atingiu tão
cruelmente que ela caiu no chão. — Você mente —, ele cuspiu,
de pé sobre ela.
— Não há dinheiro —, ela sussurrou.
Ele a chutou de lado e um grito de agonia escapou de seus
lábios inchados. Ela fechou os olhos contra a dor e lutou para
manter a náusea à distância. Ele agarrou-a pelo cabelo
novamente e puxou-a para cima.
Ela se levantou trêmula, oscilando instavelmente na frente
dele. Ele acariciou sua bochecha, correndo os dedos ao longo
da curva de sua mandíbula. — Cadê? Eu verifiquei com seus
advogados. Segundo eles, você tem apenas algumas centenas
de libras, mas seu estilo de vida reflete uma renda mais
substancial. Onde você escondeu a herança?
Ela lambeu o lábio latejante, o gosto metálico de sangue
em sua língua. Seria tão fácil dizer-lhe qual banco abrigava
seus fundos, mas isso não lhe daria nada. Não, ela não cederia
a ele. Ela o olhou diretamente nos olhos. — Vá para o inferno!
Seu rosto se contorceu com fúria e ele atacou, golpeando-a
no rosto novamente. Ela teria caído, mas ele a pegou,
impiedosamente a arrastando de volta para ele. Duas vezes
mais ele a atingiu, jogando a cabeça para trás com a força de
seus golpes.
Ela mal podia ver pelo olho esquerdo agora. A pálpebra
estava quase fechando de tão inchada. Seu vestido cedeu
quando ele arrancou a pele de seus ombros, e então ele rasgou
o corpete. Uma onda de desespero tomou conta dela e lágrimas
queimaram seus olhos.
Um sorriso predatório curvou seus lábios quando ele
estendeu a mão e acariciou seus seios nus. — Devo mandar
chamar Wisecoff e Loring? Talvez eles possam me ajudar a
fazê-la mudar de ideia.
Seu estômago se apertou e ela recuou em repulsa. Ele riu
suavemente e continuou seu ataque em seus seios enquanto
sua outra mão foi para suas calças.
Quando ele tirou suas calças, ele a empurrou para a
cama, mas algo dentro dela estourou. Ela não podia se
submeter ao abuso dele, nunca mais. Ela morreria primeiro.
Levando o joelho, ela bateu violentamente na virilha dele.
Ele uivou em agonia e ela teve o prazer de vê-lo cair no
chão se contorcendo de dor. Ela o chutou no queixo, ignorando
a dor que causou ao pé dela. Apressadamente, ela correu para
a porta, e ela gritou de frustração quando a encontrou
trancada.
Ela correu de volta para onde estava a calça e procurou
freneticamente nos bolsos pelas chaves. Ela agarrou o metal
frio da chave, assim como uma mão dolorosamente agarrou a
parte de trás do seu pescoço.
— Sua puta maldita! — Ele gritou quando a jogou na
cama. Ele subiu em cima dela, descendo golpes em seu corpo.
— Deveria te matar por isso! — Saliva rodeava seus lábios e
seu rosto estava manchado de raiva.
Ele puxou os braços dela acima da cabeça e procurou pelo
vestido que estava no chão. Colocando o tecido em seus dentes,
ele rasgou uma longa tira com a mão livre e então amarrou as
mãos dela na cabeceira da cama.
Levantando-se da cama, ele caminhou até a grande janela
e abriu-a, uma rajada de ar gelado entrando. — Vamos ver se
você se sente diferente depois de algumas horas no frio.
Enquanto isso, vou buscar Wisecoff e Loring. Eles
provavelmente não tiveram acesso livre ao seu corpo. — Ele riu
maldosamente.
Jillian o olhou em silêncio, sua visão embaçada pelo
inchaço nos olhos, o sangue do nariz e da boca se misturando
com as lágrimas. Ele saiu do quarto, trancando a porta atrás
dele.
Não havia necessidade. As amarras que seguravam as
mãos dela eram apertadas, e ela não tinha forças para se
erguer. Lágrimas quentes deslizaram por suas bochechas
surradas enquanto sua pele ficava cada vez mais fria da noite
brutal.
Capítulo Vinte e Três
Justin estimulou sua montaria, forçando-o a velocidades
impossíveis. Ele e Case haviam se separado em busca do
condutor da carruagem e, depois de uma eternidade, Justin o
localizara e virara seu cavalo de Londres em direção a Penroth.
Ele não se permitiria pensar no que o bastardo já poderia
ter feito a Jillian. Tudo o que importava era que ele chegasse a
ela imediatamente. Por que ele não disse a ela que a amava?
Maldito seja seu orgulho.
Ele se inclinou para frente, instigando o cavalo mais
rápido. Finalmente ele viu os portões de Penroth, e ele subiu o
caminho sinuoso até a porta da frente. Deslizando de sua
montaria, subiu correndo os degraus e invadiu a casa,
procurando descontroladamente por Jillian.
A casa estava quieta... muito quieta. Ele estava atrasado?
Ele subiu correndo as escadas e abriu as portas enquanto
corria pelo corredor. No final, ele encontrou uma porta
trancada. Ele sacudiu a maçaneta, mas não teve sucesso em
abri-la. Uma pequena lasca de luz brilhava por baixo da porta.
Alguém esteve aqui.
Ele jogou o ombro contra a porta repetidamente, sua raiva
alimentando sua força. Finalmente ela cedeu, estilhaçando-se e
depois colidindo contra a parede. Ele correu para o cômodo
despreparado para o frio implacável que o encontrou.
O corpo nu de Jillian estava deitado na cama, com as
mãos amarradas e os joelhos dobrados como se buscasse
desesperadamente calor. O medo apertou seu coração
enquanto se aproximava de sua figura imóvel. Ele estendeu
uma mão trêmula e afastou o cabelo que cobria o rosto dela,
com medo de descobrir que já era tarde demais e que ela não
estava mais viva.
Ele recuou horrorizado quando viu seu rosto
ensanguentado e machucado. — Oh, meu Deus, Jillian, meu
amor. — Desajeitadamente, ele libertou as mãos dela, lágrimas
o cegando. Sua pele estava gelada e fria, tão fria. Ele a pegou
em seus braços, engolindo os soluços presos em sua garganta.
O que Penroth fez com ela?
Ele alisou o cabelo de seu rosto inchado. — Jillian —, ele
sussurrou. Deus, ela estava tão fria. Ele arrancou o casaco e
envolveu-a cuidadosamente, a raiva fluindo através dele ao ver
os grandes hematomas marcando seu corpo.
Ela gemeu baixinho enquanto ele a movia. — Querida,
você pode me ouvir?
Ela abriu os olhos, as pálpebras inchadas mal abertas.
Seus lábios se moviam como se ela estivesse tentando falar.
— Shhh, minha querida, não tente falar. — Sua voz falhou
quando lágrimas correram pelas bochechas dele.
— Justin —, ela sussurrou. — Eu...eu... — ela fechou os
olhos, o esforço de tentar falar excessivo a ela.
Ele enterrou o rosto no cabelo dela e chorou.
Suavemente para não machucá-la ainda mais, ele a
reuniu contra seu peito e levantou-a. Ele puxou o casaco mais
apertado em torno de sua pele nua e, em seguida, pegou um
dos lençóis da cama e o embrulhou ao redor dela.
Eles estavam a uma hora de Londres a uma velocidade
vertiginosa. No ritmo que ele teria que viajar, ele levaria três.
Ele não tinha certeza se ela poderia fazer a árdua jornada a
cavalo. Se ela tivesse quebrado costelas, a viagem poderia
piorar sua condição.
Não tendo alternativa, ele foi forçado a arriscar levá-la a
cavalo. Ele manteve o cavalo andando devagar, sua frustração
aumentando a cada quilômetro. Ele teve o cuidado de não
seguir a estrada principal, para o caso de Penroth retornar, o
que só diminuiu a velocidade deles.
Algumas vezes Jillian acordou e lutou contra ele, e ele a
acalmou, assegurando-lhe que ela estava segura. Ela tentava
falar, mas não conseguia reunir forças. Ele beijou seu cabelo
escuro, total impotência atormentando-o. Por que ele não
trouxe sua carruagem? Ele só estava preocupado em alcançá-la
o mais rápido possível.
As primeiras faixas de luz estavam marcando o céu do
leste quando Justin entrou no portão de sua casa em Londres.
Ele saltou do cavalo e deu dois passos de cada vez. Levou
Jillian ao andar de cima até a cama mais próxima e instruiu o
lacaio a convocar o médico. Ela não recuperou a consciência
em mais de uma hora agora e sua absoluta imobilidade
assustou-o muitíssimo.
Raiva indefesa brilhou repetidamente em sua mente e
suas mãos tremiam quando ele gentilmente banhou seu rosto
inchado, quase irreconhecível sob as contusões roxas e sangue
seco. O médico chegou rapidamente e ficou horrorizado com a
condição de Jillian. Ele empurrou um relutante Justin do
quarto para que ele pudesse fazer seu exame.
Edward o esperava quando ele saiu, preocupação gravada
no rosto do homem mais velho. — Sua graça, Lorde Penroth
está exigindo ver você. O magistrado está com ele. Eu disse a
eles que você estava deitado, mas eles são muito insistentes.
— Bem pensado —, Justin disse, mal conseguindo
controlar o impulso de descer escada abaixo e desmembrar
Penroth, pedaço por pedaço. Ele rapidamente se enfiou em seu
guarda-roupa e agilmente trocou de roupa como se tivesse
acabado de ser despertado.
Ele caminhou arrogantemente pelas escadas até a sala
onde Penroth e o magistrado aguardavam. — Qual é o
significado disso? — Ele exigiu, fixando os dois com um olhar
frio.
O magistrado se contorceu desconfortavelmente. —
Minhas desculpas, sua graça, mas Lorde Penroth instaurou
uma queixa de sequestro contra você.
Justin levantou uma sobrancelha imperiosamente. —
Essa é uma acusação séria, de fato. Por favor, diga, quem eu
supostamente sequestrei?
— Você sabe muito bem que ela está aqui! — Penroth
explodiu, com o rosto vermelho de raiva. — Ainda a pouco, você
ficou noivo da minha esposa e agora ela desapareceu.
— Se você é incapaz de manter controle de sua esposa, eu
não consigo ver como isso é o meu problema.
O magistrado parecia cada vez mais desconfortável a cada
minuto. — Se você pudesse responder algumas perguntas, sua
graça, nós podemos seguir nosso caminho.
— Pergunte então.
— Lady Penroth está aqui?
— Não, não está —, ele respondeu calmamente.
— Você viu Lady Penroth desde o baile da noite passada?
— Não. Agora, se isso é tudo...
— Eu exijo que revistemos a casa! — Penroth gritou.
— Você exige? Você não está em posição de exigir nada.
Você invade minha casa sem ser convidado e aponta acusações
infundadas contra mim. Minha paciência está sendo muito
testada. Retire-se da minha casa antes que eu te jogue fora.
— Obrigado, sua graça. Minhas desculpas por incomodar
você. — O magistrado virou-se para a porta, mas Penroth olhou
descontroladamente para Justin. — Eu vou pegá-la de volta,
Whittington. Não há lugar onde você possa escondê-la. Não vou
descansar até tê-la de volta comigo.
Justin reprimiu sua resposta, cerrando os punhos
enquanto Penroth pisava furiosamente atrás do magistrado.
Deus, como lhe custou não bater Penroth contra o chão. Ele se
virou e bateu com o punho na parede, ignorando a dor que
serpenteava por seu braço.

###

Case encontrou Justin em seu escritório caído sobre a


mesa, com o rosto enterrado nas mãos. — Justin —, ele
perguntou, com medo de que notícias ele poderia partilhar.
Justin levantou a cabeça e olhou sombriamente para ele, e
Case viu que ele esteve chorando. Seus olhos estavam
vermelhos e o desespero absoluto se refletia em suas
profundezas.
— Como ela está? — Ele perguntou suavemente.
— Ele a espancou —, disse Justin sem rodeios. —
Provavelmente a estuprou. Eu a encontrei amarrada na cama,
espancada e ensanguentada.
Case tentou respirar em torno da emoção que sufocava
sua garganta. — Onde ela está?
— O médico está examinando-a agora.
Case sentou-se diante do fogo e olhou para as chamas. —
O que você vai fazer? — Ele perguntou baixinho.
Justin apareceu ao lado dele, sentando na cadeira ao lado
dele. — Penroth não vai deixá-la em paz. Não a deixará ir. —
Ele passou a mão dormente pelos cabelos. — Eu pensei em tê-
la se divorciando dele e casar com ela quando ela estivesse
livre, mas ela nunca estaria livre dele. Ele já esteve aqui
procurando por ela. Ele jurou tê-la de volta e eu acredito nele.
Ele é louco o suficiente para dedicar sua vida a recuperá-la...
para puni-la.
Caso engoliu convulsivamente. — Como você evitou matar
o bastardo?
— O magistrado estava com ele. Eu comprei um pouco de
tempo, mas preciso tirar Jillian de Londres o mais rápido
possível.
— Você tem um plano?
— Tenho —, Justin disse sombriamente. — Jillian e eu
vamos embora assim que ela puder viajar.
Um sentimento desconfortável agarrou seu peito. — Onde
você irá?
— Não será temporário —, disse Justin, olhando
atentamente para ele. — As coisas não serão fáceis para você
aqui. O escândalo será enorme, mas não posso permitir que
Jillian fique à mercê dele novamente. Eu a amo e, se não puder
casar com ela, estaremos pelo menos juntos.
— Onde você vai? — Case perguntou novamente, sentindo
o desejo de chorar sozinho. O pensamento de perder as duas
pessoas que ele mais amava o paralisou. A tristeza fez seu peito
doer.
— Cornwall —, Justin respondeu. — Para uma pequena
vila à beira-mar. Nós vamos ter uma casa lá. Whittington está
fora de questão.
Sua voz estava carregada de pesar, e Case estava apenas
começando a entender do quanto seu irmão desistira, levando
Jillian embora. Ele seria forçado a deixar sua casa e tudo o que
ele amava.
— Não podemos viajar para o continente ou para a Índia
em sua condição —, continuou ele. — Ela vai precisar de tempo
para se recuperar.
Case observou seu irmão, notou a devastação total que
emanava de cada palavra que ele pronunciava, refletida em
cada movimento. Ele estendeu a mão e colocou-a em seu
ombro, sabendo o que ele estava pensando. — Papai ficaria
orgulhoso de você.
Justin olhou para cima, seus olhos ardentes de emoção.
— Ele ficaria? Não posso decidir o que é pior... o fato de que
estou indo contra tudo que fui criado a acreditar, ou que não
me importo.
— Papai nos ensinou a ser honrosos em todas as coisas
—, disse Case. — Virar as costas para Jillian e permitir que
Penroth a levasse seria a coisa mais desonrosa que eu poderia
imaginar.
— Honroso ou não, não é algo que eu vou permitir —, ele
prometeu.
— Vou sentir a falta de vocês dois —, disse Case, com a
voz embargada. — Perder meu irmão e minha amiga mais
querida... não dá para imaginar.
— Você a amava.
Não era uma pergunta. Era uma simples verdade
pronunciada. Case fechou os olhos brevemente, mas não havia
sentido em negar. — Eu a amei desde o momento em que ela
entrou na minha carruagem.
Ele se levantou com agitação e serviu uma bebida. — Mas
—, ele continuou, — o que ela precisava era de um amigo e eu
não lamentei nenhuma vez minha amizade com ela.
— Ela também ama você, sabe —, disse Justin.
Case sorriu levemente. — Sim, ela ama, mas ela te ama
mais. O que ela sente por mim não se estende além dos limites
da amizade. Ela é uma mulher especial, Justin. Cuide bem
dela.
Os dois homens olharam para cima quando o médico
entrou. — Como ela está? — Justin perguntou, levantando-se
rapidamente de seu assento.
— Quem fez isso a ela deveria ser enforcado —, disse o
homem mais velho enquanto ajustava seus óculos. — É uma
vergonha absoluta. — Ele balançou a cabeça e pegou a bolsa
na mão. — Ela está descansando agora. Dei-lhe uma grande
dose de láudano. Ela parecia estar com muita dor. Eu enfaixei
suas costelas. Ela certamente tem pelo menos uma quebrada,
se não mais.
— Quanto tempo até ela pode viajar? — Justin perguntou.
— Viajar? Meu bom homem, ela não deve sair da cama por
pelo menos uma semana.
— Eu não tenho uma semana —, disse Justin em
frustração. — Eu tenho que movê-la o mais rápido possível.
Sua segurança está em jogo.
O médico levantou uma sobrancelha espessa. — Se você
realmente deve movê-la, ela deve ir por maca. Você deve tomar
cuidado extra para não causar mais danos às costelas. Ela
deve estar o mais imóvel possível pelas próximas semanas. Sem
excitação, movimentos mínimos. Agora, se me der licença,
tenho outros pacientes para ver.
— Obrigado por vir tão rapidamente —, disse Justin.
Ele se virou para Case enquanto o médico saía da sala. —
O que nós faremos? Nós não temos uma semana a perder.
Penroth provavelmente estará de volta amanhã com um
mandado de busca nas instalações. Não podemos movê-la para
sua casa ou para a de Lady Bea. Ele procuraria por ela lá. Por
falar nisso, como diabos tiramos Jillian daqui de maca sem
ninguém nos ver?
— Vamos pensar em algo —, disse Case em uma voz
determinada.
###

Justin entrou no quarto onde Jillian estava deitada e


parou por um momento, observando a suave subida e descida
de seu peito e ouvindo os sons suaves de sua respiração. Ele
puxou uma cadeira para o lado da cama e sentou-se, tomando
a mão flácida na dele. — Deus, Jillian, eu sinto tanto —, disse
ele, colocando a palma da mão contra a bochecha dele.
Seu rosto estava inflamado e negro das muitas contusões.
Seu olho esquerdo estava inchado e ele duvidava que ela
pudesse abri-lo se quisesse. Há pouco tempo ele planejara sua
vida com ela como sua noiva, sua duquesa. Agora eles seriam
forçados a fugir de Londres em desgraça, forçados a viver uma
mentira, qualquer criança que tivessem... bastardos.
Caberia ao Case fornecer um herdeiro ao ducado. Seus
filhos nunca poderiam herdar. Ele aceitaria essas condições, no
entanto, se isso significasse ter Jillian, e que ela estaria segura.
Ele se levantou e vagarosamente se abaixou na cama ao
lado dela. Enfiando a mão dela sob o queixo, ele cansadamente
fechou os olhos.
Capítulo Vinte e Quatro
— Sua graça... sua graça!
Justin saiu lentamente da neblina que rodeava sua
cabeça. Ele piscou rapidamente, tentando se orientar. —
Edward, é você?
— De fato, sua graça.
Ele se afastou lentamente de Jillian para não acordá-la.
Esfregou o rosto com cansaço. — Que horas são?
— Quase quatro horas, sua graça. Eu te acordei porque
Lady Dunberry está aqui, e ela parece muito angustiada. Lorde
Case está na sala de estar com ela.
— Obrigado, edward, informe a sua senhoria que eu
estarei logo lá.
Ele arrastou uma mão cansada pelo cabelo amarrotado
em uma tentativa de se tornar mais apresentável. Depois de
um rápido olhar para Jillian, desceu as escadas correndo para
cumprimentar lady Bea. Ele entrou na sala de estar para ver
Edward servindo chá para a viúva.
Quando ela o viu entrar na sala, ela se levantou e correu
para frente, com as mãos estendidas. — Sua graça, eu tenho
estado prostrada de preocupação —, disse ela chorando
enquanto ele pegava suas mãos. — Diga-me, como ela está?
— Ela está descansando. Obrigado pela sua preocupação,
milady. — Ele a acompanhou de volta ao seu assento ao lado
de Case, e sentou-se na frente deles.
— Eu deveria tê-lo parado —, disse ela, torcendo as mãos.
Ela pegou um lenço de sua bolsa e enxugou os olhos. — Se eu
o tivesse parado, isso nunca teria acontecido.
— Você não deve se culpar. — Case gentilmente pegou a
mão dela. — Não havia nada que você pudesse ter feito.
— Se alguém é culpado, sou eu —, Justin disse
calmamente. — Eu nunca deveria tê-la deixado sozinha.
— O que você vai fazer? — Lady Bea perguntou.
— Jillian e eu estamos saindo de Londres assim que ela
puder viajar.
— Não está certo! —, Disse ela, batendo o pé no chão.
Os dois homens a olharam surpresos.
— Não é certo que você e Jillian tenham que fugir de
Londres por razões de segurança, enquanto aquele canalha,
Penroth, permanece aqui nas boas graças. — Ela ficou
indignada, o chapéu de plumas de avestruz balançando
precariamente na cabeça. — Terei muito prazer em afastá-lo
dos círculos educados. Quando eu terminar, não haverá uma
sala em que ele seja bem-vindo.
Case riu. — Você pode contar com minha ajuda. Eu
pretendo ter certeza de que ele permaneça tão pobre como ele é
atualmente. — Ele se virou para Justin. — Tomei a liberdade
de organizar a venda da mansão de Jillian para mim mesmo. É
claro que os documentos estão um pouco retocados desde a
data da venda, em novembro passado. — Ele sorriu. — Será
um grande prazer apresentar-lhe um despejo, uma vez que ele
já instalou-se lá.
Lady Bea gargalhou. — Você tem uma mente desonesta,
Devlin. Eu gosto disso! Mas, no entanto, como você conseguiu
demonstrar a data de venda no ano passado?
— Eu cobrei alguns favores.
Lady Bea virou-se para Justin. — Eu não vou retê-lo, sua
graça, mas por favor saiba que você e Jillian sempre terão meu
apoio e o apoio das mulheres do meu círculo. Se houver algo
que eu possa fazer, não hesite em me chamar.
— Você tem meus agradecimentos, milady. Eu sei que isso
significará muito para Jillian também.
Ela se afastou apressadamente, mas não antes de Justin
ver as lágrimas não derramadas brilhando em seus olhos.
— Acompanharei você em casa —, disse Case gentilmente.
— Isso não será necessário, Devlin. Eu posso ser velha,
mas ainda sou capaz de ir sozinha para casa.
Justin sorriu ante sua ousadia. Ela saiu da sala, deixando
os homens olhando por ela.
— Elas quebraram todas as regras quando ela veio —,
disse Case com admiração.
— Elas quebraram.
Ele se sentou e olhou de volta para Case. — Eu não tenho
muito tempo. Espero que Penroth apareça de manhã com o
magistrado a reboque, e um mandado de busca na casa.
Case suspirou. — Isso representa um problema. Ele
esperaria que a mudássemos para a minha casa ou para a da
Lady Bea, então está fora de questão.
— Implorando seu perdão, sua graça, mas eu posso ter
uma solução.
Justin ergueu o olhar para ver Edward parado em silêncio
na porta.
— Há um lugar aqui que poderíamos esconder Lady
Penroth, se alguém vier procurá-la.
Justin e Case olharam curiosamente para ele. — Vá em
frente —, disse Justin.
— Seu avô era, como eu deveria dizer, um pouco recluso e,
como resultado, ficou cada vez mais paranóico em seus últimos
anos. Ele estava convencido de que os escoceses se revoltariam
novamente e invadiriam Londres, então ele tinha uma sala
secreta construída além do aposento principal. Você pode
acessá-lo através de um painel falso na parede.
— Por que eu nunca fui informado disso antes? — Justin
perguntou incrédulo.
— Seu pai não viu motivo para fazer de conhecimento
comum as idiossincrasias do seu avô e, bem, nem eu.
— Venha me mostrar esta sala —, disse Justin,
levantando-se e saindo da sala de estar.
Os três homens subiram as escadas e entraram no quarto
de Justin. Edward andou até a parede distante que dava para
os fundos da casa. Ele bateu delicadamente na moldura e no
painel ao lado e, em seguida, pressionou firmemente para
dentro. Ele lentamente cedeu, toda a seção da parede
balançando para dentro.
Case assobiou. — Bem, não acredito. O velho era maluco.
Justin se abaixou na pequena câmara, afastando anos de
teias de aranha. Um pequeno catre estava encostado na parede
oposta e ao lado havia uma pequena mesa e cadeira. Uma
única vela semi-usada pousava em seu suporte, aludindo ao
fato de que alguém havia passado algum tempo aqui há muito
tempo. — Faça com que as criadas limpem isso imediatamente
e coloquem lençóis limpos na cama. Isso funcionará
perfeitamente se Penroth aparecer novamente. Se ele não
aparecer, não a teremos removido da casa desnecessariamente.
Edward saiu para chamar as criadas, e Justin e Case
desceram as escadas. — Vou ficar com Jillian por um tempo —,
disse Justin. — Eu não quero que ela acorde sozinha. Por que
você não vai para casa e descanse um pouco?
— Acho que vou —, disse Case cansado. — Quando Jillian
acordar, diga a ela que eu vou vê-la amanhã.
Justin entrou no quarto de Jillian e retomou sua posição
ao seu lado na cama. Ele não tinha ideia de quanto tempo ele
ficou sentado observando-a dormir quando ela começou a se
mexer. — Jillian, querida, você pode me ouvir?
Seus lábios se separaram e sua pálpebra direita abriu
ligeiramente. Ela tentou falar, mas sua voz saiu num coaxar
rouco. Ele rapidamente derramou água de um jarro da mesa ao
lado de sua cama e gentilmente levantou-lhe a cabeça.
Colocando o copo em seus lábios, ele permitiu algumas gotas
em sua boca. Ele a deitou de volta e colocou o copo de lado.
— Você veio —, ela sussurrou.
— Você achou que eu não iria? — Ele perguntou trazendo
a mão dela aos lábios dele. — Você sente dores?
— Eu não sinto muita coisa —, ela murmurou.
— É o láudano. O médico deu-lhe uma dose grande.
— É ruim? — Ela perguntou.
— Não, querida, você vai ficar bem. Eu vou cuidar de você,
te deixar bem novamente. — Ele acariciou seu cabelo e apertou
a mão dela na sua.
— Onde está Lucas? — Ela perguntou, sua voz
embargada.
— Você não deve se preocupar, querida. Ele nunca mais
chegará perto de você, não enquanto eu viver.
— Mas Justin... o que faremos? Sou c..c..asada. — Uma
lágrima escapou e escorreu pela bochecha dela, e ele
carinhosamente a tirou com o polegar.
— Não se preocupe com isso, meu amor. Eu vou cuidar de
você. Agora descanse um pouco. Eu ficarei com você até você
dormir.
Logo a respiração dela encheu o quarto mais uma vez.

###

Justin acordou com um sobressalto, depois apertou os


olhos enquanto a luz do sol da manhã entrava pela janela. Ele
quase gemeu em voz alta enquanto movia a cabeça, o pescoço
dolorido e rígido da noite passada na cadeira ao lado da cama
de Jillian. Sua mão esfregou os músculos doloridos enquanto
ele se levantava e esticava as pernas. A porta se abriu atrás
dele e ele se virou para ver quem tinha entrado.
— Tomei a liberdade de trazer a você e a Lady Penroth
uma bandeja de café da manhã —, Edward disse ao colocá-la
ao lado da cama. — Eu sei que nenhum de vocês comeu desde
que chegaram aqui, e Lady Penroth deve comer se quiser
recuperar suas forças.
— Obrigado, edward —, disse Justin, olhando com
gratidão para o homem mais velho.
— A sala está pronta para Lady Penroth, se você precisar
dela. Eu, naturalmente, informarei imediatamente se Lord
Penroth chegar.
— Eu não sei o que eu faria sem você, edward.
— Não vamos tentar isso em qualquer caso, sua graça. —
Um sorriso curvou os cantos de sua boca, e ele saiu do quarto.
Justin examinou a bandeja cheia de torradas, ovos e
salsichas com um olhar faminto. Ele rapidamente devorou seu
prato e colocou a tigela de caldo de lado para esfriar por Jillian.
Quando ela se mexeu alguns instantes depois, ele deslizou
na cama ao lado dela e gentilmente levantou-a para que ele
pudesse colocar o caldo em sua boca. Ela lambeu seus lábios
ainda inchados com fome quando ele colocou a colher contra
eles. Quando ela terminou, deitou-se cansada. — Obrigada —,
ela sussurrou.
Ele deu um beijo na sua cabeça.
Edward irrompeu pela porta sem bater, uma careta
incomum no rosto. — Ele está aqui, sua graça. Eu os fiz
esperar no andar de baixo.
Justin levantou-se rapidamente. — Jillian, amor, eu
preciso levá-la para uma cama diferente e é imperativo que
você fique quieta. Você confia em mim?
Ela assentiu, e ele gentilmente a levantou da cama. Um
gemido suave passou por seus lábios quando ele foi para a
porta. — Deus, eu sinto muito, querida. Eu não quero te
machucar.
— Estou bem —, ela disse com os dentes cerrados. — Não
se preocupe comigo.
Ele correu pelo corredor até seu quarto e passou pelo
painel ainda aberto na parede. Edward acendeu a vela,
lançando uma luz suave no interior da pequena sala. Jillian foi
acomodada na cama, e então Justin e Edward recuaram
apressadamente, fechando o painel atrás deles.
Justin desceu as escadas e entrou na sala onde Penroth
estava ao lado do magistrado, batendo impacientemente sua
bota. — Senhores —, Justin disse quando ele parou na frente
deles. — A que devo a honra de uma segunda visita?
— Você sabe muito bem porque eu estou aqui —, Penroth
cuspiu, suas bochechas salientes e um olhar selvagem em seus
olhos.
O magistrado deu a Justin um olhar chateado. — Peço
perdão pela nossa intrusão, sua graça, mas lorde Penroth
insistiu para que eu procurasse nas instalações por sua
esposa.
Justin arqueou uma sobrancelha. — Eu suponho que você
tem um mandado para tal empreendimento?
O magistrado entregou a Justin um pedaço de papel, e ele
fez um show olhando cuidadosamente por ele.
— Muito bem, então —, disse ele gesticulando para o resto
da casa. — Mas seja rápido sobre isso. Minha paciência está se
esgotando.
Penroth lançou um olhar triunfante para Justin quando
ele e o magistrado saíram da sala.
Trinta minutos depois, o magistrado voltou para a sala de
visitas, onde Justin sentava-se casualmente lendo o jornal.
Penroth estava por perto, gritando obscenidades e exigindo a
prisão de Justin.
O magistrado olhou desculpando-se para Justin. — Sinto
muito por ter incomodado você, sua graça. Tenha certeza de
que não vamos incomodá-lo ainda mais. — Ele lançou um
olhar irritado na direção de Penroth. — Sugiro que se retire da
casa do duque antes que ele peça sua prisão. Sua esposa não
está aqui.
— E tenha certeza, lorde Penroth, se você alguma vez
denegrir minha porta de novo, com certeza vou mandar
prender você —, disse Justin sedosamente.
Penroth saiu da casa, jurando vingança contra a puta
infiel e seu amante.
Quando eles se foram, Justin soltou um suspiro de alívio.
A necessidade de tirar Jillian de Londres era mais urgente do
que nunca. No estado atual de Penroth, ele certamente a
mataria se a encontrasse.
Capítulo Vinte e Cinco
Os jornais da sociedade estavam cheios de relatos
chocantes do retorno de lorde Penroth e do noivado de sua
esposa com o duque de Whittington. A especulação em torno
do desaparecimento da condessa era desenfreada. Londres
estava incomumente lotada para janeiro, à medida que mais
moradores de Mayfair se reuniam, esperando testemunhar em
primeira mão o delicioso escândalo.
Lady Penroth teria fugido? Lorde Penroth a matou com
uma raiva ciumenta? Pior, o duque tinha acabado com ela?
Edward foi mantido ocupado, afastando os muitos
visitantes à casa do duque. Finalmente, eles fecharam os
grandes portões de ferro forjado, embora todos soubessem que
o duque ainda estava presente.
Lorde Penroth fez um ato digno de um marido
injustamente prejudicado. Ele gritou para qualquer um que
quisesse ouvir sua história de aflição, chegando mesmo a
acusar publicamente o duque de sequestro e adultério. Parecia
que toda Londres esperava ansiosamente pela resposta do
duque.
Lady Bea estava ocupada espalhando um pouco de fofoca
por conta própria. Ajudada por algumas das senhoras mais
estimadas da sociedade, lorde Penroth estava lentamente se
tornando o homem mais odiado da sociedade, pelo menos entre
as mulheres. Muitos dos homens simpatizavam com lorde
Penroth, embora não tivessem coragem suficiente para fazê-lo
publicamente.
Mas a conversa nos clubes de cavalheiros parecia girar em
torno do dever de obediência de uma mulher, e do direito do
marido de fazer valer essa questão. Lorde Penroth não era
bobo. Ele fomentou esses homens, esses irmãos em
matrimônio. E se as esposas deles fizessem o mesmo? Que tipo
de mundo seria se as mulheres subitamente assumissem a
responsabilidade de romper os laços do casamento, e fizessem
o que quisessem? Não, isso não funcionaria, concordaram,
sobre suas bebidas e jogos de cartas.

###

Case caminhou pelos corredores de White procurando


Penroth entre os muitos cavalheiros sentados ao redor das
mesas de jogo. — Aí está você, Penroth —, ele gritou quando ele
o viu há algumas mesas de distância.
— O que você quer, Devlin? — Ele exigiu, uma carranca
cruzando seu rosto.
— Ouvi dizer que você passou a morar na casa de Lady
Jillian, na Mount Street.
— E daí? — Ele disse carrancudo. — É a minha casa como
ela é minha esposa.
Vários ao redor dele concordaram com a cabeça.
— Bem, eu estaria completamente de acordo se fosse a
casa dela, mas como agora me pertence, devo discordar da sua
presença lá. Não tenho desejo de inquilinos.
O rosto de Penroth ficou manchado, os olhos
esbugalhados enquanto ele procurava controlar sua explosão.
— Eu não concordei com nada disso, por isso não é legal.
— Oh, mas é. — Case arqueou-se numa reverência. — Eu
me ofendo com sua sugestão de que eu faria parte de algo
ilegal. Eu comprei a residência de Jillian em novembro
passado. — Ele mostrou um documento diante do rosto de
Penroth. — Você vê, é bastante legal. Agora, eu entendo se você
não desejava vendê-la, mas como já paguei uma quantia
considerável pela propriedade, eu exigiria uma recompensa
total do preço de compra antes de renunciar à escritura.
Penroth explodiu de raiva e rasgou o documento em
pedaços, vomitando obscenidades. — Você não vai se safar com
isso, Devlin. Todo mundo sabe que ela era sua prostituta antes
de se tornar do seu irmão.
— Você vai se desculpar pelo seu insulto imediatamente
ou nomear seus padrinhos —, Case rosnou.
Penroth riu desconfortavelmente. — Eu sei o que você está
tentando fazer e não vai funcionar. Você não vai me incitar a
um duelo para que você possa se livrar de mim.
— Então eu sugiro que você mantenha seus insultos para
si mesmo —, ele avisou. — Eu não vou tolerar isso de novo,
você pode ter certeza disso.
— Você tem até amanhã de manhã para estar fora da
minha casa, ou eu vou ter você sendo jogado fora. — Ele virou-
se e saiu da sala, o som de suas botas ecoando pelo salão
agora silencioso.
Ele estava quase na porta quando uma voz o deteve. —
Devlin, um momento, por favor. — Case virou-se de surpresa.
Ele sorriu largamente quando viu um homem descansando
casualmente contra a parede do lado de fora da sala de jogos.
Ele caminhou adiante saindo das sombras.
— Hawk! Quando diabos você chegou a Londres? Justin
sabe que você está aqui?
Ele não respondeu, mas disse: — Uma grande confusão
que meu primo mais velho se envolveu, pelo que eu ouvi.
— Estou indo para a casa de Justin agora. Por que você
não vem comigo? — Convidou Case.
— Eu tenho um pouco de notícias para Justin, então sim,
eu vou junto.
Case levantou uma sobrancelha, mas Hawk permaneceu
em silêncio.
Os dois homens subiram na carruagem de Case e foram
para a casa de Justin. — Vejo que ser um segundo filho não é
completamente sem benefícios —, disse Hawk, inspecionando o
interior macio da carruagem.
Case riu. — Aqueles de nós que não nasceram na ordem
correta devem encontrar meios alternativos de acumular
riqueza.
— É isso aí —, ele murmurou, esticando as pernas pelo
espaço.
— Você esteve afastado por muito tempo, primo —,
observou Case, olhando curiosamente para o homem tão
próximo de sua idade. Hawk praticamente cresceu com ele e
Justin. Suas mães eram irmãs, e a duquesa havia acolhido sua
irmã mais nova e seu filho quando fugiram de seu marido
violento. Mais tarde ela voltou para ele, mas Hawk
permanecera em Whittington. Case não tinha certeza se Hawk
perdoara sua mãe por isso.
— Eu estive no continente a negócios —, disse ele
vagamente, olhando pela janela enquanto se aproximavam de
Park Lane.
Comunicativo como sempre, Case pensou com diversão
frustrada. Seu primo era um indivíduo complexo com uma
infinidade de segredos. Em todos os anos desde que saíram da
escola, ele seguiu seu próprio caminho, e Case foi pressionado
a dizer exatamente o que estava fazendo a cada momento. Ou
onde ele esteve, por assim dizer. — Justin ficará feliz em vê-lo
—, disse ele quando a carruagem parou.
Os dois homens entraram na casa e se instalaram no
escritório de Justin e esperaram que Edward o convocasse.
Alguns instantes depois, ele entrou, parecendo um pouco
melhor do que naquela manhã. Seus olhos se iluminaram
quando viu seu primo. — Hawk! Onde você o encontrou, Case?
Ele abraçou seu primo calorosamente. — É bom ter você
em casa, Hawk. Deixe-me pegar uma bebida e você pode me
dizer o que te traz a Londres.
— Eu trouxe algumas más notícias, receio —, ele admitiu,
aceitando a bebida que Justin serviu. — Eu estive na corte esta
manhã, tempo suficiente para ouvir as últimas fofocas.
Justin e Case trocaram olhares confusos. O que o primo
deles estava fazendo na corte?
— A notícia de todo esse caso com Penroth e sua esposa
chegou a Prinny. Muitos lordes influentes querem que ele aja
sobre isso. Eles temem que se isso for deixado de lado, enviará
a mensagem errada para as mulheres.
— Eles exerceram muita pressão e dizem que ele cedeu.
Você pode esperar que a Guarda Real apareça esta tarde para
acompanhá-lo ao palácio. Prinny quer uma audiência com
você.
— Guarda Real? — Case questionou.
— Comigo? — Justin perguntou em uma voz atordoada.
— Não vamos perder tempo —, disse Hawk, impaciente. —
Eu não vim aqui para avisá-lo para que você pudesse negar
qualquer envolvimento. Não tenho dúvidas de que você
escondeu Lady Penroth longe de seu marido bastardo. O
próprio fato de que você estava decidido a se casar com ela
antes de Penroth retornar, me diz que você estava obviamente
apaixonado por ela. Você sempre foi o único com todas as
noções românticas de se casar por amor. — Seu tom era leve,
mas carregava um toque de desprezo também.
— Ainda o cínico endurecido —, Justin disse suavemente.
— Sim, Jillian está aqui. — Ele confiava em Hawk. Ele era o
único homem além de Case em quem confiava implicitamente.
Ele não tinha ideia de como Hawk havia encontrado as
informações, mas não ia parecer mal agradecido.
— Por que diabos você está mantendo-a aqui em Londres?
— Hawk perguntou, incrédulo. — Você está querendo ter
ambos presos?
— Ela não tem estado bem o suficiente para viajar —, ele
disse baixinho. — Penroth quase a matou.
O rosto de Hawk escureceu em uma expressão assassina,
seus olhos negros disfarçando qualquer emoção que ele possa
ter sentido. — Você deve partir hoje então —, disse ele. —
Antes que a guarda de Prinny chegue. Você não pode ser
convocado se não estiver aqui.
— Que diabos é a Guarda Real? — Case exigiu. — E ele
está certo, Justin, isso pode significar muitos problemas para
você.
— Prinny tem um grupo de seguidores bem treinados que
cuidam de seus melhores interesses —, disse Hawk, meio
divertido. — Não é de conhecimento público, mas membros do
palácio os apelidaram de Guarda Real. — Ele se virou para
Justin. — Mas o importante não é quem são os capangas de
Prinny, mas tirar você e Lady Penroth de Londres.
— Eu não posso movê-la ainda —, Justin disse
teimosamente.
— Você não precisa movê-la —, disse Hawk. — Você só
tem que sair de Londres. Ninguém sabe que ela está aqui, mas
todo mundo sabe que você está.
— Eu não vou deixá-la.
— Eles estão certos, Justin, você deve ir imediatamente —,
uma voz suave soou da porta.
— Jillian! — Justin exclamou, correndo em direção a ela.
— Você não deveria estar de pé.
Hawk observou sua aparência, seu peito ficando cada vez
mais apertado, enquanto se lembrava de sua mãe e como ela
parecia no dia em que ela o pegou e correu para a segurança
da casa de sua irmã.
— Justin, não me trate assim —, ela protestou, sacudindo
o braço dele. Ela cambaleou até onde Case e Hawk estavam
sentados, e com algum esforço conseguiu se sentar à beira de
uma cadeira na frente deles.
Seu rosto pálido ainda estava coberto de hematomas e o
olho esquerdo estava quase fechado. Ainda assim, Hawk podia
ver que ela era inegavelmente uma mulher bonita e, pelo que
parecia, Justin estava completamente fascinado. Ele ficou
impressionado com sua bravata quando ela olhou para ele e
Case e exigiu saber em que tipo de perigo Justin estava.
Ele deu um suspiro. Ele os ajudaria. Não só porque Justin
era como um irmão para ele, mas a ideia de Jillian voltar para
Penroth, como sua mãe tinha sido forçada a voltar para seu
pai, revirou seu estômago.
— Jillian, amor, por favor, você deve voltar para a cama
—, insistiu Justin. — Você não deveria estar de pé.
Ela balançou a cabeça mais uma vez e se virou para
Hawk. — Você deve ser Hawk —, ela disse suavemente. — Eu o
reconheceria em qualquer lugar pela descrição de Case.
— É um prazer conhecer você, milady. Lamento nos
encontrarmos em tais circunstâncias. Mas devo concordar com
meu primo. Você não deveria estar fora da cama.
O rosto dela se contorceu com aborrecimento. — Eu não
vou voltar para a cama até que um de vocês me diga o que está
acontecendo e por que Justin está em perigo.
— Você sempre foi teimosa —, Case murmurou.
— Prinny está enviando a Guarda Real por Justin. Tenho
certeza de que ele quer interrogá-lo sobre o seu paradeiro.
— Hawk, chega! — Justin avisou, dando ao seu primo um
olhar sombrio.
Hawk não achou que fosse possível que o rosto de Jillian
ficasse mais pálido.
— Então eu devo ir —, disse ela com firmeza. — Eu vou
ver o Regente eu mesma. Vou pedir o divórcio.
— Não!
— Absolutamente não! — Os outros dois homens
exclamaram.
Ela pareceu surpresa com a veemência deles.
— Lady Penroth, agradeço sua preocupação por Justin.
Eu mesmo estou preocupado, e é por isso que estou aqui, mas
se você acha que algum de nós vai sancionar seu retorno a esse
porco, está enganada. — Ele olhou atentamente para ela. —
Nós vamos encontrar outro meio —, disse ele suavemente.
— Eu não posso... não vou permitir que Justin seja
interrogado por minha causa —, ela disse teimosamente. —
Honra é tudo para ele. Como isso vai refletir sobre ele e seu
nome?
— Você é tudo para mim, Jillian —, ele disse baixinho. —
Vamos dar um jeito.
Ela olhou para ele, surpresa escrita em suas feições.
— Eu suponho que você já tem um plano para sair de
Londres? — Hawk perguntou, olhando para Justin.
— Você supõe corretamente.
— Então o único problema que se apresenta é como tirar
você e lady Penroth desta casa e da cidade sem serem vistos.
— Exatamente —, disse Case de acordo.
Jillian olhou perplexa para os três homens. Ela se
levantou e balançou instável. Três pares de mãos estenderam-
se para firmá-la. — Justin, devemos conversar —, disse ela
com firmeza. — Parece como se você está planejando deixar
Londres comigo.
— Sim, exatamente —, disse ele, colocando um braço de
apoio em volta dos seus ombros.
— Eu não posso permitir que você faça isso —, disse ela, a
dor refletida em seu rosto.
— Minha decisão já foi tomada.
Ela virou o olhar sincero para ele, súplica em sua voz. —
Justin, você não pode. Pense no que isso vai significar. — Sua
voz cessou e ela fechou os olhos, um espasmo de dor cruzando
seu rosto.
Justin a pegou contra ele e gentilmente a colocou de volta
em sua cadeira. — Jillian, você deve voltar para a cama. O
médico insistiu que você não se movesse por mais alguns dias.
Ela assentiu devagar, mas depois voltou a olhar para
Hawk. — Prometa-me que você vai fazê-lo ir.
— Você tem minha palavra, milady.
Ela fechou os olhos com cansaço e permitiu que Justin a
levasse de volta ao seu quarto.
Edward pairava perto da porta quando Justin retornou. —
Sua graça, eu quero acompanhar você e sua senhoria quando
você for.
Justin olhou para ele surpreso. — Edward, eu não acho
que você entende. Nós não vamos voltar para Whittington.
Seremos forçados a aceitar acomodações modestas para evitar
sermos descobertos.
Edward se empertigou. — Eu ficaria mais ofendido se você
pensasse que a única razão pela qual desejo acompanhá-lo é
porque estou preocupado com meu sustento. Seu pai me
proveu muito generosamente e tenho uma boa quantia para me
aposentar. Eu nunca me perdoaria se deixasse você e sua
senhoria em sua hora de necessidade.
— Muito bem, contanto que você saiba exatamente em que
você está se metendo. Eu saúdo sua amizade.
Edward olhou para ele com horror. — Eu nunca impliquei
que seríamos amigos. Um bom mordomo serve ao seu senhor,
não importa aonde ele vá.
Justin sorriu ante seu tom escandalizado. — O amigo
mais verdadeiro que minha família jamais teve.
Ele bufou, mas Justin não perdeu a expressão de
satisfação que iluminou seu rosto quando ele se virou para se
apressar.
Hawk se levantou quando Justin entrou no escritório. Se
ele tivesse alguma esperança de tirar Justin de casa antes que
a Guarda Real aparecesse, era melhor que ele se movesse
rápido. Ele pegou um copo e destilou o conteúdo de um
pequeno frasco antes de servir uma bebida para Justin. Ele
entregou o copo para seu primo. — Você tem uma verdadeira
dama, primo. Quase me deixa com inveja.
Justin pegou a bebida e sentou-se na frente do fogo,
tomando-o preguiçosamente.
— Proponho que você saia de Londres imediatamente —,
disse Hawk suavemente. — Lady Penroth pode se juntar a você
uma vez que a atenção tenha sido desviada de sua casa.
— Sou forçado a concordar com Hawk —, disse Case. —
Não há realmente outra forma.
— Você não tem escolha —, disse Hawk, olhando
incisivamente para o copo agora vazio na mão de Justin.
— Maldição! O que você colocou na minha bebida? — Ele
exigiu, quando seu olhar desfocado alcançou Hawk.
— Algo para torná-lo um pouco mais maleável —, ele disse
sem pedir desculpas.
— Seu filho da puta! O que é que você fez? Se alguma
coisa acontecer com Jillian, vou te caçar e matar você.
— Eu não esperaria menos —, disse Hawk enquanto
observava Justin cair inconsciente.
— O que diabos você fez com ele e por quê? — Case exigiu
incredulamente.
Hawk o ignorou e chamou Edward.
— Hawk, que diabos você pretende?
— Você pode pensar em uma maneira melhor de fazê-lo
cooperar? — Ele olhou duro para Case. — Uma vez que a
Guarda Real vier por ele, está terminado. Ele estará além da
nossa ajuda. Ele será acusado de sequestro. Prinny não está
interessado na verdade. Ele só quer satisfazer aqueles que o
apoiam financeiramente, e todos nós sabemos o quanto ele é
mal de dinheiro.
Case estendeu a mão e agarrou o ombro de Hawk,
girando-o para encará-lo. — Como você sabe tanto sobre o que
Prinny está ou não está fazendo?
— Eu não posso te dizer isso, Case. — Hawk soltou os
ombros de sua mão. — Confie em mim. Precisamos tirar Justin
de Londres a toda pressa. Deixe Prinny comigo.
Case olhou para ele espantado. — Quando tudo isso
acabar, você e eu vamos ter uma longa conversa.
Capítulo Vinte e Seis
Justin abriu os olhos e rapidamente os fechou novamente.
Sua cabeça doía vilmente e sua boca estava cheia de serragem.
Ele se sentou rapidamente quando se lembrou do que havia
acontecido por último. Onde diabos ele estava e onde estava
Jillian?
— Sua graça, você gostaria de um pouco de água?
Sua cabeça ergueu para ver Edward sentado em frente a
ele. Eles estavam em uma carruagem. — Onde estamos? — Ele
exigiu.
— Quase na costa.
Justin olhou para ele espantado. — Há quanto tempo
estamos viajando?
Edward parecia aflito. — Quase um dia inteiro, sua graça.
Justin xingou, amaldiçoando seu primo novamente. —
Onde está Jillian?
— Ela está segura —, respondeu ele. — Lorde Case e seu
primo estavam cuidando dela quando você e eu saímos.
— Você me drogou.
— Seu primo drogou você —, ele corrigiu. — Eu
simplesmente o auxiliei a tirar você da casa.
— E como exatamente você me tirou de casa?
Edward se mexeu desconfortável em seu assento. — Em
uma caixa, sua graça.
— Uma caixa? Você me enfiou em uma caixa?
— Bem, sim, nós enfiamos —, explicou ele. — Lorde Case
escoltou suas coisas para as docas, onde ele reservou
passagem para a Índia para que parecesse que você tivesse
saído de Londres.
— E quem está com Jillian?
— Seu primo permaneceu com ela na sua mansão até que
Lorde Case retornasse; pelo menos esse era o plano. Eu, claro,
estava a caminho com você para a Cornualha até então. Lorde
Case deveria retornar e fechar sua casa em Londres, já que
você não consta mais como morando lá.
— E como eles se propõem a tirar Jillian de Londres?
— Eu não sei, sua graça —, ele disse se desculpando. —
Fui instruído a levá-lo a um chalé na Cornualha para o qual
seu primo fez os preparativos. A história que você deve contar a
qualquer um que possa perguntar é que a saúde debilitada de
sua esposa o forçou a mudar para um clima mais ameno, onde
os médicos sentem que ela vai se recuperar totalmente.
— Como diabos Hawk fez tudo isso em tão pouco tempo?
Como ele sabia que eu planejava levar Jillian para a
Cornualha?
Edward encolheu os ombros. — Eu sinto muito, sua
graça. Eles não compartilharam seus arranjos comigo além do
que eu precisava saber para levar você para lá com segurança.
— Bem, então, se quisermos executar essa pequena farsa,
é melhor você me chamar pelo meu nome em vez de sua graça.
Edward pareceu que tinha acabado de engolir sua língua.
— Oh, eu não poderia ser tão impertinente —, ele engasgou.
— A menos que você queira que toda a Cornualha saiba
quem eu sou, sugiro que você comece a aprender a ser
impertinente. Hawk teve a previsão de arrumar roupas
adequadas para a minha nova posição? — Ele acrescentou
depois de pensar um instante.
— Ele realmente fez, sua graça, eh...ah... quero dizer...
sua graça?
Justin suspirou. — Sim, edward?
— Como eu te chamo exatamente?

###

Jillian sentou-se na sala de visitas de Justin, Hawk e Case


pairando por perto. Ela foi tomada de alívio quando lhe
disseram que Justin estava em segurança fora de Londres. Mas
como ela sentia falta dele! Sua presença reconfortante ao lado
da cama, sua mão quente ao redor da dela... a casa parecia
vazia sem ele. Ela se sentia vazia sem ele.
Apenas duas horas depois da partida de Justin, a Guarda
Real chegou à casa de Justin com um mandado do príncipe
regente, solicitando sua presença no palácio. Ela havia se
escondido na pequena sala secreta por várias horas até que
finalmente a guarda, satisfeita por Justin não estar na casa,
tinha ido embora.
Como isso aconteceu? Como era concebível que o marido
que ela pensara estar morto tivesse voltado da sepultura para
destruir sua recém-descoberta felicidade? Ela desejou poder
conjurar alguma culpa pelo fato de ter inadvertidamente
cometido adultério, mas não podia se arrepender.
— Jilly, você está bem? — Case apareceu diante dela,
ajoelhando-se na sua frente. A preocupação era evidente em
seus olhos quando ele pegou a mão dela.
— Sim, claro, estou bem —, disse ela, tentando sorrir.
Ela quase podia ver por seu olho esquerdo novamente,
embora ainda não tivesse tido coragem de checar sua
aparência no espelho.
— Você deveria voltar para a cama —, ele repreendeu
gentilmente. — Você ainda não se recuperou totalmente.
— Não —, ela disse inflexivelmente balançando a cabeça.
— Passei tempo suficiente na cama. Já é hora de fazer algo
para corrigir essa bagunça em que estou.
— Lady Penroth, eu insisto que você deixe isso para nós
—, Hawk falou do outro lado da sala.
Ela olhou para este homem intrigante. Supostamente
aparecendo do nada, ele era um homem taciturno, sua
expressão sempre intensa. Apenas o tipo de pessoa que a
assustaria em outras circunstâncias. Seus olhos continham
uma riqueza de segredos, sem dúvida, pois nenhuma emoção
ou pensamento poderia ser discernido de suas profundezas
negras.
Como se estivesse ciente de seu escrutínio silencioso, ele
se levantou e atravessou a sala para se sentar na frente dela.
— Você passou por uma terrível provação, Lady Penroth, e eu
entendo se você está relutante em confiar em mim, mas...
— Eu confio em você —, ela disse simplesmente. — Justin
e Case confiam em você, e isso é o suficiente para mim.
— Sua fé em mim é humilhante, milady.
— Eu duvido muito que algo humilhe você, senhor —,
disse ela secamente.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. — Eu acho que eu
poderia estar com inveja do meu primo afinal.
Ela ficou séria. — Então, o que você e Case planejaram e
onde está Justin agora?
Hawk olhou para Case e depois de volta para ela. —
Justin deve chegar na costa hoje, onde ele vai instalar-se numa
cabana lá. Assim que pudermos tirá-la com segurança de
Londres, você se juntará a ele.
Ela mordeu o lábio com consternação. — Eu não gosto
disso.
Os dois homens a olharam surpresos.
— Algum de vocês pode explicar porque Justin deveria ser
forçado a fugir de Londres em desgraça, quando ele não fez
nada? Eu não vou permitir isso. Certamente há algum lugar
para onde eu possa ir enquanto peço o divórcio.
— Eu prometi ao meu primo que te entregaria em
segurança ao litoral onde ele te espera. Eu mantenho minhas
promessas. — Ele olhou longa e duramente para ela. — Mas
também farei uma promessa a você. Se depois de eu te levar a
Justin, você não quiser ficar, então eu te levarei para onde você
quiser.
Jillian devolveu seu olhar por um longo momento e depois
assentiu com a cabeça. Ela franziu os lábios e a testa enquanto
pensava. — Ainda assim, deve haver algo que possamos fazer
para desviar a atenção de Justin, para esclarecer todo esse
absurdo de sequestro.
— Eu gosto do jeito que você pensa, milady —, disse
Hawk, admiração clara em seus olhos.
— Case, vou precisar de um acompanhante.
— Jilly, o que quer que você esteja pensando, deixe-me
assegurar-lhe que não vou gostar.
Ela sorriu ante seu olhar severo. — E você —, disse ela
voltando sua atenção para Hawk. — De alguma forma, acho
que você é proficiente em divulgar informações apenas para as
pessoas certas.
— Eu não sei se estou sendo insultado ou lisonjeado,
milady —, disse ele com um largo sorriso.
— Eu confio que você pode deixar escapar para o meu
marido... — Ela estremeceu em desgosto. — Eu confio que você
pode ter certeza que ele descubra que eu vou estar visitando
Lady Bea amanhã à tarde?
— Você acha que é sábio? — Hawk perguntou
ceticamente.
— Não, absolutamente não —, disse Case enfaticamente
sacudindo a cabeça. — Jilly, você não está bem o suficiente
para enfrentar esse bastardo.
— Então cabe a você e a Hawk garantir que eu não sofra
nenhum dano —, ela disse levemente. — Mas que melhor
maneira de acalmar as suspeitas de que Justin tem algo a ver
com o meu desaparecimento, do que eu aparecer em público
depois que ele deixou Londres? Além disso, Lucas será feito de
bobo frente à Prinny, e todos nós sabemos que nosso estimado
regente não tem paciência para parecer tolo aos olhos do
público. Ele provavelmente vai largar toda a associação com
Lucas.
— É uma boa ideia —, disse Hawk, esfregando o queixo. —
Mas estarei acompanhando você e Case para a casa de Lady
Bea. Não vamos nos arriscar com a sua segurança. Eu
permanecerei na carruagem enquanto você estiver dentro. Não
há necessidade de anunciar minha presença; isso nos dará o
elemento surpresa.
— Eu ainda não gosto disso —, disse Case teimosamente.
— Mas eu certamente não vou permitir que você vá até lá
sozinha.
— Agora —, disse Jillian, olhando com tristeza para o seu
traje. — Se eu vou sair, vou precisar de roupas adequadas.
— Considere arranjado —, disse Case, dando um beijo em
sua testa.

###

Foi preciso um esforço considerável da parte de Jillian


para se vestir. Ela recusou a ajuda da criada, não querendo
que ninguém a visse em tal estado. Cada músculo doía e
protestava enquanto ela puxava o vestido sobre o corpo ainda
machucado. Reunindo sua coragem, ela foi até o espelho para
avaliar os danos em seu rosto.
Ela engasgou em choque quando viu o rosto pálido e
machucado da mulher olhando para ela do espelho. Isso não
poderia ser ela. Ela tocou um dedo em seu olho inchado, em
seguida, arrastou-o até o corte vermelho em seu lábio.
Estranhamente, ela sentiu o desejo de chorar tudo de novo ao
testemunhar os resultados de seu reencontro com Lucas.
Lentamente, ela passou uma escova através de seus
cachos emaranhados e, em seguida, arranjou o cabelo em um
coque simples o melhor que pôde. Ela pousou a escova na
penteadeira com um barulho. A simples tarefa de vestir-se e
arrumar o cabelo a esgotara.
Ignorando a sensação doentia em seu estômago e o pânico
crescente em sua garganta, ela lentamente caminhou até a sala
de estar onde Case e Hawk a esperavam.
Hawk observou quando Case correu para ajudar Jillian.
Ela estava com medo. Ele podia ver nos olhos dela. — Talvez
esta não seja a melhor ideia.
Ela virou seus olhos verdes vívidos, agora visíveis após o
inchaço reduzir-se, para olhar para ele. — Não, isso é algo que
devo fazer —, disse ela com firmeza. Ela suspirou. — Eu não
espero que você entenda, mas toda a minha vida tenho vivido
pelas decisões dos outros, apoiada nos outros em busca de
apoio. Mesmo depois que Lucas se foi, eu contei com Case para
apoio, e então deixei ele e Justin tomarem todas as decisões
por mim.
— Agora, suponho que não seja tão incomum uma mulher
não tomar suas próprias decisões, mas apenas uma vez, eu
tenho que encarar meus problemas sozinha, sem que alguém
assuma a responsabilidade por mim. Eu tenho que fazer isso
por mim.
Hawk olhou para ela espantado, sua admiração por ela
crescendo aos trancos e barrancos. — Eu entendo
completamente, milady. Você deve ser admirada por sua
determinação. Eu gostaria que todas as mulheres em sua
posição fossem tão fortes quanto você. — Eu gostaria que
minha mãe tivesse sido tão forte.
— Por favor, sem mais 'milady', me chame de Jillian.
— Muito bem, Jillian. Você não precisa se preocupar, —
ele disse suavemente, querendo aliviar o medo que ele tinha
visto em seus olhos. — Não vamos permitir que ele chegue
perto de você.
— Eu vou matá-lo primeiro —, jurou Case.
— Você não vai fazer isso —, Jillian repreendeu. — Eu não
tenho nenhum desejo de visitá-lo em Newgate. — Ela respirou
fundo. — Vamos, cavalheiros? Vocês vão me perdoar, mas
desejo de acabar com isso o mais rápido possível.
Case auxilio-a a sair e depois ajudou-a a entrar na
carruagem. Hawk sentou-se diante dos dois enquanto
percorriam a curta distância até Grosvenor Square. Jillian
olhou nervosamente pela janela como se esperasse que Penroth
aparecesse do nada. Hawk apertou a mandíbula com
impaciência. Quanto mais cedo isso terminasse, melhor.
Ao chegarem à casa de Lady Bea, Jillian ficou chocada ao
ver pessoas andando pela praça. Carruagens lotavam a rua e
circulavam lentamente. Era meados de janeiro e ainda assim
alguém pensaria que era o meio da primavera com todas as
pessoas espalhadas.
Hawk se inclinou e chamou sua atenção de uma maneira
tranquilizadora. — Era importante que o máximo de pessoas
soubesse do seu passeio quanto possível. Mais testemunhas
dessa maneira.
— Todas essas pessoas estão aqui porque sabem que vou
estar na casa da Lady Bea? — Perguntou Jillian, incrédula.
— A sociedade ama um bom escândalo —, disse Case
severamente. Ele apertou a mão de Jillian
tranquilizadoramente. — Não devemos ficar muito tempo. O
médico foi muito inflexível em que você permanecesse na cama
por pelo menos uma semana, e ainda assim aqui está você
vagabundeando por Londres.
— Quando vamos para a Cornualha? — Ela perguntou
olhando para Hawk.
— Hoje à noite, desde que você esteja bem o suficiente
para viajar.
— Eu vou ficar bem —, disse ela, firme determinação em
seus lábios.
Ela e Case desceram da carruagem e Jillian tentou ignorar
o zumbido de conversa animada que vinha da rua enquanto
subiam os degraus até a porta da frente. Lady Bea abriu a
porta ela mesma e ofegou horrorizada com a aparência de
Jillian.
Ela puxou-a em seu abraço e depois os conduziu para a
sala de estar. — Oh, minha querida, não sei por onde começar.
O que você está fazendo aqui? Achei que você e o duque
estavam saindo de Londres juntos, mas agora você está aqui e
ouvi que o duque foi para a Índia.
Jillian sorriu para a confusão da mulher mais velha. — Eu
vou me juntar a Justin em alguns dias. O regente se envolveu,
e estava enviando a Guarda Real para recolher Justin para
interrogatório. Achei melhor afastar as acusações de sequestro.
— Isso por causa daquele pavão estufado? — Lady Bea
cuspiu. — Por que diabos Prinny se envolveu nisso? Ele
raramente presta atenção em nada, a menos que dinheiro
esteja envolvido.
— Justamente isso —, disse Case. — Tenho certeza de que
dinheiro esteja envolvido.
— Onde Penroth conseguiria grana para envolver Prinny?
Todo mundo sabe que seus bolsos estão vazios.
— Tenho certeza de que há outros que acham que valeria
a pena encher os bolsos de Prinny para marcar uma posição. A
maneira mais rápida de incomodar um grupo de homens é que
suas esposas esqueçam seus lugares —, disse Case em tom de
escárnio.
— Me deixa danada de felicidade por ser viúva —,
murmurou lady Bea.
Jillian reprimiu o riso com o uso dessa linguagem
indelicada. Ela se inclinou para frente, ignorando a dor nas
costelas. — Lady Bea, eu tenho que te dizer. Viemos aqui para
que eu fosse vista em público e é provável que o meu mari...
que ele apareça aqui.
— Não há nada mais que eu gostaria! — Lady Bea
exclamou, batendo o pé contra o chão de mármore. — Me daria
certo prazer enterrá-lo em problemas.
Case riu. — Seria uma honra fazer essa tarefa por você,
milady.
— Os homens têm toda a diversão —, ela resmungou.
Case olhou para Jillian, cujo rosto estava tenso e abatido,
o olhar rodeado de fadiga. — É hora de irmos. — Ela não
discutiu. Enquanto ela se levantava, ela balançou
perceptivelmente e Case deu um passo rápido para seu lado,
oferecendo o braço dele em apoio. Ela agarrou seu cotovelo com
gratidão.
— Tome cuidado, minha querida —, disse Lady Bea em
uma voz embargada. — Se você precisar de alguma coisa, você
tem só que pedir.
— Obrigada, milady —, disse ela, sorrindo palidamente. —
Eu nunca esquecerei a sua bondade.
Enquanto saíam para o frio, Jillian olhou com cautela ao
redor e então relaxou contra Case, enquanto não via nada além
do mesmo acúmulo de pessoas de antes. Estavam quase na
carruagem quando a voz estridente de Lucas ecoou pela rua.
Ela olhou para cima para vê-lo vindo em direção a eles, e
ela instintivamente se aproximou de Case. Seu braço apertou-
se protetoramente ao redor dela enquanto Lucas se aproximava
deles.
— Tire as mãos da minha esposa, Devlin. — Ele franziu o
cenho para Jillian. — Você virá comigo imediatamente —, disse
ele imperiosamente, indo pegar o braço dela.
Case entrou na frente dela, seus olhos brilhando. — Não,
Case —, disse ela em voz baixa enquanto o afastava. — Você
deve estar louco ou muito desesperado, Lucas, para se
aproximar de mim assim. Eu nunca voltarei para você.
— Trate-me corretamente, puta! — Ele cuspiu.
— Modere a sua língua, Penroth, ou terei grande prazer
em removê-la de você —, disse Case com os dentes cerrados.
— A lei está claramente do meu lado —, rosnou Lucas. —
Venha, Jillian, e talvez eu seja tolerante em minha punição.
— Você é um bastardo repugnante e odioso —, ela sibilou.
— Eu espero que você apodreça de vergonha e pobreza, porque
o inferno vai congelar antes que você veja um centavo do meu
dinheiro.
Ele soltou um grito de raiva e levantou o punho para
atingi-la, mas uma mão estendeu-se e agarrou seu pulso no ar.
— Eu pensaria duas vezes sobre isso se fosse você —,
disse Hawk em uma voz perigosamente baixa. Ele continuou a
apertar impiedosamente, forçando Lucas a se ajoelhar
enquanto ele exercia uma enorme quantidade de pressão em
seu pulso.
— Quem diabos é você? — Ele engasgou, seu rosto ficando
branco da dor.
— Alguém muito interessado no bem-estar de Jillian —,
ele rosnou. — Fique longe dela ou você vai se arrepender
muito.
Lucas gritou quando seu pulso estalou. Hawk soltou-o e
ele agarrou freneticamente a mão ferida. — Você quebrou meu
braço! — Ele gritou.
— Considere-se afortunado que é tudo o que eu quebrei.
— Ele se virou e guiou Jillian o resto do caminho para a
carruagem. Para sua satisfação, Hawk viu a carruagem real do
regente se afastar da praça. Entregou Jillian ao confinamento
quente da carruagem de Case e, enquanto se afastavam,
ouviram Lucas gritar. — Eu vou te encontrar, puta. Nem que
seja a última coisa que faça, vou te encontrar!
Capítulo Vinte e Sete
Justin fez uma pausa para enxugar o suor da testa e girou
o machado mais uma vez, cortando o pedaço de madeira em
dois. Ele chutou os pedaços em uma pilha e posicionou outro
tronco arredondado na frente dele. O vento estava frio, mas ele
não prestou atenção quando se concentrou na tarefa diante
dele.
Fazia uma semana desde que ele e Edward chegaram ali, e
ainda não havia sinal de Jillian. Ele estava ficando louco
pensando nas possibilidades. E se algo tivesse dado
terrivelmente errado? Maldito Hawk e sua interferência. Ele
deveria estar com Jillian, não aqui como um idiota impotente.
Ele parou e deixou o machado cair no chão, apoiando-se
pesadamente no cabo. As ondas do oceano eram grandes à
distância e ele podia ouvir as ondas batendo contra o
penhasco. Uma tempestade estava chegando.
Juntando uma braçada de madeira, ele entrou na cabana,
onde jogou as peças na caixa de madeira perto da lareira. O
fogo havia diminuído e ele jogou alguns troncos e observou as
chamas voltarem à vida.
Como de costume, ele caminhou até a janela que dava
para a estrada e olhou para fora. Durante seis dias, ele esperou
por algum sinal de Jillian, e por seis dias ele se afastou da
janela depois de observar incontáveis carroças e o tráfego local
passarem pela estrada poeirenta.
Ele olhou para fora e, em seguida, desapontado, começou
a se afastar, quando viu uma carruagem que se aproximava
com o canto do olho. Seu coração parou por um segundo, e sua
respiração ficou presa na garganta enquanto ele monitorava
seu progresso. Quando se aproximou ainda mais, saiu da porta
da frente para o pequeno quintal, atrevendo-se a esperar que
pudesse ser ela.
A carruagem parou e a porta se abriu. Case saiu e
estendeu a mão para trás, e então Jillian apareceu. Justin
estava na frente dela em um instante, puxando-a em seus
braços. Ele fechou os olhos e enterrou o rosto no cabelo dela,
seu alívio quase esmagador. Então ele recuou e inclinou a
cabeça, capturando seus lábios em um longo beijo.
Jillian respirou profundamente seu cheiro quente e
masculino e se enterrou ainda mais em seus braços. Quão
maravilhosa era a segurança reconfortante de seu abraço. Ela
se agarrou a ele, não querendo soltar-se nem por um momento.
Ela não tinha pensado que ela pudesse amá-lo mais do que na
noite do baile de noivado, mas agora ela percebeu o quão
errada estava. Como ela poderia viver sem esse homem?
Case recuou com Hawk e sorriu quando os dois se
abraçaram. — Quase faz você acreditar no amor.
— Quase —, disse Hawk secamente.
Justin se afastou de Jillian, olhando para ela com ternura.
As contusões tinham mudado do preto e do roxo para o
amarelo e o verde desbotados, e o inchaço quase desaparecera,
mas ela nunca parecera-lhe mais bonita do que agora.
Ele a acompanhou para dentro com os outros, e eles se
sentaram na pequena sala da frente, se aglomerando em volta
do fogo. Case e Hawk rapidamente o atualizaram nos eventos
que ocorreram após sua partida de Londres, e seu coração
saltou quando eles lhe contaram sobre o encontro deles com
Penroth do lado de fora da casa de Lady Bea.
— Você assumiu um risco terrível com a sua vida —, ele
admoestou gentilmente.
— Eu não estava em perigo. Eu tive Case e Hawk comigo o
tempo todo, — ela disse, ignorando a carranca que ele deu a
ela.
— Ainda assim, foi uma tolice, mas felizmente você está
aqui agora, e segura.
Um olhar breve e conturbado cruzou o rosto dela e foi
substituído por um sorriso indiscernível enquanto ouvia Case
continuar a conversa. Justin franziu a testa. O que poderia
estar incomodando-a?
Depois que eles comeram uma refeição preparada por
Edward, Justin insistiu que Jillian descançasse. Exaustão era
evidente em seu rosto e ela estava estranhamente quieta
durante o jantar.
Depois de acompanhá-la ao quarto, Justin voltou para a
sala da frente, onde Case e Hawk bebiam conhaque diante do
fogo. Ele se sentou e olhou para Case. — Eu quero que você
leve Edward de volta com você. O lugar dele é em Whittington,
não aqui. Não sei quando, ou se será possível voltar lá, mas até
lá confio em você para resolver as coisas.
— Você pode, claro, contar comigo —, disse Case, com a
voz tensa de emoção.
— Justin, você deve saber que eu fiz uma promessa a
Jillian —, disse Hawk inquieto.
Ele levantou uma sobrancelha para o primo, e um
momento de incerteza tomou conta dele. Por que Hawk teria
feito uma promessa a Jillian, e por que Hawk parecia tanto
desejar não ter feito a promessa? — Vá em frente —, disse ele.
— Ela não queria vir —, disse ele com uma expressão de
dor. — Mas eu disse a ela que eu prometi que iria trazê-la para
cá em segurança, e então eu dei a minha palavra para ela que
quando tivesse cumprido minha promessa a você, trazendo-a
aqui... se ela não quisesse ficar, então eu iria conduzi-la onde
quer que ela deseje ir.
— Ela está tentando protegê-lo, Justin —, Case
interrompeu rapidamente.
— Sim, posso ver que ela está —, Justin disse
calmamente. — Eu nunca iria mantê-la aqui contra a sua
vontade.
— Eu sei que você não iria. — Hawk parecia mais
desconfortável a cada minuto. — Eu queria que você
soubesse... Case e eu devemos partir de manhã. Isso lhe dá
pouco tempo para convencê-la a ficar. Eu sugiro que você
chegue a isso.
Case e Hawk partiram logo depois, optando por passar a
noite na estalagem. Era imperativo que eles fossem vistos sem
Jillian se eles tivessem sido seguidos. Eles prometeram voltar
cedo na manhã seguinte para se despedirem. Ninguém
mencionou que eles tinham que voltar no caso de Jillian estar
indo com eles.
Justin entrou devagar no quarto e ficou surpreso ao ver
Jillian enrolada em uma cadeira diante do fogo. — Você deveria
estar na cama, querida —, ele admoestou.
Ela ergueu-se para olhar para ele e as chamas do fogo
refletiram brilhantemente em seus olhos. Ela estendeu a mão
para ele e ele foi até ela, pegando-a. Ele se ajoelhou na frente
dela e ela emoldurou seu rosto em suas palmas. Lábios macios
se moveram sobre os dele e ele gemeu profundamente. — Pare.
Jillian, não podemos. Eu não quero te machucar.
Ignorando-o completamente, ela o beijou com mais força,
abrindo os lábios e lançando a língua para fora. Ela começou
uma lenta exploração de sua boca, seus dedos se movendo
mais profundamente em seu cabelo. Ele abriu a boca para
protestar novamente, mas ela colocou um dedo sobre seus
lábios. — Faça-me esquecer —, ela sussurrou.
Seus braços foram ao redor dela, e ele a puxou da cadeira.
Delicadamente, ele a abaixou para o tapete de pele de carneiro
grosso na frente do fogo. Nenhuma palavra foi necessária
quando seus corpos se uniram, duas almas separadas por
muito tempo, duas metades formando um todo.
Beijos sem fôlego, apaixonados, pele nua, carícias
delicadas. Seus gritos suaves se misturavam com os sons das
ondas à distância, e foram levados pela suave brisa do oceano.
Não contente em desempenhar um papel passivo, Jillian
se tornou a agressora, rolando por cima de Justin. Ela olhou
para seus olhos cheios de paixão e baixou a cabeça, mordendo
a pele sensível do pescoço dele.
Suas sombras dançavam no teto, réplicas perfeitas de
seus corpos ondulantes, delineados pelas chamas
bruxuleantes.
Erguendo-se acima dele, ela o levou em seu corpo, jogando
a cabeça para trás quando eles se tornaram um. Em uníssono
perfeito, eles realizaram um ritual tão antigo quanto o tempo,
suas carícias febris como veludo em sua pele nua.
Quando finalmente seus corpos se encontraram em uma
afinação perfeita, a liberação deles caiu ao redor como uma
onda crescente.
Jillian se jogou para a frente no peito de Justin e segurou-
o com força, como se tivesse medo de que ele fosse embora na
próxima respiração. Puxando um cobertor próximo sobre eles,
Justin passou os braços em volta dela e virou-a para que ela
estivesse aninhada na dobra do seu braço. Ela suspirou
profundamente e adormeceu.
Na manhã seguinte, Justin acordou e tateou por Jillian.
Sua mão sentiu um espaço vazio ao lado dele e abriu os olhos
com surpresa. Ele se sentou olhando ao redor do quarto vazio.
Uma sensação de pressentimento apertou seu peito e ele se
levantou e correu a vestir-se. Segundos depois, ele entrou na
sala de estar.
Edward veio correndo, carregando uma carga de madeira
para reiniciar o fogo. — Sua senhoria já está acordada. — Ele
gesticulou por cima do ombro. — Ela deu um passeio até os
penhascos.
Justin vestiu seu sobretudo e saiu para o ar fresco da
manhã. Ele seguiu o caminho bem gasto até a colina e em
direção à borda do penhasco. Era um caminho que ele havia
tomado muitas vezes nos últimos dias.
Ele parou quando a viu à frente, olhando para o oceano,
seu xale enrolado firmemente em torno de seu corpo. Como ela
era linda, seu cabelo soprado levemente na brisa. Ela deve ter
percebido a presença dele, porque se virou e olhou para ele.
Ele andou o resto do caminho até ela e parou ao seu lado.
— É muito bonito aqui —, disse ela, olhando para a grande
extensão de água.
— Não tão bonita como você —, disse ele, seus olhos
nunca deixando seu rosto.
Ela abaixou a cabeça com vergonha. — Eu não sou tão
bonita —, ela murmurou.
Ele levantou seu queixo com os dedos. — Você é a mulher
mais bonita do mundo para mim. Algumas contusões não
podem esconder esse fato.
Ela desviou o olhar, não confiando em si mesma para
olhar para ele. Chegou o momento de dizer-lhe que ela estava
partindo, não importava que estivesse morrendo por dentro ao
pensar em ficar sem ele. — Justin, precisamos conversar —,
disse ela com tristeza. — Eu não posso deixar você fazer esse
tipo de sacrifício, viver esse tipo de vida. Você é um duque e
seu nome está acima de qualquer reprovação. Você deve ser
capaz de casar-se e produzir um herdeiro.
— Você tem um lar que você ama, e você não merece nada
disso. — Ela gesticulou de volta para a cabana. — Eu nunca
poderia pedir-lhe para viver esse tipo de vida longe de tudo o
que você ama. — Ela se afastou dele, de costas para ele.
— Hawk me prometeu que me levaria aonde eu quisesse,
se eu viesse aqui primeiro, e pretendo partir com ele.
— É isso que você quer? — Justin perguntou, uma nota
estranha de dor em sua voz.
Ela fechou os olhos, lágrimas escorrendo dos cantos. —
Não importa o que eu quero. O que eu quero, nunca poderei
ter.
— E o que você queria?
Ela não falou por um momento, muito absorvida pela
agonia que estava sentindo. Ela chegou tão perto de confessar
seus verdadeiros sentimentos e seu desejo de se casar com ele
no baile de noivado, mas o destino decidira o contrário. E agora
isso não importava. Mas ela estava indo embora, e ele pelo
menos merecia ouvir a verdade.
— Eu queria uma vida com você —, ela finalmente
sussurrou. — Eu nunca consegui te contar... eu planejava te
contar depois do baile.
— Contar-me o que, Jillian? — Uma nota de urgência
marcou sua voz quando ele a virou para olhá-lo.
Ela olhou para ele, diretamente em seus olhos. — Que eu
te amava e queria casar com você, que eu queria tornar nosso
noivado real.
Ele a pegou em seus braços e segurou-a firmemente
contra ele, seu coração batendo descontroladamente contra o
dela. — Se você soubesse como eu queria que você dissesse
essas palavras —, ele disse, a emoção sufocando sua voz.
Ela olhou para ele em confusão enquanto ele continuava.
— Eu fui tão tolo. Eu nunca te disse que te amava. Eu tive
tantas oportunidades, mas permaneci em silêncio. Eu estava
com muito medo de descobrir que você poderia não me amar.
— Mas Jillian, eu te amo mais do que eu já amei outra
pessoa em minha vida, e eu me recuso a deixar você ir, e eu me
recuso a deixar você fazer o que você acha que é melhor para
mim, deixando-me.
Ela olhou para ele maravilhada, deixando suas palavras
apoderarem-se dela. — Você me ama? — Sua voz era uma
mistura de esperança e alegria.
— Você duvida? —, ele perguntou, queimando-a com a
intensidade em seus olhar. Ele esmagou seus lábios nos dele,
beijando-a em expectativa, e com tanta paixão que os deixou
sem fôlego. — Sim, eu te amo! — Ele gritou, girando-a ao redor.
— Pare! — Ela riu. — Você está me deixando tonta!
Ele diminuiu a velocidade e puxou-a contra ele mais uma
vez e depois a beijou com ternura.
— Justin, porque eu amo você é precisamente porque eu
não posso deixar você fazer isso —, ela disse dolorosamente.
— Ouça-me —, disse ele com firmeza, pegando as mãos
nas suas. — Não posso lhe oferecer casamento, e não posso lhe
oferecer um título ou uma grande mansão para morar. Não
posso sequer oferecer aos nossos filhos legitimidade, mas o que
posso lhe oferecer é uma vida cheia de amor e risos.
— Se você partir, vamos desistir de muito mais do que
ganharei voltando à minha vida como o Duque de Whittington.
Eu quero você, não um título ou riqueza, ou qualquer uma das
coisas que acompanham isso.
— Diga que você vai ficar, Jillian. Eu não quero viver sem
você.
Lágrimas escorreram pelo seu rosto quando ela se jogou
em seus braços. — Eu te amo —, ela sussurrou. — Vou aceitar
tudo o que você está oferecendo.
Ele soltou um grito e depois capturou seus lábios
novamente.

###

— Bem —, disse Case, sorrindo enquanto observava as


duas silhuetas no sol da manhã. — Estou supondo que
podemos ir embora agora sem Jillian.
— Eu diria que você está certo —, respondeu Hawk. —
Vamos então? De alguma forma, acho que não somos mais
necessários aqui. — Ele se virou para voltar para a casa.
Case ficou olhando para os dois por mais um momento. —
Adeus Jilly. Justin, — ele sussurrou. Ele se virou e seguiu
Edward e Hawk até a carruagem que esperava.
Capítulo Vinte e Oito
Costa da Cornualha
Abril de 1820

Empoleirada na beira do penhasco, Jillian olhou para as


grandes ondas que se abatiam abaixo. Uma brisa morna
passou por ela e girou os longos fios de seu cabelo contra sua
cintura. A primavera havia chegado e o ar estava perfumado
pelas muitas flores espalhadas pela paisagem.
Ela sorriu ao sentir braços fortes envolvendo-a, e mãos
gentis espalhando-se sobre sua barriga inchada. Lábios
quentes acariciaram seu pescoço.
— Como está a linda futura mãe?
Ela virou a cabeça ligeiramente para olhar para ele, e ele
capturou seus lábios em um longo beijo. Ela soltou um suspiro
satisfeito. — Eu te amo.
— E eu te amo —, ele disse suavemente.
Uma mão invisível apertou seu coração. Sua reação era a
mesma, mesmo depois de ouvir as palavras tantas vezes.
Ele descansou o queixo no topo da cabeça dela. — Case
estará aqui em breve.
Breve tristeza a reivindicou. Tão feliz como ela estava com
Justin, ela sentia muito a falta de Case, e ela sabia que Justin
sentia falta dele também. No ano desde que haviam fugido de
Londres, eles não tinham visto ou ouvido falar de Hawk ou
Case. Então, há uma semana, eles receberam uma carta de
Case dizendo-lhes de sua chegada iminente.
Ela rezou para que ele não trouxesse notícias
desagradáveis. O refúgio isolado que ela e Justin haviam criado
lhes dera uma certa felicidade, embora ela ainda se
preocupasse que Justin sentisse falta de seu lar e de sua vida
como duque.
Para seu crédito, ele abraçara sua nova vida, aprendendo
a fazer tarefas diárias que um serviçal sempre fizera no
passado enquanto ela aprendia a cozinhar. Suas tentativas
foram uma fonte de diversão por muitas semanas, e Justin
jurou que perdera mais do que seis quilos em peso. Mas ela
perseverou e se tornou hábil em preparar suas refeições.
À noite, eles se reuniam na pequena cozinha e
conversavam enquanto ela cozinhava. Então, eles se retiravam
para a cama onde se amavam com uma intensidade que os
deixava satisfeitos e realizados.
Quando ela descobriu que estava grávida, ficou
angustiada com a reação dele. Embora soubesse que ambos
saudariam o filho com alegria, isso traria de volta a tristeza de
seus filhos suportarem o estigma da ilegitimidade.
Uma noite, enquanto eles se abraçavam, ele passou a mão
sobre o leve inchaço de sua barriga. — Há algo que você tem
que me dizer? — Ele perguntou suavemente, seus olhos
brilhando de esperança.
— Eu acho... isto é, estou bastante certa de que estou
grávida —, ela sussurrou, olhando em seus olhos escuros.
Alegria se espalhou pelo rosto dele quando ele se inclinou para
pressionar um beijo em sua barriga.
— Que pensamentos felizes que você está remoendo? —,
ele perguntou contra seu ouvido.
Ela balançou a cabeça, puxando-se de seu devaneio e se
aconchegou ainda mais em seu abraço. — O melhor —, ela
murmurou.
— Eu queria discutir algo com você antes de Case chegar
aqui —, disse ele depois de um momento de hesitação.
Jillian se virou em seus braços e olhou para cima,
estudando sua expressão. Ele também estava preocupado com
a notícia que Case poderia trazer. Ela podia ver a tensão
gravada em suas feições.
Ele olhou para ela e segurou seu queixo, esfregando o
polegar levemente sobre sua bochecha. Sua barriga ondulou
entre eles enquanto o bebê se movia em seu ventre. Ele riu e
colocou a mão sobre o monte, sentindo os movimentos de seu
filho não nascido.
— Sobre o que é que você quer falar? — Ela perguntou,
envolvendo os braços tranquilizadoramente em torno de sua
cintura. Ela sentiu os músculos rijos em suas costas, mais
uma prova do estilo de vida que haviam adotado.
— Por que não vamos para a América? — Perguntou ele.
Seus olhos se arregalaram de surpresa. — América?
Ele acenou com a cabeça. Ele estava falando sério. Ela
notou sua expressão solene. — Mas Justin, seu título, seu lar...
— Meu título não significa nada e meu lar é com você.
Seus olhos se fixaram nos dela. Deus, como ela amava
esse homem. — Por que América?
— Podemos começar uma nova vida lá. Ninguém nos
conhece... que não somos casados. É uma terra vasta... que
nunca teríamos que nos preocupar em ser descobertos.
Ela olhou para baixo. — Eu sabia que isso te incomodava
mais do que você dava a entender.
Ele forçou seu queixo de volta para cima, então ela estava
olhando para ele mais uma vez. — Nunca duvide dos meus
sentimentos por você e pelo nosso filho, meu amor. Eu só
quero que você seja feliz e se sinta segura. A América é uma
terra de oportunidades, e é um lugar onde poderíamos usar
nossa riqueza sem levantar suspeitas. Nós poderíamos fazer
nosso lar lá e viajar pelo mundo. Há tantos lugares que eu
quero te mostrar. Índia... África... poderíamos ver a Itália. Ouvi
dizer que é terrivelmente romântico —, ele terminou com um
sorriso malicioso.
Ela sorriu. — Eu iria a qualquer lugar com você, Justin.
Meu lar é com você, onde quer que seja. — Ela esfregou sua
barriga distraidamente.
Justin observou quando ela se virou para olhar o oceano.
Ela estava esfregando sua barriga distendida, um sinal claro de
sua agitação. Ele sorriu e capturou a mão dela na sua. — O
que te preocupa, querida?
Ele a olhou enquanto ela mordia o lábio inferior. Ela
estava mais adorável do que nunca, o auge da gravidez lhe
dava um brilho tranquilo. Agora, em seu oitavo mês, às vezes
ela era desajeitada, e se cansava com facilidade, mas ele nunca
a amara tanto quanto naquele momento.
Ele não teria sonhado que ficariam tão contentes da vida
que escolheram, mas, na verdade, o ano anterior fora o mais
feliz de todos os seus trinta e dois anos.
Mas ainda assim, a ameaça da descoberta pairava sobre
eles, não importava o quão bem eles tivessem escondido seus
rastros. Era hora de sair da Inglaterra. A segurança de Jillian e
de seu filho era mais importante que qualquer outra coisa.
Ela olhou para ele. — Sem preocupações, contanto que eu
esteja com você. Estou feliz quanto eu poderia estar.
Ele a puxou para ele, moldando seu corpo contra o dele.
— Jillian, você sempre estará comigo, você sabe disso, não é?
— Ele sabia que ela tinha inseguranças... o fato de que eles não
eram casados a fez temer que se ele tivesse arrependimentos,
seria tão fácil para ele retornar p para Whittington sem ela.
Não era que ela não confiasse nele. Ela colocou muita
responsabilidade em seus ombros e muita culpa pelos
sacrifícios que ele fez.
Sacrifícios... se ela soubesse o pouco que ele tinha feito no
grande esquema das coisas. E ele faria tudo de novo, sem
arrependimentos, sem hesitação. Para ele, ela era sua esposa,
toda a sua existência. Eles não poderiam ser mais, mesmo se
fossem de fato casados.
— Sim —, ela murmurou, a agitação se foi por agora. —
Eu sei, Justin. — Ela se mexeu desconfortavelmente, colocando
a mão nas costas.
— Venha, querida, vamos voltar. Você ficou de pé por
muito tempo. Eu saí para buscar você de qualquer maneira. Eu
fiz o almoço.
Um sorriso travesso iluminou seu rosto. — Você preparou
a comida?
Ele deu a ela um olhar zombeteiro e ferido. — Não é nada
chique, mas é comestível. — Ele curvou um braço em volta de
sua cintura e foi ajudá-la a descer o caminho rochoso para a
cabana.
Eles estavam quase na porta quando Jillian parou por um
momento. — Você está bem? —, ele perguntou preocupado.
Ela olhou para ele, preocupação evidente em seu rosto. —
Por que você acha que Case está vindo?
Era a questão mais importante em ambas as mentes. Eles
haviam concordado em limitar a correspondência quando se
separaram da última vez, sabendo que as visitas só
aumentariam o risco para Jillian. Assim, Case concordou em
voltar a Londres e manter o fingimento de que Justin estava na
Índia, e espalhar a notícia de que Jillian havia fugido para o
continente.
O retorno de Case pode significar uma infinidade de
coisas. Primeiro, que as coisas estavam bem, ou segundo, que
a importância de ele chegar aqui superava o risco de
descoberta.
— Eu não sei —, ele disse honestamente. — Mas seja qual
for o motivo, será maravilhoso vê-lo novamente. — Ele disse o
último a tentar desviá-la de sua preocupação. Pareceu
funcionar, pois seu rosto se suavizou em um largo sorriso.
— Sim, vai ser maravilhoso vê-lo.

###

Depois de comerem, Jillian se encolheu no sofá da sala da


frente, posicionada de modo que pudesse ver a grande janela
que dava para a estrada da frente. Justin observou-a lutar
contra seu cansaço e finalmente sucumbir, suas pálpebras
tremendo e depois se fechando enquanto adormecia. Uma onda
de amor dominou-o enquanto observava a suave subida e
descida de seu peito.
Não, ele não tinha arrependimentos. Era difícil lembrar
como era a vida dele antes dela entrar nela. O último ano havia
feito mudanças em ambos. Os olhos de Jillian perderam o
olhar assombrado e de tristeza que ela usara por tanto tempo.
E ele... bem, ele havia se tornado um homem de modos mais
simples.
Ele interrompeu seus pensamentos e olhou pela janela
quando ouviu uma carruagem parar. Antecipação e uma
pequena quantidade de pavor apertaram seu peito enquanto
ele corria para cumprimentar seu irmão.
Case desceu da carruagem e começou a avançar, um largo
sorriso no rosto. Justin abraçou-o com força, sentindo a dor
das lágrimas nos cantos das pálpebras. — É bom ver você,
irmãozinho.
— Você parece bem, Justin —, disse ele, olhando
atentamente para ele. — Eu nunca vi você parecendo melhor.
Onde está Jilly?
— Ela está dentro. — Ele estendeu a mão e agarrou o
braço de Case antes que ele pudesse passar. — Eu não a quero
chateada, Case. O que quer que você precise dizer, tenha isso
em mente.
— Compreendo.
— Existe alguma chance de você ter sido seguido?
Case sacudiu a cabeça. — Penroth estava bastante
ocupado quando saí. Vou contar minhas novidades quando
entrarmos.
Os dois voltaram para dentro, onde Jillian ainda estava
dormindo no sofá. Case olhou para ela e depois fixou Justin
com uma expressão assustada. — Você está para ser pai?
Ele sorriu largamente para Case e depois disse em voz
baixa: — Agora você sabe por que eu não a quero chateada.
Case assobiou. — Bem, minha nossa! Parabéns! — Ele se
aproximou e se ajoelhou na frente de Jillian. Como se sentisse
sua presença, seus olhos se abriram e depois a alegria se
espalhou por seu rosto.
— Case! — Ela se mexeu para se sentar, mas ele estendeu
a mão.
— Não, não —, disse ele.
Ela olhou para ele, chocada com o quanto ele havia
mudado no ano desde a última vez que o viu. Ele parecia mais
velho, menos infantil, e seu solhar... era dor? Antes, ela teria se
jogado em seus braços, mas algo a impediu agora.
— Nenhum abraço? — Ele perguntou, piscando-lhe um
sorriso.
Ela riu. — Ajude-me a levantar para que eu possa fazê-lo
corretamente. — Logo ela foi envolvida em seu abraço, e ela
apertou-o com força.
— Você está linda, Jilly —, disse ele enquanto se afastava
para olhar para ela. — Gravidez combina com você.
— Sentimos sua falta —, disse ela enquanto Justin a
puxava para o lado dele.
Sofrimento estava de volta em seu olhar. — Eu senti a
falta de vocês também.
— Sente-se, sente-se —, disse ela, apontando para o sofá.
— Eu vou pegar uma bebida para você. Está com fome? Justin
fez os sanduíches mais deliciosos para o almoço.
Ele riu. — Deus, é bom ver você de novo, Jilly.
Justin viu quando ela saiu da sala e então se virou para
ver Case observando-o, uma expressão peculiar em seu rosto.
— Você realmente a ama —, disse Case.
— Mais do que jamais imaginei amar uma mulher —, ele
disse honestamente.
— Eu tenho que admitir, tive minhas dúvidas sobre você
deixar tudo para trás, mas agora que vejo vocês dois... você
nem parece o mesmo homem.
— Eu não sou o mesmo homem —, disse ele, sorrindo
para seu irmão mais novo.
— Você tem muita sorte —, disse Case calmamente. —
Não conheço outro amor como o seu e o de Jillian.
Justin ficou impressionado com a tristeza em sua voz. —
Você encontrará a mulher certa, Case.
Ele sorriu, embora não alcançasse além de seus lábios. —
Eu duvido que vou ser tão sortudo.
Jillian voltou carregando uma pequena bandeja de
limonada e sanduíches, e Justin correu para pegá-la dela. Ela
revirou os olhos e sentou-se no sofá. Batendo no lugar ao lado
dela, ela convidou Case para se sentar. — Já que nenhum de
vocês parece inclinado a abordar o assunto, suponho que
depende de mim. — Ela olhou incisivamente para Case
enquanto continuava. — Que notícias você tem para nós?
Ele suspirou. — Tenho boas e más notícias.
Os lábios de Justin se comprimiram em uma linha fina. —
Talvez este não seja o melhor momento para discutir isso.
— Vou tirar isso de Case, eventualmente, então podemos
conversar sobre isso agora —, ela respondeu. Justin era
superprotetor, particularmente agora que ela estava grávida.
Ele estava convencido de que o menor transtorno iria mandá-la
para o parto prematuro.
— Eu não acho que o que tenho a dizer vai causar-lhe
qualquer irritação —, disse Case.
Justin assentiu com relutância e Case continuou. —
Quando ficou claro que Penroth não ia encontrar você, ele
concentrou sua atenção em se casar com outra herdeira.
Jillian ofegou. — Como ele pode fazer isso?
— Havia rumores de que ele pedira o divórcio por causa do
abandono, mas depois ele mudou seu pedido, e está no
processo de ter você declarada morta. De qualquer maneira o
libertaria para se casar novamente, mas acho que o bastardo
sabe que você está com Justin, e o divórcio a libertaria tão bem
quanto a ele, então ele optou por seguir uma rota que tornaria
impossível que você se casasse novamente.
Morta. De alguma forma, o pensamento a perturbou. A
ideia de sua existência ser apagada deixou-a vazia.
— Você está bem? — Ela ouviu Justin perguntar,
preocupação evidente em sua voz.
— Sim, claro —, disse ela, oferecendo-lhe um sorriso
trêmulo.
— De qualquer forma, ele parece ter desistido da ideia de
encontrar Jillian —, disse Case suavemente. — Seu foco está
em encontrar uma esposa com bastante dinheiro para salvá-lo
da completa ruína.
Ela sentiu uma certa dose de alívio por si mesma, mas a
ideia de outra mulher ser submetida às perversidades de Lucas
a deixou nauseada.
— Ele está lutando para sobreviver —, Case continuou. —
Lady Bea fez com que ele não fosse bem-vindo na maioria das
funções da sociedade. É apenas uma questão de tempo até que
suas inúmeras contas sejam cobradas.
— Como pode... como alguém pode permitir que sua filha
case-se com ele? —, Perguntou ela. — Certamente todo mundo
sabe o que ele... como ele me tratou. Eu estava lá na Grosvenor
Square para o mundo ver.
— Há aqueles dispostos a ignorar essas coisas por causa
de um título —, Justin murmurou. — Mesmo um tão
manchado quanto o de Penroth.
— Como está Hawk? — Ela perguntou, em uma mudança
abrupta de assunto. Ela não tinha vontade de pensar em
Lucas. Apenas a menção a ele conjurou lembranças dolorosas.
Justin estava olhando para ela com uma expressão assassina
em seu rosto, e ela sabia que ele também estava se lembrando
de seu tratamento em suas mãos.
— Eu não sei —, disse Case ironicamente. — Ele
desapareceu quando voltamos para Londres. Eu o vi duas
vezes desde então, e nas duas vezes foi para me trazer notícias
sobre as ações de Penroth... coisas que ainda não sei como ele
soube.
— Ele parece um homem solitário e isolado —, ela
murmurou.
— Por Deus, Jilly! O que é isso? — Case exclamou,
olhando horrorizado para a barriga dela.
Ela riu e olhou para sua barriga ondulante. — É o bebê
em movimento.
— Posso... posso tocá-la? — Ele perguntou admirado.
Ela pegou a mão dele e colocou sobre o pequeno inchaço.
— Essa é a coisa mais incrível que eu já vi —, disse ele,
com os olhos arregalados.
— Como estão as coisas em Whittington? — Justin
perguntou baixinho.
Case baixou a mão e se virou para ele. — Tudo está bem.
— Ele olhou de volta para Jillian. — Seus servos se dão muito
bem com Edward.
— Eu sinto falta de todos eles —, ela disse com carinho. —
Eu nunca te agradeci por levá-los todos para Whittington.
— Fiquei feliz em fazê-lo, Jilly.
— É realmente maravilhoso ver você de novo —, disse ela,
apertando a mão dele. Ela olhou para Justin. — Por que você e
Case não vão à aldeia e buscam uma galinha do açougueiro?
Vou preparar uma refeição especial para o jantar desta noite.
— Você? Cozinhando? — Case se dissolveu em riso, e ela o
encarou feio.
— Pensando bem, posso deixar você morrer de fome.
Ele riu e se moveu na direção de Justin. — Eu não posso
resistir a oportunidade de provar sua comida. Podemos ir? Meu
Deus, eu nunca fui a um açougueiro em toda a minha vida —,
acrescentou ele, quando foram para a porta.
Justin sorriu e deu um tapa nas costas dele. — Venha,
então. Há uma primeira vez para tudo.
Jillian observou-os partir a pé e reprimiu uma risadinha
com a expressão mórbida de Case. Ela também ficou em
choque durante as primeiras semanas de sua nova situação.
Não havia ninguém para fazer ou conseguir as coisas, além de
si mesma.
Cantarolando baixinho, ela desceu o caminho para o
oceano. Havia tempo para uma breve caminhada e para
respirar ar fresco antes que Justin retornasse. Ele a repreendia
por sair sozinha, mas agora sentia uma sensação de alívio com
a notícia de Case. Uma leveza que ela não sentia há meses
acelerou seus passos, e ela resistiu à vontade de dançar ao
longo do penhasco rochoso.
Uma súbita explosão de inspiração a atingiu, e ela
começou a recolher flores, organizando-as em um buquê em
seus braços. Ficariam maravilhosos como uma peça central
para a mesa de jantar esta noite.
Ela não teve pressa, pegando as flores e segurando-as até
o nariz. O cheiro inebriante encheu suas narinas, e ela
suspirou com contentamento. Quando se levantou, depois de
pegar a última flor, sentiu uma pontada nas costas. Ela se
endireitou e esfregou-as com a mão livre. Já era hora de voltar
para a cabana, e ela descansaria lá até a hora de preparar o
jantar.
Assim que ela se virou para voltar ao caminho, um braço
serpenteou ao redor de sua garganta e a agarrou
violentamente. As flores se espalharam amplamente quando
suas mãos subiram para agarrar o braço que a sufocava. Ela
lutou freneticamente contra um peito duro.
— Eu te disse que iria te encontrar, puta.
Capítulo Vinte e Nove
Jillian levou o cotovelo para trás e bateu na barriga de
Lucas. Ele soltou um grunhido e soltou seu aperto apenas o
suficiente para ela se libertar. Ela correu para a casa, mas ele
estava sobre ela em questão de segundos, derrubando-a no
chão. Quando ela caiu, seus braços foram instintivamente ao
redor de soa barriga em um esforço para proteger seu filho.
Ela olhou para cima para vê-lo se elevando sobre ela, ódio
irradiando de cada poro de seu corpo.
— Eu sabia que você era a puta dele! — Ele cuspiu. — E
agora você carrega seu bastardo. Não importa. Você vai morrer
por toda a dor que você me causou.
— Por que, Lucas? — Ela estava desesperada para atrasá-
lo. Se ao menos ela pudesse dar a Justin e Case tempo
suficiente para retornar. — Você poderia ter me declarado
morta. Por que chegar a esse extremo?
— Minha petição foi negada! — Ele gritou. — O primo de
Whittington está por trás disso, eu sei!
— Então divorcie-se de mim —, ela implorou. — Case
disse que você tem outra mulher em mente para se casar.
— O pai da menina não concorda com a união a menos
que você esteja morta. Eles desaprovam o divórcio. Você tem
sido uma desgraça para a minha existência desde o começo, e
agora eu finalmente terei minha vingança.
Ele avançou ameaçadoramente em direção a ela e ela
moveu-se freneticamente pelo chão, tentando equilibrar-se de
pé. Quando ela se levantou, sentiu as mãos dele ao redor de
seu pescoço.

###

Justin e Case saíram da pequena loja onde o açougueiro


abrigava seus negócios e Case fez uma careta mais uma vez. —
Que lugar horrível! Não tenho certeza se tenho estômago para o
jantar depois daquele espetáculo.
Justin riu. — Você parece arrogante, irmãozinho. Nós
devíamos voltar. Jillian vai querer começar a preparar a
refeição.
— Você continua sem mim —, disse Case. — Eu quero dar
uma olhada ao redor da aldeia, por um presente para Jillian e
o bebê. Não é cedo demais para começar a estragar minha
sobrinha ou sobrinho.
— Só não se demore muito ou Jillian nunca vai deixar de
falar sobre isso. — Ele começou a curta caminhada de volta
para a casa quando Case desapareceu em uma das lojas.
Enquanto entrava na casa, ele olhou ao redor da sala
vazia da frente. — Jillian? — Ele chamou. Dirigiu-se para a
cozinha, mas ela não estava lá também. Ele sorriu. Ela
provavelmente tirou proveito de sua ausência e deu um passeio
até o oceano.
Ele colocou o frango na mesa e saiu pela porta dos fundos.
Era uma bela tarde de primavera, e ele não poderia culpar
Jillian por fugir ao ar livre por um tempo. Seu passo era
despreocupado, e pela primeira vez em mais de um ano ele não
sentiu o peso opressivo da preocupação pesando sobre ele.
Na metade do caminho ele ouviu um grito e congelou. Era
Jillian! Ele começou a correr, movendo-se o mais rápido que
pôde na direção do choro dela. Ela entrou em vista e seu
coração parou. Penroth tinha as mãos em volta do pescoço dela
e ela estava valentemente tentando afastá-lo.
Justin gritou de raiva e voou através da distância entre
eles. Penroth empurrou Jillian para o lado quando ele se virou
para enfrentar o ataque de Justin. Ele bateu em Penroth e o
levou ao chão. Eles rolaram repetidamente enquanto lutavam
freneticamente.
Meses de raiva reprimida explodiram dentro de Justin
quando ele atacou Penroth. Imagens do rosto maltratado de
Jillian continuavam piscando repetidamente. — Vamos ver
como você lida com alguém do seu tamanho —, ele rosnou
quando Penroth se libertou e recuou, circulando
cautelosamente ao redor de Justin.
Uma decisão consciente oscilou na borda de seus
pensamentos. Ele não deixaria Penroth ir desta vez. Ele o
mataria com as próprias mãos por tudo que Jillian tinha
sofrido nas mãos de Penroth. Piscando, ele viu Jillian de pé ao
lado, seu punho atado à boca.
— Saia daqui, Jillian —, ele gritou com voz rouca. —
Prometa-me, você chegará o mais longe possível daqui! Vá. —
Ele foi impedido de dizer nada mais, quando Penroth,
aproveitando sua distração, jogou-se nele.
Jillian se virou e correu para a cabana, grandes soluços de
medo torturando seu corpo. Pareceu uma eternidade antes de
chegar à porta e abri-la. — Case! — Ela gritou. Ela olhou
freneticamente ao redor e, em seguida, tropeçou e caiu
enquanto se arrastava para o quarto.
Ela se levantou e correu para o quarto, abrindo o guarda-
roupa de Justin. Onde estava Case? Freneticamente, ela
vasculhou os itens até que finalmente sentiu o metal frio de um
cano de arma. Ela agarrou-a e pegou a pequena bolsa que
continha as balas. Com as mãos trêmulas, afrouxou a abertura
da bolsa e enfiou a mão dentro por uma das balas pesadas. Ela
gritou de frustração quando derrubou o saco, derramando o
conteúdo por todo o chão. Caindo de joelhos, ela rapidamente
pegou uma bala e, em seguida, enfiou a mão no guarda-roupa
para pegar o chifre de pó.
Assim como Justin mostrara inúmeras vezes, ela carregou
a pequena pistola de bolso. Só que desta vez, era muito
importante. Uma mão protetora pousou sobre sua barriga
quando se levantou e correu para a porta. Ela entoou uma
oração repetidamente até que se tornou uma ladainha
enquanto ela corria de volta pelo caminho. Quando ela chegou
ao topo, seu estômago revirou. Apenas a uma curta distância,
Lucas estava à beira do penhasco e apontava uma arma para
Justin. Seu rosto estava acabado e sangrando pela surra que
recebera. Suas mãos tremiam, mas a arma nunca vacilou de
seu alvo... Justin. Sem um momento de hesitação, ela levantou
a pistola e engatilhou a arma.

###
Justin tropeçou para trás quando Penroth atacou
novamente, e quando ele olhou de volta para cima, estava
olhando para o cano de uma arma. De onde veio isso?
Desânimo o invadiu. Ele falhou. Que Case proteja Jillian, ele
orou. — Eu sempre vou amar você —, ele sussurrou.
Determinado a não morrer sem matar o bastardo que
ameaçava Jillian, ele se preparou para lançar-se com força
total em Penroth. Então um tiro soou e ele cambaleou para
trás. Que estranho, ele não sentiu dor. Ele colocou as mãos
sobre o corpo, certo de que sentiria seu sangue vital se
esvaindo. Olhando para cima, ele ficou chocado ao ver Penroth
agarrando seu lado e, em seguida, ele caiu do penhasco. Ele
correu para frente e olhou sobre a borda no momento em que o
corpo de Penroth desaparecia na onda crescente.
Ele se virou para ver Jillian cair no chão, uma mão na
barriga e a outra apertando firmemente uma pistola.
Compreendeu o que ocorrera, e correu para ela. — Jillian, você
está bem? Querida, diga alguma coisa!
Lentamente sua cabeça levantou e ela olhou para ele com
o olhar entorpecido. — Eu o matei —, ela sussurrou. Ela olhou
para a arma na mão e estremeceu. Ela largou-a
apressadamente como se tivesse queimado sua pele.
Ele a envolveu em seus braços, balançando-a para frente e
para trás enquanto a abraçava firmemente contra ele.
Suavemente, ele a pegou no colo e caminhou lentamente de
volta para a casa. Quando chegaram à cabana, Case surgiu
pela porta. — O que aconteceu?! — Ele exigiu. — Ela está bem?
É o bebê?
Justin balançou a cabeça, passou por ele e entrou na
casa. Ele depositou Jillian no sofá da sala da frente e segurou o
rosto dela com as mãos. — Fale comigo, querida. Você está
ferida?
Ela olhou para ele sem expressão, como se não
compreendesse o que ele estava dizendo.
— Pegue uma bebida para ela —, ele gritou para Case, que
estava parado na porta, encarando preocupado.
Momentos depois, ele pressionou um copo nos lábios dela,
forçando um pouco do líquido em sua boca. Ela piscou
rapidamente e então lágrimas encheram seus olhos. — Oh
Deus, Justin!
Ele a esmagou contra ele. — Não chore, querida. Ele não
vale suas lágrimas.
— Alguém por favor, me diga o que diabos está
acontecendo? — Case explodiu.
— Penroth —, Justin murmurou.
— Aqui? — Case perguntou incrédulo.
— Ele atacou Jillian. Ele teria atirado em mim, mas Jillian
pegou a pistola do meu guarda-roupa e atirou nele antes que
ele pudesse.
Case olhou boquiaberto para eles. — O quê?
— Eu atirei nele —, disse Jillian em voz baixa.
Ele passou a mão pelo cabelo e abriu a boca para falar,
mas fechou de novo. — Ele está morto?
— Sim —, Justin disse em um tom recortado. — Ele caiu
do penhasco.
— Já foi tarde —, Case murmurou. — Jilly, você está
bem? Devo chamar o médico?
— Ela vai ficar bem —, Justin disse calmamente. —
Convoque o comissário em vez disso.
Case arqueou uma sobrancelha. — Você acha que isso é
sensato? Se ele caiu no oceano, é duvidoso que alguém
reconheça o corpo quando ele estiver em terra.
— Basta trazê-lo —, Justin disse com firmeza. — Isso foi
feito em legítima defesa. Não há nada que alguém possa fazer
para Jillian. Melhor esclarecer isso agora ou teremos que viver
com isso pairando sobre nossas cabeças.
Case assentiu e saiu apressadamente.
Justin voltou-se para Jillian e seu coração se apertou
quando viu lágrimas correndo por suas bochechas. — Ahhh,
querida, não chore —, ele disse suavemente. — Eu não posso
suportar quando você chora.
— Eu matei um homem, Justin, e não lamento. Ele ia
atirar em você... — Ela se interrompeu quando engoliu um
soluço. — Oh Deus, Justin, eu quase perdi você.
— Shhh, Jillian, você nunca vai me perder. Querida, você
sabe o que isso significa?
Ela olhou para cima, os olhos brilhantes com as lágrimas.
— O quê?
— Nós estamos livres. Livres.
Seus olhos se arregalaram de admiração quando ela
percebeu seu significado. Ela abriu a boca para falar, mas nada
saiu. Então ela começou a chorar pra valer.
Através de suas lágrimas, um pouco do peso horrível foi
tirado dela. As palavras de Justin se repetiam em sua mente.
Livre. Ela estava finalmente livre do domínio de Lucas. Ela não
era mais uma mulher casada.
Ela olhou para o homem na frente dela com novos olhos.
Ele a observava, seu rosto uma espiral de preocupação. Ela
sorriu hesitantemente e estendeu a mão para tocar sua
mandíbula. — Eu te amo —, ela sussurrou.
Ele capturou a mão dela e levou-a aos lábios. — E eu te
amo.
— Justin, e se... se o comissário quiser me prender?
— Você deve saber que eu nunca deixaria isso acontecer
—, ele murmurou. — Quaisquer que sejam nossas
circunstâncias, eu ainda sou o Duque de Whittington e minha
história não será posta em dúvida.
— Mas eu o matei.
— Ele teria matado você e eu, Jillian. Você não teve
escolha.
Os dois olharam para cima quando Case entrou, um
cavalheiro de aparência corpulenta seguindo-o de perto. — Eu
digo —, o homem começou. — O que acontece aqui? Lord Case
disse que houve um disparo.
Justin se levantou e rapidamente explicou as
circunstâncias. Jillian observou o homem ouvir com grande
interesse a história. Ela mordeu o lábio nervosamente, com
medo do que o comissário diria.
— Tentou sufocar sua senhoria, você diz? —, Perguntou o
homem. — Isso é desprezível.
— Você pode ver as marcas por si mesmo —, disse Justin
gesticulando para onde ela estava sentada no sofá.
O homem ficou vermelho e depois gaguejou: — Tudo bem,
tudo bem, não há necessidade de desconsiderar o decoro. Eu
certamente acredito em sua palavra, sua graça. Vou pegar suas
declarações e fazer um relatório. Não há necessidade de
medidas adicionais.
Jillian deu um enorme suspiro de alívio quando o
comissário saiu alguns minutos depois. Ela começou a tremer
quando o medo reprimido foi liberado. Justin se ajoelhou na
frente dela, tomando suas mãos nas dele. — Vamos para nosso
lar, Jillian.
Ela olhou para o amor refletido em seus olhos e seu
coração se contraiu. — Lar é onde você está.
Ele a puxou para seus braços e a beijou suavemente,
reverentemente. — Jillian, você vai me dar a honra de se tornar
minha esposa?
— Isso significa que eu posso ser uma duquesa, afinal? —
Ela perguntou provocativamente.
Sua expressão ficou séria quando ele olhou nos olhos dela.
— Você sempre foi a duquesa do meu coração.
Ela derreteu sob o seu olhar quente. — Sim, eu ficaria
honrada em ser sua esposa.
Ele girou-a ao redor e depois parou na frente de Case,
parecendo confuso com a presença de seu irmão.
Case riu. — Oh, não se importem comigo. Eu obviamente
não estou aqui.
— Chame sua carruagem. Você pode nos levar para casa
—, disse Justin, sorrindo largamente.

###
A chegada deles provocou grande festa em Whittington.
Edward não pôde conter as lágrimas de alegria quando Justin,
Jillian e Case atravessaram as grandes portas de carvalho para
dentro da casa. Jillian foi envolvida por seus criados, e Hilda
interrompeu com uma dança campestre, levantando as saias e
batendo os calcanhares. Foi realmente o dia mais feliz que
Whittington tinha visto em muitos anos.
Naquela noite, todos se reuniram em torno da grande
mesa na sala de jantar e fizeram um jantar comemorativo. O
geralmente leal Edward parecia perfeitamente à vontade com a
familiaridade entre os empregados e seus empregadores. Ele
não iria viver para sempre, ele pensou com uma nota de
tristeza, mas ele veria Whittington tocando os acordes de
felicidade antes de ir ao encontro de seu criador.
Ele esteve aqui para testemunhar três gerações de
Whittingtons através de suas alegrias e suas dores de cabeça.
Depois que o ex-duque e duquesa morreram tragicamente, ele
pensou que nunca sentiria a casa ressoando com tanto amor e
riso. Ele estava grato por ter vivido o suficiente para provar que
estava errado. E se Deus estivesse disposto, ele estaria aqui
para receber a quarta geração de Whittingtons que ele serviria.

###

O casamento seria realizado o mais rápido possível.


Ninguém queria arriscar a futura duquesa de Whittington
dando à luz antes da cerimônia de casamento.
Na manhã do casamento, Jillian ficou na frente do espelho
alisando o material de seu vestido. Ela escolhera uma simples
criação de seda amarela. Ele escondia o crescente inchaço de
sua barriga no material macio que fluía logo abaixo de seus
seios. Ela estava prestes a colocar o pequena argola de
margaridas que Justin tinha enviado para ela em cima de seu
cabelo quando uma batida soou na porta.
Ela virou-se e, para sua surpresa, lá estava Lady Bea,
sorrindo largamente para ela. — Milady! Como você chegou
aqui?
Lady Bea se aproximou dela, com lágrimas nos olhos. —
Oh, minha querida... que prazer ver você de novo! — Ela pegou
a argola de flores e gentilmente prendeu-a no cabelo de Jillian.
Quando ela ficou presa no lugar, ela olhou com carinho para
Jillian. — Edward mandou uma mensagem para mim assim
que ele soube que você estava voltando. Por isso sou grata,
porque não quero perder este dia por nada.
Ela deu ao cabelo de Jillian um tapinha satisfeito e depois
recuou para avaliar o resultado. — Você está absolutamente
linda.
Jillian não resistiu em abraçar a mulher mais velha. —
Estou muito feliz por você estar aqui. Não posso imaginar
compartilhar este dia com mais ninguém.
Lady Bea pareceu satisfeita com as palavras de Jillian e
então seu olhar se suavizou em um nostálgico. — Se eu tivesse
tido a sorte de ter uma filha, eu gostaria que ela fosse como
você.
Jillian deu outro abraço rápido. — Você é muito gentil
comigo.
As duas olharam para cima quando Hilda apareceu na
porta. — Está na hora, milady —, ela anunciou. — Você está
maravilhosa —, ela acrescentou, sorrindo para Jillian.
— Bem, é isso —, disse Jillian enquanto respirava fundo.
Ela deu o braço a lady Bea e as duas saíram do quarto e
seguiram pelo corredor até as escadas.
Em baixo, Case e Hawk esperavam para acompanhá-la até
o jardim, onde a cerimônia seria realizada. Surpreendida mais
uma vez, ela deu um abraço em Hawk. — Eu deveria mesmo
perguntar onde você esteve? — Perguntou ela. Ele deu-lhe um
sorriso gentil e empurrou-a para Case.
Case deu-lhe um beijo rápido na bochecha enquanto se
dirigiam para as portas do terraço. — Você está se sentindo
bem? — Ele perguntou em um sussurro.
Ela sorriu e acenou com a cabeça e, em seguida, eles
saíram para o sol quente da primavera. Desceram o caminho
espiralado para os jardins até chegarem ao centro onde os
criados estavam reunidos. Lágrimas brotaram em seus olhos
quando viu que ela tinha ainda mais surpresas. Lady Cecilia
estava com Lady Burlington, Adela Farnsworth, eloise
Huntington e seus maridos. Seus rostos radiantes aqueceram
seu coração e acrescentaram ao já perfeito cenário.
Ela se virou para o centro dos jardins e lá, sob um arco
lindamente construído, estava Justin com o vigário local.
As vigas de madeira do arco estavam adornadas com as
belas flores do jardim, e a hera enrolava subindo nos postes,
entrelaçando-se com as flores perfumadas.
Os olhos de Justin escureceram quando eles vieram
pousar nela e ela estremeceu. Ele permaneceu orgulhoso e
solene, esperando que ela viesse até ele. Vestido de preto, calça
formal nos joelhos e camisa branca com sobretudo preto, ele
estava talhado numa figura arrojada.
Quando ela lentamente se aproximou dele, ele estendeu a
mão e, em seguida, puxou-a para perto enquanto se viravam
para enfrentar o vigário. Quando ele começou a recitar as
palavras que a unirian a Justin para sempre, ela espiou de
volta para ele e seus olhos se encontraram. Em um momento
atemporal, eles permaneceram trocando a promessa de ficar
juntos sempre.
No final, justamente quando Justin se inclinou para roçar
os lábios nos dela, ela colocou um dedo sobre a boca dele. —
Há algo que eu quero falar —, ela sussurrou. Ele olhou para ela
surpreso, mas ela sorriu tranquilizadoramente.
— Eu... — Ela interrompeu-se, emoção frustrando seus
esforços para falar. Ela sentiu suas mãos quentes e gentis
apertar as dela e renovou seus esforços para dizer o que ela
queria.
— Nunca imaginei encontrar um amor como o seu —, ela
sussurrou. Penso nos sacrifícios que você estava disposto a
fazer... os que você fez por mim, e sei que sou tão indigna. Por
favor, saiba, Justin, que sempre amarei você. Eu nunca vou
abusar do presente que você tão amorosamente me deu.
Ela ficou surpresa ao ver uma única lágrima rolar pela
bochecha dele quando ela terminou de falar, e ele a pegou com
força em seu abraço. Suas palavras estavam abafadas contra o
cabelo dela. — Eu também te amo, querida. Saiba que você
sempre segurará meu coração em suas mãos. Eu vou mantê-la
segura, sempre. Eu morreria por você.
Nem um único olho esteve seco naquela tarde de abril,
quando o duque de Whittington e sua duquesa juraram seu
amor na frente de seus amigos e familiares. E minutos depois,
quando ela pôs uma expressão muito estranha e
apressadamente sussurrou algo para seu novo marido, ele
freneticamente pegou-a no colo e correu para a casa, gritando
para alguém chamar o médico. Parecia que o mais novo
membro da família de Whittington sabia exatamente o
momento perfeito para chegar.
Notas

[←1]
Hessian (a partir de Hesse na Alemanha) refere-se a um estilo de bota que se tornou popular no
século XVIII

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