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Por José Ricardo da Mata Soares de Souza e Rogério Tuma – 17 de Setembro de 2009
As linhas de transmissão com compensação série sempre foram um dos maiores desafios da engenharia
de proteção de sistemas elétricos. Fenômenos como as inversões de tensão e de corrente afetam a
discriminação da direção para faltas em que o banco de capacitores está em operação, ou seja, quando
as proteções do banco de capacitores (“gaps” e MOVs) não atuam, comprometem o desempenho dos
relés de distância, direcionais de sobrecorrente e até mesmo dos relés diferenciais utilizados para
proteger a linha de transmissão em questão. Com o intuito de buscar uma solução mais abrangente para
estes problemas, este trabalho emprega o argumento da razão das tensões à frente e atrás do banco de
capacitores para obter a direcionalidade necessária.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar o efeito dos seguintes fatores no comportamento do método
proposto:
• Inversão de corrente que ocorre quando a reatância indutiva equivalente atrás do banco é menor do que
a sua reatância capacitiva.
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Para a análise do método durante essas condições serão realizadas diversas simulações computacionais
com o auxílio do software ATP (“Alternative Transient Program”). Essas simulações serão posteriormente
submetidas ao algoritmo proposto implementado com o auxílio do software SCILAB.
Entretanto, a utilização deste recurso tem um grande impacto na complexidade dos sistemas de proteção.
Dentre os fenômenos relacionados com a compensação série que afetam a proteção podemos destacar
os seguintes:
*Inversão de tensão – Quando ocorre uma falta com resistência elevada, próxima ao banco de
capacitores, de maneira que a reatância entre o relé e o ponto de falta tem característica capacitiva, a
tensão na barra se comporta como se o curto-circuito tivesse ocorrido atrás do relé. Este problema, no
entanto, pode ser facilmente resolvido instalando-se os transformadores de potencial à frente do banco
de capacitores.
*Inversão de corrente – Em alguns casos, quando ocorre uma falta próxima ao banco de capacitores, a
reatância equivalente total vista a partir ponto de falta apresenta característica capacitiva. Nesses casos,
é a corrente que se inverte afetando direcionalidade do relé. Embora diversos estudos recomendem que
este fenômeno seja evitado por ações de planejamento, isso pode não ocorrer de fato. Para verificar tal
afirmação, foram calculadas as impedâncias equivalentes vistas a partir dos terminais de diversas linhas
de transmissão compensadas do SIN, com o auxílio do programa ANAFAS/SAPRE, a partir da Base de
Dados de Curto-circuito do Operador Nacional do Sistema (ONS). De 41 bancos analisados, em 18 deles
a reatância indutiva equivalente da fonte era menor do que a reatância capacitiva do banco. Nestes
casos, a inversão da corrente irá ocorrer durante curtos-circuitos próximos aos bancos de capacitores.
Outro aspecto relacionado a este fenômeno, é que em curtos-circuitos próximos ao banco de capacitores,
os “gaps” e MOVs que protegem o banco de capacitores podem atuar, retirando o banco de operação. A
atuação das proteções do banco pode não ocorrer para faltas de alta impedância, que também podem
ocorrer.
*Ressonância subsíncrona – Durante uma falta em uma linha de transmissão compensada surgem
componentes de diversas frequências, em função dos diversos modos de ressonância que podem
ocorrer. A maior parte das componentes são subsíncronas, ou seja, suas frequências naturais são
inferiores à frequência fundamental. As frequências subsíncronas fazem os fasores medidos pelos relés
digitais se aproximarem da solução final por meio de espirais, que são tão maiores quanto a magnitude
destas componentes. Estas espirais podem induzir os relés a erros, que vão desde sobrealcance a erros
de direcionalidade quando a falta ocorrer muito próxima ao banco.
e só depois disso permitir a atuação das proteções. Entretanto, isso pode levar o tempo de eliminação de
defeitos a valores inaceitáveis. Diversos trabalhos tentaram resolver este problema utilizando diferentes
recursos, como técnicas de proteção adaptativa e PMU (“Phasor Measurements Units”) dentre outras. A
despeito desses métodos, as técnicas conhecidas até o presente momento, de uma forma geral,
funcionam adequadamente apenas em situações bastante particularizadas, pois não resolvem o cerne do
problema que é a direcionalidade. Com o objetivo de buscar uma solução mais abrangente para este
problema, os autores deste trabalho propuseram uma técnica inovadora que utiliza o argumento da razão
das tensões à frente e atrás do banco de capacitores para obter a direcionalidade necessária.
O presente trabalho tem por objetivo avaliar o efeito dos seguintes fatores em seu comportamento:
•Inversão de corrente que ocorre quando a reatância indutiva equivalente atrás do banco é menor do que
a sua reatância capacitiva.
Para a análise do comportamento do método durante essas condições serão realizadas diversas
simulações computacionais com o auxílio do software ATP (“Alternative Transient Program”). Essas
simulações serão posteriormente submetidas ao algoritmo proposto implantado com o auxílio do software
SCILAB. Para uma melhor avaliação dos resultados obtidos pelas simulações, será utilizado o plano ?.
Este recurso, geralmente utilizado para a análise de proteções diferenciais, pode ser utilizado para a
investigação do comportamento de qualquer relé de proteção que compare duas grandezas fasoriais para
definir sua característica de operação. Neste caso, as grandezas comparadas serão as tensões à frente e
atrás do banco de capacitores série.
DESCRIÇÃO DO MÉTODO
O circuito mostrado na Figura 1a representa uma linha de transmissão com compensação reativa série.
U1 e U2 são as fontes equivalentes (1 pu @ 0 graus), R1 e R2 são as resistências das impedâncias
equivalentes e XL1 e XL2 são as reatâncias indutivas das i
Para uma falta trifásica franca na linha à frente do capacitor, o circuito pode ser reduzido ao circuito da
Figura 1b.
Os valores dos equivalentes R2’ e XL2’ são diretamente proporcionais à distância da falta. Neste caso, a
corrente e as tensões e as tensões valem:
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A impedância equivalente R1 + j.XL1 depende de diversos fatores, como topologia da rede no instante do
curto-circuito; a condição ideal é aquela em que a variável utilizada para definir a direção da falta não
dependa deste valor, dependa somente da impedância vista pelo relé. A razão entre V1 e V2 possui esta
característica, pois vale:
No plano ?, esta equação obtida corresponde a uma reta de inclinação (90° – ? L1’) que corta o ponto
(1,0). O plano ? é um artifício proposto por Warrington (ver bibliografia) para auxiliar a análise do
comportamento de relés de proteção que comparem duas grandezas de natureza complexa para definir
sua característica de operação.
As setas vermelhas da Figura 2 mostram como essa relação se comporta no plano ? à medida que a falta
se afasta do banco de capacitores. Esta figura foi obtida por meio de uma simulação computacional feita
pelo programa SciLab.
Figura 2 – Lugar geométrico da razão V1/V2 no plano ? para faltas à frente do banco de
capacitores e faltas atrás do banco de capacitores
Para faltas trifásicas atrás do banco, no entanto, o circuito equivalente fica reduzido ao mostrado na
Figura 1c. Neste caso, pode-se deduzir que:
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No plano ?, esta equação corresponde a uma elipse que toca a origem e cujos focos estão situados sobre
uma reta paralela ao eixo imaginário. Da mesma forma, as setas azuis da Figura 2 mostram como essa
relação se comporta no plano ??à medida que a falta se afasta do banco de capacitores.
Com base nos lugares geométricos para as faltas da Figura 2, pode-se definir uma região de atuação. Da
maneira com que o método foi abordado no trabalho inicial, esta região de atuação foi definida como o
mostrado na Figura 3.
As mesmas deduções feitas para as faltas trifásicas foram feitas também para faltas desequilibradas.
Para um curto-circuito monofásico à frente do banco, por exemplo, pode-se verificar que a razão entre V1
e V2 na fase faltosa vale:
Pode-se verificar que o comportamento é semelhante ao caso trifásico. Uma dedução semelhante pode
ser feita para as faltas bifásicas utilizando-se as tensões fase-fase.
Resistência de falta
Existem dois tipos de resistências que podem aparecer em uma falta: a resistência de arco e a resistência
de contato. A resistência de arco, como o próprio nome diz, é aquela referente ao arco elétrico
(“flashover”) formado pelo curto-circuito. Há diversas referências na literatura para o cálculo desta
resistência. Para uma linha de transmissão de 500 kV, por exemplo, elas apresentariam um valor inicial
bem baixo (entre 1 ? e 2 ?), mas à medida que, por exemplo, o vento aumenta o comprimento do arco,
este valor pode aumentar consideravelmente.
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Quando existe uma resistência de falta, há uma modificação no lugar geométrico das faltas no plano ?.
As setas alaranjadas e violetas da Figura 4 mostram o comportamento das faltas à frente e atrás do
banco de capacitores com resistência de falta, respectivamente.
Pode-se verificar, então, que os curtos-circuitos com resistência de falta estão cobertas pela região de
atuação inicial.
Durante faltas francas próximas ao banco de capacitores, o módulo da tensão, no ponto de falta, fica
bastante reduzido. Isso pode impossibilitar o cálculo dos fasores fundamentais pelo relé. Este problema,
no entanto, pode ser resolvido definindo um valor mínimo de tensão para que o relé tenha sensibilidade.
O ponto que vier a apresentar uma tensão abaixo deste valor pode ser considerado um ponto de falta.
Desta forma, poderia ser implementada uma lógica conforme a apresentada na Figura 5.
Figura 5 – Lógica proposta para evitar atuações incorretas devido à ausência de tensão durante
faltas francas próximas ao banco
Inversão de corrente
A inversão de corrente é um fenômeno que ocorre quando a reatância indutiva equivalente do sistema
atrás do banco de capacitores tem o módulo menor do que a reatância capacitiva do banco de
capacitores. Neste caso, as correntes passam a fluir no sentido inverso. Como o método proposto se
baseia em tensões, ele é imune à ocorrência de inversões de corrente. Além disso, na formulação
proposta, não são utilizadas a impedâncias equivalentes dos sistemas.
Inversão de tensão
A inversão de tensão é um fenômeno inerente do sistema e que sempre irá ocorrer quando a reatância
indutiva do trecho da linha de transmissão entre o banco de capacitores e o ponto de falta tiver o módulo
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menor do que a reatância capacitiva do banco de capacitores. Este caso já está coberto pela simulação
apresentada na Figura 2 e nas deduções elaboradas.
SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS
Para verificar o comportamento do método proposto, foram realizadas diversas simulações com o auxílio
do programa ATP. O sistema utilizado nas simulações é mostrado na Figura 6. Os parâmetros das linhas
e dos bancos de capacitores foram obtidos de um caso semelhante real do SIN a partir da base de dados
do ONS. Os equivalentes foram calculados pelo programa SAPRE/ANAFAS, desenvolvido pelo CEPEL.
A Figura 7 mostra o resultado de duas simulações: uma à frente e outra atrás do relé. Como pode ser
visto, os valores obtidos são condizentes com os esperados. Em outras palavras, para um curto-circuito à
frente do banco de capacitores, a razão V1/V2 se deslocou no plano alfa para o semiplano inferior (3º ou
4º quadrante) e para um curto atrás do banco de capacitores, se deslocou para o semiplano superior (1º
ou 2º quadrante). Os fasores fundamentais foram estimados a partir do filtro de Fourier de 1 ciclo com 32
amostras por ciclo.
Entretanto, a Figura 7 mostra também as oscilações subsíncronas podem fazer a trajetória da razão
V1/V2 passar pelo semiplano oposto antes de convergir para a solução correta. Uma forma de se
minimizar este fenômeno é por meio da filtragem dos sinais. No entanto, a maioria dos relés disponíveis
no mercado utiliza filtros que não são imunes a essas oscilações, como o de Fourier ou o filtro Cosseno.
Outra forma de resolver este problema seria por meio de lógica. A Figura 8 mostra um caso característico
em que a trajetória da razão V1/V2 passa pelo semiplano oposto por duas vezes. Pelas aproximações
apresentadas na Figura 8b pode-se constatar, no entanto, que a permanência no semiplano não desejado
se dá por no máximo 10 amostras. Como a taxa de amostragem é de 32 amostras por ciclo, isso equivale
a 0,31 ciclos, ou 5,2 ms. Dentre todas as simulações realizadas, este foi o maior tempo observado. Desta
maneira, se for implementada uma lógica que temporize o sinal por aproximadamente ½ ciclo antes de
efetuar mudança de direção, espera-se que este problema seja dirimido.
Figura 7 – Planos R-X e planos alfa obtidos a partir da simulação de um curto-circuito monofásico
na fase A (a) imediatamente à frente e (b) imediatamente atrás com resistências de falta de 20 ?.
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Figura 8 – (a) Trajetória da razão V1/V2 no plano alfa para um curto-circuito monofásico franco
imediatamente atrás do banco de capacitores e (b) aproximação das regiões em que a trajetória
passa pelo semiplano oposto
Outro ponto importante de se observar é o fato dos MOVs conduzirem, ainda que parcialmente,
protegendo o banco. Em nenhum dos casos simulados isso comprometeu a eficácia do método.
CONCLUSÕES
Os resultados das simulações mostraram a possibilidade de aplicação prática da técnica proposta. Além
disso, com o artifício proposto de se usar uma lógica utilizando um temporizador, podem ser utilizados os
relés de distância disponíveis no mercado para se implantar esta técnica, desde que estes relés
possuam:
• Memória suficiente para a implementação da lógica do método pelo usuário (6 unidades – AT, BT, CT e
AB, BC e CA).
Para a utilização deste método, no entanto, seriam necessários dois conjuntos de transformadores de
potencial por terminal de linha, enquanto o usual é utilizar apenas um conjunto. Isso, obviamente,
resultaria em um maior custo para o sistema de proteção. Entretanto, para que seja feita uma análise de
viabilidade econômica mais criteriosa, deve ser levada em conta a robustez da técnica proposta, que
dificilmente irá permitir que o relé atue indevidamente e dificilmente deixará de atuar para uma falta à
frente do banco de capacitores. Somando-se isso ao advento da parcela variável (PV), que é uma multa
proporcional ao tempo de desligamento de linhas de transmissão, é razoável aceitar este pequeno
incremento no investimento total de uma obra de uma linha de transmissão compensada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
– MANDOUR, M. E.; EL-ALAILY. Swiveling Characteristic for the Protection of Series Compensated Lines,
Electric Power Systems Research, 18, 1990.
– YU, Chi-Shan; LIU, Chih Wen; YU, Sun-Li; JIRANG, Joe-Air. A New PMU Fault Location Algorithm for
Series Compensated Lines, IEEE Transactions on Power Delivery, v. 17, n. 1, Jan. 2002.
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– WARRINGTON, A. R. C. Protective Relay – Their Theory and Pratice, Volume I, Chapman & Hall LTD,
Londres, 1962.
– ANDERSON, P. M. Power System Protection, Mc Graw Hill e IEEE Press, Nova Iorque, 1999.
– CARDOSO Jr., G.; DUTRA, R. A.; SANTOS, L. F. Soluções de aplicações de sistemas de proteção de
distância em linhas com compensação série. VIII STPC, Rio de Janeiro, Jul. 2005.
– ALTMAN, E.; MAGRIN, F.; BRITO, K.; MAEZONO, P. K.; MARIA, V. A. S. M. Curto-circuito de altíssima
resistência de falta em linha de transmissão de 525 kV – um relato de caso, IX STPC, Belo Horizonte,
Jun. 2008.
– SOARES DE SOUZA, J. R. M.; TUMA, R. W. A. Utilização de um novo algoritmo para estimação dos
fasores fundamentais em linhas de transmissão com compensação série – aplicação na localização de
faltas, IX STPC, Belo Horizonte, Jun. 2008.
João Ricardo Soares de Souza é engenheiro eletricista e engenheiro de proteção de sistema elétricos da
Companhia Paranaense de Energia (Copel).
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