Você está na página 1de 6

1

Influência das Distorções Harmônicas na


Proteção de Bancos de Capacitores:
Resultados Experimentais
Henrique L. Santos, José Osvaldo S. Paulino e Wallace C. Boaventura, UFMG
Lane Maria R. Baccarini, UFSJ, Marisa L. Murta, CEMIG-D

 estão sendo dessenssibilizados em algumas subestações para


Resumo  O aumento da circulação de harmônicos no sistema evitar falsos desligamentos do banco por causa da penetração
elétrico prejudica a proteção dos bancos de capacitores em de- de harmônicos de corrente no neutro. Assim, essas proteções
terminados arranjos, causando falsos desarmes e obrigando à estão funcionando de forma precária, uma vez que a elevação
redução de sua sensibilidade. Assim, esse artigo analisa o compor- de seus ajustes de desarme as tornam incapazes de detectar
tamento de quatro desses arranjos em medições realizadas em um pequenas falhas.
modelo reduzido, que procura reproduzir algumas características
Esse trabalho verifica a precariedade desse tipo de proteção
de bancos de capacitores em derivação na configuração estrela
com neutro aterrado. Foram considerados em tais experimentos, por meio de medições em um modelo reduzido de um banco
elevadas taxas de distorção harmônica, desbalanceamento de ten- de capacitores, descrito na seção III. A forma como esse arran-
são e desequilíbrio natural do banco. Busca-se, portanto, deter- jo foi implementado e ajustado para as medições é explicada
minar o método de proteção mais robusto e que apresenta a me- na seção IV, junto com as explicações pertinentes a outros três
lhor sensibilidade para detecção de pequenas falhas nessas condi- arranjos: Corrente de Neutro Compensada, Tensão Diferencial
ções. e Impedância. Esses arranjos, de acordo com os resultados das
simulações expostos em [2], possuem alta robustez ao desba-
Palavras-chave -- Bancos de capacitores, distorção harmônica, lanceamento de tensão do sistema e ao desequilíbrio natural do
modelo reduzido, relé digital, sensibilidade da proteção. banco, além de reduzirem a influência das componentes har-
mônicas de tensão e corrente. Assim, não precisam sofrer uma
I. INTRODUÇÃO grande dessenssibilização para evitar falsos alarmes e desar-
sistema de geração e distribuição de energia elétrica foi
O originalmente concebido no início do século XX com o
intuito de alimentar motores CA e lâmpadas incandescentes,
mes, o que melhora a sensibilidade para detecção de falhas.
Os resultados das medições são apresentados por meio de
gráficos e tabelas na seção V, onde também são feitas análises
cargas consideradas lineares e comuns naquela época. Hoje, comparativas do comportamento desses quatro arranjos quan-
contudo, o perfil do consumo elétrico se alterou radicalmente, do o sistema no qual estão inseridos apresenta distorções har-
uma vez que o uso de cargas não lineares em residências e mônicas, desbalanceamento de tensão e desequilíbrio natural
principalmente nas indústrias aumenta a cada dia. Isso gerou do banco de capacitores.
distorções nas formas de onda de tensão e corrente, que passa- Procura-se, então, corroborar os resultados das simulações
ram a prejudicar o próprio sistema elétrico, com o aumento do apresentados em [2] e, dessa forma, determinar o arranjo de
aquecimento dos condutores e transformadores, da queima de
proteção mais robusto a esses fatores e que apresenta a maior
fusíveis, de falsos desarmes de disjuntores e relés, da interfe-
sensibilidade para detecção de falhas. A conclusão é mostrada
rência nas comunicações e de erros de medições [1].
na seção VI.
A proteção de bancos de capacitores em derivação contra
falhas internas, brevemente explicada na seção II, também não
ficou imune a essa deterioração da qualidade da energia. Sis- II. PROTEÇÃO DE BANCOS DE CAPACITORES EM DERIVAÇÃO
temas de proteção baseados na medição da corrente de neutro Um banco de capacitores em derivação é normalmente
constituído de unidades capacitivas (denominadas latas) co-
nectadas de modo a obter os valores de tensão e potência dese-
Esse trabalho é resultado de um projeto de Pesquisa e Desenvolvimento jados. Cada unidade capacitiva é internamente formada por
realizado por um convênio entre a CEMIG-D, Fundação Christiano Ottoni e a
Universidade Federal de Minas Gerais. vários capacitores menores, comumente chamados de elemen-
H. L. Santos é mestrando do Programa de Pós Graduação em Engenharia tos capacitivos. Eles também são associados em série/paralelo
Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (henrilsan- conforme mostra a Fig. 1, adaptada de [3].
tos@cpdee.ufmg.br). Quando um banco é colocado em funcionamento podem
J. O. S. Paulino e W. C. Boaventura são professores adjuntos do Depar-
tamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais
ocorrer ao longo do tempo falhas internas que retiram elemen-
(josvaldo@cpdee.ufmg.br e wventura@cpdee.ufmg.br). tos capacitivos de operação. Essa situação causa um desequilí-
L. M. R. Baccarini é professora adjunta do Departamento de Engenharia brio das capacitâncias nas três fases do banco, o que resulta
Elétrica da Universidade Federal de São João delRei (rabelo@ufsj.edu.br). em um remanejamento da tensão ao longo dos elementos ca-
M. L. Murta é engenheira da Companhia Energética de Minas Gerais
(CEMIG Distribuição) e a gerente desse projeto (mlmurta@cemig.com.br).
pacitivos remanescentes, deixando-os sujeitos a uma sobreten-
2

são permanente. O propósito da proteção contra desbalancea-


mento é, portanto, retirar o banco de operação antes que essa
sobretensão se torne alta o suficiente [4] para provocar uma
falha em cascata levando à sua perda completa.

Fig. 2. Diagrama esquemático do modelo reduzido do banco de capacitores e


seu sistema de medição montado em laboratório.

IV. ARRANJOS DE PROTEÇÃO ESTUDADOS


Fig. 1. Exemplo de um banco de capacitores em derivação formado por várias
latas. À direita tem-se a visão ampliada de uma das latas formada internamen- A. Corrente de Neutro
te por vários elementos capacitivos. Adaptado de [3].
Para bancos de capacitores em derivação aterrados, a solu-
III. O MODELO REDUZIDO DO BANCO DE CAPACITORES ção de proteção mais simples e de menor custo é a mostrada na
Fig. 3, em que ocorre o monitoramento da corrente do neutro
Os capacitores utilizados para compor o banco do modelo por um relé de sobrecorrente instalado no TC no fechamento
reduzido são para correção do fator de potência de máquinas, do neutro. Em caso de desbalanceamento, uma corrente de
com potência de 3,3 kVAr e tensão nominal de 220 V cada sequência zero é detectada pelo relé e, dependendo de seu
(180,9 μF). O objetivo da montagem desse modelo é reprodu- valor, pode causar o desligamento do banco [3].
zir as correntes que circulam nas fases e no neutro de um ban-
co de 138 kV para os testes principalmente dos arranjos da
Corrente de Neutro e Corrente de Neutro Compensada.
Assim, em cada fase foram utilizados três desses capacitores
em paralelo, o que resultou em um banco trifásico com os va-
lores nominais de 380 V e 30 kVAr. Essa configuração do
banco drena uma corrente um pouco superior a 45 A da fonte.
Logo, a ordem de grandeza dessa corrente é suficiente para
que possam ser usados TCs com a mesma relação de transfor-
mação dos utilizados nas subestações típicas de 138 kV.
Além dos TCs de fase e de neutro, foram utilizados na mon-
tagem: TPs para amostragem da tensão da fonte; um regulador
de tensão de indução variável na faixa de 10 a 440 V; um re-
sistor de potência para desequilíbrio das tensões em uma fase; Fig. 3. Método de proteção baseado na corrente de neutro.
capacitores auxiliares para causar desequilíbrio no banco e
simular as falhas; uma placa de aquisição de dados e um com- Para o modelo reduzido, considerando a capacitância de ca-
putador para processamento e análise desses dados. A Fig. 2 da fase igual a 539 μF e a tensão fase-neutro de 220 V, a apli-
mostra o diagrama esquemático completo desse modelo redu- cação de variações de 0,50 e 0,80% no valor dessa capacitân-
zido. cia levou a ajustes de 0,23 e 0,37 A para alarme e desarme,
Apesar desses valores de placa, foram medidas impedâncias respectivamente, desse relé.
próximas de 4,92 Ω para cada fase do banco, o que correspon- B. Corrente de Neutro Compensada
de a 539 μF, contudo dentro da faixa de tolerância de fabrica-
ção de 5,0%. Como os capacitores auxiliares são de 2 μF e Esse método, ilustrado na Fig. 4, insere na filosofia de prote-
foram utilizados quatro deles, foi possível simular variações de ção descrita anteriormente uma forma de compensação do
capacitância de 2 a 8 μF, o que corresponde percentualmente à desequilíbrio natural do sistema e das componentes harmôni-
faixa de 0,37 a 1,48% da capacitância nominal. Conforme cas da corrente no neutro. Assim, o relé “cria” um banco em
mostrado em [2], o fabricante do banco da subestação de 138 estrela fictício em sua lógica interna, com os valores de capa-
kV recomenda o ajuste de alarme para variação de 0,50% e de citância iguais aos do banco real. Por meio da amostragem da
desarme para 0,80% e esse critério foi seguido na análise dos tensão no barramento, é possível calcular a corrente que circu-
resultados das medições no modelo reduzido. laria pelo neutro dessa estrela, chamada de Corrente de Com-
pensação. Essa, por sua vez, é subtraída da corrente de neutro
real amostrada pelo relé. Esse processo leva a um sinal dife-
rencial muito próximo de zero em caso de funcionamento
3

normal do banco e que aumenta à medida que a capacitância rio dos TPs de 110 V e a variação em pu da capacitância de
de uma de suas fases varia [3]. Esse sinal recebe o nome nesse um grupo série. A divisão por 2 é necessária pois foram consi-
trabalho de Corrente do Relé e é insensível aos desequilíbrios deradas falhas apenas no grupo superior, assim, por exemplo,
do sistema elétrico e às componentes harmônicas. uma variação de 0,50% em sua capacitância, responsável pelo
Então, foi ajustada no relé uma estrela fictícia com reatân- alarme do relé, corresponde a uma variação de 0,25% da capa-
cias capacitivas iguais a 4,92 Ω, iguais nas três fases, confor- citância total do banco.
me as medições realizadas no banco real. Como esse método
também é baseado no monitoramento da corrente de neutro, os CGRUPO
V AJUSTE  110 (2)
ajustes de alarme e desarme para o relé foram os mesmos dos 2
apresentados no item anterior.
Dessa forma, para alarme foi considerada a tensão de 0,28
V e para desarme a tensão de 0,44 V.
D. Impedância
O método de proteção da Impedância, assim como o da
Tensão Diferencial, monitora separadamente cada fase do
banco de capacitores, conforme mostra a Fig. 6. Nesse caso,
são medidas tensões e correntes e monitorada a relação entre
elas, que constitui a impedância de cada fase. Assim ele se
torna insensível às variações de tensão ao longo do dia e a
possibilidade de ajustes individuais de impedâncias compensa
possíveis desequilíbrios naturais do banco [6].
No momento de seu comissionamento, essa impedância
Fig. 4. Método de proteção baseado na compensação da corrente de neu-
tro.
pode ser medida e os ajustes de alarme e desarme correspon-
dem diretamente às variações máximas de seus valores. No
C. Tensão Diferencial exemplo desse trabalho, esses valores se referem a 0,50 e
Para os testes desse método de proteção foi montado um 0,80%. Com isso, percebe-se que o relé utilizado nesse arranjo
banco diferente do utilizado nos outros experimentos, constitu- precisa detectar pequenas variações (muitas vezes menores
ído de dois grupos série com três capacitores em cada fase, que 1%) nos valores da impedância. Quanto maior o número
conforme mostra a Fig. 5. Cada grupo tem então a capacitância de elementos série desse banco, menor será a variação da im-
equivalente de 539 μF, resultando num equivalente por fase de pedância em caso de falhas e mais sensível o relé precisará ser
269,5 μF. Isso reduz a circulação de corrente pela metade, mas [6].
o importante nesse teste é a diferença de tensão entre a rede
que alimenta o banco e seu tap central. Para isso, a tensão se-
cundária dos TPs utilizados deve ser de 110 V.

Fig. 6. Método de proteção baseado na impedância.


Fig. 5. Método de proteção baseado na tensão diferencial.
V. RESULTADOS DAS MEDIÇÕES
Para tornar esse método mais robusto, no momento de co- Ao ligar o banco de capacitores no regulador de tensão de
missionamento da proteção, define-se o valor do coeficiente de indução, em sua tensão nominal de 380 V, observa-se uma
ajuste K desse relé [5], dado pela relação entre as tensões da elevada distorção harmônica, tanto nas tensões de fase quanto
rede e do tap, ambas referidas ao secundário. Após esse ajuste, nas correntes de fase e de neutro.
o relé passa a monitorar um sinal (VOP) de acordo com a Eq. 1: Essa acentuada distorção presente nos ensaios é decorrente
de uma ressonância série ocorrida entre a carga capacitiva e as
VOP  VREDE  K .VTAP (1) indutâncias de dispersão do regulador e da rede elétrica do
laboratório na frequência aproximada do 5º harmônico. Essa
Os ajustes de alarme e desarme desse relé (VAJUSTE) são fei- ressonância causa uma elevação da corrente nessa frequência e
tos com base na Eq. 2 [5] e leva em conta a tensão no secundá- leva a uma maior queda de tensão na rede. Como consequên-
4

cia desse fato, a tensão de fase se deforma (Fig. 8) e apresenta falhas no banco de capacitores. A causa de sua não nulidade
uma Distorção Harmônica Total (DHT) de 11,8%, valor supe- são os desequilíbrios naturais do banco e das tensões da rede.
rior ao limite sugerido pelos Procedimentos de Distribuição 20
Corrente de neutro

(PRODIST) da ANEEL [7]. A título de comparação, a tensão


da rede elétrica com o banco desenergizado, mostrada na Fig. 15

7, possui uma DHT igual a 4,5%. Por sua vez, a corrente nas 10

fases desse banco (Fig. 9) apresenta uma DHT de 62,8%, prin-


5
cipalmente devido à elevada circulação de corrente de 5º har-

Corrente (A)
mônico, que corresponde a 62% da amplitude da fundamental. 0

-5
Tensão de fase
400 -10

300
-15

200
-20
-0.025 -0.02 -0.015 -0.01 -0.005 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
100 Tempo (s)
Tensão (V)

0 Fig. 10. Corrente medida no neutro do modelo reduzido.

-100
Nesse ambiente de poluição harmônica e com um pouco de
-200 desequilíbrio natural de tensão e de capacitância, os arranjos
-300
de proteção foram testados e os resultados são expostos a se-
guir.
-400
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05
Tempo (s) A. Arranjo da Corrente de Neutro
Fig. 7. Tensão medida na fase A com o banco desenergizado.
Para esse arranjo, foi utilizada a programação de um relé de
Tensão de fase
400 sobrecorrente, que implementa o algoritmo RMS para estima-
300 ção dos sinais [8]. Contudo, como esse algoritmo estima o
valor eficaz do sinal incluindo seus harmônicos, o monitora-
200
mento da corrente de desbalanceamento de um banco de capa-
100 citores por ele não é adequado, pois, em decorrência da passa-
Tensão (V)

0 gem de harmônicos de ordem tripla, é estimada uma corrente


mesmo que o sistema esteja equilibrado. Dessa forma, o valor
-100
da corrente monitorada pelo relé é muito superior aos seus
-200
ajustes, o que causa um falso desligamento do banco.
-300 Nos testes realizados, verificou-se uma corrente de cerca de
-400
9 A no neutro, para valores de alarme e desarme de 0,23 e
-0.025 -0.02 -0.015 -0.01 -0.005 0
Tempo (s)
0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
0,37 A, respectivamente.
Fig. 8. Tensão medida na fase A com o banco energizado. Para evitar falsos desligamentos nesse caso, os valores de
Corrente de fase ajuste precisaram ser elevados para mais de 9 A. Contudo,
100
observou-se que, desse modo, o relé não teve sensibilidade de
80
detecção de nenhuma falha e não atuou para proteger o banco
60
quando foi necessário.
40

20 B. Arranjo da Corrente de Neutro Compensada


Corrente (A)

0 Esse método de proteção mostrou-se superior ao da Corren-


-20 te de Neutro, principalmente por causa da filtragem das com-
-40 ponentes harmônicas que ele faz com o uso de um relé que
-60 utiliza o Filtro de Fourier [9]. Contudo, apenas essa filtragem
-80 pode não ser suficiente, pois desbalanceamentos naturais das
-100 capacitâncias do banco e desequilíbrios de tensão também
-0.025 -0.02 -0.015 -0.01 -0.005 0 0.005 0.01 0.015 0.02 0.025
Tempo (s) podem influenciar negativamente a sensibilidade do relé, prin-
Fig. 9. Corrente medida na fase A do modelo reduzido. cipalmente para detecção de pequenas falhas. Dessa forma,
uma compensação também é necessária.
Vale destacar também o nível elevado de 3º harmônico na As Figuras 11 e 12 mostram o comportamento do relé
corrente de neutro, mostrada na Fig. 10, cujo valor eficaz che- quando ocorre um desbalanceamento proposital da tensão em
ga a 9,3 A, para uma componente fundamental de 0,24 A. Co- uma das fases, em decorrência da inserção do resistor de po-
mo as componentes de ordem tripla são de sequência zero, elas tência. Verificou-se assim uma queda de tensão de 2% na fase
estão em fase e se somam aritmeticamente no neutro. Com A e uma variação angular de -9º. Isso foi suficiente para dese-
relação à componente de 60 Hz, ela não é nula e seu valor, quilibrar bastante o sistema e fazer circular uma corrente no
apesar de reduzido, pode atrapalhar na detecção de pequenas neutro do banco de 1,6 A. Contudo, a Corrente de Compensa-
5

ção também aumentou, pois ela é gerada a partir das tensões brios nas três fases, dados em porcentagem da variação da
desequilibradas que alimentam o banco. Desse modo, a corren- capacitância nominal.
te efetivamente monitorada pelo relé vale somente 0,1 A, con-
forme se observa na Fig. 12.

Fig. 13. Amplitude da corrente medida no neutro e da Corrente de Compen-


sação para desequilíbrio forçado de capacitância.

Fig. 11. Amplitude da corrente medida no neutro e da Corrente de Compen-


TABELA I
sação para desequilíbrio forçado de tensão.
Corrente do Relé para falhas não simultâneas nas três fases, em (A)
Fase com Intensidade da falha
falha 0,37% 0,74% 1,11% 1,48%
A 0,20 0,40 0,58 0,75
B 0,18 0,36 0,52 0,70
C 0,15 0,33 0,50 0,68

Observa-se por essa tabela que a Corrente do Relé monito-


rada quando ocorrem falhas na fase A foi sistematicamente
superior às correntes para falhas nas fases B e C. Isso se deve
ao desequilíbrio da tensão verificado no sistema (existente
realmente e/ou introduzido pelos TPs). Conforme foi explica-
do nas simulações de [2], na ocorrência de falhas, os valores
da Corrente do Relé dependerão do estado do sistema. Esse
fato causa o desarme do banco para falha de 0,74% nessa fase
Fig. 12. Amplitude da corrente monitorada pelo relé para desequilíbrio força- e a não atuação do relé para falhas de 0,80% na fase C com o
do de tensão. presente ajuste. Assim, o ajuste deve ser reduzido para detec-
tar essa falha na fase C, mas ao custo de o relé causar desliga-
Para forçar um desequilíbrio de capacitância foi inserido em mentos do banco para falhas menores ocorridas nas outras
paralelo com a fase A três capacitores de 2 μF. Contudo, o fases. Verificou-se também que não houve falsos alarmes para
valor da capacitância dessa fase na estrela fictícia do relé tam- as falhas de menor intensidade e para as de maior o relé atuou
bém precisou ser alterado. Assim, o desequilíbrio foi comum corretamente em todos os casos.
às duas estrelas de forma que a Corrente de Compensação pô- Percebeu-se com a realização das medições a grande sensi-
de ao menos reduzir a corrente de neutro medida. A Fig. 13 bilidade desse método às pequenas oscilações de tensão que
mostra a situação dessas duas correntes. A diferença entre elas, ocorrem continuamente na rede elétrica. Como elas são dife-
ou seja, a Corrente do Relé, também possui um valor próximo rentes para cada fase e apresentam um caráter aleatório, influ-
de 0,1 A, portanto menor que o valor de alarme do relé e seu enciam bastante na Corrente de Compensação, que por sua vez
comportamento é semelhante ao da corrente mostrada na Fig. reflete na Corrente do Relé. Assim, essas oscilações podem ser
12. um pouco amplificadas nessa corrente, podendo causar falsas
Se o relé não tivesse compensação, haveria falsos desliga- atuações principalmente se o ajuste de proteção for sensível
mentos do banco nesses dois casos, apesar da eliminação das para a detecção de pequenas falhas.
componentes harmônicas com a filtragem. Essa compensação Não é fácil fazer esse ajuste, uma vez que podem surgir
não deixa a corrente monitorada pelo relé se elevar, de modo erros inseridos pelo TC de neutro ou TPs de difícil correção.
que para ele é como se o sistema estivesse equilibrado. Além disso, é preciso medir as capacitâncias em cada fase e
Uma vez verificada a robustez do método de proteção a usar os valores encontrados na estrela fictícia programada no
esses desequilíbrios, resta certificar-se da sensibilidade do relé relé, procedimento imprescindível, por exemplo, quando o
para a detecção de pequenas falhas. A Tabela I mostra as cor- banco já trabalha com um pouco de desequilíbrio. Porém exis-
rentes monitoradas por ele, já compensadas, para desequilí- tem diferenças entre valores medidos por multímetros e pontes
RLC e valores encontrados com o banco em operação que,
6

apesar de pequenas, podem levar ao cálculo de uma Corrente riores, correspondendo a 4,876 Ω e 4,862 Ω. Esse ajuste indi-
de Compensação diferente da corrente medida no neutro, in- vidual por fase constitui uma vantagem do método e melhora
fluenciando negativamente na Corrente do Relé. sua robustez e sensibilidade.
Formas mais simples de compensar desbalanceamento natu- O sinal monitorado da impedância apresentou uma oscila-
ral do banco são obtidas nos métodos que monitoram separa- ção de cerca de 0,01 Ω, correspondente a 0,2% do valor da
damente cada fase, já que o ajuste é feito individualmente por impedância esperada, provavelmente devido a ruídos inseridos
fase e passa a depender de menos variáveis. pelos sistemas de medição de tensão e corrente. Dessa forma,
dentro dessa faixa de oscilação, um sinal pode causar ou não a
C. Arranjo da Tensão Diferencial
atuação do relé. No caso das falhas de 0,74%, em todas as
De acordo com explicação feita na Seção IV, item C, antes fases ele atuou, uma vez que a variação da capacitância foi
de deixar o relé em funcionamento para proteção do banco, o muito próxima do valor ajustado. Contudo, ele não atuou para
coeficiente de ajuste K foi determinado com o valor de 1,007. a falha de 0,37%, mesmo com as oscilações, uma vez que o
Observou-se grande sensibilidade da tensão diferencial com o valor médio do sinal ficou acima do de ajuste.
valor dessa constante, por isso ela é utilizada com três casas
decimais. Esse ajuste possibilitou praticamente zerar a tensão VI. CONCLUSÃO
diferencial existente com o banco em funcionamento normal,
principalmente devido a pequenas diferenças nas relações de Dentre os quatro métodos de proteção estudados, o da Cor-
transformação dos TPs, conforme mostra a Tabela II. rente de Neutro é o menos indicado, uma vez que ele foi o
único a causar um falso desligamento com o banco em opera-
TABELA II ção sem falhas. A elevação dos valores de ajuste para compen-
Tensão Diferencial monitorada na fase A do banco, em (V) sar essa corrente permanente retira a sensibilidade do relé para
Intensidade da falha detecção das falhas analisadas nesse trabalho. E apenas a fil-
Sem 0,37% 0,74% 1,11% 1,48% tragem das componentes harmônicas no neutro também não
0,05 0,25 0,50 0,73 0,95 resolve o problema, pois pode ocorrer a circulação de corrente
de 60 Hz devido a desequilíbrios de tensão e das capacitâncias
De acordo com os ajustes de alarme e desarme dessa prote- do banco.
ção (0,28 e 0,44 V, respectivamente), o relé não causa um fal- Os demais arranjos eliminaram esses falsos desarmes. Con-
so alarme para a falha de menor intensidade, mas desliga o tudo, no teste de sensibilidade de detecção, Corrente de Neutro
banco erroneamente para a falha de 0,74%. Compensada e Tensão Diferencial apresentaram respostas
Esse arranjo utiliza um relé de sobretensão que estima o va- dependentes do estado do sistema quando ocorrem falhas, exi-
lor eficaz da tensão diferencial. Ele não precisa de filtros, pois gindo um estudo mais apurado para determinar seus valores de
os harmônicos são eliminados no sinal diferencial. Contudo, ajuste. Dessa forma, o arranjo da Impedância foi o que mos-
como no método da Corrente de Neutro Compensada, os valo- trou um comportamento mais previsível e correto diante das
res dessa tensão, em caso de falhas, também dependem do falhas impostas ao modelo reduzido do banco.
estado do sistema.
VII. REFERÊNCIAS
D. Arranjo da Impedância
[1] T. H. Ortmeyer, K. R. Chakravarthi, “The Effects of Power System
Nesse arranjo é utilizado um relé de impedância que apre- Harmonics on Power System Equipment and Loads”, IEEE Trans. on
senta o Filtro de Fourier para determinação apenas das com- Power Apparatus and Systems, vol. PAS-104, no. 9, pp. 2555-2563,
ponentes de 60 Hz de tensão e corrente [8]. Essa filtragem é 1985.
[2] H. L. Santos, J. O. S. Paulino, M. L. Murta, “Influência das Distorções
imprescindível, já que o relé precisa acusar pequenas variações Harmônicas na Proteção de Bancos de Capacitores”, VIII Conferência
de capacitância, que podem ocorrer quando a estimação de Brasileira sobre Qualidade da Energia Elétrica, agosto de 2009.
tensão e corrente é feita considerando harmônicos [2]. [3] IEEE Guide for the Protection of Shunt Capacitor Bank, IEEE Standard
É importante ressaltar que o ajuste dos valores de alarme e C37 99-2000, Jun. 2000.
[4] IEEE Standard for Shunt Power Capacitors, IEEE Standard 18-2002,
desarme foi realizado diante dos valores de impedância encon- Oct. 2002.
trados com a medição do banco em funcionamento normal, [5] B. Kasztenny, J. Schaefer, E. Clark, “Fundamentals of adaptive protec-
apresentados na segunda coluna da Tabela III. tion of large capacitor banks – Accurate methods for canceling inherent
bank unbalances,” Protective Relay Engineers, 2007. 60th Annual Con-
TABELA III ference for, pp. 126- 157, March 2007.
Impedância monitorada em cada fase do banco, em (Ω) [6] M. Bishop, T. Day, M. Chaudhary, “A Primer on Capacitor Bank Pro-
tection” IEEE Trans. on Industry Applications, vol. 37, no. 4, pp.
Fase c/ Intensidade da falha 1174- 1179, 2001.
falha Sem 0,37% 0,74% 1,11% 1,48% [7] Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico
A 4,907 4,887 4,868 4,852 4,830 Nacional/ Módulo 8 – Qualidade da Energia Elétrica, Agência Nacio-
nal de Energia Elétrica, dezembro de 2008.
B 4,901 4,880 4,862 4,841 4,823
[8] A. Balzi, P. M. Silveira, “Análise dos Efeitos de Distúrbios da Qualida-
C 4,907 4,886 4,863 4,847 4,829 de da Energia Elétrica em Relés de Proteção Microprocessados”, VI Se-
minário Brasileiro sobre Qualidade da Energia Elétrica, agosto de
Para as fases A e C foram ajustados os valores de 4,882 Ω 2005.
[9] A. T. Johns, S. K. Salman, Digital Power Protection for Power Sys-
para alarme e 4,868 Ω para desarme, referentes às variações de tems, London: Peter Peregrinus on Behalf of the Institute of Electrical
0,50 e 0,80% da impedância medida sem desbalanceamento. Engineers, 1995, pp. 72-84.
Já para a fase B esses valores de ajuste foram levemente infe-

Você também pode gostar