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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE– UFF

ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA – EEAAC


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO NA SAÚDE

IRENE FRANÇA GUIMARÃES

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NA DESCENTRALIZAÇÃO DAS


AÇÕES DE VIGILÂNCIA

Niterói
2014
IRENE FRANÇA GUIMARÃES

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NA DESCENTRALIZAÇÃO DAS


AÇÕES DE VIGILÂNCIASANITÁRIA

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Ensino na saúde da
Universidade Federal Fluminense para obtenção
do título de Mestre em Ensino na saúde e suas
Interfaces com o SUS.
Área de concentração: Ensino na saúde e suas
interfaces com o SUS.

o o
Orientador: Prof. Dr. Marcos Paulo Fonseca Corvino

Niterói
2014
G 963 Guimarães, Irene França.

Educação permanente em saúde na descentralização das ações de


vigilância sanitária. / Irene França Guimarães. – Niterói: [s.n.], 2014.
64 f.

Dissertação (Mestrado Profissional de Ensino na Saúde) -


Universidade Federal Fluminense, 2014.
Orientador: Profº. Marcos Paulo Fonseca Corvino.

1. Descentralização. 2. Vigilância Sanitária. 3. Educação em


Saúde. 4. Educação Continuada. I. Título.

CDD 610.7307
IRENE FRANÇA GUIMARÃES

EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NA DESCENTRALIZAÇÃO


DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

Dissertação apresentada ao Programa de


Mestrado Profissional em Ensino na saúde
da Universidade Federal Fluminense para
obtenção do título de Mestre em Ensino na
saúde e suas Interfaces com o SUS.
Área de concentração: Ensino na saúde e
suas interfaces com o SUS.

Aprovada em:

Banca Examinadora

_____________________________
Prof. Dr. Marcos Paulo Fonseca Corvino 1º. Examinador (Orientador) - UFF

____________________________________
Prof. Dr. Gilson Saippa de Oliveira
2º. Examinador – UFF / Nova Friburgo

______________________________________
Prof. Dra. Marilda Andrade
3º. Examinadora – UFF/MPES

_____________________________________
Prof. Dr. Benedito Cordeiro Suplente - UFF/MPES

Niterói
2014
Agradeço

Aos meus pais Ruy e Neuza e meu irmão Rafael, minha fortaleza.
Ao meu orientador, Prof. Marcos, que sempre acreditou na construção do estudo, pela
oportunidade de aprendizagem, confiança e carinho durante a nossa convivência, e que com
a sua sabedoria me ajudou a vencer desafios.
A Rodrigo Romito, Secretário Municipal de Saúde, que permitiu e incentivou o
desenvolvimento da pesquisa.
A Sannia Luiza pela colaboração e companheirismo.
Aos colegas de turma pela troca de experiência, em especial aos amigos: Adriane, Bruna,
Diego, Eluana, Wagner, pela convivência e o fortalecimento de uma amizade.
Aos professores do Mestrado Profissional de Ensino na Saúde, pela contribuição em minha
formação.
A todos os colegas de trabalho que participaram da pesquisa, pelo comprometimento e
incentivo.
Ao Prof. Gilson pela disponibilidade, atenção, competência e contribuições valiosas para
construção do trabalho. Muito obrigada !!!
Ao Prof. Benedito pelas contribuições.
À Prof.ª Marilda, por quem tenho grande admiração, desde a minha graduação, e que,
prontamente, aceitou o convite para a composição da banca.
RESUMO

Trata-se de um estudo que aborda a expansão de um serviço em consequência da descentralização


das ações de Vigilância Sanitária (VISA) para a esfera municipal. Objetivos: realizar um
levantamento da situação de capacitação dos profissionais de saúde que atuam na VISA de
um município do estado do Rio de Janeiro, identificando a utilização da Educação Permanente
em Saúde e elaborar uma proposta de Educação Permanente em Saúde para otimizar as ações de
VISA. Método: estudo descritivo, apropriado de técnicas de triangulação, análise documental,
grupo focal e observação participante. A coleta de informações aconteceu no primeiro
semestre de 2014, por meio de pesquisa documental, observação participante e grupo focal
com os integrantes da equipe do Núcleo de VISA de um município no interior do estado do
Rio de Janeiro. Para tratamento dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo, método
proposto por Bardin. Os resultados traduziram a presença da utilização de metodologia tradicional
de ensino nos processos educativos, com limitação para o diálogo e sem proposta para construção
de espaços coletivos de reflexão, distantes da problematização do processo de trabalho e de
concepções que não são desejáveis para a EPS. Os processos educativos não contribuíram para
a reflexão da realidade local, ou seja, não produziram mudanças significativas para melhoria das
ações desenvolvidas pelo serviço em questão A construção do produto apresenta-se como a
tecnologia para a aplicação de metodologias ativas por meio de uma rede explicada para o
fortalecimento da EPS na VISA. Espera-se que o material produzido na pesquisa possa
contribuir para a inserção da EPS no serviço de Vigilância Sanitária, proporcionando encontros que
permitam o exercício de um modelo educativo diferente daquele que os profissionais estão
habituados.

Palavras - chaves: Descentralização. Vigilância Sanitária. Educação Permanente em Saúde.


ABSTRACT

This is a study that addresses the expansion of a service as a result of decentralization of


actions of Sanitary Surveillance (VISA) to the municipal level. Objectives: To conduct a
survey of the training situation of health professionals working in the VISA of a municipality
in the state of Rio de Janeiro, identifying the use of Permanent Education in Health and
prepare a proposal for Continuing Education in Health to optimize VISA stock . Method: a
descriptive study, appropriate triangulation techniques, document analysis, focus groups and
participant observation. Data collection took place in the first half of 2014, through document
research, participant observation and focus groups with members of the VISA core team of a
municipality in the state of Rio de Janeiro. For data processing, content analysis was used, the
method proposed by Bardin. The results translated the presence of the use of traditional
teaching methods in educational processes, with limitation for dialogue and no proposal for
construction of collective spaces for reflection, far from questioning the work process and
concepts that are not desirable for the EPS. Educational processes did not contribute to the
reflection of the local reality, ie not produced significant changes to improve the actions taken
by the service in question The construction of the product is presented as the technology for
the application of active methodologies through an explained network to strengthen EPS in
VISA. It is hoped that the material produced in the research may contribute to the EPS insert
the Health Surveillance service, providing meetings for the performance of a different
educational model that the professionals are used.

Key - words: Decentralisation. Health Surveillance. Continuing Health Education.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 -- Distribuição dos sujeitos pesquisados, segundo dados de identificação do instrumento


aplicado: .................................................................................................................................................. 32

Quadro 2- Principais diferenças entre Educação Continuada e Permanente segundo conceitos chaves .... 38
LISTA DE SIGLAS

ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária


CAPS-I: Centro de Atenção Psicossocial
CGR: Colegiados de Gestão Regional
CIB: Comissão Intergestores Bipartite
CIES: Comissão de Integração Ensino e Serviço
CIT: Comissão Intergestores Tripartite
CNS: Conselho Nacional de Saúde
EC: Educação Continuada
EP: Educação Permanente
EPS: Educação Permanente em Saúde
ESF: Estratégia Saúde da Família
IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
LDO: Leis de Diretrizes Orçamentárias
MS: Ministério da Saúde
NOAS: Norma Operacional da Assistência à Saúde
NOB-RH: Norma Operacional Básica de Recursos Humanos
OMS: Organização Mundial de Saúde
OPAS: Organização Panamericana de Saúde
PEPS: Polo de Educação Permanente em Saúde
PNEPS: Política Nacional de Educação Permanente em Saúde
PPA: Planos Plurianuais
PSF: Programa Saúde da Família
SGTES: Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde
SNVS: Sistema Nacional de Vigilância Sanitária
SMS: Secretaria Municipal de Saúde
SUS: Sistema Único de Saúde VISA: Vigilância Sanitária
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................10
2 REVISÃO DE LITERATURA..............................................................................................................15
2.1 Educação permanente em saúde ...................................................................................................15
2.2 A política nacional de educação permanente em saúde ...............................................................18
2.3 - A vigilância sanitária ..................................................................................................................21
3 METODOLOGIA .................................................................................................................................25
3.1 Tipo de estudo ................................................................................................................................25
3.2 Cenário da pesquisa .......................................................................................................................25
3.3 Participantes da pesquisa...............................................................................................................27
3.4 Princípios éticos ............................................................................................................................27
3.5 Coleta de dados...............................................................................................................................27
3.6 Análise dos dados ..........................................................................................................................30
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS...................................................................................32
4.1 Identificação dos participantes......................................................................................................32
4.2 O processo de educação dos trabalhares da vigilância sanitária municipal .................................33
4.3 Educação permanente e educação continuada: comparando conceitos...........................................36
4.4 Educação permanente em saúde: um desafio para a vigilância sanitária ......................................39
5 O Mestrado Profissional e o Produto - Articulação da educação e o trabalho:formação e produção de
práticas no serviço ...................................................................................................................................42
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................44
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................46
APÊNDICE A – Roteiro para desenvolvimento da análise documental .................................................54
APÊNDICE B – Roteiro para observação participante ...........................................................................55
APÊNDICE C – Roteiro para o Grupo Focal ........................................................................................56
APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................................57
ANEXO 1 – Carta de Autorização para Desenvolvimento da Pesquisa .................................................59
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1 INTRODUÇÃO

Fruto da Reforma Sanitária Brasileira nas décadas de 70 e 80, a efetiva implantação do


Sistema Único de Saúde (SUS) iniciou-se através do processo de elaboração e aprovação da Lei
Orgânica da Saúde (lei n. 8080/90), que detalhou princípios, diretrizes gerais e condições para a
organização e funcionamento do sistema de saúde brasileiro e as atribuições de cada esfera de governo
no SUS (BRASIL, 2011).

As reformas no setor saúde, na década de 1990, foram pautadas pela implantação do sistema
de saúde com ênfase na descentralização das ações de saúde, ocorrendo expansão de serviços
municipais e novos modelos de atenção à saúde, voltados para atenção primária, com ações de
promoção e prevenção da saúde.

Com a implantação do Sistema Único de Saúde, em 1990, o Ministério da Saúde tomou as


primeiras medidas para descentralizar as ações de Vigilância Sanitária (VISA), o que significou
decisiva inovação na tradicional institucionalidade dessa área e um desafio para os gestores dos
três níveis da Federação (BRASIL, 1999).

A amplitude do debate sobre VISA e seu processo de descentralização podem ser percebidos
em própria abrangência conceitual. A Lei Orgânica do SUS, n. 8.080/90, estabelece que esse serviço
busca a proteção da saúde, tendo dentre as suas atribuições a regulação de um amplo e diversificado
conjunto de produtos e serviços (BRASIL,1990) . A relevância desse vasto campo de trabalho requer
variadas capacidades técnicas e o rigor do exercício do poder da fiscalização sanitária.

Desde 1990, vem acontecendo o processo de descentralização das ações de VISA. No


Estado do Rio de Janeiro, os municípios apresentam dificuldades para aderir à descentralização. A
publicação da Resolução da Secretaria Estadual de Saúde 1411, de 15 de outubro de 2010, trouxe o
foco novamente para a descentralização, delegando as competências das ações de Vigilância
Sanitária para as secretarias municipais de saúde.

Com a publicação da resolução, as atribuições dos municípios tornam-se mais evidentes, no


que tange às necessidades de maiores investimentos, tanto financeiros, quanto nos recursos
humanos, que compõem as equipes municipais, uma vez que é necessária a busca da compreensão
do processo de trabalho e a reordenação do papel dos envolvidos na nova modalidade de atuação
nesses serviços. A complexidade das ações de VISA tem gerado, na estrutura e na organização
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dos órgãos encarregados de executá-los, o enfrentamento de problemas difíceis de resolver na prática.


Esses aspectos interferem no processo de descentralização da VISA, pois exigem maior mobilização
de recursos técnicos e políticos para sua efetivação (COHEN, 2009).

As instituições começam a considerar o desenvolvimento dos recursos humanos como um


fator de extrema importância para o seu sucesso do trabalho, a ser aplicado, passando a planejar e a
realizar propostas educativas para o pessoal no local de trabalho (ALMEIDA e FERRAZ, 2008).

Cohen, Moura e Tomazelli (2004), em seus estudos, enfatizam que no Estado do Rio de
Janeiro, o grande desafio para a implementação do processo de descentralização tem sido
provocar a estruturação das VISAs municipais, com a formação de equipe multiprofissional mínima e
sua capacitação. A capacitação dos profissionais que atuam na VISA deve ser entendida como
ação inerente a todas as atividades, não sendo apenas um programa pontual, mas como estratégia
operacional a ser frequentemente aprimorada (COHEN, 2009).

A Portaria nº 3252, de 23 de dezembro de 2009, destaca a necessidade de construção e


implementação de uma política de gestão da educação, que respeite os princípios e diretrizes do
SUS. Ela estabelece que a educação permanente dos profissionais nos Sistema de Vigilância
Sanitária deve adotar uma abordagem integrada nos eixos da clínica, gestão, promoção e vigilância
em saúde (BRASIL,2009).

E, ainda conforme a portaria citada acima, para a Vigilância Sanitária, a política de gestão da
educação dos profissionais de saúde deve ser pactuada de forma a atingir a educação dos
trabalhadores no local de trabalho, para aumentar a sua capacidade de intervir sobre os riscos à saúde.
As discussões apontam que a educação permanente é uma ferramenta para qualificar os recursos
humanos, considerando os conhecimentos e experiências pessoais para a resolução dos problemas
encontrados no processo de trabalho.

A motivação pelo estudo surgiu através da minha trajetória profissional no Núcleo de


Vigilância Sanitária, onde atuo como enfermeira. A minha atividade profissional me leva a
testemunhar, na prática, preocupações vivenciadas no cotidiano de trabalho, tanto quanto os
conflitos e outros problemas que surgem, exigindo análises, debates e propostas, mas que
também motivam a busca de conhecimento e de respostas para problemas que interferem na
qualidade do serviço.

O município a ser estudado foi submetido ao processo de descentralização das ações de


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Vigilância Sanitária para a esfera municipal, pois foi uma das exigências para a habilitação em
Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde, em 2013. A municipalização da VISA está exigindo
estratégias de grande abrangência em curto prazo, pois os servidores estão atuando diretamente nas
atividades pertinentes à VISA, sendo notória a necessidade de profissionais qualificados para o
desenvolvimento das ações que estão sendo assumidas pela esfera municipal.

Portanto, a descentralização das ações de VISA tem sido encarada como um componente
crucial para a gestão, pois é necessário que requisitos básicos do processo de estruturação da VISA
estejam presentes no planejamento da gestão municipal, aumentando a importância de profissionais
capacitados para atuarem na organização e execução das atividades com resultados.

No processo de trabalho realizado, percebi fragilidades no enfrentamento das demandas do


serviço. Os profissionais demonstram um distanciamento entre a teoria e a prática. Percebo que os
incentivos para a capacitação da equipe precisam ser pontuais, e direcionados para a proposta da
educação permanente em saúde, como uma estratégia em busca de alternativas e soluções para os
problemas vivenciados pela equipe, ocasionados pela mudança na estruturação da VISA.

A expansão do serviço de VISA no município vem causando mudanças significativas na


composição e estruturação da força de trabalho. Tal fato me faz observar a importância da educação do
trabalhador no seu local de trabalho, para a compreensão das ações a serem desenvolvidas na
reestruturação dos serviços, estimulando os profissionais a se tornarem reflexivos quanto à
realidade e capazes de intervir no processo de trabalho.

Nesse cenário, vivenciado pela minha prática profissional, torna-se importante ampliar as
discussões da educação permanente em saúde na Vigilância Sanitária, buscando as necessidades
da consolidação das mudanças dos modelos de gestão e atuação desse serviço. Nesse sentido,
emerge o potencial de considerar a VISA como um espaço para o desenvolvimento das ações de
educação permanente em saúde, o qual constitui um dispositivo para promover mudanças
significativas no processo de trabalho, tornando a descentralização um momento de ensino-aprendizagem
com vista à melhoria da atuação da equipe de VISA.

A escolha do tema faz parte de uma construção pessoal e profissional, aprofundada nas
ações desenvolvidas pela VISA e na importância da regulamentação da educação permanente em
saúde como estratégia político pedagógica para o fortalecimento da Vigilância Sanitária.

Busca-se, então, analisar a educação permanente em saúde na Vigilância Sanitária, enfatizando


13

os profissionais na reorganização do processo de trabalho. Portanto, procura-se explicar como a


educação permanente em saúde pode contribuir com a resolução de problemas, transformações, e na
construção de atores críticos-reflexivos. O interesse imediato pelo tema deve-se a necessidade
sentida, durante vários anos, de buscar resposta para o que se observa no cotidiano do serviço,
uma formação fragmentada e distante do perfil profissional para o trabalho na VISA.

Diante do exposto, esta pesquisa teve como objeto de estudo a educação permanente
aplicada à Vigilância Sanitária.

Interessada nas questões relacionadas à educação permanente em saúde dos profissionais que
atuam na Vigilância Sanitária, e a partir de questionamentos sobre as necessidades de abordá-la nos
serviços de Vigilância Sanitária, na esfera municipal, foram identificadas as seguintes questões
norteadoras: Como os servidores compreendem os processos educativos realizados no processo de
trabalho da Vigilância Sanitária? Os profissionais de saúde conhecem a Política de Educação
Permanente em Saúde no município? Quais as iniciativas para capacitação realizadas no processo
de trabalho para atuarem nas ações de Vigilância Sanitária? Quais as dificuldades encontradas para
utilização da educação permanente na Vigilância Sanitária?

A justificativa deste estudo pauta-se na necessidade de se intensificar as ações de educação


permanente em saúde na Vigilância Sanitária como recurso para qualificar a equipe envolvida
nesse trabalho. A investigação buscará detectar dados que irão contribuir de forma esclarecedora
para a problemática relacionada com a educação permanente em saúde, e aprimorar-se de um
elenco de conhecimentos que possam ser aplicados na prática profissional, e instrumentalizarão os
gestores municipais para a realização de projetos de educação permanente em saúde na área de
Vigilância Sanitária, no âmbito do SUS.

O estudo envolve um potencial de contribuição com o propósito de refletir como a educação


permanente em saúde poderá colaborar para a orientação do processo de trabalho na
descentralização das ações de Vigilância Sanitária.

Portanto, os objetivos desta pesquisa são: O objetivo geral:

- Analisar a Educação Permanente em Saúde como dispositivo educativo no serviço de


Vigilância Sanitária de um município da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.

Objetivos específicos:
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- Realizar um levantamento da situação de capacitação dos profissionais de saúde


que atuam na VISA de um município do estado do Rio de Janeiro, identificando a utilização da
Educação Permanente em Saúde.

- Discutir o cotidiano do trabalhador da VISA.

- Elaborar uma proposta de Educação Permanente em Saúde para otimizar as ações


de VISA.
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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Educação permanente em saúde

O conceito de educação permanente na saúde passou a ser estruturado pela Organização


Pan-Americana de Saúde (OPAS) na década de 1980. A educação permanente na área da
saúde é fruto de críticas da concepção da educação continuada, devido à sua inadequação ao
sistema por meio da fragmentação do ensino, da forma verticalizada dos programas pedagógicos, do
afastamento da realidade dos serviços de saúde e do favorecimento da dicotomia entre ensino
e serviço, entre teoria e prática (DURÃO, 2006).

A proposta da educação permanente em saúde, ao abordar a noção da aprendizagem


significativa, está relacionada com o pensamento de Paulo Freire. O autor, desde suas primeiras
experiências como educador, defendia a ideia de que os educandos não deveriam apenas receber
informações, mas os educadores deveriam levar em conta o que os alunos já sabiam,
considerando suas experiências de vida, e, a partir daí, dar início a todo processo de aprendizagem.
A educação permanente em saúde coloca os profissionais de saúde na mesma posição.

Paulo Freire propõe uma educação que se apresenta como reflexiva, ativa, dialógica,
comprometida, que mantém educadores e educandos em uma postura ética e de responsabilidade, na
busca do conhecimento, do despertar da curiosidade epistemológica a fim de transformar a
realidade (FREIRE, 2011).

A concepção de Paulo Freire traz a importância de estabelecer um momento de interagir,


interferir e repensar no fazer da área da saúde. A educação permanente em saúde vai ao
encontro da pedagogia crítica de Freire também por seu caráter ascendente, que coloca os
profissionais participantes do processo como sujeitos ativos, e considera suas experiências
anteriores e a realidade em que estão inseridos no processo ensino- aprendizagem, fazendo com
que as temáticas abordadas sejam tratadas de forma a estabelecer sentido para os sujeitos
envolvidos.

A educação permanente em saúde baseia-se na aprendizagem significativa e pode ser


entendida como aprendizagem-trabalho, pois é feita a partir dos problemas enfrentados na
realidade e leva em consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas já têm
(BRASIL, 2005).
16

Como proposta, a educação permanente é aquela em que as ações não são pensadas ou
formuladas de forma isolada, distante da realidade do processo de trabalho. Essa proposta traz
a problematização das realidades locais, gerando a construção de ações direcionada às
necessidades do cotidiano vivido pela população, trazendo uma aprendizagem significativa.

Nessa perspectiva, a educação permanente traz o questionamento da realidade por meio


de propostas e projetos que possibilitem mudanças das práticas das realidades permeadas por
saberes e pelas ações realizadas pelos diferentes atores sociais e pela responsabilidade com o
coletivo (MERHY, FEUERWEKER, CECCIM, 2009).

A educação permanente em saúde parte do pressuposto da aprendizagem significativa,


pautada na concepção pedagógica transformadora e emancipatória de Paulo Freire,
constituindo-se em processos educativos que buscam promover a transformação das práticas de
saúde (CECCIM, 2005).

Nesse sentido, a educação permanente em saúde baseia-se no ensino problematizador e


na aprendizagem significativa, onde os problemas presentes no cotidiano do processo de trabalho
são objetivo de discussão, análise, reflexão e para os quais se buscam soluções, mudanças,
respostas e produção de conhecimentos. A utilização da Educação Permanente em Saúde
(EPS) leva em consideração as experiências, as vivências e os conhecimentos anteriores para a
construção de novos conhecimentos (CECCIM e FERLA, 2009).

A ideia da educação permanente em saúde pode ser compreendida não apenas pela
finalidade de produção de resultados, ou com objetivos já pré-estabelecidos, mas como espaços
de problematização, reflexões, diálogos entre os profissionais de saúde para oportunizarem
estratégias que promovam mudanças e transformações nos serviços de saúde (BRASIL, 2009).

Dessa forma, essa reflexão crítica traz o objetivo de transformar as relações no processo
de trabalho, que visa à qualificação dos serviços de saúde com perspectivas de atualização dos
conhecimentos a partir de uma proposta estratégica.

A educação permanente em saúde torna-se um desafio necessário, pois as exigências, no


trabalho, que envolvem o setor saúde estão cada vez mais complexas, e consequentemente além
da demanda por transmissão ou atualização de conhecimentos, mas para a consolidação de práticas
voltadas para a resolução de problemas de saúde da população local (CECCIM, 2005).

Para alguns autores, a educação permanente em saúde propicia espaços de reflexão


17

relacionados diretamente com a prática e o dia a dia das equipes nos processos sociais e de trabalho
em saúde, refletindo também nas estratégias de mudança institucional de acordo com o
significado da educação permanente em saúde (BRASIL, 2009; CECCIN, 2005; DAVINI, 2009).

Os autores apontam que as organizações têm o compromisso de criar oportunidades de


orientação e crescimento para seus funcionários. Essa ideia, já preconizada por Gantt, toma corpo
e passa a ser aceita pelas organizações no momento em que percebem que a educação dos
funcionários, no local de trabalho, auxilia na resolução de conflitos e na mudança de
comportamento de seus trabalhadores, favorecendo o alcance dos objetos institucionais
(KURCGANT, 1991; BRASIL, 2004; 2005;CECCIM, 2005).

Para o funcionário, a educação no local de trabalho deve ser um processo que propicie
novos conhecimentos, que capacite para a execução adequada do trabalho e que prepare para
futuras oportunidades de ascensão profissional, dessa maneira, objetivando tanto o crescimento
pessoal como o profissional (KURCGANT, 1991).

No Brasil, a educação permanente em saúde é reconhecida pelo Ministério da Saúde como


importante instrumento para a consolidação do SUS, sendo considerada uma estratégia de
transformação das práticas de formação, de atenção, de gestão, de formulação de políticas, da
participação popular e de controle social, e é entendida como aprendizagem-trabalho, pois acontece
no cotidiano das pessoas e das organizações.

Desde que foi criado, o SUS já provocou profundas mudanças nas práticas de
saúde, mas ainda não é o bastante. Para que novas mudanças ocorram, é preciso
haver também profundas transformações na formação e no desenvolvimento dos
profissionais da área. Isso significa que só conseguire mos mudar realmente a
forma de cuidar, tratar e acompanhar a saúde dos brasileiros se conseguirmos
mudar também os nossos modos de ensinar e aprender. (BRASIL, 2005, p.5)

A educação permanente em saúde é uma forma de ensino que deve estar intrinsecamente
ligada às práticas de trabalho do SUS, pois não se pode desvincular o processo de trabalho da
problematização das realidades locais, nem tão pouco de seus princípios e diretrizes.
18

2.2 A política nacional de educação permanente em saúde

Nos anos de 1980 e 1990, a discussão sobre um novo paradigma do trabalho, nas
sociedades pós-industriais, tornou-se mais significativa a partir do levantamento sobre a
reestruturação da produção. Com as mudanças ocorridas no processo de produção, o trabalhador é
colocado no centro do processo produtivo ampliando a transformação da gestão do trabalho,
repensando os processos de planejamento e qualificação do trabalho e do trabalhador
(GARAY, 2003).

A necessidade de desenvolvimento de pessoal tem sido reforçada pelos avanços


tecnológicos e pelas mudanças socioeconômicas, que levam os indivíduos a buscar, adquirir,
rever e atualizar seus conhecimentos (BRASIL, 2006a).

Taylor já se preocupava com a educação do trabalhador no seu local de serviço, pois


acreditava no sistema educativo que tinha como base a intensificação do ritmo de trabalho. Para
ele, as organizações deveriam treinar os funcionários, oferecendo a estes um corpo sistematizado de
conhecimentos que respondesse às exigências de seus cargos (GARAY, 2003).

No que se refere às práticas no campo da saúde, também se percebeu a necessidade de


propiciar uma transformação do processo de trabalho baseado na educação e desenvolvimento dos
profissionais de saúde na realização de suas práticas de trabalho, identificando e refletindo os
problemas, e propondo mecanismos de intervenção que serão colocados em prática.

A Organização Panamerica de Saúde (OPAS) iniciou estudos sobre a formação dos


trabalhadores do setor saúde, partindo da ideia de que os profissionais precisavam de
capacitação e atualização diante das mudanças tecnológicas, necessidades sociais e evolução
tecnológica (BRASIL, 2006).

O conceito de educação permanente, no setor saúde, desenvolveu-se gradualmente nos


países da América Latina a partir da década de 1980, sendo assumida como uma prioridade junto
à Organização Panamericana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde (FERRAZ et al, 2012).
Nas últimas décadas, países latinoamericanos criaram políticas e programas para o desenvolvimento
dos recursos humanos em saúde de acordo com os pressupostos estabelecidos pela OPAS/OMS
(HADDAD; ROSCHKE; DAVINI, 1994).

A OPAS, em 1994, difundiu o conceito em que, segundo a proposta de educação


19

permanente do pessoal de saúde, a aprendizagem dos trabalhadores se tornaria possível à medida


que acena novas possibilidades de adesão dos profissionais na construção de estratégias para a
aquisição de novos conhecimentos, provocando alterações no processo de trabalho. Essa definição
agregou novos significados sobre a capacitação dos profissionais, através da educação permanente
em saúde. A proposta de educação permanente do pessoal de saúde reconhecia que somente a
aprendizagem significativa seria capaz da adesão dos trabalhadores a processos de mudança no
cotidiano (CECCIM, 2005).

No Brasil, a criação da NOB/RH, de 1998, reeditada posteriormente em 2000, evidenciou


a educação permanente em saúde com objetivo de subsidiar a gestão do Trabalho e da Política
de Desenvolvimento dos trabalhadores do SUS. A formação de recursos humanos para a saúde
ganha um direcionamento político com a instituição da NOB/RH para o SUS. Nessa mesma
perspectiva, foi criada a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde para atuar
na construção de uma política de valorização do trabalhador no âmbito do SUS (BRASIL,
2006b).

Pierantoni, Varella e França ( 2004) apontavam que imperava a necessidade de um local


responsável pela gestão dos processos organizacionais . A criação da Secretaria de Gestão do
Trabalho e de Educação na Saúde (SGTES), pelo Ministério da Saúde, em 2003, teve como
atribuição a responsabilidade de apresentar novas alternativas para a formação e
aperfeiçoamento de profissionais do SUS (BRASIL,2004a).

No ano de 2003, foi formulada a Política de Educação Permanente em Saúde, sendo


implementada pela portaria GM/MS nº 198/2003, trazendo em cena os Polos de Educação
Permanente em Saúde com o intuito de romper a segregação entre serviço e ensino, atuação
profissional e formação, ressaltando o espaço de trabalho como produtor de saberes e práticas
de saúde (BRASIL, 2004a).

Com a criação da Portaria, o Ministério da Saúde considera a educação permanente em


saúde como um conceito pedagógico que faz ponte entre a formação, a gestão, o desenvolvimento
institucional e o controle social por meio crítico sobre o trabalho; e para atender às estratégias de
gestão, descentralização e reflexão sobre a educação permanente em saúde, foram
construídos espaços interinstitucionais/locorregionais denominados de Polos de Educação
Permanente em Saúde (BRASIL, 2004a).
20

Os Polos eram responsáveis pela agregação de diversas instituições e municípios de


determinado território, com o papel de propiciar o debate sobre os problemas, prioridades e a
construção de alternativas de formação que contribuam para a melhoria da qualidade dos serviços.
Esses núcleos eram constituídos de um colegiado com atribuições para definir os projetos e as
ações que seriam implementados e apresentados ao Ministério da Saúde, com a finalidade de
angariar recursos (BRASIL, 2004a).

A Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) foi criada como proposta
para contribuir na transformação e qualificação das práticas de saúde, visando à organização das
ações e dos serviços de saúde, aos processos formativos e às praticas pedagógicas na formação e
desenvolvimento dos trabalhadores de saúde (BRASIL, 2007).

Tempos após a implantação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde


foi detectado, pelos envolvidos com a proposta, impasses que dificultavam o avanço da
política, dentre esses impasses a burocracia e/ou normativas inaplicáveis à realidade. Esses
impedimentos foram pautas de diversas discussões e de ruptura com os objetivos propostos pela
portaria n. 198GM/MS.

Com a ruptura, o Ministério da Saúde apresentou uma proposta de educação permanente


em saúde visando articular serviços e gestão, atenção e controle social, tendo em vista a efetiva
implantação dos princípios e das diretrizes preconizadas pelo SUS (BRASIL, 2004a).

Neste contexto, foi criada a portaria GM/MS nº 1.996/2007, havendo uma mudança no
cenário da PNEPS, que passa a ser conduzida pelo Colegiado de Gestão Regional (CGR) com a
participação das Comissões Permanentes de Integração Ensino-Serviço (CIES). A PNEPS
apresenta as atribuições do CGR, da CIES, do Conselho Estadual de Saúde e da CIB, e orienta a
elaboração e execução do Plano de Ação Regional de Educação Permanente em Saúde.

Como estratégia para viabilizar esses novos processos de trabalho, a PNPES introduz
a criação de dispositivos inovadores de gestão destacando-se entre estes as Comissões de
Integração de Ensino-Serviço (CIES), responsáveis pela condução da PNEPS nas regiões de
saúde dos estados do país. (BRASIL, 2007; SILVA, 2010).

As CIES são as instâncias intersetoriais e interinstitucionais que têm como função auxiliar
na formulação, condução e desenvolvimento da Política de Educação de forma a apoiar e
cooperar tecnicamente com os Colegiados de Gestão Regional na construção dos Planos Regionais
21

de Educação Permanente, articular-se com instituições para construção de estratégias de


intervenção para o desenvolvimento da educação permanente. CIES deve ser composta por
instituições de ensino superior e técnico com cursos na área da saúde (docentes, discentes e
técnicos administrativos), movimentos sociais ligados ao controle social no SUS e à gestão das
políticas públicas de saúde, trabalhadores do SUS, gestores municipais e estaduais de saúde e de
educação (Brasil, 2007).

O Ministério da Saúde aponta a Educação Permanente como uma proposta político-


pedagógica que coloca o cotidiano do trabalhador - ou da formação – em constante espaços
coletivos para a reflexão e avaliação de sentido dos atos produzidos no cotidiano, tendo como
objeto de transformação o sujeito no processo de trabalho, orientado para a melhoria da
qualidade da atenção à saúde (BRASIL, 2009b).

Para Feuerwerker, existe a necessidade de

“formação de uma política pública do Ministério da Saúde para a educação dos


profissionais, sustentada nos princípios e diretrizes do SUS e a proposta para implementar
processos com capacidade de impacto no ensino, na gestão setorial, nas praticas de
atenção e no controle social em saúde” (20014, p. 2)

Neste contexto, a Política de Educação Permanente em Saúde apresenta, como estratégia


de gestão, a educação permanente em saúde na reorganização do sistema de ensino em saúde,
funcionando como dispositivo de aproximação entre o cotidiano do profissional do SUS e as
necessidades da população, facilitando a produção de novos conceitos construídos de forma
coletiva. , A potência da proposta está em construir políticas locais e processos de mudanças
em espaços concretos e propícios para a transformação, buscando a articulação entre a teoria,
a prática, a participação ativa dos envolvidos no processo e a problematização da realidade.
(ALMEIDA, FERRAZ, 2008).

2.3 - A vigilância sanitária

A Lei 8080/90, Lei Orgânica da Saúde, definiu a Vigilância Sanitária como o “conjunto
de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários
decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de
interesse da saúde”. O modelo adotado pelo Brasil está fundado no “Poder de Polícia”, limitando as
22

liberdades individuais e as condicionando aos interesses coletivos (BRASIL, 1999).

Em 26 de janeiro de 1999, foi criada a Lei nº 9.782, que define o Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária. Com esse sistema, compete a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) o papel de coordenar, com o objetivo de regulamentar e executar as ações com
abrangência nacional (BRASIL,1999). Portanto, a ANVISA é responsável por criar normas e
regulamentos , além de dar suporte para todas as atividades relativas à área no País. Nos estados
e municípios, as VISAS são responsáveis pelas atividades que são descentralizadas. Ou seja, quem
faz as normas é a ANVISA, com a contribuição dos estados, mas quem executa as ações de
inspeções é a Vigilância Sanitária do município (BRASIL, 1999; COHEN, 2009).

O processo de construção do Sistema Único de Saúde no Brasil tem como um dos aspectos
mais relevantes a descentralização das ações de saúde. Desde a sua criação em 1999, a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em conjunto com os estados e
municípios, vem implementando o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), através de
políticas que fortalecem e ampliam o papel dos estados e municípios nas ações de Vigilância
Sanitária (VISA).

A municipalização das ações de VISA é visto como primordial, tendo em vista que o
município é o nível mais próximo do cidadão e, consequentemente, dos seus problemas. Com a
descentralização, o município torna-se responsável pelo planejamento da VISA, sem a
possibilidade de escolha para a execução de suas ações (BRASIL, 2009a).

O serviço de Vigilância Sanitária constitui um conjunto de ações que tem como principal
finalidade a proteção e defesa da saúde da população. As atividades desenvolvidas pela VISA
buscam o controle do risco sanitário relacionado a produtos, serviços de interesse da saúde e
ambientes, inclusive o do trabalho. A Vigilância Sanitária é considerada um subsetor específico
da Saúde Pública, composta de um conjunto de saberes e práticas de natureza multidisciplinar
e multiprofissional, para proteger a saúde da população por meio de ações integradas e
articuladas de coordenação, normatização, capacitação, educação, informação, apoio técnico,
fiscalização, supervisão e avaliação em Vigilância Sanitária. (COSTA, 2003; BRASIL, 2009a).

Cohen (2009) considera a Vigilância Sanitária como um dos braços executivos que
estruturam e operacionalizam o SUS na busca da concretização do direito social à saúde. Sua
função principal é eliminar ou minimizar o risco sanitário envolvido na produção, circulação e
23

consumo de certos produtos, processos e serviços. Em síntese, a Vigilância Sanitária tem um


papel importante na estruturação do SUS, principalmente devido à:

Ação normativa e fiscalizadora sobre os serviços prestados, produtos e insumos


terapêuticos de interesse para a saúde; permanente avaliação da necessidade de
prevenção do risco; e possibilidade de interação constante com a sociedade, em
termos de promoção da saúde, da ética e dos direitos de cidadania (Conhen,
2009).

Portanto, em relação às ações de Vigilância Sanitária, é importante esclarecer que é


indispensável reconhecer a necessidade de aplicação da imposição legal de poder, ou seja, dever
de fiscalizar e autuar os responsáveis por práticas que apresentem riscos à saúde individual e
coletiva, situação que determina a de investir/designar os profissionais de Vigilância Sanitária
para o exercício da função de fiscal (BRASIL, 2009a).

As atividades desenvolvidas pelos trabalhadores de Vigilância Sanitária necessitam de


instrumentos materiais, legais e saberes para a realização do controle dos riscos sanitários.
Utilizam, também, vários instrumentos de trabalho, dentre eles, legislação, autorização,
fiscalização, laboratório, monitoramento, vigilância epidemiológica de efeitos adversos e outros
agravos e de laboratório, informação, comunicação e educação para a saúde e marketing social.

O trabalho da VISA é caracterizado como uma atividade que se realiza em espaços técnico
e político administrativo, visando à proteção da saúde da população, incorporando saberes
multiprofissionais. Os trabalhadores da VISA constituem sujeitos do processo, que desenvolvem
ações de controle sanitário sobre vários objetos de interesse da saúde, utilizando meios de
trabalho representados pelos instrumentos materiais, como a própria legislação sanitária , que inclui
normas técnicas e jurídicas e saberes utilizados na realização das atividades, sendo o produto
obtido o controle dos riscos sanitário (SOUZA, STEIN, 2007; COSTA, 2003).

No campo de atuação da Vigilância Sanitária, as ações devem estar embasadas na conduta


pela ética e de responsabilidade pública, tendo que lidar com conflitos e pressões envolvendo todo o
processo de trabalho da VISA. Ela exerce o poder de autoridade, que é inerente à função,
desse modo, competência técnica, responsabilidade pública e compromisso ético apresentam-se
como os maiores desafios para a formação desses profissionais (COSTA, 2003).

Além disso, as práticas desenvolvidas ao longo do trabalho da Vigilância Sanitária


apresentam como uma das suas principais características, a relação com várias disciplinas e
24

profissões e a exigência de conhecimento para a avaliação e o controle de riscos à saúde


(SOUZA e STEIN, 2007; COSTA, 2003).

A abrangência do campo da VISA torna necessária uma educação para o trabalhador


que envolve todo o processo de trabalho. Autores consideram importante a busca por uma
metodologia problematizadora, articulando-se a teoria com a prática em serviço para o
atendimento das necessidades de capacitação, tornando-o participante da transformação do
processo de trabalho, com ampliação da sua capacidade de observação da realidade, além de
mobilizar recursos para promover ações no âmbito coletivo (COHEN, 2009; RIBEIRO e
JUNGES, 2010).
25

3 METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo

Nesta pesquisa, utilizou-se uma abordagem qualitativa, que , segundo Minayo (1994,
p. 32), “[...] é aquela relacionada mais intimamente com questões particulares e se
preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificada”. O conceito de pesquisa
qualitativa remete a um processo de investigação que envolve os significados atribuídos pelas
pessoas às experiências e vivências do mundo social. As pessoas utilizam os métodos qualitativos
para compreender o mundo: observando, interagindo, conversando. A diferença encontra-se nas
características de rigorosidade, sistematicidade, planejamento, análise ponderada e cuidadosa de
dados, exigidos pela pesquisa científica (POPE; MAYS, 2005).
A escolha pela pesquisa qualitativa tem relação com o fato de trabalhar com “o inverso
de significações, motivos, crenças, aspirações, valores e atitudes que correspondem a um
universo mais profundo de relações” (MINAYO, 2007, p. 33). A pesquisa qualitativa é
considerada flexível, permitindo o ajuste de acordo com o que vai sendo descoberto e por utilizar
várias técnicas no decorrer da produção de dados. Essa abordagem visa a uma compreensão do
todo, em que os pesquisadores buscam reunir uma complexa rede de dados para posterior análise
(POLIT, BECK, 2011).

3.2 Cenário da pesquisa

A pesquisa terá como cenário o Núcleo de Vigilância Sanitária de um município, localizado


na região serrana do estado Rio de Janeiro. Essa região é composta por 16 municípios.

O local onde o estudo foi realizado tornou-se município pela lei estadual nº 2497/1995.
Possui uma área de 77,080 km2, com uma população de 5.269 hab (IBGE/2010). O município se
de destaca pela sua importante atividade no setor pecuário.

A rede de saúde do município é composta por duas unidades da Estratégia de Saúde da


Família, um Policlínica Municipal de Especialidades, um Centro de Atenção

Psicossocial (CAPS-I) e um Pronto Atendimento. Atualmente, está em construção um


hospital para atender à rede municipal de saúde.
26

Com a habilitação do município para Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde, em


2013, as ações de baixa e média complexidade de VISA tornaram-se responsabilidade do
município. Devido a complexidade das ações de VISA, o gestor municipal está incentivando a
formação de equipe mínima, designando profissionais para a estruturação deste serviço (RIO
DE JANEIRO, 2010)

A gestão plena do sistema trouxe avanços ao município. Proporcionou aos


envolvidos com a gestão municipal a oportunidade de adquirir conhecimentos administrativos
anteriormente dominados por outros setores da administração ou esferas de governo. O gestor
passou a participar da elaboração de leis municipais, como a lei que cria o Sistema Municipal
de Controle, Avaliação e Auditoria; das Leis de Diretrizes Orçamentárias (LDO); dos Planos
Plurianuais (PPA) e outros procedimentos administrativos (BRASIL, 2006a)

A gestão plena está possibilitando, ainda, ao gestor participar de projetos específicos para
a saúde, os quais tiveram que incluir, em suas agendas, reuniões em Comissões Intergestores
Bipartites (CIB) regionais e estaduais e da Comissão Intergestores Tripartites (CIT).

Com a gestão plena do sistema de saúde, o secretário assumiu compromisso de pagamento


aos prestadores de serviços. O gestor municipal passou a administrar os recursos repassados
e a exercer maior controle sobre eles. Esse conhecimento foi fundamental para ampliar os
setores de controle, avaliação e auditoria do município, e efetivamente controlar os gastos,
principalmente com vistas a evitar situações em que os recursos pudessem ser insuficientes
para pagamento aos prestadores. (BRASIL, 2006a)

O Núcleo de Vigilância Sanitária está inserido na composição da Vigilância em Saúde,


sendo as outras partes a Vigilância Epidemiológica e Vigilância Ambiental em Saúde. Esse
serviço foi criado pela Lei Municipal nº 897/1998, e desde então vem sendo estruturada para
atender às legislações vigentes.

Atualmente, o serviço de Vigilância Sanitária está passando por uma reformulação da


sua política no município, com a definição de atos normativos, legislação, investimento em
infraestrutura e recursos humanos. No cadastro da Secretaria Municipal de Fazenda, existem
87 estabelecimentos comerciais cadastrados. Atualmente, a Vigilância Sanitária está fazendo um
levantamento dos estabelecimentos sujeitos à inspeção por esse serviço municipal.
27

3.3 Participantes da pesquisa

Os participantes do estudo foram os profissionais atuantes na Vigilância Sanitária de um


município localizado na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro.
Como critério de inclusão para participação na pesquisa estabeleceu-se os profissionais
lotados na Vigilância Sanitária municipal, enquanto, que o critério exclusão utilizado foi os
funcionários que não tiverem disponibilidade de tempo para participarem de todos os momentos
da coleta de dados.
No estudo, os participantes foram identificados como P 1, P 2, P 3, P 4, P 5, P6, P7, P8
de forma a garantir o anonimato das falas.

3.4 Princípios éticos

Em relação aos aspectos éticos, seguiram-se os preceitos da Resolução nº 466/12 do


Conselho Nacional de Saúde (CNS) para pesquisa em seres humanos. A pesquisa foi
autorizada pelo Secretário Municipal de Saúde (ANEXO I). O estudo foi submetido e aprovado
pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro, conforme parecer nº
578.197.
Aos participantes da pesquisa, foi solicitado o consentimento através do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE D), garantindo seu anonimato Os termos
foram assinados em duas vias, ficando a primeira via com pesquisadores, e a segunda
com os participantes. Os participantes foram esclarecidos quanto à finalidade e aos objetivos
da pesquisa, bem como ao direito de se retirarem livremente em qualquer fase do processo.

3.5 Coleta de dados

No estudo, foram utilizadas três técnicas de coleta de dados: a análise documental,


observação participante e o grupo focal. Esta fase foi realizada no primeiro semestre de 2014.

Para este estudo, foram analisados os documentos relacionados com a capacitação dos
profissionais da VISA municipal entre 2012 e 2014, utilizando-se o material fornecido por esses
profissionais que comprovem a participação em processos educativos em saúde da equipe de
28

VISA, do Plano Municipal de Saúde e do Plano de Ação da Vigilância Sanitária referente a 2012,
2013 e 2014. Esta etapa foi realizada por meio de um roteiro previamente organizado
(APÊNDICE A). Dando continuidade a análise documental, os documentos foram reunidos, em
seguida, realizou-se a leitura e transcrição dos trechos que envolvem a temática abordada
considerados essenciais para atender os objetivos deste trabalho e, logo após, a categorização e o
cruzamento dos temas-chaves identificados.

A análise documental se constitui em uma técnica valiosa das abordagens qualitativas,


seja complementando as informações obtidas por meio de outras técnicas ou para evidenciar
aspectos novos de um tema ou problema. Propicia uma melhor compreensão do caso, e
corrobora as evidências coletadas por outros instrumentos e outras fontes. Também, permite a
confiabilidade de achados por meio da triangulação de dados e de resultados (MARTINS,
2006).

A observação participante foi a segunda técnica de escolha para a pesquisa, pois nela,
o pesquisador participa de um grupo, interagindo, conhecendo o cotidiano de relações,
aprofundando sobre determinada questão. Existem variedades de elementos que não podem ser
captados exclusivamente através da fala ou da escrita, logo essa técnica tem a vantagem de
perceber os fatos de forma direta, sem qualquer intervenção (GIL, 2010; VICTORIA; KNAUTH;
HASSEN, 2000).

Observar participando, contempla a possibilidade de inserção na realidade diária da equipe


multiprofissional de saúde, ao passo que o pesquisador não só observa como expectador, de fora
de cena; observa interações entre os profissionais de saúde e destes com os usuários; percebe
como essas pessoas agem no processo de trabalho e como resolvem suas situações cotidianas.
Ele participa, age, conversa, discute, dialoga; cria espaços relacionais; abre possibilidades para o
desenvolvimento de uma pesquisa real, viável e representativa de seus significados.

O processo de observação participante foi realizado no mês de abril de 2014. Durante


esses dias, foram observados os turnos de trabalho mais de uma vez, permitindo construir um
conhecimento mais embasado daquele grupo.

Os primeiros momentos do processo de observação foram para conhecer o espaço


físico da unidade nas rotinas de trabalho da equipe, e uma forma de apresentação da proposta
para os participantes da pesquisa.
29

Em conjunto com observação participante, procedeu-se a construção técnicas de diários de


campo. O diário de campo foi redigido como forma de compor e organizar os dados observados
durante o dia, facilitando a descrição dos eventos, da dinâmica de trabalho, permitindo leituras e
reflexões no momento da própria escuta, e ainda servindo como um guia para o percurso
investigatório. Para Victória, Knauth e Hassen (2000), o diário de campo é um instrumento
essencial de registro de dados, sendo um material pessoal do pesquisador.

Acrescenta-se a isso, a caracterização de Minayo para diário de campo, sugerindo a


sistematicidade como elemento vital na construção deste material. Segundo a autora, “podemos
colocar nossas percepções, angustias, questionamentos e informações que não são obtidas
através da utilização de outras técnicas” (MINAYO et al., 2004, p.63).

Os dados também foram coletados por meio do grupo focal, realizado com os profissionais
que compõem a equipe de VISA municipal. A escolha por essa técnica de coleta de dados
deu-se por entender que a educação permanente em saúde é um processo de construção
coletiva e que, por meio do grupo focal, é possível delinear as etapas que favorecem a elaboração
dialética do pensamento grupal levando a construção coletiva do conhecimento (ASCHIDAMINI;
SAUPE, 2004).

O grupo focal permitiu a interação entre os participantes e o pesquisador, com objetivo de


colher dados a partir da discussão dos processos educativos na VISA. O pensa em grupo, sobre
a temática educação permanente em saúde, facilitou a discussão e a observação das
controvérsias, possibilitando, por meio da interação, a construção de opiniões e mudança de
comportamentos e atitudes dos integrantes do grupo frente a tema abordado no estudo.

A sessão de grupo focal ocorreu na sala cedida do Conselho Municipal de Saúde, com
duração de duas horas, na qual dos nove profissionais selecionados, oito compareceram.

Para a condução do grupo focal, elaborou-se um roteiro (APÊNDICE C) composto por


perguntas direcionadas ao objetivo proposto. Os momentos do grupo foram: abertura, com
apresentação e informação; seguido das considerações em relação aos aspectos éticos da
pesquisa e contrato de horário e, posteriormente, o debate, a síntese e encerramento.

As falas produzidas no grupo focal foram gravadas em meio eletrônico e transcritas na


íntegra de forma literal.
30

3.6 Análise dos dados

No tratamento dos dados coletados, foi utilizada a análise de conteúdo segundo o método
proposto por Bardin. A análise de conteúdo aparece como um conjunto de técnicas de análise
de comunicação que visa obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores que permitem a interferência de conhecimentos relativos às
condições de produção dessas mensagens (BARDIN, 2009).

A análise de conteúdo se propõe a ultrapassar o nível do senso comum e alcançar uma


diligência crítica diante das falas e documentos, e assim, chegar a um nível mais profundo de
análise, pois constitui uma busca teórica e prática no campo das investigações sociais (Minayo,
2007, p. 303 e 308). Segundo Bardin (2009, p.33), “a análise de conteúdo é um conjunto de
técnicas de análise das comunicações”.

No campo da análise de conteúdo, a análise temática é considerada como mais apropriada


ao estudo proposto, pois consiste em descobrir os núcleos de sentido que constam em uma
comunicação cuja frequência tenha significância para o objeto estudado, tendo como
desdobramento três etapas: pré-analise, exploração do material e tratamento dos dados
obtidos e interpretação. Assim, inicialmente, foi realizada na etapa de pré- análise, uma leitura
flutuante do material com o objetivo de interpretar as falas coletadas.

Por fim, a partir do entendimento do conteúdo expresso nas falas, foi organizado e
identificado o núcleo central e, em seguida apontadas as categorias teóricas, a fim de delimitar
os temas.

A elaboração das categorias, ou seja, a passagem dos dados brutos a dados organizados,
terá como pressuposto o critério de repetição das falas dos sujeitos, procurando investigar o
que cada um deles tem em comum com os outros e a importância dos conteúdos intrínsecos
nos discursos dos participantes (BARDIN, 2009, p.147).

A categorização se propõe a atender os aspectos de qualidade mencionados por Bardin


(2009, p. 147 e 148), a saber: 1- a exclusão mútua: um elemento não poderá existir em mais de
uma divisão; 2- homogeneidade: num mesmo conjunto categorial só se pode funcionar com um
registro e com uma dimensão de análise; 3- pertinência: ela ocorre quando está perfeitamente
adaptada ao material de análise escolhido e quando pertence ao quadro teórico definido; 4-
31

objetividade e fidelidade: as diferentes partes do material devem ser codificadas de igual modo;
5- produtividade: acontece quando gera dados férteis.
32

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS

A partir do relatório dos dados coletados, foram levantadas categorias temáticas


relacionadas aos objetivos da pesquisa. A seguir, serão descritas as categorias, suas
respectivas conceituações e falas ilustrativas de cada uma delas. As categorias construídas
foram: Identificação dos participantes; O processo de educação dos trabalhadores da
Vigilância Sanitária Municipal; Educação permanente e educação continuada: comparando
conceitos; Educação permanente em saúde: um desafio para a Vigilância Sanitária.

4.1 Identificação dos participantes

Neste estudo, os participantes foram identificados como P 1, P 2, P 3, P 4, P 5, P6, P7


e P8. A identificação dos sujeitos foi discutida com o grupo, quando em comum acordo, os
mesmos decidiram ser identificados com a letra P, acrescentado de um número para identificar
as falas no decorrer do desenvolvimento deste estudo.

O grupo caracteriza-se por uma maioria de profissionais do sexo feminino. A idade varia
entre 34 e 52 anos. O tempo de atuação na VISA varia entre quinze a um ano, sendo o
profissional que tem mais tempo de lotação é o fiscal sanitário, e com menos tempo a médica.
Quanto à formação acadêmica, a maioria possui nível superior, sendo os fiscais sanitários com
nível médio de escolaridade, conforme apresentado no quadro a seguir (Quadro I). A graduação dos
profissionais, era assim constituída: medicina veterinária, farmácia, enfermagem, cirurgião
dentista, engenharia civil, medicina. Dos profissionais que atuam na equipe, quatro cursaram
especialização.

Quadro 1 -- Distribuição dos sujeitos pesquisados, segundo dados de identificação do


instrumento aplicado:

Profissional Idade Sexo Ano Formação Tempo de Especialização


atuaçãção na
VISA
Cirurgiã- 42 F 1996 02 anos Implantodontia
Dentista
33

Enfermeira 32 F 2005 03 anos Saúde da


Família
Engenheiro 47 M 1987 02 anos *****

Farmaceutico 32 M 2006 03 anos Análises


Clínicas

Fiscal 49 M 1982 12 anos *****


Sanitário
Fiscal 27 F 2004 04 anos *****
Sanitário
Médica 52 F 1987 01 ano Clínica Médica,
Saúde da
Família,
Medicina do
trabalho
Médico 34 F 2007 02 anos *****
Veterinário
Fonte: própria autora

4.2 O processo de educação dos trabalhares da vigilância sanitária municipal

Os documentos pesquisados permitiram organizar e sistematizar as atividades didático-


pedagógicas com relação à educação permanente em saúde, bem como caracterizar a utilização
dos dispositivos na Vigilância Sanitária municipal.

A análise do Plano Municipal de Saúde, que é considerado um importante instrumento


para a orientação das ações desenvolvidas pela gestão municipal, teve como resultado a ausência
de uma abordagem sobre a educação dos trabalhadores da VISA. O Plano Municipal de
Saúde é considerado por Ceccim e Feuerwerker (2004) como um dos instrumentos que
norteiam as ações em saúde e conferem direcionalidade às propostas de qualificação dos
trabalhadores de um município.

No Plano de Ação da VISA foi mencionada a necessidade de capacitação, mas não há


menção quanto à forma de abordagem que se aproxima dos pressupostos da PNEPS, ou seja,
voltada para uma proposta de estratégia educativa por meio da problematização do processo
de trabalho. O prazo para realização dessas atividades foi estabelecido entre janeiro a
dezembro de 2013, porém, não existem documentos que comprovem a realização de
34

atividades de Educação Permanente em Saúde na Vigilância Sanitária.

Nos certificados fornecidos pelos profissionais, foram encontrados três com o termo
atualização e cinco, com o termo capacitação referentes às atividades de educação do
trabalhador, oferecidos pela Coordenação Estadual de Vigilância Sanitária.

Na sessão do grupo focal, foram relatados os processos educativos promovidos pela


Vigilância Sanitária Estadual, com o objetivo de capacitar trabalhadores para atuarem na
municipalização desse serviço. Portanto, na tentativa de entender se o processo educativo, que os
profissionais da VISA municipal estavam submetidos, tratava-se de educação permanente,
buscou-se verificar a aplicabilidade à realidade de trabalho:

“Todos os encontros realizados pela Vigilância Estadual são de


excelente qualidade, mas muita coisa foge da nossa realidade, é
totalmente diferente do que a gente tem visto por aqui. Os nossos
problemas são diferentes.” (P3)

“Nos cursos, os módulo são padronizados, falta espaço para


discussão de particularidades, de questões do dia a dia de
trabalho”.(P6).

“Esses cursos que a gente esta fazendo desde 2012, já estamos


enjoados de fazer, não muda nada, que não leva a nada, não consigo
fazer nada aqui no município.”(P2)

O processo educativo, oferecido pela VISA Estadual, se aplica de forma incipiente à


realidade de trabalho dos profissionais. Nos cursos, são ministradas muitas aulas teóricas,
destacando aspectos gerais do serviço de VISA, que não se adéquam à realidade do trabalho local.
Esse fato demonstra que não vem ocorrendo aprendizagem significativa, ou seja, aquela em que
o tema dialogado se vê articulado ao cotidiano dos trabalhadores. A estratégia educativa
utilizada nos remete a uma educação bancária. Como retrata Freire, “nesta distorcida visão da
educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber” (2002, p. 58). Há sim, uma
prática pouco reflexiva e baseada na transmissão de informações, e na passividade dos sujeitos
(FREIRE, 2002).

Como o grupo relatou, os processos educativos, dos quais participaram, foram


pontuais, com temas pré-definidos na forma de palestras, treinamentos e capacitações. Os
profissionais afirmaram que as experiências educativas foram importantes, mas não trouxeram
35

mudanças significativas para sua prática na VISA, e não partiram das necessidades percebidas
pelos trabalhadores.

Nesse modelo de educação tradicional, bancária, os processos educativos dificilmente


podem instrumentalizar os profissionais na busca de seu espaço e reconhecimento já que,
“minimizado e cercado, acomodado a ajustamentos que lhe sejam impostos, sem o direito de discuti-
lo, o homem sacrifica imediatamente a sua capacidade criadora” (FREIRE, 2011 p.50). E mesmo
assim, insiste-se nesse estilo de capacitação que demonstra ser a lógica escolar incorporada
habitualmente e sutilmente nos modelos mentais (BRASIL, 2009).

Os participantes elencaram a falta de um momento para discutir questões referentes ao


seu cotidiano de trabalho. A construção desse espaço poderia se constituir em uma das formas de
buscar soluções viáveis aos problemas encontrados.

“Na minha opinião, precisa de um tempo para discutir os problemas


do trabalho, não adianta só fazer cursinhos sem aplicar nada aqui.”
(P2)

“Eu gosto de participar desses eventos, mas nunca tem tempo para a
gente falar ou usar os exemplos de situações que temos aqui, a gente
vai e volta com dúvidas e depois é a mesma história, ligamos para
tentar resolver o nosso problema.”(P5)

Os processos educativos não se configuram em espaços de discussão entre os indivíduos,


sobre sua realidade de trabalho, bem como, não propiciam a problematização necessária para a
conscientização de seu papel e responsabilidade. Assim, é perceptível a falta de relação com
um processo educativo sistematizado e centrado na busca por solucionar os problemas
identificados pelo grupo.

Para Merhy, Feuerwerker e Ceccim (2006) problematizar a realidade é importante, pois


desperta no sujeito a sensação de incomodo, a percepção de que sua prática não está respondendo
às necessidades de saúde das pessoas. Segundo esses autores, esse incômodo só pode ser
despertado quando ele é percebido, vivido de forma intensa. A vivência e a reflexão sobre as
práticas de trabalho são os caminhos ideais para produzir insatisfações e disposição para elaborar
alternativas que visem enfrentar os desafios (MERHY; FEUERWERKER; CECCIM, 2006).

A demanda por respostas rápidas, resultados da descentralização das ações de VISA,


36

está favorecendo a reprodução de modelos tradicionais de educação no trabalho distanciando-se de


uma educação significativa. O grupo pesquisado continua sendo colocado e se colocando
passivamente frente à realidade, pois o modo como a educação é conduzida nestes cursos pode
colaborar para a manutenção de uma prática do serviço de Vigilância Sanitária pouco reflexiva.

Para que se alcancem resultados, as ações de educação dos trabalhadores devem estar
articuladas com os dispositivos de mudanças organizacionais, principalmente com os desafios que
envolvam o processo de trabalho. Não se limitam a levar o profissional a incorporar
conhecimentos, mas levá-lo a identificar quais conhecimentos são necessários aprender, que
situações devem deixar de existir e o que fazer para que os trabalhadores em saúde adotem uma
nova estratégia para aquisição de novos conhecimento, enfim, é necessário haver mudanças na
organização das instituições e nos envolvidos com o processo de trabalho (DAVINI, 2009).

4.3 Educação permanente e educação continuada: comparando conceitos

Para que se tenha sucesso na utilização de qualquer estratégia educativa, é imprescindível


que haja a compreensão dos envolvidos sobre a mesma. Ocorre que, nesse caso, os
trabalhadores da VISA municipal desconhecem conceitos importantes, intitulando como
capacitação toda e qualquer proposta utilizada para aquisição de conhecimentos. É possível
observar tal fato quando alguns denominam os cursos ofertados pela Secretaria Estadual de Saúde
como capacitação.

A capacitação é reconhecida pela PNPES como uma das estratégias mais usadas para
o desenvolvimento dos trabalhadores da área de saúde, na maioria consiste na transmissão de
conhecimento, repetindo sempre as mesmas fórmulas e métodos de ensino. O termo
capacitação remete à continuidade do modelo escolar, com enfoque no conhecimento
disciplinar, geralmente realizado em ambiente didático e baseado em técnicas de transmissão,
com fins de atualização (BRASIL, 2007, OLIVEIRA, 2014).

“A minha ideia sobre a educação permanente é aquela que sempre


está sendo dada, renovada. A educação permanente são esses cursos
e que estamos sempre fazendo.” (P1)

“A educação permanente são essas capacitações que estamos


37

fazendo, todo curso é uma educação permanente, pois estamos


aprendendo.” (P8)
“A gente teve curso de capacitação durante o ano de 2013
sobre vários temas de educação permamente”. (P3)

A educação permanente em saúde, na concepção dos profissionais, é compreendida como


capacitação, sem uma vinculação direta com a problematização de situações do trabalho e com
ações que visem introduzir mudanças nas práticas em saúde. É necessário compreender que a EPS
é uma proposta pedagógica que desenvolve o processo educativo no cotidiano de atuação dos
profissionais, colocando este em análise, e tornando fundamental a troca de saberes entre as
pessoas que compõem a equipe com os do serviço (LIMA et al., 2010).

Conceitualmente, a educação permanente é ensino-aprendizagem, embasado na produção


de conhecimentos que respondam à perguntas que pertencem ao universo de experiências e vivências
de quem aprende, e que gerem novas perguntas sobre o ser e o atuar no mundo (CECCIM
& FERLA, 2009).

Rodrigues, Vieira e Torres (2010), contribuem dizendo que a Educação Permanente em


Saúde é uma atividade educativa de caráter contínuo, cujo eixo norteador é a transformação do
processo de trabalho, centro privilegiado de aprendizagem. É voltada para a prática educativa
que se orienta pelo cotidiano dos serviços, partindo da reflexão crítica sobre os problemas
referentes à qualidade da assistência, assegurando a participação coletiva - multiprofissional e
interdisciplinar favorecendo a construção de novos conhecimentos e intercâmbio de vivências.

Para Paschoal, Mantovani e Méier (2007), a educação permanente, tem como base o
aprendizado contínuo, e pode ser considerada condição necessária para o desenvolvimento
dos indivíduos no que diz respeito a seu autoaprimoramento, conduzindo-o à busca da competência
pessoal, profissional e social, como uma meta a ser seguida por toda a sua vida. Sendo
entendida, dessa maneira, como um processo de desenvolvimento pessoal, que deve ser
potencializado, a fim de promover, além da capacitação técnica específica dos sujeitos, a
aquisição de novos conhecimentos, conceitos e atitudes.

Na discussão do grupo, os trabalhadores ao conceituarem a EPS trouxeram uma concepção


que envolvia tanto a educação continuada (EC) quanto a educação permanente, reforçando a
necessidade de revisão e divulgação dos conceitos. Percebeu-se que através dos conceitos
38

criados pela equipe, os profissionais não possuem clareza sobre a diferença teórica existente entre
a educação permanente e educação continuada.

“A educação permanente é um espaço de discussão e


troca de conhecimentos.” (P7)

“A educação permanente você faz constantemente com o tema mais


apropriado para a sua profissão.” (P6)
“A educação permanente é aquela quando aparece alguma coisa
diferente e a gente vai fazer uma capacitação para aprender,
precisamos ficar atualizados.”(P3)

Apesar de ambas, EC e EPS, estarem presentes no cotidiano do trabalho em saúde,


elas possuem diferenças essenciais, conforme o quadro a seguir. Enquanto a EPS se propõe
a promover a mudança das práticas, a EC visa atualizar conhecimentos específicos (Quadro 2).
Ao contrário da EC, na EPS as práticas determinam o conhecimento, de modo que
a aprendizagem tem maior possibilidade de adquirir significado para o trabalhador
(MERHY; FEUERWERKER; CECCIM, 2009).

Quadro 2- Principais diferenças entre Educação Continuada e Permanente segundo


conceitos chaves
Aspectos Educação Continuada Educação Permanente
Público-alvo Uniprofissional Multiprofissional
Inserção no mercado de Prática autônoma Prática institucionalizada
trabalho
Enfoque Temas de Problemas de saúde
especificidades
Objetivo principal Atualização técnico-científica Transformação das práticas
técnicas e sociais

Periodicidade Esporádica Contínua


Metodologia Pedagogia da Pedagogia centrada na
Transmissão resolução de problemas
Resultados Apropriação Mudança
Fonte: MANCIA et al Educação permanente no contexto da enfermagem e na saúde.
39

No estudo de Nicoletto et al. (2009), realizado com participantes dos Pólos Regionais
de Educação Permanente em Saúde da região norte do Paraná, a confusão em distinguir EPS de
EC também esteve presente. O mesmo ocorreu no estudo de Ricaldoni e Sena (2006), em que
participaram profissionais da equipe de enfermagem de um hospital. Nesse estudo, os autores
destacam que havia uma desarticulação entre o processo de trabalho e as atividades educativas
realizadas, as quais eram consideradas educação permanente. Nessas atividades, os profissionais
não eram estimulados a pensar sobre suas atividades e procedimentos no cotidiano do trabalho.

A Educação Continuada tem sido utilizada no setor Saúde, e neste, especialmente na VISA,
como estratégia de capacitação, cuja finalidade é a atualização de conhecimentos que,
distanciados dos problemas concretos existentes evidenciados nos serviços, seguem uma
direção objetiva e técnica do trabalho, voltada, para o domínio de habilidades e
competências. Isso reforça a fragmentação do cuidado e a divisão do trabalho desenvolvido entre
as equipes. Conforme Franco et al. (2012), a proposta da educação continuada mantém a ideia
da continuidade da “transferência de conhecimentos”, sendo a mesma necessária para preencher
as lacunas de uma formação suposta como deficitária para os serviços de saúde.

4.4 Educação permanente em saúde: um desafio para a vigilância sanitária

A proposta da EPS considera a dimensão da reflexão e do conflito de interesses ao


identificar que os trabalhadores da área de saúde têm diferentes visões sobre os processos
educativos, ao qual estão sendo submetidos e que estes não refletem em suas práticas de
trabalho. Nesse sentido, o grupo considera a EPS como uma estratégia de mudanças no
processo de trabalho centrada nos problemas e no desenvolvimento da equipe, levando em
consideração experiências anteriores de propostas de educação dos trabalhadores que não
provocaram mudanças no processo de trabalho.
Nas discussões do grupo focal, a maioria dos sujeitos enfatiza que a educação
permanente favorece o espaço de trocas e reconstrução de saberes entre os diversos atores
que compõem a equipe de VISA municipal, conforme a fala dos participantes P1 e P4.

“A EPS precisa ser de responsabilidade de todos nós. A nossa equipe


precisar introduzir a educação permanente no nosso dia-a-dia, ela
vai ajudar a melhorar a qualidade do nosso trabalho.” (P1)
40

“Sim, a EPS é o que precisamos, trocar experiências, refletir sobre


as nossa prática de trabalho e condutas e melhorar o nosso
trabalho.” (P4)

Nos depoimentos, observar-se que a Educação Permanente em Saúde vem ao encontro


de uma alternativa para melhorar o processo de trabalho, pois constitui-se em uma importante
estratégia para proporcionar a reflexão crítica sobre as práticas realizadas pela equipe de VISA.
Contudo, para que ocorra a existência de um processo dialético entre os saberes dos profissionais
que atuam nesse contexto, é preciso que o projeto de educação permanente busque a
transformação do processo de trabalho, englobando as necessidades de aprendizagem da
equipe e troca de experiências (BRASIL, 2007).

Ao se levantar, no grupo, as contribuições da EPS, constata-se que ela possibilita a


transformação da realidade vivenciada pela equipe, visto que, ao identificar os problemas,
buscam-se soluções para a melhoria do trabalho, assim como mudar condutas sobre aspectos da
prática profissional. Portanto, os profissionais que integram a VISA declaram que o processo de
educação permanente contribui para a qualificação dos trabalhadores, para a identificação de
possíveis falhas no atendimento, na organização e funcionamento do serviço

“Eu entendo a EP como um início para a organização do nosso


trabalho, vai ajudar a organizar a nossa rotina, no planejamento das
nossas atividades, vai ajudar a resolver muitos entraves.” (P6)

“É hora de começar a rever o processo de trabalho e começar a


avaliar se o trabalho está sendo resolutivo ou não, estamos com
muitos problemas, e poucas soluções. É o momento de trocas,
discussão e reflexão da nossa forma de trabalhar. A Educação
Permanente vai contribuir muito nisso.”(P1)

“O processo de educação permanente facilita, ele ajuda na


formação mais crítica e reflexiva e também para que todos
participem.” (P4)

“Acredito que você pode fazer educação permanente na prática, em


vários momentos, no dia a dia. O que precisamos é ter a
compreensão da sua importância e que precisamos de um tempo,
seja na reunião de equipe, ou a criação de algum espaço destinado a
EPS.” (P8)
41

A concepção do grupo sobre a utilização da Educação Permanente em Saúde vai de


encontro à construção de espaço e oportunidades, para que a equipe repense a prática do serviço
e entendam o processo de trabalho no qual estão inseridos. Acrescenta-se a isso, a possibilidade
de avaliar as condutas dos profissionais no desenvolvimento das atividades inerentes ao
serviço, de buscar novas estratégias de intervenção e possibilidades de superação de
dificuldades individuais e coletivas no trabalho.

Esses achados vão ao encontro dos estudos de Guimarães, Martin e Rabelo (2010), quando
mencionam que a atividade de Educação Permanente em Saúde é uma ferramenta valiosa para
o diagnóstico das necessidades de capacitação dos profissionais da saúde, pois como tal, permite
explorar as necessidades do ponto de vista dos trabalhadores em função dos problemas
identificados em sua prática diária.

De acordo com Davini (2009) a educação permanente representa uma importante mudança
na concepção e nas práticas de capacitação dos trabalhadores dos serviços de saúde,
incorporando o ensino e o aprendizado à vida cotidiana das organizações e às práticas sociais
e laborais, no contexto real em que ocorrem, modificando substancialmente as estratégias
educativas a partir da problematização do próprio fazer, e colocando as pessoas como atores
reflexivos da prática, construtores do conhecimento e de alternativas de ação, em vez de
receptores.

Corroborando, Carotta, Kawamurada, Salazar (2009) enfatizam que o processo de


Educação Permanente em Saúde veio para possibilitar a melhora das práticas de serviço dos
profissionais da equipe de saúde, tornando-os mais envolvidos, interessados, participativos,
valorizando o conhecimento dos mesmos e aumentando as oportunidades de aprendizagem no
próprio local de trabalho.

Em seu estudo Ceccim (2005) enfatiza que o processo educativo proposto pela EPS vai
além da construção de espaços de troca, ele possibilita a construção de uma visão mais ampliada
do trabalho, reforçando o compartilhamento de tarefas e a necessidade de cooperação para
alcançar objetivos.

Na discussão do grupo, os participantes expressaram a importância da construção de


espaços para o fortalecimento da EPS, configurando como uma proposta para organização de
uma agenda de trabalho e planejamento sistematizado das ações. Nesse sentido, a valorização do
42

espaço de trabalho torna-se importante, pois é a partir dele que emergem os conhecimentos sobre a
realidade e as necessidades reais de problematização do processo de trabalho. Ainda, torna-se
imprescindível que essa educação seja conduzida conforme a realidade das situações de
trabalho, que seja desenvolvida coletivamente, de acordo com as necessidades sociais e
ancorada nos preceitos da práxis transformadora (SILVA et al., 2010).

A proposta de Educação Permanente para a VISA municipal está na perspectiva de se


constituir como uma oportunidade de intervenção no processo de trabalho, reconhecendo a
importância de incluir as ações educativas problematizadoras e que só serão relevantes se
despertarem nos trabalhadores a capacidade de reflexão sobre o processo de trabalho, provocando
transformações.

5 O Mestrado Profissional e o Produto - Articulação da educação e o trabalho:formação e


produção de práticas no serviço

Oficina: Instrumentalizando a Vigilância Sanitária para utilização da proposta da Educação


Permanente em Saúde

Público alvo: Profissionais que integram a equipe de Vigilância Sanitária-VISA Municipal.


Duração: 08 horas
Local: Sede do Conselho Municipal de Saúde

Objetivos:

Propor a discussão da proposta da Educação Permanente em Saúde na


transformação do trabalho da Vigilância Sanitária.

Realizar a análise do processo de trabalho, identificando os problemas. Criar uma


agenda de fortalecimento da EPS na VISA.

Atividades:

1- Elaborar um quadro paralelo entre a Pedagogia da Educação Continuada e a Pedagogia


43

da Educação Permanente.

Referência Educação Permanente Educação Continuada

Objetivo

Pressuposto pedagógico

Planejamento educativo

Metodologia

Público

2- Leitura do texto - Metodologias ativas de ensino-aprendizagem na formação


profissional em saúde: debates atuais - para favorecer a compreensão e operacionalização
da Educação Permanente em Saúde, como estratégia de gestão do trabalho e qualificação
dos profissionais que atuam na VISA. Texto disponível em
http://www.scielosp.org/pdf/csc/v13s2/v13s2a18.pdf. Acesso em 22/9/2014

3- Construir uma rede explicativa para subsidiar o planejamento de ações de Vigilância


Sanitária, baseado em um instrumento de problematização do processo de trabalho.

Rede Explicativa dos problemas para a construção de uma agenda de fortalecimento da


EPS na VISA:

Problema Definição do Causa do Ação Responsávei s Prazo


problema: problema estratégica
onde, quando, e
como acontece
44

Recurso Material:

Papel, caneta, datashow, papel pardo, folha A4.

Avaliação da proposta

Discutir com o grupo se os objetivos da oficina que foram alcançados, considerando


se a proposta estimula a reflexão sobre o processo de trabalho e atuação em equipe.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
45

O estudo buscou analisar a utilização da educação permanente em saúde na


descentralização das ações de Vigilância Sanitária. Foi identificada a percepção dos profissionais
da VISA acerca da educação permanente em saúde. Destaco que, no cotidiano de atuação
desses profissionais, necessita-se de espaços que propiciem uma reflexão e que se estenda
para a construção de espaços que possibilitem práticas de aprendizagem significativa para
contribuir com o desenvolvimento da educação permanente em saúde na VISA.

A análise documental, a observação participante e o grupo focal permitiram a identificação


dos processos educativos com a participação dos trabalhadores da Vigilância Sanitária. As
características apresentadas traduziram a presença da metodologia tradicional de ensino com
limitação para o diálogo e construção de processos coletivos e concepções que não são
desejáveis para a EPS, portanto, distantes da problematização do processo de trabalho. Os
resultados apontam que os processos educativos não contribuíram para a reflexão da realidade
local, ou seja, não produziram mudanças significativas para melhoria das ações desenvolvidas
pelo serviço em questão.

A construção do produto apresenta-se como a tecnologia para a aplicação de metodologias


ativas por meio de uma rede explicada para o fortalecimento da EPS na VISA. Espera-se que
o material produzido na pesquisa possa contribuir para a inserção da EPS no serviço de
Vigilância, proporcionando encontros que permitam o exercício de um modelo educativo
diferente daquele que os profissionais estão habituados.

Neste estudo vivenciaram-se não só experiências e oportunidades de exercitar os


conhecimentos e limites que envolvem a educação permanente em saúde, mas também, e
principalmente, usufruiu-se da oportunidade de grande desafio para o despertar para a utilização
da EPS no processo de trabalho. Acredito que as mudanças não acontecem, repentinamente, mas é
importante a consciência de que as práticas educativas, que buscam a conscientização dos
trabalhadores, devem estar presentes nas práticas do dia-dia de trabalho instrumentalizando o
trabalhador para a melhoria dos serviços.

Espera-se que a educação permanente em saúde seja a ferramenta "chave" para a


superação e o empoderamento da equipe, para organização do processo de trabalho e introdução
de atividades que favoreçam mudanças na forma de pensar e agir, tornando os trabalhadores critico-
reflexivos para o enfrentamento da realidade do trabalho ao qual estão inseridos.
46

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enfermagem: métodos, avaliação e utilização. Tradução de Ana Thorell. 5. ed. Porto
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POPE, C.; MAYS, N. Pesquisa Qualitativa na Atenção à Saúde. Tradução de Ananyr


Porto Fajardo. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

RIBEIRO, M. V.; JUNGES, F. Vigilância Sanitária. V Mostra de Produção Científica


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introdução ao tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000. 136 p.
54

APÊNDICE A – Roteiro para desenvolvimento da análise documental

Projeto: A Educação Permanente na Descentralização da Vigilância Sanitária


Orientador: Marcos Paulo Fonseca Corvino
Mestranda: Irene França Guimarães1-Evidências da Educação Permanente em Saúde na
capacitação dos profissionais da Vigilância Sanitária.
55

APÊNDICE B – Roteiro para observação participante

Projeto: A Educação Permanente na Descentralização da Vigilância Sanitária


Orientador: Marcos Paulo Fonseca Corvino
Mestranda: Irene França Guimarães

Data:
Horário:
Local:
Profissionais presentes:
Dinâmica do processo de trabalho:
Descrição das atividades:
56

APÊNDICE C – Roteiro para o Grupo Focal

Projeto: A Educação Permanente na Descentralização da Vigilância Sanitária


Orientador: Marcos Paulo Fonseca Corvino
Mestranda: Irene França Guimarães

01-Vocês receberam capacitações nos últimos 02 anos?


02-O que você entende por educação permanente em saúde?
3- Quais as estratégias didático-pedagógicas em saúde estão utilizadas para capacitação da
equipe de Vigilância Sanitária no município?
4- A educação permanente em saúde é utilizada pelos profissionais integrantes da VISA
no processo de trabalho?
57

APÊNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Título da pesquisa: Educação Permanente em Saúde na Descentralização das Ações de


Vigilância Sanitária
Pesquisador Responsável: Irene França Guimarães

Contato: irene82@bol.com.br 22-998461408

Eu, , portador
de RG n. , estou sendo convidado a participar de um
estudo denominado: Educação Permanente em Saúde na Descentralização das Ações de
Vigilância Sanitária, tendo como objetivos: - Realizar um levantamento da situação de
capacitação dos profissionais de saúde que atuam na VISA de um município do estado do
Rio de Janeiro, identificando a utilização da Educação Permanente em Saúde e Elaborar
uma proposta de Educação Permanente em Saúde para otimizar as ações de VISA. Este
estudo justifica-se pela importância da educação do trabalhador no seu local de trabalho,
para a compreensão das ações a serem desenvolvidas na reestruturação dos serviços de
Vigilância Sanitária frente a descentralização desse setor, estimulando os profissionais a ser
tornarem reflexivos quanto à realidade e capazes de intervir no processo de trabalho.
Fui esclarecido que a minha participação no referido estudo será por meio de grupo
focal.
E alertado de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como a investigação buscará detectar dados que irão contribuir de forma esclarecedora para
a problemática relacionada com a educação permanente em saúde e a aprimoração de um
elenco de conhecimentos que possam ser aplicados na prática profissional e
instrumentalizarão os gestores municipais para a realização de projetos de educação
permanente em saúde na área de Vigilância Sanitária no âmbito do SUS.
O estudo envolve um potencial de contribuição, com o propósito de refletir como a
educação permanente em saúde poderá contribuir para a orientação do processo de trabalho
na descentralização das ações de Vigilância Sanitária.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer
58

outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em
sigilo.
Também, fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu
consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e por desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo. É assegurada toda as orientações durante a pesquisa,
bem como é garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o
estudo e suas consequências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da
minha participação.
Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e
compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre
consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor
econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.

, de de 2014.

Nome e assinatura do sujeito da pesquisa

Nome e assinatura do pesquisador responsável


59

ANEXO 1 – Carta de Autorização para Desenvolvimento da Pesquisa


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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE/ FM/ UFF/ HU


PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
Pesquisador: Título da Pesquisa:
Instituição Proponente:
Versão: CAAE:
Educação Permanente em Saúde na Descentralização das Ações de Vigilância
Sanitária
Irene França Guimarães
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
3
26723814.3.0000.5243
Área Temática:
DADOS DO PROJETO DE PESQUISA
Número do Parecer:
Data da Relatoria:
578.197
04/04/2014
DADOS DO PARECER
Trata-se de um estudo que aborda a expansão de um serviço em consequência da
descentralização das
ações de Vigilância Sanitária (VISA) para a esfera municipal, utilizando-se da estratégia de
Educação
Permanente em Saúde (EPS). Objetivos: Realizar um levantamento da situação de capacitação
dos
profissionais de saúde que atuam na VISA de um município do estado do Rio de Janeiro,
identificando as
estratégias de Educação
Permanente em Saúde e elaborar uma proposta de Educação Permanente em Saúde para
otimizar as
ações de VISA. Método: estudo descritivo,
com abordagem qualitativa. A coleta de informações acontecerá no primeiro semestre de 2014, por
meio de
pesquisa documental e grupo focal com
os integrantes da equipe do Núcleo de VISA de um município precisamente no interior do estado
do Rio de
Janeiro. Para tratamento dos dados será utilizada a análise de conteúdo. Espera -se com este
estudo
contribuir para melhoria das ações de Vigilância Sanitária na esfera municipal.
Apresentação do Projeto:
- Realizar um levantamento da situação de capacitação dos profissionais de saúde que atuam na
VISA de
um município do estado do Rio de Janeiro, identificando as estratégias de Educação Permanente
em
Saúde. - Elaborar uma proposta de Educação Permanente em Saúde para
Objetivo da Pesquisa:
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio
24.030-210
(21)2629-9189 E-m ail: etica@vm.uff.br
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Marquês de Paraná, 303 4º Andar
Centro
UF: RJ Município: NITEROI
Fax: (21)2629-9189
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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE/ FM/


UFF/ HU
Continuação do Parecer: 578.197
otimizar as ações de VISA.
Riscos:
O estudo não oferece riscos.
Benefícios:
A presente investigação buscará detectar dados que irão contribuir deforma esclarecedora para a
problemática relacionada com a educação
permanente em saúde e aprimorar-se de um elenco de conhecimentos que possam ser aplicados
na prática
profissional e instrumentalizarão os
gestores municipais para a realização de projetos de educação permanente em saúde na área de
Vigilância
Sanitária no âmbito do SUS. O estudo
envolve um potencial de contribuição, com o propósito de refletir como a educação permanente em
saúde
poderá contribuir para a orientação do
processo de trabalho na descentralização das ações de Vigilância Sanitária.
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Os pesquisadores incluíram as questões que serão feitas durante a entrevi sta com os profissionais.
Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:
ok
Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:
Recomendações:
Aprovado
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
Aprovado
Situação do Parecer:
Não
Necessita Apreciação da CONEP:
Considerações Finais a critério do CEP:
24.030-210
(21)2629-9189 E-m ail: etica@vm.uff.br
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Marquês de Paraná, 303 4º Andar
Centro
UF: RJ Município: NITEROI
Fax: (21)2629-9189
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UFF/ HU
Continuação do Parecer: 578.197
NITEROI, 02 de Abril de 2014
ROSANGELA ARRABAL THOMAZ
(Coordenador)
Assinador por:
24.030-210
(21)2629-9189 E-m ail: etica@vm.uff.br
Endereço:
Bairro: CEP:
Telefone:
Rua Marquês de Paraná, 303 4º Andar
Centro
UF: RJ Município: NITEROI
Fax: (21)2629-9189
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