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17532017 3403
ARTIGO ARTICLE
aprendizagens com as equipes de Saúde da Família de João
Pessoa, Paraíba, Brasil
Abstract This study analyzed the Worker’s Sur- Resumo O estudo analisa ações de Vigilância em
veillance activities of Family Health teams, based Saúde do Trabalhador desenvolvidas por equipes
on the perceptions of physicians and nurses in de Saúde da Família, a partir da percepção de mé-
the city of João Pessoa. We used a 30-question dicos e enfermeiros no município de João Pessoa.
questionnaire split into four blocks: data on the Utilizou-se questionário com 30 questões organi-
professional, occupational healthcare practices zadas em quatro blocos: identificação do profissio-
focusing on the production and epidemiological nal; práticas de atenção à saúde dos trabalhadores
profile, and matrix and institutional support to com ênfase no perfil produtivo e epidemiológico e
the teams. A total of 179 professionals participat- apoio matricial e institucional às equipes. Partici-
ed, 82% of them were female, and 46% aged 50 param 179 profissionais; 82% mulheres; 46% com
or more; 60% had worked in the area for more 50 anos ou mais e 60% com atuação há mais de
than 10 years. Results show that Worker’s Surveil- 10 anos na atividade. Os resultados evidenciam
lance activities are not part of team day-to-day que ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador
activities: 53% mapped productive activities and não estão incorporadas no cotidiano de trabalho
30% related them to health hazards. Twenty-four das equipes: 53% realizam mapeamento das ati-
percent mentioned activities to eliminate/mitigate vidades produtivas e 30% correlacionam-nas com
exposure to risk and vulnerabilities. The support situações de riscos para a saúde. Referem ações
1
Escola Nacional de
Saúde Pública, Fiocruz. R. of Family Health teams by the Reference Center para eliminar/mitigar a exposição a situações de
Leopoldo Bulhões 1480, for Occupational Health was mentioned by 45% riscos e vulnerabilidade, 24%. O apoio às equipes
Manguinhos. 21041-210 of the participants, less than the number reported de Saúde da Família pelo Centro de Referência
Rio de Janeiro RJ Brasil.
cianaassis.amorim@ for Worker’s Surveillance. Involvement in occu- em Saúde do Trabalhador foi referido por 45%
gmail.com pational health training was mentioned by 24% dos participantes, menor que pela Vigilância em
2
Escola de Saúde Pública of the professionals. Results suggest the need to Saúde do Trabalhador (32%). A participação em
do Estado de Minas Gerais.
Belo Horizonte MG Brasil. expand and strengthen continued education and processos de qualificação em saúde do trabalhador
3
Departamento de Medicina team support. foi mencionada por 24% dos profissionais. Os re-
Preventiva e Social, Key words Health Surveillance, Worker’s sultados sugerem necessidade de ampliar e forta-
Faculdade de Medicina,
Universidade Federal Surveillance, Primary care lecer os processos de educação permanente e apoio
de Minas Gerais. Belo técnico às equipes.
Horizonte MG Brasil. Palavras-chave Vigilância em Saúde, Vigilância
4
Diretoria Regional de
Brasília, Fiocruz. Brasília em Saúde do Trabalhador, Atenção Básica
DF Brasil.
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ses profissionais (59% dos médicos e 80% dos cesso de mapeamento das atividades produti-
enfermeiros) atuam há mais de quatro anos na vas no território de atuação da equipe. Além de
estratégia SF. ser prescrita como atribuição comum a todos
As ações de saúde do trabalhador desenvolvi- os profissionais da eSF, é considerada atividade
das pelas eSF são apresentadas, a seguir, organiza- fundamental para apreender as relações entre o
das a partir das seguintes categorias: mapeamen- trabalho desenvolvido nos processos produtivos
to dos processos produtivos desenvolvidos no instalados, em especial das atividades desenvol-
território; diagnóstico da situação de saúde dos vidas nos espaços domiciliar e peridomiciliar e o
trabalhadores e apoio técnico especializado, pe- processo saúde-doença das pessoas que ali vivem
dagógico e institucional para o desenvolvimento e trabalham e os possíveis impactos sobre o am-
de ações de saúde do trabalhador. Salienta-se que biente3.
a proposta do estudo foi conhecer as ações de A identificação de riscos ou situações de vul-
saúde do trabalhador desenvolvidas pelas equi- nerabilidade para a saúde das pessoas provenien-
pes de SF, a partir da percepção dos profissionais tes de atividades produtivas foi referida por cer-
de nível superior (médicos e enfermeiros). ca de 50% das equipes (quase sempre/sempre).
No entanto, apenas 32% desenvolvem iniciativas
Mapeamento dos processos produtivos para informar e/ou dialogar com a comunidade
do território sobre esses riscos. Salienta-se que 43% das equi-
pes informaram que nunca ou raramente reali-
Entre os profissionais que participaram do zam iniciativas de comunicação dos riscos ou das
estudo, 94 (52,5%) referiram que a equipe realiza situações de vulnerabilidade a que estão expostos
quase sempre ou sempre o mapeamento das ati- à população que vive nos territórios em que atu-
vidades produtivas no território, 48 (27%) infor- am.
maram que nunca ou raramente realizaram essa Sobre o desenvolvimento de iniciativas desti-
atividade e 19 (11%) profissionais não souberam nadas a eliminar ou mitigar a exposição a fatores
informar sobre a realização do mapeamento das de risco e situações de vulnerabilidade decorren-
atividades produtivas, dos quais 16 médicos e tes das atividades produtivas, observou-se baixa
três enfermeiros. atuação das equipes, pois apenas 23% referiram
Quando perguntados sobre a última vez que desenvolvê-las (sempre/quase sempre); 21%
participaram da realização do mapeamento das nunca as realizaram; 22% informaram que o fa-
atividades produtivas, 18% informaram que há 6 zem raramente e 24%, às vezes.
meses; 20% entre 6 meses e 1 ano e 24% há mais A Tabela 2 apresenta a distribuição das ações
de um ano; 39% não souberam informar. desenvolvidas pelas equipes relacionadas à cate-
Chama atenção o número de profissionais goria “Mapeamento dos processos produtivos
que desconhecem ou não participam do pro- nos territórios de atuação das equipes”.
Tabela 1. Características dos médicos e enfermeiros das equipes de Saúde da Família participantes do estudo.
Enfermeiro Médico
Variáveis % Total geral*
% %
Sexo
Homens 3 33 18
Mulheres 97 67 82
Idade (anos)
Até 29 anos 13 22 17,4
De 30 a 39 anos 24 14 19,1
De 40 a 49 anos 24 13 18,5
De 50 a 59 anos 28 13 20,2
60 anos ou mais 10 40 24,7
Tempo de atuação na ESF
Até 04 anos 30 42 31
De 05 a 09 anos 10 15 12
10 anos ou mais 70 44 57
*Percentual relativo ao total de participantes no estudo n = 179.
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Observa-se menor envolvimento das equipes tes de Vigilância Ambiental à equipe do CEREST
em ações de Vigilância em Saúde do Trabalhador de João Pessoa, sobre a ocorrência de aumento
à medida que a complexidade destas aumenta. da frequência de problemas respiratórios em
Embora a realização do mapeamento das ativi- crianças e idosos, possivelmente decorrentes da
dades produtivas e a identificação dos riscos para exposição à poeira originada de uma fábrica de
a saúde das pessoas e o ambiente tenham sido re- cimento no território. Em resposta à denúncia,
feridas por mais da metade das eSF (52,5%), ape- o Cerest articulou intervenção multidiscipli-
nas 23% dos profissionais relataram desenvolver nar, por equipe composta por assistente social,
sempre/quase sempre alguma ação para eliminar enfermeiro, médico do trabalho, fisioterapeu-
ou minimizar os fatores de risco e as situações de ta, com apoio do Cerest Estadual, da Secretaria
vulnerabilidade associadas ou identificados. de Meio Ambiente, e das Vigilâncias Sanitária e
É importante observar o percentual de profis- Ambiental em conjunto com a eSF responsável
sionais que referiram desconhecer se a equipe em pelo território. Entre os desdobramentos, iden-
que atua desenvolve essas ações (10,6%). Embora tificou-se que a empresa estava em situação irre-
o mapeamento do território e o reconhecimento gular, com trabalhadores e moradores expostos
de suas características ambientais, epidemiológi- a poeira e apresentando quadros de doenças res-
cas e produtivas sejam, na prática, uma ativida- piratórias. Foram realizadas intervenções junto à
de realizada pelo Agente Comunitário de Saúde empresa visando a correção da situação, e assis-
(ACS), a participação nesse processo e a identifi- tência à saúde dos trabalhadores e da população
cação de grupos, famílias e indivíduos expostos a exposta12. Esse relato reforça a importância do
riscos e vulnerabilidades são atribuições de todos trabalho do ACS na escuta sobre as queixas e os
os profissionais da equipe. problemas apresentados pela população e de seu
Em relação a denúncias ou solicitação de conhecimento sobre o território, para o desen-
intervenção sobre problemas de saúde relacio- volvimento de ações articuladas de assistência e
nados ao trabalho e ou às atividades produtivas de Vigilâncias (Sanitária, Epidemiológica, Saúde
no território, apenas 9% das equipes relataram do Trabalhador e Ambiental), para a proteção da
recebê-las quase sempre e sempre; 54,2% dos saúde dos trabalhadores e da população sob res-
respondentes apontaram que as equipes nunca ponsabilidade sanitária da equipe13.
receberam denúncia e ou não sabem informar Sobre a integração das eSF com as Vigilâncias
sobre o assunto. Este resultado sugere que a aten- em Saúde observou-se maior articulação destas
ção básica, embora seja porta de entrada priori- com a Vigilância Sanitária e Vigilância Ambiental,
tária do usuário no SUS, não é reconhecida pela relatada por 47% dos participantes. A articulação
comunidade como um canal de denúncias para com a Vigilância em Saúde do Trabalhador foi
problemas relacionados ao trabalho e tampouco referida por apenas 10% dos profissionais parti-
como potencialmente responsável por interven- cipantes do estudo.
ções e pelo controle dessas situações12 . Constata-se, assim, que a Vigilância em Saúde
Por outro lado, é interessante destacar o rela- do Trabalhador é um processo frágil e em constru-
to sobre denúncia encaminhada por ACS e agen- ção na macrorregião, como aponta o Relatório de
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Gestão 2014 do Cerest-JP10, observando-se avan- domiciliares, contribuindo para compor o perfil
ços nas práticas de promoção e proteção da saúde demográfico, ocupacional e da situação de saú-
dos trabalhadores e ampliação da coleta de dados de dos usuários trabalhadores que pertencem
e análise das informações destinadas a subsidiar à população sob sua responsabilidade. Outros
essas ações, como por exemplo a consolidação de momentos do processo de trabalho que podem
dados do Instituto Nacional de Seguridade Social aportar informações sobre a situação de saúde
(INSS) sobre ocorrência de acidentes e agravos das pessoas que residem e ou que trabalham no
relacionados ao trabalho10. Segundo o Relatório, território são: acolhimento, atendimentos reali-
foram realizadas 14 ações de Vigilância em Saúde zados pelos médicos, enfermeiros, fisioterapeu-
do Trabalhador, no período, envolvendo a ins- tas, e outros profissionais da equipe e atividades
peção em ambientes e processos de trabalho no em grupo14. Esse entendimento é importante,
município de João Pessoa. Sobre as ações de ca- pois, significa que a rigor não se trata de uma
ráter interinstitucional destacam-se atividades nova atividade atribuída à equipe, mas da requa-
conjuntas com o Ministério Público do Trabalho, lificação de ações prescritas pela PNAB e desen-
Sindicatos de trabalhadores da Construção Civil, volvidas no cotidiano de trabalho.
do Comércio, e Telecomunicações. A PNSTT destaca a importância da análise da
Além da articulação com a Vigilância em situação de saúde dos trabalhadores para a iden-
Saúde, também buscou-se conhecer a articula- tificação dos usuários e grupos mais vulneráveis,
ção das eSF com setores considerados essenciais como, por exemplo, os desempregados e aqueles
para a integralidade do cuidado aos trabalhado- inseridos em atividades produtivas domiciliares,
res, entre eles, o Centro de Referência em Saúde e ou em relações informais e precárias de tra-
do Trabalhador, o Conselho Municipal de Saúde, balho ou expostos a atividades perigosas para a
Associações Comunitárias e organizações de tra- saúde1.
balhadores. Dos participantes, 13% referiram Os resultados apontam que a identificação
articulação com organizações de trabalhadores; de riscos e situações de vulnerabilidades rela-
24% das equipes trabalham articuladas com o cionadas às atividades produtivas desenvolvidas
Conselho Municipal de Saúde e 35% com asso- no território e o desenvolvimento de iniciativas
ciações comunitárias. A articulação com o Cerest, capazes de minimizar a exposição e seus efeitos
apontado como apoiador das eSF pela PNSTT, não constitui prática rotineira das equipes. Essas
foi mencionada por 22% dos participantes. observações reforçam a necessidade e a impor-
Considerando a importância da participação tância do apoio técnico e pedagógico para o de-
social, prescrita tanto pela Política da Atenção senvolvimento de ações de Saúde do Trabalhador
Básica quanto pela PNSTT, os resultados apon- pelas eSF.
tam para a necessidade de fortalecer a participa-
ção de usuários e da comunidade na produção Reconhecimento do usuário trabalhador e
do autocuidado, nas ações coletivas e em ações estabelecimento da relação entre o trabalho
orientadas para a melhoria das condições de vida e a condição de saúde-doença
e trabalho.
O reconhecimento do usuário enquanto tra-
Diagnóstico da situação de saúde balhador e a investigação sobre sua situação de
dos trabalhadores trabalho ou de não trabalho ou de desemprego
e as relações com o processo saúde-doença e so-
Entre os participantes do estudo, 43% re- frimento das pessoas são essenciais para a produ-
feriram que as equipes realizam diagnóstico de ção do cuidado aos trabalhadores, no âmbito da
situação de saúde dos trabalhadores que vivem Atenção Básica. Das equipes, 79% informaram
em sua área de atuação e consideram essas infor- que sempre ou quase sempre procuram saber
mações essenciais para o planejamento e o desen- a ocupação do usuário e 68% referiram buscar
volvimento das ações de promoção, vigilância e compreender melhor as características desse
assistência à saúde. trabalho e das atividades desenvolvidas. É inte-
O diagnóstico da situação de saúde da popu- ressante salientar que esse achado é distinto da
lação adscrita em um dado território perpassa observação realizada sobre as práticas das eAB
vários momentos do processo de trabalho das do município de Chapecó por Silva et al.15, que
equipes: começam a ser colhidas no cadastra- apontam a falta de reconhecimento do usuário
mento individual das famílias realizado pelos enquanto trabalhador como uma das maiores di-
ACS, utilizando as fichas do e-SUS, nas visitas ficuldades para a incorporação de ações de saú-
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Tabela 3. Distribuição das respostas por itens da categoria “Diagnóstico da situação de saúde dos trabalhadores”,
pelas equipes de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa – 2015.
Nunca/raramente Às vezes Sempre/quase sempre Não respondeu
Categoria
Freq. Relat Freq. Relat Freq. Relat Freq. Relat
Pergunta sobre o trabalho atual 1,1% 20,1% 78,2% 0,56%
Pergunta sobre as atividades 5% 27% 68% 0
desenvolvidas no trabalho
Pergunta sobre o trabalho 34% 40% 26% 1%
anterior
Identifica riscos no trabalho 6% 25% 70% 0
atual
Identifica riscos relacionados ao 23% 30% 46% 1%
trabalho pregresso
Busca relação entre queixa e 4% 21% 74% 1%
trabalho atual ou pregresso
Consegue estabelecer relação 7% 30% 64% 0
entre queixa e trabalho atual/
pregresso
Notifica acidente de trabalho no 52% 13% 33% 2%
SINAN
Notifica doenças relacionadas 57% 13% 29% 1%
ao trabalho no SINAN
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vulneráveis da população, a serem considerados e tes sobre a importância do papel de apoiador das
priorizados no planejamento das ações de saúde Vigilâncias e em especial dos Cerest às eSF.
e intervenções intersetoriais, existe um longo ca- A experiência acumulada e os registros na
minho a ser percorrido, no qual a educação per- literatura mostram que durante muitos anos, a
manente é muito importante. atuação dos Cerest junto à Atenção Básica pri-
A subnotificação no Sinan dos casos atendi- vilegiou a realização de cursos de capacitação
dos nas UBS também foi evidenciada por Lopes pautados em uma lógica de transmissão de co-
dos Santos e Lacaz17 que atribuem a dificuldade nhecimento técnico e informações sobre temas
para a definição da relação causal entre o agravo de saúde do trabalhador. Os resultados do estudo
e o trabalho à evolução silenciosa e demorada das apontam para a necessidade de ressignificação
doenças relacionadas ao trabalho, situação agra- das práticas de apoio oferecidas pelos Cerest, vi-
vada pelas falhas nos registros médicos e pelo ex- sando a apropriação de conceitos e de novos mo-
cesso de burocracia. Os profissionais de SF consi- dos de operar o apoio matricial, tal qual proposto
deraram a ficha de notificação extensa, demorada por Campos e Domitti18.
e complicada. A proposta de apoio técnico e pedagógi-
A Tabela 3 apresenta os percentuais relativos co, na perspectiva do matriciamento, abre no-
às ações desenvolvidas pelas equipes de Saúde da vas possiblidades para o campo da Saúde do
Família, na perspectiva dos médicos e enfermei- Trabalhador5,17,19. A discussão de casos clínicos e
ros, referente à categoria “Diagnóstico da situa- a disponibilidade permanente de apoio facilitam
ção de saúde dos trabalhadores”. a incorporação de conceitos e práticas pelas equi-
pes da rede básica. Além disso, o vínculo que se
Apoio especializado, pedagógico e estabelece entre os profissionais das equipes de
institucional às equipes de Saúde da Família referência e os apoiadores facilita a articulação
no desenvolvimento de ações de saúde intrassetorial e a constituição de espaços de inter-
do trabalhador locução visando a melhor solução possível para
as questões de saúde relacionadas ao trabalho17.
O apoio técnico especializado, pedagógico e Sobre o apoio institucional, merece desta-
institucional às eSF é essencial para a efetivação que o papel desempenhado pela coordenação
da atenção integral à saúde dos trabalhadores, no da Atenção Básica do município, e dos gerentes
âmbito do SUS, e de modo especial, na Atenção das unidades básicas de saúde para o desenvol-
Básica, seja para o desenvolvimento de ações as- vimento de ações de saúde do trabalhador. Dos
sistenciais, seja para a promoção e a Vigilância participantes do estudo, 61% concordam que a
em Saúde17. coordenação da AB municipal apoia o desenvol-
A PNST1 reafirma o papel das equipes de vi- vimento dessas ações e 71% com o apoio dos ge-
gilância e, de modo especial do Cerest, no apoio rentes das UBS.
matricial, ou seja, de retaguarda assistencial e su- Sobre as ações de qualificação e/ou educação
porte técnico-pedagógico para o desenvolvimen- permanente para o desenvolvimento de ações de
to das ações de saúde do trabalhador na atenção saúde do trabalhador, apenas 24% dos profissio-
básica, e outros pontos de atenção da Rede de nais das equipes de saúde da família registraram
Atenção à Saúde (RAS). sua ocorrência, sugerindo baixo investimento
De acordo com os resultados do estudo, 45% do município na formação de profissionais da
dos profissionais das equipes entrevistadas con- Atenção Básica para o cuidado aos trabalhadores20.
cordam com a afirmação de que “o Cerest oferece A PNAB21 explicita que a Educação
apoio e retaguarda técnica às equipes de SF”. Esse Permanente em Saúde (EPS) abrange um pro-
dado chama a atenção, pois representa o dobro cesso pedagógico que começa com a aquisição/
do percentual de equipes que referiram articula- atualização de conhecimentos e habilidades, en-
ção com o Cerest (22%). Esta contradição neces- volvendo o aprendizado construído a partir dos
sita ser investigada de modo a fortalecer a atua- problemas e desafios enfrentados no cotidiano
ção do Cerest. do processo de trabalho. Afirma ainda que a EPS
Ao serem perguntados sobre o apoio oferecido deve ser assumida enquanto uma estratégia de
pelo setor de Vigilância em Saúde do Trabalhador, gestão, com grande potencial de transformação
32% dos entrevistados concordaram que esta das práticas de saúde e dos processos de trabalho
apoia o desenvolvimento de ações de saúde do das equipes, que resulta na melhoria das condi-
trabalhador na Atenção Básica. Esse achado colo- ções de trabalho e de satisfação dos trabalhadores
ca em xeque a concepção e as orientações vigen- de saúde.
3411
Colaboradores
Agradecimento
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Pública Sérgio Arouca; 2016. Versão final apresentada em 13/07/2017