CAMPANHA DE CASTRAÇÃO DOS ANIMAIS DO CANIL DA

PREFEITURA MUNICIPAL

Liane Ziliotto (UNICENTRO) – lianeziliotto@yahoo.com.br,

Marcos Vinicius Tranquilim (UNICENTRO) - tranquiveter@hotmail.com,
Helcya Mime Ishiy (UNICENTRO) - helcya@yahoo.com

Resumo
A superpopulação animal vem se tornando um alarmante problema de saúde
pública os últimos anos. O aumento populacional de animais errantes eleva a
ocorrência de atropelamentos, acidentes, agressões de pessoas por estes animais,
além de aumentar significativamente a ocorrência de zoonoses. O objetivo deste
trabalho foi o castração dos animais errantes do Município de Guarapuava,
recolhidos pelo Canil Municipal e Sociedade Protetora dos Animais de Guarapuava e
ainda o aperfeiçoamento do conhecimento teórico e prático dos alunos do terceiro,
quarto e quinto anos de Medicina Veterinária. Para isso, os cães recolhidos do Canil
Municipal, foram selecionados pelos e encaminhados a Clínica Escola Veterinária
(CEVET) da Unicentro. Foram então, examinados clinicamente e permaneceram no
canil no CEVET para cuidados pré-operatórios. Os animais aptos foram submetidos
à anestesia geral e então realizada a ovariossalpingohisterectomia em fêmeas ou
orquiectomia em machos (seguindo-se as técnicas descritas em literatura) e foram
acompanhados no período pós-operatório imediato e tardio no CEVET e no canil da
Prefeitura Municipal de Guarapuava. No total foram castrados 99 cães que
auxiliaram na formação de cerca de 150 alunos da graduação em medicina
veterinária envolvidos no projeto. Ainda, pode-se observar o aumento das chances
de doação dos animais castrados pelo projeto bem como o incentivo a participação
dos alunos em projetos de extensão e em cirurgia veterinária. Acredita-se que o
projeto contribuiu para o conhecimento e formação dos alunos em clínicas médica e
cirúrgica.

Palavras-chave: castração, cães, ensino, cirurgia

1 Introdução e desenvolvimento
De acordo com o centro de informações do Centro de Zoonoses de São
Paulo, no Brasil existem cerca de 25 milhões de cães e 11 milhões de gatos de
estimação. A vida livre de cães e gatos e o uso de lugares em comum por seres
humanos e outros animais, facilitam a transmissão de diversas doenças através de
seus dejetos e saliva (toxoplasmose, leptospirose, raiva, larva migrans cutânea e

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larva migrans visceral ou ocular) além do risco de mordedura e arranhaduras
(Campos CB, 2004).
No Brasil, os cursos de Medicina veterinária possuem aulas práticas, onde
são utilizados animais vivos ou mortos, especificamente para fins didáticos. Muitas
faculdades reduzem a utilização de animais, oferecendo métodos alternativos. Entre
eles, se tem adotado vídeos e programas de computador, produtos e modelos
sintéticos. Há a tendência para a substituição de animais vivos por cadáveres para a
realização de práticas cirúrgicas, assim como o estímulo à participação dos alunos
em campanha de castração de cães e gatos. A eficácia dos métodos alternativos foi
conferida por vários estudos realizados para demonstrar que os estudantes além de
concordarem na sua maioria com esta iniciativa, também alcançam o mesmo
conhecimento que os estudantes que utilizaram técnicas convencionais (Matera,
2008; Oliveira, 2008, Tudury e Potier, 2008).
A cidade de Guarapuava possui um canil municipal que recolhe e abriga
animais que sofreram maus tratos, que foram abandonados por seus responsáveis
ou errantes sadios e doentes. A existência do grande número de animais recolhidos
e do desejo de se utilizar formas alternativas de ensino em cirurgia veterinária no
curso de Medicina Veterinária desta universidade, estimularam a realização deste
projeto. Ademias, a castração dos animais do canil municipal aumenta as chances
deles serem doados. Assim, o objetivo deste trabalho foi a castração dos cães
errantes do Município de Guarapuava, recolhidos pelo Canil Municipal e Sociedade
Protetora dos Animais de Guarapuava e ainda o aperfeiçoamento do conhecimento
teórico e prático dos alunos do terceiro, quarto e quinto anos de Medicina
Veterinária.

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 2 Metodologia
Foram utilizados 99 cães machos e fêmeas, de idades variadas e diferentes
raças, recolhidos pelos funcionários do Canil da Prefeitura Municipal de Guarapuava
e Sociedade Protetora dos Animais de Guarapuava. Os cães foram selecionados por
técnico responsável do Canil Municipal e transportados a Clínica Escola Veterinária
(CEVET) da Universidade Estadual do Centro-Oeste em Guarapuava – PR. Eles
eram encaminhados ao CEVET cerca de vinte e quatro a setenta e duas horas antes
da realização dos procedimentos cirúrgicos e submetidos à avaliação clínica pelos
alunos e docentes participantes do projeto.
O exame clínico próximo e a distância teve por finalidade certificar que os
animais tenham condições de serem submetidos a procedimento cirúrgico bem
como para o diagnóstico de afecções que possam ser tratadas clinicamente ou
cirurgicamente. Após a avaliação clínica foi realizada a coleta de 3 mL de sangue de
cada animal para exames hematológicos e bioquímicos séricos com a finalidade de
investigar e diagnosticar alterações que impossibilitassem o procedimento cirúrgico.
Cada animal recebia então a aplicação de ivermectina (0,03mL/kg) para a
erradicação de endo e ectoparasitas (Figura 1).

Figura1- Imagem de cão envolvido em campanha de castração durante exame físico e coleta de
sangue.

Os animais aptos a serem submetidos ao procedimento cirúrgico receberam

banho (Figura 2) e foram alojados em canis individuais do CEVET onde recebiam
ração e água ad libitum e cuidados gerais, como passeio e limpeza dos canis, duas
vezes ao dia.

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Figura 2- Imagem de cães e alunos envolvidos em campanha de castração durante banho, pesagem
e tratamento de lesões de pele.

No dia que antecedia o procedimento operatório, eles eram deixados de jejum

alimentar de 12 horas e hídrico de 6 horas.
No dia do procedimento cirúrgico os animais foram anestesiados com anestesia
dissociativa foram tricotomizados na região a ser operada e foram monitorados
durante todo procedimento cirúrgico. Durante todo o período anestésico e ato
cirúrgico receberam fluidoterapia com solução de cloreto de sódio 0,9% (dose de
20mL/kg/hora). Foi realizada a antibiótico-profilaxia com enrofloxacina (dose de
5mg/kg de peso vivo) por via subcutânea, no momento da indução anestésica.
Para o procedimento cirúrgico os animais foram posicionados na mesa cirúrgica
em decúbito dorsal e após anti-sepsia da região a ser operada, foi realizada a
castração (ovariossalpingohisterectomia - OSH em fêmeas e orquiectomia em
machos). A OSH foi realizada após celiotomia (incisão de pele, subcutâneo, linha
alba e peritônio) mediana retro-umbilical, identificação de cornos uterinos, secção de
mesométrio, identificação e ligadura de vasos e ligamento ovarianos, ligadura de
corpo de útero próximo ao colo uterino, omentopexia em coto de útero e celiorrafia
(linha alba, subcutâneo e pele) segundo técnica descrita pela literatura. A
orquiectomia foi realizada pela incisão de pele e subcutâneo em região pré-escrotal,
incisão da fascia espermática e da túnica vaginal, ruptura dos ligamentos da cauda
do epidídimo, ligadura de cordão vascular e ductos deferente, sutura de subcutâneo
e pele segundo técnica descrita pela literatura (Figura 3). Para ambas as técnicas
foram utilizados fios de sutura inabsorvíveis sintéticos (poliamida) e absorvíveis
naturais (categut cromado).

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 A B
Figura 3- Imagem de alunos participantes de campanha de castração sem sala de paramentação do
CEVET (A) realizando paramentação e em centro cirúrgico realizando técnicas operatórias e
anestésicas nos cães da campanha (B).

No pós-operatório imediato os animais receberam terapia analgésica com

dipirona (dose de 25mg/kg), cloridrato de tramadol (1mg/kg) ou meloxican
(0,1mg/kg), foi feito o controle da temperatura e controle da produção urinária até o
retorno anestésico.
No pós-operatório tardio os animais permaneceram nos canis do CEVET por
pelo menos 48 horas após o término do procedimento operatório. Foram então
transportados ao Canil Municipal de Guarapuava, onde os cães receberam os
cuidados pós-operatórios até o momento de alta com a retirada dos pontos. Assim,
após alta do procedimento cirúrgico os cães foram encaminhados para adoção.

3 Resultados obtidos

No total foram operados 99 cães (72 fêmeas e 27 machos) que foram

encaminhados para doação e a grande maioria foi adotada.
Em avaliação clínica, todos foram examinados e identificados pelos alunos e
professores responsáveis pela triagem. Cada animal recebeu um número de 001C a
099C e em suas fichas clínicas foram anotadas lesões, alterações e presença de
doenças. Nenhum animal apresentou doença grave ou que contra-indicasse o
procedimento cirúrgico. Em sua maioria as lesões apresentadas foram
dermatológicas (escoriações, alopecia, presença de ectoparasitas e infecção em
conduto auditivo).
A avaliação hematológica mostrou com maior freqüência: anemia discreta,
leucocitose com desvio a esquerda e eosinofilia. Apenas um paciente apresentou
alterações consideradas graves e que contra-indicassem a cirurgia e este foi tratado
antes da realização do procedimento. A anemia discreta justifica-se pela má nutrição
dos animais errantes, a leucocitose freqüentemente secundária à infecção de pele

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ou infecção uterina e a eosinofilia observa-se comumente em animais que
apresentam verminose. Portanto a realização dos exames hematológicos tornou a
avaliação dos pacientes mais adequada e consequentemente o procedimento
cirúrgico mais seguro.
Durante procedimento anestésico sete animais apresentaram problemas
durante na indução ou manutenção da anestesia havendo necessidade de indução
com propofol e manutenção com anestesia inalatória (isoflurano). Os demais foram
submetidos à anestesia conforme protocolo descrito em metodologia e sem
intercorrências.
Em procedimento cirúrgico as complicações observadas foram: dificuldade ou
falha na ligadura de pedículo ovariano, lesão de parede de bexiga durante acesso a
cavidade abdominal e hemorragias profusas em parede abdominal por acesso
inadequado à cavidade. Nenhuma das implicações foi grave, sem interferência do
resultado cirúrgico e sem danos ao animal no pós-operatório. Não houve óbito no
trans-operatório. Os procedimentos cirúrgicos foram realizados no tempo
aproximado de 3 horas.
No pós-operatório apenas dois animais apresentaram tempo prolongado de
recuperação anestésica secundário a hipóxia trans operatória e tempo operatório
prolongado, porém se recuperando adequadamente e sem apresentarem seqüelas.
Um animal veio a óbito no pós operatório tardio decorrente de complicação de
doença provocada por hemoparasitose. Os demais animais n0 Td[(o)-4..383(n)-4.33117(0 Td

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 5 Referências

CAMPOS, C.B. Impacto de cães (Canis familiaris) e gatos (Felis catus) errantes
sobre a fauna silvestre em ambiente peri-urbano. Piracicaba-SP. Dissertação de
mestrado, USP ESALQ, 2004

TUDURY, E.A; POTIER C.M.A. Métodos substitutivos ao uso de animais vivos no

ensino. Ciência Veterinária Tropical, Recife, v.11, n.1, p92 a 95, 2008.

OLIVEIRA, H.P. Situação atual do ensino de técnica cirúrgica e da clínica cirúrgica.

Ciência Veterinária Tropical, Recife, v.11, supl. 2, p93 a 94, 2008.

MATERA, J.M. O ensino de cirurgia: da teoria a prática. Ciência Veterinária

Tropical, Recife, v.11, supl. 1, p96 a 101, 2008.

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