Bell Hooks Um Olhar Sobre As Origens Do Feminismo Americano

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Acadêmico: Mauricio Lasch Mendes

CCR: Tópicos especiais em metodologia do ensino de filosofia II


Professora: Luciana Gobi

bell hooks: um olhar sobre as origens do feminismo americano

A bell hooks é uma das mais importantes feministas da atualidade. Mulher negra,
militante feminista, professora, com origem na classe trabalhadora do sul dos Estados Unidos,
construiu uma carreira acadêmica incrível. Publicou mais de 30 livros, além de incontáveis
artigos e palestras públicas ao longo de seus 50 anos de carreira. A autora traz em suas obras
críticas ao patriarcado e à supremacia branca. Suas abordagens acerca de questões de gênero,
raça e classe são marcadas por sua perspectiva pouco representada na academia. Suas
experiências, enquanto mulher negra em uma sociedade machista e segregada, dão autoridade
ao seu discurso revolucionário, que exerceu influências fundamentais na chamada terceira
onda do feminismo e estão presentes até os dias de hoje.
Este ensaio tem como base o capítulo Mulheres negras: moldando a teoria feminista
presente no livro Teoria Feminista: Das margens ao centro de bell hooks publicado em 1984.
Nesse texto, hooks apresenta suas críticas ao livro que abriu caminhos ao feminismo branco
de sua época, A mistica feminina de Betty Friedan, que foi publicado em 1963. Friedan
questionou o papel tradicional das mulheres como donas de casa e mães, bem como destacou
a insatisfação e o vazio emocional enfrentado pelas mulheres. Além disso, expôs questões de
igualdade de gênero, oportunidades de carreira e a busca por uma identidade individual que
vai além da mística.
Apesar das contribuições de Friedan nas discussões feministas, sua abordagem se
concentra nos problemas enfrentados por mulheres de classe média e alta, casadas, donas de
casa, brancas e americanas. Essa limitação em sua análise negligencia outras realidades e
condições de mulheres negras, indígenas, latinas, asiáticas e pobres. As questões de raça e
classe não são tratadas como centrais em suas discussões.
Esta visão parcial de Friedan sobre as experiências femininas é uma das principais
críticas de bell hooks à obra da autora. Para hooks é problemático desconsiderar todos os
privilégios que permitem a persistência da mística feminina, ao mesmo tempo que um terço
das mulheres americanas já estavam no mercado de trabalho desde a adolescência, inclusive
nas casas de mulheres privilegiadas economicamente. As necessidades mais imediatas da
mulher de cor da classe trabalhadora não são as de liberdade de escolha para trabalhar fora,
mas sim de sobrevivência e oportunidades. As feministas brancas não reconhecem o impacto
da supremacia branca e elitista nas experiências de mulheres marginalizadas. O racismo e
sexismo são problemas estruturais e estão imbricados ao Estado capitalismo.
Em função disso, hooks aponta que algumas feministas americanas buscam
promover seus interesses de classe generalizando o sofrimento feminino. Estas generalizações
do sofrimento e das opressões são apresentadas pela autora como outro problema central do
feminismo burguês. Afinal, ao sofrer forte influência de políticas liberais, conservadoras e
burguesas, suas pautas estão em torno do individualismo liberal e não de problemas que
abrangem as diferenças presente no coletivo real de mulheres.
Essas influências burguesas nas pautas, refletem a pouco representatividade nos
problemas, o que acaba excluindo mulheres de cor das discussões e banalizando suas
angústias. Essa exclusão e processo de silenciamento se apoiam em uma perspectiva de
supremacia racial, que promove a invisibilidade de discursos interseccionais e aversão a
críticas internas do movimento.
Adicionalmente, hooks aponta que muitas mulheres que se sentem representadas pelo
feminismo burguês não perceberam a dominação masculina até o movimento feminista
conscientizá-las, enquanto mulheres negras têm uma consciência formada pelas suas
experiências sociais. A opressão é uma característica presente constantemente na experiência
de mulheres de cor da classe trabalhadora. Esta opressão está presente dentro das casas
através da tirania patriarcal, nas desigualdades sociais e de oportunidade, bem como nas
instituições de ensino diante da centralização em discursos brancos.
Em relação a isso, se forem consideradas as diversas opressões que a mulher de cor
sofre, o seu distanciamento do movimento feminista é uma consequência inevitável. Enquanto
o feminismo não aceita ser um movimento de transformações e reformulações constantes, que
busca a autocrítica e uma pluralidade de representações femininas, ele promove a exclusão e
marginalização de mulheres negras e de outras minorias. A necessidade de representação e
valorização das diversas experiências femininas é de extrema importância para fortalecer o
movimento feminista de maneira inclusiva.
Um ponto importante abordado é o racismo presente na academia de pesquisas. A
autora bell hooks compartilha suas experiências diante do racismo promovido por feministas
brancas nos grupos de pesquisa que participou ao longo de sua carreira acadêmica. As práticas
racistas, tanto institucionais quanto as de colegas brancas, têm como objetivo invalidar as
experiências e problemáticas abordadas por mulheres negras. Uma dessas práticas é a de criar
esteriótipos negativos em torno da reação de mulheres negras diante do racismo. Um dos
exemplos apontados é o “angry black woman” (mulher negra raivosa), que rotula mulheres
negras como raivosas e agressivas, além de invisibilizar sua vulnerabilidade e sensibilidade.
Os discursos feministas que não levam em consideração a interseccionalidade
presente nas opressões de gênero, raça e classe falham em representar o movimento feminista
como um todo. Levar em consideração apenas as opressões de gênero nas análises feministas
é negligenciar a estrutura que permite a ocorrência dessa opressão e tantas outras.
A autora bell hooks demonstra em seu discurso o quanto as mulheres negras são
oprimidas e estão numa posição de condições sociais inferiores a todos os outros grupos
sociais. A mulher negra é vítima constante da opressão machista, racista e classista. Enquanto
isso, a mulher branca sofre diante da opressão machista, já os homens negros as opressões
racistas e classistas, e mesmo assim ambos ainda podem agir como opressores das mulheres
negras.
A luta feminista defendida por bell hooks propõe um feminismo com a participação
de todas as mulheres, em especial as mulheres de cor e periféricas, as quais, devido às suas
condições sociais inferiores, podem apresentar análises que excluem a influência de
privilégios na construção de críticas contra-hegemônicas. Em suma, as influências burguesas
nas pautas feministas levam à exclusão e marginalização das mulheres de cor. A falta de uma
análise interseccional negligencia a possibilidade de mudança na estrutura que permite a
perpetuação de opressões de gênero, raça e classe. As críticas levantadas por bell hooks são de
extrema importância para a consolidação de um feminismo plural.

REFERÊNCIAS

HOOKS, bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Revista Brasileira de Ciência Política, [S. l.], n.
16, p. 193–210, 2015. Disponível em: <SciELO - Brasil - Mulheres negras: moldando a teoria feminista
Mulheres negras: moldando a teoria feminista >. Acessado em: 19 de jul. de 2023.

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