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Progesao
Progesao
PROJETUAL EM ARQUITETURA
AULA 1
“Admiro os poetas. O que eles dizem com duas palavras a gente tem
que exprimir com milhares de tijolos” (Arquiteto João Batista Vilanova
Artigas)
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mais à vontade para criar. A boa notícia é que fica cada vez mais fácil criar e
projetar, pois o repertório do aluno e do profissional irá se ampliando, e o
processo de decisões a serem tomadas fica mais claro.
Você já conhece a tríade vitruviana (firmitas, utilitas e venustas), que
define os três elementos fundamentais da arquitetura: os aspectos construtivos,
funcionais e estéticos, pela ordem de tradução do latim. Essa disciplina irá tratar
dos aspectos estéticos e metodologias de projeto. Os temas de nossos estudos
estão distribuídos da seguinte forma:
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disciplina busca trazer ao aluno a teoria da linguagem visual, para que, com base
nela, o aluno possa se tornar autossuficiente na análise estética de sua própria
produção arquitetônica.
CONTEXTUALIZANDO
O aluno pode argumentar que o gosto estético é individual e que, por isso,
não pode haver regras para se determinar o que é belo ou não. Pode argumentar
que, por suas próprias experiências individuais, viu que sua apreciação do que
é belo difere de pessoas próximas. Isso é parcialmente verdade, porque a
realidade é que existem, de maneira subjetiva, tipos de arte, arquitetura e design
que agradam a maior parte das pessoas. Inúmeros fatores contribuem para a
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avaliação estética. Em grande parte, isso ocorre por meio de processos internos
de avaliação, sobre os quais tentaremos discutir em nossa aula e que são
embasados em teorias recentes. Uma delas é a teoria da Gestalt do objeto, um
sistema de leitura visual da forma, inicialmente aplicado ao design gráfico e
industrial, porém, também aplicável à leitura das formas na arquitetura.
A Gestalt é, em sua origem, uma teoria advinda da psicologia
experimental, cujo precursor foi Christian von Ehrenfels, um filósofo austríaco do
século XIX, sendo depois desenvolvida por outros nomes, como Wertheimer,
Kohler e Koffka. Esse movimento contribuiu, por meio de experimentos, para o
estudo da percepção, linguagem, inteligência, entre outros. Basicamente, o
termo Gestalt é aplicado no sentido de percepção estética, como uma percepção
do todo em contraposição à percepção das partes individuais. A percepção do
todo, inicialmente, predomina na observação dos aspectos formais de uma
edificação e, posteriormente, o ser humano avalia os detalhes que compõem
determinada organização visual.
Não conseguimos desconectar as partes em nossa avaliação inicial; essa
percepção irá para o nosso cérebro e trará a apreciação estética. No exemplo
musical, ao ouvirmos determinada música, ela é percebida como um conjunto de
sons, ritmo, timbres etc. e é essa combinação que nos dirá se a música é boa ou
não. Após ouvirmos repetidas vezes, iremos perceber os detalhes de melodia,
letra, timbre do instrumento etc. O mesmo acontece com as formas
arquitetônicas: apreciamos a arquitetura como um conjunto de formas em
determinado contexto espacial, com cores, materiais, entorno etc., que não
conseguimos separar em nossa avaliação inicial.
A teoria da Gestalt argumenta que o que ocorre em nosso cérebro em
matéria de percepção é diferente do que ocorre na retina. Segundo Gomes Filho
(2008), a excitação cerebral não se dá por pontos isolados, mas por extensão. A
primeira sensação é global e unificada. Por essa razão, existem determinadas
figuras conhecidas como ilusões de óptica (Figura 1), que “enganam” nosso
cérebro, pois são observadas como relações entre formas, mais do que formas
isoladas.
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Figura 1 – A Gestalt explica as ilusões de óptica nessas figuras da seguinte
forma: as linhas horizontais, em vermelho, têm o mesmo comprimento, porém,
as setas nas extremidades distorcem nossa percepção, fazendo-as parecer
diferentes. O mesmo ocorre com o círculo central azul (à direita), quando se
altera o tamanho dos círculos vizinhos
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arranjo de quadrados pretos sobre uma folha quadrada branca do modo que
mais agrade visualmente. Depois, os alunos devem fixar seus trabalhos lado a
lado na lousa para, então, avaliarem coletivamente qual a melhor composição.
Antes de realizarem sua própria composição, o professor mostra um conjunto de
composições feito por outra professora, em outra turma, pedindo a eles que
avaliem a melhor, no sentido estético (Figura 2). Em todas as turmas, o resultado
da melhor composição foi sempre o mesmo. Apesar de existirem votos para
diversas composições e muitas ficarem sem voto algum, a mais atraente era
claramente identificada. Para nós, arquitetos, é muito importante tentarmos fazer
a leitura da razão pela qual determinada composição era considerada a melhor.
Todos nós gostaríamos que nossa composição fosse a escolhida e nossa
arquitetura fosse avaliada positivamente. Esse é o grande desafio da questão
estética na arquitetura.
Questionando os alunos sobre qual o motivo de escolherem determinada
composição como a melhor, invariavelmente chegavam à conclusão de que era
a organização visual que ela lhes trazia. Muitas composições falhavam nesse
aspecto, pois ou pareciam desorganizadas ou incompletas. É importante lembrar
que a percepção da composição de quadrados era percebida em conjunto com
o fundo branco, algo que corrobora a teoria da Gestalt aplicada à linguagem
visual.
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Fonte: Silvana Weihermann.
2.1 Unidade
Créditos: Naeblys/Shutterstock.
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Figura 4 – O edifício Sears Tower em Chicago (EUA), o mais alto do mundo até
algumas décadas atrás, também possui unidade formal proporcionada pela cor
da estrutura e pelo uso de vidros, apesar de sua volumetria ser composta de
vários volumes secundários (Graham+Khan arquitetos)
Créditos: ssuaphotos/Shutterstock.
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determinado elemento formal. Na Figura 3, que mostra o edifício John Hancock,
os arquitetos decidiram deixar as antenas do alto na cor branca, justamente para
destacá-las do corpo do edifício e atenuar sua visibilidade. O volume escuro do
edifício destaca-se muito mais na paisagem, em contraste com o céu, que pode
ser azul com nuvens ou cinzento, bem como em relação aos edifícios vizinhos.
2.3 Fechamento
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É comum os arquitetos utilizarem esse recurso para conectar elementos
visuais separados espacialmente entre si, atribuindo maior valor estético ao seu
trabalho.
Créditos: PixHound/Shutterstock.
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Figura 7 – O edifício Thyssenkrupp Quartier, do escritório JSWD Architekten, é
composto por um grande volume cúbico com duas partes em L separadas entre
si. Apesar de separadas, a continuidade visual das linhas verticais da fachada,
que estão alinhadas, possibilita o fechamento do volume, sendo interpretado
como cúbico
Créditos: Tupungato/Shutterstock.
3.1 Continuidade
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resultando em uma fluidez visual. Está frequentemente relacionada a uma
sensação de movimento das formas, principalmente curvas, e, quando realizada
com sucesso, dizemos que as formas têm “boa continuidade”.
Créditos: Elnur/Shutterstock.
Saiba mais
Você pode conhecer mais sobre essa obra acessando o site apresentado
a seguir.
ArchDaily. Centro Heydar Aliyev / Zaha Hadid Architects. [S.d.]. Disponível
em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-154169/centro-heydar-aliyev-zaha-
hadid-architects>. Acesso em: 8 dez. 2021.
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organização visual. A semelhança dos elementos também favorece a sensação
de agrupamento e tende a unificar a forma. Em geral, os fatores de proximidade
e semelhança trabalham em conjunto e auxiliam no fortalecimento da unidade
da forma.
Créditos: nomadFra/Shutterstock.
Créditos: 2_D/Shutterstock.
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3.3 Pregnância da forma
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Figura 11 – O MASP, Museu de Arte de São Paulo (Brasil), é um bom exemplo
de boa pregnância da forma (arquiteta Lina Bo Bardi). Podemos identificar
claramente sua forma, constituída de um grande prisma, atirantado em dois
grandes pórticos (segregados em vermelho do restante). A semelhança e a
proximidade dos perfis conferem ritmo e textura à fachada principal
Saiba mais
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de uma composição estão em equilíbrio, organizadas e possuem determinada
regularidade visual, em geral, levam a uma leitura mais clara da composição e
da harmonia formal. Já o equilíbrio é outro conceito fundamental que se
relaciona com as partes do todo, mas no sentido da sensação de estabilidade
psicológica que a relação entre as formas pode conferir à composição. Sendo
que a Gestalt afirma que nossa primeira impressão é unificada, ou seja,
observamos a relação entre as partes; é inevitável que a sensação de equilíbrio
ou desequilíbrio formal seja evidenciada logo à primeira vista.
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Figura 12 – O hotel Hang Nga (Crazy House) em Dalat (Vietnã), pode ter um
grande apelo de marketing, porém, o excesso de formas cria a sensação de caos
e desarmonia, tornando-se de difícil leitura visual
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4.2 Equilíbrio: peso, direção e simetria
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Figura 14 – O conjunto dos edifícios do Congresso Nacional em Brasília (Brasil),
do arquiteto Oscar Niemeyer, possui grande equilíbrio visual. Há, incialmente,
um equilíbrio entre os volumes do edifício vertical e a base horizontal.
Posteriormente, podemos estabelecer um equilíbrio assimétrico em relação a um
eixo vertical formado pelas torres, e os volumes da Câmara dos Deputados e do
Senado. Nesse caso, o conjunto da abóboda do Senado mais a rampa de acesso
compensa o “prato” da Câmara, de maior dimensão
Créditos: dvoevnore/Shutterstock.
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TEMA 5 – CATEGORIAS CONCEITUAIS: CONTRASTE (COR, LUZ,
HORIZONTALIDADE, VERTICALIDADE E MOVIMENTO)
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Figura 16 – A Igreja da Luz, em Osaka (Japão), do arquiteto Tadao Ando, é uma
grande referência internacional. Utiliza-se a luz e o alto contraste para gerar
emoção e significado
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5.2 Contraste por verticalidade e horizontalidade
Créditos: vichie81/shuttersock.
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5.3 Contraste por movimento
TROCANDO IDEIAS
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recortando quadrados de uma folha preta, do tamanho que achar conveniente,
e colocando-os em uma folha branca 10 x 10 cm. Procure dar um sentido de
organização visual ao trabalho. Faça algo próprio e original neste primeiro
exercício de composição, senão não haverá aprendizado e você não saberá
como ele será recebido pelos colegas. Submeta seu trabalho ao fórum da
disciplina para os colegas e tutores opinarem sobre ele, relacionando suas
opiniões com os conteúdos da Gestalt aplicada à linguagem visual, conforme
estudamos nesta aula e na leitura da bibliografia. Pode ser muito interessante!
NA PRÁTICA
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FINALIZANDO
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REFERÊNCIAS
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