Você está na página 1de 28

COMPOSIÇÃO E PROCESSO

PROJETUAL EM ARQUITETURA
AULA 1

Prof. Norimar Ferraro


CONVERSA INICIAL

Gestalt do objeto aplicada à arquitetura

“Admiro os poetas. O que eles dizem com duas palavras a gente tem
que exprimir com milhares de tijolos” (Arquiteto João Batista Vilanova
Artigas)

Esta disciplina faz parte dos fundamentos indispensáveis da Arquitetura e


do Urbanismo, agrupados no que chamamos de Ateliê de Projeto. O ateliê de
arquitetura, que é uma disciplina prática, desenvolve-se com metodologias
ativas, por meio da prática-reflexiva, na qual o aluno simula a atividade do
arquiteto e urbanista, realizando projetos de arquitetura, paisagismo e
urbanismo. Essa prática ocorre normalmente a partir do segundo ano de curso
nas escolas de Arquitetura e Urbanismo e acontece até o final do curso, com
aumento de complexidade progressiva. Dessa forma, o aluno aos poucos
compreende as metodologias projetuais e sua maneira própria de trabalhar.
Nossa disciplina traz conceitos relativos à estética e à metodologia de
projetos. Projetar espaços, edificações etc. não é uma atividade exata, no
sentido de existir uma fórmula para se criar edificações. Ela mistura aspectos
técnicos e lógicos com a atividade criativa, que engloba a intuição, relações com
aspectos sociais, culturais e estéticos, entre outros, e que tornam a atividade de
projetar um processo de desenvolvimento criativo e de tomada de decisões.
Os aspectos técnicos se relacionam, de modo geral, com os aspectos
construtivos, que dependem dos materiais e seu comportamento físico-
mecânico, conhecimentos que estão inseridos em estudos, por exemplo, sobre
materiais de construção, sistemas estruturais, tecnologias ambientais etc.
Aspectos não técnicos são desenvolvidos nos estudos de composição e
processo projetual, teoria e história da arquitetura, crítica do pensamento de
arquitetura etc. Essas disciplinas não estritamente técnicas têm como objetivo
formar no aluno um senso crítico e um repertório de Arquitetura e Urbanismo,
necessários e fundamentais para auxiliar a tomada de decisões durante o
processo de projeto.
A atividade criativa de projeto não é de fácil aprendizado e o aluno deve
ter paciência consigo mesmo. O aprendizado é gradual, evolutivo e se prolonga
no decorrer da profissão. Não há uma metodologia exata de criação, os
processos são diversos e dependem também da forma como o aluno se sente

2
mais à vontade para criar. A boa notícia é que fica cada vez mais fácil criar e
projetar, pois o repertório do aluno e do profissional irá se ampliando, e o
processo de decisões a serem tomadas fica mais claro.
Você já conhece a tríade vitruviana (firmitas, utilitas e venustas), que
define os três elementos fundamentais da arquitetura: os aspectos construtivos,
funcionais e estéticos, pela ordem de tradução do latim. Essa disciplina irá tratar
dos aspectos estéticos e metodologias de projeto. Os temas de nossos estudos
estão distribuídos da seguinte forma:

• Gestalt do objeto aplicada à arquitetura, de modo que


desenvolveremos conhecimentos de como as pessoas percebem a
arquitetura;
• Elementos e esquemas de composição das formas, em que traremos
de conhecimentos relativos à linguagem visual;
• Proporções e princípios ordenadores, discussão por meio da qual
iremos adquirir repertório para análise da estética das edificações;
• A organização do espaço arquitetônico, que trará o entendimento das
relações espaciais da arquitetura e sua organização;
• A importância do desenho e modelos na concepção arquitetônica,
que demonstrará de que forma o arquiteto cria utilizando desenhos e
modelos;
• A metodologia projetual, que apresentará a sequência de
desenvolvimento de projetos e suas diferentes metodologias de trabalho
e apresentação.

Composição corresponde ao ato de constituir um todo, organizando os


elementos constituintes para um bom resultado. Em arquitetura e urbanismo,
quando falamos em composição, estamos nos referindo à forma pela qual os
arquitetos organizam as diferentes formas e volumes das edificações, em
conjunto com os aspectos funcionais e construtivos. Na música, por exemplo, o
compositor adequa os aspectos teóricos musicais a uma mensagem e versos,
dentro de princípios como ritmo, harmonia, entre outros, para produzir uma boa
música e apresentar sua intenção musical. Em geral, na música, percebe-se
quase que de imediato uma nota fora do tom ou escala. Nas formas visuais, essa
percepção não é tão simples e, sem um repertório adequado, é complexa a
análise das formas arquitetônicas e sua harmonia e beleza. Assim, esta

3
disciplina busca trazer ao aluno a teoria da linguagem visual, para que, com base
nela, o aluno possa se tornar autossuficiente na análise estética de sua própria
produção arquitetônica.

CONTEXTUALIZANDO

Para iniciarmos nossa discussão sobre a questão estética, é preciso antes


conversamos sobre o modo como as pessoas percebem as formas da
arquitetura e o que elas consideram visualmente interessante.
Aprenderemos durante os estudos em Teoria e História de Arquitetura e
Urbanismo que os movimentos de arquitetura dependem de momentos
históricos, contextos sociais, políticos e culturais. Geralmente, os diferentes
movimentos arquitetônicos contrapõem os movimentos anteriores, sobretudo
nos aspectos formais. A arquitetura moderna propõe uma estética com base na
funcionalidade, com formas mais retas e puras, contrapondo movimentos
neoclássicos e art noveau, em que as formas eram mais trabalhadas, com
detalhes ornamentais. Pode-se dizer que, ao longo do tempo, a avaliação do que
é belo se altera, porque o contexto também se altera (transformações na técnica,
na política, na sociedade, por exemplo). No entanto, também é certo dizer que,
apesar dessa mudança de avaliação estética, os princípios que regem as
composições em arquitetura permanecem. Iremos tratar desses princípios em
nossas aulas.
Utilizando novamente o exemplo musical, temos estilos musicais como
blues, rock, sertanejo, rap, clássico, entre outros, que, apesar de se inserirem
em contextos e momentos diferentes, utilizam os mesmos princípios da teoria
musical, como o ritmo, escalas musicais, harmonia etc. É sobre esses princípios
que iremos falar.

TEMA 1 – A GESTALT DO OBJETO

O aluno pode argumentar que o gosto estético é individual e que, por isso,
não pode haver regras para se determinar o que é belo ou não. Pode argumentar
que, por suas próprias experiências individuais, viu que sua apreciação do que
é belo difere de pessoas próximas. Isso é parcialmente verdade, porque a
realidade é que existem, de maneira subjetiva, tipos de arte, arquitetura e design
que agradam a maior parte das pessoas. Inúmeros fatores contribuem para a

4
avaliação estética. Em grande parte, isso ocorre por meio de processos internos
de avaliação, sobre os quais tentaremos discutir em nossa aula e que são
embasados em teorias recentes. Uma delas é a teoria da Gestalt do objeto, um
sistema de leitura visual da forma, inicialmente aplicado ao design gráfico e
industrial, porém, também aplicável à leitura das formas na arquitetura.
A Gestalt é, em sua origem, uma teoria advinda da psicologia
experimental, cujo precursor foi Christian von Ehrenfels, um filósofo austríaco do
século XIX, sendo depois desenvolvida por outros nomes, como Wertheimer,
Kohler e Koffka. Esse movimento contribuiu, por meio de experimentos, para o
estudo da percepção, linguagem, inteligência, entre outros. Basicamente, o
termo Gestalt é aplicado no sentido de percepção estética, como uma percepção
do todo em contraposição à percepção das partes individuais. A percepção do
todo, inicialmente, predomina na observação dos aspectos formais de uma
edificação e, posteriormente, o ser humano avalia os detalhes que compõem
determinada organização visual.
Não conseguimos desconectar as partes em nossa avaliação inicial; essa
percepção irá para o nosso cérebro e trará a apreciação estética. No exemplo
musical, ao ouvirmos determinada música, ela é percebida como um conjunto de
sons, ritmo, timbres etc. e é essa combinação que nos dirá se a música é boa ou
não. Após ouvirmos repetidas vezes, iremos perceber os detalhes de melodia,
letra, timbre do instrumento etc. O mesmo acontece com as formas
arquitetônicas: apreciamos a arquitetura como um conjunto de formas em
determinado contexto espacial, com cores, materiais, entorno etc., que não
conseguimos separar em nossa avaliação inicial.
A teoria da Gestalt argumenta que o que ocorre em nosso cérebro em
matéria de percepção é diferente do que ocorre na retina. Segundo Gomes Filho
(2008), a excitação cerebral não se dá por pontos isolados, mas por extensão. A
primeira sensação é global e unificada. Por essa razão, existem determinadas
figuras conhecidas como ilusões de óptica (Figura 1), que “enganam” nosso
cérebro, pois são observadas como relações entre formas, mais do que formas
isoladas.

5
Figura 1 – A Gestalt explica as ilusões de óptica nessas figuras da seguinte
forma: as linhas horizontais, em vermelho, têm o mesmo comprimento, porém,
as setas nas extremidades distorcem nossa percepção, fazendo-as parecer
diferentes. O mesmo ocorre com o círculo central azul (à direita), quando se
altera o tamanho dos círculos vizinhos

Créditos: Zhitkov Boris/Shutterstock; Peter Hermes Furian/Shutterstock.

1.1 Exercício de avaliação estética

Entendemos até aqui que nossa percepção das formas é unificada, ou


seja, percebemos o conjunto e a relação entre elas quando as observamos. No
entanto, isso ainda não explica se a percepção do belo é individual ou se pode
ser considerada coletiva. Significa apenas que, ao observarmos a arquitetura de
um edifício, nós a entenderemos como um todo e não como a soma de todas as
partes que a compõem, como os volumes, os materiais, texturas, o local onde
se insere, as edificações vizinhas e outros elementos. Podemos concluir que, se
um mesmo edifício fosse construído em locais diferentes, a percepção de sua
arquitetura seria diferente também. Por essa razão, devemos entender a
arquitetura como uma edificação que se relaciona com o local em que ela está
inserida – essa relação também é estética, além de ser influenciada por outros
fatores.
Para tentar avaliar se a questão estética é individual ou coletiva,
professores podem fazer uma atividade de composição bidimensional com os
alunos. O exercício é bem simples e com grande liberdade: deve-se compor um

6
arranjo de quadrados pretos sobre uma folha quadrada branca do modo que
mais agrade visualmente. Depois, os alunos devem fixar seus trabalhos lado a
lado na lousa para, então, avaliarem coletivamente qual a melhor composição.
Antes de realizarem sua própria composição, o professor mostra um conjunto de
composições feito por outra professora, em outra turma, pedindo a eles que
avaliem a melhor, no sentido estético (Figura 2). Em todas as turmas, o resultado
da melhor composição foi sempre o mesmo. Apesar de existirem votos para
diversas composições e muitas ficarem sem voto algum, a mais atraente era
claramente identificada. Para nós, arquitetos, é muito importante tentarmos fazer
a leitura da razão pela qual determinada composição era considerada a melhor.
Todos nós gostaríamos que nossa composição fosse a escolhida e nossa
arquitetura fosse avaliada positivamente. Esse é o grande desafio da questão
estética na arquitetura.
Questionando os alunos sobre qual o motivo de escolherem determinada
composição como a melhor, invariavelmente chegavam à conclusão de que era
a organização visual que ela lhes trazia. Muitas composições falhavam nesse
aspecto, pois ou pareciam desorganizadas ou incompletas. É importante lembrar
que a percepção da composição de quadrados era percebida em conjunto com
o fundo branco, algo que corrobora a teoria da Gestalt aplicada à linguagem
visual.

Figura 2 – Os trabalhos dos alunos a serem avaliados esteticamente. Faça


também sua própria avaliação considerando as letras para as linhas e números
para as colunas (por exemplo, A1, B2 etc.). O resultado da melhor composição
escolhida por todas as turmas de alunos será informado ao fim desta aula

7
Fonte: Silvana Weihermann.

TEMA 2 – LEIS DA GESTALT: UNIDADE, SEGREGAÇÃO, UNIFICAÇÃO E


FECHAMENTO

Compreendemos, dessa maneira, que a organização visual é fundamental


para a boa estética e a Gestalt nos auxilia a compreender como os indivíduos
percebem as formas e seus mecanismos cerebrais. Segundo Koffka ([S.d.]), que
estudou os fenômenos da percepção visual, existem forças externas que
estimulam a nossa retina e vêm através da luz que chega aos nossos olhos, bem
como forças internas, que contribuem para a percepção de organização em
nosso cérebro.
Com base em inúmeros experimentos com figuras simples, como linhas e
pontos, os gestaltistas puderam estabelecer de que forma ocorre a percepção
sujeito-objeto e como essas forças externas e internas interagem. Os
experimentos e seus resultados estabeleceram a base para a teoria da
linguagem visual.
É importante ressaltar nesse momento que o que chamaremos de leis da
Gestalt não são regras para composição de formas, mas sim conceitos para
análise das formas em arquitetura, que podem auxiliar no processo compositivo
de avaliação da organização visual. Considerando que a questão estética tem
grande caráter subjetivo, não existe uma teoria exata para a composição formal,
como na teoria musical, em que sons harmônicos dentro de escalas, frequências
e progressões podem definir com mais precisão como a composição musical
8
pode ser feita. Por exemplo, quando falarmos em unidade visual, isso significa
que, ao analisarmos as formas de uma edificação, poderemos dizer que, nos
fatores que contribuem para sua estética, sua organização visual pode ser
estabelecida pela unidade – ou pela falta dela – dos elementos geométricos que
compõem a forma dessa edificação. Durante o processo compositivo e de
desenvolvimento das formas de uma edificação, é importante que o aluno e os
profissionais saibam utilizar as leis da Gestalt para atribuir valor estético ao seu
trabalho.

2.1 Unidade

Já que mencionamos a unidade formal, este será nosso ponto de partida.


Ela pode se estabelecer a partir de um ou mais elementos que possam constituir
um todo propriamente dito, podendo ser percebida por meio de formas como
pontos, linhas, volumes, cores, texturas e outros atributos, isolados ou
combinados entre si. Na arquitetura, quando as volumetrias são mais básicas e
simples, é de fácil reconhecimento a unidade formal. Em muitos casos,
entretanto, a edificação pode ter sua unidade formal, mesmo sendo composta
de vários volumes, se eles estiverem devidamente relacionados entre si.

Figura 3 – Ao centro, o belíssimo edifício John Hancock, em Chicago (EUA), é


um exemplo de unidade formal. Sua forma prismática única, aliada à
homogeneidade de cores da estrutura e dos vidros, confere a organização visual
de sua estética (Bruce Graham e SOM arquitetos)

Créditos: Naeblys/Shutterstock.

9
Figura 4 – O edifício Sears Tower em Chicago (EUA), o mais alto do mundo até
algumas décadas atrás, também possui unidade formal proporcionada pela cor
da estrutura e pelo uso de vidros, apesar de sua volumetria ser composta de
vários volumes secundários (Graham+Khan arquitetos)

Créditos: ssuaphotos/Shutterstock.

2.2 Unificação e segregação

Da unidade formal, decorre a unificação e segregação de elementos


visuais. A unificação consiste na igualdade ou semelhança das formas dentro do
campo visual. Existe coerência ou relação entre as formas que compõem o
edifício. Quando as formas são similares, é mais fácil obter a unificação, porém,
quando a edificação é composta de vários elementos formais distintos, a
unificação pode ocorrer, por exemplo, por meio de cores, texturas etc.
A segregação é a capacidade de distinguir ou destacar partes de um todo,
com determinada finalidade estética ou funcional. Muitas vezes, ela se faz
necessária em arquitetura para estabelecer a ênfase ou a separação de

10
determinado elemento formal. Na Figura 3, que mostra o edifício John Hancock,
os arquitetos decidiram deixar as antenas do alto na cor branca, justamente para
destacá-las do corpo do edifício e atenuar sua visibilidade. O volume escuro do
edifício destaca-se muito mais na paisagem, em contraste com o céu, que pode
ser azul com nuvens ou cinzento, bem como em relação aos edifícios vizinhos.

Figura 5 – O auditório do parque do Ibirapuera (São Paulo, BR) é um bom


exemplo de segregação visual. Para destacar a entrada, a segregação se dá,
principalmente, por meio das cores, bem como pelas formas curvas da cobertura
da entrada, em relação à forma prismática e retilínea do volume principal
(arquiteto Oscar Niemeyer)

Créditos: Aleksandar Todorovic/Shutterstock.

2.3 Fechamento

O fechamento é um fator que concorre para o estabelecimento da unidade


da edificação. Nosso cérebro tende a perceber determinada continuidade de
linhas, ou de uma estrutural visual, para agrupar elementos formais separados
entre si. O fechamento visual auxilia na percepção da organização visual.

11
É comum os arquitetos utilizarem esse recurso para conectar elementos
visuais separados espacialmente entre si, atribuindo maior valor estético ao seu
trabalho.

Figura 6 – A biblioteca da Phillips Exeter Academy, em Exeter (EUA), do


arquiteto Louis Kahn, possui aberturas que se utilizam do princípio do
fechamento. Na figura, perceba o círculo formado pelas aberturas da edificação.
Percebemos, primeiramente, círculos e, depois, notamos que são, na realidade,
dois semicírculos separados entre si

Créditos: PixHound/Shutterstock.

12
Figura 7 – O edifício Thyssenkrupp Quartier, do escritório JSWD Architekten, é
composto por um grande volume cúbico com duas partes em L separadas entre
si. Apesar de separadas, a continuidade visual das linhas verticais da fachada,
que estão alinhadas, possibilita o fechamento do volume, sendo interpretado
como cúbico

Créditos: Tupungato/Shutterstock.

TEMA 3 – LEIS DA GESTALT: CONTINUIDADE, SEMELHANÇA,


PROXIMIDADE E PREGNÂNCIA DA FORMA

Existem também outras leis que nos auxiliam a organizar as formas e a


estética em arquitetura. É importante ressaltar que, em nossa análise formal,
essas “leis” podem ser avaliadas de forma conjunta. Podemos perceber
fechamento e unificação em determinada análise formal. Uma edificação pode
ter, apesar da unificação de suas formas, alguns elementos “segregados”, para
revelar determinados conceitos ou necessidades. A liberdade criativa passa a
ser a tônica do trabalho.

3.1 Continuidade

Também denominada continuação, ela é definida como a impressão


visual dos elementos que compõem a forma, sem quebras ou sem interrupções,

13
resultando em uma fluidez visual. Está frequentemente relacionada a uma
sensação de movimento das formas, principalmente curvas, e, quando realizada
com sucesso, dizemos que as formas têm “boa continuidade”.

Figura 8 – As curvas do Heydar Aliyev Center, em Baku (Azerbaijão), da arquiteta


Zaha Hadid, conferem boa continuidade e movimento à concepção formal do
Centro Cultural, por meio de curvas emergentes do solo até a cobertura do
edifício

Créditos: Elnur/Shutterstock.

Saiba mais

Você pode conhecer mais sobre essa obra acessando o site apresentado
a seguir.
ArchDaily. Centro Heydar Aliyev / Zaha Hadid Architects. [S.d.]. Disponível
em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-154169/centro-heydar-aliyev-zaha-
hadid-architects>. Acesso em: 8 dez. 2021.

3.2 Proximidade e semelhança

Formas que se encontram muito próximas tendem a ser percebidas como


únicas ou terem unidade entre si. Dependendo de seu tamanho, posição, cor
etc., serão percebidas como agrupadas, o que contribui contribuem para sua

14
organização visual. A semelhança dos elementos também favorece a sensação
de agrupamento e tende a unificar a forma. Em geral, os fatores de proximidade
e semelhança trabalham em conjunto e auxiliam no fortalecimento da unidade
da forma.

Figura 9 – As colunas da praça da Basílica de São Pedro, em Roma (Itália), por


sua proximidade e semelhança, tendem a ser percebidas como uma forma única,
uma textura que se prolonga na circunferência da praça

Créditos: nomadFra/Shutterstock.

Figura 10 – As aberturas na Phillips Exeter Academy Library, Exeter (EUA), de


Louis Kahn, por sua proximidade e semelhança, tendem a reforçar o sentido de
unidade. Esse é um recurso muito utilizado na composição de fachadas de
edifícios

Créditos: 2_D/Shutterstock.

15
3.3 Pregnância da forma

A pregnância da forma é entendida como a lei básica da percepção visual.


Segundo Gomes Filho (2008), “as forças de organização da forma tendem a se
dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do
equilíbrio visual. Qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que
a estrutura resultante é tão simples quanto o permitam as condições dadas”.
Podemos entender, com essas palavras, que a combinação dos elementos
visuais e formais tem alta pregnância e boa organização quando permite uma
leitura mais simples, mais clara de sua forma ou de sua intenção compositiva.
Isso significa que o desenvolvimento da estética de uma edificação poderá ser
interrompido quando atingir uma boa pregnância formal, ou seja, quando o
estudante ou o profissional for capaz de olhar seu próprio objeto de composição
e fazer as análises segundo a Gestalt e outros fundamentos da linguagem visual,
e elas possam ser identificadas como satisfatórias.
Utilizamos o termo clareza formal e talvez essa seja a chave da boa
composição quando puder ser percebida de forma mais rápida em objeto de
design, arte ou arquitetura. Volte, neste momento, à Figura 1 e identifique se sua
escolha da composição de quadrados tem uma leitura rápida e clara de qual era
o sentido compositivo. Em caso afirmativo, ela terá uma boa pregnância formal.
Observe também aquelas que você não escolheu e se porventura são confusas,
ou se carecem de uma ideia compositiva. Esses casos não terão boa pregnância
da forma.

16
Figura 11 – O MASP, Museu de Arte de São Paulo (Brasil), é um bom exemplo
de boa pregnância da forma (arquiteta Lina Bo Bardi). Podemos identificar
claramente sua forma, constituída de um grande prisma, atirantado em dois
grandes pórticos (segregados em vermelho do restante). A semelhança e a
proximidade dos perfis conferem ritmo e textura à fachada principal

Créditos: Diego Grandi/Shutterstock.

Saiba mais

Conheça outra obra da arquiteta Lina Bo Bardi assistindo ao vídeo


indicado a seguir.
SescTV. Arquiteturas: Sesc Pompeia. [S.d.]. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=qhBZXCle8Z8>. Acesso em: 8 dez. 2021.

TEMA 4 – CATEGORIAS CONCEITUAIS: HARMONIA E EQUILÍBRIO

Para complementar as leis básicas da Gestalt, foram criadas algumas


categorias complementares, para que se pudesse analisar as formas em arte e
arquitetura.
A primeira se refere à harmonia, que deriva da pregnância da forma. Na
leitura e análise visual, diz respeito ao todo bem-organizado em suas partes
componentes, ou à relação entre essas partes. Quando as partes componentes

17
de uma composição estão em equilíbrio, organizadas e possuem determinada
regularidade visual, em geral, levam a uma leitura mais clara da composição e
da harmonia formal. Já o equilíbrio é outro conceito fundamental que se
relaciona com as partes do todo, mas no sentido da sensação de estabilidade
psicológica que a relação entre as formas pode conferir à composição. Sendo
que a Gestalt afirma que nossa primeira impressão é unificada, ou seja,
observamos a relação entre as partes; é inevitável que a sensação de equilíbrio
ou desequilíbrio formal seja evidenciada logo à primeira vista.

4.1 Harmonia: ordem e regularidade

A ordem está intrinsecamente ligada à percepção de ausência de conflito


e se opõe à desordem. Quando muitos elementos da composição se destacam
de forma desordenada em relação aos demais, ela pode se tornar desarmônica.
No entanto, em alguns casos, elementos que se diferenciam dos demais podem
ser interessantes visualmente e não caracterizar desordem. É o caso da
segregação intencional, que pode ocorrer por alguma razão compositiva.
Excesso de ordem também pode se tornar monótono e, nesse caso, o arquiteto
pode optar por alterar a ordem, o ritmo, ou segregar formas, para compensar. A
regularidade das formas é, em geral, benéfica na organização visual, porém,
pode também tornar a composição desinteressante. É difícil estabelecer um
limite, por isso é necessário que se analise a composição com atenção para estar
do seu lado harmônico.
A falta de clareza e o excesso de formas na composição geralmente levam
a uma desarmonia difícil de ser corrigida. A leitura se torna difícil e a percepção
que nosso cérebro forma é de caos, aleatoriedade e, consequentemente,
desarmonia.

18
Figura 12 – O hotel Hang Nga (Crazy House) em Dalat (Vietnã), pode ter um
grande apelo de marketing, porém, o excesso de formas cria a sensação de caos
e desarmonia, tornando-se de difícil leitura visual

Créditos: Alexandr Medvedkov/Shutterstock.

Figura 13 – O The Oculus Building, em Nova Iorque (EUA), do arquiteto Santiago


Calatrava, possui grande harmonia formal. A leitura é clara, a relação dos
volumes e a boa continuação das formas conferem uma estética aprimorada à
edificação

Créditos: Alex Cimbal/Shutterstock.

19
4.2 Equilíbrio: peso, direção e simetria

Conhecemos, primeiramente, o conceito de equilíbrio advindo da física,


que demonstra que corpos com pesos iguais podem se equilibrar em uma
balança. Na linguagem visual, ao observarmos uma composição de formas, por
meio percepção do todo, os elementos componentes também estabelecem uma
relação entre si. Seu tamanho, forma, proximidade e relação com eixos
imaginários conferem equilíbrio ou desequilíbrio a uma composição. É
necessário haver determinadas compensações na forma e posição dos
elementos para criar a sensação de equilíbrio, para evitar desproporcionalidade.
A sensação de desequilíbrio cria tensões na percepção que não
contribuem para a pregnância. Na relação das formas de uma composição, é
preciso estudar corretamente a relação de tamanho entre elas, a posição e,
inclusive, a direção do movimento que podem produzir.
O equilíbrio pode se estabelecer em determinado eixo imaginário,
geralmente vertical, surtindo efeito de simetria ou assimetria. No caso da
simetria, os elementos são semelhantes em relação ao eixo e à distância dele.
Na arquitetura clássica, a base compositiva das edificações era a simetria rígida
das formas. Na assimetria, também pode ocorrer equilíbrio, mas é preciso fazer
determinadas compensações de tamanhos e distância do eixo imaginário. Os
eixos de assimetria e simetria podem gerar equilíbrio no sentido tridimensional,
ou seja, em várias direções, visto que a arquitetura se define principalmente por
volumes.

20
Figura 14 – O conjunto dos edifícios do Congresso Nacional em Brasília (Brasil),
do arquiteto Oscar Niemeyer, possui grande equilíbrio visual. Há, incialmente,
um equilíbrio entre os volumes do edifício vertical e a base horizontal.
Posteriormente, podemos estabelecer um equilíbrio assimétrico em relação a um
eixo vertical formado pelas torres, e os volumes da Câmara dos Deputados e do
Senado. Nesse caso, o conjunto da abóboda do Senado mais a rampa de acesso
compensa o “prato” da Câmara, de maior dimensão

Créditos: 061 Filmes/Shutterstock.

Figura 15 – O Edifício Burj al Khalifa, em Dubai (Emirados Árabes), do escritório


americano SOM, possui equilíbrio assimétrico dos volumes que o compõem, em
relação ao seu eixo vertical. Apesar de distante do prédio, a ponte sobre o
espelho d´água também participa do equilíbrio da simetria e da composição do
conjunto

Créditos: dvoevnore/Shutterstock.

21
TEMA 5 – CATEGORIAS CONCEITUAIS: CONTRASTE (COR, LUZ,
HORIZONTALIDADE, VERTICALIDADE E MOVIMENTO)

O contraste é conhecido na fotografia. Refere-se à diferença de


luminosidade entre as partes de uma foto ou imagem. Quando bem ajustado,
confere beleza à imagem, o que, em geral, as pessoas são capazes de perceber.
As artes visuais nos ensinam que o contraste é um fator de estética em outras
áreas, como a pintura. Na arquitetura, o contraste também é uma categoria
conceitual estética, mas não se refere somente à cor. Ele pode significar uma
diferença marcante entre coisas ou objetos da mesma natureza, quando é
possível fazer uma comparação. Trataremos aqui de algumas formas de
contraste na arquitetura e urbanismo, conforme Gomes Filho (2008) nos
apresenta em seus estudos de linguagem visual e Gestalt.

5.1 Contraste pela luz, cor e tom

Na arquitetura e no espaço arquitetônico, a luz é fundamental para


visualização e percepção; somente por meio dela podemos perceber o mundo e
as cores ao nosso redor. A luz provoca emoções e esse é um recurso importante
para os arquitetos. Provoca também contrastes de claro e escuro, de diferenças
de cores, de modo que é possível ressaltar as formas arquitetônicas e, em
consequência, alterar a percepção do espaço. Podemos optar pela monocromia
se quisermos conferir maior neutralidade, sensações mais tranquilas, mas
também podemos desejar uma emoção mais aguda, dando alguma ênfase, o
que pode ser trazido pelo alto contraste. Entenda-se que o maior ou menor
contraste é uma opção conceitual, e não significa que um ou outro esteja
incorreto.

22
Figura 16 – A Igreja da Luz, em Osaka (Japão), do arquiteto Tadao Ando, é uma
grande referência internacional. Utiliza-se a luz e o alto contraste para gerar
emoção e significado

Créditos: Sira Anamwong/Shutterstock.

Figura 17 – O edifício de escritórios na área do Mediahafen, em Dusseldorf


(Alemanha), é um exemplo de contraste pela utilização da cor. Projetado pelos
arquitetos Steven Holl, David Chipperfield e Frank O. Gehry, destaca-se pelo
contraste com o entorno e paisagem urbana

Créditos: Claudio Divizia/Shutterstock.

23
5.2 Contraste por verticalidade e horizontalidade

O contraste por verticalidade e horizontalidade também é um grande


recurso conceitual e estético para arquitetura e urbanismo. Ele pode se dar na
própria edificação ou em relação à paisagem e ao entorno. A verticalidade é, em
geral, utilizada para conferir significados de monumentalidade e poder, como nas
igrejas góticas (Figura 18) ou nos arranha-céus atuais (Figura 15).
Horizontalidade corresponde a estabilidade, entre outros aspectos.

Figura 18 – A Catedral de Colônia (Alemanha), com duas torres, destaca-se na


paisagem por sua verticalidade em contraste com a paisagem da cidade. Os
elementos construtivos, como colunas e torres ampliam a sensação de
verticalidade

Créditos: vichie81/shuttersock.

Figura 19 – Na ampliação do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (Brasil), o


arquiteto homenageado utilizou-se do contraste horizontal e vertical. A edificação
anterior, composta por um grande volume horizontal sobre colunas, teve sua
ampliação realizada com um anexo mais vertical na sua forma, em contraste com
o anterior. Dessa forma, mesmo com o contraste horizontal-vertical, o edifício
ampliado não tirou a importância do anterior, pelo contraste horizontal-vertical,
no conceito de que foram obras realizadas em tempos diferentes

Créditos: avi Ivanowski/Shutterstock.

24
5.3 Contraste por movimento

O contraste pode se estabelecer de diferentes maneiras em arquitetura.


O conceito de movimento é de mais difícil entendimento pela maioria das
pessoas, porque não se trata do movimento físico e sim de movimento visual.
Geralmente, linhas verticais e horizontais não produzem a sensação de
movimento visual, mas de estabilidade. Quando linhas componentes da
edificação e seus volumes são oblíquas, inclinadas, é gerada uma tensão de
movimento em diversas direções.

Figura 19 – O arquiteto Daniel Libeskind, na ampliação do Royal Ontario


Museum, em Toronto (Canadá), gerou contraste pelo movimento das linhas do
edifício novo, com a edificação mais antiga

Créditos: Andres Garcia Martin/Shutterstock.

TROCANDO IDEIAS

O diálogo e a opinião de colegas e professores sempre contribuem para


nosso aprendizado. Pudemos perceber que a questão estética tem caráter de
subjetividade e, nesse sentido, a troca de ideias é imprescindível. Propomos,
então, um exercício similar àquele feito com a Figura 2, de composição com
quadrados pretos em uma folha branca. Faça a sua melhor composição,

25
recortando quadrados de uma folha preta, do tamanho que achar conveniente,
e colocando-os em uma folha branca 10 x 10 cm. Procure dar um sentido de
organização visual ao trabalho. Faça algo próprio e original neste primeiro
exercício de composição, senão não haverá aprendizado e você não saberá
como ele será recebido pelos colegas. Submeta seu trabalho ao fórum da
disciplina para os colegas e tutores opinarem sobre ele, relacionando suas
opiniões com os conteúdos da Gestalt aplicada à linguagem visual, conforme
estudamos nesta aula e na leitura da bibliografia. Pode ser muito interessante!

NA PRÁTICA

Vamos exercitar nossa análise formal. Temos mais dois exemplos de


arquitetura nas figuras a seguir e sugerimos que, agora, você faça uma análise
própria do edifício, tentando relacionar aspectos das leis da Gestalt e os
conceitos fundamentais da linguagem visual. O que você consegue identificar?
Se conseguir fazer a leitura, conseguirá aplicar durante o desenvolvimento de
seus próprios trabalhos.

Figuras 21 e 22 – À esquerda, a casa da cascata, do arquiteto Frank Lloyd


Wright, em Allegheny Mountains (EUA); à direita, o edifício City Hall, em Londres
(Inglaterra), do arquiteto Norman Foster

Créditos: Vale Cantera/Shutterstock; PriceM/Shutterstock.

26
FINALIZANDO

Aprendemos nesta aula muitos conceitos relativos à estética e à análise


da forma em arquitetura. Esses conceitos são utilizados pelo arquiteto em suas
decisões de projeto e de trabalho compositivo da volumetria da edificação.
Apesar de não serem fórmulas matemáticas, são conceitos que auxiliam a atingir
determinadas intenções de projeto, bem como uma organização visual, que,
mesmo de forma subjetiva, seja reconhecida pelas pessoas. Nas próximas
aulas, iremos aprender como os arquitetos organizam a forma do edifício a partir
de sua geometria, e como isso contribui para a organização visual.
Agora, é provável que você esteja curioso(a) para saber qual composição
sempre foi escolhida dentre as que se encontram na Figura 2, nas aulas em que
essa atividade foi feita. Pois bem, a composição mais votada foi sempre a C6,
seguida da E3 e da D8.

27
REFERÊNCIAS

GOMES FILHO, J. Gestalt do objeto: sistema de leitura visual da forma. São


Paulo: Escrituras Editora, 2008.

28

Você também pode gostar