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CULTURA ARTÍSTICA

ARQUITETÔNICA,
URBANÍSTICA E PAISAGÍSTICA
AULA 3

Prof.ª Luíza Chiarelli de Almeida Barbosa


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, conheceremos a importância da estrutura no trabalho da


arquitetura, do urbanismo e do paisagismo, pois é a única ferramenta que
concretiza as ideias dos projetos. Vitrúvio chamava este elemento de firmitas,
que é efetivamente a construção da obra, sua realização e solidez.
Sobre o assunto, segundo Joaquim Guedes (1996, p. 12): “há que
aprender a imaginar o objeto e ao mesmo tempo inventar sua construção”.
Nesse sentido, a aula aborda a especificação da estrutura, fundações,
proteções, instalações complementares, processos construtivos e
detalhamento, assim como a escolha da materialidade, que visam à execução
do projeto e de espaços imaginados, resultando na composição formal
arquitetônica.
O aspecto da construção é pensado em relação ao lugar, ao programa,
à ordenação do espaço e da forma. Planejar cada um desses elementos
implica conciliar determinações técnico-funcionais aos outros elementos que
compõem a obra, ou seja, podemos considerar a estrutura como geradora de
espaço.
Dessa forma, todos os envolvidos na concepção e execução do projeto
devem considerar as especificações das soluções técnicas, entendendo o
comportamento dos materiais e escolhas em relação ao tempo, às intempéries
naturais e, inclusive, à gravidade, de modo a descobrir estratégias conceituais
para as possibilidades da construção.

CONTEXTUALIZANDO

Compreender a relevância da estrutura no projeto arquitetônico é a


chance de sucesso da obra e do arquiteto. Sendo assim, como profissionais da
área, não podemos delegar a outro profissional a responsabilidade pelas
definições de materiais, pois implicam no resultado visível ou tangível do
edifício, assim como a vivência dos espaços internos designados às atividades
humanas. Como um dos fundamentos do ato de projetar, não conhecer os
procedimentos de construção é operar sobre o ornamento supérfluo, uma
imagem.
O ofício da arquitetura acontece por meio da manipulação da lógica
construtiva, buscando conquistar uma solução concreta, fisicamente

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estruturada, e que valoriza o objeto arquitetônico em toda sua complexidade
em termos de adequação ao local e à transformação das possibilidades e
restrições no resultado final.

TEMA 1 – OS DIFERENTES MATERIAIS CONSTRUTIVOS AO LONGO DA


HISTÓRIA (PARTE 1)

Estudaremos, neste tema, o desenvolvimento dos materiais construtivos


ao longo da nossa história.
No período Neolítico (ou Idade da Pedra) e na Antiguidade (ou Idade dos
Metais), os seres humanos passaram a se organizar em comunidades, e os
materiais empregados na construção eram utilizados de forma bruta e
modelados de acordo com as necessidades. Eram elementos como pedras,
barro, metais e fibras vegetais. A madeira, provavelmente, era o mais utilizado,
pois existia em abundância em quase todas as regiões do mundo,
apresentando certa facilidade de manuseio, e sua aplicação variava de acordo
com o local e a disponibilidade das espécies de árvores. A madeira é leve,
resistente, flutua, e suas dimensões variáveis permitiram ao ser humano
explorar várias de suas aplicações, de abrigos a barcos.
Na Figura 1, observamos uma cabana primitiva, com estrutura de
madeira e fechamento com fibras naturais, permitindo proteger seres humanos
de intempéries e de ataques de alguns animais. Anteriormente, comentamos
que os esforços eram dedicados a aspectos religiosos representados pelas
construções em diversas épocas, como Stonehenge ou as pirâmides do Egito,
os quais só foram possíveis a partir do desenvolvimento da aritmética.

Figura 1 – Cabana primitiva

Crédito: ALISIA LUTHER/Shutterstock.

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Na Antiguidade Clássica, o refinamento das construções ganhou
destaque, utilizando os mesmos materiais que já eram encontrados na
natureza. Como mencionado anteriormente, as civilizações grega e romana
tinham concepções sociais mais complexas, mas as construções permaneciam
com caráter religioso e de culto aos deuses. Surge, então, o primeiro tratado de
arquitetura de Vitrúvio, com os princípios que abordamos nesse momento.
Estudos analisam que, provavelmente, para construir as obras que
conhecemos daquela época (como representado na Figura 2), foram utilizadas
técnicas precursoras dos guindastes: máquinas de elevação, que funcionavam
com o uso de força humana.

Figura 2 – Ruínas do templo de Apolo (Grécia)

Crédito: EXTRADEDA/Shutterstock.

Como diferencial em relação às técnicas dos gregos, os romanos


usaram cimento nos edifícios e equipamentos de infraestrutura, como
aquedutos e estradas. Havia ainda a composição diferente dos materiais que
conhecemos: a mistura criada por eles levava cal, cinzas vulcânicas e rochas,
chamado de “concreto indestrutível”, pois alguns ícones arquitetônicos da
época continuam perfeitamente preservados. Um dos exemplos é o Panteão,
no centro da cidade de Roma (Figura 3). Além da resistência do material, o
processo gera menos danos ao meio ambiente se compararmos ao método

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para fazer cimento Portland, o mais comum atualmente, cuja produção teve
início no século XIX.

Figura 3 – Panteão, Roma (Itália)

Crédito: Vladimir Sazonov/Shutterstock.

A madeira, na arquitetura de algumas civilizações, destacou-se de forma


diferente. No Extremo Oriente, por exemplo, estruturas leves suportam os
terremotos frequentes, pela utilização de encaixes resistentes. A Figura 4,
mostra um dos templos mais antigos do Japão, o Byodo-in. Nesse tipo de
edificação, valoriza-se o térreo e o telhado, simbolizando, respectivamente, a
terra e o céu.

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Figura 4 – Templo Byodo-in (Japão)

Crédito: Shane Myers Photography/Shutterstock.

Na arquitetura europeia, em locais mais frios e com muitas árvores,


como a Dinamarca, a característica principal é a largura das paredes, que
isolam do frio, usando madeira maciça na construção e a tornando mais
pesada em relação à sua utilização no Oriente. A Figura 5 demonstra uma casa
viking, na Dinamarca, com esses aspectos.

Figura 5 – Casa viking (Dinamarca)

Crédito: HELGA MILLER/Shutterstock.

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As proporções e os detalhes construídos na Idade Média eram
imponentes, assim como as concepções dos feudos (áreas ricas). Por isso,
eram fortemente muradas, para proteger-se de ataques inimigos em busca de
saquear ou conquistar territórios. As principais construções foram os castelos e
as catedrais. Estas simbolizavam o poder da Igreja na época; a carpintaria foi a
forma de construir mais importante por vários séculos, pois a madeira era muito
utilizada em construções pela população em geral e também nos edifícios mais
sofisticados.
Comumente, a cobertura das igrejas e as estruturas de suas torres
apresentavam problemas, principalmente com relação ao vão. As inovações
construtivas para suprir esse problema foram a criação de abóbadas com
nervura de pedra e preenchimento de tijolo, o uso de arco em forma ogival e
arcobotantes – espécie de meios arcos construídos por cima da cobertura das
naves laterais para sustentar o vão central. As estruturas vazadas permitiam a
implementação de rosáceas e vitrais (usados para narrar episódios religiosos);
naquele momento, predominava a verticalidade. As plantas seguiam o formato
da cruz latina, e as fachadas eram trabalhadas com esculturas e relevos.
A Basílica de São Marcos (Figura 6) é um exemplo desse tipo de
construção. Localizada na cidade de Veneza (Itália), na Praça de São Marcos,
sempre foi o ponto de encontro da vida pública e religiosa. É considerada uma
das catedrais europeias mais bonitas do mundo. Essa basílica é resultado da
combinação de vários estilos e, mesmo com reestruturações, conserva
características originais, inclusive, orientais, devido ao domínio mouro na
Europa e impressiona a muitos pelas suas particularidades. É uma combinação
de arquitetura e arte, simbolizando a riqueza e o poder da cidade Veneza, além
de fazer referência às aventuras de seus habitantes pelo mar Mediterrâneo.

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Figura 6 – Basílica de São Marcos (Veneza, Itália)

Crédito: Catarina Belova/Shutterstock.

Na Idade Moderna, surgiu e foi desenvolvida uma grande diversidade de


materiais e equipamentos, assim como novos hábitos para o cotidiano. Uma
amostra disso foi a introdução das primeiras máquinas hidráulicas na indústria
têxtil. A exploração industrial de matérias-primas como carvão mineral e
minério de ferro possibilitou a fabricação de produtos como aço, sabão,
pólvora, objetos de cobre, açúcar, cerveja, estanho, papel e latão, favorecendo
o estabelecimento de novas indústrias e a aplicação de novos métodos e
recursos construtivos. É importante relembrar que é nesse momento que a
profissão de arquiteto foi dividida em duas frentes: engenheiros e construtores.
Todas essas novidades tiveram impacto na arquitetura. Uma referência
disso é o Palácio de Cristal, em Madri (Espanha), composto por uma estrutura
leve e esbelta em aço e vidro, materiais novos na época (Figura 7). Além do
próprio edifício, a preocupação com a paisagem do entorno é notável. Na parte
frente à estrutura, por exemplo, há um lago artificial compondo o cenário – que
era público. Diferentemente da Idade Média, esses espaços existiam não
somente para a fruição da população, mas, principalmente para ostentar o
poder proveniente da riqueza das indústrias dessa nova classe social: a

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burguesia. Hoje, o palácio faz parte do Museu Reina Sofia, e abriga exposições
de arte contemporânea.

Figura 7 – Palácio de Cristal no inverno (Madri, Espanha)

Crédito: Ahau1969/Shutterstock.

Entretanto, a maior e mais importante descoberta para a construção


naquele período foi o concreto armado: uma estrutura composta por armações
de barras de aço que permite ser moldada de múltiplas maneiras e em
diferentes formatos, expandindo as variações do projeto arquitetônico. Esse
material possibilitou que os edifícios tivessem alturas maiores, o que foi
viabilizado pela criação (e uso) do elevador. Com o concreto armado foi
possível expressar nitidamente os princípios do movimento moderno: priorizar
traços simples, geométricos, liberto de ornamentações, como podemos
observar no projeto Unité d’Habitation, de Le Corbusier, em Marseille (França)
(Figura 8).

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Figura 8 – Unité d’Habitation (Marseille, França)

Crédito: Bildarchiv Monheim GmbH/Alamy/Fotoarena.

No Brasil, o concreto armado e os princípios modernistas estão visíveis


em várias obras. Uma delas é o Museu de Arte de São Paulo Assis
Chateaubriand (MASP), projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi.
Esse recurso estrutural possibilitou à arquiteta apresentar 74 metros de vão
livre em sistema de pórtico, com fachada envidraçada (Figura 9). A dificuldade
imposta na época da execução (no ano de 1947), foi confeccionar o concreto
de alta resistência e com boa maleabilidade para trabalhar as formas.

Saiba mais
Para conhecer mais a história da Lina, assista ao vídeo “Especial – 100
anos de Lina Bo Bardi” (disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=z2mkutMCx3M&t=205s>.)

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Figura 9 – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, MASP

Crédito: XM4THX/Shutterstock.

Um material usado pioneiramente nesse período foi a madeira laminada


colada (MLC), formada, como o próprio nome diz, por tábuas tratadas coladas.
A MLC pode ser produzida em formas curvas e com uma variedade de
características e aparência que permite atingir diferentes resultados. Os
encaixes são normalmente feitos com chapas e buchas de aço ou parafusos. É
considerada uma estratégia ecológica para substituir o concreto e o aço, pois
gasta pouca energia em sua produção. Alguns estudos relatam que a MLC foi
aplicada pela primeira vez na América do Norte, em 1934, pelo arquiteto e
engenheiro alemão Max Hanisch, durante a construção de um ginásio escolar
em Peshtigo, Wisconsin.

Saiba mais
Visualize a construção em: <https://foresthistory.org/october-15-1934-
glued-laminated-timber-comes-to-america/>. Acesso em: 6 dez. 2021.

Outra inovação da época foi o poliestireno expandido (EPS), também


conhecido como isopor. Foi descoberto na Alemanha, em 1934, pelos químicos
Fritz Stasny e Karl Buchholz. O EPS começou a ser utilizado nos Estados

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Unidos em barcos, durante a Segunda Guerra Mundial. Sua aplicação foi
ampliada e hoje tem diversas finalidades como na construção civil, na
automobilística, em embalagens, entre outros. O isopor pode ainda ser utilizado
como isolante térmico e acústico.

Figura 10 – EPS na construção civil

Crédito: DUO Studio/Shutterstock.

TEMA 2 – OS DIFERENTES MATERIAIS CONSTRUTIVOS AO LONGO DA


HISTÓRIA (PARTE 2)

Diante da gama de materiais apresentados aqui, hoje, os recursos


tradicionais recebem tratamento e aplicação mais práticas, como wood frame,
light steel frame, estruturas pré-moldadas, containers, drywall, além das
construções feitas com o uso de impressoras 3D.
O wood frame é um sistema construtivo popular no sul do Brasil e nos
Estados Unidos. Essas construções utilizam estruturas de madeira como base.
A técnica utiliza madeira maciça preenchida com painéis de fechamento em
oriented strand board (OSB), ou seja, painéis com tiras orientadas de madeira,
que dão forma às edificações (Figura 11).

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Figura 11 – Casa e wood frame

Crédito: FOTOGRIN/Shutterstock.

O light steel frame é muito semelhante ao sistema wood frame, mas em


vez de perfis de madeira, são usadas peças de aço galvanizado. A vedação
das paredes normalmente é feita com painéis de placas cimentícias, drywall ou
madeira (Figura 12).

Figura 12 – Light steel frame

Crédito: ANTONY KEETTHAWEE/Shutterstock.

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Na lógica das construções mais eficientes, o sistema pré-moldado
funciona como um brinquedo de encaixe, pois as estruturas são fabricadas com
as medidas necessárias, então levadas ao local e montadas de acordo com o
projeto (Figura 13). As peças são de concreto armado, com instalações
elétricas e hidráulicas embutidas.

Figura 13 – Galpão com estrutura de concreto pré-moldado

Crédito: Brookince/Shutterstock.

A construção a seco ou drywall utiliza paredes criadas para substituir a


alvenaria tradicional, mas em alguns países, como os Estados Unidos, casas
inteiras são construídas com esse material (Figura 14). Ele é estruturado por
perfis de aço galvanizado e composto por placas de gesso, as quais podem ter
outras camadas internas de poliestireno (isopor), madeira ou outros. As
paredes de drywall permitem instalações elétricas e hidráulicas fáceis,
dispensando o uso de concreto e água.

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Figura 14 – Construção em drywall

Crédito: ja-images/Shutterstock.

Os containers não são materiais construtivos, mas são recursos que


estão dentro da concepção contemporânea de sustentabilidade e reciclagem,
que é o uso de recursos já existentes e que, normalmente, seriam descartados.
Containers são feitos com materiais de alta resistência, proporcionando curto
tempo de obra e redução de custos – aproximadamente 30% a menos do valor
de uma obra de alvenaria tradicional. Para o reaproveitamento de containers
usados para uso residencial, industrial ou comercial, é necessário avaliar as
condições e fazer reparos para evitar ferrugem, como a loja da Starbucks
construída com containers, em Hualien, Taiwan (Figura 15).

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Figura 15 – Loja da Starbucks construída com containers (Hualien, Taiwan)

Crédito: CYANGPIX/Shutterstock.

Consideramos que a impressão 3D uma das revoluções desse período,


oferecendo muitos benefícios econômicos e ambientais para o futuro da
habitação. A ICON é uma empresa do ramo da construção residencial com
sede em Austin (Estados Unidos). Em parceria com a Mobile Loaves & Fishes
(MLF), organização sem fins lucrativos da mesma cidade, inaugurou, em
setembro de 2020, uma vila para pessoas sem-teto chamada Community First!
Village. Cada residência tem 37 m²; são bem ventiladas e iluminadas. Há cinco
layouts diferentes, mas todos incluem quarto, banheiro, cozinha, sala e
varanda, sendo necessário menos de 48 horas para uma habitação ser
impressa (Figura 16).

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Figura 16 – Community First! Village (habitações criadas em impressora 3D)

Crédito: Forge Productions/Shutterstock.

Esse processo construtivo faz uso de recursos de robótica, manuseio


automatizado de materiais, softwares avançados e um concreto próprio,
chamado Lavacrete. Este material é preparado pelo sistema Magma (projetado
pela companhia), que mistura o Lavacrete a água e aditivos. A impressora –
Vulcan II – também foi desenvolvida pela ICON, torna o projeto realidade por
meio de controles intuitivos, monitoramento e suporte remotos, iluminação LED
integrada e um conjunto de software personalizado para a configuração,
operações e manutenção.

Para refletir
Ressaltamos ainda que os edifícios, materiais construtivos e tudo o que
aqui expomos, foi desenvolvido para atender pessoas e suprir uma demanda a
elas imposta. Por isso, propomos uma reflexão. Para isso, assista ao vídeo
“Why great architecture should tell a story” (disponível em:
https://www.ted.com/talks/ole_scheeren_why_great_architecture_should_tell_a
_story>. Acesso em: 6 dez. 2021).

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2.1 Aumentando o repertório

Realizaremos a seguir uma breve abordagem histórica dos materiais


construtivos. Como precisamos ser curiosos, que tal pesquisar um pouco mais
sobre as soluções que mais chamaram sua atenção?
Busque os sistemas construtivos de obras arquitetônicas de que você
mais gosta, e também o que era construído na mesma época no Brasil.

TEMA 3 – A BUSCA PELA ALTURA E PELOS GRANDES VÃOS

A busca pela altura e pelos grandes vãos na arquitetura tem um longo


caminho. Esse sempre foi um desafio para arquitetos, engenheiros e
construtores. Fazer um amplo espaço sem apoios, enfrentando a gravidade ou,
em alguns casos, querendo tocar o céu, está presente em vários exemplos na
arquitetura.
Na Figura 17 podemos ver a parte interna de uma pirâmide egípcia,
onde está o túmulo do faraó. O principal recurso estrutural é a pedra, com
altura total externa de 138,8 m nas medidas atuais.

Figura 17 – Parte interna de uma pirâmide, Egito

Crédito: Yezepchyk Oleksandr/Shutterstock.

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Na antiguidade clássica, Grécia e Roma não ficaram distantes do desejo
de conquistar o maior vão e altura possíveis com os recursos da época,
utilizando, principalmente, pedra. Um dos edifícios mais simbólicos e melhor
preservados da época, como mostramos, é o Panteão (em Roma, Itália), com
43,4 m de altura e diâmetro da parte central (Figura 18).

Figura 18 – Parte interna do Panteão, Roma

Crédito: D-VISIONS/Shutterstock.

Na Idade Média, o grande desejo de se conectar com Deus e


demonstrar poder, além da dimensão espiritual, são refletidos na ousadia na
altura das catedrais e castelos. A Figura 19 mostra a parte interna da Catedral
de Notre Dame, em Paris (França), com 35 m de altura interna, possibilitada
pela estrutura em abóbodas de pedra.

Figura 19 – Parte interna da Catedral de Notre Dame (Paris, França)

Crédito: DiegoMariottiniQ/Shutterstock.
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A partir do século XIX, o aço permitiu soluções mais ousadas para atingir
tal objetivo, principalmente com o concreto armado. Há inúmeros exemplos no
mundo e no Brasil. A Figura 20 retrata a parte interna da Catedral de Brasília,
com 30 m de altura, remetendo à mesma grandeza das igrejas e templos de
outras épocas.

Figura 20 – Parte interna da Catedral de Brasília (Brasil)

Crédito: Luan Rezende/Shutterstock.

Contemporaneamente, a busca pelo limite da altura e do vão livre dos


edifícios persiste, agora com maior refinamento do uso dos materiais e com
tecnologias avançadas da madeira e do aço. Abordaremos dois exemplos
interessantes: o primeiro, apresentado na Figura 21, é o Centro Pompidou, em
Metz (França), com 77 m de altura e estrutura em MLC.

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Figura 21 – Centro Pompidou, em Metz, França

Crédito: ANKOR LIGHT/Shutterstock.

O segundo exemplo (Figura 22) é o terminal de transportes World Trade


Center, em Nova Iorque (Estados Unidos), projetado por Santiago Calatrava,
inaugurado em 2016, com 42,6 m de altura e 29 m de largura. É nítido,
portanto, o aprimoramento do uso do aço e o desenvolvimento tecnológico que
permitiram a leveza estrutural da obra, o grande vão livre e uma versatilidade
maior do uso dos espaços.

Figura 22 – Terminal de transportes World Trade Center (Nova Iorque, Estados


Unidos)

Crédito: ANDERSPHOTO/Shutterstock.

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TEMA 4 – A EVOLUÇÃO DA TECNOLOGIA NOS SISTEMAS PREDIAIS

A evolução da tecnologia nas construções passou por vários processos,


(como vimos até aqui), mas a automação é um conceito importante para
entendermos como os sistemas prediais se adaptaram a ela. Podemos
considerar o elevador a primeira tecnologia predial. O primeiro foi construído
em Roma, no século I a.C. O sistema funcionava com um mecanismo de
transporte de carga vertical, formado por roldanas puxadas por força animal,
humana ou por água. Mais tarde, no século X, o moinho hidráulico para
produzir farinha foi utilizado em grande escala, automatizando o trabalho
humano.
No período da Revolução Industrial, a automação possibilitou a criação
de algumas máquinas, com o intuito de aprimorar a qualidade dos produtos,
diminuir falhas e reduzir o tempo de produção. As máquinas substituíram o
trabalho humano, principalmente em funções repetitivas características dos
processos industriais, assim como no transporte. Inicialmente, foram utilizadas
as energias hidráulica e a vapor. Ainda nesse período, foram desenvolvidas as
primeiras máquinas movidas a energia elétrica. Uma delas foi o elevador
elétrico para passageiros (em torno de 1870). Não há definição quanto ao autor
da invenção (Figura 23).

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Figura 23 – Elevador elétrico Edoux (ilustração original da Enciclopédia
industrial E.-O. Lami, 1875)

Crédito: Morphart Creation/Shutterstock.

Os edifícios com grandes alturas possibilitadas pelo concreto armado,


ganharam mais funcionalidade com a instalação de elevadores seguros para
passageiros. O primeiro arranha-céus de São Paulo foi o Edifício Sampaio
Moreira (Figura 24), construído em 1924, com 12 andares e 50 metros de
altura, com elevadores suecos.

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Figura 24 – Edifício Sampaio Moreira, em São Paulo

Crédito: Alf Ribeiro/Shutterstock.

Posteriormente, em 1947, o controle da passagem elétrica por


dispositivos eletrônicos impulsionou o desenvolvimento da automação. Um
exemplo disso foram os primeiros computadores industriais. Nos anos 1960,
surgiram os primeiros robôs com sistemas de microprocessamento construídos
com tecnologias mecânicas e elétricas.
Passando por todos os outros refinamentos da robótica e da informática,
entre outros, a automação é caracterizada por qualquer sistema que utilize a
tecnologia para substituir a mão de obra humana para aumentar a qualidade, a
velocidade, a flexibilidade, o controle, o planejamento da produção e a
segurança dos funcionários. A automação foi utilizada, primeiramente, nas
indústrias automobilística e petroquímica, mas ao longo do tempo houve o
barateamento da tecnologia, e ela foi implantada em outras áreas da indústria,
além de no comércio, sistemas prediais e residenciais.

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A área da engenharia de Controle e Automação estuda projetos e
construção de equipamentos, além de algoritmos, que estimulem
automaticamente o comportamento de um objeto ou sistema. Dessa forma, o
funcionamento será automático, e sua resposta será definida pelo operador
humano, limitada por um conjunto de comportamentos admissíveis.
Por isso, as possibilidades automatizadas e sistemas integrados estão
cada vez mais presentes em nossas construções e residências. Desse modo,
pode ser chamado domótica ou casas inteligentes (smart houses). Esses
sistemas são aliados à capacidade de executar funções mediante comandos
humanos para cada um dos itens programáveis, como a possibilidade de
trancar e destrancar a casa, controlar a temperatura do ar-condicionado, abrir
ou fechar cortinas, entre tantas outras opções. Muitas vezes, esses recursos
podem ser ativados por celulares ou tablets.

Figura 25 – Automação residencial

Crédito: STANISIC VLADIMIR/Shutterstock.

Contemporaneamente, tais recursos também são compreendidos como


uma saída para o uso excessivo de energias não renováveis. Em diversos
países do mundo e no Brasil, novas tecnologias têm sido desenvolvidas e
aprimoradas para sustentar e aumentar os padrões de conectividade já
consolidados. Por outro lado, os preços desses produtos ainda são altos, a
infraestrutura de rede não é suficiente, e há falta de profissionais
especializados para que o mercado de casas sustentáveis e inteligentes se
expanda.

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A tendência é que esse cenário melhore no futuro próximo, pois
estudiosos acreditam que as pessoas vão adquirir a automatização das
residências como uma necessidade, podendo ser projetadas tanto para quem
apresenta alguma dificuldade física (como de locomoção), ou por questões de
conforto, estética ou economia.

TEMA 5 – A TECNOLOGIA NO URBANISMO E PAISAGISMO

Assim como nas construções arquitetônicas, a tecnologia influenciou nas


atuações de urbanismo e de paisagismo, principalmente quando falamos em
automação e conectividade de dados, pois permitem controle e planejamento
integrados. São muitos exemplos, e selecionamos alguns.
Entre os recursos mais comuns estão os de mapeamento em
dispositivos móveis, como Waze e Uber, que coletam e enviam dados em
tempo real, melhorando consideravelmente a mobilidade urbana dos seus
usuários. Na cidade de Seattle (Estados Unidos), que apresenta muitos
declives acentuados e ruas com cruzamento, a Universidade de Washington
desenvolveu um aplicativo que permite aos pedestres mapearem e
personalizarem rotas mais acessíveis.

Figura 26 – Aplicativo Uber

Crédito: Structuresxx/Shutterstock.

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Esses recursos mudaram completamente nossa percepção de
deslocamento dentro das cidades – assim como o rastreio e registro de todas
as nossas atividades. Por um lado, são entendidos como sistemas que
trabalham em prol da segurança e conforto; por outro, são ferramentas de
controle e vigilância.
No paisagismo, há recursos de automatização de irrigação, iluminação
entre outros, para a vegetação jardins, parques e de produtores. Uma busca
conjunta do urbanismo e do paisagismo está nas hortas comunitárias,
implantadas em espaços planejados, terraços de edifícios ou em áreas
subutilizadas das cidades, que são apropriados e então cultivados e cuidados
para produzir alimento para pessoas que moram na região.

Saiba mais
A horta comunitária Value Farm, na China, foi estabelecida em uma área
onde há uma antiga fábrica desativada. O projeto apresenta recursos de
irrigação automatizada, economia de energia e dispositivos de esverdeamento
vertical. Cria uma paisagem como um oásis verde em oposição ao caos
urbano, reconectando os moradores da cidade com a natureza e com a
experiência prática do cultivo de safras. A agricultura urbana oferece
suprimento de alimentos mais sustentável, seguro e acessível, apontando para
uma mudança do microclima, e respondendo concretamente ao imperativo
ecológico contemporâneo (disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/600615/value-farm-thomas-chung>. Acesso
em: 6 dez. 2021).

É interessante ressaltar que há urgência e um grande desafio na


atualidade em compatibilizar os conjuntos naturais com os conjuntos
construídos na gestão das cidades. Demoramos a perceber nossa necessidade
primordial de contato com a natureza, e devemos buscar a garantia da
preservação das áreas naturais nas cidades, onde há acesso a recursos
naturais, como água, alimentos e outras matérias-primas.
Com base em dados da ONU, as cidades representam a ocupação de
3% da superfície terrestre. Por outro lado, são responsáveis pelo consumo de
60% a 80% de energia, e geram 75% das emissões de carbono. Os espaços
verdes são considerados fundamentais para a busca de cidades e paisagens
sustentáveis, a qual constitui o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 –

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Cidades e Comunidades Sustentáveis, da ONU, que pretende oferecer, até
2030, acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e
verdes, com prioridade para mulheres e crianças, pessoas idosas e com
deficiência.
Acreditamos que o aumento da necessidade de retomar espaços com
áreas verdes é um grande avanço para esse setor de atuação, em
contrapartida ao estresse urbano.

Figura 27 – Estresse urbano

Crédito: DENISPRODUCTION/Shutterstock.

O aplicativo Hush City ajuda seus usuários a encontrarem lugares


tranquilos na cidade. Foi lançado em 2017 pela arquiteta Antonella Radicchi. A
ferramenta mapeia a paisagem sonora urbana e, de forma colaborativa, as
pessoas registram esses locais e compartilham sua localização, reunindo os
dados para indicar os endereços mais silenciosos ou relaxantes. Os usuários
também podem registrar os pontos mais desagradáveis da cidade, como um
alerta para que sejam evitados. É muito utilizado na Europa, e o serviço está
disponível no Brasil.
Desse modo, devemos compreender a função elementar do
planejamento das cidades e da paisagem em prol da sustentabilidade, saúde
pública e resiliência urbana, principalmente se considerarmos todos os

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recursos tecnológicos e estudos científicos disponíveis para implementar
estratégias para atingir tais objetivos e atender às nossas necessidades.

5.1 Desafio: pesquisando

Preparado para praticar o que foi aprendido na aula?


Como vimos, a história nos revela muitos aspectos interessantes do
desenvolvimento construtivo. Neste exercício, propomos olhar para nosso
entorno. Quais são os principais itens de seu cotidiano que você reconhece
que poderiam ter algum avanço tecnológico, seja em sua casa, seja em sua
cidade?

TROCANDO IDEIAS

Após a aula, compartilhe suas ideias com os colegas no fórum. Comente


e observe as percepções dos colegas. O fórum é um local para interagir e
trocar ideias sobre os exercícios e o curso.
Compartilhem suas experiências e dúvidas. Você verá que todos
possuem desafios em comum. Não se compare aos outros, pois todos temos
processos diferentes de aprendizagem.

NA PRÁTICA

Propomos, aqui, um exercício com diferentes soluções possíveis. Pense


em como uma tecnologia que você conheceu pode ajudar outras pessoas em
suas residências ou cidades, com adaptações.
Você deverá imaginar que é o arquiteto responsável por propor uma
solução. Pesquise alternativas que já existem e, se não existirem, crie a sua.
Deixe a imaginação fluir nas possibilidades de resolução e procure saber como
elas funcionam em outros locais para você adaptar a sua ideia.
Bom trabalho!

FINALIZANDO

Após ter assistido a essa aula com atenção, e de ter feito as reflexões
propostas, acreditamos que você estará pronto para aprofundar seus
conhecimentos de arquitetura. Continue estudando e pensando sobre esses
exercícios ao longo do curso.
29
Posteriormente, você perceberá o quanto a arquitetura pode ajudar a
sociedade em todas as escalas, trazendo resultados mais satisfatórios.
Não deixe de pesquisar e observar o que acontece no Brasil e no
mundo.

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REFERÊNCIAS

BENEVOLO, L. A história da cidade. São Paulo: Perspectiva, 2019.

CHING, F. D. K.; ONOUYE, B. S.; ZUBERBUHLE, D. Sistemas estruturais


ilustrados: padrões, sistemas e projeto. Porto Alegre: Bookman, 2015.

COLE, E. The Grammar of Architecture. New York: Barnes & Noble, 2005.

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