Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
358799299-CARVALHO-Jose-Murilo-de-a-Formacao-Das-Almas-O-Imaginario-Da-Republica-No-Brasil
358799299-CARVALHO-Jose-Murilo-de-a-Formacao-Das-Almas-O-Imaginario-Da-Republica-No-Brasil
O autor reafirma o que já havia constatado em “estudo anterior”, não houve participação
popular na implantação da República. Neste momento no novo regime três correntes
ideológicas fortemente influenciadas pela Revolução Francesa concorrem na implantação de
seu modelo de governo. São elas, o liberalismo, o jacobismo e o positivismo, tendo se
destacado por volta da “virada do século”, o liberalismo. O jacobismo idealizava uma
democracia clássica, o positivismo vislumbrava um futuro promissor proporcionado pela
República para os cidadãos. E doutrina do liberalismo, um mínimo de envolvimento do Estado
na vida dos cidadãos, cidadãos estes, politicamente autônomos. Essas ideologias serão
manifestadas através de alegorias, mitos e símbolos, com o intuito de promover a legitimação
do regime vigente, a saber, a República. O autor se propõe a “discutir mais a fundo o conteúdo
de alguns dos principais símbolos utilizados pelos republicanos brasileiros, e na medida do
possível, avaliar sua aceitação ou não pelo público a que se destinava, isto é sua eficácia em
promover a legitimação do novo regime” (pp. 13).
As duas Liberdades
[...] “a separação dos poderes como garantia de liberdade, a duplicidade do Legislativo como
instrumento de absorção das tendências separatistas e a força dada à Suprema Corte como
elemento de equilíbrio foram inovações institucionais responsáveis, em boa parte, pela
durabilidade do sistema americano” [...] (pp.19).
A opção Republicana
A Cidadania e a Estadania
Entre os que buscavam a República como alternativa à Monarquia, grande parte estava ligada
ao Estado por motivos pessoais como, por exemplo, trabalho, evidentemente, para essa
parcela da sociedade o Estado era como um salvador. Mesmo quando se envolviam na política,
o faziam por intermédio do Estado, sendo assim, sua atuação política não poderia ser
considerada aquisição dos direitos de cidadão, ao invés disso “era uma inserção que se
chamaria com maior precisão de estadania”. Havia um debate entre os intelectuais
principalmente entre os republicanos, da relação entre o público e o privado, entre a república
antiga e a moderna.
[...] “Para que funcionasse a república antiga, para que os cidadãos aceitassem a liberdade
política em troca da liberdade individual; para que funcionasse a república moderna, para que
os cidadãos renunciassem em boa parte à influência sobre negócios públicos em favor da
liberdade individual – para isso, talvez fosse necessária a existência anterior de sentimento de
comunidade, de identidade coletiva” [...] (pp. 32).
Os simpatizantes de Deodoro eram os oficiais que lutaram na guerra do Paraguai. A visão que
eles tinham da proclamação era obra dos militares sob o comando de Deodoro, portanto sem
nenhuma atuação civil.
Benjamin Constant
“Em sua forma pura, a vertente ligada a Benjamin Constant ficou restrita às propostas dos
ortodoxos e não encontrou aplicação prática. Mas contribuiu para várias medidas dos
primeiros anos da República, sobretudo a separação da Igreja e Estado, a introdução do
casamento civil, a secularização dos cemitérios, o início do contato com o operariado, a
reforma do ensino militar” (pp. 42).
Quintino Bocaiuva
Para legitimação de qualquer regime político, são criados os heróis. Esses heróis não são
inventados inconsequentemente, são planejados para suprir a necessidade de uma sociedade
em especial. Essa necessidade foi alimentada pela figura de Tiradentes, apesar de haverem
poucos documentos que detalhem sua história. Mas há registros da comoção popular no
evento que culminou em sua morte. Sua imagem conflitava com a do Imperador que o
condenou à morte por conta disso, por vezes ocorreram agitações políticas.
O funcionário do governo Joaquim Norberto descobriu documentos com informações que
julgou relevante registrar em sua obra História da Conjuração Mineira. Criou-se polêmica em
torno da declaração de Joaquim de um Tiradentes contrito, submisso a religião. Por um houve
grande esforço em refutar tais afirmações, porém chegou-se a conclusão de que poderia
identificá-lo com o próprio Cristo, o que facilitaria sua consagração como herói da
República.Tiradentes era cultuado e foi dedicado a sua memória o dia 21 de abril.
[...] “Na figura de Tiradentes todos podiam identificar-se, ele operava a unidade mística dos
cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um ideal, fosse ele a liberdade,
a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não dividia as
pessoas e a classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do passado nem do
futuro. Pelo contrário, ligava a república à independência e a projetava para o ideal de
crescente liberdade futura. A liberdade ainda que tardia” (pp. 68).
A mulher era uma forte figura representativa no civismo francês, era símbolo de liberdade, da
revolução e também da república, tal inspiração veio de Roma. O famoso quadro de Delacroix
imortalizou a imagem de uma mulher que representa ali, a liberdade.
[...] “O barrete frígio cobre-lhe os cabelos apanhados para cima. Na mão direita, outro símbolo
republicano, a bandeira tricolor, que tinha sido abandonada durante a Restauração [...] na mão
esquerda, um fuzil com baioneta calada. Destacam-se os seios, nus e agressivos, e o gesto
enérgico de comando em meio aos mortos e feridos das barricadas de Paris. Sem dúvida
alguma ela canta Marselhesa” (pp. 76).
“Mais do que a batalha da bandeira, a do hino nacional significou uma vitória da tradição,
pode-se mesmo dizer uma vitória popular, talvez a única intervenção vitoriosa do povo na
implantação do novo regime”. Até aquele momento nos movimentos da República, era
cantado a Marselhesa, pois não havia um hino brasileiro que transmitisse o espírito
republicano. Silva Jardim tentara encontrar uma letra para adapta-la à música da Marselhesa.
O espírito de Rouget de Lisle, em uma sessão espírita ditou uma versão brasileira da letra e
música. Em manifestação no dia 15 de janeiro de 1890, o hino improvisado foi tocado, mas não
causou nenhum impacto. No meio da apresentação, pediram que o antigo hino de Francisco
Manuel da Silva, o que causou profunda comoção popular, naquele momento seria aprovado
como hino nacional brasileiro. Quando a cerimônia acabou a população acompanhou as
bandas que saíram tocando pelas ruas. Um concerto gigantesco foi preparado por um músico
americano, Gottschalk. Seiscentos e cinquenta músicos participaram do evento, o pianista
Gottschalk, morreu logo depois, mas um “meteoro musical” “cruzou o Rio, deixando no rastro,
entre outras lembranças, a consagração erudita do hino de Francisco Manuel da Silva”.
Manipuladores de Símbolos
A “doutrina comtista e a visão estratégica dos ortodoxos” daria aos positivistas uma
característica marcante na história brasileira, seu poder de manipulação dos sentidos.
Manipulação que se deu principalmente através de símbolos. Eles se fizeram valer da palavra
escrita, quando se tratava da elite letrada, mas também se apropriaram das imagens, rituais,
etc., quando interagiam com os analfabetos, incultos, dentre eles, proletários e mulheres.
Conclusão