Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Disciplina: Psicopatologia I
Autores: Bernardo Peressoni Luz e
Luiz Henrique Toresan
Resumo
Introdução
O presente artigo visa abordar uma temática cada vez mais presente na
construção acadêmica de psicologia, inflada por constantes mudanças na elaboração
de uma psicologia que reafirma seu compromisso ético e teórico: a discussão relativa
ao Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e, nesse caso
especificamente, abordando com mais ênfase a homossexualidade.
Os principais instrumentos utilizados para o psicopatodiagnóstico - ou que
influenciaram a criação de outros manuais de psiquiatria, em um âmbito geral são o
DSM e o CID (organizados pela OMS), desde suas respectivas criações (Laurenti,
1984; Dunker & Neto, 2010; Garcia & Mattos, 2020). Sendo assim, buscaremos
discutir a influência social e científica desses manuais e seus posicionamentos frente
o diagnóstico da homossexualidade como um transtorno mental.
Para fins de elucidação teórica, entendemos a homossexualidade como
referente à atração exclusiva a pessoas do mesmo sexo (homo = mesmo), embora
possa-se extender os dados aqui apresentados a pessoas bissexuais. A primeira
aplicação desta palavra data o ano de 1869, escrita em uma carta para o Ministério
da Justiça da Alemanha. Carta esta redigida por uma médica húngara que defendia
o fim das perseguições e agressões aos então chamados homossexuais (Carolina,
2018).
Adentraremos a discussão sobre homossexualidade como patologia, refletindo
sobre o impacto de sua categorização como um transtorno mental, visto que o papel
da psiquiatria na enraização da homofobia foi relevante. Buscaremos, também,
entender melhor quais são os impactos psicológicos da patologização e discriminação
da homossexualidade no sujeito, ampliando nossa discussão. Este presente texto se
mostra relevante ao ponto em que aponta o papel das próprias instituições de saúde
(como a OMS) na deterioração da qualidade de vida de uma população já vulnerável.
Homossexualidade como psicopatologia
Homofobia e psicopatologias
Considerações Finais
Nas últimas décadas, por conta de um amplo movimento global da luta LGBT+,
do desenvolvimento social dos países, e da recém batalha pelos Direitos Humanos,
a homossexualidade deixou de ser crime em diversos países ao redor do mundo
(Pretes & Vianna, 2008). Esse processo ainda é recente e dinâmico. A Índia, segundo
maior país do mundo, descriminalizou a homossexualidade apenas em 2018 (G1,
2018). Embora seja um movimento de grande impacto, o recente relatório da
Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (IGLA)
(Mendos, 2019) aponta que em 68 dos 193 Estados reconhecidos pela ONU a
homossexualidade ainda é ilegal, o que corresponde a 35% do mundo. Desses, 12
aplicam a punição de morte a relações homossexuais.
O casamento homoafetivo foi legalizado em alguns países e as concepções de
família sofreram alterações (Meyer, 2003). Hoje, o casamento gay é legal em apenas
27 países, o que corresponde a 14% do mundo (Mendos, 2019). Esse número é igual
para as adoções por casais homoafetivos. No Brasil, a Resolução nº 175 do Conselho
Nacional de Justiça, de 14 de maio de 2013, garantiu a realização de casamento civil
ou de união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo. Essa resolução é
considerada um marco histórico na luta por direitos igualitários das pessoas
homossexuais (Carolina, 2018).
Com uma história pintada com sangue, a luta homossexual cresce cada vez
mais no mundo. Essa batalha é fundamental na garantia de direitos humanos e na
reformulação mundial do que é a homossexualidade (Toniette, 2006). Aliado ao
movimento, pode-se ressaltar a importância de uma formação crítica e ética dos
profissionais da saúde, participando ativamente no movimento de despatologização
e reconstrução da homossexualidade na ciência (Carneiro, 2015; Aragusuku & Lara,
2019). A psicologia se insere nessa problemática de forma fundamental, ao passo
que deve impedir uma atuação profissional que reforce a homofobia. Deve também
endereçar uma prática humanizadora ao lidar com questões específicas do sofrimento
homossexual, como a recém formulada Terapia Afirmativa, criada por Alan Malyon
em 1982 (Borges, 2009).
Faz-se necessário uma ciência psicológica que reduza os efeitos do Estresse
de Minoria, garantindo uma qualidade de vida mais digna a uma população tão
vulnerável social, física e psicologicamente. Ao lidar com questões específicas do
Estresse de Minoria, as ciências psicológica e psiquiátrica reduzem os tão altos
índices de transtornos psicológicos que assombram a comunidade homossexual.
Cardoso e Ferro (2012) pontuam a importância de políticas públicas de saúde
direcionadas à população homossexual. A discriminação tem impactos diretos na
saúde dos sujeitos. Sendo assim, uma atenção especial pública aos grupos
discriminados, atentando-se às características específicas de sofrimento de cada
grupo é essencial
Por fim, sugerimos um olhar crítico aos manuais normativos, como o CID e o
DSM, que ao longo de tantos anos contribuíram para o adoecimento dessa
população. É imprescindível a reformulação dos critérios de classificação de doenças
e transtornos mentais, visto que, com base exclusivamente estatística e social, podem
rotular, estereotipar, patologizar e violentar tantas populações. O campo da saúde
mental tem o dever ético e moral de reduzir o sofrimento psicológico dos seres-
humanos, garantindo uma melhor qualidade de vida aos indivíduos, e não o oposto.
Referências
Cardoso, M. R., & Ferro, L. F.. (2012). Saúde e população LGBT: demandas
e especificidades em questão. Psicologia: Ciência e Profissão, 32(3), 552-
563. https://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932012000300003
Choi, V. P., Lopes, E. dos S. S., Silva, I. de O. da, Camilo, J. T. da S., Silva,
L. F. da (Orgs.) (2019). Manual APA: Regras Gerais de Estilo e Formatação
de Trabalhos Acadêmicos (2a ed. rev). São Paulo: Biblioteca FECAP Paulo
Ernesto Tolle. Recuperado de http://biblioteca.fecap.br/wp-
content/uploads/2012/08/Manual-APA-2.ed_3.pdf
Cuesta, J. A., & Diez, M. G. (2006). Diversity and meaning of Palaeolithic
phallic male representations in Western Europe. Actas Urologicas Espana,
30(3), 254-267. https://doi.org/10.1016/s0210-4806(06)73438-6
Meyer, I. H. (2003). Prejudice, social stress, and mental health in lesbian, gay, and
bisexual populations: Conceptual issues and research evidence.
Psychological Bulletin, 129(5), 674–697. https://doi.org/10.1037/0033-
2909.129.5.674
Natarelli, T. R. P., Braga, I. F., Oliveira, W. A. de, & Silva, M. A. I. (2015). O impacto
da homofobia na saúde do adolescente. Escola Anna Nery, 19(4), 664-670.
https://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20150089
UOL. (2019, Novembro 25). Regime Fidel Castro: A Repressão Aos Homossexuais.
UOL Aventuras Na História. Recuperado de
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-a-
homofobia-no-regime-fidel-castro.phtml.