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Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais No Assentamento...
Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais No Assentamento...
Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais No Assentamento...
MOSSORÓ/RN
2022
FRANCISCA MARIA DO CARMO FREIRE MAURÍCIO
MOSSORÓ/RN
2022
FRANCISCA MARIA DOCARMO FREIRE MAURÍCIO
Banca examinadora
__________________________________________________________
Prof. Dr. Ramiro Gustavo Valera Camacho (orientador)
__________________________________________________________
Profa. Dra. Edna Maria Ferreira Chaves
__________________________________________________________
Prof. Dr. Lamarck do Nascimento Galdino da Rocha
A Deus por todas as bênçãos concedidas e pela oportunidade de realizar este sonho.
Obrigada Pai por tudo!
Aos meus pais por todo amor, incentivo e orações.
Ao meu amado esposo Wbaneis Borges, por todas as palavras de afirmação, amor,
incentivo e companheirismo de sempre.
Ao meu orientador, Ramiro Gustavo Valera Camacho e ao meu coorientador Diego Nathan
do Nascimento Souza, por todo o incentivo, orientações e dedicação a esta pesquisa.
À professora Cynthia de Albuquerque Cavalcanti, à professora Edna Maria Ferreira Chaves
e ao professor Lamarck Nascimento Galdino da Rocha pelas importantes contribuições dadas
a esta pesquisa.
Aos moradores do Assentamento Oziel Alves que gentilmente colaboraram com a
realização desta pesquisa.
À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e ao Programa de Pós-Graduação em
Ciências Naturais pela oportunidade de realização do mestrado.
Às minhas amigas Concebida Carvalho pelo apoio durante a realização das entrevistas e
Jérssica Araújo pelo apoio na elaboração da cartilha.
E a todos que contribuíram para a realização desta pesquisa.
RESUMO
Estudos etnobotânicos de plantas medicinais são cada vez mais importantes, uma vez que
possibilitam a identificação de espécies vegetais com potencial terapêutico, promovem o
conhecimento da flora local de determinada região, e contribuem para a conservação da
biodiversidade, além do resgate e valorização dos saberes tradicionais das populações. O
objetivo deste estudo foi realizar um levantamento etnobotânico sobre o conhecimento e
utilização de plantas medicinais por moradores do Assentamento Oziel Alves, zona rural de
Mossoró-RN, uma comunidade inserida no semiárido, que apresenta uma estrutura propícia
para o desenvolvimento deste estudo, uma vez que contém áreas nas quais há a ocorrência de
plantas com potencial medicinal, e este assentamento se encontra próximo ao Parque Nacional
da Furna Feia, uma importante unidade do conservação do bioma Caatinga. Participaram deste
estudo 78 residentes da comunidade. Para obtenção dos dados foram aplicadas as seguintes
estratégias: questionários socioeconômicos, entrevistas semiestruturadas, listas livres, turnês
guiadas e observação direta. Para identificação das espécies foram utilizadas bibliografias
especializadas e banco de dados on-line. Para as espécies citadas por cinco ou mais informantes
foi calculada a concordância de uso principal (CUP), concordância de uso principal corrigida
(CUPc) e valor de uso (VU). Neste estudo, foram citadas 51 espécies, distribuídas em 29
famílias e 41 gêneros. A família Lamiaceae foi a mais representativa. As espécies mais citadas
foram Cocos nucifera L., Anacardium occidentale L., Citrus x limon (L.) Osbeck, Aloe vera
(L.) Burm. f. e Malpighia glabra L. As espécies que obtiveram maior concordância de uso
principal corrigida (CUPc) foram Citrus x limon (L.) Osbeck e Malpighia glabra L. Com
relação ao valor de uso (VU), Cocos nucifera L., Anacardium occidentale L., Citrus x limon
(L.) Osbeck, Aloe vera (L.) Burm. f. e Malpighia glabra L. se destacaram. A parte da planta
mais utilizada pelos informantes é a folha e a forma de preparo mais citada foi o chá. Através
deste estudo foi possível conhecer a flora medicinal local do assentamento Oziel Alves, no qual
percebeu-se a presença de importantes espécies medicinais tanto nativas quanto exóticas com
uma variedade de indicações terapêuticas.
Palavras-chave: Conhecimento tradicional, Medicina popular, Semiárido, Rio Grande do
Norte.
ABSTRACT
Ethnobotanical studies of medicinal plants are increasingly important, because they are able to
identify plant species with therapeutic potential, to promote knowledge of the local flora of a
chosen region, and to contribute to the conservation of biodiversity, besides that to rescue and
to enrich the traditional knowledge of populations. The aim of this paper was to conduct an
ethnobotanical survey on the knowledge and use of medicinal plants by residents of the Oziel
Alves/Maisa Settlement, rural area of Mossoró-RN, a community inserted in the semiarid
region, which presents a favorable structure for the development of this study, since it contains
areas in which there is the occurrence of plants with medicinal potential, and this settlement
is close to Furna Feia National park, an important unit of the conservation of the Caatinga
biome. Seventy-eight community residents participated in this study. To obtain the data, the
following strategies were applied: socioeconomic questionnaires, semi-structured interviews,
free lists, guided tours and direct observation. ,Specialized bibliographies and online database
were used to identify the species. For the species mentioned by five or more informants, the
main use agreement (CUP), corrected main use agreement (CUPc) and use value (VU) were
calculated. In this study, 51 species were mentioned, distributed in 29 families and 41 genera.
The family Lamiaceae was the most representative. The most cited species were: Cocos
nucifera L., Anacardium occidentale L., Citrus x limon (L.) Osbeck, Aloe vera (L.) Burm. f.
and Malpighia glabra L. The highest species of agreement of corrected main use (CUPc) were:
Citrus x limon (L.) Osbeck e Malpighia glabra L. And about the use value (V U):, Cocos
nucifera L., Anacardium occidentale L., Citrus x limon (L.) Osbeck, Aloe vera (L.) Burm. f. e
Malpighia glabra L. were the most representative. The people interviewed said that the part of
the plant most used is the leaf and the most cited form of preparation was the tea. Through this
study it was possible to know the local medicinal flora of the Oziel Alves settlement, in which
it was noticed the presence of important medicinal species both native and exotic with a variety
of therapeutic indications.
Key words: Traditional Knowledge, Folk Medicine, Semiarid, Rio Grande do Norte State.
LISTA DE FIGURAS
Tabela 1. Plantas medicinais citadas pelos moradores do Assentamento Oziel Alves, Mossoró-
RN.............................................................................................................................................20
Tabela 2. Categorias de usos das espécies medicinais citadas pelos moradores do Assentamento
Oziel Alves, Mossoró-RN e suas respectivas classificações no que se refere a sinais e sintomas
e diagnóstico e doença de acordo com a Classificação Internacional da Atenção Primária
(CIAP-2/2009)..........................................................................................................................34
Gráfico 1. Partes das plantas utilizadas pelos moradores do Assentamento Oziel Alves,
Mossoró/RN, para a produção dos remédios caseiros................................................................32
Gráfico 2. Formas de preparo dos remédios caseiros feitas pelos informantes do Assentamento
Oziel Alves, Mossoró/RN..........................................................................................................33
Gráfico 3. Faixa etária dos informantes entrevistados do Assentamento Oziel Alves,
Mossoró/RN..............................................................................................................................42
2 OBJETIVOS .......................................................................................................................... 7
4 METODOLOGIA................................................................................................................ 13
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................17
5.1.1 Concordância de Uso Principal (CUP), concordância de uso principal corrigida (CUPc),
e Valor de Uso das espécies medicinais citadas pelos informantes...........................................38
APÊNDICES ........................................................................................................................... 59
ANEXOS ................................................................................................................................. 60
5
1 INTRODUÇÃO
A relação entre a espécie humana e os recursos vegetais ocorre desde a antiguidade. Nas
plantas, o homem encontrou importantes elementos para sua sobrevivência, utilizando-os para
a alimentação, para gerar energia, realizar construções e também na cura de muitas doenças
(FONSECA KRUEL et al., 2018) prática que se perdura até os dias atuais.
O conhecimento tradicional sobre as plantas construído ao longo do tempo apresenta um
grande valor, pois é fruto de importantes experiências e podem trazer contribuições para
diferentes áreas. Entretanto, a perda do conhecimento tradicional tem sido evidenciada em
distintas regiões do globo (CORROTO; MACÍA, 2021). Diferentes fatores têm contribuído ao
longo do tempo para este cenário, dentre eles pode-se citar os processos de modernização
(BENZ et al., 2000; MONTEIRO et al., 2006), mudanças socioculturais (HEDGES et al., 2020)
e os impactos causados ao ambiente pelas práticas voltadas para a expansão das terras agrícolas
bem como da pecuária (ASSEFA; HANS-RUDOLF, 2016).
Estudos na área da etnobotânica tem contribuído para evitar a perda do conhecimento
tradicional, evidenciando a importância destas pesquisas no âmbito cultural, uma vez que
proporcionam o resgate, registro e a valorização dos saberes tradicionais que as populações
apresentam, atuando assim como uma importante ferramenta na preservação destes
conhecimentos (VENDRUSCOLO; MENTZ, 2006; AGUIAR; BARROS, 2012; FREITAS et
al., 2012; FREITAS; COELHO, 2014).
especialmente na Caatinga, que se apresenta como um dos biomas mais ameaçados do país
(LEAL et al., 2003). Em alguns estados nordestinos como, por exemplo, o Rio Grande do Norte
estes estudos na área da etnobotânica são escassos (MOSCA; LOIOLA, 2009; FREITAS et al.,
2012), de acordo com Freitas et al. 2015, apenas 17 pesquisas haviam sido realizadas. Liporacci
et al. (2017) em uma revisão abordando especificamente trabalhos etnobotânicos desenvolvidos
em áreas da Caatinga e abrangendo apenas plantas medicinais e alimentícias, destacaram para
o Rio Grande do Norte o quantitativo de apenas sete estudos publicados nesta área.
Assim, acredita-se que a comunidade rural, alvo deste estudo, por conter um contato maior
com os recursos vegetais, apresenta importantes saberes sobre as plantas medicinais da região.
Além deste importante conhecimento sobre a flora, outros fatores contribuíram para a escolha
deste assentamento para desenvolvimento da presente pesquisa, como o fato dele está inserido
no semiárido e assim possibilitar a obtenção de informações sobre o potencial medicinal das
espécies da região, apresentar uma estrutura propícia para o desenvolvimento deste estudo, uma
vez que contém áreas nas quais há a ocorrência de plantas com aplicação medicinal, e também
pelo fato desta comunidade se encontrar próximo ao Parque Nacional da Furna Feia, uma
importante unidade de conservação do bioma Caatinga.
terapêuticas. Assim, estas áreas são consideradas como meios potencias para a conservação da
flora local (FLORENTINO et al., 2007; RAYOL; MIRANDA, 2019) e contribuem para a
manutenção do conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais.
A hipótese deste estudo é que há uma diversidade de espécies com potencial medicinal
presentes nos quintais e lotes da comunidade conhecidas e utilizadas pela população
investigada, podendo estes saberes serem influenciados por fatores socioeconômicos (gênero,
idade, escolaridade, renda) (ALBUQUERQUE et al., 2011; SILVA et al., 2011; ZANK;
HANAZAKI, 2012; LIN et al., 2021). Supõe-se também que este conhecimento prévio da flora
medicinal local poderá contribuir para identificação de espécies que necessitem de intervenção
através de medidas de conservação.
Através deste estudo buscamos responder as perguntas: quais são as plantas mencionadas
como medicinais presentes na área estudada? Como estas espécies são utilizadas na medicina
popular local? Há consenso entre os entrevistados quanto ao uso das espécies? Dentre os fatores
socioeconômicos, quais exercem maior influência no conhecimento sobre plantas medicinais?
Dentre as plantas medicinais da região, há espécies que necessitam de ações voltadas para a
conservação?
2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Realizar um levantamento etnobotânico sobre o conhecimento e utilização de plantas
medicinais por moradores do Assentamento Oziel Alves, zona rural de Mossoró-RN.
2.2 Específicos
Identificar as espécies medicinais presentes em quintais e lotes do Assentamento Oziel
Alves utilizadas pela população local;
Descrever a finalidade medicinal, as formas de uso e as partes das plantas utilizadas;
Identificar espécies medicinais prioritárias para conservação;
Avaliar a influência de fatores socioeconômicos sobre o conhecimento de plantas
medicinais.
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 Breve histórico da Etnobotânica
A etnobotânica é um ramo da etnobiologia que se fundamenta no estudo das inter-relações
existentes entre o homem e as plantas, em um sistema dinâmico envolvendo aspectos
8
O termo etnobotânica propriamente dito foi referido pela primeira vez por J. W.
Harshberger, em 1895 (ALBUQUERQUE, 2005). Apesar do termo etnobotânica ser
considerado novo, esta ciência é antiga em sua prática, conforme destaca Giraldi e Hanazaki
(2010), pois desde os tempos remotos o ser humano busca na natureza meios que facilitem sua
sobrevivência, que proporcionem melhorias nas condições de vida, o que contribui para um
amplo uso dos recursos naturais, especialmente das plantas com utilização aplicada desde a
alimentação à medicina popular.
são utilizados na cura de enfermidades, e todo esse conhecimento adquirido é repassado para o
meio científico (PATZLAFF; PEIXOTO, 2009).
Santos e Carvalho (2018) chamam a atenção para um problema que eles designam de
“extinção dos saberes tradicionais”, no qual vem notando-se que com o passar dos anos está
ocorrendo uma perda destes conhecimentos entre as gerações mais jovens.
10
A exemplo da escassez de estudos citada por Gutiérrez et al. (2010), tem-se o estado do
Rio Grande do Norte, onde os estudos sobre plantas medicinais ainda são incipientes
(PAULINO et al., 2011). Nesta temática destacam-se os trabalhos de Roque et al. (2010), os
quais identificaram as formas de utilização das plantas medicinais nativas da Caatinga em
Laginhas no município de Caicó; Morais (2011), cuja tese baseou-se na sistematização de
informações sobre o uso de espécies presentes em quintais da comunidade Abderramant em
Caraúbas; Paulino et al. (2012), que listaram e caracterizaram a utilização de plantas medicinais
no sítio Gois no município de Apodi; e Freitas et al. (2015), que realizaram um levantamento
das espécies medicinais presentes em quintais da comunidade de São João da Várzea
pertencente a cidade de Mossoró. Dessa forma, ampliar estes estudos para outras áreas do estado
11
é importante, uma vez que “as potencialidades de uso de plantas medicinais encontram-se longe
de estarem esgotadas” (MORAIS, 2011).
De acordo com Franco e Barros (2006), estudos etnobotânicos de plantas medicinais têm
merecido cada vez mais atenção, despertando o interesse da comunidade científica. Esta
relevância se deve ao fato de que através destas pesquisas é possível obter listas de espécies
vegetais utilizadas por populações tradicionais, contendo informações importantes sobre as
formas de uso dos recursos, que podem em muitos casos servirem para a descoberta de novos
fármacos (OLIVEIRA et al., 2009), além de contribuir para a preservação do conhecimento das
populações tradicionais e incentivar o desenvolvimento de políticas para a conservação das
espécies das regiões estudadas (MING, 2006).
A Caatinga abrange uma área territorial de 844.453 km2 (11% do território nacional),
estando presente nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão,
Pernambuco, Paraíba, Piauí, Sergipe e na porção norte de Minas Gerais. Uma característica
importante é que este bioma é exclusivo do Brasil, cuja diversidade biológica é restrita à região
Nordeste do país, entretanto, ainda é pouco protegido e apresenta apenas aproximadamente
7,5% de unidades de conservação, onde somente 1% é de proteção integral (MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, 2020).
Foram descritas 69 espécies nativas do bioma Caatinga, cuja maior parte das plantas registradas
foram as de utilidade medicinal (89,85%).
Em virtude deste amplo interesse nas plantas medicinais, autores de diferentes países têm
voltado a atenção para a necessidade de identificação de espécies de sua flora que necessitam
13
Direcionando estes estudos para a região Nordeste brasileira, Oliveira et al. (2007)
destacaram que os estudos voltados para a conservação de espécies medicinais da Caatinga
ainda eram escassos. Dentre os estudos desenvolvidos nos últimos anos abordando esta temática
em áreas da Caatinga, pode-se destacar o trabalho de Albuquerque et al. (2011), no qual estes
autores desenvolveram um estudo em uma comunidade indígena presente no estado de
Pernambuco. Esse trabalho, forneceu informações relevantes revelando as espécies medicinais
que necessitavam de práticas de conservação urgentes, podendo contribuir para tomada de
decisões da população para uma gestão mais sustentável de seus recursos vegetais.
4 METODOLOGIA
4.1 Localização e caracterização da área de estudo.
O estudo foi realizado no Assentamento Oziel Alves que fica localizado no pólo Maisa, na
zona rural, situado às margens da BR-304, que liga o Rio Grande do Norte ao Estado do Ceará,
ficando a cerca de 30 km de Mossoró (Figura 1) (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO
AGRÁRIO, 2007), cidade localizada na mesorregião Oeste do estado do Rio Grande do Norte,
14
entre Natal e Fortaleza que apresenta uma área territorial de 2.099,334 km², com uma densidade
demográfica de 123,76 hab/km² (IBGE, 2017).
O Assentamento Oziel Alves foi criado em 13/12/2001 por meio da reforma agrária e é
composto por uma área de 1.983,0429 ha, tendo sido planejado para comportar 132 famílias
(INCRA, 2017). Além das residências com os quintais (medindo 30 metros de largura por 50
metros de comprimento), os assentados possuem um lote de terra (com área de 9,98 ha) no qual
são desenvolvidas atividades agrícolas.
É importante destacar que apesar do projeto do assentamento ter sido planejado para abrigar
132 famílias, atualmente conta com o número de 260 famílias ao todo, pois ao longo dos anos
foram sendo construídas outras residências nos quintais das moradias, geralmente para os filhos
ou outros parentes dos titulares.
Os critérios de inclusão neste estudo foram: ser maior de idade, ser o (a) chefe de família
da residência e assinar o TCLE. Os critérios de exclusão por sua vez foram: não possuir plantas
medicinais no quintal de sua residência ou lote e não apresentar conhecimento sobre plantas
medicinais.
Também foram realizadas observação direta e turnês guiadas, estas consistem em visitas
aos quintais das residências juntamente com cada informante (ALBUQUERQUE et al., 2010).
Através destas turnês foi possível fotografar as espécies medicinais citadas pelos informantes
para posterior identificação.
Para a identificação das espécies medicinais encontradas, foram utilizadas bibliografias
especializadas bem como também a utilização de bancos de dados on-line como: Flora do Brasil
2020 (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/) e GBIF (https://www.gbif.org/species/search). Para
verificação das famílias botânicas de cada espécie utilizou-se o Angiosperm Phylogeny Group
(APG IV). Estas ferramentas também foram utilizadas por outros autores para esta finalidade
(CARVALHO, 2019; MAGALHÃES, 2020).
Para análise de prioridade de conservação, foram consideradas apenas as espécies
medicinais lenhosas nativas da Caatinga (RIBEIRO et al., 2013; SANTOS et al., 2017). Para
isto, foram analisados dados referentes ao uso local (Alto- citada por >75% dos informantes
locais; Moderadamente alto- citada 50-75%; Moderadamente baixo- citada 25-50%; Muito
baixo <25%) (RIBEIRO et al., 2013) e o Valor de Uso de cada espécie.
Para a obtenção de informações socioeconômicas da comunidade foi aplicado um
questionário (Anexo V).
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Plantas medicinais presentes em áreas do Assentamento Oziel Alves, usos
terapêuticos, partes utilizadas e forma de preparo dos remédios caseiros.
Foram citadas 51 espécies (das quais três foram identificadas apenas até o nível de gênero
e uma não foi identificada, uma vez que não foi possível realizar o registro fotográfico desta
planta) distribuídas em 29 famílias e 41 gêneros. Em trabalhos realizados no Rio Grande do
Norte, Freitas et al., (2012) e Freitas e Coelho (2014) encontraram nas comunidades estudadas
24 e 41 espécies medicinais, respectivamente. Neste estudo, além da identificação botânica,
foram descritas as indicações terapêuticas, partes da planta utilizadas e a forma de preparo dos
remédios caseiros mencionadas pelos participantes (Tabela 1). As indicações terapêuticas
foram classificadas em categorias de usos de acordo com os sistemas corporais relacionados,
18
Destas plantas 88% (45 de 51 espécies) estão presentes nos quintais das residências e 12%
(6 de 51 espécies) nos lotes. Tatagiba et al. (2019) também relataram que a maioria das espécies
medicinais utilizadas pela população estudada era proveniente dos quintais das residências,
onde eram cultivadas (42%). Dentre as espécies mencionadas, no que se refere a origem, 52%
(26 de 50 espécies) são cultivadas, 16% (8 de 50 espécies) naturalizadas e 32% (16 de 50
espécies) são nativas do Brasil.
A questão da distribuição geográfica desta família é um fator que pode explicar a sua
predominância no assentamento estudado, bem como também em outros trabalhos
etnobotânicos realizados em comunidades tradicionais, pois de acordo com Harley et al. (2004),
Lamiaceae é uma família cosmopolita e, portanto, apresenta uma ampla distribuição geográfica.
No Brasil, esta família apresenta ocorrência confirmada nas regiões Norte, Nordeste, Centro-
Oeste, Sudeste e Sul, abrangendo os domínios fitogeográficos da Amazônia, Caatinga, Cerrado,
Mata Atlântica, Pampa, Pantanal. As espécies desta família também apresentam diferentes
formas de vida como arbusto, árvore, erva, liana/volúvel/trepadeira, e subarbusto (FLORA DO
BRASIL, 2020) e muitos de seus representantes são tradicionalmente cultivados com
propósitos terapêuticos (SCHARDONG; CERVI, 2000).
antioxidante e antibacteriana da Mentha spicata L. (hortelã) que de acordo com estes autores,
no Brasil ela é uma das variedades de hortelã com maior cultivo, em virtude da importância
comercial atribuída ao seu óleo essencial, no qual seu composto majoritário é a carvona.
As espécies mais citadas foram Cocos nucifera L., Anacardium occidentale L., Citrus x
limon (L.) Osbeck, Aloe vera (L.) Burm. f. e Malpighia glabra L. Com exceção da Aloe vera,
as demais espécies além de medicinais também são frutíferas, apresentando um duplo benefício,
pois além da aplicação delas na medicina popular, também são utilizadas como fonte alimentar,
o que pode influenciar diretamente em sua predominância (FREITAS et al., 2012).
20
Tabela 1. Plantas medicinais citadas pelos moradores do Assentamento Oziel Alves, Mossoró-RN.
Família/Nome Nome Origem Indicação medicinal Parte Forma de Nº de
científico popular utilizada preparo do citações da
remédio espécie
caseiro
AMARANTHACEAE Dipirona Nativa Dor de cabeça. Folha Chá. 1
Alternanthera
brasiliana (L.) Kuntze
Dysphania Mastruz/ Naturalizada Inflamação, gripe, cicatrização, sarar alguma coisa por Folha, In natura, sumo, 19
ambrosioides (L.) Mentruz dentro, “enfermidade”, gastrite, vômito, empachamento, ramos, chá, lambedor,
Mosyakin & Clemants tuberculose, emendar/colar osso, bom para os ossos, febre, caule e folha associada
dor, pancada, dor de cabeça, verruga, espinha, germe, raiz a outras
problema no sangue, inflamação das articulações, substâncias A1
ferimento, arrancar catarro do peito.
Mangifera indica L. Mangueira Cultivada Diabetes, boa para digestão, mulher que tem inflamação, Fruto, In natura, óleo 7
inflamação do útero, ovário e trompas, asma, cansaço, óleo (látex),
desinflamar, corte, chikungunya, serve para todo tipo de (látex), vitamina, chá,
cirurgia (ajuda a sarar). folha e casca de molho.
casca
Myracrodruon Aroeira Nativa Inflamação, gastrite. Casca Coloca a casca 1
urundeuva Allemão. de molho.
21
Continuação da Tabela 1.
Spondias purpurea L. Seriguela Cultivada Gripe, aumenta a imunidade. Fruto In natura 1
ANNONACEAE Graviola Cultivada Pressão alta, diabetes, colesterol, combate ao câncer, Folha Chá, folha de 6
Annona muricata L. problema de intestino, prisão de ventre, mulher que tem molho.
inflamação.
Annona squamosa L. Pinha Cultivada Diabetes, escoliose, dor nos ossos, dor na coluna, todo tipo Fruto e In natura, 2
de dor, inflamação, sarar qualquer “enfermidade”. semente pó.
ARECACEAE Coqueiro Naturalizada Soro caseiro, desidratação, para hidratar, dor de barriga, dor Fruto, Água do coco, 57
Cocos nucifera L. no estômago, diarreia, disenteria, fastio, icterícia , folha Óleo extraído do
aumentar a glicose quando está baixa, mal-estar, bom para coco e chá.
os rins, fraqueza, bom para o intestino, vômito, bronquite,
dor, dor de ouvido, prisão de ventre, ferimento, ajuda na
cicatrização, caspa, queda de cabelo, “enfermidade”,
inflamação, inflamação e dor de garganta, gripe, tosse,
nariz entupido, inflamação da pele, tratar infecção, fungo
nas unhas, sapinho, bom para o cabelo e pele, corte,
queimadura.
ASPHODELACEAE Babosa Cultivada Inflamação, “enfermidade”, anti-inflamatório, câncer, Folha In natura (baba),
Aloe vera (L.) Burm. f. tumor, gripe, caspa, queda de cabelo, infecção no útero, xarope A2, chá, 40
problema de útero, queimadura, próstata, cicatrização, baba associada a
ferimento/ferida, corte, hemorroida, refluxo, gastrite, outras
coceira, germe, impingi, bom para o cabelo e pele, substâncias A3,
problema de rins, úlcera, dor no estômago. comprimido,
mel, lambedor,
garrafada, sumo,
creme.
22
Continuação da Tabela 1.
BURSERACEAE Imburana/ Nativa Dor de barriga, ferimento, problema de nariz, cartucho, Casca Chá, cozimento. 3
Commiphora umburana sinusite
leptophloeos (Mart.)
J.B.Gillett
Mamoeiro Naturalizada Constipação, intestino empanzinado e preso, digestão, Fruto, In natura, suco, 7
CARICACEAE bom para urina, gripe, diabetes, problemas de pulmão, leite chá, lambedor, leite
Carica papaya L. pressão, gordura/massa no sangue, comida que faz mal, (látex), (látex) puro.
empachamento, verminose, impinge, coceira e micose. flor,
folha e
semente
CONVOLVULACEAE Batata-de- Nativa Verme. “Batata” Pó (coloca na 1
Operculina macrocarpa purga (rizoma) comida).
(L.) Urb.
CRASSULACEAE Aranto Cultivada Combater o câncer, infecção, tratar ferimentos/ corte. Folha Machuca a folha e 3
Kalanchoe passa na região;
daigremontiana Raym.- folha triturada no
Hamet e Perrier liquidificador.
Kalanchoe pinnata Corama Naturalizada Ferimento, problemas de ovário, problemas de tumor, Folha Folha esquentada; 10
(Lam.) Pers. gripe, problemas de estômago, inflamação, pneumonia, lambedor; mel;
gastrite, pancada. suco; triturada no
liquidificador;
sumo.
FABACEAE Cumaru Nativa Sinusite, gripe, estalecido, problemas respiratórios. Casca Cozimento, chá, 3
Amburana cearensis casca de molho.
(Allemão) A. C. Sm
23
Continuação da Tabela 1.
Mentha spicata L. Hortelã Naturalizada Dor de cabeça, reduzir Alzheimer, AVC, febre, Folha Chá, lambedor. 21
meningite, derrame, problema de pressão, gripe, dor no
estômago, trombose, tuberculose, mal-estar, cansaço,
relaxante, serve pra vista, tosse, dor de ouvido, bom para
dormir, ramo.
Ocimum basilicum L. Manjericão Cultivada Dor no ouvido. Folha Chá. 1
Ocimum gratissimum Louro Naturalizada Comida que faz mal, dor no estômago, diarreia, vômito, Folha Chá. 7
L. dor de barriga.
Plectranthus Malva Cultivada Gripe, diminuir a tosse, problemas de ovário e útero, Folha Lambedor, 21
amboinicus (Lour.) comida que faz mal, garganta inflamada, combater e raiz sumo,
Spreng. alguns sintomas do covid, todo tipo de dor, estresse, chá, suco.
depressão, inflamação/anti-inflamatório, problemas no
estômago.
24
Continuação da Tabela 1.
Plectranthus barbatus Boldo/malva Cultivada Gripe, problemas intestinais, covid-19. Folha Chá, 2
Andrews santa Lambedor.
Plectranthus ornatus Boldo/ Cultivada Comida que faz mal, dor de barriga, pressão alta, dores Folha Chá, suco. 8
Codd anador intestinais, bom para o intestino, gastrite, problema de
próstata, febre, todo tipo de dor, dor de cabeça, azia, dor
no estômago.
Plectranthus sp. Anador/ Cultivada Dores de cabeça, febre, comida que faz mal, pressão alta, Folha Chá. 2
boldo gastrite, problema de próstata, dor no estômago.
MALPIGHIACEAE Acerola Cultivada Gripe, é muito bom para o sangue, dá sangue, anemia, Fruto In natura, suco, 37
Malpighia glabra L. covid-19, resfriado, bronquite, garganta inflamada, e folha mel, lambedor e
aumenta a imunidade. chá.
MORINGACEAE Moringa Cultivada Diabetes, reduzir o colesterol, pressão alta, dor no corpo, Folha e Chá. 7
Moringa oleifera Lam. câncer, chikungunya, dengue, todo tipo de dor, boa para semente
coluna, gastrite, úlcera.
Continuação da Tabela 1.
MYRTACEAE Goiabeira Naturalizada Dor de barriga, emagrecer, diarreia, pro estômago, dor Olho In natura, 29
Psidium guajava L. no estômago, disenteria, coceira, baixar o colesterol, (folhas chá, suco,
infecção/problema intestinal, fraqueza, controlar jovens) e cozimento,
intestino, comida que faz mal, queda de cabelo, gripe, fruto mingau (feito
desidratação. a partir do chá
e goma).
Corymbia citriodora
(Hook.) K.D.Hill & Eucalipto Febre. Folha Chá. 1
Cultivada
L.A.S.Johnson
OLACACEAE Ameixa Nativa Inflamação, gripe, cicatrizante, ferimentos, corte. Casca e Lambedor, 6
Ximenia americana L. entrecasca casca de
molho,
cozimento, pó.
PASSIFLORACEAE Maracujá Nativa Falta de sono/quando está ruim para dormir. Fruto Suco, 2
Passiflora edulis Sims vitamina.
Turnera subulata Sm. Xanana Nativa Dor nas urinas, rins. Raiz Chá. 1
Serve para os rins, pedra nos rins, inflamação nos rins, Folha Chá, raiz de 5
PHYLLANTHACEAE Quebra- dor nos rins e dor nas urinas. e raiz molho.
Nativa
Phyllanthus niruri L. pedra
POACEAE Capim Naturalizada Dor de cabeça, dor de barriga, enxaqueca, pressão, Folha Chá. 24
Cymbopogon santo gastrite, problemas no intestino, calmante, relaxante,
citratus (DC.) Stapf bom para o estômago e intestino, febre, nervosismo,
estresse, mal-estar, insônia.
RHAMNACEAE Juazeiro Nativa(endêmica) Caspa, gastrite. Casca, Cozimento e in 2
Ziziphus joazeiro Mart. fruto. natura.
RUBIACEAE Noni Cultivada Gripe. Fruto Mel. 1
Morinda citrifolia L.
RUTACEAE Limão Cultivada Gripe, disenteria, dor de barriga, garganta inflamada, Fruto Suco, 44
Citrus x limon (L.) covid 19, dor no intestino, infecção intestinal, e folha lambedor,
Osbeck problemas de estômago, emagrecimento, tosse, baixar mel, in natura,
colesterol, “limpar o sangue/ organismo”, ferimento, sumo, chá
gastrite, inchação, resfriado, sangue grosso, dor de (com alho e
26
Continuação da Tabela 1.
dente, diabetes, prisão de ventre, azia, câncer. vinagre de
maçã), chá,
com mel.
Citrus x aurantium L. Laranjeira Cultivada Ansiedade, resfriado, gripe, calmante, insônia, estômago, Folha Chá, 15
má digestão, gases, dor de cabeça. e fruto lambedor, in
natura, sumo,
suco.
Citrus sp. Tangerina Cultivada Gripe. Fruto Suco, chá. 1
Ruta graveolens L. Arruda Cultivada Dores de cabeça, dor, câncer, cólica menstrual, dor de Folha Chá, folha 6
ouvido, relaxamento. triturada, folha
com leite de
peito.
VIOLACEAE Papaconha Nativa Problemas pulmonares, tuberculose, pneumonia, sinusite Raiz Chá, lambedor. 2
Hybanthus e gripe.
calceolaria (L.) Oken
A1: Folha com leite, folha com vinho; A2: xarope feito da baba com mel de jandaíra e uísque; A3: baba misturada com mel de abelha; baba com água; a baba misturada
com mel de abelha e uva ou suco de uva; a baba com cerveja preta batida no liquidificador.
28
1 2 3 4 5
6 7 8 9 10
11 12 13 14 15
16 17 18 19 20
29
Continuação da Figura 2.
21- Ocimum gratissimum L.; 22- Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.; 23- Plectranthus barbatus
Andrews; 24- Plectranthus ornatus Codd; 25- Plectranthus sp.; 26- Punica granatum L.; 27- Malpighia
glabra L.; 28- Morus sp.; 29- Moringa oleifera Lam.; 30- Musa paradisiaca L.; 31- Psidium guajava
L.; 32- Corymbia citriodora (Hook.) K.D.Hill & L.A.S.Johnson; 33- Ximenia americana L.; 34-
Passiflora edulis Sims; 35- Turnera subulata Sm; 36- Phyllanthus niruri L.; 37- Cymbopogon citratus
(DC.) Stapf; 38- Morinda citrifolia L.; 39- Citrus x limon (L.) Osbeck; 40- Citrus x aurantium L.
21 22 23 24 25
26 27 28 29 30
31 32 33 34 35
36 37 38 39 40
30
Continuação da Figura 2.
41- Citrus sp.; 42-Ruta graveolens L.; 43- Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson; 44-
Hybanthus calceolaria (L.) Oken; 45- Zingiber officinale Roscoe.
41 42 43 44 45
As espécies medicinais dos quintais são as mais utilizadas. Espécies da mata são utilizadas
com menor frequência. Nos quintais há espécies que apresentam as mesmas indicações
terapêuticas que as plantas ocorrentes nos lotes. Neste estudo, espécies como a ameixa, juazeiro,
quixabeira e jurema-preta, encontradas apenas nos lotes, são indicadas para tratar enfermidades
como inflamação, gripe, ferimentos, caspa, gastrite e podem ser substituídas por outras plantas
como, por exemplo, o cajueiro e a babosa, que apresentam as mesmas indicações terapêuticas
e estão mais acessíveis pois podem ser encontradas nos próprios quintais das residências.
saberes, como a internet, televisão, universidade, cursos e a autoaprendizagem por meio das
experiências.
Com relação as indicações terapêuticas (830 citações no total), elas foram agrupadas em
categorias de sistemas corporais, e classificadas em sinais e sintomas e diagnóstico e doença de
acordo com a Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP-2/2009) (Tabela 2). As
categorias de usos que obtiveram maior número de citações foram as referentes ao aparelho
respiratório, aparelho digestivo e geral e inespecífico. Estas três categorias de usos também
foram citadas como predominantes por Magalhães et al. (2020), que relatam que no Nordeste
brasileiro, a população utiliza plantas medicinais para tratar aquelas enfermidades que
comumente afetam as comunidades. Chaves e Barros (2012) em estudo realizado na Área de
Proteção Ambiental da Serra da Ibiapaba no município de Cocal/PI, relataram que a maioria
das indicações de usos citadas pela população foram para tratar doenças dos sistemas
respiratório e digestório, e as indicações terapêuticas destas categorias apresentaram maior
consenso entre os informantes (0,66 e 0,65 respectivamente).
As partes utilizadas para o preparo dos remédios caseiros utilizados no combate das
doenças foram as folhas, ramos, os frutos, a casca, entrecasca, raízes, sementes, flores, caules,
rizomas, mangará e látex. Dentre as estruturas elencadas acima, a folha foi a mais
frequentemente citada (Gráfico 1). A folha também foi mencionada como a estrutura mais
utilizada pelas populações de assentamentos estudados por outros autores (CUNHA;
BORTOLOTTO, 2011; REGO et al., 2016; BRITO et al., 2017; LEANDRO et al., 2017;
SILVA et al., 2020), bem como também por outras comunidades rurais (BAPTISTEL et al.,
2014; FREITAS et al., 2015). Alguns fatores contribuem para o amplo uso destas estruturas
como, por exemplo, o fato delas serem mais acessíveis e realizarem fotossíntese de forma ativa,
apresentando assim importantes compostos bioativos provenientes de seu metabolismo
secundário (GHORBANI, 2005) que apresentam ação medicinal.
32
50%
45%
40% 45%
Porcentagem
35% 39%
30%
25%
20%
15%
10%
5% 10% 6%
0%
Folha Fruto Casca outros
Partes utilizadas
Na forma de preparo dos remédios caseiros houve uma diversidade no modo de prepará-
los. Foram citados: chá, in natura (fruto/folha), lambedor, suco, cozimento, parte utilizada
deixada de molho, óleo, mel, sumo, pó, vitamina, comprimido, garrafada, creme, xarope,
misturado apenas com mel, misturada com cerveja preta, misturada com mel e uva ou suco de
uva, mingau do chá com goma, com vinho, com água, com leite de peito, com leite, folha
machucada, triturado com água no liquidificador, banho de assento, folha esquentada e látex.
Dentre as formas de preparo, o chá e in natura foram as formas mais citadas (Gráfico 2).
Rego et al. (2016) também citaram essas duas formas de preparo como as mais frequentes
(56,9% e 11,8%, respectivamente), de semelhante modo Magalhães et al., (2020) também
relataram a predominância delas (47,6% e 15,6%). O preparo de chás são citações bastante
frequentes em trabalhos etnobotânicos de plantas medicinais (CUNHA; BORTOLOTTO, 2011;
COSTA; MARINHO, 2016; ARAÚJO et al., 2021).
O uso do chá é uma prática antiga e bastante difundida no mundo inteiro. De acordo com
Oliveira e Santos (2021) esta bebida é uma das substâncias mais populares e consumidas no
globo, que por sua vez apresenta como pontos que favorecem seu consumo a facilidade no
preparo e seus efeitos benéficos à saúde em virtude dos compostos bioativos ali presentes
(MAGALHÃES; SANTOS, 2021).
33
35%
30%
30%
25%
Porcentagem
20%
15% 18%
14%
10% 12%
5% 8%
6% 5% 3% 2% 2%
0%
Formas de preparo
Com estas análises foi possível perceber que a prática da medicina popular se mostra
presente na vida dos informantes, e os recursos vegetais apresentam-se como fontes importantes
de cuidados com a saúde da população.
34
Tabela 2. Categorias de usos das espécies medicinais citadas pelos moradores do Assentamento Oziel Alves, Mossoró-RN e suas respectivas
classificações no que se refere a sinais e sintomas e diagnóstico e doença de acordo com a Classificação Internacional da Atenção Primária (CIAP-
2/2009).
B- SANGUE, SISTEMA B04 (limpar o sangue-depurativo) B82 (anemia) (9). 11 Malpighia glabra L., Anacardium occidentale L., Citrus x limon
HEMATOPOIÉTICO, (1); (L.) Osbeck, Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin &
LINFÁTICO, BAÇO B29 (problema no sangue) (1) Clemants.
S – PELE S02 (coceira) (3); S74 (impinge) (2); 80 Cocos nucifera L., Mangifera indica L., Kalanchoe pinnata
S03 (verruga) (1); S75 (fungo nas (Lam.) Pers., Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin &
S05 (inchaço) (2); unhas/micose) (2); Clemants; Ximenia americana L., Anacardium occidentale L.,
S10 (furúnculo) (2); S86 (caspa) (6); Psidium guajava L., Aloe vera (L.) Burm. f., Kalanchoe
S13 (mordida de cascavel) (1); S88 (inflamação da pele) daigremontiana Raym.-Hamet e Perrier, Citrus x limon (L.)
S14 (queimaduras) (3); (1); Osbeck, Mimosa tenuiflora (Willd.) Poir., Ziziphus joazeiro
S18 (corte) (7); S96 (espinha) (1). Mart., Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett, Carica
S23 (queda de cabelo) (8); papaya L.,Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T. D.
S29 (ferimentos) (41) Penn.
35
Continuação da Tabela 2.
F - OLHO F29 (problemas de visão) (1) 1 Mentha spicata L.
H - OUVIDO H01 (dor de ouvido) (7) H82 (labirintite) (1) 9 Cocos nucifera L., Ocimum basilicum L., Ruta graveolens L.,
H02 (problemas de audição) (1) Mentha x piperita, Mentha spicata L.
L-SISTEMA L02 (dor na coluna) (1); L71 (câncer) (13); 24 Annona muricata L., Ruta graveolens L., Dysphania
L29 (dor nos ossos) (2); L76 (emendar osso) (3); ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants, Annona squamosa
MUSCULOESQUELÉTICO
L91(inflamação das articulações) L81 (pancada) (3); L., Moringa oleifera Lam., Anacardium occidentale L., Aloe
(1) L85 (escoliose) (1) vera (L.) Burm. f., Kalanchoe daigremontiana Raym.-Hamet e
Perrier, Citrus x limon (L.) Osbeck, Kalanchoe pinnata (Lam.)
Pers.
D-APARELHO DIGESTIVO D02 (dor no estômago) (10); D73 (disenteria/infecção) 134 Cocos nucifera L., Cymbopogon citratus (DC.) Stapf,
D03 (azia) (2); (17); Plectranthus barbatus Andrews, Plectranthus ornatus Codd,
D06 (dor de barriga) (39); D83 (sapinho/afta) (2); Plectranthus sp., Annona muricata L., Punica granatum L.,
D07 (indigestão) (6); D84 (refluxo) (1); Ocimum gratissimum L., Tamarindus indica L., Citrus x
D08 (gases) (1); D86 (úlcera) (3); aurantium L., Mangifera indica L., Kalanchoe pinnata (Lam.)
D09 (enjoo) (1); D87 (gastrite) (22); Pers., Dysphania ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants,
D10 (vômito) (3); D96 (verminose) (3); Mentha spicata L., Zingiber officinale Roscoe, Moringa
D11 (diarreia) (16); D99 (outras doenças do oleifera Lam., Anacardium occidentale L., Psidium guajava
D12 (prisão de ventre) (5); sistema digestivo) (32) L., Aloe vera (L.) Burm. f., Plectranthus amboinicus (Lour.)
D13 (icterícia) (1); Spreng., Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson,
D19 (dor de dente) (2) Citrus x limon (L.) Osbeck, Ziziphus joazeiro Mart.,
Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett, Carica papaya
L., Musa paradisiaca L., Operculina macrocarpa (L.) Urb.,
Myracrodruon urundeuva Allemão.
N-SISTEMA N01 (dor de cabeça) (36) N71 (meningite) (1); 39 Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Plectranthus ornatus Codd,
NEUROLÓGICO N89 (enxaqueca) (2) Plectranthus sp., Citrus x aurantium L., Alternanthera
brasiliana (L.) Kuntze, Ruta graveolens L., Dysphania
ambrosioides (L.) Mosyakin & Clemants, Mentha x piperita;
Mentha spicata L., Lippia alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton &
P. Wilson.
36
Continuação da Tabela 2.
R-APARELHO R05 (tosse) (10); R74 (resfriado, estalecido) 213 Cocos nucifera L., Plectranthus barbatus Andrews, Mentha x
RESPIRATÓRIO R07 (nariz entupido) (2); (8); R75 (sinusite) (5); R78 piperita, Mentha spicata L., Hybanthus calceolaria (L.) Oken,
R21(dor de garganta) (bronquite) (2); R80 (gripe) Punica granatum L., Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers., Musa
(36); R29(escarrar) (1) (134); R81(pneumonia) (2); paradisíaca L., Morinda citrifolia L., Citrus x aurantium L.,
R90 (cartucho) (1); R96 Tamarindus indica L., Mangifera indica L., Pimpinella
(asma) (1); *(covid) (11) anisum L., Spondias purpurea L., Dysphania ambrosioides
(L.) Mosyakin & Clemants, Ximenia americana L.,
Anacardium occidentale L., Psidium guajava L., Aloe vera
(L.) Burm. f., Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.,
Malpighia glabra L., Citrus x limon (L.) Osbeck, Commiphora
leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett, Carica papaya L., Citrus sp.,
Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke, Amburana cearensis
(Allemão) A. C. Sm.
X- APARELHO GENITAL X02 (cólica menstrual) (2); 16 Punica granatum L., Annona muricata L., Mangifera indica
FEMININO (INCLUINDO A X14 (corrimento) (1); L., Ruta graveolens L., Anacardium occidentale L., Aloe vera
MAMA) X17 (problemas em regiões (L.) Burm. f., Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng.,
íntimas) (2); Kalanchoe pinnata (Lam.) Pers.
X29 (inflamação/problema de
útero/ovário) (11)
T-ENDÓCRINO, T03 (fastio) (1); T87 (hipoglicemia) (1); Cocos nucifera L., Annona muricata L., Morus sp.,
METABÓLICO E T11 (desidratação) (23) T90 (diabetes) (17); 59 Tamarindus indica L., Mangifera indica L., Annona squamosa
NUTRICIONAL T93 (colesterol) (17) L., Moringa oleifera Lam., Anacardium occidentale L., Lippia
alba (Mill.) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson, Citrus x limon
(L.) Osbeck, Carica papaya L., Psidium guajava L.
K-APARELHO K86 (pressão alta) (11); 23 Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Plectranthus ornatus Codd,
CIRCULATÓRIO K90 (derrame/AVC) (5); Plectranthus sp., Mentha x piperita; Mentha spicata L.,
K92 (trombose) (5); Moringa oleifera Lam., Psidium guajava L., Aloe vera (L.)
K96 (hemorroidas) (2); Burm. f., Annona muricata L., Morus sp., Carica papaya L.
37
Continuação da Tabela 2.
Y – APARELHO GENITAL Y06 (próstata) (4) 4 Plectranthus ornatus Codd, Plectranthus sp., Aloe vera (L.)
MASCULINO Burm. f., Tamarindus indica L.
U – APARELHO URINÁRIO U01 (Dor nas urinas) (3); U70 (inflamação nos rins) 14 Aloe vera (L.) Burm. f., Carica papaya L., Phyllanthus niruri
U14 (problema de rins) (6) (1); L., Turnera subulata Sm.
U95 (pedra nos rins) (4)
P – PSICOLÓGICO P01 (ansiedade/nervosismo) (47); P70 (Alzheimer) (1); 62 Cymbopogon citratus (DC.) Stapf, Mentha spicata L.,
P02 (estresse) (1); P76 (depressão) (1); Plectranthus amboinicus (Lour.) Spreng., Lippia alba (Mill.)
P06 (insônia) (12) N. E. Br. ex Britton & P. Wilson, Passiflora edulis Sims,
Citrus x aurantium L., Mentha x piperita, Ruta graveolens L.
Neste estudo, percebe-se que dentre as espécies, 14 apresentaram CUP com valor igual ou
superior a 50. Após a aplicação do fator de correção (FC) a CUPc obteve valores reduzidos,
com exceção de Cocos nucifera L. As plantas Malpighia glabra L. (acerola) e Citrus x limon
(L.) Osbeck (limão) foram as espécies cujos valores da CUP e CUPc mantiveram-se elevados
(83,8/54,5 e 68,2/52,5, respectivamente) conforme pode ser observado na Tabela 3.
Roque et al. (2010), ao analisar a concordância de uso principal das espécies citadas em
seu estudo, também relataram que algumas plantas apresentaram um índice de CUP elevado
(100), entretanto ao aplicar o fator de correção e adquirir a CUPc, os valores apresentaram uma
redução. Estes autores explicam que essa redução acontece porque o número de pessoas citando
uso destas espécies foi baixo, assim, ao relacionar com a espécie mais citada, o resultado tende
a ser menor. Em concordância com estes pesquisadores, Meyer et al. (2012) também relataram
que geralmente o valor de CUPc é menor que a CUP.
Com relação ao valor de uso das espécies citadas, as plantas medicinais que obtiveram
maior índice foram Cocos nucifera L. (coqueiro), Anacardium occidentale L. (cajueiro), Citrus
x limon (L.) Osbeck (limão) e Aloe vera (L.) Burm. f. (babosa), todas com valores superiores a
1, conforme mostra a Tabela 3. Para estas espécies foram citados números maiores de
indicações de usos. Vendruscolo e Mentz (2006) declaram que a quantidade de usos atribuídos
a uma determinada planta define o grau de importância que ela apresenta para a comunidade,
ou seja, quanto mais usos a planta tiver, maior será a sua relevância para a população estudada.
As espécies lenhosas nativas citadas neste estudo foram Myracrodruon urundeuva Allemão,
Ximenia americana L., Commiphora leptophloeos (Mart.) J.B.Gillett, Mimosa tenuiflora
(Willd.) Poir, Piptadenia stipulacea (Benth.) Ducke, Amburana cearensis (Allemão) A. C. Sm,
Sideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.) T. D. Penn e Ziziphus joazeiro Mart. Estas espécies
40
são pouco utilizadas na medicina popular local, sendo mencionadas, respectivamente, por 1,3%,
7,7%, 3,8%, 2,6%, 1,3%, 3,8%, 2,6% e 2,6% dos informantes. Essas espécies também
apresentaram baixo Valor de Uso (igual ou inferior a 0,1).
De acordo com os dados obtidos, na área de estudo estas espécies não apresentam uso
intensivo pela população local para finalidades medicinais, pois sua utilização ocorre de forma
esporádica, sendo utilizadas por poucos informantes para tratar algumas enfermidades que
surgem no núcleo familiar. Dessa forma, considerando a categoria de uso medicinal, percebe-
se que as espécies nativas não se apresentam ameaçadas na área estudada.
As espécies citadas pelos moradores são encontradas em áreas no entorno das residências,
mais especificamente nos quintais e lotes. Estes espaços geralmente costumam ser protegidos
pela população local. Florentino et al. (2007), por exemplo, destacam os quintais como meios
potenciais para a conservação da flora local. Freitas et al., (2015), também destacaram a
importância destes ambientes na conservação da biodiversidade, possibilitando o uso mais
sustentável das espécies. No presente estudo essa atribuição também pode ser concedida aos
quintais e lotes da comunidade estudada, uma vez que estes espaços abrigam também
importantes espécies nativas.
Nos trabalhos de Ribeiro et al. (2013) e Cordeiro e Félix (2014), por exemplo,
Myracrodruon urundeuva Allemão se destacou nas práticas medicinais locais. Cordeiro e Félix
(2014) relatam que esta espécie apresentou o maior número de citações (mencionada por 89,55
dos entrevistados) indicada para tratar problemas estomacais, doenças do aparelho respiratório,
inflamação e cicatrizante. Devido ao uso intensivo desta planta, Ribeiro et al. (2013) a
classificou como uma espécie prioritária para conservação na área de estudo, visto a
necessidade de medidas conservacionistas para evitar a extinção dela na região estudada.
41
Estes estudos têm contribuído como uma forma de alertar a população local sobre possíveis
riscos que as espécies possam estar sofrendo, podendo contribuir para a tomada de decisões da
população para práticas que possibilitem o uso sustentável destas plantas e dessa forma,
encontrar um equilíbrio que permita a continuidade das práticas medicinais populares na
comunidade, utilizando estes recursos, entretanto, de forma a não comprometê-los, para que
assim possam continuar disponíveis no futuro.
A idade dos informantes variou de 23 a 77 anos, distribuída em seis faixas etárias (Gráfico
3). Nas faixas etárias de 23-30, 31-40, 41-50, 51-60, 61-70, >70 foram entrevistadas
respectivamente, 4, 11, 21, 15, 15 e 12 pessoas.
42
30%
Porcentagem 25% 27%
20%
19% 19%
15%
14% 15%
10%
5%
5%
0%
23-30 31-40 41-50 51-60 61-70 >70
Faixa etária
Com relação ao nível de escolaridade dos informantes, 9 pessoas não eram alfabetizadas,
46 informantes possuíam apenas o ensino fundamental incompleto, 3 possuíam o ensino
fundamental completo, 4 apresentavam o ensino médio incompleto, 9 tinham o ensino médio
completo, 3 pessoas possuíam ensino superior incompleto e 4 informantes tinham ensino
superior completo. Percebe-se que a maioria dos informantes (59%) apresenta apenas o ensino
fundamental incompleto (Gráfico 4). Carvalho (2019) em um estudo etnobotânico realizado no
assentamento São Francisco, em Canutama no Amazonas, relatou que a maioria da população
estudada (66%) também apresentava ensino fundamental incompleto, resultado similar ao desta
pesquisa. Com relação a este resultado a autora faz uma ressalva importante, pois afirma que
“apesar do baixo nível de escolaridade, tal questão não indica falta ou pouco conhecimento
tradicional”.
É notório que no presente estudo, a baixa escolaridade não interferiu no conhecimento dos
participantes sobre as plantas medicinais. Isto pode ser justificado pelo fato deste conhecimento
ter sido adquirido principalmente no meio familiar e ter sido repassado para os seus
descendentes por comunicação oral. Estes saberes, ao serem postos em prática no dia a dia
foram gerando experiências positivas com os recursos vegetais contribuindo para o seu uso
contínuo.
43
70,0%
59%
60,0%
Porcentagem
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
11,5% 11,50%
10,0% 4% 5% 4% 5%
0,0%
No que se refere a renda mensal dos informantes, 3 pessoas mencionaram possuir renda de
até meio salário-mínimo, 7 pessoas possuem renda >0,5 e <1 salário-mínimo, 52 pessoas
relataram possuir renda de 1 salário-mínimo, 2 pessoas recebem um valor >1,5 e < 2 salários-
mínimos e 14 pessoas citaram receber 2 salários-mínimos ou mais. Com relação ao recebimento
de auxílios de renda do governo, 31 pessoas relataram receber atualmente o auxílio
emergencial. Nota-se que a maioria dos entrevistados tem uma renda estimada em um salário-
44
mínimo (Gráfico 5). Brito et al. (2017) ao realizar um estudo com assentados, também relatou
uma maior representatividade da renda mensal de um salário-mínimo (70%).
80%
70% 66,7%
60%
50%
40%
Porcentagem
30%
17,9%
20%
9%
10% 3,8% 2,6%
0%
Até 0,5 salário- >0,5 e > 1 salário- 1 salário-mínimo >1,5 e <2 salários- 2 salários-mínimos
mínimo mínimo mínimos ou mais
Renda mensal
Quanto ao local de origem dos assentados, eles são naturais dos seguintes estados: Rio
Grande do Norte (58), das cidades de Mossoró, Assú, Caicó, Baraúna, Santana do Mato, Patu,
Lajes Pintadas, João Dias, Alexandria, São Tomé, Caraúbas, Marcelino Vieira, Campo Grande,
Apodi, Ipanguaçu, Florânia, Natal, Severiano Melo, Afonso Bezerra, Itaú, Senador Georgino
Avelino, Carnaubais, Lajes do Cabuji, Antônio Martins e Santa Cruz; Ceará (11) das cidades
de Morada Nova, Juazeiro do Norte, Aracati, Russas, Alto Santos, Jaguaruana, Pacajus e
Jaguaretama; Paraíba (7), das cidades de Souza, Areia, Catolé do Rocha; Maranhão (1), da
cidade de Pedreiras; e São Paulo (1), da cidade de Guarulhos. Dentre os informantes, 46 pessoas
afirmaram residir no assentamento desde que foi fundado, ou seja, há cerca de 20 anos.
Esse histórico migratório é relevante, pois as pessoas trazem de seu lugar de origem seus
conhecimentos relacionados às práticas medicinais aprendidas e incorporam no novo lugar que
passam a habitar. Nesse sentido, em seu trabalho desenvolvido em um assentamento rural do
Belém do Pará, Melo et al. (2021) destacou que “a migração dos informantes que vieram de
outros estados do Brasil contribuiu significativamente para a ampliação do conhecimento sobre
plantas medicinais”.
45
Alguns estudos têm demonstrado que fatores socioeconômicos podem exercer influência
no conhecimento e utilização de plantas medicinais (SILVA et al., 2011; ZANK; HANAZAKI,
2012; LIN et al., 2021), por isso realizar a caracterização socioeconômica da população
estudada torna-se um aspecto importante. Neste trabalho, avaliou-se a influência das seguintes
variáveis socioeconômicas: gênero, idade, escolaridade e renda.
Com relação ao gênero, nesta pesquisa percebe-se que ambos fazem uso dos recursos
vegetais presentes no Assentamento, tanto de espécies cultivadas nos quintais quanto de
espécies encontradas nos lotes. As mulheres citaram em média 7 plantas medicinais e os
homens mencionaram uma média de 8 espécies (Tabela 4). Dentre as 51 espécies identificadas,
34 (66,7%) foram citadas tanto pelos homens quanto pelas mulheres, 8 espécies (15,7%) foram
citadas exclusivamente pelas mulheres e 9 espécies (17,6%) foram citadas exclusivamente
pelos homens.
Na presente pesquisa, isto pode ser justificado pelo fato, de ambos os gêneros terem
acumulado durante a vida experiências relacionadas à prática da utilização de plantas no
cuidado com a saúde, uma vez que tal conhecimento foi transmitido de geração a geração, sendo
estes saberes adquiridos muitas vezes na infância com os familiares (especialmente a mãe) que
faziam uso destes recursos para tratar enfermidades que surgiam na família, e que tal prática
continuou a ser realizada por eles. A seguir têm-se alguns trechos de relatos dos informantes
em relação a aprendizagem sobre a utilização das plantas medicinais:
“Já vem de geração e geração da minha bisavó, da minha mãe, da minha avó”. (Informante
09)
“É isso vem de longe, da minha mãe. A minha mãe sempre plantava e passou pra gente, que
sempre fazia remédio, a gente na época...farmácia era mais difícil quando era pequeno, ela
46
sempre tinha as plantinhas medicinais dela e resolvia o problema, dor de cabeça, uma dor no
estômago, uma coisa e outra”. (Informante 65)
“Com meu pai que ele fazia remédio caseiro”. (Informante 19)
“...eu fui criada no sítio, nos matos, aí eu aprendi com a minha mãe” (Informante 31)
“Com a minha avó, minha mãe, sempre usou e foi passando de geração pra geração”.
(Informante 35)
“A planta medicinal eu aprendi muito com a minha mãe, família, meus tios que na época, há
20 anos atrás a gente não tinha condições de comprar medicamento em farmácia, então quando
a gente sentia qualquer problema, inclusive questão de inflamatório a gente usava elas porque
são boas, são remédios medicinais, que chama remédio do mato que muitas vezes é melhor do
que de farmácia”. (Informante 43)
“Isso aí é desde menino que eu sou acostumado, trabalho na agricultura aí eu sei de tudo”.
(Informante 48)
“Foi com minha bisavó, eu tive na minha infância o contato com ela e no quintal dela tinha
muita planta medicinal e sempre isso me instigou, já fiz trabalhos no meu ensino fundamental
e sempre eu tive esse interesse através do que eu via ela plantando e colhendo né pra saúde da
família”. (Informante 77)
Com relação à faixa etária, nas classes de 23-30, 31-40, 41-50, 51-60, 61-70 e maior que
70 anos foram obtidas respectivamente, 24, 55, 134, 94, 154 e 73 citações referente as espécies
medicinais encontradas neste estudo. O número médio de espécies citadas por cada grupo pode
ser observado na Tabela 4.
De acordo com os dados infere-se que neste estudo as pessoas mais velhas, especificamente
na faixa de 61-70 anos, conhecem mais plantas medicinais presentes em áreas do assentamento.
Silva et al. (2011), em estudo realizado em uma comunidade rural do semiárido brasileiro,
perceberam que quanto maior a idade dos informantes maior o número de espécies conhecidas.
Entretanto, estes mesmos autores fizeram uma ressalva com relação a idades muito elevadas.
Os autores perceberam uma redução no conhecimento das plantas em virtude da existência de
problemas relacionados à memória e esquecimento neste grupo.
47
É importante ressaltar que neste estudo, houve uma quantidade pequena de informantes
com renda mensal de até 0,5 salário mínimo, em um total de 3 participantes, o que pode explicar
a média de plantas medicinais reduzida neste grupo. Pessoas com renda equivalente a 2 salários
mínimos ou mais citaram em média mais espécies medicinais, nesta pesquisa isto pode ser
explicado pelo fato deste grupo ser composto principalmente por pessoas com idade na faixa
de 61-70 anos e que neste estudo demonstraram conhecer mais as plantas medicinais. De acordo
com Albuquerque et al. (2011), não há um regra geral que determine a influência da idade no
conhecimento de plantas medicinais, no entanto, estes autores ressaltam que há uma maior
tendência em idosos conhecerem mais sobre estes recursos.
6 CONCLUSÕES
Foram citadas espécies medicinais com uma variedade de indicações terapêuticas que foram
estudadas do ponto de vista etnobotânico, através do qual foi possível mostrar como elas são
utilizadas nas práticas medicinais populares, proporcionando o registro destes saberes e os
resultados desta pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento de outras investigações
como as de caráter farmacológico.
A partir deste estudo, novas pesquisas poderão ser realizadas na comunidade, especialmente
aquelas direcionadas às espécies nativas, visando investigar, por exemplo, outros usos
etnobotânicos atribuídos a estas plantas e suas implicações para sua conservação, bem como
também a realização de análises da disponibilidade ambiental destas espécies por meio de
levantamentos fitossociológicos.
50
7 REFERÊNCIAS
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105, p. 173-186, 2006.
APÊNDICE I
ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA
7- Você vende algum remédio caseiro feito com as plantas medicinais presentes em seu quintal
ou é apenas para consumo próprio?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
OBSERVAÇÕES:____________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
60
ANEXO I
61
62
63
64
ANEXO II
Caso decida aceitar o convite, você será submetido ao seguinte procedimento: será
solicitado o preenchimento de um questionário socioeconômico, uma entrevista gravada, uma
turnê guiada no quintal de sua residência e uma oficina participativa a ser desenvolvida nas
dependências do posto de saúde da comunidade, cuja responsabilidade de aplicação é de
Francisca Maria Do Carmo Freire Maurício, Bióloga, mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Naturais do Campus Central, da Universidade Estadual do Rio Grande
do Norte. As informações coletadas serão organizadas em banco de dados em programa
estatístico e analisadas a partir de técnicas de estatística descritiva e inferencial.
Essa pesquisa tem como objetivo geral: realizar um levantamento etnobotânico sobre a
utilização de plantas medicinais por moradores do Assentamento Oziel Alves/Maisa, zona rural
de Mossoró-RN, e como objetivos específicos: listar as espécies medicinais cultivadas nos
quintais das residências; descrever a finalidade medicinal, as formas de uso e as partes das
plantas utilizadas; avaliar a influência de fatores socioeconômicos sobre o conhecimento de
plantas medicinais; identificar, por meio da percepção da população local, as espécies
medicinais prioritárias para a conservação; e elaborar uma cartilha contendo as informações
obtidas sobre as plantas medicinais da região e disponibilizá-la para a população estudada.
Pág. 01/03
65
Pág. 02/03
66
Consentimento Livre
Concordo em participar desta pesquisa “Estudo Etnobotânico de Plantas Medicinais da
Caatinga em Zona Rural de Mossoró/RN, Brasil”. Declarando, para os devidos fins, que fui
devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos quais serei
submetido (a) e dos possíveis riscos que possam advir de tal participação. Foram garantidos a
mim esclarecimentos que venham a solicitar durante a pesquisa e o direito de desistir da
participação em qualquer momento, sem que minha desistência implique em qualquer prejuízo
a minha pessoa ou a minha família. Autorizo assim, a publicação dos dados da pesquisa, a qual
me garante o anonimato e o sigilo dos dados referentes à minha identificação.
Mossoró, ______/_______/_______.
__________________________________________
Assinatura do Pesquisador
___________________________________________
Assinatura do Participante
ANEXO III
Ao mesmo tempo, libero a utilização destes áudios (suas respectivas cópias) para fins científicos
e de estudos (livros, artigos, monografias, TCC’s, dissertações ou teses, além de slides e
transparências), em favor dos pesquisadores da pesquisa, acima especificados, obedecendo ao
que está previsto nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (ECA, Lei N.º
8.069/ 1990), dos idosos (Lei N.° 10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº
3.298/1999, alterado pelo Decreto Nº 5.296/2004).
IMPRESSÃO
ANEXO IV
LISTA LIVRE
Quantidade de pessoas que Quantidade de Das pessoas que () Não alfabetizado () Ensino Médio Incompleto
moram na casa filhos que moram na casa Escolaridade () Ensino Fundamental () Ensino Médio Completo
moram na casa quantas Incompleto () Ensino Superior Incompleto
trabalham? () Ensino Fundamental () Ensino Superior Completo
Completo
Endereço
Profissão Renda mensal (R$)
() até 0,5 sm () > 0,5 e < 1 sm () de 1 a 1,5 sm () > 1,5 e < 2 sm () 2 sm ou mais.
ANEXO VI
CARTILHA