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Disciplina: Criminologia para concursos

Tema: Teorias Sociológicas da Criminalidade

TEORIAS
SOCIOLÓGICAS
DA
CRIMINALIDADE

Prof. Diego Pureza

@prof.diegopureza

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Disciplina: Criminologia para concursos
Tema: Teorias Sociológicas da Criminalidade

Sumário
Teorias de nível individual ........................................................................................................3
Teorias biológicas (bioantropológicas): ................................................................................3
Teorias psicológicas: .............................................................................................................3
Teorias de nível sociológico (Macrossociológicas ou Sociologia Criminal) ...............................3
Teorias do Conflito / de Cunho Argumentativo ....................................................................4
Teorias do Consenso / Funcionalistas / da Integração .........................................................4
TEORIAS CRIMINOLÓGICAS EM ESPÉCIE ......................................................................................5
Escola de Chicago (1920-1940) ................................................................................................5
Teoria da Desorganização Social (Teoria Ecológica) .............................................................6
Teoria Espacial Defensável ...................................................................................................6
Teoria das Janelas Quebradas (The Broken Windows Theory) .............................................6
Teoria/Política de Tolerância Zero .......................................................................................7
Teoria dos Testículos Despedaçados / Quebrados / Esmagados (Breaking Balls Teory) ......7
Teoria da Associação Diferencial / Aprendizagem / Social Learning ........................................8
Teoria da Identificação Diferencial .......................................................................................8
Teoria do Condicionamento Operante .................................................................................9
Teoria do Vampiro................................................................................................................9
Teoria do Reforço Diferencial ...............................................................................................9
Teoria da Neutralização .......................................................................................................9
Teoria da Subcultura Delinquente ......................................................................................10
Teoria da Anomia / Estrutural-funcionalista ......................................................................10
Teoria do Labelling Approach (Rotulação, Etiquetamento, Interacionismo simbólico ou
Reação Social) ........................................................................................................................12
Teoria Crítica, Radical, Marxista ou Nova Criminologia ..........................................................13
Teoria Abolicionista (Liberdade Individual Máxima) ..........................................................14
Teoria Minimalista..............................................................................................................15
Teoria Neorrealista de Esquerda (Antiliberal) ....................................................................15
Criminologia Cultural e Mídia .................................................................................................15
Teoria “Queer” .......................................................................................................................15
Teoria Feminista .....................................................................................................................16
Criminologia Racial .................................................................................................................17
Teoria do Mimetismo .............................................................................................................22
Teoria do Cenário da Bomba-Relógio (Tincking time bomb scenario) ....................................22
Teoria da Coculpabilidade e o princípio da parcialidade positiva do juiz ...........................23
Efeito Lúcifer: Experimento de Milgram e Aprisionamento de Stanford ............................24

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TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE

Dentro da perspectiva macrocriminológica, temos diversas teorias que visam explicar,


justificar ou criticar o crime. Muitas se baseiam em critérios científicos, valendo-se de outros
ramos do saber como a medicina, antropologia, estatística, etc., enquanto que outras
apresentam forte carga ideológica.
Em todo caso, é sem dúvida o tema mais cobrado em concursos públicos na atualidade
merecendo análise retida sobre cada teoria.
A doutrina apresenta classificação que divide as teorias criminológicas em teorias de nível
individual e teorias sociológicas (macrossociológicas). A seguir, analisaremos cada um desses
grupos para, em seguida, enfrentarmos o estudo de cada teoria em espécie.

Teorias de nível individual

As teorias de nível individual procuram apontar explicações sobre as causas individuais do


fenômeno criminal, ou seja, analisa o próprio criminoso visando diagnosticar quais os fatores
que são determinantes para a prática de delitos. Podem ser divididas em:
a) Biológicas: buscam explicar o fenômeno criminal a partir de fatores orgânicos (biologia do
criminoso); b) Psicológicas – explicação do comportamento criminoso através do mundo
anímico, dos processos psíquicos ou nas vivências subconscientes do criminoso, bem como nos
seus processos de aprendizagem e socialização.

Teorias biológicas (bioantropológicas):

Trabalham com a ideia de que a prática do delito está associada a fatores congênitos do
indivíduo, ou melhor, ao próprio organismo do criminoso. O delinquente seria um ser
biologicamente distinto dos demais cidadãos.
Logo, são teorias que visam localizar e identificar em alguma parte ou no funcionamento do
organismo do delinquente o fator diferencial que explica a conduta delitiva (tais como
deformidades, doenças mentais, tumores, atavismo, etc.), enquanto consequência patológica
ou disfuncional.

Teorias psicológicas:

Procuram explicar as causas do fenômeno criminal a partir do estado anímico do criminoso


(geralmente resultados da vivência do subconsciente ou mesmo nos processos de aprendizagem
e socialização do indivíduo).
As teorias psicológicas podem ser da espécie psicodinâmica, hipóteses em que se conclui que
houve falha no processo de aprendizagem ao longo da vida. Investiga-se quais os motivos da
maioria das pessoas não praticar crimes. Como visto, trata-se de uma espécie do gênero teorias
psicológicas.

Teorias de nível sociológico (Macrossociológicas ou Sociologia Criminal)

Partindo da premissa de que o crime é um fenômeno social, as teorias sociológicas buscam


explicar a criminalidade na perspectiva etiológica (causas do crime) ou interacionistas (reação
social).

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Ademais, a maioria das teorias que analisaremos em capítulo próprio pertencem à esse
grupo, apontando como fatores determinantes da delinquência a sociedade.
Variando de teoria para teoria, a sociedade seria a culpada ou responsável em parte pela
criminalidade, seja por proporcionar aos indivíduos potencialmente criminosos o ambiente
propício, seja por criar o criminoso em processos de estigmatizações, preconceitos, etc.
O pensamento criminológico contemporâneo recebe fortes influências de dois grandes
movimentos: as teorias do consenso e teorias do conflito.

Teorias do Conflito / de Cunho Argumentativo

As teorias do conflito (de esquerda, ligadas à movimentos revolucionários) recebem forte


influência da filosofia marxista, tendo como característica o entendimento de que a convivência
harmônica em sociedade decorre de imposição, por meio da força e da coerção, havendo uma
relação entre dominantes e dominados (adaptação da ideia de luta de classes cunhada por Karl
Marx).
Para os adeptos das teorias do conflito, não existiria voluntariedade por parte do indivíduo
ao buscar a pacificação social. A pacificação seria fruto de imposição.
Há, todavia, algumas teorias do conflito (em especial, as teorias mais recentes) que afastam
a ideia de luta de classes, argumentando que a violação da ordem derivaria mais do
comportamento dos indivíduos, bandos ou grupos do que propriamente de um substrato
político-ideológico.

Postulados das teorias do conflito: toda a sociedade está sujeita a mudanças contínuas, sendo
que cada indivíduo poderá cooperar para a sua dissolução.
Com esse entendimento, algumas teorias do conflito chegam a enxergar o criminoso como uma
espécie de “agente revolucionário ou de transformação social” (considerados por alguns como
sendo os sucessores dos “proletariados” de Marx) – algumas teorias chegam a demonstrar até
certo apreço pela figura do delinquente.
São exemplos de teoria do conflito:
Labelling approach (Etiquetamento, Rotulação, Interacionismo simbólico ou da Reação Social)
e Teoria Crítica (Radical, Marxista, Nova Criminologia)

Teorias do Consenso / Funcionalistas / da Integração

Para as teorias do consenso, os objetivos da sociedade só podem ser atingidos quando há


concordância por todos sobre as regras de convivência. Estão ligadas a movimentos de direita e
ao conservadorismo.
Os sistemas sociais dependeriam da voluntariedade tanto dos cidadãos, quanto das
instituições, ao dividirem valores semelhantes.
Tomemos a título de ilustração a ideia de uma máquina que funciona (representando os
anseios sociais). Cada peça ou engrenagem representaria cada indivíduo ou instituição. Na
medida em que todos cooperam no mesmo sentido e com os mesmos valores, a máquina
funcionará normalmente.
A partir do momento em que uma peça ou engrenagem passa a apresentar falhas
(cometimento de crime), o problema deverá ser detectado de forma específica, retirado para
restaurar o funcionamento da máquina (representando a ideia do cárcere), corrigido
(ressocialização) para, só após, realocar a peça na máquina (sociedade).
Perceba que a ideia é que a sociedade se baseia no consenso entre seus integrantes (daí o
nome). Aliás, explicando os nomes para facilitar, podemos concluir que:
➢ Para o bom funcionamento, toda a sociedade deve se encontrar integrada (Integração);

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➢ A estrutura da sociedade se baseia no consenso entre os cidadãos sobre os diversos


valores dominantes (consenso);
➢ Cada um é responsável pela função que lhe é conferida, de modo a contribuir para a
manutenção do corpo social (Funcionalismo).
Importante mencionar que, apesar das teorias do consenso trabalharem com maior enfoque
sobre o criminoso, não negam que fatores externos podem influenciar a prática de crimes (a
exemplo de ambientes hostis, sociedades corrompidas, etc.).

Postulados das teorias do consenso: a sociedade é composta dos seguintes elementos:


- Perenes: há valores que são eternos, valores que servem para alicerçar a sociedade
independentemente do momento;
- Integrados: os membros da sociedade deve estar em harmonia constante para o bom
funcionamento;
- Funcionais: cada cidadão (ou instituição) é responsável por exercer alguma função que seja útil
em prol da coletividade;
- Estáveis: noção de que mudanças devem acontecer de forma natural e sem pressa (rechaçando
a ideia de revoluções imediatistas).
São exemplos de teoria do consenso:
Escola de Chicago; Teoria da Associação Diferencial; Teoria da Anomia; Teoria da
Desorganização Social, Teoria da Neutralização e Teoria da Subcultura Delinquente

TEORIAS CRIMINOLÓGICAS EM ESPÉCIE

Escola de Chicago (1920-1940)

A Escola de Chicago é a grande propulsora da sociologia americana moderna, iniciando nas


décadas de 1920 e 1930, por meio dos estudos da “Sociologia das grandes cidades” apresentado
pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, diante do crescimento da
criminalidade na mencionada cidade.
Com a revolução industrial houve o crescimento dos centros urbanos e, ao mesmo tempo,
crescimento da criminalidade.
Com isso, a Escola de Chicago voltou sua atenção para os estudos dos meios urbanos,
chegando à conclusão de que o meio ambiente influenciava a conduta criminosa. Logo,
concluíram também que o crescimento da população nas cidades representavam um
crescimento na criminalidade.
A ideia é que as pessoas acabavam, mais cedo ou mais tarde, sendo contaminadas pelo meio
social em que conviviam, por meio do convívio com semelhantes que apresentavam
comportamentos criminosos. Com a convivência, passavam a enxergar todo aquele ambiente
criminoso com naturalidade e, consequentemente, passava também a delinquir.
Logo, é correto concluir que à luz da Escola de Chicago a cidade era responsável por produzir
a criminalidade. Considerando o fato de existir regiões na cidade de Chicago que
proporcionavam também ambientes mais calmos e pacíficos, reforçou-se a ideia de que o
ambiente de convivência poderia contribuir para o crescimento ou diminuição da delinquência.

Podemos destacar como características da Escola de Chicago:


➢ Valia-se do método empírico: trabalhava com a observação dos fatos concretos;
➢ Apresentava finalidade pragmática: tentava explicar as causas do delito de forma específica
e segura, voltada para os problemas de Chicago à época;
➢ Utilizava Inquéritos Sociais (social surveys): bairros e cidades eram investigadas por meio de
índices de criminalidade como meio para se enxergar o real grau de delinquência localizada.

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A importância da Escola de Chicago para a sociologia é inegável, sendo responsável, inclusive,


por influenciar no surgimento de outras teorias a saber: Teoria da Desorganização Social
(Ecológica), Teoria Espacial, Teoria das Janelas Quebradas e Teoria/Política de Tolerância Zero.
Estudaremos cada uma a seguir em tópicos próprios.

Teoria da Desorganização Social (Teoria Ecológica)

A Teoria da Desorganização Social (também chamada de Teoria Ecológica) surge em 1915 e


conclui que o progresso e a expansão da sociedade acarreta no crescimento da criminalidade
nos grandes centros urbanos.
Tem como principal obra The City: Suggestion for the Investigation of Human Bahavior in the
City Environment, dos autores Robert Park e Ernest Burguess.
A ideia básica gira em torno principalmente do enfraquecimento dos meios de controle social
informal, desordem social e falta de integração. Com a expansão dos centros urbanos, surge
inevitavelmente, segundo esta teoria, desorganização social e degradação dos grupos informais
de controle social, tais como a família, círculo de amizades, etc.
Com o enfraquecimento de tais grupos, haverá também a diminuição (ou até a perda) de
valores positivos como a amizade (comumente presente em regiões mais pacatas e afastadas),
o civismo, companheirismo, dentre outros, até chegarmos à uma sociedade desorganizada. A
desorganização social, por sua vez, será criminógena (causadora da delinquência).

Teoria Espacial Defensável

Formulada em 1940, apresenta como um possível mecanismo de prevenção da criminalidade


a reestruturação arquitetônica e urbanística das grandes cidades.
A ideia básica é de que casas e prédios podem ser reestruturados de modo a garantir a
segurança de seus habitantes e usuários e, ao mesmo tempo, oferecer riscos aos criminosos.
Teve como expoente o arquiteto Oscar Newman, por meio da obra Defensible Space, ao qual
apresentou uma série de modelos de construção adequados e capazes de prevenir as pessoas
contra a criminalidade. Em síntese, o modelo ideal de construção, segundo Newman, seria a
estrutura arquitetônica que permite maior vigilância por seus habitantes e usuários e, ao mesmo
tempo, que apresente mecanismos de autodefesa por meio de barreiras reais (capazes de ferir
o criminoso) e simbólicas (gerando efeitos de desestímulo e dissuasão no criminoso).

Teoria das Janelas Quebradas (The Broken Windows Theory)

Originada nos Estados Unidos, a Teoria das Janelas Quebradas foi cunhada pelos
criminologistas da Universidade de Harvard, James Wilson e George Kelling (obra: The Police
and Neiborghood Safety – “A Polícia e a Segurança da Vizinhança”, publicada na revista Atlantic
Monthly em 1982), apresentando um vínculo peculiar entre desordem/descaso e delinquência.
Para entender a conclusão é necessário conhecer as pesquisas empíricas que inspiraram a
teoria ora estudada:

Experimento realizado em 1969 por Philip Zimbardo, psicólogo da Universidade de Stanford:


Para o experimento, foram utilizados dois locais, um bairro de classe pobre (Bronx, Nova Iorque)
e outro considerado de alto padrão (Palo, Alto, Califórnia).
Em ambos, colocaram um veículo com a tampa do motor aberta. Em pouco tempo, o veículo foi
completamente depredado no Bronx por vândalos, enquanto que em Palo Alto o veículo
permaneceu intacto.
Antes que alguns concluíssem de forma limitada e precipitada que a criminalidade estava
vinculada apenas à classe social de cada região, Zimbardo quebrou uma das janelas do veículo

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até então preservado que havia estacionado em Palo Alto. Com isso, poucas horas após a janela
ter sido quebrada, o veículo foi completamente destruído por pessoas que por ali passavam.

A conclusão foi de que, com o exemplo de que algo está abandonado, haverá o recado
subliminar de ausência de vigilância, de abandono, gerando, por conseguinte, a sensação de
impunidade. Nesse sentido, pessoas que só não praticam crimes por receio da punição passam
a não mais enxergar obstáculos para praticarem suas vontades.
Com isso, o que a Teoria das Janelas Quebradas apresenta para a segurança pública é a ideia
de que a tolerância de delitos menores (aplicando, por exemplo, medidas alternativas ao invés
de pena), acaba por estimular os criminosos a praticarem delitos cada vez mais graves e
violentos.
Logo, é de extrema importância aplicar punição com rigor sobre qualquer delito,
independentemente da gravidade, como forma de desestimular a delinquência na prática de
crimes mais graves (caráter preventivo e dissuasório da pena).
Também se evitaria que determinados bairros até então considerados perigosos se
tornassem verdadeiras zonas de concentração da delinquência.
Por fim, destaca-se que a teoria das janelas quebradas inspirou a Política de Tolerância Zero,
a seguir estudada.

Teoria/Política de Tolerância Zero

Fruto de inspiração da teoria das janelas quebradas, a teoria da tolerância zero foi
implementada pelo ex-Prefeito de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, também decorrente do
chamado movimento de Lei e Ordem (Law and Order), se tratando de uma filosofia jurídico-
política baseada em medidas criminais sem qualquer discricionariedade por parte das forças
policiais (limitavam-se em aplicar a lei igualmente para todos os que praticassem as mesmas
condutas), cujo sistema de justiça criminal apresentava punições iguais a todos aqueles que
cometessem os mesmos crimes, independentemente do grau de culpa do indivíduo.
Perceba que tal política aplicava de forma estrita a filosofia da teoria das janelas quebradas,
com penas firmas para todos os crimes, até mesmo aqueles considerados mais leves, sem
possibilidade de penas alternativas (a punição era certa sobre os criminosos).
A finalidade era incutir no pensamento comum a ideia de que as leis e regras de convivência
deveriam ser respeitadas (mesmo que por meio da intimidação na aplicação das penas),
proporcionando, a médio ou a longo prazo, ambientes seguros para a população, bem como
reconquistando a confiança no Estado por parte de todos.
Obviamente, ao incutir na população o hábito de respeitar a legalidade, a política de
tolerância zero também alcançaria a redução nos índices de criminalidade.

Teoria dos Testículos Despedaçados / Quebrados / Esmagados (Breaking Balls Teory)

Também inspirada na teoria das janelas quebradas, aplica entendimento semelhante, porém
não com o enfoque sobre as penas (como ocorre com a política de tolerância zero), mas com
destaque para a atuação das forças policiais.
Segundo essa teoria, a atuação policial deve ser firme, com rigor, inflexível, até mesmo contra
crimes considerados leves ou de menor potencial ofensivo pois, aos policiais pressionarem os
criminosos com firmeza, farão com que estes últimos fujam.
O criminoso, se sentindo intimidado pela polícia, se afastaria por perceber que não teria “vida
fácil” em seus intentos criminosos.

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A crítica que essa teoria sofre por parte da doutrina recai sobre o fato de que não é capaz de
eliminar ou diminuir a criminalidade, mas de apenas realoca-la. A criminalidade apenas seria
deslocada para regiões com atuação menos efetiva das forças policiais.

Teoria da Associação Diferencial / Aprendizagem / Social Learning

Baseada no pensamento de Edwin Sutherland (1883-1950), inspirado, por sua vez, nos
ensinamentos do sociólogo e jurista francês, Gabriel Tarde, trabalha o pensamento segundo o
qual o crime não consiste apenas em uma inadaptação de pessoas pertencentes as classes
menos favorecidas (não está vinculado apenas à pobreza), vez que não é praticado com
exclusividade por seus integrantes (ricos também praticam crimes).
Defende que comportamento humano tem origem social, e o homem, ao aprender a conduta
desviada, associa-se com referência nela. Sendo o cidadão estimulado a aprender e repetir os
comportamentos praticados no círculo social ao qual pertence, seria capaz de aprender também
a praticar crimes, como acontece ao se aprender uma profissão. Aprende a criminalidade desde
os meios e métodos (modus operandi) até os respectivos resultados e “vantagens”.
O indivíduo é convertido em delinquente no momento em que os valores predominantes no
grupo, do qual faz parte, ensinam o delito. Isso pode acontecer especialmente quando os
exemplos de comportamentos criminosos superam os de boa conduta, a exemplo de famílias
com membros envolvidos com a criminalidade, círculo de amizades desvirtuados, etc.
Se aprende o crime assim como se aprende uma boa ação. O delito não tem como causa
fatores hereditários, mas sim a influência do meio. É aprendido mediante a comunicação com
outras pessoas.
Para Sutherland, era necessário processos de comunicação pessoal direta (convivência ativa)
para que o sujeito aprendesse a criminalidade com seus pares (divergindo nesse ponto de
Gabriel Tarde que defendia a ideia de aprendizagem por meio da mera imitação, funcionando o
indivíduo como mero receptor passivo de informação).

Importante: no final da década de 30, Edwin Sutherland cunhou a expressão White-collor crime
(“Crime de Colarinho Branco”), explicando que membros de elites e de classes abastadas
também praticavam crimes (geralmente, delitos de ordem econômica) por estarem inseridos
em ambientes cujos membros estavam corrompidos (aprendiam, por exemplo, atos de
corrupção). Tal teoria trouxe grandes avanços no Direito Penal Econômico.

Teoria da Identificação Diferencial

É semelhante a teoria anterior, mas com ela não se confunde.


Vimos que para a Associação Diferencial, o crime se aprende com outras pessoas, por meio
de processos de comunicação pessoal.
Já na Identificação Diferencial desenvolvida por Daniel Glasser, há a possibilidade do
indivíduo aprender o crime a partir da identificação com o criminoso tomados como referência,
independentemente de aproximação ou convívio pessoal.
Parte da premissa segundo a qual para se aprender algo não é necessário a proximidade,
bastando a existência de um modelo de conduta remoto.
Daí critica-se o estímulo de crimes por parte da mídia que, segundo esta teoria, possui o
poder de influenciar positiva ou negativamente as pessoas.
Tal corrente critica cinemas, novelas, filmes ou qualquer cena de exibição que faz apologia,
ainda que indiretamente, à prática de crimes, geralmente destacando vilões encarnando
policiais e agentes do Estado corruptos e truculentos e “mocinhos” ou heróis no papel de
criminosos e traficantes como espécies de “justiceiros sociais”. São casos em que há uma relação

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positiva com personagens delinquentes, ao passo que há ao mesmo tempo uma relação
negativa sobre os personagens que representam agentes de combate ao crime.

Teoria do Condicionamento Operante

Teoria similar à anterior, surgiu nos anos de 1960, por meio dos estudos de Robert
Burguess e Ronald Akers (The Differential Association Reinforcement Theory of Criminal
Behavior – 1966), que defendiam a ideia de que a conduta delinquente é fruto das experiências
passadas do indivíduo, derivando de uma série de estímulos contínuos que o indivíduo recebe
ao longo da vida.
Segundo os mencionados autores, o processo de aprendizagem é otimizado pelo o que
chamaram de princípios psicológicos de condicionamento operante, podendo serem positivos
ou negativos.
Condutas podem ser reforçadas e estimuladas por meio de princípios de
condicionamento positivos, a exemplo do pai que premia o filho com gratificações por praticar
boas ações, ou negativos, como em casos de abusos familiares em que filhos são castigados por
qualquer comportamento (sendo capaz de estimular as vítimas a se tornarem criminosas no
futuro).

Teoria do Vampiro

A Teoria do Vampiro é similar às teorias anteriores, porém, volta as atenções para casos de
vítimas de abusos, estabelecendo que vítimas de violência sexual na infância, a título de
exemplo, são propensas a serem também abusadoras e violentas na vida adulta.
Não raras as vezes, vítimas de abusos acabam se tornando abusadoras na vida adulta. Daí a
expressão “vampiro”, personagem folclórico cujo poder é de sugar o sangue de suas vítimas e,
mantendo-as vivas, terá o poder de transformá-las também em vampiros.

Teoria do Reforço Diferencial

Teoria pautada na ideia de que o comportamento criminoso está em processo de constante


interação com o meio social em que se insere, com a incidência de condicionamentos por meio
de ideias de saciedade e privação.
Com isso, algumas pessoas saciadas por algum anseio responderiam de forma diversa
daquelas não saciadas (privadas de algum desejo).

Exemplo: pessoa privada de direitos econômicos (pobre), seria propensa a praticar crimes
patrimoniais visando saciar as próprias vantagens.

Importante destacar que esta teoria também considera outros fatores como estimulantes de
condutas criminosas, a exemplo de fatores bioquímicos e biológicos.
Influenciada pela Escola Clássica, defende como forma de prevenir crimes a certeza da
punição (a impunidade estimula a prática de novos crimes).

Teoria da Neutralização

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Cunhada por David Matza e Gresham Sykes ao analisarem a delinquência infanto-juvenil,


percebem a utilização de técnicas de neutralização utilizadas pelo próprio delinquente na
expectativa de racionalizar e justificar a própria conduta criminosa.
Partindo também da premissa de que o crime é fruto de um processo de aprendizagem a
partir da interação social, alguns criminosos podem apresentar a característica de
autojustificação, passando a apresentar argumentos que de algum modo justificaria seus crimes.

Conforme a doutrina, 5 técnicas de neutralização se destacam:


➢ Negação da própria responsabilidade (“a culpa não foi minha”);
➢ Negação da lesão praticada (Negação da ilicitude) (“eu achava que minha conduta não
causaria nenhum mal”);
➢ Negação da vítima (“ele teve o que merecia”);
➢ Condenação dos condenadores (“todo mundo pega no meu pé injustamente”);
➢ Apelo à lealdade (“eu não fiz isso por mim, mas sim por um bem maior”).

Teoria da Subcultura Delinquente

Teoria formulada pelo sociólogo norte-americano Albert K. Cohen (1918-2014), em especial


com a publicação da obra Delinquent Boys (1955), apontando pela existência de uma chamada
subcultura, correspondendo por uma espécie de cultura inferior inserida em outra cultura (esta
sim predominante).
Tem origem nos Estados Unidos da América, pois logo após a segunda guerra mundial os EUA
alcançava expressivo crescimento econômico e tecnológico.
A partir daí, houve naturalmente um aumento na erosão da divisão de classes sociais, pois,
com o crescimento das grandes metrópoles, houve naturalmente um afastamento das periferias
– além do aumento da divisão entre as classes ricas (cada vez mais ricas com a revolução
industrial) e classes menos favorecidas (cada vez mais pobres).
Tal teoria vincula o aumento da criminalidade com o crescimento da população menos
favorecida, sem acesso ao que seria considerado cultura de qualidade (daí o título).
A chamada subcultura até reconhece a existência e os valores da cultura dominante, porém,
acaba por colocar em prática os próprios valores que, por vezes, acaba por se traduzir na prática
de crimes.
Exemplos da subcultura delinquente nos EUA: gangues de delinquência juvenil em bairros
localizados nas periferias das grandes cidades; tribos de pichadores e membros de facções
criminosas em bairros afastados; a luta dos negros norte-americanos por direitos civis nos anos
60, demonstrando a não acessibilidade por direitos em alguns setores sociais (e, portando, da
existência de uma subcultura), etc.
Importante: segundo Cohen, a Subcultura Delinquente se caracteriza por 3 fatores:
a) Não utilitarismo: muitos delitos não possuem motivação racional (exemplo: alguns jovens
furtam roupas que não irão usar);
b) Malícia da conduta: prazer em prejudicar o próximo (exemplo: atemorização que gangues
fazem em jovens que não as integram);
c) Negativismo da conduta: oposição aos padrões predominantes na sociedade (exemplo:
pichação de muros como demonstração de rebeldia).
Crítica: recai sobre a sua incapacidade de explicar a criminalidade como um todo, de forma
genérica, restringindo-se as manifestações da delinquência juvenil e em classes menos
favorecidas.

Teoria da Anomia / Estrutural-funcionalista

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Anomia possui origem grega, significando ausência de lei (a = ausência + nomos = lei),
servindo para a sociologia criminal para apresentar a ideia de que, diante do fracasso dos meios
regulares de proteção social (descrédito na certeza da punição, por exemplo), bem como
descrédito das normas e dos valores sociais, será possível se atingir um estado de completo
abandono das regras de convívio social (anarquia), importando na chamada anomia.
Apesar de ser espécie de teoria do consenso, ante seu caráter estrutural-funcionalista, a
teoria da anomia possui predicados Marxistas, e foi cunhada por Robert King Merton (artigo
Social Structre and anomie, em American Sociological Review, 1938), inspirado nos
ensinamentos de Émile Durkheim. Fazendo uma síntese dos mencionados autores, podemos
explicar a criminalidade por meio de uma ótica sociológica sustentando que determinado
comportamento pode ser considerado criminoso por violar o consciente coletivo (valores
comuns da sociedade).
Ademais, afastando das ideias da Escola Positivista, a teoria da anomia afasta a ideia do crime
como anomalia (dispensando estudos biológicos), passando a adotar uma concepção
puramente sociológica).
A partir da perspectiva que se enxerga o fenômeno criminal sob o prisma sociológico, a teoria
da anomia chega às seguintes conclusões:
➢ Crime: qualquer comportamento capaz de violar o consciente coletivo, ou seja, lesões aos
valores preponderantes na sociedade;
➢ Pena: passa a ser instrumento de defesa do consciente coletivo e preservação da sociedade.
Mas como definir o que é, de fato, consciente coletivo? Evidentemente, será mais preciso
uma análise de cada grupo social, diagnosticando quais os valores preponderantes em cada
local, porém, a teoria da anomia nos fornece diretrizes mínimas para a correta compreensão do
fenômeno criminal: é a estrutura social responsável por definir os fins e metas culturais
dominantes, bem como quais os meios institucionalizados considerados legítimos.
Fins e metas culturais podem ser definidos como os alvos almejados pela maioria dos
cidadãos, tais como a riqueza, o sucesso, qualidade de vida, status social, estabilidade, etc,
enquanto que os meios institucionalizados considerados legítimos são os modelos de condutas
consideradas corretas para atingir os fins e metas culturais, tais como o trabalho, estudos,
esforço pessoal, etc.
A partir da ideia acima, Robert King Merton apresenta 5 possibilidades de adaptações
distintas de um sujeito aos meios institucionalizados (alguns legítimos e outros não) visando
alcançar as metas culturais:
a) Conformidade (comportamento modal): é o modelo de adaptação comum (legítimo e não
criminoso) em que o sujeito aceita as metas culturais elencadas pela sociedade, bem como os
meios institucionalizados legítimos para alcança-las.
Exemplo: indivíduo aceita a ideia de que precisa trabalhar para alcançar sucesso profissional,
ainda que dessa forma precise de anos para atingir metas.

b) Inovação: aqui o indivíduo até aceita as metas culturais, todavia, rejeita os meios legítimos
elencados pela estrutura social, passando a praticar condutas desviadas como meio para atingir
fins e metas culturais.
Exemplo: indivíduo quer riqueza e status social (metas culturais dominantes), porém, rejeita a
ideia de trabalho e passa a buscar tais metas por meio de assaltos a mão armada (meios
ilegítimos).

c) Ritualismo: aqui inverte-se os polos do modelo anterior. O indivíduo rejeita as metas


culturais, porém, por meio de um comportamento rotineiro (por hábito) e conformista,
permanece respeitando os meios legitimamente institucionalizados, agindo por toda a vida
como se tivesse praticando um ritual.

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Exemplo: indivíduo não concorda com a ideia de que só se consegue sucesso ou status social
por meio da riqueza, todavia, mesmo assim permanece em sua rotina de trabalho e estudos
deixando de praticar qualquer conduta delituosa (pratica hábitos ritualísticos como o trabalho
rotineiro mesmo sem acreditar que seu fruto será o sucesso ou que o sucesso seja mesmo
importante).

d) Evasão (retraimento ou inocuização): o indivíduo rejeita tanto as metas culturais quanto


os meios institucionalizados, passando a viver à margem da sociedade.
Exemplo: mendigos, andarilhos, alcoólatras e dependentes químicos patológicos e crônicos que
não buscam metas na vida, tampouco trabalham, estudam ou praticam qualquer outro meio
institucionalizado.

e) Rebelião: revoltado ou por inconformismo, o indivíduo rejeita as metas culturais e os


meios institucionalizados, passando a praticar condutas desviadas na tentativa de mudar o
corpo social atual (geralmente pela força).
Exemplo: anarquistas, rebeldes sem causa e “revolucionários sociais” que tentam mudar o
mundo por meios imediatistas e bruscos, cuja finalidade é implementar a própria visão ideal de
sociedade.

Em síntese:
Meios Culturais (status, poder, Meios Institucionalizados
Modos de Adaptação
riqueza, qualidade de vida, etc.) (escola, trabalho, etc.)
Conformidade Aceita Aceita
Inovação Aceita Não aceita
Ritualismo Não aceita Aceita
Evasão/Retraimento Renúncia Renúncia
Rebelião Não aceita Não aceita
A conclusão é de que com o fracasso na perseguição das metas culturais (insucesso, por
exemplo), somado a escassez dos meios institucionalizados (desemprego, desigualdade social,
ensino público precário, etc.), a sociedade caminhará para um estado de anomia, ou seja, estado
de desordem com comportamentos desviados e estranhos às normas sociais (crimes).
Importante frisar que, segundo essa teoria, a prática de crimes em índices mínimos pode ser
tolerada por se tratar de um fenômeno comum e natural, porém, se alcançado índices elevados
e alarmantes de criminalidade, estaremos diante de um estado de desordem social e de caos,
com o risco de subversão dos valores até então dominantes somados com a completa descrença
no sistema normativo de condutas, acarretando no estado de anomia.

Teoria do Labelling Approach (Rotulação, Etiquetamento, Interacionismo simbólico ou Reação


Social)

Teoria cunhada em 1960 por Erving Goffman, Edwin Lemert e Howard Becker (autores da
Nova Escola de Chicago), inspirados pelas doutrina de Émile Durkheim, defendem que o crime
é produto de um processo social formal e informal de interação, seleção, discriminação e
estigmatização.
Segundo essa teoria, para que um fato seja considerado criminoso é necessário a criação de
uma norma penal incriminadora. Tal norma seria preparada pelas elites dominantes com a
finalidade de subjugar outras classes. A ideia básica é de que o processo de criminalização
primário funcionaria como instrumento de proteção dos interesses individuais e egoístas da
classe dominante (elites políticas e empresariais).
A partir daí, duas correntes surgem criando variações da teoria do Etiquetamento:

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1ª Corrente (radical): defendem a ideia de que o processo de Etiquetamento é aplicado por


agentes de controle social formal, tais como policiais, promotores, juízes, etc.
2ª Corrente (ampliativa): acreditam que o processe de Etiquetamento é exercido por agentes
de controle social formal, bem como agentes informais, ao exemplo de famílias que apontam
quem seria desde a tenra idade a “ovelha negra da família”, ou em grupos escolares onde desde
as fases iniciais grupos de alunos excluem ou estigmatizam alguns outros alunos (aluno difícil ou
marginalizado).
A teoria em estudo aduz que o delito é desprovido de conteúdo, sendo resultado de mero
processo de estigmatização arbitrário e discriminatório seletivo contra grupos inferiores e
promovidos para a proteção dos interesses das elites.
Perceba a ótica invertida dessa teoria: ao invés de se questionar os motivos do indivíduo ter
praticado determinado delito, passa-se a investigar os motivos pelos quais determinadas
pessoas seriam estigmatizadas pelo processo de criminalização (não se questiona o motivo do
sujeito ter estuprado, mas sim o motivo dele ter sido etiquetado como estuprador pelo sistema
de justiça penal).
Partindo dessa premissa, a pena seria instrumento estatal gerador de desigualdades. O
criminoso, ao adquirir tal status (rótulo), passará a encontrar enormes dificuldades em se ver
livre da condição de delinquente, por dois motivos:
a) a própria sociedade oferecia resistência em aceita-lo novamente;
b) sendo massivamente estigmatizado como delinquente, seja pela sociedade, seja pela
mídia ou mesmo pelo Estado, o indivíduo passaria a acreditar nessa ideia, assumindo-se como
tal.
Nas palavras de Paulo Sumariva, “para essa teoria, em termos gerais, é pela afirmação de
que cada um de nós se torna aquilo que os outros vêem em nós e, de acordo com essa mecânica,
a prisão cumpre uma função reprodutora”.
Com isso, tal teoria sustenta que a criminalização primária produz a “etiqueta” ou “rótulo”,
que, por sua vez, produz a criminalização secundária (reincidência).
Exemplos de “etiquetas”: atestados de antecedentes, folha corrida criminal, divulgação de
jornais sensacionalistas, etc.).
Inspirações no Brasil: Por conta da ideia de que o cárcere é prejudicial, inspirou no Brasil a Lei
dos Juizados Especiais Criminais (Lei nº 9.099/95), com a criação de institutos que evitam o
cárcere (institutos despenalizadores: composição civil dos danos, transação penal e suspensão
condicional do processo).
Além disso, inspirou a Reforma Penal de 1984, que alterou a Parte Geral do Código Penal, a
progressão dos regimes de penas e as penas alternativas, numa tendência garantista de não
intervenção ou de Direito Penal Mínimo.

Teoria Crítica, Radical, Marxista ou Nova Criminologia

Responsável por criticar todos os modelos criminológicos – inclusive o labelling approach –


a teoria crítica possui suas bases na filosofia do alemão Karl Marx, inspirador do comunismo e
do socialismo, resumindo os conflitos sociais à velha luta de classes e culpando o sistema
capitalista como o responsável por todos os males.
Critica todas as outras teorias e correntes da Criminologia, por considerar a criminalidade um
problema insolúvel dentro da sociedade capitalista.
Parte da ideia de que a divisão de classes no sistema capitalista gera desigualdades e violência
a ser contida por meio da legislação penal. A desigualdade geraria o egoísmo sobre os oprimidos,
levando-os a delinquir.
Conclui que a norma penal surge como instrumento de controle social preconceituoso, por
recair apenas sobre a classe trabalhadora e menos favorecida, não sendo aplicada da mesma
forma às elites.

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Ademais, atualmente muitos defensores desta teoria marxista passa a enxergar o criminoso
como um novo agente revolucionário (status anteriormente empregado à classes de
proletariados). Justamente por esse motivo, alguns enxergam o criminoso até mesmo com certo
apresso, por entenderem se tratar de um agente transformador visando preparar uma nova
ordem social.
Justamente por não ventilar exceções às causas do crime, atribuindo culpa exclusivamente
ao capitalismo, é que tal teoria é também chamada de radical.
Sendo assim, podemos destacar como características da Teoria Crítica:
- O Direito Penal se ocupa de defender os interesses do grupo social dominante;
- Reclama compreensão e até apreço pelo criminoso;
- Critica severamente a criminologia tradicional;
- O capitalismo é a base da criminalidade;
- Propõe reformas estruturais na sociedade para a redução das desigualdades e,
consequentemente, da criminalidade.
Importante também apontar as diversas críticas sobre essa teoria:
Críticas:
I – Retira do ser-humano qualquer possibilidade de auto responsabilidade ao culpar
exclusivamente o sistema capitalista, considerando o criminoso como uma mera vítima da
sociedade e da classe em que foi inserida.
II – Não explica os crimes dos mais abastados e não explica o não cometimento de crimes por
outras pessoas que também vivem em classes menos favorecidas.
III – Aponta apenas problemas em países capitalistas, deixando de analisar por completo os
crimes praticados em países socialistas/comunistas, a exemplo da antiga União Soviética com
índices elevados de criminalidade durante o comunismo, dentre outros exemplos como a
criminalidade em países como Cuba, Venezuela, Nicarágua, dentre outros.

Esta teoria inspirou três tendências da criminologia: neorrealismo de esquerda;


abolicionismo penal e direito penal mínimo.

Teoria Abolicionista (Liberdade Individual Máxima)

Surge na Escandinávia, na década de 1990, com a criação do KRUM (que, traduzida, significa
Associação Sueca Nacional para a Reforma Penal).
Defendem a abolição do Direito Penal, excluindo, consequentemente, a prisão juntamente
com todo o sistema de justiça criminal.
Parte da ideia de que o Direito Penal não soluciona conflitos – ao contrário, seria fator capaz
de criar novos crimes por meio de processos de estigmatizações seletivos.
Com isso, a solução viria de instrumentos informais (diálogos, tratamentos médicos ou
psicológicos, concórdia, solidariedade etc.) ou de outras instâncias de controle menos
repressivas como o Direito Civil e o Direito Administrativo.
Apresentam as seguintes ideias visando solucionar o conflito criminal:
a) Anarquismo: defendem o fim do Estado Penal. Sugerem que os indivíduos, passando a
serem todos de total liberdade (sem freios legais impostos pelo Estado) estaria preparado para
alcançar um estado de fraternidade e solidariedade plena, dispensando o sistema punitivo;
b) Marxismo: argumentam que o fim do sistema penal seria válido por representar mero
instrumento de repressão cujo objetivo é ocultar os conflitos sociais;
c) Cristão e liberal: sem o Estado ditando regras e imputações, o indivíduo resumiria todos
os seus problemas a fatores econômicos (assuntos financeiros ocupariam seus próprios
conflitos).

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Por fim, para muitos a ideia do abolicionismo não passa de utopia – ainda assim,
extremamente perigosa dada a sua capacidade de criar uma sociedade anárquica.

Teoria Minimalista

Trata-se de uma espécie de “abolicionismo moderado”, apregoando que o Direito Penal deve
subsistir de maneira mínima, sendo aplicado apenas sobre casos extremamente graves.
A pena privativa de liberdade, por exemplo, seria medida excepcionalíssima, sendo que o
Estado deveria aplicar medidas alternativas de repressão (prestação de serviços à comunidade,
pagamento em cestas básicas, multa etc.).
A título de exemplo, negam a possibilidade de aplicação da prisão aos crimes praticados por
organizações criminosas e tráfico internacional de armas e fogo sob o argumento de que as
finalidades não seriam alcançadas, quais sejam, a eliminação dos criminosos e o afastamento
dos instintos delinquentes dos indivíduos.

Teoria Neorrealista de Esquerda (Antiliberal)

Apesar de ter influências marxistas, caminha em sentido diametralmente oposto comparada


com o abolicionismo e minimalismo, por defender um Direito Penal rigoroso e maximalista
(inspirada pela teoria da tolerância zero e janelas quebradas).
Não enxergam apenas a pobreza como fator determinante para a prática de crimes, mas
também a competitividade, ganância, machismo, consumismo, individualismo etc.
Com isso, sobre as demais causas, defendem um Direito Penal Máximo (defendem total rigor
contra alguém considerado machista, homofóbico, ganancioso etc.).
Além disso, defendem o afastamento da discricionariedade do Poder Judiciário na aplicação
da lei penal, limitando-se em aplicar a legislação de maneira fria e objetiva, sem margens para
interpretações ou juízos de valor.

Criminologia Cultural e Mídia

Originada na década de 1990 como herança da criminologia crítica (especialmente das


teorias da subcultura e labelling approach), por meio dos estudos de Jeff Ferrel, Clinton Sanders,
Keith Hayward, Mike Presdee e Jock Young, que, segundo os próprios autores, passaram a
analisar “o crime e as agências de controle como produtos culturais – como construções
criativas. Como tais, devem ser lidas nos termos dos significados que carregam”.
Em síntese, para a Criminologia Cultural, tanto o crime quanto os mecanismos de controle
social são frutos da cultura de cada região. Daí, surge a necessidade de entender imagens,
representações simbólicas, significados do delito, subculturas conforme os valores das culturas
dominantes na sociedade.
Apenas entendendo as bases culturais da sociedade será possível traçar um diagnóstico
seguro sobre o crime.
Nesse sentido, a Teoria Cultural contemporânea passa também a analisar o grande papel da
mídia na criminalidade, isso porque a mídia exerce fortíssima influência em mudanças culturais.
Por meio de novelas, filmes, documentários dentre outros produtos, a mídia é capaz de
interferir diretamente na criação e modificação de pensamentos em grande escala, alcançando
um número indeterminado de pessoas em fração de segundos.

Teoria “Queer”

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A palavra queer possui origem norte-americana e significa literalmente esquisito, estranho


ou excêntrico. A presente teoria surge no final dos anos 80 por meio de ativistas e movimentos
cujas pautas são: “identidade de gênero e heteronormatividade”.
Associa-se com a violência contra homossexuais (crimes com motivações homofóbicas).
As chamadas “violências heterosexistas” são classificadas da seguinte forma:
a) Violência simbólica: violência que parte de questões culturais homofóbicas de menosprezo
e inferiorização sobre homossexuais;
b) Violência das instituições: seria a homofobia praticada pelo próprio Estado, criminalizando
ou rotulando como patológicas as identidades homossexuais;
c) Violência interpessoal: consiste na violência individual propriamente dita de cunho
homofóbico, como agressões e insultos contra homossexuais.

Teoria Feminista

A teoria feminista pauta-se na luta pela igualdade entre homens e mulheres.


Parte do pressuposto de que a sociedade é machista e impõe papéis opostos entre homens
e mulheres.
A sociedade seria responsável por conceder aos homens funções nobres e de prestígio, ao
passo que conferiria posições inferiores e de pouco valor ou relevância às mulheres.
Os contornos feministas sobre a Criminologia são recentes, iniciando-se na década de 1970
e recebendo maiores avanços entre 1980 e final da década de 1990.
Segundo Carolina Fernandes dos Santos:

“A criminologia feminista é muito ligada à diferenciação da criminalidade quanto ao


gênero, diferente da criminologia tradicional que traz a figura masculina como
principal foco de estudos criminológicos. Falar sobre crimes cometidos por mulheres
acaba as associando e as comparando com os crimes cometidos por homem,
justamente porque é ele a representação do ser violento.

Por mais que se busque a necessidade de estudar e analisar ainda mais o contexto das
mulheres no crime, a resposta que o sistema penal brasileiro dá – não só o sistema
penal, mas a sociedade em si – mostra o recorte social até mesmo dentro das questões
de gênero, visto que não há a possibilidade de concentrar mulheres como um só grupo;
por mais que seus crimes sejam colocados como impotentes, as mulheres encarceradas
pertencem desproporcionalmente a determinados grupos étnicos minoritários.

Os esudos de gênero são base na teoria feminista, entretanto eles ainda trazem as
mulheres brancas como paradigma, revelando um caráter colonialista. A partir dessa
universalização, surgiram outras análises das criminologias feministas em diferentes
vieses, dando espaço para novas abordagens criminológicas, tais como as teorias
feministas negras (black feminist criminology), a teoria queer (queer criminology) e a
teoria latino-americana (criminologia marginal).

Nesse sentido, a análise de gênero não deve ser colocada de forma isolada nos estudos
criminológicos, visto que a discriminação não é a mesma para todas, mas perpassa por
variados âmbitos dentro das próprias questões de gênero, dando espaço para novos
paradigmas criminológicos com a inclusão de marcadores sociais no campo da
criminologia.

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A criminologia feminista não só incluiu as mulheres na discussão das teorias


criminológicas como, em seu desenvolvimento, trouxe a importância de discutir pautas
para além das questões isoladamente de gênero, reconhecendo os novos e
diferenciados sujeitos do feminismo”.

Por fim, sustentam que, além da objetificação da mulher (tornando-a vulnerável em


contextos privados a exemplo do próprio lar), há uma espécie de sexismo institucionalizado,
evidenciando violências contra a mulher desde a criação de leis até as respectivas e efetivas
aplicações concretas.

Criminologia Racial

A Criminologia Racial é corrente de pensamento que parte de um pressuposto muito


importante: afirmam que a maioria das escolas criminológicas, direta ou indiretamente,
possuem aspectos racistas por dois possíveis motivos:
• Por considerarem pessoas negras como criminosas em potencial; ou,
• Por não considerarem questões sobre raça quando tratam do tema da
criminalização.
A título de exemplo, os defensores da Criminologia Racial apontam o marco histórico do
surgimento da Criminologia como ciência (Século XIX) por meio da Criminologia Positiva
(especialmente com o positivismo de Lombroso), em que negros e indígenas faziam parte de
um grupo considerado inferior e propensos à criminalidade.
Mas não para por aí. Mais do que uma correção histórica, os adeptos da Criminologia Racial
também buscam influenciar (e, consequentemente, criar mecanismos mais justos e sem
preconceitos) nas seguintes áreas e temas:
• Seletividade do sistema penal brasileiro;
• Encarceramento em massa de pessoas negras;
• Construção do estereótipo do negro como delinquente em potencial.
Em que pese a Criminologia Racial ser fruto da Teoria Crítica, em muitos aspectos se aproxima
da Teoria do Etiquetamento. Nesse sentido, importante apontarmos pontos de contatos entre
ambas, acrescentando o chamado Direito Penal Subterrâneo1:

Teoria do Etiquetamento Criminologia Racial Direito Penal Subterrâneo


As etiquetas de “crime” e Partindo da ideia de que os Ao final, não havendo
“criminoso” são socialmente valores sociais dominantes legalidade para práticas
construídas a partir de estão impregnados de cruéis como a pena de morte,
definições legais e de ações “racismo estrutural”, as tortura, etc., é possível que
das agências de controle pessoas negras acabam agentes públicos, movidos
social formal. Para tanto, sendo etiquetadas como por racismo, venham a
leva-se em consideração os criminosas (especialmente praticar crimes contra
valores sociais dominantes. por conta da cor da pele). pessoas negras à margem da
lei.

1
Direito Penal Subterrâneo, conforme leciona Eugênio Raul Zaffaroni, é exercido pelas agências
executivas de controle (controle social formal) - portanto, pertencentes ao Estado - à margem da lei e de
maneira violenta e arbitrária, contando com a participação ativa ou passiva, em maior ou menor grau,
dos demais operadores que compõem o sistema penal. Trata-se de violências exercidas por agentes
públicos, à margem da lei e de forma oculta e velada. Dessa forma, na prática, o Sistema Penal
Subterrâneo acaba por “institucionalizar” a pena de morte, desaparecimentos, torturas, sequestros,
exploração do jogo, da prostituição, entre outros delitos.

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Em que pese se tratar de fruto da Teoria Crítica, a Criminologia Racial critica os expoentes da
criminologia marxista pela omissão história em nunca tratarem de aspectos raciais. Em síntese,
tem bases filosóficas marxistas, por também partir da ideia de divisão de classes a partir do
sistema capitalista, mas se aproxima da Teoria do Etiquetamento por concluir que o racismo
estrutural é fruto da organização da sociedade por elites brancas dominantes (rótulo imposto
por elites compostas por brancos racistas).

Teoria dos Instintos

Trata-se de adaptação da sociologia para a criminologia da Teoria Freudiana do Delito por


Sentimento de Culpa.
Segundo a teoria dos instintos, o ser-humano possui naturalmente instintos criminosos. Tais
instintos são reprimidos (mas nunca destruídos) pelo próprio ego ou vaidade, permanecendo
adormecidos no inconsciente.
Ainda no inconsciente humano, haveria ao mesmo tempo um sentimento de culpa e uma
tendência a confessar as próprias vontades criminosas.
Assim, a partir do momento em que o indivíduo pratica o crime, estaria, em verdade,
superando o sentimento de culpa e realizando concretamente sua tendência à confissão
delituosa.

Criminologia Ambiental e teorias correlatas

A chamada criminologia ambiental analisa a criminalidade e o processo de vitimização


considerando o lugar, espaço e a respectiva interação entre ambos os fatores. Analisa como o
ambiente proporciona oportunidades para a criminalidade.
Segundo Jacobs (1967) e Newman (1972), são objetos de estudo da criminologia ambiental:
– Alvos do crime (processos de vitimização);
– Lugares do crime e suas características;
Perceba que o enfoque não recai sobre a explicação dos motivos pelos quais os criminosos
são “formados” como tais. A investigação recai sobre as circunstâncias que permearam o ato
criminoso. A preocupação não recai sobre “quem” praticou o crime, mas sim em como o delito
é praticado.
A partir desta noção, surgem algumas teorias como desdobramentos da criminologia
ambiental, valendo estudarmos cada uma em tópicos próprios.

Teoria das Atividades Rotineiras (routine activies theory)

Segundo a teoria das atividades rotineiras, para que o ambiente esteja propício para o
cometimento de um crime, é necessário a convergência de espaço e tempo em, ao menos, três
elementos:
– Agressor provável: criminoso motivado por alguma doença, ou pela ganância, vontade de
lucro fácil, desorganização social etc.;
– Alvo adequado: confunde-se com o objeto do crime, podendo ser uma pessoa, local ou
objeto. A noção do valor do alvo pelo criminoso pode aumentar ou diminuir o risco da ocorrência
do crime;
– Ausência de guardião ou vigilância adequada capaz de evitar o delito: trata-se de pessoas,
agentes estatais ou instrumentos preordenados para a defesa de alguém ou de algo, podendo
ser formal (polícia, guardas) ou informal (segurança particular, cerca elétrica etc.).

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Teoria da Escolha Racional (rational choice theory)

A ideia da teoria da escolha racional é se colocar no lugar do criminoso (hipoteticamente


falando) como forma de diagnosticar as suas motivações para o crime (“pense como o
criminoso”), ou seja, volta a atenção para o processo de decisão do delinquente.
A noção de escolha do criminoso – que poderá optar por praticar ou não praticar o crime –
se baseia na própria noção sobre o ambiente em que está inserido no momento da tomada de
decisão (o criminoso, conforme a própria visão de mundo, avaliará a proporção entre riscos e
recompensas se escolher o crime).
Parte do pressuposto de que o criminoso é imediatista, analisando as características
presentes no momento da decisão, pouco se importando com eventual punição.

Teoria do Padrão Criminal (crime pattern theory)

A presente teoria volta as atenções para as investigações policiais. A polícia judiciária, como
representação de uma das diversas formas de apresentar diagnósticos sobre a criminalidade,
costuma encontrar padrões sobre a atividade criminosa.
Nesse sentido, podemos mencionar alguns exemplos de padrões capazes de fornecer
informações úteis em futuras medidas de prevenção:
• Espécie de crime: qual o crime praticado;
• Modus operandi: diagnóstico da maneira como criminosos praticam determinados
crimes;
• Ambiente/espaço/local: determinados crimes podem ocorrer com maior frequência
em algumas regiões ou bairros, a exemplo dos chamados hot spots (locais com
grande concentração de determinados crimes);
• Pessoas: padrões de delinquência a exemplo de reincidentes ou padrões de vítimas
com pessoas que costumar sofrer com frequência dos mesmos crimes (vítimas de
golpes, de assaltos, de assédios etc.);
• Tempo: espécies de crimes que costumam ocorrer no mesmo período (exemplo:
assaltos que costumam ocorrer no período noturno de determinado bairro pouco
iluminado);
• Eventos: índices criminais que sobem em determinadas épocas ou eventos (exemplo:
crimes de estupros sendo praticados em maior escala no carnaval).

Teoria da Oportunidade (crime opportunuty)

Possivelmente você já deve ter ouvido ou lido a seguinte frase: “a oportunidade faz o ladrão”.
É a representação mais simples e direta da teoria da oportunidade.
Segundo seus defensores, Clark e Felson (1998), a oportunidade em se praticar determinado
delito (juntamente com possíveis recompensas), está entre as principais causas da prática de
crimes.
Ainda conforme os autores acima, a teoria da oportunidade destaca algumas máximas:
• As oportunidades representam um fator muito importante na causa de todos os
delitos;
• Oportunidades para o crime são precisamente específicas;
• Oportunidades devem ser analisadas em cada caso concreto, conforme o tempo e
lugar do contexto criminoso;
• Oportunidades dependem de rotinas diárias;
• Um delito pode gerar oportunidades para outros;

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Tema: Teorias Sociológicas da Criminalidade

• A tentação de cada oportunidade pode variar conforme o valor de cada


produto/objeto do crime;
• Avanços tecnológicos e sociais podem gerar oportunidades novas para a
criminalidade;
• Conclusão lógica da teoria: a prevenção criminal se traduz por meio de reduções das
oportunidades e, sendo assim, a diminuição brusca das oportunidades acarretará
inevitavelmente na queda dos índices de criminalidade.

Teoria do Autocontrole (Self-control)

Cunhada por Gottfredson e Hirschi (1990), a teoria do autocontrole procura aperfeiçoar a


noção de escolha racional da Escola Clássica (livre-arbítrio), somada com o aperfeiçoamento do
determinismo da Escola Positivista.
Entendem que em regra, o que difere um criminoso de um não criminoso é justamente o
autocontrole que este último possui contra os próprios impulsos para a prática de delitos. O
criminoso seria um ser com baixa resistência contra as vontades criminosas que possui.
Considerando o fato de que a maioria dos crimes não exigem grandes esforços ou
meticulosos planejamentos, apenas seres de fraco autocontrole estariam propensos à
criminalidade (tal teoria considera que crimes praticados por organizações criminosas seriam
excepcionais).
A teoria sugere que o delinquente seria um sujeito impulsivo, perseguidor de gratificações e
recompensas imediatistas, ostentando a tendência de praticar uma gama ampla de condutas
desviadas criminosas (furtos, roubos, agressões etc.), e condutas desviadas não criminosas
(consumo de drogas e álcool).
Problemas com o autocontrole podem ter sido gerados por problemas e falta de orientação
na infância. Segundo os autores desta teoria, “o autocontrole se fixa em uma idade muito
prematura (aos oito ou dez anos), mantendo-se, desde então, relativamente constante, ao longo
da vida do indivíduo”, concluindo em seguida que “uma educação familiar incorreta ou errática
ou – em menor medida o fracasso escolar – podem determinar o baixo autocontrole do
indivíduo”.

Teoria da Graxa sobre Rodas

Teoria que constitui verdadeira aberração importada da área da economia (não pertence ao
Direito e não foi introduzida por meio de métodos científicos na Criminologia).
A teoria da graxa sobre rodas procura enxergar aspectos positivos em algumas práticas
corruptas e criminosas no âmbito da Administração Pública.
A noção seria de que em algumas práticas corruptas determinadas burocracias seriam
desrespeitadas e, com isso, a população e a economia seriam indiretamente beneficiadas (a
máquina estatal se movimentaria de maneira mais célere).
Representa a famosa e desagradável frase: “rouba, mas faz”.
Sobre o título, a ideia é que mediante certos atos corruptos o indivíduo sujaria as próprias
mãos, porém tal ato poderia ser capaz de fazer a máquina estatal se movimentar com maior
eficiência (daí a expressão “graxa sobre rodas”).

Teoria da Bola de Neve

Teoria que rechaça a ideia defendida pela teoria da graxa sobre rodas, afastando qualquer
noção positiva em atos de corrupção.

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A ideia é que não há nenhum ato ou reflexo que justifique a corrupção, merecendo ser
tratada como crime, sofrendo os rigores da lei penal, em todos os casos.
A expressão “bola de neve” foi escolhida com base na ideia de que um ato de corrupção
(especialmente os atos não punidos) geram outros atos corruptos, ou seja, apresenta a noção
de que a corrupção funciona como uma espécie de contaminação (crescendo na medida em que
é praticada sem nenhum combate ou medida preventiva), assim como uma bola de neve lançada
abaixo (crescendo na medida em que passa por caminho com neve, aderindo-a, até encontrar
algum obstáculo).

Teoria do Delito como Eleição

A presente teoria nada mais é do que uma síntese de alguns dos principais valores da Escola
Clássica:
- Livre-arbítrio: o criminoso é um ser dotado de racionalidade, escolhendo praticar crimes
de maneira livre;
- Finalidade dissuasória da pena: sendo o criminoso um ser dotado de razão, a pena deve
ser aplicada com a finalidade de intimidá-lo, por meio do medo (coação psicológica),
desestimulando-o a praticar novos crimes.
Todavia, recebe críticas por não se importar com as bases etiológicas do crime, deixando de
se preocupar com outras causas (internas e externas) que podem influenciar o indivíduo na
prática de crimes.

Teoria das Predisposições Agressivas

Trata-se de teoria que resume alguns dos valores da Escola Positivista, contando como
principal defensor o médico legista italiano Cesare Lombroso, baseando-se no:
• Determinismo biológico: o acaso não existe, sendo o criminoso fruto de
hereditariedade (carga-genética “criminosa” ou com tendências ao crime diante de
fatores orgânicos) ou patologias;
• Criminoso nato: em razão de características físicas e morais visíveis no indivíduo
(estigmas degenerativos), era possível diagnosticá-lo como criminoso;
• Atavismo: manifestação de características no organismo fruto de gerações passadas
(“é bandido assim como seu avô foi um dia”).

Teoria Behaviorista ou do Comportamentalismo

Behaviorismo possui origem inglesa, significando: comportamento, conduta. No início do


século XX, influenciado pelo pensamento de Descartes, Pavlov, Loeb e Comte, o psicólogo norte-
americano Johs Broadus Watson (1878-1958) publicou as obras Psicologia: como os
behavioristas a veem (1913) e Behavior (1914) dando origem a presente teoria.
A teoria behaviorista analisa comportamentos de maneira funcional e reacional, ou seja, por
meio de estímulos e reações.
Comparando o ser-humano com qualquer outro animal, a teoria apregoa que o indivíduo
aprende e se adapta ao ambiente em que convive por meio de estímulos e fatores hereditários
apresentando certas respostas (perceba que se trata de teoria objetiva e empírica, que demanda
a análise de cada caso concreto). A partir daí, conhecendo-se as respostas será possível também
prever o estímulo e, com isso, se antecipar para controlar o comportamento do indivíduo (por
exemplo, prevenindo crimes).
A prevenção da criminalidade seria possível a partir de reforços positivos sobre o criminoso,
como meios para estimulá-lo a mudar de comportamento.

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Tema: Teorias Sociológicas da Criminalidade

Exemplo: durante a execução penal, diante de comportamentos inadequados a resposta


seria a punição, ao passo que diante de comportamentos positivos a resposta seria pela
concessão de recompensas.

Teoria do Mimetismo

René Girard, professor emérito da Universidade de Stanford e membro da Academia


Francesa, é o criador da denominada “Teoria do Mimetismo” (originada da palavra “mímica”) e
autor de suas obras fundamentais.
O ponto central de sua pesquisa é focado na gênese da violência presente constantemente
nas sociedades humanas. Para Girard essa violência tem como uma de suas principais raízes
(embora não a única) o processo de imitação que torna todo desejo ou paixão algo que provém
do “outro” de forma eminentemente social.
Logo, trata-se do aprendizado da criminalidade por meio da imitação.

Exemplo: sujeitos que idealizam, se inspiram e passam a imitar criminosos.

Teoria do Cenário da Bomba-Relógio (Tincking time bomb scenario)

Teoria inspirada por romance publicado por Jean Larteguy (Les centurions) em 1960, busca
demonstrar que há hipóteses em que a aplicação da tortura seria admitida (flexibilização de
direitos e garantias fundamentais de suspeitos) em casos de terrorismo.
A ideia é de que, sendo capturado um terrorista, bem como encontrando-se em tempo de
desativar uma possível bomba programada para matar diversas pessoas, na hipótese de recusa
do terrorista em colaborar, admitir-se-á a aplicação da tortura como meio para se obter
respostas no intento de salvar vidas inocentes.
Para os adeptos dessa teoria, o raciocínio é muito simples: diante de uma situação de grande
perigo iminente, em que há conflito entre dois bens jurídicos (vida de diversos inocentes versus
integridade física e psicológica de um terrorista), a vida dos inocentes deverá preponderar sobre
a saúde do criminoso.
Apesar de tal teoria não ser admitida no Brasil e em diversos outros países, importante
destacar que até mesmo para seus adeptos alguns requisitos deverão ser preenchidos para a
correta aplicação da medida:
➢ Casos específicos: é necessário que o ataque terrorista ocorra em local certo e determinado,
não se admitindo tortura em casos genéricos e vagos;
➢ Ataque iminente: o ato terrorista se concretizará em curto prazo, não se admitindo torturas
em casos de terrorismo já consumado (bomba já explodiu);
➢ Potencialidade do ataque: o ato terrorista deve colocar em risco número expressivo de
pessoas;
➢ Envolvimento direto: os suspeitos torturados devem guardar vínculo direto com o ato
terrorista;
➢ Utilitarismo: certeza de que o suspeito possui a informação devida para evitar o ataque;
➢ Ausência de opções (inevitabilidade): inexistência de qualquer outra opção ou caminho para
se obter a informação necessária;
➢ Subsidiariedade: todas as tentativas de obtenção da informação sobre o suspeito foram
esgotadas;
➢ Motivação específica: torturador deve buscar exclusivamente as informações para evitar o
ataque, evitando excessos e tentativas de punições ou castigos;

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➢ Excepcionalidade: medida deve ser excepcional, não se admitido a sua aplicação de forma
rotineira, com frequência habitual.

Teoria da Coculpabilidade e o princípio da parcialidade positiva do juiz

A teoria da Coculpabilidade, cunhada pelo jurista argentino Eugênio Raul Zaffaroni, parte do
pressuposto de que, uma vez constatado a prática de um crime, chega-se à conclusão de que o
Estado fracassou.

Não estamos falando do fracasso estatal do ponto de vista de medidas preventivas


secundárias (rondas policiais, por exemplo) ou terciárias (aplicação da pena evitando
reincidência), mas sim de medidas preventivas primárias (concretização de direitos
fundamentais tais como a saúde, educação, lazer, moradia, qualidade de vida, etc.).

Perceba que tal teoria leva em consideração as desigualdades sociais, estigmas e injustiças
sobre minorias proporcionadas ou toleradas pelo Estado.

Se o Estado não cumpre com as metas elencadas na Constituição Federal, será também
responsável pela conduta do criminoso (daí a ideia de coculpabilidade, ou igualmente culpado).

Nesse sentido, como responsabilizar o Estado? Fazer com que o restante da sociedade
cumpra em parte a pena seria inconstitucional (violação da pessoalidade da pena) e aplicar pena
ao Estado (ente abstrato) também não faria sentido.

Respondendo a tal indagação, os adeptos dessa teoria nos apresentam duas hipóteses
distintas:

➢ Afastamento da punição: em alguns casos é possível que a punição do criminoso não


corresponda a medida justa.

Exemplo: casal de andarilhos que moram nas ruas e que não tiveram oportunidades de ter
uma moradia decidem manter relações sexuais em praça pública durante a madrugada. São
surpreendidos pela polícia e conduzidos até a delegacia diante do crime de ato obsceno. Em
casos assim, defensores da teoria da coculpabilidade defendem o afastamento da punição.

➢ Aplicação de atenuante genérica: há casos em que não haverá a possibilidade de afastar


a responsabilização penal, todavia, será perfeitamente possível a aplicação de
atenuante genérica na pena do criminoso como forma de diminuir a reprovação de sua
conduta.

Exemplo: morador de rua, faminto, decide por furtar alimentos de mercearia. Nesse caso,
responderá pelo crime de furto, com a possibilidade de ser beneficiado por atenuante genérica
prevista no artigo 66 do Código Penal.

Como outra forma de compensar desigualdades sociais, implementar uma justiça chamada
humanitária e compensar a sociedade da ineficiência estatal, surge o chamado princípio da
parcialidade do juiz.

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A regra, a luz da Constituição Federal de 1988, é pela aplicação da lei penal de maneira
imparcial pelo julgador, todavia, há corrente de pensamento que defende a noção de que não
existe juiz imparcial.

Sendo o magistrado um ser-humano, entendem que todo humano é desprovido de


neutralidade, possuindo as próprias convicções pessoais de cunho ideológico, sociológico,
culturais, epistemológico, psicológico, éticos, morais e religiosos.

Logo, seria necessário, inicialmente, superar a ideia simbólica de imparcialidade do julgador.


Todavia, apenas uma espécie de parcialidade, para esta corrente, poderá ser admitida. Nesse
sentido, destacamos ambas as espécies de parcialidade e respectivas formas de tratamento:

➢ Parcialidade negativa do juiz: representa a aplicação da lei pelo magistrado de maneira


tendenciosa, baseando-se em estigmas e fatores pessoais. Geralmente, punindo certos
indivíduos com maior rigor apenas com base em fatores pessoais. Ademais, a presença
de parcialidade negativa legitima a aplicação de regras processuais (penais e civis) de
impedimento e suspeição do juiz.

Exemplo: juiz que aplica penas distintas em casos semelhantes, sendo uma pena
rigorosa para indivíduo marginalizado e pena meramente simbólica para indivíduo elitizado.

➢ Parcialidade Positiva do juiz: representa a instrumentalização da igualdade no processo


sobre indivíduos que foram desprovidos por toda a vida de alguns direitos
fundamentais. O juiz agiria, no desempenho de suas funções de magistrado, como um
agente social passaria a compensar diferenças sociais, culturais, raciais, econômicas,
éticas etc. Essa seria a espécie de parcialidade considerada justa e necessária pelos
defensores o princípio ora estudado. Eis o princípio combatível e que concretiza a teoria
da coculpabilidade.

Exemplo: juiz que decide por aplicar atenuante genérica sobre criminoso que praticou
furtos no bairro por reconhecer que o condenado não foi “nasceu privilegiado” ou em “berço
de ouro”, sendo, ao longo da vida, estigmatizado e marginalizado.

Concluindo, conforme o princípio da parcialidade positiva, o magistrado deve reconhecer


diferenças culturais, sociais, étnicas, econômicas, raciais, dentre outras, em decisões judiciais
como medida de verdadeira justiça.

Efeito Lúcifer: Experimento de Milgram e Aprisionamento de Stanford

Nas décadas de 60 e 70 dois experimentos foram realizados objetivando averiguar qual o


nível de influência que mandamentos, ambientes e poderes destinados a pessoas poderiam
influenciá-las. Analisaremos cada um dos experimentos para depois sinalizarmos a conclusão
em comum de ambos e que já vem sendo cobrado em concursos públicos.

O primeiro trata-se do experimento de Milgram, realizado em 1962 pelo psicólogo norte-


americano Yale Stanley Milgram. Os elementos desse experimento envolviam a obediência cega
e sem questionamentos, bem como atos de violência:

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Alguns homens foram separados, sendo que os alvos do experimento ocupavam os personagens de
professores. Os demais foram divididos entre supervisores e alunos – nestes dois grupos, os homens
sabiam que se tratava de um experimente e, portanto, atuavam visando a que os “professores”
acreditassem na espontaneidade de cada detalhe.

Em uma sala ficavam os “professores” e “supervisores” e em outra sala ficavam os alunos. Os


“professores”, assistidos e orientados pelos “supervisores” deveriam realizar perguntas aos “alunos” que,
por sua vez, deveriam responder.

Para cada resposta incorreta os “professores” eram orientados a apertarem um botão que acionaria
choques sobre o respectivo aluno. Em verdade, como os “alunos” também eram atores, erravam de
propósito algumas perguntas e, assim que os professores acionavam o botão, fingiam reações distintas
para darem a entender que estavam sofrendo dores com os choques (era tudo fantasioso visando enganar
os professores).

Muitos professores ficavam desconfortáveis com os sofrimentos aparentemente suportados pelos alunos
e questionavam os atos aos supervisores. Os supervisores, por sua vez, ordenavam que continuassem
com os choques afirmando que se responsabilizariam por tudo, mesmo sendo os professores a apertarem
o botão. Muitos professores, mesmo desconfortáveis, continuavam com o experimento, alguns, inclusive,
chegaram a aumentar a voltagem dos choques.

Finalidade inicial: o experimento visava entender até onde poderia ir a obediência de alguém diante da
pressão de um superior hierárquico para, posteriormente, tentar compreender a base da obediência de
muitos soldados nazistas que obedeciam as ordens de superiores para praticarem genocídio e outras
atrocidades contra judeus.

O segundo foi denominado como o experimento de Aprisionamento de Stanford, realizado


na Universidade de Stanford em 1971 pelo Departamento de Psicologia, coordenado pelo
psicólogo Philip Zimbardo que, inspirado pelo experimento de Milgram visou dar um passo além
com a intenção de identificar possíveis consequências psicológicas do ambiente prisional e como
os papeis que cada um desempenha na sociedade – com ou sem ostentação de poder – podem
influenciá-las. Vejamos os detalhes deste experimento:

Com anúncio prometendo o pagamento de $ 15,00 por dia, 24 (vinte e quatro) alunos voluntários foram
selecionados para participar de experimento que duraria duas semanas. Eram alunos sem antecedentes
criminais e sem qualquer histórico de violência ou uso de drogas.

Todo o porão do departamento de psicologia foi modificado visando simular uma penitenciária (os
voluntários não sabiam que realizariam o experimento na própria universidade de Stanford, acreditavam
que haviam sido levados para uma penitenciária de verdade).

Metade dos voluntariados foram escolhidos aleatoriamente para assumirem o papel de carcereiros,
enquanto que a outra metade dos voluntários foram selecionados, também aleatoriamente, para
desempenharem o papel de criminosos condenados.

Para dar mais predicados de realismo ao experimento, todos os protocolos de prisão foram seguidos. Os
voluntários “criminosos” foram algemados e levados à delegacia, onde foram fichados e transportados,
com os olhos vendados, para um suposto presídio local – que, conforme explicado em linhas anteriores,
se tratava do porão do Departamento de Psicologia de Stanford.

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Com todos presentes na “penitenciária”, os carcereiros receberam uniformes idênticos aos utilizados na
respectiva profissão, enquanto que os presos receberam uniformes brancos, sendo apenas identificados
por números.

As regras simbólicas foram informadas aos dois grupos com uma única limitação: não seria permitida
qualquer violência física. No restante, cada um teria a liberdade de desempenhar o seu respectivo papel.

Com o início do experimento, o resultado foi desastroso a tal ponto que precisou ser interrompido em
apenas 6 (seis) dias. Isso porque os carcereiros, em pouco tempo, estavam praticando toda a sorte de
tortura psicológica e humilhação sobre os presos. Chegaram a separarem os presos em dois grupos (os
piores e os melhores presos). De outro lado, alguns dos presos realizaram uma pequena rebelião
ocasionando a expulsão de um dos membros do experimento, enquanto que a outra parcela dos presos
simplesmente se sujeitavam de forma passiva às humilhações e pressões excessivas praticadas pelos
guardas.

Resultado: em pouco tempo foi possível perceber que fatores externos como a estrutura de poder que
um exerce sobre o outro, bem como papéis definidos pela sociedade e seus respectivos ambientes,
podem influenciar o psicológico das pessoas. Pessoas aparentemente normais podem ser influenciadas
pelo seu entorno, se tornando em pouco tempo pessoas agressivas.

Ambos os experimentos produziram enorme impacto na psicologia. Fatores externos como


possíveis influenciadores do comportamento humano passaram a ser analisados de forma mais
séria e empírica.

Por fim, surge a expressão Efeito Lúcifer como desdobramento das consequências dos
Experimento de Milgram e Aprisionamento de Stanford, fazendo alusão ao fato de que o ser
humano, ao ser colocado em ambiente de estresse, com papéis pré-definidos pela sociedade,
com pressões de poderes sobre subjugados, poderá invocar o seu pior lado, ou seja, uma pessoa
aparentemente normal, inserido nas circunstâncias mencionadas, poderá em pouco tempo agir
com extrema violência e maldade.

Diego Luiz Victório Pureza


Advogado.
Professor de Criminologia, Direito Penal e Legislação Penal Especial em diversos cursos
preparatórios para concursos públicos.
Pós-graduado em Ciências Criminai.
Pós-graduado em Docência do Ensino Superior
Pós-graduado em Combate e Controle da Corrupção: Desvios de Recursos Públicos.
Palestrante e autor de diversos artigos jurídicos.

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