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Homilia No Xviii Domingo Comum A
Homilia No Xviii Domingo Comum A
colocam no centro da maior parte do correr do ano civil. Isto quer significar também aquilo que
experimentamos na maior parte da nossa inteira vida: a maioria dos acontecimentos são comuns, isto
é, transcorrem na normalidade da vida. Entretanto, apesar das nossas múltiplas atividades, preocupações,
existem aqueles momentos que são iluminadores e que dão sentido e cor à nossa vida. Na Liturgia, nós
os experimentamos na Páscoa, precedida pela Quaresma; no Advento que prepara o Natal do Senhor. O
restante do tempo, chamado comum, é iluminado pelos acontecimentos que celebramos nestes
momentos, pelas Solenidades e Festas, que são os mais intensos da nossa santa religião católica. O
mesmo acontece na nossa vida de cada dia, há sempre acontecimentos iluminadores e que trazem grande
alegria à nossa vida, amenizando suas dificuldades...
Assim que, hoje somos postos diante de um aspecto da nossa existência que cumpre considerar
sobretudo sob o olhar da fé. É o aspecto da nossa subsistência: nossa alimentação, o trabalho, nossas
contas, nossas preocupações, nossa vida, enfim.
Muitos se atormentam, sobretudo os pais e as mães de família, que tem sobre si a responsabilidade e a
grande graça de ter de prover os que de si dependem. Por mais que não queiramos, somos sempre
tentados à insegurança e ao desespero quando as condições materiais vem a escassear ou mesmo a faltar.
Para nós, pois, o que nos diz a Palavra de Deus? O que Deus nos ensina em relação a tudo isso que nos
preocupa?
Lembremos, antes de mais nada, do que nos diz o Senhor: “Quem dentre vós, por mais que se preocupe,
pode acrescentar uma só medida à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como
crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua
glória, se vestiu como um deles” (cfr. Mt 6, 24-34). Assim, recordemos do que ouvimos semana passada
sobre o pedido de Salomão e o que Deus lhe concedeu, além do que pediu e, aqui, como o Senhor
relativiza até toda a riqueza e beleza de Salomão e suas vestes, diante do lírio do campo...
Pois bem, a Leitura do Profeta Isaías, aponta para uma plenitude que Deus oferece como resposta aos
israelitas que estavam apegados ao seu sucesso material no exílio e que, por isso, estavam reticentes, não
queriam mesmo voltar para a terra de Israel. Como se tinham “dado bem”, estavam preferindo a
segurança material a se entregar nas mãos da Divina Providência que os libertara do exílio. Enfim,
estavam preferindo a abundância de bens às promessas de Deus. Para estes, Deus pergunta e oferece:
“Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso trabalho naquilo que não sacia?
Se me escutais, haveis de comer do melhor e saborear pratos deliciosos”. Deus não desiste! Ele
compreende nossas preocupações, mas nos oferece muito mais! Cumpre escutá-Lo!
E para aqueles que se apoquentam e não confiam o suficiente na Divina Providência, em razão das
preocupações, sofrimentos e perseguições por causa do nome do Senhor e do seu Amor, São Paulo nos
traz o belíssimo texto que ouvimos na segunda leitura. Ele abre e fecha o texto com uma convicção em
forma de pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo”? E elenca todos os perigos que os cristãos
de então enfrentavam: perseguições físicas e espirituais. Mas qual a sua convicção que devemos fazer
também nossa? “em tudo isto somos vencedores, graças Àquele que nos amou”. Eis aqui, caros irmãos,
a razão da nossa esperança já realizada: Deus nos amou, Deus nos ama!!! Novamente, ouçamos o
Senhor: “Não vos inquieteis, dizendo:‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos
de vestir?’. Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que
precisais de tudo isso” (cfr. Mt 6, 24-34).
Irmãos, somos cristãos e não pagãos! Não temos esperança somente para esta vida! Como nos disse o
Senhor, o Pai sabe que precisamos de todas estas coisas, mas como disse, Ele nos quer dar algo muito
melhor e muito mais. O Profeta Isaías nos traz sua promessa, seu desejo: “Prestais-Me atenção e vinde a
Mim; escutai e a vossa alma viverá. Firmarei convosco uma aliança eterna, com as graças prometidas
a Davi”.
Aqui, podemos já penetrar no significado do Evangelho que ouvimos hoje, o da multiplicação dos pães e
peixes. O que nos que dizer o Evangelista deste gesto de Jesus? A promessa de grande abundância fora
feita, através do Profeta, como sinal de algo muito maior do que simplesmente o encher o estômago:
uma aliança eterna de amor. Ora, o amor é uma partilha de vida, mais do que simplesmente um
sentimento movido por interesses mesquinhos e egoístas; Deus é Amor, e o amor de Deus nos foi
provado por uma vida que foi dada a nós, a do Seu Único Filho imolado em sacrifício para o perdão dos
nossos pecados, como nos ensinou São João na semana que passou. Pois bem, o episódio de hoje se dá
num momento em que o Senhor se encontrou como nós, diante da morte de um que amamos. Ele se
retira para um lugar deserto e afastado. Quer ficar sozinho... A sagrada humanidade do Senhor é tão
idêntica à nossa, com exceção do pecado, a ponto de nos levar a comover... Ele se importa e sofre...
Diante da notícia da morte de João Batista, Ele, retirado, é no entanto alcançado pelo povo que o quer,
para sanar suas dificuldades. Ele tem compaixão, vence-se e cura seus doentes. Têm fome, e Ele quer
lhes dar de comer. Não faz isso sem a colaboração dos discípulos. Cinco pães e dois peixes servem para
o milagre. Alimentam-se cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Mas, aqui, há algo
escondido e que é o que Ele quer indicar pelo Evangelista.
Explico do fim: “tomou, recitou a bênção, partiu e deu”. Estes quatro verbos apontam já para a realidade
do que Ele quer indicar. Eles se referem ao seu gesto ao instituir a Eucaristia. É isto, irmãos, o que está
escondido nestes milagres da multiplicação dos pães e peixes. Ele prepara o povo para o que irá fazer, e
nos quer ensinar sobre o que fez e que faz a cada Eucaristia que celebramos: Ele não quer que nós o
amemos pelos dons que nos pode conceder e concede, Ele quer ser Ele mesmo o dom como recompensa.
Os dons, seus bens, necessários a nós que caminhos ainda no mundo, são um auxílio para chegarmos a
Ele, mas se O temos, porque nos amou, como nos disse São Paulo, o que pode d’Ele nos separar?
Assim é a natureza do amor. O Amor não só quer amar, mas unir-se com quem ama. E não descansa,
enquanto não se concretiza esta sua natureza íntima. Ele vem sempre a nós, graciosamente nos espera;
humildemente se coloca na expectativa da nossa resposta...
Tudo isso se dá na Igreja, simbolizada pelos dozes cestos que sobraram, e de onde sempre o poderemos
obter, de modo especialíssimo, posto que a sua relação de Amor é com Ela, sua Esposa. Nela somos
chamados a este amplexo de amor.
Que a nossa comunhão seja assim: uma afirmação do nosso amor a Deus; um ósculo santíssimo àquele
que se entregou por nós e a nós se dá, para nos alimentar e fortalecer para continuar nossa luta de cada
dia, tendo cada dia suas preocupações que não nos devem fazer perder a esperança, pois, por mais difícil
que seja, disse-nos: “Não vos inquieteis, dizendo:‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que
havemos de vestir?’. Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai
celeste que precisais de tudo isso” (cfr. Mt 6, 24-34). E nós, da nossa parte, pela Eucaristia, aprendamos
também a nos vencer e socorrer os que necessitam de nós.