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I rmãos e irmãs, a Liturgia que celebramos hoje, passadas 17 semanas do Tempo Comum, nos

colocam no centro da maior parte do correr do ano civil. Isto quer significar também aquilo que
experimentamos na maior parte da nossa inteira vida: a maioria dos acontecimentos são comuns, isto
é, transcorrem na normalidade da vida. Entretanto, apesar das nossas múltiplas atividades, preocupações,
existem aqueles momentos que são iluminadores e que dão sentido e cor à nossa vida. Na Liturgia, nós
os experimentamos na Páscoa, precedida pela Quaresma; no Advento que prepara o Natal do Senhor. O
restante do tempo, chamado comum, é iluminado pelos acontecimentos que celebramos nestes
momentos, pelas Solenidades e Festas, que são os mais intensos da nossa santa religião católica. O
mesmo acontece na nossa vida de cada dia, há sempre acontecimentos iluminadores e que trazem grande
alegria à nossa vida, amenizando suas dificuldades...

Assim que, hoje somos postos diante de um aspecto da nossa existência que cumpre considerar
sobretudo sob o olhar da fé. É o aspecto da nossa subsistência: nossa alimentação, o trabalho, nossas
contas, nossas preocupações, nossa vida, enfim.

Muitos se atormentam, sobretudo os pais e as mães de família, que tem sobre si a responsabilidade e a
grande graça de ter de prover os que de si dependem. Por mais que não queiramos, somos sempre
tentados à insegurança e ao desespero quando as condições materiais vem a escassear ou mesmo a faltar.

Para nós, pois, o que nos diz a Palavra de Deus? O que Deus nos ensina em relação a tudo isso que nos
preocupa?

Lembremos, antes de mais nada, do que nos diz o Senhor: “Quem dentre vós, por mais que se preocupe,
pode acrescentar uma só medida à sua estatura? E porque vos inquietais com o vestuário? Olhai como
crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam; mas Eu vos digo: nem Salomão, em toda a sua
glória, se vestiu como um deles” (cfr. Mt 6, 24-34). Assim, recordemos do que ouvimos semana passada
sobre o pedido de Salomão e o que Deus lhe concedeu, além do que pediu e, aqui, como o Senhor
relativiza até toda a riqueza e beleza de Salomão e suas vestes, diante do lírio do campo...

Pois bem, a Leitura do Profeta Isaías, aponta para uma plenitude que Deus oferece como resposta aos
israelitas que estavam apegados ao seu sucesso material no exílio e que, por isso, estavam reticentes, não
queriam mesmo voltar para a terra de Israel. Como se tinham “dado bem”, estavam preferindo a
segurança material a se entregar nas mãos da Divina Providência que os libertara do exílio. Enfim,
estavam preferindo a abundância de bens às promessas de Deus. Para estes, Deus pergunta e oferece:
“Porque gastais o vosso dinheiro naquilo que não alimenta e o vosso trabalho naquilo que não sacia?
Se me escutais, haveis de comer do melhor e saborear pratos deliciosos”. Deus não desiste! Ele
compreende nossas preocupações, mas nos oferece muito mais! Cumpre escutá-Lo!

E para aqueles que se apoquentam e não confiam o suficiente na Divina Providência, em razão das
preocupações, sofrimentos e perseguições por causa do nome do Senhor e do seu Amor, São Paulo nos
traz o belíssimo texto que ouvimos na segunda leitura. Ele abre e fecha o texto com uma convicção em
forma de pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo”? E elenca todos os perigos que os cristãos
de então enfrentavam: perseguições físicas e espirituais. Mas qual a sua convicção que devemos fazer
também nossa? “em tudo isto somos vencedores, graças Àquele que nos amou”. Eis aqui, caros irmãos,
a razão da nossa esperança já realizada: Deus nos amou, Deus nos ama!!! Novamente, ouçamos o
Senhor: “Não vos inquieteis, dizendo:‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que havemos
de vestir?’. Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai celeste que
precisais de tudo isso” (cfr. Mt 6, 24-34).

Irmãos, somos cristãos e não pagãos! Não temos esperança somente para esta vida! Como nos disse o
Senhor, o Pai sabe que precisamos de todas estas coisas, mas como disse, Ele nos quer dar algo muito
melhor e muito mais. O Profeta Isaías nos traz sua promessa, seu desejo: “Prestais-Me atenção e vinde a
Mim; escutai e a vossa alma viverá. Firmarei convosco uma aliança eterna, com as graças prometidas
a Davi”.

Aqui, podemos já penetrar no significado do Evangelho que ouvimos hoje, o da multiplicação dos pães e
peixes. O que nos que dizer o Evangelista deste gesto de Jesus? A promessa de grande abundância fora
feita, através do Profeta, como sinal de algo muito maior do que simplesmente o encher o estômago:
uma aliança eterna de amor. Ora, o amor é uma partilha de vida, mais do que simplesmente um
sentimento movido por interesses mesquinhos e egoístas; Deus é Amor, e o amor de Deus nos foi
provado por uma vida que foi dada a nós, a do Seu Único Filho imolado em sacrifício para o perdão dos
nossos pecados, como nos ensinou São João na semana que passou. Pois bem, o episódio de hoje se dá
num momento em que o Senhor se encontrou como nós, diante da morte de um que amamos. Ele se
retira para um lugar deserto e afastado. Quer ficar sozinho... A sagrada humanidade do Senhor é tão
idêntica à nossa, com exceção do pecado, a ponto de nos levar a comover... Ele se importa e sofre...

Diante da notícia da morte de João Batista, Ele, retirado, é no entanto alcançado pelo povo que o quer,
para sanar suas dificuldades. Ele tem compaixão, vence-se e cura seus doentes. Têm fome, e Ele quer
lhes dar de comer. Não faz isso sem a colaboração dos discípulos. Cinco pães e dois peixes servem para
o milagre. Alimentam-se cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças. Mas, aqui, há algo
escondido e que é o que Ele quer indicar pelo Evangelista.

Explico do fim: “tomou, recitou a bênção, partiu e deu”. Estes quatro verbos apontam já para a realidade
do que Ele quer indicar. Eles se referem ao seu gesto ao instituir a Eucaristia. É isto, irmãos, o que está
escondido nestes milagres da multiplicação dos pães e peixes. Ele prepara o povo para o que irá fazer, e
nos quer ensinar sobre o que fez e que faz a cada Eucaristia que celebramos: Ele não quer que nós o
amemos pelos dons que nos pode conceder e concede, Ele quer ser Ele mesmo o dom como recompensa.
Os dons, seus bens, necessários a nós que caminhos ainda no mundo, são um auxílio para chegarmos a
Ele, mas se O temos, porque nos amou, como nos disse São Paulo, o que pode d’Ele nos separar?

Assim é a natureza do amor. O Amor não só quer amar, mas unir-se com quem ama. E não descansa,
enquanto não se concretiza esta sua natureza íntima. Ele vem sempre a nós, graciosamente nos espera;
humildemente se coloca na expectativa da nossa resposta...

Tudo isso se dá na Igreja, simbolizada pelos dozes cestos que sobraram, e de onde sempre o poderemos
obter, de modo especialíssimo, posto que a sua relação de Amor é com Ela, sua Esposa. Nela somos
chamados a este amplexo de amor.

Que a nossa comunhão seja assim: uma afirmação do nosso amor a Deus; um ósculo santíssimo àquele
que se entregou por nós e a nós se dá, para nos alimentar e fortalecer para continuar nossa luta de cada
dia, tendo cada dia suas preocupações que não nos devem fazer perder a esperança, pois, por mais difícil
que seja, disse-nos: “Não vos inquieteis, dizendo:‘Que havemos de comer? Que havemos de beber? Que
havemos de vestir?’. Os pagãos é que se preocupam com todas estas coisas. Bem sabe o vosso Pai
celeste que precisais de tudo isso” (cfr. Mt 6, 24-34). E nós, da nossa parte, pela Eucaristia, aprendamos
também a nos vencer e socorrer os que necessitam de nós.

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