Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Desejada Pelo Alfa - Janine O Connor
Desejada Pelo Alfa - Janine O Connor
Alfa
Janine O´connor
CAPÍTULO 1
A névoa fantasmagórica fez Julia sentir como se transportasse
para o passado primitivo. Não podia acreditar que tinha chegado às
Terras-Altas da Escócia, onde um castelo acenava recheado de
segredos, intrigas e escoceses bonitões “com um pouco de sorte”.
Felizmente, nenhum deles descobriria por que estava realmente ali e
colocaria um fim a isso.
Nada diminuiria o seu entusiasmo enquanto ela e sua amiga,
Maria Baquero, seguiam para o chalé Baird, que ficava a distância de
uma caminhada do Castelo Argent, e para o fim do seu bloqueio como
escritora.
Pelo menos, esse era o plano.
Depois de atrasos nos voos e bagagens perdidas, elas tiveram
problemas para pegar o carro alugado no Aeroporto de Inverness, por
causa de uma confusão quando um escocês declarou que o carro era
dele.
Outro homem assustou Julia quando ela percebeu que estava
observando-as e se sentiu apreensiva com a forma como os lábios finos
dele não tinham sugerido nem um pouco de simpatia. Mas, em seguida,
esqueceu-o quando ela e sua amiga finalmente partiram ao final da
tarde, com Maria dirigindo o Fiat alugado através da forte neblina.
O lorde do Castelo Argent, Ian MacNeill, tinha sido um pé no
saco para se lidar em relação às filmagens em seu castelo. Felizmente,
como assistente de direção, somente Maria precisava fazer negócios
com ele. Fingindo ser sua assistente, Julia só precisava observar de
longe e tomar notas. Mas não para a produção do filme. Para o romance
que lançaria. Julia Wildthorn era uma das mais bemsucedidas escritoras
de romance de lobisomem dos Estados Unidos e a única, ela tinha
certeza, que jamais havia sofrido um bloqueio de escritor como este.
Um nevoeiro denso obscurecia a estrada curva, enquanto
atravessava a terra rochosa de cada lado. Pinheiros ao longe
desapareciam dentro da espessa neblina, o que oferecia vislumbres de
curiosas barragens de pedra rochosa que deviam ter resistido durante
séculos, serpenteando pela terra e dividindo a propriedade de um lado
ao outro.
Apesar de sua visão reforçada de loba, não podia ver melhor do
que um humano no nevoeiro.
Com os olhos arregalados, avistou algo correr nos bosques.
Algo cinza. Algo que se parecia muito com um lobo e depois
desapareceu no nevoeiro como um fantasma.
Com a pulsação acelerando, tentou captar outro vislumbre, sua
mão apertando o braço da porta enquanto ela olhava para fora da janela,
o nariz quase tocando o vidro.
Você viu alguma coisa? — sua amiga perguntou, em uma voz
firme.
Maria deu um suspiro descontente.
— Neste nevoeiro? Eu mal posso ver a estrada. O que você acha que
viu?
— Um... Lobo. — Julia se esforçou para pegar outro vislumbre do
que tinha visto. — Mas não poderia ser. Os lobos daqui foram mortos há
séculos.
A sua esquerda, a névoa se separou revelando álamos mais velhos, a
casca coberta de fungo escuro esticando-se para cima, enquanto altos
pinheiros escoceses e fileiras de esbeltas bétulas agrupavam-se juntos ao
longe. Mas sem mais sinais de um lobo. Julia piscou os olhos. Talvez,
porque estava tão cansada da viagem, eles estivessem lhe pregando peças.
Endireitou-se e encarou Maria.
— Talvez tenha sido um loup garou “lobisomem‖, se eu não estava
imaginando. — sorriu com o pensamento. — Um lobisomem bonitão das
Terras-Altas num kilt.
Nunca considerou que poderia deparar-se com um loup garou na
Escócia. Não com o quão rara sua espécie era, escondendo seu segredo do
resto do mundo. A menos que esbarrasse em um e pudesse sentir o cheiro
dele ou dela, não diferenciaria um loup garou de um tipo estritamente
humano.
— Hmm, um lobisomem das Terras-Altas... — Maria disse
pensativa, passando as mãos sobre o volante. — No entanto, botar as mãos
em um conquistador espanhol seria tão intrigante quanto.
Uma lobisomem Ibérica ―espanhola‖, cujos antepassados foram
transformados por um conquistador lupino, Maria era uma beleza com
cabelos castanhos escuros e cílios grossos e longos.
Sendo uma ruiva de pele clara, Julia virara cabeças em seu próprio
país, mas as duas juntas frequentemente roubavam a cena.
Maria ainda estava pensando no lorde que estava no comando do
Castelo Argent.
— Lorde Ian MacNeill está sendo um verdadeiro pé no saco sobre as
particularidades das filmagens: restringindo o uso do castelo e das terras, os
horários, as locações, e quem sabe o que mais quando chegarmos.
— Talvez ele não vá ser tão ruim depois que a filmagem começar. —
entretanto, não acreditava nisso e o olhar azedo no rosto de Maria dizia que
ela não acreditava tampouco. Julia tirou a foto do lorde de sua bolsa. O chefe
de Maria pagou um bom dinheiro a um investigador particular para
conseguir a imagem.
— Exatamente, como é que o cara conseguiu esta foto do lorde, se é
tão difícil ter um vislumbre dele?
— O investigador o seguiu até um festival celta. Ele estava cercado
por seus homens e algumas mulheres, de modo que o detetive tirou uma foto
bem antes que participasse de uma demonstração de combate com a espada.
Quem ganhou?
— O lorde e seus homens. De acordo com o investigador, os
MacNeill tiveram um exercício de verdade contra os Sutherland. A
animosidade existe entre eles durante séculos. A luta pareceu tão real que ele
pensou que os organizadores do show talvez interferissem e parassem a
demonstração.
Em uma palavra, Julia resumiu a aparência do Lorde Ian MacNeill:
Perigoso.
Não eram suas belas feições: o curto cabelo castanho escuro, a cor
rica de seus olhos, os traços rígidos do rosto e seu nariz aristocrático, que o
faziam parecer assim. Nem seus ombros largos, a pose firme ou a boca sem
sorrir tampouco. Era o olhar infalível que parecia tão agudamente astuto,
como se ele pudesse ver através da alma de uma pessoa.
Isso a preocupava.
Na foto, o homem era um pedaço de mau caminho, vestindo um kilt
predominantemente verde e azul, com um esporão preso na frente, e uma
espada com bainha atrás dele. Pela aparência da bainha parcialmente
espreitando por cima do seu ombro, a espada servia como um aviso de que
estava armado e era mortal, muito mais do que apenas em sua aparência. Ele
vestia uma camisa com cinto, pendurada aberta até a cintura, e revelando um
abdômen sexy que uma mulher amaria acariciar. Pelo menos esta mulher
amaria. Tão rústico quanto, seu castelo estava ao fundo, formidável,
imponente e resistente.
Ela podia simplesmente o imaginar empunhando aquela espada letal
contra seu inimigo.
Maria sacudiu a cabeça.
— O lorde é arrogante, intransigente, muito acima de nós e, além
disso, nós somos americanas e estamos trabalhando, ou pelo menos ele vai
pensar que você está trabalhando, com a equipe de filmagem que tanto
despreza. Então, só se lembre disso no caso de você estar tendo ideias
românticas pela sua imagem. Ele é muito perversamente sexy para o próprio
bem... Ou talvez eu devesse dizer: para o seu próprio bem.
Maria provavelmente estava certa. Julia queria ver o lorde de perto e
pessoalmente em prol de escrever seu manuscrito, mas não queria ouvir as
coisas depreciativas que poderia dizer a ela. Isso iria arruinar sua imagem
como o tipo de herói. E se ele olhasse para Julia do jeito que fazia na foto,
temia que fosse ver através dela.
Foi então que elas chegaram ao topo da colina e enfrentaram um mar
de pelo branco encaracolado bloqueando a estrada. Maria suspirou e pisou
no freio. O coração de Julia acelerou e então agarrou o painel. Como uma
cena pastoral de uma pintura das antigas, a multidão de ovelhas foi
caminhando para o outro lado do vale rochoso. Várias ovelhas tosquiadas,
um carneiro de chifres encurvados e um monte de cordeiros cruzaram a
estrada, junto com um pastor com uma bengala nodosa na mão e um cão da
raça collie.
Instantaneamente, Julia pensou no lobo.
Uma vez que o rebanho passou, Maria começou a dirigir mais
lentamente do que antes e limpou a garganta.
Assim que nós deixarmos a nossa bagagem de mão, eu tenho
que ir até a propriedade para uma reunião.
Harold Washburn, o produtor do filme, e a maioria dos funcionários
estavam hospedados numa mansão local. Maria tinha insistido em alugar a
Baird Cottage, citando sua proximidade com o castelo. Na verdade, era para
esconder que elas eram loup garou e que Julia não estava realmente
trabalhando para Maria.
— Neste ritmo, não vou chegar a tempo. Eu não vi uma placa há
algum tempo e... Pensei que nós já estaríamos lá a esta hora. — continuou
Maria.
Julia se esforçou para ver ao longe, em busca de mais uma placa, mas
o nevoeiro, que tinha se dissipado em alguns lugares o suficiente para
vislumbrar as árvores, estava novamente muito grosso para se ver qualquer
coisa.
Uma sombra de cinza correu através da estrada. O lobo. Um lobo
cinzento.
Maria suspirou e pisou no freio. A boca de Julia caiu aberta, mas o
grito morreu em sua garganta enquanto faróis eram refletidos em seu espelho
lateral. Os faróis vinham em cima delas. Era tarde demais.
Borracha e freios guincharam atrás delas. Com o coração acelerado,
Julia se preparou para o acidente, o lobo esquecido.
Bang! O carro de aluguel voou para fora da estrada como um mini
avião no ar. Em seguida, ele aterrissou com força, desmantelando-se pela
inclinação. Saltando. Sacudindo. Dentes rangendo. Uma nuvem branca
encheu a visão de Julia e ela engasgou.
Um tiro de espingarda! Um sobressalto horrível. Outro estrondo!
Antes que Julia pudesse processar o que tinha acontecido, o air bag
branco esvaziou e uma parede sinuosa de pedras apareceu diante delas
apenas um par de metros de distância no nevoeiro.
— Pise nos freios! — Julia gritou.
— Você pensou que uma das mulheres era o mesmo lobo que nós
sentimos o cheiro perto do acidente de carro? — Duncan perguntou a Ian
enquanto ele os dirigia pelos dois quilômetros até o Castelo Argent, embora
a caminhada pela floresta estivesse mais perto de um quilômetro.
— Você cheirou um lobo. — Ian corrigiu. — Eu não pude sentir o
cheiro de um lobo de jeito algum, não com a fumaça do veículo em chamas
nublando meus sentidos. Depois disso, a chuva lavou qualquer cheiro.
— Você não sabia que elas eram lobos quando você as viu no bar?
Ian balançou a cabeça.
— Você sabe quão pungentes são os hambúrgueres de cebola e alho
de Scott. As mulheres não estavam perto o suficiente para eu sentir o cheiro
delas.
As sobrancelhas de Duncan franziram quando ele olhou para
Ian.
— Você não se juntou a elas em sua mesa?
Elas pareceram estar com medo de mim.
Duncan grunhiu.
— Por quê? Nós estávamos tentando ajudá-las.
— Nós estávamos seguindo-as pela floresta. Elas não acreditavam
que nós estávamos lá para ajudá-las. Além disso, trabalham para a Sunset
Productions. Não importa o que mais sejam, as moças são más notícias. —
entretanto, Ian não conseguia anular o desejo de conhecer a ruiva melhor.
Depois de beijá-la e da forma como Julia reagiu, tinha um desejo ainda
maior por fazer isso.
— É por isso que nós as levamos para a casa de campo? — Duncan
perguntou com uma sobrancelha levantada.
— Por que nós lhes conseguimos comida e você preparou um banho
para Julia?
— Nós estávamos voltando para Argent. — Ian o relembrou. —
Além disso, MacNamara não tinha terminado o seu negócio no bar. E as
mulheres precisavam de comida.
Duncan deu a Ian um olhar crítico.
— Admita Ian. Você bebeu o seu uísque e o meu para que nós
pudéssemos alcançar MacNamara e tirar as mulheres de suas mãos, porque
você está intrigado com a moça ruiva.
Sem nenhuma intenção de responder à afirmação de seu irmão mais
novo, Ian perguntou:
— Você acha que o lobo que você sentiu o cheiro era uma dessas
mulheres?
Não acredito nisso. E ninguém do nosso povo estaria
correndo como um lobo ou eu teria reconhecido o cheiro.
Muito provavelmente não teria sido ninguém da gente de Ian de
qualquer maneira, não depois que ele lhes tinha advertido para não correr
como lobos até que a equipe de filmagem tivesse ido embora. Se não foram
as mulheres e não foi ninguém da matilha dele, alguém tinha que estar
invadindo suas terras novamente.
Somente um lobo ou matilha veio à mente.
— Basil Sutherland ou um de seus homens. — a rivalidade de longa
data entre o clã de Sutherland e o de Ian vinha acontecendo há séculos, se
bem que os MacNeills não encontraram nenhuma dificuldade recente com os
Sutherlands até o mês anterior no Festival Celta.
— Aye, aquela confusão com eles sobre a demonstração de combate
com espadas pode ter causado um problema de verdade. Basil está pedindo
uma guerra total, Ian. Eu continuo a lhe dizer isso.
— Se um dos homens de Sutherland fosse invadir, por que agora?
— E se, em um esforço para se vingar de nós, Sutherland ou seus
homens visaram às mulheres, porque ele sabia que elas eram loups garous e
estavam com a equipe de filmagem e que você iria se interessar em protegê-
las?
Ou, e se Julia, seja lá qual for seu verdadeiro sobrenome, servisse
como uma das espiãs de Sutherland, uma forma de ele conseguir uma de
suas pessoas dentro do castelo de Ian em alguma missão desonesta?
Então, por que ele queria levá-la de volta ao castelo, trancá-la em
seus aposentos e beijá-la novamente, só que desta vez até ela lhe dizer a
verdade?
CAPÍTULO 4
Com o jet lag e o acidente de carro, Julia estava esgotada. Mas
também tinha uma missão que não podia esperar. Ela se lavou,
cuidadosamente saiu da banheira, mais uma vez testando o pé no chão, e
descobriu que o tornozelo só incomodava um pouco. Pegou uma toalha e
enrolou-a em torno de si mesma, muito eufórica pelo que tinha que fazer a
seguir para ficar deitada por aí na casa de campo.
— Bem, Maria? Alguma coisa está acontecendo entre você e
Duncan? — Julia perguntou novamente.
Maria não respondeu, mas Julia ouviu a pia da cozinha em
funcionamento.
A água corrente a pôs a pensar sobre Ian MacNeill, o banho que ele
tinha preparado e o jeito que a tinha desafiado com seu olhar de ferver o
sangue, como o diabo em uma outrora camisa branca e encharcada pela
chuva, com os botões abertos e lamacentas calças cáqui. Isso lhe trouxe à
mente como as roupas molhadas tinham grudado na pele dele, delineando os
vários grupos musculares: pernas, tórax, braços e até mesmo dando uma dica
de quão bemdotado Ian era. O que, é claro, ela tinha notado tomando notas
mentais para sua nova história Highlander. Esqueça estar nu debaixo de um
kilt. As calças cáqui molhadas eram mais do que excitantes. Por causa da
forma como olhou para as roupas dela, tão reveladoras quanto às deles, não
sentia nenhuma culpa em verificar os atributos dele.
E aquele beijo? Ela estava pronta para derramar todos os seus
segredos e até mesmo inventar alguns se ele simplesmente tivesse
continuado a beijá-la.
Julia era incorrigível e nunca se sairia bem como uma agente secreta.
A menos que beijar alguém tão gostoso como Ian fosse parte de seu disfarce.
Mas temia que ele fosse descobrir a verdade sobre ela pouco tempo depois.
Como podia ser tão burra? Cobiçar o lorde do castelo definitivamente não
estava nos planos.
Julia se dirigiu para dentro do quarto. Suas malas de tapeçaria floral
estavam sobre uma cama de casal coberta com uma colcha verde-bandeira e
ao lado de um criado mudo de carvalho claro. Uma mesinha combinando e
uma lâmpada de bronze estavam do outro lado. As paredes eram cobertas de
papel de parede floral e em uma delas pendiam duas imagens, uma de uma
cachoeira e a outra de um lago arborizado, com montanhas subindo até o céu
para encontrar as macias nuvens brancas. Adoraria ver pessoalmente ambas
as paisagens.
Ela puxou para o lado as aveludadas cortinas verdes da pequena
janela do quarto e olhou para fora para ver o bosque de pinheiros. Quase
podia sentir o cheiro deles através da janela fechada.
Abrindo o zíper de sua mala, pensou em como tinha quase tropeçado
nas botas de camurça endurecidas de lama de Ian quando ela e Maria
apressadamente deixaram o bar. As botas tinham que ser dele, porque não
estavam lá quando entraram pela primeira vez no estabelecimento.
O que a levou de volta para a forma como os seus olhos escuros a
tinham admirado. Deus, ele era lindo. Ainda mais lindo de perto, sentado a
algumas mesas longe dela. Apenas o indício de um sorriso nos lábios tinha
transformado suas entranhas em geleia. Tinha se esquecido do seu tornozelo,
dos outros homens no salão, da garçonete americana, até mesmo que Maria
estava cautelosamente observandoa e que Ian não era o tipo de homem que
estaria interessado nela, principalmente porque estava com a equipe de
filmagem odiosa.
Todavia, pensou que ele poderia, naquele momento, ter se esquecido
deste fato.
Apesar de quão bem parecia em roupas encharcadas de chuva,
pensou nele vestindo um kilt como na foto. Já que tinha que transformá-lo
em um herói histórico Highlander, perfeito para seu livro, calças modernas
não serviriam.
Ian tinha a aparência sombria e o ar aristocrático de um lorde com
título e estava no comando, apesar do fato de que ter deixado seus sapatos
enlameados do lado de fora se opunha a ele ser totalmente arrogante. Ela
podia perceber isso pelo jeito como os outros homens o haviam recebido.
Algo tradicional estava sendo respeitado. Como se tivessem que se policiar
até que o lorde fosse embora. Ou talvez apenas até que Julia e Maria
partissem. Desejou que pudesse ter sido uma mosca na parede e observado a
interação dele com os homens depois que saíram do bar.
Ela puxou suas roupas de detetive, um par de jeans verde-oliva e um
suéter de cashmere combinando e, em seguida, sentou-se em sua cama e
trançou o cabelo molhado.
O mais revelador foi a forma que MacNamara reagiu com Ian. De
início, MacNamara quis levar ela e Maria para a casa de campo, sem reserva,
até mesmo dizendo não aos outros homens de uma forma bem-humorada
quando todos ofereceram-se com muita exuberância. Mas o imponente
escocês pareceu precisar da permissão do Lorde Ian MacNeill uma vez que
este chegou. Se ela pudesse assistir a maneira que Ian interagia ainda mais
com os outros, teria metade de sua história escrita.
Mas o que não contava era que o próprio realmente viesse por detrás
delas, assustando-a para caramba e carregando-a nos braços para arrebatá-la
até o seu carro e leva-las para a casa de campo. Isso fez seu coração disparar.
Ian soube que não era quem disse ser assim que deu aquele maldito
nome falso. Esperava que a questionasse sobre isso tão logo enviou seu
irmão com Maria para obter mantimentos. Mas não a questionou, o que não
tinha aliviado a preocupação dela nem um pouco. Ele era como um lobo com
a sua presa.
Não podia acreditar que tinha caído no sono enquanto Ian estivera
pegando uma bolsa de gelo para ela, tampouco. Pensou que cochilaria um
pouco mais antes de Maria partir para sua reunião. E depois? Julia sairia à
procura das entradas secretas para o castelo.
— Julia Jones? — Maria disse de pé em sua porta aberta e
assustando Julia de seus pensamentos.
Porque no mundo você inventaria um nome falso?
— Você sabe o que eu escrevo para viver. — Julia suspirou e se
levantou da cama, passou por Maria e caminhou para o sofá.
— Eu não pude acreditar que ele perguntou se você estava acasalada.
— Ele perguntou sobre nós duas. — Julia a lembrou, enquanto se
sentava no sofá, apoiava o pé na almofada e cobria seu tornozelo com a
bolsa de gelo derretido.
— Sim, bem, ele só estava interessado em saber se você está
acasalada ou não. Se está tentando se manter discreta, não está funcionando.
Você já tem a atenção do senhor das terras e pelo menos de um de seus
irmãos. Realmente nada bom. Então, o que exatamente aconteceu entre você
e o lorde?
— Nada.
Maria deu uma gargalhada.
— Claro. Você parece extremamente culpada. E ele vai e lhe prepara
um banho? Pode funcionar bem se jogar suas cartas direito. Mas se você
não... — ela fez uma pausa.
— O que vai fazer enquanto eu vejo Harold? — a ligeira censura na
voz de Maria avisou a Julia que sua amiga sabia que estava tramando algo,
provavelmente algo que não aprovaria.
Antes que Julia pudesse responder, Maria cruzou os braços.
— Você não vai ficar na casa de campo e desfazer suas malas, não é?
Apesar de seu tornozelo estar torcido, eu sei que não vai esperar pelo meu
retorno. Como você deveria.
— Meu tornozelo não está inchado e descansar o fez melhorar. —
Julia tirou a bolsa de gelo e analisou o tornozelo.
— Sem hematomas. Se eu pegar leve, vai ficar tudo bem. Quero
começar a escrever os detalhes do livro, enquanto o castelo ainda está calmo
e não lotado com a equipe de filmagem. Não vou ficar aqui assim tanto
tempo.
— Você não tem segundas intenções?
Fingindo inocência, Julia sorriu, mas seu coração acelerou do mesmo
jeito. Sua própria consciência culpada foi suficiente para aumentar sua
frequência cardíaca ao ouvir a pergunta. Julia não queria que Maria
descobrisse o que estava aprontando. E se fosse pega? Como seria, se Maria
fosse questionada, ela poderia dizer honestamente que não sabia nada sobre
a missão secreta de Julia.
— Agora quais seriam essas segundas intenções, a não ser dar um
passeio ao redor do castelo para pesquisar alguns detalhes para o meu atual
trabalho em andamento quando ninguém está por lá? — Julia perguntou.
Maria enfiou as mãos nos bolsos de sua calça ainda úmida.
— A sua recomendação para usarmos o castelo de Ian MacNeill não
foi por causa de algum interesse mais pessoal, não é?
— Interesse pessoal? — A voz de Julia soou um pouco culpada
demais e receava que Maria fosse reconhecer isso imediatamente. Ela
achava que Julia tinha algum plano para agarrar Ian MacNeill como
companheiro? Maria nem sequer sabia que ele era um lobo.
Você tornou possível que eu tenha a chance de ver o interior
de um castelo que nunca é aberto ao público para que possa usá-lo em minha
história.
Se Maria realmente soubesse que isso tinha a ver com a história da
família de Julia e pegar de volta o que pertencia a ela, sua amiga
provavelmente não teria concordado em trazê-la junto.
Julia ergueu um ombro.
— Eu pesquisei sobre o castelo primeiramente. Então, liguei para um
tal de Guthrie MacNeill, que lida com os assuntos financeiros do castelo,
terras e empresas da família e ele ficou empolgado.
Empolgado realmente não era a forma que ela descreveria o
entusiasmo de Guthrie. Mais reservado, pensando no início que ela era
maluca, Julia presumiu. E, em seguida, reservadamente interessado, como se
tivesse sua espada e estivesse pronto para lutar, se o inimigo se voltasse
contra ele.
— Empolgado? Ele foi bem intransigente sobre o quanto eles
queriam e nós ficamos nesse chove e não molha por meses. Ele praticamente
atrasou a produção. Guthrie disse que uma Iris North tinha falado para entrar
em contato comigo. — Maria levantou uma sobrancelha para Julia.
— Eu imaginei que diria que uma Julia Wildthorn tinha conversado
com ele. Isso me pegou de surpresa, até que descobri que você usou um
nome falso.
— Não os queria ouvindo o meu ―Julia Wildthorn‖ e percebendo, se
descobrissem que eu era uma autora, que podia tentar escrever sobre as
partes proibidas do castelo, apesar de que, na minha história, o nome e
localização serão mascarados. — esperando que isso fosse satisfazer a
curiosidade de Maria, Julia abriu um largo sorriso.
— E agora ele acha que você é Julia Jones. Ou você disse a verdade,
enquanto eu estava com Duncan?
— Não, nós não discutimos sobre isso. Wildthorn é o meu
pseudônimo. Um nome de fachada. Fica bem nos meus livros. Iris North foi
um nome inventado também.
— Eu pensei que Julia Wildthorn era o seu verdadeiro nome. —
Maria parecia surpresa.
— Todo mundo me conhece como Julia Wildthorn. Eu me identifico
com o nome. O de verdade é Julia MacPherson. Mas isso foi no passado e
nunca o uso, nunca. É simplesmente mais fácil dessa maneira.
— MacPherson é um nome escocês. — Maria disse, seu tom
indicando que ela ainda pensava que Julia estava sendo desonesta sobre algo
mais.
— Isso não tem nada a ver com os MacNeills ou seu castelo ou
qualquer coisa. Nada das rixas entre clãs de antigamente, certo?
Julia mordeu o lábio. Omitir era uma coisa. Negar, outra.
— Minha família, MacPherson, viveu no castelo há tempos atrás.
Maria olhou para ela com olhos esbugalhados.
Você está falando sério? Então eles, na verdade, eram os
donos?
— Viveram ali como convidados. — Não convidados de verdade
porém, Julia achava. Não da forma como seu avô soava tão enigmático. Não
sabendo como a situação realmente era, ela foi incapaz de esconder sua
irritação. — Não é grande coisa.
— Você quer escrever sobre algo que é mais historicamente correto?
Sobre a sua família ter vivido lá?
— Bem, sim. — De certa forma, Julia queria acrescentar mais
realismo.
Ela achou que Maria tinha terminado com o interrogatório, mas sua
amiga continuou a interrogá-la enquanto se movia rapidamente sobre o
lugar, à procura de algo.
— Tem certeza que sua família não tinha assumido o castelo em
algum momento, o que eu acho que é incrivelmente legal, e eles realmente
foram donos? Pelo menos por um breve período de tempo?
— Não, a minha família não possuiu um castelo. — não que Julia
soubesse
— E se você tivesse alguma reivindicação sobre o castelo? Nós
poderíamos nos mudar e abrir o local para passeios.
Julia deu uma risada incrédula.
— Sim, claro. Se a minha família tivesse possuído o lugar, eles ainda
estariam comandando as coisas. E, provavelmente, teriam que aturar uma
equipe de filmagem aqui como os MacNeills. Mas não, não é nada disso.
Na cozinha, Maria disse:
— Eu encontrei o telefone. — Maria começou a falar, mas não com
ela. — Olá, Chad? Nós estamos aqui. Você ligou para a polícia sobre o
carro? A empresa de aluguel de automóveis, também? Sim, vou falar com
eles esta noite. Você é um anjo. Você poderia vir e me pegar? Dez minutos?
Obrigado por trazer as malas aqui e receber as chaves do lugar para nós.
Vejo você daqui a pouco.
Maria desligou o telefone e correu para o banheiro, tirando suas
roupas molhadas e barrentas enquanto entrava.
— Algo está no castelo que sua família quer que você roube de volta.
O que é, e qual a sua importância?
Em descrença, Julia olhou para a bunda em retirada de Maria. —
Como você pode possivelmente ter descoberto?
— Lembra-se da noite antes de sairmos nesta viagem quando você
me disse para checar horários de filme no seu computador? Você estava
fazendo sopa de arroz e frango para gente e você queria ir ver aquele do
escocês viajante no tempo.
Julia tinha um sentimento aterrador de que deixou algo no
computador que não deveria ter deixado. Maria havia aparecido mais cedo
do que Julia esperava, então, ela tinha se esquecido do que estava fazendo.
— Eu me lembro.
O chuveiro começou a correr. Maria gritou sobre a torrente de água:
Seu e-mail estava aberto numa mensagem do seu avô. Eu
não teria lido, mas o nome MacNeill e a referência ao castelo chamaram
minha atenção. Seu avô dizia que queria que você recuperasse algo de dentro
do castelo. Ele não dizia que queria que você pedisse aos MacNeills o
objeto. Logo, presumi que queria que você o roubasse.
Julia balançou a cabeça e voltou para seu quarto para pegar suas
meias e botas.
— Você desligou o computador, então me esqueci de o que eu estava
fazendo antes de você chegar.
— Você me disse para desligar porque nós estávamos com pressa
para ver os trailers no início do filme. Então, o que você supostamente deve
recuperar?
— Obrigada por ser uma amiga, Maria, e por não tentar me impedir
de fazer isso. — Julia se sentiu envergonhada por não ter confiado em Maria
de antemão.
O chuveiro desligou e Maria saiu do banheiro, usando uma toalha
azul.
— Você está brincando? Você é a pessoa mais interessante que eu
conheço. Se você não está fazendo rapel num prédio para ver como é feito
para um de seus livros, você está aprendendo a atirar com uma arma para
outro livro. Agora está em busca de um tesouro escondido no reduto dos
MacNeill, cheio de escoceses musculosos que vão frustrá-la de qualquer
maneira que puderem. Isso vai dar uma grande história, se você não for
pega. Talvez, seja ainda melhor se você for pega. Então, o que é que você
vai procurar, exatamente?
É uma caixa de jacarandá encravada com o símbolo de um
cardo ―nome comum a várias plantas com folhas e hastes espinhosas‖, o nó
celta e o nome Artur MacPherson. Nenhum dos meus familiares pôde
retornar ao castelo depois que saíram às pressas, pelo que o meu avô contou.
Eles tentaram com vários artifícios ao longo dos anos, mas o local foi selado
firmemente e a ninguém era permitido entrar, exceto os MacNeills, os
parentes ou amigos próximos. Antes de meu avô morrer, ele quer que eu
recupere a caixa e a devolva à família.
Pelo menos isso foi o que o seu avô tinha dito. Mas algo realmente o
preocupava sobre a caixa. Ele tinha sido tão inflexível e tão preocupado
quanto seu pai sobre ela localizar e trazer a caixa para casa. Por que agora?
Por que depois de tantos anos tentando reaver e não tendo sucesso? Por que
não deixá-la enterrada nas muralhas do castelo?
A caixa estava chaveada, ele a tinha alertado. Ela não deveria
quebrar o fecho. Mas uma pequenina inverdade a atormentava. O que estava
na caixa que estava arriscando tentar entrar no castelo e localizá-la e, em
seguida, devolvê-la trancada para seu avô?
A caixa de Pandora veio à sua mente.
— Eles deixaram o castelo com pressa? Isso fica cada vez melhor. —
Maria entrou no quarto de Júlia.
— Então, o que há na caixa? Talvez uma reivindicação da
propriedade?
Julia só desejava que soubesse.
Tenho certeza que meu avô ou pai teriam dito. E tenho
certeza que uma vez que uma família abandona um castelo para outro, se
esse fosse o caso, não teríamos nenhum direito de qualquer maneira.
Julia se sentou na cama e calçou as meias e, em seguida, suas botas.
— Você provavelmente está certa, mas... Se os MacNeills viveram
aqui desde que a sua família desocupou, eles já não teriam encontrado a
caixa? E mais provavelmente, destruído o conteúdo?
— Ela está escondida. Ou pelo menos estava. — Se fosse valiosa, os
MacNeills poderiam ter se apossado dela. Mas o que mais preocupava Julia
era se a caixa continha ou não informações que implicassem sua família.
Tantos anos se passaram. Que notícia poderia ser de importância por mais
tempo?
Tudo pronto para investigar, Julia desabou no sofá de tweed verde
novamente, ansiosa para Maria sair para que pudesse fugir.
Vestindo um suéter fúcsia de lã e calça jeans preta mais casual, Maria
virou-se para fora do quarto e encontrou Julia na sala de estar.
— Um esconderijo secreto? Você não pode estar falando sério. Se eu
não tivesse tanto medo de perder o emprego ou fosse mais corajosa, iria com
você. Mas ainda assim... Não acho que você deveria fazer isso.
— Eu só vou dar uma volta. Ninguém vai me ver. Vou ter a certeza
disso.
Maria não parecia convencida.
Lorde MacNeill disse que não queria ninguém passeando em
torno da propriedade sem a sua permissão. E nós meio que temos uma
influência agora. Não quero estragar isso.
— Vou estar na floresta fora do castelo e não dentro. — A menos que
Julia localizasse os túneis secretos que seu avô havia mencionado. Embora
ele tivesse dito que o lugar tinha sido muito bem defendido nos anos
anteriores para tentarem voltar dessa forma e, em anos mais recentes, não
tinham sido bem-sucedidos num par de tentativas rápidas para localizar a
entrada do túnel. Uma mulher sozinha podia conseguir a proeza.
— Ao redor do perímetro ou dentro do castelo, o lugar é fora dos
limites a menos que Lorde MacNeill nos dê permissão. — Maria deu a Julia
um olhar crítico.
— Só porque nos deixou na casa de campo, ele ainda pode não fazer
quaisquer concessões para nós. Mesmo que você diga que não há nada
acontecendo entre vocês dois. O ar praticamente fervilha com a maneira
como o lorde olha para você. Não pense que eu não percebi o seu interesse
por ele também.
— Ele me alcançou uma bolsa com gelo, nada mais. Bem, preparou a
banheira. Não veja mais nisso do que existe. Estava sendo apenas gentil.
Tudo bem? — o que Julia não disse, foi o quanto suspeitava que Ian não
confiava nela nem um pouco e esse era todo o seu interesse por ela.
Mantenha seus amigos próximos e os inimigos ainda mais perto, não era
este o velho ditado?
Maria apontou para a lareira crepitando com o calor.
Ele acendeu um pequeno fogo quente, provavelmente, mais
do que um na lareira. Agarrou uma manta de seu quarto. Imagino que
removeu os saltos e meias-calças e sem dizer o que mais teria removido se
você tivesse concordado. Aposto que também carregou você ao banheiro, ou
não estaria saindo dele quando chegamos.
O rosto de Julia corou. Ela não estava prestes a dizer a Maria que Ian
a tinha beijado de uma forma que se lembraria para sempre. Seu ex-
namorado nunca tinha chegado perto de deixá-la queimando de desejo da
maneira como ele fez.
As sobrancelhas de Maria se levantaram.
— Ele se ofereceu para tirar suas roupas, não foi? — ela riu. — Se
tivéssemos qualquer alimento, certamente teria feito algo para comer.
— Ele é um lorde. Provavelmente não sabe cozinhar. Mas eu vou ter
cuidado. Como um lobo em modo sorrateiro.
As sobrancelhas escuras de Maria se levantaram e seu olhar
preocupado retornou.
— Você não vai como uma loba, não é?
— Não. — Não de início. A menos que Julia conseguisse localizar a
entrada secreta mais facilmente dessa maneira.
— O que você achou de Duncan MacNeill?
— Ele é alguém para se tomar cuidado. Silencioso e letal. Quanto ao
Lorde MacNeill, depois que Harold deu uma olhada na foto dele, resumiu-o
em quatro pequenas palavras: Mal até o osso.
Sim. — Julia pensou na imagem de Ian na foto e nele
sentado no bar. Ele tinha o mesmo olhar frio que na gravura, com os olhos
assustadoramente perceptivos. E parecia estar no comando, até mesmo a
milhas de seu castelo. Quão longe a sua esfera de influência alcançava? Por
que não tinha um séquito ―grupo que segue junto a alguém; geralmente um
nobre‖? Ela imaginava que um senhor de terras teria muita gente o seguindo
onde quer que fosse tentando se aproveitar do seu lado bom, querendo
favores. Talvez não funcione assim nos tempos de hoje.
Ian parecia ter em torno de trinta anos, talvez um pouco mais velho.
Não velho o bastante para ser tão obstinado sobre não querer filmar no
castelo, com suas ideias tão fixas, e não gostar de mudanças.
— Talvez nós possamos lidar com outra pessoa. — porque, apesar do
que Maria poderia pensar sobre eles, Julia sabia que Ian desconfiava dela.
Talvez pudesse fazer algumas incursões em seu projeto ao solicitar para um
de seus lacaios, se conseguisse fazer amizade com alguém que pudesse levá-
la para dentro do castelo.
No entanto, seus pensamentos voltaram para a expressão de Ian, os
olhares avaliadores e seus olhos escuros observando-a, estudando-a e talvez
tentando intimida-la. Ela não era facilmente intimidada. Mas tinha a
sensação de que se esgueirar por ele não seria uma tarefa fácil.
— Não conte com isso. Ian é o lorde e aquele no comando. Embora
eu tenha falado com Guthrie MacNeill, ele era apenas o intermediário. Ian
está definitivamente dominando a situação. E caramba, diria que você fez
um bom começo em obter a atenção dele
de qualquer maneira. — Maria soltou a respiração e protegeu seu pulso
esquerdo.
— Eu sei que você vai ao castelo dos MacNeills depois que eu sair.
Nada que diga vai convencê-la de não fazer isso. Você realmente poderia
estragar tudo, sabe. Se você for presa...
— Eu vou alegar que fui uma idiota americana que ficou separada da
equipe de filmagem indo para a reunião e me perdi.
Aparentemente Maria não tinha muita confiança de que Julia podia
entrar e sair de lugares sem ser detectada como uma ladra de elite.
Entretanto, tentar infiltrar-se no subterrâneo de um castelo era uma
experiência nova para Julia, por isso, a preocupação de Maria não era
totalmente infundada.
— Você não acha que, quando arrastarem seus ossos até o lorde do
castelo, ele não vai perceber que tinha mais alguma coisa acontecendo?
Uma buzina soou na frente. Julia seguiu Maria para fora e acenou
para o Chad. Ele era o cara das entregas, um tipo surfista com cabelo loiro
manchado de sol. Jovem e empolgado de estar aqui, Chad sorriu e acenou de
volta para Julia enquanto Maria entrava no carro.
Enquanto Chad saia com o carro, Julia acenou para Maria, sorrindo
alegremente, num esforço para lhe garantir que tudo ficaria bem. Maria
apenas balançou a cabeça para Julia, os lábios cheios comprimidos numa
linha sombria.
Julia não tinha nenhum plano de ser pega durante a sua missão
clandestina, mas não estava disposta a esperar até amanhã para tentar
adentrar, tampouco.
CAPÍTULO 5
Julia pegou sua chave da casa de campo e trancou a porta, pronta
para invadir o Castelo Argent de forma sorrateira.
Já acostumada a estar na casa de campo seca, sentiu a névoa fria
envolvendo densamente toda a área e lembrou-se do acidente de carro e seu
subsequente medo de estar sendo seguida. E de ser ferida. Seu tornozelo
incomodava apenas um pouco, mas empurrou a ideia de sua mente e
caminhou em ritmo acelerado através da antiga Floresta de Caledônias que
ligava o castelo de Ian MacNeill a casa onde se hospedava.
A floresta era como um laço com o passado, onde o tempo parecia ter
parado. Ela imaginou um antepassado do Lorde MacNeill, com seus homens
vestindo kilts e equipados com arcos e aljavas de flechas, caçando nestes
mesmos bosques a cavalo atrás de cervos ou javalis.
Movendo-se a um ritmo constante, logo se esquentou um pouco. Mas
estava ficando mais molhada a cada momento, seu suéter e calça jeans
ensopando com a leve chuva fina como uma esponja sedenta. Tinha
considerado vestir uma jaqueta, mas se precisasse mudar de forma, quanto
menos roupas melhor. Felizmente, as botas davam apoio aos seus tornozelos
e folhas de pinheiro afofavam o chão, então, exceto por uma preocupação
torturante de que podia torcer o direito novamente, este se sentia bem por
ora.
Pinheiros escoceses se agigantavam acima, a fragrância das pinhas
lembrando-a do Natal e das caminhadas através das florestas ao noroeste da
Califórnia, e o doce cheiro forte de zimbro também flutuava na umidade fria.
Vindas da direção do castelo, abafadas vozes escocesas com o seu sotaque
distinto e agradável ganharam sua atenção e parou de andar para considerar
o que a rodeava. Ela imaginou que as pessoas falando estavam dentro das
muralhas, no pátio, externo ou interno, e que nenhuma iria imaginar um
invasor aproximando-se do domínio delas.
Sem predadores conhecidos na área, no que se referia a animais que
podiam pôr em perigo os humanos, e sem humanos perambulando por aí, ela
se sentiu segura na floresta. Estava sozinha, exceto por alguns cruza-bicos
escoceses alimentando-se de sementes de pinha, um macho vermelho com
escuras asas e penas da cauda e dois outros gritando animadamente entre si,
soando como se estivessem falando com um sotaque escocês.
O gorjeio arrogante de um chapim com crista foi adicionado aos sons
da floresta e ela olhou para cima para ver o pássaro alegre sentado no tronco
morto de um pinheiro, as penas em sua cabeça de pé, como um corte
moicano. Uma libélula com anéis dourados flutuou ao lado dela e
desapareceu e as borboletas esvoaçavam ao redor.
A sensação de que estava em um bosque primitivo, transportada para
o passado há muito distante, fez sua imaginação correr livre. Imaginou a
filha de um chefe correndo para longe de um clã inimigo, buscando abrigo
no castelo além das matas e rezando para alcançá-lo antes que fosse pega.
Mas lugares como este, que pareciam intocados e serenos agora,
poderiam ter abrigado homens perigosos ao longo dos tempos, criando uma
situação perigosa para qualquer um que passasse pela área. Ou clãs que
lutaram um com o outro. E se a imaginária filha do chefe tivesse sido do clã
inimigo, ela estaria em apuro mortal.
Julia deu um tapinha no bolso, onde o mapa manuscrito, um esboço
apressado que seu avô desenhou a partir da memória e deu a ela, tinha
estado. Havia tirado e deixado na casa de campo, caso fosse detida por
invasão e revistada. O que eles deduziriam do mapa? Talvez que Julia sabia
onde era a entrada secreta e planejava invadir. Era por isso que o tinha
deixado para trás na casa de campo.
Só que agora não conseguia lembrar, exatamente onde seu avô tinha
pensado que a entrada era. Ela seguiu em direção às muralhas do castelo
para controlar sua direção, mas se manteve na floresta. Na torre mais ao
canto oriental, iria contornar até a parede ao leste. Em algum lugar por lá, no
limite da floresta, a entrada escondida estava localizada.
Assim como o monte de ovelhas brancas encaracoladas aparecendo
subitamente diante dela e de Maria na estrada, o castelo inesperadamente
apareceu através de um fosso e da tela de árvores em que estava agora. Seu
queixo caiu. As muralhas de arenito dourado e o interior eram espetaculares,
de tirar o fôlego e impressionante, os próprios topos das torres
desaparecendo na neblina e dando a ilusão de que se estendiam até o próprio
céu.
Ela olhou para o leste, viu a torre oriental redonda e dirigiu-se mais
profundamente na floresta para ficar fora de vista. Mas quando finalmente
chegou à área ao longo da parede leste, não conseguiu encontrar nenhum
sinal de uma entrada secreta. Talvez, como loba, pudesse localizá-la com o
nariz no chão, cheirando quaisquer vestígios de andanças humanas ou
melhor do que isso. Qualquer indício de um sistema de túneis subterrâneos
através do ar mais frio que escoa para fora das margens de um alçapão ou a
umidade de escavações terrosas pelo seu cheiro de mofo típico de cavernas.
A outra opção era localizar o portão posterior ou a porta dos fundos para o
castelo, aquela que havia sido usada por pedestres ou comerciantes e estava
localizada no lado sul. Se pudesse descobri-la, poderia ser uma maneira mais
fácil de entrar.
Mesmo se tivesse um convite por escrito para explorar cada
centímetro quadrado do castelo, o que não tinha e sabia que não viria, ela se
sentiu levada a encontrar uma forma mais dissimulada para entrar. Imaginou
que isso era devido ao seu senso inato de aventura, o laço de sua família com
a terra e sua imaginação indomável, que sonhava com mundos de romance,
mistério, suspense e aventura.
Esta era a derradeira aventura.
Verdade seja dita, de jeito nenhum receberia um convite para entrar
no castelo. Além disso, ninguém lhe daria permissão geral para procurar a
coisa escondida que sua família deixou por lá séculos antes.
Com o coração batendo com força por causa do exercício e da sua
pressa para evitar ser pega, caso alguém estivesse caminhando pela floresta,
ela atravessou a área, de cima a baixo, buscando, procurando qualquer sinal
de algo fora do lugar, uma indicação de que uma entrada escondida para o
castelo estava aqui em algum lugar. Se conseguisse encontrar a entrada
secreta e ainda fosse uma forma viável de acesso aos túneis sob as paredes e
fosso do castelo, teria uma melhor chance de explorar o lugar sem detecção,
pensou.
Procurando por sons de seres humanos nas proximidades, não ouviu
nada.
Ela suspirou. Hora de mudar de forma, porque nunca chegaria a lugar
nenhum com sua busca como uma humana. Tirou as roupas, enterrou-as o
melhor que pode sob as folhas e agulhas de pinheiro, acolhendo o calor que
permeou todos os seus tecidos enquanto a mudança ocorria e, em um par de
batimentos cardíacos transformouse, o movimento fluído, rápido e indolor.
Como uma humana, ela se sentia confortável na floresta, como uma
loba, até mais. Exceto pela preocupação de que alguém poderia tentar matá-
la. Mas estava mais perto do chão e podia correr mais rápido e, com orelhas
que poderiam torcer de um lado para outro ao contrário das orelhas
humanas, poderia detectar melhor de onde os sons vinham. Mesmo em sua
forma humana, podia ouvir dezesseis vezes melhor do que um simples
humano.
A pelagem quente de lobo que a cobria não só evitava que seu calor
corporal escapasse, mas também tinha pelos longos que evitavam que o ar
úmido penetrasse. Sua pelagem de loba estava mais leve porque era verão,
mas se fosse ficar nessa temperatura mais fria, os pelos poderiam crescer
mais grossos para acomodar o clima na Escócia.
Com o nariz no chão, Julia cheirou a área, querendo pesquisar cada
centímetro quadrado de terra e encontrar a porta secreta, se ainda havia uma,
a qual levaria através de túneis subterrâneos e passagens escondidas para
dentro da fortaleza. Para sua frustração, procurou provavelmente por uma
boa hora e meia e estava quase pronta para desistir. Não querendo preocupar
Maria, pretendia voltar para casa para que pudesse acompanha-la e ao resto
da equipe na reunião com os MacNeills.
Mas, primeiro, queria fazer uma última coisa: dar uma olhada onde o
portão posterior estava localizado, ao redor da parte de trás do castelo. Ainda
era uma entrada viável? Ainda usado? Menos fortificado e nem a metade tão
seguro quanto o portão da torre em frente ao castelo? Ou estava trancado ou,
pior, com um murro na frente?
Correndo através da floresta ainda em todas as quatro patas,
permaneceu escondida no abrigo dos álamos e pinheiros silvestres. Tinha
acabado de fazer a volta na torre sudeste quando viu o movimento acima da
muralha. Um homem estava olhando para a floresta sem foco específico,
como se admirando a beleza da paisagem, mas agora rapidamente desviou o
olhar para ela.
Ian MacNeill. Ele estava vestido com calça marrom e uma camisa
pólo marfim. Não podia vê-la, ela achava. Não a partir da altura em que
estava. Não da distância para as árvores. Não com a floresta proporcionando
uma copa frondosa. Ou a névoa que continuava a cobrir a área em tons
fantasmagóricos.
No entanto, os olhos focaram diretamente sobre a loba, seu olhar
olhando diretamente no dela como se pudesse vê-la. Não só ela, mas seus
olhos enquanto ele se prendia no seu olhar. Mas não podia vê-la. Julia jurou
que não podia. Ou talvez fosse uma ilusão. Pega no ato.
Ele ficou tão quieto, olhando tanto tempo para ela, os lábios
entreabertos, como se estivesse surpreso, todos os músculos do seu corpo se
enchendo de tensão, com as mãos fechadas em punhos em cima da muralha,
que Julia se preocupou que de fato a tivesse visto. Que ele não queria
assustá-la, mas, se pudesse, chamaria a cavalaria e os ordenaria a caçá-la.
Não se atreveu a se mover, apenas no caso de que o movimento
pudesse comprovar que estava ali, porém, não importava o quanto pensasse
que ele parecia vê-la, sabia que não podia. Simplesmente não era fisicamente
possível.
Mas então reconsiderou. Ele era um lobo. E se pudesse vê-la...
Droga.
— Ian, nós recebemos um telefonema. — um homem gritou para ele
de longe, sua voz sombria e áspera, mas Ian não quebrou o contato visual
com ela. Achava que era a voz de Duncan.
— O produtor e alguns de seus funcionários estão a caminho.
A respiração de Julia parou. Precisava voltar e reunir-se com Maria e
alguns membros da equipe de filmagem enquanto procuravam audiência
com o homem que agora estava encarando. Maria iria se preocupar com ela,
pensar que tinha sido pega e estava em apuros. Precisava voltar.
Mas ficou hipnotizada enquanto olhava para Ian. Seus cabelos
escuros esvoaçavam ao vento, o rosto esculpido em granito cinzelado, o
queixo tenso e o contorno fraco de seus músculos aparecendo por baixo da
camisa que estava ficando úmida no tempo chuvoso. Ele não se moveu do
lugar onde estava de pé, olhando-a com... Bem, não podia dizer. Surpresa,
provavelmente. Aborrecimento, talvez. Um lobo nestes bosques. Nos
bosques dele. Será que percebeu que era ela?
— Ian! Você me ouviu? — o outro homem gritou novamente.
Os lábios de Ian subiram ligeiramente. Aquela fraca curva de seus
lábios disse tudo. Ele sabia que era ela.
— Estou aqui, Duncan. — Ian falou tão sombriamente quanto, mas
suas palavras eram mais brandas, perigosas e silenciosas, como se tivesse
medo de assustá-la. E ele não queria afugentá-la, ela presumiu. Queria caçá-
la.
Julia pensou que ele iria rapidamente se virar para cumprimentar
Duncan, mas Ian não quis soltar o olhar dela e mal podia esperar, no caso de
dizer ao seu irmão mais novo para enviar caçadores para localizá-la. Além
disso, ela deveria estar com a equipe de filmagem que iria encontrá-lo em
breve. Tomou mais tempo em sua busca do que havia previsto? Talvez
tivesse passado duas horas já. Correu para onde tinha deixado suas roupas,
com a intenção de mudar de forma e depois seguir para a casa de campo,
onde torcia que Maria ainda esperasse por ela.
O vento em seu pelo, o cheiro do ar frio nebuloso e de veado e
raposa, a fez dar outra respiração profunda. Algo intrinsecamente celestial
sobre as florestas highlanders agradava o lado loba dela e às suas raízes
escocesas. Os mouros, os lagos, os rios, as cachoeiras, os campos de urzes
roxos e as montanhas. O castelo também. Era o lugar de romance e
highlanders gostosões, assim como Ian, o qual a havia capturado com o
olhar, como se pudesse segurá-la refém lá para sempre.
Pena que ele só poderia ser um personagem de fantasia em seus
contos de romance lobisomem.
Antes que alcançasse suas roupas, ela ouviu algo estalar na floresta e
parou, seu coração trovejando enquanto balançava a cabeça ao redor,
ouvindo e procurando por qualquer um ou qualquer coisa que pudesse estar
aqui.
Movimento nas árvores, dois homens. Os dois que estavam no
aeroporto. O de cabelo mais claro que tomou o primeiro carro alugado delas.
O outro, o homem de cabelos escuros que a esteve observando com muito
interesse. Coincidência demais eles estarem aqui agora. Coincidência demais
estarem aqui juntos.
Eles eram homens de Ian? Ou de outra pessoa? Talvez daquele que
foi o responsável pelo acidente de carro de Maria?
Ela correu para longe, esperando que conseguisse despistá-los antes
que fosse tarde demais.
Se Ian MacNeill não tivesse visto a loba vermelha com seus próprios
olhos, apesar da névoa em torno dela fazendo-a parecer quase
fantasmagórica, teria pensado que era uma invenção de sua própria
imaginação muito vívida. Mesmo assim, não podia deixar de observá-la,
esperando que se movesse, provasse a ele que era real e não uma loba etérea
do passado. Ele os tinha visto antes. Lobos, já realmente não mais aqui.
Fantasmas do passado com uma história. Não loups garous, mas lobos de
verdade.
Porém lobos vermelhos nunca viveram na região. Cinzentos, sim, o
último morto no século XVII ou XVIII, dependendo da fonte. E loups garous
vermelho? Possível, ainda que nunca houvesse conhecido um. Era Julia? Ou
alguém da equipe de filmagem?
Apesar de dizer a si mesmo que Julia era uma loup garou e que isso
não era grande coisa, reconheceu que não era como qualquer loba que já
tivesse conhecido. Ela o fascinava, tanto por suas ações, como suas reações a
ele. Nunca tinha ficado tão fascinado em querer saber mais sobre uma
mulher. Uma mulher com segredos. Com um nome que não era mesmo o
seu. E com um trabalho que não era realmente dela?
Se a loba era Julia, seu tornozelo estava bem melhor. Mas o que ela
estava fazendo em torno de suas terras? Dando um passeio? Quando disse
em termos inequívocos que ninguém estava autorizado a fazer tal coisa. Era
uma recém-transformada e teve que mudar de forma rapidamente? Essa era
uma suposição perigosa e ela não deveria estar aqui em matas
desconhecidas, arriscando ser flagrada. Ou aqui neste trabalho, ponto final.
Quase tinha decidido procurar as roupas dela e forçá-la a vir com ele
para que pudesse alertá-la sobre as suas regras mais uma vez. Isso trouxe
outra onda de pensamentos espontâneos à mente.
Sua prisioneira. Sua.
Baird Cottage não ficava assim tão longe do castelo. Seria fácil para
ela correr como uma loba e aparecer na porta dele. Mas não tinha ido ao
portão da frente. Estava se esgueirando na parede oriental. O que tentava
fazer?
— Eu vou subir para falar com você em um segundo. — o irmão
mais novo de Ian gritou. — Eles estão caminhando para o fosso. — Se
Duncan não tivesse gritado para Ian anteriormente sobre a equipe de
filmagem, a loba poderia ter ficado por lá mais tempo.
Não planejando lidar pessoalmente com a equipe de produção do
filme, porque não tinha necessidade, Ian estudou o nevoeiro peneirando
através das fileiras de álamos, vidoeiros prateados e pinheiros silvestres,
circundando o Castelo Argent, movendo-se como um predador silencioso,
seguindo em torno deles em um fino cobertor branco. Se seu clã estivesse
em batalha, esta névoa não poderia ter sido mais bem-vinda. Cada músculo
em seu corpo tencionou. Parecia batalha, da mesma forma.
Mas o que ele mais queria era caçar a loba. Sua pelagem
avermelhada era cor de canela e na parte inferior de seu focinho um branco
macio. Suas grandes orelhas vermelhas estavam ouvindo na direção dele,
contorcendo-se quando seu irmão tinha falado e a ponta preta de sua cauda
havia estado apontada reta para fora, sem se mover um centímetro. A loba
era definitivamente fêmea, menor e mais fina no físico do que um macho.
Se o pessoal da equipe de filmagem não estivesse vindo em um
momento tão ruim, ele teria sinalizado a Duncan para reunir os homens para
ir atrás dela enquanto segurava seu olhar. Mas estava bastante certo de que
Julia teria corrido se os tivesse ouvido vindo em sua direção na floresta.
Provavelmente, esta não seria a última vez que ela viajava pelas matas dele
em sua forma de loba tampouco. A noção de pegá-la em flagrante mais do
que lhe agradava.
Irritado por não poder mudar de forma agora, não com a equipe de
filmagem em vista, atravessou o corredor leste em direção à torre do portão
no lado norte do castelo.
Ele pensou que o mar de névoa à deriva na área talvez mantivesse os
americanos na aldeia durante a noite, longe de seu castelo e da fria chuva
úmida que ameaçava cair novamente. Todavia, inevitavelmente eles estariam
batendo à sua torre de sentinela, com vistas a transformar as terras numa
loucura cinematográfica. Um acordo era um acordo, não importava o quanto
não queria concordar com os termos.
Escutou, pelo corredor em cima da muralha, o sussurro de uma brisa
levando o som da assombrosa melodia das gaitas de foles cadenciadas ao
longe, atiçando o seu sangue para a batalha. Ele se perguntou, como diabos
poderia estar tão perto de perder seu lar ancestral e preso a recorrer a algo
tão baixo como ter que deixar de lado o orgulho e permitir este
empreendimento de produção de filmes.
Lutar contra conflitos com os seus vizinhos nos velhos tempos teria
sido mais fácil. Mas a ameaça de perder o castelo e terras devido a
investimentos imprudentes no esquema em pirâmide de Silverman? Os
santos preservem a ele e aos MacNeills.
Então, os ouviu, seus passos ao longe, rumo ao castelo, pisoteando,
cinco ou seis, cogitou. Todavia, quando chegaram à parte norte da passarela,
devido ao nevoeiro e quão longe ainda estavam não pôde vê-los. Se fossem
lobos como ele e sua família, teriam sido muito mais furtivos. Mas os
ianques pisotearam ao longo da estrada de paralelepípedos com desdém,
ignorando a beleza do silêncio cobrindo a terra.
Em seguida, vozes foram levadas. Vozes masculinas, um reclamando
amargamente, a respiração curta, repreendendo o lorde do castelo ―ele”,
Ian MacNeill, por não lhes permitir dirigir pela estrada com quilômetros de
extensão. E outro que tentava consolar o primeiro.
— O lorde não queria uma horda de veículos rugindo pela trilha esta
noite, a última noite dele antes de transformarmos o local em nosso set de
filmagem. Você sabe que ele não queria nada disso.
— Ele concordou e agora não tem mais nada a dizer sobre o assunto.
Cruzando os braços, Ian sorriu sombriamente. É por isso que os tinha
feito andar.
Atrás dos homens, a voz de uma mulher murmurou algo, como se
estivesse falando com alguém, gentilmente não quebrando o encanto da
noite invasora. Ainda estava claro, mas com o nevoeiro e o sol se pondo,
estaria escuro em breve.
Com a audição de um lobo, Ian podia captar vozes e outros sons a
quase 10 quilômetros através da Floresta de Caledônias e dezesseis através
dos mouros. A mulher estava apenas a cerca de um quilômetro de distância e
falando em um sussurro, falando baixinho com outra pessoa, sua voz de
sereia encantando conforme ganhava toda a atenção dele. Era Julia? O
sussurro de uma voz que soava como a dela. Tentadora e sedutora, não
importava o que dizia.
Então a loba era outro alguém que tinha mudado de forma, se Julia
estava com a equipe de filmagem que se aproximava agora do castelo?
Cada músculo em seu corpo se encheu de tensão de novo, mas não
por querer batalhar desta vez. Não, agora se inclinou sobre o parapeito,
tentando ver o aspecto que tinha uma voz tão tentadora, como uma ninfa do
mar que sedutoramente atrairia os marinheiros para a morte. Calmante, como
um bálsamo quente em uma alma perturbada. Se pudesse ter um vislumbre
dela, ver se era Julia e ouvir o que ela estava dizendo...
— Desculpe o atraso, mas eu vi os homens do aeroporto. Aquele que
levou o nosso carro e outro que... Bem, não tenho um bom pressentimento
sobre ele.
— Que outro homem? Você não me contou sobre isso. O que foi
aquilo?
— Esqueça. Conte-me mais tarde o que você encontrou. — a outra
mulher disse sua voz com um característico som espanhol, tão agradável ao
ouvido como a da primeira, mas com uma pitada de preocupação e
aborrecimento atado a suas palavras.
A mulher era Maria, Ian estava certo.
E a outra, que ele pensou ser Julia, acrescentou:
— Eu estava...
— Não vai ser tão ruim. — o irmão de Ian, Cearnach, anunciou,
abafando o resto das palavras da mulher, seus passos desengonçados o
precedendo enquanto se juntava a Ian no corredor da muralha, bem acima do
pátio exterior.
Frustrado além da crença, Ian tentou pegar as palavras dela
novamente, mas nenhuma das mulheres falou mais. Ele havia se concentrado
na voz da mulher com tal intensidade que nem sequer tinha ouvido seu
irmão chegar.
— Sereia.
Ian resmungou baixinho, percebendo agora o quanto a mulher o tinha
posto sob seu feitiço. Inferno. Nenhuma mulher, especialmente uma com
esta equipe de filmagem, iria distraí-lo de seu dever, mesmo que fosse uma
loba. Apesar de dizer isso a si mesmo, teve que se forçar a tirar o olhar da
estrada, querendo desesperadamente observar a mulher, ver se ela era Julia.
Ainda imaginava aquela blusa de seda colada aos seios e as calças agarradas
eroticamente em suas pernas. Com irritação, virou-se para encarar seu irmão.
Ele jurava que Cearnach parecia meio que satisfeito com a situação.
Seu irmão usava uma camisa verde colada, calça azul- marinho e um par de
botas desgastadas. Com a brisa puxando seu cabelo despenteado e uma
sombra de uma barba enfeitando o rosto, parecia casual e descontraído,
como sempre aparentava.
Sendo o mais otimista de seus irmãos quadrigêmeos, o nome de
Cearnach lhe convinha: vitorioso ou guerreiro da floresta. Ian acreditava que
sua mãe tinha que ter descoberto algo da personalidade deles antes de terem
nascido, através de algum tipo de conhecimento inato, todos, exceto pelo
próprio Ian. Ele era o presente de Deus. E olha onde isso os levou. Presumia
que sua mãe havia lhe nomeado como tal, porque era o primogênito de
quatro irmãos. Ela provavelmente ficou aliviada de dar à luz ao primeiro
deles e começar com a coisa toda.
O clã, a matilha, a casa deles... Tudo isso repousava sobre seus
ombros. Não importava quantos membros de sua matilha ajudasse a gerir as
coisas, ele era o responsável. E os decepcionou.
— Silverman. — Ian rosnou. — É verdade, o bastardo é um ladrão
que não dava a mínima para quantas pessoas arruinava financeiramente ao
longo do caminho, contanto que pudesse construir seu próprio pequeno
império de ganhos ilícitos. Mesmo a companheira dele estava neste negócio,
fingindo inocência enquanto tentava manter o máximo de dinheiro em seus
próprios bolsos enquanto ele desaparecia. E o pior é que tanto Silverman
quanto sua companheira eram lobos cinzentos da variedade americana.
A parte sobre eles serem americanos tinha azedado ainda mais a sua
opinião sobre aqueles da equipe de filmagem, mesmo que não tivessem nada
a ver com isso.
— Silverman era grande em Wall Street. Respeitável. Ou foi por um
tempo. — Cearnach lembrou Ian. — Ele enganou um monte de gente.
— Outros, com certeza. — mas Ian deveria ter supervisionado as
finanças deles melhor do que isso.
Não importava o resultado, Cearnach sempre encontrava uma
maneira de ver, qual fosse à loucura que se abatia sobre eles, de uma
maneira positiva.
— Eu continuo a lhe dizer que é uma experiência de aprendizagem.
Uma maneira de gerir o nosso dinheiro de forma mais eficiente no futuro.
Ser mais vigilante. Mas mais do que isso, é uma forma de se conectar de
novo com o mundo exterior, em vez de isolar nosso clã, nossa matilha, de
todos os outros.
— Nós socializamos com os moradores locais, Cearnach.
Participamos das festas highlanders, pescamos e até mesmo exibimos nosso
gado. — entretanto, Ian se contentava com a manutenção de sua matilha em
semi-isolamento. Precisava se contentar por aqueles que eram mais
recentemente transformados. Não muitos clãs poderiam ostentar sua
linhagem lobisomem e aqueles que o faziam, mantinham suas identidades
em segredo. Ele tinha certeza de que o mesmo era verdade pelo mundo todo,
ou teriam conhecimento desse fato.
— Eu sei que você está se culpando. — Cearnach disse, apoiando os
antebraços sobre a parede de pedra e olhando para a vista da antiga Floresta
de Caledônia. — Mas você deve culpar Guthrie unicamente por este mal.
Ian lançou ao seu segundo irmão mais velho um olhar ardente.
Cearnach o contrabalanceou com um sorriso conhecedor.
— Tch, esse é o problema. Você não culpa ninguém além de si
mesmo. Guthrie age sem perguntar a qualquer um de nós, se estamos de
acordo com os seus planos em relação ao nosso dinheiro. Guthrie é o único,
e só ele, que nos meteu nesta confusão. Ponha ele como responsável.
Guthrie, assim como o seu nome, não podia ser freado mais do que o
vento, livre para vagar deliberadamente onde fosse. Ele sempre teve uma
incrível capacidade de fazer dinheiro para o clã de maneira incomum, mas
desta vez, o enganador perito o iludiu. Seu irmão não tinha aprendido que se
parecia bom demais para ser verdade é porque provavelmente não era?
Se Silverman não tivesse desaparecido dos Estados Unidos, Ian iria
castiga-lo. Embora seu irmão mais novo quisesse tomar isso em suas
próprias mãos, caçar o filho da puta e obter o dinheiro deles de volta, sabia
que Duncan não seria gentil. Não que ele seria tampouco.
— Os ianques nos tornarão solventes. — Cearnach continuou
alegremente. — Um tomou o nosso dinheiro, outro vai nos ajudar a vencer.
Ian não achava que Cearnach algum dia já soou menos do que alegre.
Era francamente irritante às vezes. Com seu olhar severo, resmungou e
cruzou os braços.
— Eles não ficarão dentro das muralhas do castelo depois do
anoitecer.
— Eles têm algumas filmagens para fazer à noite, Ian. Você assinou
os formulários de consentimento.
Ele teve que concordar, por mais que não quisesse. Foi uma das
concessões que precisou fazer se o filme ia ser feito aqui.
— Estou surpreso que não puderam construir uma réplica do castelo
na Hollywood deles. — o que era exatamente o que deveria terlhes dito,
mas, verdade seja dita, os MacNeills precisavam do maldito dinheiro.
— Para este filme, os custos de produção podem ser mais baratos se
filmarem no local, pelo menos é o que Guthrie diz.
— Eles não vão dormir dentro do castelo à noite. — reiterou Ian.
Não seria influenciado até este ponto. — Nosso povo tem que ter a sua
privacidade. — pelo menos meia dúzia tinha sido transformada durante a
última metade do século passado e não podia controlar a mudança durante a
lua cheia, quando a atração era mais forte.
Cearnach acenou alegremente.
Ian balançou a cabeça.
— Você alguma vez fica com raiva de alguma coisa, irmão?
— Sim, Ian. Quando o primo Flynn decolou com a moça bonita por
quem eu fiquei intrigado há muitas, muitas luas atrás, estava pronto para
cortá-lo em dois com a minha espada. Se Duncan não tivesse me parado... —
Cearnach deu de ombros e sorriu.
— Duncan estava mais louco do que você que o nosso primo fugiu
com ela na surdina. Não demorou muito para que você estivesse interessado
em outra garota.
— Você está certo. Aquela que decolou com Flynn não era digna de
minhas atenções. E a outra por quem Flynn se apaixonou foi a ruína dele. —
O rosto de Cearnach endureceu um pouco e soube que seu irmão estava
pensando na noiva prometida de Ian, Ghleanna MacDonald, uma humana,
não uma loba, e do desastre que tinha sido as palavras de raiva, o banimento
de Flynn do clã e da matilha e a rescisão do contrato com MacDonald.
Cearnach suspirou profundamente. — Esta foi o último erro dele. Eu sempre
disse a Flynn que moças solteiras eram as únicas com quem se flertar.
Sons de passos se aproximaram e eles se viraram para ver Duncan vir
na direção deles, sua expressão sombria.
— Eles estão aqui. Pelo menos o grupo avançado. Quer que eu cuide
deles? Você disse que não queria ser incomodado.
Duncan estava certo. Não queria falar com eles. Já tinha disposto os
detalhes. Agora, seus homens poderiam aplicá-los.
Entretanto... Considerou a voz da mulher que tinha ouvido e queria
ver se era Julia. Mas a forma como as duas mulheres conversaram uma com
a outra, sobre algum problema no aeroporto o fez perceber que alguma coisa
estava errada, algo que era melhor ser mantido em segredo e queria saber
sobre isso. E desejava muito descobrir o verdadeiro nome de Julia. Ele quase
teve a vontade de perguntar ao diretor na frente dela se estava realmente com
a equipe agora. Colocá-la sem saída. Ver o que tinha a dizer desta vez.
Todo mundo na equipe de filmagem era loup garou? Deveria ter
pensado em perguntar. De certa forma, tornaria a vida do clã mais fácil.
— Cuide deles, Duncan. Nenhum alojamento nas instalações. Não
quero vê-los mais do que eu preciso. E, Cearnach, não faça concessões a
ninguém. — ele fez uma pausa para aquilo ser assimilado e então se
perguntou o que seu irmão gênio financeiro estava fazendo. — Onde está
Guthrie?
— Em seu escritório, fazendo ligações, como de costume. — disse
Cearnach. — Eu realmente cuidaria do que ele está aprontando agora. Estes
são tempos de desespero. Sem dizer em que esquema imprudente poderia
investir da próxima vez. — Cearnach piscou, parecendo mais divertido do
que preocupado e seguiu na direção da escada da torre.
Isso fez Ian se perguntar se Cearnach sabia de alguma nova loucura
que Guthrie estava endossando.
— Certifique-se que... — Ian disse a Duncan, alto o suficiente para
Cearnach ouvir. — Cearnach não fale com os ianques com algum tipo de
autoridade.
Cearnach riu, nem um pouco incomodado com a preocupação de Ian
ou que ele tinha dito a Duncan para ser responsável por seu comportamento,
apesar de Duncan ser o mais jovem dos quadrigêmeos. Cearnach sabia que
Ian confiava plenamente nele.
Duncan deu a Ian um sorriso sombrio.
— Sim, estes homens parecem bronzeados e mimados. Tudo o que
eu tive que fazer foi dar-lhes um olhar duro enquanto passava pela portaria
para chegar até aqui e eles estavam tremendo em seus tênis.
Ian tentou não demonstrar sua diversão na imagem que foi evocada.
— Por mais que eu odeie dizer isso, nós precisamos deles. Então,
apenas mantenha a paz. Não dê mais concessões do que já concordei e não
os assuste.
— Se Flynn aparecer os maldizendo, não é culpa minha. Você sabe
como ele odeia quando forasteiros aparecem aqui.
— Eles provavelmente não reconheceriam um fantasma se vissem
um. Vá, cuide deles. Eu estarei no escritório de Guthrie. — Ian se certificaria
que seu irmão não assinasse quaisquer outros empreendimentos que não
aprovasse completamente de antemão.
Duncan inclinou a cabeça, deu a volta e saiu, parecendo pronto para a
batalha. Ian foi abençoado com irmãos que, na maioria das vezes, poderiam
ser confiáveis. No entanto, se estes fossem os bons e velhos tempos, teria
uma espada na mão e posto Duncan na liderança.
Conforme se aproximava da guarita do corredor da muralha, olhou
para baixo e examinou o grupo de seis, quatro homens e duas mulheres. E
parou onde estava. A morena era aquela com a sexy voz espanhola, Maria.
Ela estava de pé, em silêncio, ao lado do homem que parecia estar no
comando, os braços cruzados e o pé batendo na porta de entrada de pedras,
parecendo muito irritado.
A outra mulher era Julia, a ruiva, vestindo uma roupa verde agora,
que se camuflava na floresta, como um caçador faria. Mas ele observou a
coisa mais estranha. Uma folha e um par de agulhas de pinheiro se
agarravam a parte de trás de seu suéter. A única explicação a que poderia
chegar era que ela tirou a roupa, deixando-a nas agulhas de pinheiro e
mudou de forma. Ou queria que este fosse o caso? Queria que Julia fosse a
pequena loba vermelha que observou na floresta, metade desafiando-o,
metade com medo que a tivesse visto?
Apesar de dizer a si mesmo que não devia se preocupar, além de não
querer que alguém, que não fosse um de sua espécie, descobrisse o que ela
era, precisava saber a verdade.
Julia tomava notas. Ninguém estava falando, então o que escrevia?
Ian observou a maneira como a ruiva olhou para dois de seus primos,
Oran e Ethan, e o interesse recíproco que eles lhe mostraram. Merda, ele
disse ao clã que tudo entre seu povo e os americanos seria estritamente
profissional. O negócio no qual pareciam estar interessados não era o que
tinha em mente.
E se perguntou se o fato das mulheres serem loups garous, tinha algo
a ver com isso. O que significava que precisava conversar com os seus
homens, o mais rápido possível.
E conversar com Julia também, para saber exatamente o que ela
estava fazendo.
CAPÍTULO 6
Névoa não só cobria a floresta e a área em torno das terras do castelo
dos MacNeills de uma forma sobrenatural, assombrosa e de tirar o fôlego,
mas também a própria fortaleza e o pátio exterior. Julia fazia anotações em
seu diário enquanto ficava um pouco atrás de Maria. Ela sabia que teria que
ser honesta com sua amiga, depois delas voltarem para a casa de campo,
sobre ter sido pega em sua forma de loba. Mas se não mudasse de forma
novamente enquanto estivesse na Escócia, nenhum dano seria feito.
Ninguém jamais saberia que era a pessoa que tinha se transformado contanto
que fizesse isso novamente e não fosse pega.
Ninguém sequer tinha corrido para fora do castelo para caçar o lobo.
Então, talvez eles não se importassem. Ou talvez a indústria cinematográfica
tomasse toda a atenção deles por ora.
No momento, o diretor estava batendo com o pé no chão, de cara feia
e esperando por alguém de importância para falar com ele, quando raramente
ficava esperando por qualquer coisa. Dois Highlanders musculosos os
observavam, de braços cruzados e olhos cerrados, guardando o pátio
exterior, porém, logo que viram Maria e Julia, suas bocas se contraíram um
pouco. Patifes. Ela estava certa que o senhor deles não gostaria que
estivessem flertando com as mulheres da equipe de filmagem. Os homens
estavam provavelmente interessados nelas ainda mais porque também eram
loups garous.
Julia rapidamente escreveu mais algumas notas, desta vez sobre os
homens do castelo, e não apenas sobre as torres de arenito ou os ímpios
portões de ferro projetados para manter o inimigo fora. Para o primeiro dos
homens, ela escreveu:
Ruivo; braços musculosos salientes sob uma camisa leve, apesar do
ar frio; os olhos de um cinza chumbo, aquecendo um pouco enquanto ele
olha uma mulher; boca masculinizada, malandra e adorável. Talvez de
ascendência nórdica. Poderia ser um descendente dos primeiros
lobisomens vermelhos.
Pelo menos para a sua história.
Sim, era assim que descreveria o homem em seu romance histórico.
Olhou para o outro homem e notou que estava agora tendo uma
conversa particular com o ruivo, cujos olhos permaneceram fixos nela. Ele
estava sorrindo um pouco mais e concordou com o comentário de seu
companheiro.
Ignorou o rubor aquecendo todo o seu corpo e tentou concentrar-se
no negócio de descrever o segundo homem para seu romance. Era
definitivamente muito mais fácil observar temas para suas histórias mais
secretamente quando os objetos de suas anotações não estavam cientes do
que estava fazendo.
Ela escreveu para o segundo personagem:
Olhos amarelos claros, tão malandros quanto; um indício de uma
barba, cabelo castanho escuro; alto como seu amigo ruivo, tão musculoso
quanto; interessado, parecia ser mais escocês na origem.
Na umidade fria, Julia tremeu e ouviu vozes masculinas se
destacarem sobre o corredor em cima da parede de muros. Ela se afastou de
Maria e dos outros para ter uma visão melhor da muralha e avistou três
Highlanders musculosos conversando ali.
O moreno Duncan estava carrancudo e parecia pronto para começar
uma guerra. Ele estava vestido de preto, estilo paramilitar ―são associações
civis, armadas e com estrutura semelhante à militar‖, como se fosse um
agente do FBI, mas sem as letras brancas em toda a camisa para identificar o
que era. Tudo o que precisava era de uma espada. Sem necessidade até
mesmo para um escudo, porque ela presumia que Duncan nunca voltaria
para o modo defensivo enquanto estivesse numa luta, ficando na ofensiva o
tempo todo.
Na luz fraca, o outro estava sorrindo e parecia de bom humor. Seu
cabelo era mais claro, com mechas vermelhas, e uma camisa colada verde-
esmeralda mostrando o tipo certo de músculos: não volumosos, mas fortes o
bastante para parecer que fizesse um monte de exercício. Talvez
empunhando uma espada, embora mais para diversão do que em combate.
Ele parecia relaxado, como se estivesse ouvindo um conto de um bardo.
E o último, aquele que mais lhe chamou a atenção, era Ian, o senhor
de terras. Ele era todo negócios e no controle, pelo menos pelo que ela podia
perceber pela forma como os outros se aproximaram dele para falar. Ele
gesticulou de um para o outro dizendo para ocuparem-se de seus negócios
como se estivesse dando ordens. Com um rosto másculo e um olhar severo,
ele foi aquele que prendeu sua atenção.
Os dois homens desapareceram, enquanto seu herói permaneceu no
topo da muralha por um momento mais e, em seguida, caminhou na direção
oposta. Mais dois homens se aproximaram dele, ambos abaixando a cabeça
em saudação.
Ela suspirou, caneta na mão, apertando seu bloquinho contra o peito
e tentando parecer que estava com aqueles que se reuniam com os MacNeills
para resolver arranjos para a filmagem começar.
Duncan desceu a escada da torre e andou em direção a eles com dois
homens musculosos ladeando-o, como se fossem tipos medievais prontos
para a batalha, exceto que os outros estavam vestindo calças pretas e blusas
leves, em vez de kilts e túnicas. Fascinada, observou Duncan abordar o
diretor e gerente de produção e definir as condições com energia, enquanto o
gerente acenava concordando, senão um pouco trêmulo. O diretor manteve-
se impassível, como se fosse um chefe de clã de outro local e não se curvaria
a regra de qualquer homem.
— Ninguém é permitido dentro do castelo antes do início da
produção. Exceto para o grande salão, a torre de prisão ou calabouço, o pátio
exterior, o pátio interior, os estábulos e a muralha, a maior parte do castelo
está fora dos limites para a equipe de filmagem. — disse Duncan.
Escuro e perigoso deixou claro que os aposentos privados não seriam
acessíveis. E é onde Julia precisava estar. Cada desvio dos planos tinha que
ser pré-aprovado pelo próprio Ian MacNeill. Pelo que Duncan MacNeill
disse, não haveria nenhum desvio. Percebeu que isso se aplicava a ela,
também.
Depois de estabelecer a lei, Duncan lançou um olhar para o grupo de
homens e, em seguida, para Maria e Julia, como se pontuando suas regras a
todos e a cada um deles e medindo-os para ver se algum causaria ao clã
qualquer dificuldade. Seu olhar parou brevemente sobre Maria. Duncan
franziu o cenho. Ajeitando sua estatura pequena, Maria olhou de volta para
ele se mostrando não intimidada. Mas Julia se perguntou por que Duncan
estava analisando-a por mais tempo do que era necessário, talvez estivesse
interessado nela, afinal de contas?
Então, a atenção dele se voltou para Julia e os sulcos em sua testa se
aprofundaram ainda mais. Um tremor de aviso penetrou seus ossos, mas ela
segurou o seu olhar escuro, tentando empurrar para longe o sentimento
indesejável. Ele não gostava que Ian parecesse interessado nela, imaginou.
A expressão proibitiva de Duncan não vacilou, mas ele voltou sua
atenção para o diretor, deu um aceno rígido com a cabeça dura, ignorou o
gerente de produção, virou-se e saiu com seus soldados. Pelo menos foi
assim que Julia os considerou, como guarda-costas letais se tivessem estado
nos Estados Unidos, protegendo alguma pessoa muito importante. Ainda que
ele não parecesse que precisasse da proteção de ninguém.
Ela suspirou. Já se sentia em casa na Escócia, apesar da atitude de
Duncan. Seus vínculos com os clãs Campbell e MacPherson através das
raízes de seu pai e com o clã Fraser através de sua mãe despertaram um
interesse por todas as coisas escocesas novamente. Tudo sobre o castelo
parecia certo, desde a atmosfera, até a aparência dos belos escoceses e a
sensação das fortificações de pedra com musgo verde agarrando-se a estas e
suavizando a aparência rígida.
Agora, só tinha que entrar na fortaleza e tomar notas sobre o resto do
lugar, encontrar o nicho secreto enquanto estava nisso e teria terminado.
Contanto que não fosse flagrada.
Após ficar de pé no corredor da muralha dando ordens, Lorde
MacNeill ainda não tinha se dado ao trabalho de descer para falar com o
gerente de produção. Nem mesmo para vê-la de perto, o que disse a ela
como as coisas eram. Já que estava aqui na função de trabalhar com a equipe
de filmagem, pelo menos, isso era o que ele tinha presumido, ela era má
notícia. Descer para, pelo menos, encontrar com o diretor abaixo de sua
nobreza? Mas por quanto tempo isso duraria assim que dessem início as
filmagens?
Imaginou que não havia nenhuma maneira de que Lorde MacNeill
pudesse controlar tudo o que acontecia durante as filmagens.
Será que ficaria na muralha, como fazia agora, bem acima com os
braços cruzados sobre o peito largo e exibindo uma poderosa carranca
enquanto observava o processo? E se as coisas não saíssem como planejadas,
talvez, gesticularia para os arqueiros, guarnecendo o corredor da muralha e
uma chuva de flechas se derramaria sobre a equipe de filmagem.
Ela tinha uma imaginação muito fértil.
Calculando mal a equação humana, tinha falsamente presumido que
as pessoas vivendo aqui ficariam animadas por ter um filme produzido em
seu entorno e iriam cumprimentar o diretor com entusiasmo e apoio. Onde
filmes foram filmados em outros castelos, os sites tinham orgulhosamente
proclamado o fato. Até agora, em todo lugar que a equipe de filmagem
esteve, os escoceses haviam sido generosos e amigáveis. Imaginou que não
haveria nada disso aqui. De fato, Maria havia dito que os MacNeills nem
sequer tinham um site. Depois de fazer um pouco de pesquisa, Julia
descobriu que o castelo nunca foi aberto ao público. Sob cerco e violado
algumas vezes durante a uma grande luta, sim, mas nunca aberto
voluntariamente para o público.
Isso a fez pensar que talvez sua família tivesse tomado o castelo
durante um cerco. Quem sabe, então, foram derrotados em uma data
posterior e tiveram que apressar-se para fora de lá. Nada bom. Se Ian
descobrisse sobre suas raízes escocesas, guardaria rancor contra ela?
Olhou de volta para o corredor sobre a muralha. Ian MacNeill tinha
parado para observá-los agora e não deixou a muralha quando pensou que
assim faria. Num primeiro momento, a atenção dele estava no diretor, como
se estivesse medindo-o, o inimigo declarado em seu meio. Sua atenção se
fixou, em seguida, em Julia e a pegou olhando de volta para ele. Ela sorriu.
Não pôde controlar a si mesma.
Os lábios masculinos de Ian se separaram um pouco e ela acreditou
que realmente o surpreendeu com o seu sorriso. Talvez o abalasse um pouco.
Maria sussurrou:
— Você vem, Julia? — Maria olhou para cima para ver o que tinha
ganhado a atenção de sua amiga.
— Hmm, pedaço de mau caminho. E apesar do que você diz, eu acho
que ele tem uma queda por você. Sem mencionar o seu interesse pelo lorde.
— ela agarrou o braço de Julia.
— Vamos. A equipe já está voltando. Os Highlanders nos observando
parecem como se quisessem alguém para entretê-los hoje à noite. — ela
gesticulou para a muralha. — Acha que o senhor de terras pode ser bom para
um rala-e-rola?
Julia riu, seus pensamentos fugindo de novo.
— Sim, um pedaço de mau caminho. — ela murmurou. E se
chegasse muito perto de novo, poderia se perder.
— Mas definitivamente não é bom para um rala-e-rola. — visto que
ele era um lobo e isso significava um compromisso permanente.
Podia simplesmente imaginar como seria estar sob o feitiço de
MacNeill. Mais de seus beijos quentes, o corpo pressionado duramente
contra ela, o escuro olhar faminto enquanto a carregava para dentro do
castelo, mas nada mais que seu corpo aquecido encheria os pensamentos
enquanto se derretia contra ele, querendo muito mais.
Se Ian não fosse um lobo, estaria muito tentada a ter um ralae-rola
com ele como Maria sugerira. Só para ter a sensação para uma de suas
mais... sensuais cenas. Para os loups garous, era perfeitamente aceitável ter
amantes humanos antes de encontrarem o seu companheiro de toda a vida.
Mas ele não era estritamente humano e do jeito que Ian era tão gostoso,
devia ter adivinhado que era um lobo.
Ela balançou a cabeça para si mesma. Nunca teve a
necessidade de representar suas cenas na vida real antes de escrevelas, até
agora. Era como se os laços que tivesse com as antigas florestas e
construções, suas raízes familiares profundas na Escócia, Irlanda e até País
de Gales, nunca tivessem sido cortadas quando o povo dela deixou a região
há tantos séculos.
Com uma animação em seu passo, voltou através da portaria onde
não uma, mas três portas levadiças mantinham os invasores fora.
— Eu pensei que eles só tinham um desses portões de ferro na
entrada do pátio exterior do castelo. — Maria comentou, apontando para as
portas.
— Alguns sim. Mas outros, como estes, eram usados para encurralar
os invasores entre portões, se o inimigo fosse infeliz de ser pego dessa
forma. — os braços de Julia se arrepiaram quando ela olhou para o arco do
castelo acima delas e apontou para a porta de entrada, onde existiam lacunas
na pedra sobre a entrada e ao longo do comprimento da muralha.
— Balestreiros ou buracos da morte. — Julia explicou a Maria. —
As aberturas retangulares forneciam um lugar para os defensores do castelo
derramarem água fervente para baixo nos inimigos que tentavam romper
suas defesas. — Maria estremeceu.
— Eu pensei que usassem óleo fervente.
— Versão de Hollywood. Teria um custo muito alto.
Maria estendeu a mão e tocou um lugar sobre uma das paredes de
pedra onde reparos tinham sido feitos à argamassa.
— Você pode imaginar o quanto este lugar deve custar para aquecer?
Ou a manutenção desses equipamentos antigos em pedra? Toda vez que eu
me viro, algo está errado com o meu apartamento. E é praticamente novo.
Mas você pode imaginar os gastos na manutenção de algo tão grande e
antigo?
— Não, não realmente. — Julia não tinha dado muita atenção. — Eu
me pergunto se os MacNeills estão tendo dificuldades financeiras e essa é a
razão pela qual concordaram com este empreendimento, mesmo com
relutância. Mas por que não querem abrir suas portas para ter o tipo de
negócios como pousadas ou recepções de casamento, ou ambos, como
alguns dos outros castelos ou mansões estão fazendo? Talvez tenham
aceitado por este ser um esforço de curto prazo e não um empreendimento
invasivo de longo prazo, por isso parece factível.
— Sim, poderia ser isso. — Maria concordou.
Isso suavizou a visão de Julia dos orgulhosos MacNeills um pouco,
já que ela mesma estava tendo problemas financeiros com o seu novo livro
adiado por um bloqueio na escrita.
Olhou por cima do ombro e viu Duncan MacNeill atravessar os
portões do que provavelmente era o pátio mais interno. O santuário interno.
A partir de ali, ele ia para dentro da fortaleza. Ela certamente desejou que
pudesse entrar lá, sem ninguém saber.
Duncan caminhou com um ar majestoso, mas mortal, e Julia
imaginou que ele sempre parecia assim. Sua aparência externa hoje
provavelmente não era nada diferente de qualquer outro dia, o que a fez se
perguntar por que era desse modo. Estudos de caráter a intrigavam. Eles
eram úteis para retratar seus próprios personagens de livros.
Mas, então, um dos membros do clã moveu-se para Duncan, falou
com ele e apontou para Julia. O guerreiro se virou para olhar na direção dela.
Sua expressão era sombria enquanto seu olhar focava nela. Não em mais
ninguém, apenas Julia. Seu estômago torceu em um nó.
— Moça! — gritou de uma forma autoritária. Não podia saber quem
realmente era ou o que planejava fazer aqui. Duncan fez um sinal para que
viesse até ele enquanto rapidamente comia o chão com seu longo passo,
rumo a ela, como se receasse que fosse fugir antes dele alcançá-la.
Com o coração acelerado, não se moveu um centímetro na direção
dele. Mas não se afastou também.
— O que você fez? — Maria sussurrou, soando como se pensasse
que Julia era culpada de algum crime.
— Nada. — Julia disse de volta, sua pele gelada, sua espinha rígida e
suas pernas bambas. — Eu não cheguei a lugar nenhum mais cedo, no meu
pequeno passeio pela floresta.
Eles querem me interrogar sobre correr pela floresta como uma loba.
O pequeno grupo de funcionários do filme já caminhavam através da
portaria e para o outro lado do fosso. Os dois homens musculosos, as partir
dos quais Julia tinha anotado descrições em seu caderno, os seguiam para
fora como se para garantir que ninguém fosse deixado para trás e que ela não
partisse. Ambos olhavam para ela e Maria com o indício de um sorriso. Um
disse algo ao outro, o que fez o destinatário do diálogo sorrir e assentir com
a cabeça, mas presumiu que o primeiro tinha falado em gaélico, porque não
entendeu uma palavra.
— Lorde MacNeill quer vê-la. — Duncan disse a Julia quando se
aproximou.
Os lábios dela se separaram em surpresa. Estava morrendo de
vontade de entrar no castelo, mas não assim. Secretamente, escondida, não
sob o olhar atento de Ian MacNeill. Mas, então, reconsiderou. Ele
provavelmente pretendia falar com ela no pátio interior ou em algum lugar
assim. Não dentro da fortaleza, de modo algum.
— Maria pode vir comigo? — para seus ouvidos, soou
surpreendentemente covarde, quando não era normalmente nada do tipo.
Duncan sacudiu a cabeça. — Ele pediu por você sozinha.
— Você vai ficar bem? — Maria parecia preocupada, mas meio
empolgada por ela também.
— Sim. Estarei de volta em pouco tempo.
— Eu poderia apenas ficar aqui e esperar por você.
— Não vai ser necessário — Duncan disse rispidamente. — Nós
vamos levá-la de volta para casa.
Maria esperou Julia lhe dar o seu aval.
— Eu vou estar de volta daqui a pouco. — o estômago de Julia
estava embrulhando por todo o lugar e queria se agarrar a algo, não no
guerreiro sombrio ao seu lado enquanto ele a levava de volta através dos
portões e depois para o pátio exterior, mas realmente poderia ter usado
algum apoio.
— O que ele quer falar comigo? — Julia perguntou a Duncan, na
esperança de se preparar para qualquer eventualidade. Todos os tipos de
diferentes cenários estavam passando por sua mente: Ian descobriu que era
uma escritora; descobriu que estava relacionada às pessoas que já haviam
ocupado a fortaleza dele, nenhum dos quais poderia ter sabido. Ou Ian
assumiu que era a loba correndo em suas matas e estava incomodado com
isso.
Duncan grunhiu. Essa foi sua única resposta. Nenhum discurso
florido, não que esperasse isso dele, e nenhum indício do que se tratava. E
ele não parecia feliz.
Mais um par de homens estava em outra parede da muralha os
estudando, mas quando ela trocou sua atenção para onde o destemido líder
deles tinha estado, o encontrou ainda a observando. Mais do que a
observando. Parecia fascinado, se podia ser ousada o suficiente para pensar
isso dele. Percebeu que o motivo foi mais porque, quando o olhou, isso
chamou sua atenção.
Mas, em sua história em desenvolvimento, ele ficou intrigado com a
moça bonita que não era desta parte da Escócia. Agora, não estava tão
interessado em enxotá-la como esteve antes de pôr os olhos nela. Apesar da
inicial oposição dele à sua noiva escolhida por seu pai, estava começando a
pensar que o arranjo podia ser interessante.
Se ela simplesmente pudesse escrever a cena antes que esquecesse.
Mas onde Duncan a estava levando, se Ian estava acima da muralha atrás
dela? Não teve um bom pressentimento sobre isso.
— Vocês têm um lugar agradável aqui. — ela disse, na esperança de
atrair Duncan em qualquer tema de conversa.
Ele permaneceu em silêncio.
— Ian es... — Pretendia dizer que Ian estava na muralha atrás deles e
perguntar, então, onde Duncan a estava levando, mas o olhar sombrio que
Duncan deu a ela a fez supor que violou algum protocolo. Ele
provavelmente estava pensando que era uma americana sem noção, o que
não era.
Mas estivera tão envolvida em fantasiar em como Ian poderia ser seu
herói na história, que estava praticamente noiva dele já. Na história, isto é.
Portanto, não o chamar de ―lorde‖ era um descuido que não tinha a intenção
de cometer nem um pouco.
— O lorde... — ela reformulou, na esperança de corrigir seu erro
terrível. — Está no pé da muralha atrás de nós. Então, onde é que ele vai se
encontrar comigo? — Imaginou-se sendo levada para o calabouço. Escuro,
úmido e mal cheiroso. Às vezes, tudo o que existia eram poços profundos e o
único acesso era uma escada, puxada para cima após o preso ser colocado no
buraco. Sem janelas. Sem ar fresco. Julia estremeceu.
Duncan olhou de volta para a muralha, como se estivesse surpreso ao
saber que Ian ainda estava na parede de muros atrás deles. Quando ele olhou
para trás, ela descobriu que Ian... ou melhor, o lorde, tinha sumido.
Passagens secretas vieram à mente. Passagens secretas que queria
encontrar. Intriga, aventura e problemas. Como no que presumia que estava
agora. Por que mais o lorde gostaria de falar pessoalmente com ela?
Mas, assim que entrou no castelo, mal tomou conhecimento de algo,
exceto uma coisa muito importante: o cheiro da entrada. O cheiro era
inconfundível.
Ela tinha entrado num covil de lobisomens cinzentos.
CAPÍTULO 7
Para descobrir se a ruiva era a loba vermelha que transgrediu seus
bosques, Ian disse a Duncan para trazê-la à sua câmara privada. Todavia, seu
povo falaria sobre isso por eras: permitiu uma moça bonita em sua câmara,
uma forasteira, alguém desta produção cinematográfica. Ele tinha que saber
se ela era a loba ou não, e, em qualquer caso, garantir que compreendesse
suas regras. Sem invadir o interior ou os arredores do castelo e suas terras. E
sem mudar de forma, também.
Mas, na verdade, a mulher já estava ganhando a atenção de seus
homens e não queria isso. Eles eram bem-vindos a ter encontros com
mulheres humanas em qualquer lugar do mundo que quisessem, mas não
aqui, e certamente não com qualquer um dos membros da equipe de
filmagem. Seria muito fácil para uma mulher como Julia, com sua aparência
e suas artimanhas, entrar no castelo, solicitando um encontro secreto com
um de seus homens.
Cearnach entrou na câmara, mas Ian o mandou embora.
— Agora não. Eu tenho outro negócio para atender no momento.
— Isso teria a ver com a ruiva bonita que Duncan está escoltando ao
castelo neste exato minuto?
— Tem sim e não preciso de uma plateia.
Cearnach levantou uma sobrancelha.
— Tem certeza? Ela parece ser difícil de lidar.
— Cearnach...
Cearnach cruzou os braços, inclinou-se contra a porta, sorriu e olhou
para o corredor.
— Flynn vagando por aí. É ele avistá-la e nem digo o que vai
acontecer. Eu consigo imaginar uma moça bonita gritando para caramba e
correndo daqui como se o diabo estivesse atrás dela.
— Talvez essa fosse a solução.
Cearnach franziu o cenho.
— Qual é o problema com a moça?
Como Ian poderia explicar o que seu instinto lhe dizia ser a verdade?
Que não tinha conhecido uma mulher como ela jamais, uma que virou a
cabeça dele e o manteve fascinado? Uma que o intrigou com um sorriso
sensual e um desafio em seus olhos verdes. Que, embora até pudesse ser do
acampamento do inimigo, mas ele a queria.
Mas algo mais o incomodava sobre ela. Não conseguia identificar
exatamente o que. Talvez os segredos que Julia desejava discutir com sua
amiga, que não a queria falando sobre eles na caminhada até o castelo. O
cheiro de pólvora perto da estrada onde o veículo delas havia caído do
barranco. A forma como sua amiga parecia com medo dele no bar e, mesmo
que os olhos de Julia tivessem se arregalado e escurecido com a visão dele,
ela ainda o desafiou com um furioso olhar confiante. E o nome Jones. Não
era o dela. Ian soube disso pela maneira que Maria tinha olhado para Julia,
com tal expressão de choque, antes de rapidamente esconder sua reação.
Algo o fez querer chegar mais perto, inspecionar Julia por dentro e
por fora.
Quando Ian não respondeu a Cearnach, ele voltou sua atenção do
corredor e olhou para o seu irmão mais velho, uma sobrancelha escura
arqueada.
— Duncan disse que você estava intrigado com uma das mulheres
que caçou na floresta. Agora, parece que o que ele disse era verdade. Eu
pensei que estava exagerando um pouquinho.
— Cearnach. — Ian soltou o fôlego, não prestes a ceder a ele sobre a
questão de uma mulher.
Um sorriso lento formou no rosto de Cearnach enquanto se afastava
da porta e espreitava para o corredor.
— Pelo que pude ver da moça no pátio interno, ela bem que vale a
pena uma segunda olhada.
— Ela não é fácil de ser tomada. — Ian encostou-se na cadeira de
couro.
— Se ela é humana... — Cearnach encolheu os ombros.
— Você não está ouvindo o que eu tenho a dizer.
— Eu estou ouvindo você, Ian. — mas o olhar de Cearnach manteve-
se focado no corredor e Ian não achou que seu irmão o estava levando a
sério.
Mas, se dissesse a seu irmão que estava falando sério sobre isso,
indicaria que já tinha perdido a batalha.
Pisadas se aproximaram, de um homem e de uma mulher.
Ainda que Ian já tivesse dispensado seu irmão, Cearnach não fez
qualquer movimento para ir embora até depois que cumprimentou a mulher.
Era o fim de Ian ser líder do bando e lorde sobre seu clã. Mas não queria
fazer um grande estardalhaço sobre isso, não na frente da moça.
O rosto de Cearnach se iluminou e ele pareceu tão lupino que tinha
certeza que enviaria a mulher correndo de volta pelo corredor. Esqueça
Flynn e suas aparições fantasmagóricas.
— Moça. — Cearnach disse, curvando-se para baixo em saudação
como se ela fosse uma rainha. — Eu sou Cearnach MacNeill, o próximo
irmão mais velho do lorde. E se você precisar da minha ajuda, não deixe de
pedir. Qualquer coisa, qualquer coisa. — ele sorriu novamente, a aparência
deslumbrante, e Ian queria arrancar o sorriso dele.
Ian permaneceu sentado em sua mesa, à espera de Julia, se este era
mesmo o nome dela, entrar na câmara, se seu irmão fizesse o favor de partir.
Nem sequer podia vê-la uma vez que ela não conseguia se aproximar da
porta ainda, não com Cearnach a bloqueando. Quando seu irmão continuou a
ser um obstáculo, Ian pigarreou, mas nessa hora a mulher disse:
— Prazer em conhecê-lo... — ela fez uma pausa. — Senhor
MacNeill.
— Muitos MacNeills por aqui. Chame-me de Cearnach.
— Obrigado, Cearnach. Eu sou Julia.
Ian percebeu que estava pendurando-se nas palavras dela, ouvindo
sua suave cadência e à espera de seu sobrenome para ver se ela dizia que era
Jones novamente.
Quando Julia não disse mais nada, as sobrancelhas de Cearnach
subiram quase imperceptivelmente e Ian soube que ele estava esperando a
mesma coisa. Ou a mulher não sabia e não era tão familiarizada com
saudações adequadas, ou ela sabia e não quis dar o nome falso de novo.
— Cearnach. — Ian disse, tentando esconder a irritação em sua voz,
mas o divertido olhar que seu irmão lhe deu provou que ele não tinha
conseguido.
Cearnach deu a Ian uma grande reverência, o que nunca fez em tão
ridícula amplitude, e disse à mulher:
— Lorde MacNeill vai vê-la agora. — então, com um eloquente
rodeio de sua mão, Cearnach a conduziu para dentro.
Ian nunca tinha visto tal desempenho.
— Feche a porta quando sair, Cearnach. — Disse um pouco áspero
demais, enquanto Duncan ficava na entrada, parecendo como se também
quisesse ouvir o processo. — Agora!
Duncan deu-lhe um olhar de advertência e, em seguida, fechou a
porta à saída dele e de Cearnach.
Além da porta, seus irmãos comentaram entre si em gaélico,
imaginando que ela não os entendia, e esperava de verdade que não
entendesse.
— Ela é uma de nós. — Cearnach disse, seu tom intrigado conforme
ele e Duncan seguiam pelo corredor. — Você deixou de fora esse pequenino
detalhe, irmão. Não é de se admirar que Ian esteja fascinado com a moça.
— Ele a quer para acasalar. — Duncan respondeu em sua língua
Highlander.
Embora não fosse assim, saber o que ela era mudava tudo. Ian não
tinha pensado que mudaria. Julia ainda era uma americana com a equipe de
filmagem. Ainda estava tramando algo desonesto; ele apostaria seu castelo
nisso. No entanto, assim como Cearnach tinha dito, era uma deles. E
universalmente, isso significava algo, ser um lobisomem em um mundo onde
eram em número bem menor.
— Sente-se, se você quiser. — Ian disse a Julia, apontando para uma
das cadeiras de couro postas na frente de sua mesa. Ela ficou de pé ao lado
da porta fechada como se estivesse pronta para fazer a sua fuga.
Ela não olhou em volta do cômodo, nenhuma anotação agora,
embora ainda segurasse seu bloquinho e caneta nas mãos. Estava voltada
para ele, sem se mexer, sem falar, parecendo um pouco pálida.
— Julia?
Ela rapidamente assentiu, em seguida, instavelmente, pareceu a ele,
cruzou o chão coberto de tapeçaria e se sentou na cadeira um pouco mais
longe da mesa e mais perto da porta. Suas costas estavam rígidas enquanto
se empoleirava na borda do assento.
— Eu vi você na floresta... como uma loba. — Ian disse, assumindo
que ela era a loba vermelha que tinha visto. Ian encostouse na cadeira,
colocando mais distância entre eles e tentando deixá-la mais à vontade. No
entanto, esse não era o seu propósito. Queria afugentá-la para longe de suas
terras, não incentivá-la a mudar de forma e correr através de suas matas. Era
muito perigoso, especialmente com a equipe de filmagem aqui.
Sua sutil fragrância de loba chegou até ele. O cheiro era um
afrodisíaco para um lobo macho de qualquer maneira, mas também notou o
cheiro fresco da brisa e de pinho e zimbro de quando Julia tinha passado por
estes, coletando as fragrâncias em sua pele, cabelo e roupas. Não gostava da
sensação que tinha cada vez que a via, chegava perto dela e sempre que
estava sozinho com ela. Tentadora, atraente e desejável.
Seus olhos tinham ficado maiores, o verde engolido pelas pupilas
dilatadas.
— Julia?
Ela assentiu com a cabeça.
Ian franziu o cenho. Julia parecia muito mais desafiadora antes.
— Duncan disse algo para você? Algo que te chateou?
Ela balançou a cabeça.
— Quando estávamos no bar, você parecia muito mais... — ele deu
de ombros, sem saber que palavra usar para descrevê-la, sem que a
ofendesse. Com isso, jurou que a viu quase sorrir.
— Por que você correu como uma loba?
— Longos vôos, longa viagem de carro, o acidente. Eu queria esticar
minhas pernas.
— No entanto, você não tem ideia se caçadores caçam nestes
bosques.
Quando ela não respondeu, perguntou:
— Você é recém-transformada? E quanto ao resto de sua equipe de
filmagem? Eles também são loups garous?
— Não.
— Mas a sua amiga Maria não é uma loba vermelha, não é?
Uma loba cinzenta mexicana?
— Ibérica.
— Hmm. — ele a estudou por um momento mais, tendo o desejo
maluco de pedir-lhe para ficar para o jantar. Mas não pediria isso a ela, não
com sua gente ao redor de qualquer jeito e toda a especulação que isso
resultaria. Mais do que isso, tinha proibido seu clã de ter qualquer
relacionamento numa base pessoal com a equipe do filme. Então, como
pareceria se ele tivesse? Sempre tentou dar o exemplo.
— O que você está fazendo aqui?
Seus olhos se tornaram grandes de novo e, por um momento,
suspeitou que estivesse aqui por algum outro motivo do que trabalhar com a
equipe de filmagem. O que ela estava tramando?
Ele se levantou da cadeira em seguida e ela parecia que estava
prestes a se levantar também, mas Ian levantou a mão para gesticular que
ficasse. Julia o observou como uma loba cautelosa, uma alfa, pronta para
lutar e não fugir, não olhando para a porta, sua rota de fuga.
— Julia?
— Eu estou... — seu queixo inclinou-se para cima com teimosia. —
Trabalho para Maria. Ela trabalha para o produtor.
— Ah. E seu trabalho é tomar notas sobre o castelo e o meu povo?
— Para o figurino, hum, eu quero dizer, sim, o castelo e as terras e
tudo o mais.
— Figurino? — Perguntou, aproximando-se, meio sentado contra a
borda frontal de sua mesa, agora na frente dela, forçando-a a olhar para ele.
Ian podia ser intimidante quando queria. E teria que ser assim, se queria que
ela lhe dissesse alguma verdade da questão.
— Não figurinos. Claro que não. A menos que vocês usassem...
Quero dizer, seus homens vestissem kilts e similares durante o período de
tempo que a história se passa, mas, por agora, apenas algumas notas sobre o
castelo e as terras.
Ele estendeu a mão.
— Posso vê-las? — ele sabia antes mesmo de pedir que ela diria não,
primeiro por sua expressão facial e, em seguida, pelos lábios. Seus lábios o
fascinavam, a plenitude, a maneira como os lambia em nervosismo, apertava
em aborrecimento e sorria de forma maliciosa.
Os olhos dela, verdes com manchas douradas, apesar de estarem
negros na sua totalidade agora, ainda estavam arregalados e expressivos,
focados no olhar dele, inabaláveis, em desafio. Não se recusou a lhe dar o
bloquinho, mas não o ofereceu, tampouco.
Então, ele sorriu e soube que o olhar era pura maldade. Cruzou os
braços, inclinou-se um pouco, olhando para ela, e perguntou:
— Então, qual é o seu sobrenome realmente, Julia?
O coração dela bateu ainda mais forte e ele jurou que se não estivesse
sentada, ela teria entrado em colapso.
Ian nunca tinha estado com uma mulher tão absolutamente receptiva
sexualmente. Ghleanna foi tão abertamente fria com ele que mal tinha
acreditado quando pegou Flynn com ela, ambos nus na mata, fazendo muito
mais do que se beijarem. Tinha banido Flynn do clã, devolvido sua não tão
bonita noiva prometida e jurou nunca mais cair nessa armadilha com outra
fêmea humana, não importava o quão rica fosse ou quantos títulos ela
tivesse. Mas Julia era uma sexy loba sereia.
Soltou a respiração enquanto a levava para a floresta. Não tinha
planejado deixar que as coisas saíssem do controle, apenas levar os cães para
uma caminhada e perguntar a ela sobre o acidente de carro. Ele sabia, pelo
brilho nos olhos de Guthrie, que seu irmão havia descoberto algo
interessante sobre a senhorita Julia Wildthorn. E queria saber o que era o
mais rápido que pudesse. Eles certamente não precisavam de mais
problemas no clã.
Nesse meio tempo, não teve a intenção de ceder ao obstinado
fascínio que tinha pela moça. No entanto, sozinho na natureza selvagem e
vendo o jeito que ela tinha gostado da caminhada, apesar da dor que seu
tornozelo devia estar lhe dando, como evidenciado pelo inchaço, e a emoção
que exibiu ao presenciar as cataratas, sentiu-se como um jovem rapaz de
novo, percebendo tudo de uma maneira emocionante. Ela atiçava suas
emoções de uma forma que ninguém nunca tinha feito.
Ele a deitou sobre as agulhas de pinheiros e folhas que cobriam o
chão da floresta e analisou seu rosto corado, seus olhos e boca levemente
sorridentes, mais numa beata satisfação do que divertida. A moça era bonita
e desejável e, por mais que odiasse admitir, tinha sido incapaz de evitar
desejá-la desde o momento em que começou a persegui-la pela floresta
anteriormente, sua presa, sua reivindicação e mais tarde, quando a tinha visto
no bar. Pensar que ela era humana tinha feito toda a diferença do mundo.
Uma loba, isto era outra história. Mas assim que eles chegaram às
cataratas e ela se sentou e começou a retirar seus sapatos...
Aquilo bastou. Ian não queria parar por aí. Com o máximo de
controle, conseguiu não beijá-la, sabendo que ela o queria tanto quanto
desejava beijá-la de volta. Mas ele também sabia que iria muito mais longe
do que isso se cedesse à tentação.
Quis ver seu tornozelo, sabendo que estava doendo pela forma como
ela se inclinou nele e pela forma como sua respiração parou quando deu um
passo em várias ocasiões, mas não confiava nela para lhe contar a verdade.
O problema foi que, assim que tirou a meia, não quis acabar com aquilo ali.
O desejo nos olhos dela lhe disse que não queria que acabasse, tampouco.
Em seguida, o beijo aconteceu e, mais uma vez, lutou para controlar o
resultado. Tentou se impedir de ceder ao desejo tão forte que não acreditava
que poderia suprimi-lo, uma vez que eles seguissem por essa direção
tortuosa.
Então, tinha feito a melhor coisa que poderia: cortar abruptamente o
beijo e levá-la para dentro da água, na esperança de acalmar o desejo deles.
Mas, perdendo toda restrição, a levou ao clímax. Inferno, realmente achou
que tinha tudo sob controle.
Pelo menos a deixou vestida, na maior parte, mas isso não tinha
parado o desejo e, certamente, a deliciosa resposta dela ao seu toque não
reprimiu seu apetite por ela, também.
Ele pensou em se deitar com ela na floresta, permitindo-lhe algum
tempo para descansar o tornozelo. E para que sua ereção tivesse tempo para
se acalmar, mas assim que se deitou e, em seguida, puxou-a em seus braços e
apoiou a cabeça dela contra seu peito, Julia começou a acariciar sua ereção
através de suas calças.
Droga. Nunca teve alguém o trazendo para perto da conclusão,
quando ainda estava usando suas roupas. Com sua mão na calça dele, o
acariciou através do tecido e Ian fechou sua mão no cabelo dela. Ele gemeu
com a necessidade voraz, sentiu o cabelo sedoso no punho apertado e viu
através de uma névoa cheia de luxúria que seus olhos verdes o observavam,
julgando a maneira como seu toque o fazia se sentir e usando isso para guiá-
la. Mas, então, ela desceu o zíper e escorregou os dedos para baixo da rígida
longitude através da cueca boxer, encontrou a abertura lateral, e o expôs ao
ar frio. O toque dela foi o bastante para fazê-lo perder qualquer pensamento
razoável.
Sua mão continuou a fazer sua magia, só que agora, pele com pele,
cada carícia, cada toque caloroso, firme, seguro e determinado o fez implorar
silenciosamente por mais. Julia colocou a perna sobre a coxa dele, como se
estivesse se abrindo a ele de novo, o que trouxe noções espontâneas à mente:
de tirar sua calça e calcinha e continuar com o negócio de dar prazer a ela
tudo de novo. Mas, então, Julia beijou sua boca, pressionando a língua entre
seus lábios e Ian gemeu com fome selvagem. Ian soltou seu cabelo,
percorreu a mão pelas costas dela e segurou sua bunda, querendo fazer mais
enquanto sua mão continuava a acariciá-lo com firmeza.
Até que não pôde segurar por mais tempo. Fechou os olhos para
saborear a sensação, uma onda de necessidade correndo por ele, antes que a
liberação de abalar a terra o sacudisse até o âmago.
Xingando baixinho em gaélico, puxou Julia em seus braços e beijou-
a com força contra a boca. Ela respondeu com um leve gemido, sua boca
desejosa, submissa e suavizando contra a dele. Queria abraçá-la, beijá-la e
tomá-la para si próprio, uma mulher que não conhecia, que só o queria no
calor do momento, mas não poderia estar interessada em algo mais do que
um pouco de intimidade lupina.
— Eu vou voltar. — ele disse, sua voz rouca e tensa enquanto
gentilmente a depositava de costas contra o chão. — Fique aqui. — Não
podia deixar de fazer comparações entre a pequena loba vermelha e sua
noiva prometida. Foi a loba em Julia que a fez responder com tanta
disposição por ele?
Mas, pensando melhor, lembrou-se de como Ghleanna tinha
respondido às iniciativas sexuais de seu primo tão amorosamente. Muitos
anos se passaram para ruminar sobre isto; no entanto, ainda não podia deixar
de sentir que a morte de Flynn foi devido a sua própria raiva sobre o
incidente.
Entretanto, Ian não conseguia explicar o desejo que tinha por Julia,
também. Ele se sentiu obrigado a satisfazer Ghleanna. Também queria
agradar Julia, mas só porque encontrava muito prazer em sua companhia,
não porque visse isso como uma obrigação.
À beira da água, limpou-se e depois voltou para Julia, que estava
deitada de costas, com os olhos fechados, seus braços envoltos sobre sua
cintura, tremendo um pouco, mas bonita de fato. Ian ainda pretendia que
descansasse o tornozelo antes da longa viagem de volta. Deitando ao lado de
Julia, puxou-a para seus braços e ela se aconchegou contra ele, disposta,
sedutora e a queria mais uma vez.
Com seus pelos molhados, os cães se encaracolaram nas
proximidades, esperando-o para dar o comando de que estariam voltando
para casa. Mas não queria voltar. Não quando tinha a pequena loba vermelha
em seus braços assim.
Inferno, esqueça apenas jantar com ele. Ela ia passar a noite.
Julia amou descansar contra o escocês musculoso, com os braços em
volta dela, sua respiração constante, seu corpo duro, quente e protetor. O ar
ficou mais frio, mas não iria desistir de se aconchegar com Ian na floresta
assim por nada, enquanto ouvia a melódica correnteza das cataratas, a brisa
agitando as agulhas de pinheiro e o som do sangue dele bombeando através
do seu coração. Não até que ele dissesse que era hora de ir.
Ela queria que o momento durasse para sempre. Queria visualizar
isto para o seu livro. Queria dormir com ele em seus sonhos depois que
voltasse para a casa que compartilhava com Maria.
Suspirou, não querendo voltar ao castelo e ter que enfrentar os
irmãos de Ian, que provavelmente o provocariam impiedosamente sobre sua
caminhada no bosque quando fosse embora. Ou talvez eles teriam cuidado
com o que diriam para ele, já que era senhor das terras. Isso a fez querer
saber mais sobre o relacionamento dele com seus irmãos. Para a sua história.
Sem nunca ter tido quaisquer irmãos, pensou que seria bom tomar algumas
notas relativas ao relacionamento de uns com os outros.
Julia fechou os olhos. Ela tinha tido sexo não consumado com um
lorde highlander. Todos os seus irmãos provavelmente sabiam o que Ian
tinha em mente. Esteve esperançosa que ele gostaria de um pouco de sexo
vespertino, mesmo que fosse início da noite, mas não acreditou realmente
que iria muito longe. Alguns lobos não iriam, a menos que planejassem
tomar o outro como seu companheiro.
Ela soltou a respiração. Depois desta noite, nunca poderia voltar a
sentir a mesma coisa por Ian ou seus parentes. Eles eram pessoas reais, não
apenas nomes em um e-mail ou uma voz desencarnada no telefone ou uma
representação sem vida de alguém em uma foto. Como poderia esgueirar-se
em torno do castelo, tentando localizar a caixa de sua família, pelas costas
dos MacNeills?
Não poderia. Simplesmente teria que ligar para seu avô e dizerlhe
que não podia fazer isso.
A mão de Ian finalmente acariciou seus cabelos e ele se inclinou e
beijou sua cabeça.
— Você está tremendo, moça. Está pronta para o jantar?
Hmm. Eu imagino que todo mundo já comeu. — em seguida,
ela gemeu. — Eles não teriam esperado pelo seu retorno, não é?
— Não. São mais espertos do que isso.
Isso a fez se perguntar novamente se sabiam o que tinha planejado
com ela. Por outro lado, ele tinha tentado resistir e provavelmente teria, se
não tivesse empurrado a questão.
Ian se levantou do chão, inspecionou o pé dela, franziu a testa e
depois vestiu a meia e o sapato em seu pé esquerdo, mas não no seu direito.
Pensou que estaria bem, mas ele balançou a cabeça e entregou-lhe o outro
sapato e meia. — Segure estes.
— O quê? Você não pode me carregar o tempo todo de volta para o
castelo. — ela se sentiu horrível. Só para ver as cataratas, tinha-o posto nesta
situação.
— Aqui. — disse Ian. — Suba nas minhas costas.
— De cavalinho, nas costas? — perguntou, horrorizada. — Ajude-
me com a minha meia e bota. Eu consigo.
— Você não vai andar com esse tornozelo até o castelo, moça.
Você acha que eu não aguento?
— Não. É que sou pesada e...
— Pesada? Tão pesada quanto um travesseiro de penas de ganso.
Suba. — ele se inclinou.
Ela hesitou.
— É um longo caminho de volta. Se eu tivesse percebido o quão
longe era e que meu tornozelo estaria dando trabalho, nunca teria vindo aqui.
— ela pôs sua meia para que seu pé não ficasse tão frio.
Ele deu um sorriso sombrio, levantou a bota de suas mãos e amarrou
os cadarços em torno de seu cinto na frente.
— Eu não teria perdido isso por nada. Nós temos quatro opções.
Você pode andar sobre os meus ombros, nas minhas costas, nos meus braços
ou ser jogada sobre um ombro. Qualquer um vai funcionar para mim. Você
escolhe. Mas caminhar não é uma delas.
Os lábios dela se curvaram um pouco. Ele soou como um bárbaro das
Terras-Altas que estava totalmente no comando. Não um lorde, no entanto.
Ela esperaria que um lorde desse a tarefa a um dos membros de seu clã. Mas,
então, eles estavam bastante sozinhos. Será que a teria entregado a um de
seus homens, se um estivesse disponível?
Exasperada consigo mesma mais uma vez por ter que fazer isso com
ele, soltou a respiração.
— Tudo bem. Qual será mais fácil para você?
— Mais fácil? — o leve rosnado dele soou como se tivesse acabado
de pisar sua masculinidade no chão.
Ela recuou. Macho Alfa.
— Qual seria mais confortável para você?
— Suba nas minhas costas, moça.
Ela pigarreou.
Se você machucar as costas... Eu avisei.
Ian riu, colocou-a sobre suas costas e agarrou suas pernas enquanto
ela apoiava os braços livremente sobre seus ombros e começou a andar.
Realmente odiou fazer isso com ele, mas com as pernas enroladas em torno
de sua cintura, a cabeça em seu ombro, as mãos dele segurando a parte
inferior de suas coxas, estava se sentindo sexy e interessada mais uma vez.
Mas não seria o mesmo, uma vez que retornassem ao castelo e Ian
voltasse a ser responsável e sério quando se tratava de lidar com ela. Ainda
estava com a equipe de filmagem, pelo que ele sabia, exceto que, em vez de
procurar o tesouro de família em segredo, agora tudo o que lhe restava fazer
era escrever a sua história.
Só esperava que seu avô não ficasse muito chateado com ela quando
ligasse para lhe dizer que a missão para a qual ele a havia enviado era um
fracasso. Mas a preocupação continuava a incomodando que o assunto era
sério demais para não fazer o esforço.
Não importava o quão tarde Ian e Julia chegassem à Argent, sabia
que seus irmãos estariam esperando para ver o que tinha acontecido com
eles. Poderia tê-la levado de volta para sua casa de campo e a salvado do
constrangimento. Mas prometeu-lhe o jantar e, em todo caso, não queria que
ela voltasse para Baird Cottage.
Porque Julia aparentava ser escocesa, imaginou que ela tinha raízes
aqui. Isso o fez pensar nos seus antepassados e na liberdade que a família
dela deve ter desfrutado ao deixar a Escócia, perambulando pela natureza
selvagem e colonizando novas terras no continente norte-americano.
Nenhuma razão para nobreza com títulos. Nenhuma necessidade de fazer
aparições com tipos estritamente humanos como eles tinham que fazer na
Escócia. Títulos significavam obrigações sociais.
Embora ele e sua família loup garou tivessem querido manter as
terras e títulos deles para que pudessem continuar a fazer o que precisavam
pela sua matilha, a parte social do negócio foi difícil de digerir, às vezes. Os
eventos sociais eram, em sua maioria, com a participação de humanos e,
quando eles iam para tais coisas, sempre se sentiam fora de lugar e
desejavam voltar para o isolamento de sua propriedade florestal. Além disso,
lordes com títulos deveriam tomar esposas de estirpe adequada. Mas poucos
clãs de lobisomem highlander tinham existido e menos ainda com os quais
Ian e sua família não estivessem em disputa.
Então, Ian tinha escolhido uma humana, a filha de um visconde, não
de linhagem lobisomem e, apesar de não combinarem, esperou que as graças
sociais dela fossem ajudá-lo a superar sua aversão a participar de eventos
sociais, mantendo seus genes lobisomem em segredo. Mas a constante
reclamação dela sobre sua inabilidade nas graças sociais o tinha tornado frio
até mesmo no quarto de dormir. Ele balançou a cabeça em seus pensamentos
negativos e voltou sua atenção para a mulher se agarrando a suas costas, seu
dilema atual.
Eu posso andar agora. — Julia disse quando eles ainda
estavam na floresta, mas chegando ao castelo. Ian sabia que ela não deveria
andar, mas estava com medo de ser vista enquanto a levava em suas costas.
A intimidade divertida entre eles atraía, especialmente porque não
conseguia se lembrar de uma época em que se sentiu assim com uma mulher.
Os cães exploravam a uma pequena distância deles, mas voltavam
rapidamente como os tinha ensinado.
— Ou eu a carrego nos meus braços ou nas minhas costas, moça.
Ombros, se você preferir. Mas não vai andar um passo em qualquer direção
por sua própria conta. Amanhã, o seu tornozelo deve estar curado. Mas esta
noite, você tem transporte.
Ian adorou a sensação de suas pernas em volta do seu corpo, abrindo-
se, os seios pressionados contra suas costas, a sensação de suas coxas macias
em suas mãos e os braços ao redor de seus ombros, abraçando-o, os
empurrões enquanto andava fazendo-a se esfregar contra ele. Já estava duro
e querendo-a mais uma vez.
— Eu posso segurar o seu braço e... — ela deixou suas palavras
desvanecerem enquanto tentava olhar em volta dele.
Ian caminhou na linha de visão do castelo, os cães levantando a
cabeça e farejando o ar. Julia se balançou para ficar livre, mas ele apertou o
controle sobre ela.
— Se eu soltar, você pode torcer outra coisa, moça.
Tudo bem, tudo bem. Deixe-me descer e eu vou... — ela não
disse mais nada, enquanto dois dos primos dele, Oran e Ethan, acenavam
uma saudação, ambos sorrindo para eles no portão principal.
Tão logo Ian a levou para dentro, os homens fecharam os portões e
ele soube qual seria o tema da conversa por semanas.
— Ian... Eu... Oh, vamos lá, deixe-me descer. — Ela disse, parecendo
exasperada.
— Eu lhe dei os termos do acordo. — ele continuou a andar em
direção à fortaleza enquanto os cães corriam ao lado deles.
Quando chegaram ao pátio interior, Julia tentou novamente.
— Estamos quase lá.
Ele não respondeu. Estava acostumado a dar ordens, acostumado ao
seu povo obedecê-lo. Uma pequena loba vermelha não iria mudar a mente
dele, não importava o quanto o adulasse.
Quando chegaram à porta da frente do castelo, ela disse:
— Tudo bem, agora você tem que me colocar no chão para que
possa, pelo menos, abrir...
A porta se abriu e Guthrie cumprimentou-o com um sorriso
reservado. Ian sabia que Oran tinha que ter ligado com antecedência para
avisar seus irmãos que ele estava chegando.
— O jantar está sendo aquecido enquanto falamos. — Guthrie falou.
Obrigado, Guthrie. — Ian carregou Julia para dentro da
fortaleza.
— Ian. — ela sussurrou.
— Aye, moça?
— Eu vou me vingar de você por isso.
Ele riu e levou-a através do grande salão onde Cearnach e Duncan
estavam de pé, ao lado da lareira, observando-os e parecendo um pouco
surpresos, seus olhares se deslocando para a bota dela presa ao seu cinto e,
em seguida, para o pé descalço.
Ele disse em cumprimento:
— Irmãos. — em seguida, continuou até a cozinha e depositou
Julia em uma cadeira. — Agora, você estava dizendo?
CAPÍTULO 11
Julia estava preocupada agora que Ian conversaria com Guthrie e
descobriria exatamente quem era, o que imaginava que seria o comunicado
secreto passado entre os irmãos. Não obstante, observou que a cozinha era
um local necessitado de arte enquanto Ian a colocava em uma cadeira de
encosto alto numa longa mesa. Parecia feita para acomodar os funcionários,
ao contrário daquelas pelas quais eles tinham passado numa sala de jantar.
Várias longas mesas escuras estavam situadas na sala de jantar e cada
uma tinha pelo menos vinte cadeiras que pareciam dignas de um rei, todas de
encosto alto com assentos e de um rico brocado verde-bandeira. As paredes
estavam cobertas com pinturas de paisagem local retratando montanhas
pitorescas, lagos serenos, campos de urzes roxas e juncos amarelos e floresta
antiga. E no chão havia tapetes turcos lindamente tecidos.
Mas na cozinha, a longa mesa de carvalho claro, dava para doze
pessoas e agora ela sentava-se à cabeceira dela. Aqui, tudo era prático:
prateleiras onde conchas de aço inoxidável e semelhantes pendiam e panelas,
também, num suporte sobre um grande balcão independente. Todos os
balcões eram de granito. E incrivelmente, três
geladeiras, duas máquinas de lavar louça e três fornos enchiam o cômodo.
Além disso, um forno de micro-ondas.
Felizmente, Ian não parecia estar com pressa para saber quem ela era,
pelo menos no tocante a ser uma autora de romance lobisomem. Sentiu o
cheiro de algo, que não pôde distinguir, aquecendo no micro-ondas, assim
como o aroma fraco de pizza. Um dos fornos tinha sido utilizado e o calor
emanado deste tinha aquecido a cozinha uns quinze graus. Luminárias
fluorescentes inundavam o cômodo com luz e folhas se agitavam com a brisa
numa árvore do lado de fora de uma grande janela da cozinha com vista para
o jardim. Ela realmente queria ver o jardim e tomar notas para a sua história.
Ian puxou um prato para fora do micro-ondas e o analisou por alguns
minutos, franzindo a testa para o que quer que fosse. Em seguida, foi até a
pia de aço inoxidável e o colocou lá. Depois, seguiu até a parte de
congelador de um dos refrigeradores e tirou uma pizza.
— Meus irmãos se esforçaram demais. Pizza de pepperoni está bem
para você?
— Eles não vão se decepcionar, se não comermos o que fizeram?
Ele se inclinou para baixo sob a pia, puxou uma lata de lixo e depois
arrancou um par de caixas descartadas de pizza e mostrou a ela.
— Isso foi o que eles comeram. — Ian empurrou o lixo de volta sob
a pia e, em seguida, apontou para o prato. — Eu juro que se esforçaram
demais para fazer algo intragável para que quando Cook não esteja
disponível, eu não os faça preparar a refeição.
Ela riu. Naquele momento, desejou ter irmãos assim. Que fossem
engraçados e doces, mas protetores também.
Depois de retirar a pizza, ele empurrou-a no forno e, em seguida, foi
até o freezer e pegou um saco de gelo.
— Eu não pensei que você bebesse algo com gelo.
— Só quando temos convidados americanos. Mas isso... — ele disse,
envolvendo alguns dos cubos em uma toalha. — É para o seu tornozelo.
— Eu não teria pensado que você tem convidados americanos aqui
muito frequentemente.
Ele ergueu as sobrancelhas para ela ligeiramente.
— Eu não conheci nenhum que consideraria convidar para o chá.
Ela presumiu que, por ser um loup garou, não convidaria ninguém
mais, além de seus parentes, que não estava em sua pequena lista de amigos.
A menos que tivesse que fazer isso porque era um lorde.
Ele arrastou a cadeira dela ao redor para que pudesse mover outra até
ali e, em seguida, elevou o seu pé até o assento. Depois de embalar seu
tornozelo com a compressa de gelo improvisada, olhou para cima.
— Confortável?
— Sim, obrigada. — tão confortável quanto poderia estar com a
forma como o seu maldito tornozelo latejava. Mas não teria perdido as
cataratas por nada, nem a intimidade selvagem que tinha compartilhado com
Ian.
— A pizza estará pronta em poucos minutos. Posso arranjar-lhe algo
para beber? Um pouquinho de uísque, moça? Ou vinho?
— Uma xícara de chá quente?
— Aye. — ele ferveu um pouco de água e, em seguida, fez uma
caneca de chá e entregou a ela. Os dedos dele se desviaram para um cacho
vermelho roçando a sua bochecha. — Eu preciso falar com meus irmãos e
fazer que eles verifiquem um assunto.
— O homem que ameaçou Maria?
O olhar dele era firme e preocupado.
— Aye. Se você não precisa de mais nada por enquanto...
— Você tem um celular extra? Eu gostaria de ligar para Maria e
avisá-la que ainda estou aqui e que depois de terminar o jantar, estarei de
volta.
— Ligue para sua amiga. — Ian disse. — Mas lhe diga que você vai
passar a noite.
Simples assim, ele estava dando a ela outra ordem.
Julia estava entretida, ao invés de aborrecida e, na verdade, desde que
tivesse um quarto vago para ficar, todo o cenário poderia funcionar bem,
pensou. Ela poderia ser capaz de dar uma olhada ao redor, enquanto todos
dormiam. Mas receava que ele planejasse mantê-la enclausurada na sua
própria câmara.
Talvez Ian não pretendesse isso, apesar de tudo. Poderia ser muito
difícil de explicar suas ações para seus parentes. Uma coisa era ter uma
fêmea humana como companhia, mas inteiramente outra, considerando que
ela era uma loba.
Ou ele mudaria de ideia uma vez que descobrisse o que fazia para
viver e o que estava fazendo aqui agora?
Julia se mexeu, sua perna descansando sobre a coxa de Ian, sua mão
sobre a barriga dele, seu quente hálito abanando o cabelo em seu peitoral.
Ele esperava obter algumas respostas dela agora, porém, a forma como
estava tocando-o fazia-o querer algo completamente diferente.
— Você está acordada, moça? — Ele perguntou baixinho, não
querendo despertá-la, se ainda não estivesse totalmente acordada. Enquanto
esteve morta para o mundo, tinha conseguido remover as farpas de suas
mãos e esperava que seus dedos e palmas já estivessem curados agora.
— Hmm. — Ela disse, com ar sonhador, esticando os dedos contra
sua pele.
Ele passou a mão sobre suas costas cobertas pelo suéter, o cashmere
tão suave quanto ela.
— O que você realmente estava fazendo nos túneis?
Ela não disse nada. Estava acordada, mas parecia com a intenção de
evitar a questão.
— Minha Tia Agnes diz que você se parece muito com um dos
MacPhersons. Ela tem certeza que você é um deles.
— Ele não estava prestes a mencionar os retratos no quarto da torre
ainda, esperava que lhe contasse a verdade sozinha. Mas se Julia negasse ser
uma MacPherson, iria mostrá-los a ela. Queria dar uma olhada neles
primeiramente, no entanto, para ver se realmente havia uma semelhança.
Os dedos de Julia pararam. O toque suave esteve levando-o a
distração, mas agora desejava que ainda estivesse exercendo seus
movimentos suaves sobre o seu peito. Ela mal respirava e ficou deitada em
silêncio, sem dizer uma palavra. Suspeitou, então, que era uma MacPherson.
Mas o que a família dela significava para os MacNeills?
— Julia é o seu verdadeiro nome? Ou você tem outro nome de
nascença também?
Ela lhe deu um olhar irritado.
— Julia. E se você quer saber, eu atendo pelo sobrenome Wildthorn.
Se você procurar em qualquer documento sobre mim, minha carteira de
motorista, passaporte...
— Nenhum dos quais você provavelmente tem agora devido ao
acidente.
Ela fez uma pausa.
— Bem, sim, mas se os visse ou tivesse acesso aos meus registros,
você veria que eu atendo pelo nome Julia Wildthorn.
— Mas você nasceu uma MacPherson.
— Sim. — Ela disse em voz tão suavemente que ele quase não a
ouviu.
Então, o que isso lhe significava? Nada. Ainda não tinha a menor
ideia sobre quem os MacPhersons eram para sua família. E, sem algo mais
para continuar, não acreditava que pudesse levá-la a dizer a verdade. Eles
estavam em um impasse novamente.
— Minha Tia Agnes é a historiadora da família e ela interrompeu sua
curta viagem a Londres para voltar aqui e pesquisar nossas revistas, tudo por
sua causa. Eu tenho que dizer que fiquei muito surpreso. Tia Agnes nunca
encurta suas férias quando está visitando seu lugar favorito para fazer
compras. E com a bagunça que a equipe de filmagem está fazendo no
castelo, não tinha planejado retornar até que tudo estivesse acabado.
Como Tia Agnes não havia permitido que Guthrie lidasse com seus
investimentos, não tinha entrado em dificuldades financeiras. Ela ainda
podia desfrutar de umas férias longe do castelo por um tempo bastante longo
sem sobrecarregar suas finanças.
Julia respirou fundo.
Isso teve uma resposta.
— Você pode muito bem me dizer o que está em sua mente, moça.
Ela não disse nada por um longo tempo. Sabia pelo modo como seu
coração batia muito rápido, que estava pensando sobre o que diria a ele.
Soltou a respiração, prestes a tentar mais uma tática, quando seus
dedos acariciaram levemente o seu peito novamente.
— Eu vou lhe dizer o que sei, se me prometer uma coisa.
— Depende do que é. — não estava disposto a ceder à moça sem
saber sobre o que era tudo isso. Ele torceu um dos cachos em torno de seus
dedos, seu olhar sobre o dela.
Ela pareceu refletir sobre essa noção e, finalmente, disse:
— Você não me ama.
Ele ficou tão surpreso com o comentário que apenas olhou para ela.
Julia deu de ombros.
— Eu sou uma romancista.
— Ah. — isso explicava.
— Não, ouça. Nos tempos antigos, homens e mulheres se casavam
por muitas razões: porque precisavam, porque era conveniente, por razões
financeiras ou status, talvez porque se amavam. Nada disso importa. Tudo o
que importa é que nós vivemos hoje, agora, no presente, e o passado não é
crucial no esquema das coisas.
Sua voz tinha adquirido uma qualidade quase desesperada, ainda
suave, ainda sexy, mas ela parecia com medo.
— Sim. — ele concordou, mas pensou que até mesmo essa
concessão podia ser um pouco prematura, dependendo de onde este diálogo
estava indo. — Para a maioria. — respondeu, apenas para se dar alguma
margem de manobra, se precisasse.
— Não é para a maioria. É como deveria ser. As pessoas deveriam se
casar por amor.
— Mesmo nos dias de hoje, as pessoas se casam por outras razões
além do amor.
Seus dedos ficaram muito quietos novamente.
— Pelo bem da discussão... — e porque queria muito ouvir onde isso
estava indo, ele disse: — Tudo bem, então o homem e a mulher se casam por
amor e...?
— Não é o homem e a mulher. Nós. — ele ergueu suas sobrancelhas.
— Quero dizer, você não me ama e, bem, eu nem conheço você
direito, então... — ela encolheu os ombros novamente.
Ele lutou para não rir. Mas ela soou séria, o que pôs um freio sobre o
que achava que deveria ter sido engraçado.
— Tudo bem, então eu não amo você. — embora a luxúria fosse
definitivamente parte do problema, pensou, porque até agora ele a queria.
Tentou pensar com sua outra cabeça e continuou: — E você não me ama
e...?
— Bem, se existisse um acordo que dissesse que você teria que se
acasalar comigo e eu com você, não haveria nenhuma razão para fazê-lo.
Porque nós não amamos um ao outro.
— Um acordo de noivado? — ele franziu a testa e deu um leve puxão
em seu cacho. Ela acreditar que relacionamentos tinham tudo a ver com o
amor deve ser um subproduto de escrever romances, mas a noção de um
acordo de noivado entre eles o fez se perguntar o que realmente estava
acontecendo. — E se, por um acaso, eu de fato amasse você?
Seus olhos se tornaram grandes.
— Bem, você não ama. Você já disse que não. E já que nós não
temos outra razão para nos acasalar, então é isso.
Ela não estava fazendo nenhum sentido, então ele pensou que
abordaria isso de outra forma para tentar chegar ao cerne da questão.
— Deixe eu lhe dizer como as coisas são. Você estava ciente da
localização da entrada secreta.
Julia soltou a respiração e o calor acariciou seu peito. Inferno, já
estava meio ereto. Estava pronto para esquecer o interrogatório, assumir que
ela quis voltar para ele e o portão estava trancado, esquecer que sabia onde o
túnel era e tinha esgueirando-se para dentro com algum outro propósito
nefasto e dar continuidade a negócios mais agradáveis.
— Eu soltei minha bota em cima da porta de metal e ouvi uma
batida.
As mãos pousaram sobre os ombros dela e, em seguida, ele
acariciou-os.
— Tudo bem, mas você estava procurando a passagem secreta e não
negue.
Ela baixou o olhar para o seu peito e provocou um mamilo com a
ponta do dedo.
Ele conteve um gemido.
— Por que você estava procurando a entrada secreta?
— Parece bastante óbvio. Para chegar aqui dentro.
— Você já estava dentro do castelo no final do dia. Poderia ter ficado
durante a noite ao meu convite. Por que usar os túneis? — o pensamento que
continuava a vir à sua mente era que ela pretendia cometer alguma
transgressão, que era o inimigo e, em qualquer outra situação, teria lutado
contra o inimigo antes de ceder. Mas seu doce toque torturante lhe deu outras
noções e estava pronto para ceder à sensação e esquecer qualquer motivo
que Julia teve para escorregar para dentro do castelo despercebida. Era este o
seu truque? Se assim fosse, tinha encontrado seu rival na batalha.
Ela suspirou.
— Eu tive a ideia de que poderia descrevê-los em meu livro.
Nessa parte da história, ele acreditava.
— Você está escrevendo sobre cowboys, lembra-se? — o que não
aceitou como verdadeiro, nem um pouquinho.
— Está bem, tenho certeza que se sua Tia Agnes vai percorrer as
revistas recontando a história da sua família, você vai descobrir
eventualmente. A mais pura verdade divina é que a sua família roubou o
castelo da minha. Então... — ela disse, cutucando um dedo em seu peito. —
Se não fossem os MacNeills, eu estaria vivendo aqui, não você. E teria sido
ao meu convite que você poderia ficar comigo no meu quarto e não o
contrário. Mas as colchas sobre a cama seriam de um lindo azul claro, não
assim escuro.
Sua boca ficou aberta. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo,
apesar de a moça parecer tão sincera. Castelo Argent tinha sido da família
dela? Positivamente ridículo.
Ian pareceu momentaneamente atordoado. Julia não poderia
descrevê-lo de outra maneira. Quando se afastou um pouco dela, parecia que
queria deixá-la neste momento e provar que não era verdade, ou que talvez
fosse um desejo da parte dela.
Em seguida, um lento sorriso apareceu.
— É isso mesmo, moça?
Ele não acreditava nela? Simples assim?
— Tudo bem, tudo bem. Nós possuíamos o castelo. Vocês
impuseram um cerco e, em seguida, meu bisavô, Conaire MacPherson, teve
que se render. Ele teve que concordar com os termos dos Macneills, de
desistir de sua filha para acasalar com quem quer que fosse o lorde, no
momento.
Ian fez uma careta.
— Nada disso é verdade. Nenhum MacPherson jamais se acasalou
com uma MacNeill na minha árvore genealógica. Isso só teria sido a um par
de gerações atrás e, disso, eu teria me lembrado.
— Você está certo. Nenhum MacPherson, pelo menos do nosso clã,
acasalou com vocês. Eles escaparam. E desde então, só tiveram filhos
homens.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Bem, exceto eu, é claro.
— Você é a primeira?
— Sim. — ela esperou para ver a reação dele.
Ele estava olhando para baixo, contemplando as palavras dela, e não
disse nada. Então, olhou para ela.
— Então você seria...
— A sua companheira. De acordo com o contrato.
Ele sorriu.
— Entendo. Então é aí que a questão do amor entra. — ele deulhe
uma careta divertida. — Quem te mandou fazer isso?
A carranca dela não foi divertida.
— Ninguém me mandou fazer isso. Mas fico feliz que você não
acredite. Assim que eu encontrar a caixa com o contrato, meu avô quer
destruí-lo e isso será o fim de tudo.
— Tudo na minha terra é meu. Eu receio que, se uma caixa foi
deixada aqui, é minha também. Se nós fomos capazes de protegê-la, vou
inspecionar o conteúdo e tomar uma decisão sobre se esta vai para o seu avô
ou não. — Ele soou como se estivesse cedendo à vontade dela.
Ele pensou que ela talvez soubesse de um baú escondido nas paredes
que continha um tesouro e planejava roubá-lo, mas fingiu, ao invés, que a
caixa continha um acordo de noivado. Agora, quão estúpido isso seria? Ian
inspecionaria o conteúdo, certamente, de qualquer maneira.
— Portanto, o seu avô lhe enviou para encontrar a caixa e destruir os
documentos, de modo que você não tivesse que se acasalar comigo.
— Certo.
— Hmm. Eu não acredito nisso. Você sabe por que não acredito?
— Não, mas suspeito que você vá me dizer.
— O conhecimento teria sido passado de geração em geração. Teria
me sido dito que eu deveria me acasalar a uma MacPherson, se fosse esse o
caso.
Ela encolheu os ombros.
— Bom. Então, como eu disse, você não precisa se preocupar com o
conteúdo da caixa.
Ele balançou a cabeça.
Julia soltou a respiração com força.
— Alguém esteve chantageando o meu avô. — ela observou o rosto
de Ian escurecer, esperando ele assimilar a nova informação, para ver se
pensava que era tão divertida quanto à última.
Mas ele não disse nada.
— Quem quer que seja, sabe sobre o contrato e disse ao meu avô que
ele tem que pagar se não quiser que eu tenha que acasalar com o atual lorde
do Castelo Argent.
— Quando isso ocorreu?
Agora ele parecia acreditar. Ou talvez ainda estivesse agradando-a.
— Recentemente.
— Quão recentemente?
— Eu não sei. Não perguntei. Mas tem que ser recente.
Ele estendeu a mão em direção a ela, seu corpo quente pressionando-
a levemente e puxou algo para fora de sua mesa de cabeceira, em seguida,
entregou o celular a Julia.
— Ligue para ele.
Ela hesitou. Estava certa de que seu avô não gostaria que tivesse dito
a Ian sobre o contrato quando lhe disse para não contar. Mas não teve muita
escolha. Depois de discar o número de seu avô, ouviu o telefone tocar, tocar
e tocar. Perguntou-se, então, se ele não queria atender porque o identificador
de chamadas podia dizer Ian MacNeill.
Mas, então, seu avô pegou o telefone e disse:
— Olá? — Sua voz soou suspeita e profissional.
— Vovô, eu preciso saber quando...
Ian tirou o telefone dela e encostou-se contra a cama, puxandoa com
força contra seu corpo musculoso e segurando-a firme. Ela teria se derretido
contra ele, amando a sensação, exceto por uma coisa: medo daquilo que seu
avô estava pensando neste exato minuto e isto a fez enrijecer com apreensão.
— Olá, Sr. MacPherson? Aqui é Lorde MacNeill. Eu entendo que
alguém esteve chantageando o senhor. — com um sorriso de satisfação, ele
olhou para Julia e varreu os dedos para baixo, até sua bunda nua, o fio dental
de uma tanga rendada que estava usando fazendo-a se sentir exposta e sexy,
embora estivesse tentando se concentrar no que estava sendo dito.
Julia franziu o cenho para Ian, imaginando que seu avô estaria
realmente zangado com ela por dizer a verdade.
O sorriso desapareceu do rosto de Ian e ele disse:
— Olá? Sr. MacPherson?
Ela conseguia ouvir o tom de discagem. Seu avô tinha desligado na
cara do lorde do Castelo Argent.
Ian encarou o telefone por um minuto antes de perceber que o avô de
Julia tinha realmente desligado na cara dele. Inferno. Ele jogou o telefone de
lado no colchão e depois passou as palmas pelas costas dela, estendendo as
mãos para cobrir sua bunda macia. Amava sua escolha de calcinha.
— Você sabe onde esta caixa está escondida, moça?
— Em algum lugar no piso onde os aposentos estão.
— Sim, bem, antes de irmos à procura deste nicho secreto, você tinha
mais alguma coisa em mente? — esperava que, pelo jeito como esteve
tocando-o, ela tivesse e não apenas para fazê-lo esquecer de questioná-la
sobre perambular no castelo.
Julia esfregou a coxa contra a dele e Ian abaixou a mão, para puxar a
coxa dela mais para cima, abrindo suas pernas mais afastadas. Ela moveu a
boca para seu mamilo e lambeu e isso era tudo o que ele precisava.
CAPÍTULO 16
Era loucura, Ian sabia, mas a doce tortura era demais para resistir
enquanto apertava a bunda de Julia, o fio dental que usava expondo suas
lindas nádegas, enquanto ela acariciava seu mamilo com a língua. Ele gemeu
com a necessidade e retirou o suéter por cima de suas costas, agarrou seu
sutiã e esforçou-se para abri-lo. Não importava o quanto tivesse tentado
negar no início, a química entre eles fervia.
Pensar que se tudo o que a moça tinha dito era verdade, o que não
acreditou por um momento, Julia era sua para ser tomada. Prometida a ele.
Sua.
Embora esta situação fosse semelhante àquela no passado, mas em
vez da escolha de seu pai para sua companheira, teria sido a de seu tio-
bisavô, Ian não sentia que as circunstâncias fossem iguais. Por um lado, Julia
era uma loba. E não havia nenhuma maneira que pudesse negar sua atração
por ela mais do que podia negar a dela por ele. Por outro lado, Julia não
parecia desprezar seus parentes como Ghleanna tinha feito, muito menos
agia de qualquer maneira como se ele fosse um pária social, como sua ex-
noiva prometida agiu.
Ainda assim, Ian e Julia eram de mundos separados de muitas
maneiras. Ela era uma escritora de romances de lobisomem da América e,
inferno, nem sequer sabia se seu interesse por ele tinha apenas a ver com
encontrar a caixa escondida e escrever o pano de fundo para o seu romance.
Cowboys, certo.
Antes que pudesse abrir o sutiã, Julia passou seus dedos quentes na
abertura de sua cueca e tocou-o. Isso o fez lutar mais rápido contra o fecho
de seu lingerie, praguejando em gaélico baixinho quando não conseguiu
solta-lo, ao que ela riu suavemente.
Pressionando os seios ainda cobertos pelo suéter macio contra o seu
peito, ela estendeu às mãos até suas costas para soltar o sutiã. Quando estava
livre, ele puxou o suéter por cima de sua cabeça, o sutiã indo junto com a
peça, em algum lugar no chão.
Luz do sol derramava-se dentro da câmara através de duas janelas
estreitas e Ian presumiu que a hora do jantar estava quase chegando.
Pressionou Julia suavemente contra o colchão e se ocupou dela, seus cachos
vermelhos esparramados sobre o travesseiro coberto de algodão preto, seus
olhos verdes cheios de calor. Os lábios dela se separaram e sua língua saiu
para molhá-los, convidando-o a entrar, os seios cheios, os mamilos rosados e
totalmente enrijecidos, dando boas-vindas. Agora, tudo o que ela usava era o
fio dental de renda vermelha e nada mais. Exceto pelo curativo em sua
canela.
Ele passou as mãos em ambos os lados do curativo, suavemente,
gentilmente, sentindo o músculo tencionar. Beijou seu joelho acima do
machucado.
— Como está?
— Formigando. Fazendo cócegas. Curando.
— Seu tornozelo? — ele perguntou, arrastando um beijo para baixo
de sua perna até alcançar o tornozelo e examinou-o. O inchaço tinha
diminuído novamente.
— Está bem.
— Sem mais caminhadas ou corridas com ele hoje. Amanhã, deve
estar bem curado.
— Eu quero procurar a caixa.
— Esqueça. — Ele disse rispidamente. — Se procurarmos, eu tenho
certeza de que vamos encontrar uma cópia do contrato no cofre. Uma
maneira de superar o chantagista: eu simplesmente vou fazê-la minha.
Seus lábios se separaram, mas ele não a esperou se opor. Neste exato
momento, se não tivesse que se preocupar com mais nada, queria marcá-la
como sua, como um cowboy faria. Deixe-a escrever sobre isso em sua
história. Ian queria tomá-la de um modo que nenhum outro homem jamais
poderia fazer.
Com esse condenável pensamento em mente, ele capturou sua boca e
silenciou qualquer objeção que Julia pudesse ter feito. Mas ela rapidamente
se igualou a sua fogosa exibição de afeto, lambendo-lhe em retribuição, as
mãos descendo pelas costas dele e, em seguida, descendo sob o cós de sua
cueca. Os dedos dela cavaram em sua bunda, apertando e esquadrinhando,
tornando seu sangue febril com desejo. Ian arrancou a cueca e jogou-a no
chão com o resto das roupas deles.
Sua boca estava sobre a dela novamente, a mão totalmente sobre seu
seio, envolvido na sensação deste, o voluptuoso punhado suave enquanto o
pico rígido cutucava sua palma. Os olhos de Julia estavam meio fechados
com o desejo, sua respiração forte conforme acompanhava os marcantes
beijos dele. Ian a queria. Queria tudo dela. Ainda assim, disse a si mesmo
que era apenas um frenesi sexual no qual foram apanhados e nada mais. Mas
ele sabia melhor. Nunca teve alguém assim, nunca desejou uma mulher
como a queria. Nunca perdeu o sono por uma mulher.
Ian jogou para longe o pedaço de renda que ela usava e jogou-o de
lado. Segurando um joelho, abriu-a para ele, o pelo vermelho, curto e
encaracolado, tão tentador como o resto dela. Mergulhando os dedos em seu
delicioso calor, Ian foi tão profundo como pôde e, em seguida, começou a
acariciar o clitóris inchado. Julia arqueou contra seus dedos, os gemidos
suaves quase o desfazendo. E, em seguida, estendeu a mão ao redor para
tocar em seu comprimento, mas ele gemeu sua recusa. Não podia permitir
que ela o tocasse, não até que transassem. Ian nunca duraria.
Levantando uma perna sobre seu quadril, deixando-a mais ampla
para ele, continuou a assediá-la com suas carícias, sua boca silenciando o
choro enquanto gozava com seus dedos dentro dela e medindo os fortes
tremores internos. Por um momento, a respiração de Julia veio rapidamente
e então ela estendeu a mão para lhe dar o que ele merecia. Mas ainda queria
estar dentro dela, empurrar dentro de sua vagina apertada, lisa e quente com
prazer.
Ian estava muito perto de chegar ao clímax, apenas pela forma como
a língua da moça tinha sondado sua boca, lábios e paladar, pela forma como
suas mãos tinham tomado conta de sua ereção, e o seu doce cheiro que ele
não conseguia estender o erotismo um minuto mais. Com as carícias
habilmente firmes, ela o levou a um desespero febril. E Ian gozou, o êxtase
desse toque transformando seu mundo em uma explosão de emoções.
Descansando ao lado dela, a puxou contra seu corpo, o dela estando macio
suave e sem energia.
Eles se atrasariam para a refeição, mais uma vez.
Após destrancar Baird Cottage com as chaves-mestre, Cearnach
partiu para dentro para procurar o diário de Julia, mas parou logo na porta de
entrada.
Ele cheirou o ar e escutou por qualquer sinal de alguém no lugar,
embora tivesse presumido que ninguém estaria aqui, além das duas
mulheres, e ambas estavam no Castelo Argent. Mas além de cheirar o
perfume delas, de Duncan e da presença de Ian aqui antes, sentiu o cheiro de
outro alguém.
Se arriscasse um palpite, e não gostava de onde isto estava indo, o
mais ferrenho inimigo deles, Basil Sutherland, tinha estado aqui. Cearnach
correu para o primeiro quarto, onde a cama estava bem feita, mas a
fragrância era de Maria. Em seguida, verificou o outro quarto. As colchas
estavam meio amassadas sobre a cama e meio tocando o chão e quando se
aproximou, sentiu o cheiro de Julia e Basil nos lençóis. Pior, o cheiro
almiscarado de sexo. Inferno.
Ele sabia que seu irmão estava caidinho pela pequena loba vermelha
e isso iria matá-lo.
Considerando-se como Ian tinha reagido após Flynn ter se
encontrado com sua noiva prometida na floresta e ter feito sexo com ela em
consentimento mútuo, Cearnach nem sequer queria ver o humor negro no
qual seu irmão estaria assim que ele soubesse dessa nova decepção sobre
uma mulher com a qual se importava.
Cearnach levantou diário de Julia de sua mesinha de cabeceira e, em
seguida, sentindo-se mal com toda esta confusão, correu de volta para o
Castelo Argent. Ele verificou o progresso das filmagens, as quais, como
receava que fosse, eram barulhentas, o terreno do castelo invadido por seres
humanos o bastante para fazê-lo desejar se juntar a sua mãe em Londres para
ficar longe de tudo.
Quando olhou para o quarto de Ian, deu um suspiro longo e
profundo. Como poderia dar a notícia a seu irmão sobre Julia e Basil, sem
quebrar o mundo dele novamente, apesar do fato de sempre alegar que tinha
estado melhor sem sua noiva? Cearnach o conhecia melhor. Desde então, Ian
tinha vivido com um pesado remorso sobre ter mandado seu primo para
longe e sentindo-se responsável pela morte dele.
Irritado, Cearnach andou em direção ao castelo, apenas para ser
interrompido quando Duncan o emboscou...
— Você encontrou o diário da moça?
— Aye. Maria deu algum problema?
— Alguns. Guthrie está vigiando-a. — Duncan franziu o cenho para
Cearnach e cruzou os braços. — Você parece preocupado.
Cearnach descartou sua preocupação.
— Eu posso ver por que Ian não queria essa produção aqui.
Que confusão.
Duncan assentiu.
— É outra coisa o problema? Eu não acho que já vi você assim tão
preocupado desde que Flynn se meteu em problemas com Ian.
Cearnach não disse nada. O problema era que, não importava a
situação, sempre era capaz de agir como se não fosse sério. Não daquela vez.
Não importava quantos anos se passaram, nunca poderia ver aquele desastre
de uma forma alegre.
— Se não tiver nenhum problema, eu vou vê-lo daqui a pouco.
Duncan disse:
— Sim.
Mas Cearnach sabia, pelo arco sombrio nas sobrancelhas de Duncan,
que seu irmão não acreditava que nada estava acontecendo.
Tentando descobrir algo útil sobre a mulher que ainda estava com Ian
em seu quarto, instalou-se na câmara privada ao lado para ler tudo o que
Julia havia escrito, incerto sobre o que descobriria e esperando que não fosse
encontrar nada condenável. Nada mais do que já tinha encontrado. Mas algo
estava guardando um lugar no diário e ele abriu nessa página. Uma imagem
de Ian vestindo um kilt apareceu na frente dele. Parecia ter sido tirada no
festival celta. Virando-a, Cearnach não encontrou nada na parte de trás.
Merda. O que a moça estava tramando? Ian nunca permitia que sua imagem
fosse tirada. E isso fez Cearnach acreditar que Julia tinha que ter cúmplices
trabalhando com ela. Seu irmão ficaria mal com isso.
No diário, ela descrevera Cearnach como despreocupado e feliz com
a vida, mas não o tinha visto quando deixado no comando. Negócios vinham
em primeiro lugar, diversão e prazer em segundo. Ele pensava que fosse
como Ian a esse respeito, até agora. Seu irmão mais velho parecia estar
misturando negócios e lazer com a moça quando normalmente era muito
mais sério. Tinha que ser, como líder de matilha e chefe do clã.
A ceia havia sido posta e seus irmãos e primos tinham comido e,
ainda, Ian e Julia não haviam surgido do quarto até mesmo para participar da
refeição. Depois do que descobriu na casa de campo, Cearnach sabia que
nada de bom podia vir disso.
Ele retornou à câmara privada e continuou de onde tinha parado,
virando outra página do diário. Julia não só tinha feito um excelente trabalho
ao descreve-lo, mas capturou os instintos de guerreiro de Duncan, o jeito
estudioso de Guthrie, o layout do castelo, bem como algumas das aparências
rudes de seus primos e as olhadelas deles para as moças. Ela só tinha elogios
para o clã MacNeill, o que o surpreendeu. Isto era uma manobra, no entanto?
No caso deles encontrarem seu diário?
Ele leu até o início da história de faroeste americana, onde Ian
MacNeill tinha destaque e a heroína já estava roubando um cavalo, o que o
fez se perguntar se pretendia roubar algo deles. Algo importante.
Tanto pelas anotações que tinha feito sobre Ian, seu herói no romance
histórico highlander que tinha começado e, em seguida, parecia ter deixado
de lado e agora pela história de cowboy, ela estava apaixonada por ele.
Talvez só no papel, mas obviamente era o seu herói, aquele que capturaria o
coração da heroína se pudessem estar no mesmo lado da lei. Um conto
inventado, com certeza, se estava em uma conspiração com Basil
Sutherland. E não importava o quanto Cearnach não quisesse acreditar, não
poderia ver de outra maneira.
Duncan adentrou a câmara e olhou para Cearnach sentado no sofá
contra a parede, o diário na mão.
— Eles ainda estão no quarto dele? — Duncan perguntou
calmamente.
Cearnach deu um ligeiro aceno de cabeça e, em seguida, levantou-se,
atravessou o cômodo e colocou o diário na gaveta superior direita da mesa
de Ian.
— Será que ela diz muita coisa? — perguntou Duncan.
— Aye. Ela retrata todos nós. Em um bom aspecto. — Cearnach
acrescentou, não a ponto de revelar o que tinha descoberto na casa de campo
para ninguém, exceto Ian. — Então, o que está acontecendo com a equipe de
filmagem?
— Eles querem que todos os que se inscreveram como figurantes
compareçam ao figurinista na primeira hora da manhã, para que nós
possamos ser medidos para o vestuário. E depois? — Duncan sorriu
sombriamente. — Vamos aprender a brandir uma espada corretamente.
— Bem, eles querem que os ensinemos?
Duncan riu.
— Se Ian ficasse sabendo disso, ele estaria lá fora, liderando todo o
grupo em treinamento. Um armeiro deve distribuir espadas amanhã.
— Minha espada será aquela que ganhei quando rapaz. Com a arma
tendo o equilíbrio e peso adequado, posso derrotar qualquer um.
— O diretor não vai gostar disso.
Cearnach bufou.
— O diretor não tem que gostar. Quanto à roupa? Eu vou usar o meu
próprio tartan ―estampa xadrez usada no kilt que identifica sua linhagem‖.
— Sim, digo o mesmo. — Duncan fez um gesto com o ombro na
direção do quarto de dormir de Ian, a porta fechada. — Isto é sério?
— O quê? O relacionamento? Ou o que ela está fazendo? —
Cearnach tentou manter a acidez fora de suas palavras.
As sobrancelhas de Duncan beliscaram juntas enquanto eles se
dirigiam pelo corredor até as escadas.
— Eu não pensei que algo, ou deveria dizer, alguém, iria distraí-lo
dos negócios da equipe de filmagem, enquanto estivesse aqui. Parece que
uma pequena loba vermelha fez o truque. Você acha que ele ainda está
interrogando-a?
Cearnach balançou a cabeça.
— O que você acha?
— Eu acho que ele está trabalhando muito duro nisso e, se não
conseguir a verdade em breve, eles vão perder o jantar também. Maria
Baquero não está indo embora, apesar de tudo.
— Eu vou falar com ela de novo. — disse Cearnach. — Ouvi alguns
rumores feios dos quais preciso descobrir a verdade.
— Quais são, irmão?
— Basil Sutherland e seus homens foram adicionados à lista de
pessoas que vão lutar por um par de cenas de batalha. As batalhas
roteirizadas certamente descambarão para o pior e Ian ficará extremamente
contrariado uma vez que souber sobre a situação.
Ian mataria Basil, Cearnach pensou, se ele descobrisse que Julia
estava manipulando-o como um tolo enquanto trabalhava com seu inimigo.
— Och. Bem, espere até depois que Ian tenha comido. — Duncan
olhou para o quarto de Ian quando passaram por este. — Ou talvez depois
que saia do seu quarto. Ele deve estar em boa forma até lá, você não acha?
Assim que Ian soubesse a verdade sobre Júlia? Cearnach realmente
não queria ser o portador da má notícia, de novo.
Quando Julia se juntou a Ian e seus irmãos nos túneis, ele tinha
estado sombrio e mal-humorado. Sua atitude continuou durante o jantar e
mesmo depois que se retiraram para a cama e ela não tinha certeza do que o
estava incomodando. Mas Ian não queria falar sobre isso e desistiu de
perguntar.
Na manhã seguinte, na mesa da cozinha durante o café da manhã,
seus irmãos observaram ela e Heather, os olhares se voltando para Ian
esperando que ele falasse, mas quando Julia teve o suficiente e se levantou
para deixar a mesa, Ian pegou seu pulso.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Nós temos a filmagem na floresta hoje. Eu vou me vestir. —
Esperou ele liberá-la, pronta para se torcer para longe, como tinha aprendido
numa aula de autodefesa que teve para obter algumas das suas cenas para
uma história certa vez, se não a soltasse em breve. Seu olhar encontrou o
dela, gelado e preocupado. Talvez fosse apenas o fato de que Basil estaria
com seus homens nas filmagens de hoje e Ian estava preocupado com ela e
Heather.
Julia sorriu e se inclinou para beijar seu rosto e, por um minuto,
pensou que seu humor negro iria desaparecer, que iria abraçá-la, devolvê-la
ao quarto dele e depois arrebatá-la antes que participassem do filme. Em vez
disso, Ian a soltou.
— Todo mundo está pronto? — Ele questionou.
Um coro de ―ayes‖ encheu a cozinha e, em seguida, todo mundo se
levantou da mesa e começou a limpar a comida e pratos vazios. Todos com
exceção de Julia, que chamou a atenção de Heather. Ela parecia maravilhada
com a loba vermelha americana.
Julia suspirou e saiu da cozinha. Se Ian não melhorasse de humor,
não ia parecer muito convincente de que estivesse totalmente apaixonada por
ele quando precisasse beijá-lo durante as filmagens. Mesmo que estivesse.
Julia até mesmo pensou em ser relapsa, tão irritada como estava com
o humor de Ian, exceto que precisava do dinheiro e não era de negligenciar
suas obrigações. Pensou em procurar a caixa, ao invés, enquanto todo mundo
estava preocupado e, a este ritmo, Ian não ficaria mais feliz se ela não
estivesse em qualquer lugar perto de onde Basil ou seus homens estavam? A
verdade da questão era que queria ver a ação, não só para o livro, mas
porque se preocupava com Ian ou seus homens lutando contra Basil e seu
povo. A ideia de que alguém poderia se machucar enquanto estava ignorante
disso, conforme fazia o trabalho de detetive no castelo, a incomodava muito.
Ela fitou o vestido azul e a capa com o tartan MacNeill que usaria e o
chemise que ia por baixo do vestido. Todas as roupas a cobriam tanto, que se
perguntou como Ian poderia até mesmo achá-la atraente. Na pesquisa para
outra história, aprendeu que umedecer anáguas e chemises tinha o efeito de
torná-las transparentes, conforme se agarravam às pernas das mulheres e
outras partes de seus corpos. Era uma maneira de dar aos pretendentes um
pequeno show ousado, o que certamente chamaria a atenção deles.
Todavia, nos dias atuais, as mulheres usavam bem menos, que até
mesmo isso provavelmente não seria digno de nota. Ainda assim, não usava
espartilho ou calcinha e o pensamento de conseguir a atenção de Ian
enquanto usava as roupas a atraíam. Então, umedeceu o chemise. Ela
receava que se só umedecesse a blusa, a roupa secaria antes que terminassem
de filmar a cena e ele jamais notaria.
Mas depois que acrescentou o vestido e a capa xadrez sobre todo o
resto, ela se sentiu enterrada em todos os tecidos de qualquer maneira. Oh,
bem, tinha dado a sua melhor tentativa.
Julia escorregou pela escada de serviço que levava ao quarto dos
empregados, querendo evitar Ian e o resto de sua família, para o caso de ele
ter decidido que não deveria estar no filme de hoje e, em seguida, dirigiu-se
para fora, no pátio interno. Maria acenou para ela e Julia foi direto até sua
amiga.
— Julia, Guthrie me ligou ontem à noite e estava bastante indignado
com um cara chamado John Smith, que deveria estar com a equipe de
filmagem, e estava tentando pegar Heather e se encontrar com ela no escuro
da noite. Não há nenhum homem chamado John Smith na equipe, nem no
elenco do filme. Verifiquei os elencos. Eu lhe disse isso, mas não tenho
certeza se Guthrie acredita em mim. A coisa meio que soa como um
pseudônimo. A menos que Heather possa apontar quem ele é, não tenho a
menor ideia. Você pode avisar seu companheiro?
O olhar de Maria baixou para o corpete de Julia e ela sorriu, apenas
uma sugestão.
— Tentando chamar a atenção de Ian?
— Vou dizer a ele. — então, deu de ombros. — Eu me sinto
enterrada em tecidos. Tenho certeza de que pareço desmazelada e
indistinguível de qualquer outra pessoa aqui fora.
— Bem, eu diria que você vai receber a atenção dele muito bem.
Heather se juntou a elas, sorrindo e vestida com seu manto de xadrez
azul e verde dos MacNeill e com um vestido cor de café.
— Você está pronta? — Ela perguntou a Julia. Seus olhos brilhavam
de emoção, em seguida, o olhar moveu-se para seu corpete e ela sorriu
amplamente.
— Oh, Ian vai ter dificuldade em se concentrar na luta se perceber
que você umedeceu sua camisa.
— Não é assim tão revelador. — Julia objetou. Pelo menos ela não
pensava assim.
— Oh, sim, vai chamar a atenção dele.
Pelo menos, Heather estava perfeitamente feliz hoje, mesmo que
todos os outros estivessem com um humor negro.
— Nós temos que ir. — Julia enlaçou o braço em torno de Heather e
se dirigiu para a ponte sobre o fosso.
— Tenham um bom momento. — Maria gritou para elas. — Eu estou
trabalhando em outra cena. Divirtam-se!
Julia acenou de volta.
— Eu ouvi que você estava nos túneis de novo ontem à noite. Que
você entrou nos quartos dos irmãos de Ian e até mesmo no da mãe dele,
procurando pela caixa secreta. — disse Heather.
Julia suspirou.
— Sim. Eu estava sozinha e pensei que talvez tivesse sorte. Mas não
funcionou dessa maneira e agora Ian não está muito feliz comigo.
— Ele está preocupado. Sobre as filmagens de hoje, o cara que eu
tentei ver ontem à noite e que você possa se ferir nos túneis de novo. Ian tem
muito sobre os ombros. Mesmo com os problemas financeiros que nós
temos, ele se preocupa com toda a matilha, em nos manter juntos e não
perder o castelo. — Heather apertou o braço de Julia e sorriu.
— Mas Ian vai ficar bem assim que a filmagem tiver acabado.
Ótimo. Isso poderia levar semanas. Então, pensando bem, percebeu
que isso era como Maria agia quando não queria que ninguém a ajudasse
através de suas preocupações. E que não queria nem saber disso quando se
tratava de seu companheiro.
Mas, por enquanto, viu Basil Sutherland e era o mesmo homem que
tinha visto no aeroporto olhando para ela, o olhar dele assimilando toda a sua
aparência, seus homens de pé com ele, os olhares tão escuros e maliciosos
quanto. Talvez, molhar seu vestido não tenha sido uma boa ideia, afinal.
CAPÍTULO 21
Com o bom tempo sobre eles e câmeras no lugar, todo mundo
começou a tomar suas posições para a filmagem da cena de batalha na
floresta.
Ian lançou um olhar cauteloso ao redor, identificando onde Basil
Sutherland e seus homens estavam situados. Ele viu Julia e Heather por
perto, com dois dos irmãos de Heather a vigiando e Duncan grudado a Júlia.
Quatro outras donzelas com sorrisos em seus rostos, mas torcendo as mãos,
ainda estavam misturadas com sua companheira e sua prima.
Perto dali, Basil estava empertigado e de ombros largos, com uma
carranca feroz para combinar com o seu tamanho. O que Ian não gostava
mais sobre o bastardo era o jeito que ele olhava para as ―belas donzelas‖
com muito interesse, seu olhar rapidamente se pondo em Julia.
Alguém dirigiu as outras quatro donzelas para onde precisavam estar.
Heather deu a Julia um abraço e depois arrancou até o seu próprio local na
floresta, com seus irmãos a reboque, antes das filmagens da cena
começarem.
Apenas Julia permaneceu dentro de seu alcance visual, como tinha se
certificado de que seria a situação, e a única maneira de permitir que ela
permanecesse no filme.
Julia sorriu para Ian e pareceu estar em seu elemento, o tartan dos
MacNeills cobrindo-a. Mechas de cachos vermelhos tremulavam por todo
seu rosto no dia ventoso, uma leve névoa cobrindo a floresta antes que o sol
queimasse a neblina para longe.
Ele a imaginou usando um sutiã de renda e uma acanhada calcinha
fio dental, ou estando nua, e o breve pensamento voou por sua mente de
quanto gostaria de levantar seu vestido, enquanto usava o tartan, e mostrar a
moça um pouco de amor highlander. Mas, então, olhou para o corpete, a
forma como o tecido parecia tão transparente através de seus seios, o vestido
azul apenas o suficiente para cobrir os mamilos e franziu a testa.
Inferno. Ele estava pronto para agarrá-la e levá-la direto para o seu
quarto.
Ian sabia que Julia estava decepcionada com o seu silêncio
meditativo esta manhã. Não podia evitar. Não conseguia parar de se
preocupar com o que havia na maldita caixa e que Julia queria encontrá-la
sem que o povo dele soubesse sobre isso. E não a queria aqui fora enquanto
Basil a olhava como se fosse sua próxima refeição. Agora, ela parecia uma
oferta deliciosa.
Heather também o tinha irritado e ele sentiu como se Julia estivesse
levando sua prima a se desviar, com suas maneiras não convencionais, já que
não viveu pelas regras da matilha em sua própria família.
Não ouvindo o chamado do diretor para começar a luta, seu cérebro
tão confuso com o pensamento e o que queria fazer com o doce corpo de
Julia embrulhado no xadrez de seu clã, que ele percebeu, enquanto um
musculoso escocês americano o atacava, que a batalha havia começado.
O musculoso lorde highlander fictício, estrela do filme, John Duvall,
entrou em confronto com seu inimigo nas proximidades enquanto as câmeras
começaram a rolar. Mas Ian temia que não levasse muito tempo para a luta
real começar com seu próprio arquiinimigo e o desastre que poderia se
seguir.
Guthrie e Cearnach se moveram com Duncan para ficarem perto de
Julia agora, certificando-se que nenhum dos homens de Basil pudesse se
aproximar dela. Os irmãos de Heather estavam cuidando da irmã. As outras
quatro donzelas eram mulheres humanas da aldeia e Ian assumiu que nem
Basil, nem seus homens, iriam incomodá-las.
Não importava que devesse lutar contra um escocês imponente perto
da estrela do filme, em um esforço para proteger ―seu senhor‖. Basil
Sutherland permaneceu no foco de Ian, seu verdadeiro inimigo lutando
atualmente com um ator humano como se estivesse dando um passeio por
Edimburgo, assim como os treinadores tinham ensinado: avance, desvie,
gingue, faça com que pareça bom e real, mas não faça mal a ninguém.
Baboseira coreografada. Ian e seu povo tinham ouvido com interesse
fingido, até que ele mesmo lutou com o instrutor.
Todos concordaram que, no que se referia a lutar na batalha, seria
realizado da própria maneira deles.
Com a espada balançando, Ian rapidamente atacou o imponente
escocês humano, que em seu pânico para evitar a fúria de sua espada,
tropeçou nos próprios pés e caiu de costas com um estrondo!
Isso não fazia parte da cena planejada, mas o diretor não gritou
―Corta!‖. E Ian deu uma última facada simulada no peito do homem.
O ator ficou tão surpreso que Ian piscou para ele e disse em gaélico:
— Morra homem, para que eu possa lutar contra a ameaça real.
Possivelmente não compreendendo gaélico, o ator pareceu pegar sua
deixa. Ele agarrou o peito, estremeceu e morreu.
Ian olhou ao redor por Basil. Capturando sua atenção, Basil sorriu
enquanto continuava a lutar vagarosamente contra outro ator humano.
A estrela do filme olhou para o homem que Ian tinha acabado de
colocar para descansar, ergueu o queixo um pouco como se em
reconhecimento de que tinha feito bem e depois lutou contra outro ator
humano.
John Duvall não fez um mau trabalho com suas habilidades
coreografadas, embora o homem estivesse usando uma espada leve,
enquanto Ian envolvia-se com um de seu povo, achando muito mais esporte
dessa maneira. Pelo menos, o homem sabia como lutar. Os companheiros de
Basil pareciam estar fazendo o mesmo, desligandose dos homens do diretor
e lutando contra os seus ao invés, o que era bastante fácil de fazer.
Como na própria matilha de Ian, os homens de Basil consistiam em
famílias leais a ele que não eram descendentes diretos do clã Sutherland. Os
tartans eram diferentes, mas cheios de barro para parecer como se os homens
estivessem vivendo em condições diferentes das ideais pelas últimas
semanas e ninguém poderia dizer que estavam lutando contra seus próprios
clãs, uma vez que eram apenas figurantes, um borrão de espadas e homens.
Basil pareceu ter o mesmo pensamento em mente ou estava seguindo
o exemplo de Ian, como se tivesse percebido que uma briga entre os
MacNeills e seus homens contra os Sutherlands faria com que o diretor
parasse o filme. Pelo menos por agora.
Sem ter que lutar contra atores de verdade, Ian jogou o coração e
alma em batalhar contra seu primo distante, mas em pouco tempo, um
homem tinha se transformado em cinco, os seus companheiros de clã
preferindo ter melhores chances ao agruparem-se em cima dele. Cinco
contra um era um pouco demais, mas uma vez que havia posto três para
baixo, ele ficou mais confortável.
Em algum momento, pensou ter ouvido o diretor gritar ―Corta!‖,
mas não podia ter certeza. Distrações no campo de batalha tinham que ser
ignoradas. Um último homem a derrubar, seu primo ruivo e um dos irmãos
de Heather, Oran, que esteve cobiçando Julia com muito interesse quando
ela chegou pela primeira vez aos portões do seu castelo. O suor escorria pela
testa de Oran.
— Você devia estar protegendo a sua irmã. — Ian disse em gaélico.
— Aye. — Oran balançou sua espada novamente contra ele, o metal
tilintando retumbando pela floresta. De outro modo, uma quietude calma se
instalava em todos os lugares.
— Então, por que você está lutando contra mim?
— Heather quis que eu fizesse isso.
Ian levantou uma sobrancelha e desferiu outro golpe de retinir metal.
Oran caiu para trás, mas rapidamente se reagrupou.
— Ela queria que você mostrasse as suas habilidades na frente de sua
amada. — ele sorriu. — Eu disse que não havia necessidade. Então, disse
que poderia captar o interesse de uma das belas donzelas para a noite, ao
invés.
Ian balançou a cabeça.
— A menos que as donzelas tenham pena de um homem que está
deitado de costas... — com isso, balançou a arma tão forte que, quando
atingiu a espada de Oran, a de seu primo navegou pelo ar, bateu em uma
árvore com uma paulada e pousou no chão com um baque. Usando um
requintado trabalho de pernas, Ian moveu sua perna rapidamente atrás da de
Oran, deu um empurrão no ombro de seu primo com a mão livre e, tão logo
o espantado Oran estava deitado de costas, enfiou a espada na barriga de seu
primo em uma morte simulada.
Ainda falando em sua língua nativa, Ian rosnou:
— Morra!
Por fim, um leve sorriso apareceu nos lábios de Oran e ele disse em
um sussurro rouco:
— Eu vou ganhar o favor ou pelo menos a benevolência de uma das
donzelas esta noite, estou pensando. Agradeço-vos, meu lorde.
Então, ele fechou os olhos, suas mãos caindo para longe de sua
cintura, e morreu.
— Corta! — O diretor pareceu gritar de novo. Não tinha ouvido o
homem gritar isso antes?
Aplausos estrondosos encheram a floresta.
— O cara é bom. — Alguém disse perto do diretor.
— O cara é um lorde. — Duncan disse bruscamente.
John Duvall deu a Ian um polegar para cima.
— Se você algum dia quiser um emprego na indústria do cinema,
está garantido. — ele dirigiu-se para o seu trailer.
Julia correu pela floresta na direção de Ian e ele embainhou sua
espada e foi de encontro a ela. A capa xadrez havia sido presa com o cinto
na cintura e envolvida vagamente sobre sua cabeça como um capuz para
cobrir os lindos cachos ruivos, mas então, a capa caiu. Com seus passos
apressados, ela estava deslumbrante, os seios saltando contra o vestido azul
com decote baixo e a camisa cobrindo o resto do seu corpete, que após uma
inspeção cuidadosa de novo, ainda parecia terrivelmente transparente.
Inferno, mulher. Não só ela não estava usando qualquer sutiã, mas
parecia que tinha molhado sua camisa, o que a tornava tão transparente
como se não estivesse usando praticamente nada, mostrando a curva
abundante de seus seios. O vestido azul escuro subia alto o suficiente para
esconder a cor de seus mamilos, mas não escondia a glória suprema daqueles
picos gêmeos pressionados contra o tecido.
Não importava o quanto queria ver onde aquele maldito Basil
Sutherland estava agora e o que ele estava fazendo, não conseguia tirar o
foco de sua companheira. Julia alcançou Ian e o agarrou em um abraço de
corpo inteiro, trepando literalmente nele enquanto embrulhava suas pernas
ao redor de seus quadris. O calor de seu corpo flexível queimou-o enquanto
as manobras dela empurraram a saia para trás, revelando suas pernas
cobertas de meias, agora trancadas atrás dele enquanto ela cruzava os
tornozelos e montava-o de uma forma muito sensual.
Seus braços rapidamente a cercaram, abraçando-a ainda mais
apertado contra seu corpo e o excitando mais. Ela inclinou o rosto para ele,
sorrindo luminosamente e Ian abaixou a cabeça e beijou-a. Só pretendia dar-
lhe um leve roçar na boca em saudação, para mostrar sua apreciação por
Julia ser Julia, mas o beijo logo se transformou em uma fusão apaixonada de
lábios e línguas. Por vontade própria, suas mãos cobriram a bunda dela,
segurando-a com mais força contra sua virilha.
De início, o silêncio encheu o ar e, em seguida, várias risadas
explodiram, chamando sua atenção.
— Deveria ter captado esta cena na fita. — Alguém disse. — O
público iria adorar.
— Sim, mas o foco deveria estar sobre as estrelas do filme. Não em
dois escoceses desconhecidos.
Julia enrijeceu nos braços de Ian e se afastou um pouco, deixando
sua boca, e ele achou que ela faria uma réplica. Poderia simplesmente
imaginá-la dizendo que não era escocesa de nascença, mas americana, e não
era desconhecida. Era uma escritora de romances de lobisomem com os fãs
em todo o mundo.
Mas não queria que mais ninguém soubesse sobre isso. Ele cobriu a
sua boca com outro beijo, ainda segurando a mulher voluptuosa, e a levou de
volta para o passeio do outro lado do fosso.
— Meu herói. — Julia disse, entre lamber a boca dele com gosto e
apertar as pernas ao redor de sua cintura.
— É bom, então, que nós vencemos esta batalha e hoje o castelo está
seguro. — ele disse, sorrindo, sentindo-se muito mais leve de coração agora
que tinha passado por uma cena de batalha sem nenhuma dificuldade entre
seus homens e os de Sutherland e que Julia e Heather estavam ambas a
salvo.
— Oh, aye, Ian. — ela disse, tentando imitar seu sotaque e ele amou
seu esforço. — Desta vez nós vamos comer?
— Mais tarde. — Prometeu, suas mãos apertando a bunda dela
enterrada sob as camadas de tecido, o que o fez feliz que as mulheres já não
usassem tantos artigos de vestuário.
— Você não usa corpete, donzela. — ele disse isso de uma forma
provocante, como se levemente a repreendendo por ser tão devassa.
Ela abriu um grande sorriso.
— Você ainda está usando aqueles retalhos de renda que eu amo
tanto?
Seu rosto ficou vermelho.
— Você está usando nada sob seu kilt?
— Você está sem nada? — ele perguntou, passando a mão para cima
para ver se poderia reconhecer um pedaço de tecido em seus quadris. Ian já
estava duro e querendo, conforme o corpo dela se esfregava contra o dele
enquanto andava.
— Só se você estiver sem.
— O traje tradicional implica usar o kilt e nada por baixo. Enquanto
meus irmãos, primos e eu servíamos nos regimentos escoceses highlander,
nós íamos nus. Todavia, nos jogos das Terrasaltas, para os dançarinos que
realizam chutes altos e bandas de gaita de foles que participam de marchas
com um pisar alto, os participantes muitas vezes usam roupas íntimas, como
é solicitado, moça. O tempo frio pode ser um pouquinho problemático
também. — ele encolheu os ombros.
— Nossas longas túnicas ou camisas nos protegem do atrito da lã,
assim não precisamos usar outra coisa enquanto participamos das simulações
de luta de espada.
— Pelo que eu ouvi, é uma escolha pessoal.
— Aye. Durante reuniões exclusivamente masculinas, nós muitas
vezes não nos incomodamos. Com as mulheres presentes?
Depende das mulheres. — ele sorriu.
— Você é tão mau.
Ele riu e apertou a cabeça contra seu seio.
— Sua camisa está úmida, moça.
— Nos velhos tempos, as mulheres faziam o que podiam para
chamar a atenção dos homens. Para o inferno com as modas restritivas.
Sobre aquele contrato de noivado, porém... — Julia hesitou enquanto Ian
apertava as mãos em sua bunda.
— Hmm, moça?
— Talvez a gente não tenha que encontrá-lo.
— Oh, nós temos que achá-lo sim.
Ela suspirou.
Ele beijou seus lábios.
— Só para referência histórica. — E por qualquer outra coisa que
esteja escondido na caixa.
Seu olhar encontrou o dele. Ian deu um sorriso escuro.
— Se você era minha, moça, ou não, assim que o seu pai e o meu
fizeram um acordo para nós estarmos prometidos, isso foi levado para fora
de nossas mãos.
— Meu pai não teve nada a ver com isso. Nem seu pai, também.
Ele balançou a cabeça.
— Na sua história, onde eu sou o seu herói.
Ela franziu o cenho.
— Como você saberia...
— Lógico que você me veria assim. — ele chegou ao pátio interno,
pensando que seu castelo estava muito longe da floresta.
Ela suspirou.
— Você está se sentindo melhor do que estava esta manhã, Ian?
Ele não quis dizer-lhe como tinha estado preocupado que algo
poderia dar errado na cena de luta de hoje. Ou que ainda tinha suas dúvidas
sobre o conteúdo da caixa, ou que não podia deixar de estar preocupado que
Heather se esgueiraria com o humano e se meteria em algum problema real.
Assim, não respondeu.
Quando entrou na fortaleza, apressou o passo enquanto caminhava
até as escadas e seu quarto. Depois que chegaram lá, fechou a porta com o
quadril, pisou pelo chão e a colocou em sua cama, com a intenção de se
limpar antes de arrebatar a moça deliciosa.
— Eu vou acompanhá-la em um momento depois que me lavar. —
ele disse, retirando sua espada e pondo-a sobre a cômoda.
— Mas... Eu não quero esperar. — ver Ian no sexy kilt deixou Julia
excitada e incomodada o dia todo, entre deixar tudo no lugar para a
filmagem e, depois, durante a gravação. E não vestir roupas íntimas por
debaixo de suas camadas de roupas, além de molhar a camisa, de modo que
parecia que mal usava nada por baixo do vestido. Ela se sentia sexy e
devassa e tinha imaginado arrebatar o Highlander, assim que ele terminasse
de lutar contra seu inimigo.
Julia encostou-se no colchão e tocou o broche segurando a capa em
seu corpete, mas depois de tentar abrir, descobriu que não podia libertá-lo.
Enquanto ele a olhava, um sorriso quase imperceptível puxou a boca
de Ian.
Ela franziu a testa e tentou desatar os laços nas laterais do vestido, ao
invés, mas não podia ver o que estava fazendo.
— Você precisa de uma dama de companhia, aye, moça? — ele se
moveu para mais perto dela, o olhar escuro e especulativo. Inclinou-se para
remover o broche em seu corpete, os dedos tocando os seios e fazendo todo
o corpo dela se aquecer com antecipação.
Como seu toque simples poderia transformá-la em um incêndio em
chamas?
Seus olhos escuros focaram nela enquanto ele soltava o broche e, em
seguida, colocava o pino sobre a mesinha.
— Não, Ian, eu só preciso de você. — a verdade era que tinha sido
muito capaz quando se vestiu antes. Mas, agora, sob o olhar quente de Ian,
não parecia poder abrir nada.
Julia passou as mãos nas coxas dele sob o kilt, roçando os polegares
para cima e sentindo seus músculos fortes enrijecerem. Calor refletiu em
seus olhos, o desejo queimando, o anseio por ela revelado no olhar
predatório dele.
Com a voz cheia de necessidade, ele disse:
— Você sabe, moça, o perigo que você corre?
— Com Sutherland? — ela acariciou as coxas de Ian de uma forma
sedutora. — Ou com você?
— Julia. — esta simples declaração provou que ele não iria desistir
dela por nada. E sabia que Ian a amava, mesmo que ainda não tivesse dito as
palavras.
As mãos dele pareciam sólidas em seus ombros, empurrando-a
suavemente de costas. Mas quando Ian se inclinou para frente, ela moveu
seus dedos debaixo do kilt e entre suas pernas, apalpando-o. Julia sentiu a
plenitude, a dureza e o incrível comprimento dele. Ouviu a ingestão de sua
respiração e o gemido e então Ian rapidamente fechou os olhos. A ideia de
tomar um banho foi esquecida, ele abriu os olhos, rapidamente removeu o
cinto na cintura dela e jogou-o de lado. Como era fácil mudar sua mente e
Julia amava que a desejasse com tanta boa vontade, que poderia ser
influenciado dessa forma.
Julia queria que ele desatasse os laços nas laterais do vestido, mas,
em vez disso, Ian se inclinou e apertou seus seios por baixo da blusa e da
camisa e acariciou-os de uma forma amorosa. Ele empurrou o vestido para
baixo, expondo os mamilos, que só estavam ressaltados pela transparente
camisa úmida. Seu polegar acariciou um mamilo, tocando-o de leve e
fazendo-o crescer e formigar e atiçar o desejo pela satisfação ainda mais.
Seu olhar focou no dela, vidrado de luxúria. Em seguida, passou a mão para
baixo de sua cintura, tão levemente que fez cócegas nas suas costelas.
Julia desceu sua mão para agarrar o kilt e empurrá-lo para cima, para
colocar este show na estrada, mas ele a frustrou, puxando rudemente os laços
para desatar seu vestido. Julia enfiou os dedos dentro de sua túnica aberta,
sentiu os músculos tensos sob seu toque e o queria nu e junto com ela.
Ele puxou o vestido azul para fora e, depois, trabalhou na camisa,
meia-calça e ligas, até que tudo o que restava era a camisa superfina. Ian a
olhou de cima a baixo, os olhos vagando, baixando do tecido grudado, de
seus seios até os tornozelos.
Seu olhar aquecido à fez se sentir sexy, vulnerável e desejada.
Ele passou a grande mão habilidosa sobre o macio tecido cobrindo as
pernas dela e, em seguida, com os dedos fortes moldando sua panturrilha,
empurrou o tecido para cima. Com a voz rouca de desejo, disse:
— Isso me lembra de quando a vi pela primeira vez.
Quando ela estava encharcada no bar. Só que não estava assim tão
nua. E tinha sentido seu olhar voraz então, também, só que considerava as
roupas molhadas dele da mesma forma interessada.
Ian abaixou a cabeça e beijou sua boca enquanto as mãos dela
acariciavam seu peito musculoso duro. Julia estava com dificuldade em se
concentrar em qualquer coisa, além da maneira como ele puxava sua roupa
para cima, lentamente, a mão roçando em uma carícia sensual até a coxa.
Cada toque era amoroso e sexy e era grata que seu humor negro havia se
dissipado.
Ela puxou a camisa dele para livrá-lo de seu tartan, mas era muito
longo. Ian tirou o cinto e depois o tartan e ficou apenas em sua longa túnica,
com as pernas nuas, o olhar feroz. Julia se lembrou dos escoceses dos
tempos antigos e como estava em um castelo que tinha vários séculos de
idade, vivendo uma fantasia com o highlander dos seus sonhos.
Então, ele puxou a camisa sobre sua cabeça e deixou-a cair no chão e
ela deu um pequeno puxão para cima da sua túnica, o que o fez sorrir e
arrancar o tecido sobre a cabeça também. Ian era lindo, cada centímetro
quadrado de homem musculoso, o cabelo escuro no peito arrastando para
baixo. E seu olhar se fixou no tamanho robusto dele, preparado só para ela.
Completamente nus agora, Julia estendeu a mão para cima, querendo
puxá-lo para baixo para se juntar a ela, para preencher a ânsia que estava
fazendo-a desejar tê-lo profundamente dentro dela.
Mas, apesar de estar com pressa para fazer amor, irritantemente, ele
parecia não ter pressa alguma.
Ian olhou para a beleza diante dele: o rubor de sua pele, o que o
divertia, porque parecia que, não importava quantas vezes fizessem amor, ela
tinha aquele rubor inocente sempre que a via, seus escurecidos mamilos
apertados e adoráveis, o ardente cabelo ruivo espalhado em seu travesseiro e
a palha ruiva de cachos entre suas pernas, molhada com avidez. Sabia que
Julia estava impaciente para fazer amor, mas queria um momento para
apreciar a sua esplendorosa nudez antes que isso acontecesse.
Então, empurrou seus joelhos afastados com uma perna, estendendo-
a aberta para que seus dedos pudessem mergulhar no cetim molhado entre
suas dobras. E Julia arqueou a perna presa entre as dele, pressionando sua
ereção. Seu controle fugindo, seu toque ganancioso, ele a esfregou de forma
lasciva. Ela respondeu com um doce gemido sexy. Ian a amava, desejava-a,
queria Julia para sempre e sabia que ela era a mulher certa para fazê-lo
completo.
Ele beijou seu seio, esfregou o rosto sem barbear contra o mamilo,
lambeu e chupou e prestou homenagem a um e depois ao outro, enquanto os
dedos continuavam a acariciá-la mais embaixo. Ela passou as mãos pelo
cabelo dele, seus batimentos cardíacos acelerando, o corpo arqueando,
inquieto e ansioso, empurrando para fazê-lo trabalhar mais rápido nela e,
então, gritou seu nome de uma forma sexualmente carregada. Julia caiu
contra o colchão, o corpo tremendo com o orgasmo, sua boca curvada em
um pequeno sorriso.
Aproveitando-se de sua prontidão, ele acariciou suas coxas sedosas e,
em seguida, separou-as mais, para que pudesse entrar nela. Com um
impulso, entrou dentro dela e reivindicou-a novamente.
O balançar da moça contra ele, suas mãos segurando sua bunda e do
jeito que ela ergueu os joelhos para uma penetração mais profunda criaram
uma fome febril tão grande que Ian sentiu que esta iria consumi-lo até que
sua paixão explodisse. Entrou em colapso, saciado e se afogando em
satisfação. Ian se mexeu para o lado e deitou de costas. Em seguida, puxou-a
contra si, amando o jeito que sua perna escorregou entre as dele, montando-
o, reivindicando-o.
O jantar atrasaria novamente enquanto dormiam
primeiramente e, em seguida, renovariam seu amor.
Até que ouviu a voz de sua mãe cheia de irritação enquanto seus
rápidos passos se aproximavam de seu quarto.
Ela não deveria voltar até depois que o filme estivesse terminado. O
que estava fazendo em casa agora?
— Onde Ian está? O que quer dizer com ele está muito ocupado para
me ver, Cearnach? Eu sou a mãe dele! E voltei para colocar um fim a essa
loucura!
CAPÍTULO 22
Por causa da modéstia, Ian puxou uma coberta sobre Julia e ele
mesmo antes que sua mãe entrasse no quarto. Com as sobrancelhas
levantadas, sua companheira inclinou os lábios, oferecendo-se a ele. Beijou
sua boca sorridente, enquanto o discurso de sua mãe para Cearnach
continuava enquanto se aproximaram da câmara de Ian.
Se ela invadisse seu quarto, o que não era propensa a fazer, lidaria
com isso. Mas não deixaria a cama ainda e, novamente, beijou a disposta
boca de Julia enquanto seus dedos vasculhavam entre os sedosos cachos
ruivos. Não parecia importar-se que a mãe dele estava quase em seu quarto,
em pleno modo de batalha, e apertou sua boca contra a dele com o mesmo
entusiasmo.
— Ele é o lorde. — Cearnach argumentou com sua mãe. — É a
decisão dele e acho que seria melhor se você, pelo menos, batesse...
— O que ele está fazendo na cama a esta hora? — ela protestou. Em
seguida, empurrou a porta aberta.
Ian se desvencilhou de beijar Julia, virou-se para ver sua mãe e
levantou as sobrancelhas.
— Você queria uma palavra comigo, minha mãe? — Sua voz era
fria.
A boca de sua mãe ficou aberta, mas ela rapidamente cruzou os
braços, estreitou os olhos e fez uma careta, olhando de Julia para Ian,
enquanto Cearnach, de pé ligeiramente atrás dela, parecia sentir muito,
fazendo uma careta enquanto oferecia um pequeno encolher de ombros.
Ela fez sinal para Julia.
— O que é isso?
Ian pensou que Julia fosse à razão do discurso de sua mãe. Mas,
aparentemente, algo mais a irritava. Ele agora suspeitava que ela nem tinha
percebido que Julia era uma loba, pensando que era apenas uma humana
aqui por um pouco de prazer sexual. Não se surpreendeu que ninguém havia
contado sobre Julia, no entanto. Quando sua mãe estava em um de seus
surtos irracionais, era impossível ter uma conversa sensata. Sua mãe estava
acostumada a ser a grande dama do clã e da matilha depois que seu pai
morreu e Ian ainda não tinha tomado uma companheira. Mas agora, Julia
tinha a posição de senhora da casa e sua mãe teria que se afastar. Não havia
considerado esta parte do cenário.
— Esta é Julia Wildthorn, minha companheira. Mas tenho certeza
que as apresentações poderiam ter esperado por um tempo mais... Adequado.
Sua mãe ficou boquiaberta de novo e olhou furiosa para Cearnach,
que deu de ombros mais uma vez.
— Por que você não... — ela fez uma pausa e se voltou para Ian, com
o rosto lívido. — Eu quero falar com você imediatamente.
Ian lançou a sua mãe o sorriso mais sem graça. Ela podia pensar que
mandava nele, como achou que fazia com o pai deles, mas Ian era
exatamente como seu pai e faria o que achava melhor para o clã e a matilha.
— Mais tarde. — ele disse, sua voz beirando a gélida agora, e passou
a mão pelas costas de Julia em uma carícia suave, esperando que não
estivesse perturbada.
Sua mãe abriu a boca para falar, seus olhos ainda cerrados em
desdém. Então, seu olhar se desviou para Julia, sua expressão endureceu
ainda mais e ela se virou e saiu da sala.
Cearnach inclinou um pouco a cabeça em desculpas e, em seguida,
fechou a porta.
No final do corredor, sua mãe inquiriu Cearnach enquanto seus
passos se dirigiam às escadas.
— Por que você não me disse que Ian tinha tomado uma
companheira? E quem é ela?
Julia suspirou baixinho, acariciando o mamilo de Ian com o dedo.
— Acredito que ela não está satisfeita com alguma coisa. E...
Eu não acho que deixei a melhor primeira impressão também.
Ele soltou a respiração.
— Não tinha pensado em como isso afetaria a minha mãe, porém, ela
não deveria voltar até o final do mês. Até lá, eu teria enviado uma
mensagem. Parece que outra coisa chegou aos seus ouvidos. Talvez alguma
coisa a ver com o filme. O fato de que Basil e seus homens ganharam acesso
ao castelo durante as filmagens, a participação de Heather, até mesmo os
nossos membros do clã que também atuam, talvez. Qualquer dessas coisas
pode ter irritado a minha mãe.
Ele continuou a acariciar as costas dela enquanto Julia enrolava os
dedos em seu cabelo no peito. Quando ela não disse nada, perguntou:
— Você está bem, moça?
— Minha família é muito pequena, Ian. — ela olhou para ele com
lágrimas nos olhos. — Eu amo os seus irmãos e seus primos também.
Conheci alguns dos outros parentes e membros do clã e mulheres e admiro o
quanto eles são dedicados a você e quão gentis foram comigo. Adoro estar
aqui e sinto como se estivesse em casa. Mas você tem que saber que me
incomoda que sua mãe não pareça gostar de mim. E sua tia...
— Minha tia é irmã do meu pai e irá mostrar-lhe todo o respeito.
Minha mãe, também. Dê-lhes tempo. Elas chegarão ao bom senso. — e
então a beijou, um beijo longo e demorado que significava que ela tinha uma
matilha, um clã e uma família ainda maior e era amada.
Mas a preocupação persistente de que Basil em breve iria causar um
problema real estava no fundo da mente de Ian. Pela manhã, filmagens de
uma batalha no pátio interior estavam programadas. Manter Julia e seu clã a
salvo era a sua preocupação recorrente por enquanto.
A primeira coisa que Julia teve ciência foi que algo frio pressionava
firmemente contra seu braço. Seus olhos se abriram. O dormitório estava
envolto em trevas, mas, apesar de sua visão noturna, não viu nada. Os
batimentos cardíacos aceleraram e rapidamente sentou-se na cama. Ian tinha
ido embora, mas algo, alguém, estava no quarto com ela.
Um homem, um fantasma de um homem, pairava sobre ela ao lado
da cama.
— Flynn? — Ela sussurrou.
Seu selvagem cabelo ruivo e barba bem aparada o faziam parecer
como um guerreiro antigo. Ele era alto como Ian e seus irmãos e usava um
kilt e uma espada, como se estivesse pronto para a batalha, mas segurou o
dedo nos lábios dela, advertindo-a a ficar em silêncio.
Foi quando ouviu um movimento na câmara da senhora, ao lado de
Ian. Uma onda de frio penetrou seus ossos enquanto alarme se espalhava por
ela.
Flynn puxou-a pelo braço para fazê-la ir com ele, apontando para a
porta, mas ela não estava vestida.
Tudo aconteceu tão rápido depois disso. Dois homens, um deles
Basil Sutherland, entraram no quarto pela câmara da senhora adjacente à de
Ian. Ela abriu a boca para gritar, mas o coração de pedra, Basil, a silenciou
com um golpe na cabeça.
Estrelas polvilharam sobre os olhos brevemente antes de a escuridão
apagar sua visão noturna.
Duas semanas mais tarde, quando Julia tinha acabado de mapear sua
agenda com sua agente para a turnê de autógrafos, Ian não recebeu as
notícias nem um pouco bem.
— Tour mundial do livro? — ele resmungou. — Você disse que
haveria uma sessão de autógrafos nos Estados Unidos.
— Está programado, Ian. Eu vou embora no próximo mês. Mas você
é bem-vindo a ir comigo.
— Para fazer o quê?
— Usar um kilt, ficar atrás de mim e parecer feroz ou sexy como o
inferno.
Isso trouxe um pequeno sorriso aos seus lábios. Ele envolveu-a em
seus braços.
— Eu disse a você, moça, você não iria caminhar ao redor do mundo
sem o seu companheiro ao lado.
Eu sei... Há lobos em todo lugar lá fora. E agradeço do fundo
do meu coração por ir comigo. Vamos nos divertir. Você vai ver.
Seus olhos brilhavam com a conspiração.
— Diferentes camas todas as noites. Pode funcionar.
Ela riu e cutucou-o no peito com o dedo.
— Mas você não pode me fazer perder os compromissos. — ela
estendeu a mão e acariciou sua bochecha. — E quanto à estreia do filme?
Ele balançou a cabeça.
— Foi dito que se alguém assistir àquelas minhas cenas de luta
contra Oran e os outros, as mulheres serão levadas a escalar as muralhas do
castelo para chegar até mim.
Julia riu.
— Ah, mas elas não teriam coragem de atacar você comigo por
perto.
E com isso, ela voltou com ele para a cama, uma maneira infalível de
tirar da mente dele os compromissos literários e afins.