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Desejada Pelo

Alfa

Janine O´connor
CAPÍTULO 1
A névoa fantasmagórica fez Julia sentir como se transportasse
para o passado primitivo. Não podia acreditar que tinha chegado às
Terras-Altas da Escócia, onde um castelo acenava recheado de
segredos, intrigas e escoceses bonitões “com um pouco de sorte”.
Felizmente, nenhum deles descobriria por que estava realmente ali e
colocaria um fim a isso.
Nada diminuiria o seu entusiasmo enquanto ela e sua amiga,
Maria Baquero, seguiam para o chalé Baird, que ficava a distância de
uma caminhada do Castelo Argent, e para o fim do seu bloqueio como
escritora.
Pelo menos, esse era o plano.
Depois de atrasos nos voos e bagagens perdidas, elas tiveram
problemas para pegar o carro alugado no Aeroporto de Inverness, por
causa de uma confusão quando um escocês declarou que o carro era
dele.
Outro homem assustou Julia quando ela percebeu que estava
observando-as e se sentiu apreensiva com a forma como os lábios finos
dele não tinham sugerido nem um pouco de simpatia. Mas, em seguida,
esqueceu-o quando ela e sua amiga finalmente partiram ao final da
tarde, com Maria dirigindo o Fiat alugado através da forte neblina.
O lorde do Castelo Argent, Ian MacNeill, tinha sido um pé no
saco para se lidar em relação às filmagens em seu castelo. Felizmente,
como assistente de direção, somente Maria precisava fazer negócios
com ele. Fingindo ser sua assistente, Julia só precisava observar de
longe e tomar notas. Mas não para a produção do filme. Para o romance
que lançaria. Julia Wildthorn era uma das mais bemsucedidas escritoras
de romance de lobisomem dos Estados Unidos e a única, ela tinha
certeza, que jamais havia sofrido um bloqueio de escritor como este.
Um nevoeiro denso obscurecia a estrada curva, enquanto
atravessava a terra rochosa de cada lado. Pinheiros ao longe
desapareciam dentro da espessa neblina, o que oferecia vislumbres de
curiosas barragens de pedra rochosa que deviam ter resistido durante
séculos, serpenteando pela terra e dividindo a propriedade de um lado
ao outro.
Apesar de sua visão reforçada de loba, não podia ver melhor do
que um humano no nevoeiro.
Com os olhos arregalados, avistou algo correr nos bosques.
Algo cinza. Algo que se parecia muito com um lobo e depois
desapareceu no nevoeiro como um fantasma.
Com a pulsação acelerando, tentou captar outro vislumbre, sua
mão apertando o braço da porta enquanto ela olhava para fora da janela,
o nariz quase tocando o vidro.
Você viu alguma coisa? — sua amiga perguntou, em uma voz
firme.
Maria deu um suspiro descontente.
— Neste nevoeiro? Eu mal posso ver a estrada. O que você acha que
viu?
— Um... Lobo. — Julia se esforçou para pegar outro vislumbre do
que tinha visto. — Mas não poderia ser. Os lobos daqui foram mortos há
séculos.
A sua esquerda, a névoa se separou revelando álamos mais velhos, a
casca coberta de fungo escuro esticando-se para cima, enquanto altos
pinheiros escoceses e fileiras de esbeltas bétulas agrupavam-se juntos ao
longe. Mas sem mais sinais de um lobo. Julia piscou os olhos. Talvez,
porque estava tão cansada da viagem, eles estivessem lhe pregando peças.
Endireitou-se e encarou Maria.
— Talvez tenha sido um loup garou “lobisomem‖, se eu não estava
imaginando. — sorriu com o pensamento. — Um lobisomem bonitão das
Terras-Altas num kilt.
Nunca considerou que poderia deparar-se com um loup garou na
Escócia. Não com o quão rara sua espécie era, escondendo seu segredo do
resto do mundo. A menos que esbarrasse em um e pudesse sentir o cheiro
dele ou dela, não diferenciaria um loup garou de um tipo estritamente
humano.
— Hmm, um lobisomem das Terras-Altas... — Maria disse
pensativa, passando as mãos sobre o volante. — No entanto, botar as mãos
em um conquistador espanhol seria tão intrigante quanto.
Uma lobisomem Ibérica ―espanhola‖, cujos antepassados foram
transformados por um conquistador lupino, Maria era uma beleza com
cabelos castanhos escuros e cílios grossos e longos.
Sendo uma ruiva de pele clara, Julia virara cabeças em seu próprio
país, mas as duas juntas frequentemente roubavam a cena.
Maria ainda estava pensando no lorde que estava no comando do
Castelo Argent.
— Lorde Ian MacNeill está sendo um verdadeiro pé no saco sobre as
particularidades das filmagens: restringindo o uso do castelo e das terras, os
horários, as locações, e quem sabe o que mais quando chegarmos.
— Talvez ele não vá ser tão ruim depois que a filmagem começar. —
entretanto, não acreditava nisso e o olhar azedo no rosto de Maria dizia que
ela não acreditava tampouco. Julia tirou a foto do lorde de sua bolsa. O chefe
de Maria pagou um bom dinheiro a um investigador particular para
conseguir a imagem.
— Exatamente, como é que o cara conseguiu esta foto do lorde, se é
tão difícil ter um vislumbre dele?
— O investigador o seguiu até um festival celta. Ele estava cercado
por seus homens e algumas mulheres, de modo que o detetive tirou uma foto
bem antes que participasse de uma demonstração de combate com a espada.
Quem ganhou?
— O lorde e seus homens. De acordo com o investigador, os
MacNeill tiveram um exercício de verdade contra os Sutherland. A
animosidade existe entre eles durante séculos. A luta pareceu tão real que ele
pensou que os organizadores do show talvez interferissem e parassem a
demonstração.
Em uma palavra, Julia resumiu a aparência do Lorde Ian MacNeill:
Perigoso.
Não eram suas belas feições: o curto cabelo castanho escuro, a cor
rica de seus olhos, os traços rígidos do rosto e seu nariz aristocrático, que o
faziam parecer assim. Nem seus ombros largos, a pose firme ou a boca sem
sorrir tampouco. Era o olhar infalível que parecia tão agudamente astuto,
como se ele pudesse ver através da alma de uma pessoa.
Isso a preocupava.
Na foto, o homem era um pedaço de mau caminho, vestindo um kilt
predominantemente verde e azul, com um esporão preso na frente, e uma
espada com bainha atrás dele. Pela aparência da bainha parcialmente
espreitando por cima do seu ombro, a espada servia como um aviso de que
estava armado e era mortal, muito mais do que apenas em sua aparência. Ele
vestia uma camisa com cinto, pendurada aberta até a cintura, e revelando um
abdômen sexy que uma mulher amaria acariciar. Pelo menos esta mulher
amaria. Tão rústico quanto, seu castelo estava ao fundo, formidável,
imponente e resistente.
Ela podia simplesmente o imaginar empunhando aquela espada letal
contra seu inimigo.
Maria sacudiu a cabeça.
— O lorde é arrogante, intransigente, muito acima de nós e, além
disso, nós somos americanas e estamos trabalhando, ou pelo menos ele vai
pensar que você está trabalhando, com a equipe de filmagem que tanto
despreza. Então, só se lembre disso no caso de você estar tendo ideias
românticas pela sua imagem. Ele é muito perversamente sexy para o próprio
bem... Ou talvez eu devesse dizer: para o seu próprio bem.
Maria provavelmente estava certa. Julia queria ver o lorde de perto e
pessoalmente em prol de escrever seu manuscrito, mas não queria ouvir as
coisas depreciativas que poderia dizer a ela. Isso iria arruinar sua imagem
como o tipo de herói. E se ele olhasse para Julia do jeito que fazia na foto,
temia que fosse ver através dela.
Foi então que elas chegaram ao topo da colina e enfrentaram um mar
de pelo branco encaracolado bloqueando a estrada. Maria suspirou e pisou
no freio. O coração de Julia acelerou e então agarrou o painel. Como uma
cena pastoral de uma pintura das antigas, a multidão de ovelhas foi
caminhando para o outro lado do vale rochoso. Várias ovelhas tosquiadas,
um carneiro de chifres encurvados e um monte de cordeiros cruzaram a
estrada, junto com um pastor com uma bengala nodosa na mão e um cão da
raça collie.
Instantaneamente, Julia pensou no lobo.
Uma vez que o rebanho passou, Maria começou a dirigir mais
lentamente do que antes e limpou a garganta.
Assim que nós deixarmos a nossa bagagem de mão, eu tenho
que ir até a propriedade para uma reunião.
Harold Washburn, o produtor do filme, e a maioria dos funcionários
estavam hospedados numa mansão local. Maria tinha insistido em alugar a
Baird Cottage, citando sua proximidade com o castelo. Na verdade, era para
esconder que elas eram loup garou e que Julia não estava realmente
trabalhando para Maria.
— Neste ritmo, não vou chegar a tempo. Eu não vi uma placa há
algum tempo e... Pensei que nós já estaríamos lá a esta hora. — continuou
Maria.
Julia se esforçou para ver ao longe, em busca de mais uma placa, mas
o nevoeiro, que tinha se dissipado em alguns lugares o suficiente para
vislumbrar as árvores, estava novamente muito grosso para se ver qualquer
coisa.
Uma sombra de cinza correu através da estrada. O lobo. Um lobo
cinzento.
Maria suspirou e pisou no freio. A boca de Julia caiu aberta, mas o
grito morreu em sua garganta enquanto faróis eram refletidos em seu espelho
lateral. Os faróis vinham em cima delas. Era tarde demais.
Borracha e freios guincharam atrás delas. Com o coração acelerado,
Julia se preparou para o acidente, o lobo esquecido.
Bang! O carro de aluguel voou para fora da estrada como um mini
avião no ar. Em seguida, ele aterrissou com força, desmantelando-se pela
inclinação. Saltando. Sacudindo. Dentes rangendo. Uma nuvem branca
encheu a visão de Julia e ela engasgou.
Um tiro de espingarda! Um sobressalto horrível. Outro estrondo!
Antes que Julia pudesse processar o que tinha acontecido, o air bag
branco esvaziou e uma parede sinuosa de pedras apareceu diante delas
apenas um par de metros de distância no nevoeiro.
— Pise nos freios! — Julia gritou.

Assim que ouviu as explosões à frente, Ian MacNeill desacelerou o


carro e observou a estrada e as proteções da pista, à procura de sinais de uma
colisão. Algum pobre coitado devia estar dirigindo tão lentamente na
neblina, enquanto outro devia estar dirigindo muito rápido, daí o ruído
horrendo ao longe.
Seu irmão mais novo, Duncan ―por serem quadrigêmeos significava
uma diferença apenas de minutos‖, olhou para fora da janela do passageiro.
— Deve ser um acidente de carro. — Duncan disse seu tom
preocupado.
Aye ―Sim‖. — Ian procurou por luzes que pudessem indicar
veículos à frente. A audição de lobo deles era tão avançada que os sons
feitos poderiam ter sido de alguns quilômetros distantes.
— Eu não vejo nada, Ian. Nadinha. Nenhum rastro de pneus, nenhum
vidro quebrado. Mas os sons explosivos foram altos o suficiente para que os
veículos tenham tido danos.
Com um arrepio atravessando sua espinha, Ian concordou.
Duncan se inclinou contra a porta do passageiro e, em seguida, fez
um gesto em direção ao declive. — Luzes traseiras no nevoeiro, lá em baixo.
— E pedaços de metal vermelho de um veículo aqui. — Ian disse
quando seus faróis iluminaram pedaços de peças e parte de um refletor de
luz traseira.
Ele parou no acostamento de terra, desligou o motor e saiu do
veículo. Com Duncan ao seu lado, se apressou a descer a ladeira em direção
ao nevoeiro de cor de cereja.
— Olá, alguém ferido? — Ian gritou sua voz sombria viajando sobre
o vale. Ele respirou fundo e jurou que cheirou um indício do odor acre de
tiros.
Ninguém respondeu a sua chamada e outro traço de mal-estar correu
sob o seu sangue. Em seguida ele ouviu um gemido. O gemido de uma
mulher.
— Inferno, provavelmente uma mulher dirigia muito lentamente e foi
atingida. — Duncan rosnou, acelerando sua corrida.
Duncan devia saber, já que ele bateu no para-choque traseiro do carro
de uma mulher, simplesmente no mês anterior, pela mesma razão. Ian
esperava terrivelmente que ninguém tivesse ferimentos graves.
O odor de pneus em chamas, de metal bruto arranhado e de gás
refrigerador vazando do sistema de ar condicionado do carro derivou até
eles. E depois a fumaça.
— Fumaça. — Duncan disse, correndo para o carro.
— Olá! — Ian gritou novamente enquanto eles se esforçavam para
alcançar o veículo amassado contra a mureta de pedras, o parachoque
dianteiro parecendo um acordeão, o metal vermelho amassado contra o para-
brisa. O vidro em toda parte brilhava como cacos de diamante no chão. O
para-brisa estava quebrado e a janela do lado do motorista, uma teia de
aranha de rachaduras. Camadas brancas de tecido cobriam o painel
despedaçado, air bags murchos.
Os dois pneus traseiros tinham estourado, e o para-choque traseiro
estava esmagado e o metal arrancado de suas amarras, uma ponta agora
tocando o chão. Mas Ian não viu indícios de tinta do outro veículo neste
daqui. No entanto, depois de observar o parachoque traseiro, ele presumiu
que alguém tinha que ter batido no carro com força.
Ian foi até a porta do motorista em primeiro lugar, mas a estrutura
estava tão terrivelmente curvada que a porta não se moveu. Ele olhou pela
janela enquanto Duncan se aproximava. Ninguém no interior do veículo. Ele
olhou em volta, levantou o nariz, e cheirou...
Gasolina, quente e queimando.
Duncan! — Ian agarrou o braço de seu irmão e puxou-o para
longe do carro.
Boom! A forte explosão os jogou a vários metros de distância, o calor
chamuscando suas sobrancelhas e cortando a umidade do ar frio. Com seus
ouvidos ressoando, a escuta amortecida e os olhos e narinas cheias de
fumaça, Ian deitou imóvel, atordoado. Em seguida, ele se moveu para a
posição sentada e olhou para o irmão.
Duncan estava sentado por perto, balançando a cabeça como se
limpando o nevoeiro dela.
— Inferno. O motorista teve melhor senso do que nós. — Suas
roupas pretas estavam agora cobertas de fuligem cinza e manchas de lama
marrom.
Ian concordou. — O carro tinha um par de pequenas malas, alguém
de férias.
— Uma moça ao que parece. — Duncan acrescentou.
— Aye, uma das malas era rosa e eu vislumbrei uma bolsa posta
perto da caixa de marcha.
Ambos assistiram enquanto chamas laranja consumiam o carro. Sem
se preocuparem com outra coisa pegando fogo, tão úmido como estava. As
chuvas naquela manhã tinham transformado tudo em lama, a qual sua calça
clara da cor cáqui estava agora absorvendo. Ian se levantou e limpou a lama
de suas mãos no tecido.
— Você está bem?
— Aye. Não consigo ouvir nada que valha a pena. A sua voz soa a
um milhão de quilômetros de distância. E a minha cabeça está latejando.
— O mesmo comigo. Vem. Vamos encontrar a mulher. Ela
provavelmente está em melhor forma do que nós. — Ian lançou a Duncan
um sorriso perverso. — Você está horrível, irmão.
Duncan bufou.
— Você não parece muito melhor.
Ian lhe deu um tapa e os dois fizeram um grande círculo ao redor do
carro, à procura de qualquer indício de que o motorista teria partido. Marcas
de salto. Não um, mas dois conjuntos de impressões.
— Duas. — Ian disse, apontando para os rastros. — são duas
mulheres.
— Você sente o cheiro de algo? — Duncan perguntou.
— Se você quer dizer: borracha, gasolina, fumaça, metal quente e
lama ardente, sim. Teve alguma coisa que você sentiu? O perfume de uma
mulher, talvez?
Duncan inclinou a cabeça, respirou fundo e depois tossiu.
— Vamos nos mover para longe do fogo. Eu não posso cheirar
qualquer coisa, exceto fumaça. Mas eu pensei... — ele balançou a cabeça.
— O quê?
— Nada.
Ian se afastou do carro em chamas, mas algo na voz de Duncan o
impeliu a dar outro longo olhar para o irmão. Ele estava franzindo a testa,
concentrando-se, sentindo o ar, tentando localizar as mulheres.
— Sangue? — Ian perguntou, pensando que talvez Duncan tivesse
sentido um ferimento e estivesse preocupado com isso. A fumaça e a
gasolina em combustão estavam causando estragos ao seu próprio sentido de
olfato agora.
— Sim, bem, isso e... — Duncan olhou para ele com uma expressão
estranha.
— O cheiro fraco de lobo.
CAPÍTULO 2
— Eu ainda acho que deveríamos ter ficado no carro. — Julia
resmungou baixinho, mancando em seus calcanhares, o tornozelo pulsando.
Ela se segurava em Maria por apoio enquanto se apressavam para longe dos
destroços o mais rápido possível.
O som de uma explosão às costas delas fez Julia saltar. Mas elas
estavam longe de lá agora. E não ouviram mais gritos, o que preocupou Julia
conforme seu coração trovejava espasmodicamente. E se o homem que tinha
ido atrás das duas tivesse se ferido?
O doce cheiro terroso de chuva precedeu o início de um aguaceiro.
Em seguida, as gotas caíram sobre elas a sério, as plantas e terra oferecendo
um cheiro de limpeza.
Elas ficariam encharcadas antes de chegarem a qualquer lugar, apesar
que não estivessem diminuindo o ritmo, apesar de seus ferimentos leves.
Desejou que não tivesse tirado o casaco para evitar que ficasse enrugado
pelo cinto de segurança. O terninho, posto no banco de trás, não tinha estado
em sua mente, não quando descobriram que a porta de Maria estava
emperrada e Julia teve que ajudá-la por cima do console. Agora, a blusa de
seda azul-turquesa que vestia estava colada ao peito, revelando tudo, tinha
certeza. Suas calças de linho estavam da mesma forma, moldando as pernas,
sentindo-as frias e úmidas como uma segunda pele alienígena.
— Nós deveríamos ter ficado perto do carro, pelo menos. — Julia
reclamou, enxugando o fluxo constante de gotas de água escorrendo pelo
rosto. — Isso é o que se deve fazer quando se precisa de ajuda. — Ela
cercou seu aperto no braço de Maria. — Com o carro em chamas, alguém
certamente detectaria isto, eventualmente.
Maria a silenciou novamente.
Julia deu uma parada.
— Tudo bem. — Julia sussurrou. — Por que você acha que quem nos
acertou fez isso de propósito?
— Nós ficamos em melhor situação ao sair para longe, antes do carro
explodir. — Maria respirou fundo e soltou o ar lentamente.
— Mas essa não é a única razão. Eu recebi uma ameaça de morte
antes de sairmos de Los Angeles.
Sem entender, Julia olhou para ela.
— O quê?
Maria começou a andar novamente, puxando-a junto, os sapatos
delas esmagando e sufocando na lama.
— Um homem com um característico sotaque escocês ligou para o
telefone da minha casa, com raiva sobre nós estarmos usando o castelo de
Ian MacNeill para o filme. Ele disse que me arrependeria. Eu não acreditei
muito... Então, isso aconteceu. Mas foi mais do que isso.
Quando Maria não disse mais nada, Julia disse:
— Mais do que isso?
Maria lhe deu um olhar severo. — Ele disse que você não sabia no
que estava se metendo.
— Eu?
— Ele sabia que você tinha descoberto o castelo e passado a
informação para mim. Mas era quase como se a conhecesse. Pessoalmente. E
não quisesse que você tivesse qualquer coisa a ver com Lorde MacNeill. Ele
soou como um ex-amante.
— Eu nunca tive um namorado com sotaque escocês. Eu não
conheço ninguém assim.
— Disse que conhecia sua família. Que se você não tivesse dado o
fora no consultor de investimentos, poderia que ter feito algo sobre isso. Vê
o que eu quero dizer? É como se fosse pessoal para ele.
Julia vasculhou seu cérebro, tentando chegar a alguém assim, mas
não conseguia pensar em ninguém. A parte sobre ele saber a respeito de
Trevor, de fato estava relacionada a ela. Não que seu envolvimento fosse
secreto. Mas como é que alguém na Escócia teria sabido disso? Quanto à sua
família, nem sequer atendiam pelo mesmo sobrenome dela. Era Julia
Wildthorn, autora de romances, pseudônimo. Nome real: Julia MacPherson.
Mas ninguém sabia disso. Nem mesmo Maria.
— Provavelmente é só um cara à toa que sai distribuindo ameaças.
Maria lhe lançou um olhar incrédulo. — Você não pode negar que
soa pessoal.
Julia pensou sobre seu avô e seu pai insistindo que ela encorajasse
Maria a considerar o castelo de Ian para a produção cinematográfica. E se
existia animosidade entre os antepassados de sua família e os antepassados
dessa pessoa? E agora Maria foi pega no meio disto.
— Ele disse algo a respeito de possuir um castelo diferente? Talvez
quisesse o negócio ao invés e MacNeill é sua competição mais feroz.
— Não.
Julia fez uma careta enquanto outra pontada de dor percorria o
tornozelo. Ela compensou ao inclinar mais sobre o outro pé e no braço de
Maria.
— O que a polícia de Los Angeles disse?
— Nada. Sem um identificador de nome ou número, uma gravação
da chamada telefônica, mais ameaças, ou qualquer outra coisa para seguir
adiante, eles disseram que não podiam fazer nada sobre isso.
Julia puxou Maria para uma parada novamente quando ouviu passos
distantes.
— Seja lá quem for que está nos seguindo está se aproximando.
— Eu sei. É por isso que estou tentando acelerar e encontrar uma
cidade, pessoas ou algo assim. — Maria começou a puxar Julia junto
novamente.
— Você acha que é o cara que bateu na gente?
— Talvez não, mas e se for? E com a preocupação de que o carro ia
explodir a qualquer momento, com a fumaça saindo do motor e o cheiro de
gasolina vazando e você tentando me ajudar a sair da porta do passageiro
com pressa, porque a minha porta estava emperrada, nós duas perdemos tudo
no carro, incluindo nossos celulares. Nós não temos nenhuma maneira de
pedir ajuda.
Julia deu batidinhas nos bolsos da sua calça encharcada e descobriu
que tinha quatro dólares molengas, um punhado de moedinhas, um
prendedor para amarrar o cabelo para trás e... Ela tocou no bolso de sua
camisa, onde a imagem de Ian MacNeill estava posta perto de seu coração e
a única coisa que ainda estava quente. Tinha puxado a foto para fora de sua
bolsa para dar uma olhada furtiva e, por alguma razão, enfiou no bolso da
sua camisa, em vez de colocar de volta.
Na sua fecunda imaginação de escritora, imaginou um vínculo entre
eles e que, através de algum tipo de transferência de calor corporal, o lorde
saberia de seus problemas e viria resgatá-las. Ela era irremediavelmente
romântica, o que não a tinha levado a qualquer lugar com os homens, mas
não desistia.
Olhou por cima do ombro, mas não conseguiu ver nada além da
névoa e árvores.
— Nós poderíamos andar por quilômetros e nunca encontrar alguém.
Devemos sentar e ficar quietas. Eles vão passar por nós.
— Não. Por um lado, está ficando escuro. E por outro, eu tenho que
chegar à reunião de Harold. E, finalmente... — Maria sussurrou de volta. —
Seja lá quem for que está lá fora, vem acompanhando-nos muito bem o
tempo todo. Desde que o Escocês gritou perto do carro, chamando-nos.
— Era a mesma voz do homem que falou com você no telefone?
— Eu não posso dizer. O telefone crepitava e estalava quando ele me
ligou em Los Angeles, o sinal estava péssimo. A voz deste cara era alta e
clara.
E sombria, preocupada e sexy. — Julia pensou. Nem um pouco
parecida como alguém que estava por aí para pegá-las. O lobo mais uma vez
veio à tona em seus pensamentos.
— O lobo tem que ser um da nossa espécie.
Maria perguntou em voz baixa:
— E se ele estava com o cara que nos atingiu? E se trabalharam em
conluio?
Maria e suas teorias da conspiração.
— Altamente improvável. — Julia disse, em uma tentativa de
tranquilizá-la. Mas isso não impediu a sua própria preocupação.
Ela começou a olhar por quaisquer sinais de um lobo na área,
rondando no meio do nevoeiro e da chuva.
A repentina chuva torrencial desacelerou para uma garoa exatamente
quando um lampejo de luz ao longe chamou a atenção de
Julia.
— Lá. — ela sussurrou, suas esperanças aumentando, e as duas
mudaram de direção. — Uma construção.
Um caloroso canto masculino chegou até elas da direção da luz
suave.
— Devemos parecer adoráveis. — Maria murmurou, olhando para
baixo. As roupas delas estavam encharcadas, mas pelo menos Maria usava
sua jaqueta e, embora estivesse molhada, o tecido não grudava a ela do jeito
que o de Julia fazia.
— Estrada. — disse Julia. — logo à frente.
O som ruidoso dos homens cantando ficou mais alto.
— Um bar, talvez. — Maria disse animada, com a voz ainda abafada
enquanto arrastava Julia por toda a estrada deserta, a música as guiando. —
Nós estaremos seguras lá e podemos pedir emprestado um telefone e ligar
para Harold.
Acolhedoras luminárias de bronze nas varandas brilhavam através da
névoa, iluminando a frente do Scott’s Pub. O novo e o velho se misturando,
antigas paredes de pedra cercadas por portas de vidro duplo, meio iluminado
pelo caloroso banho da luz interior. Acima do bar, seis janelas escuras
estavam viradas para o estacionamento e uma placa dizia: Alugam-se
quartos. Um edifício de esquina, rodeado por uma roseira, mas parecia
fantasmagoricamente vazio. Um sinal esculpido na pedra dizia: Pousada
Highland.
Atrás do prédio, árvores e colinas pairavam alto, eclipsando o lugar.
Do lado de fora, três carros, uma picape e um furgão estavam estacionados e,
a menos que milhares de pessoas tivessem montado nos cinco veículos, Julia
presumiu que o licor tinha afrouxado as línguas dos cantores para um
generoso rugido. Na sua romântica imaginação de escritora, visualizou o
lugar cheio de musculosos guerreiros highlanders vestidos com kilts, que
iriam salvá-las do perigo se aqueles a seguindo pretendessem prejudicá-las.
Maria agarrou a porta e a abriu, em seguida, puxou Julia para dentro
e fechou-a. O aroma de suculentos hambúrgueres grelhados fez o estômago
de Julia roncar.
Ela precisava de comida e água. E uma toalha, um banho e roupas
limpas. O lugar parecia como a salvação delas.
Para evitarem deixar pegadas de lama, tiraram seus saltos
enlameados e os deixaram para fora, no chão de granito contra a parede da
porta de entrada. Em seguida, entraram com os pés revestidos de meias
calças numa sala mais mal iluminada, com um bar com painéis, várias
mesas, um alvo de dardos em uma parede e a pintura de veados em outra. O
canto continuava e o sotaque dos homens era tão acentuado que Julia não
entendia uma palavra.
Um homem vestido com uma camisa polo preta e calça cinzachumbo
servia bebidas por detrás do bar e dois outros vestidos da mesma maneira
cantavam junto com aqueles que se sentavam nas mesas. Julia estava
desapontada por não ver quaisquer guerreiros de kilt no Scott’s Pub. Os seis
homens estavam vestindo calças e camisas, do tipo comum, nada digno de
nota para seu manuscrito. Mas eles pareciam muito saudáveis, sorrindo e
cantando e balançando suas canecas de cerveja.
Até que uma linda loira, pequena e com seus trinta e poucos anos,
vestindo jeans e uma regata e servindo outra bandeja de bebidas numa das
mesas, virou-se para olhar para Maria e Julia. A boca sorridente da garçonete
instantaneamente caiu aberta. Ela quase derramou a cerveja de um homem
em seu colo e ele rapidamente agarrou a mão dela para firmar o copo.
— Sarah, moça... — mas ele e os outros homens pararam de cantar,
um por um, e se viraram para ver o que a tinha assustado tanto.

— As mulheres provavelmente entraram no Scott’s Pub, já que o


lugar de repente ficou tão silencioso. — Ian disse ao seu irmão quando
chegaram à estrada, a água da chuva escorrendo pelos seus rostos, suas
roupas encharcadas.
Dividido entre alcançar as mulheres antes delas acharem o pub e
esperar atrás para permitir-lhes tempo para localizá-lo, Ian tinha imaginado
que as mulheres se sentiriam mais seguras com a companhia de outros. Ele
ainda poderia determinar se elas estavam bem sem parecer ser uma ameaça.
Realmente não tinha nenhuma necessidade de fazer outra coisa, além disso.
— Você quer que eu caminhe de volta pela estrada e pegue o nosso
carro enquanto você checa as mulheres nesse ínterim ―intervalo‖? —
Duncan perguntou.
— Aye. Traga o carro e nós beberemos um uísque. — Ian correu
através da estrada enquanto Duncan voltava para onde estacionaram.
Eles ainda precisavam estar em Argent antes que o produtor chegasse, mas
tinham tempo de sobra.
Ian abriu a porta, espreitou para dentro e viu as duas mulheres
encharcadas sentadas em uma mesa. O objeto de busca dele.
Elas eram ainda mais atraentes do que poderia ter imaginado.
Uma tinha a pele mais morena, cabelos e olhos escuros e parecia
espanhola. A outra era uma ruiva natural com profundos cachos vermelho-
alaranjados que descansavam em seus ombros, sua pele era de marfim
translúcido e felinos olhos verdes que a faziam parecer escocesa. A mulher
espanhola estava vestida com um terno preto, jaqueta e calça, molhados e
salpicados de lama. Ela era cheia de curvas, mas o tecido não revelava todos
os seus atributos como o da ruiva fazia.
Seu olhar se prendeu na ruiva como se ela pudesse desaparecer num
piscar de olhos. Uma blusa sem manga de seda azul-turquesa se agarrava aos
seios bem-formados, seus mamilos rígidos pressionados contra o tecido, os
braços cobertos de arrepios. Ele demorou muito mais tempo do que seria
educado, então viu que suas calças azuis combinando estavam tão molhadas
e tão grudadas quanto, mostrando uma boa dose de perna tonificada. Ver o
corpo quase nu fez o dele se apertar em resposta.
Irritado consigo mesmo por ter uma reação tão intensa, fez uma
pausa para considerar o que fazer a seguir.
Ambas as mulheres estavam tomando água e parecendo
desanimadas. A ruiva o viu, seus olhos arregalaram. Como se induzida, a
outra olhou também, os olhos subitamente cautelosos.
Ele se perguntou se eram loups garous. O ar estava parado e, a menos que
chegasse muito perto, elas não notariam o cheiro dele por causa do aroma de
hambúrgueres grelhados nas proximidades. Na verdade, não podia nem
sentir o aroma delas aqui.
— Lorde MacNeill. — Vários homens disseram, levantando as
canecas de cerveja ou uísque em saudação.
Ele reconheceu cada um pelo nome, todos moradores da área,
nenhum deles era loup garou.
Ele queria perguntar as mulheres quem eram, de onde vinham, o que
estavam fazendo aqui e o que tinha acontecido na estrada, mas suas
expressões preocupadas lhes deram a impressão de que elas o temiam.
Receava que iriam fugir se chegasse mais perto.
O olhar da ruiva o esquadrinhou de cima a baixo e ele percebeu em
que confusão estava: seu maxilar ostentando um resto de barba, a calça
enlameada. E sem um casaco de chuva, sua úmida camisa de algodão branco
e calça cáqui estavam coladas nele, do mesmo jeito que as roupas da ruiva se
agarravam nela. Provavelmente parecia um pouquinho ameaçador.
Os homens olharam para as mulheres e de volta para Ian. Mais do
que um levantou uma sobrancelha, mas ninguém falou. Pensavam que ele e
as mulheres haviam sido pegos no mesmo acidente? Muito provável é o que
parecia.
Puxou uma cadeira numa mesa próxima, sentou-se e pediu um
whisky, tanto para Duncan, como para si mesmo.
— O que aconteceu? — perguntou à garçonete quando voltou para a
sua mesa com um par de bebidas, sutilmente apontando para as duas
mulheres com a cabeça enquanto elas se inclinavam uma para outra e
cochichavam.
Sarah parecia que queria perguntar o mesmo para ele.
— Americanas, sofreram um acidente no nevoeiro. Perderam suas
bagagens de mão, dinheiro, passaportes, celulares, laptops, tudo o que estava
com elas. — respondeu em voz baixa. — Só tinham alguns dólares norte-
americanos para conseguir algo para beber ou comer, mas não pudemos
aceitar o dinheiro. Eu lhes dei um pouco de água. Scott disse para lhes dar
uma refeição, mas recusaram, dizendo que não estavam com fome. O que eu
não acredito. O estômago da ruiva estava resmungando.
— Então, a mulher de cabelos escuros usou meu celular e ligou para
alguém chamado Howard, disse que precisavam apresentar um relatório de
acidente e que ela não queria perder a primeira reunião no Castelo Argent.
— Sara ergueu as sobrancelhas, como se dizendo que agora era a vez de Ian
enchê-la com o resto dos detalhes.
Mas os pensamentos de Ian tinham focado na reunião agendada para
hoje mais tarde com o produtor de cinema.
Ambas as mulheres estavam bebericando suas águas, olhando uma
para a outra, em silêncio. Elas estavam com a equipe de produção do filme?
Com sua boca endurecendo, ele disse:
— E?
— Eu tenho a nítida impressão que Howard não vem buscá-las. —
Sarah acenou com a mão em um par das mesas cheias de homens. — Todo
mundo se ofereceu para conduzir as mulheres até a casa de campo delas, mas
MacNamara os advertiu que as esposas deles não iriam gostar.
Ian resmungou. Isso com certeza.
— Você sabe onde elas estão indo?
Sarah sorriu. Era americana e viajou para cá há três anos com duas
amigas nas férias de suas vidas, como elas tinham chamado. Sarah havia se
apaixonado por Scott, casou-se com ele e nunca voltou. Ela colocou um
cacho de ouro atrás da orelha e levantou as sobrancelhas.
— Elas ficarão no Baird Cottage. Queriam saber o quão longe é
daqui. — Então, voltou sua atenção para as mulheres e sorriu.
Elas deram sorrisos tensos de volta, como se estivessem tentando
fazer uma encenação, mas ainda pareciam apreensivas.
Ian deu um curto trago no uísque e encarou a ruiva. Ela o desafiou de
volta, com um olhar intenso. Sem o seu consentimento, sua boca se curvou
em um pequeno sorriso. Um rubor se estendeu por todo o rosto da ruiva até o
fim do pescoço nu enquanto desviava os olhos. Seu olhar desceu para os
seios de novo. Droga, se tivesse uma camisa seca, teria oferecido a ela. Ele
observou que os outros homens estavam olhando na direção dela também.
Isso realmente o irritou.
A ruiva olhou para Ian novamente. Algo sobre os cílios abaixados, o
jeito que seu olhar buscava o dele, o fez consciente de seu interesse, como se
estivesse reconsiderando os pensamentos iniciais sobre ele. Seu sorriso se
alargou. Mas ela afastou o olhar quase com desdém. Nunca tinha se
interessado por uma mulher que o bajulou. Algo sobre uma moça que o
desafiava, o atraía muito mais.
Neste caso, não estava prestes a cair nesse atoleiro. Não com o tanto
que odiava a ideia de ter a produção de filmes em qualquer lugar em suas
terras. Em sua opinião, qualquer um participando do empreendimento era o
inimigo. Mas Ian e sua matilha precisavam desesperadamente do dinheiro,
eles estavam em um caos financeiro.
A mulher de cabelos escuros olhou por cima do ombro para Ian,
ergueu as sobrancelhas e, em seguida, falou baixinho para a ruiva. — Ele é
aquele que esteve nos seguido, Julia.
A voz de Julia também foi abafada. — Mas ele estava tentando nos
ajudar, ou estava atrás de nós?
Sarah pigarreou para chamar a atenção de Ian e cruzou os braços.
— Então, você vai levá-las até Baird Cottage ou MacNamara deveria
fazer isso? Ele já se ofereceu.
MacNamara tinha terminado sua cerveja e estava observando Ian
para ver o que tinha a dizer sobre isso. O rosto do outro homem estava
enrugado com a idade; ele pescava quando não estava aqui bebendo. Mas já
tinha tido mais do que seu quinhão ―cota‖ de cerveja? Ian não queria que
ele conduzisse as mulheres com este tempo, se não precisasse. No entanto,
leva-las em seu próprio carro era um último recurso. Ian não queria o pessoal
da Sunset Productions pensando que era descontraído, a este ponto.
Ian fez um gesto para MacNamara se juntar a ele. O homem mais
velho levantou-se a sua altura de 1,93 metros, sorriu para as mulheres
americanas e andou pesadamente até a mesa de Ian. Seu andar era firme.
Ian balançou a cabeça na direção de Julia e Maria.
— Ponha-as a salvo.
MacNamara inclinou a cabeça um pouco e, em seguida, retornou
para a mesa das mulheres. — Vocês querem que eu as leve para o Baird
Cottage?
— Sim. — Maria disse, quase pulando de sua cadeira, claramente
mais do que pronta.
Julia se levantou muito mais lentamente e, pelo jeito que agarrou o
braço de Maria e, em seguida, mancou em direção à porta, Ian percebeu que
havia machucado o tornozelo. Seu olhar seguiu para baixo do corpo dela,
cheio de curvas em todos os lugares, a blusa de seda enfiada nas calças
grudentas, exibindo uma bela bunda e meia-calça cor da pele, toda salpicada
de lama, mas sem sapatos. Ele olhou para a porta de entrada e, em seguida,
percebeu os dois pares de sapatos revestidos de lama.
Maria se recusou a olhar para Ian, mas Julia lhe deu um último olhar
furioso quando passou por ele. Inclinou a cabeça em saudação. Ela estreitou
os olhos e depois desviou o olhar. Julia teve notícias sobre suas relações com
a equipe de filmagem? Eles não estavam nas boas graças dele. Não com
todas as concessões que tinham querido apesar do Lorde dizer não
repetidamente, quando uma só vez já era mais do que suficiente para
qualquer um que lidava com ele numa base diária.
Ian considerou a altura de Julia e da outra mulher também. Eram
muito pequenas para serem loups garous cinzentas. Elas sequer eram mesmo
lobas? Ou Duncan tinha cheirado outra pessoa?
Se Julia era uma loup garou, se perguntou se era uma vermelha, tão
pequena do jeito que era. Ela mancou em direção à entrada, o que o
incomodou mais do que gostaria de admitir. Se não estivesse tentando
manter sua indiferença com a equipe de filmagem, ele a teria pego nos
braços e levado para o seu carro. E lhe dado um passeio por seu castelo e
uma calorosa recepção à Escócia, caso Julia estivesse bem inclinada. Isso
presumindo que não fosse uma loba. Interesse numa loup garou gerava toda
uma carga diferente de problemas.
Assim que MacNamara e as mulheres americanas estavam fora, a
conversa entre os homens no bar começou a crescer enquanto eles lançavam
olhares divertidos para Ian.
Sarah balançou a cabeça.
— Não achei que você ia deixá-las partir. — ela soava desapontada e
voltou para o bar.
— Pensei que você ia levar as lindas moças para longe desse bar. —
Scott disse, trazendo uma cesta de batatas fritas.
— Elas são parte da equipe de produção do filme.
Os olhos de Scott se arregalaram. Ele olhou para a porta.
— Se eu soubesse disso, teria encorajado os ianques a fazer negócios
aqui. Acha que talvez a ruiva seja uma atriz famosa? Ela parecia ser
escocesa e poderia desempenhar o papel nesse novo filme.
Poderia ser bom para os negócios.
Ian olhou em direção à porta de entrada. Pior ainda. Uma atriz. Ian
balançou a cabeça, mais para si mesmo do que para a pergunta de Scott. Não
tinha ideia de quem era famoso no mundo do cinema. Ele acabou com a
bebida de Duncan, pagou Scott e, em seguida, levantou-se da cadeira. Assim
que Duncan trouxesse o carro, Ian planejava seguir MacNamara e as
mulheres para se certificar de que elas não tivessem mais acidentes no
caminho para a casa de campo.
Na partida, Ian acenou para os homens, todos levantaram suas
canecas em saudação e, em seguida, começaram a cantar novamente. Sarah
acompanhou Ian até as portas da frente.
— Eu vigiaria o velho MacNamara também. Você nunca sabe
quando ele pode ir pescar algo diferente de salmão ou truta.
Ian sabia que estava brincando. A esposa de MacNamara o havia
deixado há cinco anos e ele estava contente por não ter uma mulher irritante
ao redor. Não, o homem era um solteirão feliz.
MacNamara não era aquele que o preocupava. O odor fraco de
pólvora que cheirou onde o carro das mulheres saiu da estrada ainda se
agarrava aos seus pensamentos e isso era o que o inquietava.
Ian saiu pela porta ao mesmo tempo em que Duncan parou e desligou
o motor. Julia e sua amiga estavam mancando na direção da van de
MacNamara. Antes que Duncan pudesse sair do carro, Ian foi atrás delas,
esquecendo que faziam parte da equipe de filmagem. Ele precisava saber:
eram loups garous? E o que tinha ocorrido na estrada?
— O que aconteceu com o copo de uísque? E quanto às mulheres? —
Duncan perguntou, ficando metade para fora do carro.
— MacNamara as está levando para Baird Cottage. Elas fazem parte
daquela equipe de produção do filme.
— Och. — Esta única palavrinha disse tudo. Duncan sabia que
aquilo acabava com qualquer interesse nas mulheres, loups garous ou não.
Em seguida, suas sobrancelhas franziram profundamente. — Então, onde é
que você vai com tanta pressa e o que diabos aconteceu com o meu copo de
uísque?
Ian não respondeu, mas, ao invés, perseguiu a mulher, sentindo-se
como se estivesse no modo de caça novamente.
Só que desta vez, ele ia ter uma conversa com sua presa.
CAPÍTULO 3
— Elas são lobos, então? — Duncan perguntou a Ian, sua voz
abafada enquanto se apressava para se juntar a seu irmão, conforme se
dirigiam até as duas, Julia mancando pronunciadamente e se agarrando a
Maria enquanto seguiam MacNamara até sua van.
— Eu não sei. — Mas Ian pretendia descobrir.
— O que precisamente nós estamos fazendo agora?
— Nós vamos levá-las até a casa de campo delas.
O caminho que levava ao Castelo Argent ficava a uma curta distância
depois do desvio para Baird Cottage, assim, não sairiam do seu trajeto, mas
a maneira como Duncan fez a pergunta indicava que ele acreditava que Ian
tinha alguma outra ideia em mente.
Um sorriso indescritível curvou os lábios de Duncan.
— A carona de MacNamara não vai ser suficiente.
Ian não precisava da pegada humorística de seu irmão sobre o
assunto. Ele tinha que saber se as mulheres eram loups garous e se uma
delas ou alguém estivera correndo através da área da matilha dele na forma
de lobo. Se o lobo era um de seu próprio povo, o repreenderia. Se fosse outra
pessoa, precisava saber quem.
Mas não podia negar que as ações e olhares da ruiva também tinham
agarrado a sua atenção e não estava pronto para deixá-la ir. Não conseguia
parar de pensar em como seus cachos molhados aparentavam como se
tivesse acabado de tomar um banho completamente vestida; a forma como
os olhos verdes tinham encarado e o devorado vivo; como ela endureceu sua
espinha, mostrando seus peitos tentadoramente empinados ainda mais; e
como os lábios emolduravam uma boca feita para amolecer sob os beijos de
um homem. Tentando esquecer a imagem dos exuberantes lábios rosados
franzidos para ele quando flagrou seu olhar, rangeu os dentes.
Sendo um humano, MacNamara não ouviu a silenciosa aproximação
de Ian e seu irmão, mas a ruiva deve tê-los sentido ou ouvido. Ela olhou por
cima do ombro, os olhos arregalando quando viu Ian e Duncan se
aproximando deles.
— Eu levarei as moças até a casa de campo delas. — Ian disse a
MacNamara. Assim que as palavras saíram de sua boca, pensou que tinha
soado um pouco demasiado insistente.
MacNamara se virou e deu-lhe um sorriso, seu rosto enrugando em
diversão.
— É melhor eu voltar para o bar para terminar o meu negócio. Boa
noite, meu lorde, moças, Duncan.
Ele não esperou pelas objeções das senhoras, caso elas tivessem a
intenção de exprimir alguma. Dando um aceno educado a Ian, correu de
volta para o bar.
Os outros homens dariam uma boa risada espirituosa quando
soubessem que Ian MacNeill havia roubado a pesca do dia de MacNamara.
— Senhoras... — Ian disse, inclinando um pouco a cabeça e
gesticulando para o carro. — Eu as levarei a Baird Cottage, já que está no
meu trajeto para o Castelo Argent. Sou o Lorde MacNeill e este é o meu
irmão mais novo, Duncan.
Ambas as mulheres ficaram paradas, sem dizer uma palavra. Sem
esperar a resposta de nenhuma, Ian andou na direção delas e, sem convite,
balançou a ruiva para cima em seus braços. Ela deu um pequeno grito de
surpresa. A boca da outra mulher se separou em choque.
— Hospitalidade escocesa. — Ian falou irritado consigo mesmo por
não deixa-las aos cuidados capazes de MacNamara, mas indisposto a tolerar
qualquer protesto. Naquele instante, sentiu o aroma de Julia: uma fragrância
floral indescritível que não podia ocultar o que ela realmente era. O perfume
de flores exóticas aumentou o tentador cheiro feminino, atrativamente toda
loba.
Ela era suave, curvilínea e totalmente deliciosa e era muito bom tê-la
contra o seu corpo.
Ian apertou seu poder sobre Julia quase imperceptivelmente, como
um macho faria a uma fêmea, já querendo mantê-la, de uma forma
estritamente lupina, e sem qualquer pensamento de se ela seria o tipo certo
de mulher para ele ou não. Nem sequer sabia se a ruiva era acasalada.
Inferno. Olhou para a outra e respirou fundo, sentindo o ar. Maria era uma
loba também.
Ambas as mulheres devem ter percebido que era um lobo no mesmo
instante, do jeito que respiraram fundo e seus olhos se arregalaram. Ele
sorriu. Sua expressão devia aparecer tão predatória como sentia ser.
Quando Ian se virou e se dirigiu até o carro, Duncan observouo com
uma expressão sombriamente divertida, mas não parecia nem um pouco
surpreso. Esperava que seu irmão não o conhecesse melhor do que ele
mesmo. Não tinha a intenção de fazer isso.
— Senhoras... — Duncan disse, acompanhando-os.
— Sarah, a mulher que estava servindo mesas no Scott’s Pub,
embora seja coproprietária e esposa de Scott, disse que achava que vocês
estavam com a equipe de filmagem. Atrizes? — Ian perguntou.
Duncan deu a elas um segundo olhar, desta vez com uma expressão
de surpresa. Ele não conheceria uma estrela de cinema se visse uma, assim
como Ian.
O comentário dele trouxe um sorriso aos lábios de Maria.
— Dificilmente.
— Fazendo o quê, então?
— Assistente de direção, Maria Baquero. E esta é minha assistente,
Julia...
— Jones. — Julia disse apressadamente.
A forma como Maria olhou para ela e o fato de que Julia tinha
interrompido sua chefe, deixou Ian desconfiado.
— Você está certa disso? — Ele perguntou a Julia enquanto
alcançavam a porta traseira do passageiro.
— Por que não estaria? — Ela perguntou com altivez.
— A senhorita Baquero pareceu surpresa. — Ele estudou Julia, à
espera de uma resposta.
Maria não surgiu em defesa dela. O que o fez suspeitar que o
sobrenome de Julia não era Jones. Ela sequer trabalhava mesmo para Maria?
Com os olhos apertados, Julia imediatamente franziu a sua bela boca
e não disse uma palavra para refutar a suspeita dele.
Duncan ficou ao lado do carro, estudando a logística da situação. E
mais provavelmente também para ver como a cena se desenrolava entre Ian e
Julia.
— Moça? — Ian disse, à espera de uma resposta. Não estava
acostumado a ficar esperando, nem foi muitas vezes enganado, mas quando
ela não respondeu, ele balançou a cabeça. — Você tem alguma
identificação?
— No carro alugado. — Ela disse com um suspiro pesado.
Ele voltou a pensar nas chamas consumindo o carro.
— Conveniente. — Ian depositou Julia no banco de trás e disse a
Maria:
— Você pode ir na frente com Duncan e ver a paisagem. —
Enquanto Ian aproveitava a paisagem no banco traseiro. A mulher de cabeça
de fogo, mais precisamente.
Duncan lhe lançou um sorriso indescritível, sabendo que Ian
raramente, se nunca, sentava-se no banco de trás de um veículo e, em
seguida, abriu a porta do passageiro da frente para Maria. Ela hesitou por um
instante e, em seguida, entrou no carro, ao passo que Duncan fechou a porta
para Maria e seu irmão fechou a de Julia.
— Elas são lobas. — Duncan disse, enquanto eles caminhavam ao
redor da traseira de seu carro, sua voz baixa para que as mulheres não
pudessem ouvi-los.
— E elas estão com a equipe de filmagem. — Ian lembrou. Ele abriu
a porta do carro, depois sentou ao lado de Julia e a fechou.
No mesmo instante, descobriu que isso foi um erro. O banco traseiro
era muito pequeno e estava muito perto do objeto de sua fascinação. Ele
sentiu outra pontada de desejo assim que sentiu o calor e a suavidade do
corpo de Julia quando sua perna tocou a dela no pequeno carro compacto,
sentiu sua fragrância feminina e ouviu sua respiração leve antes de o motor
rugir para a vida e eles estarem a caminho.
Com a intenção de anular o interesse que tinha por ela, tentou uma
distração e perguntou:
— De onde vocês são?
Maria respondeu:
— Los Angeles.
Duncan sorriu no espelho retrovisor enquanto olhava para Ian.
— Você já esteve envolvida na produção de muitos filmes? — mais
uma vez, Ian perguntou isso a Julia.
E mais uma vez, Maria respondeu. Mas Ian não ouviu atentamente a
sua resposta enquanto listava as locações e títulos de filmes e muito mais.
Ela parecia ser genuína quando se tratava de seu trabalho e o papel neste
atual empreendimento cinematográfico.
Ele perguntou a Julia:
— Quão ruim está o seu tornozelo torcido?
— Está bem. — Julia disse rapidamente, como se quisesse tirar o
foco de si mesma.
Ele não acreditou. Ela não parecia ser o tipo de mulher que fingia
uma lesão para chamar a atenção. No entanto, também sabia que entorses
não demoravam muito para sarar, não ao ser um loup garou. No devido
tempo, estaria bem.
— Você possui quaisquer ferimentos, Srta. Baquero? — Ian
perguntou.
— Dor nas costas, pulso torcido. Nada que não passe em breve.
— Vocês têm algo para a dor? — Ele perguntou por que elas tinham
dito que haviam perdido tudo no carro.
— Nós vamos ficar bem. — em seguida, Maria perguntou sobre o
castelo, quando foi construído e quem tinha vivido lá e Duncan lhe deu
alguns detalhes pontuados.
Ian nem escutou, tão absorvido como estava em tudo sobre Julia, a
sensação de sua coxa pressionada contra a dele, todo o calor, suavidade e o
cheiro dela: doce, feminino e tentadoramente provocante.
— Você vem para a reunião desta noite? — ele perguntou a
Julia.
O olhar de Julia cravou nele, os olhos semifechados ampliando, seus
batimentos cardíacos se acelerando.
— A reunião que Maria disse que iria com alguns dos outros
membros da filmagem. — ele explicou melhor quando os lábios deliciosos
dela se separaram, mas ela não disse nada.
— Oh, sim, é claro. — ela respondeu tardiamente.
Talvez ela estivesse tão cansada que não registrasse o que ele estava
dizendo. Ou talvez seu tornozelo estivesse doendo demais para pensar
direito. Então, perguntou a próxima coisa em sua mente. E isso recebeu uma
reação rápida.
— Você está acasalada?
O queixo dela caiu. A conversa no banco da frente morreu
instantaneamente.
Os batimentos cardíacos aceleraram e ele percebeu que ela poderia
estar recebendo a impressão errada de sua consulta.
— É uma pergunta simples, moça. — mais uma vez, parecia mais
rude do que pretendia. — Eu me perguntei se alguma de vocês era acasalada
e, em caso afirmativo, por que seus companheiros não estariam aqui com
vocês?
Os lábios dela se apertaram um pouco e ela cruzou os braços em sua
cintura.
— Não, nenhuma de nós é acasalada. E, se fôssemos, ainda faríamos
nosso trabalho. Nossos companheiros não teriam que nos acompanhar.
— Se você fosse minha, eu não iria querer você perambulando em
torno de um país estrangeiro por sua própria conta. Muitos lobos por perto.
— por fim, ele lhe lançou um indício de sorriso.
Na maneira de pensar dele, a lobinha estava disponível.

Ian MacNeill era um lobo. Um lobo disfarçado de um lorde escocês.


Nenhum dos gráficos de nobreza tinha dito nada sobre lordes intitulados
terem raízes de lobisomem, portanto, a menos que se encontrasse um lorde
loup garou em pessoa, seria impossível saber se ele ou ela era um lobo.
Julia sabia que teria um sermão terrível de Maria sobre o nome
Jones. O que poderia ter feito? Não queria que Ian soubesse que era Julia
Wildthorn, escritora de romances. E não apenas uma escritora de romances,
mas uma que escrevia sobre lobisomens. Apesar de que suas histórias
fossem uma mistura de folclore lobisomem e realidade e não estritamente
com base na sua própria espécie. Ela estaria em apuros se fizesse isso. Ainda
assim, conseguiu algumas críticas de loups garous que não gostavam que
escrevesse romances sobre eles, ponto. A maioria dos lobisomens que liam
suas histórias amava, apesar de tudo. Julia imaginava que Lorde Ian
MacNeill não seria um desses.
Nunca, nem em um milhão de anos, tinha considerado que
conheceria o lorde pessoalmente ou que seria um de sua espécie, muito
menos que teria que dar o nome dela a ele ou a qualquer outra pessoa em seu
clã.
Se Ian conhecesse seu nome artístico, poderia perceber que não
estava ali para trabalhar no filme, mas para escrever sua mais recente
história sobre o Castelo Argent, Ian e seu povo. Não que não fosse disfarçar
a localização e os nomes das pessoas, mas, essencialmente, a história seria
sobre este local e o povo. Estava certa de que ele não iria querer incentivar
isso.
O que mais a chocou foi Ian perguntando se era acasalada.
Acrescentar o fato de que ele pensou sobre ambas as mulheres e só porque
achava que elas não deveriam estar aqui sem seus companheiros, era uma
enganação total. O pequeno sorriso nos lábios de seu irmão confirmou que
estava certa em sua suposição.
Maria lançou um olhar por cima do seu banco, com uma expressão
de bajule-o ou algo do tipo. Achava que Julia devia ser super agradável com
o gostosão escocês cuja perna estava pressionada indecentemente contra a
dela? Mesmo que tivesse que admitir que o banco traseiro era incrivelmente
pequeno para as longas pernas dele e não tinha outro lugar para esticá-las.
Que Julia devia incentivar algum tipo de intimidade só para estar no seu lado
bom e assim Maria teria um tempo mais fácil durante as filmagens da
produção? Ou talvez fazer reparações a ela já que causou uma situação ao
usar um nome falso e pegar Maria de surpresa?
Julia suspirou, apertou sua perna contra a de Ian um pouco mais e
sorriu. O sorriso era falso, mas o dele não era. Ele parecia mais entretido do
que qualquer coisa. Mesmo assim, seus olhos escureceram um pouco.
E que olhos eram... De um belo rico marrom com manchas douradas
de âmbar; intuitivos, perceptivos e demasiadamente observadores. Com o
aquecedor ligado no carro, a blusa de seda que usava tinha secado, mas o
olhar dele desviou para lá de qualquer maneira e ela se perguntou se ainda
estava tão reveladora quanto quando estava molhada e agarrando-se a seus
seios. Então pensou na foto de Ian em seu bolso e corou.
Agora desejava que tivesse posto a foto no bolso da calça.
Entretanto, com o sentar, provavelmente teria amassado. Mesmo molhada,
podia ficar arruinada. Isso seria uma decepção. Usar a imagem dele como
estimulação visual iria ajudá-la a escrever a sua descrição como seu próximo
herói.
— E quanto a sua matilha? — Ian perguntou a Julia, do nada.
Ela esperou um instante, protelando, aguardando que Maria
respondesse ao informá-lo sobre a matilha dela, grande, com dinâmicas
complexas, exatamente como era uma alcateia de lobos de verdade, de modo
que não precisasse falar sobre a sua. Mas, desta vez, Maria não falou nada.
Com Ian administrando um clã e uma matilha, imaginava que tinha um
grande número de pessoas para supervisionar. Achou que ele pensaria na sua
família como insignificante, indigna de ser chamada de uma matilha.
— É apenas meu pai, meu avô e eu. — Julia disse, passando as mãos
para baixo das pernas molhadas de sua calça em um pequeno gesto nervoso.
Ian franziu o cenho.
Ela soltou a respiração. Por isso que odiava mencionar isso a
qualquer um, bem, da espécie lobo.
— Minha mãe e minha avó paterna morreram quando eu era
pequena. Meu pai e meu avô nunca acasalaram novamente. Os pais de minha
mãe morreram muito mais cedo. Eu não tive irmãos.
— Eu sinto muito em ouvir sobre suas perdas. Perdi o meu pai e avós
há alguns anos. Seu avô é o líder da matilha? Ou ele deixou o cargo?
— Nenhum dos dois. Nós não... — Julia limpou a garganta.
Estranhos não entendiam a dinâmica de sua matilha. Não era realmente uma
alcateia, na verdade, mas uma família. Eles ajudavam uns aos outros, dando
conselhos entre si. Às vezes, o seu pai estava no comando, às vezes seu avô
e às vezes até mesmo Julia, geralmente quando o pai e avô estavam doentes,
Julia estava lá para ajudá-los também. Era a maneira deles. Sem brigas para
ser o líder alfa. Cada um tinha seu próprio trabalho a fazer. Todos eram alfas
obstinados, então, simplesmente viviam como uma família. Embora ela
tivesse um lar próprio.
— Nós somos uma família.
— Família. — Ele coçou o queixo um par de vezes e, em seguida,
recostou-se no assento. —
Não uma matilha. — ele disse as palavras para si mesmo, fazendo-a
saber que tinha chegado a uma conclusão sobre a família dela, mas não iria
dar qualquer pista sobre seus pensamentos.
— Sinto muito que eu esteja tomando tanto espaço no banco de trás.
— Ian comentou, alongando e pressionando ainda mais contra sua perna,
musculoso, duro e quente.
Imaginou que desta vez se esfregou contra ela porque se sentia
apertado, mas o calor ainda fervia entre eles. Julia deveria ter observado o
cenário, reunindo notas para a sua história, mas a perna dele pressionada
contra a sua a distraiu completamente. Presumiu que a razão pela qual não
sentou na frente, onde teria mais espaço, era que estava tão intrigado com ela
quanto estava com ele. Se fosse perfeitamente humana, poderia tê-la levado
para o seu castelo para se divertir um pouco, caso estivesse disposta.
Duncan olhou pelo espelho retrovisor novamente. As bochechas de
Júlia estavam vermelhas com o calor e ela falou a Ian, tentando fingir que
não gostava de seu toque tanto quanto gostava:
— Não está muito mais longe, não é?
Ian ergueu as sobrancelhas de forma quase imperceptível, um
movimento tão pouco notável como o sorriso em seus lábios.
— Não muito longe, mas com o nevoeiro... — As palavras dele
desvaneceram e ela jurou que Duncan tirou o pé do acelerador e diminuiu
um pouco mais.
Os irmãos estavam em conluio, o que a alertou que os laços de uma
matilha eram uma força real a ser reconhecida.
Quando Duncan estacionou na casa de campo aninhada na mata
poucos minutos depois, Julia suspirou de alívio, sentindo uma enorme
necessidade de se afastar do homem que poderia descobrir seus segredos. A
casa era pequena e alegre, com uma chaminé de pedra agarrando-se a uma
parede exterior e uma porta de cor vinho convidando-os a entrar, uma
pequena janela de cada lado da porta, cobertas com cortinas de renda.
Normalmente, completamente independente, Julia tinha a intenção de
sair do carro de Ian por si própria. Ela teve que esconder um sorriso, porém,
quando o pobre homem se esforçou para desdobrar-se do apertado banco
traseiro do carro. Mas, em seguida, Maria ficou na frente da porta de Julia,
bloqueando-a e esperando Ian leva-la para dentro da casa.
Traidora. Julia estava certa que Maria estava incentivando uma
relação entre eles para que fosse mais bonzinho sobre a logística durante as
filmagens. Como se Ian fosse concordar em fazer outra coisa senão o que já
tinha aprovado.
Ela deu a Maria um olhar descontente. Sua amiga lhe lançou um
sorriso de satisfação em retorno.

Ian finalmente conseguiu sair do maldito banco de trás de seu carro,


jurando nunca mais pisar nele novamente, mesmo que uma loba sedutora
sentasse lá.
— Você tem as chaves do lugar? — Ian perguntou a Maria, que
estava bloqueando a porta de Julia.
— Nós não temos nenhuma. — Maria se afastou para que Ian
pudesse chegar até a porta traseira do carro.
— Chad, um homem que faz pequenos serviços para a gente, está
trazendo nossas malas e chaves. Já que estamos atrasadas, ele pode já ter
estado aqui e deixado à porta destrancada para nós.
— Caso contrário, Duncan pode arrumar isso. — Ian disse, abrindo a
porta do carro para Julia.
Os lábios dela estavam novamente comprimidos, gostosos, rosados e
irritados.
— Eu posso andar.
— Aye, moça, mas levaria muito tempo. — ele a pegou em seus
braços e foi lembrado de quão suave, quente e deliciosa era a mulher.
Desejou que a distância do carro até a casa de campo proporcionasse uma
caminhada mais longa. Mesmo assim, encurtou seu normalmente longo
passo.
Assim que estavam lá dentro, Ian levou Julia até o sofá na pequena
sala de estar. O cômodo também estava equipado com duas cadeiras
almofadadas de xadrez verde e azul, uma mesinha de centro de carvalho
velho e uma lareira fria contra uma parede. A mobília era antiga e
reformada, uma coberta em cima do sofá, mas do contrário, o interior da
casa parecia exatamente o mesmo de quando um de seus primos tinha vivido
lá há 70 anos.
Antes que alguém pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, em parte
porque todos pareciam esperar ele dizer algo, que era a forma como preferia,
de qualquer forma, ele disse:
— Duncan, leve Maria ao mercado. Elas não têm dinheiro, alimentos
ou transporte. Pode pegar o que precisar.
— Aye. — Duncan disse.
Maria deu um sorrisinho para Julia.
Ian teve a impressão de que Maria pensou que elas poderiam ter
privilégios especiais se sua amiga jogasse o jogo certo. Julia parecia
preocupada por outro lado. Ele se perguntou o que estava acontecendo
naquela linda cabeça.
Duncan esperou Maria deixar a casa e, em seguida, fechou a porta. O
olhar de Ian caiu sobre Julia, amarrotada, o cabelo molhado em cachos,
calças molhadas ainda abraçando suas pernas bem torneadas, pelos
arrepiados cobrindo os braços que estavam cruzados com força embaixo de
seus seios, os mamilos franzidos contra sua blusa de seda sem mangas.
Ela ainda observava a porta como se esperasse que Maria decidisse
voltar e ficar. Finalmente disse a Ian:
— Obrigada por nos trazer aqui e por todo o resto.
Ele lhe deu um aceno de cabeça. Não podia dizer que era um prazer,
porque queria apagar essa vontade insondável de conhecê-la melhor agora.
Continuou dizendo a si mesmo que só precisava determinar o essencial:
quem ela realmente era, o que estava fazendo aqui e a imagem de quem
estava em seu bolso.
Por mais que não quisesse admitir, de fato cogitou se Basil
Sutherland, seu arqui-inimigo, tinha alguma coisa a ver com ela estar aqui.
Basil estava sempre tentando, de alguma forma condenável, romper as
muralhas do castelo de Ian e criar um problema para ele ou seu povo. O
pulguento nunca tinha tentado enviar uma atraente loup garou fêmea antes,
mas se fosse esse o caso, Ian estava tendo um tempo difícil mantendo a sua
guarda.
Deixando para lá a ideia desprezível de que Julia poderia estar
trabalhando para o inimigo, Ian começou a deixá-la mais confortável e
esperava saber mais da verdade sobre ela.
Ele a pôs sobre a coberta no sofá. Depois, colocou uma almofada
enfeitada na mesinha de centro e, com um toque suave, tirou os sapatos dela,
levantou a perna, sentiu o músculo tenso e descansou o pé em cima da
almofada.
Julia estava olhando para ele, a cautela de uma loba refletindo em
seus olhos. Ela devia ser cautelosa. Certamente estava cuidadoso com Julia.
E muito atraído, o que o fez duvidar de sua própria objetividade.
— Uma bolsa de gelo vai ajudar também. — Ian entrou na pequena
cozinha, encontrou uma bandeja de cubos de gelo no freezer e, em seguida,
enrolou alguns numa toalha. Quando voltou a sala, os olhos de Julia estavam
fechados e estava encostada no sofá, sua respiração leve, os seios subindo
levemente a cada respiração que dava.
Ela era linda e vulnerável, até mesmo disponível, e se seus instintos
estavam corretos: péssimas notícias.
Não queria perturbá-la, mas queria ter certeza de que não estava
ferida tão gravemente. Ele colocou o saco de gelo sobre a mesa, ergueu a
perna da calça dela para cima e estendeu a mão para tirar a meia-calça.
Julia endureceu e ele a olhou. Sua boca estava escancarada, mas seus
olhos estavam fechados e ela parecia sonolenta. Pronta para ir para cama. O
que o fez pensar em como ficaria na cama dele.
Preocupado que sua ação a tivesse ferido, perguntou:
— Você está bem, moça?
— Sim. — Desta vez, a amargura passou longe das suas palavras e
ela soava mais cansada do que qualquer outra coisa.
— Sim, bem, eu vou me certificar. — Ian puxou a meia-calça
transparente na altura do joelho, salpicada de lama, enquanto ela contraia seu
músculo da perna, ou se preparando para dor ou a sentindo. Em seguida,
colocou a meia na mesa e analisou o tornozelo, delicado, pálido e atraente.
— Apenas um pequeno vermelhidão, inchaço mínimo, não há
descoloração.
— Tem estado formigando por todo o tempo até aqui no carro. Está
curando e parece bem.
Ian não tinha certeza se Julia era de confiança para lhe contar a
verdade sobre sua lesão. Ele tirou seu outro sapato e meia e, em seguida,
analisou suas roupas, pensando o quanto ela precisava removê-las e poderia
usar sua ajuda.
— Suas calças e camisa estão úmidas e você está tremendo.
Seus lábios se levantaram um pouquinho. Mesmo com um sorriso tão
sutil, ela provocou uma faísca de calor em espiral através dele e tinha o
desejo mais condenável de beijá-la.
— Eu deveria ter sabido que você era um lobo. — Julia disse num
suave sussurro, não bruscamente como ele esperava.
Incapaz de se conter, Ian riu.
Ela rapidamente acrescentou:
— Eu posso cuidar do resto... Depois... Obrigada.
Ele a viu como vulnerável novamente. Não sendo manipuladora. Não
sendo desonesta. Mas uma mulher que se preocupava com as intenções dele.
E deveria. Ian estava definitivamente sentindo seu lado lobo. Qual era seu
problema de qualquer maneira? Julia estava com a equipe de filmagem e isso
deveria ter sido o suficiente para detê-lo.
Olhou para a lareira fria e, em seguida, atravessou o cômodo até lá.
— Eu vou acender um fogo para você e isso vai aquecer o lugar. —
Quebrou alguns gravetos, colocou-os sobre a grelha da lareira e depois
acendeu um fósforo.
— Você poderia ter simplesmente ligado o aquecedor.
Ele deu de ombros.
— Nós usamos as lareiras no castelo para aquecer os quartos. Parece
menos desperdício. A sala demora algum tempo para aquecer, não importa
qual seja a fonte de calor. Tem certeza que não posso ajudá-la a sair de suas
roupas molhadas? — ainda esforçou-se em exibir uma expressão séria,
tentando mostrar que era estritamente profissional, pensando apenas no bem-
estar dela. Só que tinha certeza de que não parecia dessa maneira.
Ela balançou a cabeça.
Ian colocou uma tora no fogo e, assim que esta entrou em chamas,
ele se virou para observá-la. O sorriso de Julia era uma mistura de doce
atrevimento e do diabo. Algo sobre o jeito dela o atraía, apesar do fato de
que estava lutando contra o sentimento.
O fogo aqueceria a pequena sala bem depois de um pouco de tempo,
mas ela ainda estava tremendo e ele pensou numa forma de aquecer bem o
corpo dela: em seu quarto, debaixo das cobertas, pelados juntos, beijando e
acariciando e merda...
— Eu poderia lhe alcançar um cobertor?
Duncan comentaria para sempre sobre Ian agir como uma
enfermeira, se ele pudesse vê-lo agora. Estava grato que seu irmão mais
novo não estivesse aqui.
Julia hesitou em responder. Ele tomou isso como um sim, mesmo que
ela ainda estivesse considerando a possibilidade de dizer não. Mas, por causa
da casa fria, da calça molhada e da bolsa de gelo no tornozelo, não podia
esconder que estava com frio.
— Não, não vai ser...
Ele já tinha se dirigido para um dos quartos no momento em que ela
terminou a frase.
—... Necessário.
Mas assim que entrou, soube que não era o quarto dela. As malas
azuis postas ao lado da cama não tinham seu cheiro. O de Maria sim. Ele
saiu do quarto, deu um pequeno sorriso a Julia enquanto os olhos
arredondados o observavam e disse:
— Parece que o homem trouxe a bagagem de vocês, mas a sua deve
estar no outro quarto.
Em seguida, entrou no outro. Duas malas de tapeçaria estavam ao
lado da cama. Ele a imaginou dormindo nua no colchão enorme, a janela
com vista para a floresta na direção do Castelo Argent. Se não fosse pela
floresta e a distância, poderia ver a casa de campo por uma das torres do
edifício.
Ele rapidamente pegou um cobertor de lã mohair dobrado ao pé da
cama e voltou para a sala de estar. Tentou um sorriso para tranquiliza-la,
quando pretendia interrogá-la ainda mais. Para pôr de lado a ideia tola dele
de compartilhar qualquer intimidade com a pequena loba.
Gentilmente, cobriu o colo dela com o cobertor e, em seguida, se
agachou ao seu lado, fazendo um esforço para questioná-la de uma altura
menos intimidante. Olhou nos seus olhos verdes salpicados de ouro, viu a
tensão e os mistérios desconhecidos neles e perguntou:
— Se eu questionasse Harold Washburn sobre uma Srta. Julia Jones,
que trabalha para ele, o que diria?

O coração traidor de Julia estava batendo como se ela estivesse


correndo por sua vida, enquanto Ian se agachava ao lado dela. Ele tinha que
ter ouvido e adivinhado que estava com medo de dizer a verdade. Mesmo
que tivesse tentado não intimidá-la, o problema era que o homem era
inerentemente intimidante. Desde seus olhos escuros, até sua voz rouca e a
forma como o olhar se desviava para o bolso da sua blusa que continha a
foto dele, reconheceu tanto o desejo, como uma necessidade da verdade em
sua expressão.
O que poderia dizer? Era Julia Wildthorn e uma busca rápida pela
Internet iria expô-la regiamente. Ou poderia dizer que era Julia MacPherson
e ele não saberia nada sobre ela, a não ser que soubesse algo sobre os
MacPhersons que outrora habitaram o Castelo Argent. Ambos poderiam ser
um desastre.
Poderia até dizer que era Iris North, o nome que deu a Guthrie
MacNeill quando estava tentando saber se o Castelo Argent era uma opção
viável para o filme. Ou qualquer número de outros nomes. Ela era uma
escritora, afinal de contas. Mas ele não acreditaria nela se desse outro nome
falso e não conseguisse encontrar mais informações para verificar.
As sobrancelhas de Ian se levantaram um pouco quando não
respondeu com rapidez suficiente. Imaginou que a sua matilha e os membros
do clã provavelmente nunca o deixavam esperando. E ela já tinha
conseguido deixá-lo esperando por diversas vezes.
Tentando soar indiferente, encolheu os ombros.
— Conhecendo Harold, ele provavelmente não vai se lembrar de
quem eu sou.
Ian pareceu sombriamente divertido.
— Entendo. — seu olhar percorreu ela de uma forma sugestivamente
lânguida, que teve o efeito de enviar outra onda de calor em espiral através
de seu corpo já aquecido. Claro, do lado de fora, sua pele estava gelada, mas
por dentro, era muito consciente dele, do perfume masculino e do jeito que a
observava, tocava e sustentava o olhar. Os olhos de Ian estavam focados nos
dela novamente. — Você está cheia de lama e ainda tremendo. Eu poderia
preparar um banho quente para você.
Em surpresa, seus lábios entreabriram-se. Os olhos dele focados na
sua boca e ela rapidamente a fechou. Nunca tinha imaginado que um escocês
iria preparar o banho de uma mulher. Ou agir assim tão interessado numa
plebeia, do tipo americana.
Com um brilho em seus olhos diabolicamente escuros, ele bateu as
mãos nas coxas e assentiu.
— Então, está decidido.
Antes que ela pudesse protestar, ele se dirigiu ao banheiro.
Ai... Meu... Deus. Se Maria pensava que iria voluntariamente bajulá-
lo, sua amiga estava iludida. Mas Julia nunca tinha suspeitado de que não
teria que fazer qualquer coisa para chegar lá.
Mesmo assim, sabia que isso era um erro terrível.
Cedendo a circunstâncias sobre as quais tinha pouco controle, fechou
os olhos e imaginou Lorde Ian MacNeill, no romance histórico que iria
escrever adicionando pétalas de rosa à água do banho dela depois que os
servos levaram água quente para a banheira de madeira no aposento da
senhora, adjacente ao do lorde. De início, o senhor de terras não tinha ficado
feliz em ter a moça forçada sobre ele devido a um contrato elaborado pelos
seus pais, para unir os clãs. Mas agora, a noção parecia intrigá-lo um pouco.
Antes que pudesse imaginar mais detalhes de sua história em sua
mente, o sofá balançou um pouco e seus olhos se abriram. Ian se sentou ao
lado, os braços cruzados, olhando para ela. O sofá, de repente, parecia
pequeno demais para os dois enquanto a perna dele roçava contra a dela em
uma carícia calorosa.
— Um banho quente vai fazer um bem imenso, moça. Mas eu me
perguntei o que você vai fazer durante as filmagens.
Ela amava o seu sotaque. Poderia banhar-se nele durante todo o dia,
enquanto ouvia a maneira como ele puxava o erre e torcia sua língua ao
redor de maneiras que não poderia sequer imaginar, o olhar focado na boca
sensual dele o tempo todo.
Ele tocou num pedaço de cabelo fazendo cócegas em sua bochecha e
colocou atrás da orelha.
— Moça?
— O que você perguntou?
Ele riu.
— Ou você está cansada demais para pensar direito, tendo passado
por muita coisa nas últimas várias horas, ou... — ele sorriu e a insinuação era
que estivesse muito envolvida nele para pensar com clareza. — A água deve
estar pronta. — Ian se levantou do sofá e, sem esperar ela dizer que podia
andar, pegou-a e dirigiu-se para o banheiro.
Julia não precisava de cobertores, banhos quentes ou qualquer coisa
do tipo para aquecê-la. O corpo dele já fazia isso, o torso quente e duro
pressionando contra o dela, o braço firmemente ao redor da sua cintura, a
mão descansando debaixo de seu seio, o outro braço debaixo de suas pernas.
Estava se sentindo incrivelmente quente.
— É o jet lag. — ela finalmente disse, olhando para ele, a cabeça
inclinada, os cabelos caindo para trás.
— Você está certo. Estou exausta e não estou pensando claramente.
— não tinha nada a ver com Ian ser um Highlander incrivelmente bonitão.
Ou que estivesse imaginando o guerreiro viril vestindo um kilt e uma espada
enquanto a levava para o banheiro, em vez das calças molhadas coladas que
mostravam o quão gostoso, sexy e receoso estava com ela.
Ian hesitou em pô-la no chão ou na borda da banheira, olhando em
seus olhos, como se o tivesse hipnotizado e momentaneamente o feito se
esquecer de sua missão. Mas, então, fez o inesperado e a colocou sobre
bancada de mármore da pia. Julia pensou que ele pretendia se oferecer para
ajudá-la ainda mais em despir suas roupas e planejava recusar rapidamente
sua oferta generosa. Em vez disso,
Ian inclinou o rosto para baixo para encontrar o dela e a beijou! Bem em
cheio na boca com um beijo sensual de esquentar o sangue que teria feito sua
meia-calça queimar se ainda a estivesse usando.
Ela nem mesmo objetou ou se afastou como deveria ter feito. O que o
escocês pensaria das mulheres americanas se não o fizesse? Mas não
conseguiu, não quando seus lábios estavam acariciando os dela de uma
forma tão sexualmente carregada, quente, macia, necessitada e no controle.
Muito no controle. Adorava a sensação de sua boca, o desejo despertado
entre eles, o calor que afugentou o frio.
Apreciando a sensação de seus lábios masculinos sobre os dela, quis
mais. Colocou as mãos em volta de seu pescoço e abriu os lábios apenas o
suficiente para dar uma dica de que queria que ele aprofundasse o beijo, mas
não muito para fazer parecer que estivesse desesperada por mais. Mesmo
que estivesse.
A boca dele sorriu contra a dela enquanto os olhos ficavam mais
enevoados de desejo. E então Ian obedeceu. Suas mãos se deslocaram para o
seu cabelo, acariciando e agarrando punhados enquanto enfiava a língua
entre os lábios, puxava-a para mais perto de seu corpo e, em seguida,
pressionava profundamente para dentro de sua boca com a língua.
Ela retribuiu tão bem quanto recebeu, movendo as mãos em torno do
pescoço, para os quadris de Ian e puxando-o ainda mais perto, acomodando-
o contra o calor entre suas pernas. Julia sentiu sua ereção rígida contra si.
Rolou a língua ao redor da dele em uma íntima dança entre amantes.
Mas Ian de repente ficou muito quieto e depois gemeu, afastando a
boca da dela. Ele queria mais. Julia podia dizer pelo jeito como seu corpo
ainda estava pressionado contra o dela, pelo jeito que estava lutando consigo
mesmo para deixar para lá e, caramba, se não queria que Ian continuasse a
beijá-la. Um lobo nunca a tinha beijado antes e se perguntou se era só Ian ou
se todos os lobos eram assim tão gostosos.
Ele olhou em seus olhos, os deles cheios de luxúria, o corpo duro e
pronto para mais, mas limpou a garganta e disse:
— Bem-vinda à Escócia, moça.
Foi quando ouviu o estrondo das portas do carro do lado de fora. Ele
deve ter ouvido seu irmão e Maria chegando enquanto ela estivera se
concentrando muito no beijo e tudo mais.
Em seguida, ele a moveu para a borda da banheira e disse:
— Vou deixar você com o seu banho, a menos que precise de
qualquer ajuda. — Ian sorriu e lhe deu a piscadela mais sexy que um homem
jamais lhe tinha dado e, nesse instante, calor impregnou todos os seus poros
mais uma vez.
Antes que Ian se afastasse, ouviu Duncan falando alto na porta da
frente, alertando Ian que ele e Maria haviam retornado, imaginou ela, no
caso dele estar muito ocupado para ouvi-los. Duncan provavelmente não
queria ser exposto à ira de seu irmão no caso de que o senhor de terras não
tivesse terminado completamente com o seu ―negócio‖ com Julia.
Ian fechou a porta do banheiro quando a porta da frente se abriu.
Um momento de silêncio se seguiu e Julia podia imaginar Duncan e
Maria tirando rapidamente as suas próprias conclusões sobre o que tinha
ocorrido entre Ian e ela no banheiro.
Maria finalmente quebrou o silêncio.
— Muito obrigado por nos ajudar. Nós vamos recompensá-lo assim
que conseguirmos algum...
— Não há necessidade. — Ian disse, ignorando o comentário dela. —
Nós estaremos esperando vocês e sua equipe mais tarde. — ele era
intrometido e curto, direto ao ponto e, em seguida, a porta da frente se
fechou, deixando Julia e Maria sozinhas.
Julia se perguntou, então, se ele tinha sentido que havia cometido um
erro terrível ao beijá-la, como ela se sentia agora. Não que não tenha gostado
ou não quis que durasse muito mais tempo, mas no que estava pensando?
Esta não era a maneira de conduzir suas missões secretas.
Ela levantou-se cautelosamente da borda da banheira, testou o pé no
chão de ladrilhos, o que pareceu bem e, em seguida, apressouse para retirar a
roupa e mergulhar no banho para uma limpeza rápida.
— Você está bem aí? — Maria perguntou, parecendo mais do que
curiosa.
— Estou apenas tirando um pouco da lama. Estarei pronta em um
segundo para que você possa se limpar para a reunião.
Maria não se moveu do lado de fora da porta.
Não aconteceu nada. — Julia a assegurou. Em seguida,
franziu a testa. — Nada aconteceu entre você e Duncan, não é?

— Você pensou que uma das mulheres era o mesmo lobo que nós
sentimos o cheiro perto do acidente de carro? — Duncan perguntou a Ian
enquanto ele os dirigia pelos dois quilômetros até o Castelo Argent, embora
a caminhada pela floresta estivesse mais perto de um quilômetro.
— Você cheirou um lobo. — Ian corrigiu. — Eu não pude sentir o
cheiro de um lobo de jeito algum, não com a fumaça do veículo em chamas
nublando meus sentidos. Depois disso, a chuva lavou qualquer cheiro.
— Você não sabia que elas eram lobos quando você as viu no bar?
Ian balançou a cabeça.
— Você sabe quão pungentes são os hambúrgueres de cebola e alho
de Scott. As mulheres não estavam perto o suficiente para eu sentir o cheiro
delas.
As sobrancelhas de Duncan franziram quando ele olhou para
Ian.
— Você não se juntou a elas em sua mesa?
Elas pareceram estar com medo de mim.
Duncan grunhiu.
— Por quê? Nós estávamos tentando ajudá-las.
— Nós estávamos seguindo-as pela floresta. Elas não acreditavam
que nós estávamos lá para ajudá-las. Além disso, trabalham para a Sunset
Productions. Não importa o que mais sejam, as moças são más notícias. —
entretanto, Ian não conseguia anular o desejo de conhecer a ruiva melhor.
Depois de beijá-la e da forma como Julia reagiu, tinha um desejo ainda
maior por fazer isso.
— É por isso que nós as levamos para a casa de campo? — Duncan
perguntou com uma sobrancelha levantada.
— Por que nós lhes conseguimos comida e você preparou um banho
para Julia?
— Nós estávamos voltando para Argent. — Ian o relembrou. —
Além disso, MacNamara não tinha terminado o seu negócio no bar. E as
mulheres precisavam de comida.
Duncan deu a Ian um olhar crítico.
— Admita Ian. Você bebeu o seu uísque e o meu para que nós
pudéssemos alcançar MacNamara e tirar as mulheres de suas mãos, porque
você está intrigado com a moça ruiva.
Sem nenhuma intenção de responder à afirmação de seu irmão mais
novo, Ian perguntou:
— Você acha que o lobo que você sentiu o cheiro era uma dessas
mulheres?
Não acredito nisso. E ninguém do nosso povo estaria
correndo como um lobo ou eu teria reconhecido o cheiro.
Muito provavelmente não teria sido ninguém da gente de Ian de
qualquer maneira, não depois que ele lhes tinha advertido para não correr
como lobos até que a equipe de filmagem tivesse ido embora. Se não foram
as mulheres e não foi ninguém da matilha dele, alguém tinha que estar
invadindo suas terras novamente.
Somente um lobo ou matilha veio à mente.
— Basil Sutherland ou um de seus homens. — a rivalidade de longa
data entre o clã de Sutherland e o de Ian vinha acontecendo há séculos, se
bem que os MacNeills não encontraram nenhuma dificuldade recente com os
Sutherlands até o mês anterior no Festival Celta.
— Aye, aquela confusão com eles sobre a demonstração de combate
com espadas pode ter causado um problema de verdade. Basil está pedindo
uma guerra total, Ian. Eu continuo a lhe dizer isso.
— Se um dos homens de Sutherland fosse invadir, por que agora?
— E se, em um esforço para se vingar de nós, Sutherland ou seus
homens visaram às mulheres, porque ele sabia que elas eram loups garous e
estavam com a equipe de filmagem e que você iria se interessar em protegê-
las?
Ou, e se Julia, seja lá qual for seu verdadeiro sobrenome, servisse
como uma das espiãs de Sutherland, uma forma de ele conseguir uma de
suas pessoas dentro do castelo de Ian em alguma missão desonesta?
Então, por que ele queria levá-la de volta ao castelo, trancá-la em
seus aposentos e beijá-la novamente, só que desta vez até ela lhe dizer a
verdade?
CAPÍTULO 4
Com o jet lag e o acidente de carro, Julia estava esgotada. Mas
também tinha uma missão que não podia esperar. Ela se lavou,
cuidadosamente saiu da banheira, mais uma vez testando o pé no chão, e
descobriu que o tornozelo só incomodava um pouco. Pegou uma toalha e
enrolou-a em torno de si mesma, muito eufórica pelo que tinha que fazer a
seguir para ficar deitada por aí na casa de campo.
— Bem, Maria? Alguma coisa está acontecendo entre você e
Duncan? — Julia perguntou novamente.
Maria não respondeu, mas Julia ouviu a pia da cozinha em
funcionamento.
A água corrente a pôs a pensar sobre Ian MacNeill, o banho que ele
tinha preparado e o jeito que a tinha desafiado com seu olhar de ferver o
sangue, como o diabo em uma outrora camisa branca e encharcada pela
chuva, com os botões abertos e lamacentas calças cáqui. Isso lhe trouxe à
mente como as roupas molhadas tinham grudado na pele dele, delineando os
vários grupos musculares: pernas, tórax, braços e até mesmo dando uma dica
de quão bemdotado Ian era. O que, é claro, ela tinha notado tomando notas
mentais para sua nova história Highlander. Esqueça estar nu debaixo de um
kilt. As calças cáqui molhadas eram mais do que excitantes. Por causa da
forma como olhou para as roupas dela, tão reveladoras quanto às deles, não
sentia nenhuma culpa em verificar os atributos dele.
E aquele beijo? Ela estava pronta para derramar todos os seus
segredos e até mesmo inventar alguns se ele simplesmente tivesse
continuado a beijá-la.
Julia era incorrigível e nunca se sairia bem como uma agente secreta.
A menos que beijar alguém tão gostoso como Ian fosse parte de seu disfarce.
Mas temia que ele fosse descobrir a verdade sobre ela pouco tempo depois.
Como podia ser tão burra? Cobiçar o lorde do castelo definitivamente não
estava nos planos.
Julia se dirigiu para dentro do quarto. Suas malas de tapeçaria floral
estavam sobre uma cama de casal coberta com uma colcha verde-bandeira e
ao lado de um criado mudo de carvalho claro. Uma mesinha combinando e
uma lâmpada de bronze estavam do outro lado. As paredes eram cobertas de
papel de parede floral e em uma delas pendiam duas imagens, uma de uma
cachoeira e a outra de um lago arborizado, com montanhas subindo até o céu
para encontrar as macias nuvens brancas. Adoraria ver pessoalmente ambas
as paisagens.
Ela puxou para o lado as aveludadas cortinas verdes da pequena
janela do quarto e olhou para fora para ver o bosque de pinheiros. Quase
podia sentir o cheiro deles através da janela fechada.
Abrindo o zíper de sua mala, pensou em como tinha quase tropeçado
nas botas de camurça endurecidas de lama de Ian quando ela e Maria
apressadamente deixaram o bar. As botas tinham que ser dele, porque não
estavam lá quando entraram pela primeira vez no estabelecimento.
O que a levou de volta para a forma como os seus olhos escuros a
tinham admirado. Deus, ele era lindo. Ainda mais lindo de perto, sentado a
algumas mesas longe dela. Apenas o indício de um sorriso nos lábios tinha
transformado suas entranhas em geleia. Tinha se esquecido do seu tornozelo,
dos outros homens no salão, da garçonete americana, até mesmo que Maria
estava cautelosamente observandoa e que Ian não era o tipo de homem que
estaria interessado nela, principalmente porque estava com a equipe de
filmagem odiosa.
Todavia, pensou que ele poderia, naquele momento, ter se esquecido
deste fato.
Apesar de quão bem parecia em roupas encharcadas de chuva,
pensou nele vestindo um kilt como na foto. Já que tinha que transformá-lo
em um herói histórico Highlander, perfeito para seu livro, calças modernas
não serviriam.
Ian tinha a aparência sombria e o ar aristocrático de um lorde com
título e estava no comando, apesar do fato de que ter deixado seus sapatos
enlameados do lado de fora se opunha a ele ser totalmente arrogante. Ela
podia perceber isso pelo jeito como os outros homens o haviam recebido.
Algo tradicional estava sendo respeitado. Como se tivessem que se policiar
até que o lorde fosse embora. Ou talvez apenas até que Julia e Maria
partissem. Desejou que pudesse ter sido uma mosca na parede e observado a
interação dele com os homens depois que saíram do bar.
Ela puxou suas roupas de detetive, um par de jeans verde-oliva e um
suéter de cashmere combinando e, em seguida, sentou-se em sua cama e
trançou o cabelo molhado.
O mais revelador foi a forma que MacNamara reagiu com Ian. De
início, MacNamara quis levar ela e Maria para a casa de campo, sem reserva,
até mesmo dizendo não aos outros homens de uma forma bem-humorada
quando todos ofereceram-se com muita exuberância. Mas o imponente
escocês pareceu precisar da permissão do Lorde Ian MacNeill uma vez que
este chegou. Se ela pudesse assistir a maneira que Ian interagia ainda mais
com os outros, teria metade de sua história escrita.
Mas o que não contava era que o próprio realmente viesse por detrás
delas, assustando-a para caramba e carregando-a nos braços para arrebatá-la
até o seu carro e leva-las para a casa de campo. Isso fez seu coração disparar.
Ian soube que não era quem disse ser assim que deu aquele maldito
nome falso. Esperava que a questionasse sobre isso tão logo enviou seu
irmão com Maria para obter mantimentos. Mas não a questionou, o que não
tinha aliviado a preocupação dela nem um pouco. Ele era como um lobo com
a sua presa.
Não podia acreditar que tinha caído no sono enquanto Ian estivera
pegando uma bolsa de gelo para ela, tampouco. Pensou que cochilaria um
pouco mais antes de Maria partir para sua reunião. E depois? Julia sairia à
procura das entradas secretas para o castelo.
— Julia Jones? — Maria disse de pé em sua porta aberta e
assustando Julia de seus pensamentos.
Porque no mundo você inventaria um nome falso?
— Você sabe o que eu escrevo para viver. — Julia suspirou e se
levantou da cama, passou por Maria e caminhou para o sofá.
— Eu não pude acreditar que ele perguntou se você estava acasalada.
— Ele perguntou sobre nós duas. — Julia a lembrou, enquanto se
sentava no sofá, apoiava o pé na almofada e cobria seu tornozelo com a
bolsa de gelo derretido.
— Sim, bem, ele só estava interessado em saber se você está
acasalada ou não. Se está tentando se manter discreta, não está funcionando.
Você já tem a atenção do senhor das terras e pelo menos de um de seus
irmãos. Realmente nada bom. Então, o que exatamente aconteceu entre você
e o lorde?
— Nada.
Maria deu uma gargalhada.
— Claro. Você parece extremamente culpada. E ele vai e lhe prepara
um banho? Pode funcionar bem se jogar suas cartas direito. Mas se você
não... — ela fez uma pausa.
— O que vai fazer enquanto eu vejo Harold? — a ligeira censura na
voz de Maria avisou a Julia que sua amiga sabia que estava tramando algo,
provavelmente algo que não aprovaria.
Antes que Julia pudesse responder, Maria cruzou os braços.
— Você não vai ficar na casa de campo e desfazer suas malas, não é?
Apesar de seu tornozelo estar torcido, eu sei que não vai esperar pelo meu
retorno. Como você deveria.
— Meu tornozelo não está inchado e descansar o fez melhorar. —
Julia tirou a bolsa de gelo e analisou o tornozelo.
— Sem hematomas. Se eu pegar leve, vai ficar tudo bem. Quero
começar a escrever os detalhes do livro, enquanto o castelo ainda está calmo
e não lotado com a equipe de filmagem. Não vou ficar aqui assim tanto
tempo.
— Você não tem segundas intenções?
Fingindo inocência, Julia sorriu, mas seu coração acelerou do mesmo
jeito. Sua própria consciência culpada foi suficiente para aumentar sua
frequência cardíaca ao ouvir a pergunta. Julia não queria que Maria
descobrisse o que estava aprontando. E se fosse pega? Como seria, se Maria
fosse questionada, ela poderia dizer honestamente que não sabia nada sobre
a missão secreta de Julia.
— Agora quais seriam essas segundas intenções, a não ser dar um
passeio ao redor do castelo para pesquisar alguns detalhes para o meu atual
trabalho em andamento quando ninguém está por lá? — Julia perguntou.
Maria enfiou as mãos nos bolsos de sua calça ainda úmida.
— A sua recomendação para usarmos o castelo de Ian MacNeill não
foi por causa de algum interesse mais pessoal, não é?
— Interesse pessoal? — A voz de Julia soou um pouco culpada
demais e receava que Maria fosse reconhecer isso imediatamente. Ela
achava que Julia tinha algum plano para agarrar Ian MacNeill como
companheiro? Maria nem sequer sabia que ele era um lobo.
Você tornou possível que eu tenha a chance de ver o interior
de um castelo que nunca é aberto ao público para que possa usá-lo em minha
história.
Se Maria realmente soubesse que isso tinha a ver com a história da
família de Julia e pegar de volta o que pertencia a ela, sua amiga
provavelmente não teria concordado em trazê-la junto.
Julia ergueu um ombro.
— Eu pesquisei sobre o castelo primeiramente. Então, liguei para um
tal de Guthrie MacNeill, que lida com os assuntos financeiros do castelo,
terras e empresas da família e ele ficou empolgado.
Empolgado realmente não era a forma que ela descreveria o
entusiasmo de Guthrie. Mais reservado, pensando no início que ela era
maluca, Julia presumiu. E, em seguida, reservadamente interessado, como se
tivesse sua espada e estivesse pronto para lutar, se o inimigo se voltasse
contra ele.
— Empolgado? Ele foi bem intransigente sobre o quanto eles
queriam e nós ficamos nesse chove e não molha por meses. Ele praticamente
atrasou a produção. Guthrie disse que uma Iris North tinha falado para entrar
em contato comigo. — Maria levantou uma sobrancelha para Julia.
— Eu imaginei que diria que uma Julia Wildthorn tinha conversado
com ele. Isso me pegou de surpresa, até que descobri que você usou um
nome falso.
— Não os queria ouvindo o meu ―Julia Wildthorn‖ e percebendo, se
descobrissem que eu era uma autora, que podia tentar escrever sobre as
partes proibidas do castelo, apesar de que, na minha história, o nome e
localização serão mascarados. — esperando que isso fosse satisfazer a
curiosidade de Maria, Julia abriu um largo sorriso.
— E agora ele acha que você é Julia Jones. Ou você disse a verdade,
enquanto eu estava com Duncan?
— Não, nós não discutimos sobre isso. Wildthorn é o meu
pseudônimo. Um nome de fachada. Fica bem nos meus livros. Iris North foi
um nome inventado também.
— Eu pensei que Julia Wildthorn era o seu verdadeiro nome. —
Maria parecia surpresa.
— Todo mundo me conhece como Julia Wildthorn. Eu me identifico
com o nome. O de verdade é Julia MacPherson. Mas isso foi no passado e
nunca o uso, nunca. É simplesmente mais fácil dessa maneira.
— MacPherson é um nome escocês. — Maria disse, seu tom
indicando que ela ainda pensava que Julia estava sendo desonesta sobre algo
mais.
— Isso não tem nada a ver com os MacNeills ou seu castelo ou
qualquer coisa. Nada das rixas entre clãs de antigamente, certo?
Julia mordeu o lábio. Omitir era uma coisa. Negar, outra.
— Minha família, MacPherson, viveu no castelo há tempos atrás.
Maria olhou para ela com olhos esbugalhados.
Você está falando sério? Então eles, na verdade, eram os
donos?
— Viveram ali como convidados. — Não convidados de verdade
porém, Julia achava. Não da forma como seu avô soava tão enigmático. Não
sabendo como a situação realmente era, ela foi incapaz de esconder sua
irritação. — Não é grande coisa.
— Você quer escrever sobre algo que é mais historicamente correto?
Sobre a sua família ter vivido lá?
— Bem, sim. — De certa forma, Julia queria acrescentar mais
realismo.
Ela achou que Maria tinha terminado com o interrogatório, mas sua
amiga continuou a interrogá-la enquanto se movia rapidamente sobre o
lugar, à procura de algo.
— Tem certeza que sua família não tinha assumido o castelo em
algum momento, o que eu acho que é incrivelmente legal, e eles realmente
foram donos? Pelo menos por um breve período de tempo?
— Não, a minha família não possuiu um castelo. — não que Julia
soubesse
— E se você tivesse alguma reivindicação sobre o castelo? Nós
poderíamos nos mudar e abrir o local para passeios.
Julia deu uma risada incrédula.
— Sim, claro. Se a minha família tivesse possuído o lugar, eles ainda
estariam comandando as coisas. E, provavelmente, teriam que aturar uma
equipe de filmagem aqui como os MacNeills. Mas não, não é nada disso.
Na cozinha, Maria disse:
— Eu encontrei o telefone. — Maria começou a falar, mas não com
ela. — Olá, Chad? Nós estamos aqui. Você ligou para a polícia sobre o
carro? A empresa de aluguel de automóveis, também? Sim, vou falar com
eles esta noite. Você é um anjo. Você poderia vir e me pegar? Dez minutos?
Obrigado por trazer as malas aqui e receber as chaves do lugar para nós.
Vejo você daqui a pouco.
Maria desligou o telefone e correu para o banheiro, tirando suas
roupas molhadas e barrentas enquanto entrava.
— Algo está no castelo que sua família quer que você roube de volta.
O que é, e qual a sua importância?
Em descrença, Julia olhou para a bunda em retirada de Maria. —
Como você pode possivelmente ter descoberto?
— Lembra-se da noite antes de sairmos nesta viagem quando você
me disse para checar horários de filme no seu computador? Você estava
fazendo sopa de arroz e frango para gente e você queria ir ver aquele do
escocês viajante no tempo.
Julia tinha um sentimento aterrador de que deixou algo no
computador que não deveria ter deixado. Maria havia aparecido mais cedo
do que Julia esperava, então, ela tinha se esquecido do que estava fazendo.
— Eu me lembro.
O chuveiro começou a correr. Maria gritou sobre a torrente de água:
Seu e-mail estava aberto numa mensagem do seu avô. Eu
não teria lido, mas o nome MacNeill e a referência ao castelo chamaram
minha atenção. Seu avô dizia que queria que você recuperasse algo de dentro
do castelo. Ele não dizia que queria que você pedisse aos MacNeills o
objeto. Logo, presumi que queria que você o roubasse.
Julia balançou a cabeça e voltou para seu quarto para pegar suas
meias e botas.
— Você desligou o computador, então me esqueci de o que eu estava
fazendo antes de você chegar.
— Você me disse para desligar porque nós estávamos com pressa
para ver os trailers no início do filme. Então, o que você supostamente deve
recuperar?
— Obrigada por ser uma amiga, Maria, e por não tentar me impedir
de fazer isso. — Julia se sentiu envergonhada por não ter confiado em Maria
de antemão.
O chuveiro desligou e Maria saiu do banheiro, usando uma toalha
azul.
— Você está brincando? Você é a pessoa mais interessante que eu
conheço. Se você não está fazendo rapel num prédio para ver como é feito
para um de seus livros, você está aprendendo a atirar com uma arma para
outro livro. Agora está em busca de um tesouro escondido no reduto dos
MacNeill, cheio de escoceses musculosos que vão frustrá-la de qualquer
maneira que puderem. Isso vai dar uma grande história, se você não for
pega. Talvez, seja ainda melhor se você for pega. Então, o que é que você
vai procurar, exatamente?
É uma caixa de jacarandá encravada com o símbolo de um
cardo ―nome comum a várias plantas com folhas e hastes espinhosas‖, o nó
celta e o nome Artur MacPherson. Nenhum dos meus familiares pôde
retornar ao castelo depois que saíram às pressas, pelo que o meu avô contou.
Eles tentaram com vários artifícios ao longo dos anos, mas o local foi selado
firmemente e a ninguém era permitido entrar, exceto os MacNeills, os
parentes ou amigos próximos. Antes de meu avô morrer, ele quer que eu
recupere a caixa e a devolva à família.
Pelo menos isso foi o que o seu avô tinha dito. Mas algo realmente o
preocupava sobre a caixa. Ele tinha sido tão inflexível e tão preocupado
quanto seu pai sobre ela localizar e trazer a caixa para casa. Por que agora?
Por que depois de tantos anos tentando reaver e não tendo sucesso? Por que
não deixá-la enterrada nas muralhas do castelo?
A caixa estava chaveada, ele a tinha alertado. Ela não deveria
quebrar o fecho. Mas uma pequenina inverdade a atormentava. O que estava
na caixa que estava arriscando tentar entrar no castelo e localizá-la e, em
seguida, devolvê-la trancada para seu avô?
A caixa de Pandora veio à sua mente.
— Eles deixaram o castelo com pressa? Isso fica cada vez melhor. —
Maria entrou no quarto de Júlia.
— Então, o que há na caixa? Talvez uma reivindicação da
propriedade?
Julia só desejava que soubesse.
Tenho certeza que meu avô ou pai teriam dito. E tenho
certeza que uma vez que uma família abandona um castelo para outro, se
esse fosse o caso, não teríamos nenhum direito de qualquer maneira.
Julia se sentou na cama e calçou as meias e, em seguida, suas botas.
— Você provavelmente está certa, mas... Se os MacNeills viveram
aqui desde que a sua família desocupou, eles já não teriam encontrado a
caixa? E mais provavelmente, destruído o conteúdo?
— Ela está escondida. Ou pelo menos estava. — Se fosse valiosa, os
MacNeills poderiam ter se apossado dela. Mas o que mais preocupava Julia
era se a caixa continha ou não informações que implicassem sua família.
Tantos anos se passaram. Que notícia poderia ser de importância por mais
tempo?
Tudo pronto para investigar, Julia desabou no sofá de tweed verde
novamente, ansiosa para Maria sair para que pudesse fugir.
Vestindo um suéter fúcsia de lã e calça jeans preta mais casual, Maria
virou-se para fora do quarto e encontrou Julia na sala de estar.
— Um esconderijo secreto? Você não pode estar falando sério. Se eu
não tivesse tanto medo de perder o emprego ou fosse mais corajosa, iria com
você. Mas ainda assim... Não acho que você deveria fazer isso.
— Eu só vou dar uma volta. Ninguém vai me ver. Vou ter a certeza
disso.
Maria não parecia convencida.
Lorde MacNeill disse que não queria ninguém passeando em
torno da propriedade sem a sua permissão. E nós meio que temos uma
influência agora. Não quero estragar isso.
— Vou estar na floresta fora do castelo e não dentro. — A menos que
Julia localizasse os túneis secretos que seu avô havia mencionado. Embora
ele tivesse dito que o lugar tinha sido muito bem defendido nos anos
anteriores para tentarem voltar dessa forma e, em anos mais recentes, não
tinham sido bem-sucedidos num par de tentativas rápidas para localizar a
entrada do túnel. Uma mulher sozinha podia conseguir a proeza.
— Ao redor do perímetro ou dentro do castelo, o lugar é fora dos
limites a menos que Lorde MacNeill nos dê permissão. — Maria deu a Julia
um olhar crítico.
— Só porque nos deixou na casa de campo, ele ainda pode não fazer
quaisquer concessões para nós. Mesmo que você diga que não há nada
acontecendo entre vocês dois. O ar praticamente fervilha com a maneira
como o lorde olha para você. Não pense que eu não percebi o seu interesse
por ele também.
— Ele me alcançou uma bolsa com gelo, nada mais. Bem, preparou a
banheira. Não veja mais nisso do que existe. Estava sendo apenas gentil.
Tudo bem? — o que Julia não disse, foi o quanto suspeitava que Ian não
confiava nela nem um pouco e esse era todo o seu interesse por ela.
Mantenha seus amigos próximos e os inimigos ainda mais perto, não era
este o velho ditado?
Maria apontou para a lareira crepitando com o calor.
Ele acendeu um pequeno fogo quente, provavelmente, mais
do que um na lareira. Agarrou uma manta de seu quarto. Imagino que
removeu os saltos e meias-calças e sem dizer o que mais teria removido se
você tivesse concordado. Aposto que também carregou você ao banheiro, ou
não estaria saindo dele quando chegamos.
O rosto de Julia corou. Ela não estava prestes a dizer a Maria que Ian
a tinha beijado de uma forma que se lembraria para sempre. Seu ex-
namorado nunca tinha chegado perto de deixá-la queimando de desejo da
maneira como ele fez.
As sobrancelhas de Maria se levantaram.
— Ele se ofereceu para tirar suas roupas, não foi? — ela riu. — Se
tivéssemos qualquer alimento, certamente teria feito algo para comer.
— Ele é um lorde. Provavelmente não sabe cozinhar. Mas eu vou ter
cuidado. Como um lobo em modo sorrateiro.
As sobrancelhas escuras de Maria se levantaram e seu olhar
preocupado retornou.
— Você não vai como uma loba, não é?
— Não. — Não de início. A menos que Julia conseguisse localizar a
entrada secreta mais facilmente dessa maneira.
— O que você achou de Duncan MacNeill?
— Ele é alguém para se tomar cuidado. Silencioso e letal. Quanto ao
Lorde MacNeill, depois que Harold deu uma olhada na foto dele, resumiu-o
em quatro pequenas palavras: Mal até o osso.
Sim. — Julia pensou na imagem de Ian na foto e nele
sentado no bar. Ele tinha o mesmo olhar frio que na gravura, com os olhos
assustadoramente perceptivos. E parecia estar no comando, até mesmo a
milhas de seu castelo. Quão longe a sua esfera de influência alcançava? Por
que não tinha um séquito ―grupo que segue junto a alguém; geralmente um
nobre‖? Ela imaginava que um senhor de terras teria muita gente o seguindo
onde quer que fosse tentando se aproveitar do seu lado bom, querendo
favores. Talvez não funcione assim nos tempos de hoje.
Ian parecia ter em torno de trinta anos, talvez um pouco mais velho.
Não velho o bastante para ser tão obstinado sobre não querer filmar no
castelo, com suas ideias tão fixas, e não gostar de mudanças.
— Talvez nós possamos lidar com outra pessoa. — porque, apesar do
que Maria poderia pensar sobre eles, Julia sabia que Ian desconfiava dela.
Talvez pudesse fazer algumas incursões em seu projeto ao solicitar para um
de seus lacaios, se conseguisse fazer amizade com alguém que pudesse levá-
la para dentro do castelo.
No entanto, seus pensamentos voltaram para a expressão de Ian, os
olhares avaliadores e seus olhos escuros observando-a, estudando-a e talvez
tentando intimida-la. Ela não era facilmente intimidada. Mas tinha a
sensação de que se esgueirar por ele não seria uma tarefa fácil.
— Não conte com isso. Ian é o lorde e aquele no comando. Embora
eu tenha falado com Guthrie MacNeill, ele era apenas o intermediário. Ian
está definitivamente dominando a situação. E caramba, diria que você fez
um bom começo em obter a atenção dele
de qualquer maneira. — Maria soltou a respiração e protegeu seu pulso
esquerdo.
— Eu sei que você vai ao castelo dos MacNeills depois que eu sair.
Nada que diga vai convencê-la de não fazer isso. Você realmente poderia
estragar tudo, sabe. Se você for presa...
— Eu vou alegar que fui uma idiota americana que ficou separada da
equipe de filmagem indo para a reunião e me perdi.
Aparentemente Maria não tinha muita confiança de que Julia podia
entrar e sair de lugares sem ser detectada como uma ladra de elite.
Entretanto, tentar infiltrar-se no subterrâneo de um castelo era uma
experiência nova para Julia, por isso, a preocupação de Maria não era
totalmente infundada.
— Você não acha que, quando arrastarem seus ossos até o lorde do
castelo, ele não vai perceber que tinha mais alguma coisa acontecendo?
Uma buzina soou na frente. Julia seguiu Maria para fora e acenou
para o Chad. Ele era o cara das entregas, um tipo surfista com cabelo loiro
manchado de sol. Jovem e empolgado de estar aqui, Chad sorriu e acenou de
volta para Julia enquanto Maria entrava no carro.
Enquanto Chad saia com o carro, Julia acenou para Maria, sorrindo
alegremente, num esforço para lhe garantir que tudo ficaria bem. Maria
apenas balançou a cabeça para Julia, os lábios cheios comprimidos numa
linha sombria.
Julia não tinha nenhum plano de ser pega durante a sua missão
clandestina, mas não estava disposta a esperar até amanhã para tentar
adentrar, tampouco.
CAPÍTULO 5
Julia pegou sua chave da casa de campo e trancou a porta, pronta
para invadir o Castelo Argent de forma sorrateira.
Já acostumada a estar na casa de campo seca, sentiu a névoa fria
envolvendo densamente toda a área e lembrou-se do acidente de carro e seu
subsequente medo de estar sendo seguida. E de ser ferida. Seu tornozelo
incomodava apenas um pouco, mas empurrou a ideia de sua mente e
caminhou em ritmo acelerado através da antiga Floresta de Caledônias que
ligava o castelo de Ian MacNeill a casa onde se hospedava.
A floresta era como um laço com o passado, onde o tempo parecia ter
parado. Ela imaginou um antepassado do Lorde MacNeill, com seus homens
vestindo kilts e equipados com arcos e aljavas de flechas, caçando nestes
mesmos bosques a cavalo atrás de cervos ou javalis.
Movendo-se a um ritmo constante, logo se esquentou um pouco. Mas
estava ficando mais molhada a cada momento, seu suéter e calça jeans
ensopando com a leve chuva fina como uma esponja sedenta. Tinha
considerado vestir uma jaqueta, mas se precisasse mudar de forma, quanto
menos roupas melhor. Felizmente, as botas davam apoio aos seus tornozelos
e folhas de pinheiro afofavam o chão, então, exceto por uma preocupação
torturante de que podia torcer o direito novamente, este se sentia bem por
ora.
Pinheiros escoceses se agigantavam acima, a fragrância das pinhas
lembrando-a do Natal e das caminhadas através das florestas ao noroeste da
Califórnia, e o doce cheiro forte de zimbro também flutuava na umidade fria.
Vindas da direção do castelo, abafadas vozes escocesas com o seu sotaque
distinto e agradável ganharam sua atenção e parou de andar para considerar
o que a rodeava. Ela imaginou que as pessoas falando estavam dentro das
muralhas, no pátio, externo ou interno, e que nenhuma iria imaginar um
invasor aproximando-se do domínio delas.
Sem predadores conhecidos na área, no que se referia a animais que
podiam pôr em perigo os humanos, e sem humanos perambulando por aí, ela
se sentiu segura na floresta. Estava sozinha, exceto por alguns cruza-bicos
escoceses alimentando-se de sementes de pinha, um macho vermelho com
escuras asas e penas da cauda e dois outros gritando animadamente entre si,
soando como se estivessem falando com um sotaque escocês.
O gorjeio arrogante de um chapim com crista foi adicionado aos sons
da floresta e ela olhou para cima para ver o pássaro alegre sentado no tronco
morto de um pinheiro, as penas em sua cabeça de pé, como um corte
moicano. Uma libélula com anéis dourados flutuou ao lado dela e
desapareceu e as borboletas esvoaçavam ao redor.
A sensação de que estava em um bosque primitivo, transportada para
o passado há muito distante, fez sua imaginação correr livre. Imaginou a
filha de um chefe correndo para longe de um clã inimigo, buscando abrigo
no castelo além das matas e rezando para alcançá-lo antes que fosse pega.
Mas lugares como este, que pareciam intocados e serenos agora,
poderiam ter abrigado homens perigosos ao longo dos tempos, criando uma
situação perigosa para qualquer um que passasse pela área. Ou clãs que
lutaram um com o outro. E se a imaginária filha do chefe tivesse sido do clã
inimigo, ela estaria em apuro mortal.
Julia deu um tapinha no bolso, onde o mapa manuscrito, um esboço
apressado que seu avô desenhou a partir da memória e deu a ela, tinha
estado. Havia tirado e deixado na casa de campo, caso fosse detida por
invasão e revistada. O que eles deduziriam do mapa? Talvez que Julia sabia
onde era a entrada secreta e planejava invadir. Era por isso que o tinha
deixado para trás na casa de campo.
Só que agora não conseguia lembrar, exatamente onde seu avô tinha
pensado que a entrada era. Ela seguiu em direção às muralhas do castelo
para controlar sua direção, mas se manteve na floresta. Na torre mais ao
canto oriental, iria contornar até a parede ao leste. Em algum lugar por lá, no
limite da floresta, a entrada escondida estava localizada.
Assim como o monte de ovelhas brancas encaracoladas aparecendo
subitamente diante dela e de Maria na estrada, o castelo inesperadamente
apareceu através de um fosso e da tela de árvores em que estava agora. Seu
queixo caiu. As muralhas de arenito dourado e o interior eram espetaculares,
de tirar o fôlego e impressionante, os próprios topos das torres
desaparecendo na neblina e dando a ilusão de que se estendiam até o próprio
céu.
Ela olhou para o leste, viu a torre oriental redonda e dirigiu-se mais
profundamente na floresta para ficar fora de vista. Mas quando finalmente
chegou à área ao longo da parede leste, não conseguiu encontrar nenhum
sinal de uma entrada secreta. Talvez, como loba, pudesse localizá-la com o
nariz no chão, cheirando quaisquer vestígios de andanças humanas ou
melhor do que isso. Qualquer indício de um sistema de túneis subterrâneos
através do ar mais frio que escoa para fora das margens de um alçapão ou a
umidade de escavações terrosas pelo seu cheiro de mofo típico de cavernas.
A outra opção era localizar o portão posterior ou a porta dos fundos para o
castelo, aquela que havia sido usada por pedestres ou comerciantes e estava
localizada no lado sul. Se pudesse descobri-la, poderia ser uma maneira mais
fácil de entrar.
Mesmo se tivesse um convite por escrito para explorar cada
centímetro quadrado do castelo, o que não tinha e sabia que não viria, ela se
sentiu levada a encontrar uma forma mais dissimulada para entrar. Imaginou
que isso era devido ao seu senso inato de aventura, o laço de sua família com
a terra e sua imaginação indomável, que sonhava com mundos de romance,
mistério, suspense e aventura.
Esta era a derradeira aventura.
Verdade seja dita, de jeito nenhum receberia um convite para entrar
no castelo. Além disso, ninguém lhe daria permissão geral para procurar a
coisa escondida que sua família deixou por lá séculos antes.
Com o coração batendo com força por causa do exercício e da sua
pressa para evitar ser pega, caso alguém estivesse caminhando pela floresta,
ela atravessou a área, de cima a baixo, buscando, procurando qualquer sinal
de algo fora do lugar, uma indicação de que uma entrada escondida para o
castelo estava aqui em algum lugar. Se conseguisse encontrar a entrada
secreta e ainda fosse uma forma viável de acesso aos túneis sob as paredes e
fosso do castelo, teria uma melhor chance de explorar o lugar sem detecção,
pensou.
Procurando por sons de seres humanos nas proximidades, não ouviu
nada.
Ela suspirou. Hora de mudar de forma, porque nunca chegaria a lugar
nenhum com sua busca como uma humana. Tirou as roupas, enterrou-as o
melhor que pode sob as folhas e agulhas de pinheiro, acolhendo o calor que
permeou todos os seus tecidos enquanto a mudança ocorria e, em um par de
batimentos cardíacos transformouse, o movimento fluído, rápido e indolor.
Como uma humana, ela se sentia confortável na floresta, como uma
loba, até mais. Exceto pela preocupação de que alguém poderia tentar matá-
la. Mas estava mais perto do chão e podia correr mais rápido e, com orelhas
que poderiam torcer de um lado para outro ao contrário das orelhas
humanas, poderia detectar melhor de onde os sons vinham. Mesmo em sua
forma humana, podia ouvir dezesseis vezes melhor do que um simples
humano.
A pelagem quente de lobo que a cobria não só evitava que seu calor
corporal escapasse, mas também tinha pelos longos que evitavam que o ar
úmido penetrasse. Sua pelagem de loba estava mais leve porque era verão,
mas se fosse ficar nessa temperatura mais fria, os pelos poderiam crescer
mais grossos para acomodar o clima na Escócia.
Com o nariz no chão, Julia cheirou a área, querendo pesquisar cada
centímetro quadrado de terra e encontrar a porta secreta, se ainda havia uma,
a qual levaria através de túneis subterrâneos e passagens escondidas para
dentro da fortaleza. Para sua frustração, procurou provavelmente por uma
boa hora e meia e estava quase pronta para desistir. Não querendo preocupar
Maria, pretendia voltar para casa para que pudesse acompanha-la e ao resto
da equipe na reunião com os MacNeills.
Mas, primeiro, queria fazer uma última coisa: dar uma olhada onde o
portão posterior estava localizado, ao redor da parte de trás do castelo. Ainda
era uma entrada viável? Ainda usado? Menos fortificado e nem a metade tão
seguro quanto o portão da torre em frente ao castelo? Ou estava trancado ou,
pior, com um murro na frente?
Correndo através da floresta ainda em todas as quatro patas,
permaneceu escondida no abrigo dos álamos e pinheiros silvestres. Tinha
acabado de fazer a volta na torre sudeste quando viu o movimento acima da
muralha. Um homem estava olhando para a floresta sem foco específico,
como se admirando a beleza da paisagem, mas agora rapidamente desviou o
olhar para ela.
Ian MacNeill. Ele estava vestido com calça marrom e uma camisa
pólo marfim. Não podia vê-la, ela achava. Não a partir da altura em que
estava. Não da distância para as árvores. Não com a floresta proporcionando
uma copa frondosa. Ou a névoa que continuava a cobrir a área em tons
fantasmagóricos.
No entanto, os olhos focaram diretamente sobre a loba, seu olhar
olhando diretamente no dela como se pudesse vê-la. Não só ela, mas seus
olhos enquanto ele se prendia no seu olhar. Mas não podia vê-la. Julia jurou
que não podia. Ou talvez fosse uma ilusão. Pega no ato.
Ele ficou tão quieto, olhando tanto tempo para ela, os lábios
entreabertos, como se estivesse surpreso, todos os músculos do seu corpo se
enchendo de tensão, com as mãos fechadas em punhos em cima da muralha,
que Julia se preocupou que de fato a tivesse visto. Que ele não queria
assustá-la, mas, se pudesse, chamaria a cavalaria e os ordenaria a caçá-la.
Não se atreveu a se mover, apenas no caso de que o movimento
pudesse comprovar que estava ali, porém, não importava o quanto pensasse
que ele parecia vê-la, sabia que não podia. Simplesmente não era fisicamente
possível.
Mas então reconsiderou. Ele era um lobo. E se pudesse vê-la...
Droga.
— Ian, nós recebemos um telefonema. — um homem gritou para ele
de longe, sua voz sombria e áspera, mas Ian não quebrou o contato visual
com ela. Achava que era a voz de Duncan.
— O produtor e alguns de seus funcionários estão a caminho.
A respiração de Julia parou. Precisava voltar e reunir-se com Maria e
alguns membros da equipe de filmagem enquanto procuravam audiência
com o homem que agora estava encarando. Maria iria se preocupar com ela,
pensar que tinha sido pega e estava em apuros. Precisava voltar.
Mas ficou hipnotizada enquanto olhava para Ian. Seus cabelos
escuros esvoaçavam ao vento, o rosto esculpido em granito cinzelado, o
queixo tenso e o contorno fraco de seus músculos aparecendo por baixo da
camisa que estava ficando úmida no tempo chuvoso. Ele não se moveu do
lugar onde estava de pé, olhando-a com... Bem, não podia dizer. Surpresa,
provavelmente. Aborrecimento, talvez. Um lobo nestes bosques. Nos
bosques dele. Será que percebeu que era ela?
— Ian! Você me ouviu? — o outro homem gritou novamente.
Os lábios de Ian subiram ligeiramente. Aquela fraca curva de seus
lábios disse tudo. Ele sabia que era ela.
— Estou aqui, Duncan. — Ian falou tão sombriamente quanto, mas
suas palavras eram mais brandas, perigosas e silenciosas, como se tivesse
medo de assustá-la. E ele não queria afugentá-la, ela presumiu. Queria caçá-
la.
Julia pensou que ele iria rapidamente se virar para cumprimentar
Duncan, mas Ian não quis soltar o olhar dela e mal podia esperar, no caso de
dizer ao seu irmão mais novo para enviar caçadores para localizá-la. Além
disso, ela deveria estar com a equipe de filmagem que iria encontrá-lo em
breve. Tomou mais tempo em sua busca do que havia previsto? Talvez
tivesse passado duas horas já. Correu para onde tinha deixado suas roupas,
com a intenção de mudar de forma e depois seguir para a casa de campo,
onde torcia que Maria ainda esperasse por ela.
O vento em seu pelo, o cheiro do ar frio nebuloso e de veado e
raposa, a fez dar outra respiração profunda. Algo intrinsecamente celestial
sobre as florestas highlanders agradava o lado loba dela e às suas raízes
escocesas. Os mouros, os lagos, os rios, as cachoeiras, os campos de urzes
roxos e as montanhas. O castelo também. Era o lugar de romance e
highlanders gostosões, assim como Ian, o qual a havia capturado com o
olhar, como se pudesse segurá-la refém lá para sempre.
Pena que ele só poderia ser um personagem de fantasia em seus
contos de romance lobisomem.
Antes que alcançasse suas roupas, ela ouviu algo estalar na floresta e
parou, seu coração trovejando enquanto balançava a cabeça ao redor,
ouvindo e procurando por qualquer um ou qualquer coisa que pudesse estar
aqui.
Movimento nas árvores, dois homens. Os dois que estavam no
aeroporto. O de cabelo mais claro que tomou o primeiro carro alugado delas.
O outro, o homem de cabelos escuros que a esteve observando com muito
interesse. Coincidência demais eles estarem aqui agora. Coincidência demais
estarem aqui juntos.
Eles eram homens de Ian? Ou de outra pessoa? Talvez daquele que
foi o responsável pelo acidente de carro de Maria?
Ela correu para longe, esperando que conseguisse despistá-los antes
que fosse tarde demais.
Se Ian MacNeill não tivesse visto a loba vermelha com seus próprios
olhos, apesar da névoa em torno dela fazendo-a parecer quase
fantasmagórica, teria pensado que era uma invenção de sua própria
imaginação muito vívida. Mesmo assim, não podia deixar de observá-la,
esperando que se movesse, provasse a ele que era real e não uma loba etérea
do passado. Ele os tinha visto antes. Lobos, já realmente não mais aqui.
Fantasmas do passado com uma história. Não loups garous, mas lobos de
verdade.
Porém lobos vermelhos nunca viveram na região. Cinzentos, sim, o
último morto no século XVII ou XVIII, dependendo da fonte. E loups garous
vermelho? Possível, ainda que nunca houvesse conhecido um. Era Julia? Ou
alguém da equipe de filmagem?
Apesar de dizer a si mesmo que Julia era uma loup garou e que isso
não era grande coisa, reconheceu que não era como qualquer loba que já
tivesse conhecido. Ela o fascinava, tanto por suas ações, como suas reações a
ele. Nunca tinha ficado tão fascinado em querer saber mais sobre uma
mulher. Uma mulher com segredos. Com um nome que não era mesmo o
seu. E com um trabalho que não era realmente dela?
Se a loba era Julia, seu tornozelo estava bem melhor. Mas o que ela
estava fazendo em torno de suas terras? Dando um passeio? Quando disse
em termos inequívocos que ninguém estava autorizado a fazer tal coisa. Era
uma recém-transformada e teve que mudar de forma rapidamente? Essa era
uma suposição perigosa e ela não deveria estar aqui em matas
desconhecidas, arriscando ser flagrada. Ou aqui neste trabalho, ponto final.
Quase tinha decidido procurar as roupas dela e forçá-la a vir com ele
para que pudesse alertá-la sobre as suas regras mais uma vez. Isso trouxe
outra onda de pensamentos espontâneos à mente.
Sua prisioneira. Sua.
Baird Cottage não ficava assim tão longe do castelo. Seria fácil para
ela correr como uma loba e aparecer na porta dele. Mas não tinha ido ao
portão da frente. Estava se esgueirando na parede oriental. O que tentava
fazer?
— Eu vou subir para falar com você em um segundo. — o irmão
mais novo de Ian gritou. — Eles estão caminhando para o fosso. — Se
Duncan não tivesse gritado para Ian anteriormente sobre a equipe de
filmagem, a loba poderia ter ficado por lá mais tempo.
Não planejando lidar pessoalmente com a equipe de produção do
filme, porque não tinha necessidade, Ian estudou o nevoeiro peneirando
através das fileiras de álamos, vidoeiros prateados e pinheiros silvestres,
circundando o Castelo Argent, movendo-se como um predador silencioso,
seguindo em torno deles em um fino cobertor branco. Se seu clã estivesse
em batalha, esta névoa não poderia ter sido mais bem-vinda. Cada músculo
em seu corpo tencionou. Parecia batalha, da mesma forma.
Mas o que ele mais queria era caçar a loba. Sua pelagem
avermelhada era cor de canela e na parte inferior de seu focinho um branco
macio. Suas grandes orelhas vermelhas estavam ouvindo na direção dele,
contorcendo-se quando seu irmão tinha falado e a ponta preta de sua cauda
havia estado apontada reta para fora, sem se mover um centímetro. A loba
era definitivamente fêmea, menor e mais fina no físico do que um macho.
Se o pessoal da equipe de filmagem não estivesse vindo em um
momento tão ruim, ele teria sinalizado a Duncan para reunir os homens para
ir atrás dela enquanto segurava seu olhar. Mas estava bastante certo de que
Julia teria corrido se os tivesse ouvido vindo em sua direção na floresta.
Provavelmente, esta não seria a última vez que ela viajava pelas matas dele
em sua forma de loba tampouco. A noção de pegá-la em flagrante mais do
que lhe agradava.
Irritado por não poder mudar de forma agora, não com a equipe de
filmagem em vista, atravessou o corredor leste em direção à torre do portão
no lado norte do castelo.
Ele pensou que o mar de névoa à deriva na área talvez mantivesse os
americanos na aldeia durante a noite, longe de seu castelo e da fria chuva
úmida que ameaçava cair novamente. Todavia, inevitavelmente eles estariam
batendo à sua torre de sentinela, com vistas a transformar as terras numa
loucura cinematográfica. Um acordo era um acordo, não importava o quanto
não queria concordar com os termos.
Escutou, pelo corredor em cima da muralha, o sussurro de uma brisa
levando o som da assombrosa melodia das gaitas de foles cadenciadas ao
longe, atiçando o seu sangue para a batalha. Ele se perguntou, como diabos
poderia estar tão perto de perder seu lar ancestral e preso a recorrer a algo
tão baixo como ter que deixar de lado o orgulho e permitir este
empreendimento de produção de filmes.
Lutar contra conflitos com os seus vizinhos nos velhos tempos teria
sido mais fácil. Mas a ameaça de perder o castelo e terras devido a
investimentos imprudentes no esquema em pirâmide de Silverman? Os
santos preservem a ele e aos MacNeills.
Então, os ouviu, seus passos ao longe, rumo ao castelo, pisoteando,
cinco ou seis, cogitou. Todavia, quando chegaram à parte norte da passarela,
devido ao nevoeiro e quão longe ainda estavam não pôde vê-los. Se fossem
lobos como ele e sua família, teriam sido muito mais furtivos. Mas os
ianques pisotearam ao longo da estrada de paralelepípedos com desdém,
ignorando a beleza do silêncio cobrindo a terra.
Em seguida, vozes foram levadas. Vozes masculinas, um reclamando
amargamente, a respiração curta, repreendendo o lorde do castelo ―ele”,
Ian MacNeill, por não lhes permitir dirigir pela estrada com quilômetros de
extensão. E outro que tentava consolar o primeiro.
— O lorde não queria uma horda de veículos rugindo pela trilha esta
noite, a última noite dele antes de transformarmos o local em nosso set de
filmagem. Você sabe que ele não queria nada disso.
— Ele concordou e agora não tem mais nada a dizer sobre o assunto.
Cruzando os braços, Ian sorriu sombriamente. É por isso que os tinha
feito andar.
Atrás dos homens, a voz de uma mulher murmurou algo, como se
estivesse falando com alguém, gentilmente não quebrando o encanto da
noite invasora. Ainda estava claro, mas com o nevoeiro e o sol se pondo,
estaria escuro em breve.
Com a audição de um lobo, Ian podia captar vozes e outros sons a
quase 10 quilômetros através da Floresta de Caledônias e dezesseis através
dos mouros. A mulher estava apenas a cerca de um quilômetro de distância e
falando em um sussurro, falando baixinho com outra pessoa, sua voz de
sereia encantando conforme ganhava toda a atenção dele. Era Julia? O
sussurro de uma voz que soava como a dela. Tentadora e sedutora, não
importava o que dizia.
Então a loba era outro alguém que tinha mudado de forma, se Julia
estava com a equipe de filmagem que se aproximava agora do castelo?
Cada músculo em seu corpo se encheu de tensão de novo, mas não
por querer batalhar desta vez. Não, agora se inclinou sobre o parapeito,
tentando ver o aspecto que tinha uma voz tão tentadora, como uma ninfa do
mar que sedutoramente atrairia os marinheiros para a morte. Calmante, como
um bálsamo quente em uma alma perturbada. Se pudesse ter um vislumbre
dela, ver se era Julia e ouvir o que ela estava dizendo...
— Desculpe o atraso, mas eu vi os homens do aeroporto. Aquele que
levou o nosso carro e outro que... Bem, não tenho um bom pressentimento
sobre ele.
— Que outro homem? Você não me contou sobre isso. O que foi
aquilo?
— Esqueça. Conte-me mais tarde o que você encontrou. — a outra
mulher disse sua voz com um característico som espanhol, tão agradável ao
ouvido como a da primeira, mas com uma pitada de preocupação e
aborrecimento atado a suas palavras.
A mulher era Maria, Ian estava certo.
E a outra, que ele pensou ser Julia, acrescentou:
— Eu estava...
— Não vai ser tão ruim. — o irmão de Ian, Cearnach, anunciou,
abafando o resto das palavras da mulher, seus passos desengonçados o
precedendo enquanto se juntava a Ian no corredor da muralha, bem acima do
pátio exterior.
Frustrado além da crença, Ian tentou pegar as palavras dela
novamente, mas nenhuma das mulheres falou mais. Ele havia se concentrado
na voz da mulher com tal intensidade que nem sequer tinha ouvido seu
irmão chegar.
— Sereia.
Ian resmungou baixinho, percebendo agora o quanto a mulher o tinha
posto sob seu feitiço. Inferno. Nenhuma mulher, especialmente uma com
esta equipe de filmagem, iria distraí-lo de seu dever, mesmo que fosse uma
loba. Apesar de dizer isso a si mesmo, teve que se forçar a tirar o olhar da
estrada, querendo desesperadamente observar a mulher, ver se ela era Julia.
Ainda imaginava aquela blusa de seda colada aos seios e as calças agarradas
eroticamente em suas pernas. Com irritação, virou-se para encarar seu irmão.
Ele jurava que Cearnach parecia meio que satisfeito com a situação.
Seu irmão usava uma camisa verde colada, calça azul- marinho e um par de
botas desgastadas. Com a brisa puxando seu cabelo despenteado e uma
sombra de uma barba enfeitando o rosto, parecia casual e descontraído,
como sempre aparentava.
Sendo o mais otimista de seus irmãos quadrigêmeos, o nome de
Cearnach lhe convinha: vitorioso ou guerreiro da floresta. Ian acreditava que
sua mãe tinha que ter descoberto algo da personalidade deles antes de terem
nascido, através de algum tipo de conhecimento inato, todos, exceto pelo
próprio Ian. Ele era o presente de Deus. E olha onde isso os levou. Presumia
que sua mãe havia lhe nomeado como tal, porque era o primogênito de
quatro irmãos. Ela provavelmente ficou aliviada de dar à luz ao primeiro
deles e começar com a coisa toda.
O clã, a matilha, a casa deles... Tudo isso repousava sobre seus
ombros. Não importava quantos membros de sua matilha ajudasse a gerir as
coisas, ele era o responsável. E os decepcionou.
— Silverman. — Ian rosnou. — É verdade, o bastardo é um ladrão
que não dava a mínima para quantas pessoas arruinava financeiramente ao
longo do caminho, contanto que pudesse construir seu próprio pequeno
império de ganhos ilícitos. Mesmo a companheira dele estava neste negócio,
fingindo inocência enquanto tentava manter o máximo de dinheiro em seus
próprios bolsos enquanto ele desaparecia. E o pior é que tanto Silverman
quanto sua companheira eram lobos cinzentos da variedade americana.
A parte sobre eles serem americanos tinha azedado ainda mais a sua
opinião sobre aqueles da equipe de filmagem, mesmo que não tivessem nada
a ver com isso.
— Silverman era grande em Wall Street. Respeitável. Ou foi por um
tempo. — Cearnach lembrou Ian. — Ele enganou um monte de gente.
— Outros, com certeza. — mas Ian deveria ter supervisionado as
finanças deles melhor do que isso.
Não importava o resultado, Cearnach sempre encontrava uma
maneira de ver, qual fosse à loucura que se abatia sobre eles, de uma
maneira positiva.
— Eu continuo a lhe dizer que é uma experiência de aprendizagem.
Uma maneira de gerir o nosso dinheiro de forma mais eficiente no futuro.
Ser mais vigilante. Mas mais do que isso, é uma forma de se conectar de
novo com o mundo exterior, em vez de isolar nosso clã, nossa matilha, de
todos os outros.
— Nós socializamos com os moradores locais, Cearnach.
Participamos das festas highlanders, pescamos e até mesmo exibimos nosso
gado. — entretanto, Ian se contentava com a manutenção de sua matilha em
semi-isolamento. Precisava se contentar por aqueles que eram mais
recentemente transformados. Não muitos clãs poderiam ostentar sua
linhagem lobisomem e aqueles que o faziam, mantinham suas identidades
em segredo. Ele tinha certeza de que o mesmo era verdade pelo mundo todo,
ou teriam conhecimento desse fato.
— Eu sei que você está se culpando. — Cearnach disse, apoiando os
antebraços sobre a parede de pedra e olhando para a vista da antiga Floresta
de Caledônia. — Mas você deve culpar Guthrie unicamente por este mal.
Ian lançou ao seu segundo irmão mais velho um olhar ardente.
Cearnach o contrabalanceou com um sorriso conhecedor.
— Tch, esse é o problema. Você não culpa ninguém além de si
mesmo. Guthrie age sem perguntar a qualquer um de nós, se estamos de
acordo com os seus planos em relação ao nosso dinheiro. Guthrie é o único,
e só ele, que nos meteu nesta confusão. Ponha ele como responsável.
Guthrie, assim como o seu nome, não podia ser freado mais do que o
vento, livre para vagar deliberadamente onde fosse. Ele sempre teve uma
incrível capacidade de fazer dinheiro para o clã de maneira incomum, mas
desta vez, o enganador perito o iludiu. Seu irmão não tinha aprendido que se
parecia bom demais para ser verdade é porque provavelmente não era?
Se Silverman não tivesse desaparecido dos Estados Unidos, Ian iria
castiga-lo. Embora seu irmão mais novo quisesse tomar isso em suas
próprias mãos, caçar o filho da puta e obter o dinheiro deles de volta, sabia
que Duncan não seria gentil. Não que ele seria tampouco.
— Os ianques nos tornarão solventes. — Cearnach continuou
alegremente. — Um tomou o nosso dinheiro, outro vai nos ajudar a vencer.
Ian não achava que Cearnach algum dia já soou menos do que alegre.
Era francamente irritante às vezes. Com seu olhar severo, resmungou e
cruzou os braços.
— Eles não ficarão dentro das muralhas do castelo depois do
anoitecer.
— Eles têm algumas filmagens para fazer à noite, Ian. Você assinou
os formulários de consentimento.
Ele teve que concordar, por mais que não quisesse. Foi uma das
concessões que precisou fazer se o filme ia ser feito aqui.
— Estou surpreso que não puderam construir uma réplica do castelo
na Hollywood deles. — o que era exatamente o que deveria terlhes dito,
mas, verdade seja dita, os MacNeills precisavam do maldito dinheiro.
— Para este filme, os custos de produção podem ser mais baratos se
filmarem no local, pelo menos é o que Guthrie diz.
— Eles não vão dormir dentro do castelo à noite. — reiterou Ian.
Não seria influenciado até este ponto. — Nosso povo tem que ter a sua
privacidade. — pelo menos meia dúzia tinha sido transformada durante a
última metade do século passado e não podia controlar a mudança durante a
lua cheia, quando a atração era mais forte.
Cearnach acenou alegremente.
Ian balançou a cabeça.
— Você alguma vez fica com raiva de alguma coisa, irmão?
— Sim, Ian. Quando o primo Flynn decolou com a moça bonita por
quem eu fiquei intrigado há muitas, muitas luas atrás, estava pronto para
cortá-lo em dois com a minha espada. Se Duncan não tivesse me parado... —
Cearnach deu de ombros e sorriu.
— Duncan estava mais louco do que você que o nosso primo fugiu
com ela na surdina. Não demorou muito para que você estivesse interessado
em outra garota.
— Você está certo. Aquela que decolou com Flynn não era digna de
minhas atenções. E a outra por quem Flynn se apaixonou foi a ruína dele. —
O rosto de Cearnach endureceu um pouco e soube que seu irmão estava
pensando na noiva prometida de Ian, Ghleanna MacDonald, uma humana,
não uma loba, e do desastre que tinha sido as palavras de raiva, o banimento
de Flynn do clã e da matilha e a rescisão do contrato com MacDonald.
Cearnach suspirou profundamente. — Esta foi o último erro dele. Eu sempre
disse a Flynn que moças solteiras eram as únicas com quem se flertar.
Sons de passos se aproximaram e eles se viraram para ver Duncan vir
na direção deles, sua expressão sombria.
— Eles estão aqui. Pelo menos o grupo avançado. Quer que eu cuide
deles? Você disse que não queria ser incomodado.
Duncan estava certo. Não queria falar com eles. Já tinha disposto os
detalhes. Agora, seus homens poderiam aplicá-los.
Entretanto... Considerou a voz da mulher que tinha ouvido e queria
ver se era Julia. Mas a forma como as duas mulheres conversaram uma com
a outra, sobre algum problema no aeroporto o fez perceber que alguma coisa
estava errada, algo que era melhor ser mantido em segredo e queria saber
sobre isso. E desejava muito descobrir o verdadeiro nome de Julia. Ele quase
teve a vontade de perguntar ao diretor na frente dela se estava realmente com
a equipe agora. Colocá-la sem saída. Ver o que tinha a dizer desta vez.
Todo mundo na equipe de filmagem era loup garou? Deveria ter
pensado em perguntar. De certa forma, tornaria a vida do clã mais fácil.
— Cuide deles, Duncan. Nenhum alojamento nas instalações. Não
quero vê-los mais do que eu preciso. E, Cearnach, não faça concessões a
ninguém. — ele fez uma pausa para aquilo ser assimilado e então se
perguntou o que seu irmão gênio financeiro estava fazendo. — Onde está
Guthrie?
— Em seu escritório, fazendo ligações, como de costume. — disse
Cearnach. — Eu realmente cuidaria do que ele está aprontando agora. Estes
são tempos de desespero. Sem dizer em que esquema imprudente poderia
investir da próxima vez. — Cearnach piscou, parecendo mais divertido do
que preocupado e seguiu na direção da escada da torre.
Isso fez Ian se perguntar se Cearnach sabia de alguma nova loucura
que Guthrie estava endossando.
— Certifique-se que... — Ian disse a Duncan, alto o suficiente para
Cearnach ouvir. — Cearnach não fale com os ianques com algum tipo de
autoridade.
Cearnach riu, nem um pouco incomodado com a preocupação de Ian
ou que ele tinha dito a Duncan para ser responsável por seu comportamento,
apesar de Duncan ser o mais jovem dos quadrigêmeos. Cearnach sabia que
Ian confiava plenamente nele.
Duncan deu a Ian um sorriso sombrio.
— Sim, estes homens parecem bronzeados e mimados. Tudo o que
eu tive que fazer foi dar-lhes um olhar duro enquanto passava pela portaria
para chegar até aqui e eles estavam tremendo em seus tênis.
Ian tentou não demonstrar sua diversão na imagem que foi evocada.
— Por mais que eu odeie dizer isso, nós precisamos deles. Então,
apenas mantenha a paz. Não dê mais concessões do que já concordei e não
os assuste.
— Se Flynn aparecer os maldizendo, não é culpa minha. Você sabe
como ele odeia quando forasteiros aparecem aqui.
— Eles provavelmente não reconheceriam um fantasma se vissem
um. Vá, cuide deles. Eu estarei no escritório de Guthrie. — Ian se certificaria
que seu irmão não assinasse quaisquer outros empreendimentos que não
aprovasse completamente de antemão.
Duncan inclinou a cabeça, deu a volta e saiu, parecendo pronto para a
batalha. Ian foi abençoado com irmãos que, na maioria das vezes, poderiam
ser confiáveis. No entanto, se estes fossem os bons e velhos tempos, teria
uma espada na mão e posto Duncan na liderança.
Conforme se aproximava da guarita do corredor da muralha, olhou
para baixo e examinou o grupo de seis, quatro homens e duas mulheres. E
parou onde estava. A morena era aquela com a sexy voz espanhola, Maria.
Ela estava de pé, em silêncio, ao lado do homem que parecia estar no
comando, os braços cruzados e o pé batendo na porta de entrada de pedras,
parecendo muito irritado.
A outra mulher era Julia, a ruiva, vestindo uma roupa verde agora,
que se camuflava na floresta, como um caçador faria. Mas ele observou a
coisa mais estranha. Uma folha e um par de agulhas de pinheiro se
agarravam a parte de trás de seu suéter. A única explicação a que poderia
chegar era que ela tirou a roupa, deixando-a nas agulhas de pinheiro e
mudou de forma. Ou queria que este fosse o caso? Queria que Julia fosse a
pequena loba vermelha que observou na floresta, metade desafiando-o,
metade com medo que a tivesse visto?
Apesar de dizer a si mesmo que não devia se preocupar, além de não
querer que alguém, que não fosse um de sua espécie, descobrisse o que ela
era, precisava saber a verdade.
Julia tomava notas. Ninguém estava falando, então o que escrevia?
Ian observou a maneira como a ruiva olhou para dois de seus primos,
Oran e Ethan, e o interesse recíproco que eles lhe mostraram. Merda, ele
disse ao clã que tudo entre seu povo e os americanos seria estritamente
profissional. O negócio no qual pareciam estar interessados não era o que
tinha em mente.
E se perguntou se o fato das mulheres serem loups garous, tinha algo
a ver com isso. O que significava que precisava conversar com os seus
homens, o mais rápido possível.
E conversar com Julia também, para saber exatamente o que ela
estava fazendo.
CAPÍTULO 6
Névoa não só cobria a floresta e a área em torno das terras do castelo
dos MacNeills de uma forma sobrenatural, assombrosa e de tirar o fôlego,
mas também a própria fortaleza e o pátio exterior. Julia fazia anotações em
seu diário enquanto ficava um pouco atrás de Maria. Ela sabia que teria que
ser honesta com sua amiga, depois delas voltarem para a casa de campo,
sobre ter sido pega em sua forma de loba. Mas se não mudasse de forma
novamente enquanto estivesse na Escócia, nenhum dano seria feito.
Ninguém jamais saberia que era a pessoa que tinha se transformado contanto
que fizesse isso novamente e não fosse pega.
Ninguém sequer tinha corrido para fora do castelo para caçar o lobo.
Então, talvez eles não se importassem. Ou talvez a indústria cinematográfica
tomasse toda a atenção deles por ora.
No momento, o diretor estava batendo com o pé no chão, de cara feia
e esperando por alguém de importância para falar com ele, quando raramente
ficava esperando por qualquer coisa. Dois Highlanders musculosos os
observavam, de braços cruzados e olhos cerrados, guardando o pátio
exterior, porém, logo que viram Maria e Julia, suas bocas se contraíram um
pouco. Patifes. Ela estava certa que o senhor deles não gostaria que
estivessem flertando com as mulheres da equipe de filmagem. Os homens
estavam provavelmente interessados nelas ainda mais porque também eram
loups garous.
Julia rapidamente escreveu mais algumas notas, desta vez sobre os
homens do castelo, e não apenas sobre as torres de arenito ou os ímpios
portões de ferro projetados para manter o inimigo fora. Para o primeiro dos
homens, ela escreveu:
Ruivo; braços musculosos salientes sob uma camisa leve, apesar do
ar frio; os olhos de um cinza chumbo, aquecendo um pouco enquanto ele
olha uma mulher; boca masculinizada, malandra e adorável. Talvez de
ascendência nórdica. Poderia ser um descendente dos primeiros
lobisomens vermelhos.
Pelo menos para a sua história.
Sim, era assim que descreveria o homem em seu romance histórico.
Olhou para o outro homem e notou que estava agora tendo uma
conversa particular com o ruivo, cujos olhos permaneceram fixos nela. Ele
estava sorrindo um pouco mais e concordou com o comentário de seu
companheiro.
Ignorou o rubor aquecendo todo o seu corpo e tentou concentrar-se
no negócio de descrever o segundo homem para seu romance. Era
definitivamente muito mais fácil observar temas para suas histórias mais
secretamente quando os objetos de suas anotações não estavam cientes do
que estava fazendo.
Ela escreveu para o segundo personagem:
Olhos amarelos claros, tão malandros quanto; um indício de uma
barba, cabelo castanho escuro; alto como seu amigo ruivo, tão musculoso
quanto; interessado, parecia ser mais escocês na origem.
Na umidade fria, Julia tremeu e ouviu vozes masculinas se
destacarem sobre o corredor em cima da parede de muros. Ela se afastou de
Maria e dos outros para ter uma visão melhor da muralha e avistou três
Highlanders musculosos conversando ali.
O moreno Duncan estava carrancudo e parecia pronto para começar
uma guerra. Ele estava vestido de preto, estilo paramilitar ―são associações
civis, armadas e com estrutura semelhante à militar‖, como se fosse um
agente do FBI, mas sem as letras brancas em toda a camisa para identificar o
que era. Tudo o que precisava era de uma espada. Sem necessidade até
mesmo para um escudo, porque ela presumia que Duncan nunca voltaria
para o modo defensivo enquanto estivesse numa luta, ficando na ofensiva o
tempo todo.
Na luz fraca, o outro estava sorrindo e parecia de bom humor. Seu
cabelo era mais claro, com mechas vermelhas, e uma camisa colada verde-
esmeralda mostrando o tipo certo de músculos: não volumosos, mas fortes o
bastante para parecer que fizesse um monte de exercício. Talvez
empunhando uma espada, embora mais para diversão do que em combate.
Ele parecia relaxado, como se estivesse ouvindo um conto de um bardo.
E o último, aquele que mais lhe chamou a atenção, era Ian, o senhor
de terras. Ele era todo negócios e no controle, pelo menos pelo que ela podia
perceber pela forma como os outros se aproximaram dele para falar. Ele
gesticulou de um para o outro dizendo para ocuparem-se de seus negócios
como se estivesse dando ordens. Com um rosto másculo e um olhar severo,
ele foi aquele que prendeu sua atenção.
Os dois homens desapareceram, enquanto seu herói permaneceu no
topo da muralha por um momento mais e, em seguida, caminhou na direção
oposta. Mais dois homens se aproximaram dele, ambos abaixando a cabeça
em saudação.
Ela suspirou, caneta na mão, apertando seu bloquinho contra o peito
e tentando parecer que estava com aqueles que se reuniam com os MacNeills
para resolver arranjos para a filmagem começar.
Duncan desceu a escada da torre e andou em direção a eles com dois
homens musculosos ladeando-o, como se fossem tipos medievais prontos
para a batalha, exceto que os outros estavam vestindo calças pretas e blusas
leves, em vez de kilts e túnicas. Fascinada, observou Duncan abordar o
diretor e gerente de produção e definir as condições com energia, enquanto o
gerente acenava concordando, senão um pouco trêmulo. O diretor manteve-
se impassível, como se fosse um chefe de clã de outro local e não se curvaria
a regra de qualquer homem.
— Ninguém é permitido dentro do castelo antes do início da
produção. Exceto para o grande salão, a torre de prisão ou calabouço, o pátio
exterior, o pátio interior, os estábulos e a muralha, a maior parte do castelo
está fora dos limites para a equipe de filmagem. — disse Duncan.
Escuro e perigoso deixou claro que os aposentos privados não seriam
acessíveis. E é onde Julia precisava estar. Cada desvio dos planos tinha que
ser pré-aprovado pelo próprio Ian MacNeill. Pelo que Duncan MacNeill
disse, não haveria nenhum desvio. Percebeu que isso se aplicava a ela,
também.
Depois de estabelecer a lei, Duncan lançou um olhar para o grupo de
homens e, em seguida, para Maria e Julia, como se pontuando suas regras a
todos e a cada um deles e medindo-os para ver se algum causaria ao clã
qualquer dificuldade. Seu olhar parou brevemente sobre Maria. Duncan
franziu o cenho. Ajeitando sua estatura pequena, Maria olhou de volta para
ele se mostrando não intimidada. Mas Julia se perguntou por que Duncan
estava analisando-a por mais tempo do que era necessário, talvez estivesse
interessado nela, afinal de contas?
Então, a atenção dele se voltou para Julia e os sulcos em sua testa se
aprofundaram ainda mais. Um tremor de aviso penetrou seus ossos, mas ela
segurou o seu olhar escuro, tentando empurrar para longe o sentimento
indesejável. Ele não gostava que Ian parecesse interessado nela, imaginou.
A expressão proibitiva de Duncan não vacilou, mas ele voltou sua
atenção para o diretor, deu um aceno rígido com a cabeça dura, ignorou o
gerente de produção, virou-se e saiu com seus soldados. Pelo menos foi
assim que Julia os considerou, como guarda-costas letais se tivessem estado
nos Estados Unidos, protegendo alguma pessoa muito importante. Ainda que
ele não parecesse que precisasse da proteção de ninguém.
Ela suspirou. Já se sentia em casa na Escócia, apesar da atitude de
Duncan. Seus vínculos com os clãs Campbell e MacPherson através das
raízes de seu pai e com o clã Fraser através de sua mãe despertaram um
interesse por todas as coisas escocesas novamente. Tudo sobre o castelo
parecia certo, desde a atmosfera, até a aparência dos belos escoceses e a
sensação das fortificações de pedra com musgo verde agarrando-se a estas e
suavizando a aparência rígida.
Agora, só tinha que entrar na fortaleza e tomar notas sobre o resto do
lugar, encontrar o nicho secreto enquanto estava nisso e teria terminado.
Contanto que não fosse flagrada.
Após ficar de pé no corredor da muralha dando ordens, Lorde
MacNeill ainda não tinha se dado ao trabalho de descer para falar com o
gerente de produção. Nem mesmo para vê-la de perto, o que disse a ela
como as coisas eram. Já que estava aqui na função de trabalhar com a equipe
de filmagem, pelo menos, isso era o que ele tinha presumido, ela era má
notícia. Descer para, pelo menos, encontrar com o diretor abaixo de sua
nobreza? Mas por quanto tempo isso duraria assim que dessem início as
filmagens?
Imaginou que não havia nenhuma maneira de que Lorde MacNeill
pudesse controlar tudo o que acontecia durante as filmagens.
Será que ficaria na muralha, como fazia agora, bem acima com os
braços cruzados sobre o peito largo e exibindo uma poderosa carranca
enquanto observava o processo? E se as coisas não saíssem como planejadas,
talvez, gesticularia para os arqueiros, guarnecendo o corredor da muralha e
uma chuva de flechas se derramaria sobre a equipe de filmagem.
Ela tinha uma imaginação muito fértil.
Calculando mal a equação humana, tinha falsamente presumido que
as pessoas vivendo aqui ficariam animadas por ter um filme produzido em
seu entorno e iriam cumprimentar o diretor com entusiasmo e apoio. Onde
filmes foram filmados em outros castelos, os sites tinham orgulhosamente
proclamado o fato. Até agora, em todo lugar que a equipe de filmagem
esteve, os escoceses haviam sido generosos e amigáveis. Imaginou que não
haveria nada disso aqui. De fato, Maria havia dito que os MacNeills nem
sequer tinham um site. Depois de fazer um pouco de pesquisa, Julia
descobriu que o castelo nunca foi aberto ao público. Sob cerco e violado
algumas vezes durante a uma grande luta, sim, mas nunca aberto
voluntariamente para o público.
Isso a fez pensar que talvez sua família tivesse tomado o castelo
durante um cerco. Quem sabe, então, foram derrotados em uma data
posterior e tiveram que apressar-se para fora de lá. Nada bom. Se Ian
descobrisse sobre suas raízes escocesas, guardaria rancor contra ela?
Olhou de volta para o corredor sobre a muralha. Ian MacNeill tinha
parado para observá-los agora e não deixou a muralha quando pensou que
assim faria. Num primeiro momento, a atenção dele estava no diretor, como
se estivesse medindo-o, o inimigo declarado em seu meio. Sua atenção se
fixou, em seguida, em Julia e a pegou olhando de volta para ele. Ela sorriu.
Não pôde controlar a si mesma.
Os lábios masculinos de Ian se separaram um pouco e ela acreditou
que realmente o surpreendeu com o seu sorriso. Talvez o abalasse um pouco.
Maria sussurrou:
— Você vem, Julia? — Maria olhou para cima para ver o que tinha
ganhado a atenção de sua amiga.
— Hmm, pedaço de mau caminho. E apesar do que você diz, eu acho
que ele tem uma queda por você. Sem mencionar o seu interesse pelo lorde.
— ela agarrou o braço de Julia.
— Vamos. A equipe já está voltando. Os Highlanders nos observando
parecem como se quisessem alguém para entretê-los hoje à noite. — ela
gesticulou para a muralha. — Acha que o senhor de terras pode ser bom para
um rala-e-rola?
Julia riu, seus pensamentos fugindo de novo.
— Sim, um pedaço de mau caminho. — ela murmurou. E se
chegasse muito perto de novo, poderia se perder.
— Mas definitivamente não é bom para um rala-e-rola. — visto que
ele era um lobo e isso significava um compromisso permanente.
Podia simplesmente imaginar como seria estar sob o feitiço de
MacNeill. Mais de seus beijos quentes, o corpo pressionado duramente
contra ela, o escuro olhar faminto enquanto a carregava para dentro do
castelo, mas nada mais que seu corpo aquecido encheria os pensamentos
enquanto se derretia contra ele, querendo muito mais.
Se Ian não fosse um lobo, estaria muito tentada a ter um ralae-rola
com ele como Maria sugerira. Só para ter a sensação para uma de suas
mais... sensuais cenas. Para os loups garous, era perfeitamente aceitável ter
amantes humanos antes de encontrarem o seu companheiro de toda a vida.
Mas ele não era estritamente humano e do jeito que Ian era tão gostoso,
devia ter adivinhado que era um lobo.
Ela balançou a cabeça para si mesma. Nunca teve a
necessidade de representar suas cenas na vida real antes de escrevelas, até
agora. Era como se os laços que tivesse com as antigas florestas e
construções, suas raízes familiares profundas na Escócia, Irlanda e até País
de Gales, nunca tivessem sido cortadas quando o povo dela deixou a região
há tantos séculos.
Com uma animação em seu passo, voltou através da portaria onde
não uma, mas três portas levadiças mantinham os invasores fora.
— Eu pensei que eles só tinham um desses portões de ferro na
entrada do pátio exterior do castelo. — Maria comentou, apontando para as
portas.
— Alguns sim. Mas outros, como estes, eram usados para encurralar
os invasores entre portões, se o inimigo fosse infeliz de ser pego dessa
forma. — os braços de Julia se arrepiaram quando ela olhou para o arco do
castelo acima delas e apontou para a porta de entrada, onde existiam lacunas
na pedra sobre a entrada e ao longo do comprimento da muralha.
— Balestreiros ou buracos da morte. — Julia explicou a Maria. —
As aberturas retangulares forneciam um lugar para os defensores do castelo
derramarem água fervente para baixo nos inimigos que tentavam romper
suas defesas. — Maria estremeceu.
— Eu pensei que usassem óleo fervente.
— Versão de Hollywood. Teria um custo muito alto.
Maria estendeu a mão e tocou um lugar sobre uma das paredes de
pedra onde reparos tinham sido feitos à argamassa.
— Você pode imaginar o quanto este lugar deve custar para aquecer?
Ou a manutenção desses equipamentos antigos em pedra? Toda vez que eu
me viro, algo está errado com o meu apartamento. E é praticamente novo.
Mas você pode imaginar os gastos na manutenção de algo tão grande e
antigo?
— Não, não realmente. — Julia não tinha dado muita atenção. — Eu
me pergunto se os MacNeills estão tendo dificuldades financeiras e essa é a
razão pela qual concordaram com este empreendimento, mesmo com
relutância. Mas por que não querem abrir suas portas para ter o tipo de
negócios como pousadas ou recepções de casamento, ou ambos, como
alguns dos outros castelos ou mansões estão fazendo? Talvez tenham
aceitado por este ser um esforço de curto prazo e não um empreendimento
invasivo de longo prazo, por isso parece factível.
— Sim, poderia ser isso. — Maria concordou.
Isso suavizou a visão de Julia dos orgulhosos MacNeills um pouco,
já que ela mesma estava tendo problemas financeiros com o seu novo livro
adiado por um bloqueio na escrita.
Olhou por cima do ombro e viu Duncan MacNeill atravessar os
portões do que provavelmente era o pátio mais interno. O santuário interno.
A partir de ali, ele ia para dentro da fortaleza. Ela certamente desejou que
pudesse entrar lá, sem ninguém saber.
Duncan caminhou com um ar majestoso, mas mortal, e Julia
imaginou que ele sempre parecia assim. Sua aparência externa hoje
provavelmente não era nada diferente de qualquer outro dia, o que a fez se
perguntar por que era desse modo. Estudos de caráter a intrigavam. Eles
eram úteis para retratar seus próprios personagens de livros.
Mas, então, um dos membros do clã moveu-se para Duncan, falou
com ele e apontou para Julia. O guerreiro se virou para olhar na direção dela.
Sua expressão era sombria enquanto seu olhar focava nela. Não em mais
ninguém, apenas Julia. Seu estômago torceu em um nó.
— Moça! — gritou de uma forma autoritária. Não podia saber quem
realmente era ou o que planejava fazer aqui. Duncan fez um sinal para que
viesse até ele enquanto rapidamente comia o chão com seu longo passo,
rumo a ela, como se receasse que fosse fugir antes dele alcançá-la.
Com o coração acelerado, não se moveu um centímetro na direção
dele. Mas não se afastou também.
— O que você fez? — Maria sussurrou, soando como se pensasse
que Julia era culpada de algum crime.
— Nada. — Julia disse de volta, sua pele gelada, sua espinha rígida e
suas pernas bambas. — Eu não cheguei a lugar nenhum mais cedo, no meu
pequeno passeio pela floresta.
Eles querem me interrogar sobre correr pela floresta como uma loba.
O pequeno grupo de funcionários do filme já caminhavam através da
portaria e para o outro lado do fosso. Os dois homens musculosos, as partir
dos quais Julia tinha anotado descrições em seu caderno, os seguiam para
fora como se para garantir que ninguém fosse deixado para trás e que ela não
partisse. Ambos olhavam para ela e Maria com o indício de um sorriso. Um
disse algo ao outro, o que fez o destinatário do diálogo sorrir e assentir com
a cabeça, mas presumiu que o primeiro tinha falado em gaélico, porque não
entendeu uma palavra.
— Lorde MacNeill quer vê-la. — Duncan disse a Julia quando se
aproximou.
Os lábios dela se separaram em surpresa. Estava morrendo de
vontade de entrar no castelo, mas não assim. Secretamente, escondida, não
sob o olhar atento de Ian MacNeill. Mas, então, reconsiderou. Ele
provavelmente pretendia falar com ela no pátio interior ou em algum lugar
assim. Não dentro da fortaleza, de modo algum.
— Maria pode vir comigo? — para seus ouvidos, soou
surpreendentemente covarde, quando não era normalmente nada do tipo.
Duncan sacudiu a cabeça. — Ele pediu por você sozinha.
— Você vai ficar bem? — Maria parecia preocupada, mas meio
empolgada por ela também.
— Sim. Estarei de volta em pouco tempo.
— Eu poderia apenas ficar aqui e esperar por você.
— Não vai ser necessário — Duncan disse rispidamente. — Nós
vamos levá-la de volta para casa.
Maria esperou Julia lhe dar o seu aval.
— Eu vou estar de volta daqui a pouco. — o estômago de Julia
estava embrulhando por todo o lugar e queria se agarrar a algo, não no
guerreiro sombrio ao seu lado enquanto ele a levava de volta através dos
portões e depois para o pátio exterior, mas realmente poderia ter usado
algum apoio.
— O que ele quer falar comigo? — Julia perguntou a Duncan, na
esperança de se preparar para qualquer eventualidade. Todos os tipos de
diferentes cenários estavam passando por sua mente: Ian descobriu que era
uma escritora; descobriu que estava relacionada às pessoas que já haviam
ocupado a fortaleza dele, nenhum dos quais poderia ter sabido. Ou Ian
assumiu que era a loba correndo em suas matas e estava incomodado com
isso.
Duncan grunhiu. Essa foi sua única resposta. Nenhum discurso
florido, não que esperasse isso dele, e nenhum indício do que se tratava. E
ele não parecia feliz.
Mais um par de homens estava em outra parede da muralha os
estudando, mas quando ela trocou sua atenção para onde o destemido líder
deles tinha estado, o encontrou ainda a observando. Mais do que a
observando. Parecia fascinado, se podia ser ousada o suficiente para pensar
isso dele. Percebeu que o motivo foi mais porque, quando o olhou, isso
chamou sua atenção.
Mas, em sua história em desenvolvimento, ele ficou intrigado com a
moça bonita que não era desta parte da Escócia. Agora, não estava tão
interessado em enxotá-la como esteve antes de pôr os olhos nela. Apesar da
inicial oposição dele à sua noiva escolhida por seu pai, estava começando a
pensar que o arranjo podia ser interessante.
Se ela simplesmente pudesse escrever a cena antes que esquecesse.
Mas onde Duncan a estava levando, se Ian estava acima da muralha atrás
dela? Não teve um bom pressentimento sobre isso.
— Vocês têm um lugar agradável aqui. — ela disse, na esperança de
atrair Duncan em qualquer tema de conversa.
Ele permaneceu em silêncio.
— Ian es... — Pretendia dizer que Ian estava na muralha atrás deles e
perguntar, então, onde Duncan a estava levando, mas o olhar sombrio que
Duncan deu a ela a fez supor que violou algum protocolo. Ele
provavelmente estava pensando que era uma americana sem noção, o que
não era.
Mas estivera tão envolvida em fantasiar em como Ian poderia ser seu
herói na história, que estava praticamente noiva dele já. Na história, isto é.
Portanto, não o chamar de ―lorde‖ era um descuido que não tinha a intenção
de cometer nem um pouco.
— O lorde... — ela reformulou, na esperança de corrigir seu erro
terrível. — Está no pé da muralha atrás de nós. Então, onde é que ele vai se
encontrar comigo? — Imaginou-se sendo levada para o calabouço. Escuro,
úmido e mal cheiroso. Às vezes, tudo o que existia eram poços profundos e o
único acesso era uma escada, puxada para cima após o preso ser colocado no
buraco. Sem janelas. Sem ar fresco. Julia estremeceu.
Duncan olhou de volta para a muralha, como se estivesse surpreso ao
saber que Ian ainda estava na parede de muros atrás deles. Quando ele olhou
para trás, ela descobriu que Ian... ou melhor, o lorde, tinha sumido.
Passagens secretas vieram à mente. Passagens secretas que queria
encontrar. Intriga, aventura e problemas. Como no que presumia que estava
agora. Por que mais o lorde gostaria de falar pessoalmente com ela?
Mas, assim que entrou no castelo, mal tomou conhecimento de algo,
exceto uma coisa muito importante: o cheiro da entrada. O cheiro era
inconfundível.
Ela tinha entrado num covil de lobisomens cinzentos.
CAPÍTULO 7
Para descobrir se a ruiva era a loba vermelha que transgrediu seus
bosques, Ian disse a Duncan para trazê-la à sua câmara privada. Todavia, seu
povo falaria sobre isso por eras: permitiu uma moça bonita em sua câmara,
uma forasteira, alguém desta produção cinematográfica. Ele tinha que saber
se ela era a loba ou não, e, em qualquer caso, garantir que compreendesse
suas regras. Sem invadir o interior ou os arredores do castelo e suas terras. E
sem mudar de forma, também.
Mas, na verdade, a mulher já estava ganhando a atenção de seus
homens e não queria isso. Eles eram bem-vindos a ter encontros com
mulheres humanas em qualquer lugar do mundo que quisessem, mas não
aqui, e certamente não com qualquer um dos membros da equipe de
filmagem. Seria muito fácil para uma mulher como Julia, com sua aparência
e suas artimanhas, entrar no castelo, solicitando um encontro secreto com
um de seus homens.
Cearnach entrou na câmara, mas Ian o mandou embora.
— Agora não. Eu tenho outro negócio para atender no momento.
— Isso teria a ver com a ruiva bonita que Duncan está escoltando ao
castelo neste exato minuto?
— Tem sim e não preciso de uma plateia.
Cearnach levantou uma sobrancelha.
— Tem certeza? Ela parece ser difícil de lidar.
— Cearnach...
Cearnach cruzou os braços, inclinou-se contra a porta, sorriu e olhou
para o corredor.
— Flynn vagando por aí. É ele avistá-la e nem digo o que vai
acontecer. Eu consigo imaginar uma moça bonita gritando para caramba e
correndo daqui como se o diabo estivesse atrás dela.
— Talvez essa fosse a solução.
Cearnach franziu o cenho.
— Qual é o problema com a moça?
Como Ian poderia explicar o que seu instinto lhe dizia ser a verdade?
Que não tinha conhecido uma mulher como ela jamais, uma que virou a
cabeça dele e o manteve fascinado? Uma que o intrigou com um sorriso
sensual e um desafio em seus olhos verdes. Que, embora até pudesse ser do
acampamento do inimigo, mas ele a queria.
Mas algo mais o incomodava sobre ela. Não conseguia identificar
exatamente o que. Talvez os segredos que Julia desejava discutir com sua
amiga, que não a queria falando sobre eles na caminhada até o castelo. O
cheiro de pólvora perto da estrada onde o veículo delas havia caído do
barranco. A forma como sua amiga parecia com medo dele no bar e, mesmo
que os olhos de Julia tivessem se arregalado e escurecido com a visão dele,
ela ainda o desafiou com um furioso olhar confiante. E o nome Jones. Não
era o dela. Ian soube disso pela maneira que Maria tinha olhado para Julia,
com tal expressão de choque, antes de rapidamente esconder sua reação.
Algo o fez querer chegar mais perto, inspecionar Julia por dentro e
por fora.
Quando Ian não respondeu a Cearnach, ele voltou sua atenção do
corredor e olhou para o seu irmão mais velho, uma sobrancelha escura
arqueada.
— Duncan disse que você estava intrigado com uma das mulheres
que caçou na floresta. Agora, parece que o que ele disse era verdade. Eu
pensei que estava exagerando um pouquinho.
— Cearnach. — Ian soltou o fôlego, não prestes a ceder a ele sobre a
questão de uma mulher.
Um sorriso lento formou no rosto de Cearnach enquanto se afastava
da porta e espreitava para o corredor.
— Pelo que pude ver da moça no pátio interno, ela bem que vale a
pena uma segunda olhada.
— Ela não é fácil de ser tomada. — Ian encostou-se na cadeira de
couro.
— Se ela é humana... — Cearnach encolheu os ombros.
— Você não está ouvindo o que eu tenho a dizer.
— Eu estou ouvindo você, Ian. — mas o olhar de Cearnach manteve-
se focado no corredor e Ian não achou que seu irmão o estava levando a
sério.
Mas, se dissesse a seu irmão que estava falando sério sobre isso,
indicaria que já tinha perdido a batalha.
Pisadas se aproximaram, de um homem e de uma mulher.
Ainda que Ian já tivesse dispensado seu irmão, Cearnach não fez
qualquer movimento para ir embora até depois que cumprimentou a mulher.
Era o fim de Ian ser líder do bando e lorde sobre seu clã. Mas não queria
fazer um grande estardalhaço sobre isso, não na frente da moça.
O rosto de Cearnach se iluminou e ele pareceu tão lupino que tinha
certeza que enviaria a mulher correndo de volta pelo corredor. Esqueça
Flynn e suas aparições fantasmagóricas.
— Moça. — Cearnach disse, curvando-se para baixo em saudação
como se ela fosse uma rainha. — Eu sou Cearnach MacNeill, o próximo
irmão mais velho do lorde. E se você precisar da minha ajuda, não deixe de
pedir. Qualquer coisa, qualquer coisa. — ele sorriu novamente, a aparência
deslumbrante, e Ian queria arrancar o sorriso dele.
Ian permaneceu sentado em sua mesa, à espera de Julia, se este era
mesmo o nome dela, entrar na câmara, se seu irmão fizesse o favor de partir.
Nem sequer podia vê-la uma vez que ela não conseguia se aproximar da
porta ainda, não com Cearnach a bloqueando. Quando seu irmão continuou a
ser um obstáculo, Ian pigarreou, mas nessa hora a mulher disse:
— Prazer em conhecê-lo... — ela fez uma pausa. — Senhor
MacNeill.
— Muitos MacNeills por aqui. Chame-me de Cearnach.
— Obrigado, Cearnach. Eu sou Julia.
Ian percebeu que estava pendurando-se nas palavras dela, ouvindo
sua suave cadência e à espera de seu sobrenome para ver se ela dizia que era
Jones novamente.
Quando Julia não disse mais nada, as sobrancelhas de Cearnach
subiram quase imperceptivelmente e Ian soube que ele estava esperando a
mesma coisa. Ou a mulher não sabia e não era tão familiarizada com
saudações adequadas, ou ela sabia e não quis dar o nome falso de novo.
— Cearnach. — Ian disse, tentando esconder a irritação em sua voz,
mas o divertido olhar que seu irmão lhe deu provou que ele não tinha
conseguido.
Cearnach deu a Ian uma grande reverência, o que nunca fez em tão
ridícula amplitude, e disse à mulher:
— Lorde MacNeill vai vê-la agora. — então, com um eloquente
rodeio de sua mão, Cearnach a conduziu para dentro.
Ian nunca tinha visto tal desempenho.
— Feche a porta quando sair, Cearnach. — Disse um pouco áspero
demais, enquanto Duncan ficava na entrada, parecendo como se também
quisesse ouvir o processo. — Agora!
Duncan deu-lhe um olhar de advertência e, em seguida, fechou a
porta à saída dele e de Cearnach.
Além da porta, seus irmãos comentaram entre si em gaélico,
imaginando que ela não os entendia, e esperava de verdade que não
entendesse.
— Ela é uma de nós. — Cearnach disse, seu tom intrigado conforme
ele e Duncan seguiam pelo corredor. — Você deixou de fora esse pequenino
detalhe, irmão. Não é de se admirar que Ian esteja fascinado com a moça.
— Ele a quer para acasalar. — Duncan respondeu em sua língua
Highlander.
Embora não fosse assim, saber o que ela era mudava tudo. Ian não
tinha pensado que mudaria. Julia ainda era uma americana com a equipe de
filmagem. Ainda estava tramando algo desonesto; ele apostaria seu castelo
nisso. No entanto, assim como Cearnach tinha dito, era uma deles. E
universalmente, isso significava algo, ser um lobisomem em um mundo onde
eram em número bem menor.
— Sente-se, se você quiser. — Ian disse a Julia, apontando para uma
das cadeiras de couro postas na frente de sua mesa. Ela ficou de pé ao lado
da porta fechada como se estivesse pronta para fazer a sua fuga.
Ela não olhou em volta do cômodo, nenhuma anotação agora,
embora ainda segurasse seu bloquinho e caneta nas mãos. Estava voltada
para ele, sem se mexer, sem falar, parecendo um pouco pálida.
— Julia?
Ela rapidamente assentiu, em seguida, instavelmente, pareceu a ele,
cruzou o chão coberto de tapeçaria e se sentou na cadeira um pouco mais
longe da mesa e mais perto da porta. Suas costas estavam rígidas enquanto
se empoleirava na borda do assento.
— Eu vi você na floresta... como uma loba. — Ian disse, assumindo
que ela era a loba vermelha que tinha visto. Ian encostouse na cadeira,
colocando mais distância entre eles e tentando deixá-la mais à vontade. No
entanto, esse não era o seu propósito. Queria afugentá-la para longe de suas
terras, não incentivá-la a mudar de forma e correr através de suas matas. Era
muito perigoso, especialmente com a equipe de filmagem aqui.
Sua sutil fragrância de loba chegou até ele. O cheiro era um
afrodisíaco para um lobo macho de qualquer maneira, mas também notou o
cheiro fresco da brisa e de pinho e zimbro de quando Julia tinha passado por
estes, coletando as fragrâncias em sua pele, cabelo e roupas. Não gostava da
sensação que tinha cada vez que a via, chegava perto dela e sempre que
estava sozinho com ela. Tentadora, atraente e desejável.
Seus olhos tinham ficado maiores, o verde engolido pelas pupilas
dilatadas.
— Julia?
Ela assentiu com a cabeça.
Ian franziu o cenho. Julia parecia muito mais desafiadora antes.
— Duncan disse algo para você? Algo que te chateou?
Ela balançou a cabeça.
— Quando estávamos no bar, você parecia muito mais... — ele deu
de ombros, sem saber que palavra usar para descrevê-la, sem que a
ofendesse. Com isso, jurou que a viu quase sorrir.
— Por que você correu como uma loba?
— Longos vôos, longa viagem de carro, o acidente. Eu queria esticar
minhas pernas.
— No entanto, você não tem ideia se caçadores caçam nestes
bosques.
Quando ela não respondeu, perguntou:
— Você é recém-transformada? E quanto ao resto de sua equipe de
filmagem? Eles também são loups garous?
— Não.
— Mas a sua amiga Maria não é uma loba vermelha, não é?
Uma loba cinzenta mexicana?
— Ibérica.
— Hmm. — ele a estudou por um momento mais, tendo o desejo
maluco de pedir-lhe para ficar para o jantar. Mas não pediria isso a ela, não
com sua gente ao redor de qualquer jeito e toda a especulação que isso
resultaria. Mais do que isso, tinha proibido seu clã de ter qualquer
relacionamento numa base pessoal com a equipe do filme. Então, como
pareceria se ele tivesse? Sempre tentou dar o exemplo.
— O que você está fazendo aqui?
Seus olhos se tornaram grandes de novo e, por um momento,
suspeitou que estivesse aqui por algum outro motivo do que trabalhar com a
equipe de filmagem. O que ela estava tramando?
Ele se levantou da cadeira em seguida e ela parecia que estava
prestes a se levantar também, mas Ian levantou a mão para gesticular que
ficasse. Julia o observou como uma loba cautelosa, uma alfa, pronta para
lutar e não fugir, não olhando para a porta, sua rota de fuga.
— Julia?
— Eu estou... — seu queixo inclinou-se para cima com teimosia. —
Trabalho para Maria. Ela trabalha para o produtor.
— Ah. E seu trabalho é tomar notas sobre o castelo e o meu povo?
— Para o figurino, hum, eu quero dizer, sim, o castelo e as terras e
tudo o mais.
— Figurino? — Perguntou, aproximando-se, meio sentado contra a
borda frontal de sua mesa, agora na frente dela, forçando-a a olhar para ele.
Ian podia ser intimidante quando queria. E teria que ser assim, se queria que
ela lhe dissesse alguma verdade da questão.
— Não figurinos. Claro que não. A menos que vocês usassem...
Quero dizer, seus homens vestissem kilts e similares durante o período de
tempo que a história se passa, mas, por agora, apenas algumas notas sobre o
castelo e as terras.
Ele estendeu a mão.
— Posso vê-las? — ele sabia antes mesmo de pedir que ela diria não,
primeiro por sua expressão facial e, em seguida, pelos lábios. Seus lábios o
fascinavam, a plenitude, a maneira como os lambia em nervosismo, apertava
em aborrecimento e sorria de forma maliciosa.
Os olhos dela, verdes com manchas douradas, apesar de estarem
negros na sua totalidade agora, ainda estavam arregalados e expressivos,
focados no olhar dele, inabaláveis, em desafio. Não se recusou a lhe dar o
bloquinho, mas não o ofereceu, tampouco.
Então, ele sorriu e soube que o olhar era pura maldade. Cruzou os
braços, inclinou-se um pouco, olhando para ela, e perguntou:
— Então, qual é o seu sobrenome realmente, Julia?
O coração dela bateu ainda mais forte e ele jurou que se não estivesse
sentada, ela teria entrado em colapso.

O nome ―MacPherson‖ gritava em seus pensamentos. O coração de


Julia tinha que ter pulado muito acelerado.
Não queria mentir uma segunda vez, porque ele saberia que era uma
mentira, mas, se dissesse Wildthorn, poderia encontrá-la em tantos sites
diferentes, blogs convidados e entrevistas e Ian saberia muito mais sobre ela
que queria que soubesse. Especificamente, que escrevia sobre lobisomens e
tinha certeza que não gostaria de tê-la aqui escrevendo sobre sua vida, sua
família e seu castelo. Se dissesse MacPherson, será que faria uma conexão
com a sua família e tudo o que tinha acontecido no passado? Nem sabia o
que tinha acontecido no passado.
Julia levou muito tempo para responder. Ian estava sorrindo agora e
não apenas um pequeno sorriso divertido, mas um que dizia que a tinha
pego, a encurralado, e ela estava realmente em apuros.
— Vamos lá, eu vou descobrir a verdade antes do tempo. O que você
está fazendo aqui e qual é o seu nome?
Julia arriscou. Ele a conheceria como Wildthorn se perguntasse ao
diretor, que poderia não saber de antemão, mas em algum lugar lá haveria
uma lista com seu nome e, então, Ian saberia. O lorde nunca a relacionaria
com os MacPhersons. Ela tomou uma respiração profunda.
— Julia Wildthorn, mas que diferença isso faça para alguém tão
grandioso como você, eu não tenho ideia.
Impassivelmente, ele assentiu. Se acreditava nela sobre seu nome ou
achava que era importante demais para ser incomodado para sabê-lo, não
pôde ter certeza. No entanto, poderia jurar que o vestígio de um sorriso
estava implorando para aparecer tanto em seus olhos, como nos lábios.
Ele puxou um celular para fora de seu cinto e a ideia de que um lorde
escocês iria transportar próximo um telefone celular parecia em desacordo
com a noção de kilts, espadas e castelos.
— Guthrie, você pode se juntar a mim?
Guthrie, o consultor financeiro com quem tinha falado.
Ela colocou o bloco de notas no colo e tentou parar de agarrar o
coitado até a morte, parecer menos confusa e menos ansiosa do que se
sentia.
— Eu preciso voltar para a casa de campo. Maria vai se perguntar
por que estou demorando tanto.
Fazer sua investigação em segredo era o único jeito. Agora, sentia-se
horrivelmente exposta.
— Fique.
Os lábios dela se separaram em surpresa.
Ele não disse nada pelo que pareceu tempo demais. Em seguida,
acrescentou:
— E jante comigo.
Jantar com ele. Uma pequena parte dela estava tendo pensamentos
fantásticos. De ficar no castelo durante a noite. Para pesquisar, é claro. Ver
se conseguia explorar o lugar enquanto todos dormiam. Procurar as
passagens secretas, o nicho escondido onde a caixa de sua família estava
localizada. Isso podia funcionar.
Parte dela estava tentando ser sensata. Dizer não e voltar para a casa
de campo. Procurar as passagens secretas no exterior da construção e
esgueira-se para dentro do castelo durante o dia quando as filmagens
estavam em andamento e tudo caótico. Lembrar a si mesma que estes não
eram humanos, mas lobisomens que podiam ouvir e ver seus movimentos
quando os outros não podiam.
O lado mais aventureiro e irresponsável de sua natureza venceu.
— Eu adoraria.
Ele curvou a cabeça um pouco para ela, mas antes que pudesse se
levantar da sua cadeira, alguém bateu na porta. Guthrie, suspeitava.
— Entre. — Ian disse.
A porta se abriu e um homem entrou, que se parecia com Ian, exceto
que era ruivo e tinha uma barba aparada. Era alto como Ian, seu cabelo mais
curto, seus olhos verdes contemplativos e usava calça azul-marinho e uma
camisa social branca. Assim como ela imaginaria um contador. Ele lhe deu
um sorriso ardiloso e, em seguida, inclinou a cabeça para Ian.
— Sim, você queria falar comigo? — Ele era afável e parecia
divertido. Imaginou que Cearnach e Duncan já o tinham informado sobre
ela, dizendo-lhe o quanto sabiam.
— Senhorita Julia Wildthorn vai jantar com a gente. Você poderia
dizer à cozinheira?
Os olhos de Guthrie se arregalaram um pouco e seus lábios se
separaram, e então ele olhou para Julia. Inequivocamente, sentiu que uma
comunicação secreta estava sendo transmitida entre os dois homens.
— Você é um irmão também? — ela perguntou.
— Sim, Guthrie MacNeill, terceiro irmão mais velho. — ele era um
sujeito bastante agradável, mas parecia um pouco preocupado.
— Prazer em conhecê-lo.
— Da mesma forma. Quando você quer comer? — Guthrie
perguntou a Ian.
— Você pode ter o jantar preparado em uma hora?
— Uma hora. Vou ver o que posso fazer. — Guthrie deu a Julia um
último olhar, então se curvou para Ian e correu para fora da câmara,
fechando a porta com um clique.
— Seu irmão é muitas vezes responsável por servir o jantar na mesa?
— Julia perguntou, suspeitando da surpresa de Guthrie, embora tivesse se
recuperado rapidamente, aquilo foi novidade para ele. A não ser que... a não
ser que suspeitasse que ela fosse a Iris North que tinha entrado em contato
sobre usar o Castelo Argent para a produção cinematográfica. Não tentara
disfarçar a voz quando o contatou, porque não imaginou que falaria
pessoalmente com Guthrie, não enquanto estivesse aqui, sob o pretexto de
trabalhar com a equipe de filmagem.
— Tudo o que eu precise que ele seja responsável. — Ian disse, mas
imaginava que a refeição não era verdadeiramente parte dos trabalhos de
Guthrie.
Ela jurou que outra coisa estava acontecendo entre os irmãos.
— Preciso ligar para Maria e dizer-lhe que não vou estar de volta
para o jantar. Posso usar seu telefone? Tudo foi perdido no incêndio do
carro.
— Nem tudo, felizmente. — ele disse solenemente. Apontou para um
telefone em sua mesa. — Eu vou voltar em um momento.
Antes do jantar, se você quiser, podemos caminhar nos jardins. E você pode
fazer mais algumas anotações.
— Os jardins. — O coração dela se levantou ao pensar que poderia
incluí-los em seu trabalho e sorriu. — Eu adoraria vê-los.
O humor dele pareceu levantar ligeiramente. — Sim, bem, eu estarei
de volta em um segundinho. — Então, Ian saiu do cômodo, mas deixou a
porta aberta para o seu escritório, seus passos se afastando pelo corredor.
Assim que ele se foi, ela teclou o número da casa de campo.
— Maria, eu vou ficar no castelo para o jantar. — Julia disse
rapidamente a sua amiga quando atendeu, antes que pudesse questioná-la
longamente.
— Eu nunca a vi agindo tão interessada em um homem que nunca
viu antes, Julia. Mas o lorde é um lobo, lembre-se. Você não está pensando
em ter um rala e rola com ele só para que possa ficar dentro do castelo e ver
todos os locais proibidos, não é?
— Rala-e-rola com ele? Hmm, locais proibidos. — agora aquilo
realmente atiçou a imaginação dela. Um Highlander sem o seu kilt, sozinho
com ela em seu quarto de dormir. — Eu estou aqui apenas para o jantar.
— Você sabe que o fato de serem loups garous explica muita coisa.
Por que não querem ter quaisquer filmagens feitas no castelo e não abriram o
lugar a outros tipos de empreendimentos. Por que Ian pôde nos acompanhar
tão facilmente como fez, na floresta, após o acidente de carro.
Uma pausa se seguiu. — Por que ele está atraído por você.
Mas ele parecia estar lutando contra a atração a cada bocado tanto
quanto Julia.
— Ele me viu na mata na minha forma de loba mais cedo.
Maria ficou em silêncio.
— Não é grande coisa. Mas não deveria ter sido capaz de me ver.
Não teria sido se não fosse um da nossa espécie.
— Tudo bem, então, se ele é um dos caras bonzinhos e é um loup
garou, será que viu alguma coisa lá fora que poderia ter indicado que alguém
nos atingiu de propósito quando nos acidentamos?
Julia estivera ocupada demais se preocupando com o seu nome e o
que isso implicaria, para considerar o acidente e se tinha sido um acidente ou
não. Mas Maria estava certa. Já que Ian era um loup garou, ele poderia ter
cheirado tiros, se tivesse havido algum.
— Vou perguntar a Ian.
— Ian? — Maria soou curiosamente suspeita.
— Lorde MacNeill. — Julia tinha feito isso de novo, só que,
felizmente, não na frente de um de seus parentes neste momento. Certamente
pensariam que Ian tinha dado permissão a ela. E dariam a ele um tempo
ainda mais difícil do que já estavam dando, Julia supôs, a partir de seus
olhares divertidos e a conversa em gaélico que era apenas para os ouvidos
deles.
Mas se ele tinha farejado tiros, Maria estava certa sobre sua teoria da
conspiração? Será que outro clã de loup garou queria prejudicá-las? Ou
alguns dos próprios membros de matilha de Ian?
CAPÍTULO 8
Nem em seus sonhos mais selvagens Ian MacNeill jamais considerou
ter um tête-à-tête com uma mulher que era sequer um pouco envolvida com
este empreendimento de produção de filmes. Mas ela estava considerando
ter um rala-e-rola com ele? Ver os locais proibidos? Merda, o seu povo
nunca o deixaria esquecer a vergonha.
Se estava certo em suas suposições, a morena não era um problema.
Ela estava aqui para fazer o seu negócio, e só isso. Julia era uma história
diferente. Se tinha lido suas ações corretamente, estava apaixonada pelo
castelo e seus homens, romantizando como seria viver aqui. Isso não deveria
ter importância, mas ainda assim, tinha vivido o suficiente para reconhecer
problemas quando via um. Talvez estivesse sendo um pouco cínico. Talvez
Julia só estivesse animada e faria o que era esperado com o trabalho e nada
mais.
Mas algo sobre as ações dela o fez suspeitar que era alguém a ser
vigiada. Reter seu sobrenome até o último segundo, esgueirar-se em torno de
seus bosques, após a equipe de filmagem ter sido avisada que ele lhes havia
proibido de fazer tal coisa, e quem sabe o que mais.
Jeans verde-oliva, que camuflariam bem na floresta, tinham abraçado
sua bunda, enquanto balançava um pouco com seu caminhar, suas botas
silenciosas sobre a estrada de paralelepípedos quando ela havia entrado no
pátio interno previamente, enquanto ele a observava da muralha. Um suéter
apertado, de encaixe perfeito, da mesma cor, tinha destacado os seios firmes,
ganhando mais do que apenas sua atenção na direção dela. Do jeito que
estava úmido, porque a moça não estava vestindo uma jaqueta? Para mostrar
seus atributos consideráveis, pensou. Ou foi porque, vestindo menos roupas,
poderia mudar de forma mais rapidamente?
Sedoso cabelo ruivo, da cor de cobre polido tinha saltado sobre os
ombros a cada passo enquanto ela andava mais longe de seu poleiro na
muralha.
Uma vez que todo mundo tinha visto o suficiente da mulher para
reconhecê-la quando a equipe de filmagem retornasse de manhã para
começar a arrumar as coisas, Duncan poderia conscientizar seu povo de que
ela precisava ser vigiada, apenas no caso de tentar fazer um passeio
inoportuno pelo castelo por conta própria. Ele avisou sua matilha para não
mudar de forma enquanto a equipe de filmagem estava no local, mas, às
vezes, a parte lobo da equação não cooperava. Não quando um lobisomem
tinha muitas raízes humanas e a lua cheia estava quase em cima deles. Não
podia arriscar qualquer um dos seres humanos vendo no que seu povo
poderia se transformar. Mas ela não era exatamente humana. Era um deles.
Por outro lado, e se oferecesse para ela ficar na fortaleza? O que
poderia descobrir sobre a pequena loba vermelha, então?
Incapaz de localizar Duncan no pátio interior ou nos lugares
habituais no castelo, Ian verificou com Guthrie em seu escritório para ver se
tinha descoberto algo sobre a Senhorita Julia Wildthorn. Ele não estava lá.
O castelo era muito vasto por vezes. Ian tinha voltado para o grande
salão quando Duncan correu ao seu encontro.
Apesar da compostura geralmente sombria de Duncan, desta vez
havia quase uma energia em seu andar e quase uma curva ascendente nos
lábios. Duncan assustou o diretor e seus asseclas a tal ponto que tinha sido
um pouquinho divertido?
Ian sentou-se na cadeira de encosto alto favorita em frente ao fogo.
— O que o diverte Duncan? Eu não acredito que já o vi assim tão
alegre em eras. Não, a menos que você tivesse sido bem sucedido numa luta
de espadas e, mesmo assim, o seu prazer na vitória seria mostrado de
maneira mais reservada.
Duncan afundou em uma cadeira ao lado de Ian. — Nós temos uma
situação. Guthrie disse que você o colocou no comando do jantar.
Ian ergueu as sobrancelhas.
— Ah, e isso é o que o diverte? — não estava preocupado com a
situação, não se Duncan estava satisfeito com isso.
— Aye. — o leve sorriso de seu irmão cresceu, só que era difícil
dizer o que ele estava pensando. Não um sorriso feliz, mas mais um sorriso
de caçador, como se tivesse acabado de encontrar a presa para brincar.
— E?
Duncan virou-se do fogo, as chamas brilhando para além de seus
olhos escuros.
— Cook tirou a noite de folga. Para estar com MacNamara, é o que
dizem.
— MacNamara? Aquele que renunciou as mulheres depois que sua
esposa se divorciou dele há cinco anos? — Ian fez uma careta. — Ela não
tem a intenção de transformá-lo, não é?
— Ele é apenas uma diversão. Assim é o que ela diz.
— Ah. — Ian assistiu Duncan esticar as pernas.
— A verdade da questão é que Guthrie percebeu que você precisava
de informações sobre a moça e ainda pediu a ele para cozinhar.
— Cozinhar? — Guthrie nunca cozinhou. Bem, pelo menos não
desde que arruinou algumas refeições no processo. Ian jurava que seu irmão
fez isso de propósito para que a ele nunca fosse pedido para cozinhar.
— Aye. Você o colocou no comando de preparar o jantar. Mas Cook
está com MacNamara.
A compreensão surgindo, Ian cruzou os braços e sorriu levemente.
— Eu queria que ele falasse com Cook para ter o jantar pronto em
uma hora, além disso, deveria pesquisar quem é a Senhorita Julia Wildthorn
nesse meio tempo. Como não pode fazer duas tarefas ao mesmo tempo e a
outra é mais importante, você terá o trabalho de Cook.
O sorriso de Duncan desapareceu.
— Eu? Eu cozinho pior que Guthrie.
— Aye.
— Se você está pensando em conquistar a sua amada com uma
refeição apta para um conde, pode esquecer. Nós teremos seja lá o que for
que eu consiga misturar que não vá precisar de qualquer cozimento. —
Duncan parecia triste.
— Quanto ao outro assunto, Cearnach disse que se você não quiser a
vermelha, ele está interessado.
Ian balançou a cabeça.
— Não diga a Cearnach que a outra é uma loba também ou ele dará
as duas uma visita guiada de todo o castelo, o quarto de dormir dele em
primeiro lugar.
— Não diga a Cearnach o quê? — Seu irmão perguntou, caminhando
até o grande salão com dois dos dedicados galgos irlandeses ao seu lado. A
prole malhada era descendente da antiga cria de cães de caça que o clã
MacNeill de lobisomens tinha treinado para derrubar cavaleiros ingleses
blindados na Irlanda, quando os seus antepassados viveram lá primeiro.
Os MacNeills eram descendentes do antigo rei supremo da Irlanda,
Niall dos Nove Reféns. Ao contrário de outros da ilha nos tempos antigos, os
MacNeills não tinham usado os cães para derrubar lobos, até que estes foram
erradicados. Em vez disso, os cães tinham feito um excelente trabalho de
separar os cavaleiros ingleses de seus cavalos de batalha.
Agora, os cães serviam como companheiros. Apesar de enormes e de
aparência feroz com suas desgrenhadas pelagens de arame e pelo eriçado
sobre os olhos e queixo, os cães eram gentis, simpáticos e não muito bons
em vigiar. A menos que uma pessoa de fora atacasse um dos MacNeills ou
seus amigos.
Cearnach sentou-se em sua própria cadeira, esticou as pernas em
direção ao fogo e uniu as mãos sob o queixo.
— Não me dizer o que? — Ele repetiu, parecendo intrigado.
— A moça de aparência espanhola é um de nós também. Guthrie está
pesquisando a Senhorita Julia Wildthorn. — Duncan disse. Ele lançou um
olhar na direção de Cearnach.
— Mas talvez Cearnach consiga algo mais dela com suas maneiras
encantadoras. — Ele fez o comentário em tom de brincadeira.
Cearnach sorriu.
— Com moças? Aye. — seu sorriso se transformou em uma risada.
— Você nunca deixa de me surpreender, Ian. Aqui estamos nós, quase em
ruína financeira, com uma equipe de filmagem prestes a romper as paredes
do nosso castelo, uma batalha prestes a acontecer quanto às condições que
você deseja que se cumpram enquanto a filmagem começa e você está
preocupado com um par de moças? — ele assentiu sabiamente. — Você tem
medo que um de nós vá esquecer nossa lealdade?
Em vez do sorriso bobo que Cearnach usualmente usava, seu sorriso
escorregou e ele colocou um ar prudente. Em outro homem, Ian poderia ter
caído na armadilha. Mas não com Cearnach.
— Os MacNeills nunca esquecem as suas lealdades ao clã. —
Cearnach bateu nas coxas e xingou baixinho. Ele balançou as sobrancelhas.
— Só que, quem de nós vai conquistar as moças, ainda está para ser visto.
— Elas não ficarão. — Ian avisou. — Eu pretendo garantir que
estejam apenas com a equipe de filmagem e não tenham outros planos.
— Que outros planos seriam? — Cearnach perguntou, ainda não
soando verdadeiramente sério. — Elas são americanas, não do clã do nosso
inimigo aqui, correto?
— Nós não temos nenhuma ideia do porquê elas estão
verdadeiramente aqui. Por que loups garous trabalhariam para os seres
humanos dessa forma? Negócio arriscado com certeza. E é isso que eu quero
descobrir.
Duncan disse:
— Mas Maria realmente pareceu estar com a equipe de filmagem. A
outra? A ruiva? Ela tem a aparência de uma moça das Terras-Altas, não há
dúvida sobre isso. Mas se você deseja que eu verifique o passado de Maria,
farei isso.
— Faça isso... — Ian disse. — Já que Guthrie já está verificando a
outra.
Duncan fez um sinal para Cearnach.
— Uma vez que não tem nada melhor para fazer, ele será o
cozinheiro?
Normalmente, quando Ian lhes dava uma tarefa, eles ficavam mais do
que felizes em realizá-la. Mesmo que tivessem que fazer uma refeição, não
era grande coisa. Qual era o caso que não queriam mostrar o quão mal
poderiam cozinhar na frente da fêmea vermelha?
Cearnach franziu o cenho para Duncan.
— Onde está a Cook?
— Cearnach, o trabalho é seu. Jantar em uma hora. — não querendo
discutir ainda mais o jantar com seus irmãos, Ian mudou de assunto. — Hoje
cedo, Guthrie estava prestes a assinar um acordo para ter uma loja de
presentes no grande salão, depois que o filme fosse lançado, para vender
parafernália highlander. Eu enfaticamente disse que não.
Duncan resfolegou.
— Como uma loja de presentes do Jurassic Park. Só que desta vez a
venda de figuras de ação na forma de Highlanders musculosos vestindo kilts,
réplicas de espadas e toda a sorte de relíquias escocesas, sem dúvida.
— Eu tenho uma velha espada ou duas que não me importaria de
vender se o preço for bom. — Cearnach ofereceu.
Ignorando-o, Ian perguntou:
— Guthrie falou com qualquer um de vocês a respeito de servir como
figurantes no filme? Para lutar em algumas das cenas de batalha?
Duncan olhou para Cearnach. Cearnach estendeu a mão para
acariciar Anlan, mas, assim que ele se moveu, Dillon ergueu a cabeça para
ser acariciado também. Ambos os seus irmãos estavam agindo de forma
suspeita o suficiente para que Ian presumisse o pior.
— Vocês concordaram.
Duncan deu de ombros.
— A maioria dos homens de nossa equipe de funcionários se
inscreveu. Nós lutamos de brincadeira o tempo todo. Por que não mostrar a
habilidade da nossa esgrima, algo que temos feito desde que éramos meros
rapazes, ao contrário dos atores do filme a quem deram apenas algumas
lições?
Ian balançou a cabeça.
— Nós estamos sendo pagos para isso, Ian. — Cearnach disse. —
Talvez queira se juntar à diversão e também ganhar uma graninha. Embora,
como um conde, você devesse ser a estrela do filme. Eu posso vê-lo agora,
no entanto. Eles o colocariam como o herói da história e você encenaria uma
luta verdadeira, nada dessa afetada exibição coreografada como fazem nos
filmes. As mulheres se apaixonariam pelo escocês de verdade e seria um
sucesso instantâneo. Se fêmeas loups garous soubessem que é assim que
você é, elas estariam subindo nossas paredes para chegar até você.
Duncan sorriu um pouco. Ian franziu a testa, imaginando mulheres
enlouquecidas tentando invadir através da portaria para violentá-lo. O que
mais uma vez o fez pensar em Julia. E, com ela, a ideia o atraía.
Seus irmãos o estavam observando, sorrindo, como se soubessem
exatamente o que ele estava pensando.
— Figurantes. — Ian disse, levantando-se da cadeira. Ambos os cães
levantaram a cabeça e observaram-no. — Pelo menos Guthrie teve senso
suficiente para não se inscrever para ser um. — seus irmãos lançaram
olhares um ao outro e Ian fez uma careta. — Ele disse que não vai ser um
figurante.
— Ele foi aquele que fez propostas à equipe de filmagem sobre todos
nós servindo como figurantes. Embora nos chamem de artistas de segundo
plano. — Cearnach falou orgulhosamente.
— Tudo o que vamos fazer é lutar contra as nossas próprias pessoas,
como faríamos normalmente, só que seremos pagos por isto desta vez. E nós
poderíamos usar o dinheiro. Os atores de grande nome lutarão entre si. Mas
não, tecnicamente, Guthrie não estará atuando. Ele é aquele que envolveu a
todos nós.
— Você não lutará suas batalhas como normalmente faria Cearnach.
Tenho certeza que eles vão fazer você lutar da maneira que querem que as
cenas sejam filmadas. Droga, a seguir você vai me dizer que, se quiserem
um par de lobos para atacar os membros do clã, você se oferecerá para atuar
nessa função. — Ian deu a ambos um olhar descontente.
Duncan lançou lhe um sorriso ardiloso. Cearnach riu.
— Se pudéssemos nos safar disso e ganhássemos um bom dinheiro...
— ele deixou suas palavras se esvaírem.
— Eu verei vocês dois mais tarde. — Ian deu um tapinha na perna e
ambos os cães se levantaram, espreguiçaram-se e correram para se juntar a
ele enquanto se dirigia para a sua câmara privada para ver o que a senhorita
Julia Wildthorn esteve aprontando até agora.
— Eu imagino que nosso lorde não se importaria se a moça ruiva
desejasse saltar as muralhas do castelo para chegar até ele. — Cearnach
disse, mas felizmente Duncan não expressou sua opinião.
Entretanto, quando Ian lançou um olhar por cima do ombro, para dar
uma olhada de reprimenda a Cearnach, seus irmãos estavam rindo
terrivelmente.
— Quais de nós vamos ficar com as belas donzelas, Duncan? —
Cearnach perguntou.
Nenhum dos dois, Ian pensou. Ele já tinha problemas suficientes
gerenciando o castelo, sem ter uma americana do tipo loba vermelha ou uma
ibero-americana cinzenta instigando novas dificuldades.
Esperava conseguir chegar perto de seu escritório e ouvir mais da
conversa de Júlia com Maria, pelo tanto que ficou intrigado com os
comentários dela sobre ter um encontro sexual com ele. Mas com os cães
andando juntos atrás dele como um par de cavalos e as tábuas do assoalho
rangendo em um ponto, não havia nenhuma possibilidade para isso.
Quando chegou à sua câmara privada, pensou que a expressão dela
parecia animada e satisfeita. Julia parecia como se pertencesse lá. Se não
tivesse ouvido as suas expressões estranhas e sotaque americano, ela poderia
ter sido escocesa. Mas não foi isso o que o fez sentir-se estranhamente em
desacordo quando entrou em sua câmara.
Julia estava sentada na cadeira dele, onde ninguém, nem mesmo seus
irmãos, jamais se sentaram, esquentando o lugar e trazendo à mente o
pensamento dela sentada em seu colo. Com o pênis se apertando, decidiu
então dar um passeio mais isolado com ela.
— Pronta para o nosso passeio? — Ian perguntou a Julia, assustando-
a da conversa com sua amiga no telefone em seu escritório. Ficou surpreso
que ela não tinha previsto a sua presença, mas parecia estar ouvindo
atentamente tudo o que a amiga estava dizendo e se virou abruptamente para
vê-lo.
Os cães entraram no cômodo com ele e ficaram ao seu lado. As
sobrancelhas dela subiram ao vê-los e ele sentou-se em uma das cadeiras de
hóspedes, o que estranhamente o fez se sentir como se tivesse desistido do
castelo. Percebeu, então, o quão importante era sua cadeira. O extraoficial
assento do poder, o lugar onde o seu pai se sentou e o avô antes dele, não
naquela cadeira em especial, mas uma mais antiga, assessorando,
aconselhando sobre a guerra, dando solução de controvérsias entre o povo. E
agora, uma americana, uma loba vermelha, estava sentada nela.
Ele disse a si mesmo que era tolice. Que não significava nada. No
entanto, a situação o lembrou de algo que havia ocorrido no passado deles.
Mas não conseguia se lembrar o que exatamente. Teria que perguntar a sua
tia Agnes, a enciclopédia de toda a história do Clã.
— Eu preciso ir, Maria. — Julia finalmente disse. — Vejo você mais
tarde.
— Hoje à noite, certo? — Maria perguntou em voz alta, como se
estivesse com medo de que Julia já tivesse puxado o telefone para longe de
sua orelha e fosse desligar antes de sua amiga saber a resposta. Por causa
disso, Ian ouviu suas palavras.
— Claro. Vejo você mais tarde. — Julia desligou e se levantou da
cadeira. — Os jardins, certo? — Ela deu a volta na mesa e começou a
acariciar Dillon e depois Anlan. — galgos irlandeses. Que escolha estranha
de cão para um loup garou ter.
Ian nem sequer tinha considerado que ela podia estar com medo dos
cães. Nem todos os amavam como sua família. Então, ficou feliz por vê-la
aproximar-se deles com confiança, como uma alfa faria, e com evidente
interesse neles, o jeito que Julia sorriu e continuou a acariciar suas cabeças
enquanto disputavam mais de sua atenção. Droga, não eram apenas os seus
homens e ele obcecados com a moça, mas seus cães agora, também.
— Este com o rosto mais escuro é Dillon. O outro é Anlan. Eles nos
amam se estamos em nossas formas de lobo ou como humanos. Não
morderiam a mão que os alimenta. — Ian viu o jeito que ela sorriu para os
cães, um sorriso genuinamente afetuoso.
Com a forma como eles pareciam se dar bem, teve outra ideia.
— Eles precisam correr. Você se importaria se eu a levasse às
cachoeiras? Em vez dos jardins? — sentiu-se desonesto por fazer a pergunta.
Claro, os cães necessitavam correr e os jardins não serviriam para isso. Mas
qualquer um poderia ter levado os cachorros para passear enquanto andava
com Julia nos jardins. Queria ficar sozinho com ela, longe de seu povo, só os
dois. Precisava de algumas respostas. Às vezes, o castelo parecia grande
demais para localizar qualquer pessoa, mas em outros momentos, como
agora, parecia pequeno demais para privacidade de verdade.
A expressão dela se iluminou.
— Cachoeiras? Oh, eu adoraria vê-las.
Mas, então, recordando a forma como ela estava mancando antes,
reconsiderou.
— Seu tornozelo já não está doendo? As cachoeiras estão a uma boa
distância daqui.
— Não, minhas botas me dão apoio suficiente. Eu vou ficar bem. O
acidente de carro e caminhar sobre o solo rochoso em saltos causou todo o
problema.
Ian queria tomar posse de seu braço e andar através do castelo para
ver se ela se encostava contra ele. O entusiasmo dela o fez ter dúvidas
quanto à sua sinceridade sobre desejar ver as cachoeiras. O que o
preocupava agora era se seu tornozelo estava bom para a caminhada.
— Nós poderíamos esperar até amanhã. — embora ele não quisesse.
Ela sorriu deslumbrantemente para ele.
— Não, não, eu estou bem. A caminhada até as cataratas com alguém
que conhece a terra vai ser divertida.
A insinuação de que qualquer um poderia atuar como guia esvaziou
seu ego um pouco.
Em silêncio, desceram os dois lances de escada e, em seguida,
andaram através da grande sala onde Cearnach, Duncan e, agora, Guthrie
descansavam. Cada um deu a ele um sorriso furtivo. Perguntou-se o que
estava acontecendo com o jantar. E por que Duncan não estava pesquisando
nada que pudesse sobre a loba ibérica. E mais do que tudo, o que Guthrie
poderia ter descoberto sobre Julia Wildthorn.
Sorrindo, Guthrie disse:
— Eu tenho notícias para você, Ian. — ele olhou para Julia.
Ian apostava que a notícia era sobre a pequena loba vermelha.
— Você pode me contar a notícia mais tarde. — Porém, estava
morrendo de vontade de saber o que seu irmão tinha descoberto, já que
parecia em tão bons ânimos. — Nós estamos indo até as cataratas. Volto
antes do jantar.
— As cataratas... — Cearnach disse, erguendo suas sobrancelhas,
como se soubesse exatamente onde isto estava levando. — Sobre o jantar,
agora que Guthrie acabou a sua tarefa atribuída... e já que você deu a ele a
ordem inicialmente sobre prepara-lo...
— Sim, bem, já que os três de vocês não têm nada melhor para fazer,
façam disso um assunto de família. — Ian sorriu um pouquinho e depois
guiou Julia em direção a porta de entrada, os cães a reboque.
Seus irmãos falaram em gaélico um com o outro.
— Eles nunca vão conseguir voltar aqui a tempo para o jantar. —
Duncan disse levemente. — Não importa o quão mal nós cozinhemos.
— Ela vai ficar durante a noite e estará aqui para o almoço. —
Cearnach avisou. — Se Cook não estiver de volta até lá e eu duvido que
estará, nós teremos a difícil tarefa diante de nós mais uma vez.
Guthrie teve a última palavra antes de Ian e Julia estarem do lado de
fora.
— Ele não sabe onde está se metendo.
CAPÍTULO 9
O comentário de Guthrie sobre Julia avisou Ian que algo sobre ela
iria surpreendê-lo. Já estava pensando nesse sentido de qualquer maneira,
mas agora a sua curiosidade foi elevada a outro nível. Normalmente, era
cauteloso, mas Julia o fazia querer correr riscos que normalmente não
correria. Talvez fosse porque esteve correndo através de seus bosques como
uma loba, negócio muito arriscado, e queria provar que era tão ousado
quanto.
A vida tinha ficado sem graça ultimamente. As mesmas rotinas de
combate à espada com seu povo. As mesmas visitas à taberna local, aos
jogos das montanhas, aos lugares de pesca habituais. Sem mais guerras ou
lutas de clã ou intrigas políticas que envolviam o seu povo. Sim, a vida
tornou-se monótona. Até que Silverman roubou os investimentos e uma
fêmea vermelha entrou em sua vida.
Assim que estavam além das muralhas do castelo e andando pela
floresta no escuro, embora com a visão de lobo deles, ainda podiam ver bem
o suficiente, Ian passou o braço em torno de Julia para oferecer apoio e
julgar se vacilava por causa de seu tornozelo. Ele supôs que ela não era o
tipo de mulher que desistiria de uma aventura, mesmo que isso a matasse.
Talvez porque esteve correndo em volta das terras dele depois de ser ferida
mais cedo e, antes disso, fugindo do que pensava ter sido um perseguidor.
Os cães ficaram nas proximidades, explorando, farejando o chão e
procurando coelhos, mas não se afastaram muito.
— Por que você e Maria fugiram após o acidente? Eu gritei por
vocês para ver se estava tudo bem. — ele disse, querendo saber se ela
realmente tinha sentido medo deles e pretendendo fazer as pazes.
— Nós pensamos que quem bateu no nosso carro talvez tenha feito
isso de propósito.
Ian puxou Julia para uma parada.
— Repita isso! — presumiu que elas tinham apenas pensado que ele
e Duncan eram más notícias, talvez bêbados, mas nunca considerou que o
outro veículo poderia tê-las atingido de propósito.
— Maria me disse que por causa da escolha do seu castelo sobre
quaisquer outros, um homem com um sotaque escocês ligou e disse que ela
iria se arrepender assim que chegasse aqui. Eu pensava que era uma ameaça
vazia. Mas Maria acha que os pneus foram baleados. Pensei que só
explodiram quando atingiram as rochas. Faz o mesmo barulho. Sei, porque
isso aconteceu comigo uma vez.
Ian começou a andar de novo, desta vez mais lentamente.
— Eu senti um ligeiro odor de fumaça de arma.
— Oh! — ela pareceu um pouco pálida.
— E você?
Não de onde estávamos quando o carro bateu na parede de
pedra. Nós não voltamos para a estrada.
Ian balançou a cabeça, imaginando que se tivessem chegado até a
estrada, ele e Duncan teriam se deparado com elas.
— Então vocês pensaram que Duncan e eu estávamos atrás de vocês
de uma maneira ruim?
— Sim. Pelo menos Maria pensou.
Ponderando o jeito que ela disse as palavras, Ian não respondeu por
alguns minutos. Julia era uma melhor juíza de caráter? Ou algo mais?
— Mas você não se preocupou com a gente?
— Eu... bem, você tinha gritado por nós e pensei que realmente
queria ajudar. Quero dizer, o seu... — ela olhou para ele. Em primeiro lugar,
o seu olhar se fixou no dele e então olhou para sua boca.
— Sua voz soou tão... — ela limpou a garganta.
— Tão?
Ela deu um pequeno encolher de ombros, olhando para longe, seu
rosto corando fortemente.
— Tão? — ele perguntou de novo, querendo saber o que pensou de
sua voz que fez o rubor florescer em suas bochechas e estender para baixo de
sua garganta. Os seus seios estavam corando também?
— Agradável. — ela disse.
Agradável. Mas não achou que esta era a palavra que teria descrito a
sua voz. Não da maneira que agira tão constrangida.
Entretanto, eu realmente não achava que alguém tinha
batido na gente de propósito, também. Um lobo cinzento correu na frente do
carro e Maria pisou em seus freios. Logo em seguida, o veículo bateu na
traseira do nosso. Estava nebuloso e o cara estava viajando mais rápido do
que nós. Imaginei que ele conhecia a disposição da terra, logo, estava muito
mais familiarizado com as estradas.
Tudo o que ela disse parecia razoável, exceto por uma coisa que tinha
mencionado. O lobo.
— Um lobo? — ele perguntou, irritado.
— Eu pensei que poderia ter sido um... — ela hesitou em dizer e, em
seguida, esfregou os braços. — Pensei tê-lo visto antes, correndo
paralelamente à estrada. — Tomou uma respiração profunda. — Maria tende
a assistir filmes onde todos estão envolvidos em algum tipo de conspiração,
então pensou que o lobo estava em conluio com o outro motorista.
Ian passou o braço em volta dos ombros de Julia e a puxou para
perto.
— Você está tremendo, moça. — Ian temia que ela estivesse com
medo de que alguém pudesse vir atrás dela novamente. Mas não gostou da
ideia de que um homem havia ameaçado Maria e, em seguida, o acidente de
carro ocorreu. Que ele tivesse cheirado tiros. E então havia o lobo. Um lobo
cinzento. Não um dos seus. Um invasor. E se a suposição de Maria estivesse
certa? E se o lobo era cúmplice do condutor do veículo? E se eles fossem
parte do clã de Basil Sutherland?
Está um pouco frio hoje à noite. — Julia disse.
— Você quer voltar? — esperava que não. Na verdade, percebeu o
quanto estava gostando de um passeio na floresta com ela, longe de seus
irmãos, de seus primos e do resto da matilha, até mesmo longe da sua amiga
Maria. E não apenas porque estavam sozinhos. Ele apreciava estar com Julia
quando jamais esteve com uma mulher em uma caminhada tranquila em sua
amada terra
— Não. Se eu continuar andando, vou aquecer. — ela o assegurou e
se aconchegou um pouco mais perto.
Ele sorriu, apertou a mão em torno de seu ombro e deu uma leve
espremida. Aquecê-la era exatamente a ideia que tinha em mente. Mas ainda
assim, a percepção de que alguém queria machucar as mulheres atormentava
seus pensamentos.
— Será que Maria teve outras ligações?
— Não. Todavia seu telefone foi perdido no incêndio do carro.
— Eu terei meus irmãos verificando isso quando nós voltarmos.
Você estava incluída na ameaça?
A mão de Ian esfregava o ombro de Julia, o calor de seu corpo
pressionando mais perto do lado dela. Sabia que estava apenas tentando
mantê-la aquecida, mas parecia tão bom, protetor, perfeito para o herói em
sua história, mas mais do que isso. Ele estava fazendo seus hormônios
caírem de forma descontrolada em dimensões desconhecidas. Ela não queria
pensar sobre o homem que tinha ligado para Maria ou suas ameaças. Apenas
no que Ian estava fazendo, provocando-lhe desejo sexual.
Sim, depois do fato.
Suas sobrancelhas escuras se uniram.
— Depois do fato?
Ela deu de ombros, tentando concentrar-se em seus dedos apertando
no seu ombro de uma forma protetora, não querendo discutir isso, pois não
tinha conhecimento de primeira mão.
— Ele me mencionou como uma reflexão tardia. — não estava a
ponto de dizer a Ian que o cara a tinha advertido para ficar longe do lorde,
que agiu como se já se conhecessem pessoalmente, ou algo sobre o ex-
namorado. Embora loups garous pudessem ter parceiros sexuais humanos,
não significava que outro lobo queria ouvir sobre isso.
Ian ponderou a resposta dela por um tempo, sua mão alisando por
cima do seu ombro e descendo pelo braço de uma maneira tão carinhosa que
Julia sentiu que poderia derreter nas agulhas de pinheiro que cobriam o chão,
puxando-o com ela e privando-o de suas roupas, para que pudesse ver os
músculos dos quais tinha tido um vislumbre mais cedo no bar quando estava
molhado até os ossos. E correr a mão sobre eles, memorizando a sensação
quente de sua pele, o...
— Maria tem alguma ideia de quem o escocês descontente possa ser?
Aqui estava Julia pensando em sexo e Ian apenas preocupado com a
ligação que Maria tinha recebido. Julia suspirou e se aconchegou mais contra
o corpo duro de Ian.
Não.
O braço dele apertou ao redor de seu ombro e seu batimento cardíaco
acelerou. Odiava que não podia ver nada romântico vindo dele tocá-la. Ian
era um Lorde escocês e ela era uma ninguém americana. Ele um cinzento e
Julia uma vermelha. Ian provavelmente sabia gaélico, escocês e inglês,
talvez outros idiomas, e Julia sabia inglês americano e só.
E por que até mesmo estava pensando em algo assim, não tinha a
menor ideia. Ian não estava interessado nela! Exceto em aquecê-la, porque
estava tremendo. Pelo amor de Deus! Quanto às ameaças a Maria e a ela, ele
era um senhor de terras aqui e provavelmente não gostava de ninguém da
produção sendo ameaçado porque estava ganhando dinheiro com o filme.
No entanto, lembrou-se que a maneira como a estava fazendo se
sentir, tocando-a, era perfeito para sua história. O lorde escocês estava agora
apreciando o fato de tê-la como sua noiva, mesmo que tivesse mencionado
um handfasting[1], em vez de um casamento de verdade, para conhecê-la por
um ano. Como um período de noivado com sexo. Se produzisse um herdeiro,
ele se casaria com ela. Se não o fizesse em um ano e um dia, ambos dariam
fim ao relacionamento.
Ela pigarreou.
— Hmm? — Ian disse, silenciosamente caminhando ao seu lado, sua
mão acariciando o ombro dela e alternadamente apertandoa contra ele de vez
em quando.
Com seu rosto aquecendo, Julia olhou para ele, não tendo pensado
que iria ouvi-la. Ian estava olhando para frente, os cães tendo desaparecido
por alguns minutos, agora voltando novamente, certificando-se que seu Alfa
ainda estava com eles e depois galopando para além.
Ela poderia muito bem fazer um pouco de pesquisa, enquanto estava
com ele.
— Então sobre o costume do handfasting, vocês ainda fazem isso?
Seu rosto escureceu um pouco e, por alguns minutos, Ian não disse
nada. Ela se perguntou o que o levaria a ficar irritado sobre o assunto. Então,
ele finalmente disse:
— É meio que um casamento experimental. A Lei do Casamento
Escocês acabou com o reconhecimento do handfasting em 1939. Mas, então,
em 1977, a Lei de Casamento permitiu o handfasting de novo e agora está
legalizado.
— E seus pais?
Mais uma vez, ele hesitou por muito tempo, pelo menos ela sentiu
como se fosse por muito tempo, como se não quisesse falar sobre isso.
— Nós normalmente não nos casamos, a não ser que aquele que se
casa tenha um título, como meus pais tinham. O seu povo se casa? — Ele
franziu um pouco a testa, parecendo um pouco surpreso.
A boca dela caiu um pouco. Conteve-se e fechou a boca, então,
balançou a cabeça.
— Não, você está certo. Nós não nos casamos. Apenas...
Acasalamos. Para a vida toda. Mas, de repente, parecia muito pessoal
para uma discussão.
Felizmente, Ian assumiu a deixa.
— O acasalamento era pré-arranjado como muitos casamentos são,
para aqueles que têm títulos. Mas meus pais se apaixonaram mesmo assim,
logo depois que se casaram na igreja. A exceção... — Ele parou de falar
como se pensasse melhor em mencionar.
— A exceção?
— Se o lobisomem fosse acasalado a um ser humano. Então algum
reconhecimento teria que ser feito do arranjo, ou um handfasting ou uma
cerimônia na igreja. Assim, os humanos que estão apenas à procura de um
casinho banal não teriam nenhuma vantagem. Para continuar um título, um
compromisso teria de ser feito.
Ela não deveria ter sido tão curiosa, mas era da realeza, o que
significava nenhuma influência humana por eras, e se perguntou se um dos
seus antepassados mais próximos havia sido humano. Não era uma coisa
ruim; só tornava mais difícil para os lobos permanecerem em sua forma
humana durante a lua cheia e eles não podiam mudar de forma de modo
algum durante a lua nova, quando permaneceriam como um humano o
tempo inteiro.
— Você tem sangue azul? — Ele perguntou.
— Se sou da realeza?
— Não é uma moça com título, se é da América.
— Não, é assim que chamamos loups garous que têm poucos genes
humanos em sua história recente.
— Aye. Sangue azul.
— Eu sou da realeza. — sangue azul soava muito parecido com uma
pessoa com título de nobreza para ela. O termo ―realeza‖ simplesmente
parecia mais adequado, talvez porque foi assim que sua família sempre se
referiu a si mesma e porque os Estados Unidos não reconheciam lordes com
títulos de nobreza e afins. Mas o engraçado era que se referia aos da realeza
como ―de sangue azul‖ em suas histórias, tentando disfarçar um pouco as
verdades lobisomem. Teria inconscientemente pego o termo de seu avô
quando era criança?
— Realeza soa como alguém com título, no meu modo de pensar. —
ele sorriu para ela e teve a impressão de que compreendeu a sua relutância
em usar o termo dele pelo mesmo motivo.
— E você, é? Um sangue azul? — Ela perguntou.
— Aye.
— Mas você estava pensando sobre um ser humano em sua
linhagem. Um compromisso de casamento. Não estava?
Ele soltou a respiração de uma forma exasperada.
— Aye.
De repente, teve a impressão muito distinta de que Ian foi aquele que
se casou com uma humana. Não sabia por que aquilo a incomodou. Talvez a
escassez de lobisomens fêmea também existisse no Reino Unido. Não tinha
o direito de julgá-lo e realmente não era da conta dela. Então, por que as
próximas palavras que saíram de sua boca contradiziam isso?
— O que aconteceu?
Ela poderia ter mordido a língua depois que as palavras escaparam.
— Você é muito intuitiva.
Um elogio, mas nenhuma explicação.
Eles seguiram caminhando e sentiu seu tornozelo começar a
incomodá-la, o que foi adicionado ao aborrecimento de querer saber mais
sobre a mulher com quem Ian tinha se casado. Mas poderia ter sido há muito
tempo e a mulher podia até estar morta agora. Se a tivesse transformado, ela
teria que ser uma lobisomem e ele ainda estaria acasalado. Por toda a vida.
No entanto, Ian não estaria segurando Julia tão perto se tivesse uma
companheira.
— Nós fizemos o handfasting, mas não chegamos até o final do ano.
— ele finalmente admitiu. Sua voz estava rouca, irritada.
A sensação de que a mulher tinha morrido veio à mente dela. De
repente, Julia quis mudar o tema se este o deixava tão incômodo, mas
também estava morrendo de vontade de saber o que tinha acontecido com a
mulher.
— Ela tinha título de nobreza, terras e dinheiro. — ele disse
distraidamente.
— Você não estava se casando com a nobre por amor? — Julia
perguntou surpresa. Quando a olhou, a boca dele se contraiu, mal
escondendo o mais fraco dos sorrisos e ela poderia ter chutado a si mesma.
— Quando se trata de poder, dinheiro e títulos, moça, às vezes, são
tudo o que importa. Além disso, nas Terras-Altas, o meu pai não conseguiu
localizar outra moça lobisomem para eu acasalar. — ele deu de ombros,
porém, sua atitude indiferente parecia artificial. — Eu precisava de um
herdeiro e o pai dela e o meu chegaram a um acordo, por isso, ela parecia a
escolha certa.
— Você a transformou?
Ele balançou a cabeça.
— Não teria dado certo. A nobre nem sequer gostava de nossos
galgos irlandeses. Reclamava que babavam, perdiam pelo por todas as
nossas tapeçarias e recebiam mais da minha atenção do que ela. Mimada,
nem sequer gostava da relação que eu tinha com a minha família. Queria ser
o centro da minha atenção. Eu tinha uma matilha para administrar, um clã.
— Então, você terminou o relacionamento?
— Eu poderia ter aturado por mais tempo, pelo bem do meu pai e do
dela. Mas quando a peguei com meu primo Flynn, e não de uma maneira
condizente com a mulher que foi prometida para mim, tive o suficiente.
Julia nem sequer queria saber o que poderia ter feito a seu parente.
Mas sua curiosidade foi aguçada. Onde ele flagrou a mulher e o primo? Ela
imaginou Ian espreitando para fora até os estábulos, os cães ao seu lado,
querendo dar um passeio de manhã cedo e pegando sua noiva com seu
primo, ambos nus, rolando no feno.
Em seguida, considerou a história que queria escrever. Julia teria seu
herói e heroína começando com um handfasting, a pedido do herói, mas logo
depois, ele decide que não poderia viver sem ela e queria casar na igreja.
Julia não incluiria o primo, ou talvez incluísse como um personagem
secundário interessante que muitas vezes estava no celeiro paquerando com
as moças.
Mas, pensando bem, se loups garous não se casavam aqui na Escócia,
assim como não o faziam nos Estados Unidos... Não, teria um título de
nobreza, de modo que esta fosse a razão para o casamento. E, talvez, o herói
fosse um loup garou e a heroína não. Talvez fosse isso o que estava
incomodando tanto seu herói ficcional sobre se casar com a mulher. Ele teria
que aceitar a cerimônia legal para satisfazer a família dela e outros tipos
humanos, mas, então, em última instância, teria que transformá-la. E se ela
se opusesse? Nem todo mundo podia lidar com tal façanha. Alguns
enlouqueciam. Claro. Isto poderia funcionar.
No entanto, enquanto continuaram a caminhar até as cataratas, ela
continuou pensando onde Ian tinha flagrado seu primo e sua noiva prometida
no auge da paixão e tentou imaginar como Ian teria lidado com isso. E
estava morrendo de vontade de perguntar a verdade a ele. Mas estava certa
de que era uma lembrança desagradável, mesmo se tivesse sido há um longo
tempo e, desta vez, manteve a boca fechada.
Eles caminharam por uma eternidade, ao que pareceu, e embora
estivesse gostando de estar na floresta com o herói de sua história, os cães
correndo ao redor animados e felizes, seu tornozelo estava começando a
incomodá-la mais. Mas tinha medo de dizer alguma coisa e estragar a
caminhada. Continuou imaginando que as cataratas estavam a apenas alguns
metros de distância, já que o som de água corrente estivera se aproximando
por uma eternidade. Tentou não se encostar contra Ian, demonstrar que seu
tornozelo estava doendo. Descansaria o resto da noite, uma vez que fosse
para a cama na casa de campo, mas ela queria muito fazer isso.
Voltar agora seria como escalar o Himalaia apenas para ser parada
perto do cume e ser forçada a voltar para baixo sem atingir o pico. Uma
razão mais profunda era o medo de ser um fracasso em sua própria avaliação
e, pior, mostrar ao escocês que ela não era resistente o suficiente para fazer
isso.
O rugido das cataratas era ensurdecedor para seus ouvidos de loup
garou e ela andou mais rapidamente para chegar ao local.
Ian riu.
— Nada ansiosa, não é?
— Oh, sim. — mas não conseguiu lhe dizer o quanto.
No momento em que eles chegaram às cataratas e ela viu a cascata de
água sobre as rochas, criando espuma branca, e as sorveiras ―pequena
árvore ou arbusto médio de folha caduca‖ carregadas de bagas vermelhas
brilhantes inclinando-se sobre o córrego, Julia estava com calor. E fascinada
pela beleza da área. Julia se sentou ao lado da água e começou a tirar suas
botas.
— A água está fria, moça. — para sua surpresa, Ian se agachou na
frente dela e a ajudou a remover as botas.
Antes que soubesse o que estava fazendo, Ian gentilmente tirou a
meia de seu pé direito, fazendo-a se sentir como se ele quisesse retirar o
resto de suas roupas e fazer amor apaixonado e selvagem com ela. Em vez
disso, levantou seu pé, analisou os dois tornozelos, e disse:
— Está inchando.
Percebeu, então, que ele não estava pensando em sexo selvagem e
desavergonhado, mas apenas verificando para ver se Julia machucara ainda
mais o tornozelo. Era o fim para os fogosos amantes de kilt. E para uma
pequena loba americana vermelha que só tinha uma coisa em mente. Mas a
preocupação dele o tornou querido para ela.
Julia suspirou.
— Está inchando só um pouco. A água fria vai fazer bem.
Mas agora, a maneira como Ian olhava para ela, seus olhos
enfumaçados e escuros, deu-lhe a impressão de que ele não estava tão
inconsciente dela como achava que tinha estado. Então, tirou a outra meia
com um toque tão gentil que seu gesto delicado a fez pensar novamente nele
despindo-a do resto de suas roupas.
Julia não podia evitar. Se ele não olhasse com tal interesse, enquanto
seu polegar acariciava o tornozelo bom, não teria esse problema! Ainda
assim, com a forma como os seus olhares colidiram e congelaram, não podia
acreditar que Ian não estava pensando do mesmo modo que ela.
O olhar dele seguiu até seus lábios. Parecia que queria beijá-la. E ela
queria beijá-lo em retorno. Julia lambeu os lábios, antecipando, querendo.
Sabia que não significaria nada mais do que um pouco de intimidade lupina.
Nada a longo prazo, nenhum compromisso com nada mais e estava disposta,
se ele estivesse.
Mas Ian pareceu hesitante. Provavelmente porque ela era americana e
estava com a equipe de produção do filme, ou assim ele pensava. O olhar
dele procurou nos olhos dela como se estivesse esperando um convite. Mas
ainda estava agachado aos seus pés, muito longe para fazer um movimento
rápido em sua direção, para agarra-lo e beijá-lo, não quando seu tornozelo
doía. Ian tinha que fazer o primeiro movimento.
— Tem certeza que quer ficar de pé na água? Pressionar todo o peso
em seu tornozelo? — perguntou, e Deus, sua voz era rouca, sexy e mais
erótica do que a voz de qualquer homem que já tinha ouvido. Se ele fizesse
dublagens para filmes, teria as mulheres desmaiando nos corredores.
Idiota, ela disse a si mesma. Ele não me quer como eu o quero. Julia
estendeu as mãos para permitir que a puxasse para cima.
— Sim. A água fria vai ser como um bloco de gelo e ajudar o
inchaço a ir embora.
— Aye. — ele hesitou em tomar suas mãos, porém, como se pensasse
que poderia não ser uma boa ideia ela ficar de pé na água corrente veloz
quando estava parcialmente incapacitada.
Mas sabia que podia fazer isso. Pelo menos estava compelida e
determinada a tentar. Quando ele não pegou suas mãos de forma rápida o
suficiente, ela as colocou em cada lado dela e apertou-as contra a terra. O
que enviou uma onda de dor pelo tornozelo e a fez gemer um pouco.
Ele rapidamente se aproximou dela e se inclinou para levantála pela
cintura, mas assim que fez isso, ela colocou os braços em volta do seu
pescoço e, novamente, seus olhares se encontraram. Julia ergueu o rosto até
o dele e o beijou.
A boca dele estava dura, firme e imóvel. Por um momento, pensou
que não a queria. Que tinha tentado seduzir um lorde, pelo amor de Deus,
quando provavelmente estavam acostumados a seduzir em seus próprios
termos quem queriam. Foi quando novamente percebeu quão nublados com
luxúria seus olhos estavam. Como as mãos dele tinham parado em sua
cintura. Como os lábios tinham ficado evasivos.
Não era o tipo de mulher que se forçava para cima de um homem
sem vontade, nunca. No entanto, pela forma como olhava para Julia e o
cheiro viril dele, sabia que estava se segurando. E isso a fez querer ainda
mais que reconhecesse o desejo que tinha por ela, assim como tinha por ele.
Julia passou os lábios sobre a boca dele, manteve os braços fechados
ao redor de seu pescoço, fechou os olhos e saboreou a sensação e o cheiro
dele. Florestas de pinheiros, viril, lobo e delicioso. Concentrou-se em sua
boca e lambeu os lábios, o coração batendo forte, o de Ian batendo em um
ritmo mais rápido. Julia sentiu a mudança gradual nele, a forma como os
seus lábios ganharam vida própria, passando sobre os dela como fez com os
dele, língua provocando, os lábios se abrindo e pressionando-a a entregar-se
a ele. Atraindo, forte, querendo.
Mas não foi suave como ela tinha sido. Ian inclinou a boca sobre a
dela e beijou seus lábios com paixão, força e determinação.
Era como se estivesse se segurando porque não poderia controlar a
necessidade primitiva, uma vez que esta fosse solta. E Julia deu boas vindas
a isso. Acolhendo o que o beijo dele fazia com ela. Introduzida neste desejo
tão forte, seu corpo derretendo com arrepios de prazer, queria-o como um
lobo, queria um companheiro. Não poderia tê-lo dessa forma. Mas ainda
poderia satisfazer um pouco da vontade reprimida quando o beijou de volta
com o mesmo desejo desesperado, como uma mulher que esteve sem um
homem por muito tempo.
Ele esfregou o rosto contra o dela, primeiro de um lado, depois o
outro, sua barba levemente abrasiva, mas ela não se importou. Desejava ter
mais dele, mais de seus beijos quentes, a forma como sua boca moldava à
dela, reivindicando-a para si; a maneira como seus lábios roçaram suaves e
rudemente através dos dela, deixando-a disposta a submissão.
A língua dele lambeu seus lábios e, depois, quando os encontrou se
abrindo para ele, entrou, sua respiração pesada, o corpo endurecendo, suas
mãos apertando sobre os ombros dela. Julia saboreou o calor aveludado de
sua língua, o calor carinhoso, a simulação do que Ian faria se pudesse
penetrar dentro dela como seu companheiro. Julia gemeu com o pensamento,
enredando sua língua em uma dança cigana, apertou os braços em volta do
pescoço, reivindicando sua boca, mesmo que apenas por um momento.
Faminta, ávida por seu toque, incentivou o beijo aprofundado, as
mãos duras sobre os ombros, segurando-a como se ele nunca quisesse soltá-
la. Suas mãos estavam na cintura dele, agarrando-se a fortaleza de um
homem, forte, gostoso e sexy.
Mas antes de estar satisfeita, antes de estar pronta para acabar com o
beijo, sentiu o corpo pressionar um pouco, sentiu a boca dele se afastando
um pouquinho. Não! Ela queria mais. Muito, muito mais.
Com a respiração pesada, ele rompeu o beijo, sorriu com força, e
puxou-a do chão, cuidando para não deixar o pé tocar o solo.
— Seu tornozelo?
CAPÍTULO 10
Julia engoliu sua frustração sexual.
Quase parecia cômico, como se tivesse esquecido a sua missão para
ver as cataratas em um beijo que a tinha enviado até a lua e descido de volta
à Terra novamente em questão de segundos na beira do córrego. Mas não
tinha acabado. Ela podia sentir na forma como o corpo de Ian estava duro
com o desejo e os seus mamilos estavam firmes e os seios inchados, no jeito
que cobiçava profundamente a satisfação, que queria que ele continuasse a
beijá-la até que eles estivessem exaustos demais para fazer qualquer outra
coisa. Mas Ian estava colocando o pé no freio, mostrando-lhe que tinha
algum controle quando Julia parecia ter perdido todo o bom senso.
Ela tentou anular a irritação consigo mesma por ter deixado suas
emoções a vencerem, quando nunca costumava fazer isso. Não com os
homens. Não assim.
Quieto, ele manteve um braço ao redor de sua cintura e segurou
firme enquanto ela andava devagar para dentro da água gelada. As pedras
estavam escorregadias, mas o forte aperto de Ian a manteve em seus pés. Os
cães correram para dentro e para fora da água, mordendo as gotículas de
água e correndo em círculos, excitados. Quase os invejava, o fato de que
eram cães e não importava se eram irlandeses, americanos, ingleses ou
escoceses. Que títulos, terras e poder não significam nada para eles. Mas
cães acasalavam com qualquer outro cão e isso não estava de acordo com
ela. Não, lobos tinham razão no que tange a escolha de um companheiro
para a vida.
— Eles gostam daqui. — ela disse enquanto Ian passava os braços
em volta dela, puxando-a contra o peito com força para que pudesse ver as
cataratas enquanto a água gelava seu tornozelo inchado. Mas mais do que
tudo, a atenção dela permaneceu fixada no toque dele. Não pôde evitar. Ian
era muito sexy.
— Um de seus lugares favoritos para correr. — ele disse, a voz baixa
e rouca, atrativa e calorosa.
O braço dele subiu para baixo de seus seios. O frio da água pareceu
desaparecer. Com os olhos fechados, concentrou-se na sensação dele
pressionado contra suas costas. Ian estava completamente excitado e
recordou a forma como sua calça molhada havia se agarrado a seu corpo no
bar. Ele era muito bem dotado.
Ian se inclinou e acariciou o pescoço dela com a sua bochecha sem
barbear. Ela derreteu-se contra o seu corpo. Ele disse algo em gaélico, um
sussurro em seu ouvido que enviou arrepios de antecipação atravessando o o
sistema dela. Palavras do amor?
Xingamentos? Não sabia.
E não se importou.
A boca dele mordiscou a orelha dela enquanto sua mão pousou sobre
um seio. Doce céu, já estava ficando molhada e não tinha nada a ver com a
posição do tornozelo no fundo da água ou as leves gotículas provenientes da
cachoeira.
De costas para o peito dele, estava em desvantagem. Nenhuma forma
de beijá-lo ou segurá-lo perto. Estava à sua mercê. Uma nova experiência
para ela. O desejava, queria beijá-lo, expor a pele para ele, senti-lo
empurrando profundamente dentro dela, satisfazer a dor profunda que estava
crescendo com seus toques simples. No entanto, para a espécie deles, não
havia nenhuma maneira de ir tão longe sem se tornar comprometidos um
com o outro para a vida toda. E não havia nenhuma maneira que isso fosse
acontecer.
Ela fez a única coisa que uma mulher de sangue quente poderia fazer
quando apoiada contra um pedaço de corpo duro que estava incitando seus
hormônios para uma tempestade de fogo, esfregou-se contra ele. Deu-lhe um
pouco em retorno.
Ian gemeu. Em seguida, sua mão apertou em seu seio, sua língua
lambendo seu pescoço e sua mão livre desceu por suas coxas, então entre
suas pernas, e segurou-a com força contra ele. Ela se acalmou.
Julia tinha despertado o lobo highlander.
A sensação de prazer de seu toque e o jeito que lhe mostrou o quanto
a queria aumentaram a dor insuportável entre suas coxas. Ela empurrou suas
costas com mais força contra o seu pau rígido e os dedos dele esfregaram
entre suas pernas, pressionando o tecido de jeans e sua calcinha de seda entre
suas dobras femininas.
Ela se mexeu, queria estar livre de suas roupas, para senti-lo
empurrando dentro dela, profundo, rígido, livre e selvagem. Ele respirava
com tanta força, com o coração batendo, o dela batendo tão ferozmente
quanto, enquanto continuava a acariciá-la, que o barulho das cataratas
pareceu desaparecer na distância. Jamais tinha experimentado nada tão
erótico como isso, quando ainda estava usando cada grama de roupas, menos
os sapatos e as meias.
— Moça bonita. — Ian sussurrou em seu ouvido, sua voz rouca e
sensual com seu sotaque escocês.
Ela abriu as pernas, esperando que não tivesse empurrado contra ele
com muita força e o feito perder o equilíbrio sobre as pedras escorregadias.
Mas Ian pareceu seguro em seus pés e, como o próprio castelo, firme e
imóvel.
Exceto pelas suas mãos, que estavam fazendo coisas doces com o
corpo dela. Primeiramente, os dedos pressionaram eroticamente contra o
tecido entre suas pernas. E, em seguida, sua mão livre adentrou sob o suéter
dela até que alcançou seu sutiã e puxou-o para baixo, expondo os seios para
o lado interno do macio suéter de cashmere.
Mais uma vez, ele falou em gaélico e ela conseguiu dar um sorriso
fraco com os dentes cerrados, enquanto sentia a crescente onda de prazer, os
dedos dele rolando em seus mamilos, enquanto continuava a acariciá-la. O
rugido das cataratas a frente deles abafou seus gemidos pesados.
— Você está dizendo safadezas para mim? — ela murmurou, tão sem
fôlego que não achou que podia ouvi-la.
Ian riu e mordeu sua orelha, mas continuou a se aproveitar de sua
vantagem, os dedos passando entre suas pernas e começando a trabalhar no
zíper dela. O zíper escorregou para baixo e Ian puxou a calça jeans por seus
quadris como se impaciente para dar continuidade aos negócios. Mas deixou
a calcinha no local até que seus dedos empurraram a tira para o lado, para a
virilha, para que ele pudesse acessar a impaciente umidade dela.
Se não a estivesse segurando, ela teria afundado na água agitada a
seus pés. Mas o braço apertado em seus seios e sua outra mão a enchendo
com os movimentos urgentes e fortes, mergulhando dentro e depois saindo
para fora para acariciá-la um pouco mais a mantiveram no lugar.
Ela mal podia respirar agora, mal podia ficar em pé enquanto seu
membro esticava contra as calças e apertava com força contra suas costas.
Sentiu o fim chegar, tão perto, tão perto que quase podia saborear a beleza
do clímax crescente, a necessidade tão grande que mal podia suportar o doce
êxtase, desesperada pela liberação.
Como a beleza e a força das cataratas, sentiu o orgasmo atravessá-la,
uma requintada liberação celestial como nenhuma outra. Ela derreteu em
pura alegria saciada em seus braços. Mole e sem corpo, não achava que
poderia voltar até a margem do riacho e muito menos até o castelo.
Ondulações de clímax a encheram com uma sensação maravilhosa e
saboreou cada momento.
Ele ajudou a puxar suas roupas de volta no lugar e subiu seu zíper.
Como se soubesse que estava incapaz de chegar até a margem por
conta própria, ergueu-a nos braços e levou-a de volta.
— Acredito que nós possamos nos atrasar para o jantar. — ele disse,
com um meio sorriso que rendeu um sorriso dos próprios lábios dela. O
jantar podia esperar uma eternidade.

Ian nunca tinha estado com uma mulher tão absolutamente receptiva
sexualmente. Ghleanna foi tão abertamente fria com ele que mal tinha
acreditado quando pegou Flynn com ela, ambos nus na mata, fazendo muito
mais do que se beijarem. Tinha banido Flynn do clã, devolvido sua não tão
bonita noiva prometida e jurou nunca mais cair nessa armadilha com outra
fêmea humana, não importava o quão rica fosse ou quantos títulos ela
tivesse. Mas Julia era uma sexy loba sereia.
Soltou a respiração enquanto a levava para a floresta. Não tinha
planejado deixar que as coisas saíssem do controle, apenas levar os cães para
uma caminhada e perguntar a ela sobre o acidente de carro. Ele sabia, pelo
brilho nos olhos de Guthrie, que seu irmão havia descoberto algo
interessante sobre a senhorita Julia Wildthorn. E queria saber o que era o
mais rápido que pudesse. Eles certamente não precisavam de mais
problemas no clã.
Nesse meio tempo, não teve a intenção de ceder ao obstinado
fascínio que tinha pela moça. No entanto, sozinho na natureza selvagem e
vendo o jeito que ela tinha gostado da caminhada, apesar da dor que seu
tornozelo devia estar lhe dando, como evidenciado pelo inchaço, e a emoção
que exibiu ao presenciar as cataratas, sentiu-se como um jovem rapaz de
novo, percebendo tudo de uma maneira emocionante. Ela atiçava suas
emoções de uma forma que ninguém nunca tinha feito.
Ele a deitou sobre as agulhas de pinheiros e folhas que cobriam o
chão da floresta e analisou seu rosto corado, seus olhos e boca levemente
sorridentes, mais numa beata satisfação do que divertida. A moça era bonita
e desejável e, por mais que odiasse admitir, tinha sido incapaz de evitar
desejá-la desde o momento em que começou a persegui-la pela floresta
anteriormente, sua presa, sua reivindicação e mais tarde, quando a tinha visto
no bar. Pensar que ela era humana tinha feito toda a diferença do mundo.
Uma loba, isto era outra história. Mas assim que eles chegaram às
cataratas e ela se sentou e começou a retirar seus sapatos...
Aquilo bastou. Ian não queria parar por aí. Com o máximo de
controle, conseguiu não beijá-la, sabendo que ela o queria tanto quanto
desejava beijá-la de volta. Mas ele também sabia que iria muito mais longe
do que isso se cedesse à tentação.
Quis ver seu tornozelo, sabendo que estava doendo pela forma como
ela se inclinou nele e pela forma como sua respiração parou quando deu um
passo em várias ocasiões, mas não confiava nela para lhe contar a verdade.
O problema foi que, assim que tirou a meia, não quis acabar com aquilo ali.
O desejo nos olhos dela lhe disse que não queria que acabasse, tampouco.
Em seguida, o beijo aconteceu e, mais uma vez, lutou para controlar o
resultado. Tentou se impedir de ceder ao desejo tão forte que não acreditava
que poderia suprimi-lo, uma vez que eles seguissem por essa direção
tortuosa.
Então, tinha feito a melhor coisa que poderia: cortar abruptamente o
beijo e levá-la para dentro da água, na esperança de acalmar o desejo deles.
Mas, perdendo toda restrição, a levou ao clímax. Inferno, realmente achou
que tinha tudo sob controle.
Pelo menos a deixou vestida, na maior parte, mas isso não tinha
parado o desejo e, certamente, a deliciosa resposta dela ao seu toque não
reprimiu seu apetite por ela, também.
Ele pensou em se deitar com ela na floresta, permitindo-lhe algum
tempo para descansar o tornozelo. E para que sua ereção tivesse tempo para
se acalmar, mas assim que se deitou e, em seguida, puxou-a em seus braços e
apoiou a cabeça dela contra seu peito, Julia começou a acariciar sua ereção
através de suas calças.
Droga. Nunca teve alguém o trazendo para perto da conclusão,
quando ainda estava usando suas roupas. Com sua mão na calça dele, o
acariciou através do tecido e Ian fechou sua mão no cabelo dela. Ele gemeu
com a necessidade voraz, sentiu o cabelo sedoso no punho apertado e viu
através de uma névoa cheia de luxúria que seus olhos verdes o observavam,
julgando a maneira como seu toque o fazia se sentir e usando isso para guiá-
la. Mas, então, ela desceu o zíper e escorregou os dedos para baixo da rígida
longitude através da cueca boxer, encontrou a abertura lateral, e o expôs ao
ar frio. O toque dela foi o bastante para fazê-lo perder qualquer pensamento
razoável.
Sua mão continuou a fazer sua magia, só que agora, pele com pele,
cada carícia, cada toque caloroso, firme, seguro e determinado o fez implorar
silenciosamente por mais. Julia colocou a perna sobre a coxa dele, como se
estivesse se abrindo a ele de novo, o que trouxe noções espontâneas à mente:
de tirar sua calça e calcinha e continuar com o negócio de dar prazer a ela
tudo de novo. Mas, então, Julia beijou sua boca, pressionando a língua entre
seus lábios e Ian gemeu com fome selvagem. Ian soltou seu cabelo,
percorreu a mão pelas costas dela e segurou sua bunda, querendo fazer mais
enquanto sua mão continuava a acariciá-lo com firmeza.
Até que não pôde segurar por mais tempo. Fechou os olhos para
saborear a sensação, uma onda de necessidade correndo por ele, antes que a
liberação de abalar a terra o sacudisse até o âmago.
Xingando baixinho em gaélico, puxou Julia em seus braços e beijou-
a com força contra a boca. Ela respondeu com um leve gemido, sua boca
desejosa, submissa e suavizando contra a dele. Queria abraçá-la, beijá-la e
tomá-la para si próprio, uma mulher que não conhecia, que só o queria no
calor do momento, mas não poderia estar interessada em algo mais do que
um pouco de intimidade lupina.
— Eu vou voltar. — ele disse, sua voz rouca e tensa enquanto
gentilmente a depositava de costas contra o chão. — Fique aqui. — Não
podia deixar de fazer comparações entre a pequena loba vermelha e sua
noiva prometida. Foi a loba em Julia que a fez responder com tanta
disposição por ele?
Mas, pensando melhor, lembrou-se de como Ghleanna tinha
respondido às iniciativas sexuais de seu primo tão amorosamente. Muitos
anos se passaram para ruminar sobre isto; no entanto, ainda não podia deixar
de sentir que a morte de Flynn foi devido a sua própria raiva sobre o
incidente.
Entretanto, Ian não conseguia explicar o desejo que tinha por Julia,
também. Ele se sentiu obrigado a satisfazer Ghleanna. Também queria
agradar Julia, mas só porque encontrava muito prazer em sua companhia,
não porque visse isso como uma obrigação.
À beira da água, limpou-se e depois voltou para Julia, que estava
deitada de costas, com os olhos fechados, seus braços envoltos sobre sua
cintura, tremendo um pouco, mas bonita de fato. Ian ainda pretendia que
descansasse o tornozelo antes da longa viagem de volta. Deitando ao lado de
Julia, puxou-a para seus braços e ela se aconchegou contra ele, disposta,
sedutora e a queria mais uma vez.
Com seus pelos molhados, os cães se encaracolaram nas
proximidades, esperando-o para dar o comando de que estariam voltando
para casa. Mas não queria voltar. Não quando tinha a pequena loba vermelha
em seus braços assim.
Inferno, esqueça apenas jantar com ele. Ela ia passar a noite.
Julia amou descansar contra o escocês musculoso, com os braços em
volta dela, sua respiração constante, seu corpo duro, quente e protetor. O ar
ficou mais frio, mas não iria desistir de se aconchegar com Ian na floresta
assim por nada, enquanto ouvia a melódica correnteza das cataratas, a brisa
agitando as agulhas de pinheiro e o som do sangue dele bombeando através
do seu coração. Não até que ele dissesse que era hora de ir.
Ela queria que o momento durasse para sempre. Queria visualizar
isto para o seu livro. Queria dormir com ele em seus sonhos depois que
voltasse para a casa que compartilhava com Maria.
Suspirou, não querendo voltar ao castelo e ter que enfrentar os
irmãos de Ian, que provavelmente o provocariam impiedosamente sobre sua
caminhada no bosque quando fosse embora. Ou talvez eles teriam cuidado
com o que diriam para ele, já que era senhor das terras. Isso a fez querer
saber mais sobre o relacionamento dele com seus irmãos. Para a sua história.
Sem nunca ter tido quaisquer irmãos, pensou que seria bom tomar algumas
notas relativas ao relacionamento de uns com os outros.
Julia fechou os olhos. Ela tinha tido sexo não consumado com um
lorde highlander. Todos os seus irmãos provavelmente sabiam o que Ian
tinha em mente. Esteve esperançosa que ele gostaria de um pouco de sexo
vespertino, mesmo que fosse início da noite, mas não acreditou realmente
que iria muito longe. Alguns lobos não iriam, a menos que planejassem
tomar o outro como seu companheiro.
Ela soltou a respiração. Depois desta noite, nunca poderia voltar a
sentir a mesma coisa por Ian ou seus parentes. Eles eram pessoas reais, não
apenas nomes em um e-mail ou uma voz desencarnada no telefone ou uma
representação sem vida de alguém em uma foto. Como poderia esgueirar-se
em torno do castelo, tentando localizar a caixa de sua família, pelas costas
dos MacNeills?
Não poderia. Simplesmente teria que ligar para seu avô e dizerlhe
que não podia fazer isso.
A mão de Ian finalmente acariciou seus cabelos e ele se inclinou e
beijou sua cabeça.
— Você está tremendo, moça. Está pronta para o jantar?
Hmm. Eu imagino que todo mundo já comeu. — em seguida,
ela gemeu. — Eles não teriam esperado pelo seu retorno, não é?
— Não. São mais espertos do que isso.
Isso a fez se perguntar novamente se sabiam o que tinha planejado
com ela. Por outro lado, ele tinha tentado resistir e provavelmente teria, se
não tivesse empurrado a questão.
Ian se levantou do chão, inspecionou o pé dela, franziu a testa e
depois vestiu a meia e o sapato em seu pé esquerdo, mas não no seu direito.
Pensou que estaria bem, mas ele balançou a cabeça e entregou-lhe o outro
sapato e meia. — Segure estes.
— O quê? Você não pode me carregar o tempo todo de volta para o
castelo. — ela se sentiu horrível. Só para ver as cataratas, tinha-o posto nesta
situação.
— Aqui. — disse Ian. — Suba nas minhas costas.
— De cavalinho, nas costas? — perguntou, horrorizada. — Ajude-
me com a minha meia e bota. Eu consigo.
— Você não vai andar com esse tornozelo até o castelo, moça.
Você acha que eu não aguento?
— Não. É que sou pesada e...
— Pesada? Tão pesada quanto um travesseiro de penas de ganso.
Suba. — ele se inclinou.
Ela hesitou.
— É um longo caminho de volta. Se eu tivesse percebido o quão
longe era e que meu tornozelo estaria dando trabalho, nunca teria vindo aqui.
— ela pôs sua meia para que seu pé não ficasse tão frio.
Ele deu um sorriso sombrio, levantou a bota de suas mãos e amarrou
os cadarços em torno de seu cinto na frente.
— Eu não teria perdido isso por nada. Nós temos quatro opções.
Você pode andar sobre os meus ombros, nas minhas costas, nos meus braços
ou ser jogada sobre um ombro. Qualquer um vai funcionar para mim. Você
escolhe. Mas caminhar não é uma delas.
Os lábios dela se curvaram um pouco. Ele soou como um bárbaro das
Terras-Altas que estava totalmente no comando. Não um lorde, no entanto.
Ela esperaria que um lorde desse a tarefa a um dos membros de seu clã. Mas,
então, eles estavam bastante sozinhos. Será que a teria entregado a um de
seus homens, se um estivesse disponível?
Exasperada consigo mesma mais uma vez por ter que fazer isso com
ele, soltou a respiração.
— Tudo bem. Qual será mais fácil para você?
— Mais fácil? — o leve rosnado dele soou como se tivesse acabado
de pisar sua masculinidade no chão.
Ela recuou. Macho Alfa.
— Qual seria mais confortável para você?
— Suba nas minhas costas, moça.
Ela pigarreou.
Se você machucar as costas... Eu avisei.
Ian riu, colocou-a sobre suas costas e agarrou suas pernas enquanto
ela apoiava os braços livremente sobre seus ombros e começou a andar.
Realmente odiou fazer isso com ele, mas com as pernas enroladas em torno
de sua cintura, a cabeça em seu ombro, as mãos dele segurando a parte
inferior de suas coxas, estava se sentindo sexy e interessada mais uma vez.
Mas não seria o mesmo, uma vez que retornassem ao castelo e Ian
voltasse a ser responsável e sério quando se tratava de lidar com ela. Ainda
estava com a equipe de filmagem, pelo que ele sabia, exceto que, em vez de
procurar o tesouro de família em segredo, agora tudo o que lhe restava fazer
era escrever a sua história.
Só esperava que seu avô não ficasse muito chateado com ela quando
ligasse para lhe dizer que a missão para a qual ele a havia enviado era um
fracasso. Mas a preocupação continuava a incomodando que o assunto era
sério demais para não fazer o esforço.
Não importava o quão tarde Ian e Julia chegassem à Argent, sabia
que seus irmãos estariam esperando para ver o que tinha acontecido com
eles. Poderia tê-la levado de volta para sua casa de campo e a salvado do
constrangimento. Mas prometeu-lhe o jantar e, em todo caso, não queria que
ela voltasse para Baird Cottage.
Porque Julia aparentava ser escocesa, imaginou que ela tinha raízes
aqui. Isso o fez pensar nos seus antepassados e na liberdade que a família
dela deve ter desfrutado ao deixar a Escócia, perambulando pela natureza
selvagem e colonizando novas terras no continente norte-americano.
Nenhuma razão para nobreza com títulos. Nenhuma necessidade de fazer
aparições com tipos estritamente humanos como eles tinham que fazer na
Escócia. Títulos significavam obrigações sociais.
Embora ele e sua família loup garou tivessem querido manter as
terras e títulos deles para que pudessem continuar a fazer o que precisavam
pela sua matilha, a parte social do negócio foi difícil de digerir, às vezes. Os
eventos sociais eram, em sua maioria, com a participação de humanos e,
quando eles iam para tais coisas, sempre se sentiam fora de lugar e
desejavam voltar para o isolamento de sua propriedade florestal. Além disso,
lordes com títulos deveriam tomar esposas de estirpe adequada. Mas poucos
clãs de lobisomem highlander tinham existido e menos ainda com os quais
Ian e sua família não estivessem em disputa.
Então, Ian tinha escolhido uma humana, a filha de um visconde, não
de linhagem lobisomem e, apesar de não combinarem, esperou que as graças
sociais dela fossem ajudá-lo a superar sua aversão a participar de eventos
sociais, mantendo seus genes lobisomem em segredo. Mas a constante
reclamação dela sobre sua inabilidade nas graças sociais o tinha tornado frio
até mesmo no quarto de dormir. Ele balançou a cabeça em seus pensamentos
negativos e voltou sua atenção para a mulher se agarrando a suas costas, seu
dilema atual.
Eu posso andar agora. — Julia disse quando eles ainda
estavam na floresta, mas chegando ao castelo. Ian sabia que ela não deveria
andar, mas estava com medo de ser vista enquanto a levava em suas costas.
A intimidade divertida entre eles atraía, especialmente porque não
conseguia se lembrar de uma época em que se sentiu assim com uma mulher.
Os cães exploravam a uma pequena distância deles, mas voltavam
rapidamente como os tinha ensinado.
— Ou eu a carrego nos meus braços ou nas minhas costas, moça.
Ombros, se você preferir. Mas não vai andar um passo em qualquer direção
por sua própria conta. Amanhã, o seu tornozelo deve estar curado. Mas esta
noite, você tem transporte.
Ian adorou a sensação de suas pernas em volta do seu corpo, abrindo-
se, os seios pressionados contra suas costas, a sensação de suas coxas macias
em suas mãos e os braços ao redor de seus ombros, abraçando-o, os
empurrões enquanto andava fazendo-a se esfregar contra ele. Já estava duro
e querendo-a mais uma vez.
— Eu posso segurar o seu braço e... — ela deixou suas palavras
desvanecerem enquanto tentava olhar em volta dele.
Ian caminhou na linha de visão do castelo, os cães levantando a
cabeça e farejando o ar. Julia se balançou para ficar livre, mas ele apertou o
controle sobre ela.
— Se eu soltar, você pode torcer outra coisa, moça.
Tudo bem, tudo bem. Deixe-me descer e eu vou... — ela não
disse mais nada, enquanto dois dos primos dele, Oran e Ethan, acenavam
uma saudação, ambos sorrindo para eles no portão principal.
Tão logo Ian a levou para dentro, os homens fecharam os portões e
ele soube qual seria o tema da conversa por semanas.
— Ian... Eu... Oh, vamos lá, deixe-me descer. — Ela disse, parecendo
exasperada.
— Eu lhe dei os termos do acordo. — ele continuou a andar em
direção à fortaleza enquanto os cães corriam ao lado deles.
Quando chegaram ao pátio interior, Julia tentou novamente.
— Estamos quase lá.
Ele não respondeu. Estava acostumado a dar ordens, acostumado ao
seu povo obedecê-lo. Uma pequena loba vermelha não iria mudar a mente
dele, não importava o quanto o adulasse.
Quando chegaram à porta da frente do castelo, ela disse:
— Tudo bem, agora você tem que me colocar no chão para que
possa, pelo menos, abrir...
A porta se abriu e Guthrie cumprimentou-o com um sorriso
reservado. Ian sabia que Oran tinha que ter ligado com antecedência para
avisar seus irmãos que ele estava chegando.
— O jantar está sendo aquecido enquanto falamos. — Guthrie falou.
Obrigado, Guthrie. — Ian carregou Julia para dentro da
fortaleza.
— Ian. — ela sussurrou.
— Aye, moça?
— Eu vou me vingar de você por isso.
Ele riu e levou-a através do grande salão onde Cearnach e Duncan
estavam de pé, ao lado da lareira, observando-os e parecendo um pouco
surpresos, seus olhares se deslocando para a bota dela presa ao seu cinto e,
em seguida, para o pé descalço.
Ele disse em cumprimento:
— Irmãos. — em seguida, continuou até a cozinha e depositou
Julia em uma cadeira. — Agora, você estava dizendo?
CAPÍTULO 11
Julia estava preocupada agora que Ian conversaria com Guthrie e
descobriria exatamente quem era, o que imaginava que seria o comunicado
secreto passado entre os irmãos. Não obstante, observou que a cozinha era
um local necessitado de arte enquanto Ian a colocava em uma cadeira de
encosto alto numa longa mesa. Parecia feita para acomodar os funcionários,
ao contrário daquelas pelas quais eles tinham passado numa sala de jantar.
Várias longas mesas escuras estavam situadas na sala de jantar e cada
uma tinha pelo menos vinte cadeiras que pareciam dignas de um rei, todas de
encosto alto com assentos e de um rico brocado verde-bandeira. As paredes
estavam cobertas com pinturas de paisagem local retratando montanhas
pitorescas, lagos serenos, campos de urzes roxas e juncos amarelos e floresta
antiga. E no chão havia tapetes turcos lindamente tecidos.
Mas na cozinha, a longa mesa de carvalho claro, dava para doze
pessoas e agora ela sentava-se à cabeceira dela. Aqui, tudo era prático:
prateleiras onde conchas de aço inoxidável e semelhantes pendiam e panelas,
também, num suporte sobre um grande balcão independente. Todos os
balcões eram de granito. E incrivelmente, três
geladeiras, duas máquinas de lavar louça e três fornos enchiam o cômodo.
Além disso, um forno de micro-ondas.
Felizmente, Ian não parecia estar com pressa para saber quem ela era,
pelo menos no tocante a ser uma autora de romance lobisomem. Sentiu o
cheiro de algo, que não pôde distinguir, aquecendo no micro-ondas, assim
como o aroma fraco de pizza. Um dos fornos tinha sido utilizado e o calor
emanado deste tinha aquecido a cozinha uns quinze graus. Luminárias
fluorescentes inundavam o cômodo com luz e folhas se agitavam com a brisa
numa árvore do lado de fora de uma grande janela da cozinha com vista para
o jardim. Ela realmente queria ver o jardim e tomar notas para a sua história.
Ian puxou um prato para fora do micro-ondas e o analisou por alguns
minutos, franzindo a testa para o que quer que fosse. Em seguida, foi até a
pia de aço inoxidável e o colocou lá. Depois, seguiu até a parte de
congelador de um dos refrigeradores e tirou uma pizza.
— Meus irmãos se esforçaram demais. Pizza de pepperoni está bem
para você?
— Eles não vão se decepcionar, se não comermos o que fizeram?
Ele se inclinou para baixo sob a pia, puxou uma lata de lixo e depois
arrancou um par de caixas descartadas de pizza e mostrou a ela.
— Isso foi o que eles comeram. — Ian empurrou o lixo de volta sob
a pia e, em seguida, apontou para o prato. — Eu juro que se esforçaram
demais para fazer algo intragável para que quando Cook não esteja
disponível, eu não os faça preparar a refeição.
Ela riu. Naquele momento, desejou ter irmãos assim. Que fossem
engraçados e doces, mas protetores também.
Depois de retirar a pizza, ele empurrou-a no forno e, em seguida, foi
até o freezer e pegou um saco de gelo.
— Eu não pensei que você bebesse algo com gelo.
— Só quando temos convidados americanos. Mas isso... — ele disse,
envolvendo alguns dos cubos em uma toalha. — É para o seu tornozelo.
— Eu não teria pensado que você tem convidados americanos aqui
muito frequentemente.
Ele ergueu as sobrancelhas para ela ligeiramente.
— Eu não conheci nenhum que consideraria convidar para o chá.
Ela presumiu que, por ser um loup garou, não convidaria ninguém
mais, além de seus parentes, que não estava em sua pequena lista de amigos.
A menos que tivesse que fazer isso porque era um lorde.
Ele arrastou a cadeira dela ao redor para que pudesse mover outra até
ali e, em seguida, elevou o seu pé até o assento. Depois de embalar seu
tornozelo com a compressa de gelo improvisada, olhou para cima.
— Confortável?
— Sim, obrigada. — tão confortável quanto poderia estar com a
forma como o seu maldito tornozelo latejava. Mas não teria perdido as
cataratas por nada, nem a intimidade selvagem que tinha compartilhado com
Ian.
— A pizza estará pronta em poucos minutos. Posso arranjar-lhe algo
para beber? Um pouquinho de uísque, moça? Ou vinho?
— Uma xícara de chá quente?
— Aye. — ele ferveu um pouco de água e, em seguida, fez uma
caneca de chá e entregou a ela. Os dedos dele se desviaram para um cacho
vermelho roçando a sua bochecha. — Eu preciso falar com meus irmãos e
fazer que eles verifiquem um assunto.
— O homem que ameaçou Maria?
O olhar dele era firme e preocupado.
— Aye. Se você não precisa de mais nada por enquanto...
— Você tem um celular extra? Eu gostaria de ligar para Maria e
avisá-la que ainda estou aqui e que depois de terminar o jantar, estarei de
volta.
— Ligue para sua amiga. — Ian disse. — Mas lhe diga que você vai
passar a noite.
Simples assim, ele estava dando a ela outra ordem.
Julia estava entretida, ao invés de aborrecida e, na verdade, desde que
tivesse um quarto vago para ficar, todo o cenário poderia funcionar bem,
pensou. Ela poderia ser capaz de dar uma olhada ao redor, enquanto todos
dormiam. Mas receava que ele planejasse mantê-la enclausurada na sua
própria câmara.
Talvez Ian não pretendesse isso, apesar de tudo. Poderia ser muito
difícil de explicar suas ações para seus parentes. Uma coisa era ter uma
fêmea humana como companhia, mas inteiramente outra, considerando que
ela era uma loba.
Ou ele mudaria de ideia uma vez que descobrisse o que fazia para
viver e o que estava fazendo aqui agora?

Quando Ian lhe dissera para ficar, os olhos de Julia se arregalaram.


Ela não disse nada por um momento e ele pensou que estava considerando a
situação: a reação da matilha dele, a resposta da sua amiga. Então, Julia
limpou a garganta e passou a mão para cima e para baixo da sua caneca de
chá, lembrando-o de como o tinha feito gozar mais cedo. Ian sentiu suas
bolas apertarem.
— Você é um lobo. — ela finalmente disse.
Ian sorriu, incapaz de evitar. Divertiu-o ouvi-la dizer isso, apesar de
pensar que estava mais preocupada com o fato de que ambos eram loups
garous e o que isso significava entre eles.
Deu de ombros, como se a afirmativa dela significasse nada para ele
de uma forma ou de outra. Apenas uma sugestão amigável. Ela não teria que
voltar para a casa de campo. Não teria que levá-la.
Parecia a melhor coisa a fazer, dadas às circunstâncias.
A mão dela continuou correndo sobre essa maldita caneca e sua
virilha apertou ainda mais.
— Eu não tenho uma muda de roupa. — ela finalmente disse. Ele
olhou para o macio suéter de lã e calças verdes, o suave sutiã escondido sob
o suéter que tinha conseguido afastar de um seio, o pedaço de seda entre
suas pernas que tinha se rendido ao seu toque, prevendo o quanto queria vê-
la fora de tudo isso.
— Ou Duncan pode ir até a sua casa e pegar uma mala para você, ou
podemos encontrar aqui alguma coisa que possa usar. Você decide. — ele
pensou que Julia estava realmente pensando em ficar. Ou talvez fosse apenas
esperançoso. Mas era escolha dela.
Ele não deveria ter desejado isso. Não quando ela fazia parte da
equipe de filmagem e não queria nenhum deles nos quartos de dormir. Mas
Julia não era exatamente um deles. E essa era outra razão pela qual não
deveria ter desejado que ficasse considerando que era uma sexy loba
sedutora.
Ainda assim, não tinha descoberto o que ela estava fazendo, outro
bom ponto para fazê-la ficar.
Ele estendeu a mão por cima da mesa e pegou a mão que estivera
manuseando a caneca, querendo mostrar a ela o quanto suas ações já o
tinham afetado. Em vez disso, levantou os dedos à boca e beijou-os.
— Fique comigo. — ele pretendia que fosse um comando, mas soou
como se quisesse desesperadamente que ela concordasse.
— Por quê?
Julia não poderia tê-lo surpreendido mais. Ele rapidamente tentou
inventar um bom motivo. As verdadeiras razões, que desejava tê-la perto,
queria saber seus segredos, não eram o que queria revelar.
— Eu pensei que você gostaria de experimentar uma noite em um
castelo.
— Ah.
Ele pensou, pela expressão travessa em seu rosto, que não acreditava
nele.
— Tudo bem. Pela noite, então. — ela concordou.
Por mais que não quisesse deixar transparecer o quanto isso lhe
agradou, apertou a mão dela em reconhecimento. Seus olhares
momentaneamente se fixaram e então ele disse:
— Eu preciso falar com meus irmãos.
— Eu vou cuidar da pizza.
— Você, fique sentada aqui. Voltarei em breve. — ele não queria que
ela deixasse a cadeira por nada.
Quando Ian deixou Julia, ele presumia que seus irmãos ainda
estariam reunidos na grande sala, sentados em frente à lareira em suas
cadeiras habituais e fazendo o que normalmente faziam se não tivessem já se
retirado para a noite. Mas sabia que não se retirariam. Assim que vissem que
havia retornado, toda a atenção estaria sobre ele e as questões sobre a mulher
iriam começar a sério.
Com os olhos verdes cerrados em concentração, Guthrie estava
fazendo uma leitura através de um calhamaço de papéis que parecia ter
alguma coisa a ver com as finanças deles. Coçou a rala barba ruiva por um
segundo, o único dos irmãos que tinha uma, e então virou outra página. Ele
era mais estudioso do que qualquer um de seus irmãos, sério e dedicado às
finanças da matilha. E tinha levado a todo esse caos financeiro no qual se
encontravam seriamente. Ian foi cuidadoso em não admoestar Guthrie por
isto, depois de ter superado o choque inicial. Em vez disso, insistiu que teve
culpa por não supervisionar mais as questões. Quando se tratava de números,
porém, Guthrie normalmente sabia o que estava fazendo.
Cearnach estava talhando mais um tradicional cabo escocês feito de
jacarandá para um punhal, embora agora estivesse desenhando o nó celta
com as suas vertentes de entrelaçamento sobre toda a superfície. Ian se
perguntou quantos seu irmão poderia vender antes que o mercado estivesse
saturado com seus punhais artesanais.
Duncan estava afiando sua espada de duas mãos e Ian pensou que,
pelo menos dois de seus irmãos, pareciam estar se preparando para a batalha.
Os galgos trotaram ao lado dele, as unhas clicando no chão e todos os olhos
se voltaram para observa-lo atravessar a sala para se juntar a eles.
Todos os seus irmãos levantaram as sobrancelhas e esperaram que
falasse. Ele se sentou em sua cadeira confortável e disse:
— Maria, acompanhante de Julia, acredita que o ocorrido na estrada
não foi um acidente. — ele explicou a visão do lobo cinzento e o telefonema
que Maria havia recebido. Pelas suas expressões sombrias, seus irmãos
pareciam prontos para provocar lesões corporais em alguém.
Elas poderiam ter sido mortas. — disse Duncan.
— Sim e é por isso que eu quero que ele ou, se houver mais deles
nisso, todos sejam encontrados. — Ian deu a Guthrie sua atenção e esperou a
notícia sobre Julia Wildthorn.
— A moça é uma escritora de romance. — os olhos de Guthrie
brilhavam de alegria. — Ela está em toda a web. Fotos da autora, entrevistas,
blogs, o que for.
Antes de Ian poder envolver sua mente em torno disso, Guthrie
acrescentou:
— Uma escritora de romance lobisomem, ou seja, ela escreve sobre
lobisomens.
— Inferno. — Ian disse. De um milhão de diferentes cenários que
poderia ter criado, este não estava nem perto de ser um deles.
Ninguém disse nada por um momento e depois Cearnach sorriu.
— Eu diria que nós temos uma convidada. — ele encolheu os
ombros. — Alguém tem que mudar a ideia dela sobre o que escreve. Poderia
muito bem ser você, já que é o mais persuasivo de qualquer um de nós, Ian.
Pelo menos, eu tenho certeza, em relação à moça.
E então caiu a ficha para Ian. Era provavelmente por isso que a
pequena loba vermelha estava tomando aquelas anotações relativa ao castelo
e as terras ao redor. Inferno, ela iria escrever sobre ele? Seu povo? Não em
sua vida.
Mais do que nunca, queria ver aquele bloco de anotações dela.
Uma autora de romance lobisomem?
Por causa de nossas dificuldades financeiras, eu estava
pensando... Já que ela está por toda parte na internet, por que não explorar o
fato de que temos uma autora famosa ficando com a gente? — Guthrie
disse.
— Ela é famosa? — Ian perguntou surpreso. Lobisomens não
precisavam da atenção.
— Bem, não, mas está em toda a Internet.
— E isso nos ajuda como? Nós não estamos anunciando nosso
castelo para que toneladas de pessoas possam ficar aqui. Já tivemos a
discussão sobre a abertura do lugar como uma hospedaria. Nenhum tour de
museu. Nenhuma loja de presentes. Nenhum chá de panela ou chás de bebê
ou qualquer outro tipo de festas.
— Flynn ficaria chateado. — Duncan concordou. — Ele teria um
ataque, faria sua aparição fantasmagórica e teria os visitantes correndo para
as saídas.
Ian viu a expressão no rosto de Guthrie, imerso em seus pensamentos
calculados.
— Nenhum show de fantasmas. — Ian esclareceu ainda mais.
Mas estava considerando outra possibilidade. A mulher estava tão
intrigada com ele quanto estava com ela, ou era tudo um truque? A
entusiástica viagem às cataratas. Tudo o que tinha acontecido entre eles
desde que Julia chegou. Continuou dizendo a si mesmo que o que
compartilharam não significou nada além de uma liberação muito necessária
para conter a crescente paixão secreta que tinham um pelo outro. Mas,
mesmo assim, a ideia de que iria usá-lo para o seu empreendimento de
escrever um livro azedou seu estômago.
Tudo isso está na internet, você diz? — Ian perguntou a
Guthrie.
— Aye. Basta colocar o nome dela em qualquer um dos sites de
busca mais populares e lá está, página após página. Um par de seus livros
foram ainda transformados em filmes. — disse Guthrie.
— Filmes. — Ian olhou Guthrie com desconfiança. — O filme que a
Sunset Productions está filmando aqui não é sobre lobisomens highlanders,
não é?
— Não, é estritamente uma peça histórica de ficção.
— Tem certeza?
— Aye. Eu vi o script. Os highlanders são exatamente isso. Não há
lobos entre eles.
Mas isso não significava que a loba vermelha sentada na cozinha não
estava escrevendo a sua própria versão, com Ian e seus parentes, que seria
transformada em filme.
— Outra coisa, Ian. Eu reconheci a voz dela quando falou na câmara
privada. Ela é a mulher que primeiro conferiu comigo sobre o uso do castelo
para a produção cinematográfica. Julia usou um nome diferente. Iris North.
Ian apertou os dentes.
— Julia Wildthorn é o pseudônimo dela então?
— Eu não consegui encontrar nada sobre uma Iris North. Este pode
ter sido um nome falso também.
Inferno. — Tudo bem. Descubra tudo o que puder sobre o homem
que ligou para Maria e a ameaçou, sobre o caminhão que bateu no carro
delas e sobre o lobo cinzento que está rondando nossas terras. — Ian
levantou-se e dirigiu-se para as escadas.
— Você deixou Julia sozinha na cozinha? — Cearnach perguntou. A
pergunta não formulada foi: um deles deveria checá-la? Talvez vigiá-la?
Mas ela não iria a lugar nenhum. Não com o tornozelo incomodando
assim.
— Aye. Eu estarei de volta. — depois que checasse a mulher na
Internet, seja qual fosse o nome dela realmente. — Julia vai ficar bem até lá.
— ou seja, deixem-na sozinha. Não queria seus irmãos romantizando sobre
ela como se ele já tivesse acabado e não a queria escrevendo sobre eles em
sua próxima história, também.

Julia esperou enquanto os minutos passavam pelo que pareceram


horas. O forno tinha apitado depois de 15 minutos, avisando-a que a pizza
estava pronta. Julia puxou-a para fora e desligou o fogão, mas quando Ian
ainda não tinha voltado depois de uns bons 45 minutos a mais, presumiu o
pior. Tinha sido dada a
Guthrie a tarefa de investigar sobre ela, não cozinhar a refeição e Ian tinha
descoberto tudo sobre seus livros e disse a Ian e, assim como tinha
suspeitado, ele não gostou.
Ela suspirou. Esqueça passar a noite no castelo. Foi derrotada e era
hora de voltar para a casa e reagrupar.
O grande salão onde tinha visto os irmãos de Ian reunidos
anteriormente estava silencioso e, se não soubesse melhor, teria suspeitado
que todos tinham se esquecido dela e se retirado para a noite. Mas, o mais
provável era que Ian estava verificando-a na Internet e lendo tudo sobre ela.
E seus irmãos estavam à espera de seu retorno para saber qual seria a sua
opinião sobre o assunto.
Sabia quão dispersante a Internet podia ser e quão rápido o tempo
passava quando estava envolvida em sua pesquisa. Visualizouo franzindo a
testa, vasculhando e clicando em mais e mais links para saber tudo o que
podia sobre ela. Qual foi a surpresa dele quando encontrou a entrevista que
fez com a Amor Romance Paixão e o título cativante: Vá para a cama com
Julia Wildthorn, entrevista de uma Autora.
Ah, sim, isto seria um verdadeiro chamariz. Estava certa de que ele
adoraria. Não.
O dano já tinha sido feito. Ela suspirou profundamente.
Provavelmente deveria ter-lhe dito que seu nome era MacPherson.
Quão ruim isso teria sido?
Péssimo, se fosse de um clã inimigo.
Não esperando qualquer ajuda dos irmãos de Ian, visto que eles
seriam leais ao lorde e não a uma americana criadora de problemas como
ela, escapou para fora pela porta da cozinha, que dava para os jardins.
Dálias, begônias de aroma picante, hortênsias, orquídeas selvagens e cardos
docemente perfumados, tudo em cores rosa e salmão, disputavam a atenção
no jardim amplo, mas também se aglomeraram ao redor do trajeto de
paralelepípedos que esperava que levasse ao pátio interior.
Ela mancou caminhando o mais rápido que conseguiu. Quando
chegou a um pequeno portão de madeira, empurrou e fechou-o novamente.
Seu tornozelo estava doendo, mas sabia que ficaria melhor se
pudesse não usá-lo pelo resto da noite. Finalmente, conseguiu atravessar o
pátio interno menor. No meio do pátio exterior, pensou que poderia até
mesmo fazer a sua fuga. Mas, então, o homem ruivo sobre quem tinha
escrito na muralha e que viu Ian carregando-a em suas costas mais tarde,
aproximou-se dela de um dos prédios externos. Um estábulo, pensou,
quando achou que ouviu um relincho suave vindo de lá.
— Aonde você vai, moça? — ele parecia desconfiado e grande...
Mude isso para muito grande, agora que estava perto dele.
Ela fez um gesto em direção ao portão da torre, não querendo a
interferência deste homem, mas incapaz de fazer qualquer coisa sobre isso.
— Estou voltando para a casa de campo.
Ele olhou na direção da fortaleza e, em seguida, olhou para ela com
ceticismo.
— Ninguém está levando você de volta?
Eu queria andar.
— Lorde MacNeill teve que carregá-la por causa de sua... lesão. —
apontou para o tornozelo. Ele estreitou os olhos para ela. — Eles não sabem
que você sumiu.
— Oh, eles sabem. O portão está destrancado? — ela mancou em
direção ao portão antes dele responder.
— Espere aqui.
Julia tinha ouvido isso antes. Espere aqui, Ian disse em tantas
palavras. Estaria de volta. Só que desta vez imaginava que, seja lá quem
fosse o cara ruivo, ele teria alguma ação. Podia imaginá-lo correndo para a
fortaleza para contar sobre ela e todos os irmãos de Ian correndo para
interceptá-la. Ou pelo menos, assim seria na história que escreveria. O Lorde
teria teimosamente se recusado a vir atrás dela, sua noiva bonita. Ele tinha
descoberto algum segredo sobre ela e não a queria mais, mais uma vez.
Qual seria o segredo que a heroína estaria escondendo?
Ela ponderou a resposta para essa pergunta, enquanto continuava a
mancar em direção ao portão. Um homem saiu da torre arredondada à
esquerda e cruzou os braços em modo defensivo. Ele era o outro sobre quem
tinha escrito que também testemunhou seu passeio deselegante nas costas de
Ian.
— O portão está trancado? — ela perguntou, ainda que soubesse que
tinha que estar. Não conseguiu decidir se sorria docemente ou agia de forma
muito profissional. Duvidava que qualquer coisa que fizesse o incentivaria a
abrir o portão. Não sem primeiro ouvir o que Ian queria.
— Estamos aguardando notícias de vossa excelência. — o homem
disse, as sobrancelhas levantadas e batendo num telefone celular em seu
cinto. Embora estivesse tentando aparentar todo estritamente negócios, um
leve sorriso curvava seus lábios.
Ela cruzou os braços.
— Eu sou uma cidadã americana. E você tem que me deixar sair.
— Cidadã americana, não é? Sem passaporte pelo que tenho ouvido
falar.
O carro, o fogo. Ela não tinha um passaporte. Por que não pensou
nisso? Poderiam prendê-la por isso?
— Você não tem nenhum direito de me manter aqui contra a minha
vontade. Deixe-me sair, agora.
O motor de um carro rugiu para a vida no pátio interior.
O sorriso do homem cresceu.
— Parece que você tem a sua carona afinal de contas.
Julia sabia que não seria Ian e, embora dissesse a si mesma que era
melhor para todos os envolvidos, ficou desapontada. Julia gostou de Ian e
seus irmãos e destes homens também, verdade seja dita. Mas o fato é que era
uma romancista que escrevia sobre lobisomens. Estava certa de que tinha
atingido o fundo do poço na estimativa de Ian sobre ela.
Claro o bastante, quando o carro apareceu, viu que Guthrie estava
dirigindo. O guarda correu para abrir a porta do passageiro, sem esperar para
ver se aquilo ia em diante ou não.
Sua carona. — Guthrie gritou para ela quando não se moveu
para entrar no carro.
— Ela está machucada. — disse o guarda.
Guthrie saiu do lado do motorista, mas quando o fez, ela começou a
mancar em direção ao carro. Não estava prestes a ser carregada novamente.
Não foi muito longe, no entanto, antes de Guthrie levantá-la nos braços e
colocá-la no banco do passageiro.
— Se você vai cuidar do portão, nós sairemos. — ele disse para o
guarda.
O outro homem abaixou a cabeça ligeiramente e, em seguida, abriu o
portão enquanto Guthrie subia no banco do motorista.
— Então, você é uma romancista.
Que é como todo o problema começou. Ela não respondeu.
— Acho que o seu pseudônimo é Julia Wildthorn.
Uh-oh. Ela deu a Guthrie um olhar de soslaio e, embora mantivesse
seu foco na estrada que cruzava o fosso, sabia que ele estava sentindo a
reação dela. Ela não disse nada. Melhor deixar as coisas como estavam. Em
um pedaço de bagunça.
Mas Guthrie não deixou para lá. — Iris North, não é?
Quando seu primo, Oran, veio a ele com a notícia de que Julia estava
mancando em direção ao portão, planejando voltar para casa a pé, Ian não
pôde acreditar. Bem, podia no que se referia à determinação dela. Mas não a
tinha deixado sozinha todo esse tempo. Olhou para a tela do computador.
Fazia mais de uma hora desde que a tinha deixado. Merda.
— Diga a Guthrie para levá-la para casa. — ele disse abruptamente e,
então, quando seu primo marchou com inteligência para fora de sua câmara,
Ian foi à cozinha, esperando uma pizza queimada ou, pelo menos, com uma
fatia faltando.
Mas ela tinha tirado e deixando-a sobre o fogão. Agora estava fria e
dura, assim como a boca do seu estômago. Não estava disposto a ir atrás
dela, no entanto. Já tinha feito bastante dano em não seguir as suas decisões
a respeito de seu povo se associar com qualquer pessoa na equipe de
filmagem ao levar a mulher para um passeio e, em seguida, permitir que o
calor do momento saísse do controle.
— Ela deve ter saído pela porta da cozinha. — Cearnach disse,
juntando-se a ele e parecendo um pouco na defensiva. — Ou nós a teríamos
visto e parado.
— Ela é problema. — Ian disse, odiando que Julia tivesse ido embora
e que ele resolveu a questão da maneira como fez. Mas como poderia dizer
ao seu povo para agir de uma forma e, em seguida, fazer o que queria? Não
importava que fosse o senhor das terras. Ian se guiava pelo que esperava ser
o exemplo certo.
— Sim, ela é Ian. O tipo de problema que eu não me importaria de
ter. Vejo você pela manhã, a menos que precise de mim para mais alguma
coisa. — disse Cearnach.
Vejo você pela manhã. — Ian embalou a pizza e colocou-a na
geladeira. Conhecendo seus irmãos, um deles iria aquecê-la no café da
manhã. Nenhum sentido em deixá-la ir para o lixo.
Mas só tinha apetite para a loba vermelha. Não importava sobre
o que ela escrevia ou quem realmente era. Ele a queria.
CAPÍTULO 12
— O que aconteceu com você? — Maria perguntou, os olhos amplos,
sua voz surpresa quando ela saiu de seu quarto enquanto Guthrie carregava
Julia para dentro da casa de campo.
— Eu exagerei numa caminhada. — Julia disse. Para Guthrie, ela
disse. — Você pode me pôr no sofá. Muito obrigada por me dar uma carona
para casa. — estava certa de que o fato de não dizer nada sobre ser
verdadeiramente Iris North, ou não, não tinha passado despercebido. Mas
percebeu que não devia a nenhum dos irmãos de Ian qualquer explicação e
ele não tinha pressionado o problema.
— Damas. — Guthrie sorriu para Julia, aparentando estar um pouco
entretido, e então correu para fora da casa como se pudesse ficar em apuros
se demorasse demais.
Maria trancou a porta.
— Então, o que aconteceu?
Julia suspirou.
— Nada. Eu dei uma longa caminhada e meu tornozelo está inchado.
Eu vou pegar um saco de gelo para você. — Maria correu
para a cozinha. — Pensei que vocês estavam apenas jantando.
— Ian me levou para um passeio.
— Ian?
— Lorde MacNeill.
— Ah! — Maria remexeu em torno no congelador. — Uma longa
caminhada? Onde?
— Até as cataratas. Foi lindo. — Julia suspirou e fechou os olhos,
envolvendo os braços em torno de si como Ian tinha feito. Até que os dedos
dele baixaram o seu sutiã e sua outra mão havia trabalhado até sua calcinha.
— Eu pensei que você passaria a noite, tão tarde como estava
ficando.
— Não. — Julia deixou escapar o fôlego novamente. — Ele sabe que
escrevo romances. Romances de lobisomem. Se o lorde ou qualquer outra
pessoa esteve interessado em mim, descobrir isso foi o fim de tudo. Além
disso, eu não estou aqui para isso.
— O nicho secreto e a caixa escondida lá. — disse Maria, voltando
com um bloco de gelo. — Alguma pista sobre isso?
— Não, mas ele vai mandar seus irmãos verificarem quem poderia
ter ligado para você e sobre o acidente. Então, talvez algo de bom venha
disso de qualquer maneira. Você percebe que nós não temos passaportes
agora?
Maria sentou-se no sofá ao lado dela.
— Sim. Harold está tentando fazer arranjos para nós para obter a
papelada para dar entrada em passaportes novos.
— A polícia disse algo sobre o acidente de carro?
— Eles querem falar com você. O que vai fazer amanhã, quando nós
começarmos a ajeitar as coisas para a filmagem começar?
— Eu estarei lá. — Julia levantou-se do sofá e Maria correu para
ajudá-la até o quarto. — Mas, por enquanto, vou dormir.
Com a expressão preocupada, Maria observou sua amiga enquanto
ela subia na cama, colocava o saco de gelo sobre o tornozelo e, em seguida,
puxava as cobertas sobre si mesma. Julia tentou não estremecer quando até
mesmo as cobertas machucavam seu pé.
— Você não tem que ir comigo pela manhã. — disse Maria.
— Eu tenho. Preciso escrever este livro e eu preciso...
Bem, Julia queria obter a permissão de seu avô para pedir a Ian para
procurar pela caixa.
— Preciso dormir. Eu vou ficar bem, Maria. Como estão seu pulso e
suas costas?
Maria lhe deu um olhar descontente.
— Ao contrário de você, eu sei quando descansar. Estou indo muito
bem. Durma bem. — ela voltou para seu próprio quarto e, quando a cama ao
lado rangeu, Julia fechou os olhos para dormir.
Mas não conseguiu dormir, apesar de tudo. Seu tornozelo latejou por
um par de horas e não parou de pensar na caixa e no que tinha lá dentro. Ou
em Ian e sua família e como realmente queria
pedir sua permissão para procurar pelo objeto. Poderia muito bem manter
isso estritamente em uma base de negócios.
Com os olhos e mente cansados, ela saiu da cama. Mancou até a
cozinha para falar ao telefone lá e acendeu a luz. Não ter o seu celular era
uma merda. Percebendo que devia fazer outra compressa gelada, pegou o
pano de prato e encheu-o com pedras de gelo. Então, olhou para fora da
janela para a noite escura, digitou o número do avô e esperou que a hora
fosse decente para ele. Seu cérebro estava muito nebuloso para descobrir as
diferenças de fuso horário.
Ela sentou-se à pequena mesa da cozinha e apoiou o pé em outra
cadeira, colocou a bolsa de gelo sobre o tornozelo e ouviu conforme o
telefone tocava e tocava e tocava. Odiava como seu avô se recusava a ter
uma secretária eletrônica. Desligando, pensou em escrever um pouco sobre
sua história, mas, em seguida, o aparelho tocou e ela pulou. Pegou o telefone
e disse: — Olá, vovô?
Mas não era a voz de seu avô.
— Olá, Julia MacPherson, filha de Dermott MacPherson, neta de
Findlay MacPherson, bisneta de Conaire MacPherson. Eu devo continuar?
Ao ouvir o frio sotaque escocês, sentiu um arrepio serpentar pela
espinha. Instantaneamente, perguntou-se se este era o homem que tinha
ligado para Maria em LA. O homem que a havia ameaçado. Como ou por
que ele sabia este tanto sobre Julia fez seu coração acelerar com
preocupação.
— Como você sabe que não era Maria atendendo ao telefone? —
Ela rapidamente olhou para a janela da cozinha, sem cortinas, as madeiras
escuras e outro calafrio de preocupação inundou suas veias. Ele estava
observando a casa.
— Eu sei tudo.
Ele tinha que tê-la visto acender a luz, provavelmente até mesmo
tentou ligar para a casa, mas estava tentando entrar em contato com seu avô.
Ela moveu-se para a sala onde as cortinas de renda não a esconderiam
tampouco. Não dos olhos de um loup garou.
Se era um loup garou. O lobo na neblina lhe veio à mente.
— Quem é?
— Você é minha, moça.
Ignorando o seu comentário e tentando não alertá-lo sobre o quanto a
sua ligação a tinha enervado, ela disse:
— O filme vai acontecer, quer você goste ou não.
— Você sabe sobre o que é isso tudo? — ele perguntou, sua voz
suave e mortal.
Subitamente, teve o sentimento doentio de que isso não era sobre as
filmagens no castelo.
Se ele estivesse com raiva ou gritando, ela poderia ter lidado melhor.
Mas tinha que concordar com Maria. O homem soava perigoso.
— Ian MacNeill conseguiu o contrato para o castelo dele em vez do
seu. — ela disse lentamente.
— É Ian MacNeill agora, amor?
Merda, ela tinha cometido um deslize novamente.
Lorde Ian MacNeill. — corrigiu.
— Não importa. Ele é um lorde escocês porque é dono de um pedaço
de terra.
Um castelo, ela queria dizer. Não só um pedaço de terra. E ele tinha
que ser alguma coisa, um barão ou conde ou algo assim, não é?
— Qualquer um pode comprar um título e chamar-se de lorde hoje
em dia. Basta fazer uma pesquisa no Google, se você não acredita em mim,
moça. Você vai encontrar todos os tipos de sites que vendem terras na
Escócia para que as mulheres possam tornar-se damas e os homens, lordes.
O título significa pouco.
Ela não queria acreditar nele. No entanto, acreditava. Fazer uma
pesquisa seria fácil, se o seu laptop não tivesse virado fumaça com o carro, e
então poderia ver se o que ele dizia era verdade. A menos que soubesse que
ela não poderia fazer uma pesquisa. Claro, porque ele provavelmente sabia
tudo sobre o acidente. Tinha-o causado ainda.
— Você sabe o que tem na caixa, amor?
Seu coração parou. A caixa. Ele sabia que ela existia. Por que saberia
sobre a caixa? Medo se agrupou na boca do seu estômago. Será que sabia o
que estava dentro?
— Que caixa? — ela perguntou, tentando soar genuinamente
confusa, não agitada.
Ele não disse nada. Ela caiu no sofá e colocou o pé em cima da
almofada, ainda sobre a mesinha de centro.
— Olá? Que caixa?
Ah, amor! Você testa a paciência de um homem. Lorde
MacNeill não vai permitir que você explore o castelo ao seu bel prazer.
— O que você acha que há nesta caixa que você acredita que existe?
— Por que, amor, você não quer saber. — o telefone ficou mudo.
O sangue martelava em seus ouvidos enquanto o coração continuava
a palpitar. Ela deu uma profunda respiração calmante. Maria estivera certa.
O homem parecia sério sobre isso. A única maneira que podia revidar era ao
saber a verdade. Julia rapidamente digitou o número de seu avô novamente.
Para seu alívio, ela ouviu a voz dele.
— Olá?
Julia deixou escapar, sem preâmbulo:
— Alguém sabe sobre a caixa. Sobre mim. Ele me avisou para não
procurar por ela. Mas não posso de qualquer maneira, vovô. Não, a menos
que eu esteja autorizada a pedir a permissão de Lorde Ian MacNeill. Eu não
posso fazer isso.
Ela ouvia a respiração de seu avô no telefone, de modo que sabia que
ele ainda estava lá, mas, por outro lado, o silêncio enchia a linha.
— Vovô?
— Você não pode pedir a permissão dele. — ele finalmente disse, sua
voz um estrondo rouco.
O que há na caixa? Por que este homem estaria me
ameaçando?
Novamente, silêncio prolongado.
— Você ainda está aí?
— É um contrato de noivado. Para Lady MacPherson se acasalar
com Sutherland e, se assim não for... A primeira descendente direta nascida
de Conaire MacPherson com o lorde atual do Castelo Argent.
Julia sabia que tinha que ter havido pelo menos uma meia dúzia ou
mais de descendentes do sexo feminino de Conaire MacPherson ao longo
dos anos. Mas se Lady MacPherson tinha acasalado com um Sutherland,
Julia era um deles?
Este era um pensamento terrível, porque ela agora seria inimiga de
Ian. Mas, se a primeira não tinha satisfeito o acordo, será que uma de suas
parentas tinha acasalado com um MacNeill, uma vez que eles tinham
governado o castelo por algum tempo?
Julia subitamente se sentiu mal do estômago, pensando em como Ian
a havia tocado tão intimamente. Com uma voz que era quase inaudível, ela
disse:
— Ian MacNeill não é meu parente distante, não é?
Como se não a tivesse ouvido, seu avô disse:
— Você é a primeira descendente do sexo feminino em uma longa
linha de descendentes do sexo masculino.
Com os lábios entreabertos, ela olhou para a mesa e recostouse com
força contra o sofá, não acreditando que aquilo pudesse ser verdade.
Tentando se lembrar de qualquer conversa de fêmeas nascidas do seu lado
paterno da família, não encontrou nada.
— O contrato foi supostamente redigido há tanto tempo que ninguém
nos dias de hoje, deveria ter que honrar tal acordo. O contrato não pode ser
válido hoje. — se o seu avô estava dizendo o que achava, ela era a noiva
prometida de Ian MacNeill.
— Você conhece os nossos costumes... — seu avô disse. — Loups
garous vivem vidas longas. Nós honramos os nossos compromissos.
— Então... — ela limpou a garganta muito seca de repente. — Então,
eu supostamente sou a noiva prometida de Ian MacNeill?
— O atual lorde do Castelo Argent. Contanto que ele seja o senhor
de terras, então, sim.
— Então, se devemos honrar o contrato, por que você quer que o
localize em segredo?
— Eu pretendia destruí-lo, Julia.
Ela franziu o cenho.
— Mas você disse que nós honramos nossos compromissos.
— Tantos anos se passaram e nós não tivemos nenhuma mulher na
árvore familiar durante todo esse tempo, por isso, as gerações posteriores
parecem ter esquecido o contrato. Eu presumia que ninguém iria saber disso,
mas se alguém localizá-lo, então, nós vamos ter que concordar com os
termos. Eu não quero você amarrada a alguém que você não gosta, Julia.
Algo não estava sendo dito. Seu avô estivera muito preocupado com
isso.
— Por que agora?
— Eu só posso supor que ele soube sobre o documento recentemente.
Quem quer que seja esteve chantageando seu pai e eu. Ele não quer que o
acordo seja encontrado e não há uma cópia. O único que existe está na caixa.
Conaire pretendia levar a caixa quando deixasse o castelo, mas não teve
tempo suficiente. Retirar a sua família com segurança foi o seu foco
principal. Então, agora, uma vez que eu destrua o contrato, está acabado.
Isso enviou um frio subindo por sua espinha.
— Mas quem iria... — ela parou para pensar nos homens que tinha
conhecido: Ian, seus irmãos, o casal de homens montando guarda, um
punhado de outros que atuaram como guarda-costas ou tinham falado com
Ian na muralha. Quantos eram parte da matilha de Ian, de seu clã? Então,
havia os dois homens que viu na floresta. Os mesmos do aeroporto.
— A família de Ian está com pouco dinheiro. — ela disse em voz
baixa. E se esta fosse à razão para um deles estar chantageando sua família?
Ela mal respirava. Sua família estava bem, mas não tinha dinheiro
suficiente para manter um chantagista na riqueza.
— Então, este homem acredita que você me enviou para tentar obter
o contrato.
Você não atende pelo nome ―MacPherson‖ desde que era
pequena. Eu não achei que alguém a conectaria à família.
— Ok, então ele é alguém do clã do Lorde MacNeill? Supondo que o
cara é um lobisomem. Mas qual seria a motivação dele? Os MacNeills estão
tendo alguns sérios problemas financeiros, ou eu tenho certeza que não
teriam concordado com as filmagens aqui. Não, por serem loups garous. E se
o próprio lorde, ou um dos seus homens, estivesse tentando chantageá-lo por
causa dos problemas financeiros deles? — Julia perguntou.
— Eu não sei quem poderia ser.
— Ele tem que ter descoberto isso de alguma forma. E se um dos
irmãos de Ian não quisesse que o lorde se acasalasse com uma americana,
para que o título possa ir para um dos descendentes do irmão? — Em
seguida, ela reconsiderou o que o homem havia dito sobre o título de Ian. —
Você pode fazer uma busca por mim na Internet?
— Deixe-me ligar o computador. O que você está procurando, Julia?
— Se você pode comprar um título na Escócia. O homem disse que
Lorde MacNeill tinha o título, porque ele possuía terras. Que qualquer um
podia receber um título se comprasse terras.
Enquanto ela esperava o computador de seu avô ligar, tamborilou os
dedos no sofá.
— Se há um acordo de casamento, esta informação teria sido escrita
em revistas da família?
Sem dúvida.
— Na nossa?
— Sua avó destruiu a nossa quando você nasceu.
Julia respirou fundo.
— Foi por isso que insistiu para que eu mudasse meu nome para um
pseudônimo quando era pequena? Para Julia Wildthorn?
— Na esperança de que o nosso passado nunca fosse nos apanhar,
sim.
— Julia não é um nome gaélico. Eu procurei. Significa jovem em
latim, jovial em francês.
— Você foi nomeada em homenagem a sua bisavó, que era francesa,
de Selencourt.
Ela soltou a respiração em frustração.
— E se eu andar até a porta do castelo de Lorde MacNeill e exigir
que ele se acasalasse comigo, porque eu sou sua noiva prometida?
Ian iria rir da cara dela terrivelmente. Isso seria o fim do domínio do
chantagista sobre eles. Mesmo que o próprio estivesse por trás disso.
— Não, Julia. — Antes que ela pudesse perguntar a por que isso não
iria funcionar, ele disse:
— Quando o Castelo Argent foi sitiado, nós estávamos ficando sem
comida e, então, quando sabotadores minaram a parede oeste, não tivemos
escolha a não ser nos render.
O castelo foi nosso? — Sua boca se abriu em surpresa e ela
não conseguia deixar a sua descrença ir embora. — Tem certeza?
— Sim. Conaire MacPherson concordou em dar a sua única filha em
casamento. Mas não conseguiu casa-la com o usurpador. Vários dos nossos
parentes escaparam e eventualmente fugiram para a Ilha do Príncipe
Eduardo.
— Mas se os MacNeills não encontraram a caixa antes disso, esta
pode nunca ser encontrada. E quem está nos chantageando não terá como
provar suas alegações. Mesmo que de fato a localizem, Ian não pode me
forçar a acasalar com ele com base em algum contrato feito séculos atrás. —
não quando ela era uma americana e uma escritora de lobisomem, além
disso.
— Senão você, então um posterior senhor de terras e uma filha
nascida de você, ou uma neta, estariam sujeitos aos termos do mesmo
contrato. Você quer correr esse risco?
— Talvez os MacNeills nem sequer saibam ou não se importem.
As coisas mudaram desde os primórdios.
Seu avô não disse nada e, conhecendo-o, imaginou-o andando. Mas
então ele disse:
— Sobre os títulos, você está certa. Se você possuir algum terreno,
qualquer montante vai servir; pode alegar ser uma lorde... ou dama.
— Ai, caramba. Mas já que MacNeill tem um castelo, parece mais
como um lorde. E se ele não me quiser? Este Lorde Ian MacNeill? Então, o
contrato seria anulado. Certo?
Silêncio.
— Vovô? — ela tinha um sentimento aterrador sobre isso.
— Vocês dois estão vinculados pelo contrato. Se Ian se acasalasse
com outra pessoa, você ou a sua futura herdeira seria a companheira do
próximo lorde.
— Então, se eu já estivesse acasalada...
— Se você tivesse uma filha, ela poderia ser acasalada ao atual lorde
quando tivesse idade.
Julia apertou os dentes.
— Por que você ou o papai nunca me contaram sobre isso?
— Nós pensamos que poderíamos destruir o contrato antes de você
algum dia saber sobre ele.
— O castelo foi nosso. — Ela ficou realmente maravilhada ao pensar
que sua família tinha uma vez vivido no castelo de pedra maciça. Não
apenas viveu lá, mas o possuiu.
— Desde a época que William da Normandia ascendeu ao poder,
sim. Apesar de ter sido construído num lugar romano e ter sido feito de
madeira depois.
E agora de pedra impenetrável. Ian podia não pensar muito bem dela
como uma escritora de romances de lobisomem, mas a sua família, não a
dele, tinha uma vez possuído o Castelo Argent e os MacNeills eram os
usurpadores.
— É um contrato, Julia. Precisamos destruir a maldita coisa e acabar
com isso.
— Tudo bem. Eu vou... Vou tentar encontrar o contrato e destruí-lo
assim que o encontrar. Não quero ser pega em flagrante tentando retornar
aos Estados Unidos com isso.
Seu avô permaneceu quieto.
— Se eles me pegarem com o Contrato, o jogo acabou. Eu deveria
destruí-lo imediatamente.
— Não abra a caixa. Apenas a traga aqui para mim. Boa noite, Julia.
Cuide-se. — E então ele desconectou.
Ela encarou o telefone mudo, sem saber o que pensar. Não abra a
caixa. Havia algo mais na história que seu avô não estava lhe dizendo?
Sentindo-se angustiada e irritável, desligou o telefone. O tornozelo
formigava e a irritava, logo, sabia que ele estava se curando. Mas, com o que
tinha descoberto sobre os MacNeills do passado e sobre aquele que estava
chantageando agora seu avô e seu pai, não conseguia dormir. O castelo tinha
pertencido à família dela! Isso incluía a cozinha onde se sentou e o grande
salão pelo qual Ian a carregou. O escritório dele provavelmente teria sido do
lorde do seu clã e o povo a quem pertencia teria estado lá, não o dele.
Ela considerou o quão horrível tinha que ter sido para o seu bisavô
enquanto os MacPhersons tentaram evitar a entrada dos MacNeills nas terras
do castelo. Como a família deve ter se sentido ao ser forçada a abrir mão de
uma filha para a força invasora. E depois ter que fugir de sua própria casa.
Bem, se Julia tinha algo a ver com isso, teria que encontrar a caixa,
destruir aquele documento e livrar sua família de uma obrigação com a qual
nunca deveriam ter sido forçados a concordar. Infelizmente, não podia fazer
nada sobre o retorno do castelo aos legítimos proprietários: os MacPhersons.
Com o bloco de notas na mão, tentou pensar no jeito que iria escrever
sua história, para não ficar pensando em seu tornozelo e em Ian, enquanto
dava a sua entorse mais algum tempo para curar. Mas tudo no que conseguiu
pensar foi em quão alegre ele pareceu na floresta, andando com os
cachorros, e na sua companhia. E então, quão faminto tinha estado por ela
nas cataratas, desejoso, ansioso e carente. Nenhum homem jamais a tinha
desejado daquele jeito. Não de uma forma feroz. Mas, pensando bem, nunca
antes teve um lobo interessado nela.
Lembrou-se de que ele não foi aquele que fez o cerco ao castelo da
família dela, tampouco. Foi um antepassado dele.
Ela rangeu os dentes, forçou-se a se concentrar e começou a escrever
sua história.
Não iria ser sobre bonitões highlanders. Julia estava muito zangada
com eles por terem tomado as terras ancestrais e o castelo de sua família e
forçar seu bisavô a fazer um contrato que os teria amarrados aos MacNeills
mediante um noivado indesejado. E agora um deles estava chantageando a
sua família? De jeito nenhum poderia torná-los heróis em seu livro. Ela
soltou a respiração com força e começou a escrever sua história.
Esporas tilintando, arma no coldre, Ian MacNeill agarrou as
rédeas do cavalo teimoso e olhou para a mulher que montava o animal e
era tão teimosa quanto o maldito cavalo. — Aqui no Texas, minha
senhora, nós não pegamos leve com ladrões de cavalos, então, por que
você não desce daí e nós vamos ter uma pequena conversa antes de se pôr
em mais outra dificuldade.

Outras duas horas se passaram enquanto Julia escrevia mais dez


páginas de sua nova aventura, uma história de cowboy, passada no Texas,
que contava com um escocês imigrante. Muitos deles tinham acabado no
Texas, então, não seria muito exagero. Só que ele usaria calças vazadas de
couro em vez de um kilt. Julia suspirou. Realmente gostava da ideia de kilts.
Mas calças de couro, elas também tinham seu apelo. Mudaria o nome dele
mais tarde, mas colheu alguma satisfação ao transformar Lorde MacNeill em
um cowboy.
Ela esticou os dedos das mãos e dos pés, tencionando em antecipação
a dor, mas o tornozelo sentia-se bem o suficiente novamente. Levantou-se do
sofá com a intenção de obter um pouco de sono, enquanto a escuridão ainda
camuflava a área.
Apesar do que já sabia sobre o contrato na caixa, tinha certeza de que
essa viagem era exatamente o que precisava para romper o teimoso bloqueio
de escrita. Ela tinha tentado tudo o que normalmente funcionava: limpar o
apartamento, o que sempre era extremamente necessário entre escrever o
último livro e começar um novo, assistir a um filme, ler um livro, dar uma
caminhada, jardinar em seu pequeno pátio, até mesmo desencavar alguns
manuscritos antigos que nunca tinha enviado e revisá-los. Mas desta vez,
nada funcionou. Então, quando mencionou ao seu pai o problema que o
produtor de Maria estava tendo em localizar um castelo na Escócia para
filmar, ele a informou sobre o segredo da família.
Um segredo Highlander antigo. Perfeito para incluir em sua história,
mas com nomes diferentes e um local diferente para proteger os inocentes e
os culpados.
Mas agora, tudo tinha mudado. Um chantagista estava envolvido e
ele até mesmo podia ter algo a ver com o seu acidente de carro, mas não
queria preocupar o seu avô sobre isso.
E se escrevesse sobre os documentos secretos numa caixa escondida
num castelo? E embora os documentos possam ser algo diferente na história
dela, se o chantagista avisasse Ian que Julia tinha verificado a existência da
tal caixa em um castelo escocês, agora o castelo escocês dele, através de sua
escrita ficcional e afirmasse que era coincidência demais?
Por isto, estava escrevendo a sua história de cowboy ao invés.
Nenhuma caixa secreta. Ou... talvez pudesse haver uma e a donzela em
perigo estava fugindo do rancho de Ian depois de tentar, sem êxito, localizar
o esconderijo, o nome do rancho. O rancho dela. Isso iria funcionar.
Com um sorriso nos lábios, Julia adormeceu por um tempo. A
escuridão ainda cobria a casa e assim continuaria por outro par de horas.
Maria não acordaria até que estivesse claro. Antes disso, seria hora para a
próxima grande aventura dela. Seria exatamente como o clã guerreando,
tentando encontrar um ponto fraco nas defesas do inimigo.
Só que desta vez o castelo era dela. E o inimigo era verdadeiramente
os MacNeills. Ou pelo menos um deles, o chantagista, e talvez mais.
Quando acordou e se vestiu para as suas atividades clandestinas, seu
tornozelo se sentia muito melhor, mas ainda estava rígido e formigando. Ela
receava que, se andasse muito, começaria a incomodá-la novamente. Se
pudesse simplesmente escorregar para dentro do castelo e encontrar a caixa,
teria acabado com a sua missão e poderia deitar ao redor da casa de campo
por mais um dia, apenas deixando seu tornozelo curar-se suficientemente.
O mais silenciosamente que pôde, saiu da casa de campo, trancou a
porta e correu pela floresta em direção ao castelo, esperando que quem
estivesse chantageando a sua família não estivesse vigiando quando ela saiu.
Mas tinham se passado horas e presumia que ele nunca iria imaginá-la
fugindo assim. No entanto, manteve uma observância cautelosa por alguém
que talvez a seguisse.
A brisa arrepiava os galhos das árvores próximas, as aves saltando
para frente e para trás, enquanto se esforçava para ouvir acima de seus
próprios passos e pensou ter ouvido algo estalar. Um galho seco. Ou algo
assim. Ela congelou. Desvirou. Espiou para dentro da floresta. Não viu nada,
ninguém. Estava sozinha.
Com o passo mais apressado, retomou sua caminhada e finalmente
conseguiu chegar à torre ao leste. Contornou em direção à parede leste e não
observou ninguém acima da muralha, fazendo-a sentir-se segura para fazer
seu negócio de detetive. Julia se sentou no chão úmido para desatar suas
botas, com a intenção de mudar de forma. Depois de retirar uma, colocou-a
de lado e ouviu um baque quase inaudível enquanto sua bota tocava o chão.
Com sua audição de lobo, achou que soou como se a bota tivesse atingido
algo que era de metal e não pedra. Ela chegou para o lado para sentir o que
tinha feito o barulho. Suas mãos se moveram sobre o ferro enferrujado e seu
coração quase parou de bater. Era uma porta? Ou apenas um pedaço
descartado de sucata?
Fosse o que fosse, estivera enterrado há algum tempo e deixado sem
perturbações. Talvez por anos. Ela varreu as folhas e sujeira acumulada para
longe e sorriu. Seu avô tinha razão. Ou pelo menos isto parecia ser o que ele
tinha descrito. Mas o alçapão estava trancado com um cadeado antigo e
corroído.
Julia tirou seu segundo conjunto de gazua ―chave mestra‖ de loup
garou, o primeiro tendo sido perdido no incêndio do carro. Mas não tinha
certeza se as ferramentas iriam trabalhar em algo tão antigo. Então, riu de si
mesma. Não tinha trazido o croqui do local, mas carregava gazuas com ela?
Sim, se alguém a tivesse pego e revistado, eles não teriam suspeitado de
nada.
Algo em sua visão periférica chamou sua atenção e se virou para
olhar. Apenas um ramo de pinheiro balançando na brisa. Ela olhou para o
local pelo que pareceu uma eternidade. Nada se moveu, exceto os galhos das
árvores balançando em uma dança ondulada.
Com a sua atenção de volta para a porta, inseriu uma pinça na
fechadura, sacudiu e torceu-a até que se abriu. Ela sentiu que todo o castelo e
a área circundante teriam ouvido o barulho, mas talvez fosse apenas a sua
avançada audição lupina que a fez se sentir tão autoconsciente.
Com o coração palpitando de emoção e trepidação, puxou o cadeado
e o colocou no chão. Ela sentou-se e colocou a bota de volta, amarrou-a, em
seguida, levantou-se e tentou levantar a porta de ferro, o metal brutal coberto
de ferrugem áspero contra sua pele nua. A porta não se moveu. Emperrada.
Droga.
Decepção passou através dela. Desejou que pudesse ter carregado um
pé de cabra. Se ainda tivesse o carro alugado, ele teria a ferramenta.
Julia puxou as mangas de seu suéter para baixo, cobriu suas mãos
com elas e tentou novamente. Uma pequena cedida. Os ânimos se
levantaram. Agachou-se mais para baixo, colocando suas pernas e costas ao
trabalho, ao mesmo tempo em que tentava não se machucar, e tentou
levantar novamente. A porta se moveu.
Ela sorriu. Poderia fazer isso. Com seus músculos se esforçando,
tentou novamente. Moveu-se mais. Julia soltou a respiração. Precisava de
uma grande lata de lubrificante. Sentiu-se como se estivesse em O Mágico
de Oz e tivesse que usar um frasco de óleo no Homem de Lata, ou, no caso
dela, no alçapão enferrujado. Mesmo que um robusto pé de cabra fosse
funcionar ainda melhor.
Seus músculos estavam esgotados, o suéter verde tinha manchas de
ferrugem e suas mãos estavam em carne viva por causa do metal que as
perfuraram, mas não estava prestes a desistir. Não quando estava tão perto de
entrar.
Com a última gota de força extra que pôde reunir, levantou o metal, o
que produziu o grito mais lamentavelmente horrível antes que fosse capaz de
virar a porta de costas no chão. Com a pele suando com o esforço e
ansiedade, rapidamente enterrou a porta com folhas e terra, mas se alguém
aparecesse para procurar na floresta, eles encontrariam o buraco aberto para
o abismo. Ela poderia ficar agachada ao lado da abertura por um tempo para
garantir que ninguém a ouviu fazendo barulho, ou poderia presumir que
nenhuma pessoa iria ouvi-la, já que ninguém estava por perto,
provavelmente porque todos estavam mortos para o mundo, dormindo dentro
das grossas paredes do castelo. Poderia muito bem entrar no túnel agora.
Julia deu uma última olhada para a floresta, o cabelo na nuca
arrepiando com mal-estar. Não da preocupação de explorar os túneis, mas
por causa da sensação de que algo a observava da mata. Mas não viu nada,
exceto árvores e mais árvores. Se uma das pessoas de Ian olhou para ela, não
soou o alarme. Tinha que ser nada. Apenas a sua imaginação a vencendo.
Preparando suas costas, começou a descer uma escada bamba para
dentro do abismo.
CAPÍTULO 13
De pé, em cima da muralha, Ian MacNeill observava a estrada que
passava sobre o fosso ia até a portaria e que seria preenchida com ianques
antes que percebesse. Mas só havia uma que desejava ver. A autora de
romances de lobisomem Julia Wildthorn. Ele havia lido todas as entrevistas
e sentiu que tinha chegado a saber muito mais sobre ela do que sabia sobre
alguns de seus próprios primos distantes, desde seu sorvete de café favorito
coberto com calda de chocolate quente, até tomar banho em bolhas de
lavanda à luz de velas.
Droga, e o mundo todo sabia disso também.
Por ora, tentou desfrutar da paz e tranquilidade da floresta e de suas
propriedades antes que a batalha de vontades com a equipe de filmagem
começasse. Tentou, de novo, tirar da sua mente a moça que era tão suave,
curvilínea, gostosa e disposta. Durante toda a noite, pensou nela e, não
importava o quanto tentasse não pensar, queria compartilhar a pizza com
Julia como tinha combinado e muito mais.
Merda, deveria tê-la rastreado e trazido de volta para o castelo, em
vez de enviar Guthrie para devolvê-la a sua casa de campo. Mas o havia
irritado que tivesse partido sem se despedir e uma pequena parte dele tinha
avisado que ela estava aqui apenas como uma escritora e não interessada
nele para mais nada, mas usando-o. No calor do momento, disse ao seu
primo para retransmitir a mensagem a Guthrie para levá-la para casa.
Agora, concentrava-se na escuridão, sabendo que os americanos não
apareceriam até que estivesse claro, mas ainda assim, quase esperava que
pudesse ver a desafiadora pequena loba vermelha atravessando suas terras
novamente. Desta vez, a perseguiria, lobo contra loba.
Até que ouviu alguma coisa na floresta, na direção da parede leste.
Algo fraco. Metálico. Algo não natural.
A primeira coisa que veio à mente foi a entrada para o túnel secreto,
mas este não tinha sido utilizado por mais de... um par de séculos, ele
pensou. Provavelmente mais do que isso.
Ele andou em direção à torre leste. Talvez um veado tivesse pisado
por acaso ou uma marta ―animal‖ tivesse corrido sobre o alçapão. Mas soou
mais como...
A porta rangeu. Inferno. Ele apressou o passo. Duncan o viu do pátio
abaixo, embora Ian não tivesse a menor ideia do por que seu irmão estava
acordado assim tão cedo. A menos que estivesse preocupado com a chegada
da equipe de filmagem e quisesse estar preparado. Seu irmão observou-o,
sabendo que algo estava errado, mas Duncan estava mais longe da muralha
e, lá em baixo, então, pode não ter ouvido o som. Quando Ian navegou
através do portão da torre, ouviu o alçapão rangendo ainda mais. Alguém
tinha ganhado acesso. Em seguida, um estrondo. A porta tinha caído de
costas.
Maldição. Assim que Ian saiu da torre, correu ao longo da passarela
leste da muralha, seu irmão guerreiro correndo para a muralha de lá de baixo
e procurando algum direcionamento dele. Mas concentrou-se em pegar o
culpado no flagra. O homem provavelmente não perceberia que Ian e seu
povo podiam ouvir ruídos no interior das muralhas do castelo, porque
ninguém, além do clã sabia que tinham a audição distintiva de um lobo.
Além disso, ele e o clã normalmente estariam dormindo. Dentro das paredes
grossas do castelo, provavelmente não teriam ouvido mais do que um
fantasmagórico som abafado ao longe.
Ele chegou ao local onde podia ver a porta de entrada para os túneis
secretos na periferia da floresta. Ninguém estava lá, mas quem quer que
fosse tinha sido inteligente e coberto o alçapão. A entrada ainda estava
aberta, mas não seria assim tão visível a menos que alguém estivesse
procurando. Ian não teve que lidar com o inimigo violando suas paredes por
um tempo muito longo.
Hora de caçar. Ian gesticulou para seu irmão, indicando o alçapão na
floresta e, em seguida, acenou que estava descendo. Não gritaria suas
intenções e alertaria o intruso de que sabiam que tinha invadido. Nesse caso,
ele provavelmente iria escapar. Melhor pegá-lo no flagra, descobrir seu
plano e mostrar-lhe o quão tolo o esforço do invasor tinha sido.
No momento em que Ian chegou ao pátio interior, Duncan já contava
com o apoio de Cearnach, que sorria como se eles estivessem indo para a
batalha e certos de vencer. Guthrie tinha até se posto longe de dar um início
precoce em rever a bagunça financeira na qual estavam para ver o que estava
acontecendo. Não importava quais outros interesses seus irmãos tinham, o
instinto de caça se sobrepunha aos demais.
Vários dos membros de seu clã também estavam ali abotoando as
camisas e colocando-as para dentro de suas calças, aguardando ansiosamente
suas ordens.
— Entraremos nos túneis pelo alçapão. — Ian disse. Ele ergueu a
mão antes que Duncan pudesse objetar. — Poderíamos passar horas
procurando todos os túneis e nunca chegaríamos perto de encontrar o
culpado. Mas se formos pelo túnel onde entrou, podemos seguir seu cheiro.
Para dois de seus primos, Ian disse:
— Proteja o alçapão, tão logo nós tenhamos descido para o túnel. —
para dois outros homens, acrescentou: — Vigiem a passarela da muralha. Se
ele sair pelo túnel enquanto estamos tentando alcançá-lo, deem-nos um grito
e nós vamos rastreá-lo na floresta.
— Poderia ser apenas alguém que saiu para uma caminhada,
tropeçou no alçapão, ficou curioso e... — Cearnach disse, enquanto Ian e
seus irmãos se dirigiam ao portão principal.
— Carregava algo para arrombar o cadeado? — perguntou Ian,
dando a seu irmão um aceno de cabeça. — Parece premeditado, no meu
modo de pensar. — finalmente percebeu que Duncan estava usando sua
espada. — Preparado para qualquer eventualidade?
— Aye. Se ele está disposto a entrar numa fortaleza como a nossa,
talvez esteja armado.
— Talvez Flynn vá assustá-lo terrivelmente. — Guthrie disse, soando
entretido. — Você sabe como não gosta de estranhos. Se Flynn sequer
perceber que alguém está vagando por debaixo do castelo, que não foi
convidado, ele vai cumprimentá-lo.
Duncan puxou a espada para fora da bainha em suas costas.
— Flynn não pode fazer nada com ele, a não ser que o homem tenha
medo de fantasmas. Mas isso... — Ian enfiou a lâmina afiada em um inimigo
invisível. — Isso vai colocar o temor de Deus no homem.
— A menos que ele esteja armado, não use sua arma, Duncan. — Ian
disse secamente, com o sangue quente pela irritação de que alguém tentaria
invadir seu lar ancestral. No entanto, estava preocupado que alguém poderia
se machucar, não o idiota correndo pelas entranhas do subterrâneo do
castelo, mas os irmãos que estariam ao seu lado em qualquer batalha.
O culpado que havia violado suas defesas logo saberia quanta ira Ian
poderia despejar sobre ele.

Mesmo que estivesse escuro no túnel subterrâneo que conduzia ao


castelo, mais escuro ainda nas paredes onde tochas outrora queimaram a
pedra com chamas bruxuleantes, Julia podia ver com a sua visão de loba. Ela
se apressou a descer uma escada bamba que rangeu, estremeceu e inclinou-
se a cada passo. Julia vislumbrou os degraus da escada quebrando, deixando-
a presa lá e tentando descobrir uma maneira de escapar do castelo pelo seu
interior. Mas se isso acontecesse, primeiro tentaria localizar a caixa de sua
família, escondida na parede em algum lugar no terceiro andar da fortaleza,
onde eram os alojamentos da família.
Mal tinha alcançado o quarto degrau quando a madeira em
decomposição rachou com um estalo. Com o coração na boca, ela meio que
escorregou e meio caiu enquanto apertava seu agarre sobre os trilhos, lascas
de madeira incorporando-se nas palmas das mãos e dedos. Tentou alcançar o
próximo degrau sem cair no chão de pedra abaixo e quebrar seu pescoço ou
uma perna. Pernas curariam depois de um tempo; pescoços não.
Mas atingiu o próximo degrau com tanta força que quebrou também.
Sufocando um grito estrangulado, agarrou os trilhos da escada com toda a
sua força, apesar das lascas de madeira cavando dentro de suas mãos e
parecendo como urtigas e tentou não cair mais. Com seus músculos do braço
tremendo, conseguiu parar sua queda, meio escorregando sobre o próximo
degrau e, finalmente, conseguindo pousar no de baixo sem um abalo muito
grande.
Mal respirando, percorreu mais dez. Mas quando chegou ao
antepenúltimo, este se dividiu em dois com um estalo desesperador. Ela caiu
muito rapidamente, quebrou o próximo degrau e ignorou o último por
completo. Caiu não muito graciosamente no chão de pedra, sacudindo com o
impacto enquanto pousava em suas mãos e joelhos com um golpe duro. Dor
irradiou através de seus joelhos, fazendo-a perceber o quão pouco
acolchoamento as patelas tinham. Bater suas mãos já cheias de lascas contra
o chão de pedra acrescentou ainda mais abuso ao ferimento.
Uma gata furtiva ela não era.
Mas, pelo menos, com a sua capacidade para se recuperar mais
depressa, superaria as dores e sofrimento mais rapidamente do que se não
fosse uma lobisomem. E não tinha pousado sobre seu pé direito, arriscando
prejudicar ainda mais o tornozelo.
Ela olhou de volta para a escada, seu olhar subindo até que viu o
buraco aberto acima. Agora que estava faltando vários degraus, não tinha
certeza se poderia voltar para a superfície. Não havia sentido em se
preocupar com isso neste exato momento, no entanto.
Voltando sua atenção para o túnel a frente dela, ficou de pé, os
joelhos e mãos ainda doendo. Se não conseguisse subir de volta pela escada,
com esperanças, assim que a equipe de filmagem estivesse no local, poderia
andar para dentro do castelo e se misturar no barulho e confusão exterior
antes que alguém a pegasse.
É claro que a equipe não estaria ajeitando as coisas até mais tarde
esta manhã e teria que se esconder até então. O que poderia ser fácil se o
castelo estivesse meio vazio, enquanto Ian e seu povo acompanhassem a
equipe de filmagem lá fora. Ou poderia permanecer aqui. Mas isso era o pior
cenário. Não tinha intenção de ficar presa nas frias entranhas escuras do
castelo por horas.
O túnel era estreito e os tetos baixos, com água pingando em poças e
musgo cobrindo a maior parte das paredes. Em alguns lugares, teve que se
agachar. Tinha imaginado tetos altos, talvez com suaves paredes de azulejos.
Nada tão acidentado ou primitivo. Ou confinante, úmido, frio e com cheiro
de terra. Enterrada viva veio à mente.
Com todo o trabalho que tinha feito ao tentar abrir a porta, ficou
quente e suada. Agora estava até mesmo mais úmida do que antes e com
mais frio, apesar da pura adrenalina correndo através de sua corrente
sanguínea incitando-a. Ela estremeceu.
Esperava que o túnel levasse direto para onde precisava estar. Mas
quando caminhou por algum tempo e chegou a três túneis diferentes que se
ramificavam como um pé de frango a partir do primeiro, olhou para o
escuro, tentando decidir qual deles podia ser o certo.
Quanto mais tempo tentasse deduzir o rumo certo, mais tempo seria
necessário para descobrir se estava correta em sua suposição. Ela seguiu em
direção ao da direita.
Vozes abafadas na fortaleza, bem acima dela, a fizeram parar, mas
não conseguiu distinguir as palavras. Eles não seriam capazes de ouvi-la
movendo-se em silêncio ao longo do molhado piso áspero. Onde tinha
tropeçado algumas vezes por causa do irregular e escorregadio solo rochoso,
mas tinha segurado a língua no caso de que um som mais alto pudesse viajar
através do teto do túnel até a parte inferior do castelo.
Uma luz enevoada apareceu mais ao fundo no túnel e ela parou, seus
batimentos cardíacos acelerados. Mas a luz piscou. Um tremor passou
através dela. Teve a esperança de pegar o contrato, voltar à equipe de
filmagem e tomar notas para seu livro, sem que ninguém mais soubesse e,
em seguida, voltar para a Califórnia no final das duas semanas. Embora os
homens em sua história agora fossem cowboys e o castelo fosse um rancho,
onde cavernas subterrâneas nas proximidades armazenavam alimentos e
bandidos e índios tinham uma vez se escondido ali, como em Salado, Texas,
um lugar que pesquisou uma vez para uma possível história.
Mas encontrar o caminho sob o castelo ia ser muito mais difícil do
que pensava. Seu avô tinha feito soar como se não houvesse problema
algum, um tiro certeiro no andar superior. Localizar a câmara e o nicho
escondido poderia ser mais difícil. Havia passado assim tanto tempo que ele
esqueceu? Ou havia outra entrada que deveria ter tomado? Oh, merda, o avô
nem sequer tinha nascido quando os MacPhersons deixaram o castelo. Ele
devia ter se guiado com as lembranças do que seus pais lhe haviam dito.
Ela gemeu. Aí está o fim de ser uma super detetive.
De repente, passos vinham atrás dela, seguiam em sua direção e
tentou evitar que o pânico crescente a sobrecarregasse. Correu o mais rápido
que podia. Nenhum lugar para se esconder. Nenhuma alcova onde pudesse
se espremer através de alguns lugares, apenas um acesso estreito. Os passos
soaram esquisitos, porém, um estranho ritmo constante como se fosse feito
em um set de filmagem, surreal.
Então, se deparou com uma abertura onde o túnel dividia-se em dois.
Começou a pegar o da direita. Em seguida, parou. Se continuasse a tomar a
trilha mais à direita, poderia encontrar o caminho de volta, raciocinou. Se ela
tivesse estado em sua forma de loba, suas patas teriam deixado um perfume
que poderia seguir. Mas, em sua forma humana, a menos que tivesse
migalhas de pão para sair e sem ratos devorando-as por trás dela, a sua
memória teria que ser suficiente.
Assim que seguiu em frente através do túnel à direita, viu novamente
a luz. Os passos haviam morrido atrás dela. Mas eles tinham estado no
mesmo túnel no qual ela esteve. Será que alguém a esteve seguindo, ouvindo
o seu progresso e então quando parou, ele também?
Uma porção de pânico espetou sua barriga. E se o chantagista a tinha
seguido?
Por um instante, quis continuar através do túnel à direita, para buscar
a luz e encontrar uma saída. Mas o túnel escuro seguindo na direção
contrária a incitava para ir por aquele atalho e manter-se escondida na
escuridão reconfortante.
Julia olhou por cima do ombro, percebendo que apesar de ouvir os
passos, não tinha visto qualquer luz vinda daquela direção. Esta ainda
permanecia estranhamente silenciosa, como se alguém estivesse à espera de
sua decisão. Mas qualquer loup garou ainda poderia vê-la no escuro, assim
como ela poderia ver qualquer um deles.
A luz à frente se movimentou na direção dela, passos a
acompanhando e aquilo a fez decidir. Correu para o túnel mais à esquerda,
tropeçou em um pedaço de rocha que se projetava para fora do chão e caiu.
Ela gritou furiosa consigo mesma tão logo fez isso, esperando que o homem
com a luz corresse para frente e a agarrasse, ou a pessoa que a estava
seguindo por trás fizesse o mesmo. Mas tinha batido com força a canela,
machucando-a e rasgado seu jeans e, da forma como sua pele estava
queimando, devia tê-la rasgado também.
Passos de muito mais longe correram pelo túnel que estava, passos
reais, passos largos dos homens, pesados e determinados. Estava em apuros
agora.
Uma mão fria agarrou seu braço e ela engasgou. Ninguém estava lá,
ninguém visível. Mas sentiu a pressão da mão sobre sua pele como se fosse
real. Um fantasma?
Não vê-lo, ou a algo que parecesse fantasmagórico, a fez sentir como
se estivesse imaginando a coisa toda. Mas não imaginou o frio agarre
apertado em seu braço ou a forma como a área em torno dela tinha se
transformado de fria para gelada, a sua respiração difícil saindo em pequenos
jatos de ar congelado.
Tentando não entrar mais em pânico, permitiu que a força estranha a
ajudasse a se levantar. Ela mal conseguia andar, a canela gritando de dor e
não conseguia pôr seu pé direito contra o chão porque doía muito. A força
invisível a guiou enquanto mancava para dentro do túnel escuro, até um
longo lance de escadas esculpidas em pedra. Flynn não era gentil. Ao
contrário, como um homem das cavernas com sua presa, ele a puxou para
cima e para cima, apressando-a até que chegou a um alçapão acima dela. A
mão fria recuou e a entidade fantasmagórica tinha ido embora, pensou.
Julia estendeu a mão para empurrar o alçapão aberto, mas quando
aplicou pressão, este não se moveu. Presa nas escadas, com medo de voltar
para o túnel e tentar outro caminho, com medo de que fosse esbarrar com os
homens que estavam procurando por ela, hesitou, olhando para o abismo. Os
passos dos homens ainda estavam distantes, mas crescentes, mais perto a
cada segundo, seus passos ecoando nas paredes, fazendo parecer que uma
legião estava atrás dela.
O alçapão de repente se abriu acima dela e, com dor, subiu pela
abertura. O alçapão caiu de volta no lugar e uma haste passou através de um
entalhe para impedir alguém de entrar novamente dessa maneira.
O fantasma a tinha resgatado.
— Onde eu devo ir agora? — Sussurrou, esperando que ele a
ajudasse ainda mais, embora ainda estivesse tendo dificuldade em acreditar
que um fantasma existia e sentiu-se tola por tentar falar com um. Ela olhou
ao redor da sala, espiando duas portas. Uma provavelmente levava para um
corredor e a outra, talvez, para um banheiro.
O fantasma não respondeu e não conseguiu ver qualquer sinal dele.
Talvez não tivesse qualquer outro plano em mente e não houvesse maneira
de ajudá-la agora.
Ela rapidamente esquadrinhou o quarto. Uma cama king-size
chamava a atenção contra uma parede e estava vestida com uma colcha e
saia plissada de veludo verde-floresta. Cortinas verdes escuras pendiam dos
trilhos superiores como se para evitar as correntes de ar frio ou dar a
privacidade aos ocupantes. A cama era mais alta que a maioria e pensou que
vislumbrou um pote de cobre por baixo. Certamente eles tinham banheiros
no castelo.
Um baú estava disposto contra uma parede, ganchos de madeira
situados acima para pendurar roupas. Uma lareira na parede oposta tinha
gravetos e troncos no lugar, mas parecia que estavam lá por um tempo muito
longo. Nenhuma cinza remanescente de um fogo recente e a lareira estava
perfeitamente limpa.
Ela saiu mancando rapidamente para a porta à sua frente, mas a
fechadura de repente clicou. Torceu a maçaneta da porta, mas estava
trancada pelo lado de fora. Seus batimentos cardíacos aceleraram. O
fantasma estava trancando-a?
Julia vasculhou em seu bolso atrás de suas gazuas, mas não estavam
lá. O que aconteceu com elas? Teria deixado cair no túnel quando tropeçou?
Sua pele se arrepiou com a ansiedade crescente.
Julia rapidamente examinou o quarto novamente. Outra porta. Para
um banheiro, talvez. Ou um armário?
Maria ficaria furiosa com ela quando soubesse que o povo de Ian
MacNeill a tinha pego dentro do castelo. Mas, ainda assim, não tinha
quaisquer planos para ser capturada ainda.
O alçapão atrás dela estremeceu. Julia saltou, deu um passo doloroso
contra a porta que presumia que levasse para o corredor no castelo e gemeu.
Na porta do túnel, um homem rosnou.
— Inferno, como ela chegou até aqui?
— Ian. — Ela disse em voz baixa, quase sem respirar.
— Ela está sangrando, Ian. Talvez Flynn tenha vindo em seu
socorro? — Cearnach disse, com a voz firme.
Sangue? Ela não poderia ter deixado muito para trás para terem
tomado conhecimento. Todavia, sua canela de fato se sentia molhada, fria e
queimava demais. E eles eram lobos.
— Flynn não ajuda estranhos e certamente não intrusos, Cearnach.
Eles tinham que estar falando sobre o homem ou fantasma, ou o que
quer que fosse que a ajudou a entrar no quarto.
— Mas ela é uma fêmea vermelha. — disse Duncan. — Ele
provavelmente a quer para si próprio.
Ela deu sua primeira respiração profunda, sentindo os cheiros no
quarto. Cheirou o perfume fraco de Ian aqui.
— Droga, Flynn, desbloqueie essa porta! — Ian disse. O alçapão
balançou, mas não abriu.
Cearnach riu.
— Ele a ajudou a escapar. Se eu o conheço, já a levou para fora do
castelo agora. Se não pode tê-la, você também não pode.
A porta do túnel estremeceu novamente.
— Nós nem sequer podemos ligar para os nossos homens revistarem
o castelo, já que a recepção do telefone é inexistente por aqui. — Ian disse.
— Vamos. Nós temos que subir através de um dos outros túneis.
— O qual vai nos levar para o outro lado do castelo, Ian. —
Cearnach disse. — Você sabe para qual quarto ele a levou, não é? Acho que
Flynn está tentando lhe dizer alguma coisa.
Ela pensou que o quarto era muito feminino para ser de um homem.
As tapeçarias nas paredes eram de mulheres costurando em bancos enquanto
galgos irlandeses dormiam aos seus pés, em tons de verdes, dourados e
vermelhos e tapetes florais cobriam o chão, combinando com as cores das
tapeçarias de parede. Tudo parecia ser feminino em design. O quarto tinha
dois quadros: um das cachoeiras próximas com bagas de romã pairando
sobre a água e outro de um lago onde um cervo vermelho bebia da água, que
também a fizeram acreditar que a ocupante era uma mulher.
Mas, então, voltou a pensar sobre o que Cearnach tinha dito. Não
achava que um fantasma teria outras ideias, além de resgatá-la dos
MacNeills. A não ser que quisesse aplicar truques neles.
— Talvez ele não tenha a ajudado a escapar. — Duncan disse.
— O que você quer dizer? — Ian perguntou rispidamente. O alçapão
deu outro chocalho forte e ela pensou que os homens o pudessem romper.
— Talvez ele a tenha trancado no quarto.
Cearnach riu.
— Ele poderia ter feito isso. Talvez a gente não tenha que mandar o
clã localizá-la depois de tudo. Talvez você possa simplesmente mantê-la.
Mantê-la? O contrato veio à mente.
Ela respirou fundo, a garganta ressecada. Podia imaginar ser trancada
no calabouço, uma vez que a alcançassem e ninguém seria capaz de
encontrá-la enquanto Ian tentasse saber por que havia invadido seu castelo.
Se cedesse e dissesse a por que estava aqui, eles procurariam a caixa
escondida. E, em seguida, faria o quê?
Os escoceses tinham a reputação de serem anfitriões maravilhosos.
Pelo que Maria tinha dito sobre Ian e seu desejo de não querer abrir seu
castelo para quaisquer estranhos, talvez não acreditasse em hospitalidade
escocesa. Loups garous viviam por suas próprias regras.
Os homens fizeram barulho ao descer as escadas e Julia sentiu-se
ainda mais em pânico quando tentou abrir a porta de novo. Ela chamou
suavemente:
— Flynn? Se você está aqui, por favor, deixe-me sair. Antes que seja
tarde demais. — ela tentou parecer imponente, mas receava ter soado muito
mais como se estivesse implorando.
A porta permaneceu trancada. Ela considerou a outra porta do quarto,
esperando que esta fosse uma saída e não uma porta para um banheiro, o que
provavelmente era.
Se esta fosse a história que estava escrevendo, a porta levaria a uma
rota de fuga. Pena que não podia escrever-se para fora da cena. Com um
mancar pronunciado, correu para a porta e girou a maçaneta, que abriu com
facilidade.
E descobriu outro quarto. Ela cheirou o ar. Masculino, lobo cinzento.
O familiar e muito atraente aroma sexy de Lorde Ian MacNeill. Julia olhou
para a cama vestida de preto que dominava o quarto. Seu quarto de dormir.
Mas tinha uma porta que provavelmente levava ao corredor e ela correu para
a maçaneta e torceu.
Trancada.
CAPÍTULO 14
Se Flynn já não estivesse morto, Ian teria o estrangulado. Ian não
acreditava que seu primo queria dar a loba a ele, não quando amava as
mulheres, até mesmo a noiva prometida de Ian, na verdade, demais, nesse
caso. Se Flynn queria dar Julia para Ian, por que bloquear o alçapão? Para
impedi-la de fugir?
Não, ele queria alguma concessão, estava bastante certo. O perdão
pelo seu crime anterior, talvez.
— Você o conhece melhor do que qualquer um de nós, Cearnach.
Qual jogo ele está jogando agora? — perguntou Ian, andando de volta
através do túnel.
— Ir para fora outra vez, provavelmente, teria sido mais rápido. —
Duncan meditou.
— Eu mandei nossos homens selarem o alçapão do lado de fora, no
caso do intruso tentar escapar naquela direção. Merda, se Flynn nos trancar
aqui, juro que vou mandar exorcizá-lo. Você ouviu isso, Flynn?
— É difícil acreditar que ele quer que você tenha a loba, mas Flynn
levou-a para o quarto da sua senhora, e não à sala de estudos ou o grande
salão. Você sabe como ele é. Não importa o quão difícil seja entendê-lo
algumas vezes, sempre tem uma boa razão para fazer o que faz. — disse
Cearnach.
Ian deu a Cearnach um olhar sombrio.
— A não ser quando se trata de mulheres. Sua lealdade é um pouco
distorcida.
— Sim, mas ele teve quase duzentos anos para mudar seus modos e,
no ano passado, realmente fez um grande esforço para deixar as mulheres
sozinhas.
— Só porque elas não gostam de suas fantasmagóricas aparições e
correm gritando de sua presença.
Levou mais quinze minutos para chegarem até o próximo túnel, que
sairia na cozinha. Ian puxou o alçapão.
— Trancado. — ele resmungou. — Eu vou matá-lo. Vamos dividir
forças. Assim que um de nós conseguir sair, podemos ajudar os outros. —
Ian bateu no alçapão um par de vezes, em parte por frustração e, em parte,
no caso de alguém estar na cozinha e pudesse ouvi-los, mas era muito cedo
para isso.
— Por qual caminho você está indo? — Cearnach perguntou
enquanto Ian voltava em direção ao alçapão onde Julia tinha entrado.
Ian resmungou.
Duncan lançou-lhe um sorriso furtivo.
— Ele vai tentar jogar conversa mole para a mulher abrir a tranca.
Talvez Cearnach devesse tentar. Você provavelmente vai assustar a moça até
a morte depois do jeito que ela saiu daqui às pressas ontem à noite.
Seus irmãos riram e dirigiram-se para baixo do túnel, para tentar a
sua sorte em outros alçapões.
Por mais que Ian odiasse admitir, Cearnach provavelmente teria
melhor sorte ao convencer Julia a abrir, neste momento. Mas estava
morrendo para saber o que ela diria sobre o que esteve tramando até este
momento.
Não tinha ido longe no túnel quando pensou ter ouvido o som
abafado de tachos e panelas na cozinha saindo pelo alçapão. Seus irmãos já
tinham se apressado pelo túnel na direção oposta, mas Ian correu de volta e,
em seguida, subiu as escadas para o alçapão e bateu forte.
Uma mulher guinchou.
Droga, provavelmente deu a quem quer que fosse um ataque
cardíaco.
— Sou eu, Ian. — ele rapidamente chamou.
— Ian? — Uma voz chamou de volta, parecendo insegura.
— Destrave o alçapão, moça. — Ele disse, tentando um tom mais
persuasivo de voz.
— Ian? — Ela disse novamente.
Soou como sua prima Heather, mas até mesmo ele teve dificuldade
em reconhecer a voz dela através da pedra e metal.
— Sim, sim, abra o alçapão.
— O que você está fazendo aí?
Ela não estava fazendo nenhum movimento em direção à porta e
ainda soava cética.
— Heather? Vá buscar um de seus irmãos. Eles vão lhe dizer que
estavam perseguindo um intruso através dos túneis e Flynn bloqueou a gente
aqui em baixo.
— Flynn? Ah, sim, o traidor.
Pelo menos Heather teve o seu quinhão de relações com seu primo
fantasmagórico, então, sabia exatamente do que Ian falava.
Um parafuso soltou para o lado e ele empurrou o alçapão. Este cedeu
e uma onda de alívio tomou conta dele enquanto se apressou para dentro da
cozinha, gritando para baixo:
— Cearnach, o alçapão da cozinha está aberto!
E então correu para seu quarto, rezando para que Flynn tivesse
realmente trancado a moça e não a tivesse ajudado a fugir. Mas planejava
rastreá-la, não importava para onde poderia ter conseguido escorregar e iria
descobrir exatamente o que Julia estava fazendo.

Julia se sentou na beira da cama de Ian, de repente, mais cansada do


que jamais esteve. Seu tornozelo doía; a perna queimava onde a tinha
cortado sobre a rocha; ela estava trancada no quarto de dormir de Ian; e a
não ser que conseguisse bolar uma grande mentira que alguém pudesse
acreditar, logo seria esfolada viva. Invasão, arrombamento e violação de
domicílio, não importava que os MacNeills tivessem roubado o castelo de
sua família em primeiro lugar, mesmo que Julia estivesse recuperando algo
que pertencia a sua família originalmente, seriam as primeiras das acusações.
Quebrar os degraus da escada poderia ser incluído como destruir propriedade
privada.
O barulho de botas correndo em direção à porta, depois
desacelerando, ficando ainda mais lentas e, em seguida, parando bem atrás
da moldura fez a sua garganta ficar seca. Seu coração batia tão forte que
pensou que iria em breve decolar. Suas mãos estavam suadas e sua pele
gelada. Não achava que ele iria mandar prendê-la. Não quando era um deles
e colocar um lobisomem numa prisão poderia ter consequências terríveis se
não conseguisse controlar sua mudança de forma.
Mas mesmo que conseguisse sair dessa bagunça e quisesse voltar
para casa imediatamente, não tinha passaporte, cartões de crédito e dinheiro
suficiente para fazer qualquer coisa. Ela não era de desistir, mas agora, sentia
como se estivesse no lugar de seu bisavô: sob o polegar do inimigo, sem
outro plano para recorrer.
A maçaneta virou, mas a porta não abriu. Trancada. Ela endureceu,
prendeu a respiração e sentou-se muito quieta.
Em seguida, uma chave de metal foi enfiada dentro da fechadura e
torceu. Um clique soou e a porta foi empurrada aberta. De pé na porta, um
Lorde Ian MacNeill com rosto vermelho rapidamente esquadrinhou o quarto
atrás dela. Seus olhos se arregalaram um pouco quando a viu sentada na
beira da cama.
Ian MacNeill. Por um antigo contrato legal, o companheiro
prometido dela.
Ela conseguiu dar um pequeno sorriso.
— Você me ofereceu passar a noite. — mesmo que o dia estivesse
amanhecendo e fosse um pouco tarde para um caso pela madrugada. Ela deu
um tapinha na cama. — É este o quarto que você tinha em mente?

Ian olhou, sem fôlego, para a raposa sentada na borda do seu


colchão, parecendo pálida, com medo e diminuída em relação ao tamanho de
sua cama enorme. O coração dela estava batendo forte, os cachos vermelhos
varridos pelo vento, os lábios entreabertos ligeiramente. Ela era bela,
perigosa e sua ruína. Uma donzela em apuros com algo a esconder.
O bater de botas dirigindo-se ao quarto de Ian o alertou que seus
irmãos, mais provavelmente, e outros estavam a caminho.
— Você se machucou, moça. — ele disse em voz baixa, olhandoa e
vendo o rasgo na sua calça jeans na parte inferior da perna esquerda e o
sangue no tecido. Ian passou pela porta e falou para o corredor, enquanto
Cearnach levava parte da matilha, seus irmãos e dois primos na direção
dele:
Ela está aqui e bem. Preparem-se para a chegada da equipe
de produção do filme.
Cearnach esperou por mais informações, provavelmente querendo
saber exatamente o que Ian pretendia fazer sobre Julia e como ela estava.
— A equipe estará aqui em breve. Tome seu café da manhã e eu o
verei mais tarde. — disse Ian. Muito mais tarde, quis acrescentar.
Cearnach olhou para a porta, embora estivesse muito longe do quarto
para ver lá dentro.
— Ela estava sangrando.
— Aye.
— Você quer que eu mande Heather com ataduras?
Ian balançou a cabeça.
— Eu vou cuidar disso.
Cearnach lhe deu um rígido aceno de cabeça e, em seguida, virou-se
e acenou para Duncan, Guthrie e seus primos para voltarem de onde tinham
vindo. Todo mundo pareceu relutante em ser dispensado sem mais palavras.
Em gaélico, Guthrie perguntou a Cearnach, sabendo muito bem que
Ian podia ouvi-lo:
— Ele não está muito zangado com ela, não é?
— Ian está apaixonado, você não pode ver? — Cearnach disse
levemente e riu.
Amor. Inferno, Ian estava em luxúria perpétua no que se referia à
pequena loba vermelha. Ele fechou a porta e trancou-a. Os olhos de Julia
escureceram. Ela estudou sua expressão, mas suas costas estavam tão rígidas
quanto à mesinha do café. Ian não queria qualquer interrupção e a única
maneira de garantir isto era bloquear o mundo lá fora.
— Então, você quis passar a noite afinal. — Ian disse, dandolhe um
sorriso contundente e indo na direção dela de uma forma muito predatória.
Dois podiam jogar seja lá qual fosse o jogo que ela tinha em mente.
Ele não foi capaz de dormir por causa dela. Seu cheiro persistente, a
sensação de suas curvas suaves em suas mãos, o cabelo sedoso, o som de sua
voz ofegante de desejo e os gemidos suaves no auge da paixão, enquanto
estavam nas cataratas, tinham permanecido em seus pensamentos. Tornando
impossível dormir.
Ele nunca almejou ter uma mulher tanto quanto desejava a Senhorita
Julia Wildthorn. Depois da desastrosa tentativa de se encaixar na sociedade e
se unir a uma humana com título, tinha se restringido a encontros sem
maiores compromissos com as fêmeas humanas. Mas Julia era outra coisa:
desejo personificado.
Ela era o inimigo, esgueirando-se para dentro do seu castelo com
sabe-se lá que tipos de planos, e ele tinha o desejo insaciável de conquistá-la,
mantê-la, fazê-la obedece-lo como um de seus galgos irlandeses. Mas não
achava que seria nem um pouco treinável e o desafio intrigava-o.
A mão dela apertou a colcha, enquanto os olhos se arregalavam e
escureciam mais.
Eu me arrependo de ter deixado você sozinha por tanto
tempo na noite passada ao ponto de fazê-la decidir voltar para a casa por
causa da minha negligência. — ele chegou mais perto e se elevou sobre ela,
intimidando.
Julia encarou sua virilha e Ian sentiu o despertar do desejo
novamente. Inferno, ele supostamente era um aguerrido conde, chefe do clã
e líder da matilha e a mulher estava ganhando a batalha sem nenhuma luta.
Ian se agachou aos pés dela e, em seguida, desatou a bota em seu pé
direito, sendo cuidadoso para não machucá-la e se preocupando que tivesse
posto muita pressão sobre o tornozelo novamente. Quando tirou a meia, viu
que o tornozelo dela estava realmente inchado. Ele estalou a língua. Em
seguida, trabalhou em sua outra bota e meia.
— Eu suponho que você mudou de ideia e desejou que tivesse ficado
a noite no castelo, afinal. Pela experiência única.
Ian tentou manter um ar distante, condizente com um conde e um
líder de matilha. Mas sua voz estava muito bruta com a necessidade e estava
certo de que ela podia reconhecer o que estava fazendo com ele.
A outra mão dela apertou sobre seu colo em um pequeno punho. O
coração batia rapidamente. O olhar dele subiu para encontrar o dela. Parecia
que estava resignada ao seu destino, disposta a fazer qualquer coisa para sair
desta situação. Ele tinha ideias sobre isso, com certeza.
Queria perguntar como tinha encontrado a entrada do túnel secreto,
sobre o qual presumia que ela já tivesse conhecimento. E por que sabia sobre
ele e esgueirou-se dessa forma. Mas em vez disso, levantou-se e apoiou as
mãos em seus ombros e, em seguida, delicadamente a encorajou a deitar-se
contra o colchão, com as pernas ainda penduradas sobre a cama.
— Você, sem dúvida, descobriu que o portão para o castelo estava
trancado e, incapaz de ter acesso por ele, localizou outra entrada. Embora
esteja me perguntando por que você não me ligou. Eu teria vindo e deixado
você entrar...
— Meu celular foi queimado no acidente de carro. E se eu tivesse um
e ligasse, você teria enviado um de seus homens para abrir o portão. Você
não teria vindo me pegar.
Ele sorriu pelo seu último comentário.
— Sim, eu teria ido. Para lhe poupar do escrutínio que meus homens
teriam lhe dado, caso você voltasse para mim no meio da noite. — ele
elevou-se sobre ela, observando seus olhos, grandes e agora quase negros,
com uma mão fechada em um punho sobre seu estômago, a outra ainda
agarrada à coberta.
— Então você procurou outro caminho e, felizmente, conseguiu
localizar o alçapão. — não se incomodou em mencionar que este estivera
enterrado há um par de séculos ou mais e que encontrá-lo tinha sido um fato
fortuito ou devido a indicações dadas a ela. O que o fez se perguntar se um
de seus homens confiou nela, ou se alguém, seu inimigo talvez, tomou
conhecimento e pagou-a para entrar dessa maneira. Mas para quê?
Felizmente, você teve alguma ajuda em encontrar o túnel
certo para o quarto adjacente ao meu, ou poderia ter ficado vagando nas frias
passagens úmidas por muito tempo. — ele se inclinou e desabotoou o botão
das calças dela e, em seguida, puxou para baixo o zíper.
Ela quase não respirava, ainda assim, não resistiu.
— Um fantasma. — ela sussurrou.
— Aye. Flynn. Meu primo. Aquele que teve relações sexuais com a
minha noiva prometida. Flertou com muitas moças casadas depois disso e
um marido com raiva o fez pagar por isso. Ele não a assustou?
— Eu vi uma... luz à frente. E ouvi passos artificiais atrás de mim.
Mas eles não... soavam certos de alguma forma, como se fossem artificiais,
produzidos em um set de filmagem.
Ian sorriu um pouco.
— É Flynn. Normalmente tenta aterrorizar, não resgatar, um intruso.
Quer saber o que ele estava pensando?
Gentilmente, puxou as calças dela para baixo de seus quadris e mais
além, tentando não raspar o tecido contra a canela ensanguentada. Ele
colocou as calças no chão e disse:
— Fique.
Ela olhou para ele com um sorriso pequeno em seus lábios.
— Eu não iria correr ao redor do castelo sem minhas calças.
Ian deu um grunhido quase inaudível em retorno.
Não com o seu tornozelo lhe dando dor novamente. — ele
entrou no banheiro e pegou ataduras, um pano molhado e uma toalha de mão
e voltou para ela.
— Você não está muito bravo sobre o que eu escrevo? — ela
perguntou, suas palavras ditas em voz baixa. Julia soou como se estivesse
com medo de ouvir a resposta.
Que diferença faria o que pensava sobre a sua escrita? Esta foi a
verdadeira razão pela qual havia fugido na noite passada, não porque ele
rudemente a negligenciou?
Surpreso que esta fosse a questão que ela tinha levantado e não o fato
de que esteve correndo através de seus túneis, ele fez uma pausa para
considerar a sua sinceridade. Julia realmente parecia que precisava saber a
verdade. Não podia negar que o pensamento de que escrevia sobre
lobisomens o incomodava. Embora tivesse advertido a si mesmo que iria
reservar seu julgamento até depois que houvesse lido um pouco do que tinha
escrito. Talvez suas histórias fossem como os antigos contos de lobisomens.
Hediondos animais monstruosos e nada mais.
Ele tomou outro rumo.
— Guthrie diz que você é famosa. Poderia ser bom para os negócios
dizer que você ficou aqui por um tempo. — ele se agachou na frente dela e
limpou sua canela ensanguentada. Seu olhar se desviou para sua calcinha:
uma tanga de renda vermelha. Tentando se concentrar em limpar o corte e
não em quão bonitas eram suas esbeltas pernas ou quão fácil seria escorregar
para fora o fio dental, ou como queria tirar seu suéter e sutiã também, limpou
cuidadosamente em torno da sua lesão.
Dificilmente. — ela riu com força, estremecendo.
— Eu discordo. Você foi entrevistada por todo o lugar. — seu olhar
voltou para o dela. — Banhos com lavanda, música celta e luz de velas para
pôr você no humor de escrever suas cenas?
Seus lábios se separaram um pouco. Adoráveis lábios volumosos
implorando pelo seu toque.
— Você mencionou em um blog pessoal que tinha um bloqueio na
escrita. É por isso que está aqui? — Ian grudou um curativo sobre sua
canela, alisando as extremidades para mantê-lo no lugar. Tinha que saber: ela
estava escrevendo sobre seu povo nesta nova história? Escrevendo sobre ele?
E se assim fosse, era apenas um dos personagens de seu livro e nada mais?
— Eu tive um bloqueio na escrita, sim. — ela disse, franzindo
aqueles belos lábios, seus olhos se estreitando um pouco.
— Mas não mais? — ele a pegou e a realocou sobre o colchão, para
que sua cabeça repousasse sobre o travesseiro. Em seguida, colocou outra
almofada sob seu pé direito e a cobriu com uma leve colcha de cashmere.
— Não. O bloqueio de escritor está completamente acabado.
Ele detectou o indício de um sorriso em sua expressão e em seu tom
de voz. Mas não achava divertido que ela iria escrever sobre eles, não como
lobisomens.
— É mesmo? Qual é a sua próxima história, então?
Mais uma vez, o brilho de um sorriso, mas Julia tentou ficar séria.
Cowboys no Texas.
Ele olhou para ela sem entender.
— Cowboys? — Ian disse finalmente. Não acreditava nisso. Ele
cruzou os braços. — Em seu blog, você disse que amava tudo que era
escocês. Que pretendia escrever sobre antigos highlanders. Que tinha raízes
familiares na Escócia.
O indício de sorriso desapareceu de sua expressão. Por um momento,
ela não disse nada. Tentando inventar outra história? Era uma contadora de
histórias, afinal.
— Você deve ter passado metade da noite lendo tudo o que havia
para ler sobre mim. — disse finalmente.
— Eu nunca conheci uma autora com livros publicados antes. Estava
curioso. — mais do que curioso. — Então, por que vir para a Escócia para
escrever sobre cowboys do Texas? Você não disse nada em seu blog sobre o
desejo de escrever sobre eles.
Ela encolheu os ombros.
— Uma boa amiga minha estava escrevendo sobre cowboys bonitões
de Wyoming. E outra, sobre Texas Rangers, sabe os mocinhos com os
chapéus brancos? Eu só... bem, mudei de ideia. Prerrogativa de escritora.
— Entendo. — mas ainda não acreditava nela. — Você tem o seu
bloco de notas com você?
Ela suspirou.
— Não. Acho que na pressa para voltar aqui, esqueci tudo sobre ele.
Hmm. — ele disse, pensando que ela parecia sonhadora e
fofinha. Mas se podia invadir seu castelo sem um pingo de remorso, teria um
de seus irmãos procurando o bloco de notas na casa onde estava hospedada e
descobriria exatamente o que estava escrevendo. Assim que sua amiga
estivesse no local durante as filmagens e Julia presa no quarto dele,
mandaria alguém.
— Quaisquer outras dores ou machucados que você queira que eu
cuide antes de pegar um pouco de gelo para o seu tornozelo?
Ela ergueu as mãos e mostrou-lhe as palmas das mãos. Estavam
manchadas de ferrugem e de vermelho em locais onde lascas tinham entrado
na pele. Xingou baixinho e olhou para as mãos dela, esfregando suavemente
onde sua pele macia estava sem manchas. Ele balançou a cabeça.
— Eu vou pegar o gelo e um par de pinças e volto. — quando chegou
à porta, disse: — Fique. Não quero que você se machuque mais do que já se
machucou. O custo do seguro de responsabilidade civil é suficiente do jeito
que está neste lugar.
Julia lhe deu outro pequeno sorriso e ele pensou no quão cansada
parecia. A verdade da questão era que estava muito cansado também. Tirar
uma soneca de lobo com ela certamente atraía, depois que cuidasse de seus
ferimentos. Depois disso? Era sua hóspede durante o tempo que levasse para
descobrir toda a verdade sobre ela.
Ian a deixou, sem desejar, mas não confiando totalmente nela,
trancou a porta. Desta vez, quando disse a ela para ficar, pretendia se
apressar e voltar e não tinha a intenção de deixá-la escapar.
Quando chegou à cozinha, todas as cadeiras na mesa, menos a dele,
estavam cheias com seus irmãos e primos. Todos pararam de comer
enquanto pratos meio vazios de mingau, salsichas, ovos, panquecas de batata
e miúdos enchiam a mesa.
Sua prima Heather sorriu para ele, o cabelo escuro puxado para trás
num rabo de cavalo, os olhos escuros faiscando de excitação.
— Meu irmão Oran disse que a autora Julia Wildthorn era aquela que
você estava perseguindo nos túneis. Era ela de verdade? Será que estava
pesquisando o castelo para outro de seus livros? Eu li todos eles. Onde ela
está? Posso conhecê-la?
Ele franziu o cenho.
— Você tem seus livros?
— Sim, ela está escrevendo um sobre você desta vez?
Ian olhou para seus irmãos, que lhe lançaram sorrisos gigantes e, em
seguida, continuaram a comer o café da manhã em silêncio. Perguntou-se
novamente se Julia estava usando ele e sua família para escrever seu
romance atual. Cowboys, a bunda dele.
— Heather, você pode me alcançar uma bolsa de gelo? — ele evitou
a questão de ela se encontrar com Julia por ora e começou a vasculhar numa
gaveta de material, contendo de tudo, desde um alicate, a grampos e canetas.
Quando tivesse um momento a sós com Heather, pediria para ver os livros
que tinha de Julia.
— O que você está procurando? — Perguntou Cearnach.
— Pinças.
Ninguém disse nada de imediato e tinha certeza de que todos
estavam ou tentando se lembrar de onde havia um par ou descobrir por que
iria precisar delas.
Cearnach disse:
— No banheiro azul. Eu vou pegá-las.
Duncan levantou com o garfo um pedaço de salsicha.
— Ela não ficou muito perturbada ao ver Flynn, não é?
— Não. — Ian pegou o saco de gelo que Heather entregou a ele.
— Ela lhe contou por que se esgueirou para dentro dos túneis
secretos? — Guthrie perguntou.
— Acredito que a pergunta mais importante é: como é que sabia
sobre os túneis secretos? Uma norte-americana? Uma loba vermelha? Que
nunca antes viveu na Escócia? — a menos que tivesse morado lá. Pelos
muitos anos que sua espécie vive, ela poderia muito bem ter residido na
Escócia por alguns anos, mais cedo em sua vida.
Guthrie colocou sua caneca de café para baixo.
— Julia é uma escritora. Uma autora publicada. E se Julia Wildthorn
não for seu nome verdadeiro? E se for um pseudônimo e ela for realmente
uma highlander...
— MacPherson. — Tia Agnes disse, adentrando na cozinha, seu
cabelo prateado enrolado em um coque, seus olhos cinzentos examinando a
multidão na mesa antes de se sentar na cadeira vazia de Ian e apontar para
Heather lhe trazer um prato de comida, o qual consistiria de frutas, frutas e
mais frutas.
Você está de volta de sua viagem para Londres tão cedo? — Ian
perguntou atônito. — Onde está a mamãe?
— Ainda lá. — Ela acenou com desprezo a mão, como se Londres
não fosse o seu lugar favorito para estar, embora a conhecesse melhor. —
Guthrie me ligou e disse que nós tínhamos uma pequena loba vermelha na
casa. Eu tinha que ver por mim mesma.
Perguntou-se se o interesse dela era algo mais do que isso. Ela
dissera muitas vezes que ele tinha que se acasalar e produzir alguns filhos
que herdariam o título. E não quis estar aqui enquanto as filmagens estavam
em andamento. Imaginou o que Guthrie tinha dito a que a teria influenciado
a voltar para casa.
— O que fez você pensar que ela poderia ser uma MacPherson? —
Ian perguntou enquanto Cearnach voltava para a cozinha com as pinças.
Tia Agnes acenou um pedaço de melão para ele.
— Alguns retratos da família MacPherson estão armazenados em um
dos quartos da torre. Esta Julia Wildthorn? Ela me lembra eles. Quando
Guthrie informou-me que tínhamos uma autora famosa aqui e me mostrou
uma foto dela na internet... Bem, a moça se parece tanto com a mulher
MacPherson no retrato que eu poderia jurar que era um deles.
Ian ficou de repente suspeito.
— Por que temos retratos dos MacPhersons em um dos quartos da
torre?
Eu não tenho certeza. — Tia Agnes disse vagamente. — Mas
posso olhar nas revistas da família e ver se consigo descobrir alguma coisa.
Ou você poderia perguntar a ela diretamente.
Ele não gostava de onde isso estava indo.
— Cearnach? Preciso falar com você por um momento.
Cearnach se levantou da cadeira e seguiu rapidamente Ian até a
grande sala.
— O que você precisa que eu faça?
— Quero que você corra até Baird Cottage, quando o local estiver
desocupado, logo que a amiga de Julia, Maria, estiver aqui fazendo o seu
trabalho.
— E?
— Localize aquele caderno de Julia. Eu quero saber o que ela esteve
escrevendo nele.
— Sua nova história?
— Ou qualquer outra coisa que possa nos dar pistas sobre ela. E
pegue as malas dela, para que tenha uma muda de roupa. Eu também quero
saber sobre aquelas pinturas na torre. — disse Ian.
— Portanto, ela vai ficar com a gente, então. — Cearnach cruzou os
braços. — Eu vou pegar o caderno. Quanto às pinturas, exceto para ver com
meus próprios olhos se a mulher tem a mesma aparência deles, Tia Agnes
será a única com todo o conhecimento histórico.
— Eu tenho que saber o que está acontecendo com a moça.
Ela está bem, Ian? — Cearnach perguntou novamente.
— Contando que permaneça parada, vai ficar bem. Vejo você mais
tarde.
— Eu vou me certificar de que todos estejam em seus lugares, para
quando a equipe de filmagem chegar aqui.
— Estou contando com isso. — Ian dirigiu-se para as escadas e, em
seguida, virou-se lentamente. — Peça para Guthrie fazer uma busca por
qualquer coisa sobre uma Julia MacPherson.
— Pode deixar.
Em seguida, Ian subiu as escadas, porém, escutou Guthrie perguntar
a Tia Agnes na cozinha.
— Quem eram os MacPhersons para nós?
Isto era exatamente o que estava morrendo de vontade de saber.
Se a sua família tinha retratos deles armazenados no quarto da torre,
os MacPhersons deviam ter vivido neste castelo em algum momento. E se a
Senhorita Julia Wildthorn era uma MacPherson, ao não lhe dar o seu
verdadeiro nome, tinha algo mais a esconder?
A história da família nunca o interessou muito. O presente, o futuro,
manter o clã à tona, caçar com arco e empunhar sua espada em simulações
de batalhas, pensou e riu de si mesmo sobre isso. Ele meio que vivia no
passado por causa de suas longas vidas e porque algumas das atividades que
gostava de fazer na sua juventude ainda eram seus passatempos favoritos.
Mas era o passado dele. Não de seus antepassados. Ainda assim, se Julia
tinha algum vínculo com o passado de sua família, isto certamente tornava a
história familiar muito mais interessante.
Ele coçou o queixo, percebendo que se não se barbeasse em breve,
ficaria tão bigodudo quanto Guthrie. Ian andou até as escadas, perguntando-
se por que diabos os retratos dos MacPhersons estavam em seu castelo.
Tinham jurado lealdade ao seu pai, avô ou bisavô antes dele? Mas apenas
aqueles que tinham dinheiro e importância poderiam ter condições
financeiras ou teriam desejado ter retratos feitos de si mesmos.
Então, quem eram os MacPhersons?
CAPÍTULO 15
Ian demorou bem mais para voltar para seu quarto do que Julia tinha
pensado que demoraria e, embora pretendesse permanecer acordada, ficar de
pé a maior parte da noite, todo o exercício que obteve ao correr pela floresta
e caminhar até as cataratas anteriormente e o jet lag de viajar, finalmente a
pegaram. De alguma forma, conseguiu se colocar sob o edredom de penas de
ganso de Ian, para se aconchegar contra o suave colchão e travesseiro ainda
mais macio. Enquanto desfrutava do perfume celestialmente viril
envolvendo-a, adormeceu.
Não foi até que ouviu um sussurrado MacPherson ao lado de seu
ouvido e sentiu braços fortes puxando-a contra um corpo quente e
musculoso, que se deu conta de que Ian tinha se juntado a ela na cama. Suas
mãos tocaram um peito nu e sua perna nua encostou contra a dele. Tinha
mesmo o ouvido dizer o nome MacPherson? Ou teria sido apenas um sonho?
Imaginando que não haveria tempo suficiente para lidar com os
problemas que estava destinada a ter tão logo estivesse mais acordada, ela se
aconchegou contra ele, consciente de sua canela rasgada e tornozelo torcido.
Pensou tê-lo ouvido gemer rudemente enquanto movia a perna para cima da
dele, para evitar feri-la e, então, o dia amanhecendo piscou para longe.

Enquanto Ian e Julia ficaram no quarto dele lá em cima, Cearnach


não pôde deixar de especular sobre o que estava acontecendo entre os dois.
Ele nunca tinha visto seu irmão mais velho tão fascinado por uma mulher e
estava esperançoso de que, desta vez, Ian tinha encontrado o seu par. E que
ela não iria chateá-lo como Ghleanna tinha feito. A bruxa.
Nesse meio tempo, enquanto Duncan e vários outros monitoravam a
equipe de filmagem, Guthrie continuava a procurar quem poderia ter
ameaçado as mulheres e tentava encontrar alguma coisa sobre uma Julia
MacPherson e Cearnach dirigia-se até Maria, que caminhava em direção à
entrada do castelo, seu olhar sombrio, determinada e pronta para a batalha.
Mas agora que Maria havia chegado ao castelo, Cearnach tinha outra missão
em mente. Localizar o diário de Julia. Primeiro, porém, precisava lidar com
a amiga dela.
Tão chateada quanto Maria parecia, pensou que ela iria tentar passar
bem através dele.
— Maria Baquero? — ele perguntou, levantando a mão para detê-la
ou agarrá-la, o que precisasse fazer para impedi-la de atacar o castelo.
— Julia está aqui? — Ela perguntou bruscamente, com a
preocupação cobrindo suas palavras.
Ele sorriu.
— Aye. — todavia, não obteve informações de seu irmão sobre o que
deveria dizer a moça se ela chegasse à procura de Júlia. Ele cruzou os
braços. — Ela está com o Ian.
Maria cruzou os braços, espelhando a posição dele, uma carranca no
rosto.
— Eu não vou falar com uma das pessoas do Lorde MacNeill. Quero
ver Julia.
Isso o colocou em seu lugar. Cearnach inclinou a cabeça um pouco.
— Sou o próximo irmão mais velho de Lorde MacNeill, Cearnach
MacNeill e, em seu lugar, eu administro as coisas. Sua excelência não deseja
ser incomodado. Você vai ter que voltar mais tarde. Ou, melhor ainda, assim
que ele estiver livre, pode falar com você enquanto está trabalhando hoje
aqui.
— Meu negócio é com Julia, não com Lorde MacNeill.
— Lorde MacNeill tem negócios com a Srta. Wildthorn. Ou...
seria MacPherson?
A boca de Maria caiu aberta e ela olhou para ele.
— O quê?
Cearnach presumiu, então, que ela não sabia qual era o verdadeiro
nome de Julia. Ou que sabia e ficou surpresa ao perceber que os MacNeills
sabiam a verdade, muito embora eles não tivessem certeza. Mas não custava
tentar descobrir os fatos pela amiga de Julia enquanto Ian estava com a
própria. Ele duvidava que os dois estivessem falando muito agora.
— Eu não sei o que você quer dizer. — Maria disse muito indignada.
— Não importa. — Cearnach sorriu. — Você gostaria que eu
passasse uma mensagem para... ela? — ele disse incerto de como chamar
Julia agora. Ela sequer se chamava Julia?
— O que aconteceu? Por que ela está aqui? — Maria perguntou, a
voz baixa e ameaçadora.
— Sua Excelência tinha perguntado se ela queria passar a noite. Julia
voltou para a casa de campo por um tempo e, em seguida, voltou para cá.
Maria pareceu um pouco pálida. A moça soubera que Julia ia tentar
esgueirar-se para dentro do castelo? Ele suspeitava que sim.
— Ela pode estar livre perto do jantar. Mas como eu disse, assim que
estiver disponível, vou avisá-la que você quer vê-la.
Eles se olharam com desconfiança. Maria não ia ceder e nem
Cearnach, tampouco. Teria que mandar alguém manter um olho sobre ela
pelo resto do dia. Não a queria tentando entrar no castelo e causando um
alvoroço como Julia já tinha feito.
Então, pensando no homem que ligou para ela com uma ameaça,
Cearnach esperava mostrar que não era o inimigo.
— Você recebeu mais ameaças, moça?
Ela balançou a cabeça.
— Eu acho que Julia pode estar certa. Que o interlocutor fez isso
porque estava chateado, mas, uma vez que não poderia mudar as coisas,
desistiu. — seus dentes morderam o lábio inferior. — Exceto pelo negócio
com o carro.
— Nós ainda estamos investigando isso. Se tivermos alguma pista,
vamos avisá-la. Tudo bem, então? — ele perguntou.
Quando ela não fez nenhum movimento para se afastar, ele
gesticulou para Duncan, que estava assistindo nas proximidades enquanto a
cena se desenrolava.
— Duncan?
Seu irmão atravessou o pátio interior para se juntar a ele, olhando
para Maria de forma intimidante.
— Você conhece Maria, amiga de Julia. Se tivermos a informação da
moça, de que ela está disponível para vê-la... — Cearnach deixou suas
palavras desvanecerem. — Eu tenho outro assunto urgente a tratar. — os
olhares dele e de Duncan se encontraram. Duncan entendeu a mensagem. Ian
precisava que Cearnach cuidasse de algum outro negócio e a Senhorita
Maria Baquero era incumbência dele até que Cearnach retornasse.
— Vejo você daqui a pouco, Cearnach.
— Sim, eu volto em breve. — muito em breve. Enquanto Cearnach
estava no comando, não queria que nada desse errado em sua ausência.

Julia se mexeu, sua perna descansando sobre a coxa de Ian, sua mão
sobre a barriga dele, seu quente hálito abanando o cabelo em seu peitoral.
Ele esperava obter algumas respostas dela agora, porém, a forma como
estava tocando-o fazia-o querer algo completamente diferente.
— Você está acordada, moça? — Ele perguntou baixinho, não
querendo despertá-la, se ainda não estivesse totalmente acordada. Enquanto
esteve morta para o mundo, tinha conseguido remover as farpas de suas
mãos e esperava que seus dedos e palmas já estivessem curados agora.
— Hmm. — Ela disse, com ar sonhador, esticando os dedos contra
sua pele.
Ele passou a mão sobre suas costas cobertas pelo suéter, o cashmere
tão suave quanto ela.
— O que você realmente estava fazendo nos túneis?
Ela não disse nada. Estava acordada, mas parecia com a intenção de
evitar a questão.
— Minha Tia Agnes diz que você se parece muito com um dos
MacPhersons. Ela tem certeza que você é um deles.
— Ele não estava prestes a mencionar os retratos no quarto da torre
ainda, esperava que lhe contasse a verdade sozinha. Mas se Julia negasse ser
uma MacPherson, iria mostrá-los a ela. Queria dar uma olhada neles
primeiramente, no entanto, para ver se realmente havia uma semelhança.
Os dedos de Julia pararam. O toque suave esteve levando-o a
distração, mas agora desejava que ainda estivesse exercendo seus
movimentos suaves sobre o seu peito. Ela mal respirava e ficou deitada em
silêncio, sem dizer uma palavra. Suspeitou, então, que era uma MacPherson.
Mas o que a família dela significava para os MacNeills?
— Julia é o seu verdadeiro nome? Ou você tem outro nome de
nascença também?
Ela lhe deu um olhar irritado.
— Julia. E se você quer saber, eu atendo pelo sobrenome Wildthorn.
Se você procurar em qualquer documento sobre mim, minha carteira de
motorista, passaporte...
— Nenhum dos quais você provavelmente tem agora devido ao
acidente.
Ela fez uma pausa.
— Bem, sim, mas se os visse ou tivesse acesso aos meus registros,
você veria que eu atendo pelo nome Julia Wildthorn.
— Mas você nasceu uma MacPherson.
— Sim. — Ela disse em voz tão suavemente que ele quase não a
ouviu.
Então, o que isso lhe significava? Nada. Ainda não tinha a menor
ideia sobre quem os MacPhersons eram para sua família. E, sem algo mais
para continuar, não acreditava que pudesse levá-la a dizer a verdade. Eles
estavam em um impasse novamente.
— Minha Tia Agnes é a historiadora da família e ela interrompeu sua
curta viagem a Londres para voltar aqui e pesquisar nossas revistas, tudo por
sua causa. Eu tenho que dizer que fiquei muito surpreso. Tia Agnes nunca
encurta suas férias quando está visitando seu lugar favorito para fazer
compras. E com a bagunça que a equipe de filmagem está fazendo no
castelo, não tinha planejado retornar até que tudo estivesse acabado.
Como Tia Agnes não havia permitido que Guthrie lidasse com seus
investimentos, não tinha entrado em dificuldades financeiras. Ela ainda
podia desfrutar de umas férias longe do castelo por um tempo bastante longo
sem sobrecarregar suas finanças.
Julia respirou fundo.
Isso teve uma resposta.
— Você pode muito bem me dizer o que está em sua mente, moça.
Ela não disse nada por um longo tempo. Sabia pelo modo como seu
coração batia muito rápido, que estava pensando sobre o que diria a ele.
Soltou a respiração, prestes a tentar mais uma tática, quando seus
dedos acariciaram levemente o seu peito novamente.
— Eu vou lhe dizer o que sei, se me prometer uma coisa.
— Depende do que é. — não estava disposto a ceder à moça sem
saber sobre o que era tudo isso. Ele torceu um dos cachos em torno de seus
dedos, seu olhar sobre o dela.
Ela pareceu refletir sobre essa noção e, finalmente, disse:
— Você não me ama.
Ele ficou tão surpreso com o comentário que apenas olhou para ela.
Julia deu de ombros.
— Eu sou uma romancista.
— Ah. — isso explicava.
— Não, ouça. Nos tempos antigos, homens e mulheres se casavam
por muitas razões: porque precisavam, porque era conveniente, por razões
financeiras ou status, talvez porque se amavam. Nada disso importa. Tudo o
que importa é que nós vivemos hoje, agora, no presente, e o passado não é
crucial no esquema das coisas.
Sua voz tinha adquirido uma qualidade quase desesperada, ainda
suave, ainda sexy, mas ela parecia com medo.
— Sim. — ele concordou, mas pensou que até mesmo essa
concessão podia ser um pouco prematura, dependendo de onde este diálogo
estava indo. — Para a maioria. — respondeu, apenas para se dar alguma
margem de manobra, se precisasse.
— Não é para a maioria. É como deveria ser. As pessoas deveriam se
casar por amor.
— Mesmo nos dias de hoje, as pessoas se casam por outras razões
além do amor.
Seus dedos ficaram muito quietos novamente.
— Pelo bem da discussão... — e porque queria muito ouvir onde isso
estava indo, ele disse: — Tudo bem, então o homem e a mulher se casam por
amor e...?
— Não é o homem e a mulher. Nós. — ele ergueu suas sobrancelhas.
— Quero dizer, você não me ama e, bem, eu nem conheço você
direito, então... — ela encolheu os ombros novamente.
Ele lutou para não rir. Mas ela soou séria, o que pôs um freio sobre o
que achava que deveria ter sido engraçado.
— Tudo bem, então eu não amo você. — embora a luxúria fosse
definitivamente parte do problema, pensou, porque até agora ele a queria.
Tentou pensar com sua outra cabeça e continuou: — E você não me ama
e...?
— Bem, se existisse um acordo que dissesse que você teria que se
acasalar comigo e eu com você, não haveria nenhuma razão para fazê-lo.
Porque nós não amamos um ao outro.
— Um acordo de noivado? — ele franziu a testa e deu um leve puxão
em seu cacho. Ela acreditar que relacionamentos tinham tudo a ver com o
amor deve ser um subproduto de escrever romances, mas a noção de um
acordo de noivado entre eles o fez se perguntar o que realmente estava
acontecendo. — E se, por um acaso, eu de fato amasse você?
Seus olhos se tornaram grandes.
— Bem, você não ama. Você já disse que não. E já que nós não
temos outra razão para nos acasalar, então é isso.
Ela não estava fazendo nenhum sentido, então ele pensou que
abordaria isso de outra forma para tentar chegar ao cerne da questão.
— Deixe eu lhe dizer como as coisas são. Você estava ciente da
localização da entrada secreta.
Julia soltou a respiração e o calor acariciou seu peito. Inferno, já
estava meio ereto. Estava pronto para esquecer o interrogatório, assumir que
ela quis voltar para ele e o portão estava trancado, esquecer que sabia onde o
túnel era e tinha esgueirando-se para dentro com algum outro propósito
nefasto e dar continuidade a negócios mais agradáveis.
— Eu soltei minha bota em cima da porta de metal e ouvi uma
batida.
As mãos pousaram sobre os ombros dela e, em seguida, ele
acariciou-os.
— Tudo bem, mas você estava procurando a passagem secreta e não
negue.
Ela baixou o olhar para o seu peito e provocou um mamilo com a
ponta do dedo.
Ele conteve um gemido.
— Por que você estava procurando a entrada secreta?
— Parece bastante óbvio. Para chegar aqui dentro.
— Você já estava dentro do castelo no final do dia. Poderia ter ficado
durante a noite ao meu convite. Por que usar os túneis? — o pensamento que
continuava a vir à sua mente era que ela pretendia cometer alguma
transgressão, que era o inimigo e, em qualquer outra situação, teria lutado
contra o inimigo antes de ceder. Mas seu doce toque torturante lhe deu outras
noções e estava pronto para ceder à sensação e esquecer qualquer motivo
que Julia teve para escorregar para dentro do castelo despercebida. Era este o
seu truque? Se assim fosse, tinha encontrado seu rival na batalha.
Ela suspirou.
— Eu tive a ideia de que poderia descrevê-los em meu livro.
Nessa parte da história, ele acreditava.
— Você está escrevendo sobre cowboys, lembra-se? — o que não
aceitou como verdadeiro, nem um pouquinho.
— Está bem, tenho certeza que se sua Tia Agnes vai percorrer as
revistas recontando a história da sua família, você vai descobrir
eventualmente. A mais pura verdade divina é que a sua família roubou o
castelo da minha. Então... — ela disse, cutucando um dedo em seu peito. —
Se não fossem os MacNeills, eu estaria vivendo aqui, não você. E teria sido
ao meu convite que você poderia ficar comigo no meu quarto e não o
contrário. Mas as colchas sobre a cama seriam de um lindo azul claro, não
assim escuro.
Sua boca ficou aberta. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo,
apesar de a moça parecer tão sincera. Castelo Argent tinha sido da família
dela? Positivamente ridículo.
Ian pareceu momentaneamente atordoado. Julia não poderia
descrevê-lo de outra maneira. Quando se afastou um pouco dela, parecia que
queria deixá-la neste momento e provar que não era verdade, ou que talvez
fosse um desejo da parte dela.
Em seguida, um lento sorriso apareceu.
— É isso mesmo, moça?
Ele não acreditava nela? Simples assim?
— Tudo bem, tudo bem. Nós possuíamos o castelo. Vocês
impuseram um cerco e, em seguida, meu bisavô, Conaire MacPherson, teve
que se render. Ele teve que concordar com os termos dos Macneills, de
desistir de sua filha para acasalar com quem quer que fosse o lorde, no
momento.
Ian fez uma careta.
— Nada disso é verdade. Nenhum MacPherson jamais se acasalou
com uma MacNeill na minha árvore genealógica. Isso só teria sido a um par
de gerações atrás e, disso, eu teria me lembrado.
— Você está certo. Nenhum MacPherson, pelo menos do nosso clã,
acasalou com vocês. Eles escaparam. E desde então, só tiveram filhos
homens.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Bem, exceto eu, é claro.
— Você é a primeira?
— Sim. — ela esperou para ver a reação dele.
Ele estava olhando para baixo, contemplando as palavras dela, e não
disse nada. Então, olhou para ela.
— Então você seria...
— A sua companheira. De acordo com o contrato.
Ele sorriu.
— Entendo. Então é aí que a questão do amor entra. — ele deulhe
uma careta divertida. — Quem te mandou fazer isso?
A carranca dela não foi divertida.
— Ninguém me mandou fazer isso. Mas fico feliz que você não
acredite. Assim que eu encontrar a caixa com o contrato, meu avô quer
destruí-lo e isso será o fim de tudo.
— Tudo na minha terra é meu. Eu receio que, se uma caixa foi
deixada aqui, é minha também. Se nós fomos capazes de protegê-la, vou
inspecionar o conteúdo e tomar uma decisão sobre se esta vai para o seu avô
ou não. — Ele soou como se estivesse cedendo à vontade dela.
Ele pensou que ela talvez soubesse de um baú escondido nas paredes
que continha um tesouro e planejava roubá-lo, mas fingiu, ao invés, que a
caixa continha um acordo de noivado. Agora, quão estúpido isso seria? Ian
inspecionaria o conteúdo, certamente, de qualquer maneira.
— Portanto, o seu avô lhe enviou para encontrar a caixa e destruir os
documentos, de modo que você não tivesse que se acasalar comigo.
— Certo.
— Hmm. Eu não acredito nisso. Você sabe por que não acredito?
— Não, mas suspeito que você vá me dizer.
— O conhecimento teria sido passado de geração em geração. Teria
me sido dito que eu deveria me acasalar a uma MacPherson, se fosse esse o
caso.
Ela encolheu os ombros.
— Bom. Então, como eu disse, você não precisa se preocupar com o
conteúdo da caixa.
Ele balançou a cabeça.
Julia soltou a respiração com força.
— Alguém esteve chantageando o meu avô. — ela observou o rosto
de Ian escurecer, esperando ele assimilar a nova informação, para ver se
pensava que era tão divertida quanto à última.
Mas ele não disse nada.
— Quem quer que seja, sabe sobre o contrato e disse ao meu avô que
ele tem que pagar se não quiser que eu tenha que acasalar com o atual lorde
do Castelo Argent.
— Quando isso ocorreu?
Agora ele parecia acreditar. Ou talvez ainda estivesse agradando-a.
— Recentemente.
— Quão recentemente?
— Eu não sei. Não perguntei. Mas tem que ser recente.
Ele estendeu a mão em direção a ela, seu corpo quente pressionando-
a levemente e puxou algo para fora de sua mesa de cabeceira, em seguida,
entregou o celular a Julia.
— Ligue para ele.
Ela hesitou. Estava certa de que seu avô não gostaria que tivesse dito
a Ian sobre o contrato quando lhe disse para não contar. Mas não teve muita
escolha. Depois de discar o número de seu avô, ouviu o telefone tocar, tocar
e tocar. Perguntou-se, então, se ele não queria atender porque o identificador
de chamadas podia dizer Ian MacNeill.
Mas, então, seu avô pegou o telefone e disse:
— Olá? — Sua voz soou suspeita e profissional.
— Vovô, eu preciso saber quando...
Ian tirou o telefone dela e encostou-se contra a cama, puxandoa com
força contra seu corpo musculoso e segurando-a firme. Ela teria se derretido
contra ele, amando a sensação, exceto por uma coisa: medo daquilo que seu
avô estava pensando neste exato minuto e isto a fez enrijecer com apreensão.
— Olá, Sr. MacPherson? Aqui é Lorde MacNeill. Eu entendo que
alguém esteve chantageando o senhor. — com um sorriso de satisfação, ele
olhou para Julia e varreu os dedos para baixo, até sua bunda nua, o fio dental
de uma tanga rendada que estava usando fazendo-a se sentir exposta e sexy,
embora estivesse tentando se concentrar no que estava sendo dito.
Julia franziu o cenho para Ian, imaginando que seu avô estaria
realmente zangado com ela por dizer a verdade.
O sorriso desapareceu do rosto de Ian e ele disse:
— Olá? Sr. MacPherson?
Ela conseguia ouvir o tom de discagem. Seu avô tinha desligado na
cara do lorde do Castelo Argent.
Ian encarou o telefone por um minuto antes de perceber que o avô de
Julia tinha realmente desligado na cara dele. Inferno. Ele jogou o telefone de
lado no colchão e depois passou as palmas pelas costas dela, estendendo as
mãos para cobrir sua bunda macia. Amava sua escolha de calcinha.
— Você sabe onde esta caixa está escondida, moça?
— Em algum lugar no piso onde os aposentos estão.
— Sim, bem, antes de irmos à procura deste nicho secreto, você tinha
mais alguma coisa em mente? — esperava que, pelo jeito como esteve
tocando-o, ela tivesse e não apenas para fazê-lo esquecer de questioná-la
sobre perambular no castelo.
Julia esfregou a coxa contra a dele e Ian abaixou a mão, para puxar a
coxa dela mais para cima, abrindo suas pernas mais afastadas. Ela moveu a
boca para seu mamilo e lambeu e isso era tudo o que ele precisava.
CAPÍTULO 16
Era loucura, Ian sabia, mas a doce tortura era demais para resistir
enquanto apertava a bunda de Julia, o fio dental que usava expondo suas
lindas nádegas, enquanto ela acariciava seu mamilo com a língua. Ele gemeu
com a necessidade e retirou o suéter por cima de suas costas, agarrou seu
sutiã e esforçou-se para abri-lo. Não importava o quanto tivesse tentado
negar no início, a química entre eles fervia.
Pensar que se tudo o que a moça tinha dito era verdade, o que não
acreditou por um momento, Julia era sua para ser tomada. Prometida a ele.
Sua.
Embora esta situação fosse semelhante àquela no passado, mas em
vez da escolha de seu pai para sua companheira, teria sido a de seu tio-
bisavô, Ian não sentia que as circunstâncias fossem iguais. Por um lado, Julia
era uma loba. E não havia nenhuma maneira que pudesse negar sua atração
por ela mais do que podia negar a dela por ele. Por outro lado, Julia não
parecia desprezar seus parentes como Ghleanna tinha feito, muito menos
agia de qualquer maneira como se ele fosse um pária social, como sua ex-
noiva prometida agiu.
Ainda assim, Ian e Julia eram de mundos separados de muitas
maneiras. Ela era uma escritora de romances de lobisomem da América e,
inferno, nem sequer sabia se seu interesse por ele tinha apenas a ver com
encontrar a caixa escondida e escrever o pano de fundo para o seu romance.
Cowboys, certo.
Antes que pudesse abrir o sutiã, Julia passou seus dedos quentes na
abertura de sua cueca e tocou-o. Isso o fez lutar mais rápido contra o fecho
de seu lingerie, praguejando em gaélico baixinho quando não conseguiu
solta-lo, ao que ela riu suavemente.
Pressionando os seios ainda cobertos pelo suéter macio contra o seu
peito, ela estendeu às mãos até suas costas para soltar o sutiã. Quando estava
livre, ele puxou o suéter por cima de sua cabeça, o sutiã indo junto com a
peça, em algum lugar no chão.
Luz do sol derramava-se dentro da câmara através de duas janelas
estreitas e Ian presumiu que a hora do jantar estava quase chegando.
Pressionou Julia suavemente contra o colchão e se ocupou dela, seus cachos
vermelhos esparramados sobre o travesseiro coberto de algodão preto, seus
olhos verdes cheios de calor. Os lábios dela se separaram e sua língua saiu
para molhá-los, convidando-o a entrar, os seios cheios, os mamilos rosados e
totalmente enrijecidos, dando boas-vindas. Agora, tudo o que ela usava era o
fio dental de renda vermelha e nada mais. Exceto pelo curativo em sua
canela.
Ele passou as mãos em ambos os lados do curativo, suavemente,
gentilmente, sentindo o músculo tencionar. Beijou seu joelho acima do
machucado.
— Como está?
— Formigando. Fazendo cócegas. Curando.
— Seu tornozelo? — ele perguntou, arrastando um beijo para baixo
de sua perna até alcançar o tornozelo e examinou-o. O inchaço tinha
diminuído novamente.
— Está bem.
— Sem mais caminhadas ou corridas com ele hoje. Amanhã, deve
estar bem curado.
— Eu quero procurar a caixa.
— Esqueça. — Ele disse rispidamente. — Se procurarmos, eu tenho
certeza de que vamos encontrar uma cópia do contrato no cofre. Uma
maneira de superar o chantagista: eu simplesmente vou fazê-la minha.
Seus lábios se separaram, mas ele não a esperou se opor. Neste exato
momento, se não tivesse que se preocupar com mais nada, queria marcá-la
como sua, como um cowboy faria. Deixe-a escrever sobre isso em sua
história. Ian queria tomá-la de um modo que nenhum outro homem jamais
poderia fazer.
Com esse condenável pensamento em mente, ele capturou sua boca e
silenciou qualquer objeção que Julia pudesse ter feito. Mas ela rapidamente
se igualou a sua fogosa exibição de afeto, lambendo-lhe em retribuição, as
mãos descendo pelas costas dele e, em seguida, descendo sob o cós de sua
cueca. Os dedos dela cavaram em sua bunda, apertando e esquadrinhando,
tornando seu sangue febril com desejo. Ian arrancou a cueca e jogou-a no
chão com o resto das roupas deles.
Sua boca estava sobre a dela novamente, a mão totalmente sobre seu
seio, envolvido na sensação deste, o voluptuoso punhado suave enquanto o
pico rígido cutucava sua palma. Os olhos de Julia estavam meio fechados
com o desejo, sua respiração forte conforme acompanhava os marcantes
beijos dele. Ian a queria. Queria tudo dela. Ainda assim, disse a si mesmo
que era apenas um frenesi sexual no qual foram apanhados e nada mais. Mas
ele sabia melhor. Nunca teve alguém assim, nunca desejou uma mulher
como a queria. Nunca perdeu o sono por uma mulher.
Ian jogou para longe o pedaço de renda que ela usava e jogou-o de
lado. Segurando um joelho, abriu-a para ele, o pelo vermelho, curto e
encaracolado, tão tentador como o resto dela. Mergulhando os dedos em seu
delicioso calor, Ian foi tão profundo como pôde e, em seguida, começou a
acariciar o clitóris inchado. Julia arqueou contra seus dedos, os gemidos
suaves quase o desfazendo. E, em seguida, estendeu a mão ao redor para
tocar em seu comprimento, mas ele gemeu sua recusa. Não podia permitir
que ela o tocasse, não até que transassem. Ian nunca duraria.
Levantando uma perna sobre seu quadril, deixando-a mais ampla
para ele, continuou a assediá-la com suas carícias, sua boca silenciando o
choro enquanto gozava com seus dedos dentro dela e medindo os fortes
tremores internos. Por um momento, a respiração de Julia veio rapidamente
e então ela estendeu a mão para lhe dar o que ele merecia. Mas ainda queria
estar dentro dela, empurrar dentro de sua vagina apertada, lisa e quente com
prazer.
Ian estava muito perto de chegar ao clímax, apenas pela forma como
a língua da moça tinha sondado sua boca, lábios e paladar, pela forma como
suas mãos tinham tomado conta de sua ereção, e o seu doce cheiro que ele
não conseguia estender o erotismo um minuto mais. Com as carícias
habilmente firmes, ela o levou a um desespero febril. E Ian gozou, o êxtase
desse toque transformando seu mundo em uma explosão de emoções.
Descansando ao lado dela, a puxou contra seu corpo, o dela estando macio
suave e sem energia.
Eles se atrasariam para a refeição, mais uma vez.
Após destrancar Baird Cottage com as chaves-mestre, Cearnach
partiu para dentro para procurar o diário de Julia, mas parou logo na porta de
entrada.
Ele cheirou o ar e escutou por qualquer sinal de alguém no lugar,
embora tivesse presumido que ninguém estaria aqui, além das duas
mulheres, e ambas estavam no Castelo Argent. Mas além de cheirar o
perfume delas, de Duncan e da presença de Ian aqui antes, sentiu o cheiro de
outro alguém.
Se arriscasse um palpite, e não gostava de onde isto estava indo, o
mais ferrenho inimigo deles, Basil Sutherland, tinha estado aqui. Cearnach
correu para o primeiro quarto, onde a cama estava bem feita, mas a
fragrância era de Maria. Em seguida, verificou o outro quarto. As colchas
estavam meio amassadas sobre a cama e meio tocando o chão e quando se
aproximou, sentiu o cheiro de Julia e Basil nos lençóis. Pior, o cheiro
almiscarado de sexo. Inferno.
Ele sabia que seu irmão estava caidinho pela pequena loba vermelha
e isso iria matá-lo.
Considerando-se como Ian tinha reagido após Flynn ter se
encontrado com sua noiva prometida na floresta e ter feito sexo com ela em
consentimento mútuo, Cearnach nem sequer queria ver o humor negro no
qual seu irmão estaria assim que ele soubesse dessa nova decepção sobre
uma mulher com a qual se importava.
Cearnach levantou diário de Julia de sua mesinha de cabeceira e, em
seguida, sentindo-se mal com toda esta confusão, correu de volta para o
Castelo Argent. Ele verificou o progresso das filmagens, as quais, como
receava que fosse, eram barulhentas, o terreno do castelo invadido por seres
humanos o bastante para fazê-lo desejar se juntar a sua mãe em Londres para
ficar longe de tudo.
Quando olhou para o quarto de Ian, deu um suspiro longo e
profundo. Como poderia dar a notícia a seu irmão sobre Julia e Basil, sem
quebrar o mundo dele novamente, apesar do fato de sempre alegar que tinha
estado melhor sem sua noiva? Cearnach o conhecia melhor. Desde então, Ian
tinha vivido com um pesado remorso sobre ter mandado seu primo para
longe e sentindo-se responsável pela morte dele.
Irritado, Cearnach andou em direção ao castelo, apenas para ser
interrompido quando Duncan o emboscou...
— Você encontrou o diário da moça?
— Aye. Maria deu algum problema?
— Alguns. Guthrie está vigiando-a. — Duncan franziu o cenho para
Cearnach e cruzou os braços. — Você parece preocupado.
Cearnach descartou sua preocupação.
— Eu posso ver por que Ian não queria essa produção aqui.
Que confusão.
Duncan assentiu.
— É outra coisa o problema? Eu não acho que já vi você assim tão
preocupado desde que Flynn se meteu em problemas com Ian.
Cearnach não disse nada. O problema era que, não importava a
situação, sempre era capaz de agir como se não fosse sério. Não daquela vez.
Não importava quantos anos se passaram, nunca poderia ver aquele desastre
de uma forma alegre.
— Se não tiver nenhum problema, eu vou vê-lo daqui a pouco.
Duncan disse:
— Sim.
Mas Cearnach sabia, pelo arco sombrio nas sobrancelhas de Duncan,
que seu irmão não acreditava que nada estava acontecendo.
Tentando descobrir algo útil sobre a mulher que ainda estava com Ian
em seu quarto, instalou-se na câmara privada ao lado para ler tudo o que
Julia havia escrito, incerto sobre o que descobriria e esperando que não fosse
encontrar nada condenável. Nada mais do que já tinha encontrado. Mas algo
estava guardando um lugar no diário e ele abriu nessa página. Uma imagem
de Ian vestindo um kilt apareceu na frente dele. Parecia ter sido tirada no
festival celta. Virando-a, Cearnach não encontrou nada na parte de trás.
Merda. O que a moça estava tramando? Ian nunca permitia que sua imagem
fosse tirada. E isso fez Cearnach acreditar que Julia tinha que ter cúmplices
trabalhando com ela. Seu irmão ficaria mal com isso.
No diário, ela descrevera Cearnach como despreocupado e feliz com
a vida, mas não o tinha visto quando deixado no comando. Negócios vinham
em primeiro lugar, diversão e prazer em segundo. Ele pensava que fosse
como Ian a esse respeito, até agora. Seu irmão mais velho parecia estar
misturando negócios e lazer com a moça quando normalmente era muito
mais sério. Tinha que ser, como líder de matilha e chefe do clã.
A ceia havia sido posta e seus irmãos e primos tinham comido e,
ainda, Ian e Julia não haviam surgido do quarto até mesmo para participar da
refeição. Depois do que descobriu na casa de campo, Cearnach sabia que
nada de bom podia vir disso.
Ele retornou à câmara privada e continuou de onde tinha parado,
virando outra página do diário. Julia não só tinha feito um excelente trabalho
ao descreve-lo, mas capturou os instintos de guerreiro de Duncan, o jeito
estudioso de Guthrie, o layout do castelo, bem como algumas das aparências
rudes de seus primos e as olhadelas deles para as moças. Ela só tinha elogios
para o clã MacNeill, o que o surpreendeu. Isto era uma manobra, no entanto?
No caso deles encontrarem seu diário?
Ele leu até o início da história de faroeste americana, onde Ian
MacNeill tinha destaque e a heroína já estava roubando um cavalo, o que o
fez se perguntar se pretendia roubar algo deles. Algo importante.
Tanto pelas anotações que tinha feito sobre Ian, seu herói no romance
histórico highlander que tinha começado e, em seguida, parecia ter deixado
de lado e agora pela história de cowboy, ela estava apaixonada por ele.
Talvez só no papel, mas obviamente era o seu herói, aquele que capturaria o
coração da heroína se pudessem estar no mesmo lado da lei. Um conto
inventado, com certeza, se estava em uma conspiração com Basil
Sutherland. E não importava o quanto Cearnach não quisesse acreditar, não
poderia ver de outra maneira.
Duncan adentrou a câmara e olhou para Cearnach sentado no sofá
contra a parede, o diário na mão.
— Eles ainda estão no quarto dele? — Duncan perguntou
calmamente.
Cearnach deu um ligeiro aceno de cabeça e, em seguida, levantou-se,
atravessou o cômodo e colocou o diário na gaveta superior direita da mesa
de Ian.
— Será que ela diz muita coisa? — perguntou Duncan.
— Aye. Ela retrata todos nós. Em um bom aspecto. — Cearnach
acrescentou, não a ponto de revelar o que tinha descoberto na casa de campo
para ninguém, exceto Ian. — Então, o que está acontecendo com a equipe de
filmagem?
— Eles querem que todos os que se inscreveram como figurantes
compareçam ao figurinista na primeira hora da manhã, para que nós
possamos ser medidos para o vestuário. E depois? — Duncan sorriu
sombriamente. — Vamos aprender a brandir uma espada corretamente.
— Bem, eles querem que os ensinemos?
Duncan riu.
— Se Ian ficasse sabendo disso, ele estaria lá fora, liderando todo o
grupo em treinamento. Um armeiro deve distribuir espadas amanhã.
— Minha espada será aquela que ganhei quando rapaz. Com a arma
tendo o equilíbrio e peso adequado, posso derrotar qualquer um.
— O diretor não vai gostar disso.
Cearnach bufou.
— O diretor não tem que gostar. Quanto à roupa? Eu vou usar o meu
próprio tartan ―estampa xadrez usada no kilt que identifica sua linhagem‖.
— Sim, digo o mesmo. — Duncan fez um gesto com o ombro na
direção do quarto de dormir de Ian, a porta fechada. — Isto é sério?
— O quê? O relacionamento? Ou o que ela está fazendo? —
Cearnach tentou manter a acidez fora de suas palavras.
As sobrancelhas de Duncan beliscaram juntas enquanto eles se
dirigiam pelo corredor até as escadas.
— Eu não pensei que algo, ou deveria dizer, alguém, iria distraí-lo
dos negócios da equipe de filmagem, enquanto estivesse aqui. Parece que
uma pequena loba vermelha fez o truque. Você acha que ele ainda está
interrogando-a?
Cearnach balançou a cabeça.
— O que você acha?
— Eu acho que ele está trabalhando muito duro nisso e, se não
conseguir a verdade em breve, eles vão perder o jantar também. Maria
Baquero não está indo embora, apesar de tudo.
— Eu vou falar com ela de novo. — disse Cearnach. — Ouvi alguns
rumores feios dos quais preciso descobrir a verdade.
— Quais são, irmão?
— Basil Sutherland e seus homens foram adicionados à lista de
pessoas que vão lutar por um par de cenas de batalha. As batalhas
roteirizadas certamente descambarão para o pior e Ian ficará extremamente
contrariado uma vez que souber sobre a situação.
Ian mataria Basil, Cearnach pensou, se ele descobrisse que Julia
estava manipulando-o como um tolo enquanto trabalhava com seu inimigo.
— Och. Bem, espere até depois que Ian tenha comido. — Duncan
olhou para o quarto de Ian quando passaram por este. — Ou talvez depois
que saia do seu quarto. Ele deve estar em boa forma até lá, você não acha?
Assim que Ian soubesse a verdade sobre Júlia? Cearnach realmente
não queria ser o portador da má notícia, de novo.

Ian apreciou a consideração de seus irmãos em manter suas vozes


baixas enquanto passavam pelo quarto dele. Presumiu que Cearnach tinha
encontrado o diário de Julia. Agora, tinha que solicitar a ajuda de seus
parentes para localizar o nicho secreto na região dos aposentos, se tal coisa
ainda existia, e descobrir o que realmente continha. Um contrato de
noivado? Não acreditava nisso. Algo valioso, presumia.
Julia tinha adormecido novamente. Ele se vestiu e, em seguida,
deixou-a nua e enterrada debaixo dos lençóis em seu quarto enquanto
convocava sua tia para a sua câmara privada. Presumia que ela saberia algo
sobre as MacPhersons, mais do que o que tinha mencionado anteriormente
na cozinha sobre seus retratos estarem em um dos quartos da torre.
Depois que ela chegou à câmara, ele começou com o questionamento
de uma só vez, antes que Julia se tornasse consciente de que a tinha deixado
sozinha.
— Que ligação nós temos com quaisquer lobos vermelhos com o
nome MacPherson?
— Eu estive olhando nos registros, mas... Bem, ninguém me disse
que a mulher era uma loba vermelha e não uma cinzenta. — sua tia olhou
para seu colo e pensou sobre isso por vários minutos. Mas quando olhou
para Ian, ele pôde dizer a partir de sua expressão que ela não se lembrava de
alguém assim.
— Vou continuar procurando através dos registros, no entanto. Eu
pretendia ter alguém os digitando e salvando em um computador.
— Acenou com a mão com desdém para Ian.
Ela nunca se interessou por computadores.
— Mas você sabe quão árdua a tarefa será e ninguém na família tem
se interessado em fazer o trabalho.
— Se descobrir alguma coisa, você vai me dizer?
— Sim, é claro. — sua tia franziu o cenho para ele. — Você sabe que
ela escreve sobre lobisomens? Sabe sobre o que são as histórias?
— Heather os lê. Ela disse que tem uma coleção deles.
Tia Agnes torceu o nariz.
— Eles não são literatura, nem um pouco. — ela estremeceu. —
Livros sobre sexo, é o que são.
— Guthrie pediu a Heather para pegar um de seus livros para ele
olhar.
— Eu vou dar uma olhada. A menos que tenha a ver com relatos
financeiros, ele não lê.
Ian não pôde deixar de sorrir um pouco. Sua tia era da opinião de
que, a menos que o livro fosse de não-ficção, não valia à pena a leitura.
Portanto, o pensamento de que ela iria querer ler romance cheio de sexo o
divertia.
— Cearnach disse que leria.
Agnes deu uma gargalhada.
— Cearnach não lê, a não ser que tenha a ver com como esculpir
uma nova alça para um punhal.
— Duncan disse que leria.
Agnes olhou para Ian, incrédula.
— Um romance? Você não pode estar falando sério.
Muito sério. Na verdade, tinha a sensação de que todos os seus
irmãos planejavam folhear o livro, à procura de qualquer coisa que pudesse
captar o interesse deles.
— Lembra-se de algo sobre uma família de vermelhos que era
chamada de MacPherson? Você deve ter alguma ideia.
Tia Agnes o olhou com cautela.
— Parece-me que você esteve interrogando a moça durante toda a
manhã e metade da tarde. Certamente já fez algum progresso com ela.
Ian se recostou na cadeira.
— Ela diz que eu sou o noivo prometido dela.
Sua tia não reagiu nem um pouquinho. Ela não riu dele ou pareceu
chocada. Não demonstrou qualquer expressão que revelasse que sequer o
tinha escutado.
Então, seu rosto se abriu em um sorriso.
— Já estava na hora. Se não há nada mais, eu vou atrás de
informações para ver o que posso aprender sobre a moça. Não diga à sua
mãe sobre o mais recente noivado. Tenho certeza que ela vai ficar satisfeita
com a notícia. — E então, antes que ele pudesse responder, sua tia saiu
correndo da câmara.
Ele achava que ela não tinha ouvido falar deste contrato, tampouco,
ou talvez tivesse, mas nunca o viu. Sem localizá-lo, realmente não tinham
nada no que se basear.
Tinha toda a intenção de voltar para Julia em seu quarto quando
Cearnach bateu na moldura da porta. O que não era, em si, algo que ele
sempre fazia. Ian se recostou na cadeira, analisou a expressão sombria de
Cearnach e soube que algo terrível tinha que ter acontecido.
— Entre. Qual é o problema, Cearnach?
Cearnach fechou a porta.
Agora Ian soube que o problema tinha de ser terrível.
Ele esperou, embora o suspense o estivesse matando. Mas podia
dizer que Cearnach não queria ser o mensageiro. E a última vez que ele
pareceu assim tão preocupado foi quando teve que dizer-lhe sobre as
transgressões de Flynn com sua noiva.
— Flynn e Ghleanna são passado, Cearnach. Nada poderia ser tão
ruim assim. Agora, qual é a novidade?
Cearnach sentou-se numa cadeira em frente à mesa de Ian e se mexeu
desconfortavelmente.
— Acho que você dizer a Flynn que iria exorcizá-lo, quando ele nos
trancou nos túneis, feriu seus sentimentos. Eu não o vi incomodando
ninguém por ora.
Era disso que se tratava? Ian sabia que Cearnach e Flynn tinham sido
melhores amigos e contar sobre o caso do seu primo com a noiva dele
provavelmente foi a coisa mais difícil que seu irmão algum dia fez, mas
inferno, o primo deles merecia um tratamento pior do que tinha recebido. Ian
fez uma careta.
— Ele sabe que eu não me livraria da minha própria família.
Cearnach limpou a garganta, o significado sendo que Ian tinha
realmente enviado Flynn para longe do clã e da família.
— Aye, bem, ele dormiu com minha noiva prometida, Cearnach. Eu
deveria tê-lo mantido aqui e fingido que não me importava? Como poderia
liderar o clã, a matilha, se a minha própria família roubasse minha noiva
bem debaixo do meu nariz e eu não fizesse nada sobre isso?
— Sim, e ela tinha um coração de pedra.
Ian olhou melancolicamente pela janela.
— Ele te salvou de um destino pior que a morte.
Ian olhou para o irmão.
— Flynn era... ainda é nosso parente. Se ele pretendia ou não, deu-
lhe a liberdade para acasalar com quem quiser, contanto que a mulher seja
realmente certa para você.
— Você está se referindo a Julia?
Os olhos de Cearnach escureceram e se estreitaram.
— Você não sabe nada sobre a moça, Ian. Se fosse comigo, eu não
agiria levianamente no que se refere a ela.
Surpreso, Ian encarou seu irmão. Cearnach soava realmente furioso,
quando quase nunca estava com raiva.
O que aconteceu? — perguntou em um tom mais suave.
— Você não a conhece, Ian. — Suas sobrancelhas franziram mais
profundamente. — Ela poderia estar dormindo com o inimigo, pelo que nós
todos estamos cientes.
Ian tinha considerado que Julia podia estar no campo do inimigo e
esta poderia ser a razão para ela tentar esgueirar-se para o castelo. Mas
dormir com o inimigo dele...
Ele estudou a expressão séria de Cearnach.
— Fale a vontade. — todavia, não queria ouvir o que Cearnach tinha
a dizer, se realmente tinha descoberto provas de que Julia estava do lado do
inimigo, ou pior, na cama com seu inimigo.
O maxilar de Cearnach estava tenso, mas ele não disse nada.
Respirou fundo e se levantou da cadeira, atravessou o cômodo e olhou pela
janela.
— Apenas tenha cuidado.
Ele se virou e olhou para Ian, seus olhos enevoados de lágrimas.
Assim como quando soube que Flynn tinha morrido nas mãos de um marido
furioso.
— Tenha cuidado. — ele disse de novo. Em seguida, saiu da sala e
Ian sentiu murchar a alegria que tinha conhecido quando estava nos braços
de Julia.
O que ela tinha feito?
CAPÍTULO 17
Quando Julia acordou de seu longo sono, Ian levantou-se da cadeira
próxima, de onde esteve olhando-a. Ele não podia anular a preocupação que
tinha de que ela poderia estar em conluio com os Sutherlands, para quê, não
sabia, no entanto. Ainda assim, à merda a sua maldita alma, não podia deixar
de desejá-la.
— Você está com fome, moça?
— Hmm. — Ela disse, esticando-se na cama, as cobertas mal
cobrindo os seios.
Ele queria desviar o olhar, não ver quão sedutora a sereia era
enquanto as palavras de advertência que seu irmão lhe deu ainda puxavam a
sua consciência.
— O que você sabe dos Sutherlands?
Ela deu um profundo suspiro pacífico e nem um pouco preocupado.
Ou era uma atriz gabaritada, além de ser uma ótima contadora de histórias,
ou não fazia parte de uma tramoia com o seu inimigo, afinal.
— Basil Sutherland. — ele acrescentou, estudando-a.
Julia balançou a cabeça.
Eu não conheço nenhum Basil Sutherland. Nenhum Sutherland,
tampouco. — Julia subitamente puxou as cobertas para cima e sentou-se. —
Maria! Ela vai se perguntar o que aconteceu comigo.
Propositadamente mudando de assunto?
— Foi dito a ela que você está comigo.
Julia revirou os olhos.
— Tenho certeza de que isso foi o suficiente.
— Ela queria vê-la. Tão logo você estiver vestida... — Ian cerrou os
dentes. Ele queria este negócio resolvido com os Sutherlands. — Como é
que você sabia onde era a entrada secreta?
— Eu disse a você. — ela parecia surpresa. — Meu avô me contou.
Mas não consegui encontrar e então simplesmente calhei de bater nela com a
minha bota e percebi que o alçapão estava lá.
— Por que você não me contou sobre esse contrato de noivado no
começo?
— No começo, não sabia sobre isso. Então, quando disse ao meu avô
que queria pedir sua permissão para localizar a caixa escondida, ele disse
que eu não podia. Disse que... se nós não fôssemos acasalados, a próxima
mulher na minha linhagem seria prometida ao próximo senhor de terras do
Castelo Argent. — ela tentou um sorriso. — Eu disse a ele que iria lhe falar
sobre o contrato matrimonial e você acabaria com essa bobagem agora. Sem
mais problemas com um chantagista. Você apenas diria:
De jeito algum no inferno — para isso e este seria o fim da
dificuldade.
Ele ergueu as sobrancelhas um pouco. Ela pensava que realmente a
achava condenável?
— Porque eu não te amo.
— Bem, com certeza, e porque eu não tenho um título... — ela fez
uma pausa.
— Hmm?
Julia continuou:
— Sou americana. E uma autora de romances de lobisomem.
— Eu não li seus livros. Talvez eles me interessem.
— Eu duvido.
Ele se recostou na cadeira.
— Você teve visitas na casa de campo?
Ela franziu o cenho.
— Você... E seu irmão. Eu estive aqui a maior parte da noite ou na
floresta ou o túnel ou... Por quê?
— Cearnach foi até a casa para pegar suas malas, de modo que você
tivesse uma muda de roupa, já que suas calças foram arruinadas no túnel e
seu suéter estava molhado. — Embora Cearnach não tivesse contado a Ian o
que tinha encontrado na casa de campo quando pegou as malas de Julia e seu
bloco de notas, presumiu que ele tinha sentido o cheiro de um Sutherland no
local.
E?
Ian deu de ombros.
— Um Sutherland passou por lá.
— Eu não conheço nenhum... — ela fez uma pausa. — Talvez ele
tenha conversado com Maria?
Ian tinha considerado isso, mas as palavras de advertência de
Cearnach, que ela estava dormindo com o inimigo, o fizeram pensar o
contrário.
— Não, Julia.
Ela mordeu o lábio inferior e, em seguida, seus olhos se arregalaram.
— Maria está bem, não está?
Sua mudança de assunto o desconcertou.
— Maria está aqui, trabalhando no filme.
Todo o corpo de Julia estava tenso agora e seu olhar procurou pelo
quarto.
— Minhas malas. Onde estão as minhas malas?
— O que está acontecendo, Julia?
— Alguém me ligou ontem à noite, quando estava tentando falar com
o meu avô para pedir a permissão dele para lhe dizer que eu precisava
procurar a caixa. Não consegui contato primeiramente. Assim que desliguei
o telefone, o aparelho tocou e, quando o peguei, pensando que meu avô tinha
me ligado de volta, era ele, o chantagista.
— O chantagista. — não importava que pretendesse soar como se
acreditasse nela, estava tendo dificuldade em confiar em qualquer coisa que
saísse daquela bela boca agora.
— Sim. — ela avistou uma de suas malas no canto do quarto e, sem
desperdiçar outro momento, saiu da cama em toda sua bela nudez e
atravessou o cômodo atrás de sua mala. — A voz dele era fria e ameaçadora
também. E eu percebi então... — disse, vestindo um suéter, sem sutiã desta
vez. — Porque Maria achou que ele era perigoso e não apenas conversa
fiada. — Puxou um par de jeans, sem calcinha.
Ele franziu o cenho.
— Aonde você vai com tanta pressa?
— Eu tenho que falar com Maria. Avisá-la que o chantagista sabe
onde estamos hospedadas e que ligou ontem à noite. Não acho que esteja
atrás dela. Está atrás de mim. Ele disse que não queria que fosse encontrado
o contrato. Está chantageando meu avô. Você não está me ouvindo? Te
contei sobre isso esta manhã. Ou a maior parte. Mas Maria não pode ficar na
casa de campo por mais tempo. Se ele está lá fora para me pegar, poderia
usá-la para vir atrás de mim. Você não percebe? Ela vai ter que ficar na
hospedaria de Harold com o resto da equipe de filmagem. Bem, assim como
eu também.
Ian não queria que ela ficasse com Harold, ou qualquer outra pessoa,
aliás. Não importava o quão louco parecesse, apesar do aviso de Cearnach
sobre Julia, ele a queria aqui. Se fosse porque pensava
que poderia ser capaz de impedi-la de fazer o que Sutherland queria, ou
porque realmente pensava que ela podia estar em perigo, não poderia decidir.
Ela pegou um par de meias e sentou-se na cama.
— Ele sabia quem era atendendo o telefone, Ian. Sabia antes que eu
dissesse qualquer coisa. Estava observando a casa quando falou comigo. —
o olhos de Julia se arregalaram quando olhou para Ian.
— Ai meu Deus, ele não arrombou a nossa fechadura e entrou lá
enquanto nós estivemos fora, não é? — Ela balançou a cabeça e puxou suas
meias. — Tenho que falar com Maria. Perguntar se alguém chegou a vê-la
ontem à noite, enquanto eu estava correndo pela floresta... Hum, e túneis no
seu castelo.
— Entre o momento em que você esteve comigo e pelo tempo que
acabou nos túneis, você ficou na sua casa por um bom número de horas.
— Claro, dormindo um pouco. Eu escrevi no meu diário. E tive os
dois telefonemas. O que mais...? — seus olhos se estreitaram. — Sobre o
que é isso tudo?
— Eu não estou certo. Cearnach não quis me dizer. Talvez
devêssemos fazer um passeio até a sua casa e dar uma olhada?
Ela correu para calçar suas botas e franziu a testa.
— Tudo bem. Estou pronta. Mas tenho que avisar Maria sobre o
chantagista.
Pensando bem, ela era coerente sobre esta história. Mas não achava
que Cearnach estava errado, também.
Ele a levou para o corredor, descendo as escadas para o grande salão
e, em seguida, para o lado de fora, onde passeou com ela através do pátio
interior para o exterior. Quando viu o diretor conversando com alguns dos
membros de seu povo perto dos estábulos, pegou o braço de Julia e levou-a
em direção a eles.
— Vamos.
— O que... O que estamos fazendo?
— Maria não está em nenhum lugar por aí. — ele disse, apontando
para o pátio exterior. — Você pode falar com ela quando voltar.
— Sim, mas...
Ele apontou para um de seus primos enquanto saia para
cumprimentá-lo.
— Sele Rogue.
— Sim. — Oran disse e correu para o estábulo.
Julia esfregou os braços e mordeu o lábio inferior.
— Nunca montei um cavalo antes. Bem, exceto por um cavalo de
competição e eles são indispostos como todos sabem. Não, nem um pouco
obediente. Um deles era um velho cavalo teimoso que tentou me esfregar
para longe a cada árvore que passamos. Eu os amo, mas... de longe.
Ian sorriu para ela. Não podia evitar.
— E você está escrevendo uma história de cowboy? Eles não têm
cavalos?
Ela franziu o cenho para ele.
— Claro, mas a heroína não precisa ter um cavalo.
— A menos que ela roube um.
Ela apenas olhou para ele, os lábios entreabertos, adorável. Deus,
como queria beijá-los. Em seguida, estreitou os olhos.
— Quando Cearnach pegou minhas malas, ele não teria também
carregado o meu diário, não é?
— Você queria escrever. Como poderia, sem seu bloco de notas?
Julia olhou com raiva para ele.
— Você não sabe que é errado ler o diário privado de alguém?
— Meu nome estava nele. Pareceu aceitável ler o que você escreveu
sobre mim. — embora ele não tivesse parado lá.
Ela abriu a boca para falar, mas, quando viu Rogue, não disse uma
palavra, apenas olhou boquiaberta e estremeceu.
— Isso não é um cavalo. É tão alto quanto o seu castelo.
Ele riu, montou o cavalo e, em seguida, estendeu a mão para baixo,
oferecendo-a e, com um aperto no braço dela, balançou-a para detrás dele.
— Espera aí, moça.
Ela rapidamente colocou os braços ao redor da cintura de Ian e a
sensação de seus seios apertados contra suas costas, a sensação confortável
de seus braços ao redor dele, com a cabeça descansando contra ele, era
muito boa. Ian galopou na direção da guarita, esperando verdadeiramente
que Cearnach estivesse errado.
Todos na equipe de filmagem e os próprios homens de Ian pararam o
que estavam fazendo para olhar para eles andando em sua direção. Suas
bocas ficaram abertas, enquanto Duncan e Cearnach franziam o cenho para
Ian.
— Este é Lorde MacNeill. — um dos membros da equipe de
filmagem disse. — Ele é o dono do castelo e das terras ao redor. Pena que
não estivesse usando um kilt para podermos tirar uma foto dele.
Ian não estaria em qualquer filme maldito.

Com o coração batendo acelerado, Julia segurava-se a Ian pela sua


vida enquanto o cavalo socava o pavimento com uma marcha monstruosa.
Mais provavelmente, Lorde MacNeill estava chateado com a confusão que a
equipe de filmagem estava fazendo no seu castelo e queria fugir. Ela
concordava com sua opinião.
Neste ponto, ele provavelmente queria dar um passeio até a casa de
campo em um ritmo mais lento, bem, se retardasse o cavalo, em vez de levá-
la em seu carro.
Ela admirou a maneira como lidava com a besta, como se tivesse
crescido montando num cavalo. E provavelmente tinha. Com muito medo de
cair da garupa do cavalo, apertou seu domínio sobre Ian, o estômago firme e
suas coxas tensas, duras e quentes. Amando a sensação dele a qualquer hora
que tinha a chance de segurá-lo, percebeu o quão viciante ele era.
Mas este cavalo era muito grande, com o jeito selvagem demais e
galopando muito rápido. Mais ou menos como o seu cavaleiro.
Assobios e aplausos subiram em torno dos terrenos do castelo. Com
todo o seu corpo queimando de vergonha, para não mencionar o toque de Ian
enquanto ela pressionava seu corpo perto do dele. E temendo que pudesse
simplesmente saltar para fora da garupa do cavalo a qualquer momento,
observou que todos com a equipe de filmagem que testemunharam o evento
estavam sorrindo. Se Maria soubesse disso, brigaria ainda mais com Julia
mais tarde esta noite depois que eles tivessem acabado as filmagens pelo dia.
Mas, tão logo estavam além da guarita, Ian retardou o cavalo para um
trote e se dirigiram de uma maneira muito mais sem pressa em direção a
Baird Cottage, como se Ian quisesse prolongar o contato entre eles. Ou
atrasar a chegada à casa de campo e tudo o que o estava incomodando. Ela
não tinha um bom pressentimento sobre isso, porém tentou dizer a si mesma
que tudo ficaria bem.
Julia escorregava para cima e para baixo nas costas de Ian enquanto a
marcha do cavalo diminuía de velocidade, o atrito tornando-a excitada de
novo. E pensou sobre a sua história, tentando colocar em boa utilização
todos os detalhes sensoriais que estava reunindo.
O herói tinha resgatado a heroína do clã inimigo. Ela estava exausta
demais para dar mais um passo, enquanto o adversário estava em
perseguição. O herói a abraçava com força enquanto cavalgava arduamente
de volta para o pátio exterior, seu corpo ardente e sólido, o cheiro dele todo
de sexo masculino, dos bosques de pinheiros, do ar fresco e limpo e de sela
de couro.
Enquanto Julia se agarrava a Ian, desejou que ele estivesse usando
aquela túnica folgada com o kilt que o tinha visto usar na foto. Ela não podia
evitar. Sua história de cowboy tinha se transformado de volta na história de
highlanders.
Estava grata por ele não estar andando rápido agora. Lento e fácil era
muito mais ao seu gosto, para que pudesse desfrutar mais de sua
proximidade física. Adorava a maneira como Ian cheirava; todo homem e
lobo, selvagem e indomável, seu braço livre abraçando o dela. Nunca se
importaria de andar de cavalo, se pudesse viajar com Ian assim.
Sim, ele era simplesmente perfeito para sua história. Pena que não
poderia levá-lo a atuar todas as suas cenas para que pudesse escrevê-las sem
qualquer esforço.
— Você está bem, moça? — Ele perguntou, quebrando o mundo de
sonhos dela.
Sua protuberância grossa a instigando, acrescentando-se ao seu amor
por todas as coisas escocesas. Julia o imaginou tirando seu kilt e, em
seguida, ela se enrolando em seus braços à noite em uma cama cavernosa,
cercada com peles e...
— Julia?
Ela não queria que a fantasia parasse. Suspirou.
— Eu mudei de ideia sobre cavalos.
— Como assim?
Ela aconchegou a cabeça contra suas costas e apertou os braços ao
redor da sua cintura.
— Eu prefiro cavalgar assim.
— Vou ter que lhe ensinar a amar cavalgar por conta própria.
Isso soava muito como se ele pretendesse que ela ficasse. No entanto,
algo sobre seu comportamento anterior tinha dito que havia alguma coisa
errada na casa de campo, que tinha a ver com ela e algum homem chamado
Sutherland, e que era uma coisa muito ruim.
Estava com medo de descobrir o que era.

Quando eles chegaram à casa de campo, Ian ajudou Julia a


desmontar, depois balançou para fora do cavalo e amarrou-o a uma árvore
próxima. Julia lutou para esfregar seus braços, arrepiados da incerteza do
que iriam encontrar na casa de campo.
Todos os lobos eram grandes observadores. Consideravam os seus
arredores, farejando o ar para analisar aromas de inimigos, presas ou amigos.
Eles observavam, ouviam e eram cautelosos e curiosos ao mesmo tempo.
Mas em vez de usar todos os sentidos aprimorados dele na casa de campo,
notou que Ian a estava observando. Isso a deixou desconfortável, como se
estivesse estudando a reação dela, vendo se tinha algo a esconder quando,
pela primeira vez, caramba, ela não tinha.
Não parava de pensar que ele abriria a porta e lá, deitado no chão,
estaria o corpo de um homem morto. Com uma faca em seu peito, com as
impressões digitais dela por toda a parte. Pelo menos Ian agia como se eles
estivessem entrando em uma cena de assassinato e que ela tinha praticado o
crime.
Com suas mãos frias como gelo, pegou a mão de Ian e ele pareceu
um pouco surpreso. Receava que ele fosse se afastar e foi o que fez, mas só
depois que deu aos seus dedos um pequeno aperto reconfortante. Não foi o
suficiente. Ele não confiava nela e sabia disso com certeza agora.
Estava por conta própria.
Ela entrou na sala de estar, levantou o nariz e colheu amostras do ar.
O cheiro de um estranho cinzento permanecia lá.
— Um lobo cinzento. — disse. — Eu não reconheço o cheiro dele.
— Julia moveu-se para a cozinha mas, antes que pudesse dar uma forte
lufada de ar lá dentro, o telefone tocou e ela deu um grito assustado.
— Sinto muito. — enquanto pegava o telefone, seu primeiro
pensamento foi que o avô estava ligando para lhe dar uma bronca por dizer a
Ian sobre o contrato.
— Olá, amor. Vejo que trouxe o lorde com você hoje. Vai lhe contar
que somos amantes agora? — A familiar voz escocesa disse suave, com uma
ameaça alarmante.
Sua pele já se sentia gelada, mas agora se arrepiou com calafrios
frescos. Seus joelhos ficaram fracos e o coração acelerou.
— O que você fez, seu bastar...
Não conseguiu terminar o resto das palavras. Ian se moveu
rapidamente para tirar o telefone da mão dela enquanto Julia caía sobre uma
cadeira, sentindo náuseas e tontura.
— Ela é tão formosa, meu lorde. Muito, muito doce. Ela é assim tão
doce com você? — sua voz era severa e, em seguida, o telefone ficou mudo.
O rosto de Ian ficou escuro quando colocou o telefone no gancho.
— É ele. O homem que telefonou ontem à noite, Ian. Ele está
observando a casa. Tem que estar.
— Fique aqui. — Então, Ian se afastou em direção ao quarto dela e
Julia nem queria saber o que ele encontraria lá dentro.
Ian reconheceria o cheiro e a voz de Basil em qualquer lugar. O
bastardo tinha definitivamente deixado seu esperma nos lençóis de Julia.
Embora o cheiro dela também estivesse lá, não sentiu seu perfume
almiscarado e, por isso, não acreditava que estivesse com o louco quando ele
gozou. Apostaria sua vida que, depois que ela e Maria saíram da casa de
campo, o bastardo tinha ejaculado em sua cama, reivindicando-a de sua
forma doente.
Ian passou as mãos pelo cabelo. Inferno. Cearnach. Seu irmão quase
lhe tinha dado um derrame por acreditar que Julia era amante de Sutherland.
Mas nenhuma de suas ações tinham revelado qualquer desonestidade neste
assunto. E quando ela atendeu ao telefone, ficou tão pálida e estava tão perto
de entrar em colapso, que não havia nenhuma maneira de que pudesse ter
falsificado seu medo. Ian ligou para seu irmão.
— Cearnach, encontre Maria e lhe diga para não deixar o recinto do
castelo. Ou ela vai se mudar com as pessoas de Harold ou ficar conosco.
Mas não deve voltar para Baird Cottage sozinha.
Cearnach não disse nada.
— Julia não é o inimigo, irmão. Ela é legal.
— Julia? — Cearnach finalmente perguntou, sua voz apreensiva.
— Aye. O bastardo doente acabou de ligar para cá. Adivinha quem é
o chantagista?
— Chantagista?
— Aye. Tia Agnes ainda não lhe contou? Eu estou prometido a Julia
MacPherson. Nós só temos que localizar o contrato escondido nas paredes
do castelo. Mas Basil Sutherland tem tentado chantagear a família de Julia
sobre isso.
Silêncio.
— Você está aí, Cearnach?
— Aye.
— Você não parece feliz por mim.
— Você está certo sobre a moça? — Cearnach ainda soava triste.
— Eu estou. Ele está vigiando o lugar. É Basil Sutherland. Julia vai
ficar com a gente. Estamos voltando agora. Está tudo bem aí?
— Aye.
Cearnach não soava como se tudo estivesse bem por lá. Inferno,
agora o que estava errado?
— Vamos ver você em breve.
— Sim, Ian. Isso é uma boa notícia. — Cearnach soou mais como
seu eu alegre agora.
— Você pode me contar as outras más notícias quando eu chegar. —
Ian disse, conhecendo Cearnach melhor do que isso, e cortou a ligação.
Ele voltou para a cozinha, onde Julia ainda estava sentada à mesa, só
que agora estava bebendo um copo de água, ainda pálida como a morte.
— Está tudo bem, Julia?
— O que ele fez lá dentro? — Ela perguntou, sua voz pequena.
— Nada que importe. Parece que Cearnach já pegou suas malas. Eu
não vi qualquer outra coisa sua lá. Já liguei para ele para falar com Maria e
ter certeza que ela não volte aqui sozinha.
— Ian, me diga. O que ele fez lá dentro? — Julia perguntou
novamente, seus olhos verdes olhando para dentro dele, querendo que
dissesse a verdade.
Ele puxou-a da cadeira e suavemente beijou seus lábios.
— Ele maculou seus lençóis.
— Como se... — seus olhos se arregalaram. — Cearnach pensou...
Pensou que este homem e eu tínhamos... Oh, Ian, nunca o vi na minha vida!
— lágrimas enevoaram seus olhos, sua expressão dizendo que não
acreditava que poderia ter pensado mal dela.
Sua voz e expressão desconsoladas o atingiram em cheio
profundamente.
— Ele é um bastardo doente. Nós estivemos lutando por séculos.
Vamos lutar por mais alguns. — se não o matasse primeiro. Ian esfregou as
costas dela com um toque que era tanto possessivo como terno, querendo
devolvê-la para a segurança de seu castelo onde ninguém como Basil
Sutherland jamais poderia alcançá-la. Então xingou baixinho, puxou-a em
seus braços e apertou-a. — Perdoe-me, Julia, por pensar qualquer coisa ruim
sobre você.
A caixa e seu conteúdo não tinham nenhum interesse real para ele.
Julia era tudo o que importava. Quando pensou que ela não poderia ser dele,
que era a mulher de outro homem, sentiu todo o seu mundo balançar. E
percebeu, então, como isso não era nada parecido com o que aconteceu com
a mentira de Ghleanna. Ian não tinha se importado com sua noiva. Não a
amava.
Ian olhou para Julia, seu rosto levantado para ele, seus olhos olhando
para sua boca, agora apertada em uma linha, com a testa franzida.
E então Julia o beijou. O beijo foi doce, despretensioso e selou uma
promessa. Se ele leu certo, não havia mais ninguém em sua vida. Julia
poderia ser dele. E maldição se não a queria. Beijou-a levemente em
retribuição, mas queria devolvê-la ao castelo imediatamente, não querendo
fazer nada aqui com ela depois do que já tinha acontecido.
— Nós perdemos a ceia. Vamos voltar ao castelo e comer, depois
procuraremos a caixa. — ainda se sentindo mal sobre o que ele suspeitava
que tivesse acontecido entre Sutherland e ela, muito embora tenha tentado
muito forte não tirar conclusões precipitadas, tentou animá-la com outro
abraço e um sorriso.
Julia pareceu reservada e, em seguida, Ian se perguntou se ainda
estava preocupada com Sutherland e sua ameaça. Ela tinha todo o direito de
estar. Mas não acreditava que o bastardo faria qualquer coisa agora. Não que
já não tenha feito.
Ian levou-a para fora, prometendo acabar com os jogos de Basil
Sutherland de uma vez por todas.
Com seu coração ainda em sua garganta, Julia sentiu a mudança no
comportamento de Ian. Ele estava demostrando carinho em direção a ela
novamente, com a mão em volta da cintura, possessivo, cuidadoso, desejoso.
Não tinha nenhuma dúvida de que a ideia que teve, que estivesse com este
Sutherland, magoou Ian. E não o culpava por acreditar no pior de tudo,
porque, dadas as circunstâncias, parecia muito contundente.
Entretanto, ele parecia um pouco preocupado, aflito talvez, e
perguntou-se se isto tinha a ver com Sutherland estar por perto, então, não
disse nada e seguiu o exemplo dele. Não estavam longe do castelo, apenas
cerca de um quilômetro de distância se pegassem um atalho pelas árvores, e
tão rápido como o cavalo se movia, estariam lá em um segundo. Ainda
assim, não podia deixar de se sentir um pouco gelada, um pouco ansiosa, um
pouco assustada.
Ian fechou a casa de campo, desamarrou Rogue e depois o montou e
puxou Julia atrás de si. Ele apertou os braços dela em volta de sua cintura.
— Segure-se firme, moça. Estaremos no castelo em poucos minutos.
Mais uma vez, sentiu a tensão no corpo de Ian. Não era dirigida a ela,
pelo menos achava que não, mas ele parecia ter alguma preocupação com
Sutherland e onde ele estava agora.
Ela olhou ao redor da floresta, mas não viu nenhum sinal de alguém.
Ergueu o nariz e colheu amostras do ar, mas só sentiu o cheiro delicioso de
Ian, do cavalo, de couro oleado, das matas de pinheiros e uma pitada de
chuva na atmosfera.
Mesmo assim, manteve uma observação cautelosa por qualquer
movimento. Se o homem causou o seu acidente de carro, o que mais era
capaz de fazer?
Tão logo Rogue galopou pela floresta, a rota mais rápida para o
castelo, Ian sentiu seu cavalo ficar tenso, nervoso e se afastar das sombras.
Ele se empertigou, estudando as árvores.
Julia apertou mais os braços em torno dele e sussurrou:
— Eu cheiro um lobo. Não... — ela disse, apertando mais
fortemente, parecendo assustada. — Dois lobos.
Ian puxou seu celular do cinto, mas quatro lobos correram na direção
deles, se materializando entre os pinheiros. Rogue recuou, relinchou e, de
repente, empinou. Julia gritou e escorregou da garupa do cavalo,
aterrissando com força no chão com um baque. O coração de Ian caiu
quando percebeu que perdeu Julia. Rosnando, os lobos foram atrás de
Rogue.
Ian pulou do cavalo, deu-lhe um tapa na garupa e gritou:
— Casa!
O cavalo correu para o castelo.
Vendo que Julia estava ilesa, Ian procurou pelo maldito telefone que
tinha deixado cair. Assim que o localizou nas agulhas de pinheiro e folhas,
foi atrás dele. Um lobo chegou mais perto, orelhas achatadas para trás, boca
rosnando, mostrando a extensão de seus caninos ímpios. Nenhum dos lobos
aqui era Basil. Maldito.
Desistindo do telefone, começou a arrancar suas roupas. Julia
vasculhou atrás do aparelho, conseguiu puxar para cima, abriu-o e apertou
um botão.
— Socorro! Estamos na floresta. Quatro lobos atacando.
O lobo saltou sobre Julia, surpreendendo-a pelas costas. Ela gritou.
O coração de Ian quase parou.
Seu povo teria escutado ela gritar. Eles veriam o cavalo sem
cavaleiro galopando de volta para o pátio exterior. Alguém tinha que ter
recebido a mensagem dela no telefone. Enviariam ajuda. Mas, por enquanto?
Eles estavam por conta própria.
Cheio de raiva, Ian mudou de forma tão rapidamente quanto possível
e enfrentou o lobo que tinha nocauteado Julia pelas costas. Ele não queria
que ela mudasse de forma e tentasse lutar contra qualquer um dos lobos, não
sendo uma vermelha menor contra os machos cinzentos mais pesados.
Rosnando e grunhindo, os outros três se aproximaram para se unir ao
seu amigo, todos franzindo o nariz e parecendo ferozes. Gritos do castelo já
estavam chegando a Ian. Em parte, os gritos eram para reunir os homens,
mas também era uma maneira de deixar os lobos saberem que a matilha dele
estava a caminho, de modo que pudessem partir antes que houvesse
derramamento de sangue.
Ian tinha a intenção de observar os lobos pela menor contração de
músculo que indicasse que estivessem preparando um ataque, então ouviu,
mais do que viu, Julia arrancando suas roupas. Merda. Mas não conseguiu
tirar os olhos dos lobos. Dane-se se eles voltassem sua atenção sobre ela, no
entanto.
Ele correu até o lobo mais próximo e, com os dentes arreganhados,
agarrou seu pescoço. O lobo gritou e tentou se esquivar para longe dos
dentes afiados. Mas Ian era muito rápido, muito determinado e muito irado.
Nenhum lobo do clã Sutherland atacava sua quase companheira ou invadia
sua terra sem pagar pela transgressão.
Com o pescoço sangrando, o lobo finalmente se libertou. Ele correu
uma curta distância, cabeça baixa, ofegando, orelhas planas. Os outros três
se mantiveram firmes. Até que ouviram gritos na floresta e algo como o som
de cavalos a galope em direção a eles. Ian sabia que seus homens haviam
libertado os galgos.
Ao sentir o tremor na terra, os cães latindo e seus homens gritando
para localiza-los, os lobos recuaram e, em seguida, viraramse e
desapareceram nas folhagens. Ian cutucou Julia com seu nariz, confortando-
a em sua forma de lobo.
— Inferno. — Cearnach disse, montando Rogue de volta à cena da
luta. — Espero que você tenha tirado um bom pedaço de Basil novamente.
— Ele desceu do cavalo e olhou para Julia.
Ela rosnou para ele e Cearnach sorriu de volta.
— Fico feliz em ver que você está bem, também, moça.
Parecia que Julia não estava prestes a deixar Cearnach passar sem um
pedido de desculpas. Ian não a culpava.
Indisposto a mudar de forma novamente, no caso de alguém da
equipe de filmagem ter seguido seus homens até ali, Ian cutucou Julia para
correr com ele. Em qualquer outro momento, eles não teriam problemas para
voltar para o castelo em suas formas de lobo. Mas agora que este estava
invadido por seres humanos?
Droga, Ian foi relegado a mudar de forma por aqui, o que poderia ser
desastroso, ou ir pela porta de trás como se fosse um servo.
Ele trotou ao lado de Julia pela floresta enquanto Cearnach reuniu as
roupas deles, montou de novo no cavalo e depois os seguiu com os galgos e
vários de seus homens. Por razões de segurança.
Ian olhou para a floresta com um pensamento: Basil
Sutherland pagaria.
CAPÍTULO 18
Aqui é onde o portão posterior está localizado, Julia pensou, depois
de ter cogitado mais cedo o quão fácil teria sido esgueirar-se nesta direção.
Dois corpulentos guardas highlander estavam postados na porta de entrada e
percebeu que não poderia ter passado por ali invisível, se tivesse tentado
antes.
Adrenalina ainda bombeava em suas veias, enquanto ela e Ian
passavam por dentro das muralhas da fortaleza, como lobos, suas caudas
como bandeiras espessas, seus passos fortes e apressados. Cearnach liderou
o itinerário a cavalo, certificando-se de que ninguém da equipe de filmagem
estivesse prestes a ver Julia e Ian correndo nas terras do castelo em sua
forma animal. Ainda em forma humana, mais dos homens de Ian corriam
para alcançá-los enquanto protegiam-nos pela retaguarda, no caso dos
homens de Sutherland tentarem algo mais.
Na casa dela, nunca teve problemas com matilhas de lobisomem.
Nenhum vivia perto deles. Isso a fez perceber quão tranquila a vida com a
sua família tinha sido com apenas um avô e pai. Sua família era uma
raridade, realmente. Mas eles a tinham criado dessa maneira depois que sua
mãe e o resto de seus avós haviam perecido. Julia não tinha irmãos e, sem
brigas de matilha ou disputas sobre território, realmente tinha estado um
tanto isolada da usual dinâmica de uma matilha.
Embora instintivamente soubesse o que fazer.
Ian não quis que ela se transformasse, mas ele tinha que perceber que
lutaria contra os lobos, se necessário, e que, como uma loba, teria uma
melhor chance de ajudá-lo contra os outros do que como uma humana. Que
não teria deixado de cuidar de si mesma.
Ainda que nunca tivesse lutado contra quaisquer lobos antes, o
instinto era inato para proteger sua própria matilha e, com uma percepção
estranha, se deu conta de que prontamente adotou Ian e seu bando.
Ela e Ian correram pelo jardim e acabaram na porta dos fundos da
cozinha. O rosto de uma mulher apareceu na janela da porta, com os olhos
arregalados, e ela rapidamente abriu a porta e os deixou entrar. Ela era
bonita, uma mulher mais alta, como os cinzentos eram, com o cabelo escuro
como os de Ian e olhos escuros curiosos. Seu olhar observador passou de Ian
para Julia.
A mulher tinha sua idade e sorriu para ela. Cumprimentou Ian e
então disse a Julia:
— Eu sou Heather MacNeill, prima do senhor das terras e você deve
ser a famosa autora. Tenho cada um de seus livros. Você faria a gentileza de
autografá-los para mim? Depois que você mudar de forma, é claro. — ela
sorriu novamente.
Maria irrompeu pela porta da cozinha, puxando-se para longe de um
Duncan de rosto avermelhado, as próprias bochechas dela coradas.
— Onde está... — ela parou, fixou o olhar em Julia e tomou uma
respiração irregular. — Oh, Julia, o lugar inteiro foi à loucura quando
Cearnach recebeu sua chamada. Ouvimos seus gritos e o cavalo arrancou
pelo pátio como um animal enlouquecido. E... E Harold despediu você.
Maria olhou para Duncan, abanando um dedo acusador para ele. —
Duncan disse a Harold que você invadiu a propriedade ontem à noite. E
Harold foi e lhe despediu.
O olhar de loba de Julia virou-se para considerar Duncan e sua
expressão, esperando que ele fosse mostrar um pouco de remorso.
Ela deveria ter sabido melhor. Em vez disso, ele cruzou os braços e
deu-lhe uma sugestão de um sorriso.
Esperava que Maria fosse ralhar com ela sobre desaparecer no meio
da noite e ser incapaz de conversar para tranquiliza-la por horas hoje, mas
Harold nem sabia o que estava fazendo no ―trabalho‖. Então, por que ele a
despediria?
— Guthrie esteve me observando durante toda a manhã depois de
Duncan o encarregar de me vigiar. E isso foi feito depois que Cearnach fez
Duncan responsável por mim. — neste comentário, Maria parecia mais do
que irritada. — Então, Harold veio falar comigo, você sabe, com aquela voz
alta e crescente que tem, que é definida em um só volume: alto, perguntando
onde você estava.
— Alguém na equipe do filme deve ter sabido que estava no castelo.
Duncan ouviu Harold me perguntando sobre você, porque ele falou tão alto.
Entretanto, pensando melhor sobre isso, provavelmente teria ouvido de
qualquer maneira por causa da sua audição de lobo.
Maria olhou com raiva para Duncan e, em seguida, voltou a falar
com Julia.
— Harold queria saber por que você estava saltitando com Lorde
MacNeill e recebendo tratamento especial quando tinha um trabalho a fazer.
Eu vacilei sobre qual era o seu trabalho e ele não ficou convencido. — Maria
cerrou os punhos e depois cruzou os braços. — Harold me pediu para
despedi-la e você está proibida de estar no castelo enquanto a filmagem
estiver acontecendo.
Surpreendida, Julia finalmente percebeu sobre o que era tudo isso.
Harold estava com ciúmes. Mas a parte sobre Harold bani-la do castelo a fez
sorrir. Ela podia imaginar exatamente o que o Lorde MacNeill teria a dizer
sobre isso. Julia olhou para Ian. Ele lhe deu um sorriso de lobo de volta.
— Harold é o diretor e dá as ordens. Está acostumado a ser tratado
como se fosse alguém importante. Assim, quando um de seus lacaios recebe
o tratamento real ao invés dele, ele quer saber o porque. — Maria respirou.
— Não que você seja um de seus lacaios, Julia. Juro que Duncan
propositadamente te dedurou para que fosse despedida.
Surpresa de que Duncan faria isso com ela, Julia olhou para ele para
ver sua reação. Duncan deu um sorriso sombrio e deu de ombros.
— Você invadiu, moça.
— Sim, mas você não tinha que dizer a Harold. — Maria disse, suas
palavras venenosas.
— Ele queria saber por que Julia não estava fazendo seu trabalho, ao
invés disso, estava montando um cavalo com Lorde MacNeill. Eu não disse
ao diretor que ela ficou no quarto do lorde pela maior parte do dia. —
Duncan sorriu ainda mais maldosamente, Julia pensou.
Julia endireitou a cauda, levantou a cabeça e olhou com raiva para
ele. Apenas suas roupas e personalidade escuras a alertaram que Duncan
poderia ser perigoso, mas não tinha pensado que teria raiva dela. Entretanto,
Duncan não estava lá para mimar as pessoas, também. Não gostava que Ian
estivesse prestando atenção nela? Ou estava apenas preocupado que Julia
fosse um problema de verdade e queria ferrar seu estratagema desonesto pela
raiz? Tinha que ser, se abriu a boca para acusá-la de algo tão baixo. Mesmo
que fosse tudo verdade.
Ian acariciou sua bochecha e depois a lambeu, como se lhe
assegurando que estava tudo bem. Mas não estava. Ela veio até aqui com a
equipe de filmagem. Não tinha um passaporte, dinheiro, identidade, qualquer
coisa. E pensou que ficaria com o resto da equipe na outra mansão. Agora,
isso não iria acontecer. O que significava que tinha que contar com a
generosidade de Ian, porque Duncan e Cearnach ainda pareciam estar vendo-
a com desaprovação.
Cearnach entrou na cozinha, carregando as roupas de Julia e Ian.
Aparentemente, ouvindo alguma coisa da conversa, ele deu a Duncan um
breve aceno e disse:
— Você fez o que era certo. — ele entregou o pacote de roupas para
Heather. — Leve isso para o quarto de Ian, está bem, moça?
Assim como os irmãos de Ian, Heather não parecia preocupada com a
bagunça em que Julia estava também. A prima de Ian balançou a cabeça e
saiu correndo da cozinha.
Cearnach soou sério, não irritado, mas bastante satisfeito com as
ações de seu irmão mais novo. Ela não estava feliz com Cearnach,
tampouco, depois que deixou transparecer a Ian que acreditava que era
amante de Sutherland.
Ian balançou a cabeça e cutucou Julia para se juntar a ele.
Mas ela fez uma pausa longa o suficiente para acariciar a perna e a
mão de sua amiga para lhe agradecer a sua preocupação. Maria abaixou-se
para lhe dar um abraço, apertando os braços profundamente no pescoço de
Julia e esfregando sua bochecha contra a dela.
— Você me matou de susto. Cearnach disse que eu tenho que morar
com Harold e sua gente ou no castelo com Lorde MacNeill e seu clã. Mas já
que Harold está com ciúmes que você esteja recebendo tratamento especial
enquanto Lorde MacNeill não quer deixá-lo adentrar no castelo, vou ficar
com a equipe de filmagem. Caso contrário, minha cabeça vai ser a próxima
na guilhotina. Você não me disse que o bastardo que nos ameaçou em Los
Angeles ligou ontem à noite, no entanto. Falaremos mais tarde, ok?
Julia acenou com a cabeça, precisando falar com Maria sobre o
chantagista, o contrato de noivado e tudo mais. Desta vez, ela trotou ao lado
de Ian e se dirigiram através do grande salão. Não podia acreditar que
Harold a tinha despedido! Julia nem sequer trabalhava para ele. E, em
seguida, dizer que foi banida do castelo e jardins?
Mas não podia acreditar que Duncan a tinha feito ser despedida.
Tinha certeza de que o fato de que estivesse ficando com o Lorde do castelo
não ajudou. Mas Duncan realmente a desprezava tanto assim? Realmente
gostava dos irmãos MacNeills, apesar disso. Ela adivinhou que era porque
tinham os melhores interesses de Ian no coração e não queriam vê-lo
magoado. Isso a fez perceber o quão especial eles eram. Para Ian, pelo
menos.
Ela olhou para Ian enquanto se dirigiam até as escadas, ombro a
ombro. Ele lambeu seu rosto. Graças a Deus, estavam perto do castelo. E se
os lobos os tivessem seguido até as cataratas e os atacado lá? Estariam tão
longe dali que o celular podia nem ter alcançado o pessoal de Ian.
Ela estremeceu. Em seguida, uma noção horrível lhe ocorreu. E se
Sutherland ou seus homens estiveram vigiando-os lá, enquanto Ian
acariciava-a ao êxtase?
Ela gemeu.
Heather sorriu no corredor, do lado de fora do quarto de Ian, e disse:
— Eu deixei suas roupas no armário.
Ian inclinou a cabeça para reconhecer o comentário dela, mas depois
apressou Julia. Tinha a sensação de que ele estava perturbado com ela,
provavelmente porque mudou de forma quando não queria que assim o
fizesse, na frente dos lobos de Sutherland.
E com certeza, tão logo estavam no quarto e Heather tinha fechado a
porta, Ian mudou de forma e, em toda a sua glória nua, franziu o cenho para
ela.
— Eu não queria você correndo o risco de mudar de forma e lutar
contra os lobos Sutherland.
Ela convocou o desejo de mudar de forma e, quando estava diante
dele, pronta para discordar de sua lógica, os olhos assimilaram
instantaneamente sua nudez e ele não disse nada por um momento. Em
seguida, suas mãos cobriram os ombros dela e Ian respirou fundo e
pressionou a testa levemente contra a sua.
— Eu poderia ter perdido você.
Julia pensou que ele soava diferente. Que o relacionamento deles
havia mudado. As mãos dela desceram pelas costas dele até a cintura e
ergueu o queixo para contestar a sua falta de lógica, mas Ian roçou seus
firmes lábios quentes contra os dela e disse:
— Você é minha.
Será que tinha perdido a declaração ―Eu te amo e quero você como
companheira para todo o sempre‖ em algum lugar, quando não estava
prestando atenção?
Ela franziu a testa um pouco.
— Como assim? Isso soa terrivelmente permanente. E se não houver
um acordo de noivado? E se tudo isso foi um ardil elaborado para eu
conhecê-lo e conquistar o seu interesse?
Seus olhos se arregalaram um pouco e ele pareceu surpreso ao ouvi-
la dizer isso.
— E foi?
Ela encolheu os ombros.
— Eu só tenho a palavra do meu avô e, normalmente, isso é o
suficiente, mas estou começando a me perguntar...
— Mas não é de seu feitio. — ele estava franzindo a testa agora.
— Não. Para onde vamos?
— Você sabe onde estamos indo. — disse Ian, acariciando seus
ombros com as pontas de seus polegares.
— Eu não quis dizer isso. Onde esta relação está indo?
— Eu já disse. Você é minha.
Julia passou um dedo pelo seu peito.
— Hmm, isso significa que você pretende me tomar como
companheira? — o que assumia que era onde isto estava levando.
— Aye.
— E quanto ao amor?
— Meus pais aprenderam a amar um ao outro no tempo devido.
— Ian, sou uma escritora de romances por uma razão. Não escrevo
sobre pessoas se apaixonando só porque amo romances. Escrevo porque
acredito nisso. Nunca iria me acasalar com alguém que não está apaixonado
por mim e eu por ele.
A boca dele se curvou um pouco.
— Estou falando sério sobre isso.
— Aye, moça. E eu lhe disse como funcionou para os meus pais. Se
foi bom o suficiente para eles, é bom o suficiente para mim.
Ela suspirou profundamente.
— Então você vai ter que encontrar outro alguém para ser sua
companheira, porque isto não é bom o suficiente para mim.
A carranca de Ian se aprofundou.
— Por que está sendo tão difícil sobre isso? Eu quero você e você me
quer. Não pode negar moça. Desde que nos conhecemos, mesmo antes disso,
você me quis.
— Para usar como uma descrição em meu romance.
Ele balançou a cabeça.
— Se eu estivesse em uma legião de guerreiros de kilt, você não iria
me escolher de todo o lote para ser o seu herói?
Ela sorriu e beijou-lhe o peito.
— Admito que se destaca entre os homens e eu só vejo você.
— Aye. Viu, isso é o certo.
— E eu? Se estivesse em um enorme evento social repleto de
senhoras elegantes, você teria sequer me notado?
— Aye, com respingos de lama e tudo, moça. Roupas molhadas
agarradas, mostrando todas as suas curvas femininas e as encaradas que você
me deu naquele primeiro dia no bar. Se houvesse mil mulheres, eu só teria
olhos para você.
Ela riu.
— Oh, sim, você e todos os outros homens no local. Eu parecia quase
nua.
Ele sorriu.
— Essa é a maneira que eu gosto de você.
Ela revirou os olhos.
Ian abaixou a cabeça para beijá-la. Ele foi tão gentil, como se Julia
fosse o objeto mais requintado e delicado de seu desejo e, se não tomasse
cuidado, iria perdê-la. No entanto, podia ver o lado mais forte da sua
natureza querendo assumir o controle, o lorde, o chefe do clã, o líder alfa da
matilha que teria que fazer amor com ela. Sentiu isso na maneira como suas
mãos se apertaram em seus ombros, a forma como os polegares continuaram
a acariciá-la, insistentes e possessivos.
Ela ficou atraída por sua força e orgulho, a maneira como cuidava de
seu povo, a maneira como cuidou dela.
Nesse instante, percebeu o quanto o queria, desejava pertencer a uma
matilha, fazer parte da família dele e a questão implorava para ser
respondida. Será que seu avô armou para ela? Será que sabia, o que não
tinha percebido por si mesma, que precisava de mais do que apenas ele e o
pai em sua vida, mais do que relacionamentos fugazes como ela teve com os
ex-namorados? Um lobo que poderia compartilhar seus sonhos e lhe oferecer
novos? Uma matilha e tudo o que vinha junto com ser parte de um todo? O
tempo para se reconectar com suas raízes escocesas?
As mãos de Ian foram por seus braços em um toque reconfortante,
seu olhar escureceu sobre o rosto dela, esperando por sua resposta. Se
dissesse mais uma vez que não podia comprometerse a ele, a menos que a
amasse, realmente dissesse que a amava, iria fugir dela?
Mas estava certa de que Ian a amava, mesmo que não conseguisse
dizer. Não podia suportar a ideia de voltar para casa sem ele. E a coisa
maravilhosa sobre a sua carreira escolhida? Poderia viver em qualquer lugar
e inventar mundos românticos onde quer que fizesse seu lar.
— Tudo bem. — Ela disse, querendo soar firme e resoluta, mas suas
palavras saíram sussurradas ao invés.
Um pequeno lampejo de sorriso iluminou a sombria expressão
preocupada de Ian. Então, inclinou sua boca sobre Julia e beijou-a,
acariciando seus lábios nos dela, apertando com mais força. Seus dedos
agarraram a cintura dele. Ian separou os lábios com a língua enquanto suas
mãos agarraram os braços logo acima do cotovelo.
Ele gemeu um sexy som rouco que a fez estremecer com a doce
percepção. Ian a queria desesperadamente, assim como o queria.
Suas mãos deslocaram até a cintura de Julia, descendo mais para
baixo de seus quadris, as pontas dos dedos tocando levemente suas nádegas.
Ela imitou suas ações e sua boca se curvou para cima contra a dela.
— Sereia. — Ele disse com a voz grossa.
Suas mãos cercaram a carne dela e apertaram e ela fez o mesmo com
ele, sentiu suas nádegas firmes, quando as delas eram muito mais suaves,
menos dura.
Ele gemeu com aprovação sensual e puxou-a para cima
apertadamente contra seu corpo rígido. Seus seios incharam, os mamilos
formigaram e suas paredes vaginais pulsavam com necessidade
terrivelmente desesperadora.
Mas não iria implorar para Ian fazê-la gozar, apesar de sentir que
morreria em doce antecipação. Não apressaria a união deles como estava
morrendo de vontade de fazer. Ela podia dizer pela expressão controlada e
rígida de Ian que ele tentava levar isso lento e fácil, mesmo que o matasse.
Ele cobriu suas nádegas e levantou-a até que envolveu suas pernas ao
redor de sua cintura, abrindo-se, antes que a levasse para a cama.
Em seguida, ela estava de costas e Ian entre suas pernas. Ele separou
suas pregas com os dedos exploradores, os polegares acariciando seu clitóris,
sua boca na dela novamente, crepitante, acariciando, insistente.
O sangue dela estava tão quente que se sentia febril, com o coração
batendo como se estivesse correndo com o lobo, seu corpo escorregadio,
molhado e dolorido pela satisfação.
Seus lábios possuíram-na completamente, os dele ligeiramente
inclinados para um melhor acesso, sua língua pressionando a boca dela,
doce, quente e erótica. Julia o provocou em retorno, as mãos passando de sua
cintura para a nuca, para dar bênçãos à sensação de suas bocas. Eles estavam
em sintonia. Como se tivessem sido feitos um para o outro, desde o início
dos tempos. Ian parecia certo.
Eles pareciam corretos. Isso parecia tão acertado.
Seus dedos ofereciam carícias perversamente prazerosas entre as
coxas dela e não podia adiar o clímax iminente. A sensação a ergueu mais e
mais a um ponto de não retorno, quando Ian meteu os dedos em sua fenda
inchada, e o clímax a atingiu com uma onda de bem-aventurança. Sem
esperar ela descer de volta para a Terra, ele incitou-a com sua grossa ereção
e cutucou sua entrada, empurrando levemente para dentro. Esticando-a,
permitiu-lhe acomodar seu tamanho até que estava profundamente
enraizado.
Então, começou a puxar lentamente, seu ardente olhar entrecerrado
sobre o dela, observando sua reação. Ela levantou os joelhos, permitindo-lhe
acesso mais profundo e ele aproveitou, penetrando, saqueando, dando prazer,
possuindo-a.
Julia se arqueou contra Ian, sentindo o calor, a pressão, a tensão e a
dureza, o amor, sim, mesmo que ele não pudesse dizer, o amor entre eles
crescia, expandindo e se transformando em algo decadente, delicioso e, até
mesmo, obediente.
Ela estremeceu enquanto outro orgasmo a atingia.
— Julia. — disse ele, sua voz um silvo, um gemido, uma declaração.
Ele baixou a cabeça e tomou sua boca, seu tenso corpo duro
afundando contra o dela, as mãos segurando seu rosto, os olhos fechados
enquanto a beijava profunda e completamente. Em seguida, levantou a boca
da dela e lhe deu um tipo peculiar de sorriso.
— Vou ter que aprender a cozinhar, se nós continuarmos perdendo os
horários regulares das refeições. A menos que você já saiba.
Ela levantou os braços e cruzou as mãos por baixo do pescoço.
— Ah! Agora a verdade vem à tona. Você me queria para o prazer da
tarde e para cozinhar suas refeições quando as perdesse.
Ele lhe deu um de seus sorrisos malandros e inclinou-se para sugar o
seio.
— Como é que eu pude ter encontrado uma loba tão sagaz bem no
meu próprio quintal?
— Eu sabia que havia condições implícitas. — mas, em seguida, ela
cedeu à sensação erótica de sua língua e hálito quente em seu mamilo e
gemeu. — Talvez, nós apenas tenhamos que morrer de fome, meu herói
highlander. — ela envolveu suas pernas ao redor dele, os calcanhares
batendo contra suas nádegas na junção de suas coxas.
E ele rosnou com um som que a fez pensar que tinha perdido a
batalha. Sexo ou comida?
Sexo, Julia supôs enquanto os dedos fizeram milagres em seu
mamilo e sua boca fez coisas maravilhosas oscilantes para o outro. Antes
que percebesse, Ian estava levando-a ao clímax novamente e, em seguida, de
alguma forma, ela conseguiu colocar uma perna entre as dele e descansar a
cabeça em seu peito, enquanto ele passava os braços em volta dela. E
dormiu. Brevemente.

Senhor, a moça o fez perder todo o autocontrole com a maneira como


seu envolvente corpo estava corado, com vontade e oferecido a ele como o
definitivo banquete sexual. Mesmo agora enquanto acordava de um longo
cochilo, a queria como se ela tivesse despertado alguma necessidade
primitiva nele que nunca tinha visto a luz do dia antes.
Tentou não pensar no que seus irmãos diriam enquanto perdia mais
uma refeição da matilha. A este ritmo, teria que contratar outra cozinheira
apenas para fornecer o serviço de quarto. Nos velhos tempos, o senhor de
terras poderia ter suas refeições servidas em seu quarto de dormir a qualquer
hora que quisesse. Mas nunca concordou em tornar o pessoal da cozinha
sobrecarregado dessa forma para satisfazer um capricho egoísta. Um único
horário para as refeições, três vezes ao dia. Para todos. Se alguém quisesse
um lanche em algum outro momento durante o dia, eram bem-vindos para
fazêlo por si mesmos.
Mas estava repensando sua posição. Se nada mais, não poderia ter
Julia perdendo todas as suas refeições. Ele suspirou. O problema era que a
espontaneidade era a metade do prazer de ter relações sexuais com ela e
tentar regulá-la de forma a coincidir com as refeições não ia acontecer.
Ele olhou para seu rosto adormecido, um brilho ainda lá pelos turnos
de fazer amor. Deveria deixá-la quieta, deixá-la dormir, mas ela era
simplesmente muito atraente. E muito disposta, seus desejos insaciáveis tão
convincentes como os dele.
Ian virou os quadris dela para longe dele, as costas ainda planas
contra o colchão, os seios expostos, o rosto virado para a mesma direção dos
quadris. Em seguida, empurrou a coxa mais para cima e tocou-lhe entre as
pernas por detrás. Ele pressionou para dentro de sua molhada boceta de seda
com os dedos e ela se mexeu, gemeu e subiu mais a perna, incitando-o a
continuar, sua boca curvando-se para cima, apesar de seus olhos
permaneceram fechados.
Ela estava cansada, mas disposta, dando-lhe permissão para
continuar, para tomar o prazer em suas dobras maduras novamente. Penetrou
sua apertada boceta escorregadia com sua ereção endurecida e bombeou
contra sua bunda nua e arredondada, a sensação de suas nádegas macias
batendo contra sua virilha apressando o seu desejo. Julia se mexeu com um
gemido de prazer enquanto suas mãos iam ao redor dela, reivindicando seu
sensual clitóris, acariciando e afagando. Os gemidos floresceram junto com
sua excitação, suas partes íntimas inchando e ficando cada vez mais
sensíveis ao toque. Pela maneira que se movia, sabia que a sensação
estimulante estava fazendo-a ansiar o êxtase e ela se esfregou contra ele,
querendo isso, querendo-o. Deus, Julia era bonita e sexy e dele.
— Ah, Ian! — Ela disse em um gemido sem fôlego.
E Ian gozou de novo, seu corpo ordenhando-o, quente e tremendo em
torno de sua excitação com um controle apertado. — Julia. — ele murmurou
em seu cabelo, a mão no seio, sentindo o pico inchado na palma da sua mão,
o mamilo ereto e de dar água na boca. Minha, Ian queria dizer, mas em vez
disso, juntou-a em seus braços e segurou firme, as palavras desnecessárias.
Mas, no fundo de sua mente, sabia que o problema era iminente.
Sutherland estava fadado a causar mais dificuldades em breve. E agora não
era só Ian e seu povo que ele estava mirando, mas também sua
companheira.
CAPÍTULO 19

Julia sorriu ao ver Ian dormindo profundamente ao seu lado na cama


e suspirou. Se não saísse da cama, estaria ali para sempre, ela percebeu,
entre a fome insaciável dele e dela mesma.
Tentando não sacudir o colchão, escorregou para fora e dirigiuse até
sua mala, pegou uma muda de roupa, em seguida, foi até o banheiro para
tomar banho e se vestir. Precisava falar com Maria sobre tudo o que tinha
acontecido e supôs que deveria dizer a ela que era agora uma loba acasalada,
se sua amiga já não tivesse adivinhado para onde isso esteve seguindo.
Felizmente, quando Julia saiu do banheiro, Ian ainda estava morto
para o mundo. Ela correu para fora do quarto antes que pudesse pegá-la,
impedi-la e fazê-la mudar de ideia. O que, dada à forma como se sentia em
relação a ele, não seria difícil de fazer.
Enquanto descia as escadas, podia ouvir o negócio ruidoso da equipe
de filmagem fazendo o que tinha que fazer no pátio interior, enquanto
cheirava o aroma delicioso de pão e salsichas cozidas flutuando pelo lugar.
Seu estômago resmungou. Ela iria procurar Maria, depois que pegasse algo
para comer. Se Ian a pegasse, não teria perspectiva de quando poderia comer
novamente.
Quando chegou ao grande salão, Cearnach estava sentado na sala de
estar, entalhando uma alça de punhal. Sua atenção rapidamente deslocou-se
para ela e Julia congelou. Não tinha medo dele, mas se sentiu como uma
intrusa, de repente. E o fato de pensar que foi amante de Sutherland ainda
pairava sobre ela, mesmo que tentasse dizer a si mesma que não importava.
Notou antes que ele estava sempre alegre, mas não agora. Quando o
viu esculpindo sua alça, parecia pensativo. Mas agora que estava olhando-a,
ele franziu a testa e, em seguida, olhou para além dela para as escadas. Ela
virou-se naquela direção, esperando que Ian já a tivesse alcançado, meio
imaginando que iria arrastá-la de volta para cima antes que tivesse a chance
de comer ou falar com Maria.
— Ele ainda está vivo, moça? — Cearnach perguntou.
Julia imaginou séculos antes, quando uma mulher que não queria se
casar com um homem horrível podia envenená-lo para se livrar do
incômodo. Cearnach esperou pela resposta dela, nenhum sorriso nos lábios.
Ele não podia estar falando sério.
Então seus lábios curvaram-se ligeiramente e ele acenou com a adaga
para ela.
— Meus irmãos dizem que eu tenho um estranho senso de humor, às
vezes. Não se importe comigo, moça. Com o tempo, você vai se acostumar
com isso.
Ele achava que seria um elemento permanente aqui? Ela ainda não
tinha discutido com Ian que precisava fazer conferências de escritores,
palestras, sessões de autógrafos. Na verdade, no próximo ano, planejava ter
uma grande sessão de autógrafos em Powell, Portland, no Oregon, para seu
novo livro, Domesticando o Lobo Highlander.
Então, sorriu. Talvez Ian fosse com ela e usasse um kilt. Um
musculoso guerreiro das Terras-Altas certamente impulsionaria as vendas, se
as mulheres comprando os livros não ficassem muito arrebatadas pelo
Highlander e esquecessem por que estavam ali.
Ela acenou para Cearnach, percebendo que não tinha respondido ao
seu comentário.
— Heather está assando pão, se estiver com fome. Você deve estar
pela forma como Ian a sequestrou em seu quarto e não lhe permitiu um
pouco de comida. Vá. Ele vai estar aqui assim que descobrir que você partiu
para longe dele.
— Por que você acha...
O sorriso de Cearnach alargou-se.
— Bem, moça, se eu fosse ele e você fosse minha, não estaria aqui
falando com o meu próximo irmão mais velho.
— Obrigada. — ela atravessou o grande salão, correndo para chegar
à cozinha, seu rosto parecendo como se tivesse estado sob o sol por muito
tempo.
Ele riu. Em seguida, o entalhar recomeçou.
Quando Julia chegou à cozinha, Heather sorriu para ela, colocando
um cacho escuro atrás de sua orelha e, em seguida, fez sinal para o fogão
onde salsicha, ovos e batatas estavam cozinhando em frigideiras.
— Senhorita Wildthorn, você quer algo para comer? Cearnach disse
que se, em algum momento, ficasse longe de Ian, era melhor nós a
alimentarmos ou você vai morrer por falta de comida.
Julia sorriu.
— Sim, qualquer coisa realmente. E, por favor, me chame de Julia.
— ela observou que uma pilha de livros dela estava posta em uma das
extremidades da mesa da cozinha.
Heather colocou um prato sobre a mesa cheio de ovos, batatas,
salsichas e uma fatia de pão.
— Coma o que quiser. Os cães vão devorar o que não gostar. — ela
apontou para os livros. — Trouxe para você autografar. — sorriu.
— Eu tenho que lhe dizer, todos os irmãos de Ian têm estado
sorrateiramente espiando o conteúdo. Flagrei Cearnach tentando esconder
um na frente de sua camisa. Disse a ele que é bem-vindo para ler os livros,
mas queria que você os autografasse primeiro.
— Cearnach?
— Oh, sim. Ele brincou, dizendo que estava apenas tentando me
irritar, mas o peguei compartilhando uma das cenas mais picantes de um dos
livros com Duncan, você sabe, aquela em que a heroína amarrou o herói com
um longo lenço de seda, e ambos estavam sorrindo. Eles podem dizer que
não estão interessados em romance, mas não me enganam.
Heather puxou uma cadeira ao lado de Julia e disse em voz baixa, de
modo que Cearnach não pudesse ouvir:
— Eles têm uma seleção para figurantes. Já que não está trabalhando
com a equipe de filmagem, você gostaria de se juntar a mim para se
candidatar ao trabalho? Eles precisam de seis donzelas. — ela cruzou os
braços e suspirou profundamente. — Ian provavelmente diria que não, mas
se ambas forem, talvez não se importe.
Julia terminou a fatia de pão.
— Tudo está delicioso. Muito obrigado, Heather.
— Oh, o prazer é meu. Então... O que você acha? Quer experimentar
uma participação?
Julia não achava que Ian gostaria que ela tentasse um papel,
tampouco, mas, só porque acasalou com ele, não queria dizer que estava
desistindo de seus direitos como indivíduo. Isso significava, porém, que era
melhor se apressar. Julia rapidamente terminou a refeição, embora tivesse
preferido saborear tudo mais devagar. Então, levantou-se da mesa, abriu um
largo sorriso para Heather e disse:
— Vamos nos apressar antes que Ian acorde e saiba disso.
Posteriormente, não teria qualquer escrúpulo em lhe contar como foi.
Só não queria ser interrompida no início, imaginando que poderia desabar
sob a pressão. Não que ela fosse do tipo de desistir, mas imaginou que Ian
poderia ser bastante persuasivo.
Heather levantou-se da mesa e dirigiu-se para a porta dos jardins.
— Por aqui. — ela sussurrou de forma conspiratória. Em voz alta,
disse:
— Quer ver os jardins, Julia?
— Oh, sim, eu adoraria. — disse Julia, atuando junto.
— Se Cearnach descobrir o que pretendemos fazer... — Heather
sussurrou: — ele vai tentar nos parar tão logo Ian tenha tempo para chegar
aqui e nos fazer mudar de ideia. Nenhum dos irmãos MacNeill nem mesmo
quer me deixar sair, enquanto todos os americanos estão aqui. Mas já que
estou em sua companhia, devo estar segura.
Segura. Certo. Assim como Maria esteve, com Julia, no carro. E se
Heather estivesse na floresta quando os lobos confrontaram Ian e ela, teria
estado num grande problema. Mas, dentro dos limites dos terrenos do
castelo, Heather ficaria segura.
Não demorou muito para Julia e Heather se encontrarem com o
homem responsável pela contratação e assegurar seus pequenos papéis.
Heather, porque era escocesa e parecia perfeita para o papel e Julia porque
parecia escocesa e, felizmente, não tinha que falar, o que teria revelado que
era tão americana quanto manteiga de amendoim.
— Está tudo bem se você voltar ao castelo sozinha? — Julia
perguntou, não querendo que Heather entrasse em apuros por isso também.
— Eu preciso falar com a minha amiga Maria sobre algumas coisas.
— Oh, sim. Preciso olhar alguns vestidos, mas tenho a coisa perfeita
para usar que eu vestia nos velhos tempos, muito mais autêntica do que os
figurinos de Hollywood. — Heather estava tão animada com a perspectiva
de ter um papel de figurante no filme que o sentimento era contagioso.
Julia só esperava que Ian não dissesse não para o negócio, no caso de
Heather. No seu, era melhor que não.
— Heather! — Guthrie chamou, seguindo na direção delas.
Julia virou, seu coração batendo. Mas Ian não estava com ele. O
olhar sombrio de Guthrie a avisou que não estava feliz com qualquer uma
delas.
Heather cruzou os braços.
— Oh, bem. Eu fui descoberta. Tenho uma escolta para voltar para a
fortaleza, ao que parece.
Guthrie deu a Julia um olhar severo. Sim, ela era a instigadora por
colocar Heather em apuros. Ergueu as sobrancelhas para ele.
Guthrie disse a Heather:
— Você não deveria estar aqui. Não foi isso que Ian disse? O que
aconteceu com Cearnach? Ele deveria estar vigiando você e esperando Ian
para... — Guthrie olhou para Julia. — Onde está Ian?
Como se ela e Ian estivessem unidos pelo quadril agora.
— Eu imagino que ainda esteja dormindo. Ou tomando banho ou
comendo. — ela encolheu os ombros.
— Não sei a programação dele. — pensou em dizer a Guthrie que
não o envenenou, tampouco, mas receava que isso pudesse ser entendido
errado, por isso, apertou os lábios com força.
— Onde você está indo? — Guthrie perguntou a ela.
— Falar com Maria. Está tudo bem com você? — Julia perguntou,
com sua voz irritada.
Guthrie bufou.
— Ian vai ficar extremamente aborrecido quando descobrir que
foram contratados como extras.
— Quem? — as mulheres perguntaram ao mesmo tempo e Julia se
perguntou como ele tinha sabido tão rapidamente que ela e Heather iriam
estar no filme.
— Sutherland e vários de seus homens.
Quando Julia encontrou Maria, ela estava parecendo triste enquanto
dava ordens para alguém na equipe, até que a viu se aproximando e
rapidamente dispensou o homem com quem estava falando.
— Oh, Julia, o que está acontecendo com você e Lorde MacNeill? Eu
imaginei que eles tivessem trancado você na masmorra ou algo assim. —
Maria levantou as sobrancelhas. — Na verdade, no quarto do lorde. O que
está acontecendo? Algo que eu deveria saber que ainda não adivinhei?
— Contei tudo a Ian, meu nome, sobre o nicho secreto, o contrato de
noivado.
Espere um minuto. Contrato de noivado?
— Eu liguei para o meu avô na noite passada e não tive tempo de
mencionar isso para você...
— Porque você estava invadindo o castelo?
— Encontrei os túneis secretos. E fui pega. Um dos primos dele, um
fantasma chamado Flynn, me trancou no quarto da senhora, adjacente ao de
Ian.
— Oh meu Deus, um fantasma honesto e bondoso?
— Sim.
— Eu quero conhecer esse fantasma. Mas volte um pouco. Então,
você estava trancada no quarto do lorde e...?
— As coisas ficaram um pouco fora de mão. — Julia sorriu, não a
ponto de mencionar o que tinha acontecido nas cataratas mais cedo.
— Você se acasalou.
— Não naquela hora, mas agora, sim.
Maria deixou escapar uma respiração forte.
— Ok, eu percebi que era para onde tudo isso estava indo, tão logo
você se apaixonou pela foto dele e, depois, quando ele a viu e não conseguiu
tirar os olhos de você no bar.
— Eu estava quase nua.
— Sim, bem, quando a viu nos terrenos do castelo e quis falar com
você pessoalmente e, em seguida, você não voltou para casa por tanto
tempo, eu soube que era isso aí. Então, qual é o negócio sobre o contrato
matrimonial?
— De acordo com o meu avô, o contrato diz que eu estou prometida
ao senhor das terras do Castelo Argent.
— Oh meu Deus, Julia, você não pode estar falando sério.
— Eu estou. Então, Ian vai ter todo mundo procurando a caixa, em
seguida, assim que a encontrarmos, vamos destruir o documento.
— O quê? Você já está acasalada a ele.
Julia deu de ombros.
— Nós não precisamos de qualquer acordo. Não quando somos o que
somos.
— Bem, eu odeio ser a portadora de más notícias, mas Harold ainda
está bravo por você receber todos esses privilégios especiais.
— Ótimo. Agora, o que mais?
— Ele quer que você pague a sua viagem para cá e pela acomodação
na casa de campo. Não podemos sair do contrato e do lugar, ainda que eu vá
ficar sozinha lá agora. Tenho sorte que ele não me pediu isso também. Não
tenho dinheiro vindo da venda de livros, como você.
— Meu cartão de crédito está estourado.
— Como?
Julia deixou escapar a respiração num acesso de raiva.
Trevor me convenceu a investir em vários empreendimentos
que acabaram sendo muito arriscados. Ele precisava de um pouco de fluxo
de caixa e prometeu me pagar de volta com juros.
Os olhos de Maria se estreitaram.
— Você não me disse tudo isso antes, Julia. Por que manter em
segredo?
— Você teria me dito para não fazer isso.
— Você está tão certa. Mas eu realmente sinto muito. E quanto ao
seu pai ou avô?
— Estou por conta própria. Ambos me aconselharam sobre dar a
Trevor qualquer dinheiro. Disseram-me que, se os palpites dele não dessem
certo, era minha perda e que não iriam me socorrer. Eu não os culpo,
realmente. O erro foi meu. Mas gostava muito do cara.
— É, até que ele pegou o que quis do negócio e te deixou sem um
tostão. Sem promessas para pagar a você, certo?
Julia balançou a cabeça.
— Ele simplesmente desocupou seu apartamento sem dizer nada.
Durante de dois meses, pensei que entraria em contato comigo, que se sentia
mal por ter perdido o meu dinheiro, mas que, assim que estivesse
trabalhando em um emprego estável novamente, fosse me chamar. Eu não
esperava que me pagasse imediatamente. Acho que uma parte de mim
acreditava que jamais me pagaria de volta, mas não porque não quisesse. Só
porque não podia se dar ao luxo.
— Mas então... Bem, percebi que ele não ligaria e não tinha intenção
de algum dia me pagar de volta. Trevor vendeu seus investimentos com
prejuízo, mas ainda recebeu algum dinheiro com eles e, mesmo que não
estivesse ganhando muito, poderia ter me enviado algo como um pagamento
simbólico.
— Ele também poderia ter avisado a você sobre aonde planejava ir
antes mesmo de ir embora.
— Sim, você está certa. Não era como se eu fosse atrás dele para tirar
seu dinheiro.
— Você não devia ter se envolvido com um ser humano.
— Ele gostava do que eu escrevia. Não posso dizer o mesmo sobre
os caras lobos que conheci. Todavia, pelo que a prima deles, Heather, disse,
os irmãos de Ian meio que gostaram do que escrevi. — No entanto, seu
companheiro gostaria? Julia deu de ombros.
— E quanto ao lorde MacNeill? Ele saldaria a sua dívida?
— Tenho certeza de que eles já têm dívidas até o teto. E é por isso
que concordaram em filmar aqui. Não pensaria em passar meus débitos para
os MacNeill. Talvez o que eu ganhe em ser uma donzela no filme vá pagar o
meu vôo e hospedagem. Não receberei royalties pelos livros por vários
meses.
A boca de Maria se abriu.
— Lorde MacNeill concordou em permitir que você tenha um papel
no filme?
Julia riu.
— Você está brincando? Mas não é ele quem decide.
— Bem, nós temos um probleminha.
E qual é?
— Guthrie me disse que Basil Sutherland e seus homens são
inimigos jurados deles e que vão lutar em um par de cenas de batalha. Ele
também disse que seus homens são os que atacaram Lorde MacNeill e você
na floresta. A situação pode tornar-se perigosa.
— Basil Sutherland é a pessoa que ligou e ameaçou você em Los
Angeles e chantageou o meu avô e pai sobre o acordo de noivado. Então, ele
realmente não pode ser confiável. Mas preciso do dinheiro. — disse Julia. —
Não só isso, eu quero atuar. Participar vai me ajudar a escrever o livro. —
Ela apontou para o trailer onde devia selecionar um vestido para o filme. —
Tenho que pegar uma fantasia. Falaremos mais tarde.
— Melhor se apressar. Assim que Guthrie entrar no castelo, você
sabe que ele avisará o lorde que sua companheira está aqui fora. E depois?
Você vai estar de volta ao dormitório dele. — Maria sorriu. — Não que este
seja um mau lugar para se estar, eu tenho certeza.
Julia gemeu e, em seguida, virou-se e correu para o trailer, animada
com esta nova empreitada para qual estava destinada e não a ponto de ser
contrariada, por Ian ou seu inimigo.

Descobrindo que Julia sumiu de sua cama, Ian suspirou, imaginando


que ela teve que fugir dele apenas para que pudesse comer uma refeição e
fazer uma pausa. Ele tomou um banho, vestiuse e desceu as escadas.
— Ian, nós temos um problema. — Guthrie disse, espreitando para
dentro do grande salão. — Cearnach me pediu para lhe trazer a notícia,
porque ele está lidando com outra questão no momento.
— Qual é o problema agora?
— Você disse para nos certificarmos que nenhuma das pessoas de
Basil Sutherland fosse contratada como extra. Mas, de alguma forma, eles
conseguiram ser contratados. Maria disse que precisavam de mais figurantes.
Basil e trinta dos seus homens apareceram às portas, hoje, prontos para
travar uma batalha séria.
Ian desceu as escadas e se dirigiu para a porta de entrada, mas fez
uma pausa para ver um retrato no chão, encostado contra a parede, que
parecia como se fosse uma antiga pintura a óleo de Julia.
Guthrie foi atrás dele.
— A pintura é do quarto da torre. Boa semelhança, não é?
Ian balançou a cabeça.
— Se eu tivesse visto isso antes, teria realmente me perguntado o que
estava acontecendo. Ela parece uma reencarnação da mulher.
— ele andou novamente em direção à porta.
— Maria me mostrou o contrato com o qual você concordou. Eles
podem contratar quem quer que precisem, a fim de ter atores suficientes para
as filmagens.
Eles não podem criar digitalmente as massas ou o que seja
que fazem? — Ian rosnou. — Basil e seus homens não vão lutar com os
nossos.
— O diretor está em êxtase. Todos eles têm suas próprias fantasias e
suas vestes são velhas o suficiente para parecerem autênticas. Usaram os
trajes hoje para convencer o funcionário, que estava contratando os
figurantes, a escolhê-los.
— Elas são autênticas.
— Aye. Mas isso economiza o dinheiro do diretor. Ele não nos quer
usando nossas próprias espadas, no entanto. De aparência muito letal.
— Isso é porque elas são letais.
— Sim, e ele disse que elas são tão pesadas para empunhar que
vamos usar os leves adereços do filme.
Ian lançou um olhar sombrio a Guthrie.
Guthrie deu de ombros.
— Ele gostou que parecessem autênticas. Mas está preocupado com
machucados.
— Se os MacNeills combaterão os homens de Sutherland, eles
usarão suas próprias espadas, não vamos entrar na batalha com os
brinquedos.
Guthrie sorriu um pouco.
— Você vai se juntar a nós? — ele entregou-lhe alguns papéis.
Ian leu o roteiro de um par de cenas e encontrou um contrato para
assinar para participar do filme e grunhiu.
— Não sei como você pôde nos meter nesta confusão, mas que tipo
de chefe de clã eu seria se não liderasse o nosso povo contra os Sutherlands?
— Estou lutando também. — Guthrie disse com orgulho.
Ian deu-lhe um aceno rígido.
— O diretor disse que, se você aparecesse no filme, ele lhe daria
alguns papéis especiais. Mas há outra coisa...
A maneira como Guthrie disse as palavras fez Ian dar a ele um olhar
desconfiado enquanto saíam da fortaleza e andavam até o outro lado do pátio
interior.
— O que mais está errado agora?
Guthrie pigarreou.
— Como Julia foi demitida como assistente de Maria...
— Que ela não era, de qualquer maneira. — Ian o lembrou.
— Sim, bem, o diretor tinha necessidade de seis donzelas e ela se
inscreveu para...
Ian parou abruptamente e encarou Guthrie.
— Julia não será uma delas.
— Ela e Heather...
— Nem Heather, tampouco.
Heather vai obedecê-lo, já que você é o chefe do clã, mas eu
duvido que Julia vá.
— Onde ela está?
— Julia foi falar com Maria.
Duncan correu para cumprimentá-los e fez sinal para um trailer de
metal.
— Julia está naquela engenhoca de trocar de roupa, pelo que me foi
dito.
— Aye. — Ian se afastou para falar com Maria, que estava ocupada
conversando com alguém da equipe de filmagem. Assim que o viu dirigir-se
até ela, cortou seu diálogo com o outro homem, dispensou-o, encarou Ian e
estampou no rosto um belo sorriso.
— Basil Sutherland e seus homens não farão parte desta cena de luta
ou qualquer outra. — Ian disse, aproximando-se dela.
— Mas seu acordo diz claramente que podemos contratá-los. Sinto
muito. Tudo está juridicamente vinculado.
— Você não sente muito. Mas se tivermos um monte de homens
mortos...
O sorriso dela desapareceu. Em voz baixa, disse:
— Eu entendo a sua preocupação, Lorde MacNeill. Mas minhas
mãos estão atadas sobre esta questão. Se eu soubesse de antemão, poderia ter
sido capaz de parar Roger de contratar os homens. Mas está feito. A menos
que possamos provar factualmente que eles não devem estar no set de
filmagem: registro criminal, embriaguez, recusa de ouvir a direção, algo que
nos permita liberá-los do contrato, não podemos fazer nada sobre isso. E,
além do mais, é por isso que todo mundo tem que usar espada de mentira.
Ian balançou a cabeça.
— Onde está Harold Washburn?
— Ele está dirigindo uma cena na floresta. Não pode ser
interrompido. Guthrie lhe disse que quer que você faça alguns papeis
especiais no filme?
— Aye. — e Ian faria, apenas para garantir que os homens de
Sutherland fossem mantidos em seu lugar.
Que os santos nos preservem. Nunca planejou mostrar seu rosto no
cinema. Mas, pensando bem, talvez ninguém fosse assistir a maldita coisa no
Reino Unido.
— Eu não quero Julia no filme.
— Ela está selecionando um vestido. — Maria acenou para o trailer.
— Nem ela nem Heather participarão das filmagens.
— Como Heather é sua prima e faz parte do seu clã, acho que a
pobre mulher não tem qualquer opção.
Ian levantou uma sobrancelha ao ouvir a escolha de palavras de
Maria.
— Mas Julia já me disse que quer fazer parte disso. Para pesquisa.
— Para uma história de cowboy, passada no Texas?
Os olhos de Maria se arregalaram.
— O quê? Ela está escrevendo uma história escocesa de lobisomem.
— Ela já não está mais escrevendo uma história sobre Highlanders.
— pelo menos essa foi a história que contou, mas realmente não acreditava
nisso.
— Oh. Bem, Julia nunca me disse nada sobre isso. Os escritores
mudam de ideia. Ela está lá escolhendo um vestido. Mas, Lorde MacNeill, se
Julia quer participar, deixe-a. Você sabe que a moça não irá apreciar se fizer
uma grande cena sobre isso.
Sem comentar, afastou-se para o trailer com a intenção de mudar a
ideia da moça. Agora, com Basil Sutherland e seus homens envolvidos, não
queria que nenhum deles se aproximasse de sua companheira. Ian abriu uma
porta e entrou. Duas mulheres estavam com vestidos longos enquanto Julia
vestia uma tanga azul clara e um sutiã combinando, de costas para ele.
— Aqui. — uma mulher disse, entregando uma manta de tartan
predominantemente verde e vermelha com uma faixa amarela para Julia. —
Coloque isso.
Inferno, qualquer um poderia entrar no trailer e vê-la seminua assim.
Ele olhou para as cores do tecido. Cameron. Ela não iria usar aquele xadrez,
tampouco. Não que tivesse alguma coisa contra o clã Cameron, apenas que
aquele não era o tartan dele.
A mulher passou por Julia e disse:
— Senhor, você não deveria estar aqui. Você precisa sair neste
instante.
Julia virou-se, a saia puxada contra o peito quando viu Ian. Ela
arregalou os olhos, mas, em seguida, seus lábios se curvaram um pouco.
Descarada sedutora.
O olhar dele mudou-se para o loiro magricela que estava arrumando
o cabelo de uma das mulheres. Então, por que este homem estava no mesmo
cômodo com mulheres meio vestidas? Pelo menos com uma mulher meio
vestida. A mulher meio vestida dele.
— Fora. — Ian rosnou. Ele apontou para o homem. Nenhum macho
humano veria sua companheira em tal estado de nudez.
O homem olhou Ian de cima a baixo e, ao invés, sorriu
apreciativamente e disse:
— Corpo legal. — então, ele se apressou a sair com um balanço
exagerado de seus quadris.
— O resto de vocês, fora. — Ian ordenou.
A mulher, que tinha inicialmente dito a Ian para ir embora, disse:
— Quem você pensa que é dando ordem a todos?
Mas as outras duas vestindo saias longas pegaram os sapatos,
sorriram para Ian e correram para fora.
— Ele é Lorde Ian MacNeill que é dono do castelo e das terras que
estamos usando para a filmagem. — Julia disse, franzindo o cenho para ele.
Tenho certeza que só quer me desejar sorte em particular.
— Bem, faça isso rápido. — a mulher ralhou. — Nós temos que nos
preparar para filmar esta cena em breve. E o diretor não vai ficar satisfeito
com o atraso. — Ela saiu e bateu a porta.
Ian fechou a distância entre eles, puxou o tartan dos braços dela e
jogou-o sobre uma mesa.
— Eu não quero que você...
Julia colocou os braços ao redor de seu pescoço e beijou sua boca,
silenciando sua objeção.
— Ian, não tenho dinheiro, depois de perder a minha carteira de
identidade, bolsa e tudo no incêndio do carro. E eu quero fazer isso.
— Para escrever o seu livro de cowboy? — ele perguntou, os dedos
acariciando o traseiro nu dela.
Ela sorriu.
— Eu mudei de ideia. — ela baixou suas mãos até sua bunda e
apertou. — Você não usou nenhuma vez o seu kilt. E se estiver no filme,
poderia vê-lo de perto e privado.
— Eu vou lutar um par de batalhas para garantir que os Sutherlands
não firam os meus homens. Nenhuma mulher é permitida na cena. Na
melhor das hipóteses... — ele disse, envolvendo os braços ao redor de suas
costas e segurando-a com força contra seu corpo.
— Você só me verá de longe de qualquer maneira.
Ela sorriu.
— Se você está aceitando o trabalho, uma das donzelas tem a chance
de beijá-lo antes que vá para a batalha em uma das cenas, o homem que me
contratou me contou, e novamente no fim da tomada. O diretor disse que,
normalmente, reservaria tal cena para a estrela do filme, mas já que você é o
senhor de terras, se estiver disposto a participar, ele pensou que poderia
ajudar nas vendas. Embora, se não fizer um bom trabalho nesta, a sequência
pode ser cortada. E de jeito nenhum eu vou permitir que qualquer outra
mulher beije você. Além do mais, podemos fazer com que pareça genuíno.
— Ah, Julia, nós usaremos espadas reais e meu inimigo mais
ferrenho e seus parentes estarão na batalha.
Ela endureceu.
— Eu sei. Maria tentou detê-los depois que Guthrie lhe contou a
situação, mas o contrato diz claramente que você não tem subsídios para
reclamar. Quanto ao outro assunto, por favor, não diga a Heather que não
pode participar. Heather deseja tanto isso. Diz que nunca acontece nada aqui
e isto é o mais divertido e emocionante que presenciou em um longo tempo.
Foi por isso que frequentou a Universidade no Texas. Ela vai se lembrar
disso para sempre.
— Assim como você, não quero que ela entre em quaisquer
confrontos com Basil ou seus homens.
— Ela só tem uma participação gritando e correndo para longe da
batalha. Nada mais. Seus irmãos podem se certificar de que nenhum dos
homens de Basil chegue perto dela. Depois, estará no castelo e segura.
E quem vai proteger você?
— Você, é claro.
Fora do trailer, ele ouviu Guthrie falando.
— Merda, quem vai dizer a Ian sobre o treinamento?
Duncan respondeu:
— Cearnach, você é o próximo irmão mais velho. É o seu trabalho.
Ian franziu a testa e entregou a Julia suas roupas.
— Vista-se. Nós vamos encontrar outra coisa para você usar.
Tão logo Julia estava vestindo sua calça jeans e suéter, Ian abriu a
porta e saiu para ver seus três irmãos esperando por ele, de braços cruzados,
sobrancelhas levantadas.
— Nós temos treinamento de esgrima agendado para esta tarde. —
Cearnach disse. — Você poderia nos liderar na prática? — ele sorriu.
CAPÍTULO 20
No final da tarde, o pátio exterior estava silencioso enquanto um
instrutor de luta se preparava para ensinar algumas técnicas de esgrima aos
figurantes. Com os braços cruzados sobre o peito, Ian estava com seus
irmãos e o resto dos homens de sua matilha que planejavam participar,
empertigado e orgulhoso, seu cabelo quase negro, o rosto tão sombrio
quanto o de Basil Sutherland que estava do lado oposto com seus homens.
Todo mundo parecia um pouco entretido enquanto observava o instrutor se
preparar para falar.
Embora Ian não quisesse que Julia estivesse aqui quando Basil
também estivesse, ela estava assistindo da passarela da muralha, bloco de
notas na mão e caneta pronta, rabiscando anotações. Basil olhou para cima
para ver o que havia captado seu interesse, observou Julia por mais tempo
que o necessário e, em seguida, lançou a Ian um sorriso irônico.
Maldito o homem.
O diretor de luta mostrou-lhes a posição a tomar e as investidas que
poderiam fazer e depois teve outro homem na equipe para demonstrar com
ele. Cortar, investir, bloquear, defender. Clang, Clang, Clang.
Ninguém vai ser um especialista, é claro. Mas vocês só
precisam saber como coreografar as cenas de luta. Sem floreios com a
espada. Eles são um desperdício de energia e podem deixá-los mortos em
combate. — Depois de mostrar vários movimentos e formas para contra-
atacá-los, como receber um soco e cair corretamente e como rolar e chutar
quando a espada não fosse o suficiente, o instrutor finalmente perguntou:
— Quem quer demonstrar comigo agora?
Todo mundo, até mesmo Basil e seus homens, olharam para
Ian.
O instrutor sorriu, abaixou a cabeça um pouco e convidou Ian com
um:
— Meu lorde?
O diretor estava observando-o, julgando-o, tinha certeza, para ver se
ele poderia fazer o papel bem o bastante.
Ian se aproximou, sacou a espada de detrás de suas costas e tomou
uma posição de batalha. O diretor de luta olhou para a espada.
— É de verdade. — olhou para o mestre de armas. — Consiga outra
espada para ele.
Ian balançou a cabeça.
— Eu vou lutar com a minha, se é tudo a mesma coisa para você.
Tão bom quanto é, você não terá com que se preocupar.
Algumas risadinhas irromperam de seus homens.
O mestre de armas se aproximou com uma espada na mão, ignorando
o comentário dele, enquanto o diretor de luta inclinava a cabeça
ligeiramente.
— Você está certo. — ele fez um gesto para o mestre de armas de
que a espada cenográfica não seria necessária. — Vamos começar. Você
primeiro. — houve uma pausa significativa e, em seguida, acrescentou:
— Meu senhor.
Ian só queria mostrar que ele e seus homens não precisam aprender
quaisquer técnicas de esgrima e eliminar mais quaisquer sessões de
treinamento que, de outra forma, teriam que sofrer. Eles treinavam o tempo
todo por conta própria e não precisavam da supervisão de um instrutor de
luta que nunca lutou uma batalha real. Não como seus homens e os de Basil
lutaram.
Todo mundo estava quieto quando Ian inclinou a cabeça um pouco
para o diretor de luta e, em seguida, moveu-se para frente com tal ferocidade
que o homem foi pego de surpresa. Com os olhos arregalados, sacudiu a
espada em torno para bloquear a de Ian e recuou vários passos enquanto Ian
continuava a avançar sobre ele.
Ele pensava que fosse molenga porque era um lorde? Ou que Ian se
achava demais porque era o proprietário de terras, que o seu próprio povo
iria reverenciá-lo mesmo que realmente não soubesse como lutar e o
instrutor iria mostrar o que um verdadeiro lutador poderia fazer?
Sua boca curvou-se um pouquinho. Não sofreria a arrogância do
homem, especialmente quando o filhotinho superconfiante pensava que ele
era aquele sendo arrogante.
Ele ouviu Cearnach dizer baixinho aos seus irmãos:
— Ian leva jeito, irmãos? O diretor de luta pode tomar algumas
lições de nosso irmão mais velho. Deixe ele aprender com um mestre.
Não que Ian sempre estivesse por cima em qualquer situação. Com
Basil e alguns de seus homens, Ian realmente tinha uma luta em suas mãos.
Mas, com o instrutor, sim, ele era bom, mas não tinha os séculos de
experiência em combate real. E pela aparência dele, nunca se deparou com
um homem que sabia o que estava fazendo quando empunhando uma
espada.
Não demorou muito para seu oponente levantar uma mão em trégua.
O coração estava pulsando e sua respiração era difícil. Ele estava
extremamente agitado.
— Eu vejo que você sabe o que está fazendo com uma espada.
— para o resto dos homens reunidos, disse:
— Vamos fazer pares e praticar.
Os irmãos de Ian lhe deram um tapa nas costas e, em seguida,
fizeram pares com seu próprio povo enquanto os homens de Basil faziam o
mesmo.
O diretor se aproximou de Ian enquanto ele estava de lado, olhando
os homens de Basil e não confiando neles.
Boa exibição. — disse Harold. — Eu nunca vi Barker ser
pego de surpresa assim. O homem estava realmente suando. — ele viu o
resto dos homens e balançou a cabeça.
— Inferno, parece-me que Barker pode ir para casa agora. Já temos
um elenco de guerreiros. Bom show.
— Sem mais prática, então? — Ian perguntou, o olhar pousando
sobre Julia enquanto ela febrilmente tomava notas. O vento despenteava seu
cabelo de fogo sobre os ombros e o sol tentava afastar as nuvens. Com os
raios dourados escorrendo sobre as paredes de pedra e de Julia, ela parecia
uma cativante fada em pé na muralha, que precisava de uma sessão de sexo,
e estava pronto para devolvê-la ao seu quarto de uma vez.
Harold disse:
— Perda de tempo ter mais quaisquer sessões de prática de espada.
O sol brilhou com mais ousadia, como uma brilhante esfera dourada
vindo reivindicar o castelo, e todos pararam o que estavam fazendo para
olhar para cima.
Harold olhou para o céu.
Em seguida, vários dos homens embainharam suas espadas e
começaram a retirar suas camisas.
— O que...? — Harold falou.
— Sem mais prática. — Ian se afastou enquanto seus homens
exibiam seus peitorais ao sol.
Julia desceu correndo os degraus da torre para encontra-lo no pátio.
— O que está acontecendo?
— Adoração ao sol. Esta pode ser a única chance que eles têm.
E como nós usamos a nossa quota de dias de sol por ano, é só isso.
Ela riu.
— E quanto a você? — enfiou a mão dentro da camisa dele e correu
os dedos sobre seu peito.
Deus, o toque dela era como o paraíso. Ele passou o braço em volta
da sua cintura e se dirigiu ao pátio interior.
— Eu prefiro te adorar.
Ela sorriu.
— Você diz as coisas mais agradáveis e, eu tenho que lhe dizer, você
foi brilhante quando lutou contra o professor. — disse com um suspiro.
— Aye.
— E você é sempre tão humilde sobre isso.
Ele sorriu para ela.
— Eu acho que você envergonhou o instrutor, apesar de tudo.
— Se ele não pode lidar com isso, não deveria estar ensinando luta
de espadas para guerreiros endurecidos pela batalha. — ele olhou para seu
diário.
Conseguiu algumas boas notas para seus cowboys do Texas?
Eu pensei que eles só usavam armas.
— Eu poderia mudar de ideia novamente.
Ele pegou-a nos braços e apertou o passo.
— Eu vou mudar isso para você.
O sorriso que ela lhe deu disse que estava pronta.
— Tenho algo para lhe mostrar. — Ian disse. Suas sobrancelhas
levantadas o fizeram pensar que acreditava que queria mostrar-lhe algo
impertinente. Ele riu.
Ela corou lindamente e ele beijou seu nariz.
— Eu adoraria saber o que você está pensando.
Mas quando a levou para dentro do castelo, carregou-a para onde o
retrato estava ao lado da parede. Poderia jurar que era um retrato de Julia,
usando um vestido de seda de uma época anterior, uma capa com o tartan
dos MacPhersons envolvida em torno dela. O retrato tinha que ter sido
pintado muito antes de sua companheira nascer. Porém ela se parecia com
Julia, com os mesmos fascinantes olhos verdes, a mesma pele de marfim e o
mesmo cabelo ruivo.
Em silêncio, Julia olhou para o retrato. Em seguida, sussurrou: —
Quem é ela?
— Fiona MacPherson. — tia Agnes disse, vindo da direção da
cozinha, seus olhos cinzentos se movendo do retrato para Julia e depois para
Ian.
Viu por que eu sabia que era uma MacPherson? Ela se
parece com Fiona.
Ele colocou Julia no chão, mas seus joelhos cederam um pouco e ele
segurou o braço dela.
— Esta é a minha Tia Agnes.
— A historiadora da família. — disse Julia. — Estou contente em
conhecê-la.
— Hmm, você está, não é? O que eu poderia descobrir enquanto
vasculho através das revistas da família?
A coluna de Julia enrijeceu regiamente.
— Que uma vez, o castelo foi meu.
Por uma fração de segundo, sua tia apenas olhou para ela. Em
seguida, seus lábios se curvaram um pouquinho.
— Não me diga. Bem, veremos então.
Em seguida, sua tia saiu do cômodo em direção às escadas.
Ian balançou a cabeça e levou Julia até a cozinha.
— Eu não tinha ideia de que você fosse assim. Não acredito que já vi
alguém pôr a minha tia em seu lugar tão rapidamente.
Julia sorriu para ele.
— Eu posso não ser capaz de lutar com uma espada, mas me dê
palavras... — ela disse e varreu a caneta no ar, como se estivesse
escrevendo.
— E posso defender os meus direitos.
Ah, e assim que eu tiver algum tempo, pretendo ler esses
seus livros para ver se sua caneta é tão poderosa quanto uma espada.
Antes deles chegarem à cozinha, ouviu Heather sussurrando perto da
porta do jardim que dava para o cômodo:
— Eu vou encontrá-lo hoje à noite, depois que todos se retirarem
para descansar.
O sangue de Ian aqueceu e ele se afastou para ver exatamente com
quem sua prima pretendia se reunir em segredo depois de escurecer.
Julia suspirou. Ian não flagrou quem era o homem que esteve
conversando com Heather. Ela deu um nome, John Smith. Um americano.
Humano. Com a equipe de filmagem.
E Ian estava furioso. Ele saiu da cozinha pelos jardins e foi falar com
Maria antes de ela sair para localizar esse John Smith e dizerlhe, em termos
inequívocos, o que seria dele se sequer se atrevesse a ver Heather
novamente.
Heather estava chateada, esfregando os braços e olhando para fora da
janela da cozinha para os jardins.
— Eu fui para a Faculdade no Texas porque precisava ficar longe de
Ian, de seus irmãos e dos meus próprios irmãos que me vigiam como os
lobos que são. E então o que Ian fez? Enviou um dos meus irmãos comigo e,
quando ele não estava por perto, os dois irmãos MacNeills ou os outros dois
apareciam e cuidavam de mim. Nem uma vez fui capaz de escapar para
namorar um americano. — Ela soltou a respiração em forte exasperação e,
em seguida, apelou para Julia com os olhos escurecidos.
— Você não pode falar com ele?
Julia sacudiu a cabeça. — Não sobre isso. Você é responsabilidade
dele. Sinto muito, Heather.
— A sua matilha era da mesma forma? — Heather sacudiu a cabeça.
— Não pode ter sido, já que chegou aqui sozinha e não tinha ninguém para
cuidar de você.
— Minha matilha é... Diferente. É apenas o meu avô, meu pai e eu.
— percebeu então que ainda não tinha dito ao seu pai e avô o que aconteceu
entre Ian e ela, que agora estavam acasalados, e esperava que eles não
ficassem muito chateados com isso.
— O que você faria se estivesse no meu lugar?
Julia sorriu.
— Bem, isso dependeria. Se eu realmente gostasse do cara... — ela
encolheu os ombros. — Mas não vou te dar nenhum conselho.
Heather sorriu e acenou com a cabeça.
— Obrigado. — então, ela abriu a porta da cozinha e correu para os
jardins.
Oh-ou.
Julia viu um celular sobre o balcão da cozinha e esperou que Ian, ou
quem fosse o dono, não se importasse de ela ligar para seu avô. Discou o
número dele. O telefone tocou, tocou e tocou. Julia tomou uma respiração
profunda. Seu avô, sem dúvida, perceberia que era um dos MacNeills de
novo, por causa do identificador de chamadas, e não queria falar com eles.
Mas não só isso, provavelmente ainda estava bravo com ela por dizer a Ian a
verdade sobre o contrato matrimonial.
Julia desligou o telefone. Por que seu avô não poderia ter uma
secretária eletrônica?
Ela olhou ao redor da cozinha, percebeu que estava totalmente
sozinha e pensou sobre o nicho secreto. Ian planejou ter seus homens
procurando por ele. Era parte da família agora. Por que não podia procurar
nesse meio tempo, enquanto Ian estava ocupado tentando assustar um
potencial bad boy que queria ver Heather?
Com sua pele formigando com a tensão, seguiu através do grande
salão, olhou para o retrato que parecia estranhamente como ela e, em
seguida, subiu as escadas até chegar ao terceiro andar. Estes eram os
aposentos da família. Mas onde é que a sua família teria escondido a caixa?
Onde teria ficado? Em todos os quartos. O castelo foi deles.
Julia olhou para dentro do primeiro dos quartos. Ela sentiu
principalmente o cheiro de Guthrie e depois entrou. Os voais do dossel e os
cobertores eram azul marinho, as paredes cobertas de pinturas do oceano e
barcos à vela. O quarto continha uma arca de madeira escura, um guarda-
roupa e mesas de cabeceira, mas o nicho secreto estaria sem dúvida nas
paredes em algum lugar. Uma pilha de relatórios financeiros estava ao lado
da cama de Guthrie. O pobre homem tinha que ler esse material antes de
tentar dormir. Olhou atrás das pinturas e tentou ver na parte traseira da
cômoda e da alta cabeceira da cama. A menos que o nicho estivesse na parte
de trás do guarda-roupa, não achava que estivesse aqui.
Em seguida, encontrou o quarto de Cearnach. Cada parede estava
coberta com espadas, adagas e escudos e a fez pensar em um arsenal. Tudo o
que ele precisava era de um stand de armadura para deixar o quarto
completo. Examinou cada centímetro de parede que poderia alcançar, salvo
onde grandes peças volumosas de mobiliário bloqueavam sua visão.
Realmente pensou que assim seria mais fácil de encontrar. Ela
deveria ter sabido melhor. Se fosse tão simples, as pessoas de Ian já teriam
sabido disso há muito tempo.
Ela descobriu o quarto de uma mulher ao lado e pensou que poderia
ter encontrado o quarto de Tia Agnes, mas a fragrância não era dela ou de
Heather. Porém, isso lembrou Julia que Agnes tinha ido nessa direção mais
cedo e provavelmente estava em seu quarto. Sobre a cômoda estavam fotos
de Ian e seus irmãos, Heather e três homens que Julia presumia que fossem
os irmãos de Heather.
Talvez esse fosse o quarto da mãe de Ian. A mobília era menos
pesada, as pernas curvas no estilo da Rainha Anne e mais fácil de ver ao
redor, as cortinas e colchas de cama de um verde claro e as imagens de urzes
e jardins floridos enchiam as paredes. Mas nenhum sinal de um nicho
escondido.
Desapontada, e com medo de que Ian fosse pegá-la a qualquer
momento, encontrou o quarto de Duncan. Ela esperava que fosse escuro,
preto, como o quarto de Ian. Mas, em vez disso, sua cama estava coberta de
verde bandeira e tudo era grande. Uma cômoda grande, uma cama enorme,
uma estante grande e um grande guardaroupa. Grande. Maciço. Como o
próprio castelo. E as pinturas nas paredes? Cenas de caça. Homens, galgos
irlandeses, cavalos e lobos, mas caçando o quê?
Ela rapidamente verificou as paredes da sala, realmente não querendo
ser pega...
Passos vinham em sua direção. Seu coração quase bateu para fora do
peito. O aposento só tinha duas portas, uma para o corredor e outra sabe-se
lá para onde. Mas, então, perguntou-se se haveria um alçapão como o da
câmara da senhora de Ian. Ela rapidamente procurou sob os tapetes e
encontrou um.
Julia reconsiderou. Ela não estava procurando por nada, além do
nicho secreto. Quem iria culpá-la? Não era como se estivesse tentando
roubar de Duncan ou qualquer coisa. Os passos ficaram mais próximos. Mas,
pensando bem, deveria ter pedido para procurar no quarto dele. Julia virou o
tapete, puxou o alçapão, passou para dentro e percebeu que não poderia
colocar o tapete de volta no lugar. Tarde demais. Já estava embaixo na
escada e os passos estavam quase lá. Fechou o alçapão e desceu correndo os
degraus. Tonta, tonta, tonta. Mas então teve uma ideia. E se o nicho secreto
estivesse nos túneis?
Ian não encontrou qualquer sinal de John Smith, Maria já tinha saído
com o resto da equipe do filme pela noite e as portas estavam trancadas. No
caminho de volta ao castelo, recebeu um telefonema de Duncan.
— Sim?
— Você não nos disse se a moça é sua companheira ainda, irmão.
— Sim, ela é.
— Bem, então, a sua companheira está lá embaixo nos túneis de
novo. Desta vez, se esgueirou pelo alçapão no meu quarto.
— O que...
— Eu segui seu cheiro. Ela esteve em cada quarto até que veio ao
meu e então descobri o tapete puxado de lado. Quando abri a porta do
alçapão, pude sentir a fraca fragrância dela dentro da escadaria. Julia está lá
em baixo, mas não à vista. Não queria ir atrás até que o alertasse. Não há
recepção de celular lá e não queria que você se preocupasse quando
descobrisse que a moça desapareceu.
— Ela vai se perder.
— Aye.
— Inferno. — Ian ainda estava extremamente aborrecido sobre
Heather, mas esperava se acalmar com Julia depois que compartilhassem
uma refeição. — Estarei lá em poucos minutos.
— Ela está procurando a caixa.
— Aye. Eu cogitei isso.
— Você quer que eu fale com todo mundo?
— Sim, nossos irmãos e primos. Heather foi com ela?
— Não.
— Você a viu?
— Não, Ian. Ela não está em qualquer lugar à vista.
Ian xingou.
— Tudo bem. Estou quase no castelo. — Como é que ele só tinha
duas mulheres para acompanhar e perdeu as duas? Assim que este negócio
com a produção do filme acabasse, teria o seu povo se concentrando em
procurar pela caixa. Julia estava preocupada com o conteúdo? Com receio de
que ele já tivesse visto o que estava lá dentro? Será que estava escondendo
alguma coisa mais? Inferno.
Estava andando pela porta da cozinha quando o celular sobre a mesa
começou a tocar. Era o de Heather e se perguntou se o cara com quem ela
deveria se encontrar tentava ligar. Ele puxou o telefone e com a voz rouca
disse:
— Quem é?
Foi quando viu o identificador de chamadas. Findlay MacPherson. O
avô de Julia? Ian abriu a boca para se identificar quando o interlocutor
desligou.

Ian provavelmente ficaria aborrecido com ela de qualquer maneira,


por isso Julia colocou seu chapéu de aventureira, por assim dizer e começou
a explorar as paredes, à procura de indícios de que houvesse um corte nas
pedras em qualquer lugar por aqui. Julia percebeu que, no devido tempo,
seria capaz de localizar o alçapão para a câmara da senhora por onde havia
passado antes, embora, provavelmente em pouco tempo, seu companheiro
viria atrás dela. Mas até lá, estava procurando pelo esconderijo secreto.
Ainda assim, enquanto considerava quão acidentadas eram as
paredes, não achou que o nicho estaria aqui. Deveria ter perguntado ao seu
avô. Ela balançou a cabeça para si mesma. Ele disse que estava no terceiro
andar. Olhou para trás, na direção da escada para a câmara de Duncan. Onde
é que o esconderijo estaria? No quarto do lorde? No da Dama? Em outro
lugar que não seria tão óbvio? Mas ainda não tinha verificado os quartos do
senhor ou da senhora.
Isso decidido, estava seguindo até onde achava que era a direção do
alçapão da câmara da senhora, quando ouviu o que soou como cavalos
correndo pelos túneis. Fantasmas?
Ela se virou e viu os cães, Anlan e Dillon, pararem de repente,
cheirarem o ar e a observarem. Então, ambos latiram, avisando a todos onde
estava. Tendo feito o dever deles, correram toda distância até ela e bateram
com suas cabeças, empurrando-a com seus narizes em saudação. Julia sorriu
e acariciou suas cabeças.
— Levem-me ao mestre de vocês. — ela disse, imaginando que Ian
ou seus irmãos não podiam estar muito longe. E poderia muito bem acabar
com isso.

Quando Julia se juntou a Ian e seus irmãos nos túneis, ele tinha
estado sombrio e mal-humorado. Sua atitude continuou durante o jantar e
mesmo depois que se retiraram para a cama e ela não tinha certeza do que o
estava incomodando. Mas Ian não queria falar sobre isso e desistiu de
perguntar.
Na manhã seguinte, na mesa da cozinha durante o café da manhã,
seus irmãos observaram ela e Heather, os olhares se voltando para Ian
esperando que ele falasse, mas quando Julia teve o suficiente e se levantou
para deixar a mesa, Ian pegou seu pulso.
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Nós temos a filmagem na floresta hoje. Eu vou me vestir. —
Esperou ele liberá-la, pronta para se torcer para longe, como tinha aprendido
numa aula de autodefesa que teve para obter algumas das suas cenas para
uma história certa vez, se não a soltasse em breve. Seu olhar encontrou o
dela, gelado e preocupado. Talvez fosse apenas o fato de que Basil estaria
com seus homens nas filmagens de hoje e Ian estava preocupado com ela e
Heather.
Julia sorriu e se inclinou para beijar seu rosto e, por um minuto,
pensou que seu humor negro iria desaparecer, que iria abraçá-la, devolvê-la
ao quarto dele e depois arrebatá-la antes que participassem do filme. Em vez
disso, Ian a soltou.
— Todo mundo está pronto? — Ele questionou.
Um coro de ―ayes‖ encheu a cozinha e, em seguida, todo mundo se
levantou da mesa e começou a limpar a comida e pratos vazios. Todos com
exceção de Julia, que chamou a atenção de Heather. Ela parecia maravilhada
com a loba vermelha americana.
Julia suspirou e saiu da cozinha. Se Ian não melhorasse de humor,
não ia parecer muito convincente de que estivesse totalmente apaixonada por
ele quando precisasse beijá-lo durante as filmagens. Mesmo que estivesse.
Julia até mesmo pensou em ser relapsa, tão irritada como estava com
o humor de Ian, exceto que precisava do dinheiro e não era de negligenciar
suas obrigações. Pensou em procurar a caixa, ao invés, enquanto todo mundo
estava preocupado e, a este ritmo, Ian não ficaria mais feliz se ela não
estivesse em qualquer lugar perto de onde Basil ou seus homens estavam? A
verdade da questão era que queria ver a ação, não só para o livro, mas
porque se preocupava com Ian ou seus homens lutando contra Basil e seu
povo. A ideia de que alguém poderia se machucar enquanto estava ignorante
disso, conforme fazia o trabalho de detetive no castelo, a incomodava muito.
Ela fitou o vestido azul e a capa com o tartan MacNeill que usaria e o
chemise que ia por baixo do vestido. Todas as roupas a cobriam tanto, que se
perguntou como Ian poderia até mesmo achá-la atraente. Na pesquisa para
outra história, aprendeu que umedecer anáguas e chemises tinha o efeito de
torná-las transparentes, conforme se agarravam às pernas das mulheres e
outras partes de seus corpos. Era uma maneira de dar aos pretendentes um
pequeno show ousado, o que certamente chamaria a atenção deles.
Todavia, nos dias atuais, as mulheres usavam bem menos, que até
mesmo isso provavelmente não seria digno de nota. Ainda assim, não usava
espartilho ou calcinha e o pensamento de conseguir a atenção de Ian
enquanto usava as roupas a atraíam. Então, umedeceu o chemise. Ela
receava que se só umedecesse a blusa, a roupa secaria antes que terminassem
de filmar a cena e ele jamais notaria.
Mas depois que acrescentou o vestido e a capa xadrez sobre todo o
resto, ela se sentiu enterrada em todos os tecidos de qualquer maneira. Oh,
bem, tinha dado a sua melhor tentativa.
Julia escorregou pela escada de serviço que levava ao quarto dos
empregados, querendo evitar Ian e o resto de sua família, para o caso de ele
ter decidido que não deveria estar no filme de hoje e, em seguida, dirigiu-se
para fora, no pátio interno. Maria acenou para ela e Julia foi direto até sua
amiga.
— Julia, Guthrie me ligou ontem à noite e estava bastante indignado
com um cara chamado John Smith, que deveria estar com a equipe de
filmagem, e estava tentando pegar Heather e se encontrar com ela no escuro
da noite. Não há nenhum homem chamado John Smith na equipe, nem no
elenco do filme. Verifiquei os elencos. Eu lhe disse isso, mas não tenho
certeza se Guthrie acredita em mim. A coisa meio que soa como um
pseudônimo. A menos que Heather possa apontar quem ele é, não tenho a
menor ideia. Você pode avisar seu companheiro?
O olhar de Maria baixou para o corpete de Julia e ela sorriu, apenas
uma sugestão.
— Tentando chamar a atenção de Ian?
— Vou dizer a ele. — então, deu de ombros. — Eu me sinto
enterrada em tecidos. Tenho certeza de que pareço desmazelada e
indistinguível de qualquer outra pessoa aqui fora.
— Bem, eu diria que você vai receber a atenção dele muito bem.
Heather se juntou a elas, sorrindo e vestida com seu manto de xadrez
azul e verde dos MacNeill e com um vestido cor de café.
— Você está pronta? — Ela perguntou a Julia. Seus olhos brilhavam
de emoção, em seguida, o olhar moveu-se para seu corpete e ela sorriu
amplamente.
— Oh, Ian vai ter dificuldade em se concentrar na luta se perceber
que você umedeceu sua camisa.
— Não é assim tão revelador. — Julia objetou. Pelo menos ela não
pensava assim.
— Oh, sim, vai chamar a atenção dele.
Pelo menos, Heather estava perfeitamente feliz hoje, mesmo que
todos os outros estivessem com um humor negro.
— Nós temos que ir. — Julia enlaçou o braço em torno de Heather e
se dirigiu para a ponte sobre o fosso.
— Tenham um bom momento. — Maria gritou para elas. — Eu estou
trabalhando em outra cena. Divirtam-se!
Julia acenou de volta.
— Eu ouvi que você estava nos túneis de novo ontem à noite. Que
você entrou nos quartos dos irmãos de Ian e até mesmo no da mãe dele,
procurando pela caixa secreta. — disse Heather.
Julia suspirou.
— Sim. Eu estava sozinha e pensei que talvez tivesse sorte. Mas não
funcionou dessa maneira e agora Ian não está muito feliz comigo.
— Ele está preocupado. Sobre as filmagens de hoje, o cara que eu
tentei ver ontem à noite e que você possa se ferir nos túneis de novo. Ian tem
muito sobre os ombros. Mesmo com os problemas financeiros que nós
temos, ele se preocupa com toda a matilha, em nos manter juntos e não
perder o castelo. — Heather apertou o braço de Julia e sorriu.
— Mas Ian vai ficar bem assim que a filmagem tiver acabado.
Ótimo. Isso poderia levar semanas. Então, pensando bem, percebeu
que isso era como Maria agia quando não queria que ninguém a ajudasse
através de suas preocupações. E que não queria nem saber disso quando se
tratava de seu companheiro.
Mas, por enquanto, viu Basil Sutherland e era o mesmo homem que
tinha visto no aeroporto olhando para ela, o olhar dele assimilando toda a sua
aparência, seus homens de pé com ele, os olhares tão escuros e maliciosos
quanto. Talvez, molhar seu vestido não tenha sido uma boa ideia, afinal.
CAPÍTULO 21
Com o bom tempo sobre eles e câmeras no lugar, todo mundo
começou a tomar suas posições para a filmagem da cena de batalha na
floresta.
Ian lançou um olhar cauteloso ao redor, identificando onde Basil
Sutherland e seus homens estavam situados. Ele viu Julia e Heather por
perto, com dois dos irmãos de Heather a vigiando e Duncan grudado a Júlia.
Quatro outras donzelas com sorrisos em seus rostos, mas torcendo as mãos,
ainda estavam misturadas com sua companheira e sua prima.
Perto dali, Basil estava empertigado e de ombros largos, com uma
carranca feroz para combinar com o seu tamanho. O que Ian não gostava
mais sobre o bastardo era o jeito que ele olhava para as ―belas donzelas‖
com muito interesse, seu olhar rapidamente se pondo em Julia.
Alguém dirigiu as outras quatro donzelas para onde precisavam estar.
Heather deu a Julia um abraço e depois arrancou até o seu próprio local na
floresta, com seus irmãos a reboque, antes das filmagens da cena
começarem.
Apenas Julia permaneceu dentro de seu alcance visual, como tinha se
certificado de que seria a situação, e a única maneira de permitir que ela
permanecesse no filme.
Julia sorriu para Ian e pareceu estar em seu elemento, o tartan dos
MacNeills cobrindo-a. Mechas de cachos vermelhos tremulavam por todo
seu rosto no dia ventoso, uma leve névoa cobrindo a floresta antes que o sol
queimasse a neblina para longe.
Ele a imaginou usando um sutiã de renda e uma acanhada calcinha
fio dental, ou estando nua, e o breve pensamento voou por sua mente de
quanto gostaria de levantar seu vestido, enquanto usava o tartan, e mostrar a
moça um pouco de amor highlander. Mas, então, olhou para o corpete, a
forma como o tecido parecia tão transparente através de seus seios, o vestido
azul apenas o suficiente para cobrir os mamilos e franziu a testa.
Inferno. Ele estava pronto para agarrá-la e levá-la direto para o seu
quarto.
Ian sabia que Julia estava decepcionada com o seu silêncio
meditativo esta manhã. Não podia evitar. Não conseguia parar de se
preocupar com o que havia na maldita caixa e que Julia queria encontrá-la
sem que o povo dele soubesse sobre isso. E não a queria aqui fora enquanto
Basil a olhava como se fosse sua próxima refeição. Agora, ela parecia uma
oferta deliciosa.
Heather também o tinha irritado e ele sentiu como se Julia estivesse
levando sua prima a se desviar, com suas maneiras não convencionais, já que
não viveu pelas regras da matilha em sua própria família.
Não ouvindo o chamado do diretor para começar a luta, seu cérebro
tão confuso com o pensamento e o que queria fazer com o doce corpo de
Julia embrulhado no xadrez de seu clã, que ele percebeu, enquanto um
musculoso escocês americano o atacava, que a batalha havia começado.
O musculoso lorde highlander fictício, estrela do filme, John Duvall,
entrou em confronto com seu inimigo nas proximidades enquanto as câmeras
começaram a rolar. Mas Ian temia que não levasse muito tempo para a luta
real começar com seu próprio arquiinimigo e o desastre que poderia se
seguir.
Guthrie e Cearnach se moveram com Duncan para ficarem perto de
Julia agora, certificando-se que nenhum dos homens de Basil pudesse se
aproximar dela. Os irmãos de Heather estavam cuidando da irmã. As outras
quatro donzelas eram mulheres humanas da aldeia e Ian assumiu que nem
Basil, nem seus homens, iriam incomodá-las.
Não importava que devesse lutar contra um escocês imponente perto
da estrela do filme, em um esforço para proteger ―seu senhor‖. Basil
Sutherland permaneceu no foco de Ian, seu verdadeiro inimigo lutando
atualmente com um ator humano como se estivesse dando um passeio por
Edimburgo, assim como os treinadores tinham ensinado: avance, desvie,
gingue, faça com que pareça bom e real, mas não faça mal a ninguém.
Baboseira coreografada. Ian e seu povo tinham ouvido com interesse
fingido, até que ele mesmo lutou com o instrutor.
Todos concordaram que, no que se referia a lutar na batalha, seria
realizado da própria maneira deles.
Com a espada balançando, Ian rapidamente atacou o imponente
escocês humano, que em seu pânico para evitar a fúria de sua espada,
tropeçou nos próprios pés e caiu de costas com um estrondo!
Isso não fazia parte da cena planejada, mas o diretor não gritou
―Corta!‖. E Ian deu uma última facada simulada no peito do homem.
O ator ficou tão surpreso que Ian piscou para ele e disse em gaélico:
— Morra homem, para que eu possa lutar contra a ameaça real.
Possivelmente não compreendendo gaélico, o ator pareceu pegar sua
deixa. Ele agarrou o peito, estremeceu e morreu.
Ian olhou ao redor por Basil. Capturando sua atenção, Basil sorriu
enquanto continuava a lutar vagarosamente contra outro ator humano.
A estrela do filme olhou para o homem que Ian tinha acabado de
colocar para descansar, ergueu o queixo um pouco como se em
reconhecimento de que tinha feito bem e depois lutou contra outro ator
humano.
John Duvall não fez um mau trabalho com suas habilidades
coreografadas, embora o homem estivesse usando uma espada leve,
enquanto Ian envolvia-se com um de seu povo, achando muito mais esporte
dessa maneira. Pelo menos, o homem sabia como lutar. Os companheiros de
Basil pareciam estar fazendo o mesmo, desligandose dos homens do diretor
e lutando contra os seus ao invés, o que era bastante fácil de fazer.
Como na própria matilha de Ian, os homens de Basil consistiam em
famílias leais a ele que não eram descendentes diretos do clã Sutherland. Os
tartans eram diferentes, mas cheios de barro para parecer como se os homens
estivessem vivendo em condições diferentes das ideais pelas últimas
semanas e ninguém poderia dizer que estavam lutando contra seus próprios
clãs, uma vez que eram apenas figurantes, um borrão de espadas e homens.
Basil pareceu ter o mesmo pensamento em mente ou estava seguindo
o exemplo de Ian, como se tivesse percebido que uma briga entre os
MacNeills e seus homens contra os Sutherlands faria com que o diretor
parasse o filme. Pelo menos por agora.
Sem ter que lutar contra atores de verdade, Ian jogou o coração e
alma em batalhar contra seu primo distante, mas em pouco tempo, um
homem tinha se transformado em cinco, os seus companheiros de clã
preferindo ter melhores chances ao agruparem-se em cima dele. Cinco
contra um era um pouco demais, mas uma vez que havia posto três para
baixo, ele ficou mais confortável.
Em algum momento, pensou ter ouvido o diretor gritar ―Corta!‖,
mas não podia ter certeza. Distrações no campo de batalha tinham que ser
ignoradas. Um último homem a derrubar, seu primo ruivo e um dos irmãos
de Heather, Oran, que esteve cobiçando Julia com muito interesse quando
ela chegou pela primeira vez aos portões do seu castelo. O suor escorria pela
testa de Oran.
— Você devia estar protegendo a sua irmã. — Ian disse em gaélico.
— Aye. — Oran balançou sua espada novamente contra ele, o metal
tilintando retumbando pela floresta. De outro modo, uma quietude calma se
instalava em todos os lugares.
— Então, por que você está lutando contra mim?
— Heather quis que eu fizesse isso.
Ian levantou uma sobrancelha e desferiu outro golpe de retinir metal.
Oran caiu para trás, mas rapidamente se reagrupou.
— Ela queria que você mostrasse as suas habilidades na frente de sua
amada. — ele sorriu. — Eu disse que não havia necessidade. Então, disse
que poderia captar o interesse de uma das belas donzelas para a noite, ao
invés.
Ian balançou a cabeça.
— A menos que as donzelas tenham pena de um homem que está
deitado de costas... — com isso, balançou a arma tão forte que, quando
atingiu a espada de Oran, a de seu primo navegou pelo ar, bateu em uma
árvore com uma paulada e pousou no chão com um baque. Usando um
requintado trabalho de pernas, Ian moveu sua perna rapidamente atrás da de
Oran, deu um empurrão no ombro de seu primo com a mão livre e, tão logo
o espantado Oran estava deitado de costas, enfiou a espada na barriga de seu
primo em uma morte simulada.
Ainda falando em sua língua nativa, Ian rosnou:
— Morra!
Por fim, um leve sorriso apareceu nos lábios de Oran e ele disse em
um sussurro rouco:
— Eu vou ganhar o favor ou pelo menos a benevolência de uma das
donzelas esta noite, estou pensando. Agradeço-vos, meu lorde.
Então, ele fechou os olhos, suas mãos caindo para longe de sua
cintura, e morreu.
— Corta! — O diretor pareceu gritar de novo. Não tinha ouvido o
homem gritar isso antes?
Aplausos estrondosos encheram a floresta.
— O cara é bom. — Alguém disse perto do diretor.
— O cara é um lorde. — Duncan disse bruscamente.
John Duvall deu a Ian um polegar para cima.
— Se você algum dia quiser um emprego na indústria do cinema,
está garantido. — ele dirigiu-se para o seu trailer.
Julia correu pela floresta na direção de Ian e ele embainhou sua
espada e foi de encontro a ela. A capa xadrez havia sido presa com o cinto
na cintura e envolvida vagamente sobre sua cabeça como um capuz para
cobrir os lindos cachos ruivos, mas então, a capa caiu. Com seus passos
apressados, ela estava deslumbrante, os seios saltando contra o vestido azul
com decote baixo e a camisa cobrindo o resto do seu corpete, que após uma
inspeção cuidadosa de novo, ainda parecia terrivelmente transparente.
Inferno, mulher. Não só ela não estava usando qualquer sutiã, mas
parecia que tinha molhado sua camisa, o que a tornava tão transparente
como se não estivesse usando praticamente nada, mostrando a curva
abundante de seus seios. O vestido azul escuro subia alto o suficiente para
esconder a cor de seus mamilos, mas não escondia a glória suprema daqueles
picos gêmeos pressionados contra o tecido.
Não importava o quanto queria ver onde aquele maldito Basil
Sutherland estava agora e o que ele estava fazendo, não conseguia tirar o
foco de sua companheira. Julia alcançou Ian e o agarrou em um abraço de
corpo inteiro, trepando literalmente nele enquanto embrulhava suas pernas
ao redor de seus quadris. O calor de seu corpo flexível queimou-o enquanto
as manobras dela empurraram a saia para trás, revelando suas pernas
cobertas de meias, agora trancadas atrás dele enquanto ela cruzava os
tornozelos e montava-o de uma forma muito sensual.
Seus braços rapidamente a cercaram, abraçando-a ainda mais
apertado contra seu corpo e o excitando mais. Ela inclinou o rosto para ele,
sorrindo luminosamente e Ian abaixou a cabeça e beijou-a. Só pretendia dar-
lhe um leve roçar na boca em saudação, para mostrar sua apreciação por
Julia ser Julia, mas o beijo logo se transformou em uma fusão apaixonada de
lábios e línguas. Por vontade própria, suas mãos cobriram a bunda dela,
segurando-a com mais força contra sua virilha.
De início, o silêncio encheu o ar e, em seguida, várias risadas
explodiram, chamando sua atenção.
— Deveria ter captado esta cena na fita. — Alguém disse. — O
público iria adorar.
— Sim, mas o foco deveria estar sobre as estrelas do filme. Não em
dois escoceses desconhecidos.
Julia enrijeceu nos braços de Ian e se afastou um pouco, deixando
sua boca, e ele achou que ela faria uma réplica. Poderia simplesmente
imaginá-la dizendo que não era escocesa de nascença, mas americana, e não
era desconhecida. Era uma escritora de romances de lobisomem com os fãs
em todo o mundo.
Mas não queria que mais ninguém soubesse sobre isso. Ele cobriu a
sua boca com outro beijo, ainda segurando a mulher voluptuosa, e a levou de
volta para o passeio do outro lado do fosso.
— Meu herói. — Julia disse, entre lamber a boca dele com gosto e
apertar as pernas ao redor de sua cintura.
— É bom, então, que nós vencemos esta batalha e hoje o castelo está
seguro. — ele disse, sorrindo, sentindo-se muito mais leve de coração agora
que tinha passado por uma cena de batalha sem nenhuma dificuldade entre
seus homens e os de Sutherland e que Julia e Heather estavam ambas a
salvo.
— Oh, aye, Ian. — ela disse, tentando imitar seu sotaque e ele amou
seu esforço. — Desta vez nós vamos comer?
— Mais tarde. — Prometeu, suas mãos apertando a bunda dela
enterrada sob as camadas de tecido, o que o fez feliz que as mulheres já não
usassem tantos artigos de vestuário.
— Você não usa corpete, donzela. — ele disse isso de uma forma
provocante, como se levemente a repreendendo por ser tão devassa.
Ela abriu um grande sorriso.
— Você ainda está usando aqueles retalhos de renda que eu amo
tanto?
Seu rosto ficou vermelho.
— Você está usando nada sob seu kilt?
— Você está sem nada? — ele perguntou, passando a mão para cima
para ver se poderia reconhecer um pedaço de tecido em seus quadris. Ian já
estava duro e querendo, conforme o corpo dela se esfregava contra o dele
enquanto andava.
— Só se você estiver sem.
— O traje tradicional implica usar o kilt e nada por baixo. Enquanto
meus irmãos, primos e eu servíamos nos regimentos escoceses highlander,
nós íamos nus. Todavia, nos jogos das Terrasaltas, para os dançarinos que
realizam chutes altos e bandas de gaita de foles que participam de marchas
com um pisar alto, os participantes muitas vezes usam roupas íntimas, como
é solicitado, moça. O tempo frio pode ser um pouquinho problemático
também. — ele encolheu os ombros.
— Nossas longas túnicas ou camisas nos protegem do atrito da lã,
assim não precisamos usar outra coisa enquanto participamos das simulações
de luta de espada.
— Pelo que eu ouvi, é uma escolha pessoal.
— Aye. Durante reuniões exclusivamente masculinas, nós muitas
vezes não nos incomodamos. Com as mulheres presentes?
Depende das mulheres. — ele sorriu.
— Você é tão mau.
Ele riu e apertou a cabeça contra seu seio.
— Sua camisa está úmida, moça.
— Nos velhos tempos, as mulheres faziam o que podiam para
chamar a atenção dos homens. Para o inferno com as modas restritivas.
Sobre aquele contrato de noivado, porém... — Julia hesitou enquanto Ian
apertava as mãos em sua bunda.
— Hmm, moça?
— Talvez a gente não tenha que encontrá-lo.
— Oh, nós temos que achá-lo sim.
Ela suspirou.
Ele beijou seus lábios.
— Só para referência histórica. — E por qualquer outra coisa que
esteja escondido na caixa.
Seu olhar encontrou o dele. Ian deu um sorriso escuro.
— Se você era minha, moça, ou não, assim que o seu pai e o meu
fizeram um acordo para nós estarmos prometidos, isso foi levado para fora
de nossas mãos.
— Meu pai não teve nada a ver com isso. Nem seu pai, também.
Ele balançou a cabeça.
— Na sua história, onde eu sou o seu herói.
Ela franziu o cenho.
— Como você saberia...
— Lógico que você me veria assim. — ele chegou ao pátio interno,
pensando que seu castelo estava muito longe da floresta.
Ela suspirou.
— Você está se sentindo melhor do que estava esta manhã, Ian?
Ele não quis dizer-lhe como tinha estado preocupado que algo
poderia dar errado na cena de luta de hoje. Ou que ainda tinha suas dúvidas
sobre o conteúdo da caixa, ou que não podia deixar de estar preocupado que
Heather se esgueiraria com o humano e se meteria em algum problema real.
Assim, não respondeu.
Quando entrou na fortaleza, apressou o passo enquanto caminhava
até as escadas e seu quarto. Depois que chegaram lá, fechou a porta com o
quadril, pisou pelo chão e a colocou em sua cama, com a intenção de se
limpar antes de arrebatar a moça deliciosa.
— Eu vou acompanhá-la em um momento depois que me lavar. —
ele disse, retirando sua espada e pondo-a sobre a cômoda.
— Mas... Eu não quero esperar. — ver Ian no sexy kilt deixou Julia
excitada e incomodada o dia todo, entre deixar tudo no lugar para a
filmagem e, depois, durante a gravação. E não vestir roupas íntimas por
debaixo de suas camadas de roupas, além de molhar a camisa, de modo que
parecia que mal usava nada por baixo do vestido. Ela se sentia sexy e
devassa e tinha imaginado arrebatar o Highlander, assim que ele terminasse
de lutar contra seu inimigo.
Julia encostou-se no colchão e tocou o broche segurando a capa em
seu corpete, mas depois de tentar abrir, descobriu que não podia libertá-lo.
Enquanto ele a olhava, um sorriso quase imperceptível puxou a boca
de Ian.
Ela franziu a testa e tentou desatar os laços nas laterais do vestido, ao
invés, mas não podia ver o que estava fazendo.
— Você precisa de uma dama de companhia, aye, moça? — ele se
moveu para mais perto dela, o olhar escuro e especulativo. Inclinou-se para
remover o broche em seu corpete, os dedos tocando os seios e fazendo todo
o corpo dela se aquecer com antecipação.
Como seu toque simples poderia transformá-la em um incêndio em
chamas?
Seus olhos escuros focaram nela enquanto ele soltava o broche e, em
seguida, colocava o pino sobre a mesinha.
— Não, Ian, eu só preciso de você. — a verdade era que tinha sido
muito capaz quando se vestiu antes. Mas, agora, sob o olhar quente de Ian,
não parecia poder abrir nada.
Julia passou as mãos nas coxas dele sob o kilt, roçando os polegares
para cima e sentindo seus músculos fortes enrijecerem. Calor refletiu em
seus olhos, o desejo queimando, o anseio por ela revelado no olhar
predatório dele.
Com a voz cheia de necessidade, ele disse:
— Você sabe, moça, o perigo que você corre?
— Com Sutherland? — ela acariciou as coxas de Ian de uma forma
sedutora. — Ou com você?
— Julia. — esta simples declaração provou que ele não iria desistir
dela por nada. E sabia que Ian a amava, mesmo que ainda não tivesse dito as
palavras.
As mãos dele pareciam sólidas em seus ombros, empurrando-a
suavemente de costas. Mas quando Ian se inclinou para frente, ela moveu
seus dedos debaixo do kilt e entre suas pernas, apalpando-o. Julia sentiu a
plenitude, a dureza e o incrível comprimento dele. Ouviu a ingestão de sua
respiração e o gemido e então Ian rapidamente fechou os olhos. A ideia de
tomar um banho foi esquecida, ele abriu os olhos, rapidamente removeu o
cinto na cintura dela e jogou-o de lado. Como era fácil mudar sua mente e
Julia amava que a desejasse com tanta boa vontade, que poderia ser
influenciado dessa forma.
Julia queria que ele desatasse os laços nas laterais do vestido, mas,
em vez disso, Ian se inclinou e apertou seus seios por baixo da blusa e da
camisa e acariciou-os de uma forma amorosa. Ele empurrou o vestido para
baixo, expondo os mamilos, que só estavam ressaltados pela transparente
camisa úmida. Seu polegar acariciou um mamilo, tocando-o de leve e
fazendo-o crescer e formigar e atiçar o desejo pela satisfação ainda mais.
Seu olhar focou no dela, vidrado de luxúria. Em seguida, passou a mão para
baixo de sua cintura, tão levemente que fez cócegas nas suas costelas.
Julia desceu sua mão para agarrar o kilt e empurrá-lo para cima, para
colocar este show na estrada, mas ele a frustrou, puxando rudemente os laços
para desatar seu vestido. Julia enfiou os dedos dentro de sua túnica aberta,
sentiu os músculos tensos sob seu toque e o queria nu e junto com ela.
Ele puxou o vestido azul para fora e, depois, trabalhou na camisa,
meia-calça e ligas, até que tudo o que restava era a camisa superfina. Ian a
olhou de cima a baixo, os olhos vagando, baixando do tecido grudado, de
seus seios até os tornozelos.
Seu olhar aquecido à fez se sentir sexy, vulnerável e desejada.
Ele passou a grande mão habilidosa sobre o macio tecido cobrindo as
pernas dela e, em seguida, com os dedos fortes moldando sua panturrilha,
empurrou o tecido para cima. Com a voz rouca de desejo, disse:
— Isso me lembra de quando a vi pela primeira vez.
Quando ela estava encharcada no bar. Só que não estava assim tão
nua. E tinha sentido seu olhar voraz então, também, só que considerava as
roupas molhadas dele da mesma forma interessada.
Ian abaixou a cabeça e beijou sua boca enquanto as mãos dela
acariciavam seu peito musculoso duro. Julia estava com dificuldade em se
concentrar em qualquer coisa, além da maneira como ele puxava sua roupa
para cima, lentamente, a mão roçando em uma carícia sensual até a coxa.
Cada toque era amoroso e sexy e era grata que seu humor negro havia se
dissipado.
Ela puxou a camisa dele para livrá-lo de seu tartan, mas era muito
longo. Ian tirou o cinto e depois o tartan e ficou apenas em sua longa túnica,
com as pernas nuas, o olhar feroz. Julia se lembrou dos escoceses dos
tempos antigos e como estava em um castelo que tinha vários séculos de
idade, vivendo uma fantasia com o highlander dos seus sonhos.
Então, ele puxou a camisa sobre sua cabeça e deixou-a cair no chão e
ela deu um pequeno puxão para cima da sua túnica, o que o fez sorrir e
arrancar o tecido sobre a cabeça também. Ian era lindo, cada centímetro
quadrado de homem musculoso, o cabelo escuro no peito arrastando para
baixo. E seu olhar se fixou no tamanho robusto dele, preparado só para ela.
Completamente nus agora, Julia estendeu a mão para cima, querendo
puxá-lo para baixo para se juntar a ela, para preencher a ânsia que estava
fazendo-a desejar tê-lo profundamente dentro dela.
Mas, apesar de estar com pressa para fazer amor, irritantemente, ele
parecia não ter pressa alguma.
Ian olhou para a beleza diante dele: o rubor de sua pele, o que o
divertia, porque parecia que, não importava quantas vezes fizessem amor, ela
tinha aquele rubor inocente sempre que a via, seus escurecidos mamilos
apertados e adoráveis, o ardente cabelo ruivo espalhado em seu travesseiro e
a palha ruiva de cachos entre suas pernas, molhada com avidez. Sabia que
Julia estava impaciente para fazer amor, mas queria um momento para
apreciar a sua esplendorosa nudez antes que isso acontecesse.
Então, empurrou seus joelhos afastados com uma perna, estendendo-
a aberta para que seus dedos pudessem mergulhar no cetim molhado entre
suas dobras. E Julia arqueou a perna presa entre as dele, pressionando sua
ereção. Seu controle fugindo, seu toque ganancioso, ele a esfregou de forma
lasciva. Ela respondeu com um doce gemido sexy. Ian a amava, desejava-a,
queria Julia para sempre e sabia que ela era a mulher certa para fazê-lo
completo.
Ele beijou seu seio, esfregou o rosto sem barbear contra o mamilo,
lambeu e chupou e prestou homenagem a um e depois ao outro, enquanto os
dedos continuavam a acariciá-la mais embaixo. Ela passou as mãos pelo
cabelo dele, seus batimentos cardíacos acelerando, o corpo arqueando,
inquieto e ansioso, empurrando para fazê-lo trabalhar mais rápido nela e,
então, gritou seu nome de uma forma sexualmente carregada. Julia caiu
contra o colchão, o corpo tremendo com o orgasmo, sua boca curvada em
um pequeno sorriso.
Aproveitando-se de sua prontidão, ele acariciou suas coxas sedosas e,
em seguida, separou-as mais, para que pudesse entrar nela. Com um
impulso, entrou dentro dela e reivindicou-a novamente.
O balançar da moça contra ele, suas mãos segurando sua bunda e do
jeito que ela ergueu os joelhos para uma penetração mais profunda criaram
uma fome febril tão grande que Ian sentiu que esta iria consumi-lo até que
sua paixão explodisse. Entrou em colapso, saciado e se afogando em
satisfação. Ian se mexeu para o lado e deitou de costas. Em seguida, puxou-a
contra si, amando o jeito que sua perna escorregou entre as dele, montando-
o, reivindicando-o.
O jantar atrasaria novamente enquanto dormiam
primeiramente e, em seguida, renovariam seu amor.
Até que ouviu a voz de sua mãe cheia de irritação enquanto seus
rápidos passos se aproximavam de seu quarto.
Ela não deveria voltar até depois que o filme estivesse terminado. O
que estava fazendo em casa agora?
— Onde Ian está? O que quer dizer com ele está muito ocupado para
me ver, Cearnach? Eu sou a mãe dele! E voltei para colocar um fim a essa
loucura!
CAPÍTULO 22
Por causa da modéstia, Ian puxou uma coberta sobre Julia e ele
mesmo antes que sua mãe entrasse no quarto. Com as sobrancelhas
levantadas, sua companheira inclinou os lábios, oferecendo-se a ele. Beijou
sua boca sorridente, enquanto o discurso de sua mãe para Cearnach
continuava enquanto se aproximaram da câmara de Ian.
Se ela invadisse seu quarto, o que não era propensa a fazer, lidaria
com isso. Mas não deixaria a cama ainda e, novamente, beijou a disposta
boca de Julia enquanto seus dedos vasculhavam entre os sedosos cachos
ruivos. Não parecia importar-se que a mãe dele estava quase em seu quarto,
em pleno modo de batalha, e apertou sua boca contra a dele com o mesmo
entusiasmo.
— Ele é o lorde. — Cearnach argumentou com sua mãe. — É a
decisão dele e acho que seria melhor se você, pelo menos, batesse...
— O que ele está fazendo na cama a esta hora? — ela protestou. Em
seguida, empurrou a porta aberta.
Ian se desvencilhou de beijar Julia, virou-se para ver sua mãe e
levantou as sobrancelhas.
— Você queria uma palavra comigo, minha mãe? — Sua voz era
fria.
A boca de sua mãe ficou aberta, mas ela rapidamente cruzou os
braços, estreitou os olhos e fez uma careta, olhando de Julia para Ian,
enquanto Cearnach, de pé ligeiramente atrás dela, parecia sentir muito,
fazendo uma careta enquanto oferecia um pequeno encolher de ombros.
Ela fez sinal para Julia.
— O que é isso?
Ian pensou que Julia fosse à razão do discurso de sua mãe. Mas,
aparentemente, algo mais a irritava. Ele agora suspeitava que ela nem tinha
percebido que Julia era uma loba, pensando que era apenas uma humana
aqui por um pouco de prazer sexual. Não se surpreendeu que ninguém havia
contado sobre Julia, no entanto. Quando sua mãe estava em um de seus
surtos irracionais, era impossível ter uma conversa sensata. Sua mãe estava
acostumada a ser a grande dama do clã e da matilha depois que seu pai
morreu e Ian ainda não tinha tomado uma companheira. Mas agora, Julia
tinha a posição de senhora da casa e sua mãe teria que se afastar. Não havia
considerado esta parte do cenário.
— Esta é Julia Wildthorn, minha companheira. Mas tenho certeza
que as apresentações poderiam ter esperado por um tempo mais... Adequado.
Sua mãe ficou boquiaberta de novo e olhou furiosa para Cearnach,
que deu de ombros mais uma vez.
— Por que você não... — ela fez uma pausa e se voltou para Ian, com
o rosto lívido. — Eu quero falar com você imediatamente.
Ian lançou a sua mãe o sorriso mais sem graça. Ela podia pensar que
mandava nele, como achou que fazia com o pai deles, mas Ian era
exatamente como seu pai e faria o que achava melhor para o clã e a matilha.
— Mais tarde. — ele disse, sua voz beirando a gélida agora, e passou
a mão pelas costas de Julia em uma carícia suave, esperando que não
estivesse perturbada.
Sua mãe abriu a boca para falar, seus olhos ainda cerrados em
desdém. Então, seu olhar se desviou para Julia, sua expressão endureceu
ainda mais e ela se virou e saiu da sala.
Cearnach inclinou um pouco a cabeça em desculpas e, em seguida,
fechou a porta.
No final do corredor, sua mãe inquiriu Cearnach enquanto seus
passos se dirigiam às escadas.
— Por que você não me disse que Ian tinha tomado uma
companheira? E quem é ela?
Julia suspirou baixinho, acariciando o mamilo de Ian com o dedo.
— Acredito que ela não está satisfeita com alguma coisa. E...
Eu não acho que deixei a melhor primeira impressão também.
Ele soltou a respiração.
— Não tinha pensado em como isso afetaria a minha mãe, porém, ela
não deveria voltar até o final do mês. Até lá, eu teria enviado uma
mensagem. Parece que outra coisa chegou aos seus ouvidos. Talvez alguma
coisa a ver com o filme. O fato de que Basil e seus homens ganharam acesso
ao castelo durante as filmagens, a participação de Heather, até mesmo os
nossos membros do clã que também atuam, talvez. Qualquer dessas coisas
pode ter irritado a minha mãe.
Ele continuou a acariciar as costas dela enquanto Julia enrolava os
dedos em seu cabelo no peito. Quando ela não disse nada, perguntou:
— Você está bem, moça?
— Minha família é muito pequena, Ian. — ela olhou para ele com
lágrimas nos olhos. — Eu amo os seus irmãos e seus primos também.
Conheci alguns dos outros parentes e membros do clã e mulheres e admiro o
quanto eles são dedicados a você e quão gentis foram comigo. Adoro estar
aqui e sinto como se estivesse em casa. Mas você tem que saber que me
incomoda que sua mãe não pareça gostar de mim. E sua tia...
— Minha tia é irmã do meu pai e irá mostrar-lhe todo o respeito.
Minha mãe, também. Dê-lhes tempo. Elas chegarão ao bom senso. — e
então a beijou, um beijo longo e demorado que significava que ela tinha uma
matilha, um clã e uma família ainda maior e era amada.
Mas a preocupação persistente de que Basil em breve iria causar um
problema real estava no fundo da mente de Ian. Pela manhã, filmagens de
uma batalha no pátio interior estavam programadas. Manter Julia e seu clã a
salvo era a sua preocupação recorrente por enquanto.

Na manhã seguinte, Julia se sentia inquieta enquanto Ian a levava


escadas abaixo para o desjejum. Receava que a mãe dele fosse fazer uma
cena na refeição, mas estava esperançosa de que nem mesmo aparecesse. E
isso fez Julia se sentir ainda pior. Não tinha esperado que a mãe de Ian
substituísse a dela, mas desejava que fossem se dar bem.
Lá estava ela, sentada à mesa de jantar principal, juntamente com Tia
Agnes, as duas mulheres mais velhas esperando Ian se juntar a eles como um
casal de lobos antecipando sua presa. Mas ambas mal lhe pouparam um
olhar. Os cachos vermelhos dourados da mãe dele eram listrados com cinza e
presos em cima de sua cabeça numa touca elegante, enquanto seus olhos
verdes permaneciam afiados e observadores. Sua mãe usava um suéter e
calça pretos e parecia que estava de luto enquanto lançava a seu filho um
olhar de desprezo. Tia Agnes estava vestindo um suéter e calça azuis clara, o
que ficou bem nela, e sorriu um pouco para Ian.
Seus irmãos e primos espalhados em torno da cozinha, conversando
uns com os outros sobre a próxima cena, enquanto Cook e um par de outras
mulheres trabalhavam na refeição da manhã.
— Eu vou ensinar a seus irmãos como cozinhar. — Julia disse,
sentindo o peso dos olhares da tia e mãe voltarem para ela quando passou
por elas. — Então, se Cook tiver outros planos, eles poderão preparar
refeições dignas de...
Um conde e de sua senhora. — Ian disse, beijando sua
bochecha e puxando uma cadeira para ela. — Eu acho que é uma ideia
admirável.
Sua mãe olhou com raiva para Julia. Ela não se deu ao trabalho de
ver a reação da tia dele sobre os comentários. Ao ouvirem a conversa deles,
todos lotaram a sala de jantar, oferecendo saudações e pequenos sorrisos e,
em seguida, tomaram seus assentos.
Metade deles estavam vestidos com kilts e túnicas, prontos para o
início da batalha simulada e Julia imaginou a sala de jantar fazendo parte do
velho mundo quando o clã se reunia para quebrar o jejum. Metade ainda
estava vestindo roupas civis e trocaria após o café da manhã, o que a fez
pensar em viajantes do tempo do futuro que haviam desembarcado no meio
de uma cena do século XVII.
Todos educadamente esperaram Ian dizer ou fazer algo.
Ele entregou uma travessa de pão integral para Julia. Ela colocou
uma fatia no seu prato e, em seguida, passou o pão para Heather.
— Nós tomamos o castelo dos Sutherlands. — disse Agnes, sem
esperar mais ninguém para falar, enquanto os pratos de ovos e salsichas eram
passados ao redor.
Atônita, Julia olhou para cima do pão no qual estava passando
manteiga. O foco de Agnes estava em Ian.
— O Castelo Argent. — a tia dele esclareceu, falando com Ian.
Ele se endireitou.
Aye. Meu bisavô lutou contra eles e expulsou-os do castelo. Disto
eu estou bem ciente, Tia. Basil Sutherland me lembra a cada chance que tem.
Julia olhou para Agnes em descrença. O avô dela disse que os
MacPhersons tinham possuído o castelo. Ele estava enganado? Ela não
acreditava que sim.
— Você sabe por que a nossa família lutou contra os Sutherlands, em
primeiro lugar? — Agnes perguntou.
— Disputas territoriais, pelo que sei.
Então, Ian não tinha acreditado que a família dela possuiu o castelo.
Todo esse tempo, ele estava fingindo?
— Antes de isso acontecer, o filho de seu bisavô, seu avô, estava
destinado a se acasalar com uma MacPherson. — disse Agnes, o olhar
flutuando para Julia e depois voltando para Ian.
Ian se recostou na cadeira. Julia fechou sua boca escancarada. Mas
ela não era a única que parecia surpresa. Garfadas de comida pairavam
suspensas no ar, bocas abertas prontas para dar uma mordida e depois
parando, enquanto a notícia os atingia.
— Eu descobri isso em algumas das revistas da família. A união era
para amarrar os clãs juntos, uni-los contra os Sutherlands. — Agnes
continuou.
— Uma aliança. — Julia sussurrou.
— Sim. — Agnes falou, dando-lhe um afiado aceno de cabeça.
— Com os MacPhersons? — a voz de Ian estava repleta de
descrença.
Aye. Mas os Sutherlands não queriam essa união. Eles
invadiram o Castelo Argent antes do fato ocorrer em alguns meses...
Ian levantou a mão para detê-la.
— Os MacNeills invadiram Argent, você quer dizer.
— Não. Os MacPhersons possuíam o castelo.
O avô de Julia estava com a razão. Ela sentiu uma onda de alívio por
ele não estar errado e não ter dito nada a Ian, além da verdade.
Ian fez uma careta.
— Eu não entendo.
— Antes de o nosso povo chegar à Argent, Sutherland já havia
tomado o castelo depois de semanas de cerco. Nós, o clã MacNeill e as
famílias que nos deviam lealdade, confiscamos o castelo dos Sutherlands.
Mas os MacPhersons? Eles tinham desaparecido completamente. Alguns
disseram que escaparam através de passagens secretas. Outros, que haviam
sido assassinados por tentar uma aliança com os MacNeills. Ninguém nunca
descobriu o paradeiro deles. Foi dito que Sutherland tinha forçado
MacPherson a concordar em dar a sua adorável filha em noivado ao senhor
do Castelo Argent, ao invés do MacNeill.
— Mas não havia fêmeas nascidas nos MacPhersons. — Julia
adicionou.
— Oh, sim, havia. A mulher na pintura a óleo. Fiona MacPherson.
Ela deveria ser a companheira do avô de Ian. Se algo viesse a parar o
acasalamento, o contrato seria válido para um
acasalamento subsequente entre um lorde MacNeill e uma donzela
MacPherson. Nós desejávamos os laços entre os clãs.
Julia limpou a garganta e toda a atenção voltou-se para ela.
— Mas o meu avô disse que o contrato era entre o senhor do Castelo
Argent e uma donzela MacPherson.
— Aye. Este contrato foi elaborado pelos Sutherland. Sendo tão
arrogantes como eram, não podiam ver nenhum outro clã algum dia tomando
o poder de Argent, acreditavam que afirmar que o acasalamento seria entre o
senhor de terras do castelo e uma prole fêmea MacPherson seria suficiente.
Ian sorriu, levantou a mão de Julia aos lábios e beijou-a.
— Só que os MacNeills se tornaram os senhores e o contrato teria
sido o que os MacPhersons e MacNeills pretenderam em primeiro lugar. O
velho Sutherland cavou a própria cova.
Agnes deu um sorriso tímido.
— Parece que você se tornou o beneficiário do acordo contratado, em
vez de seu avô.
Mas a mãe dele não sorriu.
— Eu queria falar com você na noite passada.
— Aye. — Ian não disse mais nada e o rosto de sua mãe corou de
indignação.
— Você não deveria estar neste filme. Seu pai estaria se revirando no
túmulo. Quanto aos Sutherlands, eles nunca deveriam ter ganhado acesso às
terras. E... — sua mãe deu a Julia um olhar furioso. — Você deveria ter me
dito que planejava se acasalar com alguma ianque. E uma escritora de
romances de lobisomem? — ela deu um irritado tsc baixinho.
Antes que Ian pudesse responder, seu primo ruivo, Oran, correu para
dentro da sala de jantar pelo grande salão.
— O diretor está ameaçando demitir muitos de nós, se não tomarmos
nossos lugares imediatamente.
— Que audácia do homem. — sua mãe disse. — Eu vou lá brigar
com ele. — ela levantou-se da cadeira, mas esperou Ian concordar com sua
decisão.
Ele deu-lhe um aceno de mão.
— Certamente. — então virou-se para Julia. — Pronta para vestir seu
vestido? — Ele lhe deu uma piscadela lasciva.
Sua expressão dizia que, se subissem até o quarto de dormir juntos,
nunca chegariam ao pátio interno para a filmagem da cena.
Pensando melhor, isso lhe conviria muito bem, se não soubesse que
Ian tinha que se certificar que seu povo permanecesse seguro com a ameaça
de Basil e seus homens no local.

Dentro de uma hora, todos os envolvidos no filme tinham tomado


seus lugares. Mas levou muitas horas para conseguir a cena direito e, depois,
quando as filmagens começaram de verdade até a última tomada, Basil
Sutherland não demorou muito para se deslocar de onde deveria estar
lutando com atores humanos para desafiar Ian, ao invés. Sutherland e ele se
apresentaram em segundo plano enquanto o foco da câmera estava
principalmente sobre as estrelas, mas se na prática ou lutando uma batalha
real, Ian concentrou-se sobre o homem e a espada diante dele. Seus irmãos e
Heather estavam observando as mulheres enquanto eles lutavam nas
proximidades. Mas esta era a luta que Ian tinha sombriamente antecipado.
— Você não pode tê-la. Ela era para ser minha! — todo o corpo de
Sutherland estava cheio de tensão, mais tenso do que era seguro, enquanto
balançava sua espada contra Ian. A respiração de Sutherland estava pesada e
seus olhos escuros cerrados com o ódio, a paciência dele espicaçada por
todas as retomadas enquanto filmavam a cena que tinha levado até quase a
noite.
Ian bloqueou o golpe com uma batida forte.
— Você é um maldito tolo, Sutherland. Tentou matá-la na estrada e...
— Matá-la? Eu inabilitei o carro e pretendia resgatá-la, mas então vi
os malditos faróis se aproximando e parti. Elas não deveriam bater contra a
parede de pedras.
Ian empunhou a espada contra Basil, mas o homem voltou ao
combate com um bloqueio robusto. Um estrondo ensurdecedor ecoou. —
Julia é minha. — Ian disse, sua voz baixa e controlada, os músculos soltos,
sua respiração regulada. Avançou de novo no peito de Sutherland, mantendo
seus pés espalhados na largura dos ombros para um melhor equilíbrio. Ele
escorregou pelo piso, plantando as solas de seus pés no chão o máximo que
pôde para manter o equilíbrio e manteve o ataque frontal.
Sutherland caiu para trás de novo, com o rosto vermelho, as mãos
apertadas com força no punho da sua espada.
— O contrato diz o contrário e você sabe disso.
Ian vacilou. A ponta de sua espada curvou-se apenas o suficiente
para Basil se aproveitar. Com um ataque perverso, seu oponente esfaqueou
na direção de seu peito, mas Ian saltou para trás e balançou sua espada para
contra-atacar o avanço da arma de Basil. Jogando-a para o lado, sentiu a
ponta da lâmina do inimigo dilacerando toda a camisa, cortando-a, cortando
sua pele e tirando sangue. Inferno.
Retaliando, Ian balançou sua espada com tanta força que, quando
atingiu Basil, o choque subiu por seu braço. O sorriso arrogante do outro
homem apareceu em seu rosto.
— O que você sabe do contrato? — Ian resmungou, pensando em
como as pessoas de Sutherland tinham invadido as terras dos MacPhersons e
os tomado como reféns antes que seu avô pudesse reivindicar sua
companheira. Contudo, se ele tivesse feito isso, Ian não estaria na posição
que estava agora com Julia.
Tanto Ian como Basil mantiveram suas posturas retas, seus peitos
virados para frente para maximizar a capacidade de simplesmente torcer para
longe de um ataque perigoso.
— Você não pode ser tão estúpido assim. Vocês sitiaram o castelo
dela. Derrotaram-nos. O contrato celebrado entre o clã Sutherland e
MacPherson afirmava que Fiona MacPherson seria companheira do meu
avô. E, se o acasalamento não fosse um sucesso, outra moça MacPherson
estaria prometida ao lorde. Como a união nunca ocorreu, Julia é minha. — O
rosto de Basil estava torcido e vermelho, seus olhos estreitos em confronto, e
até mesmo sua respiração estava esganiçada.
— Sua? — Com os cotovelos próximos ao corpo, a espada pronta,
Ian se lançou para Basil, não a ponto de ser jogado para fora de guarda
novamente. — Se fosse assim, como é que levou tanto tempo para perceber
isso?
— Eu só agora descobri o diário do meu bisavô.
Basil bloqueou o golpe com um movimento frenético de sua espada.
Um estrondo de metais soou por todo o pátio interno.
— O contrato dispõe que os MacPhersons e MacNeills se uniriam
através de um acasalamento antes dos Sutherlands sitiarem o Castelo Argent.
— disse Ian. Embora não precisasse de nenhum contrato para dizer que Julia
era dele.
— O seu pai ou qualquer outra pessoa lhe disse que uma MacPherson
seria a sua?
Não. E isso tinha incomodado Ian, porém a chegada de Oran na sala
de jantar o fez esquecer-se de questionar Tia Agnes sobre isso.
Por que sua família não o deixaria ciente de um contrato como este? No
mínimo, teria procurado a moça e resolvido o problema. Se todas as partes
estivessem de acordo, ele mesmo teria destruído o contrato, com a família
dela e a dele como testemunhas. A menos que a sua família acreditasse que
os MacPhersons tinham todos morrido.
— Você sabe que o que eu digo é verdade. — Basil disse, sem fôlego
enquanto caía para trás pelo golpe de Ian, a lâmina acertando o ombro dele.
Sangue tingiu sua roupa. Ele xingou em gaélico.
— O contrato já não seria mais vinculativo. — Ian respondeu,
embora entre os loups garous teria sido. Suas tradições de longa data o
faziam assim.
— Ah, MacNeill, você não acredita nisso. Tomou minha
companheira prometida quando ela pertence a mim. Seus parentes tomaram
o meu castelo antes. Quanto mais um homem pode suportar? — Basil
normalmente se mantinha calmo em uma luta de espadas, mas sua postura
estava desligada, sua testa cheia de suor.
— A família da moça era dona do castelo antes de vocês. — disse
Ian.
— Eles eram fracos e precisavam de um protetor. Chegamos para
ajuda-los. — Sutherland disse, finalmente, dando um segundo fôlego.
Ian deu uma risada sombria. Basil respondeu com um golpe de sua
espada, mas Ian rapidamente respondeu e a jogou para o lado.
— Você é um bom contador de histórias, Sutherland. Eles podem ter
precisado de um protetor, mas somente por causa da sua família. — jogando
seu peso no balanço, Ian atingiu a espada de Basil com tanta força que o
golpe arrancou-a das mãos e enviou-a navegando através do ar.
Ian observou, então, quão silencioso o pátio estava. Nenhum grito ou
tinido das espadas dos outros homens. Nenhum som diferente, além da
respiração pesada de Basil. O homem mergulhou atrás de sua arma.
Ian se chocou contra ele, derrubando-o, e Basil caiu forte em suas
costas contra o chão. Sua cabeça bateu com um baque surdo. Com seus
olhos cheios de lágrimas, Basil parecia atordoado.
Pisadas apressadas chamaram a atenção de Ian e ele virou-se para ver
uma pálida Julia correndo em sua direção. Antes que pudesse embainhar a
espada, ela colocou os braços ao redor de seu corpo e segurou firme, a boca
beijando seu peito, as mãos agarrandoo pela sua vida.
— Ian. — Julia murmurou contra seu peito e, com a espada plana
contra as costas dela, beijou seus lábios e sentiu o calor pressionado contra
seu corpo, os seios macios e o cabelo de Julia fazendo cócegas em sua pele
onde sua camisa estava aberta.
O mundo parou naquele instante, tudo sumindo no fundo.
Vagamente, ficou ciente dos homens de Basil xingando em um fluxo
constante de gaélico, variações de ―filho da puta‖, enquanto traziam o
Sutherland atordoado para fora do pátio interno.
— Corta! — O diretor gritou no que parecia ser um milhão de milhas
de distância.
— Você ganhou. — Julia sussurrou em meio às lágrimas.
Ian não tinha vencido. O conflito entre Basil e ele era como uma
panela de cozido, fervendo, aquecendo e borbulhando em raiva, depois
esfriando e fervendo novamente até a próxima vez. No passado, isso não
importara. Sutherland queria o castelo de volta, mas não podia abrir um
cerco nos dias atuais. Agora ele queria Julia, também. Mas, não poderia tê-
la, tampouco.
Ian varreu Julia em seus braços enquanto vivas em gaélico, gritos e
assovios alagavam o ar. Ele andou em direção a fortaleza com seu embrulho
de mulher suave e quente.
Quando entrou no castelo, o lugar estava quieto, já que todo mundo
ainda estava lá fora encerrando os negócios. Seus irmãos e os outros iriam
assistir a equipe de filmagem e não deixariam o pátio interno ou externo até
que todos os que não pertenciam ali fossem embora pela noite e as portas,
fechadas e trancadas.
Ele a carregou através do grande salão para as escadas.
O som de pés correndo atrás dele não o fez diminuir o ritmo.
Ele reconheceu as pisadas. Eram de Maria.
— Lorde MacNeill! — ela gritou.
— Fale com ela. — Julia disse, seus brilhantes olhos verdes rogando-
lhe.
— Nós temos outros assuntos a tratar. — ele disse em voz baixa.
Ela fez uma careta para ele.
Ah, certo, e não é como se você fosse sutil sobre isso, Ian. Quero
dizer, todo mundo aqui hoje sabe exatamente para onde você está me
levando.
A boca dele curvou-se ligeiramente, porém, ainda não conseguia
livrar-se das palavras assombrosas de Basil. Que Julia era dele, não sua.
— Todo mundo precisa saber que você é minha.
— Como se alguém fosse ser assim tão sem noção.
Maria mergulhou na frente de Ian, mas ele rapidamente se esquivou a
moça.
— Agora não, Senhorita Baquero.
— Lorde MacNeill, Harold queria que eu lhe dissesse que você foi
brilhante. — disse Maria, correndo ao lado dele.
— Sim, ele está certo.
Julia balançou a cabeça.
— Ele também mencionou quão humilde Ian é?
Maria sorriu e depois continuou:
— Você não tem um papel de destaque no banquete final, mas ele
quer lhe dar um papel maior. Quer que você mate seu arquiinimigo na tela.
Ian levantou a sobrancelha para Maria.
— Não de verdade, é claro. Você concordará?
Eu não quero Basil ou seus homens dentro do castelo. Somente
meus homens e atores de Harold vão estar lá.
— Nós discutimos isso antes. Eles estão contratados como figurantes
e, sem alguma justa causa para deixá-los ir...
— Maria. — disse Julia. — Você sabe a animosidade que existe entre
os dois clãs e quão perigosa essa combinação inflamável pode ser.
— É justamente isso que Harold ama. Parece tão real. Ninguém
poderia agir da maneira que Ian e seus homens fazem quando estão lutando
contra Sutherland e os dele. Harold jurou que estava assistindo a uma
verdadeira batalha no pátio apenas agora.
— E ele estava. — Julia a lembrou.
Ian se dirigiu para as escadas com Julia ainda entrelaçada com força
em seus braços.
— Por favor, concorde em fazer este pequeno último papel, Lorde
MacNeill. — Maria tentou novamente. — Ele quer que você se sente na
mesa principal com John Duvall enquanto Julia estará sentada em uma das
mesas mais baixas. Então, Basil dará em cima de Julia e...
— Não. — Ian grunhiu. — Julia não participará de nada disso.
— Ele está oferecendo um monte de dinheiro. Quer vocês dois nesta
cena.
Sem responder a ela, Ian caminhou até as escadas.
Se o preço for justo, nós podemos fazer. — disse Julia,
sorrindo para Ian. — Ele pode pagar pelo meu vôo até aqui, o custo da
hospedagem e salários para a cena.
— Quem é o senhor de terras de Argent? — ele perguntou a Julia
bruscamente.
Ela sorriu maliciosamente. — Oh, você é, meu lorde! Resolva a
questão entre você e Sutherland de uma vez por todas.
— Isso nunca vai ser resolvido. — ele disse sombriamente.
— Eu vou dizer a Harold que vocês estão de acordo. — Maria correu
de volta pelo caminho que veio.
— Além disso... — Julia disse, sorrindo para ele de uma forma muito
intencional:
— Eu sou a senhora do castelo e você seria negligente em não se
lembrar disso. Especialmente quando este costumava ser o meu castelo.
— Então, eu vou ter que provar novamente a você quem é o senhor
de terras. — e com essa declaração, Ian carregou sua linda companheira até
seu quarto com toda a intenção de fazer o mundo se ajoelhar aos pés dela
assim como ela fazia por ele.
CAPÍTULO 23
Durante dias, enquanto as filmagens continuaram nas cenas
envolvendo apenas o elenco de personagens principais, Cearnach e vários
dos membros do clã MacNeill asseguraram que o diretor acessasse somente
aqueles locais já acordados. Enquanto isso, Julia, Ian, seus irmãos
remanescentes, alguns primos, incluindo Heather e até mesmo a Tia Agnes
procuraram no castelo pelo nicho secreto onde os MacPhersons haviam
escondido a caixa. Tia Agnes teve certeza que sabia onde a caixa estava
escondida em diversas ocasiões e, quando se provava errada, animadamente
explicava onde pensava que poderia estar a seguir.
Quando não tiveram sucesso, Julia parecia tão decepcionada que Ian
a levou de volta para as cataratas, só que desta vez, andando a cavalo com os
cães a tiracolo e uma escolta, como se estivessem vivendo no passado e o clã
inimigo estivesse ao redor deles. E assim era, uma vez que Basil e seus
homens haviam se inscrito como figurantes e ido atrás de Ian e Julia em suas
formas de lobo perto de Baird Cottage.
Com os pés descalços, a calça jeans enrolada e exibindo suas pernas
esguias, Julia sentou-se na borda de uma pedra e deu respirações profundas
para provar o ar fresco e a água fria em movimento, com o rosto inclinado
para o sol, seus olhos fechados. Seu cabelo vermelho estava solto e vibrando
na brisa, enquanto uma leve calça jeans e um suéter azul claro delineavam as
suas curvas bem torneadas. Ela estava deslumbrante, como uma grande parte
do cenário pitoresco, enquanto a água espumosa corria através de pedras
cobertas de musgo e árvores sombreando as margens.
Ian pensou que nunca olharia para as cataratas da mesma forma
novamente, como apenas parte da paisagem, sem nada para fazê-lo parar e
apreciá-las em um dia parcialmente ensolarado de verão. Ian sempre
compararia as cataratas com Julia agora e com o jeito que o tinha feito ter
prazer com o cenário e perceber o quão abençoado era com ela em sua vida.
Julia foi quem fez toda a diferença no mundo para ele.
Ian tirou as botas e meias e, em seguida, sentou-se atrás de sua
companheira sobre a rocha, puxando-a entre suas pernas, seus braços em
volta dela, o queixo descansando no topo de sua cabeça, os joelhos ao redor.
As costas de Julia derreteram contra seu peito, relaxada e em paz.
Ian queria encontrar a caixa, tanto quanto sabia que ela queria.
Estava curioso sobre o seu conteúdo e porque o avô dela foi tão inflexível
que ninguém deveria vê-lo. Mas tudo o que realmente importava era que
Julia e ele tinham encontrado um ao outro.
— Você sabe moça, você é um tesouro para mim.
— Hmm. — Julia disse, aconchegando-se mais perto. — Se está
tentando fazer com que eu me sinta melhor sobre não encontrar a caixa, você
conseguiu. Vir aqui e estar com você assim... — ela suspirou. — Eu me
pergunto como teria sido em épocas anteriores.
Assim como é agora. — disse Ian. — As rochas, a água, as
árvores. Teríamos os cavalos, um guarda e os cães com a gente, assim como
hoje. Você vai escrever isso na sua história?
Ela acariciou o joelho dele.
— Eu vou, mas apenas de uma forma ficcional. Preciso falar com
você sobre algo mais, no entanto.
— Aye. — ele beijou sua cabeça, esperando que o algo mais não
fosse um problema grave demais. — O que está incomodando você, então?
— Eu tenho uma sessão de autógrafos marcada na Powell, em
Portland, Oregon, e outras aparições que devo fazer para um par de novos
lançamentos.
Ele franziu o cenho.
— Mais entrevistas do tipo ―Indo para a cama com Julia
Wildthorn‖? Você não pode, pelo menos, disfarçar sua foto de autora um
pouco?
Ela riu.
— Wildthorn é um pseudônimo e eu não usarei o nome
MacNeill, o que escandalizaria a sua mãe.
— Eu acredito que ela está chegando a um acordo com o que você
faz. — ele se inclinou e beijou a bochecha macia de Julia.
— Oh? Sua mãe não falou comigo sequer uma vez. Pelo menos sua
Tia Agnes está nos ajudando a procurar pela caixa. Ela é engraçada. Seu
rosto se ilumina tanto quando tem outra ideia de onde poderia estar e lá
vamos nós em outra busca inútil.
Tia Agnes leu seus livros. Cada um deles. E ela ainda fez
Duncan alugar um vídeo de ―Conquistando o Lobo‖ e depois o assistiu com
várias pessoas da nossa gente na sala de bilhar.
— Quando?
Julia soou tão surpresa que ele sorriu e beijou sua bochecha
novamente e, em seguida, abraçou-a com mais força.
— Quando você e eu estávamos no andar de cima fazendo amor.
— Isso realmente determina a hora certa. — ela suspirou. — Então, o
que todo mundo achou disso?
— Tia Agnes ficou lívida que a heroína acabou com um humano
como seu companheiro, quando a sua história mostrou que ela terminou
acasalada com o líder alfa da matilha.
— Isso é Hollywood para você. Eles acharam que humanos
apreciariam mais se a heroína se apaixonasse pelo homem e ele não tentasse
matá-la. É uma coisa humana, eu tenho certeza.
— Mas não era a sua história.
— Sim, mas para colocar uma história em formato de filme, por
vezes, os autores têm que ceder um pouco. Sua mãe não assistiu ao filme?
Ele riu.
— A menos que seja BBC, mamãe não assiste tevê. Tia Agnes queria
saber se você poderia mudar seu nome para MacNeill em seus livros para
nos honrar.
Hmm, eu tenho certeza que isso realmente correria mais do
que bem com sua mãe.
— Você só tem que se preocupar com a forma como eu me sinto
sobre isso.
Julia olhou para ele.
— Então, como você se sente sobre isso?
— Tudo o que lhe fizer feliz, amor. Sobre esses compromissos dos
livros que você tem, não pode simplesmente fazê-los on-line?
— Não.
Sua franqueza o divertia.
— Então eu terei que acompanhá-la.
Ela sorriu sua expressão tão contente que ele estava feliz em ajudar.
— Você faria isso?
— Nenhuma companheira minha vai percorrer o mundo todo
sozinha. Eu não mencionei isso quando nos conhecemos? Que existem
muitos lobos por aí?
— Oh, Ian, adoraria que você... — ela fez uma pausa e, então, seus
olhos se arregalaram. — Você poderia usar o kilt.
— Eu apenas o uso para ocasiões especiais.
— Ah, sim, isso seria especial. As mulheres cairiam todas
estabanadas ao vê-lo em um kilt.
Eu não quero que as mulheres se machuquem para me ver
num kilt, embora acredite que você exagera um pouquinho.
— Acredite em mim, não exagero. Um olhar para você no seu kilt e
vai tê-las desmaiando nos corredores.
Isso o fez se lembrar do comentário de seu irmão que mulheres
estariam escalando os portões para chegar até ele.
— Você não está preocupada com a atenção que eu poderia atrair?
— Só se as mulheres ficarem tão enredadas em você que se
esqueçam de comprar meus livros.
— Eu não sou bom em falar com estranhos, Julia. Posso não fazer a
melhor das impressões. Vou afugentar a todos.
Ela sorriu.
— Carregue no sotaque e eles não vão saber o que você está dizendo,
mas vão adorar cada palavra.
— Ou eu poderia falar gaélico.
— Ah, meu selvagem highlander, nem mesmo eu saberei o que você
vai dizer então...
Ele beijou sua orelha e sussurrou:
— Então, você vai ter que aprender, minha bonita moça.
— Se você me ensinar... — ela disse, beijando sua boca de volta:
— Eu tenho certeza que irei aprender rápido.
Depois de mais uma hora desfrutando das cataratas, Ian levou Julia
até seu cavalo e a ergueu sobre a sela na frente dele, enquanto Duncan,
Guthrie e seus dois primos os escoltando observavam.
Eles só tinham começado a galopar de volta às terras, quando Guthrie
disse:
— Você vai precisar de outros highlanders para acompanhá-la para a
América, moça?
Duncan assentiu.
— Tenho certeza de que eu poderia limpar a minha agenda para
garantir a sua segurança também.
— Vestindo kilts? — ela perguntou alegremente.
Ian balançou a cabeça.

O último dia de filmagem havia chegado; o dia de filmar o banquete


final, onde o herói venceria o vilão para sempre. Para a surpresa de Ian, sua
mãe tinha se tornado mais preocupada com a segurança de Julia do que ele
teria pensado possível.
Torcendo as mãos, ela o surpreendeu na sua câmara privada, depois
de tentar, sem sucesso, mais cedo várias vezes, fazê-lo mudar de ideia sobre
Julia estar no banquete.
Ian, você realmente não pode permitir isso. Você estará
armado com uma espada. Julia não tem nada para protegê-la.
— Ela me tem.
Sua mãe franziu o cenho.
— Você estará muito longe da mesa onde ela deve se sentar. Eu vi os
arranjos e conversei com o maldito diretor, que apenas sorriu para mim
como se tivesse perdido os sentidos, mas ele não pode entender a
animosidade que os Sutherlands e MacNeills compartilham. Você deve
reconsiderar.
— Eu já concordei com a cena, embora tenha feito algumas
modificações. Duncan e Cearnach estarão sentados perto dela. Eles não vão
deixar nenhum mal chegar a Julia.
— Eu disse o tempo todo que isso é loucura. Você sabe por que lhe
dei o nome de Ian?
— Porque você ficou muito aliviada ao ter o primeiro de nós
nascido?
Ela franziu o cenho para ele.
— Seja sério, Ian. Você foi meu primogênito, aquele que iria assumir
o clã e a matilha quando seu pai não fosse mais capaz de liderar. Você é
realmente um presente de Deus, aquele que vem conduzindo esta matilha
através de prosperidade e crises muito numerosas para mencionar. Todos lhe
olham com admiração, mesmo durante esta loucura que tivemos de
participar para manter o nosso castelo solvente. Você deve fazer outras
concessões. Julia é muito importante para a matilha para perder agora.
Para a matilha. Sua mãe ainda não podia dizer que sua companheira
era importante para ela. Apesar de Julia admitir que isso não importasse,
sabia que no fundo importava.
— Nós vamos ficar bem, de verdade. Não tenha nenhuma
preocupação. — Ian estava apreensivo o suficiente pelos dois, do jeito que
estava, sem se preocupar com a interferência de sua mãe.
Pouco tempo depois, tomou um lugar na mesa principal, mais perto
do fim, o que, considerando que era o verdadeiro senhor de terras do castelo,
deveria tê-lo irritado, mas não o irritou. O herói do filme e o antagonista
iriam interpretar seus papéis na cena final, enquanto eles se sentavam no
centro da mesa. Seu foco estava sobre Basil, sentado numa das mesas mais
baixas, na frente de onde Julia estava sentada com Heather. Ele estava muito
perto e Ian não gostou disso. Seus homens estavam sentados perto das duas
mulheres, mas a maneira como Basil continuou olhando de soslaio para Julia
era real, não atuando nem um pouco.
Se Julia não tivesse insistido que eles interpretassem a cena para
ganhar algum dinheiro extra e fazer Harold pagar sua passagem de avião e
despesas de alojamento, Ian nunca teria concordado com isso.
— Você diz que deseja saber a minha relação com a dama. — o
lorde-ator estava dizendo ao seu inimigo. — Você, Barão, faria bem em lidar
com seus próprios problemas e nos deixar bem o suficiente sozinhos nas
Terras-Altas.
O barão rosnou:
— Eu quero saber se a dama está destinada a ser sua esposa.
Ela é prima do meu maior aliado. Então, sim, ela vai ser
minha esposa.
O barão levantou-se rapidamente, os guardas do lorde-ator correram
adiante e Basil estava na deixa para tentar agarrar Julia no conflito
subsequente entre o lorde-ator e seu inimigo. De uma só vez, o salão se
encheu de caos. Os homens de Sutherland saltaram de suas posições para
lutar contra os de MacNeill e Basil lutou contra Duncan antes que Ian
pudesse chegar até ele. Mas o bastardo saltou num dos bancos, que não tinha
sido parte do cenário planejado, saltou para a mesa onde Julia estava sentada
e, em seguida, se lançou para ela. Um homem de Basil balançou uma espada
contra Duncan, mantendo-o ocupado para que não pudesse seguir Basil.
Cearnach também estava envolvido com um dos homens de
Sutherland.
Julia saiu correndo imediatamente de Basil, mas membros do clã
Sutherland em ambos os lados da briga cercaram-na e ela não conseguiu ir
longe o suficiente.
Os planos de Ian para mantê-la a salvo estavam falhando.
Basil segurou o braço dela. Julia agarrou uma caneca na mesa e
tentou atingi-lo no alto de sua cabeça, mas ele bloqueou seu golpe com o
braço da espada, derrubando a caneca de sua mão. Ian xingou em gaélico,
empurrando os atores e os homens de Basil para longe, ao tentar chegar até
sua companheira.
— Julia! — ele gritou.
— Ian! — Ela soou desesperada e com medo, seus olhos selvagens
enquanto lutava contra o punho de ferro de Basil.
Basil a puxou através dos homens em combate, tentando levála para
fora do salão. No roteiro, ele deveria morrer, mas Ian presumiu que Basil
nunca teve qualquer intenção de morrer. Parecia agora que só concordou
com a pequena encenação para dar em cima de Julia enquanto tudo estava
tão caótico.
Para adicionar ao horror, a mãe de Ian apareceu, usando um vestido
azul escuro com um manto do tartan MacNeill preso sobre ele enquanto
empunhava um dubh sgian ―adaga pequena‖, obrigando os homens a sair
da sua frente. Inferno. Agora, também tinha que resgatar sua mãe.
Mas os membros do clã dos dois lados se afastaram dela enquanto
continuaram a lutar. Ao mesmo tempo que um dos sublíderes de Basil
levantava a espada contra Ian, sua mãe chegou até Julia e enfiou a faca preta
na mão dela.
Basil ainda estava tentando puxa-la contra ele enquanto Julia lutava
contra seu confinamento. E então, ela torceu o braço para baixo e por dentro
e, com a manobra, conseguiu libertar-se. Quando olhou para o dubh sgian
com o qual o rechaçou, Basil simplesmente zombou dela:
— Você teria que me ameaçar com algo um pouco mais imponente,
moça.
Ele golpeou a lâmina e ela a deixou cair pelo impacto com um
suspiro. Basil agarrou o braço dela, quando ainda estava atordoada demais
para responder.
Derrubando ao chão o homem com o qual vinha lutando, Ian correu
em defesa de Julia.
Solte-a imediatamente, Sutherland. — Ian plantou-se entre Basil e
a entrada. — Você não vai sair daqui com ela. — ele tinha que se lembrar de
que não podia matar o desgraçado. Que isso tinha que parecer real para o
filme, porém, neste momento, não se importava o que estava acontecendo
com relação às filmagens.
Em seguida, o bastardo atacou a espada de Ian, querendo que ele
lutasse enquanto mantinha Julia esmagada contra seu peito como um escudo
humano.
— Você não pode lutar contra mim, sem arriscar a vida dela, Lorde.
Ian focou na espada de Basil, tentando golpear forte o suficiente para
que pudesse arrancá-la das mãos dele. Mas, agarrando o braço de seu captor,
Julia torceu o corpo, usando seu quadril para pô-lo fora de equilíbrio.
Enquanto Basil perdia o controle sobre ela conforme evitava cair, Duncan
correu e puxou Julia para longe e Ian aproveitou-se do que desejava que
pudesse ser uma matança.
Irritado além da razão, Ian brandiu e estocou a espada em Basil, que
tropeçou em um banco e ficou apoiado em uma mesa, xingando Ian em
gaélico.
— Você não pode tê-la. — Ian advertiu em sua língua nativa. — Ela
já é minha companheira.
— Quando você estiver morto... — Basil ameaçou. — Ela estará
livre para ser minha.
Ian continuou a avançar sobre Basil de uma maneira tão agressiva
que o bastardo não tinha recurso, exceto continuar a recuar e se defender
com a espada.
Então, Heather subiu numa mesa atrás de Basil, um jarro de barro
usado para servir hidromel durante a festa estava em suas mãos, e ela bateu o
jarro em cima de sua cabeça. Um líquido âmbar escorreu pelo rosto dele
enquanto o guerreiro uma vez feroz caía no chão.
A filmagem durou apenas mais um par de minutos, enquanto o lorde-
herói e seu arqui-inimigo lutaram entre si e, em seguida, o senhor de terras,
com um golpe mortal final, tirou a vida de seu inimigo.
— Corta! Este é o fim! — O diretor gritou.
Para o filme, tudo estava acabado. Mas o problema estava longe de
terminar entre Ian e Basil, enquanto seus homens levavam seu líder aturdido
para fora do salão, amaldiçoando sob suas respirações e jurando vingança.

Depois de celebrar uma verdadeira festa com seu clã e a amiga de


Julia, Maria, Ian tinha colocado Cearnach e Duncan como encarregados de
vigiar a equipe de filmagem, enquanto eles limpavam a última de suas
bagunças.
Agora, Ian se aconchegava com Julia, nua, na cama dele, na cama
deles, melhor dizendo. No passado, como senhor de terras, esta tinha sido a
sua cama. Aquela, no quarto ao lado, era de sua senhora.
Mas, para Julia, esta era deles.
Com orgulho na voz, Julia disse:
— Sua mãe veio em meu socorro.
Seu coração tinha quase parado de bater quando viu sua mãe entrar
no grande salão carregando o dubh sgian, presente de seu pai para ela em
tempos antigos para ser usado para proteção. Ele acariciou o ombro nu de
Julia.
— Aye, moça.
— Eu acho que ela pode até mesmo meio que gostar de mim.
Ele sorriu e beijou o rosto de sua companheira.
— Ela gosta.
— Talvez um dia sua mãe vá pensar em mim como a filha que nunca
teve. Quer dizer, se ela não pensar em mim escrevendo romances de
lobisomem. Ou que eu sou americana.
— Ela ficou furiosa comigo por eu ter concordado com a cena no
grande salão, em primeiro lugar, preocupada com a sua segurança. No
entanto, nunca pensei que ela iria defendê-la e arriscar seu próprio bem-
estar.
— Você não me disse que ela se sentia dessa forma.
— Eu não queria que ela perturbasse você.
Julia beijou o pescoço de Ian e deslocou sua perna sobre a dele,
espalhando-se para ele, reivindicando-o e deixando-o duro e com tesão.
— Basil vai retornar, você não acha? — Ela perguntou.
— Ele não vai tentar de novo. — Ian assegurou, sua voz na fronteira
com um rosnado.
Nada mais importava depois disso. Apenas que Julia e seu povo
estavam a salvo e que ela era sua para amar e proteger.
À medida que o brilho fraco da luz do sol desaparecia do céu, ele
beijou sua boca desejosa, amando quão inquieta ela se tornava enquanto a
punha de costas e pressionava mais beijos por toda a seu queixo e abaixo da
garganta, os dedos amassando o volume de seus seios.
Ele amava como ela o incitava a possuí-la, adorava a sensação das
mãos dela passando sobre sua pele, o toque deixando-o excitado e
necessitado, voraz para ter sua satisfação. Ansiava por Julia, desejando-a e
odiando quão possessivo o fazia se sentir, quão fora de controle quando
raramente se sentiu assim em qualquer momento da sua vida.
A respiração dela acelerou enquanto passava os dedos pelo cabelo
dele com um toque suave, os olhos brilhando como jades focados nos dele,
os lábios entreabertos, cheios e deliciosos, e dele para tomar. Ela lambeu-os
como se antecipando degustar um doce de leite e ele segurou sua cabeça
entre as mãos e beijou sua boca profundo e fortemente, o suave toque úmido
e o picante sabor doce inebriando seus sentidos.
As mãos de Julia se deslocaram até a bunda dele, apertando sua
carne, seu toque escaldante e tornando sua respiração rouca de desejo.
Ian se moveu para cima dela, sua mão sobre seu seio, amassando o
macio globo feminino. O mamilo enrijecido para ele, então, o beijou e
lambeu e depois o outro, também.
Ela murmurou algo em voz baixa. Ele pensou que disse ―depressa”,
mas não pôde ter certeza. Ou talvez fosse a pequena voz em sua cabeça
empurrando-o a possuí-la rápido e furioso.
Seus dedos acariciaram sua barriga macia, indo para o sul, enquanto
deixava beijos para baixo de suas costelas e, então, encontrou o centro de
sua doçura na cama de cachos ruivos. Ele tocou o clitóris inchado e ela
gemeu e se contorceu sob suas carícias.
Um suave suspiro e ondas de clímax encontraram seus dedos
especialistas e então estava dentro dela, enterrado até o cabo, empurrando e
encontrando-a enquanto Julia se arqueava contra ele. Os olhos dela estavam
nublados de desejo, os lábios cheios e inchados, sua pele corada com o atrito
enquanto seus corpos colidiam um contra o outro. Os mamilos estavam
escuros e rígidos. E o sexy perfume doce agarrava-se a ela como um véu
invisível perfumado.
— Eu amo você, Ian. — Julia murmurou contra seus lábios, sua
expressão de amor e luxúria.
— Moça bonita... — foi tudo o que Ian conseguiu dizer conforme a
tensão da doce antecipação aumentava cada vez mais, até que ele estava
atingindo o ápice e não conseguia segurar por mais tempo.
Liberando-se, lançou sua semente profundamente dentro de seu corpo
disposto, bombeando até que estivesse sem nada.
Ela murmurou:
— Eu amo você. — novamente.
— Sim. — Ian disse, deitando de costas e puxando-a contra si,
enquanto ela apoiava a cabeça em seu peito, sentindo-se saciada, satisfeita e
no topo do mundo.
Só que ele sabia que a situação com Basil estava fadada a voltar para
assombrá-lo.

— Ian. — Cearnach disse baixinho, tentando acordá-lo, e nos


recônditos de sua mente, percebeu que não era um sonho enquanto seus
braços se apertavam em torno de uma Julia nua em sua cama.
Ele abriu os olhos e viu seu irmão franzindo o cenho, seu olhar
preocupado. Saiu de debaixo do corpo nu de Julia, ainda coberto com a
colcha.
— O que está errado? — Ele perguntou, levantando-se e rapidamente
pegando um par de boxers de sua cômoda e, em seguida, vestindo-as.
— Heather foi levada.
Ian olhou para ele de queixo caído por um momento e, em seguida,
agarrou as calças penduradas nas costas de uma cadeira e praguejou
baixinho.
— Tem certeza?
— Aye. — Cearnach entregou-lhe um pedaço de papel.
Ian rapidamente examinou o bilhete digitado.
Eu quero Julia. Nós vamos fazer uma troca. Sua mulher pela sua
parenta. Por ora, Heather está segura.

— Como diabos eles conseguiram levá-la? — Ian perguntou.


— Aquele John Smith acabou sendo um ator secundário no filme.
Basil pagou ao cara para enviar-lhe um bilhete. Ela acreditou que iria vê-lo
e, quando saiu da fortaleza, Basil e seus homens a agarraram.
— John Smith?
— Não é o seu verdadeiro nome, mas sim, aquele que ela tentou ver
mais cedo e você pôs um fim nisso. Segundo o bilhete, ele não iria deixar a
Escócia até amanhã e queria vê-la hoje à noite, se pudesse se esgueirar para
fora.
— Reúna nossos homens.
O olhar de Cearnach era feroz, ele assentiu.
— Eles estão prontos. Nós sentimos os cheiros deles na floresta.
São lobos hoje à noite.
— Então nós vamos cumprimentá-los da mesma forma.

A primeira coisa que Julia teve ciência foi que algo frio pressionava
firmemente contra seu braço. Seus olhos se abriram. O dormitório estava
envolto em trevas, mas, apesar de sua visão noturna, não viu nada. Os
batimentos cardíacos aceleraram e rapidamente sentou-se na cama. Ian tinha
ido embora, mas algo, alguém, estava no quarto com ela.
Um homem, um fantasma de um homem, pairava sobre ela ao lado
da cama.
— Flynn? — Ela sussurrou.
Seu selvagem cabelo ruivo e barba bem aparada o faziam parecer
como um guerreiro antigo. Ele era alto como Ian e seus irmãos e usava um
kilt e uma espada, como se estivesse pronto para a batalha, mas segurou o
dedo nos lábios dela, advertindo-a a ficar em silêncio.
Foi quando ouviu um movimento na câmara da senhora, ao lado de
Ian. Uma onda de frio penetrou seus ossos enquanto alarme se espalhava por
ela.
Flynn puxou-a pelo braço para fazê-la ir com ele, apontando para a
porta, mas ela não estava vestida.
Tudo aconteceu tão rápido depois disso. Dois homens, um deles
Basil Sutherland, entraram no quarto pela câmara da senhora adjacente à de
Ian. Ela abriu a boca para gritar, mas o coração de pedra, Basil, a silenciou
com um golpe na cabeça.
Estrelas polvilharam sobre os olhos brevemente antes de a escuridão
apagar sua visão noturna.

Como lobos, Ian e seus homens procuraram Heather depois que


descobriram seu sumiço. Ele sentiu como se estivessem perseguindo
sombras toda à noite. Assim que avistou um lobo da laia dos Sutherlands,
correu atrás dele, mas cada animal cinzento se derretia no nevoeiro como um
demônio fantasmagórico.
Duncan se juntou a ele e, com um aceno de cabeça, disse que não
tinha tido mais sorte perseguindo os bastardos do que Ian.
Em seguida, um ganido de medo veio de perto das cataratas. Heather.
Ian e Duncan correram em direção ao rio, enquanto o coração de Ian
se alojava em sua garganta. Se algum dos parentes de Sutherland tinha
prejudicado a sua prima, o grupo inteiro deles iria morrer.
Logo foi acompanhado por mais cinco de seus homens, todos
correndo como lobos em alta velocidade para chegar a Heather a tempo.
Um lobo Sutherland se esquivou mais profundamente na floresta à
direita de Ian, mas nada iria distrai-lo de chegar até Heather. Dois de seus
homens correram atrás deles, no entanto.
As cataratas se aproximaram e uma chuva fria estava derramando das
nuvens quando ele a espiou, amarrada como um cordeiro para a matança, só
que em forma de loba, os pés amarrados e seu focinho amordaçado para que
não pudesse uivar.
Ela estava aqui sozinha.
Primeiramente, o alívio inundou suas veias ao vê-la ilesa, embora
seus olhos estivessem selvagens com medo. Duncan rapidamente se
transformou e retirou as restrições dela.
Alguma coisa estava errada. A maneira como os lobos de Sutherland
tinham atraindo-os para fora, mas não haviam se envolvido em combate. A
forma como levaram Heather como refém e a deixaram para trás.
Ian olhou na direção do castelo. Julia era quem Basil queria. Não
Heather. Maldição. Foi uma distração. Um meio para levá-lo para longe da
moça. Garantindo que Heather estava bem, Ian fez um sinal com a cabeça
para o castelo e deu um rosnado baixo.
— Julia. — Duncan disse com total clareza.
Sim, Julia. Ian tinha cometido o mais grave erro. Ao resgatar sua
parente, ele deixou sua linda companheira desprotegida.
— Eles não podem atacar com sucesso o castelo, Ian. — Duncan
gritou atrás dele, enquanto Ian corria para casa.
Eles podiam não ser capazes de invadir o castelo, mas não tinha
nenhuma dúvida de que Basil tinha outros planos em mente.
CAPÍTULO 24
Vozes sussurradas e iradas ecoaram pelas paredes ao longe enquanto
Julia tentava perceber onde estava e o que tinha acontecido. Sua cabeça
latejava pra caramba e focar demandou uma enorme quantidade de esforço.
Ela foi recompensada com mais dor lancinante e visão turva. Mas, nesta
consciência difusa, pensou ter visto Flynn agachado ao lado dela, seu aperto
gelado em seu braço nu.
Ela percebeu, então, que estava nua, enrolada num lençol, deitada no
chão rochoso dos túneis secretos abaixo do castelo. Tomou uma respiração
profunda do ar frio e úmido e estremeceu.
— Mude de forma, minha senhora. — Flynn sussurrou. Sua voz
fantasmagórica cintilou em seu cérebro, as palavras incapazes de penetrar
sua mente enevoada.
— Transforme-se numa loba, moça. Depressa.
— Loba. — ela disse e fechou os olhos.
Um rude puxão em seu braço a tirou do casulo de escuridão onde
desejava permanecer até que a dor em sua cabeça fosse embora. — Você
pode lutar contra eles, como uma loba. — Flynn insistiu, sua voz sombria e
insistente.
— Loba. — Ela fechou os olhos, tentando se lembrar do que tinha
acontecido. Onde estava Ian? Por que estava nos túneis?
— Julia. — Flynn disse, sacudindo-a com força.
Seus olhos se abriram.
— Minha senhora, você está em grave perigo. Até Ian retornar, só eu
posso protegê-la. — ele parecia muito triste com o pensamento.
— Proteja-me. — ela sussurrou. Flynn não poderia protegê-la.
Não como um fantasma. — Ian. — disse, com a voz abafada.
— Procurando por Heather. Levaram-na.
Ela gemeu, levantando a mão até sua cabeça.
— Heather. — Mas não conseguiu invocar a necessidade de mudar
de forma. Ela tentou novamente e novamente. Cada vez, a dor atravessava
seu cérebro, dando curto-circuito
no pequeno pensamento que poderia trazer à tona e a escuridão se
apoderou dela. Vozes irritadas a alcançaram de novo.
— Como diabos eu sei como o alçapão foi trancado? — disse uma
voz de homem.
A respiração dela suspendeu. Julia vagamente reconheceu a voz dele.
Onde tinha ouvido aquela voz antes? O tom sombrio e ameaçador. Basil
Sutherland. E ele estava aqui em baixo. Com ela. Estava nua e incapaz de
lutar. A menos que pudesse mudar de forma.
Ela apertou as mãos contra as têmporas, tentando conter a dor. Flynn
estava certo. Tinha que mudar de forma. Como uma loba, tinha dentes maus,
um rosnado e uma mordida viciosa. Ela poderia uivar, avisando a qualquer
um que estava no castelo onde estava.
— Nós temos que subir através do castelo. Arriscar nossas chances
em sair pela porta traseira. Não temos outra escolha. — disse o outro
homem.
Pisadas vinham na direção dela. Longos passos pesados ecoando nas
paredes de pedra.
— Transforme-se, droga — Julia disse a si mesma. Ela se
concentrou, obrigando-se a mudar de forma. Dor penetrou como agulhas
através de seu cérebro e os passos morreram.
Até que aquela mão gelada a balançou para acordar novamente.
— Julia, eles estão vindo.
Ela quis dizer ―Eu sei‖. Mas não conseguiu pronunciar as palavras.
Saber e fazer estavam em lados opostos da escala. Apenas se manter focada
nos passos rapidamente chegando era bastante esforço.
— Eu vou morrer lutando por você, minha senhora. — Flynn disse.
Ele galantemente saudou-a com sua espada plana contra seu peito e, em
seguida, seguiu adiante.
De início, alarme a encheu enquanto se preocupava que Basil mataria
o escocês solitário, seu cérebro ainda mal conseguindo se fixar em qualquer
pensamento razoável. Então, lembrou a si mesma que Flynn não poderia
mais sentir nenhuma dor. Não como ela poderia.
— Porra, Caralho! — Basil gritou.
— É Flynn. — disse outro homem e deu uma risada sombria. — Ele
está protegendo o castelo enquanto Lorde MacNeill busca no campo pela sua
prima.
Os passos que tinham parado tão de repente começaram novamente.
Tão perto. Perto demais.
Ela tentou se transformar novamente. Sua cabeça se dividiu em duas.
— Julia? — Flynn gritou. O som era assustadoramente profundo e
cortou através da escuridão que a engolia inteira.
Seus olhos se abriram para ver Basil ao virar da esquina e seguir em
sua direção, os olhos negros brilhando em ameaça, o rosto vermelho de
raiva, forte, determinado e ameaçador.
— Você está acordada, moça. Isso não vai servir.
Ele queria nocauteá-la de novo.
— Eu posso nunca mais ter o castelo de volta, embora tenha planos,
já que Silverman não conseguiu arruinar financeiramente os MacNeills, mas
fiz um juramento aos meus antepassados, eu terei a moça MacPherson
prometida a minha família para chamar de minha. Além disso, ela é uma
descendente direta do Duque de Argyll, chefe do clã Campbell.
— Ah, é por isso que você a quer. Pensa que pode obter concessões
especiais da família do Duque, então?
— Não, seu idiota. Eu a quero porque é meu direito divino.
Basil não disse nada por um minuto e, em seguida, acrescentou:
— Todavia, o fato de que é descendente de um Duque adoça a
situação um pouquinho.
Mas sua família, conhecendo a verdade da questão, já que a história
era transmitida oralmente de geração em geração, não tinha prova escrita da
conexão com o Duque, também conhecido como o Marquês de Kintyre e
Lorne. Basil tinha?
Ela convocou o desejo de mudar de forma. Era como se a corrente
elétrica de um interruptor de luz fosse desligada. Tinha os dedos sobre o
interruptor, mas quando o empurrava para cima, nada acontecia. Exceto pela
maldita dor. Desejou que pudesse desligar isso com o toque de um botão.
Basil estava quase em cima dela agora. Flynn moveu-se para detê-lo,
balançando sua espada e cortando Sutherland ao meio, mas a espada
fantasmagórica não teve efeito.
Julia rezou para que conseguisse mudar de forma. E então, sem
perceber que estava mudando, seu sangue e ossos derreteram-se em um calor
confortável, envolvendo-a e, instantaneamente, a pele nua ficou coberta de
pelos, os dentes longos e afiados, mas seus olhos estavam embaçados.
Ela era agora uma loba enroscada em um lençol e sua cabeça doía
tanto quanto antes.
Ela fez um pequeno uivo de pânico que não poderia ter ido mais
longe do que a poucos centímetros do seu nariz.
— Inferno. — Basil disse, alcançando-a. — Mude de volta.
Julia resmungou, mas o som pareceu preso em sua garganta. Ainda
assim, Basil não a golpeou como pensou que faria. Ele não deve ter
percebido quão fora de si ela ainda estava.
— Eu não tenho outra focinheira comigo. — disse o outro homem.
— Nocauteie-a então. — Basil ordenou.
Então, ele não tinha a coragem de fazer o trabalho sujo desta vez.
Quando ela era uma mulher indefesa, aquilo não tinha sido um problema.
O homem hesitou.
Basil empurrou-o para fazê-lo. Ela mostrou os dentes. Não achava
que parecia muito assustadora. Não devia estar franzindo o nariz tanto
quanto queria, porque cada fio de cabelo dela sentia uma dor excruciante.
— Agora.
Julia rosnou um som profundamente ameaçador. Pelo menos, parecia
mais assustador para ela desta vez.
O homem não quis chegar mais perto.
— Ela vai morder.
— Lobo ômega. — Basil disse com ódio, então retraiu a bota e ela
temeu que ele fosse chutá-la na cabeça e espanca-la.
Ela lutou violentamente para se soltar do lençol. Basil saltou para
trás.
Julia libertou-se e quis dar um bote na garganta de Basil, mas,
balançou tão instavelmente em seus pés que tinha certeza que ia entrar em
colapso ao invés. Apenas um leve toque em seu ombro e tombaria no chão.
Basil lançou lhe um sorriso doentio, maligno, que disse que ela teve
o bastante. Que até mesmo como uma loba, uma loba meio abobalhada, não
tinha chances contra ele.
— Ela está bem desorientada. — disse o outro homem, mas ainda
não chegou mais perto.
Basil deu um passo em direção a ela, com as mãos crispadas em
punhos.
— Você é minha, moça, como sempre deveria ter sido. Se eu apenas
não soubesse do contrato até que fosse tarde demais.
Ela queria dizer a Basil que era tarde demais. Que estava acasalada
com Ian. Que ele não podia fazer nada sobre isso. A não ser que matasse seu
companheiro. Seu coração gaguejou. E se tivesse planejado emboscar Ian na
floresta?
— Tire sua camisa. — Basil ordenou ao outro homem.
Tão focada em Basil, mal prestou atenção ao seu comparsa. Mas
agora que o observava para ver se obedeceria às ordens, notou que ele era
tão alto quanto e de ombros largos, mas o cabelo era castanho de vários tons
mais claros, o nariz mais pronunciado e seu queixo menos proeminente.
— O quê? — Ele perguntou surpreso.
— Depressa, seu tolo. Dê-me sua camisa.
O homem arrancou sua camisa xadrez e, em seguida, entregou a
Basil. Ele puxou um punhal e cortou a camisa em tiras, olhando com desdém
para ela em um ponto. Quando terminou, disse ao seu cúmplice:
— Agarre o focinho dela.
O homem não se moveu em direção a ela. Mesmo que sua cabeça
estivesse se limpando, ainda estava grogue e não realmente em grande forma
para combatê-los, mas faria o seu melhor.
— Se eu tiver que dizer outra vez... — Basil deixou a ameaça
pairando entre eles.
Parecendo pouco à vontade, o comparsa caminhou em sua direção e
ela rosnou e estalou os dentes. Com seus olhos enormes, ele pulou para trás e
olhou para Basil.
— Ela é só grunhido. Faça!
O homem respirou fundo e avançou. Nunca havia mordido ninguém
antes, nunca lutou contra um lobisomem. Parecia injusto que tivesse dentes
grandes e ele estivesse extremamente desfavorecido, mas a forma como sua
cabeça estava doendo significava que estava tão em desvantagem quanto e,
quais fossem as más ações que Basil planejava contra ela, iriam deixá-la
ainda mais dolorida. Julia abaixou a cabeça, mostrou os dentes e, com todos
os músculos cheios de tensão, como uma mola enrolada, se preparou para o
ataque.
Basil moveu-se para trás dela tão rápido que Julia se virou
rapidamente para ver o que estava fazendo. Sua visão turvou e uma névoa de
negrume encheu sua mente. Com um pedaço da camisa rasgada tentou cercar
seu focinho, mas ela virou-se para ele e seus dentes clicando fortes ecoaram
pelas paredes. Ele saltou para trás, xingando.
O outro homem agarrou-a pelas costas e ela balançou a cabeça,
mordendo-o no ombro.
Ele gritou. O gosto ferroso do sangue manchou sua boca e Julia
rapidamente soltou, sabendo que só precisaria um pouco mais de pressão
para esmagar os ossos em seu ombro. Mas não podia fazer isso.
Sua mão apertou sobre a lesão, ele caiu de bunda, gritando de dor.
Com a distração, Basil conseguiu uma vantagem, enrolou uma tira de pano
por cima do focinho e amarrou-a apertado.
Ela virou a cabeça, tentando libertar-se sem sucesso.
Basil a golpeou na cabeça com um poderoso punho. Com um
sobressalto de dor estrondosa, a escuridão mais uma vez a reivindicou.

Envolta no lençol e atirada sobre o ombro de Basil, Julia acordou


para descobrir que tinha mudado de forma e era humana. Um pedaço de
tecido estava amarrado ao redor de sua boca para mantê-la quieta e mais
duas faixas amarravam seus pulsos e tornozelos. Ela tentou discernir onde
estava e o que estava acontecendo.
— O portão dos fundos está fechado, droga. — Basil sussurrou para
seu capanga.
O homem gemeu de dor.
— Cale-se ou eu vou matar você, seu tolo. — Basil avisou. Então,
ele se afastou para além dos estábulos.
Julia não conseguia manter a cabeça limpa, mas podia sentir o cheiro
dos cavalos e do feno enquanto Basil a levava perto dos estábulos. Eles
estavam indo em direção ao portão principal, ela pensou. Por que não
pegaram a outra saída? Certamente, o portão principal estaria vigiado.
O alçapão para o túnel secreto para além do fosso foi bloqueado, o
homem ferido havia dito. Foi por isso que eles tiveram que arriscar sair por
um ou outro dos portões.
Em seguida, eles entraram no estábulo.
— Sele um par de cavalos... Esqueça. Você a vigia. — Basil a deitou
sobre uma pilha de feno e, em seguida, levou um cavalo de uma das baias e
começou a prepará-lo.
— Eles estão de volta. — o homem avisou.
Basil soltou as rédeas do cavalo e olhou para fora da porta do
estábulo.
— Inferno. Tudo bem. Vamos pegar os cavalos e, assim que eles
entrarem na fortaleza, vamos cavalgar para fora daqui.
Julia fechou os olhos contra a dor em sua cabeça. Em seguida, tentou
rolar para fora da pilha de feno, com a intenção de caminhar para fora do
estábulo de qualquer forma que pudesse. Ela rolou com sucesso para fora do
palheiro, mas atingiu o chão com força, sua cabeça batendo novamente, e
conseguiu se nocautear.
Gemendo de dor, Julia acordou quando Basil içou-a para a sela, em
seu estômago. Para o crédito dele, ajudou o outro homem a subir no cavalo
com algumas maldições murmuradas e, então, montou o animal onde ela
estava e cutucou-o em direção à porta.
— Eles estão procurando no pátio interior e vários estão indo para
dentro da fortaleza. — Basil sussurrou, gotas de suor se agarrado a sua testa.
— Apenas dois estão na portaria agora. É a nossa única chance.
Eles manobraram seus cavalos para fora do estábulo. Em seguida,
enquanto os dois homens no portão olharam em sua direção, Basil deu uma
joelhada na sua montaria e correu para o portão aberto.
— É ele, o bastardo! — o ruivo, Oran, gritou. Parecia grande e com
raiva, como se pudesse assumir os cavalos e cavalgar ambos com as próprias
mãos. — E o bastardo tem nossa senhora! Feche a porta levadiça!
Julia imaginou-se sendo espetada enquanto a grade de metal caía
sobre suas cabeças. Ouviu o ranger de metal, uma vez que foi rebaixado no
portão externo e sentiu Basil chutando o cavalo, tentando levá-lo a galopar
mais rápido. Ela mal conseguia segurar o juízo, o chocalhar fazendo tudo em
seu cérebro doer pra caramba.
O cavalo empinou de repente e Basil xingou em voz alta. Ela pensou
que ia cair, mas o animal recuou e virou-se, a grade de metal rangendo,
assim que se fechou atrás dela. O que estava acontecendo?
Encurralados! Os homens, os cavalos e ela foram presos entre a
primeira e segunda porta corrediça.
— Diga a Ian que Basil a tem no portão principal! Nós os temos
presos. — Oran disse a alguém em seu celular.
Não demorou muito para que Julia os visse: lobos e galgos irlandeses
vindos na direção dela a partir da fortaleza, correndo a todo galope no modo
de caça.
Ela receou que os cavalos pudessem recuar e empinar de novo.
Mas eles reconheceram esses lobos.
— Lorde MacNeill! — Oran gritou.
Assim que os lobos e cães ficaram de frente a ponte levadiça, um
deles a examinou. Ele tinha uma listra marrom escura na pelagem entre os
olhos que clareava quando descia até o nariz, tornando-se da cor creme sob o
queixo e nas laterais de seu rosto, o que o fazia com que parecesse da
realeza. Seus olhos estavam quase negros com raiva, enquanto ele virava a
cabeça ligeiramente para Oran e levantou-a com um aceno.
A ponte levadiça mais interna moveu-se para baixo atrás dos lobos e
cães. E agora todos eles estavam presos juntos.
Então, o lobo levantou a cabeça para Oran novamente e, desta vez, a
ponte levadiça média foi levantada.
O lobo soltou um sombrio ―uivo‖ e os cães correram para derrubar
os cavaleiros. Para espanto de Julia, os cavalos não recuaram, mas os cães
atacaram as pernas dos homens, ameaçando morder e eles rapidamente
desmontaram. Basil tentou agarra-la da sela, provavelmente para usá-la
como um escudo de novo, mas os lobos ficaram entre os cavalos e os
homens e esperaram.
Alguém estalou atrás de Julia, na elevadiça mais interna, e o cavalo
onde ela montava e outro se viraram e caminharam até ele.
— Calma, minha senhora. — disse Oran. Ele estendeu as mãos pelo
portão e pegou suas mãos amarradas, mas não importava o quanto tentasse
desatar a tira da camisa, não conseguia.
Em seguida, rosnados começaram a sério. Rosnados baixos, latidos,
ganidos e grunhidos.
— Espere. — Oran disse a Julia, que se sentia impotente e doente do
estômago e nem um pouco como uma heroína deveria se sentir em uma de
suas histórias. Ela deveria ficar livre e ajudar seu companheiro. Droga.
Oran puxou um punhal e cortou os laços em seus punhos, cuidando
para não feri-la. Ele estendeu a mão para tirar a mordaça que a mantinha em
silêncio.
Mas sua cabeça doía tanto que ela não conseguia se mover em
qualquer direção. Por mais que quisesse saber o que estava acontecendo, não
podia ver Ian e seus homens e o que estava ocorrendo atrás dela. Oran fez o
cavalo dar a volta, de modo que os pés estavam agora de frente para ele e
então trabalhou no laço amarrando seus tornozelos. Julia levantou a cabeça
um pouco para ver um lobo morto, agora na forma de um homem nu, e o
outro lutando por sua vida contra Ian. Basil.
O bastardo não tinha a menor chance contra um Ian enfurecido. Ele o
perseguiu e Basil apoiou-se em um canto contra a ponte elevadiça mais
externa. Ele mostrou os dentes para Ian, com a cabeça ligeiramente
inclinada, mas que não preocupou o líder da matilha. Seu companheiro
avançou e os dentes deles se conectaram em um barulho de esmalte. Ian
recuou e atacou novamente, desta vez com os dois voando alto sobre as patas
traseiras, dentes e rosnados conflitantes em erupção, os sons ferozes
enquanto derramavam por toda a noite escura e eram amplificados pelas
paredes de pedra.
Como nas anteriores lutas de espadas com Basil, Ian tinha a
vantagem. Ele estava tranquilo e fazia os movimentos que mais o
beneficiariam, provando aos seus homens e para ela que era o líder e o
porquê. Não era apenas seu herói highlander, mas o deles.
Pisadas correram até a ponte elevadiça de dentro da fortaleza e
parecia que todo o clã de Ian tinha sido alertado sobre o problema.
— Não podemos abrir o portão para chegar até Julia? — Heather
perguntou.
Julia gemeu de alívio. Heather estava de volta e segura.
Oran disse:
— Não, não sem a permissão de Ian. Se abrirmos a ponte elevadiça,
Basil pode tentar fugir para o pátio e ferir qualquer número de pessoas antes
que Ian possa derrotá-lo.
Julia queria escorregar do cavalo, mas da maneira como estava se
sentindo, percebeu que cairia de uma centena de metros do cavalo alto,
bateria com a cabeça como tinha feito quando rolou para fora do palheiro e,
em seguida, desmaiaria.
Julia continuou dizendo a si mesma que precisava fazer algo que
fosse mais típico de uma heroína do que isso. Como poderia escrever cenas
heroicas se, numa crise, a mocinha não poderia fazer algo para si mesma ou
para seu companheiro? Não que seu companheiro precisasse de sua ajuda.
Na verdade, ela provavelmente seria um obstáculo horrível.
Mas pelo menos poderia ficar de pé e torcer por ele, em vez de ficar
deitada de barriga para baixo na parte de trás de um cavalo vestindo apenas
um maldito lençol.
— Julia, você está bem? — a mãe de Ian perguntou, sua voz cheia de
preocupação.
Eles não podiam vê-la, exceto o seu traseiro pairando sobre a sela,
logo, devem ter imaginado que ela tinha desmaiado o que era outro motivo
pelo qual precisava sair do cavalo.
— Sim. — Ela disse fracamente, mas com todo o rosnado que os
dois lobos estavam fazendo, não tinha certeza de que a ouviram.
— Alguém a ajude a descer do cavalo. — Tia Agnes disse.
Um dos lobos olhou em sua direção, mas, em seguida, continuou a
observar a luta entre Ian e Basil. Ela estava segura, eles perceberam, fora de
perigo e sem necessidade da assistência de ninguém no momento. E a luta
era muito mais intrigante do que
Julia.
Ian e Basil continuaram a morder a cara um do outro, cada um
bloqueando o outro de agarrar sua garganta e vencer a matança, mas Basil
estava se cansando. Ian ainda tinha a luta em si e era implacável.
— Ele nunca vai desistir. — disse Oran. — Ian não vai deixá-lo viver
desta vez.
— E ele não deveria. — disse a mãe de Ian. — O filho da mãe cavou
sua própria sepultura quando tentou tomar a nossa Julia.
“Nossa Julia”. Lágrimas encheram os olhos de Julia. A mãe de Ian
tinha finalmente a aceitado.
Basil tentou atacar abaixo e morder a perna de Ian, talvez com a
intenção de quebrá-la para que pudesse matá-lo. Julia não estava certa do
porquê, mas o movimento deu a Ian uma oportunidade. Ele pulou nas costas
de Basil e mordeu seu pescoço, matando o lobo imediatamente.
Ian se virou em seguida e foi direto para seu cavalo. Ela sorriu
fracamente para ele, sentindo-se como uma completa idiota, empoleirada de
barriga no topo de Rogue e vestindo apenas o lençol.
Mas os olhos de seu companheiro ainda estavam negros como a noite
enquanto fazia sinal com a cabeça para Oran para levantar a ponte elevadiça.
Ian mudou de forma e, em seguida, montou o cavalo, totalmente nu, e
carregou Julia em seus braços. Ele era quente, duro, protetor e reconfortante.
E amado.
— Você está bem, moça? — ele perguntou, apertando seu poder
sobre ela.
— Agora eu estou. — sua voz estava trêmula e os olhos cheios de
lágrimas. Sua cabeça latejava de dor renovada.
Ele chutou os flancos do cavalo e cavalgou-a até o castelo enquanto
seu povo corria atrás deles.
— Eu já lhe disse o quão transparente você é?
Ela lhe deu um pequeno sorriso e soltou a respiração.
— Como soaria se eu lhe dissesse que minha cabeça dói tanto que
sinto que vou desmaiar a qualquer minuto? Quão típico de heroína é isso?
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Mas é a verdade, moça. E isso é tudo que eu quero ouvir.
Ela só ouviu uma maldição abafada quando os solavancos do cavalo
fizeram sua cabeça girar e escuridão tomou conta dela mais uma vez.
CAPÍTULO 25
Durante três dias, Ian ficou com Julia na cama e na câmara até que
ela estivesse se sentindo bem de novo, a sombra de uma contusão ainda
descolorindo a lateral de sua têmpora e bochecha onde Basil a tinha
golpeado duas vezes. Mas as dores de cabeça, o zumbido nos ouvidos e a
visão em dobro tinham desaparecido. No entanto, Julia não queria deixar o
quarto. Não por outra razão, além de ficar com ele, sozinhos, como se
estivessem em uma lua de mel, longe de todos os outros. Era uma benção
apenas estar com Ian. Era uma sensação inebriante ser cobiçada tanto por
alguém tão desejável.
— Você vai fazer amor comigo de novo? — ela perguntou,
estendendo a mão para ele enquanto estava de cueca, olhando pela janela,
feliz que a loucura cinematográfica tinha acabado e as pessoas de Sutherland
não retaliaram pela morte de seu líder de matilha e do outro homem.
Ele deu a sua linda companheira um sorriso.
— Você é insaciável, mulher.
Julia sorriu de volta, puxando a coberta para o lado, expondo seus
seios e encorajando-o a se juntar a ela.
— O que lhe der prazer, Julia. — ele estava indo de volta para a
cama quando um baque no quarto da senhora, adjacente ao seu, soou e o fez
ir até sua espada. Seu primeiro pensamento: alguns dos homens de
Sutherland violaram os túneis subterrâneos novamente.
Mas quando entrou na sala com a espada preparada, viu Flynn em pé,
perto da cama enorme ao invés. Ian franziu o cenho para ele.
— Eu já perdoei você, seu ingrato. Depois que tentou salvar Julia,
nos túneis, daquele bastardo do Basil, lhe disse que tinha a minha eterna
gratidão. Então, o que é que você quer agora?
Se havia uma coisa que não iria tolerar era a interrupção de Flynn
quando ele e Julia tinham planos mais íntimos.
Vestindo apenas uma camiseta, Julia espreitou para dentro do quarto.
— Você quer alguma coisa, Flynn?
Ele curvou-se para Julia, fez uma careta para Ian, apontou para uma
parede e depois desapareceu.
— E agora? — Ian perguntou, mais para si do que para Julia.
— Você não acha que devemos ver o que ele queria?
O baú tinha sido empurrado para o lado e, atrás dele, duas pedras
chamaram sua atenção. O reboco em torno de ambas era ligeiramente mais
raso. Nunca teria notado se Flynn não tivesse apontado a área para ele. Ian
voltou para o seu quarto, tirou um punhal de sua gaveta e cruzou o quarto da
senhora para onde Julia estava agachada, examinando as pedras.
— As pedras não estão soltas. — ela disse.
Ele trinchou o reboco entre as pedras e depois, quando o pó caiu no
chão, balançou a pedra superior.
— Elas estão agora.
Ele puxou a pedra para fora e a seguinte também. E na abertura
estava uma caixa de jacarandá.
— Tem... Tem que ser a caixa. — Mas quando Ian puxou-a para fora
de seu esconderijo, ela tocou no fecho.
— Meu avô disse para não quebrar a fechadura.
Para não ser contrariado, Ian a deixou novamente e voltou com um
conjunto de gazuas. Ela estava correndo os dedos sobre as esculturas com
um toque suave, a sua respiração leve e os olhos arregalados.
O que encontrariam na caixa? Disse a si mesmo que não iria mudar
nada entre eles, não importava o que estava contido lá.
Ele balançou as pinças do kit de arrombamento no fecho enquanto
sentia Julia imóvel e mal respirando ao seu lado. Então, com um clique,
destrancou a caixa, fazendo uma pausa antes de abrir. Pensou em deixá-la
ver o conteúdo sozinha para provar que confiava nela. Mas estava morrendo
de vontade de ver o que era tão valioso ali dentro.
Ainda assim, queria que ela soubesse que era mais importante do que
qualquer coisa que a caixa poderia conter. Ele beijou-lhe o rosto e disse:
— Vou deixar você explorar o conteúdo. Então, se quiser, nós
podemos ver a sua amiga Maria antes que ela vá embora. Flynn fez uma
aparição especial apenas para dar uma emoção a mais.
— Ela estava bem?
— Aye. No início, ela ficou apenas atordoada, mas depois fez tantas
perguntas a ele que o exauriu.
Julia riu.
— Soa como Maria.
Ian passou a mão sobre o braço de Julia em uma carícia amorosa.
— Seu pai e seu avô estão vindo para cá no período de uma semana.
— Eles estão com raiva de mim?
— Por acasalar comigo? O lorde do Castelo Argent? Seu avô estava
resignado a isso. Disse que tão logo eu soubesse do contrato, nunca te
deixaria ir.
Ela sorriu.
— O contrato não teve nada a ver com isso.
— Absolutamente nada. — Ian beijou a bochecha dela e, em seguida,
levantou-se para deixá-la, mas ela agarrou sua mão.
— Fique. O que é meu é seu. Se não é nada de importante para nós,
podemos deixar o vovô ter sua caixa e todo o seu conteúdo.
Ele a levantou de sua posição agachada no chão, a caixa ainda em
suas mãos, e abraçou-a com amor sincero.
— Você é tudo o que é importante para mim, amor.
Ela sorriu e levou-o para a cama da senhora.
— Eu também amo você. — então, com as mãos trêmulas, abriu a
caixa e colocou-a sobre a cama entre eles.
Cinco broches incrustados com rubis e esmeraldas estavam ao lado
de uma Bíblia em cima de vários documentos. Mas não foram as joias que
chamaram a atenção dela. Ou os papéis, tampouco. Seus olhos tinham se
arregalado com a visão da Bíblia, sua boca se dividiu um pouco em surpresa
e, então, seus dedos se demoraram na capa encadernada de couro.
Ela colocou a Bíblia sobre o colchão, afastando-a, e estendeu a mão
no interior pelos papéis, rapidamente os inspecionando: um, uma
contabilidade doméstica de pagamentos e recebimentos para todos os
aspectos da manutenção do castelo. Outro, o contrato entre os Sutherlands e
os MacPhersons sobre o noivado com Fiona MacPherson e, se isso não
acontecesse, com a próxima herdeira do sexo feminino e o lorde do Castelo
Argent. Além disso, o contrato anterior entre os MacNeills e MacPhersons
para o noivado de Fiona com o senhor de terras. Isso era tudo. Nada de novo.
Nada fascinante.
Julia pareceu desapontada. Mas então abriu um grande sorriso.
— É bom que não haja qualquer má notícia na caixa.
Ian não tinha tanta certeza. Ele tinha visto o jeito que ela tinha
venerado a Bíblia, como se soubesse de algo importante sobre isso, algum
laço com o passado, algo que estava com medo de revelar ao seu
companheiro.
— Algo aqui? — Ian falou, apontando para o livro.
Ela olhou para ele e tentou a expressão mais inocente, que foi o mais
revelador. — Uma velha Bíblia?
— Aye. Você nunca sabe que segredos podem estar contidos dentro
de uma Bíblia.
— Eu já lhe contei sobre o meu tio-avô que listou todos os filhos em
sua Bíblia, datas de nascimento e datas de morte, só que eu não conseguia
entender por que ele listou C em uns, M para outros e nada para sete deles?
Um nome do meio, talvez? Mas o que era isso? Vovô me disse que seu irmão
amava os filhos tanto quanto o gado. O C era para cavalos, o M para mulas e
aqueles sem nada eram seus filhos.
Ian sorriu.
— Mas a quem esta Bíblia pertenceu? — Ian achou, pelo olhar no
rosto dela que ela sabia, mas era quase como se não quisesse saber. — Julia?
— ele disse suavemente.
Ela respirou fundo.
— Eu... Eu acho que pode ser a Bíblia de família sobre a qual alguns
dos meus antepassados foram questionados. — ela olhou da Bíblia para Ian.
A bisavó do meu pai era uma Campbell. — ela fez uma
pausa, como se estivesse esperando para ver se talvez o povo dele não se
dava bem com uma facção dos Campbells.
— Vá em frente. — ele solicitou.
Ela suspirou.
— Ela era a filha do Duque de Argyll. Mas os descendentes do
Duque juraram que a moça não existia. Sua filha fugiu com um highlander
plebeu que trabalhava para o duque como um cavalariço. Enquanto estava na
escola de boas maneiras, se apaixonou pelo plebeu e fugiram. De qualquer
forma, o Duque afirmou que ele iria deserdá-la e limpar o nome dela de
todos os registros.
— Então, se a senhora tivesse mantido uma Bíblia da família...
— Seria a prova. — Julia respirou hesitante e abriu a Bíblia,
esquadrinhou as datas, os nomes e soprou uma respiração mais profunda. As
lágrimas encheram seus olhos quando ela lançou a Ian um pequeno sorriso e
depois fechou a Bíblia com reverência.
— Parece, Lorde MacNeill, que você acasalou com uma descendente
do Duque.
Com uma expressão severa, Ian balançou a cabeça, não acreditando
nas implicações.
— Nós não tivemos boas relações com o duque e sua família durante
séculos.
Julia suavemente repôs a Bíblia na caixa.
— Você está fazendo progressos reais neste quesito então, meu lorde.
— ela colocou a caixa sobre a mesa de cabeceira e subiu na cama. — Este é
meu quarto de dormir?
— Sua família tem maior hierarquia de nobreza do que a minha. —
ele disse completamente atônito.
Ela deu uma risadinha ofegante.
— Meu avô temia que, se alguma vez nós pudéssemos provar os
nossos laços com a família do Duque, um escocês poderia me querer por
apenas esse motivo. Agora eu me pergunto se foi sobre isso a relutância dele
sobre qualquer um ver o conteúdo da caixa. Mas nós não temos títulos nos
Estados Unidos, lembra-se?
Ele a olhou deitada de costas, a camiseta mal cobrindo seus tesouros
femininos.
— Mas, na Escócia, nós temos. Nós deveríamos fazer um teste de
DNA para ver se podemos reivindicar o castelo deles? Caso você seja uma
descendente mais direta do que aqueles que estão gerenciando o lugar agora?
Ela riu e puxou-o para perto.
— Se participássemos nesses círculos, nós teríamos que nos casar,
sabe. Como lobisomens, nós não nos incomodaríamos.
— Como eu sou um conde, nós devemos também.
Ela franziu o cenho para ele.
— Basil disse que você realmente não tinha um título. Que conseguiu
comprar um pequeno pedaço de terra e chamar-se de senhor de terras.
Ele disse, não foi? Bem, ele só disse isso porque era um
barão. Mas a descendente de um duque está dentro da nossa matilha agora?
Como eu poderia ter sido tão sortudo?
— Você realmente não sabia disso, não é, Ian? Essa não é a razão
pela qual você me quis? É por isso que eu normalmente mantinha os laços
com os Campbells em segredo. — ela brincou, tocando o dedo sobre seu
peito nu. — Bem, isso e o fato de que não tenho nenhuma prova real.
Ian riu.
— Você só teve que ser Julia para eu cair de amores por você, moça.
Com isso, Ian tirou a camiseta dela e arrancou sua cueca. Os braços
dela envolveram seu pescoço e ele a sujeitou com um profundo beijo voraz,
o qual Julia respondeu com igual medida. Suas pernas em volta dele
enquanto se contorcia, tentando alinhar-se para cima para sua penetração. E
então Ian mergulhou nela forte, rápido e furioso, só parando brevemente
para acariciá-la até que estava gemendo e se contorcendo sob seu toque.
As suas respirações eram irregulares, seus corpos cobertos por um
leve brilho de suor, quando Ian empurrou profundamente dentro de Julia
novamente e sentiu o fervor de sua vida amorosa se unindo e crescendo, os
espasmos das contrações dela agarrando-o como uma bainha de veludo. E,
em uma onda de calor incandescente, foi surpreendido pela combustão, a
química entre eles como nada que já tivesse experimentado. Então, sentiu-se
cansado e saciado e afundouse ao lado dela.
Beijando-a de leve na boca, sorriu quando ela fechou os olhos e
adormeceu. Ele suspirou e aconchegou o corpo dela no dele.
De alguma forma, tinha que descobrir outra maneira de manter o
castelo à tona, ou poderia muito bem ser um senhor de terras com título de
nobreza sem um centímetro de terra para chamar de sua.

Duas semanas mais tarde, quando Julia tinha acabado de mapear sua
agenda com sua agente para a turnê de autógrafos, Ian não recebeu as
notícias nem um pouco bem.
— Tour mundial do livro? — ele resmungou. — Você disse que
haveria uma sessão de autógrafos nos Estados Unidos.
— Está programado, Ian. Eu vou embora no próximo mês. Mas você
é bem-vindo a ir comigo.
— Para fazer o quê?
— Usar um kilt, ficar atrás de mim e parecer feroz ou sexy como o
inferno.
Isso trouxe um pequeno sorriso aos seus lábios. Ele envolveu-a em
seus braços.
— Eu disse a você, moça, você não iria caminhar ao redor do mundo
sem o seu companheiro ao lado.
Eu sei... Há lobos em todo lugar lá fora. E agradeço do fundo
do meu coração por ir comigo. Vamos nos divertir. Você vai ver.
Seus olhos brilhavam com a conspiração.
— Diferentes camas todas as noites. Pode funcionar.
Ela riu e cutucou-o no peito com o dedo.
— Mas você não pode me fazer perder os compromissos. — ela
estendeu a mão e acariciou sua bochecha. — E quanto à estreia do filme?
Ele balançou a cabeça.
— Foi dito que se alguém assistir àquelas minhas cenas de luta
contra Oran e os outros, as mulheres serão levadas a escalar as muralhas do
castelo para chegar até mim.
Julia riu.
— Ah, mas elas não teriam coragem de atacar você comigo por
perto.
E com isso, ela voltou com ele para a cama, uma maneira infalível de
tirar da mente dele os compromissos literários e afins.

Dentro de semanas, todos estavam fora, em sua turnê mundial,


incluindo paradas na Austrália, Nova Zelândia e toda a Europa e depois para
o Canadá e os Estados Unidos. Não só Ian a acompanhou, mas seus irmãos
também. Se ele iria protegê-la, os irmãos também iriam. Mas ela sabia que
isso tinha a ver, em parte, com eles usarem aquilo como uma desculpa para
ver o mundo. Não precisava de proteção de ninguém contra seus fãs.
Em uma etapa da viagem, se sentou atrás de uma mesa montada em
Powell, em Portland, porque Ian não queria que cumprimentasse ninguém, a
menos que tivesse uma barreira entre ela e seus fãs. Ian ficou
implacavelmente atrás dela, de braços cruzados e orgulhosamente vestindo
um de seus kilts de um par de séculos atrás, o que lhe deu um apelo do velho
mundo, apesar do livro histórico com Highlanders não sair até o próximo
ano. Julia ainda pensava que Ian poderia ajudar a comercializar os próximos
livros e estava exibindo-o como inspiração para seu herói. Infelizmente, ele
não poderia usar suas adagas ou espadas para autenticidade total.
Sua primeira cliente foi uma bela ruiva que Julia reconheceu de
imediato como uma loup garou.
— Eu sou Cassie Wildhaven, bióloga de lobos. — disse a mulher,
seu sorriso genuinamente gentil. Ela se inclinou sobre a mesa e falou baixo:
— Leidolf Wildhaven, meu companheiro, é o líder da matilha aqui.
O que significava que ela também era.
E nós adoraríamos se você viesse e jantasse conosco hoje à
noite no nosso rancho. — ela olhou para Ian e sorriu. — E seus amigos
também.
— Meu companheiro, Lorde MacNeill... — Julia disse, apontando
para Ian. — E seus irmãos, Cearnach e Duncan. — Guthrie tinha
surpreendentemente feito planos para estar em outro lugar e sequer os
acompanhou ao hotel, naquela noite, quando chegou pela primeira vez.
Leidolf ficou perto de Cassie, olhando para os irmãos de Ian como se
temesse que os homens pudessem ter interesse em conquistar a ruiva. Mas
eles estavam ocupados demais admirando as fãs de Julia, que estavam
falando umas com as outras em linha, algumas com livros que já tinham
comprado enquanto esperavam para tê-los autografados e outras que
observavam os highlanders em volta.
Julia não tinha certeza se algum dos irmãos iria aparecer para o jantar
com os Wildhavens ou, pelo que parecia, encontraria com as fãs dela ao
invés. Quem diria? Podia até ajudar um pouco mais nas vendas.
Tudo o que sabia era que, quando se retirasse hoje à noite com o
lorde do castelo, ele seria o único para ela.
— Nós vamos nos retirar mais cedo hoje. — Ian disse com uma
piscadela para Julia.
Com livros pressionados contra seus peitos, as mulheres na fila
começaram a rir quando ouviram o delicioso sotaque, viram a piscadela sexy
e ouviram suas palavras. Elas poderiam querer ir para casa com o lorde, mas
ele era todo de dela. Julia levantou a caneta para autografar o livro seguinte,
ainda sorrindo. Se pudesse arrastar os guerreiros MacNeill com kilt para
todos os eventos, um de seus livros só poderia muito bem entrar como mais
vendido numa das listas premiadas e, então, talvez os problemas financeiros
deles fossem...
Guthrie veio na direção deles usando seu kilt, parecendo tão
assustador e bonito como o resto dos membros do clã MacNeill. Ela jurou
que todas as mulheres deram respirações mais profundas de admiração ao
vê-lo. Três bonitões highlander gostosões para escolher, imaginou que elas
estivessem pensando.
Guthrie acenou para Ian e, em seguida, entregou um envelope para
Julia.
Ela olhou para ele, questionando sobre o que era tudo isso.
Ian se inclinou e sussurrou em seu ouvido.
— O dinheiro que o seu ex-namorado roubou de você. Família cuida
de família.
As lágrimas encheram seus olhos.
— Mas...
Guthrie cruzou os braços.
— Seu ex-namorado tinha um trabalho. Um emprego que pagava
bem. E as receitas provenientes da venda de vários de seus investimentos.
Ele pagou de volta cada centavo com juros, que é como deve ser. Eu sou o
consultor financeiro do clã. — Guthrie abaixou a
cabeça ligeiramente. — Sempre que você precisar da minha ajuda é só me
avisar.
Várias fãs de Julia pareciam que queriam acenar com as mãos e pedir
a ajuda dele.
Julia se levantou de sua cadeira e deu um abraço em Guthrie.
— Obrigada do fundo do meu coração. E... — ela lhe devolveu o
envelope. — Você pode colocar esse dinheiro no fundo do castelo.
Em seguida, os autógrafos começaram a sério, porque depois de
jantar com os Wildhavens, Julia e Ian iriam voltar para o hotel e renovar seus
votos. O pequeno sorriso que ele tinha e o brilho em seus olhos escuros
comprovou que estava pensando a mesma coisa.
Depois de romantizar durante anos sobre como o homem perfeito em
sua vida seria, ela finalmente encontrou seu herói de conto de fadas: áspero
em sua autoridade, um pouco quebrado e tão sexy quanto qualquer guerreiro
de kilt poderia ser.
FIM
[1]
Eles usam a palavra handfasting que não tem tradução literal em português, mas seu sentido é
explicado logo em seguida no texto. Parece ser um tipo de acordo usado pelos povos da região.
Table of Contents
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25

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