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A Métrica Quântica

Gentil, O iconoclasta gentil.iconoclasta@gmail.com


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, RR, Brazil 20.12.2023

Sumário

1 Introdução 2

2 Espaços Métricos 3

2.1 A métrica quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.1.1 A régua quântica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.2 Distância entre ponto e conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

3 Produto de espaços métricos 7

3.1 O quadrado quântico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3.2 Bolas abertas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

4 Sequências 14

4.1 Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

5 Topologia quântica-I 21

5.1 Um objeto em vários lugares ao mesmo tempo . . . . . . . . . . . 21

6 Funções contínuas 25

7 Conjuntos conexos por caminhos 29

8 Topologia quântica-II 33

8.1 Deslocando-se entre os pontos A e B sem passar pelo meio . . . 40

9 Universo quântico e fenômenos não-locais 44

9.1 Visão quântica × visão euclidiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

10 Universo quântico e ĄlosoĄa 46

©by Gentil, o iconoclasta


A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Resumo

Neste artigo estaremos trazendo um novo espaço métrico e exibiremos uma


série de resultados bizarros - contraintuitivos -, ademais, exibiremos uma
conexão do referido espaço com resultados experimentais da física quântica.

Palavras-chave

Espaço métrico, Bolas abertas, Continuidade, Conexo por caminho.

1 Introdução

No espaço topológico que estudaremos aqui exibiremos vários resultados


inéditos, bizarros e contraintuitivos, por exemplo, tome o intervalo unitário
] 0, 1 ], retire do mesmo a terça parte central, como na imagem a seguir

1 2
0 3 3 1

AĄrmamos que esse conjunto − constituído pelos dois pedaços − é conexo


por caminhos!. O que nos faz acreditar que este seja um resultado inédito na
matemática é que na referência [3] o autor aĄrma:

Outra maneira de exprimir a conexidade de um espaço é


dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para
outro por um movimento contínuo, sem sair do espaço. Isto
nos leva à noção de espaço conexo por caminhos, conceito
mais particular e provido de mais signiĄcado intuitivo do que
o conceito geral de espaço conexo. (Grifo nosso)

Provaremos que o conjunto acima é um contraexemplo à aĄrmação: Şprovido


de mais signiĄcado intuitivo do que o conceito geral de espaço conexo.Ť
1
Como mais um exemplo, considere a sequência (an ) dada por an = , cujos
n
sete primeiros termos encontram-se plotados na imagem a seguir

←. . . • • • • • • •
pp p p p p
0 1 1 1 1 1 1
6 5 4 3 2

2
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esta sequência converge para o extremo direito do intervalo, isto é

1
lim =1
n→∞ n

De outro modo: Qualquer bola aberta de centro em 1 contém todos os


termos da sequência a partir de uma certa ordem.

Nota: Estes fenômenos − e outros que estaremos exibindo − acontecem em


qualquer número de dimensões, isto é, no cubo unitário ] 0, 1 ]n , com n =
1, 2, 3, . . .. O objetivo deste artigo não é um estudo sobre espaços métricos mas
prover − através da métrica quântica − alguns exemplos não triviais, ou que não
constam nos livros didáticos de espaços métricos. Ademais, estaremos provando
a plausibilidade matemática de alguns fenômenos da física quântica.

2 Espaços Métricos

DeĄnição 1 (Espaço métrico). Seja M =


̸ ∅ um conjunto qualquer. Considere-
mos uma aplição d : M ×M → R, que associa a cada par ordenado (x, y) ∈ M ×M
um número real d(x, y) satisfazendo as seguintes condições

(M 1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y;

(M 2) d(x, y) = d(y, x)

(M 3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y)

Nestas condições dizemos que d é uma métrica sobre M e que d(x, y) é a distância
do elemento x ao elemento y. O par (M, d) é o que denominamos de espaço
métrico.

Os elementos de um espaço métrico são referidos como ŚpontosŠ, indepen-


dentemente de suas naturezas.

2.1 A métrica quântica

Consideremos o conjunto M = ] 0, 1 ], e a seguinte aplicação

d : ] 0, 1 ] × ] 0, 1 ] −→ R

deĄnida por
d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢

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No apêndice provamos que d é uma métrica sobre ] 0, 1 ].


Vamos necessitar da distância de um ponto qualquer x ∈ ] 0, 1 ] à extremidade
direita do intervalo:

d(x, 1) = min¶ ♣x − 1♣, 1 − ♣x − 1♣ ♢

Daqui resulta
1

 x,
 se 0 < x ≤ ;
2

d(x, 1) = (1)
 1 − x, 1
se ≤ x ≤ 1.


2

A seguir esboçamos o gráĄco da função dada pela equação (1)

d(x, 1)

1
p

1
p

x ←

◦ p • ⊣ •
x
0 1
2
1 0 1
2 1

Imagine um ponto se afastando da extremidade 1 do intervalo no sentido


da origem, sua distância vai aumentando só até a metade do intervalo, a partir
daí começa a decrescer e se aproximar de zero.

2.1.1 A régua quântica

A partir do gráĄco, ou da equação, de d(x, 1) construímos a régua oĄcial


do Śuniverso quânticoŠ ] 0, 1 ], d , assim:


◦0
• 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

• Régua quântica

4
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Esta régua mede a distância entre um ponto qualquer do intervalo ] 0, 1 ]


para a extremidade direita, isto é, o ponto 1.

Na Ągura a seguir colocamos as duas réguas − quântica e usual (ou euclidi-


ana) − lado a lado, para efeitos de comparação:

•◦0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

• Régua usual (euclidiana)

Observe que a régua quântica coincide com a euclidiana só até a metade, a


partir daí as duas diferem radicalmente.

Subespaços

A partir de um espaço métrico (M, d) podemos obter tantos outros espaços


métricos quantos são os subconjuntos (não vazios) de M . Se d : M × M → R é
uma métrica em M e N ⊂ M então d′ = d♣N ×N : N × N → R é uma métrica
em N . Em geral indica-se a métrica do subconjunto N do mesmo modo que a
métrica de M , isto é, faz-se d′ = d.

Nota: Denotaremos a métrica usual (ou euclidiana) de R pelo símbolo µ, isto é,


µ(x, y) = ♣x − y♣.
1 1
Exemplo: O par 1, , , . . . , µ é um subespaço métrico de (R, µ) e
 
2 3
também de (Q, µ).

2.2 Distância entre ponto e conjunto

DeĄnição 2. Seja (M, d) um espaço métrico. Dado X ⊂ M (X ̸= ∅) e p ∈ M ,


chama-se distância de p ao conjunto X, e indica-se por d(p, X), o seguinte
número real não negativo

d(p, X) = inf¶ d(p, x) : x ∈ X ♢

5
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Exemplos:
1 1 1 1 1
   
a) Sejam p = 1 e X = :n∈N = , , , , . . . . Geometrica-
n+1 2 3 4 5
mente

••••• • • • • • •
p=1
0 ← . . . 51 14 1
3
1
2

Vamos calcular a Śdistância quânticaŠ do ponto p = 1 ao conjunto X:

1
 n o 
d(1, X) = inf d(1, x) : x ∈ :n∈N
n+1

1 
  
= inf d 1, :n∈N
n+1

1
 
= inf :n∈N =0
n+1

Da segunda para a terceira igualdade utilizamos a equação (1), p. 4. Para efeito


de comparação, a distância euclidiana é igual a 1/2, isto é, µ(1, X) = 1/2, que é
precisamente distância de 1 ao primeiro ponto do conjunto X.
1
b) Sejam M = ] 0, 1 ], X = ] 0, ] e p = 1. Geometricamente
2

M
0 1

X • p=1
0 1
2

De modo análogo ao exemplo anterior, podemos mostrar que a distância quântica


do ponto p = 1 ao conjunto X é zero, isto é
  1 
d(p, X) = d 1, 0, =0
2

Tudo isso, que à primeira vista parece excesso de irrazão, na verdade é o efeito
da Ąnura e da extensão do espírito humano e o método para encontrar verdades até
então desconhecidas. (Voltaire)

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3 Produto de espaços métricos

Dados dois espaços métricos veremos agora uma importante alternativa


para obtermos outros espaços métricos.

Sejam (M1 , d1 ) e (M2 , d2 ) espaços métricos. A partir destes dois esapços


vamos construir, por exemplo, três outros espaços, do seguinte modo: tomemos
dois pontos no produto cartesiano

x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ) ∈ M1 × M2 = M

e vamos deĄnir três funções

D1 , D2 , D3 : M × M −→ R (2)

dadas por
q
D1 (x, y) = d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 ) (3)

D2 (x, y) = d1 (x1 , y1 ) + d2 (x2 , y2 )

D3 (x, y) = max ¶ d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) ♢

Pode ser mostrado que (M, D1 ), (M, D2 ) e (M, D3 ) são também espaços
métricos. Observe que x1 , y1 ∈ M1 e x2 , y2 ∈ M2 de modo que d1 (x1 , y1 ) é
calculado no espaço (M1 , d1 ) enquanto d2 (x2 , y2 ) é calculado no espaço (M2 , d2 ),
a imagem a seguir ilustra melhor

M1 ×M2

y2 • •y

x2 • •x

(M2 , d2 )

• • (M1 , d1 )
x1 y1

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O que foi feito aqui para dois espaços métricos pode ser estendido facilmente
para uma quantidade arbitrária de espaços métricos.

3.1 O quadrado quântico

Em particular consideremos (M1 , d1 ) = (M2 , d2 ) = ] 0, 1 ], d , onde d é




a métrica quântica. A imagem a seguir ilustra o que estamos denominando de


Śquadrado quânticoŠ

1
1 •◦ 0 ◦

0,1

0,2
x = (x1 , x2 )
• 0,3

0,4

0,5

y = (y1 , y2 )
0,4

• •
0,3

0,2

0,1

•◦ •◦ 0 ◦
• •0
◦ •1

0 1 ◦0
• 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

Exemplo:
3 3
Vamos provar que no quadrado quântico a distância do ponto B , ao
1 1 5 5
vértice superior direito é o dobro da distância do ponto A , ao mesmo
5 5
vértice.

0 ◦• 1 • P =(1, 1)
0,1

0,2

0,3

0,4 •B
0,5

0,4

0,3

0,2 •A
0,1

0 ◦
• •◦ ◦•1
◦0
• 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

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Faremos a prova para a métrica


q
D1 (x, y) = d12 (x1 , y1 ) + d22 (x2 , y2 )

Temos d1 = d2 = d, onde

d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢ (4)

Para o cálculo da distância de A ao vértice P , temos:


1 1
x = (x1 , x2 ) = , =A e y = (y1 , y2 ) = (1, 1) = P
5 5

Substituindo em (4)

d(x1 , y1 ) = min¶ ♣x1 − y1 ♣, 1 − ♣x1 − y1 ♣ ♢ (5)

Temos 1 1 1 1
  
d , 1 = min −1 , 1− −1 =
5 5 5 5
O cálculo da outra distância

d(x2 , y2 ) = min¶ ♣x2 − y2 ♣, 1 − ♣x2 − y2 ♣ ♢

é feito de modo análogo, resulta d(x2 , y2 ) = 1/5. Substituindo em D1


r  √
1 2  1 2 2
D1 (A, P ) = + =
5 5 5

Para o cálculo da distância de B ao vértice P , temos:


3 3
x = (x1 , x2 ) = , =B e y = (y1 , y2 ) = (1, 1) = P
5 5

Substituindo em (5) Temos


3  
3 3

2
d , 1 = min −1 , 1− −1 =
5 5 5 5

O cálculo da outra distância fornece d(x2 , y2 ) = 2/5. Substituindo em D1


r √
2 2  2 2 2 2
D1 (B, P ) = + =
5 5 5

Portanto
D1 (B, P ) = 2 D1 (A, P )

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3.2 Bolas abertas

As bolas abertas generalizam o importante conceito de intervalo aberto,


visto no Cálculo.
DeĄnição 3 (Bola aberta). Seja (M, d) um espaço métrico. Considere um
ponto Ąxado p ∈ M . Dado um número real r > 0, a bola aberta de centro p e
raio r, que indicamos por B(p; r), é o seguinte subconjunto de M

B(p; r) = ¶ x ∈ M : d(x, p) < r ♢

Observe que para encontrar uma bola aberta devemos sempre resolver a
inequação
d(x, p) < r, no conjunto universo U = M.

Outrossim, x percorre o conjunto M , quando x = p

d(p, p) = 0 < r ⇒ p ∈ B(p; r)

uma bola aberta nunca é vazia, sempre contém o próprio centro.

Exemplo: A bola quântica de centro p e raio r > 0 Ąca

B(p; r) = ¶ x ∈ ] 0, 1 ] : d(x, p) = min¶ ♣x − p♣, 1 − ♣x − p♣ ♢ < r ♢

a + b − ♣a − b♣
Para resolver essa inequação podemos utilizar min¶ a, b ♢ = ,
2
temos
1 − 2 ♣x − p♣ − 1
min¶ ♣x − p♣, 1 − ♣x − p♣ ♢ =
2
Devemos resolver a inequação

1 − 2 ♣x − p♣ − 1
< r, para 0 < x ≤ 1
2
1
No caso particular de p = 1 e r = ao invés de lidar diretamente com a
4
inequação

1 1
 
B 1; = x ∈ ] 0, 1 ] : d(x, 1) = min¶ ♣x − 1♣, 1 − ♣x − 1♣ ♢ <
4 4

podemos utilizar a equação

1

 x,
 se 0 < x ≤ ;
2

d(x, 1) =
 1 − x, 1
se ≤ x ≤ 1.


2
10
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e chegamos mais facilmente ao resultado

1 i 1h [ i3 i
B 1; = 0, ,1
4 4 4

A seguir um esboço geométrico desta bola aberta

1 3
0 1
4 4

Isto signiĄca, enfatizamos, que estes são os pontos do intervalo ] 0, 1 ] cujas


1
distâncias para a extremidade direita são menores que = 0, 25. Podemos
4
conĄrmar este resultado com o auxílio da régua quântica, assim:

1 3
0 1
4 4
↰ ↱ ] 0, 1 ]

◦0
• 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0

A seguir um esboço de todas as bolas possíveis de centro 1 (ŞgabaritoŤ):

0 r 1−r 1 0 r 1 0 1
•◦

B(1; r< 12 ) B(1; r = 1


2) B(1; r> 12 )

1

 ] 0, r [ ∪ ] 1 − r, 1 ], se 0 < r ≤ 2 ;


B(1; r) =
 ] 0, 1 ], 1
se r > .


2

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Bolas abertas no quadrado quântico

No espaço métrico produto podemos obter as bolas abertas na métrica

D3 (x, y) = max ¶ d1 (x1 , y1 ); d2 (x2 , y2 ) ♢

simplesmente tomando o produto cartesiano das bolas nos espaços componentes

B (a, b); r = B(a; r) × B(b; r)




Por exemplo, a seguir temos um esboço da bola


 1 1 1
B (1, 1); = B 1; × B 1;
4 4 4

1 1
• • (1,1) • • (1,1)

3
4 ◦
• •◦

1
2 =⇒

1
4 ◦
• •◦


• ◦1
• 1


3
• •◦ •◦ •◦ •
0 4 2 4 1 0 1

1
No entanto, construiremos a bola B (1, 1); na métrica
4
q
D1 (x, y) = d 2 (x1 , y1 ) + d 2 (x2 , y2 )

1 •◦

x = (x1 , x2 )

x = (x1 , x2 ) = (x, y)
y = (y1 , y2 )

y = (y1 , y2 ) = (1, 1)

•◦ •◦
0 1

Temos

1  1
 
B (1, 1); = (x, y) ∈ ] 0, 1 ]×] 0, 1 ] : D1 (x, y); (1, 1) <
4 4

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Pertencem a esta bola todos os pontos do quadrado que satisfazem

1
q
D1 (x, y); (1, 1) = d 2 (x, 1) + d 2 (y, 1) <

4

Consideremos as equações

d(x, 1) = min¶ ♣x − 1♣, 1 − ♣x − 1♣ ♢ e d(y, 1) = min¶ ♣y − 1♣, 1 − ♣y − 1♣ ♢

Vamos utilizar o resultado (eq. (1), p. 4)

1 •◦

d(x, 1) = x d(x, 1) = 1−x

d(y, 1) = 1−y d(y, 1) = 1−y


1

 x,
 0<x≤ ; (IV) (III)
2

1
d(x, 1) = 2

 1 − x, 1
≤ x ≤ 1.


2 d(x, 1) = x d(x, 1) = 1−x

d(y, 1) = y d(y, 1) = y

(I) (II)
•◦ •◦
0 1 1
2

As duas equações acima desdobram-se em cada um dos ŚquadrantesŠ como no


quadrado acima. Em cada um dos ŚquadrantesŠ a desigualdade

1
q
D1 (x, y); (1, 1) = d 2 (x, 1) + d 2 (y, 1) <

4

torna-se

p 1
(I) d(x, 1) = x, d(y, 1) = y ⇒ (x − 0)2 + (y − 0)2 <
4
p 1
(II) d(x, 1) = 1 − x, d(y, 1) = y ⇒ (x − 1)2 + (y − 0)2 <
4
p 1
(III) d(x, 1) = 1 − x, d(y, 1) = 1 − y ⇒ (x − 1)2 + (y − 1)2 <
4
p 1
(IV) d(x, 1) = x, d(y, 1) = 1 − y ⇒ (x − 0)2 + (y − 1)2 <
4

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Tomando a interseção de cada uma das circunferências com o quadrado unitário


1
obtemos a bola B (1, 1);
4

1
(0,1) ◦
• • (1,1) 1•
◦ •◦ •◦ •

3
4 •◦ •◦

1
2 =⇒

1
4 •◦ •◦

(0,0) ◦
• 1 1 3
•◦ (1,0) •◦ •◦ •◦ •◦
0 4 2 4 1 0 1

Oportunamente estaremos aplicando estas bolas abertas na física quântica.

Bolas em subespaços

Dado um espaço métrico (M, d) e um subconjunto N ⊂ M , o nosso objetivo


agora será estudar as bolas abertas no subespaço (N, d). Dado p ∈ N e r > 0 a
bola de centro p e raio r no Śespaço universoŠ (M, d) continuará sendo indicada
por B(p; r), enquanto a bola no subespaço será indicada por B(p; r). Por
deĄnição temos
B(p; r) = ¶ x ∈ N : d(x, p) < r ♢

é fácil mostrar a seguinte relação entre as bolas abertas

B(p; r) = B(p; r) ∩ N (6)

4 Sequências

DeĄnição 4 (Sequência). Seja M um conjunto não vazio, com elementos de


natureza quaisquer. Chamaremos de sequência de termos em M , ou apenas
sequência em M , a qualquer aplicação

x : N −→ M

n 7−→ x(n)

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Para representar a sequência x : N −→ M usaremos uma das notações

(x1 , x2 , x3 , . . .) ou (xn )n ∈ N ou (xn ).

A imagem de n ∈ N pela função x, isto é, x(n), será abreviada por xn − é o


n-ésimo termo da sequência.

4.1 Convergência

Intuitivamente uma sequência (xn ) é convergente se à medida que o índice


n aumenta, o termo xn vai se tornando arbitrariamente próximo de um ponto a,
chamado o limite da sequência. Num espaço métrico a proximidade entre xn
e a é medida pela distância d(xn , a). Portanto, dizer que xn vai se tornando
arbitrariamente próximo de a equivale dizer que d(xn , a) torna-se arbitrariamente
pequeno. Vejamos a deĄnição precisa.
DeĄnição 5 (Convergência). Sejam (M, d) um espaço métrico e (xn ) uma
sequência em M . Dizemos que (xn ) converge para a ∈ M quando, para todo
número real ε > 0 dado arbitrariamente, existe n0 ∈ N tal que

∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε

Uma sequência que não converge é dita divergente. A seguir escrevemos em


símbolos a deĄnição de convergência e sua negação.

∀ ε > 0, ∃ n0 ∈ N : ∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , a) < ε

∃ε > 0 : ∀ n0 ∈ N, ∃ n ≥ n0 ∧ d(xn , a) ≥ ε

Para indicar que (xn ) converge para a, usa-se uma das notações

lim xn = a ou lim xn = a ou lim xn = a ou xn → a


n→∞ n

Podemos caracterizar convergência de sequências vias bolas abertas: Se xn → a


então existe um índice n0 a partir do qual todos os termos da sequência caem
dentro da bola B(a; ε). Reciprocamente, se existe um índice n0 a partir
do qual todos os termos da sequência caem dentro da bola B(a; ε) então xn → a.

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

1
Exemplo: A sequência ( ) converge para 0 no espaço euclidiano ([ 0, 1 ], µ),
n
provaremos que o Ślimite quânticoŠ desta sequência vale

1
lim =1
n→∞ n

De fato, Ąxado ε > 0 devemos exibir um índice n0 (ε) ∈ N satisfazendo

∀ n ≥ n0 ⇒ d(xn , 1) < ε

ou ainda
1 1
 
∀ n ≥ n0 ⇒ min −1 , 1− −1 <ε
n n
isto é n 1 1o
∀ n ≥ n0 ⇒ min 1− , <ε
n n
Temos n 1 1o 1
min 1− , = , ∀ n ≥ 2.
n n n

1 1
Portanto, é suĄciente tomar < ε, isto é, n0 > .
n ε
1
Vejamos uma interpretação geométrica. Fixando, por exemplo, ε = ,
5
1
devemos ter n0 > 1 = 5, isto implica que todos os termos da sequência , a partir
5
1
do quinto, devem cair dentro da bola B 1; ε = , conĄra:
5

← ... ••• • • • • • • •
] 0, 1 ] •◦ pp p p p p p •
0 1 1 1 1 1 1 1
7 6 5 4 3 2
1
B 1; •◦ •◦ ◦
• •
5

Exemplo: Considere as quatro sequências

1 1 1 1
   
xn = , 1− , yn = 1− ,
n+1 n+1 n+1 n+1

1 1 1 1
   
zn = , , tn = 1− , 1−
n+1 n+1 n+1 n+1

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

O centro do quadrado é o primeiro termo de todas elas.

1
(0,1) ◦
• • (1,1) 1•
◦ •◦ •◦ •
••• •• ••• ••
• x •• • ••

−→
3
• 3 •t •◦ • • •◦

−→
4
• x2 • t2 3 • •
1
2 • •
• z2 • y2 • •

−→
1
4 • z3 • y3 •◦ • • •◦
• •• • ••

−→
••• •• ••• ••
(0,0) ◦
• 1 1 3
•◦ (1,0) •◦ •◦ •◦ •◦
0 4 2 4 1 0 1

O leitor está convidado a mostrar que estas quatro sequências convergem


para o vértice (1, 1) do quadrado, isto é

1 1 1 1
   
lim , 1− = (1, 1), lim 1− , = (1, 1)
n→∞ n+1 n+1 n→∞ n+1 n+1

1 1 1 1
   
lim , = (1, 1), lim 1− , 1− = (1, 1)
n→∞ n+1 n+1 n→∞ n+1 n+1

1
A imagem anterior ilustra o fato de que a bola B (1, 1); contém todos
4
os termos das sequências, a partir de uma certa ordem.

DeĄnição 6 (Ponto interior). Seja (M, d) um espaço métrico e X ⊂ M . Um


ponto p ∈ X é chamado ponto interior de X se

∃ r > 0 : B(p; r) ⊂ X.

De outro modo: um ponto p ∈ X é ponto interior de X se for possível


ŚcentrarŠ neste ponto uma bola aberta contida em X.

O conjunto dos pontos interiores de X será indicado por X .

DeĄnição 7 (Conjunto aberto). Seja (M, d) um espaço métrico e X ⊂ M .


Diremos que X é um conjunto aberto em (M, d) quando todo ponto de X for
ponto interior de X.

DeĄnição 8 (Ponto fronteira). Seja (M, d) um espaço métrico e X ⊂ M . Um


ponto p ∈ M é dito ponto fronteira de X se para todo r > 0 tivermos na bola
B(p; r) algum ponto de X e também algum ponto do complementar de X.

17
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Ao conjunto de todos os pontos fronteira de X chamamos fronteira de X e


o indicamos por ∂X.
1
Exemplo: Considere M = ] 0, 1 ], X = ] 0, ] e p = 1. Como na imagem
2

M
0 1

X • p=1
0 1
2

AĄrmamos que p = 1 é ponto fronteira de X. Não faremos uma prova


1
formal, no entanto, observe na imagem a seguir como a bola B(1; ) intercepta
4
X e o seu complementar

M
0 1

X • p=1
0 1
2

1
B(1; 4)
0 1
4
3
4
1

Observe na deĄnição de ponto interior que para provar que um ponto p ∈ M


está na fronteira de X não é suĄciente exibir uma bola de centro p que intercepta
X e seu complementar, isto deve ocorrer para toda bola de centro p. No caso
em questão, para se convencer de que 1 ∈ ∂ X veja o diagrama de bolas abertas
(ŚgabaritoŠ)

0 r 1−r 1 0 r 1 0 1
•◦

B(1; r< 21 ) B(1; r = 1


2) B(1; r> 21 )

Quando o espírito se apresenta à cultura cientíĄca, nunca é jovem. Aliás é bem


velho, porque tem a idade dos seus preconceitos. Aceder à ciência é rejuvenescer
espiritualmente, é aceitar uma brusca mutação que contradiz o passado. (G.B.)

18
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Estes exemplos podem ser reproduzidos em qualquer número de dimen-


sões. Por exemplo, em 2D, o ponto p = (1, 1) está na fronteira do quadrado
1 1
] 0, ] × ] 0, ]
2 2

1

• • (1,1) 1•
◦ •◦ •◦ •

•◦ •◦

1 1
2 2

•◦ •◦


• 1
•◦ •◦ •◦ 1
•◦ •◦
0 2 1 0 2 1

1
A imagem da direita ilustra como a bola B (1, 1); intercepta o quadrado
4
e o seu complementar.
Proposição 1. Seja (M, d) um espaço métrico, X ⊂ M e p ∈ M .

Se p ∈ ∂X, então d(p, X) = 0.

Prova: Seja p ∈ ∂X, para provar que d(p, X) = inf¶ d(p, x) : x ∈ X ♢ = 0, dado
ε > 0 arbitrário devemos exibir x ∈ X de modo que d(p, x) < ε. De fato, pela
deĄnição de ponto fronteira, para todo ε > 0 temos B(p; ε) ∩ X ≠ ∅, o que
implica que para todo ε > 0 existe x ∈ X tal que d(p, x) < ε. ■
DeĄnição 9 (Ponto aderente). Seja (M, d) um espaço métrico e X ⊂ M . Um
ponto p ∈ M se diz ponto aderente ao conjunto X se

B(p; r) ∩ X ̸= ∅, ∀ r > 0.

Isto é, se toda bola de centro p intercepta X.

Comparando as deĄnições de ponto aderente e ponto fronteira concluímos


que todo ponto fronteira é também ponto aderente, a recíproca não vale.

O conjunto dos pontos aderentes a X chama-se fecho (ou aderência) de X e


é indicado por X.

19
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Exemplos: Nos dois exemplos anteriores temos que os pontos p = 1 e p = (1, 1)


são aderentes aos respectivos conjuntos X. Ademais, no intervalo unitário ] 0, 1 ]
n 1 o
considere o conjunto X = : n ∈ N . O ponto p = 1 é aderente a X.
n+1  1
Na imagem a seguir observamos como a bola B 1; intercepta X (bolinhas
5
em azul).

← . . . •••••• • • • • • •
] 0, 1 ]
•◦ pp p p p p p •
0 11 1 1 1 1 p=1
76 5 4 3 2
1
B 1; •◦ •◦ ◦
• •
5

Tendo em conta todas as bolas possíveis no intervalo quântico

0 r 1−r 1 0 r 1 0 1
•◦

B(1; r< 12 ) B(1; r = 1


2) B(1; r> 12 )

justiĄcamos a aĄrmativa.
Teorema 1. Seja (M, d) um espaço métrico. Se p ∈ M e X ⊂ M , então

d(p, X) = 0 ⇐⇒ p ∈ X.

Prova: (⇒) Se d(p, X) = 0, então p ∈ X. Com efeito, por hipótese

d(p, X) = inf¶ d(p, x) : x ∈ X ♢ = 0 (7)

Isto é, 0 é a maior das cotas inferiores do conjunto ¶ d(p, x) : x ∈ X ♢. Ou seja,


qualquer r > 0 não pode ser cota inferior deste conjunto. Logo, para todo r > 0
existe x ∈ X de modo que d(p, x) < r. Ou ainda: para todo r > 0, temos
B(x; r) ∩ X ̸= ∅, o que mostra que p ∈ X.
(⇐) Se p ∈ X, então d(p, X) = 0. Devemos mostrar que a igualdade (7) se
veriĄca. Isto é, que 0 é a maior das cotas inferiores do conjunto ¶ d(p, x) : x ∈ X ♢.
De outro modo: nenhum r > 0 pode ser cota inferior deste conjunto. Para isto
devemos exibir x ∈ X tal que d(p, x) < r. Então, por hipótese, p ∈ X, isto é,
para todo r > 0, temos B(p; r) ∩ X ̸= ∅. Logo, para todo r > 0 existe x ∈ X de
modo que d(p, x) < r, isto conclui a prova. ■

20
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

5 Topologia quântica-I

5.1 Um objeto em vários lugares ao mesmo tempo

A referência [1] aĄrma que um objeto quântico pode encontra-se em vários


lugares ao mesmo tempo:

ŞO que a teoria quântica revelou é tão espantoso que mais parece Ącção
cientíĄca: as partículas podem estar em dois ou mais lugares ao mesmo tempo.
(Uma experiência muito recente mostrou que uma partícula pode estar em até 3
mil lugares!) O mesmo ŚobjetoŠ pode aparentar ser uma partícula, localizada em
um lugar determinado, ou uma onda, espalhada pelo espaço e pelo tempo.Ť

Vamos provar que no universo quântico uma ŚpartículaŠ (ponto geométrico)


pode estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Antes necessitaremos de uma
deĄnição.
DeĄnição 10. Diremos que um objeto p (um ponto) encontra-se em uma região
R do universo quântico se, e somente se, sua distância para essa região for nula.

De posse desta deĄnição mostraremos agora que um ponto geométrico pode


encontrar-se em quatro lugares ao mesmo tempo. Com efeito, removemos as
terças partes centrais no quadrado da esquerda

p(1, 1) p(1, 1)
1•
◦ • 1•
◦ •

R4 R3
2
3 ◦

1
3 ◦

R1 R2

• ◦
• ◦
• ◦
• ◦
• ◦

0 1 0 1 2 1
3 3

obtendo as quatro regiões em destaque na Ągura da direita. AĄrmamos que


o vértice superior direito, p(1, 1), encontra-se nestas quatro regiões ao mesmo
tempo!

Faremos a prova para a região R1 , e para a métrica


q
D1 (x, y) = d 2 (x1 , y1 ) + d 2 (x2 , y2 )

21
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Temos

d(p, X) = inf¶ d(p, x) : x ∈ X ♢

= inf¶ D1 (1, 1); (x, y) : (x, y) ∈ R1 ♢




np 1o
= inf d 2 (x, 1) + d 2 (y, 1) : 0 < x, y ≤
3

Utilizando a equação

1

 x,
 se 0 < x ≤ ;
2

d(x, 1) =
 1 − x, 1
se ≤ x ≤ 1.


2

obtemos d(x, 1) = x e d(y, 1) = y, portanto


np 1o
d (1, 1), R1 = inf x2 + y 2 : 0 < x, y ≤

3

Para calcular essa distância vamos encontrar o ŞínĄmo da funçãoŤ


p 1
F (x, y) = x2 + y 2 , para 0 < x, y ≤
3

Então
1 1
0<x≤ ⇒ 0 < x2 ≤
3 9
1
Analogamente, 0 < y 2 ≤ . Portanto
9

2 2 2
p 2
0<x + y ≤ ⇒ 0 < x2 + y 2 ≤
9 3

Sendo assim √ i
p i 2
F (x, y) = x2 + y2 ∈ 0,
3
Portanto
√ i
i 2
d (1, 1), R1 = inf 0, =0

3

O fato de uma partícula quântica poder está em vários lugares ao mesmo tempo
se deve ao seu comportamento ondulatório, a ela está associada uma onda; de
modo similar, mostraremos oportunamente que esta é a razão pela qual um ponto
do universo quântico pode estar em uma quantidade arbitrariamente grande de
lugares.

22
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Em 1924 o físico francês Louis De Broglie levantou a conjectura de que a


matéria, em certas circunstâncias, poderia ter características ondulatórias, o que
foi conĄrmado experimentalmente em 1927 através dos experimentos de C.J.
Davisson e L.H. Germer, dos Bell Telephone Laboratories.

Observamos que a conjectura de De Broglie foi decisiva para o estabeleci-


mento da física quântica e, por conseguinte, diretamente responsável por todo o
desenvolvimento tecnológico que ora desfrutamos. Por outro lado, a proposta
de De Broglie teve porfundas repercussões ĄlosóĄcas. Por exemplo, inspirado
nas ondas de De Broglies associaremos a um ponto geométrico uma onda e daí
derivaremos toda uma série de consequências interessantes.

Ondas geométricas

Dado um ponto p, no universo ] 0, 1 ]n , e um número r > 0, deĄniremos a


onda associada ao ponto p (ou de centro em p) e raio r como

O(p; r) = ¶ x ∈ ] 0, 1 ]n : d(x, p) < r ♢

Leia-se: A onda de centro p e raio r é o conjunto de todos os pontos do espaço


(hipercubo) tais que suas distâncias para p é menor que r.

Ou seja, uma onda é uma bola aberta, estamos apenas − inspirados nas
ondas de De Broglie − mudando a nomenclatura no presente contexto.

Na página 21 provamos que um ponto no quadrado quântico pode estar em


até quatro lugares ao mesmo tempo. Lembrando, o ponto p(1, 1) encontra-se
nas quatro regiões a seguir (esquerda)

p(1, 1) p(1, 1)
1•
◦ • 1•
◦ •◦ •◦ •

R4 R3
◦• •◦
2
3 ◦
• 2
3 •◦

1
3 ◦
• 1
3 ◦•
•◦ •◦
R1 R2

• ◦
• ◦
• •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦
0 1 2 1 0 1 2 1
3 3 3 3

23
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Agora podemos ver esse fenômeno de uma nova perspectiva, provamos


que Şum ponto quântico encontra-se em uma região R se, e somente se, toda
onda associada a esse ponto intercepta essa regiãoŤ. A imagem da direita,
acima, mostra uma onda associada ao ponto p(1, 1) presente nas quatro regiões.
Ademais, observe que na métrica usual (euclidiana) a bola aberta de mesmo
centro e mesmo raio é o Śsetor circularŠ que encontra-se apenas na região R3 ,
por isto a partícula encontra-se apenas nesta região − na métrica usual.

O nosso teorema pode ser resumido assim:

d(p, R) = 0 ⇐⇒ O(p; r) ∩ R =
̸ ∅, ∀ r > 0.

Prova: Esse teorema nada mais é que o teorema 1, p. 20. ■

Deslocando-se entre os pontos A e B sem passar pelo meio.

Um outro fenômeno quântico que podemos simular (ŚreproduzirŠ) no nosso


universo ] 0, 1 ]n é o que aĄrma que um objeto pode deslocar-se entre dois pontos
Śsem passar pelo meioŠ. Por exemplo na imagem a seguir (esquerda) podemos
mover o objeto p do ponto A ao ponto B sem passar pelo meio.

1•
◦ (1, 1)



p

p p
0 1 ◦

B A

p

• ◦
• ◦
• ◦

0 1

No quadrado da direita podemos mover o objeto p pelas quatro regiões sem


passar pelos interstícios. Oportunamente estaremos demonstrando isto matema-
ticamente.

Tudo isso, que à primeira vista parece excesso de irrazão, na verdade é o efeito
da Ąnura e da extensão do espírito humano e o método para encontrar verdades até
então desconhecidas. (Voltaire)

24
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

6 Funções contínuas

DeĄnição 11 (Continuidade). Sejam (M, d1 ) e (N, d2 ) espaços métricos. Diz-


se que a aplicação f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) é contínua no ponto a ∈ M quando,
para todo ε > 0 arbitrariamente Ąxado, pudermos exibir δ > 0 de modo que

d1 (x, a) < δ d2 f (x), f (a) < ε




Diremos que f é contínua em M quando for contínua em todo ponto de M .

Uma deĄnição equivalente de continuidade pode ser dada via bolas abertas:
Uma função f : (M, d1 ) −→ (N, d2 ) é contínua no ponto a ∈ M se, e somente
se, dada arbitrariamente uma bola B f (a); ε existe uma bola B(a; δ) de modo


que f B(a; δ) ⊂ B f (a); ε .


 

(M, d1 ) (N, d2 )

x • f (x) •
f
•a ε • f (a)
δ

∃δ > 0 ∀ε > 0

Quando uma função f não é contínua no ponto a, dizemos que f é descon-


tínua nesse ponto. Isto signiĄca que existe uma bola B f (a); ε0 com a seguinte


propriedade: para toda bola de centro a, isto é, B(a; δ), podemos exibir um
ponto xδ ∈ B(a; δ) tal que f (xδ ) ̸∈ B f (a); ε0 .


A seguir colocamos em símbolos tanto a continuidade quanto a descontinui-


dade em um ponto a ∈ M :

  
∀ ∃ ∀ x ∈ B(a; δ) ⇒ f (x) ∈ B f (a); ε
ε>0 δ>0 x

 
∃ ∀ ∃ xδ ∈ B(a; δ) ∧ f (xδ ) ̸∈ B f (a); ε0
ε0 > 0 δ > 0 xδ

25
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Exemplo: Considere a função f : ( [ 0, 1 ], µ) −→ ( ] 0, 1 ], d) dada por

1 1
 6 (1 − 2 x), se 0 ≤ x < 2 ;


f (x) =
 1 (7 − 2 x), se 1 ≤ x ≤ 1.


6 2

A seguir vemos um esboço do gráĄco de f

f (x)

1 •
p p p p p p

5
6 •

3
6

1
6 •
0 1
◦•p p1 x
2

1
O gráĄco possui um salto no ponto x = , a função f é contínua (inclusive)
2
neste ponto!

Os detalhes deixaremos por conta do leitor, apenas assinalamos que isto se


deve ao formato das bolas abertas no intervalo quântico. Para mostrar que f é
1
contínua no ponto x = veriĄque que, Ąxado ε > 0, podemos tomar δ = δε do
2
seguinte modo:

1 1
 ,
 se ε ≥ ;
4 6
δ(ε) =
 3 ε, 1
se ε < .

6

2
Por exemplo, a seguir fazemos uma simulação gráĄca, para ε = :
6

26
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

f (x)

1• 1 •

p p p p p p
5
6 •
4
6 ◦

3
6
2
6 ◦

1
6 •
0•
◦ ] ◦•p [3 p1 x
0 1 1
4 2 4

1
A bola B 1; δ = foi desenhada tendo em conta o ŚgabaritoŠ.
4
Exemplo: A função f : ( ] 0, 1 ], d) −→ ( ] 0, 1 ], µ) dada por f (x) = x (iden-
tidade) é descontínua no ponto
 x = 1. Lembramos a descontinuidade em
 símbolos


 
∃ ∀ ∃ xδ ∈ B(a; δ) ∧ f (xδ ) ̸∈ B f (a); ε0
ε0 > 0 δ > 0 xδ

Com efeito, vamos centrar uma bola em f (1) = 1, de raio, por exemplo,
1
ε0 = :
4
1 3 
B f (1); = ,1
4 4
Nota: Ver eq. (6), p. 14.

Vamos mostrar que, qualquer que seja δ > 0, na bola B(1; δ) encontraremos
1
um ponto xδ de modo que f (xδ ) ̸∈ B f (1); .
4
δ
Tendo em conta o gabarito, podemos tomar, por exemplo, xδ = . Observe
2

δ 3 3
f (xδ ) = xδ = ≤ ⇐⇒ δ ≤
2 4 2

3 1
Se δ > , temos B(1; δ) = ] 0, 1 ], podemos tomar, por exemplo, xδ = .
2 2

27
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Observe a ŚestenograĄa da descontinuidadeŠ




 
∃ ∀ ∃ xδ ∈ B(a; δ) ∧ f (xδ ) ̸∈ B f (a); ε0
ε0 > 0 δ > 0 x δ

1 1
δ
= ] 43 , 1 ]

ε0 = 4
xδ = 2
= xδ B f (1); 4

B(1; δ) = ] 0, δ [ ∪ ] 1 − δ, 1 ]

Ademais, observe a Śgeometria da descontinuidadeŠ

1• •f (x) = x
1

B f (1); 4
3
]

1
p

f (xδ )
•◦ • ◦
• 1p ◦
• •
0 δ 2 1−δ 1

Proposição 2. A aplicação f : M −→ N1 × N2 × · · · Nn deĄnida por

f (x) = f1 (x), f2 (x), . . . , fn (x) ,



∀ x ∈ M,

é contínua se, e somente se, suas coordenadas

f1 : M −→ N1 , . . . , fn : M −→ Nn

Prova: Ver, por exemplo, [4]. ■

28
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Corolário 1. Se as n funções

f1 : M1 −→ N1 , f2 : M2 −→ N2 ,..., fn : Mn −→ Nn
x1 7−→ f1 (x1 ) x2 7−→ f2 (x2 ) xn 7−→ fn (xn )

são contínuas, então a função a seguir também é contínua.

f : M1 × · · · × Mn −→ N1 × · · · × Nn

x = (x1 , . . . , xn ) 7−→ f1 (x1 ), . . . , fn (xn )

7 Conjuntos conexos por caminhos

DeĄnição 12 (Caminho em espaços métricos). Um caminho num espaço métrico


(M, d) é uma aplicação contínua f : [ 0, 1 ] −→ M . Os pontos f (0) e f (1) são
chamados ponto inicial e ponto Ąnal do caminho.

Traduzindo essa deĄnição em um gráĄco, temos o seguinte

(M, d )

1 •q
f

0 • p

O caminho é a transformação (função) f que vai do intervalo no conjunto


M . Na imagem temos uma curva (contínua) ligando os pontos p e q no conjunto
M . Dizemos que esta curva é a imagem do intervalo pelo caminho f . Por
simpliĄcação (abuso de linguagem), por vezes estaremos considerando a própria
curva como sendo o caminho. O ponto p é chamado o ponto inicial do caminho,
e o ponto q é chamado de ponto Ąnal do caminho − no sentido de que p é
a imagem, por f , do ponto 0 e q é imagem, por f , do ponto 1 do intervalo.
Indicamos isto assim
f (0) = p e f (1) = q.

29
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Para considerações posteriores será útil termos em mente o seguinte: metafo-


ricamente, enquanto o ŚlápisŠ percorre o intervalo [ 0, 1 ] sua imagem, o caminho,
vai sendo traçada no conjunto M , assim:

(M, d )
1
• f (1) = q
f



• f (0) = p
0

Enfatizando: A ideia desta Ągura é a seguinte: no início o lápis aponta para


a origem do intervalo, sua imagem é o ponto p, início do caminho; à medida
que o lápis percorre o intervalo − no sentido do outro extremo − o caminho
(curva) vai sendo descrito; quando o lápis atinge o extremo superior do intervalo
o caminho termina de ser traçado, isto é, estamos no ponto f (1) = q.

Justaposição de caminhos

Dados dois caminhos f, g : [ 0, 1 ] −→ M , tal que f (1) = g(0), deĄnamos a


aplicação f ∨ g : [ 0, 1 ] −→ M , pondo
 1
 f (2 t), se 0 ≤ t ≤
2
;


f ∨ g (t) =


 g(2 t − 1), se 1 ≤ t ≤ 1.


2

Como f (2 t) coincide com g(2 t − 1) no ponto t = 1/2, então f ∨ g está bem


deĄnida; ademais, f ∨ g é contínua. Portanto, f ∨ g : [ 0, 1 ] −→ M é um caminho
− chamado o caminho justaposto.

Exemplo: Sejam os caminhos

f : [ 0, 1 ] −→ R2 , g : [ 0, 1 ] −→ R2
t 7−→ (2 t, 2 t + 1) t 7−→ (2 t + 2, 6 t2 − 5 t + 3)

Nota: M = R2 = R × R munido com qualquer uma das três métricas dadas


em (2), p. 7, é um espaço métrico, onde d1 = d2 = ♣x − y♣.

30
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Na Ągura a seguir temos um esboço dos caminhos f e g:

4 • g(1)

p
R
g(0)
3 • f (1) 3 •

p
1
f
2 2

p
g
0 1 • f (0) 1
p

p
p p R p p p p R
0 1 2 0 1 2 3 4

Sendo

f (t) = (2 t, 2 t + 1) e g(t) = (2 t + 2, 6 t2 − 5 t + 3)

Como

f (1) = (2 · 1, 2 · 1 + 1) = (2, 3)

g(0) = (2 · 0 + 2, 6 · 02 − 5 · 0 + 3) = (2, 3)

podemos justapor esses caminhhos. Encontremos o caminho justaposto f ∨ g


seguindo o algoritmo:
 1
 f (2 t), se 0 ≤ t ≤ ;
2


f ∨ g (t) =


 g(2 t − 1), se 1 ≤ t ≤ 1.


2

Então

f (2 t) = 2 (2 t), 2 (2 t) + 1


= (4 t, 4 t + 1)

por outro lado

g(2 t − 1) = 2 (2 t − 1) + 2, 6 (2 t − 1)2 − 5 (2 t − 1) + 3


= (4 t, 24 t2 − 34 t + 14)

31
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Resumindo, temos
 1
 (4 t, 4 t + 1), se 0 ≤ t ≤
2
;


f ∨ g (t) =


 (4 t, 24 t2 − 34 t + 14), se 1 ≤ t ≤ 1.


2

A seguir mostramos um esboço deste caminho:

4 • (f ∨ g)(1)
p
3
p (f ∨ g)( 21 )

1
f ∨g
2
p

0 1 (f ∨ g)(0)
p

p p p p R
0 1 2 3 4

DeĄnição 13 (Espaços conexos por caminhos). Um espaço métrico (M, d) se


diz conexo por caminhos quando dois pontos quaisquer de M podem ser ligados
por um caminho contido em M .

Dizemos que um subconjunto X ⊂ M é conexo por caminhos quando o


subespaço (X, d) for conexo por caminhos. O produto cartesiano de espaços
conexos por caminhos é conexo por caminhos.
Proposição 3. Se M e N são conexos por caminhos então M × N é também
conexo por caminhos.

Prova: Ver, por exemplo, [4]. ■

Uma das contribuições deĄnitivas do século dezenove


foi o reconhecimento de que a matemática não é uma
ciência natural, mas uma criação intelectual do homem.
Bertrand Russel escreveu no International Monthly em
1901: ŚO século dezenove, que se orgulha da invenção
do vapor e da evolução, poderia derivar um título mais
legítimo à fama da descoberta da matemática puraŠ.
Pelo Ąm do século era geralmente reconhecido mesmo por não matemá-
ticos que a matemática é pensamento postulacional, em que de premissas
arbitrárias são tiradas conclusões válidas. Que os postulados sejam ou não
verdadeiros num sentido cientíĄco é indiferente.

32
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

8 Topologia quântica-II

Anteriormente provamos a plausibilidade matemática do bizarro fenômeno


quântico Śestar em vários lugares ao mesmo tempoŠ; agora envidaremos esforços
para provar a plausibilidade matemática de um outro não menos bizarro fenômeno
quântico, referido acima.

Construiremos agora uma família de conjuntos com partes disjuntas e,


mesmo assim, conexos por caminhos, o que se constituirá num contraexemplo à
aĄrmação:

Outra maneira de exprimir a conexidade de um espaço é


dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para
outro por um movimento contínuo, sem sair do espaço. Isto
nos leva à noção de espaço conexo por caminhos, conceito
mais particular e provido de mais signiĄcado intuitivo do que
o conceito geral de espaço conexo.

Para facilitar a exposição, torná-la mais didática, exibiremos nosso objeto


em um caso particular, o caso geral não apresentará diĄculdades − tendo em
conta a proposição 3, p. 32.
Teorema 2 (Gentil, o iconoclasta/11.09.2008). AĄrmamos que o conjunto a
seguir é conexo por caminhos

1 2
0 3 3 1

Traduzindo em termos intuitivos, o que estamos aĄrmando é que dados dois


pontos quaisquer neste conjunto, como, por exemplo, os pontos p e q vistos a
seguir

• •
0 p 1
3
2
3 q 1

podemos uní-los por um traço contínuo, sem abandonar o conjunto.

De outro modo: sentando a ponta de um lápis no primeiro ponto, p, podemos


atingir o outro ponto, q, sem levantar a ponta do lápis e sem sair do conjunto.

p q
• 1 2

0 3 3 1

33
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Antes da prova do teorema vamos deixar claro o que buscamos, observe

(M, d )
1
• f (1) = q
f



• f (0) = p
0

Desejamos provar que o espaço a seguir é conexo por caminhos


 1 2  
(M, d) = 0, ∪ ,1 ,d
3 3

o que signiĄca que dados dois quaisquer de seus pontos, p e q, devemos exibir
um caminho (função f contínua) ligando-os.

Prova: Se os pontos p e q estiverem de um mesmo lado do conjunto o caminho

f : [ 0, 1 ] −→ M

t 7−→ (1 − t) p + t q

é tal que f (0) = p e f (1) = q.

O caso mais interessante é quando os pontos dados situam-se em lados


opostos. Observamos ainda mais o seguinte, dados dois pontos p e q, como na
Ągura a seguir, ligaremos inicialmente (e trivialmente) o ponto q à extremidade
direita do intervalo, assim:

• 1 2

0 p 3 3 q 1

e, após, ligaremos a extremidade direita a algum ponto Şdo outro ladoŤ. De


formas que todo o nosso desaĄo se resume em ligar a extremidade direita a um
ponto qualquer do outro lado, veja:

0

p
1
3
? •1

34
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Buscaremos um caminho inspirados na Ągura seguinte

f (1)
1

f
1
•1
0 3

0
f (0)

Ou seja, f (0) será o início do caminho e f (1) o seu término. Ou ainda,


quando a ponta do lápis estiver na origem do intervalo, sua imagem estará na
extremidade direita do conjunto; quando a ponta do lápis estiver no topo do
1
intervalo, sua imagem estará no ponto do conjunto.
3
Nestas condições o gráĄco a seguir será de grande auxílio:

f (t)

1 • f (0)=1 •

1
• f (1)= 31 •
p

0 ◦
• •◦ p t
0 1

t
p
0 1

Desse gráĄco deduzimos a seguinte expressão para f :


 1,
 se t = 0;
f (t) =
 1 t , se 0 < t ≤ 1.

3

35
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Onde t é um parâmetro que indica a posição da ponta do lápis no intervalo


[ 0, 1 ] e f (t) é a imagem da ponta no conjunto dado (em vermelho, paralelo
ao eixo y). Do gráĄco acima concluímos o seguinte: quando a ponta do lápis
está no início do caminho, isto é, aponta para t = 0, sua imagem, f (0), é 1; se
dermos qualquer deslocamento ao lápis − mesmo que um ŚinĄnitésimoŠ − sua
imagem comparece ŚinstantaneamenteŠ Śdo outro ladoŠ do conjunto, e à medida
que deslocamos o lápis o caminho vai sendo descrito.

A deĄnição 12, p. 29, exige que o caminho f seja contínuo. Em termos


intuitivos, o traçado (imagem) do lápis deve ser contínuo, isto é, não deve
apresentar nenhum ŞsaltoŤ. O ponto Śmais delicadoŠ ocorre quando movemos o
lápis da origem e sua imagem ŞsaltaŤ instantaneamente para o outro extremo,
1
isto é, para o intervalo ] 0, ]. Podemos questionar se esse salto se dá de forma
3
contínua. É o que iremos provar agora, isto é, que f é contínua na origem.

Lembramos do ŚgabaritoŠ da continuidade em um ponto a:

(continuidade em a)
  
∀ ∃ ∀ d1 (x, a) < δ ⇒ d2 f (x), f (a) < ε
ε>0 δ>0 x

  
∀ ∃ ∀ x ∈ B(a; δ) ⇒ f (x) ∈ B f (a); ε
ε>0 δ>0 x

(M, d1 ) (N, d2 )

x• f (x) •
f
•a ε •f (a)
δ
∃δ > 0 ∀ε > 0

Observe que no nosso caso em estudo

(M, d ) (M, d1 ) = ([ 0, 1 ], µ)
1
• f (1) = q
f

1 2
• f (0) = p
(N, d2 ) = ] 0, ] ∪ [ , 1], d

0

3 3

36
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Adaptando o gabarito ao nosso caso particular, a = 0, temos

(continuidade em 0)
  
∀ ∃ ∀ |t − 0| < δ ⇒ d2 f (t), f (0) < ε
ε>0 δ>0 t

  
∀ ∃ ∀ t ∈ B(0; δ) ⇒ f (t) ∈ B f (0); ε
ε>0 δ>0 t

Temos que f (0) = 1, substituindo

(continuidade em 0)
  
∀ ∃ ∀ |t| < δ ⇒ d2 f (t), 1 < ε
ε>0 δ>0 t

  
∀ ∃ ∀ t ∈ B(0; δ) ⇒ f (t) ∈ B 1; ε
ε>0 δ>0 t

Fixado arbitrariamente ε > 0 devemos exibir δ > 0 de modo que

t ∈ B(0; δ) = ] 0 − δ, 0 + δ [ ∩ [ 0, 1 ] = [ 0, δ [ ⇒ f (t) ∈ B(1; ε)

Nota: Podemos assumir δ ≤ 1. Lembramos: (p. 14)

B(p; r) = B(p; r) ∩ N

1
Inicialmente consideremos 0 < ε ≤ . Temos
3

B(1; ε) = B(1; ε) ∩ N

Tendo em conta o gabarito (p. 11)

0 r 1−r 1 0 r 1 0 1
•◦

B(1; r< 12 ) B(1; r = 1


2) B(1; r> 12 )

37
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Temos

B(1; ε)
0 ε 1−ε 1

1 2
N
0 3 3 1

Tomando a interseção, resulta

B(1; ε)
0 ε 1−ε 1

Então

f (t) ∈ B(1; ε) ⇐⇒ 0 < f (t) < ε ou 1 − ε < f (t) ≤ 1

Tomando δ = 3 ε vamos mostrar que

t ∈ B(0; δ) = [ 0, δ [ ⇒ f (t) ∈ B(1; ε)

ou ainda, vamos mostrar que

t ∈ B(0; δ) = [ 0, δ [ ⇒ 0 < f (t) < ε ou 1 − ε < f (t) ≤ 1 (8)

Tendo em conta que



 1,
 se t = 0;
f (t) =
 1 t , se 0 < t ≤ 1.

3

Se t = 0, temos f (t) = 1 e (8) está satisfeita. Se 0 < t < δ, temos

1
0 < t < 3ε ⇒ 0 < t < ε ⇒ 0 < f (t) < ε
3
1
Também neste caso (8) está satisfeita. Considere agora ε > . Então, de modo
3
análogo ao que Ązemos anteriormente, temos

B(1; ε)
0 ε 1−ε 1

1 2
N
0 3 3 1

38
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Tomando a interseção, resulta

1 2
B(1; ε)
0 3 3 1

Então

1 2
f (t) ∈ B(1; ε) ⇐⇒ 0 < f (t) ≤ ou ≤ f (t) ≤ 1
3 3

Tomando δ = 1 vamos mostrar que

t ∈ B(0; δ) = [ 0, 1 [ ⇒ f (t) ∈ B(1; ε)

ou ainda, vamos mostrar que

1 2
t ∈ B(0; δ) = [ 0, 1 [ ⇒ 0 < f (t) ≤ ou ≤ f (t) ≤ 1 (9)
3 3

Tendo em conta que



 1,
 se t = 0;
f (t) =
 1 t , se 0 < t ≤ 1.

3

Se t = 0, temos f (t) = 1 e (9) está satisfeita. Se 0 < t < 1, temos

1 1 1
0<t<1 ⇒ 0< t< ⇒ 0 < f (t) <
3 3 3

Também neste caso (9) está satisfeita. Resumindo: dado ε > 0, tome

δ = min¶ 1, 3 ε ♢

O oposto de uma verdade é mentira, mas o oposto de


uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade
profunda. (Niels Bohr)

Uma verdade profunda é que o conjunto a seguir não é conexo por


caminhos (Śvisão euclidianaŠ).

1 2
0 3 3 1

O oposto desta verdade profunda não é mentira, é uma outra verdade


profunda (Śvisão quânticaŠ).

39
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

8.1 Deslocando-se entre os pontos A e B sem passar pelo meio

ŞDeve estar Ącando fácil ver por que física e misticismo se cruzam.
Coisas separadas mas sempre se tocando (não-localidade); elétrons que se movem
de A para B sem nunca passar entre esses pontos.Ť ([1])

Nosso objetivo agora será simular em nosso hipercubo, ] 0, 1]n , a aĄrmativa


da física quântica de que Śelétrons se movem de A para B sem nunca passar
entre esses pontosŠ.

Vamos necessitar de duas deĄnições


DeĄnição 14 (Transitar). Diremos que um objeto pode transitar entre duas
(ou mais) regiões se existe um caminho ligando este objeto a qualquer ponto das
regiões.
DeĄnição 15 (Transitar sem passar por pontos intermédios). Diremos que um
objeto transita (ou pode transitar) entre duas regiões disjuntas − sem passar por
pontos intermédios − quando existe um caminho ligando este objeto a qualquer
ponto das regiões e, caminho este, totalmente contido nestas regiões.

Exemplo: Na Ągura a seguir moveremos o ŚobjetoŠ p

B A
p 1 2
• N
0 1
6
3 3 ↑ 1
5
p= 6

de A para B sem passar pelo hiato central.

A estratégia consistirá no seguinte: Inicialmente ligaremos o ponto p à


extremidade direita do (sub)espaço N , em seguida ligaremos a extremidade
direita ao ponto q, assim:

B A

• 1 2
• N
0 q= 1 3 3 p= 5 1
6 6

A ligação do lado direito dá-se-a pelo Ścaminho trivialŠ (p. 34 )

f : [ 0, 1 ] −→ N

t 7−→ (1 − t) p + t · 1

40
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Isto é
5
f (t) = (1 − t) +t·1
6
ou ainda
1 5
f (t) = t+
6 6

A seguir temos um esboço gráĄco dos caminhos que denominamos de f e g

g f
• 1 2
• N
0 q= 1 3 3 p= 5 1
6 6

f (t) g(t)

f (1)=1 • g(0)=1 •
p p

f (0)= 65 •

g(1)= 16 •

p
0
p1 t
0
•◦ p1 t

f g

t t
p p
0 1 0 1

A prova de que g é contínuo na origem é análoga à feita anteriormente, p. 36.

Vamos justapor os caminhos


1 5  1,
 se t = 0;
f (t) = t+ e g(t) =
6 6  1 t , se 0 < t ≤ 1.

6
Segundo o algoritmo (p. 30)

 1
 f (2 t), se 0 ≤ t ≤
2
;


f ∨ g (t) =


 g(2 t − 1), se 1 ≤ t ≤ 1.


2

41
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Sendo assim, temos

1 5 1

 f (2 t) = (2 t) + , se 0 ≤ t ≤ ;
6 6 2







λ(t) =

 1, se 2 t − 1 = 0;
  1
g(2 t − 1) = , se ≤ t ≤ 1.


1 2




  (2 t − 1) , se 0 < 2 t − 1 ≤ 1.

6

Onde Ązemo λ = f ∨ g. SimpliĄcando, resulta


1 5 1
 3 t + 6 , se 0 ≤ t ≤ 2 ;


λ(t) =
 1 t − 1 , se 1 < t ≤ 1.


3 6 2

A seguir (esquerda) um esboço gráĄco do caminho λ, à direita recordamos


o problema original

λ(t)

λ( 21 )=1 • g f
p p

λ(0)= 65 • • 1 2
• N
0 q= 1
3 3 p= 5 1
6 6

λ(1)= 61 • − Problema original: Obter um caminho ligando os pontos p e q.


p

0
•◦1 p1 t
2

t
• p
0 1 1
2

Daqui concluímos que quando a ponta do lápis encontra-se na origem do


intervalo sua imagem está no ponto p (início do caminho), deslocando-se o
lápis para a direita o caminho vai sendo traçado de sorte que quando a ponta
atinge a metade do intervalo sua imagem encontra-se exatamente na extremidade
direita do (sub)espaço N ; movendo-se a ponta do lápis − Śmesmo que por um
inĄnitésimoŠ − sua imagem Śsalta instantaneamenteŠ para o lado esquerdo de N ,
1
esse ŚsaltoŠ se dá de forma contínua, λ é contínuo no ponto t = , o caminho
2
continua sendo traçado até o ponto Ąnal, q.

42
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Na Ągura a seguir pretendemos justiĄcar a razão do caminho λ ser contínuo


1
no ponto t =
2

λ(t)
B(1; ε)

   1 • λ( 21 )=1 •

p p
∀ ∃ ∀ x ∈ B(a; δ) ⇒ f (x) ∈ B f (a); ε
ε>0 δ>0 x λ(0)= 56 •
  1−ε •

t ∈ B( 21 ; δ) ⇒ λ(t) ∈ B 1; ε

∀ ∃ ∀
ε>0 δ>0 t

ε •

1 λ(1)= 61 •

p
1 λ
N
0 •

0
◦1
• p1 t
p

2 1 2
0 3 3 1 2

0 λ

Esta bola B( 12 ; δ) está no intervalo [ 0, 1 ] (domínio de λ). t


• p
0 1 1
Esta bola B(1; ε) está no (sub)espaço N . 2


B( 21 ; δ)

À esquerda destacamos o Śgabarito da continuidadeŠ em um ponto a do domínio


1
da função (λ), no caso, ponto t = . Ademais, quisemos também deixar visível
2
nesta Ągura a razão pela qual o conjunto N é conexo por caminhos na métrica
quântica e não na métrica usual (euclidiana): a Śparte inferiorŠ da bola aberta,
B(1; ε), não existe na métrica euclidiana − Na Ągura o emoji aponta para a
parte da bola que é Śexclusiva do universo quânticoŠ.

Pela proposição 3, p. 32, podemos concluir que o conjunto a seguir (esquerda)


é conexo por caminhos

p(1, 1) p(1, 1)
1•
◦ • 1•
◦ •◦ •◦ •

•q
◦• •◦
2
3 ◦
• 2
3 •◦

1
3 ◦
• 1
3 ◦•
•◦ •◦
•p

• ◦
• ◦
• •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦
0 1 2 1 0 1 2 1
3 3 3 3

Isto é possível devido ao formato da bola de centro em p(1, 1).

43
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

9 Universo quântico e fenômenos não-locais

ŞPor exemplo: nenhum sinal pode ser transmitido mais depressa que a
velocidade da luz. Mas, além dessas conexões locais, outro tipo de conexões,
não-locais, veio recentemente à luz; conexões que são instantâneas e que não
podem ser preditas, nos dias que correm, de uma forma precisa, matemática.Ť([2])

Já demonstramos no Śhipercubo quânticoŠ a plausibilidade matemática de


dois fenômenos da física quântica, podemos ainda contribuir para um novo
entendimento de uma nova classe de fenômenos, os ditos Śnão-locaisŠ.

O segundo postulado de Einstein (TRR) aĄrma que a velocidade da luz no


vácuo tem o mesmo valor c em qualquer referencial inercial, independentemente da
velocidade da fonte de luz; decorre deste postulado que nenhum sinal (informação)
pode ser transmitido com velocidade superior à da luz. Em física, uma Śconexão
localŠ é qualquer ŚconexãoŠ entre dois pontos que obedece o segundo postulado
de Einstein − isto é, que dar-se com velocidade não superior à da luz.

Entretanto, foram observados − no domínio quântico − fenômenos que,


aparentemente, se dão a uma velocidade instantânea; ou seja, à primeira vista,
estes fenômenos (chamados Śnão-locaisŠ) parecem violar o segundo postulado de
Einstein.

Da experiência obtida com o teorema 2, p. 33, acreditamos que o que nos


impede de compreender satisfatoriamente a Śnão-localidadeŠ é que somos vítimas
de uma Śvisão euclidianaŠ, amiúde estamos tentando explicar os fenômenos presos
a um Śmodelo linearŠ de tempo e espaço.

Voltando ao contexto da página 35, temos a imagem a seguir

f (1)
1

f
1
•1
0 3

0
f (0)

Aqui, no instante t = 0 a imagem da ponta do lápis encontra-se na extremi-


dade direita do universo quântico, ponto 1. Movendo-se o lápis, mesmo que por
um ŚinĄnitésimo de tempoŠ esta mesma imagem salta instantaneamente para o
lado oposto do universo. Já vimos que este ŚsaltoŠ se dá de forma contínua por
conta da forma de onda no ponto 1.

44
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

9.1 Visão quântica × visão euclidiana

Ademais, podemos ver as Śconexões não-locaisŠ em qualquer número de


dimensões, por exemplo, em duas:

−→
p(1, 1)
1•
◦ •p 1•
◦ •◦ •◦ ••

R
◦• •◦
2
3 ◦
• 2
3 •◦

1
3 ◦
• 1
3 ◦•
•◦ •◦
R R

• ◦
• ◦
• •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦ •◦
0 1 2 1 0 1 2 1
3 3 3 3

Na página 24 demonstramos o seguinte teorema

d(p, R) = 0 ⇐⇒ O(p; r) ∩ R =
̸ ∅, ∀ r > 0.

O que implica que o ponto p está conectado (é aderente) às três regiões R. A


distância entre p e todas estas regiões é nula, a razão já vimos, é que toda ŚondaŠ
de centro em p intersepta as três regiões. Essa é a diferença que desejamos
destacar entre as Śvisões quântica e euclidianaŠ, enquanto de fato exista uma
distância euclidiana, a quântica inexiste. A visão euclidiana é a que nossos olhos
veem, a visão quântica é a que de fato ocorre.

É esta a reĆexão que deixamos aos cientistas envolvidos na questão: vocês


não estariam dando demasiada importância à distância que seus olhos veem?
− em detrimento da Śdistância quânticaŠ. Ademais, não existiria uma ŚOndaŠ
conectando todas as partes do Universo, reponsável pelos fenômenos de não-
localidade?

Nota: Particularmente temos uma conjectura para o que possa vir a ser esta
ŚOndaŠ, é o próprio espaço ŚvazioŠ.

Tudo isso, que à primeira vista parece excesso de irrazão, na verdade é o efeito
da Ąnura e da extensão do espírito humano e o método para encontrar verdades até
então desconhecidas. (Voltaire)

45
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

10 Universo quântico e ĄlosoĄa

Concluo anunciando a possibilidade do não ser mediante a inferência


de que este não é e não se manifesta como julgávamos, aspecto que
Universidade de Brasília
→ não implica uma existência, mas explicita outra compreensão ontoló-
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Filosofia
gica. Tal esforço se concentra no fato de que objetos não existentes
podem assumir propriedades e isso não os fazem ser ou assumir um
Ser. Desse modo, (o) nada se coloca como uma entidade soberana
por sua própria negatividade, sendo sua propriedade basilar uma não-
SAMUEL GONÇALVES GARRIDO propriedade, ou seja, seu “Ser” (apreensão paradoxal) se manifesta
somente enquanto não ser/não sendo.

REFLEXÕES SOBRE O NADA E O NÃO SER

Uma interpretação
Considere o buraco da chave como sendo o não ser,
MONOGRAFIA considere o corpo da chave como sendo o Ser. Agora
leia novamente o texto acima. “Objetos não existentes
(o buraco) podem assumir propriedades e isso não os
fazem ser ou assumir um Ser.” Tape o buraco da chave
e ela perderá sua essência − existência (como chave).
Brasília
2017

Um tema milenar e atual da ĄlosoĄa diz respeito ao não ser, e como o não
ser se relaciona com nosso mundo. A esse respeito o físico, matemático, Ąlósofo
e professor Wolfgang Smith se manifestou em seu livro ŞO Enigma QuânticoŤ:

Ele constitui, se quisermos, o círculo negro dentro do campo


branco, a potencia residual que se recusa a ser apagada. Isso nos
traz de volta ao que assinalei no capítulo 5: a indeterminação
representa Şa face yin da moedaŤ. Menciono de passagem que
esta face yin, em que pese seu caráter de ŞinexistenteŤ, desem-
penha um papel crucial no funcionamento do universo, desde
o comportamento de objetos inanimados até o de organismos
vivos e até, ao que parece, o de civilizações.

Colocamos em destaque a aĄrmação do cientista de que o ŞinexistenteŤ


desempenha um papel crucial no funcionamento do universo, compare isto com
o Śnão serŠ citado na epígrafe, acima.

O universo quântico serve como um modelo matemático de um universo


que se sustenta no nada, no vazio:


M
0 1

É esse vazio − nada, não ser − na extremidade esquerda que sustenta todo
o universo quântico.

46
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Se tentarmos incluir a origem no universo quântico o que acontece?

Considere na deĄnição 1, de espaço métrico, p. 3, a condição

(M 1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y;

e a métrica quântica

d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢

teremos
d(0, 1) = min¶ ♣0 − 1♣, 1 − ♣0 − 1♣ ♢ = 0

A métrica quântica deixa de ser métrica por contradizer (M 1), logo, o universo
quântico deixa de existir. Reproduzimos:

ŞObjetos não existentes podem assumir propriedades e isso não os fazem


ser ou assumir um um Ser. Desse modo, (o) nada se coloca como uma entidade
soberana por sua própria negatividade, sendo sua propriedade basilar uma não-
propriedade, ou seja, seu ŚSerŠ (apreensão paradoxal) se manifesta somente
enquanto não ser/não sendoŤ.

A matemática é um campo demasiadamente árduo e inóspito


para agradar àqueles a quem não oferece grandes recompensas.
Recompensas que são da mesma índole que as do artista. Acres-
centa ainda que é no ato de criar que o matemático encontra
sua culminância e que Şnenhuma quantidade de trabalho ou (Norbert Wiener)
correção técnica pode substituir este momento de criação na • Matemático
vida de um matemático, poeta ou músicoŤ.

47
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Apêndice: Demonstração da métrica quântica

Vamos provar que ( ] 0, 1 ], d) é um espaço métrico.


Teorema 3 (Métrica quântica). A aplicação

d : ] 0, 1 ] × ] 0, 1 ] −→ R

deĄnida por
d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢

é uma métrica sobre M = ] 0, 1 ].

Prova: (M 1) d(x, y) ≥ 0 e d(x, y) = 0 ⇐⇒ x = y. Temos


 
0 < x ≤ 1 0<x≤1
⇒ ⇒ −1 < x − y < 1 ⇒ ♣x − y♣ < 1.
0<y≤1 −1 ≤ −y < 0
 

Sendo assim mostramos que d(x, y) ≥ 0. Agora suponhamos

d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢ = 0

Já vimos que ♣x − y♣ < 1, isto é, 1 − ♣x − y♣ > 0. Então d(x, y) = 0 só pode ser


porque ♣x − y♣ = 0, isto é, x = y. Reciprocamente, se x = y. resulta

d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢ = min¶ ♣0♣, 1 − ♣0♣ ♢ = 0.

(M 2) d(x, y) = d(y, x). Temos

d(x, y) = min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢ = min¶ ♣y − x♣, 1 − ♣y − x♣ ♢ = d(y, x).

(M 3) d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y). Devemos mostrar que

min¶ ♣x − y♣, 1 − ♣x − y♣ ♢ ≤ min¶ ♣x − z♣, 1 − ♣x − z♣ ♢ + min¶ ♣z − y♣, 1 − ♣z − y♣ ♢

Vamos separar o nosso problema em oito possibilidades, conforme tabela a seguir

48
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

d(x, y) d(x, z) d(z, y)

♣x−y♣≤1−♣x−y♣ ⇐⇒ ♣x−y♣≤ 21
(P1 ) ♣x−y♣ ♣x−z♣ ♣z−y♣

1−♣x−y♣≤♣x−y♣ ⇐⇒ ♣x−y♣≥ 12
(P2 ) 1−♣x−y♣ ♣x−z♣ ♣z−y♣

(P3 ) ♣x−y♣ 1−♣x−z♣ ♣z−y♣


♣x−z♣≤1−♣x−z♣ ⇐⇒ ♣x−z♣≤ 12

(P4 ) 1−♣x−y♣ 1−♣x−z♣ ♣z−y♣


1−♣x−z♣≤♣x−z♣ ⇐⇒ ♣x−z♣≥ 12

(P5 ) ♣x−y♣ ♣x−z♣ 1−♣z−y♣

♣z−y♣≤1−♣z−y♣ ⇐⇒ ♣z−y♣≤ 12
(P6 ) 1−♣x−y♣ ♣x−z♣ 1−♣z−y♣
1−♣z−y♣≤♣z−y♣ ⇐⇒ ♣z−y♣≥ 12
(P7 ) ♣x−y♣ 1−♣x−z♣ 1−♣z−y♣

(P8 ) 1−♣x−y♣ 1−♣x−z♣ 1−♣z−y♣

Vamos considerar cada uma das possibilidades:

(P1 ) Neste caso a desigualdade triangular

d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y)

se reduz a
♣x − y♣ ≤ ♣x − z♣ + ♣z − y♣

a qual é trivialmente satisfeita, por tratar-se da desigualdade triangular para


números reais.

(P2 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

1 − ♣x − y♣ ≤ ♣x − z♣ + ♣z − y♣

Vamos provar a desigualdade equivalente

♣x − y♣ + ♣x − z♣ + ♣z − y♣ ≥ 1 (10)

1
Observe que na possibilidade (P2 ) se veriĄca ♣x − y♣ ≥ . (∗)
2
Inicialmente vamos mostrar que não podemos ter

1
♣x − z♣ + ♣z − y♣ <
2

49
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

De fato, se isto fosse possível teríamos (utilizando a desigualdade triangular)

1
♣x − y♣ ≤ ♣x − z♣ + ♣z − y♣ <
2
1
contradizendo (∗). Sendo assim só pode ser ♣x − z♣ + ♣z − y♣ ≥ , o que,
2
juntamente com (∗), nos fornece a desigualdade (10).

(P3 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

♣x − y♣ ≤ 1 − ♣x − z♣ + ♣z − y♣

Vamos provar a desigualdade equivalente

♣x − y♣ + ♣x − z♣ − ♣z − y♣ ≤ 1 (11)

Pois bem, pela desigualdade triangular podemos escrever

♣x − z♣ ≤ ♣x − y♣ + ♣y − z♣ ⇐⇒ ♣x − z♣ − ♣z − y♣ ≤ ♣x − y♣

Somando ♣x − y♣ a ambos os membros desta última desigualdade, obtemos

♣x−y♣+♣x−z♣−♣z−y♣ ≤ ♣x−y♣+♣x−y♣ ⇐⇒ ♣x−y♣+♣x−z♣−♣z−y♣ ≤ 2♣x−y♣ ≤ 1

Na última desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P3 ) se veriĄca


1
♣x − y♣ ≤ .
2
(P4 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

1 − ♣x − y♣ ≤ 1 − ♣x − z♣ + ♣z − y♣

Esta desigualdade é equivalente à seguinte

♣x − z♣ ≤ ♣x − y♣ + ♣y − z♣

a qual é sempre verdadeira, por tratar-se da desigualdade triangular para números


reais.

(P5 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

♣x − y♣ ≤ ♣x − z♣ + 1 − ♣z − y♣

Vamos provar a desigualdade equivalente

♣x − y♣ + ♣z − y♣ − ♣x − z♣ ≤ 1

50
A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Então, pela desigualdade triangular podemos escrever

♣x − z♣ ≤ ♣z − x♣ + ♣x − y♣ ⇐⇒ ♣z − y♣ − ♣x − z♣ ≤ ♣x − y♣

Somando ♣x − y♣ a ambos os membros desta última desigualdade, obtemos

♣x−y♣+♣z−y♣−♣x−z♣ ≤ ♣x−y♣+♣x−y♣ ⇐⇒ ♣x−y♣+♣z−y♣−♣x−z♣ ≤ 2♣x−y♣ ≤ 1

1
Na última desigualdade usamos o fato de que na possibilidade (P5 ) ♣x − y♣ ≤ .
2
(P6 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

1 − ♣x − y♣ ≤ ♣x − z♣ + 1 − ♣z − y♣

Esta desigualdade equivalente à seguinte

♣z − y♣ ≤ ♣z − x♣ + ♣x − y♣

a qual é sempre verdadeira, por tratar-se da desigualdade triangular para números


reais.

(P7 ) Neste caso a desigualdade triangular se reduz a

♣x − y♣ ≤ 1 − ♣x − z♣ + 1 − ♣z − y♣

Vamos provar a desigualdade equivalente

♣x − y♣ + ♣x − z♣ + ♣z − y♣ ≤ 2 (12)

Na possibilidade (P7 ) se veriĄca:

1 1 1
(i) ♣x − y♣ ≤ (ii) ♣x − z♣ ≥ (iii) ♣z − y♣ ≥ .
2 2 2

Se dividirmos o intervalo ] 0, 1 ] ao meio, por (ii) vemos que x e z não podem


Ągurar na mesma metade do intervalo1 . Por (iii) acontece o mesmo com respeito
a z e y. Devemos ter a seguinte conĄguração:

y x z
• • p •
0 1
2
1

1
Exceto nos caos triviais x = y = 0 e z = 1/2, ou z = 0 e x = y = 1/2.

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

A partir de (12) podemos escrever

f (x, y, z) = ♣x − y♣ + ♣x − z♣ + ♣z − y♣

Vamos mostrar que o maior valor que esta função pode assumir não excede 2.
Tendo em conta a imagem anterior temos

♣x − y♣ = x − y, ♣x − z♣ = z − x, ♣z − y♣ = z − y

Não faz mal supor x à direita de y. Logo, f (x, y, z) = 2 (z − y), então


 1
0<y≤
2

 1
⇒ − ≤ −y < 0 ⇒ 0 ≤ z − y < 1 ⇒ 0 ≤ 2 (z − y) < 2
2
 1 ≤z≤1


2

Daqui inferimos que

f (x, y, z) = ♣x − y♣ + ♣x − z♣ + ♣z − y♣ = 2 (z − y) < 2

donde concuimos que a desigualdade (12) será sempre verdadeira.

(P8 ) Neste caso a desigualdade triangular

d(x, y) ≤ d(x, z) + d(z, y)

estará satisfeita por vacuidade; o que signiĄca que ela jamais poderá ser contra-
ditada. Com efeito, nunca encontraremos três pontos x, y e z, no intervalo
] 0, 1 ] satisfazendo simultaneamente

1 1 1
(i) ♣x − y♣ ≥ (ii) ♣x − z♣ ≥ (iii) ♣z − y♣ ≥ .
2 2 2

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A Métrica Quântica Gentil, o iconoclasta

Referências

[1] William Arntz. et alii. Quem somos nós? Rio de Janeiro: Prestígio Editorial,
2007.

[2] Fritjof Capra and Newton Roberval Eichemberg. O tao da física: um paralelo
entre a física moderna e o misticismo oriental. Cultrix, 1987.

[3] Elon Lages Lima. Espaços métricos. Instituto de Matemática Pura e Aplicada,
CNPq Rio de Janeiro, 1993.

[4] Gentil Lopes da Silva. Espaços métricos (com aplicações). Taguatinga-DF:


Editora Kiron, 2013.

Nota: Nossa produção matemática encontra-se no Drive:

Universidade Federal de Roraima Universidade Federal de Roraima


Boa Vista-RR/ 09.12.2023/gentil.iconoclasta@gmail.com Boa Vista-RR/ 08.12.2023 /gentil.iconoclasta@gmail.com

NÚMEROS INTEIROS DUAIS RESOLUÇÃO DE UM PROBLEMA EM ABERTO

GENTIL, O ICONOCLASTA GENTIL, O ICONOCLASTA

Resumo. A partir dos números naturais estaremos construindo um novo anel Resumo. Uma fórmula fechada (não recursiva) para a soma das potências dos n
ordenado, denominado de Inteiros Duais, dessa estrutura surgirá uma nova arit- primeiros números naturais é um problema em aberto que estaremos resolvendo
mética e uma nova álgebra; ademais, por ‘contraste’, veremos o anel dos inteiros neste artigo. Ademais, exibiremos outras fórmulas inéditas.
canônicos sob uma nova perspectiva.

Sumário
Sumário
1. Introdução ............................................................................................. 1
1. Introdução ............................................................................................. 2
2. Progressões aritméticas de ordem m ..................................................... 2
2. Os números inteiros duais ..................................................................... 2 2.1. Fórmula do termo geral ................................................................. 5
3. Inteiros canônicos e duais...................................................................... 3 2.2. Fórmula da soma ........................................................................... 6
3.1. Inteiros canônicos .......................................................................... 3 3. Diferenças de ordem m.......................................................................... 7
3.2. Inteiros duais ................................................................................. 3
4. A fórmula .............................................................................................. 15
4. Inteiros duais como um anel de integridade .......................................... 4
Referências................................................................................................... 15
5. Os inteiros usuais e duais não são isomorfos ......................................... 6
5.1. Anéis ordenados............................................................................. 6
6. Problemas com solução nos inteiros duais e não nos reais .................... 9 1. Introdução
6.1. Surge uma nova álgebra................................................................. 10
Durante muitos séculos os matemáticos procuraram por uma fórmula para a soma
6.2. Em Z podemos extrair raízes quadradas de números negativos .... 10
1 m + 2m + 3 m + · · · + n m = ?
7. Extensões dos inteiros duais.................................................................. 12
7.1. Racionais duais .............................................................................. 12 o matemático suíço Jacques Bernoulli (1654-1705) exibiu o seguinte resultado
7.2. Reais duais..................................................................................... 13
m 
(n + 1)m+1

7.3. Cardano e os reais duais ................................................................ 22
X m Bk
1 m + 2m + 3m + · · · + nm = + (n + 1)m−k+1
7.4. Números complexos duais .............................................................. 24 m+1 k=1
k m−k+1
8. Conclusão .............................................................................................. 28 Onde os Bk são os números de Bernoulli. Sabendo-se que B0 = 1, os demais números
Referências................................................................................................... 28 são calculados mediante a seguinte fórmula recursiva:
Palavras chave. Classes de equivalência, Aritmética dual, Isomorfismo. Palavras chave. Sequências aritméticas de ordem superior, Indução finita, Diferenças finitas.

1 1

O presente artigo encontra-se na Pasta ŚArtigos Matemáticos NovosŠ, onde


também encontram-se os dois artigos anteriores, ŚNúmeros Inteiros DuaisŠ e
ŚResolução de um problema em abertoŠ − duas outras obras de Śengenharia
matemáticaŠ.

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