O Processo de Urbanização No Brasil

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Curso: Arquitetura e Urbanismo

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS


CAMPUS SANTA LUZIA
Rua Érico Veríssimo, 317 - Londrina – Santa Luzia - MG – 33.115-390
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Estudo Dirigido I

O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL

Descrever sobre o processo de urbanização no Brasil se torna uma tarefa


complexa e intricada, já que não há um consenso entre os pesquisadores sobre o
assunto. Através do livro “Novas vilas para o Brasil-Colônia - Planejamento Espacial
e Social no Século XVII” da americana Roberta Marx Delson, entende-se que há
controvérsias sobre o processo de urbanização que se desenvolveu na América
Portuguesa. Segundo Delson, vários autores discordam quanto a existência de
planos urbanísticos nos primeiros séculos da colonização no Brasil, alegando um
modelo espontâneo das cidades. Dentro desta perspectiva podemos citar o
historiador Robert C. Smith, que defende a ideia de um processo urbanístico na
América Portuguesa com influência das cidades medievais, espalhados em raias
desordenadas.

Contrariando a visão de alguns historiadores, o arquiteto e sociólogo, Nestor


Goulart Reis Filho em seu livro “Evolução Urbana do Brasil: 1500/1720”, defende a
ideia de que houve políticas urbanas no Brasil desde o início de sua colonização.
Para o autor, as trilhas indígenas e a hidrografia influenciaram a escolha da
localização dos primeiros centros urbanos na colônia, embora os considere
inadequados pela existência de barreiras que limitavam o crescimento urbano. Para
o arquiteto, elementos naturais como morros, lagoas e grotas, faziam parte do
planejamento urbano, sendo usados como delimitação entre os bairros. E
interessante pontuar que o autor deixa claro que a política urbanizadora que
Portugal exercia sobre a América Portuguesa, consistia basicamente em controlar a
fundação e o desenvolvimento das cidades, exercendo o domínio e posse sobre as
terras colonizadas. A coroa portuguesa buscava estimular os donatários a adotarem
uma atuação urbanizadora, uma vez que delegavam às Câmaras Municipais o
controle da demarcação de lotes, a fiscalização dos edifícios e a manutenção das
ruas.

Em estudo realizado por Fania Fridman e Carlos A. Fiaux Ramos,


compreendemos que a atuação dos donatários no processo de urbanização da
colônia se desenvolveu por meio das Cartas Forais, documento que concedia
pequenos lotes de terras (sesmarias) aos colonos. Sua ação não se restringia
apenas como sesmeiros, mas também na ordenação de povoados a vilas. Dentro
desta análise, fica evidente que, mesmo levando em conta a espontaneidade dos
povoados, a política estabelecida pela coroa portuguesa através das Capitanias
Hereditárias, por meio da “Carta de Doação” e da “Carta Foral”, já previa uma
política que definisse o processo que se desenvolveria a urbanização nas terras
conquistadas.
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Importante pontuar o conceito do economista austríaco, Paul Singer, ao


analisar a distinção entre campo e cidade. Singer explica que esta caracterização
não pode ser compreendida somente em termos demográficos, mas também através
de sua situação histórica, levando em conta seus aspectos políticos e econômicos.
Singer caracteriza a cidade como detentora do poder político regional e nacional,
dominando o campo sob a forma de pagamento de tributos (excedente alimentar).
Como a cidade não é auto suficiente, pois se ausenta de atividades primárias, torna-
se necessário dominar o campo para dele extrair o excedente. Neste sentido, a
relação entre as metrópoles e as colônias são estabelecidas através do lócus de
poder e dominação, realizado por meio da extração do seu excedente, como ouro,
prata e açúcar. De acordo com Singer, a colonização nas Américas se organiza sob
duas condições, sendo a primeira através do abastecimento do mercado externo e
interno e, a segunda, pela dominação das cidades por meio da força de persuasão,
exercido pela Igreja, e pela coerção, exercido pelas tropas. O autor caracteriza o
processo de urbanização na América com a finalidade de sustentar a exploração
colonial, consistia basicamente no controle da escravidão.

Tal ideia parece não ser bem aceita por Delson, ao realizar um estudo sobre a
ampliação de vilas no interior da América Portuguesa nos anos setecentos, durante
o administração do primeiro-ministro, Marques de Pombal. Se para Singer, a colônia
se apresentava apenas como o produtor do excedente, assumindo o caráter de não
urbano, para Delson, a cidade significava status de organização para a Coroa
Portuguesa. Delson, defende a ideia de que Portugal ao se preocupar com a ordem
urbana na colônia, aos moldes do estilo europeu, propunha um planejamento
urbano, tornando-se um instrumento de política estatal. A autora defende a ideia de
um traçado urbano ordenado em meados do século XVIII, a partir do processo de
penetração do interior. Entretanto, talvez seja uma afirmação um pouco prepotente
por parte da autora, já que seu estudo se limitou apenas a região norte do país.

Se durante a colonização, o processo de urbanização no Brasil há


controvérsias, somente no Império, com a promulgação da primeira constituição
(1824), o país teria as primeiras diretrizes oficiais que determinava o que era
território público e o que era particular. Se a documentação que regulamentava a
terra consistia basicamente em cartas régias, a lei que viria legitimar a posse da
terra só seria estabelecida em 1850, e o primeiro registro de imóveis apenas no ano
de 1855. Com a República vem a preocupação com a modernização e a construção
da nacionalidade, visando intervenções que trouxessem uma nova imagem da
cidade, promovendo a distinção das classes. É neste contexto que surge a ideia da
construção de uma nova capital mineira (Belo Horizonte), expressando uma nova
ordem política; e a reforma urbana da cidade do Rio de Janeiro. Luiz Cesar Queiroz
Ribeiro e Adauto Lúcio Cardoso, analisam a política urbanística adotada durante a
República Velha e relatam a reforma do Rio de Janeiro com o prefeito Pereira
Passos, que tinha como intuito tirar o país do atraso. Seguindo a proposta de
Hausmann, a reforma Pereira Passos, contemplava o saneamento, o urbanismo e o
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embelezamento (padrão francês). Importante destacar que tal reforma só foi


realizada porque a obra continha interesses da elite, expressando os novos valores
do modo de vida cosmopolita e moderna. Para tanto, foi necessário a destruição dos
cortiços, justificados por questões de insalubridade e violência, mascarando o
interesse das classes dominantes. Entretanto, em menos de 20 anos depois, a
reforma já se mostrava atrasada a sua época, pois não previa o crescimento urbano.

Somente na década de 20 começam os debates acerca da necessidade de


um planejamento urbano no Brasil, estimulados pela crescente discussão na Europa
sobre urbanização. É neste momento que o Plano Agache, (plano urbanístico para a
cidade do Rio de Janeiro, do francês Alfred Agache) é realizado sob encomenda do
governo. Neste contexto, a reforma urbana no Brasil se preocupava apenas em
adaptar às necessidades do país (modernização), sem se preocupar com as
questões sociais, preocupação presente no plano urbanístico da Europa. Apenas
com o governo Vargas, a questão social passa a fazer parte dos debates
urbanísticos, quando a pobreza é considerada um obstáculo à modernidade.
Entretanto, o urbanismo toma outra vez a forma de discurso político liderado pelas
oligarquias regionais, e a cidade é pensada apenas em seu aspecto econômico.

Ainda durante os anos 50, vemos a cidade de Brasília se materializar na


política desenvolvimentista de modernização e, apenas na década de 60, o
urbanismo passa a ser despolitizado e refletido como um problema do
desenvolvimento econômico, criando políticas habitacionais.

Como se vê, embora as correntes do urbanismo foram se desenvolvendo de


acordo com os acontecimentos sociais, no Brasil elas se definiram a partir de
interesses políticos. A questão social, embora tenha entrado nos debates
urbanísticos a partir do início do século XX, se configurava apenas como pretexto
para a materialização dos interesses da elite.

Entretanto, se os primeiros núcleos urbanos no Brasil careciam de uma


política urbanizadora centrada no contexto histórico e cultural daqueles que aqui
residiam e tinham o intuito de participar do processo de exploração, as questões
sociais seriam objeto de questão na política urbana somente na década de 60,
quando a marginalidade foi diagnosticada como efeito dos problemas do
desenvolvimento econômico, provocada pela migração do campo para a cidade e
consequente surgimento da mão-de-obra não especializada. Como se vê, o
processo de urbanização no Brasil só é compreendido através do estudo dos
aspectos político-econômicos e sociais, abrangendo tempos desde a sua
colonização.

Aluna: Bruna Batista Gonçalves

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