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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FICHAMENTO I:
TEXTOS 1 E 2

ACR021 - Arquitetura e Cultura Brasileira

Prof. André Dangelo

Beatriz Rodrigues e Oliveira

Belo Horizonte

2021
Texto 1. Vasconcellos, Sylvio. Barroco no Brasil. In Sylvio Vasconcellos: Arquitetura,
Arte e Cidade - Textos Reunidos. Celina Borges Lemos (Org). Belo Horizonte:
BDMG CULTURAL, 1995.

Os trechos do texto de Sylvio Vasconcellos evidenciam a relevância do


Barroco no Brasil por meio de uma perspectiva histórica da chegada desse estilo no
Brasil. O autor percorre as motivações que levaram à definição de suas
características, que perpassam os embates entre o racionalismo e a religiosidade
surgidos no século XVI, uma vez que a Igreja responde aos questionamentos dos
racionalistas reafirmando a força da fé e a soberania do divino.
Desse modo, o barroco se apresenta de maneira quase teatral, seguindo a
temática religiosa e enfatizando a insignificância do homem perante às divindades.
As composições se tornam mais complexas e ornamentadas e cria-se ilusão nas
perspectivas com a intenção de causar ao observador uma distorção na realidade
visual. Apesar da maior ornamentação, no entanto, Vasconcellos esclarece que o
barroco não cria novos elementos, apenas ressignifica e reinterpreta aqueles já
existentes em períodos anteriores, como os gregos, romanos, bizantinos e outros.
No contexto luso-brasileiro, por sua vez, o barroco chega de forma tímida,
devido à conjuntura política e econômica da metrópole e da colônia. Essa realidade
só muda a partir da descoberta do ouro e do diamante no Brasil, que altera
profundamente a economia e os ânimos sociais, fazendo com que milhares de
novos moradores chegassem à colônia e, consequentemente, houvesse a
construção de igrejas, edifícios públicos, residências e outros.
Nesse momento, o Brasil passa a receber de Portugal materiais, técnicas e
conhecimentos construtivos que elevam o nível das construções. A arquitetura, as
decorações, as vestimentas e o mobiliário seguem os princípios barrocos, como nos
móveis de jacarandá que ganham curvas, plumas e arabescos e nos novos tecidos
complementados com rendas e jóias de ouro e pedras preciosas.
Destaca-se, na colônia, o estado de Minas Gerais, que concentrava a maior
parte da mineração e, devido a isso, recebeu os princípios barrocos com maior
robustez. As igrejas das cidades coloniais, existentes até os dias atuais,
impressionam pelo contraste entre as fachadas simples e o interior requintado, com
quilos de ouro nos altares e nas pinturas adornadas dos tetos. Como evidenciado no
texto, o barroco mineiro é um evento singular na história, que alterou e criou
características até hoje incorporadas pelas artes e pela sociedade brasileira.
O período de tendência do barroco, entretanto, se esgota na mesma medida
que a mineração do ouro e dos diamantes. A impossibilidade da acumulação de
riquezas e as instabilidades políticas entre colônia e metrópole fazem com que a
luxuosidade e os excessos do estilo não se sustentem. Associado a isso, o
racionalismo e a valorização da utilidade tornam as construções mais simplificadas,
com linhas retas e poucos adornos.
Por fim, Vasconcellos conclui reafirmando que, mesmo após a chegada de
outros estilos artísticos e arquitetônicos, como o rococó, nenhum teve a
expressividade do barroco em nível nacional. O estilo fez parte da construção da
identidade brasileira e estará sempre ligado intimamente à sua história e sociedade.

Texto 2. TEIXEIRA, Manoel. Os processo de planejamento e de construção da


cidade portuguesa. in TEIXEIRA, Manoel. A Cidade de Origem Portuguesa. Brasília:
ALVA - CIORD, 1997.1ª ed. 1979.

O texto de Manoel Teixeira aborda o modo de concepção e construção da


cidade portuguesa, que também foi implantado nas cidades brasileiras no período
da colonização. A concepção das cidades pode ser pensada, de acordo com o
autor, em três modelos: cidades não planejadas, cidades planejadas e um terceiro
modelo que associa os dois anteriores.
O primeiro modelo pode ser visto como gradual, uma vez que não possui um
planejamento formal e era construído de acordo com a necessidade dos moradores.
As construções definiam o traçado das ruas e praças e, portanto, seguiam a
morfologia e as características de uso do território. Já o segundo modelo era fruto
de proposições de arquitetos e engenheiros, no qual era desenhado um traçado
geométrico e regular para delinear a construção das cidades. Nesse modelo eram
pré definidas as ruas, praças e os padrões para as edificações principais
As cidades portuguesas foram construídas, no entanto, seguindo o terceiro
modelo já que, muitas vezes, possuíam um plano pré definido, mas este era
adaptado às condições físicas, políticas, culturais e sociais do território. A adaptação
buscava valorizar as vistas, as perspectivas e os elementos arquitetônicos já
existentes e eram feitas durante os vários processos do planejamento.
Teixeira aponta que esse recurso fazia parte das ações de planejamento
portuguesas devido à constante falta de recursos, de mão de obra especializada e
materiais adequados, além das condições ambientais adversas de algumas cidades
portuguesas. Dessa maneira, a prática habitual foi sendo aos poucos incorporada
pelo saber teórico, e a distinção entre cidade planejada e não planejada se tornou
ainda mais tênue. O engenheiro-mor Manuel da Maia, citado no texto, acreditava
inclusive, que não tinha necessidade de um plano pré definido, apenas um
levantamento daquilo que havia sido realizado in loco.
Para além da concepção, a expansão das cidades também ocorria de dois
modos: a associação de planos diferentes realizados em épocas diversas ou a
expansão seguindo um plano inicial pré definido. Para o primeiro, as áreas
adjacentes ou bairros assumiam diferentes morfologias, com características
próprias, e funcionavam como uma unidade de crescimento, sem conexão uns com
os outros. Esse modelo era seguido na maioria das cidades portuguesas e é
percebido ainda hoje em locais como Lisboa.
O segundo modo, entretanto, foi realizado em cidades portuguesas e
brasileiras a partir do século XVII, e precisava ser elaborado junto à concepção da
cidade, uma vez que esse plano inicial previa as áreas de expansão que seguiam a
mesma morfologia do traçado inicial. Observa-se na prática, entretanto, que as
regras de expansão foram subvertidas de acordo com as necessidades de uso do
território e com as relações de poder presentes entre os grupos sociais e o governo.

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