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A história da arquitetura brasileira começa com a arquitetura indígena, antes da colonização.

Devido à variedade de tribos e ao amplo território brasileiro, a arquitetura indígena brasileira não é
homogênea, porém ela segue algumas regras. Dentre elas, destacam-se a forte
influência cultural nas construções, adaptação ao clima e uso de recursos naturais, configurando
uma arquitetura vernacular. Esse tipo de arquitetura causa menos impactos ambientais e pode
fornecer altos índices de conforto, sendo uma fonte de inspiração para a arquitetura
sustentável contemporânea.

Com a chegada dos portugueses em 1530, observa-se a primeira transformação


da arquitetura e urbanismo do Brasil, através das capitanias hereditárias que começaram a
organizar vilas no estilo colonial. É interessante notar que, devido às condições distintas do
contexto europeu, as construções foram adaptadas, configurando uma arquitetura colonial “à
brasileira”. Essas adaptações envolvem culturas da mão de obra tanto indígena quanto africana e
eram mais notáveis nos primeiros anos do Brasil colônia, onde se destacam as técnicas de
construção em taipa de pilão e pau-a-pique. Aos poucos outras técnicas estrangeiras começaram
a prevalecer, como tijolos e alvenarias de pedra.

A arquitetura residencial das vilas difere bastante da arquitetura religiosa, a qual foi
fomentada pela chegada dos jesuítas em meados do século XVI. As igrejas coloniais cumpriam
papel muito importante dentro dos centros urbanos, eram mais rebuscadas e já tinham traços
do barroco. A transição do barroco para o estilo seguinte, o neoclássico, ainda é discutida por
especialistas. Isso porque é possível observar construções coloniais já com traços de ambos os
estilos.

A arquitetura barroca pode ser pontuada, de fato no Brasil, no século XVIII, quase um século
depois do seu surgimento na Europa, e chegou ao cenário nacional com certa influência do
estilo rococó, o que ressalta a fusão de estilos da arquitetura brasileira. O barroco teve seu auge
em Minas Gerais, em regiões que produziam ouro. Com as cidades prosperando, as famílias ricas
fomentaram a arquitetura, marcando esse período como o “século do ouro”.

A arquitetura neoclássica é marcada no Brasil no século XIX, com a chegada da família


real ao Brasil junto com a “missão francesa”, um grupo de artistas renomados que influenciou não
somente a arquitetura, mas todo o cenário artístico brasileiro. Assim como na Europa, o neoclássico
chegou ao Brasil como uma resposta aos exageros do barroco, concebendo um estilo mais “limpo”,
inspirado no iluminismo e nas razões da arquitetura clássica. Em 1826 foi fundada a Academia
Imperial de Belas Artes no Brasil, consolidando o neoclássico como o padrão de obras no país.

O estilo foi, primeiramente, empregado em edificações da Corte e de classes


sociais privilegiadas, pois a matéria prima era importada da Europa. Nas áreas provincianas se
observou uma imitação do neoclássico com os materiais disponíveis, ressaltando a adequação de
estilos que é intrínseca à arquitetura brasileira. Apesar do esforço do neoclássico em sofisticar a
arquitetura, o estilo brasileiro não estava à altura do que era produzido na Europa, a qual contava
com a matéria-prima adequada e mão de obra especializada.

Em meados do século XIX a arquitetura eclética começou a ser introduzida no país, através
da Academia de Belas Artes, tendo seu auge no início do século XX .O ecletismo buscou fazer uma
releitura de todos os estilos anteriores, inclusive estilos que não tinham passado pelo Brasil, como
a arquitetura gótica da Idade Média, que chegou ao cenário nacional combinada com outros estilos,
já com o nome de neogótico.

A arquitetura eclética abriu espaço para experimentações e liberdade criativa, as quais são
potencializadas pela revolução industrial, que possibilitou o uso de materiais como aço e vidro nas
releituras. O ecletismo influenciou desde construções da elite até as camadas menos favorecidas,
que começaram a executar o estilo de forma simplificada, assim como foi com o neoclássico.

Os avanços contínuos da revolução industrial dão origem ao concreto armado na Alemanha,


o qual vai influenciar as técnicas construtivas de todo o cenário mundial. Esse novo material e suas
soluções são uma forte inspiração para o modernismo. A arquitetura moderna brasileira teve seu
auge entre as décadas de 1930 e 1950 e era dividida em duas vertentes, a carioca e a paulista,
com algumas variações entre as escolas.

Apesar das variações, ambas seguiam os princípios de forma combinada


à função, formas simples e geométricas e pouca ornamentação. A arquitetura moderna brasileira
teve um papel importante no cenário político, pois era traduzida como avanço
tecnológico e cultural do país. O apoio do estado foi muito importante nessa época, possibilitando
a construção da nova capital, Brasília, concebida por Lúcio Costa através
dos princípios de Arquitetura e Urbanismo do movimento moderno.

Até hoje Brasília, a capital projetada, é objeto de estudo de urbanistas do mundo inteiro. Em
conjunto com o Plano Piloto foram realizadas diversas obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer, as
quais traduzem com maestria o novo estilo e se encaixam perfeitamente nas perspectivas de Lúcio
Costa. Os novos arquitetos que chegam posteriormente à capital também seguem a linguagem
moderna, dando sequência à identidade modernista de Brasília.

Eixo monumental de Brasília | Fonte: archdaily

Na década de 1980 a arquitetura contemporânea é introduzida no Brasil e esse estilo


perdura até os dias atuais. O contemporâneo configura uma arquitetura mais pessoal, onde o
arquiteto é livre para fazer suas releituras de estilos antigos e expressar suas ideias. O estilo
contemporâneo possui técnicas e tendências distintas. Apesar disso, existem alguns padrões,
dentre eles a preocupação com a arquitetura sustentável, conforto ambiental, funcionalidade dos
ambientes e preocupação com o usuário.
Os estilos da arquitetura brasileira

Agora que você já conhece a linha do tempo das tendências arquitetônicas na arquitetura
brasileira, bem como suas adaptações ao cenário nacional, vamos conhecer
as características desses estilos e como eles foram traduzidos no Brasil, considerando técnicas,
materiais aplicados e exemplos de cada época.

Arquitetura Indígena

As aldeias indígenas comportam de 04 a 10 ocas, dispostas ortogonalmente para formar


um pátio central, onde acontecem as principais atividades cotidianas. Como dito anteriormente, as
construções apresentam técnicas distintas, de acordo com a tribo, mas no geral a estrutura é
executada em madeira, com entalhes para o encaixe, e amarrada com cipós e cobertura vegetal.
Também existe preocupação com o piso, o barro é assentado para proteção dos pés durante
danças e rituais.

Algumas construções abrigam mais de um núcleo familiar, divididos internamente pelo


telhado em áreas de 6m x 6m. Essas áreas internas são chamadas de “ocas” e a construção
completa, que pode chegar a 200 metros de comprimento, é chamada de “maloca”, que significa
“casa grande”. Esse modelo era utilizado pelas tribos Jês e Xavantes e a cobertura é executada
em palha.

Já a tribo Yanomami possuía construções que abrigavam apenas um núcleo familiar, chamadas
“shabonos”. Os shabonos possuem cobertura vegetal em folhas de palmeiras, sustentada por
galhos e varas. O shabono era dimensionado de acordo com o núcleo familiar que iria habitá-lo e
seu vão central podia alcançar 15 metros livres.

Arquitetura Colonial

A arquitetura brasileira residencial das primeiras vilas é regida pelos padrões descritos
nas Cartas Régias, as quais regulavam a área, gabarito e ritmo de esquadrias. As residências mais
afastadas do centro tinham maior liberdade na configuração das fachadas. As
principais características são as colunas, que apoiavam o telhado para formar varandas, as janelas
de madeira, as telhas de barro com poucas águas e a simetria.

As construções eram dispostas sem recuos laterais e no limite das ruas. Nos centros urbanos
prevalecem duas tipologias: as casas térreas em piso batido e os sobrados com piso em assoalho.
Devido à influência do barroco, as igrejas coloniais eram cuidadosamente ornamentadas. É
possível observar pseudo-pilastras, perfis de estuque e sacadas inteiriças ornamentadas com ferro
forjado.

Arquitetura Barroca

A arquitetura barroca está fortemente ligada ao caráter religioso. Os materiais são


contrastantes: observa-se o uso de matérias simples, como madeira e pedra sabão, em conjunto
com o ouro. Devido à influência do rococó, o estilo apresenta exagero nos ornamentos, riqueza de
detalhes, formas curvilíneas e relevos. As paredes eram executadas em taipa, pedra e cal ou
adobe. Os telhados possuem muitas águas. As esquadrias são de madeira e as portas de entrada
são grandes e bem marcadas.

Igreja São Francisco de Assis | Fontes: Commons e Barroco contemporâneo

Arquitetura Neoclássica

Esse estilo é uma resposta ao barroco e, como o próprio nome sugere, é uma releitura da
arquitetura clássica grega e romana. Observa-se formas geométricas simétricas, simplicidade
formal e espacial, frontões triangulares e colunas. Os materiais são refinados, como pedra, granito
e mármore. Existe a valorização da arquitetura de interiores, com aplicação de revestimentos e
pinturas. A construção envolve técnicas avançadas, porém foi adaptada pelas classes mais baixas
no contexto da arquitetura brasileira.

Theatro da Paz | Fontes: Rodrigo Brasil Freitas e Theatro da Paz

Arquitetura Eclética

Como o próprio nome sugere, a arquitetura eclética tem como característica a fusão de dois
ou mais estilos, dentre eles a arquitetura colonial, neoclássica e neogótica. Devido à revolução
industrial, observa-se a utilização de materiais como vidro, vidro laminado, aço e ferro forjado. O
projeto era concebido com proporção, os espaços são simétricos e a classificação dos ambientes
internos é rígida. O ecletismo preza pela grandiosidade, o drama e a sofisticação das edificações.
Os espaços internos demonstram cuidado especial com a arquitetura de interiores, através do luxo
e riqueza decorativa.

Theatro Municipal do Rio de Janeiro | Fontes: jornal perspectiva e diário do Rio

Arquitetura Moderna

A arquitetura moderna brasileira seguiu duas vertentes principais, porém como as duas escolas
partem do mesmo estilo, é possível ver elementos em comum entre elas. A escola carioca possui
forte influência de Le Corbusier, logo as principais características são alinhadas com seus cinco
princípios: fachada livre, planta livre, térreo em pilotis, janela em fita e terraço jardim. A escola
carioca pode ser caracterizada pela leveza e liberdade da forma. É comum que os edifícios tenham
acabamento em branco, painéis em azulejo, curvas e jogo de luzes.

Palácio Gustavo Capanema | Fonte: archtrends

A escola paulista surge com Vila Nova Artigas, o qual faz uma releitura do modernismo
carioca. Também conhecido como brutalismo, o estilo paulista nasce como uma militância política.
Suas características são: vedações em concreto aparente, tijolos expostos, exposição de vigas e
brises de concreto. O paisagismo é interno ao edifício, o qual tem a aparência externa bem crua e
por vezes fechada. Também usa a luz de maneira inteligente, com pequenas aberturas.

SESC Pompeia | Fonte: archdaily


Arquitetura Contemporânea

A grande marca da arquitetura contemporânea está na preocupação com a sustentabilidade.


Para conceber uma arquitetura sustentável, o contemporâneo se preocupa com os materiais e seu
desempenho, alta tecnologia para otimização do projeto, execução e funcionamento da
edificação, estratégias passivas, eficiência energética e mínimo impacto ambiental, considerando
todo o processo construtivo, desde a extração da matéria prima até a destinação final dos resíduos
de demolição.

Museu do amanhã | Fonte: cnm.org.br

Outra marca desse estilo é sua personalidade. A arquitetura de interiores é pensada para as
pessoas que irão habitar os ambientes, preocupações com a ergonomia e neuroarquitetura dos
espaços também são protagonistas do contemporâneo. Apesar do vasto repertório contemporâneo
mundial e nacional, a arquitetura brasileira atual apresenta algumas características em comum,
que serão vistas em detalhes no tópico seguinte.

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