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CONHECER PARA RECONHECER: O ACERVO PROJETUAL DE

CAMILO PORTO DE OLIVEIRA NAS DECADAS DE 1950 E 1960 EM


BELÉM.

CHAVES, CELMA. (1); LIMA, RODRIGO AUGUSTO DE. (2); OLIVEIRA, LUCIANE
(3); SOUZA, GLENDA (4).

1. Universidade Federal do Pará. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Av. Augusto Correa, 1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Guamá.
celma_chaves@hotmail.com

2. Universidade Federal do Pará. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Av. Augusto Correa, 1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Guamá.
rodrigodelima@ymail.com

3. Universidade Federal do Pará. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Av. Augusto Correa, 1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Guamá.
luciane-so@hotmail.com

4. Universidade Federal do Pará. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Av. Augusto Correa, 1, Cidade Universitária José da Silveira Netto, Guamá.
glenda.qba@gmail.com

RESUMO
Após o debacle da economia da borracha, empreende-se na cidade de Belém, ciclos intermitentes de
modernização, um a partir da década de 1930, sob os interventores e intendes da Era Vargas, o outro
a partir da década de 1950, sob os auspícios do desenvolvimentismo. Na capital do Pará, esses
processos de modernização e as respectivas ações, se expandiriam das áreas centrais e culminaram
na afirmação de novos espaços para novos grupos sociais, a elite remanescente da borracha, a
burguesia abastada, profissionais liberais e comerciantes, que adotariam um novo modo de morar: as
residências modernas, casas unifamiliares e edifícios de apartamentos. Evidencia-se também
transformações na arquitetura pública, como escolas e sedes de órgãos. Durante a produção desta
nova arquitetura, destaca-se a figura do engenheiro-arquiteto Camilo Porto de Oliveira,
principalmente a partir da década de 1950. O objetivo do artigo é apresentar o processo e resultados
preliminares do registro e interpretação do acervo do conjunto de projetos originais das obras deste
profissional, cedidas por seu sócio ao Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura
Arquitetônica (LAHCA) da FAU/UFPA em 2016, composto por 122 projetos, entre nova construção e
reforma. A partir disso, desenvolveu-se um processo de organização, identificação, digitalização das
pranchas originais, fotografias e redesenhos utilizando o software AutoCAD. Posteriormente, gerou-
se um mapa de localização pela plataforma My Maps da Google©. A análise parcial das obras
permitiu a classificação e periodização das obras do arquiteto, cujos números expressivos são
observados entre as décadas de 1950 e 1960, apresentando-se em diversos segmentos, entre eles:
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residenciais, comerciais, institucionais e serviços. Isto possibilitou a geração de gráficos quantitativos,
bem como a localização geográfica, por mapas, registros, fotografias e por tipologias. Além disso, foi
possível identificar e caracterizar fases distintas no processo de concepção projetual do arquiteto,
permitindo-nos inferir as mudanças e permanências que sua obra apresenta ao longo do tempo. O
processo descrito constatou as potencialidades históricas, culturais e científicas do material adquirido,
permitindo a reafirmação do arquiteto e sua contribuição para a arquitetura moderna na cidade de
Belém.

Palavras-chave: Belém; Camilo Porto; Arquitetura Moderna; Documentação

Introdução:

O estudo aborda as transformações ocorridas na cidade de Belém pelos processos de


modernização da edilícia urbana. Este processo começou no auge da economia da borracha
foi um marco de historicidade na cidade de Belém, de modo que seu declínio representou
uma ruptura na economia local, diminuindo o ritmo de seu crescimento econômico até a
década de 1930, aproximadamente. A partir desta década, no entanto, novos intentos de
modernização urbana são sinalizados dentro das políticas de Getúlio Vargas, nas principais
cidades brasileiras. É nessa conjuntura econômica e sociocultural que um novo grupo social
de comerciantes, no âmbito privado, adotam, por distintas razões, as formas e soluções da
arquitetura moderna.

Deste modo, a institucionalização da arquitetura foi um processo marcante, mostrando com


clareza o quadro político-social daquele período. Por outro lado, a demanda privada
começava a crescer e segundo Carvalho (2013), ao contrário da arquitetura pública, a
arquitetura privada é individual e, por conseguinte, não se mostra tão vinculada ao contexto
social de determinada época, e sim às necessidades de um grupo específico.

Nesse processo, o grupo que presenciou e arcou financeiramente com a produção dessa
arquitetura, eram famílias ligadas aos dividendos da borracha e da castanha, e profissionais
liberais em ascensão: médicos, advogados. Motivados pela aquisição de novos hábitos
culturais e urbanos ao longo deste período, inspirando não apenas um desejo de renovação,
mas também de retorno a uma modernidade já experimentada no início do século XX
durante a Belle Époque. Porém, os bangalôs ecléticos se tornaram antiquados para as
novas necessidades funcionais e simbólicas daquele grupo, que começariam então a
experimentar com as novas soluções que o repertorio moderno possibilitava. Obras que
objetivavam fundir sentido construtivo, funcionalidade e plasticidade (CHAVES, 2008,
p.163), de acordo com repertório formal inovador da década de 50, em especial. Tal
repertório era avançado para as condições e aspectos culturais locais, o que diferenciava
aquela elite das demais classes.
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Neste panorama de renovação construtiva, destaca-se a figura do engenheiro-arquiteto
Camilo Porto de Oliveira, formado pela escola de engenharia do Pará em 1956, e um dos
responsáveis por introduzir as inovações da arquitetura moderna brasileira em Belém
(CHAVES, 2004). Nesse sentido, a ausência de debate local sobre esse tema não impediu a
adoção de elementos de uma cultura arquitetônica moderna (CHAVES, 2013), em maior ou
menor quantidade, arraigadas a demandas simbólicas e funcionais distintas, de acordo com
as condicionantes reveladas ao longo do percurso arquitetônico de Camilo Porto de Oliveira.

A construção da modernidade arquitetônica em Belém

No período de transição do século XIX para XX, a economia da cidade de Belém apresenta
lucros provenientes da produção extrativista do látex até a primeira década, sob a
intendência de Antônio Lemos, o qual se dedicou a obras de embelezamento da cidade. Sob
esta visão modernizante, Lemos imbuído pelos ideais haussmanianos se empenhou em
restaurar Belém, nos aspectos urbanos e arquitetônicos. Desta forma houve uma intensa
busca pela modernização formal, com modificações em relação às plantas baixas, à
implantação no terreno e uso de técnicas e materiais. Nesse período implantou-se em
Belém o anseio por assemelhar-se aos centros europeus, com as inovações construtivas da
época (DIAS E CHAVES, 2015).

No entanto, no início do século XX a intendência Lemista entra em derrocada, estabelecida


por dívidas adquiridas durante o apogeu da exploração da borracha, que culminou com a
saída de Lemos. Período de grande mudança ainda nos setores político e econômico em
nível local e nacional (PENTEADO, 1968). Após a primeira década seguiu-se um na
economia que movia a cidade, até que em 1930, é constituído o Golpe com a proposta de
cercear a "República Velha” e suas estruturas, com a chegada o governo de Getúlio Vargas,
implementando a política do Estado Novo, com a uma gestão autoritária e centralizadora,
que viria a viabilizar a construção de uma nacionalidade. Este novo governo com a
aspiração pela modernidade, fomenta uma atmosfera moderna que envolve grupos políticos
e sociais em que Gorélik (1999) denomina de ethos cultural, desta forma a modernidade se
torna uma solicitação da sociedade.

Nesse momento, o governo adota a arquitetura moderna como estilo oficial e utilizado como
linguagem de poder e vislumbrado pela classe média alta como significado de status e
paradigma estético. (LARA, 2005). O então presidente do Brasil nomeia em 1930, o
interventor Magalhães Barata para o Estado do Pará, que direcionou a imagem da cidade de
Belém perante os visitantes e o governo central, visando promover uma intervenção que
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abrangesse além das áreas centrais da cidade (DIAS E CHAVES, 2015). A intenção de
modernizar se expressava nas notícias veiculadas nos jornais exaltando as novas
construções, e nos anúncios da imprensa que divulgava os novos materiais de construção
como o cimento e o vidro. Nesse novo cenário sociocultural e econômico surgem as
propostas de novas formas de moradias, com novas composições, que expressavam o
anseio de modernidade desses grupos, que passam a incluir o edifício de apartamentos e as
residências que incorporavam elementos e soluções da arquitetura moderna brasileira.
(CHAVES, 2008)

Conforme Chaves (2008), os novos grupos sociais, constituídos por profissionais liberais em
ascensão da época adquiriam novos hábitos, se identificavam com uma nova cultura
urbana, inspirando no grupo não só um desejo de renovação, mas também de retorno a
uma modernidade já experimentada no início do século XX durante a Belle Époque. Desta
forma, os bangalôs ecléticos se tornavam anacrônicos para suas necessidades funcionais e
simbólicas. Modernidade esta que Adrián Gorélik (1999) pontua como o caminho para a
modernização, o modo de vida e a organização social generalizada e institucionalizada.

Nas capitais brasileiras, assim como Belém, as iniciativas modernizadoras ocorreram de


forma concentrada. O processo ocorreu nas áreas centrais, com destaque para a Avenida
Presidente Vargas, antiga Avenida 15 de Agosto (DIAS e CHAVES, 2015). Na capital
paraense, essa modernização seguiu a lógica da produção e valorização do espaço da
cidade e era na Avenida 15 de agosto que se localizava o centro econômico, e, centro da
vida social da sociedade belenense. Nesta avenida, foram construídos os primeiros edifícios
com referências modernas, em um processo de verticalização na capital paraense, permitido
pela nova legislação do município de Belém, em 1934, com orientações básicas para os
padrões das novas construções (CHAVES, 2008), que continham exigências mínimas de
gabaritos para sua construção em determinadas áreas, Vidal (2016) sobre as construções
em altura:

Novos edifícios, institucionais e privados, são construídos para atender as


expectativas de um “futuro-presente”: a sede dos Correios de 1938 [...], o
edifício Bern também dos anos 40, o primeiro a incluir elevador na cidade, o
Dias Paes inaugurado em 1945, o Piedade (1949) e o Renascença (1950),
os dois do engenheiro Judah Levy, o edifício do IAPI hoje INSS inaugurado
em 1958 obra do arquiteto Edmar Penna de Carvalho, e o bastião mais
visível desse moderno, o edifício Manoel Pinto da Silva, construído em três
fases distintas, a primeira inaugurada em 1951 e a última em 1960.(
VIDAL,2016, p.05)

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Durante este processo houve necessidade em dar respostas às novas demandas de uma
parte do grupo social urbano. Enfrentando-se à difícil realidade econômica local, formavam-
se grupos de pequenos empresários desejosos de viabilizar o mercado da construção,
lançando-se na árdua tarefa que em alguns casos poderia levar até seis anos entre o projeto
e a conclusão da obra (CHAVES, 2008). Estas demandas aliadas a uma política estatal que
também necessitava de suporte para realizar seus propósitos de modernização, que
segundo Gorélik (1999) refere-se aos processos de transformação material da paisagem
urbana, coincidiram com os interesses de profissionais que buscavam espaço para exercer
suas atividades.

Diante disto Chaves (2012) destaca o esforço conjunto entre individualidade e


institucionalidade que estabeleceu um desejo comum pelo “novo e moderno”, onde
figuratividade e funcionalidade, localização privilegiada e novas espacialidades. Onde o
equilíbrio volumétrico e uso de tecnologias e processos construtivos modernos (elevador,
concreto armado, sistemas hidráulicos e elétricos). (SARQUIS e NETO, 2013)

Dentre este cenário, destaca-se a atuação dos engenheiros no princípio dos anos 1930 e
adiante, muitos deles como: Laurindo Amorim, Judah Levy, Agenor Penna de Carvalho e
Camilo Porto de Oliveira. Os primeiros em edifícios em altura e o ultimo destaca-se na
arquitetura moderna pela produção de projetos de residenciais unifamiliares, com obras
icônicas na capital paraense.

Trajetória de Camilo Porto de Oliveira

Camilo Sá e Souza Porto de Oliveira nasceu em 1923, graduou-se Engenheiro em 1946


pela Escola de Engenharia do Pará e posteriormente, em 1966, foi titulado arquiteto no
curso de adaptação de dois anos, instalado concomitantemente a criação do curso de
Arquitetura na Universidade do Pará em 1964, curso o qual fora encarregado para a
fundação pelo próprio reitor da universidade, José da Silveira Netto, a afirmado por Chaves
(2012) que:

“A implantação do curso de Arquitetura em Belém foi viabilizada entre outras


coisas, pelo interesse do grupo de engenheiros que já exerciam suas
atividades em Belém, mas não podiam projetar obras de ‘grande porte’, pois
para isto exigia-se, na época, o diploma de arquiteto. Esses engenheiros
passaram então por uma ‘adaptação’ de dois anos para fazer jus ao referido
diploma.” (CHAVES, 2012, p.4)

Ainda segundo Chaves (2012) Camilo Porto de Oliveira foi também um dos responsáveis
pela inserção das inovações da arquitetura moderna brasileira em Belém do Pará, contudo,
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assim como outros engenheiros de sua época, principia a sua trajetória profissional
respeitando a práxis no setor construtivo da cidade daquele momento, bangalôs ecléticos e
com claras referências ao colonial. No entanto durante as décadas de 1940 e 1950 a cidade
de Belém apresenta uma nova elite vigente composta por comerciantes, empresários e
profissionais liberais adquirirá terrenos nos chamados segundo e terceiro “eixos” de
modernização (bairros nobres visados pelo poder público, vistos como “potencializadores”
da modernização), terrenos estes afastados e de amplas dimensões, inseridos em um
contexto distinto aos ofertados no centro da cidade. Dessa forma, surge a necessidade de
um novo modelo de moradia capaz de satisfazer a essa demanda pungente.

Segundo Dias et al (2017) as áreas do entorno desse eixo principal, passaram a ser
pontuadas por obras de referências modernas, as quais confrontavam e incrementavam a
antiga estética residencial do ecletismo. E é neste panorama de renovação construtiva que
as soluções formais e peculiar plasticidade das obras de Camilo Porto se destacarão.

Camilo Porto não teve contato com arquitetura moderna produzida na Europa durante esse
período, mas estava familiarizado com as concepções tão contempladas durante suas
frequentes viagens ao Rio de Janeiro e São Paulo. Tais viagens somadas ao contato com
revistas e catálogos de arquitetura o proporcionaram ferramentas de projeto e alimentaram
um conhecimento, o qual seria executado em larga escala durante a década de 1950 em
suas propostas de residências (Chaves, 2012). Em uma entrevista concedida à Professora
Dra. Celma Chaves em 2002, o engenheiro-arquiteto afirma: “os professores aconselhavam
a não imitar a arquitetura do Niemeyer”, mas sua ponderação de que em Belém não se fazia
uma “autêntica” arquitetura moderna, foi segundo ele, o motivo do projeto de sua primeira
residência portadora de tais referências, a “Casa Moura Ribeiro” em 1949. Desde então as
residências do engenheiro passam a serem modelos seguidos nos círculos sociais da nova
burguesia.

Deste modo, na metade da década de cinquenta, motivada pelas políticas do presidente


Juscelino Kubitschek e a administração municipal em Belém que aspiravam inovações, as
obras de Camilo Porto passaram a alimentar o imaginário moderno local, cujas famílias
abastadas e agora incentivadas, começam a aceitar participar das experimentações formais
desenvolvidas pelo engenheiro, que provido de amplos terrenos dispõe-se da liberdade de
criação: sobrepondo formas e elementos, concebendo volumetrias mais diversificadas,
entretanto, partindo sempre de um programa arquitetônico já conhecido. Logo, nos vários
projetos em que realiza entre as décadas de 1940 a 1960. Desta forma, Camilo Porto
responde aos propósitos construtivos e tipológicos de converter o espaço doméstico em
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uma expressão dos novos modos de vida de grupos sociais em ascensão no espaço social
de Belém (VIDAL, 2016).

A composição de formas inovadoras de Porto de Oliveira produziu geraram um número


significativo de casas, normalmente em implantação aberta, sem obstáculos de visão. Deste
modo, a casa adquire assim uma dimensão pública, expondo-se como um objeto moderno
na cidade, quase uma escultura (CHAVES, 2008). Assim como ele atentava-se também as
condições climáticas local, as quais tomava partido dos dispositivos de conforto térmico
disponíveis na época em suas concepções como a inclusão do brise soleil, o uso dos
cobogós e marquises para proteger da insolação, e utiliza também, elevações do piso
visando a proteção do espaço da alta umidade (CHAVES; DIAS, 2016).

Tal repertório projetual arquitetônico e de grande relevância na paisagem urbana. Assim


como o processo de transformação e amadurecimento profissional dentro da temporalidade
de sua atuação profissional, nos abre o precedente de investigação de sua linguagem e
concepção de suas obras, em um estudo aprofundado e na salvaguarda de seu acervo.

Percurso de Estudo e Procedimentos Tecnológicos

O estudo continuado sobre a obra do Engenheiro-Arquiteto Camilo Porto de Oliveira vem se


desenvolvendo sob a orientação da Prof.ª Dra. Celma Chaves e seus colaboradores. A
etapa de digitação da obra começou com a aquisição de parte do acervo de Camilo Porto de
Oliveira cedido pelo sócio, Sr. Antônio Couceiro, em 2016. No total foram cedidos 122
projetos em papel vegetal, com um certo comprometimento da integração física do material.
Após a aquisição deste acervo pelo Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura
Arquitetônica (LAHCA-FAU/UFPA).

A metodologia utilizada é baseada em um extenso levantamento arquitetônico, sucedido


pela etapa de análise arquitetônica, a qual consiste em analisar aspectos espaciais, formais
e estruturais dos exemplares estudados, bem como traçar uma relação entre estas e o
espaço urbano e arquitetônico. O levantamento e análise está baseado no roteiro do livro El
proyecto moderno, de Cristina Gastón e Teresa Rovira (2010), por meio do redesenho de
suas fachadas, plantas baixas, de situação, locação, cobertura e implantação no software
Autocad. A partir disto, iniciou-se um minucioso processo de identificação das obras.
Primeiramente, houve a abertura dos “rolos” de pranchas, desta forma foram nos
apresentados os projetos adquiridos, enrolados. A identificação deste conteúdo apresentado
nas pranchas constatou que muitos projetos eram cópias dos originais, onde muitos não
apresentavam a datação original, outros faltam de endereços de sitio e o nome do
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proprietário do projeto. Diante deste entrave, optou-se pelo processo de periodização dos
projetos e a futura identificação dos que não apresentavam a ausência de datas. Esta
primeira análise nos apresentou um primeiro parâmetro demonstrado no gráfico da figura
01.

Figura 1: Gráfico quantitativo por décadas das obras de Eng. Arq.


Camilo Porto de Oliveira.

Fonte: Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura


Arquitetônica (LAHCA – FAU/UFPA).

Constatou-se dentre o acervo de projetos, que haviam exemplares de quatro décadas do


século XX sobre a atuação profissional de Camilo Porto de Oliveira: as décadas de 1940,
1950, 1960 e 1970. Neste panorama viabilizou-se um quantitativo por década: 1 projeto na
década de 1940, 25 projetos na década de 1950, 46 projetos na década de 1960 e 1 projeto
na década de 1970. E nesta análise tivemos um inesperado dado, no qual 40% dos projetos
analisados não apresentam datação. Apesar disso, seguimos com o estudo sobre a obras
que haviam datações, e aquelas que não apresentam, serão objeto de investigação
posterior para averiguação de datas, por meio de entrevista com Sr. Antônio Couceiro (sócio
de Camilo Porto de Oliveira), ou por aproximação de estudo tipológico com as obras já
identificadas.

Após a periodização dos projetos partiu-se para etapa de fotografia, o primeiro meio digital e
foi realizada com o equipamento Câmera Canon EOS Rebel T5, o processo de fotografar
cada prancha contida no acervo, de cada jogo de pranchas de projetos. Essa etapa
auxiliaria os colaboradores em uma etapa posterior da pesquisa, de desenho bidimensional
e na menor manipulação do material original do acervo, também na salvaguarda do
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conteúdo. E nesta etapa de fotografia detectou-se que alguns projetos apresentavam jogos
incompletos, ausências de pranchas de elevação, cortes, entre outros dados gráficos
presentes em projeto de arquitetura.

O aprofundamento da pesquisa se deu gradativamente até o ponto de identificar a tipologias


mais comuns na trajetória profissional de Camilo Porto de Oliveira. Dentre os 122
exemplares analisados: Institucionais, comerciais, serviços e residenciais. Após análise
deste conteúdo, constatamos a ocorrência, de uma maioria de projetos de residências, o
que vai ao encontro da afirmação de Will Jones (2016) “a casa, a residência unifamiliar, é a
tipologia construtiva em que os arquitetos podem gozar de maior liberdade projetual em toda
a história da arquitetura”, foi esta tipologia que projetou a ascensão do arquiteto em questão
nos anos 1950. (Figura 02)

Figura 2: Gráfico referencial de tipologias das obras.

Fonte: Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura


Arquitetônica (LAHCA – FAU/UFPA).

A partir do levantamento do acervo o processo de periodização e fotografia, possibilitou a


identificação das obras e desta forma o arquivamento das mesmas. A partir disso, começou
o processo de redesenho, que no princípio adotou-se o critério de abordar as décadas mais
expressivas da produção de Camilo Porto de Oliveira, 1950 e 1960. Cada pesquisador do
estudo elegia um projeto que ficaria com a responsabilidade de representa-lo graficamente
em meio digital. A leitura dos desenhos é feita e as medidas conferidas com o uso de
escalímetro nº1, e a partir daí repassada com o auxílio do programa AutoCAD-Autodesk©.
Os redesenhos bidimensionais são realizados de maneira a conservar os elementos
grafotécnicos presentes nas pranchas, com o comprometimento de retratar com fidelidade a

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linguagem abordada pelo autor na época da referida obra, e desta forma garantir
interpretações futuras que possam condizer com a verdade do profissional em questão.

Figura 3: Processo de Redesenhos no programa AutoCAD dos projetos de Camilo Porto


de Oliveira: Res. Carlos Dias (1952), Res. Chalú Pacheco (1963) e Res. Aziz Mutran II
(1966)

Fonte: Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA –


FAU/UFPA).
Para Chaves (2012), em Belém nas primeiras décadas do século XX, nota-se uma série de
estilismos formais de caráter eclético, presentes em bangalôs e chalés, numa miscelânea de
elementos classicizantes, expressões neocoloniais e manifestações art déco, símbolo das
classes em ascensão social. No que afirma Dias et al (2017), a simultaneidade dessas
tipologias com os novos estilismos modernistas das décadas de 1930 e 1950 indicam uma
mudança intermitente, mas dotadas de significado. Essa mudança é parte de um processo
predominantemente modernizador, presente naquele período em diversos países latino-
americanos.

A residência Carlos Dias (1952) se assemelha aos bangalôs ecléticos, em seu exterior
contem beiral aparente, varandas que circundam mais de uma fachada e telhado em quatro
águas. Encontra-se nas plantas sua configuração interna, observa-se uma
compartimentação e setorização dos ambientes que ainda se utilizam das concepções
ecléticas de separação de setores, sendo os setores de serviço e social situados no primeiro
pavimento, enquanto o setor íntimo encontrava-se no segundo pavimento, tendo esta
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circulação linear e do tipo hall. Deste modo, infere-se que as manutenções destas
características referentes à tipologia de bangalôs estão em consonância com o pensamento
de Chaves (2015), quando afirma que a população belenense ainda estava acostumada
com uma arquitetura tradicional. Desta maneira, demonstra-se os limites das demandas
socioculturais e econômicas, bem como as tramas da categoria profissional.

Percebeu-se que houve uma nítida mudança nos projetos nos anos 1960, que nos
direcionou a valorizar esse segundo momento projetual relacionado as ideias de vanguarda
como o racionalismo, funcionalismo e purismo, ressaltando mudanças de caráter técnico-
formais. O projeto para a residência do Dr. Renato Chalú Pacheco (1963), no que ressalta
Dias et al (2017), já demonstra um processo de simplificação nas obras de Camilo Porto, o
arquiteto ainda matinha alguns “signos” do modernismo em seus projetos, tais como as
grandes esquadrias de vidro, o painel de pedra polida e o split level, e apesar não
apresentar tantos cômodos distintos, mantém, ainda assim, o padrão de situar o setor íntimo
no pavimento superior e a proximidade do living à sala de jantar.

Ainda segundo Dias et al (2017), a residência Aziz Mutran (1966) se situa no terreno
ocupando grande parcela de sua totalidade, sendo os espaços não construídos destinados
ao jardim, área precedente e posterior a centralidade da casa, e aos encurtados espaços
laterais, provocados por subtrações em sua forma retangular, planeada. A fachada tem
entre seus elementos a platibanda, janelas em venezianas com grandes vãos e uma grande
diversidade de texturas disseminadas por sua fachada principal e lateral esquerda, o que
nos conduz a identificar um forte indicativo dos ideais modernistas. A setorização é um caso
a parte, os setores social e íntimo dividem o mesmo pavimento com um peque diferença de
aceso feito por uma rampa. O setor de serviço e a garagem são os únicos que permanecem
sob o mesmo nível da rua, deste modo ainda se nota, a presença da compartimentação
visando a funcionalidade da casa. Observou-se também que a estratificação social
continuava refletindo-se na hierarquia e organização espacial, demarcando no território
doméstico, e retrocedendo a mesma compartimentação física das casas do ecletismo
(CHAVES, 2016).

A amostra apresentada anteriormente na figura 3 é parte de um conjunto de 16 projetos


digitalizados desta primeira demanda de obras selecionadas. E dentre estes com mais
relevância para projetos residenciais, já relatados anteriormente. A partir deste primeiro
montante de exemplares percebeu-se a necessidade de espacializar tais obras na cidade de
Belém, de modo que as obras como marcos da história urbana e parte contribuinte existente
ou passageira. Para isto gerou-se um para de localização por meio do aplicativo My Maps
da plataforma da Google©.

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Figura 4: Mapa de espacialização das obras redesenhadas

Fonte: Laboratório de Historiografia da Arquitetura e Cultura Arquitetônica (LAHCA –


FAU/UFPA).

Nota-se a representatividade do trabalho realizado por Camilo Porto de Oliveira, sob esta
pequena amostra da análise de seu acervo, e onde suas obras se localizavam no centro da
cidade ou nas proximidades dele. Este princípio de estudo apenas norteia os rumos da
pesquisa, em busca de alcançar a mais de uma centena de projetos adquiridos pelo
Laboratório de Historiografia e Cultura Arquitetônica.

Considerações Finais
O desenvolvimento deste estudo aborda a produção de arquitetura moderna na Amazônia,
no caso da cidade de Belém, em suas possibilidades e adequações regionais. O estudo que
compreende a análise da realidade projetual ligado a um exame conceitual-conceptivo
desses projetos, sob a uma base tecnológica que auxiliaria no processo de conclusões
acerca da relação da obra e seus atores, nos contextos de construção e entorno. Além
disso, é importante destacar que a sistematização e redesenhos de um número expressivo
de pranchas. Portanto, o trabalho ressalta o processo heterogêneo de difusão da renovação
formal moderna, a partir de uma comparação entre as obras e de uma revisão historiográfica
como “[...] meio para conhecer a própria realidade e, em consequência, projetar um futuro
próprio livre da limitação dos modelos alheios” (WAISMAN, 2013), as verificações
preliminares do estudo presentes neste artigo possibilita a trama e a ruptura dos paradigmas
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correspondentes ao processo de modernização nas realidades distantes dos grandes eixos
de difusão econômico-cultural, contribuindo para a valorização da produção formal-teórica
acerca da arquitetura moderna produzida em Belém.

Referências Bibliográficas
CARVALHO, Bárbara Moraes de. Arquitetura Pública Moderna: Uma Caracterização
entre Tipologia e Lugar na Cidade de Belém. 2013. 121 f. Dissertação (Mestrado) - Curso
de Arquitetura, Universidade Federal do Pará, Belém, 2013.

CHAVES, C.; Recepção, particularidades e limites da arquitetura modernista produzida


em Belém. In: Seminário Internacional Brasil-Argentina-México - 4º Encontro de estudos
comparados em Arquitetura e Urbanismo nas Américas - A Circulação das ideias na
América Latina: o moderno na Arquitetura e Urbanismo, 2012, Uberlândia. A Circulação das
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