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Curso: Arquitetura e Urbanismo

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS


CAMPUS SANTA LUZIA
Rua Érico Veríssimo, 317 - Londrina – Santa Luzia - MG – 33.115-390
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Urbanismo II
Discentes: Bruna Batista Gonçalves e Paulianne Aparecida Martins Moreira
Docente: Thêmis Amorim Aragão

II Seminário da Política Municipal de Habitação

Realizado no dia 03 de setembro no Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte, o II


Seminário da Política Municipal de Habitação teve como foco discutir a problemática do
direito à moradia e da cidade. Dividido em duas etapas – a primeira no turno da manhã
com mesa redonda e a segunda no turno da tarde a elaboração de uma carta-proposta – o
evento contemplou com a presença de um conjunto de entidades ligadas aos movimentos
populares, às universidades, à justiça, às ONG’s, dentre outros.
Inicialmente no período da manhã, a professora e coordenadora do PRAXIS –
Práticas Sócias no Espaço Urbano – da Escola de Arquitetura da UFMG Denise Morado,
abriu o seminário discutindo a respeito da análise de conjuntura que evidência como crise
política e econômica no senário atual afetam diretamente as políticas urbanas e de
habitação. Segundo ela, essa problemáticas são geradas devido à falta de regularização
do capital, a falta de um planejamento onde tem como principais ferramentas a política e a
técnica e a cidade como meio de disputa de renda.
Denise Morado também afirma que o agente produtor da cidade é o cidadão, mas
que, no entanto, o cenário atual mostra como o meio urbano encontra-se despreparado
para lidar com as diversas demandas de moradia, e que atualmente quando se trata do
direito à moradia só temos em questão a casa própria.
Outro ponto abordado por Morado foi a diferença entre os governos de Fernando
Henrique Cardoso e o de Luiz Inácio Lula da Silva. No governo FHC observou-se pouco
investimento destinados as habitações de interesse social, enquanto o governo Lula criou
o Ministério das Cidades para ampliar o acesso da população à moradia, saneamento,
transporte, dentre outros, e também a criou o Minha Casa Minha Vida (MCMV), mas que
atualmente o MCMV perdeu o seu caráter de preocupação com a habitação, se tornando
mais uma ferramenta política.
Morado defende que uma das medidas a serem tomadas para resolver o problema
de habitação seria a implementação de uma infraestrutura básica em ocupações, vilas e
favelas, que já possuem a sua organização espacial, mas que muitas vezes não são
reconhecidas pelo Estado. Finalizando a sua discussão e reafirmando suas propostas, ela
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afirma que “não podemos continuar como estamos (...). Precisamos ocupar a cidade para
argumentar e construir novas respostas.”
A segunda palestra, ministrada pela assistente social e conselheira da COMPUR –
Conselho Municipal de Política Urbana – Maria de Fátima Gottschalg relatou a sua recente
viagem ao Uruguai para conhecer de perto como são as cooperativas habitacionais do
país. Destinado à construção de moradias populares, o cooperativismo uruguaio acontece
segundo Gottschalg, através da doação de mão de obra, ou seja, cada morador da
cooperativa ajuda na construção das habitações (diferentemente do padrão de MCMV de
no mínimo 45m², as habitações do Uruguai apresentam mínimo de 61m²) sem saber qual
será o seu local de moradia, para que após a conclusão das habitações, possa ocorrer a
divisão de maneira justa. Além disso, os mais diversos equipamentos urbanos também são
construídos com a mesma ideia, a fim de produzir um espaço urbano de qualidade e de
fácil acesso aos moradores.
No segundo momento fomos convidados a reunirmos em grupos de acordo com a cor
dos cartões (rosa, verde, vermelho, laranja, amarelo) distribuídos durante as palestras. Todos
os grupos tinham integrantes de diversas entidades (ocupações, movimentos, instituições),
além da presença de um técnico da URBEL (Companhia Urbanizadora e de Habitação de
Belo Horizonte) e dois digitadores que registravam o momento. Todos os grupos receberam 4
questões para iniciar a discussão coletiva para elaboração de propostas que seriam
apresentadas a todos os participantes do seminário.
A primeira questão abordava o seguinte ponto: “1) Na execução da PMH (Política
Municipal de Habitação) quais são as maiores dificuldades percebidas pelos integrantes do
movimento ou instituição que você participa?” Cada integrante pontuava suas questões de
acordo com a realidade da entidade que ele representava. Dentre algumas questões
podemos pontuar os questionamentos que se referiam aos critérios utilizados pela PMH que
não contempla o indivíduo que mora sozinho e muitas vezes não priorizam às necessidades
mais urgentes. Neste caso, foi esclarecido que muitos escondem a renda da família (a do
marido, por exemplo) não priorizando outras mais famílias mais necessitadas. Neste
contexto, eles apelam por novas sindicância/vistoria da URBEL. A Bolsa Moradia é outro
dificuldade apontada pelos participantes alegando que 296 vagas foram ocupadas em 2015
através de sorteio e, desde então, não foram disponibilizadas as vagas ociosas decorrentes
de óbitos e contemplados com moradia em ocupação. A educação das crianças é outro
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problema apontado, já que as escolas não disponibilizam vagas para alunos que não
possuem comprovante de endereço, fato recorrente para os moradores de ocupação.
A segunda questão dizia o seguinte: “2) Que proposições você faria para que a PMH
atenda às necessidades/ expectativa dos movimentos ou instituições que participam deste
seminário?” Diante das dificuldades elencadas anteriormente, cada participante opinava de
acordo com seus interesses. Os participantes entendem a URBEL como instância que
executa, mas desejam a ressignificação dessas políticas de forma mais humanizada e
democrática, sendo necessária uma mudança de concepção. Foi manifestado também o
desejo de ampliar o número de técnicos da URBEL, visto como algo necessário. Também
anseiam pela criação de um fundo municipal, porque muitas vezes as necessidades são
outras, sendo necessário haver recurso também para atender outras demandas. Necessário
haver políticas intersetoriais: a habitação precisa integrar com outros setores (escola, saúde,
comércio).
Os participantes foram convidados a refletir também sobre a seguinte questão: “3) Na
avaliação de vocês, como pode ser aperfeiçoado e efetivado a participação popular nos
espaços de debate e deliberação coletiva desde as Políticas Urbanas e de Habitação tais
como COMPUR, CMH, Conferências?” Os participantes reclamaram da falta de empenho dos
movimentos sociais, sendo necessária uma maior divulgação para conseguir mais empatia
com as pessoas que necessitam de políticas de habitação. A falta de formação dos grupos e
a falta de capacitação dos núcleos de moradia foi um problema relatado em consonância por
todo o grupo.
Para finalizar as discussões, foi abordada a quarta questão: “4) A partir do que foi
discutido, quais encaminhamentos são considerados fundamentais para fazerem parte da
Carta-Proposta desde o II Seminário?” Foram vários os pontos citados pelos participantes e,
dentre eles a ampliação dos mecanismos de participação popular na política de habitação, a
criação de um plano diretor que respeite os instrumentos do estatuto da cidade e favoreça a
população e não as empresas, a priorização de políticas municipais em detrimento das
federais, representantes populares no orçamento participativo, a ampliação da quantidade de
bolsas moradias destinadas à população de rua (pelo menos 500 bolsas), entre outros.
O seminário foi finalizado com a apresentação das propostas discutidas por todos os
grupos, que seriam debatidas em outro momento pela comissão organizadora do
seminário, composta pelos integrantes dos movimentos. Essa comissão seria responsável
pela finalização da redação da carta-proposta.
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Após participação neste seminário compreendemos que os movimentos populares


de habitação da cidade de Belo Horizonte amadurecem sua consciência de autonomia na
participação do planejamento e gestão da sua cidade como descrita pelo geógrafo Marcelo
Lopes de Souza. De acordo com Souza, a autonomia individual é aquela em que sujeitos
lúcidos são dotados de autoestima e contrários a tutelas políticas. Para o geógrafo, o
planejamento e gestão das cidades deve ser conduzido tanto pela autonomia coletiva
(instituições), tanto quanto pela autonomia individual (população), prevendo um
planejamento autonomista que contemple uma auto-gestão da sociedade de forma
democrática e descentralizada, sendo revolucionário por essência. O que presenciamos
neste seminário é a consciência da população de seus direitos atraídos por
profissionais/intelectuais que conscientizam essas pessoas de seu papel como sujeitos
históricos. Conscientes dos interesses dos proprietários de terras, dos construtores e dos
bancários, estas pessoas lutam pela sua participação na política habitacional na tentativa
de diminuir a distância entre governo e população, conscientes de que o planejamento
pode ser construído com a participação de todos.

Anexos
Cartazes de manifestação popular expostos durante o seminário.
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